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nativa

E SE O CÉU JÁ ESTIVESSE CAINDO?


nativa
E SE O CÉU JÁ ESTIVESSE CAINDO?
Há séculos diversos povos preveem a queda do céu, como quem anuncia um fim do que
conhecemos, e um mistério do que haveria no pós fim. Com toda a degradação que o
mundo capitalista e ocidental possibilitou ao Sistema Terra, hoje em dia vemos diversas
quedas em curso. Entretanto, mesmo entre o céu que cai, nós acontecemos. Criativos,
profissionais, indígenas que atuam nas mais diversas áreas da sociedade seguram o céu, e
também trazem sua queda.

Essa edição da Revista Nativa trás alguns artistas indígenas através de suas reflexões sobre
o estado de queda, ao mesmo tempo que mostram suas obras e artes. Nosso objetivo é falar
sobre assuntos nativos, sobre corpos nativos, sobre arte e estética nativa, em diversas
perspectivas.

O1
E SE O CÉU JÁ ESTIVESSE CAINDO?

O2
Dedicado para todo parente, em aldeia ou na cidade, de maloca ou maloka, na
favela ou na floresta, na roça ou trabalhando em shopping, comendo tapioca ou
hambúrguer, na reza ou no medo, de Fenty ou urucum.

O3
nativa
E SE O CÉU JÁ ESTIVESSE CAINDO?

1 edição

SP, 2O22 O4
E SE O CÉU JÁ ESTIVESSE CAINDO?

copyright, 2022, todos os direitos dessa edição reservados aos autores.

Direção Geral
Nicolle Nascimento

Capa e imagens:
Nicolle Nascimento; Bruna Arruda; Produtora Nativa; Tayne Angela; Amãngelo Prateado;
Kandu Puri;

Revisão da língua portuguesa


Noemi Nascimento Ansay

Todos os direitos dessa edição reservados aos autores:


Autor geral: Nicolle Nascimento Ansay
colaboradores: Natali Mamani, Mira visuais, Cainã Pankararu,
Fykya Pankararu, Gigio Paiva.

instagram:
@nativaprodutora
@nica_nasc
@gigio.paiva
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@kandupuri
@b.arrudaaa
@uyrasodoma
@anaaraujo.s244
@marcelobbox
@bii_soarez
@rafathkim O5
sumário

1. Editorial.........................................................................08
2. Fykya Pankararu e Cayna Pankararu.....................14
3. MIRA...............................................................................37
4. Gigio Paiva....................................................................51
5. Natali Mamani..............................................................62
6. produção.......................................................................73

O6
O7
Editorial

A revista NATIVA surgiu a partir da perspectiva de um trabalho coletivo e da


possibilidade de dividir o que temos construído desde nosso início como produtora.
NATIVA é uma produtora de audiovisual indígena, que começou em janeiro de 2O22 e
tem como objetivo popularizar estéticas indígenas, dar voz a narrativas nativas e
fomentar produção, gerando conectividade e empregabilidade de pessoas indígenas.
Nossa estratégia é criar projetos para abordar temas relevantes e que atravessam
nossas vivencias, que são múltiplas.

A primeira edição da revista NATIVA tem como tema: E se o céu já estivesse caindo?
Como reflexão do mundo em que vivemos, e problemas que enfrentamos, através das
palavras de Davi Kopenawa sobre a Queda do céu. Segundo o autor, a queda do céu é
relativa, e tem uma resposta específica para cada pessoa. Entretanto trás sempre uma
constante, que mostra a degradação da sociedade atual que vivemos, que serve aos
interesses capitalistas. Na atualidade, o que vemos nos grandes centros urbanos são
rios encanados, árvores cortadas, notícias de garimpo ilegal, aldeias sendo invadidas,
racismo ambiental, e a explosão da miséria de maiorias.

Pensamos na natureza como um sistema que nos envolve e nos dá estratégias e lógicas
que são incompatíveis com o modo de se viver ocidental. Em cada canto dessa terra,
acontecemos. Nas palavras de Omama, há que se convidar uns aos outros, de
diferentes casas, com alimento, com novas perspectivas, com novas esperanças para
pensar o amanhã. Nosso chamado é esse. Arte é cosmovisão, é pisar na terra, é
respirar, e é teimar em ser natureza, existir e resistir mesmo em queda.

Trazemos como artistas dessa edição: Fykya Pankararu, Caynã Pankararu, Natali
Mamani, Mira Visuais, Gigio Paiva, Nicolle Nascimento.

O8
O9
"A imagem de Omama disse a nossos antepassados: "Vocês viverão nesta
floresta que criei. Comam os frutos de suas árvores e cacem seus animais.
Abram roças para plantar bananeiras, mandioca e cana-de-açúcar. Deem
grandes festas reahu! Convidem uns aos outros, de diferentes casas,
cantem, e ofereçam muito alimento a seus convidados!"

(KOPENAWA; ALBERT; 2015, p.76)

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fotografia: Nicolle Nascimento Ansay


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fotografia: Nicolle Nascimento Ansay


é o fim?

