Você está na página 1de 7

CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA:

0010771-46.2016.5.03.0041 (RO) (PJe - assinado em


02/07/2018)
Disponibi
03/07/2018.
lização:
Órgão
Quinta Turma
Julgador:
Luiz Ronan
Relator:
Neves Koury
DANOS MORAIS. REQUISITOS PARA
INDENIZAÇÃO. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. Para que se configure o
dever de reparação do dano moral/material deverão estar presentes,
como requisitos essenciais dessa forma de obrigação, o erro de conduta
do agente por ação ou omissão (ato ilícito), a ofensa a um bem jurídico
específico do postulante (a existência do dano), a relação de causalidade
entre a conduta antijurídica e o dano causado (nexo de causalidade),
bem como a culpa do agente infrator. A comprovação
de culpa exclusiva da vítima rompe o liame de causalidade, não havendo
que se falar em pagamento de indenização pelo empregador.

ACIDENTE DE TRABALHO. DANOS MORAIS. DANOS MATERIAIS.


DANOS ESTÉTICOS. PENSÃO MENSAL VITALÍCIA

O reclamante não se conforma com a sentença na qual foram


indeferidos os pedidos da inicial, sustentando fazer jus à indenização por
danos materiais, danos morais e estéticos e à pensão mensal em virtude
do acidente do trabalho sofrido quando trabalhava para a reclamada.

A existência do acidente do trabalho é incontroversa, sendo que a


reclamada alega culpa exclusiva da vítima (defesa, fls. 57/96).

A culpa exclusiva da vítima ou fato da vítima, segundo o Exmo.


Desembargador Sebastião Geraldo de Oliveira, é uma das hipóteses de
exclusão do nexo causal, vez que rompe o "liame causal, e, portanto, o
dever de indenizar porquanto não há constatação de que o empregador
ou a prestação de serviços tenham sido os causadores do infortúnio ",
mesmo nos casos de responsabilidade objetiva, visto que se estará no
"território da causalidade e não da culpabilidade" (Oliveira, Sebastião
Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional
- De acordo com a Reforma Trabalhista Lei n. 13.467/2017, 10ª ed. - São
Paulo: LTr, 2018, p. 189/191),

Ainda conforme lição do referido doutrinador (op. cit., p.


190), "a culpa exclusiva da vítima ficará caracterizada quando a causa
única do acidente de trabalho tiver sido sua conduta, sem qualquer
ligação com o descumprimento das normas legais, contratuais,
convencionais, regulamentares, técnicas ou do dever geral de cautela,
por parte do empregador".

Na Comunicação de Acidente do Trabalho - CAT constou que o


agente causador do acidente foi "ESCADA PERMANENTE CUJOS
DEGRAUS PERMITEM AP" (fl. 142).

No laudo pericial, no item "Histórico" (fl. 431), relatou a perita o


seguinte:

"O reclamante alegou que no dia 25/04/2014, no período


vespertino, durante o seu pacto laboral na reclamada, ao descer do
ônibus na área de vivência, torceu o seu tornozelo direito, vindo a cair no
chão. Referiu que foi socorrido pelos colegas de trabalho, comunicando o
ocorrido a seu encarregado e sendo conduzido pela ambulância da
reclamada ao Hospital São Domingos de Uberaba-MG para atendimento
médico. Informou que o facultativo prescreveu medicação, solicitou
radiografias, diagnosticou fratura do tornozelo direito e realizou a
imobilização gessada do membro inferior direito por aproximadamente 3
meses. Informou que permaneceu afastado em benefício acidentário
(espécie 91) pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS por
aproximadamente 7 meses(...)".

Na petição inicial, o autor declarou que "estava laborando na


lavoura de cana de açúcar, quando ao descer do ônibus que funciona
como casa de vivência, veio a sofrer forte queda da escada, vindo a cair
ao solo"(fl. 4).

Essa versão do ocorrido também foi confirmada pelo reclamante


em depoimento pessoal: "o autor declara que, no dia do acidente, não
estava chovendo e que estava calçado com uma bota de segurança,
fornecida pela reclamada e, ao descer os degraus da escada do ônibus
(que eram 3), se desequilibrou".

