Você está na página 1de 50

1) O H.

·r U
e; A L.

IBERO-Al\1ERI
C 1\ N 1S ~1 O

A J( TE

A

o
• \

, ,
'
A
,

STAMOS assistindo á formação de um bloco de


nações, das pequenas nações que tém desempenhado
na resistência contra o panamericanismo, contra a
estendida teoria de Monte(, uma eficacíssima oposi-
ção civilizadora. Mantem•se assim inabsorviveis pela
América do Norte as qualidades estruturais dos povos
••
••

• do Centro e do Sul, temperando os benefícios da
o &
• form.édavel realização yankee com as condições na-
a o turais dos povos ibúicos, e, conseguindo resistir na
8~
8Q
fingua, nas tradições, nas tendmcias espitituais, no
vigor, na expressão política, presta·se um altíssimo
serviço á evolu~ da hulllllnidade (t).
~ serviço, que é o maior título de glória da
ocupação portuguesa e espanhola das Américas e que
frequentemente se aponta, nos países do Norte, como
urn traço de inferioridade das regiões iberizadas ou
latinas, é o problema fundamental dum civilizador, pois só o é aquele que, ocupando pela
primeira vez terras de nivef humano inferior, emprega todos os seus esforços no sentido de
transformar o indígena, para poder um dia coloc:a·lo no mesmo plano com as mais prós-
peras nações.
Na verdade, quando no século de quinhentos se revelou ao misndo o mundo novo,
eram as tiquezas naturais do vastíssimo continente representadas em toda a sua extensão
pelos mint.rios, dos quais o ouro tomava o primeiro lugar; pelos índios, seus autóctones;
pelos búfalos, ao norte, e pelos cavalos, ao sul. Corteram os tempos, e hoje outro é o
aspecto natural do território colombino.
Ao norte, estabeleceu-se a hegemon.ia dos povos de origem nórdica e aí se atingiu,
com a c;hamada civilização americana, o maior progresso das sclmcias mednicas e o corre·
!ativo conf8rto social. Mas, das riquezas naturais prímltivas, temos as minas de ouro esva-
siadas, os búfalos reduzidos a raros exemplares de roocultura e de parques de recreio, e o
elemento humano indigena, extenuado e perseguido de tal sorte, que o próprio govêroo
se viu obrigado a reservar-lhe territórios onde, tal como nos viveiros de animais, se con·


rerv.1m por curiosidade histórica, quisi por especulayão, algumas famílias que vivem da.
.:xibiclo

dos :;cus C()Stumes selváticos e primitivos.
E:n contraste impr.:uiooaote, ao sul, em todas as regiões em que se exerceu a.
hegemonia ibérica, encontram-se aind3 t1rtas rique:z.1s minerais, já :i!vo da cobiç.i imperia-
lista do no:te, fez-se do c;ivalo .1 opulenta Íortuoa cios pamp:i:;, e civilizou-se, de f.1cto, o
iadígena, não só perfilhando os mestiços, corno educando, tr.lt.lndo e elevando os o.1turais,
no mesmo gr:tu ela civilizaçlo dos conquistadores. E assitn, oode uns, por traos:\cçlo
comercial, adquiriram soberani.l1 fizeram extermínio e est.1cionaram a evoluçll'.o dos sobre-
viventes, por luxuosa dcmon~tr.1ç:io scientifica e aanarga ironia, os outros, com a luta
nobre e senti:do superior, c:fucar;un, protegeram e levantaram .1ti às m<lis altas funçi5~ pó-
blic.1s os habít.1ntes a.rnericano5 que encontraram na cr.1 das ducob.:rtas fl).
Este mes:no facto i con~í:!~rado pelos homens do norte como desprezível e inferior,
porqtU, no seu indtstrutivel e ceg-o pruonccito de raç.1 , confunácm a alta evolução da
humloidade co.n o prõlonga:fo domínio do seu etoos.
E confundín:!o o progrcr.so m::câoico e o bem cst.u· da rique:n e da simplic:dade das
suas mo:fe!ares iru.trtuiyõu soci.1h, com os benefícios da civili::iç.1o pro!uaóa e re:ilm~nte
prOj?ressiva, olham com dcsprê::o plra os povos do sul, uJo aceit.in1 como prova ele vigor
col.:cth•o e de cf~cvcsccnci.\ natur:il as suas lutas políticas, riem-se soberan:imtntc dos seus
homens de est~áo, dus seus v,e:ner:iis revolwcionãrlos, e a pqntnm com desdem os n1estíços,
co:no que querendo higiéníc.l!n~nte af.1star·se do coat.igio de tal suiidilde.
Por um dog1n.\ muito pat'ticular, f.eito à sombr:i da proposiç:to de Monroe, vlo
intervindo, vão-se iu~inuanclo, tanto quartto o bom senso o permite e tanto quanto a
.1tcni'.iO dos homens do Sul, prê~a pelos prob!e:na.s internos, lho consente; oão pe:rd;;ndo
um.t oportunidade para provar o seu belo e genero-.,o conceito: a Amlrlca p3ra os amerlc.Jttos,
sim, m.ts parJ. os am~rlc.:inos tio Norte.
Rcco:&o aqui a série d.! factos concretos, da história díplom.itica, coordenados por
Eduardo Prado, que constituiu o escandaloso volume .lpreendido pelas autoridades bra·
silelr:u, :l instigaç.'\o dos agentes yankees, em duas hora~, n?s primeiros tempos ap6.s a
queda cio lmpirio , 3 ).
Dizia eu, que :issistirnos l formação de u111 bloco de pequenas u;içi5e.s american;is.
tendo à sua frente vigorosas e jovens potC:ncms, como o Br1'&il e :l Argentina, e constítuido
&ob o pa ttooato de fac/o espanhol e Fionorls causa portlfguê.~. Os destinos dtsse bl~o na
polítle.'\ lntern;icional estão bem 1narcad()S. A sua ;icç.1o civilizadora, que apontei, lo melhor
te.;teoiunho histórico d.i fo:ç.l formidavel e índ6mita que o Impele.
O mesmo papel nos está reser vado, aos portugueses, e se v:ii cumprindo, no contl-
nentz negro, em op:>siçlo às tentativas de hegemonia total da p:1rte dos dominadores de
orig.im nórdica -l .
O blor....o íhetoamcricaao nlo é, pois, como vulg3Tmeatc se sup&, uma força
sentimental. E' um agr.:g.ldo político que está realizando unia obra de saneamento humano,
uma b:ttteira étnica que se contrapõe a uma corrente étnica, e b;\-de ser, me:rci da evolu-
çlo natural dentro d.1 qual se constrot:m todos os esforços superiores, uma realidade politica
com todas as caracterí.stícas intrínsecas e extrínsecas elas fortes correntes da cívili::ação.
A qualidade privativa do homem púbüça está em prevei a sucessão dos aconte·
cimentos, pelo estudo da hi:itória e dos elementos de que dispõe. Com tal intuito se vem
realizando esta obta de homens públícos que é a obra ela política iberoameric:ana, exa-
gerada no C.'lrta:t cio paniberismo, e justamente concebida, em medidas concretas, pelo
orientador prudente, que tem sabido ser, a Espanha (5).
Mas outro facto nos compele para a defesa comum, logo pata a aliança: a cobiça
que se agita sôbrc os nossos domínios territoriais, portugueses e sul-americanos, e a intcrfe-
rencia, que se d~eja, nos nossos nerôclos de estado. Escolho, entre os muitos factos
conhecidos, um que, nem por menos vulgarizado deixa ele ser típico.

2
Em 19! 1, publicou-se oa Alemanha um livro que foi, por nssim óizer, o código do
pangermanismo, lfvro que teve ampla tir:'lgem e que apregoou. em várias linguas, as
ambições e necessidades do povo alemílo - por uma Alemanfi.1 M.ilor (6). Dêfe recorto os
seguintes períodos t

•Na América Meridional e Central encontra-se um grnnde número de Estados


liYres, nos quais o homem i tudo, menos livre. Na costa ocidental e no sul, reina a lingu.i
espanbol:'l ; a este, o português. Estes Estados constituíram-se no con1eço do século passado,
quando da decadência das possessões espanhofas e portugue.~as, po.cque já então êstes dois
povos se tinham mostrado incapazes de governar um pais de alêm·mar. Mas daí não
resultou nenhum bem para os seus habitantes, porque nen1 êles pxóprio:: estão em estado
de se governar. De resto, a situação destes países raramente foi peor do que i boje.
Um déspota procur:'l supfant:ir outro; daí revoluções contínuas e guerras sangtentai;, que
não aproveitam senito a um parvenu ávido de glória e de riquezas, e devoram o bem-estar
dum povo oprímido e n1antido na ignorância. O fim destez soberanos não é olhar pelo
bem do povo, mas premir o pais para dele tirarem o maior número de milhões po.o:sível,
milhões que colocam em seguro no estrangeiro, aguardando a banca rôta que se seguirá
i.Qfalívelmrnte, mais tarde ou mais cedo. Este estado de coisas lembra muito a Asia Menor
turca e a Mesopotân1ia•.
ttA América Central e Meridional contrasta com a América Setentrional anglo-saxó·
nia. Nesta, os indígenas quási que desapareceram, ao passo que naqt1elas os índios são em
tão gr:inde número que os brancos desaparecem quás-i na sua massa. No Paraguái e no
Peró, por exemplo, não constituem êstes mais do que .t4 °10 da populaç1!o. No Equador,
esta petcentagem desce a 7 e na Cofómbia, mesmo a 6. O resto da população compõe·se,
aproximadamente e em proporç;to eguaf, de mestiços e de gente de côt, indíos ou negros.
Não é, portanto, nada de espantoso que o car:\cter geral do povo debce enormemente a
de::ejar, pois que alia o espírito comteropfativo, e a re pugni.1cia pelo trabalho, dos latinos à
velhacatia e crueldade dos índios da América do Sul .. .. .. »
(Os espanhoís e os portugueses não possuem, na tealidade, senão as regiões costeiras
e alguns vales Huviaís. Dada a fcrtilíóade da terra, é muito para deseja:-, '10 interesse d a
civilaação, que esta vasta região seja colocada sob a direcção económica dum povo curopeo
enérgico. Os brancos indígenas desap~recerao completamente, se a corrente de i::nigração
tomar, durante cíncoenta ânos sómente, a importância daquela que se dirigiu pat.i o;
Estados Unidos, durante o slculo XIX•.
•Os estabelecimentos alen1ãcs do Brasil 111eridional e do Uruguáí formam a única
clareira nêssc quadro sombrio da civiHza~ão sul amerícaon. A1 residem 500:000 alemles, e
é. de esperar que pela reorganização da América do Sul, quando os povos :uestiços .de
lodios e de Latinos tenham desaparecido, a imensa bacia do Prata, com as costas que a
ela se ligam pelo oeste, pelo este e pelo sul, se torne território alemão. Os Alemães estabele·
cidos nas florestas do Brasil meddional têm todos - como os Boers do Sul da Africa - em
média de doze a quinze filhos, de modo que, por este acréscimo natural, está já nssegurada
a região. Nestas condições, não .; un1 verdadeiro milagre que o povo a!einão não tenha,
j:i há muito, decidido apossar-se deste-território? .. .. .. »
cNa India não há um quarto de milhão de Ingleses, e êles governam um império
de 300 1nilhões de habitantes. Não há um milhão de logle.~es em toéa a Afrlca do Sul, e
êfes não descansaram emquanto não foi destruída a indepeod~ncía dos Estados boers .... •
cNão falei dos acontecimentos da Afric;i do Sul senão para concluir -p~nsando no
nosso futuro na América do Sul - que para a população das repúblicas herdeiras dos
Espanhois e dos Portugueses, será abençoada a queda em poder dos Alemães . .... •
•O problema de hoje, para a Ale1naoha, é passar de potência eu~opeia a potência
mundial. . . . . . A po!itica sentimental i uma tolice. Sonhos humanitários, estupidez.
A partilha de benefícios deve começar pelos compatríotas. A justiça e a injostíça são n~
que a penas se tornam necessárias na vida civil. O povo alemllo tem sempre r.1zão, porque
é o povo alemão e porqui: conta 87 milhões de nacionais, etc., etc•.. . •

São est as considerações acompanhadas dum mapa1 que representa para o auíor
.i A mtrlca do Sul em 1950, que llqui reproduzo. '

3
~mr-~~~~~~--\------------------------

. ~

;i
7
_,,
e 2

~ -. - • .J
I'

• ~
- 1

r;

1i *=t:

-· o
Este dditlo patriótico nio i só loucura que a guerra tenha curado. Os factos em
que êle a1Knta slo dig,:io.t de: atenç.'to e: subsistem. Substitua-se, a ância de: dorninio soberano,
por pe.oetraçlo; adapte-se, a mltaçlo bilíca do autor às bou maneír;u da Alemanha
vencida ; coos1due-se que, ainda hoje, como então, para os alemães, co probftm.t i pa.ssv
dt poftncla ~ropcla a pofinda maná/a{», depois de: resolvida a crise interna 1 note-s,; a
popularidade que têm entre: os governa.ote:s do mundo a teoria dos po,.os inferiores, dos
déspotas. dos mestiços, do cootemplativi:smo latino, e: todas as outras de que se colhe no
texto alemão copiosa piova; atenda-se, principalmente, à prolifica~o alem! depois da
iruerra e à forma porque se conÔuUlll os seus emiirrantes e os seus emigyados - e: medir-
·se·á o perigo actual e: o valor do aviso que constituiu a •weltpolitik•, de: que tra0$Ctevi
um autorizado documento. De um lado, as ioevítave:is ne:cessi.dades de apa03ão territorial
ale:ml, cada vez mais vivas e: mais urgentes, que: re:ve:ste:m neste: momento uma importância
gravíssima e: que: noutro lugar amplamente: tratarei; do outro, as colónias livres da
Alemanha no temtóri.c ióérico da Africa e da Amirica, colónias que: nSo silo constituídas
apenas por trabalhadores braçais, pois que: e:ste:s vão sempre: acompanhados de inve:stíg.adore:s e:
técnic:o3, mAÍ:S ou menos dísf:t.~ados J os quais não raro publicam monografias de: sias
espe:clalídade:s, sabendo sempre tomar bem cabida :1 çrova de: que a administração dos Jcgtti.mos
soberanos nJo satisfaz os interesses da Humanidade, nem os dos próprios povos, que pre·
feriam a governação alemã (7).
E' ee:tto que: nllo se: referiu o autor ale:mllo Àquela dege:nere:sce:ncía etnográfica
caracterizada por Desmoulins, segundo a qual, ao passo que o emig"rante aoglo-sa:do se
mantem inteiramente: ligado à mãe·patria, o te:urlo se deixa absorver pelo meio em que: se
e~tabeleu e passa, ao cabo de duas ou trâ gerações, a n1lo ter com a Europa sequer
ligaçõe:s tradicionais. Mas esta degenere:sdncla nlo impede a aclividade po!ttica daqueles
que ainda e:stlo presos à terra que lhes fo.i be:tço, ne:m a orientaçlo superior da pohtica
do Re:icb.
Tiremos dêsse: estudo perfeitwimo a vaga consolaçlo de: que onde: nlo puder~
aqueles que mais podiam, os imperialistas norte:-~ericanos, não poderlo os outros, os
imperiali:stas germânicos. Sem esquecer contudo que: as ameaças slo constantes e recentes
- já e:m plena paz - e que: i de con.c;equ2ncias inevitave:is e agitadas a expansão
alemã, t1lo natural e: imperiosa como as cheias dum rio, cujas aguas progtcssivamcnte
crescem. umbremo·nos sobretudo de que: t;iis ambições foram tidas como realidades indiscu·
tíveis para os meados do sic:ulo que: corre.
Por duas razões fundamentais a política internacional dos povos ióérkos tem de:
girar sobte: um ef:xo comum: prim.eiro, porque assim o exige a marcha natural da civili·
zaçlo J seg"undo, porque a isso urgentemente a compele: a situaçlo política cre:ada com a
guerra, as ambições vitais dos outros povos, a muda.o~ a que: assistimos d;is hegemonias
do muodo cont.?mporâneo.
Não adormeçamos com os cânticos embaladores da paz romântica, entoados em
mal disf,.rçado tom Défico. Não conEícmos e:xclusivame:nte: na novíssima e admitavel
orientaçlo da Comunióade: das Nações, sobretudo e:mquanto ai alio pesarmos como bloco
uno; temos de: há pouco mais de dez anos, a prova de quanto valem as disposições beneme-
rente:s dos povos e dos seus agentes.
Por toda a parte se vive, dentro dos moldes ca1mos da boa harmonia, a agitação
convufsíva do desespero e do raocor. Ajudemos com uma das mãos a pa:: universal e guarde·
mos com a outra todos os elementos seguros da defesa individual. Só assiro teremos abe:tto
- •

e franco o nosso legítimo caminho.


A política internacional portuguesa tem óe: enveredar decididamente por êste campo.
Só os simples de e:spirito, ignorantes das realidades, e inconsciente$ da fÕ!'Ça orgânica que
ains1ítui a nossa nacionalidade, levantam tm volta do íberoamericanismo umn atmodera
de tôlas suspei~ O perigo nio e:st& em aceitar essa conente, mas justamente em nos

5
alhearmos dela, M:o tomando aquela posição directriz, que pela razão histórica, pela infloên-
cia natural e pela posiçtto económica que nos dão as colónias, nínguêm nos contesta, mas.
que não mostrámos aind11. querer ocupar (8).
Em Espanha, onde bá s«víços perfeitos de organização coltura!, pôs-se logo o pro·
b!ema no lugar próprio: so?Cuodocs·se a iniciativa particular, promovendo-se a manifestação
ibe.r oamericaoa qu~ se hi-de reafízar na capital andaluza em 1927, e com ela se criou um
instit11to de orientação mental, o Cofcgio 8».ityor Hisp:ino·Americano áe Sevi{(a.
Paralelamente, em Portugal, não se passa de inútil retórica. Attigos empolados de
jornal, frases v asias de homens públicos, só setvem para sufocar ~ atividade honesta e a visão
clara dos e.rtodiosos. O caminho das rea!izaçõe;; concretas é outro 19).
Pretendi, com este breve co:nentárío, rtalça r caract.:r!stic:.u; cm mentes do pro-
blei:na don1inante da política intemacíonal ibcroamecicana. P .ira lugar mais próprio re-
servo soluções práticas, esperançado e1n · que delas se apzrceba o p'úbflco, por actos que não
por palavras (JO). O reapa.ricrmento é.i Conlemporifnea, e a or1eo.ta-;lo que vai seguir, já i obra
cligoa de consideração, sendo oportuno lembrar qu~ foi ela quem encetou, no campo das
(etras1 e por forma ponderavel, a apresenta~ão, !ado a lado, dos intelectuais do mundo ibirico..
CELESTJNO SO.!\~ES
NOTA PRIJ.\11EIRA
F. NO'RTON DE MA TOS, CJJiscurso proferido no b.lnquete qL>t lhe foi ofrrtcldo, em Ll<bn.i, ao
C Palácio do Munlcip!o, "'' nQut• de 24 de Novembro cfc J922. O GenM.t( Norton de Matos, ao temJ)O em
que proferiu e•t• not.ivd dlsc:ur~. erA Alto Com1$st\rio enl Angob ~. d1da a sua !'*iç:t'o durante a guerr~,
a sua .1ctual •ltttlç.\o de Emba.lx~di>r d• Portugal em Loadrts e A su~ sempre ponckrada e documeut~cfa O?lniâ'.o,
conalltul o uu F<t<tat um cntemuobo imprecclodlvel.

NOTA SEGUNDA

meu ~migo Sr. Don MARL~NO J. LORENTE, c~plnbol de niuclmento e arge,.-,lfno de edua.tç'lo, que
O reside 11.1 cidade d• Sw.1mpscolt, ~to de Boston, Estado de Mus,tch=c!s, e qu~ tem Uwtrado o seu
nome wm a troduç'io !Mra lnr,les cfc v.1r!~s obrJs prlm.ta cfa llter.\tura port:.sguls.~ e e.spaohot.1, cotr~ efa5,
algumAs d.i.• 4tNovelaa .Ej.:mpLtres•, de Cervan~s, e (C>o1.ta ~· de Gr.!ç.i Aranh.t, re,tli:ou n.1 B!bliol~a Públlc1\
da cld.tclc de Lyao, do muro'> l!stadtJt, um:t ootaqd conf.:r.::nclct •uoordf<l.ltb ao titulo Who .ire tl1c so11tl1
amcriC<rn$ i>
A!, verundo sob~:u.:!o o cac.tcltr de lmp:rLdumo c:om•rcl,\I do~ Eslad'>s Ullidos e as eoncl!ç&s em que 5C
cluenvolvtu a ocu~ç:io cfa; Amér!c.>s, deu p.lrtlcufar rei-'''º a este me.sino 45pt.eto llagrantlsslmo.

