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Materialize: Acervo Físico e Digital de Materiais da FAU-USP

Article · July 2017


DOI: 10.11606/issn.2525-376X.v2i2p13-21

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2 authors:

Cristiane Bertoldi Denise Dantas


University of São Paulo University of São Paulo
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Rev. Grad. USP, vol. 2, n. 2, jun 2017

Materialize: Acervo Físico e Digital de Materiais


da FAU-USP

Cristiane Aun Bertoldi* e Denise Dantas*


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
* Autoras para correspondência: craun@usp.br; dedantas@usp.br

RESUMO
Materialize é o acervo de materiais criado para auxiliar disciplinas dos cursos Design e Arquitetura e Urbanismo
da FAU-USP, que contou com a parceria do Materiali e Design, coordenado pela Profa Dra Bárbara Del Curto,
do Istituto Politecnico di Milano, e foi beneficiado por financiamento da Pró-Reitoria de Graduação da USP.
Esse acervo digital poderá ser consultado on-line por docentes, alunos e pesquisadores, em plataforma aberta,
com acesso irrestrito. Apresenta informações sobre características, qualidades e propriedades das amostras de
materiais presentes no acervo, sua utilização, processos de transformação e fornecedores brasileiros. O acervo
físico poderá ser consultado no LabDesign na FAU-USP, mediante agendamento.
Palavras-chave: Design de Produto; Materioteca; Material; Acervo; Material Didático.

ABSTRACT
Materialize is the materials collection designed to support disciplines of the design course and the architecture
and urbanism course at FAU-USP, which had a partnership with the Materiali and Design, coordinated by
Barbara Del Curto, PhD of the Istituto Politecnico di Milano. This project received funding from the Pró-Reitoria
de Graduação of USP. Teachers, students and researchers can visit this digital collection online with an open
platform, and unrestricted access. The collection has information on the characteristics, qualities and features
of the material samples, their use, the productive processes and the Brazilian suppliers. The physical materials
collection can be consulted at LabDesign at FAU-USP, by appointment.
Keywords: Product Design; Materials Collection; Materials; Collection; Didactic Material.

Introdução dimensões sintática semântica, simbólica e pragmá-


O pioneiro trabalho de Ashby e Johnson (2005, tica, com a finalidade de orientação para a seleção
2009, 2010) aponta que os materiais possuem de materiais em projetos.
características e propriedades que perpassam dife- As qualidades vinculadas à percepção senso-
rentes níveis de qualidades. Existem as tangíveis e rial dependem da estrutura da fisiologia humana
mensuráveis por instrumentos e por isso servem de e, apesar de detectáveis por instrumentos, têm no
indicadores do comportamento e desempenho dos próprio homem seu melhor mediador e se relacio-
materiais e objetivamente se prestam à orientação nam com os órgãos dos sentidos, incluindo visão,
em especificações em projeto. Relacionam-se às tato, olfato, audição e paladar. A identificação de
propriedades físico-químicas e se situam nos domí- adequação de tais características materiais em um
nios da engenharia dos materiais. Outras qualida- projeto muitas vezes se dá por comparação entre
des dos materiais apontadas pelo autor englobam partes de um conjunto dado. As qualidades visu-
assuntos próprios do campo do Design que são ais dos materiais e de seus acabamentos superfi-
trabalhados ao longo da formação de estudantes de ciais englobam a variação cromática, com matizes,
graduação em Design, e abarcam conhecimentos luminosidade e saturações distintas, as proprieda-
sobre fisiologia humana ligados à percepção sen- des ópticas na variação entre transparência, trans-
sorial e conhecimentos sobre linguagem nas suas lucidez e opacidade, as características superficiais
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Materialize: Acervo Físico e Digital de Materiais da FAU-USP

