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Olavo, J. M.
ENSOLO Engenharia de Solos e Fundações Ltda, Pinhais, Paraná, Brasil, jmolavo@ensolo.com.br
Gazda, R. J.
ENSOLO Engenharia de Solos e Fundações Ltda, Pinhais, Paraná, Brasil,
robertogazda@ensolo.com.br
Gazda, M.
ENSOLO Engenharia de Solos e Fundações Ltda, Pinhais, Paraná, Brasil, mauricio@ensolo.com.br
Resumo: O presente artigo tem como objetivo mostrar o atual estado da prática das fundações profundas
no Estado do Paraná. São mostrados os resultados de alguns ensaios, que têm servido para verificar as
limitações dos métodos de cálculo adotados e das próprias soluções.
Abstract: The present work has the objective of showing the present achievements in the practice of deep
foundations in Paraná State. Some test results are presented. These results are compared to the predicted
values in order to verify the limits of the current design methods and the limits of the adopted solutions.
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solos de maior competência. São mostrados alguns
ensaios executados nesta situação.
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de 431 kN, o que indica que o resultado medido foi
de aproximadamente 71% do previsto.
Mais grave que este fato foi que a estaca de
reação não suportou a carga aplicada. A estaca de
reação possuía o mesmo diâmetro da estaca
ensaiada, porém um comprimento de sete metros.
Fazendo-se uma análise comparativa com o
resultado do ensaio, esperava-se uma carga de
ruptura à compressão de cerca de 260 kN para o
atrito lateral de uma estaca com o comprimento de
sete metros. Como ela rompeu quando a carga
aplicada era de 260 kN e a reação era feita com duas
Figura 3: Curva carga-recalque da prova de carga estacas, a estaca rompeu à tração com uma carga
executada na estaca da obra do Condomínio igual à esperada para a compressão dividida por dois
Residencial localizado no bairro Hugo Lange. e não 1,40 como consta na NBR 6122. Mesmo
atendendo-se a este item da norma, pode-se ir contra
Desta forma, partiu-se para a análise da prova de a segurança quando se dimensionam estacas à
carga através do método da rigidez, proposto por tração.
Decourt (1996). A escolha de tal método deveu-se
ao fato de tratar-se de uma estaca escavada em 2.1.2 Obra de um Edifício Residencial no bairro
primeiro carregamento, portanto sem tensões Vila Isabel
residuais, indicando ser este um método válido para
análise, conforme avaliação de Massad (2008). Esta obra consiste em um edifício residencial,
Lançando-se a rigidez no gráfico, observa-se um dotado de seis pavimentos sobre o térreo e mais um
comportamento linear, indicando pouca influência subsolo. A obra localiza-se na Rua Irati, número
da ponta da estaca. A reta ajustada às rigidezes 440, fazendo frente também para a Rua Joaquim
obtidas no ensaio foi prolongada até o eixo das Caetano da Silva, paralela à Rua Irati, no bairro Vila
abcissas, resultando numa estimativa do valor do Isabel, em Curitiba, Paraná. Uma foto da obra sendo
atrito lateral da estaca, conforme proposição de executada encontra-se na figura 5.
Decourt. O gráfico de rigidez desta estaca pode ser
visto na figura 4.
Figura 4: Gráfico de rigidez para a prova de carga Figura 5: Execução das estacas de fundação da obra
executada na obra do bairro Hugo Lange da Rua Irati (ENSOLO 2011b)
Foi obtido para o atrito lateral desta estaca o A obra possui 144 estacas escavadas a céu
valor de 307 kN. Este valor era inferior ao previsto aberto, com diâmetros entre 25 cm e 50 cm e
inicialmente para esta estaca, o que levou à comprimentos entre três e treze metros, além de
reavaliação de todo o estaqueamento da obra. cortinas de contenção nas duas divisas laterais. Por
Observou-se que nenhuma das estacas da obra tinha este motivo foi especificada a execução de duas
carga chegando à sua ponta na situação de trabalho provas de carga estáticas, em cumprimento às
nesta nova situação, atendendo à exigência da exigências da norma de fundações.
norma de fundações de que ao menos 80% da carga As sondagens executadas indicaram a presença
de trabalho seja suportada pelo atrito lateral. Desta de solo da formação Guabirotuba e indicaram o
forma o estaqueamento foi considerado suficiente. nível d’água a cerca de 6 metros de profundidade.
