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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO (MIOLO E CAPA)


Germana G. de Araujo (DAVD/UFS)
REITOR
Valter Joviniano de Santana Filho
REVISÃO LINGUÍSTICA
VICE-REITOR Juliana Cecci Silva
Rosalvo Ferreira Santos

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


COORDENADORA DO PROGRAMA EDITORIAL
Maíra Carneiro Bittencourt Maia
COORDENADOR GRÁFICO PDF
Luís Américo Silva Bonfim INTERATIVO

CONSELHO EDITORIAL
Alfredo Dias de Oliveira Filho
Alisson Marcel Souza de Oliveira
Fernando Bittencourt dos Santos
Luís Américo Silva Bonfim
Maíra Carneiro Bittencourt Maia (Presidente) FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
Márcia Regina Pereira Attie UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
Maria Cecília Pereira Tavares
Petrônio José Domingues
Renata Ferreira Costa Bonifácio
Telma de Carvalho

© 2023 Autores. Direitos para esta edição cedidos à Editora UFS. Proibida a repro-
dução total ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resu-
mida ou modificada, em Língua Portuguesa ou qualquer outro idioma. Este livro
segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado
no Brasil em 2009.

Cidade Universitária “Prof. José Aloísio


de Campos” Jardim Rosa Elze.
CEP: 49100-000 São Cristóvão - Sergipe
Contatos: +55 (79) 3194-6920 Ramais 6922 ou 6923
- e-mail: editora.ufs@gmail.com Obra selecionada e publicada com recursos públicos advindos do
https://editora.ufs.br/ Edital 001/2022 livros digitais do Programa Editorial da UFS.
APRESENTAÇÃO

É uma honra e, principalmente, uma grande responsabilidade Nesta primeira coletânea, são apresentados alguns trabalhos
sermos o primeiro e único Programa Stricto Sensu em Ciência da oriundos de pesquisas defendidas por egressos do PPGCI. A
Informação (CI) do Estado de Sergipe. O Programa de Pós-Gra- variedade de temáticas está presente de maneira interdisci-
duação em Ciência da Informação (PPGCI), que oferta o Mestra- plinar e com focos implícitos e explícitos na Gestão da Infor-
do Profissional em Gestão da Informação e do Conhecimento mação e do Conhecimento.
na Universidade Federal de Sergipe (UFS), é resultado do esfor- Certamente, outras edições com resultados de pesquisas desen-
ço e da dedicação de um conjunto de atores de diferentes de- volvidas pelos nossos docentes e discentes serão publicadas, a
partamentos da UFS que atuam no PPGCI. fim de contribuir para a circulação de conhecimentos alinhados
A interdisciplinaridade, conceito fundante da CI, tem sido res- aos interesses econômicos, sociais, educacionais e tecnológicos
peitada à risca no processo de composição do quadro de pes- na área da Ciência da Informação em Sergipe e no Nordeste.
quisadores permanentes e colaboradores do PPGCI. Do início
das suas atividades, em 2017, até a finalização do primeiro ciclo
avaliativo junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES), em 2020, foram convidados docen-
tes de Áreas que dialogam com os fundamentos epistemoló-
gicos da CI. Assim, além dos professores do DCI, também con-
tamos com professores dos Departamentos de Comunicação,
Design Gráfico, Letras Vernáculas e Museologia da UFS.
A mesma dinâmica tem sido aplicada ao processo seletivo para
o ingresso dos nossos discentes, quando temos recebido can-
didatos de diversas Áreas que buscam nas linhas do PPGCI: (1)
Informação, Sociedade e Cultura e (2) Produção, Organização e
Comunicação da Informação, elementos norteadores para a re- Profa. Dra. Martha Suzana Cabral Nunes
alização de pesquisas em instituições públicas e privadas, além
de organizações não governamentais de Sergipe e de outros es- Prof. Dr. Pablo Boaventura Sales Paixão
tados da região Nordeste. Organizadores
PREFÁCIO

Parece lugar comum assertar que, na contemporaneidade, a superficiais e abertas, dadas as condições complexas, epistêmi-
informação e o conhecimento se apresentam como os princi- cas e organizacionais, de que se revestem os diversos elementos
piais ativos de desenvolvimento social, político, econômico e que compõem esta subárea de conhecimento e de práticas orga-
cultural. Parece também assertivo dizer que as possibilidades nizacionais, em uma crescente de atualização. Aqui, mostra-se
de que se revestem esses ativos dependem, em grande medida, oportuno delimitar a abordagem centrada na subárea de conhe-
de condições favoráveis ao desenvolvimento e à efetividade das cimento, que, a um só tempo, a situa nos contextos mais próxi-
potencialidades que os constituem. mos da Ciência da Informação, aquelas como subáreas desta, e
Partindo deste ponto, em que pesem outras possibilidades, dos processos informacionais, aqueles como macroprocessos ge-
a gestão da informação e a gestão do conhecimento, em suas renciais de tecnologias, de pessoas e de conteúdos que condicio-
múltiplas abordagens teóricas e práticas, são fundamentais nam recursivamente a produção, a organização, o compartilha-
para o aprimoramento organizacional, resultando em tomadas mento e o uso de informação e de conhecimento.
de decisões mais acertadas, por assim dizer, que se traduzem A produção e o compartilhamento de informação e de conhe-
em inovação, competitividade e sustentabilidade. Com efeito, cimento, especificamente, não são suficientes para alcançar a
o acesso à informação e ao conhecimento por parte das orga- efetividade potencial, em função das condições diversas em
nizações promovem atualização, aprimoramento, inovação, que se encontram os sujeitos participantes das dinâmicas in-
competitividade, sobrevivência e sucesso, nos cenários locais, formacional e cognoscente. Faz-se necessária uma gestão efi-
regionais, nacionais e transnacionais, cada vez mais dinâmicos. ciente que leve em consideração, pelo menos, três domínios, o
Esse entendimento é também aplicável a contextos individu- contexto, as fontes e os sujeitos informacionais e cognoscentes,
ais e subjetivos, em que os sujeitos agem de forma isoladas ou que se desdobram em uma complexa rede que conecta e desco-
colaborativamente. Ocorre, porém, que a efetividade dessas necta estes sujeitos, em maior ou menor medida, conforme as
potencialidades está condicionada a uma série de elementos, condições em que se encontram. A rigor, compreende questões
dentre os quais se podem destacar o contexto externo, a cultura sociais, políticas, econômicas, tecnológicas e culturais, mais
organizacional, a infraestrutura tecnológica, o inteligente cole- amplas, e educacionais, psicológicas, subjetivas e comporta-
tivo e as fontes de informação e de conhecimento. mentais, mais restritas, respectivamente, centradas no siste-
Então, malgrado os consensos, mesmo aparentes, que vêm sen- ma e no sujeito. É forçoso reconhecer que o planejamento e a
do construídos acerca dos fundamentos da gestão da informação implementação de sistemas de informação, em sentido amplo,
e da gestão do conhecimento, abordadas individual e integrada- têm observado essas condições, embora, muitas vezes, toman-
mente, há uma série de questões que permanecem incompletas, do como referências modelos diversos.
PREFÁCIO
Assim, pelo menos, nos ambientes convencionais mais gerenci- coletivos em que atuam os sujeitos e as organizações. A gestão
áveis, as instituições responsáveis historicamente pela estrutu- promove, em última análise, a dinâmica recursiva entre infor-
ração, pela organização e pela mediação da informação, como mação, conhecimento e valor para o ambiente organizacional,
Arquivos, Bibliotecas, Centros de Informação e Museus, entre ou- em processos diversos de internalização e externalização, que,
tras, assumem cada vez mais espaços estratégicos para contor- do ponto de vista prático, correspondem à apropriação e à so-
nar minimamente a desordem de informação e de conhecimen- cialização desses insumos em uma rede complexa de produção,
to bastante presente em outros. Essas instituições, cada uma ao reprodução e transformação.
seu modo, têm desempenhado importante papel na história da Mais que isso, no atual contexto social, político e econômico,
cultura e dos registros do conhecimento. Contudo, cada vez mais, a gestão da informação e do conhecimento parece assumir a
esses espaços são alargados, redimensionados e ressignificados, dianteira na nova desordem informacional em curso, represen-
sobretudo, com o avanço dos artefatos tecnológicos que promo- tando, em certa medida, um deslocamento da centralidade no
vem maior alcance às complexidades constitutivas dos processos tratamento e na organização, sobretudo nos ambientes digitais
de informar-se e conhecer. As relações disciplinares crescentes e colaborativos para os aspectos gerenciais que os sustentam. Se-
entre áreas do conhecimento promovem a aproximação, teóri- guramente, este entendimento passa ao largo da desvalorização
ca e prática, de tal sorte que os conhecimentos vão se ajustando dos processos de tratamento e de organização da informação e
às demandas sociais mais imediatas, incluindo, cada vez mais, a do conhecimento, que, muitas vezes, apontados como domínio
preocupação gerencial com a informação e o conhecimento em mais robusto da Ciência da Informação, carecem, por vezes, de
ambientes menos institucionalizados, por assim dizer, pelo me- abordagens teleológicas mais efetivas. Não se pode perder de
nos na perspectiva de um direito subjetivo à informação, ao co- vista que o atual aparato tecnológico disponível aproximou a
nhecimento, à memória e à cultura. produção, a organização e o compartilhamento de informação e
Nos espaços organizacionais diversos, é importante conside- de conhecimento de tal sorte que o sujeito comum passa a agir
rar a noção de organização do conhecimento, a partir do es- ativa e colaborativamente nesses processos; pelo menos, em re-
tabelecimento de redes de informação, de conhecimento, de des sociais organizadas em torno de plataformas digitais.
aprendizagem e de inovação, no mundo contemporâneo. É, Mais uma vez, novos contextos, novos sujeitos, novos artefatos,
no mínimo, aceitável que ações informadas reduzem os riscos novos conteúdos, novas culturas e novas dinâmicas se descor-
que cercam o mundo dos negócios. A gestão, neste domínio de tinam no horizonte dos estudos, das pesquisas e das práticas
atuação, tem como objetivo identificar as fontes potenciais de relacionadas à informação e ao conhecimento. Para além des-
informação e de conhecimento, e, a partir de processos media- sa constatação, há que se reconhecer que essas transformações
cionais diversos, finalmente, promover produtividade, quali- podem representar mais do que um continuum na história da
dade, competitividade e sustentabilidade de insumos, bens e cultura e dos registros do conhecimento, ensejando novos mo-
serviços, tomando como referências os contextos individuais e dos de convivência. Vivencia-se uma verdadeira guerra fria da
PREFÁCIO
informação e do conhecimento, que implica na luta, do homem Espera-se que os textos que formam esta coletânea contribu-
contra o próprio homem, pela promoção da ordem e da desor- am com o despertar e o agir gerenciais, em diversas frentes.
dem desses ativos não tão mais intangíveis, que parecem cada De fato, produzir, organizar, compartilhar e usar informação e
vez mais aumentar o fosso social entre incluídos e excluídos. conhecimento acertadamente, em espaços em que as ambiva-
Então, não é menos certo que a presente coletânea, que reúne lências em torno da ordem e da desordem se tornam cada vez
autores do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Infor- mais complexas, deve-se, sobretudo, tomar como referências
mação da Universidade Federal de Sergipe, vem a lume em um as bases principiológicas dos macroprocessos da gestão da in-
momento bastante oportuno, caracterizado, sobretudo, pela formação e do conhecimento. Não resta dúvida que, a partir
avalanche de produção e de compartilhamento de informações dessas bases, há muitas possibilidades de reflexões, discussões
e de conhecimentos de diversos matizes; muitas vezes, visando e intervenções, como bem ilustrado nesta obra, que vão desde
à promoção da desordem desses ativos. Se, em outros momen- a delimitação temática ao diagnóstico de sucessos obtidos em
tos das histórias das civilizações, a desordem foi resultado da instituições de memória como Arquivo, Biblioteca, Centro de
inércia de profissionais e de instituições, que levou ao acúmulo Informação e Museu.
natural e tumultuado de diversas fontes de informação e de co- Resta, portanto, parabenizar os autores pela excelente con-
nhecimento, hodiernamente, acrescenta-se a esta, a emergen- tribuição a esta área de conhecimento e desejar a todos uma
te desordem da informação e do conhecimento, intencional e boa leitura!
deliberadamente, promovida por diversos agentes que têm,
em última análise, a finalidade de promover a desinformação,
a informação incorreta, a má informação, a ignorância, o des-
conhecimento e o pseudoconhecimento. Com efeito, mais do
nunca, os processos gerenciais, em diversas frentes, são funda-
mentais para minimizar este estado de coisa.
Ao abordar teleologicamente a gestão como macroprocesso que
atravessa, em maior ou menor grau, diversos processos, procedi-
mentos e práticas que compõem o fluxo recursivo da informação
e do conhecimento, em diferentes espaços institucionais, con-
templando contextos, artefatos, conteúdos e pessoas, a presen-
te coletânea se mostra como uma importante fonte de pesquisa Edivânio Duarte de Souza
para estudantes, pesquisadores, professores e profissionais da Doutor em Ciência da Informação
Ciência da Informação e de áreas afins que atuam neste comple- Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
xo domínio de estudo e de práticas organizacionais. Universidade Federal de Alagoas
SUMÁRIO Click nos
títulos
08 SOBRE OS AUTORES
CAPÍTULO 1
Martha Suzana Cabral Nunes 10 Abordagens iniciais em Gestão da Informação e do Conhecimento
Wellington Oliveira Sales Júnior na Ciência da Informação: conceituação e caracterização
Maria Conceição Melo Silva Luft
Pablo Boaventura Sales Paixão
CAPÍTULO 2
Marcos Breno Andrade Leal 17 Subsídios para a elaboração de instrumentos de pesquisa em arquivos:
Renata Ferreira Costa o caso do “Catálogo Seletivo De Fontes Metalinguísticas” dos fundos
pessoais do IHGSE
CAPÍTULO 3
Thiago Lima Souza 31 Segurança e privacidade dos dados a partir do uso da tag RFID
Telma de Carvalho em cartão institucional de biblioteca universitária para análise
do comportamento do usuário
CAPÍTULO 4
Aline Rodrigues Sales 43 A Mediação cultural em bibliotecas universitárias e o SIBIUFS
Cristina Valença de Almeida Cunha Barroso
Martha Suzana Cabral Nunes
CAPÍTULO 5
Verônica Cardoso de Santana 52 A Biblioteca Pública como espaço de mediação da informação
Telma de Carvalho CAPÍTULO 6
Raquel Gonçalves da S. de A. Fernandes 68 Biblioteca e presídio: um ambiente físico de acolhimento social
Germana Gonçalves de Araújo para as mulheres do PREFEM/SE
CAPÍTULO 7
Telma de Carvalho 85 A biblioteca como protagonista no âmbito da pesquisa acadêmica
Bárbara França Barcellos e a relação promissora com as metodologias ativas

99 ÍNDICE
8
SOBRE OS AUTORES

l Aline Rodrigues de Souza Sales l Maria Conceição Melo Silva Luft


Mestra em Gestão da Informação e do Conhecimento-PPGCI/UFS Doutora em Administração pela Universidade Federal
Bibliotecária na Universidade Federal de Sergipe (UFS) de Pernambuco (UFPE)
E-mail: alinersales@hotmil.com Professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6550-2197 em Administração (PROPADM/UFS)
E-mail:ceicamelo.ufs@gmail.com
l Bárbara França Barcellos Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2713-2700
Mestra em Gestão da Informação e do Conhecimento-PPGCI/UFS
Bibliotecária na Universidade Federal de Sergipe (UFS)
l Martha Suzana Cabral Nunes
E-mail: bbarcellos@academico.ufs.br Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal
da Bahia (UFBA)
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6443-7541 Professora do Departamento de Ciência da Informação (DCI/UFS)
Professora do PPGCI/UFS, Diretora do Centro de Ciências Sociais
l Cristina Valença de Almeida Cunha Barroso Aplicadas (CCSA/UFS)
Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) E-mail: marthasuzana@hotmail.com
Professora e vice-coordenadora do Departamento de Museologia (DMS/ Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0587-5354
UFS), Líder do GEMPS/UFS e coordenadora do LABMUSAS/UFS
Professora do PPGCI/UFS l Pablo Boaventura Sales Paixão
E-mail: tina_valenca@yahoo.com.br Doutor em Ciência da Informação pela Universidade
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8059-2039 Complutense de Madri
Professor do PPGCI/UFS
l Germana Gonçalves de Araújo E-mail: pabloboaventura@academico.ufs.br
Doutora pelo Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3651-4316
Pós-Cultura IAHC/UFBA
Professora do Departamento de Artes Visuais e Design Gráfico/UFS l Raquel Gonçalves da Silva de Araújo Fernandes
Professora do PPGCI/UFS Mestra em Gestão da Informação e do Conhecimento-PPGCI/UFS
E-mail: germana@academico.ufs.br Bibliotecária da Força Aérea Brasileira (FAB)
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8079-9259 E-mail: rachmestrado@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6824-4605
l Marcos Breno Andrade Leal
Mestre em Gestão da Informação e do Conhecimento-PPGCI/UFS
E-mail: marcosmb@academico.ufs.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4983-1203
9
l Renata Ferreira Costa
Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo (USP)
Professora do Departamento de Letras Vernáculas, PPGCI/UFS
E-mail: renatacosta@academico.ufs.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4263-4955

l Telma De Carvalho
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade
de São Paulo (USP)
Professora do Departamento de Ciência da Informação (DCI/UFS)
Professora do PPGCI/UFS
E-mail: telmac@academico.ufs.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8700-2452

l Thiago Lima Souza


Mestre em Gestão da Informação e do Conhecimento-PPGCI/UFS
Bibliotecário da Universidade Tiradentes Propriá/SE
E-mail: thiagolimasouz@gmail.com
Orcid: http://orcid.org/0000-0001-7230-2663

l Verônica Cardoso de Santana


Mestra em Gestão da Informação e do Conhecimento-PPGCI/UFS
Bibliotecária no Governo do Estado de Sergipe
E-mail: veronica.cardososantana@gmail.com
Orcid: http://orcid.org/0000-0003-4869-2352

l Wellington Oliveira Sales Júnior


Mestre em Gestão da Informação e do Conhecimento-PPGCI/UFS
Servidor técnico-administrativo da UFS
E-mail: wosjr_86@hotmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3183-9832
10 CAPÍTULO 1

ABORDAGENS INICIAIS EM GESTÃO DA INFORMAÇÃO INITIAL APPROACHES TO INFORMATION AND


E DO CONHECIMENTO NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: KNOWLEDGE MANAGEMENT IN INFORMATION SCIENCE:
CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO CONCEPTUALIZATION AND CHARACTERIZATION

Martha Suzana Cabral Nunes


Wellington Oliveira Sales Júnior
Maria Conceição Melo Silva Luft
Pablo Boaventura Sales Paixão

RESUMO ABSTRACT
A Ciência da Informação (CI) é um campo do conhecimento em Information Science (IC) is a field of knowledge in consolidation
consolidação cujos estudos se pautam na análise dos fenôme- whose studies are based on the analysis of information pheno-
nos informações que compreendem todo o ciclo da informação, mena that comprise the entire information cycle, from its ge-
desde a sua geração até seu uso e apropriação. Nas tendências neration to its use and appropriation. In recent research trends
recentes de pesquisa para a CI, a Gestão da Informação e do Co- for IC, Information and Knowledge Management emerges as a
nhecimento despontam como uma possibilidade de investiga- possibility of investigation that focuses on the study of formal
ção que se debruça sobre o estudo dos fluxos formais e informais and informal information flows and its analysis in organizatio-
da informação e sua análise nos ambientes organizacionais, na nal environments, at the confluence of flows, processes and pe-
confluência entre fluxos, processos e pessoas. Este capítulo tem ople . This chapter aims to present the conceptual relationships
como objetivo apresentar as relações conceituais entre a Ges- between Information and Knowledge Management in the field
tão da Informação e do Conhecimento no campo da CI, a fim of IC, in order to understand the characteristics and interfaces
de compreender as características e interfaces entre os termos. between the terms. It is understood that knowing the informa-
Entende-se que conhecer o fluxo informacional contribui para tional flow contributes for organizations to achieve institutional
que as organizações possam alcançar o sucesso institucional e success and seek solutions according to the organizations needs
buscar soluções na medida das necessidades organizações em in terms of managing informational flows.
termos de gestão dos fluxos informacionais.

PALAVRAS-CHAVE: Ciência da Informação. Fluxo KEYWORDS: Information Science. Informational flow. Informa-
informacional. Gestão da informação e do conhecimento. tion and knowledge management.
11
1 l INTRODUÇÃO 2 l A GESTÃO DA INFORMAÇÃO
NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
É sabido que, na Sociedade da Informação e do Conhecimen- Em meados dos anos 1990, observa-se um crescimento de estu-
to, informação e conhecimento têm um papel crucial para os dos que enfatizam os processos organizacionais, dando conta
indivíduos e as organizações. Muitas vezes, a sobrevivência das que o sucesso das organizações passa pela aposta na eficácia e
organizações depende de saber conduzir as decisões com base na reorganização de tais processos, assim como na capacitação
em dados e informações que possam dar maior suporte aos ges- das pessoas e em sua capacidade de estar em constante aper-
tores, assim como agregar valor na esfera dos colaboradores, feiçoamento. Isso implica, dentre outras coisas, em dar maior
considerando as ricas contribuições com o conhecimento que valor às pessoas e à aprendizagem no ambiente organizacional
é acumulado por eles ao longo da sua experiência profissional. (NASCIMENTO, 2015).
Dito isso, reforça-se aqui que, no campo das Ciências Sociais Um dos campos que se dedica a estudar a informação em toda
Aplicadas, a Ciência da Informação (CI) é a área do conhecimen- as suas facetas e fenômenos é a Ciência da Informação (CI). Essa
to que se ocupa em estudar os fenômenos informacionais em área, surgida no século XX, seja com os estudos sobre Docu-
seus aspectos intra e intersubjetivos e plurais, com destaque mentação no início do século, ou com a preocupação quanto à
para as relações sociais que se estabelecem em torno da infor- organização e disponibilização da informação científica após a
mação e o contexto no qual está inserida. Assim, é interesse da Segunda Guerra Mundial, tem como objeto de estudo a infor-
CI, dentre outros temas, os estudos sobre a Gestão da Informa- mação e, no que tange às organizações, interessa-se de modo
ção e do Conhecimento (GIC) reconhecidos como emergentes mais direto pela informação que é capaz de contribuir para a
na área, e que têm suscitado muitas pesquisas, em especial a tomada de decisões assertivas.
partir da década de 1990 (ARAÚJO, 2018). Tal condição é possível, conforme Jorge e Valentim (2016), a
Para a proposta deste capítulo, objetiva-se apresentar, de for- partir da observação da cultura organizacional que modela as
ma sucinta, as relações conceituais entre a CI e a Gestão da In- redes de conhecimento que são essenciais para a GIC, o que
formação e do Conhecimento, a fim de reconhecer nessas re- pode favorecer inúmeros indicadores organizacionais, parti-
lações suas características, suas práticas e fluxos, de modo que cularmente os voltados à produtividade, à qualidade, assim
possam subsidiar a compreensão sobre a aplicação da GIC nas como à competitividade.
organizações de uma forma geral.
12
2.1 A informação organizacional e os fluxos de informação A ocorrência desses fluxos caracteriza, dessa maneira, a Gestão
para a Gestão da Informação e do Conhecimento da Informação e a Gestão do Conhecimento. De acordo com Va-
lentim, são modos de gerenciar diferentes que se moldam con-
Segundo Davenport (1998, p. 173), a Gestão da Informação e do forme o tipo de informação e os fluxos e processos com os quais
Conhecimento caracteriza-se como “[...] um conjunto estru- são trabalhados esses elementos (a informação e o conheci-
turado de atividades que incluem o modo como as empresas mento). Nesse sentido, as informações constituem-se como
obtêm, distribuem e usam a informação e o conhecimento”. elementos centrais do processo de gestão e, no campo organi-
Essa gestão se realiza com base na observação das informa- zacional, podem ser classificadas como (Quadro 1).
ções que circulam entre os diferentes setores da organização É possível verificar, conforme o Quadro 1, que as organizações
e no fluxo (ou fluxos) que essas informações seguem, sejam criam, acessam, gerenciam e compartilham diferentes tipos de
formais ou informais. informação no seu dia a dia e isso representa a essência do tra-
Já, para Valentim (2006, p. 18), a Gestão da Informação com- balho desenvolvido pelos gestores e colaboradores, visto que é
preende um “conjunto de atividades para prospectar/monito- com base nessas informações que eles conseguem se informar
rar, selecionar, filtrar, tratar, agregar valor e disseminar infor- e tomar decisões de forma mais segura.
mação, bem como aplicar métodos, técnicas [...] que apoiem No trânsito dessas informações organizacionais, constituem-se
esse conjunto de atividades”. Na concretização dessas ações, os fluxos de informação, que nada mais são do que as interações,
visando a Gestão da Informação, a autora destaca como ativi- formais ou não, que se operam entre os sujeitos que participam
dades relevantes a prospecção e o monitoramento de ativida- desse contexto organizacional, os quais, em alguma medida, in-
des. No caso da prospecção, tem o objetivo de compreender fluenciam e sofrem influência de aspectos como a estrutura or-
a realidade organizacional por meio de um diagnóstico pré- ganizacional, as condições ambientais internas e externas, assim
vio, no qual é possível identificar os fluxos informacionais e como da cultura organizacional (NASCIMENTO, 2015).
levantar necessidades no que tange à informação. Além disso,
também deve incluir o monitoramento e prever as seguintes Para Valentim (2006, p. 14), há dois tipos principais de fluxos de
etapas (VALENTIM, 2006, p. 19): informação. Os formais, que compreendem as “[...] inter-rela-
ções entre as diferentes unidades de trabalho/centros de custo
a l construção de redes informacionais; como diretorias, gerências, divisões, departamentos, seções,
b l identificação de fontes informacionais; etc.”, envolvendo a estrutura formal. Além desses, há os infor-
c l coleta de dados; mais, que se relacionam diretamente às pessoas que ocupam
d l tratamento da informação; as diferentes unidades da organização (VALENTIM, 2006).
e l disseminação da informação;
f l ativação do monitoramento.
13
TIPOLOGIA DEFINIÇÃO Conforme Netto e Rados (2017), pode-se observar três níveis
Informação Subsidia a tomada de decisão da alta administração e possibilita
que caracterizam os fluxos de informação, os quais estão apre-
estratégica aos analistas estratégicos definirem para a organização, as diretri- sentados na Figura 1:
zes, as políticas, os programas, as linhas de atuação, as prioridades,
os indicadores de desempenho, os planos e planejamentos, ou seja,
a l um nível interno, voltado para as necessidades
os cenários futuros, a missão e as metas, a atuação na sociedade e a organizacionais;
imagem institucional. b l um nível externo à organização, quando ela precisa das
Informação Possibilita à alta administração, bem como à área comercial, perce- informações do ambiente externo;
de mercado ber oportunidades de negócios tanto no mercado nacional quanto c l um segundo nível externo, da organização para seu meio
no mercado internacional.
externo, quando ela oferece informações ao seu público.
Informação Viabiliza aos profissionais da área financeira processarem estudos
de custos, lucros, riscos e controles.
financeira
Subsidia a área comercial na exportação e/ou importação de mate- ORGANIZAÇÃO
Informação riais, produtos e serviços, bem como subsidia a área jurídica em rela-
comercial ção à legislação do país no qual se estabelece a transação comercial.
Quadro 1: Tipologia
das informações Subsidia as áreas estratégica, financeira, comercial e de P&D, iden- Identificação de
organizacionais Informação tificando em termos percentuais e/ou numéricos questões ligadas
Informações necessidades e
coletadas
Fonte: Valentim estatística ao negócio da organização, como: índices de exportação, importa- externamente
requisitos

(2006, p. 13) Obtenção Tratamento


ção, demandas e restrições de mercado, índices econômicos, poder
aquisitivo, PIB, índice de desemprego, balança comercial, índices de Armazenamento
investimentos etc.
Uso Distribuição
Atende às necessidades dos gerentes e executivos da organização Informações Informações
Informação no planejamento e gerenciamento de projetos, no gerenciamento produzidas pela produzidas pela
de gestão de pessoas e situações diversas. organização e organização
destinada ao Descarte e destinada
Subsidia a área de P&D no desenvolvimento de produtos, materiais público interno aos públicos
Informação e processos tecnológicos, bem como monitoram a concorrência externos
tecnológica quanto às inovações de produtos, materiais e processos.
Disseminada em todas as áreas da organização, possibilitando aos
Informação profissionais uma atualização constante, como por exemplo: notí-
geral cias, fatos e acontecimentos etc.
De qualquer natureza, para qualquer área e com qualquer finalida-
Informação de de uso, que não é detectada em buscas formais de informação,
cinzenta como por exemplo: colégio invisível, memória de pessoas, docu- Figura 1: Fluxo da informação.
mentos confidenciais de difícil acesso, corredores informais eletrô-
Fonte: Netto e Rados, (2017, p. 56 apud SALES JÚNIOR, 2020)
nicos (Internet) etc.
14
Vê-se, desse modo, que os fluxos de informação relacionam a em objetos tangíveis, tais como palavras, números, fórmulas
organização explicitamente, tanto com seu ambiente externo, científicas, recursos de áudio, planilhas, dentre outros (TAKEU-
como com seu ambiente interno, alimentando-se de informa- CHI; NONAKA, 2008).
ções externas e internas e utilizando-se delas para produzir no-
vas informações destinadas ao público.
GESTÃO DA GESTÃO DO
De acordo com Segoa (2016) e Curto Júnior (2011), o maior desafio INFORMAÇÃO CONHECIMENTO
para a promoção da Gestão da Informação é promover, a princí-
pio, uma boa gestão da base de dados, pois, muitas vezes, a falta
Âmbito: Âmbito:
de organização de dados básicos dificulta a organização e o com- fluxos formais fluxos formais
partilhamento de dados essenciais para a produção de informa- Objeto: Objeto:
ções a partir, por exemplo, de relatórios gerenciais, o que implica conhecimento explícito conhecimento tácito
em desgaste e instabilidade para a organização como um todo. Foco: Foco:
Ainda segundo Valentim (2006), a Gestão do Conhecimento negócio organizacional ativos de conhecimento
volta-se para a observação dos fluxos informais da organiza-
Figura 2: Diferenças entre a GI e a GC. Fonte: Valentim (2006).
ção, enfatizando as pessoas e seu capital intelectual que contri-
buem para que a organização possa estabelecer seu diferencial
competitivo em relação a seus concorrentes. Considera, dessa
forma, o conhecimento organizacional como um ativo impor- Já o conhecimento tácito apresenta, segundo Takeuchi e Nonaka
tante que deve ser levado em consideração como peça-chave (2008), maior grau de dificuldade de compartilhamento, pois é
para o aumento da capacidade criativa, o compartilhamento um conhecimento que não é visível de forma fácil, nem tangen-
e a socialização do conhecimento internalizado pelos sujeitos ciável. Ao contrário, tem um caráter mais individual e, por isso,
organizacionais. Nesse sentido, a autora apresenta de forma seu compartilhamento é mais difícil. Assim, tanto Takeuchi e
sucinta as principais diferenças entre esses dois conceitos, que Nonaka (2008) como Choo (2003) sustentam que, na promoção
são relevantes para as pesquisas em Gestão da Informação e do do compartilhamento desse tipo de conhecimento, que dá base
Conhecimento em Ciência da Informação (Figura 2). à Gestão do Conhecimento, devem ser enfatizadas atitudes que
Conforme se vê na Figura 2, a Gestão da Informação lida direta- estimulem o diálogo e a socialização que possibilitem, seja por
mente com o conhecimento explícito, pois ele está contido em meio da expressão oral ou corporal, ou seja por meio de fóruns,
algum suporte (JORGE; VALENTIM, 2016). Choo (2003) cita que palestras, grupos de estudo, ou outros meios, a conversão do
o conhecimento explícito é o conhecimento formal, apresen- conhecimento tácito em explícito, a fim de que as experiências
tando facilidade na transmissão, sendo frequentemente codifi- acumuladas pelos sujeitos organizacionais possam ser úteis
cado. Esse tipo de conhecimento pode ser facilmente expresso para geração de novos conhecimentos organizacionais.
15
3 l CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fica evidente, após essa breve exposição, que a informação e onde utilizam a informação e geram conhecimento. Por isso,
o conhecimento são elementos-base essenciais no universo a atenção das organizações deve-se voltar para esses sujei-
organizacional e movimentam os fluxos de informação neces- tos e para a cultura organizacional na qual estão inseridos, de
sários à circulação da informação que dá fundamento às ações modo a melhor aproveitar todas as suas potencialidades cria-
dos sujeitos informacionais.
tivas e inovadoras, que serão o maior diferencial competitivo
Viu-se, também, que Gestão da Informação e Gestão do Conhe- que essas organizações poderão ter no ambiente onde atuam.
cimento são temas de investigação emergentes da Ciência da
Informação e que suscitam inúmeras pesquisas a nível de mes-
trado e doutorado e nos cursos de graduação da área, além de l REFERÊNCIAS
fomentar os trabalhos de pesquisadores nos grupos de pesqui-
sa. Na UFS, o curso de Mestrado Profissional em Gestão da In- ARAÚJO, C. A. A. O que é Ciência da Informação. Belo Horizonte: KMA,
2018.
formação e do Conhecimento do Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação (PPGCI/UFS) tem sido um polo de CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações
usam a informação para criar significado, construir conhecimento e
formação de novos profissionais da informação com competên- tomar decisões. São Paulo: SENAC, 2003.
cias para atuar na GIC em empresas públicas, privadas e do ter-
CURTO JR., R. M. Organização, sistemas e métodos. Curitiba: E-TEC
ceiro setor. Além disso, o grupo de pesquisa intitulado Núcleo Brasil, 2011.
de Estudos em Mediação, Apropriação e Gestão da Informação
DAVENPORT, T. O. Ecologia da informação. São Paulo: Futura, 1998.
e do Conhecimento (NEMAGI), vinculado ao mesmo Programa,
tem aglutinado em torno de suas linhas de pesquisa docentes, JORGE, C. F. B.; VALENTIM, M. L. P. A importância do mapeamento
das redes de conhecimento para a gestão da informação e do
discentes, egressos e pesquisadores convidados, desenvolven- conhecimento em ambientes esportivos: um estudo de caso no Marília
do estudos em torno do tema, o que demonstra esse interesse Atlético Clube. Perspectivas em ciência da informação, Belo Horizonte,
em estudos nessa temática. v. 21, n. 1, p. 152-172, jan./mar. 2016.
Por fim, considerando-se a atual sociedade da informação e do NASCIMENTO, L. A. D. L. D. Ambientes e fluxos de informação sobre
conhecimento, importante se faz frisar que o volume de infor- café no incaper: uma análise sob a noção de regime de informação. 2015.
mações crescente exige novos olhares para as práticas informa- 278f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação, Brasília, DF, 2015. Disponível em:
cionais nas organizações de modo a enfatizar não apenas as https://repositorio.unb.br/handle/10482/19757. Acesso em: 01 out. 2019.
questões relacionadas aos investimentos nos recursos tecno-
NETTO, R. S.; RADOS, G. J. V. Fluxos de informação em organizações
lógicos, mas também, e principalmente, nos sujeitos que com- virtuais: o caso dos estudos de impacto ambiental como produtos
põem as organizações e se envolvem em atividades diversas, informacionais. Florianópolis: UFSC, 2017.
16
SALES JÚNIOR, W. O. Gestão da informação e análise de processos
na ouvidoria da Secretaria de Meio Ambiente de Aracaju-SE. 2020.
140f. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão da Informação e do
Conhecimento) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação,
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão-SE, 2020.
SEGOA, R. D. R. M. Motivos que levam ao insucesso na implantação de
sistemas de business intelligence. 2016. 55f. Graduação (Bacharelado
em Administração) – Departamento de Ciências Administrativas,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2016.
TAKEUCHI, H.; NONAKA, I. Gestão do conhecimento. Tradução Ana
Thorell. Porto Alegre: Bookman, 2008.
VALENTIM, M. L. P. Informação, conhecimento e inteligência
organizacional. 2. ed. Marília: FUNDEPE Editora, 2006.
17 CAPÍTULO 2
SUBSÍDIOS PARA A ELABORAÇÃO DE INSTRUMENTOS SUBSIDIES FOR THE PREPARATION OF RESEARCH
DE PESQUISA EM ARQUIVOS: O CASO DO “CATÁLOGO INSTRUMENTS IN ARCHIVES: THE CASE OF THE “SELECTIVE
SELETIVO DE FONTES METALINGUÍSTICAS” DOS FUNDOS CATALOG OF METALLINGUISTIC SOURCES” FROM IHGSE’S
PESSOAIS DO IHGSE PERSONAL FUNDS

