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História de

Roraima
Fascículo #3
Europeus
chegam à
Amazônia
Autores(as)
Sumário
• [Ficha catalográfica – equipe de • Sugestões de uso e conexões com a História
produção] Geral e do Brasil ...... 2
• Filmes sugeridos ...... 3
• Atividade de mobilização do interesse dos
alunos ...... 3-6
• Texto 1: Orellana e Pinzón - europeus
exploram a Amazônia pelo leste e pelo
oeste ..... 7
• Texto 2: Walter Raleigh - europeus
exploram a Amazônia pelo norte .... 16
• Atividade com mapa e linha do tempo .. 21
• Atividade com fonte histórica (Carvajal).. 22

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Competências e Habilidades da BNCC/ Documento
Sugestões de • Conexões com a Curricular de Roraima:
(EF06HI05) Descrever modificações da natureza e da
uso: História Geral e do paisagem realizadas por diferentes tipos de sociedade, com
destaque para os povos indígenas originários e povos

Este material pode Brasil: africanos, e discutir a natureza e a lógica das transformações
ocorridas, especialmente na região Amazônica.

ser usado no ensino • Grandes (EF06HI06) Identificar geograficamente as rotas de


povoamento no território americano, destacando o
fundamental e navegações povoamento do atual estado de Roraima através do Rio
Branco.

médio para estudar • O “Novo Mundo”


a História regional e • Maias, Incas e (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as
circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas,
local, conectada a Astecas
sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes
conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução,
modernidade etc.), comparando-as a narrativas que
temas da História • A sociedade contemplem outros agentes e discursos.

Geral e do Brasil. Tupinambá


(EM13CHS104) Analisar objetos da cultura material e
imaterial como suporte de conhecimentos, valores, crenças
Você, professor(a), e práticas que singularizam diferentes sociedades inseridas
• A Conquista da no tempo e no espaço.
escolhe QUANDO e (EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar as
América tipologias evolutivas (como populações nômades e
QUE PARTES usar sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas
(cidade/campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros,
em suas aulas ➔ razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicitando as
ambiguidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos
envolvidos em diferentes circunstâncias e processos.

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Sugestões de filmes
1) AGUIRRE: a cólera dos deuses. Direção
de Werner Herzog. Manaus: New Line,
1973. DVD (100’).

2)GRANDES Exploradores: Walter Raleigh.


História Viva em Cartaz. Manaus: Revista Atividade de mobilização
História Viva, s/d. DVD (54’).
• Em 2019 e 2020, o desmatamento da
3)CURIUA-CATU: A Grande Expedição de Amazônia aumentou muito, assim
Pedro Teixeira. Direção de Carlos Barreto.
Brasil/Portugal, 2000. Disponível em como as invasões e agressões contra
<<https://www.youtube.com/watch?v=Z4 povos indígenas. Quais podem ser as
FkcnZoVB8>> Acesso em 1/6/2020. (40’). consequências dessas ações?

