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ORGANIZADORES
Juliana Quadros
Péricles Augusto dos Santos
VOLUME I
NÚMERO I
Organização
Juliana Quadros
Péricles Augusto dos Santos
1ª Edição
29 A 30 DE OUTUBRO DE 2015
MATINHOS | PR
DIÁLOGOS INTERDISCIPLINARES EM DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁ-
VEL: POLÍTICAS, ECOLOGIAS E SABERES.
ANAIS DO I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL
SUSTENTÁVEL (I SBDTS)
29 a 30 de Outubro de 2015
Matinhos | PR
Realização: Apoio:
PROJETO GRÁFICO
Capa: Péricles Augusto dos Santos
Projeto Gráfico e Diagramação - Péricles Augusto dos Santos
Revisão do Apêndice de Resumos: Loide Sulamita Mendes do Nascimento.
Copyright© dos editores
ISBN 978-85-63839-25-1
Caro Leitor,
A Comissão Organizadora, com muita alegria, apresenta o Ebook “Diálogos Interdisciplinares em Desenvolvi-
mento Territorial Sustentável: Políticas, Ecologias e Saberes” com os Anais do I Simpósio Brasileiro de Desen-
volvimento Territorial Sustentável.
Ficamos muito honrados com o recebimento de mais de 200 trabalhos científicos na primeira edição de um sim-
pósio, que já nasce grande, e esperamos que frutifique e se amplie em suas próximas edições.
Este Ebook está organizado em três sessões. A primeira traz como capítulos os artigos completos apresentados
nos 13 Grupos de Trabalho do evento. A segunda sessão traz como suplemento do Ebook os resumos apresen-
tados durante a sessão de paíneis do evento. Por fim a terceira sessão traz os projetos de pesquisa apresenta-
dos no “Consórcio de Projeto de Pesquisas”.
Esperamos desta forma que as reflexões produzidas por cada autor possa ser divulgada de forma ampla e de-
mocrática, sempre com o objetivo de promover o diálogo dos saberes para construção do conhecimento sobre o
Desenvolvimento Territorial Sustentável.
COMISSÃO ORGANIZADORA
Alex Freitag Ketlyn Rodrigues
Alexandre Hofart Arins Larissa Amâncio
Alides Baptista Chimin Júnior Lorena Costa de Queiroz
Amanda Sell Tavares Luana dos Santos Bueno
Ana Clara Giraldi Costa Luciana Castilho Weinert
Andreia Cristina da Silva Luiz Eduardo Geara
Andreia Machado Manuela França Abalem
Andressa Luz Borges Marcela Godoy dos Santos
Areta da Costa Mendes Marcelo Chemin
Beatriz Leite Ferreira Cabral Marcos Claudio Signorelli
Claudemir D. Miranda Junior Maria Karonlinne L. de Medeiros
Cleonice Schull da Cruz Mariane Gonçalves de lima
Daniela Resende Archanjo Micaela Góis Boechat Boaventura
Daniele Schneider Mirna Carriel Cleto
Diogo Camargo Pires Nadia Ansilago
Edipo Vinicius dos Santos Tagliatella Natali Calderari
Elaine Paduch Patricia Aparecida Model
Elisama Dias Paula Moreira da Silva
Ellen Santo Pedro Sarkis Simões de Oliveira
Erica Vicente Onofre Péricles Augusto dos Santos
Fernanda de Souza Sezerino Rafael Punhatoski
Fernando Henrique de Sousa Paz Rodrigo Arantes Reis
Flávia Gabrielle Koprovski Samaroni Pinheiro
Isadora Mendes Costa Samyra Tazaki Dote
Ivan Jairo Junckes Stephany Mayara Barros
Janelize Felisbino Nascimento Thiago Lopes Leandro
Jhonatan Carlos dos Santos Tieme Carvalho Nishiyama
João Rafael Deron Wanderlei do Amaral
José Carlos Muniz
Juliana Quadros
VIOLÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR: QUESTÕES DE PODER ENTRE ESTUDANTES DO LITORAL DO PA- DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL: LIMITES SOCIAIS DO CRESCIMENTO.....................138
RANÁ...............................................................................................................................................................................078
ECODESENVOLVIMENTO COMO RESPOSTA A UMA CRISE MULTIDIMENSIONAL.......................................143
GRUPO DE TRABALHO III - GÊNERO E DIVERSIDADE
SISTEMAS AGROALIMENTARES LOCALIZADOS, NOVAS RURALIDADES E A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA
A INSERÇÃO DA PERSPECTIVA DE GÊNERO EM POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO: UMA QUESTÃO COMO FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO.............................................................................148
DE PODER.......................................................................................................................................................................084
TIPICAMENTE CAIÇARA: A CATAIA ENQUANTO PRODUTO DA COMUNIDADE DE BARRA DO ARARA-
A LIBERDADE FEMININA E O DESENVOLVIMENTO HUMANO: UM OLHAR A PARTIR DE AMARTYA SEN. PIRA/GUARAQUEÇABA-PR........................................................................................................................................153
..........................................................................................................................................................................................089
GRUPO DE TRABALHO V - RURALIDADES, TRABALHO E SUSTENTABILIDADE
DA EPIDEMIA DE CESARIANAS AO RESGATE DO PARTO NATURAL................................................................092
A EROSÃO EM ESTRADAS NÃO PAVIMENTADAS NA BACIA DO RIO DO ATALHO EM CRUZ MACHADO
EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS DE GÊNERO E DIVERSIDADE E DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMEN- – PR..................................................................................................................................................................................160
TO DO CENÁRIO ESCOLAR........................................................................................................................................097
ENTRE A PRESENÇA E AUSENCIA: ANALISE DAS PECULIRIDADES DO CONTEXTO SOCIOECONÔMICO
MULHERES TRABALHADORAS NA AREA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO LITORAL DO PARANÁ: INERSEC- DO MUNICÍPIO DE MORRETES/PR............................................................................................................................165
ÇÕES ENTRE GÊNERO, TRABALHO, VIOLÊNCIA(S) E SAÚDE...........................................................................102
MERCADO INSTITUCIONAL NO TERRITÓRIO DO MARAJÓ: O CASO DO PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE PARA OS HOMENS DE MATINHOS – PR: OBSTÁCULOS NA ATENÇÃO ALIMENTOS...................................................................................................................................................................171
PRIMÁRIA À SAÚDE.....................................................................................................................................................107
O PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS SOB A ÓPTICA DA TEORIA DA JUSTIÇA COMO EQUIDA-
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES EM NOVA ANDRADINA - MS......................................................112 DE.....................................................................................................................................................................................175
REDES SOCIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: UMA EXPERIÊNCIA INTER- PERFIL DO CONSUMIDOR DE PESCADOS E/OU FRUTOS DO MAR NO LITORAL DO PARANÁ...................181
SETORIAL NO MUNICÍPIO DE PARANAGUÁ/PR.....................................................................................................117
PRODUÇÃO DE BANANA NO LITORAL DO PARANÁ - REFLEXÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO RURAL
NA REGIÃO OU IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO.....................................................188
GRUPO DE TRABALHO IV - DESENVOLVIMENTO, SABERES LOCAIS E TEMPORALIDADES
GRUPO DE TRABALHO VI - AGROECOLOGIA E PRODUÇÃO ORGÂNICA
“NA BAÍA MUDOU TAMBÉM, PORQUE TUDO MUDA”: PERCEPÇÃO DE MORADORES SOBRE TEMPORA-
LIDADES, BAÍA DE GUARATUBA, PR.......................................................................................................................123 A AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL: OS SABERES LOCAIS COMO
PROMOTORES DE DESENVOLVIMENTO E DE NOVAS RELAÇÕES DE GÊNERO............................................193
RELAÇÕES, PRÁTICAS E ESTRUTURAS DE RECIPROCIDADE NA PESCA DA TAINHA NA ILHA DO MEL....127
A IMPORTÂNCIA DAS INOVAÇÕES SOCIOTÉCNICAS PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FA-
RESSIGNIFICAÇÃO DOS PAPÉIS SOCIAIS DE MULHERES NA AGRICULTURA FAMILIAR E CAMPONESA MONITORAMENTO DE AMÔNIA NA ATMOSFERA EM PARANAGUÁ-PR.........................................................266
DE BASE AGROECOLÓGICA.....................................................................................................................................202
POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE DA CRIANÇA: A INSERÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NA PUERICULTURA
OS PROTOCOLOS COMUNITÁRIOS COMO INSTRUMENTOS DA AGROECOLOGIA PARA A PROTEÇÃO DOS EM PONTAL DO PARANÁ/PR.....................................................................................................................................269
SABERES TRADICIONAIS DOS AGRICULTORES FAMILIARES..........................................................................206
POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA, SAÚDE E CIDADES PORTUÁRIAS - PERSPECTIVAS PARA PARANAGUÁ.....274
PERSPECTIVAS DE SUSTENTABILIDADE TERRITORIAL NO CENÁRIO DA PAISAGEM CULTURAL CAFE-
EIRA: O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES CAFEEIRAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NO DEPARTAMENTO DE SAÚDE AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE MATINHOS/PR: DISCUSSÃO A PARTIR DA QUALIDADE AMBIEN-
RISARALDA/COLÔMBIA............................................................................................................................................211 TAL DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS........................................................................................................................280
PAISAGISMO AGROECOLÓGICO..............................................................................................................................216 ORGANIZAÇÃO DOS CENTROS DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR (CEREST) E SÉRIE HIS-
TÓRICA DAS NOTIFICAÇÕES DOS AGRAVOS DE SAÚDE DO TRABALHADOR NO PARANÁ (2010-2014)....285
CASOS DE SUCESSO DE PRODUTORES CERTIFICADOS PELO PROGRAMA PARANAENSE DE CERTIFICA-
ÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS, NÚCLEO GUARAPUAVA..............................................................................219 GRUPO DE TRABALHO IX - ÁREAS PROTEGIDAS, RISCO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS
A REDE ECOVIDA DE AGROECOLOGIA: NÚCLEO SUDOESTE DO PARANÁ (BRASIL)................................223 GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E (PSEUDO) PARTICIPAÇÃO SOCIAL......................................291
GRUPO DE TRABALHO VII - TURISMO E MEIO AMBIENTE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E CONFLITOS AMBIENTAIS: UMA ANÁLISE DAS ÁREAS NATURAIS PRO-
TEGIDAS DO LITORAL DO PARANÁ........................................................................................................................296
CICLOTURISMO E AGROECOLOGIA. VETORES PARA A SUSTENTABILIDADE TERRITORIAL..................232
DISPUTAS E LÓGICAS DE USO DO PARQUE NACIONAL MARINHO DAS ILHAS DOS CURRAIS, ESTADO
ESTRADA DA GRACIOSA...........................................................................................................................................237 DO PARANÁ..................................................................................................................................................................301
O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA E SAZONALIDADE NO LITORAL DO PARANÁ................................241 VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NO ENTORNO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: O CASO DO
MUNICÍPIO DE PARANAGUÁ....................................................................................................................................306
TURISMO COMO UM POSSÍVEL FATOR DE ECODESENVOLVIMENTO............................................................246
AS RELAÇÕES ENTRE DESASTRE E TERRITÓRIO COMO EXPRESSÃO DOS CONFLITOS SOCIOAMBIEN-
TURISMO EM PARQUES DO LITORAL DO PARANÁ: CORRELAÇÃO ENTRE ATIVIDADES TURÍSTICAS PO- TAIS: AS DIMENSÕES TERRITORIAIS DOS DESASTRES NO VALE DO ITAJAÍ/SC.........................................311
TENCIAIS/COMPATÍVEIS E REALIZADAS..............................................................................................................250
MUDANÇAS NO CLIMA E NA NATUREZA: A PERCEPÇÃO DOS PESCADORES DA VILA SÃO PEDRO EM
TURISMO PARA O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL: PERCEPÇÕES SOBRE O LITORAL NAVEGANTES/SC.........................................................................................................................................................316
DO PARANÁ..................................................................................................................................................................255
SAPOS EM ÁGUA FERVENTE?: PERCEPÇÕES DOS MORADORES DO BAIRRO SÃO PEDRO, NAVEGANTES
GRUPO DE TRABALHO VIII - SAÚDE E AMBIENTE (SC) SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES AMBIENTAIS ADVINDAS DA DENSIFICAÇÃO URBANA E DO FENÔ-
MENO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS...................................................................................................................322
AVALIAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES COM COBERTURA VERDE NA REGIÃO DO ALTO
GRUPO DE TRABALHO X - CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS E JUSTTIÇA AMBIENTAL TEOR E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL DE Baccharis milleflora (Leess.) A.P. De (Asteraceae)
NOS CAMPOS GERAIS DA FLORESTA ATLÂNTICA DO ESTADO DO PARANÁ................................................392
A PROPOSTA DA GESTÃO TERRITORIAL DE TERRAS INDÍGENAS COMO MEIO DE SE ALCANÇAR A SUS-
TENTABILIDADE.........................................................................................................................................................332 TEOR E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS COMPOSTOS VOLÁTEIS DE FOLHAS DE Varronia curassavica Vell. (Bo-
raginaceae) SUBMETIDAS A DIFERENTES MÉTODOS DE SECAGEM..................................................................398
A RESSIGNIFICAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO ENFRENTAMENTO A UM CONFLITO TERRITO-
RIAL NO LITORAL DO PARANÁ...............................................................................................................................337 UTILIZAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NA IRRIGAÇÃO.....................................................................................402
AVALIAÇÃO DAS REDES SOCIOAMBIENTAIS DE MEDIAÇÃO DA POLÍTICA DO TERRITÓRIO DA CIDA- VALORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS EM PONTAL DO PARANÁ...............................................................406
DANIA DO BAIXO TOCANTINS-PA...........................................................................................................................341
GRUPO DE TRABALHO XII - ZONA COSTEIRA, CRESCIMENTO URBANO E ORDENAMENTO TERRI-
EFEITOS SOCIOAMBIENTAIS DA BARRAGEM NORTE NO MUNICÍPIO DE JOSÉ BOITEUX – SC...............346 TORIAL
IMPLICAÇÕES DE POLÍTICAS PARA A PESCA ARTESANAL COSTEIRA NA TRAJETÓRIA DE DESENVOL- VELHAS REVOLTAS, NOVAS MÁQUINAS: ORDENAMENTO TERRITORIAL E DIREITO À CIDADE NO TER-
VIMENTO DA BAÍA DA ILHA GRANDE (RIO DE JANEIRO).................................................................................351 RITÓRIO DO BAIRRO JARDIM JACARANDÁ II – PARANAGUÁ – PR.................................................................413
OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A JUSTIÇA AMBIENTAL: O CASO DO MOVIMENTO INTERESTADUAL DAS CONSEQUÊNCIAS DA OCUPAÇÃO EM ÁREAS LITORÂNEAS: ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE NA-
QUEBRADEIRAS DE COCO BABAÇU......................................................................................................................357 VEGANTES – SANTA CATARINA................................................................................................................................418
PESCADORES TRADICIONAIS DA VILA DA BARRA DO SUPERAGUI: DESAFIOS E CONFLITOS...............362 CONSIDERAÇÕES SOBRE CRESCIMENTO CAPITALISTA E MEIO AMBIENTE: UMA CONTRADIÇÃO ANUN-
CIADA..............................................................................................................................................................................424
GRUPO DE TRABALHO XI - RECURSOS NATURAIS, BIOTECNOLOGIA E SERVIÇOS ECOSSISTÊMI-
COS LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E URBANÍSTICA BRASILEIRA: O CASO IL CAMPANÁRIO VILLAGGIO RESORT
EM JURERÊ INTERNACIONAL - FLORIANÓPOLIS/SC...........................................................................................429
ADOÇÃO DE INOVAÇÃO EM PARQUES TECNOLÓGICOS: COMPUTAÇÃO EM NUVEM E A REDUÇÃO DOS
IMPACTOS AMBIENTAIS............................................................................................................................................369 NEM SÓ DE AÇORIANOS SE DEU A COLONIZAÇÃO DO LITORAL DE SANTA CATARINA...........................433
CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA VIABILIDADE ECONOMICA EM ESTABELECIMENTO COMERCIAL – O ESPAÇO EM MOVIMENTO: ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA ILHA DOS VALADARES NO LITORAL DO
ILHA DO MEL ESTUDO DE CASO.............................................................................................................................374 PARANÁ - PR..................................................................................................................................................................439
EMPREGO DE DESREGULADORES ENDÓCRINOS NA CRIAÇÃO E REPRODUÇÃO DE ANIMAIS PARA CON- GRUPO DE TRABALHO XIII - ARTE E CULTURA
SUMO HUMANO E SUAS CONSEQUÊNCIAS..........................................................................................................379
EMPODERAMENTO E CAPACITAÇÃO PARA AS MULHERES DO “ARTESANATO ESTAÇÃO” NA CIDADE DE
GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS: O CASO DO RIO ACRE E O IMPACTO SOBRE ANTONINA – PARANÁ – BRASIL................................................................................................................................446
A FRONTEIRA BRASIL - BOLÍVIA.............................................................................................................................384
APÊNDICE DE SUPLEMENTOS - RESUMOS O TURISMO RURAL COMO CONTRIBUIÇÃO PARA A VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO RURAL NO MUNI-
CÍPIO DE PALMEIRA/PR...............................................................................................................................................464
CARACTERIZAÇÃO QUIMICOAMBIENTAL DOS SOLOS DO ENTORNO DO PORTO DE PARANAGUÁ, PR...457
POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO RURAL: ANÁLISE DO PRONAF NO LITORAL DO PARANÁ.464
PAISAGEM SUSTENTADA: ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS PARA PLANEJAMENTO E CONSTRUÇÃO
SUSTENTÁVEL NO BRASIL........................................................................................................................................457 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A ÉTICA: O MEIO AMBIENTE EM CRISE.................................................................465
PAISAGEM SUSTENTADA: PRINCÍPIOS DE PLANEJAMENTO E CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL NO BRA- “CATRAIAS” DO RIO OIAPOQUE E DINÂMICA TERRITORIAL TRANSFRONTEIRIÇA FRANCO-BRASILEI-
SIL....................................................................................................................................................................................458 RA.....................................................................................................................................................................................465
VILA CEPILHO: UMA EXPERIÊNCIA DE TERRITORIALIZAÇÃO NA GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM....458 (IN)VISIBILIDADE DE PRÁTICAS AMBIENTAIS NA PRODUÇÃO DA Maranta arundinacea L. ARARUTA NO
MUNICÍPIO DE SÃO FELIPE – BA...............................................................................................................................466
TAQUARUÇU: DESAFIOS PARA A ARQUITETURA VERNACULAR EM SUA PAISAGEM................................459
A FEIRA LIVRE COMO CANAL DE COMERCIALIZAÇÃO E “LÓCUS” DE RELAÇÕES IDENTITÁRIAS: O CASO
POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL E TERRITORIAL: DINÂMICAS TERRITORIAIS COMPLE- DA MATINFEIRA – PR....................................................................................................................................................466
MENTARES OU PARALELAS? ESTUDO DE CASO NO ESTADO DO PARANÁ...................................................459
ASSEMBLEIA DE AVES EM POLEIROS ARTIFICIAIS UTILIZADOS NA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE HÁ-
PERSPECTIVAS DE POTENCIAL GEOTURÍSTICO DO ASTROBLEMA DE CABEÇA DE SAPO-MA................460 BITATS ALTERADOS NO CERRADO E MATA ATLÂNTICA NO BRASIL...............................................................467
AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO(TIC) NOS CURSOS SUPERIORES DE ADMINIS- O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADO A MATA DE CAZUZINHA, UM RESQUÍCIO DE MATA
TRAÇÃO OFERTADOS NA MODALIDADE PRESENCIAL E A DISTÂNCIA NA CIDADE DE SANTA MARIA/ ATLÂNTICA DO MUNICÍPIO DE CRUZ DAS ALMAS - BA......................................................................................467
RS.....................................................................................................................................................................................460
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE
MANEJO AGROECOLÓGICO DO SOLO.....................................................................................................................461 E REDES DE ATENDIMENTO A SAÚDE DE PARANAGUÁ/PR...............................................................................468
INDICADORES PARTICIPATIVOS LOCAIS DE SAÚDE EM COMUNIDADES DO ENTORNO DA MICROBACIA A REATIVAÇÃO DA BASE OPERACIONAL DA TECHINT EM PONTAL DO PARANÁ: ANÁLISE DO PROCESSO
DO RIO SAGRADO NA FLORESTA ATLÂNTICA DO BRASIL: UM OLHAR PARA A SUSTENTABILIDADE...461 DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL............................................................................................................................468
OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DOS REJEITOS ORGÂNICOS SÓLIDOS DO MERCADO DE PESCADOS A DISTRIBUIÇÃO DO CRÉDITO RURAL NO TERRITÓRIO DA PRODUÇÃO NOS ANOS DE 2013 E 2014.......469
MANOEL MACHADO - MATINHOS/PARANÁ...........................................................................................................462
DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL CONFLITANTE: A INSTALAÇÃO DA UTE PORTO DO ITAQUI DE SÃO
A EXPERIÊNCIA DA ROMARIA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO: UMA ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DE SAÚ- LUÍS - MA E A COMUNIDADE REASSENTADA VILA RESIDENCIAL NOVA CANAÃ DE PAÇO DO LUMIAR
DE NA COMUNIDADE DA BARRA DO ARARAPIRA/ LITORAL NORTE DO PARANÁ –2015...........................462 - MA..................................................................................................................................................................................469
IDENTIDADE AMBIENTAL NA PÓS-MODERNIDADE: O DILEMA DO EDUCADOR/CONSUMIDOR.............463 PLANEJAMENTO URBANO E DINÂMICA TERRITORIAL NUMA PERSPECTIVA GEOGRÁFICA: UM ESTUDO
OLHARES DO GRUPO FISIOTERAPÊUTICO NO RIO SAGRADO, MORRETES - PR........................................470 A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO MATERIAL EDIFICADO COMO ELEMENTO DO DESENVOLVIMENTO
REGIONAL E DO TURÍSTICO LOCAL NO MUNICÍPIO DE MORRETES/PR........................................................477
O TURISMO COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL DA CO-
MUNIDADE FAXINALENSE TAQUARI DOS RIBEIROS EM RIO AZUL-PR........................................................471 MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO: PERCEPÇÕES EM COMUNIDADES RURAIS DA MATA ATLÂNTICA
DO LITORAL DO PARANÁ............................................................................................................................................477
TEOR E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL DE ESPÉCIES NATIVAS DA FAMÍLIA LAMIACEAE
NA FLORESTA ATLÂNTICA DO SUL DO BRASIL..................................................................................................471 A VISIBILIDADE E O POTENCIAL DOS PRODUTOS ORGÂNICOS NO/DO LITORAL DO PARANÁ: UMA QUES-
TÃO SOCIOECONÔMICA AMBIENTAL.....................................................................................................................478
USO DE FOTOGRAFIAS NA RECONSTRUÇÃO GEOHISTÓRICA DA PAISAGEM URBANA/RURAL DO MU-
NICÍPIO DE CAMPO MOURÃO-PR............................................................................................................................472 NEGOCIAÇÃO DE CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS E GOVERNANÇA TERRITORIAL: O CASO DA BAÍA DA
ILHA GRANDE E SUAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO........................................................................................478
METODOLOGIA PARA A ELABORAÇÃO DE UM CIRCUITO CICLOVIÁRIO: O CASO DO MUNICÍPIO DE
MATINHOS – PARANÁ................................................................................................................................................472 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NO LITORAL DO PARANÁ: UMA QUESTÃO DE DESENVOLVIMENTO,
PODER E JUSTIÇA.........................................................................................................................................................479
TURISMO NO LITORAL DO PARANÁ (BRASIL): CARACTERIZAÇÃO DO USO TURÍSTICO DO PARQUE NA-
CIONAL SAINT HILAIRE/LANGE..............................................................................................................................473 O PROTOCOLO COMUNITÁRIO DO BAILIQUE COMO FERRAMENTA DE GESTÃO TERRITORIAL............479
PROJETO RADIAL NO SUL DE PORTUGAL E NO LITORAL DO PARANÁ: MOVIMENTOS LITORÂNEOS EM REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM ZONAS RURAIS: ESTUDO DE CASO NO TERRITÓRIO MEIO OESTE
PERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO..................................................................................................................473 CONTESTADO EM SANTA CATARINA.......................................................................................................................480
AGROTÓXICOS EM ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS SOCIOAMBIEN- ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL DO VALE DO RIBEIRA PAU-
TAIS NO LITORAL DO PARANÁ................................................................................................................................474 LISTA...............................................................................................................................................................................480
POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DAS POPULAÇÕES DO CAMPO E DA FLORESTA: UM OLHAR PLANTAS INDICADORAS DE SOLO: ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO DE PLANTAS ESPONTÂNEAS EM ÁRE-
TEÓRICO DAS INIQUIDADES EM SAÚDE...............................................................................................................474 AS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA..................................................................................................................................481
ANÁLISE POPULACIONAL NO PERÍODO 1970 – 2010: O ÊXODO RURAL NO LITORAL PARANAENSE, PA- AS RELAÇÕES SOCIAIS ENTRE O PARQUE NACIONAL DE SAINT-HILAIRE/LANGE E SUA ZONA RURAL
RANÁ E BRASIL...........................................................................................................................................................475 DE ENTORNO (FACE LESTE – PR 508).......................................................................................................................481
A PERCEPÇÃO DO PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES ENVOLVIDOS NUM O ENSINO DE CIÊNCIAS NAS ESCOLAS E O OLHAR DO ALUNO CAIÇARA SOBRE O LITORAL.................482
PROJETO CIENTÍFICO DESENVOLVIDO PELA UFPR LITORAL..........................................................................475
PROGRAMA AQUISIÇÃO DE ALIMENTO: O ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE PONTE SERRADA-SC...482
O CONCURSO DE DESENHO “PATRIMÔNIOS DO LITORAL DO PARANÁ” COMO AÇÃO DE EDUCAÇÃO
PATRIMONIAL..............................................................................................................................................................476 PROMOVENDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ATRAVÉS DA RECICLAGEM PARA PRESERVAÇÃO
DO MEIO AMBIENTE: O CASO DA SECRETARIA AMBIENTAL DA PREFEITURA DE PARANAGUÁ.............483
GESTÃO DA INFORMAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS: DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE DE APOIO À
CONCEPÇÕES DE PROFISSIONAIS DA EDUAÇÃO DIANTE DA VIOLÊNCIA NAS MÍDIAS............................486 QUALIDADE DO AR: MATERIAL PARTICULADO EM SUSPENSÃO NA ATMOSFERA DO MUNICÍPIO DE PA-
RANAGUÁ........................................................................................................................................................................494
RESULTADOS PRELIMINARES DO USO DA TÉCNICA FUZZY E ANÁLISE ELEMENTAR DE CASCAS DE ÁR-
VORE PARA ELABORAÇÃO DE MAPAS DE RISCO.................................................................................................486 A CADEIA DE VALOR NA PESCA ARTESANAL DO CAMARÃO- ROSA NA LAGOA DOS PATOS: UM ESTUDO
DE CASO NO MUNICÍPIO DE SÃO LOURENÇO DO SUL..........................................................................................494
CONCENTRAÇÃO ATMOSFÉRICA DE DIÓXIDO DE NITROGÊNIO (NO2) NO MUNICÍPIO DE PARANAGUÁ
- PR...................................................................................................................................................................................487 MODELAGEM DIGITAL DO TERRENO APLICADO AO NOVO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO: UM ESTU-
DO DE CASO DO PARÂMETRO DECLIVIDADE.........................................................................................................495
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA APA DE GUARAQUEÇABA, UMA ANÁLISE DA GESTÃO PARTICIPATIVA.....487
RESULTADOS PRELIMINARES DE UMA PROPOSTA DE PESQUISA INTERDISCIPLINAR NO ASSENTAMENTO
UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO DO CAMPO.......................................................................................................488 NHUNDIAQUARA, MORRETES - PR............................................................................................................................495
SAÚDE DO TRABALHADOR E A POLÍTICA ECONÔMICA.....................................................................................488 USO DA TERRA E CONFLITOS AMBIENTAIS NA PAISAGEM DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO CAMPO,
CAMPO MOURÃO-PR.....................................................................................................................................................496
A ESTAÇÃO ECOLÓGICA DO CERRADO DE CAMPO MOURÃO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO AMIEN-
TAL...................................................................................................................................................................................489 IMPACTO DE EVENTOS CLIMÁTICOS NA ECONOMIA DA PESCA DO CAMARÃO-ROSA CAPTURADO NA
REGIÃO DA LAGOA DOS PATOS..................................................................................................................................496
COMUNIDADES SUSTENTABLES COMO ESTRATEGIA DE PROTECCIÓN DEL SUELO RURAL...................489
A (RE)PRODUÇÃO DOS SABERES LOCAIS INDÍGENAS NO PARACURI PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO
A ABORDAGEM DE EXTENSÃO RURAL PARA COMUNIDADES DE PESCADORES ARTESANAIS...............490 TERRITORIAL SUSTENTÁVEL EM ICOARACI-BELÉM/PA....................................................................................497
A AGROECOLOGIA APROXIMANDO SUJEITOS, DIREITOS E NATUREZA: RELATO DA EXPERIÊNCIA EX- A GESTÃO E INOVAÇÃO DE CIDADES E O PAPEL DOS SERVIDORES E DA SOCIEDADE NA ELABORAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO VERDE E ECONOMIA VERDE: UM MOVIMENTO DE SENSIBILIZAÇÃO SOCIAL.........498 ANÁLISE DO PROCESSO DE EMANCIPAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ E SEUS DESDOBRA-
MENTOS...........................................................................................................................................................................531
COLETA SELETIVA: FERRAMENTA DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS E ATITUDES......................498
POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE MENTAL NO LITORAL PARANAENSE: POSSIBILIDADE DE AMPLIAÇÃO
RECICLAR É PRECISO: BRINQUEDOS PEDAGÓGICOS QUE CONSCIENTIZAM..............................................499 DA RESOLUTIVIDADE DE SUAS AÇÕES...................................................................................................................535
A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DOS ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS DO LICENCIAMENTO AMBIEN- ANÁLISE DO PADRÃO DE COBERTURA DO SOLO NO MUNICÍPIO DE TEFÉ-AM POR MEIO DE DADOS DE
TAL COMO UMA FERRAMENTA DE GESTÃO TERRITORIAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA POPULAÇÃO SENSORIAMENTO REMOTO ORBITAL ÓPTICO......................................................................................................539
LOCAL.............................................................................................................................................................................499
O conceito de desenvolvimento, por muito tempo atrelado à ideia de crescimento econômico, tem sido debatido
Ana Elisa Penha1; Marcus Aurelio S. da Silva2; Luiz Ricardo Toniolo3; Renata de Fátima Tozetti4 de forma mais abrangente e preocupa-se com a vida humana. Contudo, como afirma Sachs, (2007, p. 292) “o desenvolvi-
mento socioeconômico é um processo” que depende de “restrições impostas pelo meio ambiente natural” e pela história.