Marcos Breno Andrade Leal


Renata Ferreira Costa Bonifácio

RESUMO ABSTRACT
O acesso à informação nos arquivos é imprescindível para satis- Access to information in the files is essential to satisfy the user’s
fazer a necessidade informacional do usuário. Entre os meios informational needs. Among the means of accessing informa-
de acesso à informação, os instrumentos de pesquisa contri- tion, the research instruments contribute, in a stimulating way,
buem, de forma suscita, para o conhecimento do que vem a to the knowledge of what comes to represent the collection of
representar o acervo da unidade de informação, garantindo a the information unit, guaranteeing the retrieval of information
recuperação da informação e poupando o tempo do usuário. and saving the user’s time. In this way, this article aims to esta-
Deste modo, este capítulo tem como objetivo estabelecer os blish the necessary subsidies for the construction of a research
subsídios necessários para a elaboração de instrumentos de instrument in Archive, taking as an example the “Selective cata-
pesquisa em arquivos, tomando, como exemplo, o “Catálogo log of metalinguistic sources” of the collection of personal funds
seletivo de fontes metalinguísticas” do acervo dos fundos pes- from the Historical and Geographic Institute of Sergipe.
soais do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

PALAVRAS-CHAVE: Arquivos Pessoais. Fontes KEYWORDS: Personal Archives. Metalinguistic Sources. Rese-
Metalinguísticas. Instrumentos de Pesquisa. Catálogo. arch Instruments. Catalog. Historical and Geographic Institu-
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. te of Sergipe.
18
1 l INTRODUÇÃO em Gestão da Informação e do Conhecimento da Universida-
de Federal de Sergipe, intitulada “Catálogo de fontes metalin-
guísticas: estudo exploratório dos fundos pessoais do arqui-
Diante do grande volume documental que guardam, os arqui- vo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE)”. O
vos e as outras unidades de informação cada vez mais repensam referido catálogo tem como objetivo disponibilizar fontes de
o modo como disponibilizam as informações aos seus usuários. informação presentes nos fundos pessoais do arquivo do IH-
Diante de amplos acervos, a recuperação da informação é es- GSE, constituídos pela produção e acumulação documental
sencial para atender à necessidade informacional, que pode ser de intelectuais sergipanos, para o conhecimento dos estudos
auxiliada através da elaboração de instrumentos de pesquisa. sobre a língua portuguesa do Brasil e das ideias linguísticas
Os instrumentos de pesquisa são criados como forma de garantir que circularam especialmente entre o fim do século XIX e a
a aproximação entre o usuário e o documento. Tal acesso é per- primeira metade do século XX.
mitido através de breves descrições de determinado item do- A catalogação do acervo de um arquivo é um trabalho árduo
cumental, direcionando de forma direta o usuário para a sua e nem todas as unidades conseguem suprir a descrição do-
necessidade informacional e, consequentemente, poupando o cumental de maneira eficiente para que o seu usuário tenha
seu tempo de pesquisa. acesso à informação de maneira rápida e precisa. Desta ma-
Deve-se destacar que a construção de um instrumento de pes- neira, reconhece-se no IHGSE a carência de uma catalogação
quisa é influenciada pelo tipo de acervo presente no arquivo, de acordo com os princípios arquivísticos do acervo em geral,
seja através de um fundo único ou variado, e pode ser associado assim como de fontes voltadas para o estudo teórico e descri-
a diversas áreas de conhecimento. Uma vez que se associa a um tivo da língua portuguesa.
campo do saber, a unidade de informação consegue captar as Ressalta-se que um catálogo de fontes informacionais que
informações essenciais para o seu público-alvo, contribuindo dê conta de contribuir com os estudos da Historiografia Lin-
para o desenvolvimento de pesquisas na área. guística e de outras ciências da linguagem no Brasil é de suma
A busca pela informação tem, então, um papel crucial para o importância por suprir uma carência da existência desse tipo
usuário. Nos arquivos, o elevado volume de documentos arma- de instrumento de pesquisa. Além disso, também serão be-
zenados esconde, diversas vezes, fontes informacionais ricas neficiados investigadores da História, Antropologia, Sociolo-
para o conhecimento do passado e que, se forem tratadas de gia, Educação, Psicologia, Biblioteconomia e de tantas outras
forma precisa, podem auxiliar no processo de recuperação da áreas do conhecimento, uma vez que o acesso à informação,
informação, assim como no desenvolvimento de pesquisas his- através de um tratamento informacional adequado, lhes pos-
tóricas. É nesse contexto que este capítulo vem apresentar os sibilitará a execução de investigações rigorosas a partir de um
resultados da pesquisa empreendida no mestrado Profissional conjunto patrimonial histórico e cultural brasileiro.
19
Para apresentar a relevância da criação de um catálogo, este documental pode ser descrita como o “[...] conjunto de procedi-
capítulo tem como objetivo geral apontar os subsídios neces- mentos e operações técnicas referentes à produção, tramitação,
sários para a construção de um instrumento de pesquisa, em uso, avaliação e arquivamento de documentos em fase corrente
especial a formulação de um catálogo seletivo constituído por e intermediária, visando sua eliminação ou recolhimento para
fontes metalinguísticas. Deste modo, pretende-se apontar a guarda permanente” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 100).
importância do acesso à informação para os usuários em uma A gestão documental é constituída, segundo Paes (2004), por
unidade de informação, identificar os tipos de instrumentos de três fases: produção, utilização e destinação dos documentos.
pesquisa, como eles são constituídos e apresentar o catálogo Tais etapas fazem parte das 7 funções arquivísticas que abran-
produzido na dissertação. gem produção, classificação, avaliação, descrição, aquisição,
difusão e preservação documental. É na fase de difusão que se
encontra o que Calil (2009) denomina como democratização
2 l INSTRUMENTOS DE PESQUISA NOS ARQUIVOS
do acesso à informação da produção documental, assim como
dos serviços oferecidos pela unidade de informação.
Um dos grandes desafios para bibliotecas, arquivos, museus, Deste modo, Prade e Perez (2017) destacam que na difusão
centros de documentação e instituições híbridas refere-se à editorial é a função arquivística que fornece a disseminação
disponibilização da informação para o usuário. Diante do gran- de informações através de instrumentos de pesquisa. Fruto da
de volume informacional armazenado, a garantia ao acesso à descrição documental, os instrumentos de pesquisa possuem
informação permite que o usuário acesse e recupere dados que como objetivo identificar, localizar, resumir e/ou transcrever
visam suprir a sua necessidade informacional. “[...] fundos, grupos, subgrupos, séries e peças documentais,
Quando se pensa no acesso à informação, que significa tornar existentes num Arquivo Permanente ou Centro de Documenta-
“[...] possível a pesquisa e o encontro de determinado item ou ção, com a finalidade de controle e acesso ao acervo” (TESSITO-
assunto” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 3), é imprescindível RE, 2003, p. 30). Além disso, o Arquivo Nacional (2005) reforça
disponibilizar mecanismos legais que permitam o uso dos do- que esses mecanismos de acesso à informação se tornam obras
cumentos, assim como instrumentos de pesquisa moldados a de referência para os usuários, uma vez que apresentam a des-
partir da descrição documental. crição documental em diferentes graus e amplitudes.
A exemplo dos arquivos, Smit (2013) ressalta que o acesso à in- Logo, os instrumentos de pesquisa constituem-se como ferra-
formação é a etapa final da gestão de documentos, uma vez que mentas de acesso à informação do acervo de uma instituição,
a documentação passa pelo processo do plano de classificação geralmente permanente, orientando a consulta de um item
e da tabela de temporalidade, a fim de identificar o conteúdo e documental ao determinar, com exatidão, onde ele se localiza
o contexto de produção documental. Desta maneira, a gestão e que tipo de conteúdo pode abranger. Deste modo, o usuário
20
já detecta que tipo de informações necessita para sua pesquisa, NÍVEL BASE DE DESCRIÇÃO INSTRUMENTOS
minimizando o tempo de busca gasto por ele e pelos funcioná- Instituição Conjuntos documentais Guia
amplos
rios da instituição.
Fundos, Grupos e Coleções Séries Inventário
Silva (2016) ressalta que, para a elaboração de um instrumento Séries Unidades documentais Catálogo
de pesquisa, é necessário que se tenha em mente o número de Unidades documentais Assunto; recorte Catálogo Seletivo; Índice
informações suficientes para atender à necessidade informa- selecionadas pertencentes a temático
uma ou mais origens
cional do usuário, além de compreender que cada tipo de in-
formação pode abranger um determinado tipo de instrumen- Quadro 2: Tipos de instrumentos de pesquisa. Fonte: Lopez (2002, p. 22).
to, respeitando normas e critérios estabelecidos em normas
descritivas. Nesse contexto, instrumentos de pesquisa podem O guia é definido como um “instrumento de pesquisa que ofe-
abranger guias, inventários, catálogos e índices (Quadro 1): rece informações gerais sobre fundos e coleções existentes em
INSTRUMENTO OBJETIVO um ou mais arquivos” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 102). Lo-
DE PESQUISA pez (2002) complementa que o guia é a porta de entrada de
Guia Fornece informações básicas sobre o histórico, os serviços e os fundos de uma instituição, devendo apresentar informações que vão des-
um ou mais arquivos.
de o seu funcionamento até a constituição de seu acervo, orien-
Inventário Toma por unidade a série na descrição exaustiva ou parcial de um fundo
ou de uma ou mais de suas subdivisões, respeitando ou não a ordem do tando o usuário ao que ele vai encontrar e como utilizar. Deste
arranjo. modo, um guia deve conter (Quadro 3):
Catálogo Toma por unidade a peça documental na descrição exaustiva ou parcial
de um fundo ou de uma ou mais de suas subdivisões, respeitando ou não
DADOS GERAIS DA INSTITUIÇÃO DESCRIÇÃO DOS FUNDOS E COLEÇÕES
a ordem do arranjo.
Nome da instituição; endereço com- Nome do fundo, da coleção ou do con-
Índice Produto da indexação pela qual se relacionam, de forma sistemática,
pleto, telefone, fax etc.; endereço ele- junto documental; pequeno histórico
descritores ou palavras-chave que permitem a recuperação posterior do
trônico; web site; dias e horários de do acervo; caracterização sumária do
conteúdo de documentos e de informações (pode ser um instrumento de
consulta; ficha técnica da instituição; perfil do fundo ou da coleção; tipos do-
pesquisa autônomo ou complementar a outro).
localização e facilidades externas à ins- cumentais mais frequentes; documen-
tituição; breve histórico da instituição; tos complementares; condições físicas
Quadro 1: Tipos de Instrumentos de pesquisa. Fonte: Adaptado de Tessitore (2003, p. 30). perfil do acervo; condições e restrições gerais do acervo; estágio atual da or-
à consulta; suporte à consulta; política ganização; quantidade aproximada de
Como destacado anteriormente, a criação de um instrumento de reprodução; política de intercâmbio documentos e datas-limite; condições
institucional; formas de acesso aos do- de acesso; condições de reprodutibili-
de pesquisa varia de acordo com a documentação presente no cumentos; outras publicações da insti- dade; instrumentos de pesquisa.
acervo, seguido do nível de classificação que ela deve abranger tuição; prestação de serviços.
para uma maior ou menor profundidade descritiva. Assim, Lo-
Quadro 3: Elementos descritivos para elaboração de um guia.
pez (2002) aponta 4 tipos de níveis para a elaboração dos refe- Fonte: Adaptado de Lopez (2002, p. 27-31). (2002, p. 22).
ridos instrumentos de pesquisa (Quadro 2):
21
Bellotto (2006) aponta que a construção de um guia deve abar- Já o catálogo é uma representação descritiva de séries ou uni-
car cinco vertentes: informações do funcionamento institucio- dades documentais selecionadas, cujo processo de descrição
nal, a hierarquia administrativa e sua jurisdição, dados refe- já se inicia durante a produção de um inventário. Logo, pode-se
rentes aos fundos, os serviços prestados no local e os tipos de definir o catálogo como um instrumento de pesquisa “[...] orga-
informações de fontes potenciais para o estudo local. nizado segundo critérios temáticos, cronológicos, onomásticos
Já o inventário pode ser definido como um instrumento “[...] ou toponímicos, reunindo a descrição individualizada de docu-
que descreve, sumária ou analiticamente, as unidades de ar- mentos pertencentes a um ou mais fundos, de forma sumária
quivamento de um fundo ou parte dele, cuja apresentação obe- ou analítica” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 45).
dece a uma ordenação lógica que poderá refletir ou não a dis-
Para a produção de um catálogo, Lopez (2002) ressalta a neces-
posição física dos documentos” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.
sidade de uma introdução que explique a importância do ins-
109). Além disso, ele pode ser desenvolvido a partir do fundo
completo, ou não. trumento de pesquisa, assim como dados referentes ao acervo
tratado, que contemplem seu contexto histórico, a seleção do-
Bellotto (2006) estabelece as etapas para o desenvolvimento cumental e os métodos utilizados no processo de ordenação e
de um inventário, sendo necessário, de início, fazer uma intro-
descrição dos documentos.
dução com as motivações da construção do instrumento, da-
dos sobre o acervo selecionado, temas relevantes para futuras Outro passo que o idealizador do catálogo deve levar em con-
pesquisas e quais as metodologias utilizadas. Para a construção sideração é o formato no qual as informações serão apresenta-
dos verbetes, a autora aponta 5 elementos (Quadro 4): das, seja por verbetes ou quadros. Enquanto o primeiro é ideal
ITEM DESCRITIVO EXEMPLO para acervos com diversas espécies documentais, o segundo
proporciona a não repetição informacional, uma vez que a des-
1 Caracterização diplomática-semântica-jurídi- Documento dirigido pelo Conselho
ca-administrativa do tipo documental ou da Provincial coletivamente ao Governo crição documental é acompanhada em um único quadro, como
função administrativa que originou a produção/ Imperial, de caráter congratulatório, ilustrado a seguir (Figura 1).
recolhimento dos documentos componentes da de estranheza ou de encaminhamen-
série descrita. to de resoluções
2 Datas-baliza (a do documento mais antigo e a 1820-134
do mais recente da série ou da sua parcela in-
ventariada).
3 Quantidade de documentos ou de unidades de 35 unidades documentais
arquivamento.
4 Notação ou cota (conjunto de siglas e números FCGP, s9, Lata 2
que identificam ou localizam as unidades de ar-
quivamento no acervo).
5 Observações quanto ao arranjo, se houver.

Quadro 4: Produção de inventário. Fonte: Adaptado de Bellotto (2006, p. 210-211).


22
Se forem selecionados documentos em mais de um fundo do-
cumental, é possível criar um catálogo seletivo. Para esse tipo
de instrumento, Lopez (2002, p. 50) aponta que se “[...] toma por
unidade documentos previamente selecionados, pertencentes
a um ou mais fundos ou arquivos, segundo um critério temáti-
co”. Da mesma forma que deve apresentar uma introdução e os
métodos utilizados em sua elaboração, Bellotto (2006) indica a
possibilidade de o catálogo seletivo trazer instrumentos auxi-
liares, como índices por assunto, nomes e/ou lugares.
Os índices são produtos de termos indexados, ou seja, da ela-
boração de palavras-chaves que permitem, posteriormente,
a recuperação da informação. Deste modo, pode-se definir os
índices como a “[...] relação sistemática de nomes de pessoas,
lugares, assuntos ou datas contidos em documentos ou em
instrumentos de pesquisa, instrumentos de pesquisa acompa-
nhados das referências para sua localização” (ARQUIVO NACIO-
Figura 1: Catálogo por quadroso. Fonte: Bellotto (2006, p. 216). NAL, 2005, p. 107).
É importante ressaltar que, na construção desses instrumentos
No caso da criação de um catálogo por verbetes, Lopez (2002)
considera essencial a apresentação de informações como tipo de pesquisa, é necessário que o tratamento técnico se torne
documental, título do documento, emissor e destinatário, fun- consistente para garantir uma boa recuperação da informação.
ção imediata do documento, resumo ou descritores do docu- Para isso, a padronização do tratamento dos documentos gerou
mento, datas tópica e cronológica, caracteres externos mais uma série de debates científicos, que resultou na construção de
relevantes (número de páginas, formato e dimensão) e locali- normas a serem seguidas, como a ISAD (G) e a NOBRADE.
zação do documento (Figura 2): A ISAD (G), General International Standard Archival Description, foi cria-
1488 – Portaria ao Provedor-Mor da fazenda Real, no sentido de que mandasse da em 1993 em Estocolmo/Suécia, após discussões iniciadas pelo
descarregar os navios transportadores de sal para que pudessem ser incorporados
à armada que seria enviada em socorro ao rio de Janeiro. Era determinada a Conselho Internacional de Arquivos em 1988, na região de Otawa/
quantidade de mantimentos a serem remetidos nas duas embarcações que iam Canadá. Com a segunda edição elaborada em 1999, a ISAD (G) tem
prestar auxílio a Antônimo de Albuquerque Coelho de Cravalho, Governador da
capitania do rio de Janeiro. Bahia, 5 de dezembro de 1711. 2p. como objetivo “[…] identificar e explicar o contexto e o conteúdo de
Cod. 45. 144. A8 documentos de arquivo a fim de promover o acesso aos mesmos”
Figura 2: Catálogo por quadroso. Fonte: Bellotto (2006, p. 216). (CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, 2000, p. 11).
23
Para que houvesse uma padronização da informação no proces-
so de descrição documental, a ISAD (G) definiu sete áreas des-
critivas: identificação, contextualização, conteúdo e estrutura,
condições de acesso e uso, fontes relacionadas, notas e controle
da descrição, que abrangem 26 elementos que dão suporte à
descrição dos documentos (Quadro 5):
ÁREA ELEMENTOS OBJETIVO
1. Identificação 1.1 Código(s) de referência Destinada à informação essencial para
1.2 Título identificar a unidade de descrição.
1.3 Data(s)
1.4 Nível de descrição
1.5 Dimensão e suporte
2. Contextualização 2.1 Nome(s) do(s) produtor(es) Destinada à informação sobre a origem e
2.2 História administrativa/ Biografia a custódia da
2.3 História arquivística
unidade de descrição.
2.4 Procedência
3. Conteúdo e estrutura 3.1 Âmbito e conteúdo Destinada à informação sobre o assunto
3.2 Avaliação, eliminação e temporalidade e a organização da unidade de descrição.
3.3 Incorporações
3.4 Sistema de arranjo
4. Condições de acesso e uso 4.1 Condições de acesso Destinada à informação sobre a acessibili-
4.2 Condições de reprodução dade da unidade de descrição.
4.3 Idioma
4.4 Características físicas e requisitos técnicos
4.5 Instrumentos de pesquisa
5. Fontes relacionadas 5.1 Existência e localização dos originais Destinada à informação sobre fontes com
5.2 Existência e localização de cópias uma relação importante com a unidade
5.3 Unidades de descrição relacionadas de descrição.
5.4 Nota sobre publicação
6. Notas 6.1 Notas Destinada à informação especializada ou a
qualquer outra informação que não possa
ser incluída em nenhuma das outras áreas.
7. Controle da descrição 7.1 Nota do arquivista Destinada à informação sobre como,
7.2 Regras ou convenções quando e por quem a descrição arquivís-
7.3 Data(s) da(s) descrição(ões) tica foi elaborada.

Quadro 5: Áreas de descrição do ISAD (G). Fonte: Adaptado do Conselho Internacional de Arquivos (2000, p. vi-vii).
24
O amplo quantitativo estabelecido pelo Conselho Internacional Nível 0 Acervo da entidade custodiadora
de Arquivos (2000) evidencia a importância de descrever, de for- Nível 1 Fundo ou coleção
ma mais detalhada possível, o que vem a representar o documen-
Nível 2 Seção
to. A norma ainda revela que esses campos podem ser utilizados,
ou não, mas destaca a obrigatoriedade de seis elementos, con- Nível 3 Série
siderados primordiais para o intercâmbio internacional de infor- Nível 4 Dossiê ou processo
mação descritiva, a saber: código de referência, título, produtor, Nível 5 Item documental
data(s), dimensão da unidade de descrição e nível de descrição. Figura 3: Níveis de descrição da NOBRADE.
Fonte: Adaptado de Conselho Nacional de Arquivos (2006, p. 11).
Apesar da importância da ISAD (G), a reduzida circulação do do-
cumento em território brasileiro impactou na popularização de
seu uso pelos profissionais da informação, o que acarretou ao Da mesma forma que a ISAD (G), a NOBRADE ressalta a obrigato-
Arquivo Nacional revisar, publicar e distribuir uma versão brasi- riedade de sete itens descritivos aplicados a qualquer documento,
leira. Além disso, diante da necessidade de adequar a norma à sendo eles: código de referência, título, data(s), nível de descrição,
realidade do acervo no Brasil, o Conselho Nacional de Arquivos dimensão e suporte, nome(s) do(s) produtor(es) e condições de
(CONARQ) adaptou as normas estabelecidas pelas ISAD (G) e pu- acesso (aplicadas somente para descrições em níveis 0 e 1).
blicou, em 2006, um novo conjunto de critérios descritivos deno-
minado Norma Brasileira de Descrição Arquivística (NOBRADE). Somente a partir de normas descritivas para a padronização de
documentos de arquivo, ao lado de atividades de classificação,
Com o objetivo de “[…] facilitar o acesso e o intercâmbio de in-
torna-se possível a confecção de um instrumento de pesquisa que
formações em âmbito nacional e internacional” (CONSELHO
apresente a organização de um arquivo e facilite o acesso à infor-
NACIONAL DE ARQUIVOS, 2006, p. 10), a NOBRADE acrescen-
tou mais dois itens descritivos, totalizando 28: um na área de mação. Fundamentando-se em um conjunto de normas, foi possí-
notas, denominado “Notas sobre conservação”, e o item “Pon- vel criar um catálogo seletivo de fontes representativas de estudos
tos de acesso e indexação de assuntos”, presente em uma nova descritivos linguísticos presentes nos arquivos pessoais sob a cus-
área, com o mesmo título. Além disso, a NOBRADE estabelece tódia do IHGSE, apontando as informações essenciais sobre esse
seis principais níveis de descrição, de 0 a 5 (Figura 3): repertório temático para consulta pelos pesquisadores.
25
3 l CATÁLOGO DE FONTES METALINGUÍSTICAS A documentação produzida e armazenada por esses intelectu-
ais polígrafos abrange artigos, documentos pessoais, discursos
e palestras, recortes de jornais e revistas, correspondências ex-
Detentor de ricos acervos há mais de 100 anos, o IHGSE é uma pedidas e recebidas, impressos, atas, anotações pessoais, cader-
instituição híbrida, por possuir “documentos arquivísticos, bi- netas, livros e documentos jurídicos, sendo possível identificar
bliográficos e/ou museológicos, constituindo conjuntos orgâni- os mais diversos assuntos, inclusive estudos e comentários de
cos (fundos de arquivo) ou reunidos artificialmente, sob a for- natureza linguística nos níveis gramatical (fonética, morfologia
ma de coleções, em torno de seu conteúdo” (TESSITORE, 2003, e sintaxe), ortográfico e lexical (lexicológico/ lexicográfico).
p. 21), que tem por finalidade preservar, coletar e propagar fon-
tes de informação nos mais variados campos do conhecimento, Dos 55.875 documentos pertencentes a esses fundos pessoais,
seja político, cultural, econômico, religioso, histórico, geográ- foi possível analisar 10.674, dos quais 93 apresentam alguma
fico etc., relativos a Sergipe e ao Brasil, visando ao desenvolvi- ideia ou descrição linguística, correspondendo aos titulares
mento de estudos e pesquisas, além do estímulo ao conheci- Armindo Guaraná, Oliveira Telles, Ivo do Prado, Epifânio Dória,
mento da história sociocultural local, regional e nacional. Urbano Neto, Fernando Porto, Thétis Nunes e José Calasans.
Além de biblioteca, pinacoteca, museu e hemeroteca, o IHGSE Esses 93 documentos de cunho (meta)linguístico salvaguarda-
conta com um rico arquivo, que abrange a documentação pro- dos no IHGSE representam uma pequena parcela dos assuntos
duzida pela instituição, assim como a salvaguarda de 13 fundos abordados pelos intelectuais sergipanos apontados, quando se
pessoais de intelectuais sergipanos: João Dantas Martins dos leva em conta sua extensa produção intelectual. Contudo, esse
Reis1 (1884-1979), Manoel Armindo Cordeiro Guaraná (1848- tipo de fonte, que remete ao estudo da história da formação da
1924), Manoel dos Passos de Oliveira Telles (1859-1939), Ivo do língua e do processo de produção do conhecimento sobre ela
Prado Montes Pires França (1860-1924), General José de Figuei- e sobre a linguagem em geral, no que se denomina história do
redo Lobo (1899-19--), Epifânio da Fonseca Dória (1884-1976), saber metalinguístico, é bastante apreciado por linguistas e
Urbano de Oliveira Lima Neto (1905-1990), Fernando Figueiredo historiógrafos da linguística, especialmente no que concerne à
Porto (1911-2005), Padre Aurélio Vasconcelos de Almeida (1911- língua portuguesa, não pela
1999), Lauro de Britto Porto (1911-2010), José Calasans Brandão
[...] “escassez” da tradição portuguesa, mas antes ao facto de boa
da Silva (1915-2001), Maria Thetis Nunes (1923-2009) e Djaldino parte das fontes nem sequer estar recenseada e, por outro lado, a
Mota Moreno (1948-). um certo preconceito dos historiadores da língua em relação a tex-
tos da tradição gramatical e metalinguística (GONÇALVES; BANZA,
2011, p. 1).
1 Apesar da documentação do fundo de João Dantas Martins Reis (1884-1979) tratar-se
de um arquivo familiar, optamos considerar o seu fundo para a produção do catálogo
seletivo, uma vez que o catálogo do IHGSE aponta que a maior parte da documentação
acumulada foi produzida pelo próprio João Dantas (1884-1979).
26
Nesse contexto, a ausência de recenseamento de fontes Para a elaboração desse instrumento de pesquisa, levou-se em
consideração as normas descritivas estabelecidas pela NOBRA-
[...] coaduna com a necessidade de elaboração e disponibilização de DE e pela ISAD, as orientações de Lopez (2002) e Bellotto (2006)
instrumentos de pesquisa em arquivos públicos e privados, como in-
ventários e catálogos, que possam oferecer aos pesquisadores vias
para as etapas de criação de um catálogo, para além da análise
mais fáceis, rápidas e seguras de acesso a informações sobre os textos de modelos de catálogos seletivos desenvolvidos por instituições
que podem lhes servir de fontes. Ademais, há que se considerar tam- e pesquisadores, a exemplo do Arquivo Público do Paraná (2005)
bém a importância da constituição de corpora diacrônicos, principal- e de Lima (2012). Deste modo, o catálogo foi elaborado de acordo
mente em ambiente digital, a fundamentar os estudos históricos e com uma estrutura constituída por seções que abrangem:
historiográficos da língua (COSTA; LEAL, no prelo).
a I A sua importância.
Assim, justifica-se a confecção do catálogo seletivo das fontes b I Aspectos metodológicos utilizados para a descrição e
metalinguísticas dos fundos pessoais do IHGSE (Figura 4), que, ordenação dos documentos.
ao registrar e descrever textos metalinguisticamente elabora- c I Contexto de produção dos fundos e a biografia do titular.
dos, fornece ao usuário do Instituto o acesso ao conhecimento d I Descrição dos itens documentais em catálogo por quadros.
sobre uma amostra representativa de estudos descritivos sobre e I Índice por nomes.
a linguagem e sobre o Português Brasileiro, de modo a possibi- De início, é apresentada, na introdução, a justificativa da cons-
litar e promover a investigação linguística da língua e das ideias trução do catálogo, ressaltando as dificuldades, especialmente
que circularam sobre ela em território nacional entre o fim do de pesquisadores da linguagem que se apoiam em bases do-
século XIX e primeira metade do século XX. cumentais para a pesquisa empírica, de encontrarem fontes de
informação representativas das diversas fases da língua e que
registrem o processo de produção do conhecimento sobre ela.
Ademais, demonstra-se o potencial dos arquivos pessoais do
IHGSE como espaços de salvaguarda de fontes metalinguísti-
cas e evidenciam-se os aspectos que moldam a amostra docu-
mental do catálogo, desde o universo de 55.875 documentos
dos fundos pessoais existentes no Instituto, tendo sido possível
analisar 10.674 documentos, dos quais 93 remetem a estudos
de cunho (meta)linguístico.
Posteriormente, são expostos os aspectos metodológicos utili-
zados na descrição e ordenação dos documentos, assim como
Figura 4: Capa do Catálogo. Fonte: Leal (2020). na descrição de cada fundo, com base nas normas da NOBRADE
e da ISAD (Quadros 6 e 7):
27
ITEM DESCRIÇÃO Após a criação das convenções utilizadas para o fundo e os itens
Código de referência Identificação da unidade de descrição, juntamente com documentais, foi elaborada a descrição dos fundos de cada titu-
a descrição que representa. Contém o código do país, do
detentor e referência local
lar e de como a documentação foi tratada no IHGSE. Para isso,
Título Título formal da unidade de descrição adotou-se os modelos com os critérios estabelecidos pela NO-
Datas-limite Datas de produção dos documentos BRADE e pela ISAD, que apontam a necessidade dos seguintes
Suporte Material onde são registradas as informações do elementos presentes nas áreas de identificação, contextualiza-
documento ção, conteúdo e estrutura: código de referência, título, datas-li-
Nome do produtor Titular da produção dos documentos mite, suporte, nome do produtor, história biográfica, história
História biográfica Traços da vida pessoal e profissional do titular dos
documentos
arquivística, procedência, âmbito e conteúdo, condições de
Procedência Dados de onde veio a documentação acesso e guia de pesquisa (Quadro 8):
História arquivística Traços da história do arquivo I. ÁREA DE IDENTIFICAÇÃO
Âmbito e conteúdo Descrição da produção documental segundo tempo, Código de referência BR/IHGSE/FFP
localização geográfica e formas de documentos
Título Fundo Fernando Porto
Condições de acesso Identifica se há restrições de acesso
Guia de pesquisa Instrumentos de pesquisa disponíveis na unidade de
Datas-limite 1911-2005
informação Suporte 12 caixas (163-174), 3.204 documentos textuais
Quadro 6: Descrição do Fundo. Fonte: Leal (2020, p. 5). II. ÁREA DE CONTEXTUALIZAÇÃO
Nome do produtor Fernando Porto (1911-2005)
ITEM DESCRIÇÃO História biográfica De acordo com Barreto (2006), Fernando Figueiredo Porto
nasceu no município de Nossa Senhora das Dores, em 30 de
Notação de localização Código de localização do documento na unidade de maio de 1911, filho de Irineu de Figueiredo Porto e de Laura
informação
de Figueiredo Porto, e irmão de Pacheco, Antonio Góes e João
Técnica de registro Técnica de inscrição do documento textual Augusto Gama da Silva. Casou-se com Núbia Porto e teve dois
Espécie Configuração que assume o documento filhos, Roberto e Rodrigo. A morte de sua esposa e depois de
seu filho Roberto marcaram profundamente sua vida, então
Autoria Nome de quem assina a documentação. Quando não
existe autoria, utiliza-se o termo “Desconhecida” decide morar no interior de São Paulo com Rodrigo.
Descrito por Barreto (2006, p. 291) como um “Humanista, ho-
Conteúdo Resumo das informações contidas no documento
mem de cultura científica”, Fernando Porto foi político, enge-
Local Local onde foi produzido o documento descrito. Quando nheiro, escritor e professor. Iniciou seus estudos em sua ter-
não existe local, utiliza-se [s.l] – sem local ra natal e, posteriormente, em Aracaju, nos colégios Tobias
Data Dia, mês e ano de produção do documento. Quando Barreto e Atheneu Sergipense. Fez Engenharia na Escola de
não existe data, utiliza-se [s.d] – sem data Engenharia de Minas, em Ouro Preto/Minas Gerais (1933), ao
Folhas Quantidade de folhas que constituem o documento lado de José Rollemberg Leite.
Estado de conservação Informações sobre o estado de preservação da Entre suas atuações públicas, foi prefeito de Propriá (1933-
documentação 1934), trabalhou ao lado de Teófilo Dantas (1928-1930), foi
Diretor de Obras Públicas do Estado de Sergipe (1947-1951),
Quadro 7: Quadro dos itens documentais. Fonte: Leal (2020, p. 5). Chefe da Seção Técnica de Engenharia da P.M.A e Presidente
da Empresa Energética de Sergipe (ENERGIPE) (1975-1979).
28
História biográfica Ademais, fez parte da diretoria do IHGSE na década de 70, ao Para a descrição dos itens documentais, optou-se pela constru-
(continua) lado de Maria Thétis Nunes, como vice-presidente, foi mem- ção de um catálogo seletivo com dados descritos em quadros.
bro do Conselho Estadual de Cultura (1968-1970; 1975-1983) e
Diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Uni- Para facilitar a leitura ao usuário, cada descrição de um item
versidade Federal de Sergipe (1957-1980). documental apresenta, ao lado direito, suas respectivas entra-
Na área pedagógica, lecionou Geografia na Faculdade Cató- das: notação de localização, técnica de registro, espécie, auto-
lica de Filosofia (1958-1983) e foi professor da Escola Técnica
Federal de Sergipe (1958-1981). Segundo Barreto (2006, p. ria, conteúdo, local e data de produção documental número de
290), suas atividades como professor foram ponto de partida folhas e estado de conservação:
para o início de “suas pesquisas e os seus importantes estu-
dos sobre a cidade do Aracaju”. Escreveu obras como Cidades, Notação de localização FFP, Cx. 165, Doc. 488
vilas e povoados (1940), A Cidade do Aracaju – 1855-1865, Es-
tudos Sergipanos II – a cidade do Aracaju 1855-1867 (1947) e Técnica de registro Impresso
Alguns Nomes Antigos do Aracaju (2003). Espécie Artigo
Santos (2004) destaca que, em 1963, a pedido do Secretário Autoria Sérgio de Paula Santos
da Educação, Dr. Luiz Rabelo Leite, Porto elaborou, junta-
mente com a professora Josefina Leite Campos, a obra Geo- Conteúdo Artigo “Uma gostosa degustação de vinhos em
grafia de Sergipe (1969), em virtude da carência de material Vitória”, da Folha de São Paulo, que trata de um
relato de um simpósio de vinhos em Vitória e
didático de Geografia de Sergipe para os alunos do primário.
Foi organizador da Revista de Aracaju, ao lado de José Cala- destaca a formação etimológica do vocábulo
sans e de Mário Cabral, e publicou alguns artigos, como Os “simpósio” e sua história na Grécia.
planos de urbanismo e sua Aplicação às cidades sergipanas. Local São Paulo
Fernando Figueiredo Porto faleceu em 29 de junho de 2005. Data 27 de outubro de 1984
História arquivística O acervo encontrava-se na sala da presidência do IHGSE e foi Folhas 1 folha
incorporado ao acervo geral na gestão de Ibarê Dantas, cuja
documentação foi inventariada em 2006 por Itamar Freitas e, Estado de conservação Bom estado de conservação - Folha preservada
posteriormente, foi lançado o catálogo, distribuído em séries:
S1 - Recortes de jornais, S2 - Recortes de revistas, S3- Estatu-
Quadro 9: Descrição de item documental. Fonte: Leal (2020, p. 48).
tos, atas e documentação pessoal, S4 - Anotações, S5 - Artigos,
S6 - Impressos, S7 - Correspondências recebidas e emitidas.
Procedência Doado por Fernando Porto, entre 2000 e 2001 É necessário destacar que as notações de localização expõem
III. ÁREA DE CONTEÚDO E ESTRUTURA as mesmas informações presentes nos documentos e nos
Âmbito e conteúdo A documentação é reflexo das pesquisas e acumulação de catálogos dos respectivos fundos do IHGSE. Além disso, uma
documentos em vida, tratando-se de assuntos ligados à vez que as séries documentais criadas pelo Instituto não
engenharia, bebidas e receitas, astronomia e geografia,
abrangendo ofícios, estatutos, atas, cadernos de anotações,
foram padronizadas em todos os fundos2, optou-se por não as
jornais, fitas, cartas, artigos, discursos, revistas, folhetos, im- reproduzir na versão do catálogo.
pressos e documentos pessoais.
Condições de acesso Sem restrições de acesso
Guia de pesquisa Catálogo Fundo Fernando Porto 2 A exemplo do fundo Armindo Guaraná, em que a Série 3 remete a “livros”, enquanto
no fundo Ivo Prado, refere-se a “recortes de revistas e jornais”. Além disso, no fundo de
Quadro 8: Histórico do Fundo. Fonte: Leal (2020, p. 44-45).
Oliveira Telles não há séries.
29
Por fim, foi criado um instrumento auxiliar de pesquisa, qual 4 l CONSIDERAÇÕES FINAIS
seja um índice onomástico, com todos os nomes pessoais pre-
sentes nas descrições do catálogo (Figura 5):
Ao longo deste capítulo, foi possível observar a vitalidade do
G acesso à informação aos usuários nos arquivos. Tais espaços são
GUARANÁ, Armindo..................................................6-9, 18, 33 constituídos por um grande volume informacional, que, em al-
L guns casos, não chega a ser tratado adequadamente pelos pro-
LIMA, Abdias..........................................................................40 fissionais, por desconhecerem o que vem a constituir o acervo
LIMA, Hemerto.......................................................................14
e que fontes poderiam contribuir para o atendimento e desen-
LIMA, Sônia Maria van Dijok.................................................42
LINS, Daniel Soares................................................................47 volvimento de pesquisas na instituição.
LOPES, Adriana Dias..............................................................47 Os instrumentos de pesquisa são frutos de um tratamento
K
documental adequado e realizado durante a gestão de
KURY, Adriano da Gama........................................................49
documentos, tornando-se um elo entre o usuário e as fontes in-
Figura 5: Recorte do Índice Onomástico. Fonte: Leal (2020, p. 56). formacionais, através de breves descrições que facilitam o pro-
cesso de busca e recuperação da informação.
Nessa perspectiva, a idealização do “Catálogo Seletivo de Fon-
É necessário destacar que estão disponibilizados no catálogo tes Metalinguísticas” resulta da consideração de que o IHGSE
os fac-símiles representativos de algumas fontes metalinguís- ainda necessita de instrumentos de pesquisa atualizados se-
ticas, à guisa de ilustração e para estimular o leitor a ter acesso gundo as normas arquivísticas, mas principalmente de catálo-
aos documentos. Nesse viés, considera-se também que, graças gos voltados a áreas específicas do conhecimento, a exemplo
às normas descritivas utilizadas no referido catálogo, o usuá- das ciências da linguagem, atraindo potenciais usuários para
rio do Instituto pode conhecer com mais exatidão o que vem estudos no local e contribuindo, assim, para o desenvolvimen-
a representar o documento, contribuindo para satisfazer sua to de novas pesquisas em espaços que salvaguardam a nossa
necessidade informacional ou mesmo fomentar o desenvolvi- memória cultural.
mento de outras pesquisas.
Deste modo, espera-se que o catálogo e o disposto neste ca-
pítulo contribuam para a sensibilização das unidades de in-
formação em investirem em instrumentos de pesquisa, ao
apontar os subsídios necessários para sua construção, mas ao
mesmo tempo contribuir para a reunião de corpora para estu-
dos linguísticos, em especial para a história e historiografia da
língua portuguesa do Brasil.
30
l REFERÊNCIAS LEAL, M. B. A. L. Catálogo de fontes metalinguísticas: estudo
exploratório dos fundos pessoais do Instituto Histórico e Geográfico
ARQUIVO NACIONAL. Dicionário brasileiro de terminologia de Sergipe (IHGSE). 2020. 186f. Dissertação (Mestrado Profissional em
arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005. Gestão da Informação e do Conhecimento) – Universidade Federal de
ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. Catálogo seletivo de documentos Sergipe, Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, São
referentes aos africanos e afrodescendentes livres e escravos. Curitiba: Cristóvão, SE, 2020.
Arquivo Público do Paraná, 2005. LIMA, L. Catálogo do Arquivo Professor António Lino Neto. Lisboa:
BARRETO, L. A. Fernando Porto. Revista do IHGSE, Aracaju, n. 35, p. 289- CEHRUCP, 2012.
291. 2006. LOPEZ, A. P. A. Como descrever documentos de arquivo: elaboração de
BELLOTTO, H. L. Arquivos permanentes: tratamento documental. 4. ed. instrumentos de pesquisa. São Paulo: Arquivo do Estado, 2002.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. PAES, M. L. Arquivo: Teoria e Prática. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
CALIL, D. X. Estudo de usuários do Arquivo Histórico Municipal de Santa
Maria: Um caminho indicativo para a proposição de ações de difusão PRADE, A. M.; PEREZ, C. B. A importância da gestão documental no
arquivística. 2009. Monografia (Especialização em Gestão de Arquivos) - contexto do acesso aos documentos e difusão dos arquivos. ÁGORA,
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2009. Florianópolis, v. 27, n. 54, p. 226-253, jan./jun. 2017.
CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS. ISAD(G): Norma Geral SANTOS, V. M. Josefina Leite: vestígios de uma professora da Faculdade
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Nacional, 2000. DE EDUCAÇÃO, 4., 2004, Goiânia. Anais […], Goiânia: SBHE, 2004. p. 1-10
CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS. NOBRADE: Norma Brasileira de SILVA, M. C. D. C. Os instrumentos de pesquisa das instituições
Descrição Arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2006. custodiadoras de acervos arquivísticos na cidade do Rio de Janeiro.
Revista Analisando em Ciência da Informação - RACIn, João Pessoa,
COSTA, R. F.; LEAL, M. B. A. Fontes metalinguísticas nos arquivos pessoais v. 4, n. especial, p. 402-424, out. 2016. Disponível em: http://racin.
do IHGSE. In: GONÇALVES, E. C. B.; SOUZA, E. P. M.; PEREIRA, N. S. S. arquivologiauepb.com.br/edicoes/v4_nesp. Acesso em 10 fev. 2021.
História das práticas filológicas, linguísticas e socioculturais da escrita:
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CUNHA, M. B.; CAVALCANTI, C. R. O. Dicionário de biblioteconomia e abr. 2013.
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TESSITORE, V. Como implantar centros de documentação. São Paulo:
GONÇALVES, M. F.; BANZA, A. P. O projecto MEP-BPEDig: uma biblioteca Arquivo do Estado, Imprensa Oficial, 2003.
digital para a Historiografia da Língua Portuguesa. In: ENCONTRO
INTERNACIONAL DA ASSOCIAÇÃO DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA DA
AMÉRICA LATINA (ALFAL), 16., 2011, Madrid. Actas [...] Alcalá de Henares:
Madrid, 2011. 
31 CAPÍTULO 3
SEGURANÇA E PRIVACIDADE DOS DADOS A PARTIR DATA SECURITY AND PRIVACY FROM THE USE OF TAG RFID IN
DO USO DA TAG RFID EM CARTÃO INSTITUCIONAL INSTITUTIONAL CARD OF UNIVERSITY LIBRARY FOR ANALYSIS
DE BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA PARA ANÁLISE DO OF USER BEHAVIOR
COMPORTAMENTO DO USUÁRIO

