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PROGRAMA DE NOÇÕES

BÁSICAS DE MEDICINA LEGAL

Rodrigo Camargos Couto


Cirurgião-Dentista
Perito Criminal Nível Especial, Odontolegista IML-BH/MG
Especialista em Prótese Dental
Especialista em Odontologia Legal
Mestre e doutorando em Ciências da Saúde – Infectologia – Medicina Tropical – Faculdade de Medicina da UFMG
CESPE – Curso Superior de Polícia Civil

rodrigocamargoscouto@gmail.com.br
ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO-
QUÍMICA.
ASFIXOLOGIA FORENSE.
Asfixia: Conceito
Toda e qualquer morte onde haja supressão do fenômeno respiração,
independente do mecanismo que se oponha à troca gasosa,
denominaremos asfixia. (Couto, 2011)

Para que haja respiração (troca gasosa) é necessário que se tenha um


mecanismo de funcionamento harmônico (vias aéreas, pulmões e
caixa torácica e musculatura), além de ambiente gasoso, com
concentrações dentro dos limites adequados. (Couto, 2011)
Asfixia: Conceito

“Asfixia, sob o ponto de vista médico-legal, é a síndrome


caracterizada pelos efeitos da ausência do oxigênio no ar
respirável por impedimento mecânico de causa fortuita, violenta
e externa em circunstâncias as mais variadas. Ou a perturbação
oriunda da privação, completa ou incompleta, rápida ou lenta,
externa ou interna, do oxigênio.” (França, 2011)
Asfixia: Classificação
Asfixia por constrição do pescoço
Enforcamento
Estrangulamento
Esganadura
Asfixia por sufocação
Direta ou ativa
Oclusão dos orifícios externos das vias aéreas
Oclusão das vias aéreas
Soterramento
Confinamento
Indireta ou passiva
Compressão do tórax
Introdução do individuo em
Meio líquido – afogamento
Ambiente de gases irrespiráveis – asfixia por gases –
Classificação de asfixia segundo Croce, D Croce, D Junior , 1988
Asfixia- Fases
Na fase de irritação temos no período inspiratório, a “perda desordenada do ar”, com
duração aproximada de 01 (um) minuto e no expiratório, com duração de 3 minutos, a
presença de inconsciência e, em algumas vezes crises convulsivas (excessos de C02);

Já na fase de esgotamento, em seu período inicial, também conhecido como período


de morte aparente, tem-se a parada da respiração por um período durante algum tempo,
seguido posteriormente pelo período terminal.

Tempo percorrido entre a fase de irritação e o período terminal tem uma média aproximada
de 07 (sete) minutos e seus extremos representados pela morte por enforcamento com
ou sem inibição dos centros nervosos onde a morte se dá instantaneamente em até 10
(dez) minutos.
Asfixia: Conceito

Fisiopatologia esta diretamente relacionada à sua causa, podendo


compreender duas distintas fases e cada qual com seus respectivos
períodos.
Fase de irritação
Período de dispneia inspiratória
Período de dispneia expiratória
Fase de esgotamento
Período inicial, apnéico ou de morte aparente
Período terminal
Asfixia- Fases
Há autores, como Camps que descrevem as asfixias em quatro fases distintas.

A inicial, onde há dispneia inspiratória, respiração forçada e profunda e cianose;

Segunda fase a dispneia passa a ser expiratória e acompanhada de extremo esforço. A

vítima perde a consciência, torna-se hipertensa e bradicárdica.

Terceira fase esta acompanhada de hipotensão, taquicardia com liberação de

esfíncteres.

Quarta fase, a respiração cessa, porém com a presença de batimentos cardíacos por

até 15 minutos.
Ar Respirável - Constituintes
Nitrogênio (N2), 780.840 ppmv (78.084%), Oxigênio (O2) 209.460 ppmv
(20.946%), Argônio (Ar) 9.340 ppmv (0.9340%) Dióxido de carbono (CO2) 380
ppmv (0.0380%), Neônio (Ne) 18,18 ppmv (0.001818%), Hélio (He) 5,24 ppmv
(0.000524%), Metano (CH4) 1,79 ppmv (0.000179%) Kriptônio (Kr) 1,14 ppmv
(0.000114%), Hidrogênio (H2) 0,55 ppmv (0.000055%), Óxido Nitroso (N2O)
0,3 ppmv (0.00003%), Xenônio (Xe) 0,09 ppmv (9×10−6%), Ozônio (O3) 0,0 to
0,07 ppmv (0% to 7×10−6%), Dióxido de nitrogênio (NO2) 0,02 ppmv (2×10−6%)
Iodo (I) 0,01 ppmv (1×10−6%), Monóxido de carbono (CO) 0,1 ppmv
(0.00001%), Amônia (NH3) O vapor de água (H20) Traços, Não inclui na
atmosfera seca acima, Vapor de água (H2O) 0,40% na atmosfera toda,
tipicamente 1% - 4% na superfície
Sinais cadavéricos das asfixias em geral