Professora Drª: Marisete Teresinha Hofmann-Horochovski5
Esta afirmação remete à ideia de dois sistemas que interagem, o sistema natureza e o sistema sociedades abordadas por
Raynault (2002, p. 13) como requisito para a “compreensão da realidade concreta”. Por muito tempo, dentro do paradigma
científico moderno, as interações e os processos foram deixados de lado e foram priorizadas abordagens lineares, focadas
RESUMO
em indicadores somente econômicos ou somente físicos da natureza.
O presente diagnóstico das colônias Quintilha e Maria Luiza, localizadas na área rural do Município de Paranaguá-PR, tem
por objetivo levantar alguns indicadores para melhor compreender as dinâmicas existentes resultantes das interações entre De acordo com Boaventura Santos (2001, p. 69), este paradigma dominante possui limitações que o mergulharam
a sociedade e a natureza. O enfoque principal deste artigo foi destacar as políticas públicas, sobretudo, Educação, Saúde e numa crise “profunda e irreversível”. Assim, um novo (e necessário) paradigma exige aproximações científicas que levem
Assistência Social. Nesse sentido, antes do diagnóstico de cada uma, foi necessário mencionar um referencial normativo em consideração as interações de diferentes disciplinas no ambiente acadêmico e saberes locais fora desse ambiente. Essa
enfatizando o grau de autonomia da esfera municipal para a implantação da política pública correspondente. Os dados
foram obtidos por meio da pesquisa de abordagem qualitativa, realizando levantamento a partir do diálogo de saberes e complexidade, inerente à realidade, exige uma prática interdisciplinar para uma compreensão em busca de uma “comple-
disciplinas através de visitas/entrevistas e da consulta de dados secundários sobre essas políticas públicas. As informações tude” (PHILIPI JR, 2000, p. 22).
permitiram constatar as dificuldades de acesso da população local aos equipamentos sociais apesar da legislação que mu-
nicipalizou grande parte desses serviços. O presente trabalho nasceu de uma proposta interdisciplinar elaborada na disciplina Construção da Pesquisa Inter-
disciplinar I, no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Territorial Sustentável, da Universidade Federal do Paraná –
Setor Litoral. A partir de diversos olhares sobre um objeto comum, tal abordagem teve a finalidade de estabelecer diálogos
Palavras-chave: Diagnóstico. Área rural de Paranaguá. Políticas Públicas. Interdisciplinaridade. entre diferentes formas de conhecimento e entre o conhecimento científico e outros saberes, com o intuito de construir um
diagnóstico interdisciplinar; um caminho alternativo de análise e percepção de uma realidade existente. De forma geral,
o diagnóstico tinha por objetivo evidenciar as heterogeneidades desse espaço, a fim de melhor compreender as dinâmicas
ABSTRACT
existentes por detrás da diversidade de situações. Trata-se de uma relação análise/descrição em um quadro espacial comum
This diagnosis of Quintilha and Maria Luiza colonies located in the rural area of the municipality of Paranaguá-PR aims com diferentes olhares disciplinares sobre uma mesma realidade, o qual possibilitou identificar recursos e potencialidades
to raise some indicators to better understand the dynamics existing resulting from interactions between society and nature. que possam constituir-se em reais oportunidades de desenvolvimento. Assim, o diagnóstico não tem o propósito de “erguer
The main focus of this article was to highlight public policies, particularly Education, Health and Social Assistance. In
fronteiras estanques”, como afirma Raynaut (2004, p. 28).
this regard, before the diagnosis of each, it was necessary to mention a normative framework emphasizing the degree of
autonomy of the municipal level for the implementation of relevant public policy. Data were obtained through qualitative
Nesta perspectiva, o diagnóstico é um instrumento dinâmico que permite a compreensão da realidade local, através
research, conducting survey from the disciplines of knowledge and dialogue through visits/interviews and consultation
of secondary on these public policies. The information allowed toverify the difficulties of access of local people to social da “coleta e organização de dados empíricos” (op. cit. p. 28). Para viabilizar a coleta de dados, foi organizado, num primei-
facilities despite legislation that municipalized most of these services. ro momento, o trabalho em três dimensões – natureza e cultura, trabalho e economia, e políticas públicas. Num segundo
momento, os dados foram trabalhados coletiva e interdisciplinarmente, para alcançar o objetivo proposto pela disciplina.
Ressalta-se que as informações aqui utilizadas referem-se apenas a primeira parte desse exercício.
Key words: Diagnosis. Rural area of Paranaguá. Public Policy. Interdisciplinarity.
Neste artigo, as análises se debruçam sobre as políticas públicas desenvolvidas nestas colônias tendo como foco
levantar informações sobre a atuação dessas políticas sociais nas áreas da educação, assistência social e saúde, sobretudo
1 Psicóloga. Mestranda em Desenvolvimento Territorial Sustentável – UFPR. E-mail: anaelisapenha@yahoo.com.br quanto à existência de aparelhos sociais, ou seja, escolas, unidades de saúde e centros de referência. Como políticas pú-
2 Pedagogo. Mestrando em Desenvolvimento Territorial Sustentável – UFPR. E-mail: marcusaurelio11@yahoo.com.br blicas, entendemos a ação do Estado com o propósito de enfrentamento de problemas identificáveis. Os aparelhos sociais,
3 Historiador. Mestrando em Desenvolvimento Territorial Sustentável – UFPR E-mail: luizricardotoniolo@gmail.com
4 Pedagoga. Mestranda em Desenvolvimento Territorial Sustentável – UFPR E-mail: renazetti@hotmail.com por outro lado se manifestam no sentido de dar suporte à atuação do Estado em determinada área, tendo como objetivo a
5 Socióloga. Docente do PPGDTS – UFPR. E-mail: marisetehh@gmail.com
Para obtenção das informações, foram utilizadas técnicas de pesquisa qualitativa, por entendê-las como as mais
adequadas para identificar as dimensões de desenvolvimento local e sua relação com o meio rural. Dessa forma, para
a coleta de dados primários, foram usadas as técnicas de observação e das informações vivas, não escritas, obtidas em
entrevistas e discussões com informantes privilegiados, com experiência e conhecimentos locais, colhidas em visitas de
campos às referidas colônias. Mas, não se deve compreender as análises quantitativa e qualitativa enquanto “modos opos-
tos e inconciliáveis de ver a realidade” (CARDOSO, 1986, p. 95).
Tal aproximação visou primeiramente à realização do diagnóstico para a composição de um quadro comum dentro
de uma complementaridade entre ensino e pesquisa (RAYNAUT, 2002, p.19). Essa abordagem faz parte da concepção
pedagógica do Programa de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR e permite a construção de inte-
rações críticas e possíveis problemas de pesquisa.
Para a coleta de dados secundários foram utilizadas como fontes de pesquisa a base de dados censitários do Insti-
Mapa do setor censitário e localização das Colônias Quintilha e Maria Luiza
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os Cadernos Municipais do Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES) e o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER). Tais in- Fonte: Bruno Gurgatz/Lab Móvel UFPR com adaptação de Ricardo Toniolo/PPGDTS UFPR
dicadores levantados tem o propósito de ser um pré-requisito para a este diagnóstico e posterior elaboração de hipóteses 6 A forte presença do aparato regulamentar, tanto nas limitações das Unidades de Conservação quanto às restrições impostas pelo
uso e ocupação do solo da APA de Guaratuba e do Parque Nacional, propiciam conflitos entre o poder público e os moradores das colô-
para outros pesquisadores (RAYNAUT, 2002, p. 139). nias, trazendo à discussão problemas referentes à redefinição dos limites do Paraná e a presença de apoio institucional nas colônias.
Em contato telefônico com a atual Presidente do CME - Conselho Municipal de Educação, foi informado que
estas escolas do campo ofertam classes multisseriadas. As Colônias Maria Luiza e Quintilha possuem como escola de
referência a Escola Rural José Chemure localizada na rodovia PR 508 Alexandra-Matinhos, que de acordo com a base de
dados do PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola, possui atualmente 21 alunos matriculados. Em relação a esta es-
cola, que está compreendida dentro da Colônia Maria Luiza, a Presidente relatou que não há APMF – Associação de Pais,
Professores, Mestres e Funcionários, nem UEx – Unidade Executora própria, devido provavelmente a falta de interesse
da comunidade local em gerir estas associações ou conselhos. Sendo assim, conforme previsto no artigo 21, destacado
acima, o recurso financeiro recebido através do PDDE é direcionado para a Secretaria Municipal de Educação/Prefeitura
e repassado via CME às unidades, que de acordo com a Presidente do CME, convocam os professores em reuniões para
definição do destino dessa verba.
Não há CMEI – Centro Municipal de Educação Infantil na comunidade, e a partir do quinto ano, as crianças e ado-
lescentes precisam deslocar-se até a área urbana de Paranaguá com o ônibus escolar da prefeitura, e geralmente passam a
frequentar as escolas estaduais Alberto Gomes da Veiga, Faria Sobrinho e Vidal Vanhoni, conforme relato de moradores.
Durante visita de campo às colônias, pode-se constatar que em uma das propriedades, de composição familiar, não foram
Fonte: IBGE, 2010. feitos destaques para a questão do estudo, apesar de se observar crianças e adolescentes na área.
EDUCAÇÃO
A partir da descentralização fiscal e administrativa, normatizada pela Constituição Federal de 1988, os municí- ASSISTÊNCIA SOCIAL
pios passam a gerir a educação fundamental e infantil, devendo, os estados e municípios investirem 25% de suas receitas
com educação. É importante dizer que a criação do Fundo de desenvolvimento da Educação Fundamental (FUNDEF), A Constituinte apontou as diretrizes da descentralização e participação e a direção da construção das leis de regu-
lamentação da Assistência Social. A LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social (1993), regulamentou os artigos consti-
Através de levantamento da realidade do município de Paranaguá, foi possível verificar que no território, os servi-
ços condizentes com a Proteção Social Básica ocorrem por meio do equipamento CRAS (Centro de Referência da Assis-
tência Social) Vila Garcia, sendo este o órgão responsável pelo atendimento da população das colônias Quintilha e Maria
Luiza. Após contato telefônico e diálogo com as assistentes sociais do local, foi possível levantar os seguintes dados: o
referido CRAS atende ainda as colônias Pereira, Rio das Pombas, Morro Inglês e outros 9 (nove) bairros do município
de Paranaguá. A equipe do equipamento público é composta por três profissionais de nível superior, sendo 2 (duas) assis-
tentes sociais e 1 (uma) psicóloga, bem como 1 (uma) coordenadora e 1 (um) auxiliar administrativo. O atendimento nas
colônias em questão ocorre por meio de visitas domiciliares, convite e sensibilização para participação em oficinas. Há
ainda existência do Programa Família Paranaense, porém o mesmo, segundo relato, encontra-se atualmente inviabilizado.
A equipe relata a necessidade de contratação de outros profissionais como educadores sociais, oficineiros e equipe técnica.
No município de Paranaguá existe um CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social que atende Unidade de Saúde Santa Escomação
situações que ultrapassam os serviços da Proteção Social Básica (violação de direitos/fragilidade de vínculos).
Fonte: Os autores
Os serviços da Proteção Social Especial de Alta Complexidade ocorrem por meio de um albergue e dois abrigos
institucionais (casas lares): Lar dos Meninos e Lar das Meninas. Enquanto política de atendimento possui ainda um Res-
taurante Popular, localizado na Rua Felipe Chede, em frente ao Ginásio de Esportes Joaquim Tramujas. Em relação as A partir de levantamento realizado junto à população local, nesta Unidade Básica de Saúde (UBS) são ofertados
atendimentos por profissional Clínico Geral, Ginecologia e Dentista. No caso de urgências/emergências, a população é
PHILIPPI JR, Arlindo et al. Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais. São Paulo: Signus Editora, 2000.
CONCLUSÃO RAYNAUT, Claude. Meio Ambiente e Desenvolvimento: construindo um novo campo do saber a partir da perspectiva
interdisciplinar. Desenvolvimento e Meio Ambiente. n.10, p.21-32.jul/dez, 2004.
O trabalho interdisciplinar requer comunicação em torno de problemas e realidades comuns, porém, analisados
de diferentes formas por vários olhares. Para realizar este diagnóstico, observou-se que a turma 2015 do Programa de __________.Claude.; et al. Metodologia de Diagnóstico Interdisciplinar: a construção de um quadro de trabalho co-
mum. In: Desenvolvimento e meio ambiente: em busca da interdisciplinaridade. Curitiba. Editora UFPR. 2002.
Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável (PPGDTS/UFPR) teve a iniciativa de dialogar para buscar
alternativas de comum acordo no momento da definição das dimensões para iniciar a pesquisa, o que gerou momentos de SACHS, Ignacy. Rumo à Ecossocioeconomia: teoria e prática do desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 2007.
tensão, dúvida e discussão, mas que posteriormente resultaram em grande riqueza de informações. Verifica-se que SANTOS, Boaventura de Souza. Um Discurso sobre as Ciências. 12ª ed. Porto: Edições Afrontamento, 2001.
a utilização das políticas públicas pela população inicia-se muitas vezes por serviços fundamentais, mas pode vir a ser
SOUZA, Celina. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, nº 16, jul/dez 2006, p.
abrangida a partir das necessidades decorrentes do cotidiano. Assim, em virtude de determinada ocorrência, a demanda
20-45.
por um serviço liga-se aos demais serviços ou esferas. Deste modo, a procura por um Clínico Geral pode demandar a
utilização de um especialista, como por exemplo um Cardiologista. A partir deste último, fazem-se necessários exames
que podem ultrapassar a esfera municipal e abranger a espera nacional, como no caso da necessidade de uma cirurgia de
transplante de órgão. Da mesma forma, uma pessoa no desenvolvimento de seu processo educacional, inicia sua forma-
ção na escola pública municipal, passa pela estadual, até chegar à Universidade. Ao passar a fazer uso da política deste
equipamento, tal pessoa estará fazendo uso dos serviços advindos da esfera nacional.
Deste modo, é possível que os serviços oferecidos à população em questão ocorram em primeira instância através
dos equipamentos públicos municipais que pertencem ao município de Paranaguá, que se encontram ou se deslocam até
as colônias. Porém, as necessidades decorrentes podem abranger o município de Matinhos, como no caso do acesso à
Universidade, ou à capital Curitiba, bem como no caso de acesso a serviços de saúde de alta complexidade. Assim, a rede
de atendimentos acaba criando uma configuração que se entrelaça e se ramifica nos mesmos ou diferentes pontos, envol-
vendo os mesmos atores sociais, que demandam às diversas políticas públicas. Por tratar-se de uma área rural, foi possível
observar as dificuldades de acesso/proximidade das ações em relação ao território.
Desta forma, é importante que as políticas públicas estejam a serviço destes atores e que sejam construídas por
eles, para que realmente tenham sentido e eficácia. Tais políticas devem oportunizar uma relação horizontal entre os
envolvidos, jamais sendo imposta ou engessada. Aqueles que delas necessitam sabem realmente suas necessidades e as
aplicações dessas leis precisam fazer sentido para quem as utiliza e não para quem as redige, que muitas vezes sequer
conhece as reais necessidades locais de cada população.
REFERÊNCIAS
ARRETCHE, Marta. Federalismo e políticas sociais no Brasil: problemas de coordenação e autonomia. São Paulo
A discussão sobre o papel e influência dos burocratas no processo de implementação é central e importante para
Valéria dos Santos de Oliveira1; Daniele Schneider2; Rodrigo Rossi Horochovski3 compreendermos como, estas ações são colocadas em prática e quais são os fatores que influenciam na mudança de rumos
e nos resultados das políticas públicas (LOTTA, 2012).
RESUMO A relação entre burocracia, organização e implementação das políticas, é importante porque discute o porquê
de políticas serem bem-sucedidas ou fracassarem. Nos diversos estudos de políticas públicas, principalmente no Brasil,
Este artigo tem como objetivo apresentar os burocratas a nível de rua, sua importância, suas ações, desdobramentos
o campo é bastante incipiente. A maioria deles se remete à atuação da alta burocracia, ou seja dos homens públicos de
e a segurança pública neste contexto, a Constituição de 1988 impulsionou a expansão do emprego público, devido à
universalização de serviços básicos, como saúde, educação e segurança pública, resultando assim na importância da carreira, que são detentores de saber especializado e que ocupam altos cargos na máquina pública consequentemente
burocracia das ruas. A literatura abordando esses burocratas tem apontado as principais discussões existentes tanto em tornam-se os responsáveis por decisões de políticas públicas.
nível internacional como nacional. Portanto, faremos uma discussão teórica entre burocratas a nível de rua, políticas
públicas e segurança pública. Contudo existe um outro segmento da burocracia que está vinculado à prestação de serviços à comunidade,
atualmente este segmento é crescente, tendo considerável importância nos processos de criação dos estados de bem-estar
social e da universalização dos serviços básicos, são eles os burocratas a nível de rua (street level bureaucracy).
Palavras-chave: burocratas a nível de rua, políticas públicas e segurança pública.
Para Lipsky (1980) os burocratas de rua são funcionários que trabalham diretamente no contato com os usuários
dos serviços públicos, em um curso regular de rotina, em interação constante com os cidadãos, como, por exemplo, poli-
ABSTRACT ciais, professores, profissionais de saúde, entre outros.
This paper aims to present the Street-Level Bureaucracy, its importance, its actions, unfoldings and public safety in this No Brasil, após a Constituição de 1988, ocorreu a expansão do emprego público, devido à universalização de ser-
context, the Constitution of 1988 boosted the expansion of public employment due to the universalization of basic ser-
viços básicos, como saúde e educação, daí a importância da burocracia das ruas. Para a maioria dos cidadãos, sua relação
vices such as health, education and public safety, resulting in importance of the bureaucracy of the streets. The literature
addressing these bureaucrats have pointed out the major existing discussions both at international and national levels. com o Estado ocorre através desses agentes de Estado (burocratas a nível de rua), pois estes servidores em suas atividades
Therefore, we will make a theoretical approximation between Street-Level Bureaucracy, public policies and public sa- provém serviços públicos, discriminam quem tem ou não acesso a serviços e estipulam sanções aos cidadãos.
fety.
DISCUSSÃO
Key-words: Street-Level Bureaucracy, public policies and public safety.
Burocratas a Nível de Rua e suas Ações
Considerando o exposto, surge então novos modelos teóricos e pesquisas empíricas acerca do papel destes buro-
cratas, identificando a complexificação deste papel, segundo Lipsky (1980) pois são o foco da controvérsia política, por-
que são pressionados pelas demandas de serviços para aumentarem a efetividade e a responsividade e ao mesmo tempo
são pressionados pelos cidadãos para aumentarem a eficiência e eficácia.
O referido autor levanta ainda uma questão central que surge na relação entre agentes implementadores e cida-
dãos. Afirma que as pessoas chegam aos burocratas de rua como indivíduos únicos, portadores de diferentes experiências
de vida, personalidades, expectativas e necessidades. No entanto, quando encontram os burocratas de rua, transformam-
se em clientes, identificáveis e alocáveis em alguns padrões e categorias sociais, passando a ser tratados, de acordo com
esses padrões unificados e indiferenciados.
1 Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral - e-mail: valeriaso238@gmail.com; Entretanto, os burocratas de rua experimentam os problemas dos clientes como categorias de ação e suas de-
2 Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral - e-mail: danischneiderufpr@gmail.com;
3 Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral - e-mail: rodrigoh33@gmail.com.
mandas individuais como solicitações agregadas, padronizadas e categorizadas dentro das possibilidades de respostas e
operar pela lógica racional-legal para existir, se legitimar, é obrigada a reconhecer os cidadãos de forma formalizada,
Muniz (2008) observa a atuação dos policiais, analisa a ação desses profissionais e a discricionariedade na apli-
como iguais.
cação das leis, demonstra como a atuação policial, no que diz respeito à aplicação seletiva das leis, sofre grande variação
Lipsky (1980), caracteriza o burocrata de nível de rua como um “policy maker”, ou seja, um indivíduo cuja função
MUNIZ, Jacqueline. Ser Policial é, sobretudo, uma Razão de Ser. Cultura e Cotidiano da Polícia Militar do Estado do RESUMO
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, IUPERJ (tese de doutorado), 1999.
Eu elaborei uma breve revisão histórica em torno das políticas públicas implementadas no Vale do Ribeira no decorrer
______________. Vitimização de Policiais Militares no Rio de Janeiro. Breves Considerações Exploratórias. Seminário do século XX até o momento atual. A pesquisa é qualitativa e foi elaborada a partir de uma revisão bibliográfica. Ao
Internacional da Organização Internacional do Trabalho, Foz do Iguaçu, fevereiro de 2003. longo da exposição observa-se um contexto de políticas executadas com pouca efetividade quanto à construção do bem
público. Porém, nota-se um movimento recente de arranjos institucionais mais estruturados e uma sociedade civil mais
MUNIZ, Jacqueline, PROENÇA JR., Domício, DINIZ, Eugênio. “Uso da Força e Ostensividade na Ação Policial”. Con- organizada, refletindo um quadro de aprendizagem, tensões e desafios em torno do potencial de construção de novas
juntura Política: Boletim de Análise do Departamento de Política da UFMG. Belo Horizonte, Abril de 1999; pp.: 22 regras nas arenas e nos ambientes institucionais do território.
– 26.
MUNIZ, Jacqueline, PROENÇA JR. Police Use of Force. The Rule of Law and Full Accountability. Comparative Models
of Accountability Seminar. INACIPE. Mexico, 29-30 Octuber; 2003; pp.:1 – 11. Palavras-chave: Políticas Públicas, Território Vale do Ribeira, Sustentabilidade.
MUNIZ, Jacqueline. ZACCHI, José Marcelo. “Avanços, Frustrações e Desafios para uma Política Progressista, Demo-
crática e Efetiva de Segurança Pública no Brasil”. In:
ABSTRACT
OHLIN, Lloyd E. and REMINGTON, Frank. Discretion in Criminal Justice.The Tension Between Individualization and
I Drew up a brief historical review around the public policy implemented on Ribeira Valley territory from the twentieth
Uniformity. Albany. State Universityof New York, 1993.
century. The research is qualitative and was prepared from a literature review. Throughout the exhibition, there is a con-
PIORE, M. Beyond markets: sociology, street-level bureaucracy, and the management of the public sector. Regulation & text of polícies with little effectiveness as the construction of public good. However, there is a recent movement of more
Governance, v.5, n.1, p.145-164,Mar.2011. structrured institutional arrangements and a more organized civil society, reflecting a learning framework, tensions, and
challenges around the potential building of new rules in the arenas and territorial institutional environments.
REINER, Robert. The Politics of the Police. Toronto. University of Toronto Press, 1992.
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WEBER, Max. The Thoeory of social and economic organizations. New York: Free Press, 1947.
1 Gestor Ambiental e mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP) joaquimasjr@gmail.com.
O debate em torno da ação estatal no Brasil encontrou fértil terreno com a transição ao regime democrático O início do século XX destaca-se a imigração japonesa na região. A colonização nipônica iniciada em 1913 resul-
das últimas três décadas (O’DONNELL, 1991). Este debate vem sendo estabelecido com uma crescente variedade de tou de um acordo entre o governo estadual de Manuel Joaquim Albuquerque Lins (1912-1916) e do Sindicato de Tóquio,
abordagens, dentre elas, a estrutura do Estado, as instituições, os processos e fases de execução da política, a aborda- ao qual segundo o acordo, eram asseguradas a doação de terras, a isenção de impostos e o pagamento por famílias insta-
gem cognitiva dos atores, e as redes de políticas públicas (GRISA, 2010), visando compreender um novo arcabouço de ladas. Em 1918 foi criada a K.K.K.K. (Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha) - Companhia Ultramarina de Empreendimentos
premissas da relação Estado-sociedade, tais como a participação popular e gestão social, a descentralização dos arranjos S. A. em Registro, filial da Companhia Imperial Japonesa de Imigração que se tornaria responsável pela colonização
institucionais, o fortalecimento de entes federados, a redução da máquina estatal, entre outros. Em que pese o papel regional (AOKI; LIMA, 2011). Na década de 1930, o governo de Getúlio Vargas (1930-1945) repassa recursos para ex-
historicamente central do Estado no desenvolvimento econômico e no planejamento do país, principalmente a partir do pansão da produção agrícola de teicultura e bananicultura (MUNARI, 2009). Esta articulação recoloca o Vale nos trilhos
início do século XX, é clara a heterogeneidade do processo desta intervenção, devido aos contextos e realidades também do desenvolvimento econômico, adicionado às obras de abertura de estradas em direção ao planalto paulista e para Juquiá,
diversas do território brasileiro (CEZAR, 2012). visando o escoamento de variedades pela via férrea Santos-Juquiá, construída entre 1913 e 1915 pela empresa inglesa
Southern San Paulo Railway. Entretanto, a integração ao mercado se deu com variedades de baixo valor agregado, es-
Este ensaio tem por objetivo ilustrar a evolução histórica das políticas públicas direcionadas ao território Vale do
sencialmente alimentos de baixo custo. A colonização e a relativa ascendência econômica tão só se resumiram às regiões
Ribeira paulista, enveredando “na investigação de processos e escolhas que se deram ‘no passado’, mesmo próximo, e
mais dinâmicas, notadamente a cidade de Registro e o seu entorno próximo (BRAGA, 1999).
que influenciam o presente” (HOCHMAN, 2007, p. 153). Esta análise será contextualizada a partir do papel do Estado
como indutor do desenvolvimento. Os argumentos estão organizados da seguinte forma: uma breve contextualização do A partir da década de 1940, as investidas de colonização e ocupação dão início aos conflitos em torno da posse
Vale do Ribeira, seguido pelos comentários sobre as ações regionais iniciadas a partir da metade do século XX, e final- da terra e da exploração de espécies da mata atlântica, tal como o palmito Juçara (Euterpe edulis Martius), e a invasão e
mente alguns comentários sobre as políticas territoriais executadas a partir da última década com o paralelo da discussão compra de terras por grandes fazendeiros. O aumento do desflorestamento da mata atlântica na região motivou a implan-
sobre sobreposição de políticas públicas estaduais e federais no território. Termino o escrito com breves comentários tação das políticas ambientais de comando e controle, principalmente a partir da década de 1950, sendo o Parque Estadual
reflexivos em relação às perspectivas políticas no Vale do Ribeira. Turístico do Alto Ribeira (PETAR) seu marco inicial, além das legislações restritivas à exploração de flora e fauna do bio-
ma1 (ADAMS et al, 2013). Interessante notar, em paralelo à ocupação regional e investidas tímidas econômicas no Vale
do Ribeira na primeira metade do século XX, observava-se no plano nacional e principalmente em São Paulo a expansão
VALE DO RIBEIRA: COLONIZAÇÃO E FORMAS DE OCUPAÇÃO industrial via estratégia de substituição das importações, refletindo a perspectiva desenvolvimentista do Estado da época.