Quando foi feita uma comparação do resultado Antes do início dos serviços foram executadas
do ensaio com as previsões, observou-se que a perfurações de viabilidade para confirmar a
previsão inicial para o atrito lateral desta estaca era existência deste lençol freático e o mesmo não foi
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encontrado. Acredita-se que a água indicada seja a dois. Os gráficos carga-deslocamento estão
decorrente do próprio processo de perfuração da representados nas figuras 7 e 8.
sondagem. As sondagens da obra estão indicadas na
figura 6.
Como a obra teria provas de carga, optou-se,
como critério de projeto, por adotar como máxima
uma tensão média sob carga de trabalho de 5,0 MPa.
A primeira prova de carga estática foi executada
em uma estaca com diâmetro de 40 cm e
comprimento útil de dez metros. A reação foi feita
com duas estacas de 40 cm de diâmetro e
comprimento de 10 metros, armadas com barras de
tirantes marca Incotep de 36 mm. Esta prova de
carga foi do tipo lento e foi levada até uma carga de
ensaio de 894 kN, equivalente ao dobro da carga de
trabalho da estaca. Figura 7: Curva carga-recalque da prova de carga
A segunda prova de carga estática foi executada executada na estaca de 40 cm de diâmetro e
em uma estaca com diâmetro de 50 cm e comprimento de dez metros.
comprimento de doze metros. A reação foi feita com
quatro estacas de 40 cm de diâmetro e oito metros
de comprimento, armadas com barras de tirantes
marca Resinex, de 32 mm. Esta prova de carga
também foi do tipo lento e foi levada até uma carga
de ensaio de 1230 kN, equivalente ao dobro da
carga de trabalho da estaca.
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profundidade. As estacas de fundação dos blocos
foram dimensionadas com diâmetro de 40 cm e
armadas com 8 barras de 10mm com comprimento
de seis metros e os primeiros seis metros da estaca
foram desprezados para a resistência por atrito
lateral. Apesar do edifício também ter estacas mais
distantes do talude, todas as estacas do mesmo
foram dimensionadas conforme o mesmo critério,
para que fossem evitados recalques diferenciais.
Devido à quantidade de estacas para os dois
blocos (260 no total), foram programadas três
provas de carga estáticas. Em virtude do baixo nível
de carregamento das cargas, chegou-se a custos Figura 13: Prova de carga rápida sobre estaca de 40
baixos para a execução das provas de carga, cm de diâmetro e 11 metros de comprimento.
incluindo as suas reações. Por conta da quantidade,
optou-se por executar duas provas de carga rápidas e
uma lenta e comparar os resultados. Devido aos
critérios de projeto adotados e, como foi constatado
nas provas de carga, existe uma folga acima do
normal e ainda se está longe da ruptura. Por este
motivo, não foram feitas comparações com os
métodos de previsão de resistência.
As provas de carga foram levadas até o dobro da
carga de trabalho das estacas. A primeira foi
executada em uma estaca de 12 metros e foi levada
até uma carga de 400 kN e foi do tipo rápido. A
curva carga-recalque encontra-se na figura 12. A
segunda foi executada em uma estaca de onze Figura 14: Prova de carga lenta sobre estaca de 40 cm
metros e foi levada até uma carga de 246 kN e de diâmetro e 12 metros de comprimento.
