Você está na página 1de 257

As imgens· que

estavam no meio
cio livro, foram colocadas
ao final, para que
a paginaçao ficasse
correta.
LAURA DE MELLO E SOUZA

INFERNO ATLÂNTICO
Demonologia e colonização
Séculos XVI XVIII

-
Dados I11ternacio11ais de Catalogação 11a Publicação (e,, ,, )
(Câr11ara Brasileira do Livro, sP, Brasil)

Souza, L1ura de Mello e


Infer110 Atlãt1tico : den1onologia e colonização : séculos
xv1-x,v111 I Laura de Mello e Souza. São Paulo :
Companl1ia das Letras, 1993.

Bibliografia.
ISDN 85-7164-347-4

1. Brasil Colo11ização 2. Brasil História Perío-


do colonial 3. Den1onologia - Brasil r. Título.

93-2992 coo-981.021

Índices para catálogo sistemático:


l. Brasil : Colonização e demonologia : História 981 .021
2. Brasil : Demonologia e colonização : História 981.021
ÍNDICE

Agradecimentos . .. . . . . . .. . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .... . . . . . .. . . . . . . 11
lntradução . . . . . ........... . . . . . . . . . ....... . . . . . . . . . . . . . . . .. . ... . . . . . . .. 13

Primeira parte
MACRODEMONOLOGJA
O diabo naJ· malhas do Antigo Regime
l. O conjunto: América diabólica .... . .. ... . . . . . . . . . ... .. . .. . . ...... 21
2. O enraizamento: circularidade de culturas e crenças - Bra-
sil, 1543-1618 ... . ... .. .... . .... . . . .... . . . ..... ...... . . ... . ... . . . .. . ... . . 47
3. Por fora do Império: Giovanni Botero e o Brasil ... .. . . . .. . . 58
4. Por dentro do Império: infernalização e degredo . . . ....... . . 89

Segunda parte
MICRODEMONOLOGIA
O diabo e as tens·ões cotidianas
5. Religião popular e política: do êxtase ao combate .......... l 05
6. Ambigüidade amorosa: de santas a mulas-sem-cabeça ..... 125
7. Mentes e corpos: os assaltos do diabo .... . .... . . ..... . ... . . . . . . 14 7
8. Em torno de um mito: a elipse do sabá ........ ............... 160
Epílogo: Persistências ínferas, Bernardo Guin1arãcs e o ima-
ginário demonológico ............................................... 181
Notas .................................................................... 197
Fonte!>' e bibliografia ..................... ............................ 249
_llus·trar,:õe.s· .............................................................. 263
AGRADECIMENTOS

Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São


Paulo (FAPESP) por me ter concedido em duas ocasiões - 1987 e 1992
- passagem e auxílio para congressos, possibilitando-me, assim,
apresentar trabalhos que, reelaborados, integram parte desta tese e,
ainda, dar continuidade à investigação documental na Torre do Tom­
bo. Pelo mesmo motivo, registro meu reconhecimento à Coordena­
ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) (1988
e 1992) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec­
nológico (CNPq) (1988), instituição à qual devo também o financia­
mento de atividades de pesquisa desde março de 1992, através de uma
bolsa do tipo Laboratório Integrado.
Em parte desta pesquisa ., tive a colaboração preciosa de Rodri­
go Lacerda. Na defesa do-trabalho como tese de livre-docência apre­
senta.da na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciên.cias Humanas da
U,niversidade de São Paulo (usP), beneficiei-me das observações da
Banca Examinadora composta por Maria Man.uela Carneiro da
Cunha, Gilberto Velb.o, Francisco Iglésias, Stuart B. Schwartz e J o­
sé J obson de Andrade Arruda.
Pelas sugestões e críticas feitas, sou grata e21an .Algranti,
Lili Schwarcz, Mary dei Priore, Fernando Torres Londofio, Marlyse
Meyer, Ronaldo Vainfas e Luís Mott.
A Fernando A. Novais, além da leitura e das @bservaçees eui­
dadosas, devo minha formação intelectual. Por isso dedice-Lhe este
trabalho.

11.
INTRODUÇÃO

Escritos em momentos diversos, os nove trabalhos que aqui se


encontram têm a uni-los a mesma problemática: l ·as relações entre
o imaginário demonológico num sentido amplo e o mundo luso­
brasileiro do Antigo Regime. Correspondendo a momentos distin­
tos de minha formação intelectual, apresentam, creio, uma unidade
interessante: podem ser lidos separadamente e, ao mesmo tempo, ad­
quirem significado complexo no conjunto. Penso que formam um
livro, mesmo se não no sentido mais convencional: as suas diferen­
tes partes, vejo-as como capítulos.
Este livro um tanto fragmentado é tentativa de encaminhar me­
lhor questões q11e me preoct1pam desde 1985, quando terminei a te­
se de doutorado, ''Sabás e calundus - feitiçaria, práticas mágicas
e religiosidade popular no Brasil colonial'' - e o fato de citá-la no
título original, depois alterado para publicação (O diabo e a Terra
de Santa Cruz), não é fortuito. Naquela época, ainda não estava a
par do que era o mundo mágico luso-brasileiro, e intuía processos
que não conseguia explicar, por exemplo, que a chave estava na ten­
são entre Europa, África e América, captada por mim na oposição
sabás/calundus. Nada mais tipicamente europeu do que a bruxa que
voava em vassouras, noturna e sinistra, chupando sangue de meni­
no novoJ misturando miolos humanos, asas de morcego e baba de
sapo no caldeirão infernal. Nada mais brasileiro do que o candom­
blé, cujas raízes, por vias tortuosas (como são aliás as raízes), levam
aos calundus que assombravam senhores de engenho, jesuítas e mo·
ralistas nos tempos coloniais. A oposição seria, entretanto, ilusória?
O diabo espírito de porco que coalhava o leite e fazia desandar o
pão não era uma espécie de Pedro Malasartes, de João Grilo? Exu
não é bom e ruim? Ot1 melhor, ser bom ou rttim sequer s� colocaria

13
de-.,a ._ rma para e,, r ,toe; afro-bra<-ileiro�? 1c rno na Ettropa, o dia­
btt daf,, tzár _ula,, mon�trtJO\O e horn\·cl, não era cambén1 o diabo na­
rn,Jrado t \,.(,rte. ão de Gil i ente, ou o t1omcrn cdutor \'<!�tido de ..
..(da n\;gra 11a ,c�o do t.:ineasta �1arccl Car11é cn1 Le.ç ,•isitei,rs dt1
.soi.r? Ou o �impatico diabo popular do Carnaval, nfeito a comilan-
a_. lihacro tt1l1c�� pàndcga ? Por finl,, on10 mo�trou Marly e Me­
}' r, !\1aria Padilha não é ao me mo ttmpo an1a11tc de um r,ci de Cas­
tela. pcí\onagcm dr ca11cioneiro europeu e pombagira de un1barada,
tendo cometido crimes c111 Niterói'! .
Onde tern1i11a a Europa� or1d� começa o llrasil? É J)OS�ívct pcn­
\af o que criamo. c:m o colonit-ador ()OfttigtJ� - 0,1 me n10 sem
!\·1auricio de Na au. c111 icolat1 de Villcgnig11on. �cn1 Tl1cv cl, Léry,
Har1 tadcn, o pirata Knivct, todo 110 · corltando suas im1Jrc . õc
de europeus exilado n05 trópico , dcfom1a11do irrcvcrsivcln1cntc, ao
r�gistrar. o que viatn 1 cti.ciravanl e cntian1· ? É possível rcfn2er cm
�cntido in,-erso o pcrcur o de no o a,,ós d,c Lua, nda, Mm11a, G11iné,
atribt1indo ao conju11to da ctilttira afric,\11a o sigr1ificacJo qtic real­
mente vian, nela o negro e craviiados tornado brasileiros à for­
ça? É pos�ívc-1 reconstituir. por meio do frag111cr1to · dcixétdo-; pelo
�crívAcs do Santo Ofício. a crença qlllinhc11tista!> tupih, chamf1nclo­
a� de mjlcnari ta Oll sincréticas?
Tudo indica que não. Mas, toma11do de en11Jréi,tin10 ai bela rr.1-
� di: Géorge Braque, '•não creio nas coi a,,, creio 11a� ll,A\ rcl1tç e 1
'.

a prjrneira parte deste livro. pro<.:t1ro jt1stumct1t� t!xplorar a


reloçõe.:,. en.s;iiar análises con1parativas para n1clJ1or con1,Jrec1ldcr n
vi õe européias sobre a América - ota. co111 liase 110 belo, t raba llto
de Scrge Gru1.inski. a produção ocidental tlc imagf!11\· sobre a An1é·
ric,t -, mo�Lrancio que, e por um Jado lera,,1 o Novo omtir1er1re
atra-.�é, de refcrcnciai� próprioh à �lJa CL1ltl1r,1, acubaran1, por Oltt10,

i11eorporru1dc, irrcvcr\Í\lClmcn1c elemc:11101 �p(.-<;Íílco� das ctallurn ,1u
�ubj ltgaram, ou procuraram Slabjugttr. Tnl en fr,c1t1c 11lc foi ,1115cr:ido 1

po1 alP.uma't ,t11áli,c� du cultura pop11lar, nc,ti&{)(!rrJ1e, ntc a� de J,1cc1lJC�


l..e (Joff ----- Pr,,,r ,,,, ai,1re Moy<·,r·ARe, lo6'/111ag/11olre 111<!(/l,'i,11!, I.A 11di'1'·
,an,·e du fJt1rga/()ir<» , ·i1rlo <lir11bílrg - Mitn.\, ,,,,.,L,lrPt11,1, '. sin·,ri ·
e o� andt1rlll10J do 1,e,11 - e Natalic Z. l)t,ví, c·,,11,,r,t.\· tio p,,vo,
l"lct/011 ,�1 tl1e flr,·!1iv,,�. J'<>r trá� llc tLado, evidcntcn1c11rc, ,1, cor1cop.­
çl,c rn�í" Jr:t:rni,,- da antrot,oJogig e c6rrc, clót,c;fco� du t,J�torioRrnt.l,t
bra�1Jctr1t, c,,mn l'a.\·a�1;ru,1dr & ,Ye11tal", de Ollhtrl �rcyrc. la,,,1..
11/111\ ,, Jronl("tr(J• • de � �l() fita,,, que üc 1 J 0Jur1du. />(Jrt1-1»c1/ e /lravll
,,a crtft ,JrJ unJf?.o .\1�lff111'tl t•o/u11/ul. ,,� f7cr11u,td t, N,<,vnf • ('tar tri11e
el e lt1do. lgl11Jrncntc, a prootUf>ll�:lt, (.-ir111\t> trur c1t1c ,1n1,1 ,,11(tli e.1 J,·

14
.......�--------------------------------------------------------���-

mental.idades e de imaginário pode ser problerr1otizada e dialogar com


a no sa tradição cultural. oc�ta, e tá incorporado air1<la cerlo fraco
, pela e;<.plicação, me mo que as conclu ôe fiquem ,101 tanto olta.;
Lodo os capituJos se referem a um rnomento for111oti•1 0, quat1do a
imagen� européia obre o ovo lundo, t!ram rr1ai' t'cçl1:lda do c1 ttc
se tornariam depoi ; quando a t pecific1dadc do Utliver o colo11i�ll
ainda podjam ser regi trada e captada com maior frcscor; c11fin1.
c1uando as sínte es culturai , ou o proc�s,·o de nct1ltt1ru Uo - p::,rt1
u ar cxp.re ão que o a11tropólogo · considcra1n f)roblcr11dticn ·-,
achavam-se em vias de e proccs ar. Daí o: corte cronológicc) tlit..cr
rc. peito ao período <1ue abrange os éct1lo · xv1. v11 e • vr11.
O primeiro capítulo(: d\!libcradarti1e11tc an,plo� crl fi cn11do o 111,111-
do ltispano-ameri<:an çr11 todi, :, \IU ensuo g,co r fit·:1: E�panl\u,
Portugal., léxico, Peru, Brn il, rnérica C �,,tr�,l... PnlcUNl rcltlizul'
a anáJi e macr<> cópica da rclaçõe letr61>ole- 0ll\11it1 utruvóir; dn
dernonolo{lia, u1nariaodo qtia.s� t,1do o qt1c, cn1 ·sct)IJO r11tti� t'\f')C·
cífico. r� abordado ao longo do� outrc1s i=upfctalo,. N<.l r�corr� dtt
dcn\onologia. dC\' muito no� b lo 1 rab11ll10 de 'tunc t lnrl -11, ..
1

ver ion. misruJc a11d tl1c mcanir1g tlf \Vitc:t,�rttft' ', ··-1·11c scicr,tifll· Sllt·
tLJ� of demonology"' - e .. , co11ver a c1uc r,uclc.:1110� tnu11tcr �tl1 (.;OJl·
gre so : foi grnç-,, r1 ele c1uc t,larg,1ci r11<:l1 cnfo..,1,1 · clt1 ohjl'IO, e r,11rtlt.·
enxerg -lo oncle tlt· i1.p:.1rc11ter11t:ntcz r1fi l. IÓ:. ' 1 0 coni11nto: A11•cricu
,cliabólic11·� t1ind3 1cn1:,tlv{t d· pug,,r r>urt� da d{viur\ tJttc fit•ot11,t�,, ..
denlt! en1 • •Sabá, e cnl.t1ndt1, • •• Q1t1:11,,tc, ttc11bci dei :,r,do ll A 1t1 ,,, ictl
Ili lJ4 ttic'", fon, da n11: 1isc. Nu inc111\ o pc)r c,tt: t ·rr !tório. deve, 111t1i·
to ·10& e tud � e,1intulnn1c etc · <:rf:lC (irti11i11 ki tll>rl· ,, Mó i�t1
o 1ad:1r11c11t� UJ col,,,,; ,11/011 tlc J '1111c1ginc1lrc: • • • �to �c.i, • ft)r\'() r,t
dC\Vt=tadnr n ,,,, rir,1,: •1n <·1111,,rrrt de, Novo e· t1tin�11t•.
Re tririgirido o t1lhtlO cl,r1 UllÓli. e, tl 'C8L,1ltlo c:a11{I tt'.lrl f'111 lllll
RJJ'lt1ll«\d(> tf,11 l, r li�t()\td 1clc vfvidit l1:1 ( 't>l r1i;1 llt) J)J !tlti.:il'Q NÓ,.
l'lllçi lrt, up;tç; o 1>ort\1gu �,,. Refere 'il" à l'tlr,,,,,s lltt11· ,,1cti e tcf,1 ..
mn qt,1e,t e, qLac tt ,1 fori11n. ,t al,Ull ver, flUC(1t1i,,I \ttl •11tc clc�ct1�,,1vi­
d a, ·111 ''. �b 1oi • citl11r1dt11'' ·, 1cf4-,)tt;,1nclc> ll\ , lu� e �11lrc 1c,IIJ(l,.> lcJ11dc
e: Clllt1ir, J'Ul>lJlnr lt11.. ot'lr utl•tl(,, c.l,1 l�it1t11 t1 <l&J clc\'4�it<1 ele Mlk111,ll
111 � l1e i1,, ;l ,,,,11r,ro 11u11ula, ,,a l<lc1dt' M, rll,1 ,. ,,u H,·n,1\'<'ltn�,,1,1. �, �
ntJ \e !l. ,11,do c11r,lt11lo 11111 d<)Ctin1 r11,,, r.1,1 • clt ,, i,• l1lill.1r,r1, a1n(crlor.,
1r1cntc: t> 11rocc� o ele ,� r,, (lll ( ·,11t1J'>(1 'n,,,, isahtl, ,lt111,,tt,ri,, de l'orta
S • trr,). ()aacr r -iull lc, f>t>r,111t, <l ,..:r1lf ft r,1111, rc ,1t,10, ,t,, r>t•r1t,,
Jc vic.111 br,,tlCl> ç �\Jr,1pcu, t•� 1iltlft:�es c11lf\Jl'�tix ,,,,-. fv j,J de H r 111
gcr,,d,,, cç,r11 a, c,,lt>r,11.a<;fi<>. I>,> ,,,11110 llc vj 1,, tncl'f1cr1tt e rn11an1 •lt1 ..
e , t,1lvtz tol ,,,e ·,1r1i1rr•Jc> j,, cx11,n."i c1 de 1'<,tn�u r,11r1t,li11n1áttt:1t ptlltll

/j
.... ntidades. aquele tempo, os africanos ainda contav,am muito pou­
o na mestiçagem cultural: Tourinho e o Papa Antônio, ou Toma­
.:aúoa. ilustram, assim, as duas vertentes dominantes na Colônia no
- diz respeito à religiosidade e à cultura popúlar quinh entista.
oue
·�Por fora ào l111pério: Giovanni Botero e o Brasil'' é para mim
11m rnomenco especial do trabalho, não talvez pelos resultados, mas
pelo que sua elaboração represenlou em te1 roos de descoberta e emo­
ção mtelectual. Foi uma empreitada detetivesca, nos moldes da ati­ •
•,idade de pesquisa descrita por Ginzburg em ''Sinais: raízes de um
paradigma indjciário'', ensaio de Mitos, emblemas, sinais. A parte
e:as Relacioní uni�ersali de Botero referente ao Brasil me chegou pe­
:o cor·eio1 na fo1ma de nm xerox enviado da Itália pelo amigo Ro­
oen R.crNlaod, com um comentário irônico acerca da difusão da lei­
r.ira diabolizada sobre a América porcuguesa. Fiquei meses olhando
J)a.J-a ela, pensando como poderia desvendá-la. Aos poucos, comecei
a ter interesse por Botero, de quem não sabia quase nada. Fui me •

rlzr!do conta de que nunca se tinha estudado a filiação de suas in­


formacões • �bre o BrasiJ - Federico Cbabod o fizera para outras
�-gíl.""eS -, e qu_e talvez ,�lesse a pena desvendar os meandros do olhar
larlÇ:ado por um ita liano do Renascimento sobre um império estra­
rmo. A !ciwra de Botero sobre o Brasil fica, assim, como testemu­
nho do f�scimo que a América em geral e o Brasil em particular exer­
�c11Jl �bre � íntelect1Jais europeus do Renascimento, ou a fatalidade
d!: que �_,sim fosse - mesmo quando eles pertenciam a paragens que
não controlavam possessõo americanas.
O quarto capitulo se ba�a ei11 dois textos anteriores sobre o
dt:gredo, desenvol"-e.ndo-o�. Nele, o degredo é visto como mecanis­
m9 futerno ao Império, extremamente eficaz do ponto de vista so­
ciaJ t idwlógioo (ergástuJo do� delinqüentes), extremamente impor­
tantt do ponto de vi�ta símhóljco (ritual de puri ficação). É o
�n aponto interno ao olhar estrangeiro de Giovanni Botero, ilus ..
tt& r,,·o � oonflllênciab po�sfvcí� de universos culturalment.e distin­
to : no degredo. rioo� e pobre� da Metrópole expressavam concep­
çõa. idénti�. as tensõe3 ,ociaíb se dissolvendo na condiçã-0 comum
de cotonizador.
, :a segonda parte do lívro, debruço-me sobre o íma,ginárjo dc­
Mo ol(,gjco e o universo cotidiano. O recorte oscila entre a longa
dnra.r,ão t a curta., como que t.ateandó po��1>ibiJidades de análise dos
fen6meno, culturais. ,. RtJigiao popular e poJftica: do êxtase ao com­
lYctte'' foí muito influenciado pela coletânea de Cario Oinzburg, Mi,.,
tf'ft, emblenw,, sinais, e ainda pelo clássico de Mikhail Bakhtin so--,

16
bre Rabelaís - obras que discutem questões teóricas con1 grande ri­
gor. Beneficiou-se muito do primeiro curso de pós-graduação que
' dei na usP, em 1989, no qual discuti a questão dos níveis de cultu­
ra. Acabou sendo um exercício tão rígido, tão escolar que, talvez de
for111a compensatória, me atirou nos braços da longa duração, do
ensaísmo e de tl m certo fascínio temeroso que nunca deixei de ter
pela história francesa mais clássica das mentalidades: os estudos de
Philippe Aries, Robert Maneirou, Jean Delumeau. •

Como muitos críticos - dentro e fora do Brasil -, penso que


esta fo11na de fazer história tem defeitos que podem até ser graves:
é freqüentemente indistinta, retórica, conceitualmente confusa. Mas,
por outro lado, abre espaço à intuição e à sensibilidade, é democrá­
tica na utilização heterogênea e não hierarquizada das fontes, per­
mite ensaios. O capítulo 6, ''Ambigüidade amorosa: de santas a
mulas-sem-cabeça'', é, desta forma, quase um ensaio. Lida livremente
com material iconográfico, sem ignorar certos procedimentos bási­
cos da análise neste campo mas preferindo ver o registro artístico
mais como indício de sensibilidade e de circularidade dos níveis cul­
turais. Adota deliberadamente um arco longo de tempo, trata de gru­
pos sociais distintos e remete a regiões geograficamente muito diver­
sas. a verdade, indaga sobre a possibilidade de um grande universo
imaginário co,num, e sobre a forma histórica de uma relação: a que
existiu entre o lado positivo e o lado negativo do amor e da sensibili-
dade oci9entais.
O capítulo 7 - ''Mentes e corpos: os assaltos do diabo'' -
baseia-se em processos inquisitoriais e em om documento notável
que descobri em 1984 na Biblioteca da Ajuda, mas com o qual não
pude trabalhar na ocasião. Deve muito ainda ao mesmo curso de pós­
graduação já mencionado, quando, sobretudo através da leitura <lo
livro intrigante de John Putnam Demos, Enlertaining Satan, fiquei
alerta para a questão do exorcismo e da possessão corno fenômenos
distintos da feitiçaria, apesar de relacionados a ela. Beneficiou-se
igualmente de discussões com alunos que, sob minha orientação, es­
tudam o problema da medicina e do maravilhoso no mundo colo­
nial, cabendo ressaltar que, não existisse a associação estreita entre
cura e possessão no mundo brasileiro contemporâneo, talvez o fe-­
nõmeno per1oanecesse indecifrável para mim: um pouco da história
regressiva de que falava Marc Bloch. Foi ela que me levou a reconar
dois casos de possessão e exorcismo ,como bastante típicos de dois
universos culturais distintos, mas intercomunicantes: Lisboa no fi­
nal do século xv1r, SaJvador nas primeiras décadas do século xv1JI.

17
Foi ela Q\lC 111c fe7 ver, con, ,l ajl1da (le l1111 tirtigo fl111dn111e1ttnl de

'
Gilberto Vcll,o. ''l11divídl10 e religião 11a ct1lt11r,1 brnsilcirn'', a rctn­
çãc> estreita c11trc si ten1ns cogt1itivos e sistc1nrls de crc11çns.
O ca1>itt1lo 8, ''E111 tor110 de t1rt1 111ito: a elipse d() sal)á'',
aproxin1a.-sc, 111�lis t1n1a vez, dc)S cst,1dos ele nrlo Gi11zburg q\1e {)ro­
curan1 pensar a feitiçaria 11as Slt�1s relações 11cn1 sen1pre óbvias cor11
outros fenôn1e11os: Os a11clarill1<JS do be,11 e HistóricJ 11011,r,1a.
L11SJ)irot1-sc ta111bén1 no li,1do livro. de Francisco Bctl1enco\1rt sobre
a feitiçaria portt1gt1csa qt1i11hcntistn, O i111agi11círio da 111agia. Mas
tcn1 r11uito de pessoal, e dialoga, C·Olt10 • ·o co11j\111to; An16rica dia­
bólic,,'', con1 'Sabás e cal\111dt1s'•. N[1 n1edicla en1 Q\te (1rocura pr·o­
1

var a impossibiliclade de se co1111)rcc11cter o n1ito do sabd sen1 atctltar


{)ara t\S 111orgcns do mt111do em q\le ele ocorre, se1l1 oll1ar para os lt1 ...
gares c111 que é qt1nse ir1significa11te - t1111a eliJ)Se -, fecl1a o \tnivcr­
so ele ,.,ossibilidadcs aberto co111 o p1·in1ciro capítulo. A bruxél tão
tipica111cr1te etiropéia tem t1tt1 pé t\OS ritos ar11erí11dios e nos africa-
11os: 11ão na Stta estrutt1ra mítica, mas no contetido i111agético qt1e
ll1c foj sendo atribt1ído a 1>nrt'ir do séct1lo xv1. Se 11ão pode1nos nos
entc11cler sem olhar i)ara a Europa, a Euro1,a tarnbém não se entende
de forma integral se r\ão oll1ar para a An1érica. Neste capítulo, co­
n10 no J>rimciro do livro, Portt1ga\ e Brasil rormam un1 ,conti,1111J111 1
cor1traditório e artict1lado, capaz ele ger�r especificidades de t1n1 la­
do e do ot1tro do Atlã11tico, 1nas fecu11do sobretudo nas r-ela{·ões que
'e ofcrccc111 no seio do Império colonial. E11saian1.-sc ainda algumas
·onsidcraçõcs sobre o fc11ô1nc110 da feitiçaria c111 Portugal: a cttriosa
J)t)rsistê11cia do n1ito, ot1 aSJJêctos dele, 110 u11ivcrso popular; a i11di..
fercnça a11te ele e11t rc os inqt1isidores, sc111.prc preoctmpados com a he-
resia s11bjacentc ._10 pacto dc1no11iaco, este sitn grancle vedete das in­
qt1iriçõe." do Santo Ofício.
Por fin1, a rápida refl�xão sobre a ''Orgia dos due11des'', de Ber-
11:irclo 011in,arães, corres1,011dc à tentativa de J)ensar o problen1a das
p�r1n,111ê11cic1s e da longa dtt rnção: de q,1e n1nr1Cil'a ur11 n1ito se pe-r­
pett1�1 e se transfor111a, ndquirindo : novos significados'? De qt1e 1na-
11eiru, ai11cla, tai· s 1neta1norfoscs são tribt1t.árias da m11da11ç. a das for�
111as de represe11'tl\Çuo� a br,txa sabática dos processos sangret1tos
habit 111do, trezcr\tos ano depois, o poe111a ron1ãntico'l Por Qtle, ao
lc)ngo elos séc:t1los, a detr,1tão do 01,tr·o, hun1a110 Olt i111�tgi11ário, r�al
ot1 ir1co11'Ciêttl� asst1111e as' corts cr,rregadas e sornbrias do ln ferno
� dl· s�\ts asseclas? As r�sposta podcr11 s�r ta11tas qtte só as induga­
çõc' 1Jcr111a11el'C-111. !\tia" talvez. a 01el11or for111a de concluir seja r11es-
1110 tlCtlgUllt.9 f.

/8
Primeira pa,·te
MACRODEMONOLOGIA
O diabo n.as nzalhas do Antigo Regime

O de111ô11io te,11 perspectivas a1r1pllss;n1as sobre Dez,s, por


isso se n1a11/érn ttlo distante dele: - o demdnio. q11e,r di·
zer, o ,,,ais anrfgo q,-r,igo .do cor1heti111ento.
Friedricl1 Nietzsche, A lé,r1 do .bem e do ,110/

1
1
O CONJUNTO
América diabólica

Dos son las iglesias de este mundo! La una es la catolica


,
la otra es diabolica [ ... ] [Y] co,110 en la iglesia catolica
.hay sacramentos por Cristo [... ] as{ e,z la iglesia diaboli­
ca l1ay excrementos por e/ demonio y por sus ministros
ordenados y sefialados.
Martín de Castafiega, 1534
..
.. .
O SUBSTRATO RELIGIOSO E MARAVILHOSO DA EXPANSÃO

Dtrrante muito tempo, o descobrimento da América foi visto ape­


nas como o grande feito do homem europeu que se tornava irrever­
sivelmente moderno e crescentemente racionalist a . Aprisionando e
control ando pel a primeira ve z o esp aço do globo, esse homem pas­
sava a ser senhor dos m ares e subjugador das culturas estranhas, im­
pondo por toda a p arte seu credo, seus hábitos, su a visão de mundo.,
� desçoberta da América apressaria inclusive a consolidação da mo­
�dema ciência , assentada no que hoje chamamos de paradigma galilai-
co; garantiria a vitória do cálculo m atemático e de uma percepção
ordenada do universo, onde fenômenos até então ine0m,preemsíveis
ou explicados em chave maravilhosa p assavam a ter explicação ra­
cional e ra zoável.
Se considerar1nos o c aso português, veremos qu. e, enquante as
caravel as cruzava.m os mares obedecendo a cálculos precis©s, mu:tt:i­
dões se deliciavam na Corte com os espetáculos de G,il Vicente, 0n­
de se abria espaç; às prátic�s cotidianas do povo comum, eivad�s
de m agismo e de maravilhoso. Os processos quinhentistas da lnqui..
sição atestam como era corriqueiro o rect1rso a filtros e poçees má-

21
gicas, e difundida a crença nos poderes extraordinários do Demô­
nio. Conforn1e ficou registrado por Camões no Canto v de Os
lt1s10.das, os próprios marinheiros que partiam para a Índia, para a
Ct1i11a ou para o Brasil viam com olhos apavorados certos fenôme­
nos naturais como o fogo-de-santelmo ou a tromba marinha, então
já inteligíveis e explicáveis ante olhos eruditos.1
Tensão entre o racional e o maravill1oso, entre o pensamento laico
e o religioso, entre o poder de Deus e o do Diabo, en1bate, enf'im,
entre o Bem e o Mal marcaram desta forma concepções diversas acer­
ca do Novo Mundo. Para os primeiros colonizadores e catequistas
da América, que viveram numa época em que contendas religiosas
dilaceravam a Europa, o recurso a tal embate não era simples retóri­
ca, mas índice de mentalidade onde o plano religioso ocupava lugar
de destaque, mostrandó-se presente nos mais diversos setores da vi­
da cotidiana.
Foi assim que, ao lado da expansão de mercados, os portugue­
ses objetivaram, com as navegações, difundir a fé católica. Na Crô­
nica do descobrimento e conquista da Guiné, em meados do século
xv, Gomes Eanes de Zurara já expressava o missionarismo luso:

A quinta razão [das que moveram o infante aos descobrimentos marí­
timos] foi o grande desejo que h·avia [o infante] de acrescentar em a
santa fé de nosso senhor Jesus Cristo, e trazer a ela todas as aJmas que
se quisessem salvar, conhecendo que todo o mistério da encarnação,
mQrte e paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, foi obrado a este fim,
scilicet. por saJvação das almas perdidas, as quais o dito senhpr que­
ria, por seus trabalhos e despesas, trazer ao verdadeiro caminho.

' João de Barros, nas Décadas, abraçaria a mesma idéia de Zurara:


diz que ''Nosso senhor [o infante] como por sua misericórdia que­
ria abrir as portas de tanta infidelidade e idolatria pera salvação de
tantas mi1 aftnas que o demônio no centro daquelas regiões e pro­
víncias bárbaras tinha cativas, sel!l notícia dos méritos da nossa re­
denção' ', para tanto determinando a João Gonçalves e a Tristão Vaz •

que descessem pela costa africana, explorando-a com espírito entre
comercial e cruzadísticó. 2 Como outro grande herói da nacionali­ l
dade portuguesa, Nuno Álvares Pereira, o infante era cristão fervo- 1

, roso, jejuando quase a metade do ano e fazendo repetidas esmolas. •


1

No contexto espanhol, é bem conhecido o lado místico de Cristóvão


Colombo, que desejava, com o ouro da América, recuperar Jerusa­ 1

iém para a cristandade ocidental. '


Descoberto o Novo Mundo e instaurado o processo de coloni-



22 . •


zação, continuou a se desenrolar o embate entre o Bem e O MaJ.�m
1546, Pero de Góis, o donatário da capitania de São Tomé, escrevia
J ao monarca português queixando-se do estado caótico a que se via
entregue a jovem Colônia: ''tudo nasce da pouca justiça e poi,co te­
mor de Deus e de Vossa Alteza que em algumas partes desta terra
se faz e há, por onde se, de Vossa Alteza não é provida, perder-se-á
todo o Brasil antes de dois anos''. D. João III parece ter sido sensí­
vel também a estes apelos, e três anos depois enviava para a Colônia
Tomé de Sousa, o primeiro governador geral, e mais os primeiros
missionários, todos jesuítas. E esclarecia: ''a principal causa que me
,noveu a mandar povoar as ditas terras do Brasil foi para que a gen­
te dela se convertesse à nossa santa fé católica''. 3 ',

A PRESENÇA DA DEMONOWGIA NA AMÉRICA


E SUA RELAÇÃO COM UMA CIÊNCIA DO OUTRO
- •

A missão catequética fazia parte do contexto de transformação


religiosa que, na Europa, propiciou o surgimento �a religião refor­
mada - o protestantismo - e ainda a profunda-reestruturação que
afetou a Sé romana. Em 1545, tinha início o Concilio de lrento, e
l
a cristianização das populações de ambos os lados do Atlântico
tornou-se um dos pontos de honra do programa tridentino. Antes
mesmo do concílio., porém, os portugueses já se preocupavam com
a conversão dos povos que submetiam - como se viu acima, nos
tempos do infante d. Henrique-, e os espanhóis, no início do sêéu­
lo XVI, enviavam missões para a América Central.
Da mesma forma, desde o século XIV o pensamento erudito eu­
' ropeu via-se às voltas com a ameaça de. coortes demoníaqas, f,0rmu­
lando seus temores num corpo doutrinário que ficou conhecido co­
1 mo demonologia... Fundada por santo Agostinho, que deu estatµtó •

concreto e multiforme ao demônio imaterial do Antigo Testamento,


a demonologia se enriqueceu durante a Idade Média, sendõ marcos
nesta produção o Formicarium, de Nider, e o Mal/eus malleficarum,
\
de Sprenger e Kramer. Nos séculos seguintes surgiriam seus maiores
l
1
expoentes: a Démonomanie des sorciers (1580), de Jean Bodin; a Dae­
monologie (1597), de Jaime vr Stuart, depois Jaime I da lngl�ter�
o 1àbleau de /'ineonstance des mauvais anges et des démons (1612),
do juiz Pierre de Lancre.
Com a descoberta da AméJ\Ca, a demonologia parece ter sido-.
a ciência teológica mais bem repartida entre conquistadores e aoloni-
-
- 23·



�--........

un do , do s cr on is ta s e es pe ci al is ta s co m o os m is -
z. ador�....s do Novo M re ga , A nc h ·1e ta , f re i· y ·
1c nt e
em ge ra l - N ób �
sionários e eclesiásticos - ao ct1 d a­
sta, Sa l1a gt ín , O lm os , L as C as as at 1to
do Salvador, /\co a 1u e, ra
ie za de Le ó n. Tu i fa to se ex p lic po rc. pa
tas como o soldado C er n
fin al da ld ad e M éd ia e in íc io da É po ca M od a,
05 europeus do
do s es pa ço s tr az ia co ns ig o su a cr is tia ni za ç ão e or ­
O devassamento
se gu nd o pa dr õe s cL1 ltu ra is ún ic os e l1e ge m ôn ic os , eu ro pe u s,
denação
in sl ãn cia . A ev an ge liz aç ão cJa Eu ra pa ex pu lsa ra o dc n1ô ­ I
en1 última
nio 1 , ara ter ras dis ta1 1te s, da m esm a for 111 a co m o a i ' n ten sif íca çâí o do
conta to en tre Or ien te e Oc idc nt ,e l1a via pr ov oc ad o a mi gra .ç ão da s
t1un1a nid ad es mo nst rt1o sas e fan tás tic as pa ra a f nd ia, a Eti óp ia, a
Escandinávia e, por fím, para a América.
A den1onologia é hoje vista corno u n1 campo complexo do co­
nhecimento, relacionada com o surgimento do mo der no pensamen­
to científico, voltada para a investigação acerca da causa dos fenô­ 1
me11os.4 Bodin e Jai1ne Stuart foram tan1bém teóricos importantes
do absolutism o monárquico, o que sem dúvida sugere v·inculos en­
tre a demonologia e a centralização polft1ca na Europa, con firn1an­
do runda a hipótese de Trevor-Roper acerca da ambigüidade do sé.1
culo xv1 - corroborada, aliás } por certos estudos sobre a natureza
'
• do Estado absolutista.5
Na península Ibérica, o alcance da demonologia não foi tão con­
siderável quanto na Europa do Norte. Mes1110 assim, na Espanl1a
- onde os tratados co11tra supe,·stições são a expressão local do fe­
nômeno-, as publicações no gênero ocorreram com especial intcnª
sidade entre 1510 e 1618: seis títulos no século xv1, quatro no sécu­
.. lo xv11. Entretanto. tomando-se a demonologia como 1 forn1a de ,.
conhecim.ento mais an1pla, aumenta o número das obràs que ver­
sam S·obre o assunto, alinhando-se entre os demonólogos autores co­
m_o Pedro de"Valencia, Afonso de Salazar Frias Francisco de Vitó­ 1
ria, An�rés Laguna, M artín de Azpilcueta Na�arro. 6 O ton1 ger al
dos �scr1 tos era �1�ti-supersticioso, procurando diferenciar o que per­
tencia aos dom1!1!ºs da Religião e ela Magia, de Det1s e do Diab
o, '
passando; a seguir, a condenar a superst1' l'!â o - 'd .1ca d a, pe·1 a
\
· � en t. f
ma1o.n· a dos autores, antes com o qtme se opu
1 1
. · nha· à 'd t eo1 og1a . d a 'rgre-
ja do q �e com o .ir raci.onal propriamente dito
d

. , : ''num mund0 em que •


as barreiras entre Magia, Reli. g1·-ao e mesm
o Ciência mal estavam traça-
das ' não era fác'1l esc 1arecer o que · te
per nei,· aª urna e a' outra esfera} '. 7
. Para Portugal ' não h'á 0<UJl :"d. a estudos que inforn
r tual produção dem . , -
ie . m so bre uma even-
1 .
. onológtca mai s específtca; no entanto, eleme .
ntos
-
24
\
---�

de demonologia acl1avam-se presc11tes em jnúmeros escritos qui11J1en­


tisca s e seiscen tistas, como se procurará mostrar neste trabalho.
A den1onologia surge, assim, como muito mais do que u1n con­
jtir1to de tratados referer1tes à perscguiçã10 de, bruxas. e se espraia por
outras obras além dos manuais de feitiçaria, sendo possível detectar
LtJna demonologia em sermões católicos, nos textos de pregação pro­
testante, enfim1 em tocla a proclução epistolar e tratadística voltada
para a descrição da natureza do continente americano e dos hábitos
e costt1mes de seus habitantes. N'este sentido, parece-1ne qt1e a de­
monologia deve ser compreendida nos quadros do que Certeau no­
n1eou · de he'lerologia, e em conexão com os textos de viagen1 qui­
nl1entistas que fundaram o olhar antropológico - textos que revelam
uma observação assombrada pelo seu Outro, o imagináJ�io e que se
constituíram no objeto de ''uma 'cultura' assombrada pela sua exte­
rioridade 'selvagem' 8 Na análise de outra estudiosa da literatura
11•

de viagens, elas se delineavan1 como ''conquista do espaço da alteri­


dade, como recuperação de 1nirabilia perdidas' '.9
Se a visão ocupava papel primordial na hierarquia renasccr1tis­
ta dos sentidos, se o próprio conhecimento moderno se definiria pe­
lo ato de possuir o outro por meio da visão, enfim, se viajar signifi­
cava reconhecer ocularmente o Outro, cabe lembrar Merleau-Por1ty
quando afirma que a visão nos cativa não apenas por ser uma jor­
nada em direção às coisas -externas, mas também por signifjcar vol­
ta a uma realidade de origem, representada nos objetos percebidos
à distância. Na viagem, o viajante inventaria e descobre paulatina­
mente o seu lugar de origem, o lugar de onde procede, e estabelece
uma relação especial com a viagen1: ''viajar é enxergar (ver), mas
enxergar. (ver} já é viajar�'. 1 º
Relacionando-se, por um lado, com a investigação científica, ,a
dem1onologia se relacionaria, igualmente, com esta cinncia do oi,rro
que Certeau não teve te.mpo, de aprofundar mas que delineou sob•
a designação de heterologia. 11 Na Europa, bruxo·s e bruxas consti-
tuíram esse outro que a cultura opunha a seus padrões, identificando­
os, para alguns, com a anti-sociedade, ou com o estadG de nàt'ure­
za.12 Na demonologia de que se trata aqui - referida à altericlade
americana -,. a relação heterológica se verifiGaria sobretudo pela ne­
gação: nomeava-se e se classificava o Outro ameaçador �om os ele­
mentos negatjv·os e detratores por excelência disponíveis ne âmbito
da cultura dos conquistadores e colonizadores da An1érica. Se a des­
coberta de novos mundos pôde revigorar QS símbolos do maravilho­
so, foi capaz também de fortalecer a demonol0gia européia. Mundo

25

1nq u1etante, capaz de seduzir e aterrorizar ao mesn10 ten1po - diz

Giulia Lanciani -, o ultramar atlâr1tico provocava vertigens no eu­


ropeu do século xvt, impelindo-o a b\1scar referências ern contex­
tos tranqüilizadores, ''concretos Otl n1e11tais - pot1co in1porta' '.
Recuperam-se então mitos familiares e tl\Uitas vezes antigos, que, ''en­
xertados em h11n1us diverso'', ajuda1t1 a compreender os enigmas do
rnt1ndo, ''transformando-se em instrt1rne11tos de conhecimer1to den­
tro de un1 l1orizonte de signi ficaçào' '. 13
Neste sentido, acredito ter a den1onologia se desdobrado tanto
na cartas jesuíticas brasileiras como nos escritos de um Acosta ou
de t1n1 Diego de Lar1da, alimentando-se das narrativas de viagen1 ame­
rica11as para consolidar st1a perspccti,,,1 heterológica da feitiçaria e
práticas n1t\gicas. Caça às bruxé1s, manttais demonológicos - por
um lado - e extirpação das idolatrias, catequese, literatt1ra moral
sobre as Américas - por outro - serão aqt1i vistos, portanto, como
a dt1as faces do que Certeau cl1an1ou de l1eterologia. 14

�4 APROX/AIIAÇÃO COM O MODELO SABÁTICO



Foi sobretl1do na caça às bruxas que se treinou o ollzar de1no-
110/ógico sobre a /<l111érica. 15 Mt1ito curioso é o caso de Andrés de
Oln1os, autor de urn Tratado de las antig11edades n1exicanas, do qual
se e nhe cm ape11as fragmentos. 16 Antes de partir para a Nova Es­
par1l1a, Olmos traball1ara com Zun1árraga na repressão aos bruxos
e bruxn� de Biscaia, e, segur1do Me,1dieta, tal ação parece ter agido
1·avoraveln1ente no sentido de levar Carlos v a designar ambos para
o t1ltramar - onde, en11528, Zumárraga se tornaria o primeiro bis­
po do M�xico. Na verdade, como observa Pierre Ragon, a distância
entre uma bru ·a base� e un1 índio idólatra podia passar por muito
peq\1er1a para u1n espanhol do século xvr. 17 Olmos afirma: •'há nes� 1
te mu11do duas congregações: u1na é muito boa, a outra mt1ito ruim.
A que é muito boa se chama igreja católica, a que é ruim se chama
igreja diabólica >. Sua afirn1açâo é muito semelhante à de fray Mar­
tín de Castaiiega, para quem haveria dttas igrejas, uma católica e a
outra diabólica, esta se voltando para excrementos enquanto a pri­ 1
meira se voltava para os sacramentos. 18 Castafiega trabalhara no
Paf Basco na mesma época em que Zt1márraga e Olmos, e suas te-
es seduziram este último a ponto de fazê-lo adaptar em náuatle os
onze primeiros capftulos do seu Tratado m11y sotil y bien Jt1ndado
de los 11perstitiones }1 hecl1icerias... , que se editara em Logrono no

26
ano de 1529. Desta forn1a, Olmo aplicava aos idólatras do Novo
Mundo o discurso de Castaõega sobre os desviantes bascos, rcutifi..
zar1 do as contribt1ições da demonologia em suas próprias investiga­
ções sobre a civilização asteca.
A atestar a difusão da demonologia pelos diferentes meios so­
ciais l1á as opi11iões do jurista Juan Polo de Odegardo, qt1e, ao des­
crever práticas religiosas andinas em Los errares y si1per.�titiones de
los índios, incorpora elementos da feitiçaria européia: bruxas tan1-
bén1 cruzariam os ares dos Andes, falariam com o diabo, saberiam
de coisas impossíveis de se saber por meios naturais. 19 Há ainda a
descrição dos ritos tupinambás feita por um protestante, Jean de Léry,
que, no conflito dos sentimentos contraditórios nele suscitados pe­
las dat1ças, as defumações e os volteios dos caraíbas, confessou na
Histoire d'un voyage faict dans la !erre du Brésil que, ''se no início
deste sabá'' se mostrara temeroso, acabara recompensado pela har­
1 monia dos acordes, pelo impacto da música, pela cadência dos re­
frões que o encantaram. 20
Procedendo de lugares diferentes, abraçando credos diversos, re­
fletindo sobre contextos culturalmente distintos, Polo de Odegardo
' e Léry tiveram que recorrer a imagens que lhes eram familiares -
a bruxa voadora, o sabá das feiticeiras - para' poderem entender,
de forma analógica, o que tinham sob os olhosfiA familiaridade das
populações mexicanas com o uso de substâncias alucinógenas susci­
tou, por exemplo, aproximações com a feitiçaria sabática. Ao des­
crever a confecção de um ungüento alucinógeno à base de insetos
amassados, tabaco e alcalóides, Durán conjecturou que deveria ser
sen1elhante ao utilizado pelas bruxas européias em seus vôos. 21 Mas
nem sempre a demonologia se manifestou na forma sabática, e nem
sempre se explicitaram as comparações com as bruxas que, na Euro­
pa, ardiam em fogueiras ou pendiam, aos milhares, de forcas. Do
corpo doutrinário dos demonólogos, os preto-etnógrafos da Amé­
rica retiraram freqüentemente apenas um quadro explicativo mais ge­
ral, conseguindo, no interior dele, conservar bastante liberdade de
espírito. Na verdade, o Novo Mundo funcionava como poderoso ins­
pirador das elucubrações demonológicas: se na Europa os poderes
1 repressores perseguiam superstições e rnaleficia que não chegavam
a recobrir verdadeiras crenças religiosas l1eterodoxas, em terras ame­
ricanas tinha.m que liquidar a herança de oma Igreja pagã, consubs­
tanciada em crenças efetivas. 22
Sem aludir ao vôo noturno ou ao sabá, muitos dos cronistas
e eclesiásticos que descr:everam as práticas mágico-religiosas ameri-

27
\
can35 fi:e:am-no u1iiizando a te1111inologia que cqnheciam e empre-
-211,11m par-a doignar o_ ag ntes satânicos por excelência. Sacerdotes
maias� ;nca5 ou aste:a-. x-amã&. caraíbas e pajés tupis, enfim codos I

0� �ns.a.,eis pelo espa;o �agrado foram quase sempre chamados


de roxo.. e iehiceiro - termo aliás empregado por muitos até os
dias de hoje. mas que se cunhou no Quinhentos, no rastro da demo­ •

noloc · a e da caça às bruxas européia.


�a Informa
• ção da Terra do Brasil, escrica em 1549, Nóbrega des-
• •

cre'\e o co.srumcs religiosos dos índios chamando-os de feitiçaria,


mais particula1111ente no que diz respeito ao xamanismo tupi: ''De
ceno� em cenos anos \'ê1n uns feiticeiros de mui longes terras, fin­
gindo trazer santidade e ao tempo da sua vinda lhes mandam lim­
par os caminhos e ,,ão recebê-los com danças e festas, segundo seu
costume� e antes que cheguem ao lugar, andam as mulheres de duas

em dua_ pelas casas. dizendo publicamente as faJtas que fizeram a
seus maridos umas às outras e pedindo perdão delas''. Aqui, já ha­
\eria, talvez, uma ênfase em caracteres negativos do comportamen­
co feminjno: a inconstância e a lascívia que as aproximariam ainda •

mais das bruxas européias. Uma vez chegando ao lugar. prossegue


1 'óbrega, o feiticeiro é recebido com muita festa, entra em casa es­ - -
\ cura. começa a pregação milenarista junto à cabaça, prometendo pro­
fusão de alimentos, vida longa, juventude para as velhas. E, a se­ , .
guir, dá-se a possessão:
Acabando de falar o feiticeiro, come�m a tremer, prir1cipaln1ente as
mulheres. com grandes tremores en1 seu corpo, que parecem demoni­
.. n hada.s (como de certo o são), deitando-se em terra. e csctJmando pe­
las bocas, e nisto lhes persuade o feiticeiro que então lhes entra a san­

tidade; e a <iuero isto não faz tem-lho a mal. Depois lhe oferecem muitas
coisas e em as enfermidades dos Gentios usan1 também estes feiticei ..
ros de 111uito� enganos e feitjçarias. 23

O capuchinho Yves d'Evreux foi outro curoJJeu pródigo cm alu­


sões aos feiticeiros tupis, com os quais os diabos mantinham comu­
- nicação constante, fosse por intermédio de demônios familiares em
forma animal - morcegos, pássaros negros -. fosse po r meio de
uma voz saída das entranhas da terr:a, de dc;ntro de um buraco co­ l
mo a feiticeira cle Endor que falai:a a Saul. 24 Os ritu
ais dos s�ce r­
dote� com erva , Evreux denominou ..Qs ''cerimônia sa
� s tâ11icas'' co­
ohecid s Jor intermédio do Maligno. p
� o.is 'cayant tot1jours été
enfermes daos- cette gi::ande et vaste pri
son du Brésil, sans aucune

28

1,

communication avcc le vicux 1nondc, ils ne pouvaienl J'avoir appri'>e


d 'aucune autre n'ation' '. 2.S•
lVlesmo sem aludir ao sabá, era ele que, com certeza, subjazia
como paradigma en1 várias das descrições etnodcmonológjcas. Ain­
da no século XVI, o jesuíta Azpilcueta Navarro retratava o abá, mas
enunciava o inferno: ''Vi seis o siete viejas que apenas podían tencr
en pie dançando por el deredor de panella y atizando la oguera que
parecían dernonios en el infierno' '. 26 No Peru seiscentista, outra des­
crição, agora contida num documento inquisitorial, inspira-se no sabá
e nas práticas co11entemente creditadas às brt1xas européias, mas não
os menclona:
Tten, que muchas personas, especialmente mugeres fáciles y dadas a
supersúciones, coa mas grave ofensa de nuestro Sefior, no dudan de
dar. o cierta manera de adoracion aJ Demonio. para fin de saber de
• las cosas que desean, ofreciéndole cierta manera de sacrificio, encendien­
do candeias y quemando incienso y otros olores y perfumes, y usando
de ciertas unciones e.n sus cuerpos, le invocam y adoran con nombre
de ángel de luz, y esperan de las respuestas o imágenes y representacio­
nes aparentes de lo que pretenden, para lo qual, las dichas mugeres.
otras veces se salen a1 campo de dia y a desoras de la noche, y tomam
• cienas bevidas de yervas y raíces 1 llamadas el achuma y el cbamico,
y la coca, con que se enagenan y entorpecen los sentidos, y las ilusio­
• nes y representaciones fantásticas que alli tienen, juzgan y publican des­
pues por revelacion. o noticia cierta de Lo que a de suceder.
Apesar de não constituírem pacto explicito, tais procedimentos -
ao lado de outros, como a astrologia - denotavam a intromissão
oculta do Demônio nos atos humanos, ''aprovechándose de su fra­
• gilidad y poca fi11neza en la Fé ...''. 27

A ENORME IMPORTÂNCIA DO DIABO


E CERTOS ASPECTOS ESTRUTURAIS DA DEMONOLOGIA

Mas a grande vedete da demonologia americana é o diabo: é


ele que torna a natureza selvagem e indomável, é ele que confere os
atributos da estranheza e da indecifrabilidade aos hábitos cotidia­
,,
nos dos ameríndios, é ele sobretudo que faz das práticas religiosas
dos autóctones idolatrias terríveis e ameaçadoras, legitim,ando as­
sim a extirpação pela força.
(*) '"tendo sem_pre permanecido encerrados nessa grande e vasta prisão do Bra­
sil, sem nenhuma comunicação com o velho mundo, eles não as poderiam ter apren­
dido com nenhuma outra na�o:•

29
'\'''' � ('r1stianização mais llon1og0n<.·:1 do clll1..1 t'011tirtc1\tc, �t1 ...
tl\l fici,u dito acin1a J o dial)o e rnt1dar.l pan\ o NL1,·(,. 1\ lcstt\L) Ct\l
u111 L�1 · Ca as, qt1e na Apologetica l1isroric<1, tic 1559, ,,it, tiuiqiii lt1-
dc na ilu ão demoníaca - cop. iderar,do-�,. difert'ntc111e1\tc dt' t.1u­
tro einodcmonóJogos, con10 bem repartida e11trt os lli,r�t'S()S J1l)\'O
do m,1ndo -, exr)licitava-se a associação cr1tre tl coorte i11r�rt\t\l e
a A1nérica. Para cá teriam os den1ônios voado cn1 e,mttdt• · Qt1u11ri­
dades por ocasião do advento da cruz deixando ptlrn tr�is as t-cgiõcs
n1editerrânicas. E aqui continuaria a luta cruzadí"t ica. Dcscrevcnclo
a ele trt1ição da pirâmide de Pachacamac que, perto cic.; ir11a, fortl
levada a cabo em janeiro de 1533 por Ferr1a11do Pizarro e un1 ba11do
de e pat1hóis sequiosos de tesouros, Miguel de Estete retrata, na Re­
/ación de la co,1quista dei Peru, o triun·fo final do Sa11to Le11l10: após
tudo de truído, os espanhóis ergueram a cr11z no 111csn10 local er11
que, por tantos anos, o diabo reinara. 28
'
Em outras plagas, o embate não teria tido igual s11cesso. João
de Barros foi, com forte evidência, o fundador de curiosa tradição,
perpetuada por autores posteriores, em que a luta entre Det1s e o Dia­
bo aparece identificada ao surgimen.to da colônja luso-brasileira. e
direcan1ente associada à crucifixão. Chegando pela prin1eira vez ao
Brasil. dera-lhe Cabral o nome de Terra de Santa Cruz, em homena­
gen1 ao Lenho Sagrado. A necessidade de non1ear a nova terra se
colocou para Cabral quando partia para a Índia, a 3 de maio: ma11-
dou. então, i'arvorar uma crl1Z mui grande no mais alto lugar de u'a
árvore e ao pé dela se disse missa. A qual foi posta con1 solenidade
de bênçãos dos sacerdotes: dando este nome à terra, Santa Cruz''.
O Santo Lenho inscrevia o sacrifício de Cristo na gênese da nova
terra que ficava toda ela dedicada a Deus, havendo grande esperan­
ça na conversão dos gentios.
Per o qual nome Santa Cruz foi aquela terra nomeada os primeiros
anos: e a cruz arvorada alguns durou naquele lugar. Porém como o
demônio per o final da cruz perdeu o domínio que tinha sobre nós, 1
mediante a paixão de Cristo Jesus consumada nela: tanto que daquela
terra começou de vir o pau vermelho chamado brasil, trabalhou que
este nome ficasse na boca do povo, e que se perdesse o de Santa Cruz.
Como que importava mais o nome de um pau que tinge panos: que
daquele pau que deu tintura a todos os sacramentos per que somos
r
salvos, per o sangue de Cisto Jesus que nele foi derramado.
João de Barros, numa enigmática condenaçãG do culto à atividade
comercial, clamava contra e triunfo de princípies seculares sobre os

30
�........
:2.-...
a!!lllllm_._._....
2•1�-----------ª--..,.......-;-::-"�-c-=-=

rcliftiOSl)S, Ct)n1u �1 t·orrigir (l rt1t110 ton1nd<.l pela C.'<par1sáo lt1sitnnt1:


·�t· 1 oi· c,11 O\llrn cot1 ·o 11�sftl parte 1t1c não 1,0 o vir1gar do d '111<>-
11io, acln,t1cstu ua parte da crtiz cJc ri. to Je tts a todos que este: lu­
gar lcrt.'tt1, que dê111 u csttl terra o non1e que com ta11ta olcn·idade
ll1e foi J)O to. sol) l)C11.1 de a n1cs,11a cruz q LlC r1os l1á de ser mostrada
110 tiia fit1Al 1 os acu ·rtr de ,nnis de,,otos do pn\1 brasil que dela''. E
fi11a liza, 1n, cclcbrn11do o pro,�idencialis1110 da CXJ)ansão: 'E por l1onra
1

de tão gra11dc terra cl1a111c111os-ll1c provinci,1, e diga111os a Província


de Santa Cruz, que soa n1clhor et1trc prudentes qt1e brasil, posto per
vulgo sen1 consideração e 11ão habilitado pera dar nome à proprie­
dades da real coroa''. 29
A forçt1 de tradição assu1t1ida pelas idéias do autor das Déca­
das sugere co1110 era acentuada, r1a n1entalidade quinhentista e seis­
centista, a presença da explicação de cut\ho religioso para o desco­
brimento e a denoniinação da colô11ia brasileira, mostrando o outro
lado da aventura marítima portuguesa. Escrevendo alguns a11os de­
pois, Pero de Magalhães Gândavo, para alguns ''pai fundador'' da
historiografia brasileira, 30 mostrava-se igualmente inconfor1nado
• com o non1e que vigorava na designação da Colônia - Brasil -,
acreditando não haver razão para negar à nova terra o nome origi­
nal, nem para esquecê-lo ''tão indevidamente por outro qi,e lhe dez,
o vzJ/go mal considerado, depois qt1e o pau da tinta começou de vir
,
a estes Reinos [ ...]' . A solt1ção proposta pelo cronista para magoar
''ao Demônio, que tanto trabalhou e trabalha por exting\1ir a me­
mória da Santa Cruz e desterrá-la dos corações dos homens, mediante
a qual son1os redemidos e livrados do poder de sua tirania'', era res­
tituir à terra o nome antigo, chamando-a Provr'ncia de Santa Cruz.
Aos ouvidos cristãos, finalizava, era melhor som o nome ''de um
pau em que se obrou o mistério de nossa redenção que o doutro,
que 11ão serve de mais que de tingir panos ou cousas semelhantes''.31
No início do século seguinte, frei Vicente do Salvador desenvol­
veria argumentação análoga à de João de Barros e Gândavo, inspi­
rada, sem dúvida, na dos seus antecessores quinhentistas, e como
que sintetizando-as:
O dia que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levantou a cruz [...] era
a 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz em que Cris­
to Nosso Redentor morreu por nós, e por esta causa pôs nome à terra
que havia descoberto de Santa Cruz e por este nome foi conhecida mui­
tos anos. Porém, como o demônio com o sinal da cruz perdeu todo
o domínio que tinha sobre os hemens, receando perder também o muito
que tinha sobre em 0s desta terra, trabalhou que se esquecesse o pri-

31
:r�iro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim cha­
illaáo de cor abrasada e vermell1a com que tingem panos, qure O da­
quele di,ino pau, que deu tinta e virtude a todos os sacramentos da
Igreja [ ... }32
As explicações de João de Barros, Gândavo e frei Vicente sãot
na verdade, uma só, girando em torno da identificação entre o sur-
gimento da colônia luso-brasileira e a luta eterna entre Deus e o Dia­
bo. Fato ímpar entre tantas terras coloniais, o Brasil seria a única
a trazer ral tensão inscrita no próprio nome, que lembrava para sem­
pre as chamas vermelhas do reino do inferno. Em períodos poste­
riores ao Qtte aqui se estuda , a idéia do embate entre Bem e Mal co­
mo fundador da própria identidade ''brasileira'' continuou a ter
força; em 1727 e em 1728, Sebastião da Rocha Pita e Nuno Marques
Pereira, respectivamente, abraçariam a tradição inaugurada por João
de Barros: sob a diversidade dos contextos, portanto, persistiam pro­
fundos traços mentais.33
O enraizamento dessa tradição ajuda a compreender melhor a
leitura que os jesuítas catequizadores fariam da natureza brasileira,
assolada sem trégua pela presença demoníaca, ou endemoninhada
ela mesma. Afinal, fora-a malfadada árvore de pau verme, lho que
roubara o nome santificado, atestando a insubordinação de um m·un­
do natural muitas vezes caótico, desordenado e contraditório como
� o próprio demônio. Esfe habitava as terras brasileiras, perturbando,
por exemplo, a serenidade das águas fluviais: em viagem missioná­
ria pelo interior, o padre Jerônimo Rodrigues deparou com um rio
''tão perturbado, que parecia andarem ali visivelmente os demônios,
que ali fer viam em pulos para o céu, que punha espanto''. 3�ata­
nás encarnava-se ainda em baleias, desencadeava tempestades que
comprometiam as missas campais dos missionários, convocava le­
giões de moscas que atordoavam os sacerdotes no ofício religioso,
enfim, fazia com que fosse permanente na Colônia portuguesa o es­
tado de guerra entre as forças do Bem e do Mal: ''neste lugar tive­
mos muitos combates do demônio, e ainda agora temos'', escrevia
a Roma o padre Pero Correia. 35
O teatro de José de Anchieta pôs em cena esta visão cruzadísti­
ca, associando ao demônio os traços da cultura amerínrua e a Deus
os da cristandade ocidental. Neste sentido, cabe destacar, entre s1,Jas
peças, Na festa de São Lourenço e Na Vila de Vitória, escrita.s pro­
vavelmente entre 15.83 e 1586, e ainda Na aldeia de Guarapa-Pim. Nes­
tas peças , entretant0, a demonização do indígena assumiu também

32
coloração n1rus csrJecífica. Na aldeia ele Gua1·apari1r1, por c.xcn1pJo,
demônios com complicados non1es indígenas rcúncn1-sc cm conci­
liábulos - o concílio do Mal, expressão do impulso demoníaco à
revolta política. Na festa de São Lou,·e,zço, enuncja-se mais uma vez
a identificação do índio ao den1ônio pela n1ediação da revolta polí­
tica�uaixará e Ajrnberê. chefes tamoios que haviam lutado em
1566-7', apoiando o invasor francês contra os portugt1eses e os jesuí­
tas, aparecem como demônios de destaqt1e, dotados de vários auxi­
liares, diabos menores de nomes jndígenas. Ardendo por toda parte,
assumindo, segundo Alfredo Bosi, papel central em Nl1 }esta de São
• Lo1-1re,1r:o, o fogo, simultaneamente infernal e divino. J6
No México, a atestar mais unia vez a difusão geográfica e so­
cial da etnodemonologia das Américas, um leigo como Alonso de
Zorita se ressenlia, na 1-/istoria ele la Nueva Espana, da presença fí­
sica do diabo na natureza, cada vulcão sendo, na realidade, uma bo­
ca do infemo. 37 No Peru, os primeiros missionários act1saram a
atuação dos demônios no dese11cadear de vendavais terríveis, que ti­
nham por objetivo impedir a evangelização dos povos andinos. 38
Vendo a razão natural dos índios embotada pelo demônio -
como Martín de la Coruiia - ou lamentando o abandono dos ame­
ricanos às hostes de Satã - como Sa11agún -, os missionários e cro­
nistas dos primeiros tempos da colonização tinl1am a convicção de
enfrentar, no Novo M11ndo, um velho inimigo. 39 Por um lado, tal
certeza foi o n1ais poderoso
, obstáculo à con1preensão em profundi-
clade das sociedades indígenas. Por outro, mostrou que o desencan-
tamento subseq(iente à euforia do primeiro contato - comum tanto
ao México quanto ao Perit e ao Brasil, e aqui muito bem representa­
do na transição presente nos escritos de Manuel da Nóbrega ou de
José de Anchieta - ancorou-se na própria linguagem demonológi­
ca.40 Nesta, como viu Ragon, imperou um raciocfnio explicativo as�
sentado nos princípios de i11versão e de desorderr1, e dominou uma
linguagem dos contrários, conforme a análise brilhante de Stuart
Clark. 41
O recurso à inve,·são permitia dar conta de múltiplos falos cul­
tura i, s concretos análogos às realidades européias mas opostos a ela
devido à ação do Diabo no senticlo de parodiar as honras prestadas
a Deus. N·o México, por exemplo, os missionários recorreram com
freqüência à inversão, as práticas religiosas do autóctones sendo
caracterizadas por oposição às católicas, numa perspectiva delibe­
radamente maniqueísta. O princípio da desordem n1ostrou- e parti­
cularmente fecundo para e etnodemonólogo do século xv1, pos i-

33
bilitand<> invc11t,\rios cxnt1, tivos ele l1ábit<)S e cc>slt1mcs clc>s crtiais ia ,
�ra 11ccc�. ,\rio cor111Jrcc11tler os sig11ifica(los 11c111 forr1cccr cxplicaç;��
11c1vcm1clo, nssir11, tnElior lil)crcluclc l>ílr� ns clescriçõcs. No Ji111ite, 1�1
atiLt1dc rcst1lf<)t1 nun1 tolal dcscncoraJ,1111cnt.o ét11tc o ir1coniprecr,sí- f
vcl, e r1,, i1111tiliclttdc cl·1 co1111,rccnsão. O cro11ista clort1inica110 Diego
Dl1rá1t, 1>or cxe111111o, dcsc11cc)rajttclo ,111tc t1111 co11J1cci111e11to i 11 c0111 ..
1>lc10 do nf'tt1t11lc, ílCéllJa rcjcitn11do a. fórnttll,\s sagrnclas dos 11n 11 as
c:c)1110 vnzi[lS (lc sigr1i ficados, tlt1 n1cs111i1 for,nft c;o,no. na Et1ro 1Ja, se
rl!jcianvn1•1 os ,�r·ilJcJ1,i!lis elos feiticeiros: ''q�tc cl dcn16r1io qt-1e seles
ertscíló solo lcs c11lic11clc' •• ,2
1

J. A clcsorcJc111 <lcrno11fr1ca está prcsc11tc, por exc,111,lo, r1as clos(;ri­


\'ÕCs fci1r1s fJClc)S jcstrftas l.,t1fs clr, Grtt e li'cr11ilo C,1rdin1 cios hál,itos
(jtte c11volvian1 �1 :1liJnc11tAçào e íl 11,or'"tclia entre os I Uf)ÍS do Brasil:
''nc,11 sei t)\1tr,1 r11cll1or lrnça cio inferno qtac ver ltr11a r11t1l.ticliio dc­
lt.:s, <1t1nr1clo l)cl,c11l ', cscrcvjn o prin1ciro ti snnto lr1ácio de l..oyoJa.
1

(,0,110 o llovo cio infcr110 1 os ·fr1dios vivinc11 jt1J1lo no fogo de dia e


(lc 11oi1c: ''1,ol'q11c o fogo é �11a rc,11,)a, c.t!lcs são r1111i coitttcJos sorn
fo�o f ... J e 1c>dEt n c asa :.1rcJc ci11 fogc>s '', co11sidcruvrt 'ilrclim no seu
•/r(I /(t(/().�' (Í(I /(1f/'{( l' f!.()llf(1 (/() fll'(/,<;Í/. ti.) \

/\ lirlgt1,1p;c1l1 cio� co11trt\rios, J')c,r fl111, scrit1 r>ossivcl111cntc <> clc-


1l1c11t<.> 111i1is ift'l,l)<.lrl11111.c da clc111<)11olc,gil1, clr, c.lc ligação c11lrt! cl,1. <;
t<)(IO lllll tltliVCl'S() ll)Cttlnl Cf\l'flctorísl iC() (1() ll\llflllO Jll()Clcrrl(), f)J'CSCO·
ft trt11I<> 110 tt.:ulr(> clisr1l,cl[111<)
: ele Sl1t1kcs1,enrc e l1on .rof1r1s(>tl ltt1ft11tc>
ntts ,·c,11c;c11ç �:,; rcvc)l11cionórins ele L1111 n1tindo à� r:,vcssns, (lo lJr11 l'i1(s
ele ('<><.;u11l1ti. 11n r>rât leu clcb<,cl1t1,IA ,lo cl1,,1·i vt·1 1 l 1 11,1 c;urnnvalizitçüo
f)l'Ôf)r'i�11) t.;tlllttrfl J)<.)J)�lltlt'; <.111:tf\(() llC)S SGl'lll{�CS e; l)t'C�}l(JÕC� ar11ct)Çll·
cl()l'(lS cl C l:ll tól i l,;()S C 111'01 CR l ttll lCN; (11 lfl 11t O, lli Jl cl ll, 11 ns C(} ,,i OSE1$ (IOS 11

cri�<>C.::-i cl<,s 1lllsRio11óri (>��cl11ót\rl1 rc,s l! ,t!c>s (Jc;r11t1is t;l'Oriísl os clttS Ar11ô­
. ru,11 clH.s J)rnll(.;flfi r1;ligl,>RttN 111t1�r{11cllt,s
rl<:.:t1s <1t1c t,,,.,tu Q\)rtl1ooicltt�,
r tt, r11 t111tlt, 1 J ls1,l1l 1<, .. 11 J 11crl co JJc) 1 J)()t' ltl<>lt1 t,.,,,_.�. i1�1

/JJ:.'N/()N( )/,,()C,'l11 lf // )()J.. 11.1 '1< l11


'
� .f()Nl- Act)�ltt, 111isto1il)ltl\J'l(> jt.•8tlÍ(lt lflJC tlltl<-)ll lll\ Atl)Óri i..: ,·t j,i 11()
fi11ttl (fc, �óc•\tlc> XVI, ilt11i(l'tt 1111,�tlst r•il11.1u11tl! ,, tur1cl 110111 c:rtl tlc111ot1i­
�•1r l1S 1,1•iíllt�1,s l'c li,iit>NflS (1(,) NoV() MtlllUt , rtis lllP,\IIIS dos lft\,rc, (IJt
. J s S
Jlll l'I <.'S (lu .s1•t1 I ft1\'(()1•/11 lltl(tlrtt/ ,j> li f <Jrtt/ cJ, 1 /(I�\' /11rlf<1l,·• J.1Í vrc, V, Cíl J).
·r: • 'l)t· 1,.•ó1l1r, l�I tlctll<l11lo 1,,, J1l'<lctmria,lo tts�11,oj,lrsc il JJios o ,, oi r11t>·
,
,ltl çlc.· H4l('I it'f(..'l(l�. rcligi��JI Y SU\irHr11ct11()S' '; (.'tlf). XV: ,. l)c ltlS lllOJlt:tS­
torlc)t. cl� <l<>11d ·JlltN <.ttlé l11vc11fl\ l1l tlc.:111�c1lt) pt1r,, s,1 �o,·vlcio�': t.:t, 1.
1

,

1110 11,t stc rio s de rcligi ()s os qL1 e tie r1c el dc n1o nio pa ra
xvi: ,tDc los
JJc rst ici 611 ''; ca 1:>. xv 11: ''D e las pc 11ite11cias y asp ere za s QLtC l1ar1
sli SLI
ios po r pe rsu t1si ó11 de i c.lc n1o nio ''; c,1 . p. xx rrr : ''D e có -
,,sallo los índ
(lcm o11 io ,,� pro eL1 rad o rc1 11c da r los sac ram c11tos de lo sar 1ra
1110 cl
á
11�Jcsia' : caJJ. xxrv: ''De ln n1a11crft cor1 qt1c el ,tcmonio procur cn
1

Mcxico rcn1cdnr la ficstn ele CorpLtS Cl1risti, y comunión c1t1c t1sa la


s�l111a JgJcsia''; car). xxv111: ''l)c algunns ficstas QltC t1saror1 los de
Ctizc<1, y c.;6 1110 el clct11onio quisa ta1nbié11 jn1i1ar cl n1istcrio de la
i11 1;1 TI·in iclad ''. 45
si,n1í�s
A c;r1r,tctcrizaçãc) déts iciolatrias pré-colombiar1as asscntot1�sc cm
t't111clc1111cntação bíl>Iica, n<>S doutores ela fgrcja, especialmente santo
/\gos1i11l10. A1nalg1.11l'1ar1clo a l1cr,111ça bíl1lica con1 a filosofia rcJigio ..
su cios a11tigc,s, i11ter1,rctn11clo as cscrit L1r,1s de for111a 11cssoal, ele for-
11t.:ce11 (tO J111n1rtnis1no cristão cln co11quista os elcr11cntos cxcgé1icos
11cccssórios à clcfi11içil<) tlc idol,ttria. Não r>or acaso, santo J\gosci..
111\o fc>i) jt1r110 co111 s�111to 'lb1n;\s� o 1>rin1,; , ipal at1tor c111 <.1L1c bebcr,tm
c1s n1oclcrnos tcóric:os da ,lc1t1011<Jlogir1 •46
O ,tc1110 Cl'n o pai c1t1c alin1cnt,1vé1 as iclolalrl.as. Elas se asse11ta-
va111, J)etra os c11ro11<.:t1s, r1a 1,aródin clcmoJ1ínc,l, 11a r11acr1q1t<:i1ção gros·
scir,1 elas obrtis ele Dc11s, cx.prcSSê:lS 11os sacrifício:; l1t1m11t\1tos. 11:\ an-
f ro1lO l'cagita, 11i1 soc.ton1i�1, 11,, ucli vi11l1rtção, 011tlc o d i:ll)O i11tcrvint1a
nri1l 1 11c11t�. A icléirt tlc idollttrin Jl1ostrovtl-Se f)rcsc11tc ,tfé 11as cor1si­
,1cr,1c;õcs co111J)ac.lcciclt1s ele t1111 A11clré Tl1evot, J)tlra , qt1c111. <l�$lllltí­
clc>s tli1 vcrcl}tdelrn rnzfto I;! ,10 conl1cci111e11lo <lc l)ci1s, c>s índios se
;
l<lr11r,vc1111 1)rcs11s cios iltasõcs t'ílltllásticns e das pcr�cgl.1içõcs qitc ll1cs
i,1l'llgin o Mfllig110. Vi·vit,1l1 utcrrorizudos, lc111\!11do o c.<;.ct�ro e lCVilndc,
c<111sig<.1 t1111 fogo c1ua11<l<) st1ii1111 À 11oilc. tll<>lt-\Jltlo-so no c1t,gano da
lclol�\trii\ e ucl(>l':t11do o l)ittllo IJ<>r t11cio de sct1s 111inistrcls) o� l>aj�s:'7
• Se n ic.léitl de idolutrit1 vitriou cntre os ct1tocl.cr11c>nólogos c:l� Anié ...
I ic;l\, ct1 l1c {tc1t1i clc�lil�i,1\ 11,i1i� t1111a vez, <> pt\J)�l clc.;cisivo du J os� de
/\C'(l:,;tit. l)j fer •1ttL'lltc11tc ele tln1 l.tls 'asits, 11nrn qt1c111 �lo acat,t\Và 1>1�-
11�, t't,\11 <lt, <l l� r11c1·f 11clio J'>tl rt\ tt rc.:cc1�c;tlõ d� fê c,ltóJ it.:tl. Acostn uul1avu
c1t1<.:. ,t1Jt;Stl1' 1<.l tt()to. tt 1·�col1ct'�111 tt fé, os ín<.lic>s se e1,tr gi,vatn a i,to ..
latrlt,s <lc11to11f1t 'tls: crt1 nssin1 t) cle1nô11io, e 11:lo n torre cio Bn\,cl, Ctl•�
cxr,lict1vn tl rJivcrsid.t\tlc cl,ts tlivi11clt1.clcs e tios t\tll<lR. �·F.,·11,1l ·o p<.'lr,
0t1c�t1tli, cl t) �risto, o <lo111ô1tio se rcl\1giat\l nc,. t,1cli11s, deli\ f,,z.<.'11do
\llll d\.' sct1s t)E\Slit �$. A id<1lrtt ri., t1i1<> é, f1t>is, rti1e11u. ltr\1•1 t":'tr1tltl ur­
rôrtct\ tlc ru, li�iat1 11ttft1111l. Lllit tttlO e rlnt,1111,L. 11\l\ ,lii\'l,óli 'R.'' Stll')S-­
l!r•u\1�. tlc�ttl rc,1·t\1t•, n clcf111ic;tl() \)íl,lit·i, l-lL\�,.1111do it Qllt\l t\ ic.lt.,iutt in 1.;
o co11loço e r, flit, ele 1oclos l>S 111ulc�.4ti
71""119- "'' t "� -- -

!q J r ,· r m3 , a 1..o nc c11 :ã o de qt 1c a pr .1t1� a rc lig io a


D un 0
- 1..,,'!, e 1 .....
...... ..,-
"" '"'
""1ffi tdL lla tra s n10 .trl1u -5e pr�.c11te cn1 todo os
,u � 1n
.:i
. . . .
...
:. (.'.
� 'r""" .. 1"'1m obr e a col on, a c�p anl 1ol a .. Nn J list or ,a
31)!'" ;e;;' 4 u 1,.. ... 't: 1 u • • •
"·netui e;<> los t.O SuS de .\o ,·a Esp ,1,1 a, Sa hn gu 11 ac ha \·a qt1c o 1do l os
�di� ra s ('raffi rep res cn tac õ , de de mô nio s rea is. "lo co nh eci do ··co­
;�q�10 do Do te' ', ja se en co nt ra, -a pr ese nt e a dc 111o r1iz aç à o d a. ido­
_
lntnas. e· diabos 1mpeli11do o homcn a adorare1n · ·a co1 a,; de
barro''. ··ao .oi, a l ua. à e trela , a pedra . Úl) ánores, à ave, à ser-.
nenie' ·. .:º Traball1ando com rnanu crito. naLL,\S - que con1pr�cn,Jia
�om diticuldadc - para escrc,·er seu próprio texto, DL1rán \'ia nos
ideogra111as repre!)entações de Satã. O co lt1me inc.:a de enterrar os
,;,·o era tido por Cieza de Lcón1 na Cró11il·a dei Per1.r: como deter­
n1inado pelo e.xtraordinário poder que a il11sào demoniaca oct1pava
na vida dos gentios, decorrente da falta de orier1tação religio a que
tinham. A posição de Cieza é bastante nuançada de,,id,o à adn1ira­
ção que nutria pelas reali1.ações política� e econômicas das popula­
ções andinas; den1onizada se mo tra,·a, portnnto, no seu caso ur1i­
camente a religião. 5fi No 1vféxico, au1 ores seiscentista. se e tc11deram
sobre a questão da idolatria: Rt1iz de A larcón 1 Jaci11to de lu erna,
Pedro Sanchez de Aguilar, Gonzalo de Bal alobre, Diego Jayme Ri­
cardó Villavicencio a freqíiência da produção sobre o as!:>Ut1to con­
trastando com o caráter assistemático das c, ampanhas e."Xtirpado­
ras.51 Mais unia vez. 1.:omo os demonólogos europeus, algu11� destes
homens - no caso, Rt1i2. de Alarcón e Jacinto de la Scr11a - ft1nda-
menta\'an1 as informações sobre práticas idólatras com base em ex­
periência própria, co1no visitadores gerais das dioceses; mai uma
vez l pois, aproximam-se o registro etnográfico e a Leorização demo­
nológica.
O demônio era o injmigo pessoal de cada un1 desse cvar1geliza­
dores, de cada extirpador que o perseguia e combatia por tocla 1>nrLe
onde se eocontravu, nos ídolos que se fazia preciso qt1ebrar e 11a al­
ma dos índ ios, de onde deveriam ser exptrlsos. Os ca os de po cs-
ão demoníaca proliferaram no Pert1 sobretudo na 1,rin1eira metade
do sêculo xv11, e se m ostraram mai co.r11uns entre os índios. O de­
".1º ha?ita,� �eus corpos para n1eJl1or assegurar ou defender o irnpé­
no da 1d0Jatna, e certos monges se tornaran1 verdaclciro cs
s peciali�­
ta na _ane �o exorcismo, que assirn veio a ser t1rna técn
ica pri,•ilegiada
da c:x11rpaçao. que é compreensível dado o aspe
� clo espeLacular dos
comb�tcs t:XOrcrst . e o fato de Deus sen1pr
� e triunfar no final.
? mundo fú.&pano-american,o, ponanto, desde muilo cedo
caieqwsta\ e os funcionários da Coro os
a mo,,erarn luta encarniçada

36
\
�L'>ntnt t1lan1fe!-ta�ões religio�� �lutó ·ront"'�. lan 1o tlt.: ·ta4uê cs11 ·�inl
ao� tenlplo · � itJolo . E betn conhe�ida o ordent LiC Zu111. rrag� pi11 n
destrl1ir remplo asteca. e. sobre seta e con1bro�. lc,•antnr igrejas e.,.
tólicas. Nt1n1a cana famosa clarada de t2 de jt111l10 d� 1-31, ele se
ja�ca,·a da <lc�cruição de n1ni de quinlicnto templo, e 20 mil tdo­
lo�. Doi anos a11tes. lartul de la Coruna declarara tambêm em t:ar1u
qt1� t1r11a das principai. ocupaçõe de eu· di�cípl1lo era derrut>ar
1dolos e arra ·ar templos, no que aliás eram dirigido. por ele J)róprio.
Ainda r10 l\léxico, em 1:76, Bernardino de Sal1agú11 ft1ndan1c,1ta\a
a de 1ruiçào das idolarrias com ba�c na nect,; idade tlc in1p�t!ir o con�
tagio dos ··costumes da república'' e afirmar 11ma '"outra ma11circt de
ci \; lização que não tives e nenhum ressa.ibo de (:oisas de idolatria·�. si
A deslruiçào do ídolos era ainda mni • imrJortante do que a c.Jos
templos� poi era fácil e ·condê-los. 53 /\ dos li\•ro sagraclos tan-tbénl
r1ão ficava atrás: mis ior1ârio no Yucatá11 e na Gt1alcmaia, Dieg(1 de •

,, Landa. depoi egundo bispo da península. qt1cimaria - conforn1e


seu próprio testemunho - '·um g:rnnde nún1cro'' de livros. sagrados.
inviabilizar1do para sen1pre a n1elhor <.:on1prcensão da culLura maia;
entre os argun1entos qu� aprese11ta na sua Re/ac·ió11 para just ifitar
o feito, e tá presente o \.- ié demonológico: ·•não conti11hru11 natia
en1 qt1� st: não pude·se ,·er llperstição e 111entiras do diabo''.� 4
Utilizada por la "' Ca ·as ainda 11io século X\1 1 1 foi, entretanto. ape­
na no Sei cento qt1e ga11hou força nos procc so de idolat rma a ca-
L1istica do pacto demonía,co. Em terras 1nexica11ns, o principio do pacto
foi tt1do o que a prática� autóctone conseguiram então conservar do
ret)cnório diabolico cristão imposto pelos cateql1i5,tas e exlir1:>ado­
re .ss Todnvi,t. acusaçõe de pacto escão rntre as culpas c1ue La11da
,ttribuia ao índios majas runda no éctil() XVI, em 1562.56 No Peru.
'
011de o mo\•i.meoco de e).1.irpação talvez Lenha sido mais espetacular,
lgt:'eja e Estado se uniram no combatcl qt1c foi sistematizado por tneio
-
• de Vi. itas, freqüc1ltcs sobretuclo entre 1610 e 1671. Prin1eiramc.nte, a
rcpres ão rcl1giosa se 1in1i1ou a dcstruiçõcs1 saques, ir1cêndios de tem­
plos, túmt1lo' 1 eS1ált1as, objeLo sagrados e valiosos. Mas a partir do
I Concílio de Lima, em 155l t proc\1rou�se normallzar e uniformizar

a repressão aos ritos de iniciação religiosa, às danças agradas e, so­
...
bret�1d ,0 1 ao.. ct1ltos incas dedicados ao· ancestrais. Em autos-de-fé,
os inqujsidores destruíam santuários e estátuas sagrada�, queimando
• as mtímias dos antepassado da comu1)i dade11um espetáculo particu�
1

larmente dran1ático por acreditarem os incas ser necessário preservar


o corpo p,ara a ressurreição. Q uei111ando as múmi·as. os espanhóis pri­
'
• 1

vavam os antepassados d.a possibilidade de vida eterna.

37
-
..
' .\ ... Zl .... • - ..

. ..
.. •r-u·· - =•
.... ·:i

' , ....-·ir-�­

-..:... • .....

.
;

- ...-_ . ...•

- - .... ,. ---
.... 'r �-""'• -..;:
-�·
1.�,.�� i, 1• .._..._
•" • t-•t
_... .. l
.. ti'·�·, '-•..., .,_··1·�
UJ ....... ·�r .• • """"",.. -
! �''-,,;
- ....
...........
. ....�-��
-(.llr; ,..._ ...r, ;ru.uu t\ol."-� ...! -.ES.. '> �� -4-..i �-

·'- �..,,,-: .. ·••t,.. � � '::" ,.,,. • - • .,.. r-


. ·-· · "
,-.;

-,, •
. �
�""'" ""' ............_ .......... � _.._-.... ._. �'l_JI ...... ..... �'-, ................... "" _.....__....._ ........ .,_,� --

�"r"nêl.� :-J..! �· �� ..1\.1� .... ,,

... ..., .... ... -


:s ft\ll.l...?".. .l ..:�a ..:i.: ._ N••-._: rt,J.t:
.....

Ut'.'. .:�1.1 J...,�.:..T!Sl� :�)(! --..��;-•::.ri.. &..�. t: . \.ú.."tt� • c1s x �"""J. ,� ·x�.
-1..� ;IQ\: 1..:.1..: 15 � �·-�1.J.. :-�oe!.;..!\. \!� -·:.If"Jt:"f' �ti;i,0-.:· l,. p '�i li t:-

.. . ..
:.n=-... · d::I�..:i.-:;:::-s...: ...�m ""� .:�.:n titt..?, ii,�-
n:un0:;..._ ..;1.1.eir.;..,1r::1;::
-
... • � "' ' ' , . 4 � :n,
• �'!' "
-:ocl.,mú a 01ssa � · m au�.r-..:t\.°'ll.'-' u.r �J e. '"(' li.:. ., •. ·tw.v
4
t11,·t1..1..:
.: d�ni,.� p�,_;i� E.a: K"'\{UÍ.:.J.. s:p ;�_-..t� tt'ci tlun d l�i Esp rJ.n'-�
� lhe ··e U(':t:=.un t m'-elo'í � bu��,. r�rJ. "U< nun.:a m li: \: ,1.
� n �� • " �
. [..E: U � S� L..'� � �� :nr '-..1-$. UlwvS . 'lQl 5 U lnt rt� "'· ·
t�s� � t;,.;r
lêd d:u tnf�ruc. �-sim� mo dv dl,.1b '\' J'-t er..un. rttretant '·
�otren\'·io� de proc · "'-' \)..llo.o:. .1\i r; cro" oom\J t't�m1ul-..1t,t � "n.l·
.;i.os ·• t.Í\J pnx: · - -\J de .._,t.."t:i ·.rrrdl.Z 1 'lJ° 1 \.! �" \., \lu11de1 1 <.... c.li,1l>
�� t ;,.r .:iilõ �tru.lítho t�mll'l p..1ra QS: tupi.; do Brasil qui1nt� �l �
.. ru.1:u.:1�.. mal.is .. in�u1- e <le.r,-1:.u.;- p :\ .,' J.tt'leri�anQ . O xism ., ,nitin ��
n\ttttro.. as f n,.-a.. � �'>- '�tes mgrdd� -�rui ,c-;1cn r1� b"'tL�� 11�11 rw.n •
.. L� apctt, e\, pri1..·hus-L1:�·�º1 O ,\ ti1:tlatr na\1a, a�s -ia i ln· �at
t
(luiit,\" ao inferno �r· ·tàu1 cru um de1itre "l�l.ltl.lS luga ,. 4u� abtigu­
"�' l'lhoftOO. e. �Qnl\1 l(.l nlre. � :on1\isõ �. tnlttl\:�l �. l riginuln1 'ttt�
d Ufl!l lttí2ar ".Indo�º;: �\ CQ�nt-OlQ �itl j, p J LÚ3 X\ " l:ll1rlm:,s t\ÍlO
� tltll\"�1 :an:1 '1 no�ií\; de ttl:nl pcr�t)ttific·ttd nun1 ��r ·,ttfil1i ·o. $t?11dv,
'"
\\t'l nt nino. dotttd t d� ,ti-s...1 'tliru. ti�1-l°� • u ) uni,�rso. .. �1\n qu 11 t a as
E

..,_ --
,_ �.' ·---· .......
- ' ·--·-..,---
............
;:.____

.. ... --,...
.... '
• ,.k ..

,._ ... ......

-·- ......
' ,.. ........
� "-


-

_._...;..!,;.
� �


. .. . , ..

-
.�--.::: . .
.
... ....-.........
,.......\.

-.
...� _,1'1n:�
tirç.1.J �:.. l .; p ::uru.r-·� -t.... '\� .:tl..i� 7;ti.il�t�st.J ·{ cS .. " S'- [(' .1;-· t"-
ti� "'· E .:. ' t �cu� nt � .1S p · �\TJ:� J .
.. .,. .. .. ... ""' ... ,.,. .. ..
t la.t� u, �u t 1ngu,t • t � lt'..1"'1 r: ·� "t tl..-lt ·u� l,� u ..it � ..
... "-

� \ rti:· �nt �n irr1.tti... n.J.lit . Pl.i'-Õ,�il .. \ite · · � tu r�ng: J


et:t � J.: l"in"'"On.: ,t .. l1 n fi..J i: · pl'·� 1� l:-i�t'-l.U!' d!·· uns d� '"Jl1,.1it
(j d �ois )n de-$ 3utt"eS··..� Pn: 'UrJ.nJ '-"\"lvni.; r tini, .. 1 s bren-.1-
tur:.ll d · inJ� n:.1· 0 ttrop '\l� i1,--ãllJ..CU.n\ �1· rinJ" �miah) t\ su:i
.
.. ..��
i.1�Ull nt.:â "U'"'

u · t�tr. �1 t1':'t(1t\t\. qu� Pottug.,ú � 8i.,ru1h�1 nüt ..i.g .. r'1.111


,tr1i t' rn \ •ttldll .. tl!.nt� a· ntti��l� �\tlt�r1t\di 1.; Nü lt \1 '. ,,. t l� nt �n ·
ll) ll1�3Jl[ "' lll 8rJ.Sil .. naUJ qU� � fil:S 'til thtt_;."' à� "�tirp.._1: � � nl )\ \­
(i�l� pet � "�P'\.tc1l1.ui�. tl s :d 10U1lio� d ��u ir1\p nc..', ,.
l'C\'" 1i "t"·is.­
n�, ":lo IJ ir.ft>l�1ri1. qutlS � n lt.: apat:'=� 't\ s ·s 'nt � l"I rtugu '� s�. ti­
ttie-11�.:i 111�til� c,,igi�u e n1t1is. pt�llt..iti ·�, d �ntrentruticent � lus:ittuil�
1.·oi1, , 11\dio� lru: 11ens:1r lt:l '+,�,ti1.·:t,·:\ " l \pi�ttlr "te '�tc.1 B,turqltC
d� ll-lt>lttltli 1 - p r, 1 i11\1.1ii11.\ti, � - t ttll'V( • n: ·ur "t '�\�Pt"-"l'- • 1.l..1
ulttili 'e LI , O:llb�rt.t", F�. � - tt � )ltJ t1i • \ ·J. ,,t��i� t ,.,�t l\.'tl �'ll 'luda
pt�lo� lus �. ��tl q,t1i,$t-t\ll\ •t1tltt•11c� 1t11t� t\ qu1..�tã d�1 · i tutriu' f ,.
d� ·tr de; ;O\'\ •tit, li,\ 1 obro·u d�\ l � >l 1gi,\ ,,n l ,t�tt1 ,t. t'tttl�. t\,\ �t,n­
lrârio :tu · lrrid ,. 11n ·pt\tll\ l, 1\ l 1 � Jl"' lu,i1m11 lrttb ,ll\l'� u � ('t:
·o. ll ll 'l' $Ull t'\: 11\llt l'lt\ l •li�i $�\. (l\l�l" $Ql1re S\ll \é(St \\'0 �s. \tl "t'., l\\ll t.\.
· brc ll 1ucsttlll l.a lil,1.;l\lt\tl 't d1 l1ut\\t,,lii.l \'-l1; \l�s it\ li1�. Niv l':\\S•
,...-·---=-·-

, • ttol \ '\
\. ,�t Jt1st 1 t1t1c cxi, licit c c. l · rela çõe s e11tr e ido latria an1ericana
,: f 'íllt ,rlt1 l1Jgia cur opc.: ita; 11ào e�i cct igu aln 1cn le, t1n1 Las Casas: en1

, ·ir., PL)rlttgue ,\ . a polên1ic,1s cr11 torno do direito 11atural foram


t ;llU 'S.
(l(\

CO 1CLUSÕES:
.11 !,\tJPORTÂ1\tC/A D/-1 AMÉRICA
PAR...t JI CON.IPREENSÃO DA DEAI/ONOLOGIA }
E D/l CrlÇ.-ll ÀS BRUXAS EUROPÉIA

Num can1po de estudo ainda pot1co freq(ientado, não há como


e fttnar às l1ipóteses qttando se JJroctira concluir. A constatação mais
geral é de que, l1oje, torr1ou-se impossível estudar a demonologia ett­ •
ropéia sem atentar para o papel nela desempenl,ado pela América,
essa ''porçã.o imatura da Terra'', como dizia o contemporâneo John
Donne. Mais ainda: todos aqueles que docun1entaram hábitos, cren­

ças e rit.os americanos podem ser chamados, sem constrangimento,
de etnoden1011ólogos.
Descendo um pouco às matérias mais específicas, cabe consi­
derar a relação entre essa einodemonologia americana e a natureza
da feitiçaria e da produção demonológica nos países ibéricos. Co­
mo já foi bastante repisado, J)ráticas de feitiçaria e escritos teóricos
no ramo foram relativamente pouco importantes nessa região, não
se podendo com pará-los com a perseguição desvairada do Norte da
Europa, nem tampouco com a abundante produção erudita dos nór­
dicos no tocante às coisas do diabo e seus asseclas.
Apesar disso, foi a região "fronteiriça entre a França e a Espa­
nha, o Labourd indefinido e enigmático vjsitado · pelo juiz Pierre de
Lancre, que forneceu matéria-prima a um dos mais importantes tra­
tados demonológicos modernos, o Tab!eau de !'inconstance de.s mcm­
vais anges et des démons, editado pela primeira vez em 1612. Para
De Lancre, a descrição etnológica funciona como vasto feixe de ar­
�u�·entaçõc.s válidas, ''verificáveis porque vistas'', que têm por ob­
Jettvo convencer mesmo os n1ais incrédulos da existência dos bru,..
xos.66� Ele também é etnodet11onólogo, e a anaJogia entre seu tratacl10 l
e� p�o�ução ibero-amerrcana acin1a estudada não é gr:atuita, o pró­
prio JULZ nos ,dando a chave para tal inferêneia quando ao delimitar
a alteridade dos laburdinos> compara-os aos selvagems' da América:
''E1 �om me les lndi:os de l'í'le Espagne>le prenant la fumée d 'une
certa1ne herb-c appeJee Cohoba, ont l 'esprit troublé, et metLant les

40
01ais crtlt'l; cJeux gc11ot1x ct lia têtc bttiséc, ,ty:.1111 ui11\Í dcr,1ct11é (JltCI·
qtic tcmJJS cn e,xtasc, se lcve11t Lour épcrclL1s ct ,,rfc.llé� co11t,111t r11cr·
\rcilles de lcL1r fattx Diet1x ql1,ils ap1)elcr11 Cernis, tout ainsi nc font
rios Soccieres qui rcvienne11t dt1 Sabat' '. 67 *
A argun1cntação presente no T{Jb/ea1,1 é u111 excn1plo perfeito das
faces múltiplas do coto,1ia/is1110 c·o,r,o sis1en1a, ot1 da 0L1tr,t face do
p,·ocesso de oc·identalizaç·âo, corroborando a idéia ac1t1i d1escnvolví·
da de que a América Leve papel ft1ndamental na demonologia curo­
péia.6fi Se a descoberta da An1érica colocara os et1ropeus dia11te de
um ot1tro qt1e o negava e o jttst'ificava - era o estado de 11att1rcz.a
que conferia identidade ao estado de cultura, era o espaço do paga­
nismo e da idolatria que dava sentido à ação cateqttética -, Lal feito
acarre, tara igt1atmenle o desabamento > sobre o Ve1110 Continente, dc'
seus demôn , ios internos, expusera seus nervos e suas entranhas. 69 O
discurso de De Lancre revela a vitalidade do imaginário, tão eloqüente
na sua linguagem simbólica: '' [... ] la dévotion et bonne instruction
de plusieurs bons reljgieux ayant chassé les Démons et mauvais An­
ges du pays des Indes, du Japon et autres lieux, iJs se sont jét.és à
fottle en la Chrétienté; et ayant trouvé ici et les personnes et lieu b1en
disposés, ils y ont fait leur principale demeure, et peu à peu se ren­
dent maitres absolus du pays [ ... ]''. 70** Os demônios que os colo­
nizadores viram nos ritos andinos, brasílicos ou nauas voltavam, em
legiões, a ft1stigar o imaginário do Velho Continente. Entre os sécu­
los XVI e xvn, surpreendentemente, Huitzílopochtli é a designação
de demônio na Alemanha. 11
1 As práticas mágicas da fronteira franco-espanhola fecundaram
o tratado de Pierre de Lancre, que as aproxin1ou dos ritos ameríndios
d.e t}ue ouvira falar, ou dos quais eventualmente lera algumas descri­
ções. A relação entre Olmos, Zt1márraga e Martin de Castafiega foi
meneio.nada acima; nos anos que segt1iram a descoberta da América,
e ao mesrno tempo em que se processava a colonização, prolifera-

(") ''E da mesma forma que os índios da ilha Hispanio!a ao aspÍl"dI' a fumaça
de uma certa erva ficam com o espírito allerado, e colocando as 1nãos entre os joe­
lhos e de cabeça baixa, tendo assim permanecido algun1 tempo em êxtas� levantam­
se completamente desvairados e transtornados, contando maravilhas, sobre seus fal­
sos Deuses que eles chamám Cernis, assim agem nossas feiticeiras que \IOllalll do sabã:•
(*•) 1 '[., .. J a devoção e bom ensinamento de vários bons religiosos tendo expul­
sado os Den1ônios e anjos n1au5 do país das f ndias, do Japão e de outros lugares,
ele.s se lançaram em muJlidão sobre a Cristandade� e tendo aqum encontrado pessoas
e lugar adequados, fixaram :;11a principal morada, e a poueo e p0\1co se tornam se-­
nhores absolutos da região.,,

41
ti ·io so s. N cs Le co nt ex to, parece evidc11tc
os trat a d o ant ·--
i tl J)C r . ·r1s americ
ran1 .
das da atr1 � · ana
, s - prc -
. • e 11o n
. r1 e.; ,no riza.. 1do l
qt. 1e as descriço ó b re ga e ta 11to � ou tr o - al 1 1ne11ta-
ag - ú rl N
scntcs ctn Acos·ta , Sah . �

rn ec e1 1d o -l l1 c s argu m c11to s prec,·
10-
Su p er st iç a o ' fo
ra1n os tratados de ..
1perst1c1o
·�· scTs cm o . _
pos1ç o a
c la ·
ss "
if ic a r as p ra ti ca s sz
os no senl1, ·do de .
men t e o paf ) el da IgreJa
• fortalecendo
ideo lo gica .
• cat o· 1·cas
as 1
re o u con10, ainda,

co m o no te xt o d e D e L a nc -
AI mas vezes a
em e Lê ry as so ci a o ri t� al tu pi do l!to ra l br �ile�ro
na pass!�im q�
e os ri to s <:-- n1er1ndi os
tl da s br u xa s ..- , a re la ça o en tr
ao sabá elirope .
er
ol og ia é i eq uí vo ca . N o ca so do s m an L1a 1s d e st 1p sl i ção,
ea de m on 11
ro as , s em dí 1vi da , ex is te . D ep oi s de 14 92 ,
O vír 1 culo não esLá explícitot
supe rst içã o, no m un do ib ér ic o, te ria se t1 se 11t id o am pl ia do , de ve nd o
er ex am in ad a em ch av e rn úJ tip Ja . Po r qu ê, e co n1 0?
Anali. ando a feitiçaria como objeto-/i11,ile qt1e impele o J1isto­
riador a se mo,·er nas fronteiras do que é hi tórico, Cario Ginzburg ·,
a 72 Por
fornece uma cha,,e de leit ura tam bém par a dem o11o lo gia. sua 1
!.
\'CZ, a metodologia própria aos historiadores da arte mostra que, nas
representações iconográficas, nada pode ser representado er11 si, mas
empre com referência a certos códigos pictóricos, que são do don'lÍ­
nio do homens culto - o público - e muitas vezes também do
pO'-''O nt1m sentido lato.
Um exemplo de tal procedimento é a bela leitura de Charles Zi- r
ka acerca do anibalismo, ''Body parts, Satum and cannibaLis1n: vi-
uaJ representaLions of \vitches assemblies m ti1e SLxteenth Century,1.
Com base na análise de repre entações iconográficas, Zika procura
repen·ar a abordagen1 da feitiçaria através de suas conexôe com as

rmagen .e o re mas do canibalismo e de Sact1roo, do qual são igt1al-
. _
me1�t� tn�utana · as rcpre entaçõe de an1eríndios que começam a
s d1fundir na Europa sobretudo após a publicação elo li vro de Han
Standen. É mge t ivo e incriganre que o tema do canibalismo só te­
nha enrrado na iconografia européia na segunda metade elo
.... séct1 lo
X\ t quando o saba· era ru.r· lda mtut · o pouco representado· grande
·. ,
pU1torei de braw. como Franz Fanken {1)_8.1
� � . - 164'-) D a,,1.�d ...� ... �n1e . rs
(1610- 90). o atuar1am dura te o século X\'ll. Se
. � ndo portanto pré-
\'ia à do ra b t� rep ent çao do
, .. . � � � canibali ·n10 se atrela a variado�
di �urso� 1·1te1i,r1t) e , 1 uai da ep • oca: o tc. st1m .
den1. o jardim do.. amores c�mpor1ês e a de..or-
e .ª .e: ua_tidade� os matos sal úr11i o e a
stibordina•,yc:, �o pol1 t't a, o cun,bu/1sm·o d
do. Se a ioono�orai'm· . '"\"t; "ªn t�
as- ..r,fI\·age,,s do ,Yol'O A11111-
ao fenrP�e11-r a
... nd o
�ui · di::-oOS ptc ·..ton.co �_, .,a,- ru parte do 'Orpo e-
refereoi . a· rnort e . d
repor-rando à tradi ·ão da . . a t rt1ição e
nlgromanc1a - �· �t111 d
o a qunl cra,.,, n1o .
s•
.Jl
braços e pernas eram retirados do cemitério -, pélSsará, co,n a (les­
coberta da América, a fazê-lo de forma djferente. Nas representa­
ções dos selvagens do Novo Mundo, este desmen1bramento do cor­
po passa, de horripilante, a natural. Se a relação Satã-antropofagia
era antiqüíssima, concluj Zika, ela renasceu com a América, impreg­
nando a iconografia. 'Uma vez fir111ado o elo entre as brl1xas da
1

Europa e os canibais da América em virtude das relações fraternas


de an1 bos, filhos do mesmo pai Saturno, pareceria mais plausível que
se pudessem estabelecer conexões entre seus comportame11tos. Des­
ta forma, nas representações de bruxaria envolvendo canibalismo os
artistas terJam tomado por modelo antes as image11s do canibalismo
ameríndio do que os tratados ou as ev· idências processuais."73
Delineiam-se, desta forma, pelo menos dois movimentos que,
distintos na aparência, constitt1em, na verdade, t1m único processo:
por um Jado, a absorção dos ritos e práticas mágicas americanas pe­
la demonologia européia, que os aproxima da mitologia sabática en­
raizada no Velho Continente; por outro, a revivescência dos temas
ligados ao canibalismo, que jaziam como ador1necidos no imaginá­
rio ocidental e qt1e ressurgem em representações iconogTáficas rela­
cionadas à feitiçaria, e, tat,,ez, suas precursoras. 4
Mediando os dois universos estranlios, a Europa e o Novo Nlun­
do, a colonização e a catequese fu11cionaram como grandes 1neca-
11ismos que, mais do que aculcurar ou ocidentalizar> desencadearam
a circt1laridade de níveis culturais.
Dado o relevo d:o diabo no imaginário ibérico. manifestado so­
bret11do na demonização da América, caberia perguntar se na penín­
sula-notadamente em Portugal- não teria ocor1·ido um esfun1aça­
me1110 da importância da bruxa en1 nome de maior in1po11ância
atriblúda ao den1ônio. O campo de ação desta criatura .. por sua vez,
acabou se tornando roais rico e n1ultifacetado qt1eno re to da Buro:pa,
e isto sobretudo pela infll1ência das religiões americanas -infli1�ncia
pre"ent� sem dúvida 11a preoc1�pação l\ispãnica com as s\1perstiç0cs.
a ·ão ibérica, notadame11te espnt1hola, contra as idolatrias ptê­
c0Jon1bia11as dá aintla outro conte>rno à têntte perseg-t1ição às bruxas
verit1cacla no centros metropolitai1os. Se e panh · i pl:rsrgt1em p0uco
as brl1xns no co11tinente, vão n10,(er g11en-a sangre11ta contra a ido­
latrias coloniais. Q.., próprios portt1guese > tão poúco inco-u�odado
pelo sabá das feiticeiras, e mais preoctlpado · e111 rastrear a pr�sença
de1uontaca, iriam se 1nostrar, entretanto,. ale1·ta ,\' prátiea religio­
sas indígenas e afro-brcl ileira ;, intrigando-se l:OJn s "U caráter colcti­
,�o. Thl fltitl1de perd\1rou até o .éculo xvttl, qua11do no re�to da u­
rt)pa tlingu<,;m dava 1l'1ais n1\1ita importâr1cia n i ·co.

