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Fundações Profundas no Estado do Paraná

Olavo, J. M.
ENSOLO Engenharia de Solos e Fundações Ltda, Pinhais, Paraná, Brasil, jmolavo@ensolo.com.br

Gazda, R. J.
ENSOLO Engenharia de Solos e Fundações Ltda, Pinhais, Paraná, Brasil,
robertogazda@ensolo.com.br

Gazda, M.
ENSOLO Engenharia de Solos e Fundações Ltda, Pinhais, Paraná, Brasil, mauricio@ensolo.com.br

Resumo: O presente artigo tem como objetivo mostrar o atual estado da prática das fundações profundas
no Estado do Paraná. São mostrados os resultados de alguns ensaios, que têm servido para verificar as
limitações dos métodos de cálculo adotados e das próprias soluções.

Abstract: The present work has the objective of showing the present achievements in the practice of deep
foundations in Paraná State. Some test results are presented. These results are compared to the predicted
values in order to verify the limits of the current design methods and the limits of the adopted solutions.

1 INTRODUÇÃO carga para controle de qualidade das obras de


fundações. Os ensaios estão divididos por solução e
As soluções de fundação adotadas no estado do por unidade geotécnica, de modo a facilitar o
Paraná foram introduzidas há algum tempo e, agrupamento dos mesmos em situações comparáveis
inicialmente foram testadas para verificação da sua entre si.
aplicabilidade. Por outro lado, com a evolução nos
equipamentos e buscando-se uma solução mais 2 ESTACAS ESCAVADAS NA FORMAÇÃO
econômica, tais soluções passaram a ser utilizadas GUABIROTUBA
em condições além das originalmente adotadas e,
portanto, fora da situação para a qual já haviam sido 2.1 Conceituação Geral
verificadas.
Ao longo dos anos, sempre que apareciam A formação Guabirotuba é a unidade geotécnica que
dúvidas quanto ao desempenho de uma solução de cobre a maior parte da bacia sedimentar de Curitiba
fundação, eram programadas provas de carga ou (Kormann, 2002, E. Salamuni e R. Salamuni, 1999).
controle de recalques, as quais por terem sido Esta unidade geotécnica possui a característica de
executadas em situações de dúvida, pouco ser constituída por solos sedimentares de
contribuíram para o estabelecimento de um padrão granulometria silto-argilosa com um grau de sobre-
normal de desempenho para as fundações. Com o adensamento muito elevado. Isto faz com que
advento da nova norma de fundações (ABNT, possuam uma permeabilidade muito baixa (Felipe,
2010), porém, passou-se a se executar provas de 1999) e o caracteriza como sendo um aquitardo
carga e ensaios dinâmicos em situações onde as (Fiori e E. Salamuni, 2012).
dúvidas eram inexistentes e, inclusive, em alguns As características acima favorecem o uso de
casos, foram verificados desempenhos estacas escavadas a céu aberto (L. H. F. Olavo et al.,
insatisfatórios. Tais ensaios têm contribuído para 2012). Segundo Kormann a mesma é a solução mais
que as limitações das soluções sejam descobertas e adotada na região de Curitiba. Esta solução foi
os métodos de cálculo sejam aprimorados. introduzida na cidade no final da década de 1970,
Apresentam-se alguns dos ensaios executados a incluindo a realização de algumas provas de carga.
partir da publicação da nova norma de fundações. Atualmente, porém são utilizados equipamentos de
Mostra-se a importância da execução das provas de maior porte e as estacas estão sendo executadas em

1
solos de maior competência. São mostrados alguns
ensaios executados nesta situação.

2.1.1 Obra de um Condomínio Residencial no


bairro Hugo Lange

Trata-se de uma obra de dois edifícios residenciais,


com 6 pavimentos mais um subsolo, localizada na
esquina da Rua Presidente Rodrigo Otávio com a
Rua Deputado Carneiro de Campos, no bairro Hugo
Lange, em Curitiba, Paraná.
Observou-se nas sondagens que o solo era
pertencente à formação Guabirotuba e caracterizado
por argila siltosa cinza e marrom. Observou-se
também que o nível d’água era bastante elevado,
pouco acima da cota de escavação. Concluiu-se que
se tratava de um lençol flutuante, existente apenas
sobre o Guabirotuba, fato este que foi confirmado
após a escavação da obra. Como as edificações
vizinhas possuíam seus terrenos em níveis próximos
ao da cota de escavação, não foi prevista a execução
de uma cortina de contenção a priori. Apenas nos
dois alinhamentos prediais foram previstos taludes
provisórios e cortinas moldadas in loco. Durante a
escavação foi observada a presença de um solo Figura 1: Valores de NSPT para obra do Hugo Lange.
úmido superficialmente e, na cota de escavação, um
solo argilo-siltoso com uma umidade natural baixa, 2000 kN. A prova de carga foi executada com
pertencente à formação Guabirotuba. Próximo à carregamento lento, conforme a NBR 12131
superfície do terreno o solo possuía algum sinal de (ABNT, 2007). Uma foto da prova de carga pode
laterização, incluindo a coloração marrom, porém ser vista na figura 2.
poucos metros abaixo estas características
desapareciam, inclusive com a mudança da cor do
solo para cinza.
Com base nestas informações foi feito o projeto
de fundação em estacas escavadas a céu aberto, sem
o uso de revestimento ou de fluido estabilizante. As
estacas haviam sido dimensionadas com base no
método de Decourt-Quaresma (Decourt e Quaresma,
1978), sem o uso dos coeficientes de correção para
atrito lateral e ponta, conforme era a prática local.
Isto era feito desta forma uma vez que as provas de
carga executadas no início do uso das estacas
escavadas mostraram bons resultados para estacas
dimensionadas desta forma (L. H. F. Olavo et. al.,
2012).
Como a obra possuía 107 estacas, foi
Figura 2: Execução da prova de carga na obra do
especificada ainda na fase de projeto que fosse feita
bairro Hugo Lange (ENSOLO, 2011a).
uma prova de carga estática em uma estaca
escolhida ao acaso, conforme a norma de fundações
A carga de ensaio prevista, igual ao dobro da
NBR 6122/2010. A obra contava com estacas com
carga de trabalho, foi de 480 kN. Porém, quando foi
diâmetro entre 25 e 60 cm e comprimentos entre
aplicada uma carga de 260 kN, observou-se que uma
oito e doze metros e possuíam uma tensão máxima
das estacas de reação havia rompido, apresentando
atuante no fuste das estacas sob carga de trabalho de
deformações excessivas. O recalque da estaca
5,0 MPa. As sondagens da obra estão indicadas na
ensaiada era ainda de 5,6mm, equivalente ao
Figura 1.
diâmetro da estaca dividido por 53, ou seja, ainda
A prova de carga estática foi executada em uma
não havia sido atingido o limite para ruptura
estaca de 30 cm de diâmetro e comprimento útil de
convencional determinado pela norma de fundações.
8,0 metros. A carga foi aplicada com um cilindro
A figura 3 mostra a curva carga-recalque obtida.
hidráulico com capacidade de 1000 kN e foi lida
através de uma célula de carga com capacidade de

2
de 431 kN, o que indica que o resultado medido foi
de aproximadamente 71% do previsto.
Mais grave que este fato foi que a estaca de
reação não suportou a carga aplicada. A estaca de
reação possuía o mesmo diâmetro da estaca
ensaiada, porém um comprimento de sete metros.
Fazendo-se uma análise comparativa com o
resultado do ensaio, esperava-se uma carga de
ruptura à compressão de cerca de 260 kN para o
atrito lateral de uma estaca com o comprimento de
sete metros. Como ela rompeu quando a carga
aplicada era de 260 kN e a reação era feita com duas
Figura 3: Curva carga-recalque da prova de carga estacas, a estaca rompeu à tração com uma carga
executada na estaca da obra do Condomínio igual à esperada para a compressão dividida por dois
Residencial localizado no bairro Hugo Lange. e não 1,40 como consta na NBR 6122. Mesmo
atendendo-se a este item da norma, pode-se ir contra
Desta forma, partiu-se para a análise da prova de a segurança quando se dimensionam estacas à
carga através do método da rigidez, proposto por tração.
Decourt (1996). A escolha de tal método deveu-se
ao fato de tratar-se de uma estaca escavada em 2.1.2 Obra de um Edifício Residencial no bairro
primeiro carregamento, portanto sem tensões Vila Isabel
residuais, indicando ser este um método válido para
análise, conforme avaliação de Massad (2008). Esta obra consiste em um edifício residencial,
Lançando-se a rigidez no gráfico, observa-se um dotado de seis pavimentos sobre o térreo e mais um
comportamento linear, indicando pouca influência subsolo. A obra localiza-se na Rua Irati, número
da ponta da estaca. A reta ajustada às rigidezes 440, fazendo frente também para a Rua Joaquim
obtidas no ensaio foi prolongada até o eixo das Caetano da Silva, paralela à Rua Irati, no bairro Vila
abcissas, resultando numa estimativa do valor do Isabel, em Curitiba, Paraná. Uma foto da obra sendo
atrito lateral da estaca, conforme proposição de executada encontra-se na figura 5.
Decourt. O gráfico de rigidez desta estaca pode ser
visto na figura 4.