Vale salientar que somente em seu depoimento pessoal o autor


menciona que alguma saliência ou buraco no chão possa ter sido a causa
do seu desequilíbrio, o que se contrapõe à tese da inicial na qual apontou
a ausência de treinamento e orientação no que concerne ao uso de
escadas (que, no depoimento pessoal, restou induvidoso que
a escada era de apenas 3 degraus); a ausência de fornecimento de EPI's
e de pausas laborais e descumprimento de "várias determinações
insculpidas na NR-31, do Ministério do Trabalho" (o autor não aponta
uma sequer).

O conjunto probatório é desfavorável ao obreiro, porquanto o


relato da perita, a CAT e o próprio depoimento do autor comprovam que
a queda ocorreu de forma involuntária, sem qualquer participação da
empresa no ocorrido.

Conforme bem destacado pelo Juízo monocrático (fl. 464), " o


acidente de trabalho sub judice ocorreu quando o autor realizava ato
corriqueiro na vida de qualquer pessoa (assim considerada a figura do
"homem médio", inclusive, desde tenra idade)."

Dessa forma, não há que se falar em pagamento de indenização


por danos morais, estéticos, materiais ou pensão vitalícia em virtude do
acidente de trabalho sofrido pelo empregador, porquanto o infortúnio
ocorreu por culpa exclusiva da vítima.

CASO FORTUITO – ESCORREGÃO

"ACIDENTE DE TRABALHO. AUSÊNCIA DE CULPA DO


EMPREGADOR. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. Para se aferir a culpa do
empregador pelo acidente sofrido pelo empregado, a fim de impor-lhe o
pagamento de indenizações compensatórias, deve-se indagar que
providências poderia ele tomar e não tomou para evitar o evento danoso,
ou que normas de segurança e higiene do trabalho deixou de cumprir. No
caso dos autos, o reclamante, pintor profissional há mais de 15 anos,
escorregou e caiu de uma escada móvel enquanto pintava uma parede,
tendo declarado em juízo que ele próprio montou a escada, de
propriedade de um colega, e que tinha experiência com ela, tendo o
acidente decorrido de um ato inseguro seu, um escorregão, não havendo
como imputar ao empregador qualquer responsabilidade pelo ocorrido,
até porque a atividade desenvolvida não era de risco e nem apresentava
maior complexidade. Assim, ausente o elemento culpa para a
responsabilização civil do reclamado, que não descumpriu qualquer
norma de segurança do trabalho, nem deixou de observar qualquer dever
legal e tampouco agiu com negligência ou descaso quanto à integridade
física de seu empregado, impõe-se o provimento do recurso para
absolvê-lo da condenação imposta em primeiro grau". (TRT da 3.ª
Região; Processo: 0000034-08.2015.5.03.0109 RO; Data de Publicação:
18/07/2016; Disponibilização: 15/07/2016, DEJT/TRT3/Cad.Jud, Página
179; Órgão Julgador: Sexta Turma; Relator: Rogerio Valle Ferreira;
Revisor: Jose Murilo de Morais).

"INDENIZAÇÕES DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO


TÍPICO - INDEVIDAS - AUSÊNCIA DE CULPA DO EMPREGADOR -
INEXISTÊNCIA DE REDUÇÃO OU PERDA DA CAPACIDADE LABORATIVA -
Não havendo culpa do empregador no acidente de trabalho típico sofrido
pelo reclamante (escorregão quando executava sua tarefa de puxar um
carrinho de lixo), não há que se cogitar em pagamento de indenizações
decorrentes de acidente de trabalho. Além disso, o laudo pericial oficial
constatou que o reclamante sequer possui redução ou perda da
capacidade laborativa". (TRT da 3.ª Região; Processo: 0088900-
35.2009.5.03.0001 RO; Data de Publicação: 21/09/2011; Órgão Julgador:
Nona Turma; Relator: Convocado Rodrigo Ribeiro Bueno; Revisor: Milton
V.Thibau de Almeida).

INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS -


ESCORREGÃO E QUEDA - AUSÊNCIA DE CULPA DA EMPREGADORA - Na
órbita da responsabilidade civil subjetiva, a obrigação de indenizar advém
de uma conduta ilícita comissiva ou omissiva; de dolo ou de culpa nas
modalidades de negligência, imprudência ou imperícia do agente; a
ofensa a uma norma preexistente ou erro de conduta, o dano (acidente
ou doença) e o nexo de causalidade do evento com o trabalho. Assim,
mesmo em se constatando a ocorrência do dano e do nexo causal, não
incorrendo a empregadora em dolo ou culpa no escorregão e
conseqüente queda do trabalhador durante o serviço, não se há falar em
indenização. (TRT da 3.ª Região; Processo: 0093700-66.2007.5.03.0134
RO; Data de Publicação: 26/11/2008, DJMG , Página 26; Órgão Julgador:
Decima Turma; Relator: Deoclecia Amorelli Dias; Revisor: Taisa Maria M.
de Lima).

RESPONSABILIDADE CIVIL - INDENIZAÇÃO POR DANOS


MATERIAIS, MORAIS - ESCORREGÃO E QUEDA - AUSÊNCIA
DE CULPA EMPRESARIAL - Na órbita da responsabilidade civil subjetiva, a
obrigação de indenizar resulta da constatação da existência de uma
conduta ilícita comissiva ou omissiva; de dolo ou de culpa nas
modalidades de negligência, imprudência ou imperícia do agente; do
dano moral ou material experimentado pela vítima e do nexo causal entre
o dano sofrido e a conduta do agente. Assim sendo, ainda que
constatada a ocorrência do dano experimentado pela vítima e do nexo
causal, não incorrendo a empregadora em dolo ou culpa, fica excluída a
indenização a que este está obrigado apenas quando em sua conduta se
reúnem todos esses elementos. (TRT da 3.ª Região; Processo: 00555-
2006-048-03-00-9 RO; Data de Publicação: 05/05/2007; Órgão Julgador:
Terceira Turma; Relator: Irapuan Lyra; Revisor: Maria Lucia Cardoso
Magalhaes)

CULPA CONCORRENTE:

PJe: 6. 0011106-41.2015.5.03.0028 (RO) Julgador: Sexta


Turma Relator: Convocado Jesse Claudio Franco de Alencar ACIDENTE
DE TRABALHO. CULPA CONCORRENTE. CARACTERIZAÇÃO. Comprovado
nos autos que o acidente de trabalho que vitimou o obreiro foi
ocasionado por um somatório de fatores, atribuídos a ambas as partes,
quais sejam as condições inadequadas de trabalho (condição insegura)
fornecidas pela empregadora, aliada à imprudência do obreiro,
caracterizada está a culpa concorrente, devendo ambas as partes serem
responsabilizadas pelo sinistro, na medida de sua culpa.

Inteiro Teor: O MM. Juízo a quo, por ter entendido que o acidente
de trânsito que vitimou o marido/genitor dos reclamantes foi ocasionado
por culpa recíproca das partes, julgou parcialmente procedentes os
pedidos articulados na petição inicial, condenando a 1ª reclamada no
pagamento de indenização por danos morais no importe de
R$282.290,50 para os reclamantes WASINGHITOM LUIZ NAZARET,
WEMERSON DIAS CAMILO, LEIDIANE BORGES CAMILO E MARIA DA
CONCEIÇÃO BORGES CAMILO; além de pensionamento vitalício
correspondente a 40% da remuneração do de cujus, vigente à época do
acidente, como indenização pelo dano material experimentado pelos
autores, parcelas mensais vencidas e vincendas, desde a data do óbito
até a idade que o falecido completaria 72 anos de idade, inclusive 13º
salário, com aplicação dos reajustes sobre o valor pelos mesmos índices
de reajuste salarial da categoria profissional dos empregados da 1ª
reclamada. Acrescentou que caberá aos filhos o percentual de 20% do
montante, até completarem a idade de 21 anos e à viúva o restante do
percentual, que será acrescido do valor correspondente ao dos filhos
após a idade limite (21 anos). Caberá à reclamada constituir fundo de
capital ou indicar bem imóvel capaz de garantir a obrigação.