também foi do tipo rápido. Este ensaio está
representado na figura 13. A terceira foi executada Comparando-se a prova de carga lenta com as
em uma estaca de 12 metros e foi levada até uma rápidas, é nítido que a prova de carga lenta ficou
carga de 216 kN. Este ensaio foi do tipo lento e mais rígida que a segunda prova de carga rápida,
encontra-se representado na figura 14. que foi levada a uma carga de ensaio semelhante,
Observando-se o gráfico carga-recalque da prova pois enquanto a prova de carga lenta, para uma
de carga lenta (figura 14), observa-se uma carga de 216 kN ficou com um recalque de 0,64
deformação significativa no último estágio de carga, mm, a prova rápida, no estágio de 221 kN ficou
quando a carga é mantida por um período mínimo com um recalque de 0,80 mm. Deve-se lembrar,
de doze horas. Este é um bom indício de que a porém, que a prova de carga rápida, neste caso, foi
velocidade de carregamento da estaca e, por feita em uma estaca mais curta que a lenta. Caso
consequência, a parcela dependente do tempo dos sejam comparados os resultados das duas provas de
recalques tem importância. Observa-se, porém que carga para as estacas de mesmo comprimento,
os deslocamentos estão baixos, o que faz com que se observa-se que a prova de carga rápida, no estágio
perca precisão nas leituras. de carregamento de 200 kN ficou com um recalque
de 0,46 mm e no estágio de 220 kN ficou com um
recalque de 0,68 mm, portanto não distando em
muito do ensaio lento (cerca de 70%). Como as
comparações foram feitas com um ensaio apenas,
deve-se considerar tal parâmetro apenas como
orientativo e procurar realizar mais ensaios para
comparações mais conclusivas.
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resultado localiza-se onde a sondagem indicou o ser tão rígido quanto necessário e pode ser calibrado
solo mais resistente, acredita-se que o problema com base nos parâmetros obtidos nos ensaios
pode estar associado à tensão de aderência máxima dinâmicos.
entre a estaca e o solo. Um valor que parece
razoável é o valor citado por Alonso (2000) para as 4 ESTACAS PRÉ-MOLDADAS EM SOLOS
estacas de hélice contínua na formação Guabirotuba, RESIDUAIS
de 80 kPa.
Devido a esta mesma variabilidade, sugere-se 4.1 Conceituação Geral
que a calibração de um método de cálculo para as
estacas escavadas na formação Guabirotuba seja A obra apresentada localiza-se em Curitiba, Paraná,
feita com base em conceitos estatísticos, buscando- na esquina da pista lateral da Avenida Comendador
se a menor dispersão entre os valores previstos e Franco com a pista sul da Linha Verde. O edifício
medidos. em questão tem oito pavimentos e sua fundação
A comparação das provas de carga rápidas com a contemplava 394 estacas pré-moldadas com seções
prova lenta não pode ser feita em termos de de 18x18 cm a 35x35 cm para cargas que chegavam
resistências últimas, uma vez que nenhum dos a 1220 kN. Uma foto da obra pode ser vista na
ensaios foi levado até cargas próximas da ruptura, figura 15.
porém a comparação entre os valores de deformação
indicou que as medições são próximas, pelo menos
para deformações pequenas, porém, conforme
esperado, a prova rápida conduziu a um ensaio mais
rígido.
7,5
9,0
P68E 25x25 R18 1340 225 1565
10,5 P69G 25x25 2151 1016 374 1390
12,0 P70I 25x25 R22 1720 161 1.881
13,5 P75B 25x25 1705 891 449 1340
15,0
P75B 25x25 R41 1649 95 2044
16,5
Teste1 25x25 1062 633 914 1547
Figura 17: Prova de carga lenta sobre estaca de Teste1 25x25 R4 1555 718 2273
seção 20x20 cm e 12 metros de comprimento. Teste2 22x22 958 574 297 8701
Teste2 22x22 R11 1192 191 1383
Um dos ensaios de carregamento dinâmico foi
realizado em estaca próxima à da prova de carga Tabela 4 – Valores de Quake para estacas ensaiadas.