Figura 4: Gráfico de rigidez para a prova de carga Figura 5: Execução das estacas de fundação da obra
executada na obra do bairro Hugo Lange da Rua Irati (ENSOLO 2011b)
Foi obtido para o atrito lateral desta estaca o A obra possui 144 estacas escavadas a céu
valor de 307 kN. Este valor era inferior ao previsto aberto, com diâmetros entre 25 cm e 50 cm e
inicialmente para esta estaca, o que levou à comprimentos entre três e treze metros, além de
reavaliação de todo o estaqueamento da obra. cortinas de contenção nas duas divisas laterais. Por
Observou-se que nenhuma das estacas da obra tinha este motivo foi especificada a execução de duas
carga chegando à sua ponta na situação de trabalho provas de carga estáticas, em cumprimento às
nesta nova situação, atendendo à exigência da exigências da norma de fundações.
norma de fundações de que ao menos 80% da carga As sondagens executadas indicaram a presença
de trabalho seja suportada pelo atrito lateral. Desta de solo da formação Guabirotuba e indicaram o
forma o estaqueamento foi considerado suficiente. nível d’água a cerca de 6 metros de profundidade.
Quando foi feita uma comparação do resultado Antes do início dos serviços foram executadas
do ensaio com as previsões, observou-se que a perfurações de viabilidade para confirmar a
previsão inicial para o atrito lateral desta estaca era existência deste lençol freático e o mesmo não foi
3
encontrado. Acredita-se que a água indicada seja a dois. Os gráficos carga-deslocamento estão
decorrente do próprio processo de perfuração da representados nas figuras 7 e 8.
sondagem. As sondagens da obra estão indicadas na
figura 6.
Como a obra teria provas de carga, optou-se,
como critério de projeto, por adotar como máxima
uma tensão média sob carga de trabalho de 5,0 MPa.
A primeira prova de carga estática foi executada
em uma estaca com diâmetro de 40 cm e
comprimento útil de dez metros. A reação foi feita
com duas estacas de 40 cm de diâmetro e
comprimento de 10 metros, armadas com barras de
tirantes marca Incotep de 36 mm. Esta prova de
carga foi do tipo lento e foi levada até uma carga de
ensaio de 894 kN, equivalente ao dobro da carga de
trabalho da estaca. Figura 7: Curva carga-recalque da prova de carga
A segunda prova de carga estática foi executada executada na estaca de 40 cm de diâmetro e
em uma estaca com diâmetro de 50 cm e comprimento de dez metros.
comprimento de doze metros. A reação foi feita com
quatro estacas de 40 cm de diâmetro e oito metros
de comprimento, armadas com barras de tirantes
marca Resinex, de 32 mm. Esta prova de carga
também foi do tipo lento e foi levada até uma carga
de ensaio de 1230 kN, equivalente ao dobro da
carga de trabalho da estaca.

Figura 8: Curva carga-recalque da prova de carga


executada na estaca de 50 cm de diâmetro e
comprimento de doze metros.

Observam-se os pequenos deslocamentos


atingidos por ambas as estacas durante os ensaios. A
primeira estaca ficou com um recalque sob a carga
de ensaio de apenas 0,70mm e a segunda ficou com
um recalque sob carga de ensaio de 2,62mm. Ambas
as estacas tiveram deslocamentos permanentes
baixos, de 0,02mm para a primeira e de 0,11mm
para a segunda, medidos após a estabilização dos
deslocamentos após a descarga completa das
estacas. O fato de ambas as estacas terem
deslocamentos pequenos torna pouco precisa a
previsão da capacidade de carga através de métodos
de extrapolação da curva carga-recalque. Mesmo
assim, foi aplicado o método da Rigidez, de modo a
se obter um valor para a resistência por atrito lateral
para comparação com os métodos de cálculo. Os
gráficos mostrando a carga versus rigidez para as
duas estacas encontram-se nas figuras 9 e 10. Para o
primeiro gráfico foram excluídos da análise o
Figura 6: Valores de NSPT para obra na Vila Isabel. primeiro e o último estágio de carga por
apresentarem-se discordantes dos demais pontos.
Para ambas as provas de carga, as cargas foram Apesar da imprecisão, foi feita a extrapolação da
medidas com o uso de célula de carga e os resistência por atrito lateral para as duas estacas. A
deslocamentos foram medidos com o uso de quatro estaca de 40 cm de diâmetro e dez metros de
relógios comparadores com precisão de centésimo comprimento tem uma resistência por atrito lateral
de milímetro, dispostos diametralmente opostos dois prevista de 1532kN e a estaca de 50cm de diâmetro
4
Trata-se de uma obra de um condomínio residencial,
padrão Minha Casa, Minha Vida. A obra possui dois
blocos situados próximos a um talude de cerca de
dez metros de altura. Os edifícios são relativamente
baixos, com três pavimentos, sem subsolos, feitos
com alvenaria estrutural de blocos cerâmicos,
portanto sensíveis a recalques. A obra foi executada
com um volume mínimo de terraplenagem, de modo
a evitar a retirada ou importação de solo, possuindo
desta forma pequenas quantidades de aterro e
pequenas quantidades de corte. As sondagens são
apresentadas na figura 11 e indicaram a presença de
solo da formação Guabirotuba, consistindo em
argila siltosa cinza clara. Superficialmente foram
Figura 9: Gráfico carga-rigidez para a primeira encontradas algumas camadas de solo amarelado, o
prova de carga (estaca de 40 cm de diâmetro e dez qual indica algum processo de laterização. Um dos
metros de comprimento). furos de sondagem encontrou uma concreção
carbonática aos 11 metros.

Figura 10: Gráfico carga-rigidez para a prova de


carga executada na estaca de 50 cm de diâmetro e
comprimento de doze metros.

e doze metros de comprimento tem uma resistência


por atrito lateral prevista de 1406 kN.
Comparando-se com o método de Decourt-
Quaresma, aplicado sem coeficientes de correção
para atrito lateral, aplicado ao furo de sondagem
mais próximo à estaca ensaiada, obtemos uma
resistência calculada de 801 kN para a estaca de
40cm diâmetro e 1093 kN para a estaca de 50 cm.
Com isto, conclui-se que para ambas as estacas,
o método de cálculo de Decourt-Quaresma sem
coeficientes de correção para o atrito lateral ficou a
favor da segurança. Para a primeira estaca, o atrito Figura 11: Sondagens da obra de Colombo.
lateral extrapolado foi 91% superior ao previsto,
enquanto para a segunda estaca o atrito extrapolado Inicialmente, na etapa de projeto, foi realizada
foi 29% superior ao previsto. Ressalta-se que devido uma análise do talude adjacente à obra. Conclui-se
ao fato de as deformações medidas terem sido que o talude possui um coeficiente de segurança
pequenas, os valores de rigidez possuem pouca adequado e baixa probabilidade de ruptura.
precisão, explicando em parte o motivo da estaca de Entretanto, devido às características da obra em si,
40cm ter ficado com uma resistência superior à previu-se a provável superfície crítica para ruína do
estaca de 50cm. mesmo e as estacas de fundação dos blocos foram
dimensionadas considerando-se os esforços
2.1.3 Conjunto Habitacional no Município de decorrentes de alguma deformação eventual deste
Colombo talude. Como a estaca mais próxima ao mesmo
distava cerca de 7 metros do talude, concluiu-se que
esta superfície passa a cerca de 5 metros de