Thiago Lima Souza


Telma de Carvalho

RESUMO ABSTRACT
As tecnologias proporcionam mudanças constantes nos cenários Technologies provide constant changes in everyday scenarios
cotidianos e modificam a forma como as pessoas têm se compor- and modify the way people have behaved, related and expres-
tado, relacionado e expressado suas experiências. Neste sentido, sed their experiences. In this sense, the research proposed to
a pesquisa se propôs discutir a segurança e privacidade dos dados discuss the security and privacy of the data from the use of the
a partir do uso da tag de identificação por radiofrequência (RFID) radio frequency identification tag (RFID) regarding its implan-
quanto à sua implantação em cartão institucional para análise do tation in an institutional card to analyze the user’s behavior, ex-
comportamento, experiência e frequência do usuário em uma bi- perience and frequency in a university library, the BICEN/UFS,
blioteca universitária, a BICEN/UFS, por meio da identificação de by identifying their geolocation. A privacy policy is also presen-
sua geolocalização. Apresenta-se, também, diretiva de privacida- ted in order to mask the data with a unique identifier, process
de, a fim de mascarar os dados com identificador único, proces- of data recovery and replacement of the institutional card with
so de recuperação dos dados e reposição do cartão institucional user history. It is considered that, although the proposal was
com histórico dos usuários. Considera-se que, embora a propos- submitted to BICEN / UFS, it serves as a parameter for other uni-
ta tenha sido apresentada à BICEN/UFS ela serve de parâmetro versity libraries.
para outras bibliotecas universitárias.

PALAVRAS-CHAVE: Bibliotecas Universitárias. Segurança KEYWORDS: University Libraries. Data Security and Privacy.
e Privacidade de Dados. RFID. Comportamento do Usuário. RFID. User Behavior. Information and communication
Tecnologia da Informação e Comunicação. technology
32
1 l INTRODUÇÃO são no processo de identificação e segurança do objeto além de
permitir sua aplicação em inúmeros segmentos, a exemplo de:
bibliotecas, transportadoras, empresas, entre outros. O RFID é
A internet é considerada o grande marco da sociedade contem-
um sistema que utiliza um sensor baseado em tags de códigos
porânea, o que, consequentemente, veio a impactar as diver-
de barras que contêm informações variadas segundo a caracte-
sas áreas do conhecimento e culturais. Nesse sentido, ainda
rística do produto, ou seja, do objeto físico (HAHN, 2012), onde
se notam mudanças de comportamento dos usuários tanto no
são instalados os módulos leitores das tags e replicada a infor-
ambiente físico, quanto digital, em seu processo de busca pela
informação. Os avanços da tecnologia da informação e comu- mação através de um servidor em nuvem, que interpreta e ar-
nicação, especificamente as mais evidentes, como: inteligência mazena as informações daquele local.
artificial, Big Data, Internet das Coisas (IoT), possibilitam maior Nesse tocante, notou-se que o RFID está sendo utilizado em
flexibilidade na comunicação, disseminação, compartilhamen- processos específicos nas bibliotecas, como: autoatendimento
to, análise e fluxo da informação compreendendo as predile- (empréstimo e devolução), segurança do item (livros, periódi-
ções e necessidades dos seus usuários. cos, por exemplo) e inventário. Sua interligação numa interface
Com o advento da internet e de suas tecnologias, a forma como baseada em IoT torna o ambiente inteligente, além de otimi-
as sociedades se relacionam modifica-se cada vez mais, espe- zar serviços e aprimorar o fortalecimento com os usuários, pois
cialmente pelas tecnologias inteligentes, autônomas (LEVY, estes são agentes de compartilhamento e disseminação da in-
1993) e que não dependem da ação do homem para que in- formação. Outra característica das tags é a mobilidade (acesso a
terpretem, entendam e partam para tomadas de decisões, em qualquer momento), flexibilidade (escalabilidade de metada-
conformidade com as ações humanas. dos) e baixo investimento. O RFID demonstra ser uma aplicação
Sobrepondo aspectos e cotidianos, não é de hoje que somos com grande versatilidade podendo ser usado para: inventário,
atores e por assim dizer, vivemos numa trama e interligados empréstimos, rastreamento de itens, estudo de usuários e no
por nós, seja na interação Human to Machine ou Human to Hu- intercâmbio de informações. Todavia, é necessário que se te-
man, ou, como apontado por Castells (2003), numa sociedade nham critérios no seu uso partindo do princípio da confidencia-
em rede. Os avanços tecnológicos possibilitam maior abertu- lidade das informações dos usuários.
ra no acesso à informação. Considerando a versatilidade, a produção de dados e informa-
Diante das tecnologias inteligentes baseada em IoT, destaca- ção nas comunidades, as tags têm uma atividade fundamental
-se a identificação por radiofrequência – RFID, usado na iden- na coleta dos dados, o que permite mensurar preferências,
tificação de objetos, por meio de uma tag ou etiqueta, onde é podendo as informações serem utilizadas na elaboração de um
possível informar a localização exata do usuário em seu deslo- plano de Marketing, na criação e/ou na melhoria de serviços vol-
camento, ou seja, do físico para o virtual, trazendo maior preci- tados a um determinado público.
33
Partindo para o cenário das bibliotecas, dentre as diversas apli- também às demais bibliotecas interessadas elaborarem proje-
cações e dispositivos apontados, a tecnologia RFID desponta tos para uso de RFID com sistema de geolocalização de usuários
com maior potencial para inserção em serviços das bibliotecas, em cartões institucionais da comunidade acadêmica.
conforme destacam Stefanidis e Tsakonas (2015). Em um cenário real, os usuários/clientes de uma biblioteca dia-
Considerando o potencial do RFID e, ao se levantar a literatura riamente têm experiências/comportamentos que muitas vezes
existente sobre aplicações desse dispositivo nas bibliotecas bra- não são identificados, a exemplo de buscarem por informações
sileiras, nota-se que o cenário nacional ainda demonstra timi- que vão além da área do conhecimento do seu curso de forma-
dez no tocante da sua implementação para melhorias dos pro- ção ou mesmo por interesse pessoal e circulando por outros es-
dutos e serviços, a partir das necessidades informacionais dos paços na biblioteca. Se for analisado o fluxo diário de usuários
seus usuários, diante de suas experiências e comportamentos. na biblioteca universitária, pode-se vislumbrar que suas neces-
Diante do exposto, este trabalho levanta como problema de sidades vão além do empréstimo do livro, devolução e renova-
pesquisa: como expandir as aplicações de RFID com geolocali- ção. Quantas vezes o mesmo indivíduo utiliza a biblioteca por
zação que promovam o conhecimento da circulação dos usuá- mês? Por ano? Por semana? Por dia? Qual o espaço de sua prefe-
rios nos espaços da biblioteca universitária? Para responder a rência? O que ele tem pesquisado além da sua área de interesse
este questionamento, traçou-se como objetivo geral: apresen- (formação)? Essas são perguntas pontuais que atestam que um
tar proposta de um sistema de RFID com geolocalização para controle por RFID, com geolocalização, forneceria dados que
circulação de usuários nos espaços da biblioteca BICEN/UFS. Os seriam mais difíceis de serem coletados manualmente, no dia
objetivos específicos foram delimitados em: a) identificar quais a dia da biblioteca. São estas abordagens que a pesquisa ora
aplicações com RFID foram utilizadas em bibliotecas universi- apresentada aponta como fatores que podem ser mensurados
tárias para melhoria de suas atividades ou produtos e/ou ser- com a utilização do sistema de RFID a partir de sensores com
viços, a partir de levantamento sobre relatos de experiência na geolocalização instalados nos espaços da biblioteca e, no caso
literatura nacional e internacional; b) identificar a possibilida- específico, da BICEN/UFS.
de de implementação do serviço de análise do comportamento
e de experiências dos usuários a partir de sua locomoção pelos Em seu livro A Informação, James Gleick reverbera o pensamen-
espaços da biblioteca universitária, por meio da geolocalização to de Alan Turing, o qual questionava: “serão as máquinas capazes
e c) elaborar parâmetros que visem a privacidade e segurança de pensar?”. Nesse sentido, elementos obtidos com a coleta dos
dos dados coletados dos usuários em estado de uso dos espa- dados acima citados, a partir de um sistema baseado em RFID e
ços da biblioteca. Ainda se elaborou o produto instrucional de- geolocalização, efetivamente, possibilitam uma melhor toma-
nominado “Diretrizes para implementação de análise de com- da de decisão. A complexidade de um ambiente com grande
portamento e experiência do usuário em bibliotecas a partir volume de dados e por conseguinte, informação, requer nortea-
do cartão institucional com RFID”, que viabiliza à BICEN/UFS e mento na gestão da informação e do conhecimento.
34
Diante do “Overland Information” (sobrecarga de informação, Consequentemente, a gestão da informação tem como princípio
tradução nossa) Ortega y Gasset (2006) citam que a Ciência da determinar a melhor decisão a ser tomada, desta forma, enten-
Informação (C.I) tem papel fundamental no processo de [In]for- de-se por gestão da informação a ação de reduzir os excessos,
mar para formar, e segundo Capurro e Hjorland (2007, p. 39): otimizando seu armazenamento, disponibilidade, circulação e
recuperação de maneira precisa e sem ruído (ARAÚJO, 2010).
[...] se ocupa com a geração, coleta, organização, interpretação, ar- No entanto, a gestão da informação deve ser essencialmente
mazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso da
informação, com ênfase particular, na aplicação de tecnologias mo-
executada com “práticas gerenciais que permitem a constru-
dernas nestas áreas. ção, a disseminação e o uso da informação”, conforme apontam
Souza, Dias e Nassif (2011, p. 5), mesmo com limitações sobre-
Ou seja, preocupa-se com todo o processo da informação, des- postas ao seu devido funcionamento.
de sua geração até ao uso que se faz dela, utilizando, para isso,
A justificativa para escolha do tema apresentado parte da pos-
tecnologias modernas.
sibilidade de demonstrar que é possível o uso da tecnologia do
Segundo Araújo (2014, p. 23) a Ciência da Informação consiste: RFID nas atividades desenvolvidas nas bibliotecas universitá-
rias brasileiras para se conhecer as áreas de circulação do usuá-
[...] na construção de modelos e sistemas que garantam um trans-
porte mais rápido, mais barato e mais eficiente das mensagens ou rio nestes ambientes. A motivação está diretamente relaciona-
sinais que são trocados entre diferentes sujeitos [...] sobretudo na da ao estudo do comportamento e experiência do usuário no
conformação dos motores de busca na internet. ambiente da biblioteca, com implementação do RFID e geolo-
calização para análise das informações e dos dados coletados
Isso implica na relevância de uso das tecnologias inteligentes, para tomada de decisão inteligente, proporcionando otimiza-
nos espaços de informações (biblioteca), onde todo o aparato ção nos serviços, produtos e ambiente da biblioteca. Acredita-
tecnológico tende a cooperar nas tomadas de decisão sendo es- -se que essa utilização traria grandes benefícios às bibliotecas.
sencial que as bibliotecas se reinventem, sobretudo no proces-
so de informar e de entender, de fato, o seu usuário. Como produto final da dissertação de mestrado apresentada ao
PPGCI/UFS e da intervenção realizada na BICEN/UFS, elaborou-
As tecnologias são parte da engrenagem no ciclo informacional -se o documento “Diretrizes para implementação de análise de
e construtivista no que tange ao conhecimento. Nesse sentido, comportamento e experiência do usuário em bibliotecas a partir
os paradigmas estabelecidos na pesquisa consistem no físico, do cartão institucional com RFID”, que permite a realização de
a partir da materialização significativa da informação em con- projeto para averiguar a funcionalidade do RFID com sensores de
junto com seus suportes tecnológicos e, também, no social, geolocalização nos ambientes da BICEN/UFS relacionados aos
quando se tem os usuários se apropriando da informação de acervos, à área de empréstimo e de devolução e de alguns pontos
modo suscetível, mediados pelas tecnologias de acesso e de re- da área de circulação, como: estudo coletivo e individual, pois é
cuperação da informação (ARAÚJO, 2014). perceptível o volume na circulação entres os espaços.
35
A metodologia utilizada para realização da pesquisa partiu do le- Na definição mais comum, a segurança está referida a ‘um mal a
vantamento bibliográfico para verificar as possibilidades do uso evitar’ (Aquino, século XIII, 1ª parte da 2ª parte, questão 40, art.º 8º)
– por isso segurança é a ausência de risco, a previsibilidade, a certe-
do RFID em bibliotecas nacionais e internacionais. Constatou-se za quanto ao futuro. Risco é qualquer factor que diminui a previsibi-
que há um baixo número de publicações nacionais sobre esta te- lidade e portanto a certeza sobre o futuro (MATOS, 2001, s/p).
mática, sendo recuperado em volumes mais expressivos nos veí-
culos internacionais de comunicação. Trata-se, ainda, de pesquisa A segurança e a privacidade dos dados pessoais ainda são um
exploratória, por ser uma temática com baixo índice de publica- desafio para o Direito, a exemplo das sanções recentes da Lei Nº
ções relacionados às bibliotecas, no viés do comportamento dos 13.709, de 14/08/2018, de Proteção de Dados Pessoais que versam
usuários. Para a pesquisa bibliográfica utilizou-se bases de dados para melhor entendimento de termos como: dados pessoais, da-
consagradas na área da Biblioteconomia e Ciência da Informação. dos sensíveis, dados de conexão e privacidade (BRASIL, 2018).
O sancionamento da Lei 12.965/2014 (BRASIL, 2014), mais conhe-
cida como marco civil da internet no Brasil, traz aspectos impor-
2 l INTERNET DAS COISAS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS tantes no que concerne à questão da privacidade, quando no seu
Art 3º parágrafo II e III, garante a proteção da privacidade e, conse-
Com o avanço das tecnologias baseadas em IoT, os desafios se quentemente, proteção dos dados pessoais, na forma da lei. É im-
propagam considerando o grande volume dos dispositivos co- portante destacar que os dados coletados são a partir dos ‘dados
nectados, da arquitetura, da interoperabilidade, no armaze- de conexão’, nesse entendimento, foi sancionada a Lei 13.709/2018
namento e pela segurança e privacidade dos dados coletados. (BRASIL, 2018), que dispõe sobre a proteção dos dados pessoais
Atualmente, discute-se o quesito segurança e privacidade com e altera a Lei 12.965/2014 (BRASIL, 2014) (marco civil da internet)
maior atenção e sensibilidade. No que concerne à segurança, trazendo melhorias quanto ao tratamento dos dados, pois em seu
uma vez que o dispositivo esteja na rede, ele pode ser acessado art. 4º determina que a lei não se aplica ao tratamento de dados
de qualquer lugar, o que o torna, de certo modo, vulnerável a pessoais e suas prerrogativas do parágrafo II e alínea b, mas que
ataques. Com o crescente números de dispositivos conectados possibilitam o uso destes dados para fins de exclusividade e, con-
num ambiente IoT, é um desafio a segurança da informação, sequentemente, acadêmicos (pesquisa), ou seja, quando a ativi-
armazenamento, recuperação e acesso a todas essas informa- dade não infringir a privacidade e obrigatoriamente mantiver sob
ções, conforme apontam Atzori et al. (2010). anonimização dos dados pessoais, não há infração.
Para Matos (2001), a palavra ‘segurança’ tem origem no latim, Segundo Pandey e Mahajan (2010), a privacidade é um desa-
que significa sem preocupações. Assim, compreende-se que fio, no entanto, a sua implementação deve estar vinculada a
esta visa preservar a integridade. Não é objetivo deste trabalho princípios e valores éticos e morais da biblioteca, bem como
aprofundar-se no tema, todavia, faz-se necessário elucidar as- do profissional bibliotecário, com garantias legítimas de uso
pectos relacionados a este tema. restrito das informações.
36
O uso de bibliotecas de tecnologia RFID serve para legitimar a 3 l NORMA ISO 28560 E ARQUITETURA
tecnologia aos olhos da comunidade. Portanto, cabe à comunida- DE GERENCIAMENTO DE DADOS
de bibliotecária assegurar que a tecnologia seja desenvolvida em
conjunto com os princípios de privacidade estabelecidos e que
qualquer uso de biblioteca de RFID siga as diretrizes de práticas re-
Nesta seção define-se, o padrão de gerenciamento de dados
comendadas, consistentes com os valores da biblioteca (PANDEY;
MAHAJAN, 2010, p. 7, tradução nossa). através da norma ISO e sua importância no processo de elabo-
ração no sistema RFID. Optou-se pela utilização de padroni-
Considerando o assunto privacidade, que envolve os dados sen- zação a partir da Organização Internacional de Normalização
síveis e pessoais, a implementação de um sistema RFID e a co- (ISO), Norma 28560 criada em 2011, também conhecida como
leta dos dados estará preconizada na tríade para segurança dos modelo dinamarquês de estrutura de dados para sistemas
dados, conforme orientam Pratt e Zhong (2015, p. 147): RFID para bibliotecas. A norma ISO 28560 - Informação e do-
cumentação: identificação de radiofrequência em bibliotecas
1 I Confidencialidade – Estabelece acesso restrito às informações
contidas nas tags, levando-se o volume de intercâmbio dentro do
regulamentou os principais parâmetros de sistemas de RFID,
ambiente da biblioteca; a medida resultará, ainda, no não acesso além das estruturas e protocolos de intercâmbio de dados
ao sistema em geral, para usuários não autorizados. para bibliotecas com sistemas automatizados. A Norma está
dividida em 4 (quatro) partes, sendo:
2 I Integridade – Valida o intercâmbio dos dados, a partir da análise
detalhada no tocante de alteração ou não daqueles dados, ou ain- a I Elementos de dados e guia geral de aplicação.
da, se foram corrompidos em algum momento. Com isso, poderão
estar livres de alterações. b I Codificação de elementos de dados RFID baseada nas regras da
ISO/IEC 15962.
3 I Disponibilidade – Consiste em disponibilizar os dados, sempre c I Codificação de comprimento fixo.
que houver a necessidade. Deste modo, as informações disponíveis
devem acontecer em tempo real ou com o menor índice de atraso. d I Codificação de elemento de dados para identificação por
radiofrequência baseada nas regras da ISO/ IEC 15962 em tags RFID
Considerando os aspectos acima, percebe-se que a privacidade com uma memória compartilhada.
dos dados são fundamentais para o exercício livre da pesquisa.
A seguir, serão abordados os aspectos relacionados aos parâ- A primeira parte compreende padronizar elementos de dados
metros para utilização de etiqueta RFID. utilizados para catalogação de itens da biblioteca armazenados
na memória da tags, este com expansão para registrar até 26
elementos, dos quais dois são padronizados e os demais fazem
a entrada de registro, mediante a necessidade, conforme Ti-
moshenko (2017). Segundo o autor, a segunda parte estabelece
37
regras de estruturação do layout da tags possibilitando a com- Ainda, segundo Timoshenko (2017), o estabelecimento da tipo-
preensão dos bits da memória, tornando-a flexível e eficiente logia em dois modelos traz interoperabilidade e é convenciona-
e a terceira parte está embasada no Padrão Nacional Dinamar- do aos sistemas de RFID utilizados na maioria das bibliotecas
quês (também conhecido como modelo de dados) e a experi- seguindo o modelo dinamarquês.
ência de sua aplicação em outros países. Desta forma, o layout Além da estrutura de dados, é necessária a integração ao siste-
dos dados e dos elementos estabelecidos no padrão baseiam- ma de gestão da biblioteca, conforme destacam Pratt e Zhong
-se em uma estrutura de dados de bloco fixa, composta por (2015, p. 146-151, tradução nossa):
campos de comprimento fixo e variável (TIMOSHENKO, 2017).
este banco de dados central é um ponto de consulta para as transa-
Para Timoshenko (2017), a opção em utilizar essa norma se dá por ções que ocorrem na biblioteca. A emissão de mesas, estações de
sua consistência em relação à estrutura de dados e ao expressivo auto-atendimento e funcionalidade de back-end, como classifica-
número de tags RFID adotadas em bibliotecas do mundo inteiro. dores de livros, interage com o banco de dados para emitir, devol-
ver e renovar itens. Um padrão comum para comunicação de dados
A adoção dessa norma é explicada pelo fato de que a codificação com o LMS é o Protocolo de intercâmbio padrão (SIP), que é uma
baseada nas regras do modelo dinamarquês tornou-se um padrão oferta proprietária que historicamente foi oferecida pela 3M e que
internacional para todas as bibliotecas, mas este padrão foi adota- foi publicada abertamente para uma ampla utilização. O SIP é um
do pelo Comitê Técnico Conjunto da ISO/IEC. Um grande número protocolo simples e com pouca sobrecarga que abrange transações
de bibliotecas, como: check-in (devolução), check-out (emissão),
de bibliotecas em todo o mundo tem um enorme número de do-
renovação, solicitação de informações do usuário, etc.
cumentos marcados com tags RFID da Banda HF codificada pelas
respectivas regras. A transição para outros tipos de tags e métodos Para operacionalizar o sistema de tags nos padrões atuais é
de codificação ainda é uma tarefa difícil (TIMOSHENKO, 2017, p.
280-284, tradução nossa). fundamental estabelecer que a arquitetura de banco de da-
dos seja mais dinâmica, pois ele será responsável por arma-
O autor comenta, ainda, que a quarta etapa estabelece o modelo zenar e identificar cada item, geralmente identificado pelo
padrão das tags bem como sua codificação e são focadas em tags sistema de biblioteca integrado ou sistema de gerenciamento
RFID de rádio com um arranjo de memória de bloco estabeleci- de bibliotecas (LMS) e ao SIP.
do pela Norma Código de Produto Eletrônico (EPC) global como Em termos de proposta de intervenção realizou-se um projeto
Classe 1 Geração 2 (EPCC1g2). O padrão é com foco em tags SHF para que o ambiente do acervo e as áreas de estudos coletivos
(860–960 MHz), comumente utilizados em dois tipos de tags: e individuais da BICEN/UFS pudessem ser adaptados para ins-
talação de sensores que permitiriam verificar, por geolocaliza-
a I HF - GOST R ISO / IEC 18000-3 Mode3; EPC Classe 1 HF.
ção, os caminhos que os usuários percorreriam nestes espaços,
a fim de verificar seus comportamentos/experiências na busca
b I SHF - GOST R ISO / IEC 18000-6 tipo C; EPCC1g2.
de informação. Para tanto, as tags seriam identificadas por um
código com ID de usuário, via cartão institucional.
38
Nesse sentido, a “privacidade requer dinamização na proteção os números 1 ou 2, que representam o primeiro ou o segundo
dos dados pessoais”, conforme aponta Rodotá (2008) conside- semestre letivo da matrícula. A letra G, representa a primeira
rando que a sua coleta terá princípios na tríade da segurança letra do curso, no exemplo, Geografia; 86 indica o ano de nasci-
dos dados visando manter o direito da personalidade. mento do aluno e o gênero seria representado por feminino (F)
A construção desta diretiva para instalação dos sensores na ou masculino (M).
BICEN e de tags de identificação nos cartões institucionais dos Sigla Identificação
usuários, deu-se em observância à possibilidade de ser menos MF Nome do aluno(a)
invasivo aos dados dos usuários, adotando assim um ID único
1837 Número da matrícula, 18 (ano) e 37 (últimos d[pgtos)
para cada usuário. Neste tocante, buscou-se ainda utilizar-se de
-1 Semestre letivo da matrícula
informações que pudessem ser mais eficientes para o biblio-
G Curso (Geografia)
tecário no planejamento da tomada de decisão, melhorias do
86 Ano de nascimento
layout e organização do acervo, diante das necessidades identi-
F Gênero/Sexo
ficadas dos seus usuários.
O cartão institucional por sua vez, é um meio de identificação
Quadro 1: Detalhamento por Sigla. Fonte: Detalhamento por Sigla.
que é portado pelos alunos, professores e todo corpo técnico
de uma Universidade em geral; como consequência, a implan- O quadro 2 representa a unificação dos descritores simplifica-
tação da tag RFID não infere na estética do cartão, e por fim, o dos, gerando um ID único e intransferível, onde todo histórico
cartão permitirá, que os sensores sejam acionados quando da do usuário ficará armazenado em um servidor em nuvem, po-
proximidade do usuário nos pontos sinalizados na biblioteca. dendo ser acessado a qualquer momento apenas pelo respon-
Os quadros 1 e 2 exemplificam a diretiva e o detalhamento para sável pela gestão da biblioteca. A determinação dessa diretiva
a identificação dos dados do usuário na tag RFID. tem como medida tornar todos os dados privados e identificá-
veis pela aplicação implementada.
No quadro 1, gerou-se, para cada descritor de identificação,
uma sigla que funcionará como um metadado, sendo reconhe- Diretiva com Mdo Privacidade
cido apenas pelos sensores. ID Único MF-1G6F
Assim, a sigla MF, por exemplo, simboliza hipoteticamente as
iniciais de um usuário, o número 1837 simboliza o número de Quadro 2: Diretiva de Privacidade. Fonte: Souza (2019).
matrícula do aluno, onde 18 corresponde aos dois últimos alga- Este seria, portanto, o código utilizado nas tags RFID que seriam
rismos do ano de entrada na universidade, no caso, 2018, e 37 colocados nos cartões institucionais dos alunos por meio de uma
correspondem os dois últimos dígitos do número da carteira do etiqueta autocolante. A medida adotada para a pesquisa do Mes-
aluno. Para identificar o semestre do aluno, após o “traço”, virão trado Profissional apresentada ao PPGCI/UFS tem por finalidade
39
proteger os dados pessoais e sensíveis dos usuários. Desta forma, Caso se julgasse interessante, outras informações poderiam ser
permitiria analisar quais as áreas de preferência dos usuários na obtidas, como: o curso que estão realizando na graduação, a
biblioteca, dentre aquelas que possuiriam os sensores. idade, o ano de ingresso e o gênero, por exemplo.
Sendo assim, a presente pesquisa apresenta como conhecer o
[...] uma biblioteca inteligente pode perceber a posição de um usuá-
rio com GPS, Wi-Fi e RFID; ele pode analisar o comportamento do comportamento do usuário no ambiente da biblioteca, utili-
usuário com a aquisição de imagens e rastreamento de trajetória; e zando-se os espaços de circulação e acervo da BICEN/UFS e suas
pode adaptar os serviços à idade, nacionalidade, educação e outras preferências, não se restringindo somente ao momento em que
características (CAO; LIANG; LI, 2018, p. 811-825, tradução nossa). se efetiva um empréstimo domiciliar.
A proposta de se implantar este padrão pressupõe nova possibi- Partindo-se para o cenário de intervenção, ou seja, os locais na
lidade no estudo de usuários, em tempo real e dinâmico. Com o BICEN/UFS para instalação dos sensores, estipulou-se que os
apontamento de análise de experiências e comportamento do módulos leitores deveriam ser posicionados em zonas de inter-
usuário, a BICEN/UFS poderá expandir seus produtos, serviços e rogações – local onde a comunicação entre a tags e o leitor acon-
tornar o ambiente mais inteligente e eficaz. tece – para que ocorra a identificação o usuário logo ao aden-
trar na biblioteca, considerando-se que a atividade do usuário
Vale ressaltar que a segurança e a privacidade dos usuários
não esteja limitada apenas na utilização de serviços como em-
deverão ser resguardadas, pois a parametrização dos dados e
préstimo e devolução. A este respeito, sugere-se consultar as
das informações são mascaradas tendo acesso restrito a estes
“Diretrizes para implementação de análise de comportamento
dados somente a gestão da biblioteca. É importante salientar e experiência do usuário em bibliotecas a partir do cartão insti-
que as informações contidas nas tags RFID estarão restritas aos tucional com RFID”3, que contém todas as informações necessá-
ambientes da biblioteca. rias sobre os requisitos para esse fim.
Fazendo uso das prerrogativas de Brasil (2018), que dispõe so- Nesse sentido, ressalta-se que o projeto de geolocalização com
bre a proteção dos dados pessoais e que altera a Lei 12.965/2014 o uso de RFID proposto para BICEN/UFS baseou-se em dados
(marco civil da internet), o art. 4º prevê, nos termos do tratamen- de conexão, sendo utilizada como métrica a análise dos dados
to de dados pessoais, no parágrafo II, alínea b, que ao utilizar-se considerando-se apenas um metadado, o ID do usuário e não o
dos dados pessoais com a finalidade de pesquisa acadêmica, cruzamento de vários dados. Os dados sensíveis, que são aque-
não se considera infração. les que influenciam nas tomadas de decisão serão de uso restri-
Desta forma, para a execução do projeto de instalação de senso- to e fechado ao ambiente da biblioteca, pois será a partir deles
res RFID na BICEN/UFS, as informações dos usuários destinam- que a biblioteca poderá se embasar para melhorias de proces-
-se a conhecer suas áreas de preferência na biblioteca, para fins sos, serviços e de aprofundamento no conhecimento do com-
de análise do comportamento e das experiências diárias, o que portamento do usuário.
poderia resultar em novos produtos/serviços oferecidos a eles. 3 Disponível em: http://bibliotecas.ufs.br/pagina/20763-tutoriais-e-guias-de-pesquisa
40
Pensando em uma forma de minimizar os riscos de acesso às Descarte
Etiqueta
informações e no descarte do lixo eletrônico ou da perda do car- RFID
tão institucional as tags RFID, este autor elaborou um processo
com etapas para serem seguidas como proforma de segurança.
Usuário
A figura 1 aponta caminhos a serem seguidos para os casos de Usuário
graduado
graduando
perda e descarte do cartão institucional com RFID. (sem vínculo)

