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Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 99-126, 2007.

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia:


um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.

Lucas Bueno*
Edithe Pereira**

BUENO, L.; PEREIRA, E. Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um


estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará. Revista do Museu de Arqueologia
e Etnologia, São Paulo, 17: 99-126, 2007.

Resumo: O presente artigo apresenta os resultados do estudo do material


lítico coletado durante as escavações arqueológicas realizadas no âmbito do
“Programa de Arqueologia Preventiva na Área da Mineração Serra do Sossego”.
A análise do material lítico centrou-se na coleção oriunda das escavações realizadas
no sítio Domingos. Essas escavações ocorreram em diferentes momentos, ao longo
dos anos de 2003 a 2005. Os objetivos desta análise envolveram a identificação das
matérias-primas utilizadas, a caracterização do processo de apropriação de cada
uma delas, a definição de indicadores de áreas de atividade através da caracterização
dos tipos de modificação produzida nos artefatos da coleção e a distribuição
espacial dos vestígios em estratigrafia, de forma a investigar a existência de mais de
uma ocupação do sítio Domingos. A partir dos resultados da análise tecnológica
e da distribuição dos vestígios líticos intra-sítio, levantamos uma hipótese a
respeito do processo de formação deste sítio arqueológico e ressaltamos o
potencial de estudos sobre tecnologia lítica em contextos ceramistas.

Palavras-chave: Tecnologia lítica – Tecnologia – Sítio cerâmico – Área de


atividade – Processo de formação de sítio.

Introdução e financiado pela CVRD, com apoio institucional


do MPEG (Pereira 2005).

O presente artigo apresenta os resultados


do estudo do material lítico coletado
durante as escavações arqueológicas realizadas
A análise do material lítico centrou-se na
coleção oriunda das escavações realizadas no sítio
Domingos, localizado no município de Canaã
no âmbito do Programa de Arqueologia dos Carajás, PA. Essas escavações ocorreram em
Preventiva na Área da Mineração Serra do diferentes momentos, ao longo dos anos de
Sossego, coordenado pela Dra. Edithe Pereira 2003 a 2005. A partir dos resultados da análise
tecnológica e da distribuição dos vestígios líticos
intra-sítio, levantamos uma hipótese a respeito do
(*) Museu de História Natural.Universidade Federal de
processo de formação deste sítio arqueológico e
Minas Gerais - UFMG. lucasreisbueno@gmail.com ressaltamos o potencial de estudos sobre
(**) Museu Paraense Emílio Goeldi. edithe@museu-goeldi.br tecnologia lítica em contextos ceramistas.

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Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.
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Contexto e objetivos Em função das características dessa


amostragem, os objetivos da análise do materi-
O sítio mais denso, melhor preservado e al lítico envolveram a identificação das matéri-
escavado com maior intensidade no âmbito do as-primas utilizadas, a caracterização do
Programa acima mencionado foi o sítio processo de apropriação de cada uma delas, a
Domingos. Foram realizadas quatro etapas de definição de indicadores de áreas de atividade
escavação com duração média de 30 dias entre através da caracterização dos tipos de modifica-
os anos de 2003 e 2005 (Pereira 2005, 2006a, ção produzida nos artefatos da coleção e a
2006b, 2006c). distribuição espacial dos vestígios em estratigrafia
Para delimitação da área de dispersão de de forma a investigar a existência de mais de
vestígios e orientação da localização das uma ocupação do sítio Domingos. Devido à
unidades a serem escavadas foram utilizados grande quantidade de material coletado,
os dados obtidos principalmente através de realizamos uma amostragem da coleção,
dois procedimentos: 1) investigação do analisando um total de 1225 peças que
terreno com material arqueológico por correspondem a 33% do total coletado.
método geofísico através de medidas do
campo magnético terrestre, de resistividade
aparente e de propagação de onda eletromag- Procedimentos Metodológicos
nética de freqüência 400 MHz, como
método de Radar de Penetração no Solo Metodologia de análise
(GPR) (Luiz e Pereira 2005) e; 2) abertura de
tradagens em linhas paralelas a cada 10 m, Em função do tempo disponível, do
cuja orientação foi definida pelo quadriculamento tamanho da coleção de material lítico vincula-
do sítio com utilização de nível óptico. Os da ao Programa de Arqueologia Preventiva na
dados obtidos com esses dois procedimentos área da Mineração Serra do Sossego e dos
possibilitaram a definição da área de disper- objetivos do trabalho, levantamos duas
são de vestígios e uma aproximação da alternativas metodológicas para realização da
distribuição e densidade de vestígios arqueo- análise do material lítico: análise individual
lógicos e terra preta no interior desta área. dos vestígios (Collins 1975; Andrefsky 1998,
Essa distribuição orientou então a abertura 2001; Prentiss 1998; Shott 1994) e análise de
de unidades de escavação cujo tamanho massa (Ahler 1989). Apesar de a metodologia
inicial foi preponderantemente de 1m², mas relacionada à análise de massa ser mais
que em muitos casos sofreu ampliações indicada em função da relação entre o tempo
chegando a mais de 20m². Em todas as áreas disponível para efetuar a análise e o tamanho
a escavação foi orientada por níveis naturais, da coleção, optamos por realizar uma análise
definidos de acordo com uma combinação individual dos vestígios com observação de
de fatores, como coloração, textura e atributos principalmente por dois motivos:
granulometria do sedimento e tipo, quanti- 1) não haver um conhecimento prévio sobre
dade e distribuição espacial dos vestígios o material lítico deste sítio ou de outros sítios
(Pereira 2005). associados a ocupações ceramistas nessa
Com o intuito de verificar a distribui- região, criando assim a necessidade de se
ção diferencial dos vestígios materiais no efetuar uma boa caracterização tecnológica
sítio, incluídos aí vestígios líticos, cerâmicos, dessa indústria; 2) a partir de uma observação
terra preta e outras estruturas, foram preliminar do material lítico do sítio Domin-
abertas áreas de escavação praticamente em gos, identificamos uma grande diversidade de
todas as porções do sítio, com o que se vestígios fazendo com que fosse necessário
obteve uma ótima amostra da diversidade realizar a observação de atributos para
de contextos e do conjunto artefatual caracterizar melhor os tipos de vestígio
presente no sítio. presentes.

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A ficha de análise II) Técnica de transformação


0 – Não identificada
Para seleção dos atributos levamos em 1 – Lascamento Unipolar
consideração dois aspectos: informações a 2 – Polimento
serem obtidas e replicabilidade da análise. Este 3 – Bruto/ausente
último aspecto teve um papel bastante impor- 4 – Lascamento bipolar
tante, pois um dos objetivos deste trabalho 5 – Picoteamento
envolveu a definição de uma metodologia de 6 – Lascamento/polimento
análise que pudesse ser aplicada nesta e em 7 – Lascamento não identificado
outras coleções de material lítico por profissio- 8 – Lascamento uni e bipolar
nais que contam com pouca experiência na 9 – Polimento/Picoteamento
realização de análises de material lítico (Bueno
2006). Nesse sentido, os atributos seleciona- III) Modificação Produzida
dos e as variáveis a eles relacionadas deveriam 0 – Não identificada
ser de fácil identificação. 1 – Gume
Foi então elaborada uma ficha de análise a 2 – Superfície plana
partir da qual todos os vestígios foram classifi- 3 – Depressão
cados. Com isso simplificamos o procedimen- 4 – Orifício
to de análise, utilizando uma única ficha para 5 – Ponta
todos os tipos de vestígio que, eventualmente, 6 – Queima
foi complementada com uma descrição mais 7 – Coloração (corante)
detalhada, principalmente dos artefatos e 8 – Ausente
núcleos. 9 – Superfície plana/depressão
Esta ficha é composta por oito atributos, 10 – Superfície plana/orifício
sendo que cada um deles é caracterizado por 11 – Gume/queima
diferentes variáveis mutuamente excludentes. 12 – Superfície plana/queima
A ficha pode ser dividida em duas partes: da 13 – Orifício/queima
primeira constam os dados referentes à 14 - depressão/queima
localização de cada vestígio no sítio – área de 15 – coloração/queima
escavação, setor e nível; a segunda parte 16 – outra
inclui os atributos tecnológicos a serem 17 – estrias
observados em cada vestígio (ver Tabela 1) 18 – Superfície plana/queima/orifício
(Bueno 2006). 19 – polimento geral (no caso de machados,
mãos de pilão, etc..)
20 – Picoteamento (percutores)
Tabela 1 21 – superfície alisada/gume/queima
22 – superfície alisada/picoteamento
I) Matéria-Prima
0 – Não identificada IV) Vestígio produzido
1 – Quartzo 0 – Não identificado
2 – Quartzito 1 – Artefato
3 – Granito 2 – Fragmento
4 – Basalto 3 – Lasca
5 – Corante 4 – Núcleo
6 – Óxido de ferro 5 – Bruto
7 – Laterita
8 – outros V) Suporte
9 – Arenito 0 – Não identificado
10 – Sílex 1 – Seixo

