Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
,;
12 1 Silvia110 Santiago
d i11ocê11 i do í11díge11a . Dia11te des a fig ira ''er11 e]f1as
Ll ma aqt1eia111 o b1·a11co cab 1·ia }Jergt111tar e eles 11 ão
procura\ an1 cl1egar ao ê ·tase es1Jiritual pela duplicação dos
ge to . Ião acreditaria1n tan1bén1 c1ue poderia111 e11contrar 0
det1 do c1·i tãos ao fi11al c]os ''e ~ercícios espiritt1ais'', assim
co1110 o í11dios de Porto Rico teria111 se ajoell1ado dia11te do
e i)anl1ol afogado que tive e esca1Jado à putrefação?
fl:ntr o JJOVO indígenas da 111érica Lati11a a palavra
euro1Jeia, ]Jro11unciada e de1Jressa apagada, se perdia na sua
i111ateria]idade de voz, e 11u11ca se JJetrificava ein sig110 escri-
to, 11u11ca conseguia ii1stituir e1n escritura o i10111e da divin-
dade cristã. Os Í11dios só qt1eriam aceitar como 1noeda de
co111u11icação a representação dos acontecin1entos 11arrados
oral111ente, enquanto os co11quistadores e missionários insis-
tia111 11os be11efícios de u111a co11,1ersão milagrosa, feita pela
assirni]ação passiva da dot1trina trans1nitida oralmente. l11sti-
tuir o 110111e ele Det1s equivale a impor o código linguístico no
qL1al seu 1101ne circula em evicle11te transparência.
Colocar junto não só a representação religiosa como a lín-
gua et1ro1)eia: tal foi o trabalho a qt1e se dedicaram os jest1ítas
e os co11c1uistadores a partir da segunda metade do século
XVI 110 Brasil. As representações teatrais, feitas no interior
das tal)as indígenas, comporta1n a míse-en-scene de t1m epi-
sódio do Fios Sanctorum e um diálogo escrito metade em
portt1guês e a outra metade em tupi-guarani, ot1, de maneira
nlais precisa, o texto em português e sua tradução em tupi-
guara11i. Aliás, são numerosas as testemunhas que insistem
e1n assinalar o realismo dessas representações teatrais. Um
padre jesuíta, Cardim, nos diz qt1e, diante do qt1adro vivo
do n1artírio de São Sebastião, patro110 da cidade do Rio de
Janeiro, os espectadores não podiam esconder a emoção e as
lágrimas. A doutrina religiosa e a língua europeia conta 111 i-
nam o pensamento selvage1n, apresentam no palco o corpo
14 I Silvía110 Sa11tiago
perfurado por flecl1as, corpo e111 tudo se111ell1a11te a
)1 u111a110
outros corpos qt1e, pela cat1sa religiosa, e11contravam morte
paralela. Pouco a pot1co as re1)rese11tações teatrais propõem
t1ma substitL1ição defi.11iti''ª e ii1exorável: de agora en1 diante,
11a terra descol)e1·ta, o código li11gt1ístico e o código re]igioso
ção. -e assim que \1e111os 11ascer })Of todos os lados essas cidades
de 110111e europet1 ct1ja única originalidade é o fato ele traze-
re111 a11tes do 1101ne de origem o acljetivo ''novo'' ot1 ''nova'':
16 1 Silviano Sa11tiago
' co11taminada e1n fa or de u111a nlistt1ra sutil e complexa
e11tre o ele111ento et1ro1)et1 e o elen1e11to at1tóctone t11na
espécie de i11filtração progressiva efetuada pelo pe11sa111en-
to selvage111, ot1 seja, abertt1ra do único ca1ninl10 possível
qt1e poderia levar a descolo11ização. Cami11l10 percorrido
ao inverso do percorrido pelos colo11os. Estes, 110 desejo de
e ·terminar a raça indíge11a, recolhiam 11os hospitais as rou-
pas infeccio11adas das vítimas de varíola para depe11durá-las
co111 011tros presentes nos atalhos frequentados pelas tribos.
o novo e infatigável movimento de oposição, de mancha
racial, de sabotagem dos valores culturais e sociais impostos
pelos conquistadores, uma transformação maior se opera na
superfície, mas que afeta definitivamente a correção dos dois
sistemas principais que contribuíram para a propagação da
cultura ocidental entre nós: o código linguístico e o código
religioso. Esses códigos perdem o seu estatuto de pureza e
pouco a pouco se deixam enriquecer por novas aquisições,
por miúdas metamorfoses, por estranhas corrupções, que
transformam a integridade do Livro Santo e do Dicionário e
da Gramática europeus. O elemento híbrido reina.
