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Roraima
Fascículo #3
Europeus
chegam à
Amazônia
Autores(as)
Sumário
• [Ficha catalográfica – equipe de • Sugestões de uso e conexões com a História
produção] Geral e do Brasil ...... 2
• Filmes sugeridos ...... 3
• Atividade de mobilização do interesse dos
alunos ...... 3-6
• Texto 1: Orellana e Pinzón - europeus
exploram a Amazônia pelo leste e pelo
oeste ..... 7
• Texto 2: Walter Raleigh - europeus
exploram a Amazônia pelo norte .... 16
• Atividade com mapa e linha do tempo .. 21
• Atividade com fonte histórica (Carvajal).. 22
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Competências e Habilidades da BNCC/ Documento
Sugestões de • Conexões com a Curricular de Roraima:
(EF06HI05) Descrever modificações da natureza e da
uso: História Geral e do paisagem realizadas por diferentes tipos de sociedade, com
destaque para os povos indígenas originários e povos
Este material pode Brasil: africanos, e discutir a natureza e a lógica das transformações
ocorridas, especialmente na região Amazônica.
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Sugestões de filmes
1) AGUIRRE: a cólera dos deuses. Direção
de Werner Herzog. Manaus: New Line,
1973. DVD (100’).
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Atividade de mobilização
Novos casos de Covid-19 em funcionários indígenas impõem
alerta na Terra Yanomami (4 de maio de 2020)
“Enquanto uma parte do povo Yanomami se refugia no interior da floresta para escapar da pandemia do
novo coronavírus, neste sábado (2 de maio) foi disparado um alerta nas comunidades da Terra Indígena
depois da confirmação de quatro novos casos de Covid-19, entre eles, de uma indígena da comunidade
Kroumapi, do polo base Missão Catrimani, e outro do polo base Demini, além de três casos suspeitos da
doença.
A Terra Indígena Yanomami tem 9.664.975 hectares, localizada entre os estados do Amazonas e Roraima.
São 380 comunidades e uma população de 28.148 pessoas, segundo a Sesai. A primeira pessoa do
território a testar positivo para Covid-19 foi o jovem Yanomami de 15 anos, que morreu por complicações
de infecção no pulmão devido à doença, no dia 9 de abril, no Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista.
A suspeita é de que ele contraiu o vírus com garimpeiros, pois o território está invadido por mais de 20
mil pessoas, diz a Associação Hutukara Yanomami (Hay).
O novo coronavírus começa a se espalhar dentro da Terra Indígena Yanomami também pelo contato de
funcionários não indígenas que estão infectados. Foram diagnosticados 16 profissionais com Covid-19.
Da capital de Roraima, o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (Hay), Dario Vitório
Kopenawa Yanomami, disse à agência Amazônia Real que está recebendo pela radiofonia diversos relatos
das comunidades de pessoas que estão com sintomas de gripe na terra indígena. Os informes partiram
das comunidades Nova Canaã, no Amazonas, Alto Catrimani, Catrimani, Hawarixa, Kroumapi, Maloca
Paapiu, Surucuru e Xexena, essas com acesso por Boa Vista.”
https://amazonia.org.br/2020/05/novos-casos-de-covid-19-em-funcionarios-indigenas-impoem-alerta-na-terra-yanomami/ Acesso: 30/05/2020
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Atividade de mobilização – depois da leitura da matéria
jornalística, a turma pode debater aspectos como estes:
Texto 1: Pinzón e Orellana - europeus exploram
a Amazônia pelo leste e pelo oeste
Um grande mistério
Os europeus acreditaram por mais de
mil anos que os oceanos eram cercados
por terra! Era a chamada geografia de
Ptolomeu, no exemplo ao alto, um
mapa do ano de 1300. A parte do
mundo que os europeus conheciam
então seria mais ou menos essa
delimitada no mapa de baixo. Quanto
mais iam explorando, mais faziam
mapas tentando entender e representar
o que viam. 7
Em 1498, possivelmente o
navegador português Duarte
Pacheco Pereira passou pela
costa da ilha de Marajó,
podendo ter chegado inclusive
ao litoral das Guianas e atual
Venezuela. Mas ele ainda
estava preso à ideia de que o
oceano era cercado por terras,
e portanto provavelmente não
imaginava que era um
continente ainda desconhecido
dos europeus. Ele até deve ter
ajudado a fazer um famoso
atlas, o Atlas Lopo Homem, de
1519, hoje na Biblioteca
Nacional da França (veja uma
parte desse atlas à esquerda,
que mostra como ainda
acreditavam no oceano fechado
por terra de todo lado).
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Mas o relato da viagem de Pereira
Pacheco nem foi publicado na época,
de modo que quase ninguém ficou
sabendo. E os europeus continuaram
a explorar e mapear.