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2 – Bloco sofreu modificações formais ou não. As


3 – Fragmento variáveis associadas a esse atributo são:
6 – Nódulo lascamento unipolar, lascamento bipolar,
7 – Cristal lascamento não identificado (pode ser uni ou
bipolar), lascamento uni e bipolar, polimento,
VI) Grau de preservação picoteamento, picoteamento/polimento,
0 – Não identificado lascamento/polimento e bruto. A variável
1 – Inteiro “lascamento não identificado” está relacionada
2 – Fragmentado aos vestígios de lascamento que não apresen-
tam estigmas claros da utilização de uma ou
VII) Grau de transformação outra técnica e normalmente são apenas
0 – Não identificado fragmentos. A variável “bruto” é aplicada aos
1 – Total vestígios que não sofreram modificação alguma
2 – Parcial previamente a sua utilização.
3 – Circunstancial/superficial (restrito) O atributo modificação produzida está
4 – Ausente relacionado à forma de apropriação produzida
pelo tipo de utilização de cada vestígio. As
VIII) Dimensões variáveis associadas a esse atributo indicam
0 – Não mensurável diferentes tipos de modificação produzidas em
1 – entre 0 e 5cm cada vestígio em decorrência de ou para sua
2 – entre 5 e 10cm utilização. A combinação dessas variáveis com
3 – entre 10 e 20cm aquelas associadas ao atributo técnica de
4 – entre 20 e 30cm transformação é que vai definir se a modificação
5 – entre 30 e 50cm identificada foi produzida pela ou para utiliza-
6 – maior que 50cm ção do vestígio, ou seja, previamente ou
posteriormente a ela. A partir da amostra
O primeiro atributo diz respeito ao tipo de estudada foram observadas as seguintes
matéria-prima do vestígio que, de acordo com a variáveis: gume, superfície alisada, depressão,
amostra analisada até o momento, inclui as orifício(s), ponta, queima, alteração de colora-
seguintes variáveis: quartzo, quartzito, granito, ção (decorrente do uso de alguma substância,
basalto, corante, óxido de ferro, laterita, como corante, por ex.), superfície alisada/
arenito silicificado, sílex e outros. A variável depressão, superfície alisada/orifício, gume/
“outros” inclui uma diversidade de matérias- queima, superfície alisada/queima, orifício/
primas dificilmente distinguíveis sem a utilização queima, depressão/queima, coloração/
de lupas e engloba rochas ígneas e metamórficas queima, estrias/orifícios, superfície alisada/
localizadas nas proximidades do sítio em orifício/queima, polimento completo,
diferentes pontos da serra dos Carajás e seu picoteamento, superfície alisada/gume/
entorno (Brandt/Meio Ambiente 2000). queima, superfície alisada/picoteamento,
Algumas dessas rochas foram selecionadas para modificação ausente, outras. A variável “estri-
realização de lâminas petrográficas a fim de as/orifício” foi utilizada especificamente para
definirmos melhor sua composição e relação caracterizar as modificações decorrentes da
com atividades específicas realizadas no sítio utilização de seixos ou blocos como bigornas
Domingo. no lascamento bipolar enquanto a variável
O segundo atributo observado envolve a “picoteamento” está associada às modificações
identificação da técnica de transformação através decorrentes da utilização do vestígio como
da qual o vestígio foi apropriado ao ingressar percutor, seja para o lascamento unipolar ou
no sítio arqueológico, indicando se houve uma bipolar. Já os percutores associados ao
modificação da matéria-prima antes de sua processamento de vegetais, ao invés de
utilização, ou seja, se para ser utilizada ela picoteamento apresentam “orifícios”, no caso

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da percussão, ou “superfícies alisadas”, no caso O atributo seguinte indica o grau de


da pressão e/ou trituração. A variável “modifi- preservação de cada vestígio, podendo ele estar
cação ausente” indica que o vestígio em inteiro ou fragmentado.
questão não sofreu modificação alguma O atributo grau de transformação indica a
referente à sua utilização indicando que ele intensidade da modificação causada ao vestígio
deve ter sido utilizado em seu estado bruto ou através da sua utilização e fornece uma medida
que mesmo tendo sido transformado de importante da transformação formal pela qual
alguma maneira (lascado, por exemplo) não cada suporte passou ao ser apropriado no
sofreu nenhuma modificação associada ao uso conjunto das atividades desenvolvidas no sítio.
(por exemplo, uma lasca que não foi utilizada Nesse sentido, o grau de transformação pode
seria classificada pela variável modificação estar ausente, ser apenas circunstancial/
ausente). superficial, ser parcial ou total.
Em seguida passamos à identificação do Por fim, o último atributo a ser analisado
tipo de vestígio produzido, o qual é decorrente envolve a dimensão de cada vestígio, calculada
de uma combinação entre a técnica de transfor- por intervalos.
mação utilizada e a modificação produzida. As
variáveis associadas a esse atributo são as Amostragem
seguintes: artefato, fragmento, lasca, núcleo e
vestígio bruto. Classificamos como “artefato” Já para a amostragem, optamos por realizar
todos os vestígios que sofreram algum tipo de uma análise inicial de todo o material lítico
modificação decorrente da realização de uma coletado durante a etapa de campo realizada
ação que envolve uma interação entre homem - em agosto de 2005 uma vez que essa coleção
matéria-prima. Assim, com essa classificação só cobria o maior número de áreas localizadas em
não serão artefatos aqueles vestígios que no diferentes setores do sítio e já havíamos tido
atributo modificação produzida forem classifi- um primeiro contato com esse material, em
cados pela variável “ausente” ou “queima”. No função da participação na referida etapa de
primeiro caso fica claro porque o vestígio não campo.
pode ser classificado como artefato e no Posteriormente, a partir dos resultados
segundo, isso ocorre, pois a modificação obtidos realizamos uma amostragem baseada
produzida não é decorrente de uma interação em três critérios: 1) localização da área de
direta entre homem e matéria-prima, mas sim, escavação no sítio, de modo a privilegiar áreas
de uma reação física decorrente da interação ainda pouco representadas na amostra já
fogo - matéria-prima. Nas variáveis lasca, analisada; 2) densidade de vestígios por área de
artefato e núcleo estão englobados, respectiva- escavação; 3) quantidade de vestígios na
mente, todos os vestígios dessa natureza, camada 2 . Com a combinação destes critérios
independentemente do seu estado de e do tempo disponível, selecionamos, em
conservação. ordem de prioridade, as seguintes áreas de
Para caracterizar melhor cada vestígio, escavação para serem analisadas: 37, 31, 24 e 25.
selecionamos o atributo “suporte” que indica Através da utilização dessa metodologia
suas características originais, definidas procuramos responder basicamente seis
principalmente pelo tipo e pela presença/ questões, todas derivadas de duas questões
ausência de superfície cortical. As variáveis principais: 1) Por que e para que há material
são as seguintes: seixo, bloco, fragmento, lítico neste sítio? 2) Como esse material lítico
nódulo, cristal e não identificada. A última é foi apropriado?
utilizada, via de regra, quando não há superfí- Para responder a essas questões, outras
cie cortical. Já a variável “nódulo” se refere foram então formuladas:
aos seixos rolados em superfície, os quais
apresentam superfícies às vezes rugosas e - Quais foram as matérias-primas utilizadas?
arestas pouco ou mal arredondadas. - Onde elas foram obtidas?