5
profundidade. As estacas de fundação dos blocos
foram dimensionadas com diâmetro de 40 cm e
armadas com 8 barras de 10mm com comprimento
de seis metros e os primeiros seis metros da estaca
foram desprezados para a resistência por atrito
lateral. Apesar do edifício também ter estacas mais
distantes do talude, todas as estacas do mesmo
foram dimensionadas conforme o mesmo critério,
para que fossem evitados recalques diferenciais.
Devido à quantidade de estacas para os dois
blocos (260 no total), foram programadas três
provas de carga estáticas. Em virtude do baixo nível
de carregamento das cargas, chegou-se a custos Figura 13: Prova de carga rápida sobre estaca de 40
baixos para a execução das provas de carga, cm de diâmetro e 11 metros de comprimento.
incluindo as suas reações. Por conta da quantidade,
optou-se por executar duas provas de carga rápidas e
uma lenta e comparar os resultados. Devido aos
critérios de projeto adotados e, como foi constatado
nas provas de carga, existe uma folga acima do
normal e ainda se está longe da ruptura. Por este
motivo, não foram feitas comparações com os
métodos de previsão de resistência.
As provas de carga foram levadas até o dobro da
carga de trabalho das estacas. A primeira foi
executada em uma estaca de 12 metros e foi levada
até uma carga de 400 kN e foi do tipo rápido. A
curva carga-recalque encontra-se na figura 12. A
segunda foi executada em uma estaca de onze Figura 14: Prova de carga lenta sobre estaca de 40 cm
metros e foi levada até uma carga de 246 kN e de diâmetro e 12 metros de comprimento.
também foi do tipo rápido. Este ensaio está
representado na figura 13. A terceira foi executada Comparando-se a prova de carga lenta com as
em uma estaca de 12 metros e foi levada até uma rápidas, é nítido que a prova de carga lenta ficou
carga de 216 kN. Este ensaio foi do tipo lento e mais rígida que a segunda prova de carga rápida,
encontra-se representado na figura 14. que foi levada a uma carga de ensaio semelhante,
Observando-se o gráfico carga-recalque da prova pois enquanto a prova de carga lenta, para uma
de carga lenta (figura 14), observa-se uma carga de 216 kN ficou com um recalque de 0,64
deformação significativa no último estágio de carga, mm, a prova rápida, no estágio de 221 kN ficou
quando a carga é mantida por um período mínimo com um recalque de 0,80 mm. Deve-se lembrar,
de doze horas. Este é um bom indício de que a porém, que a prova de carga rápida, neste caso, foi
velocidade de carregamento da estaca e, por feita em uma estaca mais curta que a lenta. Caso
consequência, a parcela dependente do tempo dos sejam comparados os resultados das duas provas de
recalques tem importância. Observa-se, porém que carga para as estacas de mesmo comprimento,
os deslocamentos estão baixos, o que faz com que se observa-se que a prova de carga rápida, no estágio
perca precisão nas leituras. de carregamento de 200 kN ficou com um recalque
de 0,46 mm e no estágio de 220 kN ficou com um
recalque de 0,68 mm, portanto não distando em
muito do ensaio lento (cerca de 70%). Como as
comparações foram feitas com um ensaio apenas,
deve-se considerar tal parâmetro apenas como
orientativo e procurar realizar mais ensaios para
comparações mais conclusivas.

2.1.4 Comparação dos ensaios

Observa-se grande dispersão entre os resultados dos


ensaios no tocante aos valores medidos de atrito
lateral e previstos pelos métodos de cálculo. Isto faz
Figura 12: Prova de carga rápida sobre estaca de 40
com que seja preciso estudar mais detalhadamente
cm de diâmetro e 12 metros de comprimento.
os métodos de cálculo e os seus parâmetros a serem
calibrados. Como a obra que apresentou o pior

6
resultado localiza-se onde a sondagem indicou o ser tão rígido quanto necessário e pode ser calibrado
solo mais resistente, acredita-se que o problema com base nos parâmetros obtidos nos ensaios
pode estar associado à tensão de aderência máxima dinâmicos.
entre a estaca e o solo. Um valor que parece
razoável é o valor citado por Alonso (2000) para as 4 ESTACAS PRÉ-MOLDADAS EM SOLOS
estacas de hélice contínua na formação Guabirotuba, RESIDUAIS
de 80 kPa.
Devido a esta mesma variabilidade, sugere-se 4.1 Conceituação Geral
que a calibração de um método de cálculo para as
estacas escavadas na formação Guabirotuba seja A obra apresentada localiza-se em Curitiba, Paraná,
feita com base em conceitos estatísticos, buscando- na esquina da pista lateral da Avenida Comendador
se a menor dispersão entre os valores previstos e Franco com a pista sul da Linha Verde. O edifício
medidos. em questão tem oito pavimentos e sua fundação
A comparação das provas de carga rápidas com a contemplava 394 estacas pré-moldadas com seções
prova lenta não pode ser feita em termos de de 18x18 cm a 35x35 cm para cargas que chegavam
resistências últimas, uma vez que nenhum dos a 1220 kN. Uma foto da obra pode ser vista na
ensaios foi levado até cargas próximas da ruptura, figura 15.
porém a comparação entre os valores de deformação
indicou que as medições são próximas, pelo menos
para deformações pequenas, porém, conforme
esperado, a prova rápida conduziu a um ensaio mais
rígido.

3 ESTACAS PRÉ-MOLDADAS EM SOLOS


MOLES

3.1 Conceituação Geral

As estacas pré-moldadas têm sido bastante


utilizadas nas regiões de solos moles. Estes solos
têm origem no período Quaternário e são solos
bastante recentes do ponto de vista geológico.
Possuem origem aluvionar e estão presentes ou em
Figura 15: Foto da obra localizada na Av.
áreas de inundação dos rios locais ou em áreas que
Comendador Franco (ENSOLO, 2011c)
eram inundáveis (Fiori e Salamuni, 2012).
M. Gazda et. al. (2012) mostraram dois casos de
Foram realizadas sondagens a percussão que
obras onde os resultados de ensaios de carregamento
acusaram a presença de solos da Formação
dinâmico efetuados conduziram a resultados abaixo
Guabirotuba, com espessura média de 10,0 metros,
do previsto pelos métodos de cálculo nestes solos.
para adentrar em uma camada de solo residual do
Em ambas as obras o que foi observado foi que as
migmatito até o limite das sondagens, impenetrável
estacas pré-moldadas ficaram com negas altas e
à percussão, com uma espessura média de 5,5 m. As
apresentaram baixa recuperação, ficando com negas
sondagens são apresentadas na figura 16.
altas mesmo após a ocorrência do set-up. Em ambas
as obras, observou-se a camada de solo mole
envolvendo a maior parte do fuste das estacas.
Se por um lado obras de maior porte costumam
prescindir de estacas de maior capacidade que
raramente dependem bastante do solo mole, obras
de menor porte podem ter suas fundações
dimensionadas totalmente dentro da camada de solo
mole, situação em que os métodos de cálculo
conduzem a valores contra a segurança, criando um
risco à sociedade e aos seus ocupantes. Recomenda-
se que, nestas situações, sejam feitos ensaios
dinâmicos mesmo que a quantidade de estacas da
obra seja inferior ao limite indicado na norma de
fundações, para possibilitar a aferição dos métodos
de cálculo adotados e a minimização dos riscos. Figura 16: Sondagens da obra da Av. Com. Franco.
Faz-se importante também a definição de um
critério de nega a ser perseguido. Tal critério deve
7
4.2 Campanha de ensaios Esta estaca foi a última ensaiada na obra, sendo
que duas estacas testes foram cravadas antes do
Devido ao número de estacas da obra e para atender início dos serviços de fundação e os demais ensaios
à norma de fundações, foram ensaiadas na obra 17 foram realizados no decorrer da obra. Na tabela 3
estacas, sendo 16 com ensaios carregamento são apresentados os resultados de todos os ensaios
dinâmicos e uma com prova de carga estática. realizados, e na tabela 4 são apresentados os valores
A prova de estática foi realizada em uma estaca de quake para as estacas ensaiadas. Em ambas as
de seção quadrada de 20x20 cm, com comprimento tabelas, o número do golpe analisado precedido da
de 12,00 metros e para uma carga de trabalho de 320 letra “R” representa o número de golpe para ensaio
kN e levada até uma carga de ensaio de 640 kN. de recravação da estaca, enquanto que as demais
Como reações da prova de carga, foram executados estacas sem prefixo algum no número de golpe
dois tirantes verticais com um embutimento de 1,5 indica que o ensaio foi realizado durante a cravação.
metro em rocha e armados com barra Resinex de 38
mm. A carga foi aplicada com um cilindro Tabela 3 – Valores de resistência obtidos para as
hidráulico com capacidade de 1000 kN e lida estacas ensaiadas na obra.
através de uma célula de carga com capacidade de Estaca Seção Golpe Atrito Ponta Total
2000 kN, sendo ela executada com carregamento (cm) (kN) (kN) (kN)
lento, conforme a NBR 12131 (ABNT, 2007). E22 20x20 R9 545 337 882
Devido a uma queda de energia durante a P10B 30x30 270 1223 210 1433
execução da prova de carga estática, o ensaio teve P12CB 22x22 R20 515 396 911
que ser interrompido com 512 kN (antepenúltimo P12CB 22x22 R27 717 66 783
estágio de carga) para descarregar, estabilizar os P13A 30x30 540 1118 114 1229
deslocamentos e retomar deste mesmo estágio a
P21I 25x25 444 1056 618 1673
prova de carga. No último estágio de carga, a 640
kN, a estaca rompeu o atrito e entrou em cravação P21I 25x25 R29 1808 349 2156
estática. P25A 25x25 949 1137 680 1817
P25A 25x25 R27 2104 152 2256
Carga (kN) P37C 22x22 R16 1160 98 1.258
0 64 128 192 256 320 384 448 512 576 640
0,0 P40A 25x25 906 1285 148 1433
1,5
P40A 25x25 R30 1939 327 2266
3,0
P42A 25x25 1019 831 500 1331
4,5
P42A 25x25 R18 1512 379 1891
6,0
P55B 25x25 R23 1339 174 1.513
Recalque (mm)

