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100 Anos de

Blindados no
Exército
Brasileiro
1921-2021
Expedito Carlos Stephani Bastos
Parte 2

BLINDADOS SOBRE LAGARTAS

Repotencialização do M-41 no
Brasil e para o Exterior
O fato de possuir grande quantidade O Carro de Combate Leve M-41 era
desses Carros de Combate Leves conduziu o que tínhamos de melhor e em expressiva
o Exército, junto com a iniciativa privada, a quantidade; foi a base de toda a formação
realizar um programa de modernização de blindada no Exército, seja de Grande Uni-
seus M-41 e M-41 A3. Em 1978, um M-41 dade (5ª Brigada de Cavalaria Blindada) a
foi enviado para a Bernardini S/A Indús- Unidades menores (1º, 2º, 3º, 4º e 5º Regi-
tria e Comércio, tradicional fabricante de mento de Carros de Combate, 4º, 6º, 9º e
cofres desde 1912, e em um trabalho con- 20º Regimento de Cavalaria Blindado) na
junto entre aquela empresa e a Diretoria de Escola de Material Bélico-EsMB, berço
Motomecanização, por meio do Instituto de dos blindados e templo da manutenção
Pesquisa e Desenvolvimento do Exército, do Exército. Inicialmente a modernização
surgiu a versão modernizada no Brasil. foi feita a partir da mudança do motor. No
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lugar do original à gasolina, foi inserido um da série. Curioso o fato de nenhum carro
motor diesel modelo Scania DS14, man- de combate brasileiro possuir saias laterais
tendo a caixa de transmissão original, o que que o protegessem contra munição de carga
trouxe grande dor de cabeça aos operado- oca. Coube à firma Novatração Artefatos de
res desse veículo, pois era comum a quebra Borracha S/A a modernização das lagartas.
do eixo entre a caixa e o motor, causando Inicialmente os canhões de 76mm,
grande quantidade de veículos indisponí- como eram maiores em comprimento que
veis em suas Unidades. Outro complica- os de 90 usados no Cascavel, foram cortados
dor foi o fato de se ter de alongar a parte para ficaram no mesmo tamanho e, poste-
traseira para a colocação do novo motor riormente, descobriu-se que o tamanho não
diesel, o que na realidade alterou o cen- afetava em nada o funcionamento quando
tro gravitacional do veículo, ocasionando transformado para 90mm. A partir daí não
grandes desgastes em suas lagartas, proble- mais se cortou o canhão de 76mm, podendo
mas até hoje não solucionados. Contudo, a encontrar M-41 C com dois tamanhos de
principal modificação foi no armamento: canhão no calibre 90mm. Essa operação de
o original possuía um canhão de 76mm, fazer nova perfuração no canhão trouxe
e a Bernardini ao lançar o modelo M-41B alguns problemas para diversos carros,
o equipou com um canhão Cockerill de pois as paredes internas, em alguns casos,
90mm, similar aos usados nos blindados possuíam um lado mais grosso que o outro.
EE-9 Cascavel da Engesa e fabricados por Também não foi resolvido o fato de
ela sob licença da Bélgica, e aos da família que, após alguns disparos, a torre se enchia
XIA2 Carcará da Bernardini. Apenas dois de fumaça, dificultando o trabalho da tri-
blindados receberam esses canhões para pulação, não funcionando muito bem os
testes, vários operaram com o canhão de sistemas de extração de gases.
76mm na versão denominada também de Na realidade a transformação do
M-41B, em seguida foram transformados canhão de 76mm em 90mm não o fez
em C com canhão de 90mm. melhor, mas sim pior que o 76mm origi-
Depois desses testes, a conclusão a que nal, pois levou em conta apenas o tipo de
o pessoal do Exército chegou foi a de optar munição que iriam empregar: a de 90mm
pela forma mais barata, ou seja, aproveitar o era fabricada no Brasil e a de 76mm não.
canhão de 76mm original, encamisando-o (Exemplo: Munição HE no canhão de
e posteriormente broqueá-lo no calibre 76mm, velocidade de 732m/s com 11,7kg de
de 90mm, com o mesmo número de raias explosivo e no canhão de 90mm, velocidade
do Cockerill Engesa, em vez de comprar de 700m/s com 8,5kg de explosivo). A ideia
canhões novos para equipar todos os M-41. era exportar para outros países a tecnologia
Assim, pôde-se utilizar a mesma munição desenvolvida na repotencialização do M-41,
do Cascavel, pois o Exército havia adotado sob a forma de um kit, mas esta não vingou.
o calibre 90mm como padrão. Nos anos de 1987 e 1988, um M-41B
Tal processo foi uma solução para foi enviado para testes na Dinamarca,
resolver o problema do M-41, e ao redor da em parceria que envolvia a Bernardini e
torre original foram acrescentados diversos a Krauss-Maffei por sua subsidiária GLS,
compartimentos, dando nova configuração visando apenas à substituição do motor a
a esta. Dessa forma, o carro recebeu a desig- gasolina original pelo Scania diesel DS14.
nação de M-41 C, sendo um apresentado O veículo efetuou uma bateria de tes-
com saias laterais, não adotadas nos demais tes em Alborg, demonstrou a viabilidade
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do projeto e chegou inclusive a se acidentar
quando se chocou com um obstáculo que
acabou provocando danos à suspensão, em
um dos lados; foi rebocado por um Leo-
pard1 e posteriormente recuperado pelo
próprio pessoal da Bernardini, continuando
a sua demonstração. Posteriormente foi
trazido de volta ao país, pois pertencia ao
Exército e não à empresa.
Os dinamarqueses acabaram por
desenvolver um projeto próprio de moder-
nização, mais amplo, optando pelo motor
Cummins VTA-903TR de 465 Hp, além Teste de rampa do M-41 com motor Scania DS14 no PqRMM/2
(Foto: Coleção Autor)
de incluírem um sistema de guerra NBC,
visão térmica integrada a um sistema de
periscópio noturno, usando equipamen-
tos alemães, dinamarqueses e americanos.
Também criaram um sistema anti-incêndio
e modificaram o canhão de 76mm original,
mantendo-o com capacidade de disparar
munições flecha, recebendo a designação de
M-41 DK1, mantidos operacionais até 1999.
Outro teste foi realizado em Taiwan,
que na época possuía 1.200 M-41, um mer-
cado promissor que atraía muitos interes-
sados. Por essa razão, do Brasil foi enviado
um kit de modernização para Singapura.
Para não parecer um item militar, foi todo M-41 com o kit da Bernardini sendo testado em Taiwan. Notar
pintado em amarelo Caterpillar e de lá foi as entradas de ventilação do motor redondas
(Foto: Arquivo Flávio Bernardini)
despachado num avião de carga 747 da Luf-
thansa, acompanhado de dois técnicos da
Bernardini e um da Scania, para que fosse
montado num de seus M-41 para os testes.
Após tudo concluído e sem uma defi-
nição contratual nesses países, estes passa-
ram a adquirir M-60 dos Estados Unidos,
a custos bem baixos, e os kits acabaram por
serem doados e por lá ficaram.
Já no Uruguai, a Bernardini se asso-
ciou à International Trade Consortium
Ltd-ITC, e, em 1988, com a participação
do Servicio de Material y Armamento dos
Regimentos de Caballeria Blindado 2 e
Mecanizado 4, procederam à substituição M-41 C repotencializado pela Bernardini e preservado na AMAN
dos motores de todos os 22 M-41 A1U, em Resende, RJ (Foto: Autor)

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adquiridos da Bélgica, já com canhão de ram muitos feitos, lembrando que o maior
90mm Cockerill Mark IV em 1980, pelo desafio no projeto foram as barras de torção
Scania DS14EX1 que passou a ser deno- que precisaram ser desenvolvidas no país
minado M-41 A1UR (U de Uruguai e R de por empresas como a própria Bernardini, em
repotencializado), com todos os trabalhos parceria, por exemplo, com a Eletrometal e
lá mesmo realizados. Renk Zanini, num trabalho muito interes-
O desenvolvimento do projeto de sante à época, com resultados em aços refi-
modernização do M-41 e dos outros veícu- nados e forjados, similares aos usados nas
los pela Bernardini não foi em vão; ensina- barras de torção do M-1 Abrams americano.

Carro de Combate X-30 e TAMOYO


Partindo de especificações técnicas, ção de MB-3 TAMOYO; as letras M e B
emitidas pelo Exército Brasileiro, foi mos- indicavam Médio Bernardini, e o número
trado o que se pretendia, no sentido de 3, a versão “Tamoyo” era homenagem
desenvolver em conjunto com empresas ao povo indígena extinto, do tronco lin-
privadas, um Carro de Combate Médio guístico tupi, que habitava as margens
para equipar as unidades blindadas brasilei- dos rios São Francisco-MG e Paraíba
ras, de forma a depender o mínimo possível do Sul-RJ. A ideia era representar um
do exterior. Fundamentando-se nessa pre- índio guerreiro, que não se rendia facil-
missa, procurou-se então desenvolver um mente e que atirava flechas nos inimigos.
Carro de Combate com peso não superior Vale lembrar que o MB-1 dizia respeito
a 30t, dimensões compatíveis com a nossa ao projeto do X-1 e MB-2 ao do X-1A2.
realidade, sobretudo, em função da malha Acabou ficando, posteriormente,
ferroviária, e com índices de nacionalização conhecido como TAMOYO I, para diferen-
os mais elevados possíveis, cuja denomina- ciá-lo dos outros modelos II e III, muito
ção inicial foi X-30s (X = protótipo, 30 = embora as designações dadas pelo Exér-
peso em toneladas). cito para aquela versão foram P0 (T I-1),
O contrato firmado entre o Exér- P1 (T I-2), P2 (T I-II) e P3 (T I-3). Aten-
cito e a Bernardini previa, inicialmente, dia a todas as premissas estabelecidas pelo
a compra de sete protótipos do Tamoyo Ministério do Exército, com alto índice de
I. No entanto, posteriormente foi redu- nacionalização, compatibilidade com os
zido a cinco, em função de orçamento, outros equipamentos já existentes, em espe-
sempre insuficiente; destes, três foram cial, com os M-41, suspensão por meio de
construídos, o quarto ficou parcial- barras de torção e armado com canhão de
mente e o quinto nunca foi completado. 90mm, impulsionado por um motor Sca-
Inicialmente, o carro de combate nia DSI 14, baixa silhueta e configuração
X-30, divulgado na imprensa brasileira, bem diferente de tudo o que possuíamos
em 27 de maio de 1979, previa que a torre até aquele momento.
com o canhão ficasse na parte traseira e o Sua blindagem era leve, o mecanismo
motor na dianteira, mas depois foi apre- elétrico de giro da torre era totalmente
sentado com a característica padrão, com nacional, sua transmissão era a mesma do
motor traseiro e torre centralizada no carro. M-41, uma CD-500-3, visto ser uma das
Em maio de 1984, ficou pronto o pri- exigências do Exército. O projeto envolveu
meiro protótipo, que recebeu a designa- cerca de 80 pessoas, tanto da Bernardini
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Arquivo do autor

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como do Centro Tecnológico do Exército início dos 1990, mormente a perda do inte-
(CTEx), e, após testes operacionais, parti- resse político no projeto, não só nesse, mas
ram para a versão TAMOYO II. Vale res- em quase todos da área militar, o que se
saltar que, nas versões I e II, os veículos são somou à invasão de ofertas de componentes
idênticos externamente. e veículos usados fabricados no exterior.
Essa nova versão visava atender aos Como fruto da experiência adqui-
requisitos do mercado internacional e, por rida nas versões I e II, foi criada a versão
isso, foi preciso abrir mão da nacionaliza- TAMOYO III (P-4 ou T-III), executada por
ção e adquirir equipamentos, especialmente conta e risco da Bernardini.
optrônicos, mais sofisticados, de forma a Essa versão era muito mais moderna
torná-lo competitivo; inclusive, previa-se a que as anteriores e tratava-se de um novo
colocação de um canhão de 105mm, uma carro de combate médio; sem dúvida, pode-
novidade entre nós, naquele momento, mas ria muito bem atender às necessidades dos
foi colocado o de 90mm, já em uso no M-41 anos 1990, não ficando a dever em nada aos
repotencializado. similares que estavam sendo desenvolvidos
No contrato administrativo 06/84 em diversos países, naquele momento.
CTEx, de 27 de março de 1984, celebrado Para se ter uma ideia, seu motor estava
com a Bernardini, era previsto o desenvol- apenas em seu estágio inicial de desenvolvi-
vimento de oito protótipos, dos quais cinco mento, podendo no futuro atingir de 900HP
carros de combate com canhão de 90mm; a 1000HP. A transmissão para essa versão
um carro de combate de Engenharia, com ainda era um problema, pois a transmissão
lâminas do tipo “bulldozer”; um veículo GE não poderia receber mais que 600HP
blindado lançador de ponte; e um veículo brutos, e a sua nova versão estava ainda no
blindado socorro. banco de testes, nos Estados Unidos; a ZF
A transmissão foi substituída por não tinha nem protótipos disponíveis. A
uma General Electric-GE hidromecânica solução encontrada foi usar a velha e con-
HMTP-3, uma evolução das utilizadas na fiável CD 850-6 A (a mesma do M-60), que
família IFV/ICV Bradley americana. A acabou servindo como uma luva, podendo
GE cedeu, a título de testes, um exemplar o motor aguentar mais de 1000HP brutos.
e prestou todo o apoio técnico para isso, O desenho da torre ainda não havia
que teve de ser acoplada ao motor Scania chegado a um perfil ideal, mais afi-
DSI 14, produzido no Brasil. O pessoal lado, em formato de cunha, em razão
da GE veio ao Brasil diversas vezes para de pouca familiaridade com a constru-
acompanhar o projeto, sua instalação e ção, envolvendo blindagem composta,
testes iniciais. Essa versão foi denominada mas a que foi construída era totalmente
de Tamoyo II e consistiu praticamente em elétrica, com supressão de explosões
um banco de provas, com vida curta; ficou e com visão térmica, boa proteção,
pronto por volta de 1986, de início efetuou canhão L-7A3, atirando com o carro
testes de chassi e depois recebeu uma torre em movimento, estabilização da torre,
similar às do modelo I; acabou desmontado telêmetro laser, munição compartimen-
pela própria empresa. tada. Seu peso subiu para 31t, sendo
Seu desenvolvimento recebeu fun- ainda um blindado bem mais leve do
dos do Exército para o Tamoyo I e havia que os existentes no mercado, à época.
interesse em sua adoção, mas muita coisa Um fator que levou ao desenvolvi-
mudou, no país, no final dos anos 1980 e mento do Tamoyo III foi as especificações
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Tamoyo I em teste de amarração para transporte ferroviário Tamoyo III com mecânica de M-41C pertencente a um
(Foto: Coleção Autor) colecionador particular no Estado de São Paulo, em 2020
(Foto: Angelo Meliani)