4

1
•,

f'v'a A111érica dert10111z.ada pelos ei,ropei,s, os ídolos a111ericanos são ide111ificados ao


der11õ11io-bode presu111ida1nen1e ct1!1t1ado pelas br11xas do Ve//10 Conti11et11e.
1

Huitzilopochtll divindad· e centra �-


l d o ,nu,7 do asteca,. é aqi,
europeu. presr'd11· 1do a sacrijlcios· 1 i aproxi,nado ao de1n6nio
1 umanos.

44
Huirzilopoc/11/i, ,1es1a representação, sintetiza os atributos do de1nô11io eL1ropeu e os
de (do/os americanos.

-�
.. '

-
No séci1/o xv1, as representações da antropofagia tupi entram na iconografia euro­
péia, propiciando feci,ndaçôes curiosas: reforça,11 o te111a do ca11ibaiismo m(tico de
Saturno, 011 do canibalismo popi1/ar das brzixas.

45
Sc1111�1 <:M.:rito (r,1tod\lS tkn11111ol, �iéo� no
l'�ni.ro, 0� Port
$<! er11l�c.'l,�t,:iJt\ tlo cli.:tllCtlt,)· tlt.'111
c-. n t, lt )g iC' () o l t ..
· 1· . . s 'l� st 1os 1·1..?flekões '�l :
n 11�r, er1n elo l ,1,111.;r1 : l.'.''\tes 1 1 l>\'t1,ttt1 �l� �:\rtt-\ . o )te
.
111or(\JS Cl)1l10 t) e
. .1c .. uític:ts, f ttllt
... 1 d10
· 01111 1t?, . 11<rr·f't.1 r.1,,0 r,f<> re n 1·e�1·,.,1,J ela A,r,é,·ic.,·a,ci�os
.�'I
. 1
l"''ttjo. l1lltitLtlo, � ·t1e111an1l'ttt� alt1 ·ivo. cnl1c ressal
t,11·: e,,1 q1.1e ser
ta,,, vtir·io.' lli� <'tir�,·<J�" • /Jlril11ais� e r1101·ab;. co
111111uir.as ad 1
::.
e doc·1i111untos c·o11trr1 o. ab:11 o.t, q11e e acf1atr1 i11tr ,e,·tê,ictaª
od1,1zidos pe/r, ,,,
lfc.·ia <iic.1IJ<Jlie_·a 11(, /.;s1ado dt, Br,1 'if -, tratados :�
,·,,r. 0 ili ldri('<J e /)o/(til'O do conde de Assun1ar - JJródigo i;.
1
políticos co1no O D
curso n in1agc11 ir1fer11ais -. estes dois í1ltin1os no re­
já e111 pJe110 século
)..'VJ11 ... :c; ab1.;ria talvez arriscar a l1ipótese de que
tal reflexão cons­
tituit1, n1ai. em Portug-al mas tan1bén111a Espan.ha,
uma de111onolo­
gia a ·s.is1e1t1dtica fluida e disti11ta da den1onolog;
c1 sist.enidtica dos
tJaf a(ios rrance�es, alemães, ingleses.
Não seria curioso pensar aindn qt1e os países fundad
o1·es das mo­
der·na. colônias - Portugal e Esparthà - puderam
se dedica_ 1· n1enos 1
à caça às bruxas em set1 te1·ritórios, que acabaram p
or ficar excêntri­
cos à produção demonológica qtti'nh.entista e seiscentista
, po:rque, nas
possessõe americanas, vestirarn o diabo com outras
roupagens, re-·
nevada e duradouras? A América diabólica tem raíz
es pro·fundas no
i maginárjo europeu de hoje. Mais uma vez, e agora em
out.ro ·campo,
os ibé·ricos parecem ter sido preeursores.

46
t •

2
O ENRAIZAMENTO
Ci,·cula,·idade de culturas e c·,�enç:as
Brasil, 1543-1618

Tendo 01,rro; ir1não de�·te, usado de certas prátic·as gentl­


1 liccrs, se11do advertido dL,as veGes que se acautelasse cor11
a Sa11ta fnquisição, disse: ''Acc1barei c·o1t1 ,,s /11quisições
af/el'has·': E são cristãos, 11ascidos ele pais cristãos! Q11e,11
r1a verclade é espinho, ,,ão pode prodz,zir uvas.
José de Anchieta, 1554
''
Cofot1ial si11,a1ions breed conf1-1sion.
lnga Clendinnen, 1987

Em 13 de setembro de 1543, Pero do Campo Tourinho, donatá­


rio da capitania hereditária de Porto Seguro, Nordeste do Brasjl, foi
denl1nciado à Inquisição de Lisboa por se dizer papa e não respeitar
os domingos e dias santos, trabalhando e fazendo trabalhar a seus
empregados e escravos. O Santo Ofício tinha então menos de uma
década de existência, mas já estendia sel1 braço comprido sobre a
colônia brasileira, perseguindo desvios, heterodoxias e vigiando a ob-
servância estrita da fé católica.
O do11atário de Porto Seguro, ao contrário de outros coloniza­
dores portugueses, como Pero de Góis e Vasco Fernandes Coudnhu,
não desistira da empresa, e ia alcançando relali,10 sucesso nela. Do
Minho natal trouxera seus bens, possivelmente adquiridos no comér­
cio marítimo, fonte de riqueza para tantos de seus conterrâneos de
Viana do Castelo, então Viana de Caminha. Para a capitania nas­
cente conseguira atrair alguns casais1 o que tu1ha significado espe-

47
·- earente de fatnílias e de 111ull1er bra11 ca. A prod u-
rial nu ma ree1ao luc ros a d v1n. dos do comércio
' · da nã o su pla nt ar a os
ção do açu. car... .a1n ia se e1 1r a1 . za n d o, as
. .
1g re Jas se co n
. 1 as
n1c: a co lo ni z aç ão s­
do pau-b ras1 ,
o.
11ssa s se celeb ra11d
lTUI·ncto• as 0
p a
' '
c1 1s mora d?res de
'
a en ce ta da IJO r al gt 1n : do s pr 1n
A denúnci
• su m ár io da s ac us aç oe s qu e se re n1 ct eu a Li sb o a e
Porto S egu r O , O . " .
te pr oc es so po r cr im e de l1e re s1a e bl as fe 111 1a lev aram To u -
o st1 b seqt1·· en . .
ar B ra si l fe rr os ,. no fi m de 15 46 o u em fe v er e1 1·o
riilho a de ix O so b
or da nd o ac er ca do an o. D e qu al qu e r

d 1547 os hi sto ria do re s di sc


154 7 as sin av a um ter rn o de re sid ên cia pe lo qu al fic a ,,a
f�m1 a �m
impedid o de de ixa r Lis bo a sem o co ns : 11 tin 1en to d � s inq ui sido res.
_ .
Em J550 ainda respo11dia interrogator10 na capital do Remo,
queix an do -se do s ini n1i go s qu e o ha via m po sto a pe rd er so b fals as
.. denúncias. Impedi- do pelo Sanro Oficio, nunca rnais ret orn aria ao
'

Bra sil, int err om pen do a bre ve car rei ra de co lon iza do r luso no s tró­
picos. Nas palavras do grande Capistrano de Abreu, ''Tourinho foi
r. '
absol\,ido, Olt ape11as teve alguma pena leve, talvez algu n1a penitên­
cia; a I nqt1isição era nova, set1s raios fuln1inavam de preferência
cristãos-novos ou l1ereges J)rofessos, e Tourinho seria quando n1uito
herege intermitente e diletante' '.1
Falsas ou verídicas, as acusações que vários colonos fizeram con­ 1

tra o donatário refletem traços característicos da religiosidade po­


pular nos primeiros tempos da colonização, qua11do era freqüente
o hábito de blasfemar, ironizar os dogmas da fé, desacatar o clero,
os santos e até Deus. Dos cardeais e do pa1:,a, Tourinho dissera que
eram todos uns ''bugirrões sodomitigos tiranos que por dinheiro ca­
savam e descasavam a quem querian1''. Da procissão do Corpus
Christi, teria dito que era inadequada a época de sua celebração: ao
st1l do Equador, as estações do ano eram diferentes, e seri a n1elhor
passar esse dia santo para OL1tubro, quando aqtti era quase verão.
Retorq11iu-se-lhe qt1e só o papa poderia fazer tais alterações: ''eu sou
papa'', teria respondido o donatário, jactando-se ainda de se r ca az
de enfor�r padres Ante a observação de que poderi
p
: a ser excomunga­
do Pº: tais ousadias, respondet1 que lim p ar ia se
u ânus com a exco­
mt1nhao papal · par· a ele, b1s ' pos e arcebispos seriam o s responsáveis
pelo grande número de santos ex ·· t
. is entes, que, com seus respectivos
dias de guarda só serv ian1 para im ·
' . p ed'ir o trabalho; isto porque os
prelados, nesta matéria aced·lam
. ' aos ape 1os de suas barregãs que
, 'Ihes rogavam que f12esse um '
santo , de gua.r�a e eles por lhes faze-
rem a vo11tade mandavam qu
e nos seus arceb1spad0s se gi1
ardas s e m
48·
aqueles santos que elas queriam '. Santa Luzia, patrona dos olhos.
foi alv o de sua ira num 1nomento de doe11ça, quando sofria da vista:
pela '' rocl1a do mar ,
prometeu, na ocasião, jogá-la abaixo ', impre­
cai,do ainda contra sua honra. Santo Antônio também foi alvo da
fúria do donatário, que o responsabilizou pela fuga de algu11s escra­
vos e prometeu oferecer-lhe uma candeia de merda.
·;Em 1591, quando se deu a Primeira Vjsitação do Santo Ofício
às terra s brasileiras, continuavam os colonos a desacatar santos, clé­
rigos, sacramentos. É claro que havia o núcleo da religião oficial,
observada pelos bons cristãos ql1e confessavam· e comungavam com
freqüência, assistiam à missa semanalmente, enfim, viviam confor­
me as leis da Igreja católica. Constjtuíam
, a norrna, e, nesta qualida-
de, não i11tegram os autos da Visita. Esta procurava comportamen-
tos desviantes que era preciso punir, extirpar - ou enquadrar, e como
tais entendia não apenas os qt1e abalavam os dogmas da Fé como os
que introduziam elementos de uma cultuFa popular bastante antiga.
Como bem observou o historiador inglês Peter Burke, o pensa­
mento popular apresenta lógica diversa do erudito, tendo necessi­
dade de representar concretamente idéias e conceitos abstratos: as­
sim, a Quaresn1a é uma velha n1agra, e o Carnaval é um homem gordo
e rubicttndo. 2 As concepções em torno da blasfêmia também se en­
qt1adra1n nesta lógica peculiar: as coisas ditas tornavam-se reais, as
imprecações e.entra divindades constituindo verdadeiras tentativas de
deicídio. Daí tomar-se a representação pela coisa representada, a i111a­
ge111 do santo sendo passível do castigo reservado ao próprio sa,1to. 3
Foi assim na Europa até a época da Ilustração. No Auto da Je;­
ra, de Gil Vicente- autor extremamente sensível à fala do povo e
afeito a misturar elementos populares e eruditos em suas peças-_,
há um diálogo entre os moços dos montes e um serafim que ilustra
este caráter concreto da religiosidade popular. Os moços perguntam
a.o serafim o que ficava Deus fazendo no Céu:
qi,ando partistes dos ceos,
que ficava e/le faze11do?
Serafim: Ficava vendo o seu gado.
Gilberto: Soneta Maria! gado Irá lá?
Oh Jesu! como o terá
o Sen/1or gordo e guardado!
E /zá lá boas ladeiras,
como ,,a Serra d'Estrel/a?

49
Serc.ifi111: Si.
a V ir g e 11 1 q 11 e ft 1z c, // a ?
Gilberto: E
v ;r g e n 1 o ll 1a a s c· ord e ira!)�
Seraj,,,1: ;I 4
e as c:ordeiras a e ll <1 . •

n o B ra si l c o lo n ia l, c o n fo rm e atestam o s casos
Foi a. sim tarnbém p re se n le s n as V is i ta s. o r
v 1 e in íc io s d o sé c t1 lo x v 11 P
d f'ns do século x n o N or d es te br as ilei r o-, tr ê s
em P er na m bu co - ai nd a
v;Jt� <le 1593t

1é st icos d e u m ar is to cr at a lo c � l d j �c or ri am so b 1·e a or­


empregados don os p o r n 1a
pe ss oa s n a Sa nt ís si m a Tr in d ad e, 1n sp u· ad u gr a­
dem das três

qu e de le s, Lu ís M en de s de T h oa r, pr eg ar a na cabec ei­
vtira italiana
de Pa i, 0

repr es en ta da , on Fi ll1 e
t1m

ra de su a ca rn a. O bs er va nd o a ce na
o Sa nt o co ro av an 1 N os sa Se 11l 1o ra , Lu ís M e1 1d es co nj ec tura va
Espírit
orde 111 co ns ta nt e na gr av t1r a, o Es pí rit o Sa nt o de ve ria se r a
que, pela
'

segunda J)esso a, e o Fi 111 0 a ter ce ira , . Se i1 co m pa nh eir o Ga sp ar Ro dr i­


gues} entretanto, acl1ava que o Espírito Santo seria a terceira pessoa,
pois era enunciado nesta orden1 quando o fiel se persignava(' 'en1 no­
me do Pai, do Filho e do Es pír ito Sa nto '') . 5 -

O princípio que permitia tal dúvida era o mesmo que levava Pe�
ro do Campo Tourint10 a desejar punir o desleixo de santa Ll1zia pa­
ra com seus olhos doentes, arremessanclo-a rocha do mar abaixo. Era
ainda análogo ao que conferia caracteres antropomórficos e quali­
dades ht1manas a Deus, Jesus ou aos santos. Por volta de 16J8, o
padre H1erônimo de Lemos afirfl1ara ''que quando São Pedro dera
a cutilada a Malco estava com duas gotas. dando a entender que es­
tava São Pedro tomado do vinho''. 6 De são Francisco, dizia um ou­
tro seu contemporâneo ''que fora o santo urnas certas léguas por ver
uma_ mulher fermosa''.7 Cerca de 25 anos ante�, em mais de u1na
ocasião. colonos baianos chamaram santo Antônio de ''vell1aco'' ot1
''velhaquinho' '. s
1

Donatários, padres, empregados doméstico s, lavradores pa rti­


lhavam as mesmas crenças e con cepções, sugerindo que o alcance
da cultura e da religiosidad· e popu1 ar freqt..1entemente desc onh ecia
. ..
f· ron le uas soci. als. �m outro aspecto presente nas blasfêmias d e Pe-
ro do c ampo Tou.r1nho e nas d € var , · h ·.
i0s abita11tes do Brasil q·uinhen-
-
tista é a obsessao com aquilo
q.u e M ºk
1 hail . B·akht1n . denommot1 de
baixo corcpora!·· 0 do · nat,an. o de p orto Seguro 0·1 na
Antônio L1m.a vela de,, . ·da, que . : · q1.1e botaria a santo
muRl1ão papal · No finazle,do s l � /1rnpa1·1a seu ânus com a exco-
. ecu o xv, ' q uando perguntado com o •

1.a pa<::sando. diz.ia O Jicencia
ô· 0 F'l1 ·tpe Tomás de Mir da:
an '' bo�o a
50
WWW

Cristo n1uíta r11erda, e pela hó tia n1uita 1ncrda, pela Virgem Maria
ri,Ltita merda''.9 No primeiro qLtartel do séct1lo xv11, llm religioso do
Carmo da Bahia dizia ''que quando Deus rira1·a a costa do l1omcm
para criar Eva, viera um cão e a comera, e que do que saíra pela
parte traseira do cão fizera Deus a roull1,er, e qt1e assim ficara Deus
fazendo a 1nul]1er da traseira do cão e não da costa do homem''.'º
A Prin1eira Visitação à Bahia con1preendeu de11úncias e confissões
• de pessoas, ciganas na maioria, que associavam as chuvas com a urina
de Deus: ''bendito sea el carajo de mi seiior Jesu Christo que agora

n1ija sobre mi'', diria uma delas, e11quanto outra, contrafeita, quei­
• xava-se que Deus mijava sobre ela e a queria afogar. 11
Todas essas imagens remetem ao contemporâneo Rabelais, ob­
sedado, em sua obra t com o papel fertilizador da ttrina e dos excre­
mentos. No episódio dos carneiros de Pa11úrgio, por exemplo, o mer­
cador DindenauJt se vangloria de que a urina de seus carneiros
fertiliza os campos ''como se Deus tivesse mijado neles''. 12 Mijan­
do sobre Paris, Gargantua batiza a cidade, destacando o caráter re­
generador da urina. 13 Podendo integrar a blasfêmia, o baixo corpo­
ral era, pois, muito jrnportante na língttagem popular da praça
pública. Nas imprecações registradas pelas Visitações inquisitoriais,
ressalta quase sempre o seu aspecto negativo. Mas havia aspectos de
deboche e de carnavalização, como a imagem dos bispos e arcebis­
pos a criarem novos santos sob inspirações originadas em colóquio.s
amorosos.
Apresentando elementos de contint1idade com relação à cultu­
rà e à religiosidade popular da Et1ropa no início da Época Moderna,
as práticas religtosas da Colônia se confundiam muitas vezes com
práticas n1ágicas e de feitiçaria, em quase tudo semelhantes aos ca­
sos metropolitanos estudados por Francisco Bethencourt. L4 Muitas
das bruxas acusadas em terras brasileiras já haviam saído encarô­

chadas em Portugal por crimes análogos, vendo-se por este moti\'O
degredadas para o Brasil. Havia grande ênfase t1a magia amorosa:
�ecorria-se a mulheres tidas como feiticeiras para obter sucesso nos
amores t1ti.lizand-0 pós ,, rezas, filtros, poções, fervedouros, ossos de
e11forcados, conjuro de demônios. Indicando tal esfumaçament0 ent;e
práticas mágicas e religiosidade popular� algumas mulheres foram
acusadas (e confessaram), na Bahia de fins do século XVI, de usar
' as palavras da consagração da missa durante o ato sexu.al para, com
isto, prender o marido ou o amante; uma delas recorreu ainda a cer­
ta 1nistura de vinho e pedra d'ara, ou seja, a pedra do altar sobTe
a qual se oficia a missa católica . 15 Outras, com seus filtres estrat1ho

51

�<,nfc Cl\tn,1d1 '" .:i J);4 t1r cie �·i.:.r-.:Lttt,..(.. <'l' C"-cr�111c1110�. con firn1an 1 0
f)apcl d,, l ai o orp()rnl 11� cul1t1ra popular ele CJ1t�o. Em fin do
!:C:Uló · t. p �, xci11pllt Antc)nia F�rna11d��. de alcunha a Nóbre.
ga. 1rt 111 ildn\.a 2s n1ulh rc qu� n1ini�tra �cn1 ao an1antec; uma be-­
beragem feita a pan 11 de �cl1 próprio sêr,1e11, cotl1ído no rnon1cnto
d(J c110 � uai; �onf,�f..1a au1da a\ vírtltde de cerro� pó fe.itos a par­
tir d piilht1cs rel·t1�ac.lo� C\)ffi unhas e cat>elo de todo o corpo, que
d<!vtam ,c1 cng(llid,)s, elir1linc1do pela fezc , La,,ado. e moídos pa­
ra. cn1ào� �c1<.1n mistaraclos ao. alin1cnLo e garantirem o ainor dos
1, om t:n s. tf.
t\ mais famo,a feiticeira elo Brasil qt1ir1}1enti ta foi Maria Got1-

ç.,1, \: C ajada, de a {cunha Ardc-Il1e�o-rabo, que lembra mttito a Ge.


n�br-a Pereira da Farsa chan,ada a11ro (las/adas. Dizia a feiticeira vi-
cen11,,a que
l1a.._·endo piedade
de 11111/he�s n1al casadtJ.S,
e m ver bem mariduda.s.
01t<lo polos adros n11a•..
r .1
Clll'algo no 111eu cubrão
e voi1-1ne a Vai de Co110/fr1hos,
e aJ1do q11ebrot1do os foci11/1os
por aquellas oli,1eiras1
c:ha,na11do frades e freiros
q,ee 1norrerom por a.mo,re. .
011, � visseis os 1e1nores
qltf! passo ne.sta co11.Sein�.
não renferia a Pereiro
ta,110 os correge(lore.-r.11

Jâ a J\rdc-Jhe-o ,.. rabo afirn1a,·a va


. gar de cal,cJada e 11ua pelo·s
adros e mato , CO'l b._.�ca de feit i<;os: .... porque ·eu ponho-nlC à meia
noite no meu quintal com a cabeça ao ar com a porta abõrta para
o mar e enterro e d�ntc-rro umas botijas e e tou nua da cinta pa­
ra cima e côm o cabelo� ·ce �lo co1n o� diabo .e o chan10 e tou
GOill ele em multo �ti gc>...'". Qua.11cl(> \toltava da. andanças. i'nl1a
"''-mqída•> pelos cJi.tbo, e pelo t.rclbalho que tirera.' � A semeJbai1oa
entre o hábito de Maria Gon�lv� ajada e �nebra Pe1·t:ir"i 110
que diz re peito �e prcp.a.ro de feitiços e à g�stuaUd,1de d� n1agià in­
dica que�.na colônia brasileira, h.0uvc perpetuação de prátic�u; tnâgi­
c.as e de teitiçaria Pôrtttgticsas, pelo mcno dtirante o 1,rin1ciro icu�
lo ·de existên.eia da Colônia-. Sugere ainda � L1e. para a caracterização·

52
o

da sua bru.xa, o grande teatrólogo Ju4,o ba eou- e em práticas cor,­


rentcs e conhecidas do povo. Andar ntta e em ,:abelo certamente icJen­
• ti fica,,a, no imaginário popular, a protagonista de te ato con1 a bru·
xa. o século xvt, em Évora, sabe- e que a interessada no c<.lnjuro
das pedras de,ria fazê-lo ''em cabelo e cm cami a à janela, fitando
Lima estrela e segurando na mão nove pedras apanhada em encru:Li­
lha<las' .'9 o século xvr1. per i tiria ral gesrualidade: em J 637, Ma­
1
'
ria Ortega conjura\ra o espíritos desguedelhada e nua da cintura para
cima, e em 1664 era de forma idêntica que tv1aria da Sil,1a invocava
den1ônios ou proferia uma bela oração de santo Erasmo, valendo-se
cambém de um aJguidar e \1elas ,,erdes. 20 Tan1b,ém na percepção e
pacial teria Gil \1icente se mo trado fiel às tradições populare : ao
citar Vai de ca,·alinhos como e paço de ocorrência das estriputias
01ágicas. designa o mesmo local que documento di,'er o , desde o
sêculo x,·1 e até pelo menos meados do século XVIII, dão como pri­
,·ilegiado pelo feiticeiros para a realização de seus encontros.21
Nas prácicas de Arde-lhe-o-rabo, encontram-se elementos da fei­
tiçaria de cunho mai acentuadamente demoníaco: dorrnia com os
diabo , tinha uma chaga no pé que em certos ilias da emana, os
alime11cava. Jgumas de uas contemporâneas gabavam-se de guar­
darem demônio em garrafas ou em anéis, mostrando que a idéia
do demônio famil iar. muito forte na feitiçaria inglesa, existia tam­
bém entre as cradi ões portuguesas.22 Várias dessas mulheres era1n
acusada de praticar o mal. revelando preocupações outras que os
ortilégio para fin amoro os. A im. em Pernambuco, Ana Jáco­
me viu-se �ab st1 peita de ter chupado o sangue de um bebê, que
apareceu mono e com o corpo coberto por manchas negras de den�
ladas . .!l Tai criaturas seriarn mais distantes do estereótipo da feiti­
ceira-alcoviteira mediterrânea, como a Celestina de Fernando de Ro­
jas ou a Branca Gil de Gil Vicente, e identificadas antes com a imagem
ombria da feiticeira noturna.24 Mesmo a sim não se encontrará no
Bra il a feitiçaria propriamente abática. alheia também ao mundo
lt1 o. É pos ivcl detectar elementos isolados do estereótipo, como o
vôo, a metan1orfo e, o pacto demoníaco: mulheres que se trans(or­
n1ava111 em animais - patas ou borboletas, na Pri,neira Visitação
-. iam de noite pelos ares, encontravam-se com e diabo e lhe da­
Yanl seu sangue. Mas seriam sempre traços esparsos referentes a tra­
diçõe populares, e que nunca se combinariam nttm complexo sabá­
tico. como nas demais regiões da Europa.
No período aqui focalizado, e que corresponde apreximadamen­
te aos oitenta primeiros anos da coloruzação, magia e religiosidade

51
_e mo traram portanto profundamente semelhantes na metrópole
portuguesa e na colónia brasil.eira. Mas desde cedo delinearam-se tra­
cos e�pecíficos, aclimações inevitá,,eis dada a diversidade do meio
ambiente e das estruturas econõn1icas e sociais. Nas práticas mági­
cas cotidianas, cresceu no Brasil a marca do universo ultramarino:
assim, algumas das manifestações do�mito do vôo noturno acharam­
se aniculadas ao desejo de ir da Bahia ao Reino em uma só noite,
ou ,·er o que se dizia e fazia em Lisboa. 25 Explicito ou implícito> 0
,,óo parece achar-se subordinado à vontade de voltar à Metrópole,.
seí\·indo ainda de atenuante a um vago sen.timento de inferioridade
por \•i,·eJ na Colõnja. A ,,árias bruxas atribuía-se o pod,er de alterar
a rota dos navios quando o quisessem, de saber com antecedência
quando chegaria uma embarcação, adivinhar pelejas com navios pi­
ratas. �1uita.s mulheres fica\.ra.m sozinhas nas povoações coloniais en­
quanto os. maridos marinheiros percorriam a vastidão do lmpério,
Portuguê.'J, guerreando na Índia ou na Cl1ina; algumas qt1eriam sa­
ber o destino dos co,nsorte� para se certificarem de seu próprio esta­
do ci\•il, poís 1 não raro, desejavam casar de• novo e..precjsav,am ter
certeza de que haviam se toma,do viúvas. Desta forma, recorriam
as pesMlas que tinham fama de praticar a feítiçaria e prever o futuro.
Outro traço especifico da feitiçaria colonial, e que começou a
-e acentuar no final do século xv1, foi a sua associaçã.o às práticas
mágicas africanas. Segund,o as Visitações da Bahia, um escravo gui­
né chamado André BuçaJ faz.ia adivinhações com panelas e ferve­
douros por �oJta de 1587. 26 A partir de então, as referências vão au­
mentando: por ,,..oJta de 1610. a bruxa �ari.a Barbosa, protegida do
governador da Bahia d. Diogo de Menezes, atuava em conluio com
o negro Cucana, que fazia pós com as aparas de certas raízes.. 21 Em
1616. homens brancos já lançavam mã,o do saber de 11cgros feiticei­
ro) para conseguir a cura de familiares ou escravos. 28
Também a religiosidade popular. tão semelhante à da matriz eu­
ropéia. apresentará peculiaridades no Brasil. Em 1543, quando a co­
lonização dava os primeiros pas ·os, Pero do Campo Tot1rinho dei­
;ca� �ntreve:· por baixo de blasfêmias obscenas, que ua forma
propna de Vl\·er a religião dizia respeito a um mundo no,,o, onde
1udo est3\'a por fazer. Tivera ódio de Deu porque e arrebentara im1
Lanque de seu engenho, e, na ocasião. sentira-se desamparado por
_
Ele. Eram muJLO claras sua. preocupações coloni za doras: ''não se
engane De� comigo porque agora lhei de ser mai ruim e m au, e
\':_nha ele ca Deus povoar a terra, senão de�á-la-ei aos infiéis''. Se
nao guardtnct os dias de preceilo, era porque sobrava trabalho e fal-

54
ta va tempo ; por isso lhe desagrada va a pl êiade dt sa11t.o� a �crem fes­
Lejados em excessivos dias de guarda. Argüido �,obre o ,entido dah
ii 11 prec a , ç ões contra os bispos e suac; manceba5, r<..�pondeu qu� tinhacn
objetivo pedagógico: ''quem era preguiçoso por jogar e folgar bu�­
cava muitos santos e que isto tudo dizia para animar 01, homcn� que
trabalhassem pa, ra que a terra se povoai;sc e st fizesse o que era ne-
au me nl ass e a "ê1 cato, 1·
1ca . 29
cessár io e se
1.
1
o mundo da produção se associa a elementos reJigjo�os <..'111 vá-
rias oulras jmprecações presentes nos documento,s inquisitoriais. Pero
de Carvalhais acreditava que no céu só havia tavradorc1, que viviam
como anjos.J<J Pero Nunes chamava o açúcar de Deu�. e Fernão Roiz
dizia que meteria Nossa Senhora numa fôrm.a de açúcar. 31 Todos t-s­
tcs exen1plos parecem mostrar que a política colonizadora de Portu­
gal1 aliando exploração econômica e catequese, imprimia-� com força
no imaginário dos colonos. Na vertente mais sofisticada, mai� pró­
xima talvez ao mundo da cultura erudita. ta] re]aç:ão era claramente
explicitada - como nas faJas..d,e Tourinho: ''a terra era nova, e era
necessário trabalhar para se povoar a terra e fazerem-se algumas coi·
sas de serviço de Deus•'; na vertente mais tosca, subordinada ao ''pen ..
sarnento concreto'' própri o à cultu.ra popular, ass.umia formas sim­
bólicas - o céu de lavradores, Nossa Senhora enformada como
açucar.
Por fim, outra peculiaridade digna de rele\'O é o surgimento de
formas bicLJlt11raís de religiosidade, como as Santidades indíge.nas.
a Primeira Visitação, na Bahia, a chamada Santidade do Jaguari­
pe ocupou lugar predominante entre as denúncias e confissões.
Tratava-se de uma prática sincrética de conteúdo milenarista, giran­
do en1 torno da chegada de um feiticeiro ou profeta, e de promessas
de abundância, lazer e felicidade: na nová era que se anunc1ava, as
flechas disparariam sozinhas, as caças viriam ter às choças dos ín­
dios, as enxadas ca1variam as roças por conta própria.32 Havia na
Santidade a adoção de elementos da fé católica, mesmo porque os
principais protagonistas eram cristianizados: Antônio, por exe1nplo,
que desempenhou papel predominante na Santidade do Jaguaripe,
fugira da aldeia jesuítica do Tinbaré� na capitania de Ilhéus, onde
recebera os ensinamentos do catolicismo. O senhor de engenho Fer-
não Cab.ral de Tuíde, que acobertou a seita em sua.. terras. e tal,,..ez
a tenha apoiado. foi o i ndí,�duo mais acusado na Visitação: há 39
denúncias contra ele. 33 Tendo possivelmente se utilizado da '•erro­
nia'' como forma de controle da indiada, d�-e ter ficado perplexo
em alguns momentos quanto a autenticidade das maitifestações que

55
cn r�J la \ ,ll l'l · ot1 �u , L'l lll l . l) . "l ar ga r1d � da os tn, sua n,u�
'-t' "1 ..
ita lc a di t \'i" it lt; i.1l ) (lllC ··r10 dito tempo que a dita
lhcr. Jc'-°IJr t•u
c,t �,·c ,1a uit tl "tt: t fa_ er, Jtl , qu e l)O dc.: r1a (!f de dois me es pou-
�btJ-.ãt:>
1.x, n ta is (}ti rt tc ,, o s, el a t1 r, h a 1> nra i. e dilia que não podia ser aquil o
dcn1õn,o enão algt1ma cai a ·a11La de Det1 , poi � traziam cruzes de
Ql!� 0 dc ,11ô nt\.l f02. c. e ro 1 faz ia1 11 gra 11d e rev erê nc ia s às cruzes e
1 M ar .
1a ,, . 34
trnLi�1m -onta". e non1ea\ tn1 . anLa
r\l�m de �ua mi1lher, mai qt1atro ma111elucos, todos cristiani­
zado,. �t1nfe""aram envol\·imenco com a Santidade, desven.dando, em
etL� dc:po,mento . uni mundo fa cinante de hibridismo cttltural.
l
Quando e. ta.,'filtl no sertão, pir1tav lm o corpo, tomavam as drogas
ntuais. conuam carne ht1mana, forneciam arm as de fogo aos chefes
1ndios, ,i,ian1 poligamican1ente com as índias. Uma vez entre os bran­
cos. confes�a\·am, comut1gavam, volta,ram para os braços das espo-
·a.., lem- tirn as e , em doi s dos cas os, par ticip ava m de exp ediç ões de
apre amento de índios. Apesar de, nas confissões, expressarem arre-
pendimento pelas práticas gentilicas, é evidente a ambigilidade de
"tta fé. O mameluco Gonçalo Fernandes, por exemplo, dizia que c'ctlti-
da\t·a ele que este mesn10 Deus verdadeiro Senhor nosso era aque­
1 35
loutro que na dita abusào e idolatria se dizia que vinl1a '.

O mais belo dos depoimentos, riquissimo como registro etno­


gráfico. é o do mameluco Domingos Fernandes Nobre, Tomacaúna

de alcunha. Em 1592 tinha 46 anos, dos quais dezoito passàra entre


os índios. Confessando, disse que, enquanto andou pelo sertão, sua J

vida ''foi mais de gentio que de cristão, porém nunca deixou a fé
de Cristo e essa teve sempre em seu coração''.36
1--Assim •. ernbora apresentando traços marcadamente europeus nas 1

práticas mágicas e religiosas, a colônia brasileira, ao findar seu pri­


meiro século de existência, já revelava face pluricultural, que se con­
'
'
solidaria durante o século xv11 e se acirraria no século xv111. As su­
c��iv�s ondas migratórias de colonos portugueses, os hereges e
fett1::1ro� que a Inquisição despejou sobre solo colonial com grande
\ t
'

frequenc,� durante t d º. século xv11 t,abalhariam 110 sentido da


I

l
I
� ?
manmençao das pers1stenc1as.37 O tráfico negreiro cada vez mais in­
tenso, 0 contato constante com as tribos indíge I
nas a invasão d� ho-
landeses calvinista s • a crescente consc1e .,. nc1· a da con - • ão colonial
> diç
)
por outro lado, tornariam sempre
. . . mrus. ctiv. ers o o complexo mundo (
da rel1g1os1dade popular e cl as pr á . . as no Brasil. Se este pri-
. , . t1ca. s n1ág1c
m�iro secul� mnda não se presta •
a um estudo de aculturação pro-
lªdor do enraizamento, em solo co- ·
pr1amente dita , é entretant0 reve \... J, •

56

ion·icll. de certa práticas e formas c·uJtt1rais lusita11as: ela ocideiitali­


zacão, n1ais do que da colonização do imaginário religjoso.38 Esta
se �profundaria nos séculos segttintes, gera11do formas curiosas e es­
pecíficas, que não cabe analisar aqui: delas, Tbmaca11na e outros tan­
tos mamelucos de cor, po tatuacJo, colares e brincos de ossos, co.ncu­
bir1as n·umerosas e prole tupi seriam os primeiros representantes. Mas
s,.iceder-se-iam outros intermediários. Ligando as duas pontas do mt1n­
do atlâ11tico numa relação bilateral e imbricada - como, parece-me,
são as relações de colonização.

1

'
• 1

J

,
'

POR FORA DO IMPÉR !O


Giovan,1i Bote,·o e o B,·asil

1Vo,1 e paesc> ai J\,fo11do. o,,e il rle1,10,1io t1011 !1t1bl>ia t,,


s,,a ,,artP.
Giova11r1i Botcro. l595

Tratarei aqt1i ele algun po11t<)S das l?e/azio,ri 11ni\1ersali de


Gio-
a11ni Botcro t]ue, a n1et1 ver, são de extrcn1<> interesse pélra
se to111-
preendcr o in1agi11át;o et1ropet1 referente À An1érica no
século xv1
e, ainda. para se ce11tar elucidar aspectos da cii ft1sdo e '
tra11sr11is ão
de notícias acerca do Brasil na Et1ropa da época.
Ambas as Qttcstõcs
ve vinc\1la111, por firn, com o papel do Novo Mu1
1do e, crn part icu­
lar, do Brasil, rio conjt1nto da ir1vesticla católic
a contrn as l1cteroclo­
xias. En1 ot1tras palavras: procura-se
, aqt1i, c11te11der con10 a El1ropé1
reconstituiu cu in1aginário, no bojo dos t
ransfor1t1oçõcs religic1sas,
' ,ralcr1do- e, para tanto, de exe1nplo
s e realidades vi 11 cfas da A,111érica,
qu� l1e1erologicar11et,te, foram li
das co111 Ie11tcs fa1niliarcs, ou seja,
próprias ao acervo ct1ltt1ral etarop
cu.
Para tanto, falarei u,n PO\lCo
do élUto r cm q11cstão - Giovanni
•'

Bolero - e da obra exarninada
- as Relazlo11i -, proct1ra11do de­
pois retraçar <lS prováveis inflt1
êncins sofridas pelo rtt1tor 11a elabora­
ção de se11 texto.

GfOVANN! BOTERO,
BENBSE

Giovanni Botero 11ascct1


volta de 1533 · Edttcoi1-sc e1n Be11e Vaglcn11a ' no Pien1onte or
c o rn . · ' p
treino da Itâlia , te n d os Jest1{tas ele Palern10 11 o
· o eI epo l s se lornacl . ' 0 t1tro ex..
o
JOStl(ta ele tarnb6n1. E11tre

Sc9
t 565 e 1569, esteve ensinando em escola da Companhia na França.
1�ctorna11clo à Itália, e possivelmente devido a um gênio áspero e í11s-
• 1nvel, vit1-�c à voltas con1 clificuldades dentro da orden1, onde, en"
trcta11to, já era consiclcrável o nome que alcançara como i11tclect11al
clcstac,1clo. De 1576 a 1584, traball1ou con10 secretário de são Carlos
florrort1cL1 r1,t diocese de Milão, cleixa11clo set1 serviço para, designa­
cl<.1 pelo clL1qt1e ele Savóia, Carlos Manoel 1 ) clesempenhar e1n 1585
r11issi1o sccreLa 11a Prança, provaveln1c11te junlo à Liga Calólica (nes­
te 111cs1110 a110, o dt1c1t1c casa com a fil}1a do ,nais católico dos rei
cli1 fit1ro1)a, Fili1)e 11). De 1586 a 1600, encnrregacto pela Sé ron1a,1a
ele vcrificc1r c1u·\l o csti,do real do catolicis1110 e 111t111tenclo base cm
Rt)111t1, 1:>i1rccc ter viajaclo pela Itália e por toda a EttrOJ)a, o que cer-
1i1n1c111c inlltJiria na feitura das Sttas Relf1zio1ti i,nive,·sali. /\o n1e M

n1() texnpo, att1ot1 como ,1uxiliar cic ot1tro Borrome,1 t o <.:arclet1l •re­
clcrico. convivendo con1 i11Lclcctuais de toda a Itália r1a c:iducte
pontifícia. Na dedicatória ao cardeal da Lc>rcn1:1 existcr1te n,1 prin1l!i­

r�1 eclição da obra. Dotcro crcditl1 o âJ1in10 e a 1>rá1 ica doLtl ri11ários
à inflt1êncié\ q11c recebera cio carclcal. 1 A116 o prcst11nido 11cr(oclo de
vingc11s, vollt)u a 1l1ri111 e se tornol1 sccretnrio elo clttQttc arlos Ma­
r1ocl e ()receptor de seus fill1os. lc11do, c11tão, bnst �111tc tempo d.isp<l ..
11fvcl para e t uclar e escrever. Morrctt cm 1617, dei ,tndo os bens nos
jcst1ftas e pcdi11clo 1)nr�1 ser c11tc rrndo c111 s11,, ig.rcjn.2
Dotcro é co11sidcracto 11or 'Jl·cvor-Ropcr t1n1 ''propuga,1clislt) so ..
i.:it1l <lu ontrrl-Rcl't)rma·', t1n1 clcfonsor cln t111i<.ladc e11trc lg.r•cja e Es ..
l,tdt), 11t1111t1 ét)oca e111 que aqt1cla pcrclcra a flcxibilicla(lc meclicv�l
� l11tav<t co11tra ,1 l1erc�il1 e toclas as formas de l1ctcrocloxia.J Neste
sc11t iclo, sct1s escritos t�r11 prcoCUJ)ação pragr11éilíca, e Rc valcra1n d�
retórica: não à toa, f3t1tero é at1tor ele t1n1 in1porta11te trai ado de re­
tórica, o De f)rtredic·c11ore Ve,·f>i Dei (1585), 1iliar1do-sc, c,)010 frei f..,uís
j de Grllnnda, à lit1!1agc111 de retórica cclcsittstica fiel à De do,·tritia
c.:h1·istlt1nc1, de s,tt,to Agosti11l10. Ambicionava colocar, é\ serviço du
t1n1n al111a ()l1rn e infl{;tn1adé:l de zelo, tt1na retórica �impliflca,la a<J
extrcn10 ali,1da a tima teologia igualrnente simplificada. 1àmbém t1ão
r,arecc l'ortt1ita a proclt1ção de tres tratados de retórica pcel�1 entou,;a­
ge italiana clu Borron1c1.1, ttnl dos grarldcs su11tos da Reforma calólí­
ca: fllér11 do de Bolero. o De 1·/1el(Jr·icc1 e,.:cle�çiasti,·t,, cic J\gostino Va-­
lcri (1574), e // pre,tlccilore, de Ji'rancesco Panigai·ola,,4
}"Jor se n1ostrare1n afeiro a un1a teoria 11,aturalística cio contl'ato,
Batero e outros teóricos jcstiítas têrn sido vistos, paradoxalmenLc.
eo1r,o pertencentes ao movin1ento geral que postulava então a auto­
no,11 ia do secular na J)olftica.s Ao lado dos tratados que discorriam

59
nez. in na - em p�r ticu l� r o� de Pao lo erp i. mu i to
obrcapO 1 . ·
J[IC �"
u , . 'rü au.'\1 -·. . na e -
. acc::,. o e· "·ulo ,· ' ,· , ri - • o· e:
w , cr 1to ;:,, de I3o tt: l1a ra n1 du
lrtlo ·
E t1 r o p a . 6
cação poli ti'ª da . • . .
se cu lar ta l,· e z e� te Ja po r era . do 1ntere �e dt,·ers1ficado
o tra('o da fo rm a� ào jes uí tic a, do e
e do cSp íri .co un i,·e r�a t gu e, ap esa r ap go
ret or ica . do af ã pr op ag an dt "ti co e da ,� n ul aç ào om Bo rrometi.
à ·
Bolero ou be pr e_e r,a r en 1 ua ob ra� . E be m , erd ad e qu e na Ra­
eio n di S1a 10 tom a a rel igi ão co rn o um do fttn da me nto s do gov e r ­
�o , op on do - e a i\la qu ia, ·el; n1a - ad mi te� em con tex to di, ·ers o - em
nome da religião-. a "iolência e a �imulaçào. ·a Causa dei/a gran­
de::.� e 1nag,1ifice11:a dei/e ci1rà 1 ustenta. diferentemente da maior
pane de eus coniemporàneos, que a riqueza dos Estados não re­
pousa,a no acumulo de metai preciosos, mas na � roduçào, isto é,
no desen,·ol\imenco da indústria e da agricultura. E ainda aucor de
uma Re/a3one sul mare, o primeiro trabalho a sistemalizar os co­
nhecimentos empíricos que se tinham, na época, acerca da oceano­
grafia
.... . Por fim as Re/aziorzi 11r1i\·ersali, q·ue constituem um tratado
comp1eLo de geografia política unj\·ersal, baseada no conhecimento
positi\'O e extremamente útil aos homens de Estado, são considera­
das .:uma no,.-a orientacão • nas ciências',.'
O original desta obra é sua preocupação com a situação contem-
porânea, no que se destaca das cosmografias do século XVI, e o apreço
à experiência e às fontes dos modernos (e não o recurso até então cor­
rente à tradição, Aristóteles, Plínio etc.). s Oi,,ide-se em cinco partes:
primeira, descrição geográfica de todos os países do mundo conheci­
do; segunda, relação sistemática das condições políticas dos Estados
então mais importantes; terceira e quarta, crenças religiosas de vá­
rios povos> sobretudo da religião cristã, distinguindo a difusão do cris­
tianismo no ovo Mundo; quinta, espécie de suplemento acerca das
modificações e reordenamentos ocorridos no desenvolvimento polí­
tico do.s Estado até a primeira década do século xvr1.
A p.rimeira parte das Re/azioni apareceu em 1591, seguindo-se
• � segunda e� J592 e a terceira em 1595. A quarta parte, a qu e nos
•�teressa aqui* só v�io à luz en1 1596, quando surge a primeira edi­
çao completa. SegUIIam se então nun1erosas ediç
: ões, cerca de dezes­
sete em d�z anos, com tres traduç. ões latina
s e mais versões para quase
todas as l1nguas européias, aparecendo , .
. . t:ambem muitos e.x<.:erpta. Uma
qu1nta parte ficou inédita ate,
, . . 1894 , Qlla11do fo1 pt1blicada por Gio-
da . 9 Apesar do mer1 to tnega' · ,.. .
vel e·d a J arga mf luencta qu e exerceu ' e
1evando-se em conta as pectos
modernos e curiosos (como o m ai or

60
e� ri21 1cia d 1ue à nttloridade do .. antigo �a .. 11s1biliul �
ar - à e.,pc
�rr ogra f�ia e a geog rat
..
1.n rena ..
�en
.
t1 ta ), a.5 Rela:icrJ
afin ada con 1 n j

e..� mplo de certa '* in "' ongrtteocias ·e fragilidad


foran1 \·i�1a con10 e­
d o pe n�a11 1en10 de Bote ro. E=te , dota do de ât1it no · �pott ro 3pli.1 a

01t">,·cr-_e no reiJlO da idéia�·· en1 que o parâmetr s de cotnpa..


r ação erian 1 . T ean Bodit 1 e itola u �laqu in\i e l -.. ver-$�-ia ng"lf �.
do pela irred u tibili dade dos elem ento heter ogên eo e p�Io ape:g"" e.x­
c6si,·o às curio,-idade�, acarretando d ,eqt1ibôrio 11a e-uu1ura geral
de uma obra que press upun ha once pçà ünica do mttndo.

- UE O BRASIL?
POR' O
'·QU!JrJ AJ/EJ'.i•. :E COS,4 D..-1
.;;.,>
;O ; TACERE''

. info1mações sobre o Brasil cousrit11ein o qt1ano li,w da quar­


ta pane da Cos.mog1afia de Botero assim intirulada: �- 1ella Quar­
ta, si 1ratta delle superstizioni in che ,i,-rev--ano g.ià le genti del �1- ndo
nuovo, e delle difficoltà, e mezi co· quali si e qui,i introd-Olta la Re­
ügione Chrisriaoa, & vera'. Encontram-se di,·idid� em quatro par­
tes: urna, introdutória e sem título, que trata da antropofagia; a _ e­
gujr:- as páginas intituladas Dei malefici nel Brasile '; epois · ·ne·
disturbi dati agli beretici'\, e, fechando o bloco Lres pequenos para­
grafas com o titulo ' Dei Negri, e del numero dei Cbristiaoi <i !
,-
Brasile ,.
Em termos gerais, as consíderações de Bot,ero . obre o Bm. 11
ttstentam- e em dois eixos. O primeifo centra-se- nas idns e ,ir.t_ds.s
da catequese na Colônia� enfatizando as dificuldades ante:posras pe­
la itinerãncia indígena, pelo prestígio dos. pajés e, sobretudo,. pe c
canibalismo. Era este que fazia dos indiós \"erdadeiras bestas huma­
nas, desvi-ando-os dos ensinamentos católicos, ,11cio recorrent-e, ê di­
"'
fícil de extirpar: ''La maggior fatica de' Padri fu in reprimere l a'\i-­
dità della carne humana cibo tra qu.ei Barbari pregiati imo�·� U•
Mas havia a�ectos positivos no gentio� o fascínio pela onipotência
divina, pela arte da escrita e da leitura .- Com base �m 1ais. dad� ob­
jeti,,os, montou-se a estra. té,gi� .jesµític�; uma pedag.ogia �'ifica
e paciente, onde eram iplponantes tanto a t'eírnra de uma gramáriea
tup.i e da língua- geràl quanto certa tolerância ante os bábiro reiii-

(") '·o maior,· trab�o dos P� (0,i reprimit a a'1<kz de �e \ums.na. 3li­
mentQ .prt:zadissim_o' e-ntre aqueies birba:ro&."

61
·
a n a ·
, a p rá ti c a d o s a ld e am e n to , p e ç a fl1n --
11e hrim
·
tent e.s de Lnge r1r ca r . . . ta_ os e oc1. denla1. s.
'' b ár b ar o s' ' a o s l 1a b 1t o s
damenta.J 11a red ução dos
cr 1s
.
c a te q u e e p o d ia n 1 a f � ta r a 1n te g 1�1·d a de f'1s1- ·
As idas e \rindas da n 1a rt rt
.
o d o p a -
a 73 , B o tc ro re g 1s t ra o 1
c a dos catecu, menos·� na p ág in
n 1 r1o vo e1
.
xo te m
, .
a t1c o :
ca ri jó • in ir o d u zi n d o t1
dre Pero Correia pelos l
an do s e ,ii ol ên ci a co m et id � s p ? r aq ue es qu e
O dos engartos, desm ,
ad ei ra Fé . C ur io sa m en te , o ep 1s od 10 da m or te de
11 ão seguem a verd
izad o: de co rr er a da fú ria de t1m in té rp re te , qt 1e , de s­
Correia é relativ
pa dre po r pr oi bi -lo de co ns er va r um a co nc ub in a , ac a­
contente con1 o
bara inst ig an do os ca rijós co nr ra o ca te qt 1is ta : 'Questi, e alcuni al­
tri ac cid en ti co si fat tj hã no da to oc ca sio ne ad alc un i di ten ere tu tte
quelle genti.11õ p,,,· per barbare, e salvaricf1e; n1a per incapaci di col­
t1c1ra, e di disciplina. Ma egli e cosa troppo ingiusta, per un'eccesso
l cagionato per le sue suggestion.i d'un'huomo fraudolente, e maligno,
condenare assolutamente tt1tta una natione''. E dá a chave da apa­
rente tolerância para com os índios: ''Non habbiamo noi visto a' tem­.
1
pi nostri gli Alerun1anni, i Fràcesi, i Fiamenghi, e gJ'Inglesi, nationi
tutte nobilissimer e honoratissime rovinar Cl1iese, trucidar Sacerdo­
ti, esterminar Religioni, conculcar Sacramenti, concitate à cià dalla
malvagità d'un Calvino, d'un Luthero, d'un Beza, d'un Illico, e di
simili altri ministri d'empietà, e d'apostasia?''. 12 *
Nas entrelinhas, portanto, e na forma de organização do texto, •

Botero sugere que a heresia européia é pior do que o barbarismo ame­


ricano, e que este, na verdade, deve ser matizado e visto de for1na di­
ferente da que os europeus, até então, viam os alienígenas. Alemães,
ingleses, flamengos eram sabidamente capazes de cultura e discipli­
na, mas nem por isso isentos de atos bárbaros, como se fossem selva­
gens; por atos bárbaros, o pacif ista Botero parece insinuar as guer ras
que rasgavam o continente europeu, muitas delas fratr icidas - co­
mo a francesa, que tanto o marcou.13 De um e de outro lado do
Atlântico, Natureza e Culttira mostravam-se curiosamente reversíveis.

(-.) c:Estes, e alguns outros acontecimentos semelhantes deram ensejo a que


�uns considerassem aquela gente não apenas como bárbaros al­
e selváticos' mas como
1ncapaz:es de cultura e disc·o,1..n,rina. M as'· �º é·mJa
· slo '·i
- em dem as a, por um excesso oca-
sionad l g s � d� um homem impostor, e mau, condenar completam
da om : iia :
ç � ; � o vuno s na n� ente to­
: �sa época os alemães, os franceses, os flamengos
e os in"'l
c5'eses • ����
---y-ves odas e las nobt
.
l1ssunas• e honradíssi· mas� des� · r 1gr
! . eJa. s 1 trt1c1- •
dar sacerdotes, exterminar religiões, desprezar sa
a cramentos, a isso tnc1tados pela mal-
vadez de um CaJ�ino• de um Lutero, de am Bez
a� de um 11.ico, e d'e outros semelhan-
res ministros de impiedade, e de apestasia?''

62
Mesmo porque, para os intelectuais europeus de então, o fenômeno
mais bem repartido entre os homens era a atuação demoníaca.
•'Non e paese al Mondo, ove il demonio non habbia la sua par·
te'', escreve Botero ao iniciar as considerações sobre os pajés brasilei­
ros. Valendo-se da terminologia do Mal/eus mallefican1m (1486) pa­
ra as bruxas, Botero chama-os de maléí'icos - ,r1alefici - e ainda
de encantadores - ciur,natori. St1a ação se assentava na imprudên­
cia e na falta de tino - i1nprude11za e pazzia -, tornando-se presa
fácil de ilusões. Ministros diabólicos, usavam drogas rituais- como
os etiropel1S temeran1 os alucinógenos americanos! -e incitavam seu.<i
seguidores a se sublevarem. O exemplo central de superstição brasíli­
ca escolhido por Botero é a Santidade do Jaguaripe, perigosíssima
pelo caráter de insurreição ''per mezo de' suoi ministri sollevava .
tutto il Brasil'' 14 * - e de similitude com os ritos verdadeiramente re­
ligiosos - ''una sorte di superstition · e, e di tãto maggior pericolo 1
e dãno quãto ella era piu símile, e cõforme a' riti, e all'uso della Chie­
sa Sãta' '. 15 ** Os idólatras tinham um ''papa'', ordenavam ''bispos > '
e ''sacerdotes'', ouviam ''confissões'', celebravam ''missas'), traziam
'rosários'' para suas orações: procedimentos totalmente diversos dos
hereges protestantes, mas igualmente demoníacos: ''Et ê cosa degna
d'esser avertita J'ash1tia del demortlo in oppugnar l'autorità dei Pa­
pa. Poi che tra noi la combatte co'l negaria per bocca di Luthero, e

di Calvino, e de' seguaci loro: e nel Brasile co'l contrafaria per mezzo
di ciurmatori e d'altri suoi ministri' '.16 ***
Desta forma, a ação demoníaca também mudava, de um e de
outro lado do Atlântico: luteranos e calvinistas negavam os ritos e
os sacramentos para a'.t.acar o catolicismo; para desmoralizá-los, pa­
jés e encantadores tupis macaqueavam-nos. Universos tão diferen­
tes e longínquos, a Europa e a América tornavam-se porém indistin­
tas por meio da ação de certos hereges, que não conheciam fronteiras
que se antepusessem ao exército de sua impiedade, mais preocupa­
dos em semear a cizânia no campo dos fiéis do que em pregar a pa­
lavra divina para os infiéis. Assim agiu João de Bolé� francês que
veio para a França Antártica de Villegaignon e se insinuou entre o.s
(*) ' por meio de seus ministros sublevava todo o Brasil.�,
1

(* "') ''uma espécie de superstição, e tão mais perigosa e prejudicial guanto era

�ais semelhante, e conforme aos rites e ao uso da lgtej,a Santa.''
(***) ''E é ceisa digna de advertência a ast1\cia do demõn·io em refutar a aUto­
ridade do Papa� Pois se entre nós eombateu-a negando-a pela boca de Lutero e de
Calvino, e de seus sequazes, no Brasil a contrafez per meio de encantadores e outro
ministros seus.''
-
63
a di� té rdia I tél\·c�Lido 110 r,cl�
. - ,cen t,e, sen 1 et1ndo
óJ1 co � de ·ao '\''
ca1 .
ro.
de t11n �arn<-'f a l ..1 I appiu. lu ll1ur-
,n a f TI ·• 1, ii 1 , ic 1 n
· 1 u il •c.rn n i d'·\lc - ·1 • ·, · ,
'on l1a,·ctc \Ot � ,
:
n e ll
,.
1d <) lu 1r 1n ; \; \•
\i r 1t\.:r('t1i.:1 d tr,-
r(,, 1n 1 · r .. o , ta nt 11n\'l1lt 4! •
. e 1e t> t.!lfa Rcic,!lla. e
• •
n•i� r • 1•1e t. � •
. e

a l" 11 11 n 11 1 lf
\ I u n d ,··•, • e '
ta G r-olunc!1:i \ (' t (
. .
eh,'tterfã, l'I cala i. e la Fmn � '' : · :l1t.· \111 c! 11 :1111.1,e 1\1,-
g.hi di rra nLia i Bac
d'aJtri 1vo u·1n trodl 1rrc 1,1 1 E\ ang1..dt<.i. Jel qu.:tle
ché rton fa1c prl.l�11
• • . • J �1c�, .
�. . P r
taru"'�� e . '11c• <.1 ·1 Cl 1r •1�to. p� rch � , 1 •)

c�sio nc. qlial t egLi St · 1a.


voi f-nle prof l1i.:11i�I f\:rlt. ni:rllo [\lC) nuo­
'º'
prtcl i;;.ationc Jc'( �tto
�lurb arc 111
_ giova di d 1a . t: il l' d 1 ,.- � 11�1.r �i1 qual"'l1c
B ra ;;i l. e 11dl'ln :i. n z 1
,.3 s 1 ,, 1g na , rJe l
ri la t1 1a 11 ,, .1 s1 pt1 cJ,re. �e no
n o n lt .a b b rn o g. � a n1{.. s . t1
impr'-"Sa, ove e i
r
.
!c •r 11 1c u to ; m a 11 "º l) r.;u cn1tnar u-
st ro rn �� ti <: rc il !>e 1n 1n a
- che n o n � \' Q d � ti a ll a p c r t1 cl 1 a· ne
e li a ll n Fed i! : 1 t
l·infid 11 1a
18rua'? nõ il códurre g r- 0 r rl at t1 o n c '! n ,1 n if ()t" r Íect·
tt i a Jl a \ ir ti J; m a ir v 1r tu o i alia
• - l'iin"'
ct t,.._ rft 1- 111

!i o a lm cn tc tt 1a il t k p rc1 "·arc:?
t1onare
a -� c � a � ,i m , J 'l ítt ·�·10 para ata­
lt to n1
O episódio de João de B-0 róp ()IC t C o lô­
o rthe e fr o n te í� � n rr c N let
c.a r a R e fo m ta : el a n ã o c.
· 1u n d o . ·o l'c 1c o à tg re ·a , �
, C en tr o e P �r if en a . V el h o � O\ o
nia 1 d e a rr u ioar­
en te n a u 'll êt! l1 t:s l' a !1 11
bere� inttrfercm d-elibcradam
1 o d i.a b o e p 1i m t�i ro a R ef or o 1a, d�poís a Ame­
lhe a ação. Para Bot�ro
La d< > � la R cf on na , o 0 ,d �i l en cr a como me­
rica. No �»-rigo r1..i;rc cn
es de m o 11í ac a , qu e. �O rlt ra ri am en te ao)
t.álora: lugar de hu1nanid ad
o ai · en tã o a ci ta nt e de co nl 1c cc r a pa la -
reformado,, 11ão l1aviam ttd
e D e u . 1
vra d
a. al tc qu ese e he res ia (a ge nt ili cla de ap ar cc�1ldO co-
D· ta fonn
da J são o pil . a rc \ de . llc. tt: nt ac; ãt--. da gu ar i.a pa rte.
mo sua subordin.a
Oo tero .,� len d-.: ob re o J3r as il. A co o �,d er aç õe �
Lii.ro 1,, cm que
o pro·
mbrt! a olón1a ponuguc..� não pa �m de pretexto para qu�
nd i.s ta da é ca1 óf1 ca exe r�i tc SCl t po de r d<.: fog o, exa lta nd o os
paga
ml·rit� e imprescindibilidade da11ru \5e enquanto põe a 11u o bor­
rore$ da Reforma, a:proxímand<> ·u aecrrtcs dos gentios bárbaro�
q�ic. dtl utttro Indo tio A1fântíco, t,ê.1mam c.rn i·o,r, ·, t.:a,m- l 1 �11
� :i e pan�ilo da t·é catóJica tem prrJpó�ít,n h�,n:1n1 ttl • Re mr,1 1
i>rlltcs1ante n1l)str3 .. !>C, wr,1 du-.ida, como um il.Oti-hu.m lft me.,. 1...y_
nrii,,1.mer1tação c.l • Botcto porra,1lo. a a11tropofagia é an e um em·
t,lcoia cJo que urno j'\rcoetlpação eff.! jva: fllitir. do 4u"! <} upir ,nb .
,111c. r1a 1\nt(!rica. comcr11 gt11tc. prcocupnrn nc; o li:ini I e u f!,.
,J.nu q,1e. na l!ttriJpa, p c:m c-n1 �ifio a l _reja.
Diferc,1tc11\ct1te déi� cor1s1deraçõc; obr<! p11rt.c da l!tJíO q e
r cr� o r r �ra e c u ja s pecul i ar id a de pt1d cra o h� �ª'\ 8-0 t�m bMeta
c-.<:rito �obre o 13r<J!>il c,11 out-r�� ontc que ,, o �ua, nora d •

g.c 111.l'i u1tor c1t\!nto. abre �• parte que 110 inu.1'.<:S r,1 n as.do
pecíficidade da coJõ·nia portugue�J: ··11 Bto iJe e empre ü.to ur.
Corona distinta da qucJla à cu1 �OÊ(gta :e la 11uova Spa a,��, .P;r :
e ncUa convcr ione d(!' ,t1oi pop-ot\ �i e sempre t-.:11u1a. · i riene
niera diffcrentc ua qu�lla, chc si e c:iiot' ne11· ltrc:: par i dert•, m ri ..
ca · ', 2'<1• C.on iderctçàd curiosa. reveJnüoru ue o hi I t,-r �o do
já qtle, naquela época i um �6 rnonarca,. f:'jtipe 11 e. lo u depo . i�
lipc 111 1 era St!nhor tanto da Arnl"fica l,is;rãotc quanto da port
apc ar d1 so, para um ob)Crvador aterllO da cena uropé1". um VUJ•
to diplomata também - l<.�nhrc- e a mi o .:c<:rer� q 1e oi _ m·
bira o duque da Sa\·6ia junto à corte da r411Ça -, .Ponu ...
nha continuavam reino difere,1tL-si sep-arado� encre ,.. , o m o
acontecendo com a.s respecuv� po sc--s$Õc5 coloniais. O.a! . o
ção que fecha o parágrafo: •'Onde e• par-so ' e.o • i.; ·1.e ii d.2-
t •. 21 •..:
re ancbe raguaglio scparato
Sa-be-se que para a América bi1pánlc.at foi o a - na- Hist •
1

ria natural y moral de las lndias - o grande repo ·lório dt in orma·


çõcs de Botero� 22 Entretanto, oão t.enho conhecim nt•J e q � av:
hoje, os estudioscs do autor das Relazioni hajam p em
estab.elecer as fontes que nortearam a ua csc.-riUJ 8. ..,._ ...
não se baseou na observaç.ãc) direta1 de que font · a ' Bu.w
cosmógrafo ..hístorjador Giovanni Bourro ao d. mr. rnSJ1

(•) . ·o BrBiil fQf �mpre um.a oron d,,...-·,.....


NOVíl f!�panha.c o-Peru: e: na co-nvct te .k'll �.,, Jetn1
pc>f"1 de modo dífe1cntt d� ourr· ptll'lC\I da !'
(••) .... D.» pattccr-no1 çoi1,e11 nt diir m

6J
''CHE ARGOlvfENTJ ERANO
. 1TJ A REPRli\1ERE TÃTA BESTIA
LITÀ?'�
.4S FONTES DE BOTERO

A ineq111'\'0ca presença jes1,1'tica


No toca11te à ação e à estratégia catequética n
a colô t1ia lLL So­
brasileira\ Botero \raleu-se de vários escritos de lVI
anuel da Nóbrega
e de José de Anchieta. 23 Tomou deste, inclusive,
o registro de epi­
sódio p1ouco conhecido da evangelização. qt1 11do u
a alg ns francisca­
nos tentaran1 iniciar a catequese dos gentios. Diz
Botero: ''I Primi
duque, che si misero all'impresa dell t Evãgelio ner Brasi
l fl1rno alcu­
ni Padri di S. Francesco, la piu parte Italiai1i. Un de'
o qL1ali valendo
passare un fiume vi restô affogato, gli altri f'urooo am
mazzati da'
Barbari prima, che potessino dar snggio d'altra
cosa, che del
buon'anin10, e del molno zelo loro, ,. 24•
Diz o, Padre Anchieta:
vieran1 no Bra il fomcn d11 orde111 de Silo
Os prirneiro,s religiosos que
Francisco, os qttnis nportaran1 a Porto Segt1ro r1ão rnuito depois da po­
,•oaçüo daquell:\ capita11in. e fizeraJ11 $Un habitnçfto con1 zelo dn co11.
,rer ão do g�ntio. e, nincla qt1e 11ão sabin1n s11a lingua, de t.1111 deles se
diz qt1e lia o Evangelho e. conto ll1e disse senl o Portligueses Q\te pA!'l\
q11e Lho lia pois o não en1endio111, re$pon<lin: ''Palavra de Deli é ela,
ten1 virtttdc para obrar 11eles''. U111 deles 11a passnge11l d11n1 rio se afo­
got1 donde lhe ftco11 o 11or11e C) rio do Frade; tod ()S o 111nis 1t1Atarn111
os f 11dios le,-antnndo- e co11tra os Portt1guesl"S. 2s
A percepção da existência de fase� di ti nfas 110 processo de cn­
teque. e - a rtecessitinde de ''n111rar s1i1e·· - foi sc1n d(1, icl i1 inspim­ 1

dn JJOr Nóbrega, e.xtre111a111c:nte se, l1s.r,,c1 à· etapas p,róprias a tal mo·


vin1e11to.2(\ Vcja111-sc os treci1os respe<:ti\.ros: t.:n'l '3otoro:

l11d11ssero dt1.r1qtH! con pri�gl1i\ e • prontessc i p •rlrl e le 111aclri di tÀ­
miglii1 à (lf\r loro ira t'uru. ç it1 e.li�, ·ipll11, i fagliuoli: 1\ttesero po1 1.·011
mo1tfl cJ,,lt:outi n n,n11t:sgi1trt' q,1ctti gio,,uni.,11t(i [$1t·], à l,on1t�s,1icnl'li.
&. a itl\"llSl,irli r,t pQço a pt1 ·e> d�lln l,lcl�1ti1 tit.•lln ,,irtu, � dt'll'l1olit•st,\.
No11 sl gt·t10 qt1rs-tn st.'11\ct\t:t i11cl1\r11Cl. 1�ercl11: i 1�111 ·it1IJi i1 �,11nr11vnr10 t�,-
il1i1t•r1t�\ Qltcl l'!k� lor si <lic,ovn: t ttt• cln\, \110 pA11e tl's,1 i tli l':\, n, l� t\lilli
e•) ··os prli,tt•hv.) J'Orl 1nto qUl" St' J lt� 'Qflllll tlf\ ('tt1t)0.'S l tlt) H\i lllNt.:lll<' 11 l lln,
�il foral\\ al�11J\S pndro eh,• �i\v 1') Uh."fsco• .it 1 ,�uint p 1rte il ,th 1 nn.-.. Utt\ cios bllílf�. ii1,._
1 11 e,, rn�snr un1 rio.� nlb!t,)\t1 s Otl!r,� fon,,,,1 1n,>rt � ,�01' b1\1l)nro� ntlle!i (lth.' 1>1t..
1

<h.t st�u, ctnr 1,rl,,"l1 1, l� l)\llfl\ e is I qo�· dtl :o;t,l\ l'l<'1,1 t111i l no ,. eh.: ,,,i1h,l, 1:�1l,\,· •

06
aJrri. e con 1·escn1pio ri1imvru10 n poco a poco i 1::ot1\pagni dnlll: u n1.c­
bestjali 1 ••. ); 27•
en1 Nóbrega: · 'os fill1os crectdos nisro ficarão t1rn1e cri ,tilos, porque
\
é gente que por costt1n\e e criação co111 1t1jeiçào r,u· o dela o que qui,
sercn1, o que 11ão será possí,tel com razões 11en1 nrgun\cnto . Já ngo,ro
dão os fill1os de boa vontade para 111�os e11 inart�111. e 1l1<?s lcvn111 d1 s,o
que tên1 parn ajuda de st1a n1antença [ ... ]' '; itc e en1 A11cl1ictt,:
.Estes, e11tre os qt1ui · ,1 ivl;!n1os� trazcn1-110$ vol11,1.tnrilll11e1,te seta ílliios
para os e:nsir1armos, os Q\11,is. succdc11tlo depois a seu 1lnis. 1orrlen1
o povo ngradi\v�I a Cri to. 29 [ ... ) 1e1t1os un1u gnrJ1dc cscotai de r11en1i­
n,os Índios. bcn1 i11str,1fdos c111 lcitt1rn. �scrita e cu1 blltts costt11,1t.··, o
quais abonlina111 os \Lsos ele sc11s 11roge11i1ores. S�o eles a co11sol,wç <.>
nossa. be111 qtte sctts pais já parcç1tn1 111ui dif�rentcs rios ·o l"uant". tio!)
ele outri1s terras; pois q11c nã<, matnmtl, 11ão co111ert1 o iniltttigo , 1lc1n
bcbcn1 d a n1a11eirn por qt1e d ant�s o fatin1n. 30
Sobre a clttcquesc e suns estratégias. Bo�ero deve ter liclo ainda
outros escritos jest1ít icos 11os argliivos da orde11.1, bebondo nol �·e pro·
dt1zi11clo, con10 pode st!r coi,stntâdo acirna, un\ te.xto 111ni • pe soai.
cotl1prccr1sívcl 11\1111 l10111en1 que dedicavn patte de si1n · ,cncrgi3s i11-
tctectuais à propagt1nda da Igreja t1�icle11ti11n. Acerca das prt\t ica · g\!1)­
tilicns, a "cr\sução de estmnha1ucnto era, 11or�cl1, tnt1mlitatl1ê11te 111nit)r;
11t1m procedi11ne11to verdrtciciratl\CJ\te et11ogr,ifleo. qttnsc t ran crcv • t rc-­
cllOS dos obscr,,adores diretos. cli111ir1t1i11clo nssin1 a mnrgc111 ele erro.
V:t:jnmos o que diz 13()tero r\O lt'c\ttlr do. f)Ojé �
l B11\sili so110 it1 arit 111nt,icrn SOeJ.lerl a gli i11cnntntori ) e sim,l\ c111'\t.
1m qucsti 11110 vc n'ero cltt' co11 n1oltn a.rt� ) ,� \Stt1ti1, s't,n,,e, , n 'Q\tistn·
to t111A s.t1r,ret11n f\tlttorità. e ri1,,1tntit>11e tm loro. di lttt'altro B ·ot1lnpio,
o Mnco1\t� ot\ lc 1,,nn si t)rêStO 11t\o s1t\1l)\\1f\ln,'f\, cl,e· $i n1l\davu s,,bito
1>cr t•ost\ti. Vc1111c \ltta volta:, 1.1\gio11n1t\ccit<) pi\1 cl\� , diS)J>Uln, t"' • st,
\tti it P. Nobrogt1: "" li tiOll\(\(tO itl C\ll vi, l\l. ft\CCSS(! ��li ll\l�11r \le lllt'ffi•
,,tglie. dei Olo dl'l Citlo. ô (tel drlt\01,io tlelt'l11fi 1·1,u? ,\it�or lo (ri, J'I st
l't.··111pi<.1) so1tt> Dio. e Q\lCI s••11re1\1\1 l >�,n�"ip lt•ll'tlt-clvcl'$<"l, :,'.;t1i co11nl
" l1,('l, 1 r11, il <.,�lll, e e 1-e1llil lu tcrn\, � 111io �u11,dl-;sl t11<.i n11ri\'O! 1.·spe "�e volte
1

(•) l•l1\d112i1 ,t1l1 l ois c\.'11\l () ·clldo� "·ou1 pron,� n� O$ pa,� e u,ne · l1e ftt111fll1
n U1,t•, tl!\r '-'S ftll\OS J)tlrtl
l 1.•,ald ttll'1 l' ,ti l'f()ll ni1: Ul)ll�C!l\\intt\, llC(\ i$ '1< ,,, 11\llltn lo\1lrn
n,n11i\>\1ln, tlC\l\tl �s j0'irfJ1\2h1l\1.l�, <lou,e-stt ·1l·ll)S, le�•\..itt,� u 1.:it,1l ·,)�,,�\ti;"' l.'1\ 11,C>r.\·
d s ln t,el�;,n di\ virt,•ctr. t' th\ ht'll\�. t.i, t 1,tl . l l'lt 1 �t·1r,,"1r nfl.o r,,l clt'�l)ef\lt i,,d ,. f\,t·
(}l\C l S l\ltll111\l)$ l\'P�ll(ltn,,, l'l\\.'illll\'111, \,} c:tlk\!' � \ht. \.U!ll\: \� �utl!i>l'l (li\'- \l1\ ''"t te lia
tlt� �\li\ C \S ,, � l\� (\UlíO�. \\ C{ Ili O f-.t�ll\f'l titn,·"nl � ('ll,tl\.c'O � 11&.11\CII..) a� �'.;)tl\J tltU\ h., �
d�\S ha\\,tt(,s \,t1s.tit1I� 1•••).'
1

67
mi i m?stra 1 ra le nubi, &
_ in mez� delle saette, e de'tuoni.
p1u p�t1enza 11 obrega; ma cõ p1u c01 Non hebbe
. 1 e ª·
: ch e argomen ti (che
.
ment1 erano att1 a reprimere tâta best1al1t. argo­
a?) Lo confuse, e'l rese u ­
lo. Sma�cõ, & avilí di tal maniera qu m to
el suo empio orgoglio, che
so, non molto d opo, la sua cecità, e malitia e d confe­
omando d'es ser instr
nel1a fede, & amn1esso ai Bat tesimo. II che eg utto
]j ottene finalmente in
me con a lcuni a lt ri. 31 • sie­
E o trecho de Nóbrega, que lhe serviu de mod
elo:
Proc urei encontrar-me com un1 feiticeiro, o maior
desta terra, ao qual
chamavam todos para os curar em suas enfermidades
; e lhe perg untei
em virtude de quem fazia ele estas cousas e se tin
ha comunicação com
o Deus que creou o Céu e a Terra e reinava no s Céus ou
acaso se comu­
nicava com o Demônio que estava no Inferno? Responde
u-me com pou­
ca vergonha que ele era Deus e tinha nascido De us e
apresentou-me
um a quem havia dado a saúde, e que aquele Deus do
s céus era seu
am igo e lhe aparecia freqüentes vezes nas nuvens, nos tro
vões e raios;
e assim dizia muitas outras cousas. Esforcei-n1e vendo tan
ta blasfêmia
em reunir toda a gente, gritando en1 altas vozes, n1ostrand
o-Ihe o erro
e contradizendo por grande e.spaço de tempo aquilo que
ele tinha dito:
1e isto, com ajuda de um língua, que eu tinha muito bom,
o qual falava
quanto eu dizia em alta voz e com os sinais do grande sent
imento que
eu mostrava. Finalmente ficou ele confuso, e fiz que se de
sdissesse de
quanto havia dito e emendasse a sua vida, e que eu pedi
ria por ele a
De us qu e lh.e perdoasse: e depois ele mesmo pediu que o ba
tizasse, pois
qt1eria ser cristão, e é agora um dos catecúmenos. 32
Não por acaso, é quando trata de outra historieta
referente a
pajés e encantadores que Botero novamente se aproxima m
ais do texto
de origem. Diz o jesuíta italiano:
(�) • 'Os Brasileiros encontram-se grande
mente sujeit-0s aos encantadores e sen­
te semelhante. Entre estes, havia um que, com muita arle
e astúcia, tinha 1conseguido
uma toridade suprema e grande reputação junto ao
au
s demais, como sendo um ou­
tro Esculápio, ou Mac-on. e, não havendo quem,
ao adoecer, 11ào mandasse procurá­
lo. Aconteceu de entrar o Padre Nóbrega com ele
• antes em argumen'taçào do que em
discussão: e lhe perguntou por graça de quem
reaJizava ele aquelas suas maravilhas,
se do Deus do Céu, ou do demônio
do inferno? Eu prór>rio sou um D
o fmpio). e aquele supre1no Príncipe do universo, eus (respondeu
e treme a terra, é meu grandlssin a cujos acenos se inclina o Céu,
- 10 amigo: muitas vezes se n110.stra pa
as nuvens, e n.o meio dos raios. e dos trov ra mim entre
ões. Não teve Nóbrega mais paciê
com ma:ls cólera. do que argumentos (qu nciai mas
e argumentos eram capazes
ta bestialidade?) o t>-011fundiu, e o calou. de reprimir tan,.
Desmascarou, e humilhou d
seu orgult10 ímpio, que confessou, n e tal forma uquelc
ão n1uito tempo depois,
aia, e pedit1 para ser inslruído na fé a stta cegueira. e .rnatí.
, ,e adn1itido ao batismo. O q
guiu, junto com alguns outros." ue fi11al111ente conse­

68
1
50110 nel B·r :i jlc 111o ltis si1 1i maleficl., eciurmatori, d\)Ua Clti iiilprt.idcn­
zu. e pazzia non mi farà grave addur ()til tu1ot o duc cssct1]pj, l' a.no
1560. nel con1atodi Pirati11111ga. esscndo tramontato el s·ole, sic<>mlrt·
cjo i11 t.111 s,1bilo a turbar l'aeret a copr,rsi di solij nuvoll iJ cieto, e ud
a11rirsi con tuoni, e con b,,le11i. Si levo poscia un vento dtt meio gior­
n<>, e gira11do ta lerra fi1J Clle giunsc a Po1tente mae.stro, ·prisi ivi tanca
forr.a; cl1c r>orlo viu tetti di cns� stt11tolô selvc, dirndicô alberi di grnrt­
clez.za s111ist1rata: e fecc in tllla 111cza hor�. ch'egli dt1ro frti�o.sso, e rovi·
11n iaesti111ab1)e.
J\lcuni giorni doppo cerli Sacerdoti s�i,1cõtrnrono i11 Li11 di questi 111a­
lcfici de' QLJ.al, parlia11,o, & l1avcn(J0Jo c.:sor1nto 1'1-Sciar quclla. inían1c
()tolês$jo1\�1 e vita, cl1.êgli fa<:cva, e à riconoscere \111 Dio pudronc, e
.-cntor<: u'ogni cos�. lo coitosço (rispose egli) Dio, o l figli\tol di Dio
iu\ptr<..>t'ltc l1n,re11do111c il t11ío ctl dlllo 11.1n fiero
, ,11orso, cJtiau,ai il ílgliuol
di Dio, cl1e 1tu ve11ls ·e i1 111edicarc. & cgli ,renc i11co11t3r1e.111c: t.' per ven­
dc!t�l dei n1:.1.le ft\lto,ui ditl C'aner t\JfC(O seco que! vc11to. cht nlli dl pns,.
sati 1'JlCllO lar1ta rovir10 d 1:ill1eri. e di �á. �. lJ•

O I recl10 i11SJ).itador deslU'' co11sidcr,1çõe de Dotl:ro se er2ctlnlra


un1 r1<.'l1fcta, 11a '� srta de Silo Vic.cr1tc'� dutatla do (1ll1n\o dia c.le
l11tlit1 tio l56():

Não 1,,\ 11•i1itu · dlas, e ·t.tltt(io t,ó � e111 l>irttti11t1,gtt, contcçou. Jcpoi, tto
11ó1 .. ct\>-�01. L) ar a (Urvar.. sc de rer>c1,lt.', a e1,ul',lar-st o �"éu. [\ runtudarei11'.0o
So ( � rt,ll\t\lt)tl,!ll'S e'. ll'l)V\.lêS1 lc\'IIJ\(a111.l1)-SC witão l) \'l:?l\lll s,,t ::\, Cl\\'ô:l\ c1
1

ll<)ll-.:\ t\ l'()\11:l) t\ t�l'l'U. {\(� q\)ê, Ci\ �g�1t1do �\O N nl,·s�, de Ol\ {e tJ.Ltn.;i
sc,n,. rc '-'OS'l l1tllt\ vir -o tl'n11,estt1tic. �ut11 e ,,, lauta vi<)lê11(i?1 <lllô pa1��­
•i:t .t11t1t�11\'ur�110:,, o :Se1tl10l ct 111 11 Llesll'ul�·a.u: ttl1nll1t1 t1 i:n a·. ,1rrol1n·
l(\11 o� lt.illtu<.ta � u dcrtibolt 11, 111.uti1s: ;\ dr,to� tle, "'()lu. � LI :,tturu t1rr ti,..
l'ti\l l çltl!\ lllÍI.��. JWl'tltl lll'IO lllCÍ í)\lt 11l� l)lOllli)�. (1 ·�1,ocln�'l \l ()\lf.trt.��

t •) 1 •t1- lsttJ}l ,,l, 111-11, ll 11\l\ilô tt11tl fi\'o 1 � c:n�Ullti\U\\lX;._\ <!� i.!lth, 1t1111t ,,li
11 j:\,
� h.>O<'\ll li ,ul\.l 1.11� �, n f)Cll\ �L, (�lnr \llll u,, \Joh� r.'\Çtllt)l.\JS. N{, t\Jl\' ti<' t �ffl), �1;\ pr,i,1ft\·
�tr, "\� l tt�tt1\l11tio, trihl\i t', ,1t h� l'\), 10. ullv�iõ t1n1n s,\l)\ln J>vrlutl"',\� (' l\t'-Q tUCb-, ·"
�t\ltl lr"', lJ t� f1tive11!\ �._.1,t-1� :1 \ u e ti lbti1• '8(t ,·0111 tt'\1\'� t'� r t tll\11t1"1�\).\, l\�,,11,tuu �l"
1l S\"�1�11 1111� \'Ç{\t 1 �,,t. \' tiiU.UHllll 0 (Ul ll\ t\( tt(ll\�lt 1) I• t'\\(t.\ ru J\ '111' >\I til � 1,1.it\\l\·
1�hn ,1th: nt1 Ulr<'\\ tv( 1� tl{· 'b�t1:,, ht.lll\l,, ti, t\1 r ,�(l'l� 1 nt, 11t �)1t ,, �t,�-JN-�<k tici 11h,:
,U11tlit !tlltl�ll\ll(i: (' (\\nn,,t�f\ u1(lh\ 1\\ll tlll\' , l,11\'II, l}'r\.l\� <� ,t l11,,1t111�\,,-·1 r1lf n11 tll\'
l

ll'Ut�:l .
'',\, \Ili: li1"" \t'I) \f \ 't'• t\l� �.\ 'C'�\� �l"� � Pl\')Qtlllcll�litt l' ll\i \lll\ J. ,' t:� tll�l�!1._
"�� {lt\.N. 't\\1\IN ili 11�1,��. c- lU\\,�a,,l\\ \li 1.� lrt\\\.l,; ;l J�i� 1\ tlclU\'hl 11\t111\� l\l,,tl· 1..,\t � 't'-
1.ti\, \\ll'1 l t\\u, \\ n 1 \tOl\tl\�,. \i11\ 1 �t� �t11h"�,. e çJ i\,l t' d<' l\,tl s -tt�' -• r!1) ,.,, ,1.�
tih ��' (t� f\\lt\t:I ,1 t;I ) l)t!>1•�· .t· ) 1tlU1r• (\l' t t?tí�. 1i�,\� (tlJ,' 1 �1\ tt, \' 11,t'\l �<,l:� '''( '.!t\(I,,
11ct tiUl\' li'-' 1 ttllt' til'' i�""i"� >liC'd l :t ,, "'-�1\
\l\-1t\ t}p,t' \ ,s-11 ,,u,� ill ,tl, '-'t,n• ,,r\, l)\'.1\,-.. .t ,,

' t\> l�\\l\\Olitlt'l\lli t'I (itl1 Yl11 tl\\\'il íl\� 1�\tll \I\\" \\\\' 1�. tt -.•111,), lf ,�,_-. ,•,,11,�' \'\ • \,•t
\'\'\\\\\ l\ltt' Ul\� ,c,J�1� JIU\\tll.l\),0 l)ll\l� \ \\U ttU\111 \lc,,tul :tlt) 1\ tl,J l. \ \\ 1 ·i., � \\,�U"
i
m ob -s-uu id .2.s as � tra das,, e n en h11ma passa-
. � mane::rra . '°1 .,.
"' '-> r,. ·.:ira
ce L •• _.,,30-!-- •
agos de árv0-
t.

es; era para sdn 11 rar qua nto s estr


bt.� •u
tero
- I.Aa\

1:i:
sa.s
\.'!Q

P 1�
, ,
...
- 1..; ...,..,,,��º
11,1..,lu no ......,....... •
de meia •
h ora ( po 1 . .S nao- durou mais do
res e ..,..;
na:
_
o 1
-
ve sse ab

re1.�1�do aquele tein-
5SO ,. e, t11 \-erda<l� se 0 Senh or _ _ �
ar..::
• '""'i r a ,i.o lffl a a e rud o cam a por terra • [ • · •]

nn .,..."1"' ...,,......�
,., • ' :-est: � a
· ram anh
�1 m esm o Ju lg ar a s se mais
• .. •
, qu e po r
l
� :..•·• ,, ."'llt,. "-
re fe ri r u. I n fa to
\�e ea-..:remnto ce rt am en te a ce gu e ir a e escar.
q ue d e riso ; la m ffl f�
digno e.e êor co de se p..1 ss ar ern es tas cousas�
t\)u cu ra . P� Jco s dia s de po is
.J� da
ald eia de Ín dio s 2 qu e ,im co m alg un s sa ce rd o te s apli­
em um.a ren a
da alm a e ào co rpQ a um en fem 10 , enconmunos um
� a ;:n,-erlicin.a
re=::�-o de gran de fam
de
a
m
en
en
tre os
tir ,
Ín
e
di
re
os
co
, o
nh
qual. como o exortássemos
ec e.'5 e um só D eu s, Cr ea dor e
m.uiw au e de i \ã ss e
(p or assim di ze r) lo ng a dispu­
s...� de 1od as as co .is as , depo is dt1m a
ü!. respo nd ru.: ·'E u oo nh eço nã o só De us., co m o o .filho de De us.. pojs
hj pou,.� morrlendo--me o meu cão. chamei o fill
io de Deus que me
tro� remédio: veio cle sem demora � irado con
tra o cão, trow:e
co:1sigoaquele "·ento imperu��, que soprou hâ pouco para qu e demi­
me cau sar a o cão ''.34
ha� as mar2s e vingasse. o dano que
Em ambas as passagens citadas ressalta o carárer de exemplu,n
d'o episódio narrado. �1esmo sendo de autoria dos catequistas Nó­
hrega e Anchieta. e não de BoterQ, foi cerramenre tal aspecto que
�ri�·o.u o auror dasRela;Joni instigando, nele, o hábito de pregador
{e de raórico, aci11!a aludido) tão -..alorizado pelo mestre Borromeu. 35
Por fim, outrapa.ssagemguase lireral dos escritos jesuíticos qui­
nbentisw sobre o Brasil pode ser encontrada quando Botero fala
de João de Bc,lé. o herege cal,'Ínisca;
�o I� C().)'1.o ro due minisrri d'Heresía e dj pravità Cal viana, per in­
r� di qu� ,-eien0i e í soldari francési, e i Brasili. Nel progresso
deil Impresa, il Capitano, cb*io mi credo fosse Nicolõ Villágagnone
11�º:11º mlenêiroento e c;ií giuditio, ·s'acorse, che questi eran.o huo�
: �
e coo estr�a tgt1oranz.a delle cose ChriStiane llavevano co n-
�u
. na ))TOSO�tl.�n� e ar:togaoza (cosa com.mune à tudi gli Hereri -
et,. ma � _ Rra tu . .
tt1 gli altri , a' CaJv1n · �
1an1· ) 1nro .
llerabile- Onde com ,. i·n.ci· u
...........
_ . tra lí
• .snappazzat!j, ., .
1
a e tt.aT per bu. 0 - mt. m. p1u atti à per.verti.re. cbe a edifi-
C2.f le &enti.
�aeque Pffl · ·taru0 d"ispa,rere
tra i due IIllillS · ·
.
no_n �do.quel• uic . , · m : . tanta discordia,. che
..1._ St
.. di ce ss m o
' e · no n vo1endo cedere l'uno all'al-·
tto. si risotsero ut •
A: scnvere.
a Geneva: e d"1 1·a .aspett:ar risposta
renzeioro. ln tãto·un di sule cliffe-
loro :eb e� ª���� P
�CO d'accordo co'l Capita­
i
m>, a�do a San J/ícenu, & �
tre-eompagru alla casa d� es_n.tos1 d1 pelle d'agnello, s•ad.FizzO con
e fiatta Gi.
esllJtJ, ove fuino
ra c co ··
· ti hum · anamente. n mi . · Iti corne peregr,ini.
llJ.StrQ� che. p
a:rla't'a bene Spagnuolo, co-

70 •

- --�
minciando a millantar:i della nobiütà del suo casa,o (do,e\a iorre es­
ser un'altro Drance: Genus huio materna superbum Nobili� dabac:
incertum de parte ferebar) e a vantarsi com questo, e con quello della
sua dortrina. e aiutandosi con una certa f acilità di conversaiione, e pron­
cezza d'ingegno. si fece a poco a poco 1ent"r dalle briga1e per huomo
da qualche cosa. Scrisse> anche una lettera ai Padre Luigi d.i Grana. Pro­
,inúale de' Giesuiti ch era allhora in Piraiininga. dandoli conto del'es­
ser suo� e de gli siudii suoi, con dire-. cbe poiche il maestro della sua
eio,'aflez:za, buomo raro, e singolare. l'ha,-ei.c1 introdocto nella fe1ici spe­
º
looche de1le Piericli. o,-e s'era nel fonte (non sõ. se di Pa.rnaso, o d Eli­
cona). inebriato con g.li ameni, e divini ri\i delta sapienza. se n'era pas­
sato a gli studii della Sacra Scrinura, e dell'altissima Teologia: e per
poterla coo piu age'\·otezza consegu.ire, ha\'ê\ci anch� non perdonando
a fatica alcuna, impa.rato la lingua Sacra da gli stessi Rabini, e da loro
insieme appreso secreti mera\'igliosi, de' quali ,·o}e\·a far pane ad esso
Padre, come prima potesse con esso lui abbocarsi. on passarono poi
molti giomi ch'egli (perché ex abundantjsa cordis os loquirnr) comin­
ciO a besrea,miare contra il Santissimo Sacramento, contra le imagini
de Santi. contra il Vicario di Christo assaporando ogni cosa con sale
cli facerie., e di morti. presi dalla bottega di Calvino, molto plausibili�
e al gusto deUa moltitudine vaga cli OO\ità quale ella si sia. Ha,·endo
cio inteso il Grana� si mossi subito da' Piratininga per opporsi a• prin­
cipii del ma1e. TI Frãcese li mando· incõrro una Episrola, il cui essordio
era questo, Adeste mihi Celites: offerte gladios ancipites faciendam ,in­
djcram in Ludovicum Granam, Dei osore. Onde si puO far congiettura
del resto. fl P. giunto alla cíttà, cominciõ' subi10 à dimostrare a1 Vica­
rio l'importãza dei negotio, e à essonare cõ frequenti Prediche il po-­
polo à guardarsi sollecitamente dalle parole melate dell'Heretico, e da'
r
libri pestilenri, ch'egli ha,..-eva portalo seco. Per conchiuderla il Fàcese
se fü preso, e messe in prigione, e poi màdato in Portogallo. �6•

(•) ''Estavam entre eles dois ministros de heresia e pravidade calvinista� para
infetar com eSle \'eneno os soldados franceses e os brasilos. o progresso da empre­
sa. o capitão, que creio era Nicolau Villegaignon� homem de entendimento� e de juí­
zo, percebeu que estes eram homens que, aliada à extrema ignorância das coisas cris­
tãs, tinham uma presunção, e arrogância (coisa comum a todos os hereg� mas
sobretudo entre os calvinistas) intolerável. Onde começou a censurá-los, e a tratá�los
como homens mais aptos a perverter do que a edificar o gentio.
''Surgiu depois tanta divergência entre os dois ministros1 e tanta discórdia. que
não sabe ndo o que se dizerem, e não querendo um ceder ao outro, �lveram escre­
ver a Genebra: e de lá esperar resposta sobre suas diferenças. Enquanto isso, um de­
les, que não estava muito de acordo com o capitão, foi a São Vicente, e vestindo-se
co m pele de carneiro, dirigiu-se com três companheiros à casa dos jesuítas� onde fo­
ram recolhidos como peregrinos e tratados humanamente. O ministro, que falava bem
O espanhol, começ
ando a vangloriar-se da nobreza do seu sobrenome (talvez devesse
ser um outr o Dranc e: Gentis
huio materna st1perbu111 Nobilitos dubat,· incertum de

71
igno n. di z A nc hi ct a q, 1e ''a fi rmav am todos eles s
D e Villcga . o , ' 37 er
t1to e g r a n d e c a v a li 1e1r
católico e ,nui do .
or ad as por Batera se en-
gros so da s in fo rm aç ões in co rp
\ias O
'' C a r ta d e 'ã o V ic e n t e '' :
cor,tra na já citada
era m t1e reg cs, ao s c1uais ma 11dou João Ca1\l·ino dois que lhes
'Iodo!> ele<;
M in ist ro s, pa ra lhes en si na r o qt1e l1avian1 de ter e crer. DaJ
ch aitiam
o tem po, co mo é co stu me do s l1e reg es, co n1e ça ram a ter diver­
a pouc
op ini õc .\ un s do s ou tro s, mn s conc ord avam 11isto que servissem a
sa.s
e a ou tro s let rad os , e logo qu e ele s respondesscn1 islo, guarda­
Calvino
riam tod os. Ne ste me..�mo ten1po uni del es ens i11a va as artes liberais,
grego e hebraico, e era nlui versado na Sagrada Escritura, e por 1ne<.1o
do �cu Capitão que tinha clivcrsa opinião, ou por querer semear os seus
err o:, c11t re os Po rtu gu ese s, un iu- se aq l1i co 111 ou tro s lrês companhei­
rôs idio,as, os qt1ais cor110 l16spcdes e peregrinos foram recebidos e Lra­
tados mui benignan1ente. Este que sabe bem a língua espanhola. co.
meçou logo a bl�sonar que era fidalgo e letrado. e corn esta opi1uão,
e u1na fácil e alegre conversação que tem, fazia espantar os hoo1ens
para o cstimare1n. Escreveu tambén1 uma breve carta ,10 Padre Lu(s da
Grã, qt1e enrâo estava em Piratininga. na c1ual lhe dava co11ta de quem

parle]erebar {A nobreza da ,niic conferia-Ih� urna linhagem soberba: diziam que a


paternidade era inccna}) e a gabar-se di1i�o e daquilo da sua doutrina. e valendo-se
de uma cena racllidade de conversaç�o. e presteza de engenho, se fez. aos poucos pa�.
sat junto à. companhia por homem de valor. Escreveu lan1bém u,na carta ao Pndre
Luf� da Grã, r,rovinci:il dos jesuít.is que r,c énconLravn então em Piratininga, dando·
lhe eont� do seu estado, e do:; �cus estudos, cJi-1.cndo que já que o mestre e.la sua Ju·
vcntude., homem raro e singular. o havia introduzido nas felizes caverna das Musas,
onde. na !Onle (não sei se do Parnaso, se de Elicona), tcndO-$e inebriado com os an1enos
e divin<n, rios da �abedoria, tinha então passado aos estudos du Sagruua Escrjturn,
e da aJtfss!n1a Teologia; e para obtê-los com rnêtior facilidacJc, lhllla i�ualn1cn1c, sc1T1
temer fadiga alguma, aprendido a língua sagrada corn os próprios ral>inos. e con1
efci. igualmenlé aprendido segredos maravilhosos. que gostaria de con1u11fcar no pró·
prlo P�dre, se pudesse corn c:,te encontrar.se. Não se pa�surarn muilos diits antes que
� le (porque ex abund«fltisu cortli.s <JS l<></Uitr>r f do bocn fala pelo cxl rovnsal' do coru·
�oi) corneçassc a blasfemar contra o Sant(ssimo Sacr·,m ' enro' con tra as in1agens dos
i.Mtos. contru o Vig.ári"',, ·•uc e. ru,to, tc1nperando cada coisa con1 o •saJ de facéciHS e
motec� tom11do$ à botica• d e C,l·I v1no. . .
. · · aprazíveis e ao gosto da 1nulLidt\o dê!it.!JO·
mu110
$a de nov1dade.1, tteja,n quws "
lOre1n. Tundo isto
. con1pree
· ndido o padre Ord 1 deixou
rnpid 1unente Plratiningo a . .
'p rtt se r>po� ao •nal (lue principin va. O fran cês 111e enviou
uma epístola cujo 6 d• ca
seguinte: Acleste n1il1l Cellte.s: (Jfjerte gladios a11cipi·
tcsJactend",;, viiid��«;n ; � ;
rçs do �u • ..mpte"te ..,, ôvlcu,,i Orq11ar11, l)e/ osor� [Socorram-me. habitado·
ª m cspa das de d018 ' gunic) para cun1prir 11 vinga1lça coJ1t ra Lufs
d11 Orã. inirnigo de Deu�} b
' C
Voltando à cidade O J>�. d · ,Otll ase en1 <tuc se podcn1 tecer c.o njeturas sobre o rest<>.
' · " re co,neeou logo a d emon11tr;1.r ao Vigário a isn portânc1á do
ncg6ci· o, e u cxonur com frc O .
nuas do her�tico, e dos Hv q eu� s prêdicas ô p ovo o esquivar-se das palavras melr-
r o
o rranc� foi pre�o. O&t ::�: 1 I :�l �b que ?le ho :ia t rilzido consigo. Para coucluir,
P oe is depo1s enviado par"J
Portugal.

