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ELEUSON MARCOS NUNES

O EMPREGO DAS OPERAÇÕES DE INFORMAÇÃO COMO FORMA DE


CRIAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA NARRATIVA DOMINANTE FAVORÁVEL
JUNTO À OPINIÃO PÚBLICA NAS OPERAÇÕES CONJUNTAS: UMA
PROPOSTA DE PLANEJAMENTO DA MANOBRA INFORMACIONAL.

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia


apresentada ao Departamento de Estudos da
Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos
de Política e Estratégia.

Orientador: Cel R/1 Alexandre José Corrêa

Rio de Janeiro
2022
C2021ESG

Este trabalho, nos termos de legislação


que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitida a transcrição parcial de textos
do trabalho, ou mencioná-los, para
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referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho
são de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG.

_________________________________
ELEUSON MARCOS NUNES

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

N972e Nunes, Eleuson Marcos

O emprego das operações de informação como forma de criação e


consolidação da narrativa dominante favorável junto à opinião pública nas
operações conjuntas: uma proposta de planejamento da manobra
informacional / Cel. EB Eleuson Marcos Nunes. - Rio de Janeiro: ESG,
2022.

85 f. : il.

Orientador: Alexandre José Corrêa


Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à
obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia
(CAEPE), 2022.

1. Brasil - Forças armadas – Opinião pública. 2. Operações militares –


Opinião pública. 3. Forças especiais (Ciência militar) – História. 4.
Comunicação de massa - Aspectos sociais – Brasil. 5. Comunicação –
Aspectos psicológicos. I. Título.

CDD - 356.167
Elaborada pelo bibliotecário Antonio Rocha Freire Milhomens – CRB-7/5917
A Deus por tudo o amparo e proteção em
todos os momentos da vida.
A minha família Adriana e Gabriel por
todo o companheirismo, suporte,
compreensão e paciência neste período
de elaboração deste trabalho.
AGRADECIMENTOS

A minha esposa Adriana Bosio Nunes pela compreensão, apoio e


companheirismo nos momentos em que este trabalho foi priorizado.
Ao meu filho Gabriel Bosio Nunes, por me fazer compreender a essência da
vida.
Aos meus pais Sebastião Nunes da Silva Sobrinho e Maria Nadir da Costa
Nunes, pelo amor com que me conceberam e educaram, pelas inúmeras horas que
velaram meu sono, e pelas palavras de incentivo a cada tropeço de minha jornada,
minha eterna gratidão.
Ao corpo permanente da Escola Superior de Guerra que brilhantemente
conduziu este curso, permitindo a ampliação dos conhecimentos e melhor
capacidade de entendimento e compreensão de nossa Nação.
Ao meu orientador Cel R/1 Alexandre José Corrêa, pelas orientações e
clareza com que me conduziu nos caminhos deste trabalho.
“Nada resiste à força invisível e misteriosa
que se chama Opinião Pública”.

Napoleão Bonaparte
RESUMO

A informação é o componente primordial da Era do Conhecimento. A produção, a


obtenção, a disseminação e o emprego coordenado de informações relevantes,
seletivas e oportunas, para públicos de interesse têm relação direta com o êxito de
uma Operação Militar (Op Mil). Neste contexto, a Opinião Pública (Opi Pub),
relacionada com a mídia, os civis não combatentes, os grupos e organizações
presentes em áreas conflagradas, o público de massa, seja ele nacional ou
internacional, e os dirigentes e líderes em todos os níveis, assume papel
preponderante no emprego das forças militares, acabando, até mesmo, por exercer
o papel de protagonista na solução de crises e no decorrer dos conflitos. Este
trabalho tem por finalidade apontar a necessidade da execução do gerenciamento
estratégico das informações no mais alto nível de planejamento, por meio do
emprego das Operações de Informação (Op Info) nas Operações Conjuntas (Op Cj),
a fim de que a Opi Pub de uma determinada área conflagrada possa ser influenciada
e efeitos desejados possam ser atingidos, em apoio à execução de uma Op Mil.
Para tanto, foi evidenciada a necessidade do planejamento e execução de
planejamento e emprego de ações na dimensão informacional, de forma antecipada,
coordenada e contínua, envolvendo as Capacidades Relacionadas à Informação
(CRI) disponíveis para emprego conjunto que, neste trabalho, será denominada de
manobra informacional. Contribuiria, principalmente, para a obtenção da
superioridade informacional e preservação da liberdade de ação, além de permitir a
criação e consolidação da narrativa dominante favorável junto à Opi Pub em relação
ao emprego das Forças Armadas (FA), em um contexto de Guerra de Informação. O
método de abordagem selecionado para a execução desta pesquisa foi o indutivo,
pois, por meio do conhecimento prévio do assunto e observações particulares sobre
o emprego das Op Info no nível tático, foi demonstrada a viabilidade da adoção de
uma manobra informacional com emprego de ações não cinéticas no nível
estratégico, antecipadamente à uma Op Mil e, posteriormente, em seu apoio. O
procedimento foi monográfico, pois concentrou-se nas atividades de Op Info no nível
estratégico (MD) para a criação e consolidação da narrativa dominante favorável
junto à Opi Pub, com a finalidade de sua adequação aos pressupostos contidos na
doutrina, observando-se todos os fatores que a influenciam.

Palavras-chave: Forças Armadas; Opinião pública; Operações militares; Forças


especiais (Ciência militar); História; Comunicação de massa; Aspectos sociais;
Comunicação; Aspectos psicológicos.
RESUMEN

La información es el componente principal de la era del conocimiento. La


producción, adquisición, difusión y uso coordinado de información relevante,
selectiva y oportuna para los públicos de interés están directamente relacionados
con el éxito de una operación militar. En este contexto, la opinión pública,
relacionada con los medios de comunicación, los civiles no combatientes, los grupos
y organizaciones presentes en las zonas de conflicto, el público masivo, ya sea
nacional o internacional, y los líderes y lideresas en todos los niveles, asume un rol
protagónico en el uso de las fuerzas militares, llegando incluso a jugar un papel
protagónico en la solución de las crisis y en el transcurso de los conflictos. Este
trabajo tiene como objetivo señalar la necesidad de ejecutar la gestión estratégica de
la información al más alto nivel de planificación, mediante el uso de Operaciones de
Información en Operaciones Conjuntas, para que se pueda influir en la opinión
pública en un área de conflagración determinada e se pueden lograr los efectos
influenciados y deseados, en apoyo de la ejecución de una operación militar. Por lo
tanto, se evidenció la necesidad de la planificación y ejecución de acciones en la
dimensión informacional, de forma anticipada, coordinada y continua, involucrando
las Capacidades Relacionadas con la Información disponibles para uso conjunto,
acción que en este trabajo, se llamará maniobra informativa. Contribuiría
principalmente a obtener superioridad informativa y preservar la libertad de acción,
además de permitir la creación y consolidación de la narrativa dominante favorable a
opinión pública en relación al uso de las Fuerzas Armadas, en un contexto de guerra
de la Información. El método de abordaje seleccionado para la ejecución de esta
investigación fue el inductivo, pues, a través del conocimiento previo del tema y de
observaciones particulares sobre el uso de Operaciones de Información a nivel
táctico, se demostró la factibilidad de adoptar una maniobra informacional con el uso
de acciones no cineticas a nivel estratégico, antes de una operación militar y luego
después en su apoyo. El procedimiento fue monográfico, pues se centró en las
actividades de Op Info a nivel estratégico para la creación y consolidación de la
narrativa dominante favorable a opinión pública, con el fin de adecuarla a los
supuestos contenidos en la doctrina, observando todas las factores que influyen en
ella.

Palabras clave: Fuerzas Armadas; opinión pública; Operaciones militares; Fuerzas


Especiales; Historia; Comunicación de masas; Aspectos sociales; Comunicación;
Aspectos psicológicos.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Espectro dos Conflitos, negociação e emprego de ações não cinéticas ... 37
Figura 2 - Efetividade dissuasória das Op Info .......................................................... 49
Figura 3 - Concentração das Op Info na Fase I.........................................................51
LISTA DE ABREVIATURAS

APOP - Agentes Perturbadores da Ordem Pública

A Op - Área de Operações

CMT - Capacidades Militares Terrestres


CO - Capacidades Operativas
CRI - Capacidades Relacionadas à Informação
CG - Centro de Gravidade
CCOMGEX - Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército
CCOMSEx - Centro de Comunicação Social do Exército
COMDCIBER - Comando de Defesa Cibernética
CS - Comandante Supremo
Com Soc - Comunicação Social
CMSE - Comando Militar do Sudeste
Com - Comunicações
C AVcd Op Psc - Curso Avançado de Operações Psicológicas
CPO - Conceito Preliminar da Operação

C Intlg - Contrainteligência
DMT - Doutrina Militar Terrestre
Eng - Engenharia
EFD - Estado Final Desejado
EI - Estado Islâmico
EUA - Estados Unidos da América
EMCFA - Estado Maior Conjunto das Forças Armadas
EI - Estado Islâmico

END - Estratégia Nacional de Defesa

EB - Exército Brasileiro

FA - Forças Armadas

F Ter - Força Terrestre


FTC - Força Tarefa Componente

GLO - Garantia da Lei e da Ordem

G Ciber - Guerra Cibernética

GE - Guerra Eletrônica

Info Pub - Informações Públicas

Intlg - Inteligência

MD - Ministério da Defesa

MINUSTAH - Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti

Op Cj - Operações Conjuntas

Op Info - Operações de Informação

Op Mil - Operação Militar

Op Psc - Operações Psicológicas

Op Pub - Opinião Pública

OSP - Órgãos de Segurança Pública

ORCRIM - Organizações Criminosas

OODA - Observar, orientar, decidir e agir

PBC - Planejamento Baseado em Capacidades

PD - Pontos Decisivos

PND - Política Nacional de Defesa

PPC - Processo de Planejamento Conjunto

PPCOT - Processo de Planejamento e Condução das Operações Terrestres

Pub A - Público Alvo

RP - Relações Públicas

SIE - Sistema de Inteligência do Exército

TO - Teatro de Operações
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13

2 DOCUMENTOS CONDICIONANTES DE MAIS ALTO NÍVEL .............................. 19


3 A GUERRA DE INFORMAÇÃO ............................................................................. 22
4 OPERAÇÕES DE INFORMAÇÃO ......................................................................... 26
4.1 As Operações de Informação nas Operações Conjuntas .......................... 26
4.2 As Operações de Informação no Exército Brasileiro.................................. 29
4.2.1 Comunicação Social ..................................................................................... 30
4.2.2 Operações Psicológicas ............................................................................... 31
4.1.3 Guerra Eletrônica .......................................................................................... 31
4.2.4 Guerra Cibernética ........................................................................................ 32
4.2.5 Inteligência .................................................................................................... 32
5 MANOBRA INFORMACIONAL: PERTINÊNCIA DIANTE DA DOUTRINA
MILITAR TERRESTRE..............................................................................................33
5.1 Manual de Doutrina Militar Terrestre ............................................................ 35
5.2 Manual de Campanha: Operações................................................................ 39
5.3 Catálogo de Capacidades do Exército Brasileiro........................................ 41
5.4 Repercussões da Doutrina Militar para a Dimensão Informacional .......... 42
6 A DIMENSÃO INFORMACIONAL E O EXÉRCITO AMERICANO ........................ 44
7 A OPINIÃO PÚBLICA E A DOUTRINA MILITAR ................................................. 52
7.1 O que é Opinião Pública? .............................................................................. 52
7.2 Alguns casos históricos ................................................................................ 55
8 OPERACIONALIZANDO A MANOBRA INFORMACIONAL ................................. 58
8.1 Processo de Planejamento Conjunto com foco no terreno humano ........ 59
8.1.1 Arte Operacional e seus Elementos .............................................................. 63
8.1.2 O Desenho Operacional sob a ótica da Manobra Informacional ................... 64
8.1.2.1 Estado Final Desejado Operacional ........................................................... 64
8.1.2.2 Centro de Gravidade .................................................................................. 65
8.1.2.3 Pontos Decisivos........................................................................................ 66
8.1.2.4 Ponto Culminante....................................................................................... 67
8.1.2.5 Linhas de Operação e Linhas de Esforço .................................................. 68
8.1.2.6 Efeitos ........................................................................................................ 69
8.1.2.7 Fases e Transições .................................................................................... 70
9 MANOBRA INFORMACIONAL: ESTUDO DE CASO PRÁTICO EM OPERAÇÕES
DE NÃO GUERRA – OPERAÇÕES DE GARANTIA DA LEI E DA ORDEM ........... 71
10 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 77
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 80
ANEXO A - DESENHO OPERACIONAL DA MANOBRA INFORMACIONAL ........83
ANEXO B - LINHAS DE OPERAÇÃO E LINHAS DE ESFORÇO DA MANOBRA
INFORMACIONAL.................................................................................................... 84
ANEXO C - MATRIZ DE TAREFAS DAS CRI PARA A EXECUÇÃO DO PD 4...... 85
13

1 INTRODUÇÃO

A informação é o componente primordial da Era do Conhecimento. A


produção, a obtenção, a disseminação e o emprego coordenado de informações
relevantes, seletivas e oportunas, para públicos de interesse estrategicamente
selecionados, são ações imprescindíveis e têm relação direta com o êxito de uma
Operação Militar (Op Mil), no amplo espectro dos conflitos atuais, uma vez que as
ações têm sido desenvolvidas, em sua grande parte, em áreas humanizadas.
Neste contexto, outras componentes decisivas para o combate emergem,
como a presença da população civil e Opinião Pública (Opi Pub). Assim, no
ambiente operacional da atualidade, a Opi Pub assume papel preponderante no
parecer, favorável ou não, sobre do emprego das forças militares, acabando, até
mesmo, por exercer o papel de protagonista na solução de crises e no decorrer dos
conflitos.
É importante reconhecer que o gerenciamento estratégico das informações
tem influência direta no comportamento do conjunto de atores que participam da
dinâmica dos conflitos e, por vezes, condicionam o emprego de tropa: a mídia; os
civis não combatentes, os grupos e organizações presentes em áreas conflagradas;
o público de massa, seja ele nacional ou internacional, e os dirigentes e líderes em
todos os níveis, que formam a Opi Pub (BRASIL, 2019b). Conquistar o apoio destes
atores, influenciando-os, transformou-se em objetivo primordial em qualquer
situação de emprego militar.
A conquista deste objetivo, entretanto, pode ser dificultada tendo em vista a
influência desfavorável de outros atores antagônicos presentes, como é o caso da
mídia, e a facilidade de acesso a novas tecnologias pela população. Tal
característica do ambiente operacional contemporâneo é capaz de inviabilizar o
controle da narrativa dominante, prejudicando a percepção estabelecida como
favorável na mente da Opi Pub acerca do emprego da força militar.
De acordo com Royal (2019, p. 11), “a informação, verdadeira ou deturpada,
exagerada ou inventada, sempre foi uma arma de extrema eficácia. Ela pode servir
ao interesse geral ou a causa menos nobres”
Além destes fatores, outras temáticas de vulto estão também repercutem
nos conflitos bélicos, como a valorização de questões humanitárias e de meio
ambiente pelas sociedades, que têm sido argumentos presentes na maioria das
14

crises recentes. Nessas circunstâncias, as Op Mil são planejadas e executadas


atendendo a uma série de condicionantes, haja vista a necessidade de combates
com o menor número possível de baixas, a ausência de prejuízo para a população
civil afetada (tanto em baixas como em sofrimentos desnecessários) e os menores
“danos colaterais” possíveis.
Neste sentido, a liberdade de ação dos comandantes em todos os níveis fica
comprometida, dificultando, restringindo ou mesmo impedindo a ação militar com
todo poder de combate disponível. Logo, os comportamentos e interesses, as
características socioculturais existentes em um determinado ponto no tempo e no
espaço geográfico, que compreendem a dimensão humana do ambiente
operacional, tornam-se tão importantes quanto a sua dimensão física.
É justamente sob esta ótica que emerge a necessidade da execução do
gerenciamento estratégico das informações no mais alto nível de planejamento, uma
vez que tal procedimento possibilitaria que a dimensão humana presente em
determinada área conflagrada possa ser influenciada, a fim de que efeitos desejados
possam ser atingidos em apoio à execução de uma Op Mil.
Nota-se que, no âmbito das Forças Armadas (FA), apenas a doutrina de
emprego do Exército Brasileiro (EB) preconiza o emprego do gerenciamento das
informações, nas operações militares, por meio das Operações de Informação (Op
Info), que serão tratadas neste estudo, a fim de melhor subsidiar o estudo da
necessidade de uma abordagem mais eficaz deste tema pelo Ministério da Defesa
(MD).
Embora já ocorra no Brasil uma evolução doutrinária no campo das Op Info
no nível tático, por intermédio do EB, o emprego dessa temática no nível conjunto
ainda carece de impulso, o que poderia, em um contexto mais amplo, possibilitar o
desenvolvimento eficaz das Op Info, no nível operacional, com reflexos no
estratégico.
Assim, evidencia-se a necessidade de adoção do planejamento e emprego
de ações na dimensão informacional, de forma antecipada e coordenada,
envolvendo as Capacidades Relacionadas à Informação (CRI)1 disponíveis para

1
De acordo com o Manual de Doutrina de Operações Conjuntas (MD, 2020, p.128) as Capacidades
Relacionadas à Informação necessárias para uma campanha são as Operações Psicológicas, a
Comunicação Social, Guerra Eletrônica, Cibernética e Assuntos Civis, podendo ser elencadas outras,
conforme estudo de situação.
15

emprego conjunto que, neste trabalho, será denominada de “Manobra


Informacional”. Receberá esta denominação a fim de acompanhar àquela de caráter
preponderantemente cinética, de fogo e movimento, já planejada e executada de
acordo com a doutrina de em prego militar das Operações Conjuntas (Op Cj).
A Manobra Informacional, pode ser definida como o máximo emprego de
ações não cinéticas2, por meio das CRI, antecipadamente à ação militar e,
posteriormente, em seu apoio, de forma sistematizada, sinérgica e sincronizada.
Buscaria atingir, prioritariamente, efeitos desejados no campo cognitivo em toda
gama de atores da dimensão humana que, de outra maneira, não seriam possíveis
de serem alcançados, com a utilização tão somente de ações eminentemente
cinéticas.
Contribuiria, principalmente, para a obtenção da superioridade informacional
e preservação da liberdade de ação, além de permitir a criação e consolidação da
narrativa dominante favorável junto à Opi Pub em relação ao emprego das FA em
Op Mil.
Para tanto, o presente trabalho percorrerá um caminho que leve a
identificação da necessidade da adoção, por parte do Ministério da Defesa (MD), de
uma Abordagem Operativa que permita o planejamento, execução e condução de
uma Manobra Informacional, por meio do emprego prioritário de ações não cinéticas,
antecedendo uma crise. Posteriormente, a citada manobra apoiaria as ações
cinéticas3 dos elementos de combate, quando esta fase se iniciasse, multiplicando o
poder de combate das forças empregadas.
Desta forma, ao final, pretende-se responder a seguinte questão de estudo:
De que maneira a adoção de uma Manobra Informacional, no contexto das Op Info
no nível operacional, antecipadamente à uma Op Mil e, posteriormente, em seu
apoio, permitiria a criação e consolidação da narrativa dominante favorável junto à

2
De acordo com o Glossário das Forças Armadas (MD, 2020, p. 19), ações não cinéticas são aquelas
desencadeadas no interior da Área de Operações, que não envolvem movimentos (ações de guerra
eletrônica, operações psicológicas, ações de assuntos civis, ações no ciberespaço) e produzem
resultados intangíveis (interferências eletromagnéticas, bloqueio, percepção positiva da população
sobre as forças amigas e suas operações), mas que contribuem para o sucesso da operação.
3De acordo com o Glossário das Forças Armadas (MD, 2020, p. 17), ações cinéticas são aquelas
desencadeadas no interior da Área de Operações, que envolvem movimentos (fogos, voos,
deslocamento de tropas e de blindados) e produzem resultados tangíveis (destruição, captura,
conquista etc.).
16