Tamoyo III sendo apresentado na Festa da Cavalaria no Rio Tamoyo III aguardando ser leiloado em São Paulo, em novembro
Grande do Sul, em maio de 1987 de 2013 (Foto: Autor)
(Arquivo Flávio Bernardini)

pedidas, pelo Exército, para a versão I, fica- na frontal do chassi, além de uma proteção
rem aquém para atender ao mercado inter- especial sob o motorista. Outra inovação
nacional. foi a de ter conseguido acoplar um canhão
O projeto não era uma mera L 7 A3 de 105mm (novidade para a época,
aventura, como muitos pensavam ao bastando apenas olhar o número do canhão
tratar do Tamoyo como sendo um que é 001), de baixo recuo, num Carro de
M-41 melhorado, ele era muito mais. Combate de apenas 31t. Esse canhão, fabri-
Ao todo, sete veículos foram cons- cado pela Royal Ordnance em Nothingham,
truídos, contando com o mock-up em aço, Inglaterra, atirava todas as munições
mais três Tamoyo I, além de um quarto OTAN, inclusive flecha de tungstênio ou
inacabado, mais um Tamoyo II e um III. urânio exaurido. Possuía tubo autofretado
O curioso nesse veículo é que, em e foi usado no projeto do T-55, T-62 upgun-
alguns itens, ele estava bem à frente do ning. O comprimento de recuo é de 450mm,
EE-T1 Osório, embora fossem dois con- e a força de recuo de 28t, nos munhões,
ceitos distintos, como é o caso da blinda- permitia um tiro altamente preciso estável
gem composta, espaçada na torre (face) e e confortável, para um veículo desse peso.
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Para sua fabricação no Brasil, seria
necessário desenvolver a autofretagem. Os Emblema usado nos
demais equipamentos iniciais estavam na Veículos Militares
Brasileiros no período
Bernardini. de 1983 a 1998
A suspensão, com barras de torção de (Foto Coleção Autor)

aço 300M (usado no M-1 Abrams), amorte-


cedores hidráulicos e finais de curso hidro-
cinéticos (igual ao Leopard II), motor die-
sel de 750HP, com previsão para chegar a de que seria necessária uma revisão do pro-
900/1000hp, com 35 hp/ton, possuía um sis- jeto para sanar os problemas; contudo, para
tema contra explosões no chassi e torre, com avaliar tecnicamente o P1, P2 e P3, seria
detectores óticos, além de um magazine na preciso prévia e completa revisão do pro-
torre, em compartimento blindado à prova jeto, além de alocação de recursos.
de explosões, bem como grade traseira de Como forma de continuar, e até
desenho “Chevron”, com a saída de gases do mesmo salvar o projeto, aventou-se a
escapamento misturando aos gases da com- hipótese de utilizar o P3 (T I-3), que se
bustão, para baixar a assinatura térmica. encontrava desmontado, transforman-
Em 24 de julho de 1991, o projeto foi do-o num modelo T-IV, que seria equipado
definitivamente encerrado. O protótipo com motor MWM e caixa de transmissão
P1 não foi aprovado na avaliação técnica e ZF, pois pretendiam ter outro fornecedor
operacional, apresentando problemas como e também testar o desempenho, mas tal
índice de velocidades e aceleração abaixo opção também não foi concretizada.
do nível desejável, decorrentes de baixa Atualmente, esse veículo se encon-
relação potência/peso; danos no filtro de tra em uma coleção particular, em pleno
óleo; trincas na região de fixação da espiga funcionamento, só que com mecânica do
motora e engrenagens dos redutores per- M41C (motor, caixa de transmissão), muito
manentes danificadas. embora sem seus optrônicos e seu canhão
Essa avaliação técnica ocorreu em não se encontra em condições operacionais,
1987/1988; porém, chegaram à conclusão mas pelo menos não foi sucateado.

Carro de Combate Bernardini MB-3 Tamoyo I


Desenho: Gilson Marôco

Carro de Combate Bernardini MB-3 Tamoyo II


Desenho: Gilson Marôco

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Carro de Combate Engesa EE-T1 OSÓRIO
No Brasil, o momento propício para Surgiu assim mais um produto da
desenvolvimento de uma indústria voltada renomada empresa Engenheiros Especia-
para itens de defesa ocorreu a partir do iní- lizados S/A-ENGESA.
cio dos anos 1970 até o final dos anos 1980. O início do projeto surgiu em 1982,
A ideia de se construir um carro utilizando o então sofisticado programa dos
de combate moderno, sofisticado e com grandes computadores CAD/CAM e inicia-
capacidade de competir com o que havia ram em 1983 a construção em tamanho real
de mais moderno no mundo, baseado na de um mock-up, e a seguir a construção do
tríade PODER DE FOGO, PROTEÇÃO e primeiro chassi, que rodou pela primeira
MOBILIDADE, tem sido um grande desa- vez em setembro de 1984, batizado com
fio até mesmo para os países mais desenvol- cachaça. A seguir passou a ser submetido
vidos do mundo. A predominância prevista a severos testes num campo de provas da
à época, pela empresa Engesa, seria mobili- própria empresa, recebendo a designação
dade e poder de fogo com menor proteção de P.0. Uma torre e canhão falsos foram a
blindada. ele incorporados para mostrar o mais real
De imediato, pensaram em parcerias; possível como seria sua configuração, rece-
os alemães nos ofereceram o seu Mar- bendo pintura camuflada e emblemas do
der (Thyssen-Henschel) com canhão de Exército Brasileiro.
105mm, com o nome de Leopard 3. Este, Como não dominávamos itens
no vizinho país, tornou-se o TAM (Tanque importantes como blindagem e torre com
Argentino Médio). Pensaram também em seus optrônicos, em especial optaram no
fazer com outra empresa alemã, a Porsche, caso da blindagem e design do veículo
mas não houve receptividade por parte do a contratar serviços de dois renomados
governo alemão e tentaram uma parceria engenheiros dessa área, Gerald Cohron e
com a Armscor, para blindagem, que em Alan Petit e, a partir desses estudos, cogi-
razão dos problemas internos da África do taram em desenvolver uma blindagem
Sul também não foi possível. composta, com cerâmica e aproveitar a
A solução encontrada foi desenvol- blindagem bimetálica, cujo conceito previa
ver um projeto próprio, agregando a ele o grande dureza externa e vasta maneabi-
que de mais moderno existia no mercado; lidade interna, que havia sido produzida
optaram por fazer dois modelos, um para na Usiminas, trabalhada pela Eletrome-
uso interno e outro para exportação, nas- tale aplicada com sucessos nos Cascavel e
cendo desse modo a ideia de um Carro de Urutu, em algumas partes do carro, pois
Combate com canhão raiado de 105mm na sua parte dianteira e torre era prevista
(L7/M68) e outro de alma lisa com um de a blindagem composta.
120mm (GIAT G1) para exportação, cada Nenhum dos dois protótipos hoje
um deles com seu grau de optrônicos e existentes possui a blindagem prevista
demais equipamentos, que recebeu a desig- pela Engesa, uma vez que, paralelamente
nação de EE-T1, posteriormente agregando ao desenvolvimento do veículo, estuda-
o nome Osório, em homenagem ao patrono vam também o da blindagem e pensavam
da Cavalaria brasileira. Todavia, a versão da em desenvolver a reativa, muito embora
Arábia Saudita recebeu o nome de Al Fahd, nenhum dos protótipos tivesse sido pre-
nome de seu monarca. parado para recebê-las.
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No caso das torres, encomendaram leiro e outro para o Exército Saudita, e tes-
duas, nos respectivos modelos para canhões tes oficiais, realizados pelo Exército Bra-
de 105 e 120mm, intercambiáveis entre sileiro, com a versão armada com canhão
elas, à empresa inglesa Vickers Defence de 105mm, tiveram início em 16/12/1986
System, que a utilizou também num e término em 14/04/1987. Estes geraram
modelo experimental denominado Mark dois relatórios: o Relatório Técnico do
7, mas que não foi produzido em série. Exército-RETEx e o Relatório Técnico
Outros itens foram importados como Operacional-RETOp, ambos emitidos
a suspensão hidropneumática Dunlop, as pelo Exército Brasileiro e muito favoráveis.
lagartas Diehl, motor MWM, transmissão Esses testes compreenderam percor-
ZF, da Alemanha, periscópios com visão rer 3.269km, sendo 750km no Campo de
noturna, telêmetro laser e computador de Provas da Marambaia, no Rio de Janeiro,
tiro OLP da Bélgica, enfim o que demais em terreno arenoso, para avaliarem a
moderno havia disponível no mercado. mobilidade do carro. Dispararam 50 tiros
A primeira torre chegou ao Bra- de 105mm, nesse mesmo campo, para ava-
sil em maio de 1985 sendo imedia- liação da torre e de seus equipamentos.
tamente acoplada ao chassi do veí- O Carro de Combate EE-T1 Osó-
culo, que recebeu a designação de P.1. rio surpreendeu os militares brasi-
Após exaustivos testes, o veículo foi leiros, gerando grande empolgação e
embarcado em um avião 747 Jumbo de esperanças de ver as Unidades blin-
carga e levado para a Arábia Saudita em dadas equipadas com ele no futuro.
julho do mesmo ano para participar de Nesse período, foi construído o P.2 que
uma avaliação para a escolha de concor- incorporava todos os itens para exportação e
rentes para uma grande licitação que previa exigidos para a concorrência na Arábia Sau-
a compra de aproximadamente 800 carros dita, no ano de 1987, e Abu Dhabi, em 1988.
de combate, que poderia se desdobrar em Na versão P2, estava previsto um
outras vendas a diversos países da região. canhão de 120mm Rheinmetall, porém,
Os objetivos principais da empresa em razão das dificuldades impostas pelo
Engesa eram mostrar que de fato exis- governo alemão, optou-se pelo modelo
tia um carro de combate brasileiro e francês, tendo sido descartado o modelo
aprimorá-lo para desempenho naquele inglês em virtude de o mesmo ser raiado
tipo de terreno característico de deserto. e sua força de recuo incompatível com o
O veículo impressionou as autori- Osório, com peso de 42t, optando por um
dades Sauditas. Além dele, escolheram de alma lisa, que mais se adaptava ao pro-
mais três para participarem da concor- jeto.
rência que ocorreria em 1987: o AMX- Os periscópios eram franceses
40 da França, o Challenger da Inglaterra SFIM, do atirador com visão diurna e
e o M-1 A1 Abrams dos Estados Unidos. telêmetro laser, mas para o comandante
Sem dúvida foi uma grande vitó- o periscópio era panorâmico (360º) com
ria para o produto brasileiro, vindo de os mesmo recursos do atirador. Para a
um país sem tradição alguma nessa parte de visão e tiro noturno, optou-se
área e podendo competir com o que por um modelo PHILLIPS USFA, holan-
de melhor havia naquele momento. dês, com infravermelho e monitores de
A partir daí, os dois protótipos se televisão para o comandante e atirador.
mantiveram: um para o Exército Brasi- Os controles de tiros eram da MARCONI.
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Sua sofisticação era tal que usava uma
“janela de coincidência”, a qual analisava
a posição do canhão e a mira do atirador,
permitindo que ele só disparasse, quando
durante as oscilações, o seu alinhamento
fosse coincidente com o dos periscópios, o
que permitia grande acerto no primeiro tiro.
Seu chassi era monobloco soldado
composto por chapas blindadas monome- Engesa EE-T1 Osório P1, canhão 105mm, em testes de
tálicas e bimetálicas estruturais, com aplica- homologação no Exército Brasileiro, em 1986, em Sorocaba-SP
ção de blindagem composta no arco frontal. (Foto: Coleção Autor)

Projetado com pequenos ângulos de inci-


dência e baixa silhueta para maximização
da proteção balística. Externamente possuia
saias laterais em aço blindado, para prote-
ção das lagartas e sistemas da suspensão.
O monobloco foi dividido em compar-
timentos para tripulação e power pack, sepa-
rados por uma parede corta-fogo e estru-
tural, com isolamento térmico/acústico.
O comp ar t imento do p ower
pack possuía três tampas em aço blin-
dado bimetálico, permitindo fácil Engesa EE-T1 Osório P2, canhão 120mm, em testes realizados
pela Engesa-SP (Foto: Coleção Autor)
acesso a este, com aplicação de gra-
des balísticas em suas entradas e saídas. fundidas em aço de alta resistência à abra-
Sua suspensão era composta de seis são, com guia central incorporada.
unidades hidropneumáticas de cada lado, As sapatas eram conectadas por
dispostas externamente ao monobloco. duplo pino e conectores com extensão para
O sistema de freio, inovador, combina reduzir a pressão sobre o solo, possuindo
a atuação de um retardador integrado à amortecimento interno visando diminuir
transmissão com o conjunto freio hidráu- transmissão de vibração ao monobloco e o
lico principal e de emergência, comandado nível de ruído. Cada sapata era composta
automaticamente por um microprocessador de dois pads de borracha removíveis, e o
eletrônico que considera a velocidade do tempo de montagem e desmontagem era
veículo e a desaceleração desejada, propor- de aproximadamente quarenta minutos. As
cionando uma frenagem constante e eficaz. rodas de apoio foram fundidas em aço de
Possuía ainda, um sistema de freio hidráu- alta resistência e abrasão e emborrachadas,
lico de emergência, independente do prin- sendo seis conjuntos de cada lado, isso tam-
cipal, que opera sempre que este apresente bém ocorrendo com as rodas tensoras, em
algum tipo de pane, e um sistema de freio de número de duas e os roletes de suporte fun-
estacionamento, de acionamento manual. didos em aço e emborrachados, três destes
O trem de rolamento era constituído de cada lado.
por lagartas, rodas de apoio, rodas tensoras, Tirando o mock-up, foram construí-
mecanismo tensor e roletes de suporte. A dos cinco carros, que deveriam ter sido
lagarta era Dhil, composta de 92 sapatas designados de 1 a 5, mas não o foram.
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Suplemento Especial 59
Carro de Combate Engesa EE-T1 Osório PI
Desenho: Gilson Marôco

Carro de Combate Engesa EE-T1 Osório PII


Desenho: Gilson Marôco

Desenho para a divulgação do futuro Carro de Combate


Engesa EE-T1 Osório, realizado pela Engesa S/A
Coleção do autor

ANO XX / NO 38
60 Suplemento Especial
Engesa EE-T4 OGUM
Na segunda metade dos anos 1980, a Paralelamente a esses testes, foi
Engenheiros Especializados SA-ENGESA construído então um quarto protótipo,
apresentou um veículo blindado leve, sobre bem mais elaborado que os outros três e
lagartas, projetado para possuir grande equipado com uma torreta Engesa com
flexibilidade e apto a desenvolver vários duas metralhadoras 7,62mm, apresen-
tipos de missões, com extensa variedade tado na Primeira Exposição Internacio-
de versões previstas sobre o mesmo chassi. nal de Produtos Militares, ocorrida em
O veículo em questão recebeu a desig- Bagdá, em 1989. O veículo permaneceu
nação de EE-T4 e foi denominado OGUM para testes no país; em 1991, em decor-
(Orixá a quem se atribui a transmissão rência da Segunda Guerra do Golfo, foi
da técnica da metalurgia do ferro aos deixado em Tikrit, num quartel do exér-
homens e que, no Brasil, é cultuado mais cito. Os técnicos da Engesa retornaram ao
por sua belicosidade), um veículo extre- Brasil e nunca mais tiveram notícias dele.
mamente compacto, com baixa pressão A estrutura era um monobloco, cons-
sobre o solo, aerotransportável, podendo, truído em chapas de aço bimetálicas, as
inclusive, ser lançado de paraquedas, mesmas usadas nos blindados sobre rodas
extremamente ligeiro, com grande mobi- 6x6 Urutu e Cascavel, de alta resistência, e
lidade e raio de ação, além de baixo peso. aço 1020, o que lhe dava resistência estru-
Na verdade, ele foi concebido para tural e proteção balística efetiva, segundo
atender as necessidades do Iraque, então o fabricante, contra o calibre 7,62mm AP.
em guerra contra o Irã, que necessitava O motor era frontal, diesel, Perkins
de um veículo sobre lagartas, na faixa de modelo QT 20 B4236, nos dois primei-
4t, destinado notadamente a ser utilizado ros protótipos, quatro tempos, turbi-
como plataforma de armas leves. Os estudos nado, quatro cilindros em linha, 125HP,
começaram em novembro de 1985 e, em transmissão automática Alisson modelo
maio de 1986, foi apresentado o primeiro AT 545, quatro marchas à frente e uma
protótipo, destinado a ensaios mecânicos. a ré, o que lhe dava uma autonomia de
Logo em seguida, um segundo foi cons- 350km, em estradas a uma velocidade
truído e enviado para testes naquele país, de 70km/h. Já os dois últimos protóti-
surgindo, assim, a necessidade de se efetuar pos foram equipados com motor BMW
diversas modificações, que levaram à cons-
trução de um terceiro protótipo.
Isso não impediu que ele
fosse oferecido a outros países,
cujas delegações visitavam a sede
da Engesa em São José dos Cam-
pos-SP, onde ocorria uma série de
demonstrações dele e dos demais
veículos militares ali produzidos.

