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CURSO DE APERFEIÇOAMENTO AVANÇADO

EM OPERAÇÕES DE PAZ E HUMANITÁRIAS


PARA PRAÇAS FUZILEIROS NAVAIS A
DISTÂNCIA
(C-ApA-OpPazHum-Pr-FN-EAD)

DISCIPLINA: OPERAÇÕES HUMANITÁRIAS DE


FUZILEIROS NAVAIS (CÓDIGO: OpPazHumIII)

Unidade de Ensino 3:
PLANEJAMENTO
Tópicos
3.1 – Considerações Iniciais;
3.2 – Fatores da Decisão; e
3.3 – Inteligência.
3.1 – Considerações Iniciais
No planejamento e execução de OpHum, verifica-se que o componente militar
participante é composto, normalmente, por frações que executam tarefas em apoio a
esforços políticos e humanitários de maior magnitude. Em decorrência disso, aos
grupamentos operativos a serem empregados, diferentemente do emprego em situação
de combate, não caberá o esforço principal, requerendo de seus comandantes uma nova
abordagem em seus planejamentos para adaptá-los ao cumprimento de tarefas não
tradicionais. Entretanto, as caraterísticas de flexibilidade, ciclicidade e continuidade,
presentes no processo de planejamento militar, certamente serão de grande valia aos
comandantes, em decorrência da complexidade inerente às OpHum.
3.2 - FATORES DA DECISÃO
A natureza e especificidades das OpHum apontam para a
necessidade de se conduzir o
planejamento de maneira não usual. Serão apresentados, a
seguir, alguns aspectos que
os comandantes devem levar em consideração quando da
análise dos fatores da decisão,
ou seja, o MITM-T (missão, inimigo, terreno, meios e tempo
disponível).
3.2.1 - Missão
No planejamento usual, as missões atribuídas o são, normalmente, com tarefas e
propósitos claramente estabelecidos, baseados em objetivos políticos e/ou militares
definidos. Nas OpHum, a natureza emergencial não permite o desenvolvimento
completo do processo de planejamento militar e, quase como regra geral, a
situação é pouco clara e sofre constantes e rápidas mudanças. Por estes motivos,
o estabelecimento da missão é um dos itens mais difíceis para o comandante. Ele
deve estar atento a estabelecer tarefas que conduzam diretamente ao atendimento
do propósito, de forma clara e concisa, levando em conta o relacionamento com
outras organizações que prestam ajuda humanitária, o ambiente operacional e
considerações de segurança. Uma vez redigida a missão, esta deve ser submetida
ao comando superior para aprovação e avaliação dos detalhes políticos.
3.2.2 - Inimigo
Os comandantes estão acostumados a desenvolver seus planejamentos baseados em um
inimigo claramente definido e buscam conhecer não só sua ordem de batalha como seu
centro de gravidade, de forma a atingi-lo de forma eficaz e rápida. Neste tipo de operação
não haverá um inimigo claramente definido. Isso geralmente induz os planejadores a criar
inimigos, tomar algum partido e subestimar situações complexas. O inimigo pode ser algo
mais abstrato como o anarquismo, a fome, as diferenças étnicas, o tribalismo ou outro fator
de difícil quantificação e entendimento. No entanto, é interessante registrar que a análise
histórica do emprego de forças militares em OpHum aponta para a ocorrência da
necessidade de emprego de tropas em ações de combate contra parcela da população local
que venha a constituir milícias. Ainda que a intervenção tenha sido consentida pelo governo
vigente, não se pode afastar, em hipótese alguma, a possibilidade dessas milícias atuarem
violentamente contra as tropas de intervenção, podendo, inclusive, ameaçar sua integridade
física.
3.2.3 - Terreno
As OpHum normalmente têm lugar em áreas com pouca infra-estrutura ou
que foram severamente degradadas por alguma catástrofe natural ou
produzida pelo homem. As forças militares envolvidas devem ter o máximo
cuidado quando obrigadas a utilizar-se dessa infra-estrutura, de forma a
não degradá-la ainda mais. Os portos, campos de pouso, rodovias, etc.,
certamente serão objetos de disputa pelas agências humanitárias, já que
necessitam dessas instalações para movimentar os suprimentos e itens
emergenciais colocados à disposição da operação. Com o decorrer das
ações, as instalações de apoio necessitarão de reparos e/ou melhorias e,
certamente, as forças militares deverão enfrentar limitações quanto ao seu
uso.
3.2.4 - Meios
As operações combinadas, onde temos mais de uma força atuando no cumprimento de uma mesma
missão, são reconhecidamente de difícil planejamento e execução. Nas OpHum essas dificuldades são
ainda maiores devido à sua própria natureza, aos diversos organismos envolvidos e aos entendimentos
políticos sobre o problema que cada país traz para a área da operação. Torna-se necessário que os
comandantes conheçam em profundidade o problema a enfrentar, para que possam organizar os