Opi Pub, a fim de estabelecer a legitimidade do emprego da força militar ou mesmo


evitar o conflito?
Para tanto, foi elencado um objetivo final que dará reposta à supracitada
questão de estudo. Segundo Vergara (2007) “Se o problema é uma questão a
investigar, o objetivo é um resultado a alcançar. O objetivo final, se alcançado, dá
resposta ao problema. ”
O objetivo final desta pesquisa foi identificar a viabilidade da execução das
Op Info no nível estratégico, por meio da execução de uma planejada Manobra
Informacional, que incidiria diretamente nos públicos de interesse, a fim de mudar
percepções errôneas e facilitar a implementação da narrativa dominante junto à Opi
Pub favorável ao emprego das FA.
A fim de viabilizar a consecução do objetivo final de estudo, foram
formulados, ainda, objetivos intermediários, abaixo relacionados, que permitiram o
encadeamento lógico do raciocínio descritivo apresentado neste estudo:
 Transcrever os principais conceitos relativos às Op Info e à Opi Pub, a fim
de correlacioná-los, por meio de uma pesquisa bibliográfica;
 Demonstrar a importância da Opi Pub e do apoio popular para o êxito das
ações das FA;
 Identificar alguns casos de Op Mil em que a Opi Pub foi decisiva para o
êxito ou fracasso da contenda;
 Destacar, sucintamente, a importância da condução das Op Info nos
Estados Unidos da América, por meio de seus ensinamentos colhidos nesta área;
 Descrever, sucintamente, a sistemática atual de condução das Op Info em
Op Cj pelo MD em seus aspectos principais;
 Descrever, sucintamente, a sistemática de condução das Op Info no nível
tático (Exército Brasileiro), em seus aspectos principais, e a viabilidade de sua
adoção no nível operacional/estratégico;
 Mostrar as contribuições da concepção doutrinária já estabelecida pelo EB
que podem ser aplicadas nas Op Info a nível conjunto;
 Evidenciar a necessidade de melhor gerenciamento das Op Info em nível
conjunto para obtenção da Op Pub favorável às Op Mil, antes e durante as ações;
 Explicar os conceitos da Arte Operacional e de seus elementos com vistas
ao seu emprego em uma Manobra Informacional no nível operacional; e
17

 Propor uma metodologia de operacionalização denominada de “Manobra


Informacional” no nível operacional, como forma de permitir a liberdade de ação das
FA nas Op mil, com foco na obtenção da Op Pub.
A pesquisa dedicou-se ao trabalho desenvolvido pelo MD, no tocante ao
gerenciamento estratégico das informações, por meio das Op Info, com a finalidade
de demonstrar a importância desta atividade para o emprego conjunto das FA.
Procurou correlacionar essas atividades com aquelas já realizadas no nível tático,
pelo EB, a fim de se buscar similaridades e oportunidades de melhoria no nível
estratégico.
A pesquisa abordou, especificamente, a necessidade de emprego das CRI
disponíveis no nível conjunto, de forma coordenada e sinérgica, para a obtenção do
apoio popular e da Opi Pub em uma situação de crise que antecede o emprego
militar, propondo a adoção de uma sistemática de Op Info que incida na eficácia
desta atividade, de forma antecipada.
Abarcou assuntos de planejamento das Op Info, no que tange aos aspectos
relativos a obtenção da narrativa dominante favorável junto à Opi Pub e sua
repercussão para a liberdade de ação das FA em uma área conflagrada.
A pesquisa enfatizou a necessidade de adoção em Op Cj da denominada
“Manobra Informacional”, com máximo emprego de ações não cinéticas, de maneira
que seja priorizada em fase anterior à uma operação militar, em um contexto de
crise, como forma de dissuasão e pronta resposta, e que continue apoiando as
ações cinéticas quando do emprego de tropa.
O estudo tratou, também, de assuntos e aspectos relativos à Opi Pub, sua
importância nos conflitos passados e atuais e desdobramentos para as FA. A
pesquisa enfatizará a importância das Op Info para a melhoraria da percepção dos
públicos de interesse, a fim de fortalecer do apoio popular para as missões das FA.
Os Exércitos mais modernos do mundo já assimilaram a necessidade de atuar
no ambiente informacional, bem como da obtenção do apoio popular. A conquista de
uma Opi Pub favorável significa contar com o apoio popular para uma Op Mil.
Assim, torna-se necessário que as FA, por intermédio do MD, tenham como um
de seus objetivos permanentes, em tempo de paz ou em guerra, influenciar a Op
Pub, visando angariar o apoio popular para as suas operações. É por meio da
conquista desse apoio que se poderá obter respaldo para nossas atividades
militares e é baseada nesta força invisível que um as FA atuarão.
18

As propostas apresentadas possibilitam diminuir o hiato existente entre o


planejamento das Op Info no nível tático e estratégico, sua execução e seus
resultados, servindo como pressuposto teórico para outros estudos que sigam nesta
mesma linha de pesquisa.
Permitem, também, a busca pela conscientização das autoridades militares nos
níveis decisórios mais altos sobre a importância da priorização de emprego das Op
Info antes de um conflito, a fim de se estabelecer a narrativa dominante favorável em
para uma Op Mil. Atingindo-se esta finalidade, novas concepções, mudanças e
adaptações por ventura necessárias, poderão ser sugeridas com coerência.
Logo, analisando todos os aspectos considerados, podemos inferir que o
estudo da utilização da Manobra Informacional, por meio das CRI, com ênfase em
ações não cinéticas, reveste-se de extrema importância, por ser relacionado com um
tema atual e de grande relevância para o MD, pois este tipo de planejamento ainda
não se faz presente neste nível decisório, de forma sistematizada e metódica.
Em função do exposto, o presente estudo amplia o cabedal de conhecimentos
acerca do assunto, encontrando subsídios para a utilização da Manobra
Informacional como fator fundamental para as Op Cj, uma vez que possibilitaria uma
maior liberdade de ação para a execução das ações.
Os resultados desta pesquisa podem ser aprofundados, contribuindo para a
evolução do emprego e da doutrina das Op Info, servindo de pressuposto teórico e
chamando a atenção dos chefes militares sobre o assunto.
O método de abordagem selecionado para a execução desta pesquisa foi o
indutivo. Por meio do conhecimento prévio do assunto e observações particulares
sobre o emprego das Op Info no nível tático, é provável a viabilidade da adoção de
uma Manobra Informacional, por meio de ações não cinéticas no nível estratégico,
antecipadamente à uma Op Mil e, posteriormente, em seu apoio. Tudo com a
finalidade de permitir a criação e consolidação da narrativa dominante favorável
junto à Opi Pub.
O procedimento foi monográfico, pois concentrou-se nas atividades de Op
Info no nível estratégico (MD) para a criação e consolidação da narrativa dominante
favorável junto à Opi Pub, com a finalidade de sua adequação aos pressupostos
contidos na doutrina, observando-se todos os fatores que a influenciam. Ao limitar a
pesquisa, foi empregado o método monográfico.
19

Quanto aos fins, a pesquisa foi exploratória e descritiva, pois teve como
objetivo principal o aprimoramento das atividades de Op Info, por meio da viabilidade
de realização de uma Manobra Informacional estratégica, com ênfase na utilização
de ações não cinéticas, notadamente as CRI.
Além disso, não se verificou a existência de estudos que tratem da forma de
emprego da supracitada atividade pelo MD, de forma metódica e sistematizada,
antecipadamente à uma Op Mil, e posteriormente, em seu apoio, sob o ponto de
vista pelo qual a pesquisa teve a intenção de abordá-lo.
Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica e documental. A coleta do
material bibliográfico foi realizada mediante consulta aos arquivos e livros de
bibliotecas e na internet, além de manuais doutrinários militares publicados que
tratam do gerenciamento estratégico das informações, por meio das Op Info.
A pesquisa bibliográfica utilizou a técnica da documentação indireta e foi
realizada observando-se as seguintes fases:
a. levantamento da bibliografia;
b. seleção da bibliografia;
c. leitura analítica da bibliografia selecionada;
d. fichamento: elaboração das fichas bibliográficas, de citação, de resumo e
analíticas;
e. análise comparativa e interpretação dos dados.

2 DOCUMENTOS CONDICIONANTES DE MAIS ALTO NÍVEL

Como base para a delimitação do referencial teórico em estudo para o


desenvolvimento desta pesquisa, apresenta-se o que a Constituição Federal de
1988 estabelece sobre a Defesa Nacional, condicionante para o início de qualquer
estudo do assunto:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e


pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares e
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da
lei e da ordem. (BRASIL,1988).

A Política Nacional de Defesa (BRASIL, 2020) e a Estratégia Nacional de


Defesa (BRASIL, 2020), nas suas mais recentes edições, são documentos
20

condicionantes de mais alto nível para o planejamento de ações direcionadas à


defesa do País.
Em vários trechos dos documentos supracitados, fica evidenciado que os
objetivos a serem alcançados dependem não só da realização de ações cinéticas,
mas também daquelas não cinéticas, sendo estas últimas, fundamentais para fazer
frente a antagonismos de toda ordem e obter liberdade de ação. Segundo a Política
Nacional de Defesa (PND):

Para proteger o seu povo e o seu patrimônio, bem como para ter a liberdade
de perseguir seus legítimos interesses, o Brasil deve considerar a
possibilidade de se defrontar com antagonismos que venham a pôr em risco
seus objetivos nacionais. O eventual enfrentamento desses antagonismos
deve ocorrer de forma soberana, consoante os princípios e fundamentos
constitucionais e as normas do Direito Internacional.

Já o PND (BRASIL, 2020), após analisar os ambientes internacional e


nacional e suas projeções, estabelece os Objetivos Nacionais de Defesa, os quais
devem ser interpretados como as condições a serem alcançadas e mantidas
permanentemente pela nação brasileira.
O Objetivo Nacional número quatro evidencia fins a serem atingidos no
campo cognitivo da expressão psicossocial do Poder Nacional que dependem, em
muito, da realização de ações não cinéticas para sua consecução, estando
intimamente ligadas à necessidade de realização das Op Info.
Em um contexto anterior a uma crise, a coesão e a unidade nacional são
condições primordiais para a decisão política do emprego das FA. De acordo com o
PND:

IV. Preservar a coesão e a unidade nacionais. Trata da preservação da


identidade nacional, dos valores, das tradições e dos costumes do povo
brasileiro, assim como dos objetivos fundamentais e comuns à toda a
Nação, garantindo aos cidadãos o pleno exercício dos direitos e deveres
constitucionais.

Por ser turno, a Estratégia Nacional de Defesa (END), ao tratar das


Capacidades de Nacionais de Defesa (CND), deixa evidente a necessidade da
execução de Op Info, a partir de ações não cinéticas, mesmo antes de em conflito,
quando faz alusão e destaque às capacidades de pronta-resposta e dissuasão.
Segundo a END (BRASIL, 2020):
21

[...] a Capacidade de Pronta-resposta, que inclui diversos elementos do


Poder Nacional visa prevenir o agravamento de uma situação de crise ou
encerrar, de forma célere, uma contenda já deflagrada, evitando o
engajamento do País em um conflito armado prolongado. A Capacidade de
Dissuasão, por sua vez, configura-se como fator essencial para a
Segurança Nacional, na medida em que tem como propósito desestimular
possíveis agressões.

Já o documento intitulado de Cenário de Defesa 2020-2039 tem o propósito


de contribuir para o desenvolvimento do processo de planejamento estratégico do
MD. Representa uma evolução em sua gestão, provendo um instrumento de análise,
projetando tendências, com reflexos para a defesa. Ao tratar da Opi Pub e sua
importância no âmbito da tomada de decisões no tocante à Defesa, a publicação
ressalta que:

A facilidade das comunicações entre quaisquer partes do mundo – internet,


comunicações móveis – provavelmente promoverá maior conscientização e
mobilização sociais, tanto em âmbitos nacionais quanto internacional, em
defesa de causas como meio ambiente, catástrofes humanitárias, direitos
humanos e democracia. Isso aumentará a influência da opinião pública
sobre governos. Nesse contexto, também provável será a manipulação da
opinião pública, por agentes estatais e não estatais, inclusive nas grandes
democracias ocidentais, no sentido de potencializar conflitos, a fim de
viabilizar e justificar a aplicação de instrumentos diplomáticos, econômicos e
militares de maior impacto (BRASIL, 2017, p.15)

O Cenário de Defesa 2020-2039, ao discorrer sobre as características dos


futuros conflitos e suas implicações para a Defesa, em um recorte focado na
Influência determinante da internet e redes sociais, enfatiza que:

Os atuais meios de comunicação permitem o acompanhamento dos


conflitos sem depender de agências de notícias e porta-vozes
governamentais. Também permitem a rápida mobilização de manifestações
em escala mundial. Democracias, que são dependentes da opinião pública,
estarão cada vez mais à mercê da mesma para se envolver e
permanecerem conflitos armados. (BRASIL, 2017, p.49)

Logo, interpretando os documentos de mais alto nível no tocante a Defesa,


verifica-se a pertinência de emprego das Op Info, no nível operacional, a fim de se
influenciar diretamente o comportamento do conjunto de atores que participam da
dinâmica dos conflitos e condicionam o emprego das FA: a mídia; os civis não
combatentes, os grupos e organizações presentes em áreas conflagradas; o público
de massa, seja ele nacional ou internacional, e os dirigentes e líderes em todos os
níveis, que formam a Opi Pub.
22

No campo militar, a Opi Pub só estará ao lado das forças militares, quando tiver
consciência que o papel que desempenham na sociedade é do seu próprio
interesse: o interesse nacional. É importante, pois, a conquista da Opi Pub favorável
ao desenvolvimento das atividades militares, a qual, além de sintetizar a vontade
nacional, envolverá todo o país no esforço despendido, permitirá que se obtenham
mais recursos para as atividades militares e que a tropa seja empregada em
melhores condições de pessoal e material. (AGUILLAR, 1996).
Logo, pode-se inferir que não somete as ações cinéticas são preponderantes
na solução de conflitos armados. Os comandantes consideram o poder de combate
como o efeito produzido pela manobra, poder de fogo, proteção e liderança em um
momento e local específicos, eles também deveriam encarar o apoio popular como
uma espécie de efeito. (REITZ, 1993).
Neste sentido, cabe destacar que o manual de Doutrina de Operações
Conjuntas (MD, 2020, v1) prevê que desde o Conceito Preliminar de uma Op Mil até
a elaboração do Conceito da Operação, orientações básicas e diretrizes para as Op
Info devem ser emitidas, tendo em vista os objetivos do planejamento. Nesta fase,
há que se considerar o efeito da Opi Pub no desenvolvimento das Op Mil, a qual
deve ser objeto de planejamento para a obtenção de seu apoio.
Ainda segundo o manual supracitado, as Op Info serão planejadas tendo em
vista um cenário de normalidade, admitindo-se evoluções para situações de crise, as
quais demandem o emprego das FA, ensejando que ações de Op Info, por meio de
ações não cinéticas, devem ser realizadas e priorizadas em fase anterior à
deflagração da crise.

3. A GUERRA DE INFORMAÇÃO

A guerra é tão antiga quanto a própria humanidade. Conflitos bélicos,


mesmo ocorrendo em territórios distantes, trazem consequências não apenas
militares, mas também políticas, econômicas, sociais e culturais que vão além de
fronteiras físicas e configuram nossas sociedades. A fim de melhor compreender a
Guerra de Informação, cabe, inicialmente, uma breve análise evolutiva da história
das guerras, conforme a teoria das gerações
Lind (2004) define a guerra de primeira geração como aquela dominada pelo
Estado Nacional, entre o século XVIII e início do XIX, que se caracterizou pelo
23

emprego de táticas de linha, militares uniformizados e colunas em batalhas, que


dependiam da vantagem tecnológica do armamento (rifle ou metralhadora). As
guerras Napoleônicas foram um exemplo típico dessa geração.
A guerra de segunda geração foi baseada na primeira, utilizando as táticas
de poder de fogo linear, uso de trincheiras, técnicas de camuflagem, atrito e
movimento, com ênfase no fogo indireto da artilharia, considerada a principal
evolução tecnológica da segunda metade do século XIX. A Guerra Civil Americana é
um bom exemplo da segunda geração.
A guerra de terceira geração foi quando ocorreram os maiores avanços
tecnológicos, com base nas táticas de velocidade, manobra e profundidade
(Blitzkrieg) para destruir as forças inimigas e atacar suas áreas de retaguarda com
forças aéreas militares. Foi proeminente no século XX começando na Primeira
Guerra Mundial, mas foi, principalmente, identificada na Segunda Guerra Mundial.
Para Lind (2004), a guerra de quarta geração surgiu após a 2ª Guerra
Mundial, quando atores estatais e não estatais passaram a usar outros tipos de
táticas, para compensar os diferentes níveis de capacidades tecnológicas. Pode ser
observado no desenvolvimento dos conceitos da guerra de guerrilha, de insurgência,
guerra híbrida e da guerra assimétrica, tipos de conflito onde uma força com
capacidades militares convencionais inferiores empregam meios de combate não
convencionais ou irregulares.
Segundo Berg (2019, p.86) a quarta geração é a das guerras mais recentes,
incluindo o tempo presente. As chamadas “guerras assimétricas”, onde a diferença
de poder de combate dos contendores, em efetivos e de meios, tanto em tecnologia
como em logística. Nem sempre é possível identificar o teatro de operações, que é
amplo, difuso e mutante, fugindo das fronteiras físicas. Nesta última, se enquadram
todos os demais componentes dos conflitos e das atuações dos estados modernos e
sua arena de existência num mundo dito globalizado e em plena Era do
Conhecimento.
Nesse contexto, as FA estarão cada vez mais inseridas no que se pode
chamar de Guerra de 4ª Geração ou Guerra da Era da Informação (VISACRO,
2018), onde as técnicas convencionais das operações básicas já não cumprem
plenamente a missão.
Conforme consta no manual de Doutrina de Operações Conjuntas, a Guerra
de Informação é definida da seguinte maneira:
24

Conjunto de ações destinadas a obter a superioridade das informações,


afetando as redes de comunicação de um oponente e as informações que
servem de base aos processos decisórios do adversário, bem como
retirando-lhe a liberdade de ação, ao mesmo tempo em que garante as
informações, os processos e a liberdade de ação amigos. [...] No contexto
da guerra de informação, as Op Info concorrem para a solução dos
conflitos, seja qual for o tipo de estratégia militar adotada. Conforme as
opções estratégicas e no âmbito dessas operações, variam as
possibilidades de composição de ações cinéticas e não-cinéticas. (BRASIL,
2020, p.197, v1)

Contudo, ainda segundo Berg (2019, p.86), já se admite uma quinta geração
de guerras. De acordo com o autor, esta nova classificação em especial é aplicada
ao contexto contemporâneo, onde o contentor com menor poder de combate busca,
primordialmente, impedir a vitória do oponente do que vencê-lo. É um combate de
desgaste em pontos vulneráveis do oponente reconhecidamente mais forte, como
em sua política, economia, sociedade e Opi Pub.
Destacam-se, neste contexto, as chamadas “operações bélicas de não
combate”, ou seja, a guerras comercial, jurídica, financeira, de mídia, cultural e
cibernética que dependem, primordialmente, das informações e seus meios de
propagação para sua efetividade, com emprego de ações não cinéticas e ampla
difusão de narrativas, a fim de se influenciar diversos atores com poder de decisão
envolvidos e a Opi Pub.
Para Sergeevich Labush (2015), o surgimento do ciberespaço, que trouxe o
desenvolvimento exponencial da comunicação pela internet, das mídias tradicionais
e sociais, provocou alteração nas possibilidades de persuadir mentes e corações
das pessoas. As Op Info ultrapassaram as fronteiras militares e alcançaram toda a
sociedade, em tempos de guerra ou em tempos de paz. De acordo com o autor:

4[...]
a guerra de informação, [information war,] em tempo de paz, consiste
principalmente na coleta de informações e operações políticas e
psicológicas contra os adversários e garantia da própria segurança da
informação [...] (SERGEEVICH LABUSH, 2015, p. 32, tradução nossa).