72
e que J 1 avia aprenctido, dize11do que depois que o mestre de sua
era, O
· · ·
le sc ên c ia , v a rã o ngula · meti'do na5 csco las das P1cr1des,
r, o h av1a
d si
�a�ia bebido da fonte caba lina amenJssin:ios a�r�ios de �abedoria, e
·e ha via passa do ao estucl o da Sacra te0Jog 1a e D1v1na Escntura, a qual
sara mais facilmente poder alcançar, havia aprendido a língua Sacra,
isco é a liebréja, dos n1esmos Rabis, dos qt1ais tinha ouvido de muitos
peritos, e que pr�Licaria_ com o P�drc ,1uando se vi�scm. Estas c,o�sas
quasi compreendia no f1n1 da Epistola, que concluiu corn um d1st1co.
Passaram-se muitos dias quando começou a arrotar do seu estômago
cheio de fedor dos seus erros, dizendo muitas cousas sobre as in1agcn�
e.los Santos, e o que aprovava a Santa Igreja do Sa.cratissimo Corpo
de Cristo, do Romano Pontífice, das Indulgências, e otitras m11iLas ciue
adubava com certo sal de graça, de maneira que ao pala(Jar do povo
ignoran te não só não pareciam amargas, mas mesmo doces.
Sabc11do isto o padre Luiz da Grã, veio logo de Pírati11inga a opor·
se à pestilência. e arrancar as ralzes inteiras deste mal que começava
o brotar. Tc11do receio disto. e pensando que tal bastasse para indignar
O Padre, e torná-lo suspeito, se porvcntL1ra fugisse dele, n1andol1-lhe
logo t1ma invectiva, cujo princípjo era este: Adeste mihi coelitos, affcr­
te mihi gladios ascipitcs ad faciendan) vindictnrn io Ludovic1Jm Dei oso­
rem &e., na qL1aJ o acusava e repreendia mui grandc1ner1te porque r1ão
repartia o pão da do\1trina com os Port,1gucscs, por traball1ar na con­
versão dos Infiéis. e disto se nos amor1toou muitas otatras cousas, con1
Ct\JC esperava se exasperaria o Padre. Mas o Padre qt1e trarava da causa
de Deus não fugiu, te·ndo mais respeito à comum salvação de todos.
que à sua própria glória; foi ao Vigário, rcqtJercndo qtac não deixasse
ir adeante esta peçonha lulerané1, e con1 scrmõc:i públicos admoestasse
no povo que se acautelasse <laqt1eles ho,ncns t e dos livros que Lrou>ce­
ram cheios de l1eresias. 38
A utilização qt1ase literal de muitas das for1tes constitt1iu traço
característico da metodologia de Bolero. Nele, Fcdcrico Chabod viu
ccrt�1 pressa, ou, em outros termos, a compulsão cm recolher um gran�
de 11úmero de informações em ten1po reduzido.39 Ot1tras vezes, Bo­
tero resumia textos longos den1ais, como fez com passage11s de Guicci­
ardi ni sobre os Países Baixos oi1 de Possevino sobre a Moscóvía. 40
De qualqt1er forma - e é mais uma vez Fcdcrico Chabod quem faz
O con1entário com a habitual propriedade -, não se pode colocar
ª questão do plágio: entre a época contemporânea e a de Botcro,
são cnor111es as difer·enças no que diz rcs eito ao espírito científico
_
na tnvestiga.ção. Hoje, levantam-seruÚrido otais; naqt1ela época,
era � finalidade prática quem levava�;�lhor: ter à dis,posição ma­
nuais e obras de utilidade tanto pela pe1·spectiva política, religíosa

73
(),,,r.. J Qtlf!ltt<> pelo ( cla,l o\ gc<,g 1 áf ,e,,\ que C<>nt i nha n-1 •· , 'e,
em ,� . .
,18 f'in'1licl:,dc· prática. de ,1ma prat1c1dadc 1rnc, 1
. a, à�
J i;1t CtJ�ttt� da,q
r;.
t rtl1nf,)

; m a . e· era o t<Jm da é poc a' ' . 111


,iêilí,lacJc�, idca,,- 5c

Ai1tr1,1,r,faJ'.tO e n11/enaris·rn<,: e11i1�1r1a.�·


l'ar:1 ,101,, ot1tro\ pon t o� ímpc)rtantí',sjmo1, de> tcxtc>, entretanto
é:I\ f<>Tllc� nã,, �e aprc,cr1tan1 1�c> t"Vidcntc�: a dcscric;â<> de, rittiaJ an:
tror,ofátiico, lc)c�li7.ada, coo fc,r,nc <'>l,vío rccLrrsc, rtt6ricc), bcrn no iní­
cio d(, tc.. "X to, e a cr1igrr1ática refer ênci a lt Sant idad e de, Jag t1aripc, aL,­
wrltc tlar, dcn1flj1.i f<J11tc� jci;uflica.f.t qt1i11llcr1t i�las.
Oc, ritua,� ar1tronofágicos c,hscd,1ré�r11 os c.:11rupcus chegados à
Arr1trica, e a J),lrlir ,te>.'> csc.:ritt>s dc>s cv,,11gclizacJc)rc� e conquJf;tacJo­
rc� 1 8ttnl1art1rl11,ln1bé:1n as cc,11sicl<:r,1c;õcs (l<>S í11telcctL1ais contémpo ..
rãncos. (� ba�tanrc t:onl1ccld<) o cn�aio de Mo11taigr1e, ''Ocs canr1i..
l}alcs''.42 ,nas ,1ito fc>i ele o únict) a se pr<:o<.;ur,ar com tais prátlcei�.
Tittl ci1pítL1I<) a,1tcrior deste traball10 - ''(> co11jt1nto: An1érica <lia­
hólic.:,t'' -. vi11-sc come) o csf Ltd<) brilhante de Ct1étrlc� Zik,t ra,;trcia
a pc11<:lr,,çao do� tc,11,1s cl,1 ar1trt.>p<>r�1gi,1 . a111cri.cçt11a nft Dt1rop,1 do
l{c1,ascimcr1to, Sl1pcr1,011do-sc; a tr,1cliçõc:s J1arrfttivc=lS e ico11ográficas
1nilenarts de rCJ)rcsc,1tação elo caoi b,1li!-ín10. 41 J\ind,t com base r1a
mcfóc.lologi,1 d<: %íko, é possível <.:t1tc11dcr a obsessão pelo ca11ibtllis­
rn<l an1crica110 cor11<, ,nctáfora ele ot1tras obsessões, o qltC aliás já
se crlt1nciotl nas pági11as a11tcriorcs: cm Botcrc,, a bcstialiditdc expressa
no �1to de co111cr Cêtr1 1c . l1t1111a11a crét ariáloga a ot1tras atitttdcs a111i­
t1u1nanas. como a heresia J)rotcslantc.
· De resto, 6 preciso (icixar cl�lro cit1c a a11tropofagia a111cricar10
se s,t \1ava 0\1111a gr,ldo complexa de sig11i ficados, r1ada tcnclo a vor
com gulodice n1onstruosa; 11a ver,1,lde, n1ú
ltipltts sigr1i1'ic�1çõcs se ocu( ..
tava11t por ctctrás cta aparc11te t111ifo1·n1i,tade do ca11ibaJismo atneri·
cano. Er1tre os lt1pi11ambá$, a ingestão do e1ncll1an e rltt1t1liza a i1
s t v
socialização dtl vingança, era r11cca11ls1no confer
idor de l1onra ta11to
par 0 cativo a ser i11gerido
� quanto 1>ara o executor; o cerin1onial
podia demorar nteses. 44 Os
maias costt11navam dcsn1emb. rar o cor­
P� da � ti ma para dividir a carne en tre os sacerdotes e gt1errciro u
sq e
ª in�eriam ritualmente, eslab elece
n d owse, desta fortna ' t1ma egui va·
tênc1a entre a car " .
· n e h urnar1a e a substar 1c 1a ve ge qu e a ha via ali -
mentado.45 ta l
Logo na segunda á ·
creve O proc d
. · ª
P gina d pane referente ao Brasil, Botero deS·
e · unento do s (n d'ios Para com os
prisioneiros. Estes eram

74
prjrnc:ir<J c<.11adoi t e quando t· ta:varo no ponto, :.t��ado" coro,>, na &­
t<>pa, r.,c costumava fazer com OH p<,rc,,..,. A af>·.,ociação com porco,
(; curic,r;a e recorrente no jmaginárío católico oo<.,vc, à ooI,,ni�ção.
1'lóhrega díria que os f ndío� eram ''porco<. 11oa vtciü� e na maneira
tra tarc m''. 44 Nlim dt1)oimento intrigante, t-xj&tcntc na Primei­
de ,,e
ra Vl.�ftaç:{}o à Uahia, o m�mcluco I Fá1�ro da Cunha cc,nfe'>sa ter an�
dado pelos maLor, com o& tupínambá.& durante cjnoo anoi>, pintando
<> corpo e tendo vária� mulheres. Particjpou de rituair, de antropof�­
gia, mas aJcga não ter aderíd,, totalmente a eles: enquanto todc,s co­
miam c.:arnc l1umana, JJázaro da Cunha diz ter comido carne de por­
co. 47 Entre os fran ciscanofJ do México, corrja que a carne humana
era .1.JemeJhante à carne de porco. 4A Tonto 'fhcvct quanto Léry aJu­
dcn1, cm passagcn� djfcrcntcs, aos porcos.
J)iz Botcr,,:

1'ratano costoro )autamente 1 prigloni di gu.erra; ma quando poi vo·


glio110 far <11Jalche festa solene, legano con piú corde quello, cl1e par
loro piu p1cn.o, e piu grasso. II tir1gono variamente, e l'adoranno (Bic)
di molte e diverse pene: e r>er farli carczze, li rallentano alie voJte i Jacl,
e' 11odi. e li dano Iargan1cntc da 111ar1giare, e da bcre. Doppo trc giorní.
lc dónnc e á fancitalli lo tirano J1or da una parte, hor dalJ'altra per le
corde, cõ lec1t1ali egli e lcgato attorno il ventre l'altra brigata li lancia
addosso pomi, e frutti d'ogni sorte & cgli rimãda11do contra i suoi per­
sccutori qt1clli frt1Lti, cl1c pu6 lcvar di terra, si sforza di vendícarsi degli
oltraggi, cl1c li sono fatti, e in mczzo della zuffa domanda alie volte
da n1ilgiarc, e da berc per ripiglíar lc forze. AJora si rinova la battaglia.
Tu pagherai n1anigoldo t d'ossa, e di polpe il fio delle tue rjbalderie.
Noi vogllamo sfogar sopra di te il dolorc della perdita deg.Ji amici, e
de' parcnti morer1ti i11 guerra; perché ti faren10 in pezzi, e tl trãgi1giare­
mo arostilo. Fate queJ che volete (risponcic l'altro) che nõ si potrà mai'
dire, ch'io sia morto da huorno v.ilc, e codardo. Se voi ammazzarete
lt\e io ho prin1a ammaizato rnolti de' vostri: se voi mãgiarcte me, io
mi sono anche trovato a mangiare djversi valent'huominit & ho fratel­
li, e parenti, che non lascierãno la r11ia morte inv· endicata. 11 cacciano
poi i11 una gabbia grãde, e spatiosa, e cõ esso lui il suo custode, tinto
di varii colori, e coverto di djverse piume, cõ un gtãde coltelazzo in
mano. Quivi egli salta, e fischia, e n1e11a il coltelazzo ln volta, c'I pri­
&ione hor si spinge lnnãzi per cavarglielo dimano, hor si ritirainclietro
per sfuggire il colpo: & intanto Le dõne� e i ragazzi Lirãdo hor a destra,
hor a sinistra le corde, con le quali egli e legato, no'llascian10 mai ne
n1over di luogo, ne' riposare. Finalmente il custode, per dar fine a tãte
comedie, prima con alcuni cõlpi l'habbate, e poi cõ un fende11te li spezza

75
r p I e
,..... �·, r-, o

,- r,a cn 1 : · ,apontam - orno


q,
ti • � 911 ,

- do , - tá.rio ,d_ sã,o, Cario,'- B, r ,om, .


de "'"ruo -1 0 ,é ulo, po,d·_ ndo en -
,0 1
'tio , -· rito,, d, Th,e · =- - o ,· -o, , - , ido,
___ a in er e d� , , i_icado pi, la -, erien -ia -_ran _a

- ..... ,v t.GI.Pc• ... n o , ' · _ .. _:n _- ,d,- eu , ' .


m ,m ,j or�u..JI
e .' -do, -ame,.!lm
-1

América do Sul� dado que, tendo sido traduzido para o italiano em


1561, Thevet estaria acessível a Botero também em Turim ou em Ro­
ma. Sua identificação com Thevet talvez passasse pela identidade de
interesses entre ambos: um jesuíta, o outro franciscano, ambos cos­
mógrafos. Thevet foi cosmógrafo do rei, e guardião de suas curiosi­
dades - curiosités, como então se chamavam as cole.ções de objetos
variados: medalhas, plantas, animais, pedras preciosas. Tinha por
eles enorme apreço, e levava inúmeros visitantes para vê-los. Reis su­
cessi'lOS honraram Thevet com suas atenções, até que sobrevjesse a
morte em 1592. As Singularitez de la France Antarctique sUigiram
em Paris em 1558, esgotando-se rapidamente e sendo reeditadas de
imediato, desta vez em Antuérpia. Segundo Gaffarel, os inúmeros
erros desta impressão sugerem um editor apressado pela impaciên­
cia do público, que devorava então todas as narrativas de viagem acer­
ca do Novo Mundo. Em 1561, um certo Giuseppe Horologgi tradu­
zia o livro para o italiano: publicou-se em Veneza, com o título,
Historia dei/a America, delta altramente Francia An1artica di M. An­
drea Thevet, lradotta di francese in ling11a italiana.si
O terceiro autor é Jean de Léry (1534-1611), circunstância que
parece muito intrigante por tratar-se de autor reformado, próximo
a Calvino - a mando de quem foi para o Brasil - e, provavelmen­
te, olhado com repulsa por um arauto da Reforma ca1ólica. De qual­
quer maneira, a estrutura da narrativa do canibalismo é, no calvi­
nista f'rancês, próxima à do italiano católico, e chama atenção
sobretudo a descrição do cozimento do morto. Léry foi editado pela
primeira ,,ez em 1578, vinte anos após Thevet, portanto. Teve nume­
rosas edições latinas: 1586, 1594, 1600, 1642. As duas primeiras apa­
receram em Genebra. A tradução latina mais conhecida foi a inseri­
da na famosa coleção de Théodore de Bry, Grands & petits voyag.es�
que teve o primeiro volume editado em 1590. Esta é a quarta possí­
vel fonte de Botero_, que talvez não tivesse, em lê-lo na coletânea,
mais neutra, os mesmos pruridos que o afastariam do autor protes­
tante Léry. Advoga a favor de De Bry a semelhança existente entre
o relato de Botero e as gravuras que ilustraram a edição das Grands
& petirs voyages vinda à luz em Frankfurt no ano de 1592, notada­
mente a que retrata, ao fundo, a decoração do cativo, e a que mos­
tra o mesmo com uma corda amarrada na cintura à espera da
execução. s2
O quinto é outro jesuíta, Fernão Cardim, reitor dos colégios da
Bahia (de 1587 a 1593 e, depois, durante o primeiro quartel do sécu­
lo x,,.11) e do Rio de Janeiro (1594-8). Cardim esteve em Roma co-

77
pt curn 1or t.\u pr O \ftt icia d � lln1 il en1 1598, e 11e sta cidade
111 P? dc ,
r N a ,,1 a gc m , le v a v a c on si o a
ria Cc."r cr,contr•.ldo Bote. o. . g l guns csc rit
. o s
o pr in c{ p, o e or 1rt c1 11 d os í n d' 1o s d o B r a s1 l ''. ,
cttlN ct ''D · · São ba stan
,
nc1· d l"11t e· qt1c cn,roi v e tn e t es escrit os. roltbados
t� conhecidos � , · · Po r
Fn lrl i Co L1 k qu a11 do a a lto \1 o na vio Qt te trazia o padre de vot
. t a
nll Brasil. Junto e n1 ouLrO d �ts - ''D � eli m_a e ter ra do Brasil''
e ·'Narrati a epi talar d.e uma viagem e n11ssão Jesuítica''-, 0 texto
·obre - índio· foi publicado apenas em 1625 na coleção de viagens
de amuel Purchas. Cabe lembrar, e11tretanto, que as Relazioni, o.a
ediçào aqui utilizada, publicaram-se em 1594, quatro anos antes da
v�iagem de Cardin1 a Roma. Por muitos a11os reitor do colégio baia­
no. este padre poderia ter fornecido material para a redação de car­

l
tas ânuas dirigidas ao geral da ordem, em Roma; talvez as redigisse
.. ele mesmo, no período em que esteve à frente do colégio pela pri­
meira vez. ou posterior mente, quando foi provincial da ordem no
Brasil (1604-9). Familiarizado com os fatos acontecidos na capita­
nia, é possível que o estivesse também com a ocorrência da Santida­
de do Jaguaripe, e que a relatasse em manuscritos ainda desconheci­
dos por nós, perdidos nos arquivos da ordem em Roma. Mas esta
matéria será tratada mais adiante. 53
O se.xto é Gabriel Soares de Sousa, autor do Tratado descritivo
do Brasil, inédito até o século XIX, e de outro escrito descoberto por
Serafim Leite e publicado em 1942, onde se enfrenta com os jesuítas
por defender o apresamento de índios: Cap1'tulos que Gabriel Soa­
res de Sousa deu em Madrid ao sr. Christovam de Moura contra os
padres da Companhia de Jesus que residem no Brasil. Com umas
breves respostas dos mesmos padres que deles foram avisados por
um seu parente a quem ele mostrou. As respostas datam de 1592,
e seus autores são Marçal Beliarte - então provincial -, Inácio To­
losa - que o fora -, Rodrigo de Freitas, Quirício Caxa, Luís da
Fon_se.ca, Fernão Cardim e, muito provavelmente Luís da Grã e An­
chieta.54 Não parece impossível que, dada a polêmica em que se en­
volveu com os inacianos, houvesse nos arquivos da ordem, em Ro­
ma, também os manuscritos do Tratado - igualmente oferecido a
Cristóvão de Moura-, ou anotações resu
_ mindo partes do seu con­
teudo. A antropofagia, aliás, poderia
se r us ad a co m o elemento de­
trator dos silvícolas e, nesta qu
. alidade, passível de justificar a sua
escrav 1 zação pelo colono bran
co: era natural ' portanto' que os pa-
dres da Com an h.1 ª a cemen e
� tas sem , içõ s qu
d ela tlez Gabrtel soares. Se, ou alu d i
, sse m às de scr e
la este levara c0 nsigo por ocasião da viagem à Corte espanh<:J-
1
também o manuscrito do Tratado- , tem-se um

78
elernento a mais a aproximar o escrito do senhor de engenho e o lei­
Botero. 55
tor
Vejamos, agora, os trechos de cada um desses autores. Diz
Nóbrega:
Quando cativam algum, trazem-no com grande festa com uma corda
pela garganta e dão-lhe por mulher a filha do principal ou qual outra
q11e n1ais o contente e poem-no a cevar como porco, até que o hajam
de matar, para o que se ajuntan1 todos os da comarca a ver a festa,
e um dia antes que o matem, lavam-no todo, e o dia seguinte o tfram
e poem-no em um terreiro atado pela cinta com uma corda e vem um
deles mui bem ataviado e lhe faz a prática de seus antepassados; e aca­
bada, o que está para morrer ll1e responde, d.izendo que dos valentes
é não temer a morte, e que ele também matara muitos dos seus e qt1e
cá ficam seus parentes que o vingarão e outras coisas similhantes. E
morto, cortam-lhe logo o dedo polegar, porque com aquele tirava as
frechas, e o demais fazem em postas• para o con1er assado e cozido. 56
'Thevet é mais detalhado do que Nóbrega na descrição do ritual
antropofágico, e se aproxima de Botero em alguns pontos. Diz ele:
Ce prisonier ayant été bien nourri et engressé, ils le feront mourrir, es­
timans cela à grande honneur. Et pour la solennité de tel massacre, ils
appeleront leurs a.mis plus lointains, pour y assister, et en manger leur
part. [... ] A ce jour solennel, tous ceux qui y assistent, se pareront de
belles plumes de diverses couleurs, ou se teindront tout le corps. [ ... ]
Il sera donc mené bien lié et garroté de cordes de cotton en la place
publique, accompagné de cliz ou douze mil sauvages du pays, ses en­
nemis, là sera assommé comme un pourceau, apres plusieurs céré­
monies. 57•
Léry é muito roais minucioso na descrição. Fala de dojs selva­
gens, um à direita, outro à esquerda, que trazem amarrado o prisio­
neiro; mas o que interessa aqui é a narrativa do preparo do morto
para o ritual antropofágico: ''se presentant avec de l'eau ahaude qu'el­
les ont toute prête, frottent et échaudent de telle façon le corps mort

(*) ''Este prisioneiro, tendo sido bem nutrido e engordado, eles o farão morrer,
estimando nisto grande honra. E para a solenidade de tal massacre, eles chamarão
seus amigos os mais distantes, para assisti-lo, e comer stta parte [ ...]. Nesse dia :sole­
ne, todos os que assistem se adornarão de belas plwnas de d.iver,sas co.res, ot1 tingirão
todo o cotpo. [... ] Ele será e11tão trazido à praça pública bem amarrado e garreteado
de cordas de algodão. acon1panhado de dez ou doze mil selvagens d� região, $CUS
inimigos, lá será morto como uni porco, após várias cerimônias.''

79
� nc 1e,1 é Ja premiere peau elles le font aussi blan
Q u'en ava
le cuísi.tliers par deçà saura t. ent � . c Qu e
,a1re un coeh on de lait
5 Pr êt à
rotir•'. •
Longo também é o trecho em que Cardim descreve o
ritual an­
tropofágico, mas, no conjunto, afasta-se dos três acima me
nciona­
dos. Comum, mais uma vez, é a alusão ao p orco: ''Morto ri
O t ste
levan1 -no a uma fogueira que para isto está prestes, e che
gando �
ela, em lhe tocando com a mão dá uma pelinha pouco mais
grossa
que véu de cebola, até que todo fica mais limpo e alvo que u
m leitão
pelado [ ... 1··. 59

O texto de Soares de Sousa é o que menos se aproxima


danar­
ratj, a de Botero. Semelhanças, entretanto, se insinua m quan
r
do des­
cre"-e as loas feitas aos antepassados, quando alude a um
''carras­
co''� ainda, à luta com espada eà fo1ma de execução do pr
isioneiro.
Vejamos as passagens:
( ... ] untam o cativo rodo com m e l de abelhas, e por cim
a deste mel
o empenam todo com penas de cores, e pintam-no a lugares
de jenipa�
po, e os pés com uma tinta vermelha, e metem-lhe uma es
pada de pau
nas mãos para que se defenda de quem o quer mat
ar com ela, como
puder; e como estes cativos vêem chegada a h ora em
que hão de pade­
cer, começam a pregar e dizer grandes lo uvores
de sua pessoa, dizendo
que já está vingado de quem o há de mat
ar, contando grandes faça­
nhas suas e mortes que deu aos parentes
do matador, ao qu al ameaça
e a toda a gente da aldeia, dizendo
que seus parentes o vingarão f .. J
[... ] e com este estrondo entra (o m . .
atador) n o terreiro da execução, on­
de está o que há de padecer, qu
e o está esperando com grande coragem
com uma espada de pau na
mão, diante de quem chega o matador,
e lh e diz que se defenda, p
orque vem para o m a tar, a quem responde
o preso com mil roncarias; •
mas o solto remete a ele com a sua espada
de ambas as mãos. da qu
al se se qu er desviar o preso pa a
da, mas os que tem cuid ra lguma ban­
a do das cordas puxam por
o fazem esperar a pan ela de feição que
. _ d a,. e acontece mw.ta
ca
meiro que mona, s vezes que o preso pn-
chega com a sua espa
mal, sem emb�rno de da ao matador que o trata muito
Jhe na- o dei.xarem as
m�s que � P0?re cordas chegarem a ele· por
• -6
trabalhe, não lhe
a vida mais dois aproveita; p orque tudo é dilatar
lhe- 1-az a cabeça · ., 00 d e a rende
credes
- pedaços com
em
nas n1ãos do seu inimigo que
sua espada [... ]60
(-) 'iapresemand0-
e escaldam se com ag • ua quente, que
de taJ for
ma O co e
las têm preparada., esfregam
tornam tào bra
Qco c-,om_o OS � m�rto que, tendo retirado a Prim
a assar.,, Co21n.he1ros
d-aqui s a ben·am faz eira pele. e.las o
er
com um leitão prestes

80
É em Tbevet, Léry, Nóbrega e Botero que a estrutura da des-
. ão do ritu al antr opo fági c o se mo stra mai s igua l: as par tes são
Cfl ç
ma s, va ria ndo a ext en sao
- , ma is
. co ns1
. d era, ve l em L ,
ery; em to-
as mes
elas, 0 prisio neiro é cevad o, amarra do. prepa ram-n o para a mor-
das
t e, ele fa la do qua nto é cor ajo so, alu de aos que ma tou , e aí, então,
é mort o , assem el hand o-se a um porco . Soare s de Sous a e Card im
fere c em elem en tos com ple me nta res, me nos ass imi lad os à estr utu ­
o
ra nar r a tiva e fun cio nan do , talv ez, com o mer a info rma ção - que ,
a liás, pod eria ter sido obtid a també m em outro s textos . O que os
torna identificáveis, aqui, à narrativa de Botero são antes as pecu­
liaridades da trajetória de vida dos autores: um antijesuíta e pole­ 1

mista dos inacianos; o outro, jesuíta, diretor dos colégios, provin­


cial, autor presumido de cartas ânuas. De qualquer forma, rastrear
as aproximações, variações, elipses e divórcios entre esses textos é
um exercício sugestivo e instigante, apontando para a freqüência com
que, então, se faziam feci�ndações mútuas, e lembrando quet mui­
tas vezes, o melhor modelo para descrições naturalistas não é a ob­
servação das evidências empíricas, mas a observação de modelos
prévios. 61
Mas há também que considerar as coincidências, originárias de
estruturas mentais análogas e de acervos culturais semelhantes; ao
entrar em contato com a obra de Hans Staden por inter médio do
dr. FélL"< Plateros, em março de 1586, Léry se confessara surpreso
pelas semelhanças entre sua Histoire d'ttn voyage. .. e o livro do ar­
cabuzeiro alemão, que nunca lera:
[ ... ] lui e moi ayant <liscouru bien au long de mon voyage en Amérique,
donc il avoit l'histoire imprimée, il m'a dít que, l'ayan1 conferée avec
ce que Jean Staden, Allemand de nation, qui avoit été fort long temps
en ce pays Jà, en avoit escrit, il trouvoit que nous nous convenions tres
bien en la description & façons de faire des sauvages américains: et lá
dessus me bailla le livre dudit Staden [ ... ]. Ce que je leu avec le plus
grand plaisir. pour ce que Jean Staden, qui a esté environ huict ans
en ce pays là, en deux voyages qu•iJ y a faits, ayant été détenu prison­
nier plus de six mois par les TououpinambaouJts qui l'ont voulu man­
ger plusieurs fois [ ...]; comme il le clisoit, je remarqua}' qu'il en parloit
du rout à la vérité; bien aise aussi que je fus, de ce qu'ayant mis mon
histoire en lumiere plus de huict ans avant guej'eussejamais oui parler
de Jean Staden, moins qu'il eusr vo}'agé en Amérique., je vis que nous
nous avions si bien rencontré en La description des saovages brésiliens
& autres choses qui se voyent, tant en ceste terre Jà que sur mer, qu on

81
,,111111,111,i-1•1< 1..•11,crt1tlilc t1v1,,,1 IUl� tlc I' I I
li! lll
)�

"l\tct<, iaicli\·a 1 ttt•c. ,1t�.,.s1, ê11c1l'tt. t'clr\ fip.ttl :1vt\ .�e ltttt•
�, fo, ,11•,t
l,r.t,,lt' 11..·, , 111,, tl'lt. 1�<)1\' tt' <1<1 rt1,1,a,Jt, tll·t i11ftiv:1
11itttfc it .
eu r·u "
t )1 J10
li • t'lll l(l(l(t', (li\ Sl�r,titl()\, ,tlC) lllllVCIS
, � •• l.! l ftt..
\) clt)S C.:lll{)f)C
(
(;() ()IIÍ7.ttclor
, ll�
t,c\l,\lt'i .tp.1..1&,l ll:t SC�ll&lcin 111ll'(C, St)lll'é
(lS l1t�� e fcitlccitos C:S.
t ll o
t \�t t ('l\;\t,lt\Cl\ll\ (lt• ltltlll.: l ll'{)� t' J)l'C�SllO, t:()111() se Sflbc.
..

f)l'C.�t!Jlto ll(
;\/,,ll('II.\ 111,1/lc..:/1('(/f'IIIII (l,186) 11,11:1 clCSl8Jl{ll' s l
� >l'llX(lS. u 611,1 Lradi ã
)

ucnlCll\(llt\ icn J\tC 13otcrc) i11scrc ·,,a 1,:,,·r·ot1v,1 S<lbrc ç o


os c11ca11tudor
l1rA\\lci1<>�. nL, {'O l. }\ St,11t idade do Jttg\1t1ri1)e: '' No11 e c
1Jacsc ai Mon�
dt), t'\'C 1 1 Jc11tc,,1it> nt,11 al1l)ia ln sui1 1>art e'', afirr11a Boter
o, acrescen­
tuitLI(): • • 'ont111cl Hrasilc 1nol1 issir11i n1{1lcfici, e ciurn1atorJ, cf
clla cui
impn1dar1;a. e 11azzia 110111ni sarà gruve add11r
4t1i uno, o duc esein­
pi''.flJ O e...xen1plo tllais destacado tcri�1 sob1·cvindo no an

o de 1584:
d uo111ini st1scitó 11el Brttsilc u11a sorte di supe
( ... ] qt1est:l rn?.Za
rstizio�
11c, e di tnnto r11aggior pericolo. e dnt1c) q11a11to ela era piú sin
1ile, e con­
forme a rili. e all t1so della Clúesa Sa11ta. Creavano
1
costoro tan supre-
1110 lor capo nelle sacre co111me noi il St1pren10 Po ntefi
ce. Ordinavano
vescovi, e sacerdoti, udivano confession.i, teneva110
scuole, e insegna·
vano a' fanciulli senza n1ercede, o salatio. Celebravano
Messe, porta·
vano Rosarii per dir le loro orazioni; facevano can1pa
ne dj certe zuc·
che, e Ubri di scorze d'alberi, e di certe tavolette; co
n caratteri non
inteUigibili ad altri, che a Joro, e si dice che il D
emonio n'era inventore,
e maestro. Mettevano la somma delta loro rel
igione, e santità nella paz­
zia, e per arrivare a quel segno, bevevano il su
go di un'erba, que i Bra­
sili chiamano Petima, di gran vehen1en
za e di smisurata calidità. Con
questa bevanda caggiono subito
tramortiti a terra, storcono la bocca,
cacciano fuora la lingua: si dist
endono, e si rivoltano, cor1 tremoce di
(•) ''ele e eu Lendo discor
rido bastante sobre n1inha viagem à An1 ica1 da qual
ele t.inha história impressa, dj
ª ér
Stad: n , alemão e na
ss e- m e que, conferindo-a com o que havia escrito Hans
� ção que estivera muito
cordá arnos muito tempo naquele país, achara que nós con­
: bem na descrição e m
sobre 1�0 me entregou o liv odos de agir dos selvagens americanos: e
, ro do referido Staden ( ... ). o qual eu li co o mai r pra-
r p o
7: is esse Hans Staden, que c.-slc m o
ve por volta de oito anos naquele lugar. em duas
���bs que fe-z, tendo sido detido
p1nam ás, que como prisioneiro por mais de
revara. que ele
o quis e º1 comer por di. versas ve seis meses pelos tu·
zes ( ... J·' conforme ele havia di.to,
ra
falava de t u d O co r
Pocqu e. apesar de niorme a verdade· fi
• quei mujto contente também
de Hans Staden. ou . ter l taz ido rn ª
· an
· h h'1st6r1·a à luz ojto
an o s antes de ter ou.vida fa Jar
Crição dos �el\l
�ab1do de líu
. , a va J gem à An1ér1c ,
agens b rast.1e1ros, e. a, co.ncordávamos tanto na dcs·
terra qi1anto no d e ou 1 ras coisas,
que podem ser vistas tanto nessa
11ossas narra,ívns: , que t {n h amos 11os
mar, Qu<: ie d1r ta
• comunicado antes de escrever

82
111, 1, 11 IH J)CJ so11,,, J>da 1 1 rn: 1>tlt'lt111<• tl'u <lo111 I: dt.,r,,, f11,ul1t1c11te c�11í
tull, �l1c 1,c,1 uJ)l>ttrt tli chi �ll\110 111l11i�trl. Jrl1alti CJl1c11ti rnovirr1c11ti, �,
luvrttl<> c<)tl nc<1\tt1, e tii sii111ttr10 sn11titicull, e tli Lnnto nlugBi<,r virtu,
e 1,crfczlor1c q111tnto so,10 stt1rl r,lt\ ft1or d1 r;c, e f,ttto 11)0lll pj\i l,ci;tiali,
°
e tJII , ltt1r>cl'fi11ct1ti. l)lcotto c}1c i loro 11111gglori li,•11110 tltl vc11irc in un
11 uviglio nl flrusil, e �1 rin1ctcrll i11 Hbcrth; e cllc allon, i Pclrtoghesi sa­

rnr,n<> Lt1tti co11st1rnuri: e se 11c restarà pur aJct1ni divcr1nno �<.;i, o porei,
O sirtlili anin1ali. Q11esta vanità. e folia e nt1clrlti,. e fon1c11tata dai toro
sor>lltlO Sacerdote, cl1e cssi chia,nano impt1dcr1ten1cntc Papa. Costui
si avcva H(Julstata ta11ta at1torità, e fede, cl1c per 111czo dei sL1oi minislri
sollevava tl1tlo il Brosilc. Si cl1c moltj abbaodonô lc case de' Portoghe­
si, c'I scrvitio, 11cl quale ernno impiegati: tnolti anc.he ammaz.utndo tutti
queJJi Cbristian.i. cl1e lor capitavano i11nanzi, si ritirava,10 r1e'boscl1i,
O ne'monti. Anzi alcuni scannavano i proprii figllt1oli, affin che non
reccassino toro impedimento alia partenza, o lor fossino d'impaccio
nella ftaga, o li sepeLivano vivi. Disturbo questa pestilenza principal­

n1ente il contorno deUa Baya, ne si poté acquetare seoza gravissimo
travagüo, e de' religiosi, e de' magistrati Regii. Et e cosa degna d'esser
avertita } 'astucia dei Demonio in oppugnar l'autorità del Papa, poi che
tra noi la combaté co'l negaria per bocca di Lutero, e di Calvino, o
de' seguacci loro: e nel Brasile co'l contrafaria per mezzo di ciurmato­
ri, e d'altri suoi ministri. 64•
Na Informação da terra do Brasil, Nóbrega descreve ritos incU­
genas de transe e possessão por ele de11ominados Santidade. Mas,
na passagem, refere-se a manifestações milenaristas
,
comuns aos tu-
pinambás, e não a uma ocorrência específica - a Santidade que te-

(*) ''[...) esta raça de homens suscitou no Brasil uma espécie de superstição.
de tanto maior perigo e dano quanto era mais semelhante, e conforme aos ritos, e
ao uso da Igreja San.ta. Eles criava,m um chefe supremo para as coisas sagradas, co­
mo fazemos com o sumo ponUfice. Ordenavam bispos, e sacerdotes, ouviam confis­
sões, 1nantinhan1 escolas, e ensinavam crianças sem mercê, ou salário. Celebravam

nussas, porlavam rosários para dizer suas orações; faziam sinos com certas cabaças�
e livros de cascas de árvores, e de certas taboazinhas; com caracteres não intelrg{veis
a outros, que não eles, e se diz que o demônio os tinha inventado, e os ensinava. C<r
locavam a essência de sua religião, e santidade, na loucura, e para chegar aqtiele esta­
do, bebiam o suco de uma erva, que os brasilos chamam petimã, de grande veemên·
eia e des·mesurada quentura. Com esta bebida caem de repente desfalecjdos n� chão,
contorcem a boca ) lançam a língua fora; se retesam, e se contorcem poJ terra, com
tremor de toda a pessoa: falaio entre dentes: fazem flnalmcnte tais sinais, que pnrece
que são rllinislros. Terminados estes mov.iroentos, J�va1n-secom água, e se cnêen1 san­
tificados, e tanto mais virtuosos e perfeitos quanto 1nais renham es1ado forn de hi,
e se tornado bestiais, e irnpcttincrlles. Dizem que seus majores hão de vir ao Brasil
cn1 um nnvio, e pô�los ern líbordndc: e que cntllo os port�g1.1cse_s serão rodos

83
Cab ra l de Ta íd e, se nh or de Ja g ua r ipe .
rerras de Fe rnã o
ve Jugar nas
a passag em:
Vejamos iro s de mui longes terras, fin­
un s fei tic e
em er 5 anos vérn
ce rto ao cern p o d a s u a v in d a l}1es manda m limpar
s c tl �d ad e e
De
,,. o t raz , e r san I
co m d an ça s e ,e
r stas, segun d o seu c ostu-
aín d
e vã o recebê-l o s
01 cam .
1n 1 1os d a m de duas em duas
lu g a r, a n a s m u lb. e r

e s
me; e ant es que h e g u e m ao
. s q u e r ·
1z er am a . us
se
t e as falt a marí-
C
1 en d o p u b h c a m e n
pelas ca\aS, d·z d o p e r d a ? d e 1 a s .
a , a s o u tr a s e pe d in
u m
_
d os co m m u it a fe st a ao lu g ar, entra em uma
feiticei ro ,
Em chegaJ1do O
ca ba ça , qu e tr az em fi gu ra hu m an a, em parte
car.a C...-,......,ra e põe um a , r.
a se u s en ga n o : i; , e m u d an do sua prop 1a voz em
mai� conveniente par d1 z qu e c u re m de trabalhar, nem
ca b aç a, Jh es n ã o
de menino junto da e nu n� a lh es faltará
po r si qu e
:ão â roça, que m an tim en t o cre sc er á,
e as enxadas 1rão a cavar e
O
e po r �i vi rá a ca sa , e qu
senhor, e que hão de matar
que comer, e qu
ao m at o po r ca ça pa ra se u
� � frechas irão
muitos de seus co nt rá rio s, e ca tiv ar ão m ui to s para seus comeres, e
lar ga vid a, e qu e as ve lh as se hã o de to rnar moças, e as
promete,Jhes
qu e as dê em a qu em qu ise rem ; e ou tra s co isas scmelhan.tes lhes
filh�
e p rom ete , co m qu e os en ga na , de ma ne ira qu e crêem haver dentro
diz
da cab aça aJg um a co jsa san ta e div ina , qu e lhe s di2 aq ue las co isa s, as
quais crêem. Acabando de falar o feitjcejro, começam a tremer, princi­
palmente as mulheres, com grandes tremores em seu corpo, que pa r e..
cem demonínliadas (como de certo o são), deitando-se em terra, e es­
cumando pelas bocas, e njsto lhes persuade o feiticeiro que então lhes
entra a santidadt; e a quem Isto não faz tem-lho a maJ. Depois lhe ofe­
réCem muitas c-0ís� e cm as enfermidades dos Genlios usam também
estt!. feíLicciros de muitos enganos e feítiçaria.s.6S

"'!ª lnformaçao do Bra.1/I e de suas ,:apilanias· (1584), José de


Anchieta também aludiría genericamente à� Santidades:
O que maii. crêem e de que lhes nasce muito mal é cJuc cm alguns tein­
pos algum de�us, fje,'t.iceiros, <Juc chamam Pajés, inventam uns baíl�
-dQtruícJ<r;· e�
rc-,t.arem algun rarJ11formarão cm peixe,;, porcos ou em anímajs
,c:meJ}iwu- ,,,, .,,. 1.,vu '· se t
...._, e 1oucun é nutriºd e ª,.' entada por seu sumo sacerdote,
ª
11,, ..
..,. ·-· .Q_ 1
. '?
que c.J1amãrr1 írnpudt1ol�mc:nte der:
:'· E.,�e �dqu1rtrd tanla autorídade e fé, que por
,,
me, de ittui míni,tro� 1 ,,ble\' 0
r.,,,, a( ca,& dftt portugu�bva u � Rruil. De tal for,na que muitos abandona·
m"r11nd<1 t€Xln� ''"' cri•tãm qu,e '" �rvt� <:m <tuc c:�ravam c,npregados; n1uitos aioda t
apurcc,am n·ª rrente der e,, rct1rdvar11-sc para Ob bos·
(Jut.i.., l)IJ montanha.\.. At""un\
lhe'arouu•�1r, unpcdJ mcn,,�, ante'-. degolavam os pr6pr,o� · filhos, a fim de que não
.
.., a Partida ' ou rtr,re,s.e ·
cntt1'4"ª'" v,v,,�. f'enorbou . •ntan$Crn crnpecllho à fuga, ou os
e&t:t P<t •ll�ncla
t
e •AIM · rctudo o recôncavo da Bahia e 111!0
Mn, gravi\\amo 1 b. 1 º �ob
rÓ\,,,.· ,�quíetar
•• 1- t al"íS 41i, 1 ti os rellgíosoA corno dos magi�trados
:�
na de nota a =tu·ªc� 'ª (·1oª"'
dema
º ,no tm rcf'utar H autoridade cJo Pa-
10

vil, pt>j\, tnrci.:. " ó1:1, <:0rn


u,·;,, li • <9 ntr,1f1t,,-..cndo. ba1 cu a ner, iind0_ª f)Clo boda de l.u
t1 por meio "' enc di· tero e de Calvino' e' no
antad()r6• e de outro.s Reu� mini.'llro�
."
e cantares novos, de que estes Índios sã� mui amigos, e entram com
eles por toda a terra, e fazem ocupar os lndios em beber e bailar todo
O dia e noite, sem cuidado de
fazerem mantimentos, e com isto se tem
destruído muita gente desta. Cada um destes feiticeiros (a que também
cha mam santid ade) busca uma in venção com que lhe parece que ga­
nhará mais, porque todo este é seu intento, e assim um vem dizendo
que O mantimento há de crescer por si, sem fazerem plantados, e jun­
camente com as caças do mato se lhes hão de viI a meter em casa. Ou­
tros dizem que as velhas se hão de tomar moças e para isso fazem la­
vatóri os de algumas ervas com que lavam; outros dizem que os que
05 não receberem se hão de tomar em pássaro s e outras invenções se-
meJhan tes. 66
Thevet não alude à Santidade, pois, na época em que aqui este­
ve, ela ainda não se popularizara. Léry, por sua vez, refere-se a prá­
ticas rituais indígenas que tanto podem dizer respeito à Santidade
como a outras crenças. A outra importante fonte coeva, Botero não
poderia ter acesso: as acusações e processos contra os participantes
da Santidade levados a cabo durante a Primeira Visitaç.ão do Santo
Ofício ao Brasil, entre 1591 e 1595. 67 Aqui poderia residir o maior·
dos enigmas do teJ<to do secretário de são Carlos Borromeu. O se­
gredo defendia os papéis do Santo Ofício, que funcionava de forma
totalmente autônoma, sem sujeição à Sé romana. Da Itália, Botero
jamais poderia ter acesso às informações contidas nos processos dos
incriminados oo caso da Santidade do Jaguaripe. As informações
que veicula são, contudo, curiosamente semelhantes às contidas nos
processos. 68 Sabendo que a Primeira Visitação sediou-se, na Bahia,
no Colégio dos Jesuítas, e que estes padres forneciam apoio às in­
vestigações inquisitoriais, poderiam ter partido da pena de um deles
as notícias acerca das práticas ''heréticas', ocorridas no engenho de
Fernão Cabral; muito provavelmente, integrando alguma carta en­
viada à sede da ordem em Roma. Sendo Cardim o reitor do colégio
à época da visita de Heitor Furtado de Mendoça, tais informações
me pareceram, inicialmente, integrar uma das cartas ânuas por ele
v
enviadas à Com.panhla, e da qual não se tem conhecimento. A ei­
dência mais fot r c, entretanto, aponta para outra direção: a carta ãnua
de 1585, da lavra de José de Anchieta, e, portanto, anterior à Visita.
Com a denúncia da contrafação da Santidade, tal carta pode ter si­
do, inclt1sive, um dos móvejs a desencadear a visita de Heitor Furta­
do de Mendoça, ocorrida seis anos depois. Mas para fundamentar
tal afirmação seria preciso estabelecer as possfveis relações existen-

85
o in a l do séc ul o XV I, er 1t re a C om p an hi a de J e su s e O 8 anto
Ies . n f . _
qu e, at é o m om en to , ai nd a nao se fez.
Ofício _ 0
Escri ta, co m o as de m ais ca � s ãn ua s, em lat i m , esta, de 1585,
_
tra du ç ão . En tre os h1s tor 1ad or es que a parafrasearam, c
abe
não tem
er af im Le ite e Ro be rt So ut he y. Ao se referir à Santidade
destacar
to ria do r do s je st1 f tas diz qu e a ân ua de 15 85 na rr a tudo circuns�
O his
tanciadan 1en te , e ac re sc en ta : ''A de sc riç ão de So ut h ey [ ...J tirada de
Jarric, J/ ist oí re de.s cl1 os es [ ... ), é tra du çã o qu as e literal, um pouco
enfática, daquela ân u a ''. 69

Em J 585, Ar1chieta era o Provincial do Brasil, já muito doente


e ass istido po r Cr ist óv ão de Go uv eia , o vis ita do r que viera de Por.
9 de m ai o de 15 83 . 70 Desta forma, é do
tugat e chegara à Bahia em
primeiro, com o possível concurso do segundo, a carta ânua - que,
'
• a cada ano, os provinciais escrev iam para o Geral da Companhia -
parafraseada por Southey. O cotejo deste texto com o de Botero não 1
deixa margem a dúvidas. Vejamos o que diz o historiador inglês:
Tomando do cristianismo dos jesuítas o que lhes parecet1 convjr a seus
intentos, ou talvez o que dele compreendiam, escolheram os profetas •
da nova lei um papa fndjo, uma ordem de bispos abaixo dele, e presbí­
teros por estes consagrados, conservando todos os seus nomes euro­ ,
peus. Tumbém introduziram a prática da confissão e absolvição, co­ •

nhecendo perfeita111ente o poder que nas mãos do clero punha esta parte
elas suas funções; institt1fram uma espécie de rnissa, e rosários por on· 1

de se contassem as orações que deviam ser recitadas por ntimero, e à


falta d� sinos convocavam o povo para o serviço religioso ao som de
grandes cabaços ocos, convertidos em instrt1n1cntos de 1niísica ou de
matinada. Não eram charlatães ordinários os cabeças desta ter1tativa;
estabeleceram escolas à imitação dos colégios da compt�r1l1ia, e afir·
m,tm os jesuítas que da casca de uma certa árvore faziam eles Jivros
como que encadernados cm tabuinl1a de madeira cfel.gada. e qtJe em
car� ct ercs desconhecidos co11ti11t1am umas cscritt•ras qt10 o diabo lhes
Cnbinru:a . Talvez isto queira dizerl que, saber1do o que crar11 livros, r
. p c-
tencJlan1 1neulcar rto Jn"'. e escrever não possu ,
1am.
. cont1ecimcntos que
Até aqui tudo er't' im't• ·açâ o d os
portugi1�scs • n1as crft J)ara cxtermfn10
dustcs que httvia,n a,1 uc·I Cli, atrcv1.dos
• • 1m1
. ,osLorcs orgar1i1�do o sct1 e,x ..
traorcJ•inário !itstcn1n eIe cn1 b
1
1
ustc. Co111 esta n1on1icc, oti arren1edo da
lsae
· "i tt ....... 8,61
� .1 c·n,· con1bin
ava m uina pr�tica sclvagcrt1 ele provocar cor\..
vuls· õeli• tr•�•sa11c1 o o �11c:t, c.1
cio tabíl co)·• e o �a�crcl
j t! unin 1,lu111t1 dclctériA
(q11c se st1põe tct st-
ott' ciuc h fl\,1 a P!l!.S,tclo p .
or esta terrível pt1r1f .1 ca-
cno, co1no ...,, cot's·�1 se e 1
larnava, f"•cava sa,1io, e pcrfcil ni, s\18 vocação.
Alisuvoruvani a,o,; seu , • s, �eu1áriios· c1t1c u, o . ·nJ11
a lrna, dos �c11s r11aiorcs v1rt

86
num navio a livrá-los de opressores, exterminando os portugueses, e
que destes os poucos que escapassem seriam convertidos em peixes,
co
por s e ou tr as an ·
1m áli' as. 71

Ciente da Santidade por meio da carta de Anchieta, seguindo w


lhe em muitos pontos a estrutura, Botero, entretanto, empresta à nar­
rativ a um tom esp ecífico, assentado em suas pr óprias idéias acerca
das guerras religiosas, do protestantismo - é só sua a menção a Lu­
tero e Calvino -, da analogia entre a ação do diabo de um e de ou­
tro lado do Atlântico, ressalvando contudo que, se na Europa os re­
formados combati am a religião pela negativa, na América os índios
a contrafaziam.

CONCLUSÕES

Para Botero e seus contemporâneos, observou Federico Chabod,


o descobrimento do Novo Mundo e o melhor conhecimento do Ve­
lho - Ásia e África - provocaram modificações mentais profun­
das, tão intensas e prenhes de decorrências quanto as perturbações
econômicas advindas do afluxo de metal precioso à Europa. 72 No
bojo de tais transformações, o autor das Relazioni universali mos­
tra-se historiador atento a especificidades, sensível, por exemplo, à
singulàridade da An1érica portuguesa. Como Léry e Montaigne, apre-­
senta laivos de etnólogo quando tninirruza o peso dos ritos aotropo­
f ágicos, aproximando-os dos desmandos religiosos na Europa, ou
q11ando dá à cor1otação de barbárie cores diversas, assentada não
em valore.s - positivo e negativo - mas numa concepção evolutiva
da vida humana - estágio necessário pelo qual passariam todos os
povos. Para Gómara, o descobrimento da América fora ''a maior
coisa depois da descoberta do mundo''; para Botero, a coisa ''maior
e mais admirável'' desde a pregação dos apóstolos. 73
A centralidade das cartas jesuíticas come fonte em Botero atesta
a grande importância que tivera111 no processo de reconheciment0 do ,
n1u11do peculiar ao Renascimento. Os missionários inacianos, tem-se
dito, ajudaran1 a fun,tar o viés ''antropológico'', recolhendo infor­
mações e registrando uso e costumes, da América à Ásia.. Tal se11si�
bitidade ante o outro foi desdobramento inusitado do vaslo progra ..
ma propagandístico e doutrinário da Igreja Feformada: se a co1tquista
religiosa do 1nt1r1do era pedra de toque do pr0grama tridentino, era
natural que os rnissionários se 1ornas5en1 cartógrafos e geógrafos -

87

• l

.
"er 'ficou
1 ' po r ocasiã o d o co n c ílio , A lex a ndre P icco l ·
conforme ,. omi ..
e natu ral. igu aln 1ent e, q � e o cos mo gra fo �oter o, jesuita,
ni. 7J Pare c
esse das cana s dos comp anheir os de ordem a fim de constru.ir
se v al . .
sã o d o m u n d o . A co sta, N ,
o b .
1e g �, An e b ieta tivera m desta for-
a sua vi .
uro pape l rele,, ante na cons truça o da cosm ogra fia européia
ma
moderna.
Entretanto, ao mesmo tempo em �ue s.urg1a uma nova sensibili-
dade, mantinha-se O apego ao centro 1rrad1ad or, a Europa católica.
Era O que lhe .Permitia continuar olhando par�_º Novo Mundo nos
terinos da heterologia de que falott Certeau: a �sao do outro era ajus­
tada pelos parâmetros do imaginário católic?. E aliàs a leitura contra­
reforrnista - presente já na Anua de Anchieta - que ressalta corno
1
mais interessante do trecho sobre a Santidade: o arremedo da missa,

da ordenação de bispos, da reverência ao pontífice, enfim, os ele­
mentos de uma religião às avessas igualmente característica dos re­
latos contra presumidas bruxas européias. Anchieta e Botero trazem
ainda uma referência inusitada ao infanticídio,, outro crime imputa­
do às bru.xas por seus perseguidores e ausente das demais fontes je-
ufticas conhecidas: para se verem mais livres na sua idolatria, os
·adeptos da Santidade chegariam a matar os próprios filhos.
O procedimento rnetodológico de Botero e a noticia qu'e dá so­
bre a Santidade do Jaguaripe autorizam ainda hípótes:e muito im­
pOnante para o estudioso do século xvr luso-brasileiro: en1 cartas
ãnuas ou em outros documentos ·até agora pot1co explorados pelos
pesquisadores brasileiros há in"formações cruciais sobre a vida coti­
diana notadamenLe mági<:o-religiosa. Muitas dess fo
as ntes repou­
sam .. ind�ssadas, nos arqut,'Os da ordem, em
Roma� Quatrocentos
ano at.ras. foram elas qu_e permitiran1
ao italía110 Giovanni Botero
VlaJanle freqõentemente imaginário
• � - J

. t1m cu.rio .o e intisitado lançar-


de-olbos sobre os segredos inte


rnos que o Império Por. tuoeuês procu-
ra\'$ ....,
�ardar · com a..um � e.
Prova de qu� olhando de fora pode-se às •
�'eles. enxe-.rgar bem long
e.

..


'

4
POR DENTRO DO IMPER/0
Jnfernalização e degredo

Se a ttta mão ou o teu pé te escandaliza1 corra-os e ati­


ra-os para longe de ti. Melhor é que entres mutilado ou
,nanco para a Vida do que, ter1do duas ,nãos 011 dois pés,
seres atirado no Jogo eterno. E, se o teu olho te escanda­
liza, arra11ca-o e atira-o para longe de ti Melhor é que
entres com um olho só para a Vida do que, tendo dois
oll1os, seres atirado na gtJeena de fogo.
Evangelho de São Mateus, J 8,8,10

PURIFICAR PARA DEUS, SANEAR PARA O REI

No século X\'l a idéia de purgatório era relativamente recente.


Cristalizara-se, de fato, n'A dil>ina comédia de Dante Alighleri, con­
forme obser,1ou com propriedade Jacques le Goff, 1 e a grande
conquista nela embutida era a noção dg_purga1:órj0 como'UIP inferno
com duração limitada, opondo-se à eternidade das penas infernais
propriamente elitas. No século Àrvl, as colônias portuguesas passa­
,·am a ser vistas comO terras nas quais se iam cumprir penas? mas I
das qúais se podia voltar, urna vez purgadas as culpas. A própria

travessia marítima assun1ia características de um exílio rirual (como 1

o ciclo dos Argonautas, a arrenschiff e tantos outros): nela, o de­


greda do inicia\11 o longo trajeto de sua purificaçã�
Um século depois, a a entura do descobrimentos pos�ibilita­
va, em ter1no práticos> a ocorrência de 11ma síntese marcante - o
degredo -, unindo tradições disrintas: a das foro1uJações européias
acerca do purgatório.: a da função purificadora da tra,·Q'Sia maríti­
ma, a do e.u1io ou dester10 como elemento purificador.. "a prática

89


anic t1lava m-s c, dest a form a, desdobr amentos diverso
do c!cgredo s de
\

gratldl� rito d e p a ss a g e m .
uni
tud o ir1 ica , fo no séc u lo xv 11 q�� a �nquisição Por
i
-Ao qu e � � tu­
lô n1 a am er ic an a cn 1 lo ca l pr 1v 1leg 1ado do dcgred

guc a er ig iu a co
Co n ul ta nd o- sc as lis ta s de at 1to s- dc -f é re fe r en te s ao s Tribunais e
Év or a. Li sb oa e C o1 · n1 b ra , no ta -s e qu e, a pa rti· r de J 606, c omeçam
. . nante
a e ticcder em progressão 1mpress1o os casos de réus degreda.
si l: 2 l1on en e mt1l e es acusa os d j dru'sm o,
do p ar a O D ra : � � ? � � biga­ (

mia, sodon1ia , blasfên11as, propos1çoes herét1c�s, v1soes e feitiçaria)


nccs, no século xvr, as fontes St1gcrem qL1e ainda se preferia O re­
curso ao degredo pnra as gnlés, fossen1 elas rem . os ou trabalhos for­ ,

çados. Depois, no séctilo xv111, as ill1as atlânticas e os coutos me.


tropolitanos seriam eleitos os locais privilegiacl os do deg redo.J
(Esta mt1dança parece indicar, em Portugal, a passagern de uma
• , 1>olitica de aprovcitarnento dos desclassificados sociais e dos margi­
' atai c111 trabalhos forçados (con1um a grande parte da Europa nos
éculos xv e 'Vl) para t1n1a política de aproveita mento destes mes­ '
n10 elt:tnenlo na lide ultramarina e 11a colonização do Novo Mun-
i do. Mctnn1orfosear1do o 6111,s represe11tado pela reprodução desta
gente cn1 ,,ti/idade efetiva OtJ potencial, a Metrópole porttiguesa trans­
formava suas colônias, conforme a expressão do historiador Costa
lobo. cn1 erg,istt1!0 dos deli11qiJe11tes.'!J Fazendo�o, era un1a das pio­
neiras cn1 procedin1ento que, desde então, pas aria a se generalizar
t!ntrc os países se11horcs de possessões ultran1arinas; andava ao lado
dtl l 11glatcrra, talvez qt1en1 tcnl1a arJlicad o o degredo corn mais per­
sist�ncia e proveito.l Ar1tccipava-se. por cxcn1plo, a un1 João Mau..
rício de Nassat1, Qlte crn n1cados do século xv11 sugeriria às at1tori­
dotles d1ts Pro\1 ír1cia Unidas dos Países Baixos QL1c abrissc1n as prisões
de Art1ster<.lar11 e cn,riasscn1 os galês ao Brasil l 1olandas J)ara que, ''re­
volvcntlo n terra con) a cr1xada, corrij'nrn a st1a i111 prol)idacic, lavcr11
co,n o s11or ho11c to 11 anterior infân1ia e 11ão se torncn1 molestes à
ltc11tit>lit':l, 1nas 1lt<.!is'-_ fl
O i1tcc11tivo de, Ilstndo ao envie> de clcgredados para o Brasil
m o troti-� 1.:: co 1co,11it,111tc. llortar1to, à n1 1

� 0,11agcrr1 do f)róprio siste·


I mn c� ltllltal .) •11 1549 se i11ici,tva a oct1paçã st
o si emática da colônia
•1111L�r1�011u e dntt, cle, "io ' '
.s 01,o s a111 c� . �. •
� . a dec t ·ão de não dei xar
r,urt ire,,1 navios cJc I..isl)on ,, sc,11 111a 1s
•e 0sa d o (''lVC 1 • pnrn ll1c
o fazcrc111 sal'>er no O,ovór11ador da •
ordorla" r o dcgrednd() qt1c cada r1avio dc\1 ta 1

l c. ilr''. 1
� )a -�u Ltdo a tlcnrctl,-r t1 m . . . �
,-. t'ttl..gues•u '".� lt '
t ' ,
rlllçJc> n1a1c>r de ré11s, tl lnt1t11s1çao
')O ,1 118• e'r'10 ll()f(ll· tll<) numr1 "
c<l 111 • to ltlais a1111)lo, no qual

YO
d os apa rel h os de poder em p en ha dos no vasto processo de
era llf1: o com um às soc ieda des ocidentais moder-
excl usa o e nor ix iati zaçã - .
na. · .1 ª 1 pr oce s so com po rtou gra d aço es di vers as. a sup ress -
a o d as
· s 8 -r. ·
ria s, das het e rod oxi as, das par t1cu lar1 'd a.
d es - um R ·
e1, um a Fé ,
rn1no · - exemp ar, o exiili o r1tua
o I
·
l . Tam bé m
0 suplí cio e pun1ça
urna Le. 1 - ,
pess oas, o que , para portu ga, 1 po· d e

. st1· ç a secu l ar deg reda va ser


a· Ju Ordenaçoe - s do Re1no. . N os
t a do com a leitura das pa í ses em
consta . . do Santo Of'1c10, -
ex ·
1 stira m Tribu nais · st1a açao se somo u às pr á-
que . ,
. as 1evadas a cabo pelo Estado abso 1ut1sta;lno secu 1o xv11 portu-
tic ... . - .. - /
guês nota-se assim a confluenc1a da açao do Es ta do e da_Inqms1çad �
-00 �ntid o de purgar a metrópole de suas mazelas, povoando, ao mes-
S . . '.... ,. '
mo tempo, a colônia bras1le1ra.,r'lo presente estttdo, examma-se o d e-J
gredo apenas enquanto punição aplicada aos réus do Santo Ofício.

TNCJDiNCIA E NATUREZA DAS INFRAÇOES


1

Tomem-se como base dezesseis casos de feitiçaria punidos pela


Inquisição de Lisboa com o degredo para o Brasil. Neles, entre os
réus há predominância marcante de mulheres (treze casos em dezes­
seis). As práticas dos acusados dizem respeito basicamente à vida
afetiva e amorosa, às tensões e conflitos integrantes do universo so­
cial, à previsão do futuro, aos anseios de comunicação com o sobre-:
natural. São constituídas por orações de conjuro de demônios, era­
ções que invocam passagens das vidas dos santos, orações que se
reportan1 a plantas e animais dotados de significado simbólico, ben­
zeduras e curas de animais e pessoas doentes, visões, porte àe bolsas
que propiciam sorte no jogo e nas pelejas, pacto demoníaco, com­
parecimento a conventículos de feiticeiros, ou sabás. O período de
maior i11cidência dessas práticas é a década de 60 do século xv11,
gt1ando ocor1·en1 cinco casos. A pena de degredo ais comum
m ente
aplicada é a de cinco anos (dez casos). As culpa qu
s e mais aparecem
ão as de conjt1ro de demônios, orações e sortilégios, mas a culpa
mais duramente punida é a de Francisca Cotta, jovem filh de
a um
capitão d'el-rei 11a Praça de Mazagão
e acusada pel0 Santo Ofício
de comunicação com almas, cópt1la
e pacto com o diabo, num pro­
cesso curioso em que o divino
e o demoníaco se alternam o ten1po
todo. E1n onze dos proces
_ sos, a abjuração é de /evi, sendo assim a •
mais com11m de todas. Nã
, o se nota uniformidade na aplicação dà
pena conforme o grat1
da culpa. Como exemplo, em 1620 temos dez
anos de degredo,
abjt1ração de levi e açoites para Suzana Jorge, e.

91 •
24 , q u atr o an oc; de dcJ!rcdo. ahj11raçàcl en-1 for 1na _
em 16 . . q u e er a
e- , cár cere , há l11t o rcn 1te nc1 a 1 per p étu o e açoit"'s
m'l,c.u;5 gra v "' Paras·J..
n t o n 1a . 11
mão R ib e ir o e A n a A •

Enfocando-�e �imt1lcanc�n1cntc ac. r>ráticas dos feiticci ros. P


o r:,
or as ·1
i no s é cu l o o r ..
l u g ueses degredados para e as prátic a
XV ll
· 1 . " , s aná ..
exer cid as cm terra . bra� 1 eiras d tJrantc os tres sectilos da
logas C lo.
1 11 e .xv11 r), dctectarn-se permanências
nização (xvr � x, e altera �
Nas práricas destes. degr edados, }1á traços que continuam .lgç e�.
. u a1s
en co nt ra d os na Pr 1m e1r a v·1 1ta. ça.. o d o San t o Ofício da l
ao s � nqu1, s1.-
ção às Pa rt es do B ra si l (1 5 9 1- 5 ), st � ge 1·1
. n do permanencia de 11m s
_ ubs.
trato euro peu com um, a1nd a med ieva l, e traços que paulatiname
nt e
e alteram e assumem colo ração específica e mais moderna.
Nas práticas dos feiticeiros brasileiros ou portugueses residen­
tes no Brasil, nota-se a presença de matriz européia mais abrangen­
te; de matriz européia mais especificamente portuguesa e, por fim,

de sínteses. Estas são n1ais tipicamente set ecentistas, e se con stroem
com o entrelaçamento das aludjdas matrizes e ajnda dos substratos
a111eríndio e africano. Assim sendo, partindo-se da hipótese de que
o degredo funcionou como transmissor cultural, é possível sugerir
que sua intensificação no século xvrr tenha contribuído de forma
J

acentuada para o engendrarnento de práticas mágicas especificamente


coloniais mas dotadas de marcante substrato europeu.
Dentre as práticas destes feiticeiros degredados qt1e apontam para
o nfvel das permanências, temos sortilégios, fervedouros e orações
cm tudo semelhru1Les aos perseguidos no Brasil durante a Primeira
Visitação do Santo Oficio. São eles dotados de caráter acentuada­
mente europeu e medieval. Alguns exemJ)Jos: a oração da tesoura e
do balaio, comum também à Inglaterra elisabet ana e vulgaríssi ma no
Grão-Pará do século xv111; o conjuro de demônios em que estes são
sujeitacios como cães; as orações de conjuro com invocação de ervas
ou bichos - como o touro de são Marcos - que, no século xv111,
serão vertidas para a língua indígena e dotadas de animais caros ao
sist� a mitológico dos an1eríndlos (como O jabuti, pequeno cágado
� uito comum no Brasil); os gestos e 11sos do corpo que integrar11 vá·
rJos dos so�t il�gios portL1gueses, e11trc os quais se clestaca a invoca­
ção de dcmon1os com os cabelos soltos às costas, ''cf esgu l a j
e o dor o ·
ed e h do s ',
. 11u ' os
· contrat os. ft1Ust1
'.c. · cos escrttos con1 sa11gue humano ot1
animal, com\tns tanto ao Séct1lo xv1 c1u
anto ao século xvr11. 10
Mas enLce a, "rá1' tieas do s 1·· c1.t1cc.1ros portugt1eses degredad os pata
. ·
o B ras, 1 11otan1-Re també .
m a 1 tcracões em curso n1L1itas· das quais se
ª
acc t c=ratn ot1 n1ud· rn d e n�ttt
. ireza c1t1ti11do enraiz
,
ada� cm olo colonial.

92
or exe mpl o, o cas o das bolsa levadas por alguns dos réu
É
a B ra sil no século xv11. Contendo pedaços de pe­
•� par O
deg:��a º;stas bolsas t jnham o objetivo de defender quem as carre­
ra de ferimen tos com ferro, e aparecem simplesmente como boi�
dgasse
b /.S'a de corporais. Revestiam-se do caráter dos amuletos.
Síl ou O·
'do s
· pelo menos desde a Alta J dade Méd1a, e se atrelavazn à
conheci · · ·
d . .., o das pedras mágicas e de VJrtu d e. D'f t und'd1 as pe 1 os mecan1s-
tra iç a
d O degredo e da colonização, estas bolsa se multiplicaram no
mos • · bras il e 1· ro, de Norte a Su l , do Ora
· or10 -
, XVIJf por t odo o terr1t ,., o
·secu,1 o �A n G r i . Ar 1culan .
o-se a
· ·
prat1cas m g1cas e e " ·
ie1 t ·
Para a tvJ i as e a s •
t d á · d 1ça-
. e pecificamente africanas, tornaram-se bolsas de mandinga.
r,a s
Aqui tem-se já uma forma espec1'fi1camen t e co lon1a . 1 . 1Y,an
AA' d',n-
au malinkés eram povos que habitavam um dos reinos muçul­
gas d o vale do Níger por volta do século x1r1: o reino de Mali,
ma 05
u ;entre nós, passou a ser designado por Malê. No Brasil setecen­
�s�, os malês (em principio, habitantes deste reino) eram tidos co­
mo mestr es da mag-ia negra, trazendo ao pescoço amuletos com sig­
Sa lom ão e ver síc ulo s do Co rão . 11
nos de
Portanto, por mecanismos vários, entre os quais o degredo e o
tráfico, e que remetiam em última instância ao sistema colonial, a
bolsa de mandinga setecentista designa uma for1na específica de ta­
lismã, capaz de congregar práticas européias e africanas. 1\-ibutária
de três continentes, ganhando vida na articulação triangular entre
Etiropa, América do Sul e África, constituindo-se no seio do siste­
ma colonial, esta prática, por motivos óbvios, acabaria se prolon­
gando na metrópole: no século xv1n, os escravos negros que habi­
tavam Lisboa - seja por terem nascido lá, seja por lá terem chegado
com seus senhores, antigos funcionários da burocracia colonial que
retornavam à sede do Império Ultramarino - conheciam e difun­
diam a bolsa de mandinga, expressão incorporada incl,usive pelos in-
quisidores.12
Dentre as práticas mágicas e de feitiçaria que trnsm a
igraram para
terras coloniais e conheceram alterações significativas, cabe por fim
alt1dir às orações que invocavam Maria Padil'ha. Há quatro casos de
oraçôes deste tipo entre os processos de que ora se trata, e há notícia
de dezenas deles no Brasil setecentista, asso
ciados sempre a outros
elementos das orações de conjuro. Aind ho M
a je, aria Padilha encon­
t:a-se entre nós, brasileiros. Na um
banda, forma sincrética de religio­
sidad� opular que incorp
?_ ora o catolicismo, as religiões africanas,
as rel�gioes indígenas e o
kardecismo, Maria Padilha é Pombagira,
ou seJa, um dos espiritos
incorporados pelas pessoas que freqüen-

93
---
'

l'Ut,lll>()/? 1:· /J(J 1nc>.\·:


Jl>l::N1'f l>:1/Jl: l>I· /.",S/ R 11.llllA.S A1/�'N7'A 1.�·

l)t), oni'.� c;1,o" qt11: Plt� o H • ar11i11ar, todos se rcrcrcril


. . a n 1 \t ..
ll1c1 cs QUl\ <lcl\cn1ll:\rcara tll rt(l N <>rd cs t e 1 1r:ts1 1 c11·0 . Ci nco cli'·,.,cm rcs..
.
,,cito n > .11,t) ele J(l47. <.1t1ancl<) cr:1111fc11�a a guerra C<>n · tra O 1·r1 vas
. or
l1ola11c.lê,, trê \ • �ptllh1tn1 pelos Qllatrc> pri1nc1ros anos da déca
da
<le 60 e ,11lt cli, rc peito AO a1,o de 1683.
c1n,c> fi�otl dito acin1a, o Brasil c.1cu11ava 110 imaginário do etl·
r<)pct1 e lc,ni:,ndor seiscentista t1tr1a ftJnção purgatória nítida. Para
e> !'-,anto Ofício. enviar rét1� à Colônia das Américas significava, crn
tcrtnos g�rais, pern1ilir qt1e concluísse,n aqtti un1 longo procesS'ô pu..
rificador iniciado ai,1da r1os cárcere , com a tortt1ra, e que tivera se"
qi,ê11cia 110 Auto Pl'iblico da Fé, tcrn1inat1do, cm terras lusitanas, com
a cnt rada dos degredados nos navios (ltJC partiar11 para AJém-Mar,
cadeias e grilhões nos pescoços ou nos pés, fos em eles peões OL1 pes ..
soas de maior ciualidade. 14 Em l664, por exemplo, Maria da SiJva
soírcra o tortn<:nto da polé por t1m quarto de hora, ''estando gritan­
do " chamar1do pela Virgem das Necessidades e peclindo misericór­
dia'•. A seguir, a mesa cxa1ninot1 os Autos: ''E pareceu a todos os
votos que hem embargo do que nele purgou pelos indícios que ainda
contra ela rcst1ltam de sentir ,nal de nossa Santa Fé CatóJica [ ... ] ela
vá na forma costumada ao Auto Público [ ...]''. 15 Em 1683, as súpli­
cas de Marja de Souza livraram-na dos açoites mas não conseguiram
impedir que sofresse o degredo: ''qtie eJa fosse degredada por seis anos
para o Estado do Brasil; porque assim se ficava dando bastante satis­
fação ao escândalo c1ue com seus en1bust.es tinha cat1sado''. 16 Como
santo lsidoro, csperava"se desta forma - diziam os inquisidores -
que ''pela mt1dança do lugar se mudem os costumes'>. 17
A idéia que os habitantes do Reine> tinharn sobre a possessão
americana não diferia da mar1ifestada pelo Santo Ofício, sugeri11do 1

uniformidade de estruturas mentais en1 segmentos distintos da so·


cicdade. 18 Boa parte dos réus co11denados ao degredo para o Brasil
procuraram escapar alegando questões de saúde vínculos famili r s
ae
ot1 ainda n1otivos rnenos concretos, tais c omo �erigos para a alma
e 1,ara a 11onra. Pouc. o importa que fossem. reais ou imagin ários os

94
ttcittr,1 ·, �ll ll cc 11c Jt! 1 :1 f >f Jtl }t J1c J H 41 t(s. l ,,
t l(l ()s t •• lcs •'tJ' <
,11ot1vt>S J CV ,, 1 l 1111 crlxcr�,stv,, t• s,1;, 11,ais i1nJ)t)1'tt1r1tc c,,10,,iu: <.li w,1
• (11 l l • • •

t,r l tl!f. tlC S . �0 1u 1·, �c pt lrf td �l cJ; 1 Mclr ÓJ)O lc nc JI 11, na


JJ c.lc pc )f r1
irtlcc.,ta(ilt d,> víci,,
l
1<
1u•l,;•1l
ir,� t1lt 1l>r l! e
vl·'n
te vó r • 15• lllC� l.!1'
· ·os ' ,1<.J cra <;(• � e 1 ,ir nt:. ts;
cr11 ta111 ( 1 j a e cr1l
. . r1 •. ::;c.:: .. •
..
,a
t,l ir r Cl í'I u<.: f v1u . . t a
l 1>< >r
in 1p rÓ J )r i�1 . 11l\,
1 9' Para() llJtc.Jo cJiJ tr�-
i '· �,'
,a.
iit
fó li�
t
�a
s·t '"
Às .. S cJa rclig
,1 , 11::tllS C(
C uOS I ,. 1 lC ti, rco /!IJ'rl iilo
riad,: 1 c r1, <, rr
o i- , o p t1 la 1·1 za c;( c , o d e ce rt a

tiíclo
o • -
r r, 1 d e r1,l u-
ib
lc u
tr
lr at
1 •• ct ,n
;>, r, a i 1t1ortt: as"on1-
. •
vc . 1, •. ,,..... ...,,. 01 PorLt1ti"'al. N(> nJét.
•11s 1�l c.f .
<;V C <,;l 11

c,u
1r1 1:1 gc n1 ué
I.réi · < s
vc 1c u
11 c1 n p os so d iz c J', 1>o r 11 ão sa b er r,i r1 ta r ta n ta 4,
,ã o q tt cr o
v �· :'cu
gJ ifc r c, 1t cs n o 11 ú rn �r o e tã o
�r: ª�11cdoiJtt(t..'i torn1c11tas, tão ,t
1
�c n 1clJ 1an­
rte, q t1c cr n t o d o s o s flt o s d es ta tr ag é-
ccstã1oia r·ig u ra e imagc111 ela ,no · d e
t. c f" 1g u ra , .,· l a n c l o co r1 1 g ra 11 c� p an-
Ja c n t ro u se rr ap r p el a p ri n c ip a l
. .
a
, . a
d c.lc Lo do R co 111 0 se o te at ro ,
r. • , to d o se
. .. u ... , , di r1
se n1 1 or a Os $C
to, e L ã O
s so b rev iv en te do n au t· r ág io d a na u Sli o fr an c· i sl ' O cm
Gaspar,� Af · o n o , . .
e � L 1s h o a. cm 15 65 , qu an do
1596. ec o s d as ca tá st ro fe s ap o rt av a m .
o s
er qu e C oc ll1 0 na t1 fr ag ou do B � 1l, re bo ca ram-
Jorg e de A lb uq u v1, n do
na u e cx p us er am -1 1o s, p o r de te rm in aç ão do rc ge n -
sc� o 5 destroços da te d a .
J re .
Ja d e s- a o P au 1 o , '' e cs p a o
ca rd ea l d . H en ri qu e, à fr : n � p o r �
le te ve ge nt e vê -la
qu e alL es qu e er a co isa
de um mês ot1 m
ia tan ta
aj s
ad os ve nc i o se u de st ro ç o ·.2 0
espantosa , e to do s fi ca va � ad m ir . :
nt ar tr a ve ss ia tã o te rrí ve l, t1a v1 a qu e se te r sa ud e bo a;
Para er1fre ,
am qu e a fa lta dc Ja po de ria liv rá -la s da pe 11a
as rés logo perceber ar em o de ­
se ns ib ili za r os jt1 íze s no de co m ut
ou pelo menos se nt id o
Di zen do -se fra ca , Lu zia de Jes us ale ga va qu e, po r est a raz ão ,
' grtdo.
não tír1ha ''f orç as e ne m su bst ân cia alg um a [ ... ] e ass im pa ra pa ssa r
as águ as do ma r cor re mu ito per igo sua vid a e não é po ssí vel che gar
lá ...''. 21 A gota-coral - denominação dada na época à epilepsia -
era o mal mais freqüentemente invocado. Foi com base nele que, em
1624, Luiza Maria procurou se furtar à pena, conseguindo .. o: os aci­
dentes da doença sobrevi11ham ''notáveis e vehementes'', durando
''grande espaço, e para a sossegarem aos violentos movimentos do
mal a não podem aquietar quatro e cinco pessoas, como é notório
e o testemunharam as pessoas que tratavam no cárcere, e assistiam
no Aulo de Fé, aonde padeceu um notável acidente''.22 Alegando es­
tar ' entrevada e cega, passando muitas misérias sem ter com que
1

as poder remediar, e ter de idade muito dilatada' Paula de Moura 1


,

conseguiu cumprir pena no Algarve e deixar para trás o fantasma


do Brasil. 23 Na mesma época, em 1683, Maria de Souza alegou
d�enças e ,rmuitos e grandes achaques'' para fugir aos açoites pú­
blicos e, a seguir, ao degredo para a colônia americana. 24 O pai no­
bre de Francisca Cotta descreveu ·a doença da filha na vã tentativa

95
J. a , c a u l
1
as
,,

m
ai
,e·
_r ....... -br ,�l na
r · ·l ·1 a
_l
aod,

ti ·o·nd�n- da e- d gr: do
i

r .la
• n ara iI -.u mprr
a ma . ...
·u. ,u
po-
_I-. a - .te
,1 ' 1 1 - r,�o
2
n.:-o
... no ·d
r··ul
_

1d,-_' .l a Jor r p -
�da h ''b1, -
·d

z
,l'i - ,d n

-a

it ..
pod
l
ã o q ue lh e de ixasse a filha cumprir pena cm algtJm lu�r
ª sa 1 v� ç 8 Mãe e filha partilhavam de opiniãc, e<,r
> con clu ía ela.2
do R e 1n O ,
: cerc a de qt1arenta anos antes, d . e onstantJ
. no BarrtJ,
rente � a ép oca
po do Brasil ' escrevia ao Santo O fício dando sel1 p arecer 'if'
das b 1s
i·a· · '' [ · · J esta terra, onde há mt11ta gente nova na fé, e c;1Jtra
bre 'a Bah · .
aqueles de qt1e se espera ma,s e'.<en,plo,
estra n g ira ' e uns piores que
e . d·1n h ·
e1ro, r
arece vier am à terra a aJuntar e n ã o a J azcr ·
JlL 'i

trça' '. l':,
ue p
q !624, 0 Santo Of1c10 ' . comur1gava d a mesma op1n1 . 'ã o: a o comu -
E
m o degr edo de Ana Antoni a do Boc a para o Brasil, determ ina v a
tar
e fosse deste rrada para
sempre do arcebispado de Braga para que
q� i
re ncidisse nos erros, mantinha que se cnt1nciasse publicamente
s ença como se a ré fosse partir para além-mar, mas concJufa:
ºª�nt
�.q tie em e feito não tenha o dito degredo pelo perigo que há vivendo
naquelas partes de a tornar a enganar o d.1abo ,,. 30
Atravessar o oceano representava um temor confesso: além da
perda da saúde, podia significar a supressão da t1oora e dos dotes
físicos , diziam ainda as degredadas, abraçando sem saber as idéias
de ilustres detrator es da América . 31
Em 1647, a bfgama Ana Lou­
rença pediu suspensão do degredo en1 nome do grande perigo que
corria sua vida e sua alma. O primeiro marido acorreu em seu so­
corro, prometendo ao Santo Ofício voltar a fazer vida com ela: ''com
O que se fica evitando o estragar-se a dita Ana Lourença por ser mo­
ça, e pobre, o que não tem dúvida st1cederá se for ao Brasil''.32
Uma questão assombrava a todas elas: o que faz no Brasil urna
mulher sozinha? Torna-se prostitut a, presa fácil de piratas, mendi­
ga'? O pai da joven1 Francisca Cotta, que era capitão do rei na Praça
de Mazagão, ''teme que indo a elita sua filha ao Brasil só desamp�­
rada, por ele suplicante não poder ir com ela por ser Qm cavaleiro -
pobre e achacoso das pernas, seja causa de maior desonra sua por
ser moça e b em parecida''. 33 Luiza Coelha, que ao que tudo indica
embarcou junto com Francisca Cotta para o Nordeste brasileiro, ten­
tou sustar o degredo com uma petição que alega-va o seguinte: ''e
porquanto é mulher moça, e andando em embarcações em tempo
de guerras poderá ter muitos perigos na vida e na honra, e outros-
s1m tem seu pai e sua mãe muito velhos, e ambos quase entrevados,
. .

e �uer esperar neste reino ao dito seu marido, pois c0nsta que é vivo,
e indo ao Brasil poderá perecer e padecer grandes infortúnios...''. 34
De Salvador, Joana da Cruz escreveu uma carta truncada e confusat
difícil de ler pelos erros ortográficos mas clara o suficiente para in­
forma� que seu navio fora assaltado
por piratas que lhe tiraram tu­
do, deixando-lhe apenas
uma saia velha; na travessia, continua ela,

97
'' u


pr _ ..
..

ri

1 1 )"

,.
.n u-
,. ,
.1

, •.
· a sse a volta de Catarin a Lopes; não há registro de seu retor­
autori: que o Santo Ofício lhe perdoou o degredo.39
no, m s sab e-se - · •

Al ém da pu rg aç ao , a qu e vi sa v a o S an to Ofí ·
cio qu an d o d egr e-
s eu s réu s no século XVII? O saneamento do corpo social pelo
dava . - .
do s m aus f 1 é'1s.? S e assim era, como exp 1·1car que nao sem-
i
exp urg o
como se de com eles seguir 'maculando o corpo social da Colô-
. sobre O qual também 1nc1 iam suas 1nvest1.das.? eontrar1amente
<las . 'd . .
rua,
s ac red ita va o S a n to Ofi cio· que no B ras1·1 se emen dar1am· pe-
aos ré , u . •
e ? Nã o parece plaus1ve , 1 , pois o mesmo n-·b
1 una1 costumava
ca dor s .
. n vocar os maus costumes vigentes na eol"on1a . e que, a seus olhos,
� desqualificavam. Numa época de guerra e de retomada do territó-
·0 talvez a Inquisiçã
o cedesse às pressões do Estado e concordasse •

�m· despejar sobre o solo colonial boa parte de seus penitenciados


_ entr e eles, mulher es de condu ta duvido sa ou entendimento fraco,

dadas a visões e a acidentes de gota-coral, indesejáveis na Metrópo­
le mas passíveis, na Colônia, de gerarem filhos de soldados mestiços
e de hereges convertidos. Se assim fosse, a Inquisição teria dois pe­
sos e duas medidas, preocupando�se mrus com o controle social no
centro do sistema do que na sua periferia.
Muitos dos processos permitem reconstituir etapas na história 1

de degredo destas mulheres, acusando um percurso solitário e apa­


vorado. Em três dos casos, sabemos no que deu tanto sofrimento.
Em 1660, passados dez anos da condenação, a tenacidade da velha
mãe de Luzia de Jesus visionária imaginosa- venceu os inquisi­
dores: beirando os sessenta anos, a ré voltou do Brasil e teve suspen..
so o seu degredo perpétuo para fora de Leiria, a cidade natal.40 Em
1668, a beata Maria da Cruz, condenada por visões, voltava a Lis­
boa e se apresentava com seus papéis ao Santo 9fício, após cumprir
resignadamente o degredo. Pediu que lhe suspendessem a proibição
de ficar fora de Lisboa, porque achava que devia zelar pelo Recolhi­
mento de Santa Isabel da Hungria l do qual era regente na época em
que fora presa. Quando partiu, o Recolhimento estava em obras. No
Br-asil, como se disse acima, conseguiu muil<!s esmolas para terminá­
lo, e queria se empenhar nesta empresa porque, na sua ausência, o
pedreiro encarregado das obras andara alugando os cômodos do Re­
colhimento: ''estava como estalagem, com tenda pública de cousas
que nele se vendiam, tendo-o alugado o pedreiro a quem quer que
queria morar nele para pagamento das obras que tinha feito''. 41
Acusada de bn1xa, Luiza Maria fora degredada para a Bahia
e aos 24 anos deixara para trás o marido. Quatro anos depois, em
1668, conseguira comutação da pena e retornara a Portugal. Bm 1694,

99
....
\
... ��.......... .
,.