4
Atividade de mobilização
Novos casos de Covid-19 em funcionários indígenas impõem
alerta na Terra Yanomami (4 de maio de 2020)
“Enquanto uma parte do povo Yanomami se refugia no interior da floresta para escapar da pandemia do
novo coronavírus, neste sábado (2 de maio) foi disparado um alerta nas comunidades da Terra Indígena
depois da confirmação de quatro novos casos de Covid-19, entre eles, de uma indígena da comunidade
Kroumapi, do polo base Missão Catrimani, e outro do polo base Demini, além de três casos suspeitos da
doença.
A Terra Indígena Yanomami tem 9.664.975 hectares, localizada entre os estados do Amazonas e Roraima.
São 380 comunidades e uma população de 28.148 pessoas, segundo a Sesai. A primeira pessoa do
território a testar positivo para Covid-19 foi o jovem Yanomami de 15 anos, que morreu por complicações
de infecção no pulmão devido à doença, no dia 9 de abril, no Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista.
A suspeita é de que ele contraiu o vírus com garimpeiros, pois o território está invadido por mais de 20
mil pessoas, diz a Associação Hutukara Yanomami (Hay).
O novo coronavírus começa a se espalhar dentro da Terra Indígena Yanomami também pelo contato de
funcionários não indígenas que estão infectados. Foram diagnosticados 16 profissionais com Covid-19.
Da capital de Roraima, o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (Hay), Dario Vitório
Kopenawa Yanomami, disse à agência Amazônia Real que está recebendo pela radiofonia diversos relatos
das comunidades de pessoas que estão com sintomas de gripe na terra indígena. Os informes partiram
das comunidades Nova Canaã, no Amazonas, Alto Catrimani, Catrimani, Hawarixa, Kroumapi, Maloca
Paapiu, Surucuru e Xexena, essas com acesso por Boa Vista.”
https://amazonia.org.br/2020/05/novos-casos-de-covid-19-em-funcionarios-indigenas-impoem-alerta-na-terra-yanomami/ Acesso: 30/05/2020
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Atividade de mobilização – depois da leitura da matéria
jornalística, a turma pode debater aspectos como estes:
Texto 1: Pinzón e Orellana - europeus exploram
a Amazônia pelo leste e pelo oeste
Um grande mistério
Os europeus acreditaram por mais de
mil anos que os oceanos eram cercados
por terra! Era a chamada geografia de
Ptolomeu, no exemplo ao alto, um
mapa do ano de 1300. A parte do
mundo que os europeus conheciam
então seria mais ou menos essa
delimitada no mapa de baixo. Quanto
mais iam explorando, mais faziam
mapas tentando entender e representar
o que viam. 7
Em 1498, possivelmente o
navegador português Duarte
Pacheco Pereira passou pela
costa da ilha de Marajó,
podendo ter chegado inclusive
ao litoral das Guianas e atual
Venezuela. Mas ele ainda
estava preso à ideia de que o
oceano era cercado por terras,
e portanto provavelmente não
imaginava que era um
continente ainda desconhecido
dos europeus. Ele até deve ter
ajudado a fazer um famoso
atlas, o Atlas Lopo Homem, de
1519, hoje na Biblioteca
Nacional da França (veja uma
parte desse atlas à esquerda,
que mostra como ainda
acreditavam no oceano fechado
por terra de todo lado).
8
Mas o relato da viagem de Pereira
Pacheco nem foi publicado na época,
de modo que quase ninguém ficou
sabendo. E os europeus continuaram
a explorar e mapear.

Os espanhóis exploram o RIO-MAR


Você sabe que a água do mar é
SALGADA, não é? Agora imagine que
você é um(a) navegador(a)
explorando o oceano, perto de um
continente que seu povo ainda não
conhecia e de repente você prova a
água desse mar e... descobre que é Figura 3 No mapa de Diogo Homem (1550), entre um monstro marinho e uma nau, a foz do grande
rio aparece identificada com a expressão em latim MARE AQUE DULCIS (água do mar e doce).

água doce! Você seguiria adiante ou


iria investigar a causa desse estranho
fenômeno? 9
Foi isso que aconteceu em fevereiro de 1500, quando o navegador Vicente Pinzón
encontrou água doce em alto mar, a 200 km da costa!
Ele ficou muito surpreso e resolveu descobrir por que isso acontecia. Dessa forma, ele
descobriu que existia um imenso rio (que hoje conhecemos como Amazonas). Explorou a
região próxima às ilhas do delta do rio, que ficou conhecido como Mar Doce ou rio de Santa
Maria. Mas ele traiu 36 indígenas que confiaram nele e os levou como escravos.
Poucos dias depois, outro navegador espanhol, Diego de Lepe, apareceu na foz do mesmo
rio e foi, como era de se esperar, atacado pelo povo indígena que o outro espanhol tinha
tratado de forma tão traiçoeira. Foi o primeiro combate entre europeus e ameríndios na
Amazônia.
Depois dessa viagem, o imenso rio começa a aparecer nos mapas dos europeus com o nome
de Mar Dulce (Mar Doce), rio de Santa Maria e, depois de 1513, rio Marañón (ou Maranhão,
em uma confusão com a região mais a oeste que recebeu esse nome). 10
11
Claro, milhões de ameríndios já conheciam esse rio e seus afluentes há milhares e
milhares de anos, mas os europeus levaram algum tempo até ganhar coragem para
explorá-lo em toda a sua extensão. Em 1541, seria a vez dos ameríndios na outra
ponta da Amazônia conhecerem os espanhóis que, depois de conquistarem o Peru,
pela primeira vez desciam o imenso rio.
Era um dia ensolarado e quente, como usual naquelas partes da Amazônia, quando,
pela primeira vez, os indígenas da grande aldeia de [...], junto ao rio [...], se
depararam com um povo esquisito, com roupas coloridas e partes do corpo
cobertas de metal e armas nunca vistas, que logo perceberiam que poderiam fazer
grande mal, como de fato fizeram, às populações daquelas regiões.
Tratava-se de uma expedição que, em dois barcos bem maiores que as canoas
indígenas, descia o grande rio, sabe-se lá com que destino e com quais intenções.

