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Resumo
Introdução
1 Trabalho apresentado no GP Conteúdos Digitais e Convergência Tecnológicas, XVI Encontro dos Grupos de Pesquisas
em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2 Mestranda de Comunicação no PPGCom/UFJF. E-mail: marina_sad@hotmail.com
3 Professor do PPGCom/UFJF. E-mail: paoliello@acessa.com
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de mídia. Trata-se da fluidez com que o conteúdo midiático passa por diversas plataformas
e da capacidade do público de usar as redes para circular ativamente o conteúdo e desafiar
os produtores de massa.
Diante desse cenário de transição, no qual emissores e receptores passam a ter
papéis não mais tão bem definidos, muito tem se falado sobre uma crise no jornalismo. Em
seu blog, Borges (2016) compila vários jornais do mundo que passam por momentos de
dificuldade, com demissões de jornalistas, fechamento de sucursais e interrupção de
circulação. Segundo ele, em maio de 2016, o jornal britânico The New Day informou que
estava acabando com sua edição diária devido à queda de venda nas bancas. A circulação
de outros jornais dessa empresa também segue o ritmo de decadência. Em abril do mesmo
ano, o The New York Times fechou a sucursal e a gráfica de Paris, demitindo 70
trabalhadores. A explicação para isso seria que o jornal não está conseguindo fazer frente à
queda de circulação e de publicidade no impresso. Já no Brasil, o jornal nacional mais
antigo, Jornal do Commercio, encerrou suas atividades em 29 de abril de 2016 por causa da
grande queda no número de anunciantes.
Borges (2016) acrescenta que a crise tem sido vivenciada não só no impresso,
mas também na televisão e na rádio. Citando um levantamento feito Fernando Rodrigues
para a Folha de São Paulo, o autor defende que, em 2015, os gastos publicitários em todos
as mídias caíram, exceto na internet. “A redução dos recursos em televisão foi de 25%, nos
jornais de 42,2%, nas rádios de 22,7% e nas revistas de 44,2%. Já a publicidade na internet
cresceu 11,6%" (BORGES, 2016).
Costa (2016), em coluna como Ombudsman no jornal Folha de S. Paulo fala
sobre a crise na perspectiva da falta de correspondentes da publicação espalhados pelo
mundo. Segundo ela, a Folha já contou com repórteres em Londres, Paris, Roma, Berlim,
Praga, Moscou, Nova York, Washington, Miami, Chicago, Jerusalém, Pequim, Buenos
Aires e Tóquio. Foi a primeira a ter um correspondente para cobrir as mudanças na antiga
URSS, em 1988, e a enviar um jornalista para Teerã, no Irã, em 2011. Hoje, no entanto, o
jornal teria apenas quatro correspondentes, sendo dois nos Estados Unidos e dois na
América Latina.
Ela explica que agora a Folha se aproveita de colaboradores nos países
estrangeiros. A ombudsman observa que é importante ser “curador” das informações
publicadas por veículos de outros países. No entanto, atenta para o fato que nada substitui a
visão de um repórter brasileiro sobre os acontecimentos do exterior. Para exemplificar, ela
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utiliza o caso do plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia.
Conforme a jornalista, as reportagens publicadas pelo jornal não responderam a
questionamentos que os brasileiros fariam, como “o que a decisão significa para os milhares
de brasileiros que lá vivem? O que muda para o Brasil em termos diplomáticos, políticos e
econômicos?”.
Já a tese de Costa (2014) é de que o modelo tradicional do jornalismo não
funciona mais com a internet. Segundo o autor, a cadeia de valor da indústria jornalística foi
apenas transposta para a internet: o mesmo conteúdo da mídia originária passou para a
internet, a mesma publicidade tradicional e a fórmula padrão de comercialização com
assinaturas digitais. Ele explica que o jornalismo tradicional é baseado em um negócio de
distribuição complexo, não só de conteúdo. Nesta dinâmica, entraria a produção de
conteúdo, os departamentos que cuidam da parte gerencial e da gráfica, a comercialização
de publicidade e, por fim, a circulação tanto nos pontos de venda como entre os assinantes.
Assim, tradicionalmente, a indústria controla toda a cadeia de valor, diferentemente do que
acontece quando surge a internet. Segundo Costa (2014), na web, os produtores lucram
apenas 7% do montante, enquanto os outros 93% passam a estar divididos com a indústria
de telecomunicações, dos aparelhos de recepção, com os produtores de tecnologia e com os
criadores de software.