variando de brilhante, acetinado, fosco, metalizado, Design e arquitetura. Ainda se ressalta a oportu-
fluorescente, furta-cor e outras. Pelo tato, existem nidade de os usuários entrarem em contato dire-
as sensações de toque macio ou duro, seco e áspero to com as amostras desse acervo, pois a maneira
ou sedoso acetinado, de quente e frio, de áspero, como estão organizadas em um mesmo lugar e as
liso, rugoso, a percepção de texturas, de relevos, de possibilidades de serem dispostas lado a lado de
peso ou leveza, de densidade, de rigidez e de ma- uma só vez permitem a comparação entre elas a
leabilidade. Pela audição, aspectos de som trazem fim de realizar-se a seleção de materiais para o pro-
variações que abrangem do metálico e estridente jeto. Essa atividade de embate direto com materiais
ao grave, abafado. Quanto aos sabores e odores, diversos é vital para a construção de repertório do
suas variações podem aparecer em gradações ge- aluno, para o desenvolvimento de linguagens para
neralizadas, tais como: fortes, moderados, nulos ou novos produtos, para a criação de novas interações
agradáveis/desagradáveis, ou podem espraiar em com artefatos projetados por meio da especificação
variações mais detalhadas cujos parâmetros muitas de determinado material.
vezes misturam sensações para identificar o perce- Este artigo apresenta o projeto Materialize:
bido: cheiros adocicados, gostos metálicos etc. acervo físico e digital de materiais da FAU-USP,
Outras qualidades materiais identificadas por idealizado para fornecer informações importantes
Ashby e Johnson (2005, 2009, 2010) e aprofunda- para práticas projetuais nos cursos de Design e de
das na obra seminal de Manzini (2009) são aquelas Arquitetura da instituição, permitindo a realização
relativas às construções culturais, organizadas por de consultas em tempo real e a utilização do site
estruturas simbólicas, de representação. Referem- durante as aulas de projeto e tecnologia.
-se a conhecimentos próprios de comportamento Possuir um acervo próprio para uso no ensino de
humano e psicologia e têm somente no homem o projeto amplia a capacidade de pesquisa. A parceria
instrumento mensurador e avaliador. Aqui, o sen- com o Istituto Politecnico di Milano possibilitou
tido de adequação das características materiais em contar com a expertise de seus docentes, a troca
projeto articula-se à intenção da mensagem que se de informações e ainda a autorização para uso e
pretende passar, exigindo domínio da linguagem. ampliação do sistema de classificação decimal de
Considerar um material barato, vulgar, ou luxuoso materiais desenvolvido por eles para adequação
e sofisticado faz parte dessa construção simbólica. a necessidades dos dois cursos de graduação da
Para isso, existe toda uma gama de variações de FAU-USP.
juízo acerca de um material, e, por fazerem parte No cenário brasileiro de ensino superior em
das estruturas culturais, os valores são incrementais Design existem outras pesquisas semelhantes vin-
e alteráveis ao longo do tempo. culadas a cursos de graduação, como, por exem-
Foi nesse cenário de conhecimentos exigidos plo, a materioteca da Feevale, no Rio Grande do
pelo campo do Design sobre propriedades físico- Sul, e a i-Matéria, vinculada à Unisinos. No âmbito
-químicas, percepção sensorial e linguagem que o internacional temos diversas iniciativas educa-
projeto Materialize se pautou. Os dados disponíveis cionais, como o Materiali e Design, do Istituto
nesse acervo digital e físico sobre materiais comtem- Politecnico di Milano, o Centre MAS – Matériaux
plam os de ordem físico-química, que também se Assemblages Systèmes (Matériauthèque), vincu-
encontram em catálogos de fornecedores de amplo lado às graduações em Design e Arquitetura da
acesso a qualquer usuário. Como diferencial desse Universidade de Montreal, a Matériauthèque da
site, estão as informações sobre as possibilidades École National Supérieure D’Architecture Paris-Val
de transformação de cada material, informações De Siene e a materioteca da École Nationale
sobre impactos ambientais e principalmente Supérieure de Création Industrielle Les Ateliers, es-
as características ligadas às qualidades sensoriais e tas duas últimas em Paris (França), utilizadas para
de caráter interpretativo, vitais para o projeto em desenvolver workshops para os alunos nos ateliês da