Conforme Ribeiro e Ribeiro (2021), na contemporaneidade, a Guerra de


Informação fez desaparecer a fronteira bem definida entre a guerra e a paz, e a
preponderância da iniciativa Estatal. Afinal a sua característica principal é ser uma

4
Texto original: 14 [...] the information war in peacetime, which mainly consists of the intelligence-
gathering and political and psychological operations against the enemy and ensuring the own
information security, is mostly hidden.
25

atividade que almeja a manipulação massas, das consciências coletivas e de


suas vontades, sem a necessidade de objetivos militares. Senão vejamos:

A guerra de informação é um fenômeno complexo que pode ser investigado


em diferentes dimensões: na dimensão física, na dimensão da informação
em si, e na dimensão psíquica. Entretanto, em todas essas dimensões o
foco é obter efeitos cognitivos e emocionais. (RIBEIRO e RIBEIRO, 2021,
p.142)

Assim, nos estudos estratégicos, todos os diferentes tipos de guerra devem


ser analisados. Atualmente, na Era da Informação, não é mais possível admitir
que um conflito se desenvolva com a existência de somente um tipo de guerra.
Todas os planejamentos ofensivos, bem como todas as possibilidades de defesa
ao ataque do inimigo, devem trazer dos estrategistas, mentalmente, a
possibilidade de ocorrência dos vários tipos de guerra.
E nesse sentido, a aplicabilidade da Guerra de Informação deve ser
pensada, na medida em que sua finalidade é persuadir as mentes e corações de
uma coletividade para se alcançar objetivos previamente estabelecidos,
geralmente, de longo prazo, mesmo em tempo de paz ou na iminência de um
conflito, situações em que cresce de importância o emprego das ações não
cinéticas.
Ribeiro e Ribeiro (2021, p. 145) destaca que, pelas características das
organizações sociais, políticas e econômicas dos Estados-nação
contemporâneos, a Guerra de Informação possui enorme potencial de destruição,
mesmo não existindo o emprego de armamentos bélicos.
Visacro (2021) discorre sobre a “Guerra na Era da Informação”, abordando a
importante diferença entre o ambiente operacional dos combates até a metade do
século XX (guerra na Era Industrial), e aqueles do século XXI (guerra na Era da
Informação. De acordo com o autor:

Contudo, a fim delinear objetivamente o conjunto de circunstâncias que


condicionam o uso do instrumento militar, podemos citar como principais
características do campo de batalha do século XXI: níveis variáveis de
intensidade de conflito; ameaças provenientes de atores estatais e não
estatais; população civil com postura ambivalente (favorável, neutra e
hostil); idiossincrasias culturais (complexidade do “terreno humano”);
onipresença da mídia; assédio de organismos de defesa dos direitos
humanos; outras agências estatais presentes no interior da área de
operações; atuação de organizações não governamentais; restrições legais;
limites impostos pela opinião pública; controle de danos sobre bens civis
e o meio ambiente; disponibilidade de moderna tecnologia (capacidades
ampliadas das forças militares: ver, engajar pelo fogo, manobrar e
26

comunicar-se); grande volume de dados (propensão à sobrecarga de


informação); velocidade e fluidez da informação; e disseminação da
informação em escala global (VISACRO, 2018, p. 158, grifo nosso).

4. OPERAÇÕES DE INFORMAÇÃO NAS OPERAÇÕES MILITARES


4.1 As Op Info nas Operações Conjuntas

Os conflitos contemporâneos vêm demonstrando, cada vez mais, que o


emprego conjunto das FA, caracterizado pela interoperabilidade, tem sido importante
a obtenção da maior eficiência e eficácia da expressão militar do Poder Nacional.
Para tal, as Forças Singulares devem somar esforços, compatibilizar procedimentos
e integrar as ações, de forma a se obter maior efetividade na execução das Op Cj.
O Brasil concebe as operações militares como o conjunto de ações
realizadas com forças e meios militares das FA, coordenadas em tempo, espaço e
finalidade, de acordo com o estabelecido em uma Diretiva, Plano ou Ordem para o
cumprimento de uma tarefa, missão ou atribuição. São realizadas no amplo espectro
dos conflitos, desde a paz estável até o conflito armado/guerra, perpassando pela
paz instável e situações de crises, sob a responsabilidade direta de autoridade
militar competente (BRASIL, 2017).
Neste horizonte, cresce de importância, haja vista a característica do
ambiente operacional atual, onde se admite a existência da Guerra de Informação
com objetivos cognitivos, que os tomadores de decisão, no mais alto nível, bem
como os comandantes militares e seus estados-maiores planejem outras
ferramentas conjuntas, que não contemplem, somente, o emprego de fogos
cinéticos, mas também os não cinéticos.
Para Pereira (2016, p. 3), embora já ocorra no Brasil uma evolução
doutrinária no campo das Op Info no nível tático, por intermédio das atividades
desenvolvidas específicas desenvolvidas pelo EB, o emprego da doutrina no nível
conjunto carece de evolução. O emprego de diversas CRI disponíveis no nível tático
poderia dar lugar a uma concepção integradora de tais capacidades existentes e
desenvolvê-las, num contexto mais amplo, permitindo o desenvolvimento eficaz das
Op Info, nas Op Cj.
Corrêa (2012) aborda a importância das informações nas Op Cj da seguinte
maneira:
A necessidade de comandantes conduzirem operações conjuntas e
combinadas, nas quais sua Força se integra a escalões mais elevados e se
articula com forças multinacionais, contribui para expandir o ambiente de
27

informação situado na sua tradicional área de interesse. O nível de


planejamento conjunto abrange, entre outras, a necessidade de interligação
de sistemas de comando e controle (C2) táticos aos correlatos sistemas
operacionais e estratégicos. Além disso, é crescente a necessidade da
captação e da gestão de informações advindas de todas as áreas do
conhecimento, por meio de uma rede de conhecimento global. Dessa forma,
as Forças Armadas dependem, cada vez mais, da livre utilização de todo o
espectro de informação para cumprirem suas missões, com eficácia e
eficiência.

Já o Manual de Doutrina das Operações Conjuntas define que:

As Op Info consistem na coordenação do emprego integrado das CRI para


informar e influenciar pessoas ou grupos hostis, neutros ou favoráveis,
capazes de impactar positiva ou negativamente o alcance dos objetivos
políticos e militares. Dentre as CRI, destacam-se como principais:
Operações Psicológicas, Ações de Guerra Eletrônica, Defesa Cibernética,
Comunicação Social e Assuntos Civis.

A fim de evitar a conformação de ameaças ao Estado, especialmente pela


desinformação, as Op Info podem ser executadas desde o período de normalidade,
em caráter preventivo ou dissuasório e de modo complementar aos esforços
políticos, econômicos e diplomáticos.
Progressivamente, seja em um quadro de aplicação das estratégias
nacionais da ação direta ou indireta, as Op Info podem contribuir para a diminuição
das probabilidades de eclosão e escalada de crises e, por fim, a deflagração de
conflitos armados.
Em princípio e considerando a necessidade de emprego das Op Info em
períodos de normalidade, o engajamento deve ocorrer mediante decisão política e
conforme o devido planejamento estratégico. Esse engajamento se fará necessário
à medida que os esforços do Estado imponham a utilização de capacidades
peculiares ao segmento militar ou, ainda, nos casos em que seja imprescindível o
reforço especializado aos demais meios civis aplicados.
Sendo permanente, a dimensão informacional antecede, acompanha um
conflito armado e se mantém após a sua solução. Em consequência, a atenção mais
acurada dessa dimensão ou mesmo o emprego das Op Info podem não se restringir,
por exemplo, ao período de ativação de um eventual TO.
No contexto da Guerra de Informação, as Op Info concorrem para a solução
dos conflitos, seja qual for o tipo de estratégia militar adotada. Conforme as opções
estratégicas e no âmbito dessas operações, variam as possibilidades de composição
de ações cinéticas e não-cinéticas
28

O Manual de Doutrina das Operações Conjuntas (BRASIL, 2020, v1)


ressalta, também, a título de exemplo, que no contexto de uma Op Info, diferentes
composições de ações cinéticas e não cinéticas podem ocorrer com os objetivos de:
comprometer a estrutura de apoio ao seu esforço de guerra; comprometer a
efetividade dos subsistemas de informação aplicados em sistemas de vigilância, de
armas ou de comando e controle inimigos; diminuir a vontade de lutar das forças
oponentes e angariar liberdade de ação, por meio do apoio da Op Pub local e
internacional, a ser conquistada na batalha da narrativa.
A participação das Op Info no planejamento do escalão considerado ocorre
desde o começo do exame de situação, o qual pode ser iniciado com o recebimento
de uma ordem de alerta, de diretrizes específicas ou, particularmente em Nível
Tático, a partir do Conceito Preliminar da Operação (CPO).
Essas referências são especialmente importantes, à medida que facilitem a
dedução ou permitam uma compreensão mínima, mesmo que preliminar, do estado
final desejado e de outros possíveis elementos do planejamento operacional.
Desencadeado o planejamento, deve ser realizada uma análise inicial da
dimensão informacional, segundo a perspectiva do escalão considerado. Nos níveis
operacional e tático, essa análise será conduzida pela Seção de Op Info (D-8), não
obstante outras rotinas de coordenação definidas no âmbito dos Estados-Maiores.
No decorrer da análise inicial, é conveniente a coparticipação de
especialistas das capacidades com maior proeminência de atuação na dimensão
informacional (Operações Psicológicas, Ações de Guerra Eletrônica, Defesa
Cibernética, Comunicação Social e Assuntos Civis), o que pode ser facilitado pela
constituição de grupos de trabalho.
A análise inicial da dimensão informacional deve contemplar o exame de
suas três componentes, com suficiente amplitude e profundidade, a fim de se
alcançar a compreensão geral dessa dimensão ou do seu potencial de alteração da
dinâmica do conflito, seja em termos favoráveis ou desfavoráveis.
Para tanto, importa a elucidação dos atores envolvidos, os quais afetem ou
sejam afetados pela dimensão informacional. Além de nossas próprias forças, a
identificação das atitudes dos demais atores permite caracterizá-los como:
oponentes, neutros e amigos (incluindo eventuais aliados).
29

4.2 As Op Info no Exército Brasileiro

Entre as Forças Singulares, o EB é a instituição que precursora no emprego


das Op Info no nível tático. Segundo a doutrina em vigor no EB, as Op Info podem
ser empregadas em todos os níveis de planejamento contribuindo para a obtenção
da superioridade de informação. Fornecem, também, alternativas estratégicas ao
nível político e alternativas operacionais e/ou táticas aos comandantes dos
elementos da Força Terrestre (F Ter) de um Teatro de Operações/ Área de
Operações5 (TO/A Op).
Neste sentido, Op Info exigem a atuação integrada das CRI, sendo dirigidas
à Op Pub, considerada Centro de Gravidade6 (CG) em uma hipótese de emprego
militar. De acordo com o Manual de Campanha - Operações de Informação do EB:

“a comunicação com as sociedades nacional e global determina a narrativa


dominante. A importância atribuída à opinião pública, portanto, pode
transformá-la em um dos Centros de Gravidade a ser conquistado em
qualquer situação de emprego de elementos da F Ter [...] ressalta-se a
relevante influência que a opinião pública exerce sobre as operações
militares atuais, pela importância atribuída à legitimidade da causa, a qual é
determinada pela legalidade, com base em diplomas legais nacionais e
internacionais; e respaldada por Organismos Internacionais e pela
moralidade, isto é, atos de guerra devem ser moralmente aceitos pela
opinião pública interna e externa. (BRASIL, 2019b, p. 2-1)

De acordo com a concepção doutrinária do EB, as CRI são aptidões das Op


Info requeridas para afetar a capacidade de oponentes ou potenciais adversários de
orientar, obter, produzir e/ou difundir informações, em qualquer uma das três
perspectivas da dimensão informacional (física, cognitiva ou lógica). As
capacidades, empregadas de forma sinérgica e coordenada, possibilitam aumentar o
poder de informar audiências amigas e influenciar Públicos Alvo (Pub A)
adversários.

5
Segundo o Glossário das Forças Armadas (2020 p.36 e p.267), a Área de Operações refere-se ao
espaço geográfico necessário à condução de operações militares que não justifiquem a criação de
um Teatro de Operações. Já o Teatro de Operações é a parte do teatro de guerra necessária à
condução de operações militares de grande vulto, para o cumprimento de determinada missão e para
o consequente apoio logístico.
6O Glossário das Forças Armadas (MD, 2020 p. 61) define um Centro de Gravidade como uma fonte
de força, poder e resistência física ou moral que confere ao contendor, em última análise, a liberdade
de ação para utilizar integralmente seu poder de combate. O CG, uma vez conquistado ou atingido,
poderá resultar no desmoronamento da estrutura de poder, uma vez que se trata de um ponto de
equilíbrio que dá coesão às forças, à estrutura de poder e à resistência do adversário, sustendo o seu
esforço de combate.
30

A seguir, serão apresentadas as capacidades que, normalmente, estarão


ligadas ao domínio da dimensão informacional e comumente empregadas nas Op
Info, de acordo com doutrina militar terrestre. Outras capacidades, no entanto,
podem ser agregadas à missão de acordo com o estudo de situação, como a
Dissimulação Militar, o Ataque Físico, a Câmera Tática. Em conjunto, todas as
capacidades podem ser empregadas em uma Manobra Informacional, no nível
operacional.

4.2.1 Comunicação Social (Com Soc)

Segundo preconiza o Manual de Campanha - Operações de Informação


(BRASIL, 2019b, p. 2-7) “a atividade da Com Soc contribui diretamente para o
aprimoramento da imagem da instituição, estabelecendo um canal permanente de
comunicação, entre seus integrantes, buscando o ajustamento e a interação entre
esses”. Tem como ferramentas de atuação as atividades de Relações Públicas,
Informações Públicas e Divulgação Institucional.
As Relações Públicas (RP) buscam o ajustamento e a interação entre a
Instituição e seus públicos, visando a conquista do apoio da opinião pública. As
Informações Públicas (Info Pub) são atividades pelas quais se divulgam os assuntos
relacionados ao EB para o público externo, funcionando como vetor da “resposta
oficial” da Força à sociedade, em especial aos órgãos de imprensa.
Por fim, a Divulgação Institucional é conjunto de atividades que visa a
elaboração de produtos de Com Soc para disseminação da imagem do EB aos seus
PA, utilizando-se dos diversos canais de comunicação, como, por exemplo, as
mídias sociais como Facebook, Youtube e Instagran.
Cabe destacar que o Centro de Comunicação Social do Exército
(CCOMSEX), órgão central do sistema, possui capacidades para pronta resposta a
crises, tendo condições de ser empregado de forma conjunto em operações
militares.
31

4.2.2 Operações Psicológicas (Op Psc)

Conforme consta no Manual de Campanha - Operações de Informação “as


Op Psc são definidas como procedimentos técnico-especializados, aplicáveis de
forma sistematizada, de modo a influenciar Pub A a manifestarem comportamentos
desejáveis, com o intuito final de apoiar a conquista dos objetivos estabelecidos.”
(BRASIL, 2019b, p. 4-2).
No âmbito do EB, a Unidade operativa de Op Psc nas Op Mil é 1º Batalhão
(Btl) de Op Psc, com missão de realizar ações a partir da concepção de Planos de
Campanha, com base em Exames de Situação. Os destacamentos do Btl já foram
empregados em diversas Op de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e na Missão de
Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH), demonstrando sua
capacidade de operar conjuntamente nos demais níveis, operacional e estratégico.
Militares capacitados em Op Psc também mostram sua aptidão para o
emprego na dimensão humana, quando empregados no contato pessoal com
lideranças locais, comunicadores-chave e vetores de influência como, por exemplo,
radialistas e influenciadores digitais.
Assim, observa-se que a doutrina preconizada pelo EB para emprego das
Op Psc em Op Mil da F Ter proporciona requisitos para uma concepção de emprego
além do nível tático, podendo contribuir com ações militares conjuntas em outros
níveis de planejamento.

4.2.3 Guerra Eletrônica (GE)

O Manual de Campanha - Operações de Informação define que:

A GE é o conjunto de atividades que visam a desenvolver e assegurar a


capacidade de emprego eficiente das emissões eletromagnéticas próprias,
ao mesmo tempo em que buscam impedir, dificultar ou tirar proveito das
emissões inimigas. É responsável, portanto, por garantir e manter a
liberdade de ação no espaço eletromagnético para nossas forças
enquanto exploram ou negam essa liberdade aos oponentes. (BRASIL,
2019b, p. 4-3).

A GE garante e mantem a liberdade de ação das nossas forças no espaço


eletromagnético, constituindo-se em poderosa ferramenta na coleta de informações
acerca do comportamento e ações do Pub A, a fim de complementar ou corrigir as
32

observações de outras capacidades, como Op Psc e Intlg, essenciais para a


conquista da Opi Pub.
No EB, as atividades de GE são capitaneadas pelo Centro de Comunicações
e Guerra Eletrônica do Exército (CCOMGEx), que tem por missão atuar em proveito
da Força, aumentando sua operacionalidade. Em uma Op Cj a GE é primordial na
conquista e na manutenção da superioridade de informação.

4.2.4 Guerra Cibernética (G Ciber)

A Guerra Cibernética parece ser a CRI mais avançada em relação ao seu


emprego a nível conjunto, uma vez que a END preconiza que os setores espacial e
cibernético são estratégicos com a finalidade de que o Brasil não dependa de
tecnologia estrangeira ao atuar em rede. Conforme consta no Manual de Campanha
- Operações de Informação:

As Ações Cibernéticas (Exploração, Ataque e Proteção) são o emprego


de recursos do espaço cibernético e objetivam: proteger os próprios ativos
de informação; explorar e atacar redes do oponente, mantendo a
capacidade de interferir no desenrolar das operações militares no Espaço
de Batalha; bem como afetar as condições de normalidade em uma
determinada área ou região, atingindo gravemente o funcionamento de
estruturas estratégicas e serviços essenciais destinados à população.
(BRASIL, 2019b, p. 4-4).

Haja vista esta capacidade ter sido concebida de forma conjunta, por
intermédio da END, foi instituído o Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber),
culminando com a implementação do projeto estratégico Defesa Cibernética. O
ComDCiber já atuou em operações de Defesa Cibernética de forma conjunta em
várias operações, como por exemplo, na segurança de Grandes Eventos no Brasil,
demonstrando sua aptidão para atuar no nível operacional do setor cibernético.

4.2.5 Inteligência (Intlg)

A inteligência envolve um processo integrado de fusão de dados, permeia


todo o ciclo do conhecimento, através da orientação, obtenção, produção e difusão,
gerando produtos que irão expor as capacidades e vulnerabilidades de oponentes e
de potenciais adversários selecionados.

A Inteligência Militar é o conjunto de atividades e tarefas técnico militares


exercidas em caráter permanente, com os objetivos de produzir
33

conhecimentos de interesse dos comandantes e seus EM, em todos os


níveis, bem como proteger conhecimentos sensíveis, instalações e pessoal
do EB contra ações do oponente. É dividida nos ramos inteligência e
contrainteligência (C Intlg). (BRASIL, 2019b, p. 4-4).

