LIVRO DO KITH

Livro de Kith Dez

Para Changeling: O Sonhar
 LIVRO DO KITH

Magus e Alexander Weiss

2 Livro do Kith Piskies
CRÉDITOS
Escrito: Magus iuvens@hotmail.com
Material Adicional: Alexander Weiss
Arte da Capa: Tony Diterlizzi
Tradução: Bibliotecários de Tara-Nar
Revisão: Bibliotecários de Tara-Nar
Baseado em Changeling: O Sonhar, Edição do 20º Ani-
versário, escrito por: Christine Beard, Charlie Cantrell, Maggie
Carroll, Jackie Cassada, Matthew Dawkins, Shoshana Kessock,
Ian Lemke, Jonathan McFarland, Matthew McFar¬land, Mor-
gan A. McLaughlin McFarland, Krister M. Michl, Nicky Rea,
Holden Shearer, John Snead, Vera Vartanian, Amy Veeres,
Peter Woodworth
AGRADECIMENTOS:
Aos meus amigos distantes, que encontrem um lar onde a
estrada os levou.
AVERTÊNCIA:
Este material foi elaborado por fãs e é destinado a fãs, sendo
assim, ele deve ser removido de seu computador em até 24hs,
exceto no caso de você possuir o material original (pdf registrado
ou livro físico). Sua impressão e/ou venda são expressamente
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 LIVRO DO KITH

O Direito ao Santuário 31
VOLTE PRA CASA 5 CAPÍTULO QUATRO:
O Direito à Vida 31
CAPÍTULO UM: Formas de Passar o Tempo 32 MEMÓRIAS INESQUECÍVEIS 49
O Senhor Xadrez 50
O PONTO DE PARTIDA 13 Irmãos e Irmãs Mais Velhos 32
Fogos-Fátuos 33 Douwe, Holandês Errante 50
O Princípio 13
Os Guardiões do Caminho 34 Delphine Achidou 51
Fadas Madrinhas 14
Os Animalários 35 Melisa Mantoiris 51
O Mundo Antigo 15
As Duas Cortes 37 Lady Enid Slater 52
A Queda dos Deuses 17
Obrey Vinhotinto 53
A Idade Média 18 CAPÍTULO TRÊS:
A Fragmentação 18 APÊNDICE:
Cornualha 20
ROSTOS FAMILIARES 37
O Sentido da Vida 38 COISAS PELO CAMINHO 65
Interregno 20
Infantes 38 Qualidades e Defeitos 65
Revoluções 21
Estouvados 39 Dom de Tirésias 65
Idade dasMaquinas 22
Rezingões 40 Fogo Fátuo 66
O Mundo em Guerra 24
Diversidade 40 Orientação 66
Ressurgimento 25
Encontros no Sonhar 40 Nostalgia 66
Um MundoFeliz? 27
Boggans 41 Desconfiado 66
A Viagem e o Caminho 29
Clurichaun 41 Fogo no Rabo 66
CAPÍTULO DOIS: Exus 41 TESOUROS 66
Manta Firme 66
VIDA ERRANTE 29 Nockers 41
Pooka 42 Botas Mágicas 66
Direitos Inatos e Fraquezas 30
Redcaps 42 Trouxa Mágica 67
Ágeis 30
Misturando-se 30 Sátiros 42 PALAVRAS FINAIS 68
Dedos Leves 30 Selkies 43

As Redevances 31 Sidhe (Elfos) 44

O Direito ao Domínio 31 Sluagh 44

O Direito de Sonhar 31 Trolls 44

O Direito à Ignorância 31 Gallain 45

O Direito ao Resgate 31 Pródigos 46

4 Livro do Kith Piskies

 VOLTE PRA CASA
N
unca fez tanto frio do lado de fora. Johnny já tinha ido a muitos lugares na
companhia de seus pais ou quando precisava ir a algum lugar específico, mas o
fato de deixar sua casa para trás parecia intensificar a sensação de frio, de estar
realmente sozinho, em um lugar onde não deveria estar. E não estava apenas frio, tudo
parecia mais escuro, mais silencioso, como se de alguma forma o mundo tivesse notado sua
fuga e o estivesse vigiando, observando seus passos. Como um ratinho assustado, o menino
movia a cabeça loira de um lado para outro, com seus grandes olhos azuis nervosos, um rosto
pálido e infantil vestindo suéter laranja e jeans.
Mas ele não podia voltar atrás. Sete meses atrás, ele tinha visto os pais discutindo pela
primeira vez na sua frente, e foi como se ele sentisse uma pontada em seu coração. A partir
daí, como se tivessem quebrado um tabu, seus pais discutiam cada vez mais, Johnny estando
na frente deles ou não. Às vezes, ele soluçava pedindo-lhes para parar e eles obedeciam, mas
na maioria das vezes eles diziam para ele ir para o seu quarto, que precisavam conversar
sobre coisas de adultos e não havia mais nada a ser dito. E Johnny chorava em seu quarto,
ouvindo os gritos abafados e às vezes os murros contra os móveis e as paredes.
Johnny tinha oito anos e não sabia muito sobre coisas de adultos, mas sabia que havia
outra pessoa, alguém que havia perturbado a paz de sua casa e, sem conhecê-la, ele a odiava
e desejava que o pior lhe acontecesse. E então um dia ele ouviu uma palavra que disparou
seus alarmes.
Divórcio.
A partir de então, as discussões deram lugar a um silêncio tenso. Seus pais se evitavam,
e Johnny se esforçava para botar um sorriso no rosto e tentar convencê-los a se reconciliar,
mas sem sucesso. Em uma manhã, papai pegou suas coisas e saiu de casa; o advogado viria
na semana seguinte com os papéis para assinar.

Volte pra Casa 5

 O medo de Johnny se transformou em angústia e naquela tarde, com sua mochila escolar
nas costas, onde ele colocara um sanduíche e algumas das coisas que mais gostava, ele decidiu
deixar aquele lugar que o assustava tanto. Talvez tenha sido uma decisão precipitada, mas,
do ponto de vista de uma criança de oito anos, era a coisa certa a se fazer. Talvez seus pais
percebessem o quanto ele se sentia assustado e não se divorciariam, ou ele encontraria outra
casa para morar sem medo.
E lá estava ele agora, atravessando as ruas sempre em linha reta. As casas do bairro que
ele conhecia deram lugar a outras que ele nunca vira antes, e ele se sentiu como um explorador
entrando numa selva desconhecida, uma de concreto e asfalto. No entanto, logo a maravilha
da novidade deu lugar à preocupação do desconhecido. Havia rostos desconhecidos que ele
nunca vira, e ele tentou evitar se aproximar de estranhos. Os estranhos. Ele tinha que ter
cuidado com eles. Foi o que mamãe e papai sempre lhe disseram.
Ele ouviu um tilintar metálico e viu uma pessoa sob um longo casaco feito de retalhos
coloridos se movendo em sua direção. Ela tinha longos cabelos, espessos e brancos, prateados
nas pontas, presos sob um grande chapéu vermelho. De repente, seus olhos verdes se fixaram
nele com curiosidade, e uma boca sorridente rodeada por um mar de rugas chamou sua
atenção.
— Olá.
Aquela senhora parecia a avó de Johnny, e isso o tranquilizou, mas ela ainda era uma
estranha, por isso ele manteve distância.
—O que você faz por aqui?
Johnny não disse nada. Aquela voz era como a de sua avó, mas ele não queria dizer que
havia fugido de casa.
— Já entendi. Não tenha medo. Meu nome é Melisa.
— John ... Johnny.
– Agora sim. Você está perdido?

6 Livro do Kith Piskies

 – Não. Johnny disse de forma automática e abrupta, deixando escapar o ar que havia
sido contido pelo nervosismo.
De repente, um assobio percorreu a rua como uma rajada de vento. Entre as sombras
da rua apareceu um grupo de quatro adolescentes, quase como lobos à espreita e com sorrisos
afiados. Johnny sentiu como se tivesse caído em uma armadilha, mas a mulher de chapéu
vermelho e cabelos brancos se virou em silêncio. Sem saber como, agora ela tinha uma
bengala nas mãos, que segurava com firmeza.
— Olá meninos, vocês estão perdidos?
Uma risada zombeteira respondeu à pergunta. Um dos adolescentes veio para frente.
Ele era um tipo magro e pálido, com cabelos ruivos escuros, vestido com jeans sujos e uma
camiseta surrada. Ele usava um gorro de lã vermelho com uma estampa de um demônio
sorridente.
— Não, na verdade nós moramos aqui.
— Oooook...
— E eu acho que são vocês quem estão perdidos, escória.
— Oh, eu sempre estou onde eu quero estar, meu jovem arruaceiro e cheio de raiva.
Seguindo o que parecia ser seu líder, os quatro adolescentes avançaram. Seus sorrisos
brancos e afiados assustaram Johnny, que deu um passo temeroso para trás.
O chefe dos adolescentes encarou a velha esfarrapada, que de repente parecia muito
menor encolhida sob o chapéu vermelho. Com um sorriso cruel o menino estendeu a mão,
com unhas compridas e sujas.
— Bonito chapéu, eu acho que vou pegar ele pra mim.
Houve um redemoinho de cabelos brancos e de repente a bengala da velha girou em um
movimento rápido como um relâmpago, golpeando o joelho do rapaz por trás e derruban-
do-o com um uivo de dor.
Os outros adolescentes pararam, espantados, em como seu líder caído no chão se agarrava
ao joelho quebrado.

Volte pra Casa 7

 — Peguem-na, idiotas!
Mas a velha, apesar de sua idade e tamanho diminuto movia-se como um furacão,
agitando o casaco de retalhos coloridos como se fosse uma capa e usando-o como proteção.
Segurando sua bengala como uma lança, ela golpeou outro dos adolescentes na virilha, um
menino barrigudo de pele escura, e também o derrubou. Outro, com uma cara de doninha,
puxou uma faca.
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Johnny já havia visto demais e correu sem olhar para trás. Por um momento pareceu
que aqueles bandidos tinham dentes afiados e rostos desumanos, isso não podia ser verdade ...
(recomended ¶¶¶full color)
E
le não parou até ficar sem fôlego. Tinha corrido de um beco para outro, entrando
cada vez mais naquele bairro desconhecido sem saber para onde estava indo, e
como resultado, ele agora estava mais perdido do que antes. De repente, ele se viu
em um beco escuro na parte de trás de um restaurante, de onde vinha uma corrente de ar
quente com uma mistura de cheiros que se mesclava com o fedor proveniente das latas de
lixo transbordando, e dos vários sacos de lixo espalhados pelo chão. Alguns gatos fugiram
miando em protesto, vendo seu almoço interrompido pela chegada de Johnny. O garoto
parou, assustado e ofegante.
Novamente ele não sabia onde estava e a noite já havia caído. À distância, ouviu-se o
som de um carro que passava e a agitação distante da cidade. A luz dos postes o chamava,
fazendo com que ele se afastasse da escuridão, algo se movia ali, nas sombras ...
De repente, a luz no fundo do beco desapareceu, bloqueada por uma figura atarracada e
encardida que surgiu na frente de Johnny. Por um momento, o menino pensou que Melisa
o havia seguido, mas logo se deu conta que não. Ele era um homem mais alto que a velha,
de cabelos brancos, rosto duro e enrugado e com olhos pequenos e escuros como pérolas de
azeviche. Ele usava uma camiseta cinza suja e desgastada e mostrava um sorriso cruel nos
lábios, mostrando dentes escuros e amarelados.
— Bem, bem, bem, olha o que temos aqui ...

8 Livro do Kith Piskies

 Johnny recuou, pensando em correr de novo, mas uma das mãos calejadas do homem
se moveu como uma serpente e, em seguida, agarrou-o pelo pescoço, sem sequer lhe dar a
chance de gritar.
— Oh, coitadinho. Você entrou no buraco errado, garoto. Azar para você e sorte para
mim...
Nesse momento, uma forte brisa soprou na entrada do beco e o valentão se virou. Melisa
estava lá envolta por uma fraca aura de luzes da cidade, a bengala firme nas mãos, seu casaco
de retalhos multicoloridos flutuando ao seu redor em uma corrente de ar.
— Largue ele, seu tarado!
Numa fração de segundos, seguida por um brilho metálico, o captor de Johnny colocou
o garoto na sua frente com uma navalha no pescoço.
— Bem, bem, bem, olha o que temos aqui... Melisa Mantoiris se metendo onde não é
chamada. Outra vez.
— Tire as mãos do garoto, seu tarado. Ele não pertence a você, nem este é um lugar
para o seu negócio sujo. Volte para as sombras de onde você saiu.
— Você não tem o direito de me interromper. Por acaso você se atreve a privar a Corte
Sombria de sua presa?
Melisa deu um passo à frente. Johnny sentiu uma pontada no pescoço e conteve um
soluço. Aquela faca estava fria como gelo.
— Pense por um momento, seu tarado. Essa criança já pertence a outros. E eu te conheço.
Qual você acha que seria o destino de alguém que se atreve a levar um príncipe dos sidhe?
Você pode se safar por enquanto, mas não encontrará descanso pelo resto de sua existência,
que será curta e breve. Você vai amaldiçoar cada segundo que passou com o menino.
O homem rosnou pensativamente, evidentemente desconfortável com a afirmação que
Melisa acabara de fazer.
— Você e os seus estão sempre se intrometendo nos assuntos dos outros. Eu te odeio.
— E nós vamos continuar fazendo isso com todos vocês tarados, enquanto vocês existirem.

Volte pra Casa 9

 De onde estava, Johnny encontrou os olhos verdes da velha, um olhar que o tranquilizou,
que lhe dizia para não ter medo. — Há força em você, pequeno príncipe, use-a. E o menino
se viu recordando; sua mente cheia de sonhos de altas torres douradas...
Uma aura de luz quente explodiu ao redor de Johnny, e seu captor uivou de dor, soltando
a faca e caindo para trás, seu casaco esfumaçado. O garoto abriu os olhos, surpreso, e correu
para os braços da velha, sentindo-se seguro.
— Maldita seja, velha Mantoiris! Maldito seja você e os seus!
— Você deveria ser grato, ladrão de crianças e de sonhos. Acredite ou não, você acabou
de se livrar de um grande problema. Agora vá lançar suas maldições vazias em outro lugar,
e lembre-se de que estamos de olho em você.
O homem de moletom cinza pareceu ficar menor, e dizendo palavrões e soltando grunhidos
ele foi em direção às sombras do beco, que caíram sobre ele como se ele nunca tivesse estado
lá. Os sons e luzes da rua voltaram.
— Quem... quem ele era?
— Um ladrão. Um tarado. Um reflexo sombrio do que somos, que tenta preencher
seu vazio com as ilusões dos outros, porque a miséria adora companhia.
Johnny se sentiu protegido no abraço da velha e não quis se soltar, mas Melisa Mantoiris
tinha outros planos. Ela se afastou dele gentilmente e bagunçou seu cabelo.
— Agora vamos voltar ao começo, principezinho. Você está perdido?
— Sim...
Bem, então eu vou te levar para casa.
—Eu fugi de lá.
—Você tem sorte de ter um lugar para chamar de lar. Não desperdice isso, mesmo que
a tristeza e o vazio caiam do céu.
— Meus pais querem se divorciar — soluçou Johnny.
— Às vezes é melhor estarem separados para não brigarem e se tornarem pessoas
melhores. Às vezes algumas pontes quebradas são reconstruídas e se encontram novamente

10 Livro do Kith Piskies

na mesma estrada. E às vezes não. Se seus pais não se amam mais, isso não significa que
eles não te amam. Não é o momento de fugir, principezinho, mas de permanecer e resistir.
Um novo caminho foi aberto e você não deve abandoná-lo antes de começar a trilhá-lo.
E de repente Johnny percebeu que havia começado a andar e que tudo o que via era como
um sonho. Ao lado dele Melisa caminhava, uma velha com cabelos prateados e um sorriso
como o da avó. Suas palavras devolveram sua força e lhe deram coragem. E enquanto eles
conversavam, as ruas passavam ao seu redor e assim eles acabaram chegando na casa de
Johnny. Havia um carro de polícia estacionado na calçada com as luzes acesas. Seus pais
estavam abraçados na varanda enquanto um oficial tomava notas. Naquele momento,
Johnny ficou com medo e se virou, mas ele estava sozinho novamente.
— Agora vá para casa, principezinho — ele ouviu uma voz que parecia vir de todos
os lugares.
Johnny fez o maior dos esforços que já fizera em toda sua vida. Ele respirou fundo, deu
um impulso e correu para sua casa, chamando seus pais de braços abertos e se desculpando
por ter fugido. Suas lágrimas voaram pelo ar da noite como gotas de prata e não pararam
até que ele se encontrou dentro do abraço caloroso e familiar de seus pais. Ele não se impor-
tava mais com o medo.
E das sombras da rua, Melisa Mantoiris sorriu satisfeita, virou-se e continuou andando
sob as luzes da cidade, sem ir a nenhum lugar em particular. Aquele principezinho sem
dúvida aprendeu uma valiosa lição de coragem e assumiu as rédeas de sua vida sem medo.
Talvez um dia ele se tornasse um grande governante das fadas, mas ele ainda tinha um longo
caminho a percorrer e muitas coisas para aprender. Isso seria outra história, que talvez ela
ouviria ou participaria, se tivesse sorte.
Com surpresa, Melisa se viu lembrando de uma menininha que há muito tempo fugira
de casa, cheia de medo. Seus olhos ficaram úmidos, mas isso não a impediria de seguir seu
caminho. Indo em frente, sempre para frente.

Volte pra Casa 11

 CAPÍTULO UM:

O PONTO DE
PARTIDA
“Não há homem mais completo do que aquele que viajou muito, que mudou
sua maneira de pensar e de viver vinte vezes.”
— Alfonso Lamartine

É uma noite de São João na praia. A lua está cheia no céu e
ao longe você pode ouvir a música da festa, uma das muitas. No
entanto, há um grupo que parece ter se afastado da agitação para
um canto mais reservado, reunindo-se em torno de uma pequena
fogueira que parece um humilde reflexo das chamas queimando
como faróis improvisados ao longo da costa. Um dos presentes pega
um tronco e atira-o ao fogo antes de falar com seus companheiros
com certa solenidade.
O PRINCÍPIO
Primeiro vou me apresentar. Meu nome é Hermes, Hermes
Stoke. Nasci na Jamaica, uma ilha caribenha com uma certa fama
mundial, mas isso agora não importa, porque a deixei para trás
há muito tempo para viajar pelo mundo. Visitei muitos lugares e
trabalhei em muitas coisas, antes de seguir a direção do vento e
seguir em frente. Em minhas viagens vi muitas coisas e me tornei
conhecedor, até onde pude, do que poderia ser considerado nosso
legado.
Você está me pedindo uma história? Não temos uma
história. Nosso kith é formado por muitas histórias diferentes,
somadas uma após a outra, como retalhos que são costurados
juntos para formar uma manta quente e acolhedora, com
muitos materiais e mãos que contribuíram para seu feitio.
CAPÍTULO UM: O PONTO DE PARTIDA
Seda, algodão, lona, poliéster são misturados em quantidades
e formatos desordenados. Em vez de uma história, vou dar-lhe
um ponto de partida, um lugar de onde começar.
Por falta de um nome melhor, chamam-nos de Piskies,
mesmo que este seja um nome da Cornualha. Ao longo do
tempo e ao redor do mundo recebemos muitos outros nomes e
nos demos outros mais ainda. Há outros como Pobel Vian, Aos
Sí, Mooinjer Veggey. E nós também somos os Povo Errante, as
Crianças Perdidas, os Vagabundos Risonhos... isso quando eles
simplesmente não nos chamam de duendes ou trasgos, termos
ambíguos para tentar nos fazer encaixar em algo.
Mas se há uma coisa que nos caracteriza, é que não nos
encaixamos em lugar nenhum, pelo menos não para sempre.
E é assim que tem sido desde o início. Eu não poderia dizer-lhe
qual foi o primeiro dos nossos, e eu poderia contar-lhe muitas
histórias de deuses e fadas tentando explicar isso.
Eu acho que da mesma forma que os outros kiths feéricos
nasceram de algum lugar do Sonhar, de sonhos de grandeza,
sonhos de fome, sonhos de ordem, sonhos de maravilha,
sonhos de honra, sonhos de segredos, e muitos outros sonhos
estranhos, nós emergimos de sonhos de saudade e do desejo de
ter um lar. Nos primeiros tempos, o mundo dos homens e das
fadas estavam mais próximos e ambos os povos se juntavam e
133
misturaram-se. Os filhos desses relacionamentos aparecem em
lendas e histórias, tornando-se heróis e reis, que alcançaram
grandes feitos
Mas na maioria das vezes não era assim. Quando uma
dessas “crianças estranhas” nascia, ela costumava despertar
sentimentos conflitantes e até mesmo medo. Essas crianças
eram abandonadas, se não mortas, e as que sobreviviam muitas
vezes recebiam desprezo e rejeição. Algumas tentaram encontrar
abrigo no mundo feérico, onde se depararam com uma atitude
semelhante. O preconceito não é exclusivo dos humanos.
Entende onde quero chegar? Surgimos destes rejeitados,
marginalizados e mestiços, daqueles que ficaram no meio do
caminho, que não encontraram lugar entre as fadas ou entre os
humanos, e acabaram ficando entre os dois mundos. De certa
forma, fomos os primeiros Changelings, ou pelo menos fizemos
parte deles. Rejeitados e marginalizados por sermos diferentes,
começamos a vagar pelo mundo, tentando encontrar um lar
inalcançável, e esse desejo nos moldou.
Claro que, com o tempo, encontramos o nosso lugar. Como
ficamos sempre no meio, era natural que nos tornássemos
intermediários entre humanos e fadas, transmitindo avisos,
mensagens e notícias. Embora ainda não fôssemos plenamente
aceitos na sociedade, pelo menos tínhamos uma missão. Há quem
diga que foram os Tuatha de Danaan ou os Primogênitos ou os
deuses, ou o que quer seja, que nos fez assinar este pacto, mas
é mais provável que tenha acontecido de forma improvisada,
pois estávamos na posição ideal para lidar com os elementos
que incomodavam a ambos os lados.
FADAS MADRINHAS
O caminho que percorríamos entre fadas e humanos
era muito longo e acabamos encontrando muitos outros que
o trilhavam. Alguns de nós se estabeleceram nos limites da
civilização, visitando-a de vez em quando para levar avisos e
mensagens. Outros acompanharam os povos nômades da anti-
guidade, percorrendo as rotas comerciais e explorando novos
lugares, e embora tenhamos tentado nos encaixar, mais cedo
ou mais tarde descobrimos que não tínhamos encontrado o que
estávamos procurando e retomávamos a viagem.
Devido às nossas origens mestiças e bastardas, simpatizá-
vamos com aqueles em situação igual, as crianças não amadas,
os órfãos, os abandonados. Fomos até eles e os ajudamos e os
ensinamos a sobreviver, dando-lhes força e vontade para seguir
em frente. Quando a guerra e a doença deixaram órfãos em seu
rastro, ou filhos de viúvas, as “fadas madrinhas” apareciam para
ajudar seus “afilhados”, ajudando-os a trilhar seu caminho e
encontrar sua felicidade. Em tempos de necessidade, enchemos
muitos estômagos sem pedir nada em troca e muitas vezes sem
assumir os créditos por isso. Preferimos ajudar discretamente e
observar de longe, embora nem sempre. Às vezes você precisa
14 LIVRO DO KITH: PISKIES
de um rosto gentil e palavras afetuosas antes de um almoço
quente e uma cama confortável.
Nosso papel em muitas lendas e histórias é humilde, mas
importante. Raramente fomos heróis, mas ajudámos a criá-los.
Em muitas histórias durante a sua viagem, os protagonistas
encontram estranhos misteriosos, que muitas vezes impõem
testes à sua coragem, bravura e bondade. Nem todos têm sucesso,
mas aqueles que o fazem muitas vezes alcançam finais felizes...
ou novos desafios na sua caminhada. Nossa curiosidade nos
levou a conhecer bem os humanos, os melhores e os piores.
Nós entendemos que somente através de um esforço honesto
as pessoas trazem à tona o melhor de si, e que presentes e bên-
çãos indesejados e mimos constantes criam crianças mimadas
e adultos insuportáveis.
Então lembre-se, os piskies geralmente não são bons pro-
tagonistas, mas somos bons atores secundários e ajudantes de
heróis. Temos sido professores e conselheiros, ou “encontros
inesperados e afortunados”. Não levantamos a espada mágica,
mas sabemos como chegar até ela e os obstáculos no caminho.
Mas quem quiser ganhar a nossa confiança tem de se mostrar
digno. Em muitas histórias em que aparecemos, aqueles que
rejeitam nossos conselhos ou nos maltratam muitas vezes fra-
cassam, e só o verdadeiro herói que mostrou bondade e virtude
triunfa graças à nossa ajuda.
Mas devemos reconhecer que nem todos os de nosso kith
têm sido tão altruístas. Irritados ou ressentidos com a rejeição
daqueles que os cercam, alguns piskies se tornaram amargos e
rancorosos. Suas lições e ajuda muitas vezes exigiam não apenas
esforço, mas também dor e sacrifício, embora não deixassem
de recompensar aqueles que eram merecedores aos seus olhos,
admitindo o valor de suas virtudes. Dentre esses feés, os mais
retorcidos se entregaram totalmente à escuridão, e foi assim
que nasceram os spriggans.
Ninguém sabe qual foi o primeiro deles, mas o ódio levou
os spriggans a se voltarem terrivelmente contra a humanidade
que os havia rejeitado. Trapaceiros e mentirosos, foram atrás dos
mais fracos, tirando os filhos dos que os ofendiam - e às vezes
mesmo o de inocentes - semeando a dor da perda em seu rastro.
Lendas e contos de fadas que sequestram crianças que nunca
mais são vistas têm origem nesses terríveis tarados.
Mas o que eles fazem com suas presas? As crianças sempre
foram tesouros altamente valorizados entre as fadas mais negras
ou entre seres ainda mais perversos. Desta maneira os spriggans
conseguiram um lugar sinistro de destaque entre as fadas com
seu terrível comércio. Inevitavelmente irrompeu uma guerra
entre nós e eles, uma guerra que nunca terminou por completo,
e embora pareça que com o tempo eles se tornaram mais caute-
losos, especialmente por causa das terríveis consequências do
sequestro de uma criança, nunca devemos baixar nossa guarda
ou permitir que eles se alimentem dos mais indefesos. Seelie ou
Unseelie lutamos a mesma guerra quando se trata de spriggans.