·, '
... . ... .. ' (

'- ,.\ 'I i<.' 1 ("t tl\\f,�l,l�' l)<.'l,'\ ��ll\(\) )ft,'t () L'l,\ 1\f\rtl' l.tl t)t••
t t\ � .J 1\ t�
• •
--
� �,\ tll\ "\\l" ,:\ "' �' Jc) ,' ,,,,, )''.t Jfl1("flt) $ç !1l(crt,n\'llf\1. v,�.,-
i� ....., '\ , \\. ' nihttt\ \\ t'",'l\l\,\ ll\i. 1\\t'l\t{\T\ ':ttlll'flt�' U) 1.·�)l'J'<) �0 ..
' ..\l, , 1..l "�ttl t'l,l't\l?1 t111, t\, ,, itl\\'tlt , l" <.'" ·l11s)o 1111 ·inc_Jo
,,,,1, 1�\1\ ii.
l., } t 'l'fiJ � "'" i '(i.,(t '. '-l''<.\ 1 ,,r 11, ·it) i.J, lt'11 t111cin� rcjcitil 1
, l,· � 111"�\�1.\, N ) t1·!\11s ,, n.·r "l l 1 1 ,�<'�!- ,. çr:11\1 lnllll� ao reta
' n li '$ r,·1r�, 4ttc;' �e.' t •i1,t ·�r.\�.'' l< \.'\)rl)\) <.t() <.111 ,t :1 ·r,l1:1r:1 tlc se
, 1 '--'xl\i,,l"'· t lt1, 1 , •., 1.',)11ti{·11 t<li.), ._, ,-x�t,1�11t., J'>L)tiin sc..'r l t•,1i1u�, t\1.) li·
tlllf ' l, r�tl�f\l:\ J�1 .ti' ,$,�\�i�\ ' ti:.\ <'� '\'tTtttrtlt \'-), l11,ccli11t:ttnc111c.
f r ..�tl,, .\ .1l j\11·t1ç l(' 1 \ t,ti('ij tll) ,\\ltl''.\·tic· .. fc- (!lt lllLlt· sc)l t.•ni ( lOlle Q\tt.'
·,�·1,ti t'' irllein, i11lLtltiln� \ <..' :1ltt'rtlt1 l \ll\C:tttç) p1 't)i ·i:1v:1 tt l'l'iltl�gn,.
·, ,, t) rt."1\ ._\(\ �r�tt\i i., lg11t'.i;1. ) J):\�. t'I l'&11i11tt' �1�\ 1111\lt t\t)\'é:\ e., ..
•lt1�:\1.), S\lllh li\',l ' fisic�,: � "'flfl:Cre, ('I l\t\l)i(O J)t'llitCl\L'l�ll, \S � llc.:s,
> 1.ic�rt:1.ll,. 1 t'�t últit\lt) 't\� , <lllt' � e) Qllê <.>r:\ it\tçt'e$ ·,,. <) ir1clivíll11c..)1
it11,l ,1i1t11tt� t'sci�111t\f i:,, lllcl ('t)111 ) reta J:� 1 nq11isi ào e co,110 dcgrcdn ..
l� \ i:l Sl' \'()ll)l)Cli,1 U l)llr!l�\r Sll{\. t\llp \S 1\ú �111,,ctl! J)\lfBSlório Qllt.;
"'()t\ll'l ,hsur\'l)l\ , Jt\�\lÍft\ 1\t\1.ln"tlt1i. 'l'll 1; l)rt\sll: t:11\ 1711. cscrcvii1
\1;' (l.llt' �$tt1 C olc\11it1 c1 , o inft:r11t) d(lS rtt'gros. ()t1rgt1ttSrit) do� t,ra11·
"',)$ " l �\11\iSl l\.l, 1\\\1 l,t( l)�. 4J
e l'i'\ ,11,1 :l tJ{\S r1c1,rts tio Sn11 tcl Ofit:Í<.) 1 r11as era ta111 b�111
() li�tt�d()
l&11, ,,,�.t11i. ,1,c) dt l..!.Xl·l,1s0t) <..'\tjc.) si�ttificn J ult1·n11assi1vn <l à111bitô
Jl, "íl'i\)\\n:,l e se \.'t\�nsta,it\ 11cls 111t:�1ndrus ,1:1� rcl.tçõos c11t rc a IVJct ró-
P lt.: � '\ 1 l ()l()t\itt, (Cll<it) tJOll\O 1.:()0(�'{(0 J1istóriC() O Atlfigo I{egitl\C,
l;t\Q\ttltlto t1\l'C�1,,i�1,1 ") ct� t\--:cl,asào, l)l1rificitvn a 111ctt·ó1:,olc de Stlf\S tlltl·
1.tl.\$\ ll'. ·uroos.-,t\tio-ns llR cc,lô11in � se i11Jr<.1x ii11�tr1,10 de ot1t ros mcc�­
tlisn)\,, �c.11t1u1ts t\ l)Oca, �c._,1110 Jl<)r ext::1111:>l<> a,, ,vo,·k/1t,11J'l'S. Pcr1nt·
titt{lo c,)t1c J)Ot. tl • ·olí\nias flt1{s �n, cle1t1c11to. <.1t1e� cn1 O\ltrô co11.tcxt.t>,
�m.ill itldc"�ii\vuis, l)�rr,�t,anvn 11olns os �otupor1t\1nc11tos tidos con 1 o
<l(S\1 in11tc�. Ao r�,1.ê .. to, Ncriuvu 11a çolõ11itt o \111iv�rso 111t}tropolita 110
e, i.1\\ttlt,1nc"l1110,,t�, 1rrtbi1lh,,vn nQ se11tido tle 111oldsr o saia contrário:\ ....
:
t\fttlO\,� dcircdQ crn tt,rt\llêtt\ a face negra do proccs:;o ac)lo11iznt6rio. Y"

100
-.. ltt, , " r�:ll<), Jl \l'flltlf ), ,•1t1ll!\ttt l)tt11, lcrrn � • >lt)niui� elctllt.'rt-
t cl c. � '
CI i1l1 <.'S irr is · r1t )S C 1·ISJ)l)Sft'I� U J'Cflt' )(i \lllr . flOS trÓJ)i·
,i l<' � f)t) r
t l)� 11 \ l l t
.
1 . t • . . .
<.)l1lt\11t1. t)' t 1111 t l 1crcgcs. tc1t1�·c..·1-
..·\>S l> lll 1 ir\ut) rtll-'trt>J'
1\ i1 s 111,1t 1111 Jt:111
J..
, . • . •
11 1
l ltl$l't:tl tl>S. ,,isltlrtt\1'1<>:. l�\.lt'. 1 ,fl , 1..�z. t1 C()lôr11n, r1111tt·lr1atll n •
1 n
l'\)S
' tç111t 1(:icl tln l>I' t�111 �st;,l1cl�"·,,t�,. t0r111,1tllo�s�· t\gl.':11tc� tlc
t)n.s,1;�· l t S\l�
• · --·,-. , • .
tl�\ t lll · t 1L \ r ll)\'º ,, ' ·fnt<.::-.-.�
1ltll '"ll )l't'SSl"'I t>rt�l
't)ttrnntt' 1_1 :;e' ·111\') '.\ ,·111. t)S �<)l{>rt<Js l1t1l)1t�\t\lcs ,tns fçr1·:1s l>rasi-
. • . 'l)ti�rr liirn11111111l11ti11ilt11c11lc n ,1crcc:1)\';lo tio t1,11.; l.. lais cll>S St,\11-
1c.:t I l:í "- .
llt c:1 1: 1 l.'ll:\111( )\1 .. · , ·:14 V·l\fl·tl-SC Crll C()l ôt llt\
''t) \'l\'�1' t.:IT\ C.:() l0111ns ·
(t)S , \ /'
1 • · " ' .1. ' llS,
''' ll) J>l< 11ri ' l 011 t t)\'ll' f<1r�·:1 u
,1 � 'll'CllllSl!\11\.'.IOS V,1f l Clllfl" l'll\S
t)()l'I.}•,• •• • •
• l> ( lc �,11, I <. >. l\itcc
,111i�111<1 Jlt1111t1vt> t..:t1rrt'111c 11cJ A11t1gc) ltcttLI11c. o dc-
• .
1 �
�r� 10 S(;f\•'ill 1111�1 g111'l\l\t.11· : f)Cí'I)�( llf\Ç�lo (. e 1�rll\�lS <.;l,J 1 (\)l'lll$ r>�l'lll-
1
$11:-- ('\tr , 1c.:i: 1s) 11r , St'IO <l:1 sc'l c1é(lttcl � t:olo111nl. A lg11n1{1� s� i.:r1stu·
iuê ( 1
u,nrnttt l' IJc.'r111�111eccra111 i11:1l1 ·ri1d:1 nt ravé, dos 1cr11pos. Mas n111it1\s
. l rccontl>iti�tn1r11 e s� r�·ft111clir�1111 0111 111c,cl:1liclacl cs cspecific<1tt1cntc
�e,

<'t>l<l1tini s llc.: feitif,1rii1. 111�1gir1 � rêligio. i<lndc 11<)()t1lar. No séct1lo, v111.


port ,nt<-), \; )r1sc,licJ:i.1-. t11-. e tft)is us11ectos (listi111os tlc t1rt1 111esnto pro­
c�s o: a ,(>ll 'lt(\ti\',ll) Sll\l\tlttlll�tl cf,\ 'l)flSciarlélc1 tolc)rtinl C tlC fOrtl1i\S
C\tllutuls I cct1liarcs.
1�'\111cit>11(111dtl �t)tlt<) via ele JJ\1rgnçt o ela n1ctrót)ol�, o ctcsrcdo -
:10 11tl:sn10 f C11111c) cll.!stcrr<> e degrad�tçào - lr:.ibt1lt1\-\V<t no �crltido de
i11tcr11t\li1ar rt cc)lô11ia, rcalin1e11lit11do o que o oll1ilr 111crro1>olitano
,,in c:tclr1 ez ,,,oi� co11io l111,,,a,1id<1clr i11vitlvel: c)ll1ar bcn11,artill1aclo 1
con1L1J11 a juíi.�s de.>._ t111t() Offc.;i o e a rét1s 1. 1,odcsto ·. Porétn, contradi­
�ào clH .. ct.111tradiçõcs. l> 111ccur1i ·n10 de exclusão 11ão se e11ccrr,tV!l e111
tcrt'n · <:t>lo11iais. 1'v1ttilos dos feiticeiros 11\ctropolit�111os rcirtcidiran1 rtéa
'tllôr1ia, scnclo cn,1 iudl1 1)ara LisbOé_l e sofrc11(lo 11c)vos 1>rocessos ct1jo
fe�Jtc, eru <> clegr�do nt1r11 cot1 t<) ele r >ort ltgal, e.las ill1as ,1tlãnt ieas OlL
da Afrita. 011tr,)s, jn 110 sét:t1lo xv111, n�1scidos 110 Brasil e tributá-
rios ele t1111a tr,1cliçflt) r11á�ica e dc111t111íactl qt1e o clcgredo itJt1c1a111 a
()erpettlt1r - rnostr�1nclo, t1c1ui, Sll,1 face de trans1,1issor c11ltural -.
ernn1 ta1ltbé111 processado na lvlctrópole e degredado par
s a se\1.s co11-
tos ot1 uits galé�. Acabava n1, assi
\ . 1n, por it1 fer11alizar· a Metrópole,
cri1t11do t\ovos 1>roblê111as para a 1r,qt1is
ição portt1guesa. l11fcrnalizar
� Colô11ia sig11lficava n1uitas vozes ter, de volta, a Metrópole inferna·
llZétda; r10 f 111p�rio Por
tt1gt1ês, as contrt\clições do sisterna O()lonial i1n­
pregr1,tvu�l ttl111bén1 o
universo dos sút1bolos e das i:1nage11s.
'

/()J
Segu11da parte
J.,JJCRODE 10NOLOGIA
O diabo e as tensões cotidianas

Os i11ir11iigos da al,11a são III, scilicet, o ,,1z1ndo, a carne


e ho diabo.
Carti11ha paro ensirzar a Leer co111 as Docrrinas da
Pr11dê11cia. 1534
5
11 J�"f,J f.{j/Ã fJ J->OPULA!� E POLÍTICA
/.JrJ éxta,s·e ao combate

I�.:ce in caelo e.';t terti)· tuu�· judex tuu.s· qui te justificai;


qu1 �,.,, qui te ,·o,1demnet? (En e/ c:ielo está tu testigo, y
tu Jue2, que te ju)·tífic·a: quién habrá que te condene?)
São João de Ávila

/,';04 \Â (.J Mf<;TJCA

f:rn meadvs do \oculo xv,r, mais precisamente entre 1647 e 1664,


a 1 '-(J :�i',-âo portugut'.,a prendeu e processou algumas mulheres sus­
;.>t:12� êe <:rirne <;QOtra a fé. Eram originárias de diferentes regiões:
da (j::,Jíc;i�, de J3raga, Leiria, Torres Vedras. Lisboa e até de Maza­
�J# ·rOCU1, �:,()Jteira\, na �ua maioria filiadas a Ordens Terceiras (quatro

'�-,'>� em ��J, tinham na�cido em t'amília11; pobres, os pais sendo la-


ra<lore;-;., "Jterros. barbeiros. gente que sobrevivia com dificuldade.
AJ)<:na� um.a dela� ·1ínha de 11ncio mais abastado, a pequena nobreza
�1..e �e ded:cava as armas e velava pela conservação do combalido
f"·,;-�ri<., l'<,;rtugtJê<;, para taJ servindo no Brasil, na f ndia, na África.
r_,_r�r11a4.�m..1Se Luzia de Jesu5, Francisca Cotta,, Maria do Espírito
f
Y-.,r�l,(,J, .Jaria da Cruz., Maria Antunes e Joana da Cruz, e em puni-
",;àv 4<;. \eUb errv'> foram degredadas pelo Santo Ofício para o Estado
-j,., l!r:;;t,J, � ·3nica exce.çã.-0 �ndo Maria do Espírito Santo, que cum-
,
t1r. f ·,ro ra o� q u.atro ano"S da pena que lhe coube. 1
esta �P<Xa, após �',�eJ1ta ano�, Portugal acabava de libertar-
S'; � ('f
.. ' .•r., . ..,. P.a� es}Y4nhola, e ainda se encontrava às voltas com a
�. �:-:r�:;. tia �tauração. Em 1578, na batalha de EJ-Ksar-el-Kebir (AI­
��t�r e· b.
"� "' _ J ...J �rJ� pe.rera um rej doentio e mentalmente perturbado, a
d
�12,� � 4tistoc
r� e do exército (ooJca de 7 mil soldados), mais de

105
ittt:i<l mitt 1ào ele crt1zad o, - 0,1 seja, a 1nctatl c elas receitas cln
. , . ua1s
ll<l J)a{s _ a a,1to nt. ) n11a po 1111ca. 1,
�scapnr,tm
. cerca de ccrn pc.ss
l'.
. >: o se b asltc. 1111s1110. 0 .
��1111c<. oas
VÍ\tts e tim 01jt<.) n1t��s1 - Jttgo es,Ja iihol <a Pro-
.
ftir,cJara r> pi<.lL'l' SS<l cic Cêl�t�l l 1!ln1zaçac.l cr11 curso no pcqttc 110 reino
lttso descie: tl$ tcn11>0 � o r�1 ti. Ma 11t1cl, <.J llC cor1tra í r,t rnat rimôt'li o
�ucc� 5ivan1c11tc co111 ires pr1nccsns da ·spanha. , .
Es1)ar1l1ola tarnbé1n
eru d. J<>illla. ,t ir111à d e r.·11.1pc 11 qt1e o 1,r1nc1pc d. João, hercleiro
do tro110 na linl1a ct� st1cc são de <l. Joãc) 111, dcs1,osara ern 1552. Por­
tnnt<l, fala\'a-�c cspanl1ol na corte !)Ortugt1esa - que gravitava em
lt)r110 eia rair1l1n -, e rcvcrcnciava 111-sc os nt1torcs do ''Sécul o de
Ouro'', c\tltt1ados ali�\s cn1 toda a Et1ropa ela 6r)ocn. DescJc o firlal
do século xv. até o� J)OJ'lltgt1cses, como Gil Vicente, cst:reviam 118
lingt13 <lo pais vizint10. 2
lé111 das rainhas e dos escritores, vi11ha da Es1)ar1ha uma ver-
dadeira ••inva são n1ístic a' . 3 No prin1ciro qt1artel do séct1.lo xv1, lá
\'iceja,-a a C'ita do , 'alun1brados ', forn1a interiorizada de cristia-
1

11.i n10 · ·dotada de t1m forte se11ti111cr1to da gr,1.ça' • e qt1e teve como
,1m d(! seu principais expoc11tes o frade franciscano Melchior de Bur­
gos. egresso de \1ma família de jt1deus convertidos e dotado de acen­
l\tndo ,,er1dor profético:1 rlo\1ve no n1ovimenlo predominância fe­
r11inina e te11dê11cia ao \1isionarismo. M\1ll1cres como a Beata de
Piedrnhita, ·or Francisca, madre Marta de Toledo, Maria de Santo
Don1ingo di ·tinguiam-se pelas revelações, mistura11do mística e pro­
fecia. 5 , Espanl1a vi,,ia então un1 clima devocional assentado no
d�spojame11to e na fuga ao mundo. Os humanistas cri. tãos volta­
v'alll à B{blia - preferencialmente ao Novo Testan1euto -, tradu­
zi11do-a e empenhan· do-se na sua dift1sào en1 língua vulgar. Cuidava-se
ta1nbérn da pt1blicação de obras devocionajs: a !111itação ele Cristo,
do holandês Tomás En1erken de Kempis, os Lttceros de la vida chris­
liona, de Pedro Ximenes, o E:>;ertatorio de la vida espiriti1al, de Garcia
de Cisneros, os escritos de são Jerônimo, sa11to Agostinho e vários
li\•ros e tratados que versavan1 sobre a vida espiritual de místicos me­
dievais. como santa Angela de Foligno, são Vicente Ferrer e santa
Matilde> estes doi últimos de pronunciado caráter profético. 6 Frt1-
tificava assim na Espanha a tradição mística da Idade Média,
trazendo-se o religioso para o domínio da sensibilidade e da expe­
riênc•a individual.' Místicos como são João da ·cruz e Turesa de
Á \ila beberiam nesta tradição, absorvendo o Pseudo-Dionísio, Oc­
cam, Eckart� são Boaventura, Bernardo de ClaravaJ, e fazendo do
século À'VT espanhol ''o bom momento da literatura mística 8
''.
'Mas voltando às humildes solteironas das Orden Terc iras por-
s e

106
1

al­
ur u � _ i, '1UI._ r- in·dJ -i . lu
- fj f _ � . r · -. .-. d · muni--
,d_ , u.a

e J

,. a-
ai a d.a
. , 1t .
). "'d - -
an -
' 'º
·e . 1 1 •
,
u m , - e.r 1 - o ., ntf g _· m- -
ir i d_ ra _-- p .ni ·."n ia u,tro a o d_ am r .
1 - e l- I
11 ·1

D u_ 11 D- t a nquj' i-ão � cu, ,�u·lh- . o -ar', r d .an-


·_· · - m. n ,,o- e em tr:ê, argum n,, -, prin 1 ;,,a·,,:
1
-._ -.-
1

·arr an_ia · ob:-rba lu_-1. - rina ,


,.i - ·r m' ' r,o da
1 7 _rfo,do a "te�,'.
7
1 ,a r ·d ira re- ..
- 1•

,n - - nt m e:lem n ,o - grote c,os . -. an1b,ígua


) 1 - - , 1 • :

- n r ,i o·ntraria ·' , 1

a à i Q 1 j-,�'tor-,al .a n.tac a- e no . a 'Í0 nali o - -


-.L.& - I
1
1
'

ur , - .' . ndim, · ,nt , do, _ p_ ó:pr10 _ · to' .- · , 1co - 0. 1b

"
um · , ti a, - , ,_ ·ta- · h _ , if _,a,d ,d,o , anto · e, _ p, s�a ,a na , mort1-
-
1

p,r 1- ,ngada ,.- o - - ·rment,o - , a au" fia _,e�a, â


·-- , li , _ a . nt d - 10 . · - · ,' í 10 da ca idade- li- 'U a de I m - ...
- · p,ara apaga ,o p , ado 1

s d- D1eu � la_. _e1g...


ng' _ p, , , · ari � q- il n a -_ .a ,d am - � de , � t e, n
11u, --..-,.b - e mui' ·"pli,en a ,e � nombr de an-
, ·n1 e de, Paul.o 1 · Te e -a Je u,, , -,o, ra a... -:

), qu ab . · d. , . gra d � D...._ -.....,...


u . ·. - 'P -· _ u _- ão 1 ,_ - em ndai p - i el rid ·
· - uJ11p • ." -_ o _ o n, ,m .li d m--, , ano ' ,

10,7
esp an tad a co m os fa,,or es e me rcê s div in os , tão desproporciona
. '' ,. dos
ante ua pr óp ri a fr ag 1
'l 1
'd ade e pe qu en ez . N o ponga1s, Criador
mi
an precioso licor en ,,aso tan quebrado, pues havéis ya visto de ot:,
:· eces que le torn o a derr an1a r. ( ... ] Cóm o dais la fuerza de esta ci
u�
dad ,, llaves de Aa farta lez.a de elia a tan covarde alcaide, que ai Prim e
combate de los en em igo s los de ja en tra r de nt r o? ' '' . 14
M as manifes�
.
ta,-a júbilo e gratidão ante a graça concedida, sempre reconhecendo
ua miserabilidade: '' Bendito seáis, Seiíor mio, que ansí l1a céis de
pecina tan sucia con10 yo, água tan clara que sea para vuestra mesa!
Seáis alabado, oh regalo de los ángeles, que ansí queréis levantar un
n vi l! '. 15
e.usano ta
.., A vivência mística 1das rés do Santo Ofício se nutria na eferves�
cência religiosa que revolvia a península Ibérica naquele ''século de
antidade••.16 Algumas sabiam ler, e, como os inquisidores, deve m
ter tido acesso· aos livros nústicos que se publicavam em Portugal
desde o fim do século xv, quando, sob iniciativa da rainha d. Leo­
nor. ,�eio à luz a Vita CJ1risti (1495) ''em [íngua materna e portugue­
sa linguagem[... ] com muita despesa da sua fazenda'', conforme aftr·
' mo u Valentim Fernandes na ''Epísto,la'' qu1e serviu de proêrnio à
obra.11 Em J.582, o arcebispo d. Teotônio de Bragança mandava im­
primir em Évora, na casa tipográfica da viúva de André Burgos, o
Can1in/10 da perfeição da santa de Ávila. Entre 1616 e 1654, verifi­
caram-se várias reedições de Los libros de la B. Madre Teresa ,de Je­
s11s.1s Em 1630 publicou-se o poen1a de frei Manoel das Chagas, Te­
resa Militante, onde se cantavrun os feitos extraordinários da santa.19
Estas publicações deslinavam --se predominantemente aos conventos:
neles, sabe-se com certeza que contavam entre as obras lidas por fra­
des e freiras, ou narradas em voz alta às beatas analfabetas. Foi pro­
vavelmente desra forma que as irmãs terceiras de que se trata aqui
- n1uit:1 delas residentes en1 conventos - trava ram conhecim ento
com os arroubos n1ísticos de santa Thresa, para não falar de ot1tros
niísticos europeus. O entendime11to que tiveran1 destas obras diferiu
do havido pelo� inquisidores e pelos ert1ditos eru geral. 20 O aspecto
mais intelcctt1alitad.o, abstrato e filQsófico1 tribt1tário da escolásti­
ca, tornava-se inintclig. ivel para elas. Apreendendo o lado mais sen·
ível. que� vida religiosa n1oderna tr.ouxem para o cotid"i •
_ ano. as bea­
tas v1vct1c1av�n-r10 à s1ta maneira, daricto�lhe qt1a se
sc 111pre os
co,,10.rnos mais concretos próprios às C'1te,g
or ia s d o pe r1 sa 111en t o e
d� cultura P�P\1lar. 2t Não poderian1 dar conta
v,n1cnto sutil e co,npl, e.xo entre a con , po r ex em p loJ d o m o ­
sciência d a miserabilidade l1u-
n1ana e obsessão J)t!lo pecado por t ·
. ' · ·un lado e Q llllPU
· 1 1 s.o m1s 1 t'lCO, 0
, · con temp lação , o con f orto p · or meio do exerc í cio da cari-
refug1 0 na lado cat e qu e
..
t 1c o que , por outro, pautav a o com -
d d e do apo sto ,
a e rnento desses ''a ve nt ur ei ro s do ab so l uto ''. 22
porta . .1a a que sa1u ·
I Luz i a de Jes us, pen 1ten c d no aut o- d e·1.e
e, de 15 de
m bro de 164 7 �m Lis bo � , ouv ira de são Sirn ã � que e � te a con si­
deze � _
d ava tão neces sar1a à IgreJa quanto ele; sao Joao Batista e Deus
c:b ém a elogia vam, este conside rando que a beata valia tanto quan­
sang ue de Crist o, e que, em sua home nage m, um convento de-
to O
ve ria ser edific ado no local em que nasce ra . Jesus , por sua vez,
. . .
info r mar a-lhe q ue lhe m1rustrava ensinamentos d es d e o, tempo em
ue ela ainda se achava no ventre materno. 23 Maria da Cruz, con­
�enada pela loq11isição em 1660 aos 43 anos de idade, afi1 rnava ,cque
se Deus manif estasse ao mund o a vista dela Ré, pas1nariam todos,
que os servos de Deus iam por um caminho muito rasteiro, e ela Ré
ia por vocação mui alta, e que nem aos anjos eram manifestos os
caminhos por onde Deus a chamava, e Lhe infundira a graça em mais
altura que a são João Batista''.2A Joana da Cruz, porteira do Reco­
lhitnento das Convertidas às Chagas e presa pelo Santo Ofício em
1659, fazia-se ''de santa e mimosa de Deus' ,. 25 Maria do Espírito
Santo, condenada em 1658, costumava sair de si e, em êxtases. ir à
Glória. Suas visões refletem certa prodigalidade católica em fazer
santos e atribuir nomes diversos à Virgem, numa época de inegável
expansão do culto mariológico: nas suas estadas celestiais, a senho­
ra da Boa Morte a chamava sua mana, a da Penha de França �ua
prima, a do�Mártires sua madrinha; ''quando chegasse a ser bema­
venturada, havia de ser advogada contra os demônios e ânsias do
• coração e das castanhas, motivo por que lhe haviam de chamar Sanw
ta Maria das Castanhas''. Por o·utro lado, privando da familiarida­
de dos santos, as visionárias refo1rçavam a tradição popular que de­
les fazia intern1ediários entre o fiel e um Deus quase sempre distante
e intangível. 26
Para os inquisidores, tais rdelírios eram totalmente alheios ao uni­
verso característico da santjdade; em seus pronunciamentos e opi­
niões ressalta1n a ausência de humildade e excesso de soberba das
rés, Qtte proclamavam certezas tanto mais suspeitas por excluírem
''toclo mevimento de dúvida''. Ante a afirmação d· e unia delas de
que por muitos anos não se inclinara ao pecado, lembraram que san­
los e apóstolos não conheciam tal ausência de inclinação. 27 Cristãos
. .
nao V\V1am assim, diziam os juízes, com tanta estimação própria ...
,..

Procuravam mostrar os enganos pro�ocados pela soberba com base


numa leitura estrita dos textos religioso'S. Quando Joana da Crt12 se

109

jacca·.a êe te:- �acontrado o caminho para certa casa graças


0 aux -
lio que.. r.esta busca. lhe fora dado pelo arcanjo são �1iguel , a
-
s.ça? a�enta\-a que ucus t oss? Se
•• n.... - h or não serve (sic]
ª1 nq u,

, ? dos Ar-
ranJos �o pa.ra anunC1arem os m1stenos mais altos, e leva t
- · n ados
e aque._a a1.:-�o era tao
, .,..;r;. 1 C\e que nao necessitava de instrumentO
ct·
-
. .'
JV1-
no, por�· e qua lquer pes"Soa b. umana o pod 1a f;azer Invalidando
1

�e!a.ç.oes qut armnava ter ttdo de Deus, segundo a qual O e · as


'.
.
.lne d1na. que as dores de que padecera em cena . riador
. circunstância erarn
ac; mesmas senti.da5 por �ao _ 1 oao
_ E '-'angelista, ''porque lhe havi
ad
cor.ceder tudo que a ele concedera'', afirmava o Santo Ofício e
• - - ,, , q ue
em tal r�retaçao se contem uma temcr1'dade grande, qual é igua-
lu-� em merecimentos com os Sagrados Apóstolos, e não pode pro­
ceder de Deus revelação que contenha temeridad e''. 2A O próXirno


pa;so n�t.a linha de raciocínio seria aproximar as visões das beatas

soberbas do Diabo, o Pai da Mentira.


,

DESORDEM VERSUS ORGANIZAÇÃO

No �écuJo de ouro da santidade, tanto a vida mística e contem­


plaf jva quanto o exercício da caridade e do apostolado achavam-se
enforma.dos pelo método, pelo ''espír ito de organização posto a ser­
viço do amor'' que, para Delumeau, caractcri1..aria a ação de sã'o Vi­
cente de Paulo. 29 Neste afã organjzacional, nada suplanta os Exer­
cícios espírituaís de santo Inácio de LoyoJa; minuciosos e detalhados,
;nsistiam nos pequenos aspectos práticos que pontuam a vida espi­
ritual, chegando a propor o ajuste entre o ritmo da prece e o da res­
piração. A f'órmula do In.rtituto, que normalizava a ação da Com-
panhia de Jesus, fazia, por sua vez, con1 que a prática aposLólica
do.s rrussionários o� t..ransfor,nassc cn1 ''soldados de Cristo1 ', bem
adestrados e dócci"i à disciplina da or<lem. 3 º Mas também a mfstica
lcr�jana foi mcfódica: da oração ao êxtase, há um percurso penoso
que a santa dividiu em quatro degraus, comparando-os com as dife­
rentes etapas do trabalho de una hortelão, sempre atento em separar
as boas plantas das ervas dar1i:nhas e a prover o sou cultivo con1 a
água necessár ia. A imagcrr1 não é gratuit-a: o ofício de lavrar a terra
cli�tingue justamente o ltomem ajustado, tor11ado sedentário, daqt1ele
que a.inda vaga nôn1adc vivendo de coleta, caça, pesca, enfim, de
atividade!> a.\·sistemdtl,·a.s'. 31
Santo Inácio e Turesa de Jesus talvez representem modcJarmen­
te as duas principais verter1tes da religiosidade moderna: o apostoJa�

110


conteIDPlatl· va · E m diferences gradações, em uma e outra
"'
o e · d
••
ª
d ª v� rftlaram-se santos e religiosos como são Francisco Xa-
t�ndê�ci a �rni de Lellis, são Vicente de �aulo e as Damas de Cari­
s a o lo
\'1er, C _ J - Jvlolin os, BeruU e, mada me Guyo n. O
o a
dªde' ou sao . " .
0 da cruz,
,
e qu e O m ét od o es tiv es se pr es en te em am ba s as v1\ 'en c1a s
p
·an. . o rt a nt e ' · ·
pr ec es ., na pr at ic a as m or t1 fi

e err an do na as ce se , na s
relig1osas,
d 1-
e. o C -
n
e ou da cari dad São Pedr la

_p com o na da cate ques
caçõeS assiro ' no cas o, os esc rav os negros da co-
''A , t lo dos Etí ope s' -
r' 0 os o
teria desenvolvido uma

v: . es p
pa n h la de Nov a Gra nad a -,
Jon1a o
'' . . .
..1,,d el·ra metó dica dos torm ento s. Ao cont rnuo JeJu m acre scen -

verua · . ·
va 'gran d e mort icínio ' cotid iano de , long as e sang renta s d
. ta m 1sC1-
u . · &
. as , implacavelmente exercitadas com excessivo iervor so bre seu
,
plin
,

corpo J�a' di'lacerado ·'' Numa exigência minuciosa, organizava seu dia
. .
de forma a transforma� �s aros ma1S s1�p!� ,, com o o barbear-se
- _ em ''momentos de 1n1nterrupta carn1f1c1na . 32
Também sobre as beatas condenadas pelfl Inquisição abateu-se
a ''fome de Deus'' que consumju os santos reconhecidos como tal.
Muitas de suas preocupações com a vivência da religiosidade são sur­
preendentemente semelhantes às dos grandes vultos daquele século
de sa ntidade, dilacerados entre a renúncia do mundo - como são
João da Cruz - e a necessidade das ações - como Loyola, os jesuí­
tas, são Camilo ou Vice n te de Paulo. Porém, como no caso dos fa­
vores divi nos acima examinado, seus anseios revelam que a experiência
religiosa era sentida e expressa de f orma muito mais tosca e crua.
Joana da Cruz, camponesa de Torres Vedras qt1.e guardara carneiros
na infância, ''mais queria na casa de Deus ser servidora que no mun­
do ser rainha'', e tinha grandes desejos de ''viver em deserto para

tratar somente de qi,ietaçào e.spiritual''. No seu sonho de vida con­
templativa enxergara um grande deserto onde se destacava a ima­
gcn1 de Cristo crucificado. Ajoelhando-se a seus pés e dando�lhe gra­
ças, ''sentiu cm seu interior que da mesma imagem saíra u.ma voz
,1uc disse as palavras seglaintcs: 'Não sabes o que pedes, mais te vale
andar aos baldões das criaturas no mundo, que cinqüenta anos de
deserto a mct1s pés' '\ A perplexjdade entre uma vida de orações no
convento e uma prática mais efetiva que a inserisse no munclo cir­
cunda11tc parece ser nela Jeg(tima, mesmo se restrita a devaneios. Mui­
tas de suas visões lhe inc1icavam que haveria de ser fundadora de um
Recolhimento de Convertidas na B al1ia, para lá levanclo mt11tas das
recolhidas da casa de Lisboa, 011de tudo indica que servia como por­
toi_ra.33 Outras eram visões mais genéricas, mas nem por isso des­
providas de interesse; tlma delas reforça a idéia acima expressa de
1

111
• •
r1, 1,; tl.aVÍiJ tfJnl1ccimcnt(1 cJ,,, tl-l<..fJtc>, 1crc'>l�111,,t, r,,>, 1,:1rtc d<: Hr.ss 11111•
r:1r1•1rr1i, 1,ac, r,rrtl, '>cj;i tal V<;% íltttiti r,r,,v�vcJr-ncntt
IJJ1.;r1;
1,
r 'içja 1,(;la I
,,el:J •1,a ea,lritu: J,1:i,1,1 :1 1i1,lr1&v:t ,, 21,,n1c e, ,lp<::,�r <.lc mt1it<,ss lr<,pe:­
ço\ e errutt c,11<,v,ráf1cof\. 'tiJhíi:t e crt.-vtr, c:c>r11,) jnclic:1 dc>cun.1cntc, do
rl,Jl Í(J ,11nl1,1 :1r,r.:x;1dc, ·;eu r,ro c c��c,. 1 1t A jmagír1açãc, e o ;,1n cj<, <;..
r, r 1 ;:1 r
tigttl'•'> pOJ')tJlat, fcc,11,1,Jadc,� 6Í1tllJILanca1r1ct1tc pele> Nc,v,, 'fcstarncrito
'
é, r(:ftrênc,a �10 f11r1dacl(Jr do crí�t.iani ,rTl(> instit11ci<Jr1aJi 1..<ido _ <.:
1

p< ,r aJpu rr\a� noçõc�, vaga1> 1 �J ver., accr<.:;!l cJar, Mr,rüda.v dei ,·a.yf ílllJ Jt,­
ter/or - a rcterêr1<.:ia ;'J ft1ndrJdc>ra de, (... r1rmeJc, - Jevétram-na a ver
11m ''carro feiro d<: nc:clra e um ca�telc, ,nuítcJ forte, (Jt1c clicgava a()
C.éu''. f'cd1ndr, a Deu� ql1c ll1c c�cla(C(:c�sc r> signíf'ic:�do da imagem,
:lcdi· craqlfC<)carrocra ela. ''porciucas�im C(>moc rncs,nc)ScnJ,or
di)M:Ta a Sã<, J J(.;dr,,, tu e.�· Petrus, el .'iuper l1an<: /Jelrarn edlji,·uho ec:-
1•/e\íum n1ea,n, &'tsim <) di%ia por e la J{é, porque sCJbrc ela e '>Ct11, mcrc...
cimc11tos �dificava e ftJndava a �ua igreja, e qL1c o ca�telo �ra tarnbém
ela J<é, porq1Jc tão forte e purificada atinha, como aquele c.:astel,)''.
rl�c,ul!la época, religlOo sígnificava tarnbém ordem rellgir,.ia, o qt1c
ju�tificaría a jdentificação entre Pedro e Teresa: o fundador da rcli­
giãc> e a fundadora de uma ordem corJft11ldla m-\c na terminologia e
na concepção popular, atraind<> Joana para a milítãncía rcljgiosa. Por
amá-la demaís, Nosso Senhor determinara que ela deveria fundar cinco
ordene,, ou cjnco relí�iõe.s·: vivendo num período c,n que import antes
ordens e congregações novas se mu JtipJicavam, a ex-pastora nada via
de errado cm �cr simuJtancamcnle a fundadora de cinco delas, mas
an tes um motivo para mcJJ1or expressar seu amor a Dcun, :;eu, cmpc­
nJ110 na difu<ião da fé católica. Dc�1>acralizando a mensagem tercsi. a­
na, 1 ransformava o ca�tefo-a lma em 1,í própria, missionária f'Landado·
ra de re/igilJe.i. ll'aduzja na sua linguagem de camponesa a tensão entre
mí stica e obra, expressa� entre tantos outros, por FJéchicr no Dlalo­
gue.recond sur /e quiétisme-. ''TiravaiJ lez un peu rnoins à dcvcnir tran­
quilles,/ Soyez moins glorieux. et goyez plus utíles' .lS•
1

Jm.passe semelhan1te, n1aí1, especificamente referido, no pJano das


obras. a valori1,.a,ção da caridade e do assil>Lencialísmo� enc, ontra..se
na bela formulação d e são Vicente de Paulo: ''Quand vous qujtt.ercz
l'oraison pour 1;oigner un malade, vous qt1ítterez Dicu pour Díeu.
Soigncr un malade. c'cst faire oraison''. 36••

. (•� ".EmPCnh�j·�n� llJrt pouço mcno� na tranqUIH,dade. Sede menos vaJdo�oll,


e nlál\ uteis."
, ... , • 'Qmsn d<>
• <Jtixordesa oraç.ão P"ctra cu,dar ,Jo um docnLc, acixarc.--í$ OeU!i por
D<:u!i. Culdar dé um d<>entt é orar!'

1/2

tJ, '"
ra
<J
0,,
� a
ír
n
1
sc
qu
jo
i c,idor
'i rc lig io r,o , d <i � b eata� ·r .
c!,, cntrc:t.anto, o rú�tíco invólucro popular que
era ,u 1c1cntcmcrire pcrn.1-
. ·,a
rcvest1 .
a tl>rn á- Jot$ nulo i,. Ma rJ.a. Ant une s, pc,111.cr
. ,c,a
. a
<l no ano de:
:
c1óiiO par
� r,usc ita v a da}vi da\ r,obrc a autcntm• cJ·da cJ e uc ,1 su& aspirações a
16 5 posl ura tm
· �m i,ort-a n1cn u, s anto por não léf c<.,m públ ico, agind o
ent cmcn t.c de fo 1rma rídí � ula , de.Yordenada: ''quc:tndo ouvJa mís-
�;u.
ou estav a cm oraç ão. fazia abaJ oh d� omp osto r, com o corpo,
a
s ,
and, , com ele; ao chão' '; ''fala va algum as vcz.es formando a voz
clncg
rianç a peque na, di7.endo que pela oração a punha Deus J'\() esta­
de c
do d� inocência": em certa ocat,íão, a<> mc1,mo tempo cm que íncjta:­
' va um homem a ir pelo mundo fazer vida santa, deu-lhe ''um gran­
de abraço, e derriban<lo..o no chão, o tinha tão aferrado pelo pescoço
que com muito trabalho se desembaraçou da Ré, ação Q1ue escanda­
que tinha de honcsta' • Além disso, Maria Antunes
H7.ou pelo pouco
1

dizja coisas c.�tranhas, incompreensíveis para os juízes: ''Dizia que


quando fosse a pregar pelo mund , o, se haviam todos de faz.cr amarc­
los''.17 Estaria ela fazendo menção, de forma invertida e descoor­
denada, à ação dos apóstolos do Oriente, como são Francisco Xa­
vier? Por fim; a descomposta beata Maria da Cruz, discípula e

admiradora confessa de santa Catarina e de santa Teresa, djzia. ter
tido as entranhas feridas por três setas, e citava a refcrêncja mística,
gritando nos êxtases pela santa de Ávila e ''dizendo que só a santa
sabia o que aquilo era''. As influências carmelitas pontuam sua nar­
rativa: ''Bendito sejas, esposo celeste, quão grande é a tua luz, e quão
grande m'a deste'', dizia ainda, sem e ntretanto ter conseguido pas- •
sar por santa aos olhos dos inquisid ores. Foi degredada para o Bra-
sil, chegando a Olinda no ano de 1663.38 O êxtase escand a, loso e ba­
rulhento, a forma dcscJ.egante com que se referia à boda mística
afastavam-na irreversivelmente da rcqui11tada união de Teresa com
Deus. Este,. por exer11plo, teria dito à reformadora do Carmelo: ''Des·
hácese toda, hija, para ponersc más en Mí; ya no es ella la que vive,
sino Yo. Como no puedc comprchender lo que entiende, es no en­

tender entcndiendo,,.39 Na poesia ''Mi amado para .mi'', a santa tra­
tara do tema da seta que a ferira de forma lírica e encantadora:

Hirióme con una flecha


Enherbolada de amor
Y mi

alma quedó J1echa
Una con .su Criador;
Ya yo no quiero otro amor,
Pues a mi Dios me he entreg(ldo,

113
}' mi Anrado poro ,n,
....ro soy· paro m, il111ado. 41)
• pe!,.8.f de lir um campo comun1 entre a religiosidade d
e
t::l �','el"Jadtírcí.S�' e �antas ··ra1s� ''. entre o nlisticismo e O sa�.
-- anseio
,eresa de A. \'1-1 a e o das Joanas da Cru
p r obras edi11cantes de T 2 ou
ia...;a- ,\r.tunes que puluJa,'am cm Portugal à época da Rest
aura�
-O. �a,-ia diferenças sigmficati,-as. Para os inqui idores, elas se
,ra,-am mais dificeis de precisar no que dizia respeito ao conte��s�
à ·ncia da espiritualid
-
ade. um século em que os santos e bca o,
to
· · ·1 s
oon�111u1am 1 epa°' \'C rda dI eira · '' ,·,a
· lá· ctea ... as h eterodoxias e d _
J)

es
,. o� nem sempre eram ,ac1 {'-. ·1mente 1'd cn11·r.1cave1s
. . , e nesta matéria
Santo Ofício procllrava antes pecar por excesso do que por falta. �
propria Teresa ficou anos sob a uspeita da Inquisição espanh1ola
qu� _ô aão a prendeu em \•irtude da extrema obediência que sen,p�
mo$tron; mesmo assim, sua obra foi co nsiderada perigosa e só se
publicou na Espanha po tumament� graças à intervenção de frei Luís
de León:�2 Santo Inácio, fundador da ordem rel:igiosa que talvez
mais se tenha identificado com a Reforma católica, �oi inicialmente
suspeito de adesão ao mo\imento dos t'alumbrados'\ pern1aaecen.
do prisioneiro do Santo Ofício espanho,l por mais de dois meses. 4l
São João de Á, ila, que sempre esteve próximo de Teresa. de são João
da Cru2, de santo Inácio, Lendo ainda in íluenciado decisivament e
a opção religiosa de são João de Deus, também esteve preso por um
mês, o Santo Ofício desconfiando de que abraçara o luteranismo. 44
Assim, foi contra afonna assumida pelos êxtases e concepções das
beatas portuguesas em questão que o Tribunal luso se voltou de ime­
diato, ressallaodo-lbes a deso1rden1, a crueza, a falta de elegância.
Como muito bern mostrou Jacques Le Goff, a preocupação estética
com a form,a ''é a marca profunda da passage n1 de um universo de
sensibilidade e de cultura a um O·Ulro''.45

GROTESCO VERSUS SOBRIEDADE

Era tanto a forma quanto o conteú1do que desconcertava os iLl·


qujsidores q11ando, nos d.epoimentos das beata , surgiam eJen1erntos
grotescos, por eles freqüentemente qualificad,os de ''ridfclJlos''. Ma·
ria Antunes estava certo dia em oração quando,
vendo um homem os abalos e n:1enelos que nela fazin, se pu era a cl10-
rar com grandes gritos, e ela Ré com a força do es1>irito s� leva,11ara

114

da oração e chegando-se ao dito homem lhe djssera: L't\.braça-te comi­


º hom em· ·. E que fazendo·o ele a..�im,
.
lhe tomara a diz.er: ··Aperta�
s
I

me muiio''. E acu d'tn do gente aos gntos. e pcrguntan-do a causa, rt! _


ondeu ela que por haver declarado ao dito homem que I:tavia de ser
:anto,, se pusera a grjtar, o que tudo f12era forçada do espirito e sem
tenção d e o fal..er. �
A introduçã o do grotesco e do absurdo revela ,ra a
presença dos
igo s próp rios à c � l tura popula r, ;�r1bebida, con�o�c viu Mik­
cód .
bru l Bak htin , de corruoda de e do espmto da praça publ1ca. 41 Os gri­
tos e os abraços da beata, que se lanç, a\'a do transe à expansão de
jropulsos eróticos. sugeriam um universo em que maneiras descom­
postaS. riso .e atê mes1r10 brincadeiras_ li_cenci�sas p�diam conviver
com religi osidade. Atrelando-se a trad1çao mwto antiga na Europa,
05, padres pertnitiam-se toda espécie de histórias e brincadeiras quan­
do, do alto do púlpjro, preg, a,�m por ocasião da Páscoa ou ,do
Natal."8
Nlas há passagens dos processos das beatas que sugerem ade-
são a outros aspectos das tradições e cultura populares. Francisca
Cotta - a única dentre as mulheres aqui estudadas que vinha de
r
uma casa nobre - i\ria na Áfica com o pai mJlitar e era dada a
actdent, es de gota-coral. Caía em ê>:tases e se comunicava também
com as almas do outro mundo, e cena ,·ez ouvira de um sacerdote
'�que Deus Nosso Senhor estava muito irado contra o pO\'O daquela
vila de Mazagão (onde e!a morava) e que a Virgem Nossa Senhora
anda,� de joelhos com os peitos de fora, pedind, o a seu sacratíssimo
filho lhe perdoasse, e que ele lhe respond ,eu que lhe não havia de
perdoar,'.-l9 Há oeste delírio uma mistura curiosa da concepção gro..
tesca do corpo. em gerai po itiva e regeneradora, com a idéia de per­
dição coletiva. Ainda segundo Bakhtin, o corpo grotesco '•ultrapassa­
se a si mesmo. franqueia seus próprios limiites. Coloca-se ênfase nas
panes do corpo em gue ele se abre ao mundo exterior, isto é, onde
o mundo penetra nele ou dele sai ou ele mesmo sai para o mt1ndo,
através de orifício·, protuberâncias. ramificações e excrescências "' tais
como a boca aberta, ,os órgãos genitais, seios, falo, barriga e na­
riz''.5º A alusão aos seios de Nossa Senhora destaca-lhe os atribu­
tos maternos de genitora do ''sacratissimo filho1, e, portanto, res­
por1s.âvel pela sua vida. Mas há nm aspecto negativo, pois a mãe que
lhe dera a vida pede inut ilm,ente perdão, como se fosse pecadora:;
seria de tal monta a perdição reinante n a cidade africana - contra
a qual e voltara a ira de Deus - que nem a Virgeª m s,e salvaria. Os
seios. expost,os passam assim a ressaltar o caFáter pecador - numa

115
alu ão, tal\'f-l, h ·�nta -pro titutas 0,1 de con1porta1nc11to <i\JVido.
so: tvlargarida de ortona, �arin Egipcíocu, l'vtaria Madaicna.$1 Por
detras da bla·f�mía pt1ra e sir11plc - as11ccto cvíoc..�nLc e inteligível
i\ lcit11ra do inqui idoru - abrigava-se o l1 nbito popLalnr de cortfc­
rir atribt1tos J,t1mnnos ao snr,to�. torn.a11do-os rr1ais tJróxirnos do fiel·
r��idia aitida a imp()r1antc tradição blasfcmatól'ia da praça pública:
ocldc, nuina prová•ll?l s·obrevivêncin de l'ór111\1las s,,cras n1uito aiiti­
g�. lan�'lva-�e mão d.e objetos ou pe s.oas !ngradtLS, Jurando-se ''J)clo
, pelas
corpo de Oeus•i. ''pelo sar1gt1c de Cristo • tripas e Ltttanos de
Jesu ·• e. as im, pro1noveodo-. e o despedaça111er1.to <lo ,·orpo, s2
Nos a já mtLito cor1l1ccida Joa11a da Cruz �11trcmcava as visões
beatificas com t11n relato fcsccnino: quando vivia ai11da no seu Re­
colhimonlo, ' 1 indo un1 dia para o coro, tjvcr�1 uma necessidade cor­
poral, a qual satisfizera 11a varanda do mesmo coro, e qt1e vendo a
dica Dona Mariar1a que então era vigária a varanda com as imundí­
cies, as limpara, e ,que Dc11s Nosso Scnl1or revelara à dita Joana da
Crttz que havia de ter no céu urna coroa de glória pela necessidade
que satísf1Zcra na forma referida''. s 3 A proposição certamente cons ..
tituía blasfêo1ia aos oJhos do San.to Ofício, revelando ai11da, por parte
da beatn, excesso de auto-estima e vanglória. Entretanto, sob a lógi­
ca da cullura popular. o episódio que Joana despudoradamente cx­
pi1scra à fnquí ição tinl1a significado totalmente diverso - caso con..
trário, não o desvendaria assirn aos terríveis e ameaçadores juízes,
procurando antes 1omiltt-lo. Ele remete à importância do baixo c·or­
poral no unjverso popular europeu, os excrcn1entos não tendo a sig­
nificação banal 011 estritan1er1te fisiológica que neles vemos hoje:
''Eram, ao contrárLo, coosiderados como 11m elemento essencial na
vida do corpo e da terra, na luta entre a vida e a m,orte, contribuíam
para a sensação agl1da que o homem tinha da sua materialidade, da
sua corporalídade. in,dissoluvelmcnte ligadas à vid , a da terra''.5 4 A
visão blasfematória de Joana car11ava/;zava a graça clivina para, em
seguida, descarnava/izd-la. Voltando mais un1a vez à ilurninadora
análise de Bakl1lin sobre Rabelais, tem-se no banquete de Epistemon
nos infernos inúmeros elem . entos de inversão camavalizadora: quem
não teve sífilis na terra. ccrtarnent,c a terá no outro mundo; os que
tin'l1am si.do grandes senhores neste rnundo> ganhavam, no in fern o,
,
pobre, má e indecente vida; indige11tes e filósofos, por stta vez. que
lanto tinham pona,do na estadia terrestre, tomavam�se grandes se­
nhores quando nos domfnios .ínfero·s. s:S A beata identifica sua 11c­
cessidade corporaJ a esse código popular, cotocar1clo-a nu espaço
m
toralmeote �U1eio a ela - o coro do Recolhim
ento, onde as vozes

116
cv ava tn par o Deus . Mas, em segui da> desfa z o percurso antcri1or:
se el mo grotes o , o povo .
m e to, que no re aJ'
. 1 � � d era inottvo de ate-
cxcrc 11
o . e de fcci1ndidadc, serla recont1ec1do corno tal pelo Criador, e
gr�:c ess . i d a cle satis feita v al e1 ria no ·céu un1a coroa de glória. 1
ª
M,tis talvez do que o r<
?púdio à in1odéstia das visões ou a sct1 ca­
de sord enado, a recusa dos conteúdo grotescos revela a e.�istên­
ráter
' cia de u m desnív el profundo entre a cultura erudila dos inquisido res
e O Ltruv erso da cultura popular que permeava a religiosidade dc1 liran­
tc dos bca.tas portuguesas. Ar1te a vitalidade da presença corporal,
ante a i.Jnp ortânc ia dos excrementos , ficava evidente que j11iz e réu
não poderiam travar senão uma relação dialógica, assentada na total
incompre ensão n1útua dos significados que se enunciavam.56

MISSÃO SALVACIONISTA

Uma das inúmeras visões de Joana da Cruz retratava a vida que


11,e caberia após a morte. ''S,u a imagem se havja de por so·bre uma
peanha con1 o cliabo aos pés com urna espada na mão direita cotn
a porlla r1a cabeça do dcn1ôr-1.io e n a esquerda um coração, e dentro
dele unia custódia, e t1m letreiro na peanha q11e dissesse: Jo1 ana de 1

Deus reformadora de si1a igreja e protetora de Portugal'.''57 Não t1á


dúvida ,qu� a inspirar- esta visão, estava a imaginária e a a1quitetura
tridenlinas; ct1stódias, letreiros, pearihas multiplicavam-s e pelas igre­
jas católicas da Europa, o mundo da C'ultura erudita alimentando
devaneios populares.ss Uma vez. morta, Joana se idc11itifi.cava, pelos
traços ico,nográficos, com Nossa Senhora da Conceição; 59 mas a ce­
na que descreve introduz um eleme, nto novo: a prcocl1pação com a
order11 política e o desejo de nela interferir por meio da religião. Cor­
ria o ano de 1660; após a Restauração sob os !Bragança, Portugal
emergia de um longo processo de luta que compre�ndera a guerra
contra a Espanha pela afim1ação da nacionalidade. Do sonho de Joa­
na pode-se desentranhar não apenas a figura de Nossa Senhora ven­
cendo o Malig110 ou, no plano d,o conto maravilhoso, a da princesa
p,isoteando o dragão, mas também a de Joana d'Arc levando a pá­
tria à vitória contra o invasor estrangeiro.
Que o modelo desta Joana, campoinesa e guardadora de ove­
lhas na infância, fosse a ol1tra, pastora também, mas na distante Lo­
rena. ou fosse o arquétipo mile11ar da donzela guerreira - ao qual
aliás pertence igualmente a santa francesa - é difícil d , izer no mo­
mento. 60 IncoJ\testávet, entretanto, é qu,e o desejo de santidade de

117
. l
-
\. t l l 1 1
,,,,,., ,,,,, ... ( ti/li ,,,/ ,.,,,,.,,,,,,
"'''' \'l'llf ,.,,, /',,, '''>·'''·
()111111,l<J /('111 i:,,lr/11fl11 r,,I,
/• tflrJI\' c'III f(rf , 't)ltJ/J,ttlltitl:
t ·,1,r<·l,1 ,l,· 1,1,•,lci Jt 1,1
'/i•11t11 /fifi ,-:r1111,J.· 111i•t(\.(ll�

( )111• lttltJ f1<Jc/t• ,•.,<'<l(J.CJI; lltl<>,

1
/ ,,,,>, j 1,lirr11tltJ 11,,,,,,,,,, r) ,,,,,r,,.
.-,,, {JfTI( a ,i,1 ,,.,1 c·c,1,f,10.

J·àr<i ,.,,,.#,,1. ,· 111111(\r ,1111•fflt1,


I· ,,, Jtl\'C)f ,/,>,· 111,lltlllt>.,.
1tlf) \t'IJ(it> ({t>.f C'CJ:�tc/l1tJrlc1,

('c>111 ,·cr der, (. 'r>r, \'e/\' />c•rrli,l,1.ç:


/ '1111!irc1. c·,1rte111clc> ,•1tl(L\',
J ),t• \'c.'rlllt'//l() C) />llf\ 1/ f�urrJ't),
1: ._�,,,11 111111<·/o RCJl/1,,1,iu
r;,,,rtfti,,cl,, t•r11 t0<lo o riSt'Oi
Pct.S((I t/l(f' <' jrtr(I(• f•ro11,·i"cu
llr111aru , a111rJ 11111 f�<·rr1,1rtic2.

Cc>111 l11 cil11f(4. i1 Jicfal,:11i(I


"'
• t.•rc1 de c o�·tt:lu ,1ç<)il('.
•... ('()/tl{) jru,tc� tlt• ncil ,t'.

(•t)fl'I() {idal}!ó cJC (/i<I.'


c.�,,ntc.• a l�rrso ,\lo11arqr1ic11
C'Jrc)rt• (·o 11 t rarta ,,a,-cio.
,1
/:>.oi\ c11,1b,1� ,,,,/r Ct>r11ô
Pt1m gfôri,,. < J)<li'<J ,clor •
J lr1,11a ,,,, • 1n,1r1goJ' fit\-'(Jr.
011 t rr, 11,rs bn1gas /Jl'i.frio. 64

1 uito s� tcn1 llito sobre o J)RJ)�l d\!se1nr,e11hodo Jlclo 111iler1uris-


1110 110· c�l1lo xv1 e X\'tt t)al'ttagucst.:s. ntês de Jcáccr Qwbir, as
tro as (\f> ·apatciro na,1clnr1a, i11tlt1e11ciudus pelo n1cssiu1tis11to jttdni­
co, pri.."i\'in111 tl �heg,1dn de u111 rei justo q_uc, sob t11n i1oico l)ous, cslcn ..
1
dcrit, Cl1 rcinuc.lo reg . c11ern<lor por sobrt todo o olundo. Lot�o aJ. Jó,s
o desaslre africano, d. João ele Ct1stro intc.rprcLura as 'lrovrJs- qt1a,
a1)e ·ar de 11cessivas proibições. circulavun1 livro.mente entre o povo
- e começara a pregar a ,,oltil c.lc d. Sebastião, tornanôo·se para o se·
ba lianisn10 .o que, egi11,(lo algu1lS ntatores, fom são Paulo pn,�a o eris­
litt1tismo. Por fin1� qt1andtl da morte de d. João 1v, o prin1c'iro rei d<l

1/9
,...... •
·'·'- l t t1 tn'n� ')
.. ' , • ' , , , .. · n\ .J n "' .t' :-t·11t .. "1 n.:-i ',� m_
• • :-.i ,,1 '·� • l\ �' l • \ tl :'\,
r , �Uttt(o tn1
. i \'llllh n· ,. ,
\, •T • • � "'
J
. , , •. , • • , '- tl,.... - \,\..: ru, ,.11 ·.1 '\','·
tl ..\ :'l( ..
,••, _ • , -111 . . n\ .. ttt' n\\,,'tl.\It�i.,. t .t.1n1 o \L·i \'"'" .,,,rl·. t1
'
.
•• • ,, ,. • • < • •: 1;2 •• "4 ,.....,�.-:._ 1.l < t : ..1 ue" .. , •_, 10
. . I i,·a 1
••• <.. - •/•· • J f't:1\, J .. �,'\ \l�._\
.::�, �rcir:1, f'U�ti ., 1:,
.:
·.. .. .. . � .., ,i,· 1, � • 41te I r:lt:1 Jl', t 11)p;_'n , P\ rt l'�� t•·"'·' "'1•ln\
J�. �......� .• ,."\., '-> • ' f\,,rJt.!--,;l. ,i .. f"rn
1 • ... · .it, Hotllcllt de
, � \' � tl\ nt1.. 11 ' � 1 l l\\l'-°l l \ 1. 1!\�lll ). q \l ' \.l\:- ll \.) pt\_)e m11iu
" ·
• •• " ' '-t"r.!- ·.1�t" ll).,ll,\1. tlr \\l·t "' '-) f><;� " ,l )
lOlt', �(" (X)f(UJl , lll'' nn , ,.,_, rn ..
..1 n , , 1n1·"-· l\ 4 l1 "U • • tm1 tt{,' '1'fl�l�t 'J \,r 1àf!tt�$ Jt\t\�··.
rt:1� ..1/ / rt' J �'"'· i. p\.1bli ·ad:\ sot, t) 11.,e11 lõni�,'
· d . , :\)rit''I Jc- f\l1,1t'i1.l.\. p. r.\ J lt.l luci 1 • ,\1 ·, 'uo "'t') 1,,.ii,
°''t \ ,1 J ...,... � l,, r ,�··: UJ- tt<t1>it1 lrl>t'rol1.'J, dr :\11tl\11i (), l� So\1; �la,
� ��,. J'\lbli d.\ ·111\ lotld�-!! <.'n1 164 . Q\lC. "ôr11 l).!\�t 11n en,1r11crn
d rrxJll1iC\... 1 �1�\...�..1 • e nl .1n,, il lt�\ · ,, dt f·ndt• �1 te.-�, ti 111 idade d } 11 , 1
'ª""
m n n:iuio br��.anti11"1.t-t1 1\luitos foll1etos se J)t1l',li1.; \r.1111 nu p '°'ªi
u, rindo .1J,·.1n� p...\pUl�r tn�ior: :, gl1.:. o dos L,,.�,o,itrs feito l'k)r Atl·
dr� R ldnt,-. \ae· :fc 1'1!ltló. �ob� t) Trit11tft' ria, ,,rn1n. P,1rr11gi1,.-:,,1 �
pub1,�.1J. n, 166�': o Atnc>, 'ri ·o.,,,, c1 mm ('tic> rl< 11,1 ,\f11,,:cstt1dcJ
n ,�n'/1· ltlfO nt>r /}0111 l<)<Jfll fl� f lll�lc) lltl1ric\ti'O �lll q\J ·os [>Of·
,u u �10 ··a t!orc:,s dv enn,n \ dt Nt•1t1n '\ que• ._ pós ofrer-�n,
rcra e- rimnias. \ t't!tll·. e redirnidl)s f)Or d. Joií<) av, ··sn,.o de- Por--
tup 1. tt,ri, fô munc.Jo''; º7 (�:; ,t[Jf)fflll CÃ� /.tl"iltJ/1(�� dtt \1 {tOri11 t/c'
.\lonl,. 1oros q1Je tiL·�m,,, o.� Porr11g11t.1 <'·' <"011tm <>.,· C'c1:�ft'•l/1a,,o-.
d<' autoria do �õ1,�llO L��)nardo de� lo José. 1:. te 1�ligioso en, 1>re­
g do, de. uo Mnje. ta<lc, <:011formc ates tu t\ Jlá�it,n de , 'tt1 do ft>­
thcto. ,, qt1c :,iu ere o p:,p�l dt r1roo q,,c cJcvcriarn ter o,. scrnt �s 11n
,a ulaç o de i(Jéin:, e ir11agcli�. si111ulrs11êan1c11tc. e 11111 rir,d() dn ·u11-
cep.;õ , po1>1Jlr1rc!l. e. e,\Jill for,n,ni inttis polidn. refor�· t11clcl·os 111cdlo11tc
a (>rat raa pe�t1n,1,"a.
De ta fortt\a,, \t'ndc, 1>a1l1 e rtc>� autor\!. cn1i11�11ten1cnlc.: ptlilll•
l r no \1.*a� rr,(1.c,, o cl,aNrin11i. rno ga,1l,<>t1 n �litcs Cltlra • <tt•e o
rrnn forman1111 cm dc)t1tri1,a "\; :iUilvaç· o r1acio111nl. f>or volrn dos unos
60, ,tl>a'ttdonado pela ··gcn1c s�nsnt11'\ vita-sc oovnr1,cntt: dçvolvidc>
,,o pavo."' ('on1ru tlt: �e b11ti,t. inc,1r1�ável, i, [r1c1uislçãcl: cr11 4 de
,•ttrrJ de l�, al,1 c:,n ,,uao�dc-fé Mur itt tlc Mncedc,,, ,. fi 1110 dê ,11t1
v,iolciro que n1,1rt&vt1 no C.hf,àdo e qlJe, i 11do h rtc>lt e às I lhtts lit1cot,cr·
t �. f ulava ,on, d . Scb�tillc,. vit• o rei A.rttir e ox prol'ctil · �,1oct1,
ltu e o João l!vn11geli11ta. ,,J <> gri,r1llc Ar11ôr1lo Vieira taoit,ên1 uo·

/2()
h ·nq tii sit or ial . re sp on sá ,.,· e l pe lo s cinco ano d � -
t, • .. a1l n 1
l\ ht:
\ ·i '
:x·
QllC :tJl'\.lf:, ººº . . ; ... ... ,
t o. Vie ira pe r ma ne c �� pr � o a o mil e na nsm ..eb
? � ast..& �.1-
P o rt ,
.. n d o a e li te cu.ta . a
"IC 'tto
• �n1 que dele J a havia d esena
l (l'\L >O
1·' n \ln , a •.:oz 0ava ··como a de um morto esquec,do, que �
u
l)f\"'lt- � t.: • . vi vos cois

a s d o seu ten1po ant.1q1:aaas .
• . ' .,..
_ nt ..� � n di z.er ao . \.lC
ll: flllllO � . . . - -
n l;,
\,. ,ran · f'C\'C r um trecho mwto s1gn1 ·ra 1cau" - o À-
H "',OI'?
.. 1 11 ,porta , . .
,. ro q\1 a 11do se refere a profecia de Damel:
,,,, J,,, ,, •
• no de te lo1p �rio de Cris t o há-d e l:ia\"e: f no �fu ndo 11:x sõ It;��
110 ,cr\ , ,. . _ �,:,. �
dor O qi,1c! obedeçan1 todo ·s o rels e t odas as naçOc!S do �1«M
:,nt 1�� de se-r \'111.� rio de Cristo n� tem�ral. � co�o o Sm:no 1::rr
t-fft-.'é 1,0 1,,iri1ual; o qu&U Império e.spU1tuaJ entao hã-de s.e; ro :en!>
e coil \1n1.1do • ..- que todo esse novo est3do da igreja há-de Jura: :
niuit u110 � e qt1e t\ c.nb.e�a d�te Império temporal hà-de S;.r ili _
t 0, rt!i� ,te l'onuga1 o lmper.idores upr�mos.. e que- neste rrnipo �­
de nor ·ccr u11ivenalme11Le o ju tiç3., inocência e s.,ntidade em t:_oo,JS
O e tndo>,, e �é huo-de ul\'nr. quase pela maior pane lodo- , .,.:'\-
111cn�. é .e ht\·d't' c,,chcr então o nún1ero dos predestin!ldo o -.uJ e
rt1t1ito ,tnaior do qu,c: comumcntc se çuida, conje<Cturat\dO-S(? om · _
() ,�t11pô en1 Qllll' e.st:it c-olbas l1ão -..dc uced\!r� e mOStrando-� s � �­
1
,e in,tn1mt11to por q11t: e h!lo de ieonst!gtlir. 1
En1 t66S. a: 1ro\•a do Bandarr.a oltn,'Un1 a er proibida_ q �
o:t • 1a. penctm�ào qut co11hecian1. A n1ull1cres do po\: que tinhsm
,1i Õô e e ,cli1inn1 qu{!rida d D u apr\.'SCntafíl 1· rmula� ...� in1p s-­
ion 1nte111tall(! a11álog:i õ con tant n tes ver os. t)U 1\ s m, ·
de Viéin,. <>u ninda no· li,·r s dos adcJ'lt�' �\llt s d n,ilt"n.tri, n,�
ugeri11do a circ1.tlaridudc entre os ní,ici c1.1lt t1n1i..� J) p,1\t1r e cn1Ji1
• nit1do Joantt da rt11 c111cn1 .. ·pre� ..._\ à pN"t1',' \ c.l h ind�rri. •
r110 e do sebo tia11i rnc.l no' n\cio popt1lttre�. l)i1in qtt<.' t: tt� • "'"''
crtl\or lt1c 1110 tn, � 111l\niftstuv,1 tlt\ 11.\ �, ô -· 1\\C i\ �\ln\,\ d \l.

• Mng,cstadc <..tllC O�\l!!i tcn1 und. � t\cstc m1\111d() Clll fi i�r,, "lt ,,,
,''.
· e11do ·,li , por i1ttel'\'.'es')1l,n d\ Vlrs�n,. t) ,ti c.:tl\ q,1cst
at,
d. Jo,\o 1v, n,o,rto qt1;..,trt1 n,10, ,111tc.• e., t"tgt11 :1 <..l<1 1
1 <,t l t('llt\ ''"'· t
'
• fllrr110 <!Otll li ll C clistorcitl,t, ;\
; #J,a,,,1. . l\ \,1. , \ tll�)l"'' . \ \l\\ \ • ,
do Porc<> rcprcsc11t,111,, r-c:spcctivon1tt1\te t)o11
t
1

,1g 11 e: �l:1r, \s \ .l,


flC11unt1o ntt l'lttt1r1t dl' nor(:u t,,lvê1, ia,(li<t,,c
•j
n it\\l)\1�:,, l911\ ,,u � � �·,\
coa,trtivit s,1,1 ,\lnt:� t1n1c._ dtt ,lilvnç, ll, <)\1 t,11,
(�, ,ltê�t( ,, t,,,�,,11 , , . ,.. ,,
cc1uivol:nda, distot ,tcta prtt, t
1 , 11�1\,IS'I \ , ort1f 1 ll,, ,1\tc-t\,ll, , , , 1
o d() Bnndalrri,. 1'
·lb1,1btr11 , ,,t111u li ti. S�l>,,�tlt\4.\
llUlin dn Áfric,,, e ''t1sr;illl
''º'''' ,
,út,, ti\' , n''"'' l' 1, 1
lt,ttJi,, ele ,,attl,,1 ,,1t ,, Rt'\tt,l �i� 1 �t,1\1, � ,,

• '''
t:Rtado c,11 <111c se cncontr11\'rt 11<1c1t1clc. tcmpc>' •. Vez ota Ottt
ra e
r11:, hun,una, cncostavn ;1 c:tbcça �ollrc o col(> c.lc Joa,1 <1 � � for­
<l
sc <Jci ·tvil c:1t:1r por ela, l•c coi rendo, ela cJccl� l'é'.llJI e ,1 rnão ;rLiz e
P<:l cube-
ça. ll1c ficou a rr,ao esquecida por algt11na., Jtc>ra!) sem êl dcr
' .,, · po rnc-
near , O 1c1·pa1 crtl tnn11t,cm rcJ- 1 o: purgava �ts penal> d
• filh
e seu po-
t.. •

o, mai. as vc,cs d .
citava c1r1 \cu regaço, ,,rocL1ranuo c,onfo
. . · ·� rLc>. Da
mc: .. n,a form,t que a fct1v17ava a re 11gtao. a t11cntalidadc po
. · P LI I ar es-
ta be 1ceia· 11an1es cstrc1tob com . o monarca desaparecido n-1
0st randc
. . ' ,
como o selJa,t1an1sn10 era v1v1d o nas rcla�ões coLídianas�, O m
. 011arca
se aprc�cnlar1do tão p1oll1cnto conlo o� l1omcns pobres que h· b'
vam �ct1 reino. No níve1 cotidiano, podia ainda ocorrer a supe r
ª 1 L�-
- · · pos,-
çao entre o d cst1r10 co 1ct1vo e o ·tn d.1v1'd ua: l ''OLlvindo um sermão
que �e di�sc que os porf ugucses eram coluna de fogo'\ Luzia de c �
'' . . Je
• sus se rcprcser1tnra em seu 1ntcr1or que os portugueses cran, coluna
de fogo porque sua n1ãe o era, e se lhe fizera então lembrança qu
cm outra ocasião havia entendido qt1c era ela ré chama de fog� qu:
�,avia de abrasar o mund.o' '. 74
1 l\1uitas das visões de Joana <la Cruz reúnem sonhos d,e supre­
macia religiosa e política, n1ostra11do qt1e, na época das guerras da
Restauração, o clima de milenarismo reinante podia embasar O an..
seio de libertação nacional. 75 Em 1657, a visionária teve para sj qtte
o<; castelhanos não !1aviam de tomar Oljvença e, no ano seguinte,
viu que ''se fizeram gra11des festas no céu alegrando-se os anjos pela
\ritória de Badajós. no tempo em qt1e o nosso exército a tinha sitia­
da''. Em outra revelação, os anjos se juntaram no Céu e, apresen­
tando-se diante do Tribunal Divino e da Santíssima Trindade, leva­
ram cada um a sua província e reino para saber qual b.avia d,e ser
cabeça do Jmpério: ''saíra qtie ainda que Castela tinha mais santos
canonizados, Portugal Linha mais jusLos na Terra. e que assim havia
de ser cabeça do f mpério''. A obsessão pelo julgamento reúne o ima­
ginário do Juízo Final à esperança <le intervenção divina na conten­
da temporal entre os dois reinos ibéricos. A exacerbação atinge os
set1s limites quando Deus e os santos resolvem que a qualid.ade das
forças e da fé lusas haveria de prevalecer sobre a quantidade repre­
sentada pelas demais potências européias, num confronto à Davi e
Oolias: é sempre Joana quem prevê ''que Roma se há de abrasar,
e que um clérigo que ela conllecc há de ser papa, e há de canonizar
EI-Rei Dom Sebastião. E que os santos de Castela, França e Itália,
e todos os mais da Igreja que estão no Céu se ajuntarão de uma par­
te, e os de Portugal da outra,. e que estes sendo ml1ito inferiores em
número vencerão os mais em certas matérias''. ?6

122
coJVCLUSÃO

s arr oub os místic os aos sonho s de indep end ência polític a,


D
"!i
.ºta ,....o do s con,·en t os ao t11rnult o das batalha s, as visões de
da quie comu ns q ue \'1,·eram em Portugal nos anos ante-
as u lh eres
ª IguJtl m
á Res taura çã o, o � que a e l a � e � egwr
·
am, ·1 ust� am de ,arm
r a
ceden tes .1

ona nte a circ ulan da de dos ID\.-ets culturais. Dilaceradas en­


. essi
lJllP; ; en ú nc ia ao mund o e as açõ es no séctu l o, viviam a seu modo
lte
_ de forma ,, n·ct'cula,' 1 • 'tdesc-0ncertada '
1
''contrária'' ''absurda''
_ 0 diJema presente na vida dos inúmeros santos que, entre o sécu-
lo X VI e O x v 1 1, criaram no\-·as ordens religiosas, reinvent a ram a ca­
rida d e, palmi lharam as terras distante s em nome da Fé e da Salva­
c ã o . A ss is tindo a serr11ões domin icais ; observando os maJucos que,
pelas rttas, recitavam as Trovas do Bandarra; ouvindo oos conventos
e nos recolhimentos os relatos de vidas de santos e os manuais de
devoção lidos em voz alta no refeitório ou nos serões de inverno -
ou, quando alfabetizadas, lendo-os elas mesmas; partilhan,do, en·­
fim, co m seus semelhantes, o uni,rerso da tradição e da cultura po­
pular, que tratava Deus e os santos com familiaridade, cultuava d. Se­
bastião; mitificava a campanha da África, odiava o castelhano e
sonhava com ''o reino de Deus por Portugal'', essas mulheres esfu­
maçavam as fronteiras entre o Bem e o Mal o Sagrado e o Profano,
o Puro e o Impuro (Nossa Senhora de joelhos, os peitos de fora ... ),
o Popular e o Erudito. Como no caso do dragão estudado por Jac�
ques Le Goff, suas formulações eram ambíguas e multifacetadas.77
A leitura que delas fez a Inquisição foi unilateral: coerente na 16,gica
escolástica, fiel aos textos dogmáticos, atenta à qualificação de he­
resia"' afinada com o aber erudito. Daí o desfecho trágico de todos
esses processos, que identificaram as beatas às bruxas pers·egUidas
em massa por toda a Europa da época . Daí, portanto, a predomi­
nãncia de uma demonização que acabava na fogueira, e não oo
Carnaval.
E no entanto as mulheres beatas usavam de Linguagem que, tlm
dia, l1avia si, do famjliar também aos inquisidores. Para elas, concep­
ções populares e eruditas se amalgamavam, se negavam para depois
se recombinarem: eram, qttase sempre, indissociáveis e inclistinguí­
veis. Para eles, investidos d!o papel de juízes de idéias e de sonhos,
era necessário separar o que muitas vezes era insep,a r.áve1: "º Santo
I Ofício desempenhou nos países católicos um �traordinári0 papel
aculturador, para l'al lançando mão da violência na sua acepção mais
larga. Não havia na ação inquisitorial espaço para a tolerância, quase

123

d
-ª' .a·.
elas.
1d

ob,U�
b.aa
·, 6' '·
'

_ · .uo.....__,.
'

·a ln�·· _ .· ,-.,ão c
om.o
6
D E A M O R O SA
AMBIGÜIDA
a m ula s-s em -c ab eç a
De santas


co 11s is ts of go od an d ba d: a s a ga rd e1 r th a t
The Cl1urcl1
as fi o" ·ers an d as a fi e/ d tlz at lia s lV lze at
lias weeds as lfe // )
an el th at ta ke th go od a1 1d ba d... H ere
as }t'eli as tares•..
,
re
are good ,nen to befo11nd - }' eD , tlz e ve ry be sc; an d .
Jie
are bad men to befoi,nd - yea, tlie very lVorst. Such as
sJ1afl have tJze l1ighes1 seat in glorY> and st-icl, a/so as sJ,aJI
be cast in10 tl1e /olvest and jiercest flames of misery.
Samuel Parris., Sermão em Sale:m, 27/3/1692


As relações entre amor di,-ino e amor demoníaco consutuem
objeto curiosíssimo mas praticamente deixado de lado pelos histo­
riadores da religião e da religio ,sidade popular. Acreditando que a
anâl.ise do imaginário e das sensibilidades do passado pode contri­
buir de farma significativa para a compreensão da história das so­
ciedades, procurarei examinar o assunto partindo de representações
iconográficas, passando., a seguir, para sua presença pontual na his­
Loriografia e, por fim, recorrendo a casos doctimentados por fontes
inquisitoriais e eclesiâsticas.
O período que se abre com o Renascimento italiano, ainda no
século xv, e se encerra com a Re\'·olução Frances� é tlill dos mo­
mentos mais fascinantes da história ocidental, época rica e contra­
ditória, como têm ressaltado muitos de seus historiadores. Ao aEali­
sar o Renascimento por exemplo, Jean Delume. au falou de uma
'"-enente positi,"él e de outra, negati"c mas igualmente imponante que
,
com ela conviveu e que muitas \"eZes a 'fecundou. 1 O tema de que
se trta
a
aqui só pode ser compreendido à luz desta ambigüidade mo­
d� pois remete à onipresença de Dw.s e do Diabo no unh'el"SO
cotidiano e afeti,-'O das populaçõ •
es de então.

125
ICO. OGRAF!A
ERóT1c·o-M11
c11eR11
Tendo origem rem
a\ a�sum1ra
o ta , o casamento
� m co m plementaridade i dia bór e
,m um e outro enco ntri gante ��ot P bodas IJJísti.
as
mra-se a questão o c a Moder
do na sua esséncia do eror1smo n a
· e trave1;tido em goz ' ne g a do, reprim 2
n1aea. E m amb.os o m'1s t tco ou e :1-
aílora também um rn eº, Pula
derno.
bar roca. Na vertente a sens1·b1·1·1d ' ad e cr
· b,eatífica , ela se c orp esccnteme
ce lest1a1s repletas de
· ori· r·1ca nas rep nte
. anjos ' nuvens e fach resentaçõ
cumentos iconográfi os i�ummo es
cos mais extraordinár
. - sos .
U m d os do
a representação de sant t
ios de a s n ..
s1
.
b
4
a Teresa de Ávila por . � 1.hdade é
altar lateral da capela romana de Be�. n a
S M 1 1 ara
1645 e 1652. O grand a n ta a r ia ellª V ltto
d • , � t � um
. e escultor baseou-se nu na en t re
b1.ografia da santa, alusiva ma passagem d
à visão de um anjo ª aut�-
rea, t respassa- lh e o coraç _ que, em form a co
· ao com um long o dardo rpo.
tncan d escente. O rosto d - de ouro d·e pont
a santa emextase tem conotação ero· t' a
.
g á vel , suger · nd o VeTdade1r 1ca tne�
1 amente uma relação carn
do, �preendendo com perfeiç al e, neste senti�
ão a sensualidade que puls
místrc? s de Teresa. Bemini certa a nos textos
mente fixou um pa\irão ico
co, POtS o utras representações do m nográfi­
esmo episódjo se sucederam,
pre sugerindo êxtases antes carnais sem­
do que místicos. É o caso do
dro de Sebasliano Ricci, pinto qua­
r veneziano que viveu entre 1659
e atuo u em Viena, onde, no Kunsth e 1734
istorische Museum, acha-se sua
versão para o mesmo êxtase esculpid
o por Berninj: no plano infe­
rior do q uadro, à direita, encontram-se o livro a
berto e o crucifixo.
instrumentos da mística e da meditação.
Logo a cima 1 a santa levita
em êxtase, carregada por três anjos e tendo
os olhos cerrados como
na escultura de Santa Maria della Vittoria. Na pa
rte superior do qua�
dro, -na diagonal esquerda, um anjo adulto se enco
ntra prestes a es­
petar uma seta incandescente em seu cora ção. A pont bern verm
, a e-
lha da seta faz com que ela pareça um pincel,. e dá um tom meio
,

ingênuo que atenua o clima místico do todo.


Mas há a vertente demoníaca, evidentemente m,enos difundida
do que a beat,fica. desde cedo encampada pela Contra-Refo11n.a. De-­
la, talvez a representação mais impressionante sejam as gravuras de
Hans Baldt1ng Grien, o mestre alemão da técnica do chiaroscuro que
\.i\�eu na passagem do século xv para o xv1, de 1480 a 1545. Entre
1512 e 1516, num trãtamento já maneirista, retratou bruxas às volt�s
com a preparação do sabá, o conventículo c,onstitulndo as$unto P:1-
";Iegiado para uma ab·ordagem mais livre da sexualidade. 3 O erobs­
mo desta série é mais ,rariado e cru do que o das representações ex-

126
. nd o ou PVn !"' )icitando siruacões de mas tur baçã o,
e TC l � �. sueen
í ca>
"""""" •
,i:ir d da de .. Em am bo s o� ca so s, o
-e
be sti ali
:..
dade ;1em 1nf
. ·na e
-

s sexn al i _
u---

ho m o ·- De us ou o Di ab o - nao apare<:� sua fi•-


al _
sujeito da u_n � cam d r i ·n ce tia e di a dores - o anj o , o dr agão, a s e-
1 0

n do m st nu a aP ·o . , - · ·
guia s e me qw .\·oc a con ota çao 1 a-
esc e nte , os esy�r - a� � e ,�s sou r as de
ta .
l!l ca n d
. a. No caso rníst1c · o,, a entreua º a Deu s é atenuada pe 1 o exta - se· no
l1c . . o, a cop O dia bo é ate nu ada pel o est ado d e fre-
diabolic , ula com
1, cas� . . ue as bruxas se encontram, pela sugestão de so oh o e ·11 usa- o
oesJ
decorre em q
nte d o uso de un� º ent os alu cin óge nos . Em am bos o
.
afl ora-
mento d a sex ª u tidade é neutra lizado
,
pela
·-
perda do consc
· di bo· 1 1cas
1e11c1a
A •

.
O conteúdo erót ico subj acen te as ,101o es míst tco- � · fa-
zia parte de um contexto mais amplo em que amo r e sofr�mento, go­
zo e pun1..ç.a�0, êxtase e tortura se completavam ou se. relacionavam de
, . .
forma �bricada, espraiando-se do mundo relig1oso para o universo
1

• seculat., e deste retornando ao primeiro. Curiosamente, contrastando


com a grande voga das obras sobre feitiçaria ilustradas por gravuras,
poucos foram os grandes artistas que se ded, icaram ao tema: há a sé­
rie de Baldung Grien, há uma gravura de Dürer em q, ue a bruxa ca­
t

valga um cabrão, há Teniers, há, por fim, já sob o im_pacto do Ilumi­


nismo, os Caprichos e os sabás de Goya. Mas estes se inserem em
contexto diverso, quando a feitiçaria não mais atemorizava as popu­
lações, sendo motivo de caçoada, de ironi� crença de gente ignoran­
te e superstici osa:' Por outro lado, muito s for am os artistas de te.no­
me que se dedicaram ao tema da oposição entre Deus e o Diabo,
estendendo-se ainda sobre a erotização do universo religioso, o des­
pedaçamento do corpo, o suplício. Fica d,esta forma su,ger
ido que a.
temática da bruxa, assim como a das uniões
místi.co-d. iabólicas, eram
manifestações específicas de llm universo mental m
ais amplo, mar­
cado pelo medo, pela iminência do desa
stre ) P·
. ela catástrofe CO·tidia­
na e, sobretudo, por uma sensibilida
de diversa da contemporânea,
manifestada na linguagem crua, nas m
aneiras bruscas e rudes, no apre­
ço por es-pe táculos violentos e se
nsacionais.s Afinal, como bem viu
Philippe Aries, desde o século x.v
- e com certeza a part ir do sécu.10
XVI, quando mais se
perseguiram e q u eimaram bruxas , os temas
da mor te ti nham se revestido de, forte se
ntido erótico. 6
,A:
.
representações iconográficas são
Stlplic10 e da mutilação, pr ó di gas no tr-atamento do
e há quem veja no maneirismo internac.io­
nal - nas figuras ir
reais e di storcidas d e Pontormo, Beccafumi, El
� rec o - um registro veemente
e membros destron. do sad, ism.o reinanite, reminiscência
cados nos suplicies:

127
,\ LcoloMí,, a,-•oc.t snia11a
d,, pccad<, cri� <:nt • .
urna {,b,.e o or1sµnaJ r, ,10 ' na C!;l ét1ces de, (
clu lu;(' ór,·a ' pcl O . Jci·u•(:01,,
d c1.: nci.tc r11,1,ct.1 ima •
rl.JU nltl01é
nto carnal
· d a�. a giná rio cn1 r111c "'..: 1,rc.1iscntcrn ' 1,e1Q... nu....,
n,111 cróttC'a é rairll1a. C,rnr"'"' •,
11.1,
perr;o,1.1e
. 1 eI· ª• a co ,11 cn�· ,..�
tran f<1rma, cm obrr, pia. j{1 c,n P I·c1ça . o c:Ja c
c1L1c �e lratuva d:t ,, arne se
fcl11� ou vaCi tcnt11clorat;, · C,' t rr1c; Cfé �rre;p<:111dlt1•·
O ll n 1c , rn .1,11 y 1rgc
o <-,,• \Jc4 c
,
tsrnr.., q,1anta, Ag;11as, cc>rr10 n1 e ,cJ �nnt u.
no célchrc: c1uadro de:. � 011. Crure
ptllacr, oferecendo gcr\tilm Z u rburi\n C
r.Jn._,. hOh rc ,l� roda cnt·c o� seios nurr1o b· _ Jn Mont.
. ctrtdcJa ' ''u ,1 anr
OtJ M,trgar1da� -iob
o cl 1 ico1\:!' ati Cata.
'?e Manu:goa a aravaggio, �uccd
cni-sc ON Davis com
ltêl.\, os são Scba�tiões criva a cabe Ç,"tdc
dos d <.: ílccl 1 as� e nortn"'d . �• o,,.
e·h eia .
. dt dor. Judite., scrcr1a� e ço
r tc sã s c x ib c
ores uc éXprcs
n1 cab�'"'...r-·as. ftnlp 8 ªº
;\
f-{ oJ o f crnc�, Qt1c &e ran1 · · lJlac1as• d e
1f1c.:am no cn1arar1J1ado da's
,
. • •
1 ,t. s cxpo tas cn1 pr1 e1ro plano ,to c · v e ia "'
, ") .,anguJnoJcn.
e.!

� spcc1ado1·, cor110 r1um


quadro de Lt1cas ranacl1 no Ku ,nagnífico
,1 tl1i�toriscl1c M Liscun1
(fif. 6, entre as pp. 68 e 69). tlc v·icna
(iolias, 1;0Jof rncs e �no �C>ào Oatíst,\
. � rtludctn ,to terna da deca
pitação; são Sebast1, o. san.ta Ursula. sant ­
a Ágata, étnfrt M,argurida,
por sun vez, rc1lrescntarn a problcr11ár ic
_ ,t 111ois l,lta do st1plJcio. Seja
pé.trô rcJorçar o p()dcr dc).s reis Etbsoltatos, sc
jo 11ara consolidar un1
novo tjpo de jt1stiça, ::,cju J>,]ra c11fretllétr a tt1rbt1l,
õ11t.:ja decorrente de
crc,lo religi O!\OS divcr os, o Antigo Rcgi.111c to tem
po ,tos su111(cios
(fig. J). Nc) espetáculo sartgrcnto elos corpos c111c pc11d
iam dos árvo­
re�. -;e cspo.ll1ava01, Llcsrt1c1nbrudos, no c:.tc!afalso d,1. cxcc11çõ
es, apo·
drcc.:iam sob n gula da.� i1vcs de rapi ,1a. n violência se n1ostrava tio
cotidíar1a e frc<1iic,,tc que corrin <.1 risco de banalitnr-�c (fig. 2). Mes­
mo ·e indício de n1l1laçào do poctcr, o staplícios acab1irttr11 embc·
bendo n imagi11ário mocJcrno, colorindo-o <lc tons �or11brios.8
Nilo é J>Oi) de estranhftr q t1c a obscs ão ct>n1 o suplício, tottt
a� cxccl1('Õcs, con1 o clilaccrar11,c1tto crttrc I.. taz e Trevas i111J>rcgr1c <lc
forma i111prc.:s�ionantc a iconogr{tfia r11oclcr11a: tc1nplos de Jerus1,lén1
coalhad,os de caclávcrcs. QllC o soldados passt1ran1 �1clo fio dn es1,n·
eiln; cri.. t, o� .c,rr"mcss11,los de pe1icdos por solclados ron1onos; r,aiso­
gl·n� Cln qt1c as e, ltZcs e forcni. e erguem contra o ht,rizc>rttc - 1udo
iS$O rl!trotra n1cnos o mtttldo ttJltigo e bcr11 n1ais i1s nlttcias snquendas
r> lt, trop s qt1e cor11b0tian1 1 ntt terr{vol gucrn, dos 1rinln A11os. N·estc
cont � to. o· 1nonstros 111ortos t�lrtrtbérn as t1me1n sig11ificaclo impor·
tantc: ,lrngõcs atravessados por la11ças co11torcorn-sc sol, o� oll1os dn
pri11ccsi, e de s, o Jorge, ou fl horr(vel Mcdta ·a uzulada de Rt1bcr1s,
vondo. coni pavor, as ·�r1>e11te:. dos cuhclos fugindo pelo �hão (fig. 5).
Mc"IllO os nrlirnni�. urgcrt1 ·ncrificndos nos ni.ngotes: Lt1cns ( .rnriucli.

118
dua \ extr aord inár i�
o Mo
1 ço pin tar am
,
h ,
"
a c do
v
n vau
ar
r a pelo
o,
C do.
vel de cervos cm .q uc' pc
w c as pelo pra
d· o
do
arco
e •o,�
un� e
h o
o dss
aça d ore s , os chif res os
çaça c
de
Ia m a ni m ati S e
rio se e rn b o nd b los a rabcscos.
or rn a � tanl o os gran des arl1 sta
o u tr o s f e su, pl ício obs cda va
rn a gi n ár ro do
Oi
sant a
N o céle bre t r P t·co Cas am enJo n1/.'iti co de
e n ore s. I t
qu,1"'unto os m . - ' o p a in e a re t r a ta
ng
e rd
mt1
e s q u
Me
I d a
a ns
3 9 4 )
de
4 3
to
(1
H
a. �L· l ' · n d o o p e s co ç o s a n d o d e
. t
ta
,. s
tra
C11/Q . B at 1 .
a,
o
d o
Joã
rin
ec a p1 t a ç ã de e a e
· r a r
ad o�msta. .
d
l
,
e .
s
v
e
r í
1s
r
b d
te a r r1
O
C
" /ga"1enlo d e
ral a l­
1J
u
J
for m a na Lu 9
r ca d e u m s é c L1 lo e m e io a ,g
-15 2 3 te ·l p a c m ce
oavi · d (e. 14 60 R c rn b r a n d t (1 6 0 6 -6 9 )
,n su p - oe d e 11alor1'1ia ' ú e
e la v a
ntc
,,· a
se a tr
a
re �

v �
'i
,ne á
1'
la ll 1a r c a d
.
e re
vc
a to d
orLJ\
e 4) on d e certa m c n 'c o '
( fi ,g s. 3 .' so me11 ta1. Na Leia de D • a v id . o h o m e m é d e st it u i d o
l •

a ot itro un ,ver u 1 a t
1
u se
0
. e , d e ix a n d o e m e rg ir

a m
pele com o se fOSf,e uma vest .

de sun fo i o b Je to ap en a s cl .
o b c l í s. 1m o
S "o S eb a st iã o ,1ão
.

ra s31ng ·
u1no 1 cn t d o .•
)1 m a s ta m b é m
a.
s1 hi �t o ri sc l1 c M u sc u n1 (fi g . 7
ci

Mantcgna <lo K un
m t1 1

Ja n va n .. ,e cs sc n ( 15 0 4- c. 66 ) em
to,mcnos com1 t 1ecido c1uadro de � e.
m) ut t1i t do Pc ti t Pa l 1� . D is cí pu lo � � R ttb cn s,
exposição na Ga1cric �
n� (1 59 .3- 16 78 ) pt r1 to u
O flamengo Jacob Jordae
t11 11 M ar f 1r 1<J de .�a,1·

er1 1 c1u c n to rtL Jra c; in íli gic la s ao ro st o da sa nt �• ap ar e·



,a Apo/8,,i,,
i 1c1. . 1 1 M ar ca do po r l1'l vid , M a �Y e Dí irc r. Jn n Pr
cem c,orn 11it
voost (1465·1529) evidencit\va o st1plício ern st1as obras de: tema
t

religio50; lta Cn,,·ijixlio 6 te, rrivcl, ,o pln110 d,o ft1ndo csQtaartcjado


por 1,1nças c111 ri te� o prin,ciro pla110 do1ninado por velhos com cx­
pre�&Ro de ttlcgrit, âciica; o Ji1/ga,11ento fi,,al imprcss,io11a pelo cui­
daclo qt1c o piolor dispcr1. f\ \O infcn10 brL1csltcliano e chnrlvariesco
da pllrtc dirci1ê1 i11.fcri<,r; por fi11l ,. 11tan, tríptico aparcnten1c11tc pláci­
tlo e,11 Qttc o· ]'>nt ronos I! fé\Zcm ladl.!ar por sãt) Nicola ti e snnta ªº"'
delinn� pc!rdc-�c 110, 11lt1no do fttndo a ce11a de uma 1nt1ll1cr sendo e11�
rorcnr.lin por dois l1tl1ner1s con1 tim lcnt;ol torctdo.12 A atestar o vijor
du ltrtt imagi11ário do ·,ipltcío 110 Rc11usci111cnto �stãc) atê 08 objetos
rcfererrlcs 1\ V'ida 11�01tcrial: a louça. os pratos 11111tado� cm Ottbbio
e ,rx1s1cntcs en, Urbi1\0 e111 n1t:aclos elo sécttlo xv1. Tot i111ttgiuário se
t lln1 ct1tnvtt, QlJCr da rrnclicào pagd. c1uer ela l,íblica: C) Qttc i11tcrossa
!
e Q\tc, clessc.� e11orr1,es accr,ro� Cltlturais, desl:)Cf\Ssc j u!l t an1�ntc os l'c­
n,us ltga(l .
os ;to �tlJ>lício: fill,a cl\! N(obc tleclta<l,ts dcsfalcce11d<) so..
�r� ur11 t'ocl,cdo, 13 1" lorc11çtt chom11do so brc os fill'l<lH n1c> rtos. t .. l)i�
lit'tl nno t'•tear t11tn . • g,tcl<l co1n o t111ivcrso n1cntnl de hon1cr1s qi1,c, en1 rc
tl\t, as, toll,,erattos de sopa, compraiiat11 c111 div
.. sc isar, no fun(lo do
Pfl-to, o jo,rro satlgui1,olcn10 q,1c cscnr,ava do ,,escclçO, t.lccer,ad de
o
llolofcrtlcs. •'

1 29
lgualmente cara a
.
tt� a da oniprese p1n tores.. &ran es
nça de Deus e d � e modesto
çoe do Jt1ízo Fin D a b o s e r a a Pt o b
al e da qued � � , fre qüente na r telllá..
mttndo da Contra- a . os anados s
Refo,rm· a · Dois q , tão caractere_pr:senta...
e um b elo luca ua dr os rn o n 1s t1 c a s
_ Gio rd ano rem et u rne n t a is d
em a e es te d e
O m_ilagre de sa
nto Inácio de Loyo � mas: respc R.ub o
Xavier e O arcanjo Miguel expul /a çtivam/ºs
todos pertencentes sa o ; nt
an� lagre de são Praneis�e
à coleção do J·a· m . tJOs n1aus Para o lnfern o
q ua d roso b re o f11n dador enc1onado museu o, .
·
d e vairado de m1s . . da ordem J.esu í'. . vienense O
t1cis llca exibe u
mo e sexualidade·· ex' cli. ma senti
J o, o santo se ergue t. t' � · .
. no centro do pat'nel ' a 1 ,c o vesti o· d e amare-
J os; no alto, à esqu envo l to na
d
erda , fogem· dem , r evoada d os a
o espectador o dorso · o"'n1'os cin
. . zentos ' vol· tan n-
.. . e O traseiro nu · O m . do para
sao os dois possessos que, ais tnteressante p .
no p·rimeiro plano do orem,
cem aos pés de Inácio, de q dr se conto
J

coloração ent re esbranq


a mu Iher se encontra em . u�çªa dºa' e cinzenta·
. ,r­
desalinho, os olhos vidr
ta·, o h 01:-1 em , d elta
· do ?e costas, representad a d os , a boca. ab er.·
cabeça vtrada a o contr io, co o em raccourci, terna
� � o em convulsão. Demônios
e ,possessos em convulsao aproxim em fuga
ruaco da cena e s e opondo, desc
am -s e , con.stitt1indo o lado demo­
oloridos, à luminosidade vibra
do santo e dos anjos que o rodeiam nte
. Céu e Inferno, Deus e o Diabo
também se polarjzam n a obra de Lu
ca Giordano: vestido de azul,
com enormes asas brancas e uma esp
ada na mão, o arcanjo tem atrás
de si anjos e querubinzinhos envoltos em
nuven.s, e é circundado por
uma intensa luz amarela que contrasta com
a parte inferior do qua­
dro. É aí, nesse espaço negro e sombrio, que se acot
ovelam e se amon­
toam os anjos decaídos, orelhas pontiag . udas e chil'rezinhos emo,I­
durando-lhes a cabeça. Com o pé esquerdo, Miguel pisa de leve um
desses anjos, en,q\1anto os demais berram de pavor.
Os pintores menores abraçav am padrões icon · ográficos análo·
gos. De P:ieter Pourbus (1523-84) é um Julgamento fin,al (p. 14"4:) m

que, enquanto a corte celeste se compraz na contemplação d1�1oa
e os justos vão galgando o reino dos Céus, as almas danadas se veem
arrastadas por diabos e sufocadas por serpentes. 16
Por fim, as naturezas-mortas flamengas também sugerem are­
lação entre erotismo e suplicio (p. 145); mesas, banquetas, ba�de­
jas travessas regurgitam de aves mortas s.emidepenadas, de peixes
mo.Jengos com as guelras entreabertas, de ostras úmidas, de caç�s
parcialmente retalhadas por facas e fac·o� es. Do espaço et éreo da 011s-
. �
ti·ca e da reljgião ao mundo concreto dos a limentos e da subs1sten·
eia dor e prazer se opunham e se atraiam, co.mpondo um pain • e1 vasto
e s�gestivo das sensibilidades e da mentalidade de então. 17

130
e rtid a, o su r-
. e ern cl1ave inv
tal vez r e í let1 s s rn� i i (p. J45 ) d e qu e f�-
. a s-m o rta s n ma s
As oatu1ez ·deração rnoderr1a p el os
. ça-o d os tormentos fís1-
d c o ns1 m u n s � so s ' a c1La . os ,d e
gi n 1 c n � o a as. 1s E al g a
no s ga los flá c1 1d
l1 Tit o in qu 1 vo ca. , c o m o da
to u J( c 1t u' bl ic as é in e nde , cup a m to
s p r a ça s p e , a s cri t a s san gra o
cos d a (J6 2 7-8 3) q · u . s
n o d esd o bra me n-
v a '
n A els t · E m o u tr o s, faz -se . .
e rn
w·tn pend11rados pelos p . f m múltipla s de seres tnan.una- es 19
I d or as
d o e s p ect a d?� ' ;.. 8 t n tíss ima Nat urez a­
e
ress a
t a o
ª 's i o lh o s , ( ) A in e
t"o , bra do s, p arc iai s ig. .
, de P ie ter Cla esz
es ro e m 27) (f1g . 9) . ao -
dos, d 1o r1 a d e ert l (16 .
plo dest a exp . o s1ç
n m
111or(a
cor
s pe •1 1·sta no P ge ,.. ne r o, e' um e x e
os e m fat 1· a s.
· e
(1597/8-166 0), tos. 2 mas desca scad c � � U a s � p ãe s co rt ad
fra g1n . e n d aço s, ostr as entr ea-
teatral de nj baa , os •d e u vas , no zes em pe . . 1 0 co m a
oornos de I ara a �
· n ii m con vívi o tran qu1 ·1
,,
·t

am pri m e i ro p 1 an 0
segu n d o
z,
berta s d om 1� 0
ou nest a reta lhaç ão; no
to pro va� e l I en te atu fun-
qu e, n1u . indi stint o; no
faca
plano, uroa tort .
1
a se nu d e"!
s 1e t'ta �
� v ibe o recheio já
d a p o r u ·m p e r u
.
in te. .
i ro ,
um a o r ta · ·
in t ·
a c ta e n c im a .
do, so b er ana ' rem a t
e r te - s e a .
o r d e m n a -
. olhos e tudo . Mais uma vez' in , . v .
corn penas . , bico, é o u r uc s e r tn te g ra 1
. o b 1' c h o m o rt o p a r e c e v iv o , e o
tural das coJsas. e d e s tr o ç o s .
m u n d o m a l a m a n h a d o d . .
num m o rt a s r e m et em a a n a l o � 1a s c u ri o -
Outra s ve ze s, a s n at u re z a s-
ra s p r v o c a d a s p o r tn � t �11men­
sa s. In te ir os m as re co b e r to s d e la n h u �
s n g u m o le n ta s ., o s p ei x es m o r­
tos cortantes; retalhados e em postas a
ar da d os p o r u m g at o
en (1 58 7- 16 61 ) sã o gu
tos de A.Iexander Adriaenss
vivo.21 Este quadro lembra A ar ra ia , de J. -B . C ha rd in (1 69 9- 17 79 ),
al to do di la c er ad o ob se rv ad o po r um ga to em se n­
qll.le retrata o anim
tinela.22 Apesar de da tar de 172 8, qu an do a s dis sec çõ es hu m an as se
generatizavam e o conhecimento da anatomia animal avançava já em
perspectiva cientifica, não parece arbilrário reconhecer na obra do
pintor francês ecos do imaginário atormentado dos suplícios.
Mistura entre o tratamento dos temas bíblicos e o de natureza­
morta - indício provável do momento transitório em que este últi�
n10 ainda não se firmara com autonom , ia - é o curioso Cristo na
casa de Marta e Maria, de Joachim Bueckelaer (e. 1530-73). 23 As
prioridades temáticas aparecem invertidas: ao fundo, Jesus prega en..
tre os de Betânia, como num detalhe; na verdade, o quadro todo é
dominado pelas atividad es domésticas de M.aria e de Marta - esta,
1
como se sabe, representada sempre com os atributos da dona de ca­
s�, vestimenta simples e chaves à cinta. 24 As irmãs tratam da r-efei­
ça·o, depenando aves e trespas ando-as com um espeto. No centro
do quadro e por todo o lado direito domina uma pro.fusão de frutas s
e legumes - alca chofras assemelhadas a genitáli -,
as animais mor..