Engesa EE-T4 Ogum no pátio


da Engesa Viaturas em 1986
Foto: Coleção do Autor)

ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 61
modelo M21D24WA-LLK, diesel de seis antitanque lançador de mísseis; Veículo
cilindros, bem mais leve e com potência de reconhecimento com metralhadora .50
de 130HP, maior raio de ação de 360km e em torre giratória; Veículo porta-morteiro
velocidade de 75km/h, caixa de transmis- 120mm; Veículo transporte de munição;
são ZF modelo 4HP 22, quatro marchas Veículo comando; Veículo Ambulância.
à frente e uma a ré. Todos possuíam dife- O EE-T4 Ogum ainda é um veículo
rencial controlado, responsável pela trans- versátil, mesmo para os dias de hoje; seu
missão de potência e direção do veículo. conceito é extremamente moderno e pode-
Foram previstas várias versões sobre ria muito bem ser aproveitado pelo Exér-
o mesmo chassis, entre elas as mais expres- cito Brasileiro, que criou recentemente
sivas: Veículo Transporte de Pessoal-APC, uma Brigada de Operações Especiais;
com capacidade para quatro soldados serviria também para a Brigada Paraque-
equipados, mais o motorista, armado dista e muitas outras Unidades, nas mais
com uma metralhadora 7,62mm; Veículo variadas funções, especialmente em razão
com canhão de 20mm; Veículo com torre de suas pequenas dimensões e alta mobi-
para duas metralhadoras 7,62mm; Veículo lidade.

A volta das importações: Carro


de Combate M-60A3 TTS
Como evolução dos tempos que mar- dez anos depois, quando o Chile adquiriu
caram essa nova fase da arma blindada no aproximadamente uma centena de Leo-
Exército, foi criado em 1996 o CENTRO DE pard2 A4 da Alemanha, negociações que
INSTRUÇÃO DE BLINDADOS GENE- foram iniciadas por volta de 2005, mas
RAL WALTER PIRES (CIBld), responsável que não representariam ameaças para nós.
pela formação, padronização, moderniza- O fato de possuírem visores noturnos
ção e atualização na instrução e adestra- termográficos, que permitiam a identifica-
mento dos futuros combatentes blindados, ção de alvos camuflados no campo, possibi-
inicialmente no Rio de Janeiro-RJ, e atual- litando ver através de neblina, poeira, chuva,
mente em Santa Maria-RS, desde 2004. etc., e enxergar à noite, ocasionou alta
O Exército Brasileiro, cujas Unidades mobilidade, muito embora seu peso e tama-
blindadas estavam equipadas com o carro nho tivessem causado diversos problemas,
de combate leve M-41C, já modernizado tanto nos quartéis como em vias públicas,
no Brasil, viu-se obrigado a equipar essas até porque os colocaram nos mesmos locais
Unidades com carros de combate mais dos M-41, que eram de outra categoria.
modernos, razão pela qual foram adquiri- A versão A3 incorporava todos
dos a partir de 1996, num acordo governo os desenvolvimentos da família M-60
a governo, 91 CC M-60 A3 TTS dos Esta- e foram produzidos durante os anos de
dos Unidos. O M-60 A3 TTS (Tank Ther- 1980, permitindo, assim, maior confiança
mal Sight) acabou sendo o melhor carro dos sistemas mecânicos: motor e trans-
de combate em operação na América do missão e a introdução de um sistema de
Sul, superior a todos os empregados pelos tiro avançado. A diferença entre o M60 e
demais países da região, a partir da sua o M1 versão 105mm era a maior mobili-
aquisição e uso, só sendo superado quase dade deste, com o mesmo sistema de tiro.
ANO XX / NO 38
62 Suplemento Especial
O Corpo de Fuzileiros Navais americano para aqueles provenientes de operações
trocou o M60 pelo M1, com restrições. anteriores com os velhos M-41, os quais
Sem dúvida, na nossa realidade, era puderam somar experiências. Toda a manu-
um blindado moderno e com característi- tenção ficou a cargo do Parque Regional
cas que agregavam valor de combate a uma de Manutenção da 5ª Região Militar-PqR-
tropa blindada, ressaltando, no entanto, que Mnt/5, de Curitiba, e lá foi possível, mesmo
em face da diversidade tecnológica que com todas as dificuldades, realizar um bri-
oferecia, como telemetria a laser, compu- lhante trabalho, inclusive com a nacionali-
tador de bordo, visão noturna residual e zação de alguns itens, visto que operaram
térmica, torre estabilizada (permite o tiro 16 desses carros de combate. A partir de
em movimento), e um poderoso canhão 2010, foram selecionados 28 deles estando
105mm, com alcance de 4km. Um dado operativos no 20º Regimento de Cavala-
merecedor a ser comentado, e comumente ria Blindada de Campo Grande-MS, e sua
observado, é terem deixado de lado por manutenção ficou a cargo do Parque Regio-
muitos, durante as instruções, os funda- nal de Manutenção da 9ª Região Militar.
mentos táticos e técnicos de seu emprego, O Exército ainda opera 10 Viaturas
confiando ter, com as novas tecnologias, Blindados Especiais de Socorro M88A1
eliminado a necessidade de se conhecer (VBE Soc M88 A1 adquiridas a partir de
princípios básicos no uso de blindados 2016, versão desenvolvida sobre o chassi
sobre lagartas, o que foi um engano, salvo do M60).

M-60 A3 TTS realizando tiros em


manobras do Exército Brasileiro
(Foto: Exército Brasileiro)

Viatura Blindada Especial de Socorro


M88A1 (VBE Soc M88 A1)
(Foto: Exército Brasileiro)

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Suplemento Especial 63
Carro de Combate LEOPARD 1A1
Paralelamente à compra do M-60 A3 no mundo nessa nova configuração de veí-
TTS, foi elaborada pelo então Ministério culo socorro, construídos sobre o chassi do
do Exército (extinto pela criação do Minis- Leopard1 A1 e bem diferentes do modelo
tério da Defesa, em 1999) uma diretriz para original alemão Bergepanzer.
a implantação das Viaturas Blindadas de A instrução passou a ter fundamental
Combate, CC Leopard 1A1 no Exército, em papel com essa modernização, visto que,
17 de maio de 1996. muitas vezes, a infraestrutura existente teve
Inicialmente, foi feita a compra de 61 de ser adaptada, pois esses veículos trouxe-
CC Leopard 1A1, em três lotes pela Comis- ram nova realidade para o Exército.
são nomeada em dezembro de 1994, que foi Pela primeira vez, construíram um
à Bélgica para escolher o material, tendo local apropriado para simular tiros reais
como critérios, em primeiro lugar, a vida utilizados na torre de um Leopard 1A1,
útil do canhão, a menor quilometragem de instalada numa sala de instrução, de onde
transmissão e o menor número de horas é possível efetuar disparos com munição de
de uso do motor. Aplicando tratamento pequeno calibre sobre uma maquete móvel,
estatístico, obteve os seguintes parâmetros simulando uma situação real. No local são
para o carro médio: horas do motor: 500,8; treinadas todas as futuras tripulações desse
quilometragem da transmissão: 3229 km; carro.
EFC: 172. Outra inovação foi a aquisição, em
Foi contratada a firma Belga STILES 2001, de 17 redutores de calibre .50 Advace
para sua aquisição e recebidos os três lotes In-bore Marksmanship Training Enhan-
entre 1997 e 1998, e posteriormente com- cement System for Tanks-AIMTEST, da
prados mais 67 de um quarto lote, rece- firma norte-americana American Apex
bidos em 2000, totalizando 128 carros, Corporation, para os canhões de 105mm
com exceção da munição, que veio inte- dos Carros de Combate Leopard 1 A1 e
gralmente com o primeiro lote. Todo o M-60 A3TTS.
material foi entregue ao Parque Regional Também vale salientar que, ao sair dos
de Manutenção/1 (PqRMnt/1), no Rio de M-41 para os Leopard, estes vieram ocupar
Janeiro, e deste foi distribuído às respecti- o lugar daqueles, e aí surgiram dificulda-
vas unidades, entre 1997 e 2000. des, em virtude de peso, tamanho, tipos de
Treinaram militares na Bélgica para munição, consumo de combustível – um
operarem os CCLeopard 1A1 em nível de aumento substancial–, locais apropria-
1º, 2º e 3º Escalões. dos para seu armazenamento, obrigando
Essa transição foi rápida, obrigando a a adaptar as garagens existentes – muitas
uma reestruturação nos conceitos até então vezes não sendo o ideal – reforço nas áreas
vigentes, pois, além de trazer novo carro de circulação, não só nos quartéis, como
de combate para nossos padrões, como o também em seus deslocamentos nas áreas
Leopard 1A1, também obrigou a aquisição próximas. Passaram a ter preocupação para
de variada gama de outros veículos, como deslocamentos a grandes distâncias, em
o Leopard Escola e Leopard Socorro (Ber- função de carretas, que não poderiam ser
gepanzer Standard), além de dois outros as mesmas do M-41, e, mormente, dificul-
modelos únicos, Hart, desenvolvidos pela dades na área ferroviária, em virtude das
empresa belga Sabiex, sendo os dois únicos obras, como pontes e túneis.
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Leopard 1A1 do
lote adquirido na
Bélgica em 1996
(Foto: Autor)

Leopard Socorro Leopard Versão Socorro da Sabiex


(Foto: Autor) (Foto: Autor)

Emblema usado nos Veículos Militares


Leopard Escola Brasileiros a partir de 1998
(Foto: Autor) (Foto Coleção Autor)

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Suplemento Especial 65
A parte de logística sofreu grande das de vez, conforme portaria publicada,
alteração, não só pela novidade, mas em abaixo transcrita: “PORTARIA Nº 146-
especial, por ter dois tipos de CC, o M-60 EME, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2009.
e o Leopard1. O MBT escolhido pelo Exér- Desativa as Viaturas Blindadas de Combate,
cito Brasileiro foi o Leopard 1A1, enquanto Carro de Combate Leopard 1A1 e M41C”.
que os M-60 continuaram a ser usados, Dessa forma, encerraram o ciclo do
mas não receberiam novas aquisições. Leopard 1A1 no Exército, mas a maioria
Os Leopard 1A1 integraram, inicial- deles está armazenada no PqRMnt/3 de
mente, o 1º e o 3º Regimento de Carros Santa Maria-RS, onde serão desmontados,
de Combate no Rio de Janeiro e o 2º em e suas peças, sobretudo as do chassi, ser-
Pirassununga-SP, além do próprio Cen- virão para os recém-adquiridos Leopard 1
tro de Instrução de Blindados, a Escola de A5; sendo mais uma cadeia de suprimento,
Material Bélico e o Regimento Escola de evitaram simplesmente descartá-los como
Cavalaria, atual 2º Regimento de Cavala- sucata. Os custos para uma revitalização
ria de Guardas, todos no Rio de Janeiro. das torres ou sua substituição, bem como
Sem sombra de dúvidas, a aquisição do canhão, visto que a maioria chegou ao
dos Leopard1 A1, da Bélgica, não foi uma fim de sua vida útil, foram descartados
das melhores compras, visto que, por não por não serem compensadores e mui-
terem o aval do fabricante original alemão tos dos componentes já não serem mais
e dada a idade de fabricação destes, acaba- produzidos em razão dos mesmos terem
ram por se tornar grande fonte de proble- sofrido uma repotencialização na Bél-
mas em sua manutenção, o que acabou por gica, quando ainda estavam na ativa por
gerar amplo número de indisponibilidade. lá, o que os tornou diferentes dos demais.
Com a aquisição da versão Leopard O certo é que 41 deles foram mobi-
1A5, da Alemanha, o Exército acabou por liar os Regimentos de Cavalaria Blinda-
definir que as versões 1 A1 serão desativa- dos (RCB) substituindo os velhos M-41C.

Carro de Combate LEOPARD 1A5BR


Entre o final de 2009 e início de 2010, pectivamente, e os M-60 A3 TTS do 5º
fora adquiridos os dois primeiros esqua- RCC em Rio Negro-PR, e, ainda, foram
drões de carro de combate Leopard1 A5, incorporados ao recém-recriado 3º RCC,
totalizando 26, recebendo ainda os 20 veí- em Ponta Grossa-PR, o qual havia sido
culos de apoio, do lote adquirido em 2006, extinto no Rio de Janeiro-RJ, em 2003, no
que incluiu 250 Leopard 1 A5, dos quais então plano de reestruturação do Exército.
220 serão operacionais e 30 utilizados para A versão 1 A5 adquirida é a mais
aproveitamento de peças; e os de apoio moderna da família Leopard 1, com sis-
que se dividem em 07 Leopard Socorro, 04 tema de controle de tiro EMES 18, visão
Leopard Lança-Pontes, 04 Leopard Enge- noturna ampliada para atirador e coman-
nharia e 05 Leopard Escola de Motoristas. dante do carro, blindagem reforçada na
O primeiro lote dos Carros de Com- torre, suspensão reforçada e capaz de dis-
bate Leopard1 A5 substituiu, inicialmente, parar munições mais potentes que a versão
os Leopard 1 A1 do 1º e do 4º Regimento A1, inclusive munição do tipo APFSDS,
de Carros de Combate (4º RCC), em capaz de penetrar praticamente em todos
Santa Maria e Rosário do Sul-RS, res- os tipos de blindagem atualmente em uso.
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Leopard 1A5BR (Foto: Autor)

Leopard Lança-Ponte Biber (Foto: Autor) Leopard Engenharia (Foto: Autor)

Leopard Socorro (Foto: Autor) Leopard Escola (Foto: Autor)

A seleção dos Carros de Combate, fabricante. Com relação aos veículos de


para a escolha de quais seriam recupe- apoio, a empresa Rheinmetall AG realizou
rados, antes de serem enviados ao Brasil, os trabalhos de recuperação.
ocorreu em 2008, no período de setembro Outro ponto que merece destaque
a dezembro, e a empresa escolhida para o nessa compra foi terem assinado também
trabalho foi a Krauss Maffei Wegmann, sua um Pacote Logístico, que previa a compra
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Suplemento Especial 67
de um simulador fixo, do tipo cabine, que agregando conhecimento e desenvolvendo
reproduz o habitáculo do Comandante do novas tecnologias.
Carro e do Atirador, com capacidade de Com a chegada de todos os Leopard
treinar, simultaneamente, até quatro carros 1A5, o Exército está equipado com uma
de combate, o que forma um pelotão. Tam- família de carros de combate, futuramente
bém foram adquiridos mais quatro simula- distribuídos às principais Unidades que os
dores portáteis, que, individualmente, trei- empregam e as que dão o suporte logís-
nam a guarnição de um carro de combate, tico necessário com os demais membros
os quais seriam distribuídos para cada um daquela família. Isso, sem dúvida, nos
dos RCC. Foram, ainda, adquiridas quatro dará nova dimensão quanto ao seu uso e
torres didáticas, para treinamento de pro- nos ajudará a criar uma doutrina para seu
cedimentos do que ocorre numa torre do emprego, muito melhor e mais realista do
carro de combate e ferramental especiali- que a que tivemos até o momento.
zado para manutenção de até 3º Escalão. Um importante item para a instrução
Sua denominação passou a ser Leo- das futuras tripulações de Leopard1 A5 BR
pard1 A5 BR; o BR no final do nome se foi a aquisição de torres didáticas, e simu-
aplica a todos os modelos adquiridos, ladores que já se encontram instalados no
com exceção dos 10 primeiros recebi- CIBld e em diversas unidades que os operam.
dos. Outra modificação importante foi a Indubitavelmente, foi um grande
introdução do novo sistema de extinção avanço no conceito de modernidade para o
de incêndio, baseado em nitrogênio (em emprego de Carros de Combate no Exército
vez do antigo Halon) e do novo sistema Brasileiro, visto que pela primeira vez esta-
de comunicações Tadiran. O carro ainda mos operando um Carro de Combate Prin-
recebeu a nova denominação, já men- cipal-MBT e sua respectiva família, numa
cionada, e um novo número de estoque escala até então inédita, mas esse novo ciclo
OTAN (NSN). está chegando ao fim e vamos ter de tomar
A IMBEL/Juiz de Fora chegou a pro- decisões para sua substituição em pouco
duzir um lote piloto de munições 105mm tempo. Por outro lado, estamos criando
para carro de combate, que poderá ser pro- mais uma vez uma dependência preocu-
duzido em escala industrial no futuro. pante, uma vez que, no contrato de assis-
Assim, poderemos mantê-los opera- tência técnica assinado, nós estamos muito
cionais, com uma boa cadeia de suprimen- limitados quanto ao uso desses blindados,
tos, ferramental, treinamento de pessoal, tornando-nos mais uma vez apenas usuá-
catálogos, simuladores e munição, nacio- rios, como o que já vivenciamos ao longo
nalizando o que for possível e mantendo dos 100 anos de emprego de blindados no
o que restou de nossa indústria de defesa, país, e há motivos para tal preocupação.