1 I Descarte - Se o usuário for graduar (inativo) ocorrerá Bloqueio - Devolução da Revisão e


exportação das
Bloqueio - Comunicado
Backup identificação Backup (pelo usuário)
inicialmente o bloqueio e o backup das informações. Em informações
um segundo momento, o usuário é obrigado a entregar o
Descarte
cartão institucional, como medida preventiva e todas as (manual), empresa
Bloqueio -
Backup
informações serão revisadas, para haver a conformidade especializada em
lixo eletrônico
das informações e em seguida exportadas para o banco de Emissão de nova
dados. Por fim, para a realização do descarte manual, ex- identificação (nova
Figura 1: Etapas de descarte e/ou perda do cartão série) - recuperar
trai-se apenas a tag do cartão institucional (caso não seja institucional com RFID. Fonte: DSouza (2019). histórico do usuário
possível a extração, o descarte deverá ocorrer também
do cartão institucional). A seguir a empresa especializa- Vale ressaltar que as etapas preconizadas devem ser adota-
da em coleta de lixo eletrônico deverá ser acionada pela das, observando-se dois aspectos fundamentais: privacidade
biblioteca para o devido recolhimento (o ciclo de coleta dos dados e diminuição de impactos no meio ambiente, na
deve ocorrer semestralmente). geração de conduta consciente para os usuários e administra-
dores do sistema.
2 I Perda/extravio - Se o usuário for graduando (ativo) fica-
Com a velocidade que as várias tecnologias estão se desenvolven-
rá obrigado a informar de imediato à gestão da biblioteca do e se aprimorando, no intuito de oferecer às nações maximização
sobre a perda e/ou extravio do cartão. Em seguida deverá das suas atividades, estas, no uso de tais tecnologias, estão ficando
ocorrer o bloqueio do cartão institucional e logo a seguir a cada vez mais dinâmicas em seu crescimento e, consequentemente
realização do backup, armazenado no servidor. Estabele- na degradação do meio ambiente, podendo a poluição eletrônica
ser considerada um dos tipos de lixo que mais vem crescendo no
cer o prazo de 1 (um) dia útil para emissão do novo cartão mundo (FERREIRA; FERREIRA, 2008, p. 160).
de institucional com ID único, e ao final, recuperar as in-
formações (histórico) do usuário. A medida anterior visa estabelecer e evitar prejuízos aos usuá-
rios e ao meio ambiente quanto ao seu descarte, uma vez que
as tecnologias se transformam constantemente, incorrendo na
obsolescência dos dispositivos.
41
4 I CONSIDERAÇÕES FINAIS capazes de controlar a temperatura, identificar risco de incên-
dio, realizar monitoramento em tempo real dos seus serviços,
analisar o comportamento e a experiência dos seus usuários e
A propositura teve por princípio identificar a utilização da tec- prover tomadas de decisões sem a intervenção humana.
nologia RFID com geolocalização em serviços de bibliotecas
universitárias e seu panorama de aplicação em unidades de in- Compreender a interação entre os dispositivos inteligentes, es-
formação nacionais e internacionais. É sabido que as bibliotecas paços de informações e os usuários foi essencial para a proposta
são espaços ricos em informações e, por conseguinte, buscam deste artigo, pois sabe-se que a tecnologia ainda presume au-
fomentar o senso crítico, prover o conhecimento e é um local de sência da segurança e privacidade. Para tanto, a interação con-
interação social. Nesta perspectiva, a implantação de tags RFID vencionada está estabelecida num ambiente de comunicação
no cartão institucional possibilitaria identificar as necessidades mais restrito, tendo sido propostas medidas de segurança para
dos usuários e apontar melhorias, a partir de experiência em- preservação da identificação, como a Diretiva de Privacidade,
basada em comportamentos, o que pode ser mais um aspecto a onde se mascara informações dos usuários por identificador
ser explorado pelas bibliotecas. único, evitando a identificação explicita dos dados. Nesse to-
cante, o mapa de processos em casos de perda/extravio do car-
Desta forma, diante dos objetivos da pesquisa, analisaram-se tão institucional, permite maior segurança para todos os casos.
dois cenários com o uso do RFID em bibliotecas: um no âmbi-
to nacional, onde sua usabilidade está focada em segurança do Considera-se, assim, que identificar a possibilidade de imple-
livro (itens), auto empréstimo e de maneira incipiente e lenta mentação do serviço de análise do comportamento e de experi-
para inventário e, de outro lado, o cenário internacional onde ências dos usuários a partir de sua locomoção pelos espaços da
as discussões sobre a implementação do RFID em bibliotecas biblioteca, por meio da geolocalização, pode levar à melhorias
é crescente, com ênfase em privacidade, segurança dos itens, de produtos e serviços oferecidos, restando à biblioteca decidir-
inventário e rastreamento de itens. Noutro aspecto, vislum- -se sobre a implementação dessa ferramenta.
brou-se assuntos correlatos sobre padrões a serem seguidos no Por conseguinte, diante do baixo índice das produções nacio-
processo de implantação da tecnologia e dos custos-benefícios, nais que possam aliar dispositivos inteligentes e performance
que vêm se tornando emergente. do usuário em bibliotecas, estima-se que este trabalho trará
O protagonismo das tecnologias inteligentes tem tornado os contribuição para área da Ciência da Informação, objetivando
processos das organizações mais dinâmicos e competitivos. avanços técnico-científicos, para insumos diversos a partir do
No entanto, as bibliotecas tentam se adaptar ao meio, o que no uso do RFID, com viés de explorar a segurança e privacidade dos
decorrer dos séculos tornou-se tão natural e fundamental para dados em bibliotecas.
sua concretização. Biblioteca inteligente é um conceito literal
emergente, utiliza-se da implantação de sensores inteligentes
42
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43 CAPÍTULO 4

A MEDIAÇÃO CULTURAL EM BIBLIOTECAS CULTURAL MEDIATION IN UNIVERSITY


UNIVERSITÁRIAS E O SIBIUFS LIBRARIES AND SIBIUFS

Aline Rodrigues de Souza Sales


Cristina Valença de Almeida Cunha Barroso
Martha Suzana Cabral Nunes

RESUMO ABSTRACT
As discussões atuais sobre mediação cultural em bibliotecas uni- Current discussions on cultural mediation in university libraries
versitárias apontam as potencialidades desses espaços na forma- point to the potential of these spaces in the cultural formation
ção cultural dos sujeitos e coletividades envolvidas. Assim, esse of the subjects and communities involved. Thus, this work pro-
trabalho se propôs a investigar como o Sistema de Bibliotecas da posed to investigate how the Library System of the Federal Uni-
Universidade Federal de Sergipe -SIBIUFS vem desenvolvendo versity of Sergipe -SIBIUFS has been developing cultural media-
práticas de mediação cultural em suas unidades. Trata-se de uma tion practices in its units. This is a qualitative approach research,
pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo exploratória e des- exploratory and descriptive, based on bibliographic and docu-
critiva, fundamentada na pesquisa bibliográfica e documental. mentary research. For this research, subsidies were sought in
Para essa pesquisa buscou-se subsídios nas definições trazidas the definitions brought by Quintela(2011), Perrotti and Pieruc-
por Quintela(2011), Perrotti e Pieruccini(2007), Rasteli e Caval- cini(2007), Rasteli and Cavalcante(2014) and Coelho(2012),
cante(2014) e Coelho(2012) que trazem à cena discussões sobre which bring to the scene discussions on cultural mediation and
a mediação cultural e seus processos. Os resultados apontaram its processes. The results pointed to an understanding of the
para a compreensão da importância da mediação cultural e a ne- importance of cultural mediation and the need for more syste-
cessidade de planejamentos mais sistemáticos para que as ações matic planning so that cultural actions are expanded.
culturais sejam ampliadas.

PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca universitária. Mediação KEYWORDS: University library. Cultural mediation.


cultural. Mediação da informação. SIBIUFS. Information mediation. SIBIUFS.
44
1 I INTRODUÇÃO mais recentes sobre os espaços culturais. Nesse entendimento
a biblioteca, enquanto unidade de informação, também atuam
no sentido de  promover a cultura. Para Rasteli (2019) “[...] bi-
Pensar sobre os espaços de informação e o processo de media- bliotecas assumem vital relevância na medida em que podem
ção cultural tem sido uma oportunidade de voltar o olhar para o se estabelecer como centros de informação e cultura, atuando
interior das instituições, identificando como suas práticas têm essencialmente na diminuição das desigualdades sociais, cultu-
contribuído para a ressignificação de ambientes como biblio- rais e econômicas”(RASTELI, 2019, p.16 apud SALES, 2020, p. 12).
tecas, arquivos, museus etc. Para esta pesquisa, priorizou-se in-
vestigar se o Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de O termo mediação cultural, que foi objeto de estudo deste tra-
Sergipe (SIBIUFS) tem planejado e desenvolvido suas ações de balho, tem se destacado nos campos da informação, da comu-
mediação incluindo propostas de atividades culturais voltadas nicação, da cultura e em diversos segmentos. Conforme  Per-
para a comunidade interna e externa. Essas análises permeiam rotti e Pieruccini (2014) percebe-se um movimento crescente
o entendimento de que a mediação cultural nas bibliotecas no sentido de criar de grupos e linhas de pesquisa que discu-
universitárias é um importante catalisador na formação dos su- tem a mediação cultural, mas também  reformas curriculares
jeitos que fazem uso desse espaço, mas também na produção em universidades;  surgimento de associações de profissionais
e circulação dos saberes.  Dias (2003) aponta em suas análises nas áreas culturais; realização de eventos, cursos e publica-
que  a biblioteca universitária tem a função de apoiar a pro- ções científicas relacionados à mediação cultural. Essas ações
dução do conhecimento científico, além de ter uma relevante tem promovido a ampliação das discussões e o fortalecimen-
função social e  “[…]constituem um meio de armazenamento, to do campo da cultura, mas principalmente, tem provocado
tratamento e disseminação de informação”(DIAS, 2003, p. 11). inquietações sobre o papel das unidades de informação nesse
processo. O alargamento do universo discursivo instigado por
Seguindo esse entendimento, compreende-se que as biblio- essas discussões tem contribuído também para despertar a
tecas universitárias podem contribuir para o desenvolvimento necessidade de renovação dos planejamentos estratégicos das
de políticas culturais que promovam na comunidade o acesso bibliotecas, inclusão de cursos de capacitação e contratação de
à cultura através do processo de mediação cultural. A ideia de pessoal espacializado.
mediação cultural tem sido apresentada por alguns autores
como a possibilidade de acesso e compreensão dos aspectos Essas práticas têm reavaliado a influência da biblioteca univer-
pertinentes à cultura, não só no sentido de vivenciar, mas tam- sitária na formação dos seus usuários e promovido um maior
bém para proporcionar a circulação dela. Autores como Quinte- acesso à cultura. Vemos isso nas considerações apresentadas
la(2011), Perrotti e Pieruccini(2007), Rasteli e Cavalcante(2014) por Rasteli e Caldas (2017) que defendem a ideia que a media-
têm apontado os caminhos e entendimentos que configuram a ção cultural pode colaborar através de políticas que auxiliem na
importância do uso da categoria mediação cultural nos estudos democratização do acesso à cultura, com ações que sensibili-
45
zem a comunidade quanto à importância da cultura e dos bens Por meio dessa questão, este trabalho teve por objetivo geral
locais, permitindo conhecer a cultura local e universal. Dessa analisar o processo de mediação cultural e as práticas culturais,
forma, a mediação cultural deve possibilitar o acesso às diver- no âmbito do SIBIUFS. Como objetivos específicos: explorar o
sas formas da cultura. De acordo com esse entendimento Bor- conceito de mediação cultural em Bibliotecas Universitárias;
ba e Martins (2015), defendem que a função biblioteca hoje não relacionar a noção de cultura e comunidade na construção do
está limitada somente à busca de livros. A mesma apresenta processo de mediação; identificar a percepção dos bibliotecá-
uma visão mais ampla ao contexto cultural, possibilitando que rios do SIBIUFS a respeito da mediação cultural. Considerando-
todos possam experimentar e apreciar diferentes formas de ex- -se a importância do processo de mediação cultural nas biblio-
pressões artísticas e culturais.  tecas, a atuação do bibliotecário é fundamental nesse processo.
De acordo com Brito e Vitorino (2017), para que a mediação
Seguindo esse direcionamento, Rasteli (2019) ressalta que o
cultural ocorra na Biblioteca Universitária a presença do biblio-
tema mediação está presente em estudos e pesquisa na Ciên- tecário é essencial, sendo esse um mediador na sociedade que
cia da Informação, contudo a mediação cultural em bibliote- está em constante evolução.
cas deve ser aprofundada. Diante do exposto, a escolha deste
tema encontra sua relevância no sentido de contribuir para o Este estudo se justifica devido às mudanças que vêm ocorrendo
na missão da Biblioteca Universitária no contexto cultural. Es-
desenvolvimento científico da mediação cultural no Sistema
sas transformações refletem no processo de mediação cultural
de bibliotecas da Universidade Federal de Sergipe, visto que se
e, consequentemente, no papel do bibliotecário. A Biblioteca
identifica uma escassez de literatura sobre a temática.
Universitária hoje deve ser um lugar de interação, proporcio-
Este artigo apresenta os resultados de um trabalho de disserta- nando aos sujeitos a ampliação do conhecimento através da
ção de mestrado defendida junto ao Programa de Pós-Gradu- cultura. Além disso, é um tema pouco pesquisado e discutido
ação em Ciência da Informação PPGCI (UFS) o qual teve como na Ciência da Informação. 
tema principal a mediação cultural e buscou trazer reflexões
sobre o caráter social da biblioteca universitária como media-
dora cultural.  O problema da pesquisa foi investigar como o 2 I MEDIAÇÃO CULTURAL E AS BIBLIOTECAS
SIBIUFS pode tornar-se um espaço de mediação cultural, vi- UNIVERSITÁRIAS: O CASO DO SIBIUFS
sando o desenvolvimento de práticas culturais e de integração
com a comunidade a qual atende? A problemática que levou a Os estudos demonstram que o processo de mediação transfor-
esta questão, deve-se ao fato que atualmente, no SIBIUFS são ma o conhecimento do indivíduo e amplia a sua visão do mun-
realizadas atividades pontuais voltadas à mediação cultural em do. Nessa perspectiva, o indivíduo que passa pelo processo de
algumas bibliotecas do sistema. mediação deixa de ser um mero recebedor, passando a ser o
46
ator principal na apropriação do conhecimento. Dentro dessa Assim, enquanto a mediação cultural tende a favorecer a
compreensão, Bicheri(2008) defende que o ato de mediar im- aproximação e a ressignificação da cultura, o acesso cultural 
plica necessariamente na interferência do outro sobre a infor- tem como princípio proporcionar o contato do sujeito ou co-
mação exposta e que está sendo mediada. Para esse autor: letividades com a cultura e suas unidades produtoras, dando
oportunidade para que o sujeito também possa ser ele pró-
Mediação envolve a ação de quem intercede, interfere por algo e por prio produtor de cultura. 
outro; implicando em vários caminhos, opções e escolhas. Consta-
tamos que na mediação alguém está entre duas ou mais pessoas/ Nesse processo de construção das subjetividades proporciona-
coisas, facilita uma relação, serve de intermediário, sugere algo, da pela mediação está presente também a visão, participação e
sem agir pela pessoa ou lhe impor alguma coisa. (BICHERI, 2008, p. interpretação do outro e da cultura que ele representa. Por isso,
93 apud SALES, 2020, p. 19).
Rasteli (2019, p. 82 apud SALES, 2020, p. 19) afirma que “[...] o
Assim é possível compreender que a  mediação proporciona trabalho de mediação deverá absorver as diferentes manifesta-
aos sujeitos envolvidos a oportunidade de trocas simbólicas, ções culturais, respeitando-se as identidades culturais das co-
de ressignificar conhecimentos já assimilados e de formar um munidades”. Dessa forma, as atividades culturais devem englo-
constructo mental a partir das experiências vividas que será bar as mais variadas manifestações culturais e artísticas. Essas
único e subjetivo. A partir desse entendimento, Almeida (2008, interações sociais promovidas à luz das práticas culturais tam-
p.3) ressalta que a “mediação está ligada às teorias da ação [...] bém estão presentes dentre as ações das bibliotecas.  Nesse en-
onde as ações são parte do sistema mais amplo e do processo tendimento, Perrotti e Pieruccini (2007, p. 4) afirmam que:
de compreensão intersubjetiva [...] dos quais as ações são co-
Nas bibliotecas, por exemplo, temos ações de mediação envolven-
ordenadas”. Coelho (2012) defende uma compreensão de me-
do processos diferenciados como a constituição de acervos, sua ges-
diação centrada na relação dos sujeitos com a prática cultural, tão e disponibilização ao público, dentre outras de igual relevância
considerando que o processo mediador tende a promover a e que se encontram no mesmo campo de ações.
aproximação e o contato dos indivíduos e/ou coletividades com
as artes. Para esse autor a mediação é constituída de:  Para esses autores o processo de mediação cultural desenvol-
vido nas bibliotecas leva em consideração as práticas intrínse-
Processos de diferente natureza cuja meta é promover a aproxima- cas e extrínsecas da instituição. Isto porque tanto o tratamento
ção entre indivíduos ou coletividades e obras de cultura e arte. Essa dispensado ao acervo, quanto às ações voltadas para o público,
aproximação é feita com o objetivo de facilitar a compreensão da estão envolvidas no processo da mediação cultural. Eles tam-
obra, seu conhecimento sensível e intelectual - com o que se desen-
volvem apreciadores ou espectadores, na busca da formação de pú-
bém entendem que a mediação está relacionada ao processo
blicos para a cultura - ou de iniciar esses indivíduos e coletividades de apropriação da cultura e as formas nas quais usuários e visi-
na prática efetiva de uma determinada atividade cultural (COELHO, tantes se relacionam com o acervo, com os bibliotecários e com
2012, p. 268 apud SALES, 2020, p. 24).
47
o espaço (PERROTTI; PIERUCCINI, 2014). Dessa forma, enten- PRÁTICAS CULTURAIS DEFINIÇÃO
de-se que a mediação é um processo que possibilita que o su- Ação cultural “é um processo com início claro e armado,
jeito adquira e produza sentidos no âmbito da cultura. Oliveira mas sem fim especificado [....] na ação, o
(2014, p.69) também concorda que a mediação é elemento im- agente gera um processo, não o objeto”.
portante no processo cultural, pois é preciso: (2006, p. 112)
Fabricação cultural “é um processo com início determinado, um
[...] compreender a mediação como categoria ativa na relação entre fim previsto e etapas estipuladas que devem
sujeitos e signos; em outros termos, como elemento sempre pre- levar a fim preestabelecido [...] na fabricação
sente nos processos culturais, mas, que se define em relação aos o sujeito produz um objeto”. (2006, p. 12)
quadros, contextos, sujeitos e paradigmas histórico-culturais nos Animação cultural “é a primeira expressão a que se recorreu,
quais se inscreve. contemporaneamente, para indicar o
processo de mediação entre indivíduos
Nesse sentido, de acordo com os autores citados, constata-se e modos culturais genericamente
que a mediação é importante no processo de apropriação cul- considerados”. (2012, p. 53)
tural e que se estabelece também nos espaços das bibliotecas, Quadro 1: Algumas práticas culturais e suas definições.
posisbilitando a aproximação do sujeito/usuário com a cultura. Fonte: Elaborado por Sales (2020) com base em Coelho (2006, 2012).

A mediação cultural é percebida também pelo prisma da aproxi-


mação de sujeitos a produtos e artefatos culturais, como obras de Percebe-se que a ação cultural promove transformação na vida
arte, livros, exposições, espetáculos e ações de incentivo à leitura. do indivíduo, tornando-o um participante do processo, enquan-
Dessa forma, mediação cultural é vista como uma atividade proces- to, a animação cultural compreende atividades pontuais onde
sual, que possibilita o encontro, o acesso e a apropriação (RASTELI;
CAVALCANTE, 2014, p. 47apud SALES, 2020, p. 24). o indivíduo participa de forma parcial do processo. Mas, inde-
pendente dessa tipologia, as práticas culturais estão presentes
Essa apropriação é dinâmica e sofre interferências e ressigni- nas atividades desenvolvidas pelas bibliotecas. De acordo com
ficações a partir do contato com novos elementos. As práticas Sales (2020, p. 27) “ A literatura atual ratifica que o processo de
culturais também funcionam como mecanismos que favore- mediação está presente no cotidiano do fazer do bibliotecário e
cem a aproximação dos sujeitos e a cultura. Para Coelho(2006), que esses processos de mediação são fundamentais para o de-
as práticas culturais podem estar representadas como ação cul- senvolvimento das atividades na biblioteca universitária.”.
tural, fabricação cultural e animação cultural. Elas foram defini- Diante da importância das práticas de mediação cultural nas bi-
das por Coelho (2006)  conforme mostra o quadro 1: bliotecas universitárias apresentadas por esses autores, volta-
mos o olhar para o SIBUFS de modo a perceber se as bibliotecas
vinculadas à Universidade Federal de Sergipe têm desenvolvi-
do práticas culturais voltadas para a comunidade que atende.
48
Dentre as bibliotecas envolvidas na pesquisa podemos citar: Bi-
blioteca Central-BICEN, Biblioteca Comunitária-BICOM, Biblio-
teca da Saúde-BISAU, Biblioteca do campus de Laranjeiras-BICAL.
Biblioteca do campus de Lagarto-BILAG, Biblioteca do campus de Sim (16)
Itabaiana-BICAMPI, Biblioteca do Sertão-BISER. De acordo com 94,1%
os dados coletados no ano de 2020 foi possível observar o perfil Não (1)
dos bibliotecários, formação e conhecimentos sobre as práticas
que envolvem a mediação cultural e se elas são aplicadas.
A partir dessa coleta de dados, pode-se afirmar, a respeito dos
bibliotecários do SIBIUFS, que é um grupo composto por mu- Gráfico 1: Bibliotecários do SIBIUFS e sua identificação com a função de mediador.
lheres, na faixa etária de 36 a 47 anos, com formação acadêmi- Fonte: Sales (2020).
ca em Bibliotecomia e formação de Pós-Graduação em nível de
Especialização, trabalham há mais de dez anos na instituição,
com a maioria atuando na BICEN. No que se refere à formação, Como visto no Gráfico 1, o fato da maioria dos pesquisados se
alguns dos participantes afirmaram que tiveram contato com reconhecer como mediador corrobora com autores como Mar-
conteúdos sobre mediação na graduação, o que corrobora que tins (2010), Brito e Vitorino (2017) e Sanches e Rio (2010), que
a formação do bibliotecário ainda carece de ênfase voltada para entendem que o bibliotecário é um agente capacitado para ser
a mediação e que essa formação não os capacita plenamente o mediador. Trata-se de um dado importante, pois mostra que
para o desenvolvimento da mediação cultural nas bibliotecas.  os bibliotecários se reconhecem como mediadores, o que, se-
gundo as autoras Brito e Vitorino (2017), é de suma importância
Um dos focos dessa investigação era perceber se os bibliotecá-
para que o processo de mediação seja estabelecido.
rios  compreendiam o significado, o alcance da mediação e qual
tipo de mediação era mais conhecido ou percebido no dia a dia A compreensão dos bibliotecários sobre a mediação e suas prá-
da instituição que trabalha. Com a aplicação dos questionários ticas está presente em seus depoimentos. Eles entendem que:
identificou-se que eles: 
a mesma está presente de alguma forma nas atividades desenvol-
Entendem a mediação como uma atividade de interferência, de in- vidas por eles e que tem relação com práticas educativas e culturais.
tervenção ou de intermediação e relacionam a mesma com a ideia A maioria dos bibliotecários se considera como um(a) mediador(a),
de ação, o que nos leva a inferir que a mediação é vista pelos partici- e esse é um fator importante para iniciar o processo de mediação
pantes como um processo ativo. Constatou-se, também, que o tipo cultural (SALES, 2020, p. 79).
de mediação mais conhecida pelos bibliotecários é a mediação da
informação, seguido da mediação cultural e da mediação da leitura Seguindo a investigação sobre a prática da mediação cultural
(SALES, 2020, p. 78). no Sistema de Bibliotecas da UFS, identificou-se que:
49
a maioria entende que a mediação cultural em biblioteca é vista Os dados encontrados indicam que parte dos bibliotecários en-
como atividades e ações ligadas à cultura, o que nos leva a inferir tende que a mediação corresponde às ações de interação com
que, para eles, a mediação cultural em biblioteca é compreendida
como um conjunto de atividades que aproxima a comunidade da
a comunidade, corroborando com o entendimento de Borba e
cultura (SALES, 2020, p. 79).  Martins(2015) de que a biblioteca tem como uma de suas fun-
ções a promoção de interação social. Outros dados importantes
Quando perguntados sobre a aplicação das ações culturais nas apontam que 64,7% dos bibliotecários entrevistados acreditam
bibliotecas que trabalham, obteve-se o indicativo que a maioria que a mediação cultural é uma ação de comunicação, essa defi-
dos bibliotecários já realizaram ações culturais. Nessas respos- nição está presente nas análises de Rasteli e Caldas(2017), Brito
tas, os entrevistados indicaram os tipos de atividades executa- e Vitorino(2017). Outras definições foram sugeridas, tais como
das. Dentre as indicadas pode-se citar: “mediação da leitura, ação educativa; ação social; ação cultural. 
exposições, rodas de leitura, campanhas temáticas e comemo-
Para além dessas indicações, quando os entrevistados foram
ração de datas comemorativas’’. Constatou-se que essas ações
perguntados se “um plano de ações do SIBIUFS ajudaria a reali-
culturais são realizadas esporadicamente e não ocorrem em to-
zação da mediação cultural” identficou-se que todas as unida-
das as bibliotecas do SIBIUFS e nem de forma simultânea (SA-
des afirmaram que esse programa ajudaria muito. Sales (2020)
LES, 2020). Conforme o Gráfico 2, é possível visualizar as ações
constatou, ainda, que:
indicadas pelos bibliotecários como fruto da mediação cultural
em bibliotecas universitárias.  Todos os bibliotecários entendem que a mediação cultural em Bi-
blioteca Universitária contribui para o processo de ensino-aprendi-
zagem na universidade e que a mesma amplia o conhecimento dos
Ação de comunicação 11 (64,7%) discentes. Além disso, verificou-se que a maioria dos bibliotecários
afirma que a atuação do bibliotecário no processo de mediação cul-
tural é importante (SALES, 2020, p. 79)
Ação educativa 11 (64,7%)
Mas de acordo com o que foi constatado, percebe-se que a
Ação social 11 (64,7%) maioria dos entrevistados “acredita que a biblioteca universitá-
ria pode contribuir no desenvolvimento de práticas culturais” e
Ação de interação 15 (88,2%)
com a comunidade tem por função social contribuir com o acesso cultural e promo-
ver ações culturais e educativas com a finalidade de democra-
Ação cultural 11 (64,7%) tizar a cultura e formar sujeitos capazes de consumir a cultura.