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001
Fykya Pankararu - Cayna Pankararu

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001 aldeia nas cidades nos corpos na mente no coletivo aldeias são reexistências de arte

Fykya Pankararu é autor da música


"É o FIM ", lançada em Setembro de 2O21, na plataforma do youtube. O
autor conta em sua letra-poesia narrativas importantes, dentro da vivência
no território de aldeia, e também sobre a saída para cidade. O videoclipe de
"É o FIM ", feito em SP, contou com a participação de artistas indígenas
como Cainã Pankararu e a artista Uyra Sodoma, com produção da
produtora Nativa.

Cainã e Fykya tem levantado a importância de se falar sobre as urgências


do planeta terra, da natureza sufocada pelo egoísmo do homem ocidental
que se comporta na sociedade - dentro do capitalismo, como uma
verdadeira máquina devoradora de mundos.

O clip de - É o fim foi escrito e idealizado por Fykya Pankararu, junto de


Caynã Pankararu. As imagens foram pensadas de forma a proporcionar ao
telespectador uma oportunidade de ver elementos importantes na
construção do personagem interpretado por FYKYA: um indígena do fim do
mundo. Fykya percorre as ruas da Avenida Paulista tentando encontrar local
para plantar uma árvore que carrega. Não encontrando solo fértil para
depositá-la, ele cai ao chão como quem mostra o sufoco que o asfalto gera.

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Na Avenida Paulista, também são visíveis duas presenças o
acompanhando, no mesmo território: Caynã Pankararu como
um encantado e Uyra Sodoma, como um ser. Esse
encantamento segue Fykya, como quem dá forças ao tímido
ser humano.

Sozinho não dá conta de lidar com todo sufocamento, asfalto


e males da cidade, mas que encontra na reza, nas lembranças
familiares, no povo, no encantamento força para continuar.
Força para acontecer.

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visse? Tupã acabou de subir o morro

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ASFALTO SUFOCA RIO
ASFALTO SUFOCA PLANTA
ASFALTO SUFOCA BICHO
ASLFALTO SUFOCA NÓS
NÓS SUFOCA ASFALTO
BICHO SUFOCA ASFALTO
PLANTA SUFOCA ASFALTO
RIO SUFOCA ASFALTO
Fykya Pankararu faz parte da edição da Revista NATIVA, e sobre o
videoclip e produção ele diz:

"É o Fim " fala do fim da hera, do fim das lutas, do fim do
sofrimento e início da história.

É o rompimento de um ciclo e início de outro.


A saída da aldeia pra cidade, a história de indígenas que saíram de seus
territórios em busca de melhorias de vida, em busca do "bem viver",
porém o bem viver está em nossa busca por nós mesmos, no nosso
encontro e reencontro, no cotidiano do indígena contemporâneo que luta
pela sua sobrevivência e pela sua história, pelo reconhecimento de seu ser
e estar no território seja ele demarcado ou não!
Plantar a árvore na favela significa que é no meio da simplicidade que a
vida revigora, que a ancestralidade reina. Falo da Favela da Mandioca
conhecida atualmente como Real Parque (o parque real).

Esse lugar, escolhido pelos ancestrais, Pankararu simboliza que ainda que
a sociedade corrompa o território, com seus grandes maquinários, seus
prédios de concreto, é esse o lugar da diferença, da resistência e da
conquista, capaz de conectar o novo ao antigo, rompendo barreiras
coloniais, que visam o apagamento das nações. Representando
principalmente a luta indígena presente no território (aldeia urbana).

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Aninha Pankararu em cena de filmagem para o clipe"É o fim ". Ela está sentada em um chão
onde há uma pintura da bandeira brasileira. Sob a pintura há velas, como uma pintura
Pankararu. Atrás está Igor Pankararu, seu primo, rodando bombril com faíscas de fogo.

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fotografia: Nicolle Nascimento Ansay


somos sementes
somos o fim
somos o começo
somos árvores

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22

fotografia: Nicolle Nascimento Ansay


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fotografia: Nicolle Nascimento Ansay


Sendo para meu e para vários povos algo inusitado encontrar indígenas na
periferia das cidades. Para mim é algo natural, onde vi e ouvi minha própria
mãe dizer que saiu da aldeia para cidade de São Paulo em busca de uma
"melhoria de vida" e não se encontrar em meio tantas influências e retornar

para aldeia Pankararu em 2004 quando teve conhecimento de seu verdadeiro


Eu que se conectava a terra sagrada. Eu retorno a cidade de São Paulo e me
reconheço na história, percebendo a desigualdade e a luta cotidiana para
sobreviver e resistir ao apagamento histórico feito pelo colonizador. Sou vítima,
nós indígenas contemporâneos somos vítimas, mas além de tudo expresso que
somos mais que isso, na aldeia demarcada ou na cidade.

Nós encontramos, construímos e destruímos, assim como nossos ancestrais,


somos sementes, e vínhamos até no concreto, destruindo barreiras e
construímos fronteiras para os nossos e outros. Nos divertindo, interagimos,
reconstruimos e ressignificamos a nossa presença!
Fykya Pankararu

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fotografia: Bruna Arruda

Uyra e Fykya se ajeitando para gravação de cena na paulista: a


cena conta a história de Fykya procurando local para plantar sua
árvore, sem encontrar sucesso, no meio de tanto asfalto da
cidade

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Fotografia: Nicolle Nascimento Ansay (2022)

Fykya, ajoelhado no chão, na Paulista, em frente ao MASP segura uma muda de árvore
em sua mão, ele olha para o chão como quem procura um lugar que seja pra fazer
seu plantio. A narrativa do videoclip mostra seu desespero em circundar por tanto
asfalto e cidade que não veem a importância de deixar a natureza ser, no ser humano,
nas árvores, no céu.