Entretanto, a atuação focada nos centros mais desenvolvidos, notadamente a região sudeste, fez acentuar as disparidades
O Vale do Ribeira está localizado na porção sul do Estado de São Paulo, sendo composto por 25 municípios. Sua
socioeconômicas regionais (CEZAR, 2012).
população contém 450 mil habitantes ocupando uma área de aproximadamente 18.000 km2, ou, cerca de 7% do territó-
rio estadual. A região guarda o maior corredor de mata atlântica do país, possuindo inúmeras comunidades tradicionais,
além de ser moradia de agricultores familiares e camponeses, comunidades estas em resultado das investidas históricas
A AÇÃO DO ESTADO NO VALE A PARTIR DA DÉCADA DE 1950
de colonização regional. Recentemente, a região experimenta processos de diversificação da produção agrícola e o cres-
cimento de serviços em torno do turismo ecológico e rural, além do fortalecimento do serviço público regional (SILVA A preocupação em torno da integração nacional e da perspectiva regional de desenvolvimento das regiões que não
Jr., 2015). acompanharam a transição industrial (CEZAR, 2012), foram fatores determinantes para uma atuação estatal mais inci-
siva no Vale do Ribeira. Em 1950, o governo estadual de Ademar de Barros (1947-1951) inaugurou o Hospital Regional
A ocupação regional data do século XVI, com a fundação da então vila de Cananéia em 1531. Disto decorre a
Dr. Leopoldo Bevilacqua (HRBL) em Pariquera-Açu, que se tornaria referencia regional no atendimento ao público. Em
ocupação do interior via Rio Ribeira de Iguape. Com a descoberta de ouro de aluvião no século XVII, se deu início ao
1961, com o objetivo de integrar a região sul ao resto do país, Juscelino Kubitscheck (1956-1961) inaugura a Rodovia
ciclo de extração, constituindo a cidade de Iguape o nó logístico e econômico regional. No século XIX, das margens do
Regis Bittencourt. A rodovia foi a maior indutora de infraestrutura e dinamizadora da economia no Vale do Ribeira (BRA-
Rio Ribeira de Iguape surge o ciclo do arroz com base no trabalho escravo. que seria suprimido no fim do referido pe-
GA, 1999; MUNARI, 2009; RESENDE, 2002).
ríodo devido à expansão cafeeira no planalto paulista e no Vale do Paraíba (CEZAR, 2012; FURTADO, 2005). A maior
parte da população, à exceção de uma pequena elite que produzia arroz “por falta de opção” (VALENTIN, 2006, p. 16), O primeiro esboço de planejamento regional partiu do mandato do governador Carvalho Pinto (1959-1962) com o
volta-se para a agricultura de subsistência nas regiões mais afastadas, levando ao processo chamado de “caipirização” denominado Plano de Ação. O plano buscava a melhoria, aperfeiçoamento e atualização da atuação do Estado para pro-
(BRAGA, 1999). Esse processo consolidou as comunidades quilombolas, ribeirinhas e caiçaras em conjunto com as moção do aumento da qualidade de vida da população e do desenvolvimento econômico. Deste plano, surge a “Operação
CF 88
1920
1940
1960
2010
1900
1980
2000
por parte do tomador de decisão e dos gestores na prestação de contas da gestão pública, o que impossibilita medidas de
questionamento ou sanção por parte da sociedade civil. Entretanto, Coelho e Favareto (2008) sugerem que, as organiza-
Plano de Açao/Operação Caiçara
MASTERPLAN ções sociais existentes no Vale do Ribeira, importante aspecto regional das últimas três décadas, tem o potencial de criar
L. Ref. Agr.
eventos de tensões, negociações e pressões em torno de suas demandas. Adiciona-se a manutenção da mata atlântica e a
Planos, projetos e programas
Aposentadoria rural
PSF riqueza sociocultural do Vale como atributos imprescindíveis para alavancar estratégias de desenvolvimento territorial
PRONAF
sustentável. É possível conceber um cenário na qual a sociedade civil organizada forme redes de pressão nas diferentes
PEMH-II/CATI
PEMH-I/CATI arenas da gestão pública em torno da construção de maior convergência quanto à atuação territorial integrada, múltipla,
PMT/ITESP
PFZ/MDS com perspectiva ao longo prazo sob a ótica da sustentabilidade.
PRONAT/MDA
PVRS
PROMESO/MIN
PTC/MDA
AGRADECIMENTOS
PPAIS/CATI
ZEE/SMA
SUDELPA
Agradeço as contribuições e críticas elaboradas por Alexandre Antunes Ribeiro Filho.
Arranjos institucionais e
CEDAVAL
CONSEMA
SMA
CODIVAR CONSAÚDE REFERÊNCIAS
FVR
CBH-VR ABRAMOVAY, Ricardo; FAVARETO, Arilson S. Contrastes territoriais dos indicadores de renda, pobreza monetária e
DLIS-Agenda Rural
desigualdade no Brasil da década de 1990. Ruris, v. 4, n. 1, mar. 2010.
CONSAD-VR
CODETER/MDA
K.K.K.K.
ADAMS, Cristina et al., Diversifying Incomes and Losing Landscape Complexity in Quilombola Shifting Cultivation
infraestrutura
Intervenções/
Ramal Santos-Cajati* Communities of the Atlantic Rainforest (Brazil). Human Ecology, v. 41 issue 1, p. 119-137, feb. 2013.
Hospital Dr. Leopoldo Bevilacqua
PETAR
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Desenvolvimento rural, portanto, pode ser analisado a posteriori, neste caso referindo-se às análises sobre
programas já realizados pelo Estado (em seus diferentes níveis) visando a alterar facetas do mundo rural a
partir de objetivos previamente definidos. Mas pode se referir também à elaboração de uma “ação prática”
para o futuro, qual seja, implantar uma estratégia de desenvolvimento rural, para um período vindouro
(assim, existiriam diversas metodologias de construção de tal estratégia, bem como um amplo debate sobre
1 Mestra em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental – UDESC. E-mail: dayana.l.rosa@gmail.com
seus objetivos e prioridades principais) (NAVARRO, 2001, p.88).
2 Doutor em Políticas Públicas - UFPR. Professor da UFPR. E-mail: gomesbma@ufpr.br
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Aqui, considerou-se, após identificadas mais de cinco centenas de proposituras, que determinado conjunto de
parlamentares formou uma rede de relacionamentos ao pautarem, individual ou coletivamente, uma série de assuntos
– como se verá a seguir – no parlamento. Para tanto foi necessária, inicialmente, a identificação dos elementos – temas
pautados – capazes de unir maior ou menor conjunto de parlamentares. Esses elementos, aqui, não são considerados os
únicos a possibilitarem relacionamentos entre parlamentares no interior daquela instituição, tampouco se pode afirmar
a existência de outros elementos, ou de outros tipos de relacionamentos, a partir da metodologia empregue para analise
dos dados coletados.
Compreendemos a atuação parlamentar como ação de influenciar sobre todas as partes do Estado-Nação (o exe-
cutivo, o legislativo, o judiciário, as forças armadas e as instituições públicas ou privadas) a partir do parlamento.
A teoria do desenvolvimento sustentável abrange um campo vasto de conhecimentos que tem como principal
razão de ser a preocupação com o impacto da atividade humana nos recursos naturais, hoje e amanhã. Diminuir tal im-
pacto, proteger e garantir recursos naturais para as gerações futuras, sem deixar de lado preocupações com justiça social
são, desde os idos de 1970, os grandes objetivos dos que tomam tal teoria para iluminar o desenvolvimento de novas
práticas sociais. Para os objetivos desta pesquisa, dois marcos teóricos da teoria do desenvolvimento sustentável foram
destacados: o da economia ecológica e o do ecodesenvolvimento.
A economia ecológica encara a economia humana como parte do ecossistema e não o ecossistema como um ente
servil da economia humana. Além de considerar que para se realizar ao infinito o crescimento econômico sempre esbarra-
rá na escassez de recursos naturais, preocupa-se em reparar estragos na natureza ocasionados pela utilização dos mesmos
considerando, sobremaneira, a existência de estragos irreparáveis e, assim, preocupa-se de modo especial com a gestão
dos resíduos dos processos produtivos, reservando a ela lugar de destaque na economia humana. A economia ecológica
visa uma sustentabilidade ao ver a necessidade de se pensar modelos produtivos que não levem os recursos naturais ao
declínio contínuo de seus estoques (DENARDIN, 2003).
Para o assunto “Acidente nuclear” está a propositura, de autoria única (Hidekazu Takayama), que expressa preo- SACHS, Ignacy. Rumo à ecossocioeconomia: teoria e prática do desenvolvimento. VIEIRA, P. F. (Org.). São Paulo:
cupações com a possibilidade de acidentes nucleares no Brasil. No assunto “Áreas de preservação permanente” encon- Cortez, 2007. (cap.10 e 11).
tramos a propositura, também de autoria única (Edmar Arruda), que buscava colocar na ordem do dia a apreciação do SACHS, Y. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. STROH, P. Y. (Org.). Rio de Janeiro/RJ: Garamond, 2009.
Projeto de Lei nº 1.876, de 1999, que dispunha sobre áreas de preservação permanente, reserva legal e exploração flores-
tal. Para o assunto “Crime ambiental e os polimeros” o que se tem é a propositura, também de autoria única (Fernando
Francischini) em que o mesmo solicitou a realização de audiência pública para debater crime ambiental e a destinação
final de lixo que contém polimeros. No assunto “Gases radioativos” têm-se duas proposituras, de autoria única (Hidekazu
Takayama), para que José Augusto Perrotta desse explicações na Câmara dos Deputados sobre a contaminação de plu-
tônio e urânio no planeta Terra decorrentes da explosão de reatores nucleares no Japão. Para o assunto “Meio ambiente”
há a propositura, também de autoria única (Hidekazu Takayama), que buscava acrescentar dispositivo à Lei nº 4.771, de
1965 (Código Florestal) para permitir a retirada de folhas verdes ou secas com características farmacológicas comprova-
das. No assunto “Terras indígenas” têm-se duas proposituras, uma reunindo vinte parlamentares como autores e a outra
reunindo dezesseis, que buscavam a presença de ministros de Estado para debate no interior da Câmara dos Deputados
demarcações de terras indígenas.
No exercício de comparação, percebe-se que das 496 proposituras onde foi possível identificarmos o assunto de
cada uma delas, cerca de 2% do total (8 proposituras) está em sintonia com as preocupações socioambientais dos marcos
teóricos do desenvolvimento sustentável apresentados anteriormente. Sendo que o restante, perto de 98 % das proposi-
turas (488 casos), tratam de outros assuntos.
A análise das 509 proposituras, observando os nomes dos proponentes, para além dos 4 parlamentares apresen-
tados anteriormente, possibilitou a identificação de outros 330 parlamentares. A propositura que mais contou com auto-
res, 128 parlamentares, versou sobre o reconhecimento do Saara Ocidental como Estado e instalação de escritórios de
representação deste Estado no Brasil. Mas as 8 proposituras que se aproximaram das preocupações do desenvolvimento
sustentável, como vimos anteriormente, não se mostraram capazes de aglutinar considerável número de parlamentares,
considerando que a câmara baixa do Brasil, à época, também contava com o mesmo número atual de cadeiras, que é de
513.
Se por um lado encontramos apenas um reduzidíssimo número de proposituras alinhadas com as preocupações do
desenvolvimento sustentável, o que demonstra claramente que na 54ª Legislatura o sentido da atuação por proposituras
desses 4 deputados federais do estado do Paraná não era o mesmo das preocupações do desenvolvimento sustentável,
por outro, e talvez de maior interesse, têm-se no desenvolvimento e na aplicação do método de análise da atuação par-
lamentar, aqui apresentado, os motivos para chegarmos a concluir que os sentidos da atuação por proposituras desses 4
parlamentares não esteve alinhado com as preocupações do desenvolvimento sustentável. Assim consideramos,
a partir dos nossos exercícios nesta pesquisa, bem como dos resultados obtidos, que a metodologia empregue para inves-
tigar os sentidos da atuação parlamentar a partir do estudo das proposituras se mostra eficiente. Novos estudos validarão
ou refutarão tanto a metodologia como os resultados apresentados, veremos.
O estado brasileiro, mesmo com todos os avanços que têm sido propagados acerca das tentativas da diminuição
das desigualdades sociais, ainda está longe para que parcela significativa da população seja efetivamente contemplada
Solange Aparecida Duarte1; Valéria dos Santos de Oliveira2; Rodrigo Rossi Horochovski3
com as políticas públicas no que diz respeito às muitas mazelas que nos são diariamente visíveis. Para tratar deste tema
são muitas as vertentes a serem consideradas para que se consiga atender as várias dimensões que compõe os indivíduos.
De maneira ainda incipiente, já vem acontecendo algumas ações, porém, em virtude de uma estrutura burocrática, indi-
RESUMO vidualista e interesseira do modelo federativo praticado no Brasil e as condições para que haja a governabilidade nesta
Este artigo tem como objetivo apresentar como as políticas públicas e as políticas sociais se comportam para a efetivação federação, acarretam inúmeras situações criando grandes dificuldades para que esses problemas sejam suficientemente
de suas demandas no modelo federativo brasileiro considerando elementos trazidos a partir da Constituição de 1988. A substanciais para fazer parte da agenda governamental e assim obtermos uma efetiva possibilidade de ações através de
produção de políticas públicas bem como o comportamento dos diversos atores envolvidos é que irão descrever de que
políticas públicas.
forma um problema passa a ser uma política pública, considerando que a mesma é composta por fases e as suas impli-
cações. Para tanto, propomos uma aproximação teórica entre políticas públicas, políticas sociais e modelo federativo Este artigo tem como objetivo apresentar como as políticas públicas e as políticas sociais se comportam para a efe-
brasileiro.
tivação de suas demandas neste modelo federativo. A preocupação em descrever este tripé, se apresenta em consequência
da forma como vem sendo construídas essas discussões pelos autores que se dedicam a escrever sobre políticas públicas,
bem como sobre as políticas sociais que se efetivam através de ações das políticas públicas.
Palavras-chave: políticas públicas, políticas sociais e modelo federativo.
As variáveis aqui mencionadas são consequência da proposta de um Estado democrático antes proposto e ratifi-
cado pela Constituição Federal de 1988. Para atender ao propósito desta discussão, entender que o Estado apresenta um
ABSTRACT sistema presidencialista e, compreender as implicações deste, são vitais no tocante a busca do por que seria necessário
que pessoas que se apresentam em situação de vulnerabilidade precisariam estar nas bases para esta compreensão e assim
This paper aims to present how public policies and social policies work for the accomplishment of their demands goals in
the Brazilian federative model considering information brought from the Constitution of 1988. The production of public poderem buscar aquilo que lhes é de direito com mais propriedade. Entender que todas as linhas de ação desta sociedade
policies as well as the behavior of the various actors involved is what will describe how a problem becomes a possible são definidas através das políticas seria, alias, é fundamental para que as pessoas passem de uma situação de meros ex-
solution as a public policy, considering that it is made up of stages and their implications. Therefore, we propose a theo- pectadores da sua vida, a protagonistas da sua construção histórica.
retical approximation between public policies, social policies and the brazilian federative model.
METODOLOGIA
Key-words: public policy, social policies and federative model.
O tema das políticas públicas enquanto discussão é amplo e se apresenta cada vez mais necessário às políticas
sociais devido à imbricação que existe entre uma e outra. Neste contexto, este artigo propõe buscar alguns autores que
produziram debates acerca destas temáticas tratando de cada uma das politicas especificas ou trabalhando sobre ambas
supracitadas. Para tal entende-se que trazer uma breve revisão de literatura através da pesquisa bibliográfica se torna bas-
tante viável metodologicamente.
Entende-se que é necessário ter o cuidado numa metodologia como esta, de não tornar-se prolixo com os autores
trabalhados, como destaca PINHEIRO (2005, p.29) “A revisão de literatura pode ter como objetivos determinar o ‘estado
da arte’”, o que neste artigo tem-se todo cuidado, pois este aparato literário é fruto de um momento distante para esta con-
dição e, portanto, é importante mensurar como está a produção do tema e sendo assim validar como se apresenta o nível
das discussões acerca de um assunto.
1 Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral, e-mail: desisol@gmail.com;
2 Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral, e-mail: valeriaso238@gmail.com;
3 Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral, e-mail: rodrigoh33@gmail.com.
Na proposta das políticas públicas discutirem o que é relevante para o tema, tem se apresentado de certa forma
Neste artigo, apenas cita-se as fases que compõe as políticas públicas, mas devido a carência de literatura em Os atores envolvidos são inicialmente os financiadores dos programas, os seus dirigentes e os técnicos do progra-
língua portuguesa que algumas fases apresentam, não é possível ainda fazer e ou selecionar as devidas, nos dois níveis ma. A crítica à tradicional perspectiva hierárquica, top-down leva a considerar os interesses e necessidades dos “clientes”
de revisão como o proposto por Alves quando argumenta: ou beneficiários do programa. Pode ser usada por gerentes de outros programas e de serviços similares do setor público;
agentes do Governo Federal e representantes de organizações da sociedade civil e de fundações; membros das câmaras
..... que há dois tipos básico de revisão de literatura: a) aquela que o pesquisador precisa para o seu
legislativas dos distintos níveis de governo; cientistas sociais; por outros avaliadores; pelas organizações; pelo público
próprio consumo, isto é, para ter clareza sobre as principais questões teórico-metodológica pertinentes
ao tema escolhido; e b) aquela que vai efetivamente integrar o relatório do estudo. (ALVES, 1992, p. 54).
em geral (FARIA e FILGUEIRAS, 2003).
Em virtude dos estudos das políticas públicas que nasceram nos Estados Unidos da América, existe disponível Países em desenvolvimento e de democracia recente ou recém-democratizados, não conseguiram ainda formar
uma significativa quantidade de literatura, o que comparado ao Brasil, pode-se compreender ainda engatinhando. Por coalizões políticas capazes de equacionar, a questão de como desenhar politicas públicas capazes de impulsionar o de-
isso é necessário que a academia assuma a sua função precípua de produzir e encaminhar a discussão acerca deste tema. senvolvimento econômico e de promover a inclusão social (SOUZA, 2007).
Compreendendo as Políticas Públicas – síntese de aspectos relevantes Desde a constituição de 1988, a participação social tem sido reafirmada no Brasil como fundamento dos mecanis-
mos institucionais que visam garantir a efetiva proteção social contra riscos e vulnerabilidades e também a vigência dos
Como ponto de partida propomos descrever a política pública como a “ação do governo”, abordando assim uma direitos sociais (SILVA, JACCOUD, BERGHIN, 2005). Direitos estes de todas as matizes, principalmente neste contexto
breve conceituação e histórico dos estudos de políticas públicas. A Política pública é um campo multidisciplinar que bus- dos direitos aos movimentos sociais, que necessitam de políticas públicas e políticas sociais para que minimizem e aca-
ca “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e quando necessário indicar mudanças no bem com os problemas estruturais da sociedade.
rumo dessas ações (variável dependente) (SOUZA, 2007). A política pública após a formulação desdobra-se em planos,
programas, projetos, bases de dados ou sistemas de informação.
Uma das relações consideradas fundamentais é a que se estabelece entre Estado e políticas sociais, ou en-
A política pública como área de conhecimento e disciplina acadêmica nasce nos Estados Unidos. Na Europa a tre a concepção de Estado e a(s) política(s) que este implementa em uma determinada sociedade. Quando
área de políticas públicas surge como desdobramento de trabalhos baseados em teorias explicativas sobre o papel do Es- se focaliza as políticas sociais (como as de educação, saúde, previdência, habitação entre outras) os fato-
res envolvidos para a aferição de seu “sucesso” ou “fracasso” são complexos, variados, e exigem grande
tado e do Governo, produtor de políticas públicas, entretanto nos EUA observa-se que a ênfase se dá nos estudos “sobre
esforço de análise (HÖFLING, 2001).
a ação do governo”. Para tanto observa-se que os estudos sobre políticas públicas, ou sobre “o governo em ação”, não são
novos na ciência política, tendo ganhado destaque a partir da emergência de programas de bem-estar social (OLIVEIRA,
2013).
A garantia de direitos sociais nos campos da educação, saúde [...] foi acompanhada da consolidação de uma nova
Muito da literatura especializada não tem tradução para o português, mas o interesse dos pesquisadores pelos institucionalidade objetivando assegurar a presença de múltiplos atores sociais.
processos de planejamento, implementação e avaliação das políticas públicas, em diversas áreas, principalmente as do
Políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementada pelo Estado, vol-
campo de públicas, vem expandido os estudos da área.
tadas para a redistribuição dos benefícios sociais, visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo
É evidente que não há consenso sobre a definição de políticas públicas, no entanto esse panorama nos traz um desenvolvimento socioeconômico (HÖFLING, 2001).
leque de possibilidades de interpretações, mas, por outro lado nos auxilia para o que pretendemos desenvolver na pesqui-
Com uma visão contemporânea optamos por trazer à luz de forma simplificada a visão de Celso Furtado, gran-
sa, como destacado, por exemplo, na visão de Lynn, que é “um conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos
de referência do pensamento econômico brasileiro e do economista indiano Amartya Sen no que tange a questão do
específicos”, o que vem de encontro com o que aqui vamos tratar.
desenvolvimento. Neste sentido para Furtado (2004), o desenvolvimento não é apenas um processo de acumulação e
Na visão de Sen, o desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobre-
za e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e O que foi descrito sobre a política de coalizão existente no Brasil, reflete nas três instâncias de poder e, portanto,
intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos. Portanto espera-se que esse desenvolvimento como assim a implementação desta ou daquela política pública local, também perpassa pelos mesmos elementos anteriormente des-
citado pelos autores, atinja todas as camadas sociais inclusive através de politicas sociais e políticas públicas, garantindo crito. Mesmo com as barreiras da governabilidade impostas para o executivo, ainda existem caminhos legais de que se
minimamente os direitos dessa população. avance na conciliação com os programas, que podem acontecer por meio das Medidas Provisórias e dos Decretos Leis.
Sobre essas ações para governar, MARCHETTI (2013) relata: “A governabilidade de coalizão é uma possibilidade que
traz para o cenário um elemento que é a Medida Provisória (MPs) que permite que o Executivo negocie essa possibilidade
Um problema para se constituir em uma Política Pública de governar com o Legislativo”.
A Constituição Federal de 1988, também denominada de Constituição cidadã, define o Brasil como um Estado Este modelo federativo brasileiro garante um mecanismo institucional básico que é a discordância e a mesma
Democrático e de Direito. Sendo assim precisa criar mecanismos para que busque assegurar que as diferenças significati- fornece por sua vez uma grande diversidade de políticas, o que incorre na não possibilidade da não implementação de
vas existentes entre os mais abastados e os menos privilegiados fossem minoradas. Políticas públicas são implementadas determinadas políticas ou ainda a desigualdade de implementação das mesmas.
e definidas através de políticas setoriais ou sociais para que se construam ações. A constituição de 1988 marcou aspectos
Nas três esferas de governo, havendo a opção pela implementação de uma política, esta poderá acontecer sob
importantes no que se refere à mudança de visão referente a educação, a diversidade, a cultura, e aos movimentos sociais.
duas abordagens: a abordagem top dow ou a abordagem bottom-up. A abordagem top dow desenhada pelas altas burocra-
O caminho a ser seguido passa então a ser considerado, em virtude da forma como questões têm sido tratadas e cias tem a sua implementação descrita de forma a que se aplique, a política em si considerando que a mesma se dá pela
como chegam a se transformar numa política pública. A participação dos indivíduos em espaços de discussão tem sido interação entre os objetivos definidos e as ações que a efetivam. Já a abordagem bottom-up, também desenhada pelas
fundamental, para que se tenham elementos para constituir dados significativos e criando condições a possibilitar que um altas burocracias tem seu diferencial na aplicação da política por entender que se deve considerar no processo, além dos
problema seja de tamanha relevância e que passe então à categoria de política pública. objetivos a serem atingidos, também a sua elaboração numa construção na perspectiva do consenso entre quem elabora
e aqueles que executam.
O modelo da federação brasileira constituídas em três instâncias de governos, as desigualdades regionais que são
apresentadas, e a viabilização para governar em virtude do sistema presidencialista com as políticas de coalizão que são O modelo de implementação bottom-up tem sua base identitária com o que propõe a Constituição Federal vigente.
consequências, criam alguns entraves para a organização e constituição de uma agenda pública. No processo de formu- Sendo assim, há um elemento fundamental nesta forma de abordagem que é a participação da sociedade civil organizada
lação da política pública muitos fatores pesam nesta tomada de decisão. Para SOUZA (2012): juntamente com seus afiliados. Essa participação traz dados das suas inserções e intervenções nos conselhos das políticas
a visão mais comum da teoria da escolha racional, de que o processo decisório sobre políticas públicas públicas, que variam desde apenas conselheiros da sociedade civil denominados “Conselheiros Não Governamentais” e
resulta apenas de barganhas negociadas entre indivíduos que perseguem seu auto-interesse, é contestada ou até mesmo a estarem mais envolvidos como na condição de representantes nestes conselhos na função de “Conselhei-
pela visão de que interesses (ou preferências) são mobilizados não só pelo auto-interesse, mas também ros Governamentais”.
por processos institucionais de socialização, por novas ideias e por processos gerados pela história de cada
país (SOUZA, 2012, p.82).
Com a democracia se consolidando no aparelho do Estado, essas participações nestes níveis de decisão, traz no
Seguindo neste caminho Marchetti (2013) entende que para que se avance no debate acerca das políticas públicas seu interior uma maior responsabilização sobre as ações efetivas no campo da gestão pública. Surge o accountability e
é necessário que tenhamos “consolidação e estabilidades das instituições financeiras”. Sendo assim, “a estabilidade do assim maneiras de se intervir sobre os direitos e deveres do Estado acerca das suas atuações para com as instituições e
regime é variável decisiva para uma agenda de políticas públicas orientada por preferências mais plurais”. com os cidadãos nas políticas sociais.
No que diz respeito a efetivar uma política pública quando instituída no âmbito do Governo Federal União, Esta- As liberdades substantivas já defendidas por SEN (2010), quando discute sobre a possibilidade de intervenções
dos e Municípios não têm a obrigatoriedade de implementá-las, uma vez que estas políticas não seja prioridade para os na máquina do Estado, valores como conscientização, empoderamento, igualdade de oportunidade são fundamentais que
governos locais. Sobre isso ARRETCHE (2004) afirma: passem a fazer parte da agenda de debates dos implementadores das políticas públicas e das políticas setoriais uma vez
que estão legalmente previstas constitucionalmente esses atores sociais.
[...] a autoridade do governo federal para induzir as decisões dos governos locais, no sentido de que
estas venham a coincidir com suas próprias prioridades, permanece limitada, uma vez que estes detêm
A Participação dos Conselhos e as Políticas Públicas. Nos questionamos: até que ponto, a proposta de um novo sistema político, com um novo desenho federativo seria
satisfatório, no que diz respeito a atender as sua reais demandas que precisam das políticas públicas como único meio de
Na década de 1930, no Brasil a saúde é a política pública que mais tem se apresentado com a sua função precípua.
exercer a sua cidadania e mesmo como resultado de uma ação política.
Em 1986 o Conselho Nacional de Saúde, determina para a Constituição Federal de 1988 as ações para a implementação
do Sistema Único de Saúde SUS. Portanto, a implementação de uma política pública como a saúde, a educação, a se-
gurança, a habitação e demais, trazem para a sociedade grandes movimentações sejam elas culturais, econômicas e ou REFERÊNCIAS
sociais. Daí a se perceber, porquê os grandes embates políticos no entorno da formulação para essas agendas.
ARRETCHE, Marta. “Federalismo e Políticas Sociais no Brasil; problemas de coordenação e autonomia”. Revista
A política pública é uma ferramenta de intervenção social e, portanto, os seus resultados têm impactos na econo- São Paulo em Perspectiva, Vol. 18, nº 2, ano 2004.
mia. Por isso SOUZA (2012) diz “políticas públicas repercutem na economia e na sociedade, daí porque qualquer teoria CÔRTES, Soraya Vargas. Viabilizando a Participação em Conselhos de Política Pública Municipais: arcabouço
da política pública precisa também explicar as inter-relações entre Estado, política, economia e sociedade”. institucional, organização do movimento popular e policy communities. In G. Hochman, M. Arretche e E. Marques
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Estudar política pública se dá na medida que se opta por explicar uma política social e todo processo que per-
MARCHETTI, Vitor. Desenho institucional e políticas públicas no Brasil. In: Marchetti, V. (Org). Políticas Públicas
meiam a ação desta propriamente dita. Trabalhar na possibilidade de que se efetive a política pública na prática, aconte-
em debate. São Bernardo do Campo: ABCD Maior, UFABC, 2013.
cerá na medida em que estas terão as suas definições explicitadas e discutidas nos conselhos representativos.