A maior contribuição da América Latina para a cultura
•
5 En1 artigo de sig11ificativo títt1lo Sol da Meia Noite, publicado em 1945, Üs\vald
de Andrade detectava por detrás da Alemanha nazista os valores de unidade
e pureza, e i10 set1 estilo típico comentava com rara feliciclade: ''A Alen1anha
racista, purista e recordista precisa ser edt1cada pelo nosso mt1lato, pelo cl)inês,
pelo índio n1ais atrasado elo Peru ot1 do México, pelo africano do Sudão. E pre-
ciso ser misturada de t1n1a vez para sen1pre. Precisa ser desfeita no melting pot
do ft1turo. Precisa n1t1latizar-se''. Ponta de Lança. Rio, Civilização, 1972, p. 62.
2.
Se os etnólogos são os verdadeiros responsáveis pela desn1is-
ti ficação do discurso da História, se contribuem de maneira
decisi\ a para a recuperação cultural dos povos colonizados,
1
J8 I Silviano Sa11tiago
fonte tor11a- e a estrela i11ta11gível e pt1ra qt1e, se1n se dei-
xar coi1tami 11ar co11tamina brill1a para os artistas dos países da
inérica Latina, c1t1a11do estes dependem da sua luz para 0 seti
trabalho de expressão. Ela ilumi11a os movi111entos das mãos
20 1 Sílviano Santiago
ttma clí ida co11traída, de u111a ideia rot1bada, de t1111a i111agem
ou pala ra pedidas de emprésti1no. A voz profética e ca11ibal
de Pat1l Valéry 11os cl1ama: "Nada n1ais original, 11ada n1ais
intrí11seco a si que se ali1nentar dos outros. É preciso, porém,
digeri-los. O leão é feito de carneiro assi1nilado".
Feche1nos o parê11tese.
Declarar a falência de tal método i1nplica a 11ecessidade
de substituí-lo por outro em que os eleme11tos esquecidos,
neglige11ciados e abandonados pela crítica policial serão iso-
lados, postos em relevo, em benefício de um novo discurso
crítico, o qual por sua vez esquecerá e negligenciará a caça
as fo11tes e às influências e estabelecerá como único valor
crítico a diferença. O escritor latino-americano visto que
é necessário finalmente limitar nosso assunto de discussão -
lança sobre a literatura o mesmo olhar malévolo e audacioso
que encontramos em Roland Barthes na sua leitura-escritu-
ra de Sarrasine, este conto de Balzac incinerado por outras
gerações. Em S/Z, Barthes nos propõe como ponto de par-
tida a divisão dos textos literários em textos legíveis e textos
''escrevíveis'', levando em consideração o fato de a avaliação
que se faz de um texto hoje estar intimamente ligada a uma
''prática e esta prática é a da escritura''. O texto legível é o
que pode ser lido, mas não escrito, não reescrito, é o texto
clássico por excelência, o que convida o leitor a permanecer
no interior do seu fechamento. Os outros textos, os ''escreví-
veis'', apresentam ao contrário um modelo produtor (e não
representacional) que excita o leitor a abandonar sua posição
tranquila de consumidor e a se aventurar como produtor de
textos: ''remeter cada texto, não a sua individualidade, mas a
seu jogo'' nos diz Barthes. Portanto, a leitura em lugar de
tranquilizar o leitor, de garantir seu lugar de cliente pagante
na sociedade burguesa, o desperta, transforma-o, radicaliza-
-o e serve finalmente para acelerar o processo de expressão
22 1 Silvia110 Santiago
público, do partido qL1e ele tira, e nossa a11álise se completará
pela descrição da téc11ica que o inesn10 escritor cria 110 set1
1110,·i1nento de agrec;são contra o modelo original, fazendo
ceder as ft111dações que o propt111ha1n co1no objeto ú11ico e
de reprodt1ção impossí\·el. O in1agi11ário, no es1Jaço do neo-
colo11ialisn10, 11ão pode ser 111ais o da ig11orância ou da i11ge-
nt1idade, nutrido por t11na 111anipulação simplista dos dados
oferecidos pela experiê11cia i1nediata do at1tor, mas se afirma-
ria mais e mais con10 t1ma escritura sobre ot1tra escritt1ra. A
obra segu11da, já qt1e ela em geral comporta t1ma crítica da
obra anterior, se in1põe com a violência desmistificadora das
pla11cl1as a11atômicas que deixam a 11t1 a arquitetura do corpo
ht1mano. propaganda tor11a-se eficaz porque o texto fala a
linguagem do nosso tempo.
O escritor latino-americano brinca com os sig11os de um
outro escritor, de outra obra. As palavras do outro tê1n a par-
ticularidade de se apresentarem como objetos qt1e fascinam
seus olhos, seus dedos, e a escritura do texto segundo é em
parte a história de uma experiência sensual com o signo es-
trangeiro. Sartre descreveu admiravelmente essa sensação, a
aventura da leitura, quando nos fala das suas experiências de
menino na biblioteca familiar:
24 1 Silvíano Sa12tiago
~ difícil ])recisar e é a frase ouvida ao acaso que atrai a
ate11ção do sul-americano, ou se ele a vê porque acaba de
]e,1a11tar os oll1os do li,1ro de Butor. E1n todo ca o uma coisa
'
é certa: as leituras do escritor lati110-a111ericano 11ão são nt111ca
i11oce11tes. ão 1)oderia1n 11t111ca sê-lo.