1. Cianose: Livores de coloração escurecida;

2. Congestão polivisceral;

3. Sangue escuro e de fluidez aumentada (sangue “asfíxico”);

4. Espuma nas vias aéreas (edema pulmonar);

5. Rigidez muscular Mais rápida e quase ao mesmo tempo nos diversos


segmentos do corpo. Geralmente dura menos tempo.

6. Petequias (equimoses puntiformes): Mais comuns na pele, conjuntivas


oculares e serosas; petequias subepicárdicas e subpleurais - manchas
de Tardieu
Sinais cadavéricos das asfixias em geral
Cianose da face - de coloração azulada, devido à alta concentração de
carboxiemoglobina, acometendo pele e mucosa, a cianose de face ocorre
nos casos onde há compressão torácica, com posterior estreitamento de
veia cava superior. Presente na esganadura e na estrangulação, podendo
faltar nos enforcado
Sinais cadavéricos das asfixias em geral
Espuma - formada por muco e ar, assemelham-se a um cogumelo, que se
exteriorizam pela boca e/ou nariz. Pode ser de coloração clara ou
sanguinolenta, em cadáveres de casos de submersão que reagiram no
período próximo ao terminal
Sinais cadavéricos das asfixias em geral
• Projeção da língua - acompanha geralmente os casos de
enforcamento e estrangulamento. Ocorre procidência de uma língua de
coloração escurecida além da arcada dentária
Sinais cadavéricos das asfixias em geral

Exoftalmia - projeção do globo ocular para fora de sua órbita.

Resfriamento demorado- O resfriamento é lento (exceto nas


submersões) devido à ausência de hemorragia.

Rigidez - A rigidez nos casos de asfixias será tanto mais precoce quanto
mais prolongadas forem as convulsões.
Sinais cadavéricos das asfixias em geral
Sinais internos
Sangue - nas mortes por asfixias o sangue se torna fluido e escuro,
excetuando aquelas mortes por intoxicação por monóxido de carbono
onde o sangue fica de coloração vermelho vivo e nos afogados cujo
sangue toma uma coloração rósea. Os coágulos, quando presentes, são
em pequena quantidade e pouco resistentes.
Equimoses viscerais - são manchas violáceas, de número variado,
em formato arredondado, puntiforme, lenticular ou sob a forma de
sufusões, que recobrem a superfície de pleuras, vísceras ocas ou
mucosas, decorrentes da fluidez do sangue dos vitimados de asfixia.
Congestão polivisceral - Com exceção do baço que se contrai nos
afogados, todos os outros órgãos são susceptíveis a congestão nas
variadas formas de asfixia.
petequias e congestão conjuntival
petequias sub-pleurais e sub-epicárdicas
petequias hepáticas e cardíacas
Congestão vascular – “dentes rosados”
Rigidez precoce na asfixia
ASFIXIAS POR
SUFOCAÇÃO
Sufocação direta

• Conceito “O obstáculo à penetração do ar nas vias


respiratórias está situado em algum local desde os
orifícios naturais até a traqueia.”
Oclusão dos orifícios naturais (bucal e nasais)
• Forma acidental:
• Perda da consciência e queda sobre superfície macia;
• Crianças que dormem com os pais no mesmo leito;
• “Brincadeiras” com sacos plásticos.
• Forma criminosa:
• Superioridade de forças ou impossibilidade de reação;
• Casos de violência sexual;
• Infanticídio;
• Estigmas ungueais, equimoses na face vestibular dos lábios;
• Presença de outras lesões de violência;
• Uso de objetos macios: ausência de sinais!
• Amordaçamento.
• Forma suicida:
• Pouco comum e envolve elaboração.
Obstrução das vias respiratórias superiores

Obstáculo à penetração de ar situa-se na orofaringe, laringe ou


traqueia;
Faixas etárias de risco: crianças abaixo de 6 anos e idosos;
Outros indivíduos em risco: doentes mentais, embriagados,
drogadictos;
Cirurgias bucal ou de otorrinolaringologia;
Suicídio: raro!
Particularidade:
Por vezes faltam sinais de asfixia.
Sufocação indireta
“congestão compressiva de Perthes”

Conceito
É a asfixia violenta causada pela compressão do tórax.