RIBEIRO, Uriella Coelho. FARIA, Cláudia Feres. Entre o legal e o real: o que dizem as variáveis institucionais sobre
A participação das representações governamentais e não governamentais nestes conselhos ficam a encargos dos os conselhos municipais de políticas públicas? In L. Avritzer (org) A dinâmica da participação local no Brasil. Vol 3.
seus regimentos internos o que variam significativamente, dependendo de que área da política pública está sendo imple- Ed. Cortez, São Paulo, 2010
mentada nas políticas sociais. Essas variações segundo CÔRTES (2010): PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil. Lei 11.346 de 15 de setembro de 2006. Disponível em http://www.planal-
Políticas públicas – especialmente as políticas sociais – têm importância diferenciada, no contexto geral
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bens e serviços – se destina e o modo como ela é financiada, produzida e distribuída (CÔRTES, 2010,
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p.129).
WAMPLER, Brian. Transformando o Estado e a sociedade civil por meio da expansão das comunidades política,
Enfim para a garantia de todas as condições para o real exercício da cidadania, é necessário que as ações a serem associativa e de políticas públicas. In L. Avritzer (org) A dinâmica da participação local no Brasil. Vol 3. Ed. Cortez,
realizadas pelo Estado, aconteçam de forma justa e equânime. Logo as políticas públicas devem ser o elemento que deve São Paulo, 2010.
oportunizar e garantir esta melhoria da qualidade de vida da população, com vistas a efetivar uma ação da qual origina-se
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Por outro lado, a emancipação pode ser entendida como um “processo de satisfação de liberdades” (SEN, 2010).
RESUMO Essa emancipação que não se limita ao conceito mercadológico de bem estar, defende a realização de liberdades para as
pessoas. Liberdade de aprender e ser o que desejar. Assim, uma educação voltada para a capacitação de mão de obra para
Diante da necessidade de aproximação da Universidade dos saberes das comunidades, o presente artigo pretendeu avaliar
o mercado é o caminho inverso da emancipação do indivíduo e da satisfação das liberdades.
primeiramente o papel da comunidade escolar no processo de fortalecimento do capital social (identidades e relações soli-
dárias) na Escola Municipal Vereador Heinz Wittitz no Município de Guaratuba – PR. Em seguida, pretendeu-se perceber Dessa forma, a Escola Básica pode ser um espaço de emancipação, não por orientação do Estado, mas por meio
a importância da aproximação da Universidade Federal do Paraná através do Curso de Extensão em Gestão de Processos
de Educação, Diversidade e Inclusão ministrado pelos estudantes do Curso de Especialização em Gestão de Processos de da formação continuada dos sujeitos envolvidos, ou seja, a comunidade escolar.
Educação.
Por esse caminho, a aproximação entre a Universidade e a Escola Básica pode representar um produtivo processo
de formação para a comunidade escolar, sobretudo os professores e professoras. Esta aproximação através de cursos de
formação continuada pode favorecer um ambiente de discussão e conhecimento de experiências comunitárias, solidárias,
ABSTRACT
sustentáveis, ricas em experiências significativas, especialmente, no contexto de crise de conhecimento e recontextualiza-
Given the need to approach the University of knowledge communities, the present article first assess the role of the ção das identidades (SANTOS, 1997).
school community in the process of strengthening social capital (identity and solidary relations) at the Municipal School
Councilman Heinz Wittitz in the municipality of Guaratuba - PR. Then it was intended to realize the importance of the É importante ressaltar a diferença entre a formação e a capacitação dos profissionais. A capacitação profissionais
approximation of the Federal University of Parana through the Course Extension in Management Processes Education, refere-se à apropriação de técnicas, muitas vezes de repetição, como o uso de tecnologias da informática. É o caso de
Diversity and Inclusion taught by students of the Specialization Course in Education Process Management.
alguns dos candidatos a tutores de Ensino à Distância que apesar das diferentes formações recebem a mesma capacitação
para uso do moodle (ferramenta on-line para ensino à distância) para todas as disciplinas (NICOLODI, 2012). Assim, a
formação dos professores vai além da capacitação pois se dá de forma contextualizada, ou seja, nas experiências. Esta
formação contextualiza mais responde às necessidades dos professores e que “no momento que a realiza, mais eles a va-
lorizam” (CUNHA, 2005).
O espaço escolar é diversificado. Composto por professores, estudantes, demais funcionários e familiares. Des-
sa forma, o espaço escolar é potencialmente rico para experiências de aprendizagem. Através do Curso de extensão em
Gestão de Processos de Educação, Diversidade e Inclusão - GPEDI, ofertado pela UFPR Litoral e multiplicado pelos
Cursistas da Especialização foram possíveis diversas aproximações com o espaço da escola básica.
A tarefa da multiplicação não era a repetição de receitas elaboradas a partir de outra realidade, mas ambiente pro-
fícuo de discussão da realidade local. As pessoas envolvidas no processo não tardaram em discutir problemas que pode-
riam resolver, ao invés de procurar desculpas externas para o fracasso. Essas pessoas que participaram do Curso não eram
apenas os professores, faziam parte de um universo mais amplo de profissionais de educação. Havia ali profissionais da
secretária, da limpeza, da merenda escolar, etc. Tal diversidade no Curso foi uma grata surpresa e essencial para a multi-
plicação, pois permitiu novos olhares e a construção de uma identidade de comunidade escolar. Assim, a comunidade não
é um espaço. É um território! Que segundo Maria Isabel da Cunha inclui:
1 Mestrando em Desenvolvimento Territorial Sustentável/UFPR luizricardotoniolo@gmail.com.
JUSTIFICATIVA Os inscritos no curso chegaram a cento e noventa e quatro. Embora, tenha ocorrido algumas desistências, a carga
horária de cento e oitenta horas foi realizada por cento e vinte e seis extensionistas. O grupo, além de numeroso, se reve-
O espaço escolar tem sido marcado pela influência de modelos que privilegiam o conteúdo e a formação de traba-
lou, também, bastante diverso, cmposto por professoras e professores da educação infantil; Fundamental I; Fundamental
lhadores para o mercado de trabalho. A percepção dessa educação funcionalista impede que haja a valorização dos saberes
II; Ensino Médio; estudantes de Magistério; profissionais da secretária; biblioteca; inspetoria; merenda escolar e limpeza.
locais de um determinado lugar, assim como dos profissionais e estudantes.
Esta diversidade representou um desafio no preparo dos materiais do Curso, entretanto, se revelou – através dos relatos
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação especifica a necessidade de adequação de planos de aula, projetos político dos cursistas – a vivência mais significativa.
-pedagógicos, currículos e avaliações à realidade local para toda a educação básica no país (BRASIL, 1996). Diante disso,
Diante dessa realidade, o objetivo do nosso Curso não poderia ser fechado. Foi o andamento do Curso que revelou
se faz necessária a valorização de práticas pedagógicas voltadas para o local, que fazem parte da realidade da comunidade.
novos problemas de pesquisa e, portanto, novos objetivos. Porém, ficou claro desde os primeiros encontros de preparação
Embora, tal proposta já estivesse no discurso dos pioneiros de 1932 (AZEVEDO, 1932), ainda percebe-se lacunas nas
com os demais professores multiplicadores que o objetivo era conhecer/se aproximar parte da realidade da educação bási-
práticas docentes que possibilitem experiências significativas.
ca de Guaratuba. Este “conhecer/aproximar” não seria feito através de tabelas, questionários, números, e sim, de entender
Contudo, percebe-se, também, a impossibilidade de ação central por parte do Estado em adaptar as práticas peda- a vivência de atores sociais. Seguindo essa perspectiva a comunidade escolar é lugar que reúne possíveis atores que com-
gógicas à realidade local. Esta impossibilidade é tanto operacional quanto ideológica. Dessa forma, cabe à comunidade partilham certas ideias que podem contribuir para romper com uma educação colonialista e voltada para o mercado. Mas,
escolar provocar experiências de aprendizagem que façam sentido para a realidade do estudante. Essa responsabilidade é essas comunidades precisam de interação, espaços de diálogo, trocas e debates, formando redes. Assim, essas redes que
da comunidade tanto por capacidade e sintonia quanto por necessidade de sobrevivência. são criadas a partir de demandas se solidarizam em seus objetivos superando a visão de “classe social” por “ator social”
e de “luta de classes” por “movimento social” (SCHERER-WARREN,1996).
Assim, a partir da concepção da comunidade como território, logo com capacidade criativa, é preciso que haja
uma adaptação dos processos de aprendizagem resultantes desse poder criativo local. Nesse sentido, o objetivo principal da pesquisa foi, no primeiro momento, provocar diálogos com a comunidade
escolar para a criação de projetos de aprendizagem baseado em problemas. Contudo, a partir dos contatos com os profes-
Essas práticas pedagógicas podem ser desenvolvidas por atores sociais que se posicionem como mediadores do sores, foi possível perceber diversas experiências significativas de aprendizado. Assim, o objetivo principal foi comple-
processo pedagógico, que focam seu trabalho na efetiva aprendizagem do estudante e que não se prendam às limitações mentado: conhecer as experiências da comunidade escolar que valorizem saberes locais, processos de aprendizagem por
externas para alcançar seus objetivos. Isso significa, também, desenvolver propostas didáticas baseadas em problemas que problemas, economias solidárias e ações ambientais.
possibilitam novos olhares para o mundo e para si mesmos. Através dessas práticas pedagógicas o papel da escola pode
ser dimensionado como um território de valorização e afirmação da identidade da comunidade. Dessa forma, o meio escolhido para a aproximação foi a pesquisa ação que “incorpora a ação como sua dimensão
constitutiva –, o pesquisador em educação não deixa dúvidas sobre a relevância conferida à prática em seu processo de
Mas, para tanto, esse novo paradigma ganhará força a partir de um diálogo mais intenso entre a Universidade e a investigação. Tratou-se, assim, de uma pesquisa que buscou articular a relação entre teoria e prática no processo mesmo
comunidade escolar da Educação Básica. Daí a importância de formação continuada para aproximar e interagir a Univer-
Este novo olhar, ampliado, incluiu profissionais que são vistos apenas como técnicos e, até mesmo, menospre- Tais resultados nos alertaram para a necessidade de dois tipos de espaço. O primeiro espaço é a divulgação dessas
zados na comunidade. A partir do problema foram discutidas democraticamente possíveis soluções sustentáveis para os experiências em ambientes interativos e periódico de circulação para as comunidades escolares. Percebeu-se que a maior
resíduos orgânicos. A pesquisa de métodos de tratamento dos resíduos levou à construção de composteiras que permitiram parte dos professores desempenham atividades criativas e que levam em consideração experiências locais, éticas e solidá-
não apenas a destinação do resíduo, mas, o uso do húmus para fertilização. rias. Esta interação virtual tem ocorrido com os atores sociais nas redes sociais com a formação de grupos e repositórios
digitais, mas de forma, dispersa o que dificulta a divulgação para outras comunidades. Esta divulgação é importante não
Naturalmente, que as soluções não foram imediatas. Cartazes de conscientização produzidos pelos estudantes,
para a mera reprodução de práticas, mas com a finalidade, de ser a matéria prima para adaptações e aperfeiçoamentos. O
aprendizado e apropriação de técnicas, pesquisa de soluções mais adequadas e valorização do húmus para o cultivo de
ARROYO, Miguel. (1999). “As relações sociais na escola e a formação do trabalhador”, in: FERRETI, Celso; SILVA
JR., João dos Santos; OLIVEIRA, Maria Rita N. S. Trabalho, formação e currículo: para onde vai a escola? São Paulo: RESUMO
Xamã, vol.1, p.13-42.
A Educomunicação Socioambiental foi proposta pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), como linha de ação para
AZEVEDO, Fernando. A reconstrução educacional no Brasil ao povo e ao governo: Manifesto dos Pioneiros da Educa- o desenvolvimento da Educação Ambiental (EA) no Brasil. A escolha dessa metodologia ocorre de modo integrado ao
ção Nova. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1932. processo de implementação da Política Nacional de Educação Ambiental, criada pela Lei no 9.795/99, e que culminou
no Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA). Por meio do ProNEA, adotou-se a Comunicação para a
BARBIER, Renée. A pesquisa-ação. Tradução de Lucie Didio. Brasília: Liber Livro Editora, 2007. Educação Ambiental como forma de produzir, gerir e disponibilizar, de forma interativa e dinâmica, as informações
relativas à Educação Ambiental. De 2004 a 2007, o Departamento de Educação Ambiental (DEA) do MMA desenvolveu
BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília: 1996.
um material de orientação de práticas de comunicação para a EA com a intenção de dar suporte a propostas de políticas
CUNHA, Maria Isabel da. (2005) O Bom professor e sua prática. Campinas: Papirus, 1989. públicas voltadas ao tema ambiental através da educação e comunicação. Em 2008, foram publicadas as Diretrizes da
Educomunicação Socioambiental. O objetivo desse artigo é analisar a documentação produzida pelo Ministério do
______ . (2008) Os conceitos de espaço, lugar e território nos processos analíticos da formação dos docentes universitá- Meio Ambiente, voltado à Educação Ambiental, com a finalidade de verificar quais são os princípios, objetivos e ações
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e-mail: marcelo.korelo@gmail.com
Ambiental. Essa legislação tem por objetivo esclarecer e definir o que o Estado entende por Educação Ambiental (EA) e a quem
confere a responsabilidade pelo desenvolvimento de ações que visem promover a EA em território nacional. Além disso, o documento 2 METODOLOGIA
traz os princípios básicos e os objetivos fundamentais da mesma. Trata-se de um estudo científico, de abordagem qualitativa, com objetivos descritivos. A pesquisa documental é adotada
como procedimento para o desenvolvimento da pesquisa dentro da metodologia escolhida. Essa documentação é indireta, de tipo
Com relação à Política Nacional de Meio Ambiente, a lei determina que as atividades vinculadas a essa política pública
escrito, visto que foi produzida quase em sua maioria pelo Ministério do Meio Ambiente. Ao mesmo tempo, o trabalho se vale da
devem ser desenvolvidas a partir de linhas de ação pré-determinadas, e ocorrer em espaços educativos formais e não formais, com a
pesquisa bibliográfica como suporte para discutir os pressupostos teóricos surgidos ao longo da análise.
intenção de capacitar recursos humanos; desenvolver estudos, pesquisas e experimentações; produzir e divulgar material educativo
e acompanhar e avaliar essas ações educativas.
Em razão da instituição dessa política nacional, foi criado o Programa Nacional de Educação Ambiental, o ProNEA. O 3 AS AÇÕES DO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE EM PROL DO DESENVOLVI-MENTO DA
ProNEA propõe missão, diretrizes e princípios que orientam sua linha de atuação, e por conseguinte as demais ações de educação EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL: A BUSCA POR UMA LINHA DE ATUAÇÃO DEFINIDA POR
ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA), baseados no Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA
e Responsabilidade Global4. Essas diretrizes foram elaboradas no ano de 2004, a partir de um processo de consulta pública que
envolveu mais de 800 educadores ambientais brasileiros, em parceria com as Comissões Interinstitucionais Estaduais de Educação
Ambiental (CIEAs) e as Redes de Educação Ambiental. 3.1 A LEI NO 9.795/99 E A POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
O ProNEA (BRASIL, 2005) defende que a “Comunicação para a Educação Ambiental” deve ser uma das linhas de ação
desenvolvidas para promover a Educação Ambiental e para que se produza, gere e disponibilize, de forma interativa e dinâmica, as A Lei no 9.795/99 define Educação Ambiental, em seu Artigo de no 1, como os “[...] processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
informações relativas à EA.
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.” (BRASIL,
Em outubro de 2004, acontece a I Oficina Nacional de Comunicação e Educação Ambiental. Das discussões e proposições 1999)
desse evento tem início a construção de um documento, também de cunho orientativo, sobre educomunicação socioambiental. Uma
Em virtude desse caráter protagonista de envolvimento dos sujeitos, propõe que deve ocorrer de modo essencial e permanente
primeira versão-base é criada alguns meses depois, em junho de 2005 (BRASIL, 2005). Essas informações, entretanto, somente são
na educação nacional. Além disso, necessita se dar de maneira articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo,
sistematizadas, finalizadas e publicadas em 2008, após participação e colaboração de mais de 60 especialistas na área.
seja ele formal e/ou não-formal.
As Diretrizes para a Educomunicação Socioambiental como linha de ação para promoção da Educação Ambiental são
Igualmente como a educação, trata-se, portanto, de um direito do cidadão. São responsáveis pelo cumprimento desse direito,
publicadas no documento Educomunicação Socioambiental: comunicação popular e educação5, o objeto de estudo desse artigo.
o Poder Público, mas também as instituições educativas, os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama,
Esse trabalho tem a finalidade de verificar quais são os princípios, objetivos e ações propostas pelo ProNEA, do Ministério do
os meios de comunicação de massa, as empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, assim como a sociedade como
Meio Ambiente, que sustentam a difusão de ações educomunicativas socioambientais em espaços não-formais. Opta-se, nesse
um todo.
sentido, por focalizar a pesquisa, em virtude de recortes metodológicos, nos espaços não-formais de educação, ainda que o material
consultado proponha ações para a educação formal e informal. Essas instituições devem se incumbir de promover a educação ambiental por meio da definição de políticas públicas, através
da integração a programas educacionais, de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente e também de formação de
Entende-se que a análise dessa documentação, extravasa os horizontes de uma consulta bibliográfica, e caminha em direção
trabalhadores. Essa promoção deve visar a atuação individual e coletiva que se volte para a prevenção, identificação e a solução dos
ao concreto, ao se refletir em programas e ações reais de Educação Ambiental por meio da Educomunicação Socioambiental, que se
problemas ambientais e ocorrer de modo permanente através da disseminação de informações e práticas educativas sobre o meio
valem das orientações contidas nesse material através de princípios sustentados por uma política pública nacional em consolidação.
ambiente.
Por esse motivo, faz-se importante revisitar o modo como se estabeleceu/ vem se estabelecendo esse cenário em torno da
A legislação (BRASIL, 1999) indica ainda, Artigo de no 4, que a Educação Ambiental está amparada em oito
3 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Lei n .9795/99, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
o
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 27 fev. 1999. princípios básicos. São eles: I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção de meio
4 O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global é um documento elaborado por educadores ambiente na sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o meio sócio-econômico e o cultural,
ambientais, jovens e pessoas ligadas ao meio ambiente de vários países do mundo, publicado durante a 1º Jornada de Educação Ambiental, que sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi
se tornou referência para a Educação Ambiental.
5 BRASIL. Educomunicação socioambiental: comunicação popular e educação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2008. e transdisciplinaridade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de
Têm-se como estratégias para promover a Comunicação para a Educação Ambiental: que as informações sejam de caráter
educativo, por meio de uma linguagem acessível, com integração entre as diferentes mídias. Estimula-se que haja produção artísticas
Refere-se ao conjunto de ações e valores que correspondem à dimensão pedagógica dos processos
e literárias como forma de fomentar a discussão de questões ambientais. Ressalta-se que essas informações divulgadas reconheçam comunicativos ambientais, marcados pelo dialogismo, pela participação e pelo trabalho coletivo. A
experiências de Educação Ambiental locais e sejam socializadas por meio de “Salas Verdes”. Também se estimula a criação de canais indissociabilidade entre questões sociais e ambientais no fazer-pensar dos atos educativos e comunicativos
de acesso às informações ambientais, produção de programas temáticos e a elaboração de planos e programas de comunicação para é ressaltada pelo termo socioambiental. A dimensão pedagógica, nesse caso em particular, tem foco no
“como” se gera os saberes e “o que” se aprende na produção cultural, na interação social e com a natureza.
instâncias governamentais. Com relação à criação de um banco de dados que disponibilize informações sobre Educação Ambiental7 (BRASIL, 2008, p.10)
e um cadastro nacional de agentes de EA, o ProNEA prevê a centralização nos sites do MMA, principalmente o do Departamento de
Educação Ambiental (DEA). Além disso, prevê a alimentação desse banco de dados, pela sociedade em geral. Por fim, existe uma
preocupação com a capacitação para as tecnologias de informação e comunicação.
Os Ministérios do Meio Ambiente e da Educação (BRASIL, 2008) definiram oito princípios norteadores para a
O eixo Produção e apoio à elaboração de materiais educativos e didático-pedagógicos firma uma parceria entre os Ministérios Educomunicação Socioambiental. São eles: 1) Compromisso com o diálogo permanente e continuado; 2º - Compromisso com a
do Meio Ambiente e Ministério da Educação (MEC), tanto para a aquisição como para a produção de material impresso e audiovisual interatividade e produção participativa de conteúdos; 3o - Compromisso com a transversalidade; 4º - Compromisso com o Encontro/
para trabalhar a Educação Ambiental em todo o país, de modo nacional, regional e local. Ademais, prevê a utilização de ensino Diálogo de Saberes; 5º - Compromisso com proteção e valorização do conhecimento tradicional e popular; 6º - Compromisso
a distância. Além da implantação de rádios comunitárias em polos irradiadores, a partir de parceria com a Associação Brasileira com a democratização da comunicação e com a acessibilidade à informação socioambiental; 7º - Compromisso com o direito à
de Rádios Comunitárias, para produção de programação, especialmente, voltada para o público jovem “[...] como instrumento comunicação; 8º - Compromisso com a não discriminação e o respeito à individualidade e diversidade humana.
pedagógico e de fomento às atividades ambientalmente sustentáveis.” (BRASIL, 2005, p.50)
Esses princípios orientadores servirão de direção para o desenvolvimento de atividades e processos voltados à Educomunicação
Socioambiental, executadas por qualquer segmento da sociedade. As atividades propostas podem seguir três linhas de ação: Articulação
de Ecossistemas Comunicativos no campo da Educação Ambiental, Produção interativa/participativa em mídias massivas e Formação
3.3 A EDUCOMUNICAÇÃO SOCIOAMBIENTAL COMO POLÍTICA PÚBLICA
do Educomunicador Socioambiental.
A Educomunicação Socioambiental é adotada pelo Ministério do Meio Ambiente como política integrante da trajetória que O documento sobre a Educomunicação (BRASIL, 2008) sugere ainda meios para que essas ações complementares integradas
vem sendo estabelecida pela Educação Ambiental em nível nacional, desde 1999. Por esse motivo, tem por finalidade possibilitar sejam implementadas. Sugere-se que se: realizem diagnósticos e mapeamentos iniciais da comunicação em todos os níveis; desenvolvam
que se cumpra o estabelecido pela Lei no 9.795/99, pela Política Nacional de Educação Ambiental e pelo Programa Nacional de pesquisas e publicações de metodologias apropriadas para diagnóstico da comunicação, para formação de educomunicadores e para
Educação Ambiental (ProNEA). a elaboração de programas; apoie, em seu âmbito de atuação, a constituição de estruturas educadoras voltadas para a informação e a
comunicação popular em meio ambiente; articulem bases virtuais de informação (páginas, plataformas, sistemas) não somente devido
O referencial teórico da Educomunicação (SOARES, 1999)8 é assim adotado, pois dá conta de sistematizar o quadro de a seu caráter de autopromoção, mas como fomento para as discussões sobre o tema; trabalhe em rede com os campos da educação,
referência para a toda ação comunicativa no campo da Educação Ambiental. Assim como contribui com a construção de uma Política da comunicação e da informação ambiental; apoie o planejamento e a gestão de programas de Educomunicação Socioambiental, em
Nacional de Comunicação e Informação Ambiental. Acredita-se que “[...]A Educomunicação aproxima o campo da Educação qualquer nível do poder público, como meio de fortalecer a Educação Ambiental como prática de todos; e, por fim, que se defina os
Ambiental à perspectiva de uma comunicação popular educadora, autonomista e democrática.” (BRASIL, 2008, p.9) meios institucionais para apoio permanente e financiamento da Educomunicação Socioambiental.
A Educomunicação, como as Diretrizes do ProNEA (BRASIL, 2003), valem-se da transversalidade e da participação social
por meio de recursos pedagógicos, baseados no dialogismo e na autonomia, para o desenvolvimento de suas ações.
7 O Sistema Brasileiro de Informação em Educação Ambiental (SIBEA) reúne dados sobre o tema em um portal do Ministério da 9 O Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares é coordenador-geral do Núcleo de Educação e Educação (NCE) da Universidade de São Paulo desde
Educação. a sua fundação em 1996.
8 SOARES, I.O. Comunicação/Educação: a emergência de um novo campo e o perfil de seus profissionais. Brasília, 1999.
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4 DISCUSSÃO Ambiental, Política Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) e Diretrizes para a Educomunicação Social Ambiental, percebe-
A adoção da Educomunicação Socioambiental nos espaços não-formais é tratada dentro das Diretrizes da Educomunicação se que as políticas públicas voltadas à promoção da Educação Ambiental, em território brasileiro, encontram-se em processo de
Socioambiental (BRASIL, 2008) do Ministério do Meio Ambiente como um campo de aplicação para a linha de ação. Juntamente com consolidação. Porém, com orientações muito bem definidas com relação aos princípios e objetivos que devem ser seguidos para a
a educação não-formal, são alocados os processos formativos populares e informais. Em outro lado, o documento define a educação implementação de ações e programas nessa área.
formal também como espaço de execução dos projetos socioambientais, entretanto com um potencial menor de exemplificação e
De 2008 a 2015, não foi proposto mais nenhum documento que se refira à Educomunicação, nem à Educomunicação
com menos possibilidades de atuação do que o ambiente não-formal.
Socioambiental por parte do Ministério do Meio Ambiente. Entretanto, em 2010, foram publicadas as Diretrizes para a Estratégia
São exemplos de campos de atuação da Educomunicação, segundo as Diretrizes da educomunicação Socioambiental Nacional de Comunicação e Educação em Unidades de Conservação (BRASIL, 2010a) e a Resolução no. 422/ 2010 (BRASIL,
(BRASIL, 2008): Educomunicação nos Coletivos Educadores para Territórios Sustentáveis; Educomunicação para a constituição 2010b), do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Mais uma vez, a Educomunicação é referenciada como linha de ação para o
de Municípios Educadores Sustentáveis, nas Cidades-Escola e nos Bairros-Escola; Educomunicação nas Redes de Educação e / ou desenvolvimento de ações comunicativa e educacionais voltadas à Educação Ambiental.
de Comunicação Ambiental; e, Educomunicação Socioambiental na Pesquisa Participativa em Meio Ambiente.
O posicionamento aqui assumido, é de que o novo campo já está legitimado, no que se refere, a uma política pública
A Educomunicação nos Coletivos Educadores para Territórios Sustentáveis se refere às possibilidades de tratar a Educação pensada dentro de um processo que visa promover a Educação Ambiental, mas também definir a Política Nacional de Comunicação,
Ambiental como um ação permanente, organizada em prol da sustentabilidade. Dessa maneira, supõe-se a organização de documentos Educação e Informação da Educação Ambiental. As diretrizes e orientações citadas foram (bem) construídas em um processo
com essa finalidade, projetos político-pedagógicos, currículos, cursos, entre outros. participativo que envolveu o Estado, mas também especialistas e agentes envolvidos com a Educação Ambiental.
Já a Educomunicação para a constituição de Municípios Educadores Sustentáveis, nas Cidades-Escola e nos Bairros-Escola, Trata-se de um movimento integrador, que constrói e se reconstrói cotidianamente por meio da práxis, através de ações
retrata as políticas de educação e comunicação articuladas com comunidades, movimentos, escolas. e projetos reais com sujeitos também concretos. Nesse sentido, entende-se que assim como foi construído baseado na troca de
experiências, também pode possibilitar que assim se crie um movimento cíclico.
A Educomunicação nas Redes de Educação e/ou de Comunicação Ambiental demonstra que para que haja difusão de
saberes e conhecimentos de maneira mais eficiente, através de ações e projetos, é interessante que haja integração e interação Ao se estabelecer um panorama revisitado sobre as origens e fundamentos da comunicação educativa e/ou educação
dessas experiências por meio das Redes orientadas em razão da EA. Daí o viés da transversalidade tão apontado nos documentos comunicativa, através de projetos desenvolvidos por Anísio Teixeira, passando por Mário Kaplún e Paulo Freire, observa-se e
analisados. se compreende que são os movimentos populares e os espaços informais e não-formais, os berços para o desenvolvimento da
Educomunicação.
E, por fim, a Educomunicação Socioambiental na Pesquisa Participativa em Meio Ambiente. Tratam-se de ações
investigativas, de cunho participativo, situadas “[...] como um setor à parte para mostrar que a pesquisa não é exclusivamente Por esse motivo, e em razão, do caráter democrático da proposta voltada à formação do educomunicador social em espaços
originada no sistema formal de educação. Pode ser proposta e conduzida, também, por exemplo, por uma organização comunitária”. não-formais, estimula-se o estabelecimento de novas experiências que possam vir a contribuir para a área da Educomunicação
(BRASIL, 2008, p.33) Socioambiental e que contribuam diretamente no empoderamento do cidadão autônomo e crítico.