NOTA TERCEIRA
lnttrvcnçio, de qu' conslltu! lmpresslooantc libelo o livro d~ EDU.~RDO PRADO, A. ilusiio americana,
A não CC1$0U no úilimo qll.l•l•I do s«:ulo XlX, n~m n~sl• qu$ v •i C<>rr~o. Antes, lendo-se acentuado, C<>m
o a11mcn10 dQS recu®; norte·amerlc3nos " com ,\ aµa ~!ç:i'o n,\ políllç,, rouncllal, o seu lmperfolámo
ecoa6mlco, aquilo que n!o p:w.!t "ª• por vt.t.<$, de iulrlga l0c.1f OIJ de neg6olô$ do c:l>3ncelatia, velu n llCt um.i
b.'~e politlc.i lundarncataJ. Slo ~ todos os dias .u provas, que vão dude a obrigalorltt!ade: do emlno dt lingua
c:astdbana, OAI "bigb scbools", até aol granc:lea emprullmo.'1 e tuteLu imposta• a povos da AmériC4 EsJ>3nhofa.

NOTA QUARTA
CF. NORTON DE MATOS, op. cll.

NOTA QUINTA
1\..TOS ?rlnclpfo3 d.: 22, num arligo tm E! Dcfe11~or, de Huelva, azfl11:0 t...10..:rfto depois na revlatil p.1tbitn1e
1 ~ [-'ll:tl/e lll1tslrie e na Or.1 NuO'llJ., &:: Roma, o Dr. COf!LHO DE CARVALHO, então Cônsul de
PortugAl em l:íuelvi, preconizou • ne«:s6úfade !mediai.. da formaçlo do bloco btroamerlcano. Aqui tomou
origem a lel~o de politlca lnterondonal q~ tt\1t a F..sta d"' R<Lç,1, d~sse ano ele 22, em Huefva.
Até enlão, du.ia correntes diaUnlas e lodcí)tndenl"s de collP..tção entre os povo• cfc origem pcniosufar :e
Unham aellotuado, com C:ilr.1tter, por veus, oltch\l: de um lado, a polltlc:a bbpMio·ameriana, do oulto, a luso·
·bruilcli-a.
Nesta última, JMra s6 me referir (1 m"tr6polc portujtu~, n'~rcar;vn lugar brilhante o Dr. JOÃO DE
BARROS, que, no~ do:e volumes da .A tlarilió1t.. da SUJ\ dl~o, dde11deu com eotu~fasmo e perslst2ocl.t .u suaa
doutrin11, Catlos MAUi.!!IRO DIAS, com aquele lut!mento que di a todos os problemas ele que &e oci1pa, fuo·
dando no Br.isi( um i<inanlirlo, e a Seobora Don.t Alia d" CASTRO OSORlO, com a sua valiosa obra tscolar
e de propaganda.
Fazendo aqui a devid.' reler· ncfa a USll dedic.1da actlvldnde, ckvo nolar que ibtroamerlcaoisrno, tal como
êle se deve comprucler e em relnçl'o ao qual eatou esc:rev"'láo, 0;\o f um cotpo de do:itrlo:is com (inalldade poll-
Uca uvotucionârla OIJ wbversiva, nrrn colide nem diminui tão admirãvds ulorç.os. E' prteisammtc o mesme>

6
movimento el~ .úln!dad~ reais e prolonv.amento de raça, lu~posto patol 3 pol!He.> geral e integrado na lll•tórla
ger,\I ela clvlllt.tção. Nilo há porLloto lug.u· p.ira prcuaincla,, n<:m condf~ : • cofaboraçlo br,ulleir.l ~tá ao
belo cb p?tlugu~:sa. no mcmo p!.•no, naturalmc111e" tio !mprcaclocilvel, como a ela Amtrlc:a ca>k!lbaoa ao •com·
p.inhnr a Eipanb! .
SXo pr<>vacfa~ estas aflrmaçõu com o iberoamcrlcanbmo ele pts.'IO•• con)O o Dr, B:uencourt Roclrigues,
o Dr. Albetto dc Oftvctra, "º"'° Mlnl•lto n• Haia e ao1Jgo t•11olstro em fluco<>S AI~, o Dr. Vc<!!Ueko Stddd,
profot:oor Ja l'acufdade de Direito e P rtsldcntc da Llglt Macton•ll1ta de S. Paulo, º'
Dn. Noé de Auv<do e
Cintra do Prado, advogados paul11tu, com 4 publtcaçAo ela Nt>'lliss/m.,,, e, fuodament•lmeotc, co:n a doutrina
ibuoamcrlcanbta de La Rib!da, clcoiro da qu.ll "" odcnta, ~e 22, o movimento.
Foi c"'a doutrina aproncb por •cl~mação, l•Undo-a •ua a Soeleclacf Colombloa Onubtruc de L.t Rábicfa, na
A_,,,bfda Solene, ccleb:Acla no P:lláclo da &ccleoUulml\ Depul,\çl'o ?tovinclat, de Huelv4, em l 4 de Outubro
d~osc ano.
A SOCIEDAD COLOMSINA ONUBENSE, de que t. Pru!dente Don ]o:st MARCHENA CQ.
LOMBO, e Vkc-Prtalckntc, Doo MANU.EL SlURo·r, d> Juota OrgAoi~lldora do C<l!tglo M~yor, foi fuodada
par> o Culto de Colombo e dele.~\ dos fugarca e.totO$ do O<SCObrldor, tendo pefa ~utor!clack d> ~ua pollçio e
cA1egoriA, com a .l"uta da l~ÇA de 22, chamado e si a orleotaç.\o supctlor da formaçio poJltlca 1bcro.tmerlcanlata.
E' seu orgão a revista mensal Ln <J?..'bldit, que vai oo 12.• .\no de publlcaçlo.

&gu~in os ttê• 3.Ugos 1fa cloulttna :

1 -O ideal lbcroomcrlcono traduz o n"ccio da almn, dos povo9 de Hni1110 castcthnna e portu~ucsn. de pro-
mo•>cr "" suos prospcrldodcs dcnlTO de um sl•tcmn de $Oliderled&4e Que rC$pelte e protelo os ~uas
respcc1Nas sobcronlcs p011ttcoa e que ~Jude o seu dcscnvolvlmen10 em todQl! os sentidos. relo ou~lllo
n:útuo pnra o seu prosircs~o 3clentlflco. ~rll<lfco, lllcrArlo, lnduortrlnl o comercio!. par.t Q\le •e perpetue
na H1s16rla "comuuidedc de Interesse.• morai~ e mnterials que existem dC$dc o seu apnrcclniento n11 9fda
da cl~lllznç!lo.
li - 04 homens e o• povo• c11pncltndos da dclC11n d~sse idcnl. ano os qu1: falnm n$ llnauas cnstelhnan e por-
tu~ucsa, 3em llml1c de fronteiro• ~co11ráfica• e sem que ~ ete s1> oponham, nem o meio, nem a distando.
nem n dl,'crsldudc do rc111mc1 poll1tcos que cndn uni dOsse11 po~O$ queira ttdoptnr.
Ili -Dentro de tal dtversldude do s18ton1a• e de melo$, os povos e°'' homens compreendidos na llnRlldade
dcatu doutrina prop6cm·4e m111t1pllc<1r 011 tnws de umlsado e frn1ernldudc entre sl. auoclnndo-sc oqudcs,
por melo de tratados internaclonnl1. pelos qu•ls: dc•en~oNam a •uo cullura e as auas rlqueus n4turals,
fomeuten1 os :;uaa indo1strfn$, prote)nm os direitos dn propricdndc lntctectunl, em codo~ os rnn1os d1t
cultura humano, clMdo lodns n~ ~~rantlas e ~c;iurnnçn no !ténlo h1'1cntl'10 dos clcmc111os que compõem o
bloco lbcroomcrlcono. Tudo de modo 11uc, lnsensi~cl e progressi~nmcn1c, som lnqadlr n furlsdlçDo dM
respcctiv11s sobernnin$, ~e chegue o uma. Çonlcdcracno de E•tndos sobernnos que. antonomomcnte re·
gldus. assc~urom o esto~U!dndc dns soo:is instituições e u dos seus ll0'1~rnos rc2otmr111e constltuldos.
propnrclonondó ti pnz no s~u moiis nmplo concQho. repelindo intervtnçôca e nitresikles estranha~; e
Oll"rte, de mols em mais, n solldnrlcdudc de Interesses dn Raça; g&rnnln n segurança al,,;olutn das
''Idos e bens dos c.•tron~ciroi que nos dito~ pulses llCl encontrem e lu9ol no ~cio dus innls nnçi>es que os
con1cmplom, o cr~dllo .i n contlnnça ncecssúrlns pnm ngurdrem, par dlrci10 próprio, 110 conccno dai
na(llés 119rc$ <1 verdadclruntcnic sol>érouas.

Almfo a prop6slto elas ~laç&s culturo\ls lu$0'btaúldraG devo citar a crc.tçio ela CJ>dclr,t de e$tudol c.amo-
oun~ na Faculdaclc de Letras de l..lsbo.i, devida i lnlclaUva do Ilustre bra•llelro, Dr. AFR ANCO PEIXOTO,
-e \ lunctnetêncla áo nosso comp11<101.i Ztferln.o Rebêlo de 01..lV.l!l RA; ;u obr4S lnte!cctuAis sus'cnl.\da• peLl
nossa colónl3 livre, como ·' Hltrl6rlil d11. <ÃJfonlxs11ç40, a Llg• 'Propu(~orn d1t lnsfruç.io cm Porlugi<(, dc cuj1
Dlr<ctorl.\ Exccutlv.i em S. P3ulo <Prestdence o português Sr. António Petclt.s INACIO, o !cg~do com q.u "
fundou o /t1Sllfulo de "Bento da. Roch" C11br.1{1 e Onaltncnle o extraordinário cmpruudlmento dos utud.anlts
de Cóimbra e d< Llsbo1, que covfar.im 30 Brasil, êstc ano, um4 'fu11a e u•n Orfü.o, que for.im acolhlcli>o com
en1u$l4.•mo c cujo sentido cl~ AprõrlmaçXo lotelcctual foi brillu.ntcmt.au marcado por or.idoru académicos como
GOMES DE ALMRlDA e .BRITO ARANHA

N OTA SEXTA
CF. Oito Richard T ANNENBERG, Gross·Dculsch(1111d.

N OTA SETI MA
O fater uta aflrmaçio tenho em meu poder mm ele uma obra ele "'"tores alem\Jca, algum•• acompa·
A nh4das ele rlgoroM>• mapia, e toda& pubilc:adiu dcpol$ da ftADdc guerro,
Ptov loc:!A de Angola, partlcularmeo1e na i<>o"' de caida ela Dimaralindla.
'°º"'
lnvesllgaçõcs ruU,otdas oa

NOTA OITAVA
M outubro & 1922, por oc.tslão cl"' !'eJI.\ da Raça, em Huclva, S. Ex.• o Sr. Doo Manuel BURGOS Y
E MAZO, antigo mlolstro de IA Goveroacl6n e uma gr•nde mentallcf•elt u,Mnbola, cm uma moçlo dldglcfa
a.o Goverao do KU p.>ft, pediu a crcaçlo tk uma Univenldade lberoamcricana .
• ' Em S2 ele Outubro ele 1923, lnslltuiu·ie em Buenos Alce a Unfón Hfspano·Antérfco.OcelÍnlca, que
foi rmtdiaumeotc rccoohcclcla pelos Govero~ de &paoba, Argeotw, Mixlco, Hoodur..1, Paraguil, Slo Salv.i·
4or, Co!6mbl~, Costa Rica, Pcrú e Cuba.
A União tem por fim, resuruld.unente, a conaUtulçXo de um poderoso &loco lnt~ro.tclooal, pe.La coocor-

7
dto.cb ela pol Uca txtrnor dos poTOS lo•tnaa1cloo, e pd• pt0muf&açl'o de mcdld•a lol<roas de lotueaae comum,
como equlvaleoc:I& de er'us ueolata, propri<d1de Utuúla, arl atlca o loduatrl.IJ, comtrvçlo do uau !loba de
umlnbo de ft:rro que uoa lodu aa ttpúlilleaa apaoholaa, unlflcaçio do scrvfço de cotttlos. e c:ruçio ele um
T dbwW cb Uoao, árbitro aupttmo doa po•oa •U>lcfos. T cm parlkular h2l<rcuc para DÓI o

Art. 2.' -B•io 11 acept1cl6n de todo lo que antecede g p0r lusllcl• histórica, se admite u la Ua16n ai Brufl
1 Portua11, baJo la denomlnacl6n •Unlóa lbtric•• a la Hlapano·Am~rlco-Occ•ntca.

que ptova uma ateor~o mala uma vet prestada, com j111tlça, apuar da noHa obttloacla a&altac:çio.
Rc!lro-mc U. H. A. O .. prloelpalmeote ptlas aegulnlu allrmaçõn, ldt11 em 1924, pela combaio
dlrleeote, e que •• ajualam pttfdtamtule áa obsnvaç&a que faço 1

Pero no pucdc admitir (a Unllo) ln flcclón. nl los muertos, nl pucdc C11t110.11nr en 1u lndlce a •Don Juan •ln
tfcrra•, reprcaen11do1 hoy en el •Panamerlcanlsmo• Y ti •Lallnlamo•. E:I prhnero es una mlst1f/ct11:/6n
t.r<,nlrlctt qut lleV• la duunlón por calumnia o prep0tcncln, con la a11rav~nte de la 9lotencla; Ydeben
saber que, tos trlunloa de la vlolenclo, son muy elimeros ~ Jamd• aoo 1ecutarca. Los triunfos de la razda,
aoo trhtnfoa dei c•pfrlt11 '1 oon ptrdurables. El s<aundo, el •l.atfnl•mO•, etc •Don Jcaa 1in tlena •. é Ooctde
eshí 1u pucblo? l Ea quê puni o dei mundo impera? l!tc •

.B' certo que a dútloçio, qu. acima ae f.u, entre L\llJllsmo - moYlmcoto utlfldall11!mo acm oto&UID
droiftuáo politko adual, e aem occhumu coocltç&s ele futllf'O, • l~mcrlcanba:lo, i ptOfunoú e maior do
que .aquela que ceate hÃeU areumenlo ac cootún. Mu prdtncil, com i lr11ucrlçio do p&NO, coolinnar a•
ml.ohu USft'IÕU, qu.iato ao paoamufeaobmo. O outro problema o1o vem par& aqui.

•AI lmpuhlO dei propf>slto de lntcrcamblor cullHra. reno•dndnln 1 conlrne"ndoJn. nncló lo ldeo de crear on
E11pafto una lnstituclún dei moyor valor pcdaaóglco. cn que ac cougroailsen Profeaorea y eetudlonle$ de loA pucbloa
que, Por cl lazo dei com~n ldlonrn cxpretfYo de menlolldadea hcrmonos. dcsarroflnacn uno labor que cJ mundo cntero
estimará como completa y blcn definida exprC6lón dei pen&Amlcnto hl,pano"
•Estoa estudloa han de ttncr carácter prole•lonal y utUltnrlo, conAUtu1cado el Cole~lo cm Centro que rccoJn
1os prnarcaos aclentlílcoe en todoa ln• rame11 que cn él se estudlen, en telaclón con loa problemas qua mis lntetesan
a Eapofta 1 América.'!/ un l1bor11torlo permnnente de trabaJos, de lnvealfgaçlonca y eatnd/1tlcu, de tal mGdo, que• 61
acuden en demande de d1tua Ycnsenan:zu para cuanto pueda eotudlaree o lfevarac a ca~o cn relaclod con el Inter·
f"
cambio hl~anoamerkano, cJ lntcrú 111 naclonea adberldas y cl proarcao de la Humaaldad. Eatu plllavt.u tram-
etevl cio 'J(.u.1 Deatlo au.náo < Ca/tglo Mlt.yor Hispano-.Amtrla.no á< Smlla, dado em Batcdoaa em 17
ele Maio de J924.

& atlvld.adts corporatlvu doa tstudanta sio omnta6u e coordenadas por outr.a ÍJ>llllulçio : a
Feáeracl6n Uni'<Ntsil.aria Hlspanoamerlcana. Fuadacla em 29 de M•<ÇO de 1922, IA16.a d.a fmio eia
~acicSn Húp&nouncrlc..na de Auslllos e cio A~eo ele & tudlaalao Hla~ooamerlcaoos, com !lna, rapectlv.a·
monte, ecoo6m!cos e culturab, só em 1924 &e lo1tdou efecUvamcntt a P'ederaçio, no ecllfido da Ualvenld.a6e
Ceoltal, em Madrid.
Tem a Federação por fim 1 a) trabalhar pela reallzaçio do Ideal hl1panoametlcano e pela clele11 e
propaganda ela cuft(;ra hlspinonmerlcana oo muoclo1 b) lort.úecer, entre os aHoc:lacios, o tcleal hbpaooamerlcano
e culUvar entre elu vloauloa duradouros de oo!Jdarlcdaclc: e) contribuir p&ra o beoe!fclo moral e material do&
seus aAOCiaclos.
Eatio repruentadaa oa P'edcraçlo a1 dlv11ra.as assodaç&a a~cltmlc:ii1 maclrll~u.
A Sociedade d11 Naç&1 e a tfwr.1.çlo lntrmadonal Uolvcrallárl.a Pt6-Soc:!edl& clu Naçõn mantím.
com ela rel.a.çõn P"rm.aneotc•.
Para u P'e:lcriçõn Uolvu-sU!tlu d.a ~rka Espaobola foi exptdfd.a uma drcular soUdt.uido a a6aio,
nela se apondo os fins eodals quc acates pcrlodoa ac teoomcm :

Detttro da m6xlmn lfberJade - que nlo exclui a coadfuoaclo de uplritoa tao prcclaros como Altarnlr•· Car·
racido, Araqui6laln. Am~rleo Castro, Adollo Poaad1, etc.-, a "º"ª atloldade Jllnt em volto de um
Ideal que reputam<,. l•ilt•do e que tem a sua expressao mula 1lmples nctta1 pola~as: Ala untdtttlt dos
povos da nosro Nora. Cremo• que essa unidade se encontra atlrmondo a nona personalidade. n noua
fisionomia esplrllual ele PO~oi. E Isto afostando-nos de toda o lnlluencla Y•nkee-que se ttm de combn·
ter decididamente-e npro1<lmonclo·nos, sem ser~lllsino&, de tudo <JUC •ela Ibérico, hlsp4nlco. culo 1ln·
cero e lu$lo conhecimento Ju1$1dm6s rei:undo e proveitoso parb todos os povoa da nossa Raço e para e
Hum:111ldnde.

Do programa mlolmo 6a P'cd«ração cleataco

FlnalldaJc úftim•: Trabalhar, com vista numa hum1nld1de melhor. pela l.ill• Internacional do1 p0ços hl1p.t·
nicoa, na qa1I todo• 01 membros tenham 111uals direitos.

Notwc a c:l.veu cl.u afiraaçõu, e compatt-se a 11.coçl'o olldal que lhe llm sido ólspcoaa61 em Espaaba.
e cm Portug.il 1

8
O Go~o Espanhol cootrlbul ;ulu&lmente com P1t. 5000 pata o orçameoto da Fedcfaçlo, -. pot cúcn>to
ele J6 de Sctanhro de J9.2~. bento,.. ele pazumnto dot düd1os, pan ohleaçio dot dlp!omu ele lkaidadot e
doulotQ, oe catudaota oaturala de qlll\lqucr du Rcptl&U•11 hlspaooamulca.oas que acompanhem oe cunoa ele
algum& das Univon!dacla do Reino.
Para o '°'""te mta .. anuoda o aparccfmenlo ele uma revl11A, orgio da F~açio, aaila em npaobo!
e portugub. aob o UMo ck PS.fria Grande.
O aeu Prqidtnte, o Sr. CBSAR A. NAVEDA, equatoriano, vWlou oo vctio pauado u unl•tr-
aldades porluzucau, e dlNe em Coimbta uma c:onlcrtnçla, de que r..uttou a creaçio de uma accçio ele t1tuáo•
amttic:ano., na Auoclaçio Acadtmlca.