131
. R
l'' , 1", I". 1
� ' I I:' l J,"t � 1: /)e> /)/..·l/3c)

I l ,l i,,• ll•\ • ll\. ('lt'• 1' ,i�• \ J


l;t\.'\ llll<.' \� t't'fll't.'S('l\(!l\'l. t'' ;\r .•. ,, ,
�., :\ � "t1�, ,1,,1,"1 .. ,'-t\, ic ttl\\t\ 'l� t,�· ..\; 11 1t1.. \\� l)flm fl..
.,-.,1· 11lei1.., tl l . lll ll. l �
l ,\ � tr " · , e; t\� . � s < () Q\l� \.'011\
,l\ .:\\1.1,, ,, \. \\1 l\'\ 1� ,\' lll \ \ ' ' t ' • ·• e l t ,\ t :\t ·S{'
f' ,, �,·,
lS ''ll \ 1
· •• , "· � ._ 1lt .as 11fl )l\m 11-
�•�•-' ,t�, :\\t \\ l\tlfl\,\\lt l
\l \ <.'' i. c, i11 .. \,l "i
lSt. �11tc•
.
l ,Js \.)S ( ç_X(()S �SCfl(l)!\
lllll\ ..
1,,,,1, l '\ \\\. ·' t , l\\ ,\ ",�· :1 �t� •
ll�ll,tll\i,1 l� 1 t'(llli•,r ti\ �t)••'t 'Llll l·1,
,

\e.:.,��,
1 , •

. · , , e tl\()d crnu
(..'"\ t , f •
l'11 ,,�, St'llf111tc11t s ,,t' lt)rn,•, tt•'' 11t»'1 ,1 •111,ed'l I t\ • l"'
··
• !S ·
Cnl\)S ll\l • ..
ll• \:)�,
,
, t " l;tt ,� , 1..tc ,., ltts llt' St\tltt,
� ,� e J>l'fl�cssi)S i 11 qt1i,sitori�is, 1,or L'..�can-
1 l"\� i��:''�'t -nl .. l\\)S ,., '(r t't\r i 'llt\ltll�'l\(C t)S �:tT\)irlllO S l<)f(Ut)SOS dô
:\t,\tl\' \1 \l\(\ C li '\tl\t)f ti�Ol( tl( l0(l.
t s,<,;-..'\1t�1 �,·, t)õfltlF,\l�� t'c)tll1cccr:\ :lltt1111s 111ís1ico� ele Jl�-��>. 1..·o·
n1 'l tlt<.lI\t!ê :\1·1·:\l-,itlo ft-.'i ,.\!?,l)Sti1ll10 dt\ C1·t1z 1. llili ,rit\ t) Brolt<lilo, 1

ft "'i Scl ts(i ílo 'fü:-," \ll\) <1\1 <) Ccltl)l ' f1 ·i 'lhtll !.. ele �ICS\lS '( l 52Q-�2)� (lU�
� '�lti1�1 ')lll i. cl)t\sti�1c'I l tlm �, Ât'ri<.:n e, sol',rc..'\•i,,c,1d t.l t\ Al�dcc:r ,Qut­
l)ir� ft) l1tt"s() pclt)� n10\l1\lS, Nos 1h1l1trll,o.. ,I<• .,<�. ,,:,·. ol,l'lt ele c11(sti�
"', c.zrist"1l, �lct\, tr,ttt\J1l ti\ �11r rê�,\ rutul do 1l1(stico :.10 A,1,ncll): • ó
1

ltll r '-:li\•im, � P<) 'S\ll .. 1\\C lcl<lo e d( ai I c)SStalclo t1rroj,1 .. 111c.• 11or
011dc
1
(1\»i��re�, :,l{•g;\·tllc.." �••• q,1:111tos niurcs q,aiscrcs; cs1)cdaça-111c co11
q11i $cru • p(lr qoê t! co1 ,tig o r 1t,cJ ()()d orci $er
� t1G11t s lllt'lllê t\to s �11, ri
l\11\111110 de r11in1,
f)crdidt). U\"f!·tl\C� tltl l()t' div it\0 1 e 11o is G:t {\is 11it, i� fl
. dig cre .. 1ne . 111l1d t1 .. 111c 001 ti, 11d, ) Vt�n
<.io q,1c: 'll sei d,(;S�jt\t\ c<.,1 1,c- n1�

'TI\ 111tm cn1 t dn :t ·ritll11ra �e11ílo a ti '.�" c


11lt1 (lia c..,n lici t a1t1 cut
tl()Cl,1 vlolcm1to e ttt):,ixor1ado do frade
t an 1o r co n1 do r, 1>1n ·
11;;; 1 Vf
i10 �11plíci(), du, Vt:t\d1111do n1l;t11alidudc qi
·i11 1i1
rtc , co nt: cp çü o ar1 trO J' º"
z<:r ·om sofrer. 'coluri,1 o lo(lo con1 11111n c«.!
fãg:i·ci1 dit (Jni�ão. . .
Be 11c dc tt t1 C a1 'l1 11•
No ct1rio íssir110 episódio ela 1\lo,tja itílliana ap n rc c c.J•1 1
il l1 B ro \.v 11 or ot is r11 0, s� ac rl fi ci o e s1a1,líc io
e l\t<.lncfo pc )r J\ 1d 1

132
133
,

,J
t1,� ritaei d 11at ure 1..a lr1q t1i4Si I ori}11 cor 1fir n1ft fn e�, ft ,1ml1i­
1r0 11tt;#
i. llí(ln,lc �tt tr� div J,1, , e <.lé rn, ,
. rif-a co . VotJ começar prJr ur1J ctifiO ctipa­
r�la<,Í ,Jt, JJ{:<;111 <> x v,. ' J r� t a · l! cJa t1í ,IÍ>• #
i . a de Mad alcn ,1 c.lc la <..:rltz, r(;
,� íl cJe ttri• c-t1r1 vén t,J CL>r dc,b é,, t1t1c tod a a D·ip tir1l 1a rcr, 1tt� vtt r,or
Jij{j,(
Cl'ft
tinti,. J<cpc111ín�lftlCnlc, cJtJ; J.553, cl<; Cl)brilJ·'iC "4t1� a r;a1-ilicta,tc
flil�tt 11r,átan�l�, t c..�tcubrí1:t rt ,,att1rcr..a <lctJ><>nfaca da frtira: 1,r<::r1it,
''et>rl f.c t, e ,r,c,t, tár10f 111tc1 1t<.: qtJtJ J1;il1
>í,, 111..,iva.fliJ f.t cal)t> f u<li1u BlJfi\ ,,c­
cio11c� bajo 1,� i1ifl11 ·1,<.:ia tJ(; utitr1 a cuyo p:,,bíc,t·rrc, . e �,: l>ja t11t t'êí't!
do�JI fft1 l,1ffl.11�l,1, �tr1�óíu1J·u,, tJ t� turli� 1r,1t{, r,,,LJrrJ(J e,,,, é:f dc11dli f1líl­
ci11 111á 1 cJu Ulltlf�tlttJ rt ,,,h'',J-1 'J i,1�1� aJ?t:iJâ',,. (.;Ít1c,) Utlt;)k tlc ic.i,t<i(!
,,u�1,1d,, 111,; t1Jlijr4X: ·r11 pt:I� r,rtt1tcJ r�t ver. certa vi }.io 1 �,.,,r1a11d()fttt Jlc,,
it,11 anJ,, cJtJ Jt1t <.Jtic, w ver��, �v�rc;rjj;_1.fl1c �1�rrJb6111 c.on11J c·r1:,tr.J 1;r1.1-
cjljtmclt,, i1tcitl1t1d,,.. a. (1 ·,an11cl;:\llcit; tna�, at)!, dllZc a1'1cJ 1,.:1:111,,> tlc
J)Jll,,er,Judc • ,1 t;,1 vi f' Jhc tlccJar<JLI �cr r, di�l}o. Muíl:il�11a J),1c
t1�t,1I �,,111 C)Jc. tJlf� c1ri tr<,cicJ 1,rc,1il�l<:u ,,., ,,,�rc,1tarli1 1,<.,r y.ra11 1 i ·1.111,0
c:11 �iutt,k,., <111rrt1 '', tr� z ·r1cl,1-IJ1c 11111 ,, '#gr,> r1iJ tJIIC ;1 C<lJ1víd<1ll r,c1r·i1
., f�Jcitc\ c�N1�l,.:1,;', d" <Jl.tf: ;� J1at,r:i,1tJã 1'11ijiu J>4>1 11�l1ar ,, Jlttrc<:lr't>
••1111J f'e-<J''. (' di�if1() YJlllJ(011 f1tt lfl�t-1 lc)y.(1 ti.z.tJJU,ll �, 4 t,i�•· ,, · tl<J ,n ,CJI
ittt> tJi:, tlvurar11 cJc:J111lt!,.> car 11141 1 llltt: f• r,rcJlc,,11�;1,·rt1,1 f}<. r v,ric1 i tit1<>11,
1
atô o t�tri,,, �,1, 'IU • f ,,i cl4:q�,,1,,�rt$l e ,,r,t c· uiltJ. i�
IJ.r,1 C>&JttC> ct• e,·· 1,11r1t1r,I, uc,,, rld,1 ttr1 un·trvc11t,, <l�f.J MrtC:l1J·lc11:11
,k; !ic:vl'll1tt ''" it114; ct · J 1 ../�. t(P,t1·� �i•c ttlt1t1·11111•. ,lc\t u J''''Jfut;t��� i1r1�1
gt,11trl,u. tl1llrS<J1r1 raf.Y<:!s r1t1 ,sr> V<;r ,, r ·iil. Vl 1l;i ,.1v t:,I t!t,'1V(;a1tr> ,t,: ,1 �
l1 l,t�clc ,t � n,,v(! �r1,1n Jt J,1vt,1r, .,.f-«:r'��,tft 1lr. 1,.- e ·,,,tc!A'J'';l<Jtl, 1111,tii �· ,t! t
,:�•tjUlt ��de C1lr(t4ro J(SlJ'flfCf<1 y '''" 1r11ay tlia,111 :1, t, (:t J)fflfl(!l'ft, ttJÍl'i l�i •t•
UJQlt'1t1 'i(;fr.ttJ<l,,J.fS ql.rc tt ',Jl1tt CJI 1,, ft)C1tll'Ít• b l:1 vidit c.te-1 (!l)fl\l"JJÍf •• '.
('Orfc)'t,,,,, a
1J1s-',lrt ,fUJ,ui"l,,rsJ nCJt,r�1 tf1J1• 'li r· • ;, , 0,,1 •> i,111 dc·i h ri
1

�,,.,,,., '•ttt..'V{,lltJ t,,,1,,, ,t(: pr ht.rl C) CtJ)t.:J�l)tt �u .,, �H t ,. t• ,,. ,.11f 1·i, ,,tt,,
eu Jit tcti reKc�hi(1 11rr1 ri.m,,r1ctfft ,,,,e 1,1,1 � t· J<• f1nhlt1 , 11it.11,l,1(J,,, ctttl.'
ansl lo l1ab
. 1· a querido
la un16n q El , que er
· ue con El t a cossa ·
se s1 d pre enfa', · A �r natur� l ,
? sa de al ... i or es a d e . d a d o e t
mêncta, ''d d e o n s c onf io u a lll fe r v o
m
icienct:Uque m 10 ín c ub·o, Qu e r de
no avía csta era sin dud 'rnas Teresa n g oça tives-
do ,en su de a virgen Y . e .ou c
y mujere , q edor Y
qu q ue Ja tnás v o
ró m vee.
ue nunca av � e e \la n o a n
bia que signif ia o ydo espücac s a b f a n a a lgu.
ic i6 d a de v
de que se hab as n1 de la rela P r e
laba,' Se ci ó n que a , � e fiez, que el�..
tou. que o confesso� tivmprc desco�fiando, a mad�eª ntre. las cossa:
e
multa conversa, o pad: s colóqu1os privados coms:pe�1�ra sotici�
s
moça no tocante se mostro.u enca g.rav1da; .ª
à re produção ani ntado com a in Pós
achando-a ''de u n mal e às relaçõc ocência da
pro und f o a o r s en tr e o s s
d e nuestro Senor in m a I a r e li g ió n
clinada a se u d d Y alma enamocxos,
solación en la oración y la � �· a E:5 Y desamparos hallando�:da
or des p. i a s1endo su cxerci
p sobre m,ás q·ue las dem � ci o e n el ayU no
,.au .. ê�ei. J.
as pro1essas', A grav1·a n­
a de explicação plausív . ez avançada e a
el �e
q 1s1ção a intervir no convento cpa���? nômeno levou a Santa ln­
u
lali na de la Cruz de penug •r. as reclusas. Uma delas,
e m no q c1xo c voz estran Ca­
a S\lSpeita dos in�uisidores qu t � . ha, levantou
, e en ao ped iram à madre s p .
que �e encerrasse numa ccJa com a u er11ora
professa , 'Halló e, co espanto
de todoR, que la dicha monja no poss ; �
. ey a a �r ib u to e m u Jer y más
,
aún que era.-: var6 n fª.tr:mc Y b1en cabal, que cla
, . . ba espanto verlo e, 1r1trc
tanta co�currcncia de fflltJercs. .''A monja.. homem fo
i presa, mas aca­
bou fug.,ndo da� garra� da lnquisjção. Quanto a Torcsa, negou qu
al­
quer relação atl! o fim, até ser esclarecida pela madre stLpcriora so·
brc ''la� COh1tas de la gcneración•,: só aí aventou a possibJlidadc do
ter a gravidez advindo de uma se ta qlae fizera ao lado ele Catalina,
gu<: tivera •�convulsiones y plazcres''; ela mcs,n.a r1acla percebera ''en
to tocant4.i: a l.a� parte1> de la gc11cració11 por csta1· cr11 sueilos y (lormir
cn prc,ximidad pc,r mc)r dei frio''. M,1is do 'll!C devassidão, tratava·
.�·depura ignorâr1cia quanto ao pr(Jprio corpo: onn11torada de Deus,
co1nt, dÍ9$era seu e nfc� or, a jov�m monja acrc,ditara o tempo todo
icas cor n o 16
l1LIC, de fato, rcaJ17�ra bodas "n1lst vad or.
­
Sal
< éculo xv11, cm Portu a lnq 11is içà c> de gre do u pa ra o Bra
ga l.
�e .
Jtil g� vam
il vária rr1u lbt;rc.:11 ' ac11sa,IR*> de fulsa san tid ad e. Ela s ·
nt o O í cio ão viu
�,.,ta� e proclamav:1111 . ua virtude, m,a nelas o Sa f
do s ren ô •
11

iM LC rp rc ta çã o
cri-ão bruxait; rc..�cll1ndo q1.1c a diferença ria s ag c11�c � e�: ­
� d c.. -v ia ',11u ito à di fc tc n ça do s r1( vc i c, al tu ra is do
rocnc US C tO , délS
id o OC K�íl rc lU ÇH () d ia l6 i,.i ca - íl� n 1t 1lh ·r c� • . C.JU
v lv
: �� :: ��

e, S ft1 1t <1 lf ic io e , u a s co 11c cp çõ c,-i do g


.. de u m L; ,d o ; d o ii t rc>,
136
r de rel1g: . .
ios1 'd a de · 31 No en tan to ' es sa s mu lh ere s po -
d ita
. s ac e rc a d a .
ves. c eru tra d1ça . _ o m
· íst ic
' a eru di t a ' im p· r eg na da de ero tis mo me s-
bres bebi am na . ate sta m os caso s d e
Vee, rufe sta çoc - 5 roa is iiu slr es, co m o
na s su as m a
,lgu_ JllO
us e d e san ta Ter esa . Mu lhe res sim ple s qu e era m,
fre i T o m é de Jes · ·
�n,es ma cur1 · 0 5 " e pec ulia r O am álga n1a de ans e1os mts -
yivene1a -· vam de for ,-:i

. tun es, vaa. a s a 1


· ma s
a. sa­ ttc. os Um a das rés , Ma ria An
: ella tic. os e so nhos er6 . . rarem no céu·' tivera as entranh as 1er '" 1'das
. rn do pur1?at6 r10 e ent
>ssas satre que sant a Teres a - a vers
-
ao popu 1 ar é
po r três sel as, ...d uas . a mais .
)Uci. gera d . a Nos êxta ses m í s tico s que a aco met iam , e h am ava
após sempre exa sant a sabia o que
o ra d o Carm . elo , ''diz endo que só a
pcla. fundad
ra da · 0 de sua cren ça é ine gav elm ent e calc a d o na v1. da
aqu1· lo era ,, fun do · · ·
e>cos, ta d
- e A, vi ·1a , com o reve lam as pala vras que pro t er1a quan d o
da san . seJas . esposo celeste, qLtao -
)raua grande é a tu a
estava r:,ora des·1 ,· ''Bendito ' . ·
con.
luz e qua- 0 gr·<inde m'a deste' • Nestas• ocasiões, lltdo• era tn un da d• o
Y\ln,o po; luz celestial: ,. não podia ver as cr1at ur�s pela n1t11ta luz q1.1e tra-
aea
ziâ de Deus''; quando olhava para a hóstia �or1sagrada ou _para o
la ln. cálicei deles safam três resplc�dorcs q�e a ofuscava� e �br1g�vam
1, Ca­
a desviar avista.38 Nas suas visões, a ltnguagem erót1ca e rua,� ex­
intou plic�ta: •'estando na oração, sentira in�eri?rm�nte q·uc Cristo Sen�,�r
�nora Nosso se la11çara em Stia aJ1na, e ouv1,ra 1ntcr1ormente c1ue lhe dtz1a
panto que ela era o seu le;to; ao que respondera, la1nbén1 interiormente:
� más 'É possível, Sen llor, qL1c vindes a c1uem vos fc:z e, stas c,,agas? > E q uc
entre o mesmo Senhor lhe tomara: 'Aí verás qt1em sou et1 1 3�
s ac,t­
''.

Degrcdada·para Évora já no século xv,11 (1758), Maria do Es­


qual­ pírito Santo, oi1tra ré do Santo Otlcio acusada de crime de feit iça­
ra so­ rial tamb6m teria devaneios eróticos con1 Jesus. Ft1riosn por querer
idc de se snrlgrnr e r1ão ler a aqtxic cência do sangrador. praguejot1 ''que
·ati1•a� in1portava pouco q\1c o �ungrador 11,c 11âo fizesse a sangria, porqltC
ra ''cn o menino J<.:sus a sangrara interiormente aparando-ll1e o sang
lormír ue en · 1
�1ma bacia, e lanc;, ando ..JJ1e sobre a can1a un1a colch
a p,uarnccida de
atava· diamn1tlés 'º l)ifícil não ver 110 sangue e 11a colc
1
Deus,
'.
ha rl1tilanie al\1-
�õe� ao dcflora,ncnto ou à ,.,creia ela virginda
o Lodo, do11 o hábito �ncditcrrãnic,, de o noivo, {te : é co 11l 1c ci do de 10 ..
após o casa1ncnto, mostrar
ao� convív.as das nitpCifts o le11Qol
conj,1gal mancl1ado de sar1�t1e -
o Bra· nrova da honJ"ct d.a noivtt e da 11•1ião co
gavam 11st1mada.
Maria do Uspfrito 8ar1to clava ainda as
1ãO VIU vct o c&:;amc11to místico. as à imaginação para vi­
cc,locaf1do--o na en.c1•t1zi\hada da religião
s ícnõ" co11, o conto poput.ar. co
m a tradição do i:naravi111oso:
tC!-1 en ..
)obres, <1ue ali se ctcba1vu o noivo f)r\!acntc, sot1s parentes já
nát ica:;
ª corle tio Céu, incen&amtdo..a at4u11s anjos. potido-iheideetfutrr1to:s, e toda
' 1 os nos orn-

137
bros uma�riquissin1
.a capa. e outro::;
Que na açao de se 11a eabcça u
darem ela e o 1101. n,a Precior-
Corº
em inal de que ela i.J
ª ·

VO as mã o a
1

•,esse out o l1a\.ia de govern s, r·tc a ra a dela e


ra vez mt1
ar; e ped i d . P o r c-i � ...
no ndo n
pet1•ç?_ o, � para maior casa menta como o aJ1 a Deus n'.a "41,
est e, o S e n b
o fi ou
un1 t1nte1ro, lho pro
segurança e firmeza
d or a s si n
metera por Letra. 41 o de sp acho, n1and ar-(l •
ando vi�
casan
. do-se como um a princesa o
a filha de um barbeir u co mo se foss
o hum ilde realizava e Nossa Se
verter a orde m masc em sonh os o . nhora,
ulina impera nte no � n se10 de su
desejo legitimado pelo mundo de e nta b.
saber dominante, a let . o, vendo sell
Todo-Poderoso. 42 ra escrita por
Deus Pai
N� século XVlll português,
da ant1dade, os processo passados cem anos d
·- s inq uisit
a édp o e � u re a
uruoes demoruacas mequ , . , oria is acu sam um pre om1DJ.o �
1vocas no universo imaoi n de
• _
rece ier-se entao encer rado a r;
o-u 1 1·0 te e mm • 1•no. Pa-

• a era da ambigüidade,
compartimentando em cam Deus e Di abo se
pos bem deJimitados. 1tês
esse estad, o de coisas. casos ilustram
No mês de agosto de 1734, en1
. Lisboa, a jovem negra M
Mana apresentou-se volunta riam arcelina
ente ao "Tribunal da Inquisiçã
ra confessar certas práticas mág o pa­
icas. Recorrera a elas para se
d o s rigores que sofria na condiç Livrar
ão de escrava, constantemente hu
milhada pelo senhor e seus filhos. ­
'
Desesperada, chegara a clamar
pelo d emônio, que, mist,eriosamente se
m aparecer, passara a ajudá­
1
1
la quando amassava o pão. Mordida pela
curiosidade e sempre atenta
à possibilidade de obter confissões de p ac
r to demoniaco, a Inquisi­
ção pergunta se havia cl1egado a se entregar ao
diabo, ou se pensara
no assunto; só por uni dia, responde Marcelina, qu
ando saíra à pro·
cura do maligno de noit.e e dera C·Om um ''vulto mui
to alto,, e lhe
parecia que tinha mais altura do que ela, na figura de t1m bode nã
, o
sabe dizer de que cor, porque tanto qu e viu o corpo se lhe arrepiou,
e o lume lhe fugju dos olJ1os, e ouviu ao clito v�uJto articular estas
palavras = Aon, de vaz = e se levanto,u logo um pé de vento tão gran­
de que ela cuidava a deita\'ª por ter ra ...''. O curioso de seu depoi­

mento esp·ontãneo é que sugere crença então difundida, reveladora
de aspecto curioso do imagin.ário feminino: ''e sabendo ela que�
demônio torpe tem cópula com aJgumas mulheres, e que toma a fi­
gura de homens conhecidos, ela em to,da a ocasião que consumou
o pecado de cópula carnal fosse com qt1alquer homem que fosse sem­
pre se benzeu primeiro, para que não sucedesse ser a cópula com O
demônio, na forma que ouve a costuma �er com mulheres, o gue �u­
vja clizer comumente...''.43 Há cena lógica na fantasia, p0is relaçoes

138
e
. _ ror nicaç ão sin111les ou qualificada, como, cor1sidcrava o
se.xua1s . _ .
nto Ofíci o - consl � tuían1 pecado grave> pertencendo, nesta quaJ 1 ..
Sa
}


d de a o rein o de Sata, sempre IJronto e apto a OCL1llar-s e por detrás
d: 11;n,e ns� mesmo � s conhe � idos. Além disso. fie a sugerido no de-
. .
·me tltO de Marce ltna Maria o temor ante o universo masculino,
pOI _ . "
aJtericlade tomando, por tanto co, notaça,o tn,erna I .


ª Um ano antes, na n1esrna cidacle de Lisboa, uma outra escrava
act 1 sada de bruxa nto à Inquisição. Chama, va­
11 egra, ai1ãzi n ha, é ju
se Catarina Maria tinha q11inze anos e não a, parentava mais que tre­
l

ze; nascera rios matos d,c Angola, fora batizada no Rio de Janeiro
l

e, afinal d,era em Lisboa, levada por um soldado que a vendera. Na


época de sua 11risão, servia na casa de José Macl1ado, beneficiado
l

na igreja de Azambuja e cantor na igreja patriarcal da cid,ade; o pró­
'

prio s,enhor a denuncia, pois a casa toda a odiava e tinha medo dos
feitiços e malefícios de que era capaz. Semelhante em tantos pontos
ao caso de Marcelina, este dele difere na confissão de có,pula demo­
níaca e na profusão de detalhes con1 que é narrada. A escrava anã
endossa e repete tod,os os estereótipos demoníacos co ,rrentcs na épo­
ca, conhecidos da população e presentes na literatura demonológica
em qi1e os inquisidores se apoiavam para seus interrogatórios. Desta
forma, referenda que o at,o sext1al era penoso - '' lhe fez grande dor,
e deit,ou sangue do seu vaso natural,' - e. apesar disso, longo; que
o corpo do diabo era frio e áspero; que o Maligno só aparecia à noi­
te, ''e sempre a cópula de noite na cama, e quando ela se, deitava
>
nela, e era das dez horas para diante , como verdadeiro Príncipe das
1

Trevas. Era ainda negro, fato que reforça certas versões européias acer·
ca do Diabo mas que, seguramente, encontraria eco no imaginário
de Calarina Ma, ri,a por ser eJ,â negra trunbém. Apesar do defeito ftsico
e da cor, o diabo a valo,rizava: da crueza desagradável de sua confis­
são1 ressalta um certo tom delicado quando diz que, ocorrendo-lhe
que devia se casar com algum preto c.omo ela, ''o Diabo lhe disse
que bastava só ele para marido, e não havia mister otttro, nem hou­
ve preto nem branco e nenhum homem nunca teve, nem procurou
ter cópula com ela > só o demônio é que a tinha, e sempre na figtlra
de preto ...''. 44
E de 1727 un1 caso muito interessante, que engloba elementos
presentes nas histórias de Marcelina e Catarina Maria - o t-rato do­
lorido, prolongado e desagradável com o diabo; seu corpo frio, as­
sim como o membr,o viril; sua exclusividade como amante-, sempre
exigente da fidelidade das co,ncubinas; a solicitude com que ajudava
no, s afazeres domésticos, uma vez saciados os torpes apetites - e

139
a
. . - n a e- -e ª-, �u,...
-. · d - q. · _abia
_e. - d m1,a Po
" .. , mo t -
n ' d - ·. t u
"""-"ª... .·. 1 ,co,m
1 ,
ruz
1· Q--._ - r o·

� .. .... LQ 111;.-\,Li.lQ

n ·an
. ,m· · ·_t:_ .•• ,
'
-1_1

. al1d. ,d
eu colo 4
' ' lhe fizera [ ... ] mil caríci as, pond o-lhe a mão
u,ma vez em s 1e que ela era a sua an,a d a e queri. d a esposa . '
e l o ros to e dize i,do- ll . .
P . . dera un1a aliança esposa l '
leia, e gostava el e se .
A d1v1na cr,c·a.1 1 c;·�
'' 111e . .
. 1 e m seu colo: ''Basta já de n1ãos postas'', ql1e1xava-se, ''J)01s
anrn 1ar ·
ro ar e111 teus braç os, encl1 endo ª te de doçu ra e a legr1a
stte que t·ccos t . , ,
esse Co ra çã o ' q t1 e Já é tod o m eu .. ..
. . .
tudo eram imagen s ce l est1 no d.e ne1os d e M ar1.a
Mas 0,cn 1 �� � �� . .
do Rosário. Havia a obsessão com.o supl1�10, tao t1p1ca d·esse !ma!J-
ná r1· 0. Nas chagas que lhe aparec1an1 na ilharga •
por determ1oaçao
1 naputulavain bichos,
d·vi q·ue ela não pou1a tirar. Q t1and o entrava
..J1·

à rtoit; em sua cela, �'se ll1e abria um boqueirão muito fundo, e a


via cheia ,de fogo, sem ficar livre ma. is lugar que o em que tinha o
co:rpo''; acorriam então vários demôolos, arrastando-a para uma casa
escura e a moendo de pancadas: arranhavam-ll1e o rosto, ''e ll1e apa�
recia muita diversidade de bichos e monstros l1orrorosos' �. Ao se abor­
• • reçer com ela, Satanás Lhe mostrava ''u1na grande roda de navalhas
com muita gente despedaçada, ameaçando-a e dizendo-lh·e que o mes­
mo que via lhe haviam de fazer a ela''.
- Por fim, fecho inequívoco da união demoníaca, Maria do Ro­
sário, como Catarina Fernand.es, concebera e parira sele vezes do de­
mô11io: três cachorros, monstros, gatos. As gestações duraram três
meses, e os frt1tos delas, ''os levava o demônio, não sabe para que
parte''.47


AMORES SACRÍLEGOS

An1ores de padres também eram pecaminosos; de certa forma,


somavam o divino e o den1oníaco, tornand10-se como que um em­
·
biema desta ju11ção. Padres 11amorados ho uve-os aos montes, sobre­
ludo na col,ônia brasileira, onde as dispos.ições do Concílio de Tren­
to se implantaram tarde, sendo de 1707 as Cor1stituições Prinieiras
do Arcebispado da Bal1ia.4S En1 Salvador, na década de 30 do s�
culo xv111,. andou um certo frei Luis de Nazaré frade curandeiro e
)
exorcista que aproveitava das sessões privadas com suas fiéis e pa­
• cientes para delas obter favores amor,oses, declarru1do qt1e tais práti­
cas eram essenciais às curas. 49
Em Minas, na época da Inconfidência, o comportamento do
clero nada tinha de.exen1plar. Os bispos ordenavam visitas pastorais
ao interior, fun.daram o Seminário
de Mariana, escrevian1 a Roma
relatórios decenais que falavam
de seu esfo,rço mas insinu,avan1 que

14/
H�t nt momento:- �1 pru..
f
qu to, m .... ru ,,un • ê d . dj e·-
[ rmosu_ra p mqu\:a i111 mi.:\h r
mim d� t l: q � meu, .. d1 t
lli. '.
• •
�1- n l dad •

, ·1ht.._ m� " ueri m


U... , �\ \Utm lOl,llO t�
à-1,r < n ,n ie f i o\t q u::i11d,l
\!� • �lll l� UIÜt'fl' ' �
fqut tud fi-

o F • •i \ r\ h • d l nt UUt�fí
mando '1um tU{'t;1 r�t� , ; o" ri en� m\ii d �
tift :iJ 1. l . l lffi m . m,. \, m, (1 ·t. 1m f:.tnta ia t p ft ffi
it,�tir·, · p ri.1 • tl��i �tr nu� -.., d ·rem o� �1.:erJ lt� de
�\1,. � fiçw1lt u uk • . in1cr1n• iárlo · qoe lig.a: m o l10-
M.rlb lO �Ul\ l t�(:\ • �,. fl llo VJtt flU • \; �ras da Re-�
I

"* flLÇJ<l i· tl , qµ,in ll\<; I U t1TI !to tl,llf' � padf� já l,llll·


• ·rn de 11,dep�11 :1 • � • de ti ... � �, l ndo O'S fil fu llll IJ"ru,1,o�.
- c�n- o {l1'\ ·o l ui i ;'l dl 11\a, d ita-ri na -� n.m }� de
0

l':Jd -e an1 ic. hat)t , t 1.:0 1 ·ubít\J de púdr� 1tunt:a se


<lui.,tn s nt, "s e \1 hn1 · . �m n1 1 íam pel\ .. i lênci · ofrida1 pela
h{,1\rJ uc rofu\ ir 1un. �lo r,\ p;tní lo qu� � nrltatmeAte,

143
,1 , 1 11�1 • J 'f.'#4 '' � ...,1,n '� ,VII 'A , �,/tl'(;/lfl'/i:,., 11 }ti�,
I"' JT, I '!f(},t Q /r1 1 �· f'Í"'I '� ;''rl1.
''-'• 1)/ ,r,t
1
1;,,r , t//; J,tft;rfJI�
tr

J fl/
batia asa . Po
· · "' · ddiam, talvez, ter
re1n1ni cenc1a o niedo de virar
ª
tcn1po em que m uJ a -
vnn1 mons1ro., cor . a mores 1' lfcit· selll,c b
Maria do t)"'º ..t • • d, . d o, P01 Catar s Ot1 antinatu·r eçu
no os Pll t! d .. . a
. ttrto, 1n 1c10 e ina Ferna aJ.s ge .........
ao II n 1ver;� da cul traços d e 1 on. n de s e P . r.a..
tur a p . g a d uraçã o t s or. o),
cavan1 n1ms o op u I� r e _das n'.e · o be - pr .
an1ores e a se u n_1 ah d��es. ' '" ºPno '
dre\ ou, deflom ahdadc. p1ag M as nã o
[ das, proc:essava rnat1cas, fug a lliistifi�
n1-nos. i 1tt dos
Pa�


7
MENTES E CORPOS
Os assaltos do diabo

JI ,,ie,il co111me ,,n 11ertt 111ali11, à altaqi,er /e cenieaz,"' co,11-


,,,e principe des sen.lime11ts, et siege de la raison, et te,n­
peslanc, el troz,bla,,t pa,: /e cleda,,s les l1,1llre1,rs, obstn,a11t
les organes, picqc1a11t /es 111enin,ges1 oppílar1I les 11erjs, et
ses esprits, et ai11si /e eorps ro1r1be en c:011v,,lsfo11 gé11era­
/e, et palpitante. er derr1eurer11 les possedez 1oi,s esva11ot1ys.
et rro,,blez.
Jean Taxil, 1602

Le p/1,s sot1vent je re1l'1nrq11ais Jres bie11 qt1ej,étais la catJSe


prer11ibe de ,nes troi,bles el q,,e /e dér11on n"agissait q,,e
selo,, les e,,rrées q1Je je 111i don11ç1"$.
Joana dos Anjos> e. 1634

rlVENTURAS EXORCÍSTICAS DE UM FRADE BAIANO


NA PRIMEIRA ,\1ETADE DO SÉCULO XV/11

Durante a década de 30 do séct1lo xv111, vivia em Salvador frei


Llús de Nazaré, carmelita calçado que beira,rn os sessenta anos. Tudo
i11dica que gozava de certa estima social; seu pai era o capitão Miguel
Rebello Nlachado, cavaleiro do Hábito de Cristo e capitão de infan­
taria que viera de Tânger, de onde procediam também os a,,ós pater�
nos, p,ara n1orar na Bahia; a mãe era meio port\1guesa, n1eio baiana;
tendo aprendido latim s n1oral e filosofia� o frade era � 'ordena:do de
todas as ordens'': subdiácono, diácono, presbítero. Na juventude, an­
dara pelos sertões como n1issionário; na época em que caiu nas ma­
lhas do Santo Ofício, era pregador renomado, comissário dos tereei-

147
r


li
:(

r
n ..

'U

or1 · g1·nava da matéria seminal produz.ida durante a


d o fr ad e se . · 1· .
uv o to rnava neces sárias, mesm o e o b \,tame nte 1 1c1ta
ula s, .º qu e as
có p se verificarem de forma desord enada e externa
a rn 1 r1 o�as or
ep ec justi fica tiva enco ntra va resp aldo na men ta­
o c on J u �g � Se tal
à u n iã de origen1 orgân ic a , hav ia aind a um a
u l · fei c a a filtr os
a de
tid p cr1
o
p ,ra
r
� , ªna legitimação dos coitos: o liv ro (dos exorcisn1os).
verte ntc 1 d
esc rt' , L
,t a revere nciad a numa terra de iletra dos, a palav ra do
ª cu lt· u ra
res da Igreja Rude e s1 m ples, as mulheres lu-
o ou dos douto . ·
teólog )
· ·
- reverenctavam o f rade porqt1e,
. d as - escr ava na ma1o na
d'b1 na ·
st1 cot g zava de bom conceito : suas palavras neutraliz avam a
ecles1a
.• o . · ·
frei Lu1s exer-
peca do. No decorrer de quase quU1Ze anos,
noção de
cc ra su a mania curativ a centena de vezes. Por detrás da maland ra-
· - ...
m c , .
O"sct ente, 1nani restava-se, su b1erranea arraiga e . da, a reveren-
F - .
eia arcaica à propriedades sagradas das secreçoes masculina e
feminina: pul ava, portanto, todo um substrato próprio à cultura po­
• pular.5 Mas era no mundo da cultura erudita que o hábito ganhava
legitimidade: escuda\ra-sc na condição de eclesiástico do sujeito, de
leitor de escritos exorcístico e afciro - mesmo que de oitiva - ao
ideário da Jgrcja. Era a \'ertente cuJta que intimidava os humildes:
ante cus olhos, aquela estava mai próxima da verdade de Deus. 6
Curioso, ainda, nes � episódio é o entrel açan1ento dos campos
médico-religio os. f\ maioria esmagadora dos 26 casos atendidos pelo •
carmelita diz rc peito a doenças vagas, atribuídas a feitiços e malefí­
cios: ''doenç.a, que diziam se r feitiços, por n,ão obrarem nela os re­
médios dos médicos, e cirurgiões '; c'enfer1uidade extravagante, e des­
conl1ecida, que não obedecia aos remédios da medicina''; ''achaque
qt1e os médicos não entendiam•'; enfermidade dos ''três ventos, um
de fogo, ot1tto de água. ot1lro de ,·ento''; ''queixa de que padecia''.
O n1áximo de cspe.cificidade que e encontra é a referência a doença
''de um quadril da parte direita'>, ou a ''uma grande do r na barriga
que costtunavq dar-lhe todas as luas' ', ou a doença ''por feitiços que
ll1e l1avia dado uma concubina de seu marido''. Os pacie
ntes eram
igualme11tc referidos de forma imprecisa: uma se acbaV"a ''doente em
t1ma cama''; otttra ''tinha feitiços, e havia quinz
e anos estava enfer­
ma''; havia a que estava ''fora do seu
juízo, e [ ... ] gravemente do en­
t�' '; a que ''estava doente, e dizia achar-se maleficiada'·', ou simples­
mente a que ''padecia uns acidentes''. Antes de pas
sar pelas mãos
de frei Luís, grande pane desses
pacientes recorrera aos médicos; não
encontrando alívio com as práticas
do exorcist.a, muitos acabaram
se entregando aos negros calundu
reiros. 7 Tais atitudes sugerem� por­
tan.to. a existência de consideráv
el circularidade herizontal entre os

149
iii •

· J:'.Pí"'€11�- a
:u
a e
?... E-· a -- - o
'l ' .
, a ha·a ·o
ro, � -- 1 . e · o·� ã , que n-
·0
1
a. a n at - za ·-... ... t .·t· ., a . a 1n ..
· a ar, p d- . o -- , Jato
r e t ra d
-·m ao - ·-, p p
· 1- n 1: t --�- J

uf·. ab ig v · n,a.. r· 'a.


d d. · .U
·d· l·-·-


n. r om - ..

\_
oi e uid e
t ·ulo
d o çC o· l i, r · que ustl\' �l
"
c1�n\
'� •
proib
.
idt1� pelo
. t,\,;a
. . �
iinto
rs •
i l "c: eall parti �utar, c ntt
• ,.
o

n h n ,orn 1t1 1 as exo rct pro-
·
f�· o . um 11e t::�
O ��i ,a ra mo rib tind o . e in ade qt1 a das a ot1t rn · circ ttt1 tã1icin. ·.
poas P ' O o e. '(orci n10 , s '' c111prc do me �n10 t1 l()·
fre i L uí fnzin
I\pesar dtSSO, n1 e.xã o , rtec n con 11cc 1111 c n t o do
da a o rce de pes ·oa s. � refl
d o n to ua prát ica se pat1t ava pela deso r le1t1
estado en1 que se acl1a ,ram ,': . • .
l de méto do, agr� gand o ·�cou as 1mp ropr 1as. o b s, c enas . .
an d c-
e fa ta . f. t
e sup er sti cio sas ,, pa ra ··c on seg tur 1ns orp 1ss 1m o
, l es
# • ,,

ce11 · · 1-·
\foltcmos à associação enu·e o exorcismo, as docnças e as prat
cass extiai s do carm elita. A �pe riênc ia e infor maçõ es de cercc iros
. .
levaram-no a acreditar na virtude curauva da�, er, as qt1e rece1�ava
1

oos fervedouros e lavatórios, trazendo para as fortrtulas estereotipa­


das do e.'<orcismo procedimentos próprios à culh1ra oral e popular.
A fraqueza da vontade, a '-•cega e tão vel1emenLe paL"'<ão da lascívia''
jogara-o no campo de atuação do Inimigo: ''de tal sorte endurece
O coração, e perverte o juizo daqueles que sem tentor de Deus se en­
tregam a ela que muitas vezes tem feito cair nos maio,res abisn1os
de maldade e até apostatar ,da Fé e do conhecimento o culto do ver­
,dadeiro o,eus, e dar adoração ao demônio'>. Deus e o desejo eran1
incompatíveis: sendo eclesiástico, a sua ''miséria humana'' só pode­
ria ser negada, voltando, tortuosamente, por meio de práticas de exor­
cisn10, ou seja, de desentranhamento de demônios. Num curiosíssi­
mo mecanismo incons·ciente, eram os próprios demônios internos qut;
simbolicament,e, frei Luís de Nazaré exorcizara durante quase qua­
renta anos por lodo o território da Baltla.1º
Apesar de pena relativamente branda-abjurar de leve, ouvir sen­
tença na sala do Tribunal, ser privado ,dos poderes de ex.orcista mas
11ão do hábito de carmelita, e degredado por cinco anos para o con­
vento mais remoto de sua província-., o velho fra,de, que contava en­
tão 63 ao.os. conheceu os rigores do Santo Oficio, sendo torturado e
i11tirn idado pelos in,quisidores. O processo não deixa saber em que canto
do Império termin,ou seus dias, ou mesmo se, um a vez purgada a cul­
�ª· pôde voltar para a cidade da Bahia. Valendo-se da prática exorcís­
ti�acomo instrumento de poder, amalgamando tradições de filiação
diversa num mundo cultur·almentecomplexo, no qual o deslizamento
do· can1p o religioso para o n1ágico se faz sem maior impacto este
ia , es s,
1
.
baiano nato, afeito aos vícios do escr-avismo e da condição colonial,
não �ban . donou totalmente as raízes portuguesas e européias. Com­
p�ss1vo talvez ante os demônios da carne, des
istente quanto a demô­
n1?s mais fero zes, frei Luís de Naz
_ aré não perdia ocasião d� nas
rrussoes sertanejas ou nas festividades da Quaresma pregaf ''com
>

151
desengano, e abon1inaçào dos maus <.:ostumcs , e ca nt1gas .
. . Profanas
que o diabo por n1odas novas introduz a cada pas
" so t1este J)a íS' , 1

O E�ORCISMO !)E UMA ENfFRGÚMENA LJ'SBOE�



NA ULTIM1l DECADA DO SECULO XVII

Por volta de 1695 o futuro bispo do Maranl1ão d 1· · J


-
. da Ordem da Santíssima TI·ir,d d . re, o se Dei
gart� entao pa dre vig . ár10
e th_-
cipara dos exorcismos de uma jovem possessa conhecida :m G: ­
pela dimensão espantosa de seus ataques demoníacos. M a Larde 11
. boa
. . ,s
registrou a exJJer1enc1. .... a, dando agua . l n1cnte conta de informaç-oes
· . que

corr1arn so bre . o caso. CI1amava-se Mariana; tivera visões ob sce-
12

nas d es d e menina, e, a partir. d e certa é J)oca, começou a


. . . lhe apa.r ecer
um Jovem mance b o vesti. d o d e forma 1nus1tada, ''à francesa
cabeleira branca, toda polvilhada, sendo que naquele ten1 po 'a���
se não usava mais, que nos velhos''. 13 O jovem a
incitava ao peca­
do e lhe pedia que o adorasse. Desde e11tão, viveu possuída pelo dia­
bo. atirando o rosário de contas em Nossa Senhora, desacatando os
sucessivos exorcistas, quase todos trinitárias, que tentaram salvá-la.
Por arte do demo, desafiava a ordem natural das coisas: uivava co­
mo cão, estraçalhava objetos con10 um leão, vomitava fogo azul e
espuma, fazia surgirem serpentes, arremessava os rei igiosos pelo ar.
desencadeava tormentas, dava a ilusão de que o telhado ruía. Che­
gara a permanecer horas embaixo d'água sem se afogar, atravessan­
do ainda um fogaréu sem que as chamas a queimassem. A certa al­
tura, recebeu um dote para ser religiosa, ma s não a sup ortaram no
convento. Por fim, foi parar na Inquisição, onde os exorcismos dos
a
padres fize ram fica r livr e do dem o por um mê s. Ma s os tor me nto s
reto rna ram , e foi nas esc oJa s ger ais do San to Ofí cio qi1e o bisp o do
Maranhão a conheceu. Nada pôde faz er por ela , que aca bou , m or·
o· ou entr etan to um regi st ro imp r es­
rendo no interior do Rein deix
e estã o imp lí·
sionante dos exorcismos a q�e submeteu a infe liz, ond
impo rta ntes de na tur eza
citas - e às vezes explícitas - questões
metafísica e cognitiva.
p ort ant e do rel ato , n o me! ..
Mariana é a personagem menos im emo·
da apenas nas seis primeiras páginas. A partir de então , é o d
do bis p , o ra
nio tou os demônios) que ocupa o centro das atenções o
os
ate nto d
seu oponente em cliáJogos curiosíssimos, ora espectador
arrazoados do Inimigo.14
Em uma ou outra passagem., afleram, é claro, pon to s c o m uns

152
q t1e e ra tid o_ c? mo
, co na Co lô11ia e o 1a n o
n 1a iab o n o co t1d
o r d e rn o â11 c1 . a d o d . d_ e
e ,sc v1 . a P a · mp o rt ís se is o q� p �
o q u s a lL a n do 6 8 e 6 9 ): '' S e v e
e n t r e o l �, r es t
e t a o a t 11da
tal ,1a rvfett�P (f'1g JO entre asPP· . o ba1'les' pois n
e1 n . t 10 .
1·1 e ir o ta n o s eu r s e
s . os

b r a . . ã ,o e vi a' p o uc a110 in
1uso- et porq ue n p este. .. d1 ab 6 1c
1· a h
co n 1e
, .
d1a , a.s m ·s
t
R e ta . sã ba il e s , e
ce u� a�ia po rque s o
l
a o h d i q �
c
s a cn al di ç oa r em o A l­
1 os n u � não evit c a o m é a s, a p a r a
o an d o a 1 s lem b r av a m n ã o
duziu; p rq m que estOLJ pe sc :1 roposirõ .,. e
d e s e o " n1 · 0 . M as tru sP o La m bé m
re g a v a o d e mo a s rof a na s co m
qtl� ?'' inda c e rc � c l.
ir a , re m e te n d o ,
tfs s1 · fr e i L uís a d � :; � a r :Ue e r s P e
� : a ; de l e1 ro u ad e o c i de n ta l
apedn m lista 1uso-bras1 . t o
- c o rr e n t e n a so c i ed
· - o h t· S·
o o ra ,. · éi a en a ve1 1ça
as in st an c1a , à . id va a o do ato r: in
e J1l. úl ti m a o e .
as s e rn elha
b alh o d o dia b _
deq ue o tra i ão . i s o l u
lat a n . e 1. u n re o s tr aç os d a po s e ss a -
triônica, char ice, x deb çcom r en t
nto o co nt1n e n -
uit o . po rta em out ros p aíse sd
M h a,
e ' d nto i o s ue
o qu e s e c onh os A11j os, os de môn q
si tan a e �: mº a �:: �o �n a d tanás,
co m o o s mo dcu , Sa
te. Era m s ete, aria . na .. Lúc ife r Lt1s be l, As . .
1
co rp o de M ,
eno s eru dito s m a1
habitavam
. 0
to, no mes talv ez m e
. .
M osq wto
.
e Ju men ent ara m a s f reir as
M osca, . ver.s o co· do que os que ator m · d os a
t a·an o lest 1 na
afeitos ao unJ m , co r o o' stes , .'
1 1
por e

ta a nos a nte s, :
Lo u d un cinq üen no ano ni_ mato neut r
de
ên cia e reco r�a_r espa ços �
criar pontos de refer t e ra o p1or de tod os.
O da tuxu na, Asm odet
do díabólico''.l6 Por serc x o rc is t a s t in h a m q t1 e v o lt a r o ro st o
u e a p a r e ia , o s e
quando s a fac ta o 1e ta
i'. '
u e ro s a , e
- l:'J
tã o a sq
1 '

o , n ã o su p o r ta n d o o l1 1á - la , ''
para la d 1 lí n g u a s e st ra n h a s > o u ­
O
d a en er gú m en a, o s d ia b o s fa l a v a n
Pela bo c a
ar a ex p e ri m e1 1t a r o s d o n s
ga r- co m u m da p o ss es s ã od em o n ía c a ; p
tro lu e fe z -o ex o rc is m o n a
'' lh
lingüísLic.os de Mariana, um francisc ano se na 1n es n 1a lr in ­
re sp o n cles
língua mourisca; suposto o demônio não a e11 te nc le r
e fa zi a be m d av a
gua ao religioso, contudo nas açõe s qu, ã o , a
i s na ó li ca d a p o ss es s
que sabia aquela lingua'': g ra m á ti êa d ia b
as co nJ 1ec er, po is se tra ta d e um sis te m a
possessa fala línguas sem
,
fecl1ado ao qual, corn o no s on l10 , se cll eg a po r m ei o do i nc on sc icn ­
sal ­
1

te.19 Qt1ando e11furecido ou con tr.ariado, o demôni ode Mariana


tava sobre o op onente pata asfixiá-lo com as mãos, em procedi<rT\en­
a: 2º Cé\.retas,
t'o também análogo ao do que habitava n1adre iJ oan
c�ntorções, convulsões exprimiam u·m vocabulá rio cor.porat domo­
niaoo, externo> como o latim, o hebtieu - ou ' no caso de Mari ana •
o· m ou�· sco - à l inguage m comum, barróco e desconhecido eomo
os te t6r�o� lon gí quos do Nov o Mundo recém-descoberto.2 1
� �
. mais unpres s1onan te dos traços 1:>rápri os à relação ,entre exor-
cismo e possessao - é Justa . mente aq\tele que. no teafro e nas testas,

153
\,\l\t\) li i l \l\� ' 1\\\ '-'
1l,\) \ l <;\ I�l .\\,•
,ti
l l \ :\' ,· "'Sl' ·t�\ '\\\:1 \,\(\,:\ \'t)t\(l,·,,
1. Sl' \� "'t\l\ti' \\",\\t\: t
'"'" lf,.\t,\,t ..,� \ • \\)� ' . ,�' •.r-.lt)l' 111 ..\.s '-' ,� l t'nr,\t
�1· tm,,, �
(\\ 'a�t(\� • '1 ·\•)\' \ ''' \' 11,t: ' l \'l ts �l
"
C. \'t \\,l St' , )
\ '\ "','\'\ \'\ lY\\ll\f\l\\ '-' �\ \ 1 \.)� t\Ss \\(
• ' vt' \
�\)' 't(\ t'\\' \l, l '' t' '•' fll
" t) \'\, l'... t ... \l l!\: t • ' \� l
\ \"\\\t1 1\Í \\'.,
\.:,,,,,,\\. \'1 \$, \ l\,t\\l \ll'l\'\l''l {, l.
\ll \\\ \t:'1\t,· i' .. l: l' ' � " l \' l\llt• t,
, /\
i. � \� ,l "'!.\\\', ' ,. ,
\ l\\�,\\: \ , ,, 1 \1' 1� ll 1� \ ,, \ \ \ \l ' li l)S t) ' � • � .,,
· , \' \'I
l\\ \t \�\t)l' (\1 l-;,t"1l l'' , , l l
\."lu1g\l)S
'1 ' l\ , • l Sl' • .
1
1.11,,,'
l l"S\

t, \ ,' )\)\ tt..'ll,t '\\.\ t�\
\l\\[t.\ :\� \; 'Sl.'l)\'\S (. • ) l \ , \I t\ \'t'·
,, \.\
"�, , l\\ . . '· l ,, ·��\
,, 1 , . '')lll • ll1� �
l\\(' ,,�li\ \ \l' ,· 'I' : \ t\ \'�I\\• .. ,
\t(\ \ \ ' 1. \t\ 1•·,1,· ... \lt l(.)�
1

.. .. ,
l (. \t\ ;'\'\�. , \• ,) � , ' ""' \ , l.�\l \111� l\)\ll' ' 11..ll\·
1, •

l\i._ l \\fll()�, I\S� \)!\'\ '.:


"'1"1 1\' · t'l\\l\lci:1� 1.l '\l\t)l'
··,t ·r � ,,1
�l:1..: 'l( • (.' t 1.,, t..'$ti.· \t
' llll1.,, ''\'s ,\,,
• 1 ':s
•' ', tl i 1.t 1.. , s
" 11 r i1 i • ·
1 '1 ,· , , , · •"t\t1\\'
'
, , �
'-.\,\\ \() �t \tl:tt• t..}l\ , 1 � •
t:;; l�Sl)()l\S \,• •is • �,,,,
(' l l\t'l'i\lll \' l.)\l l Sf.' ) •t ,
, • l(
" '•\S� \1c1'i.: tl' ,..,,,�.. � . 1.: ,1 i,..\SSt)-
!
,t\\�\1\tu t1.,��'
,,

'- 11.l01,t,fic \, ·t t. '•t , i· Sl 1 l)\1ers • 1 ,,.',s, \.:,


, t �
� l, , •.
' 1 -.u� 1 1. 1� ,• .!1 \
\. ,,. ' t\t\t\t
r .• · t\t<lt,
\1t1S��SS:)t,
1,
\ lll \ ()\' ,r,-cr �\l)l' l • ,l
rt�\tl\Ctltt'. �\S l l.)S"•
'
'\!'-',"' \S. '"''"
..-,, ti \t\ l 1 () •
1
t t\�\l l �,. U tt it'<1cr(lt• ....
$l' l<'>t't1t\ 11c.io 11il,l �lll)I\.��l)l' i!)..
. l\.:
't\ t"<.: \ll(.'' ic•icl 1,lc'. () 'x<.,rci
stl\
l
\' �,, \',,, \ \t\\•:\ "-' \rt\f l> ct,\�)C�
, ••
t' Xt>�-
l
r l)ltl,ltct) tl·,
• ·
Ctl\ ÇU() '\t\$, t�l"CJ,l • • ' l' l) s � ,· s
' ' "- • .:,,,,..10 • l"• X{\f. \.'t, l.t
', l 1·\\'!l · :l ·�ll �,l,� \\'0,.S�
l c,�,�\. ttt . t'I \) - '''tltlll(;lCS '-,••v'V t,,•l:• 1• �•1.
t�,1.�r �t11 1 \1l",\1c.'t) 111.1 l''rr�ir
! . • •
llU S �'
c> U\.'t P�\'''\ ("' ·• (li1..i•'t Lar�1 , ,t ,
$\.)S qu� UX�\\\l\l\,\ftJ11\
t'

t\ l�\l't�\1\ \: .iUt\\:\i� l\\ltll l lll\ " (� • .._ 10 l' ·


1�10·
'
,(,

d \,) \li (.)S, (' ll tnt�',� ti(\ .r1lutc1t. \ ..." .s E . l l"lll i 'l)l•'1tlt) t)ro•�cg, � · ..
i.':Oll11:rrtt·�1..· "�\llt. l;1<.l ( )Stllllê
L\ll' () · �01\) ..
j

l)011 't).t � c.io '-'t'ttár10


: corda· l)t\ t'U ll� l cs
(1 lltu >s rt•bcld
\)ara a �ab�a :\g.it�ttia. �fllt'il'ixc> cs. tl1.\\JC$ 't•iro
,. 3gt1�1 bl;!tt(lt, cstolu
s e co,,,i�t1:,t nptir a t'\ssc111l1l1.::ia: lctr 1\.tt'aiu.. . livro.��
t1\incio ,�p<.,s1ólico, o c111b,1ixudor t\clo ·• 1-cligio os sctl\ contlt, 0
da Ft1clnçt1 ii ·orrct"u111 ao palc
tort1\c,1tos �i� l\•tnritu1a, ag1ttt o do
rdnt1do o fecl1c.1 ele lo1lgn • sessõe
e até Q\lt>\tl' l,ora". Fe11ôn1c, 11os co1111 s de tr�s
)l�111c11tarcs t \ posses ão
i ·111 eclodon1 no contCJxto (te t111\:: ' e o cxor-
1 sc11·i\)ilid f\d ..: 111arcada !)CIO pri­
1

n1ado do ·visr,al: ''fui ·1 tcn11)0 que ·e li\


� r�l7.it1 o cx.or�is11\o· \ d.iz d. frei
José Dclgarte ao iniciar sur, tlt\rrativn, • •e
co11f.csst) qt1c vi 1111,itas c:oi­
as c1drr1i1·d,1t1is 111ars c.'0111p1-een. í, 1els p
elo:; oll1 os qr,e JJelo,.,· 011 vidc1s'>.
O n1undo barroco ·e i111punl1n ao longo
rci1tado da at1dição, qt1a1ldt)
o,,,,;,· dizer era n1ai in1porta11tc do QtlC 1>rcscnci 26
ar.
fcr1ô1nenos sob m�dida para o oll1a
r: l1ospcdando-sc certa 11oi-
te en1 casa de Mariar1a, frei João Pi nl1eiro ''vc11do�a . '
con1 os imagi-
nados acide11tes. e llista je,·oz, co111 qt1e 1,ele fitava o· oll,o co 1
s, nl e·
cei1 e deolarou que estava ccrtamertle possuída do i 1 1imigo''. Só os
oll1os podia111 perscrutar os indícios da presença demoníaca: '' fica­
va com o semblante feroz e r1r11a cor de fogo azul, e rt1gia os dentes,
estendi,1 os brac:os� abria os dedos, e conti11uar1do t1ivo à n1aocira
de cão, esgri,nia u1r1a n1ão l'Ont oiitra''. 27 Por tneio do oll1ar, am­
pliava-se o campo dos sentidos, abrindo-se a possil>ilidade de outras
p�rcepções: ''Qua11do ll1e rezava algt1rna oração em a cabeça da Mag·

154
t: ll l l ) � . t'II I• t I l'\I <.lS, t\l'l1lt)t\it''• tt\lt' l,1(L jt1 {lll\ tl(..'lltlÍ 't)
1

\ , L ll 1 1 \IOt\ü ,.. • •
'
Ili f il' , , { )CI IJ)I\I \I\\ c)"l l'llt (.):,i l1;.'\1,tlX() Cll' lltll �t)I (),
S\:
(\.'; l'\) ll \ \)
t�l li•ltlll)l'f\
tt\l) IH • .. • ··· '' .lN
1'" '' J111 s• ''í.11.l� · '
<' \sl tl
fl 1\t,1. i 11, \t 1 •
.,� , l· •t,rtl\tlV t\r\t f,lt 111n vçr,,r,1 i\t 11tVt:S \1<.' tl>�I \I'l,-
(�l'l\:\•S l11t ,
Cl l l: l.!l l l\'. ,l t , .
!'i 1 e.;•tatl' ti 'l il)\J) lii..'il lS: ''(isttllVt\ �·�>1\lr',l t)� f\'
\ ,11s vl:,\10,
, llt.'
, s,
, .. :,\,,) l'..': . 1..1rt\ll1t, c. 1 11l' cl:t 1111 11t'll"l ,;�:1:11 11rl �, 1. li
1
) C 1 e• SS , ' " )
li�i()$ll$
tl\ l\l ,
IS ' l tlt: .

11 'cl ê S� , \l . \ (()
lt , l.l''I l \Ili\'\ ' 1..'l)l'llll.tl t\(l i11l\.'rt\U, ()ntll f\()!( fl\tl�{l'tll
1Ct1.l
•t .
',,,,e 'li\ l l
·
llC · \rl 1 .•
h\l l 1 • tJ/J,,ri , c.líiit\, 1, ,r( 1 ,rt)SStl� t>ttL" <.. l)llll ltitr�t\S,
1\ tC>!\l) t: • • ,
1 \ Vl) SSI L Vlt 1 t\, ,(
• ")ti) ''' �1·s 'SIIHS' '� ()li • s� ,,,:�.�,·,.,. ll() l1\lCl'll(), (. L'l.lll, I'
1 l.'Oll'\ t\ 1\ . ,
lt l,l,
t , t l t l S rt\ioi , l l'S, jll�I' t}\lê t\:tl\ í\l'lltl&rt\Ell tl Sllll Ol11'1!tlt•
tlll1ll1 :i t)lt: , C)S e ·
'' 111
•lt) �' !\l 'c l t)� cln <.:or11�, e s�,11p,1t�... . •
\.'�t )- • 1\;

11 All \11 �1.: l1t;. ,�··t)T't
" it l'l t t)\itrc) 1,tt11tl) itm\f1c.11'lt\11(0 <.-lc�st.: tct�t ro i11fcr-
1
11·,
1 I: l1
' �X.I.:• Ili\) 1t, ) t•, 11cclt\ºt)t C' it\. Nl(l$( r�1t1llt as 1,c:,,tts I.! ()ltcl1;1.;1111t!1ttl)!o,
tl,1 l )llS� l!'"l, () 'X(lrl:iSlll() ,,IL:rl n l.'()1\1 ..�, ()S l1t)li'J't)l'CS tlllt! 1.!Sl),1'1.!llf\11\ t>S
'. l;N,

1 �t\ 11l (.) . • .'".. ,.-.�u ... fii't\in 0, ,,i I t ,,,lcs ti� l)�l1s:

, ·1lic:C1\'I\s1..• no cxurcis1111., <.)S l(l1'111�11tt.)s, <ttl\' llll Ittl\:r,10 l)tl<lc�(·n, o$ tltt·


undos, 111nt1d\'l\l·�1.: dtl <lcn101ulí.> , c1,1c f,1r1,lassc:.: <) �c111l>lant� c..lt.:l�s. ê é()
,no li,d<lS �t'{\t\1<.)s "c'i�ios(>li. rei. u êl'Í!'\Íé tlc)� Ct)11 tlc11l\cló�, 1->l!ios trcs ,,e.
1
Çlldus 01)o tc}:i i\l-1 ll'Cs vl1·t,1tlc·. obc,lit Hcin. noL,rc7.a, L' cHsliclt1d1.:. ttll�
t>iovoltO!;tlS l' 11tópt'i1.)� rctrutt)s pnru c..1s ,,ossos tlc�c11gi111os. e l)Uf t Cfl �C11-
dur os nossl1S defeitos ro1)C11t li\nn1�ntc i1\cl1(>\I co111 grn11tlo cJcfor1t:11<Ja­
llt..1 o rosto do crit\l\111,... 30
Dcsfigt1ra11<.lo o rosto de Mariê111n c111 <.:arctas horríveis,
o tlial?t) ,c_li�
�·tt1r itnitando o scn1l)ltlnt� de Lttt�ro l! <IC ,1lvir10:
rC[Jl.:tc '110 ''léil­
lro•' de Lisbo�t o qt1c já havia rcilo c1l1 o
i111bra, ''de qt11 c ro�t1ltot1
t\ cortvcrsão de 0lgtt11s l1ercgcs i11glc$cs'>..�1
Mt1itos ,o,1tros poclcn1 .se
n\ira1· no suplício de M<tria11a: ''Ele
per111ita 1 c�uc estes brados da Ui·
vi11a JtIBliç:a tles1:,crten\ a là1\los pe
cadores, qttc clcsca11 adamente d0r-
111cn1 no ono da culpa., e cons
iderecn a nobreza de Sttas alntas, cr
das t)ara lotavnrcm a Dcus ...'\32 Mar ia­
iü1\a trouxera para a esfera
J.)t\blica �, mais l1orrcnda d
i111ensão cto set1 ít1ti mo a firn de qu
tros pudessem fazer o carn e 0u­
i1tl10 i11verso: fora ir1.strl1111e11.to <los av
e da piedade de Deu isos
s.
Parte desses eex t11plos se diri__ge ao
clero. Iroor-LaJ1do os n1allS 1:>re­
gadores, afeitos a
modis1nos retóricos e a ser111ões va2ios, o
acabava agindo 0011t ra seus interesses:
diabo

- 6 idiota ridículo, e igr1orante) cuidas que estás no púlpito pregando ra­


n1elhetes? Para este fim foram os teus estudos, para te acl1ares na hora
da lllorteclteio de horror, e confusão, os teus sermões não servem para
o mundo, nem para Deus, e só serv.em para mim': 1nas qt1e digo, desa-

155
\'cnruradl1
d� tl1im •
Porqt1c. se cnn1
meu º",'--. C�. t<.: av,
vrarao da\ n1111ha •·1· 0 so c11c·
l)
�o n,<!
Deu, fllll s g.1� as. arnu, 1 tava a
fctço e::."u
r
·
H•ína das a
err a �
n da. JJ ' ou v1nc10 a l o." hti1n n,c�,,,o,
Pa avra l las, e
• aqtJi J· de D"eu Cstqs s
á e Pa� e 11'.
Se no pl � a P ar a outra
s. r,rcg
a u a con1
, ��ena a ano mais e sfera· . 0
u
Q estã o P ró p r io d · . ' ª _ d o combate.
� 10 Pode da causalid o r e la t o
ou não f ade ���d
e entreta azer, des
afian o
t�ªno : rnenos - o
d e frei
Detga
n to n o Q a ordem ue o d r�e
entre Cé ue diz re Q
u e Infer speito � .º natur al o
to. .3� n·tJrer n o Que rcs a s ?ecto met d a s c oisa:rn .
cntc dos · e a co
n a fís ic o
de . , t n b u tçã . d o c
1� mais origi ornbate
1 d
11ôn o .
d
l� as Possessõe • u;o S ma1s VUi -,
útloso e h s, o nosso apr ar es a l do t C
x
n
ábil que s se o ima ern ��esentes ern gran
g
e de
X-
d e orgu 1 h . d u z i u F a . g u n s P P ar.
o, capitan e ust. o, ou ai ontos do
o u a r evolta cont n d a d o Lúcifer q se r a r.
N o d e bate ue, cheio
travado en ra D eus. Js
c�� o um ser Per tre os exorci
stas e o de
d1na, ple xo e revoltado. Deus e rn. .o
ra urn ' i:�� , este ��arcce
J u irano e tnJ
P?•s Por um ó peca

us to,
n1dad:, e Ad:a do, e de pensa
o pecou, e nel mento me con
merec, a Deus a e o gênero hu denou Por tod
m en m an o, a a eter.
tu_roso , po is or piedade, eu fui e fo i registrado, e
� ofe n den do contin uam o de sg raç ad o, e os homens
_
n�o ha .'.11 ª 's ente ach am nele ven
cu
qu JU ­
mim, nao ha: m � Stu;as, e para os outros tu piedade, para m
ais, que fogo ete do são clemência im,
lho do Altíssim rno, e para vó s; para
o, e houve os s s houve o sanouc
vezes desgraçado, acramentos, desgr do fi.
de qu e te m e is açã do demô';,;o, e mil
nada, pois ainda ó miserável de
quando intenta fa mônio que não pode
ruína, log o desem zer alguma diligê
bainha a espada o ncia para a vossa
Ante a dúv ida do Anjo de vossa gua
exorcista - "se rda...
dade...", "se me pudera ser objeto
fora lícito compa ela minha pie­
e1nendava, cheio da decer-me de tua
soberba própria miséria..." -.
nha piedade de mim aos seres luciferinos:
, porque não sint "não te­
pend o de haver peca o o que padeço, nem me
do". A revolta arre­
ma controverso e muit do demônio expressava
36
o debatido
na teologia dos in uni te­
da eternidade das pen fernos: a questão
as, co nflitante c o m a b
Deus, 37 ondade infinita de
E o inferno, tão descri
to por catecismos e
e setecentistas? Pela boc auto res seiscentistas
a de Mariana, moÇ
ma região a trasada a pobre que nascera n�­
de Portugal - a cida
pinta um infei:n o cara de da Guarda -, Sata
cterizado ances r dil
acer�entos �tern s d
nas
que físicos, filiando-se, nes ��
te sent1do, a 1nterpretaça _ . � �
o teres1ana. aq
156
·
In fe rn o. aq ui e t a r Ll <> tr

os to rm entos o o
e ce ndo odo s º-
es l ·o u p a d e ias. a r �
1 � a.. o en xo fre . aq ui as bla stc -
05 aco1 �tes , as cad a:z
dos de n te s, . deh ss1 m a apr een ão da certeza ela
p . çõe s aqui a cru
e
n1ias, as des s foerg: a n'eve, o pa\'Of e te " ,g E te.. antava a ' oz, i n-
r 'd
n1 de, o . , rno · . . e n1 . ódio, confusào.
cte a o: e ra de so r d em , d e s ord
nf or m a d " g u r , guerra, , s ã
co e" . E r a a d 1 m e n o m et a f ís ic a d a Q u �d a q u e
d , e te rn id a d
eterni ade ci o s re p re se n tado pela iconograf1a, de, -
e n ã o o s su p lí
.. evottava, . · vocados em ser mo- es e· todos clrs, tri-
ºr1�tos em textos literários, ,n 1
· - pop u ares que h a\•ia 1n florescido no 1da-
ebula ·r ·
1 os d a s c o lo ri d a s v 1s o e s
é d ia . N u m • t a
- 0 po uc o a, e1' to à especulação filosófica con10
de M � a � s "
Port ug o d em on 10 er u d' tt o que habita,'a essa n1 oça simples é n1\11- ·
al . , ·
. do que en1gmat1co.
to mais

I
CONCLUSÃO
Em nenh wn momento se cogitou que Mariana ou frei Luís fos-
sem feiticeiros· sobre o cannelita pesou, quando mui'to, a
. suspeita
de pacto ' e a energúmena foi vista, o tempo
to d o , como urn corpo
infeliz assaltado pelo !Vlaligno.39
o relato dos exorcismos de Mariana em L.is , .
elementos para a análise. lá estão b o a o fe re ce ".1�J_t1p�os
o problema do paclo d v1ole
cia selvagem do desejo", da in � � n­
serção cotidiana do demon10
prestes a desmont ar ca\ia1eir , _sempr e
os, deste lhar casas, enfurecer
semear a discórdia. Lá criat uras,
está a dimensão psi
a pos uída não tem v co lógica do fenômeno
ontade própria, manifest :
outro "eu" no qual ando, nos ataques, um
se desconhece. lá está
dagógico da possessã o caráter exemplar e pe­
sofrimento da p o, que justifica o horror
ossess a. Lá está, de do próprio fato e o
m etafisica s
obre as atribuições quebra, uma curiosa refl
bre a natureza res p exão
e âmbito dos doi ecti vas de Deus e do Diabo,
demoníaco, c s campos específico s, so­
onc ebidos em ter o divino e o
cert a forma, a mos antagônicos e
Perplexidade do irredutíveis que, de
�Pouco.lá estão, demônio que possui
por fi m, M ariana atenua
Péta do Antigo R as linhas m estras da soc
d de campo egime: a hierarquia ocia l, a iedade euro­
� s c ognitivos, deli mita ção mais nítl­
ª OtÇa da microfí
os in díc ios de u ma sensibilidade barro
rnedo ·40 A sic
P ossessa- o
a do po der atu an d o p or meio da ped ca,
m mun de Mariana é c agogia do
�� do em que a ompreensível e qua
"ª 11s s, numa
. soci
alteridade é rejeit
ada - pa�fraseando Lév
se natura]
e d ade em que do i­
vo1n1tar' ti
•); m in a a antropemia (de em
e;n '

157
e < '� i r
rn arte. d . n o dL 1 rei
{) i nLcrior b l.tt1·
de azar
l t rad·1 t a1·ano e e· rcali
. onal·. o fr r . z a
, ,, -ª d o ob c u a d e atua Por
c v � t c 1 1 d a s
d os ern
l
r · . m •n ígni Sa va<!
1

do - o d o n, e i o d s d
o
n 1 '"Ualmcnte de co:��c� n fulano Fra�� n1anuais � o �I CJ<orc��
' te a e ner c1 d o f ranci a o , ou Cura
gu, n1cna co
,y,estre
fere Pala c
m a e tola no frei A le ix
\•ra agra , dist 'b . ? Cândid 'ºs,
de rnafeJ,c· da
t,.. \ 1 . 1)o das. O esp
que tão aço do mal r1 t11 agua b o Bru,
• , f; i j ""o , , • .d PO suídos os exo . , entretanto' é f1 �nta, Pro,
oença ', . . rc12.ados?.
D e vagos,, U td o e
rnu,
o p n am� ada que

nai ao �-xorci llp r1n 11r o mal? O m is lv a. e . Qual o o ce�·cu r so


a P r

maz do Bras,·1 · os, religiosos d . is a de nov


Lo nge de er aç · ' o Pr ó pr10. arceb o• e
de pre,.·aricação , o exo rc1smo é ispo Pri,
·. os eoz1. mentos
ão exemplar
de m ot,vo .
d . encobrian1 o . ervas , os l ava tór
ob'J etiv
. o .
ignóbt l d i os
o prete· to d o� exo as cópulas·· , 't u d o ist .
recomenda.
rcismos,,' con,css " o se m p re c o m
c.1e é difuso, e.1n de fitn . ari a o frade· 42 S e o mal
ida a aç - o d os representa eY.1· ste1
t\.!ligio o. Não há ce r t a_ ntes do campo m ág1c . o�
eza�, nao há verdades é .
r o m�ral como o que
fecha o relato d o b1sp . , tnconcebível u1n di .
o padt:c1mcnLos de Mariana o do Maranhão sobre
· N o mun do da Colôn1a · ( pode-se dizer
recorrendo mais uma vez a Lév,-.
S lraus· s) ' os diferentesse cntrede
ran1, o ou . tro é n e utr . _
aliza do pela 1ncorporaçao: u,na socied v o -
10 f .
t . po ag1ca cm qt1e, europetl de ori a de a
gem ' o frade carmcl1.ta � 1·m potenn.,
te "'nte o 1 \: f' ic 10
· , rc�omenda o recurso aos negros call1nclureiros
� �
.qt1c� trouxeram da A .
fr1ca uas prática curativa .
. sboçada a tentativa de tipologia, cabe nua,1çá-la. Parece te­
rem s1Jo potico frcqüe11tes os cxorci n1os em Porltlgal: nada que se
compar aos ca o e pctaculares que sacudiram os cor1ve11los fran­
cc� e 110 t<.·mpo de 1-lcnrique JV e de L\1{ xtr1, onde cor1 ·tituíra111 ri·
ca alcgorta 5ocial e política do dilaceramcnLo provocado pelas lt1tas
religio a� ..;J Nada parccjtlo, tarnpouco, ao cpi ódio de alen1� ocor·
rido �m na a alcr ra qi1a ndo a com 11l1i<lacle toda e viu
44 Por i'l o, o episódio de Maria­
1692 Nt)v lngl 1

à vol�as com ca os de pos sc� !,à<) .


rig a11 lc, 11a <.:u 'ica , 11a­
na ·e mosLra tao i11l �ob ret ud o di ·sã o me taf í
da de
1. do s tra ço s de co nt in ui
da com\tffi cn1 Portugal: indf\:io. wl,·� ço nj u nt o do
tó ri ca qu e an 1a rr av ar rl o ao
hi pc qu cn . o re in o atlâ nt ico
c o n t j n e 11 l e e u r o p e u .
e ca ra ct er fs t1 co
Já fr e i L uí � é
da
·t ra o rd in a ri a m cnte
, d e lto je .45 su .as
o d ia
lo
·
\1 m ex em p
r,orma como é vista a po� cssão n o l at é · n10. 0 cclot1s�
1s
si
rc
ra
o
B
ia s, a m a nei ra d e pr at icar o ex
prática estapafúrd
158
S,
a
>s>

o ..
li-
))
l

so

Ci-

r 1-
vo
la­
>01
tt;

IS-
>re
r-e r
,o.
Lil-
�n-
:os

t�
se
Ln-
n-
Las
Jr�
;1t1
1a-
1a­
.de
do

da
,a
8

Do baruqi,1e
irifer,1af dQLJ
1i.1rbill1ona O e. nã0 fin
f ata l d a,
�AY1
�0' opio.:

�QLS veloz., m OIS
e-. veloz ,riais
.rer e a danca
v ainda
• co nzo 11m co rrL1pio.
Bernardo Guimarã
es, ''A orgia dos du
endes'>
A crença em bruxas
a forma de animais que s e esfreg am co ..
ou cavalgando vassou u n_ gue ntos, voam sob
bl e, 1· as norumas macab rams, reunem-se em
- . ra s ' ad o ra n d o o d ' as se m -
re ] açoes S� ats , tem orig. . ia b o e com ele mant
em rrns teriosa e controvers endo
po, acreditou-se que se e n tro a. Por algum tem.
ncava em ritos de fertilidade
m os. D.1scut1u-se, dep ois, sua ex
. anti'qUlSS
·· · l·_
_ istência real ou imaginária: pess
nao voam em vassouras, nem são p oas
assíveis de metamorfose, diziam
alguns; outros, m enos céticos com rela
ção à capacidade demoníaca
de atua r entr e os homens, viam nas descrições
desses ajuntamentos
prova evidente de ações heréticas e profanatórias, tributária do con­
s
texto que gerou jo aquinistas, cátaros, albigenses e tantos outros des­
viantes do cristianismo. Hoje, as interpretações mais vigorosas vêem
no sabá das bruxas uma construção mítica complexa e multiface�a-
da, novelo em que se embaraçam diversas meadas cu 1tura1s, a ma1or ·
parte delas remontando a épocas muito remotas: a crença na meta-
. f · de
morfose' na cavalgada noturna do exército ur1oso ou . . mulh ere s
. . , . . d a fam 1l1ar '
1 d a d e
seguidoras de Diana, Abund1a, Hol a, ou, a1n a, d
. C e ntr o-
com formas extáticas, pecu ü ares , .
aos x a m ãs da Eu ro p a
Oriental e de certas regiões da As1a.
çã o, en tre tan to, e co m tod os os tra ç os aci m a
Com esta designa m a n ife s -
r vo lta do séc ulo xv'
referidos, o sabá surgiu na Europa po
160
1
1

r 1 1 n n: 1 ais can1 ctcrístic:tl �tll ,tlg t 1111r1 � r���i,.1l·� llt1 1:rt1ltt;tt


d
ta1\ 0• e ele , or 1 � . .
an t \a t lta ·o b non1cs t i,'crs <)S � � ,,l, ,, \r1tl,'<)1.:� 111ttlt1tJl11"·
c da lenl
a p�ni l tila Itflli 'Cl f't � 'l' ·iu\ ela 1:sJ)tt11l 1 �1 :\ l)ir1:1·
. d
estendctldo � ia Port\igal. f\,l\titas 1 �'�C>u� f 1\11111 �1ttilt1 e c1.:t1t:1-
t
; . a
111arca, d� �ça ,(i ou pelos t ribl111ai rcligit1 ·1.: s, ,\i..'t1sad�ts d <: 1>r;11 i-
das pela JllSt ci l • . .- r· ó .
n b .
r,1xyaria e con1p a recer e 111 �1s 131" rçu,1 to� . f)r<> �111t1t r1t1�. N ,1.s
caret - con1 o d'1a b o o�upur�\111 t ltg,1r cc11t r,l l :
acusaçoes, 0 sabá e o pacto
· ão esqu ecer qt1e ' desde sa11to To111asÂ
tle qtitna, t ,ct t.) t11\1

é preciso n ..
corpo · dou tritla · l cor neça r,1 a ga11 l1ar forç a 11a ttro pu, ·c1t d o, p<)<;(c-
. ment"�,
nor den on1 in ado de der 1101 1of 0 Q ra.

o sabá não foi criação de dct11on6logos, pesadelo de tima l'litc


apavorada: a interpretação de ct1nho 1n,lis ct1ltl1r�l � antror,ológico,
. ltada para a análise do mito, mostra, ao co11trár10.
vo .
Q\lC ele se cons-
.
tituiL t a partir de uocas i11tensas entre l1n1versos ct1 l tura1 s el .
1versos
e socialmente distintos. Mas bot1ve regiões, como a Inglaterra. c1n
que a alusão a esses encontro no( t1r11os mostrou-se quase inexistc11-
te: acredita,1a-se cm bruxas e na sua caJ)acidade de fazer n1alefícios,
u1vocar diabos, nutrir de1nô1zios Jart,iliares. E·otretarllo, nacta alé1n
disso. 1
Qual teria ido o significado do núto do sabá e da presença dia­
bólica no imagLnário luso-brasileiro do Antigo Regime'? Homens cul­
tos teriam partilhado as 1nesmas concepções do povo no tocante à
bruxa e às assembléias noturnas? Num contexto culturalmente tão
diverso qt1anto o do In1pério Português. como se n1anU'estaria este
outro amálgama ct1lt11ral? Tentando responder estas perguntas, ou
pelo menos avançar un1 pouco na compreensão do fenômeno, re­
correrei, aqui, a uns poucos escritos franceses sobre o Brasil quinl1en­
tista, passando depois ao estudo da produção jesuítica e das con­
cepções inquisitoriais acerca da ação do demônio entre os hom ns
e
destacando i gualmente o registro das práticas populat·es - efetiva'i
1

ou imaginárias - realizado pelo Santo Oficio. A idéia central é que


o unive-rso luso-brasileiro deve ser entendido de forma inter-re lacio­
nada: o imaginário por tuguês no tocante à demonologia e ao mito
do sabá é muito específico no context o europeu, e tal especificida­
de, ao mesmo tempo que se perpetuou na colônia brasileira, nutriu­
se, para se manter, de traços próprios ao universo colonial. Neste
sentido, e ima ginári o sabático e de1nonológico é compreendido nos
quadros do antigo sistema colonial, sendo uma de suas faces: afi­
na l, desde sua descobena, em 1500, até a ind'ependência, em 1822,
o Brasil integrou o Império Portu guês .


161
I


-...t u ch 1'T" 1 a ,,e �r ur e. qu i � • ho r d'C la
', - .uu ire ct deb
. dit qu
. :i. �� '
D' ._. . .i�
,e�
e es t u
p: de
5-
n&ll º ·s:sa n �
co . O, aqw· . é Anhan. Alude ao diaho tambem ex-
O esp íri to m at igD
- � mente: · ·1 �ott,
p,�� d l a ,
" · e' r ít � ou t� les t'��li� qu t rc
e · · elon gne . e pe r,.
. · _
Ce; � rpJ aJ llSl
.... ,..,,,., no
-·-.. =- es • es t AO �
. et Jes erreu.rs d� ""':, .:.v (.."0 fe 1 dL íé\ J

é0
.,--.ln espnt • • �
dn roal !\.t en s m 111 1:s 1r e, • ,\p ·
çon. q ºil ado re 1� D i. ª bl e pa r te m ov - en d' au ·u
n.s
,1 ·
de m uu \a
·
i ·e
·
Vlé, �ut
·
u
... . es ou C ha ra ib � so ot g.e
� r au dí ab le po ttr re ce uo ir le ur vo i�i ns . Te ls tm ­
pe Uez Pag
a doe5 -·· ��
se-sont : m ec ha nc et e. se t'a � re ho no re re nt re le �
po ,o lo re r lcur 't!. r
.
at1-
postetlfS rtl ina tre
. n,e nt en un lie \1 . ..- \ tns t so n, vn g�\ bc ,n< ls, er·
� ne den:1eurea1 o . •u � ... . .s .. ,.
'lrG et 1 par les
bots et au tr es lic
rant ....,. :i.
ll

· ao �:onsórcio com o diabo, oma--e outro defeito execra-


Aqw, . .. � . .
ope u- da êp o� a: a va gâ nc ia . a 1t1 ne ra nc ta
do los .eur
peEtn ,l0 conjtmro: �,\mérica diabólica,' mo-irou- e, p�r f�n1, que,
mesmo san alu dir ao sab á� era ele qu e} com cer tez a, �t1 � Jaz �a com o
.
rad· a em vária s das de criçõ ts euro pé1a s das prát icas ame rfn-
pa !ml
dirui· no eculo xv1, ao eoun iar o ui terno, era o ab'a que se ac h ava
lg • •

rt�tado pelo jesuíta .A2.piicueta Navan·o: • • i ei o siet-e viejas que


apena$ podian tener en pie dançando por el deredor, de paneUa Y
atizando la aguem que parecian dcn1-onios en el infierno'.,. 6
Si'ruomatlcamente.. não é portuguesa a única associação explí­
cita eutre rituais tl1pi e o abâ europeu. detectada com argúcia por
Michel de Certeat,. - Tendo pernoitado em Cotina com . .Jacques
Roufíenu {Rifauli"?). Jean de Léry viu 110 dia seguinte g·rande movi­
m�ntQ de s.clvagen que chegavam dos locais próxiinos e e j unt�
vam con1 o de lá. somando, numa espécie de gra.nde praça. cerca
de.(luinhento. ou s�i.scentos. Quando o frances� iam pergun:tar o


'Ul

-1 _d

l-
'I 111 I, u
..

,n,,1

a
l

pa la 1J1ain ni sa,1s se bou-


. pres 1 'un de l'autre, sans se tenrr
r
à rond, � urbez sur 1 � deva �
Tõut pteS n

ez c
1
arren g
tr
Cll)
e e, _ . . 05 es tans p 1e d d ro 1t ,
:s en �i,tr·<;l' u n e ..PJa ai
a.n s s eu lemen c la ia m b e & Je .
u Le e orp s, r em u & .
1 a 1n a111
d � n s pe e. sur ses fesse s, & lc b ras
harn gu.i �;· aus si ta ·nt ain d�t r
rp u s.
r a1. chac u -n �
n, - d an soyeu . t d e ce st e. fa ç. o n . .E t a u sU.
da nt cl,l "' ...
an ..-
a, \/e
. n t & · n t 1 a u
g�uo · r·b e pen e il y avo1t tr o 1s � o .n d e � u x , Y a y. a
ise111
. _ us�
ca d e la m u lt it u d
leres parc e:. qu , a d e ce s n cl 1e m en t p a re z
h a cun tr oJ ·s ou q u at re Ca ra tb es ,
' ·
ª11· u e u d' u
. n e
fa it s d e .b e lle s p lu tn e s n a t u reli es, n �u -
lrall'l o n n e ts &. b ra c el et s�
de,roo bes ·b : te n an t au te st e en ch ac u n e d e le it rs ro a1 n s
d.i, ver ses . .
c<:> u le tt rs . un fru1. t p t:us gros qt1e oeu f
ves '& d e .
nrne
d it e so n et te s fa it es d '
un Mt1raca, c'est parlé âilleurs, à fio,. disoyent-ils, qi1e l'esprit parlast
A-0 à
ne·n- d'a·.us tnt c ,e, . ..t
ui ; on t ,.i >ai . • *
1
le s p o u t le s d e d ier à c e st u sa g e .. .
�Ul-0. pl»� apr"'>-s d an ·
s ic el ·
�m se m p e em cí r. c t1l os , o s cr u· � b as sa l­
En�uanto 05 índios fica�
)'r.e.. _r
,: /1e pa ra tr as br an di nd o . pa u qu .
e tr az ia n a ex ­
tav am pa r a a fr en te � , u m
1nde- P et tin se ca e ac es a, as �o pr an d o su a fu m aç a
tremidade uma erva. de
)

:rttar pa ra u e ti ve ss en 1 co ra ge m n a g1 1e rr a, P or du as
sob.re os circ1.1nstantes �
en s na
_
o ce ss a ra m d e da u-
elte-s ou se is ce nt os se lv ag
hõras, os qt1inhentos _
en to s co n­
su sci tan do n·u m Lé ry de sc on ce rta do se nt un
ande 9a.T e·de.eantar,
bou- em qu e me do e tep ulS é:\ se alt ern av am e o m uma atraç. ão
uaditórid s
tom- e OJ1l fascínio m.disfafçáYeis.
ilc n.e
en.ra - Et de fai'c�, au lieu. qu� du commencement de, ce sabbât (.estat1L ct>tnme
i'ay1 dit-"en la mai$o n .des femm es), i , àvojs eu quelquê érait1te. i'eus lors
ro na en reconli:,ense un:e tclle toie"' que non seulemen't· oyans les accôrds si
uma bien mesur.ez: d'une celle· multitude, & surtout por la eadence & Le re­
le1ros frein de la ba1ade, à éhasçun ceuplet lo\!$ en Lralsnant teur:s vo� dí­
ava e sans� heu, ltei,aure, lieura, heuraure. lreura;. heura, oueh, 1�en de:meu­
·prcle ray LOUt ravi: r1'ais aus-st toutes tes fois qu'il m•en ressouvient 1 Le coe11r
ssun, rn!.en tr(}S�aillant� il me semble que ie les aye encore· aux oreil1es' '. 9••
J, fez ·) Bem ctto Htp do ÕUlr , ljCt� se. s�gµrar peta.º'�º Jl(!ln �d.j(' dQ lugar, cn�
. � r �
:1.ndo· <11..
,po�1011.cm -e1�llo, o.uryadQ�·J>afa ilianl", tncliM.ndo um pouco o co.rpni n1ovéudo
laLria :�:ia\ª per.na e o pê d1t<lito. ca<la ufl, n1an�nda a mão direita sobrt as nádos,15,
��do pender C> br-41.ço e a mã.o e.i;q9c:.rda, ean1avaJJT e darrçavum de,'ita f�nn� e
tõr1io d 1s como d t.vido à rt1ultidlo hàyia três e!rcnlo.s, e -pennanecen<.lc,, no
u :1� �
! m dJJCl! Lr�s ou �uatro des��li carníbas, riço.me11u: parf(.mçnfadQ;S c<m, "º'!.P�S r,1uiQ"de
t����
=�!�;tet: t'eitQs b�l.m fº. �l111nu� naturoi,r, 11?"'a6 e:A<: cor� divenu1s: sJ!Jt�
ca a uma IJ� ,não11, 1u1\ rnarocá, e,\) ieJn chocaJhó� f<.":lr;os, de urti .frtv
to rnatb,11 uc crlr. lj ruz, d� ue í:tllei acima, .a t:i1t1 de (1uc. diziam, o �pirito
t«liss� netti P � � � J� :i �
•• • 1 a a5 'U C-$11C (l1n ••.
r ) ,rve� a do · se "º lnfe,io, <lt,!{.� Ru_bá (e111:ip1tlo t.u., corno dhutc. na
f �

,o, �31·
rnnrh�) m �:'').Q.r. f:ive-entãô '1ou10Jcç0111poo')a u111a ;lcyi.a tal l!fU� )tâo�atra. d1ts
.aQ óu1Jtr Ol
aco:e� �� m�dtdo� '1� taJ tnnltiqfo_. ,,,�� •obf'el u�o r,ela (tadêocJ{l e 6
a -a,: ltitr<J!e te;�i, �rmfilOtlU<l ·a.g v:or..é�+ dir.enda: Freu, /1if«or<1,
f.{J'*l'lali

�frào d"- baia.db�;,;


alrrien·
mHV,lUJl • •
, l,e.u,are �· 4,cZ;
1/euttJ
,n j �14<:Jr, ,1ctU($1 d't todo e11cantá'dô: mM d-à m�.má fnrma,
ltAC, tu·
;i �a t!� qu�

V'&n ao� ttuvidot.''


Y
IIWO, o cQllU;ão mt 12)Hrem.t4e e pâ.r�b:-n.te que afuda n1v

165
i
S; J fl�f ,\· l'Olt,l�U( ll/1�·tSF:.'1\' lJU .�1k�/,\'t 1f'N�Jr,
11S' /' 1 ,t.; lt'l't�·, "/.tN"l'Ult;

Nu111 t'! l\ltlç., 11utítv 1 �t,l1tc ,, filtiçltri.a. eu 11,t\p;lft 1,r,11 ll!tll u,; 111,
.....·'etilo xv1. 1_. tt,-•1t1 i�(, Botltet1cot11t t1f1n11<Jtl q1tc, �111_1:11 ,,t.,tAt1l ,,clJtn
pl ·x.,, .,,h/,tiç{, 11,rr,s vezes upul'cce ili"t1ctil11tlo, c<111l r1{lt11 rttllll t, v<'«>
1

11otc11110, q,m11to u n1 ,t• 11101·fo e t,u1i111c1.I� lt tttlt.1rt1A.'f\tJ e v,1olt1 tllm <1


<liubc • t, ajl(Jl'I it111ettto (lc �cgti.idorcs dr, clct1tll1ti(1 un, tlN 0111l,lójn. N<>
.
c11tan o, �oruc.> t11n1·bé1n jú rc ,,ltei c111 ot1t1·c:> ttt1balt10, n1uitr1stlo�&e"
l.cnt nto �e fal.co1 presettl N <le forrntt t,v&-1l�tl, s�111 e ct,11tlJitit11ttt1.
fJ cu o t11,,i curioso Lr1lve� =,e.jn i, insi�tê11cia 11(1 rectrrStl uo vOo r11ii�
ttic • eapuz tlc lra1 1s_port ar pes sou � c 11 1 grt1 &1dc s dj!>1ã11c lt1& e, de lf t
� ft,r�
ln1pé r10 P or ·
roa, tt · d\iz_ir. ne in1t,gi11á11io, a· din1 cnsõ es tt1tt11 dlt,� $ d()
o
po de m t11 t1d ar de t' c ic;il
tu.gues indicio de qt1c oten,cn1os míticos
cc>nt ingêt 1cias cot ldian .a s. 1'
ao sabo r de ·

166

i
J

,,
1
,,

11

li

�.
rt
11
d


1)

' '·
1111
li

t
1, 1
o
t>
'<11
li. i

fl\l
111�
(>(}
1 ()

Nt,
�-Clt
If l
(,
11n-
·or­
'Qr­
;üo

1 67
01Dléia• n
n r, 1 r it a •
-"'a- ' e-:: a l .. . 1 a a, rri tl- ncr • de, .
!ll,:o;·:. e,. ,, er 1 n tou a t'\fla · · aú \Uo
•11 . ..:t '\ '°'<.:.
a l>actn �
1 • in n ' o h a va
lf�,
-.
....
� � ,., I a t n b é- , n qt1
na, e JY.!ct
p
i
o \e a ré
n:ao da u- a l• era "ª nda m" >iibti. ia
n zadc. a� nào . r '
--· a .._ n tz n JL . llta d a�•
n v o tc o 1 r.1 • a l l1 ut• J fte_"'
-.-..... ..,� a 1 -, u e a I ttc r a .. � Ct
anto <)t�1 c1
"'l
..0 com a tortura.comfir;�o,
lina u a conden
ou ' f:a?,.cndo-a �aír t- . o, �ta
Oa ti � r1i ênci.a n fl � n
co (8\. 'a Lambé mo de"� ttcn<.i·
ur.-cf, n ,,
na roce não tcr · e. cu, ev�"o ""ra n!l � ·
··-u ,.. .�m 1 antá-lo.· "e npr 1 ô. A
'd � róPrla l
que �ja deM r n.

- -".lt·õ' i- pad de Braga J e a para cm.
• pe a oca ião que pode r h a ver ví
l r a . m mo erro . e q u " oe vendo
. o para o B a ua sente trQ
Qua
J .

ra ·1 plo m nça cm .
! ' : par a l!!< e m as q ue e
o ctit de, re d o e l
p o pc�iio que há vivendo naét ucl as m <: f e 1t o n ã o
a ,�-.,,_.J"-- ,. enganai· o d.1a b O Pattes de
•1
l u :ro pro . . so eis . emisla é d e 169JJ sendo a
ré ' Leon or I"·er-
I nd nat irnl ôo �;\fg-an"e. t 1...
!

j�c-J.,.� ta� qu se �·la qiu:ria e r ,. �.


.. tcando ami ª d e cerca mulher, "Iht.
,,ru . a e f'o,uccira, e por esle meio
.
t 1 1 e,1 i, ela a en inaria', l o or começou ª. e �ncon1.11u
, m a 1est ra • í n tada • prín,efra m'.m� • � o �crecer ao diabo um bolo
_ . .
< n ci nado cwn seu !oangue De�1s , uccderam- e encontros no­
t 3 n • c1npr.: à: exta -feira . d.ª orto Pª'; �� nove da noite,.dclcs
tiei ando ou1ras duas mulh; estas reL1� 1õe..c; . untavam-se çom
la do • '•C lld � ru a po r ru xo do br aç os . pe l1o s
m l.lrt ti_ nto an1arc b
rm av a cr n ra to . a m es tr a em gll to . as
scc�o·,. onor -.e t ran fo
ti a m cn tc a fe iç ão d . e galiilhP
dru 1.ttr. �u]hcrc, 1oma,am rospcc
.: ele! almtl1 , l1a rie<.Jonda.
<UI q µ n l e. \'.t urn
il. rn p o rr a ju n to t,é'. l
ta fofnlél �aLr p e la o n 1·
o.
c
ft )ad ';j fo r
p o h u p:i a n õ , n e g r o � c o m ra b o J1 iu it o
,1�1ti ni e1n íi •urtt d e e o r , as p u se ra
.u ' C S c o ,n g ra n d e v e lo c id a d e e
ld o . e, u 1 1 ::i y a p ,!lo , jâ csta vun1 msii
t' t !t
ti de dez légu as. ond e
1n ·1n1r,o di,'ta urc dílli m c,t ava m mo os
en , u hc ia. viro que :is·
cre• . qu� el n · o co11 ,,ws
a u est a\/l lll l
<JU 110 n1uJh bém · º' . etc aein õ nio que
"'ª' jatrt . e ,•ira tam den t&T ido •
1n1 <! n, � ·a de hom ens. r o . w s feios e
e ,o, p
en• t• 1lT humana to m n1bo co11 1i,ri do .
" e , , od u
n1et11bm F,í<' n dei as az ula d 11. s q ue
ent llo peq uen a s ca J _ni o
U ?O nor di>J ri buf a n tr es. a v a· S � U
atniga d.: pan dcl rinh o, c
ofr ;;"' t can do una s d e m ô 1110�·
recend i a m e n . foli a cor o o in m o
a " u nia dan ça e
com ai. demai •
\;;,,,
) de-
i(!
Ct$
a bi a
ld.a,,
=rte.
rvor
l.�ta
1cia.
rc3ra
1 n.
Cn,.
ndo
1tro
....
nao
ide

e10
-r:1r
DIO
10-
1tec;
)m
to
a
ha

1111
íl1•
·ra
1is

OI
1 •

,e
o

169

1 •

mn
·�


......
n. l qu

l, 1 miti l
a-
,r r1,-

'D u
. sta "i1orrna que compareceu na assembléia noturna que
bizafr a' ._ foi ne
descreve: . . •
João do ano passad o, nos ol1va1s de Sao
:i: Bento. foi
na noit
.ed São
aon de ach aram o dem õ-
e J sé e
corn o preto o . Fra ncis co pela meia-n oite
.
gur a de mul he r , e tant o ele como o 1 ose, Franc1.sco se ab raça-
. em fi
ruo . .
.. ram com O demônio; e Lhe [stc] prometeu encregar-lhe a sua
ram e be1Ja
corn efeito lhe entregou na mesma noite . do s){• c10 J�
vao.
alma, ª qu .aJ
d orou pond o-se de Joe
os • lh d'1ant d
or Deu s e como tal o a e o
tend,o-O p . 26
batendo nos s. b . .
e11an d o o e hão
mesmo de �õn
"-�' io , pe1to . ..
N imaginação popular européia, havia dimensão �abática na
João, ''profe ta vítima da libido cruel e incestuosa de
0 01 e
't ;e São
H ero díade ''.21 Por ot1tro lado, a noite
...
de 23 de junho continha
.
íor-
era solstício de verao, quan d o o e éu malS se a b
· .
ria:
te carga máoic
tr a·

e m ai s se a pr ox ima va do s m or ta is .
Francisco Pereira, que inicialmente confessara as mesmas prá-
ticas que o companheiro. entrou num delírio de loquacidade após
prováveis sessões de tortura, confessando relações homossexuais com
O demônio incubo, que o sodomizava, e relações com o demónio sú�
cubo, sempre insatisfatórias dada a frialdade do coito.� o seu jma­
ginârio, o demônio era o mago da metamorfose: aparecia-lhe na fi­
gura de homem branco e preto, mas com pés de pata ou de lebre;
na figura de mulher, mas com os pés revirados; na figura de bode
preto, na de burrinho, ma de galinhas com pintinhos, na de lagarto,
cágado, sapinho, gato pintado. Presidia assembléias concorridas em
Val de Cavalinhos, o mesmo lugar registrad,o duz.ent�s anos ant�
nos processos analisados por Bethencoun, e onde todos se posta..
varn de joelhos para adorá-lo. 29 Convocava seus asseclas para os en­
contros fazendo com que o galo cantasse às dez hora� da noite, e
neles se apresentava na figura de homem, mas ''de instante a instan­
te mudava de cores, tanto no rosto como no vestido''; servia pa�as
e vinho de sabor insosso, e copulava com todos os presentes, exigindo-­
lhes adoração.lo
Apesar de negro e africano, José Francisco Pereira moStra im­
pressionante familiaridade com o imaginário europeu do sabá. Es­
tão presentes na st1a confissão a assembléia notuma 1 o coito insatis­
fatório e frio, sodomítico em grande parte das vezes, seguido de dores
e até de derramamento de saniue; as comidas insípidas; a metamor­
fose constante do demônio, que, em cena pa�sagem, quando muda
�am.bém de cor, sugere até proximidade com o diabo de De Iancre,
igualmente cambiante, iluminando o sabá com seu comol 31 Sob a

171
- , ,,,_ ar m 17 3 _ ·. r •
u n _ ·u · U, ra ,- 1 ti a m,a a_h:a :a_·r; a- ,;q ..
· •· Ih
__1. n . , - · ,1.t .1' ,d-. ....._ . . .ra- n,-- ·-, --o n. aqu.,,
_, \rn i-
d . z -,no - com,
- mh, ald. f� 10 -.. , -· t i: .. ·. ad _ ando O d e l
· J lh o-
1 r- . m - l _, · 1 ll1l la · ,Q > ·ung· ú n·to 'Nlln. -
1
. -

_ - n 1 n, n, - - 1 a - , u a - , om le . _ D _ 1
� !IQIIC11.
1

n a 1 · ir m · - · · i.p nh • . in . rnal. q�
-, .1 m _ · ma,,r - u '.a 1 · - num , horta J, n, ..
ni o, - r u.lh _ r , · todo- .' , po.
, ,l .._ .· ab,r�1 �,ndo-, - b i .. -_ nd ...
- p :r
..:>""""' ·_ ,aJ - 1' -, mp _ nhi _ , t, ui,
- -1 ,- 'U ., · - nt a , ·mo dabo
1

-r , · ,ar __ a a
, ,� - r i ,o d n1 _ · · - 'Ira a 'h-

ra ,Qr - t fl ,·mag-, '"rio,


. - , '.1_ · l,o . :r · 1.I- , · , n o ,-
-�1- 11, ,- _ · do gu ,de
_ u. · fi - e

'11,
1

-
,. nd
1qu 1
ni1n u t n

UJ d
p '

a
I, ti '
_ 1 ,1 u r


-�-,,..,Ui,_ .....

-
17.-
l 1
1
l l

,'I , 1

/7,
' l
1: 1
1 1
f , ,I' 1
I

1 ,, ' 1 1
li,
1 :1 I,
1,
1

1 I' r • "/.' 1

1 Ir 1
·, 1 i,- .l
li

1

1 1 1

J'
1 1
1 1 ,(
I' l
1 l f
t 1 1 :t '' 1 1 I'
l u
.1, 1
'
1(

1 1
I _ t, l ' 'l t-
, 'I - t

1
', 1 1 1 l
'
Ir, 1
11 1 ,
t
1
1,
l
1 l I, -
1 1 1, 1 1
,, 1 1, - 1 � ·, - il 'I '1 1
1,
1
1

-
1 .l, 1 ,,
1
-

t
1 1 1 -, l,
lit111 11,
' ' it .

'
) '-'1
1 ·1
l

.1 , l 1
1'
'I
' - .

1
-

1
1 -J I

,I 1 1 1 '1 '
1 1
' ,, •
'
[. '1

11
[
1
11 ]
,.
1 1
'"'

'"
1 1 l
'1
1
i

1, 11,
1

J
1 1,
1 J', 1
t I' .1

1 li 1
1
- l

u
c·() N r l.1 V 1 ')Ô I!' , �

�0 11111 1 e, 11d
• cr " " rc se " �·1 1 ti . !-. 11 i ' ,. • ,·11 , t ·H �d u ' ,1
l'orn me I ho r .
·I� !, :\1 , ,l, •ti 1,,1t ltl 4•
'.
',
\ 1 l , 1 lit'llR ilc it' < ) � 1>1 t:,·•h t) �u ,,r,11 11 :1 , 1 ll>
iiniupJr�}rrr t:Lt '! )l'ill�·'-(t� oi:ill1fl . 11•lclil• llt.iJ) � \tl (�l,r ip.,al()t l;l�lll!!llll' Cijltf4!l<lc111e· i
OS r1l01t:
ltt< >1il 1 li:,.._t �·c) l, 1 IJ) J lX<, ,
oR or,unJt>s.
·. • . v
11u,,;�1;
"'' \CtlliC. l() • 1 ; l lltl <l �l· lltt ll'
J
. •
1�,'.lu,,cirno\\!nt t:t ht\ ., llfl!\l't1�11 �t,,, cll,111,>, a1•11,rcr,·1i<)11itt1t · •1J4;j�lr
: .
1

dCS 1 tLl.:4l, d'I• • 1..:1�·111 •s··"' 1'·1,i


' ll tt<l(tt, u,1 l'.<}l1,1i:1t1<., itl(>S (l:1111,l)'l, e tlr, t.:illnt1t.:,
,otttii:ç,,c ,. u � (littl ll'l) c1,1t: clo11 11l,,1 t1 c11l ()t1ll , 1it:irLl S \! i11cr 1,11c1 1, cli1t' r111,·
!c,s uotn os r11c>l'llli,, t1ll t1ttc. 11f, 1.:1\i>r�lll\ ele llllYl,� ,,,tcr,1c1», vr\J�,1�'1 1n 1

1,cloi; t,rrub,,lctcs das stitnLlc, c.itl:tc.J�s, ra1.;,1(ic:111,,1,,io loc;1,i, cc,111tc<.I,1,;


por todos! Vt1l de ("11vuli11l,c)�. (\0.11,1,c>S <.lt'\ {'t>l<)Viti. Mouru. N,J l·�
i>,\l;O ,,rlvo<lo� uj,ucl·nvt11t1o �• nn,:1s�;1r () f)Lto e,,, u vnr,t:r a Crt'i�,. N(> r11u:11·
cio ultramn1i110 lralJ,1ll1a'vtttl\ p,,,,u st•l>vctict" « 11,1t1JJ'��a, i11c,1rJJtlrU1t­
1

tlo-sé 11as l'tras csl rt, l1 l,as u rios 11 n n,�1,s h�lViiltCl1�. l�r� rl1 u ,s ,,.,,iraç,t,,
111aior dtl!i idolntr'itts, 01! scjt1, d�,s prátic�iN r-n{\!\ico .. roligíor-.as do� tu,
pi� l!, dClJOt H , (_,os ChCl'tlVO. af,icat\OS. P.n1 plCI\() séc.ulc, XVIII, demô-
11io:,; er,1t1\ cl,11n1ados, f)� colortc>b rcbcldc1:1, ,.1c;11ve11t.ft·11los as Lc11t,1ti-
vas de rcllcli:l\o.
O dinbo 11110 foi gcn1prc o mc�:1uo ,,esse rnun(lo complexo e plu-
ral, 1,oteroge'1\co t,ellts etnias e pelas cttlturas qttc abrigava. A icono­
gn�íla européia n1os1 ra qt1e, com o descobrimento da América e, aet ..
tru11cntc, con1 a colo11iz11ção, ganhou cocares de penas e tornou-s.e
�clu ve1. n,ais negro: () írifert,c>� qu,idr,o d<.: um ao.õnim·O poTtuguê�
tia prin,cira metade do · séct1lo xv,, atesta bem tal inílu�ncia. 46 Pa..
re.c� mesmt1 cor11cto aílrn1-ar con1 Ccrtcau que o mundo das práticas
i,1,ágicétS a111cricar1a . s inflncncio'tl no fortalecimento da demonologia
• euro,pêia, chegando ,1 nlime1,tar a construção da feitiçaria sabática.
Mas, a pari.ir do manancia. l comum, variaram os produtos daí
advl11dos, ao sabor das especificidades culturais. O francês Lécy viu
no rito tupi orque-Strado pelos caraibas urn eq_uivalente do sabá-... Os.
l


página 178 está faltando
A br1,xt1 sub)az a outras re1Jresen1t1çõe!:>� colori11rlo, 110 í1nagi11ár.ió e1,lr(lpeu, tôda·uma
g,11r1a ele rerrores clifi1sos.

rnas vá1ios outros, sobretLtdo de mulheres, relatam com iinpressio,,­


nante uniformidade os encontr·os demoníacos en1 vales eu metfta­
nhas, coloridos por danças > refeições insossas e co1·oad0s pela 0rgia
sexual. Tais narrativas populares não chegaran1, pouém, a in1-pres­
siona1· de forma mais viva os jt1ízes do Santo Ofício. Bm.pirism.0 ,ou
pobreza imaginadora?51 Difícil respo11d.er. Talvez parte ·rlo aparenne
ceticist110 lusitano possa ser cr·ectitada à secular e�pe,riêmcia,-0om .mul­
tura·s diversas e com ritos estranhos: o convívio 00m, difeFentes J;)O­
pttlações da África, da Índia, do Brasil relativizari:a ou d©slocaria
o pavor ante o oi1t1·0, indubitavelmente cristalizade1 13or grd111de !)ar­
te da Europa, no mito do sabá.