estática, com mesma seção transversal e
Estaca Seção Golpe Q. lateral Q. Ponta
comprimento cravado similar (11,70 metros) e seus
resultados são apresentados nas tabelas 1 e 2. (cm) (mm) (mm)
E22 20x20 R9 4,480 1,048
Tabela 1 – Valores de resistência obtidos para a P10B 30x30 270 7,500 1,041
estaca ensaiada próximo à prova de carga estática. P12CB 22x22 R20 1,180 1,067
Estaca Seção Atrito Ponta Total P12CB 22x22 R27 6,038 1,834
(cm) (kN) (kN) (kN) P13A 30x30 540 2,540 2,540
E22 20x20 545 337 882 P21I 25x25 444 6,950 1,004
P21I 25x25 R29 3,792 2,370
Tabela 2 – Valores de Quake para este ensaio P25A 25x25 949 0,772 0,230
Estaca Quake lateral Quake ponta P25A 25x25 R27 1,641 0,317
(mm) (mm) P37C 22x22 R16 2,145 0,282
E22 1,048 4,480 P40A 25x25 906 5,843 5,897
P40A 25x25 R30 1,601 0,685
P42A 25x25 1019 0,587 0,698
8
P42A 25x25 R18 2,384 2,059 pela sua ponta, o que acaba na maioria das vezes
P55B 25x25 R23 1,779 0,379 conduzindo a uma solução com estacas cravadas,
P68E 25x25 R18 1,839 0,604 sendo que por vezes o solo é de elevada resistência,
P69G 25x25 2151 5,653 4,235 o que impossibilita o uso de estacas pré-moldadas
P70I 25x25 R22 2,367 0,313 de concreto ou ainda por se tratar de obras com
P75B 25x25 1705 0,762 1,063 restrição de acesso a equipamentos, exigindo muitas
P75B 25x25 R41 6,696 1,004 emendas nas estacas.
Teste1 25x25 1062 7,500 6,708
5.2 Edifício Comercial no bairro Batel
Teste1 25x25 R4 5,453 2,604
Teste2 22x22 958 6,151 1,097
Trata-se de uma obra de um edifício comercial alto,
Teste2 22x22 R11 7,430 1,165 com uma grande escavação, localizado na Rua Dom
Pedro II, 183, no bairro do Batel, em Curitiba,
4.3 Comparação dos Resultados Paraná, onde foram especificadas estacas metálicas
constituídas por perfis laminados da série HP, todos
Estacas ensaiadas na cravação e na recravação com 310 mm de altura e massa por metro variando
apresentaram um ganho incremental de resistência, entre 79 kg e 125 kg. Uma foto desta obra pode ser
representando bem o set-up no período decorrido vista na figura 18.
entre fim de cravação e recravação, sendo que a
resistência por atrito lateral sofreu um acréscimo
que variou de 51% a 146% entre as estacas
ensaiadas, sendo que os maiores ganhos se deram
nas estacas de teste, que tiveram maior tempo de
set-up.
Observa-se, também, que as estacas ensaiadas na
cravação e na recravação obtiveram resistências de
ponta menores no último ensaio executado, levando
a crer que não foi mobilizada a resistência última
das estacas.
Ainda, em alguns casos que foram analisados
golpes diferentes, observou-se o desenvolvimento
da resistência de ponta em golpes aplicados
posteriormente e a conseqüente redução da
resistência por atrito lateral, bem como a respectiva
redução do quake lateral o aumento do quake de Figura 18: Foto da obra localizada no bairro Batel
ponta, indicando que a estaca rompeu o atrito e (ENSOLO 2011d).
entrou em regime de cravação e, ainda, que a
resistência última poderia ser dada pela soma das Foram executados na obra furos de sondagem
resistências lateral e de ponta de golpes diferentes. SPT e com o era prevista uma escavação grande e as
Por fim, a comparação de uma prova de carga cargas do edifício eram elevadas, a campanha de
estática com um ensaio de carregamento dinâmico sondagem foi complementada com sondagens
apresentou um valor de resistência 38% superior rotativas. Nota-se que o impenetrável das sondagens
deste em relação ao ensaio estático, considerando SPT estava a uma profundidade de
como carga última da prova de carga o valor de 640 aproximadamente onze metros a partir da cota de
kN, que conduziu a deslocamentos exagerados. escavação. As sondagens rotativas indicaram a
Ressalta-se que ambas as estacas têm o mesmo presença de gnaisse fraturado, com as fraturas na
tempo de set-up e o mesmo critério de cravação. maior parte diagonais, com recuperação entre 6% e
80%. A sondagem SPT inicial indicou a provável
5 ESTACAS METÁLICAS EM SOLOS presença de matacões, o que foi confirmado pelas
RESIDUAIS sondagens rotativas complementares. Os valores de
SPT para esta obra são indicados na figura 19.