O MUNDO ANTIGO
Faz-se silêncio ao mencionar os inimigos das trevas. Hermes
Stoke senta-se e na multidão outro homem se levanta e joga um
punhado de folhas de oliveira secas ao fogo, que ardem nas chamas,
e se elevam em brasas alaranjadas em direção ao céu.
Meu nome é Aristóbulo e sou estudante de intercâmbio.
A verdade é que tenho aproveitado todas as oportunidades
que surgem para estudar no estrangeiro. Sou apaixonado por
antropologia e folclore, e como não poderia deixar de ser, tudo
o que nos deu forma como um kith.
Como nos disse o meu companheiro Hermes, estávamos
dispersos entre os errantes, longe das grandes cidades que co-
meçavam a florescer, mas isso não nos impediam de visitá-las,
porque a humanidade começava a construir coisas fascinantes.
A domesticação de animais e plantas foi apenas o começo, mas
inconscientemente os humanos também construíram laços que
os assentaram e os impediram de se afastar muito. Não que a vida
nômade fosse um mar de rosas, é claro, mas conforme os humanos
se tornaram mais complicados eles criaram novos problemas,
o que os levou a inventar novas soluções e assim por diante. É
como se estivessem constantemente oscilando entre o paraíso e
o desastre. E, sem dúvida, criaram grandes maravilhas. Seguindo
as rotas comerciais ou ao lado de fugitivos, contemplamos como
se ergueram as pirâmides do Egito, os grandes círculos de pedra
CAPÍTULO UM: O PONTO DE PARTIDA
da Europa, os zigurates da Babilônia e cidades agora esquecidas
no Oriente e no Ocidente... nossa curiosidade sempre nos levou
além do horizonte, seguindo o vento.
Nunca nos concentramos em grande quantidade em um
mesmo lugar, ou pelo menos não permanentemente. Embora
não nos encaixássemos em nenhum lugar, logo nos adaptávamos
como viajantes amigáveis que traziam notícias e mercadorias
de lugares distantes e eventualmente assumíamos os rostos e
sorrisos de nossos anfitriões antes de seguir o vento mais uma vez.
Dizem que nossas raízes estão na região da Cornualha e
na cultura celta, mas a verdade é que o nome “piskies” é usado
para todos os tipos de fadas naquele lugar. Estávamos juntos
dos feés germânicos, latinos e gregos, dos espíritos do antigo
Egito e do Oriente, mas passamos muitas vezes despercebidos
entre eles. Ninguém prestava muita atenção se em um grupo
de boggans havia um com olhos verdes e cabelos prateados, ou
se na corte do sidhe havia um dançarino alegre que deleitava
os convidados, ou nos duendes festeiros que acompanhavam
os sátiros em suas festas. Um ou dois rostos diferentes passam
despercebidos em uma multidão. E quando não éramos bem
recebidos, bem, sabíamos muito bem o que era rejeição, e sa-
bíamos como nos comportar ou nos disfarçar, ou simplesmente
nos esconder tempo suficiente para resolver nossos problemas
antes de seguir em frente.
155
 O GRANDE HERMES
Tenho de fazer uma menção especial à Grécia, não
só porque sou de lá, mas também porque teve alguma
importância em nosso kith. A princípio muitos ficariam
surpresos ao saber que os piskies estiveram lá, pois parece
que nossa presença passou despercebida nos muitos mitos
e histórias lendárias que se originaram naquele lugar na
antiguidade.
De acordo com alguns historiadores feéricos, os antigos
deuses do Olimpo eram na verdade espíritos feéricos, e
eles frequentemente afirmam que tal e tal deus pertencia a
tal e tal kith. Não tenho tanta certeza. Na verdade, penso
que os deuses olímpicos eram muito mais do que isso, seres
que vieram dos sonhos e crenças da humanidade, mas ao
mesmo tempo com um poder que transcendia o das fadas.
Não serei eu quem resolverá a questão e certamente não
arruinarei a maravilha e o mistério da Grécia Antiga com
teorias frias e estéreis.
Entre os deuses olímpicos estava Hermes, o mensageiro
dos deuses, das fronteiras e dos viajantes que as atravessam,
da engenhosidade e do comércio, da astúcia, dos ladrões e
dos mentirosos. Homero o chama de deus da ingenuidade
múltipla, dos pensamentos astutos, trapaceiro, ladrão de
gado, senhor dos sonhos, espião da noite e guardião dos
portões.
Isso soa familiar? Por isso não é estranho que alguns
piskies, especialmente na Grécia, considerem Hermes
como o primeiro deles, ou pelo menos um deles que foi
transformado num deus. Como mencionei, tenho minhas
dúvidas.
Em todo caso, muitos piskies gregos frequentemente
copiaram Hermes no mundo grego ou Mercúrio no mundo
romano, e às vezes enganaram os mortais fingindo ser o
deus. Muitas vezes acompanhamos outros espíritos festivos,
e especialmente os faunos e sátiros, com os quais muitas
vezes partilhávamos alegria e celebração, indo de festa
em festa compartilhando diversão.
Mas não só nas festas dos antigos gregos e romanos
encontramos amizades e alegria. Alguns de nós éramos
fascinados pelo teatro, e acompanhávamos grupos de atores,
comediantes e artistas que viajavam pelo mundo antigo
oferecendo arte e espetáculo. Outros acompanharam os
navegadores no comércio marítimo ou na exploração de
terras distantes, e finalmente outros até acompanharam os
exércitos dos soldados macedónios que seguiram o conquis-
tador Alexandre o Grande até aos limites da Índia. Alguns
o acompanharam em seu retorno, mas outros decidiram
seguir em frente, misturando-se com os habitantes locais.

16 LIVRO DO KITH: PISKIES


A QUEDA
DOS DEUSES
Adrián Setebrejas, honrando seu nome, abre uma garrafa de
–cerveja artesanal escura, e enquanto derrama a bebida, ele chuta
um tronco retorcido com vários ramos em direção à fogueira.
Muito bonito! Tudo era muito bonito durante a era dos
deuses e heróis, mas acabou quando um novo deus apareceu
com o vento do leste. No início, gregos e romanos não tiveram
problemas com o pequeno culto oriental ao Sol, mas esta era
uma religião muito ciumenta, e não aceitava nenhum outro deus,
então não demorou muito para que os problemas surgissem. A fé
de seus seguidores rejeitava qualquer outra manifestação divina,
de modo que os deuses pagãos e os sonhos que os rodeavam logo
começaram a recuar.
Os cristãos apareceram numa época em que várias cortes
feéricas estavam em guerra umas com as outras, então os se-
guidores dos deuses gregos e romanos decidiram pôr fim à nova
religião por meio da força. Entre as perseguições e as expressões
do fanatismo, sem que nos déssemos conta disso, o Sonhar
começou a distanciar-se da humanidade.
Continuamos empenhados em atuar como mensageiros,
comerciantes, viajantes e “cidadãos do mundo”, como sempre.
Entretanto, como não paramos de viajar entre o mundo dos
sonhos e o mundo outonal, logo percebemos que algo estra-
nho estava acontecendo. Os caminhos de prata se alteraram
e as distâncias entre os reinos aumentaram. Os seguidores de
Hermes e dos outros deuses eram cada vez menos numerosos.
E quando o Cristianismo ganhou esta guerra no século IV,
as coisas pioraram. Os seguidores dos antigos deuses começa-
ram a ser perseguidos, bem como pessoas suspeitas como nós,
que não sabiam muito bem em que acreditavam. Foi quando
começaram a chamar-nos “demônios” e coisas piores. Não era
nada a que não estávamos acostumados, mas serviu para nos
lembrar de ficar longe dos padres cristãos.
Ao mesmo tempo, novos nômades chegavam às fronteiras
do Império Romano. Eram bárbaros que se empurravam uns
aos outros por novas terras. Várias fadas os acompanharam,
acreditando que os ajudariam a trazer de volta aos bons e velhos
tempos ou simplesmente a atacar seus inimigos. Mas mais uma
vez eles estavam errados. Os anos de caos que acompanharam
a queda do Império Romano permitiram que muitos se bene-
ficiassem destas águas turbulentas, mas o desespero causado
pela fome e pela guerra obscureceu o Sonhar e distanciou-o
ainda mais da humanidade. E as fadas permaneceram isoladas,
ocupadas com a Guerra das Estações. Os antigos deuses se
afastaram da humanidade ainda mais, e nosso poder sobre os
CAPÍTULO UM: O PONTO DE PARTIDA
sonhos diminuiu. Da nossa parte, aproveitamos este tempo de
confusão para continuar viajando em busca de aventura. Por
um lado, utilizamos as invasões bárbaras para acessar lugares que
antes estavam fechados para nós e fazer desaparecer um ou dois
tesouros no processo. No entanto, nós também protegemos os
indefesos, ajudando-os a enfrentar esses tempos difíceis. Muitos
órfãos surgiram nesta época turbulenta e nossa ajuda foi como
uma gota no oceano. E não é preciso dizer que, para os spriggans,
esta foi uma era dourada, faturando muito com os desamparados
e abandonados que a guerra deixou no seu rasto.
Que lição podemos tirar de tudo isso? Bem, ela confirma
que o remédio pode ser pior que a doença e que, em um conflito
com humanos, perdemos de uma forma ou de outra.
UMA OUTRA VISÃO
O mundo antigo também assistiu ao surgimento
e desenvolvimento da escravidão, uma instituição
muito útil para os parentes tarados dos piskies. Muitos
spriggans tornaram-se comerciantes de escravos, in-
vadindo aldeias e cidades e, da mesma forma, usando
seus negócios para fazer com que suas presas desapare-
cessem. O tráfico de escravos também permitiu que os
spriggans se estabelecessem como cidadãos respeitáveis,
usando suas redes para fazer desaparecer crianças e
não somente crianças quando necessário, acumulando
grandes riquezas com esse negócio.
Não se tratava apenas de riquezas mundanas. Várias
fadas usaram spriggans para obter humanos para vários
propósitos, sejam amantes ou brinquedos ocasionais
ou para propósitos mais sinistros, tais como usar seu
sangue e espírito em rituais sinistros. Dessa forma, os
spriggans do mundo antigo desenvolveram uma rede
clandestina de escravos que se conectou com várias
facções do mundo sobrenatural, não apenas entre os
espíritos feéricos, mas também entre magos e vampiros.
A queda do Império Romano e os momentos de
turbulência também permitiram aos spriggans acumular
escravos e riquezas simplesmente recorrendo à pilhagem
e à confusão. Muitos tesouros possuídos pelos spriggans
foram conseguidos durante este período, e foi durante
este mesmo período que o kith sombrio ganhou uma
reputação adicional como guardiões confiáveis de te-
souros, sejam deles próprios ou de outros proprietários.
177

A IDADE MÉDIA
Adrián Setebrejas dá um último gole em sua cerveja e volta
a sentar-se no círculo. Melisenda Abrolhobrilhante toma então a
palavra, joga um feixe de flores secas e perfumadas na fogueira, que
fazem as chamas arder e se elevar em direção à lua.
Depois da Idade Mítica acabamos por nos diminuir, em-
bora muitos se recusassem a aceitar isso. Sempre estivemos
entre humanos e fadas, mas agora estávamos mais próximos da
humanidade. Para ser honesta, os humanos eram mais fáceis de
suportar do que a arrogância dos senhores feéricos. Antes nos
dedicavam templos e sacrifícios, mas com o passar do tempo
começamos a desfrutar das simples ofertas, de tigelas de leite,
vinho derramado e outras coisas envoltas nas crenças e tradições.
Durante a Idade Média os outros kiths também começaram
a se definir, e foi então que realmente nos tornamos o que somos
hoje, duendes errantes de cabelos prateados com olhos verdes.
Também nos adaptamos à humanidade, misturando-nos sem
sermos vistos e nos tornarmos algo familiar que não despertasse
rejeição, algo que nos seria muito útil mais tarde. Muitos até
misturaram seu sangue com o de humanos, intensificando o
Expediente Changeling.
E a nossa proximidade com os humanos permitiu-nos
assumir muitas formas. Nós acompanhamos os grupos de me-
nestréis e artistas que visitaram as aldeias e cidades oferecendo
espetáculo e divertimento antes de continuar nosso caminho.
Aqueles que preferiam postos mais altos serviam nas cortes
dos nobres, em grande parte como mensageiros, embora alguns
também se destacassem em ofícios mais discretos, como espiões,
sabotadores e assassinos.
Muitas vezes protegemos as comunidades pelas quais
passamos, oferecendo nossa ajuda aos necessitados, especial-
mente os órfãos. Alguns Piskies trabalhavam como pastores ou
trabalhadores itinerantes, mas outros desempenharam o papel
de heróis errantes. Muitos cavaleiros medievais não perdiam
a oportunidade de enfrentar um dragão, mas a maioria das
pessoas tinha problemas mais simples e humildes. Desta for-
ma, houve piskies que se tornaram mercenários e soldados de
aluguel, caçando bandidos, afastando lobos e também outras
ameaças sobrenaturais. Esses piskies caçavam fadas sombrias,
especialmente aquelas que ameaçavam a humanidade, bem como
vampiros e outros monstros descontrolados. Estes “caçadores de
monstros” errantes não suscitavam muita simpatia, mas todos
reconheciam a sua utilidade e pagaram-lhes para pôr fim às
ameaças... embora também haja histórias de aldeões ingratos
que, uma vez eliminado o perigo, rejeitaram os seus salvadores
e os expulsaram, acusando-os de bruxas e ladrões.
Mas estes “heróis do povo” nem sempre agiram de forma
óbvia. Às vezes, eles simplesmente procuravam alguém apto para
lidar com o problema, ou, através de seus conselhos, ajudavam
as comunidades a se protegerem. E chegaram ao ponto de agir
18 LIVRO DO KITH: PISKIES
de forma completamente discreta, deixando cair a informação
certa nos ouvidos certos, como o paradeiro da toca de uma
besta ou a sua fraqueza.
Seguindo o caminho do vento, não costumávamos ficar
muito tempo no mesmo lugar, mas alguns piskies se instalaram
em certos lugares nas fronteiras, construindo tabernas e pou-
sadas para viajantes. Desse modo, não precisavam ir à procura
de histórias, mas deixavam que as histórias chegassem até eles.
A FRAGMENTAÇÃO
No final da história, uma música de flauta doce começa a soar
e uma mulher piskey especialmente alta e magra, vestida com muitos
tecidos coloridos, se levanta entre a multidão e joga um tronco negro
na fogueira. A melodia para e ela se curva, apresentando-se como
Julie Docemel.
De certa forma, confiamos uns nos outros durante a Idade
Média, considerando a distância entre humanos e fadas como
algo natural, mas em todo caso não estávamos preparados quando
ocorreu a Fragmentação, que veio na época da Peste Negra, e
que criou ondas de terror e medo que afetaram o Sonhar.
A nobreza feérica assumiu imediatamente suas posições nas
propriedades livres, iniciando um êxodo maciço para Arcádia.
Como muitos de nós éramos mensageiros nos reinos feéricos,
logo percebemos o que estava acontecendo e protestamos, mas
nossos nobres nos deixaram, dizendos que era o melhor para
todos e acreditando que espalharíamos suas mentiras. Houve
algumas rebeliões, mas não conseguimos enfrentar os senhores
feéricos arrogantes e poderosos. Na verdade, muitos de nós fomos
violentamente expulsos das cortes ou as abandonamos de livre
vontade para continuar a nossa vida errante. Fomos aos outros
kiths e lhes contamos o que estava acontecendo e o exílio dos
nobres se converteu numa debandada com o fechamento dos
Portais para Arcádia. Em alguns lugares até ajudamos a incitar
os plebeus, derrubando os nobres que continuavam agarrados
a um poder que já não mereciam.Oh, é claro, havia alguns
nobres, especialmente da Casa Scathach, que se recusaram a
deixar seus postos e se colocaram ao lado dos plebeus naqueles
tempos difíceis. Tornaram-se sidhe outonais, e mantiveram o
nosso respeito, embora alguns tenham se tornado objeto da ira
dos plebeus, que os responsabilizaram, assim como ao restante
da nobreza, pelo que tinha acontecido.
No que diz respeito a nós, tenho que dizer que resistimos
melhor à tempestade. Por andar entre fadas e humanos, con-
seguimos permanecer às margens da devastação da Banalidade,
e, além disso, já tínhamos vivido tempo suficiente com os seres
humanos para nos adaptarmos aos maus tempos, por isso, as-
sumir o Expediente Changeling não foi muito difícil para nós.
Há aqueles que dizem que foi o nosso kith que criou o feitiço
que permitiu que assumíssemos formas humanas para resistir à
Banalidade, e é possível que isso seja verdade, embora desde
o início dos tempos existiram elfos, fadas e espíritos que se
misturaram com humanos de várias formas.
 FLAUTISTA DE HAMELIN
Em 26 de Junho de 1284, os habitantes da aldeia
de Hamelin, na Baixa Saxónia, foram salvos por um
caçador de ratos que, com o som da sua flauta, atraiu
roedores para fora da cidade e os afogou no rio Weser,
pondo assim fim a uma perigosa epidemia. Quando
foi receber seu pagamento, o prefeito de Hamelin
recusou-se a pagar, até mesmo acusando-o de ter
trazido os ratos.
Furioso, o flautista tocou sua flauta novamente
e levou as crianças de Hamelin. Não está claro qual
foi o destino das crianças. De acordo com as versões,
foram levados para um reino maravilhoso, ou foram
devolvidos quando o prefeito, arrependido, concordou
em pagar ao flautista. As versões mais sinistras afirmam
que as crianças se afogaram no rio como os ratos.
De certa forma, esta história mostra como os
piskies agem, ajudando as pessoas humildes a resolver
seus problemas, mas ao mesmo tempo punindo os
ingratos. Assim como o Flautista de Hamelin, alguns
piskies que ajudaram a salvar comunidades de várias
ameaças acabaram sendo expulsos ou rejeitados. Mas
tal atitude não poderia ficar sem resposta, e os piskies,
especialmente os Unseelie, estavam mais do que dis-
postos a dar uma lição.
Outros afirmam que a história do flautista de
Hamelin não está relacionada com os piskies, mas na
verdade fala de um de seus primos sombrios, os spriggans,
conhecidos por levar crianças. Diz-se até que o flautista
escondia a identidade de um spriggan que, durante o
século XIII, atraiu muitas crianças para fora de suas
casas. Esta figura sombria, cuja verdadeira natureza
permanece desconhecida, teria sido responsável por
provocar a Cruzada das Crianças, que levou milhares
de crianças e adolescentes da Europa aos portos do
Mediterrâneo, onde foram embarcadas em navios por
comerciantes sem escrúpulos e vendidas como escravos
no Norte da África.
E há quem diga que o flautista não era sequer uma
fada, mas algo ainda mais sinistro....
Até hoje é proibido tocar música na Bungelosens-
trasse (“rua sem tambores”) de Hamelin, supostamente
o lugar onde as crianças da cidade foram vistas pela
última vez.

CAPÍTULO UM: O PONTO DE PARTIDA 199


CORNUALHA
Neste período turbulento acompanhamos muitas revoltas,
tanto entre fadas como entre humanos insatisfeitos com o sistema
feudal. Uma menção especial deve ser feita ao país da Cornua-
lha, onde os piskies se levantaram contra o domínio dos sidhe.
Quando a poeira baixou, os nobres tinham sido derrubados e
nós estávamos no poder.
Assim, Cornualha tornou-se o reino dos piskies, aberto a
todos os plebeus. Logo se tornou um ponto de encontro para
nosso kith, para a qual íamos, oriundos de todo o mundo, em
ocasiões especiais. Para substituir os nobres, nomeamos um Rei
da Lanterna e uma Rainha da Tocha, que simbolizavam nossos
guias naqueles tempos sombrios. Estes reis deram origem, entre
os mortais, às lendas de Jack O’Lantern e Joan the Wad.
Na Cornualha, nós piskies Seelie e Unseelie, também uni-
mos forças. Mesmo que tivéssemos interesses diferentes, diante
da rejeição comum de humanos e fadas, tínhamos fortalecido
nossa força. Desde o início da Separação, nosso kith deu abrigo a
muitas fadas diversas, mas com a Fragmentação finalmente nos
tornamos o que somos hoje.
sim, mas pelo menos nos livramos dos malditos elfos. Foi o início
do que chamamos de Interregno, um tempo de oportunidade
para aqueles que foram espertos o suficiente para aproveitá-lo.
Depois de expulsarmos os elfos da Cornualha, outros piskies
surgiram em outros lugares, aliados a outros kiths. Acabaram-se
os Senhores! O tempo dos plebeus tinha chegado.
Nós nunca fomos muito bons em ficar em um lugar por
muito tempo, e havia muitas coisas no mundo para descobrir,
então quando a era das explorações começou nós nos atiramos
de cabeça para os novos mundos e terras que estavam se abrindo
diante de nós. Acompanhamos as primeiras expedições, desem-
barcamos em terras estranhas, mas valeu a pena.
É claro que as novas terras já tinham donos, mas um viajante
errante com um sorriso gentil e um desejo de compartilhar boas
histórias e com algumas quinquilharias exóticas à luz do fogo
não despertava muita suspeita. Pelo menos no início.
Coisas piores vieram depois de nós. A ganância da Europa
por ouro, guerra e doenças foi uma má companhia e logo dizi-
mou os povos das terras recém-descobertas. Isto significou que,
pouco tempo depois, nem sempre encontramos uma acolhida
calorosa, sendo tratados com desconfiança e, por vezes, com
violência, acreditando que éramos aliados de conquistadores e
saqueadores. E às vezes eles até tinham razão.

INTERREGNO
Julie Docemel termina sua contribuição com uma pequena
melodia de encerramento. O riso do capitão Omfra Sin então se
eleva ao jogar com força uma longa prancha na fogueira, levantando
uma pilha de fumaça do fogo quase extinto. As chamas queimam
novamente com força.
A Fragmentação foi uma grande tragédia para todos nós,
O choque de civilizações também criou uma nova classe
de destituídos, mestiços, mulatos, coiotes, pardos, caboclos e
outros marginalizados pelas elites coloniais e rejeitados por
grande parte da sociedade colonial. Muitos de nós encontra-
mos neles a mesma rejeição que tínhamos recebido e por isso
os ajudamos. Tornámo-nos “o povo da fronteira” e, mais uma
vez, atuamos como intermediários entre os colonos europeus
e os povos nativos. Nós ajudamos os changelings europeus a

OS TRÊS PISKIES E A RAPOSA

Era uma vez uma raposa que procurava algo para comer e encontrou três piskies vivendo em uma casa de madeira,
uma casa de pedra e uma casa de ferro. A raposa derrubou as casas de madeira e pedra e comeu seus habitantes, mas
não conseguiu com a pequena casa de ferro. Ela tentou entrar por vários meios, mas finalmente o piskey a enganou e a
trancou lá dentro, onde morreu de fome.
Lhe parece familiar? Mais tarde os piskies foram substituídos por três “piggies” ou porquinhos e a raposa por um
lobo, tornando-se uma história muito popular que chegou até os dias de hoje.
Claro que, para os piskies, isso significa algo mais do que parece à primeira vista, embora eles mesmos não concor-
dem que entendam completamente o seu significado. Por um lado, a história é uma lição de trabalho e engenhosidade,
mas alguns piskies acreditam que conta outra coisa, a história épica de um confronto entre três piskies e uma criatura
terrível. Alguns dizem que a raposa ou “Fox” era na verdade um monstro muito diferente, um “Fomoriano”, um dos
inimigos que lutou contra os Tuatha de Danaan no início dos tempos. Afinal, uma raposa comum não seria um adver-
sário perigoso para os feés.
Outros piskies simplesmente não lhe dão tanta atenção, para eles a história é mais um exemplo da astúcia e geniali-
dade do kith, e estão felizes por serem “famosos” nas mentes das crianças mortais, mesmo que seja como três porquinhos.

20 LIVRO DO KITH: PISKIES

 RODRIGO DE TRIANA
Rodrigo de Triana foi um dos marinheiros que
acompanhou Cristóvão Colombo na sua viagem à
América. Existem várias teorias sobre sua origem, e
diz-se que ele era o filho de um muçulmano convertido
que foi queimado na fogueira pela Inquisição.
Em todo caso, muitos piskies afirmam que Rodrigo
era um deles, o primeiro dos marinheiros da expedição
de Cristóvão Colombo a ver o continente e, portan-
to, merecedor de um prêmio de 10.000 maravedíes
e uma túnica de seda que os reis haviam prometido.
No entanto, Cristóvão Colombo negou-lhe o prêmio,
alegando que tinha avistado terra firme horas antes
e foi, portanto, o primeiro, embora não tivesse dito
nada a respeito disso.
Irritado, Rodrigo de Triana reclamou sua re-
compensa e, não a recebendo, decidiu vingar-se. Ele
denunciou secretamente os abusos que Cristóvão
Colombo e seus filhos estavam cometendo contra os
nativos do Novo Mundo, escravizando-os e, quando
a informação chegou aos ouvidos dos Reis Católicos,
eles ordenaram que o almirante fosse preso.
Rodrigo de Triana continuou a participar de várias
expedições, viajando para as ilhas Molucas, mas acabou
por deixar a Espanha para se converter ao Islã e viver
os seus últimos dias no Norte da África.

sobreviver, mas também avisamos os Nunnehi do que estava

por vir. Participamos de viagens de exploração e na fundação
de colônias como exploradores, batedores e guias, e também
nos antecipamos a muitos exploradores, habitando entre os
povos nativos, negociando com eles e fornecendo-lhes conhe-
cimento e objetos da civilização do homem branco... e nem
sempre para o bem.