A modernização do M-113 no Brasil


Ao Brasil, como signatário do acordo gada das primeiras quatro Viaturas Blinda-
Military Assistence Program-MAP com os das Transporte de Pessoal (VBTP) M-113.
Estados Unidos, ocorrido logo após o fim Nos dois anos seguintes, recebeu
da Guerra da Coreia (1950-1953), foi pos- mais 80, metade desses a cada ano, pos-
sível receber grande quantidade de material sibilitando assim formar e treinar pes-
militar, culminando, em 1965, com a che- soal que iria operá-lo e manuteni-lo.
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68 Suplemento Especial
Um destes veículos foi entregue à lidade e proteção blindada, sem perder
Escola de Material Bélico (EsMB), no Rio suas características próprias, permitindo
de Janeiro-RJ, permitindo assim a elabo- realizar, sob quaisquer condições, o com-
ração dos primeiros manuais de operação bate a pé e a ocupação definitiva do ter-
e apresentação do veículo, em português, reno conquistado e, mais recentemente, a
desenvolvido e adotado em sua Seção de serem empregados em ambientes urbanos,
Motomecanização, em março de 1969, na Garantia da Lei e da Ordem-GLO, mos-
como Notas de Aula para o curso de M-113 trando-se personagens de extrema impor-
ali ministrado. tância em operações contra narcotraficantes
Em 1971, o Exército, em virtude da e crime organizado, que tantos problemas
obsolescência de seus equipamentos, em trazem em nossas grandes cidades.
sua maioria oriundos da Segunda Guerra Foi sem dúvida um grande ganho,
Mundial, elaborou um plano de reapare- permitindo que os Regimentos de Infan-
lhamento, em que se previa a aquisição de taria se transformassem em Batalhões.
mais de um milhar de veículos militares de Gradativamente, tornaram-se Bata-
diversos tipos e modelos, entre estes um lhões de Infantaria Blindados (BIB), que, na
grande número de M-113, chegando, inclu- atualidade, ainda operam os M-113, devi-
sive, a se pensar numa fabricação local des- damente repotencializados e modernizados
ses blindados, mas acabou por optar pela ao longo das décadas seguintes, mostrando
compra, a partir do ano seguinte, de cinco que ainda irão perdurar por muito tempo
centenas deles, que somados aos já existen- no Exército.
tes totalizaram 584 veículos. Os primeiros estudos, visando a uma
Estes vieram equipar, sobretudo, os modernização (ou repotencialização para
Batalhões de Infantaria Blindados (BIB) o Exército) do M-113, datam de 1968, com
e os Regimentos de Carros de Combate autorização da Diretoria de Motomecani-
(RCC), muito embora outros tenham sido zação-DMM, elaborado pelo PqRMM/2,
empregados em Unidades de Artilharia, com vistas à adaptação de um motor, a ar,
Comunicações e Escola de Material Bélico Deutz V-8 diesel, o qual envolveu a própria
(EsMB), tendo esta passado a ministrar fabricante daquele motor, mas que acabou
cursos sobre a parte técnica desses veículos por não se concretizar em virtude dessa
e participado na elaboração e tradução dos empresa deixar o país, com o encerramento
manuais americanos. de suas atividades.
O M-113 não foi o primeiro blindado Os primeiros grandes problemas
sobre lagartas anfíbio no Exército, visto que, ocorreram a partir do rompimento do
em 1962, já havíamos recebido 20 VBTP acordo militar Brasil-Estados Unidos, no
M-59 que equiparam o Regimento de Reco- Governo Geisel, em 1977, em consequência
nhecimento Mecanizado, posteriormente da falta de peças de reposição, que elevou a
conhecido como 15º Regimento de Cavalaria números alarmantes a quantidade de veícu-
Mecanizada (15º RCMec), no Rio de Janeiro, los indisponíveis em suas Unidades opera-
tendo sido desativados no final dos anos 1980. doras, agravado com a crise do petróleo que
Alguns ainda se encontram preservados em assolou o mundo naquela década.
museus militares e coleções particulares. Em 1979, surgiram as primeiras ideias
O certo é que, com a chegada da VBTP para a modernização dos M-113, sobretudo
M-113 no Exército, a Arma de Infantaria em virtude das dificuldades de importação
modernizou-se, ganhando maior mobi- de itens específicos para sua manutenção.
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Suplemento Especial 69
M-113BR modernizados no Pq R Mnt/5, com lagartas de Um dos 12 M-113A2 recebidos pelo Exército Brasileiro
borracha, em Curitiba-PR (Foto: Autor) (Foto: Exército Brasileiro)

M-113BR modernizados no Pq R Mnt/5, com lagartas de Viatura Especializada Posto de Comando M577 A2 (VBE PC
borracha, em Curitiba-PR (Foto: Autor) M577 A2) (Foto: Coleção Autor)

No Brasil, o projeto inicial de moder- Cabe ressaltar que o termo “Moderni-


nização dos M-113 teve origem na empresa zação” era uma novidade no momento, pois
Biselli – Viaturas e Equipamentos Indus- no Glossário de Termos Militares AR-310,
triais Ltda, de São Paulo, em 1981, onde de 25 de setembro de 1975, em vigência, não
foi adaptado um motor de caminhão Fiat constava aquela palavra, mas existiam os ter-
diesel, 8210.22. Iveco 150, o qual não pro- mos Rebuilt e Retrotif que, somados, deram
duziu os resultados esperados pelo Exército origem nos anos seguintes àquele termo.
e não trouxe no seu bojo um estudo mais Sem dúvida, foi um projeto ambicioso
apurado e que realmente fosse a solução. para aquele momento, até porque coube ao
Em 1982, o Exército estabeleceu recém-criado Centro Tecnológico do Exér-
um Plano Geral de Pesquisa e Desen- cito (CTEx) ser o responsável pelo fomento
volvimento do Exército (PGPDEx) para industrial, estabelecendo ainda, as suges-
a área de material, surgindo assim o tões para os Requisitos Técnicos Básicos
Projeto M.01.11 – Viatura Blindada de (RTB) de dirigir, e muitas vezes acompa-
Transporte de Pessoal VBTP, XM113-B nhar, todas as fases do desenvolvimento e
Lagarta, que visava dotar as Unidades do aprovação de protótipos (RETEx e RETOp,
Exército com os M-113 modernizados, uma novidade então), bem como contro-
cujo prazo para início datava de 1979. lar e certificar o Sistema de Qualidade da
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70 Suplemento Especial
Empresa na fase de produção. O Exército Em 4 de julho de 1983, nas depen-
contava com 584 unidades do M-113, que dências do 20º Batalhão de Infantaria
haviam sido fabricadas nos Estados Unidos, Blindado (20º BIB), em Curitiba-PR,
no início dos anos de 1960, e já apresenta- ocorreu o primeiro teste comparativo
vam grandes sinais de fadiga, trazendo inú- entre o M-113 original americano com
meros problemas mecânicos, especialmente a versão modernizada brasileira, deno-
panes de motor, no sistema de alimenta- minada de M-113B, incorporando o
ção, na parte elétrica e de arrefecimento, novo motor diesel Mercedes Benz.
agravados ainda pela crise do petróleo de Foram realizados, inclusive, testes
1974, cujos custos estavam elevadíssimos. de navegabilidade, e assim foi elaborado o
Ao ser retirado da Biselli, coube à RETEx nº 1054/83 e os documentos nor-
empresa Lacombe Indústria e Comércio mativos, para, a partir de 1984, assinarem
de Tubos Ltda, em parceria com o Par- o contrato entre o Departamento de Mate-
que Regional de Manutenção/5, ambos rial Bélico (DMB) e a empresa Moto Peças
em Curitiba-PR, dar início à adaptação do Transmissões S/A, prevendo a moderniza-
motor Mercedes OM-352A, muito confiável ção de 580 M-113 para a versão M-113B,
na época, chegando a realizar testes num divididos em 20 lotes, realizadas no período
veículo adaptado que serviu de protótipo. de 1985 a 1988.
No entanto, por ser essa empresa Diversas tentativas apresentadas por
pequena, e o projeto gigantesco para a várias empresas ocorreram de 1990 a 2008
época, este acabou sendo transferido sem um resultado definido.
para a Moto Peças Transmissões S/A, de A partir de todas as experiências ante-
Sorocaba, ficando a Lacombe com uma riores, e com todos os seus erros e acertos,
porcentagem, algo ao redor de 2% sobre ocorreu a 4ª Reunião Decisória, seguindo
os veículos que foram sendo moder- o Modelo Administrativo do Ciclo de Vida
nizados, como forma de pagamento dos Materiais de Emprego Militar (IG
por aquele trabalho de modernização. 20-12), o qual prevê o fim do ciclo de vida
Assim, em setembro de 1982, um do Material de Emprego Militar (MEM)
grupo de militares foi enviado ao 5º Regi- para se definir qual o destino deveria ser
mento de Carros de Combate-5º RCC, em dado ao M-113B.
Rio Negro-PR, para realizar um curso de Em 2 de dezembro de 2009, nessa
M-113, como forma de familiarizar-se com reunião, foi decidido que se deveria partir
o veículo e dar continuidade ao projeto de para uma modernização parcial da frota de
modernização. M-113B, em M-113BR, cujo escopo inicial
Seguindo as determinações do Exér- previa a modernização de 376 desses veí-
cito, a Moto Peças, em parceria com o Cen- culos.
tro Tecnológico do Exército (CTEx), iniciou Uma das justificativas principais do
os trabalhos que culminaram na apresen- Projeto residia no fato de as VBTP, dis-
tação de um protótipo em abril de 1983, o tribuídas aos elementos dos Batalhões de
qual foi apresentado no PqRMnt/5 ao Chefe Infantaria Blindada (BIB), e dos Regimen-
do CTEx, General Hermano Lomba San- tos de Cavalaria Blindada (RCB) não pos-
toro, ao Coronel Nacarati, Coronel Mar- suírem as características necessárias a uma
celo, Major Dolce, acompanhados de dois viatura blindada de combate de fuzileiros,
técnicos da Moto Peças, ocasião em que nos atuais conceitos dos combates blinda-
puderam testar o veículo. dos.
ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 71
Assim surgiu o maior e mais completo Tank-automotive & Armaments Comman-
processo de modernização do M-113B d-TACOM, em 21 de dezembro de 2011, da
já realizado no país, muito embora, este empresa americana BAE Systems, responsá-
tivesse sido realizado por uma empresa vel por disponibilizar os kits de moderniza-
brasileira. Buscou-se uma empresa que pos- ção e pelo apoio especializado ao processo
suía capacidade para esse tipo de trabalho, de modernização conduzido pelo Pq R
com larga experiência, no caso a BAE Sys- Mnt/5 com recursos humanos (militares do
tems. Essa empresa tem fornecido os kits QEM e Material Bélico, essencialmente) do
de modernização, os manuais técnicos, o EB. No total, foram dois lotes de M113BR
maquinário e ferramental especializado, somando uma frota de 386 VBTP. Havia o
além de treinamento de pessoal, utilizando planejamento de modernizar o restante da
as infraestruturas do PqRMnt/5 de Curiti- frota. Todavia, outras possibilidades deve-
ba-PR, onde foi criada uma moderna linha rão ser adotadas.
de produção, como se fosse uma fábrica, Em outubro de 2015, foi firmado
que lembra em muito linhas de produção um acordo entre o Exército Brasileiro e
de nossa indústria de defesa em seu período o Departamento de Defesa dos Estados
áureo dos anos de 1980. Unidos, ocasião em que foram doadas 34
É interessante registrar que a Portaria Viaturas Especializadas Posto de Comando
017 do Estado Maior do Exército-EME, de M577 A2 (VBE PC M577 A2) e 12 Viaturas
18 de março de 2010, pode ser considerada Blindadas Transporte de Pessoal M113 A2
a certidão de nascimento de todo o pro- (VBTP M113 A2). Essas viaturas vieram
jeto, o qual gerou o Contrato inicial, deno- pelo Programa de Transferência de Mate-
minado LOA BR-B-UUG, de 29 de julho rial Excedente do Exército Americano
do mesmo ano, no qual, inicialmente, se (Excess Defense Articles-EDA) e os custos
contemplou a modernização de 150 VBTP de transporte e inspeção de desembarque
M-113B, havendo ainda previsão, naquele foram orçados em, aproximadamente, dois
momento, de se contemplar mais 236 veí- milhões de reais, investimento esse feito por
culos, em um segundo contrato. meio do Projeto Estratégico de Obtenção
Tudo isso foi implementado pelo Pro- da Capacidade Operacional Plena-OCOP,
grama Foreign Military Sales-FMS, promo- visando dotar as unidades operacionais
vido pelo Governo dos Estados Unidos- do Exército Brasileiro com material de
-USG, o que, na verdade, trata-se de um emprego militar, recebidas em setembro de
acordo Governo a Governo: USG/FMS e 2016. Posteriormente, nesse mesmo pro-
Governo Brasileiro/Exército Brasileiro, cujo grama, em janeiro de 2020 foram adquiri-
resultado foi a contratação, pelo U.S.Army das mais 60 VBE PC M 577 A2.

