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COMPANHIA DAS LETRAS
As imgens que
estavam no meio
do livro, foram colocadas
ao final, para que
a paginaçao ficasse
correta.
LAURA DE MELLO E SOUZA
INFERNO ATLÂNTICO
Demonologia e colonização
Séculos XVI-X VI
et
(COMPANHIA DAS LETRAS
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (crr)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)
Bibliografia.
ISBN 85-7164-347-4
93-2992 cDD-981.02]
Asradecimentos: sed
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INDIOÓNÇÃO Seorib es
can e TReD
ssa ca r çÕE A
RARA 13
Primeira parte
MACRODEMONOLOGIA
O diabo nas malhas do Antigo Regime
1. O conjunto: América diabólica ............ceereceseeeesserrreenrs 21
Segunda parte
MICRODEMONOLOGTIA
O diabo e as tensões cotidianas
o o E o, dA
INTRODUÇÃO
13
desta forma para os ritos afro-brasileiros? Mesmo na Europa, o dia-
bo das gárgulas, monstruoso € horrivel, não era também o diabo na-
morado e cortesão de Gil Vicente, ou o homem sedutor vestido de
seda negra na versão do cineasta Marcel Carné em Les visiteurs du
soir? Ou o simpático diabo popular do Carnaval, afeito a comilan-
ças, libações etílicas, pândegas? Por fim, como mostrou Marlyse Me-
ver, Maria Padilha não é ao mesmo tempo amante de um rei de Cas-
tela, personagem de cancioneiro europeu e pombagira de umbanda,
tendo cometido crimes em Niterói?
Onde termina a Europa, onde começa o Brasil? É possível pen-
sar O que seríamos sem o colonizador português — ou mesmo sem
Maurício de Nassau, sem Nicolau de Villegaignon, sem Thevet, Léry,
Hans Staden, o pirata Knivet, todos nos contando suas impressões
de europeus exilados nos trópicos, deformando irreversivelmente, ao
registrar, O que viam, cheiravam e sentiam? É possível refazer em
sentido inverso o percurso de nossos avós de Luanda, Mina, Guiné,
atribuindo ao conjunto da cultura africana o significado que real-
mente viam nela os negros escravizados tornados brasileiros à for-
ça? É possível reconstituir, por meio dos fragmentos deixados pelos
escrivães do Santo Ofício, as crenças quinhentistas tupis, chamando-
as de milenaristas ou sincréticas?
Tudo indica que não. Mas, tomando de empréstimo a bela fra-
se de Georges Braque, “não creio nas coisas, creio nas suas relações”,
Na primeira parte deste livro, procuro justamente explorar as
relações, ensaiar análises comparativas para melhor compreender as
visões curopéias sobre a América — ou, com base no belo trabalho
de Serge Gruzinski, a produção ocidental de imagens sobre a Amé-
rica —, mostrando que, se por um lado feram o Novo Continente
através de referenciais próprios à sua cultura, acabaram, por outro,
incorporando irreversivelmente elementos específicos das culturas que
subjugaram, ou procuraram subjugar. Tal enfoque me foi sugerido
por algumas análises da cultura popular, notadamente as de Jacques
Le Goff — Pour un qutre Moyen-Age, Vimaginaire médiéval, La nais-
sance du purgatoire —, Carlo Ginzburg — Mitos, emblemas, sinais
e Os andarilhos do bem — e Natalie Z. Davis = Culturas do povo,
Fiction in the archives, Por trás de tudo, evidentemente, as concep-
ções mais gerais da antropologia e certos clássicos da historiografia
brasileira, como Casa-grande & senzala, de GilbertdsPreyre, Cami-
nhos e fronteiras, de Sérgio Buarque de Holanda, Portugal e Brasil
na crise do antigo sistema colonial, de Fernando Novais. Por trás
de tudo, igualmente, a preocupação em mostrar que uma análise de
[4
mentalidades e de imaginário pode ser problemarizada e dialogar com
a nossa tradição cultural. Desta, está incorporado ainda certo fraco
pela explicação, mesmo que as conclusões fiquem um tanto soltas;
todos os capítulos se referem a um momento formativo, quando as
imagens européias sobre o Novo Mundo eram mais fechadas do que
se tornariam depois; quando as especificidades do universo colonial
ainda podiam ser registradas e captadas com maior frescor: enfim,
quando as sínteses culturais, ou o processo de aculturação — para
usar expressão que os antropólogos consideram problemática .—,
achavam-se em vias de se processar. Daí o corte cronológico dizer
respeito ao período que abrange os séculos XVI, XVI e XVIII,
O primeiro capítulo é deliberadamente amplo, enfocando o mun-
do hispano-americano em toda a sua extensão geográfica: Espanha,
Portugal, México, Peru, Brasil, América Central... Procura realizar
a análise macroscópica das relações Metrópole-Colônia através da
demonologia, sumariando quase tudo o que, em escopo mais espe-
cífico, será abordado ao longo dos outros capítulos. No recorte da
demonologia, devo muito aos belos trabalhos de Stuart Clark — “In-
version, misrule and the meaning of witcheraft”, “The scientific sta-
tus of demonology” — e às conversas que pudemos manter em con-
gressos: foi graças a ele que alarguei meu enfoque do objeto, e pude
enxergá-lo onde ele aparentemente não está. “O conjunto: América
diabólica” é ainda tentativa de pagar parte da dívida que ficou pen-
dente em “Sabás e calundus”, quando acabei deixando a América
hispânica fora da análise. Na incursão por este território, devo mui»
to aos estudos estimulantes de Serge Gruzinski sobre o México
notadamente La colonisation de Vimaginaire =, € do seu estorço em
desvendar a mestiçagem cultural do Novo Continente,
Restringindo o âmbito da análise, O segundo capítulo faz um
apanhado geral da religiosidade vivida na Colônia no primeiro sé-
culo da ocupação portuguesa, Refere-se às zonas litorâneas e reto»
ma questões que não foram, a meu ver, adequadamente desenvolvi»
das em “Sabás e calundus”, reforçando as relações entre religiosidade
e cultura popular à luz, sobretudo, da leitura do clássico de Mikhail
Bakhtin, A cultura popular na Idade Média e no Renascimento, Há
nesse segundo capítulo um documento que eu não utilizara anterior-
mente: o processo de Pero do Campo Tourinho, donatário de Porto
Seguro. Queréressaltá-lo porque, de certa forma, resume, do ponto
de vista branco « europeu, as sínteses culturais possíveis de serem
geradas com à colonização. Do ponto de vista indígena e mamelu-
co, talvez tal mecanismo seja expresso de forma paradigmática pelas
15
Santidades. Naquele tempo, os africanos ainda contavam muito pou-
co na mestiçagem cultural: Tourinho e o Papa Antônio, ou Toma-
caúna, ilustram, assim, as duas vertentes dominantes na Colônia no
que diz respeito à religiosidade e à cultura popular quinhentista.
“Por fora do Império: Giovanni Botero e o Brasil” é para mim
um momento especial do trabalho, não talvez pelos resultados, mas
pelo que sua elaboração representou em termos de descoberta e emo-
ção intelectual. Foi uma empreitada detetivesca, nos moldes da ati-
vidade de pesquisa descrita por Ginzburg em ““Sinais: raízes de um
paradigma indiciário”, ensaio de Mitos, emblemas, sinais. A parte
das Relazioni universali de Botero referente ao Brasil me chegou pe-
lo correio, na forma de um xerox enviado da Itália pelo amigo Ro-
beri Rowland, com um comentário irônico acerca da difusão da lei-
tura diabolizada sobre a América portuguesa. Fiquei meses olhando
para cla, pensando como poderia desvendá-la. Aos poucos, comecei
a ter interesse por Botero, de quem não sabia quase nada. Fui me
dando conta de que nunca se tinha estudado a filiação de suas in-
formações sobre o Brasil — Federico Chabod o fizera para outras
regiões —, e que talvez valesse a pena desvendar os meandros do olhar
lançado por um italiano do Renascimento sobre um império estra-
nho. A leitura de Botero sobre o Brasil fica, assim, como testemu-
nho do fascínio que a América em geral e o Brasil em particular exer-
ceram sobre os intelectuais curopeus do Renascimento, ou a fatalidade
de que assim fosse — mesmo quando eles pertenciam a paragens que
não controlavam possessões americanas.
O quarto capítulo se baseia em dois textos anteriores sobre o
degredo, desenvolvendo-os. Nele, o degredo é visto como mecanis-
mo interno ao Império, extremamente eficaz do ponto de vista so-
cial « ideológico (ergástulo dos delingiientes), extremamente impor-
tante do ponto de vista simbólico (ritual de purificação). É o
contraponto interno ao olhar estrangeiro de Giovanni Botero, ilus-
trativo das confluências possíveis de universos culturalmente distin-
tos: no degredo, ricos « pobres da Metrópole expressavam concep-
ções idênticas, as tensões sociais se dissolvendo na condição comum
de colonizador.
Na segunda parte do lívro, debruço-me sobre o imaginário de-
monológico e o universo cotidiano. O recorte oscila entre a longa
duração € a curta, como que tateando possibilidadeside análise dos
fenômenos culturais. “Religião popular e política: do êxtase ao com-
bate” foi muito influenciado pela coletânea de Carlo Ginzburg, Mí-
tos, emblemas, sinais, e ainda pelo clássico de Mikhail Bakhtin so-
[6
bre Rabelais — obras que discutem questões teóricas com grande ri-
gor. Beneficiou-se muito do primeiro curso de pós-graduação que
dei na USP, em 1989, no qual discuti a questão dos níveis de cultu-
ra. Acabou sendo um exercício tão rigido, tão escolar que, talvez de
forma compensatória, me atirou nos braços da longa duração, do
ensaísmo e de um certo fascínio temeroso que nunca deixei de ter
pela história francesa mais clássica das mentalidades: os estudos de
Philippe Ariês, Robert Mandrou, Jean Delumeau.
Como muitos críticos — dentro e fora do Brasil —, penso que
esta forma de fazer história tem defeitos que podem até ser graves:
é fregientemente indistinta, retórica, conceitualmente confusa. Mas,
por outro lado, abre espaço à intuição e à sensibilidade, é democrá-
tica na utilização heterogênea e não hierarquizada das fontes, per-
mite ensaios. O capítulo 6, “Ambigúidade amorosa: de santas a
mulas-sem-cabeça””, é, desta forma, quase um ensaio. Lida livremente
com material iconográfico, sem ignorar certos procedimentos bási-
cos da análise neste campo mas preferindo ver o registro artistico
mais como indício de sensibilidade e de circularidade dos níveis cul-
turais. Adota deliberadamente um arco longo de tempo, trata de gru-
pos sociais distintos e remete a regiões geograficamente muito diver-
sas. Na verdade, indaga sobre a possibilidade de um grande universo
imaginário comum, e sobre a forma histórica de uma relação: a que
existiu entre o lado positivo e o lado negativo do amor e da sensibili-
dade ocidentais.
O capítulo 7 — “Mentes e corpos: os assaltos do diabo” —
baseia-se em processos inquisitoriais e em um documento notável
que descobri em 1984 na Biblioteca da Ajuda, mas com o qual não
pude trabalhar na ocasião. Deve muito ainda ao mesmo curso de pós-
graduação já mencionado, quando, sobretudo através da leitura do
livro intrigante de John Putnam Demos, Entertaining Satan, fiquei
alerta para a questão do exorcismo e da possessão como fenômenos
distintos da feitiçaria, apesar de relacionados a ela. Beneficiou-se
igualmente de discussões com alunos que, sob minha orientação, €s-
tudam o problema da medicina e do maravilhoso no mundo colo-
nial, cabendo ressaltar que, não existisse a associação estreita entre
cura e possessão no mundo brasileiro contemporâneo, talvez o fe-
nômeno permanecesse indecifrável para mim: um pouco da história
regressiva de que falava Marc Bloch. Foi ela que me levou a recortar
dois casos de possessão e exorcismo como bastante típicos de dois
universos culturais distintos, mas intercomunicantes: Lisboa no fi-
nal do século xvir, Salvador nas primeiras décadas do século XVIII.
17
Te
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18
Primeira parte
MACRODEMONOLOGIA
O diabo nas malhas do Antigo Regime
MR
oii
ai
I
O CONJUNTO
América diabólica
21
A
F
o: e O——
aos
zação, continuou a se desenrolar o embate entre o Bem e o Mal Em
1546, Pero de Góis, o donatário da capitania de São Tomé, escrevia
ao monarca português queixando-se do estado caótico à que se via
entregue a jovem Colônia: “tudo nasce da pouca justiça e pouco te-
mor de Deus e de Vossa Alteza que em algumas partes desta terra
se faz e há, por onde se, de Vossa Alteza não é provida, perder-se-á
todo o Brasil antes de dois anos”. D. João rr parece ter sido sensí-
vel também a estes apelos, e três anos depois enviava para a Colônia
Tomé de Sousa, O primeiro governador geral, e mais os primeiros
missionários, todos jesuitas. E esclarecia: ““a principal causa que me
moveu a mandar povoar as ditas terras do Brasil foi para que a gen-
te dela se convertesse à nossa santa fé católica”
3.
— pa
—
ta a uma realidade de origem, representada nos objetos percebidos
———
=
a distância. Na viagem, o viajante inventaria e descobre paulatina-
E
mente o seu lugar de origem, o lugar de onde procede, e estabelece
E
uma relação especial com a viagem: “viajar é enxergar (ver), mas
enxergar. (ver) já é viajar”1º
Relacionando-se, por um lado, com a investigação científica, a
demonologia se relacionaria, igualmente, com esta ciência do outro
que Certeau não teve tempo de aprofundar mas que delineou sob
a designação de heterologia.” Na Europa, bruxos e bruxas consti-
tuíram esse outro que a cultura opunha a seus padrões, identificando-
os, para alguns, com a anti-sociedade, ou com o estado de nature-
za.'2 Na demonologia de que se trata aqui — referida à alteridade
E
25
CO
2
canas fizeram-no utilizando a terminologia que conheciam e empre-
gavam para designar os agentes satânicos por excelência. Sacerdotes
maias. incas ou astecas, xamãs, caraibas e pajés tupis, enfim, todos
“os responsáveis pelo espaço sagrado foram quase sempre chamados
de bruxos e feiticeiros — termo aliás empregado por muitos até os
dias de hoje, mas que se cunhou no Quinhentos, no rastro da demo-
nologia e da caça às bruxas européia.
Na Informação da Terra do Brasil, escrita em 1549, Nóbrega des-
creve os costumes religiosos dos índios chamando-os de feitiçaria,
mais particularmente no que diz respeito ao xamanismo tupi: **De
certos em certos anos vêm uns feiticeiros de mui longes terras, fin-
gindo trazer santidade e ao tempo da sua vinda lhes mandam lim-
par os caminhos e vão recebê-los com danças e festas, segundo seu
costume: e antes que cheguem ao lugar, andam as mulheres de duas
em duas pelas casas, dizendo publicamente as faltas que fizeram a
seus maridos umas às outras e pedindo perdão delas”. Aqui, já ha-
veria, talvez, uma ênfase em caracteres negativos do comportamen-
to feminino: a inconstância e a lascívia que as aproximariam ainda
mais das bruxas européias. Uma vez chegando ao lugar, prossegue
Nóbrega, O feiticeiro é recebido com muita festa, entra em casa es-
cura, começa a pregação milenarista junto à cabaça, prometendo pro-
fusão de alimentos, vida longa, juventude para as velhas. E, a se-
guir, dá-se a possessão:
Acabando de falar o feiticeiro, começam a tremer, principalmente as
mulheres, com grandes tremores em seu corpo, que parecem demoni-
nhadas (como de certo o são), deitando-se em terra, e escumando pe-
las bocas, € nisto lhes persuade o feiticeiro que então lhes entra a san-
tidade; e a quem isto não faz tem-lho a mal, Depois lhe oferecem muitas
coisas e em as enfermidades dos Gentios usam também estes feiticei-
ros de muitos enganos e feitiçarias.??
28
communication avec le vicux monde, ils ne pouvaient Vavoir apprise
d'aucune autre nation",
25*
Mesmo sem aludir ao sabá, era ele que, com certeza, subjazia
como paradigma em várias das descrições etnodemonológicas. Ain-
da no século Xvi, o jesuíta Azpilcueta Navarro retratava o sabá, mas
enunciava o inferno: “Vi seis o siete viejas que apenas podían tengr
en pie dançando por el deredor de panella y atizando la oguera que
parecían demonios en el infierno”.* No Peru seiscentista, outra des-
crição, agora contida num documento inquisitorial, inspira-se no sabá
e nas práticas correntemente creditadas às bruxas européias, mas não
os menciona:
Iten, que muchas personas, especialmente mugeres fáciles y dadas a
supersticiones, con mas grave ofensa de nuestro Senor, no dudan de
dar, o cierta manera de adoracion al Demonio, para fin de saber de
las cosas que desean, ofreciéndole cierta manera de sacrificio, encendien-
do candelas y quemando incienso y otros olores y perfumes, y usando
de ciertas unciones en sus cuerpos, le invocam y adoran con nombre
de ángel de luz, y esperan de las respuestas o imágenes y representacio-
nes aparentes de lo que pretenden, para lo qual, las dichas mugeres,
otras veces se salen al campo de dia y a desoras de la noche, vy tomam
ciertas bevidas de yervas y raices, Ilamadas el achuma y el chamico,
y la coca, con que se enagenan y entorpecen los sentidos, y las ilusio-
nes y representaciones fantásticas que allí tienen, juzgan y publican des-
pues por revelacion, o noticia cierta de lo que a de suceder.
Apesar de não constituírem pacto explícito, tais procedimentos —
ao lado de outros, como a astrologia — denotavam a intromissão
oculta do Demônio nos atos humanos, ““aprovechándose de su fra-
gilidad y poca firmeza en la Fé....2
(*) “tendo sempre permanecido encerrados nessa grande e vasta prisão do Bra-
sil, sem nenhuma comunicação com o velho mundo, eles não as poderiam ter apren-
dido com nenhuma outra nação.
29
id
Com a cristianização mais homogênea do Velho Continente, co-
mo ficou dito acima, o diabo se mudara para o Novo. Mesmo em
um Las Casas, que na Apologetica historica, de 1559, via ubiquida-
de na ilusão demoníaca — considerando-a, diferentemente de ou-
tros etnodemonólogos, como bem repartida entre os diversos povos
do mundo —, explicitava-se a associação entre a coorte infernal e
a América. Para cá teriam os demônios voado em grandes quanti-
dades por ocasião do advento da cruz, deixando para trás as regiões
mediterrânicas. E aqui continuaria a luta cruzadística. Descrevendo
a destruição da pirâmide de Pachacamac que, perto de Lima, fora
levada a cabo em janeiro de 1533 por Fernando Pizarro e um bando
de espanhóis sequiosos de tesouros, Miguel de Estete retrata, na Ke-
lación de la conquista del Peru, o triunfo final do Santo Lenho: após
tudo destruído, os espanhóis ergueram a cruz no mesmo local em
que, por tantos anos, o diabo reinara.?
Em outras plagas, o embate não teria tido igual sucesso. João
de Barros foi, com forte evidência, o fundador de curiosa tradição,
perpetuada por autores posteriores, em que a luta entre Deus e o Dia-
bo aparece identificada ao surgimento da colônia luso-brasileira, e
diretamente associada à crucifixão. Chegando pela primeira vez ao
Brasil, dera-lhe Cabral o nome de Terra de Santa Cruz, em homena-
gem ao Lenho Sagrado. A necessidade de nomear a nova terra se
colocou para Cabral quando partia para a Índia, a 3 de maio: man-
dou, então, “arvorar uma cruz mui grande no mais alto lugar de u'a
árvore e ao pé dela se disse missa. A qual foi posta com solenidade
de bênçãos dos sacerdotes: dando este nome à terra, Santa Cruz”.
O Santo Lenho inscrevia o sacrifício de Cristo na gênese da nova
terra, que ficava toda ela dedicada a Deus, havendo grande esperan-
ça na conversão dos gentios.
Per o qual nome Santa Cruz foi aquela terra nomeada os primeiros
anos: e a cruz arvorada alguns durou naquele lugar. Porém como o
demônio per o final da cruz perdeu o domínio que tinha sobre nós,
mediante a paixão de Cristo Jesus consumada nela: tanto que daquela
terra começou de vir o pau vermelho chamado brasil, trabalhou que
este nome ficasse na boca do povo, e que se perdesse o de Santa Cruz.
Como que importava mais o nome de um pau que tinge panos: que
daquele pau que deu tintura a todos os sacramentos per que somos
salvos, per o sangue de Cristo Jesus que nele foi derramado.
30
religiosos, como a corrigir o rumo tomado pela expansão lusitana:
“E pois em outra cousa nesta parte me não posso vingar do demô-
nio, admoesto da parte da cruz de Cristo Jesus a todos que este lu-
gar lerem, que dêm a esta terra o nome que com tanta solenidade
lhe foi posto, sob pena de a mesma cruz que nos há de ser mostrada
no dia final, os acusar de mais devotos do pau brasil que dela”. E
finalizava, celebrando o providencialismo da expansão: “E por honra
de tão grande terra chamemos-lhe província, e digamos a Província
de Santa Cruz, que soa melhor entre prudentes que brasil, posto per
vulgo sem consideração e não habilitado pera dar nome às proprie-
1» 29
dades da real coroa”.
A força de tradição assumida pelas idéias do autor das Déca-
das sugere como era acentuada, na mentalidade quinhentista e seis-
centista, a presença da explicação de cunho religioso para o desco-
brimento e a denominação da colônia brasileira, mostrando o outro
lado da aventura marítima portuguesa. Escrevendo alguns anos de-
pois, Pero de Magalhães Gândavo, para alguns “pai fundador” da
historiografia brasileira,” mostrava-se igualmente inconformado
com o nome que vigorava na designação da Colônia — Brasil —,
acreditando não haver razão para negar à nova terra O nome origi-
nal, nem para esquecê-lo “tão indevidamente por outro que lhe deu
o vulgo mal considerado, depois que o pau da tinta começou de vir
a estes Reinos [...)”'. A solução proposta pelo cronista para magoar
“ao Demônio, que tanto trabalhou e trabalha por extinguir a me-
mória da Santa Cruz e desterrá-la dos corações dos homens, mediante
a qual somos redemidos e livrados do poder de sua tirania”, era res-
tituir à terra o nome antigo, chamando-a Província de Santa Cruz.
Aos ouvidos cristãos, finalizava, era melhor som o nome “de um
pau em que se obrou o mistério de nossa redenção que o doutro,
que não serve de mais que de tingir panos ou cousas semelhantes””.3
No início do século seguinte, frei Vicente do Salvador desenvol-
veria argumentação análoga à de João de Barros e Gândavo, inspi-
rada, sem dúvida, na dos seus antecessores quinhentistas, e como
que sintetizando-as:
O dia que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levantou a cruz [...] era
a 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz em que Cris-
to Nosso Redentor morreu por nós, e por esta causa pôs nome à terra
que havia descoberto de Santa Cruz e por este nome foi conhecida mui-
tos anos. Porém, como o demônio com o sinal da cruz perdeu todo
o domínio que tinha sobre os homens, receando perder também o muito
que tinha sobre em os desta terra, trabalhou que se esquecesse o pri-
31
meiro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau
Igreja [...)*º
assim cha-
mado de cor abrasada e vermelha com que tingem panos, que o da-
quele divino pau, que deu tinta e virtude a todos os
sacramentos da
33
bilitando inventários exaustivos de hábitos e costumes dos quais não
era necessário compreender os significados nem fornecer explicações
havendo, assim, maior liberdade para as descrições, No limite, tal
atitude resultou num total desencorajamento ante o incompreensí.
vel, e na inutilidade da compreensão. O cronista dominicano Diego
Durán, por exemplo, desencorajado ante um conhecimento inçom-
pleto do náuatle, acaba rejeitando as fórmulas sagradas dos nauas
como vazias de significados, da mesma forma como, na Europa, se
rejeitavam os gribouillis dos feiticeiros: “que el demónio que se les
enschó solo les entiende”,4?
JA desordem demonfaca está presente, por exemplo, nas descri-
ções feitas pelos jesuítas Luís da Grã e Fernão Cardim dos hábitos
que envolviam a alimentação c a moradia entre os tupis do Brasil:
“nem sei outra melhor traça do inferno que ver uma multidão de-
les, quando bebem”, escrevia o primeiro a santo Inácio de Loyola,
Como o povo do inferno, os índios viviam junto ao fogo de dia e
de noite: “porque o fogo é sua roupa, e eles são mui coitados sem
fogo [...] e toda a casa arde em fogos”, considerava Cardim no seu
Tratados da terra e gente do Brasil! |
A linguagem dos contrários, por fim, seria possivelmente o ele-
mento mais importante da demonologia, elo de ligação entre ela e
todo um universo mental característico do mundo moderno, presen-
te tanto no teatro elisabetano de Shakespeare e Ben Johnson quanto
nas concepções revolucionárias de um mundo às avessas, de um País
de Cocanha, na prática debochada do charivari, na carnavalização
própria à cultura popular; quanto nos sermões e pregações ameaça-
doras de católicos e protestantes; quanto, ainda, nas copiosas des»
crições dos missionários-ctnógrafos e dos demais cronistas das Amé-
ricas que trataram das práticas religiosas ameríndias — conhecidas,
no mundo hispano-americano, por idolatriaMs
ss,
DEMONOLOUIA E IDOLATRIA
Jd
TT
qu e ti en e el d e m o n i o pa ra
lo s m o n a s t e r i o s de re li gi osos
XVI! “De ia s y as pe re za s qu e ha n
t i c i ó n ” ” ; c a p . X V I : “ D e l as pe nitenc
su supers : ca p. xx um : “ D e cÓ -
o r p e r s u a s i ón del de n jo ni o”
usado lo s i n d i o s p
los sacrame ntos de la santa
ha procurado remedar
mo el demonio m o n i o p r o c u r ó en
manera con qu e » e] d e
Iglesia”; cap. XXIV: “De la o m u n i ó n qu e us a la
ar la fi es ta de Corp u s Ch ri st i, Y c
Me x i c o r e m e d
“De algunas fiestas que usaron los
de
canta Iglesia”; cap. XXVII: e) mi st er io de la
quiso ta mb ié n im il ar
Cuzco, y cómo el demonio
Santíssima Trinidad”.* s se nt ou -s e em
as p r é - c o l o m b i a n a as
A caracterização das idolatri
ut or es da Ig re ja , es pe ci al me nt e sa nto
fundamentação bíblica, nos do ligio-
a he ra nç a bí bl ic a co m à fi lo so fi a re
Agostinho, Amalgamando e for-
as es cr it ur as de fo rm a pe ss oa l, el
sa dos antigos, interpretando
co nq ui st a os el em en to s ex eg ét ic os
neceu ao humanismo cristão da
id ol at ri a. N ã o po r à ca so , sa nt o Ag os ti -
necessários à definição de a m
s , o p r i n c i p a l a u t o r e m q u e b e b e r
nho foi, junto com santo Tomá
os mo de rn os te ór ic os da de mo no lo gi a. '*
o pai qu e al im en ta va as ido lat ria s. Ela s se as senta-
O demo era
a os eu ro pe us , na pa ró di a de mo ní ac a, na ma ca qu eação gros-
vam, par
De us , ex pr es sa s nos sac rif íci os hu ma no s, na an-
seira das obras de
so do mi a, na ad iv in ha çã o, on de o di ab o in te rvinha
tropofagia, na
me nt e. A idé ia de ido lat ria mo st ra va -s e pr es en te até nas consi-
or al
co mp ad ec id as de um An dr é Th ev et , pa ra qu em , des tit ul-
derações
dos da ve rd ad ei ra ra zã o e do co nh ec im en to de De us , os ín di os se
tornavam pre sas das ilu sõe s fa nt ás ti ca s e das pe rs eg ui çõ es qu e lhe s
inf lig ia o Ma li gn o. Vi vi am at er ro ri za do s, te me nd o o es cu ro e le va nd o
consigo um fogo quando saíam à noite, atolando-se no engano da
idolatria e adorando o Diabo por meio de seus ministros, OS pajés.*”
Se a idéia de idolatria variou entre os ctnodemonólogos da Amé-
rica, cabe aqui destacar, mais uma vez, O papel decisivo de José de
Acosta, Diferentemente de um Las Casas, para quem ela acabava pre-
parando o ameríndio para a recepção da fé católica, Acosta achava
que, apesar de aptos a receberem a fé, os índios se entregavam a ido-
latrias demontacas: era assim o demônio, e não a torre de Babel, que
explicava a diversidade das divindades e dos cultos, “Expulso pela
chegada do Cristo, o demônio se refugiara nas Índias, delas fazendo
um de seus bastiões, A idolatria não é, pois, apenas uma forma er-
rônea de religião natural, Ela não é natural, mas diabólica” Subs-
creve, desta forma, a definição bíblica segundo a qual a idolatria é
o começo e o fim de todos os males.**
c
De qualques Tr formma,
for a con ção
encção
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1º
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ares que escreveram sobre as colônias espanholas. Na Historia
reneral de las cosas de Nova Espana, Sahagu n achava que os idolos
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n rep res ent açõ es de dem ôni os reai s. No con hec ido “Co-
indicenas eral
lóquio dos Doze”, já se encontrava presente à demonização das ido-
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esp às,
No mundo hispano-americano, portanto, desde muito cedo os
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e Deus sempre triunfar no final.
catequistas € Os funcionários da Coroa moveram
luta encarniçada
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NO CEP dA. CALITIEÇÕES CoutTEES, Gabe temer os ROO
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panhois nela pregassem O Santo Evangelho — quantos se salvaram”
A
Quantos" Quantos foram pars e céu? — Nenhum. Quantos Incas fo-
aum para o Inferno? — Todos. Quantas ninhas? — Todas. Quantas
princesas? — Todas. Porque adoraram: os demônios nos Auecus"”.S
Para os indios, 2 idcia de mfermo não era indiferente, mesmo
que sua apreensão dele fosse distinta. Em Mixtôn, na Nova Galicia,
ocorreu no ano de 154] uma rebebão de caráter religioso, pela liber-
cade de culto e contra o catolicismo. Os revoltosos mataram missio-
CE
nários, queimaram cruzes, entregaram-se à cerimônias sacrilegas, pa-
a
o
rodiando a missa com adoração de uma sortille, fazendo sacrifícios
a
e danças pagãs. Em Tequia, apedrejaram frei Juan de la Esperança
e lhe machucaram ternvelmente a boca, para que nunca mais vel-
tasse à falar de seu Deus e ameaçar os indios com seu inferno.* sa
38
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sobre a questão da liberdade e da humanidade dos índios, Não exis-
a
E
39
JR
«um Acosta luso que explicite as relações entre idolatria americana
« demonologia européia; não existe, igualmente, um Las Casas: em
terras portuguesas, as polêmicas em torno do direito natural foram
DO
tenues.
CONCLUSÕES:
A IMPORTÂNCIA DA AMERICA
i
PARA A COMPREENSÃO DA DEMONOLOGIA
E DA CACA ÀS BRUXAS EUROPEIA
=
ss
Num campo de estudo ainda pouco fregiientado, não há como
a
se furtar às hipóteses quando se procura concluir. A constatação mais
geral é de que, hoje, tornou-se impossível estudar a demonologia eu-
ropéia sem atentar para o papel nela desempenhado pela América,
essa “porção imatura da Terra”, como dizia o contemporâneo John
Donne. Mais ainda: todos aqueles que documentaram hábitos, cren-
ças e ritos americanos podem ser chamados, sem constrangimento,
de etnodemonólogos.
Descendo um pouco às matérias mais específicas, cabe consi-
derar a relação entre essa etnodemonologia americana e a natureza
da feitiçaria e da produção demonológica nos países ibéricos. Co-
mo já foi bastante repisado, práticas de feitiçaria e escritos teóricos
no ramo foram relativamente pouco importantes nessa região, não
se podendo compará-los com a perseguição desvairada do Norte da
Europa, nem tampouco com a abundante produção erudita dos nór-
dicos no tocante às coisas do diabo e seus asseclas.
Apesar disso, foi a região fronteiriça entre a França e a Espa-
nha, o Labourd indefinido e enigmático visitado pelo juiz Pierre de
Lancre, que forneceu matéria-prima a um dos mais importantes tra-
tados demonológicos modernos, o Tableau de Pinconstance des mau-
vais anges et des démons, editado pela primeira vez em 1612, Para
De Lancre, a descrição etnológica funciona como vasto feixe de ar-
gumentações válidas, “verificáveis porque vistas", que têm por ob-
me
41
st e co nt ex to , pa re ce ev id en te
a n t i - s u p er st ic
| iosos. Ne
ram OS tratados a da s das idol at ri as am er ic an as — pr e-
p o r m e n o r i z
que as descrições b r e g a e ta nt os ou tr os — al imenta-
s t a , S a h a g ú n , N o i-
cio
sent e s e m A c o
f o r n e| c e n do -l he s a t
ar gu me nt os pr ec
tr at ad os d e s u p e r s tiçã o , ç ã o
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a s p r á t i c a s s u p e r
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às católicas, for — ou c o m o , ainda,
de De La nc re
Algumas vezes, como no rexto do |
li to ra l br as ilei
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assriagem em que » LerLéry y à a m e r indios 1
— , a r e l a ç ã o e n t r e Os m t o s |
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o vínculo não esta explícito, mas,
teria seu sentido ampliado, devendo
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se
nio dos homens cultos — o público — e muitas vezes também do
povo num sentido lato.
Um exemplo de tal procedimento é a bela leitura de Charles Z1-
ka acerca do canibalismo, ''Body parts, Saturn and cannibalism: vi-
sual representations of witches” assemblies in the Sixteenth Century”.
Com base na análise de representações iconográficas, Zika procura
repensar a abordagem da feitiçaria através de suas conexões com as
imagens e os temas do canibalismo e de Saturno, do qual são igual-
mente tributárias as representações de ameríndios que começam a
se difundir na Europa sobretudo após a publicação do livro de Hans
Standen. E sugestivo e intrigante que o tema do canibalismo só te-
nha entrado na iconografia européia na segunda metade do século
XVI, quando o sabá era ainda muito pouco representado; grandes
pintores de bruxas, como Franz Fanken (1581-1642) e David Teniers
GRU) SO atuariam durante o século xvrt. Sendo portanto pré-
Eça E E Aga do canibalismo se atrela a variados
dem, inac
bind ão m nel
O jardi dos eamores e a: sexu or idade
E, os mito
Ea ig os
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s satúrnic
+ O canibalismo dos selvagens do Novo Mun-
do. ? Se a iconogSraf
s ia atéte então
entã representava as partes es " Ml E.
43
va América demonizada pelos europeus, os ídolos americanos são identificados ao
demônio-bode presumidamente cultuado pelas bruxas do Velho Continente.
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Huitzilopoch it, div
diviindade
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: ral do mundo
asteca, é aqui aproximado ao
europeu, presidindo a sacrifícios huma demônio
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44
Huitzilopochtli, nesta representação, sintetiza os atributos do demônio europeu e os
de ídolos americanos.
) E'CetvRadE Rad
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No século xvi, as representações da antropofagia tupi entram na iconografia euro-
péia, propiciando fecundações curiosas: reforçam o tema do canibalismo mítico de
Saturno, ou do canibalismo popular das bruxas.
45
Sem ter escrito tratados demonológicos no
ce
ses embeberam de elementos demonolópgicos
4s Suas reflexõe tugue.
a periferia do Império: estes povoam as € d S SObre
rtas Jesuíticas, t
morais como o Compên ratados
dio narrativo do Peregrino da Amé
cujo subtítulo, extremamente rica —.
alusivo, cabe ressaltar: EM qu
tam vários disc e se tra.
ursos espirituais, e morais, com muit
e documentos
as advertências
contra os abusos, UUe se acham intr
oduzidos D la
ticia diabólica no Estado do Br ma.
asil —, tratados políticos Com
curso Histórico e Político do cond o o Dis.
e de Assu Mar — pródigo no re.
curso a imagens infernais —, estes dois
últimos Já em pleno Século
xvirr,* Caberia talvez arriscar a
hipótese de que tal reflexão cons-
Útuiu, mais em Por: ugal mas também na Espan
ha, uma demonolo-
gia assistemática, fluida e distinta da
demonologia sistemática dos
tratados franceses, alemães, ingleses.
Não seria curioso pensar ainda que os pa
íses fundadores das mo-
dernas colônias — Portugal e Espanha —
puderam se dedicar menos
à caça às bruxas em seus territórios, que ac
abaram por ficar excêntri-
cos à produção demonológica quinhentista e seis
centista , Porque, nas
possessões americanas, vestiram o diabo com ou
tras r oupagens, re-
novadas e duradouras? A América diabólica
tem raízes profundas no
imaginário europeu de hoje. Mais uma vez, ea g
ota em outro campo,
os ibéricos parecem ter sido precursores,
2
O ENRAIZAMENTO
Circularidade de culturas e crenças
Brasil, 1543-1618
47
meme
ra mí li as e de mu lh er br an ca . A pr od u-
“1º le À região carente de
Ç = ; K 2
úcar ainda não suplantara OS lucros advindos do comércio
e .
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E O asimas à colonização la se enraizando, as igrejas se cons-
o pal- q MEIGA S
tr ui nd o, as mi ss as Se ce le br an do . o
| A denúncia encetada por alguns dos principais moradores de
ro , o su má rio
ri o dad a s s aca c us aç Ú
õe s ql we se rem eme te u sb
a Lisb oa e
í| Porto Segu
subsequente processo por crime de heresia e blasfêmia levaram Tou-
0 E
ix ar o Br as il so b fe rr os , No fi m de 15 46 ou em fe ve re ir o
"inho a de
de 1547, os historiadores discordando acerca do ano. De qualquer
forma. em 1547 assi nava um term o de resi dênc ia pelo qual fica va
impedido de deixar Lisboa sem o consentimento dos inquisidores.
Em 1550 ainda respondia interrogatório na capital do Reino,
queixando-se dos inimigos que O haviam posto a perder sob falsas
denúncias. Impedido pelo Santo Ofício, nunca mais retornaria ao
Brasil, interrompendo a breve carreira de colonizador luso nos tró-
picos. Nas palavras do grande Capistrano de Abreu, “Tourinho foi
absolvido, ou apenas teve alguma pena leve, talvez alguma penitên-
cia: a Inquisição era nova, seus raios fulminavam de preferência
cristãos-novos ou hereges professos, e Tourinho seria quando muito
herege intermitente e diletante””.!
Falsas ou verídicas, as acusações que vários colonos fizeram con-
tra o donatário refletem traços característicos da religiosidade po-
pular nos primeiros tempos da colonização, quando era freqgiiente
o hábito de blasfemar, ironizar os dogmas da fé, desacatar o clero,
os santos e até Deus. Dos cardeais e do papa, Tourinho dissera que
eram todos uns “bugirrões sodomitigos tiranos que por dinheiro ca-
savam e descasavam a quem queriam”. Da procissão do Corpus
Christi, teria dito que era inadequada a época de sua celebração: ao
sul do Equador, as estações do ano eram diferentes, e seria melhor
passar esse dia santo para outubro, quando aqui era quase verão.
Retorquiu-se-lhe que só o papa poderia fazer tais alterações: “eu sou
papa”, teria respondido o donatário, jactando-se ainda de ser capaz
48
aqueles santos que elas queriam”. Santa Luzia, patrona dos olhos,
roi alvo de sua ira num momento de doença, quando sofria da vista:
prometeu, na ocasião, jogá-la pela “rocha do mar abaixo”, impre-
cando ainda contra sua honra. Santo Antônio também foi alvo da
rúria do donatário, que o responsabilizou pela fuga de alguns escra-
vos e prometeu oferecer-lhe uma candeia de merda.
“Em 1591, quando se deu a Primeira Visitação do Santo Ofício
As terras brasileiras, continuavam os colonos a desacatar santos, clé-
risos, sacramentos. E claro que havia o núcleo da religião oficial,
observada pelos bons cristãos que confessavame comungavam com
frequência, assistiam à missa semanalmente, enfim, viviam confor-
me as leis da Igreja católica. Constituiam a norma, e, nesta qualida-
de, não integram os autos da Visita. Esta procurava comportamen-
tos desviantes que era preciso punir, extirpar ou enquadrar, e como
tais entendia não apenas os que abalavam os dogmas da Fé como os
que introduziam elementos de uma cultura popular bastante antiga.
Como bem observou o historiador inglês Peter Burke, o pensa-
mento popular apresenta lógica diversa do erudito, tendo necessi-
dade de representar concretamente idéias e conceitos abstratos: as-
sim, a Quaresma é uma velha magra, e o Carnaval é um homem gordo
e rubicundo.? As concepções em torno da blasfêmia também se en-
quadram nesta lógica peculiar: as coisas ditas tornavam-se reais, as
imprecações contra divindades constituindo verdadeiras tentativas de
deicídio. Daí tomar-se a representação pela coisa representada, a ima-
gem do santo sendo passível do castigo reservado ao próprio santo
Foi assim na Europa até a época da Ilustração. No Auto da fei-
ra, de Gil Vicente — autor extremamente sensível à fala do povo e
afeito a misturar elementos populares e eruditos em suas peças —,
há um diálogo entre os moços dos montes e um serafim que ilustra
este caráter concreto da religiosidade popular. Os moços perguntam
ao serafim o que ficava Deus fazendo no Céu:
quando partistes dos ceos,
que ficava elle fazendo?
49
Serafim: 51.
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Gilberto: E
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Cristo muita merda, e pela hóstia muita merda, pela Virgem Maria
muita merda””.?. No primeiro quartel do século xvrr, um religioso do
Carmo da Bahia dizia “que quando Deus tirara a costa do homem
para criar Eva, viera um cãoe a comera, e que do que saira pela
parte traseira do cão fizera Deus a mulher, e que assim ficara Deus
fazendo a mulher da traseira do cão e não da costa do homem”.1º
A Primeira Visitação à Bahia compreendeu denúncias e confissões
de pessoas, ciganas na maioria, que associavam as chuvas com a urina
de Deus: “bendito sea el carajo de mi sefior Jesu Christo que agora
mija sobre mi”, diria uma delas, enquanto outra, contrafeita, quei-
xava-se que Deus mijava sobre ela e a queria afogar.”
Todas essas imagens remetem ao contemporâneo Rabelais, ob-
sedado, em sua obra, com o papel fertilizador da urina e dos excre-
mentos. No episódio dos carneiros de Panúrgio, por exemplo, o mer-
cador Dindenault se vangloria de que a urina de seus carneiros
fertiliza os campos “como se Deus tivesse mijado neles”.!2 Mijan-
do sobre Paris, Gargantua batiza a cidade, destacando o caráter re-
generador da urina.!* Podendo integrar a blasfêmia, o baixo corpo-
ral era, pois, muito importante na linguagem popular da praça
pública. Nas imprecações registradas pelas Visitações inquisitoriais,
ressalta quase sempre o seu aspecto negativo. Mas havia aspectos de
deboche e de carnavalização, como a imagem dos bispos e arcebis-
pos a criarem novos santos sob inspirações originadas em colóquios
amorosos, |
Apresentando elementos de continuidade com relação a cultu-
ra e à religiosidade popular da Europa no início da Época Moderna,
as práticas religiosas da Colônia se confundiam muitas vezes com
práticas mágicas e de feitiçaria, em quase tudo semelhantes aos ca-
sos metropolitanos estudados por Francisco Bethencourt.!* Muitas
das bruxas acusadas em terras brasileiras já haviam saído encaro-
chadas em Portugal por crimes análogos, vendo-se por este motivo
degredadas para o Brasil. Havia grande ênfase na magia amorosa:
“recorria-se a mulheres tidas como feiticeiras para obter sucesso nos
amores utilizando pós, rezas, filtros, poções, fervedouros, ossos de
enforcados, conjuro de demônios. Indicando tal esfumaçamento entre
práticas mágicas e religiosidade popular, algumas mulheres foram
acusadas (e confessaram), na Bahia de fins do século xvr, de usar
as palavras da consagração da missa durante o ato sexual para, com
isto, prender o marido ou o amante; uma delas recorreu ainda a cer-
ta mistura de vinho e pedra d'ara, ou seja, a pedra do altar sobre
a qual se oficia a missa católica.” Outras, com seus filtros estranhos
51
confecoonad
os g| parti! de SOCTICÇOCES Qu cAcrementos,
confirmam
papel do baixo corporal na cultura popular de então, Em
O
havendo piedade
de mulheres mal casadas,
e as ver bem maridadas,
ando polos adros nua...
Ee
cavalgo no meu cabrão
e vou-me a Val de Cavalinhos,
e ando quebrando os focinhos
por aquellas oliveiras,
chamando frades e freiras
que morreram por amores.
Oh, se visseis os temores
que passo nesta canseira,
não temeria a Pereira
tanto os corregedores."”