Trata-se, portanto, de dar intencionalidade educativa aos compromissos sociais com a finalidade de construir uma sociedade
mais sustentável e equilibrada, a partir de espaços não necessariamente voltados para esse fim.
REFERÊNCIAS
Para isso, é preciso partir de um entendimento sobre Educomunicação Socioambiental com uma campo de intervenção social.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambienta em Unidades de Conservação
Nessa linha de ação a educação e a comunicação são processos da construção do sujeito. E esse sujeito é um cidadão que faz parte de - ENCEAl. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2010. Disponível em:<http://www.cca.eca.usp.br/sites/cca.eca.usp.br/files/
uma sociedade e que carrega consigo valores, hábitos, ideias próprias, cultura. Esses saberes pré-existentes são representativos para Publica%C3%A7%C3% A3o ENCEA.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2015.
esse modelo de comunicação e educação, pois é coerente e significativo com uma realidade. O sujeito consciente de sua existência e ______. Ministério do Meio Ambiente. Educomunicação socioambiental: comunicação popular e educação. COSTA, F.A.M.
de sua autonomia torna-se protagonista da sua própria história. E a comunicação democrática surge nesse contexto, no qual o sujeito (Org.). Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/txbase_
é também emissor da informação, a partir de espaços públicos de expressão. educom_20.pdf>. Acesso em: 01 jul.2015.
______. Ministério do Meio Ambiente. Lei no.9795/99, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Por isso, a adoção da Educação Ambiental embasada em uma visão de ambiente como uma totalidade, interdependente do Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 27 fev. 1999. Disponível em:
social, econômico, cultural, físico e articulado com o local, mas também com o global. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 15 jul.2015.
______. Ministério do Meio Ambiente. Programa de Educomunicação Socioambiental. Série Documentos Técnicos 2. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente – Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, 2005. Disponível em: <http://www.mma.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS gov.br/estruturas/ educamb/_arquivos/dt_02.pdf>. Acesso em: 26 jul.2015.
A partir da análise da legislação/ documentação exposta na seção anterior – Lei no. 9.795/99, Programa Nacional de Educação
______. Ministério do Meio Ambiente. Resolução no.422, de 23 de março de 2010. Estabelece diretrizes para as campanhas, ações e Roseli de Fátima dos Santos de Almeida1; Marília Pinto Ferreira Murata2
projetos de Educação Ambiental, conforme Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, 24 mar. 2010. Disponível em: <http://www.cca.eca.usp.br/sites/cca.eca.usp.br/files/file/res42210.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2015.
FÓRUM INTERNACIONAL DAS ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS. Tratado de Educação Ambiental para RESUMO
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Rio de Janeiro: 1992. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/
pdf/educacaoambiental/ tratado.pdf>. Acesso em: 17. jun. 2015. A presente pesquisa adotou a metodologia da pesquisa-ação, aplicada junto as famílias, as crianças e educadoras de um
Centro de Educação Infantil. Teve como um de seus objetivos promover a reflexão e intervir no sentido de valorizar a
SOARES, I.O. Comunicação/Educação: a emergência de um novo campo e o perfil de seus profissionais. In Contato: Revista participação da família na escola, com vistas a consolidação de uma parceria efetiva para a promoção do desenvolvimento
Brasileira de Comunicação, Educação e Arte – nº 2. Brasília: UnB, 1999. infantil a partir de uma perspectiva biopsicossocial do processo educacional. Para tanto foi desenvolvido um programa,
por meio da aplicação de um projeto de atividades relacionadas à temática da questão ambiental. Foram convidadas a
participar do projeto todas as 11 educadoras, as 92 crianças matriculadas no CMEI de 03 à 05 anos e seus familiares, sendo
que 54 famílias e 09 educadoras aceitaram participar do projeto. Foi aplicada avaliação ao início e no final da realização
do programa de intervenção, por meio de questionário semiestruturado e, avaliação periódica ao longo da execução dos
trabalhos. O programa de intervenção foi realizado no período de 15 de maio a 04 de Julho de 2013 e contou com 10 dias
de atividades. Todas as atividades foram elaboradas utilizando-se brincadeiras e materiais lúdicos, respeitando-se a fase
de desenvolvimento em que as crianças se encontravam. Das questões aplicadas às famílias e educadoras selecionadas
para o presente estudo, 07 constavam do questionário inicial e 01 do questionário final. Observou-se que as educadoras
do CMEI mostraram-se interessadas em mudanças quanto às atividades que envolvem família e escola, principalmente
com projetos. Percebeu-se que com a aplicação do projeto foi possível abordar conteúdos interdisciplinares, e desenvolver
atividades diversificadas, bem como aproximar família e escola.
- Fomentar na escola em um espaço vivo de interações, aberto ao real e as suas múltiplas dimensões.
- Incentivar a participação da família em atividades escolares desde a primeira infância. As características da faixa etária das crianças atendidas, bem como as necessidades atuais de construção de uma
sociedade mais democrática e pluralista apontam para a importância de uma atenção especial com relação às
- Fomentar a participação da família na aquisição dos conhecimentos da criança. instituições e as famílias (BRASIL, 1998).
Um dos objetivos da aplicação da pesquisa de campo era conhecer o dia a dia do Centro Municipal de Educação As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Art.3º- I) estabelecem que as propostas
Infantil com crianças de 03 anos (maternal II) a 05 anos (Pré II) no sentido de verificar como estas crianças se relacionavam pedagógicas das instituições desta etapa escolar devem respeitar os fundamentos norteadores, que são: Princípios Éticos
com seus colegas, educadoras, e como era a participação da família no processo ensino-aprendizagem e as dificuldades da Autonomia, Responsabilidade, Solidariedade e Respeito ao Bem Comum, ao meio ambiente e as diferentes culturas,
encontradas em relação a essa parceria. identidades e singularidades. Princípios Políticos dos Direitos e Deveres da Cidadania, do Exercício da Criticidade e do
Respeito á Ordem Democrática. Princípios Estéticos da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de
Para o desenvolvimento da pesquisa de campo foram elaborados questionários iniciais e finais com as famílias expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais (BRASIL, 2010).
e educadoras atuantes na educação infantil acerca de suas responsabilidades, dificuldades e expectativas.
Principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento e a capacidade de se relacionarem com outras crianças
permitindo varias experiências e manifestações verbais, corporais, artísticas, lúdicas e culturais. A criança deve ser o foco
ESCOLA E EDUCAÇÃO INFANTIL principal de todo trabalho escolar, e há que se considerarem suas necessidades e seus interesses que são sempre movidos
pela curiosidade.
A escola tem papel fundamental na formação integral da criança, como diz Libâneo (2009, p.300):
Estudos constatam evidencias claras dos benefícios para a Educação Infantil, (E.I) em CMEIs, com crianças
A escola é uma instituição social com objetivo explicito: o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e acima de 03 anos, e de benefícios quase que universais para as crianças associadas as varias formas de E.I em
afetivas dos alunos por meio da aprendizagem dos conteúdos, para tornarem-se cidadãos participativos na sociedade ambientes coletivos (brinquedotecas, parquinhos, entre outros) utilizados por crianças de 03 anos ou mais. Além de
em que vivem (LIBÂNEO, 2009, p.300). constatarem o aumento dos benefícios, quanto maior a qualidade da E.I, melhor as instituições atendem as necessidades
do desenvolvimento da criança. (MELHUISH, 2013). Desta forma fica claro que quanto melhor a qualidade, mais
influencia terá no desenvolvimento, não só físico como social então é responsabilidade do Estado em parceria com o
Município ofertar essa qualidade no que se refere aos anos iniciais da educação infantil, assim como admitir profissionais
Diante disso entende-se a responsabilidade da escola em relação à formação da criança da educação infantil,
capacitados, beneficiando o ensino aprendizagem das crianças e que priorizem o movimento e as brincadeiras como
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práticas pedagógicas incorporadas no cotidiano escolar, pois é nas brincadeiras que a criança reflete sua realidade e A escola nunca educara sozinha, de modo que a responsabilidade educacional da família nunca cessará. Uma vez
atividades lúdicas e jogos proporcionam a formação de idéias, conceitos, raciocínio lógico voltado à especificidade de escolhida à escola, a relação com ela apenas começa. É preciso o diálogo entre escola e família. (REIS, apud SOUZA
sua faixa etária. 2009, p.6).
PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO DESENVOLVIMENTO ESCOLAR DA CRIANÇA Desta forma, observa-se que a família é realmente responsável pela educação e fica claro que a responsabilidade
não deve ser delegada para a escola, é preciso socialização, diálogo entre os envolvidos, pois a escola não educa sozinha,
a educação acontece mutuamente, no processo de coletividade.
A família possui papel decisivo na educação formal e informal, é através dela que os filhos recebem valores A família e a escola emergem como duas instituições fundamentais para desencadear os processos evolutivos das
éticos. O estatuto da criança e do adolescente o (ECA), em seu artigo 4º ressalta: pessoas, atuando como propulsores ou inibidores do seu crescimento físico, intelectual e social (POLONIA e DESSEN,
2005).
Entretanto cabe a cada uma entender seu papel na formação das crianças. A parceria entre escola e família é
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Publico assegurar com absoluta prioridade,
fundamental por isso família e escola precisam trabalhar juntas, e nada melhor como uma boa conversa com a educadora
a efetivação dos direitos referentes à saúde, a alimentação, a educação, ao esporte, ao lazer, a profissionalização, a
regente para estabelecer relações de confiança, pois o diálogo é o fio condutor que une família e escola.
cultura, á liberdade e a convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1999).
As pesquisas de Costa (2003), Fonseca (2003), Marques (2002) citadas por Polônia e Dessen (2005 p.3) tem
demonstrado os benefícios da integração família e escola, particularmente quando o projeto pedagógico da escola abre
Além disso, é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da espaço para a participação familiar e reconhece que cada um tem seu papel de aprendizagem e desenvolvimento das
definição das propostas educacionais (BRASIL, 1990). crianças. É o projeto pedagógico que permite uma flexibilidade das ações conjuntas.
Portanto as famílias e responsáveis têm direitos e deveres. A lei é clara quanto aos deveres das famílias em Os benefícios de uma boa integração entre família e a escola relacionam se a possíveis transformações evolutivas
matricular, e acompanhar a educação de seus filhos, saber o que ocorre com seus filhos, é um direito da família conhecer nos níveis cognitivos, afetivos, sociais da personalidade da criança (POLONIA e DESSEN, 2005).
e participar da proposta pedagógica da escola, no entanto é preciso tomar a iniciativa, não ficar esperando tudo da escola.
Sulzer- Azaroff, Mayer (1989) acreditam que para estabelecer uma relação efetiva entre família e escola é
E essa participação de forma ativa na vida escolar das crianças vai proporcionar efeitos benéficos na qualidade do ensino.
necessário que as educadoras aceitem a responsabilidade de se comunicar de forma clara, simples e compreensível com
Segundo Chalita (2004 pg.21): “a família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para os desafios a família.
da vida, de perpetuar valores éticos e morais. Desta forma a família como 1ª instituição formadora assume sua parcela de
Portanto uma boa relação entre a família e a escola deve estar presente em qualquer trabalho educativo, que
responsabilidade na educação da criança não deixando tudo somente para a escola.
tenha como principal alvo, a criança. A escola deve também exercer sua função educativa junto às famílias, discutindo,
Comer e Haynes (1991 apud Fraiman, 1997) apontam que a participação da família na educação é essencial informando, orientando sobre os mais variados assuntos, para que em reciprocidade, escola e família possam proporcionar
para o desenvolvimento escolar de seus filhos, pois é a família que promove o suporte social, cultural e emocional das um bom desempenho escolar e social ás crianças (SOUZA, 2009). Desta forma o diálogo torna-se o elo principal entre
crianças (FRAIMAN, 1997). família, escola e criança.
A participação na vida escolar da criança é de suma importância para o seu o desempenho, pois quando as famílias
acompanham todo o processo de desenvolvimento educacional, esta se sente valorizada e importante. Tais sentimentos
MÉTODO
somente contribuem para o seu aprendizado. Existem muitas maneiras das famílias participarem deste processo, sendo
que algumas contribuições tornam-se muito relevantes como os auxilio nas tarefas escolares, o incentivo a leitura e o seu Foi aplicado um projeto em um CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil), que abordou o tema “Meio
envolvimento nos eventos pedagógicos ocorridos na escola (SOARES, 2010). Ambiente”, com crianças de 03 a 05 anos. As atividades foram criteriosamente elaboradas, sendo desenvolvidas para
A participação das crianças em atividades mais complexas com os pais favorece a formação dessas crianças e todas as turmas desde as turmas de Maternal II, Pré I e Pré II, respeitando a especificidade de cada faixa etária.
as transforma em agentes do próprio desenvolvimento (EYKEN, RIBEIRO, 2012). Foi realizada a avaliação no início e ao término do projeto, em que as famílias e educadoras responderam
Desta forma fica evidente que a participação da família na vida escolar é benéfica, pois contribui para aumentar questionários semi-estruturados, elaborados para este fim. Para o presente estudo foram selecionadas sete questões
a autonomia, autoestima, e melhora o desempenho escolar da criança. que constavam do questionário inicial e uma do questionário final, que foram aplicadas aos familiares e educadoras
participantes.
A educação não é uma tarefa que a escola possa realizar sozinha, portanto é a família a instituição primeira
responsável por essa educação, porem os objetivos e ideais devem ser o mesmo e partilhados entre as duas instituições. A avaliação contou ainda com a observação sistemática e registro da criança e educadoras do uso do conceito
estudado em diversas situações. Utilizou-se também registro através de relatórios de todas as atividades desenvolvidas
Neste sentido, Reis citado por Souza (2009, p.6) afirma que:
durante a realização do projeto no caderno denominado “Diário de Registro”. Foram observadas possíveis mudanças de
A ESCOLA
Eventos 34 04 15 04 05 01 0 0 0 0
Tarefas 07 01 02 08 02 0 43 0 0 0
Diálogos 35 06 12 02 06 01 01 0 0 0
Reuniões 40 03 12 04 02 02 0 0 0 0
não respondeu (0)0%
Acompanhamento 37 01 16 08 01 0 0 0 0 0 não respondeu (3) 7% nada (0) 0%
Aprendizado 43 03 09 06 02 0 0 0 0 0 nada (2)3%
Boletins 43 08 08 01 03 0 0 0 0 0 portas fechadas (1)11%
portas fechadas (0) 0% Problemas de… (0) 0%
Problemas de saúde (2)4%
Dificuldade de Dificuldade de… (1)11%
(3) 5%
comunicação Falta de interesse (2) 22%
Demonstrar interesse pelo aprendizado das crianças é um passo importante que pode influenciar positivamente o Falta de interesse (6) 12%
(38) Horario de… (5) 56%
desempenho escolar da criança. A participação da família na escola é essencial, conversar com as educadoras é fundamental Horario de trabalho
69%
para ajudar nesse processo. Sendo assim observou-se que nas opiniões das educadoras entrevistadas, somando um total
de 09 pessoas, a frequência de participação da família na escola em atividades desenvolvidas de acordo com a tabela
acima se verificou a participação da família sempre em reuniões de entrega de boletins. Verificou-se pouca participação
da família nas tarefas escolares, no acompanhamento das atividades desenvolvidas e aprendizado, o que confirma que a
família não participa, ou pouco participa principalmente no que diz respeito às tarefas escolares ou ainda, que não sabem
ajudar nas tarefas propostas pela escola.
Diante disso faz-se necessário uma reflexão sobre a escola desenvolver um trabalho envolvendo a temática
“tarefas escolares”, pois como destaca Parolin (2006 ed.18) é importante: As figuras abaixo apresentam as respostas das famílias e educadoras sobre atividades que a escola deveria
proporcionar para a participação da família.
que o tema possa ser rediscutido nas escolas, entre os professores, aprendizes e familiares, como um instrumento
de aprendizagem. E que as aprendizagens advindas dessa “tarefa” sejam todas benéficas, promotoras de autonomia,
provocadoras de reflexões e conhecimento e, sobretudo, com temperatura emocional mais baixa e com mais luz para Figura 5 - Sugestões de atividades para a escola Figura 6 - Sugestões de atividades para a escola
todos nós (PAROLIN, 2006). proporcionar a família segundo as famílias. proporcionar a família segundo as educadoras.
Desta forma fica visível que o acompanhamento das famílias nas tarefas escolares dos filhos(as) é de suma Projetos Atuais
importância, pois quando a família participa da vida escolar da criança o interesse e rendimento é melhor, ainda mais se (1)
existir uma relação de confiança mútua entre família e escola. A tarefa é um reforço dos conteúdos uma verificação do (1) 11%
aprendizado e possibilita à família compartilhar dos conhecimentos aplicados em sala de aula. 11%
Reuniões,Palestras,
Eventos
As figuras a seguir apresentam as respostas das famílias e educadoras relacionadas à dificuldade de participação
da família na escola.
Atividades sala,casa
De acordo com as respostas, 69% dos familiares acham que o horário de trabalho é a grande barreira que os
impede de participar, pois coincide com o horário em que seus filhos são deixados na escola e na maioria das vezes as (4)
empresas não os liberam para essa participação, e ainda muitos só retornam a noite para casa. Da mesma forma, 56% das 45%
Atividades
educadoras também acreditam que o horário de trabalho é uma das dificuldades que impede a participação da família na (3)
recreativas,extraturno
vida escolar dos filhos, porém também afirmam que ainda existem famílias que não demonstram interesse. 33%
É preciso trazer a família para a escola e cabe à escola criar estratégias para atrai-las, pois na relação família
escola uma sempre espera algo da outra. É preciso que a escola seja capaz de construir coletivamente uma relação de
diálogo mútuo, onde cada parte envolvida tenha o seu momento de fala, mas também de escuta, onde exista uma efetiva
troca de saberes (SOARES, 2010). Sendo assim é necessário que as educadoras saibam dialogar com as famílias, e Diante das respostas, verifica-se que 45% das educadoras acreditam que a escola deveria proporcionar mais
também escutar, para que cheguem a um entendimento mutuo. projetos para a participação da família, tendo em vista o bom andamento do projeto aplicado recentemente. Já 27% das
famílias acham que a escola deveria proporcionar mais atividades recreativas e extra turno, 33% de educadoras e 10% de
famílias acham que a escola deveria proporcionar reuniões, palestras e eventos para essa participação e 34% das famílias
Há ainda que se preocupar em relação às reuniões com as famílias na escola em relação aos assuntos ou dinâmicas
evitando cobranças e reclamações das crianças. As reuniões devem criar uma oportunidade para que a família conheça, (3) (3)
33% 34%
aprecie e reflita sobre o que as crianças fazem e aprendem na escola favorecendo a integração, o debate e o crescimento
de todos os envolvidos (GARCIA, 2005).
As figuras 7 e 8 apresentam as respostas das famílias sobre o que acham que a escola espera deles e das educadoras
sobre o que acham que a família espera delas.
(3)
33%
Figura 7 – Opinião das famílias sobre o que Figura 8 - Opinião das educadoras sobre o que Acompanhar o ensino aprendizagem
acham que a escola espera delas. acham que a família espera delas.
Interesses em projetos x eventos x ativ
(5) escolares
9% Colaboração x Respeito x Confiança
(1) (1)
2% 11% (6)
(2)
(8) 67%
22%
15% Observando-se as figuras acima, nota-se que 56% das famílias esperam que a escola tenha mais compromisso
e trabalhe em prol do desenvolvimento da criança, 33% das educadoras acham que a família deve acompanhar o ensino
aprendizagem dos filhos, 26% das famílias esperam educação de qualidade, enquanto que 33% das educadoras esperam
que a família tenha mais interesse em projetos, eventos e nas atividades escolares, 9% das famílias não espera nada da
(40) escola, acham que está bom assim, 33% educadoras esperam colaboração, respeito e confiança por parte da família.
74%
São várias as expectativas da família em relação à escola, portanto para a escola corresponder com essas
Participação = Colaboração expectativas devem oferecer educação de qualidade e para isso é necessário que se tenha um ambiente favorável à
Apoio = Compromisso
Comprometimento = Competencia
aprendizagem, não somente em espaço físico como também no aspecto humano.
Muita coisa
Respeito = Confiança A família vê a escola como algo muito importante, e nutrem o desejo de ver seus filhos se desenvolverem cada
Não respondeu vez mais.
Não Respondeu
Na resposta das educadoras duas questões se destacaram, uma é que esperam que a família acompanhe o ensino
e aprendizagem das crianças e outra é que a família demonstre interesse em projetos, eventos e atividades desenvolvidas
De acordo com a figura 7, 74% dos familiares acreditam que a escola espera participação e colaboração da pela escola.
família, 15% responderam apoio e colaboração, 2% acham que a escola espera muita coisa da família e 9% não respondeu
ao questionário. As figuras 11 e 12 correspondem às opiniões das famílias e educadoras sobre as possibilidades de diminuir a
barreira existente entre família e escola.
Quanto à expectativa das educadoras em relação ao que a família espera delas, 67% afirmam que os familiares
esperam que as educadoras tenham comprometimento e competência, 22% respeito e confiança para o bom desempenho
da criança visando atingir os objetivos propostos para a educação infantil. E 11% das educadoras entrevistadas não
responderam. Tanto as famílias quanto as educadoras nutrem expectativas uma em relação a outra, e ambas têm um
objetivo em comum: a criança. De modo geral, na expectativa da família o que prevalece é a participação e colaboração
e na expectativa das educadoras, comprometimento e competência.
REFERÊNCIAS
BENCINI, R. Todas as Leituras, Revista Nova Escola, São Paulo, nº 194 p.31-37, ago. 2006.
Através de Projetos Diálogos Através de Projetos Diálogos
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente (1990). Estatuto da criança e do adolescente. – 7. ed. – Brasília : Câmara
Não respondeu Não respondeu dos Deputados, Edições Câmara, 2010.
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação
infantil/ Secretaria de Educação Básica. - Brasília: MEC, SEB, 2010.
A pergunta correspondente as respostas apresentadas nas figuras acima correspondem a uma pergunta feita no
segundo questionário, ou seja, posteriormente a aplicação do projeto. Observando-se os resultados apresentados nas BRASIL, SEF. Ministério da Educação e Cultura. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília:
figuras 11 e 12, verifica-se que 100% das educadoras e 59% das famílias acham que as possibilidades de diminuir a MEC/SEF, 1998.
barreira existente entre escola e família é através de projetos, já 32% das famílias acham que a barreira pode ser rompida
através de diálogos e 9% das famílias não soube ou não quis responder. CAGLIARI, L. C., Alfabetização e Linguística: pensamento e ação no Magistério. Ed. Scipione.
De fato, a aplicação do projeto contribuiu significativamente para aumentar a participação da família na escola, CHALITA Gabriel, Educação: a solução está no afeto – São Paulo: Editora Gente, 12ª ed.2004 edição revista e atualizada.
esse foi um passo dado no sentido de superar a barreira de forma conjunta. E.C.A- Estatuto da Criança e do adolescente,7ª edição, Brasil 1999.
Porem é necessário que cada um faça a sua parte, ou seja, não ficar jogando a culpa no outro. A relação deve ser EYKEN, E. D. O. V, RIBEIRO, C. D. M. Desenvolvimento Infantil: seus agentes e as politicas do município do Rio
mantida através de conversas frequentes e não somente em dias de reuniões para entrega de boletins, assim o que chama de Janeiro. Ago, 2012.
a atenção é que foram as famílias a responder que através de diálogos e projetos com a participação conjunta entre família
e escola é possível diminuir a barreira existente. FRAIMAN, L.P. A importância da participação dos pais na educação escolar. 1998. Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, S. P.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS GARCIA, H. H. G. de O. Reuniões de Pais na Educação Infantil: Modos de Gestão, Caderno de Pesquisa v41 nº142
Fev. 2011.
A família é base de toda a sociedade e como primeira instituição a qual a criança pertence exerce um papel
fundamental no seu desenvolvimento. Como se observou nos estudos e por consequência das necessidades de trabalho, Legislação brasileira sobre meio ambiente. – 2. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2010.
falta tempo para poder participar de todas as atividades escolares ofertadas pela escola. Porém existe uma grande
LDB,Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, dez 1996.
necessidade de esforço por parte das famílias no sentido dessa participação. Se faz necessário que, as famílias auxiliem
no desenvolvimento integral de seus filhos, bem como devem se esforçar para estarem presente em todos os momentos LIBÂNEO, J. C. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização/José Carlos Libâneo, João Ferreira de Oliveira,
da vida da criança. Presença que implica envolvimento, comprometimento e colaboração. Devem estar atentas as Mirza Seabra Toschi-7.ed.- São Paulo:Cortez,2009.-(Coleção Docência em Formação/coordenação Antônio Joaquim
dificuldades não só cognitivas, mas também comportamentais e intervir da melhor maneira possível, visando sempre o Severino, Selma Garrido Pimenta).
bem estar de seus filhos.
Para que a união entre a família e escola aconteça de verdade é preciso que os indivíduos envolvidos no sistema MARTINS, S. V. M.; TAVARES, H.M. A Família e a Escola: Desafios para a educação no mundo contemporâneo. Revista
SOUZA, M.E. do P., Família-Escola:AImportância dessa Relação no Desempenho Escolar – SantoAntônio da Platina-2009
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/37858/a-importancia-da-familia-no-desenvolvimento-psiquico-
Palavras-chave: Educação Ambiental; Cidadania Crítica; Desenvolvimento Sustentável.
do-sujeito#ixzz2lU3oQTV7
SULZER-AZAROFF, B. M.; ROSENFIELD, S. A.; McLOUGHLIN, C.S. A Relação Familia e escolar: desafios e
perspectivas. Brasília. 1989. ABSTRACT
Faced with the serious global environmental crisis and the need to search for a new model of civilization and society
guided a new ethic of the relationship between humans and nature Environmental Education acquires international
significance as a coping strategy of the environmental crisis and one of the ways to achieve sustainability. This implies
to break the current pattern of development and a correlation between social justice, quality of life and environmental
balance. The challenge is overcoming a naive view and merely reproducing the prevailing current system. This study
understood as a bibliographical research aims to reflect on environmental education from the perspective of current
praxis or social critique focusing on the formation of critical citizenship as a tool for transformation of relations
between human societies and nature.
Furtado (1974) observa que o modelo da economia em expansão destrói o meio ambiente em larga escala e cria a ilusão
EDUCAÇÃO AMBIENTAL, DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE de que o crescimento da economia leva ao desenvolvimento.
A partir da década de 1960, diante de acontecimentos históricos e suas consequências, tais como a 2ª Guerra O desenvolvimento, segundo Sen (2000) exige a remoção das principais fontes de privação da liberdade. O autor
Mundial e emissão de bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, entre outros acidentes, iniciam-se reflexões e debates afirma que a globalização nega liberdades fundamentais à maioria das pessoas. Liberdade essa relacionada à pobreza
acerca da temática ambiental (MORALES, 2008). econômica, uma vez que esta priva as pessoas dos direitos básicos de sobrevivência, tais como o acesso a alimentação,
saúde, moradia, saneamento básico; ou ao acesso a serviços públicos (educação, segurança, assistência médica) e
Surge então, o movimento ambientalista, que busca em seus discursos e práticas a superação de formas destrutivas assistência social. Também nega as liberdades políticas e civis impostas por regimes autoritários e a restrições à vida
na relação entre a sociedade humana e o seu meio (CASTELLS, apud MORALES, 2008). social, política e econômica da comunidade.
A Revolução Industrial e o desenvolvimento tecnológico deixaram “pegadas” cada vez maiores e insustentáveis, Tanto Sen (2000) quanto Furtado (2002) dão ênfase à satisfação das necessidades básicas da população como
levando a críticas ao sistema capitalista, a exploração de recursos não renováveis, ao consumo desenfreado e a busca de
imprescindível ao desenvolvimento. O problema da pobreza no Brasil é analisado por Furtado (2002) nas dimensões
lucros excessivos e imediatos, sem a preocupação com o desenvolvimento econômico e social sustentáveis.
da fome endêmica, da questão da habitação popular e da insuficiência de escolaridade, limitado ao ponto de vista
Diante desse quadro, temos o enriquecimento de uma elite dominante, à custa do aumento da pobreza, da miséria e até econômico, da concentração da riqueza no Brasil e das desigualdades sociais. A análise de Sen (2000) se volta mais
mesmo da indigência, e ainda, a destruição da natureza e os problemas socioambientais decorrentes. para a questão das liberdades substantivas e instrumental, essa última distinta em liberdades políticas, facilidades
econômicas, oportunidades sociais, garantias de transparência e segurança protetora.