Inconformada, recorre a reclamada contra o deferimento dos


pedidos de indenização por danos morais e materiais (pensão vitalícia)
articulados na inicial. Aduz, em síntese, que o acidente que vitimou o
marido/genitor dos reclamantes ocorreu por culpa única e exclusiva do
obreiro, que não tomou as devidas cautelas no desenvolver de suas
atividades de montador, para o qual foi devidamente treinado; que o
conjunto comprobatório demonstrou que o de cujus, após o
encerramento das suas atividades do dia, voltou para o telhado do galpão
em construção para buscar um material que havia deixado pra trás, sem
utilizar dos equipamentos de segurança como a linha de vida. Ad
cautelam, pugna pela redução das indenizações fixadas na sentença.

Por seu turno, recorrem os reclamantes, insurgindo-se contra a


decisão que reconheceu a culpa concorrente. Aduzem que a culpa do
acidente é inteira da reclamada, que não zelou pelo seu dever de garantir
a segurança do seu empregado, permitindo que o de cujus trabalhasse
em atividades alheias às suas funções e sem uso de EPI's, em local
totalmente desprovido de segurança. Pugnam pela elevação das
condenações, com a concessão integral da pensão vitalícia, bem como a
majoração do valor dos danos morais.

Decide-se.

In casu, ficou incontroverso que o empregado sofreu acidente do


trabalho fatal em 16/04/2004, ocasião em que, no exercício da função de
montador, sofreu uma queda de aproximadamente 10 metros do telhado
do galpão da construção da em que trabalhava, o que causou o seu
óbito.

De acordo com a legislação subsidiariamente aplicável, a


indenização só será devida quando houver dano (material e
moral), culpa e nexo de causalidade entre o dano e a conduta
antijurídica, exigindo-se do reclamante a comprovação inequívoca de
todos esses elementos (artigos 818 da CLT e inciso I, 373 do NCPC).
Prevalece, pois, a regra geral preconizada pela teoria da responsabilidade
subjetiva, segundo a qual não existe obrigação de indenizar se não há
comprovação da culpa do agente.

A controvérsia está centrada, principalmente, na existência


de culpa da empregadora pela ocorrência do acidente descrito, já que
não há dúvida de que o obreiro sofreu a lesão referida enquanto
laborava, estando presente o liame causal entre o fato (acidente) e o
dano, qual seja a morte do obreiro.

No caso em tela, analisando o conjunto comprobatório produzido


nos autos, notadamente a pericial e testemunhal, compartilho do
entendimento esposado na sentença de ID. 644a46d, no sentido de que
tanto a negligência da reclamada, quanto a imprudência do reclamante,
contribuíram para a ocorrência do fato danoso, estando configurada a
hipótese de culpa concorrente.

Como é cediço, o empregador tem obrigação de promover a


redução de todos os riscos que afetam a saúde do empregado no
ambiente de trabalho. Para tanto, de acordo com o disposto no art. 157
da CLT, cabe às empresas instruir os empregados quanto às precauções
a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho e doenças
ocupacionais, cumprindo e fazendo cumprir as normas de segurança e
medicina do trabalho. Reforçam a obrigação patronal o art. 7º, XXII, da
CRFB, o art. 19, § 1º, da Lei nº 8.213/91, as disposições da Convenção
nº 155 da OIT e toda a regulamentação prevista na Portaria nº 3.214/78
do Ministério do Trabalho e Emprego, especialmente a NR-18. No
entanto, desse ônus não se desincumbiu (CLT, art. 818).

Na hipótese dos autos, ficou robustamente demonstrada a


negligência da empregadora quanto à segurança dos seus empregados,
porquanto permitiu que o de cujus praticasse ato inseguro, ao subir no
telhado do galpão para buscar ferramentas que lá havia esquecido ao
término do expediente, sem a utilização de EPI'.s.

Paralelamente a esse fato, também pode se inferir dos autos que


o marido/genitor dos reclamantes, empregado experiente e devidamente
treinado na função, também concorreu de forma culposa com o acidente,
ao retornar ao telhado da construção, sem se utilizar dos equipamentos
de proteção que ali estavam à sua disposição.

Você também pode gostar