Gráfico 2: Ações relacionadas ao processo de mediação, na visão dos


participantes da pesquisa. Fonte: Sales (2020).
50
3 I CONSIDERAÇÕES FINAIS I REFERÊNCIAS

Entende-se que as ações de mediação cultural nas bibliotecas ALMEIDA, M. A. Mediações da cultura e da informação: perspectivas
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52 CAPÍTULO 5

A BIBLIOTECA PÚBLICA COMO ESPAÇO DE THE PUBLIC LIBRARY AS A SPACE FOR THE
MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO MEDIATION OF INFORMATION

Verônica Cardoso Santana


Telma de Carvalho

RESUMO ABSTRACT
A mediação da informação desenvolvida nas bibliotecas públicas The mediation of information developed in public libraries
possibilita a interação entre o usuário e a biblioteca e é o meio enables interaction between the user and the library and is the
pelo qual o bibliotecário se torna o elo entre o público e a infor- means by which the librarian becomes the link between the pu-
mação. Dentro desta perspectiva, este trabalho apresenta como blic and information. Within this perspective, this work has as
objetivo geral: evidenciar como as atividades de mediação da its general objective: to highlight how information mediation
informação podem favorecer a interação entre a biblioteca e os activities can favor the interaction between the library and its
seus usuários. Delineia, para tanto, os seguintes objetivos especí- users. It outlines, therefore, the following specific objectives: 1)
ficos: 1) demonstrar as funções, educativas, culturais, recreativas to demonstrate the public library’s educational, cultural, recre-
e informacionais da biblioteca pública; 2) ressaltar a atuação do ational and informational functions; 2) to highlight the role of
bibliotecário como mediador da informação; 3) destacar a im- the librarian as a mediator of information; 3) to highlight the
portância da Biblioteca Pública para a sociedade. Conclui-se que, importance of the Public Library for society. It is concluded that
através da mediação da informação, a biblioteca pública desem- through the mediation of information the public library plays
penha o seu papel na sociedade e que é de grande importância its role in society and that it is of great importance to the role of
à atuação do bibliotecário mediador na unidade informacional. the mediating librarian in the informational unit.

PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca Pública. Mediação da KEYWORDS: Public Library. Functions of the Public Library.
informação. Bibliotecário. Librarian.
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1 I INTRODUÇÃO leitor se encontrem. Para que a mediação aconteça, o media-
dor cria métodos que garantam a participação e viabilizem o
encontro entre sujeito e livro, como por exemplo: a hora do
A biblioteca pública é uma unidade informacional de grande conto, com a leitura em voz alta ou a leitura silenciosa dos par-
importância para a sociedade, pois garante a todos os cida- ticipantes; a argumentação sobre determinado livro antes da
dãos o acesso e o uso da informação sem restrição, de maneira leitura; deixar que o próprio leitor crie seus argumentos sobre
livre e democrática, contribuindo para o desenvolvimento so- o livro e até mesmo ficar em silêncio e deixar que o livro e o
cial, educacional, informacional e cultural de todos que com- leitor conversem entre si.
põem o país. Com o passar do tempo às bibliotecas públicas
deixaram de ser apenas o local de guardar documentos e, Partindo desta realidade, o presente trabalho tem como tema:
atualmente, vêm desenvolvendo projetos que abrangem os A biblioteca pública como espaço de mediação da informação.
aspectos de formação individual e coletiva da comunidade Levantou-se como problema de pesquisa o seguinte questiona-
a qual está inserida, sendo destacada pelo manifesto da The mento: como as ações de mediação da informação podem apoiar
o fortalecimento da interação entre os usuários e a biblioteca?
International Federation of Library Associations and Institutions
(IFLA) e United Nations Educational, Scientific and Cultural Or- Diante das considerações apresentadas anteriormente, a jus-
ganization (UNESCO) de 1994 como a porta de acesso local ao tificativa para a realização deste trabalho parte da experiên-
conhecimento, visando tornar indivíduos críticos e instruídos cia desta pesquisadora como mediadora da informação em
na sociedade, facilitando a tomada de decisões ao longo da uma Biblioteca Pública Municipal, e constatou a necessidade
vida. A biblioteca pública fornece diversos serviços que cau- de externar através desta pesquisa a importância da realiza-
sam impacto positivo na comunidade, ressaltando o serviço ção da mediação da informação para a interação dos usuários
de mediação de leitura que é fator relevante e essencial para a com a biblioteca.
formação leitora do indivíduo, pois através dela cria-se o gos- Este capítulo é resultado de pesquisa desenvolvida a nível de
to pela prática da leitura no sujeito participante. No entanto, mestrado e tem como objetivo geral evidenciar como as ativi-
o ato de mediar necessita de um elo entre o sujeito e o livro e, dades de mediação da informação podem favorecer a interação
assim, surge à figura do mediador que, no âmbito da bibliote- entre a biblioteca e os seus usuários. Já os objetivos específicos:
ca, é realizado pelo bibliotecário. 1 I demonstrar as funções, educativas, culturais, recreativas e
O bibliotecário mediador da informação instiga a comuni- informacionais da biblioteca pública; 2 I ressaltar a atuação do
dade a praticar a leitura, levando-a frequentar os espaços da bibliotecário como mediador da informação; 3 I destacar a im-
biblioteca, aumentando, assim, a procura pelos produtos e portância da Biblioteca Pública para a sociedade.
serviços ofertados pela unidade informacional. Vale destacar Foi elaborado com base em pesquisa exploratória de aborda-
que é o mediador quem cria as condições para que o livro e o gem qualitativa, a partir de levantamento bibliográfico.
54
2 I MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM BIBLIOTECA PÚBLICA sociais e situacionais, contemplam os contextos concretos nos
quais eles estão inseridos.
A interdisciplinaridade da Ciência da Informação (CI) com a Bi- Conhecimento tácito: é o conhecimento pessoal, que é difícil for-
blioteconomia e a Documentação se observa por meio do seu malizar ou comunicar os outros. Conhecimento explícito: é o conhe-
cimento formal, que é fácil transmitir entre indivíduos e grupos. É
objeto de estudo que é a informação, sendo que a CI e a Biblio- frequentemente codificado em fórmulas matemáticas, regras,
teconomia desenvolvem papeis sociais relevantes, pois visam especificações e assim por diante (CHOO, 2003, p. 239).
facilitar o acesso e o uso da informação, bem como compreen-
der as necessidades de cada usuário. Assim, a Ciência da Infor- Robredo e Brascher (2010) destacam que a Ciência da Informa-
mação e a Biblioteconomia procuram auxiliar e solucionar os ção necessita dar prioridade aos estudos da cognição e da per-
problemas que envolvem as demandas no acesso e no uso da cepção humana, sendo prioridade para a área:
informação por meio de recursos aplicados. Incluir o estudo da cognição e da percepção como um de seus focos
No campo da CI, o paradigma social evidencia o sujeito como prioritários, diante da possibilidade que se apresenta, que é a de
atingirmos um estágio da sociedade em que não teremos mais lei-
participante das ações:
tores críticos, mas apenas processadores de informação (ROBREDO;
[...] o sujeito não é visto como um ser isolado, destacado de relações BRASCHER, 2010, p. 57).
sociais e de um contexto sócio-cultural mais amplo, nem entendi- Cabe salientar que a CI tem papel importante quanto aos usuários
do apenas como um ser cognoscente, que se relaciona com o mun-
do apenas preenchendo “pedaços” de conhecimento àquilo que já
da informação, visto que ela investiga as propriedades da informa-
possui na mente (ARAÚJO, 2012, p.146). ção pretendendo otimizar a recuperação e o uso da informação.
Por sua vez, Moreira e Duarte (2016, p. 172) destacam que “[...] Valentim (2010) diz que com o mapeamento das fontes de in-
o principal avanço do paradigma social foi o reconhecimento formação, de conhecimento e dos fluxos informacionais, pode-
de que o sujeito faz parte de um contexto social, agindo sobre o -se construir uma rede de conhecimento capaz de evidenciar o
mesmo e sofrendo interferências deste espaço.”. Assim, no para- comportamento informacional em um determinado ambiente.
digma social desempenhado pela Ciência da Informação é per- Pode-se afirmar, dentro deste contexto, que a leitura é o meio
ceptível na atuação do sujeito, que faz uso da informação, adqui- pelo qual o indivíduo faz uso, se apropria da informação e de-
rem novos conhecimentos e compartilham para sociedade. senvolve novos conhecimentos.
Choo (2003) destaca que são elaborados processos sociais ca- [...] a leitura é uma das preocupações da ciência da informação e que
essa faz parte do núcleo da apropriação da informação. A informação,
pazes de criar novos conhecimentos por meio da conversão do
por ser intangível, precisa de um suporte para ser veiculada e apro-
conhecimento tácito em conhecimento explícito e aborda que priada, e a decodificação desse documento pela leitura permite a
a integração de conceitos relativos às dimensões cognitivas das apropriação da informação, possibilitando a transformação do conhe-
pessoas, às dimensões afetivas e emocionais e às dimensões cimento de quem lê. Esse processo é denominado, pelo autor, de me-
diação da informação (GUARALDO; ALMEIDA JÚNIOR, 2010, p. 192).
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Deste modo, Rasteli e Cavalcante (2014, p. 51) evidenciam que [...] a última das quais chama atenção para a biblioteca como or-
“[...] para que suceda o conhecimento fazem-se necessários os ganismo em crescimento, decerto, pretende alertar para a dinami-
cidade dessas instituições em seu caráter eminentemente social.
saberes já apropriados pelo leitor, gerando, portanto, novos esta- Como decorrência, o crescimento por ele previsto abrange qualquer
dos de conhecimento que, aplicados, provocam transformação instância das bibliotecas [...] com a expansão e a adoção maciça das
social.” Almeida Jr. (2009) enfatiza que o leitor é um ator social tecnologias nos mais diferentes segmentos da vida individual, pro-
ativo e participativo em seu processo de mediação da leitura. fissional e social dos indivíduos, registra-se a adesão crescente de
novos elementos para mensuração do crescimento das bibliotecas
Neste sentido, destaca-se o papel desenvolvido pela biblioteca como instituição social.
pública para a formação do indivíduo, pois atua diretamente na
sociedade com promoção de ações que podem mudar o cenário Além do exposto acima, a biblioteca deve ser um lugar acon-
da comunidade, como: a função educacional, a função cultural, chegante, arejado, claro, tornando-se um espaço que traga a
a função recreativa e a função informacional onde essas fun- tranquilidade e, ao mesmo tempo, ser um ambiente moderno
ções interagem e corroboram entre si possibilitando a constru- que atraia cada vez mais usuários, visando proporcionar a cada
ção cognitiva e comportamental das pessoas que frequentam o um, o gosto pela leitura.
ambiente da biblioteca. As bibliotecas públicas são centros de disseminação da
Desta maneira, a subseção a seguir amplia informações a res- informação, além de serem as responsáveis pela guarda do
peito das funções da biblioteca pública na sociedade e explanará conhecimento, tanto regional como universal e proporcionam
sobre as diferenças entre elas. o desenvolvimento intelectual da comunidade onde estão in-
seridas, por meio das atividades de dinamização realizadas por
elas. Desta forma, elas exercem um papel fundamental para o
2.1 Funções da biblioteca pública na sociedade desenvolvimento da sociedade, pois garante o acesso aos seus
Como apresentado por Ranganathan (2009, p. 241), a quinta lei da serviços e produtos de maneira espontânea e aberta a todos
Biblioteconomia diz que “a Biblioteca é um organismo em cresci- que dela fazem uso.
mento”. Ao longo do tempo passou por diversas transformações
Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na
que propiciaram o desenvolvimento e melhorias para os usuários
igualdade de acesso para todos, sem distinção de idade, raça, sexo,
de suas comunidades atualizando-se em relação às novas tecno- religião, nacionalidade, língua ou condição social. Serviços e mate-
logias a fim de oferecer produtos e serviços que possibilitem o de- riais específicos devem ser postos à disposição dos utilizadores que,
senvolvimento de todos que por ela passar. É importante destacar por qualquer razão, não possam usar os serviços e os materiais cor-
que a quinta lei da Biblioteconomia torna a biblioteca em um es- rentes, como por exemplo, minorias lingüísticas, pessoas deficien-
tes, hospitalizadas ou reclusas. (IFLA/UNESCO, 1994 p. 1).
paço social, como apontam Souza e Targino (2016, p. 26).
56
A biblioteca pública além de ser um espaço de livre acesso atender às necessidades reais da civilização moderna, no
para todos, é importante ressaltar que seus produtos e ser- que diz respeito às informações; servir de instrumento
viços sejam prestados de acordo com as limitações que cada e de difusão cultural; preservar os documentos e as
indivíduo apresenta. informações nelas contidas e possibilitar sua recuperação
Segundo Milanesi (1986, p. 23), “a biblioteca/museu deixou de e divulgação em tempo hábil; atender a todos os usuários
ser a única possibilidade enquanto coleção pública, passando a indistintamente e estar à disposição de todos; ensinar a
existir a biblioteca/serviço, oferecida ao público”. Desta forma, cada usuário o que é necessário saber sobre livros e biblio-
o autor destaca a importância de existirem atividades que tecas, visando a que ele possa se utilizar com vantagem
favoreçam e estimulem a comunidade a frequentar o ambiente das obras de referência e dos meios de pesquisa; fornecer
da biblioteca pública, sendo dever dela deixar à disposição da informações precisas e confiáveis no momento exato em
comunidade os mais diversos tipos de informação, sem restri- que sejam solicitadas; armazenar e recuperar informações
ção, onde o usuário possa ir e vir, ou seja, tendo sempre livre de caráter geral ou específico e colocá-las à disposição dos
acesso para participar e usufruir de todos os produtos e serviços usuários; promover e divulgar eventos culturais (SILVA;
oferecidos no ambiente informacional. Como ressalta Milane-
ARAÚJO, 2009, p. 29-30).
si (1983, p. 96), “é impossível pensar biblioteca hoje sem que se
considere a liberdade de acesso à informação como um direito Entre tantos objetivos alcançados pela biblioteca pública, vale
humano”. E ainda: “que essa liberdade seja uma das condições destacar o trabalho desempenhado de propagação da leitura e
básicas para o exercício do pensamento criador” (MILANESI, da formação leitora da comunidade, onde envolve vários aspec-
1983, p. 96). Assim, é importante evidenciar que o livre aces- tos da sociedade como a educação e a cultura. De acordo com
so torna o usuário um frequentador assíduo e possível leitor e, o manifesto da IFLA/UNESCO (1994), os objetivos da biblioteca
quanto mais leitura, maior será o conhecimento, tornando- se pública relacionados à informação, à alfabetização, à educação
essa, a sua principal característica. Assim, em termos de bibliote-
e à cultura são os seguintes:
ca pública, Queiroz (2006, p. 29) comenta que:
Criar e fortalecer os hábitos de leitura nas crianças, desde a primei-
Ela é plenamente aberta a toda população local, é comum a todos ra infância; apoiar a educação individual e a auto-formação, assim
e destina- se à coletividade. Deve conter todos os gêneros de obras como a educação formal a todos os níveis; assegurar a cada pessoa
que sejam de interesse da coletividade a que pertence, além de li- os meios para evoluir de forma criativa; estimular a imaginação e
teratura em geral, informações básicas sobre a organização do go- criatividade das crianças e dos jovens; promover o conhecimento
verno e sobre serviços públicos em geral. sobre a herança cultural, o apreço pelas artes e pelas realizações e
inovações científicas; possibilitar o acesso a todas as formas de ex-
A funcionalidade da biblioteca pública é atingir um maior nú- pressão cultural das artes do espetáculo; fomentar o diálogo inter-
mero possível de pessoas que habitam na comunidade onde -cultural e a diversidade cultural; apoiar a tradição oral; assegurar o
ela se insere, tendo vários objetivos a serem traçados e alcança- acesso dos cidadãos a todos os tipos de informação da comunidade
dos ao longo de sua existência, como: local; proporcionar serviços de informação adequados às empresas
57
locais, associações e grupos de interesse; facilitar o desenvolvimen- se destaca que ela “tem de ser uma componente essencial de
to da capacidade de utilizar a informação e a informática; apoiar, qualquer estratégia a longo prazo para a cultura, o acesso à in-
participar e, se necessário, criar programas e atividades de alfabe-
formação, a alfabetização e a educação”.
tização para os diferentes grupos etários (IFLA/UNESCO, 1994, p. 2).
De acordo com Jaramillo, Montoya Rios e Uribe Tirado (2008), a
Sendo assim, a biblioteca pública é uma importante aliada para biblioteca pública na sociedade da informação trabalha com as
atender às diversas necessidades informacionais de uma comu- variáveis externas, mistas e internas, onde as variáveis externas
nidade, independentemente do perfil e da idade dos usuários. estão relacionadas com os aspectos econômicos, políticos, cul-
Ela é provedora do saber contínuo, pois disponibiliza a informa- turais, sociais e educativos; as variáveis mistas trazem os aspec-
ção a toda comunidade, e ao mesmo tempo, promove através de tos particulares de cada espaço da biblioteca pública e suas re-
suas ações uma maior comunicação com a sociedade. Para Cunha lações com o ciclo da informação e as variáveis internas, por sua
(2003, p. 69), a denominação de biblioteca pública está ligada à vez, estão ligadas com a visão organizacional, seus objetivos,
informação e à comunicação, enfatizando que “a biblioteca pú- sua missão e suas formas de avaliação. A Public Library Associa-
blica tem a informação como seu objeto de trabalho e a comuni- tion, uma divisão da American Library Association (ALA) enfatiza
cação como processo contínuo do fazer bibliotecário”. Desta for- que os serviços da Biblioteca Pública se vinculam às quatro fun-
ma, a biblioteca garante o acesso aos seus produtos e serviços a ções da aprendizagem informacional, que são: aprendizagem
todos que compõem a comunidade, assim, faz-se necessário que básica, apoio ao ensino formal, aprendizagem permanente e
ela seja atualizada, para atender as demandas dos usuários. alfabetização informacional (CAMPAL GARCÍA, 2006).
Os serviços das bibliotecas públicas na atualidade vão além das
Hoje, novas demandas da sociedade exigem atualização contínua pesquisas e das leituras, sendo cada vez mais exigidas ativida-
do conceito de biblioteca pública e do modo de agir de seus pro- des que proporcionem o desenvolvimento educacional e cultu-
fissionais, para que tanto as funções básicas como as tradicionais
sejam cumpridas, como às que surgem em função das transfor-
ral da sociedade, como aborda Arruda (2000, p. 9), ao comentar
mações da sociedade, apontando-se para uma integração maior que “para que uma biblioteca se torne verdadeiramente públi-
com a comunidade local, seus valores e necessidades (RUSSO; SIL- ca, faz- se necessário assumir as seguintes funções: educativa,
VA, 2013, p. 5). cultural, recreativa e informacional”. Esses aspectos também
são ressaltados por Cunha (2003), onde afirma que as funções
A biblioteca pública exerce a função de disseminadora da in- básicas da biblioteca são: educação, informação, cultura e lazer,
formação e, dessa maneira, contribui para desenvolvimento da pois elas modificam o contexto social onde se situam. Da mes-
sociedade e diminui a desigualdade social. Também desenvol- ma forma, Massaroni e Scavarda (2015, p. 5) acrescentam que “a
ve papéis de incentivo à leitura que contribui para a educação biblioteca pública é o centro de informações da comunidade,
dos usuários que as frequentam. As bibliotecas públicas são ela deve proporcionar aos seus usuários serviços e atividades
mantidas pelo governo federal, estadual e municipal, conforme que agreguem cada vez mais valores à população que se utili-
relata o manifesto da IFLA/UNESCO (1994, p. 2), onde também za desses serviços”. Nessa mesma linha e, de acordo com Suai-
58
den (2000), quanto mais a biblioteca pública se vincular com a 2.1.1 Função educativa
comunidade, mais ela se tornará o caminho que possibilitará a A função educativa desenvolvida nas bibliotecas públicas está
participação efetiva na Sociedade da Informação. interligada com o ensino escolar, pois é nesse espaço que o aluno,
Assim, as atividades desenvolvidas pelas bibliotecas atribuem independente da série e do nível que cursa, pode fazer suas pes-
aos seus usuários maior possibilidade de crescimento indivi- quisas e complementar os estudos vistos em sala de aula:
dual e coletivo, pois cada função contribui para a formação dos
mesmos, como relata Oliveira e Silveira (2013, p. 907). Trazendo a função educativa para o presente, devem ser incluídas
outras vertentes desta tão importante função, pois hoje as biblio-
Na primeira função, a biblioteca pública deve contribuir com a for- tecas públicas servem também como apoio aos alunos do ensino
mação educacional dos indivíduos, seja ela formal ou informal. Na formal, ensino médio e fundamental e também como instituição
função informativa deve disponibilizar informações confiáveis, de que incentiva a prática de leitura, ou seja, a biblioteca pública serve
forma rápida e eficiente à comunidade a qual serve. Na função cul- com alicerce da educação formal e não formal (COELHO, 2014, p. 29).
tural seu papel é captar, preservar e divulgar os bens culturais da co-
munidade, incluindo todas as formas de manifestações, não apenas A biblioteca pública transforma a realidade da comunidade atra-
aquelas consideradas eruditas. E a última função, a recreativa, ocor- vés da função educativa, pois proporciona o aumento do desen-
re quando a biblioteca coloca à disposição de seus usuários a leitura volvimento cognitivo daqueles que as frequentam. A biblioteca
descompromissada através de diferentes estilos e gêneros literários. é considerada uma instituição educativa independentemente de
As funções da biblioteca pública relatadas acima são interliga- sua especialidade, pois ela apresenta uma preocupação latente
das entre si, para seu melhor funcionamento. em gerenciar, tratar e disseminar a informação, bem como com
os produtos documentários dela decorrentes, na assertiva de dis-
As quatro funções descritas não caminham isoladamente, pelo
contrário, encontram-se interligadas entre si, bem como não são ponibilizar e apresentar seus produtos e serviços de informação
exclusivas, uma vez que somente através da união entre elas é que para públicos com diferentes necessidades informacionais e, as-
a biblioteca poderá tornar-se uma instituição verdadeiramente pú- sim, cumprir seu papel para a educação dos indivíduos.
blica (ARRUDA, 2000, p.14).
Entre tantas atividades que a biblioteca pública exerce em pro-
Sendo assim, a biblioteca pública deve desempenhar suas fun- moção da educação, destacam-se as atividades de incentivo à
ções de acordo com o perfil de seus usuários e, ao mesmo tempo, leitura, que são planejadas e desenvolvidas estrategicamente no
ser um ambiente agradável, dinâmico e descontraído para que ambiente informacional. Vinculadas a esse contexto vale desta-
haja sempre boas relações com sua comunidade, de maneira car as várias formas de fomentar a leitura na biblioteca pública.
que todos se sintam atraídos por ela. A seguir será abordada a
função educativa da biblioteca e o seu papel de agente de mu- Quanto às várias possibilidades de se fomentar a leitura em biblio-
teca pública, as atividades mais comuns e desenvolvidas no âmbi-
dança perante a comunidade. to dessas instituições são: hora do conto, roda de leitura, encontro
59
com autores, feira de livros, oficinas de produção e leitura de textos, car é a melhor forma de proporcionar condições de desenvol-
concursos literários, saraus, lançamentos de livros, instalações ho- vimento e a ampliação dos valores humanos, os quais visam ao
menageando autores, criação de espaços para sugestões de leitura,
fanzines e jornais impressos ou eletrônicos, clube do livro, exposição, bem do outro e à socialização do saber.
dramatização de histórias (teatro), murais, cinema na biblioteca, pa- Portanto, ela desempenha papel primordial na formação de
lestras, jograis, encontro com cordelistas etc. (RASTELI, 2013, p. 46).
todos que compõem a comunidade, desde a busca e acesso a
Para atender às expectativas dos usuários em relação à leitura, a informação até a formação intelectual, moral e social através da
biblioteca pública deve dedicar o máximo de esforços no sentido mediação e incentivo a prática da leitura.
de desenvolver atividades que abranjam todos os interesses da
comunidade e assim tornar-se um espaço interessante e atrativo. 2.1.2 Função cultural
O termo cultura tem sentido amplo, pois corresponde a um
Para a efetivação na formação de leitores é necessário uma bibliote-
ca pública viva, atuante, onde esse equipamento informacional seja conjunto de hábitos, crenças e conhecimentos, ou seja, a vi-
um recurso educativo, social e cultural, com espaço amplo, acervo vência de um povo ou de um determinado grupo. A definição
diversificado, atualizado e dinâmico, aliado a profissionais da in- dada por Laraia (2003 p. 68) é abrangente e destaca, especial-
formação competentes e que acompanhem a evolução das biblio- mente, que cultura é “O modo de ver o mundo, as apreciações
tecas, questionando constantemente as práticas desenvolvidas no
cotidiano (RASTELI, 2013 p. 16).
de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos so-
ciais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma
Ao se fomentar a leitura na biblioteca, compreende-se que a herança cultural, ou seja, resultado da operação de uma deter-
mediação da leitura contribui para o desenvolvimento e apren- minada cultura”. Assim pode-se destacar o espaço da biblioteca
dizagem do leitor, tornando-os habilitados quanto ao uso do pública como um espaço que possibilita a vivência da cultura,
conhecimento. Barreto (2005, p. 116) reflete que a leitura é seja através do desenvolvimento de atividades culturais, atra-
considerada como um importante instrumento na aquisição vés do acesso e do uso da informação cultural ou pela troca e
das informações, as quais, “se forem significadas pelo sujeito e compartilhamento de experiências entre seus usuários.
apropriadas para seus diferentes contextos, constituir-se-ão em Em termos práticos, a biblioteca-centro cultural é um centro que, a
conhecimento”. Significa dizer que proporciona ao usuário: en- partir da cultura literária, irradia estímulos em direção de um grupo
tender, compreender e apreender. Como aborda Rasteli (2013, determinado de pessoas (estímulos esses frutos de um trabalho de
p.16) as competências adquiridas através das práticas sociais interação biblioteca centro cultural com a população dada), que tem
de leitura e escrita nos espaços das bibliotecas públicas podem por meta o desenvolvimento cultural integrado da comunidade. Este
desenvolvimento tem duas dimensões. Por um lado, o conhecimento
auxiliar no desenvolvimento humano na sociedade letrada, ga- da cultura existente – tanto o acervo quanto o contexto cultural – que
rantindo sobrevivência e convivência social. Pode- se afirmar concerne à comunidade em questão, e por outro, a criação de uma
que a informação transforma o ser humano, desde o modo de cultura que está constantemente a se fazer (FLUSSER, 1983, p. 22).
pensar, falar, agir e de conviver na sociedade, transformando-o
em um ser educado. Segundo Cunha e Souza (2011, p.183), edu-
60
A biblioteca pública é considerada centro cultural por desenvol- Já Flusser (1991) diferencia ação cultural de duas maneiras:
ver diversas atividades e projetos voltados para o fomento da uma é a ação cultural para a domesticação do indivíduo que
cultura, que de acordo com Gomes (1981, p. 8) ao se considerar contribui com a manutenção do sistema, a outra é a ação
a biblioteca como também um centro cultural, expande-se a di- cultural para a transformação, sendo instrumento de liberdade
mensão da relação entre cultura e biblioteca. O autor cita que social e cultural. Com a ação cultural as bibliotecas públicas
“A biblioteca como criação social reflete a cultura que a gerou e, proporcionam através das atividades realizadas, a humaniza-
por sua vez, atua sobre a cultura à medida que, vinculando seus ção, olhando e valorizando as minorias, ela deve apresentar o
valores, crenças e padrões comportamentais, contribui para a que se tem de novo, sem supervalorizar ou impor.
preservação e difusão da herança cultural”. Para realizar a ação cultural na biblioteca, o bibliotecário entra
em contato com a comunidade, com as escolas e instituições de
Deste modo, a função cultural deve ser entendida como sendo
maneira geral, para que se tenha garantida a presença do pú-
todo e qualquer tipo de manifestação artística oferecida à co-
blico. Conforme aborda Milanesi (2002, p. 83), “a participação
munidade, dando suporte aos seus usuários e proporcionando
do público é indispensável, sem eles a ação cultural não ocorre”.
ações que viabilizam a transmissão da cultura. Nesse contexto as O autor enfatiza algumas atividades que são desenvolvidas nas
bibliotecas públicas desenvolvem as atividades denominadas bibliotecas públicas e que são consideradas como ação cultural:
de ação cultural que são realizadas com a finalidade de teatro, música, literatura, entre outros.
promover a interação do usuário com biblioteca, de modo a
A função cultural na biblioteca pública engloba todas as ativida-
ampliar o conhecimento do acervo e do contexto social.
des realizadas por ela, com objetivo de contribuir para a forma-
Ação cultural na biblioteca é a transmissão de cultura com uma in- ção social do indivíduo e assim possibilitar o desenvolvimento
jeção política, para que o usuário receba a informação de maneira de referências culturais, proporcionar melhor visão para com
ativa, tendo a possibilidade de modificá-la [...] é caracterizada pela a literatura e as demais artes, aumentar o conhecimento para
constante superposição das relações inter-humanas e objetivas,
sendo preciso à intervenção do agente cultural para estar sempre
com as diversas manifestações artísticas, e por último ampliar a
diante do problema, sintetizando, assim, os dois termos da equação capacidade dos usuários em ver o mundo.
cultural: acervo e contexto cultural (FLUSSER, 1983, s/p).