Viatura Blindada de Combate de


Fuzileiros XMP1 SL CHARRUA I e II
Em meados dos anos de 1980, a Moto Pessoal M-59, oriundas do Acordo Militar
Peças Transmissões S/A, de Sorocaba-SP, Brasil-Estados Unidos, nos anos de 1960.
em parceria com o Exército, iniciou um Inicialmente, pensou-se na substitui-
programa de estudos para a modernização ção de seus dois motores à gasolina, mon-
das 20 Viaturas Blindadas Transporte de tados nas laterais do veículo, por um motor
ANO XX / NO 38
72 Suplemento Especial
Viatura Blindada de Combate de Fuzileiros Charrua I (XMP1 Viatura Blindada de Combate de Fuzileiros Charrua II (XMP1
SL Charrua I) (Foto: Coleção Autor) SL Charrua II) (Foto: Coleção Autor)

diesel nacional, visto que o espaço interno Inicialmente, cogitava-se uma famí-
deste era muito maior do que o do M-113, lia básica que comportasse três versões:
pois podia levar um Jeep 1/4 tonelada em uma leve, uma média e uma pesada; a
seu interior. Em virtude da pequena quan- primeira na ordem de até 18t, anfíbia,
tidade recebida, optou-se por elaborar um destinada ao transporte de pessoal, comu-
novo projeto voltado para uma Viatura nicações, ambulância, combate de fuzi-
Blindada de Combate de Fuzileiros, que leiro, porta-morteiro, comando e anti-
congregasse a mobilidade do M-113, com tanque; a média, na ordem de até 21 t,
o espaço interno da M-59. anfíbia, destinada a combate de fuzileiros,
Surgiu, assim, o projeto XMP1 SL armada com canhão de 20/25mm, uma
(Sobre Lagarta) de concepção nacional para para defesa antiaérea com o mesmo cali-
uma Viatura Blindada de Combate de Infan- bre e outra com torre para canhão de 60
taria (VBCI), que chegou à fase de protótipo a 90mm, além da versão radar. Por fim, a
e ficou conhecida como CHARRUA I e II, versão pesada, na ordem de até 24t, não
prevista para ser produzida, seriadamente, anfíbia, com torre para canhão de 105mm,
formando uma família com diversas versões, outra como obuseiro autopropulsado de
para equipar os Regimentos de Cavalaria 155mm, outra com sistema de lançamento
Blindados e os Regimentos de Infantaria de foguetes, carro socorro com torre gira-
Blindados, numa parceria Centro Tecnoló- tória e uma para transporte de cargas.
gico do Exército (CTEx) e Moto Peças S/A. Das três versões previstas, apenas a
Nasceu assim o CHARRUA, que primeira chegou à fase de protótipos, e testes
na linguagem indígena quer dizer “ágil, exaustivos foram feitos pelo Exército, che-
robusto e que tem garra”. Esse Carro Blin- gando à construção de dois protótipos, que
dado de Transporte de Pessoal-CBTP, ou podemos denominar modelo I e II, distintos
Viatura Blindada de Combate de Fuzileiros- entre si, notadamente no aspecto externo.
-VBCFz, ou Viatura Blindada de Combate A versão II chegou a ser tes-
de Infantaria-VBCI, foi concebido visando tada pelo Corpo de Fuzileiros Navais,
dar maior flexibilidade e grande agilidade às pois se previa uma versão que aten-
Unidades de Fuzileiros Blindados do Exér- desse também à Marinha do Brasil.
cito, pois possuía também a capacidade de Muitos dos componentes usados nos
ser anfíbio, podendo transpor rios e lagos protótipos vieram do Carro de Combate
com grande facilidade, muito comum no M-41, então espinha dorsal do Exército,
extenso território brasileiro. naquela época. O protótipo II tinha seu
ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 73
peso de combate na casa dos 17.500kg, DSI 11, de 349hp, com caixa de transmis-
transportando três tripulantes e nove sol- são automática “cross-drive” Allison, ficava
dados na configuração padrão, podendo situado na sua parte frontal, ao lado do
elevar esse número a 22 na especial. Des- compartimento do motorista. De seu inte-
locava-se na água a 8km/h, com auxílio rior, era possível disparar armas automáti-
de hidrojato e em estradas podia alcançar cas. Possuía ainda, na sua parte superior,
70km/h. Possuía grande agilidade de mano- uma pequena torre para metralhadora .50,
bra e capacidade de pivoteamento (capaci- ou canhões de 20/25mm, dependendo da
dade de girar sobre si mesmo), o que lhe configuração, além de três grandes esco-
tornava muito estável e confiável. O acesso tilhas com tampas retangulares e quatro
ao seu interior, amplo, se dava por uma lançadores de granadas fumígenas.
rampa traseira com acionamento hidráulico Os testes se desenvolveram até início
e nesta existiam duas portas que funcio- dos anos de 1990, mas, com a crise da nossa
navam sem abaixar a rampa, permitindo o Indústria de Material de Defesa, esse pro-
embarque e desembarque da tropa. jeto também não foi adiante, muito embora
O veículo era todo blindado, resistente o protótipo II ainda exista. Foi muito elo-
a armas de pequeno calibre, e previa-se o giado, especialmente pelas suas qualidades
uso de blindagem adicional com placas de navegabilidade.
de cerâmica, que deveriam ser retiradas, Poderia ter sido o sucessor do M-113,
quando fosse efetuar operações anfíbias tanto no Exército quanto na Marinha, em
e, segundo o fabricante, estas resistiriam suas diversas versões, e até quem sabe ter
a impactos diretos de munição normal de uma versão Veículo de Combate de Infan-
até 20mm. Seu motor, um Diesel Scania taria-IFV, que tanta falta nos faz.

VBC OAP M-109 A5 BR e VBC AAe


GEPARD 1A2
Entre os anos de 1999 e 2001, a Arti- Pelo fato de serem esses novos Obusei-
lharia do Exército Brasileiro foi reforçada ros Autopropulsados de calibre 155mm, com
pela aquisição inicialmente de 37 Via- alcance de tiro a uma distância de 23,5km,
turas Blindadas Obuseiro Autopropul- a Artilharia sobre lagartas no Exército
sado M-109A3, denominadas VB OAP ganhou grande mobilidade e alto poder de
M-109A3, oriundas de excedentes do exér- fogo, trazendo nova dimensão para a região.
cito belga, modernizados pela Empresa Dando continuidade ao Projeto Estra-
Sabiex Internacional S/A Belga e, posterior- tégico do Exército (PEE), denominado de
mente, entre 2013 e 2019, foram adquiridas Capacidade Plena, foram adquiridas mais
40 Viaturas Blindadas Obuseiros Autopro- 40 viaturas M-109 A5, doadas pelo exér-
pulsados M-109A5, das quais 32 seriam cito americano, pelo Foreign Military Sales-
operacionais e o restante serviria para apro- -FMS, conforme publicado nos Boletins do
veitamento de peças. Foram modernizadas Exército 12 e 26, o primeiro de 22 de março
pela empresa americana BAE System e rece- de 2013 e o segundo de 28 de junho de 2015.
beram a denominação de Viatura Blindada Vale ressaltar que toda tecnologia
de Combate Obuseiro Autopropulsado agregada ao modelo A5+BR recebeu no
M-109-A5+BR-VBC OAP M-109-A5+BR. Brasil a denominação de Sistema Digitali-
ANO XX / NO 38
74 Suplemento Especial
zado de Artilharia de Campanha (SISDAC),
proporcionando maior interação entre os
equipamentos de busca de alvos, controle
de apoio de fogo, com as centrais de tiro e
as linhas de fogo, possibilitando simulta-
neidade na execução das missões de tiro
pela mesma linha de fogo, o que elevou em
muito a capacidade da Artilharia de Cam-
panha brasileira.
De acordo com o Boletim do Exército
de 19/01/2018, foi autorizada a liberação
Obuseiro Autopropulsado M-109-A5+BR (Foto: Autor)
do valor de US$ 156.354,00, referente ao
adiantamento de pagamento dos serviços
e taxas associados à doação de 40 veícu-
los blindados de esteiras M992A2 FAASV
(Field Artillery Ammunition Supply Vehi-
cle), classificada no EB como Viatura
Blindada de Transporte Especial Remu-
niciadora-VBTE Remun, pelo Programa
Foreign Military Sales-FMS. O M992A2 é
um veículo de reabastecimento de munição
blindado com um transportador hidráu-
lico, para transferência de munição de uma
única rodada, e destina-se a acompanhar e
municiar as Viaturas Blindadas de Com-
bate – Obuseiro Autopropulsado-VBCOAP
M109 A5+BR. M992A2 de remuniciamento (Foto: PqRMnt/5)
Em 2013 foram adquiridas 37 uni-
dades da Viatura Blindada de Combate
Antiaéreo Gepard 1A2-VBC AAe, como
parte do Projeto Estratégico Defesa Antiaé-
rea do Exército, equipadas com canhões
Oerlikon de 35mm, comprados como
solução para os grandes eventos que ocor-
reriam no país a partir daquele ano, como
a Jornada Mundial da Juventude e a Copa
das Confederações FIFA de 2013, Copa do
Mundo FIFA de 2014 e os Jogos Olímpicos
e Paraolímpicos de 2016.
As VBC A Ae GEPARD 1A2 têm por
objetivos modernizar e compor os meios VBC A Aew Gepard 1A2 (Foto: Autor)
de AAAe de tubo do Exército Brasileiro,
dotar as Brigadas Blindadas do país com movimento e atender às políticas de refor-
meios possuidores de mobilidade adequada mulação da Defesa Nacional, conforme
capazes de realizar a Defesa Antiaérea em descrito no Livro Branco de Defesa.
ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 75
Blindados sobre Rodas
ENGESA EE-9 CASCAVEL
Sem dúvida, foi o projeto nacional corpo técnico era extraordinário e estava
de maior sucesso, seja no desenvolvi- muito à frente nas inovações e conceitos.
mento, seja na produção total, que alcan- O Grupo Engesa chegou a ter 11.000
çou 1.738 unidades, não só para atender empregados, destes 600 eram técnicos, pro-
ao Exército Brasileiro como também foi jetistas e engenheiros; só a parte de Enge-
exportado a uma dúzia de países, mui- nharia de Pesquisas, Engepeq, absorvia 220
tos dos quais ainda se encontram em deles. Possuía seis fábricas: Engesa Viaturas,
operações reais de combates no Oriente Engesa FNV, Engetrônica, Engex, Engequí-
Médio e África, alguns foram modifica- mica e Engelétrica. Cada uma com uma
dos localmente e continuam a cumprir divisão de engenharia de produtos ligada à
seu serviço ativo com sucesso, mesmo da Engepeq. Chegou a ter mais sete empre-
sendo um veículo com mais de 40 anos. sas coligadas: Engeagro, Transgesa, Engeví-
Produzido pela Engenheiros Espe- deo, Aerobrasil, Axial, Engexco e Engepeq,
cializados S/A-Engesa até sua falência em atuando em diversas áreas além da militar.
1993. Essa empresa foi capaz de absor- Seu faturamento anual, na década de 1980,
ver todo o estudo vindo da área militar, teve uma média de 300 milhões de dólares.
cujo projeto nasceu no Parque Regional O EE-9 CASCAVEL é um veículo
de Motomecanização da 2ª Região Mili- blindado sobre rodas para operações de
tar, em São Paulo-SP. Possuía uma gama reconhecimento e segurança. Seu sucesso
variada de produtos militares (muitos deles deve-se ao fato da ENGESA ter-se preo-
exportados) – desde caminhões a blin- cupado em eliminar toda sofisticação des-
dados sobre rodas, passando por alguns necessária, utilizando ao máximo compo-
projetos de blindados sobre lagartas. Seu nentes comuns produzidos pela indústria

Diversos EE-9 Cascavel M7 Série 9, prontos para serem


entregues ao Exército no Pátio da Engesa Viaturas, em São
José dos Campos-SP, em maio de 1986 (Foto: Coleção Autor)

ANO XX / NO 38
76 Suplemento Especial
Viatura Blindada sobre Rodas Engesa EE-9 Cascavel M-3 S-2 exportada para o Congo
Desenho: Béliko Toledo

Viatura Blindada sobre Rodas Engesa EE-9 Cascavel M-7 do Exército Brasileiro que operou na Missão
de Paz em Angola - UNAVEM III - em 1996
Desenho: Béliko Toledo

Folder de propaganda
mostrando as novas
modificações a serem
implementadas no
repotenciamento do
Engesa EE-9 Cascavel
a ser realizado junto
ao Exército Brasileiro
a partir de 2022 pelo
pool de empresas
liderado pela Akaer
Foto: Exército Brasileiro

ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 77
Linha de
produção do
EE-9 Cascavel na
Engesa Viaturas
(Foto: Coleção Autor)

Engesa EE-9
Cascavel
realizando
tiros reais em
manobras

automobilística local. Isso fez dele um carro atender a uma necessidade da empresa, que
robusto, fácil de operar e de simples manu- fabricava componentes para prospecção de
tenção, requerendo baixo custo em peças petróleo e tinha obrigação contratual de
de reposição. entregar o material nos locais de explora-
Outro fator inovador e decisivo foi o ção. Ocorre que, no período de chuvas, a
sistema BOOMERANG, desenvolvido pela entrega era dificultada em razão da inexis-
ENGESA, que veio dar grande mobilidade tência de estradas; daí, optou-se por adap-
ao veículo; superou todas as expectativas tá-las em veículos civis, como caminhone-
ao admitir manobras rápidas e flexíveis em tes e caminhões, o que foi a solução para o
qualquer tipo de terreno, tendo em vista problema.
que suas quatro rodas traseiras sempre O Exército Brasileiro chegou a operar
estão em contato com o solo. 409 unidades desse veículo. Suas caracte-
O desenvolvimento dessa suspensão rísticas na versão do Exército Brasileiro
não se deu para o uso militar, mas sim para são: velocidade de 100km/h, autonomia de
ANO XX / NO 38
78 Suplemento Especial
750km, altura de 2,95m até o topo da torre, V, dois tempos, refrigerado à água, 212HP,
6,20m de comprimento e 2,64m de largura, que proporcionava melhor desempenho ao
pesando 13,7t, equipado com motor Mer- veículo. Sua blindagem nas partes frontais e
cedes-Benz OM352A, diesel, quatro tem- torres era de 16mm e, nas laterais, 8,5mm.
pos, turbo alimentado, refrigerado à água, A partir de 2001, iniciou-se um processo
174HP. Já na versão de exportação, o motor de modernização nesses blindados, o que
é um Detroit diesel 6V-53, seis cilindros em vem ocorrendo até o presente.

ENGESA EE-11 URUTU


O projeto do EE-11 URUTU baseou- tada pelo Exército, media 6m de compri-
-se na ideia de um veículo de transporte mento, 2,5m de largura e 2,2m de altura.
rápido, anfíbio, com leve proteção blindada, Pesava, vazio, 11t. Armado com metra-
capaz de receber uma grande variedade de lhadora .50, ele podia atingir 95km/h m
equipamentos e armamentos para o cum- estradas e 2,5km/h em lagoas calmas, ou
primento de múltiplas missões. Tornou-se atravessar rios, graças ao movimento dos
um grande sucesso, em consequência de pneus.
seu excepcional desempenho nos terrenos Nas primeiras versões do EE-11
mais variados e pela sua simplificadíssima Urutu, adquiridas pelo Exército, nos anos
manutenção. Rápido e silencioso em terra de 1974, 1977, 1978 e 1980, a tração na
e na água, o URUTU não necessita de um água era dada pela movimentação das seis
motorista altamente treinado, pois podia ser rodas, visto não possuir hélices propulsoras,
dirigido como um caminhão convencional. tanto que 149 Urutus foram retrabalhados e
O projeto URUTU permitiu múltiplas marinizados, ou seja, receberam os sistemas
aplicações, inclusive a de ser aerotranspor- com as hélices para navegação iguais aos da
tado, e prestar-se a variadas finalidades. Foi marinha, cuja aplicação passou a ser padrão
utilizado em combates no Oriente Médio, para todas as versões posteriores.
África e opera em diversos países da Amé- Sua produção alcançou 888 unida-
rica do Sul. des e foi exportado para 15 países. Elas se
Trata-se de um veículo de transporte encontram em operações reais de combates
blindado, que na sua versão original, ado- no Oriente Médio e, atualmente, na África.