NOTA NONA
BRIA Inútil reualvar aqui os oomee cio Dr. COELHO DB CARVALHO, já citado, e do Dr. BETEN·
S COURT RODRIGUES, am&o. dlplomalal, e amboa putmuata à m..thot arbtocrac:fa mental portuguesa.
O primeiro, •ntlgo Prcsldcote da Academia das Sclt nc:fas de Lbboa, aotlgo Reitor da Unlve.iald&de
ele Coimbra e diplomata de eartclta, foi quem, como refttl, lmp11luooou num sentido IWrlco e de poh lh:a Interna·
clona!, aquela «>tftnte que aó ot manifestara como uma tendência de solidariedade blapaoo=erlc:aoa.
O uguodo, que foi 00$$0 MJolalro cm Pad1, prosugulndo oeua orleot.açio e utudaodo pulic:uLumaite
o prob!Lma Juso-braslldro (cf. A Confrdcro.çio Luso-Brasllelra) tem posto um pouco de otdem, com a 1ua
autorluda opinião, oa ccleum• 1~roamwcaobta, tendo I~ anunciado um llvro Portugal, Brasfl e o Jbero-
1.mef'iun/smo. Numa cotrevlltA pubUc:ada no Sl!ca(o, ele Lisboa, =
9 dt Setembro \Íltlmo, eob o Utulo de O
slgnlficAdo que terá perante A pollllu lntcrnadon11f o grande certame de Se<fJllha, o Dr. &tti1courl
Rodrlguea trata de upectos dellcados do movimtoto 1betoamttlc:anlata e. rtfcrtodo a cobiça utratlgclu aSbu
Angola, dá vulto ao pulgo ec:oo6inlco que ela tepteotols PI•• os palaes que, c:omo o Bra1U, a Argeoltna e o
Uruguál, tlm uma produçâ'o aruU~a e tncer..ua estratígicos no Alliollco Sul, ldooUcoa aos oouos.
A poslçio ecoo6mlca cfut.u rcgl&a lnter-troplcala serviu cfc bU4 às ncgocbç&s de um tratado de
comlrdo com o Bru1J e tem originado curiosos ntudos, em Porlupl e oo Brodl, que aio bem c:oohecldOl 1 a
cada pauo 1e rdcrc o qise tem publludo o anlfto Mlolatro dai Flaanç.u e do.' Ncg6clos Estnoeclro1 e
Diuctor do lmlltuto Superior cfo Comércio, cfc U.boa,Sr. l'racc:f.co Ai>t6nlo CORREIA.
Num :irllgo do Século, de J7 de Dezembro cfc 1924, Relttç6es roll1Jr11/s com • Espanba, o Dr. Artur
cfc OLiV~lRA RAMOS deu uru balanço á Acllv!dade Intercultural na penln1ula, que toma eale earaclct de
corrente de aprorJm,1ç!o lntdcclual com a visita de um grupo ele llcetlcladoe em letru, dou!Dtaodoo da
Untvet$1dade Central de Madrid, áa Unlveraldadcs de Lisboa e Colmbra, na prlmavcr;i de 1921, aob a dlrecçl'o
do Proft$$0r úoo ELIAS TORMO, Dcuoo da Faculdade de Fllooolia e Letra• de "'4cfrld, enlio vlce-pral.ckote
cio Sco~ Eapaobol e aatual vogal da Juob Organl.udota do Colegio Mayor. Em Jaoc:fro desse mumo ano,
c:omo Praldcoti: da .l',.&sodação dos Estudant•s da !'acuidade de Letras d~ Unlvcrddadc de Lisboa, llve a honra
de propSr a e<eaçio, D<i!S3 Jlacufdade, de um Instituto de Estudo. Espaobols • de outro de &tudos Brullcltos.
Tendo-se loletesuclo por esta proposta o Sr. Don Elias Torino, acotdou·sc que altnufl!oeamcntt se lostalaue oa
P'acufdad• 111adtllcoa uin lo.\lltuto de Batudos PorlugtJCfC$. Com •feito, obUv" o asscollmcoto do Mlohtro da
lostruçi!.'o, Dr. Júllo MARTIN:., q1JC cor:u grande dlllgêncla acomp;inhou a lclcla e maoilatou o desejo de
publlcar u b~ oflc:l•I• dessas apmlaç&s. Por aua ve:, o Sr. Don Elias Tormo, em totetpelaçio dirigida
AO Mlolslro da lostruçio do ••U p&ú, no Senado, mt 22 de A brU dease mesmo ano, propSs a comunlcaçio
permaoeoti: da Blblloleca P;:ibUca cfe Lisboa c:om a Biblioteca P~bllca cfe Madrid, a creaçio do rdcrldo IO$tlluto
e a lourçio, oo. programai unlvertltitlos espanhola, daq1Jtla1 mattrtu que constituam documcntaçio da
acttvldade portuguesa, ttlacloo•da c:om a c:ultu1a espaobola. Abordou 14mbem S. E'L• a elevaçio a Embaixada
da legação de &paoba cm Llaboa, cerb.mrote com &aae oa reclproc:f.dac!e. Os acidentes d& vida pollllca lotem.a,
portuguua e espanhola, parall:aram eatas dWgênc:la11t que são absolutamente oportunas e chegam a .cor utgentes.
Depoll dcsu vlslts de l92l, vários grupos de utuda11tes e profouorca portuguftU e eapaobols tClJI vWlado os
c:cotro. uolvusllárlos de Bapaoha • de Portugal Metecciii tambtm rdcr.i11cla espedal os luruladores d.a SOCIE·
DADE DOS AMIGOS DB PORTUGAL, 1>1rtlculanmorc S. Er.• o Scobot CO"NDE DE ROMANONES •o
Scnboc MARQUEZ DE QUINT ANAR, o dallcado lwófllo que l o Sr. Doo Joié RodrigU(:. CARKACIDO,
lluatre Prof-euor e Rdlor da Uolvenfdade Ceotnl, e o Pro!eubt Doa Frederico CASTEJON, da Faculdade de
Dlrtlto da Universidade de Sevilha, que acomp.inhou ao nouo pala, cm J923, oa seus aluooi e a orgaoliaçio
de um& Semana porfuguesit, CIXI M3árid, por oca1tio da visita da 'lun11 Qilcadlm{ca de Lisboa cm 1923,
devida 6 orleotaçio cio cotão aeu Ptcsldeotc, o Dt. MARCRLLO MATHIAS.

• NOTA DECIMA
Coleglo Ma)IOr e a Federaci6n Un/<persitvla eão, com a Cofomhlna Onabtnse, oi mentores e azeotu
O efedlv0$ da lnteUzeot• po!Jtl.ca lberoamttfcaoa,
Pata o próximo ano ae prepar~ um CoogtC$SO lberoamctfc:ano, que atabeleça a doutrina dellnlti•a
cinta pofíttc:a. DevNll êste c:onirCllO i\ Kgulole propa.\a, aprcw.ada em SCISAO pleoárla cio comltf, teoclo1e rc.olvtdo
Inaugurar o Coograso oo ano de 1926, oo dia da Raça, e que a Socled3de Colombloa Ooubcox, co11juo~m.cot.
com a Coml.-io Petm~le da Exposlçio, aeja a orpolt.ldot.a do Coogrouo.

EI modesto vocal que 1uscrlbo ao atre~c" propoocr ai pleno dei Comlt4:


Que 1leado ct lberoamcri011nl1mo toda una Polltlca, cree llcRado cl momcoto de que lo conUrmc 9 para ctlo
cntlcndc y to cxpooc coo rupeto que debe ocordar1c en el otofto dei eno 26, coinctdltndo coo la Plcsla
dele Raza, de ua Coogreao lbcroamerlcaoo, ai que ae ln~ltardn las grnndu mcn"'tldadc. de la mltm••
coo el fio de que linlcllcta "J dellnao el Ideal lbcroamerlcano, ualfiqucn cl mo~lmlcato actuel dei mismo
y eallbicitean 1118 baace de una cordloJ lntcllitcncla y ae lle~ue huta la unl6o cn lo futuro, ai fuera poslblc
de los puebloa que nncieron eo lbctla.
Trea SU8loaea de ette congreao, los m1h aolemoes hao de ce~rar.e cn La IUblda, la Catedral y el Arcbl9o
de ladlas, •lendo lo propuesto: que ae dc:all[ae una comlslon especial 9 qu~ ac proceda !mmcdlotamentc
4 la orl[anbac:!on dei Coagrc:ao; la Socledad Colornbina Onul>Cnse aportar4 la docblo• lbcroamuicaQa

9
de ta Rllblda 'J 101 tema• que te tervtcron de cstudlo para la mlama 1 ataunne poneiiclat de penqdorea
amerlcanOJ 'J porh1l1ueac1 er.tendihtd.,..c que eata aportac:lcln no tlenc mú alc:oac:c que el de f1cilltar
antecedentes.
Eate Conireto 1cr6 como el p6rtlco de la Ex!X>ticl6n, como el alma de la mltm1 '9 d llRO t>Occro que de&·
pleno en 1.. 11m1t et acnttmlento enccsint 9 cn 1.,,. e1pfrltu1 la dlvln1 lnqu!cwd que acelera loa tetldot
de tos corazoncs 'J t1n1e ct peiaamlento 4 ta ne9l6n c:rcadora de nuc:fa• formu cn la cultura 11nlvet11l.
Sus 1ea.lonea las C1C11cl1Rn mlllonca de ombrea atentos a 11ond•1onora de la nadlotelefonla que lr6 eicten·
dleodo por lot alret 11 vo• de IA Raia, 'J en o! pcn••mlento fl>cro1mcr!c1no en los dias dei Conare.q,
91'!r4 de 2apafta Y con 2apaft3, que pucdc, dcbe y qulere 1egu!r, slcnd() la madre e.plrltual de 101 pacblot
que naclcron de au carne 1 de eu• ncrçtoa.
A esta• razones ~tlcaa hay que oftadlr la de que Scvi111 desde uo ln,tnnto empe"râ a eer 11 Romn dei lbe-
roamcr1canlsmo y Huelvft. con ld R•Mda 9 el P•crto dc Paloa, au tlctta santa.
Beta propotlelcln lué c;cpuerta, por ai que suscrlbe, ol lluatre voç1I Don Manuel Slurol, vlctprOllcleole de la
SCcledad Cotomblnn Onubcnac. que IB aceptó.
Hueloa para Sevllln, cinco do Abril de mil nooeclento1 velnle cinco.
lotó MARCHl!.NA COLOMBO.

Dentto do ihtto&me.-lanlsmo, uldo d& d9UttlnA ck w Ri&lda, rtmos pot parle cl.t X.panh1: um.a
pol llc& b11paao-1meriQoa, conctdluda e pcrmanentétneotc forWcdda por lodos oc mdoi, ai~ pela eomunhio
mcotal; um certame lo ·ct'D•donJI, para 1927, " Expoilçio de Scvllba 1 um lotlflu o de •lt. cu!iur&, o Coleglo
Mayor; uau .&uoc:Uçio d~ c:stuJao c:s • .a Fckrad6n Ualv~nltid.t; u n CQn~rcuo, par.l 26, ao qwl se aubclcça
a doutrina 1bcro.tmcr!Qals a ddinl'lva. O q""' ludo rcvda mi•odo, lotelle<ada, floallóa.de pol:llca de wpcrl<>t
latct- para & clvilU•çio e aoluç&s pritlua do lal.ct'culntc r,robkma.
Da pule de Porlug•I tom:»: um• p'1!tlu. lulO'brul dr.a de lorua-vlagcm, qut nio C<>tUcgUiu uqucr um
ttwdode eomírclo; uma uolvcnldadc t..Uldorul, e du.u outr.as ~<mc.u e mal p.tttcldas, que não C*lio c:oordenadu
cm qualqu<:.r 1enlldo - ac i que ac dl:em ord•n•d.u; o albc.imcoto completo d&q1$Clil poltttc:a superior, o desl11U>-
ra.ic da loc:ompctêcicla pela rc•lld~dc. E abtematlu.dA e concreta, só a acllvld&de bolada dcote gtupo que a Con·
l~mpo1Snca rcpr-nra.
lnaUlu1os shnll•~ àquclu ae tem de crcar em Portugal, aem o que lbcroamerleanlsmo nio pasaAt á
de blspaaMrnedca.n lsmo - o que equlv.lle a aio cooltlbulrrnoa par4 o algolllc:ado que nêste eomenúrlo
prclcndl dulac:u.

.lo
Dois
Sonetos Inéditos de
C ~ Mll~LO 1·1~~, SAN -I L\
SAN GABRIEL
1
nutil ! Calmaria. Já colheram
As velas. As bandei1·as socegaram,
Que tão altas nos topes tremularam,
- Gaivotas que a voar desfaleceram.

araram de remar! Emmudeceram !


(Velhos rítmos que as ondas embalaram)
Que cilada que os ventos nos arma1·am t
A que foi que tão longe nos trouxeram "l

San Gabriel, a1·canjo tutelar,


Vem outra vez abençoar o mar,
Vem-nos guiar sobre a planície azul.

V em-nos levai· á conquista finaJ


Da luz, do Bem, doce clàrão irreal.
Olhai! Parece o Cruzeiro do Sul!
Jj
II

em conduzir as naus as ca1·avelas,


Outra vez, pela noite, na árdentia,
Avivada das quilllas. Dir-se-ia
I1·mos arando em um montão de estrelas.

utra vez vamos! Côncavas as velas,


Cuja brancura, rútila de dia,
O luar dulcifica. Feeria
Do lua1· não mais deixes de envolvê-las !
.
1em guiar-nos, Arcanjo, á nebulosa
Que do alem vapóra, luminosa,
E á noite lactescendo, onde, quietas,

~ ulgem as velhas almas namoradas ...


-Almas tristes, severas, resignadas,
De gnerrei1·os, de santos, de poetas.

12
A
UNIÃO
IBERO AMERICANA
Tendencias e Necessidades
Sociologicas
I

''A lei da evolução humana''


evolução humana, no passado e no
futuro, e o papel que tem sido e ha de
ser desempenhado pelas gentes da
Iberia, constituem o thema que me
seduz, empolga, e assoberba.
Não posso conceber que todos
os povos da terra provenham de um
só casal ou tronco, como ensina a
tradição bíblica do monogenismo. Se·
ria demasiado contradictorio á natu-
reza, se houvesse dado á progenie
humana um unico manancial.
Elia, que nos cumulou de tan-
tas graças, que tanto nos avantajou às
demais especies, não podia em priu-
i cipio ter sido fio avara para comnosco
l ;, que nos desse apenas os dois avós do
~;.'.,~.!:-l,u \--:- paraiso, quando tão prodiga se mostra
~·::! 1 / '°"~ por toda a parte, onde aos myriades
t f?.~~, ~~~ são os germen.s de vida.
?\luito mais logica é a hypolbcse
polygenista, como a formula Gumplo·
vicz. Para este sociologo a humanidade, nos seus primeiros dias, era constituída por
bandos infinitos que vagavam sobre a superficie terrestre. Esses grupos humanos
eram completamente beterogeneos, nada se assemelhaudo o individuo de uma
tribu com os da vizinha. Mas o contacto entre elles era fatal.
Povos nomadas, mudando de região com o variar das estações, em busca de
abrigo e alimento, haviam de chocar uns com os outros.
E sempre que um povo, fixando-se em um territorio determinado, conseguia
alguma prosperidade e bem-estar, aparecia logo um bando mais selvagem e
guerreiro que se apoderava dos seus n1ateriaes, acumulados pelo labor pacifico
da tribu sedentaria.
Esse phenomeno observado ainda hoje entre os povos que vivem em
estado primitivo, sujeito ao regimen das «ra.zzias» devastadoras, é Lambem o que

13
a historia descreve, desde os seus p1·imeiros albores ale á grande guerra, em
que uns povos n1ais barbnros, .mais selvagens, invejosos das nuções mais civilisadas.
inlentáram uma incursão pelo seu Lerritorio, devuslando e destruindo tudo.
Gumplowicz descreve minudenlemenle todas essas 2eripecias da tragedia
humana, Foi assim que os byksos invadiram o Egypto, queBabylonia foi assaltada
pelos assyrios, que a Assy~ia foi conquistnda pelos mêdas, que por sua ve?.
soffreran1 o jugo dos persas, gue ainda ha,•iam de pilhar as cidades da Grecia; e
foi lambem assiro que a Grec1a foj provincia romana, e que Roma niio resistiu á
invasão dos barbaros. Nem a China conseguiu, no seu eterno isolamento, escapar
á fatalidade de tal so.rte: um exercito de n1011goes e 1n11n<lchurios <lo111inuram du-
rante muitos seculos os pacificos lu'.lhilnntes do celeste hnperio.
Mas o que é mais interessante e q11e os conquistudores, ao fim de algum
tempo, acabam por ser absorvidos ou dominados pelos povos subjugados.
Assim desapparecem os conquistadores, ficando. no paiz um só povo cons-
tituidô pela fusão dos habitantes primitivos com os invasores. .
Nessa luta afinal :;empre vence a civilisa~1o mnis adeantada. Roma não
poude resistir pelas armas á invasão dos barbaros, mas assistiu-lhes á civilisação.
E hoje os bnrbaros nem na lucta brutal conseguem vencer.
O que eu pretendo demonstrar e que uns povos vão absorvendo outros que
se põem em contacto com elles, predotninando scn1pre o de civilisação mais des-
envolvida. Antigamente não haV'la relações pacificas entre as tribus ou nações, de
modo que sómente as guerras, pondo-as em contacto, iun1 fazendo dcsapparecer
os dilTereutes grupos, que ficavam fundidos num só. Hoje esse caldeamento de
sangues dispensa o fogo das batalhas. Estabelecem-se corl'entes esponlaneas de
emigração e immigração4 entre os differentes paizes, e os continentes acbam-se
estreitamente unidos pelo commercio paeiüco. Vae-se operando lentamente a
absorção de uns pelos outros; a linguagem, os costumes, ns leis, as tradições, as
religiões, os sentimentos, os ideaes, emfin1 todas as manifestações da vida humana
vão-se amalgamando, e os grupos heterogeneos co1neçam claran1ente a se aproximar
de um typo con1mum e homogeneo.
Por isso formulamos, de acõrdo com as tbeorias de Gumplowicz, a lei
da evolução da humanidade de maneira diametralmente opposta á lei da evolução
de tlerbert Spencer, e em antagonismo com a tradição mônogenista.
Essa lei deve ser assim concebida :
A humanidade vem de heterogeneo·• e inumeraveis grupos primitivos,
e caminha para um estado de ho1nc,geneidade futura pela fusiio de
todos os povos do planeta.

II

''Luta ou cooperação''
" corrente entre os sociologos dizer-se que a t!Volnção humana só se faz
pela lula. E' o que ensinam todos, inclusivé Gumplo,vicz. O sabio professor
de Graz assim se ex,erime: e.Um principio superior, como que o conselho
dos deuses, ordena a assimilação das raças umas pelas outras, amalgamando-as
todas. Mas, como se fórma esse amalgama prodigioso '?
«Unicamente f'ela luta das raças, luta que se perpetua na guerra e na paz:
não ha outro meio. Seria necessario que o liomem deixasse de ser homem: que,
se possível, elle se albeiasse da propria natut·eza, p1U·a que espontaneamente pu-
desse renunciar aos bens supremos que o acompanharam no mundo: o seu san-
gue, que é o mais nobre dos sangues; a sua lingna, a mais bella de quantas ha; a
sua religião, a unica verdadeira; os seus costumes, os mais pw·os e dignos! Pois.
apesar de tudo isso, o amalgama se opera, os elementos heterogeneos e hostis se
fundem e confundem: tudo ba de chegar à unidade: assin1 o quer a natureza.• (1.a
Lulle des Races, pag. 258).
Devido ao exagero do darwinismo, hoje se aplica a tudo o qualificativo de
luta. Na maior parte dos casos onde se diz <cluta» deve-se entender «trabalho», e
em muitos se enquadra perfeitamente o conceito de «coope.ração».