Esta CRI componente das Op Info está dentro do Sistema de


Inteligência do Exército (SIEx) e produz os conhecimentos necessários para que o
EB esteja em condições de ser empregado contra quaisquer ameaças à soberania
ou à integridade do país. Destaca-se que as demais FA também possuem suas
estruturas de inteligência, facilitando a integração e emprego a nível conjunto.

5. MANOBRA INFORMACIONAL: PERTINÊNCIA DIANTE DA DOUTRINA


MILITAR TERRESTRE (DMT)

A DMT, como um dos principais vetores do Processo de Transformação do


Exército na Era do Conhecimento, na busca da efetividade, baseia-se na
permanente atualização, em função da evolução da natureza dos conflitos, resultado
das mudanças da sociedade e da evolução tecnológica aplicada aos assuntos de
defesa.
Neste contexto, atualizadas publicações doutrinárias nortearam a divulgação
aos integrantes do EB, da doutrina de emprego dos elementos da F Ter,
contemplando os fundamentos doutrinários para o preparo de uma força eficiente,
eficaz e efetiva, para contribuir com a Defesa da Pátria.
Neste contexto, a DMT veio a sofrer substanciais mudanças em função da
evolução da natureza dos conflitos, resultado das transformações da sociedade e da
evolução tecnológica. Tal processo busca dotar a Nação com o Exército da Era do
Conhecimento, o que pressupõe uma Força com novas capacidades operativas, de
forma gradual e proporcional à ameaça.
A partir deste novo horizonte, o emprego do poder militar é condicionado por
vários fatores que afetam os conflitos na atualidade. Dentre estes, avultam de
importância o combate em áreas humanizadas, a importância da mídia, o espaço
cibernético, as redes sociais e a influência de todos atores que, de uma forma ou
outra interferem nos rumos das crises.
Destacada importância é dada à dimensão informacional, uma vez que ela
tem papel preponderante formação e consolidação da narrativa dominante, que é a
percepção estabelecida como válida nas mentes de um ou mais Pub A, acerca de
34

um determinado conflito. O poder de influenciar nesta percepção pode ser


considerado um acidente capital das operações militares, e o terreno informacional
passou a ser percebido como tão importante quanto o físico e o humano.
De acordo com Visacro (2018, p. 125), “nos conflitos pós-industriais, a
conquista da vontade do povo se tornou o verdadeiro objetivo estratégico das
operações militares”.
Para que o EB da Era conhecimento tenha condições de atuar dimensão
informacional, visualiza-se o emprego das Op Info, que consistem em um trabalho
metodológico e integrado das CRI, para informar e influenciar grupos e indivíduos,
bem como afetar o ciclo decisório de oponentes, ao mesmo tempo que protege o
nosso.
Logo, constata-se que para atuar no ambiente operacional da Era da
Informação, o EB, no tocante à doutrina militar, elevou a importância das
Informações à um nível estratégico. Atuar e planejar na dimensão informacional, por
meio das Op Info, a fim de informar, influenciar e conquistar o apoio de todos os
atores que interagem em um ambiente operacional, passou a ser condição
necessária para o êxito do emprego militar.
As Op Info tornaram-se, assim, responsáveis pela conquista e manutenção
da narrativa dominante, agora identificada como acidente capital, com vistas a
conquista da Opi Pub, o que pressupõe a necessidade da execução de uma
Manobra Informacional, com amplo emprego de ações não cinéticas para este fim. O
domínio da narrativa passou a ser considerada condicionante para o êxito de uma
Op Mil.
Segundo ROYAL (2019, p.20-21), “quanto o inimigo, partindo da admissão
da impossibilidade de vencer no terreno estritamente militar, ele busca a vitória de
outra maneira, mediante o emprego de todos os meios possíveis para afetar o
espírito e a moral da opinião pública.”
A seguir, serão apresentados os principais conceitos existentes nos manuais
doutrinários publicados pelo EB, que tratam da dimensão informacional, como forma
de ressaltar sua importância no amplo espectro dos conflitos atuais.
Será evidenciada, também, com base na DMT, a possibilidade da adoção de
uma Manobra Informacional que sincronize ações não cinéticas em prol do sucesso
das Op Cj.
35

5.1. Manual de Doutrina Militar Terrestre (EB20-MF-10.102):

O Manual de Fundamentos - EB20-MF-10.102 - Doutrina Militar Terrestre


apresenta os fundamentos doutrinários da F Ter. Destina-se a orientar o emprego de
seus elementos no cumprimento de suas missões e tarefas, no contexto dos
Comandos Operacionais, conjuntos ou singulares.
O manual, buscando consolidar as diretivas traçadas nas Bases para a
Transformação da DMT, novamente faz alusão aos conceitos já explanados
anteriormente, ratificando a importância das Informações nos conflitos atuais. Outros
assuntos de relevância para o terreno informacional e que corroboram a
necessidade da adoção da Manobra Informacional foram abordados, o que será
tratado a seguir.
Ao se referir ao Poder Militar Terrestre, o manual traz considerações
importantes acerca da capacidade da F Ter de obter, manter e/ou explorar o controle
sobre a terra, recursos e pessoas, por ameaça, força ou ocupação. Tal característica
está no cerne das operações militares desencadeadas no amplo espectro dos
conflitos e inclui a capacidade de, dentre outras, impor a vontade da Nação a um
inimigo, pela força se necessário e contribuir para influenciar, moldar, prevenir e
deter ameaças em um ambiente operacional.
Essas duas características específicas atestam a necessidade da F Ter
planejar e executar ações não cinéticas de cunho informacional, de forma
antecipada, a fim de se constituir uma ameaça real e influenciar um adversário em
potencial à desistir de seu intento. Por outro lado, a doutrina orienta o planejador
militar a considerar o uso da força em última instância, uma vez que estabelece o
poder de influenciar o adversário a desistir da luta, como medida primária na
prevenção de conflitos.
No tocante aos Princípios de Guerra, que são o conjunto de preceitos
considerados essenciais ao sucesso de um conflito, tanto do ponto de vista tático
como estratégico, a necessidade de atuação da F Ter na dimensão informacional,
de forma metódica, é reforçada. Uma Manobra Informacional executada por meio da
sincronização das CRI, está ligada aos seguintes Princípios de Guerra:
 objetivo, pois permite a obtenção de efeitos desejados no inimigo,
influenciando atores e moldando o ambiente operacional com vistas a prevenir e
deter ameaças;
36

 ofensiva, na medida que cria e mantém a liberdade de ação dos


comandantes militares em todos os níveis, ao gerar a aceitação dos diversos atores
presentes no conflito da necessidade de emprego da força;
 economia de Forças ou meios, concorrendo para engajar o inimigo no
terreno informacional o mais cedo possível, por meio das CRI, e liberando, também,
o decisor para o emprego máximo de ações cinéticas nos locais e ocasiões
decisivos no terreno físico;
 manobra, uma vez que, se aplicada de forma antecipada, possibilita
atingir os efeitos desejados no campo cognitivo dos adversários, por meio de ações
não cinéticas que, de outra forma, não seriam alcançados com ações cinéticas. Nas
operações militares em curso, apoia a continuidade da pressão sobre o inimigo com
a finalidade de diminuir a sua capacidade de reação, a eficácia de suas ações e de
sua iniciativa; e
 legitimidade, pois, considerando que o emprego da F Ter ocorre conforme
diplomas legais, mandatos e compromissos assumidos pelo Estado, cabe à atuação
sinérgica e antecipada das CRI, que preceda uma Op Mil, construir ou consolidar a
percepção favorável que as sociedades, nacional e internacional, e população local
da área de operações têm sobre o emprego da Força, angariando seu apoio.
Este último Princípio de Guerra merece destaque especial para embasar
uma a necessidade da execução de uma Manobra Informacional, pois a crescente
importância dos assuntos relacionados à dimensão humana submete os
planejadores e decisores à questão da legitimidade.
Ela envolve controlar a narrativa (percepções) e produz reflexos no nível de
aceitação que a Opi Pub (nacional e internacional) atribui ao argumento de que se
faz necessário agir militarmente para a solução de conflitos.
A DMT, ao definir o espectro dos conflitos atuais, também abre uma brecha
implícita para a necessidade de planejamento das ações no terreno informacional.
Constata-se que, da Paz Estável em um extremo, à situação de Guerra, no outro,
existe a possibilidade de emprego da negociação, que diminui à medida que a
situação evolui, passando pela Paz Instável e Crise.
O emprego da negociação e da força varia ao longo desse espectro. Mesmo
quando ocorre o máximo emprego da violência na situação de conflito
37

armado/guerra, mantêm-se as possibilidades de negociação, buscando o


restabelecimento da paz, Estado Final Desejado (EFD).
É interessante observar que, se o conflito armado é o resultado final
indesejável de uma crise, segundo a DMT, todas as formas de influenciar o
adversário a não combater devem ser utilizadas, o que corrobora a necessidade da
atuação sinérgica e sincronizada de ações não cinéticas no terreno informacional,
durante a negociação, fase que antecede o conflito.
Cabe constatar, ainda, que quanto mais se aproxima da guerra, menos
efetiva é a negociação, em que pese sua presença em todo espectro, inferindo-se
que haverá a substituição gradativa de ações não cinéticas pelas cinéticas na
resolução de conflitos.

Figura 1 - Espectro dos Conflitos, negociação e emprego de ações não cinéticas


NSTRUMENTOS

EMPREGO DE AÇÕES CINÉTICAS


AÇÃO

EMPREGO DE AÇÕES NÃO CINÉTICAS (CRI)

Fonte: AUTOR, 2022

Outro capítulo do compêndio de DMT de interesse para a Manobra


Informacional, é aquele que trata da Organização dos Elementos da F Ter, ao
classificar operativamente suas organizações militares de emprego em: Elementos
de Combate, Elementos de Apoio ao Combate e Elementos de Apoio Logístico.
Os elementos de apoio ao combate participam decisivamente do sucesso
das operações por meio do apoio de fogo, do apoio ao movimento e da capacidade
38

de coordenação e controle proporcionados à força. O apoio ao combate contribui


diretamente com o aumento da eficiência dos elementos de manobra.
De acordo com o Manual de DMT, os principais Elementos de Apoio ao
Combate da F Ter são: Artilharia (Art), Engenharia (Eng), Comunicações (Com),
Guerra Eletrônica (GE), Guerra Cibernética (G Ciber), DQBRN, Inteligência (Intlg) e
Operações Psicológicas (Op Psc).
As Op Psc são definidas, de acordo com o Manual de DMT, como
procedimentos técnico-especializados, aplicáveis de forma sistematizada desde o
tempo de paz, de modo a motivar público-alvo amigos, neutros ou hostis a
manifestarem comportamentos desejáveis, com o intuito final de apoiar a conquista
dos objetivos estabelecidos.
Em coordenação com as demais CRI, por meio das Op Info, as Op Psc
contribuem de forma peculiar para a conformação de cenários alvos, prevenção de
ameaças, prevenção ou distensão de crises ou, ainda, para a solução de conflitos
armados ou guerras.
Para tanto, essas operações: buscam a redução de baixas e danos em
áreas conflagradas; colaboram com a segurança e a proteção de não combatentes;
promovem a economia de meios dos elementos apoiados; multiplicam o poder de
combate da F Ter; buscam o apoio/aceitação às ações amigas e, ainda, se
contrapõem à desinformação e à propaganda adversa.
È oportuno salientar que, a partir destas definições, a DMT elevou as ações
não cinéticas, notadamente a G Ciber, Intlg e Op Psc ao nível decisório, incluindo-as
no rol daquelas ações que dão suporte, definem e possibilitam êxito em uma
campanha militar. Neste sentido, é lícito supor que existe a necessidade de atuação
das Op Psc além do nível tático, o que pode ser alcançado por intermédio de uma
Manobra Informacional planejada e conduzida no mais alto nível de decisão.
As Op Psc envolvem o controle da narrativa (percepções) e produzem
reflexos no nível de aceitação que a Opi Pub (nacional e internacional) atribui à
necessidade do emprego de forças militares na solução de conflitos (legitimidade).
Tais operações se configuram em ações não cinéticas em sua essência e
corroboram a importância de sua aplicabilidade, em uma Manobra Informacional,
diante da DMT atual.
39

5.2 Manual de Campanha: Operações (EB70-MC-10.223)

A documento apresenta a concepção geral de planejamento, preparação,


execução e contínua avaliação das operações militares terrestres passíveis de
serem desencadeadas por elementos de emprego da F Ter no amplo espectro dos
conflitos.
A publicação se destina a sintetizar a natureza das operações militares,
segundo a ótica da F Ter, e estabelece os fundamentos, conceitos e concepções
que orientaram o preparo de seus meios, em conformidade com as situações de
emprego mais prováveis, quando integrando uma Força Terrestre Componente
(FTC), no ambiente conjunto ou constituindo uma força operativa singular nas
situações de Guerra e de Não Guerra.
Já em seus capítulos iniciais, o manual enfatiza a importância das
Informações, como fator decisivo para a vitória final. Ao descrever o ambiente
operacional, ressalta conceitos a serem observados e aplicados pela F Ter em
operações, incorporados à DMT, os quais já foram explanados anteriormente: Suas
dimensões física, humana e informacional, onde se sobressai a importância da
Narrativa dominante, da legitimidade, e da Opi Pub como condicionantes para o
emprego de tropa e o êxito de uma Op Mil.
A publicação salienta algumas características do ambiente operacional
contemporâneo que têm sido determinantes na definição de capacidades das forças
militares na atualidade. Em várias delas, que estão discriminadas a seguir, se
verifica a admissibilidade e necessidade de uma Manobra Informacional, que utilize
ações não cinéticas para conquista de objetivos militares, em detrimento do
exclusivo uso da força:
 consciência de que forças militares “de per si” não solucionam os
conflitos;
 baixa aceitação junto à Opi Pub (nacional e internacional) do emprego da
força;
 a diminuição da importância da manutenção do terreno nas operações
militares. Em contrapartida, a valorização crescente da conquista de objetivos
relacionados aos “corações e mentes”, ou seja, os acidentes capitais do terreno
físico têm perdido relevância diante da preponderância do “terreno humano”;
40

 o emprego dos meios cibernéticos, informacionais e sociais como


instrumentos de guerra, fragilizando as fronteiras geográficas;
 utilização da informação como arma, afetando diretamente o poder de
combate dos beligerantes;
 a visibilidade imposta pela mídia instantânea no espaço de batalha;
 a importância da Opi Pub e necessidade de informar e influenciar públicos
específicos, em apoio às operações militares (controlar a narrativa); e
 a relevância do “terreno humano” no destino dos conflitos;
Quando o Manual de Operações passa a discorrer das operações no amplo
espectro, Conceito Operativo do Exército, a utilização do termo “Guerra da
Informação”, torna contundente a importância do gerenciamento operacional das
Informações, deixando evidente que, durante um conflito, existem duas batalhas que
devem ser vencidas: Uma no terreno físico e outra que, condicionada pelo “terreno
humano”, será vencida no informacional.
Neste sentido, a publicação preconiza que a compreensão do ambiente
operacional é fundamental para o planejamento e a condução das operações.
Tradicionalmente, o foco da análise desse ambiente era concentrado na dimensão
física, considerando a preponderância dos fatores terreno e condições
meteorológicas sobre as operações.
Entretanto, as variações no caráter e natureza dos conflitos, resultantes das
mudanças tecnológicas e sociais, impõem uma visão que também considere as
influências das dimensões humana e informacional sobre as operações militares e
vice-versa.
A superação do oponente apenas na dimensão física, deixou de ser
suficiente para atingir os objetivos estratégicos da campanha e o Estado Final
Desejado (EFD), demonstrando, mais uma vez, a importância e pertinência do
planejamento de uma Manobra Informacional.
Paralelamente, outro item julgado oportuno constante no compêndio de
Operações é o que trata dos Fatores da Decisão, que reúnem os aspectos
relevantes para o planejamento e condução das operações militares. Aos fatores
anteriormente consagrados pela DMT, Missão, Inimigo, Terreno e Meios, foram
somadas as Considerações Civis, que concorrem em igualdade de importância com
os demais para o sucesso de uma manobra.
41

De acordo com o Manual de Operações, as ações militares realizadas no


amplo espectro dos conflitos, normalmente, desencadeadas em áreas humanizadas,
induzem à preponderância do “terreno humano” do Espaço de Batalha que, de forma
crescente, tem tido o seu protagonismo ressaltado.
A Opi Pub, que sempre foi considerada relevante, especialmente nos níveis
político e estratégico, passou a ser um objetivo a ser conquistado, também nos
níveis operacional e tático. Assim, sem atribuir a devida relevância às
Considerações Civis, corre-se o risco de o EFD não ser alcançado.
As Considerações Civis foram interpretadas, segundo o manual, pela
influência das instituições civis, das atitudes e atividades das lideranças civis, da
população, da Opi Pub, do meio ambiente, de infraestruturas construídas pelo
homem, das agências civis, com capacidade de influenciar e formar opiniões entre
os nacionais ou internacionais, no Espaço de Batalha. Ter a capacidade de analisar
este fator decisivo e atuar nele, por meio de uma Manobra Informacional, tornou-se
imperativo para as operações militares,

5.3. Catálogo de Capacidades do Exército (EB20-C-07.001)

O Centro de Doutrina do Exército consolidou o conceito de Planejamento


Baseado em Capacidades (PBC) e definiu as Capacidades Militares Terrestres
(CMT) e as Capacidades Operativas (CO), as quais vão ao encontro da DMT com
vistas a que a F Ter se contraponha às ameaças dentro das áreas estratégicas,
atuando no amplo espectro dos conflitos. A obtenção dessas capacidades é
primordial para possibilitar a atuação do EB em todo o espectro dos conflitos para
alcançar o efeito dissuasório desejado.
Uma CMT é constituída por um grupo de CO com ligações funcionais,
reunidas para que os seus desenvolvimentos potencializem as aptidões de uma
força para cumprir determinada tarefa dentro de uma missão estabelecida. A CO é a
aptidão requerida a uma Força ou organização militar, para que possam obter um
efeito estratégico, operacional ou tático.
Para a dimensão informacional, a CMT 08 - Superioridade de Informações é
importante, na medida que demonstra a necessidade da F Ter dispor desta
capacidade para sua atuação plena, no amplo espectro dos conflitos. Para que uma
Força obtenha a CMT 08, é necessário que ela esteja apta a desenvolver e
42

empregar as ações não cinéticas identificadas como a CO31- GE, CO32 - OP PSC,
CO33 - Com Soc e CO34 Intlg.
O Catálogo de Capacidades definiu a Superioridade de Informações como
uma vantagem operativa derivada da habilidade de coletar, processar, disseminar,
explorar e proteger um fluxo ininterrupto de informações aos comandantes em todos
os níveis, ao mesmo em que se busca tirar proveito das informações do oponente
e/ou negar-lhe essas habilidades. Permite o controle da dimensão informacional por
determinado tempo e lugar.
Ressalta-se neste contexto, a definição da CO32 – Op Psc que detém a
capacidade de apoiar ou desenvolver processos e ações, em tempo de paz, crise ou
conflito, para influenciar os diversos públicos existentes (hostil, amigo ou neutro), a
fim de obter uma atitude positiva de nossas ações e inibir as percepções contrárias à
nossa atuação, contribuindo para o sucesso nas operações. Tal capacidade,
conjugada com as demais por meio de uma Manobra Informacional, tem papel
fundamental no domínio da superioridade informacional