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fotografia: Nicolle Nascimento Ansay


FUI NA FUMAÇA DO SEU CAMPIO

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CAINÃ PANKARARU ​ as pessoas aos lugares, as
D
ações e inações moldaram um
Me chamo Caynã, faço parte do povo Pankararu e ser vivo que pertence a um dos
nossa aldeia mãe fica no nordeste brasileiro. Essas três dois grupos de pessoas.
informações são cruciais quando me apresento, talvez
sejam as palavras que eu mais uso e creio que você O primeiro grupo,
parente, entende meus motivos. Hoje não escrevo do é aquele que é feito por pessoas
Nordeste, escrevo diretamente da periferia que já foi que tenham memória. Por mais
chamada de “Favela da Mandioca." diferentes que possam ser as
etnias, suas similaridades estão
Quando um originário é criado longe de sua aldeia, no carregar da história
longe das pessoas que foram e são a sua cultura, ele ancestral, tradição cultural e
possuirá apenas a família e suas tradições para se para melhor esclarecer aos
firmar na cultura ancestral da qual ascende. Tudo que o nossos, a caminhada da
cercar influenciará em seu crescimento biológico nos retomada.
mais diversos sentidos que “Bio” pode ter. O segundo grupo
não conhece seu passado, não
consegue imaginar qual o povo
ancestral que pertence, não sabe
explicar ou lembrar como seus
familiares chegaram aqui, nessa
distopia que chamamos de Brasil.
Lembremos que todas as avós,
tiveram bisavós e elas fizeram
história, guiando os seus, até os
dias de hoje, avós pretas e
indígenas foram retiradas
brutalmente de suas famílias,
culturas e das

histórias ensinadas nas escolas


pela grade curricular brasileira, a
grande mídia, política
governamental e entre muitos
espaços da vida. Eu não cresci em
minha aldeia Pankararu, cresci
na Favela da Mandioca, minhas
mães souberam traduzir a favela.

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perfeitamente a partir de suas vivências do Quando a coroa caiu, as instituições
nordeste ao sudeste brasileiro. Souberam o privadas, junto aos governos pararam de
que fazer quando a polícia estava nos chamar de escravizados, para chamar
desapropriando nossas casas na base da alguns de trabalhadores, outros de
vagabundos enquanto escravizavam
pancada, bala de borracha e toda receita
silenciosa e legalmente.
fascista de sempre. O saudosismo de correr
nos becos, pega-pega no muro, passar o
martelo para a minha mãe, enquanto
O Povo Pankararu foi explorado na
adaptávamos nossa casa junto às outras
construção civil, em São Paulo de diversas
casas, me remontam tempos bons e seguros
formas. A casa onde mora o Governador do
em todo caos que foi crescer em uma
Estado, erguida por membros de povos
periferia na cidade de São Paulo. Não vamos
originários foi nomeada “Palácio dos
romantizar a favela, não é fácil viver nela. Aos
Bandeirantes”, onde a política
dez anos de idade, vi a melhor parte da minha
governamental de São Paulo é feita. Tal
favela pegar fogo em um incêndio criminoso.
política nunca proporcionou todos os
​Parte de meu povo, vive no estado de São
plenos direitos a viver de acordo com sua
Paulo, assim como muitos outros membros
cultura, acesso a saúde e educação aos
de povos originários em contexto urbano, que
moradores da Favela da Mandioca e
foram explorados na construção civil,
Paraisópolis.
erguendo edifícios, monumentos, prédios,
casas, ruas, vilas, cidades, países que não lhes
Minha família me ensinou a andar e dançar,
foram reflexo.
nas vielas e avenidas, com o RG no bolso

logo cedo e sem medo seguir. Me ensinou


que eles chamam assassinato de bala
perdida, forjam e matam por trocados. A
visão que aprendi com as minhas tias, me
mostrou que os que corriam com a gente,
tão contentes com as nossas condições
atuais, atrapalhando conexões espirituais,
políticas e sociais.

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ENCONTRO ANUAL PANKARARU
ONZE DE AGOSTO

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FOI LÁ NO CÉU QUE ALUMIO

UMA ESTRELA QUE ALI PASSO

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É O FIM?

32

fotografias: Nicolle Nascimento Ansay


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fotografias: Nicolle Nascimento Ansay


Fotografias: Nicolle Nascimento Ansay (2022)

Tuti Pankararu e Juan Pankararu no evento do dia 11/O8/22


na comunidade Real Parque

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P
K
R
A
RR
UI

S
E

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002
Mira
se reconhecendo no encontro

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mira
mira

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mira - hoje o que nasce do caos

foto: Amangelo Prateado


matará o seu belo

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cobertura do desfile da Casa de Criadores com Mira, NATIVA filmou de dentro da passarela

desfilou filmando o bloco me reconheço no encontro

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Eu sou Mira, sou artista visual e articulo maresias entre religião, família e
travestilidade, passando por desenho, pintura, performance e costura. Sou artista
residente na "Vou Assim", onde transmuto potencias artísticas entre lixo e moda. Me
reconheço no encontro surge enquanto proposta de articulação entre corpos
dissidentes residentes em Salvador - BA. Em 2021, a partir do mito da estrela da
manhã - a primeira estrela visível da terra na aurora, o anjo caído expulso do céu por
desobediência, a estrela cadente que em ruptura origina luz - e articulando o
imaginário de beleza e colonialidade da moda, 14 multi-artistas construíram o fashion
film lançado n "Vou Assim Fashion Show" para a 48º Casa de Criadores.

