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SYLVIO ROMÉRO

o
]111e 111a llis filO
Sul do Brasil
Seus pengos
e meios de os conj urar

RIO DE .TANEIRO
Typo Heitor Ribeiro & C., rna da Quitanda, 72

1906

BANCO DE LA REPUBLICA
Rlul;OTECA LUIS-ANGEl I>.~GO

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:Barão do ~o :13~anco

Dr. Jooquim ílabuco


Os dois modernos estadis~
tas brasileiros, que poderão, se
o quizerem, iniciar a política
de 'reacção contra o pessimo
systema seguido até hoje da
colonisação alleman do Sul do
Brasil.

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~Redocção

d~o Jorl2al do [()Jl1nlercio

Jo :Bio de ]ancirco

A folha brasileira que '/Jwis


serviços tem prestado na ques-
tão do periyoso allemanismo
do Sul do Brasil e os poderá
prestar aÚula maiores.

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o Allemanismo no Sul do Brasil
I

U m escri ptor nosso em livro consagrado ás nações


latino-americanas, no que toca ao futuro d'essas nações,
escreveu:

« A verdade é que, nas condições actuaes da Ame-


rica do Sul, só ha dois meios de se construirem aqui naci-
onalidades prosperas, cultas e fortes; ou ùeixar que as
,-ctuacs, entregues a si mesmas, completem a sua evolu-
ção, e consigam remover as causas que ainda hoje entor-
pecem o seu progresso; ou, então, eliminal-as, eliminar
litteralmente as populações existentes (lllisericordia l... )
como succede aos selvagens ùa Australia.»
O auctor desarrazôa evidentemente: ou us povos do
continente entregues a si mesmos, sem auxilto estranho,
ou, ao contrario, a sua eliminação go'al. São dois pontos
de vista em completa polaridade. Dois partidos extremos.
Opina, como não podia deixar de ser, pelo primeiro,
tanto mais quanto o segundo não poderia ser levado a
effeito pelas resistencias que seriam oppostas a tão louco
intento.
Nota-se quão pouco tem meditado o auctor sobre a
vida e os destinos de nossa patria.

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No que houver de dizer, me referirei sómente ao


Brasil.
Não conheço sufficientemente a vida das outra~, gen-
tes ibero-americanas, e, ainda que a conhecesse a fundo,
não me atreveria a fazer prognosticas sobre o seu porvir.
Creio que, no que concerne ao nosso viver social e
politico, á nossa existencia como nação, quatro ~;ão os
caminhos q lie teremos a seguir: I ~),o actual systema, ro-
tineiro e perigoso, que, além do atrazo e da apathia geral
que prodúz, traz, fatalmente, o desequilibrio entre o norte
e o sul do paiz com o desastrado regimen de cl/lon:isação
que se tem seguido; 2?, o systema de infusão de ?IOVOS e
altas idéas, nova intuição realistica do mundo e das na-
ções, preparada por fm·te ínslnlcção mode¡'na., superior e
technica; 3.°, o'systema de (ormação de camcter novo por
um regimen especifico de educação adequada; 4.°, o sys-
tema de formação de caraeter novo por meio da colonisação
integral do paiz, com a immigração espalhada por fadas as
zonas.
O primeiro systema é anachronico e tem dado pessi-
mos resultados e ha de acarretar, se proseguirm05 nelle,
o desmembramcnto futuro do paiz. E' o systema que se
póde chamar bmsileiro.
O segundo é util e conveniente, quando encontra a
base forte de um caracfer firme, capaz de grandes ernpre-
hendimeJltos. E' o systema dos japonezes. Este admiravel
povo, sem pedir immig¡'antes, sem se misturar com estran-
geiros, povo de qualidades moraes superiores, senhor de
uma alta cultura, entendeu de a modernizar no sentido
europeu, adoptando os proventos materiaes da civilisação
occidental.
Fcl-o cum urna segurança, \1m atilamento sem egual.
E' hoje urna das primeiras potencias do mundo.
O Brasil não se acha absolutamente em eguaes con-
dições.

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E' systema que só póde ser empregado de combi-


nação com o terceiro.
Este é muito seguro, mas extremamente difficil de
obter. E' o systema educativo de Le Play e Edmundo
Demolins.
Seria preeiza a acção combinada de milhares de pes-
-sôas que, por todos os angulos desta terra, se propuzes-
sem a modificar a nossa pessima ed~lcação, substituindo-a
por O\ltra mui diversa, que aproveitasse sómente certas
.qualidades bôas que nos herdaram nossos maiores.
O quarto systema, que, aliás, cleve ser empregado
de combinação com os dois anteriores, póde ser chamado
o systema-no1'fe-americano. E' salutar, com a condição
é.a inoculação de elementos ethnicos de primeira ordem,
por todas as regiões do paiz, de forma que sejam assimi-
·lados á nossa gl:mle pelo uso de nossa lingua.
E' o oprosto do regimen que temos seguido até
agora, a datar de 1825, epocha em que se formaram os
primeiros nucleos coloniaes alIcmães nas provincias do
'Sul.
Esse desgraçado modo de colonizar constitúe o mais
serio problema que o Brasil terá de resolver em futuro
muito proximo.
Sobre este terrivel assumpto, o auctor, a que em
principio me referi, guarda em seu livro o mais completo
silencio. E' singular ...
Discute um milhão de banalidades e deixa comple-
tamente de lado a mais seria de todas as questões que
possamos debater.
Não canso de repetir: tal systema póde ser optima,
e o é, por certo, do ponto de vista ollp,mão ,. mas é pessimo,
é perniciosissimo, do ponto de vista brasileiro.
Para se formar idéa exacta da gravidade do assum-
pto, mi~tér é ter estudado diligentemente o povo germa-
nico, conhecel-o bem no seu desenvolvimento historico,

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e, acima de tudo, no seu assombroso progresso contem-


poranco, nas industrias, na navegação, no commercia, na
expansão colonial, direi melhor, na necessidade indecli-
navel que sente de escoar para colonias suas o excesso
de sua população, que augmenta, a olhos vistos, de fôrma
assustadora.
E' que de todas as gentes aryanas dotadas de altas
qualidades em qualquer sentido-os allemães são aquella
a quem coúbe na partilha da terra uma região mais pobre.
Os hindús tiveram a India vasta e uberrima; os ira-
nianos, a Persia extensa e de variadas zonas; os sla vos, o
norte dos Balkans e a Russia immensa; os celtas, a
França fertilissima; os hellenos, a Grecia encantadora e
as ilhas mal avilhosas; os italiotas, a Italia risonJla, de
clima dulcissimo.
Os scandinavos e seus proximos parentes-c:> ger-
manicos, os allemães, - as asperas terras do norte da
Europa.
Estão, por isso, estes ultimas, os mais prolificos e
emprehendedores, condemnados á busca de melhores ter-
ras. Foi sempre o seu papel durante os dois mil e du-
zentos anl10S de sua existencia, depois que appareceram
na histOJ ia.
Occupam certamente hoje uma vasta região na Eu-
ropa, zona que, na porção meridional, é regularmente
[ertil e rica e cuja porção do norte está grandemenk mo-
dificada por maravilhosos esforços duma cultura acima
de todo elogio. Mas, para gente de tal vitalidade, de tão
intenso impeto de expansão, é pOllCO.
Assim, de todos os povos aryanos - os germanicos,
portadores de qualidades de primeira ordcm, são os peior
aquinhoados n0 tocante á terra. E essa desproporção tor-
na-se ainda mais chocante, se é comparada á de -:crtos
povos que, com razão ou sem ella, os germanicos julgam
sells inferiores.

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Não lhes soffre muito a paciencia que vastas regiões


da Asia, da America e d' Africa, estejam noutras mãos
que não as delles.
O mais antigo surto da raça, atráz de terras, arro-
jou-a ás regiões do alto norte da Europa, e perde-se nas
sombras impenetraveis do passado.
O seu destino era, dahi por deante, procurar sempre
o sul, em demanda de mansões mais largas e mais doces.
O seu primeiro arranco nesse sentido já é quasi his-
torico e foi quando occuparam a famosa planicie slIxom'co,
onde ramos energicos da raça lançaram as bases cie seu
viver particularista.
Mas não bastava; novas incursões teriam de ser
feitas
Os cimbros e Üutões demandaram as terras que se
lhes antolhavam maravilhosas do sul, regiões amansadas
pelo colosso romano.
Dahi por deante, durante quatro seculos, os germa-
nicos foram lentamente se esco~ndo pelos membros ex-
tensos do imperio.
Metteram-se por todas as provincias, como hoje se
mettem pelo nosso Brasil meridional, fazendo protestos
de paz.
Desde então, os dias de Roma estavam contados. e
os vencedores, os destruidores, os herdeiros do imperio
só não eram conhecidos dos ceg0S optimistas, dos patri-
oteiros de vistas curtas, que não falham nunca entre os
povos que vão morrer.
O Inconsciente da historia prodúz sempre gente
dessa, para o fim de mascarar e illudir a quéda das na-
ções. Quanto mais se estas precipitam, mais esses nove\-
lciros cie bellos e rozeos augurios se acreditam no melhor
dos mundos.
Manda a justiça, porém, declarar que nem todos
fôram cegos aos fortes symptomas da verdade.

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Os espiritos clarividentes tiveram desse enorme


~ksacerto da politica imperial perfeito conhecimento.
E' o caso, entre olltros, de Ammiano Marcellino
e Synésius, que escreveram antes da grande invasão do
principio do V seculo.
O primeiro, falando do tratado ajustado entre o
imperador Valente e os godos, convtnio pelo qua: lhes
concedia que passassem o Danubio c se estabelecessem
na Thracia, escreveu: « Quando os mensageiros vieram
ter com o imperador, os cortezãos applaudiram; enalte-
ceram a felicidade do princi¡;¡e a quem a fortuna trazia
recursos inesperados e de tão longinquas regiões. Um
bom ajuste devia ter immcdiatamente lagar. O exercito
romano ia ficar invencivel com a incorporação dc tantos
estrangeiros; o tributo que as provincias devia em sol-
dados, convertido em ouro, augmentaria indefinidamente
os recursos do thezouro, o imperio ganharia segurança
e riqueza O imperador firmou a convenção, estipul3.ndo
.a admissão dos barba ros. Enviaram-se immediatamente
numerosos funccionarios para ordenarem o transporte;
te\'e-se muito cuidado para que um só destcs destndcloTes
do irnpe1'io não ficasse da outra banda, ainda que estivesse
atacado de molestia mortal. Dia e noite, em cumprimento
da ordem imperial, essa plcbe truculenta, apinhada em
barcas, taboas, troncos de arvores, foi transportada para
cá do Danubio. A pressa era tamanha qU& varios mor-
reram afogados. Tanta azáfama, tanto trabalho pam
introduzir o flagello e a f'uina do mt/ndo romano! ... •
Ammiano Marcellino era daquelles que não se
illudiam a respeito da inconveniencia de tratados, como
esse que foi levado a effeito pelo infeliz imperador
Valente. O principe, tendo ido, pOIlCO após, combater
estes seus recentes alliados gados revoltados, foi vencido.
Fugitivo, depois da batalha, tinha-se acolhido a \lma
palhoça que havia em caminho, Alcançado pelos gados,

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lançaram elles fogo á choça, morrendo lá dentro quei-


mado aquelle que lhes havia aberto as portas do impe-
rio ... Que lição!
Syne~ius via ainda mais claro nos factos do que
Ammiano.
(I Quando se imagina, escreveu eIle, o que póde
emprehender, num momento de perigo para o Estado,
UCla mocidade estrangeira, numerosa, formada por leis
diversas das nossas, tendo outras idéas, outros costumes,
é mistér hrlVe1' perdido toda, a ]Jrcvidencia para não
tremer ...
O rochedo <deSysypho está suspenso sobre nossas
cabeças.
Appareça-lhes a mais leve esperança de victoria, e
havenlOs de ver que tenebrosos pensamentos alinwntam em
81'gredo nossos d¡fl'rII;ores de hoje ... Os barbaros são hoje-
tudo; sejam pois, de tudo afastados. Sejam para elles inac-
cessiveis as magistraturas e especialmente a dignidade
senatorial, honraria suprema dos romanos ...
E' espantoso! não existe uma só de nossas familias
na qual não esteja empregado um godo em algum ser-
viço! Em nossas cidades os pedreiros, os vendedores
d'ê.gua, os carregadores, são godos L .. ))
O resultado todo o mundo sabe qual tenha sido:
preparado o terreno, dado um arranco invasor no co-
meço do V seculo, em toda a linha, os que estavam dentro
àeram as mãos aos companheiros de fóra e o imperio
ruiu.
Durante a primeira phase da edade média, estende-
rar.l-se os german0s pela Gallia, Italia, Heipanha, Brita-
nia, regiões centraes da Europa e norte da Africa,
Declararam-se herdeiros e continuadores do impe-
rio e constituiram o Santo Imperio Romano Germanico~
que durou seculos e anda reproduzido, para os bons pa-
triotas, no imperio da AlIemanha actuaL

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No assumpto, é digna de ler-se a obra magistral de


J. Bryce, o grande historiador inglez,
Trahit, entretanto, sua quemque índoles populum; o
genio do povo não se desmentiu: sempre emprehendedor,
sempre ouzado, sempre activo, a despeito de sua pessima
posição geographica, máu grado difficuldades his1.oricas,
oriundas dessa mesma situação, quasi invenciveis, eil-o
que na segunda phase da edade medieval revela desu-
sado vigor no movimento extraordinario das Han:w8.
Os ramos anglo-saxonio e hollande;r. começaram,
pouco após, a brâ.cejar pelo mundo. Cobriram- no de co-
lonias por toda parte.
O grupo central, os al1emães propriament(: ditos,
acrysolado pelas luctas e embaraços que se lhe oppunham,
desafogava-se nas lettras e nas sciencias, á espera de seu.
dia, c esse dia chegou.
A sua alta posição militar, term-nw1'iqUl~, é actual-
mente immensa; mas é nada deante de sua expansão
commercial pelo mundo em fóra. Ahi é que bate o ponto.
E' assumpto para ser estudado em Paul Rousiers, --
em livras, coma - Hambow'g et l' Allema,gne Contempo ..
raine, Les Syndicats industriels de Producieu1's en Francl3
et à l'E'tranger,. em Georges Blondel, L' Essor Indus-
iriel et Commercial du Peuple Allemand,. em Jules Stoe.-
cklin,-Les Colonies et l'E'migration Allemandes " em V.
A. Malte Brun, - L' Allema.gne Illustrée,. em Henri de
Tourville,-Histoire de la Formation Partirulariste,. em
Arthur Raffalovich,-Trusts, Ca1'telset Syndicats.
S@m este preparo, não se póde fazer uma idéa dl)
conjuncto das forças em acçã@; não se p6de fa1er idéa
da amplidão do systema; não se pôde marcar nelle o la-
gar em que se prende o caso brasileiro; quero dizer; o que
em meio das aspirações allemãs representam as BU as co-
lonias do Brasil ...

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Quem não apprehende a questão desta altura não


logra conceber-lhe o alcance e não chega a formar a con-
sciencia clara de quanto ella tem de brilhante e esperan-
çosa para al\emães e de vergonhosa e humilhante para
brasileiros ...
A tendencia do pavo allemão para emigrar, estimu-
lê.da pela pobreza do sólo, é antiga, já deixei ponderado.
O seu subito apparecimento, como potencia funda-
dora de colonias, é modernissimo, e principalmente pro-
vocado, além da pobreza da terra, pelo desenvolvimento
extraordinario da população, pelo crescimento anormal
de seus productos industriaes, pelas grandes despezas do
orçamento militar, que, multiplicando os impostos, fórça
grande numero de individuos a sairem d0 paiz, o que
tudo levou o governo allemão, secundado neste ponto
pelo commercio e pelas classes productoras, a procurar
tambem acar PO?' ahi alem outras pequenas Allemanhas.
Em quatro annas, de 1884 a 1888, o imperio ger-
manica, que até então não possuia um palmo de terra
fóra da Europa,-nos continentes longinquos, se fez a
terceira potencia colonial do mundo.
Está abaixo apenas da Inglaterra e da França. De
um impeto, collocou-se acima de Portugal e da Hol-
landa. N o genero, não se tinha visto nunca egual teste-
munho de força de vontade, segurança de planos e rapi-
dez de acção. Nas ribas occidentaes da Africa, principal-
mente em Costa de Camm'ão e em Angra Pequena,
apoderaram. se os allemães de enormes terrenos. Foi,
porém, na costa oriental que a fortuna lhes sorriu bene-
fica e ultra-compen.adora. Toda a região de Zaneibar,
desde o mar das Indias até á zona dos lagos centraes
africanos, comprehendcndo as melhores terras do conti-
nente, caiu-lhes nas mãos. E' um imperio collossal.
Na Oceani~, apoderaram-se das l/has de Bismarck,
das llhas Marshall e de toda a parte 11Grteda Nova Guiné,

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a maior ilha do mundo. O que de habilidade, de decisão,


de presteza empregaram elles para, em menos de quatro
annas, chegar a este assombroso resultado, não vem para
aqui o referir. Basta dizer que tudo isto obedeceu a um
plano, que se va~ realizando a golpes de aud<lcia.
A sua acção mundial se divide em duas direcções
bem distinctas: a emigmção para os paizt's feitos, como
os Estados- U nidos, por exemplo, onde teem gru pos de
individuos esparsos, o que se costuma irn!Jropriamente
denominar colonias, mas não merece este nonH:; c ilS culo-
n.ias propriamente ditas, que são dependencias politicas,
porque estão debaixo da soberania e protectorado do im-
perio.
Nas primeiras, como entre os norte-americanos,
acontece qut:, segundo conta Malte-BruH, os all:::mães,
uma vez estabelecidos, não ficam mais allemães de na-
ção. A vida facil que encontram os leva. a acccitar a na-
cionalidade extranha. A lingua allemã continúa a servir
aos paes; 05 filhos nascem americanos e, depois ce uma
ou duas gerações, os descendentes allem;ks não sabem
mais fallar a lingua de seus maiores. (L' Allemagne lllus-
t,'ée, IV, pago 310.)
Foi em consequencia disto, ajunta Raoul Pastel, que
os homens de Estado da Allemanha viram que ser:a pre-
ferivel, do ponto de vista nacional, dirigir o mov:mento
da emigração para colonias allemãs que deveria.m ser
fundadas em varias regiões do Globo, ainda não occupa-
dac;. Dito e feito; dahi por diante, a colonisação, no velho
sentido, foi com exito tentada pelo imperio, e hoje os
allemães não emigram só para as terras estranhas; diri-
gem-se tambelIt para as suas conquistas de além-mar.
Em 1882, um economista tedesco dizia na Sociedade
de Oeste lJara a colonisaçãu e a exportação: « Nosso fim,
nosso alvo supremo é elevar a AlIemanha do papel de
f'otencia continental ao de uma potencia, cuja influencia

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iie estenda pelo mundo inteiro. Nosso fim é fazer de


nossa patria uma nação que abrace poderosamente a
terra e exerça um influxo renovador na civilisação da hu-
manidade». (J. Stoecklin-Les Colonies et l'E'migration
.Allemandes, pago 164.)
Taes palavras. refere o auctor que me fornece a
noticia acima citada, provocaram applallsos do auditorio,
porque correspondiam a uma necessidade. Esta foi expli-
cada por van der Brüggcr no fasciculo de janeiro de 1883
<dos P1'eussiche JahbÜche1': «Nós temos um excedente
annual de população que orça por 600.coo pessôas. O
melhor partido que se póde tirar de nosso solo, o arro-
teamento de nossos pantanos e terras incultas, o aper-
feiçoamento de nossa agricultura, a melhor organisação
de nosso trabalho, não bastam para assegurar a alimen-
tação a um tal excesso de gente além de algumas deze-
nas de annos. Será preciso que, então, tiremos pela con-
q uista, a preço de sangue e dinheiro, as colonias aos Es-
tados europeus? »
Van der Brügger aconselhava a fundação de colo-
nias aIlemãs.
AqueIle é que é um povo. Vejam a grandeza, a au-
dacia dos planos, o desas50mbro com que faIla. E ha
mais uma singularidade: alli os governos ouvem os chefes
i'ntellectuaes da nação e tomam-lhes os consel1ws.
De 1882 é o brado do economista; de 1883 o ap-
peIlo de Van der Brügger; em 1884 Bismarck iniciava
seu plano de colonias, que realizou em q.uatro annos.
Para elles, para esses homens que sabem o que que-
rem, o criterio supremo da nacionalidade, o signal reve-
lador, o expoente excelso da raça é a lingua, ouçam bem
-é a lingua. Este signal é tudo. Onde é a patria allemã?
perguntava o poeta, e elle mesmo respondia: - E' onde
se falla a lingua allemã ...