5.1 Conceituação Geral Especificou-se, inicialmente, um critério de nega
que foi adotado para a cravação das primeiras
Apresentam-se neste item quatro casos de obras em estacas. A obra contemplava 95 estacas, mas como
Curitiba, Paraná, em solos residuais de gnaisse e eram estacas para grande capacidade de carga, cinco
migmatito. As quatro obras foram previstas em ensaios de carregamento dinâmico incorporaram a
estacas metálicas devido à possibilidade de solução de fundação a fim de confirmar o
empregar cargas elevadas por estaca, ou devido à desempenho das estacas, sendo o primeiro deles
pequena espessura de solo, que faz com que se opte executado tão breve o possível.
por uma solução capaz de transmitir cargas elevadas
9
Após este primeiro ensaio, as negas foram
revistas e foram recalculadas usando os valores
medidos neste primeiro para os parâmetros de
resistência, de deformação limite (quake) e de
amortecimento, usando-se para isto um software
baseado na equação da onda (GRLWEAP).
Os dez blocos que já haviam sido concretados
foram demolidos e as estacas já cravadas foram
emendadas e recravadas, tendo sido cravadas além
da cota onde inicialmente tinham sido paralisadas
mais cerca de três metros. Adicionalmente, o cliente
passou a exigir que fosse feito um ensaio de
carregamento dinâmico em cada bloco para
liberação para arrasamento das estacas e execução
do bloco. Tal medida mostra a importância de se
realizarem os ensaios de carregamento logo no
início da obra.
Após a alteração do critério de negas, todas as
estacas atingiram a resistência necessária. A título
de informação, cita-se que a nega especificada
inicialmente para os perfis HP 310x125, com um
martelo de 2500 kg de massa, era de 1mm por golpe
com o martelo a 2 metros de altura e após os ensaios
a nega para este perfil passou a ser de 0,3mm por
golpe com o martelo a 3,50 metros de altura.
Adicionalmente passou-se a trabalhar com um
Figura 19: Valores de SPT para a obra localizada
martelo de 4000 kg de massa na obra. Este martelo
no bairro Batel, em Curitiba, Paraná.
possui massa 80% superior à massa da estaca mais
pesada da obra (HP 310x125 com 18 metros de
Contudo, como as estacas atingiam as negas
comprimento), indicando que o critério apresentado
especificadas e ainda estavam cravando cerca de 4
na norma de fundações para dimensionamento do
metros além do impenetrável das sondagens à
martelo de cravação pode não ser o mais adequado.
percussão, a construtora concretou dez blocos de
Neste caso, parece ser mais indicado o critério
coroamento antes da execução deste ensaio.
adotado para realização de ensaios dinâmicos, que
Durante o ensaio dinâmico, a estaca ensaiada
determina que o martelo a ser utilizado deva ter peso
voltou ao regime de cravação com uma carga ainda
entre 1 e 2% da carga a ser mobilizada, para o caso
inferior à sua carga de trabalho. A análise do ensaio
destas estacas, de 3800 kN.
indicou que a estaca precisava de um deslocamento
Assim que começaram os ensaios posteriores,
grande da sua ponta para desenvolver toda a sua
pôde-se observar que as estacas nem sempre
resistência (quake de ponta), o que dissipou a
atingiam a maior carga por atrito lateral no mesmo
energia do martelo e fez com que as negas se
golpe que a maior resistência de ponta. Uma
fechassem mesmo antes de se chegar à resistência
possível explicação para isto são as altas
necessária. Este fato mostra a importância de se
deformações necessárias para a completa
realizar os ensaios previstos na norma de fundações,
mobilização da resistência de ponta. Em um golpe
mesmo quando não houver dúvidas quanto ao
de menor energia, esgota-se o atrito lateral e rompe-
desempenho das estacas. Os resultados deste ensaio
se o set-up, porém o nível de deformação necessário
encontram-se nas tabelas 5 e 6.
para isto aconteça ainda não é suficiente para a
mobilização total da resistência de ponta. O golpe
Tabela 5 – Valores de resistência obtidos para a
seguinte, com energia maior, possui energia para
primeira estaca ensaiada na obra do Batel.
mobilizar a resistência de ponta, porém o set-up do
Estaca Bitola Perfil Atrito Ponta Total atrito lateral já se encontra rompido e a resistência
(kN) (kN) (kN) por atrito abaixo da máxima. A tabela 7 mostra as
P18B HP 310x125 1068 440 1508 resistências obtidas para as estacas ensaiadas na
Nota: Carga de trabalho desta estaca de 1900 kN obra. Para algumas estacas, mais de um golpe foi
analisado pelo método CAPWAP e todas as análises
Tabela 6 – Valores de Quake para este ensaio são mostradas.