7,5

9,0
P68E 25x25 R18 1340 225 1565
10,5 P69G 25x25 2151 1016 374 1390
12,0 P70I 25x25 R22 1720 161 1.881
13,5 P75B 25x25 1705 891 449 1340
15,0
P75B 25x25 R41 1649 95 2044
16,5
Teste1 25x25 1062 633 914 1547
Figura 17: Prova de carga lenta sobre estaca de Teste1 25x25 R4 1555 718 2273
seção 20x20 cm e 12 metros de comprimento. Teste2 22x22 958 574 297 8701
Teste2 22x22 R11 1192 191 1383
Um dos ensaios de carregamento dinâmico foi
realizado em estaca próxima à da prova de carga Tabela 4 – Valores de Quake para estacas ensaiadas.
estática, com mesma seção transversal e
Estaca Seção Golpe Q. lateral Q. Ponta
comprimento cravado similar (11,70 metros) e seus
resultados são apresentados nas tabelas 1 e 2. (cm) (mm) (mm)
E22 20x20 R9 4,480 1,048
Tabela 1 – Valores de resistência obtidos para a P10B 30x30 270 7,500 1,041
estaca ensaiada próximo à prova de carga estática. P12CB 22x22 R20 1,180 1,067
Estaca Seção Atrito Ponta Total P12CB 22x22 R27 6,038 1,834
(cm) (kN) (kN) (kN) P13A 30x30 540 2,540 2,540
E22 20x20 545 337 882 P21I 25x25 444 6,950 1,004
P21I 25x25 R29 3,792 2,370
Tabela 2 – Valores de Quake para este ensaio P25A 25x25 949 0,772 0,230
Estaca Quake lateral Quake ponta P25A 25x25 R27 1,641 0,317
(mm) (mm) P37C 22x22 R16 2,145 0,282
E22 1,048 4,480 P40A 25x25 906 5,843 5,897
P40A 25x25 R30 1,601 0,685
P42A 25x25 1019 0,587 0,698
8
P42A 25x25 R18 2,384 2,059 pela sua ponta, o que acaba na maioria das vezes
P55B 25x25 R23 1,779 0,379 conduzindo a uma solução com estacas cravadas,
P68E 25x25 R18 1,839 0,604 sendo que por vezes o solo é de elevada resistência,
P69G 25x25 2151 5,653 4,235 o que impossibilita o uso de estacas pré-moldadas
P70I 25x25 R22 2,367 0,313 de concreto ou ainda por se tratar de obras com
P75B 25x25 1705 0,762 1,063 restrição de acesso a equipamentos, exigindo muitas
P75B 25x25 R41 6,696 1,004 emendas nas estacas.
Teste1 25x25 1062 7,500 6,708
5.2 Edifício Comercial no bairro Batel
Teste1 25x25 R4 5,453 2,604
Teste2 22x22 958 6,151 1,097
Trata-se de uma obra de um edifício comercial alto,
Teste2 22x22 R11 7,430 1,165 com uma grande escavação, localizado na Rua Dom
Pedro II, 183, no bairro do Batel, em Curitiba,
4.3 Comparação dos Resultados Paraná, onde foram especificadas estacas metálicas
constituídas por perfis laminados da série HP, todos
Estacas ensaiadas na cravação e na recravação com 310 mm de altura e massa por metro variando
apresentaram um ganho incremental de resistência, entre 79 kg e 125 kg. Uma foto desta obra pode ser
representando bem o set-up no período decorrido vista na figura 18.
entre fim de cravação e recravação, sendo que a
resistência por atrito lateral sofreu um acréscimo
que variou de 51% a 146% entre as estacas
ensaiadas, sendo que os maiores ganhos se deram
nas estacas de teste, que tiveram maior tempo de
set-up.
Observa-se, também, que as estacas ensaiadas na
cravação e na recravação obtiveram resistências de
ponta menores no último ensaio executado, levando
a crer que não foi mobilizada a resistência última
das estacas.
Ainda, em alguns casos que foram analisados
golpes diferentes, observou-se o desenvolvimento
da resistência de ponta em golpes aplicados
posteriormente e a conseqüente redução da
resistência por atrito lateral, bem como a respectiva
redução do quake lateral o aumento do quake de Figura 18: Foto da obra localizada no bairro Batel
ponta, indicando que a estaca rompeu o atrito e (ENSOLO 2011d).
entrou em regime de cravação e, ainda, que a
resistência última poderia ser dada pela soma das Foram executados na obra furos de sondagem
resistências lateral e de ponta de golpes diferentes. SPT e com o era prevista uma escavação grande e as
Por fim, a comparação de uma prova de carga cargas do edifício eram elevadas, a campanha de
estática com um ensaio de carregamento dinâmico sondagem foi complementada com sondagens
apresentou um valor de resistência 38% superior rotativas. Nota-se que o impenetrável das sondagens
deste em relação ao ensaio estático, considerando SPT estava a uma profundidade de
como carga última da prova de carga o valor de 640 aproximadamente onze metros a partir da cota de
kN, que conduziu a deslocamentos exagerados. escavação. As sondagens rotativas indicaram a
Ressalta-se que ambas as estacas têm o mesmo presença de gnaisse fraturado, com as fraturas na
tempo de set-up e o mesmo critério de cravação. maior parte diagonais, com recuperação entre 6% e
80%. A sondagem SPT inicial indicou a provável
5 ESTACAS METÁLICAS EM SOLOS presença de matacões, o que foi confirmado pelas
RESIDUAIS sondagens rotativas complementares. Os valores de
SPT para esta obra são indicados na figura 19.
5.1 Conceituação Geral Especificou-se, inicialmente, um critério de nega
que foi adotado para a cravação das primeiras
Apresentam-se neste item quatro casos de obras em estacas. A obra contemplava 95 estacas, mas como
Curitiba, Paraná, em solos residuais de gnaisse e eram estacas para grande capacidade de carga, cinco
migmatito. As quatro obras foram previstas em ensaios de carregamento dinâmico incorporaram a
estacas metálicas devido à possibilidade de solução de fundação a fim de confirmar o
empregar cargas elevadas por estaca, ou devido à desempenho das estacas, sendo o primeiro deles
pequena espessura de solo, que faz com que se opte executado tão breve o possível.
por uma solução capaz de transmitir cargas elevadas