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18

Entre nós, a linguagem é apenas um instrumento


para rhetoricas c parlapatices; não tem outro prestimo,
e tanto não tem, e aqui chego ao ponto onde queria apor-
tar, que nas colonias allemãs do Brasil não se falla por-
tuguez ...
P1'oh pudoy! Fala-se nellas allemão. E' dizer tudo;
não preciza juntar mais nada para quem cOlllprehende a
gravidade do facto.
Lê-se todo o livro de Stoecklin, esse livro do qual
diz Raoul Postel: «Puisse ce livre ouvrir les yeux aux
indifferents, les prémunir em même temps contre les
parti-pris et les coteries!. .. Il doit prendre place dans tou-
tes les bibliothèques, même dans les moindres écoles» ;
lê-se todo esse pequeno volume em que o auctor con-
densa a acção e os feitos dos aI\emães nas cinco partes
do mundo, já como emifP'antes, já como fundadores de
colonias, e só s@ encontra, como padrão immorredoiro
da inepcia brasileira, uma excepção, uma só, a unica em
iodo mundo de um paiz estranho onde os descendentes
dos emigrantes allemães conservam o uso completo, ex-
clusivo de sua lingua: é no sul do Brasil ...
Falla-se allemão na Allemanha, na Austria, na
Suissa germanica, num resto das chamadas provincias
do Baltico, na Russia, terras estas antigas de allemães e
que foram por elles perdidas.
E' natural.
Fóra dahi, onde não poderia ser por outra fórma,
sendo que na Russia a slavilisação das citadas provincias
balticas vae adeantadissima com o systema energico do
governo do Czar, só incipientemente se vae falando alle-
mão nas colonias da Africa e da Oceania, dependencias
politicas do governo do imperio. Em terras de nações 80-
berana8,-na Asia, America e Africa, não se repete o
phenomenal caso,
Só no Brasil !..,

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19

Quando se acompanha o desenvolvimento do plano


germanico, hoje conscientemente encaminhado, porque
.a AUemanha de hoje não é a AlIemanha de 1825, quando
começaram no Brasil as colonisações, e se nota a insis-
tencia com que é assignalada a excepção brasileira, as la-
grimas brotam espontaneas de todos que amam neste
paiz a {01'mosapeça de architectura política-de que fa-
lava o grande Andrada ..•
«Os colonos allemães do Brasil meridional gozam de
-completa liberdade; além de raras auctoridades de jus-
tiça e policia, nenhum empregado brasileiro exerce func-
-ções nas colonias ... Se no Brasil, como nos Estados- Uni-
èos, os colonos aJlemães não teem mostrado, por em-
-quanto, fortes tendencias de se metterem na política, ao
menos no prímeÚ'o destes dois paius não teem, como no
.segundo, perdido o U2'O de sua lingua mat/'nta», (J. Stoe-
cklín, Op. cit., pago 193.)
G. Blondel accrescenta: «A lingua alIemã, conser-
vada nas colonias pelas sociedades locaes, pelas agencias
é.e tres grandes associações alIemãs, pela~ escolas (Reals-
chule, de Porto Alegre; Rühere Lehmnstalt, de S. Leo-
poldo; lVaisenhaus, de Taquary); pelos jornaes, é a que
~micamente se uza em Blumenau, Neudorf, Joinville, São
Bento, Badenfort, localidades onde a prop01'çãodos allemães
t'aria de 80 a 90 %. Ainda mais acontece isto na região
inteiramente germanÙada da Se,Ta). (L'Essor Industriel
e Commercial du Peuple Allemand, pago 265.)
Dest'arte, as famosas colonias alIemãs no sul do Bra-
sil nem são simples casos de immigrações, que tenham
sido assímiladas pelas populações circumvisinhas, como
sóe acontecer entre as nações soberanas; nem são, por
-emquanto, colonias no c1assico sentido, dependencias poli-
ticas duma metropole de além-mar. Vão para ahí. Con-
stituem, por agora, um caso especial, que merece es:
tudo.

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20

II

Em 1884, sob a direcção do genial Bismarck, fot


iniciada definitivamente a carreira official da AIlt:manha
como fundadom de colonias no ultra-ma,-.
Por esse tempo, tinha escripto um ex-official do ex-
ercito allemão-Adolph von Couring, em sen livro de
propaganda- Mm-rocos, spu Tel'rito1'io, seils Habitantes:
« Não existe potencia maritima sem colonias; ora, a 1-\1-
lemanha já é, e pretende sel-o cada vez mais, um;l po-
tencia maritima. A Allemanha espalha, sem proveito
para si pro[.lria, o excesso de sua população pelo mundo
inteiro; depcnde de nó~, allemães, conservar para o nOS50
pajz suas forças vivas, dirigindo a emigração 1)(/1 a regiões
que fiquem sujeita.~ ás nossas leis e á nossa protecção. Ha,
para isto, lagar na Africa, nas ilhas da Oceania e na-
.Ânie¡·ica do Sul."
E ... note-se bem, na-America do Sul (!!)
Onde? No Brasil e na Patagonia (!! )
Eram os dois pontos indicados.
Prepararam-se mappas de todas as regiões da terra,_
onde se poderiam, como donos, estabelecer os allemães.
Por isto é que, começada a faina, se apoderaram
elles das zonas qne CnCO!ltraram desoccupadas n'Africa e
na Oceania, de que já falei.
Pelo que toca á America do Sul, chegou-se a pen-
sar muito seriamente num golpe de audacia cantril a Pa-
tagonia, cuja posse pela Argentina ou pelo Chile andava
ainda em litigio; e, quan:o ao Brasil, immensa foi a agi-
tação das associações de emigmção e commercia n' Allema-
nha com repe1'cussãonas colonias do sul.
Só uma coisa nos salvou então, está salvando ainda
agora e salvará no futuro, até certo tempo: A DOUTRINA.
DE MONROE, o receio de uma complicação provavel com.
os Estados-Unidos.

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21

Por isto, custa-se a conter a indignação quando se


vê a inconsciente ingratidão do mestiço ibero-americano
-chasq uear levianamente da sagrada dout1'ina dr¡ Monroe,
a que devemos ter escapado da conquista allemã em
terras do sul.
O Chile e a Argentina, mais habeis do que nós,
tr ..ltaram lo~o de fechar a Patagonia, dividindo-a entre
si De incursões em qualquer outro ponto de seus terri-
t::>rios estão livres; porque lá não existem zonas onde os
t.'ufos sej;¡m senhores, onde s6 sefale a lingua allemã.
Diversa é a situação do Brasil, no qual o processo de
desaggregação v;¡e sendo dirigido habilmente, com al-
guma demora; mas infallivelmente seguro.
Quando, pois, ha poucos dias, os jornaes falaram do
dito de um diplomata russo que havia affirmado ter visto
110 e~tado-maior, em Herlim, um mappa do Bmsil em que
-estão assig1wladas as regiões que a]11"esentam a possibili-
dade de ser incorp01'adas tÍ sovem11ia allemã, não avança-
·ram nada de novo ...
Repetiram verdade conhecida por quem vem acom-
panhando esta questão de trinta annes para cá.
Os amantes e colleccionadores de papeis velhos
devem ter elllmão varias d ,Clunentns sobre o assumpto.
Os mesmos tdegrammas recentissimos falaram tam-
bem do discurso feito por um allemão de nome Arendt,
ex-general do exercito, que esteve contractado em Bue-
llas-Aires, e foi dispensado da sua commissão, por mo-
tivo moral, pelo general Roca, quando presidente des~a
Republica. Nesse discurso, o referido Arendt chamou a
atte!1ção de seus compatriotas para a facilidade de clIlo-
·,1iz07·em a Patagonia, conservando os colonos as suas
t1"fldições, costumes e sentimellto nacional, contrariamente
.ao que succede no Canadá, onùe, na segunda geração de
descendencia allemã, se observa uma identificaçiio com
1) ambiente local e a perda de todos os caracteristicos de

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origem. El Tiempq, de Buenos-Aires, de 12 de janfin>


ultimo, commentando a affirmativa do diplomata rus~()
sobre o Brasil e as declé rações de Arendt ácerca da l'a-
!!agonia, diz que merecem toda a fé, porquanto o prin-
cipe de Bismarck, quando chefiou a chancdlaria allemã,
.teve os olhos postos co lstantemente naquellas terras, e
disso dãoteltemunho irnfrogavel as nutas f'1wiadas (lO-
gOl'UUO argentino, por Carlos Calvo, representante, en·
tão, da Republica junto ao governo imperial. (JOI nal do
Commercio, de Il e 13 de janeiro de 1906).
O diplomata russo di~se o que vio; e Arendt repete
ainda hoje o que se falal'a na Allemanha com insistencia,
de 1884 ou annos proximamente anteriores até 1888 c-
annas subsequentes.
Eis aqui alguns pa:)eis velhos, que provam a exci-
tação existente na Allel:Janha naquelle tempo, e ct:ja no-
ticia chegou até nós:
« A Allemanha, douda por arranjar coloniás, anne-
xou, diz um telegramma de Londres, os territorios d()
slIdoéste da Patagonia,:olllando posse delles na devida
fórma, devendo brevem'~nte ser expedidas as respectivas
cOlllmunicações ás outras nações.
Ora, se o diabo se metter .de permeio, bem póde
isto dar u ma segunda ee ição das Carolinas. »
(Gazeta de Noticia;, de 18 de setembro de 1886.),
Era na phase aguda do fllror de "Bismarck atrÚz de
ce,lonias.
Tinha posto a mão nas Ilhas ('aroUnas, abandona-
das depois de ulIJa bal ulheira diabolica dos hespanhóes~
renuncia, porém, só fei:a após laudo do Papa, quc deci-
diu a questão a favor dos antigos descobridores das re-
feridas ilhas.
Chegou-se a acreditar que tinham os allem;ies de-
clarado a tomada de posse da Patagonia.

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Na mesma folha, na Gazeta de Noticiaf', de 12 de


zembro de 1885, está para ler-se um artigo intitulado
O --nr. de Bismarck e o Bmsil e é como segue:
"Ha dills transcre\'elllOS um artigo dIt Ga.;etn de Campi-
1I((S, qlle COllllllentll\'ll 11m outro do .lfatill, ,le Paris, quo fazia
grave!! cf)n~itll:rl1çõcs 8l1bre fi politica colollisa,io!'a do grande
clll\J1cellcr allemiio.
"Hoje r,edimos venia para trIUlscrevc.', do cOITespon-
dente de Bedim para o Jornnl do CU1nmercio, li parte relativa
a eilSC 118I1Ulllpto, de tão yital iuteresse pam Il(í!!.
" Diz o conc~polldente :
(f A associação colonial allemã Deutsche Colonialvel'Ûn,
como conclusiio dOE; illqueritl18 e ('xp!01'IlÇÕCS por clin subvell-
eiollados na America, I esolvcu fundar lima S"ciedai/e de Co-
lUIlÎSa\'Üo pal'(l It .America elo Sill, cujo fim seril< ,'ucaminhar a
clJligração allcul:\ l'lira tcrnu, (Inde haja conùiçõ"8 Il llPrspecti-
yall, tanlo de prosperidade para o lavrallor, c,.mo ele prc8erva-
f(Îu du c(fI'/Iderllaciollal allelll/Îu (Dentsclttmll).
"Xuflla circular assignada pOI' varias pessoas, entre as
q 'laCil a "Irlla o IIOllle tio lleputll(lo SpidhCl'g, lie euja!; explo-
lHções c visitaR {Ul col"lIias allelll:ls no Brasil ° Jor/lal £lo
Cmlll/lercio telll liado eonta por varias veze~, "t'l'Ill r<'COllllllell-
(l.lllos o;; ERtaeloR do Prata (I a porção extratl'opieal do Bmsil.
-"ERRes t.e1'l'itol'ios offerecem eBpaço Rllffieient.e,-diz Il
"drcular que est,.n traduzindo litteralmcntc,- -para receber
(";oela IL utuigraçÜo allelll:L ua SUII.importallcilt aetnal, pOl' um
,,}eriodo li,·, ¡'¡'lllpO superior a Illll seculo. Tllm effectivalllento
«tllll,l sllpedide ,iez yezes maior ,lo que a elo Ílllperi .• aliem:\(),
.e a dCllsidaele ,b população não chega {~ oitava parte da da
«1l08sa ¡lilt. ia.
«Em parr,ieuillr, ° Sill do Hmsil toma pos"j\'el e gal'llnte
,'aprcscrvaç£10 dn li/lYlIa, cuslmlles e edllcação (Il/ell/ti"s, visto
«como a SIW popu./açÜo é mu.ito POllCO nlt/llel'osa e il/lIslrada, plll'a
«1'011,,1'deRviar It emigraçlÏo 1I111'IIIãda Rila uaciollali,lat!e, ao
«llleRmO t.l'mpo qlle () elemento al'emit .• já tl/Ill adquirilio alai
l<llllla podcl'<IBu sit.tlação. De facto, os ::!50.0lJO allemfle>\ quo
oacltlallUen te re,\Í.léltl lias pro\' ¡ncias meridionaef! 110 Brasil,
«VOllsrrV(lnl'J}l.-se alé h'de aUcm,ies, CO\]traste agrada ve! com
"OS n"~\lO:i patricios na America do ~o •.te, que rapil¡llllleut6
IISUCClllllbcllI Il superiorillaùe do auglo-saxolltsl1lo,u
Coutinú ..•.Il Ùjtl~ circular do segllillte modo:

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«"Sosul do BrRsil er contra Il prosperidade do emigrante
«mDa garantia. no facto d" alIi ser temperado e saluhre o clima
"e fecundo o 8610, de existirem feno-viRs fllcei8 de extender' e
eprolongar, ¡'ios navega'l"llis, além de que não ha Il•.cessidad~
«de combatl'lr os indigenall, e a proximirlalle do littoral facilit.a
«o commercio com o mundo inteiro e tornl\ possíveis tollns as
«transacçõcs .•
"A G/Jzeta de Colon :a, reproduzindo I\. circulaI', 1\I'cres-
«ccnta que" o interesse I,acional do povo allemio exi,ge, com
«urgencia, que se desvie Jara a America do Sul Il larga cor-
el'ente da clllignlção alIen,ã que vae para aAlllcrica <ie-Norte.
"Ahi, com effeito, csta cOlrente priva o genllallislno (Deut-
«R(:1.tum) de massas podelosllll fortalt'cendo outra Iladollali-
«dade; aqui, (no Brasil) ella conquista para (I typo allcmão 1101,'0
"campo, que offerece á m¡ e patria importantell "nn IngeJls.
«O commercio e indLstria da llossa patria Idio de :luferir
«.Iahi imllleJlSOfl proveito!. E' precizo, pol't:lIlto, que o emi-
«granle nIlelllão cncontro lla!!partcs inlligitadns da America do
,,8ul condições tiio favollwcill para o fWU elltab •.l~cillleDto,
Neomo as poderia ter na America do Norte. COllvém, pois,
"fnTlulIr uma sociedade financeira, quc dt-Jloi!! de minUCIOsa!!
"indagações. faça em larg:L escala acquisição de tt'lTas I\pro-
«pdadas, etc., etc.» .
• A provincia de San:a CntllllriJla, prosf'gue o conf'llpon-
dente, é a quc parece, sobrctudo, cllamar a attenção da Co-
lonialvcrcin.
«Fundou-so uma Ilodedade com o capital de 1.000.000
de marCHa (cMca de 650 contoa), dividido t'm 1.000 ac~õe!l de
1.000 marcos, !!ubllerevendo a secção bcrlineza da Colonial-
verein uma quantia avnltalla.
Ante-houtem,4 de Il,!tembro, teve logar em DU!llleldorf
uma importante reunião da associação, na qUill f01'l11llapprova-
dos os pl:nlOs acima mencionados, assim como a nomeação de
uma c'·llImi!!!\ã.o encarrega,la de visilar o Brasil.»