5.4. Repercussões da DMT para a dimensão informacional:

Diante do que foi analisado anteriormente e tendo por base os conceitos


constantes das publicações da DMT, acerca da doutrina de emprego dos elementos
da F Ter, ficou marcante a relevância da dimensão informacional e sua importância
no amplo espectro dos conflitos atuais, o que pode ser replicado para os níveis
decisórios mais altos.
Ficou notória, ainda, a possibilidade da adoção de uma Manobra
Informacional que sincronize ações não cinéticas (CRI) em prol do sucesso de uma
Op Mil com vistas ao domínio do ambiente informacional permitindo,
prioritariamente, a Superioridade Informacional, a conquista do “terreno humano” e a
liberdade de ação para os comandantes em todos os níveis.
Ficaram evidentes, também, conceitos, fundamentos e características
relacionadas aos conflitos atuais que ensejam a necessidade de planejamento
apurado e atuação sinérgica no campo informacional, de ações não cinéticas em
apoio à manobra cinética, a fim de sustentá-la e maximizar seu poder de combate.
Em conformidade com a DMT, são os seguintes aspectos que corroboram a
necessidade da execução de uma Manobra Informacional:
43

 as Informações fazem parte dos oito elementos do Poder de Combate


Terrestre, representando, com as demais, a essência das capacidades que a F Ter
emprega em operações;
 influenciar, moldar, prevenir e deter ameaças em um ambiente
operacional, são fundamentais para a manutenção do controle sobre a terra,
recursos e pessoas;
 os Princípios de Guerra, notadamente do Objetivo, Economia de Forças
ou Meios, Manobra e Legitimidade reforçam a adequabilidade de uma Manobra
Informacional;
 a formação e consolidação da Narrativa dominante foi identificada como
acidente capital em uma Op Mil, devendo ser conquistada;
 as Op Info devem ser empregadas a fim de informar e influenciar grupos e
indivíduos de interesse para as operações militares, por meio das CRI;
 as Op Psc foram elencadas como elemento de apoio ao combate,
avultando sua importância na conformação de cenários alvos, prevenção de
ameaças, prevenção ou distensão de crises, sendo uma ação não cinética na sua
essência e necessitando ser planejada e executada no mais alto nível de decisão;
 da Paz Estável à situação de Guerra, existe a possibilidade da
negociação na resolução de crises, cujo emprego de ações não cinéticas de forma
antecipada ao conflito ganham destaque, a fim de se evitar a Guerra, identificada
como um efeito indesejável;
 os acidentes capitais do terreno físico têm perdido relevância diante
da preponderância do “terreno humano”, que deve ser conquistado na dimensão
informacional;
 nas operações no amplo espectro dos conflitos atuais foi admitida a
existência da “Guerra da Informação”, a ser vencida prioritariamente pela ação
coordenada das CRI, de forma planejada e sinérgica, o que suscita a necessidade
do planejamento e execução de uma Manobra Informacional em uma Op Mil;
 a superação do oponente apenas na dimensão física, deixou de ser
suficiente para atingir os objetivos estratégicos da campanha e o EFD;
 sem atribuir a devida relevância às Considerações Civis, corre-se o
risco de o EFD não ser alcançado, tornando a Opi Pub um objetivo a ser
conquistado; e
44

 a CMT Superioridade de Informações e as CO não cinéticas a ela


relacionadas são aptidões necessárias para que uma força tenha plenas condições
êxito em um ambiente operacional;

6. A DIMENSÃO INFORMACIONAL E O EXÉRCITO AMERICANO

O emprego das Informações no Exército dos Estados Unidos da América


(EUA) vem se consolidando como fator de êxito das operações militares americanas.
De forma efetiva, a denominada “Comunicação Estratégica” estadunidense, que tem
nas Op Info seu meio de atuação, consolidou-se como fator de êxito em apoio às
forças militares, nas operações de guerra recentes onde os americanos vieram a
combater.
Para Corrêa (2012) “Partindo do fato de que a informação tem
desempenhado um papel de crescente importância em toda forma de conflito, os
EUA foram o País que primeiro decidiu desenvolver um corpo doutrinário específico,
vocacionado para sistematizar a utilização da informação no ambiente do futuro
campo de batalha”.
A doutrina militar conjunta americana de emprego das informações em
combate está contida nos manuais militares o FM 100-6 Information Operations
(ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1996) e o FM 3-13 Information Operations
Doctrine, Tactics, Techniques, and Procedures (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA,
2003).
Para Ribeiro e Ribeiro (2021, p. 140) O termo Information Warfare refere-se
a uma atividade específica dentro de uma guerra. De acordo com a doutrina
americana a Guerra de Informação7 (Information Warfare) “é o termo adotado pelo
Departamento de Defesa e pelo estado-maior conjunto para reconhecer uma gama
de ações tomadas durante o conflito para alcançar a superioridade da informação
sobre um adversário.” (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1996, p. 23).

7
Texto original: Information warfare is the term adopted by the Department of Defense (DOD) and
the jointstaff to recognize a range of actions taken during conflict to achieve information superiority
over an adversary.
45

Já as Operações de Informação8 (Information Operations) são “o emprego


das capacidades essenciais [...], em conjunto com as capacidades de apoio
especificadas e relacionadas, para afetar ou defender a informação e os sistemas de
informação, e para influenciar a tomada de decisões.” (ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA, 2003, p. 287).
Corrêa (2012) discorre sobre o caráter conjunto das Op Info nos EUA da
seguinte maneira:

É interessante destacar o perfeito alinhamento de pensamento entre os


níveis político, estratégico, operacional e tático, que embora tenha
demorado mais de duas décadas para ser atingido, hoje pode servir de
modelo como consciência de defesa para o estamento político de qualquer
nação do planeta.

Corrêa (2012) ressalta, também, que de forma crescente, as Op Info


passaram a fazer parte de um contexto mais integrado e abrangente (civil e militar)
nos EUA, levando o Departamento de Defesa americano a desenvolver uma
doutrina específica para a condução de Op Info Conjuntas. Essa preocupação se
traduziu na publicação conjunta – Joint Publication 3-13 (ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA, 1998).
Segundo e supracitada publicação a Guerra de Informação foi definida como
“o conjunto das Operações de Informação conduzidas durante um período de crise
ou conflito com a finalidade de atingir ou promover a consecução de objetivos
específicos sobre um ou mais adversários.”
Esta definição veio de encontro ao conceito de Guerra de Informação
contida no FM 100-6 Information Operations anteriormente estabelecido fazendo
com que as Op Info passassem a ser desenvolvidas não só no nível estratégico-
militar, mas também no nível político-estratégico.
Diante da importância do assunto, militares e especialistas escreveram
artigos, publicados na revista “Military Review”, que atestaram a relevância do
emprego das Informações como arma eficaz nos combates em que o Exército dos
EUA estiveram presentes, propondo, ainda, aperfeiçoamentos na doutrina militar
americana no tocante ao planejamento das Op Info naquele país.

8 Texto original: The employment of the core capabilities […], in concert with specified supporting and
related capabilities, to affect or defend information and information systems, and to influence decision
making
46

A seguir, o conteúdo de algumas destas publicações, que vai ao encontro da


importância do emprego de ações não cinéticas em uma Op Mil, será apresentado,
com vistas a identificar, na experiência americana, fatores que indiquem a
necessidade de adoção de uma Manobra Informacional no nível operacional, para a
atuação das FA Ter no amplo espectro dos conflitos.
Murhy (2010), ao trata da necessidade do aperfeiçoamento do emprego das
Comunicações Estratégicas para as forças militares americanas, com ênfase no
emprego das ações não cinéticas. Em seu artigo, o autor define a comunicação
estratégica, em sua essência, como a coordenação de ações, palavras e imagens
para criar efeitos de informação cognitivos que, no combate, basicamente apoiam a
conquista de objetivos militares.
Segundo ele, ainda, as operações militares americanas, por todo o espectro
do conflito, dependeriam decisivamente da correta distribuição da informação para
apoiar o sucesso da missão.
O responsável pelo artigo enfatizou que a busca pelo conhecimento de como
incorporar os efeitos da Informação nos paradigmas do combate para acentuar a
sua eficácia seria imperativa frisando, entretanto, a necessidade de uma mudança
na cultura organizacional para maximizar a aplicação dessa arte. O autor ressaltou
que “em tempo de guerra, a mudança evolutiva lenta é paga com sangue e, assim, a
lacuna de tempo teria de ser eliminada”.
Um exemplo da influência das Informações para que o êxito de uma Op Mil
fosse atingido, foi relatado quando, em setembro de 2008, o então Secretário de
Defesa americano Robert Gates anunciou uma nova política de pedir desculpas
pelas baixas civis durante a Guerra do Afeganistão. O objetivo dessa política tinha
pouco a ver com misericórdia e tudo a ver com transmitir a mensagem de que os
Estados unidos se importavam com o povo afegão, a fim de facilitar o emprego de
tropa no Afeganistão.
Essa política, fechou uma lacuna entre discurso e prática e progrediu na
difícil batalha de ideias, em que o Secretário Gates reconheceu a importância, em
grande parte, das percepções do povo afegão com relação à presença e às ações
das forças militares americanas. Mais do que combater no campo de batalha, seria
necessário executar ações no terreno das ideias para vencer a guerra.
O autor relata que o processo decisório militar americano (processo de
planejamento de campanha nos níveis mais altos), ensinado e aplicado por líderes
47

em todos os níveis de suas carreiras, desenvolveu uma cultura que enfatiza as


habilidades “cinéticas” (que incluem o emprego de força) do combate, tanto no
planejamento quanto na execução de uma operação, em detrimento daquelas
identificadas como “não cinéticas”.
A ação cinética, por natureza, fornece a satisfação imediata de medir a
eficácia com base em evidências físicas: uma bomba é lançada, um edifício é
destruído. Entretanto, dada a natureza única do modelo de comportamento humano,
medir a eficácia dos esforços de comunicação estratégica em percepções e atitudes
é muito mais problemático e normalmente ocorre com o tempo.
O autor, que lecionou Comunicação Estratégica na Escola de guerra do
Exército dos EUA por quatro anos, identificou que os alunos, líderes de alto escalão,
passaram a reconhecer cada vez mais a importância dos efeitos da informação para
o sucesso do combate. Contudo, os oficiais relataram que, mesmo com
desdobramentos sucessivos em áreas de combate, em média se levava os quatro
meses iniciais para implementar táticas, técnicas e procedimentos eficazes para se
competir em um ambiente de informações.
Constatações empíricas indicaram que essa forma de emprego militar foi
influente durante os meses iniciais do desdobramento no Afeganistão e no Iraque,
resultando na lenta adaptação às exigências para a incorporação dos efeitos da
informação da comunicação estratégica nas operações.
Essa propensão cultural em direção à ação cinética permaneceria inalterada
sem uma considerável “função de força” para reorientar Comandantes, Estados-
Maiores e Unidades subordinadas na direção de uma ênfase nos efeitos da
informação. Essa “função de força” seria identificada pela situação final de
informações expressa claramente, para acompanhar a tradicional situação final
militar, que no EB foi definido como EFD.
De acordo com o texto, a situação final de informações é a descrição do que
o ambiente de informações passará a ser na conclusão das operações militares.
Deve considerar a dimensão cognitiva do ambiente de informações. Essa descrição
cognitiva inclui as percepções e atitudes desejadas do público-alvo (por exemplo, a
população local ou a comunidade internacional).
Uma situação final de informações bem expressa impulsionaria o
planejamento e a execução da Op Mil. Linhas de ação militares seriam analisadas
segundo essa visão, mencionada na Intenção do Comandante. Consequentemente,
48

os planejadores considerariam a reação esperada do inimigo a qualquer ação de


forças amigas em termos da situação final e informações exigida.
Essa avaliação incluirá o reconhecimento de que uma ação cinética
favorável pode resultar em uma reação de informação assimétrica por um inimigo.
Os planejadores poderiam, então, preparar contramedidas para enfraquecer o
ataque de informação do inimigo ou escolher uma linha de ação alternativa, que
contemple ações no campo cognitivo, prioritariamente não cinética.
No caso de uma solução cinética como linha de ação preferencial ser
escolhida (por uma cultura organizacional inerente), a situação final de informações
poderia mostrar outra alternativa (ações não cinéticas), obtendo o efeito cognitivo
relacionado com as percepções, atitudes e, finalmente, um comportamento.
O autor destacou, por fim, que Intenção do Comandante, quando ampliada
inclusão de uma situação final de informações, apoiaria a aplicação da arte da
guerra na comunicação estratégica desde o início do planejamento e da execução. A
inclusão de uma situação final de informações seria um passo importante no
gerenciamento do ambiente de informações em apoio aos objetivos militares.
Já Clark (2010) advoga que as capacidades militares básicas de Op Info
poderiam impedir o conflito armado tanto com potenciais adversários estatais quanto
não estatais, indo ao encontro do que pregam a política e os líderes militares norte-
americanos, no tocante ao respeito a uma restrição operacional, que visava a
minimizar as baixas entre as Forças dos EUA e a população civil afetada.
O texto evidencia que as Op Info, a partir de suas características não letais e
“não cinéticas”, atendem à supracitada restrição, justificando seu emprego de forma
antecipada ao conflito, o que o autor denominou de Op Info Ofensivas. Essas
operações aplicadas de forma ofensiva, antes da aplicação da força letal, obteriam a
dissuasão com um mínimo de baixas e de danos à infraestrutura inimiga.
O artigo traz a ideia de que a dissuasão induzida pelas Op Info compeliria o
adversário a adotar uma política que obtenha ou mantenha a Segurança Nacional
dos interesses dos EUA. São operações planejadas, integradas e executadas como
parte do plano de campanha, oferecendo ao comandante alternativas não letais e
“não cinéticas”.
O autor ressalta que as Op Info deveriam ser empregadas com a mesma
força e rigor que caracterizam a aplicação da força letal, para que seu efeito seja
efetivo. A finalidade seria deixar o adversário com uma sensação de dúvida, medo e
49

confusão, induzindo-o a abandonar a linha de ação influenciando o seu ciclo


“observar, orientar, decidir e agir” (OODA), suas operações e a percepção da
possibilidade de seu sucesso.
Para explicar a aplicação das Op Info ofensivas, o autor do artigo utilizou um
gráfico onde descreveu a efetividade dissuasória desse tipo de Op Mil em todas as
fases das operações. Para tanto, denominou de “fase 0” a definição das operações,
“fase 1” a intensificação da dissuasão estratégica, “fase II” a conquista da iniciativa,
“fase III” as operações, “fase IV” a estabilização e “fase V” a capacitação da
autoridade civil. A linha à esquerda representa as Op Info empregadas para obter a
dissuasão e a da direita de forma operacional e tática, em apoio às operações.

Figura 2 - Efetividade dissuasória das Op Info

Fonte: CLARK (2010)


De acordo com artigo, na “fase 0”- definição das operações - é empregada a
dissuasão “pelo convencimento” como uma prioridade para proteger os interesses
dos EUA. Dissuadir “pelo convencimento” consiste em atividades relacionadas com
elementos do Poder nacional, como diplomáticos e econômicos, nos esforços dos
EUA em dissuadir um adversário de executar uma política que ameace os interesses
de segurança do país. Na “fase 0”, as Op Info militares desempenham um papel
apenas secundário.
A distinção entre a dissuasão clássica e dissuadir “pelo convencimento” está
no foco do esforço. No caso de esforços de dissuasão “pelo convencimento”, o foco
é, muitas vezes, menos direto em relação ao adversário. Já para as Op Info
dissuasórias, os alvos devem corresponder diretamente aos componentes humano,
50

de infraestrutura e de conteúdo essenciais que sustentem o potencial adversário e a


linha de ação que esteja executando, podendo neutralizar uma crise.
O texto enfatizou que as Op Info ofensivas visam impedir o conflito e que
essas operações teriam o potencial para neutralizar uma crise como seu aspecto
mais promissor. Na “fase I”, as Op Info preenchem a lacuna de dissuasão
estratégica entre a dissuasão “pelo convencimento” da “fase 0” e o início da
aplicação de força letal na “fase II”. Quanto mais agressivo for o uso das Op Info na
“fase I”, mais provável será que o adversário perceba nossa disposição em
empregar a força,
Segundo o autor, as Op Info em apoio à dissuasão estratégica poderiam,
assim, minimizar a necessidade de posicionar Forças perto da área do conflito.
Permitira, também, influenciar o processo decisório e as percepções de um potencial
adversário ao mesmo tempo em que aumentam o impacto dissuasório das
alternativas de projeção de poder.
A análise do gráfico embasou a argumentação em prol de Op Info ofensivas
nas operações da “fase I”, assim como de um engajamento concentrado de Op Info
à medida que a “fase I” se aproximar da conclusão e a “fase II” estiver prestes a
começar. A figura 2 mostra que a efetividade das Op Info é mínima na “fase 0”,
acelera rapidamente com o início da “fase I” aumentando ao longo desta e se
converte em aplicação tática com o início da “fase II”.
O texto frisou que a efetividade crescente reflete o fato de que o adversário
potencial reage à aplicação sincronizada das capacidades militares centrais das Op
Info. Na “fase I”, as Op Info devem buscar afetar a liderança e as estruturas de apoio
de um adversário, incluindo a população, de modo que os EUA alcancem sua meta
de impedir o conflito ao induzir a mudança favorável de uma política do adversário.
O gráfico mostrou que, conforme o início da “fase II” se aproxima, é preciso
que ocorra um engajamento concentrado de Op Info assegurando, em primeiro
lugar, uma dissuasão bem-sucedida e, em caso de insucesso, uma superioridade
de informações das Forças amigas na preparação para o início do conflito armado,
na “fase II”. A característica central do engajamento concentrado de Op Info é
redobrar esforços e concentrar “fogos” não cinéticos.
Caso a dissuasão não funcione, o engajamento concentrado de Op Info na
“fase I” tem maior efeito e deve começar de 48 a 72 horas antes do início previsto da
“fase II”, como se vê na figura 3. Quando a “fase II” começar, o impacto estratégico
51

das Op Info como alternativa para obter a dissuasão rapidamente se tornará


secundário, pois essas operações tendem a ser aplicadas em apoio às exigências
operacionais e táticas, cujas ações serão prioritariamente cinéticas.
Os mesmos meios utilizados para as Op Info na “fase I” também apoiariam o
combate operacional e tático, e seu emprego aumentaria a partir do início da “fase II”
até o final da “fase III”, onde aconteceriam as principais operações de combate. No
início da “fase VI”, operações de estabilidade, a efetividade das Op Info operacionais
e táticas diminui.