VBTP Engesa EE-11 Urutu do Exército Brasileiro operando no Haiti em 2005. Notar os tipos de torretas acopladas a elas (Foto: Autor)

ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 79
O Exército Brasileiro adquiriu 230
veículos, chegando a operá-los no Haiti,
na MINUSTAH por 13 anos (2004-2017).
Tais veículos foram manutenidos e moder-
nizados pelo Arsenal de Guerra de São
Paulo em parceria com empresas priva-
das nacionais e atualmente encontra-se
em elaboração um projeto para trans-
formá-los em veículos policiais, uma vez
que estão sendo substituídos pelo veículo
6x6 Iveco Guarani, muito embora já exis- VBTP EE-11 Urutu repotencializadas no Arsenal de Guerra
tam alguns sendo empregados pelo Bata- de São Paulo-AGSP e prontas para serem enviadas às suas
lhão de Operações Especiais (BOPE), da unidades operacionais (Foto: Autor)
Polícia Militar do Rio de Janeiro, desde
2018, oriundos daqueles usados no Haiti.
As principais versões produzidas em
série do Urutu foram: Antiaérea, equi-
pado com um canhão de 25mm ou dois
de 20mm; Policial antimotim, equipado
com lâmina frontal do tipo “bulldozer”
para remoção de obstáculos e torreta
com metralhadora 7.62mm; Ambulân-
cia; Socorro; Porta-morteiro de 81mm;
Transporte de tropas com 13 soldados
mais o motorista; Comando; e Suporte Engesa EE-11 Urutu, empregado originalmente no Haiti e agora
de fogo com torre e canhão de 90mm. cedido ao Batalhão de Operações Especiais-BOPE da Polícia
Militar do Rio de Janeiro para missões GLO, em março de 2018
(Foto: Rafael Sayão)

ENGESA EE-3 Jararaca

Concebido para substituir as viaturas Sua direção é hidráulica integral, per-


¼ toneladas, com sua silhueta baixa e sua mitindo acionamento mecânico em caso
facilidade de manobras em terrenos varia- de emergência. Sistema elétrico de 24v,
dos, é um veículo de reconhecimento de com circuitos de iluminação civil e militar.
grande mobilidade, equipado com metra- Rodas de aço estampado, pneus à prova
lhadora externa 7,62mm, ou 12,7mm de balas (Run Flat), com sistema automá-
(.50), numa torreta giratória blindada, na tico de enchimento. O equipamento ótico
sua configuração padrão, equipada com consiste de periscópios para observação
quatro lançadores de granadas fumígenas. do motorista e comandante, além de um
Outras versões poderiam empregar mísseis sistema passivo de visão noturna.
anticarro do tipo Milan. A tripulação era Foi construído um protótipo e, a
composta por motorista, um comandante seguir, uma série de 63 veículos do EE-3
e um atirador. O motor diesel foi colocado Jararaca, praticamente para exportação,
na parte traseira, e a transmissão mecânica visto que o Exército Brasileiro não opera
é de cinco velocidades à frente e uma a ré. nenhum, mesmo estando em seu poder
ANO XX / NO 38
80 Suplemento Especial
EE-3 Jararaca versão Guerra Química (Foto: Coleção Autor)

EE-3 Jararaca versão padrão de


Reconhecimento em testes na
Engesa Viaturas em São José
dos Campos-SP (Foto: Coleção Autor)

dois protótipos oriundos da massa falida descida Engesa, com engrenagens helicoi-
daquela empresa (um de reconhecimento dais, engrenamento constante e relação l,0:1.
e um de guerra química). Sua embreagem era do tipo mono-
Por ser extremamente compacto, seu disco seco, hidráulico, e a caixa de trans-
peso máximo era da ordem de 5.800kg, missão múltipla Engesa, mecânica, duas
com autonomia de 700km, com 140 litros velocidades, engrenamento constante. O
de diesel, velocidade máxima de 100km, sistema de direção era ZF do Brasil modelo
podendo subir rampas de 60% e inclinação 8058, hidráulica, e sua suspensão tipo eixo
máxima lateral de 30%, superar obstáculos rígido, flutuante, com molas semielípticas
verticais de 400mm, podendo passar em e amortecedores de dupla ação, sistema de
vaus de 800mm. Seus componentes mecâ- freio Bendix a tambor, com acionamento
nicos eram todos oriundos da indústria a ar sobre-hidráulico e freio de estaciona-
automotiva nacional, usados em cami- mento mecânico.
nhões, o que facilitava a logística de peças O conceito, ainda atual, poderia gerar
de reposição. um novo veículo blindado 4x4, que atende-
Seu motor era um Mercedes Benz ria muito bem às forças militares e policiais,
OM-314A, quatro cilindros em linha, turbo dentro da nova realidade em que está sendo
alimentado, e sua caixa de mudanças era uma empregado, sobretudo pelo Exército, em ope-
Clark, modelo 240V, mecânica, com caixa de rações urbanas na luta contra o narcotráfico.
ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 81
ENGESA EE-17 SUCURI I
O projeto do EE-17 Sucuri I era sim- de disparo de 800 tiros por minuto, além de
ples e fez extenso uso de peças para cami- quatro lançadores de granadas fumígenas.
nhões comerciais, como forma de ser ope- O armamento principal consistia de
rado e mantido, com baixo custo, por uma um canhão de 105mm, com sistema de des-
experiente equipe treinada em manutenção carga automático e disparo elétrico e mecâ-
daqueles veículos, o que daria grande inde- nico, podendo disparar munições do tipo
pendência logística. A ideia era ter custos HE (carga explosiva), HEAT (carga explo-
operacionais e consumo de combustível siva antitanque), HESH (carga explosiva
baixos, além de possuir autotransportabili- esmagante), fumígenas e de treinamento,
dade, dispensando, assim, o uso de carretas, com razão de disparo de oito tiros por
como para os carros de combate. minuto, além de equipamentos opcionais,
Ao idealizar o EE-17 Sucuri, os pro- como metralhadoras externas antiaéreas
jetistas se preocuparam em conciliar as 7.62mm, montadas na torre, equipamen-
exigências de proteção blindada, poder tos de visão noturna ativo ou passivo, sis-
de fogo e mobilidade, e optaram em ter temas de rádio e intercomunicação e telê-
poder de fogo e muita mobilidade, até metros laser. A carcaça era uma estrutura
porque se previa seu uso
em apoio a carros de com-
bate, operando nos flancos.
Pode-se dizer que
o Sucuri era basicamente
um sistema de armas
construído ao redor da
suspensão “boomerang”,
semelhante à do Cascavel,
maior e capaz de receber
uma torreta com canhão
de 105mm. A torre, osci-
lante, foi importada da Caça-Tanques Engesa EE-17 Sucuri I com
França e era do tipo FL-12, operada ele- torre e canhão de 105m franceses
tro-hidraulicamente, com tripulação de (Foto: Coleção Autor)

dois homens (comandante e artilheiro),


giro de 360º, elevação total 17º 30’ (de -5º monobloco em chapa bimetálica blindada
a +12º 30’), com equipamento ótico de 10 soldada, similar às já usadas nos outros veí-
periscópios (ampliação 1:1) dispostos em culos, com isolação térmica e acústica no
volta das escotilhas, telescópio monocular interior, uma porta na lateral esquerda e
(ampliação 6:1) para direção do canhão. uma traseira, uma escotilha para o moto-
Um depósito de munição para 23 projéteis rista com três periscópios e uma outra, para
de 105mm na torre e mais 20 no interior o operador de rádio, bem como gancho tra-
do veículo, e sistema elétrico de 24v. Como seiro para reboque e quatro suportes para
armamento auxiliar, uma metralhadora içamento.
coaxial 7.62mm, com sistema de disparo Como equipamento opcional do
elétrico e manual, alcance de 600m e razão veículo, poderia ter aquecedor, ar condi-
ANO XX / NO 38
82 Suplemento Especial
cionado e sistema automático de controle eixo propulsor articulado Engesa “Boo-
de pressão dos pneus e era impulsionado merang”, com facões laterais e sistema de
por um motor Detroit Diesel 6V53T, seis bloqueio do diferencial.
cilindros em “V”, 5.212cm3 de cilindrada As rodas com cubos raiados em aço
total, dois tempos, turbo alimentado, refri- fundido e aros estampados, com pneus
gerado à água, potência máxima de 300HP, militares à prova de balas 14.00 x 20 – 18
com transmissão automática Allisson MT lonas. Possuía direção hidráulica integral e
640, com quatro velocidades à frente e sistema elétrico de 24v. O fato de ser sobre
uma a ré, caixa de transferência mecânica rodas e de ter um reduzido peso – 18.500kg
Engesa, duas velocidades com engrena- em ordem de combate – em relação aos
gens helicoidais de engrenamento cons- veículos de lagartas, fez dele o caça-tanque
tante, árvore de transmissão tubular com mais veloz do mundo.
juntas universais Hooke, suspensão e eixo Seu desenvolvimento não foi em vão,
dianteiro propulsor, por feixes de molas pois sua suspensão acabou sendo aplicada
semi-helípticas, amortecedores telescópios ao caminhão militar pesado 6x6 Mercedes
de dupla ação e barras estabilizadoras, eixo Benz L 1519, usado no Exército Brasileiro,
dianteiro propulsor direcional. Sua auto- em que tracionou peças de artilharia e pra-
nomia era de 600km. ticamente é o último modelo de caminhão
Já a suspensão era por feixes de molas militar e não militarizado em uso na atua-
semielípticas e barras estabilizadoras, e o lidade, na classe de cinco toneladas.

ENGESA EE-18 SUCURI II

O projeto do EE-18 Sucuri II uti- tas de acesso, destas uma gradeada para
lizou os mais avançados sistemas de entrada e saída do ar em direção ao motor.
computação CAD/CAN existentes Os tanques de combustíveis foram
naquele momento, quando a eletrô- instalados no fundo do assoalho, entre os
nica estava interagindo com a mecânica. dois eixos traseiros, e ambos possuíam no
A ideia foi construir um caça-tanque
de seis rodas, com 18,5t, armado com um
canhão de alma raiada de 105mm, pois
outros projetos similares estavam sendo
desenvolvidos em outras partes do mundo.
O chassi era um monobloco sol-
dado, composto por chapas blinda-
das bimetálicas estruturais, projetado
com pequenos ângulos de incidência
para maximização de proteção balística.
O monobloco foi dividido em com-
partimentos para tripulação e do power
pack dianteiro, separados por uma parede
corta-fogo e estrutural, com isolamento Caça-Tanques Engesa EE-18 Sucuri II com canhão de 105mm
térmico/acústico, que possuía duas por- e torre Oto-Melara (Foto: Coleção Autor)

ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 83
seu interior dois quebra-ondas de cada lado. O eixo traseiro anterior era ZF modelo
Suas baterias estavam localizadas na parte BKA-DU, tipo drive-thru, com bloqueio do
frontal, cujo acesso era feito pela tampa já diferencial, e redutor planetário.
mencionada. O power pack era composto A transmissão era ZF modelo 6HP
de cinco conjuntos principais, motor, caixa 600, automática, com LockUp e Retarder,
intermediária, transmissão automática, com seis velocidades à frente e uma a ré.
caixa de descida e arrefecimento, agregados A caixa intermediária era uma ZF modelo
aos seus respectivos acessórios. Sua retirada STV 600, tipo mecânica, ligada diretamente
podia ser feita de uma só vez pela câmara à transmissão automática.
do motor, por uma travessa especial, pela No redutor final, estavam instaladas
liberação dos parafusos que fixavam os as rodas, o enchimento do pneu, o disco e
suportes do motor e os cardans, desconexão os clipers de freio.
dos engates rápidos do sistema de combus- O sistema de suspensão era com-
tível, elétrico e hidráulico. posto por unidade hidropneumática,
O motor frontal era um Scania DS 11, bandeja e munhão. A bandeja era fixada
diesel, quatro tempos, refrigerado à água, ao monobloco por mancais e a unidade
seis cilindros em linha, injeção direta, hidropneumática pelo munhão. A unidade
turbo comprimido, 384HP de potência hidropneumática foi fixada ao monobloco
máxima. pelo flange parafusada na parte superior e
Seu sistema de direção era total- por uma porca especial, com trava na parte
mente mecânico/hidráulico, acionado inferior (munhão), e era composta por três
hidraulicamente por uma bomba aco- cilindros e um pistão separador. Dois dos
plada ao motor que enviava óleo à caixa cilindros são fixados pela parte inferior, que
de direção, a qual transmitia o movimento contém óleo, e pela parte superior, nitro-
para as rodas via barra de direção. Pos- gênio. O efeito de mola da suspensão é
suía, ainda, um sistema limitador de giro obtido pela compressão do nitrogênio con-
do munhão e outro interno na caixa de tido na câmara superior da unidade, com
direção, garantindo, assim, a segurança o movimento dos cilindros inferiores, que
mecânica e hidráulica. A direção era ZF é separado pelo pistão separador. O amor-
modelo 8046, hidráulica. tecimento é obtido via placa de orifícios na
A transmissão era composta por câmara de óleo.
três diferenciais, montados sobre coxins, A regulagem era feita pelo ajuste da
de forma a evitar transmitir vibrações ao pressão de nitrogênio, por um terminal de
monobloco, adotados de bloqueio, aciona- fácil acesso.
dos pneumaticamente pelo solenoide. Jun- Essa suspensão (dianteira, traseira,
tas homocinéticas lubrificadas e cardans posterior e anterior) era DUNLOP do tipo
lubrificados com graxa especial, enquanto Mc Pherson, independente, hidropneumá-
os diferenciais eram banhados a óleo. Todo tica.
o sistema de transmissão era vedado do O trem de rolamento era constituído
power pack e do monobloco por meio de por pneu, aro da roda, manta de borra-
coifas de borracha. cha e Appui Central Métallique-ACM
O eixo dianteiro e o traseiro posterior (reforço central metálico) tipo “run flat”.
eram ZF modelo BKA, tipo motriz, com O pneu 18.00 x 22.5, perfil baixo, aro de
bloqueio do diferencial e redutor planetário roda em aço estampado, manta de borra-
com diferencial ZF. cha montada entre o aro de roda e o ACM,
ANO XX / NO 38
84 Suplemento Especial
que evita o contato direto metal-metal. O cesta, é possível acessar o compartimento
ACM era uma peça metálica construída em do motorista pelo interior do veículo. Os
duas partes, fixadas por meio de parafusos. bancos do atirador e comandante eram
Composto por seis rodas com aros de aço apoiados no piso da cesta, havendo dis-
14x22,5’ estampados, pneus MICHELIN positivos para ajuste rápido e contínuo de
XS 18R 22,5, com câmaras à prova de balas, altura. Já o banco do municiador era fixado
com coroa metálica, sistema ACM Miche- à torre, com assento rebatível, aumen-
lin. tando, assim, o espaço disponível durante
Possuía sistema de enchimento e a operação de carregamento do canhão.
esvaziamento dos pneus, acionado do Seu armamento principal era um
interior do veículo. canhão Oto-Melara105mm, recuo longo
Estavam ainda previstos como itens com freio de boca e extrator de fumaça,
opcionais o sistema NBC (nuclear, bio- rearme tipo mola, recuo máximo de
lógico e químico), com captação de ar 750mm, força de recuo 12.000kg e peso
externo, filtragem e insuflamento no de 1.850kg, capaz de disparar munições
interior do veículo alojado no chassi, de alta velocidade HEAT-MP-T (alvos
sistema anti-incêndio para câmara do blindados ou infantaria) e APDSFS
motor e compartimento da tripulação. (alvos blindados pesados, de grande
Com relação à torre, era um alcance efetivo e elevado efeito terminal).
monobloco em chapas de aço soldadas, duas O tubo era tipo L7 raiado, com
escotilhas que permitiam fácil acesso ao seu luva térmica de liga leve, evitando assim
interior, uma de cada lado, e mais uma, late- deformações causadas por distribui-
ral, que permitia o carregamento de muni- ção não uniforme de temperatura. O
ção para o interior do veículo, bem como a freio de recuo era composto por um
descarga dos estojos usados. Sua tripulação cilindro recuperador hidropneumá-
era composta de três homens, estando o ati- tico, montado paralelamente ao tubo.
rador e comandante à direita e o municia- O EE-18 Sucuri II, que infelizmente
dor à esquerda do canhão. O sistema era não passou da fase de protótipo, com
de cesta apoiada sobre roletes no fundo apenas um construído, que não chegou a
do veículo e arrastada pela torre por um ser avaliado pelo Exército e, pior, não foi
braço articulado, sistema esse que permitia sequer preservado, tendo sido desman-
a retirada da torre independentemente da chado e vendido como ferro velho, sendo
cesta, reduzindo o peso do conjunto e altura que seu canhão foi devolvido à Oto-Me-
livre necessária à sua remoção. Por meio da lara, destino seguido por outros itens.