REVOLUÇÕES
Entre os piskies reunidos está Joanna Fogofátuo, uma rezingona
que usa botas altas e o símbolo da anarquia costurado em abundância
em suas roupas. Ela retorna à história de seu kith enquanto joga
uma coroa de videiras secas na fogueira.
Quando irromperam as revoltas, especialmente contra as
elites arrogantes, nos unimos com entusiasmo, recordando a
guerra contra os elfos. Não estávamos satisfeitos em apenas
ajudar, estávamos lutando por mudanças. Às vezes agimos su-
tilmente, plantando as sementes da rebelião entre os oprimidos,
mostrando-lhes a verdade que os poderosos esconderam deles.
CAPÍTULO UM: O PONTO DE PARTIDA 211
E costumávamos encontrar ouvidos dispostos a nos ouvir.
Enquanto as revoltas medievais tinham ocorrido em perío-
dos de fome ou por causa de nobres particularmente tirânicos,
no início do Renascimento elas começaram a adquirir certo
idealismo. Estávamos na Revolução Inglesa do século XVII, e
nos juntamos às tripulações piratas. Também ajudamos escravos
e nativos a quebrar suas correntes e fugir para a liberdade.
Atendemos ao chamado às armas dos colonos americanos e
assistimos quando os Estados Unidos e outros países americanos
alcançaram sua independência. Infelizmente, a chama desse
idealismo foi de curta duração, pois egoístas e interesseiros
assumiram o poder, mas, ao contrário dos humanos, não nos
importamos em descer dos pedestais do poder e retornar para o
lado de nossos protegidos. Nunca nos faltou bocas para alimen-
tarmos ou casas para levar conforto. O triste sobre as revoluções
é que muitas vezes elas acabavam se tornando círculos viciosos,
mas pelo menos era divertido seguir o curso da história.
No entanto, não devemos acreditar que nos limitamos
somente a espalhar incêndios, mas quando uma revolução
eclodia, tentamos evitar que os excessos atingissem os ino-
O CAVALEIRO ELFORD E As revoluções deram lugar ao Romantismo, uma época
O PISKEY
Em Dartmoor fica a aldeia de Yelverton, uma
corruptela do nome Elfordtown. Desde o século XV
o povoado foi governado pela nobre família Elford.
No século XVII, o jovem William Elford tornou-se
amigo de um piskey, que se tornou seu companheiro
de brincadeiras durante a infância, o que diminui o
peso de sua estrita educação.
Em 1642 foi deflagrada uma guerra civil na In-
glaterra, e os Ellford apoiaram o Rei Carlos I face às
exigências do Parlamento. O jovem William Elford
lutou pelo monarca, mas eventualmente os exércitos
reais foram derrotados, e Lord Elford refugiou-se em
Dartmoor. Os agentes de Cromwell e do Parlamento
procuraram-no em vão, pois seu amigo piskey escon-
deu-o na sua casa, uma caverna encantada numa
colina. Vários serviçais leais forneceram-lhe comida
até que a perseguição terminasse e ele fosse perdoado
ao final da guerra.
Dessa forma, Lord William Elford foi salvo, mas
não se esqueceu da ajuda de seu amigo, mostrando-se
grato, assim como seus descendentes. A linhagem do
Elford foi extinta sem descendência em 1837, mas a
lenda do cavaleiro Elford e do piskey é transmitida
até hoje.
22 LIVRO DO KITH: PISKIES
centes, mesmo que nem sempre chegamos a tempo. Durante a
Revolução Francesa, embora tenhamos acompanhado as massas
famintas por liberdade, houve também piskies que ajudaram os
nobres e burgueses a escapar da guilhotina, quando o idealismo
se tornou um fanatismo sangrento. Acompanhamos os jovens
entusiasmados que se juntaram aos exércitos de Napoleão
Bonaparte por toda a Europa e sofremos sob o punhal frio da
desilusão diante da realidade da guerra.
A traição dos elfos nos transformou em revolucionários,
e a verdade é que é muito divertido enfurecer os poderosos,
especialmente aqueles que se tornam tiranos. Quando nos
encontramos entre os marginalizados, encontramo-nos numa
posição vantajosa quando se trata de provocar mudanças. Mas
lembre-se: a revolução devora os seus filhos e às vezes é mais
fácil acender uma fogueira do que apagá-la.
IDADE DAS
MAQUINAS
Berto Bajulador, um Piskey vestido de preto com o rosto man-
chado de fuligem, se ergue com um salto gracioso e joga um pedaço
de carvão brilhante na fogueira antes de iniciar sua história.
de grandes paixões descontroladas, onde a descoberta e a rein-
venção de antigas tradições e histórias nos proporcionou um
novo terreno a ser descoberto. O amor pelas viagens e culturas
exóticas levou a uma nova onda de descobertas e, infelizmente,
de colonizações. Não importava que durante o século XIX a
sociedade clamasse por direitos humanos, liberdade, igualdade e
fraternidade. As velhas algemas foram substituídas pelas algemas
do materialismo e da indústria. E estas também pesavam muito.
Claro que foi um tempo de viagens e descobertas, no qual
estamos muito ocupados, atuando como guias e exploradores,
tanto para humanos como para fadas. Dos mais longínquos
cantos do mundo, conhecemos pessoas que estiveram isoladas
por séculos, senão milênios, ruínas de antigas civilizações que
evocavam um passado misterioso e lendário...
Mas todas estas maravilhas tinham um preço. Conforme
o mistério era quebrado, o mundo ia ficando cada vez menor.
Enquanto há alguns séculos a viagem ao redor do mundo levava
anos com o desenvolvimento das comunicações e dos transportes
modernos, a viagem foi feita em oitenta dias. Foram construídos
dispositivos que transmitiam sons e palavras em questão de
segundos, e as superstições foram desacreditadas por causa da
razão e da ciência.
Mas o pior de tudo não foi o otimismo científico e o nasci-
mento do orgulho nacional, mas sim aqueles que ficaram presos
por estes ideais. Os campos foram trocados pelas cidades, que
já estavam lotadas de desamparados. As mais desprotegidas
eram as crianças, órfãs ou aquelas de famílias miseráveis, que
não encontravam nenhum consolo e eram forçadas a viver em
condições precárias ou a crescer rápido demais para poderem
ganhar a vida. Muitas almas de crianças foram esmagadas pelas
rodas de ferro da indústria, esforçando-se para trazer um mísero
dia de salário para casa. Os olhos que antes se maravilhavam
com a vida se endureciam cedo demais pelo que eram obrigados
a ver, e pela dor dos maus-tratos e da miséria.
Fomos aos deserdados e marginalizados, como sempre fi-
zemos, procurando aliviar a sua dor e ajudando-os a sobreviver
diante do desânimo e da Banalidade. Não foi uma tarefa fácil,
e houve muitos piskies que caíram sob as engrenagens de ferro
desta nova sociedade, mas nós perseveramos e nos tornamos
donas de casa, governantas, irmãos e irmãs mais velhas quando
a nossa presença foi necessária. Alguns piskies, com mais boas
intenções do que bom senso, levaram algumas crianças a reinos
fantásticos e escondidos, mas a realidade era muito intensa e
a magia muito escassa, e estes aspirantes a Peter Pan não cos-

SUPERCALIFRAGILISTICO
ESPIALIDOSO
Os piskies não só cuidaram das crianças de rua,
com necessidades mais diretas e urgentes em suas vidas,
mas alguns também se voltaram para crianças privile-
giadas. A sua vida luxuosa muitas vezes não conseguia
preencher o vazio da ausência ou do afastamento dos
pais, obcecados por uma educação “correta” e rígida,
para evitar que falhassem na vida, pelo menos em seu
ponto de vista.
Assim, alguns piskies tornaram-se tutores, gover-
nantas, babás ou “amigos da família”, e se jogaram no
coração da Banalidade para tentar salvar as crianças
que cresciam ali, superprotegidas, mimadas ou muito
endurecidas, para que pudessem experimentar um
comprimido de fantasia e ilusão, mais adequado aos
seus anos de infância. Também lhes ensinaram lições de
empatia e compreensão, para que tivessem consciência
do mundo que os cercava além de suas gaiolas douradas.
Eles nem sempre triunfaram e a Banalidade cobrou seu
preço em mais de uma ocasião, mas os humanos que
cresceram sob seus cuidados muitas vezes valorizaram
os anos que lhes demos e se tornaram adultos melhores.
E da mesma forma, alguns piskies não se conten-
taram em ensinar crianças, mas também concentraram
seus esforços nos adultos, ajudando-os a ver além de
suas vidas opressivas, muitas vezes cercados por artifí-
cios banais, devolvendo-lhes parte da ilusão perdida.
Também lhes ensinaram a serem melhores pais e a
partilharem o espaço da infância com seus filhos.

CAPÍTULO UM: O PONTO DE PARTIDA 233

tumavam durar muito. Durante este período, nossas causas se
multiplicaram, ajudamos a inspirar os corações dos oprimidos, e
ao recordar as revoluções do passado, nos unimos aos sindicatos,
movimentos sufragistas e a outras iniciativas para construir um
mundo mais justo.
E, para nosso desagrado, descobrimos que não estávamos
sozinhos. Os nossos inimigos, os spriggan, também estavam muito
presentes durante a Idade das Máquinas. Embora a escravidão
tradicional na qual eles prosperaram estivesse em declínio, logo
encontraram novas e perversas maneiras de continuar seus ter-
ríveis negócios. Seja como industriais sem escrúpulos, cafetões
ou simplesmente em poder na miséria e na marginalização. Não
lhes demos tréguas, e como nos séculos anteriores, quando nos
encontrávamos, o conflito eclodia. Felizmente, não estávamos
sozinhos. Essa depravação não só era horrível para as fadas, mas
também para os humanos, e mais de uma revolta terminou com
a fuga dos tarados para salvar suas vidas desprezíveis.
O MUNDO EM
GUERRA
Rufam-se tambores. Um piskey tamboreiro usando um velho
uniforme militar de um exército indefinido e com uma vasta quan-
tidade de remendos se ergue entre os reunidos e lança um rojão ao
fogo. O som assusta e surpreende os presentes, enquanto faíscas
multicoloridas brotam. Baldric Tenhoumplanomuitomelhor fica firme
e presta uma continência antes de começar a sua história com um
sorriso em seu rosto bronzeado e sujo.
Saudações, companhia! A Idade das Máquinas trouxe
mudanças em muitos campos, incluindo novas formas de
empreender a guerra. Por bem ou mal, foi um lugar onde nós,
24 LIVRO DO KITH: PISKIES
os piskies, fomos arrastados mais vezes do que gostaríamos,
muitas vezes contra a nossa vontade. No passado, quando os
reis travaram as suas guerras, muitas vezes recrutaram a força
vagabundos, bandidos e indesejáveis, e nós costumávamos cair
nessa categoria, quer fôssemos ou não.
Um exército não é um lugar particularmente bonito, espe-
cialmente quando semeia destruição em seu rastro, mas também
há espaço para magia dentro dele. Além das fantasias e ilusões
patrióticas, para um soldado o exército se torna sua família,
um espaço de camaradagem e amizade, e essas são coisas que
podemos entender e apreciar. É uma pena que a dor da perda, o
ódio ao inimigo e o medo muitas vezes turvem esses sentimentos.
Como disse, fomos por vezes arrastados para a guerra, quer
pela força, quer por livre vontade. Com o tempo, alguns piskies
se juntaram ao exército para cuidar de alguém especialmente
querido e garantir que eles voltassem para casa sãos e salvos,
fugindo de perseguições ou por outras razões menos comuns. No
entanto, a guerra não é um ambiente fácil, e aqueles que perma-
necem nele por muito tempo acabam amadurecendo rapidamente
ou sucumbindo à Banalidade... muitas coisas são perdidas. No
entanto, nunca faltaram piskies veteranos que ensinavam aos
novos e assustados recrutas alguns truques para sobreviverem e
se manterem à tona, ou algumas lições de humildade.
A era da cavalaria já havia passado e o século XX trouxe uma
nova forma de travar a guerra. Os países do mundo cresceram de
forma egoísta e mimada com o seu orgulho nacional estúpido e
começaram uma corrida armamentista que terminou em desastre.
Nem sequer nos demos conta disso. Inicialmente pensámos
que seria uma guerra como as anteriores, com alguns meses de
escaramuças antes dos diplomatas acertarem as questões das dis-
putas territoriais e compensações econômicas em seus tratados.
Mas a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia, a Rússia decla-
 AS AVENTURAS DO BRAVO SOLDADO PISKEY
Em 1921 foi publicado em Praga o romance satírico “The Adventures of the Brave Soldier Svejk”, que contava
a história de um soldado checo, Joseph Svejk, que acabou por ser alistado no exército austro-húngaro para lutar na
Primeira Guerra Mundial. Ao longo do romance são contadas várias anedotas e paródias sobre a idiotice e a imperícia
de Svejk, bem como fazendo uma crítica feroz à guerra, ao imperador e às instituições.
Desde a sua publicação, muitos piskies têm acreditado que o romance é sobre um dos seus próprios, e alguns chegaram
ao ponto de dizer que conheciam Svejk pessoalmente. A história de Svejk está cheia de anedotas sobre suas tolices e falta
de jeito (real ou encenada), muitas vezes tentando evitar a atenção de figuras autoritárias ou insultando-as sutilmente.
Seu final é desconhecido, embora alguns acreditem que ele desapareceu na Rússia durante a Revolução Bolchevique,
enquanto outros acreditam que ele sobreviveu e voltou para casa para desfrutar de um descanso merecido em Praga. No
entanto, a maioria dos piskies que acreditam na existência de Svejk acredita que ele sofreu um fim abrupto e trágico.
De qualquer forma, a figura de Joseph Svejk tornou-se uma inspiração para muitos piskies, especialmente aque-
les que se opõem à guerra, e que muitas vezes se dedicam a evitar conflitos através de uma mistura de ingenuidade e
incompetência. Estes piskies são peritos em propaganda, escrevendo panfletos e canções satíricas que ridicularizam
especialmente figuras políticas e militares. Claro que isso nem sempre acaba bem, mas os piskies são usados para atrair
a ira dos poderosos de qualquer maneira, e eles sempre têm um plano de emergência para o caso de ter que fugirem.

rou guerra à Áustria-Hungria, a Alemanha à Rússia, a França
à Alemanha... e todos os países europeus, em virtude das suas
alianças e interesses, foram arrastados para a Grande Guerra.
É claro que houve tentativas para detê-los, e no primeiro
Natal ocorreu uma explosão de otimismo pensando que tudo
terminaria em questão de meses, mas a guerra durou anos em
muitas frentes e lugares, e uma terrível guerra de trincheiras
começou, impérios caíram, e milhões de pessoas morreram pela
guerra, doenças e fome.
E estávamos presos. Da mesma forma que os jovens sol-
dados idealistas que foram à frente, muitos piskies caíram nas
trincheiras ou tentaram ajudar os seus protegidos. A guerra criou
muitos órfãos e necessitados e não conseguimos lidar com isso.
E o que se seguiu não foi muito melhor. Os piskies que
acompanharam os revolucionários na Rússia também ficaram
presos por uma barreira de ferro que queria modernizar o país
pela força e da forma que fosse necessário. A guerra civil entre
os russos brancos e vermelhos, a sede pela formação do coletivo,
o terror das purgas e dos gulags... não havia espaço para magia e
ilusão, apenas a fria Banalidade do pragmatismo para construir
um mundo desumanizado.
A chegada da gripe espanhola matou centenas de milhares
de pessoas em seu rastro, e parecia que a Morte Negra havia
retornado. O desespero humano refletiu-se no Sonhar, mas o
pior ainda estava para vir.
Uma nova guerra eclodiu na Europa, nascida do ódio e do
desejo de vingança. Mas nessa época, da mesma forma que se
lutava uma guerra nos campos de batalha, em diversos países
ocorria uma guerra interna contra os povos “inferiores”. Nessa
ocasião, os preguiçosos, os vigaristas e os impuros não foram
CAPÍTULO UM: O PONTO DE PARTIDA
recrut ados à força, mas escravizados ou levados para os campos
de extermínio. Muitos dos piskies que acompanham os nômades
em viagem pela Europa simplesmente desapareceram na maré
de terror Banal que emanava dos campos de concentração.
Os sobreviventes esconderam-se ou juntaram-se à resistência,
com outras fadas que também tinham sido arrastadas para o
conflito. Em meio a tanto desespero, os tarados proliferaram e
se alimentaram em meio à miséria humana.
E finalmente tudo acabou com uma explosão de luz vene-
nosa no Oriente. Os humanos tinham descoberto uma arma
tão terrível que eles próprios não tinham a certeza de que
voltariam a utilizá-la.
Lamento se a minha história os assustou ou entristeceu,
mas creio que é uma história que não deve ser esquecida, pelo
menos para que possamos aprender com ela.
RESSURGIMENTO
Baldric se retira silenciosamente, mas seu lugar é ocupado por
Elsa, uma garota alegre, ruiva, de cabelos bem vermelhos, sardenta,
com longos rabos de cavalo, usando um vestido xadrez vermelho e
laranja com uma espada de madeira na cintura. Com um sorriso
que mostra dentes enormes, ela sopra para o fogo e as chamas são
levadas ao céu mais uma vez.
Gostaria de dizer que a humanidade aprendeu com os erros
do passado e teve um final feliz. Mas todos sabemos que esse não
foi o caso. Os humanos dividiram o mundo com uma cortina de
ferro e travaram suas guerras com mais cuidado, fazendo com
que outros lutassem em seu lugar. Lutando por meio de espiões
e propaganda, e embora tenham havido mais guerras, não fo-
ram tão ruins quanto poderiam ter sido, com o mundo sendo
255
 iluminado por luzes brancas antes de se apagar para sempre.
Depois dos horrores do passado, muitas pessoas queriam
deixar as guerras de lado, e embora nem sempre pudessem
evitá-las, pelo menos fizeram esforços sinceros, ou pelo menos
tentaram fingir que sim. As viagens tornaram-se mais rápidas,
e muitas pessoas da Europa foram para outros lugares em busca
de fortuna, enquanto a África e a Ásia decidiram que queriam
deixar de ser colônias, apesar de nem sempre terem conseguido
isso de forma amigável.
Mas também havia coisas boas. Rock & roll, por exemplo, e
uma ilusão renovada de um futuro melhor. E também lutas pela
paz e pelos direitos das minorias, algo impensável há algumas
décadas atrás. E finalmente a humanidade voltou seus olhos para

MENINOS PERDIDOS
Piskies sempre defenderam os desprotegidos e
inocentes, e isso muitas vezes incluiu as crianças.
Como já mencionado, muitos atuam como amigos
imaginários, fadas madrinhas, ou assumem papéis mais
formais como professores, governantas, etc.
Nos tempos antigos, as crianças gozavam de uma
maior liberdade de circulação e estavam mais expostas
aos perigos do mundo, mas nos últimos séculos o mundo
das crianças foi fechado em nome de sua proteção. Cada
vez menos crianças conseguem sair à rua sem o olhar
atento dos adultos, e a tutela dos órfãos é rapidamen-
te assumida pelos serviços sociais. O espaço infantil
tornou-se um lugar fechado e controlado, muitas vezes
cheio de Banalidade artificial e pré-fabricada.
Alguns diriam que a situação das crianças mudou
para melhor, e os piskies até certo ponto concordam.
Há muitos perigos mundanos que ameaçam a infân-
cia, isso sem contar os spriggan, mas o custo disso é
a perda da liberdade de experimentar, de desfrutar e
explorar, que aprisiona as crianças em bolhas isoladas
que muitas vezes as tornam adultos egoístas e mimados.
Esta situação faz com que os piskies se lembrem de
alguns membros de seu kith, que no passado e quando
a influência do Sonhar era mais forte, procuravam
proteger as crianças em lugares distantes e isolados do
resto do mundo. A história de Peter Pan e da Terra
do Nunca é apenas um exemplo, mas inevitavelmente
é necessário reconhecer que a infância é apenas um
passo na estrada, não o fim da jornada.
Para os piskies quebrar essas bolhas modernas e
fazer com que as crianças vivam infâncias completas
que as acompanhem ao longo de suas vidas é um desafio.

26 LIVRO DO KITH: PISKIES

a lua e enviou foguetes que acabaram chegando lá.
E essa foi a gota d’água que fez transbordar o copo que
lentamente vinha se enchendo sem que percebêssemos. Em
1969 os portais para Arcádia foram reabertos, e uma enchente
de elfos retornaram, confusos, amedrontados em uma maré de
luz como não se via há muitos séculos.
Embora para nós eles fossem uma memória desagradável,
deixamos as desavenças de lado, e vendo-os indefesos e buscando
refúgio, tivemos pena e os ajudamos a se adaptarem a um mundo
que havia mudado demais para eles.
Fomos traídos. A velha arrogância e os maus modos ainda
estavam presentes e depois da Noite dos Punhais de Ferro a
Guerra da Harmonia eclodiu. Juntamos nossas forças ao restante
dos plebeus, e logo começamos a defender nossas propriedades
livres de nobres que consideravam que elas pertenciam a eles e
que deveríamos entregá-las. Agimos como mensageiros, espiões,
sabotadores– e assassinos. Lutámos na linha de frente e ajuda-
mos na retaguarda, adaptando-se sempre às mudanças. Houve
batalhas e grandes atos de heroísmo e infâmia, mas finalmente
a paz foi alcançada.
Deve-se dizer que nem todos os nobres concordaram em
retornar à situação que existia antes da Fragmentação. Os elfos
outonais, que permaneceram neste mundo, estavam cientes
das mudanças e estavam dispostos a partilhar o poder com os
plebeus, e da mesma forma, muitos dos elfos que tinham re-
gressado encontravam-se em dívida pela ajuda que receberam
e consideravam que os plebeus mereciam a sua gratidão. Em
vários lugares surgiram parlamentos que controlavam o poder
da nobreza feérica e representavam os direitos de todos. Para
muitos não foi uma solução ideal, mas pelo menos uma situação
de paz tinha sido alcançada, o que beneficiou a todos... pelo
menos, durante algum tempo.
UM MUNDO
FELIZ?
As chamas da fogueira começam a se apagar. As brasas ardentes
brilham na escuridão da noite, sob a lua cheia de verão. Entre as
sombras, um piskie esbelto avança, vestido com calças largas e uma
camiseta velha e surrada. O brilho laranja das chamas agonizantes
ilumina a pele escura e os olhos de Kimazi, que começa a falar,
numa voz clara e serena.
Nasci numa aldeia distante na África Central. Nem sequer
sei em que país, mas desde criança fugi da guerra e da fome,
cruzando campos de refugiados, atravessando o mar em barcos
precários, percorrendo centenas de quilômetros a pé e, final-
mente, seguindo o meu caminho até hoje.
Poderia contar sobre o desaparecimento e o regresso do
grande rei David Ardry de Concórdia, de como o Sonhar rever-
berou com os pesadelos que surgiram na virada do milênio, do
aparecimento do Olho de Balor e da Fome de Sonhos que hoje
CAPÍTULO UM: O PONTO DE PARTIDA
nos afeta, enquanto nobres e plebeus continuam a distanciar-se
e a ameaça de um novo conflito no mundo dos Sonhos aumenta
conforme a escuridão deste mundo se expande.
Mas vós já sabeis de tudo isso.
O mundo continua a mudar a uma velocidade cada vez
mais frenética. Os avanços tecnológicos trouxeram um novo
ciclo de facilidades para nossas vidas. Os celulares, os avanços
da informática e, sobretudo, a internet são uma presença cada
vez mais constante em nossas vidas, tornando o mundo cada
vez menor e criando uma sensação de proximidade maior entre
as pessoas e de uma proximidade maior dos problemas alheios.
Mas a saturação de informações e os confortos superficiais
também geraram uma nova onda de Banalidade. Os genocídios
e massacres continuam a se repetir e os mortais continuam a ser
levados pelos ódios do passado, ou se sua segurança e conforto
são ameaçados eles reagem de forma egoísta, isolando-se em
torres de aço e cimento. Apesar da aparente proximidade cau-
sada pela evolução das comunicações, as diferenças econômicas
e as distâncias só aumentam. O mundo incentiva o consumo
compulsivas e os prazeres instantâneos e sem esforço. Dinheiro,
beleza e fama tornaram-se ícones da moda que todos aspiram
em uma estrada que parece não ter fim.
E nessa ansiedade pelo sucesso muitos ficam de fora, criando
uma sociedade insatisfeita e frustrada que cai na apatia e na
indiferença pelos problemas do mundo real e se intoxica com a
Banalidade da moda e do consumo. Ninguém quer lutar quando
a felicidade está a um clique ou a um comprimido de distância.
A Banalidade cresce, e embora a miséria e o medo continuem
a alimentá-la, a prosperidade trouxe consigo um novo tipo de
alimento ainda mais perigoso. Ao mergulharem em complacência
e insensibilidade, as pessoas tornam-se imunes ao encanto da
fantasia, preferindo a satisfação rápida e instantânea, tornando-se
egoístas. De certa forma, a sociedade moderna está criando uma
geração de crianças mimadas e deterioradas que facilmente se
frustram e jogam a responsabilidade por sua frustração sobre
os outros. Perante esta situação, o medo se enraíza, o medo de
viver, o de perder até a menor das irrelevâncias, desejando que
o mundo gire em torno de seus umbigos, por mais que isso possa
prejudicar os outros.
No entanto, ainda há esperança. Há séculos que vivemos
à sombra do Outono e passamos por períodos de depressão e
incerteza. Talvez hoje estejamos mais conscientes do que está
acontecendo ao nosso redor e, por isso, a responsabilidade que
temos para com o mundo é esmagadora. Eu vos digo: Não vos
desesperes! Fomos os primeiros a sermos abandonados, e é jus-
tamente por isso que não devemos deixar o mundo quando ele
mais precisa de nós. Mesmo que o Inverno chegue, a viagem
ainda não acabou e cabe a nós decidir o que vamos fazer com o
tempo que nos foi dado e que histórias vamos contar.
Sopra o vento do leste. Nos vemos na estrada!
277
 CAPÍTULO DOIS:

VIDA
ERRANTE
“Apenas - la la la la la - Vai pelo mundo todo
Apenas - la la la la la- É pelo mundo todo
Apenas - la la la la la - E todos cantando
La la la la la- E agora os sinos estão tocando”
— ATC, “Around The World”

de nós somos os poderes por trás do trono, atuando como

A VIAGEM
E O CAMINHO
Solete Númerossete faz uma reverência e começa a falar sobre
como vivem os piskies (ou não):
Olá a todos!
Vocês me perguntam como vivemos? A resposta mais sim-
ples é um sim e a resposta mais longa é um talvez. A verdade é
que nós, os piskies, vivemos como podemos, e isso implica num
monte de coisas. Vou te falar de algumas coisas que fazemos,
mas você deve sempre se lembrar das palavras que nos definem:
mudança, adaptação e improviso. É apenas o que fazemos de
melhor, sempre seguindo em frente. Raramente a estrada é
uma linha reta e sem problemas (e se fosse, seria muito chata),
então vamos de um lado para o outro enfrentando tudo o que
aparece em nosso caminho.
Como pode ver, não é muito comum sermos líderes em
nenhum lugar, nem mesmo príncipes, nem mesmo reis, nem
mesmo presidentes. É verdade que, às vezes, agimos como
regentes até que surja um candidato melhor, e às vezes, alguns
conselheiros, mentores ou tutores de futuros governantes.
Conheço uma ou duas histórias de piskies para os quais foram
oferecidos tronos e eles os rejeitaram em troca de uma vida
mais simples de jornadas e de muitos caminhos.
Há aqueles que gostam da vida na corte, e a verdade é que
nós também gostamos de luxo e conforto de vez em quando,
mas temos em mente que isso é apenas algo temporário, uma
parada na jornada para recuperar as forças. Do mesmo jeito que
podemos aproveitar deste tipo de coisa, não temos dificuldade
em abandoná-las quando temos que seguir em frente.
O que quero dizer é que um piskey não gosta de ser o
número um, o que muitas vezes nos coloca em situações com-
plicadas e desnecessárias, mas gostamos de ser o número dois
ou o número três ou qualquer outro, aqueles que normalmente
ninguém nota quando a corrida acaba. Não somos reis, mas os
ajudamos e os ensinamos a governar... ou pelo menos tenta-
mos. Há sempre pessoas ingratas e pessoas que não conseguem
resistir à corrupção do poder.
Nossa existência pode não parecer muito excitante e
gloriosa, mas é isso que nos alegra. Fomos expulsos para a
CAPÍTULO DOIS: VIDA ERRANTE 299
estrada há muito tempo, e a tomamos como nossa casa. Por um
lado, aproveitamos os encantos e as experiências do caminho
e, por outro, ajudamos e somos ajudados por aqueles que estão
nele. De certa forma, embora sejamos adaptáveis, também
somos incapazes de ficar quietos (alguns diriam que temos o
“fogo no rabo”), sempre há algo além do próximo horizonte
que precisamos contemplar.
Alguns dizem que somos parecidos com os exus, e em até
certo ponto isso é verdade, mas enquanto os nossos primos pro-
curam maravilhas, coisas exóticas e novidades, nós procuramos...
qualquer coisa, algo para nos agarrarmos, um lugar para passar a
noite e vidas para experimentar, não importa quão grandes ou
maravilhosas elas sejam. Um exu vai experimentar um novo
prato por ser uma novidade, nós vamos comê-lo porque estamos
com fome. Em suma, somos muito menos seletivos e práticos.
Por outro lado, nós piskies não gostamos de nos destacar,
e essa é uma das razões pelas quais parece que o nosso kith não
é muito numeroso. Quando um tragoi de sátiros chega numa
propriedade livre, um deles pode muito bem ser um piskey.
Quando um grupo de serviçais boggans se encarrega de preparar
a recepção do conde, um piskey pode estar correndo de um
lado para o outro, transmitindo avisos e instruções, e apesar
disso nosso kith pode muito bem parecer ausente. Mas não se
enganem, estamos lá, só não queremos ser notados.
Mas não pense que é por isso que não gostamos de receber
os devidos créditos quando merecemos. Alguns de nós podem
ser especialmente vingativos com relação a isso.
DIREITOS INATOS
E FRAQUEZAS
ÁGEIS
Se algo caracteriza os piskies é que eles são extremamente
rápidos e muitos acreditam que este Direito Inato surgiu da
necessidade de fugir de situações comprometedoras ou de
perseguições. Nos tempos antigos, alguns podiam aparecer e
desaparecer num piscar de olhos, ou viajar longas distâncias
em questão de minutos. No entanto, após a Fragmentação, essa
velocidade foi reduzida consideravelmente. No entanto, eles
ainda são muito rápidos e ágeis.
Esta agilidade também pode ser utilizada de formas mais
elaboradas. Tradicionalmente, os piskies têm sido excelentes
acrobatas e também são muito bons em malabarismos e presti-
gitação. Outros vão ainda mais longe, e aqueles que aprendem a
tocar instrumentos, ou a fazer artesanato, também demonstram
uma considerável destreza inata. Eles podem não se destacar
tanto quanto outros kiths como os boggans ou os nockers em
artesanato, mas a maioria dos piskies são geralmente artesãos
astutos e cheios de engenhosidade quando se dedicam a isso.
30 LIVRO DO KITH: PISKIES
Para fins de mecânicas de jogo, este Direito Inato concede
aos piskies um ponto de Destreza adicional, mesmo que o total
exceda uma pontuação igual a 5.
MISTURANDO-SE
Embora muitas vezes considerados estranhos quando che-
gam a um lugar, os Piskies mostram uma capacidade surpreen-
dente de se encaixar e passar despercebidos em praticamente
qualquer ambiente... se eles tiverem tempo suficiente para não
levantar suspeitas. Não se trata de uma habilidade, mas uma
característica inata com um certo toque sobrenatural. O piskey
não só transmite uma sensação de tranquilidade e confiança
aos que o rodeiam, mas seu próprio corpo parece reagir como
um camaleão. Com o passar do tempo, a cor da pele, o cabelo,
os olhos, traços faciais e as roupas mudam progressivamente,
adaptando-se ao local onde se encontram. Há mesmo rumores
de que alguns piskies são capazes de mudar de sexo dependen-
do das circunstâncias. Não é um processo elaborado, mas algo
que permite que o piskey não se destaque ou atraia a atenção.
Simplificando, de repente, haverá mais um trabalhador na obra,
ou um convidado a mais na festa.
Embora seja um bom método para passar despercebido, e
que transforma os piskies em bons espiões e agentes infiltrados,
ele não é perfeito. Aqueles que conhecem o piskey o reconhece-
rão, talvez com dificuldade, ou pensarão ter encontrado alguém
estranhamente familiar, e aqueles que o procuram ativamente
podem quebrar a ilusão, embora tenham que fazer um teste para
conseguir isso (Percepção + Tino, dificuldade 8).
DEDOS LEVES
Muitos Kithain se perguntaram sobre a origem desta
compulsão dos piskies, e a atribuem à alguma antiga maldição,
conjurada talvez pelos Tuatha de Danaan ou pelos senhores
feéricos, mas em todo caso é um mistério o motivo deste kith
ser afetado por esta forma de cleptomania.
Os próprios piskies não têm certeza, mas muitas teorias
foram criadas a este respeito. Alguns dizem que, devido a seus
pés leves, seus dedos se tornaram igualmente “leves” para que
pudessem sobreviver, pegando o que precisavam. Outros dizem
que, por terem sido originados de sonhos de órfãos e crianças
abandonadas, ainda conservam a inocência da infância sobre
o valor da propriedade. Outros atribuem isso à um impulso de
encontrar “objetos perdidos” ou de “quebrar a influência” que
certos objetos têm sobre os seus donos.
Em todo caso, não há um padrão claro e muitas vezes os
piskies não sabem o que estão fazendo. Quando cedem aos seus
impulsos, seus bolsos podem acabar com todo o tipo de objetos,
embora sejam geralmente atraídos por aqueles de grande valor
ou que recebem uma importância excessiva dos seus donos.
Por outro lado, também parece haver certos limites para esta
compulsão. Quando um piskey se compromete a levar uma
mensagem ou um objeto, ele não se apropriará dele, pelo menos
não por causa de seus instintos. Da mesma forma, ele não se
apropriará inconscientemente de um objeto que está claramente
nas mãos de outra pessoa.
No entanto, quando um piskey encontra um objeto que
o atrai, especialmente se ele precisar dele, como uma maçã se
tiver fome, ou uma garrafa de água se tiver sede e não parecer
ter dono, a tentação começará a insinuar-se instintivamente,
o que pode colocá-lo em apuros, pois nesse momento ele agirá
sem muita sutileza. Felizmente, os amigos de um piskie saberão
como encontrar maneiras de distraí-lo, e alguns piskies aprendem
a lutar contra esta tentação (Força de Vontade, dificuldade 8),
para evitar problemas desnecessários, mas outros simplesmente
aceitam seus impulsos como algo de sua própria natureza e outros,
especialmente os Unseelie, até mesmo gostam de encontrar
“coisas interessantes”.
AS REDEVANCES
O DIREITO AO DOMÍNIO
Reconhecemos que a autoridade é necessária quando existe
a necessidade de se colocar ordem em algum lugar, mas também
acreditamos que a autoridade deve ser conquistada e aceita. Há
muito tempo que deixamos para trás o Direito ao Domínio.
Acreditamos que os elfos têm tanto direito de governar quanto
qualquer outro kith, desde que demonstrem que são bons go-
vernantes e reconheçam os direitos de seus súditos.
Os outros Kithain geralmente acreditam que somos anar-
quistas, desordenados e irresponsáveis, mas a verdade é que
observamos bem o que aqueles que estão acima de nós estão
fazendo. Respeitamos aqueles que se portam com justiça e
honestidade, e rapidamente ignoramos as palavras dos tiranos
e corruptos que só querem ocupar o poder sem oferecer nada
em troca. É verdade que nós sozinhos não temos força para
derrubar tiranos, mas ao longo dos séculos temos denunciado
injustiças, inflamado corações oprimidos e alimentado as cha-
mas da rebelião.
E bem, lembre-se que às vezes é mais fácil acender o fogo
do que apagá-lo.
O DIREITO DE SONHAR
Fazer com que um mortal pare de sonhar é um crime contra
o Sonhar, e mesmo aqueles mais Unseelie entre nós reconhecem
isso. A necessidade ou a pressa pode levar alguém a cometer tal
ato, mas nada justifica o roubo dessa parte da alma de alguém.
Há cada vez menos magia no mundo, e encorajar o cinismo, a
apatia e o desespero não ajuda em nada. Se descobrirmos que
alguém cometeu um ato tão desprezível, lhes aplicaremos a nossa
própria justiça, obrigando-o, muito provavelmente, a sentir na
pele as consequências dos seus atos.
O DIREITO À IGNORÂNCIA
Sabemos bem o que significam a rejeição, o medo e a per-
seguição, então consideramos esta lei uma precaução sensata.
No entanto, nossa ajuda aos necessitados e marginalizados
muitas vezes significa que temos que ser flexíveis. Se é neces-
sário lidar com o mundo outonal, é preciso lembrar que há
pessoas que temem o estranho, e a fantasia que invocamos.
É frustrante não poder interagir plenamente com a sociedade
humana, especialmente quando tentamos afastar alguém das
garras da Banalidade que a invade. Nestes casos, é melhor agir
com paciência, sutileza e esperar pela oportunidade certa, pois
usar seus poderes abertamente é sempre um risco. Ok, às vezes
o caminho direto e rápido dá certo, mas lembre-se que o pro-
pósito da jornada não é chegar ao seu final em primeiro lugar,
mas aprender ao longo do caminho. Muitas vitórias tidas como
certas se desfazem rapidamente devido ao fato dos humanos
não terem muita capacidade para aprender lições efêmeras. A
loucura acaba sendo uma resposta e no pior dos casos o ódio ao
Sonhar. O mundo já tem Tarados demais, não devemos piorá-lo
criando ainda mais.
O DIREITO AO RESGATE
Para o nosso kith, é tudo uma questão de bom senso. Desde
o início, a solidariedade tem sido a nossa principal qualidade, e
não hesitamos em ajudar os marginalizados e os órfãos quando
necessário. Depois da Fragmentação, ajudamos muitos Kithain
a resistir à tempestade de Banalidade, e continuamos a fazer isso
quando surgem oportunidades. No entanto, consideramos esta
lei tão importante que acreditamos que aqueles que abusam dela,
pedindo ajuda sem necessidade ou colocando outros em risco por
causa de seu próprio egoísmo, merecem uma punição adequada.
O DIREITO AO SANTUÁRIO
De certa forma, este direito é uma continuação do Direito
ao Resgate. Muitas vezes acolhemos os perseguidos e margina-
lizados em nossas fileiras, e alguns se tornam até parte de nossa
família, partilhando nosso estilo de vida. Não costumamos exigir
formalidades, e oferecemos hospitalidade, honestidade e bon-
dade pelo tempo que for necessário. É claro que não gostamos
de aproveitadores ou daqueles que abusam da hospitalidade
oferecida, e alguns piskies podem ser especialmente cruéis com
convidados egoístas ou rudes. A quebra da hospitalidade é uma
das piores ofensas que alguém pode cometer contra o nosso kith.
O DIREITO À VIDA
Não gostamos de guerras, embora estivemos envolvidos
nelas muitas vezes, e como somos frequentemente perseguidos,
acabamos vendo mais sangue do que gostaríamos. Preferimos
evitar conflitos e dissuadir aqueles que nos ameaçam, e precisamos
ter muita certeza antes de matar alguém, por mais que alguns
CAPÍTULO DOIS: VIDA ERRANTE 311
de nós tenham feito do ato de matar o seu comércio. Desde a
Fragmentação o Sonhar se torna cada vez mais fraco e cada vez
que um Kithain deixa de existir, um pedaço dele desaparece.
Podemos lutar, podemos nos defender com agressividade e
até mesmo matar, mas lembre-se que a cada dia nossos núme-
ros são menores, um sinal do avanço do Outono. E se a morte
feérica é terrível, o ferro frio é ainda mais. Evite a violência
quando puder, incapacite seus adversários se puder, mande suas
almas para a próxima reencarnação se não tiver escolha, mas
independente de qualquer coisa, nunca use ferro frio contra
outro Kithain.
FORMAS DE
PASSAR O TEMPO
A viagem e o caminho de um piskey são muito longos, e há
muitos lugares para visitar, problemas para enfrentar e desafios
para encontrar. Embora nossas naturezas nos levem a tentar nos
encaixar onde quer que vamos e não sejamos muito seletivos,
há certas coisas que realizamos muitas vezes e que, até certo
ponto, tornaram-se tradicionais em nosso kith.
32 LIVRO DO KITH: PISKIES
IRMÃOS E IRMÃS
MAIS VELHOS
Há muitas lendas sobre como nós surgimos. Uma lenda
diz que uma vez Eva estava dando banho em seus filhos e Deus
veio ao seu encontro para conhecê-los. Como não conseguiu
terminar de lavá-los, escondeu seus filhos sujos e apresentou
apenas os limpos. Deus ficou irritado com o comportamento
de Eva, e a castigou usando as crianças, proclamando que as
crianças sujas ficariam para sempre longe dos olhos de todos. E
assim nasceram os piskies.
Em todo caso, muitos mitos sobre nós falam sobre como
fomos abandonados, seja por causa dos pecados de nossos
pais, seja por causa da rejeição da sociedade. Não é à toa que
sempre nos preocupamos com o bem-estar dos desprotegidos e,
especialmente, das crianças, que ainda têm muito a aprender.
Embora às vezes possamos agir como pais de crianças em
dificuldades, preferimos agir como irmãos ou amigos, uma posição
de grande confiança e sem o medo que a autoridade paterna
ou materna inspira. Geralmente priorizamos o bem-estar físico,
garantindo que nossos “pequenos irmãos e irmãs” tenham uma
refeição decente e um lugar quente para dormir. Assim como
improvisamos para sobreviver, também podemos fazer isso para
ajudar os outros, e alguns piskies até se colocam em perigo
tentando ajudar os seus protegidos.
Mas a nossa ajuda não se limita apenas às necessidades
mais imediatas. Uma vez saciados, nossos protegidos também
recebem lições valiosas sobre como seguir em frente e ajudar
aos demais. Não gostamos de crianças mimadas e egoístas, e se
nos depararmos com alguma assim, bem, talvez seja a hora dela
aprender uma nova lição e se for um caso impossível, é hora de
seguir em frente sem olhar para trás.
Piskies sempre lidaram com a infância desde tempos remotos,
ajudando muitos órfãos e filhos de viúvas a sobreviverem e a
levar adiante suas vidas. É certo que geralmente empregamos
métodos honestos, embora alguns Unseelie não se importem em
ensinar para seus alunos alguns truques sujos para sobreviverem
em ambientes especialmente hostis.
Durante o século XIX, à medida que as grandes cidades
cresciam com a industrialização, muitas crianças acabaram
nas ruas ou em trabalhos especialmente duros. Confrontando
a Banalidade, nos voltamos para elas, oferecendo um pouco de
ilusão e esperança. Com a ajuda de outros kiths também pro-
curamos sensibilizar diversas instituições sobre a situação destas
crianças e a promover medidas sociais para protegê-las. Foi mais
ou menos durante essa época que surgiu os Irmãos Mais Velhos
ou Fadas Madrinhas, uma organização criada pelos piskies, mas
que ao longo do tempo se expandiu para incluir outros kiths,
que ajudam oferecendo diferentes habilidades e recursos. Os
Irmãos Mais Velhos continuam a cumprir seu papel tradicional
de ajudar as crianças marginalizadas e sem posses, mas, com o
passar do tempo, também expandiram seus campos de atuação.
Entre os Irmãos Mais Velhos estão alguns vigilantes atentos à
atividade dos spriggans e dos homens do saco de todo o mundo,
tentando proteger as crianças dos abusos por parte dos adultos.
FOGOS-FÁTUOS
Rejeitados, muitos piskies fizeram da estrada sua casa ao
longo dos séculos, descobrindo muitas formas de viajar pela
natureza selvagem e evitar seus perigos. Com o tempo torna-
ram-se guias e exploradores, mas outros se tornaram algo além.
Os mais benevolentes guiaram os mortais para lugares seguros
ou de volta para casa, especialmente as crianças perdidas, ou
aqueles viajantes alheios aos perigos que os espreitavam nos
lugares escuros. Outros Piskies, geralmente os Unseelie, atraíram
aqueles que os ofenderam de alguma forma e os puniram levan-
do-os para longe da estrada e fazendo com que se perdessem.
Para concretizarem seus propósitos, muitas vezes usaram luzes
feéricas que, com o tempo, receberam muitos nomes entre os
mortais, e que muitos acreditavam serem as almas dos mortos
que procuravam arrastar outros para o além.
Estes piskies, tanto Seelies quanto Unseelies, são conhe-
cidos como Fogos Fátuos, e embora alguns ainda usem as luzes
fantasmagóricas de antigamente para marcar o caminho que
querem que os viajantes sigam, outros usam métodos mais
modernos, alterando sutilmente os mapas e tecnologias atuais
como telefones celulares e aparelhos de GPS. Independente
disso, o seu humor continua a direcionar suas ações, desde
ajudar os bem-intencionados, até pregar peças ou fazer com
que se percam aqueles que os desagradam.
Mas os Fogos Fátuos fazem muito mais do que somente ajudar
ou atrapalhar viajantes. Nas propriedades livres muitos agem
como “guias turísticos”, oferecendo seus serviços para outros
Kithain que necessitam chegar a determinados lugares e outros
atuam como mensageiros nas cortes ou como uma espécie de
correio feérico. Aqueles que fazem o juramento de servir outro
A TOCHA E A LANTERNA
Após a Fragmentação, muitos piskies enfurecidos
declararam guerra aos sidhe, e de fato colaboraram com
outros plebeus para expulsá-los de vários lugares. A
guerra no Principado de Cornwall foi especialmente
feroz, e após sua vitória os piskies decidiram nomear
seus próprios reis: a Tocha e a Lanterna, conhecidos
popularmente como Joan the Wad e Jack O’Lantern.
A rainha representa a Corte Seelie, enquanto o
rei representa a Corte Unseelie e cada um carrega
respectivamente uma tocha e uma lanterna que são
os símbolos de sua realeza, e que foram criados pelos
Fogos Fátuos, que sempre foram muito numerosos na
Cornualha.
Os reis dos piskies não têm nada a ver com a
nobreza dos sidhe. É um título honorário e bastante
informal, que é trocado periodicamente, geralmente
quando seus titulares se cansam de ocupar o trono.
Sua função é basicamente presidir o festival anual
do kith na Cornualha, mas eles também são bem
recebidos em outras partes do mundo com respeito,
entusiasmo e festa.
Mas os reis também assumem um papel mais sério
quando um membro de seu kith está em apuros, sendo
que, às vezes, ordenam aos seus súditos que venham
em seu auxílio se considerarem isso necessário, embora
não utilizem muito esta prerrogativa, para evitar causar
aborrecimentos desnecessários. Em geral, só agem
quando consideram que o problema é importante
demais para os piskies, embora em algumas ocasiões
tenham agido para ajudar aqueles que não têm recursos,
como é habitual no kith.
CAPÍTULO DOIS: VIDA ERRANTE 333
Kithain se comprometem a entregar suas mensagens e objetos, e
sua fraqueza não interferirá no desempenho de seu dever. Além
de mensageiros, eles também atuam com menos frequência como
cocheiros, ou acompanham outros Kithain em suas viagens,
ajudando-os a encontrar os melhores caminhos. Um escudeiro
piskey torna-se muitas vezes um excelente companheiro para
um cavaleiro errante, e mais ainda se ele é um Fogo Fátuo. Com
o desenvolvimento dos meios de comunicação eles também
aprenderam a usar suas luzes e poderes para enviar mensagens
a longas distâncias, evitando assim problemas e inconvenientes
dos meios de comunicação mundanos, usando códigos e cifras
que só são conhecidas por outros piskies.
De certa forma, os Fogos Fátuos são a imagem mais co-
nhecida do kith, e até certo ponto, constituem uma espécie de
guilda, ajudando uns aos outros, ocasionalmente, a alcançar
seus destinos ou compartilhando suas informações sobre as me-
lhores rotas e possíveis perigos. O seu papel na recente Guerra
da Harmonia não foi pequeno, colaborando com os exércitos
feéricos e, especialmente, com os plebeus.
OS GUARDIÕES DO
CAMINHO
A posição dos piskies tem sido sempre muito estratégica,
pois muitas vezes caminhavam por lugares que outros kiths
evitavam, pelo menos a maior parte do tempo. Isto lhes permitiu
detectar ameaças e, se necessário, enfrentá-las, mas na maioria
das vezes procuraram guerreiros entre as fadas para resolver o
problema. No kith, no entanto, sempre houve caçadores de
34 LIVRO DO KITH: PISKIES
monstros, quer sejam quimeras descontroladas, fadas-sombrias
ou mesmo outras criaturas sobrenaturais.
No entanto, os piskies não buscam grandes feitos, mas sem-
pre preferem ajudar os humildes com problemas diários. Talvez
um agricultor simpático tenha quebrado uma perna e precise
que a sua colheita seja recolhida, ou talvez um jovem tenha
perdido o ônibus e precisa que alguém o leve urgentemente a
uma entrevista de emprego que não possa perder. O mundo dos
humanos está cheio de pequenos problemas e inconvenientes,
que podem ser resolvidos com um pouco de boa vontade e um
pouco de magia piskey.
Claro que a ajuda dos piskies não é para todos. Um ato
de bondade ou uma ofensa muitas vezes guiam suas ações. Os
Unseelies gostam especialmente de punir os humanos desagra-
dáveis, repulsivos e egoístas que atrapalham as vidas dos outros,
transmitindo o que eles consideram um pouco de justiça em
um mundo que é injusto.
De certa forma, os Guardiões do Caminho agem como uma
“polícia itinerante”, viajando de feudo em feudo simplesmente
para dar uma mão, de forma que geralmente possuem muitos
Aliados e Contatos ao logo do caminho por terem-nos ajudados
em algum momento do passado. Outros atuam como investi-
gadores, tomando nota dos problemas que encontram, fazendo
soar o alarme ou procurando pessoas dispostas a confrontá-los,
geralmente em outros kiths mais preparados para enfrentar o
perigo. E, algumas vezes, a sua intervenção consiste em algo
tão simples como um apelo às autoridades mundanas, como a
polícia ou os bombeiros.
 TIRÉSIAS
Tirésias foi um famoso vidente e sábio da Grécia antiga, cujo espírito foi consultado pelo herói Ulisses para encon-
trar o caminho de volta para casa. Durante a sua vida ele ofendeu os deuses e durante sete anos foi transformado em
mulher, e foi amado por vários homens. Depois de sete anos ele se tornou novamente um homem, mediador entre a
humanidade e os deuses. Ele ficou cego por ter revelado os segredos dos deuses, mas em troca recebeu a capacidade de
ver o futuro, compreender a linguagem dos pássaros e a viver sete vidas.
Tirésias teve vários filhos e filhas e é dito que alguns deles herdaram seus dons... e a capacidade de mudar de sexo,
embora este dom tenha se manifestado de forma aleatória.
Alguns piskies afirmam que são descendentes de Tirésias, porque seu dom de adaptação é tão poderoso que ao
longo de suas vidas seu sexo muda, geralmente devido a estímulos externos. Alguns mudam adaptando-se aos mortais
que gostam, outros quando passam muito tempo na companhia do mesmo sexo, e outros quando veem um mortal com
o qual querem se parecer. Em todo caso, a mudança não se dá pela vontade do piskey, mas quando de alguma forma seu
poder de adaptação se intensifica.
Seja como for, não é um processo rápido, mas desenvolve-se progressivamente durante várias semanas, e o piskey
sabe imediatamente que ele começou, para poder preparar-se para o que está para vir, adotando uma nova identidade
como “irmão” ou “irmã” do seu antigo eu, ou simplesmente anunciando a sua transexualidade.
O dom de Tirésias nem sempre é bem-vindo, e não apenas por causa da reação das pessoas ao redor do piskey. A
maioria dos piskies que crescem com isso assumem o dom como algo que pertence à sua natureza e aqueles que conhecem
o mito de Tirésias tem orgulho de sua ancestralidade. No entanto, aqueles que estão confortáveis com seu sexo não se
dão tão bem, e para eles as mudanças progressivas são uma surpresa desagradável ou um incômodo.

Não há muita organização nos Guardiões do Caminho, e a
maioria deles são indivíduos comuns que decidiram dedicar-se
a resolver problemas enquanto viajam. No entanto, desde a
Fragmentação e diante da ameaça da Banalidade, vários Guar-
diões uniram forças para estabelecer redes de contatos mais
permanentes para poderem transmitir informações rapidamente
e oferecer ajuda a partir de locais remotos. Os contatos dos
Guardiões do Caminho revelaram-se muito úteis aos plebeus
durante a Guerra da Harmonia, permitindo que eles soubessem
rapidamente da chegada dos sidhe e de seus aliados.
monitoramento de espécies ameaçadas de extinção, garantindo
que ninguém as incomode ou afastando caçadores furtivos.
Para os Animalários os animais proporcionam uma amizade
e uma afeição mais primária e honesta que a dos humanos. Os
animais são mais simples, não mentem e a sua lealdade não é
tão complexa como a das pessoas. Por esta razão, estes piskies
geralmente são acompanhados em suas viagens por diversos
animais. Tradicionalmente, o kith sempre gostou de cavalos,
que também podem servir como animais de sela ou para o
transporte de bagagens, mas os cães também são companheiros

OS ANIMALÁRIOS tradicionais, assim como os burros, camelos, gatos, macacos....