9
Após este primeiro ensaio, as negas foram
revistas e foram recalculadas usando os valores
medidos neste primeiro para os parâmetros de
resistência, de deformação limite (quake) e de
amortecimento, usando-se para isto um software
baseado na equação da onda (GRLWEAP).
Os dez blocos que já haviam sido concretados
foram demolidos e as estacas já cravadas foram
emendadas e recravadas, tendo sido cravadas além
da cota onde inicialmente tinham sido paralisadas
mais cerca de três metros. Adicionalmente, o cliente
passou a exigir que fosse feito um ensaio de
carregamento dinâmico em cada bloco para
liberação para arrasamento das estacas e execução
do bloco. Tal medida mostra a importância de se
realizarem os ensaios de carregamento logo no
início da obra.
Após a alteração do critério de negas, todas as
estacas atingiram a resistência necessária. A título
de informação, cita-se que a nega especificada
inicialmente para os perfis HP 310x125, com um
martelo de 2500 kg de massa, era de 1mm por golpe
com o martelo a 2 metros de altura e após os ensaios
a nega para este perfil passou a ser de 0,3mm por
golpe com o martelo a 3,50 metros de altura.
Adicionalmente passou-se a trabalhar com um
Figura 19: Valores de SPT para a obra localizada
martelo de 4000 kg de massa na obra. Este martelo
no bairro Batel, em Curitiba, Paraná.
possui massa 80% superior à massa da estaca mais
pesada da obra (HP 310x125 com 18 metros de
Contudo, como as estacas atingiam as negas
comprimento), indicando que o critério apresentado
especificadas e ainda estavam cravando cerca de 4
na norma de fundações para dimensionamento do
metros além do impenetrável das sondagens à
martelo de cravação pode não ser o mais adequado.
percussão, a construtora concretou dez blocos de
Neste caso, parece ser mais indicado o critério
coroamento antes da execução deste ensaio.
adotado para realização de ensaios dinâmicos, que
Durante o ensaio dinâmico, a estaca ensaiada
determina que o martelo a ser utilizado deva ter peso
voltou ao regime de cravação com uma carga ainda
entre 1 e 2% da carga a ser mobilizada, para o caso
inferior à sua carga de trabalho. A análise do ensaio
destas estacas, de 3800 kN.
indicou que a estaca precisava de um deslocamento
Assim que começaram os ensaios posteriores,
grande da sua ponta para desenvolver toda a sua
pôde-se observar que as estacas nem sempre
resistência (quake de ponta), o que dissipou a
atingiam a maior carga por atrito lateral no mesmo
energia do martelo e fez com que as negas se
golpe que a maior resistência de ponta. Uma
fechassem mesmo antes de se chegar à resistência
possível explicação para isto são as altas
necessária. Este fato mostra a importância de se
deformações necessárias para a completa
realizar os ensaios previstos na norma de fundações,
mobilização da resistência de ponta. Em um golpe
mesmo quando não houver dúvidas quanto ao
de menor energia, esgota-se o atrito lateral e rompe-
desempenho das estacas. Os resultados deste ensaio
se o set-up, porém o nível de deformação necessário
encontram-se nas tabelas 5 e 6.
para isto aconteça ainda não é suficiente para a
mobilização total da resistência de ponta. O golpe
Tabela 5 – Valores de resistência obtidos para a
seguinte, com energia maior, possui energia para
primeira estaca ensaiada na obra do Batel.
mobilizar a resistência de ponta, porém o set-up do
Estaca Bitola Perfil Atrito Ponta Total atrito lateral já se encontra rompido e a resistência
(kN) (kN) (kN) por atrito abaixo da máxima. A tabela 7 mostra as
P18B HP 310x125 1068 440 1508 resistências obtidas para as estacas ensaiadas na
Nota: Carga de trabalho desta estaca de 1900 kN obra. Para algumas estacas, mais de um golpe foi
analisado pelo método CAPWAP e todas as análises
Tabela 6 – Valores de Quake para este ensaio são mostradas.
Estaca Quake lateral Quake ponta
(mm) (mm)
P18B 7,472 13,386

10
Tabela 7 - Valores de capacidade de carga obtidos PC2 310x79 9 963 1492 2455
para as estacas ensaiadas após correção do critério PC2 310x79 11 518 1938 2456
de nega na obra do Batel PC2 310x79 13 388 2119 2507
Estaca Bitola Golpe Atrito Ponta Total P5B 310x110 10 2272 1310 3582
(kN) (kN) (kN) P5B 310x110 15 259 3236 3495
P18B 310x125 12 1624 1866 3490 P5B 310x110 17 484 3243 3727
P14B 310x110 10 1774 750 2523 P5B 310x110 19 519 3143 3662
P3A 310x125 7 3643 268 3911 P4A 310x125 14 3350 1583 4933
P3A 310x125 13 694 3336 4030 P15B 310x93 7 2774 327 3101
P1B 310x125 8 3331 436 3768 P15B 310x93 9 1759 1341 3099
P1B 310x125 10 1813 1831 3644 P16A 310x93 3 1518 1012 2530
P2A 310x125 12 2759 1706 4464 P16A 310x93 5 2415 874 3288
P31 310x93 5 1772 251 2023 P16A 310x93 7 2305 1382 3687
P31 310x93 6 593 1545 2138 P16A 310x93 10 2308 1760 4068
P31 310x93 8 284 2102 2386 P16A 310x93 13 2310 1972 4282
P32 310x79 19 2506 538 3044 P16A 310x93 16 3408 1241 4649
P33 310x125 10 3460 167 3627 P20A 310x125 13 3381 1623 5004
P33 310x125 12 2473 586 3059 P21B 310x125 4 1466 1158 2624
P12A 310x110 4 1951 223 2174 P21B 310x125 6 1579 1749 3328
P12A 310x110 5 1794 622 2416 P21B 310x125 9 1324 2480 3804
P12A 310x110 9 1190 980 2170 P21B 310x125 11 1224 2948 4172
P17A 310x125 8 3054 208 3262 P21B 310x125 13 2818 1565 4382
P17A 310x125 10 2833 784 3617 P21B 310x125 15 1133 3059 4192
P34 310x125 5 2351 740 3091 P27B 310x125 5 1313 2045 3359
P34 310x125 7 1006 2290 3296 P27B 310x125 7 1020 2809 3929
P34 310x125 9 957 2342 3299 P27B 310x125 9 959 3479 4437
P34 310x125 11 439 2856 3295 P27B 310x125 11 1904 2817 4720
P24A 310x110 8 2035 435 2470 P27B 310x125 13 1781 3177 4959
P24A 310x110 10 2162 684 2845 P28B 310x125 11 2927 1507 4433
P24A 310x110 12 1881 625 2505 P28B 310x125 13 2282 2235 4517
P24A 310x110 14 1378 970 2344 P28B 310x125 15 1189 3227 4416
P36 310x93 4 723 1331 2054 P29B 310x125 15 2489 2047 4536
P36 310x93 6 754 1543 2297 P29B 310x125 17 1533 3084 4616
P36 310x93 8 430 2037 2468 P30A 310x93 15 2438 1192 3631
P36 310x93 10 59 2329 2388 P30A 310x93 19 886 2825 3711
P37 310x79 6 1083 1113 2196
P37 310x79 8 2383 217 2601 Com o objetivo de se aproveitar segmentos de
P37 310x79 10 2121 531 2652 perfil que já estavam na obra, algumas estacas foram
P37 310x79 12 1189 1456 2644 compostas com mais de um tipo de perfil. Durante o
P25B 310x125 7 2653 1070 3723 ensaio o que se observou foi que quando se variava
P25B 310x125 9 3128 675 3802 a seção da estaca ocorre, também, a variação da
P25B 310x125 11 2823 1392 4215 impedância desta e as curvas de força e velocidade
P25B 310x125 13 614 3583 4197 de partícula deixam de ser proporcionais. O
P26B 310x110 8 2345 1049 3394 resultado de campo, através do método CASE ou
P26B 310x110 10 1853 1459 3312 ICAP, deixa de ser válido, pois é uma premissa
P35A 310x79 10 1971 336 2307 destes métodos que a estaca possui seção uniforme
P35A 310x79 12 1301 848 2149 ao longo do seu comprimento. Tal fato deve ser
P35A 310x79 14 1455 777 2233 cuidadosamente analisado quando é feito um ensaio
P11A 310x125 15 4532 474 5006 de carregamento dinâmico em uma estaca moldada
P23A 310x125 14 583 3735 4318 in loco, pois nestes casos raramente a estaca possui
P23A 310x125 16 838 3765 4602 seção constante com a profundidade e, além disso, a
P23A 310x125 18 1352 3203 4555 velocidade de onda para o concreto também varia
P9A 310x93 12 1598 2425 4023 com a resistência do mesmo.
P6B 310x110 14 2848 968 3816 A figura 20 mostra os sinais de força e
P10B 310x125 12 1883 2488 4370 velocidade para uma estaca que possui variação de
P22B 310x93 6 977 2490 3467 impedância ao longo do seu comprimento. No caso
P22B 310x93 7 402 3149 3551 das estacas da obra, era conhecido de antemão que
P22B 310x93 9 1041 2646 3687 isto ocorreria e em qual profundidade,
P8 310x110 8 2362 982 3344 possibilitando que a variação de impedância fosse
P8 310x110 10 1735 1312 3047 incorporada ao modelo analisado.