Estaca Quake lateral Quake ponta
(mm) (mm)
P18B 7,472 13,386
10
Tabela 7 - Valores de capacidade de carga obtidos PC2 310x79 9 963 1492 2455
para as estacas ensaiadas após correção do critério PC2 310x79 11 518 1938 2456
de nega na obra do Batel PC2 310x79 13 388 2119 2507
Estaca Bitola Golpe Atrito Ponta Total P5B 310x110 10 2272 1310 3582
(kN) (kN) (kN) P5B 310x110 15 259 3236 3495
P18B 310x125 12 1624 1866 3490 P5B 310x110 17 484 3243 3727
P14B 310x110 10 1774 750 2523 P5B 310x110 19 519 3143 3662
P3A 310x125 7 3643 268 3911 P4A 310x125 14 3350 1583 4933
P3A 310x125 13 694 3336 4030 P15B 310x93 7 2774 327 3101
P1B 310x125 8 3331 436 3768 P15B 310x93 9 1759 1341 3099
P1B 310x125 10 1813 1831 3644 P16A 310x93 3 1518 1012 2530
P2A 310x125 12 2759 1706 4464 P16A 310x93 5 2415 874 3288
P31 310x93 5 1772 251 2023 P16A 310x93 7 2305 1382 3687
P31 310x93 6 593 1545 2138 P16A 310x93 10 2308 1760 4068
P31 310x93 8 284 2102 2386 P16A 310x93 13 2310 1972 4282
P32 310x79 19 2506 538 3044 P16A 310x93 16 3408 1241 4649
P33 310x125 10 3460 167 3627 P20A 310x125 13 3381 1623 5004
P33 310x125 12 2473 586 3059 P21B 310x125 4 1466 1158 2624
P12A 310x110 4 1951 223 2174 P21B 310x125 6 1579 1749 3328
P12A 310x110 5 1794 622 2416 P21B 310x125 9 1324 2480 3804
P12A 310x110 9 1190 980 2170 P21B 310x125 11 1224 2948 4172
P17A 310x125 8 3054 208 3262 P21B 310x125 13 2818 1565 4382
P17A 310x125 10 2833 784 3617 P21B 310x125 15 1133 3059 4192
P34 310x125 5 2351 740 3091 P27B 310x125 5 1313 2045 3359
P34 310x125 7 1006 2290 3296 P27B 310x125 7 1020 2809 3929
P34 310x125 9 957 2342 3299 P27B 310x125 9 959 3479 4437
P34 310x125 11 439 2856 3295 P27B 310x125 11 1904 2817 4720
P24A 310x110 8 2035 435 2470 P27B 310x125 13 1781 3177 4959
P24A 310x110 10 2162 684 2845 P28B 310x125 11 2927 1507 4433
P24A 310x110 12 1881 625 2505 P28B 310x125 13 2282 2235 4517
P24A 310x110 14 1378 970 2344 P28B 310x125 15 1189 3227 4416
P36 310x93 4 723 1331 2054 P29B 310x125 15 2489 2047 4536
P36 310x93 6 754 1543 2297 P29B 310x125 17 1533 3084 4616
P36 310x93 8 430 2037 2468 P30A 310x93 15 2438 1192 3631
P36 310x93 10 59 2329 2388 P30A 310x93 19 886 2825 3711
P37 310x79 6 1083 1113 2196
P37 310x79 8 2383 217 2601 Com o objetivo de se aproveitar segmentos de
P37 310x79 10 2121 531 2652 perfil que já estavam na obra, algumas estacas foram
P37 310x79 12 1189 1456 2644 compostas com mais de um tipo de perfil. Durante o
P25B 310x125 7 2653 1070 3723 ensaio o que se observou foi que quando se variava
P25B 310x125 9 3128 675 3802 a seção da estaca ocorre, também, a variação da
P25B 310x125 11 2823 1392 4215 impedância desta e as curvas de força e velocidade
P25B 310x125 13 614 3583 4197 de partícula deixam de ser proporcionais. O
P26B 310x110 8 2345 1049 3394 resultado de campo, através do método CASE ou
P26B 310x110 10 1853 1459 3312 ICAP, deixa de ser válido, pois é uma premissa
P35A 310x79 10 1971 336 2307 destes métodos que a estaca possui seção uniforme
P35A 310x79 12 1301 848 2149 ao longo do seu comprimento. Tal fato deve ser
P35A 310x79 14 1455 777 2233 cuidadosamente analisado quando é feito um ensaio
P11A 310x125 15 4532 474 5006 de carregamento dinâmico em uma estaca moldada
P23A 310x125 14 583 3735 4318 in loco, pois nestes casos raramente a estaca possui
P23A 310x125 16 838 3765 4602 seção constante com a profundidade e, além disso, a
P23A 310x125 18 1352 3203 4555 velocidade de onda para o concreto também varia
P9A 310x93 12 1598 2425 4023 com a resistência do mesmo.