119
Epílogo
PERSISTÊNCIAS ÍNFERAS
Bernardo Guimarãe.s e o imaginário
demonológico

O Diabo e.)tá desmoralizado. Só o.5 poetas - a.� eternas


crianças - ainda acreditam, ou fingem acreditar nele.
Olavo Bilac

Embora fosse poeta de algum valor até por volta dos quarenta
anos de idade, Bernardo Guimarães (1825-82) é lembrado sobretudo
por romances de cunho social e regional. Da época e1n que ainda
produzia bons versos data ''A orgia dos duendes'', que, na confe­
rência sobre ''O Diabo'', Olavo Bilac considerou ''poesia engraça­
díssima'', creditando-lhe o registro sertanejo de tradições sabáticas
ou, em outras palavras, de ''cerimônias da de111on0Jogia brasileira''.
Após transcrever passagens do poema, acrescenta: ''todas essas per­
sonagens de que fala o poeta, e cuja tradição ainda hoje anda tão
espalhada pelo interior do Brasil - o lobisomem, o galo preto, o
sapo inchado -, são figuras da demonologia antiga''. 1
De certa forma, Bilac atirou no que viu e acertou no que não
viu. A primeira afir1nação é ambígua e sujeita a equívocos: como
se as lendas do nosso sertão tivessem tradição sabática própria. A
segunda ajusta a primeira: tais personagens, disseminadas no íma-
. , .
ginano brasilejro, derivam da demonologia antiga, portanto, euro-
pé1a; são indícios da longa duração de tis a
crenças, e de seu vígor,
,
E sabido que ''Orgia dos duendes'' circulou em regiões de Mi-
nas ·Gerais na forma de cantiga, os versos iniciais sendo entoados
arrastada e m·onotonamente até pelo menos o começo deste século.
Eu mesma conheci essa versão, que minha avó paterna aprendeu em
Barbacena com os mais veJhos, e cantava para os netos pequenos
que ouviam, se lembro bem sem medo nenhum.
,

181

· os 1ej,o .... p · d m s· r aproximad.o po1r�
.�. � : am, n a . ifr.a·da comum a m.ani e ta.çõ-. ar i ,_ ·-
.· _ i, i,a _ a.r·, - , ap.a _ ran. · --. que d1; rant· - . ".eul,os .· , ra,duziu ta.nto
.....,.."" atá i ·o, · d.a ·e -1: ura quanto, pi ódio· .con. r . o de úri.a.·

A ORO

L
,0 ,,,
Jtinto d e le um v . e lhiiih o d ia b o
Que sa ír a do a n tr o d a s fo ca s,
Pe n d u ra d o n um p a u p e lo ra b o ,
No borra lh o torrava pipocas.
Tututa,1a 1 uma bruxa an1arela,.
Resmungando com ar carrancudo,
Se ocupava em frigir na panela
' Um menino com uipas e tudo.

Getirana com todo o sossego


A caldeira da sap·a adubava
Com sangue de um vell10 morcego,
Que ali n1.esmo co'as unhas sangrava.

lvfa1na11gava frigia nas banhas


Que tirou do cachaço de um frade
Adubado con1 pernas de ·aranhas,
Fresco lombo de tun frei do,m abade.

Vento stll sobiou na cumbuca,


Galo-preto na cinza espojo:u;
Por três vezes zumbiu a mut uca,
No cupim o macuco pio,1.

E a rainha co'as mãos ressequiclas


O sinal por três vezes foi dando,
A co·orte das aln1as perdidas
Desta sorte ao batuque chamando:

''Vinde, ó filhas do oco do pau,


Lagartixâs do r-.abo vermelho,
Vin,de, vmd.e toe.ar marimbau:>
Que h.oje é festa de marrde apai;elho.

Raparigas do 1nante das, cobras,,


Qu.e f�eis lá no Jundo da, bren·ha?
Do sepulcro ;trazei-,,.líne as a\>ol>oo:s ,,
E ôo infer,Jile es UílélitS feioces âe. l�Flha.

l dc• jn procur
_ \r-rnc n ba11
9 ul' 111<' d •u rninha du rrn
[J Qt1e U\) tia l\1nrseiha
S ,,etlto�
f Jt:t\<.
, itlnt d n ,10 cl�t l10itc sus..-t
11:rn ,
-nrco-{ln-,,eth ,7

it.
Or,dc �st ds, que
e qi,t�I<.�(o i�1rl1c
r._, in dt1 aqui i,�'-'o t e
-""ll <.tui. nt1 0 e ger,til? VC·)'O�
er,1 acorciar-1
Lti ti l<.�u tcneb e �·t 1n1 b�ijo
rt) .. c) co,,i1.
Gato-1;re1() da torre (l tl rllOrte
Qt1 ' te r, t1 i 11 l1i1!) e1.11 ,
Verli llgt1r� e, que lt;il () .de brasas,
cer t tia surte
Vct11-1r1c c111 torno
nrrnstor tt1as asas.
� apo-i11c·f1,1<i<>, que
111oras t\a covil
Onde a 111 ão do dcft1nto
enterrei,
Tt1 não snbe� que l1ojc
é lua nova,
Qtie é o ctia das dança
da lei?
Tl1 run,bé111, o gentil Cro,:odil
o,
Não deplore e) Sltt.:O da
tJvas;
Ve:r11 bel)er cxcele11te restilo
Que et1 do prar1to extraí das ,,i t
1vas.
Lobi.t;o111e, que faze:-;, n1,ct1 bem
Que não ven mo sagrado bntuqt1e?
Con10 t f""1ttls con1 ratito desdén1>
Quem a c'roa te det1 de grão-cluqtte?''

11

Mil duc11des dos an1ros snirar11


Batt1cnnclo e l1atcndo n1atracas,
E n1il brL1xas t1ívando surgtram,
ª''Algn,1 cto em. compridas estacas.

l)·ê diabos vQ�tidos de roxo


Se AS$C1�tara111 aos pés da rainha,
um deles, que tinl,a o pé eoxo,
Oll'leÇQll a toca1·· ca111pninl\a,

184

. '' l
[
'
'

l, 1 e
1 1
I l -1. ' 1 •

t ti I

l.
... •

r. t,•
l � lll
r

l -·r ta

1 - r !

��tir n .·
. ' •
l

••
J{s no mero
Aparece a �
ri ro d a ZtJ
rr
r.

m1.1Ja ...se,n !:f nd o


.......
B·<1te Palm .,_·abeça
. a�. a !)úci
-- V1\·a t v· a berrand
l va a �r o
a . co11dess
a ! .. .
E dançand
o em redor
,
Vã o giran
do, &irand ª
d., 1·oguc1r
a
C� da qual o sem fim.
uma �trofe
Vao cantan agoureÍra
do alternad
os assim:

li!

TATUff.ANA
Dos prazeres de
amor as primíci
De meu pai ent as
re o,s braços go
E de amor as ex:L z.ej;'
remas delícias
Deu-me um fllbo
1 que dele ger
ei.
Mas �e minha fraque
za foi tan.ta,
De um convento fui fre
ira. professa;
Onde mo,rte morri de
uma santa;
Vejam lá, que tal esta
peça.

GET!RANA
Por con5elhos de utn côneg
o abade
Dous rnaridos na cova soquei;
E .depois por amores de um frade
A-O suplício o abade arrastei.

Os amantes, a qtiem qespojei,


Cortd,uzi da� desgraças ao cúmulo,
E alguns filhos, por anes que sei,
Me caíram do ventre oo túmulo.

GAW-PRETO
Como frade de um santo convento
. . ...
Este gordo tout1ço cr.Le1,
E de lindas donzelas um �ento
No altar da luxúria imoleJ.

186
bea t a de ascé tico
Mas na vida . JeJu
. . ,,.·
Mui eo ntri 10 rez ei, ,;11
.-
dia de aiaq ue apo - pJéuc o
Te q11c Ui-ri'Iu

abis m os do inf erno estourei .


Nos

ESQUELETO

r ao s m o rt a is cr u a g u er ra
Por faz..e
MiJ fo g u e ir as no m u n d o · a te ei ; )

QU-anto.s vivos queimej so_bre � terra,


Já eu mesmo contá-los .nao sei.

Das se,.�eras v.irludes monásticas


Dei 110 entanto piedosos exemplos;
E por isso cabeças fantásticas
Inda. me erguen1- altares e templos.

MULA-.SEM-CABEÇA
Po·r um bispo eu morria de amores,
Que afinal meus extremos pagou;
Meu marído, fervendo em furores
De ciúmes, o bjspo matou.

Do consórcio enjoei-me dos laços,


E ansiosa quis vê-los quebrados .,

Meu mar1do piquei em pedaço&,
E depoís o comi aos bocados.

Entre galas, veludo e damasco


Eu vivi, bela e nobre condessa;
E por fim entre as mãos do· ·carrasco
S o. bre um cepo perdi a cabeça.

CROCODILO
Eu fui papa; e aos meus inimigos
Para o inferno mandei c'um ac�n.o;
E também por ·servir aos aQJ..
· rgos
Té nas hóstias botava veneno.

187'
1 ·u na I erra
vigário (Jc c
{)uc ªªª'> n1ã<J1> tin,ha

JStO t
a cl1 avc d o
,.• .1� qt1<! t1n1 ccu
dia c.lc un1 Q"ol�1c . .,
. C1\ t11fc:rnos
• •
1mprev1�l
tal de boléu.
,
o

LOBJ.\'OML:."
l:. ti fui rei, e ao
s vassalos ft éis
l3or chalaÇ[l m
andava en fore ar·
E �atJiã por modo!> t
cruéis
!\\ C5posaloj e fill1as
roubar.

Oo meu reino e de:


minhas cidade�
O talc:11to e a virludc enx
otei;
De micl1clas 1 carrasco� e
frades,
De mel, trono o� (lcgraus
rod,eei.

Com sangue e ,uor d,e meus pov


os
Dívcni-me e c.:riei esta p.ança>
Para enfim. urros dando e corcovo!,,
Vir ao demo servir de pitança.

RA!Nlf/1
.r á
no ventre materno fu,i boa;
Minha mãe, ao nascer, � matei;
E a mel1 pai por Jncrdar-lhe a coroa
em sc.t1 Jeito co•as mãos esganei.

Urn irn1ão mais idoso Que eu,


c·uma pedra amarracla ao pescoço,
Atirado � ,oc11ltas morreu
Afogado no ft1ndo de urn poço.

188
qu e te in fe rn a) da l uxú ria
No nba
ao s láb i os c� egav a,
Quantos '«'a SOS . ..
Satisfeita ao� dcseJoS a fúriat
Sem piedade depoís os queb-r:a\.'8 .

r Quem pratica proe1.2S tamanhas


Cá não ,_·eio por fra�-a e mesqusnhat
E mercc� por suas façanhas
roda mesmo entre 11 ós ser rainha.

IV

O.o batuque infernal, que não finda,


Turbilhona o fatal rodop,io;
!v[a.1$ veloz. mais veloz, mais ainda
fer1,-e a dança como um corrupio,

Mas tis qlle no mais que:n�e da festa


tJm rebenque esléllan<lo 5C ouviu
- �

Oatopando ai-ravés da iloresLa


Magro espec1.ro sinistro surgiu.

J,c.diondo esquefe\o aos arrarrcos


CbQcoalhava nas aba, da :ela;
Era a Morte, que vinha de tranco
Amontada numa égua amarela.

189
O t crrí
,·e1 reb
A noJ. e cnq ue
2Uninct
nta a o
E à c nalh
e esquerda e à 'ªd.enxotava·,
, om vo t reita zu
z rouca
d esta art rzindo
<cp e b rada
ora, for va·
a• es
Ob is orn e . ;i: l e to s Poent s
� s, e b _ o ,
ara a cov as mirra
a es ses o das!
para o i ss os noje
nferno es ntos!
sas alm a
s danada
U m estour s!>'
o rebenta
Que recen nas selvas
dem com
E na terra eh. e1r
. o de e, nx
Por ba. xo d ofre·,
Toda a súc � as relvas
·ia sumiu-se
de chofre.

V
E aos pr'irne1r
. · os albores
N em ao menos do d'
se viam vest'igi
·1 I�os
Da
nefanda, asqueros
·
Dessa noite de h a f0 ia,
orrendos prodígi os.
E n�s ramos saltavam
as aves
?ºrJ�ando canoros q
ueixumes,
E brincavam as auras s
uaves
Entre as flores colhendo
perfumes.
E na sombra daquele arvored
o
Que inda há pouco viu tantos horrore
s
Passeando sozinha e sem medo
Linda virgem cismava de amores.

Sem ser mencionado, é o sabá das bruxas a personagen1 central


do poema de Bernardo Guimarães da mesn1a forn1a qt1e o cotejo
com outras obras de Goya, das r,epresentações dos aqz,elarres à série
dos Caprichos, torna óbvia a filiação dos velhos que comem sopas
1

à antropofagia e às feiticeiras. Nun,a clarei1-a da floresta, à meia-noite,


personagens sobrenaturais homens e mulheres - se reúnem, as-
essorados por vários diabos. Preparam alimentos asquerosos, dan­
çam desenfreadamente, discorren1 sobre toda a sorte de vícios, desa-

190
, é assi 1n mais um elo 11a
rgi . a d o s du end es,
o d1 . a � '' O sabá : 5 no poema, es-
º d o c o m �
1a z u ma elip se do
parece ç ã o 1 u s1 ·ta n a q u e
mito qua nto os do rito .
ga t ra di ele ro enl OS- do .
10n t � t a nt o os cos. O zoom or f1sm o, e 1 e-
-o _p r. es e n . e o m po n ente s míti
ia os P r im e1r o os nomes d as b ruxa s· .
Veja m . sa ba
1
, mos tra -se nos
ta n tís slJi lO d O n c h a d o , C r o -
rn p o r . - P r e to S a p -0 - I .
rnento i et1 ra na, M a ro a n g av a ' G a l o �. .
, a n a li .sada
G
iatllr ana, . e A tra d1ça . ""o milenar d o exército fur io s o
L o b is o m · tr a -s e re tr a ta d a n a s , 'mi l
codilo, em ma.is . de u m tr a b a lh o , e n c o n
- ·d t -
G ·
IJ-"''"u
U,U rg '' , 'caval(Jan . ::::, d o em c o m p r 1 a s e s a
Por su rge m ,, u1v . a n d o '
,,
bruxas qu o pe1a tn e x p re s sa n a lm g u a g e m t e n s a d o
. -v e rs ã o se e . .
a pre ç p l a q u e .
c, as ,,·6 O . d o b a.
"l t u q ,, e 1 o u n a a m b ig ü 1d a d e n 1r us a m
s sag ra

contr ár'10 o s, e s-
,
a
• 4 -
: O ,
d e m a o is m o e d e e le m e n to s p a g
- nar10 un pr e (J
e n a d o
c o :
O
nu011'magi fr o n te ir a s en tr e sa g ra d o e d em o n 1a
co m i requ · · "n
e ci a ' as . .
fumaça ç
p e ca d o s h o rr e n d o s, T a tu ra n a fo i fr e rr a pro -
d ' b o p e so d e
arcan ·o so n ta · '' co m o fr a d e d e un 1 sa n to co n ve .n -
a, e m orre u m o rt e d e sa ' , · ·
fess et a at e es to ur a r, d e a ta q ue a p o p le ti -
o-- P r et o vi ve u co m o a sc
to,, Gal es pa tl1 o u m o rt e e d · ev a s t aç ao
- ,
t

nos ab is m os in fe rn ai s; E sq ue le to
co, s; C ro co dil o f 01• papa:
er am a lta re s e te m pl o
e mesmo assim lhe ergu e d ºs ce u s. v1 -s e, co m
rt ad o r da eh av
'

vi da , po �
I

vigário de Cristo em . .
ad o ao s in fe rn os . Po r fim , ai nd a no un iv er so do
a niorte, arre mess i­
ho rro re s pr at ica do s p ela as se mb léi a no tu rn a ex
mito, a gal,eria dos
be� de for ma i n_ sist en te e rep eti tiv a, a qu eb ra do s tab us . Ap ós se en ­
tregar a amores sac rílegos e ·ver o amante-bisp o assassina do pel o ma­
rido ciumento, Mula-sem-Cabeça matou o marido, picou-o e o comeu
''aos bocados''; por artes ocultas que dominava, Getirana dava ca­
bo dos rebentos gerados ainda no \?entre; Taturana se iniciou nos pra­
zeres do amor com o próprio pai. dele tendo um filho. A rainha do
conventículo terrível relata, com irônicas inflexões de linguagem (''Já
no ventre materno fui boa;/ Minl1a mãe, ao nascer, eu matei ..."),
corno se tornou n1atricida, parricida, fratricida e assassina dos vá­
rios maridos Qtte, barba-azul de saias, foi acumulando numa vida
de vícios. Bernardo Guimarães esgravata portanto os recônditos J '

�ais te�ebrosos da cultura, pondo a nu a antropofagia, o infanticí-


dio, o 1ncesto.
Ossos e pedaços do corpo dos cadáveres - a mão do defunto
�nterrada na cova_, o ''seco defunto,', a canela de frade t'que tinha/
tnda um pouco de car ne co,rrut.a,, - ·1nlegravarn as prattca • ·
s rituais
.
da magia e urope1a, s·endo parte importa
r•
nte do imaginário te,cido em
torn© do sabá das bruxas. As alusões
a tais fragmentos são recor-
rentes no poe
· m a, assuu como à sopa adubada com sangue cle mor-

191
cego, ao lombo de abade ou ao ''menino com tripas e
tud ,,
frigiam na pa11cla. à · ·ca\eira/ cotn badalo de ca co
. de ºb urrq� o �
que scn·1a . d e campa1r1 . h a. 1\ dança f reri ét 1ca . , o rodopio fatai e
. . � vert 1-
no, 1
g1 o e a tic..,,o C'Xp ] 1cat ' . a a. d ança sa bá t1ca . . invocada num se _
m nu- .
mero de trata d o, d crnon<.)log1co.;; e processos n1c,vidos contra
. .
. as pre-
. lJIDI'd a, b rt1xa . e orno a ate tar o cnrat7amento, ir,tuído por
Bila
dt> imaginário demo11ológíco 111ilc11ar cm sertões bra�ileiros Bcr am�
n
Guimarà� acre�cn,a elementos dos rito.s indígenas à ua assembl
1

éia:
a fogueira e a lJ<111rl1,rru. ou cabqça, centrais nas cerin1ônias tupis
e: cxauc;tivan1cnt� registradac; peloc; cronista� e viajantes estrdngeiros
dc-çde o ,é<.:ltlt> x, 1 ; ,, ''a da11çc1 do cc,reretê' ', J)raticada nas regiões ru­
ra1� do Sl1de�tc bra�íleiro. de origcs,1 (luvidosa - africana para uns.
indígena e lt1sitana J)ara outros - n1as, de Qt1alquer forma, alheia
ao ur1ivt.:r o <:m que !)C constituiu o 5abá; 9 a e1nbigadu, ou ,,111biga­
da, qL1a,c sc111prc.: itlcnli ficada à5 da11ças de roda africana\ apesar de

presente Lambérn crn n1anífc5taçõc5 portuguesas como o fa11dango


e o Jur1du. 'º Nc.1 JJOcma, curiosan1entc, L1n1bigacla e catcrctê de ig­
narr1 o corrupio sabático, ilustrando, �cm dt'1vida, C!)Sa prcocupaçao
cn, nlo5l,..ttr a acomodação local ele) fcnôr11c110. Tal i11tL1ito � reforça­
do J)clos objeto� c�pccífico� ao co11tcxl<) brasileiro: o jiratl sobre que
�e a�senta a' 1vcll1inha, raint1n tia fc�ta' '; a (•11rn/Ji1ca na qual as obia
e> v�nto �ui; o r11uri111/;a1, tocado or<1 J)Cl,ts lag,artixas cte rabo verme­
lh<.>, oru pelo, ''c..:apctint1as trcp,l<l<>s nc)� galt1os''.11
/\e, cftia� prin1eirac; partes do f)(>cn1a co11tên1. na verdade, cl�n1cn�
tO'I de ironia que aji1dar.11 u c111cndcr a lcit tira que dele fez Bilac. E
qttnndo o poeta dcscrt-vc e> riLc>, qualific..:ancJo-o de ••fc ta de grande
api1rell10'\ ··�tranc.lc folia'' ot1 ,111cna ·•fcst,1''; e11trctar1to. conforr,te
<.le11cr1,rant1a �ts pcrhonagcrt't de regiõe� pr,1ft111cJé:15, vai assir1alnn�o
,1u filiaçã,, ir1fcr11uf e tcncbro�a: (.· do ''a11tro d;is focos', que 81 0
vcrn,clh<, dial10, do ''tc11cllro,o Ct)vil' • o f�sqt1clct o, da •·co va'' o Sapo -
l11�h.1clo, do '' ftindo c.la1, brc11J1a1>'' a'S ror>1:1r1gHs "to 111011tt.:• e l 11 · CO·,
11
.
t11«1, '. c1l�·r11rcri1,ltt'i de tra,cr ,t<> 11urr1tdor nbólJoro
• • e:t o e cp ulcr<>'
·' ·e po<.lc C(>ll ..
j

l, <lc, ' ir1fernc.1''' feixe\ de lcr1ha. Nn ,eg.1111,lrt r>tirte Ja


. da sc l vu
1

J
1,,L.,1 ccr lé:t ,nuc. i11J�a de 1on1: t,á 1nal1 ugouro r1os Sllt-.sta rro s
11
e ,1J e. e .trc>fl:, c11t<>ttdat--, 1 ltí(l<> ,te 31 :ar1clc frngor • • 110 ro 11 c.: o d o •0 •
1111 0
l:O<l1lc>. /\ t,111�:lt> f, d1an�·t1, ito �uni�t<.:ado, ,aos rc,,to1,1os r>
• · riJllC íll O
, . ·
trcr1 .
cs i rc ·ttl t tt n ic
J )<1<·1t1:1 ,,111 r1t,,,,) vt.·rt1 in<>�o·• e'l tcrcclr:t ,,:,J'lo l: t>
nto de lc> r i1•
«I • �,, f 1r, ,,. q11,1ndt> Ctltllt t1,11a c.lu\ pcrso11,tgc11 · 1li-lrr1,
. ,\
,

vc rf• ..
,cttt e Jr1.1 .,., <> l"·it,,r 11i,,�, a, co,1,rtcln, J;>rt>lttnd:,� d o t111i • tllJÍ..
111 t.lC v•

• tn�
O
�n
irS

f.:. llC�(C 11fvcl Cf llC e, fl(ICíltO lt<.J4ltlf'C l<)rt;t1··• t n •bro


• , . 1 rl f e 1 o ,fn
""
Juj( JC
j C
vt,t,a. 1t1 r111n,1cl,, <l 1\..·lttltl ,1r11,tl'<l, <> utt(l1,1t1c- !)C torrl l, 11 0 •,

J9J
rep ar�l a c heg ad a da
. . . flex ão qt1 e p ., ·· -
a 1e 1n -
t1n d o. ha as a l
in fe rn
in
rt e. a ...
,
p a
can al
rta bri
a
o
ent
a . ofr e
noj
qu u nho a en.,x
o
p e nte
d
m end
an
rebenque e o n o . n g_ .• a · ·,tac ia' ' re�
r.,10:�:inada s',. os ··o s - Jc � � "� cde -onde ntmca deveria ter saí-
o

roa,7 g1· 0
- sub ter r an e s a a l ma
as re e .. o i nfer no e ·
a �oltar para 'a e s� o os n ojen tos., Para
do: '' Pa rª a
nte,
CO"
'. e do inc on cie
danadas!' �sad (!lo s da �ultura
uma \'eZ recalcado e: º1· p de -a �oite de horrendo prodígio . ·,
e

a� asq ue ros a ,o t a . · mu ne ao f' an-


a' ne1 ran d . al de pur eza , cter eo e i
pe rfic 1e o on h o "d e ,' L' 1n d a
d o
I

aflora .
a su ozin ha e rne
i

do , ,' ,· . ··Pa s ea ndo em


taSIDas da car ne e 1c1 0. ,.

m cis ma, ·a de amo res


virge

evide nte con1 o mun do t'é1ntá stico


A resent an do analo gia mai ·
d e a fe itiç ar ia fo i re p re s en ta d a c ?
e Je rô n im o B o c t1. o n
rn
e mi ti�o d l ga n d o um pet X
bre -se . p o r ex em p lo , o �a sa l q u� c � v a �
freqüência - te111
voador e desloca para o sabá nun1 a d as T er 11 aç ·o es d e sa n to A 11100
a te n ão en tr e ir o nia e tr ag éd ia
exi aen;e no �luseu do Prado-,
p re­

a de & r,1 ar do G ui m ar ãe le rn br a ai nd a o tr at am en to
sente no poem
dado ao tem porG . a o}'<l Ju lio Ca ro Ba ro ja as in al a qi1e ''B o eh pi n­
Lava para cen tirar, e foi com objetivo pio e moralizador que Filipe
u comprou ua� tela : mai tarde. a c onlen1plação das fanta ias do
arti ta genial ti citaria ante san:asn10 frio e ímpio ''. Goya viveu 4

nun1 outro n1ome,1lo� quando o humor \; tornara arn1a do e pírito


cntico e da d mis\ificação; pre1endendo, como canto ilt1strados, caçoar
••

d� crença crn brt1xa . acabot1 deixando uma obra poderosa qu e 'tin s­


p, rn tiõo � ri o, ma� um terror pânico·', por1do a nt1 � "t1ma sociedade
.
feia� bc·L1al. à ,·olta com toda ortc de crin1e e violência ''} 2 Dentre
as oiccnl3 água ·forte que integram a éric do Capril'hos (figs. 11
e l er1, rê a p f>. 6 e 69} , e a resença nít ida da
aro BaroJa delectOll p
'='2tçar 1 a cn1 \intt! dela ! li
r,·t·
Goya é e m d U\' ' t. d a tr1. butár10 da crítica ili1 trada às tradições
popula n! · Desde o fi11a
l do século xvrt. físico e n1atemáticos de-
nlon t rara11i • grar
'T·a "' '-º n1cto
.\ d o exper1menlal. a irrealidade dos ''fa-
to·'' d n brttxar,� .
• e.'< P 1·ica,, d o mu1lo · do fenômenos até então at�i-
buidos à fera
obrenattiral: ubstituiu- ·C; na bela f6r1nula de Robert
Mandro\a • uma
uma ,ri. ão n1 . '· 0 •�tpr
· e e11ç• a obrcnarural de Deus e do Dia bo po.r
at racional da e�•· tcnc1a .. · , •, restltu1u-se · ao ·
Hom em e à
NaLurtla . - . . .
,\llt)a autono rn,a · que a
entre 11aturat confusao anteriormente adm1t1da
,.
, .
dico tran or so f e • brena turnl tornava impossível''.14 O discurso
ma a bruxa e.. a possessa . m é-
.,i \·ia r> . em doentes mentais, . abrin do
ar�\ que n fa 1 ta d
e raza� o se� 1'dent1· r·,que a superstição. Se alguns

193
intelectuai como Herder e os lrrnãos Grimm se en,pen h
ª m na recu­
peração do universo popt1lar europeu, encontra-se igua 1
m ente entre
os ilustrados a tendência a ridicularizar as tradições P opulare
. s o rai. s:
as bruxas. como disse Lynn TJ1ornd1ke ' não tinJ1 am b'b 1 lio teca · 1s
. . Os
que persistem nesse tipo de crença são chamados de ,,.ignor , ,
,,.1ncu ttos ,., ou re fer1'dos como ,,essas pobres ant es
pessoas',.
Um marco na ridicularização burlesca da bruxaria e d
os rna
nuais · demonolog1cos ' · e' o 1·1vro do abade Bordelon ' Histo,·re d . .
. . . es ,ma
g1nat1ons extravagantes de 111ons1eur Ot,f/e (anagrama de Le fi
ou),
publicado em 1710 e que, segundo Baroja, estaria para a de mon olo-
. . ,
gta assim como o Dom O .
_u,xote de Cervantes está para as nove1
· , as
de cava Jar1a. · 16 Cerca de meio seculo depois, detecta-se num teXtO de
,,vo1ta1re. moviment .

o complementar: a tendência a transformar a� ._

ti�ria em ficção, inscrevendo-a num te�p.o _encantado e idílico, pr�­
pno aos contos de fadas: tempo de nuster10, a nobreza curando
tédio dos longos serões de inverno com histórias de fantasmas, bru�
• xas e aparições, como as da Fada Mel.usina no castelo de Lusignan·
''todas as damas queriam tirar a sorte; os possessos corriam pelo;
campos, todo inundo tinha visto o Diabo, ou esperava vê-lo'', ''Ho ­
je'', conclui o ilustrado, ''joga-se insipidamente o baralho, e é uma
pena que sejamos descrentes''. 17
O texto de Voltaire acusa uma inflexão: entre o tempo de Luís
x111 - que adormecia ouvindo os Contos de Mamãe Ganso - e o
de Luís xv1, as histórias de fadas se viram banidas do universo adul­
crian ças. 18 A bruxa­
to, refugiando-se no mun do dos simp les e das
ria se tornara assunto de médicos, motivo de chacota, argumento
para ficção, derivativo para crianças: medicalizado, ridicularizado,
ficcionalizado, infantilizado, o discurso sobre a feitiçaria acabara p[i­
sioneiro de vários cárceres - maneira compensatória, talvez, com
q\1e os mecanismos da cultura estancaram a ferida profuqda das per­
seguições em massa.
Durante o séc ulo XIX , pas sad os duz ent os ano s do pic o de per ­
seguição às bru xas , qu an do o ter ror qu e po r tan to tem po par alis a ra
• a o uni ,,er so inf ant il, o sab á se
as popula çõe s eur opé ias ref l u ira par
tor nou tem a con sta nte da lite ratu ra. Vic tor Hu go num a bal ada fa­
mo sa da déc ada de 1 820 - a Ba lad a x1v -, Th éop hil e Ga uti er em
�'Albertus ou l'âme et le péché'' marcam a primeira e a segunda meta-
de do Oitocentos, seguindo a sear a aber ta pela ''No ite de Wal pu rg i

s ,J

de Goethe e modulando, em ton div s ers os, a neg ativ ida de com u m aos
românticos.19 Juntamente com outr os mem bros do rom anti smo pau ­
o,
listan Bern ardo Guim arães se atrel a, porta nto, a uma tradi çã o; ca-

194
a F a-
v en s
m
J o
ara
es p eJ
ent
ss o or
ü
e d
q
en
fre
e para p
ue
� e
q
.
1e brar q en . t re J 84 o
o rn lo
0
t u
6
a
18
n e de �
a o' p s c n de
bee � : pireíto s ao huroor e à ob e tª veihice é pinta do
2 0

a d a �r u x a, a r de
gr á fic ret rat
S e
r e
e
f
rn
?º� .
er en ci a n o os d u en des ''
i f ra da , s ob
or
re
corn a de rno���ruosa , a ''Orgia �sc e de fo� rn a c
ao
a(lÍJJlalid.a b á d a s fei tic e i ras , cü o � re st o, ig u a lmen te c a r o à
a o sa ma , e
,
a elípti c a lid a d e - te
m a s d a seXU
oJlls fa n ta S da ép o ca. os est ere ótip os
. era tura oc1'd ental rn re vist a
21

o p o eta p ass a e e-
en tret ant o, pro f d
fazê-lo, dest err ara
lit
l us tr a ç -
a o
un
ue a al ce -
as
á e t
a
a z,
par
b A u :r ia e do s b q I x de p lor a nd o , tal v
. te. sem crer em b ru as '
co mu m
en an d .ª d e
r
sci
as do inc on nta com o terna mais do qu e a fam1l1
da
.
. . ·
pre se ''A orgi a do s due n-
zt1c..1smo, a . as elos con tos d e f:a das · E m . .. .
ça s, U1S tr u1'd 1gu1 da d e e ntre
às crian a tenç ao
- do hist oria dor é a amb
s'', o q ue cha ma a P
e m d o s c o n t r ár io s , o
d e , aco o rec urso ,
a li n g u a g ,..
em oru
o sagrado e o d '
est ru L ,�s mitic
h a s p r o f u n d a s q u e , s o b a n -
d_esvendamen to, e nfim v ro . E la s e s ta o
li
das
,
t ctar ao lo n g o d e s te
UJ.."'

d
-

gulos div';.�:· .� ��� ���:de:'� que na verd d é ?rgia de bruxas.


� :_
r r

todas na er ia a in s1st en c1 a em re co rr e r a
m a .
isg i a ve z a el ip se ? S
a .
'
-b ra s1 le 1r
m
so
u
li d a d e lu
. . ?
ta
,
en
e
m
q u
d a
Por
ela caracteri rm or uz a, de fo r­
em a ha
ca
po

A assembléia de br ux as n o
en te nd en do ­
sc ri ta
as
de
ma impression an te, tra di çõ es eu ro pé ia s e b ra sil eir
se, por tal, o cruzamento complicado das diversas culturas que, de
um lado e de outro do Atlântico, se entretec--eram dur.ante séculos.
Bernardo Guimarães atesta, na longa dura ao,ç a pers1stene1a enig-
,... . .
mática de estruturas imaginárias, e sobretudo o fas.cínio pelos ele­
mentos da demonologia quando se deseja falar do outro, externo ou
intemo1 No século xv1, os europeus desterravam seus demônios pa­
ra o outro lado do Atlântico, travestindo-os em astecas, incas ou tu­
pinambás, mas, ao mesmo1 tempo, fazendo com que permanecessem
.
ancorados na tradição demonológica do Velho Continente. Na segun­
d� metade do século XIX, emanci.pada a antiga Co
cismavam em dem õ ruo lô ni a, os poetas
· s · ernos, mas recotnam aos mes
mt
estereot, 1p .
os . Por isso, creio, nosso poeta e sua ''Org d
mos ve1hos
servem de b0m fecho a ia e d ue o de s ''
este trabalho.

195
NOTAS

Pril11eira µ<1r1e - MACRODEMONOLOGIA:


O OI. 180 NAS J\1JALI·l!1,<; DO !1NTIGO l�EGJME

1. O CONJU1 TO: /-\!v!El�ICA DIABÓLTCA (pp. 21-46)

Un1� prir11eira versão ciesle Lraball10 foi apresenta.da na Reunião Anual da So­
ciedade Brasileira })ara o Progresso da Ciência (sni >c), São Pau lo, 17/7 /92. Urna se­
gunda versão, ber11 dil'ere11te da primeira, foi publicada pela revista Tempo Bra,,i/eiro,
n�1 110, 1992. Estão aqui i11corporadas partes ele u1n artigo escrito c1r1 1988, apresen­
tado inicialmer1te co1110 co11ferência 11a Universidade de Southampton em dezembro
de·se ano e posteriorn1e11te [)Ublicado en1 Porti,guese Sludie.s·, vol. 6, 199(), pp. 85-93.
O presente estudo, na forma corno se encontra, é be1n 1nais an1plo do que as versões
anteriores, e ir1édito; para esta versão definitiva, foram imprescindíveis a leitura e �u­
gestões feitas por Ronalclo Vainfas e Maria Ma11t1ela Car11ciro da Cunha.

(1 ) Para Gil V icenle, ver ''AL1to elas fadas'', in 0/'Jras, ed. Mencles <los Rcrné­
dios, Coimbra, França An1a<lo, 1912, L. 11, l?P, 293-5. L,uís de Camões, Os lusíadas.
Canto v, Belo Horizonte, ltatiaia/Edttsp, 1980, pp. 192-3.
( 2) Para Zurara, ver Fortt1nato de Aln1eida, Jfi::,·t6ria ela Igreja etn Portug,1/, ecJ.
D ami�o ·-
Peres, Porto, Portucalense Editora, 1967, 4 vols., p. 368. Para João de Bar-
ros, Asia - prirr1eira década, 4� ed. rev. e pref. Antonjo Baião, Ljsboa, Imprensa
.
Naci onal/Casa da Moeda, rei
mpr. 1988, Liv ro 1, cap. 2, p. 14.
(3) Para Pero de Góis, ver Raimu11do Faoro, Os donos elo poder, 2" cd., Porto
Alegre. Globo, 1975,
vol. 1, p. 143. Para a citação de d. João 11r, referente ao Regi-
s,n_ªºenio de 1548, ver Serafim -
Leite, S. l. (org.) Cartas dos pri111eiroJ·jes11ítas do Brasil,
Paulo, eonus
1

· sao do rv Centenário da Cidacle de São Pa11lo, 1954, t. 1, p. 5 .


(4) Ver Pri11cipaln1ente Stuart Clark , ''1�hc scier1ti fie stat 11s of dc1:nor1ology' ••
·ln 8 ria .
. n. v·ickers (org.), Occ1,/t & Sl'ie11tific 1ne11talitie.� itt tl1e Re,1c1i�,sance, Cnn1bricJge
U v r it Pre
tis � : � � y ss, 1984. PI). 35 1- 74 . Né1� p �\gi 11 as 352 ,.3: ''f ... ] tl\ose in cliviclt1a l �cic n�
fv O concer11cd the1nselves w th e 0 gy w ru1y sensc n n ru i1y
or o Ll1e i d n1 11olo itllOt!t of i cC> g
cotnpro ·s1· t1g of. their criterin f tio11al i11q iry: from Agos11•uo .1....,.,1 11-0, • ir C'i · -
v<tnni d' . mt o ra u ,10
Anania, aiid Andrea to ricr1ry Mort,,. J o ·
seph 01anv . Ce�alpi110 i11 sixtcentl1-oc11lt1ry ltuly
ille, ai1d Robert 13oyle i11 la
ter scventtiur1tl1..ccntt1ry c11gla11d. Otl1crs not

197
ílt ••11ü
ra1 ,• e.: C>n cerrae
log}· �,,1, d �·Jl - h nat
ural Philo1i
ou, ;n,. c
êJ11d t hc l)utLhm�� ctunJ embólrra�,m
c11ipr�� nevenhclcss cornbined i
,
\� crc i he
m an } • c.:a G"Crhatd (1I ex;rnpJe Jea n Dodln � �th demono.
11;,n Giova
'\ dr
P� : �
nnl B:i r;j Jt� n, \\'ho made \J11:ciaJ ulud·'" Perhaps Lhe ,;rge: ert Daneau
YJ>cri

l h\: •is
a

Thomas ... lodronchi, lhe Ge n1a \�� :f dernonic P h &r


�o in, f\· E ra.1-ru�. tf1 r n s 1 at o Jo g �u. p thcre
ed i'n '-tl5C� e I:nsJi hm e J r e a y thc f ta.
an J h , 01 Sc h cib r n d
\;;OI, an<1
Pierre Yv\!lin' r>os���•on, among th Coit an: thc man J ohn w1e · r,
of . o n
n • f. cm Ja qª• y Fr cnch d
dser nenhum cntimcr110dcª�ouefes c_ientist� qu se e�;: on c
e in, 1 '"" l.;q" e Pr tuinc, Michcl Mar°:,_·
o o u d e co Param c om
de n1p ro demonolo
.. nt,-.id,çã
na J1áf1n do A . ho Nifo, G va m cte . gja
c;{·culo xvr � 1i &O'>tJn r o m
O rac...1•011aJ·
c
�,1·

c i o nni d'Ana ,_ sso, seu critério


a
r do f rrtaJ do y More, Joseph ª· e Andr
secuio xv1r . � �� ea CesaJpi
i
GlanviJlc., e no
r

•�Ja filosofia n:11 b. IJ tro • apesar R o


• uraJ , eom ,n de o se in tcrcs ert O y_lc na In&1arer.
tntekc-tual: PO ar-1inl_- na com tt sarem . prim or

r �cmnJ ,- o • J demonologia . d"talmente
'�• r:d ( H ��iu ea n Bod,n ' La 111 ber se m ne nh um e
s) · No que tal t Dancau • e o mbaraço
fo . se O �ru , po maio
h oI a ndês An dr
. ..,...... ,aJ· d e parolo . r, t 1 a via . e a Ger
vez
g,3 dem on1·aca: o os vári.os méd i .
7.êf'am e tudo e .

11� 01> aJcmâe


s \\',lhefm Sc r l:,•ib italiano Giovanni co s q uc

J oh n COlla_ e os h cr e oharin \Vicr, Batti"L � a C r on.o<i fiI·


o su
J
vários n1édicos fra Jço Thomas Era
enr re e1e 1 dCQu� nceses que se ocu stus• o inºoJ� ª ·
· Fontw n'9 . pa r am co m casos de poss ssã
a111 o C:Xt r�amenre -, �1ich eJ M are scot , e Pierre Yveru1 ] . 0 e o,
erudito eoriginal $Obr 1 . o mesmo autor,
' o n. s univeC'111dadcs e dernon o ogia prot o
. do None da Euro a· esta nLe e sua penetra-
tion. n�TU _..., .soca. ery ( P · • •protestant d emonolog
e. J 520-c. I 630)' ' in Bengt y.. _s,o · , supersli-
. AnkarJoo e
A f��rn 1-"'uropeon witchc
1 f'JP. 45-8 J.
reft - cenrres and perip
lzeries, ������.6���:�;:· :::::·
(5) P�ra a..4í imp! c?ções poJfti
.:io\/1

J cas da obra demonológica de


1

f han1c ��sai o de Ch��t1na Larne Jaime vr, ver O bri­


r, • 'James I and v1 and witchcraft'\
in Witchcrrr/t
opular belief, Oxford, Dasil BJack,vell, 19
85. Ver njnda
a, d lll1g1on: tlte po/1t1cs o/p
·,uan Oark, ''King James's Daemonofogie-. wit chcra
ft and kitt�hip", ln Sidney Anglo
(ed.). The domned orL· e.rsoys in the literature of witchcraft, Lo
ndres, 1977, pp. 156-81.
�rn Bodin1 ver Jean Bodin. AtaS do Colóquio Interdisciplinar de Angers (24-27
maio
J98 ). Angcrs. 1985. Ver 1ambém Chri.qlopl1er Baxler, ''Jean Bodin 1sDeloDl1nono-
1,1oní> d� sorc,ers: the Jog.ic of persecution'', in Sidney Anglo, op. cit., pp. 76·105.
J p ina 102: 1 •1n poJitical and rel igious cheory alike, Bodin soughr for a syn\h�l­
ing principie above t11e conílicrs wl1ich had torn his co�ntry apar1. He found :r, 1n
.
it1 c Hcfpub/,q,,e, in thc concep1 of sovereignt.y. He fo�nd 11, 1n the Dé1no�on1a;I� ª",�
j1J r hc /leptop/omem, io the c.trict mono1hc1sm o� h1s sysrem of da.e�sº'11c .
,tnto n:i 1eorí'4 política qu an ro ,1a rel i� o sa. B od ,n c o
b: s s�� p1a�: :,:: Jn } n� fi� :: Or
· ç do
1
. d t ro
i

gue p.1,m..� e ac1ma do. c?n fl·J tos QLJC l iam


encontrou,
e no
• ·
u n a
u
rtt ro
CS
lo o en co
,1a R p11IJ/iq11e. no conce110 de �be!13 nia E .
(lf l
to n1 un le
de jt1dafs1110 demonjaco). Pu·
D d1 11 01
c, no tc l m o 110 d� eu si sr ea n a
' no m o in c o 1p retn·
11 1rrt·
Jonge de c o n st it u ir � e eçll n
/0 c;\ tr
JJ,,prap
ro Ni t,Je J ...c.·qttc \· h a q u in , a n � ,
ta obru políticas do autor: o P�ín·
c::�e s
JJ �n 1o no •
1n h a �
an1e

b c n 1 1 , sLld1 tos
� ív C' J <: a arbítr io r1 lei obre
� � pt:r f<: ir m e r1te r1 n os
unen
in C Jl
dic. d e p \:r rn
seu
J ft" Oc: ra Ju Dé111ono1nani�est �ise'!uc;Ps;:
º
·"'
s

• ?., u: o� :u
o .
r
u�
t
e
J
r
po
·e ir a
�ipc
mui
de
·c m cntc1 11 e p o ' lblo s '
ern�n , cou , J es ntir acles s n on 1·
ou
'
sctJl n
tJJ -c

no,1
10
Ce q\te
ver t n tbsoJtJ. à Q ui•
JlO
fguéc
·or1t

la Joi qt1 'il a pro mu po-


,a,, t df 1..•har 111c r bien disp ose r de
t• pc,r roc rtre q11e 1•or dr<!. Sata n da
d 1 ,· in .. D e u�
totit ,n
' tour .,us
pc�t
rdr ' d lll 1 de 01e u.. . ro Di·
rnonb d rrun c:nt ossí·
,l
e
, rc: pai ruo ins
. l'io na sã o p
ape

r,nil': ,, 1 rt J a c1u c m n ã o
.
\' irs e·trdordi •bs o uto .

:-;:; e sohen, 110
n10110111a11ie
é (!,"ª'im , nt
JI

/98
'
co mo é cabível alterar. a cada momento. a lei que ele prl,prio
d o s milagre - . .
'rei > to o b
mo desorde m e ponanto la() dt 1no quanto a ordcn1. Sata�
u. 0 que chr una . • . . . .
o rn ul g� sen\ det;\ar e ser, com isso, o u1s-
pr
uit o ber. por de poderes extraord111anos
n dis �
po dé m ..O 1 e Jacques-Chaquin. ''N}11au]d, Bodtn er les autres: les en-
d e Deus]. Ntl.
1r u m en to lo l>·canth ropie - tra1isfor n1at1011 et exto-
nor p h o e te.: x tuelle '' in De
jeu� d . une� étru . dition critique augmencre d'études ur les l}'·ca11thropes et
rs 615
se de.s sorcre
rou
ga . �Pai
, .
ris. · ;rén êsie Éditions. 1990, p. 12. Pensando ainda na ambigili-
.
tes I ou Ps·- Estado e da economia po I '.
tuca , -r.
ire or- R. oper
Bod 1n, demo nólog o ' teórico do
. .
d ªde de }rears of apparent ·u I um1nat1on t here was at I cast
um a be 1 ª fr as e: •• tn tt 1o se · · .,.·
� u
rsc,'\.�·e h, · ·
•'"' e.�pense o f r·tgh l ,.
kv in \vhich darknes s was pos1t1\·e ga1n1ng at u,e
one q uarter o f t- h e s "
ap �
ar"nte iltin 1 inação. as trevas e ta am a gar1har lerrcno obre a lllZ
[N e ssc an os d e .
pelo men os u m quarto do céu]. H. Trcvor-Roper, Tht• European ,vite/1-cro-z.e o.f
em
the Sli:teenlrl1 a,rd seventee1,1h Centi,ries, Lor1dres,
• Pengu1n, 198-S, p. 8 [trad. port.:
. 1ao,
• . .
Rel1g . Te1• .r0m1a e rn1nsfor111ação social. Lisboa, Presença lart,ns Fonte • 1 97 .... ., p.
• _ . • •
JJJ. para I lélêne tcrlin. a pos1çao singular de Bod1n se devia ao fato d e a ,·1ar, para-
· - ·
dOX3 Iffit: n("'""" ''uas
u • ,-,- n.�rs-tivas
v-� em uma; a v1sao vo 1 untansta de Dcus e do n·1abo·. ·· ltSSl·
. . . . . •
peut-il à la fois �laborer, sur le modeJe di\'J n, la theor1e de 1� souveraanete et de I ab-
_ _ .
solutisme royol, ct attribt1er à Satan un POltvo1r e..xorb1tan1 (p. 70) [Com base no
rnodelo divino, ele pôde elaborar. simulta neamente, a teoria da soberania e do abso­
lutismo real. e atribuir a Satã um poder exorbitante]. HêJêne tvlerlin atirma ainda
que a p01iti a impõe sua existência. ao ]ado do direito e da teologia. a partir das guerrc1s
de Religião, e ··nasce sob o signo do demoní:1co'' (p_ 71), ''Le devenir démoninque
du corps p()litique sous les guerres de Religion' ', Frét1é.sie, Sorcelleric , n '? 9, 1990,
pp. 57. 75.
(6) Baseio-me aqui no estudo de 'Nfaria Tausiet Carlés. ''Le sabbat dans les trai­
tés espagnols . ur la ·upcrstit ion et la sorcellerie au.X ·v, r et xv11� siecles' 1, Colóquio
Internacional Le sabbal de !SOrciers en Europe, Sainc-Cloud, 4-7
/11/92, texto mimeo.
esperando a publicação das atas. A autora considera como mais dire
tantcnte ligado�
à probltn1ática clcmonológjc-a os seguir1t� tratados: Martin
de Andosilla, De Sr,pers­
ririonibus, l:;'011. 1510; Mnrt{n de Castai\e
ga, Tratado 111,,y soril y biert f11ndodo dtt
las s11perstitiones J' heclricerias )' ,,a
nos co11jr.1ros y abusiones y otras COJ'OS ai caso
rucanres Y de la possibilidad J' rer11ed
io de/fas. Logrono, 1529; Alonso de Castro, De
s�rtilegiis el r11aleficiis er eo
n,.tt1que pu,,itione, Lyon, 1558; Pedro Ciruelo, Reprova­
c�o,, de las sr1pers1icio11es
y J1ecl1icerias� Salamanca. 1538: Martin dei Rio, Disqrtisi­
r,on,irt, n1agicaru111, Lovair1a,
1599; Benito Perer, Advers11S fallaces er si1persri1iosas
ane,$, fel est. de 111agia, de
observotione so1111tion1m et de divi11 atione astro/ogico, ln­
golstad, 1591; Blasco
de Lanuza, Co111bare de de111onios y patrocinio de a11geles San
�u�1 .de la Pena, 165 ,
� Gaspar Nav-drro. 1rib11nal
de supersricior, ladino, Huesca 1 1632;
°. ngo Antonio de Ribera y A11drada, Magi(I noti,rol y artificial, 16
s6 �e con erva o 32 (obra da qual
título); Francisco Torreblanca Villalpand Ep
qu1b11s aperta• veI o, ito111es deli,:ton11r1 in
. ocu1ta 1nv . oc:a 110 . .
1os ltbros catolic . da e,11 011/s 1r1tervent1, co,1 sr, Defe,,sa e,, favor de
os de la Magia, Sevilla. 16
18.
< > M ria Tausiet Ca
; � rlés, op. cit., p. 3.
. ( ) Micl1el de Ceneat1. ''Travel r1arrative of th Frenc
Elgh teenth Ce e h to B,.iziJ: Sixtecoth to
nturies ,,, Representar,01,s,
''The New World'\ n? 33, 1991, pp. 22li-0e 225.
(9) Gi.uli.a Lanciani, ''O
ruas culturai s ,.• maravilhoso e<:>mo critério de diferenciação entre sis1t­
RevLS , ta Brasileira de História, São Paulo, Am>mt/Marco Zero, vol.
11 • nº· 21 , 1990-
t, p. 22.

199
. 00, Par
a a irnp
ra,so. :?
ed., São onànci
. P a da vis
Prcúon-u aulo, N ão ,.
nante n acional, 1 . er S
<ie f list o s é c u l o 969. J\. �r':'º lluarque
ória. ,
o 1 >.." " \'e r _ , •sao s
er
de Bota
pron t • .. . 1 • 19 5 O · par �u cien Fe
b v
ia um s
e n
nda, " .•
Pac e ct hunia a a v isão 110 te , " O hoine d _menos t id o tsQo d
7-104, P n; sme". eonh<; . m •ntel'<?
o l>a.
p. 54. l& ibliot /,;; c • rncn l º lll o s e cu1 0 xv , tuai
ris, Alb1n ualment B
oderno, v ,
l\1ichel, e Robert que d li .
s-ao pau1 C'o 19 M a um«111s e r A 1 � • ,
º· 7 4, PP . 76-7 " ndrou, l111r me et R P onRse.,,1s,á
ver Luce rn p ;,n hia das 1 . • e r amda o
oduct1on à e naiss
la F"ránc � e
Du.
Cuard, " -etras 198 meu O dI ":c , 8 (1946)
e ' ° ,
e
Epilogue 6 e ap . 1 para .Qbo e
presenta11.
ons, • • T : MicheÍ o
a terra d• me P
Pape I das V h c d e e '
e rt c •. c o m e n t
de Sanr
t. agen !) no
� C\\s \Vo
rld" 1991 a u s h e terotog.," ár i o a Merteau.
a a.
(orgs.), Art imaginár • , PP. 212-2 an d t h e ,.
" -o"n't'·y,
i o europeu 1 p a n N e w Worlct'
s et lége
• ver F'"ra - ic u t armente '• R.•·
ris, PI 11:s, 1981 n des d'esp
ace:, _ f n k,· lestri p. 216. P
ris, n.. . Ve r a in da F n ig n &ante e . · . ara o
oc«rad1grn r k
a Lestri • n u,,�_Y
ures d
hr1St1an J
e, 1993. D n<>a té ag, e e a c ob
( J 1} e cnea ev o estas duas , C if e t rét hor i que s du monde, Pa.
. • u, ., "
r\-.""
cl indicaçõe
re m o n d e à la Re
cnt1Jr1es •, R narratíves o s a Mary
l
l!aissance,
epresentar,· · f the l'renc deJ Pr1.ore. Pa.
02) Lntre m ons, c1t. h to llrazil:
ui to s, Sixtcenth 10
w i I eh era fl ". ver Stuart C ,,.1ght cen
1h
Pas t & Pres lark, "Inve
c
dcvilishc pcr�on en t, n? 8 7
, rsi on, misru]e
s': Buropean m aio 19 80; Ro and the mea
karloo e G ustav witchbeliefs in bert Rowla n ning of
lienningsen (or cornparati,e p d, " 'l'antasficaU
g. ), ers pe cti a nd
Pertplierie.,,
Oxford, Clare Ea riy Modem E vc ", in Bengt An.
ct ali éri1 é dan ndon l>ress, 199 uro pean witchcrafr
- cemres nnd
lc Tab/ea" de / 'ln 3, PP. 161-90: Sop
re de Lancre", Fré hie Houctard, "Fr
11ésie - flistoire
constance des m
au vais anges et on,iêrc
9 1990, pp. 23- - Psychiatrie - des démons, de Plcr
.

31. Psychana/yse: Sor
cct/ e ries, n?
(13) Giulia Lancian
op. . P .
c1t.
04) É evi i,
, ass,m.
dente que a p o emá
nológica. P ra outra interp r b� tica
da �·r�;::t:c:::::�::.�
� reta� ao, b
ao a Am..írica, numa pers :j:
pectiva q :!\: ·:��ria cham :l�:�·.:�:
� a lcndinnen, Ambivalent co11qu ar também de heterológka,
,.5 �f
le�}- 70 C:a m bridge Universi l y f>
• . .
P ts - Maya and Spaniards ,n
es
ress, 1991 P p. 24 s Nelas a autora mostra co
Yucntn11,
mo
os espanhóis. vtra m no Yucatán ap nas os as.'pe
. e ctos d: �ida n;liva que Ihcs interes •·
vam, d i� n d o d e rc'g:Jstrar ou. cap tara porção menos v,s . 1vel ou evidente das reJaçoc �
,
de a u t 011 d ade.
(15} .. Th e E.u ropcan ex per ien ce pro j.o un<l ly .m 11 enced l1s Andcan coumerpart:
tcrs i n Europe shap�du1 he . deology o r l be l!l<tirputors
. t 1 wortihippers had tlee
tn . �
.. 1 and rc tgt
,.,. ffec l on .t he. eia
,� o éia n fl
IA c�pcricnci i ucnc:io u profun l mente o seu
a eur s�lc dcm6n e :oldou a id eol . lir pa do re,
lollia d (1 caçado íoh na E.ur �:s o og, a d�s :a ão dos
� , os sos vo ltad o s p r ç idó ·
No o lvlundo'. e, con1 o na Cluro pa .P'° gi
a a a:�·:, nvo
d e lvido s'"
fundos sobre a vi da rc li o sa e soc l a l _ os g �e/!det' deol
Ia t l'I\S t �'Vt!
e z t o 11 , i na1e�
leia da caçfl i;1:;:�], lron� Sil::;:•a;�
s u n a 11 d w u e lt e� -;981, 159. cr c
o p . _ ? �
. . / i
· :: :t n Un!v�;�l�;,:
::domon�:o�:
10
·r ',1 à r lação
io s.< a n d c o /0 11
11nd c tn l ""', s m f
ns "". e e,u,e. , . cite
Oru z in sk i ta u � ; ,;� e ostr ou se n'avllll flu � l erlo
s
tr�:;'.
tc ue � o i tio n d étc n ve
s_,. " , celle-ci l dé-
I' figh. SC ; •cll , "'' enc orc n ; o
en s ":� mcnt u
\:
q, ac s.''·rul � i :ê, les cn r l
lc s p r o', · ido �
l 1� b �
1 ,� �uc réc pêroeros�:�11 é
c les. cre>yunc•es
1.•
1
• 'l
e• lt" 'cxpl ktt tlon d u e une c ,.,-
1
, " et à me. s urc . IÍI'>II a· o n LO
t non,�,c1 11c. A1t fur t rnJt
�� 1c·ll.s Ju ch1·1• sun
1101 • 1
'"11s 8
" ,l clén1 • e
· . elh'..tle
QC<1'1 .
de l o nolog- 1
p lu t>�r t c.1�s tna1,1. . ·c h é n a s
t111s
• .
11:s
t<1Cl
ur i
tcs
.u\ci ditt d'flppan'tions aµqu é�s
tégone
200
en ce s in d ig e1 1e s p ré cé de mment évoquées,
av ec 1 es ex péri ,, .
d e app ort t e enca re 1 a tr ame [ as a 1 grcJa
M
nt g u e re di virii té en cor1 s iLu .
S n ' o r v e c la eT i ças e
EtlC . J'affronternent i va caso
s· ti ve ss e ap en as tr ad uz id o as cr ,
ên 1 e s1
a do nu m aª ._
P 051 -a
\-
.
o d e fen
' es ta ú lt im a em fe
.
1t
.
1ç ar
.
1a d em oníac-a. A
rn . a c o rit inu ola tri a e, a seguir . . . d s a-
te n en as ern id st ,n a d am eo e, a maior patt: � �
n dí g ap er a, o b �
ráticas i e,{ p
. ç ão diabólica rec1
hca . . ve z, su sc ita um a ca Le go r1a in édita
1 a qu
e a n ação, por su a
pJlled'd d .
i ct ·on ais ' a cr1 st1a
id en ta l. El as nã o têm relação
es tr a m o n ol og ia oc
lZ.

de
nu'"estaçõ ai . das em esq ue m as da
nt e, m es m o qu an do a trama con-
de apariçõ e. es e� . dígenas evocadas an te ri or 1 ne . ts et eh n. s-
c1a s in '' .
as ex p eri e... n . af ta m en to co m a di vi nd ad e). Ver V1s101d' -
com ,
1d a pe 1 o ro n Vi' . .
sen d ° co nst1tu ·ca.i·ne''• in Jean M ic he l Sa llm an n,
tiaua . . > périen . 1n 1e n, 1es , vi-
r

1s 1o n�·
.usa�1on. 1,e- ce mexi . . . 7 -4 9 e 12 3.
P ar ts , PU F, 19 9 2 , 11
tiar re n r, p p .
l'inconsc
e et
e
ri
d
at
e s
tes rn é ·.
ttssag
ar ti go de P ie rr e R ag on , • D ém oo ol
ntíssimo
,es ·
:
.• •

a
qi
ro
te re ss
1
ba
síons
Ba seio - me .
tn
1c a• n e au 1 s1c:c e , ev
e 'l. 1 •' R ue
ex
. -
m
no
r la ci vi li sa ti on
. mon olog1e dans 1 es recherches su
(16) . xv
. 1, p ar t1 .cu
. -
n 19 8 8, p p . 1 6 3- 8
de . 'Nloderne er Contemporairre, t. xxxvi abr.-Ju .
s d as id éi as d o au to r so br e as re la çõ es en tre de-
d•H15 ' totre
· C ur io sa m ente, mui ta
larmente P· 1 · ·dem com as msn · h as . para tan to, ver
1u c1
10
, ic as religiosas am er ic an as co .
mo no logi · a át B raz ·r
t h.
e pr
e ai
.
n d a r'T h e d ev il
>•
C ru z 1n 1an 1slo ry ,
. alu d'tdo o di'abo e a terra de S a n ta
1990, pp. 85-93.
O Já
ese Stud ies, vol. 6,
Porrugu
(17) Pierre Ragon, o�. cit., p
. 175. . . . . . ,, .
1n gs en , ''T he d1 ffu s1o n of m ag 1c 1n co lo n1 al Am eri ca , 111
(18) ver Gustav He nn
ays J1o no ttr of Ni els Ste en sga ard , ed . Jen s Ch ris tia n V. Jo­
Clashes of culture: ess ir1
Lad ew ig Pet ers en e He nri k Ste vn sbo rg, Od en se Un ive rsity Press, 1992.
hanscn, Brling
Ser ge Gru zin ski tam bém faz a rela ção ent re Olm os e Ca sta neg a: 'il est
pp. 160- 18.
1

significatif que l'ouvrage de Olmos ait été la pure et sirnple transposition d'un traité
de Fray Mart(n de Casta.nega consacré à la sorcellerie espagnole. Uo livre auque] le
missionaire apporta peut-être sa collaboration quand en 1527 il participait à la cbas.se
aux sorciers en Pays basque'' !e significativo que a obra de Olmos não tenha sido se­
' não a transposição pura e simples de um tratado de fray Martin de Castaftega dedica­
do à feitiçaria espanhola, livro com o qual o missionário talvez tenha colaborado quando
p articipava, em 1527, da caça às bruxas no País Basco]. Ver ''Visions et christianisa­
)

. l'cxpérience
mexicaine'', in Jean-Mict1el Sallmann, op. cit., p. 123.

uon:
s
(19) Juan Polo de Odegardo, Los errore.� y si,persticfones de los tndio.s in CQ­
lección de libros Y docu,nentos referentes a la historia dei P,·,,,,ú 2ª sér., vol · 3•' Lima '
"' ' .
1916,' P· 29 · Vera respeito SabLne MacCormack
l:
.
, ''De.mons, imagination and the In-
·
·s ,
cas , Representatio ns, ''Tt e N ,,
• ew World , 1991, pp. 121-46, particularmente p. 136.
. . d'ur voyage faicl
p
(20 .J �n de Léry, Htsro,re daris la terre du Brésil. ed. Paul
Gaffarel)P ns, Alphonsc :
li


Len1erre Éctiteur, 1880, 2 vols., vol. 2, p. 71. Eu.mino mais
detidan,�nte ta relação

1 no capítulo 8 deste trabalho.


.,
(-1) Apud Gruz.in
10
5· sk.i • ··v·isions · . . . .
et chnst1arusat1on: l'e,tpérience mexicaine'', in
Jean-Michel Sallmann
. , op. cit., p. 132.
(22 Pterrc Rag
lA
es ) on • op. Cl't ., p. 170.
gil • (2)) ApudDi
ª . geritio, ed. Serafim Leite. Lisboa, Edi-
<.;ao Comcmorati�
álogo so bre co, versffo .
tis ! do
do iv Centenário da Fundação de São Paulo, 1954, p. 16 .
(24) Yves d,;
Clastres, Paris, p, vreu-x, Voyqge au Nord du 'Brésil Jait en 1'613 et 1614, ed. ltél'�ne
.11 •

fausses prophé �Yº.1• 1985, eap. ''Comme le diable p·arle aux·sorciers du Brésil, lem
lê,
la (25) ld t'l�s, 1doles et sac if.ice >
. r .5 '. pp. 221 ss.
em, 1b1dem cap ctn
Pàt 11.!s sor
ciers du · e quelque s autres oéxémonies diaboliques pratiquécs
. 8ré'sn' '. pp. 233-4.

201

, .
o Ve sp ue •o
1 e uJwn a mcn -
u L-ica, por A m ér ic
. ulo ;;o supe rior, se e h am o ' A m�, "-u:a por-
I

j'\m ç, •

d e u 1 d e bra sas, que produ z ,.,• . rio da


• ou cor
Hisl
cid
ó
·1 ':u ver m elh o, ' r da Silva . 1880.
e lo sb a
ie ª'ª" p P�
2• ed. rev, e an t.
o J
rá G Go es, ,._,
·�o· "Não foi menos ve er
i oa. Editor Fr ncisco Art� uz n s
n da a Saa,i C r e t a Pro-
a i � . d c be rto este E ta
'"f'({',,,,;.g,tno é m�:•;10':0,,�itão Pedro ar a es o s ·
P:nc1·a do Brasil , q uan . Á!v et ;"i!� g::,..,. saltaram em terra
m p a n h ad o e m u u
v1
de E assi m, aco d io . o d "'..eus � �iores traba-
do no a11 0 S OO
co h al i o a b rsg e
1 . P o rto Se g uro. po r re e�: ma ) s rê .
(a qual ch� � 'dIJlande derrota, e te � r ao t s dias do mês de
mpcs a es t Maio,
f
da
m

lhos, dep o is est a d a sagrada Cruz cm demons­


g� uns: e logo an·orando º � d an e
como afirm : : • . , : uve pregação, não faltando alvas
� cg rí a , ce le b ro u a M is sa
d d
traçá� e grada J\nnada; e puseram por n me : te':.r. ião formosa, Provfncia da�·?·
'"'

� s interesses do mundo em P rov1 n a


de artilharia
co 11 er te u co b aç a e o �
ta eru �z·· titul o. p o is v a
:, N uno Marques Pereira, Con1pênd10
am a
de
vulgarmente h oJ· e se ch . •
q uc
do Br- �1 ·1 com o . . o, Publica"""
6• e d Rio de ane 1 '4'º da Aca demr·a
nurro11vo •do Pe 0 d a A ,n ér ,c a. . .. , J r
rgatório e paraJso na obra deste
re gr ,11
p. 90 Sob re a idé ia de ,nf em o, pu
O ileira, 1929 . ·
. •
,,er Patrf c:ia Alb ano �la ia. ··o o paraí s o ao purga 16r10. a an !'utopia
l de Nuno
ra� r, .
tsuto .
. . _
Marque.e; PereirJ no Coll1pe..11 dl norrot,vo do rcreg n.. rtn • o da Arntrica··. comun1caçao
apresentadtt ao CongrC$so.;�o��C: . 92= R.aíz.cs e Trajetórias. São Paulo, ago. 1 992
M,•rques J Jereira pode ter!' o de Barros, clássico da língua ponugues� � Oân­
a o n ío Santa Cna publicada em l5
daYo. que Lc:vc llis 16r 1 � p r ví c 76, em L 1�boa.
Já írci Vicente pcrmanc�eu Lnédit� po r mai de dou séculos, apesar de conhec1do e
sua o

not1c1ntlo por .,ntelect ua1s


. .
�teccota�tas com o Barbosa Machado ou Jaboatão. Ver a
odri
. .
í\:.'-peito Jo� Honório lí ist6ria da história do Brasil, op. c1t .
.• pp. 4 93-4 .
.
.
(J 4 )P-..1dreJerõn1111on.V'UJ R º�:...: .....
'bU"-'>� ''A mis�são dos �rijós''. in Serafun Leite (org.),
Novos corras Jesu,i,., 1........ .,,.,.r (d� I ot>·- ·o a a Vieira), São Paulo, Nac1o •
aaJ. 1940 ' p. 123
(35) ln Serafim Leite, op. ci, .• p. 114.
(36) Parc1 a referência n Alfredo Bosi. ver lli.s1ór10 . . .
concisa do l11e ro1ura b as1/el-
/(}. s"',Uo Paulo • Cultrix • 1970, p. 26.
Paro todo o resto, vafho-me do belo an�1go de
Dtcio dt: Almeida Pmc\O. ··o teatro como instrum

ento de catcques�'', ,v
<·u, maio-jun. 1989. pp. 73..88. iL
A.I
os a
s . A 1n�r
página 84, uma observação bnlhaote
.i 1-•

· 'O inferno acha-se represenLado po e �rônaca:


r nada menos do que quatro diab o s,
conciltábulo - o concílio do 1 reunidos em
nl. Não só un1 dei� pr e-sicle a sessã
111ai'i, dando-lhes a palavra, o, ouvindo os de·
corno a cena momerlto todos
nhorc. intl!rc sudo · em r se sentam, parecendo se­
esolver proble1ltos práticos a
1no que o uto de senl.1 través d.a livre discussão. Sabe
r, quando n per onagem na -
reupureccr n1w tarde. da tem a dize r, d evendo c nt
é frcqOcnte em tal ti o udo
diílcil rna1ttjo dn � p o d e peça, resolvendo, para
ntrndas e aídas de ce o autor, o
contrndi�ào entre f na. Assin1 rnesrno, causa e
or111a e conteúdo, v spéci� como u m a
dinlmica,. de 1an �r personalidades dram
ia vivacidade verba áticas usualmer1te tão
e! n poslção tão e l e corporal como as pr
státit'a - ta tveL os ovenienLes do Inferno,
rtn do tcutro Quatro primeiros di,lb
ocidental''. os sentados de toda a b
istó­
11 (J? l J\l onso
n,' -S�S de Zorita, Historia de
n . 24 -60. Apud la Nueva Espana,
manuscri to do Palácio
� � Pierre Ragon, op. Real,
� ) r P crrc Duv cit ., p. 167.
colo • 1 -:-- l� ! io Is, La Iutte contre
: .
des r-u�ld1ne de l'ido/81,;,, •nt
extt rpa t,o � les rc/ig ions au toch
tones dans /e P4rou
s. s. d. 1532 et 1660, Uma
' lnstimt Fran•••s
re
. (39) Mart1n de -r- d'"'t ,:;:. u-
b1err10 de la Cor una - , Relact·dn de
l0s 1" d,10.s de las . on111$ . .
la provlncia de ce.r1m y ritos y población y
Sahagtln, Historia
Michoacdn (JS4J). g0•
general
203
,lt• l,1 �,, n tlc ttr.\•l l 1 ,rti1. •ti. flRcl ?\1111h, llnrib\ l}· t•
"•• 1'"vl6f lt( •
, .. h. ·�1 "'' 1 . ' 1 . , • ,,, ,' �-7. \'l'r I t\''!J" •h(l )ll,,r, e• I',a3,',11. op. tr,,.ui I Ull
.� s. /\
',��
eh ·, nt>, 1<.16-8,
·,

r \ tnl 11,11 ,. ,l n\, Ji�,,,,�u �C'\lt(tic·,1• v�,· ,, A <�1
• 1u
• .un 1 .
. {()tl\t-lr0 • ''lb
( \t1)
• •
�.,,.,,nl1lh h·\'�111 ;1c,, <u ü, '-i.'rta,, ,J tlc mt",11 ,tio. 11 ( lt·Unlc·•tiu 19 · c.l�1� o�
•· 91, cup. 1, "Os
('.,, ,�h,n llc ,11,,, • (l:1\,1u,.
tll}lt.111(\t\, ,p �,,.,llfl. 1,0�,. 'itu.11LC'lur�. "lnvc:rsto 11 " n,I Slu 1•
e llnd lhc1)11u1•
n1n� 11f "'11cl1\:t lt'\ PJl. Q8�t27.
l·I'") l 'irt•t> 11,,r.111. J f1.\f0fl<11Je lo,\ lt1clia.s de Nuc\!o /--:'sµt1,,u ,, isla.s <II.J • •
1 ,erra Ffr.
rttr, c'1 ,\n cl f\1arl C,arlbrt)' K., tvtéxica• r>orr u� ,\,.1 ' ,\ • t 19V"-7 ' 2 VO 1 S VO) · 1 • P:
l·u, 1,td.1 l'-hl p.,rte rclctenlc à 111,·�r:-1\(> e� d c:sord l'nl, vull-iTit- da ',11;dll se inl 236,
chgc111e
de g,,tt, up. �1t , I'· t7J.
( t \) r. ,�, u , at ta de l 11{ da Grti. ver padre Scrnfil11 Leite (org. ) • NOll
' · as c:<írtos
J'"�u.,,.-u , S'· t (,�,;,. � pucl rr 1·ct 1\ÜO ardJt11, Trt1t(lcfos ria tt1rra f gente do Brasil' 3, cd.,
�.,() liltttt, N:ic,onttl/-.tLc, l97R, pp. 185-6. A sirubologin do fogo ocu l j on
1, .,1 n fcit,�\.u, · ver N11.;olc .1 acquc-s·Chaqui11, • 'l:cux llOrcicrs _ qucln�cª s'>r"� f)lcex,�ons·
•· · · d ..1.rt,ono1og.1quc (xv�-"Vl'.t sicclcs)'', Terrain,
...

i,ur 1 nn l-8,ITiatl"e 1 n� 19, out. 1992, pp, 5.16.


(4J) Para a �h11�uagc,n dos conlrir1os. valho-n1c nqui da análise deStunrt Clork
racimtt mcr1l�1onado,
(4�) Robert Rlc1rd, LJJ tonl/lll!te S/Jirlruelle du Me.>.·ique. &s(I/ sur /'aposror111
r.t lts rnctliodes m,s�iona,res de:r ordros t11endia,1ts er, No,,velle Espag,,e de /523-1524
à 1511, Paru,, i11 t11uL c.J'Ethnologic, 1933, pp. 100-1, nota 75.
(46) Dentre os historiadores, é Scrgc Gruzinski quem dá a mais sofisticada e
,omptr:ta "1cfin1�0 de idolatria. ' 1 dirnensão secreto.[ ... ] que inwde o essencial da ex.is­
tc:nda indigena' '. �í�tema intcp,rado, verdadeira cosmovisão. A ldolat1rla, por um la·
do, e marúfé la no âmbito rest.rilo da don1cstlcidade; por outro, se genemliza edis·
l>Cmioa por toda a vida cotidiana. A ênfase c,n tal bifronLalidade imprime à idolatria
carjter Ya$LO e abrangente: o fenômeno é analisado no âmbito mul1ifacctado da cul�
tur-d, accntum1do-sc-Lhe <> caráter simbólico en1 dctrimeJ11to do mecânico (prdti<:as 1nd·
gic.,s). Para iruJ:in5ki, as práticas mágicas passam a se destacar no contexto da ido·
liatria quru1do cstn. atraída pela n1agia européia, soçobra nela. se mecaniza, perdeu
dlmen�âo cósmic:i. /..(1 colonísation de l 'irnaginoire - sociétés índige11es
el occiden­
Mé .xiq ue esp agn ol - XV !'-X V/1 � siec le, Par is, Gal lin1 l:1rd , 1988 ,
ralisation dans le
tipologia criada
sobretudo pp. 189-238, e pp. 239.-61. Muito interessante também é a
r>or Ronald o Va inf as, qu e ve Am éri cas s idolatrias Jnsufie11-
1 na s ido lat ria s aju sta da e
lac ria s e mi lcn ari sm os : a res istê nc ia ind íge na na s An 1ér ica s••, Estudos
tes. Ver "ld,o
J f,srdricos. Rio clc Janeiro, vai. 5. n� 9. 1992,. pp. 29-43.
sln gu for ite z de lo Fr a11 ce An tar c1i q11 e, ed. Paul Gaffá·
(47) André The\'et, Les
rei, Pnris, Ma.son1touve & Cie. 1878, p. 168. de de La nc re,
(48) Not.ar como esta a.firmação de Ac os ta se ap ro xin 1a à Pie rre
tra bn lho . A ob ra de 1n

ter e-Ssa
que será dcscnvolvJda na concJosão deste
Ac os ta qu e
(/5 90).
pa.ra a sua definição fi11al de idolatria é a H(rt or lu na tu ra l)' m ora l de las In dl as

Ver Pierre Duviols, op. cit. di no de Sa ha gú ci: n 1564,


os po r Be rn ar �
(49) ·�colóquios de J524, eolecíonad eli gi os os e sá b1o s, so � re­
er es po líú co •r
nos quaill os doze frnnciscanos expõem '10S líd in Su es s, con_qu:ta
viventcs da cot1q11ista d t> México. a novu or d� m cr isl ã' '. Pa ul o A
Pe tr óp ol is, o,
espiritual da A111ériea esponhóla - 200 do
ctt tn en to s - sé cr, lo X VI .
cap. x1 , •·o nd e se z co m o se co u ca ram e se
zes. 1992. pp. 429· 75� especialmente
di :?
en p na n o os h m en s i:ia PP · 2-S,
encarregaram os diabos de aDdRr sempre
46
? a ,
� te rr
_ to abor recedor es
o m ui to ln.ve.Josos. m lu
e cap. x1v, '0nd
1
e se di z co m o os di ab o s sã
das pessoas'\ pp. 471-5.

204
Jl: 011 {ip clr e S11l11111c Nlnc(:t1r111t1ck. "'''· "ft.
(50) lttti!CÍO-IIIC crn
or,. clt .. PJl, IYl-2. o� (r!tbulht)'I de J(uf,
Sc:· i'� Oru,· l r,i.k·I·.
(�l) Ver 1, 1c"l'cilO ' t..• tt
e
·
" ,,�. ..... 1 ;v••,,ocl\tc 11,,11,drJ ,,,, lll-l J'tJ/Jt'r.vllt·lv11t1,\ )' t:tJ,\
·I I clcln,,c1 n1 rc rt. ,
tIr ,,h11\'t11• e Jnl " f/l ,, I n11 ,,,,trc 1,,s fnrllo.r... (1629) e �la1111of tlt• ,11/11/.i;íro,, ,1,,
1111,,hrt'S f.''
"' ª
(7' t< • lt' 10)' VIV,·
1/fllj' (l 6S6). 11ao ,0111111
·
. 1 l•1 c ,,no,·f1n1c•1 . t·, tJ de ��·u,S
· /( /olntrlus y t!.tr lr1,<1clón dC' , "
u s· 11, 1n
. . o,; e n,•J.tJl <lS n1cr1os lttl l)Ol'tuutci, te
l Sunc
, ·I 1cz. .1ut� /\ l(ll 1
• llll)
1;,rl1
l.,ut,llc:atI o!- n o séc
XV I I, j,I\ • i
'
jl.

1 ( 1 •
c.: lh tl\ n. lo b rc: e: '
1,. ... "' Vill•aviccnclo fon1111 ,n11IH fclircs: 1<!�J)CCt1vurr1c11lo
l •·,r • (,c>11t n o 1,,,1r ·•n
. /·' , ....
r,1 111 ci1 11.,, , �,' •
....... ( M•itt lrt' , J v '-39) ' /((•lr1clé11 011tú11t1co <it.• las uo Iotr,ar
l1tfvr,11t' conrn1
/d(> lo
16 5 6) , ,1,, CcJ1,!ésar i<lólalrcJs )' r/e.vtit'rro ,Jc• ldoltitrfas... ( Pue-
(tvttxico.
L11 ..... J ' ,nttoclc,
blu. 1692).
(52) "Rclaç.,., o e'l t lOSE'áílc:J ,te Ocrnurdlno' de Suhagú,, sobre �t degc ncra�í\o t.fn
.
uo co�LU111C..,� ·1r,df11ci 1 tu �n,.1:s·1du I ncln

de suus t
'd o 1 • ,,,
dii:c 1p
. li n,1• � de.�tru1\'ilO ntr1� ,
õ "' • 111

ul o Su cs �,s .( or g. ) • ..,,,. cit .. pr,. 211-2,1. 1.:itnçõc. ú p:igiru1 218.


,,
í'n .
(51) Ricard. 011. cal .• p. IOS.
�4 , 80 e.te l..ancJa. R'f!laclótt de las cosa.r de Yt1catd,1. opucJ lnga Clcndlnnen .

op.
. (S p) �'i
.•· . at1c
S 0brc O ru,o. �l autora con1enrn: "( ..• ] it was tl1ese books ,vhlch \.Verc
: n1•Y m (1le trovcd by thc frinr�: an uct of vundalism whicl, n1ust l1avc bccn
1 u u:rcit ·sysccn1 1
tllOll�trLIOUS1 y UlllO · tclligtblc co its victi1ns, \\'l1icJ1 ib l upposc tlle csscn11a • 1 h orror o r
• . . •.
vo11d�lls1n • P· 1 3.1'i 1 ( ·.. J ão c:ss� os livro que depoi · fon1n1 sasrcrnat jcan1icn1c de. -

t1uídospc ] os 1•ru • vandalisn 10 ter sido monsLruosnn1cntc 1111n·



dcs· un, de que deve
• •

·
1110
Lcligívcl para stin� vflim�s. o q uc é. a meu ver. o horror essencial do vandalismo1 .
(SS) Ver Gruzinski. op. cit., p. 233.
(56) luga Clcn<linncn. op. cit.. p. 80.
(57} Renicto rna1s urna vez ao estudo bril}tantc e sutil de lnga Clcndtnnen. OJl,
çit., p. 77 e pt1ssin1
.
(.58) Apud Ouviols. op. cit., p. 3S.
(59) Ricard, op. ci1., p. 389.
(60) Serge Gruzinski, op. cit.
(61) Nancy Fatris, 1\!aya socieJy under colonial n1/e - the c(J//ectlve enterprise -
o/ survival, Princeton Univcrsity Press, 1984, p. 286.
(62) Serge Grurinski, op. cit .• p. 241.
(63) Irene Silverblatt, op. cjt., p. 195. A citação anterior se encontra à página 173.
(64) Scrgc Gru?.inski, op. cit.• p. 215.
(65) "Sous1raite en pareie au <:ontrôlc dcs autorités cccJésiastiqu
es. la fabric-a­
tion d'images chrétienne.s, <le pcin.turcs. de statuettcs, d'e
x-voto remplit l'univers in­
digênc de rcprésentntions qui scandaJisêrent fréquem
menL le clergé. En 1S8S dcs voix
den,andcrcnt au u1 ConciEe me.xicain d'inte
rclire la 11guration des démons et des ani­
c

maux au cõté des saj11ts <."ar les lndien


s les adoraient •comme auparavaot'. Bn 1616
un prêtre s'en prit aux 'statues du Ch
rist, aux images peintes sur bois ou sur papier
clont les factures étaient si laides et
d'allure si v i, taine qu'elles rassemblaienl davanra­
ge à ctes pantins, à des gribouilla
ges ou à une nutre cbose ridicule'' [Parcialmente sub­
ir.tida ao coniro�e das autorid
ades eclesiásticas, a fabricação de imagens cristãs. de
quad.ros, de estal11etas, de
e.�-votos preenche o universo indígena de representações
qu e amiúde escandali
. zaran1 o clero. Em 1585 ergueram-se vozes pedindo ao
cílto Mexicano q:ue proi 111 Coo­,
bisse a representação figurativa de de1nõnios e de an
lado dos santos, pois imais ao
os índios os adoravam •reorno outrora''. Em 16
protestou contra as 1.6. u,rn padre
estátuas de Cristo, imagens pintadas em m.ade
ira ou papel cuja
e d� aspecto tão desagradável, que mai
::c�ção era rão feia
UJas do que outra s pareciam títeres ou ga-
coisa]. Serge Gruz.inski, op. cit., p. 243
.

205
l66) YrJ,tlO liua1q\1e dê I l()l. , ,nd ,. l'f�áo Pr
1n1iso, 2! ed., no
se""ª'ª·
rio Pnul �Ol'lo.
0 1, 1 %9. titllx rio r r-..., re. <. (f�·o-�ron,le' d 9! cd., Ri, o tle Juneiro
Jo�
ri(l• 1 o� . l>aa.,. f\Cltm1 t d•l 1,asnnturalismo, v�r l.e\vt lin.nke, Thf' Spa�Lsl1 lrrtt,
struggft
{ , • d B
for 1u.,rto. ,n 1/u C'lmqut'"\t f) ,J rncnc-o. "'· t' • • o ton, 1vron10, Lit Uc 8ro\\•n & C
rr\.

D, .• '' t�olu ÇJo do n1itos e dos conce itos'', oi,


1 ftS J. � 1l\ in Os dtscvbr·
11
r� e., problc::ma1,rt1 ('Ultt,rvl do «11/0 XJ 1, Co l
in1bm . U1tiversidadc de Coimb ';; •
rn, 3,
pp. J 7-276.
( ) \'nlhn·n1c .iqul da anáJii.e d� Sophic J--loudard, ··rrontiere ct ohé:rité d
11
le Tabl«11r de l '1!rro11.�t,;nry,' ". op. dt .• p. 24. V� tarn�m. dn mesn10 :1utot11, Lt'S .�en:.;
d11 d111blfl - qu,,tn• disco,,rs s11r '" sam�/lt1r1e, Paris, Cerf. 1992, cnp. 1,,, pp, 161•21�
··1> ,a-re de l .an<"rC' et l� diablc Prot�··.
167) P ctrt d.e Lt1ncrc. '/àbleou de /'f1rcons1anre des n1auv·a1s ange.s ei dts dt-
1:n11; ,,; ti�, amplttiJenr troiti des sorciers ct dt• la sorrellerle, introd. crl t. e noias
"i ole Ja,que�-Chaquin, Paris. Allbier, 1982, Livro 1. discurso 11. "'Qu i1 ne se faut
1

êtnnnt1 pu qu' 11 y a un si gmnd nombr� de n)auvais A,1ges, qu 'il y nit tan� de Mngi.
tJ(nS Ot 1m ti r:oen., et pourquoi ,ceux du pays de labourd ont tant d'inc:lination.
<t � Wt'tll i fort à cctLc abominntion' '. pp. 69-88 e 79_ A nssociaçlio entre os st.l\13.
icn i: ()\ bru«o do Labouid me foi s-ugerida pela leitura de Sophle Houdà.rd 1 op.
cu , p 1�- ''On co,nprcnd mieux aussi l'interprétation sémantique que le consoiller
dnnnr alon a !'espace basque: tcs labourdins sont comn1e les sau.vagcs de l'i1e cspag.
note: omp.ir�. trnduiLS en lermes cte sauvagerie. ils form,ent un espace nettement au­
ttt'' fCompn._'Olde-se melhor rambéo1 a interpretação semântica que o conselbeiro f:u
Clllao do espaço basco: o� laburdjnos são corno os selvagens da ilha espanhola: tont·
�rado , trodu1.tdo� em termos de sel\lageria� formam um espaço cuja natureza tela·
ramcnte OlJLr.,].
i-68) Utilizo propositalmente concepções diversas que discorrem sobre um mes­
mo fen&meno. a eonstitllição do sisaem a colonial e das relações entre Europa e Amê,._
ric.1. Paira a t1olon12.açAo como sis1ema - formulação de Jeaa-P.c1ul Sanre -. vtr: Fer-
nando A. No-.a1s. 'Pôrtu.gal e Brasil nos quadros do antigo sisre,na colonial. Im-1808,
Sào Paulo, li ucitt'C, 1979; para o processo de ocident alizaç-ão, ver Serge Gruzinski,
op. clt.
{6�) Peru.o aqui no capítulo de Marx i11tituJado ••Tuoria moderna da coloniu·
\'lo'', in O captral. trad,, Rlo de Janeiro, Civilização Brasileira, s. d., vol. I, p. 883.
(70) De Lano� 1àbleau... , disçurso JI. p. 80.
(71) Tw alirmacão foí ftita por Michel Mcurger no Colóquio Internacional u
abbat �t!S sorciers en Europc, Saint-Cloud, 4-7/11/92; no momento, não renho con­
di9ões de pr«i,aJ em gwe fontes- se base�a.
(72) Cario (iln�burg, Storla no11urna - una decijr:azlo,,e dei sabba, Tu.rim. Ei�
nnudi. 1988 (tmd. 1/isitdriu notur1i<1- decifrando o sal>d. São Paulo, Companhia das
Letras, tm). Ver também sua e<>munica,ção ''Sur les origines du sabbat ... Colóquio
Internacional l..e �bbat des sorciers ,en E11rope, Saint-Cloud, 4-7/11/92, �10 mimeo.
esperando a pubJicaç.ao � atas.
(7l) Charl<:s Zik.l, ''Body plltt,lt, Saturn and cannibalísm: visual reprcsentalions
of witches' auemblits 1t1 the SíJCteent� Century'', comunlaação apresentada no Coló· \
qulo lntcrnacional l..e sabbat des sorcic:� cn EuroJX Salnt··Cloud, 4-7/lJ/92. texto
.
rn1m�o. esperando u publicaçlo d;u atas. p. JS. A aná.líse brilhante de 2ika mostra
que._ n,n1grndo referênci�� textuui� medicvai& ao eanibaUsmo das bruxas. este só co­
m� a Ser ttpresentado péla lcolt!C)Bfana na �unda mttàde do s&:ulo >cvt; Q que
sugere ctesCQml:)as.<;o entre a figuração �1u. e :a vl"l,ual no tratamento do tema. ''Thls

206
1
1
h
' ,

,,,,,.
fil • I � 'Tii
• ,I -
,
,. ,;: it u1r1/1
I, J I
'UU r tli
I i, 1t1 lt ,'
1h

,,
1

1 1

'
l'
u .1J' -,d.
l

n, : d

o
T ÍVíRri.c llJ1!lllCf, ll '.lf)1 PI,, 1'·5(): li cil!l�ílô C�l(1 ntl fJ'18f"\" JJftr
� , " "l'J. e nu!I
p1,t,1 1c.'O·r.�. cn, rt 11,1 ,,1, cJcrrt11aclu, o inlctroani16,io do 8 c.Jt pdM'I tu18 46•$
o
Olltl l brode: 13
r• ,ntt•i,11p.1tl,\rlo rJc,l)tJl, ver •• Jr\qu.yry-:i,111 que ho ViJUJho dc,,tJt u l 5(). l\i ta
. vy u do l"<:>rlu 1.11.1A
11rt!i11umt1ntcr1t 1 �,,o hn padre Mun{ael,I C'111nçoc t>croAnc "' guru
i VYC.:t1n1c J11l1 o
oh rc t,t.r J,1 t '11J a\1c,,1 .r r1u1 que J't:rl1 do u111
r10 ·1uurluho c,ovcrnotl
rdhnitro
or ti �ln cu�.
\t fl)'á ô y1yo (' '"'"'" Cf'Ull MI L>c•1" IIONc.) Sri no,· .. l\l'Cj ui"'º N Ut.:1 011
1 ui th1 'Jotr� �0
t1,qi1I ,ç,111 <I<. l�i�l1net ,,,l,C' u 1 ' ffR21, a1,utl <�al"l t1N Mnlhc1ro 1b111 ht,,
lJltl\� (or8 1924), //�std11,
''''''"1:11ç,)t1 11111111M1•t''" rio ll'ra:;I/, l'c,rto. Lilog1aflu Nt1t·1uuu1
;f�, } , dtt
111 llP,
1.7t tl1 1 .,t,•111 n,ndél <te Jouti11l1l1 ,1,� ru1ln104' "C1tlll11tct,,; ar. A. 11 ,,;l l v ugclll' 'ri,, 11"·
mi ri,, /J1n,1I r1,,1r•. rir: it1n t,rfrt1re1('IJO t' l11tla1>cr11IOt1<'lu tlf'I JJr1rl11uc1f � ' 4 �• ccl'•• 1 "• t JlUI�
,
J(111J<)lfr, {1nt1.1 . Stl<, l�11J�fl, Mrlhtuutncntu. 194H. 1, /, f'P• i2tJ J. J, Jr,
dê.i i\hucldi,
1
1•, \ti,,, 1 llr1h1,, ,. 11, 1·r111/l,11,1lu, r,l<i l f!rrlrrl ri() IJrr1.vf/ (IJJO 16:ZOJ,, �Ou J>n,1101 Ni11clt)1
t"I
1.Y I�. 1 1. ,,,,. ]C,i1 7H. !'S�t'p.l<) U1111rquc <Jc l lt,lu11du (tlr�,). J/l\'trlrlr, 1(111til clti
cl,ill/w'.
< i/t1 l1r11t1/,rl1tt I A fl11nra cal<,,, lttl I 1 }1J tl(��,·u,lJt•/11rfill/tJ t, rx1,u11�0,, t4Jrtlftl
,,,,,, Ã'1t1 ri.nrl11, l>llrl. 19fl(), cnp, ''() flJJ!hllo dtt'i c•111llfli1i11 �· e "A l11111h11l c;
A'tJ tltJ go
,. ,11-., ,, ,,,,.,. �111 102 1• 121. N11 lli\,t,Stfri ri,, c'<Jl,1/'/ltufOo JJtrr/1111111· "'"' vc, ol 11Jb vol,
u,., ,,r, "• � .idrf1 . A:r"'\'l"'(li,, ''() ,,rlut ·h,,A llLIURt(irl1u1'', Jlp, lC)).i.
( ,, ) 1 \ t r I t 111 � r. f \>1,1�/ur 1 "l�f11,rr ln J•,11 t>1 li1 /u1/�i ,, l•'111fJ/)tf1 1 A Jllth e�. ·1t'l111,lc HI nhh,
lV TK. r, ti, < l , ,,,,,,,,, ,,01111/"' ,,,, ,,,,,,,.u ,11,,,11�, ,,,,, 11n,1 ., snl;, r 11111tu. t',un1,u11hf11111,,
t, i,ii,, 1 1•kH) f'.11:1 11111 ,,1t,Mi• 1:11111,10 dr1 «.•111tui;1 (1 r,,11�1(,�htr,d 1111an1h111.1111111 Ur1t�ll
,
11oh,lu 11li1il11, v,11 AtH h111t1 l(�Jt11r.lt,1, "'I: JdU"' �1M 1.'tUlltuhP'f lcv,11111111 ..:ôu'', dl�YUt01\lltt
11• at1t'l(l1Uft� ,tlUt'•H,tlt1e<IS4 rliJ li tt•IJ11l1.'tlh, ljt1 C'tlUll)fllll� 1 19!)1,
(1) J lllll1l11 t·,,n1,11 J, .• /\1n1>(rir10), 1r1,,r1Jlr"' ,• 1111r111r1/ri>., ,f,t11tlt1•,,!lt1rltull\11,111
r ftf/t ·/rr,.1,/urlt· ,,,,, , ,,vt,·/,, ,,,,,,Jtr,,ol, :-lf\,1 l'ttuh,. 1 tuuJlf'�, 1'�9<), 11o o 1. A hhvdt11tlh
, r,1 1 u,.�1.• ,,ri t ,du d,l h1 11111h fd!i,. ti,• n,t11lt"•f11, du 11i11,�ll11,il,:�1h (iO IHthi, ,111 nv1ur1d
t
1• 11, ,1,u,,,. 1 ,r1·.11hl't /\ I" c'1p1 l11 hPslf1 �1� , 1 op,,t'tllh>-� t �tr11c•1 l10 t••nl" l('1lt'l�1 -'�'11l' v1,hr·
• C 01l1lnt1111,1\HttUIU p11b1 ·�,· 1h1t.111fl!'ll1 llfft,1 J IIM
11
.. 1·, 1J1 J �·1Jlf11 r ll�IIUf' ,rr hl11 J�tult1
u1111.ul,1u • 't1u, l111n1 ._,,,n 1• 111· 1 t�n• htn ti,)� lõl1h1• ,lt• 1011 h11(,tuft,- 1110 l,1�11111· f(tll' huvl11
11
hl, lc '''"'" ' , ,,,,11 1� , , 1 ,. ,,, , t t 11u, 11 1r 11 kh 11 1, lhl(I J111

t lJ • () V11i ( otr,, ( J/>1,1\, ,,,,,,,f�,,,,,, ,11.�1. •• �1111lu11 pr,,f, f\1,uriu1,, lh�Nn, l l�h•�
t•1
I l\1•11 ln '•" tln • '''"'li l'\lht11i1. l'l·J '• v�,1. r, 1•P t• '' /. 1,,. v ,Ir J VI
t � 1 l 'tl1,1 h ,, 1 1,11,�, r1,, <Ili .,·.,,,11, , >111• /11 ,li 1111 , t, 1 \ ,/,, IJ1, 1' t
ll r•o > ,1 /I, ,{)r
111•l 11l' l1 1\lttlHU1Jlll
11111uf•111 t. 11l I � 1,n1111t Jv, � d1, �1h• ll11 1 J(,,; Jrt\ l l1 1t,�1�t ,dlll 11h1 lf�1l
• ••, J•t1tl. li 1 � l V, 1 t11•11ll 111 t111i1' tll�•Hht ••00�11l.,11111f 1j "'"1, llt1, e f,11;1�,
1 ,1,, lfttf,ltl
l •\IIU lh\ 1 \lt lnl�l)Olh• N,1
,• fl4 ) lnf 1, lt ,•,•1 111,
IL'"' '
, ,,,, i,,, ,1rt1•r,1 1• /utl••11, f'tlt l�'ttltlfJt/1. 1 1,

�;,111 •• � 1 ,llttll I M11 11._,, 1�.,. u,i. J'JM &J, fl ,v, , ,•111 11 t.1• 1 1 1 111,1 �11� 11 tun ,,u1 ,011·-•,�,l·
11,,,�II. , ,1,1ffi1 "'..-.v ,,,, ''
1

16) .,,,t1 J1h , lit t ,,,; ,,\ ,t,• ,J,1 .,,11 1til r V,1, ,,, ,,, 1 1,J, 11•\ ,J,,
l: h11 11 1 l1"1: ln 1'1111111. l\1u,t1t 111 1 �l"I" 1'1
J,t,1 1 �"'''"' J du utl� 1•, JH,· l1t• l•1 11llç 1l •' N1• 11h
l'1uh lo • ,11 1 1• 1 . l /11
t/)1411�11.p 17�
,t,, (fl' 1 1 '1(
tUi J 1 lttt,·�r,1 t 1,1111, ,1,, ,t,1 .,..,,1111 t )/11
1 •11, ,l, ,,,, , 1, , /t,, ,, i
lli I >r1 1tt> h /,l(1
l 1n•ln, ) li.-.,, J)l) l /d�· ��il
,,. 1 l'1 n 1h1 f
/11, t/#fu, 111t 11rl t 'll tll,t1 l'tl�• �t,1 ;\,�11 11, :111111 J',Hiiu,
1111 1,t l I �·1 1111 1 f,l\'f#1\ 1/1; ll,t1 ,,,
(•A) ,\4•1111ruf1 1 1 1,111,, 1ftl 1 /t 1 ,lti, rl
ifll t J/11 (•• 1) · 1 ,,., , '"" ,/,,

·�1 ,1 rh i.u ,,,, 1 ,1, ;\1 n1h l ''" 1 u 1, ,0 t1lt 1'II Nl l\ 1


(1111111 �,.\ t�lo 1.h, ,ht
11111,Ht l� 1. 1,l 11h1, 1. .,., , hl,
111 !1111 l'fl / 1 v,,I ·l'J. 11, lt' 11I
(IU) l1i "'• ,, r ,,. , rll t/i hl \•.t , flu 11,
't 11 /\1 1,,,,.,,,, l ,,,,,,�,·tf ,11, ,,,,,, 1 rm ,·, ,.
, , ,)1 1 • ,u f , •1 ,/1 , ,,,, ,, , ,,. (

hi,, ,,._, 1,v), • 1111 t 11 11, 1, ,,.t , .i '""ª' l•. ttl •• •h h,1 1�·l t,• 1 t t11 ta� ,1� ,. ,u,,1 ,,. 1 ,, �� •

, 1 ,,1 1 ,,, 1,, . ,.,, ,,, , 1/,, lt,1 lt1w1, J1f l, tH� n,
, 1 �l'I. 1•11,1 1,•1 1 , 1 /l. •10 111

1
)00
(2 ) ·�, prune1ro aLSô. trata-se dos anseios de ce
unu m ulhe;- de � rta dona Lianor.
-'c-un f,� u 11UV\.41 ,vna. r,-.rt•rt1u1·ro J/:·l.l-1t
...... _ � 1 açdo... D • uo stgUnd
e11"11cia·ç6es d o.
r.r. 3 e .,.., a tJqhlo
,
(!6) Prim,ira Visitação... De,11,r,c;açõ
es da Bahia, p. 295.
l:-, ,.,,, Inqu1 iç5o de Llshon, proc. n� 33 \
82 (''Processo de
molhc:r p.iroa casa<b tom João da Cruz Our Maria Barbo a
ives natural da cídaded s
ra n. d B.. h'111 d� todos os antos Parte . e É vo ra moradO·
s do Brasil presa no cárc
d ta ad3dc de lt.Sboa''), ere da lnquis
ição
l ª> &gundo Vrsicaçãc.... Conjcs:sões do Baliia,
pp. 447 e 448.
,1<1) ••tmquyrycain que ho vigairo ...", pp
. 281 e 28.3 respectivamc
(30) "'TI. Inquisição de Lisboa. proc. n� 12
231. Apud Sonia Siq
nt� t
([lli�llo f}(lrtl4guesa e a sociedade co ueira, A 111•
lonial, São Paulo, ÁLica, 1978
{31) Pn'1nefro Visitação... Con.{issõ-es da Bah , p. 2.23.
ia, respectivamente pp.
(32) Primeira V,sitação... Co1ú1SSões da B 282 e 33t
ahia, p. 79. A melhor fonte
da p.1r3 o es1udo da Santidade do Jaguaripe é conheci.
o processo do senhor de enge
não C:ibral de Toide. MTT, Inquisição nho Fer­
de Lisboa. proc. n� l7 065. Quem
md1f. sistematicamcnle tem estudado este melhor e
movimento é Ronaldo Vainfas. Ver
cnas e milé'aarismo.s� a resinência indigena na ••1dola­
s Américas'', Est11dos Histó
de Jonciro. vo! . .5, n� 9, 1992, pp. 2943. e so ricos, Rio
bretudo ··rdolatrias luso-brasüeiras
tidades• e milcnari.smos i-ndig,enas". in Rona : ·san-
ldo Vain fa.s (org.), Ar,iérica e,n tem
� ronqursta. Rio de Janeiro, Jorge Zaha po
r, 1992, pp. 176-97. Cabe regisuar o
fho pioneiro de José Calasans, Fernao Cabra traba­
l de AJafde e a San1idade do Jaguar
Bahia. 1952. A problemática das fontes sobre a ipe,
Santidade será retomada no capítulo
seguinte. ··Por fora do írnpério: Giovanni Bo
tero e o Brasil".
(33) B�cio-me aqui no Prefácio de Capisuran o de
, Abreu à Prinreiro Visitação. ..
CtJefwõesdu Bali/o, pp,. 1-xxr>:. Ver também Rona
ld RamineUi, " Tempo de Visitações
1
(
-culturac$OCÍedade em Pemamlbucoe Bahia-
1591rl'620''. dissenação de meslrado
a�t"C>Cntada ao Departamento de História da FPL
CII-USP, São Paulo, 1990, pp. 206 ss.
(34) Para a quantificação das tr3n.Sgressôes e uma
abordagem sociológica das
ddaç&: e oonfISSões, vc:r RonaJd RamjneHi. op.
cit., pp. 69-101.
(35) Primeira Visitaçii<>... Confissões do Bahia, p.
8·9.
(36) Idem, p. 167, Foran1 freqüentes na América os cas
os de ''mcsúçagem cuJ­
turaJ" -que podia ou llào coincidir com a étnica - d.o
lipo da dleTomacauna. Quando
l-cmando Cortês desembarc.ou em Cozumel, na co,sta
da peni11$Ula de Yuca1án. teve
conhecimenw da edstêncla de dois náufrag,os espanhóís,
Gerónimo de Aglllilar e Oon­
,..aJo Gutrrero, gobrevlvcn1.es de wn naufrágio ocorrido
em LSJJ. Aguilar conservara
a identidade cspanho!b, mas Ouerrero decidiu permane
cer corno nativo, casado com
ind,a� andando tatuado corJJ brincos de guerreiro aas
orc:Jhas. Sobre o episódio, ob­
,crvt1 Jnga Clendf nnen: ''What it WcU lhat held Agoila
r to Jús Spanish and Christian
-.m� of ,elf,, ye1 allowtd Oucrrcro to identify with t11at i wa
. v,e ys. i.s mysterious" [S!o
misler1oi.o� os motivos que levaram Aguilar a permanecer
1 iden1ificado co,n o seu se�
d-e <�fll:UlhoJ e cri6tiio, t":nquant.o Gucrrero se lderuifica
vacom os costumes dos nati­
vo�}, A rnbivalt:nt co11ques1s - Ma;,a and Spuniards
i.n Yu�aran, 15,/7-1570, Cambrid­
ge Univer51ty P�s,. !'991, p, 18.
(37) s�or voJtu cJc 1606. interi lfica·se a prácica inquisttorial de enviar d egreda­
do1 par� o nm�il. h1 atinge ,eu ápice em me
,
ados do século, o declina no primeiro
qunrttl do s�ulo xv111, quando êl1I ilhas atlân1fca.ci pas
SWJI a ser o local preferido pa­
ra o degredo. C-0nsolUJr /\Jlm, 1 nqu:isiçio de 1-t5boa, Manuscrit
os dn Livraria. n� 959.
TraU> do degredo no c-ai,íLUJo 4 deste Lntbalho.