Imagem de dia de criação das criações para o dia do desgile na Casa de Criadores

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Imagem de dentro da passarela no desfile da Casa de Criadores

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As peças dessa coleção, de mesmo nome, foram construídas com lixo da
indústria têxtil, o segundo setor industrial mais degradante para a terra.
Utilizamos da transmutação têxtil, tecnologia de costuras simples, sem
modelagem, sem acabamento e outras demandas da indústria da moda
moldada na semiótica europeia. Roupas de retalho resgatando a vontade
de fazer a própria roupa com outras imagens de moda. Um processo de
ateliê aberto, itinerante, com participação ativa das modelos e outros
artistas envolvidos na confecção das peças. Inspiradas pelo arquétipo da
estrela mais brilhante do céu, se escondendo no horizonte com sua luz
refletida nas águas do mar, trabalhamos o entendimento que só em
coletividade podemos alumiar em nós a vontade de um amanhã
possível de vida.
Para a 50º casa de criadores, eu resgato o mantra e trilha sonora do
fashion film "hoje quem nasce do caos matará o seu belo" para reativar o
processo coletivo, agora em São Paulo no desfile da "Vou assim."

Borrando o conceito da autoria, o convite é feito a seis pessoas trans a


construir junto uma coleção que não esteja interessada em peças
enquanto produto final, mas na partilha. A primeira coisa que o
capitalismo tira de nós é a coletividade, e isso se reinventa no
neoliberalismo, com a constante narrativa do herói que passa por
inúmeras dificuldades durante sua trajetória, mas sai vitorioso no final
por mérito de seus esforços. "Só depende de você!"

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No programa de domingo, no reality show e na verticalização da
internet: ideologia dominante sendo propagada a todo tempo,
bombardeio de informações, imobilizados, nos fazendo acreditar que
são nossas próprias ideais, nossos sonhos e desejos, implementando
na nossa cabeça falsas necessidades, para lucrar com soluções
artificiais, e se não alcançar a ascensão é porque não se esforçou o
suficiente. Mas o coletivizar não é fácil. As complexidades de nossas
diferenças trazem fricções e atritos para esse processo de
ajuntamento, choque de estrelas que as vezes insistem em disputar o
brilho. As últimas gerações perderam a atenção, a habilidade de ouvir,
a inteligência da disponibilidade e presença. Competição é
fundamento do sistema, do mercado de trabalho, das instituições de
ensino, da política. Pessoas esmagadas pela velocidade das máquinas
de última geração e pela quantidade exorbitante de descarte
industrial. Lidar com o lixo, o trabalho de transmutar o descarte para
reinserção na vida é sustentar um novo céu. Cair do lugar da estrela,
queda do protagonista, da obsolescência programada, da instituição
da arte ou moda. Fruição de possibilidades e dignidade de vida para
pessoas designadas a perpetuarem escassez nas margens.
Possibilidade para essas pessoas, ditas dissidentes, não apenas como
imagens, representações higienizadas para lavar nomes de empresas
multimilionárias e tantas vezes assassinas. Mas enquanto
fundamento desse novo céu, raízes sólidas e profundas na agência
de construção de conhecimento e complexidades, para florescer em
nós a vontade coletiva de um amanhã possível de vida.

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sustentar um novo

céu

céu

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Foto: Agelha (2022)
Confecção de roupas para o desfile na Casa de Criadores

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Bianca - Me reconheço no encontro - Casa de Criadores

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Imagem de dentro da passarela no desfile da Casa de Criadores (2022)

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Sobre a filmagem:

Juntes decidimos fazer no bloco de suas criações, coletivas, uma filmagem-


performance pra acompanhar como seria de dentro da passarela. Seu bloco
foi incrível, foi um momento de catarse único. Lembro bem de MIRA correndo
e sorrindo como quem sabe que alí é sua hora de brilhar e ser estrela. Ela
rodava as tranças enquanto muitas pessoas filmavam e fotografavam sua
presença. Cada um que desfilou estava de algum modo segurando um céu.
Mesmo que por alguns segundos. Fico pensando, às vezes o céu é pesado
demais, as vezes é a terra. Parece que Mira achou uma forma de seguir em
frente, no meio de tanta coisa coexistindo: coletivo, arte, e pegar mesmo o
que a sociedade rejeita e vê como caos e transformar em belo. Isso não é
simples, nem fácil. As respostas, não são nada fáceis, a gente ser humano tem
tendência de achar que sabe tudo e que dá pra responder tudo num
segundo. Besteira. Eu só sei que alí, ela sorrindo trouxe em sua presença a
força, de quem segura e trás a queda ao mesmo tempo. A arte de quem é
estrela em queda, e vive em dois mundos. É do céu e da terra, é tudo.
Nicolle Nascimento Ansay