Já a Arde-lhe-o-rabo afirmava vagar descabelada e nua pelos
adros e matos, em busca de feitiços: “porque eu ponho-me à meia
noite no meu quintal com a cabeça ao ar com à porta aberta para
o mar e enterro e desenterro umas botijas e estou
nua da cinta pa-
ra cima e com os cabelos e falo com os diabos e os cha
mo e estou
com eles em muito perigo... Quando voltava das
andanças, vinha
“moída” pelos diabos e pelos trabalhos que tivera.'*
A semelhança
entre os hábitos de Maria Gonçalves Cajada
e Genebra Pereira no
que diz respeito ao preparo de feitiços e à gestualidade da mag ,
dica que, ia in- |
na colônia brasileira,
|
= ES sa
53
«e mostraram portanto profundamente semelhantes na metrópole
portuguesa e na colônia brasileira. Mas desde cedo delinearam-se tra-
cos específicos, aclimações inevitáveis dada a diversidade do meio
ambiente e das estruturas econômicas € sociais. Nas práticas mági-
cas cotidianas, cresceu no Brasil a marca do universo ultramarino:
assim, algumas das manifestações do mito do vôo noturno acharam-
se articuladas ao desejo de ir da Bahia ao Reino em uma só noite,
ou ver o que se dizia e fazia em Lisboa. Explícito ou implícito, o
vôo parece achar-se subordinado à vontade de voltar à Metrópole,
servindo ainda de atenuante a um vago sentimento de inferioridade
por viver na Colônia. A várias bruxas atribuía-se o poder de alterar
a rota dos navios quando o quisessem, de saber com antecedência
quando chegaria uma embarcação, adivinhar pelejas com navios pi-
ratas. Muitas mulheres ficavam sozinhas nas povoações coloniais en-
quanto os maridos marinheiros percorriam a vastidão do Império
Português, guerreando na Índia ou na China; algumas queriam sa-
ber o destino dos consortes para se certificarem de seu próprio esta-
do civil, pois, não raro, desejavam casar de novo e-precisavam ter
certeza de que haviam se tornado viúvas. Desta forma, recorriam
as pessoas que tinham fama de praticar a feitiçaria e prever o futuro.
Outro traço específico da feitiçaria colonial, e que começou a
se acentuar no final do século xvr, foi a sua associação às práticas
mágicas africanas. Segundo as Visitações da Bahia, um escravo gui-
né chamado André Buçal fazia adivinhações com panelas e ferve-
douros por volta de 1587. A partir de então, as referências vão au-
mentando: por volta de 1610, a bruxa Maria Barbosa, protegida do
governador da Bahia d. Diogo de Menezes, atuava em conluio com
o negro Cucana, que fazia pós com as aparas de certas raízes.” Em
1616, homens brancos já lançavam mão do saber de negros feiticei-
ros para conseguir a cura de familiares ou escravos. |
Também a religiosidade popular, tão semelhante à da matriz eu- ]
ropéia, apresentará peculiaridades no Brasil. Em 1543, quando a co-
lonização dava os primeiros passos, Pero do Campo Tourinho dei-
Xxava entrever, por baixo de blasfêmias obscenas, que sua forma
propria de viver a religião dizia respeito à um mundo novo, onde
tudo estava por fazer. Tivera ódio de Deus porque se arrebentara um
tanque de seu engenho, e, na ocasião, sentira-se desamparado por
Ele. Eram muito claras suas preocupações colonizadoras: “não se
CATE, Deus comigo porque agora hei de ser mais ruim e mau, €
venha ele cá Deus povoar a terra, senão deixá-la-ei aos infiéis”,
não gu Se
ardava os dias de preceito, era porque sobrava
trabalho e fal-
54
=.
q
55
se desenrolavam sob seus olhos. L Margarida da Costa, sua mu-
lher, declarou na Mesa da Visitação que “no dito tempo que a dita
abusão esteve na dita sua fazenda, que poderia ser de dois meses pou-
co mais ou menos, ela tinha para si, e dizia que não podia ser aquilo
demônio senão alguma coisa santa de Deus, pois traziam cruzes de
que o demônio foge, e pois faziam grandes reverências às Cruzes e
traziam contas, e nomeavam Santa Maria”.
Além de sua mulher, mais quatro mamelucos, todos cristiani-
zados, confessaram envolvimento com a Santidade, desvendando, em
seus depoimentos, um mundo fascinante de hibridismo cultural.
Quando estavam no sertão, pintavam o corpo, tomavam as drogas
rituais, comiam carne humana, forneciam armas de fogo aos chefes
índios, viviam poligamicamente com as índias. Uma vez entre os bran-
cos, confessavam, comungavam, voltavam para os braços das espo-
sas legítimas e, em dois dos casos, participavam de expedições de
apresamento de índios. Apesar de, nas confissões, expressarem arre-
pendimento pelas práticas gentílicas, é evidente a ambigiiidade de
sua fé. O mameluco Gonçalo Fernandes, por exemplo, dizia que “cui-
dava ele que este mesmo Deus verdadeiro Senhor nosso era aque-
loutro que na dita abusão e idolatria se dizia que vinha”.3
O mais belo dos depoimentos, riquíssimo como registro etno-
gráfico, é o do mameluco Domingos Fernandes Nobre, Tomacaúna
de alcunha. Em 1592 tinha 46 anos, dos quais dezoito passara entre
os indios. Confessando, disse que, enquanto andou pelo sertão, sua
vida ““foi mais de gentio que de cristão, porém nunca deixou a fé
de Cristo e essa teve sempre em seu coração”*,36
* Assim, embora apresentando traços marcadamente curopeus nas
práticas mágicas e religiosas, a colônia brasileira, ao findar
seu pri-
meiro século de existência, já revelava face pluricultural, que se con-
| O XVII € se acirraria no século XVIII. As
su-
cessivas ondas migratórias de colonos
portugueses, os hereges €
feiticeiros que a Inquisição desp
ejou sob re solo colonial com grande
frequência durante todo o século
xvil trabalhariam no sentido da
manutenção das persistências.
7 O tráfico negr
eiro cada vez mais in-
tenso, o contato constante
co m as tribos indígenas, a invasão de ho-
“landeses calvinistas, a cresce nte
consciência da condição colonial,
prá tic as e fo rm as cul tur ais lus ita nas : da oci den tal i-
de certas
lonial,
da co lo ni za çã o do im ag in ár io rel igi oso .** Est a
zação, mais do que es-
ge ra nd o fo rm as cur ios as e
ce aprofundaria nos séculos seguintes, e outros tan-
cab e ana lis ar aqu i: del as, To ma ca ún a
pecíficas, que não
o, col are s e bri nco s de oss os, co nc u-
ros mamelucos de corpo tatuad Ma s
tup i ser iam os pr im ei ro s rep res ent ant es.
hinas numerosas e prole do mun-
int erm edi ári os, lig and o as dua s pon tas
suceder-se-iam outros
bil ate ral e im br ic ad a — co mo , pa re ce -m e,
do atlântico numa relação
la çõ es de c o l o n i z a ç ã o .
são as re
57
3
POR FORA DO IMPÉRIO
Giovanni Botero e o Brasil
+ NO Piemonte, por
Os Jesuitas de Palermo, no outro ex-
ado jesuíta ele também. Entre
————&—e
RR RÃ
59
l
ie E e ar pia 5 E E - a
sobre a política veneziana — em da o is Serpi, muito
lido até o século Po —, a escritos de Botero auxiharam na edu-
aà tica da Europa.
ie at ábi esteja por trás do interesse diversificado
e do espírito universal que, apesar da formação Jesuitica, do apego
à retórica. do afã propagandístico e da vinculação com Borromeu,
Botero soube preservar em suas obras. E bem verdade que na Ra-
eion di Stato toma a religião como um dos fundamentos do gover-
no, opondo-se a Maquiavel; mas admite, em contexto diverso — em
nome da religião —, a violência e a simulação. Na Causa della gran-
Lt md
(*) “O maior trabalho dos Padres foi reprimir a avidez de carne humana, ali-
mento prezadíssimo entre aqueles bárbaros”
61
a pr át ic a do s al de am en to s, pe ça fu n-
de i n g e r i r c a r n e h u m ana;
tentes m e n ç õ e s
s” ao s há bi to s Pa
damental na redução dos “bárbaro gr i jad e fís i-
qu es e po di am at et ar a in te
As idas e vindas da cate
na 73 , Bo te ro re gi st ra o ma i tí ri o do pa -
ca dos catecúmenos; na pági co :
ri jó s, in tr od uz in do um no vo ei xo te má ti
dre Pero Correia pelos ca
do s € vi ol ên ci as co me ti do s po r aq ue le s que
o dos enganos, desman
ad ei ra Fé . Cu ri os am en te , o ep is ód io da mo rt e de
não seguem a verd
|| Correia é rela
en te co m
ti
o
vi
pa
za
dr
do
e
: de
po r
co rr
pr oi
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va r
in
um
té
a
rp
co
re
nc
te ,
ub
qu e, des-
ina, aca-
cont
-
bara instigando os carijós contra O catequista: ““Questi, e alcuni al
tri accidenti cosi fatti hâno dato occasione ad alcuni di tenere tutte
qu el le ge nt i. nô pu r pe r ba rb ar e, e sa lv at ic he ; ma pe r in ca pa ci di co l-
tura, e di disciplina. Ma eglhi é cosa troppo ingiusta, per un eccesso
cagionato per le sue suggestioni d'un'huomo fraudolente, e maligno,
condenare assolutamente tutta una natione”. E dá a chave da apa-
rente tolerância para com os índios: “Non habbiamo noi visto a” tem-
js oi
pi nostri gli Alemmanni, i Frâcesi, i Fiamenghi, e gl" Inglesi, nationi
tutte nobilissime, e honoratissime rovinar Chiese, trucidar Sacerdo-
ti, esterminar Religioni, conculcar Sacramenti, concitate à ció dalla
malvagitã d'un Calvino, d'un Luthero, d'un Beza, d'un Íllico, e di
simili altri ministri d'empietàã, e d'apostasia?””.!2*
Nas entrelinhas, portanto, e na forma de organização do texto,
Botero sugere que a heresia européia é pior do que o barbarismo ame-
ricano, e que este, na verdade, deve ser matizado e visto de forma di-
terente da que os europeus, até então, viam os alienígenas. Alemães,
ingleses, flamengos eram sabidamente capazes de cultura e discipli-
na, mas nem por isso isentos de atos bárbaros, como se fossem selva-
gens; por atos bárbaros, o pacifista Botero parece insinuar as guerras
que rasgavam o continente europeu, muitas delas fratricidas — co-
mo a francesa, que tanto o marcou. De um e de outro lado do
Atlântico, Natureza e Cultura mostravam-se curiosamente reversíveis.
62
Mesmo porque, para os intelectuais europeus de então, o fenômeno
mais bem repartido entre os homens era a atuação demoníaca.
““Non é paese al Mondo, ove il demonio non habbia la sua par-
te”, escreve Botero ao iniciar as considerações sobre os pajés brasilei-
ros. Valendo-se da terminologia do Malleus malleficarum (1486) pa-
ra as bruxas, Botero chama-os de maléficos — malefici — e ainda
de encantadores — ciurmatori. Sua ação se assentava na imprudên-
cia e na falta de tino — imprudenza e pazzia —, tornando-se presa
cácil de ilusões. Ministros diabólicos, usavam drogas rituais — como
os europeus temeram os alucinógenos americanos! — e incitavam seus
seguidores a se sublevarem. O exemplo central de superstição brasíli-
ca escolhido por Botero é a Santidade do Jaguaripe, perigosíssima
pelo caráter de insurreição — “*per mezo de' suoi ministri sollevava
tutto il Brasil” !** — e de similitude com os ritos verdadeiramente re-
ligiosos — ““una sorte di superstitione, e di tãto maggior pericolo,
e dâno quãto ella era piu simile, e côforme a” riti, e all*uso della Chie-
sa Sata””.P** Os idólatras tinham um “papa”, ordenavam ““bispos”
e “sacerdotes”, ouviam “confissões”, celebravam '“missas”, traziam
““rosários”” para suas orações: procedimentos totalmente diversos dos
hereges protestantes, mas igualmente demoniacos: “Et é cosa degna
d'esser avertita [astutia del demonio in oppugnar !autoritã del Pa-
pa. Poi che tra noi la combattê co'l negarla per bocca di Luthero, e
di Calvino, e de' seguaci loro: e nel Brasile co'l contrafarla per mezzo
di ciurmatori e d'altri suoi ministri””,16++*
Desta forma, a ação demoniaca também mudava, de um e de
outro lado do Atlântico: luteranos e calvinistas negavam os ritos €
os sacramentos para atacar o catolicismo; para desmoralizá-los, pa-
jés e encantadores tupis macaqueavam-nos. Universos tão diferen-
tes e longínquos, a Europa e a América tornavam-se porém indistin-
tas por meio da ação de certos hereges, que não conheciam fronteiras
que se antepusessem ao exército de sua impiedade, mais preocupa-
dos em semear a cizânia no campo dos fiéis do que em pregar a pa-
lavra divina para os infiéis. Assim agiu João de Bolé, francês que
veio para a França Antártica de Villegaignon e se insinuou entre os
63
do a disc
dis corórdi
dii a tra ves tid o na peleÇ
oao vrra nte comean
sen
católicos de 5
Naa Vicente,
.
de um carneiro
' A l e m a g n a piú vicinaa la Lap| pia, lala Biar-
L u th er an i d -
Non ha v e t e v o l
a n
I t i i n v o l t e n º IWidolatria? e voí heretici d”In
e circos t l a, e
mia, e l e P r o v i n t i
vo ! C a l v i n i a n i d e l l a R o c e l
a, € la O rolan
dia; e e An .
ghilterra, ['Islandi c h e v o l c h i a m a t
a c c a l a i , e la F r a n cia,
l u o g h i di F r a n c ia 1 B a to
d'al t r i
r e v i | a a n g e l i o , d e l n
v a d ' ur
i n t r o d
tartica; perché n o n f a t e p r o
i a , e n o m e já C ne perche w
f e s s i o n e , q u a l e e g li si S
voi fate p r o l | ru, mo [sic] nuo-
d i c a n o n e d e C a t t o l i c i n e
- giova di sturbare ja pre , a n z i c h e di suas voa n qualche
€ ne l V ' I n d i a
va Spagna, nel Brasil, m a n o ? si pBRs u ô d e
i r e
: , se non|
es si n o n h a b b i n o g i a messo la
impresa o v e
form en to ; ; ma
ma il so pr as em in
in ar z1 -
q i me st ie re 1] s e m i n a r
che non é vostro 1 fe de h al la pe rf id ia: né
li alla Fe de : m a
zania? nô il códurre gYinfide t i o n e ? n o n il pe rf ec t-
rt il t: m a il vi rt uo si alla c o r r u t
al'imp er fe tt i al la vi
ra?
depra aa
v a r c :
tionare finalmente ma dl
se , as si m, pr et ex to pa ra at a-
ód io de Jo ão de Bo lé to rn a-
O epis r ó p o l e e Co lô -
nã o c o n h e c e fr on teir as en tr e M e t
car à R e f o r m a : el a
nt ro € Pe ri fe ri a, Ve lh o e N o v o M u n do. N o cerco à Igreja, os
ni a, Ce
t e na c a t e q u e s e à fi m de ar ru in ar-
n
hereges interferem deliberadame A mé-
ab o é pr im ei ro a R e f o r m a , de po is a
lhe a ação. Para Botero, O di m o me-
ta do pe la R e f o r m a , o Br as il en tr a c o
rica. No perigo represen e n t e ao s
a d e s d e m o n i a c a s qu e, c o n t r a r i a m
táfora: lugar de humanid la -
do at é en tã o à c h a n c e de c o n h e c e r a pa
reformados, não haviam ti
vra de Deus.'*
a, ca te qu es e e he re si a (a ge nt il id ad e a p a r e c e ndo co-
Desta form
a
rd in ad a) sã o os pi la re s de s u s t e n t a ç ã o da qu ar ta pa rte,
mo sua subo
ii
qu e Bo te ro se es te nd e so br e o Br as il . As c o n s i d e rações
Livro 1v, em
o-
sobre a colônia portuguesa não passam de pretexto para que O pr O
is ta da Fé ca tó li ca ex er ci te se u po de r de fo go , e x a l t a n d o os
pagand
méritos e imprescindibilidade das missões enquanto põe a nu os hor-
a
("1 “Vós, Luteranos da Alemanha, não tendes mais próxima a Lappia, a Biar-
mia, e as províncias circunstantes envoltas pela idolatria? E vós, heréticos da Ingla-
o
res da França, os Baccalaíi. e a França, que chamais Antártica; por que não
RR
64
cc
do At lâ nt ic o, te im am em co me r ca rn e hu ma na,
que, do outro jado
li ca te m pr op ós it os hu ma ni st as , a Ee fo rm a
Se q expansão da Fé ca tó
protestante mostra-se, sem dúvida, como um anti-humanismo., Na
argumentação de Botero, portanto, a antropofagia é antes um em-
cu pa çã o efe tiv a: ma is do qu e os tu pi na mbás
blema do que uma preo
que, na Am ér ic a, co me m ge nt e, pr eo cu pa m- no os ca lv in is ta s e lut e-
e, na Eu ro pa , põ em em sít io a Igr eja .
ranos qu
re nt em en te da s co ns id er aç õe s so br e pa rt es da Eu ro pa qu e
Dife
cu ja s pe cu li ar id ad es pu de ra ob se rv ar , Bo te ro ba sc ia o
pereorrera €
e o Bra sil em ou tr as fo nt es qu e nã o su as no ta s de via-
escrito sobr
gem." Leitor atento, abre a parte que nos interessa marcando a es-
co lô ni a po rt ug ue sa : “Il Br as il e € se mp re sta to un a
pecificidade da
la à cui so gg ia ce la nu ov a Sp ag na , di Pe ru :
Corona distinta da quel
on e de” su oi po po li si é se mp re te nu ta , € si tie ne ma-
e nella conversi
da qu el la , ch e si é te nu ta ne lV al tr e par ti de l' Ameri-
niera differente
cu ri os a, re ve la do ra de se ns o hi st ór ic o ag ud o
q” 20º Consideração depois, Fi
oc a, um só mo na rc a, Fil ipe Il €, lo go
já que, naquela ép
o da Am ér ic a hi sp ân ic a qu an to da po rt ug ue sa ,
lipe Ir, era senhor tant
pa ra um ob se rv ad or at en to da ce na cu ro pé ia , um tan -
apesar disso,
— le mb re -s e a mi ss ão se cr et a de qu e o in cu m-
to diplomata também
ju nt o à co rt e da Fr an ça —, Po rt ug al e Es pa -
bira o duque da Savóia
m re in os di fe re nt es , se pa ra do s en tr e si, O me smo
nha continuava
as re sp ec ti va s po ss es sõ es co lo ni ai s. Da í a ob se rv a-
acontecendo com
gr af o: “O nd e ci € pa rs o co sa co nv en ie nt e il da-
ção que fecha o pará
re anche raguaglio separato”?**
que , pa ra a Am ér ic a hi sp ân ic a, foi Ac os ta — na Hi sto-
Sabe-se
ra l de las In di as — O gr an de re po si tó ri o de in fo rm a-
ria natural y mo
et an to , nã o te nh o co nh ec im en to de que , até
ções de Botero.Z Entr
os os do au to r das Re la zi on i ha ja m se pr eo cu pa do em
hoje, os estu di
tes qu e no rt ea ra m a sua esc rit a so br e o Bra sil . Se
estabelecer as fon
se rv aç ão dir eta , de qu e fon tes ter ia se val ido o
não se baseou na ob
to ri ad or Gi ov an ni Bo te ro ao dis cor rer sob re o Bra sil ?
cosmógrafo-his
a
a
O
a Co ro a di st in ta da qu el a so b qu e se en co nt ro u 4
(*) “O Brasil foi sempre um mp or to r, € 48 cos
co nv er sã o de se u po vo se mp re se co
Nova Espanha e o Peru: e na
porta de modo diferente das outras partes da Amé ric a, n
65
“CHE ARGOMENTI ERANO
ATTI A REPRIMERE TATA BESTIALITA?”
4S FONTES DE BOTERO
| m rio se afo-
gou donde lhe ficou o nome o rio do brade; todos
ã
E
os mais mataram
os Índios levantando-se contra os Portugueses?
A percepção da existência de fases distintas no proc
esso de ca-
tequese — a necessidade de “mutar stile'” — foi sem
dúvida inspira-
da por Nóbrega, extremamente sensível às etapas própri
as a tal mo-
vimento.** Vejam-se os trechos respectivos: em Botero:
Indussero dunque con prieghi, e cô promesse | pad
ri e le madri di fa-
miglia à dar loro in cura, e in disciplina à figliuoli
: Attesero poi con
E molta dulcezza a maneggiare quelli giovanentti [si
j c], à domesticarli,
& a invaghirli a poco a poco della belezza
della virtd, e del" honesta.
Non si gettô questa semenza indarno. Perché
i fanciulli imparavano fa-
cilmente, quel che lor si diceva: e ne davano par
te a'suoi di casa, & agli
Sen
e]
cd a
dó
altri, e con Vesempio ritiravano a poco a poco 1 compagni dalle usanze
bestiali [...];2?*
em Nóbrega: “os filhos creados nisto ficarão firmes cristãos, porque
é gente que por costume e criação com sujeição farão dela o que qui-
serem, O que não será possível com razões nem argumentos. Já agora
dão os filhos de boa vontade para lh'os ensinarem, e lhes levam disso
que têm para ajuda de sua mantença [...)'";** e em Anchieta:
Estes, entre os quais vivemos, trazem-nos voluntariamente seus filhos
para os ensinarmos, os quais, sucedendo depois a seus pais, tornem
o povo agradável a Cristo.?? [...] Temos uma grande escola de meni-
nos Índios, bem instruídos em leitura, escrita e em bons costumes, os
quais abominam os usos de seus progenitores. São eles a consolação
nossa, bem que seus pais já pareçam mui diferentes nos costumes dos
de outras terras; pois que não matam, não comem os inimigos, nem
bebem da maneira por que dantes o faziam?
oa
Sobre a catequese e suas estratégias, Botero deve ter lido ainda
outros escritos jesuíticos nos arquivos da ordem, bebendo neles e pro-
EE
duzindo, como pode ser constatado acima, um texto mais pessoal,
compreensível num homem que dedicava parte de suas energias in-
telectuais à propaganda da Igreja tridentina. Acerca das práticas gen-
tílicas, a sensação de estranhamento era, porém, infinitamente maior;
num procedimento verdadeiramente etnográfico, quase transcreve tre-
chos dos observadores diretos, diminuindo assim a margem de erro,
Vejamos o que diz Botero ao tratar dos pajés:
| Brasili sono in grã maniera soggeti a gli incantatori, e simili gente,
Tra questi uno ve n'era che con molta arte, & astutia s'haveva acquista-
to una suprema auttoritá, e riputatione tra loro, di un'altro Esculapio,
à Macone onde non si presto uno s'ammalava, che si mâdava subito
per costui, Venne una volta a ragionamento piu che a disputa, cô esso
lui il P. Nobrega: e li domãdo in cui viriú facesse egh quelle sue mera-
viglie, del Dio del Cielo, O del demonio dellPinferno? Ancor io (rispose
!"empio) sono Dio, e quel supremo Prencipe dell"universo, a"cui cenni
s“inchina il Gelo, e trema la terra, é mio grandissimo amico: espesse volte
(*) “Induziram pois com pedidos e com promessas os pais e mães de família
a lhes dar os filhos para cuidado e disciplina: conseguiram depois com muita doçura
manipular aqueles jovenzinhos, domesticá-los, deixá-los a pouco «e pouco enamora-
dos da beleza da virtude, e da honestidade. Esta semente não foi desperdiçada, Por
E
que os meninos aprendiam facilmente o que se lhes dizia: e disso davam parte aos
de sua casa, e aos outros, e com o exemplo tiravam à pouco e pouco os companheiros
mi
67
E
mi si mostra tra le nubi, &
in mezo delle saette, e de'tuoni.
piu patienza il Nobrega; Non hebbe
ma có piu collera, che argoment;
menti erano atti a re primere (che arpo-
tãta bestialitã?) lo confuse, e'] Te
lo. Smaccô, & avilí di tal se Muto-
maniera quel suo empio orgoglio,
Sô, non molto dopo, la sua cecita, e malitia che confe.
e domandô d” eSSer Instru
nella fede, & ammesso al Battesimo. Il tto
che egli ottene fin almente
me con al cuni altrj.1+ insie.
E
lefici de" quali parliamo, & havendolo esortato lasciar quella infame
professione, e vita, chêgli faceva, e à riconoscere un Dio padrone, e
Eai
creatore d'ogni cosa. To conosco (rispose egli) Dio, e'l figliuol di Dio
imperoche havendome il mio cã dato un fiero morso, chiamai il figliuo]
di Dio, che mi venisse a medicare, & egli vene incontanente; e per ven-
detta del male fattomi dal cane, arrecó seco quel vento, che alli di pas-
sati menó tanta rovina d'alberi, e di case 3”
|
vento, que nos dias passados provocou tanta destruição nas Árvores, * casas,
69
|
fi ca ra m ob st ru íd as as es tr ad as , e ne nh um a passa.
m a n e i r a q u e Hs tp
de tal mi ra r qu an to s es tr ag os de árvo-
p e l o s D O squ es; era par a ad
sem h a v i a
- - o es pa ço de me ia ho ra (po is nã o du ro u mais do
casas nroduziu n
res é "a verdade se o Senhor não tivesse abreviad
mm .
o aquele tem.
”
minciando a millantarsi della nobilitã del suo casato (doveva forse es-
cer un'altro Drance: Genus huio materna superbum Nobilitas dabat:
incertum de parte ferebat) e a vantarsi com questo, e con quello della |
sua dottrina, e aiutandosi con una certa facilitã di conversatione, e pron-
rezza d'ingegno, si fece a poco a poco tener dalle brigate per huomo |
da qualche cosa. Scrisse anche una lettera al Padre Luigi di Grana, Pro-
vintiale de' Giesuiti ch'era allhora in Piratininga, dandoli conto del'es-
ser suo, e de gli studii suoi, con dire, che poiche il maestro della sua
ciovanezza, huomo raro, e singolare, | haveva introdotto nella felici spe-
tonche delle Pieridi, ove s'era nel fonte (non sô, se di Parnaso, o d'Eli-
cona), inebriato con gli ameni, e divimi rivi della sapienza, se n'era pas-
sato a gli studii della Sacra Scrittura, e dell'altissima Teologia: e per
poterla con piu agevolezza conseguire, haveva anche, non perdonando
a fatica alcuna, imparato la lingua Sacra da gli stessi Rabini, e da loro
insieme appreso secreti meravigliosi, de' quali voleva far parte ad esso
Padre, come prima potesse con esso lui abbocarsi. Non passarono poi
molti giorni ch'egli (perché ex abundantisa cordis os loquitur) comin-
cio a bestemmiare contra il Santissimo Sacramento, contra le imagini
de' Santi, contra il Vicario di Christo assaporando ogni cosa con sale
di facetie, e di motti, presi dalla bottega di Calvino, molto plausibili,
e al gusto della moltitudine vaga di novitã quale ella si sia. Havendo
cio inteso il Grana, si mossi subito da” Piratininga per opporsi a” prin-
cipii del male. Il Frãcese li mandó* incôtro una Epistola, il cui essordio
era questo, Adeste mihi Celites: offerte gladios ancipites faciendam vin-
dictam in Ludovicum Granam, Dei osore. Onde si puô far congiettura
del resto. Il P. giunto alla cittã, cominció* subito à dimostrare al Vica-
rio Fimportãza del negotio, e à essortare cô frequenti Prediche il po-
polo à guardarsi sollecitamente dalle parole melate dell*Heretico, e da
bri pestilenti, ch'egli haveva portato seco. Per conchiuderla il Frãcese
se fá preso, e messo in prigione, e poi mãdato in Portogallo.***
(*) “Estavam entre eles dois ministros de heresia e pravidade calvinista, para
infetar com este veneno os soldados franceses e os brasilos. No progresso da empre-
sa, O capitão, que creio era Nicolau Villegaignon, homem de entendimento, e de juí-
e
Zo, percebeu que estes eram homens que, aliada à extrema ignorância das coisas cris-
UE E
“Surgiu depois tanta divergência entre os dois ministros, e tanta discórdia, que
não sabendo o que se dizerem, e não querendo um ceder ao outro, resolveram escre-
go
Ver à Genebra: e de lá esperar resposta sobre suas diferenças. Enquanto isso, um de-
ai
les, que não estava muito de acordo com o capitão, foi a São Vicente, e vestindo-se
FR
É.
“om pele de carneiro, dirigiu-se com três companheiros à casa dos jesuítas, onde fo-
E
Te
tam recolhidos como peregrinos e tratados humanamente. O ministro, que falava bem
-
"er UM outro Drance: Genus huio materna superbum Nobilitas dabat; incertum de
71
*
De Villegaignon, diz Anchieta que oii todos Cles ser
e mu i do ut o e gr an de ca va lh ei ro ”,
catol “co se fa
rm aç õe s in co rp or ad as po r Bo te ro
Mas o grosso das info
ra na já ci ta da “C ar ta de Sã o Vi ce nte”:
co nt
Todos eles eram hereges, aos quais mandou João Calvino dois que lhes
chamam Ministros, para lhes ensinar o que haviam de ter e crer. Daí
a pouco tempo, como é costume dos hereges, começaram a ter diver.
sas opiniões uns dos outros, mas concordavam nisto que servissem q
| Calvino e a outros letrados, e logo que eles respondessem isto, guarda-
| riam todos. Neste mesmo tempo um deles ensinava as artes liberais,
| grego e hebraico, e era mui versado na Sagrada Escritura, c por medo
| do seu Capitão que tinha diversa opinião, ou por querer semear os seus
erros entre os Portugueses, uniu-se aqui com outros três companhei-
ros idiotas, os quais como hóspedes e peregrinos foram recebidos e tra-
tados mui benignamente. Este que sabe bem a lingua espanhola, co-
| meçou logo a blasonar que era fidalgo e letrado, e com esta opinião,
e uma fácil e alegre conversação que tem, fazia espantar os homens
| para o estimarem. Escreveu também uma breve carta ao Padre Luís da
Grã, que então estava em Piratininga, na qual lhe dava conta de quem
parte ferebat [A nobreza da mãe conferia-lhe uma linhagem soberba; diziam que a
e
lhe conta do seu estado, e dos seus estudos, dizendo que já que o mestre da sua ju-
ventude, homem raro e singular, o havia introduzido nas felizes cavernas das Musas,
ES
onde, na fonte (não sei se do Parnaso, se de Elicona), tendo-se inebriado com os amenos
oo | mg
€ divinos rios da sabedoria, tinha então passado aos estudos da Sagrada Escritura,
e
c da altíssima Teologia; e para obtê-los com maior facilidade, tinha igualmente, sem |
eai
a
temer fadiga alguma, aprendido a língua sagrada com Os próprios rabinos, e com
ma
a nt,
dela ii e sapo a este Dana Não se passaram muitos dias antes que
ie
tre de sua
era, € O que havia aprendido, dizendo que depois que o mes
adolescência, varão singular, o havia metido nas escolas das Pierides,
navia bebido da fonte cabalina ameníssimos arroios de sabedoria, €
se havia passado ao estudo da Sacra teologia e Divina Escritura, a qual
ara mais facilmente poder alcançar, havia aprendido a língua Sacra,
to é a hebréia, dos mesmos Rabis, dos quais tinha ouvido de muitos
peritos, e que praticaria com o Padre quando se vissem. Estas cousas
quasi compreendia no fim da Epístola, que concluiu com um dístico,
Passaram-se muitos dias quando começou a arrotar do seu estômago
cheio de fedor dos seus erros, dizendo muitas cousas sobre as imagens
dos Santos, € O que aprovava a Santa Igreja do Sacratíssimo Corpo |
de Cristo, do Romano Pontífice, das Indulgências, e outras muitas que
adubava com certo sal de graça, de maneira que ao paladar do povo
ignorante não só não pareciam amargas, mas mesmo doces.
Sabendo isto o padre Luiz da Grã, veio logo de Piratininga a opor-
se à pestilência, e arrancar as raízes inteiras deste mal que começava
o brotar. Tendo receio disto, e pensando que tal bastasse para indignar
o Padre, e torná-lo suspeito, se porventura fugisse dele, mandou-lhe |
logo uma invectiva, cujo principio era este: Adeste mihi coelitos, affer-
te mihi gladios ascipites ad faciendam vindictam in Ludovicum Dei oso-
rem &c., na qual o acusava e repreendia mui grandemente porque não
repartia o pão da doutrina com os Portugueses, por trabalhar na con-
versão dos Infiéis, e disto se nos amontoou muitas outras cousas, com
que esperava se exasperaria o Padre. Mas o Padre que tratava da causa
de Deus não fugiu, tendo mais respeito à comum salvação de todos,
que à sua própria glória; foi ao Vigário, requerendo que não deixasse
ir adeante esta peçonha luterana, e com sermões públicos admoestasse
ao povo que se acautelasse daqueles homens, e dos livros que trouxe- |
ram cheios de heresias.>* |
A utilização quase literal de muitas das fontes constituiu traço
característico da metodologia de Botero. Nele, Federico Chabod viu
certa pressa, ou, em outros termos, a compulsão em recolher um gran-
de número de informações em tempo reduzido.” Outras vezes, Bo-
sã
tero resumia textos longos demais, como fez com passagens de Guicei-
co
73
e moral quanto pelos dados geográficos que continham: “* O tFiuntfo
da finalidade prática, de uma praticidade imediata, às cust as das fi. |
nalidades ideais; mas esse ecra o tom da época”!
|
|
Rs
no ato de comer carne humana era análoga a outras atitudes anti-
To
humanas, como a heresia protestante.
v De resto, é preciso deixar claro que a antropofagia americana
Se situava numa grade complexa de significados, nada tendo a ver
com gulodice monstruosa: na verdade, múltiplas significações se ocul-
tavam por detrás da aparente uniformidade do canibalismo ameri-
Da
75
la testa, e li sparge 1) cervello. Larrostiscono poi
tra noi 1 Porci), e ne fanno un solene, e magni fico
Convito 49 tm
A descrição do canibalismo poderia ter se base
nos seis autores diferentes, talvez combinando-se mais
ado em Pelo Me-
de um, O pri:
] meiro é Manuel da Nóbrega, de quem
, conforme Se VIU acima
lido a “Informação das terras do Brasil”, aparec 3 teria
ida em
k
77
mo procurador da província do Brasil em 1598, e nesta Ci
ria ter encontrado Botero. Na viagem, levava consigo alp da de Pode.
entre eles “Do princípio e origem dos índios do Brasil" qSãnso Cscri
basta
tos
,
|-.
de do Jaguaripe, e que a relatasse em manuscritos ainda desconheci-
| dos por nós, perdidos nos arquivos da ordem em Roma. Mas esta
| matéria será tratada mais adiante.>3
O sexto é Gabriel Soares de Sousa, autor do Tratado descritivo
—
por
É
ando
ne
5A
To-
losa — que o fora — Rodrigo de Freitas, Quirício Caxa,
e
Luís da
E.
o
E
e”
o
teúdo. A
E e
i
trat ;
==
a sua
7
/8
elemento a mais a aproximar o escrito do senhor de engenho e o lei-
om
tor Botero.*
e
(*) “Este prisioneiro, tendo sido bem nutrido e engordado, eles o farão morrer,
estimando nisto grande honra. E para a solenidade de tal massacre, eles chamarão
seus amigos os mais distantes, para assisti-lo, e comer sua parte [...]. Nesse dia sole-
ne, todos os que assistem se adornarão de belas plumas de diversas cores, ou tingirão
todo o corpo. [...] Ele será então trazido à praça pública bem amarrado e garroteado
de cordas de algodão, acompanhado de dez ou doze mil selvagens da região, seus
inimigos, lá será morto como um porco, após várias cerimônias.”
79
qu'en ayant levé la premitre peau, elles le font aussi
les cuisiniers par deçã sauraient faire un cochon de | ait prêt à
rotir”.28*
Longo também é o trecho em que Cardim descreve o
ritual an.
tropofágico, mas, no conjunto, afasta-se dos três acima
menciona.
dos. Comum, mais uma vez, é a alusão ao porco: “Morto
o triste,
levam-no a uma fogueira que para isto está prest es, €
chegando a
ela, em lhe tocando com a mão dá uma pelinha p
S U
que véu de cebola, até que todo fica mais limpo e a CO Mais grossa
Ivo que um leitão
pelado [...)".*º
O texto de Soares de Sousa é o que menos se apro
xima da nar-
rativa de Botero. Semelhanças, entretanto, se insinuam
quando des-
creve as loas feitas aos antepassados, quando alude a um
“carras-
co e, ainda, à luta com espada e à forma de execução do
prisioneiro,
Vejamos as passagens:
[...] lui e moi ayant discouru bien au long de mon voyage en Amérique,
El
e
dont il avoit lhistoire imprimée, il m'a dit que, l'ayant conferée avec
ce que Jean Staden, Allemand de nation, qui avoit été fort long temps
en ce pays là, en avoit escrit, il trouvoit que nous nous convenions três
bien en la description & façons de faire des sauvages américains: et lã
dessus me bailla le livre dudit Staden [...]. Ce que je leu avec le plus
grand plaisir, pour ce que Jean Staden, qui a esté environ huict ans
en ce pays la, en deux voyages qu'il y a faits, ayant été détenu prison-
DP
nier plus de six mois par les Tououpinambaoults qui Pont voulu man-
ger plusieurs fois [...]; comme il le disoit, je remarquay qu'il en parloit
PAR
du tout à la vérité; bien aise aussi que je fus, de ce qu'ayant mis mon
histoire en lumiêre plus de huict ans avant que j'cusse jamais oui parler
de Jean Staden, moins qu'il eust voyagé en Amérique, je vis que nous
E
81
PRP
diroit que nous avons c
omunique
parratiotnas,
ao ensemble avani que
de falro
* Hos
de ter trazido
me à verdade; fiquei muito contente também
minha hi
Stória à luz oito anos antes de ter ouvido falar
gem à América, concordávamos tanto na des-
terra quanto no Mar, Que se diri outras Coisas, que podem ser vistas tanto nessa
Ha que tínhamos nos comunicado
antes de escrever
82
tutta la persona, per terra: parlano tra denti: dano finalmente segni
rali, che ben appare di chi stano ministri, Finiti questi movimenti, si
lavano con acqua, e si stimano santficati, e di tanto maggior virtú,
e perfezione quanto sono stati piú fuor di se, e fatto molti piú bestiali,
e piú impertinenti. Dicono che 1 loro maggiori hanno da venire in un
naviglio al Brasil, e a rimeterh in libertã: e che allora i Portoghesi sa-
ranno tutti consumati: e se ne restará pur alcuni diverrano pesci, o porci,
o simili animali. Questa vanitã, e folia € nudrita, c fomentata dal loro
sommo Sacerdote, che essi chiamano impudentemente Papa. Costui
si aveva aquistata tanta autorita, e fede, che per mezo dei suoi ministri
sollevava tutto il Brasile. Si che molti abbandono le case de” Portoghe-
si, e servitio, nel quale erano impiegati: molti anche ammazzando tutti
quelli Christiani, che lor capitavano innanzi, si ritiravano ne'boschi,
o ne'monti. Anzi alcuni scannavano i proprii figliuoli, affin che non
reccassino loro impedimento alla partenza, o lor fossino d'impaccio
nella fuga, O li sepelivano vivi. Disturbo questa pestilenza principal-
mente il contorno della Baya, nê si poté acquetare senza gravissimo
travaglio, e de religiosi, e de* magistrati Regii. Et € cosa degna d'esser
avertita "astucia del Demonio in oppugnar Vautoritã del Papa, poi che
tra noi la combaté co'l negarla per bocca di Lutero, e di Calvino, o
si mi
de” seguacci loro: e nel Brasile co'l contrafarla per mezzo di ciurmato-
ri, e d'altri suoi ministri.6**
Na Informação da terra do Brasil, Nóbrega descreve ritos indi-
genas de transe e possessão por ele denominados Santidade. Mas,
na passagem, refere-se a manifestações milenaristas comuns aos tu-
pinambás, e não a uma ocorrência específica — a Santidade que te-
(*) “'[...] esta raça de homens suscitou no Brasil uma espécie de superstição,
de tanto maior perigo e dano quanto era mais semelhante, e conforme aos ritos, €
ao uso da Igreja Santa. Eles criavam um chefe supremo para as coisas sagradas, co-
mo fazemos com o sumo pontífice. Ordenavam bispos, e sacerdotes, ouviam confis-
sões, mantinham escolas, e ensinavam crianças sem mercê, ou salário. Celebravam
missas, portavam rosários para dizer suas orações; faziam sinos com certas cabaças,
e livros de cascas de árvores, e de certas taboazinhas; com caracteres não inteligíveis
a outros, que não eles, e se diz que o demônio os tinha inventado, e os ensinava, Co-
Seg
locavam a essência de sua religião, e santidade, na loucura, e para chegar aquele esta-
ei
do, bebiam o suco de uma erva, que os brasilos chamam petimã, de grande veemên-
E Rem je
cia e desmesurada quentura. Com esta bebida caem de repente desfalecidos no chão,
contorcem a boca, lançam a língua fora; se retesam, e se contorcem por terra, com
per
EE
tremor de toda a pessoa: falam entre dentes: fazem finalmente tais sinais, que parece
que são ministros. Terminados estes movimentos, lavam-se com água, e se créem san-
E
tificados, e tanto mais virtuosos e perfeitos quanto mais tenham estado fora de si,
mo
e se tornado bestiais, e impertinentes, Dizem que scus maiores hão de vir ao Brasil
E
83
r a s d e F e não Cabral de Taíde, senhor de Jaguaripe,
vc lugar nas ter
m o s à p a s s a g e m :
Veja
c e r t o s a n o s vém uns feiticeiros de mui longes terras, fin.
De certos em
antidade e ao tempo da sua vinda lhes mandam limpar
quao trade a cebê-los com danças e festas, segundo seuem costu.
os caminhos € pr mi o lugar, andam as mulheres de duas dug,
o do| p ublicamente
pelas casas, dizen tindo perdão delas. que fizeram a seus mari-
as faltas
dos umas às outras e pedindo perdão ds
do o feiticeiro, com muita festa ao lugar, entra em uma
Ra a b q figura humana,
ue traz em as do em parte
casa escura € põe uma cabaça,
mais conveniente para seus enganos, € mudando sua própria voz em
a de menino junto da cabaça, lhes diz que não curem de trabalhar, nem
vão à roça, que o mantimento por Si crescerá, e que nunca lhes faltará
que comer, € que por si virá a casa, € que as enxadas irão a cavar e
as freçhas irão ao mato por caça para seu senhor, e que hão de matar
muitos de seus contrários, e cativarão muitos para seus comeres, e
promete-lhes larga vida, e que as velhas se hão de tornar moças, e as
| filhas que as dêem a quem quiserem; e outras coisas semelhantes lhes
| | diz e promete, com que os engana, de maneira que créem haver dentro
; da cabaça alguma coisa santa e divina, que lhes diz aquelas coisas, as
| quais créem. Acabando de falar o feiticeiro, começam a tremer, princi-
palmente as mulheres, com grandes tremores em seu corpo, que pare-
cem demoninhadas (como de certo o são), deitando-se em terra, e es-
cumando pelas bocas, e nisto lhes persuade o feiticeiro que então lhes
entra à santidade; e a quem isto não faz tem-lho a mal, Depois lhe ofe-
recem muitas coisas c em as enfermidades dos Gentios usam também
estes feiticeiros de muitos enganos € feitiçarias.%
Na Informação do Brasil e de suas capitanias (1584), José
de
Anchieta também aludíria genericamente às San
tidades:
O que mais créem e de que lhes nasce muito mal
é que em alguns tem-
pos alguns de seus feiticeiros, que chamam Pajés, invent
am uns bailes
e cantares novos, de que estes Índios são mui amigos, e entram com
eles por toda a terra, € fazem ocupar os Índios em beber e bailar todo
o dia e noite, sem cuidado de fazerem mantimentos, e com isto se tem
destruído muita gente desta. Cada um destes feiticeiros (a que também
chamam santidade) busca uma invenção com que lhe parece que ga- |
nhará mais, porque todo este é seu intento, e assim um vem dizendo
que o mantimento há de crescer por si, sem fazerem plantados, e jun-
'amente com as caças do mato se lhes hão de vir a meter em casa. Ou-
tros dizem que as velhas se hão de tornar moças e para isso fazem la-
vatórios de algumas ervas com que lavam; outros dizem que os que
os não receberem se hão de tornar em pássaros e outras invenções se-
melhantes.**
Thevet não alude à Santidade, pois, na época em que aqui este- | |
ve, ela ainda não se popularizara. Léry, por sua vez, refere-se a prá- |
ticas rituais indígenas que tanto podem dizer respeito à Santidade |
como a outras crenças. A outra importante fonte coeva, Botero não
poderia ter acesso: as acusações e processos contra os participantes
da Santidade levados a cabo durante a Primeira Visitação do Santo
pa
Ofício ao Brasil, entre 1591 e 1595. Aqui poderia residir o maior
dos enigmas do texto do secretário de são Carlos Borromeu. O se-
gredo defendia os papéis do Santo Ofício, que funcionava de forma
totalmente autônoma, sem sujeição à Sé romana. Da Itália, Botero
jamais poderia ter acesso às informações contidas nos processos dos
incriminados no caso da Santidade do Jaguaripe. As informações
que veicula são, contudo, curiosamente semelhantes às contidas nos
processos.*º Sabendo que a Primeira Visitação sediou-se, na Bahia,
no Colégio dos Jesuítas, e que estes padres forneciam apoio às in-
vestigações inquisitoriais, poderiam ter partido da pena de um deles
as notícias acerca das práticas “heréticas” ocorridas no engenho de
Fernão Cabral; muito provavelmente, integrando alguma carta en-
viada à sede da ordem em Roma. Sendo Cardim o reitor do colégio
à época da visita de Heitor Furtado de Mendoça, tais informações
me pareceram, inicialmente, integrar uma das cartas ânuas por ele
enviadas à Companhia, e da qual não se tem conhecimento. A evi-
dência mais forte, entretanto, aponta para outra direção: a carta ânua
de 1585, da lavra de José de Anchieta, e, portanto, anterior à Visita.
