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Poemas sem

morada
- Otávio Marques
Trilha seu caminho
Deixando ao chão os espinhos
Carregando as rosas consigo
Caminha por sua trilha
Perfumando o destino
Tua vida é guerrilha
Mas tu bem sabes, não és ilha
Tem ao teu lado a razão e a justiça
E dentro do peito a força que insiste em ser
escondida
Eu sei, ainda ardem as feridas
Mas há de semear as plantas curativas
Por onde passa planta
Cada alma que toca, encanta
O arrebol é mais belo refletido no teu riso
E por mais que a noite pareça eterna
Tua luz é o guia preciso
Ilumina o andar
E de todo aqueles por quem passar
Descanse, pois o mundo há de conquistar
Nomade de corações
Curandeiro pestilento
Emissário do bem
Arauto da dor
Poeta de vagões
Condenado a repetir canções
Entidade sem casa
Sol andarilho
Aquece se passa
Queima se para
Chapéu de risos
Carente de afago
Arlequim ensandecido
Elétron solitário
Da boca lançam-se agrados
Da alma vaza miasma
Perfume doce
Excesso cáustico
Dom de daimon
Maldição celestial
Baluarte autofagico
A quebra de uma alma fragmentada
Não destrói, espalha
Multidão se multiplica
Mas por um instante
Fractais d'alma
Em pranto uníssono
Domo
Pelo fogo
Karma desde o encarna
Maldição e bênção
Inimputável essência
De volto ao princípio
Jogando mais moedas ao caronte
Preço de outra falha
Deixa
Deixa o mundo acabar
não adianta sair pra procurar
cobertura dessa tempestade
não vai adiantar

faz tempo que o sol


corteja nosso mar

então deixa
Deixa o sol se aproximar

esquece o planejado
ta tudo adiado
pra depois do fim do mundo
não se preocupe, depois de acabar
é só recomeçar

então vem
me da tua mão
vamos dançar na praia
lembrar a infancia
construir catelos de areia

e quando o sol se apoximar


paredes de vidro vão se formar

cristais
refratam o arco-iris
mas deixa eu te contar
se quer ver o arco-iris
vai ter que aprender a gostar
de se molhar

e a chuva que cairá


água salgada
é choro de mar
mas é choro de alegria

vamos contemplar,
sol e mar
sol a mar

deixa o mundo acabar


deixa
Se pudesse caminhar pelo tempo
Voltaria aos sonhos de criança
Ou avançaria aos segundos finais, onde
em meus olhos assistiria toda desilusão
e contemplaria o fim
Talvez, só estenderia os 5 minutos que
antecedem a alvorada

Se pudesse correr veloz como uma


flecha
Rodaria o mundo, respiraria o ar puro
de mares, florestas e montanhas
Ou venceria as olimpiadas
Talvez, só não me atrasaria pro trabalho

Se pudesse cruzar as nuvens


Voaria com os pássaros e seria o único a
ouvi-los cantar
Ou vislumbraria únicas paisagens
Talvez, só me esconderia atrás de uma
nuvem para cochilar

Se respirasse como peixes


Desbravaria os oceanos, dançaria com
golfinhos
Ou reergueria Atlântida
Talvez, só não mais me importaria com
a chuva

Se pudesse ouvir os murmúrios da


mente
Desmascararia Charlatões
Ou exporia as verdades do mundo
Talvez não seria mais iludido, ao
menos, venceria no truco

Se pudesse erguer carros


Salvaria soterrados
Ou carregaria todas dores do mundo
Talvez, só evite a fadiga de carregar
uma mochila

Se meu sopro resfriasse


Impediria incêndios
Ou forjaria belas esculturas
Talvez, só usaria no verão

Se a sorte me favorecesse
Compraria ações
Ou ajudaria os outros certo de sucesso
Talvez, só veria a moeda sempre cair
coroa

Se possuísse genialidade
Curaria o câncer e todas as chagas
Ou evoluiria o mundo
Talvez, só passasse na prova

Se pudesse ver o futuro


Evitaria desastres
Ou tomaria sempre as melhores
decisões
Talvez, só assistisse a próxima
temporada

Se pudesse transmutar a realidade


Uniria os povos
Ou baniria a tristeza
Talvez, só não teria acabado de perder o
ponto
Que meus olhos vislumbrem
As chaves sendo compostas
Encaixadas
Alteradas
Cada portal, uma imagem acústica
Que ressoa na retina
As chaves devem abrir, não enganar
Cuidado ao elas diferenciar
Chaves se quebram, portas se perdem
Caminhos se forjam, portas se fundem
O todo é maior que a soma das partes
Quanto mais luz eu jogo sobre o mundo
mais sombras se projetam
A superfície reflexiva da verdade
ofusca minha visão
Meu anjo é um dos caídos
Meu demônio não passa de um deus
profanado
Ilusões dentro de um espelho quebrado
Eu insisto na pederneira
Enquanto o mundo é chuva
Quanto dele sou produto
@Oitava_Poesia
Otávio Marques

11 9 7376-0774

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