As ações culturais realizadas nas bibliotecas públicas visam 2.1.3 Função informacional
promover a unidade informacional, ao mesmo tempo em que A função informacional, assim como as outras funções, é de
divulga os bens culturais, possibilita uma maior participação das grande relevância para a vida ativa da biblioteca pública, sen-
pessoas para prestigiarem essas atividades, Milanesi, (2002, p. do essa função interligada às outras, pois em todas elas se
96) destaca que “como ação cultural e criatividade são elementos trabalham a informação. É por ela que há maior procura nas
que se integram, é requisito básico conhecer o que já foi criado bibliotecas, pelos usuários que vão à busca de satisfazer suas
numa tentativa de encurtar o caminho entre o já visto e o novo”. necessidades informacionais.
61
Uma biblioteca pública é um centro de informações atuando piciaram que as bibliotecas agissem como agentes de mudanças
permanentemente, atendendo à demanda da população, es- e provedoras de informação, oferecendo ao usuário diversas ma-
timulando o processo contínuo de descobrimento e produção neiras e suportes para disponibilizarem a informação, como por
de novas obras, “organizando a informação para que todo ser exemplo, os documentos audiovisuais, eletrônicos e digitais.
humano possa usufrui-la” (MILANESI, 1986, p. 15). Assim, entende-se que o desenvolvimento educacional e cultu-
A informação hoje em dia se encontra em diversos suportes, po- ral do cidadão dar-se-á pelo acesso que ele tem às informações e
dendo ser recuperada de várias maneiras, o que facilita a busca ao uso que ele faz delas para, desta maneira, possibilitar o seu
e o acesso, onde o importante é que o usuário saia da unidade desenvolvimento intelectual, social e moral.
informacional satisfeito com suas pesquisas.
A informação contida no acervo desse tipo de instituição pode 2.1.4 Função recreativa
ser considerada um suporte da memória, da ideologia, da iden-
tidade e, consequentemente, da cultura de um grupo social – As atividades relacionadas à promoção recreativa ou de lazer atra-
elementos esses que, portanto, são os fatores atuantes no pro- em para as bibliotecas públicas usuários diferenciados, atraindo
cesso sociocultural (BRETTAS, 2010, p. 109). aqueles que vêm em busca de leitura descontraída e divertida.
Considera-se, pois, que independentemente do suporte Essa função oferece ao público uma leitura agradável e rela-
em que a informação está contida, as bibliotecas públicas xante, objetivando a distração ou recreação, pois o usuário não
desenvolvem a formação social e cultural dos indivíduos atra- terá a obrigatoriedade de ler, tornando assim uma leitura des-
vés do uso que eles fazem dessas informações, mudando as- compromissada e de escolha livre, saindo dessa maneira da
sim a realidade da comunidade. rotina do usuário, que geralmente é marcada pelo excesso de
Cavalcante (2010) salienta que cabe à biblioteca pública a res- trabalho. Desta maneira, a leitura sendo usada como ativida-
ponsabilidade de fornecer à comunidade o acesso à informação de lúdica visa ser prazerosa para quem a faz ou ouve, pois ela é
e à leitura, de modo democrático e com qualidade. Ao longo capaz de produzir uma realidade diferente da vida quotidiana
do tempo, as bibliotecas públicas e os bibliotecários puderam (BROUGÈRE, 1998). E assim, a função recreativa atende a uma
contar com a ajuda das tecnologias e tiveram de se adequar a importante necessidade social, que é o equilíbrio psíquico, pois
elas. O autor comenta que, precisamente a partir da década de o usuário exercita a mente com a leitura e com a participação
90, com o surgimento da Web e das Tecnologias de Informação em atividades culturais.
e Comunicação (TIC) e com a posterior disseminação de seu uso,
Essa função na biblioteca também está atrelada à função cultu-
fez-se necessário atuar de acordo com esta nova exigência.
ral, pois a comunidade participa de eventos como forma de la-
Ou seja, as bibliotecas passaram por um processo de transfor- zer. Para Rasteli, (2013, p. 122) as atividades culturais são ações
mação, de maneira a não perderem os espaços já conquistados mais amplas desenvolvidas com o intuito de realizar projetos
e de atraírem novos usuários. Desta maneira, as tecnologias pro- de capacitação, de lazer (cinema, teatro), de fomentar as artes
62
em geral (exposições diversas), de promover passeios turísticos 2.2 Atuação do bibliotecário como mediador da informação
e gincanas culturais. Costa e Bortolin (2007, p. 7) evidenciam A biblioteca pública tem a característica de prover o acesso à in-
que “o lazer é uma forma de resgatar a cidadania da pessoa ido- formação em todos os suportes para toda a comunidade. Desta
sa, minimizar as desigualdades sociais, injustiças e ainda, me- forma, prioriza o atendimento ao usuário na ânsia de dar res-
lhorar a sua convivência na família e na comunidade”. Dentro postas às suas necessidades de informação e, para isso, utiliza
da função de lazer desempenhada na biblioteca pública, vale os recursos e mecanismos que possui. Dentre as várias atividades
ressaltar, mais uma vez, as mudanças ocorridas com o avanço e ações que executa, torna-se, também, uma alternativa para a
das novas tecnologias e o surgimento das redes sociais, que fez formação leitora do cidadão visto que o bibliotecário atua como
com que a biblioteca expandisse seus serviços, utilizando-se de disseminador e mediador da informação, tornando, assim, pos-
novos suportes para disseminar a informação e para promover sível a integração da unidade informacional com a comunidade.
outros serviços de lazer. Ao mesmo tempo, fornecer mais atra-
No âmbito das suas funções e responsabilidades dentro das bi-
ções e variadas formas de entretenimentos para a comunidade.
bliotecas públicas, o bibliotecário atua de maneira significativa
Como a tecnologia alterou as formas de transmissão do conheci- na formação intelectual, educacional e cultural dos seus
mento, comunidade e usuários, em geral, encontram-se plugados usuários, motivo maior para a realização de suas atividades bi-
através das redes sociais. Esse conteúdo colaborativo não deve ser blioteconômicas, como retrata Oliveira (2005, p. 14) ao destacar
ignorado pelas bibliotecas públicas. Ao contrário, por apresentarem
que as missões das bibliotecas e dos bibliotecários é a de fazer
custos baixos, propõem novas formas de interação nos fluxos
informacionais (RASTELI, 2013, p. 132). “a seleção, a coleta, o armazenamento e a disseminação da in-
formação em todos os tipos de suportes, seja livro, folhetos, pe-
Portanto, as bibliotecas públicas devem oferecer também riódicos, entre outros”.
aos seus usuários atividades de lazer, sejam elas através das
O autor destaca a importância desse profissional para o funcio-
tecnologias ou da literatura disponível em seu acervo, o impor-
namento da biblioteca e comenta que a sua ausência provoca
tante é que contribua para o bem-estar dos que a frequentam.
pouca visibilidade desse centro informacional, assim como a
de seus recursos; destaca ainda que cabe a ele as responsabi-
lidades por toda estrutura informacional. Ao considerar estas
questões, o autor corrobora com o pensamento de que se faz
necessário que todas as bibliotecas tenham esse profissional
atuando, pois, além de ser um mediador entre a informação e o
usuário, ele possibilita a integração entre a biblioteca e a comu-
nidade na qual está inserida (OLIVEIRA, 2015).
63
Graças ao trabalho do bibliotecário, a biblioteca é reconhe- O bibliotecário atua sempre visando à satisfação das necessi-
cida pela sociedade e na sua comunidade local, onde um dades dos usuários e também busca alcançar os objetivos de
maior número de pessoas participa e colabora na constru- incentivo às práticas de leitura, pesquisa, estudo, lazer e cul-
ção e desenvolvimento social, o que fortalece a comunidade tura dos mesmos.
local. Cavalcante e Feitosa (2011) retratam bem essa questão
quando destacam que na perspectiva da biblioteca em rela- Nesse sentido, o bibliotecário é um processador da cultura, portan-
to é essencial que se comprometa ativamente nos projetos políticos
ção ao desenvolvimento local, observa-se que, através dessas e sociais da comunidade da qual está inserida, no sentido de gerar
práticas sociais, a biblioteca pode promover o protagonismo uma integração de forma que todos trabalhem em conjunto. No
das comunidades estimulando a inclusão social. Para realizar entanto, é preciso que o bibliotecário proceda democraticamente
suas ações junto à comunidade, o bibliotecário tem que estar opondo-se aos seus ideais, ou seja, ser imparcial limitando-se ape-
nas a mediar o processo da ação (CABRAL, 1999, s/p).
preparado e comprometido com o todo e, assim, atender às
necessidades dos seus usuários. O pensamento acima retrata a importância de o bibliotecário
Portanto, cabe aos bibliotecários elevar na sociedade a consci- atuar ativamente na comunidade, conhecendo seus interesses e
ência sobre a biblioteca, transformando-a num “canal de resis- projetos políticos e sociais, mas ser imparcial em relação a seus
tência cultural, ou seja, a biblioteca deverá aglutinar, produzir, próprios ideais. Essa atuação favorece o entendimento do papel
veicular e disseminar informações que estejam coadunadas social que o bibliotecário tem ao trazer para dentro da bibliote-
com os legítimos interesses da comunidade a que serve” (AL- ca, ou mesmo levar para fora dela, assuntos que tenham
MEIDA JÚNIOR, 1997, p. 67). repercussão e interesse para a comunidade. Os problemas so-
Ao se destacar o papel do bibliotecário, coaduna-se com o argu- ciais podem ser debatidos nesses espaços, mas, para que isso
mento de José Ortega y Gasset (2006, p. 11) quando comentam que ocorra, o bibliotecário deve possuir características atuantes e
“as carreiras ou profissões são tipos de atividade humana de que empreendedoras.
a sociedade necessita”. É primordial destacar que esse profissional O bibliotecário exerce, também, a mediação informacional e
também é responsável pelo tratamento, organização e dissemina- cultural onde é ele o responsável por planejar, organizar e exe-
ção da informação, mediação da leitura, desenvolvimento de ati- cutar as atividades realizadas na biblioteca:
vidades de dinamização nos seus espaços de atuação, pela gestão
A mediação é um fator humanizador de transmissão cultural. O
interna e outras funções inerentes à unidade de informação.
homem tem como fonte de mudança a cultura e os meios de infor-
Vale ressaltar a importância da interação que deve existir entre mação. O mediador se interpõe entre os estímulos ou a informação
o bibliotecário e a comunidade que, agindo juntos, contribuem exterior para interpretá-los e avaliá-los. Assim, o estímulo muda de
significado, adquire um valor concreto e cria no indivíduo atitudes
mais efetivamente para o desenvolvimento das atividades de
críticas e flexíveis (TÉBAR, 2011, p. 77).
dinamização na biblioteca pública.
64
Mediar para formar na comunidade indivíduos que sejam crí- mediação entre o usuário e a informação, pode ter como alia-
ticos e reflexivos é um dos princípios da mediação da leitura e o das as tecnologias de informação como facilitadoras do de-
bibliotecário atua diretamente com a formação de novos leito- senvolvimento de seu trabalho para o exercício de atividades
res, uma vez que tem como missão facilitar a aproximação do inerentes a formação educacional, cultural, recreativa e infor-
usuário com a leitura e também auxiliá-lo para a compreensão macional. A realização dessas funções significa uma grande e
do texto. Além disso, a mediação promove o diálogo entre a bi- fundamental transformação de mentalidade no processo de
blioteca e o usuário que deseja fazer uso de suas ferramentas, aprendizagem dos usuários.
dos seus produtos e serviços, a fim de obter melhor formação e,
consequentemente, viver melhor na sociedade. Pensar a ação do bibliotecário como mediador da informação no
âmbito da dimensão sociocultural, intenta assim trazer para refle-
Almeida Junior e Bortolin (2008) referem-se ao mediador de xões o quanto a atuação desse profissional pode proporcionar a va-
leitura comoo meio de interferir eticamente no cotidiano do ci- lorização e transformação do espaço sociocultural da comunidade
dadão, ao mesmo tempo em que destacam que o bibliotecário a qual atende ao promover tanto o consumo quanto a produção de
informação, cultura e o conhecimento na biblioteca pública (RAS-
mediador da leitura fomenta o desejo e a necessidade de ler e TELI, 2013, p. 44).
de buscar informação para que, ao construir conhecimento, o
sujeito leitor também modifique a sua realidade. Assim, o bi- Assim, ao mediar a informação, o bibliotecário atua direta-
bliotecário exerce o papel educacional na sociedade e a media- mente na promoção da biblioteca, pois estimula o consumo e a
ção da leitura é uma das atividades mais relevantes que ele de- produção de informação cultural. E, para atuar nessas diversas
senvolve na biblioteca, pois é por meio da mediação que ocorre funções, o bibliotecário deve estar atualizado e apto para pla-
a formação de novos leitores. nejar e realizar as atividades de dinamização, como também,
disponibilizar o acesso à informação a partir dos recursos infor-
O bibliotecário educador não pode se esquivar da mediação da lei-
tura, visto que o ato de ler precede o ato de se informar e investi-
macionais que a biblioteca possui.
gar. Portanto, a tarefa de mediar leitura é tão fundamental quanto Como relatam Rodrigues e Crespo (2006, p. 12), “deve ficar cla-
disponibilizar documentos (impressos ou eletrônicos) aos leitores. ro que cabe ao profissional em biblioteconomia a compilação,
[..]. Dessa forma, o processo de formação de mediadores de leitura
pressupõe a formação de profissionais, enquanto sujeitos leitores. de maneira a organizar este material, tornando-o adequado
A mediação explicitada aqui leva em contafatores extrínsecos e in- para o acesso do usuário”. Por isso, ressalta-se mais uma vez a
trínsecos, relativos ao objeto, ao sujeito e ao agente da leitura: o tex- importância do profissional formado em biblioteconomia em
to, o leitor e o mediador (RASTELI; CAVALCANTE, 2014, p.52). todas as bibliotecas públicas, pois eles são bacharéis formados
O bibliotecário, portanto, ao trabalhar com a mediação da e capacitados para gerirem uma unidade de informação, execu-
leitura atua no processo sujeito leitor e busca a formação ne- tar uma série de atividades e, dentre elas, mediar às ações que
cessária para atuar neste contexto. Por ser o responsável pela promovem a biblioteca pública na sociedade.
65
Cresce cada vez mais a demanda por profissionais flexíveis, mul- adquirirem mais conhecimento, tornando-os mais instruídos,
ticapacitados, capazes de aprenderem ao longo da vida. Torna-se como mostra o paradigma social desempenhado pela CI, onde é
assim, imprescindível para a Biblioteconomia fornecer aos biblio-
tecários os instrumentos adequados para o exercício da sua função
notório que os sujeitos que fazem uso da informação adquirem
como mediadores culturais (RASTELI, 2013, p. 60). novos conhecimentos e os compartilham com a sociedade. Para
tanto, a atividade de mediação da informação desenvolvida nas
Pelo exposto, compete também ao bibliotecário buscar sua bibliotecas possibilita a interação entre o indivíduo e o livro.
atualização profissional, pois a cada dia acontecimentos ino-
Evidenciou-se, que o bibliotecário, no ambiente da biblioteca, é
vadores surgem e este profissional deve estar habilitado para
o responsável pela propagação da informação, sendo, ao mes-
trabalhar com as mais variadas demandas, tanto técnicas que
mo tempo, um elo entre a informação e o sujeito. Além disso,
a própria profissão exige para o tratamento, organização e dis-
graças ao seu trabalho, a biblioteca é reconhecida na sociedade
seminação da informação, quanto em assuntos de cunho cul-
pela formação de pessoas mais críticas e reflexivas.
turais e sociais. Compete, assim, aos bibliotecários, organizar
e harmonizar o ambiente da biblioteca pública, promover ati-
vidades de dinamização, mediar à leitura, facilitar a busca e o I REFERÊNCIAS
acesso à informação e também estar apto para interagir com ALMEIDA JÚNIOR, O. F. Bibliotecas públicas e bibliotecas alternativas.
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modo a favorecer o diálogo e a interação entre a biblioteca e os em: 08 ago. 2020.
seus usuários. Para tanto, foi preciso debruçar-se na literatura, ARRUDA, G. M. As práticas da biblioteca pública a partir das suas quatro
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ROBREDO, J.; BRASCHER, M. (org). Passeio pelo bosque da informação:
estudos sobre representação e organização da informação e do
68 CAPÍTULO 6

BIBLIOTECA E PRESÍDIO: UM AMBIENTE FÍSICO DE LIBRARY AND PRISON: A PHYSICAL ENVIRONMENT


ACOLHIMENTO SOCIAL PARA AS MULHERES DO OF SOCIAL WELCOME FOR WOMEN IN
PREFEM/SE PREFEM/SE

Raquel Gonçalves da Silva de Araújo Fernandes


Germana Gonçalves de Araújo

RESUMO ABSTRACT
Este capítulo apresenta a pesquisa realizada no PREFEM-SE sob a This chapter presents a research carried out at PREFEM-SE
ótica da função social das bibliotecas prisionais. Dentro da pers- from the perspective of the social function of prison libraries.
pectiva teórica, foram compreendidos aspectos sociais do siste- Within the theoretical perspective, social aspects of the Brazi-
ma prisional brasileiro, bem como o funcionamento das bibliote- lian prison system were understood, as well as the functioning
cas instalas em presídios. Os estudos foram necessários para que of libraries installed in prisons. The studies were examined so
a atividade de mediação de incentivo da leitura na biblioteca do that the reading incentive mediation activity in the PREFEM /
PREFEM/SE pudesse ser elaborada e desenvolvida, por metodo- SE library can be elaborated and developed, by immersion me-
logia de imersão, junto com as internas dessa unidade prisional. thodology, together with the inmates of this prison unit. Based
A partir de temas importantes para a tomada de consciência so- on important themes for the social awareness of these women,
cial dessas mulheres, os resultados refletiram sobre como a bi- the results reflected on how the library can have the function of
blioteca pode ter a função de proporcionar que o indivíduo pri- providing that the individual deprived of liberty can connect his
vado de liberdade possa conectar sua própria história de vida às own life story to critical criticisms, unthinkable before media-
perspectivas críticas, impensáveis antes da mediação proposta. tion. proposal.

PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca prisional. Mediação Cultural da KEYWORDS: Prison library. Cultural information mediation.
Informação. Presídios Femininos. Female prison.
69
1 I INTRODUÇÃO de mestrado realizado no Presídio Feminino de Sergipe – PRE-
FEM/SE, no período de 2018 a 2019, no Programa de Pós-Gra-
duação em Ciência da Informação da Universidade Federal de
A biblioteca dentro de espaços prisionais é garantida por lei, Sergipe – PPGCI-UFS (FERNANDES, 2019).
porém sabe-se que, dentro da atual perspectiva dos presídios
no Brasil, os quais sofrem com sucateamento por falta de inves- A pesquisa teve o intuito de incentivar a leitura e o uso da bi-
timentos e com a superlotação, é quase impossível fazer exis- blioteca pelas internas do PREFEM. Para tanto, foram utili-
tir ou manter esse espaço dentro do sistema prisional. Quando zadas outras linguagens além do texto escrito – filmes, curta
elas existem, alguns problemas fazem-se presentes à sua infra- metragens – com o intuito de aproximar as leitoras em po-
estrutura, tal como a falta de um profissional qualificado que tencial aos livros e às temáticas relacionadas ao seu cotidia-
possa responder pelas demandas existentes de uma unidade no, como feminismo, maternidade e alguns conceitos que são
de informação; a manutenção do acervo, políticas de emprés- intrínsecos ao seu ambiente social. Este artigo faz um recor-
timo, mediação da informação, entre outras ações inerentes ao te da dissertação mencionada anteriormente, trazendo uma
profissional, que pode auxiliar no processo de dinamização da perspectiva sobre a função da biblioteca e da sua importância
biblioteca dentro dos espaços prisionais. dentro do ambiente prisional.
Nesse aspecto, é importante entender também qual é a função
da biblioteca prisional e quais são as possibilidades de criar di- 2 I AS BIBLIOTECAS COMO ESPAÇOS DE
álogos entre as diversas camadas sociais, trazendo, inclusive, CONSTRUÇÃO SOCIAL E CIDADANIA
para superfície, algumas problemáticas que existem dentro do
próprio sistema. Trata-se de reconhecer a biblioteca como um
Denotada sempre como a guardiã da informação e detento-
ambiente de disseminação de saberes, uma vez que esse lugar
ra do conhecimento no mundo, a Biblioteca carregou durante
é estimado como sendo um ambiente intelectual que reúne co-
muito tempo o status magistral de soberania e poder, e essa
nhecimentos diversos. Sendo assim, neste estudo, parte-se, en-
função anexou certa delimitação à unidade de informação, se-
tão, da premissa de que a biblioteca tem um papel de suporte
parando públicos e segmentando populações.
informacional, nutrindo o desejo de saber de uma pessoa priva-
da de liberdade e fornecendo informações que também eram Os primeiros fragmentos do que vieram a ser as bibliotecas
inacessíveis do lado de fora. públicas como conhecemos hoje, de acordo com Santos (2012),
deram-se na antiguidade por Asínio Pólio e Públio Terêncio
As métricas de diálogo que possam ser estabelecidas e como
Varrão, os quais foram influenciados por um ideal de Júlio Cesar
estas podem ser construídas por intermédio dos processos de
à época, criando espaços para armazenamento dos papiros e
mediação são objetivos do estudo que gerou esse capítulo, o
tábuas de argilas. A partir desse acontecimento, conseguimos
qual buscou entender essas relações a partir de uma pesquisa
70
pensar numa iniciativa da pluralidade da biblioteca, saindo de Essa perspectiva abre margem para um novo pensamento na
uma esfera mais elitista e chegando em um degrau mais acessível forma do fazer profissional, no qual o bibliotecário é aquele que
socialmente. São passos tímidos, claro, pois se formos analisar está inserido em algum espaço de unidade de informação e tem
o poder de leitura e alfabetização e estruturas socioeconômicas por missão criar uma atmosfera que permita que a informação
da população na época, esse acesso continuaria se estendendo e o conhecimento circulem e encontrem aquele sujeito que a
a somente uma faixa social. Porém, esse ideal por traz dessa necessita. Sobre essa transformação de foco e trajetória das bi-
mudança de armazenar e organizar já é por si só significativo. bliotecas, Tanus (2019), que em seu artigo faz um estudo sobre
Durante esses grandes eventos históricos que atravessaram a essas mudanças de perspectivas das unidades de informação,
construção das bibliotecas como vemos hoje, ação voltado para em especial as bibliotecas e museus, coloca em evidência, no
o social, a unidade de informação evoluiu seu suporte das tá- trecho abaixo, a importância dessa nova cara da biblioteca e seu
buas de argila para o livro, multiplicou seus afazeres técnicos papel como transformador social.
como forma de organizar a informação e torná-la disponível, o
Nessa direção, têm sido entrelaçadas as visões de bibliotecas e de
que culminou numa disseminação maior do conhecimento e museus como instituições de cultura e/ou centros de aprendiza-
permitiu que esse senso de comunidade da informação fosse gem capazes de promover, em certa medida, a subversão da or-
ampliado (SILVA NETO; LEITE, 2011). O fazer do profissional bi- dem, de uma ideologia ou de um pensamento dominante. Têm
bliotecário começou a ser tecido de acordo com seu usuário e possibilitado, também, o uso, a apropriação e a transformação da
informação a partir dos artefatos, sejam eles, livros, documentos ou
pensando no caminho da informação que este pudesse reque- objetos de toda ordem. Ainda, promovem o desenvolvimento por
rer. Nesse sentido, vemos o eixo da profissão migrar sua forma meio da experiência cultural do indivíduo; da construção do co-
de fazer seu trabalho levando em conta a sociedade, o seu pú- nhecimento e mudanças na vida das pessoas e da sociedade atra-
blico, como defende Vergueiro no trecho abaixo. vés dos questionamentos colocados e vivenciados. Inclusive há um
deslocamento dos sujeitos, sejam eles nomeados de usuários ou vi-
Imagina-se, desta forma, que o trabalho do bibliotecário consistia, sitantes, isto é, a entrada de indivíduos e comunidades antes mar-
na realidade, em se fazer-se o profissional da informação de ponte ginalizados e inviabilizados pela literatura acadêmica, como, por
entre uma informação registrada nos mais diversos suportes (im- exemplo, classes populares, minorias sociais, étnicas, de gênero,
pressos, audiovisuais etc.) e seu usuário potencial cujas necessida- religiosas, passam a fazer parte das pesquisas e tema de investiga-
des os bibliotecários buscariam, teoricamente, atender da melhor ção dentro das instituições, pelos seus profissionais, e fora delas, nos
forma possível. O aprimoramento das técnicas de recuperação da programas de pesquisa (TANUS, 2019, p. 227-228, grifo nosso).
informação e disseminação da informação aparece, assim, como o
supra-sumo do avanço biblioteconômico. Este “avanço”, digamos Essa mudança foi importante, também, porque ressignificou o
assim, irá representar também, na consciência dos profissionais, modo de como poderiam ser redistribuídos os afazeres dentro
o preenchimento de seu papel na sociedade contemporânea. da biblioteca, sendo, na citação acima trazida da autora, onde
(VERGUEIRO, 1988, p. 207, grifo nosso). são enumerados os pontos reflexivos acerca dessas unidades
de informação na perspectiva de comunidade. Nesse contexto,
71
a leitura é vista como forma de entendimento de mundo, de é novamente refletir sobre a importância da existência de li-
apropriação da informação, mudança de pensamentos anterio- vros, informação e conhecimento para indivíduos privados de
res sobre alguns temas, quebra de preconceitos e vários outros liberdade. A biblioteca dentro desses espaços privilegia mo-
benefícios que são associados ao seu uso, quando redireciona- mentos em que alguns indivíduos têm contato com algum tipo
dos dentro do aspecto de abertura da biblioteca para a comuni- de leitura, mediação e entendimento de mundo sob a ótica da
dade. A inclusão desse público como parte dos usuários desses informação literal. Vê-se a biblioteca em presídios como espaço
espaços, antes certamente inacessíveis, faz-se reflexionar sobre social e para construção da cidadania, na chance da obtenção
como o poderio elitista antes constantemente unânime, agora de elementos informacionais que foram negados ao indivíduo
se desmembra na tentativa de incluir todos os povos. pela própria sociedade, quando este se encontrava livre.
A denotação desse novo paradigma social abre margem para Cabe mencionar que, mesmo caminhando para uma vereda de
criação de um pensamento coletivo e expansivo da informação, oportunidade de conhecimento, não se enxerga aqui a biblio-
colocando em evidência o seu uso e a apropriação de uma for- teca como unidade de salvamento, mas um processo dentre os
ma mais multilateral. A partir disso, as bibliotecas passaram a vários que tentam minimizar o poder excludente proposto pelo
ser públicas, depois escolares, universitárias, comunitárias, es- sistema penitenciário. Na seção seguinte, será explanado mais
peciais e começaram a coexistir dentro de perspectivas antes afundo sobre prisões e bibliotecas em presídios e as particulari-
pensadas somente para a elite. Agora o molde social em que dades que permitem a conversa entre a pessoa privada de liber-
era necessário se adentrar, as periferias, comunidades e lugares
dade e a informação.
marginalizados, como presídios, passam a contar com a pre-
sença da unidade de informação.
A biblioteca é, por fim, é um lugar em que se pode encontrar 3 I PRISÃO E BIBLIOTECAS
possibilidades de caminhos entre o indivíduo e a informação,
permitindo que se esclareça sobre inverdades anteriores, pre- Analisar os primeiros passos que deram sentido ao que vem a
ceitos mal concebidos e encaminhe-se para a rota de seu pró- ser prisão nos dias de hoje é essencial para entender como as
prio descobrimento, suas raízes culturais, sociais, a história de bibliotecas podem de fato subverter a vida anterior das pes-
seu povo, sua ancestralidade, o empoderamento de seu enten- soas privadas de liberdade. Realizando uma pesquisa com os
dimento de mundo. Desse modo, a percepção que a biblioteca autores que se debruçaram em estudar o sistema prisional,
pode ser um desses caminhos para esse encontro do indivíduo percebe-se que a origem desse sistema inclui elementos di-
faz com que os processos de trabalho do bibliotecário tenham versos e que estão ligados intimamente aos fatores colonia-
significado e relevância social. listas, capitalistas e escravocratas, mas que, em seu cerne, ca-
Nessa esfera, pensar no caminho da biblioteca em presídios e racterizam sempre o mesmo modo de opressão às camadas
pensar nesses espaços informacionais em ambientes prisionais sociais mais desfavorecidas.
72
Em o “Cárcere e a Fábrica”, os autores Melossi e Pavarini (2017), Isso determina uma situação de vida que o teor da vida do deti-
estudiosos da história do sistema penitenciário, descreveram do é sempre inferior ao mínimo do trabalhador livre ocupado (de
acordo com o dito princípio da less eligibility), mas pode ser supe-
como nasceu o sistema penitenciário na Europa e nos EUA nos rior ao trabalho do desempregado, e pode, paradoxalmente, sig-
séculos XVI – XIX, a partir da ótica do capitalismo. Em linhas nificar “melhoria”, seja em termos de condições de vida, seja em
gerais, eles exprimem o fortalecimento da estrutura capitalis- termos de consciência, para o subproletariado. [...]. Pode-se ob-
ta por meio da transição da mão de obra humana, dita ultra- servar, em geral, ao menos para o período examinado, que a força
passada, pela máquina, aumentando, assim, o número de de- de trabalho e as condições de vida e de trabalho dos prisioneiros
tendem a seguir, um grau mais baixo, as da massa proletária no
sempregados, moradores de rua, pedintes e criminosos. Essa seu conjunto. Se isso não acontece, o cárcere corre risco de perder,
população é encaminhada para as casas de correção ou casas para a classe dominante, todo o seu poder de intimidação. (ME-
de trabalho, conhecidas como as primeiras prisões penais. Nes- LOSSI; PAVARINI, 2017, p. 84).
tes locais, experimentavam o trabalho forçado para que fossem
Esse trecho da história citado nesse estudo serve para o relacio-
adestrados à nova forma de produção, recebendo um baixíssi-
narmos à ideia de divisão social que lá ocorreu, mas que tam-
mo salário, incompatível com a jornada de trabalho. Essa crise
bém se sucedeu no Brasil por intermédio da herança colonial e
agrava-se quando também, nesse cenário, havia trabalhadores
do regime de escravidão, trazendo a manutenção de perfil de
livres, que reivindicam o encerramento das oficinas de traba-
presos no Brasil: pessoas pobres e pretas que não têm acesso
lho nas prisões, pois forneciam uma competitividade desleal de
ao mínimo de educação, moradia digna e infraestrutura. Além
mercado em relação aos salários dos trabalhadores livres.
disso, cabe aqui relacionar à criminalidade a falta de oportu-
O que se denota na obra em tela é a percepção de como a socie- nidade, tanto de trabalho quanto de comida, acesso educação
dade buscou a punição por intermédio da divisão social, impos- e propriedade, como podemos ver no fragmento abaixo trazi-
ta pela modelo capitalista da época. Assim, os pobres, vadios e do por Juliana Borges, que é estudiosa do encarceramento em
criminosos eram entregues em um sistema de casas de correção massa no Brasil.
ou casas de trabalho, impostos ao trabalho quase que escravo à
troca de migalhas, enquanto a população livre também tinha Vivemos em uma sociedade marcada pela lógica hoje neoliberal, e,
problemas de acesso ao trabalho, o que culminava num cultivo desde a sua fundação, racista e com desigualdades de gênero. São
opressões estruturais e estruturantes de uma sociedade que surge,
dessas classes para sujeição à prisão ou à liberdade da miséria.
para o mundo ocidental pela exploração colonialista e ainda marca,
O trabalho é trazido como forma de punição, um modo de fazer em todos os seus processos, relações e instituições sociais, as carac-
com que essas pessoas fossem disciplinadas a partir dele e, ao terísticas da violência, a usurpação, a repressão e o extermínio da-
mesmo tempo, trazendo uma competição desleal com os ope- quele período (BORGES, 2018, p. 41-42).
rários livres que deveriam acatar qualquer tipo de valor ofereci-
do pelos patrões, segmentando o controle da força de trabalho,
como podemos ver nos trechos seguintes.
73
A população carcerária brasileira é uma das maiores no mundo, Todo esse histórico envolto nas questões raciais no Brasil, bem
ocupando o ranking de terceiro lugar mundial, ficando atrás dos como o sistema colonial, gerou uma herança nacionalmente ex-
EUA, país que ocupa o primeiro lugar com pouco mais de duas cludente. O distanciamento de políticas inclusivas e educacio-
milhões de pessoas privadas de liberdade, e da China, em se- nais, bem como a criação da lei de Drogas que, recentemente,
gundo lugar, com pouco mais de um milhão e setecentas pesso- impulsionou o aprisionamento desse grupo social, o qual inclui
as presas, de acordo com os dados do World Prison Brief (2020). pessoas pobres e pretas. Segundo levantamento do Centro de
O sistema penitenciário brasileiro há tempos é tratado como Estudos de Segurança e Cidadania – CESeC (2021), que estuda o
uma estrutura frágil e prestes a ruir, pois os moldes e os precei- impacto dos custos da proibição das drogas nos cofres públicos,
tos que os mantêm de pé são os mesmos desde a sua fundação. relacionando com os gastos em presídios, pessoal e toda ampli-
Esse modelo prisional foi feito, porque, no passado, acredita- tude presente nesse sistema, a criação dessa lei:
va-se que encarcerar sem ter uma política lógica de ressociali-
reforçou o proibicionismo e o encarceramento em massa no Brasil,
zação era necessário para punir os crimes cometidos contra a uma vez que aumentou o tamanho das penas privativas de liber-
sociedade. Se formos para as linhas específicas direcionadas dade para casos de tráfico. Ao tentar diferenciar consumidores de
aos perfis do encarceramento no Brasil, veremos que sua po- traficantes sem estabelecer critérios objetivos, a lei aprofundou es-
pulação é majoritariamente preta ou parda, segundo dados tereótipos e agravou a criminalização seletiva da juventude negra e
periférica (CESEC, 2021, s/p).
do Levantamento de Informações Penitenciarias – INFOPEN
(BRASIL, 2020), correspondendo a 66,69% do total dos respon- Esse sistema excludente também se denota quando é segmen-
destes. A história que é repetidamente contada sobre o perfil tada a questão de gênero. Dando ênfase ao perfil de encarcera-
dessa população étnica demonstra um grande afastamento de mento feminino, que é o foco deste trabalho, vimos, nos últimos
políticas de inclusão de homens e mulheres pretas, que, desde anos, uma explosão no crescimento de aprisionamento de mu-
a colonização, sofrem com a marginalização da sociedade, ten- lheres no Brasil. De acordo com o INFOPEN (2020), no ano 2000,
do que, por vezes, recorrerem ao crime, o qual se oferece como tinha-se uma média de 6000 mulheres privadas de liberdade,
uma solução não prática, mas que está ali à mão, sendo o único quando contrapostos esses dados com o ano de 2020, observou-
caminho possível. Nesse aspecto, Borges (2018) comenta que: -se mais de 37 mil mulheres presas. Alarmante e preocupante,
esse número, que só vem crescendo, representa mais de 18 mil
neste sentido, a primeira mercadoria do colonialismo, e seu posterior
mulheres presas por causa da Lei de Drogas, representando mais
desenvolvimento capitalista no país, foi o corpo negro escravizado.
Este foi um processo que não se fixou apenas na esfera física da opres- de 57% em relação aos outros crimes, conforme a INFOPEN.
são, mas estruturou funcionamento e organização social e política do A questão do tráfico de drogas abarca outras problemáticas
país. Sendo assim, as dinâmicas das relações sociais são totalmente
sociais que são inerentes à vida da mulher brasileira, como a
atravessadas por esta hierarquização racial (BORGES, 2018, p. 57).
violência doméstica, a relação de machismo, que é muito pre-
74
sente, a submissão em sempre obedecer ao companheiro e recreativos e didáticos” (BRASIL, 1984). Apesar da lei, não signi-
outras relações de poder que são, muitas das vezes, o motivo fica que exista uma garantia formal de sua existência.
que as leva à prisão. A maior parte das mulheres encarceradas Como havia sido pautado nas seções anteriores, o sistema car-
também são mães, que, muitas vezes, precisam abdicar de cerário no Brasil sofre de várias mazelas, sucateamento, super-
seus filhos para cumprirem suas penas; ou entram no presídio lotação, uma alimentação precária e vários outros problemas
grávidas, manter o filho junto a ela até os 6 meses, enquan- inerentes ao espaço prisional. Nesse viés, a biblioteca constitui-
to os amamentam. Segundo a INFOPEN (2020), até junho de -se como parte importante no processo de vivência da pessoa
2020 havia 1850 crianças presentes em estabelecimentos pri- privada de liberdade, funcionando como uma extensão da sala
sionais junto às suas mães. de aula, também de direito da pessoa presa, o que serve como
O PREFEM, que foi o universo pesquisado, refletia muito em to- apoio em materiais de consulta e além de servir como ponte in-
dos esses pontos colocados até aqui: mulheres, em sua maioria, formacional com o mundo lá fora.
negras, mães, vítimas de violência doméstica, abusos, analfa- A garantia das bibliotecas em presídios também é defendi-
betas ou que nem se quer terminaram o Ensino Fundamental da por órgãos internacionais, como a Organização das Nações
e muitas delas presas por tráfico de drogas. São histórias con- Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), da Federa-
tadas individualmente, mas que, na maioria das vezes, reúnem ção Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias
um modelo de perfil das mulheres no cárcere. (IFLA), que escrevem juntas um manifesto sobre as recomen-
Partindo dessa identificação dos problemas sociais que são dações desses espaços em ambientes prisionais, conforme o
intrínsecos ao encarceramento no Brasil, o perfil, as necessi- trecho a seguir:
dades e o recorte de gênero que foram realizados fazem-se ne-
cessários para identificar como a biblioteca pode se fazer útil à Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na
igualdade de acesso para todos, sem distinção de idade, raça, sexo,
pessoa privada de liberdade; e como ela pode auxiliar com sua religião, nacionalidade, língua ou condição social. Serviços e mate-
função social de compartilhar junto ao indivíduo elementos riais específicos devem ser postos à disposição dos utilizadores que,
necessários para sua construção enquanto pessoa, sua forma- por qualquer razão, não possam usar os serviços e os materiais cor-
tação enquanto cidadão possuidor de direitos, que, muitas das rentes, como por exemplo minorias linguísticas, pessoas deficien-
vezes, podem ter sido negligenciados fora do sistema. tes, hospitalizadas ou reclusas (MANIFESTO IFLA/UNESCO, 1994, p.
2, grifo nosso).
É importante ressaltar que bibliotecas em presídios são pau-
tadas pela Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984, art. 21, Capítulo Esse amparo internacional conclama para que sejam validados
V, a qual afirma que “‘em atendimento às condições locais, do- os direitos fundamentais da pessoa em privação de liberdade,
tar-se-á cada estabelecimento de uma biblioteca para uso de pois existe uma barreira física que torna o indivíduo isolado,
todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, porém remanesce seus direitos enquanto ser intelectual, que
75
pode ir em busca de sua educação escolar e universitária, intei- tos livros não circulassem entre as outras internas, visto que elas
rar-se de informações intramuros e ter acesso ao conhecimento. não tinham acesso à biblioteca, além disso, não havia nenhuma
No relatório do INFOPEN (BRASIL, 2020), felizmente, os dados mediação ou atividade relativa aos livros lidos. Os livros eram
sobre as unidades de informação tiveram um salto, passando solicitados, entregues, lidos ou não, recolhidos e iniciava-se um
de 796 bibliotecas, em 2019, para 822 até julho de 2020, de um novo ciclo de empréstimos, às vezes, a mesma interna solicitava
total de 1443 unidades prisionais, uma porcentagem de 56,96%. o mesmo livro duas ou três vezes por não conhecer outros títulos
Mesmo com o aumento significativo do número de unidades, o que a biblioteca possuía (FERNANDES, 2019).
levantamento não estabelece quais são as condições ideias das Sendo assim, é necessário ressaltar que o profissional da infor-
bibliotecas, se é uma sala com três exemplares de livros ou se mação auxilia no processo de dinamização do espaço da biblio-
uma biblioteca munida de vários exemplares, itens informa- teca, possui os fundamentos necessários para organizá-la, para
cionais diversos, então, não é possível afirmar que exista uma dar circulação aos itens informacionais e, acima de tudo, me-
situação favorável em relação ao número, se não sabemos o que diar a leitura e inferir outras possibilidades de seu uso. O biblio-
ele corresponde, mas é positivo sinalizar esse aumento das bi- tecário prisional não é um cargo previsto dentro do código de
bliotecas nas unidades prisionais. vagas do sistema prisional brasileiro, porque muitos trabalham
Também é fator de avaliação das bibliotecas em presídios pen- de forma voluntária ou como agentes de pesquisa.
sar na dinâmica de seu funcionamento, porque muitas não são
organizadas adequadamente, uma vez que não existe um qua- 4 I MULHERES EM SITUAÇÃO DE CÁRCERE E A BIBLIOTECA
dro de profissionais bibliotecários à frente dos trabalhos. Nes- EM SUA FUNÇÃO SOCIAL: PRIVAÇÃO DE LIBERDADE
se sentido, pode pecar pela falta de incentivo à difusão do livro VERSUS LIBERDADE DE PRIVAÇÕES
e da leitura dentro do sistema, pela ausência de medidas que
possam fazer com que a leitura perpasse os intramuros da pri-
são e funcione como um auxílio para muitos ali. Nesta seção, será abordado como foi realizado o projeto no
PREFEM e como se deu a importância da biblioteca a partir das
Na perspectiva do PREFEM, onde foi realizado o estudo que ori-
atividades realizadas, colocando foco em uma unidade de in-
ginou este capítulo, a biblioteca era conduzida por duas internas
formação que antes era pouco usada dentro do presídio, o que
que estimulavam o seu uso mediante visitas às celas para coletar
fez com que essa fosse vista como objeto em potencial dentro
os títulos solicitados com as outras mulheres. Os livros eram soli-
da unidade, a partir das dinâmicas culturais realizadas com
citados por intermédio dessa lista, coletados e enviados por essas
foco nas ambiências sociais das internas.
duas responsáveis. A ordenação dos livros era feita por assuntos
principais e alguns eram ordenados por cores, mas não havia O Presídio Feminino de Sergipe abrigava cerca de 232 mulheres
um padrão. Essa falta de uma organização fazia com que mui- no ano de realização da pesquisa, entre 2018/2019, dispostas
76
em 2 pavilhões de 10 celas cada um, uma cela extra destinada Ensino superior
incompleto
para ala da maternidade, lembrando que a capacidade de vagas 1
do presídio era de 176 vagas, indicando, assim, uma lotação ex- Ensino médio Analfabetas
completo 22 11
cedente de 56 vagas. A rotina dessas mulheres começa quando,
às 7h da manhã, são abertas as celas e elas podem circular den- Ensino médio
26
tro de seus pavilhões. Mais tarde, são divididos os grupos para incompleto