Do livro ao e pelho, do espell10 ao pedido do fregt1ês
glutão de cl1âteau à sua tradt1ção, de Cl1ateaubria11d ao es-
critor ul-a111ericano do origi11al à agressão nessas tra11s-
formações6, realizadas, na ausência final de n10\rimento, 110
de ejo tor11ado coágulo, escritura ali se abre o espaço
crítico por 011de é preciso con1eçar l1oje a ler os textos ro-
111â11ticos do 1 ovo lundo. esse espaço, se o significan-
te é o n1esmo, o significado circula outra mensage111, uma
1ne11sagem in,1ertida. Isolemos, por comodidade, a palavra
''índio''. En1 Chateaubria11d e muitos outros româ11ticos
europeus, este significante torna-se a origem de todo um
te111a literário que nos fala da evasão, da viagem, desejo de
fugir dos contornos estreitos da pátria europeia. Rimbaud,
por exemplo, abre o seu longo poema Bateau Ivre por uma
alusão aos ''Peles-vermelhas barulhentos'', que anuncia no
seu frescor infantil o grito de rebelião que se escutará ao
final do poema: ''J e regrette l'Europe aux anciens parapets''.
Aquele mesmo significante, porém, quando aparece no tex-
to romântico americano, torna-se símbolo político, símbolo
do nacionalismo que finalmente eleva sua voz livre (aparen-
temente livre, como infelizmente é muitas vezes o caso),
depois das lutas da independência. E se entre os europeus
26 1 Silviano Sa11tiago
tra11scrição do poe111a os clecassílabos de Valéry se tra11sfor-
1na1n em alexa11dri11os. agressão contra o modelo, a tra11s-
gre são ao 1nodelo proposto pelo poe1na de Valéry se sitt1a
11essa duas sílabas acrescentadas ao decassílabo, peqt1eno
st1plen1e11to sonoro e diferencial qt1e reorganiza o espaço vi-
st1al e silencioso da estrofe e do poema de Valéry, modifican-
do ta1nbén1 o ritmo inter110 de cada verso. A originalidade,
pois, da obra visível de Pierre Menard reside 110 pequeno
suple1ne11to de violência que instala na página branca st1a
presença e assinala a ruptura entre o modelo e sua cópia, e
finalmente situa o poeta face à literatura, à obra que lhe serve
de inspiração. ''Le lion est fait de mouton assi111ilé."
Segt1ndo Pierre Menard, se Cervantes, para construir seu
texto, não tinha ''rejeitado a colaboração do acaso'', ele tinha
''contraído o misterioso dever de reconstituir literalmente sua
obra espontânea''. Há em Menard, como entre os escritores
latino-americanos, a recusa do ''espontâneo'', e a aceitação
da escritura como um dever lúcido e consciente, e talvez já
seja tempo de sugerir como imagem reveladora do trabalho
subterrâneo e interminavelmente heroico o título mesmo da
primeira parte da coletânea de contos de Borges: ''o jardim
das veredas que se bifurcam''. A literatura, o jardim; o traba-
lho do escritor a escolha consciente diante de cada bifur-
cação e não uma aceitação tranquila do acaso da invenção. O
conhecimento é concebido como uma forma de produção. A
assimilação do livro pela leitura implica já a organização de
uma práxis da escritura.
O projeto de Pierre Menard recusa, portanto, a liberdade
total na criação, poder que é tradicionalmente delegado ao
artista, elemento que estabelece a identidade e a diferença na
cultura neocolonialista ocidental. A liberdade, em Menard,
é controlada pelo modelo original, assim como a liberdade
dos cidadãos dos países colonizados é vigiada de perto pelas
28 1 Sílviano Santiago
Ot1a11do 1e111os larx, de in1ediato estamos dia11te de t1n1
leitor, que dia11 te de 11ós e em ''ºZ alta lê: [... ] lê Qt1esnay,
lê 1n itJ1, lê Ricardo, etc., [...] para se apoiar sobre o qt1e
dissera111 de exato e 1)ara criticar o que de falso disseram [...].
Março de 1971
, ea
State U11iversily of e\.v York at Bt1ffalo ( I 973). A versão em
porhigtiês, feita pelo autor, clata da pt1blicação do livro Uma
literatura nos trópicos (1978) .
30 1 Silvümo Santiago
d111iro con10 algué1n pode 1ne11tir pondo
a razão do seu próprio lado.
(Jean-Paul artre)
•
[... ] toda retórica visa a superar a dificuldade do discurso sincero.