11
Figura 20: Ensaio de carregamento dinâmico em
estaca com variação de seção, mostrando a não
proporcionalidade dos sinais de força e velocidade. Figura 21: Execução de fundação da obra localizada
no Cristo Rei (ENSOLO 2012a).
Observando-se o resultado das análises
CAPWAP da estaca do P37, a qual possui seção em eram significativas, a solução escolhida para a
perfil HP 310x110 nos primeiros 5,60 metros e fundação foi em estacas metálicas, as quais
perfil HP 310x79 nos 14,40 metros restantes, obtiveram negas rígidas em profundidades entre
considerando-se inicialmente uma estaca com seção 6,50 e 10,00 metros abaixo da cota de escavação,
uniforme com a profundidade em perfil HP 310x79 sempre com negas entre 0,0 e 0,3 mm por golpe.
e, depois, considerando-se a variação de seção, As sondagens que serviram de base para o
obtiveram-se os resultados apresentados na tabela 8. projeto indicavam a presença de solos moles
superficialmente, possivelmente de origem
Tabela 8 – Valores de resistência para a estaca do aluvionar uma vez que a obra é próxima a um canal
pilar P37, com e sem a consideração da variação de natural de drenagem. Subjacente a esta camada, as
seção sondagens indicavam solo da formação Guabirotuba
Estaca Variação Golpe Atrito Ponta Total e em seguida, a uma profundidade entre 7 e 9
de Seção (kN) (kN) (kN) metros, o solo residual. Não foram feitas sondagens
P37 Não 6 784 658 1442 rotativas. A figura 21 mostra os valores de NSPT com
P37 Não 8 488 1166 1653 a profundidade para as sondagens executadas.
P37 Não 10 1001 751 1752 Apesar do número de estacas da obra ainda estar
P37 Não 12 629 1107 1735 abaixo de 100, por conta das dúvidas que surgiram
P37 Sim 6 1083 1113 2196
P37 Sim 8 2383 217 2601
P37 Sim 10 2121 531 2652
P37 sim 12 1189 1456 2644

Observa-se que, neste caso, a não consideração


conduziu a resultados a favor da segurança, porém
isto não pode ser considerado como regra geral.
Sempre que houver variações de seção ao longo
de uma estaca ensaiada dinamicamente, esta
variação deve ser considerada na análise e isto deve
ser aplicado principalmente a estacas moldadas in
loco.

5.3 Edifício Residencial no Cristo Rei

Trata-se de uma obra de um edifício residencial,


contendo dois subsolos e mais oito pavimentos
sobre o térreo, localizado na esquina da Rua Sen.
Affonso Camargo com a Rua Schiller, no bairro
Cristo Rei, em Curitiba, Paraná. Uma foto da obra
durante a sua execução pode ser vista na figura 21.
Como o impenetrável das sondagens estava a
uma profundidade de cerca de sete metros abaixo da
cota de escavação, em um solo de resistência muito
variável e as cargas atuantes nos pilares da obra Figura 21: Sondagens SPT da obra no Cristo Rei.
12
adaptado no equipamento capaz de acessar e
após a execução da obra do Batel, foi programado trabalhar sob as restrições do edifício.
um ensaio de carregamento dinâmico para a obra, Atualmente, a primeira etapa da obra encontra-se
com o objetivo de aferir se os critérios de nega concluída e a segunda etapa ainda não foi iniciada.
estavam sendo suficientes para atingir as Como a obra possui cerca de 160 estacas, foram
resistências necessárias. Os resultados do ensaio são previstos ensaios de carregamento dinâmico. Foram
apresentados nas tabelas 9 e 10. ensaiadas seis estacas da primeira fase da obra.
Como se concluiu que não seria possível a adoção
Tabela 9 – Valores de resistência obtidos para a das cargas máximas previstas em projeto e visto que
estaca ensaiada na obra do Cristo Rei as estacas mais carregadas estavam localizadas
Estaca Seção Golpe Atrito Ponta Total principalmente na segunda etapa da obra, foi
(kN) (kN) (kN) solicitada uma prova de carga estática em uma
E45 250x73 5 988 402 1390 estaca da segunda etapa, de modo a servir de base
E45 250x73 7 1396 132 1529 para um melhor dimensionamento do reforço das
E45 250x73 9 1473 142 1615 fundações do bloco que seria alteado.
E45 250x73 10 1612 36 1649 Adicionalmente, realizou-se um ensaio de
carregamento dinâmico em uma estaca pertencente
Tabela 10 – Valores de quake para o ensaio ao mesmo bloco da estaca ensaiada estaticamente
realizado na obra do Cristo Rei com o objetivo de se compararem os resultados dos
Estaca Golpe Q. lateral Q. ponta ensaios.
(mm) (mm) Os resultados dos ensaios dinâmicos encontram-
E45 5 2,245 2,978 se nas tabelas 11 e 12.
E45 7 1,195 4,679 As sondagens indicaram a presença de argila
E45 9 1,004 7,167 orgânica mole e muito mole (turfa) nos primeiros
E45 10 1,038 9,131 cinco metros de profundidade. Abaixo da argila
orgânica, as sondagens indicaram a presença de solo
Observa-se que a resistência por atrito lateral residual de migmatito compacto a muito compacto
aumenta com o aumento da energia fornecida à até o limite de sondagem. As sondagens da obra
estaca durante o ensaio. O mesmo não foi observado localizadas próximas à primeira etapa podem ser
para a resistência de ponta, porém o valor do quake vistas na figura 22.
de ponta foi aumentando. Uma possível explicação
para isto diz respeito à possível existência de
tensões residuais, as quais podem manter a ponta da
estaca comprimida e que, à medida que o ensaio foi
sendo executado e a estaca foi sendo mobilizada,
podem ter sido aliviadas.

5.4 Edifício Histórico no Centro

Trata-se de um edifício de interesse histórico, que se


localiza na esquina da Rua Sete de Setembro com a
Rua João Negrão, no centro de Curitiba, Paraná.
Este edifício foi arrendado à Universidade Federal
do Paraná para servir como bloco de salas de aula.
Por ocasião do arrendamento à Universidade, o
edifício passou por um retrofit de modo a comportar
as necessidades das salas de aula, incluindo algumas
escadas e elevadores novos, além de um auditório
no pavimento térreo da primeira etapa e do
alteamento do edifício na segunda etapa, onde os
pavimentos adicionais não são visíveis a partir da
rua. Para este fim, o edifício, que tem as fachadas
tombadas pelo patrimônio histórico, necessitou de
um reforço de fundações e para tal foram previstas
estacas metálicas, cravadas com um bate-estaca
dotado de torre curta, capaz de acessar o subsolo do Figura 22: Sondagens SPT para o edifício histórico,
edifício e trabalhar sob restrição de pé-direito. localizado no centro de Curitiba
Como o projeto previa inicialmente o uso de
perfis para cargas elevadas, foi adotado um martelo
com massa de 1650 kg, o maior possível de ser
13
Tabela 11 – Valores de resistência obtidos para as
estacas ensaiadas no reforço do edifício histórico por meio de uma prova de carga estática com
Estaca Seção Golpe Atrito Ponta Total carregamento lento, até uma carga de 2800 kN.
(kN) (kN) (kN) Porém a estaca rompeu o seu set-up e voltou a
E27 150x22,5 8 878 231 1109 cravar estaticamente com uma carga de 1771 kN,
E29 150x22,5 11 1115 11 1126 sendo descarregada na sequência. O ensaio estático
P6 150x22,5 5 336 65 401 foi feito com reação em quatro tirantes compostos
P6 150x22,5 7 258 168 426 de 8 cordoalhas de 1/2” cada, os quais eram
P11I 250x73 4 1393 502 1894 inclinados 15 graus com a vertical e tiveram 8
P11I 250x73 6 1881 125 2006 metros em rocha fraturada. A montagem e a
M1E3 310x97 5 1932 259 2191 estrutura de reação utilizadas na prova de carga
M1E3 310x97 8 889 1076 1965 estática podem ser vistas na figura 23.
P24A 250x73 2 1859 371 2230 A comparação das curvas carga-recalque obtidas
E2E7 200x35,9 3 1314 68 1383 pelo ensaio dinâmico e pelo ensaio estático
mostraram uma capacidade de carga maior obtida
Tabela 12 – Valores de quake para as estacas do para o ensaio dinâmico. Parte da explicação para
reforço do edifício histórico tanto se pode dar devido ao fato de serem duas
Estaca Seção Golpe Q. lat. Q. ponta estacas diferentes, portanto com capacidades de
(mm) (mm) carga diferentes, e parte por serem ensaios
E27 150x22,5 8 2,295 1,004 diferentes. Não se escolheu ensaiar pelos dois
E29 150x22,5 11 1,653 1,004 métodos a mesma estaca porque um ensaio pode
P6 150x22,5 5 1,004 1,097 prejudicar o resultado do outro. Observa-se,
P6 150x22,5 7 2,305 1,603 também, que as rigidezes das duas estacas estiveram
P11I 250x73 4 1,284 1,005 bem próximas até a estaca ensaiada estaticamente
P11I 250x73 6 2,292 1,863 voltar a cravar. As curvas carga-recalque para os
M1E3 310x97 5 2,608 1,654 dois ensaios encontram-se na figura 24.
M1E3 310x97 8 2,596 1,450
P24A 250x73 2 2,053 1,904
E2E7 200x35,9 3 1,004 1,004