Avibrás AVBL 4x4 Avibrás AV-VB4 RE


GUARÁ
Desenvolvida pela Avibrás, a Viatura Trata-se de uma viatura blindada,
Blindada Leve 4x4, conhecida pela sigla construída sobre o chassis do Mercedes-
AV-VBL 4x4, foi apresentada no dia 10 de -Benz UNIMOG alemão, 4x4, modelo U
outubro de 2001, nas comemorações do 2150L, idêntica aos adquiridos recente-
5º Aniversário do Centro de Instrução de mente pelo Corpo de Fuzileiros Navais
Blindados “General Walter Pires”, no Rio da Marinha do Brasil, já em uso.
de Janeiro.
ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 85
Seu chassis foi alongado e, sobre o
mesmo, construiu-se uma estrutura blin-
dada, semelhante aos transportes de valo-
res, com dimensões maiores, que a própria
AVIBRÁS, Jacareí-SP, já havia desenvolvido
e que se encontra em plena produção pela
sua subsidiária TECTRAN, em São José dos
Campos-SP.
Não se trata de um veículo para
combate direto, mas sim um veículo para
apoio, em diversas versões, como veí-
culo de suporte para o sistema ASTROS
Avibrás VBL sobre chassi Tatra (Foto: Exército Brasileiro)
II; estação meteorológica móvel; carro
comando e outras. Diversos foram moderna, mais robusta e equipada, per-
vendidos para a Malásia, onde ope- mitindo assim maior número de tripu-
ram na versão de estação metereoló- lantes e equipamentos, como provisão
gica móvel, junto ao sistema ASTROS II. para o lançamento de mísseis e capaci-
A partir de 2009, em função da proi- dade de executar todos os cálculos para
bição por parte do fabricante alemão em seu disparo. O chassi atualmente empre-
relação à venda dos chassis Mercedes-Benz, gado é um Tatra T 815-7 APR59 19 240
4x4 e 6x6 para a Avibrás, essa foi obrigada 4x4.1R de origem tcheca, o que veio a dar
a reformular toda a versão da AV-VBL, que novo visual ao veículo. O Exército Brasi-
passou a ter nova reestruturação, bem mais leiro adquiriu diversos desses veículos.

Avibrás AV-VB4 RE GUARÁ

O GUARÁ foi desenvolvido a par- a alguns requisitos importantes, como a


tir do chassi do veículo alemão fora de capacidade de elevadas velocidades em
estrada UNIMOG 4000, cuja plataforma estradas (97km/h) e terrenos variados,
serviu de base para concebê-lo e atender de poder ser transportado por aerona-
ves de asa rotativa e fixa, raio de ação de
600km, fácil manutenção e boa depen-
dência logística, com baixa pressão sobre
o solo e grande mobilidade tática e, ainda,
previsto para receber blindagens adicio-
nais, possuindo também amplo espaço
interno e um peso na ordem de 7.650kg.
Diversas versões foram previstas,
e as mais expressivas seriam: Posto de
Comando, Anticarro equipado com mís-
seis, Radar, Observação Avançada, Por-
ta-Morteiro e Ambulância.
Avibrás AV-VB4 RE Guará sobre chassi Unimog, no Haiti, em 2010 Sua primeira apresentação ocorreu
(Foto: Coleção Autor) em 16 de abril de 2003, no então Instituto

ANO XX / NO 38
86 Suplemento Especial
de Pesquisa e Desenvolvimento do Exér- Em fevereiro de 2010, numa parceria
cito (IPD, o protótipo da mais nova Via- até então inédita, e em face dos trágicos
tura Blindada Leve de Reconhecimento, eventos ocorridos no Haiti, pós-terremoto
4x4, designada AV-VB4 RE concebida no de janeiro, a Avibrás S/A disponibilizou
Brasil e batizada com o nome de GUARÁ para ser utilizada e testada uma viatura
(bela espécime de lobo que habita diversas blindada 4x4 GUARÁ, na verdade o pro-
regiões do Brasil). tótipo, agora na configuração Viatura de
Chegou ainda a ser apresentada Comando e Reconhecimento para ser
numa versão policial, denominada Viatura empregado em situação real pela tropa
Blindada para Operações Especiais-AV- brasileira, mas nunca entrou em produção
-BOPE TP 10 4x4. seriada.

Avibrás ASTROS II
No ano em que comemoramos o Cen- deles possuía um determinado alcance,
tenário dos Blindados no Exército Brasi- variando apenas a quantidade, quanto
leiro (1921-2021), cabe salientar que tam- maior o calibre, menor a quantidade a ser
bém comemoramos os 40 anos do Sistema disparada por cada unidade lançadora.
de Artilharia de Foguetes por Saturação de Com os recursos financeiros injeta-
Área ASTROS II, lembrando que em uma dos pelo já cliente Iraque, então um grande
de suas entrevistas na Feira de Le Bourget aliado do Ocidente, e com o apoio de saté-
de 2007, o engenheiro João Verdi de Carva- lites americanos que informavam as posi-
lho Leite (1935-2008), diretor-presidente e ções e deslocamento das forças Iranianas,
fundador da Avibrás, afirmou ao editor de esse sistema funcionou de forma impecável,
DefesaNet: “O ASTROS ainda têm uma vida equilibrando a situação militar na região,
de mais de 50 anos”, e sem sombra de dúvida numa guerra que iria se arrastar até 1988,
é o projeto de maior sucesso da era de ouro num desgaste enorme para ambos os lados
da Base Industrial de Defesa Brasileira. e sem um vencedor, com um alto preço em
Concebido em 1981 e desenvol-
vido nos dois anos seguintes, acabou
por atender a uma demanda do Ira-
que, então em guerra contra o Irã, por
necessitar de uma arma que conse-
guisse fazer frente e, assim, deter seus
ataques maciços, foi desenvolvido
pela AVIBRÁS AEROESPACIAL S/A
o Sistema de Artilharia de Foguetes
para Saturação de Área ASTROS II
(Artillery Saturation Rocket System),
com alcance entre 9 e 90km de distân-
cia, com uma particularidade única
até então, podia operar três calibres
Protótipo do veículo lançador ASTROS I T-0
diferentes sobre a mesma plataforma, Brucutu desenvolvido pela Avibrás Aeroespacial
bastando apenas trocar os casulos de onde S/A em 1982, sobre chassi Mercedes-Benz
modelo L-2013 6x2 de fabricação nacional
eram disparados os foguetes e cada um (Foto: Avibrás)

ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 87
Após os primeiros testes,
percebeu-se que era preciso
um caminhão com tração 6x6,
mais robusto em relação ao
escolhido e a princípio cogi-
tou-se em adquirir no próprio
país, tanto que o escolhido foi
uma versão mais robusta do
caminhão Engesa, que pode-
ria suportar a blindagem, mas
em virtude de problemas exis-
tentes entre as duas empresas,
ASTROS II MK-3, chassi Mercedes-Benz, em posição de disparo no 6º GLMF,
em Formosa-GO, durante manobras realizadas pelo Exército Brasileiro essa opção foi descartada e
(Foto: 6º GLMF) optaram por importar da Ale-
manha um chassi MERCEDES
BENZ civil, 6x6, que continua
até hoje sendo o padrão para a
produção do ASTROS II, rece-
bendo reforços e outras peque-
nas modificações pela TEC-
TRAN S/A, uma subsidiária da
Avibrás, criada em 1982 para
essa finalidade inicialmente,
e recebendo a denominação
de caminhão fora de estrada
Formação de ASTROS II Mk-6, chassi Tatra, disparando foguetes AV-SS40 em
exercícios realizados pelo 6º Grupo de Mísseis e Foguetes em Formosa-GO Tectran modelo VBT-2028.
(Foto: Exército Brasileiro) Outro ponto importante
foi melhorar a cabine blin-
vidas e amplo consumo de equipamentos dada, dando-lhe uma forma mais robusta
militares, em que seus fabricantes viram e maior. Para isso os técnicos da empresa
a grande oportunidade de testes reais. se basearam na carreta blindada americana
A primeira versão foi montada sobre M-26 PACIFIC da Segunda Guerra Mun-
um caminhão MERCEDES-BENZ modelo dial, desenvolvida para resgatar carros de
L-2013 6x2 de fabricação nacional, no qual, combate avariados na frente de batalha.
após sofrer algumas modificações e rece- Após estudarem um único exemplar exis-
ber uma cabine blindada, foi oficialmente tente no país, que se encontrava como peça
apresentado em 1982 com a designação histórica na então Escola de Material Béli-
de ASTROS II T. O carinhosamente cha- co-EsMB, no Rio de Janeiro, e com modi-
mado de BRUCUTU pelo pessoal da Avi- ficações expressivas puderam enfim criar a
brás, em razão de sua estranha aparência configuração do veículo plataforma padrão
e com a capacidade de operar três calibres para as diversas versões que se produziram
diferentes de foguetes – SS-30, SS-40 e e continuam produzindo na atualidade.
SS-60 – já possuía uma plataforma básica Basta olhar um e outro e ver a grande seme-
e toda uma família com os lançadores, lhança existente, sendo que a do ASTROS
os remuniciadores e a diretora de tiro. II não possui a inclinação da M-26, é bem
ANO XX / NO 38
88 Suplemento Especial
mais em pé e reta. Sua produção seriada volume de fogo sobre o alvo; reduzida
iniciou em 1983, e a configuração de uma tripulação; capacidade de estar prepa-
bateria típica era composta de seis veículos rado para pronto emprego praticamente
lançadores múltiplos, seis veículos remuni- o tempo todo com possibilidade de bater
ciadores e uma central diretora de tiro, ini- alvos à grande distância com reduzido
cialmente um Skyguard suíço e posterior- tempo de resposta, possuindo três cali-
mente uma versão derivada, denominada bres diferentes sobre o mesmo sistema
EDT Fila, produzida pela própria Avibrás. e que cada veículo possa ser transpor-
Uma grande quantidade foi então tado por avião cargueiro do tipo C-130.
vendida ao Iraque, que os usou com sucesso Como o produto de maior êxito
contra o Irã entre 1983 a 1988. Posterior- desenvolvido pela Avibrás, e o que mais
mente, já em 1990, quando este invadiu o lhe rendeu recursos em exportações, o
Kwait, as Nações Unidas deram um ulti- ASTROS II foi provado em combate e tem
mato para que saísse, formando grande grande futuro, se tivermos visão estratégica
coalizão de países encabeçados pelos Esta- de seu emprego e investirmos um pouco
dos Unidos; iniciou-se a guerra pela liber- mais no seu desenvolvimento que muito
tação daquele país, a primeira guerra com auxiliaria nossas Forças Armadas, para ter-
data e hora certa para começar, a qual teve mos extenso poder dissuasório e um poder
apenas 100 horas de combates terrestres e de fogo impressionante, podendo ser opera-
definida pelo poder aéreo, o qual foi res- cional em qualquer parte de nosso territó-
ponsável pela caça aos sistemas ASTROS rio, inclusive litoral, onde já foi empregado
II, visto que foi o grande temor principal- como Artilharia de Costa pelo Exército.
mente por parte dos americanos, tanto que O sistema ASTROS II é destinado
no relatório “Conduct of the Persian Gulf à saturação de área, proporcionando um
War – Final Report to Congress”, elaborado grande apoio de fogo, fundamento prin-
pelo Departamento de Defesa e publicado cipal para desencadear em curto espaço
em abril de 1992, em sua página 835, faz de tempo uma massa capaz de bater uma
menção às qualidades da performance do determinada área, causando grandes danos
sistema ASTROS II, num pequeno pará- naquele raio de atuação. Atualmente se
grafo, aliás o único armamento não ame- encontra operacional no Brasil, Catar, Ará-
ricano lá mencionado. bia Saudita, Malásia e Indonésia.
Outro país que percebeu a capacidade O Exército adquiriu sua primeira
desse sistema foi a Arábia Saudita, tanto que unidade no início dos anos de 1990 e até a
adquiriu algumas baterias, ainda em uso e unificação de todos os ASTROS II em uma
que foram empregadas contra as tropas Ira- única unidade, o 6º Grupo de Lançadores
quianas em duas oportunidades, em 1991 Móveis de Foguetes-6º GLMF no Campo de
na libertação do Kuwait e em 2003 quando Instrução de Formosa-CIF, próximo à capi-
os Estados Unidos e seus aliados “liberta- tal federal Brasília, criado em 2003, atual
ram” o Iraque e os remanescentes foram 6º GLMF-CIF, visto que o Exército possuía
mais uma vez destruídos ou capturados. cinco baterias, destas três de Artilharia de
Os sauditas estão utilizando esse sistema Costa e duas de Campanha, que estavam
no conflito do Iêmen, na atualidade. assim distribuídas: 6º Grupo de Artilharia
O sucesso do sistema ASTROS II foi de Costa Motorizado-6º GACosM em Praia
o fato de possuir alta mobilidade e pro- Grande-SP; 8º GACosM, em Niterói-RJ;
teção blindada; concentração de grande 1º/10º GACosM, em Macaé-RJ; 1ª Bateria
ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 89
de Lançadores Múltiplos de Foguetes-1ª Bia com alcance de 300km e se encontra em
LMF em Brasília-DF e 3ª Bia LMF em Cruz desenvolvimento, obedecendo às limita-
Alta-RS, que totalizavam 20 veículos lan- ções impostas pelo Missile Technology
çadores (LMU), 10 municiadores (RMD), Control Regime-MTCR.
2 unidades de controle de fogo (UCF), 2 O Exército e a Marinha do Brasil
unidades oficina (OFV) e viaturas meteo- (Corpo de Fuzileiros Navais-CFN) adqui-
rológicas (MET). riram essa nova versão do ASTROS 2020
Em 2009, o governo alemão sus- (Mk-6) em 2011.
pendeu a venda do chassi Mercedes- Outra versão que chegou a ser desen-
-Benz para a Avibrás, o que obrigou a volvida, mas não comercializada, foi apre-
empresa a buscar novo chassi, oriundo sentada ao Salão de Le Bourget em 1999, na
da República Tcheca, do fabricante Tatra, versão 8x8 denominada ASTROS III, que
na versão T-815-7 – 6x6, o que veio dar utilizou o chassi alemão Mercedes-Benz
nova configuração ao veículo e melhor Actros, mas com uma lançadora similar
desempenho em terrenos acidentados, ao modelo II, com maior capacidade de
surgindo assim a versão Mk-5 e que foguetes, como 84 da versão SS-30, 40 do
posteriormente foi desenvolvida a ver- SS-40, 12 do SS-60 e SS-80, 4 do SS-150,
são Mk-6 – ASTROS 2020, que possui Fog-MPM e TM e uma quantidade não
a capacidade de lançar um míssil tático divulgada do SS-300, mas que não passou

Iveco 6x6 GUARANI


Seus estudos de concepção remon- Rodas-NFBR, posteriormente foi apelidado
tam ao final dos anos de 1990, ainda com de URUTU III. Em diversos documentos
nome de Nova Família de Blindados sobre emitidos pelo Exército eram discutidas
as versões que integrariam uma família,
as quais seriam nas con-
figurações 6x6 e previa-se
pelo menos uma 8x8, lem-
brando que ainda se falava
numa versão 4x4 leve, e
previa-se, para as versões
6x6 ou 8x8, a utilização de
canhões de 90 e 105mm.
O fato de terem tes-
tado o blindado italiano
Centauro B-1, em 2001,
armado com canhão de
105mm, despertou em
alguns setores do Exér-
cito a vontade em apri-
morar o poder de fogo
nos projetos futuro de
Raio X do VBTP Guarani.
(Foto: Coleção Autor)