banhos de sol ou atividades na quadra. As que são designadas


74 98
para algum trabalho no presídio tomam seus postos no horário Ensino Fundamental Ensino Fundamental
incompleto I 2ª fase incompleto I 1ª fase
indicado e as que fazem parte de um programa de estudo enca-
minham-se para as classes destinadas. Não há vaga no sistema
educacional para todas, mas cursos de formação profissiona-
lizante também são oferecidos, de modo que consigam abar-
car o máximo de internas possível. Então, mesmo as que não
trabalham ou as que não estão fazendo o ensino fundamental/ Gráfico 1: Quantitativo total pavilhão 01 e 02. Fonte: Fernandes (2019).
médio, acabam tendo oportunidades extras, como os cursos
mencionados, mesmo que esse número não contemple todas. Inicialmente, esses encontros tinham o intuito de identificar
Dentro do perfil das mulheres que estavam encarceradas no informações que eram comuns entre elas. O propósito foi de
PREFEM na época da pesquisa, a maioria acompanhava a mé- entender aspectos socioculturais sobre a vida delas, como os
trica nacional em relação ao nível educacional, sendo a maior caminhos que as levaram até o cárcere e quais eram as tipolo-
parte não concluinte do Ensino Fundamental, como é verificado gias de leituras prediletas. A partir das informações obtidas nos
no gráfico 1. Além disso, acompanham também os dados refe- encontros, foi possível definir quais livros, considerando o tema
rentes ao perfil étnico, sendo a maior parte preta ou parda. do texto, poderiam gerar um debate profícuo que fosse propí-
A história dessas mulheres é escrita, muitas vezes, por percur- cio a um processo de reconstrução. Esses grupos iniciais eram
sos tortuosos em suas vidas, oriundas de famílias disfuncio- escolhidos de modo aleatório, juntamente com a direção peda-
nais e circunstâncias que não propiciam enxergar possibilida- gógica do presídio, obedecendo somente aos critérios de dispo-
des oportunas de mudança de vida. A forma encontrada de nibilidade e bom comportamento, dando preferência para as
entender e poder fazer com que a biblioteca pudesse auxiliar, mulheres que não tinham atividades fora do pavilhão.
em alguma medida, a reconstruir suas histórias, foi realizan- Dentro dos grupos iniciais – mulheres que já tinham feito em-
do encontros semanais com o propósito de estimular a fala préstimos na biblioteca –, foi detectado que a maioria delas lia
dessas mulheres. os mesmos livros. Sabe-se que a falta de um catálogo e de infor-
77
mação sobre os demais títulos existentes no acervo da bibliote- afeta essas mulheres, porque parecia ser uma situação (história
ca do PREFEM contribuíram para isso, já que o acesso ao local de amor) utópica, ideal. Entretanto, quando o conteúdo do livro
era proibido. Além disso, a única maneira que elas encontravam passou a ser debatido em grupo, ficou evidente que os aspectos
de se inteirar sobre os livros existentes era por intermédio das de uma relação amorosa abusiva eram usuais e recorrentes na
recomendações de outras internas. A informação passava de vida pessoal delas. Isto é, o que elas viam na obra parecia ser
pavilhão para pavilhão e o consumo dos mesmos livros acabava algo desejável, mas, no fundo, eram situações de violência vi-
se tornando uma tendência, repetindo-se pela falta da reno- venciadas por elas anteriormente.
vação de informação. Esse comportamento também foi obser- Esses grupos de discussão aconteceram por quase 6 meses an-
vado pelo caderno de empréstimo, no qual eram registrados o tes da aplicação do projeto de intervenção e de mediação na bi-
nome da pessoa que requeria o item e título emprestado. Itens blioteca junto às mulheres do PREFEM, proposto como resulta-
como a trilogia “50 Tons de Cinza” (JAMES, 2012) estavam no do da pesquisa. A partir de então, foi possível pontuar uma boa
topo dos empréstimos, além de serem os mais desgastados da amostra dos assuntos mais recorrentes que poderiam ser abor-
biblioteca. Esse fato sobre o tema de leitura de preferência das dados durante o processo de mediação da informação e incen-
internas, registrado nos cadernos de empréstimo, chamou a tivo à leitura na biblioteca na penitenciária. Em outras palavras,
atenção nos encontros realizados com elas durante a pesquisa. passadas as discussões em relação ao livro “50 tons de cinza”,
Foi possível, então, explorar o livro de uma maneira abrangen- outros assuntos foram introduzidos nos debates com as mulhe-
te, enfatizando a forma como o abuso transvertido de amor era res do PREFEM: pontos diversos sobre religião e espiritualidade
presente na obra, o que foi, paulatinamente, reconhecido por no presídio, a forma de como a sexualidade era abordada entre
elas como muito recorrente nas relações delas vividas fora do as mulheres no cárcere, a questão do estímulo à educação no
cárcere. A discussão em relação a esse livro ganhou um artigo cárcere versus as oportunidades intramuros.
que debateu a fundo essas questões (FERNANDES, 2019).
Certamente a atividade de leitura e debate utilizando aspectos
A obra “50 Tons de Cinza” foi um divisor de águas na questão de do conteúdo do livro “50 tons de cinza” foi imprescindível para
entender o mundo dessas mulheres, pois a percepção de vio- que a modelagem da mediação de incentivo à leitura das mu-
lência, abuso, machismo, maternidade, feminismo foram te- lheres do PREFEM, propositura dessa pesquisa de mestrado,
máticas abordadas por intermédio das várias nuances descritas pudesse ser pensada. Releva-se que essa pesquisa teve suporte
na obra. Todas as discussões em relação ao livro trouxeram uma metodológico do campo do Design e, dentre as possibilidades,
aproximação entre pesquisador e público, o que fez com que, optou-se pela concepção da metodologia de inovação em De-
em muitos momentos, a atuação no sistema prisional deixasse sign com foco no ser humano. Isso quer dizer que, para a gestão
de ser “questões de pesquisa” e passasse a ser contato puramen- das informações e tratamento de conteúdo, houve a descentra-
te humano e empático em relação a tantos casos de violência lização da disciplina de Biblioteconomia para, em um engen-
expostos e experiências singulares de vidas. A história do livro dramento multidisciplinar, tornar relevante o pensamento do
78
Design no processo de planejamento do modo como a media- A ação de mediação foi planejada para ser trabalhada com
ção junto às internas poderia ser desenvolvido. A metodologia três grupos distintos de 12 mulheres, dois desses grupos for-
de inovação prevê a realização de novas ações com o foco no mados por mulheres que utilizavam a biblioteca para emprés-
melhoramento do amanhã para as pessoas envolvidas. Corro- timos e o outro grupo caracterizado por mulheres que não a
bora-se, aqui, o pensamento de Guillermo (2011, p. 91) acerca utilizavam. Cada grupo foi caracterizado por um assunto es-
de o porquê a designer projeta com visão de futuro: “O foco pecífico, o qual foi denotado como emergente à época: femi-
principal é permitir sempre um porvir melhor para o ser huma- nismo, maternidade e violência doméstica, como é detalhado
no; pensar nesse futuro é, prioritariamente, acreditar nele”. Foi e explicado na Figura 1, abaixo.
acreditando nas possibilidades de um futuro diferente para as
mulheres do PREFEM que a mediação foi planejada.
Importante se faz deixar claro que o Design é um campo que
CURTA PREFEM
subverte a pedagogia do tempo4 e projeta contextos de futuro
para as pessoas. Nesse sentido, um ponto crucial do planeja- PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES
mento da mediação foi mostrar como a prática de leitura e au-
TEMA TEMA TEMA ATIVIDADE
tonomia crítica sobre os textos poderiam acontecer mesmo de- Violência Feminismo Maternidade Fechamento
pois que a interna não tivesse mais em contato com o projeto. doméstica
Utilizando da metodologia em Design, foi possível projetar um GRUPO 01 GRUPO 02 GRUPO 03 G1 -G2- G3
processo mais orgânico e lúdico para que as mulheres tivessem LEITORAS LEITORAS NÃO LEITORAS
contato com temas caros a suas vidas. O processo de planeja-
mento envolveu as seguintes etapas: a I compreensão das ca-
racterísticas psicográficas e demográficas do usuário; buscando
saber quais as tipologias de linguagens faziam parte do mundo
delas dentro do presídio, assim como as faixas etárias e nível de
escolaridade de cada uma das participantes (internas voluntá-
rias); b I definição de ações criativas de leitura e debates que
propiciassem a interação da pesquisadora com as mulheres.

4 Pedagogia do tempo é um termo utilizado pelo autor Álvaro Guillermo (2011, p. 97) com
o intuito de refletir acerca da imposição de que o fazer só pode ser atribuído ao presente, Figura 1: Temas apresentados para ação de intervenção.
já que o passado se foi e sobre o futuro não sabemos nada. Fonte: Fernandes (2019, p. 84).
79
A partir da escolha dos assuntos, foi necessário caracterizar Relação de temas com
quais tipos de dispositivos informacionais poderiam ser utili-
a realidade cotidiana
zados para a realização da mediação da informação com as in-
ternas. Para isso, observou-se que a maior parte das celas con- das mulheres (M) em
situação de cárcere. relacionemento abusivo
tinham televisores que exibiam a programação da TV aberta, Lei Maria da Penha
sendo assim, plausível o caminho da linguagem audiovisual violentômetro
como proposta interessante. Além disso, já que se tratava de
uma mídia familiar, esse recurso audiovisual foi trabalhado
juntamente com os textos escolhidos, congregando lingua-
gens e suportes. Foram selecionados filmes curtas-metragens
para antecipar os temas selecionados, os quais, por passarem
a mensagem em linguagem audiovisual e em pouco tempo,
auto-valorização TEMA familia
facilitaram o desenvolvimento da mediação, que tinha que ser violência doméstica
realizada em duas horas.
Para cada tema, tratados em dias separados, foi escolhido um abuso
filme curta-metragem ou um minidocumentário. Juntamente aborto
com esses dispositivos audiovisuais escolheu-se trechos de li-
M afetividade
TEMA TEMA
vros que também versavam sobre as temáticas apresentadas. feminismo maternidade
Na mediação, foi apresentado, em cada dia, um ou mais curta-
-metragem para, após a exibição, fomentar a discussão sobre
o tema visto. Em seguida, os textos foram lidos pelas próprias
internas, propiciando fluidez do conteúdo do que foi assistido.
A última etapa tinha por finalidade formular uma dinâmica código social
criativa, na qual as internas pudessem pensar sobre o que foi empoderamento
machismo
exposto e externar livremente suas ideias por intermédio da
representatividade
produção de cartazes. O planejamento e desenvolvimento des-
sas atividades pode ser observado na Figura 2.

Figura 2: Demonstrativo de atividades da ação de intervenção.


Fonte: Fernandes (2019, p. 90).
80
Os temas tratados afetaram sensivelmente as mulheres. No As questões no segundo grupo seguiram para a temática so-
primeiro grupo, que refletiu sobre a temática de violência do- bre feminismo, um assunto que envolve diretamente as pautas
méstica, observou-se que os curtas-metragens e os textos con- sobre violência doméstica e o lugar que as mulheres ocupam
seguiram construir pontes com as dores ali presentes. Os filmes no mundo. Novamente, o curta-metragem trouxe uma mensa-
mostrados tinham em comum, com a mulheres participantes gem objetiva, com explicações cotidianas sobre as questões de
da mediação, os relatos de abuso e violência sofridos; várias in- feminismo e empoderamento feminino. Muitas mulheres no
ternas identificaram-se imediatamente com o conteúdo exibi- PREFEM são negras, tem diariamente seus corpos silenciados,
do. Uma leitura de um texto em particular, o “Violentômetro”5, não se aceitam por uma sociedade que reproduz o racismo co-
que discorre sobre os níveis de violência contra a mulher e até
tidianamente. Além disso, os textos trazidos trouxeram exem-
que ponto é necessário procurar ajuda, teve uma atenção signi-
plos de mulheres que resistiram ao machismo e a todo tipo de
ficativas nas discussões. Houve reflexões, por exemplo, sobre o
que é violência branda na opinião do texto e na própria opinião violência e conseguiram feitos importantes na história. O des-
de experiência das internas. Assim, a mediação tornou-se tão taque da mediação nesse encontro estava na própria fala6 das
profícua a ponto de reavaliarmos um texto e lhe dar outro tipo internas ao se externarem sobre o entendimento obtido por
de interpretação. A Figura 3 ilustra o momento de mediação so- intermédio da leitura, da exibição do curta e da discussão (FER-
bre o dia em questão: NANDES, 2019, p. 98).

I Aceitar mais nós mesmas, não o que a mídia empurra. O nosso


cabelo, cor da pele (Curie, 2019).

I A gente achou bom, se identifica, tem que se achar bonita sem


alguém falar, também pela cor, né? Que eu sou negra também, né
(Apgar, 38 anos).

I A questão né? Porque hoje em dia o ser humano se move mais


com que os outros pensam, mas eu não penso dessa forma, eu não
incomodo que me achem gorda, que eu sou assim, toda vida eu me
assumi eu mesma, sofri por parte de pessoas: ‘a moda tá magra, não
sei o quê, você tem que emagrecer’. Eu não, eu me amo do jeito que
eu sou (July, 28 anos).
Figura 3: Grupo 1 Violência Doméstica.
Fonte: Imagem de autoria de Paulo Roberto Fernandes Júnior (2019).
5 COORDENADORIA da mulher do Tribunal de Justiça da Paraíba. Violentômetro. 2018.
Disponível em: https://www.tjpb.jus.br/coordenadoria-mulher/violentometro. Acesso 6 Os nomes das internas foram alterados para se manter o anonimato.
em: 02 abr. 2021.
81
No terceiro dia, o tema discutido foi sobre a questão da mater- oportunidade de revisitar a violência, associando-a a aspectos
nidade. Esse dia em particular foi destinado às mulheres que sociais jamais pensados por aquelas mulheres. Foi possível tor-
não realizavam empréstimos junto à biblioteca, e que classi- nar o cômico em uma tragédia e fazer com elas pudessem refle-
ficamos como não leitoras. Mesmo em se tratando de um pú- tir sobre qual o lugar social que elas querem ocupar, ou ainda,
blico que não era assíduo na prática de leitura, notou-se que a o que é preciso pensar e saber para que o lugar social possa ser
dinâmica de discussão e de leitura dos textos disponibilizados mais humano e seguro.
funcionou de maneira semelhante aos outros dias, com outros
grupos. O curta-metragem (FIGURA 4), trouxe exemplos de
mães em ambiente do cárcere e propunha reflexão acerca de
ter filhos nascidos no sistema, da hora da despedida depois do
período de amamentação e, também, sobre as mulheres que
optavam por se isolar depois de serem presas – sem visitação
–, na opção de não quererem expor suas famílias àquela situa-
ção. Os textos também tinham aproximação com a caminhada
vivida por aquelas mulheres e as reflexões sobre o tema pos-
sibilitaram conhecer a realidade sofrida, que é de ser mãe no
cárcere; o isolamento intramuros, que é por parte física chega
em vias dolorosas à estrutura mental dessas mulheres, as quais
passam por um distanciamento ainda maior neste sentido: o
abandono e esquecimento.
Figura 3: Grupo 1 Violência Doméstica.
O que pode ser demostrado, mediante as dinâmicas apresenta- Fonte: Imagem de autoria de Paulo Roberto Fernandes Júnior (2019).
das, é que a biblioteca foi lugar de vida durante os dias de ati-
vidade, pulsou em assuntos íntimos, carnais e sociais daquelas Muitas dessas mulheres nunca tiveram oportunidade de pisar
mulheres, além de os textos e os dispositivos imagéticos con- em uma biblioteca antes, sendo assim, o ato físico e político
seguirem fazer com que elas tivessem uma reflexão das suas desse acontecimento dentro de um presídio diz muito sobre
vivências e um entendimento de suas histórias; as quais eram a sociedade brasileira. Muitas fizeram a prática da leitura em
semelhantes aos textos, no entanto, possíveis de mudança. Nos voz alta, narrando ali acontecimentos de outrem, mas que se
depoimentos das mulheres, a violência doméstica, por exem- misturam com suas próprias histórias. O ato da leitura em voz
plo, é tão naturalizada que o tom de suas narrativas era, em alta desprende-se do contexto colocado, alcança um patamar
várias vezes, cômico. Algumas disputavam qual foi a ação mais discursivo importante sobre essas vozes que são, muitas vezes,
violenta sofrida. Sendo assim, o diálogo na biblioteca foi uma silenciadas e reprimidas dentro do seu contexto de vida.
82
As práticas de mediação que ocorreram nesses dias na biblio- ção, a escravidão e a opressão social ainda são insistentes nos
teca colocaram em evidência a importância de atividades com dias de hoje. Dessa maneira, falar de bibliotecas em presídios
conteúdos que convidem à reflexão do ser humano, à sua bus- é construir num discurso necessário acerca de um ambiente
ca por conhecimento, à sua construção social no mundo. Essas frutífero que pode atenuar as estruturas sociais decadentes, as
informações, muitas vezes, podem ter sido negadas a essas quais mantêm presas sempre as mesmas massas: aquelas que
mulheres durante seu período de liberdade. Desse modo, a tem o básico negado ainda enquanto são livres.
biblioteca firma, portanto, não somente um papel figurativo Essa análise final sobre esse jogo de palavras que o título apre-
de livros físicos e uma estrutura “obrigatória” no sistema, mas senta é justamente para entender sumariamente o que foi
um organismo vivo que tem a potência de florescer em outros trazido neste estudo: a) a abordagem das bibliotecas enquan-
a noção do seu eu que é silenciado e apagado diariamente to unidades de informação, importantes no desenvolvimento
pela falta de políticas públicas e pela manutenção de políticas social de um espaço e comunidade; b) os presídios e suas es-
de extermínio da nossa sociedade. truturas inicias; c) as problemáticas e estatísticas nacionais que
O louvor que se faz aqui pela biblioteca não a celebra como trazem dados importantes para que o diálogo entre livros e as
salvadora, mas estimula sua potencialidade de trabalho, vis- pessoas privadas de liberdade aconteçam; e, por fim, d) o estu-
lumbrando o seu lado social que talvez hoje seja mais neces- do no PREFEM que traz a materialidade da teoria processada
sário do que nunca. aqui, a prática viva e aplicada.
O entendimento de bibliotecas como agentes sociais mistu-
ra-se em várias nuances, do lado de fora, são públicas, comu-
5 I CONSIDERAÇÕES FINAIS
nitárias, escolares, dentre outras; além de terem a finalidade
de fornecer ao indivíduo ferramentas informacionais para que
Bibliotecas e sua importância física e social nos presídios car- possa ter seu entendimento social e cultural no mundo. Dentro
regam um contexto paradoxal nos seus termos, pois dividimos dos muros prisionais, a biblioteca pressupõe as mesmas carac-
aqui a importância física: durante muito tempo a biblioteca foi terísticas das de fora, mas com uma função mais singular: a de
vista como algo belo, protegido, organizado e intocado; e por devolver à pessoa privada de liberdade a sua noção enquanto
outro lado social: a fluidez do mundo permitiu que seus mate- indivíduo, pois, enquanto cidadão e pessoa inserida na socieda-
riais pudessem, de alguma forma, emprestar pertencimento a de, considera-se que novas circunstâncias para um futuro me-
outras estruturas socias, ou seja, a dinâmica da sociedade foi lhor podem ser criadas.
escrita por intermédio dos seus registros e estes precisavam ser Nesses processos, falou-se com um público feminino privado
lidos, apreciados e apropriados por outros. Ademais, mesmo de liberdade, adentrou-se em assuntos íntimos que doem e es-
com toda história escrita e registrada, as guerras, a coloniza- tão ali pulsando a todo momento, porém ao utilizar de modela-
83
gens criativas, propostas por intermédio das metodologias em identidades sociais são apagadas. Viva a biblioteca, ao livro, à
Design, e estratégias que pensam nas confluências de lingua- informação e ao conhecimento difundido e compartilhado.
gens, como o curta-metragem, trechos de livros e dinâmicas, foi
possível que as informações fossem organicamente fluidas, dis-
cursadas, interpretadas e apropriadas. Dessa forma, a profissio- I REFERÊNCIAS
nal em biblioteconomia embricada de todos esses elementos e
BRASIL. Lei Federal n° 7.210, de 11 de julho de 1984: Lei de Execução
se alinhando a práticas emprestadas do Design pode potencia- Penal. Brasília, 11 de julho de 1984. Disponível em: http://www.planalto.
lizar suas ações e fazer a diferença em seus locais de atuação. gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm. Acesso em: 02 abr. 2019.
Além disso, foi visto, nessa pesquisa, que é necessário fazer um BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Departamento
estudo de imersão antes da gestão da informação a ser traba- Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de Informações
lhada, para que seja possível entender sobre o contexto em que Penitenciárias – INFOPEN. Brasília, 2020. Disponível em: https://www.
a mediação será desenvolvida, assim como enxergar com em- gov.br/depen/pt-br/sisdepen/mais-informacoes/relatorios-infopen.
Acesso em: 02 abr. 2021.
patia e respeito a história individual de cada um dos indivíduos
do contexto, com a finalidade de que se possa conhecer a me- BORGES, J. O que é encarceramento em massa? Belo Horizonte:
Letramento: Justificando, 2018.
lhor maneira de lidar com a informação para aquele público.
CESEC 2021. Quanto custa proibir? 2021. Disponível em: https://
O PREFEM, local em que a pesquisa foi realizada, tem nos dias drogasquantocustaproibir.com.br/sobre/. Acesso em: 02 abr. 2021.
de hoje a chama ainda acessa dos projetos que foram fomenta- FERNANDES JÚNIOR, P. R. Presídio Feminino Nossa Senhora do Socorro-
dos durante essa pesquisa. As ações, mesmo após o seu térmi- SE. 2019. 2 fotografias.
no, ainda continuam graças à direção, que viu com bons olhos FERNANDES, R. G. S. A. O estímulo à leitura em bibliotecas prisionais
os resultados da mediação. Assim, uma agente penitenciária por meio do desenvolvimento de dinâmicas culturais. 2019. 157f.
passou a dar seguimento aos trabalhos na biblioteca, realizan- Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão da Informação e do
do, periodicamente, ações de mediação, como o “clube do livro”, Conhecimento) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2019.
que, em meio a pandemia, foi uma das únicas atividades que FERNANDES, R. G. S. A. et al. 50 tons de cinza e relacionamento
abusivo: um olhar do cárcere. Revista Brasileira de Biblioteconomia e
continuam a ocorrer no PREFEM. Nesse sentido, os livros foram
Documentação, São Paulo, v. 15, p. 390-405, dez. 2019. Disponível em:
os abraços calorosos das visitas que não puderam acontecer https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/1344. Acesso em: 13 abr. 2021.
durante o período infortúnio de isolamento social por causa GUILLERMO, Á. Design, Inovação e visão de futuro. In: CAMPOS, G. B.;
Covid-19. Mais do que isso, essa visão demonstra como ações LEDESMA, M. (orgs). Novas Fronteiras do Design Gráfico. Estação da
planejadas e coordenadas, a partir de estudos que elevam a di- Letras: São Paulo, 2011. p. 91-100.
nâmica social da biblioteca, entendendo o seu contexto e sua JAMES, J. L. 50 tons de cinza. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012.
importância em ambientes prisionais, funcionam como pro- MELOSSI, D.; PAVARINI, M. Cárcere e fábrica: as origens do sistema
cessos de aprendizagem e conscientização em lugares que as penitenciário (séculos XVIXIX). Revan, 2017.
84
SANTOS, J. M. O processo evolutivo das bibliotecas da antiguidade ao
renascimento. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação,
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2011. Disponível em: https://periodicos.furg.br/biblos/article/view/1945.
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Disponível em: https://www.prisonstudies.org/highest-to-lowest/prison-
population-total. Acesso em: 02 abr. 2021.

1 I INTRODUÇÃO
85 CAPÍTULO 7

A BIBLIOTECA COMO PROTAGONISTA NO ÂMBITO DA THE LIBRARY AS A PROTAGONIST IN THE FRAMEWORK OF


PESQUISA ACADÊMICA E A RELAÇÃO PROMISSORA ACADEMIC RESEARCH AND THE PROMISING RELATIONSHIP
COM AS METODOLOGIAS ATIVAS WITH ACTIVE METHODOLOGIES