N oticias como esta; andam nas folhas do tem po es-


parsas ás duzias
Conhecedores do ri ;co a correr com o levan~ar no
munno um enormissimo alvoroço, se ollzassem tratar
terras americanas como li7.eram ás costas d' A frica e de
Nova-Guiné, rcceiosos dum conflicto armado com osEs-
tados-Unidos, que teriam a seu lado provavelmente a

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lnglaterra e Il França, deixaram o planoda conquista di-


recta do sul do Brasil, mudaram de tactica, contentando-
se, por emquanto, com a expansão do Deutschtum, com
a formação dum - Brasil Ge?'mani~o ou duma - .Alle-
manha. Antm·tica, que vem a ser a mesma coisa.
Neste sentido, a propaganda nos ultimos vinte e
cinco annos tem sido d'uma tenacidade, como só elles sa-
bem empregar!
Os esforços despendidos são extraordinari()s e os
resultados que vão obtendo esplendidos,
Se a propaganda em prol do allf'mani,çmo, do fa-
moso Deutschturn, é feita com tanto calor, com tanta in-
trepidez em paizes, nos quaes os allemães contam ape-
nas grupos de compatriotas esparsos e prestes a serem
.as!'imilados, que não será em regiões, como o Brasil,
onde elles acham o terreno preparad,' por grupos com-
pactos, que formam colonias cheias de cidades e villas
puramente germanicas ?
Para se comprehender o que é ella no mundo em
geral c peculiarmente no caso singularissimo do Brasil,
eis aqui algumas palavras do Ew'opéén, segundo a ver-
são do .Ionwl do Oommercio, de 5 de agosto de 1904 :

cc-Pelo trllllsbordamcnto da sua população, pela impor-


tllllcia do ~cu cOlllmercio de IIlém-lIIar, a AlIemllnha merece ser
e~tudada nOR incanRaveiR esforçoR quc empre~a para desen-
volverem tOllo o Uni\"f\rso o que ella chn!T1a o Deutsclltum.
isto é. 08 iuternSReR e IL fortulla allemñes. O cxito verdadeira-
n',ente nlltl'llVillwRO dCRse cmpreh ••ndimellto, Robretudo nos ul-
timosvinte annos. póde 11erIlttribuido á creação e ao fllllccio-
Jll\lIlento de ullla 1111ROciação que estende as Sl1as raizes a t,odllS
,lB camadal'l dlt sociedade allcmã e alaRtra os ReUR ramos pelo
mundo illteiro, It A'llgemeiner deutsche Schulve)·ein. Não RÓ-
mente ess:t lIsRociação se encarregou de conRervar entre os na-
eionaes estabeleci<los no est.rangeiro e entre os Ileus I1lhoR, os
coStUJJlóli e o idioma aJ:emães. IIIItSaihda Ile faz considerar UIll
instrumento de cultura. intellectual alltlmã e da producção in-
dustrialllllemã.

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.Em 1881, foram aB baileB da c.\Bi\ociação de Protecção


Nacional" SRsen tatlas por patl'iotas con hecidos, taeR co lilt) ~Iom-
mRen, Gneist, Brunner, Foch e tantos outros. Em de:~emhr().
desse llIeRlnO sIlno, rt'lIliz)u-se em Berlillll\ pl'imeira aBsem-
hléa geral e logo Re proce lell á completa organisação dit asso-
ciaçï.o, que logo começon t funccional', O tlleatro da .ua IIcti-
vidade ia. Ber a tena inteira; e se elilt a Bi meBlIH\ se prohibia
qualquel' acção politica or religiosa, em compenpação, fazia.
appello a todos, homells, l:lUlheres e cl'eanças, para levantarem
belli al to o hom renome d~ Alleman ha, para consel'var e espa-
lhar a sua lingua, para affirmaI' prudentemente, Illas com tena-
cidade, a excellt'll(:ia da Pl'oducção allemã,
Na Allemanha, 08 gl'llpOll locaell, as ligas rl'gionlles estão
sob a dirl'cçiio da cOllllllis;ão geral de Berlim, pre~idida l'cio
en.baixlIdor impe1'Îal Brau[)scheweig. Todos os mt'mbroB dCBBR
comlllissão aão Illtas pen'''nagens da adUlillislração imperial,
da armada, das lettrlls} da indnstria. e do COlnlllercio, A RSSO-
ciaçiio diBpõe hoje de um capital já considel'avcl, producto de
cotisações e de dtlpositOB excepcionaes. Além do auxilio pe-
cuniario. os mf'llI bl'os da associação preatam-se Ilpoio em tolias
118círCUIlIRt:lDCiaR,ainda 'lue a maior IIlUte só se cHuheçalll
de VI'r OBfleua lIomes lias istas da associação. De todos ()Spou-
tos do IIIUIHlo. Fe trocalll nfnrmaçõcs l'nI' meio de IIUIn corres-
poudencia. muito aetiva., faCIlitada pelaR agencia" con;mlares
do imperio, cujo ¡ll'illJeil'o dever é procnrar de qlJlIlqnel' proce-
dencia allemã as iufollllllçÕe!! qne lhe possam sel' uteiR 110es-
tr:llIgeiro. corl'endo estas d,spezlls por conta da chllllcellm"ia al-
le'''ã. AI(\1l\ diRRo, UIlIII !HTi()(lico, lios llIuitoR qne a. aSf\oc'l\-
ciação r"digl', Das llandc!JuÛ, des ])C/lt~C"tUllls illl  lIsland. põe
08 llasociado8 ao corl't'lIte 41e tudo o que lheB póde e dt've in-
teressal', do ponto do viRta do progresso da i"fluencia allelllã.
¡lO cstraugciro. Perco!Tenllo eRse period ico, que é o prind l'a 1
orgão 00 Delttschtl/7I1, ell( ontmlll-Re dildos helll eloqlll'ntes e
lluggestivos á"orca .la l'xpansão que aalllhição germanica alclln-
ÇOll elll tO.IOBOR ponto!! d,) Globo.
Dnze nlllllões de vasFllllos do imp';l'adol' Guillwrme eRtão
estabeleei.lns além-llIar, OII1.emilhões dOll quae8 Ilabitalll os E8-
tadoll-Uni,los. E' neste ¡miz que l\ mhsllO da ARsocinção se
toma mais ardllll plll'llmlllttn' em espírito e de facto o caracter
all"lIIão no!; emigrados. E', COllieffeito, sabido que, da Regllllda
geração elll ,lellhte, clIcs penliani a noção da sna origem lle
confulldiamlla maSRa da Il \çãfl Y1Î111cee •
. Para l'f'a¡!ir eontl'a eSloeprt'jlli1.O d(l "Dentacht.nllll>, tem a
As¡¡.oeiaçflOde defer.a dos i '\tel'eSSIJB allelllÎtl'.1\('lllpregadn todo8.

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os meios. Relações pel'SOReS, clldns, tenaz e enngicn lll'l'pa·
ga::Jda, de tudo se IlIu~ou mão t', em llouco, fOl'nJII ¡.x(,t,lIelltes
os resultados obtidotl. Jornaes em lingua allemã, ,clltlas I1l1e-
mli.s., clubs muito pratÏ<'os elll qlle se rellnem todas liS COIllIllO-
didade!l, qner para o habitante, qller para o forasl •.iro, II~SO-
ciações de spurt. sociedlldes mUndll.nll.R, de Ioda a nlllulezlL,
emfilll, teem mantido estreitamente as relações eUMe OB IIlle-
ruli.esdos Estados-Uuiùus e os seus compatriotas da ~:III"plt.
sEm S. Frauciclco, as estat.uas de Gœthe e de ~cll1l1er,
erigidas nORgrnciO!\Os tena<;os que descem subre as 11I111118 do
oceauo, que eglllllmelltc baulllt as costaR da China e do JapilO,
II10strarn C0ll10 a cultura ti illftuencia llllemãtl tornaram na ca-
pLal occidental d"s Estados- Unidos 1111'lugar prt'tlOllliIlIlUtl'.
Na America do :-,ul, seiscentos mil 1I1lemães COllscrvlIm
religiosamente II !;ua nadonlllidade. No BI'asU, ha cidadr8 qlwsi
teiramellte allemcîes e tendo tÍ votta
ill nUlIlerOSflS puvoal'ües que-
COll,stitÚt'1n verdadeiras colunias .•

Por estas palavras tem-se á vista um quadro rapido-


e seguro da amplidão e da segurança do systema. Vê·
se a téla geral e o ponto nel\'¡ occupado, de modo singu-
lar, pelo nosso querido Brasil.
O Deutschtum pelo mundo em fóra é uma aspiração,
ouzada sem duvida, mas irrealisavel no ~entido politico,
ao que se póde suppôr ; no Brasil, infelizmente, para o
nosso ponto de vista nacional, elle é uma realidade ...
Cresce todos os dias e ha de chegar, não muito
longe, a ser ameaçador.
Ninguem se illuda com as blandicias e negativas da
diplomacia.
A realidade não são as palavras doces do governo
allemão, babil em contemporizar, nem as dos sells sub-
ditos de cá, esperando o momento azada; a realidade
sito os desaforos da Pan/he", são os emissarios despa-
chados para as colonias, quasi todos os annas, para ani-
mar os patricios, que devem crescer e proliferar, até
chegar a occasião de se fundar o Novo Estado, na phrase
de meu amigo Koseritz .

••

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Ámicus Plaio, Bed magis amica Veriias, silÙ~et,Pa.,


iria!
Dando conta dos progressos do germanismo no sul
brasileiro- o citado Européen, de 2 r de j;weiro do anno
de 1905, inserio artigo, do qual convém citar algllmas.
palavras, segundo a traducção do Jornal do Commercio,
de 18 de fevereiro do ail udido anno :

"OS escriptores coloaiaes de além- Rheno procnra.m dt:s·


flertar o interesse da parte iIlnstrnda do puhliclI e do goverllo
emfavor do grande numero de allemãeB 1'esidentes no sul do
Brasil
'Pllr mnito tempo, hem pouca att.enção se preston a essa!!
communidarles longinqnl1!!, qne se consideravam como perdi-
dali para a mî\i-pa\.ria. Entretanto, importantes colonias ~er-
1II1111icas consegnirnm forlllar-se no Brnsi1 meridiollal e. dlffe-
Tentemente de todas, que se espalharam nOli Est.ados-Unido!! e
Jla Australia.-Rahe-se qU'1 estas nhimas se de>ixam prOlnpta-
wente assimilar; ellas tecI/I. 11l.alltido aqui, d" modo nOl~at'elJ (I
slIa orig;nalidade. As col mins 1urnes cOllser vam o lien ca-
racter d¡"tincto. principallllente as que so estendem na vertente
da Serra Geral.
«A lingna allemã, na qual se introduziram alguns termos
portuguo7es, é a unica uSlula, e alllUa.ill dall vezes a uniea com-
prclltmdida.
<dWa se impoz aos J'I'oprios brasileiroB, e até aos pretoil,
que "ti misturam com a p"Plllação irnmigrada.
"E' sómente nas tres provinciaa (hoje deve-se dizer nos
t·res EstadoR) do sul do Brasil: Paraná, Santa Cath:u-ina e
nio Grllnde do Sul, que o~ allemães teem flln,lado estabel,,-
cimentos agricolas durave Il.
Nurne)'()sas ooloniaa 1.1Iemãs espalham-se hoje pelo terri-
torio oriental lia parte sul do Bmsil, desde Oil anedores de
t:U1'ityha, capital do Paraná. até Pelotas. Entre Mundo Novo
e Santa ~Iaria, ell'ls formam, em ullla extellsão dc 300 kilome-
tl'OS, uma cadeia muito lig'ld:\. Estão, na slla maior parte, si-
tnatla~ Robra os deel.ives ·la Serra Geral, reverso orilmtal e
meridionallio vasto planalto, que, tendo volt.ada para o AUan-
tico a Ilua maiot, altura. se inclina, Da direcção do oéste até 08
valles do Paraná e do Uruguay.
Comprehende no tod ••, cllm o accres('imo fornecido J.elas
chiades visinhas, 300 l~ 350 mil allemãe;¡, dos quaes 50 mil DO

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Paraná, 100 mil em Santa Catharina, e 150 a 200 mil (estes


ultimo!! saidos Jla lIIaior pal ttl da Pomerania e do HUlllnück)
nu Rio Gnmfle tIo Sul.
«Graçlls á IIIt.it.ude muito elevada do paiz. são favoraveis
ilS t.londiçõtls clilllatologicas. São muito nUlllel'osas liS falllilills;
a faça conserva todo o "CU vigur, e não se vêlll cm parte ai-
gUilla, nelll mcslllo na Allelllauha, aDlostras Illais sãs e \liais
aU';henticlls,
A. Allelllllnha t.em o lIlaior e o nIais real intere!l!\e. a¡)
III1:'SIllOtelllpo \IIornl e ecollllmico, em preservar II \II/lill pO~!li-
ve! de ahsorpçâo e ••~nR coloniaR rdlltivalllente nUllleroRas, que
fiCdlll inlpreglllHlas do seu "spirito e são fieis dientes ria Rila
indu!ltria. Ella quereria hoje fortifical-as, dirigindo para ellas
os eltllllentos que não póde cOJlservar JlO seu pl opdo seio.
"O governo allelnÏlo tO\llOU, ha IIlguns lIIezes, lIIedidas
ne;¡se sent.ido. POllerllRlIs COllipl\lIhia!\ particulares talll helu 8e
occupam em orgllnizar no 'Hll do Bra!\il elllprezal' de colonÏ!m-
çfw 0111ponto grande. () N01'ddeutsche Lloyd e a Hamburg Sh-
damel'ik ['inie, de COllcerto 1.'011Ia Associação Colol¿ialllansca-
tica, adquiriu. nil viRinhança de D. FrllnciRCIl e tie P.!ullIeUI\U,
um val<to dOlllinio de 6 500 kilometros quadrados, Jlfilll de ills-
tallar nelles aldeões ltllelllães. Na região fil>l'f'stltl dI> rio UI'U-
glla.v, o Dr. Hermann :\Ieyt;l' fundoll uma colonia nova e im-
portan te.)l

Por todos estes documentos, por todas estas cita-


ções, creio que se terá comprehendido a gravidade do
caso teuto-braliileiro.
E' vital para o Brasil ibero-latino, e admira que o
auctor lembrado em principio, num livro em que discute
o~uturo das gentes latino-americanas e innumeras theses
de omni rescibili, não tivesse encontrado duas palavras
para lhe consagrar.
Mistér é aprofundar algum tanto a excepção brasi-
lei ra .
De vinte e cinco a trinta annos a esta parte, não
pereo ensejo de despertar a attenção dos brasileiros e
des poderes publicos da nação para esse gravissimo as-
sumpto.

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Releva flonderar 'lue alguns orgãos da imprensa do-


paiz não se teem deixado ticar mudos deante das pertur ..
bações que nos ameaça 11.
Não faz muito tempo, o Jornal do Comme-rcio, do
Rio, qlie tcm sido um benemerito nesta questão, publi··
çuu um magistral artifo, que deveria ser tirado em avul··
iO e espalhado gratis por todo o Brasil.
Retiro-me ao anigo inserto no seu num. de 6 de
janeiro de 1905.
E' uma magistral noticia critica de oito publica-
ções allemãs relativas lO desenvolvimento das colonias
germanicas dos nossos estados meridionaes :
1- Das Deutschtum in Südbmsilien und Südchili,
do dr. Alfred Hettner;
11- Deutsches .E.olonistenleben im Staate Santa Ca-
tharina, de Hermann Leyfer;
111- Die Besiedl;.,ng des oestlichen Südamer;ica mit
besonderer Berucksicht :tung des Deutschtums, do Dr, AI·
fred Funcke ;
IV-Die Deutsc}.~n im Tropichem Amet'ika, do dr.
Wilhelm Wintzer;
V - Brasilien und seine Bedeutung fUI' Deuts~hland¿r
Handel und Industrie, do dr. \Valther Kundt;
VI - Deutsche SÙdlung über see :- Ein Abt'iss ihet'
Geschegte iher Gedeihm~in Rio Grande do sul, de Alfred
Funcke ;
VII- Katschlage für Auswandercr nach Südbrasi ..
lien, do dr. R. IannasÓ¡
VIII - Deutsch( Interessen in Brasilien, do dr. R.
Krauel.
E' este o vasto manancial de informações que che ..
garam a esclarecer o atilado espirito do articulista.
O debate é daquelles nos quaes nunca é dema ..
siado insistir e em qut: se deve entrar munido de toda!;
as armas.

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Em um estudo a que d~vo imprimir accentuado es-


pirita e destino de propaganda, seria um erro deixar de
aproveitar o auxilio provindo de uma auctoridade como
a do .Jamal do Commercia.
Por isso, aqui vão as palavras que em brilhante syn-
these abrem o a\ludido artigo de 6 de janeiro do anno
p2.ssado c que traz por titulo: - Allemães no Brasil.

«Ao problema colonial, nit Allemltnha, estão ligados OB


mais altos interc8t!es econolllicos; nelle, de certo modo, se ra-
dicam os ,lestillos futuros do imperio E' por isso que uma
gJ:mde parte da opinião publica lI11elllã~stá constllntemente
voltada pam elle e que todos os aS!:lumptos que directamente
ou inùirectamente entendam CClmessa questão capital teem alIi
Q poder de IIpaixolllH os espíritos.
"O rapido desenvolvimento de uma população assombro-
samente prolífica, compriwida em um territorio demAsiado
ey.iguo, gerando o lIlaI e8tar Il Il penuria nas tllasSIlS inferiores,
actlssada até os extremOél do !ittoml pela pres!lÍ1O de necessi-
dll.des cada vez mais urgentcs; de outro ladu, o poucu successo
d" antigas tl'ntlltivas no sentido de dilatar os limites do im-
porio pela creação de duminios eoluniaes ou paizes de protec-
torado (Schutzgebíete), como lhes c}lalllava Bif\marck, fizeram
com que ceùo a AllcIllanha }¡\IIçasse as IlUItSvistas para o pltiz
-que de todos se lIfligurava o mais apropriad •• a receber, com
o excl'sso da sua população, o influxo da civilitlllÇão gonnanica
e realiZI\r, atrllvéz dos mares, o sonho ambiciuso do prolonga-
mento da terra allemã.
«Essa nova pàtria, um dia os lI11emães pensaram tel-a en-
contradonos El!ltados-Gnidos. Durante annos, vapores saidos
de Ham burgo, Bremen e portos tlo norte IleRpejal'am no vaRto
lit.toral norte-americano levas numerosas de colonoR, destina-
dos Il derramar em sólo yankee a seml'nte asperrima do Deut-
8ehtum e fazel-a fructitlcar para gloria e proveito da patria Ion-
gi nqua.
«Não tardou, porém, que na Allemll.uha se verificasse
quanto eram fallazes essas esperanças.
«Transplantado para os Estados-Unidos, o allemão tor-
nou-se em breve tão norte-americaDo como o mais legitimo dOl
yankees, e o mais acerbo concurrente da mãi-patria. O valor
da emigração era, portanto, completamente faIBo; o vasto
plano de germanissçflO frustrara-se lie maneira deploravel.