A compressão impede a expansão torácica na inspiração e a


movimentação abdominal.

Situações: “acidentes” de trânsito, desmoronamentos,


multidões, ação criminosa...

Maioria é “acidental”;
Lesões externas
1. ↑ Pressão intratorácica:

2. ↓ retorno venoso

3. ↑Pressão v. cava superior e vv. jugulares internas

4. ↑Pressão nas vênulas: roturas – petequias

5. petequias: Máscara Equimótica de Morestin

6. Edema facial: nas pálpebras, conjuntivas oculares, lábios, língua;

7. Hemorragias gengival/nasal, e até otorragia

8. Lesões cutâneas e viscerais pelo mecanismo de compressão.


Crucificação: sufocação indireta

Inspiração

Expiração
ASFIXIAS POR
CONSTRIÇÃO
CERVICAL
Mecanismos na constrição cervical:
vascular

Compressão de veias
jugulares internas:
acima de 2kg.

Fonte: Khokhlov, V.D.; 2001.


Mecanismos constrição cervical: vascular

Compressão de artérias
carótidas comuns/internas:
2,5 a 10kg.

Compressão de artérias
vertebrais:
2-17 a 30kg - oblíquo
acima de 30kg - ransversal

Fonte: Khokhlov, V.D.; 2001


Mecanismos na constrição cervical: reflexo

Hipotensão e bradicardia
reflexas:
compressão do seio carotídeo

Fonte: Khokhlov, V.D.; 2001


Mecanismos -constrição cervical:
compressão de vias aéreas
Membrana tireohioidea:
acima de 10kg.

Traqueia:
acima de 15kg.

Fonte: Khokhlov, V.D.; 2001


Enforcamento

Conceito:
“Forma de asfixia mecânica produzida por constrição do
pescoço por meio de um laço acionado pelo peso da própria
vítima.”

Enforcamento completo.

Enforcamento incompleto.
Enforcamento

Período inicial sensação de calor, zumbidos, síncope, sendo todos


originados a partir da constrição do feixe vásculo-nervosos;

Segundo período também chamada de fase respiratória,


convulsões e fenômenos ligados a paralisia do pneumogástrico.

Terceiro período apnéia, parada cardíaca e morte.


A rigidez é tardia nos enforcados contrariando as demais asfixias.
Enforcamento

Características do cadáver –
Os cadáveres na coloração da face, em azuis e brancos, explicados pela
compressão mais expressiva ou não dos vasos calibrosos do pescoço. Os
enforcados azuis são aqueles onde a constrição é mais severa, especialmente
nas jugulares, cursando com estase venosa importante. Nos enforcados
brancos, a face pálida e lívida é decorrente da compressão mais expressiva das
carótidas.
Enforcamento

Características do cadáver
A cabeça pende para o lado oposto do nó e tende a permanecer fletida como
se o mento quisesse tocar o tórax. A exoftalmia, apesar de não ser um sinal
patognomônico, está presente com grande frequência. Os pavilhões auditivos
cianóticos podem apresentar–se com otorragia. A língua, de coloração
arroxeada, encontra-se exteriorizada, com a presença ou não de uma espuma
de coloração que varia entre o branco e o rosa. Os membros nos enforcados
típicos permanecem paralelos ao corpo, porém variados nos incompletos. As
mãos cerradas .Ejaculação post-mortem e ingurgitamento dos corpos
cavernosos podem ocorrer nestes casos.
1. Enforcamento
Sulco
1. completo, na parte superior do pescoço entre hioide e a
laringe.
2. maioria apresenta-se único, podendo ser duplos ou múltiplos
3. Sua direção oblíqua, ascendente, bilateral e anteroposterior é
o habitual.
4. Normalmente se torna interrompido no ponto correspondente
ao nó.
5. Profundidade e largura merecem considerações, dependendo
do material utilizado, do tempo de exposição e da força aplicada.