De acordo com Cavalcanti (2012), o sistema econômico extrai recursos da natureza para o seu desenvolvimento/
crescimento e depois a utiliza como esgoto, lançando sobre ela seus dejetos e deixando como legado uma pegada ecológica A ênfase na educação é fortemente explicitada em ambos os autores. Furtado (2002) afirma que todos os países
cada vez maior. desenvolvidos investiram consideravelmente na formação humana. Ainda destaca que o investimento em educação é
o mais importante a se fazer para que haja autêntico desenvolvimento e não apenas crescimento.
Surgem questionamentos sobre os modelos de crescimento econômico, o aumento populacional, a poluição
causada pelas grandes indústrias, os danos ambientais entre outros relacionados. O baixo nível de renda é analisado por Sen (2000) relacionado à privação de capacidades individuais, em uma via de
mão dupla: se por um lado o analfabetismo e as más condições de saúde, fome e subnutrição são decorrentes do baixo
O crescimento econômico ocorre independente das desigualdades sociais. Está mais voltado à concentração de riqueza, Outros eventos internacionais se deram na sequência, sempre reafirmando a necessidade de se fortalecer a
ao mundo globalizado, ao aumento do poder de consumo e do Produto Nacional Bruto – PNB e da disposição de recursos educação ambiental como estratégia de enfrentamento da crise ambiental, por meio da formação de uma nova maneira de
naturais. Enquanto o desenvolvimento está relacionado ao desenvolvimento humano em todas as suas dimensões e se relacionar com a natureza. Entre eles, a Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada
capacidades e à sustentabilidade socioambiental. Isto explica o fato de que o Brasil possa ser considerado um dos países em Tbilise (antiga URSS) em 1977; o Congresso Internacional de Educação e Formação Ambiental, que aconteceu
mais ricos do mundo, porém não desenvolvido, pois figura entre os maiores índices de desigualdade social, com baixos em Moscou no ano de 1987; a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente – ECO/92,
investimentos em educação, saúde e promoção da vida e da liberdade humana. na cidade do Rio de janeiro em 1992 e, em evento paralelo, a I Jornada Internacional de Educação Ambiental que deu
origem ao Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global; a Cúpula Mundial
O autêntico desenvolvimento só se efetiva com o benefício da população como um todo (FURTADO, 2002). sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+10, em Johanesburgo na África do Sul; a Conferência das
Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, novamente no Rio de Janeiro, conhecida como Rio+20.
A questão ambiental também é fator preponderante para o desenvolvimento. A capacidade de sustentação é um aspecto
imprescindível nesse processo. Tanto a equidade social quanto a prudência ecológica são partes da ética do desenvolvimento No Brasil o marco norteador da implementação de políticas públicas ambientais foi a criação da Lei nº 6.938/1981
(SACHS, 1986). que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA, a partir da qual foram criados o Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA), O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
A noção de sustentabilidade implica a quebra do atual padrão de desenvolvimento e uma correlação entre justiça social, e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
qualidade de vida e equilíbrio ambiental (JACOBI, 2003).
Também a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, estabelece em seu Capítulo VI
O desafio, portanto, é o de formular uma educação ambiental crítica e inovadora nos níveis formal e informal e que seja do Título VIII, diretrizes nacionais para o meio ambiente, determinando em seu inciso VI do Artigo 225, a incumbência
acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. Para Jacobi (2003, p.196) o enfoque da educação do poder público de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
ambiental “deve buscar uma perspectiva holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo em preservação do meio ambiente.
conta que os recursos se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o homem”.
Para atendimento ao disposto na Constituição Federal foi promulgada a Lei 9.795/1999 que dispõe sobre
Uma mudança considerável do próprio processo civilizatório se faz necessário para se atingir o desenvolvimento a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, colocando-a como elemento essencial e
sustentável que requer um restabelecimento das relações entre a sociedade humana e a natureza. Requer ainda um novo permanente da educação nacional.
estilo de desenvolvimento que seja ambientalmente sustentável, socialmente sustentável, culturalmente sustentável e
O Art. 1º da Lei 9.795/1999 define Educação Ambiental como “os processos por meio dos quais o indivíduo e a
politicamente sustentável a partir de uma nova ética (JACOBI, 2006). coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação
Segundo Jacobi (2006) o fortalecimento da democracia e a construção da cidadania constituem-se no desafio político da do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
sustentabilidade. A educação nesse sentido é essencial para a formação de valores de sustentabilidade e transformação
das relações sociais por meio do processo de construção da cidadania. Loureiro (2005, p. 69) a define como “práxis educativa e social” tendo como fim a construção de valores, conceitos,
habilidades e atitudes, possibilitando o entendimento da realidade de vida e a atuação consciente e responsável de atores
sociais, individuais e coletivos no ambiente.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A FORMAÇÃO DA CIDADANIA CRÍTICA
Assim sendo, contribui para a busca de um novo modelo de civilização e de sociedade pautado numa nova ética
Segundo Morales (2008, p. 19 e 20), a partir da Conferência das Nações Unidas (1972), “retomou-se a necessidade da relação entre os seres humanos e a natureza, pois possibilita o desenvolvimento de uma ampla consciência crítica das
de nova ética ambiental, capaz de promover a erradicação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição, da
relações sociais e de produção que situam a inserção humana na natureza.
exploração e da dominação humana”. Ficou a cargo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) a elaboração do Programa O papel da educação ambiental no processo de sensibilização e formação da população em geral sobre a
Internacional de Educação Ambiental (PIEA). A partir de então a educação ambiental adquire relevância internacional e
passa a ser apreciada como campo da ação pedagógica. problemática ambiental é destacado por Marcatto (2002), considerando que os problemas ambientais se manifestam
em nível local e envolve diretamente os seus moradores enquanto vítimas ou até mesmo seus causadores. O que os
Em 1975, na cidade de Belgrado na Iugoslávia, aconteceu o Encontro Internacional em Educação Ambiental,
torna, provavelmente, os mais aptos a diagnosticá-los e os mais interessados em resolvê-los. Aqui entra a questão da
promovido pela UNESCO, onde se criou o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA) e se elaborou um
documento que ficou conhecido com a Carta de Belgrado. territorialidade. Partir dos problemas locais, sejam eles sociais, ambientais, econômicos, educacionais ou culturais.
Porém com consciência planetária. O saber local, ou seja, o sentido de pertencimento a uma comunidade local que se
A Carta de Belgrado aponta para a necessidade de se construir uma nova ética global, que demande atitudes e
insere em um mundo global.
comportamentos individuais e coletivos, que se harmonize com o lugar da humanidade dentro da biosfera; que reconheça
e responda com sensibilidade às complexas e dinâmicas relações entre a humanidade e a natureza, e entre os povos. A
Jacobi (2003, p. 193), destaca o papel transformador da educação ambiental como principal objetivo para o
Educação Ambiental é destacada como central para que essa nova ética global seja evidenciada. Sua meta é a formação
de uma população mundial que tenha consciência da questão ambiental e que se comprometa, tanto individual quanto desenvolvimento sustentável por meio da corresponsabilização dos indivíduos. O que requer uma redefinição das relações
A educação para a cidadania pode construir a possibilidade da ação política com vistas à formação de uma
coletividade que é responsável pelo mundo que habita. Ou seja, despertar o sentido de pertencimento e de responsabilidade, CONSIDERAÇÕES FINAIS
levando a buscas pela compreensão e superação das causas estruturais e conjunturais dos problemas socioambientais por
meio da ação coletiva e organizada (SORENTINO, et al, 2005). A educação ambiental, seja ela formal ou informal, é um dos principais instrumentos para se alcançar a
sustentabilidade socioambiental. Há consenso entre educadores, economistas e cientistas de forma geral de sua importância
A constituição da cidadania crítica – que reflete sobre o consumo, a sustentabilidade e a formação política – faz na busca de equilíbrio entre a sociedade humana e sua relação com a natureza.
parte do papel social da escola e são elementos constitutivos do desenvolvimento territorial sustentável.
No entanto, a educação de forma geral tanto pode reforçar comportamentos ou valores arraigados como as práticas
A problemática do desenvolvimento sustentável não se remete apenas a degradação do meio ambiente. As de exclusão social e a depredação dos recursos naturais de forma inconsequente como se estes fossem ilimitados, como
consequências das ações irrefletidas do ser humano sobre a natureza são alarmantes e insustentáveis. Põe em risco a pode transformar as relações dos seres humanos entre si e destes com o meio em que vive.
própria sobrevivência da espécie humana.
Alcançar uma educação verdadeiramente transformadora e não meramente reprodutora dos sistemas atuais
Desta forma a Educação Ambiental torna-se parte dos desafios sociais contemporâneos e são tomadas medidas vigentes é uma tarefa essencial para o desenvolvimento territorial sustentável.
legais para que faça parte dos Currículos da Educação Básica, no sentido de formação e conscientização do educando,
Os investimentos em educação precisam ser priorizados em todo e qualquer projeto de governo. A começar pelo
bem como sua emancipação em relação ao seu desenvolvimento social, econômico, político e cultural, para que seja
local, pela formação de cidadãos com consciência local, no sentido de pertencimento a uma comunidade local que se
sujeito de sua própria história e aja com responsabilidade no meio em que vive.
insere num mundo global. Uma educação que leve o indivíduo a se perceber como um sujeito histórico, cultural, social e
A relação entre a sociedade humana e a natureza precisa ser revista a partir da própria relação dos homens entre si. comprometido com o meio e sua transformação.
A educação nesse sentido é um caminho para que se possa rever essa relação, através de uma reflexão constante da
construção da vida em sociedade e da relação do ser humano com o meio e sua transformação.
REFERÊNCIAS
Para Assmann (1998, p. 26) a educação, no mundo atual em que o fato maior são as lógicas da exclusão e o alastramento
da insensibilidade que as acompanha, “terá um papel determinante na criação da sensibilidade social necessária para ASSMANN, H. Reencantar a Educação: rumo à sociedade aprendente. 4ª edição. Petrópolis\RJ: Editora Vozes, 2000.
reorientar a humanidade”. Na concepção do autor “educar é a mais avançada tarefa social emancipatória”.
CARVALHO, I. C. M. Os Sentidos de “Ambiental”: A Contribuição da
Para Leff (2010) os problemas ambientais estão essencialmente atrelados a problemas do conhecimento. Desta forma Hermenêutica à Pedagogia da Complexidade. In: A Complexidade Ambiental.
toda a política ambiental deve passar por uma política do conhecimento, o que implica também a educação. LEFF, E. (coord.). 2. Ed. – São Paulo: Cortez, 2010.
Diante da complexidade ambiental, Leff (2010) propõe uma pedagogia da complexidade ambiental que se fundamenta DEMO, P. Desafios Modernos da Educação. 14 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
na fusão entre a pedagogia crítica e o pensamento da complexidade.
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FURTADO, C. Os Desafios da Nova Geração. Revista de Economia Política, vol. 24, nº 4 (96), outubro-dezembro/2004.
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FURTADO, C. Criatividade e Dependência na Civilização Industrial. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
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JACOBI, P. Educação Ambiental e o Desafio da Sustentabilidade Socioambiental. In: Ver. Mundo da Saúde, vol. RESUMO
30/4. Centro Universitário São Camilo. São Paulo/SP: 2006.
O presente artigo apresenta os principais resultados do projeto de pesquisa intitulado “Mídia Cidadã e Desenvolvimento
LEFF, E. Pensar a Complexidade Ambiental. In: A Complexidade Ambiental. LEFF, E. (coord.). 2. Ed. – São Paulo: Sustentável: mapeamento e análise de rádios comunitárias em áreas de pressão socioambiental na Amazônia”. O projeto
Cortez, 2010. busca entender a dimensão e o papel potencial das rádios comunitárias nos embates discursivos pelo desenvolvimento
da região amazônica. O objeto da investigação são rádios comunitárias situadas em áreas de potencial conflito socioam-
Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999 (Política Nacional de Educação Ambiental). biental na Amazônia Legal, o que inclui disputas por território ou pelo uso de recursos naturais, considerando-se grandes
LIMA, G. C. Questão Ambiental e Educação: Contribuições para o Debate. Ambiente & Sociedade, nº 5, p. 135-153. obras de impacto (em especial hidrelétricas pelo contexto e circunstâncias atuais) mas também Unidades de Conservação
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade. Brasil: 1999. e Terras Indígenas nos noves estados da região. Como produto principal do projeto foi gerada uma cartografia digital
sobre comunicação cidadã e desenvolvimento sustentável na região, capaz de gerar insumos para o fortalecimento da
LOUREIRO, C. F.B. Educação Ambiental e Movimentos Sociais na Construção comunicação comunitária como espaço de contra-hegemonia midiática e consequente empoderamento de grupos locais
da Cidadania Ecológica e Planetária. In: Educação Ambiental: Repensando o nas decisões que afetem seu bem-estar.
Espaço da Cidadania. LOUREIRO, C.F.B; LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S.
(Org.). 3 ed. São Paulo: Cortez, 2005.
SACHS, I. Ecodesenvolvimento: Crescer sem Destruir. São Paulo: Ed. Vértices, 1986. ABSTRACT
SEN, A. K. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia da Letras, 2000. This article presents the main results of the research project entitled “Citizen Media and Sustainable Development: Map-
ping and analysis of community radios in areas of social and environmental pressure in the Amazon Region.” The project
SORRENTINO, M.; TRAJBER, R.; MENDONÇA, P.; JUNIOR, L. A. F. Educação seeks to understand the significance and the potential role of community radios in the discursive discussions about the
Ambiental como Política Pública. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005. development of the Amazon region. The research objects are community radio stations located in potential environmen-
tal and social conflict areas in the Amazon, including disputes over territory or the use of natural resources, considering
the significant (state) projects of impact (particularly hydropower stations, due to present contexts and circumstances)
but also Conservation Units and Indigenous Lands in nine states in the region. The main product of the project was a
digital cartography about citizen communication and sustainable development in the region, able to generate inputs for
the strengthening of community communication as a space for alternative media and empowerment of local groups in
decisions that affect their well-being .
O presente artigo apresenta os principais resultados do projeto de pesquisa intitulado “Mídia Cidadã e Desen-
volvimento Sustentável: mapeamento e análise de rádios comunitárias em áreas de pressão socioambiental na Amazô-
nia”3. O projeto busca entender a dimensão e o papel potencial das rádios comunitárias nos embates discursivos pelo
desenvolvimento da região amazônica. O objeto da investigação são rádios comunitárias situadas em áreas de potencial
conflito socioambiental na Amazônia Legal, o que inclui disputas por território ou pelo uso de recursos naturais, con-
siderando-se grandes obras de impacto (em especial hidrelétricas pelo contexto e circunstâncias atuais) mas também
Áreas de Proteção (com foco especial sobre Terras Indígenas, grupos de histórica invisibilidade) nos noves estados da
região - Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, mais o estado do Mato Grosso e parte do Ma-
ranhão (a Oeste do Meridiano 44). Foram mapeadas ao todo 504 rádios comunitárias licenciadas pelo Ministério das
Comunicações (MINICOM, Jun.2015) em 436 municípios amazônicos. Optou-se pela seleção das rádios comunitárias
licenciadas - Licença Definitiva (LDE) e Licença Provisória (LPE) – na medida em que estas emissoras, já tendo vencido Figura 1: Mapa Digital Rádios Comunitárias na Amazônia e Desenvolvimento Sustentável
todas as etapas do processo de legalização, por vezes longo e frustrante, já deteriam as condições jurídicas, técnicas e
administrativas para estarem em funcionamento e portanto, capazes, potencialmente, de atuarem no campo midiático e se
inserirem no campo do desenvolvimento de suas localidades. O mapa digital das rádios comunitárias, disponível no endereço www.projetomacam.net/site, apresenta, numa
perspectiva socioambiental, o dimensionamento das potencialidades das rádios comunitárias em relação ao desenvolvi-
A meta principal do projeto foi gerar uma cartografia digital sobre comunicação cidadã e desenvolvimento susten-
mento sustentável da região, por meio do cruzamento, por município, da localização das rádios comunitárias licenciadas
tável na região, capaz de gerar insumos para o fortalecimento da comunicação comunitária como espaço de contra-hege-
pelo Ministério das Comunicações (MINICOM, 2015), com duas variáveis reconhecidamente essenciais à conformação e
monia midiática e consequente empoderamento de grupos locais nas decisões que afetem seu bem-estar. Nesse sentido,
preservação da megadiversidade étnica e ambiental da região – as Unidades de Conservação (UC) (SNUC/MME,2015),
o estudo tem também a expectativa de, por meio das informações geradas e cenários revelados, vir a favorecer políticas
incluindo seus dois tipos de uso, sustentável e de proteção integral, e as Terras Indígenas (TI) (FUNAI, 2015), decretadas,
públicas ou ações que fortaleçam os meios comunitários e o protagonismo local nos embates discursivos que decorrem
homologadas e em estudo. Como terceira variável, o mapa inclui também as Usinas Hidrelétricas (UHE) - que fazem parte
do modelo de desenvolvimento para a região amazônica. Uma região megadiversa, biológica e etnicamente falando,
do Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC, 2015 - em funcionamento, em construção ou já previstas nos rios da Bacia
território singular duplamente periférico - chamado de ‘periferia da periferia’ - por seus baixos indicadores sociais e pelo
Amazônica) – obras de alto impacto socioambiental na região.
histórico isolamento, explorada historicamente como um gigante natural por uma visão exógena a partir de interesses
externos, nacionais e internacionais.
CONCEITOS CENTRAIS
O MAPA DIGITAL
A noção de sustentabilidade5 a que se refere este estudo vincula-se à ideia mais ampla e complexa do equilíbrio duradouro
Um mapa digital ou cartografia digital permite uma visualização dinâmica dos dados da pesquisa e consiste em entre a humanidade e o seu ambiente, integrada à ideia de um desenvolvimento sustentável em sua perspectiva multimen-
uma imagem virtual que apresenta um grande conjunto de informações com base georreferenciada (longitude/latitude). sional, ou seja, que em sua formulação busca integrar várias dimensões – a ambiental e econômica, mas também a social
Para esta pesquisa, optamos pelo tipo chamado mapa inteligente, que se diferencia por abrigar informações atualizadas e
que atua na Amazônia (www.produtoracolaborativa.com.br )
detalhadas, que contribuem para facilitar e melhorar planejamentos e ações. O mapeamento digital foi realizado utilizan-
5 Tal noção, mais ampla e integral de sustentabilidade se acha pautada desde a I Conferência do meio Ambiente,
do softwares livres de georreferenciamento com gerenciador de conteúdo web wordpress juntamente com o tema “Mapas em Estocolmo, em 1972, quando foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Naquele
de vista”, permitindo a visualização dinâmica dos dados da pesquisa4. momento a noção de sustentabilidade já trazia a ideia de complexidade e transversalidade, apresentadas especialmente no
conceito de “ecodesenvolvimento” de Ignacy Sachs (2004) abrigando em seu tripé, a noção de sustentabilidade a partir da
3 Projeto financiado pelo CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico. eficiência econômica, prudência ecológica e equidade social. Foi a partir dessa noção mais integral que se originaram as
Edital MCTI/CNPq/MEC/CAPES N.18/2012 -Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas bases e os esforços para a construção do conhecido Relatório Brundtland (1987), com a definição mais citada até hoje de
4 O mapa digital foi desenvolvido em parceria com a Produtora Colaborativa - Produtora Cultural de Projetos e desenvolvimento sustentável, concebido como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem compro-
Eventos de Comunicação Comunitária, Cultura Digital, Economia Solidária, Software Livre e Desenvolvimento Local meter a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
2) Demais meios massivos eletrônicos (Rádios comerciais em Ondas Médias, Frequência Modulada, Ondas Curtas e No que diz respeito às hidrelétricas na região, tomou-se como referência o último balanço do PAC, de outubro de 2014, que
aponta o número de 13 projetos de hidrelétricas para a Amazônia, todos eles situados ao menos em um município que abriga rádio
Ondas Tropicais e Retransmissoras (RTV) e Repetidoras de TV (RPTV), existentes nos municípios amazônicos, também
comunitária. As UHE encontram-se em diferentes estágios: quatro em operação14, duas já concluídas15, cinco em obras16 e duas em
junto ao SRD (2015);
fase de ação preparatória17. As UHE previstas pelo PAC e consideradas no estudo abrangem 23 municípios e destes, 17 possuem
3) Unidades de Conservação (UC) existentes, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2015); rádios comunitárias licenciadas. Destes municípios, pouco menos da metade, sete deles (42%), abrigam também Terras Indígenas e
Unidades de Conservação.
4) Terras Indígenas (TI) criadas ou previstas, de acordo com dados do site da FUNAI (2015);
Ao cruzar todas as variáveis – Rádios Comunitárias, Usinas Hidrelétricas, Terras Indígenas e Unidades de Conservação
5) Usinas Hidrelétricas (UHE) em obras, previstas e em funcionamento, conforme dados disponibilizados pelo site do (Tabela 1)– sinalizam-se as localidades com maior potencial atual ou futuro de eclosão de conflitos socioambientais pelo uso (ou não
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC, 2014). uso) dos recursos naturais. É justamente nesses territórios e sobre esses embates que a comunicação comunitária, voltada à cidadania
e educação ambiental, pode fazer diferença.
Inicialmente o projeto previa a inclusão também de Territórios Quilombolas, incluídos recentemente (2006) na
condição de Áreas Protegidas e que já chegam ao número impressionante de 856 áreas certificadas na Amazônia. Da
mesma maneira, previa a inclusão de outras obras de alto impacto na região, além das usinas hidrelétricas, como rodovias
ou projetos de mineração, porém tais dados não foram incluídos na análise da pesquisa e no mapa digital em função do
volume total de dados em relação ao fator tempo do projeto, e principalmente pela situação de acirramento em torno do
projeto hidrelétrico do governo para a região, especialmente sinalizadas pelas as obras de Belo Monte e do complexo do
Tapajós, que afetam de forma especialmente brutal as populações indígenas. Todavia, em função da característica dinâ-
mica do mapeamento digital, também chamado de cartografia digital, é possível a inclusão permanente de novos dados
e variáveis.
gião Norte, mais os estados do Mato Grosso e Maranhão, totalizavam 668 emissoras de rádio (386 FM, 241 AM, 03 OC
Dados levantados e cenários revelados e 38 OT). Disponível em: http://www.comunicacoes.gov.br/espaco-do-radiodifusor/radiodifusao-comercial
Segundo dados do Ministério das Comunicações (2015), 504 rádios comunitárias estão licenciadas em mais da 13 Para entender a diferença entre os números, é importante destacar que um mesmo município abriga muitas vezes
metade (56,4%) dos 772 municípios dos nove estados que formam a Amazônia Legal, o que representa perto de 75% do mais de uma Terra Indígena ou Unidade de Conservação em seu território e que cerca de 10% dos municípios possui mais
total de emissoras comerciais na região12. Se considerarmos que mais da metade destas emissoras comunitárias (52,5%) de uma rádio licenciada.
14 Ferreira Gomes (AP); Jirau (RO); Santo Antônio (RO); Santo Antonio Jari (AP e PA).
de uma comunidade política plural constituem as condições de possibilidade da convivência e da tolerância mútua, além 15 Dardanelos (MT); Estreito ( MA e TO).
dos acordos em tono das regras que devem reger a vida comum” (Habermas, 1996, p. 156 apud Costa, 2002, p.27). 16 Belo Monte (PA); Colíder (MT); São Manoel (MT e PA); Sinop (MT); Teles Pires (MT e PA).
12 Segundo dados do Ministério das Comunicações de setembro de 2014, a radiodifusão sonora comercial na Re- 17 Jatobá (PA); São Luiz do Tapajós (PA).
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LIMA, Venício A.; LOPES, Cristiano Aguiar. Rádios Comunitárias: coronelismo eletrônico de novo tipo (1999-2004). As au-
duas rádios comunitárias, 12 Terras Indígenas, 11 Unidas de Conservação e uma Usina Hidrelétrica em obras, Belo Monte, um
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PINTO, Lúcio Flávio. De Tucuruí a Belo Monte: a história avança mesmo?. Bol. Mus.
Chega-se, portanto a 14 o número de rádios comunitárias localizadas em municípios que abrigam todas as variáveis e, por-
Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. [online]. 2012, vol.7, n.3, pp. 777-782. ISSN 1981-8122.
tanto, com maior potencial de conflito socioambiental. Apoiar estas emissoras com políticas públicas que lhes garantam condições
de autonomia e independência em seu funcionamento seria um importante passo para promover mais informação e reflexão crítica MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Prefácio: Néstor García Canclini. 4.
ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
sobre a realidade local, ampliando assim as possibilidades de maior participação dos grupos locais nas decisões que coloquem em
risco a sustentabilidade de seu meio ambiente, seu bem estar e sua qualidade de vida. SACHS, Ignacy. Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2004
STEINBRENNER, Rosane Maria Albino. Rádios Comunitárias na Transamazônica: Desafios da comunicação comunitária em
regiões periféricas. 386 f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido). Belém: 2011, UFPA.
CONCLUSÃO VEIGA. José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.
As rádios comunitárias são um fenômeno de comunicação especialmente fértil e crescente em regiões periféricas do pla- __________. A Emergência Socioambiental. São Paulo: Editora Senac, 2007.
neta. Entretanto, pelo mesmo motivo de atuarem em territórios periféricos a partir de iniciativas de grupos subalternos, as rádios VERÍSSIMO, Adalberto et al (Orgs.). Áreas Protegidas na Amazônia Brasileira: avanços e desafios. Belém: IMAZON; São Paulo:
comunitárias muitas vezes não conseguem impactar a agenda política ou mesmo brigar pela audiência onde propagam seus sinais, Instituto Socioambiental, 2011.
gerando em si um paradoxo: constituem-se como fenômeno crescente, relevante social e politicamente, mas desconhecido do
grande público, invisível para além de suas bases ou segmentos diretamente antagônicos e não reconhecido de fato pelos tomado-
res de decisão. Os dados aqui apresentados, abrigados de forma dinâmica em um mapa digital, numa perspectiva socioambiental
das rádios comunitárias na região amazônica, têm como expectativa gerar maior compreensão da importância e do papel que as
emissoras comunitárias podem representar como instrumento de comunicação e educação cidadã na construção mais democrática e
sustentável do desenvolvimento da Amazônia.
Os impactos gerados pelo atual modelo de desenvolvimento econômico estão cada vez mais visíveis, e os sinais
Janaina Mayara Müller da Silva1; Oklinger Mantovaneli Júnior2 disto são preocupantes, como o aquecimento global, a ruptura na camada de ozônio, a extinção da biodiversidade e a
escassez da água. Todos estes fenômenos são ocasionados pela figura humana, em sua maioria, alinhados ao desenvol-
vimento econômico que não mede esforços nem consequências para garantir lucro. Desta forma, há a necessidade de
RESUMO mudança de paradigmas com relação ao desenvolvimento. Avançar em direção da sustentabilidade pode ser um dos cami-
nhos para pensar em outro modelo de desenvolvimento, capaz de integrar os aspectos econômicos, sociais e ambientais
O desenvolvimento sustentável precisa ser enfatizado, visto os crescentes impactos ocasionados por um modelo de de-
senvolvimento que privilegia o econômico, ausentando-se de discussões ambientais e sociais. Agendas globais discutem em prol do bem comum (MERICO, 2002).
a temática e problematizam o próprio conceito de desenvolvimento. Prova disto são os Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio e Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Para a mudança de paradigmas na concepção de desenvolvi- Dentre diversas iniciativas em favor do desenvolvimento sustentável, destacam-se acordos globais projeta-
mento, estas agendas precisam ser difundidas para toda a sociedade. No Brasil, o Movimento Nacional pela Cidadania dos através de objetivos, metas e indicadores. Inicialmente pode-se citar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
e Solidariedade trabalha em prol desta propagação, permitindo que as agendas adentrem nos estados, municípios e a (ODM), elaborados para a construção de um mundo mais próspero e justo. Embora a principal problemática levantada
sociedade brasileira, aproximando então a proposta global do local. Acredita-se que esta institucionalidade que difunde esteja relacionada com a pobreza, o desenvolvimento sustentável é considerado essencial para promoção do bem comum.
agendas globais com pautas sustentáveis pode contribuir muito para a conscientização de que é necessário caminhar em
direção a um desenvolvimento sustentável. Procedente deste, cita-se os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), ciente das problemáticas ambientais,
concebe um caminho concreto para a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável. As duas agendas têm
mostrado evolução na própria conceituação do termo desenvolvimento, considerando extremamente importante não so-
Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável, Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, Objetivos de Desenvolvi- mente a dimensão econômica do mesmo, mas buscando um enfoque multidimensional, envolvendo o social e o ambiental
mento Sustentável, Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade. em uma perspectiva sustentável.