210
tiL do qu e de con-
to s m ais de rnn
al a u n s as pec d i •.
1
.
.vergtJl er1
.
. do
tn1a-
k1,
.
ins
xv·rr
e
ruz
e 10tl
G
lSal
rge ' •
.ltJ
Sc
G'Ofo11
. d,
run c ,a1
nl,, d c -
d
1
n '-
q u
(38) l)is fu
:1 no
e
pag
o
o �
rr1
t ue es
� · ,. de-
u
Ls.s
c
l
exiq
n em
M
. 1h a do r1s Je
o b· n o.,.....
1io n
" r â
lsa oo
li taq ue
ta/ zaç
o
e11
es
1a,1
o d
p1'd den
teu·d • · se dá ·
oc1
·,( "s'·n(iig êra
.
es et
8 e rn q ue . que a conqutSEB e
- ic t e
Gat!J ma r d � 198 • i n ne n. acr edtt o
nd ·
o c
Cle
s
g,,· ,oi re o.."'"n•s,
a p or Jng a do colo ruza do t.atn •
1O,nji,açao _ iflS , Pl·rad oni za dor sen
.-
,1 ,,irJf siê col
.
�r o
s
.
le.
pla
c
d • co esso de m ão du ·
,rime«' ° • 3 t:� pro
iC c s maia· s em "r 10lent conq i,esrs
do
b
ét
11
e
A

n o d aA rn eco de uinda . - rstt)I• Pn?SS, 1 99 1.
·
Jll z.a ,ç áJ',se de D i bndge U mve
oolo
e
b e la a n Cam
n1. ,,,
v tr 5ua tall, /5/ 7-1 570 .
l)é S p ior,ds ln 'l'it ca
nd on
- ,�fayo a
O BRA SIL (pp . 58-88)
"J BOTERO E
G/O VA
POR FORA
oo IMPÉ RIO:
and e Ro­
con cu rso de Robe rt Rowl
iw sem o
).
p od eria sor escr cont ato com
o não coloco u-me em
Este capitul land
a
a migo s. R ow
col eg as oficio e s auxi liou-r oe n o e cami ·
a!do V.in
do
itant < ª º B rasil ; Vainfa �
ero �espe
,
Bot dade.
fas
de .
. adas por B otero n o tocan te à Sanu
�rte das uuhz
ni
fon tes
z_ío
as
Rtla
o d a h1p o1es e quanto d�ta car ainda o auxílio de Ro­
n11oment eía da can a ãnua de 1585. Cabe
nece ndo a reíe rên
d e um P ro je to d o ti p o L a b oratório
for
is ia d e In i ci a çã o C ie ntífica
bols a l ca m­
drigo u,cerda, n to a o coo rdenado po r R o n a ld o V ai n fa s e d o q u
u isa ju
Integrado de Pesq et e a p ar . t e d as
,
is q u
CNPQ
Rodrigo p at a d R e­
b rn ia ha
u
so
p as so
bé:ro faço parte; . l e_
.
aq UI· se
L.a çã o
ro
en
te
ri
o
o
co te jo eo u e p a ss a g en s d e B
re la ti va ao B ra si l e au xiliou no as
·JCSt.1 ÍtaS qw· n h enus · A pe sa r. po n an to , de st e ca pí tul o se r fruto da
.
lozioni
oo· na d as e os �
_ 0,nada bolsa e de- ter se_ benefiCiado dro trabalho em grupo, 50 u 1nt · erramente res-
mcne1 .m mentaça- o .
·a· �
e1a s e . es eo vo JV1 en to ar gu
ponsáve � as I 1 pe lo d da
• ações para c.om a benignidade do ilus 1 ri ssu:no cardeal Borro-
J
(1) " an1
M . 1as
a. ob ng . •
u sen ho r. sã o ,nfi nit nS ; m as e° 're de m nao é p equen a ,mpo nâneia
mtu, me 85 de.
""::io pela piedade e zelo que tem
"'"'· que tendo-me Suo Senhoria ílustri- ssim a ( movt
....� sto que eu d escrevesse o estad 0 em que se encontra
.
da glória e serviço de Deus) imnn
boJe . a� r·llglàO cristã pelo mundo• p11'1opo monou·me • ocasiã o. para iaz.ê-lo, � de lançar
qu.ase uma vtsao · - geral sobre a E.uro,pa Ásia ' Á fnca . e º novo mu ndo, e às ilhas espa-
�m" ap -
�� pelo Oce:ino e pelo Mure No edenco Chabod, "Giova nni Bote-
'" Es<ritos sobre e/ Renacimlen10' trad .• ��e°' Fondo de Culrura Economica . .
�99()' p. 268, nota
ma
179 A estad••a mmlllla parec
M ��� � Si• c:I º fu ndaroental para que Bote:
·
qL. nuf�r,1nações acerca do NO\O · com. o procurarei. m suar. c re10
ui ·
ter s��: cn·�soc .... cu as cartas ies �
· u 1 llca · s enviadas do Brasil·• as . pr� ciso lemb _ a
r r
ainda<> papel desem en m e
h a d o _pela ltáha cm geral, e por R o m� em parltcular, na vci-
culaçio de notícias b S: géo
_
ens. Ver Numa Broc, La
re- 141()./620, Paris'-:.: � � la Ren a issàn-
6
e de
19
t
t l on s_ du crus. 8 , p. 33.
g aph
r !
(2) énclclopedia' ait oll : Vat1,cano/Florenç.a Sanso d., vo l. lJ, p. 1965
(3)H. Tr\!Vor-Ro r •.
o f o a e s' orm � , s.
� e l1 g. ià . re rm tr a n f açao social'', .1n Relig;ã� re-
forma e lran.ifonno>rãopsoc e '.
ial• trad ·• L'ISboa, Ptesen,_
,
(4) ,ver a respeito M a ,ycu'M arun . s Font 19 , pp 39-40.
.
litera.ria' ' de la Renaissa,,
63.S-80. Vc ' tam ce
re Funu
au seu
;7; 1·1 ,' L'âge de l 'éloqucnce - �
e , t!poque classique' O eneb
, 7�
r eronque et "rw
ra, Droz. 1980 • pp
.

b!m p. 151. . .
" v.or Car
("' io Cure·•o. Dai Ri,t
d
e/ Pensiero i(o/•an .asciniento alia eontrorif . orma: t:O .
� o da o u1cc: n tn buto alio storio
uvuwsma1 ''T . .
1ardi a Botero. Roma 1934 ' p 6
he &ee•lnrization . 1., apud William J.
0 - ni
of SOCJety'', in A usab> le pas
ory, Berkeley/L / - essays in 8,ronern.
<ulturu/ hl$t
e 121, autor os Al\geles• u ntve . .
d as observa rsity of Cali"1 omia n-... _.. ·� __ . 1 990, pp. 112-28
y ... ,.
ções sobre secuJan.
zação.

211
• (6) ··vonice and thc politicaJ e-ducat1on of E
urope''• .•n w·,1tliam
op. ClL., pp. 266-91 e 273 · J • B ouwsm
a•
(7) &crclopedfa cattolica • P'· 196<o
.
.
(8) Em Bolero, Chabod nota ''rec onhccimento d .
. o valor e d
modernos. inclusive perc:lllte às··d º·utnn� consagrad as pe s ant g sª expcr,!ncia d°'
lo i o mestres a
doria''. Ver Fcderi.co Chabod , o 1ovann1 Botero � op. c1. t. , , d
, . , p . 24 9 · Fr a n k 'ft
v.;Strins� e-
d.11. que. no oceano' coincidem a ex. pene ·� nc 1a conerc""' \,q d o navegador e a teona . g a nt
�n1ca,. na sua Cosrnograplile u11iverselie, Thevet, por exempl <Osmo-
&�ca
o não,.
mo cosmógrafo diante de se eio dele: ''Tout ;, q u e je �
"'
�� :::co.
oL recit nc s 'apprencl poiot � ::::1.. m;: �:/JS, ou de quclle que ce soiL dos u n I u�
vm,.
tez de l�Europe, aios en la chai ze d' un nav.,re, soubz la l<çon d e s vents, ct la
plume
cn est Je Cadran . et BussoJc, tênans ordirnairement l'Astrola de ant le eler du So ei)"
c ã e • . be v l
ITudo ,no que narro � sobr e o que dis orro n o s aprende nas es.colas de Paris ou
em qual,quer ou1ra universidade da Europa, m as na cátedra . . deum nav10 · 1 na aula'dos
\'Cllt os, e a pena sao, o quadrante e a bássol bservu.odo-s� o � rolábio à �uz do
-
:; �
sol], Frank Lestringant, L'ate/ier du cosmog 'P e, Pans, Alb1n M1chel, 1991, J>. 31.
Cosmografia e experiência andariam Juntas, . no século xv,· veia se a r 6 .a i
dcf lii-
çao- d e Leonardo Fioravanti, bolonhês em 1564· ••A.� � m •
s ogr a�a é uma ci�ncia que p pn
� c h �
:J -

a ho me m p e
ôd apr nd r e e u on r se •lJao por meio da c:,ti1'V'nênc:')j
jrun is nenh um ..... ,,..'

univ. ersa{e' Vene2a.y 1564 • apud F.......1, L,,stnnga nt, op. cit 3l
.
l'"

T- � �J..10 . dl sctertUJ .
. da , Lo wta e /e opere di Giovanni Bolem, Milão, 1894; este L;;!:.U.�
LU .. ,,�n
(9) e · Gto
. 1rnpo . rtante e �t�do com freqüência p or Chabo4. ma s infelizmente não tive,
_
é muito
o mo ent o. con d,ç oe s de con sul tá· 1o; dig o o me sm o ace rca do trab alho d A
aLé �
Magnagh1, Le "R nl un ive rsa lí" d/ G. Bo tero e /e orig ine de i/a st111 /stí chee;eil;
e Cha­
ela ,:Jo
, no qu al se ba sei am mu iw co nsi de raç ões d
onthropogeogro)w, Tunn1, 1906
das
tro du zid as p or Bo ter o en tre as su ce ssi va s ed içõ es vindas
s in
� Para as modificaçõe h � 'cA pé nd ic � d:e G io va nn i ,Bo ter o" , op . cil.,
a luz eotre 1591 e l 596, ver F. C ab od
PP· 329-30, nota 2. •', op . ci t. , p. 27 7. '' Ta m bé m su ce di a quei ao
(10) F. Ch.abod, ••oiovanní Botero ta m bé m o to m se u di sc ur so,
ct er es d as d is ti n ta s fo ntes, va , riav a de
varia r e m o s car a oô m ic oe g eo gr áfi co , o r a.
O ui cc i a rd ín i. p le no de�nt id o ec o
ora, guiad o po r L u d o vi co ô ni o , pr et en clia ça�
es d iv er sas pela a pa ri çã o d o d em
Jo sé d e A co �t a . em co r s
seguindo a . A mesma a dm ira çã o p el o s po vo
ér ic
noYOS,
po b re s fo d jo s d a A m ção,
çar com laços os valor aos conce itos de barb árie e c ivil i za
a confe r ú' out ro reinlniscên-
que o ba•ia Induzido mo dou trina s tradi cío nai<, das
ência a. um r e to bátb afO
dava lugar com freqü
das de
muitas v ezes . o vocáb alo
por causa das quai •, o aist.l
cias Uietárias e eruditaS, sivam e, u e re ligi oso que ti vera na u,,diçã
r,::YCS úr do &ignill cado exclu - q u c s1à o
voltava a se Bote ro", op. eh., PP · 2911--9
ovarurl
HslJI
e M&li a". Chab od. "Gi o bra de Bot e m v<r
desde a Idad Ain da sobr e o defei tuoSo da
árie será retom ada adiaocc.
da barb .
. (IU•I� par·
Chabod. PP· 300-1- ene.se drvis e "'
te. •• Vo­
rr«
B
co
ol<rtJ
e
B
am ,pat": .
Giov anni
óst
di
ue
ai/"
amer
vers
nov
ni 11,ri
Tusol e,
(li) Le "M atio
jglue. & du e co pio sis$i m• Sup eno n. P· 71.
li, con Je F co n Ji c cnz a de
A.g ost.in o Angclie ri,
p rcss<>
IU.
neda, A
M DCV
P • traJIQ��ila
eco, op. cil., · ência e n a vida
(12) Giovan11i Bot
'. •
se
74,
a.5$CSJ ,a.v a na prud
ro a "vi ,ntd e" ll.fflS ••atJ:Il osf era eus-
(13) Pllrll Bote
gui
· e
de
., 0, em ' iodas as suas ob ras, à - c na ça- o . eo.m l'd China.
. .
d
O au tor sen do afe11 rav a seu _pi o , J � �ta pa-
com � :.. �
lJ1llJ5
úoc a à que c:n da · .º
mo moral e de r,,n a çilo
o po r ,er abd ica do � o . cít .,
ro so l,n!l ud - Cha.b ' od P
i
drohad o po r B o•e da e pac ific a •
n:inO tão a os. u JOll 1'ida so ssega
uir, a m u10 s f.,; had
ra prosseg
212
1 1

- 1 '-

, or ...--
1 1: 1 '

e
I nocimienl1a-

e' _ , , en
on :ri· ai :
d_ a1h ,-
r
p 1 -on e·ntand . - e· ec ii-m e.m. ·. · u r
'Ilia Broc. p, d ..

, ª,
) . o -ro� op. !L .. , p. 69.
· 21 · J.de,m ibâd --m, p.. ·69 Bol ro e,. ·um, _d_ . 1ra · o,. dos ponu -
aaç- o u � -u a· 1nure ..- ·, do q·1ue a ,po,nugue, a diria , a qu: t . pane d , ,-..,,..·.IJ 01 111.
· _pud Ch �·.. od._ - , • J, v nn, Bol.ero - - p- c1t ,, p 281,, n,o
(22) : · �o, qu � .. · - peito à . , · _ nca Ch,abod. ' · -OU-c "'""
· u-na part .- a qual, entretanto, o, rapo ",o a ___
Do ·_, e- a que ·· · . ·e- •�., ... ,,. q nd -,o I ae
lh'n, - -
- ,rc1am --ob. . Bo_ ri o ·d. _1 · i . · _ o
--.. -·..·.......i ' - - · o -: · .o 0 , - cn' or · o J'e.- _ f t - co ·�
\'Ve& , mtlfi '
1
· ta . D Je - o a
amo n,o i · e le:ndas rel gi o - 1
- · cri . · ao
'
,, '" D'I \._\ nu
'e
·'Oor-.
! \ . .... _
,,! \ �?-
.'-�hJ��l�,,l d
, ....
' .., b()J '
( -
rn
\.1
,�,. '"
nth
,

'
'\ t, � ..

..-,"' t--. J'- U1l1\: ., e:, nt r� t\ ,ç �


"'
u: \,;• •ut·de
Borero J
I··,·
rcm 1� ,..0n
--·
1oa. rtftri
••
1 t'u N • h "-"'"t. lttent� d
\'l \.."'\),n ,1 S «>
SJ.J�t> ..,., ..... l};:ltll ' :uto... a rtorn g:r dfi�t)S d 1.
n!p1l.u .i er u. PO<:lenl st c.\ li, e <tuc
t ao cardt"al ,\nt nio o � p .t �Jl·
ac. l !ila .. 1 • 6\_•t\Bll Olt.'TO h .t, li\ 11d raf �t . � t'llrlr
O, segu11do CXpf\"S.$ olt""oe rei,.
et.i�t d e t,'\\1l.f\n1 B..\ti •ta
Ra o r G í . : d � , lil�.lo Ptó­
:1u i , o b a� d e o
• J(' \!\[tu, m. de 1:-r-Jn�is1.. nt._ l � �e O, •c
t

do, dt
n,·rt • i�
• �orei de- Go rn� 1ru de F' -
m�n"'tonado B.art(\S (J l}.to � Ba.rro ). dt' Osó . . \
ra n cisco Ló
� <lc
6...-,nJ. 1u de Jtt.Su� .•· · habo d . ''G'
fl( C<"Uftasdo.s
ni Llotero·.. op. \:1t ••
p. 279, no1a
• . SUC'frdo.
1 •tt\ \':l n
- � �, �·u).
l.!1 l lu t:n ibidem · P . 69 . 1 d rasi
- r1a 285 do en aio de C'h n b
�o '�br 3. l('itura da, arta ... • � Jc od, nova cons:idera.
Utlica : ··cre,ccnd0 d'1 n dt:i ª . sua .admi
Oc'S.:."!obrim ffltO!> e conqut tac. rec11;

,.. nlc ,..,�. quando s� pur\ha a ler ll5 mi
draç.âo pelos
:t";S d.i
ivas os sacerdo-
omp nhi'1 de Jo.u , ou a escutar as relaçõ�
. dos ue rcgressa\11m. ou inclu..
,-e t.nl r a fi.1.lar d1 o con1 o douto l>i� l>.1affci, familia � .
. r da cnsn Borromeu cru ROmtJ".
si-
"'
�) Josê de .i\nchiet.i, ''lníonna�ão do ll� s.tl e de uns cnpitanias
....
Carr:n. injormaç&s,fragnie111o.s l1isrôricos . � e ser111oes, São l>aulo, 1tntinia/Edusp, 198$,
(1584)'', in

pp. 3 �0-1.
(�6) ll��ria � óbrega dois moment·os d'st' 1 1n10 na percepção do s l
- • ·
tntc:t e lc, v� o índio como papel branco, fácil de n1oldar e de e.scrcvc-r 0�;c��:
� ;
c;�un a �� entretanto. é a antropofagia que ressall.a de seu escritos. Ver ÀdriunQ
.
Romt!'lro, Todos os �minhos le\<'ara ao céu''; Maria da Gloriu Porto Kok. "Os vi­
mo rto s no \ ç npresentadu oo Depar-
z e: a água
ial · dis ser ta ão de .1 do
a
s1r-
e
on me
ntr
sil col
''E
Bra
ca p.
\'OS e o
1amea10 de Hi:,lória da fFL J�- us P, 2. c.-ru
n partir dt
C
Sã o Pa ulo , 199 3,
de cr ist ia ni za çã o
do batumo' '. Segundo Gloria, •'a
lim ita va -se
to inco1t1-
ç
m ui
es per an a
is os adul nu
l 550 ao circt1lo do meninos, po
j es ui tic a,
ao s
n
os
, ór ic
ad
am
eg
er
ui 1. o ap
s
n1
to
d o u tr in a c ri st ã ao m es m o tempo que
co$tU·
tante� em rela çã o à o in·
is ó ri a ). A p edagogia
p
v
ar a
ç ã o p ro
,d a
e ra
vo lu
mcs tribai� · ', p. 7 (num
j su Jt ic a .
as
e
aJ g u m as ca rt
ta m b ém
d o p adre
a s a o C olô­
ar
ít
n idcr
ce m o s je su
co
iníâncla e
d o -s e
a
e n
o .
ev
c
ç d
11
o ,
ra
ã
b
p
l
a
e
i.r
p
s
a
in
p
g a l
o
u
••
i
r e ,
.
r io
o
P
b
i
in
e .
z
d lo
d1o
.�nch1e1a . Ver M a r y , São P a u C o n l'ex to ,
(o rg .) .
.S II
e
tl
r
r
o
B
P r i
o
nia� ·, in Mary
J J is tória d a c r ia n r 11 <J
d e i
1991. pp. J0-27. 2 . Sã o
t
ci .• P· 7
(27) Botero, op. (lS S 7)' ' in
.
11
do Bro sll
do µta
as
ta
Cart
Nó b r e g a . ' ' C a r
(28) Manuel da
11 .�
p 1 5 9 . r1n oç (}es .... p. 49.
ga
, .
1n
1988 o
t1n
, tas , i,if
de P1ra
t a t i a ia / E d u � p . _ . 4)' » in Ca r ilrfotr11a·
PauJo, l (J5 5 Ca r ias,
a de
'', ln
,
S
nte
a rtu J55
ce
••c de
Vi
. ço
São
jet a mo 'r
de
(29) Anch
··c a rta
J5
(30) Jdem ,
. ·• 89.
op . eii . • P· 72 . c1t , , p. 95.
p.
ro .
s
1 (lS49)''
e
(31) BoLc
c&
do
.
rta
- • op
• 'Ca
,;; •

ar
Nó b reg a PP: 114-5� rectâlos
(32J
p. cit .• PP· OP · n "· p
os
,
b1c
c1t .
(33 ) 7s5; . t,á ro a
60 )''.
a ve B ote
o (1.5 e
ar t e
. e
d
ero t
rno
en
••c
uo t
rta
Vic
(er.o cu
ao os
o
lh
nc tar
de
(34) A -• i:m
oo ,.
·• OP•
. ta,
• ot� ro'

u
i1c
o :,os a
1
vunn .
•e
1 1r so
r11p ntado
r ec e: ••O
ex , la
- d.
- • 1,c
h,1bo
c1n
aJ'
(fo
e<1 ,ev C 2,43.
ontru-�t
ao m 4. f •
nc
gn ( IS8
O
prc li a
)
de
()S
o� JU lh<' a·s e
Ver
nc ncr
a
enc:o
iin
reó

a de
dt1
da t ad o cns rc:
de
rto .
23
C a A 1 tn..,.
U&J l11�

n o, "
e
.
O ,·ti
.
e1t •• P•
:.A gJ
2AS.
214
.,.. ti
11 1. \u 1. ,� t\ 5 �4 )' ' . e l>· �'t l .• í'· JI\),
11
, r r - . • ... u \, 1._·a1
tt'I 7 -8.
,, p . -.· t. t t
Pl'
tt t\ '· ,
, ,.,,1
Cl .
\(1
·
'
ll5(\
\._
l
\1��n,�
l:
�- ) ·l 1 J,1 ••
l .. J· ....,\' i.::u1 1c1,t \:
(•li , n r �,n 1i, , l
• n.-;· 1.\ • )ll�ltit' -
•n,
·
U1._1tt
i
, l) •
• •(''.1Jt(t ,,e
• • [ ) . ..'�
n·� 1t\ '\.'1t1,
, 1.
, � r p,
'-

,
e1
� l..1 l \ ''

",
i;

\\1._1tt:
11
� ,
l· ) , u •• 11 •
l
1 '
s
\l'L'J
, 1.'lt
(- h
('t ·�- 10
.1 �)fl('
... 1._l\ ,.,.
''(.,11._>\ ,ll\l\l
• l)t>) 1 ,l . bn" l ,1\, l.'

U
l,.
·�
\lf
• ,l
••
,
••\n..

�1.�
(C l"O
('"' ._ ,, l ,


f•
··- n i
Li

l)i , t:ll ••
• )
ll l\ l
-�·· de
\\ \l
,..,l...
la \f

:v,. '·1 • , ·r
r..·.,,
f\'·�('\'IUl"l :-O '

1so.• Stihl'( �\ 1 l lf 1 5-,!1.
ít"'', tip �il .• '.?-� � J J
uvl:.l .\ 5 .l, ,,j•l \,ll\ l\l 81.'lC
• ,\ ..

.
· ·
l'nt• JÇ
• ; t
_..a ",\ p én u·.- ,� .., � J·• "' ' �
B0terc.., . r1:$1 l1.i-�e ( l Ufll ·1 • ,i,-
erttl ' t\c u1t,·1.• 1
ulgnvt\ ()t- té'-
b r1,.ii1._ ) r
(�O (h:t l�:1 �1· 11u ... d1 v
()
rc ,1 111
,�. 111
e. ,m c1 \t�
)
11tll� n 1
t-'l} Jtl(Ul, ,t, dt:Jl•1,.�Ofllíl·l1 ,1t:l C)f, •1nu\:. 1n
. 3
r ul<1.r1 z ..
...·rcccn • d ll
t'l\ r�.irr1..: •
••
.,
.
· , ot
ici'
1c..ia
-o ·.u. � rel:
1�10.t. n,. bt•
u.
; c..•u 1 1111,
tn
tcrnt
u
t'OJ, ne." ni\
e � .

to ...n,111
•,
J. 't•.
r .;Qn
1.:
. . , de -.nhc a ª"'Ct'Ctl d n
t: l.'\)l!> �
•• ui1 1 S('(.' lllO
• bh. tO L1 snb1
l\i>
de
·pu q

o
• utlo
d
un1 cho J · 1
sultn
ª
.
,,c:,i
';t
.�
t'!!l(')O
o.ç v,.. b<ltl l �<iin
l--�
for 1u . . •• t'l-'·
L'> ue
in u1,n

un
• lldi c.Je ti1ov 1
ote•ri·•.,iu 1 ••• · ;\l't'
B •
,.
n 1
,
(1tct1._
co
ra �ulo
i
1 ..
l1t
ob ch.
t1l
··u
b
. no ti,nt i\.l
·t•

h abi ta nte ..,


terrJ. e eu 1 1. •vet e C� lhl,t:
' ' ·it 11
lC.�I<) c.l "
, L \ �
fo ', .,n
cry,
g11e
.
)'
\ 1
n(a1
381. •
�tl. , . 3 O e
.·, "
ct.\ t\to . a 1 t.:S . (l � Ci º
" O
•· P P
Pu ra u •
,n ílutit :,. ·ob �
'-Lll t •, 1nnib
(4J) r-.tou t:1igne: l'c 'De .1,
ia. ,cr • 1 e Bre-si l de
13) -4 '.
da l�m ru fi
1

- og í'P·
· ng.1nt, L'h1J . ,, • �< e�.
.
.
ft• 0111·a�e
tn . . ct1
cr
fr!lDl: Lt: i.�ltc:1 , con 1
f.!Ue nc>I
cLiall
conju nlo; P� <I '.''"" ou W'I nde
ca
d<
tért
,\n
e<l I çõcs gue�rc, ms. se)3
.,,,p
•·o
je1;, o das l'Rl i-
(J.l) • , 0 prlncipa l ob 1
(..$ )
O
·
..
1
hra. [ .
utatlo s 1.: ...:om1d\lS c nt 11ruç a r>tll · ·
d o
scrc nl cxe�
r,ortt. z <r <.. - n ti , o" p.1ra
õ c � internltleã, . [ .. . ) ,\ l C \1 ç ã c1 p r1 s 1o t1 c.·1 ro
,
r n 1.-:: <
era
1, n .s 1c lu
"'
n a n. ·l � n tr a l -
ll b a unitladt.'s 1n n 1o re s n 1u l-
.
vo t ... l

l> n Ju r1 to
m
C
e
n .

w
g ru J) O toc a
.. .. .
rticular, portanto
l
a ,
t

1)t r rn ir i a . o..
u ir1in1l2n d e. fn 1t a u· e, o. lê 11 t d is so , tlc
u
úcontunltârio · -. re
n <; , o
t1: nr11a cs11é·
a a li a
u ti v
o
ct
d
ro
ll n
er p
rm
p
afí
do uo,n ó n 1o rt � �u
,
to ctu
u1 ça u n
en
gr rn
ev
in 1o
o
a v
g o
0
1i
1
n
in
1i
. �
ÍJ
socializar uo rn â tr u l
n1cntc un,
cc n
l10 p u b li ca cr u
clcdesobretrnbal t uJ')l nru11b"
al . � lu ta r
e
tu
a
ri
to. • 'Fragrn de hi tó ri cu lt u ra
l �r l,, s en 10
vida socin ', i tl M tt·
Fa u
1\l pi nn m bá ·••
to t:1 11 0- tli st 6r ic ()
to crítico d i.'
1

- da -:tnotogio. como inst n1n1cn


co nh c, in 1c n
Sã o P. c1u lo . "' ' '' p/Ct,111-
nuda Carneiro dn Cunha (org.), 1 /is
t,Sria do ti1 d ios ,,o B ras il,
C til lu ra , pp . 38 1-9 6, ci tuções à p. 391.
panhia das Lttn1$I t-en-taria Munit:IJ'> ttl de 1� 92 .
c� m al iLY > hors for 1l1i11s�
(4S) ··1 htr,.: altl!nd)' not�d lhe in,;istcnt of M ay n m c, a1
my <la ug ht cr ' fo r th c sa <.'Tc d fo r cx11111plc. Cer·
vcgctnble - the 'l?tt.-to blood of
bo lc:h P,
loc kc d t hc u� ric ult ur ril cyclc:,
tainJy Mayu killing,, evcn of '"";l.rrior vic lit ll . wl! re inl o
nnd titt!'A.• th�ir men . ni1 1g fro 111 it'' [Ji\ ch a11 1ci a ate nç ão sob re a ins. ist cn tc cornalitladc
is - ver de de mi nh a o l>luche
da, mctófoms maia, para vegeta ''sa ng ue tilh u' • par u
sngmdo, pOr exemplo. Algurnn� dtt execuções mtúw,, n1es1110 <1unndo nr, vf1ir11ns ert11n
o

i �artiros. �nctrrnvrun-sc no ciclo ugrfc;'.>lo, e tlcle c;xt rrurun seu .!.ignit1cadol ' l ng1:1 Clcn·
t1 inntn ,t,,1b1va/cn1 eonq,,csts - Nlaya u,1d t:;po,rior(ls lrt Y,1c,1tar11 1517-1.170, Com·
b�,gc:
d U. . ntvcr1>1ly Prcs.s. 1991, p. 180. Da n1Cc'.i 111u uuto nt, ver turn bén1 Az1 1,,·� 1
; ,,n /11ter.
P atro11, Crunbrtd� uo un·v ' ersa't Y p rt55, l 991, purticulnrmonlc cap. 10, • • Rituul: lbc
world tran�formcd, Lhe worlcl r(..-vculcd, \' I'np • 23"' "3 •
\r'lt
(46) o·d/ $Obre O con vetsán <I,, f(l!rtllP, cd Serutim Leite. {,ltJbon, f!dlção
Corncmorn,tvnº�º 1,. Centerutr,, . , du l•u11da9ào d� SãC> P,t,ulcl 1954 ,1. "',.
' • .,. c,1 ·
(47) PtI2,n,·lrcr o,a jl,.fi'�f4<1 dn .�011,0 OJlt.'1Q .
IJs pa,1,,.v ri<> llrt1,�1//. r.·a,I/INs6r.� 1/g Rú·
193�. p. 108,
lrft.1i IS9f·l,9
1 , ft ro d<: J·.
an'-> d� Abreu
ig ul et ,
Parcci,.rncqu; [61�r��: ,.�unhu
Ja ne ir o. ar
cotncu cur,,c huanana, a mt:nçtlo à de s>orc:o servin·
<lo JhU''d cnoobrir l 1 .n ,aâo.
'' , ue
<48 ) 1 OhJl L. l'huhu1, 'fh ., 1tl,1P,(lo111 nf thu l·'ron�JyranA· oj tht• New WorltJ•
2! cci., Berkeley/( A ' em /ft<:n/11,
.oi nAcl1: , 1970,

215
(4
< 9) Bt)t
cr , .
..10) liote o O p · .• r>
or Clt
70.
(SI p. Cit ·• ·
o
) c''
�refã I o P. 72
A1
Paris • ,.,
_
de PauJ G
d P h onse , a.r aff ela /f"
rne n,
o CUlo IClr, , -· •e, lft80 . A ObSC ISloirr, d'un vo a
"-4:(t} ,...._

Rem·' nli ve
� nu m m Ssão e s,, � gefa·1 e
rdad e. a . ome to rn
e P · la CUno , <1
o •.eJ"a o 1 e1toT d n Que n ades " ; �· ,.,,. do
mo e entã da não .�:
gc rn ns1 ur c abi a C:, ica !'é.t it,
opo, o o a feit à o lhe,- e nt e � a Íd fen, U�
e ro •nco rn as o aniropofa � r
e ou i a.sem . "li
bolll
:1�;
'?U.:.. !>as d_
n f gena' �!�
enc,,rc d'� :e� � que º� � e ri•co•
idades" o': •�i d e :" Ont ract · Pacf
� une 'ph i l p n o s ité s ' d • · •Ç()es ntre \!Jll
g ul a:: I , e �
'<>fia da · . :t .. s,n
é\geria J Ver '' ad es" e . d
' •m a Oão e p,
h,c d e ª s a u
.;,
agerie' "(
s tn
é
guJ ar
EJ e áv'd Por ., , "
i é
t s et o
· Numa Broe s pa , o
estab etecer
(52) cu
· e n ,
cu , P. 3 .
Ver a ro d "ã , op
16 r,a dos (r,d' l'ep u v o das u.,.. . . 5 u CU
"'ª "r,ti•loo..
&rav
n
tos o Brasi/
·
g
em M anuet a eatn
Br; foram
as gravuras, e • pp. 388 -9 A
. ra nde n ovid'
eiro da n
(o rg.), Jr
o·•rnpacto qu de da ediçã C� li:'
que\ an· maux e am: " : o e viage «·
• • bi7.arres
rn o ns t r u e u x u ver
r
Fig re s allé . n, de De
Europêe,, a ux a 11u rcs l� �. • nd1ens ·un Pass i b & o nqu es o u rnythologi.
r.: ,.. tral es' bataill J es. rõtissant
�ion dcs es . s an gJ a t I urs <ll1! •
o u vcaux Mondes . C n es I l imposen e
et I·a gr., n diI ette imag e e naive e1 ..• u ne «rtai:'�·
oquence, est eUl-êu n lale, hés itan:
D eI p eJJ x ! ".' entre le r.t-•·.,.,-
ler te 'baogu r e géo [ t lus b e e pr s1o n d.e •.,,
ou r
g aphique' " F guras aJegó n. cas o . ce qu ' o n pou rrait a
1 nstruosos • n di i .í u n, llológicas . , ani
t rn o .os imp a.ss vei s assando se us . mais b'ozarr J>pe o ,.
nal ' bata) ha• bõloo ta [ .. 1 . •m . • nurn igos • europeus de postur
• g ren s . poem uma certa visão d s Novo a iea.
gen • ngên uas e bu r ta·is, hesotando entre o rearism o s M undos I! tas .ima-
o e a &randiloqüêoci a, .cosruotitu
tal"c:z. amais belaexpress� ao do qu, poderíamos eh amar o "b e
uma B roe, op. Ctl . ., pp. 40-J . Comebase e
m irabaU,o exaustivoe �
roco gcognifico•�
tamento d�
Lítulos sob re a América surgjdos na Fran :re os �los xv, , , : ; �
ê _ dei Prío­
re relati viu a infl :�a do Novo Mun: ag,nárío eur opeu
: ;, �
�: O a nu m o
uo m
parece ter rejeit.ad; sécuovo Mun�o, e desde a i p radora obra de Atkir n é lugar-
se l ,
comum direi- que o a p aixono u- pe os turcos, pelos bár·baros e pel o o· nen·
a .'° ";' 6 .
u
t.c, po co olhando n direçao oeste•· h1' P tese que a 1·,ás endo o . ss " MaJs preocupados
se, ..... ''#- • inte rno s" e e om a con s olid açã o do"' . ,:r lvel l!stado absoluti.r•
com �va gem ·
e era .' r an s,o, nnando-0 em
U.Q

os fran •
< ceses ,.., pe r ocupar iam po uc o c m o qu est ran ge rro t -
de
o
m bá s e � C a rro usS tl
ba l'-
= e co rte - os lupi na :�� �
nd
fi gu ração no s e op er etas d
ente u : q e a º' de grande im·
s <ar d if er . ca
' ,a v Versa lh. e 1:"' d o a pen
Lu• em r e
,w;:.. s in ár io eu ro J>< u,
para o . e quac10munento de certos a. pect o s d o im ag
portãn a ci n u ar ia ím b ad vc l, mesmo
dº On e n tc c o n ti
e n re .
it o .r e s ·
m . od<r
ras e le
a n. d o-se, ev 1d e m e q u e o a
''. ::, '; ; . n a F ra n ç a M
consíder c a Je u u
le n ar . V e r M a r y dei p ri o re.
po�?uc Dll .
n � 1 1 0 , J9 9 2 olfo Garc ia, Jntr odu·
asile ir o , . ediçã o, Rod
na • 'Tempo Br Jglé s i · p ref á �,o à .
terce ira da terro '
� nso, "' padre Pernão cardlm,
7hlta d os
lS3) Ver Frandsco pe o de Abr eu e Ro-
ano de Abre11 • ian o, Cap í.str an
ção. e Cap istr . od e noias Bausta Cae 7-21 e 249.59,
' 3 •· e d · • ontr . · res pecti vam ente pp. l·S,
Brm il , 197 8, pari•
. , São PauJo, i:iaeiollJll/MllC
do mt Ít(I
gente hlsl órla do Btasll. Pri
c1otio G • an:ia Rod ríg ue.s , f//s l óría da
197 9, p p. 436-9,
H onó r,o , Nac ion al, co n ferir
_<
54) Ver J o sl:-
oni al, 2i ed. , SI.O Pa ulo
O OIJ ma nu ser ito S à Corte
..-,.
p ara
an os aue
l() r/O grtifi a col
a lev ado colllllS es pa ço de d
- f{fs Soa tes teri e fiz, p o r u dig11 0
) G abr i<:1 cu ri osid ad qu e me p area
(S5
do d e m inJia po r e scr ito , do
• dil aç ãO de
i: " Obriga le m b ran ças no , en qu anto
in form açôe sil , m uiUIS te q ua der �:['
o do B ra o ne e m es B f/J8!/ -.m
E sta d est a c rif lvo do
rt:J11di no ei a lim po n a r" , in 'T'rtl lo�" d es c
, ru. , P·
Bli qu aí$ lír iss o lu g Jl<> d n gu es OP·
par a n o
de noiar, ntos m e de- u
pud Jo s,l }{ onó
uer irn e . a
,neu& req al. 19 3 8, p XJI I,
!O , N acion
São Pau
216


l
l

e

i,

e

'
;.
I�



n
1,
IS

1
o
r-
1-
IS
l,
n
le
1-
J,
10
r-
..

e
:>-
�.
te

jJ7
- .2.

li

·-..rrJffl· d 19 1 •
. mu p. •

par.· m
(Retrato do
'""" d� . .. �

qu

I
- .
n 1 _ .- � � ­ '"
a""'--
o' P� ; ·a m o n
- d jo d J, ,, . : o �.
1· mo · e nte ·OI _a·.-
, o- d - e oif. . u ,alia 's Joundi .g , · o
e p ,·.
a.P'U , ,Q - · , - ar
fiara/' 10 . ·-. - n - e d
/: HJ
, c. -
, ar t 0 0 o B�asil no' o o o...
.. . � e n .1 e1 n e. n t liei d
p u
.e,t, . - ,e; , - O . ·o d . an �1r
J O · O
er n o "
"" ,· - i / U IF ll O
-1 , _ - 40, PP .5 ...6.. -
1 u.e nao · , 1 • . ,m n·
·· _ p ,zJ m
1 ,a'l"".''a· d · d. e a g o 1
· · - -1
.r d ' . p , u d
, . ral o, - i: eron. 1 , o -· . . . p. · ' ó
-0 -- ber '. , o ma ·_ , -o -,11·. H_i - � tozre . de-· la foli - ·-e a l - ; e. Cla. . - ,que-
ª r , Pím .irarnent r • , • de Ja pri r,n, r1
.
a :r _- J 7 2 · , - e'llle r , e t ,p unir - na. -· une P a · · . U· _ - . ard
_ .. , . .aJlim olonté de sa. oir: ' an. _ alli • _ ar 197 ··.
,s i o i re d e Jo I ali/é - f -: La
:; H
Ro ert, uchembl <l m r .. _lo. d1 ''. o em d _ en I ido a te - -� .� ut ·
.: __ da pel .- wl - ocl, - r o· .L ,n · ,en11on de I hon1in·e m,oderne - ensib11,tés. m·, eu,
p o rte m en t. · fie tifi o u . " ,ncie� Ré . .ime ·. ri a, a�d l 8 ·. orc1ere: j':3
:: o m
tice ,et ,ociétê ,uux Jtr 1 1· si ,ei /e. ari _ ,a, o 1 _ 7 � Ver a1nda , rab 1Jho pi -
neiro· de o,rb rL' 11 · - ·i if , ation' de n1oet1 ·., ·trad, Par_i ahnann· - _ _. - 197- ..
La sociét d oi,r. ra... Pari - fammari,on. · 9ss.
9 p oc, 1d 'e ,r-,do, ,que e· ira.m d,e b 1. e· .a I enco .-
1r.am· - ro m L1 · Ja -j i ado , o as _ u'nte cotas todas r �erente
· _- I 4
lngui i ' - · e · i ·, a ! · · 2 · l l ,8; ,47'44. 5 1; 7611;: '7·020· 26,16; ,-
7 ·. 7, 0 12· '7 .- , ·O , ·•· . 1'2: , m p: 1ncíp,101 degr-dad.o para ,o Bt- 1

rlcm· ,1n. a
, ,,- ·,a- j,·e·-und a�. rdena·e �-·ina- _ 'I! � ..
. · 'mb ra ' · d. na·õ · , --ili -- .ina tenham e, -tipulado ,es·t, · -.láu ·u...
' _ 1 1 I I
t

P d ·e · n· .. - 1t r ', · 1.· , · -. re o para o Brasil p ;Jo temp


.
·o de rê.
ano r•. ',.Cl'. ,· ,1

a Terra de - anta · ruz.


, ·tra , l · a im..
� .réll ion_ afrz aine a.i,· Brésil- Pari , p · 1 6
a r .r' , c""'.t· - 0111, · , -ruz_ pp. 194. , _
ria , -dilha , . Ioda a u,a quadril/i'a , - a Pa
ul

f UI

- _·rto_ a ,p cto. - _. b·f-:-, . - da


ól g . d - rlo lnzb· -r · a

entam mequi ...

· t•h · ..
i.' . i 74 1 -i1.
- 111
�.
n1 ,

1 n n '.
,n /1
. .


J111, 1,111•111

S. \7'- t E A( ) CO M IJA TE (p p. 10 5-2 4)


S. Rl�LIGT,T(J POJ,UI. tR E POLÍTIC4: DO

fln lo b na ·or 11u ni ·a1, ·üo �p rcs e11 tnd a 110 1 Co ngresso Luso­
e
l!st cnp lSc in- sti
Bmslleiro sobre u t11qui, iri\o, cu,. ão Pl1,1lo, ,nnio 1987. sob o título ''Visior1árias po
r-
1 1ugucstts do ��ulo x u: o sng.mdt) � o profuno''. Foron, i11corporados os comentá­
l'los crlticos e :i\1gcs1õcs então feito. por l\1urilena Cha,1í. Lu(s Mott e Marlyse Meycr,
e lllllil prin1ciru versno do texto foi publicada em T11f/1J1siçào - unsnios sobre rnentall­
rl11de, hrn·sla e <1rlf, org. A. Novinsky e tvt. L. Tucci Carneiro, São Paulo, Expressão
e Cultun1/Edusp. 1992. A todos eles. meu reconhecimento. Bartolomé Bennassar, tam­
bé,n prcscn1e n sessão. fcz.-n,c upe1'1as uma pergunta: ''Você acha que essas mulheres
e as santas sito a mcsn,n coisa'?''. Respondi que não, mas sem fundamentar. Após
reílclir nor cinco nnos. procuro, co11l es1a versão totalmente refeita, responder à questão
do grande historiador francês.
(1) Ver Biblioteca Nacional de lisboa St.ts ' ex. 216 ' o� 49 • ''Sentença · de Luzia
de Jesus Turceira · de cena o�em''; NTI, Inqui '
sição de Lisboa, pr,oe. n� 4564, "'P.ro-
1.:cssodc.ui zia de Jesus terceira
•e n1ora de cena ordem filha de Gaspar Dias Ramalho natur'3.I
dorn na ct• d ade d e Le1r1a . .
presa nos cárceres da Inquisição de Lisboa''; ANTI',

221
111 J 1 '""•1
"
0 d� 1
• l'r, � ,
l I (J,
11, ti
t 1
(l
ri \'t I., d , M fl '·•n
,, .' 1 J
1M , ··1·,
' ••• "Íd h I.
' · t 1 u otc �o
d O , ilt ll1 ijo ( �' ' , 1·1.111,il<
ir ' "'' '
i
I
,ln 1 " l
1
lrn • ru o ' ' 1 nquJ I �t, , i. 1 _ i <'u11 , 1
I n 111 11 o > V,ln <111 11 t
l
'i •n r <>h • 1.1 � ,,. ,.íll I"" ' "' 'I
111r.
r
j d � '·
'"º' ·•dn
'7!, '' l'
11111
Ih
r
<l<\ln Cid � " ·. h o
'" (' '" � '
011 h ll d,
:
" '
'"•�
11;·'.
6'"" �
;\;
l<hn • ''
°'
'· ,/;
11
"•d,; � 1 �
, �"tl , ti,, • '"' • 1 "''"
d
'\1,
: • 1
l : b 1
<•;:,
,u 1i11 J que ullf rAu d'" i�''
ud
qu11:
i t u 11 o e llQ" '";t ll 01 itb
lf
il�
t Ii d" 1nqu1 , • tu
11
li 1u1"<Jo1 l d 1 11 "•
: u ,, � l d � ••

"1'1 ' • Am '"


"�
,·,1, d:;� ri
1

, lt·nei, t L l� � :; ""'
d
a
1, lnq�i�t.'
1
:.• o d or d�� ��·

I" dc
"º'
• d ; " � « n11 • d, l.l;t,ÓTI• 111
1
,
�'.t°
ú
,;
J 1 � "·• Oa 1
.,
• 11
p,,,
,., ,� ue ,,nu c11 "" • 1. 1 11 cn 0c "' 1
_ 1 e "'"
.... "
n t.i , •d �
lu� ,r d

!>:
o
q
l 'ud r o
,
nu lên: e J
o dt
o,�'
1 1 1
><>�. Plll<
'
. •' \
0 1"'
r t dr I i h d , Po 10� d, ••• 10 Ili,
dou r • �
1
< lllh
do n "
,i
O I tn dt
nh , m ""'
Q U.iM 1
• u
"il
o
� >e
PI<.
rem
n n
o,
cd
<"t\r
111,;
o,
atcs1 or n
�1 d
S,º
l
inr
<rm o de
o 0ff �I

l
° or
'º'
f<',
,1 , 1111
Vcft,J n � Sln110
.\' • rnnr
,.
p., r' o, ti 111 <Xi • Cc·1 , <ton •·.
, c � s 01 � : � :0 11 ,1,
• m �e se
nlh • :: � •ç)lo •<><1

d cdi 11�1 0, c01 ,


' d eu 'lit 11 n De�� ' "•' QU1,,,
e
" v1d 1, ,. :
º

«r"" 1 or n,md m ., e n1. " "•1 111 dr.i


, : / � " ••n nvo o, � q•e
111 lh�111 d , ,.' n nj,,. do 1co, · · •0111
AI f on ,í "·• Ri. .11, �1 . n n,t,111 � º' •l tllp 1,, d
J>On"• 1 � J••11-M lcha 1 nll11Ver Je (or �I S.llrnnnn, "I:
'111
, '"'", b tr>q11e,: t
º'
lllll /$1,a /'/n ron rr � g.),
r 2) ( f A. . li.es . /•n
q 1n11n

de Oliw;:s
dv
d • Prul,, , •u, 1\192
Z.ln "' l1ul/,n
"'I
! tt ••olui,6t"T Mar qu• , ,,. 74.
llberals &• ·tJ ' li -1-
ll'
r:i ;' ria d• 111�a /
bon' 1" lldllorcs
t Por
At.c, do. A rl'nluiiJr; '. , 1980 ·' ,,,u
lltl, orl
do e
lxu1/011t,111� . 2 • p. 422. 'ºªº L ,cio do
li i" ;e
lh, bo n • �,vnuln Cid,
• Vuormo M ae, G d ' • 11 11, 19"17,
1 •
JJ1 '

• og a o rn � ::
••

t(1'
. "ISSO •nu m9a o •·.1 �·
Sov • 10 ue PDrru lo : � os -11 -
10,
m r s:
J,i '
liv
1dr
sho 11, . o,1n, 1968, PP ll l-91. n,i.,
,.J

1 r n �� � � •.
�,. que u profu dn o o:co11õmíco entre Portul)lll • E$Jl . '
Onha no ,éc-ulo !<\'r,
m o itntc, du Un '·'..iodas oroas • era aco 1t1p
. anhodo. d· B pcnolrn"'ao culmnth<
nhola uo P" ....,
'' w�no nerno fu!>o• ocorrendo v i. 111 ngiiismo • no, <nouodn, domlnao1t•· "m !''
· n1a1d s ,nnp .•. u 13,c, • onm,1u1110, con,idcrn q e v",ccJ11VO "doei d ().llllidade'' '"
u h "
•" p3nho. Ac cdllo que se havia 1 1 , 1 i fiC11�:�
nflo ig t v;o, qut nlo hou,
r !º�úüdod<,
hrc o p0vo infl,;êncla cult n Espanha. Ver P 258
(;) A rxpréJ. QO � de li • B rtmond u
· Apud Jea n De.l umcau, · ,.· , ,,.thallrbmt "'"
.
l "' h r etMVoflo,rr:' Purr ' r·ur, 1971, p. 95.
14 J nrctJ Ba111iJlon, lira.\111e et 1·1!' :-9pogn•. Purls, Dro,, 1937, p. 748
' ro;, 0, bl·
1,, Oufil:i L. Pcrelm da Co na ' M l3l 1Co s pn tt 111 11t srs do st ru 1ox n .

lo & lrm1 o, 1986, p. JSO. R o s, 01 10 , itfo11urlo dd ,.,..


i t11 ' op. cu , .,. l' lc lr o
ló) Ver Dalilo L. Pa,tc ,ra dtt Co
D
. tl, u, 1.989.
' M li o . 1 () Í1 lO l"1 ri • ..niar·S• QO &olidM, calor eco•·
quilo am 1 o e apro zfrol e
o.�" in
(7) • 'Ot1'1-01 ).. tJddvcJ ric
11
. Aplld Américo Cas1rQ, ··sup hi1t()
.• dir • 1o. Kcm . p1s.
uel'lto s

' ' ro t'U l , 1982. p. so.


t m D
Madr i. Allu nzo, •. p
�J.4 : "IJI ,.nd cnci
11BS
(JJIIJS ,
p4gl
onor
4
en,
P· 4 , Na.< ,omó 1•
,\on ru
. que
Y tJf/0$
dr bO
a
rum
,i;so
IIO, • O
(�/ .11,lfltr>Cú Ca1 nUIIV
71! op.
. 1111 • soil fll dei 11•·
od os d , puos nUs m o y ""'
. r
ru cn la ltll pua de t a de I.AJl or<> . 1ndivldu
la l sc 11u J D (bi ia nlt mon 11,< Cli sm o:
,ón ,crio
..
rnó
•• 1o
r 1,,�
e u i m ma , fort al e< «s c. lnrl,no
pi ede d, y <U ai .110 oió n
J
uello pic dud , arf• a la
..,
pat ei<> •· /\ q oJcg ido s, Uet1 • J11d•·
rbn r• a1 11a s de au1 ou o rnla
ruodón < dr i,. po rls y c/1 1
••"''"'''"'º nd l"'
110 tbi cn1 i do d. E 1 �· • ;e
cl péeml ,.., n lo Olvín rl• cn Es pa�u
uc u nitl n 1o rua no p u�•
de la r w ,1, io on o mr. r1c o
1, u e� com ie ni o, f1 oó m ,enl• .
1,
•I
dei xv
o o n lo • r, n ec
v,, vi•W u�
u
ª·
m
cn �
,a �
w
'
cin �
in
1)11
pendcn que li pr vld ••: \
,d oji c <> 1ud in di
y � or par. I• 1n q oJir • '
l(sÍO "' fr u to de n! 4
1.:> c oll l<> b<la, p . 3
�r sí1 o dt l 1\
plic 1�.al
r0<
11i•
e
, r. 1 n g
VL' l "
(9)
112
1>r • 4 l 72. n ,,· "'1 74' i ·
1 ,t ,,, u , :, ' ldcs n •
r,rrJ. 1;.
li

l �·7·
)C.:
•Jl
"

. , ,, 1 , ,, 11 ' " �· S4 ' f)IC 1 1 '


•1b r ,1� de l )\IU\
'

' Jl lJ ,,
11, l •, II.. ,1 ,
lt'
t i 1.11

"'cJ ,tr 1 ,..,t,,, t cnl r� ias


J1 e
uf i. 1 4, ,n 111 1 1r r,u r • � cJ c O t(l
1 " 1 i 11t�•:i(l
J 11r 1 1lt<IO
·
11 t, r h 1 vt> l C.>1i t r.1
it
A 1 t t r,1 , ,d
c1 t ,. , l)e n r r c
(l i� t n
j j l) " c1,,, 1 10H•' ,,ti,,;. ,\ ' u 1 11 1 1 l f�iwlíl("C' "c>h r c u �, ".' ' ' � t 1 fl c l cl J� iô (put, l lcndt) t:Jll
r < l ... '" 1 ,,1 •
)l, 1 111 1 , , , ,• ntl l l U I Jl cJ 1 �
t• i l
f
1I
l JICII I O� �
t
(' ,. � de i
1 , ,, t lllJ
Ctlf l l /�
r>rtl t'C'(fi ,,uc f)Cf
1� M 1c h cl
úJ!/
c�1
Jrl
• J
l /l /l/ ll
º " Ver
l t

n o ltlU I'
\ ( l IU'•
,1.,.
l l
/ t
11l i1\,1, , ' ful,
'
t l\(;,, \ (
u 1 u
uae
1u
tt r 1
i1v:1 J ' ti, · \ 11 11 .11
.,,,h r,•11 J 4Uc t: 1 , 1 1 11
dlc d1, , ""' l S:all
d ·1\
) dc 1)(' ' in Jcu 11 lchc

) J
• 1,,i.- , '
1 1 1
I Ju flt dei> e:• nri
1 ..
l
r , 1 ' f l) lll l 1 , � ..�
d 11(J l" 1 clu ui . 1 1 1 c
e, du t l c ra tt > -
b rc
r 1 1 �
'\t'i t .. ' 1co 'í O
.i.:i:
"u ulr li� . " f IJc;�<JI 1- ' ' l., i,1
� , 1 J l lt:' u � o
t
.,, tt t t " n,:\t
1 t t 1• tVc! f tl , nn j \
()
111, , u u n 1', �t /\ f H·,1 u
C l lll
e.1 r� íc> fl)i rcaf 1r1cr1 t l'
'i.1 f> �1t, > q ue
11J
111;
C!I , uc:;rc 0
,,, .111 ri , 1>L 1r1 ugl lC'i

,
(ll tjl l 1 'Ji 'lCh
t lj )· í. l l
1 (C •
f)�•(t )�
uu 1
1(1 l
1
l. t, t.:fl ,
J' H8
1 1 1
lt:1, 1,
1 1 111 110 dt
1111 .
11
l nll1 't.
· r. , i l l l fOtl . n�,t u:,; !
,\p ud J )chtr t1e
,11J .
x • c,t,, i.;
1 rJp
( l ) J lbro ri,• /o vir/,,. 111 lJl1tt1\ ,,,,,,,,�: ,,fj.(• l l l tr, , O' ··1' 1 n 1 ' ' MnJr i . 1 3iblio t c<.: , LI�
1,. ' ' , l \

( 1 •i ) ( ) ( • f ), , e ( )1 11, C: I ,"1 1&:


,-c 1)1 ,>:o., •
..
Je 1 11 ,�,,,.,iJ 1lt"
IOCI ·
,
l "1'16
, I'·
1 1 1 ()..l •
· i �c l u r 10,. > ,
j\tl lllíC\ ('r r n . 1 1 r>J>. � 7 - JOY .
ld r n1 , i b i dc
• 1n1c ll:."
��1 P· 1 1 1 ' • ' Sra
)
(lj
o p .
,

jtl,
( l ój \'cr l)l•luntr . . 1 , op. ..:•i 1 l' J l•J .
t' I I . •
1 ,1 <•111,
t J ·1lt lu J 'cz t:1 da C
( 1 7) ,\ nu J
i •

·
I
op "'' · • PP 3 3 7
o su :..�t i l ·
'i6,
( IH) t )ul1 l.i t \
. 1 t'J(•t1 •' l l .i ( ll\t.J ,
'l<= tt t p rt.: i i vc u c. 'i ll l g l o ra
o n 10 1 ív o l , .1 11 1o r q u e: .
u l L n ll
)

111
l l'J ) · · J .o1 1.1rnbc �1. I -. te rn e fc
<> �c u <> l fi.: io p c (} ll c.' ·
l1
11.:n, t J�i l u rc r ·l l lc
dç 1 • 1
r u s. 11 ,e
ti .: N o ,
bc!,l l l
.,ln(l a n1u1 10 111 1 I C" '14'f
•n i () n t>'i:?I• O c o • r1 ve 11 10 T l> I r<: �
., p
1;1,
c t1 1c
'
, . • o r
• �or 1
r
+ hd 31 1< 1\ l
no. que ..·� 1o r• I r •· 1nc! :&

l: :)� [lu V C \ I 1
• u eh : \ tr 11
� c 1 1 1 o ..
!)0
,r t11 �0 1, \
,-.u ••., 11 n •I Kc ru • 4 [} (, ,

tu : ,e: " l l
fl S do F n 1 0·
1�,c r R cl ig io <1;t.i ci o P ai ri u rC
-·�f ll ri to 'l nn to de
111 1111<.l cl
,c: 1,.. 1 7
é!

pr()(• t'I\,10 <11 '\l i l l l d o i;o fl \ç ll tt 1 , ,,
A fl ll1 a, 11e ri o Pa cir l· f\' l1
1 un 1 e•, "O' l••... rtí \\ ll llJ " vé ., 1 ,cr.1 e ,.: 1 rll l o ' •. Té•tt
, ,•
tl
no i''� l us, tr tilS l l H L�.
'.S
'
<:1�0 hU\C lll ,.,
, • .,, 11t1 tu ra l rir.• L /A,· l>otJ,
r,nr/, t11 ·1a
u i a/ ,s < ,r, •ó 11( •
'\ltJfl()t'I <Í IJJ ( Jrc1,:t1:; ( a
de M (l lo \
, rc �b t!)p ,) de ... vo ru M cl ror,o lt t' l\ t\t'\
.,. ,
t I ç\' t:r cn u t) Su n o s• e. , 111 0 r D on t Jo ,c- r1li
asb õa . po r l\f . .t !h tu � P 1n

l1c 1ro , 16 3 ( ).
�c:,,dr ra \, 1
••

1,"l) t1\ tod it, ; 1\ lic t 11 i.u , nC'


# •

(ln r o n1 os t i ro ..:o '. Tlll


(2 0) l n,puo - n1 c aq 1 1 1 n.i bc l n .tn ál i.sc <1c: J ac q ue � l...c � of f 1

to cn t re o. ní ve is po pu la r t: cr tld tll) c.lH t:U I·
c:�pai;o pr ivi h:fi iu.l o <lc in 1t:r·r�ha 1..· io0J m en
po pu l n i rc� de , vo yH gc s cln n� l 'nu -d elà au M oy cn -Agc• •. ln
tum : ",\spc�I:. ,. a�'.l nts el
- F-5.s'11J , l-'i1 rl, , (i . 1lli n1r trt l, 198 � . pp . 103 - 19. ' ' O n a ir1YO{l �H�
/ 'flnaginoir,.· ,11efrli, c1•fl l

pub liqu e. corn me de) Jlcu x dé soc i.1 t)il i lé et d 'éc h:.i 1ltic
111 u1v1: rnc �t su1 1ou 1 tu pin ce
cuh 111el"i .,u M o)cn-A gc. l i [aut 1n11 i:-:-t1:r �ur lo rôle jou é à cet ês:1 rtl por lcs 11no nns 1�1C
Í\,
Non �eul<.• n,cn l lc:> r.1!)t \t)r1 � e 1 1 1 rc nl<>i ncs ' lc1 t rés' cl ' u n c par l. l\l\:O ll>JI! :; llie1 t tés�
<l1:
l11Jar11Jll(} 111on a!l 1 iqur 11:l hôtc: it éi1.1l cmc: nt 'ru� tiQ\tcs ' du n101 1ustcrc, mais. surt ot1t suns
doutc les rclntia n� c:tH tc l ''éli 1e' dcs 1noine s appar tcnan t soclaJ emcn t êt c u l L t1re11c n1�nl
uux couch�s do111 innntc:1 (et cxc�n nt lc fonct ions d 'nutor it é <i(,ns le 111 ona. t �re) ct
'shnplcs· n1olnc� à dl'tni illclt rés ont dO fou r n i r t 1 n 1errn ln c:,tcep1 ion 11eltcmen 1 favona­
bl1: à t<1: for111� d 'acct1lturnLio n'', n. 1 1 5 {1..en,brou- e da ítavernn e.: :-lObrem uuo dt\ rrn­
çn núbl icu con10 locais de sociabilidade e de t rocas cul t u rais 11n I d ade Médin. á n t"­
cessário insistir, n�sc senl ldo, obri: o papel d<.:s..:n1 pcrLhatlo pelos n1osteiros. Nti o n�na,,
ll!i rl!laç?t!s t>ntrc. por un\ lncio, n1onses • 'letrudo • ', 111embros ' ' ilett;;idos'' d a fa111ilia
n iot1ásLac n e hó�pcdc igualmcn 1e
• • rt\ cicos' • do n1o�tciro , n1as, sem. dúvit.1 a, �obrctu"
do as r�la,"�õe�· C"'t ,. re a , , e1 ·1te, , d os monges pertencentes social e c:uJt tmralmente às ca"
ninda..-. d omIni na n l es (e. exercendo .
• , n.� funções
· de autorid,lde no mosteiro) . e �·s,mplcs• ·
n1ot1ges scn1ilec r:iclo d � '
s evcn1 ter "1o r11c(1do ' terreno cxccpc1onal n,cr1fc favorável a essas
f,orn,as • dl! acultu rn�à o I ·
. . S ol)re a penetra-çllo da �ult urn religiosa en1dita nos c onve11-
J .
tos' can- lvt1ch cl SaJI
n1nnn d'tz que 1:u� mulheres eran1 ana l fabet as , mas r1ilo ig.noiran·

223
r r.

,,

-
J li
-" r;
):1 '1

�.
- 1íl
11

2 •

·7·
1
.
uth ,.r t , 1- 11
'

• 1:us.

C'

. '_ 7' -) ' 1

il. ',, í u

, lm' RI ,dl

,r
'.�, p. 95.
l1 cat/1(1!/CÍ!,ITI(
tlJ, /..R . .
A pu cl D c u r1 1Ct . d1fJ cc "
J. nlt)ll cl • c,p lr1 10 sao
o é d e f l, u r�
sas lnt cri orc • do ''. J\ p u<1
p r « s. n , ftt , �• "a s coi cJ a m
(41) /1 CJC < " 1t seu ,c,11íc1i.sor e le fo rm o q uc o ou " º' e n LC II
obr �.
, u u J
. t r � fiei 1 1; (uz i!- lO t987. p. 127 . Ne sta
l)izln ,. cr, e :i1ndn •1n,•t 1 s. dl
'
. Jlr nsi lic nsc ,
<I"• São Pa11lo fro 11lc lnt entre
de d.c sc r <!" /tflf)U(()
S, 1 r a
111, oc ,. f re qil eutcm cnt
. • na . · n cJ o
v.i n .
J,1dit11 Oro n11s sobre li nn1 b'•
;l tO S
'ºilido de cl:i >
do fenó me no. ns v,s õo> se 111 ulu p 1 ,ca
as á i . A '"" d·, c<1 ci>> ilO sob re o a ssu nto.
o
há b r �t1err1·on1s1. no. P 1:.: '
c• iud o s rcc enrc s
d. � r,n sAo 1m1it oS o• 1-17 00,
s a ntl d n ó.hcO do 0 ,;d
"' cnt c 0 il'd«d et1 Mi x lca - 157
d eo c ut q,i isi cr6 11 y soc . xv u ...
.
11 •
.
·u\ gc AI be rro • Jn " • bcu tas dei s,gl o
no 0 1 0
Xf <O, " "r Sol
. PP· �9( ) -53 0 , ne .
...
,-.. "' o t,f I ' r:,:o nón > ici1 . 198 8 , "V isJ ona rl cs nnd
,1 Cl d.
·e cuJ tt•" dric k e Ma c Kay ,
O 1 ·o nc e M cK cn t\ll&US
,t.,n Mary ._
Méx.iC aO r, M xlc o. Gc rn ldln
1 h ccnt ury , r11•,za b et I I
ri,rn nu- �. � P ll t 1h ha 1 f o f rhc "". c e11
H 1y dur in& 1he . si
(,r o/ the /11q 1 1/s/ ti o11 m
cc u . vc ni'rli uo
sll" 1ter s - rhe ,mp ocl
nf (
c ruz (cd .), ru/11 111tl effc 0t11
C ali ror nla P r css, J 988.
p e Annc J. Wcrltl, Oerkcley/Los Anseie,, Univcrsity of ofu nd and o
s;� ar1d ti"' N,w do visi ooari; mo e apr
and o o• lirn ires
93.1 0,1 Pa r il o 1 1rasil, ultrapass do pi one ir o de t..ei l• Mc .a n AI·
PP· . n al fc,n ini1 1a, ver o estu
• e,1 ilo dc vocio sob re a co1 1d içao Je­
u,mbém qu
vo1 11s: tt111 lt<tt'S 1/a Colôr1/a - um e.<11 1 do
<' de /
tese de d ou.
g,and, 11ont11do> 110., • ,,.,·o lit imenlos tio Sud e s ,� - 175 0-1 82 2,
ml11f11u ,uru,f.s dos .
ca1 1ve1 , 199 2
ria da São Pau lo
10 ,ado apre«
nrad "º u Ocp arrn me nr o <lc
n
J
e,
li�tó
la dé va lu a
1•1, 1.c:
tio n
11 -u<
dc s
v,
d is co u rs fém i ni os",
tio
( 42) CI ui rc Guilhetn, "I.!1 nqll isi esp 10/e , P'..t r is Ha che ttc • 1979 1 p.
201 •
Oc1 111as !ínr (org . ). J4 '/rJr.; i1isi 1/o n a,:,
r1ol o rné

ln 13a la M o, Jrc de D io s, O . e. O. e Otgcr Sregginik '
c frc n de
A es1e re,pello, vrr tt11nbén1

rá fic a" , in O bm s co m p , p . 1 1.
O. Corn1., "Rc,efla biog
le tos

(43,) Di1.io11arlo dei sanrl. p. 212.


(44) rde1n. p. 169. 'au-dcla
(45) Jncqucs Lc Goff. "A!.. pcc l� sav nn1 s ct pop ula ircs d es v oyag •
e,i dans, I
au Moicn-Agc", ia 1:1111ai,i11a/re midiéval, p. 119.
(46) i\NTr. l_nquisiçíl.o de Lisboa, proc. nl! 10 198.
(47) Mlkhtul 13akhtin, ,t c11/tr1ra populnr ,,a !dade Média e r10 I�e,iaj·cfrner11o•
trad., sno Pauto' l rucircc • 1987. ,, ver sob ri;t uclo caps • 1 • , , Rab cla1s . e a história do ri-
•o,.; 2. "0 vocabulário du praça plibJ"c· 'obr:, de Rubclats··� e 5, ''A imagem gro ..
tcscn do corpo c:m J{abclals � �uos f�n�e;�
(48) ldCITI, p. 68.
(49) ANTt, lnquisíc;ào de L'L b oa, proc. n� 11 358.

(50) Uakhttt\1 op. cit • 1 1,..... 2 • •
(5 l) 1)av1d ' l lugh iarn1cr' TIte O�iford
di,·tio11nf')' o/ sain.ts 2 n. d . Oxford, Ox-
ford Uuivcrsity l"'ress 1987 ê . ' e ,
U
' pp. 282 e 292-4 · n • a blas cn11a b,denunc1a
' f · d a por volta
ele 1590 a l l""1'tor 1•u � rta• do de. M cnd.oça na Jlisi1ara
de Ptilo de í,ora e pros111u . . o cie P,.."'· r,,a,n ,,coassoc1• amull1ercs
1çi'ío·. ·�cn . 1 R01\1aan<lavaimasmull1eres com Os pe,to
beriosequeospa• tl", ...'•· · s desco-
sanlos ço ncec1·iam indulgências aos 1 om.cn
"r 1ssc111 airni,lmc111< . � s que com elas dor-
r":'pc,10 de coo, isso divenir. aos omens de
nefando", Primeiro;};$º; fazer o pecado
'oçao tio San/o Ofício às a l .r
o Brasil. Coriflssões d• Per-
11ambuco, ed J A
eo, 1970, p. i,. . O onsalvcs de Mollo, Recife i � � �
' o,vcrs,dade Federal de Pemambu-
(l2) Unkhtin • op. cit. . PI), 16'2 -9
de J)ernan,b1,co· • • ,ve , r ta1nbé m p�,.meiro V
p' 24• Sobre o caráre
.J
. isitação... Con sso•e.s
&1t111de & sen r afetivo da religião, ver Oilbert o F t/i
uiia __ reyre, Casa-
triarca/ (;39'• ed.. Rio de
F o r m a ç ã o d a fi�"' n,a · brasileiro sob o "'g1n. 1e de econon1ia po-
Janeiro Jose Olympio 1958 1
) ANn, Inquisiçã d . 1
' vo • 1, p . .343.
' o e L i sboa, mç.· 5
2, ' proc. n� 557•

225
P hola g - tuou no an o
. J8. 3'DdO- e d d nd
0�
cn t o r an 110
d I Rey no sso S
ress or s
l
eir a. i m p exp uls ara m �
n te• oliv e asil eir os .
u cV a le a d o o_ s Jus o-b:t o e patriota foi rev1v1-
d e 1-1e n ri q d�e p ois, qu n r
c 1 � 11 e n ta a n o � g u rr 1711:
n1, 0rfi cerca de cinqü . o m110 d o sa11to A : 8d e m arço de
0
J
n1
d e
ntô
(lc 1665• , de Jf1n c1 ro . sel ho Ul t ra n . a de 3 d e
º . o C on m cart
100
d e 1
1ar
s do"'º e su ita ·
france � . ne ntesta un1a o o R_i o as·
.
d
eiro
s do
Jan
era
de
o r i �
eal du
nia
co , n10 nas v ésp
t
pita
do, .: o n F u zen d a R C a
oss a f U·
a v ta
de,
d t.; a tan
sta
r cn en1
a,e
e es
M
·•O p r o v e d ss ado fn z pr ach ava a qu ele p con
nn
ovo
d o o c1·da dc 1 se rec orr er
n o ,· c n , brO .111
ce ses dcr n � q11 ela
rép ido,
,1ec es.,t"dri o
n
1•
ra
int
a fo
fra
q,,e
o s o cão
c om
m iru. n
do-a
ue 1i
ra asse nt ar . a cap itão , te11
�110 q nela de
de
o viz inh o u . �a-o se ,,,a Vio ssa M aj esta
..�-0 qz.1ePfíJ(J Ç erra
n d o tã .
a ,•e sa nt os te,7a;;a,;a oc
llst
na sup onsd, zav
de- .
s o11 io flrto
·
l��; IJ(f ,11 11o Sar 1ro A11J uele co1,
to
que ,zaq
, ., • b . ações de sel, posto. [ ... ]''. Do rela
o 'O se cert o
ªda a
' oficial ,,,o n1a11e10
O• "
p.
das arr11as ,
<fe s
um entre o�s hornens, passa-se ao

Por be111, ter 1111t o Santo e seus filhos as o r1g
e11 h º' , san tot hom em com ser re co -
ben•
aç ilo gue rrei ra elo .da do, hun,anidade ,,ottando a
d at u sol
p

natural � o do
111
rad
se

d car áter sag o irA o


rcconbcc1n1ent? u1oos da santidade. agora com :ma. certi,o
tam e nto: Con selho
afas
b u venerado. e este Reino deve
berta pelos a do mun o m ão
a1n
Sant o em t o da par le se lh e d
e noe Bras1·1 q to d a s
t a
ste
i
u a se e m
a e, qtJee
pt ;� à sua proteção, em q�e rn� s �: capitão q ue nesta atenção haja Vossa Ma -
aças
a , e na Bahi a a ogr a m d e cl a ra -
ra a.� de sold ado o m e s�10 no Rio d e Ja ne iro , co
bem , de ue s e obser v e el e
so S an to A n o­
J�est�de � ; ap li cará pa ra a fe s ta d o g lo ri o �
por
deste s so J dose� .
a impo
. c1a
o de ser o s m e sn 1o s q ue se p ag am a d 1n he1ro
d os .
r1ãn
ção qtJc . ol l1ã
o ns e·
nio, eomat o de sua cape i
.
a, cuJ
� � B ra sil ei ro , d o C
lnst o ui vo
...
áf ic A rq
aos mais cap� tàes � ór ic o e Geogr
;,��::o ;iode Ja neiro de 1711 a 1717' arq. 1.1.24, ''O prove­
praça de
.
r
ino,
ha ve
Ultra mar Consu
J
. an e1. ro a
dor da fazend� R�l do Rio de.
lho d, co nt a de se ap re se nt ad o
.- glonoso Santo Antoru o n a
· oc as1 · g
�· o do as sa lto qu e os fra nc es es de ra m aquela
Se ba sti ão se atr ela à t rad içã o de san t os q ue aju da ram os 1 u-
ci a1lda�
':1dp , s. 19· 19v· São
e Ỽn
seu ten do fo � e re l a tos, de for
sitanos a aíirm�rem po de rio im pe ria l, atu ad o, co n os
Gu an aba ra no �.
ma decisiva na expulsão dos franceses da b aía de
ain da séc ul xv1
_ �_
"Ficaram os nossos desassombrados, atribuindo o caso a favor de Sao Sebast,ao, e
muito mais quando depoís viram que os Tamoios pergunLavam: 'Quem era aquele
soldado tão gentil-homem. que andava armado no tempo do c onflito, e sa11tava intré­
pido em suas canoas, e lhe meteu tal temor que foi a maior causa de fugirem'?' '>,
in D. Manuel de Meneses, ''Crônica do muito alto e muito esclarecido Príncipe D. Se­
bastião décimo sexto Rei de Portugal que contém os sucessos de ste Reino e conquis­
tas em sua menoridade", apud Jacinto do Prado Coelho (org.), O Rio de Jane;ro na
lileratura portuguesa, Lisboa, Edição d a Comissão Nacional de Comem
orações do
1, Centenário do Rio de Janeiro, 1965. . 39. De
p vo estas duas últimas indicações a
Maria Fernand a Batista Bicalho, que, sob tninh.a orient
ação, desenvolve tese de d ou­
torado sobre a cidade do Rio de
Janeiro no período colonial.
(�S ) João Lúcio de Azeve
. do! A evolução do sebastianis,no, passim; Eduardo
d'Oliveira França, Porruga/
na época da Restauração1 São 'Paulo 1951
Para a djmensãO européia · do sebastia , pp• ...
...,23 ss•
nismo, Yves·Marie Bercé, Le roi cacl1é - sau-
. •
veurs ec 1tt1p
,
• .
osteurs· MYtiies. PO1tti . ques popz1laire
• .
>'ard ' 1990, pnoc1palmente s da,,s l'Europe Modert1e1 Paris' Fa-
Carole /\ M scof . .
ca 1 ''Séb as tie
· n de Po rt ug a l, le rot perdu' ', pp. 17-81.
.
Sixteenth anyd Seven sk1, Mess1an
" P·.1c •themes in Portuguese a nd Brazilian Hte
teenth Centur·e · · rature ln the
77.94 · Thomas 1 s '', L uso- Braza/1an R
.
Cohen ' "Mille· evieu,, xxv111 , 1 1 199l 1 PP •
nan· an themes in · the m. .
Bra�ilian Revie 1t1ngs of Antonio Viei ra''• Luso-
_ �VIII, 1, 1991, pp. 23·46
(66) J oao Lucio
lV1
.
de Azevedo, op. cit.,
pp. 71 ss.

227
• . ' .,,,.,.,"\
•.n--
• ,\: I \:
\'U .,.,,:,J\i
(

, :t:1 l t , ,\, •• 1 • •
\

• , ...' '
l ·�

l l ,, ,·I "" S ... • l\l 1,


,,, "' I'• •
"'' ' ,, , 1 \11c t, •' ''" J,,
1 \ . ·�' ··�
••
� \''"'.
lt , 1

' ll, .,,


\

� ld, , \ \ ,, \I\':\
' "
'"''"
"'
i

t,
,.,,,, '. •
"
" "•f UI ,1: ' \ \ • �
\

111, ll,l \\l ,,,t,,· ll'" ,\lt\\11


\I,<
\ \ ' l
\
"H lv ,, ' • ' " 1 •
•, .-
",]

,•11 t1tl
l,

.S
p,;i,� , \ •\•' � -• •,• I>\
., ,, • • ''"
dhl ' • lolt ' "'' ' l\l,l.;1� "' �h·l· "
l ' <
' \ . ' ' ' ' " \', �\\ \l�i ,, 1(\'I\
lll ,t 1 ''" •• � \l ' ,. 4 ,,,, . l\'(\' ''''"'"
1-C \

l
"'� i '•" \\ ,,,,, l 1
\

f
l\
t
\li � li\\l\<,, 1 ,>,.l'l' ,
li, lia' '',l l \ •
l

i.• u
'l'I J .
� '""''' ' 11"' "" f
1 . ., • ''.
,,
'\li 1 \ \ \I "" ltt1.I,· ',,111,
.

'''"·'
,,

11 l"'"'
.
I lll,!1.. ..t1\ • "''" '" h>\•11 ' ' '"'.. 1n1I'•••11
' t,, ,l\1
r,,, ' 1 \ li '
\�\\ \ '

'"'
li

,,. l
\

.0111011 • ' 11 • , • 1"' n,· "1i ....


'
'1 • '
I'

' 1
·1,·

'

" I•
-

"li li\\
·
til, ,,t.
fl.
• .. ' " " lltl- 1
,..,1 ..,.,• •
'" ,
111

• n, ' ' •, • ,,, ,.,, ', h,11 1


• '""•

.,,, "'
.1,, lél l'�
• .. � " " •• \� ('/
.,,

·� • , . ...,, 1 ; 'lft " f'IS«


,k,
,,
\J,
' 'ft, >.ç
<
• ,_ : • 1 • 11,,I • Unh
t' /ô(>. \ ' "' 1•
1

1 1
l
P.' <' "'" 1111,,1,, "'
' h, <li \<\ 11 t-�U /e ., d '
(/,t

(ti, ) 1 \f IJ ' " • · " l) • li 1


f'r
i \ \. '·'- 1 ,,
l0i
\• O l l \,
,
'' 11h 1 • 111 11•l"' ,•111 lhb1,a '
"'
tg �u d< 'J<t
1 ,. •\ '", lo,
ud•
'
n1>S
l11$t
'f '- ll ' l' ' 1111 1
l 'I 1, 9. V a
•' '
>), � . · ·
• I'
· d
''l'
111 ·1 • •n p. la mt,
11
1
,•111 ( hwi n
••h , 11 , .
,1 u" v "'Ih . 11 m " " , 1 •
t ,l·11\H,·a,
n' " 'i11 l n1•1 t 1
•·r
• ' �,
t �
,e ·rv · Hlla t
•n «
, ª' ,•ntr 11 nel e • n l· PO(
1 ·• " o h ' •"<1 to �m u, ' Sl l nl.'il o .�\ o I'<>
,
�'II ,·o,
t
4 "" "'ª ,,nt,, •,l • • ••r ,ran\'a ro'J<I .
d mu,.,�n ,, ., " l\c ,1a "' <>rn 'l " . : Ul\d'�o
r, l ,· n 1• chcgr u
\f. ) 1 " '111
J • " D. Seba,i[Ao'\l
ansl,.
, 1 U, ,,' h: 1\ . e·li., p. \l9,
1 , o p
17�1 1 '"'· tbiJc,n f>, il ' ew Jo.
'
1 ) \1ll1,.)&tlO \''1etr,t
' IJl tvr1t1 'Jo J11tu - ra, in Ob
lll 1':, � h t b"' • • 1
I tle (I7lt">,h
muni <"sob!
) ri'J lia t-r1-< H-,J�
....
ç"'
s· ' t1:h e de dou t rodo apre o ras esc •olhilla•• ""' p 79 1n1d
ssntada ao
D.'"'".'".""º'
· �• •o Pau I"· 1988.
1 uqul,içAo de L'isboa. mç 5'
"' 11' 557 , Para o onAhse das ' ffi·
. -· p ro c .
L UCIO d .
º'" .
-
''"· ''" J
"i
,.: o p. o:
vedo, • . ' pp. 17 ss. it
N n . ln . < •
L i>b Od, proc. n ,, 45� .,
( 73 ) ,ç ã o d e
q m . .
t 74) Ja J oanu dn ef\11.. /\N • nqu1sição de Lisbou, rnç. .52' Proe. n! l.l7· pa
Pn . TI- l
O<i·.

LU7.J8 . Ut: Jc ·,u.s. "-N 11 • J • L ., proc. n º• 4564 ' e amda . Blbll ec Nncionnl de Lisbo�
J\() 4 uai º' ;' l
5 •�. <..� -
. '"'1 '
6 9 · "A previ i1 o dos d":<lino d s in ivi d s • , 'ª ura 1oe1u� não"""
u ?º
pn, v sà :inos coleuvos. sobretud O numa 6poca d e grande n,obi·
d 1d' ad' l o dos dc. ,
'�� pan sà o com crc iaJ- 111arft'imu e a g11�rra d cscmp�
1 t a e . oc,al " se o�" r<l' r ,ca . on de a ex
a " . co Deihcn·
or ga . o da vid lid
a co i no • Fran
a1 çã
cis
uha v•:im llnl pa pe l fu 11d nc nt al n�
. . � za

.
,nag,o - fet/tN!ltTis. sa da do res sicl tlo X VI
. a e 11i gro m a1 11es
dri o d iu
�.
ourt ' ,rnag
O in . A b er m . 19 87
L J�bo ' • proJ. et�
(75) Curaoi.amcn
U n rv er
"
t'"
sl d a
ta
d
m
e
b é m n a E sp a n h
• p.vtz
'"
·41.tn
d L
· h a
Kaga
h i"
o u
n,
ve . n
"Pol
a m
ltl
es
cs,
m a dp o ca
prophccy aud
, "' ''

é1ic as Ver R' '. :


e pror Eliz abcth Perry
mile naris ta� � .. r y o"" "'
n r,e,1,.çô<e ccnU t-C; n,ur • ' " M a
the lnqui ítio n ln Lat e Sixt
f o s ::Z� ' �
PP· . Nn d escr ição lhada
(ed. ), 557
de,n
ruz
oun1ers.
J. ( Cul turol e11c
oa. mç. pr oc. n!
nnrd o Sdo
Inq uisi ção de Lisb 52.
o côn eg od . [..co (le
(76) ,.,, n, es Cla ros feita pel ave s de rap
bat a lha de M on< Oor es, enq uan io ine

se rea list a da pu ta ca mp os e dos po1 1us ues es


eq ua e tin ge de pllr 6rl o dcf iníl lva
qu • o sa1 111u dil o qu e a vi1 os de itn ott lll fa·
José, e ltl dáv ere s, fica t .>n o s/ Dign ,
da• . os ca vós . tu sl dec ret o div ino
sobrevoam,
ávi vin os: •'E s/ Po r
a o� de síg nio s di
e os c as1 e1h a no
ites do p0,,
:,na , ts m bé 1t1, s u s p en d ei , qu • pa sse m os lim
"' de o.l u ar mas m é cr íve l / Qu
& n o m e eiern t
ã o to rn a m , ne P· 88, are ei de
111 11, 1u ga l o ros ,
º ' sal n• M
/\ or la
<:r n o, P M ont es C
M oy e n·A 8 do ns 1,
& sc 111p11 1
•it ori a de
lo rlQ U• a u kl o riq uc s
ttJIIO S d a
utt ur • f olk a d i tio ns foi
et c ec tr
s j.uSÍ
,;v�I ", l• lc
1s o P S
sia a
fll
ric
/m te
A pp
ur e ec c l� uJ1 u re clt et1 ·AK C -
(77) "CuU c 0 J
a 01bé m •• Íf• r"
l dllJ,e
M
Ve r t
Ut
n ."
Uf
o
'O
a • c q
O
dr i
Q
• e•• le o
n e' ', Ili J u<S U,
""' 0,,; n g ie n
rofl•
O P 111ér
civiJiSllii 28 2
11
1 ' ••
1111 ,.,,
,• \ 1 1.11111
\ri p,, I• 1

1. ,.,,
• 1
1 11
\ '\ 1 1' • l
tt'I' '
1) '

1:t.\ I
\•):\' 1 ' ' • ,, <
' 1
'

229
l
1 1•1 ; it . .
..
P .... 3

,,,. '1 "


-

1 .

,,
111 ..
, alli�

o i r.

2:
. º a q u a
'

s d e i X
a gê. ncia
/\ e sr as
t 99 2 , r as ,
v- '>r , c , n 1,e i
f .,.. r an.hia das_
e 1 J c la . c o rrlP
ix a o P
eJas
la au o rn n a
e pe - r
ao ô l co J'
c. /\1·1}',
'1

tra< o , e t1 1e , F-lorne
re8 (tS) O hO nle coP· 111,
is ,,
6 69.
1

a n 1c 1
r it1cip p · 6t,J69, da11, inv. si< A 6
1988, P brutas''. P , Arnstcr • . v sK A 464 • . 1 Bruges.
a s u r n n, l�� eu Gr oen1�g� museu.
criatl1r R,ijJ.:sn1usc Ar ns te rd ar s
(19) ··k rnuseuin, pei.XeS, . ventár10 o
- u1 �
�!�� ��t�:reza,,,::v;:.':em n Jrncr� �d���.
s er::�he pas1oureau. L (J B i bíe e l t es J' r 1ir1t s g

(22) f\1.��cu 1;u,11 d e A rn t l C h ar -


. d a
n
( 22!))
(
��:i�: puch�t,s;1�;�;arion., ld990dePM!!��eJd LOwen� ��
p aris, 'á cit a o re s en ta t1o
t o�: witches'
te r n a-
· ,e Jn
de ;cor1ogr:1 : :es�eito o irabalhJ 1anjbaJisDl: visual � tado no Colóq�:eo. espe-

h Q

(ZS)'' eor e n
p ar t s, s a1 u c r n
ig u a Jro e n te a p r :; 7; 11 /9 2, tex to m1
. B dy en atnur y' '
C o u d, 4-
1cs Z1k Lhe Six en
·te ·· en Eu ro'pe, Sa1n , · l to ,
m� ic in or
·1 th
s P
t
asse <.Ie s so cc • er s X V I,
bat "
J
u lo
al Le
o
cion
d C
s::iicação das alas..
St:
it�·es
a costa, Místicos p t u
d
or g
ra.ndo a alila L . Pe reJ ra
n se, 19 87 ' p. ]04.
.
(26P) Apt1d D p. 245. d. Pa uJ0 , B rasil i e
a11 sc r.,
trrn ão , t98 6. , Lra Sã o tr in-
g 11
Le11 o e ·
s,
,
ta
wn
ple .
.Bro 1n .,
m
ro
os
·
r co
d"lh ar
s p11
C
Ato ras
(27) Apl1d J.u
;,n
o
O b
Jes ús, Lib ra de 1 a Vid a
tge r Ste . k .
de e O
'
esa
0
D.,,
gg1
.
(28) Santa Ter

i C.
1

de p ios , O.
n de M adre s 986, PP· 93-4.
trod. e notas Efr� res Cris tiano , 1
iot eca J dea "t o San -
· Bibl nu
áf' '' tn
A
PP· efia
. '
Res
dr1,
den 1 ''
Ma ica
Steób"'"· k ,
..
i
ed 101�2. b1ogr
(29) Idem.
· b'
Di os e Otg er
. , d re de
i nai11
(30) Efr en d e la Ma
p. . . , 198O ' PP· l J-3.
, co, npl eta s, 5 . 1 ha 11 Mu lmo
ta Teresa de Jesu s, o on '
as
B
Obr
e s i pan e en-
(31) P1ero c atnpor
. . JJ se/v agg1 0, . rr he Sixr e.e nth an d S e v
,
z e
oper
h-cr a.
or-R
witc OJ
(32) R R Trev
opean
. PP· 50-1 .
, Th e. Eur
. . . L ondres Penguin, 1988, Paris . Pior�.
. u, M;rgis1rals s u XVII' siecl e
teenth(�;'��,:�dro o
et ! rcier en F. ranc a: e
aca d êm ic a r o�s . no en t a �-
. com a pesquisa documen t al m a is ·.
1968 . Des comprometida p er ,
10 do das p o ss e ss õ e s c o nv e n tu
e e a
to, útil, é a sú1tese de Mie 8•
rm o n a ya rd , 9 8
F a
o
. ri s.
re
a
b
P
. h l so 1
e/ /e t1 e I cique sous R . . . ic h e/ ie u , ..
so rc
'U
et p . 0 1·
ls o ro 1s t1 c1 sm o , in Je su s lcru.r 1-
n e�· emplo de fa
r nto diab{es de L ou d un -
(34) Francisco de Enc1nas,
''
77 � p. 38.
l.,C;J

ac io na l, 19

to ra N
,

M d r i ' E di
zaldu (org.), Monjas y beatas eff1bauca1,1o ''• op. cit ·, P· 47·• '"Sen·
ras , a
(35) ''Carta dando relaci6n sobre �adale� a de la Cr uz
tencia de Magdalena de la Cruz'', op. c1t., p. )3. 1
(36) 1 'Relación sobre Teresa de la Concepción' , op. (;i t., PP·. �68-?�·
(37) A esse respeito, ver meu artigo ''Do êxLase ao combate: v1s1onar1as portu­
guesas do século xv11'', in lnq11isiçao - etzsaios sobre mentalidade., heresia e arte.
São Paulo, Bxpressão e Cultura/Edusp. 1992, pp. 762-84, que ampliado e reescrito
constitui o capítulo anterior deste trabalho. Para uma tipologi a das visões e sua filia..
ção a dois sistemas básicos de taxionon1ia - o de Ricardo de São Vtror e o de a s nto
Agostinho, posteriormente.reelaborado por santo Tomás epor Jean Gerson, ver Jean­
Michcl Sallrnann, ''Théories et pratiques du discemement des esprits'', in Jean
-MicheJ
Sall n1ann (org.), Visions indiennes, vis;ot1s baroques: 18$ rr1é/olssag
. es de /'fnconscienJ'
Pans, PUP, 1992, pp. 91-116, principalmente pp.
98-100.
(38) ANIT, lnq.u.isiçào de Lis boa,, prec. n� LO
certa ordem."
198. ••Maria Antunes• Toreeira de

231
(39) �Nn,
l11quisição
(40) A >rn • 1 de Lisbou,
n qui sição Proc. n! 10
do tlspfrilo d e Lisboa, l98 .
Santo, solte ruç. 1 J4 pr
e moradora ira, filha o e n" l S2l
desta cidade de Fe r nando V�lh "P º
(41) A Nr1; 1 nq de Lisboa." o d� LÍma q� t � '.'1'0 de
ui sição de e º' bar M.,i,
(42) "Ces réc Lisboa, mç. b eiro •nt
. its no 13 4, u,.1
naire: son e 1 1m · a1 us intr oduisc pro e. 0 i Js
P• rt1 . · n1 dans une 2s.
u 1e
a t é · · cu 1ler, empre. autre dime
1 " é ª i 1 d1 vinc, ne m1 de luxe ei osion de/' u
el de la latd . P• ut ê tre · de b ea u té, nt· vers v..
1s10•·

eur de la v1e . marquee du t.a •islon.
ter restre. Chez sce au de la quo1 c omrnc re
l' ét ,1 . AI' .
,ousma, l a vis . . une personne idienne1é• d ' 1 ffe1
� ,o n . d'h u • 8'1•681.0
acceder, pour un d ':"' '" ' un omen, . mble "'1 faCtion 'oe ,
momem tres _ � tdéaJ ou la ieu , ialccornm
qu 'elle connai) fug1t1f, a un m ne femm, Pau e
habituellemem onde de nch ,,. Ptu,
são do universo " [Tuis narrativas ess e três eloign
visionário: seu nos intr<>duzem é de «lui
da realidade divi clima especial, numa outra
na, a visão não p che io de luxo e bel dirn,0.
feitlra da vida terr ode trazer a marca eza. Sendo ren
estre. Pa ra alguém do cotidiano, da ,.,
visão se torna o mom de extração so cial insipidez, d.o
ento ideal por meio hulDilde como
,orma fugaz, a um
r do qual a jovem P<>b AJfonsina, a
mundo de riqueza mttit re pode ter,.
Michel Sallmann, "Les o distante d aque le que _, de
malheurs d'Alfonsma . ";· - . ela conhece), Jean.
op. cit., p. 67. -J' "
·="" r 'm Jean-Mi. eheJ Sallm
. ann (OIB..>
(43) A.'TI, Inqu1s1ç . a• o d: L"ISboa , proc n� 63!.
mulher preta filh de Antonro "Processo de Man:elina Maria
� e Luzi a pre t�s escravos, naLu
moradora nesta crda d raJ do Rio de Janeiro
_ � .:"" d e se u se n h or Jo ã o Eufr ásio de Fí oicedo"

e
(44) MTI; Inqws rçao d, Lisboa, roe. n? 628. "Processo � ·.
� de C ataru1a !"' aria DIU·
Ih er preta. escrava Ão ui Beneficiado Jos e Mac ad
h o. D.aIuraJ dos mau,; do Reino de An·
gola, e moradora na cidade de Lisboa On.eu tal.',
(4;) ,...,n; Inqu .. - de Coimbra, proc. o.• 72J5. Pr
is•��- " occsso de Caiarina n,r.
ruindes so1• · filha de rCUJ o Fernandes S..·ero de alcunha
1:'rador,,anu-al do ''"
.'eua
-.,,,. de !'.fairos termo da Vila de .Monfone hisva . .do . de- \tiranda Ctuiosamror,, ,,....
tença deste p ocesso seencon Ira em• oulIO 6canono, o Lisl>oa, sob a fornia d!:"""º
. - de Llsbo� n. 16 51 .
d,
• o.· Inq r .
p•ocess wsiçao
·dão materna solm os rebem os. e sobre . •
oebts '
,,,,J Sobre os dei·ros da óevass,

""!V
� - ·� � femv.J".3..
moo,.:: uosos em eral ,·er �uu , dei Prio r e, Ao srJ/ o '--'•o, d cotp0 -c v,-
. Ri o de José OlfIJlpio. 1m.,.
-· _u_.,es e meruali
m�-terruua.u_, g 'idad es no Brasil co lo nisl. .,41..I.i.