(Rola11d Bartl1es)
1 ASSIS, Joaquin1 Maria Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Pref.
Augusto Meyer. São Paulo: Melhoramentos, s/d, p. 17. •
'
a ex,
1
ci . ão iiit I e a1 11 1J · pura11 e11t ei ociorial a 1 .
. . " ' . it tra
. o es..
~ . . aa
qualquer ron1ancista.
an,
32 1 Sílviano Sa11tíago
para reto1nar a metáfora empregada por Nlachado. Foi se
não 11os e11ga11amos, He1en Cald\\·ell, no seu The Brazilia 11
Othello of l 1achado de Asszs, quem primeiro assii1alou esta
corre pondência. Analisada e catalogada ficou ela infeliz-
n1ente atirada para um canto, pois o crítico norte-a1nericano
a11alisa en1 separado os dois roma11ces. Faltou-ll1e dar o salto
i11dispensá\·el: estudar Dom Casmurro dentro da econo1n ia
interna da obra de achado de Assis.
Mais importante ainda é não cair em outro equívoco da
crítica 111acl1adiana que insiste em analisar Dom Casrnurro
co1110 t11n pendant, ou mesmo excrescência, de certa corren-
te do ron1ance burguês, mas de intenção antiburguesa do
séct11o XIX, a do estudo psicológico do adultério fe1nini110,
c11jos exe111plos mais conhecidos para nós brasileiros são a
Mada111e Bovary e O Primo Basílio. Segundo essa crítica -
qt1e 11ão percebe que o romance de Machado, se estudado
for, é a11tes estudo do ciúme, e apenas deste dois partidos
to111aram bandeira e começaram a se digladiar em jornais,
revistas e até livros: se condenava ou se absolvia Capitu. Esta
dispt1ta chegou a tal ponto, que um machadiano incansável,
Eugênio Gomes, decidiu entrar em campo e apaziguar os
ânimos e os grupos rivais, escrevendo 200 páginas que levam
o título infeliz de O enigma de Capitu.
Para a alegria ou tristeza geral da nação, vamos reabrir o
problema, mas entraremos por outra porta, já que se nos afigu-
ra como indispensável mudar de chave. A ferrugem intelectual
é ainda o mais poderoso e corrosivo ácido contra a boa crítica.
Qualquer das duas atitudes tomadas na leitura de Dom
Casmurro (condenação ou absolvição de Capitu) trai, por
parte do leitor, gra11de ingenuidade crítica, na medida em
que ele se identifica emocional1nente (ou se simpatiza) con1
un1a das personagens, Capitu ou Benti11l10, e comodame11te
já se sente disposto a esquecer a grande e grave proposição do
34 J Silvia110 Santiago
problemática de Dom Casmurro ultrapassa por assin1
dizer o e5quema rígido das relações propostas apenas por
este romance, pois não é só ele que reflete o proble111a do
a1nor/casamento/ciúme na sociedade patriarcal brasileira
do Segundo Reinado, como não é só ele que ilt1stra a busca
de defi11ição, cada vez mais precisa e mais ambígua, mais
rica de detalhes também, da posição complexa e asfixiante
do adolescente ao querer o seu lugar ao sol dentro da rigi-
dez da comunidade burguesa e aristocratizante do final do
séct1lo. Sua condição de adulto e semelhante. Sua imperso-
11alidade e personalidade.
Em análise longa e minuciosa que fizemos de Ressurrei-
ção, já publicado no Suplemento Literário de O Estado de •
36 1 Silviano Santiago
Porém 11a ''ésperas do ca ame11to recebe carta lacônica e
anônima, act1sa11do a ft1tura esposa. Espírito já predisposto
a dú,,ida, -célix não pe11sa dt1as \ieze : dá total crédito a carta
anôni1na e abando11a o projeto de casa1ne11to.
Estamos salie11tando este episódio do romance porqt1e
é ele qt1e nos pode conduzir ao proble1na ético da condt1ta
do l1omem ciumento no t1ni\ erso roma11esco de Macl1ado.
1
r1a111 qu . . s 1 car
40 1 Si/viana Santiago
co1n1Jaração e por oposição a falta de 1ne1nória. Desco11l1ece,
ot1 bem 11ão ten1 certeza do 110111e do at1tor das diferentes ci-
tações com qt1e abre cada t1m dos citados capítulos. Co11fessa
no pri111ei ro: "Creio l1aver lido em Tácito [... ], se não foi 11ele
foi 11outro at1tor antigo [... ]"; e no outro: "[ ... Ja prova de ter a
nlemória fraca seja exatamente não me acudir agora o no1ne
de tal [autor] a11tigo [... ]''. Basta justapor os dois trechos se-
guinte para que se possa apreender em toda st1a riqueza o
problema de que estamos falando:
. ,. as
cita Goet11e logo no 1n1c10. '
o prefácio de Contre Sainte-Beuve, Proust deixa cl aro a
. -
sua pos1çao:
42 1 Silviano Santiago
que de certa forn1a traduze1 1 apena o bo111 se11 o. pro\ érbios
co1no: " 'ai pai tal filho ' ou ' r'ill10 de ]Jei ·e pei ·iI1ho é".