Figura 3 - Concentração das Op Info na Fase I

Fonte: CLARK (2010)

Assim, a experiência americana evidenciou a importância das ações não


cinéticas em combate e a necessidade da execução de uma Manobra Informacional
nas Op Cj, de forma antecipada ao início das operações, a fim de moldar o cenário
favoravelmente às nossas forças e, até mesmo, com a finalidade de fazer com que o
adversário desista de seu intento de lutar, impedindo o provável conflito.
Ficou latente, também, que as ações não cinéticas devem preceder o uso da
força militar, período no qual seu resultado cognitivo se mostrou mais efetivo, e que
estas ações apoiam as ações durante a campanha militar.
52

7 A OPINIÃO PÚBLICA E A DOUTRINA MILITAR

7.1 O que é opinião pública?

A expressão "opinião pública" é de difícil definição quando observada num


contexto muito amplo. Somente quando se refere à opinião de um público específico
sobre assuntos definidos é que adquire um significado que possibilita o seu estudo,
o descobrimento de qual o seu estado e a razão que a motivou. Um fator importante
da opinião pública é a troca de informações, que geralmente ocorre no calor da
discussão entre os membros do público.
Opi Pub é o produto final do agregado dos impactos individuais de imagens
sobre determinado conjunto social. A opinião coletiva desse grupo condiciona a
atitude e determina o comportamento dos indivíduos que o compõem. Torna
aceitáveis certos padrões e inaceitáveis outros. (FARHAT, 1992)
A Opi Pub é a soma das ideias de um grupo sobre determinado assunto,
situação ou circunstância, formada pela discussão entre seus integrantes e
modificada de acordo com as informações recebidas. É constituída de ideias
pertencentes a indivíduos e grupos que afloram como consequência das
informações recebidas.
Ressalta-se o fato de que a Opi Pub, apesar de ser considerado o produto
coletivo, não é uma opinião unânime já que esta é o produto da controvérsia e do
debate. Não é, necessariamente, a opinião da maioria, pois pode uma minoria bem
organizada exercer maior influência na formação da opinião da maioria. (ANDRADE,
1965).
Analogamente, a Op Pub não é apenas a soma das opiniões individuais,
mas sim um processo contínuo de comparação e de contraste de opiniões baseadas
numa ampla série de conhecimento e experiências. (POYARES, 1997)
Nos trechos a seguir, pode-se avaliar a influência que a opinião pública
exerce no emprego militar em caso de guerra como instrumento da sociedade para
controlar o Estado e sua influência na “decisão” para o emprego militar.
“As causas das guerras devem ser buscadas diretamente nos índices das
correntes de opinião e não indiretamente nos parâmetros das diversas situações,
embora as duas tenham em parte terminologia comum” (WRIGHT, 1988).
53

“O maior problema para as democracias em relação às forças armadas é


que os exércitos democráticos não podem ganhar guerras sem apoio popular, sem
consenso por trás deles” (TOFFLER,1995).
No campo militar, a Op Pub só estará ao lado das forças militares, quando
tiver consciência que o papel que desempenham na sociedade é do seu próprio
interesse: o interesse nacional.
É importante, pois, a conquista de uma opinião pública favorável ao
desenvolvimento das atividades militares, a qual, além de sintetizar a vontade
nacional, envolverá todo o país no esforço despendido, permitirá que se obtenham
mais recursos para as atividades militares e que a tropa seja empregada em
melhores condições de pessoal e material. (AGUILLAR, 1996).
Os comandantes consideram o poder de combate como o efeito produzido
pela manobra, poder de fogo, proteção e liderança em um momento e local
específicos, eles também deveriam encarar o apoio popular como uma espécie de
efeito. (REITZ, 1993).
O relacionamento entre apoio popular e as operações militares que já era
observado há tempos. Analisando os pensamentos de Clausewitz 9, observa-se que
o mesmo não se furtou em valorizar a opinião pública. O pensador relata que, a
guerra é sustentada por uma tríade extraordinária composta de governo, forças
armadas e povo.
O governo estabelece o objetivo político que é o grande direcionador da
estratégia; as forças armadas propiciam os meios para se alcançar o propósito
governamental; e o povo proporciona a vontade: o motor da guerra (LEONARD,
1988).
O Exército dos EUA, experiente em combate, traz em seus principais
manuais militares a importância do assunto em tela. O manual denominado FM 3-13,
Information Operations, contempla como armas para quebrar a vontade de combater
da tropa inimiga e eliminar o apoio de sua população o uso das Op Info que contam
com as atividades de Relações Públicas e de Assuntos Civis, Operações
Psicológicas, Guerra Cibernética e Guerra Eletrônica.

9Carls Maria Von Clausewitz foi um general prussiano, nascido em Burg, em 1780, falecendo em
1831. Foi um dos grandes pensadores da arte da guerra (LEONARD, 1988).
54

O objetivo é obter mais liberdade de ação com apoio maior de toda opinião
pública possível. Segundo a doutrina americana, o emprego desses dois órgãos,
será indispensável para construir a legitimidade da ação militar, o apoio das
populações dos EUA e a mundial, especialmente em operações de emprego não
guerra10. (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2016).
Mas é no manual militar FM 3-0, Operations, que a Op Pub é tratada com
maior abrangência de importância quando se observa um comentário relativo ao
emprego do Exército, no tocante ao apoio popular, enfatizando que o povo norte-
americano “espera vitórias rápidas e abomina as baixas desnecessárias,
reservando-se o direito de retirar seu apoio quando não se cumpra uma dessas
condições”. (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2011).
Portanto, as operações atuais têm como característica ocorrerem em um
ambiente operacional complexo onde apenas a aplicação de ações cinéticas para a
conquista de objetivos físicos terreno não garantem às FA certeza da vitória. Neste
ambiente, tornou-se primordial a obtenção do apoio da população e opinião pública
favorável para que os objetivos sejam conquistados. Visacro (2018) indica uma
característica importante do ambiente operacional moderno, ligada à dimensão
humana, como se segue:

[...] Luta travada nas dimensões humana e informacional do ambiente


operacional, em detrimento de sua dimensão física; Ênfase na luta pelo
apoio da população; Comunicações globais: a perda absoluta do controle
sobre os meios de comunicação de massa e o acesso irrestrito à
informação digital limitar a capacidade estatal de moldar a opinião pública
interna e fortalecer a vontade nacional; Impacto de mídias sociais virtuais de
amplitude global; [...] Restrições legais e a pressão da opinião pública
impõem a aplicação seletiva precisa da capacidade destrutiva com maior
controle de danos e redução dos danos colaterais. (VISACRO, 2018, p. 160-
163)

Segundo ROYAL (2019, p. 20-21), “quanto o inimigo, partindo da admissão


da impossibilidade de vencer no terreno estritamente militar, ele busca a vitória de

10O termo operações não-guerra é empregado para definir as missões de paz ou operações
humanitárias do Exército dos EUA (GLENN, 1999).
55

outra maneira, mediante o emprego de todos os meios possíveis para afetar o


espírito e a moral da Op Pub.”

7.2 Alguns casos históricos

A história está repleta de exemplos acerca da influência da Op Pub nas Op


Mil. Ao longo dos tempos percebemos a importância do apoio popular no destino
das contendas.
Na Guerra do Paraguai, banqueiros, que financiariam o empreendimento
bélico, até escritores, jornalistas e artistas, se encarregaram de convencer a Op Pub
de que a causa era justa e o inimigo odioso, criando um clima favorável à
mobilização das tropas brasileiras e preparando o espírito da nação para o esforço
militar de guerra, fazendo com que o Exército Brasileiro encontrasse respaldo no
apoio popular para suas ações (SELVA, 1996).
Outro exemplo da importância da opinião pública para as ações militares
brasileiras foi a campanha vivenciada por ocasião da 2ª Guerra Mundial.
Inicialmente, observou-se que o País assistia, por meio da mídia, às lutas
acontecidas no continente europeu, sem envolvimento.
Após o afundamento de navios mercantes brasileiros pelos alemães, a
opinião pública foi favorável ao alinhamento do Brasil com as Forças Aliadas,
exigindo do governo a imediata declaração de guerra contra as forças do Eixo,
colaborando, dessa forma, para o expressivo apoio popular conquistado pela Força
Expedicionária Brasileira (FEB) e deixando claro, mais uma vez, a importância da
opinião pública brasileira para a estruturação do esforço de guerra.
Outo exemplo da importância da Op Pub em conflitos militares foi o
observado durante a Guerra do Vietnã, ocorrida no período de 1965 a 1975. Para
Mcnab e Wiest (2016), ante ao crescimento da ideologia comunista no Vietnã do Sul,
os Estados Unidos da América (EUA), que até então prestavam apenas apoio em
material e consultoria, entraram na guerra com o envio de tropa e apoio aéreo
maciço, por meio da Operação Rolling Thunder.
O conflito, que inicialmente contou com o apoio pular doméstico americano,
aos poucos foi sendo alvo da Op Pub contrária à presença de tropas dos EUA no
Vietnã e as milhares de mortes advindas da guerra. A imprensa tinha acesso total
56

aos combates durante a Guerra do Vietnã, trazendo a verdade dos fatos à nação
norte-americana.

Os Estados Unidos entraram na Guerra do Vietnã como uma sociedade, em


geral, unida a favor do conflito. Contudo, em poucos anos, o apoio à guerra
diminuiu e o país parecia estar à beira de uma revolução. A Guerra do
Vietnã não pode ser isolada dos anos 1960, e os atritos raciais e sociais que
assolaram a nação durante o período interagiram com a guerra e o sistema
de recrutamento de maneira dinâmica. (MCNAB ; WIEST, 2016, p. 200)

Na guerra do Vietnã os vietnamitas conseguiram não apenas a vitória nos


campos de batalha, mas, sobretudo, na opinião pública norte-americana, pois a
sociedade dos EUA condenou a participação de seus filhos em uma guerra
impopular, distante do solo pátrio, ocasionando a redução drástica do recrutamento
de soldados nos EUA.
No Vietnã, os soldados americanos, por sua vez, não viam razão para estar
lutando em uma selva inóspita com doenças tropicais de toda espécie e contra uma
nação altamente motivada. A incisiva crítica da opinião pública, particularmente
interna, levou o governo dos EUA a abandonar a guerra, representando assim uma
derrota que nasceu da opinião pública.
Num passado mais recente, no conflito conhecido como Guerra das
Malvinas, ocorrido em 1982, entre a Argentina e a Inglaterra, a Argentina possuía
como objetivo nacional permanente, a anexação definitiva das ilhas Malvinas ao seu
território. Naquele conflito, o governo argentino, de forma surpreendente, levou a
população a apoiar uma operação militar para ocupar de forma definitiva o território
em litígio.
Em contrapartida, o governo britânico não assistiu passivamente a essa
atitude. A Op Pub inglesa também apoiou de forma incisiva o emprego da Força
Armada Real para empreender uma operação militar de ocupação das ilhas
Falklands, não importando o dispêndio financeiro da empreitada. Estava em jogo a
soberania da comunidade britânica, respaldada fortemente pelo apoio popular. Em
ambos países, os Estados Nacionais obtiveram liberdade de ação apoiada pela Op
Pub.
Já em agosto de 1990, o mundo viu eclodir uma nova guerra centrada na
conquista poços de petróleo, ocasião em que o Iraque invade o Kuwait visando
pagar as dívidas da guerra da qual havia terminado recentemente e uma saída
maior para o Golfo Pérsico. Esta atitude foi contrária aos interesses econômicos dos
57

Estados Unidos, que, em janeiro de 1991, liderou uma coalizão militar durante as
Operações Escudo no Deserto e Tempestade no Deserto, com a finalidade de
expulsar as tropas de Saddam Hussein, com o consentimento das Nações Unidas
(ONU). (ZAPERLÃO, 2008)
Neste conflito, percebeu-se a utilização de narrativas que levaram a Op Pub
a ser convencida que a luta seria realizada entre bem, identificado pelos EUA e seus
aliados, contra o mal, que tinha Saddam Hussein como sua encarnação.
Segundo Arbex (2001), houve a utilização narrativas por parte da imprensa e
dos países envolvidos fazendo como que a Op Pub construísse em sua mente a
imagem de uma luta entre o "bem", representado pelos EUA, e consequentemente a
sociedade Ocidental, com seus valores cristãos, que lutavam em prol da democracia
e liberdade de mercado, contra o "mal", representado pelas tropas de Saddam
Hussein, tirano que representava a civilização muçulmana intolerante, atrasada e
contrária as liberdades individuais
Para Teles (2011), o jornal New York Times tratou cuidadosamente seu
discurso acerca da Guerra do Golfo, a fim de manter a opinião pública favorável à
intervenção estadunidense no Golfo, sempre respeitando as regras impostas pelo
Exército para não comprometer o êxito da missão.
Outro conflito armado onde a Op Pub foi decisiva para o empego da FA, foi a
Guerra do Iraque ou 2ª Guerra do Golfo, ocorrida entre 20 de março e 9 de abril de
2003 e motivada por tensões envolvendo os EUA, a Inglaterra, a França, a
Alemanha, a ONU e o Iraque, então liderado por Saddam Hussein
O fato desencadeador da guerra foi o atentado terrorista de 11 de setembro
de 2001 às “Torres Gêmeas”, em Nova Iorque, empreendido pela organização
terrorista Al Qaeda, liderada por Osama bin Laden, que fez o povo americano, até
então, com opiniões pacifistas e anti-guerra, passarem a apoiar a denominada
“guerra ao terror”. Segundo Keegan (2005):

Antes do 9/11, o povo norte-americano, embora grande parte ignorante em


relação ao mundo exterior, via esse mundo com olhos benevolentes; depois
do 9/11, passou a ver inimigos em toda parte. Antes do evento, sucessivos
governos norte-americanos, nos últimos cinquenta anos, haviam procurado
manter a paz liderando uma aliança de países ocidentais com ideias
semelhantes; depois do ocorrido, o foco de Washington passou a ser a
defesa do país em primeiro lugar. (KEEGAN, 2005, p. 114)
58

Neste contexto, segundo Keegan (2005) os EUA atacaram bases terroristas


da Al-Qaeda no Afeganistão, dando ensejo à próxima fase de combates, já com um
novo alvo definido: o Iraque de Saddam Hussein.
A narrativa que embasou a invasão ao Iraque era que Saddam Hussein
estaria tentando desenvolver capacidade de produção de armas nucleares, o que o
líder iraquiano sempre negava. Diante das esquivas de Saddam e as
desobediências às diversas Resoluções da ONU o presidente norte-americano
George W. Bush tomou a decisão de invadir o território iraquiano, apoiado pela
opinião pública de seu país (KEEGAN, 2005).

8. OPERACIONALIZANDO A MANOBRA INFORMACIONAL

O Manual de Doutrina de Operações Conjuntas (BRASIL, 2020) contempla


os fundamentos doutrinários das Op Cj e aborda os processos empregados nos
planejamentos estratégico e operacional. Estabelece, também, uma metodologia de
planejamento conceitual para que comandantes possam trabalhar com problemas
militares complexos, típicos do atual contexto no qual ocorrem as operações
militares da atualidade.
Por outro lado, a publicação do MD acima citada estabelece, também, que
no nível tático as metodologias de planejamento peculiar de cada Força, poderão ser
utilizadas, preenchendo as lacunas porventura existentes, tendo em vista o grau de
detalhamento necessário os executantes das ações militares planejadas.
Assim, no âmbito do EB, o Manual de Campanha EB20-MC-10.211-
Processo de Planejamento e Condução das Operações Terrestres (PPCOT),
também servirá de base para a operacionalização da Manobra Informacional, uma
vez que muitos conceitos constantes neste manual, e que estão também contidos no
Manual de Doutrina de Operações Conjuntas, são melhor aprofundados, gerando
mais fácil entendimento.
Neste sentido, a execução de uma Manobra Informacional proposta neste
estudo, necessariamente, tem como parâmetro os conceitos do Manual de Doutrina
de Operações Conjuntas, do MD, e no Manual de Campanha Processo de
Planejamento e Condução das Operações Terrestres, do EB, cujo alinhamento com
a dimensão informacional será buscado.
59

De acordo com o Manual de Doutrina de Operações Conjuntas (BRASIL,


2020), algumas ações poderão ser necessárias mesmo antes da ativação de um
determinado Comando Operacional. Neste caso, autorizadas pelo Comandante
Supremo (CS) e controladas pelo Estado Maior Conjunto das Forças Armadas
(EMCFA) como, por exemplo: Operações Especiais, Operações Psicológicas e de
Comunicação Social, Defesa Cibernética e, fundamentalmente, Inteligência.
Tal assertiva, reforça a necessidade de emprego de ações não cinéticas,
com antecipação e oportunidade, o que poderia ser alcançado por intermédio de
uma Manobra Informacional.
Paralelamente, cabe destacar que em um Estado Maior Conjunto (EMCJ) o
Chefe da Seção de Operação de Informação (D-8) é responsável por apresentar a
análise do ambiente informacional, considerando as capacidades relacionadas à
Informação (Operações Psicológicas, Ações de Guerra Eletrônica, Defesa
Cibernética, Comunicação Social e Assuntos Civis).
O Ch D-8 tem a importante atribuição de desenvolver, revisar e avaliar os
planos e atividades das Op de Info baseados em efeitos de informação, além de
assessorar o comando no tocante às implicações políticas, culturais, etnológicos,
religiosos, sociais e relacionamento com a mídia de destaque para o emprego das
Op Info.

8.1 Processo de Planejamento Conjunto (PPC) com foco no “terreno humano”

Em conformidade com o previsto no Manual de Doutrina de Operações


Conjuntas (BRASIL, 2020), no âmbito do MD, os processos de planejamentos
conjuntos são desenvolvidos nos níveis estratégico, operacional e tático. No nível
estratégico, o processo é denominado de Processo de Planejamento Estratégico
Conjunto (PPEC) e sua aplicação será de responsabilidade do Chefe do Estado-
Maior Conjunto das Forças Armadas.
Já no nível operacional, foco deste estudo, o processo é denominado de
Processo de Planejamento Conjunto (PPC), empregado na aplicação do
pensamento crítico e criativo para entender, visualizar e descrever os problemas
militares em um determinado ambiente operacional e desenvolver uma Abordagem
Operativa para solucioná-los, cujo produto final é o Plano Operacional do Comando
constituído.
60

No contexto das Op Mil, um problema operacional é a condição ou conjunto


de condições que impedem comandantes de atingir seu Estado Final Desejado
Operacional (EFD Op). A estruturação do problema envolve identificar e
compreender essas condições que impedem o progresso em direção ao EFD Op.
Com base na compreensão do ambiente operacional e do problema, a
equipe de planejamento irá considerar abordagens operativas possíveis de resolvê-
lo. Essas abordagens servem como orientadoras do planejamento detalhado com
a finalidade de conquistar o objetivo final ou de estabelecer mecanismos de
estabilidade que podem levar a condições que definem o EFD Op.
Assim, a Abordagem Operativa permite ao comandante visualizar e
descrever as possíveis combinações de ações para se alcançar o EFD Op, dadas as
tensões identificadas no ambiente operacional e na formulação dos problemas. O
EMCJ utiliza a Abordagem Operativa para desenvolver linhas de ação durante o
planejamento detalhado.
Para a realização de uma Manobra Informacional, como foco no “terreno
humano”, e tendo em vista a identificação, já mostrada neste estudo, que a Op Pub
é um fator de sucesso para as Op Mil, é na etapa 1 do PPC (Exame de Situação
Operacional) que uma Abordagem Operativa não cinética deve ser levada em
consideração, correndo-se o risco de se perder a oportunidade para tal.
É a etapa na qual o Cmt Op e seu EMCj estudam o problema em todas as
suas dimensões e a oportunidade em que a importância da dimensão humana para
o cumprimento da missão deve ser ressaltada, haja vista a existência da “Guerra da
Informação” nos conflitos atuais e sua influência nos combates modernos.
Sem a atribuição da devida relevância às Considerações Civis e aos fatores
psicossociais do ambiente operacional, tornando a Opi Pub um objetivo a ser
conquistado, corre-se o risco de o EFD Op não ser alcançado, apenas com esforço
bélico nas ações cinéticas.
É interessante observar que o Manual de Doutrina de Operações Conjuntas
(BRASIL, 2020) ressalta os aspectos envolvidos no “terreno humano” a serem
estudados no Exame de Situação Operacional que tem impacto na montagem da LA
para o cumprimento da missão, como, por exemplo, atores amigos, inimigos e
neutros que são relevantes para uma operação conjunta específica e outros atores
que porventura estejam participando da operação ou possuam influência sobre a
61

mesma (organismos internacionais, agências governamentais, organizações não


governamentais etc.).
Quando o documento doutrinário do MD trata dos fatores de análise do
ambiente operacional para a montagem de uma LA, os fatores psicossociais são de
fundamental importância para a chegada da decisão. Discorre, também, sobre a
necessidade de ações não cinéticas serem desencadeadas antes mesmo das Op
Mil, conforme se vê:

Incluirá a análise de uma gama de aspectos de difícil avaliação, entre os


quais estará sempre presente a postura da população civil e o moral das
forças armadas em oposição. As características nacionais, religiosas e
culturais influenciam o nível de treinamento das forças civis e militares,
assim como seu comportamento sob as várias condições da guerra. Serão
considerados, ainda, os fatores sociais e raciais, e suas possíveis
implicações nas operações. Deverá ser dada especial atenção aos aspectos
a serem explorados por meio de operações psicológicas. Tais operações,
para que sejam eficazes, necessitarão, normalmente, ser
implementadas com a devida antecedência em relação ao início efetivo
das operações. (BRASIL, 2020, p. 42, grifo nosso)

Ao final da análise inicial, chega-se à escolha de uma Linha de Ação (LA)


para o cumprimento da missão, caracterizada na Decisão do Comandante e, sempre
que possível, numa ideia geral quanto à forma como essa LA será implementada,
denominada Conceito Preliminar da Operação (CPO).
É nesta etapa que o Cmt Op e seu EMCj, com a participação fundamental do
Ch-D8, devem identificar e planejar uma LA que abarque uma Abordagem Operativa
para o “terreno humano”.
Tal decisão é importante para que o conjunto de atores que participam da
dinâmica dos conflitos condicionam o emprego de tropa, como a mídia; os civis não
combatentes, os grupos e organizações presentes em áreas conflagradas; o público
de massa, seja ele nacional ou internacional, e os dirigentes e líderes em todos os
níveis, que formam a Opinião Pública (Opi Pub) sejam engajados por fogos não
cinéticos, por meio da Manobra Informacional.
A Abordagem Operativa organiza combinações de ações potenciais no
tempo, espaço e propósito que norteará a força na direção do EFD Op. As diretrizes
de planejamento orientam o foco das operações, ligando as condições desejadas às
combinações de ações potenciais que a força pode empregar para atingir o EFD,
claramente definido na Intenção do Comandante.
62

A partir do estabelecimento do CPO, dois conceitos chaves são


fundamentais para o planejamento de uma Manobra Informacional: a montagem de
uma narrativa e o modelo visual (Abordagem Operativa).
Em um sentido amplo, uma narrativa é uma história construída para dar
sentido aos acontecimentos, atos, fatos e eventos. Os indivíduos, grupos,
organizações e países têm narrativas com diferentes componentes que refletem e
revelam como eles se definem.
Os partidos políticos, organizações sociais e instituições governamentais,
por exemplo, têm histórias cronológicas e espacialmente vinculadas, pois eles
incorporam símbolos, acontecimentos históricos e heranças, interligados por uma
lógica que explica sua razão de ser.
No contexto da Manobra Informacional, esta fase do PPC se reveste de
suma importância uma vez que, como já ressaltado, a conquista e manutenção da
narrativa dominante, agora identificada como acidente capital, com vistas a
conquista da Opi Pub com amplo emprego de ações não cinéticas para esse fim. O
domínio da narrativa passou a ser considerada condicionante para o êxito de uma
Op Mil.
Outro conceito relevante na direção da Manobra Informacional diz respeito
ao modelo visual, pois a complexidade de determinados problemas relacionados a
dimensão informacional exige a criação de uma visão ou perspectiva do problema,
fortemente baseado em seus desenhos, gráficos e diagramas de relações entre os
atores envolvidos.
Um modelo visual, que represente uma abordagem operativa de uma
Manobra Informacional, permite demonstrar o comportamento do conjunto de atores
que participam da dinâmica dos conflitos e, por vezes, condicionam o emprego de
tropa, a fim de melhor analisá-los.
Os conceitos citados acima são relevantes para análise da dimensão
informacional, pois auxiliam no correto conhecimento dos fatores operacionais e
desenvolvem um entendimento completo do ambiente. São aspectos militares e não
militares que diferem de um ambiente operacional para outra e afetam as Op Mil.
63

8.1.1 Arte Operacional e seus Elementos:

O Manual de Fundamentos Fundamento das Operações Conjuntas (2020,


p.203) define a Arte Operacional como aquela que, por meio de um arranjo de ações
táticas em tempo, espaço e finalidade, busca objetivos estratégicos e operacionais,
no todo ou em parte.
Nesse sentido, e pelo que foi exposto até o momento, pode-se afirmar que
uma Manobra Informacional, que envolva ações não cinéticas executadas por
diferentes CRI, requer do comandante a adoção e cumprimento de uma série de
ações (simultâneas ou sucessivas), ao longo do tempo e do espaço o que exige,
doutrinariamente, a aplicação da Arte Operacional.
A execução de uma Manobra Informacional, antecipadamente à ação militar,
de forma sistematizada, sinérgica, interativa e sincronizada, visando atingir,
prioritariamente, efeitos no campo cognitivo que não poderiam ser alcançados por
ações cinéticas, requer, necessariamente, a realização de inúmeras tarefas. A
aplicação da Arte Operacional alinha essas ações com a missão e os objetivos do
escalão superior na direção do EFD Op.
Na aplicação da Arte Operacional na dimensão informacional, os
planejadores se valerão de ferramentas de apoio para auxiliá-los na compreensão
do ambiente operacional, bem como para permitir a visualização e a descrição de
sua Abordagem Operativa, com vistas à condução de uma Manobra Informacional.
Para tanto, é adotado um Desenho Operacional que apresenta "o que deve
ser feito" dentro da concepção da arte operacional e é exercido por ações que, de
forma sucessivas ou simultaneamente, geram efeitos que são inseridos em uma
linha temporal e em determinado espaço, conduzindo à consecução dos objetivos
operacionais e contribuindo simultaneamente para a consecução do EFD Op.
No Desenho Operacional estão caracterizados diversos elementos que
servem como uma forma gráfica que permite ao Comandante e seu Estado-Maior a
compreensão da abordagem mais adequada para a resolução do problema militar.
O que se propõe, é que seja preconizada uma Manobra Informacional com
emprego sincronizado das CRI, que também se utilize dos Elementos do Desenho
Operacional, de forma independente, constituindo-se em uma Op Mil de caráter não
cinética.
64

A seguir serão apresentados, dentro de um contexto informacional, os


Elementos do Desenho Operacional, em conformidade com os manuais de Doutrina
de Operações Conjuntas, do MD, e de Processo de Planejamento e Condução das
Operações Terrestres (PPCOT).

8.1.2 O Desenho Operacional sob a ótica da Manobra Informacional

8.1.2.1 Estado Final Desejado Operacional (EFD)

O EFD Op é uma situação, política ou militar, favorável que deve ser


alcançada quando a operação estiver finalizada. Pode ser identificado como um
conjunto de condições futuras, militares e não militares, almejado pelo comandante
quando do término de uma Op Mil. O comandante enuncia a EFD, de forma a
promover a unidade de esforços, facilitar a integração, a sincronização e a iniciativa
disciplinada e ainda, mitigar o risco.
Para uma Manobra Informacional, o estabelecimento de um EFD
direcionada para ao “terreno humano” é importante pois permite o máximo emprego
de ações não cinéticas, por meio das CRI, antecipadamente à ação militar, de forma
sistematizada, sinérgica, interativa e sincronizada, visando atingir, prioritariamente,
efeitos no campo cognitivo em toda gama de atores presentes em um ambiente
operacional.
Cabe destacar que, conforme já citado, foi constatada a necessidade da
adoção, por parte de Exército dos EUA, da situação final de informações expressa
claramente, para acompanhar a tradicional situação final militar. Ela deve considerar
a dimensão cognitiva do ambiente de informações, que inclui as percepções e
atitudes desejadas do público-alvo (por exemplo, a população local ou a comunidade
internacional).
A partir do estudo deste tema pelos americanos e trazendo esta experiência
para as Op Conj, pode-se inferir que uma situação final de informações bem
expressa impulsionará o planejamento e a execução de uma Manobra Informacional.
Linhas de ação para resolver problemas militares serão analisadas segundo essa
visão que priorize o “terreno humano” e o emprego das CRI será direcionado para
obter a situação final descrita, mencionada na Intenção do Comandante.
Ao se adotar esta prática, uma linha de ação prioritariamente cinética,
escolhida inicialmente, pode ser reformulada para um método diferente de emprego
65

operacional, que contemple ações não cinéticas. Tal abordagem, visa obter o efeito
cognitivo expresso relacionado com as percepções, atitudes e, finalmente, o
comportamento, com o intuito de atingir os objetivos abrangentes do comandante,
consubstanciados no EFD.

8.1.2.2 Centro de Gravidade (CG)

Sob uma perspectiva ampla, um CG pode ser representado por um conjunto


de forças oponentes ou sua estrutura de comando, a opinião pública, a vontade
nacional, líderes políticos e militares ou a estrutura de uma coligação, dependendo
do seu nível de análise.
O CG é o ponto essencial de um Estado (ou causa que sustenta uma
vontade política), de forças militares ou de sistemas diversos, cujo
funcionamento é imprescindível à sobrevivência do conjunto. Destaca-se que os
CG não se limitam a forças militares e servem como fonte de energia que
fornece força moral ou física, liberdade de ação ou vontade de agir.
A Opi Pub, que sempre foi considerada relevante especialmente nos níveis
político e estratégico, passou a ser um objetivo a ser conquistado, também nos
níveis operacional e tático. Assim, sem atribuir a devida relevância às
Considerações Civis, corre-se o risco de o EFD não ser alcançado.
Neste contexto, cresce de importância a influência da Opi Pub e a conquista
do seu apoio como Centro de Gravidade de uma Op Mil, uma vez que ela tem o
poder de comprometer, dificultar, restringir ou mesmo impedir a ação militar com
todo poder de combate disponível, prejudicando a liberdade de ação dos
comandantes em todos os níveis.
Cabe, assim, à execução de uma Manobra Informacional, a
responsabilidade de sincronizar o emprego de ações não cinéticas, por meio das
CRI, com a finalidade de influenciar nos atores que comumente estão presentes em
uma área conflagrada, como, por exemplo, a mídia e os líderes locais, e angariar
seu apoio. Tal ação colabora para a conquista do “terreno humano” e,
consequentemente, para atingir a Opi Pub, identificada como CG.
Os CG fazem parte de um ponto de vista dinâmico do ambiente operacional
e podem ser físicos (dimensão física) ou morais (dimensão humana). Os CG físicos,
como, por exemplo, um acidente capital ou uma força militar oponente, normalmente
66

são mais fáceis de serem identificados, avaliados e transformados em alvo e são,


frequentemente, influenciados unicamente por meios militares (cinéticos).
Em contrapartida, os CG morais são intangíveis e mais difíceis de
influenciar, como por exemplo, um líder carismático, uma elite dominante, uma
tradição religiosa, uma influência ou força de vontade da população nativa. O
emprego de meios militares de forma isolada, e preponderantemente cinéticos,
geralmente, revela-se ineficaz quando as ações são direcionadas sobre CG morais.
Para afetar um CG moral, são exigidos esforços sinérgicos e integrados de
ações não cinéticas que somente podem ser executados e coordenados por de uma
Manobra Informacional. Como já estudado, tendo como parâmetro a experiência
americana em combate, essa manobra deve se iniciar antes do emprego da força
militar (cerca de 4 meses) e ser intensificada cerca de 48 horas antes do início das
ações cinéticas, momento em que sua eficácia foi comprovadamente maior.

8.1.2.3 Pontos Decisivos (PD)

Um PD é um local geográfico, evento-chave específico, fator crítico ou


função que, quando se atua em cima dele, permite aos comandantes obter
uma vantagem significativa e contribuir para alcançar o êxito e/ou influenciar
decisivamente o resultado de uma ação. Uma característica comum dos PD é a sua
importância para o CG.
Os PD auxiliam os comandantes na escolha de objetivos claros, conclusivos
e atingíveis, que contribuam diretamente para alcançar o EFD e permitem aos
comandantes aproveitarem, reterem ou explorarem a iniciativa. Controlá-los é
essencial para a realização das missões e tarefas.
Para uma Manobra Informacional, os PD estão relacionados com ações não
cinéticas que visem, principalmente, informar, influenciar e/ou conquistar o apoio de
todos os atores que interagem em um ambiente operacional, como condição
necessária para o êxito do emprego militar.
Assim, para a dimensão informacional, a ação não cinética direcionada à um
PD deve ter influência direta no comportamento do conjunto de atores que
participam da dinâmica dos conflitos: a mídia; os civis não combatentes, os grupos
e organizações presentes em áreas conflagradas; o público de massa, seja ele
nacional ou internacional, e os dirigentes e líderes em todos os níveis.
67

Os PD do “terreno humano” surgem após acurada análise das


Considerações Civis. Essa análise identifica a influência das instituições civis, das
atitudes e atividades das lideranças civis, da população, da Opi Pub, do meio
ambiente, de infraestruturas construídas pelo homem, das agências civis, com
capacidade de influir e formar opiniões entre os nacionais ou internacionais, no
Espaço de Batalha.
Após a definição dos atores presentes no ambiente operacional, serão
escolhidas quais ações não cinéticas serão empregadas em eventos-chave com
vistas a influenciar na percepção de públicos específicos, em apoio às operações
militares (controlar a narrativa).
Nesta direção, a correta escolha de PD para a execução de uma Manobra
Informacional cresce de importância, submetendo os planejadores e decisores à
questão da legitimidade. Quando bem escolhidos, a atuação sobre PD no “terreno
humano”, por meio do emprego eficaz de ações não cinéticas, permite o controle da
narrativa (percepções) e possibilita a aceitação da Opi Pub (nacional e internacional)
à opção de se agir militarmente para a solução de conflitos.

8.1.2.4 Ponto Culminante

O Ponto Culminante é aquele, no tempo e no espaço, no qual a força


já não possui a capacidade para continuar a sua atual forma de condução
das operações. É o ponto de uma operação, a partir do qual a força deixa de ter
capacidade para continuar as operações com sucesso. Este conceito tem aplicação
na ofensiva e na defensiva.
Este ponto pode ser planejado, tendo em vista a previsão da perda do poder
de combate de uma força ou de sua capacidade de durar na ação, obrigando aos
decisores o reforço ou a substituição daquela força, normalmente causada por ações
de combate, sendo uma condição transitória.
Para um Manobra Informacional, um Ponto Culminante é importante, na
medida em que ele marca o início de um emprego sinérgico de ações não cinéticas,
a fim de manter a pressão e a iniciativa sobre o adversário, uma vez que o emprego
militar cinético teve uma pausa momentânea, de acordo com o planejamento.
Quando um Ponto culminante for planejado, em contrapartida, deve ser
estudado o máximo emprego de ações não cinéticas, por meio das CRI, de forma
68

sistematizada, sinérgica, interativa e sincronizada. Neste ponto, o objetivo é atingir


prioritariamente efeitos no campo cognitivo toda gama de atores presentes no
“terreno humano”, de forma que uma pausa para nossas forças não represente,
necessariamente, uma consequente interrupção da pressão sobre o adversário.
Uma Manobra Informacional que suceda um Ponto Culminante tem o
objetivo de substituir, momentaneamente, a conquista dos acidentes capitais do
terreno físico nas operações militares, valorizando aqueles relacionados ao “terreno
humano”, até que elementos de emprego da F Ter recuperem seu poder de
combate.

8.1.2.5 Linhas de Operação e Linhas de Esforço

As Linhas de Operação e Linhas de Esforço conectam os objetivos ao EFD.


Os comandantes podem descrever uma operação ao longo das Linhas de Operação
e das Linhas de Esforço ou, ainda, por uma combinação de ambas. As linhas
convergem na direção do EFD com base na Intenção do Comandante.
 Linha de Operação
Define a direção de emprego de uma força, no tempo e no espaço, em
relação ao oponente, e liga a força à sua base de operações e aos seus objetivos.
Normalmente, interconectam uma série de PD que possibilitam o controle de uma
área geográfica ou a neutralização de forças oponentes. As operações planejadas
usando Linhas de Operação consistem numa série de ações executadas de acordo
com uma sequência bem definida.
Para uma Manobra Informacional, Linhas de Operação ligam os PD
relacionados com ações não cinéticas que visam, principalmente, informar,
influenciar e/ou conquistar o apoio de todos os atores que interagem em um
ambiente operacional e participam da dinâmica dos conflitos como, por exemplo,
a mídia e o público de massa, seja ele nacional ou internacional.
 Linhas de Esforço
As Linhas de Esforço definem várias tarefas com base na finalidade das
operações, focando, com isso, nos esforços que conduzem às condições para o
atingimento de objetivos operacionais e estratégicos.
Nas Op Mil que envolvem muitos fatores “não militares”, as Linhas de
Esforço podem ser a única forma de vincular as tarefas táticas ao EFD. Os
69

comandantes devem usar as Linhas de Esforço para descreverem a forma como os


mesmos encaram suas operações e devem explicitar como as ações táticas
interdependentes devem contribuir para atingir o EFD.
Uma Manobra Informacional, que envolva ações não cinéticas executadas
por diferentes CRI, requer do comandante a adoção e cumprimento de uma série de
tarefas (simultâneas ou sucessivas), o que denota a necessidade da adoção de
Linhas de Esforço para vincular essas tarefas a serem executadas no “terreno
humano” ao EFD. As Linhas de Esforço articulam as ligações entre os Efeitos, as
Tarefas e o EFD, fazendo parte de um processo que integra o emprego das CRI.
Essas linhas resultem na definição de tarefas a serem realizadas para afetar
um adversário ou um potencial adversário (particularmente tomadores de decisão ou
formadores de opinião). Com isso, enfoca os esforços que conduzem ao atingimento
dos efeitos informacionais definidos, constituindo um unificador de propósito.
No contexto de uma Manobra Informacional, as tarefas são o conjunto das
ações que cada CRI deve realizar, no contexto da Linha de Esforço apoiada, para
contribuir com o atingimento do Efeito definido.

8.1.2.6 Efeitos

Um efeito é um estado físico e/ou comportamental de um sistema que


resulta a partir de uma ação, de um conjunto de ações, ou de outro efeito. O efeito
desejado é aquele imaginado como uma condição de apoio ao atingimento de um
objetivo associado, enquanto um efeito indesejado é uma condição que pode inibir o
progresso em direção a um objetivo.
A partir do momento em que o comandante define a sua Intenção, o EFD e
emite a sua Decisão, devem ser levantados os Efeitos a serem atingidos na
Dimensão informacional em apoio à Op Mil.
Um Efeito informacional é um estado físico e/ou comportamental que se
deseja atingir, a partir de uma ação ou de um conjunto de ações. É aquele
imaginado como uma condição de apoio ao atingimento do Estado Final Desejado e
que, se atingidos, produzem vantagens militares significativas para as forças que
conduzem as operações.
70

8.1.2.7 Fases e Transições

A fase é uma ferramenta de planejamento e de execução usada para dividir a


duração de uma Op Mil e ajudar no planejamento e controle das ações, sendo
fundamental para organizar todas as funções, atividades e tarefas das forças
envolvidas numa operação. Conseguir uma condição específica ou conjunto de
condições, normalmente, marca o fim de uma fase.
A capacidade de uma força para estender suas operações em tempo e
espaço, juntamente com o desejo de ditar o ritmo, muitas vezes, apresenta aos
comandantes mais Objetivos e Pontos Decisivos do que as forças podem,
simultaneamente, assumir.
Isso requer desses comandantes e subordinados que considerem o
sequenciamento das ações, impondo, portanto, a combinação, simultânea e
sequencial, das tarefas a serem cumpridas numa operação terrestre, relacionadas
com as condições para o atingimento do EFD.
As transições marcam uma mudança de foco entre as fases ou entre a
execução de uma operação em curso. Requerem planejamento e preparação, bem
antes da execução, a fim de manter o ritmo e o andamento das operações.
Os comandantes devem avaliar, continuamente, a situação, a organização e
o ciclo de suas forças para manter a iniciativa. Devem identificar potenciais
transições durante a fase de planejamento das ações e se esforçar para que as
mudanças não se traduzam em uma pausa operativa.
Estas duas definições da Arte Operacional são particularmente relevantes
para uma Manobra Informacional tendo em vista que, pela presença de vários atores
no ambiente operacional, inúmeras atividades e tarefas não cinéticas, a serem
desencadeadas pelas CRI, serão realizadas numa operação. O sequenciamento das
ações não cinéticas, que propicie a combinação, simultânea e sequencial das
tarefas das CRI a serem cumpridas numa operação terrestre, direciona os esforços
para o atingimento do EFD.
As transições, ainda, são fundamentais para que se indique aos planejadores
de uma Manobra Informacional, o momento no qual ela será desencadeada, de
forma prioritária, e outros, em que as ações não cinéticas apoiarão as forças
militares em suas tarefas essencialmente cinéticas.
71

Tal premissa recai na necessidade da avaliação continua, por parte dos


comandantes, da situação, organização e do ciclo de suas forças para manter a
iniciativa nas ações, substituindo ações cinéticas por não cinéticas (e vice-versa), a
fim de não estabelecer uma pausa operativa.