Ao longo do tempo, os piskies não só encontraram pessoas
perdidas ou rejeitadas pelo caminho. Muitos deles também
ajudaram outras criaturas desprotegidas, especialmente animais.
Adotando um estilo de vida nômade não é de se estranhar que
muitos membros do kith tenham se dedicado tradicionalmen-
te à criação de cavalos e cães, bem como de outras espécies
animais. E alguns deles possuem um pequeno toque de magia
em si, encantados de uma forma semelhante aos humanos, ou
recebendo a amizade de quimeras do Sonhar.
Os Animalários, como esta facção é conhecida, são formados
por piskies que se dedicam à proteção dos animais. Nos últimos
séculos, muitos se juntaram aos movimentos ecológicos ou de
defesa de certos territórios naturais, outros atuam como veteri-
nários ou trabalham em abrigos para animais, ou se dedicam ao
Embora qualquer animal possa tornar-se um companheiro em
potencial de um piskey, eles preferem espécies domésticas, pois
não gostam de restringir a liberdade dos animais selvagens. No
entanto, animais selvagens feridos podem receber a ajuda de
um piskie e a chance de sobreviver, e muitas vezes oferecem
seu companheirismo em troca.
Os Animalários também usam a sua magia para se comunicar
com os animais e, tal como os humanos, ajudá-los com os seus
problemas. Quando perambulam pelas áreas selvagens, muitas
vezes têm numerosos aliados, que os ajudam avisando-os dos
perigos, guiando-os para abrigos ou onde possam encontrar água
e comida ou, algumas vezes, atacar seus inimigos. Atacar um
Animalário muitas vezes produz um efeito inesperado, já que a
fauna da área vem em seu auxílio.
CAPÍTULO DOIS: VIDA ERRANTE 355
 CAPÍTULO TRÊS:

ROSTOS
FAMILIARES
Caminhar por terras e comunicar-se com diversas pessoas torna os homens
discretos. Não há nenhuma viagem ruim, exceto a que leva à forca.
— Miguel de Cervantes “Saavedra”

Elfaba toca uma melodia cativante com sua flauta, enquanto
seus cães dançam ao som da música, no final ele passa seu chapéu.
Quando acaba o tilintar das moedas, ele começa a falar de muitas
coisas interessantes.
Bem, você me pediu para te contar algumas coisas sobre os
piskies, então vamos lá, eu não tenho o dia todo e eu quero parar
no bar antes que ele se encha.
nem naquela época nem agora.
Dito isto, muitos Kithain não têm certeza de quais piskies
são Seelie e quais são Unseelie. Enquanto certos kiths como o
boggans e redcaps parecem inclinar-se mais para um lado ou
outro, conosco é mais difícil encontrar tal tipo de definição.
Nós também não temos muita certeza, e a verdade é que alguns
de nós passamos tranquilamente de um lado para o outro,
este é outro de nossos dons para nos adaptarmos. Como diz

AS DUAS CORTES
Para os Kithain, parece que sempre existiram uma Corte
Seelie e uma Corte Unseelie, mas nem sempre foi assim. Antes
da Fragmentação havia quatro ou cinco, representando o ciclo
das estações, e havia também outras em outros lugares, como
as Cortes do Sol e da Lua, a Corte do Pássaro de Fogo, a Corte
dos Perfumes e muitas outras que hoje são apenas lendas.
Seja como for, e devido ao fato de nunca gostarmos de
ficar muito tempo no mesmo lugar, nós, os piskies, temos di-
ficuldade em nos encaixar nestas divisões que foram criadas
pelos outros para poderem se adequar, especialmente os Elfos.
No passado, diziam que fazíamos parte da “Corte do Solstício”,
uma gaveta bagunçada onde acabavam aqueles que não se
encaixavam, e assim todos estavam felizes, mas verdade seja
dita, essas distinções nunca foram muito importantes para nós,
CAPÍTULO TRÊS: ROSTOS FAMILIARES
um velho ditado: “Na terra dos lobos devemos uivar como
todos os outros”.
E como eu disse, o que eles pensam de nós nunca importou
muito para nós. Para os piskies a Luz e as Trevas são apenas
questões de atitude, e ambos os lados têm a sua raison d’être. Os
Seelie são o nosso lado bondoso, cuidando dos órfãos, guiando
os viajantes perdidos, curando os animais feridos e, finalmente,
cuidando de todas as coisas belas e agradáveis. Mas este mundo
em que fomos jogados não é agradável nem gentil, e às vezes
é preciso um pouco de pulso firme para evitar que sejamos
abusados. O trabalho dos Unseelie também é importante,
punindo os indignos e dando uma lição nos egoístas e rudes
ou simplesmente dando uma bofetada (real ou metafórica)
no momento certo para que alguém acorde e perceba o que
aqueles que estão acima dele estão causando a ele.
Quando piskies Seelie e Unseelie se encontram, não
377
costumamos fazer muitas perguntas sobre isso. Estamos unidos
pela rejeição que sofremos e sabemos que a unidade é o que nos
manteve vivos. Em momentos de necessidade, podemos recorrer
uns aos outros, mas somos bem-vindos a qualquer momento, sim-
plesmente para compartilhar algumas rodadas ou para conversar
quando alguém chega de fora. Alguns Kithain que percebem
essa camaradagem e como nos damos bem ficam desconfiados,
mas não é nada com o que já não estamos acostumados.
Em todo caso, há certas linhas que nem mesmo nós cruzamos,
especialmente com criminosos que fingem abusar da hospitali-
dade, e com aqueles que se aproximam do perigoso ponto de se
tornarem Tarados por causa da Banalidade. Nós nunca, jamais,
permitimos que os spriggans fiquem perto de nós, porque a sua
podridão desafia a nossa própria essência.
O SENTIDO DA
VIDA Vou lhes dizer o significado da vida em três palavras: “Eu não sei”.
— Os Luthiers
Força. Sempre em frente.
Sim, é possível voltar no caminho, e às vezes o caminho dá
voltas em torno de si mesmo, mas em essência o viajante deve
sempre seguir em frente até encontrar seu destino. Às vezes a
vida continua clara e reta, outras vezes vira, outras vezes dá voltas
em círculos e no final todos os caminhos estão conectados de
alguma forma. O importante é que vivam as suas vidas, porque
ninguém pode vivê-las para vocês, e sigam o caminho para onde
ele os leva, desde a Crisálida até à morte.
Para os Piskies a vida é o maior caminho de todos, um cami-
nho para explorar, experimentar e aprender. Somos empurrados
pelo desejo de procurar um lugar para nos encaixarmos por
completo, mas a nossa maldição é que nunca o encontramos,
mais cedo ou mais tarde temos de voltar a procurar. De muitas
maneiras, procuramos responder às perguntas de quem somos
e nos aventuramos nos lugares que os outros evitam. Não nos
importamos em sujar as mãos ou sermos chamados de marginais,
afinal de contas nascemos rejeitados e abandonados, e essa é a
nossa herança e legado.
INFANTES
Os pequenos piskies ou “pixies”, como às vezes os chamamos,
são crianças curiosas e muito inteligentes. A sua curiosidade os
leva a possuir muitas vezes um excesso de confiança, mas eles
também aprendem com as desilusões e fracassos. Eles fazem ami-
gos facilmente, mas aqueles que os acompanham a partir deste
momento e ao longo das suas vidas são amigos verdadeiramente
excepcionais. Eles normalmente não se tornam líderes, mas
muitas vezes organizam os jogos, aprendendo como e quando
ganhar e perder. Embora existam piskies órfãos, aqueles que
têm pais amorosos cuidam deles como se fossem um tesouro, e
38 LIVRO DO KITH: PISKIES
A CORTE SOMBRIA
Por falar em spriggans, sabemos que a Corte Som-
bria é um fato, não um rumor. É só mais um bando
de mandachuvas patéticos tentando fazer com que
nos comportemos e trabalhemos para eles. No fundo,
eles são outro grupo para ser ignorado, mesmo para
os Unseelie que podem simpatizar com alguns deles,
ou compartilhar de seu caminho por um tempo. Os
poucos piskies que trabalham para eles são aqueles
que têm poucos escrúpulos e algo a ganhar em troca,
muitas vezes como espiões e sabotadores.
Aviso aos marinheiros: A Corte Sombria é uma
teia de nobres egocêntricos, que não se preocupam
em esconder que só se preocupam com seus próprios
interesses e muito pouco com seus subordinados, que
consideram como peões, brinquedos ou buchas-de-ca-
nhões, sacrificáveis, quando chegar a hora. A ausência
de regras ou controle pode ser atraente para alguns, mas
quando as consequências recaem sobre os outros não é
tão divertido. Desde o Ressurgimento, a Corte Sombria
se engajou em uma espécie de falso idealismo, como a
oposição à ordem estabelecida, mas sob a fachada de
seus carnavais e jogos provocadores esconde-se outra
realidade, mais sinistra. Já vimos isso antes, e a mudança
que trarão é a destruição de todos nós.
Por outro lado, os Sombrios brincam com o fogo
quando se trata de lidar com os Tarados. Ocasional-
mente, eles acolhem spriggans em suas fileiras e até lhes
oferecem refúgio em troca de trabalhos sujos. Como
já mencionei, estamos melhor longe desses bastardos,
melhor se eles não existissem e ainda melhor se eles
nunca tivessem existido. Dadas às circunstâncias, é uma
mancha com a qual devemos conviver e um exemplo
que nunca devemos seguir.
poucas crianças são tão dedicadas. Poucas coisas podem desviar
um piskey do seu caminho, mas preocupar-se com os seus pais
é uma delas.
Os pixies Seelie estão repletos de surpresas e maravilhas.
Eles querem experimentar e tocar em tudo, e muitas vezes
passam pouco tempo em casa, ficando inquietos e nervosos se
forem obrigados a ficar trancados. Conscientes de que as suas
fugas podem causar transtornos, eles tentam sempre voltar a
tempo. De qualquer forma, os piskies adultos costumam ficar
de olho neles, para o caso de surgirem problemas graves, mas
não interferirão se considerarem que os pixies podem ou devem
se virar sozinhos.
Os pixies Unseelie podem ser particularmente cruéis, mas
isto não é um ato pensado, e sim por não estarem conscientes
das consequências das suas ações. Revoltam-se demonstrando
extrema raiva contra o que consideram “injusto” e, quando
recebem uma ofensa, sentem-se obrigados a devolvê-la da
mesma forma. Só com o tempo aprendem a aguardar pela sua
vez e a enxergar a longo prazo. Durante este período, também
são frequentemente levados pelos seus impulsos, roubando as
carteiras dos pais ou ficando fora durante vários dias. Os mais
radicais conseguem fugir de casa, e a experiência nas ruas é o
que os leva a repensar e a regressar a casa, se tiverem uma casa
para onde regressar.
Para os piskies a época da infância não é um momento de
segurança total, e na verdade pode ser bem perigoso, porque a
curiosidade dos pixies carece de experiência e sabedoria. Eles
podem aprender da maneira mais difícil, mas para aprenderem
têm que sobreviver. Eles não entendem bem os limites e regras,
e às vezes esquecem-se deles. Felizmente, os Grandes Irmãos
e Irmãs tendem a manter uma certa vigilância sobre os pixies
da área, mas não é uma tarefa fácil e nem sempre eles podem
estar em toda parte.
ESTOUVADOS
O sentimento de maravilha e curiosidade dos piskies é
muitas vezes mantido além dos seus anos como Infante, mas
as mudanças da adolescência acrescentam o desejo de mudar e
experimentar coisas novas. Para os estouvados “o vento leste
começa a soprar” e é neste momento que eles insistem em viajar,
seja por seus próprios meios ou acompanhando suas famílias e
amigos. Na verdade, eles tendem a incentivar seus amigos a viajar,
ou procurar grupos de viajantes para acompanhar, como bandas,
mochileiros e outros. Sua facilidade de fazer amigos permanece,
CAPÍTULO TRÊS: ROSTOS FAMILIARES
pois os piskies não julgam nem criticam, mesmo que respondam
a traições e ofensas com o que consideram “uma lição”.
Os piskies Unseelie tendem a se tornar bem sarcásticos
e aprendem a perceber as oportunidades quando elas surgem.
Embora compartilhem da cleptomania compulsiva e intuitiva do
O JURAMENTO DO
MENSAGEIRO
Dá-me a tua palavra para que eu a possa carregar.
Por mais longo que seja o caminho, por mais escura que
seja a noite, por maior que seja o perigo, juro que a levarei
até ao fim do caminho ou até que chegue ao seu destino.
Vou levar a tua palavra ou que o caminho desapareça
debaixo dos meus pés.
Este Juramento é semelhante ao Juramento de
Aceitação do Fardo (que é frequentemente usado para
objetos físicos ou ações mais complexas), e é geralmen-
te realizado por piskies que agem como mensageiros,
embora alguns aceitem o compromisso sem o fazer.
Na teoria, a mensagem pode ser uma carta ou uma
mensagem oral. Quando estas palavras são pronun-
ciadas, tanto aquele que as pronuncia como aquele a
quem a promessa é feita ganham um ponto de Força
de Vontade. Se o juramento não for cumprido, cada
um perde dois pontos de Força de Vontade.
399
kith, eles frequentemente tentam direcioná-la contra aqueles de
quem não gostam. Embora continuem a meter-se em confusões,
já têm um arsenal de truques para sair de apuros e mudar de ares
na primeira oportunidade, viajando para onde o vento os leva.
É neste período que os piskies começam a ser solicitados
por outros Kithain que desejam enviar mensagens secretas ou
presentes, e alguns ocupam uma posição permanente como
mensageiros nas cortes. Um piskey nunca roubará um objeto
que tenha concordado em entregar e, de fato, até redigiram um
juramento a este respeito.
REZINGÕES
Estes velhos piskies percorreram um longo caminho e têm
muito para contar, mas causam certo desconforto, porque de
alguma forma parecem dispersos e muito perto de desaparecer.
Embora sejam respeitados quando aparecem, agora são mais
discretos do que nunca e todos têm dificuldade em descrevê-los.
Eles se encaixam facilmente, mas muitas vezes são ignorados e
nunca são plenamente aceitos.
A verdade é que os piskies rezingões preferem a tranquilidade
e cuidar de seus próprios negócios, então passar despercebidos
é uma forma de libertação para eles. Embora eles continuem
viajando, suas paradas tendem a ser mais longas, sendo mais
relutantes em mudar de lugar. Muitas vezes também se dedicam
a cuidar dos mais novos, ensinando uma lição aqui e ali, e às
vezes assumem a culpa pelas ações dos outros, especialmente das
crianças. Isto não quer dizer que permitam que um ato ofensivo
fique impune, apenas reservam para si a decisão de punir.
Os piskies Seelie são geralmente amorosos, mas avós dis-
tantes, aparecendo quando necessário e mantendo-se sumidos
o resto do tempo. Por sua vez, os Piskies Unseelies criam uma
atmosfera de respeito e de certo medo, porque embora pareçam
distraídos, tomam notas em silêncio e o seu castigo pode chegar
a qualquer momento, com um sorriso perturbador nos lábios...
Chega uma hora em que a Banalidade termina com a carreira
de um piskey. Normalmente eles se preparam antecipadamente
para esse momento. O surpreendente é que estes Rezingões não
só desaparecem no mundo feérico, existem lendas sobre piskies
rezingões cujas formas mortais desapareceram completamente,
como se sua essência se dispersasse e se misturasse com tudo o
que os rodeia.
DIVERSIDADE
Somos um grupo muito diverso, e recebemos em nossas
fileiras muitos rejeitados, abandonados e perdidos ao longo do
tempo. Não só mudamos para nos adaptarmos, mas também
temos origens muito diferentes. Isso nos ensinou — ou deve-
ria ter-nos ensinado — uma lição de humildade. Hoje em dia,
todos se sentem “especiais”, uma forma discreta de dizer que se
consideram melhores que os outros, ou que o –mundo deve girar
40 LIVRO DO KITH: PISKIES
em torno deles. Mas sabemos como boas intenções de igualdade
e fraternidade são deixadas para trás quando os “puros” tentam
corrigir o que não gostam, transformando ideais em fanatismo e
preconceito. Sempre estivemos na periferia, entre os marginali-
zados e rejeitados que estão fora de um sistema que é considerado
perfeito e não poluído. Somos os filhos sujos de Eva, impuros,
mestiços, rejeitados, lembrem-se bem disso. Enquanto outros
desejam chegar ao topo, nós queremos que o mundo continue
a girar e a avançar para o bem ou para o mal.
O que quero dizer com isso? Que ser um piskey não é um
privilégio nem um clube de escolhidos, como outros Kithain
podem acreditar que são. O fato de sermos o que somos não
nos torna melhores do que os elfos enfadonhos, os boggans
trabalhadores, os ferozes redcaps, os viajantes exus ou os esqui-
vos sluagh. Sua liberdade é decidir o que você é sem amarras,
misturar-se e mudar quando necessário, e seguir o caminho do
vento para não estagnar.
Dito isto, tentamos nos encaixar no quebra-cabeças do
mundo, tornando-se as peças que faltam. Nossa falta de sin-
gularidades é tanto um talento quanto uma desvantagem, não
gostamos de ter que nos tornar pilares da sociedade. Assumimos
a responsabilidade quando necessário, mas não podemos ficar
num lugar para sempre. Por um lado, há outros que precisam
de nós e, por outro, insistimos que as pessoas devem aprender a
cuidar de si mesmas, da mesma forma que um sistema deve saber
como se reparar, mudar e continuar a funcionar sem depender
de patches provisórios como nós.
ENCONTROS NO
SONHAR
Os piskies são um kith pragmático acima de tudo. Po-
demos ser muito honestos e sinceros quando necessário, e da
mesma forma também sabemos como guardar nossas opiniões
para nós mesmos, se necessário. Ao longo do caminho, muitas
vezes encontramos outros kiths, e na verdade alguns de nós
passam muito mais tempo na companhia de outros Kithain do
que com outros piskies. Deste modo, conhecemos muito bem
a sociedade feérica, incluindo os Gallain, Inanimae e outras
criaturas sobrenaturais. As nossas experiências e conhecimentos
adquiridos tornam nossas opiniões, preconceitos e preferências
muito diversas, e tendemos a julgar os nossos pares com base
na sua adaptação e gosto pela mudança em vez de seguir este-
reótipos. Se estivermos ofendidos ou zangados, simplesmente
encolhemos os ombros e seguimos o caminho, confiando que o
próximo encontro será melhor, embora às vezes não possamos
resistir a deixar uma “lição” de despedida.
E bem, um guia de viagem genérico não dói, nem que
seja para saber o que esperar. Tenho apenas algumas opiniões
interessantes...
 Desta forma, quando a festa termina, as relações entre
BOGGANS clurichauns e piskies costumam acabar em luta, seja como uma
Caras legais, pessoas realmente úteis acima de tudo. Como nós, brincadeira ou a sério, quando uma moeda de ouro desaparece
eles parecem gostar da companhia de outros, embora seus murmúrios “inocentemente” no bolso de um piskey. Apesar de não fugi-
possam ser cansativos. rem de um desafio, os piskies tendem a confiar na sua agilidade
— Tom Franklin natural e “pernas pra que te quero”, mas os clurichauns tendem
Eu não consigo me imaginar vivendo preso como eles. Sempre a reaparecer quando menos se espera...
em um mesmo lugar e com uma única face para todo o sempre?
Deus me livre! EXUS
— Tisket Pesopluma Estes aventureiros e contadores de histórias são companheiros
Em geral os boggans são Kithain trabalhadores e habilidosos, deliciosos; eles amam as estradas e nunca rejeitam a oportunidade
e à primeirara vista para muitos os ppiskies
iski
is kies
es eles podem const constituir o lar de ver algo novo. Mas tenha cuidado com sua veia imprudente.
que tanto anseiam,, mas as mais
mas mai ais cedo
cedo ouu mais
ced mais i tarde
a de eles acabam
tar a se — Tom Franklin
cansando.. O seu seeu empenho
e penh
em nho contínuo,
nh contín
co ntín uo, o seu
ínuo seu compromisso
cco
omp
m rom para Eles são como irmãos mais velhos, um pouco enigmáticos. Vamos
com o mesmo local
smoo llo
ocaal e a ssusua
ua re
ua relutância
rel
lutâ
lutâ
lu tânc ia eem
nciia mm mudar
uda
dar ded areares não são percorrer muitos caminhos juntos, mas no final, eles são quem são,
o que os pis
piskieses aanseiam.
skies nsei
ns eiam
eiam
am. e nós nunca realmente somos algo tão específico.
No entanto,
ntaan
anto o, embora
eem
mbboorara ambas
mbas os
amb os kiths
kith
ki ths pareçam
ppaareç
reça
re çam defender
deefen prin- — Tisket Pesopluma
cípios opostos,os, ooss piskies
osttos
os, pis
iski es podem
kies
ki
ies pood em facilmente
dem fac
acil
ilme
ment nte aad
nte adaptar-se
daap
ppta r-see ao modo
tarr-
ta Embora os piskies tenham sido frequentemente associados a
de vida dosos boggans, ans, dando
bogggggan daan ndodo umama mão
uma mãoão aquiq i e ali,
aqu ali, transmitindo
tra
raan povos nômades, a presença do kith entre eles é uma questão de
uma mensagemsaggemm ou ou apreciando
apreci
ap rreeci anddoo uma
cian uma boa booaa cozinha.
coz
ozin
inh haa. EmE último conveniência. Os piskies simplesmente os escolheram como a
caso, porém,
ém,
m, é um uma
ma pparada
ma arad
ar a a pelpelo
pe lo ccaminho,
elo amin
amin
am nhoo, uumuma
ma pa pparada
rad cômoda
ara melhor forma rma de viajar dee um llugar uggar pparaara outro, e de ce
ar certa forma
e confortável,
ável,l mas
masa não ão é vida
não ida para
vid
ida paraa um
pa um piskey.
ppiiskkeyy. Ocasionalmente
skey Occasio
O eles tambémbém podempodeem entender
entteendderr a rejeição
en rejeieiiççãão e desconfiança que
um boggan n podee ddecidir
ecid
ec diirr eembarcar
idir mbbar numa
arcaar num
arca nuum viagem
maa via iaagem
em na co companhia provocam m em sua sua passagem.
passag aggem m. NoNo entanto,
ennttananttoo,o, esses
essses povos
p vo também
po
de um piskey,
key, e ambos
ambo boss podem
poode
pode em se
dem se benefi
ben eficiar
e efi ciaiarr da
da experiência,
experiê mas pró
têm suas própriasópprria
ias leis
ias lleeis
is e costumes
cos
osttuume
mes internos,
iin
n
nte
t rn
te nooss, e muitas
muita vezes a
mu
mais cedo ou mais tarde d o bboggan vai encontrar um llugar para intenção do os piskies
dos pis
iski
kies
ki es de de se se adaptar
addaappttar
ar e interagir
inntte
teerraaggir
ir com
coomm os
os outros
o não
criar raízes ou voltar pra casa, e o piskey vai simplesmente seguir eiitaa. A lo
é bem aceita. llongo
onggo ppr raz
azoo,, ooss ppi
prazo, isk
skie
piskiesies ppo oddeem aacabar
podem cabbar à procura
o seu caminho, procurando novos horizontes e pessoas para coommpa
mpapan
de novos companheiros nhhei
eiirro
rooss de
de viagem
viaagem
gem para
ge paara
ra aprenderem
apprrend
endere
en rem
m com
c eles e
conhecer. No entanto, se os laços forem fortes, ele voltará de de novos llugares
ugareeess ppara
ara tent
ar ttentarem
teent
ntarremem ssee in iintegrar.
nte
tegrgrarr.
vez em quando para visitar seus amigos e recarregar suas baterias. essmo see aaplica
O mesmo plliicca
ca aao os exu
os
aos eexus.
ex xus. Em E mbboora
mbo
Embora ra ssejam
ejam
ej am bbons
on compa-
nheiros dee estrada
esttra
r daa e muitas
mui uittaas vezes
vezzees os
ve os acompanhem
acomp
coom mppanhe heem na
n viagem,
CLURICHAUN skiess a viagem
para os piskies v ag
vi agemem m é simplesmente
siim
mpl p eessme
men
ment ntte uma
uumma maneira
maneira de chegar
ma
São bons camaradas em festas, mas muito possessivos. São onde eles querem m irir antes
aan
nte tes
es de
de seguir
seguiuir em m frente.
freen ntte.
te. Em cada
ca parada
muito apegados pelas coisas e acabam acorrentados a elas. ermanecem o que
os exus permanecem queue são,
sããoo, enquanto
enquan
en uanto os piskies piskie mudam
— Tom Franklin para se adaptarem. A maravilha da aventura e da mudança não
Oh, eles são divertidos o bastante, mas uma vez eu cometi o importa tanto quanto o que você aprende com elas.
erro de acidentalmente
cidentalmente guardar gua
uard ar um
rddar um certo rtoo globo
cert
ce g obo de neve
gl nev em meu Apesar dessas diferenças importantes, exus e piskies ten-
bolso, e vamos apenas
amos apena ddizer
naas diz
di qquee m
izzeer qu meu nariz
eu nari nunca
riiz nu unncca mais foi o mesmo. dem a se dar bem: eles tendem a estar em lugares semelhantes
— Tisket
iskett P Pesopluma
esop
es opluum maa e compartilham um hobby mútuo de viajar e explorar, mesmo
Clurichauns
ichahaauns e piskies
pisk
pi skieiess geralmente
ie g ra
ge ralmlmen
lm e te se se encontram
eennco
c nttrraam em even- que eles não estejam procurando a mesma coisa.
tos festivos
oss e,
e, noo geral,
ger
eralal, eles
al eles
el es se se dão
ddãão muito
muit i o bem,
bem,
beemm,, trocando
trooca risos,
histórias e boa
boa cerveja.
cerv
ce
cervrvejeja.
a. NoNo entanto,
eennta
tan ntto,
o, além
alé
lém desses
lém desssses encontros,
des
de enc as NOCKERS
relações entre
en nttre os
os doisdois
do is kiths
kit
iths
hs podem
pode
odeem
od m ser
ser
er bem
bem em tensas.
teen
nsaas.
nsa s Os cluri- Talvez alguns de nós tenhamos línguas afiadas, mas Deus, as
chauns sãoãoo muito
muiito
to apegados
appeega
gado dos aos aao
os seus
seus
se us tesouros
tes
esouurro
esou ooss e coleções,
co
ollee e os línguas nockers têm farpas! Será que alguma vez eles já cavaram
piskies, conscientemente
onnssccie
ient
ntem emen ente te ouou não,nãão,o, constituem
coonnstit
stiittue
st uem uma uum
ma presença suas próprias minhocas? Eu duvido.
perturbadora.
doraa. A ligação
liigaçãção dos dos clurichauns
clur
cl uric
ur icha
ic haun
ha un ns aos os objetos
aao etos alimenta
obbjet —Tom Franklin
ainda mais curiosidade
is a cur
uriio
iossiida
dadede dos
ade os piskies
dos pis
iski
iskikieess e,
e, quando
quando do estão
estão porp perto, Quem colocou o alfinete na almofada deles? Ainda assim, fique
muitas vezeszes não conseguem
conse
onnseeguguem ddeixar eixar dee pegar peggar aquilo qque os clu-
egar por perto da criança que assiste o trabalho dos nockers, porque o que
richauns amam, mesmo qque ue n não
ão compartilhem
com
ompartilhem do se sentimento eles criam é quase sempre uma nova experiência.
de valor pelas coisas. — Tisket Pesopluma