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"Foi então qlle C8par¡ tos 8agatleB, tlinjantes eXJle!'imentaaOl~


que tillhallt visitado o noss,! paiz e admirad,) tie perlo riquezas t'
marltVillUlS le"/l1ltarCl1n as idéa8 da coloniwção do Sul du Brasil
ondp., desde 1825, ti1lhum dndo fixar-se CIS primeiros Í1umigranlc¡,
allemãc8,
"Qnem diz potencia (olonial, diz implicÏt.lIllJente esquadrll;,
diz força maritima.
uA Allemaulta, POI' muito tempo reduzida com os seUH
poucos gUllrda-costas a Ulla estricta defensi ••a, e¡;ta VIl, é fOl'ça
cunvir, bem pobremente apparelhadn para a fUIlC'çftu coluui-
sadol'l\ a que il impellia ( refluxo vertiginosu da sua pupula-
ção sempre crescente, Es;e estado d~ cc.iR:1s flurou ,tlé á datil,
da fllndação do imperio; II. Pl'IIl!Ria e ORestlldoR 1IIllrit.imoR al-
ICll1ã/'s chegaralll a 1870 UhRolutllll1ente de¡;pruvido!\ (:If; navio@
de cUlllbate. O scculu XIX, fecutlllo de glori"Rll~ prulllC¡;SllR,
realizadas urnas, outrRs apenas eshuçadus. não flevia pasRIlI'
8eUl qne lhe fos~e dacio II¡dstir li soberba eclosão de uma nO\'1I
grandeza mllritiml1, que !.e aununciava,
"AI' gerdo de Guilheru.e If deve a Allelllanha o ter afi-
Dai adquirido a iuteira ccn¡;ciencÏa dos sellR d(·¡;tiuos maríti-
JIIO!!e mait\ lhe deve o tel' reunido, com ¡.nlso imp]¡lcr,vcl, do
chaos em q'w se achavam, OB destroços eSparBO!! da sna frota
para o apogen do pre~ente,
"Assim, de dlOfle a AlImllllullIt, viu·se erigi(la em poten
cia de 1a ordem e, eondem uada outr'ora a uma c!\trieta defen-
8iva, entrava desas80m bl ,,<lamente na politica mnll/lial, appa-
relhada de elelnent08 forlDidllveis que, Be lhe não aSI>eguravlull
a supremllcia, certament.f a col1ocavam em lo¡;ral' inv/'j.Hvel en-
t,'c as nações armadas. Em C((SO de g1lel'ra. a..d llemalllta tomará
a offellsi'b·(t; não são do p!OplÎo imperador estas palaVI'aB me-
moraveis dirigidas aOB sells almirnntes e que bem cxptimelll o
pensamento do act.nal monarcha'"
A politica de expamão inaugurada l'('lr Bisrnarek, evi-
dentemente a contra gosto epm'(( acumpanhar a co!'rell te, como
elle proprio declarou aoReichstag, achou no rehelde neto do.
8eu IUlgUSto amo o mais eminente e decidido campf'ão. De,
anno para anno, o pensil mento de GuilJlerllle II vem arlqni-
rindo novaB e 8urprchend entes fórmas para a BUll.cJ'YBtallisaçã<J.
integml e lum ¡nORa. fi que o mundo civilisado al!t\i~te com
Rs!!omhJ'o e admiração ta'vez, mas a que se miRtura certa-
mente um Rentimento m lito uatural de apprehensão e receio.
"Do que fica expollto póde-sc av~liar a profunda revolu-
ção que estes ultlmos allil"S aBsignalalll na marinha I\llemã.
Qui~elUo~ aceuar para o facto porque, como nenhulD outro,

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elle nOIl parece l\cc~ntuar l\ nova orientação pnlitit'l\ da Alle-
manha e, maill propriamente, do kaiBer, e porque It Ol'bita da
IItH\ influeucia, longe de estar de todo percorrida, ainda mal
Ile delinea no horiwnte de um futuro mais 011 menos rcmoto.
eNo Bl'asil, sobretudo, estas questões seriam bem dignas lie
exoitar por um pouco IIfakirislIIo indígena aboloralia no açude
de uma nefasta poliNca de campanaTio, c myope absolutamente,
do mna m.lJopia inclll"l!vel além da orbita restricla dos interesfes
do momento, AB nMsas relaçõe,.. com a Allcmanha, relaçõe!l da
ordem muitu especial e que l.t·ndem uece@!lariamcnte a avolu-
mar-se pam o futuro, não nOR pódem deixar indifferentes no
desenvolvimento illceBsante das slins furças exp/lllsivnR, ao
N.pectaculo incompara\'el de S11a p11jnnç,~ sempre crescente.
Srlo facto' es esses que 11110 de jiLto/mente, tm'de ou cedo, surpre-
hel/del' a prudencia dos nossos estadistas.
cA cifra total dus colonos allemães eRtahelecidos actual-
n'ento na zona mcridional do Bra"il (Paraná, SllntlL Catharina
e Rio Grande n.o Sul) pÓlie ser calculada, á falta de fiados es-
tr.tisticos exactllR, cm cêrca .le 350 000. Pam alii vieram
desde 1825, alli Be fixaram em vastos tArrÏtorios ¡}cspOVOlldOll
ou em pleno serti'io, desbastaram a matta, abriram picarill8,
al'rotearam os campOR, plantllram e edificaram e, :í força de
labor iusano, njudados pela opulencia de um sólo l1berrimo
qle só e~tá l'edilll}o brnços e IIctivitiade quc infelizmente não
!lOencontram nos natnraeR, em breve crearam llu;:leoR lIoree-
centeR, colonias importantes e populosas, animada!\ por urn
cmnmercio diligeute e productivo, centros de bem eatar e de
furtura que f¡\zem o enclluto dos que visitam aqUl'lIeR lugareR.
c1\-las no meio desslL opulencia que veio achar na tl'rra
alheia o immigrado allemão, expellido da patria. pelo espectro
da fome e da miReria, o allemão conservo?t no pais adoptivo
a piedosa e indestructivel fidelidade á lerra natal, aos fiSOS e
costumes do norte, a sua lingua, as sitas tradições, e, ao contra-
rio do que suceedclt nos Estados- Unidos, onde o elelltento na-
cional absorvera por completo a elemento estrangeiro, no Brasil,
depois de muito mais de meio Reculo de residencia no paiz,
aquelle colono é ainda hoje tão profundamente allemão <lomoo
que primeiro aqlti aportou de RlI1nburgo ou Bremen tÍ cata dt
p!io e trabal1lO.
cNão entraremos no exame dlls circumstanciall que muito
p!"ovnvelmente terão influido pal'll semelhante situação; 0110180
intuito If apenas orientar a attençiio para eSBe exquisit{) eslado
tk coi8aB a que a ,abedoria dos governos serd chamada· a por

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alguma ordem, se não par" remediar os malc, já existentes, para
conjW'ar peiores futuros.
«Ternos á mão uma b)a duzia de br<>churas publiclldas na
Allemnnhll. sobre o ll.SSUllll'toespecial da colonisação nos n08-
808 Estados do sul. NeR~es escriptos, datadoli t(\dos de '~pocha
.muito recente, entre 1900 e] 903, t\Ob a fórma de consdhos ti
instrncçõlls aos immigrantes, de monographias historieRs, de
relat,orios ou simples narrB ti vas de viagem, a propaganda da
emigraçãQ pam o Brasil é.feita com entllUsia871w.
cAqui,já se vê, não ,~xi8te o .perigo·, que comprometteu,
por exclllplo, o plano de c .lonisação 1I0S Estados- UnidoR, Fi-
xados ellt fl1"lm,les massas, em um territorio excepciollalmcnte
favoravel ao estl1.beledmcllto do col ••lIo europeu, isola.los do
resto dos naturaes por dil.tlmcias materÏaes consideravds ql.1e
difficultam, senão imposib litlllll, um cOlllluercio seguido COIU
o bmsileiro,fortes,alem disw, da c01lsdencia de sua sllpel'¡oridade
de raça sob¡'c o elemento indigena ':falso. ignorante e ind.·lentc').
que elles desprezam, com o qUltl mío azem liga e de qllellt 8Ó
querem a terra, que é geDerosa e Cllpa:/: de produzir todos os
fructos daculturl\ eUl'opéa, confiantes alé"I disso na longanimi-
datie dos governos locae8, q/!e. absorvidos 1,elos peql(eninos in te-
re~ses d'l politica, os abanàoll1?n aos seu.~ ree/o'sos p"oprios, 08
~olonos allenlães apreseutall', n08 Est,tdos do SId o cio'ioso pheno-
mello de um'l população á plrte qtB vive sobre si, q/M seadmillis-
ira e se governa, onde /lOI/lit'¡ a cultura allel/tã, onde o c,pirito
allemão prevalece e é alimlntado, de goração em geração, pelas
eondiçõefl do m~io. pela pntica da religião, que é exercida por
sa&erdotes allemães, pelo IUO da linglta, que é exr,[usivnmenttt
allemã no povo e nas unica,' escolas existelltes, onde o ensino é
ministrado e/U allMniio, por jlrofess(,res allemães, mandados vir da
Europa á cu·sta dos colo,trls," sltbvenci,mados pelo !!overno impe-
rial. ~m taes condições, niLo floria de admirar que a absorpção
pelo elemento nacional fo~se aqui um facto quasi material-
mente impossivel, e ql1e eSla po!,ulação de 850.000 alml1.8, que
dia a dia, vae crescendo e se lIIulti}llicando pela constituição
de familias 011 pela acquisçlio de novos elementos vindos do
estrangeiro, se de um (a.tll está geographicamente lUais perto
de nó" pennanecesse, comt!t.do, intranzigentemente alheictda de
1I6s po,' a.ffiltidades de ?'a.ça, costumes, tradiçõe8 e tendencias, e
constituisse no nosso proprk meio um elemento antes hostil, e, por
venlura, capaz de affirmar, el/l uma opporlunidademai8 ou meno,
remota, essa conezão effeclitJ.l com a mãe patria.
Sobre essas viMta. geraee parecem estar de accôrdo todo.
6.8 auctores dos lUencionac.03 e8cl'j }lOOs.1l

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__ 3'\ ---'

De posse das premissas, estabelecidas ellas com


toda a segurança, poderei agora desenvolver a minha.
.argumentação e tirar as consequencias.

III

Conhecida a necessidade que sentem os allemães de


·emigrar, dada a noticia de suas colonias politicos e de
suas colonias comrnprdaps, estabelecida a pertinacia da
propaganda do allemanismo até entre as nações sobera-
nas, determinado () caso singular de sua situação ?10 sul
do Bmsil" re~ta considerar as consequencias futuras que
dahi podem advir á nossa patria.
A ntes de tudo, importa considerar o e.~tadode espi-
,oito das gentes das colonias situadas em nosso paiz.
Esse espirito nos é adverso.
Ao passo que nos Estados- U nidos,- segundo in-
forma J. Stoecklin. - il est d'autant plus difficile de
reconnaitre les citoyens américains d'origine allemande
ºUI~ ln plI/part d'entre pux ont honte de leur m·igine et ont
ang7icise' [pur nom : les Zilllmermann sont devenus des
Car]Jf<nler, les Braun des Brown, les Lõwenstein- des
Livin~tt)ne. etc. ; ao passo que nos Estados-Unidos os
alIemãc!'; e sellS descendentes se deixam attrair gostosa-
mente pela sociedade anglo. saxonia, no Brasil fazem
·vida á parte e nos aborrecem evidentemepte.
As provas do facto são innumeraveis, evidentes e de
todos conhecidas.
O aferro que mostram por sua linguagem e tradi-
ções, que não trocam pelas nossas, é uma dellas e da
maior importancia.
Se nos estimassem, é claro, deixar-se-iam assimilar
·no meio de nossas populaçõcs.

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o desprezo que ostentam por nossa vida publica~


da qual não participam de propositu, é outra prova irre-
fragave\.
A abstinencia é tão completa que chega a pareëëi-
materialmente impossive ..
E' assim que se p6d'~m ferir, e se têm ferido de facto,
a seu lado, em torno de suas terras, as mais intensas lutas
entre as populações bra,ileiras, sem que elles dêem o-
rnais leve signal de vida.
Importam-lhes menos do que lhes importolJ a~{!cr-
a entre a China e o J apã').
Assistem impassive,s, e com secreto gaudio, ás dis-
senções políticas dos rio grandenses, dos habitantes de
Santa Catharina e Parará.
E' "Comose fossc::mcodendas de estrangeiros, de tri-
bus africanas.
Prova evidentissimé. de que não se interessam por
nosso viver, nem fazem :a50 das aspirações da!> gentes.
entre as quaes se vieram colIocar.
Este signal tem toco pezo para quem sabe o valor-
dos phenomenos sociaes, como força impulsora da acção
politica, e o valor do estado d'alma das populações, como·
força determinante do estado social.
Existem, em cerca .:fe 38a.ooo pessoas de origem
germanica, residentes no Brasil, seis ou oito que para
confirmar a regra da abstenção de seus patricio s em
tudo que é puramente hrasileiro, se mettem nasluctas
partidarias locaes.
São raros moç03, filhos das cidades, ordinariamente
nascidos dos rarissimos consorcios de allemães com bra-
sileiras, desviados em parte do pensar genuinamente ger-·
manico, que se deixam lttrair por ambição politica. E"
excepçãosingular, que nada vale.

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- 37 --...
-

Sua aversão, por tudo que é brasileiro,


seu desprezo
'menos a·terra que chamam sua, é attestada pelos poucos,
nacionaes que ouzam viver no meio delles nas colonias
{;ampactas.
Começam os nossos por ter vergonha de falar a
nossa lingua, por serem chasqueados quando o fazem.
Elles é que teem de aprender a lingua estran-

gelra r....
Nessas colonias, os actos officiaes, os processos
j Jdiciarios, os despachos dos juizes, os editaes das cama-
ras, tudo, tudo é em lingua allemã.
Se algum juiz, se algum promotor publico tenta
reagir, é posto habilmente para fóra.
Digo habilmente, porque a calma, a fleugma altemã,
€sperando o dia do Novo-Estado, sabe agir com um tino,
com uma prudenciaadmiravel.
Mas para que gastar tinta em provar causa de todos
sabida, COllsa que fingem apenas ignorar os nossos des-
briados e infamissimos governos, que tanto teem de
ineptos quanto de covardes!
Os proprios allemães, quer viajantes, quer colonos,
o confessam com a maior sem-cerimonia e evidente
prazer.
Tenho aqui duas provas á mão ; uma deltas é de
viajante e a outra de sujeito quc vivia em Porto-Alegre,
e, alii mesmo, numa cidade que é a capital do Estado, e
ainda é em grande parte brasileira, .não trepidava em
revelar cruamente o pensar de seus patricios a nosso
respei to.
Eis aqui o depoimento do snr. Alfredo Funcke :

a •• Como TflpresflntanteR do povo hrRRileiro, o colnnoal-


lem1io s6 conhece o hahitante l1a lIerra pl'opriament.o dit.o, in-
digente e ignorltnte, li o fllnccionlll'io publico. O st'l1'l'llno hostil
It ttulo traoalho regular, contlemnRoo a oterna penuria, 8em fé
,nem probidade nas relações COlnlllcl'ciues c 110 trato, além diaso

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não raro oriundo de .aoguH negro ou mestiço d-e iudio, vivend().
"Vida de mancebia, eutregu( a to.iOB OB desregrmnentos dos sen-
'idos, llão podia servir ao lavrador alIemão de eXIlInplo digno
de iocrimitado.
~Quanto ao funccionnrio publico brasileiro, que não vê no
emprego senão um meio de passllr commodalllente a t,ida, geral--
mente ~us{'eptivel de subornll e oulrasilljlulJnt:Íus congeneres, que
jlÍlIlais cumpre o seu dever h,mradmnente nem pontualllttllte, o sell
e-:s:emplo pl'o"Vocanecesllari lmente Il comparação com ,)\il seus
colIegas aIlllmãcs. Sem •.lhante cotejo era de nat\lrllza Il. infuu-
dir no auimo do colono o desprezo pelo brasileiro culto. A
tudo isto vinham juntar-Be eXI)erieuciall perlAOIW;;III1I!relações
COlli as autoridades e esped,llmenfe C~1na magistratura, rdaçóes-
em que o colono allemão saha prejudi/'ado e ludibriado.
cA observação de qU'l tambem os bmsileil'Os aballta.loil
iam decaindo progressivamente devido a ulUa ecoJWmi,!1dlls-
úrdenada, além disso 08 calos de parentes empnbl'ecido~, cai-
rem com l\ lUellor sem-cAI'~monia nas cost.us de outro!! t' lIIui-
t.o frequelltemeute os ajudarem a devomr minguados IIlI.verea
não podiam de modo algull attrai\' para. o natural do paiz ao
8ympllthía do camponez alIillUão, sempre tão ecollomico Il pou-
pado .•
Não se póde ser mds rudemente franco; só a mais
ossificada estupidez, ou o mais revoltante cynismo o
poderá negar.
~ó o proprio Alfredo Funcke poderia ser ainda mais.
franco e foi nas seguintes linhas, em que se refere á pro-
tecção que o governo all ~mão deve aos seus subditos do
Brasil:
cEssa pmteeção natufl.lmentesó póde ter valor parll o al-
lemño emigrado se a força rl o imperio estiver fuffici.-nternente-
reprel!entada pelo pavilhão dfl guens. Os l,vlcricanos do Ilut
lJo.ftrem todos de cxaggerad.lll'reslunpção e sórespeitam os direitos
do estrangeiro segulldo o que a amistosa visita de vasos d,. gllerra
proximos lhes refresca na mCl/loria, com frequencia signijiclltiva,
a certeza de 11m desforço assiAs/ador em caso de attclltado.»