14
Para evitar divagações philosophicas sobre a accepção de termo «lutai e
seu emprego, nos inu1neruveis can1pos de aclividade do pensamento, trataremos
do seu emprego exclusivamente no caso do contacto das raças ou dos povos.
Houve luta entre os descobridores hespanhocs e portugueses contra os
indigenns do Amcrica para os ausorvcr? Parece-me que não. A Lutn, que infeliz-
mente. houve, foi para destruil-os e não para assin1ilar. E o snn~ue indigena
que entrou para o das nacionalidades, aqui forinadas, entrou muito paciITca e
naturaln1ente, pelo extraordinário poder de cruzan1ento dos iberos.
li~uve lula conll·a a raça africana, que está a des11pparecer no continente
sul-a1nencano ?
Ninguem dirá que sim. Entretanto, nos Estados-Unidos. onde a luta contra
o sangue africano é tremenda, a população negra augmenla continuamente :
e1n 1892 existiam cerca de quatorze n1ilbões de pretos; esn 1918 já se elevaran1
a vinte e quatro milhões, e hoje niio andarâ o seu nun1ero lonee de h·inta n1ilhões.
Ten1 havido luta, na America do Sul, co11tra os in11111grantes, vindos aos
milhões de todas as partes do mundo?
Ao contrario de luta, o que se nota é que o estrangeiro gosa aqui de muito
maiores vantagens que o nacional: pois, tendo os mesmos direitos, não se carregam
com as obrigações dos serviços e deveres patrioticos, tendo ainda o trabalho dos
estrangeiros gnrantius e protecção, que não se concedem aos nacionaes.
Se1n ncnhun1a luta, a:; nacionalidades sul-an1ericanas vão absorvendo as
massas colossaes de sangue estranho, sem perdel'en1 os s~us caraclerislicos
uacionaes, conservando os nossos costumes, as nossas tradições, a nossa língua,
a nossn religião. fasendo nós rnesmos as nossas leis, formando os nossos ideaes,
elaborando uma civilisação tamben1 nossa.
Lutaram os porluguese:; contra os indígenas da Africa para fundaren1 as
colonias, que lá se mostran1 exuberantes?
A não scren1 as da cpoca camoneana nenhuma outra guerra carúaram os
lusitan.os, ne111 regista a historia colonial.
No entanto esse fermento poderoso, que é o sangue portuguez, vae-se
espalhando por toda a parte, branqueando, só ern Angola e ~Ioçan1bique, vinte e
muitos 1nilhões de negros.
Ernquanlo esta fo1·mação paeifLca de uma nacionalidade de caracter lusitano
se opera; um pouco ao Sul, os orgulhosos tlolicbolouros, vindos dos mares do
Norte, deslroen1 syste1naticau1ente uina nação já eonstiluida e donúonsn, pela força
e pela astucia, os grupos dispersos desse povo heroico, criminosan1ente desbaratado,
e que, mais dia menos dia, ha de sacudir o jugo dos oppressores.
Não é, portanto, a luta o· factor 1nais poderoso de fusão das raças. Não é pela
lula, 1nas pelo crusameuto, pela absorpção de sangue, pela assimilação de muitos
habitos e sentimentos que se opera a união efficaz das raças ou das nacionalidades.
Ao mesmo tempo que se faz o crusamento, no seio da raça mais numerosa,
melhor adaptada ao meio, mais capaz de progredir, vae !ie operando, por um tra-
balho biologico natural, a eliminação dos caracteres anthropológicos da raça
absor\rida. H.ealísa-se desse n1odo a lei da regressão ao lypo primitivo. Mas essa
regressão se faz sem prejuizo para nenhumas das raças e sobretudo sen1 a menor
perda de elementos culturaes, sem prejuízo algum pai·a a civilisação.
As guerras do lmperio levai-an1 as legiões romanas até os confins do mundo
antigo. ~fas uão foi graças á llita que a oivilisação romana se espalhou por toda a
parle. Favoreceu muito mais a obra civilisadora o comercio estabelecido entre a ci-
dade do 1'ibre e as mnis remotas aldeias da Europa, graças ás magnificas estradas
que abriram. Não foram os proconsules n1ais terríveis, os lyranos mais sequiosos,
os ar~ulos da civilisação roman.a. A Spnnia, qu~ res~stia a lu'!o, res~stiria ta111be~1
ás legiões de Cesar, se o conqu1stador das Galhas oao fosse lao hab1l na estrate~1a
quanto era magnanimo na destribuição de uma justiça, bebida no espirito super101·
das lei romanas. As àguias romanas afinal só deix.ariam de tremular aos ventos
do victoria, colhidas pelo furacão das avalanches de barbaras. Essas correntes
irresistiveis avassalaram a Eu1·opa inteira, revolvendo e destruindo lodo: mas do
monturo das ruinas havia de brotar o espírito daquella civilisação superior,
do fundo dos claustros iria surgindo para a luz alborescente de uma nova cívi-
lisação o espírito imortal das leis romanas.
No pugilato tremendo, oa tragedia dantesca que tem sido o viver atribulado

15
desta pobre hun1anidade, nnnal sempre vence o direito. Referve a intriga, o odio
campeia, como Java urdente entre os escombros da Europa hoclierna, revolvida
pelo cataclysmo dessa novu invasão de barbaros. Já desespcran1 os crentes os mais
enthusiastas. os sonhadores de um futuro de paz e concordia entre os homens.
S6 não pode descrer, só nilo desanima, nem fraqueja, nem blasphema o que
immolou a -..ida, na ara sagrada da justiç.i. Esse, v1sionario ou poeta, sonhador,
philosopho, ou o que quer que seja, do topo da historia alarga confiante a vista
para o futuro, porque, voltando-a paru o passado, em nJeio do caótico panorama,
divisa, sempre a dominai-o, o espírito eterno d:.i justiça. E' ella a soberana do
mundo: ella que o an1parn nas crises, que o conserva nas convulsões frequentes,
que insuffia a vidn no caos das oalastropbcs universa<:s, que anin1a as forças
creadoras, que conal'egn as tendencins vitaes, que orienta as forças dispersas; emfim,
ella, a suprema •vitrix», tauge sobtanceira a grei humnna para a sua finalidade.
E, dizer justi~·a é ouvir solidn1·iedade, entender cooperação.
Portanto, o CJllC conserva e íuz progredir a humarudnde, o que impulsiona
a sua evolução é a 1•1stiça, n solidariedade, a cooperação.
A .-Republica de Platão» a "Política• de .~ristotcles constituem-se pela coope-
ração. Basta lér o primeiro topico do livro i1nortul do philosopho. «Vemos,
diz elle, que toda a cidade é uma e.~pecie de associaçlio, e que toda a associa-
ção se forma em vista de um bem qualquer, porque o homem não faz senão
aquillo a que elle aspira como um bem. Todas us associações se propõem, portanto,
qualquer vantagem, sobretudo a rnais importante de todas, visto que ella visa o
bem supremo: uma nssoci:1ç1io deve se estender a todas as outras associações. E
é a este conjunto que se chama cidade ou associação polilicu».
E foi assim que n cidade grega, nascida du solid11ried11de, baseada na livre
associação, criou aquelle espirilo civilisador que ainda domina o mundo.
A historia consagra apenas un1 fugitivo aceno ás sabias leis de Athenas, e,
seguindo a sua norma, -..·ae se deleitar com a narrativa dus lutas que deram a Sparta
a hegemonia sobre as cidades livres da Grecin, alonga-se com as guerras do Ponto,
com a conqufsta maccdónica, canta a epopêa da resistencia aos persas imorta-
lisando os beroes das 'fermopylas. Compraz-se a sanguinaria chronica com a
descripção das peripecias da guerrn, e exalta as glorias de Alexandre e de Cesar.
Esquece-se, porém que foram as cidades antigas formadas pela associação
que fizeram o explendor das Hêllade, maravilhoso incunabulo da civilisação.
Andam todos, que bem conhecem a historia, aturdidos com o estridor das
batalhas, e esquecem-se ci.ue para um momento de luta são necessarios annos de
trabalho pacifico, de associação productíva,
O que admiramos na Grecia anti$ª não se fez pela guerra, mas pelo lraba-
lho lento, presistente e criador da associação chamada cidade.
As ~uerras se fizeram porque povos barbaras, gúerreiros, cupidos, acostu-
mados á pilhagem, quizeram se apoderar dos heneficios daquella ci'vilisação supe-
rior, sabida daquelle cadinho prodigioso, que era a cphratria» ou cidade hellen1ca.
Tambem o poderio de Roma não lhe veiu das guerras inumeraveis que
sustentou na época dos Cesares, mas do trabalho lento e persistente da cidade
latina, que levou seculos e seculos a formar a republica romana.
A conclusão que tiramos desta longa explanação é que a evolução humana
se faz no sentido da união dos povos, e que essa união se realisa pela coopera-
ção, e não pela luta.
III

''Povos do norte e nações do sul''


escola soeíal de Le Play, Tourville e Desmoulins, divide a Europa em duas
zonas: uma septentrionaJ, habi1ada por uma raça de homens louros, dolicho-
.J.. cephalos, cheios de energia ede iniciativa, imbuídos de um inclividualismo
forte, sendo o sentimento da força, da tenacidade, do metbodo e da clisciplina uma
função da alma dessea povos; e uma zona meridional, habitada por uma raça de
brochicephalos, morenos, individuos sem iniciativa, sem caracter individual, obje-
ctivistas, sujeitos a todos os inJluxos do meio ambiente, objeclivistas comtempla-

16
tivos, sendo a moleza e apalhia os elementos consliluilivvs da nln1n inconsistente
<lesses povos.
O quadro nada tem que nos lisonjeie a nós, que julgan1os ser lidimos des-
cendentes dos latinos.
~fus não precisamos de ler o trabalho de contestar os fundan1cotos da
escoln, porque a Grande Guerra poz cn1 prova e demonstrou quanto póde o as,,o- •
ciacionisn10 latino. Não fosse a vida connnunicaliva das gentes do Sul, a sua fa-
cilidade de associação, a sua lendencia collectivisla, e a civilisação ocidental es-
luriu agoru en1 situação idenlica ú que ficou, logo npós n queda do isnperio
l'Olllt\ll().
A nossa vida objcctivistn, conten1plntiva, de indivíduos que por si nada fazc1n,
con10 ensina ti escola social, que espe1·111n tutlo da collectividade omnipotente, essa
vida que se espalha, que se n1isturn con1 n dos outros indivíduos, que se diílunde
en1 orgn11isn1os estraul1os, que enfraquece talvez u ahua individual pelos sc11ti-
1nentos altruistas, essa vida que é nossu e dos nossos sentclllantcs, <1uc dividimos
cosn n nossa fan1ilia, con1 os nossos vizinhos, com os nossos concidadãos, com a
nossa palrin, com as patrins nmigas <ln nossn, essa vida prodigiosa que nos unima
e no 111esn10 tempo umpara uni pouco lodos os nossos se1nclhantcs. é a \'ida
cooperativa, a vida solidaria, é a vida associncio11ist11, é a socialisaçlio da vida: foi
a vida dos aliados nos dias angustiosos da guerra, e será a vida futura da huma-
nidade, 1Jt1s quadras n1ais risonhos do porvir.
E' injusta n critica que têm soffrido as populações do Sul. P~1ra sua glorifi-
cação bastava citar o facto de ler sido nas penínsulas do ;\fcditerruueo que se dc-
semrolveu u rnais progressiva das civilisnçõcs.
;\tas a critica ás tcndencius socinlislus ve1n de un1 habito já arreigado e1n
t1unsi todos os espirilos.
'fodos louvan1 a iniciativa, o egoísmo e o orgulho do «selfn111de n1an•,
porque Ludo quanto se ten1 escriplo, en1 historia ou sociologin, ten1 un1 cunho pes-
sool, visa sempre o individuo; procuru-se invaria\'clmcnte un1 pcrsonageo1
qualquer.
E assim o elen1c11to social, o factor cooperae<io audn de todos esquecido, -e
parece que nenhum papel representa na vidn dos povos, quando é ellc o cle1nento
prilnortflnl dessa vida.
l\l'O)lolk.ine, o conhecido agitador, o anurcbista fn111igerado, mas un1 sabio
c.lcsconhccido. consagra um livro an ni:1is alla philosop1Jia e do 111ais profundo sa-
hcr ao estudo da coopernç;"io no mundo, estudando-a enL\·c as cspecies nnimaes
e ns i;ocicdndcs humanas . .Nilo ha ninguc1n, co1n pretenções a sociologo, quo deixe
tlc entoar u111 1Jy111no lt chasnadn luln pela vida, criada 1nais pelos discipttlos do
1neslrc l):u·,vin, do que por ellc 111es1no, que uunca a cxage1·ou 11cn1 1011\'011, como
n chusn1u do!l dar\\·inistas <snobs. •
E. a ohservaçi10 superficial que leva n esses exageros e conclusões peri- •
gosas. O l'ragôr da luta chega n todos os 011,·idos. 1\0 contrnrio, u coopernç;io
se realisa lutcnle e silenciosamente, e dcn1anda muila attenc;iio pnra observai-a, e
algun1 raciocinio para bern 1ncdir as suus consecruencias. •Enlrclunto, quc111 des-
conhecerú que urna só guerra produz n1ales muito inaiores, inunediutos e subse-
<1uentes, do que o ben1 produzido esn ceuten;1s de nnnos pclu acc:úo ininterrupta
do principio da cooperação (l'Eritrc Aide, p:ig. 322).
O estudo da vida interior da cidade gn:ga. du conHnuna u1cdievul, n1ostram
que a coopernc;ilo, tal como se praticou no •Chtn• hellenico. corubinada con1 a
lurga iniciulivu, deixada ao indh1duo e nos grupos pela aplicuç~o do principio
federativo, deu A huo1anidndc as duas épocas n1ais nolaveis da sun historia: u
das antigas cidudes gregas e a dus cid11des da Edade '.\fedia. Ao contrnr10 a ruína
das instituições cooperativas, durante os p~riodos seguintes da historia, q1u111(lo o
Estado organisou o seu prec.lominio, ussignnlu, nàs duas épocus, u1nn decndencia
rnpitla• (Op. cit. png. 3231.
O factor cooperação, solidariedade, n1ulualisn10, tem u1n ''nlór sociologico
incon1paruvcln1enle superior á acçiio individual, cmsin1csn1adn; o :;oci~1lisn10 é
para o aglon1erado humano uma força de coesão, ao pnsso qne o indi,·idualisn10
tende paru a dissolução.
~os períodos de guerra produz-se .uma exaltação nota,·el do fnctor iodiYi-
dualismo: nessas quadras de barbaria e de pilhagem, pontilican1 os arautos da

17


1
força bruta; e é com soherano desdem que se ouvem as lamurias desses idealistas
ingénuos, que nos v~m falar de solidariedade.
E, assim, no futuro. hão de predominar as povos do Sul •de alma feita de
moleza, dados ú conten1plaç11o e â ''ida objectiva das colectividudes entorpecedo·
ras: • esses povos eminenten1ente socialistas, collectivistus, associacionistas, coope-
rativos ou con1n1unistas, hão de absorver e assimilar o sangue nobre dos dolicho-
louros do norte, pnrn depois eliminar o egoisn10 feroz e o orgulho desmedido com
que afrontam o mundo, nestes nossos n1a1fadndos teu1pos.
O individualisn10 extremndo é, como o isolan1ento. un1n força negativa no
seio das sociedndes, irnpede o seu crescimento, dificulta-lhes o progresso, perturbn a
corrente vital, que deve cicular li vre1nente pelo orgnn isn10 inteiro.
\'encerão, portanto, se 1ne per111ilen1 e1npregar nqui esse verbo anüpatbico,
vencerão os povos n1ais socia,•eis do mundo.

J, •

''0 poder de associação dos ibe1·os··
ÃO é preciso repetir que os povos do sul são Ol'I rnai$ sociaveis. dentre os
que forn1un1 a. cspccie hun1una. ~las vamos den1onslrar que, dentre elles, ha
un1 grupo em que o sentido da. associação ou solidariedade é ainda mais
desen,·olvido. E' o grupo que fala a língua de Camões e a de Ce1·vantes.-E estes
dois nomes represenh11n as qualidades n1ais sublimadas deslla grcy prodigiosa: 11n1a
lembra, aos que nos v~n1 falar em moleza e apathia, os beroes das duas epopeias do
oceano, •Cn1 perigos e g11err11s esforçadas mais do que per·n1ittia n força hunllnln•;
o outro sytnbolisa o allr11isn10 nrdentc da raça cavnlheirosn e nobre. Ora hnpavi-
dos, con10 nos I.nzinclns, orn sonhadores, corno Quixote, van1os pelo mundo dando
o exemplo de un10 vidn que alcvnnla e afasta a llnmnnidade do 1naterialisn10 gros-
seiro da gente cgoii>tn lá do Xorte.
Constituímos a ruça n1nis nltruisla e cooperativa que ha, porque somos os
po,·os mais livres do nu1ndo. :\1io ha coope1·ação se1n liberdade. l 1n1 povo que nüo
é livre trabalho para fortificar o poderio de um tiruno, ou de uma oligarchia,
conto o cscra'10 que gen1c pnra enfartar o seu senhor; um povo assim não coopera
para a grandeza de un1a palria, não corporifica un1a naçúo.
Os povos du fhcl'ia sempre deran1 n1oslr11s do 1n11is entranhado an1ôr ít li-
bcrcla<lc: já defendendo-a até o.o ultin10 reduclo das suns rnontunhas, onde alicia
a figura bon1crica de \'irinlo, a n1ais syn1patica de quuntns hn nn historia; jil re-
conquistando-a pela nbsorpçiio elos conquistadores, corno succedeu nos gregos,
carthaginczcs e ron1anos; jú pela expulsão systernatica. co1no sucedeu aos araf>es.
~utnerosas foran1 a::; invasões na Peninsula, cujas riquezas foran1 sempre
cohiçndns. l~ntretanto nenhuma conseguiu subjugar por co1nplcrto a energia dos
seus povos priniitivos, ncn1 roubar-lhes a sua preciosa liberdade, qne, soterrada
nos primeiros e1nbah•s, revivia loço mais pujante e sobronceira.
Pode-se dior.er que n Sprn1a foi sempre a terra clnssica da liberdade. AUi
prospernra1n as li"rc:; cidades gregas, qae estabeleceram o comercio entre a
gentes da peninsula e o resto do mundo, dl.!spertnndo logo as suas riquezas a
cobiça dos povos conquistadores. Depois, sob a don1innção romana, ainda Jlo-
re:;ce a lilJerdade, que i;c organiza definitivamente com o rcl-(iu1en municipal, que
para sen1 pre ali se r<\<licou, resistindo a Lodns as mutações da historia.
«A l-lespanhu, diz Oliveira ~Iarüns, foi por lodo o sc1npre uma democracia.
Ero-o na sua existencia de trihu, foi-o sob o regirnen municipal ron1ano. A inva-
são das instituições gcrmt\nicas adstocralicas não poude destruir a anterior oons-
tituiçilo da 1-lespanha, ne111 fundar no seio delln o regímen da heredit:lriedude e
das castas, como o fundara uo resto da Europa. Este facto social e historico,
con1binado con1 o c11racler da raça. cou1 a uohrC7.a, o orgulho e a indepcndencia
pessoal, fez da Península 11n1a dc111ocracia ora militar. ora eclcsinstic:1, ora
1nonnrchica, ora oligarchicnn1enle governada. O fundo, corno as rochas igncits,
ern inAbaJa,·el; o resto crtun accidentes, como os terrenos superiores, sujeitos ás
influen('ias erosivas das correntes, isto é, ás acções dctern1inadas pela vontade