6. comumente apresenta um leito mole e coloração pálida ou


azulada nos laços moles e pergaminhados, firmes e pardo-
escuros nos laços duros, em consequência à desidratação sofrida
pelos tecidos.
Enforcamento incompleto
Alterações externas
Lesões externas

Sulco
1. Elemento importante!
2. Raramente despercebido.
3. Mais comum: oblíquo, ascendente e incompleto.
4. Pode indicar se a suspensão ocorreu em vida ou após a
morte (sinais de reação vital!)
Sinais encontrados nos sulcos dos
enforcados (8...)
1. Sinal de Ponsold: livores cadavéricos, em placas, superior e inferiormente
às bordas do sulco.

2. Sinal de Thoinot: zona violácea no nível das bordas do sulco.

3. Sinal de Azevedo-Neves: livores punctiformes superior e inferior às bordas


do sulco.

4. Sinal de Neyding: equimoses no fundo do sulco.

5. Sinal de Ambroise-Paré: pele enrugada e escoriada no fundo do sulco.

6. Sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo do sulco.

7. Sinal de Bonnet: marcas de trama do laço no sulco.

8. Sinal de Schulz: borda superior do sulco saliente e violácea.


Sufusão hemorrágica em tecido
subcutâneo e muscular cervicais.
Lesão em endotélio da artéria
carótida
Lesões cervicais
nos enforcamentos comuns (15...)
• Sinal de Hoffman-Haberba: infiltração hemorrágica dos mm. cervicais
• Sinal de Lesser: rotura transversal e hemorragia do m. tireohioideo
• Sinal de Morgagni-Valsalva-Orfila-Roermmer: fratura do corpo do hioide
• Sinal de Hoffman: fratura dos cornos superiores da cartilagem terioide
• Sinal de Helwig: fratura da lâmina da cartilagem terioide
• Sinal de Morgagni-Valsalva-Deprez: fratura do corpo da cartilagem cricóide
• Sinal de Bonnet: roturas dos ligamentos cricoterioideo e tireohioideo
• Sinal de Brouardel: hemorragias retro-faríngeas
• Sinal de Lesser: rotura das túnicas adventícias das artérias carótidas internas e
externas
• Sinal de Ziemke: rotura da túnica interna das veias jugulares internas
• Sinal de Dotto: rotura da bainha mielínica do nervo vago
• Sinal de Morgani: fratura do processo odontóide do áxis
• Sinal de Morgani: fratura do corpo de C1 e C2
• Sinal de Ambroise-Paré: luxação de C2
• Sinal de Bonnet: rotura das pregas vocais
Lesões cervicais
na execução judicial
1. Queda de pelo menos 2 metros;

2. Laço atípico - nó lateral;

3. Lesões “altas” da medula espinal: Luxação/fratura de C2-C3


ou C3-C4, com lesão medular e/ou bulbar – parada
respiratória.

4. Rotura transversal completa das carótidas comuns.

5. Decapitação.
Lesões de cartilagem terioide
• 54,7% dos casos.
• Maioria das lesões (66%) no corno maior.

Fonte: Khokhlov, V.D. 1997


Lesões de osso hioide
• 42,3% dos casos (maioria “unilateral”).
• Maioria das lesões (80%) no corno maior (terços distal e médio).
Corpo não foi afetado.

Fonte: Khokhlov, V.D.; 1997.


Causa jurídica
Maioria suicídios.

Restante: acidentes (crianças e parafilias).

Homicídio: raros (desproporção de forças ou uso de


depressores do SNC)

Questões importantes
Suspensão em vida?
Sinais de trauma (homicídio...)?
Simulação de suicídio?
Exame toxicológico?
Estrangulamento

Conceito
Forma de asfixia em que a constrição cervical é feita por meio
de um laço acionado por uma força diversa do corpo da
vítima.