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003
Gigio paiva

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"Sai cedo da mInha morada na rua Itororó
em Mauá, a cidade das nascentes. Foi Perguntei a um parente, flanelinha,
nesta região de Goapytuba que surgiu a que guardava os carros estacionados,
primeira vila luso-tupi no Planalto Paulista. onde estava a velha Capela: ele
A Taba de Tibiriçá abrigou pessoas apontou a Praça do Forró, onde os
condenadas que chegaram da Península parentes que migraram do nordeste
Ibérica muito antes da chegada das para a região se reencontram pra
primeiras instituições portuguesas. Terra pisada ao som da zabumba,
abundante em mães d'água onde nascem religiosamente.
o Piratininga, aqueles caminhos de água Caminhando pela praça avisto
hoje conhecidos e canalizados como rio parentes de muitos povos e aliados na
Tamanduatei que nos levam ao centro da roda, pisando o toré
Capital. Casé Angatu - um dos articuladores
daquele movimento - e os parentes
Tupinambá de Olivença, chamam este
Rodeei o centro expandido de São Paulo ritual de Porancy.
pela Avenida Jacu Pêssego, e atravessei a A frente da Capela de São Miguel de
Zona Leste da Capital até chegar em São Ururay estava tomada pelo encanto e a
Miguel de Ururay. Em alguns lugares da ciência dos caboclos. Me chamou
colina ainda é possível ver o Tietê correr atenção a dificuldade para entrar
na sua prisão de concreto e, mesmo naquele espaço. Uma grade de ferro
assim, reconhecer o vale onde antes se cercava a Capela e o toré, isolando
espalhavam as curvas do seu ancestral, o aquele território indígena em
velho Anhemby. retomada dos parentes que passavam
por fora e direcionavam olhares e
atenção.
Nós estávamos ali para celebrar e
Quando cheguei me assustei com a ritualizar a memória dos 460 anos do
imponente matriz de São Miguel Arcanjo. Cerco de Pyratynynga, quando
Piquerobi e seu cunhado Jaguanharó
lideraram o ataque à vila de São Paulo,
na Colina onde hoje se localiza o
Centro Velho da Capital.

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Imagens de print do google maps, praça da Sé, SP

imagens de print do google maps, praça da Sé, SP


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Escadaria da Sé - quem vive e sobrevive nesses espaços?

é isto a terra? ou é isto a queda?


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Eles foram convocados a juntar-se à Confederação dos Tamoios,
articulação liderada por corpos e espíritos dissidentes do projeto de
colonização europeu: pajés como Aimberê, pessoas que não
correspondiam aos gêneros impostos pela colonização, como
Cunhambebe.

Nos reunimos na Capela onde o povo Guaianá foi aldeado após perder a
batalha do Cerco. Entre as paredes da Capela-Memorial a história pulsou
viva na voz de representantes do povo Dofurem Guaianá. Especialmente
através de Luis Guaianá, jovem chefe do povo e arqueólogo que trabalhou
nas escavações e prospecções realizadas em alguns pontos da Capela.

Por muitas vezes, ele dividia a fala com o guia da Capela, narrando a partir
das histórias coloniais, perspectivas indígenas sobre o aldeamento de
Ururay, que após a derrota do Cerco se estendeu por boa parte da Zona
Leste de São Paulo até Bonsucesso em Guarulhos.

Nós estávamos ali para celebrar e ritualizar a memória dos 460 anos do
Cerco de Pyratynynga, quando Piquerobi e seu cunhado Jaguanharó
lideraram o ataque à vila de São Paulo, na Colina onde hoje se localiza o
Centro Velho da Capital. Eles foram convocados a juntar-se à Confederação
dos Tamoios, articulação liderada por corpos e espíritos dissidentes do
projeto de colonização europeu: pajés como Aimberê, pessoas que não
correspondiam aos gêneros impostos pela colonização, como
Cunhambebe.

Nos reunimos na Capela onde o povo Guaianá foi aldeado após perder a
batalha do Cerco. Entre as paredes da Capela-Memorial a história pulsou
viva na voz de representantes do povo Dofurem Guaianá. Especialmente
através de Luis Guaianá, jovem chefe do povo e arqueólogo que trabalhou
nas escavações e prospecções realizadas em alguns pontos da Capela.

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Por muitas vezes, ele dividia a fala com o guia da Capela, narrando a
partir das histórias coloniais, perspectivas indígenas sobre o
aldeamento de Ururay, que após a derrota do Cerco se estendeu por
boa parte da Zona Leste de São Paulo até Bonsucesso em Guarulhos.

Luis Guaianá afirma que foi ali, às margens do Anhemby (rio Tietê) -
tradicional caminho entre a Corte Real no Rio de Janeiro e a vila de São
Paulo - que Dom Pedro I, proclamou a independência das elites
brasileiras. Sua avó conta que delegados reais vieram na frente e
expulsaram os Guaianá de suas casas, para abrigar membros da Corte.
Irritada, uma anciã envenenou a comida de Pedro I, motivo pelo qual o
futuro Imperador passou mal às margens do rio.