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No calendário daquele estranho povo, que depois os
indígenas saberiam que se chamavam cristãos e
espanhóis, era o ano de 1541 e seu comandante
chamava-se Capitão Francisco de Orellana (1511-
1546). Porém, quem escrevia sobre tudo o que eles
viam na viagem pelo rio era um frei dominicano,
Gaspar de Carvajal (1504-??), levado, como era o
costume, “para dizer missa e confessar os soldados” e
para a catequização. Foi ele que nos legou o primeiro
relato (ao menos o que sobreviveu até a nossa época)
sobre a Amazônia.
Sem saberem falar a língua dessas pessoas, a comunicação era difícil. Os habitantes do rio logo entenderam que
esses estrangeiros queriam comida. E supriram muitas vezes essas necessidades. Mas em outras aldeias do rio,
não sabendo muito bem a que vinham, os indígenas acharam melhor ficar nas matas, deixando as aldeias
vazias. Nessas ocasiões, esses europeus pilhavam e levavam tudo o que podiam, sem acharem que estavam
roubando alguma coisa, senão “recolhendo a comida”. Afinal cada um vê e interpreta seus atos de um jeito
diferente, não é mesmo?
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Dessa maneira, os índios que a expedição ia encontrando foram sendo descritos pelo frei
Carvajal de vários modos, de acordo com o que ia ocorrendo na viagem e, também, de
acordo com o que os espanhóis esperavam que fizessem para atender as necessidades pelas
quais passavam. Assim, quando o primeiro barco precisou de reparos, tiveram que parar por
vários dias a fim de realizar os consertos necessários e, “durante esse tempo não deixavam os
índios de nos acudir, trazendo comida farta e com tanta ordem como se toda a vida tivessem
servido” (p. 24). Temos aqui os índios “mansos”, como foram descritos os que não se
colocavam como empecilho aos interesses europeus: os amigos.
Porém, em outras ocasiões, se depararam com uma população que não estava assim tão
interessada em servi-los, senão em proteger suas aldeias. Nesse momento houve confrontos,
sendo a situação narrada da seguinte forma por frei Carvajal: “vendo o Capitão que não se
queriam render, que nos tinham feito dano e ferido alguns dos nossos companheiros,
mandou pôr fogo nas casas onde estavam os índios...” (p. 56). Em outro momento: “o
Capitão, ofendido com a soberba dos índios, mandou que atirasse neles” (p. 59). Assim,
quando esses indígenas não atendiam aos interesses dos europeus, foram chamados com
outros nomes, eram os índios “brabos”, os inimigos.
Mas, o que afinal faziam esses “brancos” na Amazônia? Vamos lembrar que estamos no
período que se convencionou chamar de “Expansão Marítima Europeia”, também conhecida
como “Grandes Navegações”, quando Portugal e Espanha, em um primeiro momento, se
lançam ao mar com objetivos políticos, econômicos e religiosos.
A Espanha já havia conquistado terras na então denominada de “Índias Ocidentais”, depois
América Espanhola, encontrando ouro e, principalmente, prata, na região onde hoje estão
Colômbia, Bolívia, Equador e Peru.
Em uma dessas incursões para conhecimento e exploração da região aconteceu a expedição
que agora estamos tratando, em busca da Terra da Canela e El Dourado, quando, depois de
muitos dias sem encontrar o que pretendiam, resolveram se separar: uma parte deles voltou
a Quito e outra tentaria encontrar algo que valesse os esforços já empreendidos,
primeiramente indo atrás de comida.
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Esse grupo que foi explorar adiante,
com pouco mais de 50 pessoas, é o
que ficou conhecido como a
expedição de Orellana, que
“descobriu” para os europeus um
grande rio, primeiramente chamado
de rio de Orellana e, depois,
rebatizado com o nome em que
conhecemos até hoje: rio Amazonas.
A explicação do nome do rio é de
conhecimento de todos: fazia
menção as mulheres guerreiras da
região, que Carvajal diz ter visto, ao
menos algumas, lutando “tão
corajosamente que os índios não
ousavam mostrar as espáduas” (p.
60), isto é, as mulheres lutavam com
tanta valentia que os homens
indígenas se envergonhariam demais
de dar as costas ao inimigo, ou seja,
nunca fugiriam do combate.