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- Para qual finalidade cada uma delas foi utilizada? apropriada através do lascamento, principal-
- Como cada uma delas foi transformada e mente unipolar. Não houve, nessa matéria-
utilizada e qual a relação entre matérias-primas, prima, nenhum tipo de transformação associa-
técnica de transformação e forma de utilização? da a polimento ou picoteamento e a maioria
- Em quais locais do sítio elas foram utilizadas? dos artefatos caracterizados pela formação de
- Como se dá a distribuição das variáveis de gumes foi confeccionada em quartzo.
cada atributo observado na estratigrafia? Já o quartzito, foi majoritariamente
apropriado na forma bruta, seguida pela
técnica de lascamento, em particular a bipolar.
A indústria lítica do sítio Domingos Esse tipo de apropriação dessa matéria-prima
está melhor representado na camada 2 do sítio,
Matérias-primas e especificidades de como discutiremos adiante, e aparece concen-
aproveitamento trado numa pequena área composta por
inúmeros seixos superficialmente lascados,
As matérias-primas podem ser divididas em muitos sem gerar uma única lasca, associados a
dois grandes grupos em termos de composição, outros seixos que apresentam marcas de
estrutura, fonte e formas de apropriação: quartzo picoteamento ou de estrias, o que interpreta-
e quartzito X granito e outros tipos de rocha mos como o refugo do processo de lascamento
ígnea ou metamórfica. Além destas, são freqüen- bipolar, com núcleos, percutores e bigornas
tes também fragmentos de laterita, placas de descartados (Figs. 1 e 2).
óxido de ferro, corantes e, em escala bastante Ainda com relação à matéria-prima, dentre
reduzida, basalto, arenito silicificado e sílex. os vestígios classificados com o atributo outros,
Quartzo e quartzito aparecem preferencial- se insere uma grande variedade de matérias-
mente na forma de seixos, mas podem também primas que, como já frisamos, são difíceis de
ocorrer como nódulos ou, no caso do quartzo distinguir a olho nu. Esse conjunto aparece em
na forma de cristal que, nesse caso, apresenta segundo lugar como a matéria-prima melhor
um quartzo hialino. Na maioria das vezes o representada no sítio. Todas elas apresentam
quartzo é leitoso ou fosco, mas em geral de má características comuns quanto a sua forma de
qualidade com muitas fraturas internas que apropriação. A maioria delas foi utilizada
dificultam o controle dos vestígios produzidos bruta, apresenta sinais intensos resultantes da
através do lascamento. Assim como o quartzo, exposição à ação térmica e se encontram na
o quartzito é em geral de má qualidade e forma de fragmentos oriundos de blocos.
apresenta bastante variação quanto à textura, o Dentre esse conjunto de matérias-primas
grau de coesão entre os grãos e a intensidade de há algumas que se destacam em função da sua
transformação em função do metamorfismo. composição e estrutura, como é o caso, por
Principalmente os nódulos são de péssima exemplo, de um tipo composto por grandes
qualidade, muito friáveis e particularmente minerais de quartzo angulosos, como se fosse
ruins para o lascamento. No entanto, apesar um grande bloco de areia mal consolidado em
dessas restrições quanto à aptidão ao lascamento, meio a uma rocha ígnea. Especificamente esse
na amostra analisada o quartzo é a matéria- tipo de matéria-prima aparece bastante modifi-
prima melhor representada e o quartzito a cada por ação térmica, em fragmentos de
terceira. Isso, por sua vez, não implica que o diversos tamanhos e, em um local específico
lascamento seja a técnica de transformação do sítio, associada a um batedor produzido
predominante no sítio, pois, muitos vestígios sobre seixo de quartzito. Uma pergunta que se
dessas e das demais matérias-primas presentes coloca e que pode ser resolvida por análises
no sítio Domingos foram apropriados em físico-químicas diz respeito a uma possível
estado bruto. utilização dessa rocha fragmentada como
No caso do quartzo, a maioria dos vestígi- antiplástico para a cerâmica produzida no sítio.
os identificados no sítio foi efetivamente Neste caso, o processo de produção do

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Fig. 1. Gráfico de distribuição das matérias-primas no sítio Domingos.

Fig. 2. Gráfico da relação entre matéria-prima e técnica de transformação no sítio Domingos.

antiplástico envolveria uma primeira etapa na duro. Análises preliminares realizadas com a
qual grandes blocos dessa matéria-prima seriam cerâmica indicam a predominância de antiplástico
fragmentados pela ação do fogo até gerarem mineral, principalmente grãos de quartzo e
pequenos fragmentos que seriam então fragmentos de laterita, indicando que a
macerados com a utilização de um percutor hipótese apresentada é bastante plausível.

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O granito presente no sítio Domingos corantes e superfícies alisadas e mudança de


aparece em fragmentos derivados de blocos e está coloração no óxido de ferro.
associado, na maioria das vezes, a uma utilização
circunstancial que produz superfícies alisadas As técnicas de apropriação
planas. No entanto, dentre os poucos machados
polidos encontrados nesta coleção, a maioria foi A maior parte do material lítico até o
confeccionada também em granito. Tanto os momento analisado ingressou no sítio e foi
fragmentos que apresentam essas marcas de utilizado no estado bruto, ou seja, sem
utilização circunstancial quanto aqueles que passar por qualquer tipo de modificação
permanecem em estado bruto apresentam, via de prévia. Dentre estes, a maioria esteve associa-
regra, sinais de queima. Alguns fragmentos da à utilização do fogo, seja em fogueiras
foram produzidos por lascamento unipolar e, na associadas ao processamento de alimentos, à
área de escavação 37, nível 1C, encontramos um produção cerâmica ou em outras atividades
grande fragmento intensamente lascado pela nas quais o fogo seria o principal agente.
técnica bipolar que pode representar o vestígio Como mencionamos anteriormente, uma
de uma etapa de produção de artefatos polidos, outra utilização do fogo associada a deter-
como os machados, por exemplo. minados tipos de matéria-prima poderia
As outras matérias-primas presentes na envolver a fragmentação intencional de
coleção, como corante, laterita e as placas de grandes blocos com o intuito de obter
óxido de ferro aparecem em pequena pequenos fragmentos que seriam posterior-
quantidade. Destas a laterita é a melhor mente macerados com o uso de percutor
representada. Normalmente ela aparece em duro a fim de gerar pequenos grãos de
fragmentos brutos que não parecem ter diferentes minerais, mas principalmente
sofrido alteração alguma a não ser uma quartzo, utilizados como antiplástico na
fragmentação decorrente do uso do fogo. Já produção cerâmica (Fig. 3).
os corantes e o óxido de ferro, são também Além do material utilizado ou apropriado
apropriados brutos, mas apresentam sinais de forma bruta, identificamos a presença de
de utilização, com a presença de estrias nos vestígios transformados através da utilização das

Fig. 3. Gráfico da distribuição das técnicas de transformação no sítio Domingos.

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técnicas de lascamento unipolar, lascamento Em seguida, aparecem melhor representadas


bipolar, polimento, picoteamento ou, em alguns as variáveis que indicam a presença de modifica-
casos, uma combinação destes. ções caracterizadas pela formação de marcas de
Esses últimos, apesar de quantitativamente picoteamento e estrias. Na coleção analisada
insignificantes, apontam aspectos bastante essas modificações estão associadas à utilização
interessantes, como por exemplo, a presença de de seixos no processo de lascamento bipolar e
núcleos lascados através de uma combinação entre representam, respectivamente, percutores e
técnica unipolar e bipolar, a produção de artefatos bigornas. A grande quantidade desse tipo de
conjugando etapas de lascamento e polimento. vestígio, no entanto, não reflete a distribuição
Neste caso, em específico, há um vestígio bastante das técnicas de transformação das matérias-
interessante, de granito lascado pela técnica bipolar primas de uma maneira geral no sítio, pois estão,
e superficialmente polido que pode representar em sua grande maioria, associadas a uma única
uma etapa inicial da produção de um machado estrutura identificada na área de escavação 37,
polido, indicando aí a presença de uma cadeia nível 2, composta essencialmente por seixos de
operatória bastante particular e, portanto impor- quartzito (Fig. 4).
tante no estabelecimento de comparações com Já as modificações produzidas pela forma-
demais sítios da região. ção de gumes nos vestígios analisados aparecem
em quarto lugar e estão representadas pelas
As modificações produzidas e os vestígios variáveis 1 – gume – e 11 – gume e queima.
gerados Essas modificações envolvem a produção de
gumes com diferentes extensões, formas e
Conforme mencionado anteriormente, a ângulos e estão associadas na maioria das vezes
grande maioria dos vestígios que sofreu algum aos vestígios transformados pela utilização da
tipo de modificação decorrente do seu proces- técnica de lascamento, seja ele uni ou bipolar.
so de apropriação esteve relacionada ao uso Esse tipo de modificação está, via de regra,
do fogo. São vestígios que ingressaram no sítio associado à realização de atividades que envol-
em seu estado bruto e não sofreram nenhum vem ações como raspar e cortar. Os artefatos
tipo de modificação prévia a sua utilização. que apresentam esse tipo de modificação foram
Nesses vestígios, as únicas modificações confeccionados majoritariamente em quartzo,
identificadas são decorrentes da sua associação mas há alguns também em quartzito e poucos
a atividades que envolveram o uso do fogo e nas demais matérias-primas. Outra característica
que, em decorrência de uma ação térmica, desses artefatos é que as modificações decorren-
produziram uma grande quantidade de tes de sua utilização são sempre circunstanciais
fragmentos. Em alguns casos, no entanto, a indicando uma utilização expediente associada à
baixa intensidade da ação térmica à qual esses realização de uma necessidade imediata seguida
blocos foram submetidos fez com eles perma- pelo descarte do artefato.
necessem inteiros, em seu estado bruto, com Outro tipo de modificação produzida
apenas alguns sinais de queima. bastante recorrente nesta coleção envolveu a
A segunda variável melhor representada produção de superfícies alisadas. Essas superfíci-
neste atributo está relacionada aos vestígios es foram identificadas em diversos blocos de
que não sofreram modificação alguma, sendo granito ou em outras matérias-primas ígneas e
apropriados e utilizados no sítio em seu estado metamórficas, normalmente oriundas de blocos.
bruto. Dentre esses vestígios, muitos podem Elas atingem diferentes extensões do bloco e
ter sido efetivamente utilizados na realização de produzem sempre superfícies planas que podem
uma atividade que envolve a interação direta ser horizontais ou inclinadas. Em alguns casos
homem-matéria-prima, mas que foi muito essas superfícies são produzidas em duas faces
efêmera para produzir qualquer tipo de modifi- do bloco gerando superfícies planas paralelas. A
cação ou que realmente não envolve nenhum maioria dos artefatos que apresenta essas modifi-
tipo de modificação. cações se encontra fragmentada em decorrência