per tia ão 110 pre e11te ca o, rge }JOrtanto da e11trega ao
leitor dac1L1ilo 111es1110 que a sua 111ente já e tá l)fCJJaracla para
receber (''la sages e des 11atio11 co1110 se diz e 111 fra11cê );
11 ão exige dele 11enl1u1n e forço de ada1Jta ão 11e11l1t1111 111e-
Jl1ora111e11to. O co11\re11cime11to 11ão é fei to co111 a es1)era11ça
de qL1e o leitor e\1olua o seu 111odo de pe11sar 0L1de e11carar os
)JrolJlen1as, 1nas 1)elo fato de ll1e propor co1110 IJase IJara o set1
4
julga1ne11to aquilo mes1no qt1e já possui: o bon1 se11so • St1r-
pree11der, porta11to, a falácia do narrador-ad,rogado é rect1sé1r
a situação de eqttilíbrio (falsa) proposta pelo consen ·adoris-
1110, é des111ascarar a sua li11guage1n e deitar certa i11tranqt1i-
lidade no status quo.
e, de certa maneira, são esses os inecanis1nos predon1i-
na11tes 110 modo de raciocinar do 11arrador, e, por consegui11-
te, de co11ve11cer, não se deve esqt1ecer de que a retórica elo
verossímil se es1Jraia, ocasionando certa con1preensão par-
ticular elo co1nporta1nento dos outros. Duas atitudes, entre
ot1tras, são típicas de Dom Casmurro, quando analisa os
qt1e o rocleiam: a) joga a culpa de toda calú11ia nos outros,
ise11tando-se aparentemente de qualquer responsabilidade,
colocando-se ainda na qualidade de vítima; b) empresta aos
ot1tros contradições entre o que cl1amaremos por enqt1anto
de i11terior e exterior.
No pri1neiro caso, bastaria lembrar que a primeira acu-
sação contra Capitu foi feita por José Dias: ''olhos de cigana
oblíqt1a e dissimulada'', e é o mesmo José Dias, à semelhança
de Luís Batista em Ressurreição, que inspira a primeira crise
,,
4 E111 recente artigo sobre a poesia de Affo11so Avila, A/1s! e silêncio, proct1ramos
111ostrar co1110 set1 poen1a se constrói por st1cessivas transgressões/traições a
t1n1a frase-feita, 011 chavão, desajuste este que vc1n ser o responsável pelo salto
semâ11tico e participante, anticódigo e re\ olt1cionário.
1
44 1 Silvíano Santiago
protege de cert~ for1na Be11tinho e ao 1ne 1110 tenipo chama
a ate11ção do leitor }JOr contraste, i)ara a stta si11ceridade ele
vítinJa. Ora con10 vin10 no caso de Ressurreição ein que 0 es-
queleto do 1necanisn10 de })en a1nento do hon1e1n citunento
e 1110 tra 111ai a ''i ta, por i1111)erícia do ron1a11ci ta estrea11te
(repita1nos) a dissin1ulação feminii1a é un1 dado qt1e existe e
e,·i tirá 11a sociedade qt1e lachado descre,,e e qt1e pode ser
obsenrado e111 toda jo,re111 qt1e se enamora e deseja casar-se. É
conseqt1ência da sua própria posição fre11te ao l10111e111, i1a so-
ciedade, e de modo algt1m pode ser tomada co1110 exe1nplo de
ftih1ra traição. A 11ão ser, é claro, que se dê inais in1portância
ao verossí111il do qt1e a ''erdade.
Acreditamos que já se encontra esboçada em ter1nos ge-
rais e e111 seus traços predo1n inantes o qt1e estamos cl1ama11do
de retórica da verossin1ilhança. Podemos desde já concluir,
então, q11e o romance que estamos analisando dran1atiza
a ''sit11ação moral'', para usar a expressão de Machado ao
criticar O Primo Basílio, de Dom Casmurro. Seu problema
ético-n1oral é óbvio, sua reconstituição do passado é egoísta
e interesseira, medrosa, complacente para consigo mesmo,
pois visa a liberá-lo dessas ''inquietas sombras'' e das graves
decisões de que é responsável. O remorso (outro vocábulo
constante na pena de Machado crítico) deve rondar as suas
últimas horas. Como no poema baudelairiano intitulado O
irreparável, devia ele clamar: ''Em que filtro, em que vinho,
em que tisana/ Afogar esse velho inimigo?''. Dom Casmurro
dá prioridade a este ''velho inimigo'' nas suas preocupações
de suburbano pacato, e o afoga com sua escrita.