Com a denúncia da contrafação da Santidade, tal carta pode ter si-
do, inclusive, um dos móveis a desencadear a visita de Heitor Furta-
do de Mendoça, ocorrida seis anos depois. Mas para fundamentar
tal afirmação seria preciso estabelecer as possíveis relações existen-
65
tes. no final do século XVI, entre a Companhia de Jesus e o Santo
Ofício — o que, até o momento, ainda não se fez.
Escrita, como as demais cartas ânuas, em latim, esta, de 1585 |
não tem tradução. Entre os historiadores que a parafrasearam, cabe |
destacar Serafim Leite e Robert Southey. Ao se referir à Santidade
o historiador dos jesuítas diz que a ânua de 1585 narra tudo circuns.
tanciadamente, e acrescenta: “A descrição de Southey [...] tirada Eh
Jarric, Histoire des choses [...), é tradução quase literal, um Pouco
re
enfática, daquela ânua”.
Em 1585, Anchieta era o Provincial do Brasil, já muito doente
e assistido por Cristóvão de Gouveia, o visitador que viera de Por.
tugal e chegara à Bahia em 9 de maio de 1583.10 Desta forma, é do
primeiro, com o possível concurso do segundo, a carta ânua — que,
a cada ano, os provinciais escreviam para o Geral da Companhia —
parafraseada por Southey. O cotejo deste texto com o de Botero não
deixa margem a dúvidas. Vejamos o que diz o historiador inglês;
y Tomando do cristianismo dos jesuítas o que lhes pareceu convir a seus
intentos, ou talvez o que dele compreendiam, escolheram os profetas
da nova lei um papa índio, uma ordem de bispos abaixo dele, e presbí-
teros por estes consagrados, conservando todos os seus nomes euro-
peus. Também introduziram a prática da confissão e absolvição, co-
nhecendo perfeitamente o poder que nas mãos do clero punha esta parte
das suas funções, instituíram uma espécie de missa, e rosários por on-
de se contassem as orações que deviam ser recitadas por número, e à
falta de sinos convocavam o povo para o serviço religioso ao som de
grandes cabaços ocos, convertidos em instrumentos de música ou de
matinada. Não eram charlatães ordinários os cabeças desta tentativa;
estabeleceram escolas à imitação dos colégios da companhia, e afir-
mam Os jesuítas que da casca de uma certa árvore faziam eles livros
como que encadernados em tabuinhas de madeira delgada, e que em
caracteres desconhecidos continham umas escrituras que o
diabo lhes
ed 19 np sabendo O que ea voa
Até aqui tudo era imitação dos
TOR CR Tao ae 2$
portugueses, masé era
E
para extermi
; inio
queles atrevidos impostores organizado o seu eX-
ste, Com esta momice, ou arremedo da
ma prática selvagem de provocar con-
1a planta deletéria (que se supõe ter si-
avia passado por esta terrível purifica-
» Ficava santo, e perfeito na sua vocação.
mm |
CONCLUSÕES
s co nt em po râ ne os , ob se rv ou Fe de ri co Ch ab od ,
para Botero e seu
do No vo Mu nd o € O me lh or co nh ec im en to do Ve-
o descobrimento
pr ov oc ar am mo di fi ca çõ es me nt ai s pr of un -
lho — Ásia e África —
as e pr en he s de de co rr ên ci as qu an to as pe rt ur ba çõ es
das, tão intens
econ ôm ic as ad vi nd as do af lu xo de me ta l pr ec io so à Eu ro pa .' ? No
an sf or ma çõ es , o au to r das Re la zi on i un iv er sa li mo s-
bojo de tais tr
en to a es pe ci fi ci da de s, sen sív el, por ex em pl o, à
tra-se historiador at
ar id ad e da Am ér ic a po rt ug ue sa . Co mo Lé ry e Mo nt ai gn e, apr e-
singul
ta lai vos de et nó lo go qu an do mi ni mi za o pe so dos rit os an tr opo-
sen
ro xi ma nd o- os dos de sm an do s rel igi oso s na Eu ro pa , ou
fágicos, ap
quando dá à conotação de barbárie cores diversas, assentada não
em va lo re s — po si ti vo e ne ga ti vo — ma s nu ma co nc ep çã o ev ol ut iv a
da vida humana — estágio necessário pelo qual passariam todos os
povos. Para Gómara, o descobrimento da América fora “'a maior
coisa depois da descoberta do mundo"; para Botero, à coisa ''maior
e mais admirável” desde a pregação dos apóstolos.”
A centralidade das cartas jesuíticas como fonte em Botero atesta
a gran de im po rt ân ci a qu e ti ve ra m no pr oc es so de re co nh ec im en to do
|
mundo peculiar ao Renascimento. Os missionários inacianos, tem-se
ar o vié s “a nt ro po ló gi co ”, re co lh en do infor- j
dit o, aj ud ar am a fu nd
es e re gi st ra nd o us os e co st um es , da Am ér ic a à Ási a. Tal sensi-
maçõ
bilidade ante o outro foi desdobramento inusitado do vasto progra
ri ná ri o da Igr eja re fo rm ad a: se a co nq ui st a
ma propagandístico e dout
religiosa do mundo era pedra de toque do programa tridentino, era |
rn as se m ca rt óg ra fo s e ge óg ra fo s — |
natural que os missionários se to
87
>
verificou, por ocasião do concílio, Alexandre Piccolomi.
conf orme tural, igualmente, que o cosmógrafo Botero,
74 Parece nã J a,
a esuít
Io.
se valesse das cartas dos companheiros de ordem a fim de Construir
» sua visão do mundo. Acosta, Nóbrega, Anchieta tiveram desta for. |
ma um papel relevante na construção da cosmografia européia
k moderna. |
Entretanto, ao mesmo tempo em que surgia Uma nova sensibilj.
dade, mantinha-se o apego ao centro irradiador, a Europa católica,
É Era o que lhe permitia continuar olhando para O Novo Mundo nos |
À termos da heterologia de que falou Certeau: à visão do outro era ajus-
| tada pelos parâmetros do imaginário católico. E aliás a leitura contra-
] reformista — presente já na Anua de Anchieta — que ressalta como
mais interessante do trecho sobre a Santidade: o arremedo da missa,
da ordenação de bispos, da reverência ao pontífice, enfim, os ele-
mentos de uma religião às avessas igualmente característica dos re-
| latos contra presumidas bruxas européias. Anchieta e Botero trazem
o ainda uma referência inusitada ao infanticidio, outro crime imputa-
| do às bruxas por seus perseguidores e ausente das demais fontes je-
suíticas conhecidas: para se verem mais livres na sua idolatria, os
adeptos da Santidade chegariam a matar os próprios filhos.
dE
e.
4
POR DENTRO DO IMPÉRIO
Infernalização e degredo
89
2“
do degredo articulavam-se, desta forma, desdobramentos dj
um grande rito de passagem,
Ao que tudo indica, foi no século Xxvil que a Inquisição portu.
guesa erigiu a colônia americana em local privilegiado do degredo
Consultando-se as listas de autos-de-fé referentes aos Tribunais de
Évora, Lisboa e Coimbra, nota-se que, a partir de 1606, começam
a se suceder em progressão impressionante os casos de réus degreda-
1 dos para o Brasil:? homens e mulheres acusados de Judaísmo, biga-
| mia, sodomia, blasfêmias, proposições heréticas, visões e feitiçaria,
É| Antes, no século xvi, as fontes sugerem que ainda se preferia o re
| curso ao degredo para as galés, fossem elas remos ou trabalhos for.
| çados. Depois, no século xvilI, as ilhas atlânticas e os coutos me.
R tropolitanos seriam eleitos os locais privilegiados do degredo.
(Esta mudança parece indicar, em Portugal, a passagem de uma
| política de aproveitamento dos desclassificados sociais e dos margi-
“nais em trabalhos forçados (comum a grande parte da Europa nos
séculos XV e xvI) para uma política de aproveitamento destes mes-
* mos elementos na lide ultramarina e na colonização do Novo Mun-
“do, Metamorfoseando o ônus representado pela reprodução desta
| gente em utilidade efetiva ou potencial, a Metrópole portuguesa trans-
“formava suas colônias, conforme a expressão do historiador Costa
Lobo, em ergástulo dos delingiientes.* Fazendo-o, era uma das pio-
neiras em procedimento que, desde então, passaria a se generalizar
entre os países senhores de possessões ultramarinas: andava ao lado
da Inglaterra, talvez quem tenha aplicado o degredo com mais per-
sistência e proveito.” Antecipava-se, por exemplo, a um João Mau-
rício de Nassau, que em meados do século xvil sugeriria às autori-
dades das Províncias Unidas dos Países Baixos que abrissem as prisões
de Amsterdam e enviassem os galés ao Brasil holandês para que,
“re-
volvendo a terra com a enxada, corrijam a sua improbidade,
lavem
com O suor honesto a anterior infâmia e
não se tornem molestos à
República, mas úteis”6
| O incentivo do Estad o ao envio de degredados para o Brasil
“7 mostrou-se| concomitant
e,portanto, à montagem do próprio siste-
| ma colonial, /Em 1549 se iniciava a oc
upação sistemática da colônia
americana, e data de dois anos antes
a decisão de não mais deixar
ptih RAvIOLOS S de Li| sboa e “sem O fazerem sa
casa do Cível, para lhe orde
b e r a o Governador da
levar"? nar os degredados que cada navio devia
Passando a degr
edar um número
portuguesa se nsinese ra maior de réus, à Inquisição
portant O NUM
co
ntexto mais amplo,
no qual
90
=.
h a d o s no va st o pr oc es so de
s a p a r e l h o s de p o d e r e m p en
do r -
m às s o c i e d a d e s oc id en ta is m o d e
€ N O r m a t i z a ção comu
exclusão r a d a ç õ e s di ve rs as : a su pr es sã o das
8 Tal processo comportou g
p a r t i c u l a r i d a d e s — u m Re i, u m a Fé ,
sal das heterodoxias, das m
em pl ar , o ex íl io ri tu al . T a m b é
a a o suplício € punição ex d e se r
oa s, O qu e, pa ra Po rt ug al , p o
se cu la r d e g r e d a v a pe ss
n4705 oa N o s pa ís es em
e n a ç õ e s do Re in o.
- io com a leitura das Ord
S a n t o Of íc io , su a aç ão se s omou às prá-
que existiram Tribunais do u-
lu ti st a; no sé cu lo XV II po rt
le va da s à ca bo pe lo E s t a d o abso
ticas E s t a d o e da I n q u i s i ç ã o
aç ão do
guês, nota-se assim a confluência da , ao mes-
e de su as ma ze la s, p o v o a n d o
no sentido de purgar à metrópol m i n a -se O de-
il ei ra . N o pr es en te es tu do , e x a
mo tempo, à colônia bras Of íc io .
ã o ap li ca da ao s ré us do S a n t o
gredo apenas enquanto puniç
T U R E Z A DA S I N F R A Ç Õ E S
INCIDÊNCIA E NA
se co mo bas e dez ess eis cas os de fei tiç ari a pu ni do s pel a
Tomem-
içã o de Lis boa co m O de gr ed o par a o Bra sil . Nel es, ent re os
Inquis
ed om in ân ci a ma rc an te de mu lh er es (tr eze cas os em dez es-
réus há pr
seis). As práticas dos acusados dizem respeito basicamente à vida
afetiva e amorosa, às tensões e conflitos integrantes do universo so-
cial, à previsão do futuro, aos anseios de comunicação com o sobre-
natural. São constituídas por orações de conjuro de demônios, ora-
ções que invocam passagens das vidas dos santos, orações que se
reportam a plantas e animais dotados de significado simbólico, ben-
zeduras e curas de animais e pessoas doentes, visões, porte de bolsas
que propiciam sorte no jogo e nas pelejas, pacto demoniaco, com-
parecimento a conventículos de feiticeiros, ou sabás. O período de
maior incidência dessas práticas é a década de 60 do século xviI,
quando ocorrem cinco casos. A pena de degredo mais comumente
aplicada é a de cinco anos (dez casos). As culpas que mais aparecem
são as de conjuro de demônios, orações e sortilégios, mas a culpa
mais duramente punida é a de Francisca Cotta, jovem filha de um
capitão d'el-rei na Praça de Mazagão e acusada pelo Santo Oficio
de comunicação com almas, cópula e pacto com o diabo, num pro-
ces so cur ios o em que o div ino e o de mo ní ac o se alt ern am o te mp o
todo. Em onze dos processos, a abjuração é de levi, sendo assim a
mais comum de todas. Não se nota uniformidade na aplicação da
pena conforme o grau da culpa. Como exemplo, em 1620 temos dez
anos de degredo, abjuração de levi e açoites para Suzana Jorge, e,
91
em 1624, quatro anos de degredo, abjuração em for que
mais grave —, cárcere, hábito pearina perpétuo e AÇO ites ms
mão Ribeiro c Ana Antonia. | Si.
Enfocando-se simultaneamente as práticas dos feiticeiros ;
tugueses degredados para o Brasil no século xvil & as Práticas si
logas exercidas em terras brasileiras durante os três séculos da ai
nização (XVI, XVII e XVII), detectam-se permanências e alterações
Nas práticas destes degredados, há traços que Continuam in
aos encontrados na Primeira Visitação do Santo Ofício da qui:
ção às Partes do Brasil (1591-5), sugerindo permanência de um subs:
trato europeu comum, ainda medieval, e traços que Paulatinamente
se alteram e assumem coloração específica e mais moderna.
Nas práticas dos feiticeiros brasileiros ou portugueses
Tesiden-
tes no Brasil, nota-se a presença de matriz européia mais abrangen-
te; de matriz européia mais especificamente portuguesa e, por fim,
de sínteses. Estas são mais tipicamente setecentistas, e se constroem
com o entrelaçamento das aludidas matrizes e ainda dos substratos
ameríndio e africano. Assim sendo, partindo-se da hipótese de que
o degredo funcionou como transmissor cultural, é possível sugerir
que sua intensificação no século xviI tenha contribuído de forma
acentuada para o engendramento de práticas mágicas especificamente
coloniais mas dotadas de marcante substrato europeu.
Dentre as práticas destes feiticeiros degredados que apontam para
o nível das permanências, temos sortilégios, fervedouros e orações
em tudo semelhantes aos perseguidos no Brasil durante a Primeira
Visitação do Santo Ofício. São eles dotados de caráter acentuada-
mente europeu e medieval. Alguns exemplos: a oração da tesoura €
do balaio, comum também à Inglaterra elisabetana é vulgaríssima no
Ta Ee A
É RR 1 TO
ado
=.
s bo ls as le va da s po r al gu ns do s ré us
É, por EX emplo,
o caso da
, pa ra o Br as il no sé cu lo xv tt . Co nt en do pe da ço s de pe -
es ta s bo ls as ti nh am o ob je ti vo de de fe nd er qu em as ca rre-
j
€ ap ar ec em si mp le sm en te co mo bof l-
dra É do É rimentos com ferro,
gasse a à qu de corporais. Revestiam-se do caráter dos amuletos,
el o me no s de sd e a Al ta [d ad e Mé di a, e se at relavam à
“e o
pe dr as má gi ca s e de vi rt ud e. Di fu nd id as pe lo s me ca ni s-
ns
tra
za çã o, es ta s bo ls as se mu lt ip li ca ra m no
do degredo € da coloni
O te rr it ór io br as il ei ro , de No rt e a Su l, do Grão-
e por todo
ais. Ar ti cu la nd o- se a prá tic as má gi ca s e de fei tiç a-
e n te afr ica nas , to rn ar am -s e bol sas de ma nd in ga .
ria e s p e c i f i c a m ?
já um a fo rm a es pe ci fi ca me nt e col oni al. Mandin-
* Aqui tem-se ç u l -
h a b i t a v a m u m do s re in os m u
as ou malinkês eram povos que re in o de M a h ,
lt a do s é c u l o xi rr : o
E do vale do Niger por vo set ece n-
que, entre nós , pas sou à Ser des ign ado por Mal é. No Bra sil
rista, os malês (em principio, habitantes deste reino) eram tidos co-
zen do ao pes coç o amu let os com sig-
mo mestres da magia negra, tra
Sa lo mã o e ver síc ulo s do Cor ão. !
nos de
Portanto, por mecanismos vários, entre os quais o degredo e o
tráfico, € que re me ti am em últ ima ins tân cia ao sis tem a col oni al, a
bol sa de ma nd in ga set ece nti sta des ign a um a for ma esp ecí fic a de ta-
lis mã, cap az de con gre gar prá tic as eur opé ias e afr ica nas . Tri but ári a
de três continentes, ganhando vida na articulação triangular entre
Europa, América do Sul e África, constituindo-se no seio do siste-
ma colonial, esta prática, por motivos óbvios, acabaria se prolon-
gando na metrópole: no século XVIII, os escravos negros que habi-
tavam Lisboa — seja por terem nascido lá, seja por lá terem chegado
com seus senhores, antigos funcionários da burocracia colonial que
retornavam à sede do Império Ultramarino — conheciam e difun-
diam a bolsa de mandinga, expressão incorporada inclusive pelos in-
quisidores.!2
Dentre as práticas mágicas e de feitiçaria que transmigraram para
terras coloniais e conheceram alterações significativas, cabe por fim
aludir às orações que invocavam Maria Padilha. Há quatro casos de
orações deste tipo entre os processos de que ora se trata, e há notícia
de dezenas deles no Brasil setecentista, associados sempre a outros
elementos das orações de conjuro. Ainda hoje, Maria Padilha encon-
tra-se entre nós, brasileiros. Na umbanda, forma sincrética de religio-
Idade popular que incorpora o catolicismo, as religiões africanas,
às religiões indígenas e o kardecismo, Maria Padilha é Pombagira,
ou seja, um dos espíritos incorporados pelas pessoas que freguen-
93
tam esses rituais, À Pombagira é figura associada a
Mulhere
da fácil; Maria Padilha, invocada sempre junto com 4a s de o Vi.vi
drilha”, é grande alcoviteira de amores ilícitos.1 Oda a sua qua
PUNIDOR E PUNIDOS:
IDENTIDADE DE ESTRUTURAS MENTAIS
94
s. Eles ajudam a apreender a forma pela qual o
U S levantado po rt an te col ôni a: distan-
mo t i v
comum enxergava
1 a sua ma is im
mar , se pa ra da da Me tr óp ol e por uma
|Me ses de viagem por
(C vários da riscos, doenças e piratas, insalubre e infestada do vício
A de cnd s t
imprópria, por fim, à vida em família e em
o -
e dos ma
u s
ca tó li ca .” Par a 0 me do da tra
a con for
o t
ram e «às reg ras da rel igi ão
à po pu la ri za çã o de cer ta lit era tur a de nau-
nada co ter contribuído
Portug al . No mar , a im ag em da mo rt e as so m-
posso dizer, por não saber pintar tantas
tão dif ere nte s no nú me ro e tão se me lh an-
- medonhas tormentas, ta tragé-
di dm ra € imagem da morte, que em todos os atos des
pr in ci pa l fig ura , fa la nd o co m gr an de es pa n-
Neo os ne sempre pela
mo se o tea tro fos se to do seu ... ”, dir ia
na o senhora de todos co em
o da nau Sã o Fr an ci sc o
fon so, so br ev iv en te do naufrági
aa sb oa : em 156 5, quando
cat ást rof es ap or ta va m em Li
1596. Os eco s das re bo ca ra m-
Jorge de Albu qu er qu e Co el ho na uf ra go u vi nd o do Bra sil ,
ra m- no s, por de te rm in aç ão do reg en-
se os destroços da nau € expuse es pa ço
nte da igreja de Sã o Pau lo, “e por
te cardeal d. Henrique, à fre e era coi sa
ia tan ta gen te vê- la qu
de um mês ou mais que ali esteve ro ço ”' .?
va m ad mi ra do s ve nd o seu de st
espantosa, e todos fica ;
en ta r tra ves sia tão ter rív el, hav ia qu e se ter sa úd e boa
Para enfr
qu e a fal ta del a po de ri a liv rá- las da pe na ,
as rés logo perceberam
ili zar os juí zes no se nt id o de co mu ta re m o de-
ou pelo menos sensib
se fra ca, Lu zi a de Jes us al eg av a que , por est a raz ão,
gredo. Dizendo-
tin ha “f or ça s e ne m su bs tâ nc ia al gu ma [... ] e as si m par a passar
não
as águas do ma r cor re mu it o pe ri go sua vid a e nã o é pos sív el ch eg ar
lá.. "21 A go ta -c or al — de no mi na çã o da da na ép oc a à epi lep sia —
era o mal mais frequentemente invocado. Foi com base nele que, em
1624, Luiza Maria procurou se furtar à pena, conseguindo-o: os aci-
dentes da doença sobrevinham “*notáveis e vehementes”, durando
“orande espaço, e para a sossegarem aos violentos movimentos do
mal a não podem aquietar quatro e cinco pessoas, como é notório
e o testemunharam as pessoas que tratavam no cárcere, e assistiam
no Auto de Fé, aonde padeceu um notável acidente”'.22 Alegando es-
tar “entrevada e cega, passando muitas misérias sem ter com que
as poder remediar, e ter de idade muito dilatada”, Paula de Moura
Conseguiu cumprir pena no Algarve e deixar para trás o fantasma
do Brasil.?? Na mesma época, em 1683, Maria de Souza alegou
doenças e “muitos e grandes achaques”” para fugir aos açoites pú-
blicos e, a seguir, ao degredo para a colônia americana.” O pai no-
bre de Francisca Cotta descreveu a doença da filha na vã tentativa
95
j ão
acodem a eles se despedaçara E S
fala muitos desatinos””.25 Mui fortes
Fc
97
toi humilhada pela pente do navio
e
vinha por bruxa e feiticeira”, quei " dissera
x U=VA- Se;
da a visões e tinha sonhos de salv af na Verda
Portugal e d e, Her
za da época dos descobrimentos, lhe Testit
Após dois uj pa
em| que | tomara conf Meses na Bah:
ntessor “ nos pés deste Santo Antônio” ah5i»
na queixou-se de inúmeros “ “ tempo
trabalhos” e disse em cart
selhavam a ir para São Paulo, “q ISloná.
ue não ser à Que q
rendo talvez com isto aludir
degreda ; ed “AÇÃO Que recebia qr,
da pel
o Santo Ofício.3 Tendo T e
À r
sete anos — provavelmente
em Olind
sua entrada no Brasil —,
Maria da
recolhendo esmolas para ref
Oi
ormar o Recol
so
de Luzia
Pe
os achaques”.3?
Portanto, se no século xviI à In
quisição via o degredo para o
Brasil como a última etapa de um
processo purgatório, as peniten-
ciadas que procuravam fugir dele
ressaltavam da mesma forma o ca-
ráter negativo da terra para a qual se
guiam e acentuavam a impossi-
bilidade de nela se regenerarem. Com
fregiiência, invocavam laços
familiares: mães e pais velhos e sozinhos
, necessitados do amparo
filial (como os de Luiza Coelha), ou me
smo maridos abandonados
que subitamente passavam para primeiro plano
no afeto das rés bí-
gamas. O caso de Ana Lourença não é o ún
ico, e nesse episódio tu-
do indica ter sido o próprio Tribunal quem de
u a pista de como con-
seguir a comutação do degredo, pois antes me
smo que o marido
ap arecesse reclamando a esposa desgarra
da, o Santo Ofício Julgara
que a ré “tinha idade bastante para não correr perigo sua ho
nesti-
dade [...] e se seu primeiro marido quis
er atalhar a isto a poderá
acompanhar no degredo [...]'38. Talvez fosse este o pior dos cast
gos. Também em 1647 — no mesmo an i-
o em que o antigo cônjuge
de Ana Lourença resolveu voltar a
de Catarina Lope fazer vida com ela —, o marido
!
tícias da ex-mulher: “vindo-lhe a notícia que a dita su
a mulher esta-
SR Para Se embarcar velo a esta cidade com o intento de viver com
a dita sua
ã mulher” | entretanto, “a achou
ratar de que torne para já embarcada, e ora quer
Sua companhia”, Pediu
à Inquisição que
98
0.
“zasse a volta de Catarina Lopes; não há registro de seu retor-
a as sabe-se que o Santo Ofício lhe perdoou o degredo.*
no, bi da purgação, a que visava o Santo Ofício quando degre-
us réus no séc ulo XVI I? O saneamento do corpo social pelo
dava Sé
| urgo dos maus fiéis? Se assim era, como explicar que não se in-
| piiá odasse de com eles seguir maculando o corpo social da Colô-
ds sobre o qual também incidiam suas investidas? Contrariamente
| aos réus, acreditava O Santo Ofício que no Brasil se emendariam pe-
cadores? Não parece plausível, pois O mesmo Tribunal costumava
'nvocar os maus costumes vigentes na Colônia e que, a seus olhos,
| a desqualificavam. Numa época de guerra € de retomada do territó-
| rio, talvez a Inquisição cedesse às pressões do Estado e concordasse
| em despejar sobre O solo colonial boa parte de seus penitenciados
| — entre eles, mulheres de conduta duvidosa ou entendimento fraco,
| dadas a visões e a acidentes de gota-coral, indesejáveis na Metrópo-
le mas passíveis, na Colônia, de gerarem filhos de soldados mestiços
e de hereges convertidos. Se assim fosse, a Inquisição teria dois pe-
| sos e duas medidas, preocupando-se mais com o controle social no
centro do sistema do que na sua periferia.
Muitos dos processos permitem reconstituir etapas na história
de degredo destas mulheres, acusando um percurso solitário e apa-
| vorado. Em três dos casos, sabemos no que deu tanto sofrimento.
| Em 1660, passados dez anos da condenação, a tenacidade da velha
-—
E
de ficar fora de Lisboa, porque achava que devia zelar pelo Recolhi-
e
o
| 99
|
Com cinquenta anos, dirigi
me & u-se voluntariamente ao Tribun
a a
al
Uticio para confessar. Disse que vivera pobre o Miseráve d Oda
“
l a a um
| ETONSAT do Brasil, € que, procurada pelas POSSOAS,
tas, voltara à praticar certas orações a fim de preverPorcoisa
inst
Maãd] aa E
s E à de.
Sintomaticamente, sua confissão termina
o de chofre, se qua NR
qualquer pronunciamento do M Tou
| O REVERSO DO DEGREDO
O degredo determinado pelo Santo
Ofício era Parte integrante
de um processo em que exvusdo e in
a WrpPoOração se alternavam. Pren-
dendo o réu, o Tribunal o excluia momentan camente
do corpo so-
cal, continuando desta forma um movimento de exclusão iniciado
| no seio da própria sociedade, que, por meio da denúncia, rejeitava
| parte de si mesma, No transcorrer do processo, eram dadas ao réu
condições para que se reintegrasse ao corpo do qual acabara de se
ver excluído, Uma vez condenado, a exclusão podia ser levada ao li-
mute pelo estigma da apostasia e da excomunhão. Imediatamente,
porem, a abjuração pública no auto-de-fé (grande solenidade que
exclui e integra simultânea e alternadamente) propiciava a reintegra-
ção do réu ao grêmio da Igreja. O passo seguinte era uma nova ex-
elusão, simbólica e física: o cárcere, o hábito penitencial, as galés,
| o degredo. Neste último caso, que é o que ora interessa, o indivíduo,
e
ii
ia
mo
ele que esta Colônia era o inferno dos negros, purgatório dos bran-
na,
a
O degredo era uma das penas do Santo Ofício, mas era também
=
|
zelas, descarregando-as na colônia e se aproximando de outros meca-
ae
100
Com o degredo, portanto, vinham para terras coloniais elemen-
c disp osto s a repr oduz ir nos trópi-
tos punidos por crimes irTISÓTIOS
Mas vinham também hereges, teiticei-
Os O mundo metropolitano.
femo s, visi onár ios que, uma vez na colô nia, min ari am as
vá plas
n de sustentas ão da ordem estabelecida, tornando-se agentes de
s
base
im processo originador de novas sínteses, | |
Durante o século XVII, OS colonos habitantes das terras brasi-
leiras construtram paulatinamente a percepção do que Luís dos San-
tos Vilhena chamou “o viver em colônias e Vivia-se em colônia
própria ou por torça de circunstâncias ArAS, CNE clas
101 opção
o degredo. Mecanismo pumitivo corrente no Antigo Regime, o de-
gredo serviu para garantir a perpetuação de formas culturais portu-
opéi as) no seio da soc ied ade colo nial . Alg uma s se cris ta-
guesas (eur
lizaram e permaneceram inalteradas atraves dos tempos. Mas muitas
ee
eee
[01
Segunda parte
MICRODEMONOLOGIA
O diabo e as tensões cotidianas
|
5
RELIGIÃO POPULAR E POLÍTICA
Do extase ao combate
INVASÃO MÍSTICA
105
——
Doming o dis
Esp anh a viv ia ent ão um cli ma dev oci ona l ass ent ado no
fecia. A
ame nto e na fug a ao mu nd o. Os hu ma ni st as cri stã os vol ta-
despoj
à Bíb lia — pre fer enc ial men te ao No vo Te st am en to —, tra du-
vam
emp enh and o-s e na sua dif usã o em lin gua vul gar . Cui dav a-s e
zindo-a e
da pub lic açã o de obr as dev oci ona is: a Imi taç ão de Cri sto ,
também
and ês Tom ás Em er ke n de Kem pis , os Luc ero s de la vid a chr is-
do hol
tiana, de Ped ro Xim ene s, o Exe rta tor io de la vid a esp iri tua l, de Gar cia
de Cisner os, os esc rit os de são Jer ôni mo, san to Ag os ti nh o e vár ios
livros e tratados que versavam sobre a vida espiritual de místicos me-
dievais, como santa Angela de Foligno, são Vicente Ferrer e santa
Matilde, estes dois últimos de pronunciado caráter profético.” Fru-
tificava assim na Espanha a tradição mística da Idade Média,
trazendo- se o rel igi oso par a o dom íni o da sen sib ili dad e e da exp e-
riência indivi dua l.” Mís tic os co mo são Joã o da Cru z e Ter esa de
«A
nes ta tra diç ão, abs orv end o o Pse udo -Di oní sio , Oc-
RE Ávila beberiam
E cam, Eckart, são Boaventura, Bernardo de Claraval, e fazendo do
| século xv1 espanhol “o bom momento da literatura mística””.º
Mas voltando às humildes solteironas das Ordens Terceiras por-
106
=... ti
juguesas: por que foram clas processadas pela Inquisição? Tinham
as de Deu s e de Jes us, ins inu ava m
revelações, diziam-se muito querid por cri me de fal sas
tas, mas o Santo Ofí cio as con den ou
cerem san
crenças, O que significava heresia e, nesta qualidade, até mesmo bru-
que sua s vis ões se apa rta vam do “us o co mu m dos
saria. Considerou
s fin gim ent os ““s em uti lid ade al-
católicos cristãos”, constituindo vão ia e sob erb a lu-
ind íci os de “ar rog ânc
guma pública ou particular”, comuni-
re si con trá ria s”? O fato de
cif eri na” , coi sas “fa lsa s e ent
pes soa s a nat ure za de sua s exp eri ênc ias extáticas
carem a várias
O eve ntu al car áte r mís tic o e des mas car ava -lh es a face
esvazi ava-lhes e esc ond ê-l as se
ven do enc obr i-l as
de impostura € charlatanice, “de rá te r de -
m as pe ss oa s de es pí ri to ”. 1º O ca
foram de De us , c o m o fa ze -as
vi sõ es , po r fi m, ap ro xi ma va
sordenado, caótico e irre gular das
af as ta va da s “r eg ra s da s ver-
m e n t e do Pa i da M e n t i r a e as
perigo s a os “' es -
”, pr óprias de sa nt os ve rd ad ei ro s,
da de ir as re ve la çõ es € vi sõ es
s u m a pe rf ei çã o” , en tr eg av am -s e à “exer-
colhidos de Deus” que, “em am or € se rv iço
ni tê nc ia e ou tr os at os de
cícios espirituais de oração, pe o ca rá te r de sa n-
is iç ão re cu so u- lh es
de Deus”.!! Desta forma, à Inqu me nt os pr in ci pa is :
-s e em tr ês ar gu
tidade que reclamavam, baseando lu ci fe ri na ”) , su as
ân ci a e so be rb a
não tinham humildade (a “arrog s ve rd ad ei ra s re ve-
do (a s ““ re gr as da
visões eram desprovidas de méto co s é am bí gu os
em el em en to s gr ot es
lações e visões”), € abundantes
al sa s e en tr e si co nt rá ri as ”” ). !
(eram “f
nt av a- se no ra ci on al is mo €s -
a r g u m e n t a ç ã o in qu is it or ia l asse
A xt os mí st ic os so b
e e n t e n d i m e n t o dos pr óp ri os te
colást ic o, na le it ur a rt i-
do s sant os se ex pr es sa va na s mo
ic a er ud it a. A h u m i l d a d e
uma ót s, na au flagelação,
to
n g a d a s , no s to rm en to
ficações contínuas e prolo ca ri da de , re cu sa de si mes-
en tr eg a co nt id o no exer cí ci o da
no at o de ag ar os pe ca do s:
r ó x i m o ma s in su fi ci en te pa ra ap
mo em nom e do p la s, Se ig -
de s g rãce s de Di eu .. . Hé
n é e s q u e j ' a b u s e
“Tl y a tant d'an a pas d ' a m e n d e m e n t en
op lo ng te mp s pa rc e qu “MjI n' y
neur, je vis tr av ec le no mb re de me s an -
e me s pé ch ês se mu lt ip li en t
ma vie et qu de Jesus mostrava-se
e de Pa ul o. B* Te re sa
nées”, diria são Vicent
. S e n h o r , i n f e l izmente O
qu e ab us o da s gr a ça s de Deus..
(*) “Há tantos anos ha vi da , e m e u s pecados
po rq ue nã o há em en da poss ível em min
que vivo é de ma is ,
os.”
se multiplicam com o número de meus an
107
| espantada com os favores € mercês divinos, tã
“
o desproporcionados
||| ante sua própria a fragilidade e pequenez: '*No pong+áis, Cr' iador mio
tan precio so licor en vaso tan quebrado, pues havéis ya visto '
de Otras
| veces que le torno a derramar. [...] Cómo dais la fuerza de esta ciu.
dad v Ilaves de la fortaleza de ella a tan covarde alcaide, que a] Primer
=
pr
e
—.—
o
pecina tan sucia como yo, água tan clara que sea para vuestra mesa!
”
a
s | mou Valentim Fernandes na ““Epístola”” que serviu de proêmio à
Ot obra.” Em 1582, o arcebispo d. Teotônio de Bragança mandava im-
qm
e
Bi 1 primir em Évora, na casa tipográfica da viúva de André Burgos, o
a
—
1 Caminho da perfeição da santa de Ávila. Entre 1616 e 1654, verifi-
gr
—
od caram-se várias reedições de Los libros de la B. Madre Teresa de Je-
e
| || sus. 8 Em 1630 publicou-se o poema de frei Manoel das Chagas, Te- |
1 resa Militante, onde se cantavam os feitos extraordinários da santa.!º
Estas publicações destinavam-se predominantemente aos conventos;
| [| neles, sabe-se com certeza que contavam entre as obras lidas por fra-
' | des e freiras, ou narradas em voz alta às beatas analfabetas. Foi pro-
vavelmente desta forma que as irmãs terceiras de que se trata aqui
— muitas delas residentes em conventos — travaram conhecimento
oe
s
0 0 0 .
te mpla çã o, O co nf or to por me io do exe rcí cio da car i-
o n a c o n
refúgi do ca te qu ét ic o que , por eu a pa ut av a o co m-
dade e do ap os to la
ortame nt o des ses “a ve nt ur ei ro s do ab so lu to .
qu e sai u no au to -d e- fé de 15 de
; , Luzia de Jesus, penitenciada
sb oa , ouv ira de são Si mã o que est e a con si-
dezembro de 1647, em Li
ia à Igr eja qu an to ele ; são Jo ão Bat ist a e Deus
derava tão necessár
co ns id er an do que a bea ta val ia tan to qua n-
também a elogiavam, este de-
Cri sto , é que , em sua ho me na ge m, um co nv en to
to o sangue de
E
que nas cer a. Jes us, por sua vez ,
o no local em
veria ser edificad
que lhe mi ni st ra va en si na me nt os des de o te mp o em
“nformara-lhe
ven tre ma te rn o. ?? Ma ri a da Cru z, con -
que ela ainda se achava no “que
em 166 0 aos 43 ano s de ida de, af ir ma va
denada pela Inquisição todos,
as se ão mu nd o a vis ta del a Ré, pa sm ar ia m
ce Deus manifest ro, e ela Ré
ia m por um ca mi nh o mu it o ras tei
que os servos de Deus
a, e qu e ne m aos anj os er am ma ni fe st os os
ja por vocação mui alt
am av a, e lhe in fu nd ir a a gra ça em mai s
caminhos por onde Deus a ch o-
Jo ão Bat ist a”, 24 Jo an a da Cru z, por tei ra do Rec
altura que a são
s às Ch ag as e pre sa pel o Sa nt o Ofí cio em
lhimento das Converti da
ta € mi mo sa de De us ”' .2 Ma ri a do Esp íri to
1659, fazia-se “de san
165 8, co st um av a sai r de si e, em êxt ase s, ir à
Santo, condenada em
Su as vis ões ref let em cer ta pr od ig al id ad e cat óli ca em faz er
Glória.
ir no me s div ers os à Vi rg em , nu ma ép oc a de ine gáv el
santos e atribu
cul to ma ri ol óg ic o: nas sua s est ada s cel est iai s, a sen ho-
expansão do
ra da Boa Morte a chamava sua mana, a da Penha de França sua
prima, a dos Mártires sua madrinha; * 'quando chegasse a ser bema-
venturada, havia de ser advogada contra os demônios e ânsias do
coração e das castanhas, motivo por que lhe haviam de chamar San-
ta Maria das Castanhas”. Por outro lado, privando da familiarida-
de dos santos, as visionárias reforçavam a tradição popular que de-
les fazia intermediários entre o fiel e um Deus quase sempre distante
4 7
e intangível.
Para os inquisidores, tais delírios eram totalmente alheios ao uni-
AE
109
jactava de ter encontrado o caminho para certa casa graças
a
ho que, nesta busca, lhe fora dado pelo arc
anjo são Miguel, a O Inauxí.
sição argumentava que “'Deus Nosso Senhor não serve [sic] in o:
canjos senão para anunciarem os mistérios mais altos, e levantados
e aquela ação era tão leve
que não necessitava de instru
| no, porque qualquer pessoa humana o podia fazer". Invali ment
dano di
do viI-
| revelações que afirmava ter tido de Deus, segundo a qual
o Cria ma
lhe dizia que as dores de que padece
ra em certa circunstância se
as mesmas sentidas por são João Evangelista, “porque lhe havia
conceder tudo que a ele concedera”,
de
afirmava o Santo Ofício que
em tal revelação “se contém uma temc
ridade grande, qual é igua-
lar-se em merecimentos com os Sagrados Apósto
los, e não pode pro-
ceder de Deus revelação que contenha temeridade”,28 O próxim
o
passo nesta linha de raciocínio seria
aproximar as visões das beatas
soberbas do Diabo, o Pai da Mentira.
e
se”
.-
TT
e
Ecit
mística e contem-
plativa quanto o exercício da caridade e do apostolado
achavam-se
ge
HO
r a d a ç õ e s , e m u m a e ou tr a
es g
ontemplativa. Em diferent Fr an ci sc o Xa -
gi os os co mo sã o
º nerfilaram-se santos € reli -
Le ll is , sã o Vi ce nt e de Pa ul o e as Da ma s de Ca ri
tendência P to de
ge
OU da ca ri da de . Sã o Pe dr o Cl a-
ç m como na da catequese
pe s” ” — no ca so , os es cr av os ne gr os da co -
il to dos Etío
va Gr an ad a —, te ri a de se nv ol vi do um a
Ve O ea de No
rm en to s. “A o co nt ín uo je ju m ac re sc en -
UE
Sdade met o “d ic a do s to o a
ira de longas e sangrentas disci-
o um “grande morticínio” cotidiano
tav fe rv or . bo tr e a
ex er ci ta da s co m “e xc es si vo
plinas, implacavelmente ma ex ig en ci a mi nu ci os a, c e is ia
corpo já dila ce ra do ” Nu
at os ma is si mp le s s ca ns o o barbear-se
de forma a transformar OS
de in in te rr up ta ca rn if ic in a” . go r)
— em “momentos -s e
en ad as pe la In qu is iç ão ab at eu
Também sobre as beatas cond
qu e co ns um iu os sa nt os re co nh ec id os como tal.
a “fome de Deus””
çõ es co m à vi vê nc ia da re li gi os id ad e sã o sur-
Muitas de suas preocupa
me lh an te s às do s gr an de s vu lt os da qu el e sé cu lo
preendentemente se
ra do s en tr e a re nú nc ia do mu nd o — co mo sã o
de santidade, dilace
a ne ce ss id ad e da s aç õe s — co mo Lo yo la , os je su í-
João da Cruz — e
ou Vi ce nt e de Pa ul o. Po ré m, co mo no ca so do s fa-
tas, são Camilo
s ac im a ex am in ad o, se us an se io s re ve la m qu e a ex pe ri ên ci a
vores divino
os a era se nt id a e ex pr es sa de fo rm a mu it o ma is to sc a e cr ua .
religi
Jo an a da Cr uz , ca mp on es a de To rr es Ve dr as qu e gu ar da ra ca rn ei ro s
na infância, “mais queria na casa de Deus ser servidora que no mun-
do ser rainha”, e tinha grandes desejos de “viver em deserto para
tratar somente de quietação espiritual". No seu sonho de vida con-
templativa enxergara um grande deserto onde se destacava a ima-
gem de Cristo crucificado. Ajoelhando-se a seus pés e dando-lhe gra-
ças, “sentiu em seu interior que da mesma imagem saíra uma voz
que disse as palavras seguintes: “Não sabes o que pedes, mais te vale
andar aos baldões das criaturas no mundo, que cinquenta anos de
deserto a meus pés” ”. A perplexidade entre uma vida de orações no
convento e uma prática mais efetiva que a inserisse no mundo cir-
cundante parece ser nela legítima, mesmo se restrita a devaneios. Mui-
tas de suas visões lhe indicavam que haveria de ser fundadora de um
Recolhimento de Convertidas na Bahia, para lá levando muitas das
recolhidas da casa de Lisboa, onde tudo indica que servia como por-
teira,*? Outras eram visões mais genéricas, mas nem por isso des-
providas de interesse; uma delas reforça a idéia acima expressa de
!1
—
Ele dissera que o carro cra ela, “porque assim como o mesmo Se
O
nhor
”
| |
—
[12
para 08 inquisidores, entretanto, O rústico invólucro popular que
« anecios religiosos das beatas cra suficientemente perni-
revestia 05 ARDER : E ; penmt
nes, tonniar
encia ie da no ano
; de
cioso para torná-los nulos . Mari a Antu
1658, susci tava dúvi das sobre a aute ntic idad e de suas aspir ações a
um comportamento santo por não ter POOR SEIA EA público, agindo
113
ma
=
Y mi Amado para mi
Y yo soy para mi Amado.“
Apesar de existir um campo comum entr
e a reli giosidade
tas “verdadeiras”" e santas “falsas”, entre o de san.
misti Cismo e
por obras edificantes de Teresa q ANscio
de Ávila e o das ] danas d
Marias Antunes que pululavam em Portugal à é a Cruz ou
poça da Res
ção, havia diferenças significativas. Para os inquisj do taura.
res, elas se M
travam mais dificeis de precisar no que dizia res p os-
eito ao Cont
à essência da espiritualidade:Num século em qu € eúdo,
OS santos e b
| constituiam legião, verdadeira “via láctea"* “! as| he eatos
terodoxias e de
vios nem sempre eram facilmente identificáv e s.
is, e nesta M
atéria o
Santo Ofício procurava antes pecar
r
|
Ta
são João
ii
lá
da oração € chegando-se ao dito homem lhe dissera: “Abraça-te comi-
so, homem”. E que fazendo-o ele assim, lhe tornara a dizer: “Aperta-
me muito”. E acudindo gente aos gritos, e perguntando a causa, res-
pondeu ela que por haver declarado ao dito homem que havia de ser
santo, se pusera a gritar; o que tudo fizera forçada do espírito e sem
tenção de o fazer.*
A introdução do grotesco e do absurdo revelava a presença dos
códigos próprios à cultura popular, embebida, conforme viu Mik-
hail Bakhtin, de comicidade e do espírito da praça pública.” Os gri-
tos é os abraços da beata, que se lançava do transe à expansão de
impulsos eróticos, sugeriam um universo em que maneiras descom-
postas, riso e até mesmo brincadeiras licenciosas podiam conviver
com religiosidade. Atrelando-se a tradição muito antiga na Europa,
os padres permitiam-se toda espécie de histórias e brincadeiras quan-
do, do alto do púlpito, pregavam por ocasião da Páscoa ou do
Natal.“
Mas há passagens dos processos das beatas que sugerem ade-
são a outros aspectos das tradições e cultura populares. Francisca
Cotta — a única dentre as mulheres aqui estudadas que vinha de
uma casa nobre — vivia na África com o pai militar e era dada a
acidentes de gota-coral. Caia em êxtases e se comunicava também
com as almas do outro mundo, € certa vez ouvira de um sacerdote
“que Deus Nosso Senhor estava muito irado contra o povo daquela
vila de Mazagão (onde ela morava) e que a Virgem Nossa Senhora
andava de joelhos com os peitos de fora, pedindo a seu sacratissimo
filho lhe perdoasse, e que ele lhe respondeu que lhe não havia de
perdoar'.*? Há neste delírio uma mistura curiosa da concepção gro-
tesca do corpo, em geral positiva e regeneradora, com a idéia de per-
dição coletiva. Ainda segundo Bakhtin, o corpo grotesco ““ultrapassa-
se a si mesmo, franqueia seus próprios limites. Coloca-se ênfase nas
partes do corpo em que ele se abre ao mundo exterior, isto é, onde
o mundo penetra nele ou dele sai ou ele mesmo sai para o mundo,
através de orifícios, protuberâncias, ramificações e excrescências, tais
como a boca aberta, os órgãos genitais, seios, falo, barriga e na-
riz". A alusão aos seios de Nossa Senhora destaca-lhe os atribu-
tos maternos, de genitora do “*'sacratíssimo filho” e, portanto, res-
ponsável pela sua vida. Mas há um aspecto negativo, pois a mãe que
=
115
———
!I6
«o elevavam para Deus. Mas, em seguida, desfaz o percurso anterior:
o excremento, que nO realismo grotesco do povo era motivo de ale-
gria € de fecundidade, seria reconhecido como tal pelo Criador, €
a necessidade satisfeita valeria no céu uma coroa de glória,
Mais talvez do que O repúdio à imodéstia das visões ou a seu ca-
rátcr desordenado, a recusa dos conteúdos grotescos revela a existên-
cia de um desnível profundo entre a cultura erudita dos inquisidores
3
MISSÃO SALVACIONISTA
117
r
msg
no castelhano:
I Pois que? Com tal valentia
Ndo vencerd Portugal,
Quando tem soldado tal,
E mais em tal companhia?