18
dos homens.» Completa este pensamento n grande autoridade de Ricardo Severo,
dizendo <(que esse fundo como as rochas igneas» é hoje o pedestal inabalavel dn
llepnblica. Condensa a alma de um povo, por todo o sempre den1ocratn, é a syn-
thcsc indissoluvcl <lo cnracter ethoico, moral e social dessa nacionalidade, cujas
origens se confun<lcn1 com a historia do proprio solo nncionnl, desde os periodos
geologicos do • Quatcrnario •.
GLúsot como que perlende tirar aos povos da Pcninsnla a gloria de sere1n
os 11nicos onde o regimcn 111unicipal garantiu a vicloria clu liberdade contra todas
as dou1inaç<3es. Pertcnde elle demonstrar, no seu livro sohrc as Origens do Governo
l\cpresentativo, que a vida local das municipalidades ibericus foi :;upplantadn pelo
absolutismo da monurcbia \\"isigothicn, 1>01s o cForum Judicurn., codigo de leis,
que revogou a legisluçào anterior, nüo consagra ncnhun1a disposição referente Íl
orgnnisação dos 1nunicipios.
~Ias a autoridade sem par de Savigny, nn sua •11istorin do Direito l\omano
na Eclade l\lcdia•, purccc muis acccilavcl que a de (;uisot. ~ão são as leis que
crinn1 as inslituiçõcii, e ne1n sempre, por n1ais prepotentes que sej111n, os seus
executores conscgucrn anniquilar os institutos que proscrcveni. O direito é unut
necessidade social que a lei corporilicn, n111s que pode existir antes della, e
subsistir após e lia.
E assim, devemos concordar com Suvigny em que, não obstante o absolu-
tistno autocratico do •l;orum Judicum•, o regímen municipal continuou a existir
e n prosperai· na Hespnnhn, ú sombra de u1n outro corpo de leis romano-\visigo-
thicas, que era o • llrcviarium Aninni•, c1uc data do nnno quinhentos e seis.
Demais o proprio Guisot isto reconhece, observando ú pagina :l9i do
citado livro :
«() despolisn10 dos reis barbaros, por 111ais cuidadoso que se mostrasse no
recolher a hertln~·a dos maximas ron1a1111s, niio era nen1 hío sahio, nen1 ncn1 liio
minucioso como o dos i1nperadorcs. Elle deixou subsb1tire1n as curias e seus
magistrados, e os pequenos poderes locaes liverarn cerllnncntc n1uis validade e
independencia do que soh o impcrio. O clero habitando principttlmentc nas cida-
des, e ligado ú raça ron1nnn, tinha interesse en1 protegei-as visto como era clle
que dirigia quasi sen1prc as muoicipalidudee•.
E depois co1ncntn- dizendo que, en1bora as liberdades nntigns não fiyesse1n
guarida nas leis escriplas, o que é certo (: que estas não n1odilicaram a conslitui-
c.:ilo geral do paiz, e a independenciu dos niunicipios subsistiu apesar de tudo,
para mais Larde encontrar a sua consagru\·üo nos forues das cidades.
Terra da de111ocracia, terra da liberdade, a Ibéria foi tan1bem o berço do
parl:unen tarismo.
Encontra-l.e no excellente e quosi desconhecido livrinho de \'cigo Filho,
sobre uÜ \'oto e 1\ Eleição• o seguinte trecho de um <liscurso de Dias Ferreira no
parlnn1enlo portuguez:
- •E' con1 verdadeiro orgulho que cu lembro â can1ara que nós son1os a
naçiio parlamentar 1nuis untiga da Europn. A França reunia pela p1·iineirn vez os
Estudos Geracs compostos das Ires orden::i do reino, em 1303; e a lnglnterru, a
n1cstra do regímen constitucional, reuniu pela primeira vez o ca111nra dos co1nn1uns
en1 1265, comquunto n sua ma&'Iln cario seja de 1215.
Pois nós, pondo de parte as córlcs de I..an1ego, cuja authenticida<le 6 con1
justos fundamentos contestada, e recorrendo ils primeiras cortes cm que se publi-
caram leis gerncs, deparan1os com as de 1211, que se rcunira1n em Coimbra no
ten1po de 1\ffonso II, tendo assirn precedido meio seculo à Inglaterra, no esta-
belecimento do 1·egimen purlamenlar.
Eram irregulares as reuniões das nossns cõrtes, não estavam bem definidas
as suas atlribuições, e ainda mais mal definido o eleitorado. ::\fus à hon1brídade
conl que procedin1n us cortes correspondia a hombridade com que ''Otnvan1 os
eleitores, e vice-versa, como era naturtll•>.
Qual o povo que, em plena Edade ::\Iédia, teria o desassombro do portuguez
na escolha dos homens que o haviam de governar'/ Depois das pcripecias drama-
ticas que envolveram a vida dt D. Fernando e Leonor Telles, não quizernm os
portuguezes acceitar o governó de principes estranhos: elegeram rei o Mestre de
Aviz, o glorioso D. João I, o companheiro de Nuu·Alvares, na obra ingente da
formação da nacionalidade portuguew, o pne do infante D. Henrique, este genio
soturno, que de Sagres avançava o pensamento sobre o tenebroso mar, na ancia
~ncontida dos desco'brilnentos, o genio da nacionalidade que, alli, no prornontorio,
a cavaJleiro sobre as vagas, entrevia quiçá a realisação magnifica, que hoje nos
enche a nós de orgulho, e a Portugal de glorias.
Nenhum povo soube, com o n1esn10 afinco que os iberos, defender as suas
liberdades, por isso lambem, em parte algun1n :>e observa tão desenvolvido o
instincto da cooperaç.ão. A communa iberica é a cellula prin1ordial d11s naciona-
lidades, que hoje florescem na Europa e na America. Havia no 1nunicipio antigo,
e ainda ha em 1nuitos de hoje, um regio1en de co1n u1unhão qnasi absoluta. A vida
das aldeias da Iberia era 1101a vida toda feita de n1utualismo ou cooperaciio. A
terra não andava subjugada como hoje ao despotismo capitalista dos senhores de
.latifundios: os seus detentores eram can1po11eies que não a do1ninavan1 brutal-
mente, nem a n1ercnnlilisavam. con10 hoje se fai; acompanhando com amor e
nnciedade as searas crue della brotav:un, con10 que se identificavan1 Jturna união
de esforços para a n1csn1n finalidade.
Para o trabalho da terra reunian1·se os cn111pone7.cs na co111muna, conl-
mnugando os seus esforços. Em quantas era comn1u111 o arado, con1n1um a nas-
• cente, cou1muns os hois, o carro, e os catnpos onde pnsciam os rehanhos '? 'famben1
na Suissa, outro recanto de 111ovtnnhas·, o!lde se foi ncantonar a liberdade. o
1nesn10 phenou1eno se deu, e ainda se observa. «No cantão tle Vaud, onde os
chefes de familin têm o direito de tornar parte nas. deliberações dos conselhos
con1mnnaes electivos, o espirilo da communidade é extraordinarian1cnte desen-
volvido. Lá pelo fin1 do inverno, a juventude das aldeias vae passar alguns dias nos
bosques. para derribar as arvores que desce1n pelas escarpas das montanhas ainda
nevadas. A n1adeira de carpinteria e a lenha são depois partilhadas entre as farui-
lias, ou vendidas en1 seu beneficio. Estas excur11ões são verdadeiras festas de
trabalho viril. Nas n1nrgens do lago Le1nan un1a parle dos l•rabalhos de vindirna é
ainda feito e1n co1nn1u111; e, na primaver11, se o lhern1ometro ao1eaça cahir abaixo
de ze1·0, anles de levantar o Sol, o vigia chan1a os habitantes todos, que acendem
fogos de palha e for111:1111 nuvens artiliciaes (le fumo para porteger as suas vinhas
contra a gcndu. Em quasi todos os cantões, ns con1n1unas teu1 o que se cha1na
• Biirgernutzeo: • reunião de alguns cidadãos descendentes ou herdeiros das velhas
fan1ilins, que possue1n en1 con1111un1 u1u certo nun1ero de vaccas, terras, 011 vinhas,
cujo produclo se partilha entre elles. E ha casos en1 _gue a co1nmuna aluga terras
para tlepois dividir o produeto entre os cidadãos (L(ropotkine-/.//in/r-Aide png.
• 2:i8). Por Ioda a parle, a liberdade anda se1npre unida á terra, e ao n1unicipio.
'faine, nas ,Origines de la France Conlemporainc• descreve, de maneira
en1polgante, como se impJantou o absolutismo, e con10 se originou o capitalismo,
pela apropriação da terra con1munal pela nobr eza e pelo clero, dando Jogar ao
apparcciinenlo da burguezia voraz, á supprcssào das coopernçõcs de artes e oficios.
l>or isso não errn1nos dizendo que a Iberia é a terra classica da liberdade,
"JlOrqnc d'ahi nunca desappareceu o rcgimen n1unicipal, que é a base da coope-
raçáo entre os homens.
'fransplantadas para a An1erica as populações da PeninsuJa, estas e a
progenie que eJlas aqui desenvolveram, não se mostraram menos ciosns dos seus
direi los. •

E' ver con10 se realisou quasi de improviso, e quasi que ao mesn10 tempo •
em lodos os pontos do continente sul-americano, a in<lependencia das colonias,
no n1ome11to en1 que o governo da metrople qui7. impor-lhes o peso de um jugo
a que se não podian1 habituar.
Assio1 se conservou e desenvolveu, aqui, como na Iberia, o senli1nento da
liberdade baseádo na cooperação do regimen n1unicipal, que ainda lá perdura,
e aqui se aperfeiçoou corn o systema federativo da America latina e a fórma
republicana de todas as nações.

20
CONCLUSÃO
Feito este longo e fastidioso estudo, posso agora falar da teodeoeia socio-
logica e dn necessidade da l.!nião Jbero-Au1crica11a.
l ln uma tendencia sociologica para essa união den1onslcada pela conserva-
~ão, através de todas as vicissitudes, do inslinclo cooperativo da raça, que manlcn1,
apesar de todos os despotis1nos dos conquistadores e dos reis, o fogo sa$rado <ln
lilJcrdade, abrigado no reducto invencivcl do 1nunicipio. Essa tendenc1a ntani-
fesla-sc no extraordinario poder de assiinilnção da 1·aça. cujo sangue, diz o
Dr. Bcllcncour! Rodrigues, e con10 um ferntcnlo que se espalha por toda a parte,
cru7.ando com as populações de todos os eli1nas e feitios, e intprimindo-lhes os
seus nobres caracteres. Essa tendcncia se evitlen~ia pela con1munhiio perfeita que
se ntanl(l1u entre lodos as nacionalidades, que prospcra111 pacilicamente na America.
Quando os super-civilisados povos se esphncela1u em tre1nendas guerras para a
<:onquisln de terrilorios e de n1crcndos, criando entre i;i inextinguiveis odios e
rivalidades, nós damos o exemplo confortador de, no espaço de um secuJo, que
comprehendc toda a nossa vida independente, só uma guerra se ter desencadeado
no continente. l'flas essa mesn1u guerra, cuja meu1oria se vae apagando com mais
de ntcio seculo de pacifico lubo1· e de fecunda amizade. não foi uma guerra de
conquista; pode-se dizer que não foi u1na guerra de povo a povo, foi antes unta
lucta intestina, unta guerra de princípios, lendo cm vislil combater o despotismo
de un1 ditador, e nüo aniquilar unia nação ir1nü. Hoje a 1nais perfeita harmonia
reina em todo o continente, e a tendencia sociologica para a contmunhão a mais
perfeita exprime-se por essa admiravel declaração de nn1or dos sul-americanos:
uludo nos une; nada nos separai>.
l\Ius os mesntos laços, que nos unem, se estendem :i 1niie patria, ú Peninsuln
onde esh\o &ruardndns os nossas mais caras tradições, n essa terra onde o nosso
idealismo bebe ns mais nobres inspirações. Não é a distancia, que os heroes lusi-
tanos provaram ntnis u1na vez nüo exislir 11111 n1olivo para scparaçi10. cEI mar,
excla111a :\lbcrdi, une los dos n1undos, lejos de sepnrorlos».
Nns margens do ~Ieditcrraneo formou-se a civilisnçíio lnlina. A hncia meri-
dional do Allantico, rodeada pelos povos ibericos dn Europa, da Africa e da
Americ:i, parece destinada á sua conservtl~;io e de.~envolvin1ento.
Tudo isso está a indicar n tendcncia sociologica para a união. E essa união,
de fucto, jii existe, e reside no instiucto da coopcraçfio, nos hal>ilos da vida •Com-
munitnrin• dos povos il>ericos. !lesta apenas dur consistenci!l, e tornar consciente
esse nJovimeato instinclivo. Tsto ha de en1 hreve se rculisar pela uneccssidadc~.
E' nccessario que esse ntovimento se organise, e to1nc forma consciente u
contn1u11hão iberica, sob pena de desapparccer1nos <la face da terra.
llemonstrâmos que a humanidade n1archa para um estado dci homogeoei-
.dade futura pelo desapparecimento de unias raças, deslruidas ou nbsorvidas por
outras .
•\ raça latina, as populações meri<lionaes teen1 diante de si um perigo
imminente, que é o in1perialisnto anglo-saxonico.
E o que é extraordinario é a nossn ingenun confiança n'csses nossos
camigos• do norte.
Lá nn Europa, é Portugnl, que sabe perfeitamente quem se tem ido aos
poucos apossando do seu vasto itnperio colonial; aqui, na America, so1nos nós os
ibero-ontericanos ns victunas do niesmo engodo.
t;m doutrina polilica norte-americano, n celebre doutrina de ~Ionroé, tem
sido para nós uma garantia h)·po1helica contra a Europa, porque nunca nos valeu
nos mo1nentos criticos, em que andámos anteaçndos, co1no o demonstra o espirito
desasson1brado de Ingenieros, num discurso pronunciado ha tempos e no qual
proclanta a necessidade de uma união latino-a1nericana; entr1;lnnto tem servido essa
doutrina insidiosa parq justificar as mais desabusadas inter,·cnções e annexações.
Ao lado d'cssa política, o capitalismo intperialista estende, como um polvo,
os seus lentaculos dos emprestimos, com os quacs \"ãO opprimindo, e anniquilando
a vida dns peq uenas nacionalidades, que mnis cedo ou mais tarde hão de ser com-
pletamente absorvidas pelo poder inconteslavel do dollnr. (Rev. de l~ilosofia n."
de Nove1nbro).

21


Assim fica demonstrada a necessidade sociologica da União Ibero-Americana~
A raça iberica. pelo seu poder in1co1nparavcl de assin1ilaç.'lo, é capaz de
' absorver o futuro aos anglo-saxões, fataln1cnlc cnfruquecidos pelas guerras contra
outras raças, provocadas pelo seu imperialisn10 economico.
;,\·[as para isso, é preciso que aquelle inslinclo de cooperação dos iberos se
torne consciente, que o amor perenuc da libcrdude, nnte o perigo irnminenle, nos
desperte para a união sagrada.
Só assim poderá a humanidade esperar um futuro mais feliz. ( 1)
NOÉ D'AZE\1EDO
Doutor cn\ stJe1iciu.:s jtt.rid1 ~1.llt
u ~oci n<.1!( J>t"l{t i:uc ultlnclu
<lc Direito <le S. Pttuln fl~. U. (lo fltus ilJ

(1) Esta conferencia do illuslre advoiindo brasileiro, Dr. Noe de A~eveclo, faz r>nrte de
\lma serie de conferencil\s realisada em S P1111Jo, nos 111czcs de No\'embro e Deze1nbro ele 1922,
e nas quaes era calorosa1nente dcfcnclidn 11 idein de t1ma coofccleraçlio luso-brasileira, como
primeiro passo para a constituição de urn grande blóco luso-bispano-ar.nericano. As outras
conferencias foram as scgaintes:
A do eradlto e illusu·e medico e publicista, Dr. Alberto Senbra ((Tuiào Ibcro-An1ericana},
depois incluida n'um livro do mes1no auclor - •Problemas snl-a111ericanos• -, e já en1 parte
traoscripta por alguns jornaes portnguczrs;
a do eminente professor da Faculdnde de Direito, de S. Pnnlo, Dr. Spencer Varnpré,
sobre approxitnação ibero-an1erican11 (O qne deve o Brasil fazer para co1np/e(ar n sua indepen-
,fenclaJ; e, finalmente:
a do Dr. Bettencourt Rodrigues, feita a convite dos estudantes pnulistas, sobre Confede-
ração luso-brasileira.
Todas estas conferencias, assim co1no o eloquente discurso en1 que nm outro eminente
professor da Fnculdadc de Direito e presidente da Lign Nacionalista de S. Paulo, Dr. Frederico
Steidcl, expos as mesmas ideias; e o que, na tradicional festa acatlernicn, ch•1111atla fcs1t1 da chave,
ern que os novos bachareis, concluida a formatura, dflo o seu adeus de despt!dida á !<acuidade.
disse, falando sobre a necessidade de um entendirncnto entre toclos os povos de linguas portu-
gucza e espanhola, o então quin!anista de direito e uctuul pronrotor de justiça, n'uma das ci-
dades do Estado de$. Paulo, o Dr. Lucio Cintra do Prado, todns essas conferencias e discursos
serão integralmente publicadas n'nm li\-ro que o Dr. Bettencourt Hodrigues para breve nos an-
nuncia con1 o titulo - cPorlugal, Brasil e o lbero-An1erica11is1no• .

1

22


ltl de sol! .\la11/11i de sol! //ora de sol!
1 Jfanlu1 la11nda. rtililt1. e,$/i11t1l I
J>l/ssllm 11nri11as a cheirar li sal . ..
Díli de sol! ,\fanhtJ de sol/ /fora de sol!

f)o111ing<> claro. alegre, cristalino.


co1110 ai; notas 1111•/<ilirn~ d111n sino,
corno um toque estridente de cio.rim . ..
O sol entra nas aln1a.~
ro1no o hulito quente d11111 jardint •..

i\11dam pregtirs susprnsos pela rua:


•Seis tostõe.s o st1la1111111,
que111 quer a:eito11<1s 11011as ?1
1~ o eco prolo119(ldO co11ti11un :

<r ()11e 111 c/lll'l t t :t•/llJ/llIS 110': 1! / S ?)1

J:lectricos ligeiros e c1111arclos


1norde111 11s caliltM . •.
~\s rodas stio 11111rlrlos
arrt111rc11ulo fafart1s
<10.\ rail:; q111· pc1r1•ce111 cluns riscas
tlr prnf(I 11011(1 súbrt• o chü.o rin:enlo . ..

/Jáfluulo, l.111niar, Bra:il-S. /Jento • ••

Ct1da qual 11ai nlru: do seu destino


atra11e: cio aml>ientr ran1prsi110
</Ili' ten1 Lisboa 1111111 do111i1190 assin1 . ••

l.<i 11ai galga11tlo <1os pouros o .-1.lecrin1


11111 carro " tra11sborclar 1~1· f/tllll' moça
</llC. tc111 n<1 pele 11111 rcbr1llu1r de louça.

lJois <1 dois. d1• 1niio.~ cl<1das r. altnas dadas.


111io merendar nas so111/1ras clus estradas • ••
S1•11do l1io desigunis e frio di11rrsos
rada par é 111n11 rin111 cl1·stcs versos.

J)io rle sol! :llanlui <ie sol! l /or<1 de .~ol !


Dor111e o 1'ejo 1h•bai.l'<> 1111111 lençol
de rspin/laço$, de côdeas. e de /a.~cas . • •

- Ult, le.z1a tr.•• / nl/t(J.r;. 1er1a a ,s cc1...ca s 1-


,\'o cnis, por r11tre as barcas,
o chapinhar 11<1.~ clrarcas,
cu11la1n garolO$ a 1110/har os p1ls . ••

La uai uni carro e/leio para i1lgés!

23
1


Eles, os na1norados, qne eu distingo,
caras que vejo apenas ao domingo,
vestem os trajos bons, ele cerirnónia,
arreca<lados nus gavetas . ..

Elas vão procurar na.~ seiinelas,


o brilho do seti111 . ..
1Ven1 cri•me, nem olheiras, ne1n carmim . .
E111 uez do pó de arroz, o pó (/as ruas . . .
Cabeleiras dr.sfei/as e mãos nuas,
.~em luvas, sent <111eis e sem verniz,
pobres e sin1ples como Deus as quis . ..
A cór alrgre da papoula
e 1un vago clieiJ·o de cebola
qne o pcrfun1e barato não disfarça . ..

E alraue: a cidade,
qne parece bordada a /alagarça,
que é feita de rei(ll/ios
corno os velhos /apele.~ srm conforto.
- cidade qtuísi linda e quâsi aborto -
airavc: a cidade de Lisboa
em que sóa e ressua
o 111ar, o ilnenso 111ar,
uma 11oz anda sen1pre a declan1ar,
versos go.~tosos, frescos, sun1arenlos . ..
- os frutos são os versos do po1n<u· -

-«Qll<J!Tl e/Iler fi!JOS 1 t/LJe.Tll <jller tlfllltJS"f/Y Í'-

E desafiando o sol, o vento, as chuvas:

/~ logo alraz canta o pregl!o elo estiló:

«Morc111go.\· sele' ,/e ..\'i11trc1,


1

a <Íe: 111i/ 1·t•i,i; <; '' </11ilo !1J -

Ao longe, o mar
lent ciumes, não gosta,
e, 11L1n1 grilo salgado,
manda logo a resposta:

/~êsle pregt1o 111arlli1110 é 11111 ~nzol,


a chan1ar, a prender toda a c1dacle . ..
Cada vez é 111<âs clara a clt1rida<ie !
Dia ele sol! 1llanhi1 de sol! IIora de sol!

24
FRANCISCO FRANCO
Gravu ra em madei ra
-- · --------~-

L CLUB es en realidad un sitio


particularn1ente serio y aburrido.
Cualquer seõora dotada de rígida
moral podría frecuentar, sin temor
a sufrir ~vicias en su hoocsti-
dad, el salon de baile, el Gabarei,
aceptando el convencional gali-

cismo.
Algunos piensan que allí se
divierten. Están convencidos.
Tanto que, llegada la aurora, com
el tedio de la vida ordinaria. les
asusta la alegria anterior : se han
encanallado, ultrapasaron lasfron-
teras de la decencia. Lo creen
de bueoa tê, inocentemente, por-
que nadie mas inocente que un
calavera de Club . ..
Y la diversión de estos licenciosos ingenuos viene a ser el producto
de un error de raciocitúo ó de un exceso de optirnismo. Cierto que tales
son, por exceler.cia, las formas humanas de la alegria y la diversión.
En el club, penetrados de la recíproca confianza dehabüués,Ios calaveras
se consideran aislados dei mundo, fuera de la moral mesócratica, pués este
sitio suntuoso y disoluto, medio prohlbitivo y reservado, es, por fuerza há
de ser, antro de libertinaje y vicio. . . AI menos, en esta idea se asicota el
viejo prestigio de las cosas escandalosas.
El calavera de club pertenece a la clase de los f~ciles imaginativos.
las noches heréticas, las noches tejidas de horas nefandas en las que la orgía
piruetéa, soo espejismos, fàtamorganas gcnerados en su cercbro y en el de
25
la pasiva esposa que, insomne, revolviendose entre las sábanas, aguarda
devorando desesperos celosos, la llegada del libertino impenitente.
Vense en el clu~ otros asíduos que se podrían clasificar de mesíanicos
dei pecado. El mesíanico dei pecado no arropa engafl.adores./atamorganas
ni ticne esposa que le espere velando en la despreciada alcoba. Es um abulico,
un neurastenico insospechado que rumia siempre su melancolia. No abstante
estar convencido de la vacuidad dei medio, ai club ocurre todas las noches,
alentando la vaga esperanza de que en cualquier momento, de esa vacuidad,
surja algo, algo que ponga una pincelada de color, una nota amable en su
desolada ruta hacia la Inexorable. Naúfrago de la Vida, busca en la disipación
cl madero salvador donde asirse. Y en la continua renovación de esperanzas
y desenganas, en alas del alcohol piadoso,-bebe hasta embriagarse, pero
su embriaguez es fria, mate, silenciosa, de desesperado, de víctima dei
desencanto perpétuo, - vé resbalar Ias horas insípidas de sus dias vacíos ...
Junto a los fáciles imaginativos y a los mesíanicos dei pecado, hay
un elemento sin fisonomía definida, compuesto de viejos seniles, burgueses
abotargados, jovenzuélos casi imberbes que exhiben pepulantes monóculos
y trajes que recortan sus siluetas apolíneas, que van al club, unos a satisfacer
las exigencias de su satiríasis intermitente, otros al disfrute de una tarde de
placer gratuito ; de las, noches no les es dables disponer: de maãana,
temprano, han de acudir ai negociado buróçratico, al banco, a la notaría,
al mostrador dei establecimento comercial ...

as mujeres de club son las hembras mas inofensivas dei mundo.