,_ o..< 00 urer- .
- �o'•
ca;,. "Pesz:Cel Lisboa. r,.:_ A"':1-0. •omra . da 1-... ,
,.:.- B:ibli= '"'°'.or,al de Sl.<i. �·� '� Sn:r e<: � -.
J09
'
ha � targ.). • • , ,e,,,..
Fei.iotiroJ.Pffh e
• _ • , n,_ d Y..o::ce
�� ."'!Stó-
29 � da }""'°"·
A.!,u
5- - · - m,gue<e<. lmJ>re-' "' � ?
<1;,30. •• -•.
., gs..-
o= ;:n/ÍgOS 1:". _ ., ".:. So rot .,ú:m. .mé;io. �
.
5<:;,1,,;ç,. J.;,q:- da CQ'."�aa'.J1']ZS fl"�º'·' lrl!i. • •
n,iri .ext ·s,çao e: - do ,..,.,
J.i,;bo6 al-'
,. �
2 _
"- ..._.
:,e;;·,"'sa. e.c...:·, i,p. .....�.
� ;;. Ai �
- <
. '9 ,_ •• !.! • .,,_ - ....,�.rcs .,,. A • ...., otfcJk;,i.."'-. · t1.:z ;rc1r
�;,diJ .,,,
"''
• OltW -
·-
ne
,..,,._
Rf!
. v ..-
• • •.>; <-V "''�
� JJM.
�--� """'-'"..--
r'-
Do " " "' '"" . r,,,,aro
. ' ·-. , c.r .....
,''\'fLW:f, Se,-J;(>I'

e •,,-,.,n:r_. ·- •
ih.�-•,;.,,-•-" ·-- - Yo p,,:-;a, � bC ... ,... .,..,_ _.p.._,.. .,-. •�,..
• ,• , :l>
- 3:,.o:.JJ-

=
h ce , ::. ".
-"·
� ;,,. - . ::;,

=
CO:.
:...._
� •
• ...... . k:;c·."
.,..
a:. ..., ""
,y;:
,a;.,.tt ".'""
• dt �D-

-· -�
p. >,, :<,, "'1-
5«: Co;,, � .,,.,.
•. • "3 .,._..
·'() ?':..'? •
. - �-
--.....-
,,..- - a=
D,.�.,
-

, " ,,..,, - �
.
. ,�
1
:.:-= ....,,...
·"-"" ... ·- .,,_ ar.:..c � ::k •• ".::
. __ ...> ... �� �

� -
.ffeõr •--
-)",� ·• r""
� . . ,,_ ,,.,,... _ .,,, - ,. "" gr
• Jj_
• ·-
••
� - '" " -a

, -,
- _-. ,_._
..,,.,.__
--!

- d'5-f �
• e

--
--
-- �_ - ::::iz. ..:
. - " • ,=-
·" .C;.!a -
�-�- .. -- =-- , ..
.. �.
- -- •'2a; ., ....., . ......

,;.-.
-


- ::,
·- , -

- ·::.s -
- ---
- -.--- :.Ji --
... ... • - -
-- .,.. - -
'!""? a:>
.-
__.. --
..... ""...-! -
=4••• ,.,.. �- "'é

.,____ .
" •-
�....--. --........ :.i-

-
·�
k:7
-
..
:..-,,
. - -
-
-
-..-. .
- -- 14 ..

-.. ---­ ..
,,,,,
- - .. -
,,. ...1:

:-- ....
- --;-
_....;
-
� --:;-
... .!!,,_-

:;

232
231
1 1 ,,. t < ,1.,1 /llCll h >'i, , 1 1 · �t "' ''"' r i a ' p,1c l cc.: 1 :t lt11lh 1 , (f l lt' i o;, J>f>rq 1 1 1.: flllt1 tastt VIL 1 1 tn 1,
t.lnh..i
·
, 1 j 1, 1 , 1 .1 1 1 1c11 1, 1 c11 1 11 n l "'·, ,u, l1111 n�·11,• e <.4Ut' '<1u�1 i,1 t , t ,·t>pllJ u cr> 1 1 1 cl.1 '. 1) unrt: llo tlh f1.u , ,.
h , Ja 1 111,�·�1 . 1 r:1 ri1 1 1\1 l 1 .. 4", 1 1 -ri 1 h,r11cl,i li'' \t\lli i r n t a 1.í;i u t r1tl ,1� ; 1 , l,l:llLIU H.'I , q t ll! UN!il i 1 1
1 11
1 1 1 1: r 1 1 :-. , 1 1 11, .1,11 1 1t t II h \ r, ,� · ,, 1>11d I . 1 1 1 11 1 , IJtc d:, ( •Ht l \ o l,f n ,a , A l'<> 11 rl��flO l>ttl ,,
1 ,,'l. ·:i • 1 ) 1. 1 1 1 1 ,t· 1 . . , , 1 n 11 ,� ·1r1 n,, 11, a, 1 1 l t • ltll llltl ' ', rc�,s1.1 (fc ( l lll l l t1rn<lo u p rc� 1:ntud�,
l 1
,i r i l ), r�· 1 1 . 1 1 1 lt'rtt,, dl 1 1 ,� 1 ,\r111 llt1 1 1 I A 1 1 , 1 1�1·, �,1t> Pa u r,, 1 c> Jf ) 1 Pf). 61 6·H.
1 7 1 N1 1•, 1. tl�.,, .. lt sn,,l�·1111, 1t 1 1 l 1 1cnl� 1111\., a 1 irtl 1 sadt11i 1�01 < ílov.in 1 1 l l ..ev i , rt4COJtL· i a..se
h1t,til ,, r,.u,l, d�·1>1H"i, r l',·t ,1 1\·r un r,t11 1.:141t«: ,,,. pr ó1>1 l1Jh n1ód.i<.:l> ncnn�
, u u1&. 1 1. 1.. �,1.· ·•'-•
c l t 1 ,, uu, ,p,c .'1' 1 1 1 i,� ut .,,,. () c.� "nr l."1,,n. u n111 "''' 1r1 1 f )t J l · 1 1 t r�. ttu rur11 cio n. 1 n l ; ' N�o 1

l 1t 11 1 , • ••11r1 1 ,1 \"I\ I I \.' tlh:c.lil i ,1;1 i;: P'-'1,-, h l C I I O ', UH prntlt:H t�o l l d i 11 n 1t ( ll) I I I U ll (IO
l xr1 1 1.- 1.111J\(1,
, u11r,,n, \ \: , 1( 1ch11l\ 11l11, u11111 f(1r t,· \ \ l l idnr1t,1H(I� (lt· : i 1 1 t <,t 1 1 111 l I i i:. ui,:11 ( 1 1 1, Vur ( > 1 r11 1 :> a.
ltll)d,·! 1 f \I\ ( e '" · llhl l l.l l 1\U t l l Íl' l (l·hi!>. l {�I .. . (,' ( f l l f
l l tll I l i\' Í l \', ) l l ro , i tltl C<>1 11.:cn\' ílt) li\:
\ ,1 1 , ... ,�. �.t,Jt· 1 1 , t h• , 1 ci t,tpír uh,; I 1• 1 1u11 �1 r11)· ,111 ví//11,: 1 • l,;,1n/1t• ri •11,1 ,..._, ,J,,·,.�r<• (/u11.\
l,· / 1l,•01,,1tt riu \' I //' .\lc , /r, ( t: J t l l 1 u l h1 11,): J:rr't'•
l l u tl . , l 111 1 l h. ( ,11 l l l 1 1 1a 1 c l , 1 1) � � . f ). 4<,
tJ,1,1 11u1t1111,·1 1,,lf . e ,1rr1,·10 r lf 1111 11,·t11\·l.�tv 11e/ / 1/1. •1t1rJ11tt' 1/rl ,,,,, .,,,,,,,. f \ 1 r l 1 t 1 . l� lt 1 1 u 1c l l .
l lJX S)
l� I I l i J l l l' (\ llll n.11, \-'lJ!llfidcn,,o,... til' ( l l lbct 1 ( 1 v� lho l! l l l " I H(l l v l d 1 1 c , C tc.lhalno
n j 1: 1 1 h u 1 1 t ,1 1 1:\llt·i t ,1 , 1 •1 f l! lnh, l'i lJ.! H l l l V(�� e �Ílilt' I I IIII\ tltt ' rCl l çll s ' \ Nr)\1 tJS f,'1_,·1 111/0.,·
, 1 IJ1111 •, 11'' 1 1 . ,,11 1 , 1 1 11> 1 . J'P· I J l l). N11 p1\� l 1 1 a 1 1�: ' ' l . ,. j ni\c\ NC 1 1 , t u úc c lcfc11tlcr
j1ic"�' 1 ., \• , .. r 1.1 1 " i,1 ,1� 1 1 1 1 1 a vn!,ltf l' l 1 H f l l'\'1 "11t·1t1ch1 ' t i.• l l 1,1 ltlt> popu lur>' l ) l l tl,· il c 1 .: n�11
�,11 \·,p J ll"'r· t'(.'11, 1 1 1 1 1 1 rla ,, l,11,( � cixt, \lt1 [ 1 ' 1 i d , 1 1 1•,, l n 1�1 1 1 d o \.' ( 1 1 1 1 q u t: ti� PUl l lc u lt 1 rldtt •
,l�i. ,. dl l n ls11,•n 1 l 1c l 1 1 ,•(,11 1 1 :\1 11>. ai. \ l t l � 1 t< 1 1 t 1'!1 f, ,1 1111111 11(� dr l'1 11 1 1 , \'ll1,Ni f'l\:t 11·, rc., pt�'.� çn·
I O 11.ICL I I I I i1 tlt 4\l! 1t• l t 1 1,:()t'\ l· t H I I O 1 1\ I H l dt, {h), \'!--f lÍI i 1 C1�. ij\l ! l l 'í 1 Nl\ l l ( ()S , (li' Xfll'I ·� J)I ��.
11111 I I \Hll'\' 11 11, l·1th1 i 1 1 , pr11 1 r1 1 H.: i.1 <.� t·1 d n 1 i,,1du l )l·l1,,; �ru 1,,,j,, L· ln Jln1 1 1 n". 1 1 n1uir. t d l11 111c:
" ' ( . . 1 1 , ( 1 1\ 1 1 ,1•. a 1 1 1 1�,-r�\ll,,. 11 l11t"d ,111llliult' 1.• r 111 1 n 1 1 1 urn t1.� 1i1.1 1;u ,0L" u i l.!titn vnltif\:\ �·1 1 l
t u1 11\� ,1 � �·, 0 1, 11,11: \e, l''-P\!1.'11 h:,1. < )h\'i1111 1t,11t�· 1 1 1\0 s 1 1rgt• 111 t i l , n,1du . ,tu l t t n vt\cuo nhl( ,, (
l U I L\, 1 •i l i\\) '\ll11dn� tl Cl \ ) l l tL', <'X l '�l l�l l\'iH� qUl' 1){1l 1i:1\1 t;(.I lll l h:nhu· q ur ,·h,11 1111 1 1\1)\ "º
�, r '<l\ lt'ltlcl I tJ//t(lrtl' • .
l"l � \.' l l \'rlll ll�H li l \ ( 'IX'h"ll�l l'(.l ll'I ht\ltl•'ll' íl f)ltll) ll! I I I \l li.:11 t 111),t11 1 1 l l' f)ll í ( lt.: 1 d u r tlu
1nL,1i� .\ ; • • ,·i1 1l�n\'IH i;�l , 11gi• 11 1 de, tlt·,.çj,,· · O 1) quv �t· I n 1lsi: u 1 , l'll\ lllt'nd�,:. ct, , 11<.\t•11 I,,
, \ H , n., ii c\:l1.t "11tl,• , Jl!,f 11,· r ,, 1.il \C t v º" 1 1 1�1l lY\l� �· n íl\'1\1\ p\11 �l lit' l 1 i1dl ·ll111ul llll ('O l llpl,
d u r� 1 UtÍ ( l1íl h<ln1 l 1;. ' ' I 1,1, l11 \ t 1 1 H,'" lli' t l 11t1:1 l"I l \ihscr\'llllf(' ,11!\ r�klC!i �\.1 tlet:r,Utr, t , C\1111
111l' \IIIC. •,,r,rin t-t:-U •i.•', cl ' l \ uL' · r�o l lt t'' l n t i:1 lt- l l t (l t1ll 0 \l ll\_' l l l ( \'llt h,11 111i� t 1 i Hl'1.• d"l...' V\J\1 1'\: tl \ 1
\'\

ltt\f f \.'\l l , t ill tl U lt 1 11,-l,•: ln vi o l t1 t 1<.'<' 1(, 1 1 1 ,· \t·,� d 11 de�11 ' · 1,\i.. bt)tl!. riç"""" t! i1 ub11 c-rv1 rll,lll
'1 t, i ti)l t•P• ,�· lh,1,,,, •1,: 1 1tlt•1t,. Ct\ll\l, 11 .1p11r�1 11.·hu,". l h.1 1 1 1 1\" 1 ' 1'C1thdt1dé' ' l n tc,·l,>1 tflll' 1 1 0 1.u
l\l('tti;;,\(1 u!1 \l\·;1 1 l n 0(•, ·1,.1ht'l' l't.l h l hu1 1\11' t1 i 1 1 q l 1it1r n,·i1t,; u vlt,lf11 · 11 �"t , u»�o1
1
tio eles"'.
t\ i l , l l\'ht1 I d(.' r·t·r1 t-.it1 t,,, r., 1...• ,·1,u\11.'11t .), I t1 f U J.,1)1\�,·h,11 <lt · J , 1 11,/1111. 2 \1 ut.l •• J>11ri�.
,
( . , l ltr11n1 f �ullllu u. l CJ\)(J, fl, l iJ ,.
\ l (l} l :-t 11 ,t11 1 1<Jl , J l11rld�1u:i11 <.lo ·, hnt· dt· !\lll h.:l ttu.•(lo 1 1\l l:J t wl:iil c1.,t,1ninl, l OllH
1

t 11 t• l-' ti,, t ,utn,, i i 1 \,,l viu ttll • l.'l\l l e o l!!t<) t·"'!t'Hltn , o �<'f \ l l l c l (, l )(JNlt:1 �t e\ ,) • 1 1 1 n<l,1 p.c1 •
11.l'> l t 1dr, (.' rtr.t1\� l i111" ( )ô,· lOl'l·11J . , 1uc �<\ pc 11Uu1n 1 1i11 a n� frt1 n1:i�('ll l lllS (.! t>,8L>11'o) . l1 11 ·
tl 'f,\ J I ( \\, l l \t4i!, elo ttUC us 1 1 \�l llb f{)Q dHli \,ll U t' l)�, l\tt'(l ltl o� pn( I I \:� S(' '\\h�l 'S llS !l,llll\tl��
'l)lt ' 1 ( Utll11,·, �te 11\ UÜlC J t,I \ Jl\l U ( l\ th, IJ<. > n l is��\\ (�8. l lfil ) \\,1' li \'\l l \ h :. -SA(I l '\'ltl ,,vi:s·
., t,' "'. l�I '- .JY\) \.' Jtl
.,

{ l t ) l1 1 1\11 ,, ....�é- 1 )1.· t._l{, t lQ 1..• h<rtt,u 1 1 at1 t\ l n 1 0 1 1 ln\tl 11.fn 1 1 1 7, ft1 l1>��ud� t•n 1 l il-t.
\'nrnh.� ,1 1 1 , 1,1\, t'it .. p .\�&.
l 2) tJft,H,1t"C\','I Utl t1dn {ll'\ ) 1 11 ,,t 1.!10 4uc: dt\ l l ustrís.-: il,10 l � ist o lill tVi lttttlY
l.l
1 1 h tit1 1 n�t>:.,u t\' 1 ,.Jlltt' Yigilrio Jtl
001 l�rv1 " " S\\ tdeu1 dn Sa1tt( s.,1, i 111t\ t l'i t1Ullll\.". ,lt
u111u 1,� I "Or'\" e-11�1 �,)111<-n� ,\ 4 u�· tl��i. l 1\1 t \ 11 l tH I nist\•t\t.> t!�1
1
01'1 � ç}c L i. l (1 1 ·, 1 '' ll'.$0\llV

, .
1)
... J./
c uoer l o' •• vo t . , . 5 1 11- �9, fl�. 2<,(�-7 . () �lnt1d<, N:tclC> n;ll de ll<l'irtv.
L!n de I S�J i!J uda
tt C lt r i recr 1cJc1 p 11r- c 1 uc f r ei l )elg.t rtt g()1.n va e l e r,o, içõ, > pr1v
.t: r, ilt.·afttda P•I II.l C01t Utr 3
ll ist órlu Ut: fyl �'. r l a t l n : ' ' �)ev u f i � < l lll! lê l'ré'r rc: Clli tl.! J')rt• nac , d '�KUtCif.,cf, fl dcJh dlligeri ,.
i nt t\l "l'cn c,uér 1 1 ele ln Y1" (l u pr, �Néd(\ de �;� Cl>t1 dluc1 n , d" �. o runu rniu.6c, d l" ,,0 :,un te
ct u u L r(:� c i rt: (} fl'>t ftnc: es; cl eu �on 1:01 n n 1\Jn l(tut!r uvc� q uclrt Httt �on tt 1:tgt,, JH' JJdcOf i;
c .. ,vlq �"' c:,r :-01 Jvc1 1t<.·,., rt.J1'1 l cs 1 10� i..:r�tl u l1;1 "ºn t t ro111J)é,, cL 11,,uv cnt
1.:r bi n dei m� lf.íll ·
l l !:'> h l lllll l<JLIC.S Ct lH lh(l rct.el� � l f'()m fl\111 1 l 'L?COh: Í'l!L f .. , J ' ' ( A H fC!i dt (!()frl
C<l l l c. t , cÇ&\r a t:XOI
ç)t.a t, <t pt1 <l rc el eve c.ii ligc1 1 1c1r1rn11: l11fo r rr1ur �e r,ccrtJa du v,dn dt, r,oiJ!'.C'l 'itJ, d(' l!ll,I <'<>ll ·
( llt;l'l o, de t.Hn l'n 1 nn , ele 'Ilia .li:u't<l<.• e de ou1 1 a1i cln.1 1ntitfln tti:rtr� e iuc.lf, ctn n 1uil1.,t1 11 uhru mtl\
f')t.'SN<)U!> l\t\ ltlai , pr11clcn 1c, e hcn1 nvi�,1<.ln�. l)t1h1. ll1tth1.t'\ vuc, 011 dt1J111� �dutrlçnfc t �
r
( h i l t i , 1.tlrl C fl l! n n 11 Llo� e ,u1 1 hl<Jc os 1 nultu1cólic o,. l u 1111 t ico"' � en ír.tt l\.':.1 <. l 111t J uv:i , 11 0 cx<,r·
c:lt-U i 1 1 i..c 1.• 1 1 p.annrl , ,�. X . M1 1 r1 1 1r 1 1 1 , 1 ' 1 :..�x,ir� l 'llc dcv;1nt fc,. 111arilrc-..,utlu11x rl iuhi;,li i.i u •·, 1 1•
,,,,. �l l . \ p. , 1c,.
( t J ) /\ J \ 1 v,·n t o d�: de Mur lana v11J c<l n l n, 11 vlxi\o f l('lf>II IHr du b r u �.a v�lhu 1 uc•.­
u,Jsr i f i<.: 1<111 11t )f l )c l .nn,r(\ t)Or c�c,uplo: ' ' C,'c�t u 11 conic d\.' cllrc: quu t 1)tltl·� ,�� �,i r­
cii:1·e, �t,ict)l vl\: dl<.· .. . . .� · 1 11 !)tdt• la d l ;,�, (tuc l ótllt\ u, fcltlcclralli &cJfllLI vc lllu1i, . . 1� l 7 iar rct
<.lc 1 .,,ic:ri:. l 1l111 •r<'f(11/lr,1 t•t �f<1,\rt,,,1,,c,• t/11 A'or/lh'J.tt' f1/(l/11c•111( 111 <·u11 vul1J<1t1t-, ." Pn 1 í,,
1

l (,l.l, p. l i .
( l · I ) 1 1 \ , • • lt·�ou r1 1 l�111;uhcr1 l, · \ 1 1�. !�J (1,
( 1 1 '- ·,,1t11>1111rl111 111rr1·c1t/11 c , ,lu J'1 ·1�!JJ. f'{11, 1 <l11 1l 1n,frlca (17111) . ll: cu., Ri('> d� Jlt·
tl\:ii { 1, 1 i uhli \:..1ç l'-> c.lu 1\l'll tlco 1 lu l lrosl lc ru , 1 9'l9. Sôhtc u 11:lnç(IP unt w <llnf,o t: lltu1.
f 'i�· l ( l ( � l l l l f l0 1 1."., i , • •( 1dt1�\Jl l l tl ll l l:'� . l f l l l ll(t)íclí cl 1 n1,lHpl!llltS, 1 1.1, rutnl e, lt(\ �li MUl f'lll•
1r' '. 1 1 1 // 1 1,1e\t' ,l, 1/la )a,,,,.,, llt>h,11lut. l i i\4 1llfJ1ü, 1 9�5, ,�r. �?.-4-. l�f rn u i.:�)Oth:ru,�llu
1�·�1111 1�·0 1 1 ( • l c 1t r,l, (1. 1). { )lt c1nclll. Ot:llu rliriJ•tlr1;1,1 1,1,)tJ,•rntlo1tt• ,1,,1 11"�<,rr,,, l· lc,,,..,,
i;.1. A l ie s�.,1�· tli 1 1 ,dl 1 1 1 ( 1 � }. . I \', n,,. ·1 .38·9: • ' l i PJ liill) çhé l t'<)VÔ P11 r t(: dei �,urh,11u,,n
ru l 1 1.lh1\'l1l(l, t t, I U l l l tll) 1 1 tt l pio 1Ll l11t1 rcrrt\'11 rt l'oct, �lnc1t1\! co11�; 111 l'fi t11u •,I 11i11r..ch�rêi,
1>r,·11clrr1d,> tu l l u·1 11d (lcl ,crr,i.:ntt; lu �ijCl> nlltt i,ull sull 1n t hotjt: 1 \ 1v1 11t dis:,ç R t u n bHJll(\
rv',t,111,1111,{11>1 11111ri.•1r1i111; lu <n1ar1.i l l l M 11 1116 i 11tí1nl Kl�t1lturl f\Ç\l(lrl ctln 411�ll ' 11 vvik11 l!'rlti\
stc.'111 J i,,; e 111 < 1 u 111\11 lt1 1dé to,r, li pcH nt> uu l')io vl�·uito, 4\H.!\l<l .c!tfl( t l l t< i:u11dl1l,1111
\'sp1 i r 1\ot\,1 1 "l�r h,t111, i 1r1�tl, e lU1c -;�·sun�l cltl tllnvi,lt>, PL>iché 11f 1uaiich�1 uno. �11lg<111v
1 1 1 hi.l l H.'i...1. J i 1.' t>11u l111slr, tniju 11111, n <1 1 scnipll�I e v1.� uutn1,, n1 ·11;1tn.tla' ' lt, pritncito q �11:
l l�!1\'c.,hi l t 1 11 H t t(• ll(."t i.:h � 1. 1 111 1\(' fç,t o L1h1ho. l�\lfl Otilt lt�) i>urn{s.u tl'l1 rt·�t lt! f l>--/, ('h1co t,,1
� •�: .1 p r i n1l..'i1 �1. �1.· n•H�,a,r1>\1 , 1 001und\.1 (1 l \l l'll,u do ijl'pUnl�� 11 :ic�uutiu, ,ubíu 1 111 t\ 1 ·
\ ,,-e; t\ tct'\'ol i -.,, dl�u ,nn te l�n1 1·u 11h11 Nt1c7,1c1,,,111u1 11,t>rt'('ít1l11/; ,-1 \.l\ll· ll t l , í.' I IJlOll\)1 1 110:.su,
,,thllt:' tl (J. \ t1tl1!< Ct)l\\ llí � l l('�C uviS() L�'rltl,v . i,·,,r J)lii Ç' o \ t\li OtU j \ llij H· 1 h\.'S u f)<IHI\) j)OI' [)eu"
r,1,11hfu(\ I; c�tn� l'i1 1c<1 �,,r,rlli;O<·s l\:\lt•h,ni '°'S cbt,th1tl\f:� n 1�1\'i:i, 1,•uu1Q �t·,111uZí.\'- �lo dh1.ho.
1 1,')i t\ 1 , ins,11 1 11 1 1 1 . ll(Jl1� 111 n<.� l11 1 1 \ra. d i'lc.ll\ tlitt 1u1.1 hu.s. l'll>tJ\11,,01 �1� si11111lc� t' cntl..:u\
Otl!l\; lll t)tlu J .
{ l c,) 1 ' 1 1t:� ll\lt11, \ll'\.lJ'>��� ·rê�11t (l�� �·,1�tt:s 1:l tlêct.,ll!lCíl l {,i�, t1:slo11� (1,\11-. l 'lll\Qll)'
11ttt1 1\t�ll t t \! <ltt cli ,uol l\.t\10 ' ' IC> · tl()hl c� ru1óprios crl1�n 1 (cfcr �n�i r� l' tlc lir11l. ttu1, r")il1<1�,
1 \ \1 scll"1 <.l\'\ u 1t\l t 1 i 1 11t,t (1 ntu ll o "l(} dinbóll�l J , r.. 1 l�'hl.ll <lt' t\.• rtl•t\11. \)f>. �H" � · t,i, S� nU,l1
�itn 1 11 1 • s�I�. o� d�1,1l'\ 11io út r ,1 u.lro Jo;�na Jo · Âl\lQ • n· 'tlrw1·io,,1 dll co1iw1 1\(1 dt· 1 c•u
tl\1\1 tlO )�lill\h.\ p�lo l tLi1rti '',) ,�lll N l ti.l'> � l t,J4. \tttrl t l �llll f\0 ,�1ni)t1 í Clll lltl\ Ôt>Ctll ll� JI
l

1 v. 1l11 tlt-Q�C1 t1 ,>s ·e •,ti,�lc.s 1 1<inte$ i ,\ 'l lrotti . 1..,b1tlt,11 , <.?ht111l . Nt:pht llloo, /\t'lHl�. '"l
l \� � Lli it.-1. J tl l\US ' • \u i�t ll� ' ' \)b t''-' u' t)USSQ • ·u � - tl\l C l �c.tr tt:\ \1 CIH lll 111 Ô� • 'l\t lll'­
'-1 \ul> ti�1..>1' - �ll\1 dj, cJr�n� �· {.)o, lgnoçô�: l .1:.'V ttLttl, Ant0 1 l �nc n tun,
Btih-'1 1n·, �n \t)�
l�tt, Ut.� l1ên tt)l ll ( u �c\1 l 1110 dt'tn ônl< > ,,t\a \'On V.\ �IH l i.,ln), Nt,� alut Sid t:l! l.i tu • �11.\, lnll·
0\ijt \.)S as 11,llí \i: · , d. f\tl\) • U � \.i \!TI'\1\ tli� . ·cn('to �Uc.!OS �:ii qUc �PU l'"C\.�ill rlltU&' dé UnlJ

235
,u: Bclle�olh c·�ro..\�modeu. Para cs nomes de diabo , ,-er Ceneau. op. cil ••
pp J.;-5: 61-2: JJ6-LO.
,1-, r,. ""TbOW'O Encutx.-no'', n. _65.
(l"J "''· ··rewuro En uber10··. íls. 256-7. •
ti'-t ••La (an�,c dtt Jiable est une a,,rre langue, ou l'on ne s'inlroduil pa.s grâce
3 un ..sP.:'fffil��gc. De e mots. on doil étre 'poss&té ', sans les entendre'' [A língu a
do cfu�o é u.til3 ootra língua. na qual não ê possível ser iniciado por meio de um
ap,;en.iív.do. Por e�� pala'\ras. deve-se ser ''possuído'', sem compreendê-las]. Ver
c�tc-a, u. "i'· ciI .• p. �- As pos....� de Loudu.n chegam a falar tupi! ''Elles ont auss i
répor.du en lang.age copinambou que leur parla lvfonsieur de Launay Razilly..." [Elas
n.:c ro-:d�ram 1ambem em liogua tupinambá, na qual se dirigiu a elas Monsieur de l
L.. u..ia. R;;zjll�...} pud p. 179, Le1u-e du docteur Seguin à M. Quentin, 14/10/1634;
-a cana fo1 publi<"ada no .\1erc11rejrançois, 1634. Durante os exorcismos, diz Ceneau '
a ling.12.gem é ao mesmo tempo o /11gar e o ob)ero do combate. Acreditava-se que
o m Lancólicos tinham especial aptidão em falarem línguas desconhecidas. Ver Jean
C�.a:tl. ··Foh-e et démonologie au :,.'vf siecle''. in Folie et déraison à la Renaissance,
Collooue • internacional tenu en novembre 1973 sous les auspices de la Fédération ln-
temauon.ale des lnsti1uts et Sociétés pour l 'Étude de la Renaissance, Bruxelas. Édi-
tion de 1·cni\'"ersi1é de Bruxelles, 1976, pp. 129�7. Na página 141, cita L. Lemnius 1
m secrels miracles de narure. trad. de A. Du Pinet, Lyon, Jean FreUon, 1566: ''Que
,� mélancoliques. maniaques, phrenetíques, et qui par quelque autfe cause sont es­
pns de fureur, pa.rlent quelquefois un language estrange qu'ils n'ont jamais aprins,
e, toutefois nc sonl poinct dernoniaques'' [Que os melancólicos, maníacos, frenéri­
c<>:,.. � quem queT que por o·utro motivo esLando tornado de furor, fale às vezes uma
l1ngua estranha que eles nunc.a tenham aprendido, e apesar disso não são dem ,onia­
cos]. A relação en1 re melancolia, doença mental e bruxaria era fundamental na épo­ (
ca; ver1 a respelto, Sidney Anglo, "\Vitchcrah and melancholia: the debate ber,veen
\\�er. Bodín and Scott'', in Folie et déraison à la Renaissance, pp. 209-28.
(20) ''El lorsqu'on luí fít dire: 'Mon Dieu, preoez possession de mon ãme et
de moa corps'. le diable par trois fois la priL à la gorge, lorsqu'elle voulut dire: 'De
mon corps', la fai-sant hurler. grincer les dents, tirer la langue•• fE quando fizeram-na
di7..er: ••Meu Deus, tornai possessão de minha alma e de meu corpo'', o diabo por
três 1.-e-zes a 10.mou pela garganta, quando ela quis dizer: 11 De meu corpo'', fazendo-a
urrar. ranger os dentes, botar a língua]. /\pud Certeau, op. cit., p. 30.
(21) • 1 En un sens, c'es1 aussi un un dehors du language comrnun, tout comme
Je latin ou l'hébreu. n s'inscrft dans Je courant plus f1arge qui oppose à l'intellectualitê
reçue l'invent.aire d'un nouveau mondei 'baroque' si l'on veuc, celui dessens, celui
des frémissemerus et des sueurs. des surfaces changcantes de la peau ec des mou.ve­
merus contraclictoires du gcste. Cette géographie reçoit, dans la littérature et l'expé·
rience, le rnêmc rôle que ceJJe d.es contincnts inconnus décrits par Jes expJorateurs.
� cartes du oorps ou les 'thé'dtres' de l'An1érique s'opposent également ame cosmo­
logies ou aux 'géographies' 1radiLionnelles. Un savoir nait de la pratique, concestatai­
re, exploratoire maú. codifié, lwi aussi'' (Num ceno seoúdo, é também uma e.xteriorí·
dade ante a lmguagem comum, exatamente como o latim ou o hebraico. Inscreve-se (
na corrente mais ampia qu.c opõe, ã. incelect uaJídade recebida, o in.venLário de um mundo
nova, ''barroco•• se gui�ermos chamá-lo assim 1 o do5 sentidos, dos frêmitos e dos
suores, dassu perfícies cambiantes da pele e dos movimentos contraditórios do ge 10.
Esta geografia a.s�ume, na literatura ena experiência, o mesmo papel que a dos conli·
nl!ntes descoohec1dos descritos pelos exploradores. Os mapas do corpo ou os ''tea·

236
(
l ros' • da América se opõem igualn1ente às cosmologias e à.s ·•geografias'' lradicio­
oais. Um saber nasce da prática. contestadora, exploratória mas. ela também,
codificada). Cerceau3 op. cit., p. 68.
(22) Ili\, ''Tesouro Encuberco'', ll. 273.
(23) Ver, enrre outros. Norm.an Cohn, IJJs den1ónios fa111iliares de Europat trad.,
Madri, Alianza Editorial, 1975.
(24) a\, f'Tesouro Encubeno'', íls. 259. O problerna da platéia é central na so­
c iedade de Antigo Regime, consútutivo do ''l1omem público'' que as 1
•tiranias da in­
timidade'' baniram oo século XL� com o advento da sociedade e da cultura indus-
triai. Ver o tr,abalho sugestivo de Richard Sennet, O declínio do homem público -
as riranias da in1i111idade, trad., São Paulo, Companhia das Letra� 1988, sobretudo
· 'O mundo públic o antes do Antig o Regim e' 1
1 pp. 65-155.

(25) ''La tragédie démoniaque n'at.teint que la religion publique•·, Certeau, op.
cit., p. 131. Para relação entre piedade e publicidade, ver p. 311. Para uma bela análi·
se das relações complexas e complementares entre a possessa e a assistência, ver o
caso de Elizabeth Knapp, desencadeado em J672na Nova inglaterra; a possessa que_;.
ria ir para Boston, ''o maior palco que a Nova Inglaterra lhe podia oferecer''. John
PuLnam Demos, Enter1air1ing Satan - ivitchcra/J and th.e cZJ!tt,re of E:arly New En·
gland, Oxford University Pre ss, s. d., cap. 4, �·A diabolicaJ distemper'', pp. 97-131.
(26) BA, "lesouro Encuberto''. íl. 251. Para a hierarquia dos sentidos na Épo­
ca Moderna, ver Lucien Febvrt; Le problême de l'incroyance au XVI' siêcle - la
religior1 de Rabelais, Paris, AJbin Michel, 1947. pp. 471-3. Para Febvre, há um ''atra­
so'' da visão no século xv,, o principal sen.údo sendo a audição. Roben Maneirou
endossa a posição de Febvre: fnlroducrion à la France Moderne - 1500-1640, Paris,
Albin Michel, 1974. pp. 76-82.
(27) °''· ''Tesouro Encuberto'', citações respecúvamente nas folhas 254 e 2 61.
É o olhar aten10 quem capla as mu. danças ftsionômicas da possessa: ''Ce qui est en­
coresurprenant et fait voir que ce changement provient d'une cause intérieure de pos­
scssion. ,c'est que, durant qu'il dure, la possédée ne fait aucune grimace , mais son vi­
sage demeurant en son état naturel semble néanmoins tout autre, par le moyen des
yeux donc la couleur et la lumiêre sont changées en u11 instant'' [O qt1e é ainda sur­
preendente e permite ver que tal mudaa.ça advém de uma causa interior de possessão
é que., e,,quanto dura, a possessa nã.o faz nenl1uma careta. mas seu ros.co, conservan­
do sua expressão natural, pa rece todavia diferente devido aos olhos cuja cor e cujo
luzir mudaram num átimo). Cana de 26 de juJho de 1634; Paris, Biblioiheque de }'Ar­
senal, ms. 4824. fl. 17, apud Certeau, op. cil., p. 141.
(28} lJi\, ''Tesouro Encuberto'', fl. 264.
(29) ldem. ibidem, fl, 278.
(30) Idem. ibidem, fls. 264-5.
(31) Idem, ibidem, fi. 277.
(32) l dem, ibidem, fls. 288-9.
(33) Idem, ibidem, fl. 270.
(34) Para a relação entre demonologia e reflexão sobre a causalidade, ver Stuart
Clark, ''Tl1escieotific status of demonology'', in Brian Vickers (org.), Occ:ull &scientific
rt1e111ali1ies i11 the Renaissance, Cambridge University Press, 19841 pp. 351-74.
(35) "'Le centateur subtil. qt.ti muJtíplie Jes ruses e� les habiletés desa dialectiquc
pour séduire un Faust diftere du diable des possédés autant que te Luci!er Ol'.gucilleux
quj entreprend avec ses démons la lutte contre Dieu. Les diables des possédés sont
puls familie.rs et plus vu lgaires. Jls restent à la mesure de l'homme'' [C:> te.ntador sutil.

237

=
)

218
(Í ,. JJJon. J9'1iS 1 �;1,tr.(l.ldU a egund.21 p.art� �.la Cfl · dIJ �t.anÍYnt; � proc.tt 'Watl•
J
da w
x ••. PP 19).J63. ', 1
111..r.el r:arniona w
dw/1[,,. dt> ú;J11tJu.11 - lorçe{/Qie er p!)fi­

r,qi,e :,oin R1<:he/1<1U. Pans, FaJ211,J, J-988; tvJi,._ht:1 dt (.�u (org.J, ÚJ po,.�-;lon de
IA1,d!.1n.
(4.4J (taoJ .Bo)-cr e Sli.-pl11=11 ti �nbaum Sale,n puJ.3t::.:•.11t-d - L/w rodai orJglnr
o/ witch<:;a/1, t f<1r ,ard Ltti•,1..-.iatj P(C1.J 1974. C.hadwt.,,;· J lati ...tn, Wit-chcraft lJf �...
/PITI, u,ndt�. Arru-N
Bot>r". 193!$. Endtrra A fuJbU1i(Jr� lhe d�'/1 dt!'�·tJvF:red _ >'u•
te,n w1 rehcraf1, 1692, h.Jova Yorr., Hrpr,otrc
Õn'=° Boo�i. 1991.
{45 J Rcmc..-i,, maii, urna !rtZ à &nâliÀ: d vitbtrto Velho! •• ír&ri,C;C, pm� . -ã.o t;
mediunjdade- � fenóm'-1'10l3 n:líg1Q'°� 1tcorrl:nur na .oc,cdwk bt.ullcirá.'', op. (;j-1••
p. J 2.4. fu-nd.a.rnU1tai,, na coUJtruçc,o da i<J(;n idadt,: da n,,ção dt- mdi.,id110, e_·.� ft.
nôtn4.:JlO\ \ão iguaJmertte re po.n�áivet:s pela conttruçàt> <1'> qu. CU fford v:êrtl. i:ha�
mou de • 1rt:dc d-e s1gflif1-c;�dôb ··, VeJho, op. c1t•• p 126. P�ra (>Uttz. ver A fnlerpte/lJ·
çii(J 1/us culturas, ttad .• Rio de Janeiro, G,uanab�. !',1'9
(46J t:ndt)t> .o aqui a arg11mcru.aç.ào d.t G1<111arin1 t.t."11, op. ci, 1 pp. 46-7# ;o,
§!lítt.'JTia\ nattlfal�w, e,;p!i� a doC"n�a em tc-rm,;� 1m��.0"'1t�, como� o:; eJem�·
10 {Í\l(;Qfi. C�Ue C()lllpoom O COfPQ 'iC eJlC(JIJlí,l" .clfl C.fJl ',Ítu.açâ() dc-dcwrdern, rJ1t11!'1.J,l.lJ..
líbriu perturb1tdo, e romo §C a c;au§a de ,ai \ituação foúe LOt.auru:nu: c:�pfid,,tf em
tcr,no� nat ur-i::li\. �o 11tcma1, per1tonal-i�t.a.J. a d0':1'1ça f.>00� ser o cJdio da intcNcn·
1,;àOr fJ1ál� 01.J mellOS al ÍYa ()U ÍOten�ional, de llm ag.cntl.: dot;tdo W: ,,rotid-e, ($t,µa tfru-­
n� ,obc4:11Zttural ou hwruslK>J. a pc,K>á doente iv:ndo vi:,ia wmo r,bjeto de uma avo�
(e :i_ ve-a_i; de autrJ�agre3,ão) e de uma pllnf_çã.o oue a corui<Ú'ram como pt.i� tit»"
�!fica: Ci'l� si tca1aa .,e ocupam do fÍPi!nte e do parqué. e não a� dócotno fp. 42},
A, toroauJa�oo do aut<'.lr,ã,, muito 1nter�Utnl�. ilido t:rtl sentido clive1w ao de Keilh
1·h,,11 =1.ü cm Re/ition u,,d Jh,� rleclínt fJ/ lflUIJJC - 1111d1es in plJpµ/ár be,/lefu ,n .'ilx·
tt><'11fh a,,d 'Jc,,v,•nlttttll, C'entury Englond. 4� ed., l..ond • W'!'idcr,feld and , ichol�
�l>n. 1980 (tr=id. RtllJJtiitJ e o declfnlo dv mqg1a 1 São PauJo, Companhia dã� u:,ras�
1991): o dc�línio do elemcn&o mágleo o:a CJ(plicação da!! doen�t não foi conM!QOcr>·
ela du d1f1J ao dil.S pr,ri,a e c-0nhecimenl'O'$ midfcof;; teria an:t� h�Q um }í,ngó
pcriod() de coexi.. rêocia e reforço rec:fproc-0" cwlíçi101, at1 menol no pfano idcoló&i-­
co. entrl! cuidado� narurctis e cuid.:id,1� J1ob1enruuralz.. Á·�rat �i,réncJa não � d�••
�penas numa (ase tn1cial confu•,1. mati t.ambé.m ao lonl') do ix,rfc,do ctn que � JgoJa�
vam aç cxpJil;Ãlçõc d.e tip(l qal uraJbu. da nova w,moJogia médica prt>(Juzi4a pelo
radonal,s,no•• Cp. 45) - l:IDO curioJO de evolu�âo ls:ttUt t rtão cc:,níllU..ôNJ da Ine>V"a­
<;uo, d1fen:01e � ruptur:-db bru�M que 1triiun wadc..-rí,itieá.i, pmtooorraet1te, as 1ran 1>­
forn1uc;oç,\ técní� (p. 46).

8. E.W 70RNlJ DC UM MITO: A BLffjl/E DO .9ABÂ (pp. Jó-O·'W)

Par•� ôtste é"�pítLalP fo1 �presentada no Congrcs,o Jnternar.Jonal Le subqa1 rll!-t


SO!'C'ler·, e,, Europe, Saint-CJoud, 4-7/ll/'92: 'ºª
forma íinal, cn1reJcalllo, t íné,dla().
(ll sao lncontáv�� � lrabalhoJ sobre- feltiMia n.-t Época r.-fodemat s,orUJnto
u.c,,tacarcJ ape11as o� que jutgo ,nais s1aniticatl\10., in1ra•o rum, do sabá e sua!l varw·
çü�. O mai.� r�rttc � 1>ofj ttcado deles t1 Q e.te Cario Oiiw.huri, ,'1tor1(111oltur111J -
,,1,0 decijrn,to,,e tltl sabJ,,1, Turim. Bfnaadi. 1989� Ft--l dpo�a. o livro ele M�tgarerfl .
Murray, defensora da filiação do \Ubá ao cultr.J,1 de fettilidrs� 1í'l1é-wTtch-cuft in Wl!,$1-
tc;rn Euror1e, l.ondrol> e Oxford. l 92t., ffltlanç03 !\i$tC,rio�áf1ÇQs �e�ais IW4 c1ll4tr•ii­
vo� coconrram-se cm Rol')ert Moçh'�mbled, ''Satan uu l:C6 homm�t l.;a aha!i,e auic.

}39
,ere� ct "�"5'. cau� ·, 111 � l.ane -S:- 1,ie Oupo nt-8 ouch a1 et alii, Propltetes et sorciers
}{);,
dan� les J'a,s-Bu:. - .'( r•f ·À l 7lf' •ie<·les. Paris. J lache1te 197.8, pp. 1-38, e também
,
tm <.,u ta\ HeantnEser.. Tht> -i.1t<l1e�' qd,·r,t.QIP- Bosq11� witcftcra/t and 1he ,5panish
1,,q:,,•11,õrc ,Jf.,IY/·ifl/4), F<eno. Uni,(.rslt� of �C"ada Pr�s. 1990, �tudo alentado que
,,:r. � iltTlt!:! eleme-n1():\ 1mr,onan·� para a análise do �abá. Uma vtSão mais geral
üO rrn�� �ba;1 co � e-nrontra t'm J ulio Caro Baroja, LR-s sorcieres er leu, n1onde,
"'
ía't . nn • c,allrmc:rd. J9 ::.. De '•Jrman Cohn é o belo Los de1n6nios Jamfiiares
d, .b,,r,J>õ t.�tl . 1ad!l, .\Jranl.:? Editoria 1. lg,'5. Para dive� interprelações in.sti-
2.!it ., • Vilül ..,ã.,w a.rea grog.râfK:a \'eí o� �uintes trabalhos; E,-a Pó�. c'Popular
lli"Git t:1n., ci· • h,. oe-.11'! pa l anã sab'l:>a1h ir. Soutb Eastern Europe' ·. comunicaçlo t

<�est1l!.Ad� ::1<1 C-011gn:s�o �1itch belief� and 'i'l'irch hunting in Centra] and Eastern
Euro; ... CX'"' �k:I Ethilog,raphi.:----.J I ns1itute of 1he H ungarian Academy oi Sci ences
( f: ·· Loránd L ni,��t>, Bi.l<lcpes-t.e, ('\-9 9 1988; �1arga.rah �1 �IcGov.-an, 11 Pier1e
-C La.- :n::·, Tabfeau de l"incons1unc-e de:s maui·aís onges e1 des démQ� lhe sabbar
�'l�{ ru.1·� , m !)ic!r.� \ng.lo (ed.), nre darnned art: �a)is in the lite-rature of
i··Mt°'•z.1..or.:i� 19-- í1JJ 1�2.-201: S1uan Ct..arl-.. "Jnversion.. mi.sruleand lhe mea­
� pf "iltltehcra!: ·•. Pasr &t Prese,11 n: ; , maio 1980, pp. 93--127: Gusta:v Henn1ng,­
�n.. ' The �d.J� f:-orn "� �e: th: �i....--ilra.n fé.iry c,J.lt as a proLOtype of tb.(' ·�itcl1 cs'
� t •. �- daiJ1'Jr,-a"ano. Paí"d 2 1!1éía da pe; .,eguição e do sabêi como produto da
tktno; oiia: � � �Ct... das �H?e:- ��radas, ,e: Rober. 1\1uchembfed, • 'L'autre cóté
u � "'v'.: mr1t.� �!a::!q� et :éaJ:tt� cultl!--elJe'- 2ID.. x,f et x,�,re 5iectes··� A11na­
le!. ESC. a.a ü �O. r. "' 2. m.ar.-abr. 1�"' 5 P-�"êl a rom;,rcensão d� pe(..'tlliartdaôts d4
:,er, y4 ..a l!':$Y.:Sê.,, ·�:" o a-&batt o ;,=ampará ,e:I de Kei:h Thr,m�. Reli-gion ar,d the de­
ftr..t- <,f m.-�g,c- :szudJe. ,n popular 1,-elkf; ,n 5v:teenlh and Se,,e111ee-m/1 Cenrury En­
:Ju.riiJ. �· �. J-n;:iw � et!k:-'eld aflÓ t�".>.:..or:. 198-0. Par& a e:ipeclíac.:idadr das •
� é::·• e,.:::�.. :.a. a� hc�,a. C:�ri5••:,a Larn�. E11ern1es o/ God - 1ne 1-.·itt:h­
tUnl Ir. Sc.otl.:Jr,cJ. �::.d;e!., Ba.1 Bla1;k �I. �9i, � mesma autora. .c:r a inçripnr.e
...oàftP.nea Jf ll<.hcttJ./t <Ind n:,,g,on - lM fNÍli:.o ofpop �lar bdiej, l.J:>�. Bas.il BlaQ.-
::J J ;>�5. r.':X�...arr.,:-!"'� e a.."1..g., ' Crll'i1en RY.Uptum· il'e ,;rime OJ .vlu"h�fl m Eu·
' ;,-•, íifi .;,:-�-. \\1tr.r. �-r"' =. �� ��C'Ll�· O!l-<. in Engla.rid an.d Scollanrl'', pp. 70-8
(4:;;u·i..:·a! p� • � .d ;..:�.�··. "':;>. -�-91. h'C:! o !tnómt-r10 no ;.'ODl�o ,taJJa,,.,o,
� G· -ana:i lt:.r:r� /nq:.,,. 1:on. e;"lrci.J 11 e '1rP.�he nR/1 '/tiLIJ.O. deJ/11 Cónlrvn/Qrmo.
rlo:er: - �ª'YW!, . ��.:J. ll "�..:d.o!, �,..1;.Jo., · !5�',· ur a1àK> aJ �bba1•• PP� l-2..;.
..... . ·o e:.-· -Dt..,,
- ,.,> • ,
-t.m�.; i!,.\...:.1·Jca• •. t.Ov
.a <!� -
1... o 'tlUJO ··,, açroxl..Clla.ça o c:(){il
- �;. t:d l

AJ �1�: T.-!"P-1 1"-'� .1neu!t1rJ.le:' at !!I Franrr An,QfC1upiei oo. ?-,ul úaffa:dt
e.. ;,.... . ,;; .!-6

iJ?.; , tz �ur,,J,; � �
(,!. li�1t...:. .. :Tü. "· •"7-
L.b.

!", !.c--:.c,...- �- 112·:


l!:.lf e do�� lu.� ::t....� a-:a:--u .i.o J� ú.a.\ êc Coimbi.ê.w 2*,.3 'I S50_ ln
-.:c-�·�CQ l� ·,f1.Jtn1!JJ.l!nJu Bra u, Roma._ fé. 4o-n!J.Jl'ldlsa H· 10,r Cêi Soci�
........»-. Jem !� • • :i:. .! p. ,-,. "'-
' � Ce:,-�

]á()

desJocame-nto da demonologia. Apesar disw. as m�mas estruturas estão J)rcc�es
em ambas].
(8) •·Le haut mal'' é a designação dada à epil�µsia; Le11 será J)ro\,'m"elmensc
um dos primeiros afazer a associação enrre ritos ameríndios e manifestações epiléptj.
cas. Mais 1,m ponto de apro�imação com a feitiçaria e com o �ci.: a partir do sécu.lo
,._.,,-11, tal associação se.rã feila com freqüência pelos ilusuados europeus. \er R. >.tat,.
drou . .\1agisrrats et sorciers en Fronce au XVIJ'! siêt:Je, Paris, Plon. 1968.
(9) Jean de Léry. Histoire d'u'!. l'O)'age foict dans ilJ tense du Brésil. ed. Paul
Gaffarel, Paris, Alphonse Lemerre Editeur, 1880. 2 '•Ols., \'OL 2, pp. 67-73.
(10) MicheJ Foucault. Histoire de lo s.exualiti -1- úi vo!on1é de S<n·o;r, Pa­
ris, GaJlimard, 1976, pp. 78-83.
(11) A aJusão à en·a defumada e aspirada num contexto de demoniiaç.ão �
ritos indígenas reflete a repulsa e o pânico europeu ante as aperittcia.s americanas
com alucinógenos. Ao lado do canibalismo e dos sacrifícios h•Jmaoos. elas foram as
-era.odes respo.nsá·,eis por uma interpretação demoníaca das culrwas do SO\'O • tun-
do. \'er. a respeito. as páginas brilharues de Serge Gruzinsk.i, ••La capture du S!l!n.ar.l·
J
reJ chréuen•·> in lA colonisa1ion de / imaginaire 7"' sociérés indigenes et OCJ:idmlt1!1-
sarion dans le .\fé.xique espagnol - xne-xn� siecle. Paris, Gallima.rdy 1988. PJ>.
263-�. �a página 2S2, diz.: •• Ils [os europeus) reprocbaieru aux r.allncinogcues d�ént
1·instrumeot de Satan mais aus.si de conduire a la déraison.. à la folie passag.e.--e ou
définiti-.-e. a l'équ�ã.leru de l'iYresse ai oolique et même â 12 luxurt�' (el� ios ruro­
p,eus) condena,-a.m os alucinógeaos por serem instrumentos de Satã m� igua.b::nrme
por cond11z.:irem à desrazào, à loucura., passageira ou defmiü,-a. ao eqtli\-:a1eoLf da êí:D­
briaguez alcoólica e a:_é à lu."tória].
(12) . .\edição de Léry tisada por mim é a segunda. a de !5� impressa em Ge­
nebra por Antoine Chuppin e tomada como base por Paul Gaífzre para a �ua edição
de ISSO ,e:- PauJ Garfarei.. ··1'oL.i:Ce Bibliographlque'? a Histoire d 1
un roy·age_...
J>. m- ss_ Neu edições posierioies, como na� de 1585, Lér)· tornaria abdz m;ic:s
expJicita a �ç-ão eru..reos ritos tupis e o sabá. i.na,rporando a polàni:2 demo.'10-
Jó�ca ocorrida entre Jean Bodin - aija obra, DémDMT1lDltie des 5orners, se pu.oli­
cara em 1580 - e Jean \\1er. Diz Lé!)-: ··:·ai coud11ts qce te maistre eles ll!lCS csum
le maistre dcs aulrcs: ª!»êl''Oir. qce Jes femme:s Bresilien"'e:s e1 les So.-cie� pa:r-deça
��o)-rnl conduires d·u.n mesme, esprit de Sat.2.n: sa:1s que la d� ces !ieux. n} te
long �sage de la mer empescbe e.e pc:rc de menso;:._gc d'oppaa ça � 1a en mu. ç.ri
luy �n1 ti,-,rez par te ju...qe � de Dien'' (conclui que o seobo. de um eza o
mesmo que o dos outros: ou seja. que as muihere.s bra.meir-c:.S e� fà.â� daq:.í
condUZiam-5e segundo um mesmo espírico de Satã; sem que a clistLricia dos :�..
nem a longa ua-1CSSia. do mar irnpediS§'! tal pai da ITifr.Ôi2 de �r upn e la sobR
os que lhe for:am entregues pelo justo j�to :te Deus) ••.\pud Frank Lcstri..-:�..
L'huguer.01 ez le sau,"'tlg� Paris• .AL.7. amae:o:rs de li;� l.990, p. Sõ. ::012 21. �
�Dl obsena mui10 a p:opôsito que o caplwlo "'.. de 1k; - onde se faz a ;;:n2.�
entre ritos tupis e s.abá- contrasta ÍOJ'I.CfnieráC com o ooo ão resto da. obra. "J,u L·,-....1-
guenot et /e 501.Nage. pp. 49--50.
<13) A �o. ver o mer� O di.llbo e a wra de St.rntu CrJ:.. 5.ãQ Pr...::o, Cc.--:112-
nhia das Let� 1986. �ais �=:te. o� J -êes1e :!<.�.
CJ4) Francisco Ba.nencoun. O irr.aguuiri.l) dtl IT!!Ig:c -feirwm::r, 5izhldaâ..,.re:;
e nigromantes nr, séado XVI, L� Projeto t,;cit midade. Aber� 1w- • _sob!erc.do
PJ>. 165 5.S. Laura de �eflo e Soo:za, ··Y,'itchcraft. sa.bba?t �-irl pcri;h• b ?Jás m <:'>­
loniaJ Bram�-. eo1,111rlk2Ç20 � oo C.04e«oad.1:tt .'.'iw?o. l?A. dalrogra!aâo.

241

, ..
.., .. ,. •• •

.,. .

•"' .,
.._10 �an,J;O.. dt: <_h.�trtp:o.t�r:� pr<n,11n·1 drJ ·rt ·11.r.,1, '"'Jr�n�, t,t�-> 1..1:a ':J·� � 'J.

r.>0<1�1 o ,,,,.,'.ml � •h.!! ter·� f.. J.fJ rr: iJ tlJ 1 @J, �tn•líd!, 'J ,..,� 1,r:.;,,,
,....,_ �""- .. Jf'
, l'• ,,,_.
- ='°4 !.' tJc. �� "·-
dt:!f<!.....,, t;l.)ffl"í � Jt1;; 1 t -�iA,e:r. p<Atr,.1
�fJlhJ.ht. �,, re �'" ��';:' , ,.,� ·� 1,111•• l'·t i:t. ;,a,tf./�
.,, .e d� dr� . ILJ .(li••. f)_ \.!� � b 2��3 rJ·> IJ . C.fo ,,.,r . .,,,,,,n. ,.... ,.,'(f.." ,.,<!i'l . .:..«;:�
,,•,inY 1
C)O{ 141bSfJ J�rJ�� C W'ffJbtkhs ,1,_;!2ff I'. ·� '�1-}r /1 � •v. ..,.;;..;,.. J ...t..:..
,, .,,.,,..,� •r7 V,. ._
*,t �
l.1)If�jr,.,€"' 'iU'.! t,c-,� Jtt�r N> l... ,ti;,.f/l!!;'h fr.,�r::-�e,:. · 1� 1:��"T � 'if_;•t ·� ffl �r,
1
,J'#
pe ,4 '/... ,:·1;r1 -:..':1.:.J�,. Sairu -<-� 4-7 lí I 192
.A; ..
-=-

t?.A 1 rx r� ._ dv,. ,��� Pr'Y'r..,.1':.t:.. a e,,� ;,u �• ��,. o,,. �t '=r.i.�� tlfc: _ .,
� /4et:.­
d�, Jf.Y>é fr;;J1,;;.í·MJ J t>:1r<,w, Jr,,1t f r�1;>(.i�:t1 Pue;.rc. JvA2 de k- .., '.e.:�· .E:� �
J

� )t/;,t<l::t r.1;;:c� ;1,do/�fY� l( f;fJl,t


.. '
,.f�. f'3a
9
t �J. !&

,�xr�
<2!) 1-. . ,. lnq Jttt7t.., di:! l�·v;,.{h. ;,:-'..(; o'' ':#17.,
.....

'21>1 ,. -,, Jnt�f! 1:!$CJ 'k r,:r,4. ; • J' -i14.


(7:1 i1�0 r.,�f)(,:r�i� ' <,..arr�;� �� � �fl·' Jr.. li pa�.tt
1 fki/g fr/lt,.t ;n;-� ��...
fJ r�t,;iri',. ;�&�. pp.. l��
,v.,J Ert rs:,irJ-� tf::9-,..e d� �.r., •,t�1P,, 1�n.:ei .. � "lc.'"L2'.,.
.., ,._�"··
.,,,6 Y• ��· ._ �
--;,, � .,....,.._..... - ·�1 r.,.!,.

�;: ��:'.H"J. -c: , r";'f.;,-..nto. �--: f71 mz ti· .er-�� t .,..'!'Po, r�actori.:>..:� � �...« ".1/r_ç�

� ...

d1ahl/ e a 1erfo di? ,anta Cru7,:, PP 259#1 e 3J'YJ. f..r.-1!. ,t,:.,:,.t �n � 4-y �� :1 �
dí.o ,:rr ,iE·:.�«J;. r;!"� ��(� � 'I' � 'l.7.-,�· 19 �� :.ri ... ,..,;,? �
�m-:ri�;,, (-.h_J�� 1.:., t-:.o z-.., ,, • í!'.Í:.Xrffi·idi.Jo Mm<r..:é4ttJúdatk-�d,;,mrµv,07Ju,
pp. J-21.í r. JZ�·31.
<7:�J A �r)l\lt:rci� �� '/�� rl,. 0n� !::. .�. 1.Xr;rz.c-, 1t.T..'.1:,J� �� '·�·� � ç;,..+.�
#

� -1�11:àr�;1a ..ir? e--: .J�f.J ,:::r ÇJl!t. .,,-:cr, t.a ':!C:...-+!;f.'.hr � � ;::.J#9� �,,, ��t.- 'fe �r.t.
á.t--'�e 1..fZU) t.fj <._ t;!�,1; J,..-, '1i: �·t:• Ck;....d, {.�1'.�<12•i.:� ..,.� �� """� t- ·� �
d�i ;,1�,h,, d.e í�lr.._.L,h:fj� t � '- �o- lr) caf"����n, ,!..,: t"'Y,.��.: � ..�r. !1e: �. �
p-�,-'!���- ('�..�� .�;(�,: 'io'! t;.,.... f,.J�t'í) ·� ff:.faJZ'�-t:.. ·0 !>')li� �- P--at� Z f-tz=..�
··"' Je;.:r.....r.�-�� 1:;,..1.m• .... J ....:-·�� ��44,'!.� 11J.a __. U9Íl- .._,,,.r:,,.,.�·:r:tf·
·
tJ .,.,,�J '1� ... , <' ,.1 .êra· -P= c1� ·�� (7 �-r. ,t • "..Q.t-kr:.. 111: F�wu�. r1*­
1

• i , ; '.rft PP I Z: •!& lJ� q .1:::I4 � f'l'T1w:,. ,,... "(,r, }� � "� , � · .... �.ç,,.it d� ,....Hv...á.
p,!TfO�B�;. J��"lll'!:,...t :X,:'� ;,t ,,te-'., !: 1Jé �'j,_. f..lJi':"',..r,; �!d,. 1y�;r(#;:" � ��
• <:1'.I'�.

(?/JJ • , fi� ..:t�1 � •�·�·YTd., f.,{'A- f� 1t;1.


(31} V-.:r f- er:t �t í-2:L;:r�., 1r1()JçpJu .1/e J'lr.t:/Ji'l�1fJnt:e de; fifi)� ,g, o-r,� a ti.t;
t!,J,1. rJn --._, :, ''Y �,; . t ,.,.,.;;._� �� J�-4"....ct,�q.n 1. Yi; . l·-.r� ;7.ç�,_ '�� :4-ú
v..-•• ;• "
, • • 1
,. t1 .._ ...
'\
-.,, "';; � ,-..., ..-_,,1'#
• ,. - •,.. •.,....,.
S �,J• T'r,r-n

•.11-
��,, ,
L.t ,
L� ... •• • ·�,..•Í·
�} t, f .. •• ,t.,.,
r..-..' .. ,'- --
."°" �

:11.. .J �,, (_;, '4 f�r<,j� !.e: '--Of{ 7'1/'P..: et leYr m�JJde ...�. f'ré I r� �-;;:s-:.t!., f'l>l,
,.-..,.,. , '·L"' ?�
r ..
;;, .... ,.,., �>r' � pi...--i fJ. f..h1 J rtf: ·..1.! . � l.,,;
/..A.... ,,, ' ••s....
� �.,.,.; _.-..
� ,,.........,. ...,.
r,- � wc.,""""' ��� ....._,...._"''"'
v. ,��- ·�·�,,. n· f;; 1<>:":� ...,. --: ':\!14, �, � , • li;;;. &...:t .. w:�-....,.-l1.. �,, ...
!')t. • C:'r.' Jfi,! 1 /:.." !..:.t_'!iJí,é(,:. 1/1 Y;f• h �!. ,.Ji � -tfÀ,:.. .-C:1Jlt � ..-....
� _,�A;
> -:t'
1 12, l». «.:Q �i !Jt."'m�...t.o.. '" �:: - � �tlJ.�:.· ·�<l1 4J;"-(4 f�r�·-c.jf
p.\ IA l'-11 � ,, • ,!r. Abflá. 4� J�"1, - �6 !1m �,..· •·,:� T,(J'.1, J"j'�.)J'1 , ��12
tf 1,, f d{.ri:1 :u, saná. a. íA"�;,.t: • �� c;,r,,t � ;,i:. �"r.,,z ... ,\ � ,4 "'r;; w.
<1. f�W •,t ,Jl .•�. � .� �Q. 1 ��! ',i J:f; j(;, ��)� p-: -r t:.fa · .,.t:iq 11;1, ;zdf'J '"'i � • � �
.,

ft..l, �' , gfif� ta"rt. I f.' ti rt.r , -t;. • q\.'


.
, . !z" lj$;'(, .... � ,11;1 � r-...Jài.:, � • ��, #
( "'1-(..L. •1,. sm:p,
fi!.J";tt,t i,J.qsrt' ,r rt 1-t � ftj .. o;m:� tn �;t ··� ,., ./, J. .�...,,.., .s �.,.
,.

-" )C(Jki • �� � .. ..�.Jd, t'° 1·�#.UJ 4�I :,. f ' '1:5� '�r, 'i •
I '• ,:, � ,r

• <l' , íl ,i; { •• (3l� W �t r�r {U;f,'X


• l d� f t4Jf •;r Ia ,,,-: Jt lâf" ,-h(ro � � .#

'rr .. ·�� "",;.,. . W, ri:;;�i�


(
:..-
C(, ,,,;;·, {l't:, lft l:fJ-7.,,/' ("ArtJ, fCit •• . �:ia�':/. r

dr� t:.fJ !ir .u; e , te 11 "'{� .JT�� " .� 1-lni��"'

243
l13, .,N11, ln11u1-:i1;ãn ,h... l., ....t,,)a, r�rt1t 1,� 22-CJ. •i11i lui� l\,1oll t•uen1 me n.. •
' t"•-flllJ-
IJU .i Jcllt11 a dcstt• d<,c,1n1eri10. t lti Hnc1h__itiq '- 11r,os11 en1 rc or; afa1cre' doméstico
s Ia

neg,a �l<iria de.- Jt.,u, e O!i uc <Jtl1r,, t�"·ra\,!. Mar,chnn f faria. que er11 1734 diz �
v

l\1111.ttlo "'''111 fl aJttJd d<1 diaho para an,a . :ti '<.loi.\ nlqucire� de pão d_e triooi• ., r
e> • e
c.nl n1cia • 1 l••rn o t,JI 11�"tll :,e am..l.'-\\'lu e lC'-L-c.luu f •.. j fazendo .grande bulha. con,o ue
. q
era l'errl nm,1��.id<,.. .. \1';'i1 1 I_.. rroc. n·. 631 Ma�. branca e portuguesa, Catar
º"'e; ina
1

r··.rri•• n<lc, '· t11t�111 "'I.', il11ll f'lri!sr1n1t,, J('J di�bo para serviços dor'nê-sricos em gc-­
.
rttl· "�.,., traJc: ,1r d,)n2cl;1.. ''lhe ajuúa\la a fazer o scr't-1�·0 cla cnsa'', ,,.Nn, fnquisição
d� ( OÍ!ctl>r.J. rr�'-· n �2;,S,
(lJ t l .,\J r�d �Om:\11 qui:m. nurna interpretação brilhante, vê o .sabâ éomo dis·
\:'llr o qu� se bart.-iii7� t' (}li<!, nn di:1..·orrcr dci . l>t:uJo .X\'11. acaba �e rornaildo nlera curio·
�,dacJ<:, C,)níorm� d1n1i1111i :• pena c.le nl\,rt� para a feitiçaria - conforme ela se dcs.
ti i1n1tfll -. al1mt.�n1nm a, tic...,<;riçô1) , de \al)á. Ver '' Le sabbat dc:s sorciers: preuv e

'
'

iu1:Jiq1.,e··. J'Jl. 14, 15 1.. ](). 1 >ara o estudo da dcscrin1inação da feitiçaria francesa '
,cr :'\líri!i.l "oman. ")nrr(1llerie C't j1,.r;11ce l'rir,11r1elle (l6c.Jlf' sitcles). Balh� Variorun1,
1992.
(JS) ..;rL lnqui,içiio de L1�boê<i. prut:. n',' 4964.
('\6) J�ra ano.lôy.1a.-;. cn1 outro conLtJCtO. c,ntre bnixaria e vampirismo. ver "Th.e
tl!!.... lu1c t. i Y.11cht!\ tincl. L!1c rbe of vampir�� undcr the Eightccnth-ccntur)' I-labsl>ur,g
�1onarch\' · ·, tn Gábor KJar1icÍ'a�. Tl:I! 11se.,; o}·�·,11>ernat11ral po1,.ver�· - t l1e 1ransforr11a.
1,,,,1 of/1!>/ll,lar fl:'IIJ!,1nr1 tn f't,fecl1eval Qr1d Earl_v-Moder,1 E,,rope, Princcton Un,vcrsity
Pr"--s . IY9íl. J'P· 16�-88
('37) V\:r CJ ,tial>u e c11errt1 de .�<1n1n Cn1z, pas!)im. Ver. entre 0111ros. Roou'l Nfan­
st....J li. l (r n..·li1<1t,11 fJ(1p1,lnire o,� /vfoyr:n-/l.ge - r;rof;te,nes ele 111étl1o(ie et d'l1is1ôire.
Jontr�1!-J.,..1 ris. f'ublication-. de r'ln$titu1 d'.Êtude.s J\t1êdiévale.\ ,\lbc.:rL h: Gn1n<l, 1975;
J&!-On l)�lumt::r11' 1, /.,s c,11/t(Jlit�isme entre Luther et Voltaire, Páris, 1ttJJ-, J971_
{.}ti} \"-rt. lnqu1sição de Lisbt)a. proc. n? l l 163.
{3')) .,\crença.de que;(') c,píi iLo �o de�prendia do cor,,o <furante o sonc> é cerur;il
ncl �sJ'-'.\,) dcv.. f»Pr1ondan11 estududoc; f)Or Cario Ginzburg, I 1,e,1a11dan11 - �·1tego,1eri(1
"<·11/11 agror, rro l.111quece11t<) e ,<;t11ce1,tc>\ 'lltrím. Einuudi, 1966. Enc . ontr.a-1.ie também
nos /t:n•ri,r1k e 1,JlroJ c�luvo� e húngaroi,, Ver Gábat Klao.iczay. ''Sha111anistlc elcmcnts
in E,1ro1>ca11 \.\'1t<.:hi.;Jafl' ', op. c:it., l'P· 129·50.
(40) N,ll tir t1c1ui tt si111ilicuclc c.Jo f)ap<:l <le i.n.struJnentoi; musi..:!tis, ruais exutamt::.11tc
cJc pcrc,1��fit1-, 11íl de\uncAdtamtnto tio� êxtuscs tupis- relnta<.Jcn:- por l.6ry e no dos de
l l111a" uf, ícar10� n,t origc-111. Cat>i: rt:s.!laltar quc:. nos ritos ,te urnbanda e cnndomblé
<.".;lllUl!1uro1 ·1nçt1�. tal p.upcl aindH �e- conserva. tvlftrio de Andr1:1tle cllarnot1 atc11ção para
o p,Lf1tl t1>:<1n'.izado, do!i ittsrrun1cn10.s de.: J)ttct1s.�ilo, diferentes, por ext:rnploj dos de
�ç,pro, tlUl; �üc.11tr11c;i_.. lri"ncttr!ores. Vr.r Nlúsicu rlf! Jei1lraria rzv IJ,·cisfl. São r,,nul<11 Mtlr­
t in , :i. d., Jif1. 3õ,.�.
f,!I) "N"rr� f nqU.i!'iiçuo de l.i�ho41, r,rtlc. 11� 25� n1�·. 2ô.
t.JZ) ;\ rt!.'ipl'ho dus di!tcu�sôt\ :.ob1e scpara�·iio �lr� aln1a t• corr>o. ver Nicolc
Joequc�-CJ1u(Jt1in. ''Nyr,aull.1 1 Budin et les nutre�; lc.s cnjeux d'une tl1óiamorpl10�� tc.x�
tuetlc' 1, i11 Dt• /u /y,:,111rl1ro111 - 1n.111.tfc,r,,1,1t1on. e-1 e,.'lt(l.tt.! (ies sorclers - 1615, P'P· 11 ss.
(43) �,N'l ,, Illl�lu:;tvil.o clt L1sl>oa, pr,,c.. 1,� 1 r 974. Mtt.Is umtt vei. devo a. fi.:,iturn
deste cl('<.·umt oto à Bc!'!lCr(>Sicla<lc de Luí� Moti.
(44) 11N 11. l11<1ui�lçllo Lle 1�I1cla, proc. n�· 4222.
(·��) AN'rr. lnqni!liqâo de f_j ·t,ou, 1It111L11\t7t
V
ilo� da Ll.vraria 11� 9 5. 9, ubiJ dizer
uqui q,· 1c un1bo� o� c.·.\í!i.,ut\1do� "·nuil rcin,·icJenl��- lnqlli�h;ão cos1un1ava �c:r mai
tl\u11 �0111 t:5tcs, rtws r..·onhtço outro� C'.a. os de r�iilcjdent� c.tlt� J)ã() fort1111 q1\ei11111clo.�;

244
e sJm degredados: Domingo!- Al\ares (,,NTJ, 1 nqtn..sJção . de Evo m, m .
. u »arbosa ( ,NTI. lnqu.isiçfto de listi �. 803, proc. 11�
7759.). rv1ar1a n� lJ82), An1õnia �1aria
(,,N rr. toquisição de Lisboa. proc. n� 1377)_ o . proc. a
(46) Tal quadro se encontra no �tuseu Na· cionaI clas Janelas . E1;
· \'e ....
r\Jes, em .
Llsbo
alguns alnbuem-no a Jorge .�fonso. que O teria 1 - . t· d0 pot
J � .ª vo{la de. 1550. Numa
Broc. LA g· éou º ropJ11e de la Re11aissaftlV> J"·'"· i- o...n·
él s , LO C(llllo
ns d.&o, <."1}ts. 198.6, p. 208. E
afirm a ter
.
�,do fraco o impacto da descobe ste
auto r · · rta da Am..r,ca sob-re a ,.grande .
regJstrao o, entretanlo. p1n-
tura'., europ eta. d fec\Jnd!lm ....,. .., es·, dentre e.�tas.· desta · ' i.;:a "" ...., verifl-
.em. meio . porlugues - . •• On .1gnale pounan
cadas . t e.lês ]SOS- , une A(loral1.CJn des nJ
, éco1 e portug · ·
aise d ont un des protagonistes ' coü.ré 1' cle P IUmes et por1a
af(es
de 1 . nt une n�e-
che tuplllamba, seran le prem.icr ln.dien d'Ainêriqu
• . •
.e fit1ura

- � nti..,ur une pe1nture euro-
- . . -'' .e·p. 2·08) [Regis . tra-se uma Adoram •·
peenne . r-o dos mag·os U4 ..i- es• co 1ad ponu · gu�. J!
em 1505. onde um dos prolagoni tas, com cocar de ph.1mas e trnzeo. o ílecha tupi-
· · · · í di ·
namba., seria o pr1me1ro n o d a r\rnénca a fim•rar 0 >& "'m 1,m quadro europeu•.. J� •'Fi-
....

eu1opeen doni
--�

oaJem ent� le seu:.l pay ,


I ,
a.rt reflete partiellement l'a''°' ....ncure d•outre--mer
. . ,
est te pet,t Ponuga1 qu1 pendant p.re.s . .
d'un siêcle a en le sentiment d 1eu� ·......, Leten1re
d u mo nd e-,, r" w· -?JO) .[Fina i Imente,, o un1eo paJs europeu cuia arte reflete parcialmente
a av�ntura uJLrai.n.ar,.na é o pequeno Pon:ugal. que dllf'ante quase um séc.ulo"teYe O
seau mento de ser o cena� do ,i:nundo]. Os e.1emptos dados pelo. autor: sâó os painéis
. Gonç�\'es em Sao \ 1cen1e de .F'ora e o n1anaelinQ em geral. com .desraque
de Nuno
para a célebre Janela do convento de Ton1ar (p. 210).
(47) '\1er Stuart Clark. ''loversio11, misrule and lhe me3ning ofwitchcraft> ', fl(,JJ
& Prese1tc, n� 87. maio 1980, pp. 98-127.
(48) Fr.-&.11c1sco Bethencourt, ''Witchcraft and Inguisitian in Potruga1'1. �. da­
tilog rafa do. �Jur ia Cris tina A. S. Corr êa de M ' e llo, <'Fei úcel ra.s ou fem� 1 - sru:«>s
e feiticeiro processado s pela Inqu isiçã o de É,·o ra >
', in Anita Novinsky e Ma.tia luiza
Tucci Carneiro �orgs.). lnq,1isiçào: ensoíos sobre Jrtentalidade. liereslas_e one, São Paulo,
Edusp/Expressào e Cultura, 1992, pp. 75-0-6.t.
vo de
(49) Para fazet esta consideraçã-0, irlterpreto livremente o éStlldO sugesti ·
sen ace rca da s da eva ng( 1iza çào na Am é. r iéa :á ••. p osi tiva',
Gustav rlenning. dtJ (lS ,,ias
a tra nsp lan ta pa r.a CJ Cm 11!n enl e <>S e.ns ina m.e ntos
t! n 'negativa'. ou , .se ja, qu e- No v9
alo d?
1

ia oc ide nca :l de f}i.àb o. 1:- lenn log sea mo stra


do Cristo e� que traz, pata ele, a idé lo·
m a s esp ec ifi :c m en t.e o us o do aJu cln óg en ope
corno cenos t1ábit0s americanos - i a ico . ''T,hc
rs a do s es pa nh ói s qu e res i<lJ am no M éx
1c - ac..1baram penetrando no unjve honpur �!
1\
difflLS ion of n1agic ir). coloo..i:µ An 1c r ica in. CJ.as 11é :S. of C'ri frur er es$ aj s in
ns én , Er lin g La de wí g Pc te.rs en e .Hent1k
' Niels ,Sreen.i,-gaard, ed. Jens ChrJscian Y. Joha
St.,;, nsborg, OdcnS e Un ive. rs.il Y .Pre ss. 199 2, pp� 160 -18 �
ui an a f1 5 ar , O. p ac to p
b. c aq �
(50) A pesar de ra!Us antiqiiissi 01as, que.., nio ca
1
eoo

do ' di A 'l.o e da fé1L, i _ça ,


. m as fo tm as e1 �. d',�s [lle ver a:1 que"� 41.1
ter maior parentes co co
cif'
a
·<>·-a,
ro . te n; o m ad q f'o lc lo n st
cs t1 1d o tJ et u Jl ta d o Ç" ·e r.udi a
ria do que o rnito do sa b á . l"íl u m
. · ufar da� cr e u. � · sabie .bIU�
, ns la to t1 w ttv er s- 0 pop •
hungara .eva Pócs co qu � (íll lie 10 ao
d o, a. e1aS t·luên c1a -·..a·u11
e1w :
s e.m
' ·I
1� 1. l1r an jjt
xas na Europí) do Sudest. � o• paow,ijcabou
nSf
."'OUS ln.íluenet-1.1.J• 1 ..a
1, reg · a � tfte- nb \'I l'JI

ta: "'The riotion or tbc dõVJl's pa,t oan . U o r ,µJ�


rd�,li .,.;.
tlnl1 Jat10J
-
1..
fo
""

pular
1:1C W)

u� • 'CJ' "'' Vi ••- p o


Orthodox. dcmo-·nology and the lcgend 1 iierar
• · _,
ça fa @ ap � -� bidá ao C?QD.-
mtm
1

th B ur GJ)t ' ', c0 1


� <
devil's pflct and sabbath it) S ou � t.e r1 1
Bur � 6ff, BtJ! r

nt .
1n g e cn t-1
' aod �
t:asr J:ertl
lJ,ilhl�r-
gresso W 1 t<!h be!ief� and •

W Jt c.n h , .u,
J ... .1 11\rtá nd
• �demy Qf 8e1e11eesie
40 •
L. Eet voi> +""
�phical lnsti�t1tc of the: l:.filngarran pub íê� çió daS �-
� · � �m . n do a
9/ 9. /1 98 8. p. 16 , ex . m im ite, a, �nh &S m es·
S! Y� Bud es ap te . , 6-a at resP ecri·va mei
L
p'Q.bf éta in;iag inAd era 1 erifl'
(51) Eu1piri! mO t1

245
111,� ,1<" . f �l.t,1u1u1 �lt\rr.1da �e.· ('arvalho l':t�l ,·l la n.,lrt'J'Clte de
ft.,� �t,i- 1,,,'l'h l< ..-� la
'(/ ;, ttct ,· . , Rt,1a1 �c1t1l't'" f J,1, rt1.�<1#.'.i - / .e� ,.s,111·roldc> cJc �,r,, Orbt dr Driarte Pa.
sn, clt
fr1 /1tf<'t111 11n --
c1f'$ ,.,,,·ct,gt'. J / '•'rc>Qllt' d,,.s gro11de.,• dt.lt'Olt\•ertus; COrttr
e lft ,'f.\ f'll't"ll\l <'( i-
c.· �11<>,ti•rr�<'-. Paris. l�l,J. e scrgio au
1,111,a� .-) ,·,·n,dt ci,·� t>ri�•rr,•:r cit la pt·nst· nrctuc
.
dl' ll ,t.,n,1,t "'"' J ..., ;,, d<> f'nror\ll - <� 11;<1/11·0..� t"<Íé'lll<'c>S no <ltc•sc:ol,r1111e11to t! co/or,i­
::.,; "llr' c/f • flr.1,1/, :• �J .. S�it' �1,ah;. ":ucic. ntll.
1�69. O prublcnln do ccricisn1o pode
ct\L ,t,n, l-iru.,ç.l\) t,.�t.tntc.- L'<)l\lJ'l�,J. 1\ -.cn, •lh:u, n de outrc1s europeus. tnlvez os por�
,u�uê$( ... ni\(' a�1cdlt,1!<�1.:1,, lll-' ,:!lr�tcr rot\('rcto de :t\·õcs Jas bruxas co,no o vôo e a
nll't,1n,1'lt t\.isc. utril,uiTtdt, n. n ilu�t\t•s dt!m )t1iacns. e se afcrrnss�m n1t1is a,) pacto, que
...,,nftL' trn ·ntl' p('<it•ti:, :1r:\n�'<'r. < n, c.:01nt'l C< 1\treto. ora ·on10 ilus<\rio 1an1bé111. lnspiro­ ;
ntl' �t<tu1 n.i 11.'ituru J., lrn\c)nolo11,i,1 ht,tuvn feita 11ot· l\1orccl Giclis, ''The NeU1erlan­
dh: th�'('l<l.iiatli.', 1 •\,� tlf ,vitch1."r.1t't :ittll thc ,lcvil's pact''. in Mnrijke Oijs,vijt-Hofstra
t' \\iUc,,, t·nJh1.)fí. Jl itch�'ro,/i i,1 rl,c ,\re1/1erlund·Jro111 rhe 1'à11rtee11t'1 ro the Tive,,.
r,c·r/1 Ce,:tur.,, . L.. Uni, ·r�itail\.' Ptrs Rót t crd� 111. 1991. pp. 3 7-52. Nos Países B'"1ixos,
., ,.lc111onl,1 g1a f1h.1d.1 ilt' lo/ler,.� n�t) cncont ro11 egt1idores 1 vigoro 11do as concep­
)\

,t)e · :1�0:-tin,anru e l(\ntista' no toi:a11tf �\ 1..'0iStlv tio (li.ibo. Seguidor do Malle1,s e


1
1
pul,\ii:-:ind\) $�U Di.'iqui,irion,,111 J.tagicaru,11 Lil,ri Ser (1599-1600) na Holru1dn, Mar­
i lll\ dei Rio não l.'011,-en e-u ne�tc J ai . Ettlretnnto. é preciso não esquecer que. ao que
l
1ud1) indt1,.'.l, f,)t L)cl Rio o .'llttor 11rcfcridt1 dos inquisidores portugueses. No estágio
atual UL)S cstudt">, fir.:u, porra1110. suspensa esta questão: qttnl n crença efetiva dos
j111.:c� do, �ntu Ofi"·io nt1 t()<.:antc ao caráter real ou ilusório tlos atos m�ígicos e� so­
lu-e, tl�lv, do pacto1

Ep,lc>!!O: f)ER I 1·t. Cf...lS lJ FER.4S (pp. 181-95) 1

(\) Ol�,o BilJc. • 0 Diabo", in Co1ift'réncias literárias. Rio de Janeiro/ São P,aulo/
1

Belo Horizonte, Francisco . lves. 1912, pp. 131-69, 150 e 152.


e�) nronio Cn11dido. For111nçiio da li1era11,ra brasileira - 1no1nentos decisivos.
4� ed .• São Paltlo, ivtartit\S, s. d., 2 v.• vol. 2. p. 237.
(3) \Ter r�produ�ào à 11. 179.
(4) cr Cario Ginzburg, Storia 11ott11rna - ,,,,a decifrazio11e dei sabba, Turim 1
1.:inauui, 19 9, pRSsin1 (trnd. Hi. tória not1tr11a - dccifrc,11llO o sabti, São Paulo, Conl·
panhia dai. Letra·, 1991).
(5) Ver J respeito o canitulo 8 deste trnbalt10; ''Em torno de um rnito: a elipse
do �abL\''.
(6) 1\lên\ da jfl eitnda Storia 11ntt11r11a, ver 1an1bém r be,1a,ida11Ji - stregoneria
i c11J1/ ,1grar, 1rc1 Ci11qt1C'cen10 e Seicento, 3� cd., Turi111, Eina11di, 1979, cap. 11, ••u
!

processioni dei m<)rti'' (trad. Os a11darill10�· cio be,11 - .feitiçt"1rlc1s e c.:11/tos agrários
11os sdrttl<J.,· /y1rr e XVII, São Paulo, Con1panhia das Letras. 1988).
(7) Para ttma análi e brilhnnLc dt1 /i11g11age1r1 dos co11trdrios, ver StuArt Clark 1
'lnversion, misrulc{1nc! the1nenningof,vi1chcraft", Pasr& Preserir n:> 87. rt1aio 1980.
1
1

pp. 98-127.
(8) Ver, no capitulo 8 deste trabalho c··e:.n1 corno de um ,nico: a elipse do sa·
bó''), a descrição feit�t por Lêry das ccri1nõnias tupi:; . Para os significados da cabaça
nR nntidnd.c do Jttguaripe, ver RonaJdo Vitinfa,) ''Idolatrias luso-brasileiras: 'san,i·
�!ades• e n,ncnurisrnos it1dige.11as1 in Ronaldo Vainfas (org.). A ,,1érlca e,n ,e,npo de
',

co,,q1.1isru, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1992, pp. 176�97.


(9) (�Str.idelli crê o �atoretê i11dígenn. Art11r Rarnos, africa110. Ezequiel, citado

246
o r Teófilo Braga, dtduziu-o con10 a dnn.çu do .século >'.VI que
P , se chamou carrcI<!ra
cni rol'tu gnl ,,, Luí s d a Cª,1mara Cascudo, Dicionrlr,o dofioJeIôre brcrs1le .
. 1ro.
Rio d� Ja.
. .l1, r Nt • 19 •54 • ,,.
t\Cll
" 163 • ·

(10) r..uls e,lu Câmara Casc,1do. op.. ciL., pp. 627-8 · Dom esnto autor ver
. (pesqt11s. as e notas), 1�10 de
.111 1tjr. 1ca . 1 laJnbéni
1.Wade Janeir o, Civilizaç'ão 8 rasJ 1eira J 6.S
. o unt b . . . 9 PP
IJ2- ..J4, i
011� e d 12. ter 1ga d a �ido intro duzi da no Brasil pc, 1 os bantos oc1den1ais
1 • ' •

·
\ lo x1x, incorporada até pelos índios; Cascud ''
sen do, no scc.:u . o ressaJt.a at• n. da sua r!!Ja •
. .
ção con1 ritos prop1c1a . t órios.
(l l) Es as palavras foran1. utilizadas .
pelo autor devido ao carâtcr genu1n
. an1cnle
. .
brasileiro, e delas anotou o s1gn1f1cado, explican .
do-o: de jirau , por exemp 1o, disse: .
vra bras1 ·1 ·
e11n. ·
que ·
s1gi11 · fi
tca um le1lo grosseiro de pau, armad o entre o
••é un1a pala .
nui,os das árvores . _,.. \t.ve1. p,oes,as co,npletas de Bernardo Gui,naràer ... org ., tnt · ro d., cron.
• • •
e notas 1\lphonsus de Gu1maraens Filho, Rio de Janeiro. Mec-iNt, 1959 478
(12) Julio Caro Baroja, les sorcieres et le11r ,,,onde, trad.• Paris, Oalli�1 �� 1i,2
_
cnp. •'ut orceller1c dans l'art et Ia littérarure'\ pp. 241-51, citações nas págjn�s 243:
247 e 248.
(13) Ver a relação d as águas-for tes em Caro Baroja, op. cit., p. 247, nota 4,
(14) Robert Ma11drou, Mc,gistrals et sorciers en Fra,1ce au XJl/'f si�cle, Paris.
P lon, 1Y68. pp. 53 9-64.
(15) Para o interesse il11slrado pela cultura popular1 ver a boa síntese de Peter
Bt1rke1 Pop11/ar c11/111re i11 Ear/)1 Moderr1 Europe, Londres, Temple Smith, 1978, cap.
1, ''The discovery of t l 1e people", pp. 3-22. Para a formulação de Lynn Thorndike,
ver A /1lstor)' of ,,,agic and experi111e111al science, Nova York, 1929-34, 4 vais.
(16) Ver Caro Baroj,l, op. ci1., cap. xv1, ''A grande crise''. e cap. xvu. "O sécu­
lo das Luzes'', onde i na página 235, se encontra a consideração sobre monsjeur Ouíle.
t (17) Voltaire, Diclionaire pl1i!osopl1ique, Paris, 1821, 1v, pp. 343-4; verbete
'• Bo1.1c' '.
(18} Para a mania da sociedade francesa pe1os contos de fadas, ver Philippe Aries,
L'e1ifa11t er la viefar11iliale soits l�ncien Régirne, Paris, Seuil� 1973. , pp. 95�9. Na pá­
ginn 99, diz o autor: ''Ainsi les vieux contes qu.e Lous écoutaíent à l'époque de Col­
bert ct de Mn1e. de Sévigné, onL été peu à peu abandonnés par lcs gens de quali1ê,
puis par la bourgeoisie, aux e11fants et au peuple des campagnes. Celui-ci les <lélaissa
à son tour quand le Petif Jo11r11al rernpJaça la Bibliotlteq11e Bieue; les enfants devin�
re11t alors 1eur der11ier public.. .'' [Assiro, os velh@s contos que todos ouvia m na época
de Colbert e de !'vime. de Sévigné foram, aos poucos, abandonados pelos nobres, de­
pois pelu burguesia, às cr ianças e à gente dos campos, Estes, por sua vez, os abando­
narai11 quando o Petir Jot1r11al subsútuiu a Bibliotheque Bleue; as cria nças se com

ra1n então o seu último público... ].
es, Par is, 186 2, Bal ada x1v, P P• 356 ·61 (a obra
(19) Victor Hugo, Odes el ballad
é de 1823�8); ThéophiJe Gautier, t'Alberlus'', in Poésies co,npletes, Paris, 1896. '� PP·
. cit. , p. 249 . J. W. Go eth e, Faus to, trad.
177-83, est rofes cvr1r-cxx. Caro Baroja, op
Lisõ 0a Clás sico s Reló gio d'Ág ua, s. d.,
A.gosLinl10 d'Ornellas. inrrod. Paulo Quin tella , 1 (.
de W alp urg is ou as áu ret 1s nup­
''Noite de WaJ purgis'', pp. 179-91, e '"Sonho da noite ,;id
tra du çã o n1a is liv re, ma s sem d� �
cias de Oberon e Titânia'', p·p. 193-9. Pal'a um a . Bd•·
Ca sti ll10 , Lisbo a. Liv rar ia Clássica
mais bela• Fctz,sro' tTad • Antonio Feliciano de e
I nu pc:u ls d e Alb ero n
Lora, 1919, Noite de Santa Valburga'•, pp. 357"'87: ''�urcas
. • ·
11

TiLânia 011 os Cincoenta ru1os de casados'". PP· 39:J4()6.


er o ni o C an di do , ''A po es i a p an t ag ru éliea'', ln O dl � w so CtI C �ºd :a,:
de
(20) V Ant a '' po es ia 13a n1 ag r-u 1
São Pau l o. Duas Cidades, 1993. Neste ensaio. o autor vê

247
11

dos paulistanos de meados do século passado como manifeslação do ''anfiguri'', ca.


1


racterizado, na definição utilizada, como ''composição ern prosa ou verso, de senti­
11 do absurdo ou disparatado''.
(21) Para os temas do erotismo e da sexualidade, ver o livro pioneiro de Mario
Praz, La carne. , la morte e il diavolo nella /etteratura romantica, 3� ed. aum., Floren­
ça, Sansoni, 1948.
l

r
. ·--�· t ,:o r gi tr _ t J ez, : '
· m nt lidad · u lí-
J exa. m -. me-icul

-rn .:- b i ..... 'LJ'.

· urn · ui
J. 1 d
5. A decapilação - despedaçan1enlo do corpo relrarado por ten1as ligados a Judiths e Salomés
- recupera, aqui. un1 n1otivo n1itológico e alinge o paroxi mo do l1orror.


1

6. Alnd• dentro do uo1lver,o do ,upllc


io, csiu bela .ludilh ne111rall1a
o horror da cnbeça
decopirndn. 1
a 9

7 · O suplicio de siio St!bastiào é te1na freqüente nas representaçõe·da época.


n,11Y(ÇC- -...,..,..·--·--------------......

1.0..-\.irpagen1 â:o diabo n1ostra su·� pre en,ç-a em Re.r�ugàt


ma a .,,--

li 1.• 1 •• () "ªt"A 1H:r.,.1�lí.' 0(1 in1u11it1áric., e11r�1pcu: :tcu11n, �, 1.�011,•c11tr'1ulc dinb<'>li1.t);


�ll,ni \\\ 1) , \)�,.

a 5W
............------------------------------------------------------����----:-::"

l. A obsessão pelos .suplicias.impregna a icono­


grafia européia. da época do Renascimento.

•..... 1

••

1

2. A retaJhá9.ào dos corp os i_ndica a pmen9a . do auRlício


n,o cotid ianQ e no imaginário mod·errro.
·---a- .....
,· y.
'

•;,J l ,r', I H J , 1 i 11 t I n , l l 1 ,,. 1 l 1 , 11 11 t1, , , , I i t: l 1 11 d


louro de,\ \eHo e Souza é, sem
oúvido, pesquisadora de ponta 1111,,, .. ,,,Jlti,,t,,, ,I,,·., ,,11,,,, l,,·1
e.ttl nosso historiografia, e uma dos ld ru 1 " , , . ,iI r l1( , r, r, r 1, , ,1 1 t 1, , 1, 1 l I I • 1 t�
1

I il·JIJ' 111c1 r 111111,lr Ili Jr I',,


primeiros o adotar o perspectiva das
-nentolidodes e da história cultural o r' ·"
í t li li u1 " ( ) r , , ' ') 1 1 I! 1 , ,f I J 11, 1 1 ( l 1 1,
j

na invesrigoçõo dos religiosidades du<J�, r11r;l,lrJ11tr'11lr, !:e, 1 J,1 1 JI' 1111 Ir, 1 "' 1111, r-1 1
coloniais luso-brosHeiros. Demonstrou a q,in•,IC1rJ ,Jr1, c.11111 ,tr1f'Jl l',,-11 i r1 ,,.,l d1, ,-,, ,
1

tsso em O diabo e a Terra de Santa Cruz d o ' 'ou I r<./ ' r1 w 1 , r" • I Jt 11 r 11 1, , 1 , 1 l I J ,, , il' il
J

,rr 11tlr 1
\Companhia dos letras, 1986), estudo e CJ reflex?Jo 'J r,l 11e <J l1<Jfilnl1c 11 1

o�icodo às representações e vivências r'nislerio•,a e r�\JrJ•�rJ lr1vl t ,Ívrl "'1 d1ri 1

do sogrodo nos primeiros séculos o rJivino e CJ clr.:r11c111í< 1, r, 1111 r 1dlu11J


brasileiros, examinando sincretismos euror)Álu, i, ri(J<JtJ11, 'J!Jlll l1ívl< Jr J, (

<" l r1c le r'lr 1 1 /\1nf11 ice 1•,,


oue, aos olhos do Inquisição, f)< 3lr 1 n:i li< Jil )C.t ,

se rransformoriom em feiticorio ln/e, 11ç; Allê111/i1 1, ó, 1J<JI IIJt.lrJ i•,:, ,, 1

C'JJ tfJ r Ir, rJ11 1 111 r; r ,, 1


e cultos diabólicos. ol:, ro c.l c-.i rJ rr1 r 11 lu Ir rllJ II

Em t�ferno Atlântico o historiadora historiogroílo, liv1cJ, rq >' 11 clrJ llurril111 li


aprcfunco o probfemática do livro óreos de sornlJrr1 ( I<.: n,�J·,·,, ,,,
anterior, ccensondo, por um lado, religio!:>idrJc.Je,, é (J CJrit)Íl"I< JlicJ1 JCJ"1
o anártse dos reJoc' ões entre crencas de no!:>sc1 cwlturti.
'
r-eligiosos e colonialismo,
e verticolizGndo, de outro lodo,
o estuoo microscópico do religiosidade
cotidiano. ')escortinondo
representações populares e eruditos do
uiobo europeu, quer na colônia, quer •
i •
no metrópole, louro pr,oduz1 uma vez '

mais, urP livro instigante, a provocar •
o írnoginoçõo <do leit0r e o coritribuir ..

paro o conhecimento de nossas


rofzes culturais.
o primeire porte,© autora insere
os reJigiosidodes no amplo quoclro do
sjsfemo colonial e dos mudoC'lços por
que passava o Europa AO sécul0 XVI.
Neta se destocom o estudo eomporotivo '

entre as imagens do diabo na Américo


Portuguesa e Hispônico 1 os
res.sonôncios dos crençQs tupis no Itália,
o diversidade dos práticas religiosas no
colônia e o notóvet estudo do degredo Louro de Mello e c.-,ou.cc, nu 1,r <JlJ <Jrn
como meconismo de difusão cultural São Paulo, err, 19.):3, lrJrirJ,; ÍL:ilu t0r lcJ
no mundo ibérrco. o suo formc](,ÕO oc cJJfrnrc cJ,
Jo segunda porte, louro se ded,c:o do grciduc,çu(:> t, livr'H c.Jur t'!r 1r lc1 1
o temos microscóp1cos: os aspectos no De1)nrtcirner,t(J ,J,., l·l1',lór1r1 rJcJ
contestotórios do religiosidade popufor Universidc irJc, do SL'1c PcJ1Jlv, r)ric 1,, I:
nos êxtoses oos visionários; as prolessorc.i ,Je 11,stór icJ Mc>rl, :r 11r1 ,J< "•' J,.
interpenetrações do linguagem sagrado 1983. t , 1ulo1u r..le f)<·•,c/11 1,·.1!1( c1c /e;.., 1./1,
e do erótico no vivência religioso; o& ouro (GrrJr..il, 198?) í? ( )<Í1r1IJ,1, rJ T,,,.,, 1
possessões e exorcismos; o elipse do ele )Orrlc, e., UI ((rJmr1r1ril11cl dr,., L, ilr,,, I

1986),

Você também pode gostar