Castela de medo fria
tema tdo grunde invasdo,
[19
Ni af e ... 3 fra E pa]
MI nRasia oragantiima, = rr ”
ão
e
tw M Dastianismo “pa
AM RX 1a por homens
Antônio Viesra, que com
não reconhec a morte roo ente do rei e
iam
navam que naveria de ressuscitar para encabeç ar vatiici."
O Quinto Im
Entre à elite letrada, as sucessivas publicações
A k qua d Périoé: Sa : = ' " a"
dé Mo
cunho Macio
naissta ou mais acentuadamente mitenansta
.
diestam o “SiOnari
:
KR CHidu
à.
Masrar
=
tal.
Ê Ê
ro
4
toda PRC
a
Mmarnquia iusitana em smo
visão do campo de Ourique,
=
GH Se Drovo
de Pero de Sousa Pereira, pu ha,
Dara
a glória de Deus; Ressurreição de
Portugal, de Fernão Homem de
Figueredo (o dominicano Manucl Homem). que diz
no Proêmio ao
restor “Se tores castelhano, dou
-te o pês ame, se Português q para.
Dem do novo império, que Deus dumente é prospere Por largos anos”.
Restauração de Portugal prodigiosa,
publicada sob o pseudônimo
E! do dr. Gregório de Almeida, para
João Lúcio de Azevedo “o mais
1 notável desses livros”; Lusitania liberata, de An
tônio de Sousa Ma.
| cedo, publicada em Londres em 1645, que, com
base na enumeração
de prodigios, profecias e maravilhas,
defende a legitimidade da nova
4 | monarquia bragantina.“ Muitos folhetos se pu
+ Ê á
[20
lo s ci nc o an os de ca ti -
a in qu is it or ia l, r e s p o n s á v el pe
: nh
eu q asa
nho jargou.
veiro que atês Vieira permaneceu preso ão milenarismo sebastian's-
o em que dele já havia desertado a elite culta. Nas
ta num mê qua vo z so av a “' co mo à de um mo rt o es qu ec id o, qu e do
pa a dizer aos vivos coisas do seu tempo antiquadas””.*
an sc re ve r um tr ec ho mu it o si gn if ic at iv o da Hi st ór ia
rtante tr à p r o f e c i a d e D a n i e l :
u r o q u a n d o se r e f e r e
do fut
í '
is to há -d e ha ve r no Mu nd o um só Im pe -
no tempo deste Império de Cr Mu nd o, o
dos os rei s e to da s as na çõ es do
rador, a que obedeçam to
ri o de Cr is to no te mp or al, assim como o Suzno Pon
qual há de ser Vi gá
ri o es pi ri tu al en tã o há -d e ser pe rfeito
tifice no espiritual; O qual Impé
no vo es ta do da Ig re ja há -d e du ra r DO S
e consumado, e que todo esse ser Lisboa.
e a ca be ça de st e Im pé ri o te mp or al há -d e
muitos anos, e qu
os Im pe ra do re s su pr em os , e qu e ne st e te mpo ha-
e os reis de Portugal
lm en te a ju st iç a, in oc ên ci a e sa nt id ad e em to do s
de florescer universa
se hã o- de sa lv ar , qu as e pe la ma io r pa rt e, to do s os ho-
os estados, e
-d e en ch er en tã o o nú me ro do s pr ed es ti na do s, o qu al é
mens, é se há
ndo-se também
muito maior do que comumente se cuida, conjectura
ta s co us as hã o- de su ce de r, e mo st ra nd o- se Os me io s
o tempo em que es
e instrumentos por que se hão de conseguir.”
Em 1665, as Trovas do Bandarra voltavam a ser proibidas, o que
atesta a penetração que conheciam. As mulheres do povo que tinham
visões e se diziam queridas de Deus apresentam formulações impres-
sionantemente análogas às constantes nestes versos, ou nos Sermões
de Vieira, ou ainda nos livros dos adeptos cultos do milenarisma,
sugerindo a circularidade entre os níveis culturais popular e erudito.
É ainda Joana da Cruz quem expressa a presença do bandarris-
mo e do sebastianismo nos meios populares, Dizia que Deus Nosso
Senhor lhe mostrava e manifestava na oração “'que a alma de Sua
Magestade que Deus tem andava neste mundo em figura de porco”,
sendo salva por intercessão da Virgem. O rei em questão parece ser
d. João 1v, morto quatro anos antes, e a figura do porco remete, de
forma confusa e distorcida, às Trovas: nelas, a alegoria do Leão e
do Porco representam, respectivamente, Portugal e Marrocos, D. foão
penando na figura de porco talvez indique a impureza em que se on-
contrava sua alma antes da salvação, ou talvez ateste a incorporação
equivocada, distorcida pela transmissão oral, do conteúdo dos ver
sos do Bandarra,”
Também a alma de d, Sebastião penava sem descanso pela jor
nada da África, e “assim havia de andar até o Reino se restituir ao
tal
—T——
4 ei DO-
vo, mas às vezes leltava: em seu regaço, procurando contorto,
Da
|] mesma forma que afetivizava a religião, a mentalidade popular
| tabelecia liames estreitos com o monarca desaparecido, Mostrando
como o sebastianismo cra vivido nas relações cotidianas, o monar q
se apresentando tão piolhento como os homens pobres que io
vam seu reino. No nível cotidiano, podia ainda ocorrer a SUPErDOi,
ção entre o destino coletivo e o individual: “ouvindo um sermão xi
que se disse que os portugueses cram coluna de fogo”, Luzia de Je-
sus se representara “em seu interior que Os portugueses eram coluna
de fogo porque sua mãe o era, e se lhe fizera então lembrança, que
em outra ocasião havia entendido que ecra ela ré chama de fogo que
havia de abrasar o mundo”?
3 Muitas das visões de Joana da Cruz reúnem sonhos de supre-
macia religiosa e política, mostrando que, na época das guerras da
Restauração, o clima de milenarismo reinante podia embasar o an-
seio de libertação nacional.” Em 1657, a visionária teve para si que
os castelhanos não haviam de tomar Olivença e, no ano seguinte,
viu que “se fizeram grandes festas no céu alegrando-se os anjos pela
vitória de Badajós, no tempo em que o nosso exército a tinha sitia-
da”. Em outra revelação, os anjos se juntaram no Céu e, apresen-
tando-se diante do Tribunal Divino e da Santíssima Trindade, leva-
ram cada um a sua província €e reino para saber qual havia de ser
cabeça do Império: “saíra que ainda que Castela tinha mais santos
canonizados, Portugal tinha mais justos na Terra, e que assim havia
de ser cabeça do Império”. A obsessão pelo julgamento reúne o ima-
ginário do Juízo Final à esperança de intervenção divina na conten-
da temporal entre os dois reinos ibéricos. A exacerbação atinge os
seus limites quando Deus e os santos resolvem que a qualidade das
forças e da fé lusas haveria de prevalecer sobre a quantidade repre-
sentada pelas demais potências européias, num confronto à Davi €
Golias: é sempre Joana quem prevê “que Roma se há de abrasar,
e que um clérigo que ela conheçe há de ser papa, e há de canonizar
El-Rei Dom Sebastião. E que os santos de Castela, França e Itália,
e todos os mais da Igreja que estão no Céu se ajuntarão de uma par-
te, e os de Portugal da outra, e que estes sendo muito inferiores em
número vencerão os mais em certas matérias””.'é
122
st ic os ao s so nh os de in de pe nd ên cia política,
Dos arroub os mí
s 20 tu mu lt o da s ba ta lh as , as vi sõ es de
Ja quietação dos convento -
vi ve ra m em Po rt ug al no s an os an te
as mulheres comuns que a
e à ela se se gu ir am , il us tr am de fo rm
pers s à Restauração, ou qu
do s ní ve is cu lt ur ai s. Di la ce ra da s en-
ease » circularidade a se u mo do
e as aç õe s no sé cu lo , vi vi am
é renúncia ao mundo bsurda”
rm a ce ri dí cu la ”, “d es co nc er ta da ”, “contrária”, “a
— de fo
en te na vi da do s in úm er os sa nt os qu e, en tr e o sé cu -
— o dilema pres
va s or de ns re li gi os as , re in ve nt ar am a ca-
lo xvi e o XVI, criaram no
as te rr as di st an te s em no me da Fé e da Sa lv a-
«dade, palmilharam
õe s do mi ni ca is ; ob se rv an do os ma lu co s que,
ção. Assistindo a serm en to s
do Ba nd ar ra ; ou vi nd o no s co nv
pelas ruas, recitavam as Trovas
s os re la to s de vi da s de sa nt os e os ma nu ai s de
e nos recolhimento —
vo z alt a no re fe it ór io ou no s se rõ es de inverno
devoção lidos em
be ti za da s, le nd o- os ela s me sm as ; pa rt il ha nd o, en -
ou, quando alfa
se me lh an te s, O un iv er so da tr ad iç ão e da cu lt ur a po-
Fim, com seus
qu e tr at av a De us e os sa nt os co m fa mi li ar id ad e, cu lt ua va d. Se-
pular,
o, mi ti fi ca va a ca mp an ha da Af ri ca , od ia va o ca st el hano e
bastiã
re in o de De us po r Po rt ug al ”, es sa s mu lh er es es fu -
sonhava com ““o
maçavam as fronteiras entre o Bem e o Mal, O Sagrado e o Profano,
o Puro e o Impuro (Nossa Senhora de joelhos, os peitos de fora...),
o Popular e o Erudito. Como no caso do dragão estudado por Jac-
ques Le Goff, suas formulações eram ambíguas e multifacetadas.”
A leitura que delas fez a Inquisição foi unilateral; coerente na lógica
escolástica, fiel aos textos dogmáticos, atenta à qualificação de he-
resia, afinada com o saber erudito. Daí o desfecho trágico de todos
ess es pr oc es so s, qu e id en ti fi ca ra m as be at as às br ux as pe rs eg ui da s
em massa por toda a Europa da época. Dai, portanto, a predomi-
nância de uma demonização que acabava na fogueira, e não no
Carnaval.
E no entanto as mulheres beatas usavam de linguagem que, um
dia, havia sido familiar também aos inquisidores. Para elas, concep-
ções populares e eruditas se amalgamavam, se negavam para depois
se recombinarem: eram, quase sempre, indissociáveis € indistinguí-
veis. Para eles, investidos do papel de juízes de idéias e de sonhos,
era necessário separar o que muitas vezes era inseparável: o Santo
Ofício desempenhou nos países católicos um extraordinário papel
aculturador, para tal lançando mão da violência na sua acepção mais
larga. Nã o ha vi a na aç ão in qu is it or ia l es pa ço pa ra à to le râ nc ia , qu as e
123
a
sempre presente nos
anseios populares; V
nocchio, o moleiro friulano est eja-se o tri
udado por Carlo Ginzbure” de
santas não poderiam se Me.
r confundi
apartadas por meio da f
orça e do
124
6
D A D E A M O R O S A
AMB I G U I
m u l a s - s e m - c a b e ç a
De s a n t a s à
an d ba d: as a g a r d e n th at
od
The Church consists of go ha s w h e a t
an d as a fi el d th at
has weeds as well as flowers, .. Fl er e
at ta ke th g o o d an d ba d.
as well as tares..., a net th he re
d — ye a, th e ve ry be st ; an d
are good men to de foun
un d — ye a, th e ve ry wo rs t. Su ch as
are bad men to be fo
t se at in gl or y, an d su ch al so as shall
shall have the high es
th e lo we st an d fi er ce st fl am es of mi ser).
be cast into
692
Samuel Parris, Sermão em Salem, 27/3/1
125
i
k
1
|
k
!
Ê
I
Ê
b
h
126
u ex pl ic it an do si tu aç õe s de ma st ur ba çã o,
a e be st ia li da de . Em am bo s os ca so s, º
táticas E ein
ab o — nã o ap ar ec e, su a pi
E arnal — Deus OU O Di
= O eo , O ra çã o, a E
sinu ad a po r in te rm ed ia do re s
gurá sen do in eq ui vo ca co no ta çã o tá
«e. os espetos e va ss ou ra s de in
a a De us é at en ua da pe lo êx ta se , no
E eo ao a entreg
o di ab o é at en ua da pe lo es ta do de ir e-
e ab pa cópula com
se en co nt ra m, pe la su ge st ão de so nh o e ilusão
de a
s al uc in óg en os . Em am bo s, o af lo ra -
E ii uso de ungúento
ne ut ra li za do pe la pe rd a da co ns ci ên ci a.
da sexualidade é
su bj ac en te às un io es mí st ic o- di ab ól ic as fa -
O conteúdo erótico
to ma is am pl o, em qu e am or € so fr i me nt o, go-
zia parte de um contex
rt ur a se co mp le ta va m ou se re la ci on av am de
zo e punição, êxtase e to erso
do -s e do mu nd o re li gi os o pa ra O un iv
forma imbricada, espraian
an do ao pr im ei ro . Cu ri os am en te , co nt ra st an do
secular, e deste retorn
an de vo ga da s ob ra s so br e fe it iç ar ia il us tr ad as po r gr av ur as ,
com a gr
poucos foram os grandes artistas que se dedicaram ao tema: há a sé-
rie de Baldung Grien, há uma gravura de Diirer em que a bruxa ca-
valga um cabrão, há Teniers, há, por fim, já sob o impacto do [Humi-
nismo, os Caprichos e os sabás de Goya. Mas estes se inserem em
contexto diverso, quando a feitiçaria não mais atemorizava as popu-
lações, sendo motivo de caçoada, de ironia, crença de gente ignoran-
te e supersticiosa.? Por outro lado, muitos foram os artistas de reno-
me que se dedicaram ao tema da oposição entre Deus e o Diabo,
estendendo-se ainda sobre a erotização do universo religioso, o des-
pedaçamento do corpo, o suplício. Fica desta forma sugerido que a
temática da bruxa, assim como a das uniões místico-diabólicas, eram
manifestações específicas de um universo mental mais amplo, mar-
cado pelo medo, pela iminência do desastre, pela catástrofe cotidia-
na e, sobretudo, por uma sensibilidade diversa da contemporânea,
manifestada na linguagem crua, nas maneiras bruscas e rudes, no apre-
ço por espetáculos violentos e sensacionais. Afinal, como bem viu
Philippe Ariês, desde o século xv — e com certeza a partir do
século
XVI, Quando mais se perseguiram e queimaram bruxas —,
os temas
da morte tinham se revestido de forte sentido erótico.*
oa meeaçÕes esnosiiLicas são pródigas no tratamento do
nal ii ação, € q quem veja no maneirismo Açor
a guras irreais e distorcidas de Pontormo, Beccafumi, El
É O — um registro veemente do sadismo reinante, reminiscência
membros destronçados nos suplícios:
“127
A teologia apostinia
na do pecado cri 4
uma obsessão Então, na e
origin al pela lux
úria, pelo a)
dez; neste museu ima
ginário, em que e
nizadas, a crótica é
r anREha, Graças a ela :
à , à
SOnlapdpen
ers
transforma em obr c O n t emplaçã
a pia, já que se tratava da O da
felizes ou vãs tentadoras, ou mesmo a
:
carne de «
da Virgem
e de s;“*CPendidas
drTe á
128
|
|
]
s e x t r a o r d i n á r i a s
pintaram dua
|
ch. s o Moço ,
pra d o , p e l o v a u d o
rana
a r v o r e d o , p e l o
pelo a r c o s d o s
hifres de u n s € o s
o
se da va ta nt o 05 gr an de s an
d o s u p íc io ob ra
O) i m a g i n á r i o n t o mí st ic o de co mp
célebre tr íp ti co C a s a m e
menores. Nomling (1433-94), O painel da esquerda re
- Me de
O pe sc oç o do sa nt o tr at ad o
=. no Batista, sendo Gérard
ív el J u l g a m e n t o de Ca mb is es , de
a decapitação , E 9 () terr ig ua l-
cerca de um sé cu lo e me io a
det o an te ci pa em
ia , de R e m b r a n d t (1 60 6- 69 )
doidos Fan Lição de anatom relava se at
ta lh ar ca dá ve re s
meignts.e 3 in r”de E certEamente oa
su» poon to de re D a e E destitia
(f € 4) ro me Ô Ga
.! º Na te la de Da vi o
a outro un iv er so me nt al à e g:
ve st e, de ix an do em er gi r
de sua pele como se fosse uma do be Íssimo
st iã o nã o fo i ob je to ap en as
ra sang ui no le nt a. Sã o Se ba
he M u s c u m (f ig . 7) , ma s t a m b é m do mui-
Mantegna do Kunsthistori sc
Ja n va n H e m e s s e n (c . 15 04 -c . 66) em
to menos conhecido quadro de Ru be ns,
do Pe ti t Pa la is . Di sc íp ul o de
exposição na Galerie Dutuit sa n-
59 3- 16 78 ) pi nt ou um Ma rt ír io de
o flamengo Jacob Jordaens (1
e as to rt ur as in fl ig id as ao ro st o da sa nt a ap ar e-
ta Apolônia em qu
por David, Massys e Diirer, Jan Pro-
cem com nitidez.!! Marcado
voost (1465-1529) evidenciava o suplício em suas obras de tema
o: a Cr uc if ix ão é te rr ív el , o pl an o do fu nd o es qu ar te ja do
religios su
por lanças em riste, o primeiro plano dominado por velhos com €x-
pressão de alegria sádiça; o Julgamento final impressiona pelo cui-
dado que o pintor dispensa ao inferno bruegheliano e charivariesco
da parte direita inferior; por fim, num tríptico aparentemente pláci-
do em que os patronos se fazem ladear por são Nicolau e santa Go-
delina, perde-se no plano do fundo a cena de uma mulher sendo en-
forcada por dois homens com um lençol torcido.!” A atestar o vigor
a E UE do MUpUIO no Renascimento estão até os objetos
éaexlisiteántses em A m e e pis c
oa de Rintados TiainGu
m x pecurlo uçio
Et ã a E do sé XVI, Tal imag ário se
E que, Aces ri = 1 pat quer Ga biblica: O que interessa
ES E p i r a de st ac as se ju st am en te os te -
mas ligados ao suplici O Ri ha da s p a sO-
E » d o fl ec
bre um rochedo, !º ME e
fícil não ficar dio ça c oram o sobre os filhos mortos," Di-
duas colheradas de so ab ê a mental de homens que, entre
pa, compraziam-se em divisar, no fundo do
Prato ,fernO esjorr1ºo sangui guinolento que que es escapava do pescoço decepado de
Holo
129
tica da onipre
sença de
ções do Juizo
Final
todos pertencent
es à coleçãFã do
Quadro sobre o f já menciona
undador a ordem Jes
d o Museu viene
desvairado de misticis uítica exibe
mo u pao
loep, O santo se
? Srgue no ce
Jos; no alto, à esquerda, fogem demônios | ENVoc; lto na revoada d
Os an-
a
—Ra
fi
o
—— e
o 130
v e r t i d a , O S U I-
e m c h a v e 1 n
stissem ,
a n i m a i s (145) de que fa-
P .
lo s t o s f í s i -
ç ã o d o s to r m e n
a s o ks , a c i t a
algun s c f l á c i d o s d e
.18 Em c o m o n o s gá l o s
úblicas é inequivoca, a n g r a n d o, O c u p a m t o d a
as cri s t a s s
-se N o d e s d o b r a m e Tl-
9 E m o u t r o s , f a z
d e s e r e s j n a n i ma-
o r m a s m u ú I t i p l as
o
de f i m a N a t u r e z a -
e r e s s a nt í s s
=
iais (fig. 8 ) . À n t
C l a e s z
o, aos olho” ( 1 6 2 7 ) ( f i g . 9 ) , d e P i e t e r
o d e s t a e x p o s i ç ã o
ener o , é u m e x e m p l
e s c o r t a d o s e m fa ti as ,
20 fimas descascadas, pã e a -
d a ç o s , os tr as e n t r
bagos de uvas, nozes em pe Eid
num convívio tranqúilo
gomos e v a
O
v e l m e n t e , a t u o u ne st a r e t a l h a ç ã o
ão; ; nnoo s egg u a
n d o
bertas d dpmiuito pro
o já i n d i s t i n t o , N O
m i d e s f e i t a e x i b e O rec; hei sa
E torta se +
r e i n a u m a ?
berana, Vez , i n v e r t e - s e a o r d e m gira
h o s € t u d o . M a i s u m a
gi a bico, ol n i c o se r i n t e g r a
ú
a
o
=”
, € €
E
v i v o
1
h o m o r t o p a r e c e
as coisas: o bic
:
| |
a n h a d o de d e s t r o ç o s .
num mundo mal am e t e m a a n a l o g i a s c u r i o -
s ve ze s, as n a t u r e z a s - m o r t a s rem
Qutra
«as. Inteiros mas recobertos de lanhuras provocadas por instrumen-
pos tas san gui nol ent as, OS pei xes mor T-
tos cortantes; retalhados e em
xan der Adr iae nss en (15 87- 166 1) são gu ar da do s por um gat o
tos de Ale 9),
Toei
131
E1 4 o AARREITOR :
“4 dOR Pedaços
MUSA" “(Eamad “velho
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s te gontura | Olhar vs
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“, ANOS Pena ma àmSa PelosAROp,á un
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u a l a M a r i a M a d l ena ou à
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Parenteme c i ar de in
HUM sentido mais ln nte Ueatória
s — Do O eh cur.
to, pelo imagin Univers
ário do SUpli
cio e
ONIPRESENÇA DE DEUS
E DO DIABO
Nada melhor, pois, do que as representações artíst
i
Xar a sensibilidade de uma epoca:
meio de
c
por as para fi.
qualquer outro documento, las, mais do qu
e com
é possível ttenr-se as
das da alma humana e do camadas profun-
inconsciente. Mas OS textos
bém remetem a esta sensibilidade escritos tam.
peculiar da sociedade moderna,
que teatralizava sentimentos de torm
a até então inédita. Escritos mis.
ticos, relatos de vidas de SANtos e pr
ocessos inquisitoriais, por exem-
plo, permitem-nos rastrear igualmen
te os caminhos tortuosos do
amor divino e do amor demoníaco.
O século xvi português conhecera alguns mí
sticos de peso, co-
mo o monge arrábido frei Agostinho da Cruz, d, Hilari
ão Brandão,
frei Sebastião Toscano ou o célebre frei Tomé de Jesus (1529-
82), que
seguira com d, Sebastião para a África e, sobrevivendo a Alcácer Qui-
bir, tora preso pelos mouros. Nos Thrbalhos de Jesus, obra de místi-
ca cristológica, tratara da entrega total do místico ao Amado: “6
amor divino, possui-me todo e de ti possuído arroja-me por onde
quiseres, alaga-me em quantos mares quiseres; espedaça-me via
quantos tormentos quiseres; porque em ti e contigo não poderei ser
perdido. Ouve-me, amor divino, e pois estais mais faminto de das
do que eu sei desejar, come-me, digere-me, muda-me em ti, não ve]
em mim em toda a criatura senão a ti".26 | Epi TR
O apelo violento e apaixonado do frade aludia Ri E
ao suplício, desvendando mentalidade que rimava amor com É o
zer com sofrer, e coloria o todo com uma certa concepção an
ági aixão, ni
o e episódio da monja italiana Benedetta pa
estudado por Judith Brown, erotismo, sacrifício e suplício ap
132
o mistico, sobre atol
4 asament
respeito HO
p a i x ã o , p e l a , fi
o s n o q u e di: a s d a m i n h a
r e l a ç ã a que as Mal e
c h a g as
en t e s us! “Quero q u e p u e d a N o t v a t e n h a
a ] putos
va, dig d o q u e
o e s t a v a n A
a C ruz,
j e puatoTes I v e q| u d
an O cê
quem h o c a b e ç a , c o m o eu º |
s não s e n a q u e s inta f e l i c i d a d e
a s n a s p a i a
abert e l a sinta dor, ma s a m b a l e res
p u t a q u e e g r a u s d a oraç ã o ,
não da v ida, DO cratar d
os d
a e spanho
L I V I O n t e d a p n i s t i c
No z , O g r a n d e expoe
d e J o ão da C r u
m e t a f ó r i c a , Os dois
ao l a d o
t i c a , s e bem q u e
n guage m e r ó e n a s p o r
N t e ç i r a h r e m v i v i d o s a p
| = CO eiro e o qu
a
ro, passíviez:is de sc
|
S. Ú terc
i r o n í v e l , d
ÚIUImO
N O t e r c e
n s e l e i t o s .
algu , A q u i q u e r r i a el al -
c o m i e n z a n a d a r olor s .
a b r e m | as fl or es , ya
a ba n z a s d e D i o
Ya, va s e
e s e n g l o r i a p a r a a l
ma qu e to do s la vi es en y e ntendi s u p uede
de su g o z o , p o r q u e no
n à el la , y da rl es pa rt e
v que ja ayudase un a l m a c u a n d o es tá an-
Oh ! V á l a m e Di os ! C u d l está
panto 202 ar. |...
) r . D i c e mil de-
s para a l a b a r à el S e n o
er ri a fu es e le ng ua
sd! Toda ella qu a qu ie n la ti en e an sf . [. .. ]
em pr e a co ntentar
—
satinos sant os , at in an do st
o ca pa z de fa ze r ve rs os se nti»
er a no entant
———
[S em se r po ct a, di z a sa nt a,
as e go zo sa s: ] T o d o su cu er -
m e n te doid
———
e su as pe na s, s i m u l t a n c a
dos sobr g o z o qu e co n esta
a z a s e pa ra m o s t r a r el
po y alma querria se desped
mem
pena siente.?
e
se ap od er av a da al ma co mo às nu -
No quarto nível, o Senhor
rt as
£
convola a dO
su gloria, E cm» : »
ah
Durante algu
gum m tempo, pairaram sérias dúvidas quanto ao cará-
ler divino d as bodas de T
sa do demônio30 tresa:a: seus escritos foram considerados coi-
133
Com b; lo et vidas
PE orest
- ; aa de “it
tece “4 análisos eliganteAsM,Os,ar
$ =” e o historl;
5, Acerca da Huidez de frontelr;
A tor aliam, Plero e:
1
dis cutível
Acses c alde
des talianos
tempo de “P cl
era, numa a
prodígio, o M tmo
ilagre, O insóli
cotidiano: a to per
samnt aca bruxa T a d o pos »
diferente) rel lo C u r a s uma us ;
Lam as duas f n
na tendência
A C E s | e quivoc 44, O d
neurótica ad afa ireito Co)
s t a r e da calidad
a ve
imaginário e ao - s
e, 4 vinga
merpulha no mu "
trico mago do Gx n d o V i s i onário”, O santo
l ane do corpo ma o de
teria, como às c erado por cilício
bruxas dos sabás s e priva ai
voltas cof ten , poderes x; UM ÂnICOs:
tações à santo Antã 03 mis e a |
o ou com tentati
9 FUMO pecaminoso de vas de coGrriipir
“mulheres de corpo bel
“a mesma cultura da invers issimo” pertenceriam
ão, 1) 4 qual o sagrado esc indi
face, a do sacrílepo, que co a a outra
ntundia construção com des
com o nada, o possível com o i FUIÇÃO, O tudo
mpossível”. Pureza e porcaria, inde
céncia e sublim .
idade tinhari limites tênues e incert
os: “Dir-se-a qua-
“e que 4 ambiguidade estrutural da cultura folcló
rica, com sua Ólica
bidimensional e sua utensilag em mental de gume duplo, Invadisse
com seu animismo demoníaco os espaços em que à cu' lturaa +
“supe-ê
nor" tentava elaborar sistemas
E
diferentes
+ . pr
de à
conhecimento
b ' ú + 3]
el es
2
na qu
é É
Eu ro pa
q
a
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am
E
A S A S U N I Õ E S D I A B Ó L I C A S
DAS BODAS MÍSTIC
Fontes escritas de natureza inquisitorial confirmam esta ambi-
glidade entre divino € demoníaco, Vou começar por um caso espa-
nho! do séc ulo Xv, Tra ta- se da his tór ia de Ma da le na de la Cru z, re-
ligiosa de um convento cordobês que toda a Espanha reputava por
anta, Repentinamente, em 1553, descobriu-se que a santidade cra
falsa aparência e encobria a natureza demoníaca da freira: presa,
“confesó espontáncamente que habia llevado a cabo todas sus ac-
clones bajo la influencia de Satan a cuyo gobierno se habia entrega-
do en su infancia, arnadiendo que tenia trato intimo con é desde ha-
cla más de cuarenta afos",4 Tinha apenas cinco anos de idade
quando lhe aparecera pela primeira vez certa visão, tomando-a por
um anjo de luz que, às vezes, aparecia-lhe também como Cristo crus
cificado, incitando-a à santidade; mas, aos doze anos = tempo de
puberdade —, a tal visão lhe declarou ser o diabo, Madalena pac
tuou com ele, que em troca prometeu “sustentaria por gran tiempo
en grandes onrras”, trazendo-lhe um negro nu que a convidou para
“deleites carnales”, de que a mocinha fugiu por achar o parceiro
“tan feo", O diabo zangou-se, mas logo fizeram as pazes, € no mes»
mo dia tiveram deleites carnais, que se prolongaram por vários anos,
até O lempo em que foi descoberta e confessou,*
Um outro caso espanhol, ocorrido no convento das Madalenas
de Sevilha no ano de 1576, sugere que algumas dessas projeções ima-
ginárias tinham raízes no universo real. Vívia no tal convento desde
à idade de nove anos a jovem Teresa de la Concepeiór, linda e dis
reta, “de carácter retraído y no muy dada a ser la primera, más bien
lendo seguldora que acólita en lo tocante a la vida del convento”.
Certo dia, à madre superiora notou que Teresa, então com dezenete
anos, “Ievaba bulto de prefiez o semejaba cossa assi, e Inquiriendo
de la rea rescebió por respuesta que Dios se lo habta mandado, que
135
y mujeres,
bia que Signi
ficaba
RO Imaginaba
137
n os
que na ação de
se darem
Petição, e para
É maior segura
“Mm tinteiro, lho prometera por
letra, “SPacho, mandan
EE
» CONStantemente hu-
E q
| | jo
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É:
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|
a
pe
—
de um bode, não
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sabe dizer de que cor, porque tanto que viu o corpo se lhe arrepiou,
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e o lume lhe fugiu dos olhos, e ouviu ao dito vulto articular estas
ii
ii
SC
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di iashi
re
oado
E
E
oi
|
de aspecto curioso do imaginário feminino: “e sabendo ela que o
e
!
| | demônio torpe tem cópula com algumas mulheres, e que toma a fi-
) gura de homens conhecidos, ela em toda a ocasião que consumou
o pecado de cópula carnal fosse com qualquer homem que fosse sem-
pre se benzeu primeiro, para que não sucedesse ser a cópula com O
demônio, na forma que ouve a costuma ter com mulheres, o que ou-
via dizer comumente... Há certa lógica na fantasia, pois relações
138
rorni cação simpl es ou quali ficad a, como consi derav a o
sexuais —
peca do grave , pr es a nesta quali -
santo Ofício — constituíam
dade, ao reino de Satã, sempre pronto e apto à ocultar-se por detrás
mesm o Os conhe cidos . Além disso , tica suger ido no de-
de homens,
poimento de Marcelina Maria o temor ante o universo masculino,
« alter idade toma ndo, porta nto, cono taçã o infer nal.
Um ano antes, na mesma cidade de Lisboa, uma outra escrava
negra, anãzinha, é acusada de bruxa Junto à Inquisição. Chamava-
se Catarina Maria, tinha quinze anos € não aparentava mais que tre-
ze; nascera nos matos de Angola, fora batizada no Rio de Janeiro
« afinal dera em Lisboa, levada por um soldado que a vendera. Na
época de sua prisão, servia na casa de José Machado, beneficiado
na igreja de Azambuja e cantor na igreja patriarcal da cidade; o pró-
prio senhor a denuncia, pois a casa toda a odiava e tinha medo dos
feitiços e malefícios de que era capaz. Semelhante em tantos pontos
ao caso de Marcelina, este dele difere na confissão de cópula demo-
níaça e na profusão de detalhes com que é narrada. A escrava anã
endossa e repete todos os estereótipos demoníacos correntes na épo-
ca, conhecidos da população e presentes na literatura demonológica
em que os inquisidores se apoiavam para seus interrogatórios. Desta
forma, referenda que o ato sexual era penoso — “'lhe fez grande dor,
e deitou sangue do seu vaso natural” — e, apesar disso, longo; que
o corpo do diabo era frio e áspero; que o Maligno só aparecia à nol-
te, “e sempre a cópula de noite na cama, e quando ela se deitava
nela, e era das dez horas para diante”, como verdadeiro Príncipe das
Trevas. Era ainda negro, fato que reforça certas versões européias acer-
ca do Diabo mas que, seguramente, encontraria eco no imaginário
de Catarina Maria por ser elá negra também. Apesar do defeito físico
e da cor, o diabo a valorizava: da crueza desagradável de sua confis-
são, ressalta um certo tom delicado quando diz que, ocorrendo-lhe
que devia se casar com algum preto como ela, “o Diabo lhe disse
que bastava só ele para marido, e não havia mister outro, nem hou-
ve preto nem branco e nenhum homem nunca teve, nem procurou
ter cópula com ela, só o demônio é que a tinha, e sempre na figura
de preto...44
E de 1727 um caso muito interessante, que engloba elementos
presentes nas histórias de Marcelina e Catarina Maria — o trato do-
lorido, prolongado e desagradável com o diabo; seu corpo frio, as-
sim como o membro viril; sua exclusividade como amante, sempre
exigente da fidelidade das concubinas; a solicitude com que ajudava
nos afazeres domésticos, uma vez saciados os torpes apetites — €
139
» € Não negra:
ne | a liga
140
colo., “lhe fizera [...] mil carícias, pondo-lhe | a mãoE
m colo
vez em seu
e dizendo-lhe que ela era a sua amada e querida esposa”.
o nca lhe dera uma alia nça espo salí cia, e gos tav a de se
pao
A E nd nús “Basta já de mãos postas”, queixava-se, “pois
ro recostar em teus braços, enchendo-te de doçura e alegria
Já é todo meu. .. 7
esse coração, que
ima gen s cele stia is nos dev ane ios de Maria
Mas nem tudo eram
ão com O supl ício , tão típi ca dess e imag i-
do Rosário. Havia a obsess
cha gas que lhe apa rec iam na ilha rga por det erminação
nário. Nas
diviná, pululavam bichos, que ela não podia tirar. Quando entrava
» noite em sua cela , “se lhe abri a um boq uei rão mui to fund o, ca
a de fogo , sem fica r livr e mai s luga r que o em que tinh a o
via chei
corpo”; aco rri am entã o vári os dem ôni os, arr ast and o-a para uma casa
escura e a moe ndo de pan cad as: arr anh ava m-l he o rost o, “e lhe apa-
recia muita diversidade de bichos e monstros horrorosos”. Ao se abor-
recer com ela, Satanás lhe mostrava ““uma grande roda de navalhas
com muita gente despedaçada, ameaçando-a e dizendo-lhe que o mes-
mo que via lhe haviam de fazer a ela”.
Por fim, fecho inequívoco da união demoníaca, Maria do Ro-
sário, como Catarina Fernandes, concebera e parira sete vezes do de-
mônio: três cachorros, monstros, gatos. As gestações duraram três
meses, é os frutos delas, “'os levava o demônio, não sabe para que
parte'.4?
AMORES SACRÍLEGOS
[41
uno a históri
a. pelo menos
Os telhetinhos am POr Enquanto. O
orosos curioso
raia que o padre
n
sa € lh e p o d e s of er ec er o que quise-
«im ser COM mais pr es
r, e sa be qu e és s e n h o r a de mim e de
o ado «e há de faze
or a na tu a m ã o , € a d e u s m i n h a adoração,
pe “está ag
u só e ca ti vo , m u t o ca ti vo ”.
rudo. Te
o c o m p o r t a m e n t o da m o ç a :
pe lo de se jo , in si st e € di ta
Mondido
lei em qu e ha ve mo de
s viv er, sé qu er ser
se me mande dizer à
O qu e diz te m, cu as si m O es ti mo , e
ae não ter susto, e Gar-mt
Vo ss a Me rc ê de se ja r; fi co e s p e rà a
su n
a d
re o
sp os -
cer O mais cedo que ser tua €
lg o se rá as si m qu e me ma nd ar ás di ze r: cu quero
ta. que ju
se r o me u mo le qu e, eu te nh o gr an de go st o de te da r O que
ru hás de
qu e só à ti ac ho me re ce do r de le , < há de se r lo go , € já ...
eq tenho,
di fi cu ld ad es po st as pe la mo ça :
Há momentos de raiva ante as
Bra vo, meu bem , cu mor ren do de sau dad es e Vos sa Mer cê vem à vit a
e não vem à minha casa, e agora manda cá o crioulo, e escreve e não
(ala em nad a; eu já vivo cer to no qua nto lhe dev o, eu julgo ser cer-
me
o O meu pensamento, que cedo espero; e não a quero enfadar mais.
Adeus, regale-se.
Há instantes de abandono, quando antevê os momentos que pas-
carão juntos: “eu lhe quero muito, amo-a sem segunda, e desejo es-
tar nos seus braços para gosar da formosura e para que assim melhor
sejas senhora, não só de mim como de tudo o que é meu, e adeus”,
Há ainda a exigência da decisão:
Meu amor, é chegado o tempo de ver e conhecer se me queres bem
e me tens amor, fico esperando ver o que obras com quem tanto te
quer, ama e deseja servir-te; manda-me dizer se tua mãe foi ou quando
vai fazer a jornada, e de tudo quero ter as notícias e tuas ordens, e
juntamente saber sc necessitas de alguma coisa, porque sabes tudo fi-
ca às tuas determinaç ões,
e adeus. Teu só € só.
Não fosse a violência do desfecho, o padre galante se transfor-
mando num estuprador brutal, o episódio seria engraçado e desmis-
tificador. Padres também namoravam, teciam fantasias, pregavam
mentiras para conquistar amores, apesar de serem os sacerdotes de
Deus, os oficiantes do culto, os intermediários que ligavam os ho-
mens ao campo religioso. Mas no século xvrit, nas vésperas da Re-
volução Francesa, quando mesmo em Minas outros padres já fala-
vam de independ e deênci
liberdaa
de, lendo os filósofos ilustrados,
— Como o cônego Luis Vieira da Silva, de Mariana —, amores de
padres cram amores de homens, e concubinas de padres nunca se
diriam santas ou bruxas. Lament pela ari
violência am
sofrida, pela
honra que rolava por terra, pelo bom partido que, eventualmente,
143
o mm
| ee
Lirl ide i Dress pise ss O Lego sp Bres ' smfhtess.
És Cesta dg rutes
Cat ps a” Les espelo ls APédrie fre
Juce cr fas 4 eleitess sertrero
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fm.
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— NE co dd
batia asas. Pod
i am, talvez,
reminiscência ter med O
de Virar
d O tempo em Ula-s
vam Monstros AUC amores il
, como íc; animo
Maria do Ros os Paridos po Abeça —
ário, r-Catar:
dO Universo indício de tr pe
aços de lon
da ão, be
cavam mais a r e das Mentalida
os des. mac
dres, ou, deflo eiálicas, f
rad as, Proce upia Mistifi. à
ssavam-nos
.
ae a
a
Ni ie
a e
146
7
MENTES E CORPOS
Os assaltos do diabo
mer
H vient comme un vent matlin, à attaquer le cerveau, com-
o
me principe des sentiments, et siêge de la raison, et tem-
e
pestant, et troublant par le dedans les humeurs, obstruant
A
les organes, picquant les meninges, oppilant les nerfs, et
ses esprits, et ainsi le corps tombe en convulsion gênêra-
le, et palpitante, et demeurent les possedez tous esvanouys,
et troublez.
Jean Taxil, 1602
sin
e
ads
ude, an-
-—
dara pelos sertões como missionário; na época em que caiu nas ma-
*
E
[47
a
Ma
ros da Urdem do “mo e tin
E
tando-o, para ha pe Emiss
tal, Vários m ão p ar
secul ares, e mbros do
como Antôn clero « Ser
io Fu "ado opolitan
“4 O presbíte
ro fulano Gr
, M anuel pj “Olici.