Pode ser produzida pelos membros, com ou sem auxílio da


roupa da vítima.
Asfixia por estrangulamento:
petequias em conjuntiva ocular
Sulco sugestivo de estrangulamento
Sulco sugestivo de estrangulamento
Sinais gerais das asfixias por estrangulamento
Devem-se considerar, além dos elementos presentes nas asfixias
mecânicas:
1. Sulco horizontalizado, de voltas variadas, completo ao redor do
pescoço, abaixo da cartilagem tireoide e de profundidade uniforme.
2. Estigmas ungueais nos bordos do sulco.
3. Face tumefeita e cianótica
4. Protrusão da língua e cogumelo de espuma sanguinolento
5. Exoftalmia
6. Cianoses de extremidades (leitos ungueais)
7. Equimoses subconjuntivais, equimoses puntiformes em mucosa
labial e petequias em face, pescoço e tórax anterior
8. Pavilhão auricular cianótico
9. lesões internas são extremamente raras e, portanto não serão
comentadas
Causas jurídicas dos estrangulamentos

1. Maioria homicídios

2. Suicídios

3. Raramente acidentais (parafilias - sinais de prática


masturbatória)
Esganadura

Conceito
Asfixia mecânica pela constrição do pescoço pelas mãos.
Forma menos comum de constrição cervical com êxito letal.
Pode vir associada aos estrangulamentos.

Condição de êxito letal: superioridade de forças ou impedimento


de reagir (depressão do SNC)
Esganadura
Sinais externos à distância
1. - Face violácea ou pálida
2. - Pontilhados hemorrágicos na face e pescoço
3. - Congestão conjuntival
4. - Exoftalmia
Sinais externos locais
1. - Estigmas ungueais no pescoço
2. - Equimoses elípticas ou arredondadas - compressão das polpas digitais
Sinais locais profundos
1. - Infiltrados hemorrágicos nas partes moles do pescoço
2. - Fratura do osso hioide
3. - Lesões de coluna (infanticídio)
4. - Congestão das meninges
Sinais à distância
Semelhantes aos sinais das asfixias em geral
Sufocação direta

É o modo de ação utilizado com a finalidade de dificultar, interromper


ou impedir a entrada do ar aos pulmões “tapando” diretamente os
orifícios externos
ASFIXIAS POR MODIFICAÇÕES
DO AMBIENTE
Confinamento

É a asfixia causada pela permanência em um ambiente restrito


ou sem condições de renovação do ar respirável. Ocorre uma
saturação de vapor d’água no ar do ambiente, o que dificulta
ainda mais a eliminação do CO2 pelo organismo, seja pelos
pulmões seja pelo suor.

Nesta modalidade de asfixia, há uma diminuição progressiva do


O2 ao organismo e concomitante aumento do CO2
Soterramento

1. Todas as formas de morte em que o indivíduo fique coberto


completamente por escombros de um desmoronamento, ou
pode ter seu uso restrito aos casos de cobertura do corpo
por sólidos pulverulentos como num sepultamento.

2. Materiais de natureza diversa.


Mecanismo de morte no soterramento

1. Asfixia por:
1. Sufocação indireta
2. Sufocação direta
3. Soterramento estrito
4. Confinamento
Sufocação indireta

Também chamada de passiva é ocasionada pela compressão


do tórax ou eventualmente tórax e abdome, com força
suficiente para impedir os movimentos respiratórios e
culminar com asfixia. Em geral, nos adultos, a sufocação
passiva apresenta-se associada à outra forma de violência e
(exemplo ação contundente e posterior fratura de arcos
costais) e excepcionalmente como forma única
Soterramento
Asfixia por inalação de gases
irrespiráveis
ASFIXIA POR INALAÇÃO DE GASES IRRESPIRÁVEIS
ASFIXIA POR INALAÇÃO DE GASES IRRESPIRÁVEIS

Gases de combate

Utilizado na tentativa de dispersar multidões.

Gases lacrimogêneos

gases com alto poder de ação sobre os olhos causando


inicialmente uma leve sensação de formigamento, reflexo nas
pálpebras evoluindo rapidamente com intenso lacrimejamento,
cefaleia, fadiga, vertigens, irritação das vias aéreas superiores e
pele. O principal representante é o cloroacetofenona
ASFIXIA POR INALAÇÃO DE GASES IRRESPIRÁVEIS
Gases de combate

Gases esternutatórios

são gases que possuem além de um tropismo pelas vias aéreas


superiores, uma ação sistêmica global. Indivíduos expostos
apresentam intensa irritação do sistema respiratório
representado por: tosse violenta, espirros e rinite além de
sintomas gerais como: fotofobia, conjuntivite, náuseas, vômitos,
dor torácica e abdominal, cefaleia, poliúria e vasodilatação
(capilares). O representante mais importante dos gases
esternutatórios é o etildicloroarssina. Concentrações de 0,5mg/L
durante 10 minutos costumam ser letais.
ASFIXIA POR INALAÇÃO DE GASES IRRESPIRÁVEIS