A estaca P24A é a estaca pertencente ao mesmo


bloco da estaca P24B, que foi a estaca ensaiada
estaticamente. Como o objetivo era a comparação
das curvas carga-recalque obtidas nos dois ensaios,
optou-se por aplicar um único golpe à estaca P24A,
com a maior altura possível.
A estaca ensaiada estaticamente tinha
inicialmente um carregamento previsto até duas
vezes a carga de trabalho máxima para as estacas de
seção W 250x73. Estas estacas estavam previstas
para trabalhar com 1400 kN e o ensaio seria levado, Figura 24: Comparação das curvas carga-recalque
(cargas em toneladas-força) para os ensaios
executados na estaca P24B (linha cheia, ensaiada
estaticamente) e P24A (linha tracejada, ensaiada
dinamicamente).

Observa-se também uma carga mobilizada


máxima entre 1771 kN e 2230 kN. O martelo
empregado para cravação tinha massa de 1650 kg,
portanto com peso em torno de 1% da carga
mobilizada pelo ensaio estático.

5.5 Edifício Residencial no Champagnat

Trata-se da obra de um edifício residencial de dez


pavimentos mais dois subsolos, localizada na rua
Fernando Simas, bairro Champagnat, em Curitiba,
Figura 23: Montagem e estrutura de reação da prova Paraná, ainda em execução durante o período em
de carga estática executada na estaca do P24B que este artigo foi escrito. Foram previstos dez
(ENSOLO 2012b) ensaios de carregamento dinâmico e executados, até

14
o presente momento, quatro. Uma foto da obra
encontra-se na figura 25. apresentou um resultado abaixo do esperado e com
isto, alterou-se o projeto de fundações para estacas
metálicas.
As sondagens da obra encontram-se plotadas na
figura 26. Todos os furos de sondagem foram
levados até o impenetrável à percussão. Não foram
feitas sondagens rotativas.
Apresentam-se nas tabelas 13 e 14 os resultados
dos ensaios de carregamento dinâmico realizados na
obra até o momento.

Tabela 13 – Valores de resistência obtidos para os


ensaios realizados no Champagnat
Estaca Seção Golpe Atrito Ponta Total
(kN) (kN) (kN)
P114A 250x38,5 6 717 537 1253
Figura 25: Foto da obra localizada no bairro P105A 250x62 11 2320 186 2505
Champagnat (ENSOLO, 2012c). P2Ab 250x89 9 2233 776 3009
P2Ab 250x89 21 2604 736 3340
As sondagens da obra indicavam a presença de P10Ba 310x110 7 1619 1579 3199
solo muito mole a mole, com argila orgânica até P10Ba 310x110 9 1925 1282 3206
pouco acima da cota de escavação. Em seguida era P10Ba 310x110 12 1609 1887 3496
prevista uma camada da ordem de seis metros de
solo residual medianamente compacto a compacto Tabela 14 – Valores de quake para os ensaios
até o limite de sondagens. realizados no Champagnat
Pensava-se, inicialmente, em utilizar fundação Estaca Seção Golpe Q. Lat. Q. Ponta
direta para o edifício e foi realizado um ensaio de (mm) (mm)
placa para fomentar o dimensionamento das sapatas P114A 250x38,5 6 5,334 1,004
tanto com relação à capacidade de carga quanto para P105A 250x62 11 3,109 2,945
recalques, de modo a tender à exigência da NBR P2Ab 250x89 9 2,387 1,391
15575 (ABNT, 2013) de um recalque diferencial P2Ab 250x89 21 6,421 1,604
específico máximo de 1/500. O ensaio de placa P10Ba 310x110 7 2,207 1,166
P10Ba 310x110 9 2,447 4,922
P10Ba 310x110 12 4,437 9,078

No caso desta obra, foram utilizados dois


martelos de cravação, sendo um deles com 2100 kg
e o outro com 2600 kg. As estacas têm
comprimentos entre 6,5 e 8,0 metros cravados a
partir do subsolo, portanto ambos pesam mais que o
dobro do peso da estaca. Percebe-se que a carga
mobilizada é superior a 100 vezes o peso do
martelo, porém as negas que foram calculadas com
o uso de software baseado na equação da onda e
com base nos ensaios executados estão sendo
medidas com o martelo com uma altura de queda de
4 metros. Isto sugere que seria mais adequada a
adoção de um martelo mais pesado para a obra.

5.6 Comparação dos Resultados

Observando-se as obras apresentadas conclui-se que


para todos os casos o dimensionamento ótimo do
martelo de cravação não diz respeito ao peso da
estaca, mas sim à carga que se pretende mobilizar.
Observam-se, também, em todas as obras,
valores relativamente elevados de quake. Estes
Figura 26: Sondagens SPT da obra do bairro valores conduzem a negas bastante rígidas e altas
Champagnat energias para a cravação das estacas até as
15
capacidades necessárias, o que também se traduz em ponta são baixos, ao contrário das estacas moldadas
tensões elevadas de cravação. Tais fatos tornam in loco disponíveis atualmente, uma vez que não se
indispensável a realização de ensaios de sabia de antemão qual seria o embutimento no
carregamento dinâmico nas estacas, de modo a se arenito passível de se obter devido à compacidade
obter os parâmetros necessários para calcular as do mesmo, além de se ter a presença de solo mole
negas com um software que se baseie na equação da superficialmente, que pouco contribuiria para a
onda unidimensional. resistência final da estaca.
Torna-se importante também o controle de As sondagens SPT realizadas para a obra
qualidade do estaqueamento por meio de ensaios de encontram-se na Figura 28. Nota-se que o arenito
carga. possui resistência crescente com a profundidade.
A comparação de uma prova de carga estática Como a obra possuía 142 estacas pré-moldadas,
com um ensaio de carregamento dinâmico conduziu foram previstos ensaios de carregamento dinâmico
a bons resultados em termos de rigidez, porém o para a obra e executados, ao todo, cinco ensaios.
ensaio de carregamento dinâmico apresentou um Como todas as estacas obtiveram coeficientes de
valor de resistência 26% superior ao ensaio estático. segurança bastante superiores ao mínimo de norma e
Parte desta diferença pode ser devida à diferença as estacas ensaiadas distribuíam-se por toda a área
entre os dois ensaios e parte devida ao fato de terem da obra, o número de ensaios foi considerado
sido ensaiadas duas estacas diferentes, embora suficiente.
próximas e cravadas com os mesmos critérios e o As estacas pré-moldadas possuíam seções entre
mesmo tempo de set-up. 14x14 e 40x40cm², distribuídas em blocos de até
quatro estacas e ficaram com comprimentos
6 ESTACAS PRÉ-MOLDADAS EM ARENITO
EM PONTA GROSSA

Mostra-se o caso de uma obra de fundação, de um


edifício residencial, localizado na Rua Emílio de
Menezes, na Praça da Música, em Ponta Grossa,
Paraná. Uma foto da obra pode ser vista na figura
27.