Par. O sey pre am acho: f
lado, frei Man
bia, então Jd uel À
, Luis Alva
re s de Figuc
l d-se anda iredo 2 Entr
uma v ásta g
ama de indivi e Seus clie
“dpateiros
, carpinteiros
í |
, Ourives — | a
ciais de várias p aos homens
atentes - de
| |
Respeitado, portanto, por “r< | Is e um
tres | uis exercia
uma curio sa Modalid
doentes ade
do sexo minino, tinha
fe ia (cal
radoras da cassa, a c ó p ulas com clas
pedindo muito ou com
indispensáve 's par segredo e alegan
a que as enferma do que tais atos
s r e c ram
-
Ist
=
salvador tinha
a Mansão
assistirem aos pr m a n.
mm
limpassem à maté
ma
m paninho e a pass
Rd
So
148
Frade s€ originava da matéria seminal produzida durante as
tivo do o que as tornava necessárias, mesmo se obviamente ilícitas
or se verificarem de forma desordenada e externa
e pec aminosas : Se tal justificativa encontrava respaldo na menta-
à união con E f ta a filtros de origem orgânica, havia ainda uma
lidade a legitimação dos coitos: o livro (dos exorcismos),
iene ia reverenciada numa terra de iletrados, a palavra dos
acultura aire doutores da Igreja. Rudes e simples, as mulheres lu-
tolos a escravas, na maioria — reverenciavam o frade porque,
dibriadas nm Rê da bom conceito: suas palavras neutralizavam a
om
o ——
149
caçã
cação social e cultural. » Segundo Critérios complex
8
Se não serviam para
tira **
Voltemos à associação
A exp eri ênc ia e in fo rm aç õe s de ter cei ros
cas sexuais do carmelita.
na vir tud e cur ati va das erv as que receitava
levaram-no à acreditar
tra zen do par a as fór mul as est ere oti pa-
nos fervedouros e lavatórios, pop ula r.
pr oc ed im en to s pró pri os à cul tur a ora l e
das do exorcismo
tad e, a “ce ga e tão ve he me nt e pai xão da las civ ia
A fraqueza da von
jogara -o no ca mp o de atu açã o do Ini mig o: “de tal sor te end ure ce
o coraçã o, e per ver te o juí zo daq uel es que sem tem or de Deu s se en-
tregam a ela que muitas vezes tem feito cair nos maiores abismos
de maldade e até apostatar da Fé e do conhecimento o culto do ver-
dadeiro Deus, e dar adoração ao demônio”. Deus e o desejo eram
incompatíveis: sendo eclesiástico, a sua **miséria humana” só pode-
ria ser negada, voltando, tortuosamente, por meio de práticas de exor-
cismo, ou seja, de desentranhamento de demônios. Num curiosissi-
mo mecanismo inconsciente, eram os próprios demônios internos que,
simbolicamente, frei Luís de Nazaré exorcizara durante quase qua-
renta anos por todo o território da Bahia.!º
Apesar de pena relativamente branda — abjurar de leve, ouvir sen-
tença na sala do Tribunal, ser privado dos poderes de exorcista mas
não do hábito de carmelita, e degredado por cinco anos para o con-
vento mais remoto de sua província —, o velho frade, que contava en-
tão 63 anos, conheceu os rigores do Santo Ofício, sendo torturado e
intimidado pelos inquisidores. O processo não deixa saber em que canto
do Império terminou seus dias, ou mesmo se, uma vez purgada a cul-
pa, pôde voltar para a cidade da Bahia. Valendo-se da prática exorcis-
tica como instrumento de poder, amalgamando tradições de filiação
diversa num mundo culturalmente complexo, no qual o deslizamento
do campo religioso para o mágico se fazia sem maiores impactos, este
baiano nato, afeito aos vícios do escravismo e da condição colonial,
não abandonou totalmente as raízes portuguesas e européias. Com-
passivo talvez ante os demônios da carne, desistente quanto a demô-
nios mais ferozes, frei Luís de Nazaré não perdia ocasião de, nas
missoes sertanejas ou nas festividades da Quaresma, pregar “com
151
————
do e lhe pedia que o adorasse. Desde então, viveu possuída pelo dia-
coa a
| |
-
io
Sa
——
is,
|
Mo
E
Por arte do demo, desafiava a ordem natural das coisas: uivava co-
ca
e
Gai
ga
e
mo cão, estraçalhava objetos como um leão, vomitava fogo azul
=
E.
a
A certa al-
e.
152
t i d o c o m o
e o q u e era
ania c o t i d i a n o
d o d i a b o n o
mportância e seis O nadoQ U e p a d e -
:
68069) e n t ã o a i n d a
É tes, poi s
s e i n t r o -
p o u c o s anos
i a b ó l i c a h á , m a is
este d , € c o m é d i a s
e s ã o b a i l e s
m é d i a s ; q u a r e m O A l -
ce r á a m a l d i ço
do almas pa s le m b r a v a m n ã o
r o p o s i ç õ e
tais n m o t a m b é m
p r o f a n a s c o
ntigas e m e t e n d o ,
u e s P e r e i r a , r
no Marq d e o c i d e n t a l
n a s o c i e d a
t ã o c o r r ent e h i s -
a , à id é i a e n a t o r : i n v e n ç ã o
n c i ã o d o
última instã d i a b o s e a s s e m e l h a va
alh o d o
, e x i b i ç ã o . p o s s e s s ã o j u -
c h a r l a t a nice t r e o s t r a ç o s da
“Oni de comum e
M
c o n t i n e n -
tros paí s e s d o
d e m ô n i o s q u e
JOS, OS
d e u , S a t a n á s ,
Asmo
eruditos € mais
nomes talvez menos s
n t a r a m à s f r e i r a
q u e o s q u e a t o rme
diano do e s , d e s t i n a d o s à
, p o r é m , c o m o est
i n q u e n t a a n o s ante s n e u tro
“de Loudun c ç o s no “ a n o n i m a t o
ncia e r e c o r t a r e s p a
ia r p o n t o s d e r e f e r ê O p i o r d e t o d o s:
cr
u x ú r i a , A s m o deu e r a
O d a l
do diabólico”.'º Por ser r c i s t a s t inh a m q u e v o l t a r o r o s t o
r e c i a , O S e x o
quando sua face apa “tã o a s q u e r o s a , e tã o fe ia ”.1?
nã o s u p o r t a n d o o l h á - l a ,
para o lado, a v a m l í n g u a s e s t r a n h a s , OU-
da e n e r g u m e n a , OS d i a b o s fal
Pela boca a r a e x p e r i m e n t a r 05 d o n s
o m u m da p o s s e s s ã o d e m o nía c a ; p
tro l u g a r - c x o r c i s m o na
nc i s c a n o “ l h e f e z - o e
lingiiísticos de Mariana, um fra o n d e s s e na m e s m a li n-
n i o n ã o r e s p
língua mourisca; suposto o demô er
contudo nas ações que fazia bem dava a entend
gua ao religioso, o , à
t i c a d i a b ó l i c a da p o s s e s s ã
DOS A pa na gramá
po is se tr at a de u m s i s t e m a
ERR e Re = as a
153
nin ES
WNTO frei Luis c
omo O diabo de
blico e SPetacula Mari:
r, Se as
detratadas pelos
exorcistas , apr
to COrFpo human oveitava Se
dos Uss “Y Via
o O ASpecto exe altos
conduzidos, prof mplar, Petsuas . mM
i ndamente Pe ório e
obrava Mariana. dagógico. Cie
O embaixador
toi com toda sua d al França “Se Feso
tamília às Escolas lvem A A
de, com que pod la Gerais Com
dr ver uma coméd a me
i a , CUriosida.
Feitiços, vãos not O U uns touro
s"
urna 3, assembléias
demoniacas
= a
Caráter secreto, « t
“
154
Cu os demónios, que latejavam debaixo
lho sentia
O '
th ou Evange como se palparam os ratos
“e
debaixo
hatv
de '
um coro,
' tj
pitica:
tar! le,
ão proprias
s V O Z C S + +
11 2W
e Isto mui t a
n a d a s ga nh av am forma verbal atravéà s co de metáto-
Cenas ima g i contra os Fe:
implícitas: Pk uutava
s
encenaçõe
| rais teat
pas ' VI SA
:
U
l o e a v a m a o s s e c u l a r e s , d i -
d
t
p u
Us,
o m q
s
pelo péssim exe :
Ata
Jigioso
tOS
descjara correr uma cortina do inferno,
aus, , dai
para
a ca
nos mostrar nd mr
ir ma as vi rt ud es de De us :
caídos, e reaf
m os da-
Tocava-se no exorcismo os tormentos, que no inferno padece
deles, € co-
nados, mandou-se do demônio, que formasse o semblante
mo todos éramos religiosos, lez à efígie dos condenados, pelos três pe-
cados opostos às três virtudes, obediência, pobreza, e castidade, que
proveitosos e próprios retratos para Os Nossos desenganos, e para emen-
dar os nossos defeitos repentinamente inchou com grande deformida-
de o rosto da criatura!
155
es tã O TU E
Gir
aq ui
à
o,
a dk
rn
-
s do In fe
ja
to do s O s to rm en to
decendo ias. à razina; o enxofre, aqui as blaste-
ites,ses.» as cadelas, à líssim
dos dentes, os açoitto aqaui crudelis4 a apree
à) ão da certeza da
nsão e
as, as desesperaçõe» vor eterno”.** E levantava a voz, ll
gs
eternidade, O e it Ó, ameve, O PO ori 48
guerra, desor 7 dem,. desor dem, pes confu
pedi são,
Sos
; é
conformado ernidade” Era a dimensão metafísica a Q do des
eternidade, eterr os suplícios representados pela iconografia, |
o orevoltas e as jterári
irios.
os, invocados em sermões e, todos eles, tri-
critos em a visões populares que haviam florescido na Ida |
in s das so
butário fe tão ito à à espec
tã p ouco afeito
f
de Média. Num pais esp ulaçããoo filosó
filosóffica
ica c como
Portugal,|, o demônio erudito
RN que habitava essa moça simples é mui-
to mais do que enigmatico.
CONCLUSÃO
icausal as CAUSAS SU
a:
)
méd i c o +
SdIC com
t e p a r a i n t e g t
a o suficien
gua ura
“a o nat | eme Opel:
“4
'
iraria| m sá
demônios di
normalmente |
sta & na
mo 1º
c o m o e ste, i v o d o u n i v e r so
c o n t e x t o constitut
Nu m
ibigúidade — eler Mana Padi
P e l i n t r as, as
Sacis, O S Z é
A e m os
s n a t u r a l € s e
corados, PO v i d a d e t o r m a mai
M a l a s a r t e s — é vi s u p o e u m
E a P e d i p o r t a n to , p r e s
i c o d e M a r i a n a ,
d e m ô n i o m e t a f í s i c o s : € e s s a tl C
gs O i r r e d u t i v e i s € ant a g ô n
u e B e m e Mals ã o p arec e ser,
mund o e m q nhece d o r , c o m o
T e v o lta € a n g u s t A . c o
i d a d e q u e O h o m ens.
dutibil i a c a no seio d e c a d a u m d o s
n ç a d e m o n co:
da fatal prese m m u nd o de dilaceramentos religiosos
n o o m u m n u
Fenôme c
,
o & p o s s es sã o a s s u m i a , en tr et an to , fa -
i d e n t e m o d e r n
mo era o do Oc d a e
d em qu e s e m a n if es ta va . Ta l es pe ci -
í f i c a r e f e r i d a à s o c i e
ce espec a s t â n c i a , à s r e l s en tr e sistemas
a d e i z i a r e s p e i t o, em últ i m i n aç õe
s m
f i c i d d a em Lis b o a e o d e f r e i L u i e
i s ó d i o d e M a r i a n
de crencas. O ep a m e n t e com O intuit o de m ostrar tal
o r r a m t o m a d os ju s t
Salv a d f o
m po r iss o sã o mo de lo s: po r ba ix o da es quema-
diversidade. Mas ne
cei aq ui , pu ls a um mu nd o de si gn if ic ad os mi údos €
tização que tra
de mô ni os qu e as sa lt av am os co rp os do s po ss es so s
variáveis, como os
as
Hu
as
|S-
159
an
Eai
mais aind a
Ca como um
nãoevoam
E em Vassouras, nem são passíveis de meta morfose, di
Ziziam
de E reilãe oras ,
Tata reação à capacidade
nas descrições desses
demoníaca
ajuntamentos
prova evidente de ações heréticas e profanatórias, tributárias do con-
texto que gerou joaquinistas, cátaros, albigenses e tantos outros des-
viantes do cristianismo. Hoje, as interpretações mais vigorosas vêem
no sabá das bruxas uma construção mítica complexa e multifaceta-
da, novelo em que se embaraçam diversas meadas culturais, a maior
parte delas remontando a épocas muito remotas: a crença na meta-
morfose, na cavalgada noturna do exército furioso ou de mulheres
seguidoras de Diana, Abúndia, Holda, ou, ainda, a familiaridade
com formas extáticas, peculiares aos xamãs da Europa Centro-
Oriental e de certas regiões da Ásia.
Com esta designação, entretanto, e com to dos os traços acima
volta do cé cu lo Xv , ma ni fe s-
referidos, O sabá surgiu na Europa por
160
e
e
16]
) EIRO
olhar dem
ms
Io COM Onológic
p
“|
po
5
+
)
f
= piídi
icas
mar
a
As
O jesuíta Manuel da Nó
brega de Serevera
religiosos dos índios chama os costumes
ndo-os de feitiçari a. Viu
SutrO CUropeu, o capuchi -se ainda que um
nho francê S Yves d'Evr
alusões aos feiticeiros tupis eux, detivera-se em
e suas relações com os
vendo em meados do século diabos? Escre-
XVI, c mostrando em muita
uma visão positiva do amerindio, s passagens
André Thevet não deixa, entret
de os considerar como bárbaros, anto,
assustando-se, significativamente,
com a expressão de seu olhar, que ele
reputa de **fort espouuanta-
Dle"”; “les yeux toutefois mal faits, c'est
à sçauoir noirs, lousches et
leur regard presque comme celuy d'une beste sauuage”
.** Alude ao
diabo na forma de espírito maligno:
C'est chose admirable que ces pauvres gens encores qu'ils ne soient rai-
sonnables, pour estre privez de I'usage de vraye raison, et de la cog-
noissance de Dicu, sont subiets à plusieurs illusions phantastiques, é:
persecutiós de Vesprit malin. Nous auons dit. que par deça eso
cas semblable auant "auenement de nostre Seigneur: car Vesprit malin
[62
re ature, qui est hors de la
ta €
l. i hor q E
qu'à séduire
=p ” & debaucher
ne Es tudie
s es a 3*
agnoissance de Dieu | o ps
Al ud e ao di ab o ta mb ém ex-
aO espinit =
ro no , aq
o ui , é An
ma ha
E n. . 4
Ds
camente.
ou tr e les pe rs ec ut os qu || reçoil
Pé insi elongné de la vérité
de ses so ng es , est en co re s si ho rs de rat-
o Sd = et les erreurs en s ministres, ap-
le mo ve
mo. n d' au cu ns si
du madA"t adore le Diable par te
son, qu'il à Char ai be s so nt ge ns de ma uv ai se vie , qu i
Pa es... Ces Pages | ou a
-
au di ab le po ur re ce uo ir le ur s vo is in s. Te ls im
Jipe E à seruir
fai re ho no re r n. en tr e ne au-
les
se io lo rer leur mech an ce té , et| se E R
po eu rs po ur co er-
leu. Ains: sont vagabonds,
E
três, ne de me un re nt ordinairement
| Si
en un
i s et a u t r e s l i e u x . . . . 2 * *
a n t çã et tá p a r le s b o
O di ab o, so ma -s e ou tr o de fe it o ex ec ra -
Aqui, ao consórcio com
oc a: a va gâ nc ia , a it in er ân ci a.
do pelos europeus da ép
Em “O conjunto: América diabólica” mostrou-se, por fim, que,
como
mesmo sem aludir ao sabá, era ele que, com certeza, subjazia
adi gma em vár ias das des cri çõe s eur opé ias das prá tic as amerin-
par
dias: no século XvtI, ao enunciar O inferno, era o sabá que se achava
retratado pelo jesuíta Azpilcueta Navarro: “*Vi seis o siete viejas que
apenas podían tener en pie dançando por el deredor de panella y
atizando la oguera que parecian demonios en el infierno””. -
(*) “E coisa admirável que esta pobre gente, ainda que não seja racional, por
nar NR verdadeira razão, e do conhecimento de Deus, esteja sujeita
dcoinidEs cas, € perseguições do espírito maligno, Dissemos que por aqui
casos semelhantes antes do advento de Nosso Senhor: pois o espírito
lg no
ma-
: à nã O se esforça. senão em seduzir e corromper a criatura, qu
e se encontra priva-
O conhecimento de Deus”
a, uva ! E
do a Esse povo, assim afastado da verdade, além das perseguições que sofre
SRS EaD e dos erros de seus sonhos, acha-se ainda tão fora de juízo, que
Caraíbas a Por meto de alguns ministros seus, chamados Pajés... Esses Pajés ou
cera estos ri rdco vida, que se entregaram ao serviço do Diabo para receber
:impostores em: geral n orir sua maldade e se fazer reverenciar entre os demais,; esses
ão perm anecem num só lu gar. São assim vagabundos, errando
“AU! € ali pelos bosques e outros lugares... :
a
|
|
|
163
ei Sd
três gru befria “SSembléia,
POS: ““ tous le Viram
une dutre, et les enf
s iomm d Si ndi
Se juntad O laison : SS en u
à0s hon !Cns: ddeu mesme”s Dez ou q PI le
Se SCpara
BO extraordinár; vidand “Z Ou +s f g
f e m AM em
tod | 9 Q u e f o ss € car
“dibas n. "Mes
O, Léry Pediu
OS ali para ver “ aos co “M ca Zes
tinNpaom
e impedidos pélos Ce Mystere”* O Panheiro de
caraíb ONfinados na aca erA
Ê faz
ST al.
à Ouvir um b TAM Cesse
arulho surdoas qduee Sairem dela Os f “à das
VOUS diriez le Murm * “8 Í T a n c e s e s lh Cres
ure d Vinha da casa
e dos ho
“6 “Saram
te
ise tse ajunt
Rr umas ceracoa ldaedoduzdeasntaos, Se levant Mes ia Ag
utras tor SUbitamen.
à COntígua, as voz fa
P; etindo a iN , CS Masculin f um m
terjeição de eCNCo 4S foram se ONtículo
e, he, he. rajamento
Para
CSvanouyes, ie ne Cro
y p às autrement
leur entrast dans le corps, & qu' que le diab
elles
as a barulheira
passou
música tão bela que, contrar
i
e do intérprete, Léry
se dirigir para a dos homens, de onde
vinha a melodia. O inté rprete
€OS companheiros tentaram dissuadi- lo, mas ele foi mesmo
assim,
e, movido pela “vertigem da curiosid ade”” de que
fala Certeau, fez
um buraco no teto da cabana dos homens, que acabaram convidand
o-
o à entrar no recinto. O que viu pareceu-lhe comparável à idolatria
que campeava na Europa em torno das relíquias de santo Antônio
ou são Bernardo, habilmente manipulada por charlatães:
ar com e
=
tando no
e , sa dt 188
pela boca, e algumas até (como as que, entre nós, têm o grande
F
*»
se
avendo com que,
te desmaiadas, não duvido que o diabo lhes entrasse no corpo,
; fazen
Ema dA
bitamente, se É tornassem enlouquecidas.
[64
la m a i ni n ni ni sa m s a n s se b?ou-
'autre, sans se temir|
pa r
n d , c o u r b e z su r le d e v a n t ,
gez en ro
droit,
lement la iambe & le pied
fesses, & le bras & la mam
en t de ce st e fa ço n. Et au su rp lu s,
hantoyent & dansoy
ud e il y av oi t tr oi s ro nd ea ux , y ayant au
Sen d ja multit
qu'a cause trois ou quatre de ces Caraibes, richement parez
milieu d'un o bracelets, faits de belles plumes naturelles, neu-
re st e en ch ac un e de le ur s ma in s
di O Conlents renant au
ves & de NA Mire soheltês faites d'un fruit plus gros que oeul
é ai ll eu rs , à fi n, di so ye nt -i ls , qu e Pe sp ni t pa rlast
pr o a vai parl
s po ur les de di er à ce st usage..*
RD dans icelle
re em cí rc ul os , os ca ra íb as sa l-
Enquanto os índi os ficavam semp qu e tr az ia na ex -
di nd o um pa u
tavam para à frente c para trás, bran a Fu ra
€ ac es a, as so pr an do su
tremidade uma erva de Petun seca ra .Por duas
e ti ve ss em co ra ge m na gu er
sobre os circunstantes para qu am de da n-
se lv ag en s nã o ce ss ar
horas, os quinhentos ou seiscentos to s co n-
nu m Lé ry de sc on ce rt ad o se nt im en
car e de cantar, suscitando
a at ra ção
SS e
do e re pu ls a se al te rn av am co m um
traditórios em que me
Ee
e um fascínio indisfarçáveis.
Et de faict, au lieu que du commencement de ce sabbat (estant comme
mg
i'ay dit en la maison des femmes), "avois eu quelque crainte, 1ºeus lors
en recompense une telle ioie, que non seulement oyans les accords si
bien mesurez d'une telle multitude, & surtout por la cadence & le re-
frein de la balade, à chascun couplet tous en traisnant leurs voix, di-
ava € sans: heu, heuaure, heura, heuraure, heura, heura, oueh, Ven demeu-
prete ray tout ravi: mais aussi toutes les fois qu'il m'en ressouvient, le coeur
ssIm, m'en tressaillant, il me semble que ie les aye encore aux oreilles”',?**
1, fez
— () Bem perto um do outro, sem se segurar pela mão nem sair do lugar, mas
ando- dispostos em círculo, curvados para diante, inclinando um pouco o corpo, movendo
latria apenas a perna c o pé direito, cada um mantendo a mão direita sobre as nádegas,
tônio e deixando pender o braço e a mão esquerda, cantavam e dançavam desta forma. E
ademais, como devido à multidão havia três círculos, e permanecendo no meio de
cada um deles três ou quatro desses caraíbas, ricamente paramentados com roupas,
RAE € braceletes feitos de belas plumas naturais, novas e de cores diversas: segu-
a uma das mãos um maracá, ou seja chocalhos feitos de um fru-
a, e da
falasse oi RE o de que falei acima, a fim de que, diziam, o espírito
“o 2 5 A C55C fim...
(**
mulheres) ) tive É,; de fato, se no início desse sabá (estando eu, como disse, na casa das
0, Sã]-
mavam refrão da balada, esa cada bem medi
e dos de tal multidão, masmas sobre
5 tudo pelaaccadênciaja e€ o
strofe todos, arrastando as vozes,
2es. dizendo:
dizendo: heu. heu, h heuare,
aimen- heura, A
jue, SU a va eua aero piel, fiquei de todo encantado: mas da mesma forma,
vêm aos ouvidos” or e
1550, ; O COraçção me estremece e parece-me que atmAo
ainda me
165
aa Têm
Av Vi
m a R COMploxo
Do MO RRBIA
AMA
q |
Eri Lam,
À bas pa tus H
demo aa
Ha tótis vi to
Mnernto Mes
“ Diatud
dútifos
amido Privil,
1 A ÚUlaÇÃão de ui | Moi Miche
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fil avi
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aleatórias Ha
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PARA calrem Mi
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“am a fuma CoNvVula
ça de ervas na Ho t Ha
VAN to Im o dançava
aginário e uni
Mente ro Me MPopor
moradas pel
futuras, A os Un vidóros
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Capiritos
Porrada VOZ, e tama
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Mo o diabo era
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“olha CuUroópen aprox
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Hitito si 14 c
DC O francês Lór onhecidas:
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Hindios os inib
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mens, à presença d 4 do melo | Mt
o Diabo, deixan ural à vida
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próprio nome de B d o d e lad: »rade SUA
S Assecias, ()
rasil toMa surgido por Hs] Nr
ele, portanto, à prande ação do Demo
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Hint Er pulos de IRA ido Ê tetrto va fit) Pictli el bi 1
| Eoho th
Hapuelos, | tações o sortió
Praticiva adivin g
Lógios, Lot
und, no teto de
do pol eles sido dentinciada à Inequisição, Elma vez prosa o intienidadoa,
tes dominantes, ad |
bem ordenada, e que desafiavam valo:
[67
O inquisidor
não fez
nem do ungu
e
|
a c t í c i a s / as c r n ç as
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j u s i t ano, d e
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no p o v o t o d a
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R
f e s t a v|
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'eT- ea se mani d e
e t a d a s p e l o s
lhe d o E
a s € c o l
-«temunhad
. ivas
t r a d i t o r t ã -
cio , e q u e , con
pen e perseguia m
m q u |
e r e r
rar q u e à s p e t u a ç ã o. S e
monól o g o s pela su a p e r e -
a m Te v e i s
d o |O e n o r m e I n | t
Dolo
men t e , s e t o
) r n a r a s r e c o n h e c e n
i f u s i o n i s t a , M g e m S t o -
10- s s ã o d Gi n z b u r
entrar em discu i c o d e e stu d o s c o m o O d e
r
les e ó r i c o e m e t o d o l ó g e n c o n t r a d o s p o
resse t q ue o s p a s s a r õ e s n e g ros
jm t t u r n a , c a b e r e s s a l t a r o d e l o d o v ô o
ia n o
t i s t a s d i f e r e m d o m
e m p r o c e s s o s quin h e n m as
Os
Beth e n ç o u r t um e m l o b o e g a t o ,
t a m o r f o s e m a i s c o m
as
em vassoura ou da me C o r v o s d e s c r i t o s p o r Jean
ha s i m i l i t u d e i n t r i g a n t e c o m Os
apresentam n t e do qu e B o d i n , De l
to r se is ce nt is ta m e n o s emin e
de Nynaul d, au
Rio, De Lancre, Boguet.> s po r so b
Im
ro pé ia s m o s t r av a m - s e u n i f o r m e
saPe i po pu la re s cu
aç õe s lo ca is , i n t e g r a n d o as si m Po r-
ra poda pa superficial das vari
s inqu is id or es a p r e s e n t a v a
Is
ro pa , a le it ur a do
S- coloração retro Eu ani m a l p r e o c u p a v a m - n o s
ár Vô os e m e t a m o r f o s e
m podeuqanuíssimo alertas que esri tavam aos conventículos e, pasobes
» ãO pacto demoníaco. Na maio oraia d dos processos, era a prpreeoocupa ”
ção co m o eci
pacto ou com o reconh ecimento de Satanás por Deus que
“mM tentação
, Leonor
—
E
eep
a,
E
Suntuários de d
Manuel da Piedade João v ne
n a s c e r a no Brasil, na ci pi
rara em muitos dade da Bah
lugares da Colônia e do
acompanhar seu s Reino pr
enho
[70
-l nesta forma que compareceu nã assembléia noturna que
bizarra”. FO
descreve
noite de
são João do ano passado, nos olivais de São Bento, foi
na
to José Francisco € pela meia-noite aonde acharam o demô-
com O Pl” de mulher, e tanto ele como o José Francisco se abraça-
nio em Da com o demônio; e lhe [sic] prometeu entregar-lhe a sua
di com efeito lhe entregou na mesma noite do São João,
apesrsda ha Deus € como tal o adorou pondo-se de joelhos diante do
| rã demônio, batendo nos peitos, beijando o chão...
Tm»
e mais se aproximava dos mortais.
=
LD
Francisco Pereira, que inicialmente confessara as mesmas prá-
TE
mm
io
ticas que o companheiro, entrou num delírio de loquacidade após
o
prováveis sessões de tortura, confessando relações homossexuais com
re
|
e
e
o demônio íncubo, que o sodomizava, e relações com o demônio sú-
nl
cubo, sempre insatisfatórias dada a frialdade do coito.” No seu ima-
ões
ginário, o demônio era o mago da metamorfose: aparecia-lhe na fi-
DT
gura de homem branco e preto, mas com pés de pata ou de lebre;
na figura de mulher, mas com os pés revirados; na figura de bode
preto, na de burrinho, na de galinhas com pintinhos, na de lagarto,
cágado, sapinho, gato pintado. Presidia assembléias concorridas em
Val de Cavalinhos, o mesmo lugar registrado duzentos anos antes
nos processos analisados por Bethencourt, e onde todos se posta-
vam de joelhos para adorá-lo.?? Convocava seus asseclas para os en-
contros fazendo com que o galo cantasse às dez horas da noite, €
neles se apresentava na figura de homem, mas “de instante a instan-
te mudava de cores, tanto no rosto como no vestido”; servia passas
e vinho de sabor insosso, e copulava com todos os presentes, exigindo-
lhes adoração.3º
Apesar de negro e africano, José Francisco Pereira mostra ím-
pressionante familiaridade com o imaginário europeu do sabá, Es-
tdo presentes na sua confissão a assembléia noturna, o coito insatis-
tatório e frio, sodomítico em grande parte das vezes, seguido de dores
€ até de derramamento de sangue; as comidas insípidas; a metamor-
fose constante do demônio, que, em certa passagem, quando muda
também de cor, sugere até proximidade com o diabo de De Lancre,
igualmente cambiante, iluminando o sabá com seu corno. Sob a
171
pressão inquisitorial, a crença na virtu
de das bolsas de
de certas raízes brasileira
s cede lugar a ma
europeu, com o quaEal talvez adquiroisse UM IMaginário baço,Sic Rã
' 5 P nd;
familiari
a dridade no próprio Ut
cere do Santo Ofício.
TO cár.
O quarto processo deste bl
oco teve lugar em 1735. A ré
ria de Jesus, negra de Luanda que fora cativa m
as Se achava Cra Ma.
le momento, livre e recolhida no Hospital de São Fran
cisco PP
boa. Tivera trato com o demônio desde os doze anos
, M Lis.
aprendendo feitiços e malefíc
ios e, em troca, adorando-o de
Certa feita, o diabo joelh
lhe dera uma ti gelinha com 05 ,
E :e
um vidrinho de óleo, ensinanddo-
i d r i n h o d 5] - |
u n g i i e n t o b
o-a Tanço
e em camisa, passou então a
sair com o companheiro |
a levava para “além do mar”* na
Mouta, onde, numas
contravam com outros demônios
e com mulheres, “
nham a bailar com castanholas”
'
, abraçando-se, bei)
eA
da companhia no *
pus”
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lo Brasil, se mos-
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no mundo luso-
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e a 172
»rplex|idade,
«ntônias É
Be. dores O tolerância,
do-
um
d re , n ã v e r d a -
he i r a s . O p a
u t r a s c o m p a n i n c r i m i -
s o c o n f i s s ã o à s
n e g a n d o
O d e m ô n i o , c om
ra falar com m m é -
r que “ s a í a
a m , ainda m a t a v a
à c h a c o n t e n t e s
nadas por ei t o p a c t o , € q u e , não
do r , i r r i t a d o c o m
h a v i a m f a s . O i n q u i s i
quem a s a n d a n ç a s n otur n
j u l g a m e n t o,
en o s n e t e a n o s p o r
au e esp e r o u s a r a
d e J o s e f a —
d o q u e c o n f e s s
as hesitações o c es s o , d e m u i t o
º d e c o r r e r d o p r a c o m p a n h i a
esquecendo-se, N m e n t o s a p e n a s n
r é“i a 1 a a o s a j u n t a
e r e q u e p e n s a v a
a s a b e r S e & o , a q u i , s u g
— que r i
s e s a i a e m b a ndo. O coletiv
do diabo ou
m i t o , ou
no mito sabático. f o r a m c r e n ç a s c o n st i t u t i v a s d o
q u e J o s e t a c o n f e s sou s e d e f o r m a
O n á r i o , a p r e s e nta v a m -
a s , q u e , n o s e u i m a g i a m
a ele pe r i f é r i c mul h e r e s , q u e à v i n h
h i a d e o u t r a s c i n c o
desconexa. EM compan i l a s c o m u m un g u e n t o m a l c h e i r o s o
n a r a às a x
buscar em casa, friccio s a r e s , in d o te r a u m c a m p o o n d e
i t e s v o a n d o p e l o
e saíra por doze no a c o m O S d e m ô n i o s . P o r o u t r a s
i l a d o s e se c o p u l a v
se realizavam ba s a ndo a t r a v é s d e p o r t a s € j a n e -
s ó c o m o d e m ô n i o , p a s
vezes, andara i n h o s — s e m p r e e l e — €
u m a n d o p a r a V a l d e Ca v a l
las fec h a d a s , r m l a d o ,
n c i n h a s .) Avi z i n h a n d o - s e , p o r u
chupa n d o o s a n g u e d e c r i a
, o s d o z e c i s n e s s e l v a g e n s d e A n -
E O R I O p o p u l a r — as d o z e n o i tes
E p a t o s e m f r e n é t i c o s
a a seus s a
a n
E
i v o a a o H o
rismo, constitut da
a a
i d a d e s pró pri 36 T a
de autonomiae especific
m R i n s E t Re a R s
to Joseta alude ao
e E - a i i i s t i n o
t a s .S d p a t a
crença bem n repae rt i d a n
e E t r s o ciais
E
ama t a r j a n e l a s — s e j a n a f o r m a
ta a p a c i d a d e d e a t r a v e s s
ig
Ronan ndss r e -
e
u i n d o d e t a m a n h o — t a m b é m a p a
ja na animal, dimin
me
——
173
ais
Ste om feili OS, J
IVA Tulzes e pos COI ,
brancos, queima | “nho.
Os lervedouros A
ga
que fazia, punha das;
que se “ONSUmassem penas SOb sun
SUS Atos vinte ado
has para, anlogicamente, sexuais, Perfurava * COM
Provocar-lhes bonee;
doenças. This Me so Pedi
presentes na culi
UPA popular Curopéia "Um tu.
Ximadas q prát
icas de +
€
origem tricana! :
| : 1
confessou Fess
"é
utras dueTA
Q, q 1
altam sem dúvi Mas de O
mentados do co da à lação Az in
mplexo sabático cur Opéi
. T o d
a € og ec os
do diabo, que o s os sOrtilép
costumava lhe ios tinham a
de bode, a nepra aparecer nas en Ajuda
o chamando de cruzilhadas
“ M + CM vulto
do “Cr sua. Mata e u rei barbado”
ra uma criança, € lhe prometen
da Janela, transf entrando SM Seu
ormada em borbole quarto pela aii
lo nariz; depois, de ta, e chupando-lhe
senterrara seu cadáv o Sangue pe.
nas e miolos para co er, tomando-lhe os b
nfeccionar feiticos « raços, per.
Ainda no Brasil, c poções,
omo se disse, Luzia
senhores, Foram e fora torturada POr
les que, durante a seus
fazia mingaus com tortura, insistiram
miolos de crianças d em que ela
livre do suplício, a es efuntas; para tentar S
crava concordara com e ver
tudo quanto se lhe p q Sugestão, confessan
erguntava, Num de se do
confessara ter feito pa us relatos desesperad
cto com o diabo quand os,
po, “lhe aparecer o, estando num cam.
a umas luzes que lhe and
do que lhe falou o demô avam à ronda, depois
nio, e perguntou se queria se
são de Exame, já nos cárc r sua”! Na ses.
eres do Santo Ofício lisboe
alude ao sabá, o que era mui ta, o inquisidor
to pouco comum nos interro
daquele tribunal, Mesmo ass gatórios
im, O que ressalta da pergunt sob
assembléia é, como sempr a re a
e, o rastreamento do pacto demo
da adoração ao diabo: “perg níaco C
untada se se achou elá ré em alguns ajun-
tamentos donde visse, e conhe
cesse pessoas, que com ações, ou pa-
lavras invocassem o demô
nio, e lhe pedissem ajuda para a
e por algum modo o adorass lgum tm,
em..' + Aqui como em outros episódios
análogo s, não h
á recurso à palavra sabba. A cla pref
eria-se conven-
tículos ou ajuntamentos: tanto o mito quanto o
vocábulo eram as-
sim pouco familiares ao contexto português,
q =
Ea
174
=
[|
b r a s i l e i r a s , LAZIA
s L e s t e m u n h as
irição da
apos a reno
O f í c i o , nela viu Um vitima
q u e
fim as jo Santo A cre
1 inocente
& pe
a vos d a C o l ô n i a ,
tras s e n h o r e s d e e s c r
E vada dos
m ô n i o . D e q u a l
foi ni
IÇ
adorara O de
a f i z e r a p a c t o , n o m n c e p ç õ
| e s | d i v e r-:
c e l a n u n c o d o s p e l o s qui i s c o
da cn 8980 f u s t r a O S m
itou que a s vez e s , 8€ f u n d i a m . ”
e r p u n h a m €, a l g u m
quer forma ca co sup ô n i a p r a t i c a va
o u t r a negra da € o l
m a m é p o c a , u a Né de cn açmo
bre 4 m e s m a Es as v o l t a s c o
ent gmennte te na r e s € 05 c o loc a r a m
i a m 0% i nqui s i d o a c u sada
23 cu n f u n d i r L u z i a P i n t a c r a
l t u rais d i s t i n t o s ,
de U n i v e r s o s c u c o i s a s f u t u r a s.
ae r a c u r a r € preve r
p a
njões noturnas s i á s t i c o d e ciou-a do
n u n
; e o Juízo E c l e
a ra O R e i n o . L u z i a c o -
s u a r e m o ç ã o p
u e p r o v i d e nciou q u e t i n h a O
Sant o O f í c i o , q
d e 1 7 4 3 . C o n f e s s o u
d a c m m a r ç o
|meçou qs e i n t e r r o g a
s l h e d e r a , e h e r a n ç a de
d e s t i n o ” q u e D eu
i v i n h a rr p o r “ p o f i c a v a c a í d o
dom d e a d
t a s 0 € a s i õ es , s e u c o r
c e r
=
a l r i c a n o s : e m r e s . 19
seus ances ra
i s
r i t o , e l a a a v á r i o s lug a
, e m e s p í
ni e =
t o , e n g u a n t o
c h ã o , f e i mor
t o i a , e q u e n a s u a l i n-
no o s a q u e p r esid
O
d e D eus 0 5 r i t t t t -
o
Con s i d e r a v a o b r a
cu r a n d e i r a d e f e
ee
s . G r a n j e a r a f a m a d e
v a m c a l u n d u
————
qua se c h a m a p e que-
Eee
da nu m a e s p é c i c d e
TT
r o c u r a v a m s e n t a
à p em
COS, e atendia os que em in s t r u m e n t o s e c a n t a r
me
o j u d a n t e s s e u s t o c a r
n d a nd a -
cn
n o a l t a r. m a d a j u d a v a o e x t a s e
=
p o . A m ú s i c a s i n co p a a
t e m
Ed
por largo espa co de ju íz o” , en trando -l he pe la ca be ça “O s
fo ra de se u
Luzia ficava “como
ARE
n h a r € lh e s u g e r i n d o os remédios adequados para
ventos de adivi
=
cada achaque.* , m a s 50 »
z
do s c a lund u s er a c o n t a g i o s a
Para Lu zi a, à “ d o e n ç a ”
e s m a fa mí li a: cl a p r o v a vlmente à ““ne-
e
bretudo entre membros da m r i m e i r a m a n i f e s t a -
en t e , t e n d o a p
gara” de uma tia, involuntariam ss a n u m di a sa nt o,
aba r á , ou vi a mi
ção quando, em Minas, na vila de S d o lh e m es-
v e
r e n a t u r a l , “ p o r q u e q u a n
Calundu era ainda coisa sob r a l g u m €s-
a d a c o m os ol ho s no cé u po
ta”, dizia a negra, “fica par rt es ia ,
al ab ai xa a c a b e ç a f a z e n d o co
paço de tempo, no fim do qu vi ve r
c o n h e c e , en tã o, os qu e hã o de
e logo olha para os doentes, € ai s
, e t a m b é m os qu e nã o te m ao s qu
e tem remédio na sua queixa
o ac ei ta po r se us e n f e r m o s , € os m a n d a ou tra vez
por cesta razão nã
levar pelas pessoas que os trouxeram.”
r e n a t u r a l qu e de ix av a a p e s s o a fo ra de se u ju í-
Uma doença sob
ta nd o- a a cu ra r é pr ev er o fu tu ro , só p o d i a se m a n i f e s t ar,
70, habili
qu is it or ia l, po r aç ão d e m o n i a c a , c o n s t i t u i n d o fo rt e
segundo a ótica in
indício de pacto com o diabo, Luzia não confessou nem mesmo apos
to , e sa iu p e n i t e n c i a d a e m a u t o - d e - f e , e n c a r o c h a -
a sessão de tormen
it ic ei ra . A s e p a r a ç ã o en tr e o c o r p o qu e fi ca va ca íd o no c h ã o
da por fe
175
Co CSDirito
qu| e vapav U
blema polê d talvez CO
Úco das
|
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Rio, dev ido inclica
E COncluíd do de
“em lhes d o
ar Mu
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Natural do b
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ispado d:
oe
Com o demô
nio dl
e
e v i o l a s iões* DOui
Senta, entre , inúmeras Pess meio
elas dois padr oas — 17)
e s —. ajustavam
No”
de juízo” — UM consi-
não merccia cré a embusteira
dito — e determ que
denação,4 i n a r a m que fosse solta
sem con.
Vinte e cinco “nos
antes, um homem
O
o de São Domingos
—
A condenação deste
homem em 1735, com
e
s envolviam o curandei
c práticas libidinosas de rismo, a adivinhação
at-ise
ng
o, Da ia
época, ou de períodos anteriores são
k,
aE a
capital por feitiçaria em todo o século Xv
im, € talvez da de ia is
ríodo de funcionamento do Tribunal. Nove anos d
epois dele,
176
m i n g o s , M I A v e lha
n t o d e S ã o Do
v e
ocal, DO con a H o r r a c h o a , m o radorai
mécia da Onia,
o hamada não vom nitá
) Co * tAti o Li
plici artiAclipação cà m sabi
j
o d e m o D a l
s a v a r i - n a d e a d orar
cu
O f i c i o m u r i c a Frio
b o r t u g a l , O Santo
i n d i c a q u e , e à P
S U A C XOCU
lo çaria, Me s m o a s s i ,
c r i m e+ te f eiti
“m por | mas d a E u r o p a , e n t ã o já
U M A d a s ú l t i
ênero,
no g
bem unidornoe,
le mancira
C L U S Õ E S
CON
e s e u s a s s | e c h a s n o
e r a p r e s e n ç a d e Satã
o r c o m p reend m o n t a c a ,
Para me l h
o € s o s e p a r ar a o b s e s s ã o d e t e s ,
s o - b r a s i l e i r p r e c i m e n t e «a l n c l d e n
n á r i o j u a t o r i a
mar j á , E l e s n ã o s ã o o br i g
s € o s a b
os malefício o , m o strand o - s e b a s t a n t e c o m p lexos,
, N e s t e s e n t i d
os arranjos ç a o dia bo , i m p r e s s i o n a n t e m e nte
Pr i m e i r a m e n t e , h á a p r e s e n d
c a m p o s e d a s c i d a d e s
sc f a z i a n o t a r n o c o t i d i ano dos
destaca da. Ela o s s p e r a n d o s e l a r p ac
m
a e m p a l h e i r e
portuguesas: diabos que dormi , a g a v a m
, N a e s p re i t a d e n o v o s a d e p t o s v
m o s m o r t a i s , O U q u e
E quai
to s c o .
s fr e q u e n t a n d o l o c a i s c o n h e c i d o s
nelos arrabaldes das grandes cidade
= ES
o s , a m p o s d a C o t o v i a , M o u t a , N o e s
por todos: Val de Cavalinh C
ST
s s a r O p ã o o u a v a r r e r a c a s a, un No m
paço privado, ajudavam à a m a
p o r a n -
q
m b ve r t e r a n a t u r e z a , i n c o r
aee
d o u l t r a m a r i n o , t r a b a l h a v a p a r a s u
s l v a g e n s , E r a m a i n s p i r a ç ã o
do-se nas feras estranhas e nos homen se g i o s a s
r i a s , s e j a , d a s p r á t i c a s m á g i c o - r e l i d os tu-
maior das idol a t o u
v o s af r i c a n o s . E m p l e n o s é c u l o x v t t , d e m ô -
pis e, depois, dos escra o s
d o s o l o n o s r e b e l d e s , c o n v e n t í c u l à s t e n t a t l l -
nios eram chama os c
vas de rebelião.
i e m p r e o m e s m o n e s s e m u n d o c o m p l e x o € plu-
O diabo não fo s
e r o g ê n e o p e l a s e t n i a s e p e l a s c u l t u r a s q u e a b r i g a v a . À icono-
ral, het
a o p é i a o s t r a q u e , c o m o d e s c o b r i m e n t o da América e, cer-
grafi cur m
a m e n t e , c o m a c o l o n i z a ç ã o , g a n h o u c o c a r e s d e p e n a s e t o r n o u - s e
t
cada vez mais negro: O Inferno, quadro de um anônimo português
e i r a t a d e o
d s é c u l o x v i , a t e s t a b e m ta l i n f l u ê n c i a . ” Pa-
da prim me
rece mesmo correto afirmar com Certeau que o mundo das práticas
a
mágicas americanas influenciou no fortalecimento da demonologi
curopéia, chegando a alimentar a construção da feitiçaria sabática.
s a d o u m , v a r i a r a m o s p r o d u t o s dai
a g
s e s p e c i i c i d a d e s c u l t u r a i s . O f r a n c ê s L é r y v i u
VÃ AR é a
juestrado pelos caraíbas um equivalente do sabá. Os
177
página 178 está faltando
Rd o qr + Ná
PAR
SA)
A Ê.
|
de
“+ . | ki Ê
E
Dera caaé o
A bruxa subjaz a outras representações, colorindo, no imaginário europeu, toda uma
gama de terrores difusos.
P E R S I S T Ê N C I A S I N F E R A S
Bernard o G u i m a r d e s e O i m a g i n á r i o
demonológico |
=
ta
às
Em bo ra fos se poe ta de al gu m val or até por vol ta dos qua ren
=
ar do Gu im ar ãe s (18 25- 82) é le mb ra do so br et ud o
anos de idade, Bern
=
e
es de cu nh o soc ial € reg ion al. Da épo ca em que ain da
por romanc
gi
fe-
produzia bons versos data “A orgia dos duendes”, que, na con
a
vo Bil ac co ns id er ou “*p oes ia eng raç a-
Sms
rência sob re “O Dia bo” , Ola
=
díssima”, creditando-lhe o registro sertanejo de tradições sabáticas
ão
ou, em outras palavras, de “cerimônias da demonologia brasileira””.