Gases sufocantes

gases que provocam intensa sensação de dor, espasmos


laríngeo e da musculatura brônquica, dispnéia, hipotensão
postural, hepatização dos pulmões, ingurgitamento venoso geral,
cianose, náuseas e vômitos, síncope, inconsciência, falência do
ventrículo esquerdo, edema agudo de pulmão e morte. O
representante de maior expressão em nosso meio é o cloro.
ASFIXIA POR INALAÇÃO DE GASES IRRESPIRÁVEIS

Ácido cianídrico

também conhecido como ácido prússico produzem, em contato com


a vítima, vertigens, hiperpnéia, cefaleia, taquicardia, cianose,
convulsões inconsciência e morte. O tempo de exposição necessário
variado, podendo estar entre alguns minutos ou horas. Este gás é
utilizado em diversos estados americanos como forma de pena de
morte.
ASFIXIA POR INALAÇÃO DE GASES IRRESPIRÁVEIS
Monóxido de carbono

originado de diversas fontes (gás de cozinha, chaminés, incêndios,


queima do carvão como fonte de energia em indústrias, descargas
dos veículos automotores, etc.), possui, quando inalado, uma rápida
absorção pelos alvéolos, seguido de uma estável reação química
com a hemoglobina que impede o processo de hematose e,
consequentemente uma anóxia tissular.

Sintomas: edema cerebral, cefaleia intensa, vasodilatação cutânea,


zumbidos, tosse, náuseas, vômitos, síncope, taquisfigmia,
taquipnéia, debilidade muscular com paralisia dos membros
inferiores.
Asfixia por CO:
coloração avermelhada da mão.
ASFIXIA POR INALAÇÃO DE GASES IRRESPIRÁVEIS

A necrópsia dos vitimados mostra elementos de grande valor p/ diagnóstico:

1. Rigidez precoce
2. Face carminada
3. Cianose de coloração vermelho-claro
4. Sangue fluido e rosado
5. Manchas de hipóstase claras
6. Pulmões rosados com eventuais trombos em sua luz
7. Edema cerebral
8. Trombos em coronárias
9. Manchas de Tardieu
10. Putrefação tardia
11. O diagnóstico laboratorial é realizado por espectroscopia do sangue
colhido nas câmaras cardíacas, grandes vasos ou vísceras maciças.
ASFIXIA POR INALAÇÃO DE GASES IRRESPIRÁVEIS

Gases industriais

De grande importância para a infortunística acidentária


(parte da medicina legal que estuda os acidentes de trabalho),
estes gases podem provocar, nas vítimas expostas, estertores,
dispnéia, irritação intensa da laringe, da traquéia e dos
brônquios.
ASFIXIA POR INALAÇÃO DE GASES IRRESPIRÁVEIS

Gases anestésicos

O interesse médico legal neste tipo de asfixia se dá nos


casos de morte relacionados ao uso dos mesmos, que muitas
vezes são rotulados erroneamente como “choque anafilático.
Nestes casos, caberá aos peritos, após minucioso exame,
esclarecer à justiça se a causa da morte foi acidental ou por
negligência profissional.
Fuligem na via aérea
Afogamento

“Tipo de asfixia mecânica, produzido pela penetração de um


meio líquido ou semi-líquido nas vias respiratórias”
(França, 2011)
Afogamento

É a asfixia mecânica produzida pela penetração de um


meio líquido nas vias respiratórias, ocasionada pela
imersão total ou parcial da vítima, impedindo assim a
passagem de ar aos pulmões.
Afogamento
1. Fase de resistência apneia voluntária. Vítima lúcida e com reflexos
preservados

2. Fase de exaustão dispneia com inspirações profundas e expirações


curtas, desencadeadas pela elevação dos níveis de CO2. Penetração
de água nos brônquios e bronquíolos, devido aos movimentos
ocasionados pela dispneia. Origina-se enfisema hidroaéreo pulmonar
e espuma sanguinolenta intrabrônquica explicado pela agitação do ar
pelo refluxo do sangue nas câmaras direitas.