Estas gentilezas de F uncke occorrem no citado ar-


tigo do Jornal do Oommercio; de 6 de janeiro do anno
passado.

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l\lais insultuosa no proposito de nos injur.iar é a


poesia do professor allemão, de Porto-Alegre, o snr.
è.r. Frankenberg, lente da Escola Normal, qué assim nos
pagava o bom emprego que desfructava.
E' um Hymno nacional brasileiro, no sentir desse
poeta allemão.
E' documento de vinte annos atrá7., prova de que,
se a propaganda para nos invadir é antiga, não o é me-
nos a tendencia para nos menosprezar.
E' da Gazeta de Noticias, de 15 de setembro de 1886,
na qual se lê :

~No DentRche P03t, jornal que ~e pnhlica em Porto-Ale-


gre, Eoh Il. direrçflO .10 DI'. Frnll ellhcrg, lente da Escola ~(ll-
mal, appare('eralll uns ver SORelll fónlla de llJlllllO, (Ine foram
tomados corno ri,lkn!arisalldo o BnlRil e o nosso exercito.
A Reforma deu a trndncçûo dessell versos, qne é a se-
guinte:
HTlINO NACIONAL IlltASILEIRO

"Tens fl'ijûo preto () milho, tens xarqlïe e tnueinllo em


all\ludancia, tells as mais grossas batatl\8j-Brasil, que que-
:reR ter maia'
"TCIIR qnant.idade de vinho nacional, fabricAR de cerveja
(\ licOI'es ChriRtotl'cl, Happ, Bec el' c Campauij-Bl'l\sil, que
qneres ter mais~
cQlliio bOilS seriam Ol! caminho@, corntallto que não cho-
vesse, e 110 emlanto Rão pantanos e baraco~j.-Brn.sil, que que-
l'CS ter mais Y
CCOIIIOformigam os bamlh lho~ e ladl õe", iSRo chn.rnamol!
em allemão-milirareR, e¡;scs devem defender a patriai-Brasil
que quereR ter mais 'l
.Os pequenol! garotOf~ RlÎOprcsl1s, os grandt's vivem AR
I!olta¡; o meRmo têem titulos pompoeosj-Bral!i1, quo queres ter
mais 'I
«Tens trt'!! partidOR, ó miserin.! eS8esllmarglll'l\m-te a vida
tene meslllo o Martim do prl\tltj-Brasil, qlle queres ter mais'

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E dividas, e dividas, e dividaB, sugam-te os cofres de um


todo, e estás dirigi.io pam o abysmo;-Ihasil, que quet'cs ter
mais' -.If. tUlstasi1l8 Btau ~
cCollhcdda e vulgarir.ada })ela cidade eBta tradllc.~ão, o
povo illllignou-Be e l'euniu- 3e fim meeting, para pl'OteBtllr '~ontl'a
o ultrage e pedir a puniçî\,) do seu au<,tllr, ou, pelo meuos, do
director da folha que o inB ;ril'l\.
A' vista da attitude <to puhlico porto-slegl'ense, a presi-
dencia da provincia demitI iu, fi bem do serviço pJl,blico, o Dr.
Fmu:;ellberg, do cargo de lente da Escola Normal.
A em preza do jomal a lemão, por slla vez, e COIllOpwtesto
ao S('1lprocedimento, delllittiu do cargo de l'edactol'-ch.;fe da
l'eferidll. folha, o 81'. Frau ·m berg.
A' ,illta deslllls plenas satisfações, serenaram os espidtos.~

Houve em 1886 este pequeno alvoroto que trouxe


a demissão de Frankenberg.
Tudo, porém, caiu logo na usual modorra; a nossa
incuria continuou a donnir j o allemanismo social e po-
litico proseguía na sua marcha ovante.
Hoje, nem talvez fo~,se demíttido da Escola Normal
o lente que escrevesse c,u consentisse, em sua folha, o
tal HI/mno nacional brasileiro ...
O Deutschtum tem f,rogredido tanto que, ao menor
abalo, surgem por cá se'ls enviados I',¡;traordinarios, que
teem recepções principescas, como se fôram chefes de
Estado ...
E' incrível i chega-s·~ até él se lhes manifestar (I de-
sejo de que seus patricios façam cada vez mais uzo ex-
clusi\·o da lingua allemã
Parece u m sonho.
Mas é triste realidad~ ...
Ainda ha menos de dois annas, tivemos exemplos
em Porto-Alegre.
Lê-se no Jomal do Commercio, de 14 de julho de
1904 :

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« Porto-Alegre, 13 de julho,- Foi hoje recebido


pelo presidente Borges de Medeiros e pelas auctorida-
-des estadoaes o dr. J annasch, que se hospedou na Pen-
são Schmidt, onde o governo lhe mandou 1'eservar apo-
sentos. »
Este Jannasch é um dos taes queinfluem nas Asso-
duções de Emigraçãù, em Bedim; tem as vistas vol-
tadas para o Brasil, onde aparta de vez em quando.
Sempre que se levanta alguma poeira nos jornaes,
sempre que se allude ao perigo aUemão, elle toma o pa-
qt:.ete em Hamburgo e salta em Porto-Alegre,
Vem encarregado de fazer discursos, para apaziguar
·os brasileiros ...
E' missão por elle cumprida habilmente.
E' bom orador e conhece de cór os lagares com-
muns amados pelos nossos patricios: f'mternidade dos
homens, patria universal, p)'ogresso de todos, paz geral,
chimem do pe1'igo aUemão, inventado pelos anglo-america-
nos, que nos qUCI'cm conquista,'., .
De tudo isto lança mão o intrepido homem; e o
~mais curioso é que os brasileiros se deixam convencer,
A sua vinda de ha dois ;Ulnos foi motivada por certos
'alal'mas, apparecidos em folhas americanas e inglezas,
ácerca da crescente influencia dos grupos autonomos dos
germanicos em terras do sul do Brasil.
Jannasch partia sem demora,
Chegou, falou, aconselhou aos seus pat1'icios que não
fossem nativistas, que nilo (ossem exclusivistas oontra os
brasileiros: mas que, nessa meia união com os nossos
patricios, não esquecessem suas tradições, sua lingua e até
·a sua musicu " .
Isto li eu nos jornaes do tempo, que sinto não ter
agora á vista,
Era o carro adeante dos bois, prova da consciencia
-da. força de que já di¡¡põem em nossas terras: em vez de

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pedir aos brasileiros qle não uzassem de nativismù para


com os allemães, aconnelhava a estes que não o empre-
gassem contra nós.
Isto pinta a situaç'io.
Era tambem contlaproducente e manhoso; porque,
ao passo que batia o e~:clusivismo, exhortava sua gente
a não deixar a sua lingU'J. a surt litteratura e até a sua mu·
sica, coisas da paixão caracteristica do allemanismo.
Telegrammas vi, passados para cá entre o citado de
13 de julho e o que se ,-ai seguir de 18, que davam conta
da recommendação ácelca da litteratura e da music,1,.( I)
Não os tenho á vi~ta ; mas aqui vae um de 18 de
julho do dito allno de 19°4, pelo qual se conhece niti-
damente o conteudo d,)s discursos de Jannasch, não só
pelo que delles se conkm no alludid0 despacho, como
pela resposta do pre5id'~nte do Rio Grande, em que de-
clara não pedir aos alle.nães que renunciem ás suas tra-
dições, á sua ling¡ta ...
E' incrivel.
Eis aqui:
« Porto-Alegre, 18 de julho.- As sociedade,:; alle-
mães aqui existentes cffcreceram hontem uma ~~rande
festa ao sabia dr. Jallnasch.
Estiveram presentes o dr. Borges de Medeircs, pre-
sidente do Estado, e diversas outras auctoridacles fe-
deraes e estadoaes.
O dr. Jannasch pronunciou um brilhante discurso
no qual aconselhou os sets patt'icios a se unirem aos bt'a-
(I) Dopois ,l'isto escripto. ol,tive o rehUlUo do famoso discurso do .Tan-
nasch. Disse ello ontão:
.• Os al1emios não dovom osquecer aB trndiçõa8 que nos ficaram
do Loipzig a do Waterloo. de 1313 e 1814, as tradições quo nOR legaram os
grandes vultos que foram Las, ing, Gœtho. Kant o Humboldt, .8 t,adi··
\lÕOS do luro"mo, da lingWl. da lllerolura é da m,••ica Rl1omã. ESS"R devem
elles consorvar e cultivar com() 08 sens bODS ma.ia va.liosos e meia caros •.
puis ellas se tornaram a n088a ~eligilo,.

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8ileíros e especialmente aos n'o-grandenses, condemnando


abel'tamente opreconceito nativista e o excltlsivismo que
separa os raças e separa os homens, quando a verdade é
que a ci vílisação moderna procura reunil-os pelo desen-
volvimento commercial, artístico, scientifico e maritima,
O orador, proseguindo. na mesma ordem de considera-
ções, atacou com vibrante energia a decantada chimera do
perigo allemão.
O dr, Borges de Medeiros, num improviso bastante
feliz e cheio de conceitos patrioticos, disse tambem não
ter l'eceios dessa utop'ia que anda fluctuante em alguns
espíritos tímidos e eivados de preconceitos.
Continuando, o presidente do Estado declarou não
pedi?' aos allemues que l'munciem á sua patria, ás suas
tradições e ci sua lingua; pelo contrario, é que honrem
a terra de origem, porque assim honrarão tambem o Rio
Grande,
Terminou saudando a confraternidade dos dois ele-
mentos, germanico e brasileiro, 'sob o influxo da amisade
reciproca.»
Deveria ser mui de notar o sorriso sardonico do
Teutão, illudindo esses pobres Brasis ...
Evidentemente, o Sr. Borges de Medeiros não avalia
a importancia da patria, das tradições e da lingua na
vida dos homens.
Do contrario, não chegaria a pensar que pudesse
alguem possuil-as por partidas dobradas: da Allema-
nha e, ao mesmo tempo, do Brasil.
Entretanto, desde que o mundo é mundo, a histo-
ria e a experiencia teem sido incansaveis em desmentir
o erro do presidente do Rio Grande do Sul e de todos
os que, por (alta do precizo criterio, ou por velhacaria~.
laboram em tão nociva iilusão.

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44

As tradições e a lir gua teem tal, importancia que


acabam sempre por vencer e fazer as nações a seu gosto
e a seu geito.
Póde a politica, na5 suas combinações não raro in-
sensatas, separar ~ente~ da mesma estirpe, da mesma
lingua e das mesmas tTé.dições, como na Italia e na Al-
lemanha até o ultimo quartel do sectllo passado.E' de-
balde; mais cedo ou trais tarde essas gentes se attraem
e se unificam.
Póde a mesma poltica, nos setls tresloucado5 cal-
<:ulos, jungir povos div ~rsos sob o mesmo jugo, debai-
xo da mesma oppressã,>, como na Turquia.
E' inutil ; mais ce:lo ou mais tarde os elementos
diversos se desaggregarn e cada um procura o so':u na-
tural centro de gravidade.
Assim foi alii: rornaicos para tlm lado, gregos para
outro, bulgaros para outro, servias para outro.
E' regra que nunca ha de falhar.
Dest'arte, o erro g ravissimo, o erro incxpia·.'cl dos
governos brasileiros, o erro que nos ha de trazcr a perd2.
das bellissimas regiões do sul, foi se haver consentido
na formação lenta, por oitenta dilatados annas, de forte!;
grupos de população c tie ficou irreductivelmente ger··
manica, sem a menor fusão com as populaçõe~. brasi··
leiras.
E' o erro irrepar avel.
Não ha sophismas que possam ílIudir a quem en-
xerga dois dedos adea nte de si.
Existem duas es )ecies de individuos que teem in-
teresse em fazer acrecitar no contrario: os proprios al-
lemães e seus descend ~ntes, e certos politiqueiro~;¡ hrasi-
leiros que precizam d~ não desagradar aos colonos de
Santa-Catharina, Paraná e Rio-Grande.
O resto do Bra!iil pensa de modo de todo di-
verso.

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45

Mas, dizia eu, para se aquilatar da verdadeira si-


tuação das coisas no sul, mistér é apreciar o estado psy-
cJt¡'codos teutos com relação aOs brasileiros.
Já fiz ver alguma coisa de singular neste sentido.
Existe, porém, outro criterio, originado daquelle, que,
send0 d'elle effeito, indica de modo claro e inilludivel o
estado de adeantada divergencia em que andam os dois
povos, que acabarão de todo separados: refirome á si-
tuação social de ambos.
Este signal é infallivcl.
Só existem hoje alguns ignorantes, cUJo voto não
tem nem póde ter o menor pezo, para acreditarem no
valor da politica, das relações a que se costuma dar
este nome, independentemente das condições sociaes.
Toda a gente sabe que o estado social é que representa a
substancia, o amago, a verdadeira estructura, o exacto
valor de um povo qualquer.
A politica não fa? mais do que andar atraz da so-
ciedade, ùe suas aspirações, de seu caracter, de seu gráu
de cultura, de suas necessidades, de suas tendencias,
pa,a as ir definindo e dando satisfaçãq naquilIo que é-
de sua competencia.
Qual'ldo a politica chega, a tendencia social tem
surgido e se avdumado ha muito tempo. Negal-o- é
ser indigno da menor attenção de gente que pensa.
Ora, os alIemães do Brasil são, socialmentl:', comple-
tamente distinctos e independentes dos nacionaes. Teem
outra lingua, outra religião, outros costumes, outros
habitas, outras tradições, outros anhelos, outros generas
e systema~ de trabalho, outros idéaes.
E' absolutamente innegavel.
Logo, estão presos a nós sómente pelo laço do ter-
ritorio ; porque mesmo de um luço politico 4fectit1o não
se póde falar, desde que se sabe que elles não tomam a
minima parte em nossa vida por esse lado. Mas, em

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nosso territorio mesmo, as colonias constituem verda··


dad.eiras soluções de c(lntinuidade entre as populaçõeis
naclOnaes.
São como ilhas, ou oasis no meio do que cm;tumarn
chamar o deserto brasleiro.
Faltam-lhes, para je todo se separarem cie nós"
formando um Estado a parte, duas condições apenas:
uma população maior, e que essa população se ,:spalhe
a ponto d\: ligar entre si, mais ou menos intensamente,
os diversos nucleos coloniaes dos tres Estados meridio-
naes.
Nem será talvez l'recizo que se liguem os nucleOli
do Paraná aos demais. Logo que os de Santa-CatharimL
tiverem, por assim di¡;er, arredondado terras com os do
Rio-Grande, e isto não está longe de acontecer, () brado,
.de separação será dad(l.
E' até possivel qu ~seja dado só pelos do Rio-Gran-
de, Jogo que todo (I plan ato, toda a regÙ'i{) serrana, es-
teja assáz povoada por elles, desde as montanhas que
dividem aquelle Estad:> em duas zonas, a do norte e a,
do sul, até ao curso do rio Uruguay, que o separa da;
Argentina e de Santa -Catharina.
Pouco depois os de~ta, crescidos tambem em nu-
mero, se unirão aos seus patdcios e parentes allemães
do Rio-Grande. Para tanto, basta que a população gero.
manica dos dois Estados attinja a uma cifra respeitavel.
de 800.000, ou 1.000.000 de habitantes.
Não é tudo.
A separação não se fez já, com o auxilio e sob CI
protectorado da Allemanha, por causa das perturbações
que isto acarretaria deante da previdente dout1'ina dEi
Mom"oe, freio unico que contém o imperio, conforme o!~
proprios allemães confessam, e mostrarei linhas abaixo.
Não fôra isso, e o governo imperial teriajá feito o
·que praticou em Zanzibar.