• Flores agastadas menos por la disipación que por la privaciones,
en la generalidad de ellas sangra la huella de um sufrimiento, que
no pooe interés en ocultar, que lo descubre al menor pretexto.
Mujeres honradas, real ó coovencionalmente honradas, llevan en
lugures no dictaminados de escandalosos mas hondo el escote, mas exíguo
el vestido. Bajo la lumbrada solar, ai subir a un tranvía, a un auto, cualquier
mujer honrada sabe mostrar con mayor pericia el íntimo encanto de las
medias estallantes. Son las mujeres honradas las que noi; hacen conocer el
poderoso influjo del calor de la media sobre la nativa concuspiscencia mas-
culina. La joyosa sinfonía, en el negro sutílisimo, enciende !amparas de
lujuria y provoca el ansia de um mordisco; el gris perla, en su misma
jnsidiosa serenidad, determina deseos de abarcar la tren1ante pantorrilla con
los dedos engarfiados; el blanco argentífero produce anhélos de besar la
pierna desde el empeine a la liga; el beige, de un fúlgido dionisianismo, reta
.a uma caricia intensa que suba en espiral a lo largo dei muslo, porque ·es

26
imposible advertir donde termina la seda de la media y comienza el tereio-
pelo de la carne ...
! Pobre mariposa fatigada de club ! l Pobre vulgar mujercita que sofió
con un hogar, con un marido, con un hijo, y el Destino la condena a vivir
en un bostal mas 6 menos dorado, es la mujer de todos y el hijo que solicita
sus cuidados es el venéreo fatal que corroe sus entrafias ! Llenas de buenas
intenciones, aspiran a tentar y nos conmueven .. .
En salones suntuosos, poblados de cabezas adorables, bustos eurít-
micos y cuerpos rotundos, mejor desnudados que vestidos por las audacia~
jarifas de las sedas, un par de ojos femeninos, de lubrico mirar, pcisado en
otros ojos, una boca vermeja que al chupar un cigarrillo diríase querer
succionar otra boca, la malicia de una lengüecita sangrienta que recorre la
superficie de los labios sin apartar la vista del caballero que inclinado
deshoja un madrigal perverso, una pieroa cruzada, que esparce la pantorrillao
ofreciendo un delicioso nido de besos, cuatro frivolidades subidas de color
procedentes de un elegante flirt, aspectos de buen tono, muy siglo xx~
obrigados ali{ donde la aristocracia se congrega ç no ocurre pensar que
muchas de aqnellas honradas sefioras, de casta prócer y apellido patrício,
harían bastante mejor papel en un cabaret que las otras, que las pobrecitas
flores agostadas menos por la disipacion que por las privaciones?

ntremos en un ciub. El X, por ejemplo. Vetusto aspecto de casa


solariega deshabitada ofrece el exterior. Las herméticas ventanas.
no transpiran uma seiial de vida interna. Detrás de uma pequena
puerta en medio de un peristilo encristalado, decorativo Cristobalon dá el
rcglamentario gorraro. Corto tramo de escalera lleva a un patio cuadrangular-
estilo árabe, impregnado de la belleza y la frescura de sus azulejos ; en e
centro, una fontana eleva el cristal tremuluciente de su surtidor; ai fondo.
ofensivos chorros de luces de una peluquerfa rompe el suave encanto de!
patio. Um nuevo tramo de escalera culmina en otro patinillo dei mismo
estilo, dando acceso al hali que, sia los adefesios de unos n1edallones
con cebezas de mujeres pintados, ser(a sóbrio y elegante. De aqui se pasa
a1 caba,.e/.
Ya estamos en el nefando antro que sugestiona a las lisboetas de
morbosa curiosidad y quita el suefio a las madres, á las esposas, a las.
novias. Es una gran pieza de sobrecargada decoratión, algo rococó tal vez;
dos estupendas arafias, antiguas de cristal y bronce, serenan el espírituo con
la gracia y la esbeltez de sus linéas; a1 fondo, bajo un escenario colgado de
verde, la orquesta toca el inexorable fox.
Nada cosmopolita la fisonomla dei salon. En una alargada pista de
encerado parqttel, bailan cinco 6 seis parejas, rígidas, graves, como en las
27
veladas dieciochistas, de minuetos y pavanas. En torno, flaqueando el par-
que!, Ye}adores, y aote los veladores, hombres. muchos hombres, serios,
hoscos, taciturnos, bebem en silencio limonadas, té 6 café. . . En dos mesas
mas apartadas, pequenos grupos esbozam risas y hablan alto; heciendo
gala de una gran audacia, llegan hasta e! cap y aún es posible descubrir
algún tímido cáliz de cointreau ú un avergonzado vaso de 1vhislcy Sobre
estos grupos rccáe la atención, general : si en cstos grupitos no hubiera una
sospecha de animación ~que sería dei bullicio dei cabarel?
Las mujeres entundan modestas Loilettes de calle i en muchas de ellas
puecle advertirsc la hcchura casera, salida de inexpertas manos, de madres
quizás. . . Diflcil encontrar um traje de soirée. L0s trajes de sotrée no son
apropósito para trotar por las calles, y éstas pálidas mariposas de la noche
peeadora, a los primeros destellos del alba han de regresar a pié a sus
albergues ...
l Cocotas? Aspiran a parecerlo ; pero el género no es de factura
peninsular. En la Península, en sentido general hablando, no existe esa clasc
especial, intern1edia, que en otras partes se prodiga: es planta exótica de
difícil, aclimatación. La mujer peninsular que se pone ai margen de los
convencionalismos, conviértese1 ipso-facto, sin veladores eufemismos, en
prostituta. Y tal don1inio cjerce sobre ella el ambiente, que fuera de su
n1undo equí,·oco no sabe conducirse, a.hcrreojada por el sentimieoto
ancestral de la diferencia de clases. La prostituta peninsular tiene el gran-
disimo defccto de ser estúpidamente pasional, de no saber olvidarse dei
sexo, y asi que un tipo desgrana eo su oido propicio cuatro banalidades
amorosas, se entrega ciega, total, absolutamente, porque en cualquer
hombre crée posible encontrar el amor definitivo, el amor purificador que
la restituya al feble rotativismo dei vivir vulgar.
? Virtud 6 defecto de raza? Eso lo sabrán los psicólogos. Lo cierto,
que no resultan nada divertidas. Nos aburren con sus confidencias, que no
nos interesan, con sus ternezas, que no solicitamos, con sus celos cursis,
que nos irritan. AI cabare/ se va a buscar el amor ligero, fugaz. de breves
horas, no a conocer miserias, tragedias intimas, que cada cual tiene la suya,
y cs bastante. . . Por ligera, y frivola, la cocota verdadera nos entusiasma
e intcresa ; trata de scrnos agradables, habla de temas alegres, educuados al
sitio; si se en1briaga, háccse mas viciosa, mas perversa, mas sugestiva, y
l hay vino mas triste que el vino de uma prostituta peninsular?
Los ricos artesonados reverberan bajo las luces. Camareros en
correcta indumentaria a la moda de 1830, junto á las consolas aguardan los
pedidos. Rasísimo descubrir uma botella de champagne, escuchar una car·
cajada, el barruoto de una discusión, Cervezas, cafés, limonadas, tés, cubren
las mesas; serenidad, adustez, hieratismo, el rostro de los asistentes. to el
ambiente, sobre la n1úsica, sobre aJ ruido rítmico de los pasos trenzados det
fo."C, triunfa la tristeza sensual de la raza, la acuidad que no llega a resol-
verse en lágrimas que es la saudade portuguesa.

28
las tres de la mariana. Numerosas mesas vacias. Pocos hombres
Menos mujeres. No hay champagne, no hay alcohol, no hay anirnación.
{Donde está el escándalo? A la hora que debe caldearse el medio, a la hora
en que el caba1·dt debe ofrecer la ilusión completa dei desenfreno, empaJi-
decen las luces, los bailes se espaclan y si algún ruido se escucha es el de
los cubiertos, manejados por unos pacos que tranquilamente cenan. Regados
aqui y allá, vénse dos ó tres mesíanicos del pecado que siguen libaodo con
el desaliento grabado en sus semblantes.
Las cuatro. La urqucsta toca la última pieza, un rápido galop. los
J1abitués terminan de cenar. Em otras partes a las cuatro, horario fijo, el
cabarel semeja un ascua, se siente curuscar el fuego por las venas, los
gritos unidos ai ruido de pitos, carracas y trompetas, enardecen, queman la
sangre; las voces son tartajosas, las caras obstentan el arrebol de la
desipación, los taponazos de champagne detonan por todos los ángulos.
Empiezan las broncas; antes de los cuatro, no vale la pena que ningún
.calavera que se aprecie golpee a nadie: la bronca de la madrugada tiene
una significación extraordioaria ...
En el club na hay animación, no hay oleadas de alegrías, ninguna
mujer se desnuda posesa de la doble borrachera dei champagne y el erotismo
infiltrado por las drogas heróicas; no hay bofetadas, no hay broncas. A las
cuatro, los pocos que alU permanecieron se retiran tranquilos, bostezantes,
para volver a la siguiente nocbe, que harán lo mismo ...
Y sín embargo. retoman a sus casas convencidos, altamente conven·
cidos, de su perfecta inmoralidad.
El escándalo es, sin duda, una de nuestras grandes oecesidades
morales y cada cual lo hace cuando, donde y como puede ...

EDUINO DE MORA

29
arte- '--os tale
Vonvon:

e suis ma/ade, mon cceur f aiblit


à cause de foi.
li ne retJretfe rien
mais il sait Ires bien
que son mouvement
de vieille pendule
va (inir bientót

à cause de foi.
li avance
il recule
il supporte
il porte
mon rêve, mon rêve inutile de Pierrot.·
mon abime, rizon drapeau,
ne1ge . . . coco
' A A


Voílà ! •

mon cce11r portugais


n'est pas toujours gaf
li faut bien qu'il écoute la Marseillaise de tes pas f
Petit à petit
une éspérance grandit. . .
et satzs savoir pourquoi
mon cceur va plus vite
revient plus vite
vite, vite, vite .. .
à cause de toi.

GJL VAZ
30
dmiravel, arta
ma •
o enhor ose uc1a
no de astro para • o
ar do eino oaqu1m
oelho de arvalho •

Mea caro amigo :

qui recebi a sua carta de 16 que muito estimei


por me dar boas noticias suas.
Nós regressámos ha poucos dias da Fi-
gueira, onde passámos 15 dias para tomar os
banhos e aguas da Anileira. Lá deixámos ainda
e1n casa dos Condes de Monsaraz as nossas
filhas, que só esperamos na proxima semana.
Vamos excellentemente. Isto é o meu
paraíso. Quasi me esqueço de que ha mundo.
Passam os días uns sobre outros sem dar por
isso. Estou socegado. Raro ouço fallar em poli·
fica e não me lembro de que terei de voltar ao
inferno em que todos os dias hei de ouvir fatiar
das mesmas pessoas, e quase se1npre das mes·
mas cousas. Aqui vivo: lá duro e funciono por
·.de\ler e por habito. Nem o meu amigo imagina a vida que aqui passamos. Levanta
mo-nos às 7 horas, almoçamos às 9, passeia1nos, lemos, escrevemos até às 4, em
que jantamos, tornamos a passeiar até à noite, conversamos com quem aparece, e às 9
·e meia ou 10 horas vamo-nos deitar. Muitas vezes jantamos pelo campo, onde mais
nos agrada. Um perfeito idyllo !
Como hei·de eu, no meio desta santa e innocente Vida, recordar·me da polltlca,
..que, feliz1nente, está confiada a boas mãos.
Creio que tudo \lae bem. O paiz di\lerte-se. Ha festas por toda a parte. O go·
\lerno parece navegar em mar bonançoso e mal se percebem os gemidos das \litimas
do camartelo demolidor alçado nas mãos \lfctoriosas do João Franco, todo absor\lido na
faina de supprimir e ampliar concelhos e con1arcas. Não ha no horisonte a mais leve
nuvem, e tal ~ a tranquilidade e a segurança que o rei vae viajar para se distrahir dos
enfados da governança.
Quem sabe se serão elles - os do governo - os que teem razão, e se seremos
·nós, os myopes, os que não sabemos ler no livro do futuro?
Deixemos fazer a experiencia, - até porque não pode1nos evita-la, - e depois con-
\lersàremos. Temos feito o bastante para nos allivlarmos de responsabilidades. Cedo
se verà quem ten1 razão.
Vamos ter uma regencia de pouco tempo. Salvas as formas, que é de crer
"sejan1 mais suaves, presumo que tudo continuará como dantes. A Rainha tem exce-

3t

lentes intenções e muito boa \lonlade; mas há·de seguir o caminho, que lhe fica tra-
çado, e não se abalançara a mudanças radicaes. Só o poderia fázer d'accordo com o
rei e este considera-se bem e feliz. E' de presumir que ela tente levar-nos a renunciar
â abstençAo, mas nada conseguirá, porque emquanto a lei eleitoral não fôr modificad&
não podemos mudar de atitude.
Isso não farão dt: certo os ministros, e portanto continuará tudo como anterior..
mente.
Fui, ha dias, instado para concordar em que, pelo n1enos, no dislricto d'Alleire>
fossem eleitos 6 progressistas dos principaes, sem iissenlln1ento seu, para procederem
corno lhes conl/lesse. Recusei-me a todas as con1binações, alfegando que não podia
deixar de cumprir as resoluções do partido, e que. ern conformidade corn ellas, faria
declarar na imprensa progre~slsta que os eleitos, que não renunciassem os seus logares,
seriam considerados desligados do partido pare todos os efeitos. Em vista da minha
atitude. creio que por parte do governo se abandonou a idt!la de eleger progrt!sslslas.
Hoje recebi unta caria de Lisboa, faltando-me em aproxin1açóes com a coroa
por intermedío de wm dos ministros, e da Rainha : 11ou responder qut! lerentos com a
reqente todas as considerações que lhe devemos. mas nade queremos com os ditadores e
que em face da actual lei eleitoral e em quanto ella não fOr alterada, não podemos modi·
ficar a nossa atitude. E assim continuaremos á mercê dos acontecimentos. A nieu ver
o governo está ferido de morte e presumo que nêo irá longe ; mas como as coisas se
fazem e desfazem e:rclasivamenle no paço, ninguem pode \laticlnar com alguma proba-
bilidade o que succederá amanhã. Por mim espero sentpre o pelor.
Quanto a nós, parece·111e que não temos que hesitar. O caminho está traçado,
e só temos a seguil·o se1n receiar as consequencias.
Do Manuel Vaz não tenho sabido ultimamente. Estin1arei saber que nao 11ae
peior dos seus incommodos.
Por aqui tenciono de1norar·1ne até ao fim de Outubro. As nossas vindimas estão
concluídas. Agora cuidamos das outras colheitas e dos outros trababalhos agrlcolas. O
vinho de~e ser bom, mas tivemo~ menos do que no anno passado. Em geral ha menos
nesta região.
Adeus, meu amigo, dê-me as suas ordens, e acceite 1nullos cumprimentos da
Maria Emília.
E creia·me sempre.
Seu amigo certo e obrigado.

Anadia 26·9·95 José Luciano

32
EDUARDO MALTA
"tltelO do[,••.
A
ut•• Yltdel P11\IO O• Cw""•'•
amillo essa11ha
Ott a poesia da
sens ibilidade
1.\NllO 1111111 so111hrn h11111nna
alrnvcssa li lcrl'a - duranlc o
curto espaço de le111po que
se cha111a u \'ido - procura
deixar a in1agl'nt pcrdurn,el
tlc ludo o que ,;u, de tudo o que ou"iu
e sonhou.
l>t•sla reacçito i11ti111a, contra n
n1orle e a lerrívcl l"ugn do len1po, nasce
11 pot~siu, eri111;iio du in1 ugcn1 vh·a de
tudo quunlo a vidn e o !'ionho dcran1 ú
ahna d{l son1br:1 que \•ai passnr.
Ecos de vozes elcr11as saindo tic
son1 hrus pereciveis e pussagciras !
,\ssim é en1 ''ertlttdc quúsi lôdn a
pocsi11, 11 nu1is proíunclarnentc hun1nn11,
a 1nais repassada de vi<la e do frio dos
inlinilos que err1 lúgri111as cai sôbrc nós.
Assin1 C- 11 pocsiu de r.arnillo
Pcssu n hu.
,\ sua scusi hilid11dc c s l rn 11 h o,
i111c11~11. delicada e pc11elra111c, passou
pela vicl11 entre 3S :1on1bras do 1111101-,
da :unizade, da suudosu len1brt111ça, du
:unargn nostalgin. ~:io c1·io11 unia 110\'a
fcir\'11 hurnana, l111la nova ti·ngt1din infi-
nita, criações de que a sua poesia fósse
o éco do culrechocur de lutas e dn nle-
gd11 e do sofri111ento profundos.
Passou pela vuln con1 o corpo '
ahcrto, o co1·ac;ão de scnsihilidaclc viYa
exposto a lodos os choques do 11111n<lo.
• E 1>ara demorar 11111 pouco n1ais as i111a-
gc1111 dh·inus que o tempo lev<1va, para
cn1hulnr o seu arnor ferido. paru se
libertar das imugcns dolorosas, o poC-la
começou a cantar. Eis 11 poesia e111 todn
a ~ua pureza, e111 Ioda u suu abstrncçiio,
scn1 1111H1 unica i111luc11cia litcrf1ri11, sc111
11111 unico lin1 nlhcio n si proprin.
Se nlg11n1a ve;r, ho11 \ºC exemplo ele
poei.in \>11ra esse foi ccrtnn1ente o ela •
poesia e e Can1illo Pessanha.
l)e longe cn1 longe a i;ua nlr11n
postn 11 viver e a sofrer dentro da vida.
ac11n111lnndo tor111ra, 011 11111or, ou di-
vina ternura, precisavn de se lihcl"lo.1·

33
da i111a••r111 interior <(lH' :1 ohsecn,·a. !\urgia
cnl:io 11111:1" '
dns s11:1s po1·;.1:1s f1é. • 1
l'llll' por ser \'I\ u :i
anos e anos. <·01110 11111a ~i11lcsc de 111il dorc<i l~
• ;.011hos. qunsi ro1no 11n1:i oh1·css:io du alinn,
\'Ínha t:1rrtgad:i d<• si111h11lns e de \'id;i, \'l'rda-
• dcir:i sinll'Sl' prof1111<lu t' t·o111plrl;1 de 11111 C/ilado
de :ihn:i.
E' csll' o 1110Livo da s11prc1nn hclcsa e· d1·
' <'l'rlu difit·11ldadl• dus pt>t•sias de C:111nillo Pcs-
snnhu. ,\s suas poeliia:-. 111io :-.iio 1111r1·11li\'ns, nilo
vivcn1 de c:1sos C\lc>riorcli 1· fonnacs, 11c1n u11a-
lis:1111 11u1na ll·uln dc~rriç:io 11111 scnlitnr11lo. ,\s
~uns pocsi11s rcv1·l:1111. 1111111:1 si11lesc de in111gc11s
e har111011i:is. u111 <>i.la<lu de al111a co111plclo lfllt'
podia srr 11 '1<111 inlt•ira de 11111 ho111cn1. l'or
isso cada p:ll "ra pa1·cc·1· ll•111hr:ir 11111 ~c·11liflo
Sl'l'l"l'lo. pesado l' proí1111do. Por isso :1s i1nngC'ns
11f10 lcc1n 11pc11as a l>clcs:i cxlcrio1· e lilcrú1 i11.
prolo11g:1111-sc.• <·0111 11111a \'Ílira<:ii u CJllC' <p111si nos
f:11. sorrrr, :111· as rnLt.l'S ,i,:1s dn nos~n :tln111 .
•-\ dor da 1111:1 e d11s inlllt•is t·o11q1iislns, da
Yiol<"n<·i:i. da 111orlt' quc• ('alliinha no r:1slro dus
1illi11H1s sapd:1d1•s 'lllt' st• :i1:1sl11111, rsl:'i, por PXl'tn-
plo, sl11l<.>lisnd11 1111111 1111ico sonl•lo. E q111111do o
so11tlo :u::1hn sóhrc a i11u1g<'lll dos 111orlos a :;0-
11 har d1· «<>slus,
• . . . . . . . . . • . . • . . . nos olhos ahcrlo!-.
llcllPc·l i11tlo ns <•si relias, hoq 11 ialicrlos . . . •

... p;irtt"lº qut• o po<~la d<'fi11i11 Ioda li i1111lili-


d:1d,• lt·1TÍ\'< l d11 ll()SS:I lul;1 :-.i>h1·<· a lt IT:I, sulitú-
0 0

1·ia. a11lipiilir:1, 1·:11Tt·g:11la de sonhos de viol1•11<·ia


<' dr gra11dt•1a t' c·nja onit•a Íl"lit·i•ladc (· o sonho
da 111orlt•.
1h·!-.l:t pod<•ro<:a "ida dr <':ldn 1111111 d:1s
pot•sias pruY(·111. toano di:ssl'. Ioda a sun gr1111-
1
7
- dcza 11111s la1nlu•111 a sua pô1>sÍ\'el di!ic11ld11dl', 11
sua ton1plt•xid;idt• 1· s11hlilt·z:1. que nc111 todos
liLI HAºl"O l·E <",\\111.1 .0 1'1 \\,\~li\
os cspi1 ilo:-. :>:°lo t':tp:tzt:-. de aceitar.
,\ssi111, por c•:1.1·111plo, quando o pol'la sin·
!t•lisa 1111111 s011l·lo a sua \'Ís;io lutai da nostalgia dos dia!'. que corre111 e passa111
por n•°>s, inúlc.•is. 1111111rgos. l't•lizes. snccssúo d<' i111:1g1•11s l' de clorrs e alt•grias.
dus dias que p:tl'l'l'l'lll :t i111age111 que ns C(lll\ :tlt'Sl'<'lllt•s 111cio rcbris ICl'lll da
,-ida ..• l ' 111 ""J>irilo ra:-.oÚ\t•I 1· non11al qucrt•rú saht·r o <111<· <p1<:rc dir.cr ohjcc-
IÍ\'a1ne11le l''>St· sonclo. :1 q11t• ,-e111 a li"to co111plc:\a e \':1/la .. uccs!>ào de i111nge11s.
1~ st'l'a dirtril. CC'rla111l'lllt•, qut• 11 uos-;a :tl1na qu1· o se11l111 t·o1110 dcv<:> ser sr11l 1cl11 a
poesia pura. co111 11111 st•\l<1 s<·nlitlo 111islico, t·o111 1111111 ,-ihriu;:io das polc'.·ncias da
al111:1. lhe poss:1 di1.Pr porrpll' ndorn l'ssn s11ressi10 dl· i111:igc11:. :;inlclisando, 1·adu.
11111a delas. 1111111 1'01·11111 tl1> \'idu qu<' passn:

vl>alia a (•sl'olhnr-sc - o se11 111ollt• sorriso.»