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Fig. 4. Gráfico das modificações produzidas no sítio Domingos.

de ação térmica que corta justamente a parte Diferentemente dos vestígios cuja modifi-
polida do bloco. Em função da superficialida- cação envolve a produção de um gume,
de da modificação produzida, de sua localiza- aqueles associados a modificações relacionadas
ção no bloco e com base em referências com atividades que envolvem as ações acima
bibliográficas a interpretamos como decorrên- citadas apresentam marcas de queima bastante
cia do uso associado ao processamento de intensas, apontando assim para uma possível
material vegetal. Ou seja, essa modificação não associação entre esse tipo de atividade e áreas
teria sido produzida previamente a utilização nas quais a utilização do fogo é intensa e
do bloco, mas sim em decorrência desta recorrente (Fig. 5).
utilização. No gráfico 4 há uma série de A partir da caracterização dos procedimen-
variáveis que indicam a presença desse tipo de tos envolvidos na apropriação de cada uma das
modificação que aparecem separadas em diferentes matérias-primas utilizadas no sítio
função da sua associação com outros tipos de Domingos e das técnicas de transformação
modificação. Esse é o caso, por exemplo, da associadas à utilização dos vestígios líticos
variável identificada pelo número 10 – superfí- (Bueno 2006), pudemos identificar tanto
cie alisada e orifício, 12 – superfície alisada indicadores de áreas de atividades diferenciadas
com marcas de queima, 18 – superfície alisada, em uma das camadas de ocupação do sítio
orifício e queima e 22 – superfície alisada e (camada 1c), como indicadores de indústrias
picoteamento. líticas distintas associadas a diferentes camadas
Identificamos ainda outros tipos de modifi- de ocupação do sítio (camadas 1C e 2).
cação em alguns vestígios de diferentes matérias-
primas produzidos pela utilização de vestígios Distribuição do material lítico em estratigrafia
brutos que envolvem sinais de picoteamento, e os indicadores de diferentes ocupações
estrias, orifícios, depressão e às vezes uma
combinação delas. Todas essas modificações Feita essa caracterização geral das matérias-
apontam para a realização de atividades que primas identificadas no sítio, das técnicas de
envolvem ações como amassar, triturar, pilar, apropriação, modificação produzida e dos
percutir e esmagar. vestígios gerados, podemos analisar a distribui-

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Edithe Pereira

Fig. 5. Gráfico de vestígios produzidos no sítio Domingos.

ção estratigráfica dos vestígios no sítio a fim de Tabela 2


procurar averiguar a existência de diferentes Quantidade de vestígio por níveis estratigráficos
camadas de ocupação. no sítio Domingos
Um primeiro aspecto que pode ser
observado diz respeito à distribuição total de Níveis Quantidade de vestígios
vestígios líticos por níveis de escavação. 1A 18
Conforme observamos na Tabela 2, esse tipo 1B 132
de vestígio se concentra na camada 1C, 1C 1811
seguida pela 2 e pela 1D, sendo 1A e 1B 1D 351
muito pouco representadas. A partir dessa 2 664
distribuição podemos levantar duas possibili-
dades: o nível 1C representa a camada de
ocupação associada à ocupação mais intensa No que tange à distribuição das matérias-
do sítio e o fato de haver uma diminuição primas podemos ver uma diferença significati-
drástica da quantidade de vestígios da va entre os níveis 2 e 1C (Figs. 6a e 6b). No
camada 1C para a camada 1D, seguida de nível 2 predomina o quartzito, seguido pelo
um aumento na camada 2 pode indicar que quartzo, representando os dois juntos 82% do
esta última representaria um segundo mo- total de vestígios líticos desse nível, enquanto o
mento de ocupação mais intensa. Ou seja, a granito e outros representam apenas 14%. Já
camada 2 poderia representar o primeiro no nível 1C, a matéria-prima mais representa-
evento de ocupação do sítio, seguido de uma da inclui o conjunto de matérias-primas
diminuição na intensidade da ocupação no designadas pela variável outros, seguida pelo
que se refere à camada 1D e, posteriormente, quartzo, pelo granito e só então pelo quartzito.
uma ocupação mais intensa representada pela Nesse nível a variável outros, junto com granito
camada 1C e depois pelo abandono do sítio. representam 54% do total dos vestígios
Para averiguar essa hipótese é preciso investi- enquanto quartzo e quartzito apenas 39%.
gar a distribuição dos tipos de vestígio, o que Outra diferença entre esses dois níveis diz
faremos exclusivamente para os níveis 1C e 2. respeito à presença de corante e placas de

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óxido de ferro exclusivamente no nível 1C e à lascamento unipolar e no nível 2 o


maior representatividade de fragmentos de lascamento bipolar. Vestígios nos quais
laterita também neste nível. identificamos a utilização combinada entre
Ao contrário do que ocorre com as lascamento e polimento e lascamento uni e
matérias-primas, a distribuição das técnicas bipolar aparecem nos dois níveis e em ambos
de apropriação não apresenta diferenças tão com baixa representatividade.
significativas entre os níveis 1C e 2 (Figuras Quanto às modificações produzidas, há
7a e 7b). Em ambos predominam os vestígios uma inversão entre os níveis 1C e 2 e há no
apropriados de forma bruta (76 e 64 % nível 1C uma variedade de tipos de modifica-
respectivamente). Em seguida a técnica de ção produzida bastante superior àquela
apropriação mais representada é o identificada na camada 2, indicando assim a
lascamento que, no nível 1C, envolve o realização de um número maior de diferentes

Fig. 6a. Gráfico da distribuição das matérias-primas no nível 1C do sítio Domingos.

Fig. 6b. Gráfico da distribuição das matérias-primas no nível 2 do sítio Domingos.

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Lucas Bueno
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Fig. 7a. Gráfico da distribuição das técnicas de transformação no nível 1C do sítio Domingos.

Fig. 7b. Gráfico da distribuição das técnicas de transformação no nível 2 do sítio Domingos.

formas de utilização das matérias-primas líticas com baixa representatividade que incluem, por
(Figs. 8a e 8b). exemplo, a produção de superfícies alisadas, de
No nível 1C predominam as modificações gumes, de superfície planas com orifícios, de
causadas pela ação do fogo, identificadas em picoteamento, polimento, depressão e alterações
61% dos vestígios. Em seguida aparecem os de coloração. Se agruparmos os tipos de modifi-
vestígios com modificação ausente, com 31% e cação em função do tipo de ação relacionada a
a partir daí uma série de outras modificações sua produção, teríamos uma polarização

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Fig. 8a. Gráfico da distribuição das modificações produzidas no nível 1C do sítio Domingos.