Através do seu discurso ordenado e lógico, procura re-
solver st1a a11gústia existe11cial. Depois de perst1adir a si,
quer persuadir os outros da sua verdade. Percebe-se, porém,
que o ex-seminarista advogado incorre em duas falácias ao
estabelecer a sua verdade. Do ponto de vista estritamente
III
Nesse sentido, de grande importância para se compreender
11ão só a extensão da problemática colocada pelo romancista
e pelo romance como também a riqueza do drama ético-mo-
ral de Dom Casmurro, caso se o considere como uma ''pes-
soa inoral'', ou representativo de uma coletividade de chefsl
salauds (Sartre) seria a leitura de Fedro, diálogo de Platão
en1 que Sócrates discute o problema da retórica que se vale
do verossímil como recurso de persuasão, e as 18 cartas escri-
tas por Louis de Montalte a um provincial, conhecidas como
Les Provinciales (a partir da quinta carta), em que Pascal
critica sem nenhuma clemência a casuística jesuíta, através
do que se cl1ama o ''probabilismo'', ou seja, ''a doutrina das
opiniões prováveis''. A palavra ''provável'', como nos ensinam
os teólogos, guarda o seu sentido etimológico, que é o equi-
valente perfeito do verossímil em retórica. Eis a definição
fornecida por um dicionário de religião e ética: "An opinion
46 1 Silvíano Santiago
i probable "hich con1111end it elf to tJ1e 111 ind by \veighty
rea on as bei11g ''el)' JJOS ibJ true ·6.
i 111 carta dirigida en1 l 906 a Joac1ui 111 l 1abt1co, e a 111-
pla111e11te di\ru)gada o próprio achaclo de 1\ ssi co11fessa
0 e 1 culto JJOr Pa cal: ''Desde cedo~ li 111t1ito Pascal (... ],
e afir1110-lhe qt1e não foi por distração'. Oua11to a Platão,
=
9 As citações de Platão foram extraídas de: PLATÃO. Phedre. Paris: Les Belles
Lettres, 1966. As páginas são indicadas entre parênteses.
48 1 Silviano Santiago
pessoas da st1a opii1ião. E não é este um dos pri11cipais inte-
resses da prosa de Do1n Casmt1rro co1no \'in1os 1nostrando? e
de qt1e outra maneira se poderia jt1stificar a st1a constante ne-
cessidade de trazer para a are11a de discussão o leitor? Co1no
ainda se poderia justificar a chave de ouro do livro, frase fi11al
que pede a apro\1ação do leitor para contradizer a Escritura
e impor a palavra verdadeira como a metáfora do narrador?
Segt1ndo Sócrates, o grande erro do ensino e da prática da
retórica 11a Grécia é que, como diz Fedro:
10
Como assinala Pascal , no mundo barroco dos casuístas,
graças à instituição do Probabilismo como teoria, chegava-
se a equívocos extraordinários e sobretudo à organização de
uma religião que não conduzia à fé, ou à caridade, mas que
queria, pela benevolência, receber no seu seio os grandes e os
nobres, agradá-los para receber em troca o seu agradecimen-
to. Tão intricado ficou o sistema, que o Padre Bauny, como
52 1 Silviano Sa11tiago
Tão se ,,ingot1 de Capitu, ape11as defendeu a stta J1onra.
Tão me 11 tiu aos set1s amigos, a1)e11as lhes escondia o deslize
da espo a. Talvez se sentisse até ge11eroso.
facl1ado de t\ssis pode1nos concluir quis com Dom
Casrnurro des111ascarar certos l1ábitos de raciocínio, certos
01 eca 1isn1os
1 de pensame11to, certa benevolência retórica -
hálJitos, 1necanismos e bene\·olência que estão para sempre
enraizados na cultura brasileira, na medida em qt1e foi ela
balizada pelo ''bacharelismo'', que nada mais é, segundo
Fer11ando de Aze, edo, do que ''um mecanismo de pensa-
1
[1969]
'
erg1 _ . n iça0
1 e11 . . no sen .
. , . Papel
'b l . , . sonho
ode er encontrada no conto-para o a Jª citado, o a~ .
P . . quzteto
· . eado
, . , ,, ,, . . er a
,, . ar e,
·a ,,
cioso: 0 colossal monumento ao al cai e-mor (p. 149). i
[1973]
•
O propósito deste trabalho é o de configurar três momentos e
1nodos disti11tos de pesquisa em Teoria da Literatura, segundo
os postulados de alguns estudiosos franceses da última década.
Para que tal tarefa fosse levada a cabo sem acúmulos enciclopé-
dicos, optamos por duas atitudes: a) selecionar primeiro apenas '
algu11s textos e, em seguida, estudá-los de tal modo que servis-
sem de núcleo para fixar determinada situação teórica; b) apre-
sentar sempre as obras a partir de seu sistema conceitua! (explí-
cito ot1 implícito), e nunca a partir de uma possível paráfrase.