Os pactos enfatizam e trabalham em prol de um desenvolvimento sustentável, mas como tratam-se de agendas
ABSTRACT globais, a dificuldade está em difundir a ideia e conscientizar as pessoas da importância do mesmo. No Brasil, este papel
é desempenhado pelo Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade (MNCS). Este difunde as ideias centrais dos
Sustainable development needs to emphasized, as the growing impact caused by a development model that focuses on
pactos, para que estas cheguem nos estados, munícios e na sociedade brasileira. Está presente em todos os estados do
economic, absent up of environmental and social discussions. Global agendas discuss the theme and problematize the
concept of development. Proof of this are the Millennium Development Goals and Sustainable Development Goals. To País e busca a institucionalização em todos os municípios. O presente artigo busca dar visibilidade a tal institucionalidade
the paradigm shift in development thinking, these agendas need to spread throughout society. In Brazil, the Movimento capaz de capilarizar a discussão sobre sustentabilidade para todo o Brasil. Entende-se que movimentos que difundem a
Nacional pela Cidadania e Solidariedade works for of this spread, allowing the agendas enter the Brazilian states, mu- pauta da sustentabilidade precisam ser estudados e propalados para que a temática possa tornar-se referência, principal-
nicipalities and society, then approaching the overall site proposal. It is believed that this institutional framework that
mente ao se tratar de desenvolvimento.
disseminates global agendas with sustainable guidelines can greatly contribute to the awareness of the need to move
towards sustainable development.
Este artigo é parte de esforços exploratórios de dissertação de mestrado em fase de elaboração. Divide-se em
três partes. Primeiro, faz-se uma pequena apresentação das agendas globais ODM e ODS, e consequentemente, sua vin-
Key-words: Sustainable Development, Millennium Development Goals, Sustainable Development Goals, Movimento culação com o desenvolvimento sustentável. Depois, apresenta-se o MNCS como instancia de disseminação dos pactos
Nacional pela Cidadania e Solidariedade. globais. Por fim, conclui-se que o papel desempenhado pelo Movimento tem contribuído para a disseminação das agen-
das globais, e desta forma, contribuído também para capilarizar a discussão acerca do desenvolvimento sustentável para
todo o Brasil. Para a realização deste trabalho exploratório, utilizou-se pesquisa documental e bibliográfica.
Os ODS se aproximam ainda mais do desenvolvimento sustentável, justamente porque exigem que todas as
Ou seja, embora haja diversas iniciativas em prol do desenvolvimento sustentável, falta consolidar uma dinâmica pró-
ações em prol do desenvolvimento considerem a sustentabilidade, independente do caráter da ação. A nova agenda
pria deste desenvolvimento, que vá além da mera mensuração entre o crescimento econômico e os limites ambientais.
reconhece a fragilidade dos ecossistemas e a necessidade de um desenvolvimento menos agressivo ao meio ambiente.
As agendas globais salientadas neste artigo, propõem um novo modelo de desenvolvimento a ser consolida- Além disso, envolve todos os países, o que permite que a agenda seja discutida e difundida em sua plenitude (ONU,
do, conjuntamente com a mudança de paradigmas do mesmo. E por se tratar de acordos globais, torna a mudança de 2012). Este pacto representa todo o aprendizado de duas décadas de desenvolvimento, por isto consegue avaliar todo o
paradigma ainda mais abrangente. Jeffrey Sachs (2005) acredita que diante das inúmeras problemáticas enfrentadas progresso e as lacunas para efetivação de um desenvolvimento sustentável (ONU, 2014a).
pela humanidade – principalmente a miséria e a luta pela sobrevivência –, faz-se necessário concentrar forças mundiais
Trata-se de 17 objetivos, quais sejam: 1) Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os luga-
para reversão deste cenário. Ou seja, deve-se adotar ações coordenadas entre países ricos e pobres para permitir o de-
res; 2) Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição, e promover a agricultura sustentável; 3)
senvolvimento e progresso de todos. Para o autor, somente um pacto global entre todos os países proverá tal mudança
Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades; 4) Garantir educação inclusiva e
para suprir tais problemáticas.
equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizado ao longo da vida para todos; 5) Alcançar igualdade
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) envolvem objetivos, metas e indicadores, visando res- de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas; 6) Garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e sanea-
ponder as maiores barreiras para o desenvolvimento mundial. Trata-se de uma iniciativa da Organização das Nações mento para todos; 7) Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e moderna para todos; 8) Promover o cres-
Unidas (ONU) e de seus estados-membros. Através de relatórios emitidos pelos diversos órgãos da ONU, um grupo cimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos; 9)
de trabalho, representando os estados-membros, selecionou e reescreveu estas demandas abarcando os quatro temas 3 Pobreza extrema na época, atingia mais de 1000 milhões de pessoas (ONU, 2000).
principais: saúde, educação, meio ambiente e social / econômico. O que mais se procurava enfatizar era a erradicação 4 Documento foi emitido pela ONU em 2012, e está disponível em: http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/OFuturoqueQueremos_
rascunho_zero.pdf.
Os ODS só foram concebidos devido ao positivo resultado dos ODM. Nos últimos 14 anos, os países em de-
senvolvimento que aderiram este pacto, trabalharam em prol do alcance de metas e objetivos de forma bastante concre-
ta, principalmente assumindo políticas públicas que contribuam para o alcance das mesmas. Isto permitiu um avanço
significativo na melhoria das condições iniciais, caracterizadas em cada objetivo. Segundo o Informe Mundial sobre
os ODM, emitido em 2014, desde 1990, reduziu-se a pobreza extrema mundial pela metade. Ou seja, 700 milhões de
pessoas saíram desta condição. Entre 2000 e 2012, as ações realizadas pelos países conseguiram evitar cerca de 3,3
milhões de mortes por malária e tuberculose. De 1990 a 2012, cerca de 2.300 milhões de pessoas tiveram acesso a água Fonte: MNCS, 2015.
potável. O progresso mundial no alcance das metas estipuladas pelos ODM tem contribuído para um desenvolvimento
mais sustentável e justo. Entretanto, há a necessidade de esforços mais significativos, pois, embora haja avanços con-
sideráveis, cerca de 14% da população ainda está subnutrida (ONU, 2014b). E os ODS surgem justamente para suprir O Movimento permite que os ODM sejam divulgados em ampla escala, e acompanhados pela população em
lacunas deixadas pelos ODM, ampliando e concretizando ainda mais a discussão. geral. Promove ações para o alcance das metas estipuladas pelos ODM, e estabelece uma relação direta com o Estado,
para que as agendas públicas incorporem os ODM em suas ações. Desta forma, entende-se que o MNCS exerce um papel
Mesmo tratando-se de uma agenda global, entende-se que estratégias adotadas para o cumprimento dos ODM
fundamental para que os ODM sejam atingidos em todos os níveis da esfera pública.
têm relevância também localmente. Logo, os ODS caminharão na mesma direção. Esta relação entre o global e o local é
visível pois os avanços nos indicadores de cada objetivo são perceptíveis também nas cidades e estados brasileiros. Isto O MNCS foi criado em 2004, através de uma iniciativa do Instituto Ethos5, para unir esforços do governo e da
é, ações, estratégias e políticas públicas estão sendo direcionadas para os objetivos em diversas escalas, possibilitando o sociedade civil, em prol da adesão e implementação dos ODM. Durante a Abertura da Conferência Nacional do Instituto
desenvolvimento em sua totalidade. O sucesso desta relação está na ramificação da agenda para os estados e municípios Ethos, o Presidente do Instituto, Oded Grajew, anunciou a criação do Movimento e propôs ainda a Semana Nacional pela
do País, e também para a sociedade civil e setor privado. Desta forma, no que tange ao Estado, torna-se essencial a ado- Cidadania e Solidariedade, que seria realizada entre os dias 9 e 15 de agosto daquele ano, em São Paulo (SP). Também
ção de políticas públicas voltadas aos objetivos dos pactos, assim como o incentivo e promoção de ações com o mesmo participaram deste pronunciamento, André Spitz, representando o Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida;
fim. A sociedade civil e o setor privado também possuem um papel relevante a medida em que tomam consciência das Marielza Oliveira, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; Percival Caropreso, vice-presidente da
agendas. Estes podem direcionar suas ações para o cumprimento dos objetivos, além de exigir respostas do Estado para McCann-Erickson, entre outros. A ideia da Semana, e do próprio Movimento, teria partido de Israel Tevah, proprietário
o mesmo propósito. A interação entre Estado, sociedade civil e setor privado, permite que as metas estabelecidas pelos das Indútrias Tevah6, com o intuito de ampliar a solidariedade no país. O objetivo do Movimento e da Semana, seria
ODM, e posteriormente pelos ODS, tenham reflexos mais significativos, garantindo que pactos globais possam trazer mobilizar e conscientizar a sociedade em geral, para que esta sensibilizasse também o governo, sobre a importância dos
benefícios concretos a população, em nível local. 5 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Trata-se de um “[...] polo de organização de conhecimento troca de ex-
periências e desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seu compromisso com a
Assegurar que os pactos globais possam ser difundidos para todo o País pode ser uma estratégia bastante pro- responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável” (INSTITUTO ETHOS, 2015).
missora para a mudança no próprio paradigma de desenvolvimento. O Brasil conta com um movimento bastante atuante 6 Em 1997, funcionários da empresa Tevah de Porto Alegre (RS) procuraram a direção para construção de uma ação de caridade, projeto
no qual inspirou a campanha de fomento aos ODM – o Movimento e a Semana. A proposta era a produção de peças (roupas de cama, roupa in-
nesta perspectiva. fantil, etc.) para entidades e para a própria comunidade próxima à empresa. Esta ação ficou conhecida como o Dia da Solidariedade no município.
A produção acontecia em um sábado, a empresa contribuía com a material e os funcionários com o voluntariado. Uma verdadeira referência de
voluntariado (PNUD, 2004).
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ODM. A primeira Semana divulgou os avanços do País com relação aos ODM, e promoveu debates e a mobilização Além disso, o MNCS busca,
e comprometimento da sociedade civil na temática. Os envolvidos com o processo de criação da iniciativa, acreditam
que para se alcançar os ODM, a primeira estratégia deve ser a mobilização da sociedade em favor da solidariedade e da
cidadania (MNCS, 2004). a) articular a organização de setores da sociedade civil e do poder público local para a realização de pro-
gramas e projetos que visem atingir as Metas do Milênio; b) promover, incentivar e organizar, apoiar a
A semana foi planejada por organizações sociais e empresas, com o intuito de promover a cidadania e a soli- articulação do MNCS/NP estaduais, regionais e municipais e estes serão representados por voluntários que
formarão os núcleos articuladores; c) capacitar gestores e representantes da sociedade civil por meio de
dariedade, conforme já citado, mas também para incitar a consciência social. Considerando a importância dos ODM, cursos presenciais e a distância, oficinas e seminários, a desenvolverem ações que objetivam alcançar os
os envolvidos tinham a preocupação com ações que extrapolassem calendários eleitorais, e que fossem permanentes, ODM; d) divulgar os ODM para amplo conhecimento da sociedade brasileira; e) promover a participação
da sociedade civil, das instituições públicas e privadas, e do poder público local na plataforma ODM; f)
gerando um caráter duradouro e forte na luta contra a injustiça social. Na Semana, portanto, propôs-se uma forma de
incentivar o trabalho voluntário de pessoas e organizações, potencializando ações já existentes; g) formar
mobilização permanente, envolvendo tanto os governos como a sociedade civil, para que se difundisse e colocasse em parcerias e implementar ações para promover o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de
prática a implementação dos ODM. Construiu-se uma agenda de encontros e atividades para a promoção da cidadania, vida; h) promover e incentivar a realização de projetos, programas e ações sinérgicas nos estados, muni-
cípios e comunidades; i) monitorar a evolução das metas e dos indicadores dos ODM em nível nacional,
da solidariedade e da mobilização. A Semana é anual e coincide com o aniversário da morte de Herbert de Souza (Beti-
estadual e municipal; k) propor estratégias de ação para situações em que os indicadores não apresentem
nho), 9 de agosto7. A homenagem foi escolhida para lembrar a luta do sociólogo pela erradicação da fome e da pobreza, os resultados esperados (MNCS, 2012, p. 1-2).
que coincide com o fundamento dos ODM. A Semana foi divulgada voluntariamente pela agência McCann Erickson
Brasil, através da campanha “Oito Jeitos de Mudar o Mundo” (MNCS, 2004).
Apresenta ainda, institucionalmente, a
Do governo federal, a iniciativa de fomento e apoio à Semana e ao Movimento, foi a criação do Prêmio ODM
Brasil. Este tem como objetivo incentivar e dar maior visibilidade a ações, programas e projetos que visem o cumpri-
mento dos ODM. A iniciativa foi proposta na primeira Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade e é coordenada
Visão: O Brasil como referência mundial no alcance dos ODM, com a participação integrada de governos,
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). O empresas e sociedade civil. Missão: Articular e integrar todos os setores da sociedade para promover o
Prêmio é destinado a governos municipais, através de políticas públicas implantadas por prefeituras que contribuam alcance dos ODM em nível nacional, estadual e municipal. Valores: Amorosidade; Entusiasmo; Flexibi-
lidade; Ousadia; Perseverança; Positividade; Simplicidade; Solidariedade; Transparência; Cidadania do
com os ODM, e a organizações da sociedade civil, através de práticas que também contribuam nesta perspectiva (BRA-
direito e da responsabilidade; Comprometimento pessoal; Confiança como premissa de relacionamento;
SIL, 2015). Cooperação sem restrição; Ética da coerência e do bem comum; Inovação socioambiental; Respeito ao
direito de expressão; Valorização à diversidade cultural (MNCS, 2012, p. 2, grifos no original).
O MNCS surgiu e permaneceu no Estado de São Paulo até 2006. Neste ano, expandiu para o segundo Estado a
aderir a bandeira, o Paraná. A partir dessa experiência, capilariza-se ações e estratégias para todos os estados brasileiros
(COSTA, 2013). O Movimento é coordenado por secretarias, que integram o Colegiado Executivo Nacional, quais sejam: Secreta-
Atualmente, o MNCS se auto define como “[...] um movimento apartidário, ecumênico e plural da nação bra- ria Executiva Nacional, Secretaria Executiva Nacional Adjunta, Secretaria Nacional de Mobilização, Secretaria Nacional
sileira [...]” (MNCS, 2012, p. 1). Seu objetivo é de Mobilização Adjunta e Articuladores Regionais: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste I, Nordeste II, Norte I e Norte
II (MNCS, 2012). A figura 2 apresenta a estrutura nacional do Movimento, assim como os estados que fazem parte dos
articuladores regionais, nas respectivas regiões:
[...] promover, articular, disseminar e acompanhar as ações em prol do alcance dos ODM de forma con-
vergente e integrada no âmbito nacional, estadual e municipal por meio do trabalho de várias organiza-
ções sociais (Ongs, empresas, universidades, fundações, igrejas, entidades de trabalhadores, sindicatos,
movimentos sociais, associações de bairro, governos, entre outros), realizado de forma voluntária, por
instituições ou por projetos que tenham por objetivo à promoção dos ODM, na construção da cidadania
e praticando a solidariedade (MNCS, 2012, p. 1).
7 Formado em Sociologia e Política de Administração, o sociólogo é conhecido pela luta social. Faleceu em 09
de agosto de 1997 (BRASIL ESCOLA, 2015).
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FIGURA 2 – ORGANOGRAMA DO MNCS fundamentações, a promoção do desenvolvimento sustentável. Com a criação de agendas como estas, é fundamental que
hajam mecanismos para a propagação dos seus interesses. O MNCS é um exemplo disto, a medida em que surge como
uma iniciativa para disseminação destes pactos, e, desta forma, contribui também para a disseminação do fundamento
dos mesmos, que é o desenvolvimento sustentável.
Conclui-se que institucionalidades capazes disto são importantes para mudanças no paradigma do desenvolvi-
mento, pois permitem a propagação do conhecimento, do diálogo e a promoção então de um novo modelo de desenvol-
vimento. O MNCS tem a possibilidade de construir um senso territorial convergente com objetivos declarados por estas
agendas globais e fazer com que o desenvolvimento sustentável seja base de discussão política em todas as escalas do
país, para que possa ser assumido como modelo de desenvolvimento, e por fim, concretizado.
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inclusivo, ambientalmente sustentável e economicamente equilibrado [...]” e são estes valores que estimulam a sua VWPETM9Viko>. Acesso em 25 maio 2015.
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_____. Objetivos de Desarrollo del Milenio: Informe de 2014. Editora Tessa Too-Kong, Nueva York, 2014b. Dispo- fundamental, 5° ao 9° ano. Foi elaborado um instrumento contendo 29 questões sobre o cotidiano escolar, a violência no
nível em: <http://www.un.org/es/millenniumgoals/pdf/mdg-report-2014-spanish.pdf>. Acesso em 10 maio 2015. ambiente escolar e seus desdobramentos. Foi realizado um pré-teste pela equipe do projeto. A aplicação ocorreu entre no-
vembro e dezembro de 2013 e a participação foi anônima e voluntária. Os resultados foram analisados mediante estatís-
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Notícias. Ação de operários inspira semana das Metas. tica descritiva e armazenados em um banco de dados online com acesso para os pesquisadores. Observou-se que 47,6%
Por Ricardo Meirelles. 14 agosto 2004. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=3098>. Acesso em (n=476) relatou sofrer agressão, ofensa ou intimidação em ambiente escolar, sendo a agressão verbal a mais frequente
30 junho 2015. (82,35%; n=392), seguida pela física (25%; n=119) e ambas podem ocorrer de forma isolada ou conjunta. As causas mais
_____. Objetivos do Milênio. 8 objetivos para 2015. Disponível em: http://www.pnud.org.br/ODM.aspx. Acesso em frequentes destas agressões são: racista (n=140), econômica (n=130), religiosa (n=112) e gênero (n=48). Observou-se
17 fevereiro 2015. (2015a). alta prevalência de violência no contexto escolar em estudantes do 5º ao 9º ano das escolas públicas do litoral do Paraná,
principalmente ligada a questões de raça/etnia, sócio econômica, religiosa e de gênero. Se manifestam em forma de vio-
_____. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: < http://www.pnud.org.br/ODS.aspx>. Acesso lência verbal, física e psicológica, que podem acarretar danos à saúde das vítimas. A partir destes resultados, foi possível
em 10 agosto 2015. (2015b). refletir sobre o conceito teórico de poder, e consequentemente subsidiar discussões sobre estratégias de prevenção com
base no reconhecimento do panorama regional.
SACHS, Jeffrey. O fim da pobreza: como acabar com a miséria mundial nos próximos vinte anos. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 2005. 449 p, il.
SANTOS, Maria E. P. dos. Algumas considerações acerca do conceito de sustentabilidade: suas dimensões política, Palavras-chave: Violência, poder, desenvolvimento, território.
teórica e ontológica. In: Rodrigues, Arlete M. (org.). Desenvolvimento Sustentável: teorias, debates, aplicabilidades.
Textos Didáticos, IFH/UNICAMP, n. 23, 1996.
ABSTRACT
Violence is a major challenge for the agenda of Brazilian development and the school environment is configured in the
field where this problem emerges with ever more intensity. This research focused on the intersections between violence
in schools and students perceptions of basic education on the issue, aiming to subsidize strategies for its prevention, thus
contributing to regional development. The methodology of the study was quantitative and qualitative cross exploratory,
with sample consists of 1,000 students (n = 1000) of primary school, 5 th to 9 th year. An instrument containing 29 ques-
tions about the school routine, violence in the school environment and its development has been prepared. A pretest by
the project team was held. The application took place between November and December 2013 and the participation was
anonymous and voluntary. The results were analyzed using descriptive statistics and stored in an online database with
access for researchers. It was observed that 47.6% (n = 476) reported suffering aggression, offense or intimidation in a
“Somos um povo violento. Na obra Outros 5002: uma conversa sobre a alma brasileira, discutem a tese
de que nosso nascimento, como país, é fruto de um estupro: os homens (só havia homens – a maioria METODOLOGIA
degradados - nas caravelas de Cabral) que aqui chegaram e encontraram as tribos indígenas, loucos para
copular, não buscavam a alma das mulheres, nem a cultura autóctone, nem a sabedoria do povo”. (p. 26). A pesquisa iniciou-se em 2012 como projeto de iniciação científica da Universidade Federal do Paraná e vem se
2 ZWETSCH, Roberto Ervino. Lucy DIAS; Roberto GAMBINI. Outros 500: uma conversa sobra a alma brasilei- solidificando no programa de pós-graduação em nível de doutorado em Desenvolvimento Regional, pela Universidade
ra. (São Paulo: SENAC, 1999. 228 p.). Estudos Teológicos, v. 42, n. 1, p. 96-100, 2013.
Entre os participantes da pesquisa, observou-se maior frequência do gênero masculino (n=503, 50,30%) e idade Em algum momento 56,07%
entre 13 e 15 anos (n=563, 56,30%) conforme tabela 1. Do total da amostra, que constou de mil sujeitos (n=1000), 524 Uma ou duas vezes 30,24%
Já sofreu ameaça em am- Todos os dias 2,65%
(52,40%) relataram que já sofreram algum tipo agressão no ambiente escolar.
biente escolar Todas as semanas 0,22%
453 Todo mês 0,22%
Não 10,60%
Empurrões 63,90%
Caracterização das Tipo-
119 Agressão 24,40%
Tabela 1. Caracterização dos/as participantes. logias da Violência Física
Surra 11,80%
QUESTÃO n=Total OPÇÕES PERCENTUAL (%)
Caracterização das Tipo- Apelidos 48,70%
1000 Masculino 50,30%
Gênero logias da Violência Ver- 392 Piadas 28,10%
Feminino 49,70%
bal/Psicológica Xingamentos 23,20%
10 a 12 anos 38,50%
Idade 13 a 15 anos 56,30% Recreio 39,74%
1000 Sala de Aula 19,87%
16 a 18 anos 5,20%
Corredores 11,04%
Fonte: Os autores, 2015. Caracterização dos Locais
Escolar 7,73%
que ocorreram a violência
453 Arredores da Escola 3,31%
Refeitório 3,31%
Chesnais3 (1981) distingue no imaginário social atual, três definições de violências que contemplam tanto o âm- Outros 15,01%
bito individual quanto o coletivo: no centro de tudo, a “violência física”, que atinge diretamente a integridade corporal Fonte: Os autores, 2015.
e que pode ser traduzida nos homicídios, agressões, violações, torturas, roubos a mão armada; a “violência econômica”
que consiste no desrespeito e apropriação, contra a vontade dos donos ou de forma agressiva, de algo de sua propriedade
e de seus bens; e, por último, a “violência moral e simbólica”, aquela que trata da dominação cultural, ofendendo a dig- Todas essas modalidades de violência (verbal, psicológica, moral, física, econômica) são permeadas por relações
nidade e desrespeitando os direitos do outro”. (MINAYO, 2006, p. 14-15). de poder. Foucault (2015) esclarece nesse sentido, afirmando que as relações de poder também podem servir como ins-
3 CHESNAIS, Jean-Claude. Histoire de la. 2a ed., Paris, Pluriel. 1981.
I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL
80
29 a 30 de Outubro de 2015 | Matinhos - PR
trumentos de luta, articulando com outros instrumentos, contra essas mesmas relações de poder”. Hannah Arendt (1990) do. Por outro lado, ao não explicitar as desigualdades de gênero, a escola corre o risco de acomodar-se e continuar (re)
complementa a noção de violência como um meio de e um instrumento para a conquista do poder. (MINAYO, 2006), produzindo os dicotômicos modelos tradicionais na relação entre sexos (SASTRE, MARMÓN E HERNÁNDEZ, 2003).
enquanto que Araújo (2004) esclarece que os atos de violência servem para demarcar espaços de poder.
“O poder não atua do exterior, mas trabalha o corpo dos homens, manipula seus elementos, produz seu comporta-
De acordo com Rocha (2012) desse modo, a imagem do outro passa a ser percebida como ameaçadora e inferior. mento, enfim, fabrica o tipo de homem necessário ao funcionamento e à manutenção da sociedade industrial, capitalista”.
Para a autora, as relações na escola são vividas de modo odioso, marcadas pela violência. Essas acepções foram confir- (FOUCAULT, 2015, p. 21-22).
madas com os dados ilustrados na Tabela 3, que exemplifica os principais motivos relatados pelas vítimas de violência
A busca por elementos que justificam as incidências dessas condutas, muitas vezes extrapolam os muros das
no ambiente escolar. Destacou-se a violência de gênero, marcada por práticas sexistas e homofóbicas nas escolas. A
escolas. São apontadas como razões exógenas ao ambiente escolar: o Sexismo e hierarquias/desigualdades de gênero,
“violência de gênero” é definida por Suárez e Bandeira (1999) como acontecimentos violentos abrigados nos diferentes
conforme estudos de gênero propostos por Joan Scott (1986), Guacira Louro (2001) e Butler (2008); o racismo e outros
relacionamentos de gênero, que são relacionamentos que podem pôr em interação conflituosa não apenas homem e mu-
preconceitos que permeiam a sociedade, alguns inclusive com origem familiar, frutos de influências da mídia e/ou carac-
lher, mas também mulher e mulher ou homem e homem. A ligação entre violência e gênero é importante para indicar não
terísticas do ambiente em que a escola está situada.
apenas o envolvimento de mulheres e de homens como vítimas e autores, mas também como sujeitos, que buscam firmar
mediante a violência, suas identidades masculinas ou femininas. No presente estudo, os casos de violência estão ligados a diferentes causas. As causas com maiores prevalências
foram: Étnico-racial (n=140); Econômica (n=130); Religiosa (n=112); e, relacionadas ao Gênero (n=48). No que se refere
Na tabela 03, podemos ver alguns dados da pesquisa efetuada com 1000 estudantes no litoral do Paraná, relativos
aos casos de violência relacionados às questões étnico-raciais, os estudantes relataram que o tipo de cabelo é a principal
a questões de gênero, étnico-racial, econômico e religião.
causa (40,00%), sendo que os que mais sofrem são os sujeitos afrodescendentes.
Já o estilo de se vestir foi a causa mais comum relacionada com questões econômicas (52,30%), sendo que as pes-
Tabela 3. Causas das incidências de violência escolar relatadas por escolares de escolas muni- soas com menor poder para aquisição de roupas ditas “da moda” sofrem mais com intimidações e discriminação.
cipais do litoral do Paraná – PR
QUESTÃO N= Total OPÇÕES PERCENTUAL (%) Nos casos relacionados com religião, os evangélicos sofreram mais abuso (41,10%), seguidos dos que professam
Gay 52,10% outras religiões, tais como as de matrizes africanas. E por fim, nos casos relacionados às questões de gênero, os sujeitos
Gênero Lésbica 27,10%
48 LGBT’s (lésbicas, gays, bissexuais e trans – travestis e transexuais), os gays foram as principais vítimas (52,10%), segui-
Mulher/Sexismo 20,80%
dos das que sofrem violência apenas por serem mulheres.
Cabelo 40,00%
Cor da pele 26,40% De acordo com Ricas e Donoso (2010), sabe-se que o fenômeno da violência no contexto escolar não pode ser
Étnico-Racial 140 Negro 16,40% dissociado da violência que acontece na sociedade em geral. A miséria, a exclusão, a desigualdade, o autoritarismo, a falta
Loiro 12,90%
de ética e a concentração de renda e poder estão intimamente articuladas e interligadas à manutenção da violência no nos-
Ruivo 4,30%
so cotidiano. A violência decorre deste complexo contexto multicausal de fragilidade social, onde o abuso e desrespeito
Roupa 52,30%
aos direitos humanos são nítidos, e até banalizados, pela sociedade, conforme apontado por Hannah Arendt (1999) em
Econômica 130 Pobre 42,30%
Rico 5,40% sua obra “Eichmann em Jerusalém: sobre a banalização do mal”. Essas fragilidades acabam por favorecer a exposição de
Evangélico 41,10% adolescentes a situações evitáveis de risco.
Católico 25,90%
Religiosa Sendo assim Castells (2013) cita que:
112 Ateu 6,30%
Outros 26,80%
Fonte: Os autores, 2015.