CAPÍTULO TRÊS: ROSTOS FAMILIARES 411

 Entre nockers e piskies há uma espécie de relação de
amor e ódio. Por um lado, os piskies odeiam o humor duro e REDCAPS
mal-humorado dos nockers, e eles não costumam ficar com eles Uma vez eu vi uma matilha de cães loucos, e que um raio
por muito tempo, ou pelo menos tentam trabalhar para eles da me parta se isso não me lembrou dos redcaps. São lunáticos
forma mais cuidadosa possível antes de continuar a sua viagem. perigosos sem um único pingo de bondade ou generosidade
Mas se tiverem
erem paciência
paciênccia ssufi ficiente,
ufic
ufi cient
iente,
ie nte,
nt e, aaoo lolongo do tempo
temp pode ser em todo o corpo.
adaptar e são capazes
capa zes de
pazze de retribuir
retribbuir insultos
inssul
ultto os e ofensas
o ensas com
of c igual —Tom Franklin
habilidade,
e, ouu simplesmente
siim
mplp esme
men
me ntte enencolhem
enco
nco
colh
colh hem ooss om
lhem ombros
mbbrros e igignoram-os Evite-os a todo custo! Se a bondade existiu neste kith, eles
enquanto fazfazem
azemem o seu
em eu trabalho,
seu trabaalh lhoo,, aassumindo
ssumumin
ummin i dodo a nnatureza
atturez
atu e a agressiva provavelmente já a mastigaram e engoliram há muito tempo.
dos nockers ccomo
errs co omo
mo
m o aalgo
lgo n
lg natural
na atu ura para
ral ppa ra eeles.
ara llees. — Tisket Pesopluma
Piskies,
ess,, porr outro
out
utroo lado,do,, não
laaddo, nãoão são
sããoo avessos
ave
vess ssoos às
sos às maravilhas
maraavi cria- Quando os redcaps surgem no horizonte, a maioria dos
das pelos nockers,
noock
n cker
kers,s, e muitas tass vezes
muuiita
ita vezees provocam
ve pprrovvoc ocam m sua
suuaa raiva
raiiv quando piskies prefere arrumar as suas malas e colocar o pé na estrada,
objetos inesperadamente
neesperaaddaam meen acabam
ntte aac cab
abamam eem m se euuss bbolsos,
seus olsso
ol sos especialmente
os, esppecc usando os seus dons de agilidade, agi
g li
liddadde,, se necessário.
necessário. Solitários
Sol e não
peças ou ferramentas
ferrrarammeen nttas importantes.
imp
mportaoorrta
tant
ntes es Além
es. Alléém
A m disso,
dis o, devido
issso de sua agressivos
muito agressivos, os, o kith
kkiitthh normalmente
norrmalmen ennte
te não
não está em posição de
práátiica
natureza prática, c , osos piskies
pis
iskkiieess reconhecem
isk reccon
onhe
onh hece c m que que a engenhosidade
engen
en tá-loss.
enfrentá-los.
de nockersrs produz
pro odduuz muitas
muuititas
as máquinas
máqáquiuinaas úteis,
uina útei
út eis, mas
masas alguns
algun pensam Masas aassim
sssiim como
como
co mo fifizzeram
zeerram
am comcomom outros outro
uttro
ros tiranos,
tira
ti ran
anos, os o piskies às
cesso de máquinas
que o excesso máqáquuiinas e tecnologia
teecnolo ollooggiaa cria
cri
riaa indivíduos
indiví pre- vezes see juntam
junntatam a uma um ma frente
fren
fr
ren
ente te comum
coommum
mum um para para enfrentar
enfr
en
enfrfren
enta os redcaps,
guiçosos que delegam aaos os objetos
obbjjet
jet
etos
os o esforço
esfor
sfforço e as ativid
atividades que muitas vvezes
ezes ssee ununin in
indo
unindo ndo a ooutros uuttro
ros kit
kkiths
ki itth
hs iig
gualm
uaalm
lmentte aameaçados e
igualmente
eles mesmos poderiam realizar. Além disso, a evolução das zand
nddo a rre
n
organizando esi
sist
sttêên
resistência,ncicia,
a, oouu uussan
ando
usando do sseus
eus ta
eu alent
ntos
talentostoss ccomo espiões
comunicações constitui uma dura concorrência para o sistema ado
dorees.
e sabotadores.
tradicional de mensagens e correio dos piskies. Desta forma, o E àss vezes
vez
ezes es a relação
relaç
ellaç
açããoo entre
ent
ntrere piskies
piissskkkiies
es e redcaps
reed
dccaappss não
nã é necessa-
kith vê a tecnologia nocker com cautela, e os piskies muitas riamente te antagônica.
antaggôôn niicca
nic ca.a. OsOs Unseelie,
Un
U nsseeel
elie ie, em m particular,
particcu
cular, encontram
cula
vezes encontram para ela usos inesperados que nem mesmo os lugar emm gru rupo
gruposppoos de iinvasores
nvvas
n asoorres sselvagens
elvage
elvaggeen
va nss e n ômades sem deixar
ôm
nômades,
seus criadores pensaram originalmente. nada a desejar pperto erto
er to ddaa ffe eroocicida
ferocidadedadede ddee sseuseuss ccompanheiros.
ompanhe
om Afinal,
queno “cach
um pequeno chor
“cachorro orroro llouco”
oucco
ou o” a mam
mai
mais ais
is n ão costuma se sobressair
não
POOKA muito na matilha. lh Nestes
N casos, os piskies k costumam atuar como
É muito divertido conversar com os pooka, mas prepare-se para um posto avançado, explorando o terreno para os seus compa-
cair fora no momento, que eles começarem com suas travessuras. nheiros antes de regressarem com eles e prepararem o ataque.
Os pequenos são tremendamente fofos e proporcionam muitas horas No entanto, a maioria dos piskies acha que essas associações
de diversão. se tornam monótonas muito rapidamente, e quando o ataque
—Tom Franklin termina, eles frequentemente aproveitam a confusão para descer
Prodígios infantis? Sim, certamente, até as peças começarem. do trem e continuar sua jornada em outro lugar.
— Tisket Pesopluma
Para os piskies, os pookas podem ser muito divertidos SÁTIROS
como companheiros de viagem, bem como servir de compa- Eles são coisas bonitas e, além disso, brincalhonas; eles cantam
nhia ocasional.
casional. Noo entanto,
ent
ntan antoto além
to,
to aléém
al m do do alívio da Banalidade,
Ba os algumas das melhores canções de estrada que eu já ouvi. Mas muitas
piskies consideram
consider am que
eram
am quuee há há momentos
moment ntos
nt os emem que
q e é necessário
qu n ser vezes eles não sabem quando se acalmar e parar para respirar.
sério, especialmente
especciaallm
mene tee quando
qua
uand ndo do see trata
trraata de de resolver
reso
re solver problemas,
solv p e —Tom Franklin
muitas vezes
vez es oss piskies
ezees pissk
pi kie
ies deddescobrem
essccobbreem que qquue a melhor
melhor
lhhoorr solução
sol para as Quando eles tocarem uma flauta ou limparem suas gargantas
peças do
dos pooka
os ppo ffazer
oookka é fa azeer uuma
zer ma ppa pausa
auussa ppoporor um m ttempo
eemmppoo oou direcionar para cantar, fique por perto, aqueles que ouvem suas canções geral-
seus companheiros
ompanh nheiiro
nh
nhei ros alegres
aleg
al es para
leggrrees ppaarraa outros
out utrrroos assuntos
assu
as suntoos que atraiam mente experimentam algo verdadeiramente único. Basta ter cuidado
sua atenção.
nçã
ção. para sair antes que a festa fique muito selvagem, porque os sátiros
Noo entanto,
entaan
antoto, oss piskies
piisskies es consideram
con nsisiddeer
side ram os
era os pookas
poooka excelentes nunca sabem quando parar!
para testar
taar e colocar
sta cco
olo carr à prova
loca p oovva a sua
pr ua paciência.
su ppaaciên a Depois
ncciia. Dep de passar — Tisket Pesopluma
algum tempo
temmpo na
mp na companhia
com
ompa ppaanh
nhia ia deles, es, um
deelles m piskey
keey estará
piske est mais do Tal como acontece com outros kiths, os sátiros são divertidos
que pronto
onto para
paarra lidar
lida
li dar com
da
dar com crianças
co cria
cria
cr ian
ianç as especialmente
nçças especcia
iallmmente marotas ou para os piskies, pelo menos durante algum tempo, até que deci-
indisciplinadas,
plinadas, s e ppode
ode ter ap
od
ode aaprendido
prendid diddo al aalguns
lgu
guns truques para aliviar
uns truque dam seguir o seu próprio caminho ou lidar com outros assuntos.
as tensões
ões caso precise.
precis e. A facção
ise. facçãç o dos dos os Animalários
Animalários parecem se O prazer e a paixão oferecidos pelos sátiros são tentadores, mas
dar muito bem com os pooka, talvez porque eles entendam um piskey acaba por desejar algo mais, mesmo que seja apenas
melhor a sua natureza animal, dizem que alguns aprenderam um descanso dos excessos que os rodeiam.
até a mudar de forma como seus companheiros. No entanto, sátiros e piskies tendem a se dar bem, a natureza
42 LIVRO DO KITH: PISKIES
extrovertida das cabras permite que elas aceitem os viajantes mas podemos compreendê-las.
com facilidade, e os piskies são adaptáveis por natureza. Quando —Tom Franklin
a paixão dos sátiros se transformatransffor orma
ma n noo pr pprazer
azer de viajar e conhecer, O que eu não daria para passar algumas semanas entre eles!
ambos os kiths são capazes cap paazzeses ddee vviver
ivver ju juntos
unt
ntooss pporo um long
or longo tempo, Infelizmente, não importa o quanto eu tento e tento, eu nunca con-
e de fato são capazes
caapaze zes dee se se entenderem
een
ntteendnder ereem m facilmente.
fac
acil
cil
ilme
ilme
m nte. Grupos
G de sigo ser capaz de parecer como um destes nossos primos adoráveis.
artistas viajantes
ajantntees
es ttem
eemm ssido
iid
do um m eespaço
sp
paç
aço tr ttradicionalmente
addiiccio
cio
iona
nalm menente comparti-
— Tisket Pesopluma
lhado por ambos
am
mbo bos os
bos os kiths
kit
ith hs durante
hs duran
uraan
ur ntete séculos,
sééccu
cululo
los
os, e m mu
muitos
uittoss sátiros
sáti sabem
quuee a paixão
que para que paaiixã
xão ão permaneça
ppeerman
rm
maann
neçeça a mudança
eça
eç muuda
m dançn a é necessária,
neeces por Selkies e piskies são dois kiths amantes da mudança, mas a
as cabras
isso muitas cabr
abrras
as transformam
tra
ran nssfo
sffo
orrm
orm mam
am em em um m desafi
deessaafi
fio prender
prreende
ndder a atenção natureza das selkies é mais pr prim
imor ordi
primordial,dial
al,, talvez devido à sua natureza
ompan nh
de seus companheiros heeir irooss piskies,
pis
iski
kiess, oferecendo-lhes
ooffeerrec
eceen nddoo-l-lh
lhes a mudança
mu ea conex
animal e sua conexão xão ccom
om o m
om ar, enqu
mar, quuan
anto
enquanto t qque ue os pis
piskies estão
paixão queuee ttanto
antto
an to ddesejam.
eesseejjamm. intimamentente ligagaddo
dos à hu
ligados uma
man niida
humanidade. daddee. A n
dad ne ece
cesssssid
necessidade idad
ade dos selkies de
Destaa fo
forrma, os
rm
forma, os piskies
pisk
pi skiiees tendem
ten
te nddemem a ser seerr uma
uma
ma presença
preeseença frequen- mudança é se eme
melh haan
semelhante nte
te aao
o ir e vvir
ir ddas
as m
as aarrés
marés,és, eenquanto
nqquuanto que para
agoi de
te nos tragoi de sátiros,
sáttiriros
ros
os, ocupando
ocup
oc
ocupupan
pan
ando do posições
pos osiiççõe
ões complementares
ões ccoom
omp
mplem e necces
esssiida
os piskies é a necessidade dad
ade
de de
de preencher
pree
pr eeencchheer um m vazio,
vazazioo, encontrar
enc
enco
en um
desfrutandodo da ajuda
ajud
juuddaa de de seus
seus
se us companheiros,
coommpa panh
anhei
nh heeiiiro
r s,, quer
quer
ue como músicos, novo lugararr para
par
araa see enc caiixa
x rr,, algo
encaixar, alg
lgo novo
lgo noovovo para
paarra aprender.
aprendder
ap
mestres dee cerimônias,
cerimônia ias,
s, quer
quueer simplesmente
s mple
si lesmsmmen ntete como
como amigos.
amigo Outros os os kiths
Ambos kiitths
hs sese entendem
een
nte
nte
tendem
ndem
nd em à suasua
ua própria
prórópprriaa maneira,
manan con-
t ã entre
dividem a sua atenção t vários
á i grupos, atuando t d ou mostrando que seguem
qu
siderando que seggu
se uem caminhos
cammiinnhohos
os diferentes,
dife
di fere
r ntnteess, mas
mas que
ma quue de
d vez em
o seu talento de forma itinerante, mas sempre mantendo amigos olid
ol iddem
quando colidem, em, especialmente
esppeeci
es cial
alm
meent
m
ment nte quando
quan
qu andoddoo os
os piskies
pisk
pisk
pi skie
kie
ies viajam
v por
e contatos a quem recorrer quando necessário. ra lugares
mar ou para luuga
garrees frequentados
freq
fre
fr equueennttad dooss pelos
pel
eloss selkies,
sel
elki
lkkiieess, ouu simplesmente
sim
imp
quando desejam am
m se se encontrar.
en
nccoonnttra
rar.
r. Eles
Ele
les partilham
p rtil
pa illh
haam experiências,
exp
SELKIES aprendemm e separam-se
separram m-s-see sem
sem ressentimentos,
reessentim im
meen nttos, s numa espécie
e de
Não há nada tão mutável como o mar, e as Selkies conhecem-no mo quando dois
dança como dois peixes
peeiixe
xes se se encontram
enc
ncoontram nas profundezaspro
muito bem. É uma pena que tenhamos sido criados para a terra, do mar mas não se tocam.

CAPÍTULO TRÊS: ROSTOS FAMILIARES 433

 sidhe outonais que permaneceram no mundo enquanto os seus
SIDHE (ELFOS) semelhantes fugiram para Arcádia. Outros também se dedicam
Fisicamente eles são perfeitos, mas muitos deles não parecem a atuar como preceptores e conselheiros dos príncipes sidhe,
perceber que há um mundo além de seus castelos e seus festivais. esperando torná-los bons governantes e não repetir os erros dos
Isso é ainda mais triste quando você parar para pensar que eles só nobres que os precederam.
têm uma única chance para viver.
— Tom Franklin SLUAGH
Belos, mas um pouco tristes, presos a seus ducados, baronatos Embora muito egoístas e melancólicos, esses colegas muitas
e identidades. Eles não sabem que um grande mundo os espera além vezes querem compartilhar boas histórias. Você nunca sabe quando
das muralhas de seus castelos? ter um amigo sluagh vai vir a calhar.
— Tisket Pesopluma — Tom Franklin
Há muita tensão na relação entre os piskies e os sidhe. Na Eles têm aparências tão melancólicas, pobres coitados. Não são
verdade, muitos piskies sempre os chamam depreciativamente os amigos mais calorosos, mas um dia você será grato a eles, eu acho.
de “elfos” e só os respeitam quando necessário. A razão para — Tisket Pesopluma
esta animosidade tem raízes muito profundas, que remontam Os piskies podem entender a situação dos sluagh, mesmo
ao tempo da Fragmentação e do exílio do Sidhe. que não compartilhem dela. Os sluagh sofrem rejeição, descon-
Os piskies foram os primeiros a perceber os planos dos sidhe fiança e um certo medo, em grande parte devido à sua aparência
de fugir para Arcádia e abandonar os outros kiths. Seja por causa e hábitos estranhos, mas permanecer perpetuamente nas trevas,
de sua posição como mensageiros entre as Propriedades Livres espiando e escondendo-se se n nãoão é o sseu eu eestilo.
s ilo. Os piskies preferem
st
participar,, adaptar-se see e eesconder-se
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ou de acordo com rumores, seja porque um piskey quebrou seu
ganham a aceitação
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ou os kiths.
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iths Ser discreto
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Juramento e leu a mensagem que ele havia jurado manter, o
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alarme logo se espalhou entre o kith.
Quando
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lebebeu eus.s. A CCornualha
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êm meios para
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mi ccoom qualquer
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bili daaddee de entendimento
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nten de fato, eles querem, enquanto os sluagh preferem escorregar
entre os dois kiths.
ois kkiitth s. A ggrande
hs. rraanndde
de mamaioria
m
maio
aiioori
ria
ia do ddos Piskies
os Pi
P issk
kieies se jujuntou aos pelas sombras e tentar passar despercebidos. Desta forma, os
plebeus durante
urante a GuerraGuerrrraa da
Gu da Harmonia,
Haarmo
H rmmononiiaa, e ainda aind
aiinda hoje hoj eles são conflitos não são frequentes... até que os dedos curiosos de um
uma presença
ença rara nas naas cortes
cco orrtteses dos
dos nobres
o rees sidhe,
nob sidh
si dhe, outra razão r pela piskey encontrem um segredo valioso que não deve vir à luz.
qual o kithh parece menos numeroso ddo que realmente l é.
Hoje, os piskies decidiram apoiar a paz e, mais uma vez, agir TROLLS
como mensageiros entre as cortes, simplesmente porque, embora Os trolls são provavelmente as pessoas mais confiáveis por aqui.
não seja a solução perfeita, é melhor do que a continuação da Não deixe que sua aparência
apar arênênciciaa exterior
eexx erior
exte rior
rior séria
sér
ériaia o impeça de d ver seus
Guerra do Acordo. Como diz o ditado, “se a vida te der limões, grandes corações
rações e ssua ua ddeterminação
ua eter
et erminaação de fferro. eerrroo.
faça uma limonada” e os ressentimentos do passado permanecem — Tomom Franklin
Frran
anklklin
em silêncio por enquanto. Eu já trombei
trrombeii comcom muitos mu os pela pel
ela estrada,
e ttrraadda, mas
es mass a amizade
am ea
Outra razão para a tensão entre os dois kiths é que, de certa lealdade encontradas
nccon
ontrraaddas
as aqui
aqui
qui não
qu nãão podem
pode
po demm ser
sseer superadas.
suppeera
su rada
das.. Faça-se
Faç digno
forma, os sidhe simbolizam para os piskies um ideal que nunca da devoçãoo ddee umm ttroll,
rolllll, e vo
ro vvocê
ocê
cê sserá
eerrá um
uma
ma al aalmama ddigna
ign
ig
gna ddee fafato.
poderão alcançar. Os piskies no fundo são um desejo não rea- — Tisket
sket Pesopluma
Peessopplulumama
lizado, enquanto os sidhe são o desejo realizado, embora como Piskies
es gostam
gosttamam ddee tr ttrolls,
rol
rol
o ls quando
ls,, e qqu uan ndodo uuma ma m mãoãão forte
oorrtee ou ajuda
o for
muitos piskies acreditam, no fundo é um falso desejo, os sidhe voluntáriaa é necessária,
necceessssáári a, eles
árriia, ellees geralmente
geraallm
ge
gera meen
men te vão
nte vããoo atété os
até os trolls,
tr aler-
são crianças mimadas e manhosas que receberam tudo e muitas tando-os sobre
sobbree o surgimento
suurrgigim meentnto de
ent
nto de uma
umaa ameaça, meaaçça, de
ame de uma
um pessoa
vezes acabam sendo malcriadas. necessitada
da ouu ddee al
aalgum
lgu um pprproblema
roobblelem maa qqueuuee pprecisa
reciisa
re sa ddee uma solução.
No entanto, a natureza prática dos piskies também os Há uma certa simbiose
sim
mbbiioso e entre
entr
en tree os os dois
doi is kiths,
ois kkiithhs,s e alguns piskies se
leva a não julgar os sidhe como um todo, e muitos gostam dos tornam escudeiros
cudeiros doss trolls, trol
tr ls, enquanto
oollls enqquuan
en an o outros
nttto out utrros atuam como co men-

44 LIVRO DO KITH: PISKIES

tores, apresentando evidências e ajudando-os a forjar seu caráter.
As relações entre piskies e trolls aumentaram durante o
Interregno, permanecendo ao longo dos sucessivos conflitos dos
Kithain até hoje. Se não fosse pela natureza inquieta e nômade
dos piskies, talvez tivesse sido possível uma aliança mais formal
e estável mas, por outro lado, com o tempo, muitos trolls “criam
raízes” numa propriedade livre ou dedicam as suas vidas a certos
ideais, e os piskies precisam de uma mudança de vez em quando.
No entanto, quando um troll decide tornar-se um cavaleiro
errante ou viajar para combater as injustiças da estrada, ele
frequentemente encontrará um piskey para acompanhá-lo em
sua jornada, e todos se beneficiarão do relacionamento.
GALLAIN
Os Kithain ocidentais não estão sozinhos. Os sonhos tomam
muitas formas em outros lugares, e o mundo está cheio deles. O
melhor que lhe posso dizer é: viaje e aprenda.
— Tom Franklin
Assim como as terras distantes tem pessoas e costumes exóti-
cos, os sonhos desses lugares tem seu próprio charme desconhecido.
Como sempre, aja com cuidado e respeito quando estiver na casa
de outra pessoa.
— Tisket Pesopluma
CAPÍTULO TRÊS: ROSTOS FAMILIARES
Há até pouco tempo arás muitos kiths consideravam os
piskies como parte dos Gallain, mas seus números, ou melhor,
sua visibilidade, aumentou até poderem ocupar um lugar de
direito entre os outros Kithain.
Os piskies acham o termo “Gallain” um pouco restritivo
demais. Eles viajaram e visitaram por muito tempo outras al-
deias, viram os sonhos de outras terras e misturaram-se com elas,
observando e aprendendo no processo. Estando às margens da
sociedade Kithain eles entraram em contato com os “outros”,
com mais frequência do que outros kiths, e os conheceram
melhor. O korred e ghille dhu da Europa, as cortes Hsien do
extremo oriente, os Nunnehi americanos, os reinos elementais...
a diversidade dos habitantes do Sonhar é incrível, e a curiosidade
dos piskies os leva frequentemente a se relacionar com eles.
Os piskies muitas vezes não são considerados uma ameaça
pelos Gallain, pois tendem a aparecer discretamente e em pe-
quenos grupos, assim estes encontros terminam muitas vezes de
forma pacífica, e quando surgem mal-entendidos e conflitos, a
agilidade dos piskies os ajuda a levantar poeira na estrada e a
seguir o caminho.
455

PRÓDIGOS
Muitos changelings consideram os Pródigos como fadas
que esqueceram sua verdadeira natureza e se tornaram criaturas
distintas, que se distanciaram mais e mais dos Kithain, especial-
mente depois da Fragmentação.
Os piskies não têm tanta certeza disso. Eles acreditam que
algumas dessas criaturas fossem fadas em sua origem, mas pro-
vavelmente outras têm uma origem diferente, provavelmente
devido ao choque entre os mundos da realidade e da magia. Em
suas viagens, eles muitas vezes se deparam com muitos seres
estranhos, e já viram muitas coisas para dar crédito às teorias
de outros Kithain.
Na maioria das vezes os piskies preferem evitar os Pródigos,
mas às vezes, especialmente quando surgem ameaças ou interes-
ses comuns, seus caminhos se encontram e alianças e contatos
estranhos são estabelecidos. Os piskies preferem mantê-los em
segredo, como uma rota de fuga ou uma ajuda oculta para a qual
recorrer se necessário.
VAMPIROS
Os vampiros horrorizam e desagradam os piskies por várias
razões. São criaturas vazias e, para preencher esse vazio, roubam
o que os outros têm, sejam suas vidas, seus recursos ou mesmo
suas almas. Eles parasitam as cidades e muitas vezes agravam os
problemas da humanidade ou se aproveitam dos mortais, muitas
vezes por caprichos cruéis e egoísmo.
Por estas razões os piskies preferem manter a distância dos
mortos-vivos, e felizmente os encontram raramente na estra-
da. No entanto, diz-se que na Europa Oriental alguns piskies
se tornaram caçadores de vampiros ou ensinam os humanos a
se defenderem da praga dos mortos-vivos, visitando cidades e
aldeias executando este “trabalho”.
Quando forçados a fazer contato com vampiros, os piskies
mantêm sempre um pé em uma rota de fuga, mas às vezes
consideram esta hipótese para salvar seus protegidos ou obter
informações ou contatos com os quais não poderiam contar
de outra forma, embora geralmente apenas os Unseelie ousem
estabelecer tais relações, especialmente com indivíduos solitários
dos clãs Gangrel e Nosferatu.
LOBISOMENS
Os piskies consideram que os metamorfos são um outro tipo
de fadas, possivelmente relacionadas com os Kithain, como os
pooka, selkies ou sátiros, mas que se distanciaram da sociedade
feérica para seguirem o seu próprio caminho, uma guerra mile-
nar contra um inimigo sombrio que ameaça devorar o mundo.
Os piskies não tem certeza, mas alguns se preocupam que os
lobisomens estejam cientes de um perigo ignorado pelas fadas.
De qualquer forma, as relações entre piskies e lobisomens
46 LIVRO DO KITH: PISKIES
são fluidas, especialmente com as tribos Fianna e Peregrinos
Silenciosos. Os piskies reconhecem a conexão dos metamorfos
com a natureza em nível primordial, mas que eles também são
perturbados pela fúria interior que parece consumi-los de tempos
em tempos, transformando-os em máquinas assassinas.
Os piskies agem geralmente como intermediários entre as
fadas e os lobisomens, embora esta posição fosse mais comum
no passado. Às vezes, eles ajudam filhotes perdidos a encontrar
companhia e um lugar entre seus companheiros e, em troca,
esses lobisomens muitas vezes aparecem para ajuda-los quando
surgem problemas que não podem enfrentar sozinhos.
MAGI
A curiosidade dos Piskies e a sua necessidade de sobreviver
levou-os por vezes a aproximarem-se dos magos. Às vezes aca-
bavam escravizados e outras servindo-os de livre vontade, como
assistentes, mensageiros, arautos, pesquisadores de ingredientes
e intermediários perante as cortes feéricas.
Em troca, eles tinham um refúgio seguro, alguma proteção e
recompensas mágicas ocasionais. Esses “aprendizes de feiticeiro”,
especialmente aqueles que eram mantidos contra a sua vontade,
tiveram existências miseráveis, pois seus mestres geralmente não
permitiam que eles deixassem seu serviço, e se asseguravam disso
por meio de laços mágicos, feitiços e juramentos.
Por esta razão, os piskies tendem a ser cautelosos com os
praticantes de magia, sabendo que sua liberdade pode estar em
jogo, sem mencionar que eles podem acabar em uma masmorra
ou em uma mesa de experimentos.
De qualquer forma, existem algumas Tradições que ainda
valorizam o serviço dos piskies, como a Casa Merinita da Ordem
de Hermes ou algumas bruxas da Tradição dos Verbena. No
entanto, nos últimos séculos, os piskies também estabeleceram
relações com magos Órfãos, com os quais muitas vezes podem
manter relações mais pessoais sem se preocupar com a política
das Tradições.
APARIÇÕES
Assim como outros Changelings, é raro os piskies se rela-
cionarem com os espíritos do submundo, e eles também sabem
que estas almas estão ligados a certas pessoas, lugares ou objetos,
por isso é fácil se distanciar delas.
No entanto, alguns piskies entendem que os Mortos Sem
Descanso não estão no além por escolha ou pelo menos não
estariam se tivessem tido uma vida plena e feliz, e de vez em
quando e com cautela mostram uma certa empatia para com
os fantasmas, especialmente aqueles que sofreram um destino
trágico. Estes piskies ajudam fantasmas levando mensagens para
entes queridos, ou evitando que as suas sepulturas ou objetos
amados sejam danificados. Em troca destes serviços, estes piskies
podem ocasionalmente contar com informações privilegiadas
ou com alguns truques de além da sepultura, se precisarem.
 dáveis e regressaram. Às vezes, o moroi e os espíritos da noite
OS SPRIGGAN
A Coisa Debaixo da Cama aparece para compartilhar alguns
tiravam a vida dos pais que haviam abandonado seus filhos. Às
vezes, quando um pai amaldiçoava seus filhos e desejava que eles
o levassem embora, os elfos vinham depressa e nós cumpríamos
pensamentos: este desejo. E, por vezes, punimos simplesmente o descuido, a
Boa noite, queridos meninos e meninas. Eu te vejo mes- negligência e os maus-tratos, encontrando o nosso caminho e
mo que você não possa me ver. Eu te vejo com seu nariz preso o nosso lugar.
nestas páginas seguindo as palavras como patas de inseto com Ao contrário de outros Thallain, tivemos um papel terrí-
seus lindos olhinhos. Você quer um balão? Alguns doces? Um vel, mas muito apreciado. Na Era das Lendas, muitos senhores
sorvete? Tenho muitas coisas aqui em baixo. feéricos queriam escravos, brinquedos humanos e estávamos
Mas o que eu vim te oferecer é conhecimento. Afinal, se mais do que felizes em fornecê-los. Com o tempo, também
está lendo isto, é porque é isso que esta buscando. Um velho expandimos nossa arte e outras criaturas sobrenaturais vieram
conselho que ainda é tão útil nestes dias de hoje: Tenha cuidado até nós para lhes proporcionarmos filhotes. Durante os tempos
com o que você quer... da Fragmentação, quando os sidhe fugiram para Arcádia e os
Eu suponho que você já conhece as histórias das Crianças plebeus ficaram sozinhos, nós lhes demos muitas crianças para
Perdidas, e de como os desejos por um lar que elas não tinham que usassem seus corpos e se protegessem do frio da Banalidade.
acabaram sendo atendidos, e de como os piskies ajudaram aos Somente nossos irmãos piskies viram o perigo real, e é pre-
pobres órfãos e filhos de viúvas para ciso reconhecer que eles se esforçaram muito para nos combater,
aliviar suas necessidades. seja pessoalmente ou virando outros contra nós, mas eles nunca
Mas há também outras foram capazes de nos eliminar completamente. Sempre houve
histórias não tão felizes, aqueles que continuaram vindo até nós e nos protegendo em
outros desejos que tomaram troca de nossos serviços, e os desejos que nos
forma ao mesmo tempo. Às moldam ainda estão presentes até hoje.
vezes as Crianças Perdidas Talvez o mundo esteja mais consciente
eram perdidas por acidentes, hoje, mas é também mais perverso e
isso sempre aconteceu, mas outras hipócrita e prefere olhar para o lado
vezes os pais se tornaram monstros em vez de enfrentar a verdade.
e deliberadamente abandona- E a verdade, meus queridos,
ram seus filhos, quando não os é que nós, os indesejáveis, ainda
mataram ou reservaram destinos estamos aqui, e continuamos a
ainda piores para eles. Quem diz exercer o nosso papel. Às vezes
que os monstros e depravados não simplesmente assustamos um pir-
tem imaginação? ralho, mas outras vezes ele nunca
Nós nascemos desses mais é visto. E, felizmente, o mundo
desejos: das Crianças Inde- nos oferece muitos aliados sobrenaturais e
sejadas, das Não-Amadas. mundanos que estão dispostos a sujar as mãos em
Do ressentimento egoísta que nosso lugar ou em quem podemos jogar a culpa.
surge quando uma criança toma E por quê?
o tempo que um adulto poderia Porque é o que somos. Desejos ressentidos
usar para si mesmo, da sensação e egoístas que voltam para cobrar seu preço: a
de que uma criança nunca deveria destruição do futuro inocente. Outros diriam
ter nascido quando se comporta de simplesmente que somos infelizes, e afinal,
maneira cruel e ingrata, da sensação como dizem, a miséria adora companhia.
de que você estava melhor quando não
E agora que você sabe o que veio pro-
tinha filhos ou quando sente que ser pai
curar, eu suponho que uma sementinha de
não é tão fácil quanto você pensava.
inquietação e medo foi plantada dentro de
São desejos, sentimentos e emoções,
você e vai se agitar na próxima vez que
talvez não agradáveis, mas fortes e
você vir um rostinho infantil e pensar o
que existem desde que o mundo
que nós ou este mundo em que vivemos
é o mundo.
poderíamos fazer com ela.
E é aí que nós entramos.
O Inverno está chegando. Até logo.
Estes desejos também tomaram formas terríveis e desagra-
CAPÍTULO TRÊS: ROSTOS FAMILIARES 477
 CAPÍTULO QUATRO:

MEMÓRIAS
INESQUECÍVEIS
Viajar na juventude faz parte da educação e na velhice faz parte da experiência.
— Francis Bacon

CAPÍTULO QUATRO: MEMÓRIAS INESQUECÍVEIS 499

 DOUWE,
HOLANDÊS ERRANTE
Durante séculos, a Holanda tem sido o lar de uma linhagem
familiar de piskies que de lá partem para o restante mundo, saindo
em auxílio dos necessitados, tanto de pessoas quanto animais
e criaturas sobrenaturais. Os piskies holandeses sempre foram
famosos entre os Kithain pela sua engenhosidade em criar objetos
mágicos simples e práticos que eles carregam em suas viagens.
Douwe é um destes piskies holandeses. Nascido numa
pequena aldeia, abraçou desde jovem, com o apoio da sua
família, um estilo de vida errante, seja a pé, de ônibus ou trem.
Frequentando vários festivais de música e visitando inúmeras
propriedades livres durante décadas, vivendo inúmeras aventuras
para acrescentar à sua excelente reputação.
Agora já um venerável rezingão, o que para Douwe não
constitui um problema para continuar viajando, ele se mantém
em boa forma, apesar de sua idade, e é capaz de dar uma lição
de resistência e força em jovens vaidosos. Douwe foi preceptor
de vários filhos da nobreza feérica, e frustrou os planos da Corte
Sombria em mais de uma ocasião, também se associou a vários
magos que tem sido aliados de sua família por gerações.
A chegada de Douwe é sempre fonte de alegria para os
Kithains, pois ele sempre tem uma nova piada para contar e
um par de presentes para dar às crianças. Um velho pequeno,
risonho e gordinho, vestido com roupas simples e remendadas,
O SENHOR XADREZ
O Senhor Xadrez é o bufão de lady Eilin ap Eiluned, uma
sempre carrega um saco no ombro e anda com a ajuda de uma
bengala. Nos últimos tempos, ele também tem feito incursões
por diversas propriedades livres procurando por changelings
feiticeira cortesã sidhe, que muitas vezes viaja por Concórdia dispostos a ajudá-lo a resolver os problemas que encontra.
e outros reinos feéricos com a sua corte itinerante. Vestido
elegantemente de preto e branco e usando uma máscara com
um longo nariz afiado sob o qual seus olhos brilham, Xadrez é
um acrobata e malabarista esguio e hábil, que sabe como cair
e tropeçar de forma deliberada e divertida no momento certo
para provocar o riso do público. Ele também é um falastrão
desavergonhado com inteligência aguçada, que também auxilia
sua dama em suas decisões quando necessário.
Menos conhecido é o seu trabalho como espião para lady
Eilin. Durante a sua estadia nas propriedades livres ele é capaz
de assumir múltiplos disfarces e identidades, tanto masculinas
quanto femininas, a tal ponto que ninguém sabe qual é o seu
verdadeiro sexo, algo que o seu semblante andrógino não con-
tribui para esclarecer. Muitos acreditam que a corte de lady
Eilin é mais merosa do que parece, mas isso se deve tanto às
fantasias do Senhor Xadrez quanto ao fato de que ele muitas
vezes substitui pessoas reais com grande maestria.
Normalmente, o Senhor Xadrez só recolhe informações para
a sua amante e senhora, mas também sabe como usar a sua espada
quando necessário. Em três ocasiões, assassinos que tentaram
matar a senhora encontraram um guarda-costas inesperado e
furtivo que lhes trouxe a morte num piscar de olhos, antes que
percebessem o que estava acontecendo.
50 LIVRO DO KITH: PISKIES
DELPHINE ACHIDOU
Uma jovem piskey nativa de Marvejols, França, Delphine
tornou-se amiga de lady Lillian durante sua estadia local e ajudou
a nocker a recuperar o Pergaminho de Marvejols e protegê-lo de
ser roubado por uma gangue controlada por lorde Vandermere.
Quando os senhores da Casa Beaumayn lhe ofereceram um
título de nobreza em troca de suas ações, Delphine apenas riu
e lhes falou que estava feliz por ter feito um favor a um amigo.
Agora Delphine supervisiona uma propriedade livre numa
cafeteria. Ela também atua como guia e conselheira para os
membros da Casa Beaumayn que desejam viajar para a França
e recuperar alguns de seus antigos lugares de poder. Todas as
amigas de Delphine sabem que ela desaparece por dias ou mesmo
semanas sem dizer para onde foi, mas ela sempre acaba voltando
com algumas histórias para contar.
Como a maioria dos membros de seu kith, Delphine é uma
mulher pequena, magra e com olhos brilhantes, que caminha em
um ritmo acelerado. O seu sorriso é contagioso e as suas mãos
nunca param de se mexer. No entanto, aqueles que acreditam
que podem abusar dela por causa de seu pequeno tamanho irão
ter uma surpresa desagradável. Seus chutes já derrubaram trolls
com o dobro do seu tamanho. Ela adora dançar e muitas vezes
insiste que seus contatos sempre a encontrem em um clube de
dança. Quem conseguir acompanhar o seu ritmo dançando por MELISA
toda a noite, merece o seu respeito.
MANTOIRIS
Ninguém sabe a origem da Melisa e, em grande parte, é
uma folha em branco, possivelmente escondendo um episódio
trágico e doloroso. A própria Melisa sabe vagamente que fugiu
de casa quando era pequena e que algo ou alguém a prendeu.
Alguns piskies a encontraram quando ela passou por sua Cri-
sálida, escondida em um beco cercada por gatos. Aqueles que
a conhecem melhor e a própria Melisa acreditam que ela foi
sequestrada pelos spriggans, e que de alguma forma ela conseguiu
escapar deles... ou eles a deixaram ir, depois de terem tirado suas
memórias e seu passado com magia negra. De alguma forma,
sua experiência deixou uma marca em sua mente, e às vezes ela
fala sozinha e age de forma estranha. Alguns até afirmam que
ela está sofrendo os efeitos progressivos do Desvario.
Melisa completou sua educação com outros piskies, va-
gabundos sem-teto procurando trabalho. Ela passou a maior
parte de sua vida na rua, e como resultado isso a endureceu. Ao
longo de sua vida, ela tem se dedicado a cuidar das atividades
dos spriggans e a proteger as crianças humanas e feéricas, via-
jando sem rumo, com grande astúcia considerável para aparecer
quando necessário. Às vezes ela simplesmente oferece um pouco

CAPÍTULO QUATRO: MEMÓRIAS INESQUECÍVEIS 511

de consolo e um presente, e às vezes ela acaba no meio de uma Hemlock, uma pooka rato, que muitas vezes a acompanha no
briga e começa a dar golpes de uma maneira surpreendente. trabalho de campo.
Apesar de seu altruísmo, Melisa não costuma passar muito Enid está atualmente em Oxford, estudando literatura
tempo com seus protegidos, mas os direciona para os lugares e
inglesa na universidade, ao mesmo tempo em que iniciou sua
pessoas certos antes de seguir seu caminho. Aqueles que dese-
própria carreira literária sob um pseudônimo, escrevendo vários
jam agradecer-lhe muitas vezes percebem que ela já acabou de
sair antes de poderem fazer isso, mas apesar de suas aparições romances de intriga e mistério, baseados nos casos que resolveu e
irregulares por várias décadas, ela conseguiu construir uma re- estrelando uma detetive feminina no melhor estilo das histórias
putação, já que muitos changelings, especialmente os infantes, de Sherlock Holmes. Embora com sucesso moderado, Lady Enid
foram ajudados por elas em tempos de necessidade. Os spriggans não está interessada em dinheiro, mas usa a escrita para liberar
preferem ficar escondidos quando sabem que ela está perto e sua criatividade, introduzindo em seus textos alguns changelings
procuram presas em outro lugar.
que conhece com identidades mortais inventadas.
O apelido de Melisa vem de seu longo casaco de restos
Lady Enid é uma jovem mulher pálida, magra, com cabelos
que parecem ser constantemente renovados e são feitos com
muitas cores e tecidos. Ela também usa um chapéu vermelho loiros longos, cacheados e cinzentos e olhos verdes e sonhado-
e uma espécie de bengala ou guarda-chuva que em suas mãos res. Ela normalmente veste-se um pouco à moda antiga, mas
se torna uma arma muito dolorosa e precisa, sempre batendo acrescenta alguns toques modernos, e protege-se do sol com um
nos lugares certos. grande chapéu. Aqueles que a conhecem a consideram uma jovem
A vida nas ruas e na estrada fizeram Melisa parecer mais Agatha Christie e logo se entregam por suas boas maneiras e
velha do que realmente é. Seu rosto bronzeado e escuro, cheio
empatia. Nobres e plebeus consideram uma honra ser convidado
de rugas, mostra uma mistura de características muito diversas,
a tomar chá em seu apartamento particular em Oxford.
com olhos verdes brilhantes e longos cabelos brancos e prateados
nas pontas. Embora ela possa parecer frágil, aqueles que a viram
em ação afirmam que ela tem um esqueleto duro como o ferro,
e que sua força e resistência certamente não combinam com
sua aparência. Quando ataca, transforma-se num redemoinho
que ensina respeito aos adversários mais duros.

LADY ENID
SLATER
Enid nasceu na zona rural inglesa, numa família que enrique-
ceu pela criação profissional de cavalos de batalha e de corrida
durante séculos, pelo qual receberam um título de nobreza da
Rainha Vitória no final do século XIX. Desde criança, a jovem
Enid tornou-se uma amazona, e quando superou a Crisálida,
um mundo cheio de magia e possibilidades se abriu para ela.
Seus pais, dois Kinain, consentiram com os sonhos de sua
filha, e aproveitando a fortuna da família, ela viajou para as
propriedades livres da Ilha dos Poderosos, onde ficou conhe-
cida por sua perspicácia e astúcia. Quando ela atingiu a idade
de estouvada, reuniu vários changelings em torno de si e eles
se dedicaram à investigação de crimes na sociedade feérica.
Embora ultimamente esteja mais ocupada, ela não abandonou
seus companheiros e, quando encontra um caso que a intriga,
muitas vezes os convoca para ajudá-la. Sua melhor amiga é

52 LIVRO DO KITH: PISKIES

OBREY VINHOTINTO
Este piskey estouvado reside formalmente no Reino das Areias
Brancas, onde o circo Kendricks & Moxford passa o inverno
preparando números e fazendo reparos. Obrey geralmente visita a
corte da Rainha Morganna, levando e coletando mensagens para
entregar quando o circo se move. Ele trabalha como treinador de
cavalos e normalmente é responsável pelos cuidados e alimenta-
ção dos animais do circo, mas também realiza outros serviços: os
acrobatas confiam em seu unguento milagroso quando se trata de
curar músculos doloridos. Ele também age como um palhaço quando
necessário e às vezes polvilha o algodão doce com algo especial,
permitindo que as crianças vejam sua forma feérica. Tecnicamente
é uma violação das Redevances, mas as crianças adoram e levam
alguma excitação extra para casa.
Entre os Kithain, Obrey tem a reputação de ser um mensageiro
de confiança. Se ele diz que vai levar algo, vai manter sua pala-
vra, embora entregas rápidas não sejam sua especialidade. Menos
conhecidos são os seus contatos entre os Pródigos, incluindo os
lobisomens Peregrinos Sileciosos, os magos Vazios e os vampiros
Gangrel.
Recentemente Obrey Vinhotinto soube da existência de um
estranho circo e carnaval com fadas e outras criaturas sobrenaturais
que aparecem de vez em quando em Concórdia, semeando con-
fusão por onde passa, então ele pediu a seus contatos para manter
seus olhos abertos. Qualquer Kithain que tenha a oportunidade
de assistir ao Circo Kendricks & Moxford deve também reservar
algum tempo para conhecer Obrey.

CAPÍTULO QUATRO: MEMÓRIAS INESQUECÍVEIS 533

A DETETIVE SOBRENATURAL
Citação: Eu acredito nisso. Já vi caras como a sua, centenas de vezes e é a pior das mentiras. Sei que têm te ameaçado, mas acredite,
posso ser muito pior. E também sei que quem está por trás disto não está vivo. Há falta de sangue.
Histórico: Você se lembra de uma época mais romântica, quando com a ilusão da infância você brincava com a magia dos
policiais e ladrões. O jogo tornou-se verdade quando você começou a ajudou seus amigos a resolver problemas e mistérios, e de-
cidiu que esse seria o seu caminho. Você se tornou uma detetive profissional
entre os humanos e uma investigadora feérica em seu tempo livre. Você
passou por várias propriedades livres e criou uma grande lista de contatos
e toda uma reputação.
De certa forma, você se sente como um perso-
nagem glamoroso num romance policial. Uma
mulher dura e idealista tentando fazer um pouco
de justiça. Um pouco áspera quando necessário,
mas no fundo com um grande coração. Entre os
humanos, você resolveu diversos casos de crianças perdidas
ou raptadas pelos pais que não queriam partilhar a custódia,
no mundo sobrenatural você seguiu o rasto dos spriggans e
vigiou muitas crianças.
No fundo, você se orgulha de ter chegado onde está, e
embora a banalidade tenha esfriado um pouco seu idealismo,
todo dia ao se levantar, você repete diversas vezes que está
no lugar certo e que contribui para tornar o mundo um
lugar melhor, ou pelo menos “menos pior”.
Conceito: Você é uma detetive, que combina seu
trabalho entre dois mundos. Diante da dureza da realidade
você mergulha na ilusão de sua personalidade no Sonhar.
Você contempla essa realidade e no final é isso que a encoraja
a seguir em frente. Quando você interage com outros Kithain
você veste seu estilo de mulher dura, comportando-se como
um personagem de filme, atraindo admiração e respeito. Mas
apesar de sua atitude você não é uma piskey Unseelie, no fundo
você tem um grande coração que você mantém escondido para
que os outros não o tomem como uma fraqueza. No entanto, às
vezes, os seus atos de compaixão quebram essa fachada e a traem.
Dicas de Interpretação: Mantenha um olhar sério e ar-
rogante. Aja profissionalmente quando estiver num caso e
tente não se sentir intimidada. Aproveite as oportunidades
para mostrar suas habilidades e as descargas de adrenalina
ocasionais. Mas lembre-se, é uma fachada. Você prefere
mostrar o que realmente é naquilo que faz, e desfrutar de
seus sucessos à distância, contemplando a alegria de seus
protegidos.
Equipamento: Sobretudo ou casaco comprido, chapéu
de detetive, câmera, notebook, arma de fogo legalizada,
gravador de bolso.
54 LIVRO DO KITH: PISKIES
Nome: Corte: Seelie Aspecto: Rezingão
Jogador: Legados: Rústico/Fatalista Kith: Piskies
Crônica: Casa: Mixórdia:
Atributos
Físicos Sociais Mentais
Força__________________OOOOO Carisma________________OOOOO Percepção (Mentiras)____OOOOO
Destreza (Mãos Rápidas)_OOOOO Manipulação____________OOOOO Inteligência____________ OOOOO
Vigor__________________OOOOO Aparência_______________OOOOO Raciocínio_____________ OOOOO

Talentos
Prontidão______________ OOOOO
Esportes_______________ OOOOO
Briga__________________OOOOO
Empatia________________OOOOO
Expressão______________OOOOO
Intimidação_____________OOOOO
Tino__________________ OOOOO
Liderança______________ OOOOO
Manha________________ OOOOO
Lábia__________________OOOOO
Hobby_________________OOOOO
Habilidades
Perícias
Empatia com Animais_____OOOOO
Ofícios_________________OOOOO
Condução______________ OOOOO
Etiqueta________________OOOOO
Armas de Fogo__________ OOOOO
Furto__________________ OOOOO
Armas Brancas__________ OOOOO
Performance____________ OOOOO
Furtividade_____________ OOOOO
Sobrevivência___________ OOOOO
Profissionais_____________OOOOO
Conhecimentos
Acadêmicos_____________ OOOOO
Computador______________ OOOOO
Enigmas_________________OOOOO
Gramática Mágica________ OOOOO
Investigação (Sequestros) _ OOOOO
Direito_________________ OOOOO
Medicina________________OOOOO
Política_________________ OOOOO
Ciência_________________ OOOOO
Tecnologia______________ OOOOO
Específicos______________ OOOOO

Antecedentes
Contatos _________ OOOOO
Recursos _________ OOOOO
_________________ OOOOO
_________________ OOOOO
_________________ OOOOO
_________________ OOOOO
Vantagens
Artes
Vaticínio__________ OOOOO
Chicana __________ OOOOO
__________________ OOOOO
__________________ OOOOO
__________________ OOOOO
__________________ OOOOO
Alçadas
Ator_______________OOOOO
Fada_______________ OOOOO
Natureza____________ OOOOO
Acessório___________ OOOOO
Cena______________ OOOOO
Tempo_____________ OOOOO

Direito Inato/Fraqueza Glamour Vitalidade

Real Quimérico
Àgeis ___________________ OOOOOOOOOO
Misturando-se____________ Escoriado ❏ ❏
❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏
Dedos Leves ______________ Machucado –1 ❏ ❏
❏ ❏
________________________ Força de Vontade Ferido
Ferido Grave
–1
–2 ❏ ❏
________________________ O O O O O O O O O O
________________________ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ Espancado –2 ❏ ❏
________________________ Aleijado –5 ❏ ❏
❏ ❏
Pesadelos Incapacitado
Antítese ❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏ Limiar de Extermínio/Inspiração
Experiência Banalidade
OOOOOOOOOO
❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏
Permitido xerocopiar apenas para uso pessoal
 A EXPLORADORA
Citação: Durante a Fragmentação, os senhores elfos deixaram muitos tesouros que ainda estão à espera que os encontremos. Se con-
seguirmos responder corretamente ao enigma da Esfinge, ela pode nos revelar o caminho para a fortaleza onde o tesouro do Rei Mirmidon
esta escondido. Tem medo que a Esfinge te coma? Vamos lá, um pouco mais de coragem...
Histórico: Sua infância foi cheia de histórias sobre viagens e exploradores: “A volta ao mundo em 80 dias”, “20.000 léguas
submarinas”, e muitos outros. À medida que você foi crescendo, leu livros de História e Arqueologia sobre as viagens de Cristóvão
Colombo, James Cook, as descobertas da cidade de Tróia e o túmulo do primeiro
imperador da China... você se chateava por ter demorado tanto para
nascer e não ter participado destas descobertas.
Sua ilusões brilharam tanto que finalmente emergiram da sua
Crisálida. Embora ainda houvessem muitos tesouros mundanos
para ser descobertos, o Sonhar lhe oferecia muitos outros
enigmas e oportunidades nunca sonhadas por humanos. Na
faculdade você devorou os livros de arqueologia e folclore
com ânimo, e leu lendas e histórias antigas em busca de
pistas para a Idade Mítica antes da Fragmentação.
Sua sabedoria logo fez outros Kithain virem até
você para se aconselhar, entre eles os nobres locais,
e você logo assumiu um lugar na corte, liderando um
grupo de changelings encarregados de caçar tesouros e
resolver enigmas antigos.
Conceito: Até certo ponto você é a cronista local
dos Kithain, e você não só investiga, mas também se lembra de
outras vezes em que as fadas caminharam pelo mundo. Você é
meticulosa e curiosa. Você passa muito tempo em bibliotecas,
livrarias e museus, participa de diversas conferências e con-
sultas com professores, eruditos e sábios locais. Você usa
seu conhecimento para investigar propriedades livres
antigas e lugares mágicos, e procurar em lojas de an-
tiguidades por tesouros perdidos. Sua honestidade faz
com que outros changelings respeitem você, mas alguns
deles consideram melhor que certos segredos devam
permanecer guardados.
Dicas de Interpretação: Embora seu trabalho possa
parecer banal, você gosta de perseguir pistas e reunir pe-
ças de quebra-cabeça que estão faltando. O trabalho de
campo é a sua rota de fuga, ajudando outros Kithain em
buscas e investigações. Embora você prefira antiguidades,
você também toma notas dos últimos acontecimentos,
e às vezes você pode encontrar padrões estranhos que
lhe permitem resolver mistérios do presente.
Equipamento: Livros, bloco de anotações, câmera,
um par de luvas de trabalho e um par de ferramentas de
bolso para abrir fechaduras e remover sujeira.

56 LIVRO DO KITH: PISKIES

Nome: Corte: Seelie Aspecto: Estouvado
Jogador: Legados: Sábio/Pandora Kith: Piskies
Crônica: Casa: Mixórdia:
Atributos
Físicos Sociais Mentais
Força_________________ OOOOO Carisma________________OOOOO Percepção (Quebra Cabeças)OOOOO
Destreza (Mov. Delicados) ___ OOOOO Manipulação____________OOOOO Inteligência (Memorizar)__ OOOOO
Vigor_________________ OOOOO Aparência_______________OOOOO Raciocínio_____________ OOOOO

Talentos
Prontidão______________ OOOOO
Esportes_______________ OOOOO
Briga__________________OOOOO
Empatia________________OOOOO
Expressão______________OOOOO
Intimidação_____________OOOOO
Tino__________________ OOOOO
Liderança______________ OOOOO
Manha________________ OOOOO
Lábia__________________OOOOO
Hobby_________________OOOOO
Habilidades
Perícias
Empatia com Animais_____OOOOO
Ofícios_________________OOOOO
Condução______________ OOOOO
Etiqueta________________OOOOO
Armas de Fogo__________ OOOOO
Furto__________________ OOOOO
Armas Brancas__________ OOOOO
Performance____________ OOOOO
Furtividade_____________ OOOOO
Sobrevivência___________ OOOOO
Profissionais_____________OOOOO
Conhecimentos
Acadêmicos_____________ OOOOO
Computador______________ OOOOO
Enigmas_________________OOOOO
Gramática Mágica________ OOOOO
Investigação_____________ OOOOO
Direito_________________ OOOOO
Medicina________________OOOOO
Política_________________ OOOOO
Ciência_________________ OOOOO
Tecnologia______________ OOOOO
Específicos______________ OOOOO

Vantagens
Antecedentes Artes Alçadas
Contatos _________ OOOOO vaticínio__________ OOOOO Ator_______________OOOOO
Recursos__________ OOOOO Andanças _________ OOOOO Fada_______________ OOOOO
Lembranças ______ OOOOO ___________________OOOOO Natureza____________ OOOOO
_________________ OOOOO ___________________OOOOO Acessório___________ OOOOO
_________________ OOOOO ___________________OOOOO Cena______________ OOOOO
_________________ OOOOO ___________________OOOOO Tempo_____________ OOOOO

Direito Inato/Fraqueza Glamour Vitalidade

Real Quimérico
Àgeis ___________________ OOOOOOOOOO
Misturando-se____________ Escoriado ❏ ❏
❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏
Dedos Leves ______________ Machucado –1 ❏ ❏
❏ ❏
________________________ Força de Vontade Ferido
Ferido Grave
–1
–2 ❏ ❏
________________________ O O O O O O O O O O
________________________ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ Espancado –2 ❏ ❏
________________________ Aleijado –5 ❏ ❏
❏ ❏
Pesadelos Incapacitado
Antítese ❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏ Limiar de Extermínio/Inspiração
Experiência Banalidade
OOOOOOOOOO
❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏
Permitido xerocopiar apenas para uso pessoal
O FAZ TUDO
Citação: Muito bom. Eu estava só de passagem, mas me perguntei se você não precisava de um bom par de mãos. Um almoço e
uma cama é tudo o que eu peço. E eu tenho uma boa mão com animais e crianças. E se quiser que eu conserte o seu telhado também...
Histórico: Você nasceu num lar humilde. A sua mãe desejava com todas as forças ter um filho, mas o parto foi muito difícil
e ela estava muito fraca, morrendo pouco tempo depois. Você foi deixado sozinho com seu pai e logo aprendeu que estava me-
lhor longe de casa, longe dos gritos e espancamentos que surgiam com a menor desculpa, e às vezes até mesmo sem desculpas.
Sentia-se confortável entre as outras crianças da vizinhança. Elas não julgavam nem faziam perguntas. Você sempre retornava
para casa furtivamente e quando amanhecia, tornava a sair. Sobreviver sempre foi uma aventura, embora felizmente seus amigos
tenham compartilhado seus almoços com você. Apesar da sua vida dura,
isso não acabou com o seu otimismo de que um dia conseguiria sair dessa.
O seu pai morreu num acidente de trânsito depois de uma noite de
embriaguez e os serviços sociais vieram para te buscar, mas você não
esperou por eles. Pegou algumas coisas e partiu. Então em um dia,
na varanda da sua casa, quando passou pela Crisálida, foi que
você viu que vários dos seus amigos sabiam o que você tinha
se tornado e te esperavam com um sorriso no rosto.
Agora o caminho é o seu professor e a sua família. Você
aprendeu muitas coisas com os Kithain, e você está sempre
disposto a aprender e trabalhar, o que tem sido muito útil para
você encontrar empregos temporários colhendo frutas, consertando
telhados e cercas. Você não é um especialista, mas é um trabalhador
útil que se encaixa em todo lugar por onde passa.
Conceito: Você é um piskey puro. A vida lhe ensinou a improvisar
e a não parar de aprender. Nunca se sabe quando um certo talento
será útil. Seja como um trabalhador diarista, um aprendiz em
troca de cama e comida, ou simplesmente dando uma mão
quando necessário, você trilha o seu caminho pela vida.
Na sociedade Kithain você se comporta da mesma
forma, ajudando os boggans nos trabalhos cotidianos,
como um mensageiro ocasional para os nobres locais...
há muitas coisas que você pode fazer.
Dicas de Interpretação: Para você, a vida é
uma aventura desde o momento em que você se
levanta, sempre pensando no que você pode fazer
e aprender. Afinal, você tem todo o tempo do
mundo para gastar e não quer desperdiçá-lo.
Se uma senhora precisa de um menino de
recados ou um Kithain um companheiro
para uma missão na propriedade livre,
para você é a mesma coisa. Se não
sabes como fazer, pode aprender.
Equipamento: Mochila cheia
de vários objetos e ferramentas
básicas, livros técnicos, vá-
rias recomendações.