Com isso, pensamos que evitamos, no primeiro caso, o
excesso de exemplificação repetitiva, e deixamos ainda para
o nosso leitor a tarefa de incluir (ou não) os seus teóricos den-
tro de algt1m dos momentos. No segundo caso, acreditamos
que pt1demos neutralizar certa retórica tão ao gosto francês
pela depuração que representa a exposição pelo conceito.
ão se confunda, por obséquio, redução do campo de es-
tudo a deter111inado grt1po, cujo único fim é o de mell1or (es-
peramos) apree11der as ideias, con1 u1na simples galomania.
bola trans111ite-JJJe o impulso, e eis a segt111da bola a rolar como a primeira ro-
lotI. Supo11l1amos que a prin1eira bola se c11ama ... Marce]a, é unia simples
suposição; a segu11da, Brás Ct1bas; a terceira. Virgília [etc.]'' (ASSIS, Macl1ado
de. Obra Co1npleta, Rio de Janeiro: Aguilar, 1971, v. I., p. 560). Seria necessá-
rio a11alísar todo o capitttlo e, ein particular, suas i1nplicações no pensamento
111etafísico. Fica ape11as a i11dicação.
3 BAR1HES, Rola11d. L'actívíté structuraliste: Essais critiques. Paris: Set1il,
19641 pp. 213--220. Existe tradt1ção brasileira; a tradução para algt111s tern1os
foi to111ada de e111présti1110 a ela.
4 PROPP, Vladí111ir. f\1/orp/10/ogíe du co11te. l'aris: Seuil, 1970. Co11sultar, c111
particular, o ca1)ít11lo ]\1/étodo e 111c1téría.
,
7 LEVl-STRAUSS, CJat1de. La Pensée Sauvage . Paris: Plon, 1962. Em particu-
lar, o capítulo I, A ciência do concreto.
8
ele111e11tos internos . ou a ''totalidade'' do objeto estt1dado .
J\firn1ar apenas a configuração global e a relação das fun-
çêes a11t1 lando a força, co11forme assinala Derrida, visivel-
111ente influenciado por Tietzsche, é indicar co1no o pe11-
amento estruturalista esta''ª i11teressado na apreensão do
todo, do panorama ,
global proporcionado pela representação
pa11orográfica. E recair em um bidimensionalismo formal,
pois o ''relevo e o desenho das estruturas tornam-se mais vi-
sí,·eis quando o conteúdo, q11e é a energia \1iva do sentido, se
9
encontra neutralizado'' .
O tipo de análise descrito até agora foi feito seguindo prin-
cipalmente duas postulações teóricas. Ou bem o processo de
reconstituição era feito a partir de un1 exen1plo único e se apre-
senta''ª o estudo deste exemplo con10 n1atriz teórica para a aná-
lise de ot1tros exen1plos sen1elhantes, aproveitando-se a lição
teórica e clássica da Poética, de Aristóteles. Ou bem estabele-
cia-se a priori t1m 1nodelo de análise teórico, baseando-se para
isso principalmente nos e11sinamentos, já julgados ''científico P
3.
1à11to o panorama das discu sões e111 tor110 das Ciê11cias I-I u-
111anas quanto o discurso da Crítica Literária tal qual era pra-
ticado pelos di,rer 'OS estudiosos ambos vão 111udar de 111aneira
radical quando da entrada em cena de dois pensadores de 11íti-
da formação filosófica. Um, professor de Filosofia en1 t111i\·ersi-
dades da pro,1ncia e significati\ramente marginalizado do n1eio
sorbo11nard, e o outro, um jo\·en1 esh.1dante da Escola l or111al
uperior, aluno de Althusser e de Fot1cat1lt. Referin10-nos a Gi-
les Deleuze e a Jacq11es Derrida. São a1nbos qt1e se e. forçan1
por retirar as categorias do discurso teórico das \1árias Ciências
Humanas (discurso que, con10 já salienta111os, esta''ª operando
com as categorias ''inocentes'' de Saus ure, ot1 co111 a catego-
rias mais rece11tes e ''científicas'' da Lingt1ística Estrt1h1ral) do
limbo filosófico em que se enco11tra\·é1111, para dar-ll1es o estatt1-
to de culpadas, na medida e1n qt1e, con1 elas, ai11cla se trc1ball1a-
\1a dentro do sistema da metafísica ocidental. Sisten1a este qt1e,
•
Uma literatura nos trópicos 1 245
. - or un1
par de OJJO 1 ao. u111 ter1110 co11 ena set1 non1e ai1tigo
. . _ _ t .
de tru1r a opo 1 ao a que nao per e11ce 111a1 cornp1etan e Para
.d J • ~ . d 1 11te
a que nu11ca terá ce d1 o a 11 ·tor1a essa oposição sei d '
1 0
d un1a luta i11ce a11te l1ierarquiza11t s. 1 ª
rlàda a l1i tória cl llllla • '()}\,\,, tll' llll\ l1ál itc) 1 oc] 'l' lll1l[l
cacleia i11i11tl 1 rt1pta cl i11t 11)1 "l 'lÇ<> ele fl] li 'él <> ~ '1111) 1 \
110,au. ct1 J cau a"' 11 111 • c1t1e1· 1)1·' 'i ~1111 St'l li él l ~1s 11 t1 l
ela e qtie, e111 lCtt"1~ lirct111'\t,111ci~1~. St) SllC' l '111 ' . ttl , ti-
..