Sm
vd o agua
s tra nsc rev er pas sag ens do po em a, acr esc ent a: “to das ess as per -
a
Apó
sonagens de que fala o poeta, e cuja tradição ainda hoje anda tão
espalhada pelo interior do Brasil — o lobisomem, O galo preto, O
e
——
cms
E
a
fio
i
EE
-
=
=
FT
=
Fe =
=
FE.
vo
SR
=
omg, -
E
ve d
-— pyd
TO —
E
=
a
eee
aim
a
Os terrores atávicos da
cultura qu
mia
seita
e destruição.“
as
“a
Vejamos o poema:
A
rep
E
cs
o ado
Bernardo Guimarães
ipi
ane Rn
o
TT
= E
I
RES
182
pd ta
t o de le u m v e l h i n h o d i a bo
Jun
Que saíra do antro das focas,
n d u r a d o n u m p a u pe lo ra bo ,
Pe
N o b o r r a l h o t o r r a v a p i p o c a s .
183
ni
ar
Ide *4já
am O
PrPorcoucrur
ar-me
Xa b um
QEe ue mTeO dedm u ”
RS
minh| a lia en
E dUe dos M“arselha,
ventos da Ú
ad di
og
bi
AE
sa
Onde estás,
ac
Eu dusera ac e gentil?
=
nda
ordar-te Cum
mo
o
-
ebroso covil
-—-
EE
Galo-preto da
dr e
torre da mo
Que te aninh à rte,
s em leito d
na
Tu também, ó gentil Cr
ocodilo,
Não deplores o suco
das uvas:
Vem beber excelente rest
ilo
Que eu do pranto extraí da
s viúvas,
Lobisome, que lazes, meu bem,
Que não vens ao sagrado batuque?
Como tratas com tanto desdém,
Quem a c'roa te deu de grão-duque?”
HH
184
t o c a , é c a v e i r a
, que
Campainha c o d e b u r r o,
a d a l o de c a s
Com b a
da s e l v a aA g
g oou u
r r e l t
e n o 1 n e i o
Qu u s s u rro.
med o n h o s
Vai fazendo
e p a d o s n o s g a l h o s
Capetinhas tr p a u ,
r o l a d o n o
Com o rabo en o s ,
o n o r o s c h o c a l h
Uns agitam s b a u .
e à t o c a r m a r i m
Outros póem-s
d i l o r o n c a v a n o p apo
Croco
u í d o d e g r a n d e f r a g o r ;
Com r
barriga de um sapo
E na inchada
r.
Esqueleto tocava tambo
ca rc aç a de um se co de fu nt o
Da
E das tripas de um velho barão,
to
De uma bruxa engenhosa o bestun
Armou logo feroz rabecão.
185
e
o al
o
="
a
ço
+
A
ms
E
LT
=“
ção 2
am
ms
ilhas
E
ee ia
am
GETIRANA
Por conselhos de um côn
ego abade
Dous maridos na cova so
gquei;
E depois por amores de um
frade
Ão suplício o abade arrastei.
GALO-PRETO
Como frade de um santo convento
Este gordo toutiço criei;
E de lindas donzelas um cento
No altar da luxúria imolei.
166
a b e a t a d e a s c é t iço
Mas nã v
id Pa
I, Je ju ei , o
Mui co nt ri to Te Z&
«a de at aq ue apoplético
| que um d
Té
do i n f e r n o es to urel.
Nos abismos
ESQUELETO
Por fazer aos mortais crua guerra
Mil fogueiras no mundo ateééi;
Quantos vivos queimei sobre a terra,
14 eu mesmo contá-los não sei.
MULA-SEM-CABEÇA
Por um bispo eu morria de amores,
Que afinal meus extremos pagou;
Meu marido, fervendo em furores
De ciúmes, o bispo matou.
CROCODILO
Eu fui papa; e aos meus Inimigos
Para o inferno mandei c'um aceno:
E também por servir aos amigos
Té nas hóstias botava veneno.
| 187
ima
LOBISOME
Eu fui rei e
dOS vassalos
Por Chalaça m f iéis
andava enforc
ar:
É sabia Por mo
dos cruéis
As esposas e fil
has roubar
RAINILA
Já no ventre materno fui boa;
Minha mãe, ao nascer, eu matei;
E a meu pai por herdar-lhe a coroa
Em seu leito co'as mãos esganei.
188
a c h e j e i t os
1 e n h u m
Em marido t i n h a c I U I M m E S ,
a s d o l e i to
o g ' a s c o l ch
Uma nolte € e i x u m e s-
q u
e i p a r á s e m p re os
Apaf
o r r e d o p a ç o
u n d o , d a t
AO seg s e r d e s l e a l ;
e i p o r m e
nespenh f i m n u m a b r a ço
c e i r o p o f
Ao ter i -lh e u m p u n h al.
s c r a v e
Pelas costa
me u s s e r v i d o r e s
a u r b a d e
Entre e u m d i a ;
u s a m a n tes d
Recrut e i m e
r é g i o s f a v o r es
m g o z a v a m e u s
Que umia.
do mar se s
Nos abismos
i n f e r n a l d a j u x úria
No banquete g a v a,
0 5 l á b i o s c h e
Quantos vasos
2 0 5 d e s e j o s a f ú r ia,
satisfeita
d e p o i s o s q u e b r a v a.
Sem piedade
pr at ic a p r o c z a s t a m a n h as
Quem
r fr ac a € m e s q u i n h a ,
Cá não veio po
E merece por suas façanhas
m e s m o en tr e vó s se r r a i n h a .
Inda
IV
189
E nos ramos saltavam as aves
orjeando Canoros q
ueixumes,
E brincavam as auras suaves
Entre as flores colhendo perfumes.
190
»
s i m m a i s u m e l o n a
d o s d u e n d e s ” é as
- «Orgia
a z u m a e l i p s e d o s abá:> no poema, €s-
+ana que f
parece” e do mit o q u a n t o O s d o ri to.
o o m o r f i s m o , e l e -
e n t e s m í t i c o s . O z
ro OS compon m e s d a s b r u x a s .
n o
sabá, mostra-se Nos C r o-
, S a p o - I n c h a d o ,
a ra, Galo-Preto
n g a s
Ge t i r a n a , M a m o f u r i o s o , a n a l i s a d a
t r a d i ç ã o m i l e n a r do e xé r c i t
co .
me. A na s “m al
bi so me nc on tr a- se re tr at ad a
a n d o e m c o m p r i d a s es ta -
» “cavalg
es sa Ná l i n g u a g e m te ns a do s
bruxas el a in ve rs ão se ex pr E ada - la que
"60 apreço p
qu e,
,
' ou nã a m b i g u i d a d e ma is am pl ia que,
a batu de eleitor unas, és
contrários, O sagrado batuque, en ! pa gã os ,
m a g i s m o e de ci
imaginário impregnado de ad o e d e m o n i a c o :
as en tr e sa gr
o co m frequência, as fronteir À Ze )
fumaçã
de pe ca do s ho rr en do s, T a t u r a n a foi freira pro
ARO sob o peso en -
fr ad e de u m sa nt o co nv
«e u mo rt e de santa; “como: ét i
fessa, € MOT ta at é es to ur ar , de at aq ue ap op ie éti-
to
ro” Galo-Pre vi ve u c o m o as ce
s; qu el et o e s p a l h o u m o r t e € de va st aç ão ,
co, nos abismos infernai Es
re s € te mp lo s; C r o c o d i l o fo i pa pa :
» mesmo assim lhe ergueram alta u- se , c om
da , po rt ad or da ch av e do s cé us , vi
Cristo em vi
vigário de
o s in fe rn os . Po r fi m, ai nd a no un iv er so do
a morte, arremessad ao
rr or es pr at ic ad os pe la as se mb lé ia n o t u r n a ex i-
mito, a galeria dos ho
fo rm a in si st en te € re pe ti ti va , a qu eb ra do s ta bu s. A p ós se en-
be, de
tregar a amores sacrílegos e ver o amante-bispo assassinado pelo ma-
rido ciumento, Mula-sem-Cabeça matou o marido, picou-o e o comeu
“aos bocados": por artes ocultas que dominava, Getirana dava ca-
bo dos rebentos gerados ainda no ventre; Taturana se iniciou nos pra-
zeres do amor com o próprio pai, dele tendo um filho. A rainha do
conventículo terrível relata, com irônicas inflexões de linguagem (“Já
no ventre materno fui boa;/ Minha mãe, ao nascer, eu matei..”).,
como se tornou matricida, parricida, fratricida e assassina dos vá-
a maridos que, barba-azul de saias, foi acumulando numa vida
aos Bernardo Guimarães esgravata, portanto, os recônditos
. alia
ais tenebrosos . da cultura, pondo a nu a antropofagia. , o in
ql
fantici-
dio, o incesto,
O , 3
s
ae ir e pedaços do corpo dos cadávere — a mão do defunto
ga de a o “seco defunto”, a canela de frade ““que tinha/
d tá ” à
191]
cego, ao lombo de abade ou ao ''menino com tripas e tudo”
se frigiam na pancla, à “caveira/ com badalo de
casco de by ge
| que servia de campainha. A dança frenética,
o rodopio fatal e e
4 ginoso é alusão explícita à dança sabática, invocada num
is
Ê mero de tratados demonológicos e processos movidos cont
ra as ni
sumidas bruxas. Como a atestar o enraizamento,
intuído por Bilac
| do imaginário demonológico milenar em sertões brasileiros,
Bernardo
Guimarães acrescenta elementos dos ritos indígenas à sua
assembléia:
a fogueira c a bandurra, ou cabaça, centrais nas cerimônias tupis
ce exaustivamente registradas pelos cronistas e viajantes estrangeiros
1 desde o século xvi;º ““a dança do catereté”, praticada nas
regiões ru-
rais do Sudeste brasileiro, de origem duvidosa — africana para uns,
E indigena e lusitana para outros — mas, de qualquer forma, alheia
| | ao universo em que se constituiu o sabá;? a embigada, ou umbiga-
4 | da, quase sempre identificada às danças de roda africanas apesar de
| | presente também em manifestações portuguesas como o fandango
ind
192
a à c h e g a d a d a
e x ã o q u e p r e p a r
findo: infl a ca n a l h a , a s a l-
à “ n o j e n t
obrigando n d e n t e à e n x o f r e
“ a** rece
| deveria ter sai-
d e o n d e n u n c a
inoas e s s a s a l m a s
adiado «17 Para o infe r n o
|
|
o i n c o n s c i e n t e ,
pr
d a c u l t u r a e d
a d o s O S p e s a d e l os d í g i o s ,
a vez re c a l c d e h |
o r r end o| s p r o
o l i aa;/ d e s s a n o i t e
asquer o s a f “
o € i m u n e a o s f a n-
E c a l d e p u r e z a , | etere
fície o sonho 1d e s e m me do/ L i n d a
aflora à super v í c i o : “ P a s s e a ndo sozinha
ra sm as da c a r n e e do
m a v a d e a m o r e s”.
virgem cis
o m O m u n d o f a n t á s t ico
a n a l o g i a m ai s e v i d e nte c
Apresentando i tiçar i a fo i re p r e s e n t a d a c o m
i m o B o s c h , o n d e a f e
e místico de Jerôn sal qu e, c a v a l g a n d o u m p e l x e -
mb re -s e, po r e x e m p l o , o ca
frequência — le T e n t a ç õ e s dto Antão
e s a n
a b á n u m a d a s
voador, se desloca para O s i r o n i a e t r a g é d i a pr e-
t e n s ã o e n t r e
existentes no Museu do Prado —, à i n d a o t r a t a m e n to
i m a r ã e s l e m b r a a
sente no poema de Bernardo Gu B o s c h p i n -
o C a r o B a r o j a a s s i n a l a q u e “
dado ao tema por Goya. Juli d o r u e F i l i pe |
c o m o b j e t i v o pi o € m o r a l i z a q
tava para censurar, € foi
p r o u su as te la s; m a i s ta rd e, a c o n t e m p l a ç ã o d a s f a n t a s i a s d o
Il c o m
t a r i a a n t e s s a r c a s m o s fr io s e í m p i o s ” . G o y a v i v eu
artista genial susci í r i t o |
quando o h u m o r se t o r n a r a a r m a d o e s p
sea dos, caçoar |
D N A c o m o t a n t o s i l u s t r a
dica em — |
a e i x a n d o u m a o b r a p o d e r o s a q u e “ I mS-
RÉ nÃO o tiso. e À Do d A a a a
a
volt c o m + A n a p o n e a n u i g R N
CRE
as oitenta águas-fortes que int TEA a sdedo 1 s.
e g r a m a sé ri e d o s C a p r i c h o (f ig
é 12 entre as pp. 68 e 69), e s e n ç a n í t i d a da
ia
feitiçar em vi nt e de l A ar o B a r o j a d e t e c t o u a p r
G o y a é s e m d ú v i d a Hi - d a cr ít ic a i l u s t r a d a às t r a d i ç õ es dE
populares, Desde O a
UE
LR
e s é c u l o xv it , fí si co s e m a t e m á t i c o s d e -
monstraram, graças ao S a d e
e r i m e n t a l , a i r r e a l i d a d e d o s * f a s
05” da bruxaria, expli método exp s ão ER
buídos à esfera sobrenat, uraalnd:o sumbusittiotusiu-dsoes, fnea nbôemleanofórmatuléa endte Robeedrt |
Mandro
4, UMa “oni ça so br en at ur al de De us e do Di ab o po r |
UM a vis ão ma is rac i cipr
on esenda existência”, restituiu-se ao Home pe
al
Natureza “ym
l à a u t o n o m i a qu e a c o n f u s ã o a n t e r i o r m e n t e admiti 1a.
Chtre natura
iva i m p o s s í v e l ” . ! 4 O d i s c u r s o m é
Tansfo
rma t a i s ,
| “a
abrindo
e m d o e n t e s m e n
àvia para q uca tea ca possessa
,
intelectuais como Herder e os Irmãos Grimm se em
peração do universo popular europeu, encontra-se
igualment
os ilustrados a tendência a ridicularizar as tradições popul € Entre
as bruxas, como disse Lynn Thorndike, não tinham bibliotes OTais.
que persistem nesse tipo de crença são chamados de ns | Os
“incultos”, ou referidos como “essas pobres pessoas” ES
Um marco na ndicularização burlesca da bruxari
a e dos ma.
nuais demonológicos é o livro do abade Bordelon, Histoire des
ima
de Leo)
ginations extravagantes de monsieur Oufle (anagrama
publicado em 1710 e que, segundo Baroja, estaria para a demonol
e
seguições em massa.
Durante o século xIx, passados duzentos anos do pico de per-
seguição às bruxas, quando o terror que por tanto tempo paralisara
as populações européias refluíra para o universo infantil, o sabá se
tornou tema constante da literatura. Victor Hugo numa balada fa-
mosa da década de 1820 — a Balada xrv —, Théophile Gautier em
““Albertus ou "'âme et le péché”” marcam a primeira e a segunda meta-
de do Oitocentos, seguindo a seara aberta pela “Noite de Walpurgis”
de Goethe e modulando, em tons diversos, a negatividade comum àâ0s
românticos.!? Juntamente com outros membros do romantismo pau-
listano, Bernardo Guimarães se atrela, portanto, a uma tradição; cà-
194
a r a m à F a -
g
- u
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ovens que fre p e l o s
.
2 6 0 , o p p e n d o r
e 1 5 0 4 ;
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r g i a d o s d u e n d e s ” ,
r ê n c i a 1 i s a ; « O a d a , SO DI
com a T é e , d e f o r m a c i f r
i c e i r a s , d i s c o r r c a r o à
D i d a s r e i t s t o , i g u a l me n t e
nimalidaç e a, de r e
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O S e s t e r e ó t i p o s
em revista
s profunde-
t a l v e z , t a l c e -
xas, deplorando,
o m u m
———
fam i l i a r i d a d e c
d o s d u e n -
em
“ A o r g i a
de fadas. Em
a a m b i g u i d a d e e n t r e
jador é
195
NOTAS
A:
Primeira parte — MAC RODEMONOLOGT
ME
O DIABO NAS MALHAS DO ANTIGO REGI
Uma primeira versão deste trabalho foi apresentada na Reunião Anual da So-
ciedade Brasileira para o Progresso da Ciência (sspc), São Paulo, 17/ 7/92. Uma se-
cunda versão, bem diferente da primeira, foi publicada pela revista Tempo Brasileiro,
nº 110, 1992. Estão aqui incorporadas partes de um artigo escrito em 1988, apresen-
tado inicialmente como conferência na Universidade de Southampton em dezembro
desse ano e posteriormente publicado em Portuguese Studies, vol. 6, 1990, pp. 85-93.
O presente estudo, na forma como se encontra, é bem mais amplo do que as versões
anteriores, e inédito; para esta versão definitiva, foram imprescindíveis a leitura e su-
gestões feitas por Ronaldo Vainfas e Maria Manuela Carneiro da Cunha.
Par a Gil Vic ent e, ver “Au to das fad as” , in Obr as, ed. Men des dos Remé-
(1)
a Coimbra, França Amado, 1912, t. 11, pp. 293-5. Luís de Camões, Os lusíadas,
anto v, Belo Horizonte, Itatiaia/Edusp, 1980, pp. 192-3.
miados a Zurara, ver Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, ed.
“grs eres, Porto, Portucalense Editora, 1967, 4 vols., p. 368. Para João de Bar-
PE primeira década, 4º ed. rev. e pref. Antonio Baião, Lisboa, Imprensa
asa da Moeda, reimpr. 1988, Livro 1, cap. 2, p. 14.
gi Pero de Góis, ver Raimundo Faoro, Os donos do poder, 2º ed., Porto
Mente e aa vol. b p. 143. Para a citação de d. João 111, referente ao Regi-
(or g.) , Car tas dos pri mei ros jes uít as do Bras il,
São Paulo, Co ver Serafim Leite, 8. |. Paulo, 1954, t. 1, p. 5.
(4) Ver a do 1v Centenário da Cidade de São
in Brian des Stuart Clark, “The scientific status of demonology” :
University “a co Occult & scientific mentalities in the Renaissance, Cambridge
ais 984 , pp. 351- 74. Nas pág ina s 352 -3: ““[. ..] tho se ind ivi dual scien-
tists who c
with dem ono log y wit hou t any sense of incongruity
Of Of the com a Nifo, Gio
vanni dAtiania pç of their criteria of rational inquiry: from Agostino
in six tee nth -ce ntu ry Ital y to Hen ry Mor e, Jo-
Seph Glanvill é dp Andrea Cesalpino
and Robert Boyle in later seventeenth-century England. Others noi
197
Primarilx
“Oncerr "
lopv w Cd with
Si Without int llectual “ÉtUral philosophy
the Dutchman Aid embarrassmen: a Nevertheless Combined
Wwer ci
lan many Physicians rea a O
pethard (Hyperius)
ed 1
n Jean B E It With demono
Hovanni Bai «
Who made SPeci N perha Ps the |
rt D ânea
o.
he Swiss Thom “2 Codronch; al studies of Best group here
:
+ and the m
Si
tl.
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ad És.
artigo extremamente
ção nas universidades erEa
udito co ii
a sobre demonologia prot
ton, and society (c. 1520-c 16
Modern Eu= ropean :wite NDe =30)"se+ nmn“ pm
se faca
engt Ãpersa
nkarloo e Gustav Hennin. gsen, Early
1990, pp. 48-81. peripheries, Oxford, Clarendon Press,
(5) Para as implic ti
lhante ensaio de riEa re
a ,a vi and ; ra
witche aftr
”, in Wit
ama retigion, the politics of popular belief, Oxford, Basil Blackwell, 1985. Es
Stuart Clar k, “King James's Daemonologie: witcheraft and king
ship”, in Sidney Anglo
(ed.), Fhe damned art: essays in the literature of witchc
raft, Londres, 1977, pp. 156-81.
Para Bodin, ver Jean Bodin. Atas do Colóquio Interdisci
plinar de Angers (24-27 maio
19584), Angers, 1985. Ver também Christopher Baxter, “Jean Bodin's De la Démono-
manie des sorciers: the logic of persecution”, in Sidney Anglo, op. cit., pp. 76-105.
Na página 102: **In political and religious theory alike, Bodin sought for a synthesi-
sing principle above the conflicts which had torn his country apart. He found it, in
the République, in the concept of sovereignty. He found it, in the Démonomanie and
in the FHreptaplomeres, in the strict monotheism of his system of daemonic Judaism”
ica quan to na relig iosa, Bodin busco u um princ ípio unifi cador
[Tanto na teoria polít
confl itos que tinh am destr oçado seu país. Ele O encontrou,
que pairasse aci ma dos si
no conce ito de sober ania. Ele 0 encon trou, na DR
na République, uso
estri to do seu siste ma de e
Heptaplomeres, no monoteísmo
a Démo noma nie, o E cf cas ato |
ra Nicole Jacques-Chaquin, g ticas «
n t e b e m n a l i n h a
INSCTEV itame a le i s o b r e Os E
| s o l u t o , i m p õ e a seu ar b í t r i o
nte e ab en ce so
“Le desDieumiradeclesla
o m a n i e es t bi
] Démono
dp
sem aentanto
no
dispõe
se sujeitar à ela . Or a: son
ul
t
gu
po
ée
ss
.
ib le
Ce
, mai
que
s
nou
qui
s
peu
noi
l
no n se ul em en t tou s = om
verain abso lu , à qui i q u ' i l a
n g e r la lo |
à tout i, nstant de cha
s s i d i v i n q u e J ' o r d r e.
| do ne tout au ns |' in st ru me
monsadésordre
d es
inai s, il| nen'en n reste pas crmo an !o absoluto, & quem não apenas
voirs extraordinaire
mor omanie é exatamente
198
es como é cabível alterar, a cada momento, a lei que ele próprio
o s O S m ilagr o a ordem . Satã
veis r o d
hamamos desordem é porta nto tão divino quant
qu. O que e sem deixar de ser, Com 1Sso, O ins-
spo r de poder es extra ordin ários
i t o b e m d i
pode mu q], Nicole Jacques-Chaquin, “Nynauld, Bodin et les autres: les en-
rumento de au , hose textuelle”, in De /a lycanthropie — transformation et exta-
jeux d une a édition critique augmentée d'études sur les Iycanthropes et
se des sorcie «aa Frénésie Éditions, 1990, p. 22. Pensando ainda na ambigiil-
les loups-garo to teóric o do Estad o e da economia na) politica, Trevor-Roper
in, demonólogo,
dade de Bod a frase: “In those years of apparent ilumination there was at least
escreveu uma bel t”
of the sky in which darkness was positively gaining at the expense of ligh
E o de aparente iluminação, as trevas estavam à ganhar terreno sobre a luz
um quar to do céu] , H. Tre vor -Ro per , The Eur ope an witch-craze of
ia Ta
Sev ent een th Cent urie s, Lond res, Pen gui n, 1988, p. 8 [trad. port.:
the Sixteenth and
Religião, reforma e transformação social, Lisboa, Presença/Martins Fontes, 1972, p.
73]. Para Hélene Merlin, a posição singular de Bodin se devia ao fato de ahar, para-
doxalmente, duas perspectivas em uma: à visão voluntarista de Deus e do Diabo: “Aussi
peut-il à la fois élaborer, sur le modêle divin, la théorie de la souveraineté et de I'ab-
solutisme royal, et attribuer à Satan un pouvoir exorbitant"” (p. 70) [Com base no
modelo divino, ele pôde elaborar, simultaneamente, a teoria da soberania e do abso-
lutismo real, e atribuir a Satã um poder exorbitante]. Hélêne Merlin afirma ainda
que a política impõe sua existência, ao lado do direito e da teologia, a partir das guerras
de Religião, e “nasce sob o signo do demoníaco" (p. 71), “Le devenir démoniaque
du corps politique sous les guerres de Religion", Frénésie, Sorcellenes, nº 9, 1990,
pp. 57-75.
(6) Baseio-me aqui no estudo de Maria Tausiet Carlés, “Le sabbat dans les trai-
tés espagnols sur la superstition et la sorcellerie aux xvi* et xvnº siêcles”, Colóquio
Internacional Le sabbat des sorciers en Europe, Saint-Cloud, 4-7/11/92, texto mimeo.
esperando a publicação das atas. A autora considera como mais diretamente ligados
à problemática demonológica os seguintes tratados: Martín de Andosilla, De Supers-
titionibus, Lyon, 1510; Martin de Castafiega, Tratado muy sotil y bien fundado de
las superstitiones y hechicerias Y vanos conjuros y abusiones y otras cosas al caso
toc anies y de la possibilidad y remedio dellas, Logrono, 1529; Alonso de Castro, De
Sortilegiis ei maleficiis et eorumque punitione, Lyon, 1558; Pedro Ciruelo, Reprov
a-
mi de las supersticiones Y hechicerias, Salamanca, 1538; Martín
del Rio, Disquisi-
Eng pi ig 1599; Benito Perer, Adversus fallaces et superstitiosas
aii HS 5 E Ra de observatione somniorum et de divinatione astrologica, In-
iai o E a aa ae Lanuza, Combate de demonios y patrocinio de angeles, San
odiar se : TR Navarro, Tribunal de supersticion ladina, Huesca, 1632;
sig a e ? Ibera y Andrada, Magia natural v artificial, 1632 (obra da qual
quibiisia tuto); Francisco Torreblanca Villalpando, Epitomes delictorum in
Perta, vel oculta invocatio daemonis interventi, con su Defensa en favor de
los libros catolicos de la Magia,
Sevilla, 1618.
(7) Maria Tausiet Carlés, op. cit., p.
3.
sã E Certeau, “Travel narratives of the French to Brazil; Sixteenth to
(9) Gini cs , Representations, “The New World”, nº 33, 1991, pp. 221-6€e 225.
mas cultura; E nciani, O maravilhoso como critério de diferenciação entre siste-
1, nº 21, 19*90-» Revista Brasileira de História, São Paulo, ANpuH/Marco Zero, vol. |
1, p. 22,
199
. Pin
re de Lan cre' A Fr én ésio E ii des Mauvais d s
anges et des a ESjê
A 1990, pp. 23-31. — ESychiatr le — P Sychanalyse Sorcelór E 7
Ambivalent conquests — Ma
ISI7-ASTO, Cambridge Univer ya and Spaniards in Yucatan,
sity Press, 1991, pp. 24 ss. Nelas, a
Os espanhóis viram no Yucatán apenas autora mostra como
os aspectos da vida nativa que lhes interessa-
vam, deixando de registrar ou captar a porção
menos visível ou evidente das relações
de autoridade.
(15) “The European experience profoundly influenced its Andean counterpart:
the ideology of the demon hunters in Europe shaped the ideology of the extirpators
in the New World; and, as in Europe, the trials to eliminate idol worshippers had re
effect on the social and religious life of those groups caught in the E e
europé ia influe nciou profun dament e o seu ae ivo pio bro E
[A experiência
logia dos caçadores de demônios na Europa moldou a ideologia ts | a AEE
Novo Mundo; e, como na Europa, os processos voltados para a eliminaç Ividos na
fundos sobre a vida religiosa e social dos grupos envo
latras teve efeitos pro d witches — gender ideologies
a às bruxas], Irene Silverblatt, Moon, sun an 59. Serge
man ia! Peru, Princeton University Press, 1987, p. | ia!
and class in Inca and colonia !“ trd à ação
relação entre ido
SER e
lat demonol
ria
savnit ogia:
fait sque “Mais
tradui-
tn clei mostrou sensível
idolátrie puis celle-ci en sorcellerie a
VEglisesen serait encore tenue 4 Ev ae
ce les croyances et les pique do diabolique récupére obsun
poa gmum
fur et à mesure que exp dr stianisa tion à son tour suscite
monia; que.e Au Festations traditionelles, la christ coidentale.
plupart des mam es
200
ge ne s p r é c ê d e m e e n t év oq uécs,
+ avec les expériences indi tr am e” ” [ M a s a Igreja
consti tu e en co re la
ja divinité en cr en ças €
ss e a p e n a s tr ad uz id o as
Dad zo defensiva caso tive e m o n í a c a. Á
ma em fe it iç ar ia d
nd e a seguir, esta últi rt e da s ma -
d a m e n t e , à ma io r pa
ias ses bólica recupera, obstina go ria inédita
aç ão , po r su a VE Z, su sc it a um a ca te
“ cristianiz
a explicaçã
medida aque Eae ea g i a en ta l. El as nã o té m relação
nifestaç õe s tr ad id o et e s q u e m a s da d e m o n o l o oc id
a d a s an te ri or me nt e, m e s m o q u a n d o a tr am a co n-
de aparições Cê a Apenas evoc
di vi nd ad e) . Ve r “ V i s i o n s et ch ri s-
p e a ai a f r o n t a m e nto com à
com às a n n , Vi si on s in di en nes, vi-
ch el S a l l m
u r a mexicaine”, «n Jean Mi . 117-49 e 123.
tianisation: / pj de Vinc on sc ie nt , Pa ri s, pu r, 19 92 , pp
h a r o q u es: l e s
go de Pi er re R a g o n , “ D é m o n o l átrie et
sio n s
me no interessantíssimo arti si êc le ”, Revue
li sa ti on m e x i c a i n e au xv i*
es sç e recherches sur la civi
n t e m p o r a i n e , t. XX XY , abr.-jun . 1988, pp. 163-81, particu-
démono 08” pe et C o
éi as do au to r so br e as re la çõ es en tre de-
a a “Cudiozasméite muitas das id ra ta nt o, ver
n c i d e m c o m as mi nh as . Pa
ricanas coi
gas Sê ap práticas religiosas ame
ab o e a te rr a de Sa nt a Cr uz € ai nd a ““The devil in Brazilian history”,
olá qudido O di
3.
Portuguese Studies, vol. 6, 1990, pp. 85-9 | |
. |
(17) Pierre Ragon, op. Cit., P. 175 a” , in
“T he di ff us io n of ma gi c in co lo ni al Am er ic
(18) Ver Gustav Henningsen, V. Jo-
ess ays in ho no ur of Nie ls St ee ns ga ar d, ed. Jens Christian
Clashes of culture: ss, 1992,
g Pet ers en e He nr ik St ev ns bo rg , Od en se Un iv er si ty Pre
hansen, Erling Ladewi
. Ser ge Gr uz in sk i ta mb ém faz a rel açã o ent re Ol mo s e Cas tafiega: “il est
pp. 160-78
osition d'un traité
significatif que "ouvrage de Olmos ait été la pure et simple transp
de Fray Martín de Castaega consacré à la sorcellerie espagnole. Un livre auquel le
missionaire apporta peut-être sa collaboration quand en 1527 1l participait à la chasse
aux sorciers en Pays basque"” [é significativo que a obra de Olmos não tenha sido se-
não a transposição pura e simples de um tratado de fray Martín de Castafiega dedica-
do à feitiçaria espanhola, livro com o qual o missionário talvez tenha colaborado quando
participava, em 1527, da caça às bruxas no País Basco]. Ver ““Visions et christianisa-
ton: Vexpérience mexicaine””, in Jean-Michel Sallmann, op. cit., p. 123.
Ee a qi Odegardo, Los errores y supersticiones de los indios, in Co-
Gado iris id Ro Pure referentes a la historia del Perú, 2º sér., vol. 3, Lima,
e peito abine MacCormack, ''Demons, imagination and the In-
» Aepresentations, “The New World”, 1991, pp. 121-46, particularmente p. 136
(20) Jean de e Lé Lery, Histoi
in reima?d'un voyage faict dans la terre du Brésil, ed. Paul
Gaff
dia Alphonse Lemerre Éditeur, 1880, 2 vols., vol. 2, p. 71. Examino mais A
21) E EA relação no capítulo 8 deste trabalho. di
Jean-Mich Pud in
Gruzinski, “Visions et christianisation: lexpérience mexicaine”, E Aa
(chel Salimann, op. cit., p. 132 e
(22) PierreRagon, op. ci És D 170) a w CDA A
23 E!
ção era sobre a conversão do gentio, ed. Serafim Leite, Lisboa, Edi-
TE
(24) Yves dPEvr Iv Centenário da Fundação de São Paulo, 1954, p. 16. pat o E Sia
nl»
lé- Clastres, Paris Pa cux, Voyage au Nord du Brésil fait en 1613 et 1614, ed. Hélêne
Ja
fausses Prophéties já 1985, cap. “Comme le diable parle aux sorciers du Br sil, leur :
(25) Idem. » Idoles et sacrifices”, pp. 221 ss. - a Au EA RS
: E . = -
mn
LE
autres cérémonies diaboliques a : quées
Ibidem,
par les Sorciers du Brésil” po
l E aa =ip Sad o
E ” Pa TE
le.
o LIL “As
ae am Ds aee
ai O
à
: pt
E; tm -
[ii qm E E
201
(26) Carta do padre Azpiúcueta Navarro aos
Jesuítas de Coi
in padre Serafim Lente, Momumenta Brasiliae, Roma,
E Mbra, 287 3/
cietatis Jesu, 1956, vols. | a 4, p. 178.
(27) Apud 3. T. Toríbio Medi
na, Historia del Tribuna!
Inquisición de Lima (1569-1820), Sa del Santo Oficio
tedio expedido contra ntiago, Imprenta Gutemberg, 1887
astrólogos, judiciários , tm, de la
e feiticeiros),
(28) Miguel de Estete, “ Relación "Po
de la
bros y documentos referentes a la historia deiconq uista del Perú”, in Colección de
Perú, 2º sér., vol. 8, Lima, 1928 j.
3-9, Ver a respeito Sabine MacCo
Presentatíons, “The Nem World”,rmack, “Demons, imagination and Lhe Incas” E
1991, pp, 121-46, especialmente pp
(29) João de Barros, Ásia — do
s feitos que os Portugueses fize
. 129:30.
mento * conquista dos mare ram no descobri.
s e terras do Oriente — Prim
pref. Amonio Baião conforme eira década, 4º cd. rey, e
ed. princeps, Lisboa, Imprensa
da, I98E, Livro vw, “C Nacional/Casa da Moe.
| um temporal na paragem do Ca.
e terra a que comument
e chama.
- Robert Southey estranha
-
vos, da trad ição relativa a uma ilha encant tre vários po-
ad a chamada Brasil, defend
nha tese de um nome em busca de endo a estra-
um lugar: “Era pois natural que
um pais à que se pudesse aplicar, se apenas aparecesse
fixasse n ele este nome, que até entã
* INSETIO, E daqui provavelmente o andava vago
veio o ter ele prevalecido sobre a deno
cial, e até samiificada pela sanção minação ofi-
religiosa”, Robert Southey, Histór
Belo Horizonte. Hatizia; São Pa ia do Brasil, trad.,
ulo, Edus P, 1981, vol. 1, pp. 878,
(30) “A historiografia brasileira nota 27,
se im cia realmente com a obra de Pero de
galhães Gândavo”, José Honóri Ma-
o Rodri gues, História da história do Bras
pare — Historiografia colonial, il, Primeira
São Paulo, Nacional, 1979, p. 426
,
(31) Pero de Magalhães Gândavo, História da provín
cia Santa Cruz, Rio de Ja-
netro, Edição do Anuário do Bra
sil, s. d., pp. 79-R0,
(32) Frei Vicente do Salvador, História do Bra
sil — 1500-1627, 3º ed, rev. Ca-
pistrano de Abreu e Rodolfo Uarcia, São Paulo, s. d,, p. 15,
Gândavo € frei Vicente
parecem ser os únicos “historiadores” dos
primeiros tempos coloniais a abraçarem
à tradição. Gabriel Soares de Souza, tão afeito
ao maravilhoso nas descrições da flo-
ra, dos bichos, dos monstros, mostra-se, ao tra
tar do descobrimento do Brasil, emi-
nentemente pragmático, Ver Notícia do Brasil
, introd., coment. e notas prof. Pirajá
da Silva, São Paulo, Martins, 5. d., PD: 65: "Esta terra
se descobriu aos 25 [sic] dias
do mês de abril de 1500 anos por Pedro Álv
ares Cabral, que neste tempo ia por capitã
mor para a Índia por mandado de El-Rei D, Manuel, o»
em cujo nome tomou posse
desta província , onde agora é a capitania do Por
to Seguro, no lugar onde já esteve
a vila de Santa Cruz, que ass im se chamou por se aqui arvorar uma muito gra
Por mandado de Pedro Álvares Cabral, ao pé da qual nde,
3 de maio, uma solene missa com muita festa, pelo mandou dizer, em seu dia, à
qual respeito se chama a vila do
mesmo nome, e a província por muitos anos
foi nomeada por de Santa Cruz [...]".
Mero registro de fatos, nenhum
a alusão ao pau-brasil infernal.
(33) Rocha Pita é lacônico, mas atesta conhecimento da
te foi o primeiro descobrimento, este o pri referida tradição: “Es-
meiro nome desta região, que depois esq
ue-
202
e —— |
e s p ú c i o , € u l t i m a men-
Amer ico V |
Tica, por
Ameri
i c a por-
Sc chamou H i s t ó r i a d a A m é r
ti
ítulo (ão
supe r i o r ,
de br as as , q u e p r oduz”,
a, 1880,
o
lv
á
d d
au v e r m e l h o, ou co
Franci s c o A r t u r da Si
ai sa Tio t a P r o-
a a S a s t á C r u z n e s
a rev. c anot.
é mais
J
enfático: “Não foi -
menos ve nerad
gu e
do pelo capitão Pedro Álvares Cab ral foi descoberto este Esta-
O Peregrino
do Bra sil , quando pe acompanhado de muitos Portugueses saltaram em
víncia
do no ano 1500. “atoSeguro, por recon
demaram hecer ali o abrigo de seus pagiores traba-
(a qual cha Porto Seg es do mar) aos três dias do mês de Maio,
lhos, depois
“O aferidRoT o
Décio de Almeida Prado, “O teatro como instrumento de catequese””, Nossa Améri-
âmicas, de tanta
vivaci
em POSIÇÃO tão Ss provenientes do Inferno,
estática —
Na do teatro Oc bos sentados de toda a histó-
idental”.
(37) Alonso de
Zorita, Hi
nº t- 59, fis. 245-60,
Apud
de las cosas de Nueva Espana, ed. Angel Maria Garibay K Méxi 0, Porria S.A
"hj
(40) : '
Up. Cit, Pp 166.
Pº ara tal infleao
xão no discurso
jesuítico, ver Adriana Romeiro, “Ty ,
caminhos levam ao céu”, dissertação de mestrado,
irem-Unicamp, 1991 (8 05
cavadores de almas”, passim, ; + Ap À, “Os
e
(41) Ragon, op. cit., pp. 170 ss. Stuart Clark, Inversion, must
ning of mitcheraft?, pp. 98127. ule and the mea
(42) Diego DurTAM, án, His
é toria de las Indias de Nuevova Esp
E ana e isla 1
me, ed, Angel Maria Garibay K., México, Porrúa S. A., 1967,2
4tum toda esta parte reterente àE inversão e à desordem, v ols,, vol, a
|
vali-me da análise | + De 236,
de Ragon, op. cit., p. 174. inteligente
(45) Para à carta de Luís da Grã, ver padre Serafim Leit
e (org), Nov
jesuíticas, p. 163. Padre Fernão Cardim, Tratados da terra e gente do
Brasil, e
dão Paulo, Nacional/mec, 1978, pp. 185-6. A simbol
ogia do fogo ocupa a | É,
trai na feitiçaria: ver Nicole Jacques-Chaquin, ““F
eux sorciers — quelanes véia
sur Vimaginaire démonologique (xvº-xvn* siêcies)", Terrain,
nº 19, out, 1992, pp aê
+
204
n e M a c C o r m a c k , Op : cit,
go n, O P ai t..! é Sab i
Os-m e e m Ra alhos de Ruiz
(50) Base io ci t, Pp . 19 1. 2. Os tr ab
ci to Se rg e G r uzinski, op. m
(51) Ver & r e s p
p e c t i v i am en te Tr at ad o de las su pe rsticiones Y cos
i n t o d e l a S e r na, res
ó nc J a r € a n u a l d e m i n i s t r os de
de Alare u e n t r e l o s i n d i o s . ( 1629) e M
r o s R é m tlicas q h o y viven e rp ac ió n de el as (1 65 6) , não foram
qun b
en to de sus idolatrias Y ex ti
€ 4 co no ci mi he z de Agui-
o s p a r a me no s im po rt an te s de Sa nc
md i éc ul o xv H; Já 05 trabalhos
os
publicados n re € Ricardo Villavicencio
fo ra m ma is Fe li ze s: re sp ectivamente
o de Ba ls al ob de ta s id ol at rí as...
jar, G O N A
ri, 1619), Rela ct ón au té nt ic a
ri do lo ru m cu lt or es (M ad
ntr as .. . (Pue-
Informe co L u z Y método de confesar id ól at ra s y de st ie rr o de id ol at ri
6 5 6 ) ,
(México, 1
bla, 2) Relação etnográfica de Bernardino de Sahagún sobre a degeneração dain
pe la de st ru iç ão de su as id ol at ri as ”,
ectplina € dos € ystumes indígenas causada .
discipa” ( o r g . ) , OP. ClL, “pp. 217-24, citações à página 218. |
Paul o S u U e s s
R i c a r d , Op . ch t. , P. 105.
(53) a t á n , a p u d I n g a C l e n d i n n en,
de L a n d a , R e l a c i ó n de la s c o sas de Yuc
(54) Diego s the se books which were
fato, a au to ra co me nt a: “f. .J it wa
op. cit., PD. 70. Sobre o of va nd al is m wh ic h mu st have been
friars: an act
later systematically destroyed by the the essential horror of
h is I suppose
monstruously unintelligible to its victims, whic en te des -
ros qu e de po is fo ra m si st em at ic am
vandalism”, p. 134 [ [...] são esses 05 liv mente inin=
ato de va nd al is mo que dev e ter sido monstruosa
(ruídos pelos frades; um ial do vandalismo).
qu e é, a me u ver , O ho rr or ess enc
telipível para suas vítimas, o
(55) Ver Gruzinski, Op. Cit., Pp. 235.
(56) Inga Clendinnen, op. cit., p. 80.
) Re me to mai s um a vez ao est udo bri lha nte e sut il de Ing a Clendinnen, op.
(57
cit., p. 77 e passim.
(58) Apud Duviols, op. cit., p. 35.
(59) Ricard, op. cit., p. 359.
(60) Serge Gruzinski, op. cit.
(61) Nancy Farris, Maya society under colonial rule — the collective enterprise
of survival, Princeton University Press, 1984, p. 286.
(62) Serge Gruzinski, op. cit., p. 241.
(63) Irene Silverblatt, op. cit., p. 195. A citação anterior se encontra à página 173.
(64) Serge Gruzinski, Op. cit., p. 215.
| (65) “Soustraite en partie au contrôle des autorités ecclésiastiques, la fabrica-
tion d'images chrétiennes, de peintures, de statuettes, d'ex-voto remplit Iunivers in-
digêne de représentations qui scandalisêrent fréquemment le clergé. En 1585 des voix
demandêrent au nº Concile mexicain d'interdire la figuration des démons et des ani-
maux au côté des saints car les Indiens les adoraient 'comme auparavant”. En 1616
un prêtre s'en prit aux 'statues du Christ, aux images peintes sur bois ou sur papier
Sen; les factures étaient si laides et d'allure si vilaine qu'elles rassemblaient davanta-
E sb pantins, à des gribouillages ou à une autre chose ridicule'* [Parcialmente sub-
ga ao controle das autoridades eclesiásticas, a fabricação de imagens cristãs, de
a Ro E ig de ex-votos preenche o universo indígena de representações
cid pn o clero. Em 1585 ergueram-se vozes pedindo ao mt Con-
doidas q se cê a representação eutatisa de demônios e de animais ao
COLE RR x a n e os adoravam como outrora”. Em 1616, um padre
Ccucda Eana as e Cristo, imagens pintadas em madeira ou papel cuja
ntujas dorqie sui aspecto tão desagradável, que mais pareciam títeres ou ga-
oisa], Serge Gruzinski, op. cit., p. 243.
205
—
(66) Sérgio Buarque de Holanda, Visão do Paraiso, 2º
cd., São Pa |
nal, 1969. Guberto Freyre, Casa-grande& sentala, 9º ed., Rio de Jane Wo, Nacio.
pio, 1958, Para a polêmica | à
do jusnaturalismo, ver Lewis Hanke The ç TO, Jo
E Olym.
for justice tn the conquest Stru Í
of America, 2º ed,, Boston
a
/T or
1965. 3. 5. Silva Dias, “A revolução dos mitos e dos conc onto, Little Brown O
eitos"! ; Õ,
ci
+ Im Og des rimen.