.\ssi1n t;11nlil·111 <·0111 a i111age111 do 11111111· 111orlo e q11c as 1ncla11C'oli:i;. e
lúgritnas rcl·olirc111 to1110 dC' urna inarnha\'el c·o1Tcnle de i1g1111s clarns:

-1~ tlcluiixo das ;1g11as l'ugi<i=as,


.(), seus olhos ah<.>rlos e st·is111a11do . . •

C:ula pala\ n1, t•ada frasl', tacla in1<1g<·111 l'\·01·a 11111:1 'ilirni:-ào con1plcla de

34
se11lin1cnlos, nina atn1osfcr:1 hun1n11n, essn vihrnc;<iO c·on1plcxa de fôrças <lo1ninnd:u:
por unia ltannonin ;1 qne nós, paro si111pliticar1nos, cltan11i111os uni csll1do tlt· uln1a.
E nquilo que 11011tro, n1cnos 1nislic:1n1c111c poeta e 1nuis lilcn1lo, daria 11111
livro inlriro ê apro,·cilndo por Ca111illo i>l'Ssanhn npcnns n11111u 011 duns poesias.
l'\c"·a cau!ia dn sna 1n1n1 e profunda bcl~za, 1n11s la1nb,·1n d:1 sua diliculdadl'.
E111 gl'ral, rcaln1cnll', os litc>r~1tos uplican1 a sua ('apncidacl c de tlir.cr ;1s coisns con1
h11r111oni:1, co111 grat;a ou con1 C'larcr.a, aos episodios corrcnles da ,·ida. C),unntos <'
quantos \'Crsos dC' 1111101" 11i'10 siio apenas l·pisodios h;inais de 1111n1oro poslos e111
Ycrso 111ais ou 1ncnos h:i1·1no11ioso e hclo. Ora 1\ poesia é oulr11 coisa n1:iis pro-
funda t• lrilgicn a í1tla <jlll' ns ;tinias .id<Jt:11n quando qucrctn clcrnisar nlg111n
scnli1nc11lo, <fuando qucn' nt lixar a sua criaçi10 anlc os i11li11itos 011 <r11111do
qucrcn1, :tpé nl'ls, lilicrlar-sc
dos SCllS fanl:is lll:lS i11le1·iorrs.
1·:· assitn a poc sia dl· Cnn1illo
Pcssanha, t:slrtt •
1·:1s:in1c11lo dr
;il111a c111 p:iln \'l'as, hannonio-
s;1s e cl11 ras 111:1s pcsud;1s de 11111
sc11 I ido i 111c11so. c1'0('adoras <lc

r
urn 11111 r lírio pro1'11ndo.
<J,11ais fo ,,, ra1n as re:tlid11-
dt•s i11lillHIS, Hlli ~ n1ic:1s, (jlH' O fi-
1.C r:1111 p o C:· t a'! Se jú cst h·rsst~
e ri a d a 11 n1 n sciC:·ucin dn nl-
1nn cni q 11c :is suas poténciuc:,
ns suas f<'1r('as •
:icl11untl•s. csti-
vcsscin ordena dns e dr linidas,
seria 1Je1n r11nis fi'1cil detenninar
o sentido intc riur d:1 ohra de
c111nlqucr poéln. .\las :t sciéncia
e a nh11t1 conli nlta a ser ,·:1~n
e in1pre~·isa e l'Ot'l't'-sc o ris-
co, no l';i ln r de p o e si a pura,
d l' s s r1 lingua gc1n da nln1a.
de cair 110 prc· ciosis1110 l' ua
cxccssivn :ihs lruc<.,:iio.
Pcrn1ito- 111c no entanto
disli11g11ir r11lrc 11 pol{·nt'ia t'l'in-
dora e a pote11 t:'ia scnsiYel du
uln1a parn dir.cr que é 11 srg1111da
que, q11úsi exclu si,·n111enle, l'or-
1na o f11ndo dn poc!:>in d e C:1-
111illo Pcssa11lta. E' rc:1ln1cnle o
poder s!!nsivcl, a \'ihralilida<.le
ante ns coisas cxtcl'iorcs t' os
$e n li 111 cn los. n1tle o 1nu1Hlo e
!IS própri11s fc'>r \':ti. tio ho1nc n1,
que constitui o f'u11do cln poesia
de C:a111illo Pcs IJl.TIMO llBTll,\'1'11 Ili> C:J\Mll.1.0 l'ESSA:-"11 ,1
stinhu.
S'ó i:slo. .\lns con1 unia
tal profundidndc, coni u1nn h\l i11tc11sidudc de sonho. <Jlll' 1111nc:i 11 poesia dcli11iu
n1clhor un1 estado de 11111111, isto (", a ,·ihrat,:fto da :il111:1 ante ns in1agt•11s 011 os srn-
lirnentos.
'J'odos os cslndos de 11ln1t1, niío . .\Jus 11q11cl<·s que dt' lincn1 <t rnch111Ctlli11, n
cspcrunçn, a saudade, n l1'n111ru, hrnst·:is únsins de glôriil, o êco dos ais que se
nüo culan1 a recordar a "ida hoslll.
A i<lcia que don1in11 as su11s poesias é n da fr:H111cz:1 dít sua nln1n nnlc a hos-
lilidadc do 1n~111d ? . ~ n ela i11consisli·11ci11 dC:slc, pass:111do c·o1110 :is in1:1gc11s ligrirns
e CJ 11c ,·:'10 fugir, 111g1 r ...

• 1111ngc11s que passais pt>ln reli nn


<• Dos 1neus olhos, porque n:io vos lixais'!

35
:\1111cn o pcrpêtuo lluir do ten1po e das íor111us provocou na aln1a hun111nn
un111 hio grande e tiío pura dôl", n11nc11 outro grilo foi n1ais penetrante do que o
deste soneto.
Cirilo ante o vida r111r ,·ni fugir, gritos de rgual dôr i1 ,•ida <1uc volta, inúteis
de 111i1gua e dor a recor< ur, a reacender o passado, os passos incertos, a Yida in-
tcirn, suh1ncrsa pela grnnde onda do le111po, .ip;1gú,•el, inútil, e sen1pre reno\'ada.
J·:· t•ste o sc11li1ne11lo 111ais co11s1anle dn poesia de Can1illo Pcssnnhn. l~ lodos
os estados de al111n e111 qnc se possa revelar t'stc sentitncnlo ele os exprilniu: a
nostalgia de 11111:1 ternura que se lc,·a11la cio olvido tu111ul11r: a suavidade da in111gen1
de ttr11ura que s11rg<' iipcis 11 cliani:1 búrbarn e dolorosa: a figura do a111or, aherla
e núa inYOcuda sôbrc a 1nortc co1110 11111 des111io do 1110111c11to ú eternidade hostil;
a ii11:1gc1n da sn11d11dl'. recYocando do funuo da n1<:'n1ôria <1s horas de paz:
«Extinctns prin1aver11s e\'ocae-us:
- .l;i "ªi llorir o pon1ar dns 1nacciras,
l le111os de enfeitar os «hapéus de 111aias.
,\s suas i111agens surgecn co1110 de 11111 sonho, enlre,·islas entre 11111:'1 so111hra
·de li1gri11u1s por unH1 supcrscnsivel penetrn~·ito quúsi 111cdiúnica. 1\ subtileza, o
excesso. :t profusão de cvoc:t<;<ies tle cada 11111a das suas in1agt,ns, dão-lhe 11111a
inle11sid11dt• fchril e con1plC'x11.
;\los n!io era po:;sf\'cl de outro n1odo expl'i111ir con1 clareza t· súhrc tudo
<.:0111 verdade, as sensnç<ics tt10 i11li111as, tiio profundas, de que s;lo feitas as suas
poesi<is.
Porque(' a scnsac;:'lo, 11 Yihra(;;io despC'r!ad11 na aln111 por qualquer sentin1enlo
o que ~lc canta e nflo o próprio sentin1cnto. () sC'11li1nento te111 o quer que seja de
c:onllilo, de drnn111 exterior ú nossa al111u, 111;1s o que ele deixa i111presso na nossa
:;cnsi hi 1idade. essa vi hra<;:io i nli n1n, esse scntin1cnlo tio scnl i n1cnlo, o estado de
:lln1a unlc un1 e outro sc111i111e11to, ante c'sle e aquele dra111a, (' hc111 inti1110, ben1
uhstracto, <111i1si indelinh·el.
Foi 1ior isso que i11co11scie11len1c11tc o po1"ln recorreu a unia ror1na de lrans·
posi(':lo qu:'isi direct:i dos estados de :tl1nu por que Yni passando unte os seus
scn li1nenlos e os casos do 11111ndo. l~ quando na sua poesia quer lixar" aln1osfera
exterior é ai11da con10 u1nr i111age111 rcílccticla da ahna, co1110 un1 eslruvasan1c11lo
dn sua al11H1 sóhrc as coisas:
<d la no a1nhiente u1n 11111r111lirio de q11cixnn1c,
f)c desejos de <11nilr, cfuis con1pri1nidos . ..
l'111n lPrnu1·a cs1>11rç-a ele balidos,
Se11te-se cs1norc1:cr co1110 un1 pcrfun1e.»
E quer a ünagcn1 sejn a da sua terra 11atul cn1 que erra, si1nholo de s11pre111n
dôr, o faslas11111 de sua nu'íe, r1ucr sejn a t~xótica cYoca~·ito dos /larC(JS ele flori:::;,
\• sc1nprc o 111csn10 grito, febril, pe1telru11te, i1ne11so de 111úgua, que volta a acordar
o i't'O da sua :d11111. Scn1prc a sensaç<'io intin1;i e profunda lcrú ocasiilo <le ,•ir it
supcrl'icie co111 o seu grilo desgarrado e Ll'islc.
Poesia do aba11do110, dn nostalgia, da 111itgun, da incessante e lluida fuga do
tc111po l~ ela ,·ida, da anu1rgura, da súbita tristeza, agoiro inesperado, dôr forte e
in1prc,•isla. após a ,·itúria e o a1nór. Poesia, nf10 de ,·iolcnln desgra<;a lnas de penc-
tn111tc, de profunda :;cnsihilidadc doloridn:
<«) inanc, vil despojo
1)a a l1na cgoistn e fraca !
'l'ro11xc·ssc-o o 1nar ele rojo
l .cYasse-o nu ressaca. >>
:\[10 l.?vc 111111r11 11 poesi(l porl ug11C's:1 11111a \'OZ igunl. de tantn penelraçiio nos
n1istc"rios indcsYcndados da hnn1una tlór. E cu po11ho-1ne a evocar a figura de
<:u111illo Pcssanh11, a sua dôr ele exilado, a sua scnsihilidude exccssiYn, o seu iso-
la1nc.11lo n1clancõlico, pnrn poder cxpli<'ar a n1in1 próprio esta estranha e hcln
poesia.
Ilú coisas qu<• só c111 plena dôr. co1n os olhos enc•voa<los de lúgri111ns nc\s
:;on1os 1:apnics de c,·ocar 1:ou1 absoluta gl'andcr.a . .\nos e anos sonhei c,·ocar a

36
'. I

• •

Aulo~rnío de 1..,~111.0 "'·''·'""'·


in1agen1 dest:i poesia de Ca111illo l't•.;snnhu lignra de 11111lhcr que cscutnssc chornr
o seu próprio cor;11:i10 ..\ \'idu l'. porcn1, dcrnasiado violent:r, e11tontcccdorn, baru-
lhenta e c·cgn. E' prt'ciso por vexes escrever soh o signo da 111orte para di7.Cr a
verdade da nossa 111islcriosa uhna.
CJ11:1ntas e quiu1l:is vexes u nostnlgin qnc nos enche n ;tinia-· do céu"? 011
cln \'ida'? - e qnc e a :1linn ocnltn da poesia de C11111illo Pcssanhn, se quix cxprin1ii-
l00111 esta clareia e111 paln,Tas rúpi<.las e si111plcs. Foi prc-:iso. poréni, que li n1orle
do poeta ti\'CS$C es111:1g:1clo por 1no1ue11los u ntinhu ,·ioh'ncia criadora, a n1i11ha
a11chici11 conihalivn e cruel. E nos!iilgico e snudoso, con1aalnitl111elu11cólica que éle
linha :;en1pre, posso cnli111 exprin1i1· o que cr;1 :1 sua po<'sia - \'Ox de ali11:1, ,·ni.
que e11 evoco. c·nn10 <'I<·. a tren1cr do frio q111• H r1•alidadL• fugiti\'ll e t1·islc cln vida
e ela 111ortc cn1 n1i111 deixou:
• \º oi dêhi 1 q uc passas,
Que h11111ilin1a g<•111cs
:\fio sei que dcsgrt1ças ...
. . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Suspirns ou fnh1s '?
Porque é o gc111ido,
O sopro quc cxhalas '!.,
\'OX de q11cixt1111C cfn !11111:\ f'eritJa por todos OS SC'ttli111cnlOS da \'Ída e da
111ortc e tuja consolac.;ilo e npcn:is a po(•sia que aprendeu :i çantiu·.
!)a sna dór, elo n11H1rgo dn sua nln1a, ('<)1110 éco ncccs~iil"i<> e co1npcnsn11te
surgiu o seu canto-ai que insiste noite e diu, i11s11rreic.;<io de pl':sionciro, queixu111e-
t!e a1uor<iso, \ºOX déhil e 11úa na hostilidade d11s coi:;fts.
A sua poesia l"oi a ,·ox ela sua scnsihili<lu<lc C' a sua eonsolfl<;iio. Só pnra
co111pcnsar os u1arlírios da sua sensiliilidadc C:·lc f<!x pocsia-1110 puran1cntc, tão
11al11raln1c11le con10 ns lilgrin1as ou o ca11lo nsso111n1n ú l'ace da dcsgra\,"ll.
A rsponl1111eidadc, n l'allu d~ volunlitriedude <Ht de prcocu1H1~·<io litcrúria
nào lt'n1 nndu co111 n si111plicicladc. l~-se exponl:'tnco 1·0111 todas as qutii idu<lcs intrín-
secas qne pode111 levar ú 1nitxi1na con1plcxid11dc de i<li·a 011 de cxpressfio. I~ neste
çaso a t'alla de cxpo11lu11eidade !>Cria a disciplin:1 forçada das fonnas silnplcs..\
poesia de Can1illo l'essanhr, (· tiio exponlúnca co1no o g1•1niclo de uni do<'nte. E u
tal ponto que (•Je niio 1nultiplico11 lilerariu1nc11le as suas prouuçcies - li1nilo11-se a
cspri1nir os sens fanlusn1as intcl"iores cn1 alg11n111s sintcscs.
E quando por acaso a obcess:io de que se queria libert:ir se lix.ava npl·nns
1111111 \·erso. Ca1nillo Pt'ssanhn aha11don11va êsse YCrso, :1ssin1, ú espera dr outro
n1on1c11to de sen1clhantc dôr que lhe criasse 11111 con1pa11hciro l~ican\ln-111c n;t
n1e1núria alguns ''crsos n1ulilados de <:0111illo Pessanh(l, versos isolados, 11H1is
tristes :1ssin1 na suu nd111in1,·cl belexa incon1plcla do que os 111nis ll'isles poên1a:-;.
•Lº111 fio 11 dcsdohar que 11110 termina, ·
De grinaldns de rosns de toucar . . .
Ca11tan1-1nc na 1ncn1úria C:stcs seus dois versos aba11do11ndns. sós, 111as que
cxpri1nc111 tiio a<ln1iravclinentc a s11ct•ssito dos sonhos e das i111age11s na s11n al111a
doente .
.\ sua ,·oi erguia-se de quando en1 quando C' seinpre tiio inti111n, t;io
s11bjectiYa, t:io profunda que até as in111gcns nHtis extranh:is, n1nis exóticas ga11h11111
11ni<\ suhjecliYidade e u111a dôr próprias. :\ i1nngcn1, liio exterior a si e il sua raçn,
dos l3111·(·os cl<.> Flores no Rio de Cunlilo passa a ser na sua poesi.i 111nis 11111a 1110-
daliclndc do seu gc111ido fléliil. do seu ai dolorido. A sua voi debil. 111isterios11, <'.·
tl<(llÍ O ChôrO dn fl<111t<i, incessante. dolorido. f"n1giJ S0111 CJUC dOlllÍllll todos OS ruídos
e t'cstns e ccóa 1111 nltura co1110 111ais 11111 grito da hu 1nana dôr:
<<E n orchcslra ·? E os beijos'? 'l\11.lo a noite, fóra,
Caula, delen1. Só, 111od11 J11da, trilu
A fla11tu flebil ... Q11en1 hadc remi-ln'?
Qucn1 sabe a dór que sen1 raY.ào deplora'!
Só, inc-essanle, 111n son1 de flauta chora. .

38
Con10 esta cxprcss;io dorida (• h<•111 dele e hc111 portuguesa e conio cn1 f;\CC
·tlclu 111c parece ridícula u n1irngcn1 d11 crilicn que fnhi <lc Ca111illo Pcss1111h11 con10
<le uni poéta de inspirn<;1io oriental.
() que êle souhc l'oi transportar 11 sun prececi;;io finissin111 i'i nnúlisc e ú tra-
<lu~·;io da poesia chinesa, dando co1110 rcsull;1do css<1s rnrissiu1as, essas exlraordi-
núrias l•:tcgias Chinesas, pl·dnc;o de u11H1 obra que a lorlurn c a n1orll' lruncarani.
'.'\as J~lcgias C:hincsns jú ni1<> (· o s11l>,iecti,·is1110 de C:11ni llo Pes,,nnhn - qnc
;1prn:1s inter,·cio na escolha rios pocn1as u ln1<.l11iir - o que don1ina 1nns a sua
<:upnci<.ladc de precec<;:io e nHtlcahilidade dc inleligC:•ncia.
Ess;\ sua obra estit l>c1n ú pari<'. e i111.1cu l>adt\ e lr1111c11tl11 e111hon1, é unit·n no
n11111do, pois rn1«1111cnlr 011 nnnc·a. se juntou a erucl it;;'io das «<>isas 01·icnl:iis a 111na
l:io cxt1·nol'tli11ill'i<t sensibilidade poélic:i.
0 poeta dii ('01110 lrnhalhou us elegias Chinesas: • husquei lrnslndal' con1
exaclid:io o que era trusladavcl o cle111cnlo snb!<lunth·o ou in1nginn li \•o . . . •
E transporl<>u-o con1 1111111 incxcedí\'el scicncin do que s<•ja a llel e lco'll lrn-
d11ç1io da poesia, l'nr.cndo dcsapa1·e(·c1· u pcrson:tlidndc do tradutor intein1111e11tc.
<).uen1 conheça n poesia de Cnn1illo J>essnnha de u111a sensibilidncle cxasper;1du,
de 11nH1 1ncli111coli:1 de cxil11do cio t·éu, de saudoso do herois1110 e cio nn1ô1', e IC'in
<·slns · Elt•gi;is C:lti11es:ts · drcl'rlo ,·er:'i hrni o que lc111 de 1:1lso nlrihuir it poesia
própria de Ca111illo J>essanhn qnalq11rr inrtuc1 ncia d<' exolis1no oriental. J>rodulo
(11\ s1·11:.ihilid:1dc pt>1·lugucsa n1ais pr.ofund<l. bC"n1 nossa pcht atina e peln forn1a
n:iscidn 1u·sle 1110111cn lo de h i pcr-scnsi hi 1idndc d11 110$Sa u l 11111 ocidl•n l:i 1.
E q11r1n sahc se o l'xilio 110 (lricnlr, a l'lllrega da s11n vida a todas ns forn1ns
<.'xleriorcs dessa vid:1 túo difc•rcntc dt\s::;e t·xvlisn10 alheio i1 sua ;1ln1a - colcc-
('io11a11do os 111nis ucl111ir:·l\·cis ohjcclos da artr chi11cs<1, descrcvc11clo :i \'itln
do Inl'crno .\111arclo co111 uni i11lcrcssc n1i:do de• an1cir e rancôr. lradu;dndo os
poc11111s clii11c\sc•s, c11ja n1t'l:111roli;i a111or(1s11 1· r1rr111(', 11 1·1tj<1 /iloso/i11 uo 111<'s11111
l1•111po 11ihilisl<1 <' 1'.~/1Jiru. csla,·:inl lt10 dh;lantc•s da suu lll<tncira de ser - q11cn1
sahe se lód;i essa aclividade 11;io rcprcsc11la,·11 apcnns a nccc,,sidnde de fugir ú
oh,·css:lo du dôr portuguesa cni qu<' a sun alina 1:11110 ,·ihron.
() l'Xilio, Q cxolisn10, ;is preorupaçt>es de 11r1e. as colet·ç<>cs, ::is lraduç<"les
de JlOC•Si;\ JlOdClll hClll lt•r sido (l lllllllCira de fugir ÍI olJC('SSl.t() du Sllll dôr, da S\111
precec<;tio sensível de lôdas :'Is n1úgu;ls que o lcnhani feito ;1ssi ni. E1n geral s<i <:0111
a nln1a da nossn n1ça nús vh·c1nos e sol'rc1nos plcnan1rnle ..\s aln1as das out1·às
raçns ser,·cn1-nos de paisagens longinquns e serênas cn1 que podc1nos fugir ao
11osso cll':itna inlrrior.
:\s passados qul' deixou iinpl'cssns sôhre o n111ndo it cspel'u que a 1nnn" dos
tcn1pos e dos dc·slinos lhas viesse apagt\I' licarnn1 nas suus poesius. ;\las con10 o
crcnlc que 1111 i1nagc1n de u1n s;11110 ou 1111n1 si111holo s11gr11do encontra suficicnl<•
nnlcpnro ú vis1io do n11111do lcrri\'el e triste. infinito de cruel vnsti<lüo, Cn111illo
Pcssunha enconlro11 neste exercício de i11lelig<.'11cia, un1 passageiro mas d<ice
soc(·go.
E con10 são h<·lus ;is eslúl1111s de jadn e ouro quc t>lc c·olcccionou - .\s Elc-
gias Chit11."sas - e q uc nn1ou con1 o n1esn10 cnl'inho que as suas colcl'ç<ics de pin-
turns e pol'c·clnnus. de csl11 l11clas e ohjcclos de culto.
Escol ho nina elas ' l ~lf'gias)) para juntar 1\ graça dcslll t~slalncla exóticn i1~
cvoca<;<il'S das íign ras divinas dn su11 poesia :
• ()11<'i.r111111>.~ r/((s l~spo.~as tio • llsi<lll!J '"

• llhéos do :\orlr do f-l.~i1111r1 onde 11s ol'chidcns se ccil'•\ln !


filai nos do sul do l.r1i, oncle se ta lha111 as esscncias de preço!
.\s :'1g11os, puras, lcc1n chron1ntis1nos de úgntha
Sulil, a l>nr.a, vihrac;t>Cs ele jnda.
Sohe a 11évot1, entre as son1h1•as cio 1'.w111r1-11
Ba i xn o sol cn l l'c ns bl'u n1as elo 'f'ill!J- '/'1111g . ••
. \s penas cios hambt'ls quen1 (·que ns sl'lhc?
~los hc1n se lhes ,·ccu1 os sinais dns lilgrin1us. •
C:o111 que superiorid11dc, c·oni que podei' ad111i1·11,·cl de inteligt\ncia construiu
o poeta essas cslatuchis cxótiC<lS !