grupamentos operativos de forma eficaz para o cumprimento das tarefas. Qualquer alteração na missão
só pode ser concretizada após consulta aos escalões superiores e deve ser amplamente divulgada e
entendida por todos. A necessidade de interoperabilidade entre os diversos componentes dará margem
ao surgimento de diversos problemas, principalmente os relacionados à política, costumes locais e
regionais, doutrina, procedimentos e dificuldades técnicas, como a recorrente incompatibilidade dos
sistemas de comunicações. Os componentes ou agências civis envolvidos em tarefas como assuntos
civis e aconselhamento político desempenham papel primordial nas OpHum. Portanto, integrantes dos
grupamentos operativos devem ter o pleno conhecimento da importância e do trabalho desenvolvido por
essas agências e estar em estreita ligação e coordenação com essas agências, de modo a manter-se
permanentemente atualizado com a situação reinante.
3.2.5 - Tempo Disponível
Situações emergenciais exigem respostas rápidas. As
catástrofes não esperam até que uma força ideal seja
formada e posicionada adequadamente no terreno. Os
comandantes devem estar preparados para serem
rapidamente empregados em vastas áreas e com forças
subdimensionadas. Como nas operações anfíbias, o tempo
é fator essencial e o bom uso desse fator trará vantagens
na luta contra as epidemias, a fome e a desordem.
3.3 - INTELIGÊNCIA
Similarmente às operações anfíbias, as OpHum apresentam como primeira dificuldade o fato de
que o contato com as forças oponentes se dará somente após o firme estabelecimento do
grupamento operativo na área designada. Portanto, a busca de conhecimentos torna-se uma
das tarefas mais difíceis de se empreender. Além disso, as particularidades que envolvem esse
tipo de operação muitas vezes delineiam objetivos de inteligência aos quais as forças militares
não estão acostumadas. Muitos deles advém de dados ligados a taxas de desnutrição, potencial
de disseminação de doenças, recolocação de pessoas deslocadas, aspectos políticos, étnicos e
religiosos e níveis de criminalidade. É vital que os estudos de inteligência estejam voltados para
os fatores culturais e os costumes das populações atingidas, de forma que se possa entender
as pessoas e as situações peculiares que as influenciam. A grande maioria dos dados e
informes coletados tem origem nas frações que realizam patrulhas a pé e motorizadas,
enquanto que o reconhecimento aéreo serve para validar esses conhecimentos. Os informes
obtidos por fonte única, normalmente, são incorretos e exigem confirmação por outras fontes.
3.3 - INTELIGÊNCIA
O estabelecimento de fontes de dados nas OpHum, mesmo que as de mais baixo nível, como informantes e agentes
infiltrados é difícil pois requer um processo longo e complicado. Além disso, a resposta destas fontes de dados é quase
sempre incompleta, devido à constante evolução dos acontecimentos na área de operações. Os comandantes devem ter
em mente que o estabelecimento de uma rede de informantes é um processo demorado, baseado na criação de uma
relação de confiança entre fontes e equipes de operações de inteligência. Portanto, tratar os assuntos de inteligência de
forma açodada e intempestiva não trará benefícios ao planejamento. Outro problema encontrado quando da realização de
OpHum em territórios estrangeiros são as diferenças lingüísticas. Muitas vezes a contratação de tradutores locais, que
estejam ligados a facções do poder regional, pode levar a interpretações tendenciosas nos estudos de inteligência
realizados. Outras vezes a contratação de nossos nacionais, residentes no país, pode colocá-los em risco, já que podem
ser considerados como integrantes de nossas forças e, dessa forma, não configuram o caráter imparcial inerente ao
trabalho de tradução. Portanto, deve ser dada atenção especial ao emprego de tradutores, para que possam transmitir a
essência de seu trabalho, ou seja, a imparcialidade e que sejam de nossa inteira confiança. Os comandantes devem
entender a importância da atividade de inteligência e apoiar as ações para se obter os conhecimentos necessários que
irão auxiliar na execução das operações. O CGCFN-20 Manual de Inteligência de Fuzileiros Navais aborda toda atividade
de inteligência e deverá ser seguido pelos comandantes e seus estados-maiores no desenvolvimento das metodologias
para a produção dos conhecimentos. Os conhecimentos necessários de interesse de um GptOpFuzNav são os
constantes do Anexo - Conhecimentos necessários para as Operações Humanitárias.

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