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Os aventureiros espanhóis demoraram
quase dois anos para chegar ao mar na
foz do rio das Amazonas e, de lá, voltar a
Espanha, com passagens pelas ilhas de
Trinidad e São Domingos. Já pensou? É
como levar DOIS ANOS para viajar de
Manaus a Belém!
Além de nomear o rio com o nome que
conhecemos hoje, descreveram os povos
que iam encontrando, deixando claro
que a Amazônia era muito povoada, com
grandes civilizações capazes de produzir
muito alimento. Muitos elementos do
relato de Carvajal foram confirmados
por viajantes posteriores e por
arqueólogos do nosso tempo. Mas,
apenas 200 anos depois da viagem de
Carvajal e Orellana, todas aquelas
civilizações já haviam desaparecido com
os saques, escravização e epidemias
trazidas pela invasão europeia.
16
Referências
• O detalhe do mapa de 1597 é de Wytfliet, Cornille. Magin, Anthoine. Histoire universelle des
Indes occidentales et orientales, et de la conversion des Indiens : divisee en trois parties par & &
autres historiens. Premiere Partie. Douay : Chez Francois Fabri, 1611. Disponível em
https://www.davidrumsey.com/. Acesso em 25/08/2020.
• ARAUJO, Tarso. LIMA, Alisson. Descubra a verdadeira história sobre o descobrimento do Brasil -
Cabral tomou posse, mas chegou depois. A busca de um caminho para as Índias trouxe outros
navegantes ao Brasil antes do descobridor oficial. Guia do estudante, São Paulo: Abril, 2016.
Disponível em
https://web.archive.org/web/20170123070310/http://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/des
cubra-a-verdadeira-historia-sobre-o-descobrimento-do-brasil/ Acesso em 25/08/2020.
• Os demais mapas foram extraídos de RIO BRANCO, Barão do. Atlas contenant un choix de cartes
antérieures au traité conclu à Utrecht le 11 avril 1713 entre le Portugal et la France, Annexes au
mémoire presenté par les États Unis du Brésil ... Paris: Lahure, 1899.
• Ilustrações de caravelas, selva e bonecos cooperando: https://www.gratispng.com/
• Indígena Cambeba/Omágua com lançador de dardos: FERREIRA, A. R. Viagem Filosófica. Brasília:
Conselho Federal de Cultura, 1971.
• Soldados espanhóis: https://www.realmofhistory.com/2018/07/09/facts-spanish-conquistadors/

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Texto 2: Walter Ralegh -
europeus exploram a
Amazônia pelo norte
Em uma manhã de agosto de 1594, o chefe Macuxi Topiawari recebeu uma
estranha visita. Um bando de homens brancos, que vinham do mar, apareceu na
sua aldeia, perto do rio Caroni. Eles pediam amizade e ofereciam ajuda para
combater inimigos. Topiawari já conhecia os brancos espanhóis, mas esses outros
brancos pareciam ser diferentes. Lembravam mais os holandeses, e por isso seu
povo chamou-os pelo mesmo nome que davam a estes: paranakiri (homens que
vieram do mar).
Enquanto se arrumava e caminhava para a entrada da aldeia para conversar com
esses paranakiri, Topiawari pensava sobre o que esses estranhos poderiam
querer. Há anos que os espanhóis importunavam todos os povos da região,
tentando impor outros hábitos, procurando ouro. Topiawari sabia que em uma
aldeia que não aceitou fazer comércio com os espanhóis, estes incendiaram todas
as casas e levaram os habitantes como escravos. Era necessário encontrar aliados
também poderosos para garantir a liberdade e a segurança de seu povo.
Por sua vez, o líder dos paranakiry também estava apreensivo e necessitado de
ajuda. Seu nome era Walter Ralegh e ele tinha dado um passo muito ousado –
tinha destruído a colônia espanhola na ilha de Trinidad e aprisionado o próprio
governador Antonio de Berrío! Era uma jogada de tudo ou nada: Raleigh precisava
de um trunfo, de uma base de povos guerreiros aliados e poderosos nas Guianas
dispostos a se sujeitar à rainha Elizabeth I da Inglaterra, protetora de Ralegh.
O chefe indígena Topiawary, provavelmente
de um povo aparentado aos Macuxi, segundo
Robert Schomburgk, contou a Ralegh sobre a
geografia e os povos da região ao sul da