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escola. Existem também importantes websites para cinza, presentes em sua arquitetura. A estrutura
consulta on-line com acesso restrito a associados do site também buscou manter essa identidade, de
e assinantes, como a norte-americana Material modo a reforçá-la. A identidade visual foi criada
Connexion e a francesa MateriO, com foco em ino- por Thabata Fernanda Oliveira, estagiária do pro-
vação. De acesso gratuito, existem o MateriaBrasil, jeto, sob supervisão das autoras.
com foco em produtos sustentáveis, a Polimérica e Na etapa inicial do processo, foi necessário que
Materioteca, ambas iniciativas italianas, e ainda a se fizessem a coleta e o tratamento de informações
Matweb, com informações técnicas sobre mais de referentes ao conteúdo de conhecimentos sobre
42 mil materiais. Muitos dos exemplos citados, en- materiais e processos, tomando-se como base ter-
tretanto, têm foco na engenharia de materiais e não mos utilizados no sistema de classificação decimal
apresentam os dados de modo adequado para sua de materiais desenvolvido pelo Materiali e Design
aplicação em projetos de Design e Arquitetura. A do Politecnico di Milano. Esse sistema foi apresen-
grande maioria dos materiais inovadores encontra- tado em italiano, e parte do conteúdo foi traduzida
dos em acervos digitais estrangeiros revela-se muito para o inglês. Foi necessário realizar a tradução dos
inspiradora quanto ao potencial de uso, mas não termos restantes do italiano para o inglês e depois
é possível encontrar seus fornecedores no Brasil, de todos os termos para o português. Para isso, foi
inviabilizando a especificação em projetos, já que utilizada uma bibliografia de apoio sobre materiais
implicam a importação de amostras. e processos para Design, com destaque para o livro
Assim, o acervo Materialize surge para auxi- de Ashy que possui versões nas três línguas: Ashby
liar disciplinas práticas, procurando dar acesso e Johnson (2009) – versão em inglês; Ashby e John-
a informações necessárias para o projeto em ar- son (2005) – versão em italiano; e Ashby e Johnson
quitetura e em design, nos seus vários segmen- (2010) – versão em português. Outros livros foram
tos, projeto de produto, design de embalagens e consultados: Lima (2006), Lesko (2004), Bann
projeto gráfico. (2010) e Rossi Filho (2001). Essa etapa contou com
a colaboração da professora Cyntia dos Santos
Desenvolvimento Malaguti de Souza e do estagiário Lucas Marques
A concepção e a implantação do projeto podem Otsuka, além das autoras deste artigo.
ser divididas em quatro eixos principais: A seleção de fornecedores de amostras de ma-
1. A criação da identidade visual do projeto e teriais foi feita a partir de critérios estabelecidos
sua aplicação no site; pela equipe, para garantir que não fossem adqui-
2. Pesquisa sobre informações técnicas ridos materiais relacionados àqueles em extinção
de materiais e compatibilização de ou em risco de extinção, a menos que fossem
terminologia técnica em três línguas; provenientes de fornecedores com certificado de
3. Critérios para seleção de amostras; manejo sustentável, assim como para assegurar
4. Procedimentos para contato com fornece- que não fossem materiais perigosos, tóxicos, ile-
dores e recepção das doações. gais, perecíveis, valiosos ou caros (o que tornaria
Cada uma das etapas listadas foi de funda- o acervo vulnerável a roubos), acondicionados na
mental importância para que o projeto mantivesse forma líquida (pois muitos produtos líquidos são
uma unidade. perecíveis e podem ser combustíveis e inflamá-
A identidade visual do projeto é parte veis, principalmente tintas e vernizes). Também
imprescindível para que este se torne conheci- se considerou inadequada a aquisição de produtos
do no meio das escolas de design e também dos acabados, como objetos ou sistemas estruturais fe-
profissionais de São Paulo. Procurou-se criar uma chados, tais como, por exemplo, sistemas de pisos
marca que mantivesse vínculo com a instituição elevados ou embalagens metálicas já configuradas.
FAU-USP optando-se pelo uso das cores ocre e Isso foi observado para atender às especificidades
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Materialize: Acervo Físico e Digital de Materiais da FAU-USP

