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Poezine

Otávio Marques
Manifesto
Que os deuses da guerra permitam
Que eu pereça no confronto
Abatido feito um monstro
Que em frenesi avança enquanto as
legiões inimigas sangram

Guerreiro, Guerreira, abdicaras da


própria vida
Não se preciso for
Mas, quando no fronte se por,
Nossa humanidade será corrompida

Se por acaso a corja inimiga seja


vencida
E tuas mãos se mantiverem plácidas
Com sangue vil não foram
manchadas
Então provará da glória alcançada
Pois se lutaremos, sangraremos e
mataremos
Aceitamos o destino: Vitoriosos, não
viveremos
Ainda que com o peito pulsante
Não poderemos viver como um
semelhante

Não alçaremos glória em meio as


mulheres e h omens,
Não mais os seremos
Em nós a macula concentraremos
Exilados, vigiaremos
Em eterna missão
Em vida, em morte, em solidão
Assegurar a revolução

Aceitemos ser pária


Acima apenas do vil opressor
O nosso sacrifício será lembrado
Mas, com honrarias não seremos
nomeados
Não seremos martirizados

Sangraremos
Para não haver nenhum escravizado
Morreremos
Para ninguém mais ser subjugado
Viveremos
Para contra a retaliação estar
preparado
Mas não se preocupe combatente
Não vigiaras só, estarei ao teu lado
Então, quando sentir no teu peito o
chamado
Me chame de aliado
Quando temer a morte
A vida já teremos abandonado
Quando vencermos
Dividirei o fardo

E de bom grado
Lutaremos
E de bom grado
Morreremos
E de bom grado
Vigiaremos
E de bom grado
Sorriremos
Quando, de longe, vermos
A aurora do mundo pelo qual nos
sacrificaremos

E nosso pecado será espiado


Quando não mais haver retrocesso
pra ser enfrentado
Quando o povo tiver alcançado
O mundo por nós tanto sonhado
Nunca tocamos ninguém de fato
Um infinito abismo entre átomos
Estamos sozinhos vagando pelo vácuo
O que abrande a solitude
O que preenche a alma erma
Inunda o abismo e se infiltra pelas
fronteiras

O acalanto de outra alma


O contato, mas não de corpos
A sincronia, essências em sintonia
A transcendência de suscitar um sorriso
Mesmo que eternos abismos separem
Estará contigo

Almas em comunhão
Real conexão
A ternura que inflama em nosso coração
Condenados a estarmos sempre sozinhos
Mas ao mesmo tempo, não.
Cada vida é um ponto feito a caneta
Espirais de borrões de tinta
Possibilidades gêmeas
Dançando em folhas manchadas

Nenhuma linha é traçada


Futuro é antes na reta
Vida espiralada
Tudo é lembrança
Girada

Cães caçando caudas


OUSAR LUTAR
OUSAR MORRER
OUSAR SONHAR
OUSAR VENCER
Cansei-me dessa antropofagia
Cansei-me de consumir teus restos
falhos
Se chorastes ou não perante a morte
Pouco me importa
Eu aspiro as cinzas de mim mesmo
Lá, onde mil vezes venço
E por dez mil vezes pereço
No limbo das almas que carrego
No necrotério de lembranças
No baluarte de erros
Eu, curaDor dessas obras maculadas
Suicida autofagista
Eu poeta.
Sou poeta
Palhaço
Bobo
Que adentra no salão
Com sua lira alegra a corte
Com piada, com canção
Por um tempo cumpre sua missão:
Trazer alegria a quem lhe abre o
coração
Mas o tempo passa
A alegria que causa, cada vez mais
rasa
A canção se torna maçante
A piada perde a graça
Pra não causar mal, segue adiante
Chora, pra não causar mal vai
embora
Sou músico
Que pega o vagão
E por um momento alegra a multidão
Mas passa uma estação
Passa mais uma estação
Quando passa a incomodar deixa que
sigam sua direção
O poeta vaga, sem rumo, buscando
outro castelo, povo, cidade, vagão
Buscando outro coração
Não é inteiro
Mas lhe cedem quartos
Onde repousa nos risos
Que enchem seu chapéu vazio

Se alimenta da alegria que fomenta


Pra compensar a dor causada pela
sua existência
Pra quem só causa dor
Nada resta a não ser tentar
compensar
distribuindo um pouco de amor.
Amei
No meio do caminho
Me vi na travessia

Tem meios de amar


Mas não aceite um amor ao meio
Amor é semear
Não é colher
É plantar e é regar
Amor é se-meiar
Mas tem que ser amor inteiro
Cuidado pra não enterrar
Se não souber cuidar
Como é que vai germinar?
Então me diz
Quais são os meios de te amar
Que eu te dou inteiro o meu meio
@Oitava_Poesia
Otávio Marques

11 9 7376-0774

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