T, Coimbra, Universidade de Coimbrcob
tos e a problemática cultural do século XV
E
pp. 1977-276. a, 1971
(664) Valho-me aqui da análise de Sophie Houdard, “ ronti
ére et altéritá
le Tableau de Vinconstance”, op. cit., p. 24. Ver também, dam es dans
ma autora, Les s
du diable — quatre discours sur la sorcellerie, Paris, Cerf, 1 99 ciences
2, cap. IY, Pp,
“Pierre de Lancre et le diable Protée”, 161216,
(67) Prerre de Lancre, Tableau de !inconstance des mauvai aus
anges et des dé.
mons ou 1d est amplement traité des s
orciers et de la sorcelterie, introd. crit e
Nicole Jacques-Chaquin, Paris, Aubier, 1982, Livro |, dis . notas
curso 11, “Qu'il ne se fau
etonner puisqu'il y a un si grand nombre de mauvai
s Anges, qu'il y ait tant de Magi.
ctens Devins et Sorciers, et pourquoi ceux du pay
s de Labourd ont tant d"inclination,
et courent si fort à cette abomination”, pp.
69-88 e 79. A associação entre os selva.
gens e os bruxos do Labourd me foi suge
rida pela leitura de Sophie Houdard, op.
CHt., p. 27: “On comprend micux aussi 'i
nterprétation sémantique que le conseiller
donne alors à "espace basque: les labourdins son
t comme les sauvages de |'ile espag-
nole; comparés, traduits en termes de sauvagerie
, ils forment un espace nettement au-
tre” [Compreende-se melhor também a interpreta
ção semântica que o conselheiro faz
então do espaço basco: os laburdinos são como os selvag
ens da ilha espanhola: com.
parados, traduzidos em termos de selvageria, form
am um espaço cuja natureza é cla.
oo MR
ramente outra).
(65) Utilizo propositalmente concepções diversas
que discorrem sobre um mes-
mo fenômeno, a constituição do sistema colonial
e das relações entre Europa e Amé-
a
206
o n s o f A m e r i idnidians
n
O Í v i s u a l d e pictii
t y
fter » the begin-
By !
the 1550s.would
especially a! “st EUFODE have rea-
430s and
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pes ; and 1620s' * canibais por volta de 1530
sons betwesã dação
3 “« dos ameríndios como selvagens cânive és d e toda
das represen Laç
do século xvi, leitoresCan cultos
Sá gorraios ? de 1550. No início
da 3 nati vas é E
a
das Américas, e especi at-
D
É CULTURAS E CRENÇAS — BRASIL,
é
207
| ivraria Hriguiet, 1930, pp, 35-50: à citação
está na página 45. e n
publica-se, em grafia modernizada, O interrogatório de E de Tube Páginas 46.50
o imterrogatório global, ver “Inquyrycam que ho vigairo desta via de 1550, Pary
vrou jumtamente com ho padre Manuell Collaço c Pero Anes Vcs
TOM VeBUro
sobre as heresias e blasfemeas que Pero do Campo Tourinho Governad Sh Ma EO
o Tt
õ
tanya dyzya e fazya contra Deus noso Sniior", Arquivo Nacional da or dh Capy.
Inquisição de Lisboa, proc,
di
voor
colonização portuguesa à do Brasil, Porto, Litografia Nacional
OTbo
-
q—
I9ZA, v vel
21-65. Falam ainda de Tourinho os
——
e
ral do Brasil antes de sua separação
e
1945, 11, pp. 204-T8. Sérgio Buarque de Holanda (org,), História geral da luiz
e
a introduction Crargantua pa ya sa bl en E
ve nt e os Pa-
t
ã
90 -H : C o m m e n
-L, Saulnic68, PP: de V e g l i s o N o s t r e pame
ao o es cloches s a l u d a d o res
= f e l i c e i r a s ,
e n c o u r t , c A b e r t a , 1987.
O peth | d e s tas
L i s b o a , a c u s a d a s
ai d XVI, 45 mais
+
e Gulonar P P 4 9 € 6),
des da H a h t a ,
a H a h i d , po 59 .
c onfissões d v o l t , P P
ei ra Vi si ta çã o
s , Obras « o m p l e t a s ,
m a da a u t o d u s f a d a
1 V i c e n t e p u r s a c h a n a s [B O- L, Ne
i(Umd) Ro e n t e ha p á g i
' r e sp e c t i v a m , p p . 299. MM).
õ e a H a h i a
d . Citaç t a ç ã o . D e n u n c i ações d
o p a p e l d a fel-
q V i s i po Bh P a r a
(18) printeíra in á r i o d a m a g i a ,
d a ris
n r t , o i m a g t r e m e t t e u s o
(19) francisco pe
the n c o
" p a s o r c i ó r e cl Ven
Ve l m a r i a J o s é Palla, n a l d e s S o c i ó t é s S a v a r n t o s, Auto
a t r o v i c entino, jo 1 1 5 º C ongrés Nati o
' ” ; t e s é u . M e o g en-
A l a r ot auj o u r d h
f o C o ll Vicente”, héatr e o f a p e c t a c l e s I i e
je thóati M s o u s t e t i t r e e e
04 8/4/1990, paE
ce ", 1991, PP: 165075. de Li sb oa , r e s poe
Cl H e n a t r na T o m b o , a v r r In qu isição
ional da Torre do
Ag e
(20) Arquivo Nac 7020,
givamente proc. no HI4 E no
por Francisco Hetheneonr!
u e s e s encontrados
(41) Mem dos porco
s sabá s p o r t u g
€ de sv io s c o m rela
al iá s, vá ri as p eculiaridades c o m
a p r e s e n t a n d o , t a m e n t e c o m ou tr as
para O séculoloXV!I = €0 de Margarida Lourenço, que, jun 1 007
cão no mode in ho s, O imaginá r i o da ma gi a, pp .
abo em Va l de € av al da
pantielras, ha Ler vom o di in ár io s da s Il has atlânt ic as , da co st a or ie nt al
gr os or ig
No século xvith, alguns Ne Cav a l i n
emh o s pa
Val de
ra cu lt ua r o diabo,
cambém se ceundam mpanhia
África e do Hail a de Santa € ru e, Sã o Pa ul o, € ' o
A, O di ab o e à te rr
Laura de Mello € SOUZ ad a O ca pí tu lo H de st e trabalho,
P +4 9, So br e es te local, ver at
das Letras, 19 80 ,
r a m b é m L e o n o r M a r t i n s , a Nóbrega e
s Cajada,
(22) Além de Maria Gonçalve çã o. .. D e n u n c l a ç ã e s de P e r nam»
a te ri am fa mi li ar es . Ve r P r i meira visita P r i m e tra
sua Filha Joan n u n e l a ções da Ba hl a, pp . 4 2 3 - 4 , €
a Vi si ta çã o. .. D e
Duo pp. TORO, Prlenetr pe ci fi ci da de da fe tt iç ar ia inglesa,
. 012. Para à es
Visitação. é onfissões da Halta, Pp p o p u l ar beliefs in
de ct ine of m a g i c — st ud ie s in
Hh om as , Re li gi on & th e ; R o b e r t
E Kalth a Wald n a o an d N i c h o l s o n , 19 80
ad ja d m mo ro d A o
t- Vrgi si o MInodc omnpaEruaro-
doHi : hCOUBE p ego (o ), Early e r
ve áperspectivare"! Hoen
mnph e t gl
i cna Da
p o n Pr es s, 19 93 , pp : 16 19 0,
ê À; e et eg ; xford, C l a r e n d
(33) Pr im ei ra i i
de P e r n a m b u c o , pp . 23 :0.
m a n d o de R ) | ! Ra lações traglcomedia de Calisto y Melibea, cd.
mia (2t4)udPoor Dana x o í ( Rn 80 , Gi l Vi ce nt e, O ve lh o
TR gba Ea , Edic io ne s Cá te dr a, 19
aid
s R O D R B I U A Ç Ã O de Je lt ic ei ra .m e-
DA S N A O f a da Ra s el le ur
diterrânic a e da d Ju lio Ca r o Na ro ja , Le s so rc iê re
Ga ll im an d. 19 72 po , ve r
monde, trad. Paris. 20 , Pa ra O es te re ót ip o do sa bá
e m a r d , pp. 116-
19 72 , ver OR: E Jav
man Cs oh, Los dem o n i o s fa mi li ar es de Bu
1978)
Burojpo trad MAE, AAUÍNAES BETA Ea
Robert Muchembled, “Lautre cô é | é a ré al it és cu lt ur el le s
: t an a q u
AMX vit eU vit sibeles"!, Ann : a Eonrodrs m nº 2, mar-abr, 1985; Carlo Ginz-
o es — E S C , an o dO ,
o un a de ci fr ag io ne de l s a b b a , T u r i m , Ei na ud i, ' 19 89 [t ra [trad Eis»
E Le tr as , 19 91 ].
de tr a n d o o sa ba , trad,
deito
São Pa
ul o, C o m p a n h i a da s
209
—
(25) No primeiro caso, trata-se do
s anseios de certa dona Lianor:
uma mulher de alcunha a Boca To n
rta, Primeira Visitação... Denunc
pp. 343 e 412. iaçõ
(26) Primeira Visitação... Denunc
iações da Bahia, p. 295.
(27) antT, Inquisição de Lisboa, proc
. nº 3382 (“
mulher parda casada com João da Cruz
Ourives nat
ra na da Bahia de todos os santos pa
rtes
desta cidade de Lisboa"),
(28) Segunda Visitação... Confissõ
es da Bahia, Pp. 447 e 448,
(29) “Imquyrycam que ho vigairo..'
, pp. 281 e 283 respectivame
(30) ant, Inquisição de Lisb nte.
oa, proc. nº 12 231. Apud
quisição portuguesa e a sociedade Sonia Siqueira, A In.
colonial, São Paulo, Ática, 1978,
p. 223,
a
210
e
o q u e d e c o n -
m a i s d e m a t i z d
tos
ri
'ima-
sation de l
mai
c olo ni
E
Gruzins ki, La j
-
gre carr le Mexique espagnago! — X poa
ds
d e n t a l i z ação em
d e staque à o c i
em q u e s e d á
Clendinnen,
-88
58-88)
BOTERO E O BRASIL (pp-
;MPÉRIO: GIOVANNI
+ POR FORA DO
(o Rowland - go
sem o concurso de Robert
poderia ser escri s. Rowland colocou-me em contato com ;
Este capítulo não de ofício e amigo
naldo Vainfas, colegas prasil; Vainfas auxiliou-me no a
shi
to às fontes utilizadas por Botero no tocante à a = aRs
parte das Relazion” a
a
nhamento da po ia da carta ânua de 1585. Cabe destacar ainda o aux LO
ferênci Iniciação Científica de um Projeto do tipo Laboratório
a iunto dO CNPq, coordenado por Ronaldo Vainf as odio: qua iai
Ap
Integrado de Pesquibsaminha 5 l u para disqu ete a parte das Re-
orientação, Rodrigo passou P del
relativa ao Brasil e auxili ou no cotejo entre as passa gens de Boter o aqui Ego
“ini
e Os jesuít as quinh entis tas. Apesa r, porta nto, deste capít ulo ser fruto da
Esc em res-
grupo, sou inteiramente
o do traba lho
enciouiNdá bolsa e de ter se beneficiad
es pelas idéias € pelo desenvolvimento da argumentação. Ê
cardeal Borro-
(1) “Minhas obrigações para com à benignidade do ilustrissimo
meu, meu senhor, são infinitas; mas entre as demais, não é de pequena importância
esta, que tendo-me Sua Senhoria Ilustríssima (movido pela piedade e zelo que tem
da glória e serviço de Deus) imposto que eu descrevesse o estado em que se encontra
hoje a religião cristã pelo mundo, proporcionou-me ocasião, para fazê-lo, de lançar
quase uma visão geral sobre a Europa, Ásia, África e o novo mundo, e às ilhas espa-
lhadas pelo Oceano «e pelo Mare Nostrum””, apud Federico Chabod, “Giovanni Bote-
ro”, in Escritos sobre el Renacimiento, trad., México, Fondo de Cultura Económica,
1990, p. 268, nota 179. A estadia romana parece ter sido fundamental para que Bote-
ro acumulasse informações acerca do Novo Mundo. Como procurarei mostrar, creio
ter sido então que leu as cartas jesuíticas enviadas do Brasil; mas é preciso lembrar
Presença/Martins Fontes bi
er a ; 1972 » PD. 39-40.
literaria"' de la aa a a
635.80. Ver também de Véloquence —
Ti cut de F'époque classique, Genebra,rhétDroroziq, ue1980
et “res
, pp.
Controriforma: contributo alla
Cultural histo
e secularizati pe 1934, p. 61, apud William 3
On OÍ society”, in 4 usab! j
€ 121, autor Es Berkeley/Los Angeles » University of ºCali Past — essays in European
às Observações sobre secularização. a opa Dans 990, pp. 112-28
21!
| (6) “Venice and the political
politi educatio 5».
op. cit., pp. 266-91 é 273, n of Europe”, in William J. Bouws
cd Enciclopedia cattolica, p. 1965 A
) Em
o Botero,
ETO, Chabod nota “ reconhecimento
| i do val
pq, inclusive perante às doutrinas consagradas pelos si do caperiênçia dos
oria”, Ver Federico Chabod, “Giovanni Botero”, op. cit eFra e StrES da sabe.
DE a p. 249 ,r tringant
dizE q quex no oceano, coincidem a experiência concreta do navegado e e Les
ue
ic a, na sua Co sm og ra ph ie un iv er se ll e, Th ev et , por ex em pl o, não se Cor ia cosmo-
graf
representa co-
= commóigraro diante de seu mapa, mas no seio dele: “Tout ce que
point és escoles de Paris, ou de quelle Je vous discours
recite, ne s'apprend ce soit des universi-
Europe, ains en la chaize d'un navire soubz'la le a
tez de 1
vor CSA Venho, ella Dinda
en est le Cadran et Bussole, tenans ordinairement VAs trolabe
Euclá feio ros io god E devant le cler du Soleil"!
não se aprende nas escolas de Paris, ou
outra unive do j d asa
em qualquer
o rsidade da uropa, mas na cátedra de um navio, na aula dos
; pena são o quadrante e a bússola, observando-se o astrolábio à luz do
sol], Frank Lestringant, Vatelier du cosmographe, Paris, Albin Michel, 1991, p, 31
Cosmografia e experiência andariam juntas, no século xvi: veja-se a própria defini-
ção de Leonardo Fioravanti, bolonhês, em 1564: “A cosmografia é uma ciência que
jamais homem nenhum pôde aprender ou conhecer senão por meio da experiência...”
spechio di scienza universale, Veneza, 1564, apud Frank Lestringant, op. cit., p. 35.
Lo
(9) C. Gioda, La vita e le opere di Giovanni Botero, Milão, 1894; este trabalho
e citado com f requência por Chabod, mas infelizmente não tive,
é muito importante
de consultá-lo; digo o mesmo acerca do trabalho de A.
até o momento, condições
universali” di G. Botero e te origine della statistiche e delta
Magnaghi, Le “Relazioni considerações de Cha-
no qual se baseiam muitas das
anthropogeografia, Turim, 1906, as sucessivas edições vindas
por Botero entre
bod. Para as modificações introduzidas de Giovanni Botero”, Op. Cil.,
“Apéndices
4 luz entre 1591 e 1596, ver F. Chabod,
pp. 329-30, nota 2. P- 277. “Também sucedia que, 30
Op. Cit.
(10) F. Chabod, “Giovanni Botero”, também o tom de seu discurso,
os caracteres das distintas fontes, variava
variarem sentido econômico e geográfico, ojá,
por Ludovico Guicciardini, pleno de cá-
ora, guiado aparição do demônio, pretendia
de Acosta, em cores diversas pela
seguindo J osé
A mesma admiração fã E
com laços os pobres índios da América. e eci ps:
car conceitos de barb
que o havia induzido a conferir outro valor aos E Da
retorno das doutrinas tradicionais,
freg ijência a um
dava lugar com muitas Vezes, & VOCAU O
por causo das quais,
cias literárias e eruditas, c a d o e x c l u s i v a m e n t e re ligio
a q u e s tão
ir do s i g n i f i 2 9 8 - 9 . E s t
voltava a se revest “ G i o v an n i B o t e r o , op . ci t. , pp.
t e r o , ver
édia" , C h a b o d , da o b r a d e B o
desde a Idade M t e . Ainda s o b r e o d e f e i t u o s o
r e t o m a d a a d i a n
da barbárie será nese divise in quatro par-
Be
Chabod, pp. 300-1. ” di G i o v a n n i B o tero
is ta mp at e, € co rrette, in Ve-
(11) Le “Relazioni universaliime Tavole, novamente os RD
gu re , & du e co piosisst n l i c e n z a d e S u pt
ti, con le Fi
n g e l i e r i , M p C v I I , co
, A p r e s s o A g o s tino A
netia o p . Cl l; ; P. “774 e n a v i d a t r a n q uila,
12) Gijovanni B
j o t e r o ,
v a n ã p r u d ênci a
u d e ” se a s s e n t a f e r a d e q u i e t i s-
P a r a B o t e r o , à «virt i a ç ã o d e u m a “atmo s
a s a s s u a s o b r a s, à cr
e n d o a f e i t o , e m toda
o autor s à a ç ã o q u e encon
l e de renúinncci a or ter à
mo mora r o s o b r e t u d o p
a d m i r a d o p o r Bote
reino tão
p r o s s e g u i r , a muros
ra
8 5 , S o b r e
2
ginda P- J u s t r a ção p re
a, da [
ote r o s e a
E u r o p ã , p ai
etidos ná [ e o , a r l -
d ' u n e p art,
intention: e s s o ) - d i s ant
je d |
n Vextrême Di morale
i d a d e s d e s ão
à r é : d a í as ativ
e d e c o n h e cer d e H o l a nda
ib i l i d a d «o Buar q u e
N o v o M un-
a
ização d o
DES
104-25. AS ajudidas
e
+ PP.
com
u s n a t u r a l i s m o , da
o P a r a í s o , cap- :,
d e r n a s o bre O j
“cão d
êmic e n d i d o s p o r B a r-
a m e r i c a n o s — def
índios d e L e w i s H a n k e,
o s . V e r O S c l á s sicos
m a i s con hecid B o s t o n / T o r o n to,
— é um d o s
o f À m e r i c a , 2 º ed.,
t i c e i n t h e c o n q u est q u i s t a , M é x i c o,
jus , F i l o s o f i a d e la Co n
l a
, e de Sílvio Zava o Picón- S a l a s , D e la C o nquis-
a i n d a M a r i a n dis-
ó m i c a , ] 9 4 7 ; ver 1 9 4 4 , c a p . 2, “ L a
Fondo de Cultur
a Eco n
e C u l t u r a E c o n ó m ica,
i a , M é x i c o , F ondo d
c
aala Independen P . 3 5-52. o r B o tero,
n q u i s t a ” , P gens, a l a r d e a d a s p
cussión de la co o i mpact o d e p o s s í v e i s v i a
f a lava de
a b o d r e l a t i v i z a r l o s M a n o e l 1,
(19) Ch na dedicatória a Ca
õ e s : “ T a m b é m B otero, t a s p e r e g r i n ações
sobre suas d e s c r i ç c e r t eza que s u a s v a s
as', € sa b e m o s c o m e el
s p e r e g r i n a ç õ e s pr óp ri o ” , in E s c r i t o s s o b r
«vasta
n d i c e s de G i o v a n n i Boter
li vr os a l h e i os!”, “A p é s , c o l o c a v a - s e em
fo ra m so br e m ó g r a f os qui n h e n t i s t a
40 . E n t r e os c o s r sua
Renacimiento, p. 376, nota r i a ou n ã o ja
viajar] p a r a m e l h o r e s c r e v e
ç a d e v e n gol-
Ee
te rmeos ispoalêmi PA > orest, por e x e m p l o , se v i r a m e
ERES e E E e François de Bellef r o c h e r à s o n ri va l de ne
r e p
Ena polêmica, “Outre le plagiat, Thevet semble dans sã cham-
n t e n t a n t de vo ir 'fi ler
il er 1les araignées
qu it té so n paTys c
,vetse pao c a te r dei-
ir do pl ág io , h e va l o fa to de n u n
bre” * [Além p a r e c e c e n surar em seu ri N u -
co c e r e m e m se u q ua
u art
r o”
t o']
" .
) . V Ve r
anhas te
1º ntentando-se em ver “'as ar
Br oc , op . ci t. , p. 90 .
ma
o Botero, Op. cit., p. 69
, 6 8 . B o t e r o er u m a d u i n d o r f a p o n h á
i m
a 2DCidRemE,R tii is do que à portuguesa” di nota 185
(21) Idem, ib
, ri a na q u i n t a p a r t e d a s R e l a z i on!
a)
r o ” , op . ci t. , p. 28 1, a r t ã o - s o m e nte
N o qu e dRapE B o t e r i c a , C h a b od li m i t o u - s e “a a n a l i s
(2 2)
cara S a i o à A m é
in -
m e x e m p l o t í p i c o da
e n o s p r o porciona u
fluência que, de vez Ea quando, exerciam sobre Botero os distintos SA escri
agi -
se remeti a” . No c a s or é o je su í o m a nã as concep
es científicas o, O es cr it je íta Acosta.
su religiosas, “ D e l e t : o a p e n a s
l e n d a s pé da le tr a o u Fé su -
como notícias e osas, gi “transcritas ao
213
| =
- 4 " a
Proced
LM ba. a coteção
Ped
—-
ro Mártir d * Anguicra, de E “o, as ob
ras de
Casta “ré , do mencion: + Lo Fra ae
Neis
a
coo deLópe z de € Góm
Gé ara
neda Barros (Joã B
tesad da Cor “ac ion ado aITOs), de Osóri
-Ompanhia de Jesus”. E Ch
. . abod, “Gi
| tento meu).
as conside-
t “40 LIA a
te
nú
ic am en
8
an
" pr. 167
ICEnte À | Sé)
de São N
rt 1
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ih das Retazi
on i , R o O t e r
" , O p . á s C i t , P.ã
2:80,
as
Botero|
4
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k
(38) t”»
Anchisea ph o d , ' “ G r o v a n t a
q: una ii
a . Ç “hab t e r o , o p . Cl,
a M o s c ó v i iovann i B o
ga “Apéndices de G
ci t. pp . 3 2 2 8 € 335-41.
G i o v a n n i | Botero”, OP.
d i c e s d e z r e s i d i s s e , p a r a C ha-
«A pén m é r i t o de Botero talve
P - 1 7 5 . O maio! n t e s u m i a € d i v u l g a v a OS Te-
ibidem, u e s i m u l t a neame r| e
ompilador, q l a r i z a d a s * o f serecen4 do
t i c u
u s c a s € relações par
e vi a g e n s , b
nã te rr a “ e ntim,
c o m o e r a m às coisas
c o d e s e j o s o de caber se s a b i a acerca da
Y am “públ i p ê n dio de tudo O q u e
m
A 4 onstituil um b o m c o
G i o v a n n i B o t e r o”, OP.
u l o XV I” , “ a A p é n d ices de
o s no fi nal do séc | di
p eágog Seus a “ - | |
rerr
v e t e Lé ry , €. ainda,
4 180 e 38 . s te xtos de T h e
e Mo n t a i g n e do 1 5 8 0 ) ”, in
fl uê nc ia so br n n i b a l e s " (
ua (4- um a in q
t a i g n e : |' es sa i 'Des Ca
“ l e Br és il de Mo n
da cosmogra f i a , Ve r . já3-de
s a u v a g e , pp
t , L ' h u g u e n o t ef te | |
em
Frank Lestringa n i c onclusões.
a d i a b ó l i c a u grande
o—e—
o n j u n t o : A m é r i c p e q u e n o o
(43) “O c e x p e d i ç õ es guerreiras, Se ja de
e t i v o d a s ) O cat -
—.
(44) “O principal obj m p r a ç ã p ú b l i c a . | .
r e m e x e c u t a d o s e c o midos e
er a fa ze r c a t i v o s p a r a se e x e c u ç ã o do p r i s i oneiro
porte, s r e l a ç õ e s i n t e r a ldeãs. [...] A
entra l n a conjuntos mul-
vo [...) tinha um papel c lo ca is em unid a d e s m a i o r e s — “
an to , OS g r u p o s ss o, de
permitia articular, port nç a ou à inimizade. Tr at av a- se , a l é m di
r m a n d o a al ia
ticomunitários —, reafi só mo rt e su pe rp ro du tiva: uma espe-
mo à vi ngança, tornando uma
so ci al iz ar ao má xi
um in im ig o er a o ev en to central da
lh o ri tu al . Ma ta r publicamente
cie de so br et ra ba
to s de hi st ór ia e cu lt ur a tu pinambá
soc ial Tu pi na mb á” , Ca rl os Fa us to, “Fragmen
vida im en to et no -h is tó rico”, in Ma-
o crítico de co nh ec
— da etnologia como instrument Br as il , Sã o Pa ul o, FA PEsSP/CoOM-
ória dos ín di os no
nuela Carneiro da Cunha (org.), Hist , pp . 38 1- 96 , citações à p. 391.
pa l de Cu lt ur a, 19 92
panhia das Letras/Secretaria Munici ta ph or s fo r things
in si st en t ca rn al it y of Ma ya me
(45) “I have already noted the
n bl oo d of my da ug ht er " Fo r th e sa cr ed ba lc he , fo r example. Cer-
vegetable — the gree
wa rr io r vi ct im s, we re lo ck ed in to th e ag ri cu ltural cycle,
tainly Maya killings, even of
me an in g fr om ir [J á ch am ei a at en çã o so br e a in sistente carnalidade
pr rm
ia s pa ra ve ge ta is — o “s an gu e ve rd e de mi nh a fi lh a” pa ra o blache
ma cam oras ma
Algumas das execuções maias, mesmo quando as vítimas eram
ea exemplo.
gr m no ci cl o ag rí co la , e de le ex tr af am se u si gn if ic ado], Inga Clen-
dada re pi
bi va le nt co nq ue st s — Ma ya an d Sp an ia rd s in Yu ca ta n, 15 17 -1 57 0, Cam-
Ei , Am | ter
ge Univer si ty Pr es s, 199 1, p. 180 . D;
, ve r também Az te cs : an in
1 8 0 . Da me sm a au to ra
pretation, Cambrid U 91, p. e ca p. 10, “R itual: the
, pa rt ic ul ar me nt
world tr ansformed, gethe Un iversity Press, " 1991
wo rl d re veca al
le edd”, pp. 236-63.
(46) Di sb oa , Ed iç ão
) Di ál og o so br e a co nv ; er sã o d do ge nt io , ed , Se ra fi m Le it e, Li
Comemorativa do ivo
dd q entenário da Fundação de São Paulo, 1954, p. 54,
Of íc io às pa rt es isitaçã
do Br as il , Co nf is sõ es da
; Ba r
hia, 1891-1892, pref Cais da ves a ig ui et , 1935, p. 108.
pa ii d i ç e Ab re u, Ri o de Ja ne ir o, F. Br
Parece-me na iá
ir tal ingestão, à comeeuu carne humana, a menção à de porco servin-
O para encobr
kingdom of the! Franciscanofs the New World,
(48) John k: Ph
ial
2.
ed. Berkeley/Los Angele
: s, 1millen
Phelam, The rios
215
TE
ler le “baroque géopra
Su monstruosos, índi
O “barroco geográfico")
ase em tra bal ho
. 40-1. exausti
Com b
títulos :sobre a América surgidos na França entre os séculos ei de levantamento dos
e relativiza raa influência do Novo Mundo no imaginário eur xvit, Mary del Prio-
e '
r o ã E
opeu: “O humani
os e eo rm
pareçe ter rejcitado o Novo Mundo, e desde a inspiradora obra de tino:
aN c 19%, pm
d o B r a s i l , 3* ed ., in trod.
onte ja do Brasil. Primeira pari
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(59) D a mmçoi, im mmttado .. fa
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IMGI oe Sat s o m i g h a n za al vero”,
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ana, Ar4€ as remeten
e
fa to t ran
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i , a e m i t i d o = 42 “Nem mes À Rr
d
rim, Einau. Veja-se, PO! meme CE mo aqui à su a d i s p o s içãoo .à
36-111 e r mos próprio s ao s m e i o s
q p o d e a ân si -l o DO S t as
ia er o qu e vê, só
&
TE L do s
pp . 19 1- 2. Le ry ex al ta
5
Hi st oi re d' un vo ya se -., vol. 1,
fá (62) Carta d£ Lérv in i s uma ve z, d e n e g r i r A n d r é T h e vel: à
| d o r de S i a d e n pa ra , m a
k ualidades de observa tir a do OUIO
=. «e 2 E men
S S O
1 v dade de um, opõe-sea & om 78
(63) Botero, op- EL, D- “—-
me
,
E
| |
5 (64) Botera, op. E. D- é. . S e r a f i m Le it e, L i s boa, Edi-
ersão do ge nt io , ed
; (65) Apud Didiogo cobre q conv Sã o P a u l o , 19 54, p. 16.
á r i o da F u n d a ç ã o ge
o ção Comemorativa do rw Centen ag me nt os hi st ór ic os e sermões,
, in fo rm aç õe s, fr
[= (66) José de Ancineta, Cartas
o Pau lo, Ira tia iz. Ed us p, 198 8, p. 339.
Belo Horizonte/Sã
jesuíticas à Santidade:
|-
217
Ed cais
a a F
DR
capítulo reún
Luso| -BrasileRE iro sobre €, Inanic;alteranddo
o--as, duas comuni
cações
à pe a cen
atual versão é inédita, ; Do Abs Dee 1986;/Dp 2528, À
da so ci ed ad e em Portus
a Co st a Lo bo , Hist ór ia
( a : aa
' si
Ê lv a
RE
, R i o d e J a n e i ro,
lo XVUI
e d o p a r a O B r a s i
i n c e n t i v a r O d egr
C o r o a p a s s a r ia à
a O q ua
J o ã o 1 ,
pelo rei D. bém para O
minologido
Bras
il e, Geemrald154o 9,Pieque tam
r BILIP Op: a
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nai dos Institutos de Crim H
para o
E
do príncipe”,
r a a s r e l a ç õ e s e n tre de-
b o a , cs. d . , p . 13. Pa
r i a d e Li s W i l l i a m s , C a pita-
e n c i á ve r Er ic
deia penit na
iro,
1975. cap. 1. Para a “funda-
comp: ir o porária e montagem Do
“n de Ja ne ir o, EO d o s , ve r R o b e r t H u g h e s , Th e
ervid? ad . Ri o a ol ôn ia pe na l de d egreda pf, 1987.
gredo, a vidão, tr Cor me . N o v a Yo rk , Al fr ed A. K n o
lismo € lia inicialmente
rá
an ge , ap ud Ga sp ar Ba rl éu , Hi st ór ia dos
— the ep! ro de Or
as il e no ut ra s pa rt es so b o £g0-
bl ic ad os du ra nt e oi to anos no Br
(6) Cartê do a | tr ad ., Ri o de Ja ne ir o,
C o n d e de N a s s a u , etc.,
n t e m e n ' é E Jo ão M aurício
feitos rece
na vi os pa ra O Br as il sem
de 15 4 7: *“ Qu e nã o partam
MEC, ; x - de agosto do Pi er on i, op. Clt., P. 76.
l". Apud Ger
vel” al o A
a casa do Cive à [ Ag e Cl as sique,
: Hi stoire de la fo lt e
ms pico ci ta r Fo uc au lt Gallimard,
e de ta pr is on , Pa ri s,
nir — naissanc im ard, 1976;
vo lo nt é de sa vo lr , Pa ri s, Ga ll
Paris, Gallimar , 1 seu Titê = T = fa tu ra çã o
vi do a te se da ac ul
s di ve rs os , te m desenvol Ea
1975; HistoNê ne trabalho de rn e — se ns ib il ités, moeurs
"h om me mo do ih -
Robert M uchembled, mod em erno: L'i] nventioon de 8; Sor cie re, Jus
cien Rég ime , Par is, Fay ard , 198
encetada pelo pe Hlectifs sous V'An a alho s pio- |
et 17º siê cle s, Par is, Im ag o, 198 7. Ver | ai nd a Os trab
et comportements 16º | e v y , 1973;
oc ié té a u x ad., P a r i s , C a l m a n n - L
Í
v i| l i s a t i o n d e s m/ oeurs, tr
a ci
vineiros: de Norbert Elias, , L l a m m a r i o n , 1985.
ad s,
., Pari F en co n-
La so ci ét é de co ur , tr
iram de ba se a es ta s co ns id er aç õe s
(9) Os pr oc es so s de de gr ed o qu e se rv
se gu in te s co ta s (t od as iii
TT , EM Li sb oa : cl as si fi ca do s sob as
tram-se no AN 2; 83 4; 11 35 8; 47 44 ; 55 7; 76 11 ; 70 20; 12616; ;
Inquisição de Lisboa): nº 1579; 1124 de gr ed ad os pa ra O Brasil
Em pr in cí pi o, 05
74: 7095; 4912; 7840; 6308: 6005; 5723. es Fi li pinas, Li-
o an os , se gu nd o as Or de na çõ
não o seriam por tempo inferior a cinc nh am es ti pu la do es ta cláusu-
çõ es Fi li pi na s te
vro w, Título cxL. “Embora as Ordena mpo de três
co ns ta ta r vá ri os de gr ed os pa ra O Brasil pelo te
ja, na realidade pode-se
anos”, Geraldo Pieroni, op. cit., p. 106. rr a de Sa nta Cruz,
ur a de Me ll o e So uz a, O di ab o e a Te
(10) Ver a respeito La
são Paulo, Companhia das Letras, 1986, passim.
st id e, Le s ré li gi on s af ri ca in es au Br és il , Pa ri s, PU F, 19 60 , pp. 199
(11) Roger Ba
e 210.
(12) Ver O diabo e a terra de Santa Cruz, pp. 194 ss.
(13) Ver Marlyse Meyer, Maria Padilha e toda a sua quadrilha, São Paulo, Duas
Cidades, 1993,
€ (14) Ordenações Filipinas, Livro v, título exL, 8 8º. Ver a respeito Geraldo Pie-
rom, op. cit,, p. 107.
(15) anrT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 7020.
(16) anrT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 6308,
47) anrT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 4565.
à e aqui na discussão sobre certos aspectos ambíguos da
ibid na E pias apontados pelo Prólogo de Carlo Ginzburg a
pátte desuas:críticas ae o o Companhia das Letras, 1987). Acato grande
219
Tee
ss
—
Sae
ice é doutorado ap
inas, 1
- Fara a literatura d
e di fdÀ.
1983, e N n t a m e r i c a n e d i nais
da vs
p a e n
:
| gando O de s a m a h o n r a ha v ti
a ] a l e
r r e o c i s c o s u '
f,
Men o
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j o v e m, € c o Lá O P os Po 2
m u t t h
SH,
! ]
her Al ggalêdo P l e r o
a s
Br nl i a r i ç r
seor n m 2 . A p u d O a
de Coimbra Lisboa, MA proc. no 473 oc 2 pr 447
u i i
si ç
ga ã o o
ccaionoc”ante
,ANT Inu qn uisição de 1 ad. A .
45) ANTE, Inq 4 | di
64
proC. tl
Ta | sbods,
pal
ção ds ' , 4504.
o a , p ros mi
L i s b
(37) ANT É In quisição de Pros nº 4809,
o 178)
o de | igbod,
(38) ANTI Inq uisciiçcãão
+
1 5 4 , p r oc A |fBo.
sbo a , M e Prerotil, (1 CEM
Inquisição de Li o s n º 4 5 6 4 , oCgUTA lo é veraldo
(39) AN Dl,
Lisboa, pr
ç ã o d e i c u l d a d e do ret orno
a n t T t , I N QU isi d e t i u i t i vo duda du d i f
(40) p o d i a s e | Or o p o s s u l nso algu
d a pe r n a e dado, cu s o n ã
p o r á r i o p a l ã o d e g r
pále f tem C r a m u i t o dificil n d o m a n d a d o da me
a C o lônia ,
e m d e v olta, Qu a
“Lima v e z n
á r ia P ara à v i a g e g ava-se
a n e c e s s Br as il ; e n c a r r
o n s e g u i ! a som o n a v i o q u e a p o r um E no
bem, c
n t e c olocm lo n c u m p r i d a a p e n a, era
ó p o l e , e m a utom i c a m e
da v i a g e m , m a s uma vez
tr
p a s ar as d e s pes: es ” , O P . c l t . , Po 255,
S a n t o O f í c io de ja r s u a v i a g e m de vol t a
o e a r - s e e finan c e
eri a i n t e r s s
o réu qu j dev a , p r o s . n º 4372.
, I n q u i s i ç ã o de Lisbo
(41) ANTT a , p r o s . n º 7840, € mile
i s i ç ã o d e Li s b o
p o r s u a s d r o g a s
q u il
opulência do Bras
(42) ANTT, I n
A n t o n i l , C u l t u r a €
(43) André Jodo P a u l o , N a c i o n a l , s. d.
e pi ff er C a n a b r a v a , São € br as tli-
nas, introd. e no ta s Al ic n o t í cias sot e r o p o l i t a n a s
e c o p i l a ç ã o de
Lu is do s S a n t o s V i lhena, R Ve r a re speito
(44) cial do Estado , 19 22 ,
, I m p r e n sa Ofi rl-
cas, notas Brás do am
ar a l , B a h i a
o v a ç ã o no Br as il — 1789-1801, Lisboa, Ho
, Atitude s de i n
Carlos Guilherme Motta pp. 28-37.
vi ve r em co lô ni as ”,
“onte. 1970, cap. 11, “O
DO EX TA SE AQ C O M B A T E (pp. 105-24)
$. RELIGIÃO POPULAR E POL ÍTICA:
na € ntia É
Este capítulo baseia-se
rea a cas Re
ça mp
Brasileiro dna
k 4 af pa pc
tuguesas do século xvu: O sagrado e à TON a aa
Go o
ros críticos e sugestões então feitos por Marlyse Meyer,
a em / 4 pes E sã RARA
c uma primeira vers ão do te xt o fo i pu bl ic ad
n q u
ça i so br e me nt ali-
ar te , or g. A. No vi ns ky ema d são
dade, heresi a e y eM. L. Tucc i Ca rn ei ro , Sã o Pa ul o, Ex pr es
e Cu lt ur a/ Ed us p, 19 92 , À o , a
co nh ec im en to . Ba rt ol om é Be nn as sa r, ta m-
hétiiiesenta Ra E os eles, meu re
“V oc ê ac ha qu e es sa s mu lh er es
sã o a e s a g a Ra aç o a perganua Após
cas sa nt as
a raca não, mas sem fundamentar.
. Respondi que
refletir por cinco is ta lm en te re fe it a, re sp on der à questã
a com esta versão to
do grande E ;
(1) Ver Biblioteca Na E Luzia
O
Li sb oa , sm s, cx . 21 6, nº 49 , “S en te nç a de
e Jesus, Terceira de certa A is iç ão de Li sb oa , pr oc . -
nº 4564, “Pro
: AN TT , In qu
e de Luzia de Jesus ess a m a l ho natural
ra
€ morado na ci da de de Le ir i e ce rt a or de m fi lh a de Ga sp ar Di as R
es a no s cá rc er es da In qu is iç ão de Li sboa”; ANTT,
ja pr
221
vestons baroques »alimann |
ques: les métiss
crent, Paris, PUF 1992 H lennes,
Ma ques, Históri
a de Portugal — |
' Ê p, 74.
E
e
Editora, 1947
O
Sob etstó
ne ari de RR Lis! boa, Livraria Sá da Costa, 1968,
RP
lo
pp. 255.9], Es
profunda ligação econômica entre Portug
mt ui
al e Es Ra
mesmo antes da União das Coroas, era dio
ripinhada À tina ão E
nhola no pequeno reino luso, ocorrendo bilingúis
mo nas Had dom Ai
as camadas populares, entretanto, considera que vicejava “declarada host lid
ade” ante
a Espanha. Acredito que, se havia tal hostilidade, não significa, todavia, que não hou:
vesse sobre o povo influência cultural da Espanha. Ver p. 258.
(3) A expressão é de H. Brémond. Apud Jean Delumeau, Le catholicisme entre
Luther et Voltaire, Paris, pur, 1971, p. 95.
p. 748.
(4) Marcel Bataillon, Erasme et FEspagne, Paris, Droz, 1937,
Costa , Mósti cos port ugue ses do sécul o XVI, Porto, Lel-
1
| (5) Dalila L. Pereira da
| lo & Irmão, 1986, p. 350. Pi et ro Ro ss an o, Di zionario dei san-
op . ci t. ;
(6) Ver Dalila L. Perei ra da Costa,
Dr
ar i Te a, 19 89 . e can
nt
ti, Milão , | Di zi on li dã o, ca la r
Ai
ra zí ve l é sent ar -s e na so
ço
q u ã o gr at o é ap storicos”,
“Judão saudável, e s t o s hi
ad]
u p u
ml
A m é r i c o Castro, “ S
»* diria K e m p i s . A p u d
ve rs ar i
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de la p. 100.
t i a n o s , 1 9 8 6 ,
Au LOTES Cris
l ntete "o, pP,P. 87-109
SGa
.
, 14) Idem, ibidem, D OA. cap tir, ! ai
DeÉ lumedadu%% a op. Ci.,
op. cito, po 329.
| 6) V CI
(1
e r e i r a d a C o s ta,
(17) Apud Dalila 1, P 33755. | o
OP. ci. » pp.
Pereira da Costã, a es ta gl or io sa san-
(18) Dalila É. emp r e ti ve
ém O TRINTA o motivo o amor que s
(19) “To! tamb peque-
fez já fazer-lhe o seu ofíc
io
ntes de sei beatificada. Este me
EPT
ss o co nv en to de To rr es Novas, lhe
a s . E: se nd o eu prior em O No
a u e c o r r e há an o a el e co m uma solene
no , q em O altar maior, tr az id a
ag e m , Ú q u e se pô s
mandei fazer suma in Es pí ri to Santo de Re li gi os as do Pa tr ia rc a Sã o Fran:
sa iu do co nv en to do
procissão ql je mã o" , Te re sa Mi li ta nt e do Padre Frey
d o a n t e s so le ni ss im as vésperas € sei
cisco, haven na tu ra l de Li sb oa , dO iu strissimo,
4 da s Ch ag as Ca rm el it a da observância,
Mano
de Me ll o Ar ce bi sp o de Ev or a Metropolitano,
or D om Joseph
e reverendissimo Senh Pi nh ei ro , 1630.
Li sb oa , po r Ma th eu s
com todas as licenças necessárias, ff pa ra o mo steiro como
e de Ja cq ue s Le Go
(20) Inspiro-me aqui na bela anális € erudit o da cul-
ac io na me nt o en tr e os ní ve is po pu la r
espaço privilegiado de inter- rel n-Age”, in
tura; “Aspects savants et popu laires des voyages dans Vau-delã au Moye
is , Pa ri s, Ga ll im ar d, 19 85 , pp . 10 3- 19 . “O n a in voqueé
Limaginaire médiéval — Essa
ou t la pl ac e pu bl iq ue , co mm e de s li cu x de so ci ab il it é et d'échanges
la taverne et surt
lt ur el s au Mo ye n- Ag e. 1 fa ut in si st er su r le rô le jo ué à ce t ég ar d par les monastéres.
cu
em en t les ra pp or ts en tr e mo in es “e tt ré s' d' un e pa rt , me mb re s 'i ll et ir és” de
Non seul
re, mais surtout sans
la familia monastique et hôtes également “rustiques" du monasteé
doute les relations entre |"“élite” des moines appartenant socialement et culturelement
aux couches dominantes (et exerçant les fonctions d'autorité dans le monastére) et
simples" moines à demi illettrés ont dã fournir un terrain exceptionnellement favora-
N 15 [L em br ou -s e da ta ve rn a € so br etudo da pra-
R
ár io ins ist ir, ne ss e o i l a ç o j á r u n ún de Mé dia. É ne-
cess ae pac e sobre o si desem penhado pelos ErORATE: HO apenas
má red
espraçs , membros iletrados”” da familia
monástica e hóspedes igual sebos o!icos" do mosteiro, mas, sem dúvida, sobretu-
dó strdacsar ent E ed y E rúst
primoeirçe: social e GU aenE às Ch:
nadas dôminanites (e exercendo bo
a
formas de acul E
cu lt ur aç ão ). So br e a pe ne tr aç ão da cu lt ur a re li gi os a er ud it a no s co nv en-
tos, Je; an-Michel
» *t Sallmann diz que taal!is mulhe eres eram analfabetas, mas não ignoran-
223
OS rituais adequad
Poca Moderna, São Paulo es velha negra) (trad E
mpanhia das
Letras 1989)
o ANTT, Inquisi
ção de Lisboa,
ANTT, Inquisiç
ão de Lissbboa, mb
(26) ANTT, Inquis
ição de Lisboa LA
, Le ca r holicisme-»
d De lu me au
gésgin(e3s5) Apu
(36) Idem, | E
NTE, d e L i s b o a , P
I n q u i s i ção
Fi ri o p ois
i b r o d e l a
(39) L
L i r i c a s , 18 O
(40)
c i s m e p . 95.