Figura 1 – Página principal do site Materialize.

do projeto, que tem como objetivo apresentar em regiões mais próximas de São Paulo para facili-
materiais para uso em projetos e não materiais já tar a expedição e viabilizar a implantação do projeto
conformados ou já aplicados em sistemas prontos. piloto, que não contava com verba para coleta de
Outro critério relevante relacionava-se à quantidade amostras ou para pagamento pelo transporte.
máxima de amostras de determinado tipo de ma- Foram necessárias também a definição e a
terial, pois não se pretende abrigar coleções e sim geração de um protocolo de condutas de abor-
exemplos expressivos e significativos, no que tange dagem durante o contato com empresas para
às qualidades sensoriais em função da cor, textura, a solicitação de doação de amostras, a partir da
superfície, propriedades ópticas e decoração/padrão. padronização da sequência de procedimentos
Para esses critérios sensoriais, decidiu-se, quanto usados na interlocução com cada empresa em
à cor, que as amostras poderiam variar em preto, questão. Padronizou-se também o recebimento e a
branco, cinza médio, cor saturada quente, cor satura- conferência das amostras, assim como da carta de
da fria, cor insaturada clara e insaturada escura. Em doação em conformidade com o conteúdo doado,
relação à textura, foram considerados: liso, baixo re- para garantia de controle de fluxo de recebimento,
levo, alto relevo e relevo cavado. Quanto à aparência para registro das informações em acordo seguido
de sua superfície, valeram os seguintes critérios: de arquivamento da carta de doação, ou para a
brilhante, acetinada, fosca, iridescente/furta-cor, realização de novo contato para solicitação de da-
metalizada. Quanto às propriedades ópticas: opa- dos faltantes. Esses procedimentos tornaram-se im-
ca, translúcida, transparente. E quanto à decoração portantes para que todo o processo fosse padronizado
padrão: liso, listrado, geométrico, figurativo realista, e cumprisse as exigências da legislação brasileira para
figurativo estilizado e abstrato/manchado. Esses cri- doações à universidade pública naquele momento.
térios auxiliaram a buscar amostras que possuíssem Atualmente, o acervo conta com 640 amostras, rece-
variedade em cada um deles, tentando estabelecer bidas de sete fornecedores brasileiros.
múltiplas percepções para os estudantes.
As pesquisadoras responsáveis pelo projeto de- Configuração da Base de Dados Centrada
finiram procedimentos de busca de fornecedores na Prática Projetual
de amostras, tornando possível a geração de uma lis- A configuração da base de dados considerou
ta de possíveis empresas localizadas preferivelmente sistemas de busca mais intuitivos e adequados
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às práticas projetuais de designers e arquitetos, a a busca como o resultado sejam mais facilmente
partir das recomendações de Campos e Dantas identificados quanto à categoria a ele associada.
(2008a). O sistema de classificação decimal de ma- Cada amostra de material inserido no sistema
teriais utilizado para o Materialize é o empregado é classificada conforme o sistema decimal descrito
pelo Materiali e Design (Politecnico di Milano), anteriormente e, a partir dessa classificação, para
porque tem quinze anos de existência e aplicação, cada material é gerado um número. A padronização
e foi testado e implantado em um ambiente acadê- da apresentação dos materiais aos usuários se dá
mico. Além disso, por esse sistema utilizado seguir por uma ficha catalográfica que contém: nome do
uma classificação decimal, possibilita a inclusão material, classificação, número de catalogação para
de novas subcategorias, permitindo maior especi- a localização da amostra no acervo físico, ícone de
ficidade na inserção dos dados sobre materiais e apresentação formal da amostra, até cinco imagens
ampliação conforme necessário. da amostra, texto explicativo contendo suas carac-
O sistema original conta com as seguintes cate- terísticas físicas e perceptivas, ano de obtenção da
gorias: metais, cerâmicas, materiais naturais, com- amostra, usos mais frequentes, além de informações
pósitos, polímeros, materiais estratificados, têxteis, técnicas fornecidas pelo fabricante ou pela literatura
materiais reciclados, materiais funcionais/inteligen- técnica especializada. Também se indica o fornece-
tes, tintas e vernizes. Ao ser analisado mais atenta- dor da amostra com link para seu website.
mente para adoção, verificou-se que esse sistema As imagens das amostras disponibilizadas no
não estava plenamente adequado às necessidades sistema foram feitas no FotoFAU. Foi necessário
da FAU-USP, pois algumas categorias de materiais estabelecer critérios para esse registro fotográfico,
muito utilizadas em nossos cursos não eram con- em relação à quantidade e à qualidade de resolu-
templadas nas subcategorias existentes. Foi neces- ção e tipo de informação visual desejada para cada
sária a inclusão de algumas novas subcategorias amostra e/ou conjunto de amostras. A coordenação
de materiais, como em cerâmicas e vidros, papéis do projeto realizou um documento com parâmetros
e tintas e vernizes, fundamentais para os setores para a execução dos registros fotográficos. Depois,
editoriais, de embalagens e de arquitetura. Essa re- foram selecionadas as cinco imagens que melhor
visão e a ampliação foram feitas mediante acordo apresentavam as características de cada amostra, a
com a professora Barbara Del Curto. partir da comparação da amostra com as imagens
As características da base de dados foram defi- quanto à similaridade e expressividade.
nidas a partir da análise de outras bases descritas A equipe do Materialize realizou o tratamento
em Campos e Dantas (2008a), e os requisitos en- e a edição de mais de 3 mil fotos de amostras de
volveram a adequação às necessidades didáticas, materiais selecionados, utilizando um programa de
a fácil manutenção e a busca por experiências de edição de imagens para a padronização do tamanho
navegação e design de interface amigáveis. da imagem para web, melhoria de enquadramento,
O acesso ao sistema de busca pelo usuário é ajuste de níveis, contraste, brilho e curvas, e correção
feito por meio de login e senha, após cadastro. O de imperfeições.
website possui ferramentas de consulta que incluem Inicialmente, procurou-se disponibilizar informa-
um sistema de busca simples por termo (tags), ções de materiais convencionais, de modo a mesclar
ou por listagem geral de materiais, por listagem dados para os mais diversos tipos de uso em projeto.
de taxonomias de materiais e por busca cruzada Entrou-se em contato com fabricantes para solicitar
entre as taxonomias dos materiais. O usuário pode doação de amostras e catálogos e, após o recebi-
contribuir com indicações de materiais ou forne- mento, cada amostra foi devidamente classificada
cedores nacionais, ou divulgar resultados de pes- e identificada, recebendo uma codificação criada a
quisa sobre o assunto. Cada categoria de material partir de princípios do sistema de biblioteca da tabela
foi indexada a uma cor, possibilitando que tanto Cutter-Sanborn (2017), conforme exemplo a seguir.
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Figura 2 – Resultado de busca de amostra no site Materialize.