9. MANOBRA INFORMACIONAL: ESTUDO DE CASO PRÁTICO EM


OPERAÇÕES DE NÃO GUERRA – OPERAÇÕES DE GARANTIA DA LEI E DA
ORDEM (OP GLO)

Por ocasião do Curso Avançado de Operações Psicológicas (C Avcd Op


Psc), foi desenvolvido um tema de exercício de planejamento e emprego das Op Psc
em Op GLO, sendo considerados os seguintes níveis de comando e planejamento:
Comando Militar do Sudeste (CMSE) - Nível Operacional - e 2ª Divisão de Exército
(2ª DE), como Força Tarefa Componente (FTC) – Nível Tático.
A organização dos trabalhos previu que os alunos do curso ficassem
responsáveis por responder questões que pudessem resolver os problemas
apresentados no tema, utilizando-se conceitos do PPCOT e em conformidade com
previsto na doutrina de Op Cj, a fim de se chegar ao EFD, estabelecido pelo
comandante da operação.
Neste contexto, foram planejadas e resolvidas duas questões, listadas a
seguir, que permitiram uma análise da situação e deram origem a uma insipiente
Manobra Informacional, cujas soluções serão explanadas de forma sintética:
a. apresentação de uma proposta de Arte Operacional e Abordagem
Operativa para as Op Psc (CRI), destacando os pontos decisivos com seus
indicadores e finalidade, no espaço e no tempo, para atingir o EFD, considerando a
Intenção do Comandante; e
b. apresentação uma proposta de Matriz de Sincronização, considerando a
necessidade do apoio de outras capacidades para realizar ações planejadas pelas
Op Psc, destacando as ações e tarefas de execução imediata.
Cabe ressaltar que o tema foi desenvolvido enfocando as Op Psc, tendo em
vista que o contexto de realização dos trabalhos, durante o C Avc Op Psc delimitou
a análise do problema sob este prisma. Assim, o planejamento realizado focou e o
emprego clássico das OP Psc, como elemento de apoio ao combate eficaz para
72

motivar público-alvo amigos, neutros ou hostis a manifestarem comportamentos


desejáveis, com o intuito final de apoiar a conquista dos objetivos estabelecidos.
O tema foi desenvolvido, ainda, tendo como premissa o fato de que, no
ambiente informacional atual, as Op Psc somente conseguirão atingir um efeito
cognitivo em atores de interesse, a partir da solicitação de tarefas para as demais
CRI, com as quais estabelecerá estrita coordenação das ações, por meio das Op
Info. Somente desta forma raciocinou-se que poderão ser conformados de cenários
alvos, prevenidas ameaças ou distendidas crises e solucionados conflitos armados
ou guerras.
A situação geral do tema de exercício, que teve seu ambiente operacional
físico situado no Estado de São Paulo, trouxe várias informações para de interesse
para a dimensão informacional, que denotaram oportunidades para a execução de
uma Manobra Informacional, a fim de possibilitar a conformação de um cenário
favorável às ações não cinéticas. No “terreno humano”, vários atores se
apresentaram como fundamentais para viabilizar o emprego de tropa, uns para a
conquista seu apoio às nossas ações, outros pela necessidade de dissuadi-los a não
atuarem.
Tendo como base a doutrina, coube, inicialmente, visualizar e descrever os
problemas militares do ambiente operacional, direcionado à Dimensão informacional,
a fim de desenvolver uma Abordagem Operativa para solucioná-los e permitir à FTC
(2ª DE), o atingimento do EFD estipulado para a operação: passagem da área de
operações para as forças de segurança estaduais sem incidentes de graves
repercussões.
Além do EFD, a abordagem operativa, que no “terreno humano” seria
representado pela Manobra Informacional, deveria ir ao encontro da Intenção do
Comandante, que orientou o emprego dos meios na seguinte direção:
a. privilegiar a estratégia da dissuasão com emprego da massa;
b. atingir índices de criminalidade aceitáveis;
c. desenvolver a percepção de que o emprego do EB em Op GLO é
desvantajoso para as Organizações Criminosas (ORCRIM); e
d. aumentar o sentimento de confiança da população, da mídia a das
autoridades
Do estudo do tema, foi constatado que o país passava pelo aumento da
violência urbana e rural, aumento dos ilícitos nacionais e transnacionais e
73

incremento do crime organizado (ORCRIM). Estas organizações iniciaram ataques


na capital e interior contra os Órgãos de Segurança Pública (OSP), gerando a
intensificação de conflitos. Como consequência, expressivos efetivos e meios dos
OSP deslocados para interior, surgindo a falsa ideia de impotência dos OSP e o
sentimento de insegurança, por parte da população.
Como agravante deste quadro de criminalidade, com a prisão de uma
quadrilha de Tráfico Internacional de Drogas composta por libaneses radicados em
nosso País, foi identificado que o líder da facção fazia parte de uma rede de apoio
ao Estado Islâmico (EI) e descoberto um plano de ações terroristas na região para
desestabilizar o país e de facilitar as ações da rede de apoio àquela organização
terrorista.
Tais eventos conectados fizeram com que a população, insatisfeita com a
situação, se organizasse pelas redes sociais provocando uma serie de série de
manifestações em toda região. No “terreno humano”, cresceu no meio da população
um sentimento de insegurança, na medida em que houve a percepção, pela mídia e
população, da possibilidade real de ações terroristas desencadeadas pelo EI em
território nacional, algo considerado improvável até então.
Para uma Manobra Informacional, a oportunidade que se apresentou diante
deste quadro, foi a execução de um planejamento que mostrasse à população, por
meio das ações não cinéticas desde antes do emprego das FA, que a atuação da
tropa em São Paulo poderia trazer a almejada segurança para a população da área.
Tal atuação restabeleria a lei e a ordem, além de permitir o retorno da paz. Além
disso o envolvimento da ORCRIM com o EI ofereceu a possibilidade da execução de
ações que mostrassem aos atores a ligação do crime com o terror, com vistas a
demonizá-lo.
Por outro lado, o relacionamento entre o EB e as autoridades constituídas no
Estado de São Paulo, no tema, era considerado muito bom. A imagem da Instituição
perante a Opi Pub obteve, em pesquisa realizada, expressivo percentual de
confiança junto à população, fruto de sua eficiência operacional.
Duas operações de vulto coordenadas pelo EB, que foram realizadas três
anos antes da crise na capital, envolvendo o Presidente dos EUA e o Papa Bento
XVI, surtiram grande efeito, o que diminui a criminalidade e criou um excelente
relacionamento com as autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário. Como
74

consequência, a população nutria grande confiança no trabalho executado pelo EB,


sentimento que pode ser explorado em uma Manobra Informacional.
Entretanto, outros fatos sequentes vieram a abalar a confiança da população
no EB. A apreensão de drogas e grande quantidade de armas de uso restrito vindo
de fora do país fez com que a população paulista responsabilizasse a instituição e
os OSP pela onda crescente da violência, com repercussão muito grande nas
mídias, demonstrando que uma parcela significativa da sociedade estava insatisfeita
com o trabalho do EB nas fronteiras.
Diante deste contexto, outro objetivo de uma Manobra Informacional seria
restabelecer a aumentar o sentimento de confiança da população no trabalho do
Exército, antes da entrada da tropa na área do conflito, tendo como parâmetro o
resultado obtido nas operações militares anteriores (Papa e Presidente EUA).
Para o planejamento da Abordagem Operativa que levasse à execução de
uma Manobra Informacional, seria cabível ainda, de acordo com a doutrina, criar e
consolidar a narrativa da crise, a fim de que fosse estabelecida a percepção
favorável como válida nas mentes de um ou mais públicos-alvo, acerca da atuação
das FTC em São Paulo.
Esta narrativa, que também direcionaria o emprego das ações não cinéticas,
teria como parâmetro duas ideias força:
a. o EB será empregado para garantir a segurança e a paz da população
(em substituição aos termos Lei e Ordem); e
b. a população pode confiar no trabalho da tropa que será realizado de
maneira profissional, da mesma forma que foi feita nas visitas do Papa e do
Presidente dos EUA.
A análise das informações do tema escolar levou, também, às conclusões
acerca de quais seriam os principais atores (públicos) que se tornariam alvos
prioritários das ações não cinéticas no “terreno humano”, a serem desencadeadas
pelas CRI em uma Manobra Informacional: nossas tropas, as mídias favorável,
neutra e desfavorável, os formadores de opinião, líderes da comunidade, líderes
religiosos e Agentes Perturbadores da Ordem Pública (APOP).
De posse das informações acima, foi confeccionado um modelo visual para
a operação em análise, que representasse uma abordagem operativa de uma
Manobra Informacional, e permitisse demonstrar o comportamento do conjunto de
75

atores que estavam presentes no conflito e que, fatalmente, condicionariam o


emprego da FTC.
O que se buscou, alinhado com a doutrina, foi planejar uma Manobra
Informacional para a situação apresentada, que envolvesse ações não cinéticas
executadas por diferentes CRI e que adotasse e cumprimento de uma série de
tarefas (simultâneas ou sucessivas), ao longo do tempo e do espaço exigindo,
doutrinariamente, a aplicação da Arte Operacional, conforme a proposta
apresentada no Anexo - A, Desenho Operacional Op GLO - Manobra Informacional.
No tema de GLO estudado, o planejamento e a execução de uma Manobra
Informacional, antecipadamente à ação militar da FTC, de forma sistematizada,
sinérgica, interativa e sincronizada, visou atingir, prioritariamente, efeitos no campo
cognitivo que não poderiam ser alcançados por ações cinéticas, nesta fase da Op
Mil.
A manobra se iniciou antes das ações cinéticas, com a finalidade de moldar
um cenário favorável ao emprego da FTC e, posteriormente, multiplicou o poder de
combate da Força, com o desencadeamento das ações cinéticas, na fase prevista.
Tal planejamento de antecipação de uma Manobra Informacional foi fruto do
faseamento das Op GLO determinada pelo comandante da FTC que, num período
inicial de cerca de um mês, ordenou o início das operações com prioridade para o
emprego da Intlg e das Op Psc. Assim, foram previstas a realização de inúmeras
tarefas das CRI, com a aplicação da Arte Operacional e de seus elementos, a fim de
alinhar estas tarefas com a missão e os objetivos do escalão superior na direção do
EFD.
Para o tema, foram elencados CG relacionados à Opi Pub haja vista ser uma
condicionante do tema em estudo. Desta forma, na primeira fase das operações
(intensificação das ações de Intl e Op Psc), onde as ações cinéticas tiveram papel
preponderante, o CG-1 foi identificado como a necessidade de conquista da
aceitação da população da área de operações para a atuação da tropa da FTC. O
atingimento deste CG, antes do emprego da força militar, possibilitaria a atuação da
FTC com liberdade de ação suficiente para utilizar seu poder de combate disponível.
A partir da segunda fase das operações (desencadeamento de ações
preventivas e operacionais), o CG-2 diz respeito à conquista e manutenção do apoio
da população local às ações da FTC, com vistas a permitir às tropas o emprego da
força da forma que se fizer necessário, em qualquer local da área de operações.
76

A finalidade precípua das Manobra Informacional, a partir desta fase, foi


garantir que a operação não seja comprometida, dificultada ou restringida ou mesmo
impedida pela Opi Pub, prejudicando a liberdade de ação dos comandantes em
todos os níveis.
Finalmente, como CG-3, foi elencada a necessidade de criar condições
favoráveis para que a população aceite a transmissão de responsabilidade da área
de operações aos OSP, como condição fundamental para o êxito da operação.
Desta forma, ao final das ações, os CG elencados contribuíram em sobremaneira
para o atingimento do EFD, identificado como entregar o controle da área aos OSP
em um ambiente seguro e estável.
Foram elencados, ainda, PD evidenciados por eventos-chave específicos
que permitissem aos comandantes obter uma vantagem significativa no “terreno
humano” contribuindo para influenciar decisivamente nos atores envolvidos na crise.
Para a Manobra Informacional planejada, os PD estão relacionados com ações não
cinéticas que visaram, principalmente, informar, influenciar e/ou conquistar o apoio
destes públicos já descritos, como condição necessária para o êxito da Op GLO.
Uma Linha de Operação ligou os PD, a fim de definir uma série de eventos-chave
executados pelas CRI, de acordo com uma sequência.
Outro aspecto importante diz respeito ao Ponto Culminante que, no
planejamento executado no tema escolar, marcou o início das segunda e terceira
fases das operações. Na realidade, para a Manobra Informacional, foram previstos
três Pontos Culminantes, onde o emprego sinérgico de ações não cinéticas foi
coordenado com a força militar, a fim de manter a pressão sobre os atores
identificados como relevantes, que não caracterizasse uma pausa nas operações.
Como parte imprescindível da Manobra Informacional, por seu turno, haja
vista essa operação ser baseada em efeitos na sua essência, foi realizado um
planejamento que contemplasse o atingimento de efeitos e permitissem a ação nos
PD (evento-chave) na Dimensão informacional, em apoio à campanha militar da
FTC.
Para cada PD elencado, foram planejadas ações (tarefas) não cinéticas a
serem desencadeadas por meio das CRI, a fim de buscar um efeito comportamental
nos atores identificados como fundamentais. Tais efeitos tem a missão precípua de
produzir vantagens militares significativas no “terreno humano”, para as forças que
conduzem as operações.
77

Paralelamente, indo ao encontro do que prescreve a doutrina, Linhas de


Esforço foram previstas para articularem as ligações entre os efeitos, as tarefas e o
EFD, como parte do processo que integrou o emprego das CRI, a fim de colocar em
prática, de forma coordenada, as ações não cinéticas previstas na Manobra
Informacional. As tarefas foram planejadas como conjunto das ações que cada CRI
deve realizar, no contexto da Linha de Esforço apoiada, para contribuir com o
atingimento do Efeito definido.
Como exemplo do que foi tratado acima, relativo aos PD, Linhas de Esforço
e tarefas. O Anexo - B, denominado de Linhas de Operação, Linhas de Esforço e
integração de tarefas por PD, demonstrou o planejamento e distribuição de ações
não cinéticas, a serem desencadeadas pelas CRI, em apoio a Manobra
Informacional. Para cada PD, a fim de se alcançar um efeito específico nos atores
que compõem o “terreno humano”, foram estipuladas tarefas que foram identificadas
por uma letra código (a, b,...a´, b´, etc), afim de facilitar a confecção da Matriz de
Tarefas por PD, Anexo - C.
O evento-chave (PD 4) planejado, por exemplo, foi a exploração dos efeitos
positivos de uma passeata em prol do emprego de tropa na área, organizada e
conduzida exclusivamente pelos líderes religiosos cabendo às CRI, multiplicar o
efeito da manifestação no ambiente informacional, conforme se vê na Matriz de
Tarefas do PD 4, Anexo - C.
Assim, no planejamento realizado, cada PD elencado teria a sua Matriz de
Tarefas com vistas a atingir um efeito informacional, tendo como alvos os atores
presentes na área de operação, tudo com a finalidade de se atingir o EFD estipulado
pelo comandante da FTC.

10. CONCLUSÃO

Tendo como parâmetro o amplo espectro dos conflitos atuais, a Informação


tornou-se um componente primordial para o êxito de uma Op Mil, haja vista que sua
disseminação e emprego coordenado tem influência direta no comportamento do
conjunto de atores que participam da dinâmica dos conflitos e, por vezes,
condicionam o emprego de tropa.
Logo, é lícito inferir que o MD deve ter condições planejar uma Manobra
Informacional que vislumbre o máximo emprego de ações não cinéticas, por meio
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das CRI, e que antecipe uma ação militar, de forma sistematizada, sinérgica,
interativa e sincronizada, além de apoiá-la, quando de seu início.
Tal procedimento buscaria atingir, prioritariamente, efeitos no campo
cognitivo em toda gama de atores presentes que não seriam possíveis de serem
alcançados, com o emprego de ações cinéticas.
Uma Manobra Informacional, quando eficazmente planejada, possibilitaria,
primordialmente, influenciar, moldar, prevenir e deter ameaças do “terreno humano”
em um ambiente operacional. Visaria, também, com base no que foi estudado,
controlar a narrativa (percepções) e produzir reflexos no nível de aceitação que a
Opi Pub (nacional e internacional) atribui ao argumento de que se faz necessário o
emprego da força militar para a solução de crises e conflitos.
Além disso, planejar uma Manobra Informacional se tornou imperioso para
as FA, a partir do momento em que nos conflitos atuais, identifica-se a existência da
“Guerra da Informação”, tornando contundente a importância do gerenciamento
estratégico das informações e deixando evidente que, durante um conflito, existem
duas batalhas que devem ser vencidas: Uma no terreno físico e outra que,
condicionada pelo “terreno humano”, esta última a ser combatida e vencida no
informacional.
O Exército dos EUA, por seu turno, já vislumbrou a necessidade de um
melhor aproveitamento e utilização das informações de combate, o que ficou
evidente nos dois textos analisados publicados na revista Military Review. O
conteúdo das citadas publicações deu conta de que o emprego das Op Info daquele
país, são fatores de sucesso para as operações reais, devendo ser meticulosamente
planejadas e metodicamente aplicadas, no tempo e no espaço, servindo de
experiência para as Op Cj no Brasil.
Logo, o planejamento, execução e condução de uma manobra que vise,
primordialmente, na dimensão informacional, por meio do emprego prioritário de
ações não cinéticas, antecedendo uma crise e a manobra cinética dos elementos de
combate, apoiando-a quando ela se inicie, é fundamental para a multiplicação do
poder de combate das forças empregadas, rumo ao êxito das Op Mil.
Paralelamente, cabe destacar que uma Manobra Informacional, pela
amplitude de atores, diversidade de tarefas e efeitos, além de combinações de
ações potenciais no tempo e espaço, necessita de um método para seu
planejamento eficiente. O PPC permite descrever os problemas da dimensão
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informacional e desenvolver uma Abordagem Operativa, com a utilização da Arte


Operacional, do Desenho Operacional e seus elementos para solucioná-los.
Diante do que foi exposto, conclui-se, finalmente, que é premente a adoção
e emprego de uma Manobra Informacional no nível operacional nas Op Cj, com o
objetivo de possibilitar o emprego de tropa em melhores condições, contribuindo, em
sobremaneira, com o atingimento do EFD em uma Op Mil.
A adoção de tal procedimento é primordial para dotar a Nação com as FAo
da Era do Conhecimento, com vistas a capacitá-lo a atuar no amplo espectro dos
conflitos atuais.
80

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83

ANEXO A - DESENHO OPERACIONAL DA MANOBRA INFORMACIONAL


84

ANEXO B – LINHAS DE OPERAÇÃO E LINHAS DE ESFORÇO DA MANOBRA INFORMACIONAL


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ANEXO C – MATRIZ DE TAREFAS DAS CRI PARA A EXECUÇÃO DO PD 4

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