Ainda dentro da Igreja, uma roda de conversa proseada convocou as


forças e falas dos coordenadores da Capela, de Juão Nyn, Casé Angatu,
Luis Guaianá e de representações das memórias negras, como Abílio
Ferreira. Nosso movimento ultrapassou o Cerco das grades e retomou
a Praça do Forró na pisada. Encerramos o dia 9 de Julho anunciando
nossa chegada no Centro Velho de São Paulo, mesmo movimento que
fizeram os Guaianá 460 anos antes

O dia seguinte começou no Pateo do Colégio, onde as forças Tamoias


batalharam contra as forças Tibiriçá e sua aliança com portugueses -
aliança que era numericamente pouco expressiva. Casé Angatu, Letycia
Payaya e eu puxamos um toré de abertura.
.

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Caminhamos no Centro pelas beiras Uma noite sem fim que ainda nos
da Colina onde se avista a Várzea do atormenta, quando corpos tupinambás
Carmo, área de rio e mata que ainda foram enfileirados por quilômetros em
retoma a Avenida do Estado nas cheias do uma praia do litoral do sul da Bahia, em
Tamanduatei e nas árvores frondosas à resposta as ofensivas Tamoias.
beira do Canal.
A caminhada encerra seu curso no
A Tabatinguera, aldeia velha da Colina, terreiro do rio Saracura, o Teatro
continua habitada por muitos parentes e Oficina. De lá reunimos forças com o
irmãos que fazem das ruas e praças a sua levante dos aquilombados,
morada. Atrás do maior ponto de reivindicando o direito à memória no
concentração do povo de rua, a Praça da território da Saracura. A Maloca Jaceguaí
Sé, fica localizado o antigo Pelourinho da constitui-se como ponto avançado da
vila de São Paulo, na Liberdade. luta pela retomada deste centro, e das
cidades em geral.
E pela rua da Glória, no caminho de fuga
dos escravizados índios e negros da terra, Todo Quilombo fez-se abrigo em terras
nós seguimos até a Capela dos Aflitos. indígenas. Convocamos nossos irmãos
Encontramos os guardiões e guardiãs da de espiritualidade, território e luta para
memória viva do condenado e revoltoso atentar-se à aliança ancestral que
Chagas - absolvido pelas forças possibilita que a luta negra avance no
encantadas para morar na Aruanda com contexto urbano. As prospecções
nossos ancestrais. Por nós e tantos arqueológicas sobre o velho terreiro da
outros, cultuado no terreiro e cemitério da Escola de Samba da Vai-Vai poderá
Capela onde estão plantados nossos demonstrar: se hoje o poder preto se
ancestrais e enterrados os prédios e consolida como alternativa de poder
edifícios que cercam a Capela aflita. Casé popular para as cidades - aldeias em
Angatu se emocionou ao falar do dia tantos territórios dentro do estado-
seguinte ao Cerco de Pyratynynga. nacional brasileiro, devemos isso à
nossa aliança ancestral neste território. "

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Absolvido pelas forças encantadas para morar na Aruanda com
nossos ancestrais. Por nós e tantos outros, cultuado no terreiro e
cemitério da Capela onde estão plantados nossos ancestrais e
enterrados os prédios e edifícios que cercam a Capela aflita.

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Gigio Paiva é indígena, aprendiz griô no Centro de Estudos
e Aplicação da Capoeira (CEACA), historiador (FFLCH/USP),
mestrando em Culturas e Identidades Brasileiras (IEB/USP) e
seu texto traz uma breve crônica do Ato-ritual em memória
dos 460 anos do Cerco de Piratininga, importante batalha da
Confederação Tamoia contra os colonizadores

61
005
Natali Mamani

62
A QUEDA DO
CÉU

O céu azul, agora cinza


O céu rosa, agora vermelho sangue
No meu coração, tudo parecia estar normal.

63
64
arte: Rafa Kim
Uma garotinha com os olhos brilhantes cheios de lágrimas segura uma mochila com
seus pertences mais queridos, recordações dos seus dias de felicidade. Quando
mamãe repartia um pedaço de pão doce recheado entre suas irmãs. Entre as irmãs o
que uma comia todas deveriam comer, ninguém pode passar vontade.

Uma garotinha agora já adolescente, olha pro horizonte e lembra o tempo de criança,
brincando de boneca com suas irmãs, e sua mãe correndo de um lado pro outro na
casa.

Uma garotinha agora adulta, lembra de quando tinha quinze anos e sentia que nada
poderia parar ela, mais forte que todos, com ódio de todas as pessoas que a
humilharam na escola. Os insultos, os olhares de julgamentos contra sua cor e sua
fisionomia.

Uma adulta, garotinha por dentro, chora ao ver lá longe o caminho ainda por percorrer,
sente o sangue congelar nas veias quando olha pra cima e só o que encontra são
nuvens cinzas, carregadas de tempestade. No fim do horizonte vê uma montanha,
verde e brilhante, sabe que terá que caminhar até lá, pra frente, pra frente... nunca pra
trás. Ela tenta se animar e lembra que uma vez lhe disseram que ela jamais sairia do
lugar ao qual pertencia.

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- Será que devo viver o resto da minha vida da forma que nasci? Seriam
estas as leis da natureza? Uns predadores, outros a presa?
Ela respira e senta-se no chão frio de concreto, coloca as mãos no rosto,
fecha os olhos e lembra que sua mãe já viu muitos céus caírem.

Quantas vezes já vimos o céu escurecer, raios atingirem a terra, o barulho
assustador envolver a casa toda?