Fig. 8b. Gráfico da distribuição das modificações produzidas no nível 2 do sítio Domingos.

evidente, com maior representação das modifica- tação significativa nesse nível e que estão associa-
ções associadas às ações de percutir, esmagar, dos exclusivamente aos vestígios utilizados no
triturar (56%) do que às ações de cortar e processo de lascamento bipolar, especificamente
raspar (44%). percutores (com marcas de picoteamento) e
No nível 2, além de haver um número bem bigornas (com marcas de estrias e orifícios).
menor de tipos de modificações representados, Excluindo esses tipos de modificação, apesar da
diminuem significativamente os vestígios modifi- baixa representatividade, predominam absoluta-
cados pela ação térmica. A maioria dos vestígios mente os vestígios com modificações associadas às
desse nível não indicou nenhum tipo de modifi- atividades de cortar e raspar, estando pratica-
cação, tendo sido apropriados de forma bruta. mente ausentes aqueles associados às atividades
Há dois tipos de modificação com uma represen- de triturar, esmagar ou pilar.

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A distribuição dos vestígios indica também vestígio no nível 2 está super-representada pelos
uma diferença entre os níveis 1C e 2 (Figs. 9a e percutores e bigornas utilizados no lascamento
9b). Apesar de em ambos os níveis predomina- bipolar e posteriormente descartados. O
rem os fragmentos, no nível 1C eles represen- mesmo acontece com os núcleos, que aparecem
tam 71% dos vestígios coletados enquanto no com um porcentual mais elevado no nível 2 do
nível 2 apenas 36%. Essa diferença faz com que que no nível 1C. Já no que diz respeito às lascas,
no nível 2 haja uma representação mais equâni- apesar de serem o tipo de vestígio com menor
me entre os tipos de vestígio do que no nível 1C. representação no nível 2, seu percentual no
Assim, também apesar de nos dois níveis o conjunto dos vestígios é superior ao do nível
segundo tipo de vestígio melhor representado 1C, onde aparecem como o terceiro tipo de
ser o dos artefatos, no nível 2 eles somam 24%, vestígio melhor representado.
enquanto no nível 1C apenas 10%. Cabe A partir desses dados vemos que há diferen-
lembrar aqui que a porcentagem dessa classe de ças significativas entre os níveis principalmente

Fig. 9a. Gráfico da distribuição dos vestígios produzidos no nível 1C do sítio Domingos.

Fig. 9b. Gráfico da distribuição dos vestígios produzidos no nível 2 do sítio Domingos.

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com relação às matérias-primas utilizadas e as processo de produção da cerâmica que


modificações produzidas, mais do que no que diz incluem, além da fabricação de antiplástico
respeito às técnicas utilizadas e os vestígios mineral o processamento e a utilização de
gerados. Dessa maneira, essa composição nos corantes.
permite levantar a hipótese de que cada um O primeiro aspecto a ser observado
desses níveis representa distintas camadas de envolve a distribuição geral dos vestígios pelas
ocupação, embora seja ainda precipitado áreas de escavação (Fig. 10). Para calcular essa
afirmar se as diferenças identificadas estão distribuição somamos o total de vestígios
associadas a ocupações por grupos distintos ou líticos coletados em cada área de escavação e
são decorrentes da realização de diferentes dividimos pela área escavada em m² a fim de
funções em cada período de ocupação. Para obter uma medida que compare não a quanti-
encaminhar essa questão é necessário que se faça dade absoluta de vestígios, mas a densidade
o cruzamento dos atributos a fim de verificar se por m². Utilizamos nesse caso informações
há ou não continuidades na forma de apropria- sobre as escavações realizadas em junho de
ção de cada matéria-prima em específico e, se 2004, setembro de 2004 e agosto de 2005,
possível, caracterizar a cadeia operatória associa- para as quais todos os dados referentes à
da à produção dos poucos artefatos formalmen- quantidade e localização dos vestígios líticos já
te modificados. Além disso, é preciso lembrar foram organizados.
que a hipótese apresentada acima está formula- De acordo com essa distribuição as áreas
da apenas com base na análise do material lítico de escavação com maior densidade de material
e, portanto, pode e deve ser confrontada com as lítico foram respectivamente as seguintes: 35,
informações obtidas com os demais vestígios 26, 47, 25, 29, 28, 36, 43, 58 e 45. Se obser-
presentes no sítio para que possa ser confirmada varmos a distribuição dessas áreas no sítio
ou contestada. veremos que estão localizadas na parte mais
periférica da área trabalhada, distribuídas pelos
Distribuição do material lítico no espaço e os quatro quadrantes do sítio. Já as áreas onde
indicadores de áreas de atividade encontramos a menor densidade de vestígios
foram, em ordem crescente, as seguintes: 61,
Tendo em vista a quantidade, a diversidade 60, 59, 57, 41, 37A, 33, 48, 49, 31 e 10.
e as características associadas aos tipos de Apesar de estarem distribuídas por diversas
modificação identificados no conjunto de áreas do sítio, dentre as áreas de menor
vestígios líticos coletados no nível 1C, procura- densidade há dois dos locais com maior área
mos fazer uma análise de sua distribuição escavada no que seria a parte central do sítio.
espacial no sítio a fim de verificar a possibilida- Cruzando esses dados poderíamos definir uma
de de identificação de áreas de atividade. Há distribuição diferencial no que se refere à
dois aspectos especialmente importantes no densidade de vestígios líticos entre centro
que diz respeito aos tipos de modificação: (densidade baixa) e periferia (densidade alta).
predominância das alterações causadas pelo Como até o momento realizamos a análise
fogo e presença de uma grande variedade de de uma amostra do material lítico do sítio, não
modificações possivelmente associadas ao há como comparar a composição artefatual de
tratamento de matéria-prima vegetal. Esses dois cada uma dessas áreas. No entanto, a amostra
tipos de modificação, principalmente quando analisada engloba tanto porções periféricas
associados, podem indicar a localização de quanto porções centrais do sítio e, dessa
áreas domésticas, nas quais as atividades de maneira, podemos explorar a comparação
processamento de alimentos seriam realizadas. entre elas a fim de avançar na identificação de
Ainda outro conjunto de vestígios que poderia áreas de atividade.
indicar também a realização de atividades Quanto à matéria-prima, predomina nesse
associadas a áreas domésticas estaria represen- nível, em praticamente todas as áreas de escava-
tado por aqueles vestígios que associamos ao ção, a matéria-prima outros, com exceção,

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Fig. 10. Gráfico da densidade de vestígios por área de escavação no nível 1C do sítio Domingos.

principalmente, da área 37 onde predomina o a 58. O polimento aparece em apenas cinco


quartzo. As demais áreas onde isso também áreas de escavação e sempre com baixa
ocorre apresentam poucos vestígios e, portanto, representatividade (Figura 12).
são pouco representativas para a atual discussão Para a distribuição dos vestígios gerados há
(Fig. 11). também a predominância de uma determinada
Entre as técnicas de transformação variável em todas as áreas de escavação que
predomina em todas as áreas de escavação a corresponde aos fragmentos. Excetuando-se
apropriação bruta. A utilização de técnicas de essa variável encontramos uma maior diversida-
lascamento uni e bipolar aparecem melhor de entre as áreas com maior quantidade de
representadas na área de escavação 37, mas vestígios. A área 37 apresenta, por exemplo,
estão presentes também em áreas como a 50 e maior quantidade de lascas, seguidas pelos

Fig. 11. Gráfico de matérias-primas por área de escavação no nível 1C do sítio Domingos.

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Fig. 12. Gráfico das técnicas de transformação por áreas de escavação no nível 1C do sítio Domingos.

vestígios brutos e pelos artefatos, enquanto as Se observarmos a distribuição das modifi-


áreas 50 e 53 apresentam mais artefatos, cações produzidas ainda é uma única variável
seguidos por vestígios brutos e depois pelas que predomina em todas as áreas, a da modifi-
lascas. Já na área 58 predominam os brutos, cação causada pela ação térmica (Fig. 14). A
seguidos pelas lascas e depois pelos artefatos única exceção nesse caso está representada pela
(Fig. 13). área de escavação 37. Se analisarmos a distri-

Fig. 13. Gráfico de vestígios produzidos por área de escavação no nível 1C do sítio Domingos.