~
I970 para a1)ontar às ' rezes co111 \·oz empe11hada, ot1tras com
delicada e solidária iro11ia a ((dessacralização'' da alta ct1ltura.
Os trê e11saios pode1n ser lidos sob o signo da insistência
de un1 prefixo, próprio daquela geração do desbunde e da
desconstrução qt1e aparelha Santiago na st1a atividade crítica.
4
a
~or111L1lada 110 e11 aio O eJ1tre-lugar da literatura lati110-
-a1nerica11a I)U1)licado origi11alme11te e1n inglês, e111 1971,
o co11ceito forjaclo j)Or ilvia110 antiago é pioneiro en1 re-
lação a outro isas })Osteriores como em The location of
culture, ele 1994, de I-Io1ni Bhabha. E, até por isso, vale re-
gi trar os diálogo desse crítico mineiro feito do 1nt1ndo com
Jacque l)errida (., scritura e diferença ) e Michel Foucat1lt
(Arqueologia do saber), por exemplo, e sua "reescritura" no
conte ·to i11telectt1al pós-colonial. Sabe1nos qt1e o cl1amado
disct1r o j)ÓS-colonial 11ão constitui nenhuma unidade, ainda
que seja possível entrever em st1as diferentes vertentes um
e forço co111t1111 de proclução de referências epistemológicas
críticas às co11cepções do111ina11tes e et1rocê11tricas de ''mo-
der11idacle''. Proble1natizar e mesmo desfazer o imaginário
ocide11tal 11a q11aliclade de padrão para se pensar os contextos
dos países periféricos são esforços recorrentes que permitem
repe11sar a 111oder11idade não mais a partir do exclusivismo
et1ropet1, con10 ''11arrativa 111estra'' (CHAKRABARTY, 2000,
p. 27), 111as ele st1as conexões globais (BHAMBRA, 2014 ), qt1e
poden1 (e deve1n) passar a incluir qt1estões co1no o ''[des]en-
3
co11tro colo11ial'' (CONNELL, 2007) .
O co11ceito ele ''e11tre-lt1gar'' ava11ça, assi1n, i1os n1odos de
defi11ição e co1npree11são da relação colo11ial e, ao fazê-lo,
desestalJiliza as categorias te1111)0 e es1)aço, apontando ai11da
para o valor l1et1rístico e l1istórico clt:1 ''clifere11ça'' e da alteri-
dade sobre a icle11tidade. Falar en1 ''entre-lt1gar'' in1plica co11-
siderar t1111 lt1gar co11creto e es1)ecífico, e 11ão t1111 111ero lt1gar
'' ,, .. . . 1v1d1r
~ . o 1 o
poca e
em ter1110s qt1e pern1aneceran1 pauta11do a agenda de d b
. . . e ates
7 SCHWARZ, Ró
Companhra da
J7l
Chan1a a atenção ilviano para o traço que considera o 1nais
·alie11te da retórica do ot1tro Santiago, 0 advogado-narrador:
0
· a1)riori 1110 '. Afinal, a peça oratória arquitetada para a defesa,
en1 que a ' ocações forense (do advogado) e moral-rei igiosa (do
ex- e1nina~ista) tambén1 se innana1n, "nada niais é do que
0
de envol 1n1e11to de certo raciocínio que nos conduzirá in1pla-
cavehne11te à conclusão por ele an1bicionada". Obedecendo a
uni pla110 pré-determinado, a reconstituição do passado pelo
narrador n1achadiano, egoísta e interesseira, 1naterializada tam-
bén1 11a reconstn1ção da casa de Matacavalos, segue un1 n1esmo
princípio ft1ndante presente em diferentes proposições lançadas
ao longo da narrativa que procuram industriosamente traduzir
"a igt1aldade pela semelhança". Diz Silviano:
•
3 6 S1lviano antiago
.
HOELZ Maurício ''Florestan
10 B01"'ELHO, André; BRASIL JR., A ~onio;11
ide ' Ru ai Bastos Gabriel
11 Ibide1n.
12 E t1n1 dos rnaíores perigos desse transborda111ento de t1m Jttdiciário intrusi-
''º, co1110 sugere a J1istoriadora He1oísa Star]ing, é justan1ente que os seus
111c111bros ''passam a se co11ceber como e pelhos da sociedade e acreditam
qtie stias \ ozes são co1110 expressões mecanica1nente exatas do que a socie-
1
dade deseja. Qt1a11do isso ocorre a definição do que é bon1 para todos e de
1