P6B 310x110 14 2848 968 3816 A figura 20 mostra os sinais de força e
P10B 310x125 12 1883 2488 4370 velocidade para uma estaca que possui variação de
P22B 310x93 6 977 2490 3467 impedância ao longo do seu comprimento. No caso
P22B 310x93 7 402 3149 3551 das estacas da obra, era conhecido de antemão que
P22B 310x93 9 1041 2646 3687 isto ocorreria e em qual profundidade,
P8 310x110 8 2362 982 3344 possibilitando que a variação de impedância fosse
P8 310x110 10 1735 1312 3047 incorporada ao modelo analisado.
11
Figura 20: Ensaio de carregamento dinâmico em
estaca com variação de seção, mostrando a não
proporcionalidade dos sinais de força e velocidade. Figura 21: Execução de fundação da obra localizada
no Cristo Rei (ENSOLO 2012a).
Observando-se o resultado das análises
CAPWAP da estaca do P37, a qual possui seção em eram significativas, a solução escolhida para a
perfil HP 310x110 nos primeiros 5,60 metros e fundação foi em estacas metálicas, as quais
perfil HP 310x79 nos 14,40 metros restantes, obtiveram negas rígidas em profundidades entre
considerando-se inicialmente uma estaca com seção 6,50 e 10,00 metros abaixo da cota de escavação,
uniforme com a profundidade em perfil HP 310x79 sempre com negas entre 0,0 e 0,3 mm por golpe.
e, depois, considerando-se a variação de seção, As sondagens que serviram de base para o
obtiveram-se os resultados apresentados na tabela 8. projeto indicavam a presença de solos moles
superficialmente, possivelmente de origem
Tabela 8 – Valores de resistência para a estaca do aluvionar uma vez que a obra é próxima a um canal
pilar P37, com e sem a consideração da variação de natural de drenagem. Subjacente a esta camada, as
seção sondagens indicavam solo da formação Guabirotuba
Estaca Variação Golpe Atrito Ponta Total e em seguida, a uma profundidade entre 7 e 9
de Seção (kN) (kN) (kN) metros, o solo residual. Não foram feitas sondagens
P37 Não 6 784 658 1442 rotativas. A figura 21 mostra os valores de NSPT com
P37 Não 8 488 1166 1653 a profundidade para as sondagens executadas.
P37 Não 10 1001 751 1752 Apesar do número de estacas da obra ainda estar
P37 Não 12 629 1107 1735 abaixo de 100, por conta das dúvidas que surgiram
P37 Sim 6 1083 1113 2196
P37 Sim 8 2383 217 2601
P37 Sim 10 2121 531 2652
P37 sim 12 1189 1456 2644
14
o presente momento, quatro. Uma foto da obra
encontra-se na figura 25. apresentou um resultado abaixo do esperado e com
isto, alterou-se o projeto de fundações para estacas
metálicas.
As sondagens da obra encontram-se plotadas na
figura 26. Todos os furos de sondagem foram
levados até o impenetrável à percussão. Não foram
feitas sondagens rotativas.
Apresentam-se nas tabelas 13 e 14 os resultados
dos ensaios de carregamento dinâmico realizados na
obra até o momento.