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buição das modificações produzidas sem conside- certa homogeneidade entre as áreas de escavação,
rar a queima, predominam em todas as áreas os sempre que há uma discordância, a área que
vestígios sem modificação alguma, que no caso destoa do padrão é a área 37. Entre as demais
específico da escavação 37 chegam a mais de áreas há também pequenas diferenças que
90% . Para a distribuição das modificações parecem estar mais relacionadas a aspectos
associadas aos artefatos encontrados nesse nível quantitativos do que qualitativos, o que de
encontramos uma certa variedade na composi- certa maneira reforça a hipótese de que essas
ção dos conjuntos de cada área. Nas áreas 50 e áreas periféricas possam representar áreas de
58, por exemplo, predominam os artefatos onde atividade doméstica, ou seja, de realização de
houve a produção de superfícies planas e atividades semelhantes que envolvem dessa
alterações térmicas, enquanto na área 37 maneira conjuntos artefatuais semelhantes,
predominam os artefatos nos quais houve a mas distribuídos em proporções distintas
produção de um gume. Já as áreas de escavação devido à composição do grupo doméstico.
52 e 53 apresentam uma boa diversidade de Como já ressaltamos para que as hipóteses
tipos de modificação, todas associadas a ativida- apresentadas acerca tanto da existência de
des que envolvem ações de triturar, esmagar e diferentes camadas de ocupação quanto de
pilar. diferentes áreas de atividade neste sítio sejam
Apesar de ainda preliminares, as informa- testadas, é fundamental que se faça o cruza-
ções acerca da distribuição dos vestígios no mento das informações geradas a partir da
sítio parecem reforçar a hipótese apresentada análise dos vestígios líticos com aquelas
no início deste tópico a respeito da existência oriundas das análises dos demais vestígios
de uma oposição entre centro (representado coletados. O que propusemos aqui é, por
na amostra analisada principalmente pela enquanto, uma interpretação sobre alguns
escavação 37) e periferia (representado pela aspectos associados à ocupação do sítio
maioria das demais áreas de escavação até o Domingos baseada exclusivamente na análise do
momento analisadas e com coleções significativas material lítico e que tem como um dos seus
no nível 1C). Apesar de haver a princípio uma principais objetivos ressaltar a importância e o

Fig. 14. Gráfico de modificações produzidas por área de escavação no nível 1C do sítio Domingos.

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potencial da análise de tais vestígios em contextos lascados, havendo, no entanto, também artefa-
ceramistas. tos polidos e lascados e polidos. Um dado
bastante significativo é o fato de que os artefatos
Artefatos polidos aparecem em todos os níveis, inclusive a
superfície, com exceção apenas do nível 2 e se
Os artefatos encontrados no sítio Domingos concentram no nível 1C. Outro elemento
podem ser agrupados em duas grandes categori- importante de comparação entre os níveis
as: artefatos passivos (que recebem a força envolve os conjuntos que compõem a categoria
aplicada na ação) e artefatos ativos (aqueles de artefatos ativos nos níveis 1C e 2. Enquanto
pelos quais se aplica a força). A partir das no nível 1C predominam os ativos lascados,
variáveis utilizadas para caracterizar as modifica- seguidos pelos ativos brutos, no nível 2 essa
ções produzidas em cada artefato podemos relação se inverte, havendo uma preponderância
separá-los, dentro dessas grandes categorias, em de artefatos ativos brutos sobre os ativos
três conjuntos: artefatos brutos, artefatos lascados.
polidos, artefatos lascados. Os artefatos lascados Mais uma vez, essa diferença na composi-
são sempre ativos, enquanto os polidos e os ção do conjunto de artefatos entre os níveis
brutos podem ser tanto ativos quanto passivos. 1C e 2 reforça a hipótese já apresentada de
Na amostra analisada há um total de 166 que teríamos duas ocupações distintas associa-
artefatos que podem ser assim distribuídos: 56 das a cada uma dessas camadas. Nesse caso,
% são artefatos ativos e 44% passivos. Dos além de diferenças quantitativas há também
ativos, 45% são brutos, 44% lascados, 8% diferenças qualitativas, com a presença da
polidos e 3% polidos e lascados. Dos passivos, utilização de uma técnica de produção de
96% são brutos e 4% polidos. Entre os artefatos em apenas uma das camadas, como é
artefatos brutos ativos estão os percutores o caso do polimento. Por outro lado, a
(usados no lascamento uni e bipolar) e batedo- observação da distribuição das modificações
res (relacionados ao processamento de vege- produzidas que caracterizam o conjunto de
tais), entre os lascados estão as lascas retocadas artefatos passivos e ativos da camada 2 indica
e/ou simplesmente utilizadas e entre os uma certa especialização, com predomínio
polidos e polidos e lascados se encontram as absoluto, entre os artefatos passivos, de
lâminas de machado. Já os artefatos passivos modificações decorrentes do lascamento
incluem as bigornas utilizadas no lascamento bipolar. Ou seja, a grande maioria dos vestígios
bipolar e os suportes para processamento de caracterizados como artefatos na camada 2 está
vegetais (Fig. 15). associada ao lascamento bipolar, constituindo-
Observando a distribuição dessas categori- se predominantemente de bigornas, mas
as e conjuntos em estratigrafia há alguns também de percutores. Assim, apesar de tanto
aspectos que podem ser destacados. O nível 2 a camada 1C quanto a camada 2 compartilha-
é o que apresenta o maior número de artefa- rem, de modo geral, um mesmo padrão de
tos, com a mesma proporção de ativos e apropriação das matérias-primas, há conjuntos
passivos. O nível 1C vem em segundo lugar, de artefatos associados a diferentes atividades
com uma predominância de artefatos ativos que se distribuem de forma diferencial entre as
(35) sobre os passivos (25). Na seqüência camadas, sendo responsáveis pela diferencia-
aparece o nível 1D, com mais ativos (5) que ção destas.
passivos (4) e as camadas 1A, 1B e superfície Quanto ao processo de produção e
com pouquíssimos artefatos. Com relação aos utilização dos artefatos, há poucos elementos
conjuntos, no nível 2 predominam os artefatos que possam ser explorados, a não ser o fato de
brutos, seguidos pelos lascados, com apenas um que só há produção de artefatos polidos,
artefato polido e lascado. No nível 1C a propor- conjunto este composto essencialmente por
ção entre as categorias é mais equilibrada, mas lâminas de machado, dentre os artefatos da
continuam a prevalecer os brutos, seguidos pelos camada 1C. Entre essas lâminas de machado

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Fig. 15. Prancha com artefatos brutos passivos, com superfícies alisadas e orifício.

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predominam as de formato retangular, produ- do aos vestígios inseridos na camada 2 e o


zidas por picoteamento e polimento, mas há segundo aos vestígios da camada 1C.
também lâminas com ombro (ou orelha) A ocupação da camada 2 apresenta como
finamente polidas. características principais (em termos de
Dentre os artefatos lascados, predomina composição absoluta e comparativamente à
uma exploração totalmente expediente de camada 1C) uma alta freqüência de utilização
lascas total ou parcialmente corticais. Pratica- das matérias-primas quartzo e quartzito, de
mente não há retoques, utilizando-se um ou preferência na forma de seixo ou nódulo,
mais bordos da lasca como gume, ao qual, apropriados através do lascamento, seja ele
normalmente se opõe um bordo mais espesso uni ou bipolar. Quanto aos artefatos, apesar
ou também cortical que serve para preensão. de a proporção entre ativos e passivos ser a
Todos os artefatos lascados parecem ter sido mesma, para ambas as categorias predomina
utilizados por preensão direta, não havendo o conjunto de artefatos brutos, ou seja,
em nenhum caso indícios de encabamento mesmo entre os artefatos ativos a grande
para tais artefatos. maioria foi utilizada sem modificação prévia.
Com relação à distribuição dessas categori- Dentre aqueles que foram modificados para
as (ativo e passivo) e conjuntos (bruto, lascado serem utilizados, praticamente só há artefatos
e polido) na camada 1C, os únicos setores de lascados nos quais se aproveitou um gume
escavação onde predominam os artefatos bruto da lasca. Mas o conjunto de vestígios
passivos sobre os ativos são 50 e 58; nos mais característico dessa camada engloba os
setores 37, 47, 52 e 53, ambas as categorias artefatos utilizados no lascamento bipolar –
estão presentes, mas prevalecem os ativos percutor e bigorna. Esses vestígios são caracte-
sobre os passivos; enquanto nos setores 45, rísticos não só pela sua quantidade (em
51, trincheira A e trincheira B estão presentes termos proporcionais no conjunto de vestígi-
apenas os artefatos ativos. os dessa camada), mas também pela sua
localização e disposição espacial – encontran-
do-se na maioria associados entre si, forman-
Processo de formação do sítio Domingos: do um grande conjunto de seixos numa área
hipótese preliminar específica do sítio.
Uma característica bastante peculiar desse
A partir da caracterização tecnológica do conjunto envolve o fato de muitos dos seixos
conjunto de vestígios líticos encontrado no utilizados como núcleos, percutores ou
sítio Domingos e de sua distribuição espacial, bigornas, serem de um quartzito grosseiro que se
podemos levantar uma hipótese preliminar mostra com uma baixa aptidão ao lascamento,
sobre o processo de formação deste sítio. em decorrência do que muitos desses seixos se
Essa hipótese, por sua vez, pode e deve ser encontram fragmentados ou com pouquíssimos
testada com a continuidade dos trabalhos de negativos de lascamento. No entanto, em meio
análise do material lítico e, principalmente, a esses seixos de matéria-prima de baixa
com o cruzamento dos dados oriundos das qualidade, há alguns exemplares de quartzo e
análises realizadas para os demais vestígios mesmo de quartzito que se mostram mais
encontrados no sítio. Outro elemento aptos ao lascamento e que, nesses casos,
fundamental para o teste dessa hipótese produzem um número maior de lascas
envolve a obtenção de um conjunto de datas aproveitáveis. Já os seixos cuja matéria-prima é
associadas a diferentes locais e diferentes um pouco melhor (apesar de ainda ser quartzo
camadas estratigráficas. ou quartzito) a técnica utilizada para obtenção
Segundo vimos, há dentre o material lítico das lascas é a unipolar.
estudado evidências contundentes para Dessa maneira, vemos que os artesãos que
distinção de, ao menos, dois momentos de estavam lascando esses seixos detinham o
ocupação deste sítio, o primeiro deles associa- conhecimento dos gestos e procedimentos