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Existe, porém, outro motivo que tem obstado essa


terrivel crise de separação, que terá de ser dada em nosso
Brasil: é que os nossos teutos não desejam fazer parte do
imperio, como colonia, como dependencia politica; aspi-
ra·n á formação de um novo Estado, um Estado sobe-
raila, independente, como era o Transwaal, como são os
Estados- U nidos e hão de ser o Canadá e a Australasia.
Quando se sentirem fortes, pelo numero e pela riqueza,
para nos afrontar, darão o signal de se constituirem po-
liticamente á parte,
O g.)verno brasileiro ha de sair a campo para con-
tel-os; travar-se-á lucta; a Allemanha, então, intervirá
com forças militares, porque não ha de consentir que
<lUemães sejam trucidados no B1'asil, conforme a cantiga
<le sempre.
Nessa conjuntura, acceitarão os teutos, sí etin quan-
tum, o protectorado moral da Allemanha- e não o po-
litico, porque este o imperio não Ih'o póde dar, visto
<:0010 não póde ter novas colonias na America. Mas
bastar-Ihes-á esse protectorado moral para facilitar o seu
reconhecimento como Estado independente. Quando,
pois, os optimistas, crendeiros no valor invencivel do
Brasil, berram que não ha perigo de separação das co-
lonias germanicas, porque o imperio nllo sonha nem
póde sonhar com conquistas na America, fazem apenas
um s:>phisma.
Ningllem disse jámais que os allemães mandariam
<:á suas esquadras para nos conquistarem as terrás do sul.
A Allemanha não é estupida, nem ingenua j ella
-deixa as coisas seguirem seu curso normal; espera que
o fructo caia de maduro.
Pois póde lá nunca a Allemanha, que conta com a
prolificidade de sua gente, com o vigor de seus filhos e
<:om a habilidade delles, admittir que um, ou dois, ou
tres milhões de germanicos, collocados nos nossos Es-

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tados do su), se deixem governar, dirigir, pelos mulatos


~é como elles nos chamam a todos) do Brasil?
E' mistér não saber nada de A.lIemanha e allemães
para acredital-o.
O Deutschtum do Brasil fará da se; o da Europa
tem confiança e espera.
A evolução desta desgraçada questão, descl.lradis-
sima pela inercia brasileira, é a seguinte: 10 periodo de
immigração por méra necessidade, deI82 5 a 1870 ; 2°
periodo de formação consciente de um grupo ethnico á
parte, capaz de ter por si mesmo largos destinos, perio-
do em que teem procurado os directores dos grupos co-
loniaes firmal-os cada vez mais ao sólo com a agricul-
tura, e vão procurando apoderar-se, nas respectivas zo-
nas, das melhores industrias, da navegação, do commer-
cio bancario, das forças ecol1omicas, em sÙmma, d,e 1870
até agora; o 30 periodo será o do futuro proximo em
que procurarão crescer e prosperar de mais em mais, o
que, quando a população fôr numerosa e a riqueza gran-
de, os levará espontanea e naturalmente a se consti-
tuirem em corpo d€ nação, como Estado soberano.
A protecção allemã européa será méro auxiliar de
segunda ordem.
Que tem o Brasil a fazer para impedir essa desas-
trada solução do Deutschtum que nos ameaça no sul?
E' o que resta indicar.
Emquanto as colonias não crescem demasiado, a
ponto dê se tornarem perigosas, ha alguma coisa a ten-
tar.
As affirmações que fazem de fidelidade ao Brasil
são para nos enganar e para o norte-americano ver.
Se a empreza fôsse coisa a ser feita directamente
pela Allemanha, repito, já ella o teria tentado; mas
como não é, porque nem ella o póde, por cansa do
monroismo, nern os aIlemães de cá teem fortes desejos

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de se collocar na dura sujeição do imperio, espera-se a


solução do tempo, trazida com o augmento da população,
do territorio e da riqueza.
O imperio, porém, não suspeita claramente que a
aspiração de independencia dos teutos não se estende
só para com o Brasil e que o envolve tambem a elle.
Por isso, não perde nunca a esperança de empolgar
aquellas terras por um arranjo qualquer, possivel no
decorrer dos tempos.
Nessa esperança, busca todos os meios imaginaveis
de iIludir, de sophismar a doutrina de Monroe, contra a
qual faz propaganda entre as proprias nações do conti-
nente, ás quaes faz acreditar que a phrase a .Am~rica é
dos americanos - quer dizer: dellcs - americanos do
norte, dos filhos dos Estados- Unidos.
Pintam a estes, umas vezes, como conquistadores
que nos virão subjugar; proclamam que o monroismo
equivale a uma tutella httmilhante e outras sophystica-
f1as do genero.
Recorrem, outras vezes, á proposta de harmonia
para engolirem de accorda a preza latino-americana.
Neste sentido, são dignas de aturada leitura as pa-
lavras do sr. dr. Walter Kundt, auctor de- O Brasil,
sup importancia para o commercio e a industria allemães,
conforme ajá alludida traducção do Jornal do Gommer-
cio de que peço venia para transcrever ainda um tre-
cho caracteristico :

cQuanto á doutrina de Monroe, tenho para mim que t'lia


se baseia eto consideraçõetl obsolet.as, e ainda DO correr do
sllcul0 terá de ceder o passo a outra politica externa dos Esta-
dOll' Unidos.
eA doutt'ina de Monroe pa.rte do principio de que os pOTes
da America 3e tinhato libel'tl~do do jugo da dominação inglaza,
ltèspaDhola e portugueza, e que !lo eSties povo~ livres cumpria
agora. defenderem-se collectivamente contra os appetites con-o

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qui8tallore8 da8 nações européas. Mas e.t!ta cÙUl8ificação d08 po-
vos em Iivre8 e não Iivre8, em republican08 e IIHlllar<:hicQs,
pArece-n08 boje mnito inhahitual e de8nf\cessl\ria. I-Illje, que o
centl'o de gmvidade de toda a p(}liticn. está no terreno eoo-
Domieo, outro é o criterio pa.ra proceder á cla!'oilificaçio dURpo-
vos, Ha, tllll primeil'O logar, POVORque, por sua actividade e
intelligencia. 8e collocamm na altura de resolver Il!! problll-
DIas eCtlnomicos que o 8eu paiz llu8cita, e ne8te Dumer(l estão
incluidos quasi todo808 POV08 do continent.e europeu; ba, em
8el'(lIl)(10logar, povos inCApazes de ap/'oveitar os dotei! que
lhes cuuucnllll em pllrt.e, que pOl' indolencia ou por outr';IS mo-
tivo8 dcixam mais ou men08 improductivos os theRol\J"o@Datu-
raes que lhes ofl'creee o 8eu paiz, e a eSRacategoria pertNlcem,
DII Europa, Portuglll e 1\ Hespanha e os paize!! balkanicoR, e
DIl America, a totalidade dos POVOl;,com excepção dos de lin·
gua illgle1,1\. E, ha, em tel'ceÜ'o lugar, povos a quem o territorio
nacional 1lão offerece campo 8ufficiente para a satisfaçã{J Ila sua
a<:tividade e qlle esttïo chamados a reali.e'a1·, nos pltizes da '~tltima
das categol'ias supracitadns, aquillo gue os habitan.tes de8slls pai-
Ze8 não quizeram Olt não ptl.lleram Jazer.
"Povos taes não lH\ senão tres; são ós mai!>pOdp.rol',oRre-
present.antes da rllç:t germanica, os lI11emãeR, os ¡nglez(~s e os
norte-americanos . .Esses eslcïó chmnadôs a rccõlher a l//?rm/ç'l dó
decadente mundo latino e teem tiJdo O interesse em concertarem-se
sobre b melhor prócesso de dividirem entre si a larefa.
e \ inda hoje, 0'1povos hispano.lu~itanos dominam um ter-
ritol'Ío que é maiOl' que o irumenso imperio ruoBcovil¡a e bÓ
muito pouco inferior em tamanho ao imperio britannico. A
quem virão, um dia, a tocar esses paizes, ninguem () 8.abll; mas
Ô que é certo é que elles nao pódem continuar nas mãos dll ma.is
me8quinho e ineplo ratn~ da raça latina. Em futuro proximo,
6S11et!paizes vão provav~1rnent6 ~epreBentar o meRmo papel que
a Turquia e a China, cujll subsist.encia S6 tem sido tornada
pos8ivel, é só exclusivamente devido á rivalidade das }IO-
tencias.

Que tal?
Continuaremos de braços 'Cruzadosem face de tan-
tos e tão repetidos avisos?
Para resistir a estas e outras ameaças e nomeada.
mente para escapar ao perigo de vir~os a perder as

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51

'lerras do sul, minadas pelo elemento germanico, temos a


.fazer o seguinte:
l. o Seguir o systema japúnez de nos apparelharmos
por meio de todos os recursos da scieneia no sentido de
prepararmo-nos militarmente para a lueta ;
2.' Mudar a feição eOlll1llunaria de nosso caracter,
·que tudo espera do Estado, e reformar a nossa educação
no sentido an.'Jlo-saxollico da ?'niciativa pessoal, da auda-
cia no emprehendimento, da coragem na acção, da forma-
ção dum alevantado ideal de vida e de força individual e
euIlectiva ;
3 !\j udar a essas grandes medidas com o povoa-
b

mento do solo por um regimen systematico: immigran-


tes de nacionalidades diversas espalhados por todas as eo-
nas do nosso i1l111lensoplanalto, desde as serras do Rio
Grande do Sul até ás fronteiras do valle do Amazonas,
que será tambem povoado por gente adequada.
4<:' A proveitar, por todos os meios imaginaveis, o
enorme proletaria-lo nacional, que será transformado em
elemento colonisador, posto ao lado do estrangeiro para
educar-se com die no trabalho e o ir abrasileirando;
S? Facilitar esse povoamento do paiz em todas as
direcções, levando estradas de ferro por toda a parte, que
sirvam para articular, por assim dizer, este immenso corpo,
facilitando-lhe ao mesmo tempo a ddeza.
Em vez de andarem ahi a esbanjar milhões com oh:-as
de luxo, avenidas, theatros, passeios e outras no Rio de
Janeiro, que nus fazem representar o papel de um men-
d'go, descalço e maltrapilho, com urn gono bordado a
01£1"0 na cabeça, deveriam empregal-os nos melhoramen-
tos indicados.
Mas estas são as medidas de ordem geral, re;:c1ama-
das pelo paiz todo.

BANCO DE LA REPU8
J/BUOTéC.\ LUIS ANG l/CA
- El ARANGO

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52

Pelo que toca directamente ás colonias aJlemàs~


mistér será embaraçar-lhes o enthusiasmo do Deutsd¡,-
tum, pelo seguinte modo:
10 Prohibir as grandes compras de terrenos pelos
syndicatos allemães. maximé nas zonas das colonias j
2° Obstar a que estas se unam, se liguem entre si,
collocando entre ellas, nos terrenos ainda desoccupados~
nucleos de colonos nacionaes ou de nacionalidades di-
versas da allemã ;
3° Vedar o uzo da lingua allemã nos actos pu -,
blicos ;
40 Forçar os colonos a aprenderem o portuguez,
multiplicando entre elles as escolas primarias e secunda-
rias, munidas dos melhores mestres e dos mais seguros
processos;
5° Ter o maior escrupulo, o mais rigoroso cuidado
cm mandar para as colonias, como funccionarios publicas
dequalqucr categoria, sómente a individuos da mais es-
merada moralidade e de segura instrucção.
60 Desenvolver as relações brasileiras de toda a,
ordem com os colonos, protegendo o commercio naciù- ,
nal naquellas regiões, estimulando a navegação dos por-
tos e dos rios por navios nossos, creando até alguma
linha de vapores que trafeguem entre elles e o Rio de
Janeiro;
7" Fazer estacionar sempre vasos de guerra nacio-
naes naquelles portos;
8° Fundar nas zonas de oéste, tolhendo a expansão
germanica p¡¡ra o interior, fortes colonias militar,!s de'
gente escolhida no exercito.
Estas e outras medidas, despertadas peta pratica e.
pelo criterio dos governos, poderão obstar o desrnem-
bramento futuro do Brasil na., regiões do ,sul.

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Teremos coragem de as pôr em pratica?


O tempo o dirá.
Pondo remate a estas considerações, preciso preve-
nir uma objecção de caracter pessoal.
Sabe-se que o meu amigo Tobias Barreto se bateu
'no Brasil pelo germanismo e eu o applaudi, tanto quanto
esse mallo de pensar e agir pude~se servir de REAGENTE,
de TONICO para o caracter nacional
E esse era o pensamento de meu saudoso patricia e
camarada.
Elle sabia da existencia, no sul, do allemanismo da
colonisação; sabia da propaganda que, ineptamente no
'Rio de Janeiro e machiavelicamente na Allemanha, se
fazia para que esse allemanismo colonial augmentasse.
Conhecedor dos perigos que dalli proveriam ao Bra-
sil, procurou substituir aquelle allemanismo da immigra-
ção pelo germanismo da sciencia, da cultura, da educação,
da fortaleza moral, unico capaz de nos apparelhar para
resistir ao primeiro.
, E' uma odiosa calumnia, pois, dai-o por favoravel
ás pretenções dos immigrantistas insensatos.
O que o meu amigo sempre quiz, sempre ensinou a
este inconsciente povo de ingratos, desnorteado por lit-
terateiros imbecis, o que eIle pretendia, com uma larga in-
tuição verdadeiramente genial, era que o Brasil fizesse o
,que o Japão.fá tinha então começado a fazer ...
E' verdadeiramente admiravel.
Os facto!! vieram dar plena razão ao pensador ser-
'gipano.
Ha trinta e quatro annas, quando no Brasil ninguem
-sabia da immensa transformação, pouco antes iniciada no
Japão, já Tobias Barreto o indicava como modelo a
-seguir.

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54

H0jC é moda fazer litteratice á custa do valoros()·


imperio asiatico.
Litteratões que nada sabem, vivem a aborrecer a
gente com patacoadas ácerca daquelle povo exelTlplar.
Em 1872, ha trinta e quatro annos, escrevia o grande
critiC0, e chamo a attenção dos leitores para este lacto,.
que define a sua propaganda germanica entre nós, fa-
zendo appelIo para o que se estava praticando no Japão,.
onde se cogitava de educação e scÙmcia e não de ¡:mmi-
gração colonial: «Já nos factos, e especialmente nrl8 ten-
denr:ias intellectuaes, está o Japão mais adeantado que o·
BrasIl. Eis uma prova entre muitas.
«No I? de janeiro de 1870, toi aberta na capital da-
quelle Estado, a qual conta um milhão e meio de habi-
tantes, uma escola para o ensino da lingua alIemã, apenas
com quatro alumnos, e no fim do anno contava já de 400.
a Soo
«No correr de 1871, como consequencia dos grandes
feitos da guerra franco-allemã e do ascendente da Alle-
manha, espalharam-se pelas provincias muitas outras es-
colas, e o proprio imperador se mostrou, desde então, in-
teressado a tal ponto, que por elle e seu governo f;)ram
não só instituidas escolas pelo modelo allemão e para esta
lingua com maior profusão, como tambem foram envia-
dos para se educarem no seio da cultura germanica diver-
sos moços japonezes de familias consideraveis e de ele-
vada posição. Ultimamente, (1872, anno em que escrevia
o sabio brasileiro) o governo fundou altos institutos scien-
tiflcos e uma academia de medicina, onde exclusivamente
se acham sabios e professores desse paiz, chamados para
dirigirem o ensino.
«Dahi tem resultado uma viva procura de livros
allemães de modo que uma celebre firma commerci;:J em
Vedo, A. Ahrens & C., foi levada a entrar em relações-

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55

activas com o commercia livreiro, principalmente de


Leipzig, e a dirigir-lhe uma circular neste sentido.
(I E então? Podemos nós rir-nos dos dignos japo-
nezes ?
«Houvesse quem aconselhasse ao nosso governo
para crear urna academia, sómente dirigida por sabios
allemães, e ver-se-ia que barulho!
«Se era possivel admittir· se um jurista mais pro-
{-Judo do que o Ribas, de S. Paulo, ou um medico mais
sabido do que o Sodrésinho, da Bahia ? .. A paz do Se-
nhor seja comvosco, espiritos idiotas ...
«E quem tivesse, como eu já tive, a loucura de con-
ceber e tentar realizar a idéa de uma sociedade de pro-
paganda germanica, havia de regalar-se quando a quizesse
levar a effeito.»
Que traço de genio! que visão de pensador!
E' pena que Tobias Barreto não tivesse vivido bas-
tante para admirar as estrondosas victorias do Japão e
seu ascendente no mundo.
Desventurado Brasil, que, illudido por gralhas pal-
l'eiras, não tomaste até hoje o conselho de teu verda-
deiro amigo!
Vê qual é o teu estado e o do longinquo imperio
orient3.l, que não metteu desordenadamente immigrantes,
mas ingeriu idéas, doutrinas, saber, praticas uteis, que o
disciplinaram para luctar e vencer ..
Costuma-se dizer que se cura a mordedura do ani-
mal com seu proprio pella.
E' o que se póde imitar: repillamos as incursões de
allemães e outros europeus quaesquer com os proprios
processos, deI\es aprendidos e assimilados.
Para isto é, porém, indispensavel CARACTER ..•
Janeiro de 1906.

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POSTF Acro

Já tinha enviado para a revista os .Ânnaes o estudo


reproduzido n'este opusculo, quando a 29 de janeiro
passado, o J01'1wl do CommcTcio traduziu e transcreveu
em suas columnas, um artigo da FOTtni,qhtly Review,
devido á penna do Sr. Frt>deríco William Wile.
O artigo é admiravel de lucidez, de logica e de se-
gurança de critica.
Trata da influencia que os allemães procuram exercer
em todo o Brasil. '
Refere-se á navegação, ás estradas de ferro, aocom-
mercio bancaria, ao commercio importador e exporta-
dor, ás industrias fabris e até á propria lavoura de café,
de cacáo, de algodão, etc.
O SI' Frederico William Wile, no que se refere á
colonização do Brasil meridional, chegou a conclusões
que são identicas aquellas a que ell proprio tinha che-
gado de muitos annos a esta parte.
Peço licença á illustre redacção do Jornal do Com-
mercio, para inserir n'estas paginas alguns periodos do
brilhante estutlo da Fortnightly, sómente dos que se re-
ferem á coloni7.ação ger!l}anica das regiões meridionaes
de nossa patria.
N'uma coisa, porém, se engana o sr. Frederico W.
Wile-, e é quando parece suppôr ter sido alguma coisa

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de no\-o o protesto do sr. Barbosa Lima, no Congresso


Brasileiro, contra a desnaâonali-zação crescente do Brasil
meridional.
Bem antes d'esse illustre politiC'o, por cerca de: trinta
annos seguidos tenho deixado igual protesto em quasi
todos os meus escriptos.
E aqui vae uma rllpida indicação de alguns dd-
les:
I. o N o lO vol. da Historia da Litteratura Brasi-
leira, no artigo consagrado a Hippolyto da Costa;
2,° No mesmo volume. no artigo que trata do Vis-
conde de São Leopoldo;
3.° No 2° volumE, no estudo que se rclere ao Barão
de Paranapiacaba ;
<I." N o opusculo- A Immigraçîio e o futuro do povo
brasileiro, reproduzido em Novos Estudos de Lit/('ra-
tura Contemporanea, em O. Elemento Portuguez no Bra-
sil e em o volume intitulado- Discursos.
5.° Na citada conferencia- O Elemento podugue2'
no Brasil;
6.° Na IIistoria do Direito Nacional (Revista Brasi··
leira), no capitulo sobre os Wisigodos ;
7,° No ensaio- O Direito Brasileíronoseeulo XVI,
reproduzido em Ensaios de Sociologia e Litteratur'1 ;
8.° N(. discurso proferido no Congresso Nacional
aos 23 de maio de 1900.
9.° No discurso ali proferido na sessão de 25 d(~
mesmo mez e anno ;
10 o No discurso tambem alli proferido aO:524 d(~
maio de 19°1;

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I I. o Na resposta que dei aos estudantes da U niver-


siéiade de Coimbra, que me honraram com uma men-
sagem.
Claro é que não esperei pelo muito digno, illus-
trado e patriotico dr. Barbosa Lima, a quem aliás me
desvaneço de render um alto apreço de estima e admira-
ção, para me pronunciar no assumpto, no qual folgo im-
mensamente de o ter a meu lado.
Aqui vão os trechos do excellente artigo de Fre-
derico W. Wile. Chamo especialmente a attcnção para os
periodos que elle refere do famoso economista Schmol-
le~', de Walter Kundt e do Grenzboten, de Leipzig.
São caracteristicos a mais não poder ser.
Não sei se a evolução do allemanismo no sul do·
Brasil, que não passa despercebido aos e!\cr:ptores euro-
peos, ainda encontrará incredulidade no Brasil entre le-
vianos ou interessados.
Escreveu F. W. Wile :

cOs allemães nln1l'jam ardentemente ter um pé no Bl'llRil,


porque Il- Sill\.enorme área. de l'iquozlIs virgens ainda selll donos
realiza Oil sonlltls de ullla lllllglla .Allelnallha ultra-marina eco-
nomicamente independente.
Oaminlll\m para Il- realização de snl\R espernnças con, pre-
ci<lão lenta e firme eessa paciente coufiança. loesuhante de pla-
n(IS bem organisados.
O camíuho para a couquista territorial está spmlo prep,\-
rado de modo a tornal· a comparativamente facil, dado qne S6
otfeloeça viavel a. sua realizllção. ASBim, ao passo que 08 profes-
Sllrtlti IlIilil,antes vão daudo il. doutrina de MODl'oe um fim ¡nglo-
Joio 110 arclllllulo mixto das c~ual\s obsoletas, banqueiros, liuhas
de 1\1\ vegaçíio, negociant.es, IUdu\ltl'iaes e syndiratos colouizll.-
dores l\lIeruã~s tlBlão emprelleluicndo ulIIa cllmpanha inces-
Bunte uo sentido de gel'/IIanizal' o Cllllllllel'cio eo\lo jmluBt\'ia do
Brl\Bil, de infiltra\' o paiz do ge\'lDaniRlno pnfO e de p6voar
granlles regiões delle de nucleoB de colonos alle/llães.