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No calendário daquele estranho povo, que depois os
indígenas saberiam que se chamavam cristãos e
espanhóis, era o ano de 1541 e seu comandante
chamava-se Capitão Francisco de Orellana (1511-
1546). Porém, quem escrevia sobre tudo o que eles
viam na viagem pelo rio era um frei dominicano,
Gaspar de Carvajal (1504-??), levado, como era o
costume, “para dizer missa e confessar os soldados” e
para a catequização. Foi ele que nos legou o primeiro
relato (ao menos o que sobreviveu até a nossa época)
sobre a Amazônia.
Sem saberem falar a língua dessas pessoas, a comunicação era difícil. Os habitantes do rio logo entenderam que
esses estrangeiros queriam comida. E supriram muitas vezes essas necessidades. Mas em outras aldeias do rio,
não sabendo muito bem a que vinham, os indígenas acharam melhor ficar nas matas, deixando as aldeias
vazias. Nessas ocasiões, esses europeus pilhavam e levavam tudo o que podiam, sem acharem que estavam
roubando alguma coisa, senão “recolhendo a comida”. Afinal cada um vê e interpreta seus atos de um jeito
diferente, não é mesmo?
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Dessa maneira, os índios que a expedição ia encontrando foram sendo descritos pelo frei
Carvajal de vários modos, de acordo com o que ia ocorrendo na viagem e, também, de
acordo com o que os espanhóis esperavam que fizessem para atender as necessidades pelas
quais passavam. Assim, quando o primeiro barco precisou de reparos, tiveram que parar por
vários dias a fim de realizar os consertos necessários e, “durante esse tempo não deixavam os
índios de nos acudir, trazendo comida farta e com tanta ordem como se toda a vida tivessem
servido” (p. 24). Temos aqui os índios “mansos”, como foram descritos os que não se
colocavam como empecilho aos interesses europeus: os amigos.
Porém, em outras ocasiões, se depararam com uma população que não estava assim tão
interessada em servi-los, senão em proteger suas aldeias. Nesse momento houve confrontos,
sendo a situação narrada da seguinte forma por frei Carvajal: “vendo o Capitão que não se
queriam render, que nos tinham feito dano e ferido alguns dos nossos companheiros,
mandou pôr fogo nas casas onde estavam os índios...” (p. 56). Em outro momento: “o
Capitão, ofendido com a soberba dos índios, mandou que atirasse neles” (p. 59). Assim,
quando esses indígenas não atendiam aos interesses dos europeus, foram chamados com
outros nomes, eram os índios “brabos”, os inimigos.
Mas, o que afinal faziam esses “brancos” na Amazônia? Vamos lembrar que estamos no
período que se convencionou chamar de “Expansão Marítima Europeia”, também conhecida
como “Grandes Navegações”, quando Portugal e Espanha, em um primeiro momento, se
lançam ao mar com objetivos políticos, econômicos e religiosos.
A Espanha já havia conquistado terras na então denominada de “Índias Ocidentais”, depois
América Espanhola, encontrando ouro e, principalmente, prata, na região onde hoje estão
Colômbia, Bolívia, Equador e Peru.
Em uma dessas incursões para conhecimento e exploração da região aconteceu a expedição
que agora estamos tratando, em busca da Terra da Canela e El Dourado, quando, depois de
muitos dias sem encontrar o que pretendiam, resolveram se separar: uma parte deles voltou
a Quito e outra tentaria encontrar algo que valesse os esforços já empreendidos,
primeiramente indo atrás de comida.
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Esse grupo que foi explorar adiante,
com pouco mais de 50 pessoas, é o
que ficou conhecido como a
expedição de Orellana, que
“descobriu” para os europeus um
grande rio, primeiramente chamado
de rio de Orellana e, depois,
rebatizado com o nome em que
conhecemos até hoje: rio Amazonas.
A explicação do nome do rio é de
conhecimento de todos: fazia
menção as mulheres guerreiras da
região, que Carvajal diz ter visto, ao
menos algumas, lutando “tão
corajosamente que os índios não
ousavam mostrar as espáduas” (p.
60), isto é, as mulheres lutavam com
tanta valentia que os homens
indígenas se envergonhariam demais
de dar as costas ao inimigo, ou seja,
nunca fugiriam do combate.
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Os aventureiros espanhóis demoraram
quase dois anos para chegar ao mar na
foz do rio das Amazonas e, de lá, voltar a
Espanha, com passagens pelas ilhas de
Trinidad e São Domingos. Já pensou? É
como levar DOIS ANOS para viajar de
Manaus a Belém!
Além de nomear o rio com o nome que
conhecemos hoje, descreveram os povos
que iam encontrando, deixando claro
que a Amazônia era muito povoada, com
grandes civilizações capazes de produzir
muito alimento. Muitos elementos do
relato de Carvajal foram confirmados
por viajantes posteriores e por
arqueólogos do nosso tempo. Mas,
apenas 200 anos depois da viagem de
Carvajal e Orellana, todas aquelas
civilizações já haviam desaparecido com
os saques, escravização e epidemias
trazidas pela invasão europeia.