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arte: Rafa Kim

Quantas vezes já senti que seria o meu último dia na


Terra?


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Em outro espaço-tempo, uma família aymara, ainda sem saber o dia de


amanhã, tomava seu último café da manhã antes de partir para o
trabalho. A mãe saboreava com felicidade as colheitas obtidas pelo
grupo. A avó pensava em terminar a coberta grossa para que os netos
não sentissem frio no inverno. O pai olhava pra fora e sonhava com o
futuro, pensando maneiras de preservar novos alimentos e de manter
a família a salvo.
Existem histórias de vidas que foram interrompidas por uma grande
tempestade guiada pelo movimento das marés.
Me pergunto se os seres do mar sabiam do que ocorreria, estes seres
tão divinos teriam em si os segredos do universo?

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Mas dessa vez, a garotinha olha pro céu e sente que é mais do que uma simples
tempestade. Seria como aquela que atingiu os antepassados? Seu coração
apertou como se fosse desmaiar naquele instante, calafrios tomaram conta do
céu corpo.
No horizonte, a par de tudo isso sobrevoava calmamente uma grande ave, um
condor com uma coroa na cabeça, trazendo consigo algo amarrado em suas
patas. Seu tamanho o permitia voar sem grandes dificuldades contra os fortes
ventos. E também não parecia estar em fuga ou com medo. A ave tinha também
uma missão, contar à garotinha os mistérios do que estava por vir e de como o
passado havia formado o presente.
A menina quando viu o Condor se aproximar sentiu-se abençoada, sabia que este
era um líder e guia.
- Qual o seu nome?
- Eu sou o Malku, Condor que viaja através dos séculos para contar mistérios a
aqueles de coração frágil e com medo da morte.
Ela entendeu que o nome do condor significava que ele era um ancião, líder e
guardião de grandes segredos. Com as mãos suando e a cabeça baixa, ela
respondeu:

- Mas por que eu, Malku? Além do medo da morte, tenho também medo da vida.
- Você sempre esteve entre a vida e a morte, carregar esse peso a torna um ser
que
habita em uma dimensão onde o espaço-tempo-matéria torna-se um só, pois
você não está nem no mundo material e nem no espiritual. E, por isso, és um
cálice para receber a água que conta o que está além do compreensível.

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Em silêncio a garotinha chorou.
No papel entregue pelo Malku haviam símbolos que não eram possíveis de ser
lidos, mas que transmitiam sentimentos. A cada símbolo que os olhos viam, um
sentimento diferente preenchia o corpo do leitor, trazendo imagens de
lembranças do futuro e passado, ambas ao mesmo tempo, sem conexões diretas.
Apenas um leitor apto poderia interpretar o que tais imagens significavam. Talvez
respostas de grandes questões, verdades sobre o mundo, os resultados dos
diversos caminhos que a humanidade tomaria? O que estaria escrito no papel?
Por mais de uma hora a garotinha foi tomada pelas cenas deste filme desconexo,
enquanto ao seu redor tudo desmoronava.

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A cinco quilômetros dali, uma cidade estava sendo destruída, crianças
e mães corriam em desespero. O céu ainda mais vermelho do que
antes, gritava de dor, o parto acontecia, contrações cada vez mais
fortes antecipavam o que estava por vir.
Até que então ela abriu os olhos, já não sentia medo, já não sentia o
corpo gelar ao olhar para o horizonte, e já não olhava para ele. Ao
despertar olhou diretamente para o céu, e viu então o último grito
ecoar as montanhas, que não resistiram a potência do ruído e
desmoronaram, até que não restasse nenhuma.
O céu, pedaço a pedaço ia caindo, destruindo tudo o que tocava.
No chão, crateras enormes eram abertas, revelando seres que se
escondiam debaixo da superfície, por milênios criaturas fugiram dos
horrores do mundo terrestre para o submundo.
e lá fizeram morada, evoluindo com uma rapidez que os humanos
não conseguiriam alcançar. E então, estes seres saíram em grandes
naves, partindo em fuga para longe da Terra.
Cada pedaço que caia do céu revelava outro mundo sob a Terra.
Cores brilhantes iam aparecendo e tomando conta da parte acima do
céu. O mundo do meio ia se destruindo, enquanto de cima nascia. Ao
olhar para cima a garotinha via que este era um sinal, o último ciclo
da esfera que movia a vida que ela conhecia era completado. A última
queda antes do próximo ciclo.
Do movimento das cores que transbordavam a destruição do céu,
uma canção surgiu, preenchendo a Terra, sons de instrumentos de
sopro e o cantarolar de mulheres anciãs fazia vibrar cada rocha que
caia, cada vegetação e cada célula dos seres vivos. Preparando-os
para seu novo universo, entregando aos de coração mais frágil, aos
que viviam entre a vida e a morte, e aos que sentiam medo de não
conseguir se superar nunca, os segredos de sua linhagem e da
origem da vida. Acalmando toda dor, destruindo qualquer medo e
devolvendo-lhes as histórias de seus antepassados.