Raleigh, Hulsius, 1599


cordilheira de Pacaraima, ou seja, sobre a
região que hoje é Roraima! Falou que havia
uma grande água, o Parima, que é o que
chamamos hoje de rio Branco, e que um povo
poderoso, os Manao, viviam perto desse
Parima. Ralegh interpretou que havia um
grande mar ou lago chamado Parima e que na
sua margem existia uma cidade chamada
Manoa. Também mencionou que era possível
passar do Parime para o Essequibo
transportando as canoas por terra, e assim
viajar entre a bacia Amazônica e o litoral das
Guianas. Veja no desenho à esquerda como
isso foi imaginado pelos europeus. Por
séculos, os mapas europeus de nossa região
mostravam um grande lago imaginário por
causa disso!
O relato de Raleigh foi publicado na Europa
em 1599 e teve grande sucesso, despertando
grande interesse em vários países pela região
das Guianas. 19
Em 1596, o oficial de confiança de Ralegh, Lawrence Keymis, já estava
informado pelos povos indígenas Yao e Karinya da comunicação entre a
costa do mar e o Amazonas, via Orenoco e rio Negro e via Essequibo e
bacia do rio Branco. Os povos indígenas usavam essa rota há milênios, mas
somente em 1740 a geografia europeia passou a ter conhecimento dela,
pelo relato do cientista francês La Condamine.
Ralegh e Keymis fracassaram em seu projeto de criar uma imensa colônia
inglesa no que chamaram de “Império da Guiana”, chegando a pagar com
suas próprias vidas pela ousadia poucos anos depois. Mas seus relatos
tiveram tanta repercussão que incentivaram europeus de diversas nações a
tentar a sorte no comércio da região.
O suíço Hendrikson, a partir da costa da Guiana, comerciava com os povos
do rio Branco no rio Branco, alto Essequibo, Mazaruni e alto Rupununi, até
a foz do rio Negro, por volta de 1637.
Groenewagen organizou uma expedição de 40 holandeses e 400 índios em
busca do Eldorado, atingindo o Tacutu e talvez o rio Branco em 1661-1664
(Dreyfus, 1993).
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Situe-se no tempo
e no espaço!
1. Escreva no mapa os nomes dos oceanos e rios nos
lugares certos.
2. Faça uma estrela no lugar em que você mora!
3. Observe a LETRA de cada exploração e use essas
letras dentro das FLECHAS no mapa para mostrar
onde ocorreram.