Observou-se também que a resistência por atrito A tabela 17 apresenta as resistências obtidas para
lateral nas camadas superiores, acima do arenito, foi as duas estacas. Nota-se que para a primeira estaca
pequena, contribuindo muito pouco para a as resistências máximas de ponta e de atrito lateral
resistência final das estacas. não ocorrem no mesmo golpe, indicando a
ocorrência de set-up, uma vez que no golpe anterior
7 ESTACAS PRÉ-MOLDADAS CRAVADAS o atrito era maior, o set-up foi rompido e no golpe
POR LANÇAGEM EM GUARATUBA seguinte, com o atrito menor, foi mobilizada uma
parcela maior da resistência de ponta. Uma possível
explicação para isto deve-se à diferença nos valores
Apresenta-se o caso de uma obra, de um edifício
de quake (deformação necessária para a ruptura)
residencial, sem subsolos, com seis pavimentos
que, para o primeiro golpe, mostraram-se menores
sobre o térreo. Para esta obra foram adotadas estacas
17
para o atrito lateral que para a ponta. Desta forma, o
atrito lateral é todo mobilizado e rompe-se com uma
deformação que ainda não é suficiente para
mobilizar a ponta. Os valores de quake são
mostrados na tabela 18.
Para a estaca E141, para a qual o ensaio foi
realizado no mesmo dia da cravação, observam-se
valores de quake similares para o atrito e a ponta e
ambas as resistências diminuem no golpe seguinte.
A energia aplicada no golpe 7 foi superior à do
golpe 6, assim como as negas obtidas no golpe. O
golpe 6 abriu uma nega de 3 mm e o golpe 7 abriu
uma nega de 4 mm. Os golpes aplicados às estacas Figura 31: Gráfico mostrando a resistência por
foram também avaliados através do método ICAP, golpe, obtida através do método ICAP (RUC)
que consiste em uma aplicação rápida e versus a deformação total medida no golpe (nega
automatizada do método CAPWAP. Os gráficos mais repique elástico – DMX) para a estaca E141.
com a resistência obtida pelo método ICAP versus a
deformação total medida no ensaio (RUC x DMX) de tendência exponenciais aos gráficos.
encontram-se plotados nas figuras 30 e 31, onde se
percebe que a estaca E121 rompeu o set-up e perdeu
8 CONCLUSÕES E PROPOSTAS
resistência após o golpe de maior capacidade,
enquanto a estaca E141 mobilizou toda a resistência
disponível não aumentando e nem reduzindo a A execução de obras de Fundações no Paraná tem
capacidade na sequência. Foram adicionadas linhas nos mostrado que a prática de Engenharia, após
alguns anos e milhares de obras concluídas tem que
Tabela 17 – Resistência das estacas da obra de ser continuamente melhorada com a adoção de
Guaratuba novas tecnologias.
Estaca Golpe Atrito Ponta Total Com o aprimoramento e atualização constante
(kN) (kN) (kN) das Normas Técnicas dedicadas à área, objetivando
maior controle e previsibilidade do comportamento
E121 7 1531 56 1587
e desempenho de fundações, conclui-se que o
E121 10 1172 456 1628
sucesso dos empreendimentos construídos está
E141 6 911 118 1029
intimamente ligado a essas técnicas e, sem a menor
E141 7 905 67 973
dúvida, têm que ser seguidos a risca por quem atua
nessa área.
Tabela 18 – Valores de quake para a obra de
As obras apresentadas mostram também que a
Guaratuba
escolha do martelo de cravação das estacas através
Estaca Golpe Q. lateral Q. ponta dos critérios estabelecidos na norma de fundações
(mm) (mm)
pode conduzir a martelos inadequados. Isto ocorre
E121 7 2,034 5,415 pelo fato dos mesmos serem dimensionados com
E121 10 6,074 3,784 base no peso da estaca a ser cravada, sendo que os
E141 6 4,435 1,004 dados dos ensaios mostram que devem ser
E141 7 5,550 1,311 dimensionados com base na capacidade de carga a
ser mobilizada. Sugere-se, portanto, que, numa
próxima revisão da norma de fundações, a mesma
contemple como peso mínimo do martelo de
cravação o valor de 1% da carga de ruptura prevista
para a estaca a ser cravada.
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18
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