Esse sistema permitiu que a organização do de compreender as possibilidades e limitações de


acervo físico tivesse total correspondência com o arranjos. Essas ações serviram para definir e justi-
sistema digital, facilitando a retirada e o reposicio- ficar o modelo de catalogação adotado, elaborado
namento correto do material nas estantes. pelas autoras.
Para as páginas iniciais do site http://www. A disposição das amostras no Materialize foi
materialize.fau.usp.br foi feito o registro foto­ organizada a partir de sua configuração formal,
gráfico de 44 imagens de materiais variados seguindo a lógica mais frequente de busca para
diferentes de qualquer amostra recebida, valori- projetos em Design, segundo características dese-
zando-se qualidades visuais e táteis, que apareciam jadas. O agrupamento próximo de materiais com
na home page do site em sequência randômica. a mesma configuração formal permite ao aluno a
Desse modo, conseguiu-se expressar plasticamente comparação sensorial dos mesmos, estabelecendo
o conceito principal do site revelando-se o interesse outros critérios para a seleção que ultrapassam suas
nas qualidades sensíveis do mundo material. características físico-químicas e se atrelam a aspec-
Além da página principal, o site possui uma tos perceptivos e simbólicos. As categorias formais
página na qual se explicam o projeto e seus obje- utilizadas também foram feitas em parceria com o
tivos, apresenta resumidamente os envolvidos no Materiali e Design, e consistem em: amorfo, apli-
projeto e seu papel na implantação desse piloto, cação e tratamento superficial, longo rígido, longo
uma lista de associações relacionadas a materiais flexível, plano rígido, plano flexível, particulados,
que foram consultadas durante o desenvolvi- tridimensional simples e tridimensional complexo.
mento do projeto, a bibliografia utilizada e uma Cada amostra, após catalogada e inserida no
página para contato, que permite enviar sugestões, sistema, recebe uma etiqueta com seu número
críticas, marcar visitas ao acervo físico ou indicar na cor da sua categoria. Desse modo, com base
novos materiais a serem incorporados no acervo. na codificação cromática, será possível saber, ao
consultar o acervo físico, se aquela amostra é da
Configuração do Acervo Físico Centrada categoria dos metais, das cerâmicas, se é um mate-
na Prática Projetual rial natural, e assim por diante.
Foram feitas simulações sobre a maneira como A justaposição de amostras de classificação dis-
os usuários poderiam fazer a busca por materiais. tintas é o principal diferencial desse acervo. Apesar
Procurou-se acompanhar o fluxo de ações a fim de não contar ainda com mobiliário específico que
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Campo Código A que se refere


1 PL R Plano Rígido Configuração formal
Cerâmica / outras cerâmicas
2 115.1 SDCM – classificação do material
tradicionais / Grês
3 L599 Lepri Notação do fornecedor
Código de especificação da
4 esb eco slim bianchetto
amostra
5 2014 Ano Recebimento da amostra
6 11cm Tamanho Especificidade da amostra

Tabela 1 – Exemplo de código gerado para uma amostra de material pelo Sistema de
Catalogação de Amostras de Materiais por Configuração (SCAMC).