Assim, entre as soluções propostas pelo pesquisador, estaria uma mudança no
tipo de negócio, que atendesse mais a era da convergência e da estética digital. As
tradicionais indústrias jornalísticas passariam a oferecer, além de informação, seu principal
produto, serviços de valor adicionado para complementar o seu faturamento, por meio
próprio ou de parceiros.
Material como newsletters, dossiês, documentos e publicações do arquivo, livros,
serviços segmentados ligados à cidade, às artes, à cultura, ao entretenimento, à
gastronomia, aos roteiros em geral. Ou ainda material de ajuda no processo de
comunicação e de facilitação do dia-a-dia dos usuários. Algo como os serviços de e-
mail, de hospedagem de sites, de venda de ingressos, de construção de páginas, de
arquivamento online de documentos próprios, de compra, aluguel e troca de
imóveis, carros, objetos em geral, de reservas online, de comparação de preços, de
oferta e procura de empregos, de centros de compra online (COSTA, 2016).
Seria oferecer serviços como o Google já faz. Além disso, o autor acrescenta
nesta lista o oferecimento de conteúdos patrocinados como já existem nos jornais e revistas,
geralmente com a identificação “Anúncio Pago” ou “Matéria Paga”.
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Winques e Torres (2015) preferem não tratar o período atual como de crise, mas
como uma oportunidade para transição no jornalismo. Segundo os autores, a visão voltada
para a crise deixa de perceber que nunca houve tanto espaço para a produção e divulgação
de conteúdo. Além disso, eles ressaltam que a internet traz novas ferramentas as quais
podem ser aproveitadas pelo jornalismo. É imperativo uma adaptação diante dessa nova
realidade como sempre ocorreu na história do jornalismo. Assim, Winques e Torres (2015)
reforçam: “a era da informação provoca transformações que exigem adaptações em um
processo que envolve os jornalistas, os meios de produção e especialmente o público”.
Para Salaverría e Negredo (2008), essas adaptações são parte da nova cultura da
convergência. Para esclarecer como a convergência atua no jornalismo, os pesquisadores
fazem uma lista do que não faria parte deste processo e do que de fato o integraria. Eles
defendem que a convergência não é uma maquiagem digital para se fazer o jornalismo de
sempre, já que é preciso haver mudanças profundas na redação, como diminuição da
hierarquia, modificação espacial de forma a contribuir para que ocorra um trabalho em
equipe e mudança da cultura dos jornalistas para que passem a compreender que são
profissionais da produção de conteúdo e não de um meio específico. A convergência
também não deve implicar corte de pessoal, já que para se fazer um bom jornalismo, é
necessário não só bons repórteres, mas também em número suficiente.
Além disso, para Salaverría e Negredo (2008), esse novo contexto não tem
relação com um tratamento de urgência para salvar o jornalismo impresso, mas pode ser
visto como um tratamento preventivo que adequará a empresa ao mundo atual digital. Não é
uma conversão da redação em cadeia de montagem, no que se refere a diminuir os níveis de
edição da notícia relevante para divulgá-la rapidamente na internet, pois continuam
existindo a criatividade e a dimensão social do jornalismo. Também não se trata de uma
anulação dos perfis dos jornalistas com o intercâmbio maior de serviço entre os diferentes
tipos de repórteres, pois é necessário que cada um continue tendo seu papel dentro da
redação. Por fim, a convergência não é um intercâmbio só de produtos jornalísticos, mas,
como já dizia Jenkins (2009), é uma mudança de mentalidade, de forma de trabalho e de
compreensão da audiência.
Ao contrário de tudo isso, para Salaverría e Negredo (2008), a convergência
surge como conversão total da empresa jornalística, que antes atuava com diferentes mídias
de forma separada, para a lógica multimídia. São diversos meios utilizados em harmonia,
em conjunto, de forma multiplataforma, reunidos em torno da redação. Assim, a
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convergência passa a ser uma forma de dar relevância à informação em relação ao suporte:
não importa o meio, o usuário necessita da informação adequada à linguagem que melhor a
transmita. Além disso, a convergência aproveita a força da marca, a credibilidade da
empresa jornalística construída ao longo dos anos, para conquistar usuários cada dia mais
exigentes. Há, por fim, uma mudança de processo para se manter sempre em contato com o
público, apresentando produtos diversos tanto em formatos quanto em temporalidades.