Figura 27: Foto da obra localizada em ponta Grossa


(ENSOLO 2012d).
Figura 28: Valores de NSPT para a obra do Edifício
Esta obra foi prevista para ser executada em Residencial de ponta Grossa, onde se percebe a
estacas pré-moldadas devido à presença do nível ocorrência de uma camada de solo mole até a cota
d’água alto, pouco abaixo da cota de escavação, e -8 metros, sobre arenito.
devido à presença de arenito, pertencente ao grupo
Itararé (Mineropar, 2005), a pouca profundidade, o cravados entre oito metros e 14,80 metros. Pôde-se
que traria uma responsabilidade grande para a ponta observar que as estacas de maior seção precisaram
das estacas. de comprimentos maiores para a obtenção das negas
Além disso, o solo acima do arenito era de baixa adequadas. Como era esperada que a resistência de
resistência, não contribuindo significativamente para ponta fosse significativa, a tensão média sob carga
o atrito lateral. Estes motivos fizeram com que fosse de trabalho destas estacas foi limitada a 6,0 MPa.
escolhida tal solução, para a qual os recalques Os resultados dos ensaios de carregamento
necessários para a mobilização da resistência de dinâmico foram superiores ao esperado. As estacas
conseguiram penetrar no arenito e obtiveram valores
16
altos de resistência por atrito lateral. Contribuiu para pré-moldadas cravadas com o auxílio de lançagem
isto o fato de terem sido cravadas com um bate- (jatos de água de alta pressão e vazão), de modo a
estacas hidráulico, dotado de um martelo hidráulico atravessar as camadas de areia compacta indicadas
com pilão de 5000 kg, conforme pode ser visto na nas sondagens. A obra localiza-se na Avenida Ponta
figura 26. Grossa, 716, no Centro de Guaratuba, Paraná.
A tabela 15 mostra a resistência obtida para as As sondagens executadas ainda na fase de
estacas. projeto indicavam a presença de areia fina siltosa,
com camadas limonitizadas. Tais sedimentos são de
Tabela 15 – Resistência das estacas da obra de Ponta origem holocênica (Mineropar, 2005b). As
Grossa sondagens encontram-se representadas na figura 29.
Estaca Seção Atrito Ponta Total Foram ensaiadas duas estacas através de ensaios
(cm²) (kN) (kN) (kN) de carregamento dinâmico. A obra não teria
P14C 35x35 1085 1342 2427 necessidade de ensaios pela norma, uma vez que
P17C 40x40 1121 1168 2289 possuía menos de 100 estacas, porém optou-se pela
P25D 30x30 1468 350 1818 realização dos mesmos para controle de qualidade.
P5A 30x30 1288 483 1770 As duas estacas ensaiadas tinham seção de
P24A 25x25 796 457 1253 30x30cm² e comprimentos cravados de 8,10 metros.
A primeira estaca, E121, tinha seis dias de fim de
Um fato que merece atenção é que os valores da cravação antes do ensaio e a segunda estaca E141
deformação prevista para a ponta das estacas para a tinha apenas algumas horas antes do ensaio, sendo
mobilização total das suas resistências (quake de possível, desta forma, avaliar a ocorrência de set-up
ponta) teve valores elevados. Acredita-se que isto nas estacas.
tenha ocorrido devido, em parte, ao fato de o quake
ser proporcional à seção da estaca e não terem sido
usadas estacas de seção pequena, além do fato do
arenito ser uma rocha sedimentar, com resistência
bastante inferior ao de uma rocha de origem
vulcânica.
Tais valores de quake conduziram à necessárias
negas rígidas, uma vez que esta deformação é
elástica e é preciso que o martelo dê energia para a
estaca, para que ela vença esta deformação e passe,
após isto, a cravar a estaca. Isto faz com que as
negas fechem e seja preciso aumentar mais a altura
de queda do martelo que em outras situações, além
de elevar as tensões de cravação. A tabela 16 mostra
os valores de quake tanto para a ponta como para o
atrito lateral das estacas, ambos elevados.

Tabela 16 – Valores de quake para as estacas da


obra de Ponta Grossa
Estaca Quake lateral Quake Ponta
(mm) (mm)
P14C 7,500 4,653
P17B 7,500 7,352
P25D 7,500 9,130
P5A 7,500 10,604
P24A 4,208 1,004 Figura 29: Sondagens SPT da obra de Guaratuba

Observou-se também que a resistência por atrito A tabela 17 apresenta as resistências obtidas para
lateral nas camadas superiores, acima do arenito, foi as duas estacas. Nota-se que para a primeira estaca
pequena, contribuindo muito pouco para a as resistências máximas de ponta e de atrito lateral
resistência final das estacas. não ocorrem no mesmo golpe, indicando a
ocorrência de set-up, uma vez que no golpe anterior
7 ESTACAS PRÉ-MOLDADAS CRAVADAS o atrito era maior, o set-up foi rompido e no golpe
POR LANÇAGEM EM GUARATUBA seguinte, com o atrito menor, foi mobilizada uma
parcela maior da resistência de ponta. Uma possível
explicação para isto deve-se à diferença nos valores
Apresenta-se o caso de uma obra, de um edifício
de quake (deformação necessária para a ruptura)
residencial, sem subsolos, com seis pavimentos
que, para o primeiro golpe, mostraram-se menores
sobre o térreo. Para esta obra foram adotadas estacas
17
para o atrito lateral que para a ponta. Desta forma, o
atrito lateral é todo mobilizado e rompe-se com uma
deformação que ainda não é suficiente para
mobilizar a ponta. Os valores de quake são
mostrados na tabela 18.
Para a estaca E141, para a qual o ensaio foi
realizado no mesmo dia da cravação, observam-se
valores de quake similares para o atrito e a ponta e
ambas as resistências diminuem no golpe seguinte.
A energia aplicada no golpe 7 foi superior à do
golpe 6, assim como as negas obtidas no golpe. O
golpe 6 abriu uma nega de 3 mm e o golpe 7 abriu
uma nega de 4 mm. Os golpes aplicados às estacas Figura 31: Gráfico mostrando a resistência por
foram também avaliados através do método ICAP, golpe, obtida através do método ICAP (RUC)
que consiste em uma aplicação rápida e versus a deformação total medida no golpe (nega
automatizada do método CAPWAP. Os gráficos mais repique elástico – DMX) para a estaca E141.
com a resistência obtida pelo método ICAP versus a
deformação total medida no ensaio (RUC x DMX) de tendência exponenciais aos gráficos.
encontram-se plotados nas figuras 30 e 31, onde se
percebe que a estaca E121 rompeu o set-up e perdeu
8 CONCLUSÕES E PROPOSTAS
resistência após o golpe de maior capacidade,
enquanto a estaca E141 mobilizou toda a resistência
disponível não aumentando e nem reduzindo a A execução de obras de Fundações no Paraná tem
capacidade na sequência. Foram adicionadas linhas nos mostrado que a prática de Engenharia, após
alguns anos e milhares de obras concluídas tem que
Tabela 17 – Resistência das estacas da obra de ser continuamente melhorada com a adoção de
Guaratuba novas tecnologias.
Estaca Golpe Atrito Ponta Total Com o aprimoramento e atualização constante
(kN) (kN) (kN) das Normas Técnicas dedicadas à área, objetivando
maior controle e previsibilidade do comportamento
E121 7 1531 56 1587
e desempenho de fundações, conclui-se que o
E121 10 1172 456 1628
sucesso dos empreendimentos construídos está
E141 6 911 118 1029
intimamente ligado a essas técnicas e, sem a menor
E141 7 905 67 973
dúvida, têm que ser seguidos a risca por quem atua
nessa área.
Tabela 18 – Valores de quake para a obra de
As obras apresentadas mostram também que a
Guaratuba
escolha do martelo de cravação das estacas através
Estaca Golpe Q. lateral Q. ponta dos critérios estabelecidos na norma de fundações
(mm) (mm)
pode conduzir a martelos inadequados. Isto ocorre
E121 7 2,034 5,415 pelo fato dos mesmos serem dimensionados com
E121 10 6,074 3,784 base no peso da estaca a ser cravada, sendo que os
E141 6 4,435 1,004 dados dos ensaios mostram que devem ser
E141 7 5,550 1,311 dimensionados com base na capacidade de carga a
ser mobilizada. Sugere-se, portanto, que, numa
próxima revisão da norma de fundações, a mesma
contemple como peso mínimo do martelo de
cravação o valor de 1% da carga de ruptura prevista
para a estaca a ser cravada.

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