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60

No sul, oude o seu uUlllero é mai8 eSpe!!80, tornararn·Re o


:~llimellt() dominallte, O paiz está eheio ¡Illr tO«ÏSIL pa •.~,de f~,-
orical!, rie RrlllRzenl!, de lojaR, rie h.vouras, de escola", e de ¡gr'E,-
jas all ••mãll, Em dezenas rie cOlllmllniflatles/\ lingua allemã tem
8ubstituitlo a pol'tuguez/\, a lingua official do Brallil.
Por l\obre eRta conquil!ta puramente COlUmer·cial. porém,
se desenùa Hill factor de importllnda mais vital para as RUS-
-eept.ihilidllcle¡;¡ norte-nmericanal!. Il creação de uma nação d~
.Allemães no Brasil, E' e"sc O intuito confesRatlo de trel! elllp"c-
zas coloniz ,doraI! al1tlmãR, que Ile tornar:l1l1 senhorlls e d(mlls
de mais de 8.0UO milhas quadradas de territorio hrasileiro, !m-
perficie cOlIsidcravelmenre lI'aior do que o Heillo da Suxonia El
'cllpaT. de ab!\orver meis duzia de Grãos-Ducadol! allNHães
E' oh.i"ctivo deslIo8 eyndicatoe teJ'l'itoriaes povoar e8sas
terras de immigrantes desejollos de se CÕIIserVa1'em alle7llãe8'-d'El
uma raça de IWlIlens e mulheres trIUls!.lantll.doll, que ",e ,'erã.,
IICImeio de c"ndiçõe!llulrede IIr.'pal'l\dl\lI }lara perpetuar o Deu-
18,,1111011,-0 quo qner di7.er, a IlJlgull. allemã, ORCO!lt,UI1I8S alle-
'mãell Il a inqnebrantll.vel fillelldade Ít~ eRperl\nçll8 ecoullmiclll'
allemiis.
Bill o motivo porqne os ilonltos dOi eXl)llnsâo dos 1111"11I0011
81\ centralizam em outra pllrte e particularment,e no BI'l\sil.
Vêlml alti um pl>.izde recursos illimitl\veis, rivali¡r.nnd •., em va··
rieilnile e calculada I'Îqll~ZIl.com 1\ grnnd\'l riqueza Daturlll dOli
E!ltado!l-lJllidoR e habit,ado porulll povo latino infcrior que não
,~ apto, q lier pela nar,uJ:eza Ilner pela educação, para dl'IIHnvol··
ver o \<~I-Dora(lo exist.ente em torno e debaixo dell(l. JI. indus·
tria ll.\Iem1ie a populaçã(l Ululti(llicante da nação, d,'pendent,es.
em ~ri\') hUlllil¡'antell1en~ erelleel1tll, das materias primRs e d"ll
~eJle\'f)s alllnentieioll do extrangeiro. sentem-Re arrebatadal!
com a perspectiva dalibertaçio do felldalismo (>COllomko neR!lE~
-'l'ena de Pl'omisllão
ESRe allllejar por um petlllço ùe t.erritorio ahaixll do Equa n

'flor Occillent.al tem, poi!!, lULRemais real do que as a~piraçõe!1


@cntiment.aes ile IIIIl Imperll1lor alllbicioso ou ILparolllgem ja ..
cohina dos Pan-Gerlllanos. Nasceu da neeeSllidarle prf}puIRorB.
e teru de !ler satisfei w, segundo aO(liniâo dos seul! al)()lItolos.
ILlUlnH'S que Il AlIomanha tenha de ficar na ralllltlillla do:l)lái¡r.e~1
rivae~. contente COlDo lUlUl/:lorioRo pal'lsadoe indifferellte pelo
sen f!lt Il l'O.
~eria um inRuJt.o ao varonil gerllJ:tuisnJ'O da época tl•• 1111-
.perador Guilherme alimentar ILillllsã.~ de que o Reu pov,) 80nha
~1I1 resignar-se II.semelhante altel'llatl\"a,

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61

A germanizaçiio do Brasil não é projecto do seculo vige-


BilliO. Está em andl\meuto lilt llIai¡;¡ de oitenta I\UUOS,.,,1II!lora ~~
se t'.'llha. realizaùo aggl'eMivulneute durante Il. IIlr,illllt década,
coincÍllindo isso como uascÏIlleuto e cresciment,o do exagerad()
Illovimellto cxpall!;iolliRta clluhecitlo por Puu-GerJlluniRllIo.
Actuallllente aR RuaR 1.800 ou 2.000 milhas qlladrllda¡;¡ de
8upm'ficie eMt.ão deusalllent.e cheias de cidaeles e villas pl'ollpe-
rail, em qlle o olememt,n allelllllo, t\ullndo nilO exclusivo, é aca-
brun hadoraultlll to predominaute.
COlli estaR lHI¡;¡e¡;¡
formOIl-Rtl em 1897 a Companhia de C%-
nisarão II"nseati('a de l1a7/llJllrgo, COIllO~uccess()J'a. da 1\11tiga So-
ciedade C%lli¡;adorn tie Hamburgo. Tem ella UIII capilal nomi-
ual de £ 65.000, 3.500 Illclllbl'ml e 11m orgãn official. Embnrll.
não seja >obre aRJlcctn algllllJ uma empreza govelnlulIcntal, re-
cebeu o l'econhecimellto uflicial em 1898 por meio de mna pa-
tente o.Dicinl.
Além di¡;¡so, ORque a sustentam .ãn rccrutadoH ua¡;¡ fileiras
d'ls Cllpitlllistas, armadores e expnrtadorcp, clljm; intel'esst'lI os
allialll iURcparn\'elllwllte a todos OR clUIlI'tmelldilllcnt.os ult.ra-
marillol'< da 4.1I"lI1aulll1. A COll1pallhin mantem uum Cllsa ma-
triz em IIlIlI1hul'go c Iilines de propaganda. por todo o Imperio.
ASRigllalon o ~eu III1RcÏmento ohteDllo do Governo do Es-
tado de Hauta (:alùllrinl\ u lila conccssão tel'l'itorial de 1;075.0UO
gCi-rllS, qlW, acc.el\ClHlladas ao que lhe legou a sUIt.nlltccessors.
coulltitutl ulIIa POS8Cll¡;âo actual de cêrca de \.600.000 geiras.
E~se cnorllle tenitorio é conhecido pelo nOllle de • Colonia
Hun¡;¡Il" COlltun<lo COlli 118velhaR e adjareutes cnlonia¡;¡ de Blu-
lJIenllll e nOIlR Frllncil<ca, olilallemãe8 domiDam, em Sauta Ca-
thnrillll. sohre lima ellphera colonial de lIllla!! 4.000 lIlill'1\8 qua-
dl'adas, Ullla quinta parle dos 3:¿0 000 habitantell de Santa Ca-
tùal'ina é de A llt-lIlãell. Têm o monopoli •• do cOBllllercio e das
industrias, e são os ullicos lavradore8 prosper08.
Na Capital, Delltel'l'o, DOporto de S. Francisco e DII8cida- .
des de Joillvillt>, BluDlenllu, Illlja!I~' e 13rul'qlll', os Allemães
sÎltl os \lI'illCipaes cidadãol\, Rendo encontrados por Inda 1\pltrte
COUtOfllucciouarios loclte8, ucgocial1te8, !!a('crdotcs, pl'0l'e8so-
res e Itl'tislas. Nas DUrnerOl\as cornmunidadcs onde o eltllllcllt().
allmuão ~ de facto exclusivo. ell:iste o governo alltonolllO alle-
wão. Os Es~ado!4 llo Hrasilncllluu-se divididos em lHl£¡UeIlO&
districto •• municipaeR, e glande numero destcs aUi nu 8ul sã ••
a.dtuinilltnuloil por e par/\ ullenlÍles.

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62
A cun!ltrllcção de estrllda!l; a irrigllçllo e Oil lIerviçus de
utilidadfl publilll\ e~o ~ob a ft8ClAlizIlÇiio allemã, e a"li AI]elllã¡'!1
S" permitte mantel' um llystema de contribuiçiW lIara ;\ mIlDU-
ttlDção de eRcl>la!le igrt'jlls allemãs exoln8ivll8. Sólllonte JIU!!
ne~()ci08 eltterno!l dOlllllunieipio8!1a vê que o ttlrrit.,río é hl'l\!li·
leil'O. Falla-8e allemã.o por toda parte. Até O!lDl'gr08 iu¡Jigen:u
!le viram ff)J'çados, devido á monopolização (lo cUlllmereil> e da,'!
induBtrias por pat.\Õe8 allemãe.8, a IIdquirir algun8 1:lmheci-
men tOB do intricado idioma. Nada mostI'll tRo excepciouahnenfH
l\ .-xt",n81\0 da in vasão aHemã no Bmsill1(l ponto de vi~ la terri-
t!"'ial, cumo o mapI'a de propaganda publicado pela S,.ciedade
de Colonização nllnSetlUCllJ o ql1al indi •.a COlli curel< d~tinctal~
all Aecçõe8 gcrDll\uizada8 de SIllita Cat]lIIrina. UIlI" nUlação
explica que 118ml\nClla!l colorida8 !Ião "Clllonlas allemãs" Da- Sil
a88im a imprell!lão de que uma boa fatia deBte Estado hra8i1eiro
-(Í ¡sólo alleu.ão.
No lldjlLccllte Estado do nio Gnulllc do Sul, eml)(lra fL
cololliLação clltcja men08 adiantada. o gCI'IIlIlDi8l110 é aindf~
JI.ais pronullciado do que em Santa Cal.harilla. HeBidelll no
Est.ado 250.0UO AlIemãeR, cODstituindo 25 % da !llllL população,
Tem pelletrado todos os calli pos da ll,:t.i vidllde "COIIOllli.~1le são
¡inwminentcl\ em al¡;\lJlB. A cOlonizll\'âo organizada é ,lirigidfL
pelo DI'. HC111l81111 Meyer, de Leipzig, quc, hascis ann08, ohtevto
UIIIII conee~Rão territorial de 51.600 geiras e fundou a8 O::III<lniaEI
de Nova-\Vürt.enherg e de Xing1Í. Se/!,undo I> prnspf·cto por
elle puhlicado, o « llio Grande do Bill é muito mais apl'1lpriado
pura a cl"eaçã/l de um E6tado dentro do ESkldo do qllc os dist1'icto~
para os quac8 08 ..d.llmaë¡f18 joram em quantitlatic "il A 1/1ericIl
do Norte. li .

Em rC8po8ta a nm inll""rito sobre qual a p('rcentllgem de


.A11"lIIãell e8tab"lecidos no BraBil. que rellUIICill1"a1ll II. n'lcio-
nalidade allemã. cscreve o DI'. Meyer a maioria tiel/es, plJlas leúi
da Republica, U tornaram cidadli/Js brasileiroB, tllaB, pcnlloane-
ceram al/ellÚie8 1I.a Lingua e nos Bel18 idelles, e mantém em negodo8
e 8m tudo em geral as mais intimas relações com II Vaterl'lUd.
;\01 uito menos desenvolvï.la. do que RII colonial! ham.eaticHs
de Santa Catharina.'mae mais vasta em t'xt.en8àn, é a illlllleDs8
clmc0sd.o terrHol'ittl.t1t 'BIltTllda de FerTo Allelllã do N oroe8te
Rio Grande. dn Rio Gl1\bdë do gut, corJloração de DrellÚeD que
pllSl\ue IIIl1ILconceK8ão patfr 1lMa linha ferrea an longo do rio
Urnguay, cobriudo uma 8uperficie total de 4.600 rnillms quilo-
·dlaùIl8.

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63

Estns varias emprezaB colonisa¡}oras fa7em ullla propa-


ganda inceB!\ante por l't,da a Europllllllemñ. PlIbliclImlivl'lIrillll
illleirilB em fónna de follll~tO'" brochuraB, mllpplls e publicações
p"riodiclt8, rivalisantlo uus COlli os outros elll pintar ti Brllsil
,como UID quadro do flltUl'O glorioso, sempre dado o CIlSOdos
AllerllãcR para. lá irem em numero sllfficiellte para desen-
volVI-l-o. Fazem-se de vez em quando conferenciaR s~licutando
os oradores emphaticltll1ent.e, em terlllos vehementes a con ve-
nit'ncia de gerulltuit'lltr-sc a gigantellca Hepuhlicll riOR Dons
Petlros. O 'luyeblatt, de Herlim, COI'ft'spontlerlllo ao iuteresse
'CJ'(1scente dos Allelllãt\s na Amcrica. do Sul, cn v¡uu um commis-
sario t'speciul ao HI'aRil para aprel!eUrlU' 1111Irelatorio exteuso
áCtlrca dn estado do ])eutschthum. alIi. OlferElce-se toda a aasta
de IIl1icialllentos aos Huns e Migneis que pen ••am em emigrar.
Ual'llntem·lhclI, por exemplo, que os AlIeluães vivem no Brasil
finDOSe annos sem nunca ver UUl policia ou um soldado.
Os esforçoR .IIlR COllipall h illR colon iSlLdoras ou expor-
tllrlorns BrIO ajudados vigorosamente por u/lla organização
iuflucnte conheciria por S"ciedade Germano-BI'aRileil·o. com
CllBa nllltriz em I arlim c filillcs em tOdH o paiz. Ella mantém
Ullla clLUlpallha sy ••telllatica de educaçrw por m ••io de comicios
publicoR e de publicações deRtiuadas a Iollanter o Brasil sempre
,em vifltl\ COU,Oa sallida idéal para o capital 6 o excesso de
pO¡llda.ção da. AlIelllsnha.
A Sociedade pa.1'lI.o perpetllamento da linguB no estran-
geil'o é tl\lIlhero ullla pnlmotora activa do gllr/llaniBlllo no
Hr··tsil. applicando funllo" Colll a dotação de escolas, biblio-
tlll'CIUl e igrt,jas n03 districtoR gerOlllnísados.
E' presirlf'nte d.'ssa Sociedade o profe!\sor Adolf Wagner,
'd,a Uuivarllidade de Bedim, que faz periodicamente objurga-
tOl'ias causticas contra a dOlltrina de :\lonl'oe.
A resolução tios AlIemães de permanecerem AlIemães em
tudo excepto IIILnaturnlisação pro formula, não deixa natural-
Dle:lle de incommodaI' 08 proprios BraBileiros Parece certo que
não lêrn aSilimilado nada do espirito nacionalista na sua patria
atloptilla. ~Bquivam-se de facto a essas inflrleDcias. Por origem
'6 educação superiores ao latiuo indígena, rCCIHlaTII a se tornar
-at!lSilllillltl08COHluma ci vili ••ação infurior. Dirigindo-se ao Con-
gre~so Ferleml n., Rio de Janeiro do outOlllllO passado, um
·diRtinctll Dt~putado, o 81' Barbosa Lima, rl'ferio-se vellemente
Il e•.ta in VIU\Í\Oestrangcil'a organisada, persiBt.ente, 6 al'firmou
"l UIl por influencia della o sul do Brasil está 801frcntlo gradual
mus certa desnacionalisação.