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Em outro momento, cada ser que vivia em uma das
três dimensões se preparava para o que viria. Em
silêncio, ouviam o palpitar de seus corações e se
conectavam com seus ancestrais, eram direcionados
para uma dimensão onde não havia mais espaço-
tempo. Lá viam toda a história de sua linhagem, desde
o dia que foram seres do mar, aves, carnívoros,
herbívoros, árvores, pássaros, formigas, até os dias
mais aterradores de sua linhagem, quando viram a
destruição des seus antigos mundos.
De vez em quando, durante a viagem, viam um
ancestral à beira da morte e com medo de jamais voltar
a ver seus descendentes livres. Quando isso ocorria, o
viajante o confortava o ser que via sussurrando
pequenas frases e revelando o por vir. Levando um
pouco de esperança e força para que ele siga em
frente, ou de parta com um coração mais leve.
Ao fim da viagem dos últimos humanos de coração
frágil na Terra, o último pedaço de céu caiu.
O canto das cores parou.
Nada mais se movia ou fazia qualquer som.
Até que um estrondo ensurdecedor atravessou o
universo, em forma de brilho, sons, calor e luz,
consumiu tudo o que encontrou em seu caminho, ao
seu lado, atrás de si, acima e abaixo. Não havia ser que
pudesse resistir à força da explosão, que transformava
tudo em energia, essência de vida para uma nova
existência.
O que ocorreu após a explosão apenas a garotinha
poderia contar.

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produção da revista
NATIVA

73
NATIVA @nativaprodutora
FYKYA PANKARARU @fykyapankararu
CAYNÃ PANKARARU @kora_cai
MIRA VISUAIS @miravisuais
GIGIO PAIVA @gigio.paiva
NATALI MAMANI @n_cmamani
RAFA KIM @rafathkim
NICOLLE NASCIMENTO ANSAY @nica_nasc
BRUNA ARRUDA @b.arrudaaa
LYRYCA CUNHA @lyryca.cunha
ABIPOTY @abipoty
TAYNE CARVALHO @tayne___
NOEMI NASCIMENTO @noeansay
AMANGELO PRATEADO @amangeloprateado
NATIVA

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fotos por:

foto1 - capa - Cayna Pankararu. Foto de Nicolle Nascimento


imagem 1: página 2 e 3: mapa de bacia hidrográfica; arte - Pytyczech
disponível em:
foto 2: página 11 - Fykya Pankararu. Foto de Nicolle Nascimento
foto 3: página 12 - FyKya Pankararu. Foto de Nicolle Nascimento
imagem 2: página 18: cheetah and keeper. Jaipur, Rajasthan, 1896. Do livro ilustrado
Black Sea through Persia and India by Edwin Lord Weeks.
foto 4: página 2O - Ana Pankararu. Foto Nicolle Nascimento
foto 5: página 22 - Fykya Pankararu. Foto Nicolle Nascimento
foto 6: página 23 - Fykya Pankararu. Foto Nicolle Nascimento
imagem 3: página 24: olhos disponíveis em Gupta Fine Art
foto 7: página 25 - Uyra e Fykya Pankararu. Foto: Bruna Arruda
foto 8: página 26. Fykya Pankararu. Foto Nicolle Nascimento
foto 9: página 27: Crianças pankararu no Real Parque na gravação do videoclip É o
Fim de Fykya Pankararu. Foto: Nicolle Nascimento
foto 10: foto página 28, Cayna Pankararu. Foto: Nicolle Nascimento
foto 11: página 29 - Cayna Pankararu no Real Parque. Foto: Nicolle Nascimento
foto 12: página 30: Cayna Pankararu e Juan Pankararu. Foto: Nicolle Nascimento
foto 13: pagina 32; Praias no encontro da juventude Pankararu. foto Nicolle
Nascimento
foto 14: página 33: Praias no encontro da juventude Pankararu. foto Nicolle
Nascimento
foto 15: página 34 ; Tuti Pankararu e Juan Pankararu; foto: Nicolle Nascimento;
imagem 4: página 36; imagem editada da foto disponível no livro: RIBEIRO, Darcy.
Kadiwéu: Ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza.
https://www.google.com.br/books/edition/Kadiwéu/q44IEAAAQBAJ?hl=pt-
BR&gbpv=1&pg=PT1&printsec=frontcover
foto 16: página 39 - MIRA em Salvador. Foto: Amãngelo Prateado.
foto 17: página 40: Sambla Foto: Nicolle Nascimento
foto 18: página 41: Luana; Foto: Nicolle Nascimento
foto 19: página 42: foto na casa de Amãngelo Prateado, na produção das roupas
para o desfile na casa de criadores. foto: Nicolle Nascimento
foto 20: página 43, público desfile Casa de Criadores; Foto: Nicolle Nascimento
foto 21: página 45; Luana, na passarela da Casa de Criadores; Foto: Nicolle
Nascimento
foto 22: página 47 MIRA - foto: Tayne Angela
foto 23: página 48. Bianca desfilando na Casa de Criadores ; Foto: Nicolle
Nascimento
foto 24: página 49, Mira desfilando na Casa de Criadores - Foto: Nicolle Nascimento

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fotos por:

foto 25: página 50; modeles no ensaio - foto: Bruna Arruda


foto 26: página 52 - google MAPS
foto 27 e 28: página 54 - google MAPS
foto 29 e 30: página 55 - google MAPS
foto 31 e 32: página 56 - google MAPS
foto 33: página 60 - Abipoty; foto: Kandu Puri
imagem 5: 64 - desenho Rafam Kim
imagem 6: 67: desenho Rafa Kim

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