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técnicos para efetuar tanto um lascamento origem do sedimento correspondente a camada


unipolar quanto bipolar e que escolhiam qual 1D e sua possível relação com eventos de cheia do
dos dois procedimentos utilizar em função da rio que, por sua vez, poderiam ajudar a estimar
qualidade da matéria-prima em termos de um tempo mínimo de duração para formação
resposta ao lascamento. No entanto, dentre os desse pacote sedimentar.
vestígios produzidos através de qualquer uma Transcorrido esse período teria tido início
das técnicas, não há evidências de uma explora- a ocupação associada aos vestígios encontrados
ção intensa dos núcleos ou de um preparo na camada 1C. Não há ainda como avaliar o
deste com vistas à obtenção de um produto início desse processo e se os vestígios da camada
específico. Isso é corroborado pelas próprias 1D corresponderiam a um momento inicial
características dos artefatos, compostos por dessa ocupação ou ao soterramento dos
lascas ainda com superfície cortical, nas quais vestígios pela simples ação de pisoteio e circula-
houve o aproveitamento de um gume sem a ção. Além disso, mesmo as diferentes áreas do
necessidade de realização de retoques. sítio associadas à camada 1C podem ter
Nesse sentido, podemos pensar que os datações diferentes, indicando modificações na
vestígios associados à camada 2 indicam uma estrutura de ocupação espacial do sítio, com o
ocupação deste sítio voltada especialmente para crescimento da população envolvida nesse
exploração dos seixos, cuja fonte seria o leito processo ou a modificação e alternância entre
do rio Parauapebas, a pouco mais de cem áreas de habitação e de circulação pública.
metros de distância de onde o sítio se encontra De qualquer forma a caracterização e
atualmente. Há ainda evidências na porção distribuição espacial dos vestígios líticos
mais a oeste do sítio (especificamente setor de indicam a existência de uma ordenação no
escavação 31) de que o rio Parauapebas processo de utilização do espaço, com áreas
estivesse ainda mais próximo ao sítio do que se diferenciadas para realização de determina-
encontra atualmente, levantando assim a das atividades. Assim, pudemos esboçar uma
possibilidade de que neste momento o sítio oposição entre centro e periferia, sendo o
fosse utilizado como fonte de matéria-prima. Os primeiro caracterizado por uma baixa
seixos seriam obtidos no local e lascados para densidade de vestígios em geral e de vestígios
obtenção de lascas com gume cortante, dentre possivelmente associados a atividades envol-
as quais algumas seriam utilizadas no próprio vendo o uso do fogo, processamento de
sítio e outras possivelmente transportadas para vegetais e produção cerâmica; atividades estas
outros locais. Nesse caso, o conjunto de seixos melhor representadas nos setores de escava-
identificados no setor de escavação 37 seria o ção localizados no que consideramos como
refugo do lascamento, correspondendo a uma periferia do sítio.
área de descarte de seixos lascados e testados Além disso, a presença de uma maior
para verificação da qualidade da matéria-prima variedade de matérias-primas utilizadas e de
e obtenção de poucas lascas. formas de apropriação e modificação dessas
Em função da quantidade e dispersão do matérias-primas aponta para uma diversifica-
material lítico nessa camada o sítio não deve ter ção das atividades realizadas, incluindo explora-
sido ocupado intensamente, sendo fruto de ção de fontes de matéria-prima diversificadas e
incursões ocasionais. Após o seu abandono produção de artefatos polidos, como macha-
houve acúmulo de sedimento provavelmente dos, in situ. A presença de uma série de artefa-
por ocasiões de cheia intensa do rio, formando tos brutos ativos e passivos aponta ainda para o
uma camada de areia com espessura variável incremento das atividades associadas ao
que, na estratigrafia do sítio corresponde à processamento vegetal, fato este que pode ser
camada 1D. Enquanto se aguarda o resultado corroborado também pela formação de um
de datações absolutas tanto para a camada 2 espesso pacote de terra preta em algumas áreas
quanto para a 1C, talvez um estudo mais específi- do sítio, certamente envolvendo um acúmulo
co de micromorfologia pudesse identificar a intenso de matéria orgânica.

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Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 99-126, 2007.

Ainda um aspecto associado ao processo


de formação desse sítio que pode ser inferido
pela análise do material lítico envolve a
cobertura vegetal durante sua ocupação. Em
função da quantidade, tamanho e peso dos
machados e das características de seus gumes,
podemos dizer que sua utilização não deve ter
sido intensa e esteve associada à retirada de
árvores de pequena espessura. Essas caracterís-
ticas associadas às evidências de um uso
intenso do fogo, levantam a possibilidade de
que a área na qual o sítio foi estabelecido
tenha sido “aberta” principalmente através da
queimada da vegetação ali presente e que esta
vegetação provavelmente já seria de origem
secundária, contando com a presença de
árvores não muito grandes e espessas, caracte-
rísticas da capoeira.
Outro aspecto que pode ser inferido pelas
características dos machados envolve a existên-
cia de uma possível diferenciação social e
utilização desse artefato como indicador de
status. Há entre os machados com e sem sinal
de uso uma diferença muito marcante no que
diz respeito ao grau de acabamento e à produ-
ção de um efeito estético. Enquanto os macha-
dos utilizados apresentam áreas picoteadas,
polimento superficial e gumes não muito
simétricos, os machados sem marcas de utiliza-
ção estão totalmente polidos, são perfeitamente
simétricos e confeccionados em outras matérias-
primas; um deles, aliás, foi encontrado junto a
um dos sepultamentos e apresenta dimensões Fig. 16. Prancha com lâminas de machado polidas e
por demais reduzidas para que pudesse ser sem marcas de uso. A lâmina da foto do meio foi
utilizado (Figs. 16 e 17). encontrada junto a uma urna.
No que se refere ao que denominamos
como “área periférica”, esta não pôde ser Assim como o início da ocupação, seu
ainda muito bem compreendida no sentido de término também é de difícil caracterização.
definir com mais clareza os limites e, possivel- Aparentemente, a parte principal da ocupa-
mente o número de unidades habitacionais a ção se encontra na camada 1C, sendo as
fim de identificar uma possível forma para a camadas 1B e 1A formadas após o abandono
estruturação do espaço interno do sítio. Com do sítio. No entanto, como sugerimos para a
isso não nos é possível ainda caracterizar o camada 1D, as camadas 1B e 1A podem
processo de formação do sítio relacionado à também corresponder a um processo de
dinâmica de ocupação correspondente a essa abandono gradual, com a diminuição no
camada 1C. Esse aspecto, no entanto, certamen- tamanho da população envolvida e, conse-
te poderá ser melhor discutido com a inserção qüentemente, diminuição na freqüência das
dos dados oriundos da análise cerâmica e da atividades realizadas e na quantidade de
distribuição dos enterramentos. vestígios materiais gerados.

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Lucas Bueno
Edithe Pereira

atividades que estavam sendo realizadas no sítio,


além da possibilidade de ele compreender mais de
uma camada de ocupação. A partir dessa
contextualização, novos problemas surgiram e
apontam para a necessidade da continuidade dos
trabalhos.