39
'.\las o que ilnportn 1nais en1 Ca1nillo Pessnnha é, a-pesar-dê-ludo, a sua
poesia da sensibilidade ... E esta é hcn1 por111gucsn, feita no pai:: perdido que lhe
pareceu l'ortugul, co111 a ahna la11g11icle1 1: iner111c que lhe preparou a própria eYO·
Jui:ào da tortura. Ah êle é bcn1 o geniido da uhna jú l'ericlu J e tragédia e d ~
snrcasn10 ern .Junqueiro, já lnn1cntosu de desgra~·adlJ lorlnra e1n 1\.nlónio :'\obre. !~
ben1 a expt·essão du nossa uln1u nesse 111otnenlo de urna ext rerua sensihi lidadc.
de 1111111 in1pressihilidudc quúsi doentins.
E foi isso que lhe pern1iliu escrever n poesin que ninda ninguén1 esc1·c,·ern,
a poesi;1 da scnsil>ilidade dorida, e l'ragil, ge111enle e dôce.
I~ isso o que Canlillo Pessanhu Ira;-: de grande, de ad111ira,·cl, de noYo ú
:ilnu1 hunurnu -1111111 penetraç:io suhlil e profundn ele cstndos ele aln1a niuclu n<iO
idealisados en1 poesia.
Por suhlis processos de 11n1u <li:!licadc;-:a inlinilo descobriu o n1istêrio ciue
anininva a sua \'ida e disse-o nos seus pot'n1us. :\las aconteceu que o nlislc.lrio da
sua ala1n era 1111111 d us \>Olencias da aln111, 1111111 das n1ois fortes unia dns niais
desconhecidas, ocultas e icrn1clicas potencias dn ahna.
Ele cantou a força que o anirna"a e as suas dores e ilus/;cs.
E aconteceu ciuc dt-sse canto dorido surgiu 1111111 figura divina, a i111ugen1
da poesia pura, sagrada, cli vi na q ui\si.
E para sen1pre, nos horas cn1 c\uc o rnistc\rio tia scnsihilicludc nos <lon1inar,
se erguerá ante 11ós, consoladora púli< u, de n1ãos 1nacias co1110 lúgrin1as, a imagcn11
<la sua poesia.

.IC) .\() DT·: CAS'fH() ()SC)Il!C)

.. •>

40
~

, 9
~) ...
-
-. 'I"
I
1\
I
1, ,,'.i;.)
,"'
v"
~ .,
1

,

, o ' ')
,t 1
1

Desenho de PAIM
Um dos mais notavols llur;uedoros b1az1l€>1ros
DEPOIMENTOS UE

TI FICAM - •

NIÃO de Portugal con1 o Brasil. Concomitantemente um entendimento entre o


11. Brasil e as nações da Sul·America, como o formula um eminente argentino, N . •

Manuel Ugarte, no seu livro-E/ porvenir de la America Espaflola-e que já ni.~~~i:~&f~


teve um inicio entre a Argentina, o Brasil e o Chile, constituindo o A B C da:::&\"~~~.;~
diplomacia sul-americana. Identi-Co entendimento entre os portuguezes e os espanhoes ..• m• Novano.
cE o resultado?
«Serem Portugal e Espanha, no extremo occidente europeu, para todos os
effeilos da polilica diplomatlca, commercial e economica, como que um plolongamento
da America latina. E assim se organisaria com excelentes bases estrategicas e nume-
rosos pactos de apoio, em todos os continentes e latitudes. um novo grande..e pode-
roso blóco, o blóco luso-hispano-americano•.
<De uma entrevi~ta ao •D!erío de Noticias•, ein 5 de fevereiro de 192'2.

ÜR. BETTENCOURT RODRIGUES


Antiio Mlnislro de Portu2a.1 em Paris

e.E, na verdade, se o blóco ibero-americano não se constitue desde já, a conse-


quencia será que, dentro do fatal pan-americanismo, o proximo futuro estadio da
ci\lllisação, a raça que descobriu o Novo Mundo, a primeira que lhe deu o seu sangue
e as melhores energias dos seus povos e as luzes da civilisação c'1ristã ; a raça, emfim,
que occupa mais de dois terços do continente americano, fi~ará subalternisada moral,
política e economicamente ao nucleo anglo·saxonico. Será na historia urn phenomeno
semelhante ao que se deu na Europa em conquencia da consolidação da civilisação
christã, quando se definiu e affirmou na epoca chamada •primeiro renascimento, com

49
o lmperio Carlovingio e as gentes greco-latinas do Sudeste europeu, as iniciadoras,
ficaram moralmente escravas do Sagrado lmperio (Alemanha, llalia e sul da França).•

(Trad. do cEI Defensor•, de Huel'la, 17 de março de 1922).

DR. COELHO DE CARVALHO


Antiao presidente d• Ac•demla daa Sclenclaa,
•nllao Reitor da Universidade de Coimbra

C(Em nome da Nação, saudai como irmãos os vossos camaradas do Brasil, e que
estas saudações que lhes enviardes venham a ser o primeiro decisivo passo para que
as duas Patrias se juntem n'uma União de resultados prodigiosos ......••......•...•• ~l. •
•Considerai, moços portugueses, como, a exe1nplo da Espanha, que procura ':;:,~~
alliar-se com as republicas suas moças filhas da America, nós, portugueses e brasilel· t;:.~.-.=
ros, entraremos por nossa vez na constituição d'esse grande blóco Luso-Hispano-Ame· ~
rlcano, o qual uma vez formado, será a mais alta afirmação espiritual d'uma Raça que
o Brasil e a Argentina vão celebrar em monumentos votivos, aras sagradas do Genio
peninsular, erguidos entre dois occeanos, o Atlanlico e o Pacifico, cuja ondas se vão
rllimar, ao rolar em tantas praias, nos sons de identicas linguagens.•

(Aos estrrdantes portuguczes, Dlario de Noticias, de 5 de Julho de 1922).

DR. AFFONSO LOPES VIEIRA

cMas, ao lado d'estes factos singulares, vê-se nitidamente a Europa occider.tal


e a Europa central e oriental dividiram-se em dois ca1npos oppostos: acima de diver·
gencias efemeras, como as que separan1 a Italla da França, vê-se o espirito latino
reacender-se n'uma vigorosa aspiração de seivas novas, a Europa procura nas suas
projecções na Amerlca o rejuvenescimento d'uma vida moral e espiritual abalada pelas
ultimas convulsões. O blóco hispano sul-an1erica110, que era u1na utopia lambem, tor·
na-se hoje urna aspiração lntellectual dentro da qual um pensamento pollt!co se desenha.>

(De um artigo ed!torlal do «Dlario de Noticias>, de 6 de agosto de 1922, quando dirigido pelo

DR. Aucusro oE CASTRO


Actuot mlnlatro de Portupl lunto do VaUcano

•Eu vos falei de rivalidades lberlcas, porem, lambem sao ellas coisas do passado,
que já perderam a utilidade e o prestimo, hoje Portugal e Espanha, com os seus filhos
da America, podem realisar a unlca lberla realisavel, a que nos soJ!darlse sem nos
fundir, a que conserva intactas as nossas personalidades, poren1 congregue as nossas
affinldades, que sllo 1antas ; a que se impunha ao mundo como nova força rnoral. e que
renove todas as energias da nossa raça commum e faça compreender aos esquecedo·
res que soubemos e saberemos ser condutores de povos, embora outros nos tenham
excedido nas funcções mais subalternas e mais praticas de aproveitadores de povos.•

!De um discunio pronunciado. no salllo de festas do jornal IA Prensa, de Buenos A)'res, por
o<:casiilo do centenario da lndependencia da Brasil)
Dr<. ALBERTO o'OL1V.EIRA
ltllnlJlro de PortuJlal na AfllClltlaa

50

•Mais do que nunca, com o braseiro faulhante que é a Europa e com o alongar
das ambições incontldas do Japão e dos Estados-Unidos, o ilhote contituido pela raça
lusitana, na sua dupla face portugueza e braslllca, ~e acha en\lolto de ameaças sinis·
tras. Ainda aqui se nos Impõe com clara lição a necessidade da aproximação das duas
famllias hlspanicas, ramificadas por mais d'um continente e dotadas d'um poder espan·
slvo, difffcil de se egualar. De sorte que, nas necessidades da nossa esfera, - defesa
de Portugal e do Brasil - se apresenta uma das mais fortes justificação da constitui~õ
do grande blóco hispano-americano.

(A Aliança Penl11sular, Pag. 1525.}

De resto, Portugal, com a sua natural inclinação para o Brasil, unicamente $e


liberterá do marasmo suicida em que adorn1eceu, atlrando·se de alma e coração para a
politlca entrevista por el·rei D. João IV. Conhecem-se as declações do tão caluniado
fundador da dinastia de Bragança. Na sua audiencia celebre ao chevalier de Jaut con·
fessa\la o monarca que •se possuise só o Brasil com o reino de Angola, as praças de
Afrlca, os Açôres e Cabo·Verde, e, juntos estes Estados com Portugal, não trocaria
a sua condição pela de nenhum outro princlpe da Europa.>1 Ora aqui se nos apresenta
com uma nitida \llsão o caminho de Portugal·Malor 1 Adicionam-se agora as afinidades
de toda a especle que nos aconselham a aliança com a Espanha, e, resultantemente,
com as ~atrias hispano·americanos, a quem ella deu o ser.
E um blóco politico formida\lel, a quem inspiram, não moti\los de ambição ou
cupidez Imperialista, mas os dictames de propria e commum \litalidede.~

(A Aliança Ptnlnsular, 19'24; pag. 403).


DR. ANTONtO SARDINHA t

•Perante esta aspera luta de egoísmos, de ambições e de interesses em que se


debatem as nações da Europa, con\lem obser\lar o que fazemos nós, portu~ueses e
espanhoes, que, não podendo deixar de soffrer as temerosas repercussões da contende,
precisamos de reagir e podemos fazel·o com exito, se conseguirmos esse entendimento
que nos le\le a uma aeroxitnação ~ffecli\la, em bases duradouras, com as republicas la·
tines da America do Sul. Infelizmente, porem, nós hoje quasl nos desconhecemos, ape·
zat de visinhos e apezar de nos termos encontrado outr'ora, quasl sempre lado a lado,
nos empreendln1entos que exigiram mais eudacla, mais herolsmos, mais obrigações.
Na aurora das nossas nacionalidades, quantas vezes o poderoso lnin1igo comrnum encon-
trou uma colaboração estreita entre portugueses e espanhoes ?»
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...
•Ti\le ocacião de \lerifícar do lado de lá do Atlantico o intenso desejo de uma
aproximação ibero·americana, não so pela identidade de raça, de lingua e de costumes,
mas porque \lestos nucleos de emigrantes portugueses e espanhoes que, com a sua
actividade e intihgencia, tanto teem contribuldo para o progresso das republicas sul-
an1ericanas e se teem esforçado com um patriotismo inexcedl\lel para converter em
realidade fecunda umr nobre aspiração que não pode deixar de encontrar eco entre nós.•

(De uma confe.rencia, feita em Coimbra, em junho de 1924, sobre Poll/lca lnltrnacional e na·
cionalismos tconomicosJ.
DR. FRA>"IClSCO ANTONIO CORREIA
Olreetor do •I nstltuto Superior de Comercio. de Lisboa, e antiao
ministro doa neiiocloa ut,.11J1clrot.

5l .

~
'· . .. ,.
\.
-
ô

M o D E R N A
UANDO aparecerá o romancista dá vida nocturna de Lisboa? Quando se resolverão os
nossos escritores a estudar essa vida tão caracteristica dos nossos clubs? E a verdade
é que Lisboa possui, nos clubs, uma especle de casas de diverslio nitidamente origi·
nal. Todos os extrangeiros que veem a Lisboa fazem esse reparo e fazem-no com elo-
gio para nós.
E nlio pensem, aqueles que os nlio conhecem, que os clubs silo, apenas, logares
dum prazer banal. Nem o prazer dos «dancings• é essa banalidade, nem a eles falta a
belesa puramente artistice. Refiro-me, é claro, aos «dancings. que sejam. como o
Bristol Club, a reallsação esteticA dum sonho arrojado. Nilo vai nisto a menor intenção de reclame,
mas confessamos que nos deixa indiferentes tudo quanto quizerem supor sobre estas palavras. Toda a cri-
tica é interesseira porque toda ela deseja fazer o elogio ou denegrir seja o que fõr. Ora esta critica é
interesaada em louvar a casa que soube dará arte moderna, e pela primeira vez em Portugal, um lo-
gar exclusivo e completo. Devia-mos nós, artistas modernos, deixar de fazer esse lou\lor por essa casa
eer uma casa de prazer, por essa casa ser um club ?
E' preciso que se saiba que as casas de prazer como o Bristol Club são. por si sós, um meio
de arte para aqueles que amam na vida moJerna a expressão ritmice, sonora e colorida duma estetice
no11a. Pois esse espectaculo das danças modernas, esse ruido modernistlco do •Jazz-band•, esse e11pu·
jar sempre nõvo do •champagne>, esse «décor• feerico de luzes tudo leso nilo é a realização fugidia
daquilo que buscamos eternisar nos nossos quadros ou nas paginas das nossas novelas e nas scenas do
nosso teatro? E.' já um lo11ar comum do moderdismo dizer que o cmusfc·hall~ é o nosso espectaculo
preferido. Pois bem : um club como o Bristol não faz senão juntar ao «music·hall», com os seus bai-
lados e e,s sues canções, os prazeres do «danclng•, da mesa e da coh11ersa. Um club assim é um •mu·
sic-hell> em que todos nós comamos parte, aument11ndo, assim, o nosso prazer.
E tudo isto se passa num ambiente da mais pura arte moderna, em salas que são verdadeiras
exposições. Podemos afirmar que, quando esli11er pronto, o Bristol Club será um ccercle• tilo belo
como os das grandes cidades da Europa. Mas mesmo assim como está, ele lá mereceu dum iluste es·
critor francês, que é um grande europeu. a designação de cgrand cercle•. Falo de Va!éry Larbaud,
o criador ndmiravel de <A. O. Barnebooth•, que, referindo·se ao banquete que lhe foi oferecido pelos
novos, diz, na brilhante revista de Parh1, cLe Navlre d'argenu. cl! eut Ileu dana la salle des fêtes
d'un Slrand cercle, le Bristol Club, dont l'ameublemente, la décoration, les fresques, forment un
ensemlíle tout à fait moderne, je direis même d'extrême avant-garde>.
O que foi esse banquete, o melhor que se tem organisado em Lisboa e tão bom como os que se
fazem em Madrid e em Paris, no dizer do nosso hospede e grande escritor espanhol Ramón Gómez de
la Serna; o que foi esse banquete descreve-o Valéry Larbaud, entusiasticamente, numa •Lettre de
Lisbonne•. Ma<J se esse banquete foi possível, a Marlo Ribeiro se de11e. E não extrenhem ver aqui ci-
tado o nome do proprietário de club que soube ser, alé1n disso, um verdadeiro •animateur• das artes
modernas, um Macenas como nós precisava-mos de ter muitos.
E' preciso que nós, os novos, tenhamos a coragem de dizer que esse homem é mais do que uma
inteligencia pratica: um verdadeiro artista. Rendamos, orgulhosamente, a nossa homenagem ao ho-
mem de acção que se soube rodiar de arquitetos como Carlos Ramos, Je escultores como Ernesto do
Canto e Leopoldo de Almeida, de pintores como Antonio, Soares, Eduardo Viana, José de Almada
Negreiros e Guilherme Filipe, Isto é, de aljluns dos maiores artistas da nova geração. Anunciemos
(anunciemos sim) que todos os artistas e mesmo todos os escritores modernos encontram naquela
casa a sua casa. Casa dos artistas, assim, devemos nós chamar ao Bristol Club.

52
CONTEMPORANEA
REVISTA MENSAL
l'vlAIO-J!>2ó

Director: JOS É PACHECO


Editor: GIL VAZ

Rl!DACÇÃO E Ar>l'>UNISl.RAÇÀO
T. do F.11:1 Só, 24l. IS B O A
·rELEFONF. N. 3 l 1o

3.• SER 1 H

N.º l
S UM Al~ I O

JORNAL - HORA DECISIVA, por Peres T r.1ncoso


anti-to Ministro - Olkí.11 de Arm.id.1
BREVECOMENT.\RIO ,\ POJ.ÍTICA IBERO AM ~
J
R~CANA, por C.:lestino So.lr~.s G:>vtrnador Civf
d.: Port.1legre ' 1
DOIS SONETOS INÉDITOS, por C.1n1lllo Pess.inh.1 i
A UNIÃO IBERO AMERICANA, por Noé d'A:c:
vc:;fo Ad,·o~;ado 1.-r.t:ilciro
HORA DE SOL, por F.:rnauda de Castro
GRAVURA E~ MADEIRA, por Francisco F1;1nco
• EL INFIERNO INOCENTE. por Eduino de Môr.i
5.icr.:tarío d.1 Leg:iç11o de Cuh.1
CARTE·POSTAI.E, por Gil V:i:

UMA CARTA DE JOSE LUCIANO DE CASTRO
RETRATO, por Edu;ir;fo M:ilt.1
CAMILLO PESS1\NHA, por Jolo de C.1stro Osorío
Advog.1do
DESENHO, por P.1im
APO"fEOSE, por C.1rlos Quo!iro:
A EXPER.IENCtA E O JUIZO SEGUNDO FRAN
CISCO SANCHES, por Lui: de CJ.>lto e Afmeid~
Norton de M;it~ A:h•ogo1do
A CÔR DOS SONS, por J"díth Tcixcir:i
O Mfu'lINO DA SUA MÃE, por Fera.indo Pt~-O;i
VERDADEIRA DISPOSIÇÃO DOS D1scu1·100
PAINEIS DO MUSEU DE ARTE ANTIGA
ESQUÉMA GEOMÉTRICO C9MPROVATlVO DA
VERDADElRA DlSPOSIÇAO
PERSPEc1·1v A DOS LADRII.f-IOS REVELADORA
DO DESACl.!-~TO E ACERTO DAS RESPECTl
VAS TABUAS

1~01.ACllAS
NACIONAL

A G ll A N 1) E
~tAllCA POH.
TU<.> UE S 1\

Você também pode gostar