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usados principalmente nos momentos em que era desafiador ter somente palavras ou
quando a compreensão era difícil sem um recurso visual. Entretanto, ele acrescenta que
todos esses elementos foram cuidadosamente pensados para não atrapalhar a fluidez do
texto, não aparecerem como uma interrupção, mas como algo natural da reportagem.
Sobre o aprendizado diante desse projeto inovador, Catherine Spangler
(DUENES at al, 2013) conta que a equipe percebeu a necessidade de ser sensato na
utilização de cada elemento que melhor conta a história em momentos chave do texto. Já o
diretor substituto de design digital Andrew Kueneman (DUENES at al, 2013) conclui
dizendo que construir uma nova aplicação a qual nunca foi utilizada anteriormente é a única
maneira de avaliar verdadeiramente as novas ideias.
Depois de Snow Fall, vários jornais pelo mundo começaram a oferecer Grandes
Reportagens Multimídia em seus sites. No Brasil, a Folha de S. Paulo estreou, em 2013, a
série Tudo Sobre5. Outro exemplo é o jornal de Belo Horizonte O Tempo que, na sessão
Especiais6, também traz reportagens com tais características, ainda que menos elaboradas
do que as fornecidas pela Folha.
Conclusão
Não podemos ser tomados pela visão pessimista e paralisadora somente da crise
no jornalismo. Há novos caminhos abertos pela estética digital que levam a mudanças, as
quais podem ser positivas, desde que os novos recursos sejam colocados em prática. A
experiência da Grande Reportagem Multimídia Snow Fall nos leva a supor que é necessário
ser inovador e, somente testando as novas tecnologias, é possível aplica-las para construir
um jornalismo mais profundo e de maior qualidade, sempre comprometido com a
sociedade.
A evolução das tecnologias possibilitaram avanços como o HTML5 e o design
responsivo, os quais agregaram valor ao webjornalismo, permitindo a consolidação da
Grade Reportagem Multimídia, a qual pretende reunir em harmonia diferentes signos com
texto longo para dar ao leitor uma experiência inovadora de navegação e imersão.
Citando Kischinhevsky, Iorio e Vieira, Winkes e Torres (2015) lembram que
movimentos relevantes do jornalismo nasceram principalmente nos momentos de “crise”,
em diferentes fases de mudanças tecnológicas. Foi assim com o jornalismo investigativo e o
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new journalism, por exemplo. O que a literatura propõe é que esse pode ser um momento
chave de renovação, crescimento e estabelecimento de novos padrões de qualidade.
REFERÊNCIAS
BORGES, Altamiro. Falências e cortes. Crise na mídia é grave. Blog do Miro, 28 jun. 2016.
Disponível em: <https://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/06/falencia-e-cortes-crise-na-midia-e-
grave.html>. Acesso em 02 jul. 2016.
COSTA, Caio Túlio. Um modelo de negócios para o jornalismo digital. Revista de Jornalismo
ESPM, São Paulo, n. 9, p. 51-115, abr. mai. e jun. 2014. Disponível em:
<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/um_modelo_de_negocio_para_o_jornalism
o_digital>. Acesso em 19 mai. 2016.
COSTA, Paula Cesarino. Existe alguém lá fora? Folha De S. Paulo, São Paulo, 26 jun. 2016.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/paula-cesarino-costa-
ombudsman/2016/06/1785748-existe-alguem-la-fora.shtml#_=_>, acesso em 02 jul. 2016.
DUENES, Steve at al. How we made Snow Fall. Source, 01 jan. 2013. Disponível em:
<https://source.opennews.org/en-US/articles/how-we-made-snow-fall/>. Acesso em 19 mai. 2016.
LONGHI, Raquel. O turning point da grande reportagem multimídia. Revista Famecos: mídia,
cultura e tecnologia, Porto Alegre, v. 21, n. 3, p. 897-917, setembro/dezembro 2014. Disponível
em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/18660 >. Acesso
em: 26 abr. 2016.
MANOVICH, Lev. The Language of New Media. Cambrigde, Massachusetts: MIT Press, 2001.
SANTAELLA, Lúcia. Linguagens Líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007. cap.
10, p.253-283.
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WINQUES, Kérley; TORRES, Ricardo. Qual o papel das novas ferramentas na transformação do
jornalismo. In CHRISTOFOLETTI, Rogério (Org.). Questões para um jornalismo em crise.
Florianópolis: Insular. p. 49-66, 2015.
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