3. Fase de asfixia Há uma perda da consciência, parada respiratória,


insensibilidade, convulsões e morte
Afogamento
Exame externo (Atípicos)
1. Pele anserina
2. Piloereção dos músculos eretores dos pêlos;
3. Retração de mamilos
4. Retração de bolsa escrotal e pênis
5. Temperatura baixa da pele
6. Maceração epidérmica, devido à completa embebição da epiderme
podendo evoluir com fenômeno conhecido como em “dedo de luva”, onde
verdadeiros retalhos de extremidade se formam e se destacam
acompanhados dos fâneros.
7. Rigidez precoce
8. Lesões de dedos e/ou presença de corpos estranhos debaixo das unhas,
por arrastamento.
9. Face lívida nos afogados brancos (morte por inibição) ou cianosada nos
cadáveres submersos com penetração de água nas vias aéreas
10. Destruição de partes moles e cartilaginosas por ação da fauna aquática;
11. Projeção da língua além da arcada;
Afogamento
Exame externo Típicos
1. Coloração verde bronzeada da cabeça, em fase de putrefação
- “cabeça de negro”.
2. Livores de coloração vermelho-claro nas partes pendentes do
corpo (maior ação da gravidade em sangue de alta fluidez);
3. Cogumelo de espuma Este sinal acompanha geralmente
vítimas que apresentaram reação enérgica na fase de
exaustão onde há uma turbulência maior do sangue de
fluidez aumentada nas câmaras direita cardíacas.
4. Putrefação de fases distintas sendo lenta enquanto o corpo
apresenta-se submersa e rápida após contato do corpo com
meio externo.
Afogamento
Exame interno
1. Líquido na árvore brônquica, sob a forma de espuma branca,
rósea ou sanguinolenta.
2. Líquidos nas cavidades subpleurais.
3. Corpos estranhos no interior da árvore brônquica.
4. Desestruturação da arquitetura pulmonar (distensão acentuada,
enfisema aquoso, ruptura alveolar, ruptura capilar)
5. Fluidez aumentada do sangue (a fluidez nas câmaras esquerdas
é maior que nas câmaras direita)
6. Presença de líquido no aparelho digestivo
7. Líquido no aparelho auditivo (ouvido médio)
8. Congestão polivisceral
Afogamento
A cronotanatognose nas vítimas de asfixia por afogamento tem pouca precisão,
do tempo cronológico.

1. por volta do 2º dia haverá o surgimento da “cabeça de negro” nos afogados


nos meses quentes e em água doce.

2. O corpo poderá apresentar, próximo ao 3º dia, maceração o da pele das


mãos e dos pés, putrefação acentuada e aspecto de gigantismo.

3. A flutuação será diferente em água doce e salgada: os corpos não


destruídos pela fauna apresentaram flutuação entre 24 horas e o 5o dia,
sendo que este tempo será mais precoce em águas salgadas.
Fisiopatologia
Afogado branco - cadáver que mergulhou, não afogou)
• Síncope
• TCE
• Hidrocussão: síncope termo-diencefálica
• Inibição emotiva
Fisiopatologia
Flutuação
• Imersão
• Flutuação: 24 horas até 5 dias
• Segunda imersão: esvaziamento dos gases
• Segunda flutuação: adipocera
Exame externo
Necrópsia
Sinais externos:
Esfriamento precoce
Rigidez precoce
Pele anserina
Retração do mamilo, escroto e pênis
Maceração da epiderme
Lesões causadas pela fauna aquática
Exame externo
Necrópsia
Sinais externos:

• Cogumelo de espuma

• Erosões nos dedos

• Corpos estranhos sob as unhas

• Escoriações
Cogumelo de espuma
“Cabeça de negro”
Necrópsia
Sinais internos:
• Líquido e/ou corpos estranhos nas vias respiratórias;
• Líquidos no estômago, duodeno e jejuno;
• Lesões pulmonares
distensão
enfisema aquoso (elemento morfológico sugestivo de
aspiração de líquido)
manchas de Paltauf
Necrópsia
Sinais internos:
• Líquidos no ouvido médio
• Hemorragia temporal e etmoidal
• Congestão polivisceral
• Diluição do sangue
Laboratório

• Avaliar diluição sanguínea:

- crioscopia

- teor de sódio e de cloreto

• Pesquisa de diatomáceas no sangue e nos pulmões.

• Histopatológico: fundamental para embasar o diagnóstico!


Diagnóstico de certeza

• Afogamento?

• Acidental, suicida, homicida?

• Simulação?

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