Telma de Carvalho
Bárbara França Barcellos

RESUMO ABSTRACT
As metodologias ativas têm por finalidade incentivar o aluno a The active methodologies have the purpose of motivating the
aprender de maneira autônoma e participativa. O principal ob- student to learn in an autonomous and participative way. The
jetivo da biblioteca universitária é promover o acesso e uso das main objective of the university library is to promote access and
fontes de informação disponíveis. No âmbito da pesquisa acadê- use of available information sources. Regarding academic re-
mica, o comportamento informacional de alunos universitários search, the student´s informational behaviour passes through
perpassa por caminhos complexos no processo de busca por in- complex paths in the process of seeking information. This arti-
formação. Esse artigo apresenta a inter-relação entre a pesquisa, cle presents the inter-relation between the research, the library
a biblioteca e as metodologias ativas, de modo a propor a partici- and the active methodologies in order to propose a more active
pação da biblioteca de uma maneira mais ativa no planejamen- participation of the library in the pedagogical planning of the
to pedagógico da instituição com a finalidade de potencializar o institution with the goal of potentializing the access and use of
acesso e uso das fontes de informações disponíveis pela comuni- information sources available by the academic communityl.
dade acadêmica.
KEYWORDS: University library. Informational behavior.
PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca universitária. Comportamento Active methodologies. Data base. Bibliographic survey.
informacional. Metodologias ativas. Bases de dados.
Levantamento bibliográfico.
86
A biblioteca se configura como um elemento de relevante impor- gico da universidade e devem promover no aluno o aprender a
tância na formação acadêmica do aluno e sua finalidade na insti- aprender. No âmbito pedagógico, além dos treinamentos e pa-
tuição vai além das atividades básicas de aquisição de materiais lestras, pode-se apostar também em assessorias de pesquisas
bibliográficos e digitais, processamento técnico e atendimento com foco na necessidade do aluno, ou seja, atividades que per-
ao usuário. Seu papel é dar suporte ao ensino, à pesquisa e à ex- mitam atender a uma demanda específica de cada aluno e/ou
tensão, além de contribuir na formação dos futuros profissionais. grupo específico O comportamento informacional deve ser com-
Compreender seu valor em tempos de metodologias inovadoras preendido como aquele processo necessário para que as pessoas
de ensino aprendizagem é buscar envolver suas atividades nos aprendam a buscar e usar a informação de forma ativa, eficaz e
planos pedagógicos de ensino e não somente ser considerada eficiente. Treinamentos e palestras para grandes grupos podem
quando a instituição passar por uma avaliação. Conforme sinali- não ser o suficiente para atender à essa necessidade
za Oliveira (2002) a importância dada às bibliotecas de Institui- Nessa perspectiva, os professores e os bibliotecários são os prin-
ções de Ensino Superior “[...] é apenas uma exigência legal das cipais responsáveis para atenderem às novas demandas dos mo-
instituições de ensino superior, posto que a mesma é avaliada delos de ensino que protagonizam as metodologias ativas, pois
enquanto infraestrutura para os cursos, sem a vinculação com as possuem competências para atuarem diretamente no planeja-
propostas pedagógica dos mesmos” (OLIVEIRA 2002, p. 219). mento dos programas de ensino. O bibliotecário tem o papel de
Cunha (2000) diz que, para as bibliotecas acompanharem as multiplicador e precisa desenvolver atividades em parcerias com
mudanças tão recorrentes no ensino e atenderem às demandas os professores, de forma a ter papel mais ativo nesse processo.
de formação das universidades, é preciso assimilar os novos pa- A gama disponível de informação em meio eletrônico e o cons-
radigmas. Nesse sentido, faz-se necessário refletir sobre o papel tante avanço da tecnologia potencializou o acesso à informa-
das bibliotecas universitárias no contexto dos novos modelos ção em espaço físico e eletrônico, por outro lado, percebe-se
de ensino aprendizagem, onde as propostas dos projetos pe- a dificuldade dos alunos na busca por informação na pesqui-
dagógicos das universidades estão seguindo uma linha de mu- sa acadêmica, necessitando, portanto, de mediadores que os
dança e contempla, dentre outras competências, a promoção orientem para esse fim. Para Pierruccini (2007), na biblioteca,
de alunos autônomos na busca do conhecimento, exercitando o conjunto de práxis deve ser direcionada de modo a atender
a curiosidade, o pensamento, a imaginação e a criatividade. as necessidades do ensino ativo visando o aprendizado perma-
No espaço da biblioteca é necessário pensar em uma formação nente e o pensamento crítico, em que as orientações de pesqui-
para que o aluno adquira habilidades de pesquisa para a tomada sa mediadas pelo bibliotecário promovam no aluno a capacida-
de decisão e para a produção de conhecimento. Nesse sentido, as de de lidar com as fontes, localizar as informações pertinentes,
atividades desenvolvidas na biblioteca, tanto de cunho cultural saber selecioná-las e reelaborá-las objetivando a produção e/
quanto pedagógico, devem estar atreladas ao projeto pedagó- ou criação de novas informações.
87
Nesse contexto é possível perceber pontos que se cruzam na I Ensino: Criação de salas com o conceito de ALC (Active Learning
relação promissora das metodologias ativas com a bibliote- Classrooms) no espaço da biblioteca; criação de espaços de produ-
ca. Aprendizagem autônoma, poderia assim dizer, é o “termo ção de conteúdo educativo à distância;
chave” que representa a ligação intrínseca e ainda pouco ex- I Ambiente e infra-estrutura: Utilizar estrategicamente a luz na-
plorada, entre os métodos ativos e as atividades da biblioteca tural e plantas para manter o ambiente mais convidativo e agradá-
na promoção do aluno ativo, crítico e reflexivo. Rué (2009, p. vel; contato e proposta de parceria junto aos cursos de arquitetura
161), ao abordar sobre o aprender com autonomia no ensino da universidade para eleger alternativas baratas de criação de sala
de leitura e estudo com sistema de isolamento de som; instalação
superior através da aprendizagem baseada em problema, de tomadas para carregamento de bateria de computadores pes-
apresenta a informação como um dos fatores que deve ser soais e dispositivos móveis; mobiliário com rodas que possibilite
considerado na “autorregulação (capacidade de autoguiar uma ambientação flexível; paredes de vidro; criação de laboratório
na autoaprendizagem)”. Ele diz, ainda, que o aluno “precisa experimental; criação de laboratório de multimídia e criatividade
para o desenvolvimento de atividades práticas paralelas às ativi-
aprender a desenvolver uma gestão eficiente da informação,
dades curriculares; criação de espaço de lazer e convivência (smart
saber usar as possíveis fontes, os meios tecnológicos para che- TV; totem para carregar celular; puffs; videogame); diminuição ou
gar até ela etc.” (RUÉ, 2009, p. 169). retirada do balcão de atendimento; sistema de auto-empréstimo e
auto devolução (COSTA, 2017, não paginado, grifo nosso).
O espaço físico da biblioteca também deve ser levado em consi-
deração no processo de ensino aprendizagem, no contexto das Além de proporcionar aos alunos o acesso aos livros e platafor-
metodologias ativas. Nesse sentido, Costa (2017, não paginado) mas digitais, a biblioteca precisa oferecer um ambiente propí-
apresenta propostas de reconfiguração do espaço físico para cio para a socialização e dispor de um espaço leve, agradável e
ser dinâmico e incitar a liberdade criativa. A proposta contem- atrativo, pois medidas como essas promovem a interação entre
pla mudanças no acervo, na interação, no ensino, no ambiente as pessoas, o aprender a aprender e a criatividade do sujeito.
e, na infraestrutura:
Com isso, pretende-se aqui chamar a atenção sobre a importân-
I Acervo: Diminuir o espaço reservado às coleções; estantes desli- cia da biblioteca no âmbito da pesquisa acadêmica e sua liga-
zantes; arquivamento em local específico de todos os materiais que ção com as propostas de ensino nos moldes das metodologias
estão disponíveis em formato digital; programa de descarte dos ativas. Aprender com autonomia não é tão simples quanto pa-
materiais não emprestados; ASRS (Sistema de Armazenamento e
Recuperação); Consórcio de armazenamento único de coleções en-
rece, considerando-se que a busca por informação por estudan-
tre diferentes instituições; tes universitários muitas vezes se dá por vias tortuosas e não se
pode deixar a cargo do aluno “aprender sozinho” os caminhos
I Interação: Instalar um café em cada biblioteca junto a um espaço da pesquisa acadêmica e científica.
de descanso e descontração; Mesas de trabalho em grupo e espaços
de interação pela biblioteca; Criação de salas de silêncio com prote- A literatura das áreas de Ciências da Saúde apresenta que, para
ção acústica; espaço para apresentações culturais e artísticas; promover uma aprendizagem autônoma dos estudantes em
88
formação com uso das metodologias ativas, cabe aos progra- ta o letramento informacional, com um olhar voltado para a
mas educacionais, sobretudo aos professores, instruir, mediar, autonomia da pesquisa tendo em vista os métodos inovado-
orientar e explicar quanto à busca ativa da informação para res de ensino e o perfil do aluno universitário da atualidade
que o aluno possa, a partir de então, adquirir competências e (GASQUE, 2013). O Information Literacy é outra vertente da
habilidades quanto ao acesso e uso da informação em suas ati- área da Ciência da Informação que discute bastante quanto à
vidades acadêmicas e profissionais. Orientam Hissachi e Tsuji educação do estudante voltado para pesquisa na perspectiva
(2010), em relação ao passo seis do tutorial na aprendizagem do acesso e uso crítico da informação, além do papel interati-
baseada em problemas, “de posse das questões de aprendiza- vo da biblioteca nesse processo no qual suas concepções gi-
gem, o grupo está apto a discutir a estratégia de busca de infor- ram em torno do processo investigativo, aprendizado ativo e
mações. Nesse momento, se o grupo não realizar a estratégia aprendizado independente (DUDZIAK, 2003).
de busca espontaneamente, o tutor deve desencadeá-la” (HIS-
Percebe-se que, tanto as metodologias ativas quanto a bibliote-
SACHI; TSUJI, 2010, p. 159).
ca, demonstram interesses em comum na promoção do apren-
Souto (2010) diz que as atividades da biblioteca também com- dizado autônomo, eficiente e eficaz do estudante na pesquisa
preendem essas concepções, para tanto, não basta apenas via- acadêmica, portanto, nota-se que tanto instituições acadêmi-
bilizar o acesso aos materiais e recursos informacionais para a cas e profissionais vêm trabalhando nessas questões de forma
pesquisa e/ou notificar o público alvo quanto à disponibilidade isolada, e isso pode trazer consequências negativas para os re-
de uma informação potencialmente relevante, uma vez que a
sultados aos quais essa filosofia se propõe. A biblioteca está
pesquisa realizada pelo estudante, muitas vezes, envolve um
inserida no contexto educacional e deverá participar de forma
misto de incertezas e ansiedade e não se limita, apenas, em
ativa no processo de ensino aprendizagem.
satisfazer uma demanda, encontrar e reproduzir informação;
trata-se de uma busca de informação imbuída por uma busca Para que os métodos de ensino inovadores obtenham os re-
de significados, conforme enfatiza Kuhlthau (1991). Na litera- sultados esperados em seu plano pedagógico se faz necessária
tura da Ciência da Informação já se percebe um discurso em uma educação voltada para a informação e, nesse caso, educa-
prol da biblioteca, sobretudo a universitária, como um espaço dores e bibliotecários precisam atuar em parceria. Estudos de-
de aprendizagem, na tentativa de ampliar o entendimento monstram que no âmbito acadêmico, bibliotecários e docentes
da biblioteca enquanto ambiente para leitura e/ou estudo, ainda não compreendem os papéis e as expectativas um do ou-
empréstimos, devolução e guarda de livros (SOUSA, 2009). tro (DUDZIAK, 2003). O resultado dessa parceria poderá trazer
Quanto à busca por informação pelo estudante, em tempos de grandes contribuições no processo de ensino aprendizagem.
avanços tecnológicos – que traz consigo mudanças no modo Mediar, instruir e orientar o estudante na busca ativa da infor-
de ofertar serviços, no acesso e uso destes pelo público da mação para a construção do conhecimento são funções que
biblioteca –, a literatura da Ciência da Informação apresen- cabem tanto ao professor, quanto ao bibliotecário.
89
É muito comum presenciar nas bibliotecas, após o professor sua área de estudo, e possa propor as resoluções dos problemas
apresentar uma atividade, que os alunos envolvidos em uma propostos pelo tutorial.
pesquisa em bases de dados demonstram diversas dúvidas e A Metodologia utilizada para a realização deste trabalho pauta-
inquietações sobre onde, como e quando pesquisar, seja entre -se na pesquisa bibliográfica, entendida por Pizzani et al. (2012)
as prateleiras do acervo ou em um computador. São inúmeras como estudos fundamentados e estruturados com base na lite-
as dificuldades quanto à seleção, acesso e uso da informação, ratura científica de determinada área do conhecimento, através
sobretudo, dos alunos da graduação e, com isso, o “Ctrl C Ctrl das consultas de livros, artigos científicos, dentre outras fontes.
V” se tornou uma prática corriqueira a ponto de comprometer Caracteriza-se, também, como pesquisa descritiva, na medida
o ensino aprendizagem dos alunos. Em diversas situações o em que busca apresentar os fatos e fenômenos de determinada
estudante de nível superior apresenta dificuldades diante das realidade e estabelecer relações entre as variáveis (GIL, 1999).
atividades que envolvem a pesquisa acadêmica; são várias as
dúvidas quanto ao acesso às bases de dados, à formulação de
estratégias de pesquisa com o uso dos operadores booleanos, 2 I A PESQUISA ACADÊMICA NO CONTEXTO
ao uso da base de dados ideal para realizar determinada pes- DAS METODOLOGIAS ATIVAS
quisa, em como filtrar uma pesquisa diante da gama de infor-
mações disponíveis ou mesmo como efetuar a localização do Sabe-se o quanto são complexos os caminhos da pesquisa aca-
livro na estante, seja por assunto ou área do conhecimento. Isso dêmica por alunos universitários na busca por conhecimento,
remete ao treinamento de usuários, pois a falta de habilidades sobretudo os recém-chegados. A prática mostra que eles saem
para acessar as fontes de informação da biblioteca ou de conhe- do ensino médio sem nenhuma base de pesquisa acadêmica e
cimento das bases de dados de sua área específica, denota a isso dificulta bastante seu desempenho na universidade e, a par-
necessidade de um estudo de usuário para compreender suas tir disso, pode-se observar algumas situações que comumente
demandas informacionais, além de prestar orientação e capaci- acontecem no âmbito da pesquisa em bibliotecas universitárias.
tação para que este aluno adquira competência em informação. O levantamento bibliográfico sobre essa temática mostra di-
Tendo em vista o exposto, levanta-se o seguinte problema de versos casos parecidos, tanto em âmbito nacional, quanto in-
pesquisa: que contribuições a biblioteca poderia oferecer para ternacional. Uma revisão de literatura estrangeira sobre com-
melhorar o desempenho do aluno na busca por soluções para portamento informacional de crianças e adolescentes apontou
resolução dos problemas levantados no Tutorial, para cursos que “[...] os adolescentes muitas vezes se sentem ansiosos e
que utilizam as metodologias ativas de ensino aprendizagem? subjugados. Nesse caso, as bibliotecas e serviços de informação
Diante disso, o objetivo deste capítulo é identificar as contri- devem se antecipar às suas necessidades e procurarem dispo-
buições da biblioteca para que o aluno atinja desempenho sufi- nibilizar as informações de forma mais acessível e atraente [...]”
ciente para lidar com as fontes de informação em pesquisa, em (FIALHO; ANDRADE, 2007, p. 33).
90
Essas questões são observadas frequentemente em bibliote- Por diversos fatores, os alunos na graduação sentem dificulda-
cas, salas de aula e são muito discutidas entre professores e de quanto ao acesso e uso da informação, seja no manejo das
bibliotecários. Na literatura da Ciência da Informação também ferramentas de busca em bases de dados e/ou na escolha do
é um assunto recorrente; as pesquisas de campo demonstram termo chave para realizar uma pesquisa. Por sua vez, a utiliza-
que as dificuldades no âmbito da pesquisa acadêmica se dão ção dos recursos informacionais é sempre vista como obstácu-
devido à falta de orientação adequada aos alunos, tanto pelo lo, conforme aponta estudo realizado pelas autoras Savi e Silva
professor quanto pelo bibliotecário, conforme aponta Oliveira (2009), em pesquisa que analisa o fluxo da informação na prá-
e Campello (2016, p. 185-186) num estudo sobre as dificuldades tica clínica dos médicos residentes do Hospital Universitário da
que permeiam a pesquisa escolar: UFSC. De acordo com as autoras, os profissionais não possuíam
habilidade em suas práticas de pesquisa.
[...] falta de questionamento e debates acerca da pesquisa; falta
de orientação pelo professor e pelo bibliotecário, ou precariedade A falta de conhecimentos mais específicos sobre as potencialidades
dessa orientação; prática recorrente da cópia pelos alunos; falta de de uso das fontes de informação e do aproveitamento mais intenso
preparo do professor e do bibliotecário para orientar a pesquisa; de fontes de informação em evidência são pontos que poderiam es-
falta de preparo do aluno para empreender a pesquisa; falta de in- tar mais integrados à prática clínica, a fim de ampliar o espectro de
teração entre bibliotecário e professor; insuficiência das avaliações informações que possam levar à melhor conduta a ser aplicada. Os
acerca da pesquisa efetuada; falta de orientação para uso da Inter- cursos de graduação e os programas de residência médica devem
net (OLIVEIRA; CAMPELLO, 2016, p. 185-186). estar atentos para tais dificuldades e proporcionar o desenvolvi-
mento de competências, para que os médicos estejam preparados
Essas questões apresentadas pelas autoras ainda são possíveis para avaliação e uso da literatura médica, e de todos os recursos in-
de se perceber nos dias atuais, seja quanto às dificuldades apre- formacionais acessíveis (SAVI; SILVA, 2009, p. 190)
sentadas pelos alunos, ou quanto à falta de interação entre pro-
fessor e bibliotecário. Falta de conhecimento e de habilidades no De acordo com esse estudo, a raiz do problema estaria na for-
manejo dos recursos informacionais disponíveis é a conclusão mação acadêmica, sendo estendida até a carreira profissional.
a que se chega na maioria das pesquisas sobre comportamento É possível que exista uma deficiência na formação acadêmica,
informacional e uso da informação na prática clínica de médicos seja por parte dos estudantes ou por parte da instituição quan-
residentes e profissionais das áreas de ciências da saúde (MAR- to à orientação, divulgação e/ou acesso e uso de fontes de infor-
TÍNEZ-SILVEIRA; ODDONE, 2007). É sabido que os moldes de mações baseada em evidências.
ensino de acordo com as metodologias ativas requerem dos pes- Numa pesquisa sobre experiências em busca de informação
quisadores, sejam estudantes ou profissionais, competências e por médicos residentes, Lima (2005) buscou saber sobre as
habilidades em suas pesquisas, seja na elaboração de estratégias necessidades informacionais e sobre o grau de conhecimento
de busca, na seleção de fontes de informação adequada ou na quanto ao uso de fontes de informação e da biblioteca de médi-
construção do conhecimento a partir dessas fontes. cos residentes da Faculdade de Medicina de Marília – FAMEMA.
91
A autora relata que “[...] menos da metade (45%) dos residentes busca na pesquisa. Conforme apontam Novelli, Hoffmann e
apontaram ter sido capacitados por meio de cursos durante a Gracioso (2014, p. 34) “[...] a utilização desses recursos infor-
graduação em Medicina [...]” (LIMA, 2005, p. 16). macionais de forma eficaz e satisfatória requer que os usuá-
Em outra pesquisa, Martínez-Silveira e Oddone (2007) apresen- rios os conheçam e saibam manipulá-los adequadamente”.
tam o resultado de um estudo empírico realizado por Martínez- Para dar um diagnóstico preciso na assistência de um paciente,
-Silveira (2005), sobre comportamento informacional de médicos o profissional da área de saúde conta com sua experiência e com
residentes, onde também se percebe a falta de habilidades dos o aprendizado de sua formação acadêmica, porém, é preciso es-
médicos recém-formados quanto ao manejo de bases de dados. tar atento aos avanços da ciência e da tecnologia, uma vez que as
pesquisas nessa área são crescentes. Além disso, as redes de notí-
As características das fontes também intervinham de forma impor- cias, os espaços colaborativos de comunicação em saúde e os por-
tante, pois as bases de dados eletrônicas resultavam de difícil ma-
nejo, os indivíduos não dominavam a prática de utilização dos re-
tais de informação científica são os responsáveis por disseminar
cursos e não acreditavam que pudessem encontrar com facilidade informações para os pares; é preciso estar atento às mudanças e
as respostas nestas fontes (MARTINEZ-SILVEIRA, 2005, p. 184 apud saber utilizar a informação clínica de forma adequada. Quanto à
MARTÍNEZ-SILVEIRA; ODDONE, 2007, p. 125). necessidade e busca por informação pelos estudantes universitá-
rios é de fundamental importância a realização de estudos sobre
Essas pesquisas apresentam as mesmas características de
o modo peculiar de como esses alunos pesquisam, o que permi-
comportamento informacional, de variados tipos de usuários,
tirá prever as suas dificuldades em fontes de informação espe-
no tocante às deficiências quanto ao acesso e uso de produtos
cíficas. Esse tipo de estudo permitirá conhecer, também, como
e serviços ofertados pelas bibliotecas. Esses são dados preo-
eles elaboram o planejamento e as estratégias de pesquisas que
cupantes, uma vez que, em suas práticas clínicas, esses profis-
utilizam no momento da busca por informação, além do conhe-
sionais irão se deparar com situações de terem que consultar
cimento que têm das bases de dados de sua área de atuação. No
outros tipos de estudos para tomadas de decisão clínica, seja
caso do ensino através das metodologias ativas é importante que
sobre um tratamento mais específico ou em outra situação
o bibliotecário conheça, também, o planejamento pedagógico
qualquer, diante das várias fontes de informação em saúde
dos cursos, além do grau de dificuldade dos alunos na pesquisa
disponíveis, como: portais, bibliotecas virtuais, periódicos
em seus planejamentos de estudo.
eletrônicos e bases de dados específicas. Essas fontes de in-
formação disponibilizam diversos tipos de estudos: relatos É preciso que a biblioteca e/ou o bibliotecário compreendam
de casos, revisão sistemática, avaliação econômica em saúde, a raiz das demandas informacionais de determinado público
guia de prática clínica. Tais estudos podem ser recuperados e imbuídos desse conhecimento busquem capacitar os alunos
por títulos, palavras chaves e tipo de publicação, o que requer quanto à busca por informação em fontes de pesquisa. O que
do profissional ou estudante habilidades de estratégias de se percebe, muitas vezes, é que os alunos não costumam plane-
92
jar suas pesquisas, desconhecem estratégias de busca e não sa- Nessa perspectiva, observa-se a Ciência Cognitiva como um
bem filtrar de forma adequada o material que desejam dentro aporte teórico para os estudos que se voltam para o comporta-
de uma determinada base de dados. mento informacional do usuário, com foco, sobretudo, na cons-
trução de sentido do sujeito e os possíveis motivos, de caráter
particular e situacional, que suscitam a sua busca por informa-
3 I COMPORTAMENTO INFORMACIONAL: ção para a tomada de decisão. É nesse contexto que se apresen-
PERSPECTIVAS DA MEDIAÇÃO NO PROCESSO ta a relação entre o comportamento informacional e metodo-
DE BUSCA DA INFORMAÇÃO logias ativas através da metáfora do sense-making, construído
por Brenda Dervin (1983). Para essa relação, portanto, é possível
O comportamento de busca e as necessidades informacionais identificar pelo menos três pontos diretamente relacionados
passaram a ser objeto de estudo de vários autores e surgem na aos preceitos básicos apresentados pela autora, a saber:
tentativa de compreendê-los para que possam se ofertar servi-
ços bibliotecários que melhor atendam às demandas informa- I a busca e uso da informação são atividades construtivas, como
criação pessoal de sentido.
cionais de determinados públicos.
Choo (2003) compreende que as necessidades informacionais I pesquisa/busca por padrões de comportamento, visando apontar
como os indivíduos constroem sentido para as suas vidas, em vez
estão relacionadas às competências cognitivas do indivíduo, ou da busca por procedimentos mecanicistas de entrada-saída.
seja, diz respeito ao processo pelo qual se desenvolve a cons-
trução do conhecimento, onde a busca da informação se dá a I focaliza na forma como o indivíduo usa suas observações, tanto
partir de uma pergunta e/ou deficiência, a um sistema ou fonte suas, quanto de outras pessoas e as usa para direcionar sua condu-
ta. (DERVIN, 1983 apud GONÇALVES, 2013, p.108-109 grifo nosso).
de informação. Esta busca por informação perpassa por várias
etapas: do momento da necessidade, à solicitação da obra pelo Percebe-se, a partir desses elementos, como se deve pensar o
usuário, e se estende às funções cognitivas do sujeito que inter- estudante pesquisador na busca por informação para tomada
ferem de forma significativa nesse processo. de decisão e como se dá sua relação com as fontes de pesquisa
Assim como a percepção e o raciocínio, a linguagem é uma função e sistema de informação. A busca por informação sob o enfoque
cognitiva que interfere neste processo. É através dela que se faz a construtivista está relacionada com a maneira de como o ser
comunicação entre o usuário-leitor de biblioteca e o profissional adquire conhecimento, a partir das experiências de vida e da
bibliotecário, não somente de forma presencial, mas também interação com o meio. Para Siqueira e Erdmann (2007), o modo
por meio das bases de dados. Conhecer e compreender em que como o sujeito direciona suas decisões em pesquisa a partir das
contexto os termos são utilizados no momento da busca, bem observações que giram em torno do seu universo é um proces-
como conhecer a linguagem natural do usuário de determinada so interativo que interfere de maneira positiva ou negativa na
biblioteca, facilitam a recuperação, o acesso e uso da informação. construção do conhecimento.
93
Estudos apontam esse conjunto de fatores que se inter-relacio- vos com capacidades e habilidades para a pesquisa científica
nam no processo de aquisição do saber pelo indivíduo. A cog- e, também, de análise discursiva. Ainda sobre mediação, con-
nição situada, um dos elementos estudados do sense-making, vém dizer que as propostas de ensino no século XXI preveem
também discorre nessa perspectiva quando mostra a dinamici- uma formação onde a criança e o jovem estarão no centro do
dade entre a aprendizagem e a formação do conhecimento. De processo de ensino-aprendizagem com ações que estimulem o
acordo com Nassif e Venâncio (2008, p. 97), aprender a aprender. Para promover nos alunos tais competên-
cias e habilidades se faz necessário uma educação voltada para
considerando os conceitos relativos ao interacionismo, à linguagem a busca de informação visando a construção do conhecimento
e à emoção, a informação e o conhecimento podem ser analisados
sob um novo enfoque, a partir da cognição situada. Em oposição às
de maneira autônoma e reflexiva.
concepções da informação como algo captado de uma realidade Para desenvolver as atividades no contexto das metodologias
objetiva e externa, capaz de modificar as estruturas cognitivas do ativas, o aluno precisa traçar seu planejamento de estudos e de
indivíduo, como nos moldes da abordagem cognitivista, a cognição
situada permite compreender a informação como uma construção
pesquisas, além de buscar conhecer e atualizar-se nas fontes dis-
realizada pelos sujeitos, a partir das realidades sócio-históricas vi- poníveis em informação. A pirâmide da evidência (SAVI; SILVA,
venciadas por ele (NASSIF; VENÂNCIO, 2008, p. 97). 2009) abaixo, e representada na figura 1, apresenta alguns tipos
de estudos em saúde para o nível de evidência e seu valor científi-
A biblioteca é considerada como um espaço de aprendizado e co que os alunos deveriam conhecer, pois auxiliam na elaboração
o bibliotecário pode atuar tanto como gestor do conhecimen- de pesquisas ou tomadas de decisão para intervenção clínica.
to, quanto mediador dos processos de busca por informação
(DUDZIAK, 2001). Para tanto, torna-se fundamental o papel Estes tipos de estudos ajudam a fortalecer os argumentos nas
de mediador do bibliotecário para guiar, orientar e capacitar os discussões, nos tutoriais e em sala de aula visando à resolução
estudantes a se tornarem autônomos em suas pesquisas aca- do problema. Portanto, o aluno precisa ter conhecimento e sa-
dêmicas, conforme apresentam Novelli, Hoffmann e Gracioso ber em que situação da pesquisa deverá utilizar uma revisão
(2014). A partir do momento que os estudantes conhecem com sistemática, um estudo de caso, um estudo de corte ou meta-
propriedade os serviços e as fontes de informação dos espaços nálise, dentre outros.
das bibliotecas e no meio eletrônico, estes passam a utilizá-los Ao conhecer com propriedade os serviços e as fontes de infor-
com maior autonomia e interesse e isso reflete na sua apren- mação dos espaços das bibliotecas os estudantes passam a
dizagem. Faz-se necessário promover práticas de orientação de utilizá-la com maior autonomia e interesse, refletindo na sua
pesquisa, de modo a favorecer a busca por informação pautada aprendizagem. A mediação da informação, nesse contexto,
na construção do conhecimento. deve favorecer uma busca pautada na construção do conheci-
Outro desafio, atrelado à mediação da informação por parte mento. Para Almeida Júnior (2015) a mediação no contexto das
dos bibliotecários, é o de promover leitores críticos e reflexi- bibliotecas universitárias deve ser:
94
realizada em um processo, por um profissional da informação e na crítica, exercitar o diálogo e ter habilidades para a resolução de
ambiência de equipamentos informacionais-, direta ou indireta; conflitos. Para promover nos alunos tais competências e habili-
consciente ou inconsciente; singular ou plural; individual ou coleti-
dades, se faz necessário uma educação voltada para a busca da
va; visando a apropriação de informação que satisfaça, parcialmen-
te e de maneira momentânea, uma necessidade informacional, informação, visando a construção do conhecimento de maneira
gerando conflitos e novas necessidades informacionais. (ALMEIDA autônoma e reflexiva e é através da mediação da informação
JÚNIOR, 2015, p. 25) e da capacitação formal, para uso dos recursos das bibliotecas,
Desse modo, a mediação deve contemplar as dificuldades dos que os profissionais bibliotecários contribuem de forma dire-
alunos, conhecer o grau de dificuldade dos alunos quanto a va- ta na formação do aluno pesquisador crítico e reflexivo, como
bem pontua Nunes (2015, p. 99).
lidade, aplicabilidade e importância dos artigos científicos e
fontes de informação, contribuir com as disciplinas com vistas a A mediação da informação é uma ação que se encontra na essência
do trabalho do profissional da informação, em especial dos biblio-
ampliar as habilidades e competências dos alunos nos recursos tecários atuantes nas bibliotecas universitárias. Sua importância vai
de informação para tomadas de decisão. Preparar o aluno para as além do atendimento direto ao usuário, pois considera-se que é a
demandas atuais do mercado, dentre outras competências como partir da mediação que se torna possível a apropriação da informa-
ção, capaz de tornar o usuário um indivíduo que saiba não apenas
exercitar a curiosidade intelectual, saber utilizar as tecnologias utilizar a informação, mas também avaliá-la e criticá-la com vistas
digitais de comunicação e informação de forma crítica, exercitar a utilizá-la com propriedade e, a partir daí, construir um papel ativo
o diálogo, e ter habilidades para a resolução de conflitos. em qualquer ambiente onde atue (NUNES, 2015, p. 99).

Mediar a informação nesse contexto compreende observar o Seja na busca por informação simples ou para uma pesquisa aca-
novo paradigma da Ciência da Informação: o pós-custodial, dêmica, a biblioteca universitária constitui-se como um setor
por este dialogar cada vez mais com as atividades, serviços e relevante no processo de ensino-aprendizagem do aluno. Ainda
com as novas modalidades de ensino, que giram em torno da que em tempos de revolução digital e, diante de toda a gama de
comunicação (SILVA, 2010). informações disponíveis nos meios eletrônicos novas formas de
Segundo Smolkal et al. (2013) em diversas instituições de ensi- obtenção da informação sejam promovidas, o espaço físico da bi-
blioteca, com a presença de livros e demais suportes de informa-
no do país notam-se mudanças nas grades curriculares em prol
ção, é ainda bem utilizado e tem a vantagem de possuir biblio-
de inserir os métodos ativos no processo de ensino-aprendiza-
tecários aptos a sanar dúvidas e a auxiliar seus usuários na busca
gem, tanto na graduação quanto no ensino infantil, fundamen- por informação. O papel da biblioteca continua sendo: organizar,
tal e médio. As construções dos currículos se baseiam numa tratar, preservar, disseminar e mediar a informação, seja no es-
formação que seja capaz de preparar o aluno para as deman- paço físico ou em meio eletrônico, facilitando o acesso, a busca
das atuais do mercado, com diferentes competências, como, e a recuperação da informação, tanto para a tomada de decisão,
por exemplo: exercitar a curiosidade intelectual, saber utilizar quanto para produção de conhecimento pelo o aluno, professor,
as tecnologias digitais de comunicação e informação de forma pesquisador ou qualquer pessoa da sociedade.
95
Eis o seu protagonismo no processo de ensino-aprendizagem ção nas atividades que envolvem pesquisa. Situações de plágio
no espaço acadêmico, sobretudo, no âmbito das metodologias também são comuns acontecerem na universidade. Quanto às
ativas: entender as necessidades de seus alunos, seu comporta- pesquisas em bases de dados, percebe-se, ainda, a falta de cri-
mento de busca e uso da informação e prover capacitação nas térios nas escolhas das fontes de informações disponíveis, pois
atividades e serviços oferecidos, a fim de que adquiram autono- o estudante não tem o costume de avaliar se as informações
mia e competência informacional. que constam nas mesmas são confiáveis e se, de fato, atenderão
às suas necessidades informacionais e se atingirão o propósito
de aprendizagem de determinada disciplina.
4 I CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse sentido, é preciso identificar as principais dificuldades
dos alunos em relação à elaboração de pesquisas diante dos
Com base no que foi apresentado, pretende-se chamar a aten- métodos ativos que são adotados, além de conhecer o grau de
ção para a importância da biblioteca no âmbito da pesquisa dificuldade quanto a verificação de validade, aplicabilidade e
acadêmica e sua relação com as propostas de ensino nos mol- importância dos artigos científicos e das fontes de informação
des das metodologias ativas, tendo em vista as mudanças no utilizadas, de modo a contribuir com as disciplinas com vistas a
processo de ensino aprendizagem que estão acontecendo no ampliar as habilidades e competências dos alunos nos recursos
ensino superior. Desse modo, para os métodos inovadores de de informação para tomadas de decisão.
ensino direcionados para o aprender a aprender e aprendiza-
gem autônoma, a pesquisa propõe uma educação voltada para
a informação, uma vez que, no âmbito da pesquisa acadêmica,
Revisões sistemáticas e
no contexto das metodologias ativas, o comportamento informa- metanálises
cional de alunos universitários perpassa por caminhos comple- Ensaios clínicos
randomizados e Relatos de corte
xos na busca por informação, de modo que a participação ativa controlados
da biblioteca no planejamento pedagógico da instituição se faz Estudos de caso e controle
necessária, no sentido de potencializar o acesso e uso das fontes Estudos de séries de caso
de informações disponíveis para a comunidade acadêmica.
Relatos de caso
Para atender a essa demanda, a biblioteca precisa conhecer e
Editoriais, opiniões
compreender as metodologias de ensino da instituição e pro-
por ações que dialoguem com esses métodos, pois isso fará Pesquisa em animais
toda a diferença no momento de auxiliar alunos e professores Pesquisa em laboratório
nas atividades de pesquisa. É muito comum os professores se
queixarem sobre a falta de criticidade, de criatividade e de cita- Figura 1: Pirâmide da evidência. Fonte: Savi; Silva (2009)
96
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TSUJI, H.; SILVA, R. H. A. Aprender e ensinar na escola vestida de
branco: do modelo biomédico ao humanístico. São Paulo, SP: Phorte, 2010.
99

I ÍNDICE

acervo, 17, 18, 19, 20, 21, 24, 25, 28, 29, 30, 34, 37, 38, 39, 46, 59, informação, 03, 04, 05, 06, 07, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 17, 18, 19, 20,
60, 61,62, 66,69, 77, 87, 89. 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 29, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 41, 44, 46,
acesso e uso da informação, 88, 89, 90, 92. 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 68, 69, 70, 71,
75, 77, 82, 83, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96.
biblioteca prisional, 68, 69.
mediação cultural, 07, 31, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 67, 68.
biblioteca pública, 7, 50, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62,
63, 64, 65, 66, 67, 74. mediação da informação, 05, 07, 31, 48, 50, 51, 53, 54, 65, 69, 77,
79, 93, 94, 96, 97.
biblioteca universitária, 7, 31, 33, 43, 44, 45, 47, 49, 50, 85, 95,
96, 97. métodos ativos, 87, 94, 95.
bibliotecário, 9, 35, 38, 42, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 52, 53, 57, 60, necessidade informacional, 17, 18, 19, 29, 94.
61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 70,71, 75, 84, 86, 88, 90, 91, 92, 93, 94, 95. paradigma social, 54, 65, 66, 71.
bibliotecas, 05, 07, 19, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 39, 41, 42, 43, 44, pesquisa, 03, 05, 06, 07, 10, 11, 14, 15, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24,
45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 53, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 64, 65, 66, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 33, 34, 35, 36, 38, 39, 41, 43, 45, 48, 50,
67, 68, 69, 70, 71, 74, 75, 82, 83, 84, 86, 89, 90, 91, 93, 94, 96, 97. 53, 56, 57, 58, 61, 63, 65, 66, 68, 69, 70, 71, 74, 75, 76, 77, 78, 83,
catálogo, 07, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 28, 29, 30, 76. 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97.
Ciência da Informação, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 14, plataformas digitais, 05, 87.
15, 16, 30, 34, 35, 41, 42, 45, 50, 51, 54, 65, 66, 67, 69, 84, 88, processo de ensino aprendizagem, 123, 125, 126, 136
90, 94, 96, 97, 98. processos, 04, 05, 07, 10, 11, 12, 13, 16, 32, 40, 41, 43, 46, 47, 54,
conhecimento, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 12, 14, 15, 16, 17, 69, 71, 72, 82, 83, 93.
18, 25, 26, 29, 32, 33, 34, 40, 41, 42, 44, 45, 46, 48, 49, 50, 51, protagonismo, 41, 63, 84, 95.
53, 54, 55, 56, 59, 60, 62, 64, 65, 66, 67, 69, 70, 71, 75, 82, 83,
86, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97. RFID, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42.
fluxos informacionais, 10, 12, 54, 62. Sociedade da Informação e do Conhecimento, 11, 15.
Gestão da Informação e do Conhecimento, 03, 05, 06, 07, 08, tecnologia da informação e comunicação, 31, 32.
09, 10, 11, 12, 14, 15, 16, 18, 30, 33, 42, 51, 83. usuário, 44, 46, 47, 50, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63,
inclusão, 44, 63, 71, 73. 64, 65, 70, 71, 78, 86, 89, 91, 92, 94, 95, 96, 97.
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