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Referências
• O detalhe do mapa de 1597 é de Wytfliet, Cornille. Magin, Anthoine. Histoire universelle des
Indes occidentales et orientales, et de la conversion des Indiens : divisee en trois parties par & &
autres historiens. Premiere Partie. Douay : Chez Francois Fabri, 1611. Disponível em
https://www.davidrumsey.com/. Acesso em 25/08/2020.
• ARAUJO, Tarso. LIMA, Alisson. Descubra a verdadeira história sobre o descobrimento do Brasil -
Cabral tomou posse, mas chegou depois. A busca de um caminho para as Índias trouxe outros
navegantes ao Brasil antes do descobridor oficial. Guia do estudante, São Paulo: Abril, 2016.
Disponível em
https://web.archive.org/web/20170123070310/http://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/des
cubra-a-verdadeira-historia-sobre-o-descobrimento-do-brasil/ Acesso em 25/08/2020.
• Os demais mapas foram extraídos de RIO BRANCO, Barão do. Atlas contenant un choix de cartes
antérieures au traité conclu à Utrecht le 11 avril 1713 entre le Portugal et la France, Annexes au
mémoire presenté par les États Unis du Brésil ... Paris: Lahure, 1899.
• Ilustrações de caravelas, selva e bonecos cooperando: https://www.gratispng.com/
• Indígena Cambeba/Omágua com lançador de dardos: FERREIRA, A. R. Viagem Filosófica. Brasília:
Conselho Federal de Cultura, 1971.
• Soldados espanhóis: https://www.realmofhistory.com/2018/07/09/facts-spanish-conquistadors/
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Texto 2: Walter Ralegh -
europeus exploram a
Amazônia pelo norte
Em uma manhã de agosto de 1594, o chefe Macuxi Topiawari recebeu uma
estranha visita. Um bando de homens brancos, que vinham do mar, apareceu na
sua aldeia, perto do rio Caroni. Eles pediam amizade e ofereciam ajuda para
combater inimigos. Topiawari já conhecia os brancos espanhóis, mas esses outros
brancos pareciam ser diferentes. Lembravam mais os holandeses, e por isso seu
povo chamou-os pelo mesmo nome que davam a estes: paranakiri (homens que
vieram do mar).
Enquanto se arrumava e caminhava para a entrada da aldeia para conversar com
esses paranakiri, Topiawari pensava sobre o que esses estranhos poderiam
querer. Há anos que os espanhóis importunavam todos os povos da região,
tentando impor outros hábitos, procurando ouro. Topiawari sabia que em uma
aldeia que não aceitou fazer comércio com os espanhóis, estes incendiaram todas
as casas e levaram os habitantes como escravos. Era necessário encontrar aliados
também poderosos para garantir a liberdade e a segurança de seu povo.
Por sua vez, o líder dos paranakiry também estava apreensivo e necessitado de
ajuda. Seu nome era Walter Ralegh e ele tinha dado um passo muito ousado –
tinha destruído a colônia espanhola na ilha de Trinidad e aprisionado o próprio
governador Antonio de Berrío! Era uma jogada de tudo ou nada: Raleigh precisava
de um trunfo, de uma base de povos guerreiros aliados e poderosos nas Guianas
dispostos a se sujeitar à rainha Elizabeth I da Inglaterra, protetora de Ralegh.
O chefe indígena Topiawary, provavelmente
de um povo aparentado aos Macuxi, segundo
Robert Schomburgk, contou a Ralegh sobre a
geografia e os povos da região ao sul da
“Na segunda feira partimos, passando sempre por províncias e povoações muito grandes, abastecendo-nos de comida o melhor
que podíamos (...) Havia lá uma praça muito grande e no meio da praça um grande pranchão de dez pés em quadro (...) Era esse
edifício coisa digna de ser vista, admirando-se o Capitão e nós todos de tão admirável coisa. Perguntou o capitão a um índio o que
era aquilo e o que significava naquela praça, e o índio respondeu que eles são súditos e tributários das Amazonas” (p. 51).
“Partidos daqui, passamos por outros muito povoados, onde os índios nos esperavam em pé de guerra, como gente belicosa, com
as suas armas e pavezes nas mãos, fazendo grande algazarra, gritando porque fugíamos, se eles ali nos estavam esperando” (p.
52).
“No outro dia, 25 de julho, passamos por entre umas ilhas que pensamos que estivesse despovoadas, mas depois que nos
achamos no meio delas, foram tantas as povoações que aí apareciam e vimos, que ficamos abismados” (p. 64).
“Fomos caminhando continuamente por sítios povoados, onde nos provemos de alguma comida (...) Em todas estas aldeias nos
esperavam os índios sem armas, porque é gente muito mansa...” (p. 77).
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