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Introdução: Como Você Competirá com os Cavalos?

A pergunta intrigante em nosso mundo é: por que tantas pessoas vivem tão mal? Não
de modo perverso, mas futilmente. Não com crueldade, mas estupidamente. Há pouco para
se admirar e menos ainda para se imitar nas pessoas que se sobressaem hoje em nosso
mundo. Temos celebridades, mas não santos.

Tal condição da humanidade tem produzido um fenômeno estranho: Indivíduos que


levam vidas triviais e rotineiras repentinamente se envolvem em atos perversos ou
calamitosos numa tentativa de estabelecer um senso de significância para suas vidas.
Assassinos e seqüestradores tentam um gigantesco salto da obscuridade e mediocridade de
suas vidas para a fama, matando alguém importante ou colocando muitas vidas em perigo
num avião cheio de passageiros. Muitas vezes suas tentativas são bem sucedidas. Os
canais de comunicação de massa reproduzem suas declarações e exibem suas façanhas.
Articulistas disputam entre si analisando os motivos e traçando seu perfil psicológico.

Do outro lado, se procuramos ao redor tentando descobrir o que significa ser uma
pessoa madura, abençoada, sadia e integral, não descobrimos nada muito promissor.
Existem pessoas assim entre nos, provavelmente tantas quantas sempre houve, mas não é
fácil descobri-las. Nenhum jornalista as procura para uma entrevista. Nenhum programa de
televisão lhes dá destaque. Não são admiradas. Não são imitadas. Não estabelecem
nenhuma tendência ou moda a ser seguida. Não representam nenhum valor monetário.
Nenhum Oscar lhes é conferido por sua integridade. No final do ano, ninguém faz uma lista
das dez vidas mais saudáveis e bem vividas.

Virtude Tediosa?

Os romances, poemas e peças teatrais, as figuras proeminentes se dividem em vilões


ou vitimas. Pessoas boas, vidas virtuosas na sua maioria parecem um tanto tediosas.
Jeremias é uma fantástica exceção. Ao longo de quase toda a minha vida adulta, tenho
sentido uma grande atração pelo profeta. A intensidade e complexidade de sua pessoa
atraíram e prenderam minha atenção. As qualidades cativantes da personalidade de
Jeremias são sua bondade, sua virtude, sua excelência. Ele viveu do melhor modo possível.
Não demonstrava nenhuma piedade artificial, pois experimentou esmagadoras tempestades
de hostilidade e furiosas investidas de dívidas amargas.

Não existe qualquer traço de presunção, complacência ou ingenuidade em Jeremias


— cada músculo de seu corpo foi distendido o limite pela fadiga, cada pensamento de sua
mente submetido a rejeição, cada sentimento de seu coração passou pelas chamas do
ridículo. Bondade para Jeremias não significava “ser amável”, era algo mais parecido com
coragem ou bravura.

Há uma passagem na vida do profeta quando, esmagado pela oposição e


mergulhado em autopiedade, ele esteve à beira de entregar-se a morte interior. O profeta
estava pronto a abandonar sua singular vocação divina e transformar-se num simples dado
estatístico, um morador a mais em Jerusalém. Nesse momento critico, ele ouviu a
reprimenda: “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com
os que vão a cavalo? Se em terra de paz não te sentes seguro, que farás na floresta do
Jordão?” (Jr 12.5).

A vida e difícil, Jeremias. Você vai desistir na primeira onda de oposição? Vai recuar
ao descobrir que existe mais na existência do que três refeições por dia e um lugar seguro
para dormir a noite? Vai correr para casa assim que constatar que a grande maioria dos
homens e mulheres está mais interessada em preservar seu conforto do que em arriscar-se
para a gloria de Deus? Vai viver cautelosamente ou corajosamente? Eu o chamei para viver
da melhor forma possível, para ir ao encalço da retidão, para manter o curso em direção a
excelência.

E mais fácil descansar nos braços confortáveis da Normalidade. Mais fácil, mas não
melhor. Mais fácil, mas não mais significativo. Mais fácil, mas não mais pleno de satisfação.
Eu o chamei para uma vida de propósitos muito mais altos do que você jamais pensou ser
capaz de realizar e prometi que o supriria com o vigor necessário para cumprir seu destino.
Agora, ao primeiro sinal de dificuldade você está pronto a desistir. Se você se sente fatigado
com a mesmice dessa multidão de pessoas medíocres e apáticas, o que você fará quando a
corrida verdadeira começar, a corrida com rápidos e resolutos cavalos e cavaleiros da
excelência? O que você realmente deseja, Jeremias? Caminhar pesadamente com a
multidão ou correr com os cavalos?

No meu entender, e pouco provável que Jeremias tenha respondido rápida e


espontaneamente a pergunta de Deus. Os ideais arrebatadores de uma vida nova haviam
sido borrifados pelo cinismo do mundo. O ímpeto eufórico do entusiasmo juvenil não mais o
impulsionava. O profeta pesava as opções. Computava o custo. Inquietava-se e sentia-se
perturbado e hesitante.

A resposta, quando finalmente surgiu, não foi verbal, mas biográfica. Sua vida tomou-
se a sua resposta: “Eu competirei com os cavalos”.

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