Le cathol i
en ír it o sãEo diq fíceois
E in te ri or es do m aia
a n f E S S Or QU «ng s e ntendaNm »
a
) À e x p r e s s a s d i
a do m e s t a
(4 1 -l o de f o r ma que Us
000 is difiaricl cil é fa zê
u l o Br as il iense, 1987, P- INES
can ta Te—reisánda ma «to P a
pisia sa te na f rontetra entre
)., SãO ce s fr
1
eq uentemen»
S€
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É
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visões,
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, asantas s0bP9/0
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m a q u e s t ão dev estudo sj o b r e ç “4 c o n
(an bé nm ulheres d
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C devotas: [822,
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és dos conventos
€ recol!
; S ã o o d d ,
utrav
i s t ó r i a da FFLCH-US F
punir
Departamen t o de H
nt ad a do i o n de s pen
torado aprese n quisit i o n el la d é v a l u a t
(4 2) Cl ai re G u i l h e m , “ L ' I | 9, p. | E
s, H a c h e t t e ,
, L ' I n q u i s i t t o n e s p a gnole, Pari
(org.) eggink,
in partolomé Bennassar M a d r e de Dios, O. €. D. e O t g e r S t
é m E f r e n de la
A este respeito, ver tamb s c o m p l e t as, p. 11.
fica ”, in O b r a
O. Carm., “Rescha biográ
p. 212.
(43) Dizionario dei santi,
(44) Idem, p. 169. des voyages dans I!'au-delã
savan ts €l popul aires
(45) Jacques Le Gof f, “Aspects
au Moyen-Age”, in L'imaginaire médiéval, p. 119.
(46) antT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 10 198.
l Bak hti n, A cul tur a po pu la r na Id ad e Mé di a e no Renascimento,
(47) Mikhai
Pau lo, Huc ite c, 198 7. Ver so br et ud o cap s. 1, ““ Ra be la is e a história do ri-
trad., São
-
so": 2, “O vocabulário da praça pública na obra de Rabelais": e 5, “A imagem gro
tesca do corpo em Rabelais e suas fontes”,
(48) Idem, p. 68.
(49) ant, Inquisição de Lisboa, proc. nº 11 358.
(50) Bakhtin, op. cit, p. 23,
a o o Fã pes aids dictionary of Saints, 2º ed., Oxford, Ox-
de 1590 Heitor a Ea E E : e ET Uma blasfêmia denunciada por volta
OE hs ici xa ai na Visitação de Pernambuco associa mulheres
DERA be caes | Aos o oma andavam as mulheres com os peitos desco-
santos concediam indulpênc À
issem carnalmente, por respei : Desa aos vomens que com cupidor
, speito de com isso divertir aos homens de fazer o pecado
nefando”, Primeiraeira ViVis
sitaitaçã
cã o do Santo Ofício às partes do Brasil. Confissõ
es de Per-
co, uco, ped,3) J, A. Gonsalve
namb1970, ionsalves de Mello, Recife, Universidade Federal de Pernambu-
tiin, Op. Cit.,
khht
(52) ) Baak pp. 163-9. Ve
de Pe
j
r também Primeira Visitação... Confissões
rmambuco, + p. P. 24. 24. S 50
a afetivo da religião, ver Gilberto Freyre, Casa-
grande & Senzala — UIRIO
Iriarcal, 93 ed. or a família brasileira sob o regime de economia
Rio “* Janeiro, José pa-
Olympio, 1958, vol, | 343
(53) ANTT, Ing !
uisição de Lisboa, mç. 2, proc. nº
557 e T
225
ani
+ “A tutela do sagrado:
adroe i í do da Restauração”
padroeiros no perío a prot eção dos santos
Curto (org.), 4 É , in Francisco Bethencourt e Di
E-), Fund
realizado na açãória da nação, Colóquio
À mem ; do Gabinete de Estudos de Sinii
Editora, 1991, pp. era,O a ReR 79/10 106) Tib,Liraiabi
(60) Lucrécia de Leon, profeta e visionária espanhola que atuou nos anos 80
do século xvt, também se comparava a Joana d'Arc, jactando-se de defender a Es-
panha contra os inimigos. A santa francesa era então conhecida na Espanha como
lla de Franc ia” graça s à obra de Allon so de Villega s, Flos sancto rum, adi-
“sta Ponze
ciones a la tercera parte, Toledo, 1588, vida 198. A imagem da donzela guerreiraé
como
típico do Renascimento, aparecendo em obras muito conhecidas
um motivo
Jorge de Monte mayor (15992 ). Ver à ra Pi
Los siete libros de Diana, de a da o
dreams — politics and proph ecy in dei
L. Kagan, Lucrecia's 1990, pp. 74 e 192, ne A ade
of Calif ornia Press,
keley, University Cf : iliense, 1979,
+ Walni ce Nogue ira
: Galvã o,de “Fre quen
Ensaio , São Paulo, Brasili en
zela guerreira, ver — €
Cadernos de Literatura
«nr Almanaque
O
Botelho gs exi 1662. Sobre IStO, Re Ra ara João Fran o Marg
ae do mar alistar P9
imaginário da Resta
1642, e mi
286-8. D. Affonso VI. Quan " vmo Vabia, Lisboa;
Antônio EM feitas por Jero
o Serenissimo Rey : boa
sagrado. , PP-
t o A n t o n i o de F A S E
EE D e ilor os
san
d o a o g 226
solda
tel Rey nos
a, IMpIOS
“veira,
de Oliveir d rasileia iros
ado:it sorjuso-b SE expulsaram
& OS
227
Í
as; DES. À vusta
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a Stuart Clark, ver “French historians and y
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. 1983 pp. 62-99
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E
Seuil, 1975, PP- 46-7. Para um equacionamento geral da problemática, ver ainda Al-
a
berto Tenenti, dl senso della morte e "amore della vita nel Rinascimento (Francia e
Halia), 2º ed., Turim, Einaudi, 1989, principalmente cap. v, “La sensibilitã macabra”,
pp. 121-47.
Solêé, Lamour en Occident à "Epoque Moderne, Paris, Albin Mi-
(7) Jacques
tem interpretação análoga para as relações entre
chel, 1976, p. 128. Kadaner-Leclereq
erotismo e sadismo, Op. cit., p. 58.
maneirismo e macabro, supplices — de 'obéissance sous les
Le temps des
(8) Ver Robert Muchembled, li n, 19 92 , pa ss im . Ap esar de su-
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(12) Mu s e u Cr os mn ns 08]
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27) apud J ud t
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O. €. D. ; € O tger Ste g e
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28) Santa Teresa de Jesus; 93-4- ri
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na nos, 1986, pp:
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Madri, Bibliotebi ca a áfica”, in
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a ess de N Mulino, 1980, PP: 1:
O b r a s c o mpletas, Pp. 3.
ta Teresa de Je s ú s ,
l v a g g i o , B o l o nha, S e v e n -
esi, 1 p a n e s e
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(31) Piero Campor e E u r opean w i t c h - c r a z e o f
r - R o p e r , T h
329 H.R. Trevo : . 50-1.
ce au XV IF siê cle , Par is, Plon,
jeenth Centur iesa,ndrLon dre s, He n& s eff.
P
so rc Eie rs en F ran | ;
ou, Magistr a i m a s , DO entan
(33) R. M d o c umental m a i s a c a d ê m i c a
a c o m à p e s q u i s a t uais:
1968. Descomprometid so br e O período da s po ss es sõ es c o n v e n
ch el C a r m o n a 88.
LO, útil, é a síntese de Mi ti que sous Ri ch el ie u, Pa ri s, Fa ya rd , 19
— sorcellerie et po li
Les diables de Loudun fa ls o mi st icismo”, in Jesus Imirl-
(34) Francisco de Encinas, “Un ejemplo de ci on al , 19 77, p. 38.
Mad ri, Ed it or a Na
zaldu (org.), Monjas y beatas embaucadoras,
(35) “Carta dando relación sobre Madalena de la
Cruz ”, op. cit., p. 47; “Sen-
tencia de Magdalena de la Cruz”, op. cit.,/p-. 53:
(36) “Relación sobre Teresa de la Concepción”, op. cit., pp. 268-72.
(37) A esse respeito, ver meu artigo “Do êxtase ao combate: visionárias portu-
ns do século XVII”, in Inquisição — ensaios sobre mentalidade, heresta e arte,
oa RENTE e Cultura/ Edusp, 1992, pp. 162-84, que ampliado e reescrito
en pítulo anterior deste trabalho. Para uma tipologia das visões e sua filia-
çi ois sistemas básicos de taxionomia — o de Ricardo de São Vitor e o de santo| ir
| E DR
(38) anrT, : Inquisição de e Li
certa ordem.” : Lisboa, proc. nº 10 198. “Maria Antunes, Terceira. JASON
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(40) ANTI reg Ge Lisboa,
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(41) ANTT, Inquis; à O fo bar dra
(42) “« ré ção de Lisboa mç.
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Encuberto”, vol. 1, 51-11-29, fls. 266-7. O Sínodo Nacional de
| Reims de 1583 ajuda
a compreender por que frei Delgarte gozava de posição
privilegiada para contar a
história de Mariana: “De| vant que le Prétre entre prenne
d'exorciser, il doit diligem-
ment s'enquérir de la vie du possédé, de sa condition, de sa reno
mmée, de sa santé
et autres circonstances; et en doit communiquer avec quelques gens sages, prud
ents
et bien avisés, car souventes fois les trop crédules sont
trompés et souvent des mélan-
coliques, lunatiques et ensorcelés trompent |'exorciste [...]""
[Antes de começar a exor-
cizar, o padre deve diligentemente informar-se acerca da vida do possesso, de sua con-
dição, de sua fama, de sua saúde e de outras circunstâncias: e tudo comunicar a alguma
s
pessoas sábias, prudentes e bem avisadas, pois muitas vezes os demasiadamente cré.
dulos são enganados e amiúde os melancólicos, Junáticos e en feitiçados levam o exor-
cista a se enganar), E X. Maquart, “Vexorciste devant les manifestations diaboliques"
,
op. cit, po 330,
(13) A juventude de Mariana vai contra a visão popular da brux
a velha, des.
mistificada por De Lancre, por exemplo; “C'est un conte de dire que toutes les sor-
citres soient vicilles,.” [E balela dizer que todas as feiticeiras sejam velhas,..|], Pierre
de Lancre, Lincrédulité et Mescréance du sortilêge plainement convalncue.., Paris,
1622, p. dl.
(14) na, “Tesouro Encuberto”, fls, 251-6,
(15) Compêndio narrativo do Peregrino da América (1728), 6º cd. Rio de Ja-
neiro, Publicação da Academia Brasileira, 1929, Sobre a relação entre diabo é ator,
Piero Camporesi, “Calcagnantes, trufatores et malagentes,
La famiglia di Margut-
te”, am HH paese della fame, Bolonha, || Mulino, 1985, pp. 52-4, Para à condenação
jesuítica ao teatro, G, D, Ottonelli, Della christiana moderatione del theatro, Floren-
ça, Alle Scale di Badia, 1652, 1v, pp. 438-9; “il primo che trovô Parte del ciarlatáno
tu dl diavolo, quando nel paradiso terrestre fece cinque cose; la prima si mascheró,
prendendo la forma del serpente; la seconda sal sullarbore: la terza disse gran bugia
Nequaquam mortemini la quarta ingannô à primi genitori nostri con quelPavviso Eritis
steut Di, e la quinta tende loro il pomo da Dio victato, E queste cinque condizioni
esprimono | ciarlatani tristi, come seguaci del diavolo, poiché si mascherano, salgono
in banco, dicono bugie, ingannano | semplici e vendono mercanzia” [o primeiro que
descobriu a arte do charlatão foi o diabo, quando no paraíso terrestre fez cinco col-
sas; a primeira, se mascarou, tomando a forma da serpente; a segunda, subiu na úr-
vore; à terceira, disse grande patranha Nequaquam moriemini; a quarta, enganou nossos
primeiros pais com aquele aviso Eritis sicul Diije a quinta, deu-lhes o pomo por Deus
proibido. E estas cinco condições revelam os charlatães tristes, como sequazes do diabo,
pois se mascaram, sobem no banco, dizem patranhas, enganam os simples e vendem
mercadoria],
(16) “Des noms propres créent des repéres et decoupent des régions dans Hanony-
mat neutre du diabolique”” [Os nomes próprios criam referências e delimitam regiões
no seio do anonimato neutro do diabólico], Michel de Certeau, op. cit., p. 62. Sendo
sempre sete, os demônios de madre Joana dos Anjos, a superiora do convento de Lou-
dun acossado pelo Inimigo entre 1632 e 1634, variaram no tempo; em um documen-
to, aparecem os seguintes nomes; Astaroth, Zabulon, Cham, Nephtalon, Achas, Al:
lix e Uriel; já nas “Listas” sobre as possessas — que Certeau chama de “Atas
diabólico” — são diversas as designações: Leviatã, Amã, Isacaron, Balam, Asmo-
deu, Behemoth (o sétimo demônio não consta da lista). Nas aludidas Listas, são inu-
meros os nomes dados aos demônios, sendo poucos os que aparecem mais de uma
235
“o
VCL. Behemorh, Cérbero, Asmodeu. Para os nomes de diabos, ver Certeau, op. cit.
pp. 34-5; 61-2; 136-40.
(17) ma. “Tesouro Encuberto””, fl. 265.
(18) na, “Tesouro Encuberto”, fis. 256-7. 4
(19) “La langue du diable est une autre langue, ou Ion ne s'introduit pas grãce
à un apprentissage. De ces mois, on doit être “posséde”, sans les entendre'” [A língua
ão diabo é uma outra lingua, na qual não é possível ser iniciado por meio de um
aprendizado. Por essas palavras, deve-se ser “possuído”, sem compreendê-las]. Ver
Certeau, op. cit., p. 64. As possessas de Loudun chegam a falar tupi! “Elles ont aussj
épondu en langage topinambou que leur paria Monsieur de Launay Razilly..”” [Elas
responderam também em lingua tupinambá, na qual se dirigiu a elas Monsieur de
ni
Launay Raziliv...). Apud p. 179, Lettre du docteur Seguin à M. Quentin, 14/10/1634;
a carta foi publicada no Mercure françois, 1634. Durante os exorcismos, diz Certeau,
a linguagem é ao mesmo tempo o lugar e o objeto do combate. Acreditava-se que
os melancólicos tinham especial aptidão em falarem línguas desconhecidas. Ver Jean
Céard, “Foliz et démonologie au xvr” siêcle”, in Folie et déraison à la Renaissance,
Colloque international tenu en novembre 1973 sous les auspices de la Fédération In-
ternationale des Instituts et Sociétés pour |'Étude de la Renaissance, Bruxelas, Édi-
tions de "Université de Bruxelles, 1976, pp. 129-47. Na página 141, cita L. Lemnius, ,
Les secrets miracles de nature, trad. de A. Du Pinet, Lyon, Jean Frellon, 1566: “Que
les mélancoliques, maniaques, phrenetiques, et qui par quelque autre cause sont es-
pris de fureur, parlent quelquefois un language estrange qu'ils n'ont jamais aprins,
et toutefois ne sont poinct demoniaques”' [Que os melancólicos, maníacos, frenéti-
cos, € quem quer que por outro motivo estando tomado de furor, fale às vezes uma
língua estranha que eles nunca tenham aprendido, e apesar disso não são demonia-
cos]. A relação entre melancolia, doença mental e bruxaria era fundamental na épo- Í
ca: ver, a respeito, Sidney Anglo, “Witchcraft and melancholia: the debate between
Wier, Bodin and Scott”, in Folie et déraison à la Renaissance, pp. 209-28.
(20) “Et lorsqu'on lui fit dire: 'Mon Dieu, prenez possession de mon âme et
de mon corps', le diable par trois fois la prit à la gorge, lorsqu'elle voulut dire; *De
mon corps”, la faisant hurler, grincer les dents, tirer la langue” [E quando fizeram-na
dizer: “Meu Deus, tomai possessão de minha alma e de meu corpo”, o diabo por
três vezes a tomou pela garganta, quando ela quis dizer: “De meu corpo”, fazendo-a
urrar, ranger os dentes, botar a língua]. Apud Certeau, op. cit., p. 30.
(21) “En un sens, c'est aussi un un dehors du language commun, tout comme
le latin ou "hébreu. Il s'inscrh dans le courant plus large qui oppose à Vintellectualité
reçue linventaire d'un nouveau monde, “baroque' si 'on veut, celui des sens, celui ;
des frémissements et des sueurs, des surfaces changcantes de la peau et des mouve-
ments contradictoires du geste. Cette géographie reçoit, dans la littérature et Vexpé-
rience, le même róle que celle des continents inconnus décrits par les explorateurs.
Les cartes du corps ou les “théatres” de "Amérique s'opposent également aux cosmo-
logies ou aux 'gtographies' traditionnelles. Un savoir nait de la pratique, contestatai-
re, exploratoire mais codifié, lui aussi” [Num certo sentido, é também uma exteriori- |
dade ante a linguagem comum, exatamente como o latim ou o hebraico. Inscreve-se À
na corrente mais ampla que opõe, à intelectualidade recebida, o inventário de um mundo
novo, “barroco” se quisermos chamá-lo assim, o dos sentidos, dos frêmitos e dos
suores, das superfícies cambiantes da pele e dos movimentos contraditórios do gesto.
Esta geografia assume, na literatura e na experiência, o mesmo papel que a dos conti-
pentes desconhecidos descritos pelos exploradores. Os mapas do corpo ou os “tea-
236
tros”” da América se opõem igualmente às cosmologias e às “geografias" tradicio-
nais. Um saber nasce da prática, contestadora, exploratória mas, ela também,
codificada]. Certeau, op. cit., p. 68.
(22) Ba, “Tesouro Encuberto””, fl. 273.
(23) Ver, entre outros, Norman Cohn, Los demónios familiares de Europa, trad.,
Madri, Alianza Editorial, 1975.
(24) Ba, “Tesouro Encuberto”, fls. 259. O problema da platéia é central na so-
ciedade de Antigo Regime, constitutivo do “homem público” que as ““tiranias da in-
timidade”” baniram no século xix, com o advento da sociedade e da cultura indus- .
trial. Ver o trabalho sugestivo de Richard Sennet, O declínio do homem público —
as tiranias da intimidade, trad., São Paulo, Companhia das Letras, 1988, sobretudo
“O mundo público antes do Antigo Regime”, pp. 65-155.
(25) “La tragédie démoniaque n'atteint que la religion publique”, Certeau, op.
cit., p. 131. Para relação entre piedade e publicidade, ver p. 311. Para uma bela análi-
se das relações complexas e complementares entre a possessa e a assistência, ver O
caso de Elizabeth Knapp, desencadeado em 1672 na Nova Inglaterra: a possessa que-
ria ir para Boston, “o maior palco que a Nova Inglaterra lhe podia oferecer”. John
Putnam Demos, Entertaining Satan — witchcraft and the culture of Early New En-
gland, Oxford University Press, s. d., cap. 4, “A diabolical distemper”, pp. 97-131.
(26) pa, “Tesouro Encuberto”, fl. 251. Para a hierarquia dos sentidos na Épo-
ca Moderna, ver Lucien Febvre, Le problême de l'incroyance au XVI siecle — La
religion de Rabelais, Paris, Albin Michel, 1947, pp. 471-3. Para Febvre, há um “atra-
so” da visão no século xvi, O principal sentido sendo a audição. Robert Mandrou
endossa a posição de Febvre: Introduction à la France Moderne— 1500-1640, Paris,
Albin Michel, 1974, pp. 76-82.
(27) Ba, “Tesouro Encuberto”, citações respectivamente nas folhas 254 e 261.
É o olhar atento quem capta as mudanças fisionômicas da possessa: “Ce qui est en-
core surprenant et fait voir que ce changement provient d'une cause intérieure de pos-
session, c'est que, durant qu'il dure, la possédée ne fait aucune grimace, mais son vi-
sage demeurant en son état naturel semble néanmoins tout autre, par le moyen des
veux dont la couleur et la lumiêre sont changées en un instant" [O que é ainda sur-
preendente e permite ver que tal mudança advém de uma causa interior de possessão
é que, enquanto dura, a possessa não faz nenhuma careta, mas seu rosto, conservan-
do sua expressão natural, parece todavia diferente devido aos olhos cuja cor e cujo
luzir mudaram num átimo). Carta de 26 de julho de 1634; Paris, Bibliothêque de ['Ar-
senal, ms. 4824, fl. 17, apud Certeau, op. cit., p. 141.
(28) na, “Tesouro Encuberto”, fl. 264,
(29) Idem, ibidem, fl. 278.
(30) Idem, ibidem, fls. 264-5.
(31) Idem, ibidem, fl. 277.
(32) Idem, ibidem, fls. 288-9.
(33) Idem, ibidem, fl. 270.
(34) Para a relação entre demonologia e reflexão sobre a causalidade, ver Stuart
Clark, “The scientific status of demonology”, in Brian Vickers (org.), Occult & scientific
mentalities in the Renaissance, Cambridge University Press, 1984, pp. 351-74.
(35) “Le tentateur subtil, qui multiplie les ruses et les habiletés de sa dialectique
pour séduire un Faust diffêre du diable des possédés autant que le Lucifer orgueilleux
qui entreprend avec ses démons la lutte contre Dieu. Les diables des possédés sont
puls familiers et plus vulgaires. IIs restent à la mesure de "homme”” [O tentador sutil,
237
«e as habilidades de eua dialética para seduzir um Fausto,
que multuphea-a os estratagema tanto quanto 0 Lúcifer orgulhoso que, com seus dema.
d i a b o d o s p ostse ec
Os diabos dos possessos são mais comezinhos
difere do
uta contra Deus
nios, empreende Em manecem na medida do homem], Jean Vinchon, “Les as.
c mais vulgares | E tos dive “gts de possesston”, In Satan, pp. 464-71,
pects = aa : ni n aberto “vol. 1, 51-1-29, fls. 266-7.
(MI
ato BA, Ra di id e concílio de Constantinopla em 543 e 553, a eter.
a foi
foi ear pelo Concílio de Latrão, em 1215; mas foi com
nidade das pe n a s rea! ue, ao colocar um ponto final na claboração
o q
teológica do
Õe Aq ui Th
Iornas
samio ( rorpes Minais, Histoire des enfers, Paris, Fa-
As
ja) quesaÃo ganhou desta
sd =” agnuuíe
|
inferno,
a . tÓ 0 207. o | |
DE 199, É f
vard, 44 P
(1%) Teresa de Ávila representa um marco na história dos infernos, sua visão
fisico. “l'enfer there sien nest pas un spectacle; il est intéricur à "âme, le moi éclate
ea sans un instant éternel; comme si la conscience Ctail figée pour toujours
a moment de ta dernitre fraction de seconde avant la noyade ou Vécrasement. Per.
conne n'tra plus loin dans le sens de Fhorreur absolue"” [O inferno terestano não é
um espetáculo, ch está no interior da alma, o eu explode e sufoca num instante eter-
ao: como se 4 consciência se imobilizasse para sempre no momento da última fração
de segundo que antecede 0 afogamento ou o aniquilamento, Ninguém irá mais longe
no sentido do horror absoluto), Georges Minois, Histoire des enfers, p. 237.
(19) Na lália, a superposição entre suspeitos de feitiçaria e de possessão diabó-
lica (91 característica da atuação inquisitorial c eclesiástica na época da Reforma ca-
iohica. Ver Giovanni Romeo, Inquisitori, esorcisti e streghe nel" Halia della Controri-
forma, Ihorença, Sansom, 1990,
(45) Para a microfísica do poder, ver Michel Foucault, Mtcrofísica do poder,
trad. org. cintrod. Roberto Machado, 2º ed,, Rio de Janciro, Graal, 1981; 4 verdade
cas formas jurídicas, trad., Rio de Janeiro, Cadernos da puc, 1974. Para a pedago-
gia do medo, ver Bartolomé Bennassar, “VInquisition ou la pédagopie de la peur”,
in Bartolomé Bennassar (org.), Elnquisition Espagnole — XV-XIX* siécle, Paris,
Hachette, 1979, pp. 105-41,
| (41) "[...] on serait tenté d'opposer deux types de sociétés: celles qui pratiquent
Fanthropofagie, c'est à dire, qui voient dans Vabsorption de certains indivídus déten-
leurs de forces redoutables, le scul moyen de neutraliser celles-ci et
pd a mo Pr e
même de les met-
e.
mic ié
indivíduos, antropofagia, ou seja, que vcem na absorção de certos
detentores. de forças temíveis o único
aproveitá-las; e as que, como à nosss = | mico meio e: a :
de neutralizá-las é
e inclusive
poemia (do grego spread, ne a o que poderíamos chamar de antro-
ram a solução inversa. consisáinão det a isa do mesmo problema, escolhe-
=q medpils
ntos destj :
fes tropiques, Paris, Plon, 1955, p praia a este fim], Claude Lévi-Strauss, Tris-
ai
ei so
Feers en Confi ssão”, 11, 26,
France qu XVIF siêcle, Pa-
o
E css min
a
a
238
ris. Plon, 1968, sobretudo à segunda parte, “La crise du satanisme: les procês sean-
aaleux”, pp. 193-363. Michel Carmona, Les diables de Loudun — sorcelierie et poli-
de
rique sous Richelieu, Paris, Fayard, 1988; Michel de Certeau (org.), La possession
pi,
Loudun.
gi
(44) Paul Boyer e Stephen Nissenbaum, Salem possessed — the social origins
gi
of witcheraft, Harvard University Press, 1974. Chadwick Hansen, Witchcraft at Sa-
asse
tem, Londres, Arrow Books, 1928, Enders A. Robinson, The devil discovered — Sa-
is
tem witehcraft, 1692, Nova York, Hippocrene Books, 199].
(45) Remeto mais uma vez à análise de Gilberto Velho: “Transe, possessão €
mediunidade são fenômenos relígiosos recorrentes na sociedade brasileira”, op, cit.,
p. 124. Fu ndamentais na construção da identidade e da noção de indivíduo, esses fe-
o a
nômenos são igualmente responsáveis pela construção do que Clifford Geertz cha-
mou de “'rede de significados”, Velho, op. cit., p. 126. Para Geertz, ver À interpreta-
ção das culturas, trad., Rio de Janeiro, Guanabara, 1989,
(46) Endosso aqui a argumentação de Giovanni Levi, op. cit., pp. 46-7. Nos
sistemas naturalistas, explica-se a doença em termos impessoais, como se os elemen-
vos físicos que compõem o corpo se encontrassem em situação de desordem, de equi
líbrio perturbado, e como se a causa de tal situação fosse totalmente explicável em
termos naturais. Nos sistemas personalistas, a doença pode ser o efeito da interven-
ção, mais ou menos ativa ou intencional, de um agente dotado de sentido (seja divi-
no, sobrenatural ou humano), a pessoa doente sendo vista como objeto de uma agressão
(e às vezes de auto-agressão) e de uma punição que a consideram como pessoa cspe-
cífica: estes sistemas se ocupam do doente e do porquê, « não apenas do como (p. 42).
As formulações do autor são muito interessantes, indo em sentido diverso ao de Keith
Thomas em Religion and the decline of magic — studies in popular beliefs in Six-
teenth and Seventeenth Century England, 4º ed., Londres, Weidenfeld and Nichol-
son, 1980 (trad. Religião e o declínio da magia, São Paulo, Companhia das Letras,
1991) o declínio do elemento mágico na explicação das doenças não foi consegiên-
cia da difusão das práticas e conhecimentos médicos; teria antes havido um longo
período de coexistência « reforço recíprocos explícitos, ao menos no plano ideológi-
co, entre cuidados naturais e cuidados sobrenaturais. '“Tal coexistência não se deu
apenas numa fase inicial confusa, mas também ao longo do período em que se isola-
vam as explicações de tipo naturalista da nova cosmologia médica produzida pelo
racionalismo" (p. 45) — caso curioso de evolução lenta « não conflituosa da inova-
ção, diferente das rupturas bruscas que seriam características, posteriormente, às trans-
formações técnicas (p. 46).
240)
Do
o
Mun-
do. Ver, a respeito, as páginas brilhantes de Serge Gruzinski, “La capture du surnatu-
rel chrétien”', in La colonisation de l'imaginaire — sociétés Indizene
DO mo
s et occidentali-
sation dans le Méxique espagnol — XVE-XVIIF siêcle, Paris, Gallimar
d, 1988, pp.
rm 1
263-97. Na página 282, diz: ““TIs [os europeus) reprochaient aux hallucinogên
mma
es d'être
E
Vinstrument de Satan mais aussi de conduire à la déraison, à la folie
passagere ou
définitive, à Véquivalent de l'ivresse alcoolique et même à la luxure” feles [os
curo-
e
peus) condenavam os alucinógenos por serem instrumentos de Satã mas
igualmente
por conduzirem à desrazão, à loucura, passageira ou definitiva, ao equivale
nte da em-
e
briaguez alcoólica e até à luxúria).
(12) A edição de Léry usada por mim é a segunda, a de 1580, impressa
e
em Ge- |
nebra por Antoine Chuppin e tomada como base por Paul Gaffarel para
a sua edição |
de 1880. Ver Paul Gaffarel, “Notice Bibliographique”” a Histoire d'un vora
ze., |
p. xIv ss. Nas edições posteriores, como na terceira, de 1585, Léry tornaria
ainda mais
explicita a associação entre os ritos tupis e o sabá, incorporando a polêmi
ca demono- |
lógica ocorrida entre Jean Bodin — cuja obra, Démonomanie des sorciers,
se publi- |
cara em 15—80 e Jean Wier. Diz Léry: “*j'ai conclut, que le maistre des unes estoit
le maistre des autres: assavoir, que les femmes Bresiliennes et les Sorciere
s par-deçã
estoyent conduites d'un mesme esprit de Satan: sans que la distance des
lieux, ny te
long passage de la mer empesche ce pere de mensonge d'opperer ça ct lã en
ceux gui
luy sont livrez par le juste jugement de Dieu” [conclui que o senhor de uns era O
mesmo que o dos outros: ou seja, que as mulheres brasileiras e as feiticeiras daqui
!
conduziam-se segundo um mesmo espírito de Satã; sem que a distância dos lugares,
|
nem a longa travessia do mar impedisse tal pai da mentira de agir aqui e lá sobre
|
Os que lhe foram entregues pelo justo julgamento de Deus]. Apud Frank
Lestringant,
[huguenot et le sauvage, Paris, Aux amateurs de livres, 1990, p. 50, nota 21. Lestrim-
gant observa muito a propósito que o capítulo xw de Léry — onde se faz a analogia
entre ritos tupis e sabá — contrasta fortemcom
enote
tom do rest
da obra
o , Ver L'hu-
guenot et le sauvage, pp. 49-50.
(13) A respeito, ver o meu O diab
e a terr
o a de Santa Cruz, São Paulo, Compa-
nhia das Letras, 1986. Mais recentemoen capí
tetulo
, 1 deste trabalho.
(14) Francisco Bethencoun, O imaginário da magia — feiticeiras, saludadores
é nigromantes no século XVI, Lisboa, Projeso Universida
Aberde
ta, 1987, sobretudo
PP. 165 ss. Laura de Mello € Souza, «Witcheraft, sabbath and popu
lar belicfs in Co-
2 s
242,
O
cap. 32, “Les grand procks du pays basque au debut du grs vicio”.
principalmente
4
nes dont une est enflameinte«4 sert & allumer tous les fesx de la
q
résgion”.
Pd
poa
rdRovain Brigas, AlidesMon
sici
ogne niz,
— ie
des men
e
244
e sim degredados: Domingos Álvares (axrt, Inquisição de Évora aiii |
7759), Maria Barbosa (antT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 289) a +» Proc, nº E
(ANTT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 1377). ' 2362), Antônia Maria
(46) Tal quadro se encontra no Museu Nacional
das Janelas Verdes, em Lj boa:
alguns atribuem-no a Jorge Afonso, que o teria pintado por volta de a a oa;
Broc, La géographie de la Renaissance, Paris, Les Éditions du CTHS, 1986, p 208 Ei
autor afirma ter sido fraco o impacto da descoberta da América sobre a ; ii dê ea
tura”' eu ropéia, regist rando, entretanto, tecundações; dentre estas, destaça as verifi-
cadas em meio português: “On signale pourtant dês 1505, une Adoration des mages
de I'école portugaise dont un des protagonistes, coiffé de plumes et portant une flê-
che tupinamba, serait le premier Indien d'Amérique figurant sur une peinture euro-
péenn e..* (p. 208) [Registra-se uma Adoração dos magos da escola portuguesa, já
em 1505, onde um dos protagonistas, com cocar de plumas e trazendo flecha tupi-
nambá, seria o primeiro índio da América a figurar em um quadro europeu...]; “Fi-
O
nalement, le seul pays européen dont Part reflête partiellement "aventure d'outre-mer
est le petit Portugal qui pendant pres d'un siécle a eu le sentiment d'etre le centre
du monde” (p. 210) [Finalmente, o único país europeu cuja arte reflete parcialmente
h
5
a
a aventura ultramarina é o pequeno Portugal, que durante quase um século teve o
sentimento de ser o centro do mundo]. Os exemplos dados pelo autor são os painéis
de Nuno Gonçalves em São Vicente de Fora e o manuelino em geral, com destaque
E
1
º
.—
para a célebre janela do convento de Tomar (p. 210).
(47) Ver Stuart Clark, “Inversion, misrule and the meaning of witehcraft”, Past
|
& Present, nº 87, maio 1980, pp. 98-127.
(48) Francisco Bethencourt, “Witchcraft and Inquisition in Portugal”, ex, da-
tilografado. Maria Cristina A. S. Corrêa de Mello, “*Feiticeiras ou feiticeiros? Bruxos
Luiza
e feiticeiros processados pela Inquisição de Evora”, in Anita Novinsky e Maria
Carne iro (ores. ), Inqui sição : ensai os sobre menta lidad e, heresi as e arte, São Paulo,
Tucci
Edusp/Expressão e Cultura, 1992, pp. 750-61.
esta consi deraç ão, inter preto livre mente o estudo RgRRA VO %
(49) Para fazer
acerc a das duas vias da evang eliza ção na Améri ca: a “positiva
Gustav Henningsen |
os a
e a “negativa”, ou seja, a que transplanta para O Novo Continente 4
para ele, a idéia ocide ntal de Diabo . Henni ngsen mostra ainda
do Cristo e a que traz,
espec ifica mente 0 uso do o |
como certos hábit os amer ican os — mais
que psi no M pr ot |
te — acabaram penetrando no universo dos espanhóis E
of magi c in colon ial Ameri ca”, in Clash es of cultur e: essay s in o
diffusion
nsga ard, ed. Jens Chriscri
tian V. Johan sen, Erling B Ladew ig Peters en é Hen
Niels Stee
160-78.
Stevnsbore, Odense University Press, 1992, pp: : acto parecd e
s anti quís sima s, Que não cabe ic lia i
(50) Apes ar de raíze
ter maior parentesco com as formas eruditas de ver as quest àà terennomada foleIclori orisststa
lori t o Rs
u m es tu do d e t a l
| h a d o e er
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ud it it
o, o,
ria do que o mito do sabá. N
mad o! er |
das crenças: obre DF + aoPa RE y f 7
|
E a
Póc s con sta tou que, alhe io ao univ erso pop ula relas
húngara Eva a por influêr cia ec udi-
mpncepees
Pia!
(1) Olavo Bilac, “O Diabo”, in Conferências literárias, Rio de Janeiro/ São Paulo/
Belo Horizonte, Francisco Alves, 1912, pp. 131-69, 150 e 152.
(2) Antonio Candido, Formação da literatura brasileira — momentos decisivos,
4º ed., São Paulo, Martins, s. d., 2 v., vol. 2, p. 237.
(3) Ver reprodução à p. 179.
(4) Ver Carlo Ginzbureg, Storia notturna — una decifrazione del sabba, Turim,
Einaudi, 1989, passim (trad. História noturna — decifrando o sabd, São Paulo, Com-
panhia das Letras, 1991).
(5) Ver a respeito o capítulo 8 deste trabalho, “Em torno de um mito: a elipse
do sabá””.
(6) Além da já citada Storia notturna, ver também [ benandanti — stregoneria
e cult agrari tra Cinquecento e Seicento, 3º ed., Turim, Einaudi, 1979, cap. n1, “Le
processioni dei morti”” (trad. Os andarilhos do bem — feitiçarias e cultos agrários
nos séculos XVI e XVII, São Paulo, Companhia das Letras, 1988).
(7) Para uma análise brilhante da linguagem dos contrários, ver Stuart Clark,
“Inversion, misrule and the meaning of witcheraft”, Past & Present, nº 87, maio 1980,
pp. 98-127,
(8) Ver, no capítulo 8 deste trabalho (“Em torno de um mito: à elipse do sa-
bá”), a descrição feita por Léry das cerimônias tupis. Para os significados da cabaça
na Santidade do Jaguaripe, ver Ronaldo Vainfas, “Idolatrias luso-brasileiras: “santi-
dades" e milenarismos indígenas”, in Ronaldo Vainfas (org), América em tempo de
conquista, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1992, pp. 176-97.
(9) “Stradelli crê o cateretê indígena. Artur
Ramos, africano. Ezequiel, citado
246
E
por Teófilo Braga, deduziu-o como a dança do século xvi que se cham
sm Portugal”, Luís da Câmara Cascudo, Dicionário Ps No CT
Gs NL, 1954, p. 163. do folelore brasileiro, Rio de Ja-
(10) Luís da Câmara Cascudo, op. cit., pp. 627-8. Do mes; no au
tor, ver também
Made in Africa (pesquisas e notas), Rio de Janeiro, Civilizaçã
o Brasileira, 1965, pp.
132-44, onde diz ter a umbigada sido introduzida no Brasil p elos bant
os ocidentais,
sendo, no século xIx, incorporada até pelos índios; Cascudo ressalta ainda sua re
la-
ção com ritos propiciatórios,
(1 1) Essas palavras f oram utilizadas pelo autor devido ao caráter genuinamente
brasileiro, e delas anotou o significado, explicando-o: de jirau, por exemplo, disse:
“é uma palavra brasileira que significa um leito grosseiro de pau, armado entio a
ramos das árvores”. Ver Poesias completas de Bernardo Guimarães. Org., introd., cron
e notas Alphonsus de Guimaraens Filho, Rio de Janeiro, mec-int, 1959, p. 473. >
(12) Julho Caro BArOJA: Les sorciêres et leur monde, trad., Paris, Gallimard, 1972,
cap. “La sorcellerie dans V'art et la littérature”, pp. 241-51, citações nas páginas 243,
247 e 248.
(13) Ver a relação das águas-fortes em Caro Baroja, op. cit., p. 247, nota 4.
(14) Robert Mandrou, Magistrats et sorciers en France au XVIP siêele, Paris,
Plon, 1968, pp. 539-64.
(15) Para o interesse ilustrado pela cultura popular, ver a boa síntese de Peter
Burke, Popular culture in Early Modern Europe, Londres, Temple Smith, 1978, cap.
|, “The discovery of the people”, pp. 3-22. Para a formulação de Lynn Thorndike,
ver A history of magic and experimental science, Nova York, 1929-34, 4 vols.
(16) Ver Caro Baroja, op. cit., cap. xvi, “A grande crise”, e cap. xvir, “O sécu-
lo das Luzes”, onde, na página 235, se encontra a consideração sobre monsieur Oufle.
(17) Voltaire, Dictionaire philosophique, Paris, 1821, Iv, pp. 343-4, verbete
“Boue”.
(18) Para a mania da sociedade francesa pelos contos de fadas, ver Philippe Ariês,
CVenfant et la vie familiale sous VAncien Régime, Paris, Seuil, 1973, pp. 95-9. Na pá-
gina 99, diz o autor: “Ainsi les vieux contes que tous écoutaient à "époque de Col-
bert et de Mme. de Sévigné, ont été peu à peu abandonnés par les gens de qualité,
puis par la bourgeoisie, aux enfants et au peuple des campagnes. Celui-ci les délaissa
à son tour quand le Petit Journal remplaça la Bibliothêque Bleue; les enfants devin-
rent alors leur dernier public...” [Assim, os velhos contos que todos ouviam na época
de Colbert e de Mme. de Sévigné foram, aos poucos, abandonados pelos nobres, de-
pois pela burguesia, às crianças e à gente dos campos. Estes, por sua vez, os abando-
naram quando o Petit Journal substituiu a Bibliothêque Bleue, as crianças se torna-
ram então o seu último público...).
(19) Victor Hugo, Odes et ballades, Paris, 1862, Balada x1v, pp. 356-61 (a obra
é de 1823-8); Théophile Gautier, “Albertus”, in Poésies completes, Paris, 1896, 1, PP:
177-83, estrofes cvm-cxx. Caro Baroja, Op. cit., p. 249. J. W. Goethe, Ent trad.
Agostinho d'Ornellas, introd. Paulo Quintella, Lisboa, Clássicos Relógio d'Água, 5. à,
noite de Walpurgls OU ds gn
daho
“Noite de Walpurgis”, pp. 179-91, e “Son
cias de Oberon e Titânia”, pp. 193-9. Para uma tradução mais livre, mas sem d di
E meti Livraria Clássica Edi-
mais bela, Fausto, trad. Antonio Feliciano de Castilho, Lisboa, Livra ATberan €
tora, 1919, “Noite de Santa Valburga”, pp. 35787; “ Áureas núpcias de Alber
Titânia ou os Cincoenta anos de casados”, pp. 393-406.
+ in O discurso € a cidade,
(20) Ver Antonio Candido, “A poesia pantagruélica
* m o e s i a pantagruélica””
São Paulo, Duas Cidades, 1993. Neste ensaio, O autor vea
”
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ga do s a Ju di th s e S a l omés
to do co rp o ret ra ta do po r temas li
5. A decapitaç ão — despedaçamen xi sm o do horror.
mo ti vo mi to ló gico e at in ge O pa ro
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abaixo, O VOO.
1. A obsessão pelos suplícios impregna a icono-
grafia européia da época do Renascimento.
—
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DO
a,
| Taeé
sabá na cultura óricoa, él stone
laura de Mello e Souza é, sem Jtrn
a perecuição los cout
dúvida, pesquisadora de ponta
atro-brasileiros e dos td: dentricts
em nossa historiografia, e uma das
hispano ainetdiedtas,
primeiras a adotar a perspectiva das
mentalidades e da história cultural O conjunto da obra traz, Ho lundo,
pr ob le má li co s « e qr on de aledtes:
na investigação das religiosidades duas
tiadi po fofo, Ele)
r Om pes
coloniais luso-brasileiras. Demonstrou C] questão dc
CI le do |
Des inerte
isso em O diabo e a Terra de Santa Cruz do “oulri ni No
oa incora,
fl ex ão so br e à Hr on te it
(Companhia das letras, 1986), estudo e a re
dedicado às representações e vivências misteriosa e quase invisível, ento
do sagrado nos primeiros séculos o divino e o demoníaco na cultura
brasileiros, examinando sincretismos européia, irrigada, sem clúvides,
la re li gi os id : id e da s Am ér ic as .
que, aos olhos da Inquisição, pe
se transformariam em feiticaria Inferno Alléntico é, por tudo 550,
obra de gr an de Im po rt ân ci a em no s E]
e cultos diabólicos.
Em Inferno Atlântico a historiadora historiografia, livro capaz de Ilumina
aprofunda a problemática do livro áreas de sombra de nossas
anterior, adensando, por um lado, religiosidades a a originalid de
Fa análise das relações entre crenças de nossa cultura.
religiosas e colonialismo, Fonaldo Volntos
e verticalizando, de outro lado,
o estudo microscópico da religiosidade
cotidiana. Descortinando
representações populares e eruditas do
Diabo europeu, quer na colônia, quer
na metrópole, laura produz, uma vez
mais, um livro instigante, a provocar
a imaginação do leitor e a contribuir
para o conhecimento de nossas
raízes culturais.
Na primeira parte, a autora insere
as religiosidades no amplo quadro do
sistema colonial e das mudanças por
que passava a Europa no século XVI.
Nela se destacam o estudo comparativo
entre as imagens do diabo na América
Portuguesa e Hispânica, as
ressonâncias das crenças tupis na ltália,
g diversidade das práticas religiosas na
loura de Mello e Souza nasceu em
colônia e o notável estudo do degredo
São Paulo, em 1953, tendo leito toda
como mecanismo de difusão cultural a sua formação acadêmica,
no mundo ibérico. da graduação à livre-docência,
No segunda parte, lavra se dedica no Departamento de História da
q temas microscópicos: os aspecios Universidade de São Paulo, onde é
contestatórios da religiosidade popular professora de História Mo: lema desde
nos êxtases dos visionárias; as 1983. E autora de Desclassilicados do
“interpenetrações da linguagem sagrada ouro (Graal, 1982) e O diabo e à Terra
e da erótica na vivência religiosa; as de Santa Cruz (Companhia das Letras,
possessões e exorcismos; a elipse do 1986).
=
os 87] id :