A(s) ocupação(ões) do sítio Domingos

No caso específico do sítio Domingos, os


dados levantados apontam não só para a
necessidade, mas também para a relevância da
continuidade dos trabalhos de análise dessa
coleção para que se compreenda de forma
mais detalhada o processo de formação desse
sítio. Essa continuidade envolve tanto traba-
lhos de laboratório quanto de escavação. Esse
último ponto é fundamental principalmente
para o encaminhamento da questão associada
à existência de duas ocupações no sítio Domin-
gos. Para averiguar a relevância dessa hipótese é
necessário que se façam novas escavações em
diferentes áreas, talvez até para além do limite
definido pela distribuição espacial dos vestígios
associados à camada 1 (1A, 1B, 1C e 1D), que
se amplie a profundidade de áreas já escavadas,
que se obtenha uma amostra maior de material
lítico associado a essa camada e, principalmen-
te, que se obtenham amostras de carvão ou
lítico queimado que possam ser datadas. Na
ausência de tais amostras, seria interessante
realizar um estudo de micromorfologia a fim
de entendermos um pouco melhor o processo
de deposição associado à camada 1D, que
corresponderia ao intervalo das duas ocupa-
ções identificadas no sítio.
Com relação aos trabalhos de laboratório,
o teste da hipótese levantada acerca da existên-
Fig. 17. Prancha com lâminas de machado picoteadas,
com polimento restrito ao gume e com marcas de cia de uma oposição entre centro e periferia faz
utilização. com que seja necessário complementar a
análise do material coletado, trabalhando com
Conclusão: potencialidades e perspectivas o total de vestígios identificados em cada área
de escavação. Esse procedimento, aliado ao
Conforme apresentado, com a metodologia cruzamento de dados oriundos das análises dos
proposta e a amostra selecionada foi possível demais tipos de vestígio encontrados no sítio
caracterizar a indústria lítica do sítio Domingos e Domingos, pode fornecer elementos mais
dessa maneira fornecer elementos para estabelecer consistentes para compreensão e caracterização
uma comparação com outros contextos da região e das diferentes atividades realizadas no sítio e sua
levantar hipóteses a respeito dos tipos e locais das distribuição espacial.

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Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.
Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 99-126, 2007.

Com relação a esse ponto, é preciso reforçar de alteração química ou física identificável no
que um dos principais fatores que possibilitaram registro arqueológico. De qualquer maneira,
investigar esse tipo de informação foi a metodologia esse tipo de atividade compõe aquilo que
de campo adotada para escavação do sítio. O podemos denominar de Economia de Matéria-
cruzamento de dados oriundos da aplicação de Prima, o que envolve o conjunto das estratégi-
métodos geofísicos e da realização de tradagens, as utilizadas para obter, gerir e utilizar um tipo
utilizados para orientar a localização das áreas de recurso específico – matéria-prima lítica.
de escavação, as quais tiveram, na maioria das Neste sentido, ao invés de simplesmente
vezes, sua extensão definida pelas características descartar tanto no próprio sítio quanto em
distribucionais e relacionais dos vestígios possibi- laboratório os vestígios brutos, é importante
litou não só a investigação de diferentes áreas do atentar para aspectos como matéria-prima,
sítio, como a caracterização detalhada do dimensões, grau de preservação, presença/
conjunto artefatual presente em cada um desses intensidade de alterações de superfície, tipo de
locais, que, por sua vez, constituem-se num suporte e, principalmente, localização.
importante vetor de informação sobre a nature- No que se refere aos estudos de tecnologia
za das atividades aí realizadas. lítica de maneira geral, um dos principais
aspectos que pode ser aprofundado com a
O material lítico no âmbito dos estudos de continuidade dos trabalhos com o material
tecnologia lítica lítico do sítio Domingos envolve a realização
de experimentações com matérias-primas dessa
Um primeiro ponto que pode ser levanta- região a serem utilizadas em atividades possivel-
do diz respeito à composição da amostra e à mente associadas às marcas de uso identificadas,
importância de a análise contemplar todo o quer dizer, atividades de processamento de
conjunto de vestígios. Como vimos para o sítio vegetais. Isso poderia ser realizado por alunos e
Domingos, grande parte do material lítico estagiários do Museu Emílio Goeldi e certa-
presente no sítio foi apropriada de forma mente traria uma grande contribuição não só
bruta, sendo que uma grande parte destes para um melhor entendimento do sítio
vestígios brutos apresentam marcas de queima Domingos como também para os estudos de
com intensidades variadas, que vão desde a tecnologia lítica em geral. Este é, aliás, um
presença de algumas cúpulas térmicas e ponto para o qual convergem as indústrias
mudança de coloração até a fragmentação por líticas de sítios cerâmicos e as indústrias líticas
completo, o que já foi ressaltado por outros sambaquieiras, ambas ainda muito pouco
pesquisadores em sítios cerâmicos na Amazô- estudadas e compreendidas no âmbito da
nia (Costa 2002). Isso aponta para um Arqueologia Brasileira.
aspecto importante e particular destes contex- Além disso, a questão da utilização de
tos que traz informações a respeito da princi- certas matérias-primas líticas para produção de
pal utilização do material lítico: organizar, tempero mineral utilizado como antiplástico na
definir e delimitar espaços. Apesar de não produção cerâmica precisa ser investigada de
haver construções de grande porte realizadas forma mais detalhada e aponta para uma
com a utilização da pedra, nestes contextos a ampliação do leque de utilizações e atividades
maioria dos vestígios líticos são procurados e às quais o material lítico pode estar associado
obtidos no entorno imediato do sítio, trazidos em ocupações ceramistas.
para o sítio e utilizados para construção de Outro ponto importante e que pode ser
estruturas de combustão que servem a diferen- explorado envolve a produção de lâminas de
tes propósitos e que, por conseguinte, têm machado com diferentes formas e segundo
diferentes composições. Além disso, esses diferentes cadeias operatórias. No sítio Domin-
mesmos vestígios podem ser utilizados como gos há tanto lâminas de contorno trapezoidal,
uma espécie de mobília no desempenho de quanto lâminas retangulares e com orelhas e,
outras tarefas, que não causam nenhum tipo ao mesmo tempo, há lâminas que foram feitas

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Lucas Bueno
Edithe Pereira

para serem utilizadas (as quais apresentam um Esse último ponto pode ainda ser realçado se
acabamento menos refinado) e lâminas que não pensarmos na especificidade da utilização dessa
parecem ter sido confeccionadas para utilização técnica no contexto da serra dos Carajás, uma vez
(as quais estão fina e cuidadosamente polidas, que a indústria lítica encontrada nos abrigos da
sem nenhuma evidencia de uso). serra dos Carajás e associada a contextos de
Por fim, a relação entre técnicas de lascamento ocupação de caçadores-coletores que remontam a
uni e bipolar há muito vem sendo debatida no mais de 9.000 AP é caracterizada justamente pelo
âmbito da Arqueologia Brasileira embora pouco lascamento uni e bipolar de cristais de quartzo
ainda se conheça efetivamente sobre o assunto (Hilbert 1989; Magalhães 1994), os quais apare-
(Prous 1986/90; Prous 2004; Prous e Lima cem também no sítio Domingos, embora em baixa
1986/90). Nesse sentido, efetuar uma descrição freqüência. Nesse sentido, estudar essa técnica de
mais detalhada das cadeias operatórias presentes apropriação em relação com as matérias-primas
neste sítio no que se refere aos vestígios nos quais nas quais ela é utilizada é uma questão bastante
identificamos a associação de ambas as técnicas importante e que pode contribuir de maneira
certamente viria a contribuir de modo significativo significativa no entendimento do processo de
para as discussões relacionadas à tecnologia lítica. ocupação de longa duração dessa região.

BUENO, L.; PEREIRA, E. Lithic assemblages in Amazonian ceramic sites: a case


study of Domingos site, Canaã dos Carajás, Pará. Revista do Museu de Arqueologia e
Etnologia, São Paulo, 17: 99-126, 2007.

Abstract: This paper presents the results of the study of a lithic assemblage
collected during the archaeological excavations realized by the “Programa de
Arqueologia Preventiva na Área de Mineração Serra do Sossego”. The lithic
analysis focused the collection formed during the excavations of the Domingos
site. These excavations happened in different periods from 2003 to 2005. The
objectives of this analysis involved the identification of raw materials, the
characterization of each process of appropriation, the definition of indexes of
activity areas by the characterization of the type of modifications produced in
the artifacts and the spatial distribution of the remains in the stratigraphy to
investigate the existence of more than one occupation of the Domingos site.
From the results of the technological analysis and the distribution of the lithic
remains intra-site, we present a hypothesis on the site formation processes and
show the great potential of the study of lithic technology in ceramist contexts.

Keywords: Lithic technology – Ceramic site – Activity area – Site forma-


tion processes.

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Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.
Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 99-126, 2007.

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Recebido para publicação em 25 de outubro de 2007.

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