1498 (A) Exploração de Duarte Pacheco

1500 (B) Pinzón e Diego de Lepe

1531-1540 Várias expedições fracassadas

1540 (C) Orellana e Carvajal

1542 Expedição francesa na foz do Amazonas

1560 (D) Ursúa e Aguirre

1595 (E) Raleigh e Keymis no Orenoco e litoral das Guianas


21
Crônica:
CARVAJAL, Gaspar de. Relação que escreveu frei Gaspar de Carvajal frade da
Atividade com Ordem de s. Domingos de Guzman, do novo descobrimento do famoso rio
grande que descobriu por imensa ventura o Capitão Francisco de Orellana
FONTE desde a sua nascente até sair do mar, com cinquenta homens que trouxe
consigo e se lançou a sua aventura pelo dito rio, e pelo nome do capitão que
o descobriu se chamou Rio de Orellana. In: MELO-LEITÃO, C. Descobrimentos
do rio das Amazonas. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1941.
Selecionei vários trechos da obra (depois escolhemos as que tiverem mais
relação com o fascículo)
“Estávamos em grande perigo de morrer da grande fome que padecíamos
Atividades para discussão:
(...) À falta de outros mantimentos, entretanto, chegamos a tal extremo que
1. O que se pode perceber a partir desse texto
escrito pelos viajantes no século XVI? só comíamos couros, cintas e solas de sapatos cozidos com algumas ervas, de
2. O que os espanhóis pretendiam nessas viagens maneira que era tal a nossa fraqueza, que não nos podíamos ter em pé” (p.
realizadas à Amazônia? 19)
3. Essa expedição foi considerada a que “Efetivamente começamos a ir apressados e chegamos a uma aldeia (...) Tal
“descobriu” o rio Amazonas. Mas esse rio foi ânimo cobraram todos à vista do povoado, que olvidaram toda a fadiga
mesmo “descoberto” por esses espanhóis? passada, e os índios fugiram, deixando toda a comida que havia, o que não foi
4. Em algumas passagens do texto os indígenas pouco reparo e amparo para nós. Antes que os companheiros comessem,
eram descritos como amigos; já em outras como
embora tivessem muita necessidade, mandou o capitão que percorressem
inimigos. Como você explicaria essa diferença?
5. Por que muitas das civilizações que existiam na toda a aldeia, para evitar que, estando recolhendo a comida e descansando,
época dessa expedição não existem mais? não caíssem sobre nós os índios e nos fizessem dano” (p. 21).
22
“Era, portanto, preciso procurar com diligência fazer outro bergantim,
que fosse de maior porte, para que pudéssemos navegar, embora não
houvesse entre nós mestre que entendesse tal ofício. O mais difícil para
nós era fazermos os cravos. Durante esse tempo não deixavam os
índios de nos acudir, trazendo comida farta e com tanta ordem como se
toda a vida tivessem servido. Vinham com as suas jóias e arrecadas de
ouro, e nunca o Capitão consentiu que se tomasse coisa alguma, nem
mesmo que mirássemos, para que os índios não entendessem que lhes
dávamos apreço. E quanto mais nisto nos descuidávamos, mais ouro
punham em cima de si” (p. 24).
“Seguimos assim até ao amanhecer, quando nos vimos em meio de
muitas e grandes povoações, donde sempre saíam índios de fresco e
ficavam os que iam cansados(...) Começávamos a navegar, sem que os
índios nos deixassem de seguir e dar combate, porque destas aldeias se
tinham reunido mais de 130 canoas, nas quais havia mais de 8.000
índios e por terra era incontável a gente que aparecia” (p. 43).
23
“Havia nessa povoação uma casa de diversões, dentro da qual encontramos muita louça dos mais variados feitios: havia talhas e
cântaros enormes, de mais de vinte e cinco arrobas, e outras vasilhas pequenas, como pratos, escudelas e candieiros, tudo da
melhor louça que já se viu no mundo, porque a ela nem a de Málaga se iguala. É toda vidrada e esmaltada de todas as cores, tão
vivas que espantam, apresentando, além disso, desenhos e figuras tão compassadas, que naturalmente eles trabalham e
desenham como o romano” (p. 47).

“Na segunda feira partimos, passando sempre por províncias e povoações muito grandes, abastecendo-nos de comida o melhor
que podíamos (...) Havia lá uma praça muito grande e no meio da praça um grande pranchão de dez pés em quadro (...) Era esse
edifício coisa digna de ser vista, admirando-se o Capitão e nós todos de tão admirável coisa. Perguntou o capitão a um índio o que
era aquilo e o que significava naquela praça, e o índio respondeu que eles são súditos e tributários das Amazonas” (p. 51).

“Partidos daqui, passamos por outros muito povoados, onde os índios nos esperavam em pé de guerra, como gente belicosa, com
as suas armas e pavezes nas mãos, fazendo grande algazarra, gritando porque fugíamos, se eles ali nos estavam esperando” (p.
52).

“No outro dia, 25 de julho, passamos por entre umas ilhas que pensamos que estivesse despovoadas, mas depois que nos
achamos no meio delas, foram tantas as povoações que aí apareciam e vimos, que ficamos abismados” (p. 64).

“Fomos caminhando continuamente por sítios povoados, onde nos provemos de alguma comida (...) Em todas estas aldeias nos
esperavam os índios sem armas, porque é gente muito mansa...” (p. 77).

24

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