ANO XX / NO 38
90 Suplemento Especial
veículos blindados sobre rodas, além de Após algumas licitações, a empresa
muitos terem acompanhado o desenvol- vencedora foi a Fiat com sua subsidiária
vimento do EE-18 Sucuri II, realizado Iveco, que se tornou a Iveco Defence Brasil.
pela Engesa na segunda metade dos anos A construção do primeiro protótipo
de 1980, muito embora ele nunca tivesse iniciou-se em dezembro de 2009, muito
sido testado pelo Exército, apenas um pro- embora o seu mock-up, construído na Itá-
tótipo foi construído e chamou a atenção, lia e montado no Brasil, em tamanho real,
sobretudo em razão das novidades por ele fora apresentado em abril na LAAD-2009 e,
apresentadas, como suspensão hidrop- a princípio, pensava-se em construir 1 protó-
neumática, canhão de 105mm, peso na tipo e 16 pré-séries, para serem devidamente
ordem de 18,5t e baixa pressão sobre o solo. testados e após, se aprovados, serem produ-
zidos seriadamente conforme demanda do
Exército, que almejava mais de 2 mil veículos
em diversas versões ao longo de 20 a 30 anos.
A montagem do protótipo teve iní-
cio naquele mesmo mês de 2009, com a
montagem da carcaça, cujo aço de blinda-
gem é alemão, e sua conclusão, já devida-
mente pintada com uma tinta de proteção,
VBTP Guarani 6x6 com a torre Remax com metralhadora
ocorreu em agosto de 2010. A partir daí
12,7mm (.50) em exercícios de navegação foram acrescentados os batoques de blin-
(Foto: Exército Brasileiro)
dagem adicional, recebendo uma pintura
verde em setembro, dando então início à
colagem do spall-liner (manta protetora
contra estilhaços) em todo o seu interior,
pintando-o de verde claro em outubro. A
seguir, começou a instalação de diversos
sistemas como parte elétrica, tubulações,
longarinas do chassi, caixa de transmis-
são, suspensão, motor de propulsão aquá-
tica com seu propulsor a hélice de quatro
pás, caixa de câmbio, sistema de direção
VBTP Guarani 6x6 com a torre UT-30BR e o kit de flutuação e, em novembro, foram acrescentados
(Foto: Exército Brasileiro)
os diferenciais, bancos e sua estrutura
interna, periscópios, suspensão e direção
do segundo eixo, pedaleiras, conjunto de
radiador e ventilador. Em dezembro de
2010, foi iniciada a montagem do motor
e de todo o interior do veículo, ficando
o mesmo pronto em março de 2011.
Em maio de 2011, outro veículo foi
construído para ser danificado em testes
Dois VBTP Guarani 6x6 com a torre MR550 Alan Platt para de certificação de blindagem, o que foi
metralhadora. Notar que o veículo da esquerda possui o kit realizado no campo de provas da empresa
de blindagem adicional e o da direita não
(Foto: Exército Brasileiro) TDW, na Alemanha, no período de 17 a 20
ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 91
de maio, quando foi submetido à explo- recebidas, equipando 53 Organizações Mili-
são de minas anticarro de 6kg de explosivo tares no vasto território nacional.
do tipo trinitrotolueno-TNT, sendo a pri- Esses veículos estão equipados com
meira colocada sob a roda mais próxima torre manual MR550 Alan Platt, Austra-
do motorista; a segunda, mais próxima do liana, Remax, uma estação de armas remo-
banco da guarnição. Os efeitos das explo- tamente controlada, giro estabilizada, para
sões na tripulação e guarnição da viatura metralhadoras 12,7mm (.50 ) e 7,62mm
foram medidos, por meio de manequins e UT30 BR, uma estação de armas equi-
padronizados, de acordo com requisitos pada com canhão ATK Bushmaster MK44
estabelecidos em normas internacionais, de 30x173mm, uma metralhadora coaxial
que simulam as dimensões, as proporções 7,62mm e lançadores de granadas fumíge-
de peso e articulação do corpo humano nas de 76mm, desenvolvida numa parceria
(dummies). Estes foram devidamente far- CTEx/ARES Aeroespacial e Defesa, utilizam
dados e equipados com capacete e colete um kit extra de flutuação específico para essa
à prova de balas, conforme situação de versão na transposição de cursos de água.
combate o mais realista possível. O teste Também realizaram experimentos para
evidenciou que a viatura possui elevada uma versão engenharia, equipado com um
capacidade de proteção à integridade física Braço de Escavadeira na sua parte frontal
da guarnição embarcada com ameaça anti- da empresa Pearson, além de uma versão
minas. Vale ressaltar que essa viatura foi porta-morteiro de 120mm.
fabricada para tal fim, apenas com a blin- Vale registrar que 16 unidades foram
dagem e rodas. exportadas para as Forças de Segurança do
Hoje o Guarani é uma realidade no Líbano, nas quais são empregadas em mis-
Exército Brasileiro com 500 unidades já sões GLO.

Iveco LMV (VBMT-4-SR 4x4) Mundial da Juventude e Copa das Confe-


derações FIFA, ambas em 2013, e Copa do
Em 2021 foi implementado o pro- Mundo FIFA 2014, e os Jogos Olímpicos e
grama da Viatura Blindada Multitarefa Paraolímpicos de 2016.
Leve Sobre Rodas 4x4-VBMT-LSR 4x4,
adquirida pelo Exército Brasileiro, no
âmbito do Programa Guarani – nova famí- Iveco Lince MK-2
lia de blindados sobre rodas, a cargo da adquiridos e usados no
exército italiano, num
Diretoria de Fabricação (DF), com as pro- lote de 16 veículos,
vas sendo realizadas pelo Centro de Ava- para serem utilizados
pelo Gabinete de
liações do Exército (CAEx). Trata-se de Intervenção Federal
uma Viatura Blindada 4x4 de fabricação no Rio de Janeiro em
2018 (Foto: Exército Brasileiro)
italiana (Iveco LMV Light Multirole Vehi-
cle), com alguns modelos já adquiridos
Viatura Blindada
pelo Exército, numa compra emergencial Multitarefa Leve
ocorrida há algum tempo para as Opera- Sobre Rodas 4x4
(VBMT-LSR 4x4)
ções de Garantia da Lei e da Ordem-GLO recebida pelo
– que se fizeram necessárias, em especial Exército Brasileiro,
parte do lote de
na cidade do Rio de Janeiro, para os gran- 32 viaturas (Foto:
des eventos ocorridos, como a Jornada Exército Brasileiro)

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92 Suplemento Especial
Iveco VBTP 6x6
Guarani, em sua
versão básica, em
uso no Exército
Brasileiro
Acervo: Exército Brasileiro

Iveco 6x6 Guarani


equipado com torre
SARC UT30BR e com
flutuadores extras ao
redor do veículo.
Acervo: Exército Brasileiro

Proposta de uma Blindagem


Adicional Externa (Add-On) para
a VBTP-MR Iveco 6x6 Guarani,
equipada com uma torreta SARC
REMAX, apresentada pela empresa
Alltec Materiais Compostos
em parceria com a israelense
Plasan, apresentada na LAAD
2017, no Rio de Janeiro, RJ
Acervo: Alltec/Plasan

ANO XXI / NO 38
Suplemento Especial 93
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No ano de 2021 comemoramos os 100 Sua indústria de defesa, após esse
Anos de Blindados no Exército Brasileiro, período de desenvolvimento inicial, obteve
mais uma vez necessitando renovar nossa tecnologias críticas primordiais e um rela-
frota de Veículos Blindados no geral, com tivo sucesso comercial, quando suas prin-
raras exceções. Os estudos para essa demanda cipais empresas do setor firmaram con-
estão sendo materializados pela Nova Cou- tratos de desenvolvimento, produção e
raça que prevê não só Carros de Combate exportação com diversos países latino-a-
como também diversos outros tipos de veí- mericanos, europeus, africanos e asiáticos.
culos blindados sobre rodas e lagartas, numa O mais importante foi a interação entre
abertura para que empresas estrangeiras, esse grupo e as empresas brasileiras – e algu-
com uma modesta participação de empre- mas multinacionais – que materializaram os
sas nacionais, possam nos atender com base primeiros sonhos para uma realidade, até
nos requisitos técnicos e operacionais, o que então nova no país. E foi no seio da Diretoria
ensejará grande quantidade de ofertas dos de Fabricação do Exército (DFE) que se deu
mais variados países, num momento em que início a projetos tecnológicos de vulto, tais
nossa Base Industrial de Defesa talvez não como o Guarani, a modernização do Cascavel
consiga dar uma resposta, diferente de como e a produção e recuperação de outras viatu-
foi feito nos anos dourados das décadas de ras blindadas e materiais de emprego militar.
1970 a 1990, quando chegamos a desenvol- O problema é que, a partir do momento
ver muitos materiais que poderiam ter-nos em que contratos foram assinados para a pro-
dado ampla independência na área de Defesa. dução das primeiras pré-séries com empre-
Criada em 27 de março de 1946, a Dire- sas brasileiras, todo esse conhecimento foi
toria de Fabricação deu início às suas ativi- entregue, inclusive os protótipos, para darem
dades na condição de órgão subordinado início à produção, não garantindo nenhum
ao Departamento Técnico e de Produção direito sobre os desenhos, patentes, etc., que
do Exército (DTPE), conforme estabelecido viessem a beneficiar diretamente o Exército,
pelo Decreto nº 21.738, de 30 de agosto de como é comum na Europa, por exemplo; lá,
1946, pelo qual ficou incumbida da supe- o fabricante repassa à Força responsável por
rintendência “de todos os estabelecimen- aquele projeto um percentual sobre as uni-
tos fabris arsenais do Exército”, cumprindo dades exportadas, auferindo assim lucros
papel estratégico no tocante ao recensea- para que ela não dependa apenas dos min-
mento e à organização industrial e, ainda, à guados orçamentos, como é o nosso caso.
fiscalização das importações, exportações e Precisamos analisar a vasta interativi-
produções do Exército nas indústrias civis. dade entre as indústrias nacionais e multina-
A partir de meados da década de 1960, cionais e as Forças Armadas que, na época,
o Brasil já possuía uma pujante, estruturada e transformou o país num produtor de material
supostamente duradoura indústria de mate- de defesa para seu uso e para exportação, com
rial de defesa cujos projetos traziam espe- erros e acertos, desenvolvendo tecnologias
ranças de que o país conseguiria se trans- que, na maior parte das vezes, não podiam ser
formar em destacado provedor de materiais compradas, pela simples razão de que quem
de emprego militar, agregando tecnologia as detém não ensina a dominar seu ciclo de
aos produtos nacionais e trazendo divisas produção, criando a terrível dependência.
financeiras e conhecimentos estratégicos Diversas etapas do ciclo de projeto,
importantes para seu futuro como Nação. desenvolvimento e produção foram exer-
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94 Suplemento Especial
citadas e entendidas. No momento em que adquirir alguns exemplares, no exterior, de
toda a cadeia de desenvolvimento e produ- diversos modelos que nos ajudassem a definir
ção entrou em crise, não se cuidou de pre- o que realmente precisamos e o que pode e
servá-la. Isso inclui todo o conhecimento deve ser agregado à realidade vivida por nós.
gerado por anos de pesquisas e qualifica- Em muitos casos, prestigiamos a
ção de pessoal; da noite para o dia, viu-se indústria estrangeira em detrimento da
desempregado, desamparado e lançado à nacional, adquirindo itens que poderiam
própria sorte. Nem o material foi mantido muito bem ser desenvolvidos e fabricados
para uma retomada futura – a maior parte localmente. Claro que isso com investi-
virou papel velho – e o maquinário e protó- mentos e garantia de compras mínimas, até
tipos foram sucateados, vendidos como fer- porque os empresários vivem de lucros, e
ro-velho, sepultando um fator essencial para não da crença de estar ajudando a Nação.
o domínio da tecnologia na área de defesa. Importamos equipamentos usa-
O histórico do desenvolvimento dos ou novos a baixo custo, tidos como
tecnológico nacional poderia ter sido compras de ocasião, mas com extensos
melhor aproveitado, levando-se em contratos de manutenção, que não agre-
conta que não perdemos o principal gam em transferência de tecnologia.
de nossa capacitação: o fator humano. Pelo contrário, eles nos tornam meros
Um fator que nos tem impedido é a usuários desses produtos, até que algumas
falta de manutenção da memória nacional décadas depois, obsoletos, sejam descartados
agrupada em um único lugar, que seria a pura e simplesmente, como vem sempre ocor-
base prática para agregarmos uma massa crí- rendo, sem levar em conta o que desenvolve-
tica que pudesse dela se beneficiar, gerando mos, aprendemos e em alguns casos chegamos
conhecimento junto aos diversos órgãos ao estágio de protótipos que hoje ainda servi-
militares, como DF, IMBEL, IME, CTEx, riam de base para futuros desenvolvimentos.
DCT, CIBld, CAEx, e outros. Estes, em par- Vale destacar que o progresso tecnoló-
ceria com empresas privadas, poderiam dar gico de uma nação é o que determina, em
continuidade aos projetos viáveis e a outras grande parte, sua capacidade econômica.
criações. Por exemplo, o Centro de Instrução Ambos demonstram forte correlação com a
de Blindados General Walter Pires, em Santa história, além de serem determinantes para
Maria-RS, poderia ser elevado à categoria gerar os recursos que permitam sustentar
de ESCOLA DE BLINDADOS e nele ser forças armadas competentes, bem armadas
agregado um MUSEU DE TECNOLOGIA e com a dimensão necessária que garanta
MILITAR, onde reuniríamos todos os proje- seus interesses. É por essa razão que o poder
tos brasileiros dessa área, para que servissem de uma nação não pode só ser medido, ao
de base para dar continuidade na parte dou- longo da história, unicamente pelo tama-
trinária e tecnológica, evitando que vários nho e competência de suas forças armadas,
protótipos ficassem perdidos em diversas mas sim pela capacidade de dispor tam-
Unidades, praticamente sem função alguma, bém de uma base econômica forte, com
ao contrário, poderiam ser mais bem empre- capacidade de produzir e dominar setores
gados se ajudassem na formação de comba- industriais ou comerciais necessários ao
tentes e engenheiros militares, podendo ser domínio e independência tecnológica de
usados em termos comparativos com o que ponta, que muita das vezes não pode ser
possuímos na atualidade, visto ser difícil adquirida ou repassada em sua totalidade.

Tecnologia não se compra, desenvolve-se!


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Suplemento Especial 95
Expedito Carlos Stephani Bastos
Formado em Eletrotécnica e Eletrônica e posteriormente em Direito, foi Pesquisador de Assuntos Militares
da Universidade Federal de Juiz de Fora, onde coordenou por 16 anos o portal UFJF/Defesa; Foi membro fundador
do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da Universidade Federal de Juiz de Fora, onde coor-
denou a área de tecnologia militar por 14 anos. Membro do Conselho de Curadores, na área de blindados e veículos
militares do Museu Militar Conde de Linhares (Museu do Exército), Rio de Janeiro, e integrante honorário do corpo
docente do Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires, em Santa Maria, RS.
Professor visitante de História Militar na Academia da Força Aérea em Pirassununga, SP, (1991-
1993). Em 2003, foi condecorado com a Medalha Legião do Mérito do Engenheiro Militar, no grau Alta
Distinção, pela Academia Brasileira de Engenharia Militar, de São Paulo. Em abril de 2013, foi conde-
corado com a medalha Tenente Ary Rauen, do 5º Regimento de Carros de Combate - Rio Negro, PR.
Responsável pelo portal ECSB/Defesa (www.ecsbdefesa.com.br), que trata de história militar, defesa, estratégia,
inteligência e tecnologia; Autor dos livros Blindados no Brasil – Um longo e árduo aprendizado, Volume 1, e Renault
FT-17 – O Primeiro Carro de Combate do Exército Brasileiro, número 1 da série Blindados no Brasil, ambos edi-
tados pela Editoria Taller e UFJF/Defesa e Blindados no Haiti - Minustah - Uma Experiência Real, Blindados no
Brasil - Um longo e árduo aprendizado, Volume 2, Motorização no Exército Brasileiro 1906- 1941, Fiat-Ansaldo
CV3-35II no Exército Brasileiro, número 2, Bernardini MB-3 Tamoyo - O blindado nacional, número 3, M-113
no Brasil - O Clássico Ocidental, número 4, M-41 Walker Bulldog no Exército Brasileiro, número 5, Ford M-8
Greyhound no Exército Brasileiro - Surge o conceito de Blindado 6x6, número 6; Engesa EE-9 Cascavel - 40 Anos
de Combates - 1977 -2017, número 7, da série Blindados no Brasil; Technicals: A Guerra das Toyotas Land Crui-
ser - A Contribuição Brasileiro, número 1 da Série Conflitos Assimétricos, estes edição do autor, em parceria com
o UFJF/Defesa; Blindados Paulistas 1917 - 2020 da Força Pública à Polícia Militar, número 8, da série Blindados
no Brasil, este edição do autor; BRAZILIAN ARMORED VEHICLES 1917- 1939, edição do ECSB/Defesa. Publica
regularmente artigos sobre assuntos militares em veículos especializados brasileiros e europeus.

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