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64

Fez-se referencia 11.08apoiltolos e Ilistoriarlort'R do movi-


mento allelllão no Brasil. O seu nome é legião, mils tão identico-
o lieu modo de pensIlr, que citar um ou dous delleR é repre-
Ilental-os todos.
UIII dos mais francos expoRitores desse movimento é o
conhecidi~silllo ProfeilRsor GURtavo Sehn1(,lIer, da secJiáo de
Economia Politica da. Universidade de Berlim.
Na Rua obra sobre Ot>mmercio e Poder (19040) Schmoller
diz: ((Devemos l\ todo o custo qllerer que, dur'allte ORpr"ximoR
••cemallllo~.slIrj.J no sul do Brasil um paiz aUemii', com
,,20.000,000 a 30.000.000 de AlIemáes. Pouco impurta que elle
~contiuue como pal't,e do Bralli\, que forme 11mE!\tado intlcpen-
"dente ou que venha a WI' relações mais intimn!\ cmn o Itllpedo
((allelllão. ::)elll uma ligação, porém. euja eRtahilidaoe Beja
"garantida pOI' navios de guerra, sem a Jm!\Bibilidade dll, illter-
((venção ail. lIIá violenta alii, semelllsnte facIo corre perigo de
ese não realisar,~
Mais adiante no mesmo capitulo accrescenta Rchllloller:
"A cOIH¡uista de Cuila e das PLillil'inaR alwrou a moral politica
"e economica dos Estados Unidos, A sua tendtmcia parl\ oxcluir
"a Europa dos mercados da Amel'Íea do Norte e do Sul presagia
onecessariam~nte graves conflictoS-Jll\ra () futuro ~ MaiB ainda:
••Sem feitorias como liS que a AIlemanhn posRue em Kiao-chan
«CCLina) e !\em a protecção de uma poderoslI esquadm, lIerá
"imposai \'tll a explomção e o manter-se abertoa os mucad08
"cen traI e sul-americanos, ~
O DI', Walther Kundt, que publicou nm dos livl'('!l mais
recentes e mais Itutorisados sobre o 1Jeutschthum no Brallil,
fecha a !lua obra com as seguintes observações:
"O Braflil é ullla cOllllllunidade aleijada, mal organizada,
«de 16 000,000 de almas. frivola~, llIal educadas, antl-scien-
••tificIIS, anti-artistica8, anti-militares; qnenão sabem nem
"COlonizar, nem estabelecer meios conv.mientes de (:OIllIllU-
"nicação, nem construir uma esquadra. nem regular RS nuanças.
oneill garantir ajustiça¡ UIll Governo que não póde !\'Ôrdes-
«cripto COIIIOoutra cOllsa senão como um bando de ladrões,
"Todavia, e8Re povo tem o dominio de um rico e fertil Imperil',
«do tamanho dlL EUl'Opa, que poderia 118sullliro papel om repre-
«sentado pelo!\ E!l~",dna{;nidos r;e 8ómente l{ente de progenie
«gerlllaníca, em vez"dë''1atina., governasse aIli. O Brasilt'¡ro não
"gosta do estrangeiro. Sente antipatLia pelos l'epreseutllntes
«de. ullla nação que lhe é superior em intelligellcia; 08 Brssj.-
eleiros niio 8al>elll, porém, manter Te8istencia fil'we a plldilioll.

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.Se companhia8 ou E8tad08 e8trangeiros quizerem conce8sões
.do governo do Rio de Janeil'O, obtel-a8-hão. Não são, porém,
.possi veis no Bra8il triumphos reile8-·e cumpre LOrn at: i8to bem
«3rnphatico-por meio de tentntiva8 isolnda8 pOl' parte de
«'nliividuo!' Oll peqnena8 corporaçõo8, ma8 s6mente Ile o. capital
«'l.lIemão, 8ustentario pela opinião publica e pelo governo
((.,dlemão, 8e voltar parR o Bra8il.
«Ninguem espora que o governo allemãojá. 1'0881\ impôr-8e
«pela força no Brasil. E' dev6l' do governo proteger e fomentar
008 intereilBl'8 existentes; mas umu. ve? e8tahelecid08 08 inte-
«re88es precizalllos ter certeza que o governo hupllrilll intervirá
«mn 1WSSOfallor cOm mais vigor possive!.))
Talvez a. confiS8ão mlli8 signifiMtiva da.s Mpimçõcs alle-
mães no Hl'lI.sil jálllaiR feita por entida.le responsllvel seja um
a.rtigo publicado em 1903 pelo Grenzboten de Leipzig, reviilta
!!emanal influente, cujo ca.racter semi-olJicia.1 se firmou com o
facto Ile ba.vel' sido elhl escolhida como o vehieulo para trllzer
a) conhecimento do publico o celebre manifesto religioso do
impemdor Guilhenne,
Depoi •• de mostl'll.r que a A!Iia e8tava !le tOl'llllndo cada
vez mai!l rUS!Ia e a Africa IIIai8 ingleza, perguuLou o Gren.rbotcn
8B 08 Allemães deixariam trancar-lhos o restante continente
di8poni vel (a. America do Sul) e nccrescentou:
«Sobretndo, 08 emprehendimentos a.lIemães na America
«do SnI (levem evitllr nm deSperdicio de forças concentrando a
«Rita 6/lergia nos tres Bstados mais meridiollaes do Brasil. No
«sul do Brasil, segUlld.) a opillião do~ competentes, existem 11.8
1(/lIe1hores condições para o de8en vol vimellto da colonisação e
aOS Allcmãetl qne alli !Ie teem estabelecillo, teem comervlldo
(latravés dl> cinco gerllçÕf\S ~ Rna ideuti(lade allemã. O estaba-
«lacimellto de Consulados AlIemãe8 ImplH'îaeR em Curityba,
«Desterro, Porto Alegre e Rio Grande prova que já começamos
«a p¡'ep(lrar esslIs áreas fligantellcas. Do mesmo modo que o
«velho e8cl'iptor Vou 11er l(p,ydt prohibio ontr'ora a emigração
(lallemã pam (,)Bmsil, de\'ell108 agora VOla.r lei8 cOll8t,ituilldo
«crime pa88ivel de punição pam Allemães o emigrarem para
«outros paizes que lliio o Brasil.
«Logo que houvermos trazido o Sul do Brasil para dentro
«da n08sa esphera de interes!le, poderemos garantir a08 colonos
(lde"envolvilllellto absohltament.e trllnquillo, Ia.uto mai!l quanto
(lOcapi talllllemito lilt de natu l'al rnllll te, em taes ci rcumst,1II1ciIl8,
Glier induzido a intere8sar-8e largamente 1'01' essa8 secções.
«Devemos, todavia, glmrtlar-nos de transplantar 08 buro-
acrats8 nllemães para o B\'lli>il,

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"Conl'edamos ao pail! tanto Govelono a1ttotwmo g/tanto


p088i,'elo j)eixenwl·o ser governado por ftlllcIJionarios criad"lI
e educados lá, e Q1'ganizemos 11m exercito colonial em que todo
"indifliduo faça o selt tempo de serviço militar SMn voltar li A lie-
o/lI(I¡,ha. ])evemos tamhem ao Brasil I\S preferencias da tarifa
"da nnçãll mais favorecida.
"Então, dentro de IIlguDs snnoEl, vet'emos surf/ir do O1ttr(}
"lado do Atlantico um vigoroSf) hnperio Colonilll Allemã<" ql/e
«será talvez o IlIais bello e o mais dltradotu'o emprehendÜnento
"colouial que a velha Europa .iámais tenha creado .•
Baseado, poi!\, DO quej:í Re tem feito até agora e naEl Sll8S
eflperltnças expressas para o futuro, parece que o programma
allelllão no Brasil visa:
l-Coh)niz/lçfto do Brasil meridional, com emigra.nteR qlle
Be conBervarão ll11emrles na lingua, n9 cnmmercio, nos idéaes.
2-ExpanRão da acti vidade commercial, industrial e finan-
ceira allelllã, dispond" dos meioB de c()mlllunicação, tanl;o por
terra como pOl" mar.
3-Abandono ou moditkação da doutrina de MOllrfoe, por
parte dos ERtados Unidos, que hrw de eventualnllmtt, permittir
que o predolllinio economico seja apl'oveitado PQlitiC<lmente
Bem guerra.»

Que dirão a isto certos politico¿ brasileiros do


Paraná, Santa Catharina e Rio Grande do Sul, que:: pre-
cisam dai boas graças dos colonos e que, por isto, não
trepidam em esconder a verdade aos nossos compatriotas
alarmados?
Virão ainda e sempre repetir que são phantasias .
phantasias ... phantasias, .. de espiritos doentes,! .
Ousam affirmar que os adeptos do Deutsl~htum
são tão bmsileiros como os que mais o sejam!
Por demasiado inepta esta imbecilidade chega a
metter pêna.
Sim; são brasileiros, pela mesma forma e pelo mes-
mo systema que os Afrikanders, do Sul d'Africa, são
africanos, isto é, senhores da terra, com excl usflo dos
antigos donos, dos Cafres e 90S Boers ...

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De igual modo os Teutos são optimos brasileiros,


mas com a exclusão dos antigos donos do paiz, os Indios
e os Luso-americanos ...
Mas - contra a estupidez nem os deuzes ... dizia
Schiller, e é caso de o repetir aos insensatos de cá ...
Nada, porem, como a ideia da creação d'um exercito
c?lonial allemào em ten'as do Brasil l-
E' assombroso de desembaraço e de audacia
Diante disto ainda haverá gente que duvide?
Ainda ha poucos dias o famoso economista P. Le-
roy Beaulieu publicou em a revista d~ que é redactor
em Paris um estudo, no qual, servindo-se de fontes ger-
manicas. analysa o estado de causas pelos allemães crea-
do no sul do Brasil. O illustre scientista faz desagrada-
veis vaticinios sobre o futuro do predominio dos brasi-
leiros a\li e acha espantosa a talta de clarividencia nossa
e "de nossos governos.
Se Leroy Beaulieu soubesse que o insulto e a des-
compostura são a paga que se lança cm rosto a quem
cumpre o elemcntarissimo dever patriotico de, pelo me-
nos, despertar a attenção para este problema, por certo
não chamaria sómente lalta de clarividencia o que se está
passando entre nós neste assumpto.
Chamaria mais alguma cotisa.
Realmente n'alguns ha falta de clarividencia j n'ou-
tras, porém, consciente ou inconscientemente, sóbra o
espirito de tt·aição.
A raça dos Calabares infelizmente é immortal e
vejo-a até glorificada no presente com a tentada rehabi-
litação historica do famoso dt:sclassificado das Alagoas.
Analysando, segundo os preceitos da Sciencia So-
cial, as nossas populações do sul, descobrem-se facIl-
mente os motivos que levam nossos patricios d'alli a se
julgarem no melhor dos mundos, sem correr o minimo
perigo futuro da parte da supremacia germanica.

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No que se refere a essa v~xata qu~stio da futura
germamsação de nossas ten'as me1'idionaes, elles 51" divi.
dem naturalmente em tres grupos: os espíritos levianos
e apathicos que não se preoccupam de questões sérias
quaesquer, ou por ignorancia ou por indifferenp; os
velhacos e espertalhões (pequeno numero aliás} que
vêem o perigo, que o conhecem perfeitamente, mas não
se lhes dá que o predominio politico passe aos alkmães,
como já hoje lhes pertence o predominio econornico e
social; finalmente, a enorme maioria dos homens de boa
fé que se acham calmos e apaziguados sem divisarem no
futuro a menor sombra ameaçadora.
Por isto é que se não interpella um habitante qual-
quer das zonas do sul acerca do grande assumpto que
não se mostre elle convencido da falta de fundamento
dos nossos receios. E' que o interpellado pertence ne-
cessariamente a uma qualquer das tres categorias.
De todos elles-só os da ultima, a maioria aliás, é
que merecem attenção.
Mas o seu estado de espirito é perfeitamente expli-
caveI pelas condições mesmas da vida social nas regiões
do sul.
As populações luso-americanas acolá nunca tive-
ram grande aferro á industria agricola, a unica que pren-
de indissoluvelmente o homem ao solo.
Esta qualidade ethnica, geral aliás em todo Brasil,
aggravou-se enormemente nas zonas extremas meri-
dionaes.
Não vem agora ao caso demonstrar que as ~~entes
brasileiras, a despeito da crença erronea corrente em
contrario, nunca foram nem são sufflcientemente dadas á
agricultura. Baste lembrar que os seus progenitores in-
dios e negros, caçadores e pescadores, nunca passaram,
em cousas da cultura, da phase da recolta de producções

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espontaneas ou da mais rudimentar colheita de {ructos
arborecentes, e os seus progenitores portllgllezes, não
foram até hoje muito além dessa mesma leve cultura em
que predomina a ceuillette de {ruetos, nozes, figos,
amendoas, ameixas, uvas e mais a azeitona, o() milho,
que dão lagar a amanhos industriaes facilimos, vinhos,
azeites, passas, etc., etc.
Existe, é certo, tambem alli a cultura, quasi mera
jardinagem, de verduras, de legumes e hortaltças, além
da mais seria do centeio e do trigo; mas esta ultima
sem o desenvolvimento que devia ter, deixando um
deficit de subsistencias.
Nos paizes tropicaes os portllguezes, desacostu-
mados ás asperas lides da lavoura digna deste nome, só
poderam chegar á concepção da agricultura movida
pelo braço escravo, a fazenda, o engenho. isto é, a explo-
ração da terra com vista ao commercio. Eram mais em-
prezas commerciaes do que agricolas.
No sul, de Paraná para baixo, o desprazer pela
lavoura, a industria mater que cria as nações indestru-
ctiveis, cresceu de ponto, ajudado pela natureza do sólo:
o planalto com os seus chapadões, seus campos geraes,
em Paraná e Santa Catharina; os pampas, com suas
cochilhas, suas campinas, no Rio Grande. A criação dos
gados naturalmente preponderou como força economica,
como genero de trabalho, como fonte de riqueza.
Dest'arte, temos no Rio Grande do Sul, entre as
populações genuinamente brasileiras: 1.0 as gentes das
cidades, nas quaes predominam os empregados publicas,
os que se alliciam nos corpos de policia e da milicia
estadoal, os que se dedicam ás profissões liberaes, me-
dicas, engenheiros, advogados, pharmaceuticos e uma
pequena burguezia e pequeno operariado, que se de-
dicam ás artes e officios mechanicos e ao pequeno com-
mercio; 2. o as genleá dos campos, os criadores que se

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dividem em estancieiros e seus capatazes e aggregadcs;
3. o nas zonas da serra e da matta, pequenos grupos agri-
colas, que vão sendo em toda a linha desbancados
pelos colonos allemães; 4." os fortes destacamentos do
exercito. nomeadamente nas regiões das fronteiras, o
que demanda grandes :~emessas de dinheiros federaes.
Ora, é evidente, que taes gentes não teem base
economica séria, estavel,~ amplamente productivlI. D'ahi
o recorrerem ao que ::1a escola social de L1: Play,
Tourville, Rousiers e Ed. Demolins se chama a politi~(¡
alimentaria.
Ao passo, porém, que as nossas populaçõe;; assim
vegetam em um viver I~conomico instavel, as popula-·
ções germanicas vão pro~:redindo a olhos vistos; porque,
pelo regimen do trabalho, se acham de pos:ie da::;
verdadeiras fontes das riquezas e do bem estar.
Acham-se de posse da industria agricola, no goso
quasi exclusivo da terra, das industrias fabris, do alto
commercia importador e exportador, do commercio
bancaria, da navegação, de., etc.
Os nossos patricios, imprevidentes e pretencioso::;
por indole, sentem-se bem; porque se lhes afigma que
os colonos e,stão alli para trabalharem exclusivamente
para supprir-Ihes as faltas do proprio esforço. Desde
que o elemento germanico produz e gera a riqueza, ajuda
largamente a pagar os impostos e a cobrir as dcspezas,
parece-lhes que aquilla é o melhor dos mundos.
Não reparam, porém, os ingenuos, e aqui é que bate
o ponto principal da questão, que o elemento all,~mão o
que está fazendo é trabalhar principalmente para si pro--
pria e que, á medida que elle cresce, augmenta, prolifera,
se estende e enriquece, vae tomando a dianteira em
todos os ramos da actividade social, vae subindo, e ati··
randa os outros para o segundo e terceiro plano.

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As nossas gentes acabarão irrecusavelmente por ser


de todo supplantadas.
E' fatal, é a consequencia inilludivel dos pheno-
menos sociaes e economicos. Não ha, não póde haver ahí
duas opiniões. O contrario é pintar n'agua.
Em Santa Catharina é, mutatis mutantis, a mesma
a situação. Só não existem alli os corpos de exercito
federal destacados, que attrahem os dinheiros da União,
e a immensa fronteira com os estrangeiros do Prata,
porta aberta ao contrabando, uma das fontes, mas fonte
falsa e envenenada, da vida economica do Rio Grande
do Sul.
No Paraná, póde-se dizer que nem ao menos existe
a tal ou qual agricultura que os nossos possuem nos
dais Estado.,> extremos do meio-dia. E' ella substituida
pela simples "ecolta primitiva da herva matte e pelo
corte de madeiras, duas fontes aleiatorias de renda e de
base economica.
Em taes condições não admira que os nossos patri-
cios do Paraná, como os de Santa Catharina, como os do
Rio Grande, se julguem n'um mar de felicidades. pelo
facto de terem os· colonos a trabalhar para elles, como
ingenuamente acreditam.
Não olham para o futuro, não vêem que estão
sendo geitosamente supplantados, entregues aos sonhos
delirantes de uma politicagem refece que vae ajudando
a mataI-os. Por isso não admira que, cégos como andam,
se mostrem sorprezos, quanclo se lhes fala no abysmo
que os vae engolir.
E' a acção do tempo e a historia não mente; é a
lucta entre o trabalho estavel do elemento ousado, in-
ventivo, cheio dt: iniciativa, de coragem pessoal, do ele-
mento de formação particularista e o viver desordenado

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instavel, aleatorio do velho elemento communa1'io de Es··


tado, que tudo espera da politica alimentaria, da politicêL
-meio de vida ...
O resultado do combate só não é enxergado por
quem não quer vêr, ou não entende duas palavras de:
sciencia social.
Os laços politicos, que são os ultimos que se rom ..
pem, quebrar-se-hão a seu tempo.
E depois, não venham dizer que não houve quem
os avisasse.
De trinta e tantos annos a esta parte não tenho ces-
sado de cumprir este doloroso dever, e ainda agora in-
dico os meios para se conjurar o perigo.
Falo como patriota, não tendo interesses il1lmedia-
tos na questào senão o amor entranhado que tenho a
este desventurado Brasil.
Inventaram agora de fresw que ando eivado d,;
violento lusitanismo .•.
Assim loucamente appellidam o ardente de"ejo qu,;
mostro de que esta pobre patria br~sileira flssimile os
elementos, todos os elementos estranhos que n 'ella se
têem vindo implantar, para não perder a sua feiçã:J
historica de povo-luso-americano, para não perder em
parte alguma o uso da bQlla e magestosa lingua de
Camões.
Infelizmente creio c ue ainda desta vez serão perdi-
dos os meus esforços ...
Os Brasileiros estão cégos.
Que desgraça!
Fevereiro de 1906.

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