58 LIVRO DO KITH: PISKIES

Nome: Corte: Seelie Aspecto: Estouvado
Jogador: Legados: Andarilho/Fora-da-Lei Kith: Piskies
Crônica: Casa: Mixórdia:
Atributos
Físicos Sociais Mentais
Força (Levantar Pesos_ __ OOOOO Carisma________________OOOOO Percepção_____________ OOOOO
Destreza (Improvisar)___ OOOOO Manipulação____________OOOOO Inteligência_____________OOOOO
Vigor_________________ OOOOO Aparência_______________OOOOO Raciocínio_____________ OOOOO

Talentos
Prontidão______________ OOOOO
Esportes_______________ OOOOO
Briga__________________OOOOO
Empatia________________OOOOO
Expressão______________OOOOO
Intimidação_____________OOOOO
Tino__________________ OOOOO
Liderança______________ OOOOO
Manha________________ OOOOO
Lábia__________________OOOOO
Hobby_________________OOOOO
Habilidades
Perícias
Empatia com Animais_____OOOOO
Ofícios_________________OOOOO
Condução______________ OOOOO
Etiqueta________________OOOOO
Armas de Fogo__________ OOOOO
Furto__________________ OOOOO
Armas Brancas__________ OOOOO
Performance____________ OOOOO
Furtividade_____________ OOOOO
Sobrevivência___________ OOOOO
Profissionais_____________OOOOO
Conhecimentos
Acadêmicos_____________ OOOOO
Computador______________ OOOOO
Enigmas_________________OOOOO
Gramática Mágica________ OOOOO
Investigação_____________ OOOOO
Direito_________________ OOOOO
Medicina________________OOOOO
Política_________________ OOOOO
Ciência_________________ OOOOO
Tecnologia______________ OOOOO
Específicos______________ OOOOO

Antecedentes
Quimeras ________ OOOOO
Contatos_________ OOOOO
Lembranças ______ OOOOO
_________________ OOOOO
_________________ OOOOO
_________________ OOOOO
Vantagens
Artes
Princípio__________ OOOOO
Andanças _________ OOOOO
___________________OOOOO
___________________OOOOO
___________________OOOOO
___________________OOOOO
Alçadas
Ator_______________OOOOO
Fada_______________ OOOOO
Natureza____________ OOOOO
Acessório___________ OOOOO
Cena______________ OOOOO
Tempo_____________ OOOOO

Direito Inato/Fraqueza Glamour Vitalidade

Real Quimérico
Àgeis ___________________ OOOOOOOOOO
Misturando-se____________ Escoriado ❏ ❏
❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏
Dedos Leves ______________ Machucado –1 ❏ ❏
❏ ❏
________________________ Força de Vontade Ferido
Ferido Grave
–1
–2 ❏ ❏
________________________ O O O O O O O O O O
________________________ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ Espancado –2 ❏ ❏
________________________ Aleijado –5 ❏ ❏
❏ ❏
Pesadelos Incapacitado
Antítese ❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏ Limiar de Extermínio/Inspiração
Experiência Banalidade
OOOOOOOOOO
❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏
Permitido xerocopiar apenas para uso pessoal
A SENHORA DOS GATOS
Citação: Você sempre se achou a maiorial, mas as coisas mudaram. Tenho muitos amigos. Não vai dizer nada? O gato comeu a sua
língua? Miau...
Histórico: Quando era pequena você gostava muito de animais, e depois de pensar muito sobre isso seus pais permitiram
que tivesse um gatinho preto. Você o chamou de Carvãozinho e ele se tornou o seu melhor amigo. Ele cresceu com você, e de
um filhote curioso ele se tornou um gato enorme, brilhante e astuto. Embora ele fosse muito desconfiado com os estranhos ao
seu redor, ele sempre foi manso e nunca poupou nenhuma demonstração de afeto por você. Você nunca o levou para a escola,
mas Carvãozinho conseguia fugir de casa e te seguir, e muitas vezes você o encontrou esperando tranquilamente depois da escola.
Quando entrou na faculdade, Carvãozinho continuou a te seguir. Mas o pessoal da faculdade não era tão compreensivo
quanto seus amigos da escola. Você mexeu com a garota errada e ela convenceu o namorado e os amigos a te darem uma lição.
Você encontrou Carvãozinho morrendo na porta de casa.
Mas nessa noite Carvãozinho voltou e lhe tirou da Crisálida para lhe mostrar um mundo novo. Agora ele podia falar e lhe
ensinou a linguagem secreta dos gatos além de alguns truques. Logo você se tornou a senhora dos gatos do bairro e os usou, sim,
para se cercar de uma aura de medo e respeito. Agora você não tem muitos amigos humanos e o resto da escola te considera uma
garota estranha com uma reputação de bruxa. E a verdade é que você não se importa, você tem muitos amigos entre os pequeninos
e eles são mais leais do que os humanos jamais serão. Alguns changelings Unseelie a
viram como uma aliada em potencial, e às vezes eles precisam dos seus serviços,
que você cobra em comida e ajuda para os seus amigos. Na maioria das
vezes você prefere ficar com eles, e ouvir os conselhos de Carvãozinho.
Conceito: Você é amiga dos gatos da vizinhança e se importa com
eles. Você os ajuda a encontrar comida e guloseimas, e os cães vadios
aprenderam da maneira mais difícil que o território não é deles.
Alguns deste gatos estão sob o seu poder e você fala com eles, mas
outros vêm até você simplesmente por comida e abrigo. Embora você
tenha um casal em casa você criou uma colônia secreta em uma pequena
casa abandonada que é o lugar onde você encontra seus amigos e prepara
seus planos para trazer os gatos ao poder.
Dicas de Interpretação: Você é obcecada por gatos, e até certo
ponto suas atitudes refletem cada vez mais as deles. Você tenta ser
independente e caminhar com elegância e ser autossuficiente.
Se alguém a ofende, você pode ficar muito ressentida, mas na
maioria das vezes você ignora o ser “inferior”. Se alguém
é gentil com você, é porque você merece, e você se
relaciona com os outros com base nas coisas que
eles podem fornecer.
Equipamento: Abridor de latas, pilhas de
comida para gatos, mochila
escolar.

60 LIVRO DO KITH: PISKIES

Nome: Corte: Unseelie Aspecto: Estouvado
Jogador: Legados: Líder/Ermitão Kith: Piskies
Crônica: Casa: Mixórdia:
Atributos
Físicos Sociais Mentais
Força__________________OOOOO Carisma________________OOOOO Percepção (Detalhista)__ OOOOO
Destreza (Reflexos Felinos) OOOOO Manipulação____________OOOOO Inteligência_____________OOOOO
Vigor__________________OOOOO Aparência_______________OOOOO Raciocínio_____________ OOOOO

Talentos
Prontidão______________ OOOOO
Esportes_______________ OOOOO
Briga__________________OOOOO
Empatia________________OOOOO
Expressão______________OOOOO
Intimidação_____________OOOOO
Tino__________________ OOOOO
Liderança______________ OOOOO
Manha________________ OOOOO
Lábia__________________OOOOO
Hobby_________________OOOOO
Habilidades
Perícias
Empatia com Animais_____OOOOO
Ofícios_________________OOOOO
Condução______________ OOOOO
Etiqueta________________OOOOO
Armas de Fogo__________ OOOOO
Furto__________________ OOOOO
Armas Brancas__________ OOOOO
Performance____________ OOOOO
Furtividade_____________ OOOOO
Sobrevivência___________ OOOOO
Profissionais_____________OOOOO
Conhecimentos
Acadêmicos_____________ OOOOO
Computador______________ OOOOO
Enigmas_________________OOOOO
Gramática Mágica________ OOOOO
Investigação_____________ OOOOO
Direito_________________ OOOOO
Medicina________________OOOOO
Política_________________ OOOOO
Ciência_________________ OOOOO
Tecnologia______________ OOOOO
Específicos______________ OOOOO

Antecedentes
Quimera (Carvãozinho) OOOOO
Séquito ( 6 gatos)_____ OOOOO
_________________ OOOOO
_________________ OOOOO
_________________ OOOOO
_________________ OOOOO
Vantagens
Artes
Chicana __________ OOOOO
Prestidigitação_____ OOOOO
__________________ OOOOO
__________________ OOOOO
__________________ OOOOO
__________________ OOOOO
Alçadas
Ator_______________OOOOO
Fada_______________ OOOOO
Natureza____________ OOOOO
Acessório___________ OOOOO
Cena______________ OOOOO
Tempo_____________ OOOOO

Direito Inato/Fraqueza Glamour Vitalidade

Real Quimérico
Àgeis ___________________ OOOOOOOOOO
Misturando-se____________ Escoriado ❏ ❏
❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏
Dedos Leves ______________ Machucado –1 ❏ ❏
❏ ❏
________________________ Força de Vontade Ferido
Ferido Grave
–1
–2 ❏ ❏
________________________ O O O O O O O O O O
________________________ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ Espancado –2 ❏ ❏
________________________ Aleijado –5 ❏ ❏
❏ ❏
Pesadelos Incapacitado
Antítese ❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏ Limiar de Extermínio/Inspiração
Experiência Banalidade
OOOOOOOOOO
❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏
Permitido xerocopiar apenas para uso pessoal
O VIGILANTE DOS TELHADOS
Citação: A Águia acabou de voar. Câmbio. Chegará ao Ninho do Corvo em poucos minutos. O quê? É como combinamos: a Águia
era Berto Mãodeferro, o Ninho era o parque e você era o Corvo, embora acho que fosse melhor se eu tivesse te chamado de Tonto. Berto
Mãodeferro está indo para onde você está e com cara de poucos amigos. Saia dai.
Antecedentes: Você nasceu em um bairro de reputação ruim, e logo aprendeu a sobreviver nas ruas, cuidando para ficar longe
dos meninos grandes e ajudando seus irmãos a trazer dinheiro para casa. Por causa do seu pequeno tamanho, te chamaram de
Doninha, e também por causa da sua capacidade de deslizar pelos lugares mais improváveis. Em seu tempo livre você explorou
cantos escondidos e rotas secretas que ninguém conhecia, e você tinha um bom olho para descobrir policiais e patifes.
Uma noite você estava nos telhados quando se sentiu tonto e de repente viu olhos brilhantes no escuro. Várias coisas pálidas
rastejaram pelas sombras e você teve o maior susto da sua vida e desmaiou. Quando acordou, conheceu um grupo de Kithain,
que lhe mostrou um novo mundo e vários novos talentos para
sobreviver.
Seus amigos o ajudaram a progredir no bairro, e em
troca você os ajudou a enfrentar outros Kithain. Contraban-
do, segredos, sabotagem, seu nome está crescendo na
sociedade feérica.
Conceito: Você faz parte de um bando de infantes
Unseelies, e sua função é servir como mensageiro e
espião. O seu conhecimento dos telhados da cidade e a
sua capacidade de navegar nas ruas lhe dão uma grande
vantagem. Outros Unseelies mais velhos já se deram conta de
você e já estão planejando recrutar suas habilidades.
Dicas de Interpretação: Você gosta do reconhecimento dos outros
e procura melhorar suas habilidades, mas no fundo você prefere
ser seu próprio chefe. Você reluta em reconhecer autoridade,
e quando alguém cruza a linha, você começa a pensar em
como se vingar com um truque. Você está ciente de
que você é apenas uma criança e quer crescer
para poder seguir o seu caminho.
Equipamentos: Binóculos, estilin-
gue, telefone celular

62 LIVRO DO KITH: PISKIES

Nome: Corte: Unseelie Aspecto: Infante
Jogador: Legados: Fora-da-Lei/Dândi Kith: Piskies
Crônica: Casa: Mixórdia:
Atributos
Físicos Sociais Mentais
Força__________________OOOOO Carisma________________OOOOO Percepção (Apurada)______ OOOOO
OOOOO
Destreza (Saltos)___________ Manipulação____________OOOOO Inteligência_____________OOOOO
Vigor__________________OOOOO Aparência_______________OOOOO Raciocínio (Esperto)_____ OOOOO

Talentos
Prontidão______________ OOOOO
OOOOO
Esportes (Parkour)__________
Briga__________________OOOOO
Empatia________________OOOOO
Expressão______________OOOOO
Intimidação_____________OOOOO
Tino__________________ OOOOO
Liderança______________ OOOOO
Manha________________ OOOOO
Lábia__________________OOOOO
Hobby_________________OOOOO
Habilidades
Perícias
Empatia com Animais_____OOOOO
Ofícios_________________OOOOO
Condução______________ OOOOO
Etiqueta________________OOOOO
Armas de Fogo__________ OOOOO
Furto__________________ OOOOO
Armas Brancas__________ OOOOO
Performance____________ OOOOO
Furtividade_____________ OOOOO
Sobrevivência___________ OOOOO
Profissionais_____________OOOOO
Conhecimentos
Acadêmicos_____________ OOOOO
Computador______________ OOOOO
Enigmas_________________OOOOO
Gramática Mágica________ OOOOO
Investigação_____________ OOOOO
Direito_________________ OOOOO
Medicina________________OOOOO
Política_________________ OOOOO
Ciência_________________ OOOOO
Tecnologia______________ OOOOO
Específicos______________ OOOOO

Antecedentes
Quimeras ________ OOOOO
Mentor___________ OOOOO
Lembranças ______ OOOOO
_________________ OOOOO
_________________ OOOOO
_________________ OOOOO
Vantagens
Artes
Chicana ___________OOOOO
Andanças _________ OOOOO
___________________OOOOO
___________________OOOOO
___________________OOOOO
___________________OOOOO
Alçadas
Ator_______________OOOOO
Fada_______________ OOOOO
Natureza____________ OOOOO
Acessório___________ OOOOO
Cena______________ OOOOO
Tempo_____________ OOOOO

Direito Inato/Fraqueza Glamour Vitalidade

Real Quimérico
Àgeis ___________________ OOOOOOOOOO
Misturando-se____________ Escoriado ❏ ❏
❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏
Dedos Leves ______________ Machucado –1 ❏ ❏
❏ ❏
________________________ Força de Vontade Ferido
Ferido Grave
–1
–2 ❏ ❏
________________________ O O O O O O O O O O
________________________ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ ❏ Espancado –2 ❏ ❏
________________________ Aleijado –5 ❏ ❏
❏ ❏
Pesadelos Incapacitado
Antítese ❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏ Limiar de Extermínio/Inspiração
Experiência Banalidade
OOOOOOOOOO
❏❏❏❏❏❏❏❏❏❏
Permitido xerocopiar apenas para uso pessoal
 APÊNDICE:

COISAS
OISAS PELO
CAMINHO
Tudo pesa, tudo é um fardo na estrada. Para o caminho do viajante e da vida
é necessário ir com pouca bagagem.
— Fernando Sánchez Dragó

poucos são capazes de discernir a mudança (se não conhecem essa

QUALIDADES E capacidade do kith, é claro). A identidade do piskey permanece e
DEFEITOS
Os piskies adoram a liberdade e a independência da estrada,
muitas vezes sobrevivem pegando o que encontram ao acaso. Embora
outros changelings compartilhem de seus ideais, nenhum outro kith
tem sua capacidade de adaptação, integração e diversidade. Dizer
que eles mudam é ser superficial. Quando se examina a história de
um piskey desde o início dos seus anos de Infante até o crepúsculo
dos anos como Rezingão, encontram-se muitos rostos diferentes,
muitos lugares e muitas habilidades. Muitas vezes não se trata de
vantagens e habilidades únicas, mas somente o fato de que eles
assumem os comportamentos dos outros e os fazem seus.
DOM DE TIRÉSIAS
(QUALIDADE DE 3 PONTOS)
Todos os piskies têm uma incrível capacidade de adaptação.
Com o tempo, um piskey começa a se adaptar ao seu ambiente,
a ponto de, pouco a pouco, seu corpo mudar: suas características
físicas, a cor da pele, do cabelo, dos olhos, de forma tão sutil que
aqueles que estão familiarizados com ele podem reconhecê-lo, mas
outros podem não ter tanta certeza.
Os piskies com o Dom de Tirésias vão um passo além. Aqueles
que o possuem afirmam ser descendentes de um sábio e vidente que
viveu como mulher durante sete anos e transmitiu essa capacidade
à sua linhagem. Desta forma um piskey com esta Qualidade não só
muda de aparência para se adaptar ao seu ambiente, mas também
de sexo. Normalmente o changeling não tem controle sobre essa
capacidade, mas a mudança ocorre de acordo com o ambiente, ou
se ele passou muito tempo sob uma mesma identidade. Em geral,
a mudança é benéfica, visando um melhor encaixe, seja em um
ambiente predominantemente masculino ou feminino, ou reagindo
ao desejo de alguém apaixonado pelo piskey.
O dom é uma variante da capacidade de adaptação dos piskies e,
portanto, a mudança não é repentina e instantânea, mas igualmente
progressiva, embora o piskey seja consciente de quando ela começa
a acontecer e pode se preparar, seja adotando a identidade de um
“parente próximo” ou anunciando sua transexualidade.
APÊNDICE: COISAS PELO CAMINHO 655
FOGO FÁTUO FOGO NO RABO
(QUALIDADE DE 3 PONTOS) (DEFEITO DE 3 PONTOS)
Esta capacidade é característica dos piskies da Cornualha e da
facção dos Fogos Fátuos. Gastando um ponto de Glamour o piskey
é capaz de iluminar seu corpo ou uma parte dele com uma luz tênue
e fantasmagórica, que não ilumina muito além de três metros, mas
pode ser muito útil para se mover na escuridão. Desta forma, o pis-
key torna-se uma lanterna ou tocha viva, podendo encontrar o seu
caminho. Normalmente este dom não dura mais de uma cena, mas
em lugares de alta banalidade sua duração pode ser reduzida ou exigir
um gasto maior de Glamour.
ORIENTAÇÃO
(QUALIDADE DE 3 PONTOS)
Alguns piskies estão tão harmonizados com o caminho que de
alguma forma se sintonizam com a direção certa em qualquer cir-
cunstância. Se souber o seu destino, um piskey nunca se perderá, e
acabará sempre por encontrar a direção certa, mesmo que tenha que
desviar ou mudar de direção para evitar obstáculos inesperados. Se
houver alguma interferência especialmente intensa quando o piskey
estiver usando este dom (como no meio de um furacão ou em uma
perseguição) ele terá que fazer um teste de Percepção + Manha ou
Sobrevivência para encontrar o caminho de volta.
NOSTALGIA
(DEFEITO DE 2 PONTOS)
Os piskies são amantes da mudança, mas alguns acham extrema-
mente difícil seguir o caminho novamente, especialmente depois de
muito tempo. Quando forçado a mudar de ares um piskey com este
Defeito perde um ponto temporário de Força de Vontade se tiver que
deixar alguém ou algo especialmente querido para trás.
DESCONFIADO
(DEFEITO DE 2 PONTOS)
Talvez por causa das experiências do passado ou simplesmente
por cautela, você acha difícil se abrir e confiar nos outros, apesar de
seus dons de adaptação. Normalmente você permanece distante e
mantém apenas relações superficiais. Sempre que você inicia um
relacionamento com um estranho, a dificuldade dos Testes Sociais
aumenta em +1 até que você de alguma forma adquira confiança nele.
66 LIVRO DO KITH: PISKIES
Os piskies adoram mudar de ares de vez em quando, mas no caso
de alguns piskies isso se torna uma obsessão, e eles não podem ficar
muito tempo no mesmo lugar. A cada dia o piskey deve viajar pelo
menos um quilômetro ou perderá um ponto temporário de Força de
Vontade. Além disso, ele não se encontrará em paz dentro de espaços
fechados por muito tempo. Se for forçado a permanecer preso em
um espaço limitado por um longo período de tempo, ele começará a
parecer inquieto e nervoso até o ponto de histeria.
TESOUROS
Piskies não são muito ligados a objetos, e geralmente não criam
muitos Tesouros, mas quando eles fazem isso são especialmente
simples, engenhosos e práticos. Eles usam com mais frequência os
Tesouros criados por outros Kithain, mas muitas vezes encontram
formas inesperadas de utilizá-los. Por exemplo, diz-se que um piskey
de Leão, na Espanha, tem uma espada mágica capaz de partir pedras
e que é ocasionalmente utilizada como arado quando ele trabalha
como operário.
MANTA FIRME
(TESOURO DE 1 PONTO)
Este tesouro foi criado por piskies nômades que se dedicavam à
criação de cavalos. À primeira vista, é um cobertor simples e rude,
mas quando é colocado sobre um cavalo, quem subir nele ficará preso
firmemente e não poderá ser derrubado a menos que ele ou o cobertor
sofram danos consideráveis, ou o piskey decida descer.
Além de ser usado para segurar um cavalo ou para domar os
especialmente difíceis, a manta proporciona algum conforto. Se for
colocado no chão de um trem ou no teto de um veículo, o piskey
e os que nele se sentarem não notarão o barulho ou movimentos
bruscos e permanecerão firmes na superfície sem problemas, exceto
nas circunstâncias mencionadas acima.
BOTAS MÁGICAS
(TESOUROVARIÁVEL)
Um bom calçado é necessário para a estrada, e muitos dos tesouros
criados pelos piskies são na forma de sapatos, botas, chinelos, etc.
As Botas Saltitantes são uma das mais simples (2 pontos), e
são normalmente usadas pelos seus donos para atravessar valetas e
outros obstáculos, mas com habilidade suficiente um piskey pode ser
capaz de saltar para o telhado de um edifício de dez andares. Rumores
dizem que algumas botas são personalizadas para que quando alguém
que não seja o proprietário tenta usá-las elas comecem a saltar fora
de controle.
De certa forma, estes Tesouros são um lembrete da velocidade que
os piskies podiam atingir no passado e que recuperam quando visitam
o Sonhar Profundo. Os Tênis de Maratona (3 pontos) permitem ao
piskey correr a uma velocidade até dez vezes maior que sua velocidade
normal até parar (ou ser parado) ou teletransportar-se num instante
numa distância de até dez metros no seu campo de visão.
As Sandálias de Hermes (4 pontos) permitem ao seu utilizador
voar como se estivesse a correr sobre o vento.
As famosas Botas de Sete Léguas são um tesouro lendário, e
diz-se que têm vontade própria, sendo usadas apenas pelos dignos.
Há muitos rumores sobre os seus supostos poderes, desde permitir
percorrer grandes distâncias num instante, até saltar entre mundos.
De acordo com vários testemunhos, as botas às vezes pareciam salvar
piskies de um confinamento sem saída, ou levá-lo a um lugar onde
era necessário.
também oferecem outros objetos (3 pontos). Os mais elaborados
parecem ter uma vontade própria, oferecendo objetos adequados
para uma determinada ocasião (4 pontos), como a chave que cabe
em uma fechadura. No entanto, os objetos não respondem à vontade
do possuidor, mas sim o julgamento do Tesouro.
As trouxas mágicas costumam prover o bastante para manter seu
dono e pouco mais, e não é aconselhável abusar de seu conteúdo. No
entanto, quando aparecem outros em necessidade, sabe-se que algu-
mas trouxas já criaram alimentos suficientes para todos os presentes.
Os objetos das trouxas mágicas não permanecem para sempre, e se
não forem usados acabam desaparecendo. Os piskies normalmente
devolvem os “restos” para seu interior. Por outro lado, os objetos
criados pela trouxa são sempre comuns em sua natureza
e não têm nenhuma característica especial.

TROUXA MÁGICA
(TESOURO VARIÁVEL)
Acredita-se que o primeiro destes Tesouros foi criado por um
piskey holandês, que o criou para ajudar o seu filho na sua primeira
viagem pelo mundo. Esta trouxa era basicamente um pedaço de pano
amarrado a um pau, mas quando se procurava dentro dela, permitia
que objetos comuns fossem retirados, principalmente comida e bebida
para a jornada, mas às vezes também roupas, ferramentas, chaves e
outros objetos.
Desde então, os piskies criaram Tesouros semelhantes sob a forma
de malas, mochilas, pastas, etc. Os mais simples oferecem pouco
uco
mais do que comida e bebida (2 pon- o
tos), outros

CAPÍTULO QUATRO: MEMÓRIAS INESQUECÍVEIS 677

 PALAVRAS
FINAIS
Com a publicação da edição do 20º aniversário de
Changeling: O Sonhar, novas possibilidades se abriram para
continuar a publicação de suplementos para a linha de jogo das
fadas do Mundo das Trevas. Entre estas possibilidades estão os
kiths que apareceram como secundários no material original
de A Sorte do Tolo, e que hoje ocupam um lugar de destaque
junto aos changelings originais do manual básico.
Os Piskies são um destes kiths, changelings errantes com
uma curiosidade que os torna distintos no mundo dos Sonhos, e
que até agora não receberam muita atenção. O Livro do Kith:
68 LIVRO DO KITH: PISKIES
Piskies pretende acrescentar profundidade e jogabilidade, mas
ao mesmo tempo é oferecido apenas como uma alternativa,
sem querer substituir a imaginação de potenciais Narradores.
Em resumo, nada do que aparece neste manual é indispen-
sável, e tanto os Narradores quanto jogadores têm informações
suficientes no manual básico de Changeling: O Sonhar, assim
como em seus suplementos para poderem fazerem seus jogos.
Espero que tenham se divertido ao ler, e agora , bons jogos.
- Magus
LIVRO DO KITH

SONHOS NA
ESTRADA
Seguir o caminho e a direção do vento é o legado
dos Piskies.Ignorados e marginalizados, estes vagabundos
sempre procuraram por um lar que sempre lhes foi nega-
do, desfrutando da viagem para um destino desconhecido,
aprendendo, ensinando e no processo melhorando. Dessa
forma, caminhando... sempre em frente, sempre para além do
horizonte que se estende eterno diante dos seus olhos.
O Livro do Kith Piskies inclui:

¶ Uma série de histórias sobre Piskies, desde suas origens

nas lendas e hipóteses até os viajantes do presente;
¶ Um olhar sobre as várias facções, costumes e opiniões
sobre os Piskies.
¶ Piskies de renome, exemplos de personagens e novas
Qualidades, Defeitos e Tesouros.