Tabela 2 – Exemplo de interface do sistema de inserção de amostras e os códigos de classificação de


amostras de materiais por configuração.

possa apresentar as amostras de forma a poten- dinâmica de uso de espaços de acervos físicos, de
cializar o processo criativo dos alunos, o arranjo aspectos de comunicação com o usuário do acervo
proposto viabiliza a implantação do projeto em e com programadores. Esses estudos foram funda-
espaço reduzido e sem a necessidade de aumento mentais para gerar reflexões sobre o significado de
de custos para aquisição de mobiliário especial. um acervo no âmbito do ensino e acerca da quan-
A gestão do espaço físico para permitir sua tidade e qualidade das informações divulgadas em
abertura durante o horário regular das aulas está relação à abrangência e à profundidade de conteúdo.
em fase de ajustes junto à biblioteca da FAU-USP, Esse projeto piloto reuniu muito material
que poderá vir a gerenciar a visita a esse espaço e o produzido e está em fase final de implantação. Há
controle do acesso aos materiais do acervo. importantes conteúdos sobre princípios para o dese-
nho de acervos de materiais que foram publicados,
Conclusão assim como para o planejamento de estrutura de
A implementação desse projeto piloto exigiu a navegação de sites de acervos digitais.
realização de estudos a respeito de princípios de fun- Verificou-se que a criação de um acervo de ma-
cionamento de sites, da estrutura de navegação, da teriais e sua manutenção constituem um processo
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Materialize: Acervo Físico e Digital de Materiais da FAU-USP

Figura 3 – Ícones desenvolvidos para a classificação formal das amostras.

Figura 4 – Exemplos de amostras de materiais fotografadas e inseridas no site.

Figura 5 – Exemplos de amostras de materiais para consulta no acervo.

Figura 6 – Exemplos de diferentes configurações de amostras de madeira. À


esquerda: folhas de madeira (plano flexível), e à direita: amostras de madeira
maciça (plano rígido).
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complexo e que a parceria com o Istituto Politecnico BANN, D. Novo Manual de Produção Gráfica. Porto
di Milano, através da professora Barbara Del Alegre: Bookman, 2010.
Curto, foi de extrema importância para facilitar CAM POS, A. P. de & DANTAS, D. “M+D:
Conceptual Guidelines for Compiling a Materials Li-
essa implantação. Espera-se que com a apresen-
brary”. Undisciplined! Design Research Society Conference.
tação deste artigo haja interesse na realização de Proceedings of DRS2008, Design Research Society
novas parcerias entre instituições de ensino e pes- Biennial Conference. Sheffield: Sheffield Hallam Uni-
quisa em Design e Arquitetura em âmbito nacional versity, 2008a. Trabalho apresentado, pp. 1-18. Dispo-
nível em: <http://shura.shu.ac.uk/509/1/fulltext.pdf>.
e internacional. Acessado em 7 maio 2017.
DANTAS, D. & CAMPOS, A. P. de. “Análise
Agradecimentos Comparativa de Materiotecas: Recomendações para a
As autoras gostariam de agradecer à Pró-Reito- Construção de Modelos Acadêmicos”. Congresso Brasi-
ria de Graduação da USP e à FAU-USP. leiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design / P&D Design
(8º, São Paulo). São Paulo: Aend Brasil, 2008b. Traba-
lho apresentado, pp. 56-72.
Créditos das Imagens
LESKO, I. Design Industrial: Materiais e Processos de
Cândida Maria Vuolo, Cristiane Aun Bertoldi, Fabricação. São Paulo: Edgard Blucher, 2004.
Denise Dantas e Roberto Bogo. LIMA, M. A. Introdução aos Materiais e Processos para
Designers. São Paulo: Ciência Moderna, 2006.
Referências Bibliográficas MANZINI, E. The Material of Invention. Cambridge,
ASHBY, M. F. & JOHNSON, K. Materiali e Design. Massachusetts: The MIT Press, 1989.
L’Arte e la Scienza della Selezione dei Materiali per il Progetto. ROSSI FILHO, S. Graphos: Glossário de Termos
Milano: Casa Editrice Ambrosiana, 2005. Técnicos em Comunicação Gráfica. São Paulo: Cone Azul,
______. & ______. Materials and Design: The Art and 2001.
Science of Material Selection in Product Design. Oxford: But- TABELA Cutter-Sanborn: Versão Online em Unforbi
terworth-Heinemann, 2009. (website), 2017. Disponível em: <http://www.unforbi.
______. & ______. Materiais e Design: Arte e Ciência da com.ar/herramientas/tablascutter/cutterABC.html>.
Seleção de Materiais no Design de Produto. Rio de Janeiro: Acessado em 7 maio 2017.
Campus, 2010.
Publicado em 30/06/2017.

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