“Os movimentos sociais vêm de uma injustiça fundamental de todas as sociedades, implacavelmente con-
frontadas pelas aspirações humanas de justiça como: exploração econômica; pobreza desesperançada; de-
sigualdade injusta; comunidade política antidemocrática; Estados repressivos; Judiciário injusto; racismo;
xenofobia, negação cultural; censura; brutalidade policial; incitação à guerra; fanatismo religioso (frequen-
A escola pode tomar para si a tarefa de resistir e promover a transformação das concepções e comportamentos
temente contra crenças religiosas alheias); descuido com o planeta azul (nosso único lar); desrespeito à
sociais, no sentido de ensinar a pensar, a questionar, e com isso apontar novas formas de interpretar e organizar o mun- liberdade pessoal, violação da privacidade; gerontocracia; intolerância; seximo; homofobia e outros atro-
CASTELLS, M. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar,
Nesse sentindo Castells, (20013) coloca que “Onde há poder há também contra poder” que define como a capaci- 2013. 271p.
dade de os sujeitos sociais, desafiarem o poder enraizado nas autarquias da sociedade como o intuito de reivindicar uma FRANCO, S. La violência: un problema de salud pública que se agrava em la Región. Boletín Epidemiológico de la
própria representatividade de suas próprias crenças e valores. OPS, V.11, n.2, p 1-17, 1990.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A discriminação no Brasil não é algo novo, nem nas pesquisas cientifica muito menos nas relações sociais. Porém Revista Médica de Minas Gerais. 20(2):212-7, 2010.
a exclusão manifestada pelo discurso do outro, ocultada no ambiente escolar, parece agora ganhar evidência nas pesqui- ROCHA, T. B. Cyberbullying: ódio, violência virtual e profissão docente. Brasília: Liber Livro, 2012. 192p.
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SASTRE, G; MARIMÓN, M. M; HERNÁNDEZ, J.. Sumisión aprendida: un estudio sobre la violencia de género. Anu-
do sistema de ensino, “analisaram funcionamento do sistema escolar francês e concluíram que, em vez de ter uma função ario de psicología/The UB Journal of psychology, v. 34, n. 2, p. 235-251, 2003.
transformadora, ele reproduz e reforça as desigualdades sociais”. (ROCHA, 2012, p. 21).
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Mediante a situação presente no ambiente escolar, ser faz necessário ampliar oportunidades sociais focadas na SCOTT, J. Gender: A Useful Category of Historical Analysis. The American Historical Review, v. 91, n. 5, p. 1053-75,
educação, favorecendo iniciativas de ter acesso determinas privações afim de identificar como o acesso da educação dec. 1986.
como uma forma de liberdade para o desenvolvimento, Sen (2010, p.10) cita que “o alcance da análise de políticas de-
SUÁREZ, M.; BANDEIRA, L. (Org.). Violência, Gênero e Crime no Distrito Federal. Brasília: Paralelo 15, 1999.
pende de estabelecer os encadeamentos empíricos que tornam coerente e convincente o ponto de vista da liberdade como
a perspectiva norteadora do processo de desenvolvimento”. Sendo assim o autor cita que a “liberdade é vista, por essa WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2012: Os Novos Padrões da Violência Homicida no Brasil. São Paulo: Instituto
Sangari, 2012. 185 p.
abordagem, como o principal fim e o principal meio do desenvolvimento. O desenvolvimento consiste na eliminação de
privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2014: OS JOVENS DO BRASIL. Brasília: Secretaria-geral da Presidência da
de agente”. (SEN, 2010, p.10). República Secretaria Nacional de Juventude, 2014. 185 p.
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1, 2005.
As pessoas e as sociedades, em que pesem as diferenças culturais, compartilham alguns valores relacionados às
ações humanas. A liberdade está no centro das discussões, especialmente a partir da implantação dos estados laicos e
RESUMO
democráticos. Nesse bojo diversas teorias têm sido elaboradas sobre o que seria e ou constituiria tal categoria - liberdade
Neste ensaio, toma-se por base a obra Desenvolvimento como Liberdade de Amartya Sen, onde a expansão das liber- - para quem e por que seria importante, assim como seus limites e possibilidades. Dessa forma, diferentes concepções de
dades individuais é enfocada como meio e finalidade do desenvolvimento. Este, extrapolando a mensuração por renda, liberdade individual e coletiva vêm influenciando as mentalidades e as práticas societárias, no tempo e no espaço.
relaciona-se às liberdades substantivas capazes de promover a dignidade e a qualidade de vida conforme os valores con-
siderados pelas pessoas envolvidas. Nesse sentido, a falta de liberdade das mulheres constitui além de uma iniqüidade, Categorias fortes como liberdade, autonomia, livre arbítrio, não raramente são aceitas sem uma análise mais apro-
um verdadeiro impedimento para que as sociedades desenvolvam-se de acordo com suas capacidades. Devido a suas
fundada sobre o arcabouço ideológico nas quais estão assentadas, e são tecidas. Assim, discutir sobre - liberdade, auto-
vontades estarem geralmente desconsideradas ou agenciadas, e suas vozes serem subsumidas nos discursos, programas
e políticas elaborados para elas e raramente por elas, justifica-se a pertinência a discussão sobre a liberdade feminina e nomia, agência - tornou-se uma necessidade na contemporaneidade, uma vez que suas diferentes concepções impactam
desenvolvimento humano na atualidade brasileira. Em que pesem as lutas dos movimentos feministas e dos resultados diretamente na convivência e sobrevivência da humanidade, plural e diversa.
dos estudos de gênero, tem havido no país uma inflexão das políticas públicas emancipatórias em geral. A escalada do
conservadorismo religioso dentro das gestões decisórias do poder político em nível nacional tem propagado um discurso A construção social de gênero, que demarca tradicionalmente diferenças radicais para homens e mulheres, consti-
de ódio para com a diferença e nesse bojo, ações e intervenções tem contrariado direitos elementares das mulheres en- tui a matriz de outras desigualdades e é produtora direta de injustiça e iniqüidade. Nesse sentido, a (não) liberdade femi-
quanto cidadãs, e distorcido a questão de gênero na educação. nina constitui uma lacuna na reflexão ética, econômica, social, dentre outras, no tempo e no espaço.
O indiano Amartya Sen, prêmio Nobel de economia em 1998, afirma que o desenvolvimento engloba um com-
Palavras chaves: Liberdade, Desenvolvimento, Mulheres. promisso com a expansão das liberdades substantivas e com o enfrentamento da opressão e da miséria. O autor enfoca a
dimensão Ética no debate econômico, ao incorporar a esse a metade feminina da humanidade, invisível, desconsiderada,
a mais pobre, sem voz e com sua agência comprometida.
ABSTRACT
In this essay, we take based on the work Development as Freedom by Amartya Sen, where the expansion of individu- Para a Economia clássica o desenvolvimento requer a diminuição significativa de bem estar público, direitos e
al liberties is focused as a means and purpose of development. This, extrapolating measurement by income, relates to liberdades. Amartya Sen, na esteira de Aristóteles (V a.C), argumenta que a utilidade da riqueza esta nas coisas que ela nos
the substantive freedoms capable of promoting the dignity and quality of life as the values considered by the people
permite fazer e não nela mesma; está nas possibilidades que traz para as pessoas poderem viver a vida conforme os seus
involved. In this sense, the lack of freedom of women is beyond a iniquity, a real impediment for societies develop in
accordance with its capabilities. Because of their will usually be disregarded or brokered and their voices be subsumed próprios valores. As liberdades mais prementes se referem à sobrevivência, ao acesso à água, aos serviços de saúde, ao
in speeches, elaborate programs and policies for them and rarely by them justified the relevance of the discussion on saneamento, a educação, ao emprego digno e remunerado, a segurança econômica e social, ao acesso a direitos políticos e
women’s freedom and human development in Brazil today. In spite of the struggles of women’s movements and the re- a participação efetiva na vida social. Nesse contexto, a vida de bilhões de mulheres em todo o mundo é afetada pela falta
sults of gender studies there has been a shift in the country of emancipating public policy in general. The rise of religious
de liberdades elementares e pelo impedimento de viverem de acordo com suas capacidades, e valores.
conservatism within the decision-making efforts of political power at the national level It has propagated hate speech
toward the difference and that bulge actions and interventions has contradicted basic rights of women and distorted the Autores como Aristóteles pensaram componentes da idéia contemporânea de liberdade política. Nesse sentido,
gender issue in education.
Sen discute dois pontos: 1 – o valor da liberdade pessoal - que deve ser garantida em uma boa sociedade; 2 – a igualdade
de liberdade - onde todos importam, e a liberdade que é garantida para cada um deve ser garantida para todos. Aristóteles
Key Words: Freedom, Development, Women escreveu profusamente sobre a primeira proposição, excluindo os escravos e as mulheres, consideradas por ele seres in-
completos e imperfeitos. A defesa da segunda proposição tem origem muito recente e ainda causa polêmica. Mesmo em
sociedades mais democráticas em relação às mulheres, a liberdade feminina é insuficientemente discutida ou considerada
1 UFPR litoral. nadiathe@gmail.com nos discursos das disciplinas que compõem as ciências, as religiões e a ética filosófica.
Para o autor, Desenvolvimento Humano (DH) implica em: a) expansão das possibilidades de ser e de fazer das Assim, a agência feminina influencia diretamente não só seu próprio bem-estar, mas é o cerne do desenvolvimento
pessoas, para terem funcionamentos e capacidades, tais como saúde, alimentos, conhecimentos e poder participar da vida humano enquanto tal. Qualquer tentativa para aumentar o bem-estar feminino, seja em forma de políticas ou ações, não
da comunidade; e b) remoção dos obstáculos que impedem a pessoa de fazer aquilo que pode fazer na vida, tais como o pode deixar de recorrer à opinião e à autonomia das próprias mulheres, pois estas sabem o que querem e são as respon-
analfabetismo, a falta de saúde, a impossibilidade de acesso a recursos, a ausência de liberdades civis e políticas (SEN, sáveis pelas mudanças mais radicais (SEN, 2010).
2010).
O autor aproxima-se dos estudos feministas e de gênero, especialmente quando aponta para a gravidade da vio- Pode-se melhorar o alcance e a qualidade das discussões mediante ampla liberdade de imprensa e independência
lência naturalizada e perpetrada contra as meninas e mulheres em todo mundo, e trata das conseqüências ocasionadas dos meios de comunicação (ausência de censura), e educação sobre a questão de gênero nas suas múltiplas expressões na
pela sua tradicional submissão. Assim, seus aportes importam para a tomada de consciência sobre: a) a necessidade de educação básica - lembrando que os estudos de gênero são os que abordam as relações de poder desiguais entre homens
ações e políticas de direitos de gênero e/ou afirmativas para as mulheres; b) a imprescindibilidade do efetivo exercício e mulheres nas diferentes sociedades, e apontam como esses podem ser transformados.
da agencia feminina, começando pelas decisões sobre seu corpo, sua integridade física e mental, instrução, trabalho e
participação nas decisões políticas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O êxito pessoal feminino, a princípio, só se torna possível com a existência de uma rede de apoio social e uma
democracia autêntica. Desenvolvimento Humano implica na emancipação feminina, na desnaturalização dos papéis so- No Brasil, em que pese o reconhecimento que o empoderamento mínimo das mulheres - via educação e emprego
ciais, e em profunda reflexão sobre qual tradição as mulheres querem que sejam preservadas. formal com renda - impacta na sociedade, o avanço dos direitos femininos se encontra limitado, acuado e correndo riscos
de sérios retrocessos. As ações e políticas reeditam velhas intenções de utilidade, ou seja, as mulheres são acionadas para
Para o autor, no caso de conflito entre a tradição e a modernidade, é necessário uma resolução participativa e não a solução de problemas emergenciais tais como, por exemplo, o controle demográfico e da economia, quando isso é do
uma aceitação unilateral em favor da tradição imposta por dirigentes políticos, autoridades religiosas ou admiradores de interesse das gestões no poder. No geral, o enfoque de gênero - das relações de poder desigual entre homens e mulheres
uma antropologia do passado. Nesse sentido, tolher a liberdade com o pretexto de defender valores tradicionais tais como em todas as dimensões da vida - é desconsiderado nas políticas públicas e/ou se encontra subsumido em interesses po-
os veiculados pelos fundamentalismos religiosos não são legítimos e passam longe da necessidade das pessoas afetadas, líticos particulares, tem que pese a luta dos movimentos feministas e sociais e os argumentos resultantes dos estudos de
dos seus valores e de como desejam viver suas vidas, com todo o direito disso. No caso, passam longe das capacidade, gênero.
direitos e valores das mulheres nas sociedades (SEN, 2010).
Assim, o desenvolvimento depende, a princípio, de ações afirmativas para mulheres e políticas públicas de gê-
No Brasil de hoje, em que pese a democracia estar consolidada, e variadas ações e políticas afirmativas para as nero. Para que as mulheres em diferentes contextos possam exercer efetivamente sua liberdade/autonomia/agencia, é
mulheres estarem implantadas e/ou em curso, o recrudescimento de um conservadorismo religioso peculiar - e nunca vis- necessário discutir agenciamentos de vontades, produzidos diuturnamente nas diferentes instancias sociais. Impõe-se o
to nessas proporções - coloca em perigo os parcos avanços duramente conquistados. Esse problema ainda não está sendo desafio de enfrentar interesses escusos de grupos fundamentalistas, não apenas com pesquisas, teorias, debates acadêmi-
devidamente estudado, considerado, detido e/ou problematizado. A memória recente da história de partidos fanáticos, e cos, coleta de informações de campo, reflexão interdisciplinar, mas especialmente, com a ação organizada da sociedade
os acontecimentos atuais no planeta nos demonstram que o conservadorismo fundamentalista religioso pode implantar civil e laica. O discurso de ódio ao diferente atinge primeiro o feminino, e constitui a face invisível da violência que
uma ordem de consequências desastrosas e... bélicas. impede o desenvolvimento humano enquanto tal. O DH requer uma cultura de paz e para tanto, é fundamental considerar
Oportunidades sociais adequadas permitem a autonomia e esta, molda destinos pessoais e exprimem efetivamen- em profundidade a liberdade substantiva das mulheres, a começar por sua autonomia e integridade física. As diferenças
te a solidariedade. O desenvolvimento pessoal e das comunidades dependem do exercício da liberdade das mulheres e no exercício das liberdades, de homens e mulheres, importam social e politicamente e podem ser modificadas uma vez
remete para a sua capacidade de cultivar a paz. O autor observa que os países onde as mulheres tem mais liberdade, são que são historicamente construídas.
menores os conflitos, inclusive, os armados: Amartya Sen evoca nesse sentido, a busca da justiça como equidade, capaz de contemplar as mulheres e nessa
Ter mais liberdade para fazer as coisas que são justamente valorizadas é importante por si mesmo para a esteira, os e as diferentes de qualquer norma hegemônica. A concepção de uma humanidade homogênea, sem diferen-
liberdade global da pessoa e importante porque favorece a oportunidade de a pessoa ter resultados valio- ças, constrói alicerces em areia movediça; sob essa base, a liberdade/autonomia/agencia, são apenas abstrações sem
sos (... ) ter mais liberdade melhora o potencial das pessoas para cuidar de si mesmas e para influenciar o
mundo, questões centrais para o processo de desenvolvimento (SEN, 2010, p. 33). consistência.
BOBBIO, Norberto. A natureza do preconceito. Elogio da serenidade e outros escritos morais. São Paulo: UNESP,
2002.
Aline de Oliveira Gonçalves1
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
RESUMO
Diante da epidemia de cesarianas, o parto natural se tornou tema de militância no Brasil, primeiramente entre alguns
profissionais da saúde e posteriormente por grupos de mulheres, que visam resgatar e compartilhar os conhecimentos e
experiências relacionados ao parto. Em 2010, o Ministério da Saúde constatou que 52% dos nascimentos aconteceram
por cesarianas. Na rede privada, esse índice chegou a 82% e na rede pública de 37%, sendo que a recomendação
da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a taxa esteja em torno de 15%. Panorama que reflete, entre outros
fatores, o excesso de medicalização e a perda do poder de decisão da mulher em relação ao seu corpo. Neste artigo é
apresentado um panorama histórico sobre o parto no Brasil e da ação de grupos de mulheres organizadas em torno do
tema, situando indicadores da região litorânea do estado do Paraná neste contexto.
ABSTRACT
The natural birth became a cause in Brazil, at first between health professionals and later by women’s groups. In 2010,
the Ministério da Saúde (Brazil Government) indicates that 52% of births happened by caesarean section. In the private
assistance, this rate reached 82% and the public 37%, while the recommendation of the World Health Organization
(WHO) is that the rate would be around 15%. This scenery evidence factors like over-medicalization and the decrease
of the decision power of woman about their bodies. This paper presents is a historical overview of childbirth and about
action of women’s groups organized around the theme, placing the coastal region of Paraná state in this context.
na amamentação; e recuperação pós-parto mais lenta. Diante dessas condições, algumas gestantes têm optado por ter seus filhos em casa, mesmo sem poder contar com
Diante desse cenário, grupos de mulheres em diferentes regiões do país começaram a buscar alternativas para a assistência dos sistemas de saúde. Uma vez que a rede pública e a rede privada não oferecem essa opção no Brasil –
contornar a cultura hospitalar e “cesarista”. É possível identificar, principalmente nas capitais e cidades de maior porte, diferente de países como a Inglaterra e a Holanda nos quais essa é uma das abordagens ofertadas pelos sistemas públicos.
grupo de mães e doulas3, entre outros educadores perinatais, que promovem encontros, cursos e eventos visando a Pelos registros oficias no sistema Sinasc/MS, foram registrados nos sete municípios do litoral paranaense: 11 partos
difusão de informações de incentivo ao parto natural para mulheres e casais gestantes. Nos últimos anos, esses grupos domiciliares em 2010; outros 11 em 2011; 13 em 2012; e 05 em 2013. A maior parte das ocorrências se deu em Paranaguá,
entraram em conflito com Conselhos Regionais de Medicina, por defenderem o direito de escolha das mulheres em o que poderia indicar que o parto em casa não ocorreu por dificuldade de acesso ao equipamento de saúde e sim por opção
relação ao parto e principalmente, por defenderem, o direito de parir em casa. da parturiente.
Na região litorânea do Paraná é possível identificar algumas iniciativas de promoção do parto humanizado, A prevalência dos profissionais médicos na assistência ao parto no Brasil é recente e segue a linha curativa e
organizadas pela sociedade civil, como será apontado a diante. Essas ações fazem um contraponto aos indicadores de hospitalar, como grande parte da medicina ocidental. Mas, em todo mundo, até o século XVIII, o parto não era considerado
via de parto encontrados na região, que não diferem daqueles dados nacionais. Pode-se observar que nos últimos anos um ato médico, quem detinha o conhecimento e prestava assistência às gestantes eram as parteiras e quase a totalidade
houve uma pequena queda no número de cirurgia cesarianas, mas a porcentagem delas em relação ao parto normal ainda dos nascimentos aconteciam nas casas das famílias. O conhecimento sobre o processo de parto era detido, quase que
está longe da recomendação da OMS (Tabela 01). Paranaguá, a cidade portuária mais antiga do estado concentra a maior exclusivamente, por mulheres e transmitido localmente pela observação e pela prática.
parcela da população e também dos equipamentos de saúde. Assim, muitas das mulheres residentes nos demais municípios A obstetrícia, como especialidade médica, surgiu nas faculdades europeias, e com ela foi criado um novo conjunto
de conhecimentos e práticas que, inicialmente, foram exercidos quase que exclusivamente por homens. Foram eles que
2 Um panorama detalhado sobre os aspectos que envolvem o parto pode ser encontrado em TORNQUIST (2004); MAIA (2010),
CARNEIRO (2012). desenvolveram novos instrumentos, como o fórceps, e iniciaram a realizar os partos nos hospitais.
3 A palavra doula, em grego, significa aquela que serve outra mulher, e refere-se à acompanhante de parto especialmente treinada
para oferecer apoio contínuo físico e emocional à parturiente e a seu parceiro durante o trabalho de parto e o parto, trazendo-lhes segurança e Centradas, inicialmente, em uma visão bastante pessimista da natureza feminina, a obstetrícia e a ginecologia
tranquilidade. A doula não substitui o acompanhante escolhido pela parturiente e muito menos o obstetra. Em seu trabalho, ela utiliza técnicas de justificarão toda uma série de inovações científicas – particularmente no campo da cirurgia – que tornaram a mulher
respiração, relaxamento, massagem e métodos não-farmacológicos de alívio à dor, e auxilia a mulher na escolha de posições mais confortáveis um corpo passivo. Os instrumentos e as técnicas obstétricas, criados e usados no campo da medicina da mulher, são
para o parto. Vários estudos científicos mostram os resultados deste apoio contínuo, entre eles, reduzir o número de cesarianas, a duração do reveladores desta visão, ao mesmo tempo em que estão carregados de associações com a sexualidade e a ascendência
dos homens sobre as mulheres ou, neste caso, dos médicos sobre suas pacientes (TORNQUIST, 2004, p. 72).
trabalho de parto e o uso de analgesia. Acedido em http://www.institutoaurora.com.br/produtos/livro_doula.
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maternidades - sendo encontrados apenas em algumas iniciativas isoladas desse sistema e em algumas casas de parto.
A metáfora da mudança de endereço da casa para o hospital [...] carregou consigo uma sucessão de mudanças: passou
A transição entre os partos domiciliares e hospitalares foi gradual e enfrentou a resistência das mulheres. Elas de ofício à profissão, de affaire de femmes para assunto de homens, de pobres para elites escolarizadas, das mãos
preferiam ter seus filhos em casa, uma vez que o hospital era associado à morte, à pobreza e aos excluídos, além da negras para luvas brancas, do rural para o urbano, de saberes populares para saberes científicos, de corpos pulsantes
para corpos patológicos, de técnicas mecânicas e ritos espirituais para técnicas químicas, de uma percepção abrangente
prevalência de questões morais que dificultavam a aceitação de homens presentes em um momento considerado íntimo para um olhar esquadrinhador e meticuloso (TORNQUIST, 2004, p. 98).
das mulheres. Assim, as primeiras gestantes atendidas nos hospitais foram mulheres marginalizadas, que não tinham
condições de serem atendidas em casa por uma parteira. Nesse contexto surgiu um antagonismo entre o conhecimento
técnico-científico, exercido principalmente por homens, e o conhecimento popular, transmitido de forma oral e praticado A assistência hospitalar ao parto acarretou problemas como a medicalização excessiva e violência obstétrica, tema
por mulheres. “A medicina intervencionista, predominantemente masculina, mas também branca e de elites, certamente envolto em vários tabus, que só recentemente tem sido trazido para a discussão pública. Os procedimentos rotineiros de
deixou suas marcas em todo o processo e na própria ciência e encontrou resistências no cotidiano” (TORNQUIST, 2004, assistência ao parto denominado “normal”, no Brasil, incluem uma lista extensa de intervenções, como descreve Carneiro:
p. 75).
[...] a sequência de procedimentos realizados de rotina, quando uma mulher chega ao hospital: a tricotomia (raspagem
dos pelos pubianos); o enema (lavagem intestinal); a ocitocina (hormônio sintético que acelera as contrações
Com a consolidação da nova especialidade médica iniciou uma crescente repressão ao trabalho das parteiras, uterinas); a ruptura da bolsa (aminiotomia); a epidural (analgesia) e a episiotomia (corte da musculatura perineal para
alegando falta de assepsia ou de conhecimentos técnicos, o que colocaria em risco as vidas de mães e crianças – também a passagem do bebê). Circula a idéia de que uma atitude gera a outra – a ocitocina, que aumenta a dor, encaminha, por
exemplo, à anestesia, à epidural e, assim, sucessivamente. Critica-se, também, a necessidade do jejum e da posição
as condenando por suas rezas, curanderias e bruxarias. supina (deitada) para parir, bem como o tratamento desrespeitoso por parte da equipe médica, a escuta ininterrupta dos
batimentos cardíacos do feto, a solidão durante o trabalho de parto e a impossibilidade de se caminhar ou de se usar
[...] toda sorte de especialistas de cura, populares e/ou familiares, como benzedeiras, curandeiras e parteiras, foram outros métodos para alívio da dor que não a anestesia peridural (2012, p. 18).
perseguidas, desqualificadas e banidas desta arte, e, com elas, um conjunto significativo de conhecimentos das
próprias mulheres sobre seus próprios corpos, suas dinâmicas, seus produtos. Esse processo é identificado por Yvonne
Knibiheler como uma desestruturação de redes de saberes femininos, saberes estes compartilhados pelas mulheres,
mas que, também, tinham uma rede de especialistas própria, em que a parteira era uma das principais personagens
(TORNQUIST, 2004, p. 73). Vieira (1999) afirma que o processo histórico de medicalização do corpo feminino passa, necessariamente, pela
ideia de que existe uma natureza biológica determinante e dominante da condição feminina. “Daí decorrem ideias sobre a
maternidade, instinto maternal e divisão sexual do trabalho como atributos ‘naturais e essenciais’ à divisão de gênero na
No final do século XIX, na Europa, o médico obstetra começou a ocupar, no imaginário social, o papel do protetor sociedade” (VIEIRA, 1999, p. 68). Para controlar esses instintos, o corpo da mulher poderia ser regulado, ou controlado
da mulher e do bebê, principalmente nas localidades urbanas. No Brasil, a transição dos partos domiciliares para os medicamente, desde a anticoncepção até a esterilização, passando pela gestação e o parto.
hospitalares aconteceu entre o século XIX e o XX. Aqui, as parteiras tradicionais também eram as responsáveis pela
assistência ao parto, e as mulheres que exerciam esse ofício tinham uma posição diferenciada nas suas comunidades, o
que acontece nos dias atuais em comunidades isoladas onde elas ainda atuam, como explicita Tornquist: CESÁREA: NECESSIDADE, ESCOLHA OU INDUÇÃO
A transgressão de papéis femininos que a parteira realiza permite que ela tenha acesso a atividades costumeiramente
masculinas – o mundo da rua, as tarefas de transporte – e sugere uma inversão dos papéis de gênero, na medida em A incidência de cesarianas no Brasil começou a crescer significativamente nos anos 70. “Segundo dados do Inamps,
que mostra a dependência e submissão dos homens aos ditames da parteira e da parturiente. A situação do marido da a proporção de cesáreas no total de partos feitos no sistema público de saúde passou de 15% em 1970 para 31% em 1980
parteira também está relacionada ao prestígio que seu dom confere conforme observa Benedita Pinto, no Tocantins:
“O marido ou companheiro da parteira jamais é apontado pelo nome, mas como marido da parteira, ao contrário das (Perpétuo, Bessa & Fonseca, 1998), e não parou mais de crescer” (MAIA, 2010, p. 38).
outras mulheres, que são indicados como a mulher de João, a mulher de Antonio, a mulher de Zeca” (TORNQUIST,
2004, p. 106). Um argumento apresentado por médicos obstetras é que suas pacientes teriam medo da dor do parto normal, o que
não é comprovado por algumas pesquisas. No trabalho “Opinião de mulheres e médicos brasileiros sobre a preferência
pela via de parto” (Faúndes et al, 2004) – para o qual foram entrevistadas 656 mulheres atendidas pelo SUS, em hospitais
Em alguns países, como na França e na Inglaterra, as obstetrizes (profissionais de nível superior formadas em de São Paulo e Pernambuco, e 147 médicos que atuam nas mesmas instituições; um dos resultados encontrados foi que
obstetrícia ou enfermeiras especializadas em obstetrícia)4 atuam na assistência ao parto (pré-natal e parto normal) e a maioria das mulheres entrevistadas declarou preferir o parto vaginal, principalmente entre aquelas que vivenciaram as
os médicos são chamados em casos em que há complicações. No Brasil esse modelo não foi adotado nos hospitais e duas abordagens (normal e cesárea).
4 O curso de graduação em obstetrícia trata-se de uma formação na área da enfermagem, sinônimo de parteiro diplomado ou parteiro A questão do medo do parto vaginal e da dor durante o parto, que figura prioritariamente na percepção dos médicos, foi
profissional. No Brasil somente a Universidade de São Paulo (USP Leste) oferece essa graduação. A obstetriz é responsável pelo atendimento das expressa excepcionalmente pelas mulheres. As entrevistadas, pelo contrário, manifestaram que a dor após a cesariana
mulheres durante a gestação, o parto e o pós-parto. Realiza o pré-natal, o parto normal e também cuida da mulher no pós-parto. Os profissionais é o principal motivo para preferirem o parto vaginal. Mais ainda, é notável que, entre as mulheres que tiveram tanto a
são preparados para assumir uma posição de coadjuvantes do parto, competentes o suficiente para saber como e quando agir se algo não estiver experiência de parto vaginal como de cesárea, a menor dor foi citada mais frequentemente como motivo para preferir
correndo bem com a mãe ou com o bebê. Disponível em: < http://www.each.usp.br/obstetricia/obstetricia.htm >. Acesso em 12 de jan. 2014.
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a via vaginal do que a cesárea (FAÚNDES et al, 2004, p. 493). Em relação ao excesso de cesarianas, a implantação de políticas públicas para tentar reverter essa tendência
começou em 1998. Em junho daquele ano, o Ministério da Saúde publicou uma portaria (MS/GM nº 2.816)5, que pretendia
limitar o número de cesarianas realizadas em cada hospital, diminuindo a taxa para 30% dos partos até o ano 2000. Não
Há um descompasso entre o que as mulheres e médicos declaram ser as razões de escolha da via de parto. “Os alcançando sucesso na implantação da Portaria, em 2000, foi lançado o Pacto Nacional pela Redução das Taxas de
resultados da presente pesquisa mostram um contraste entre o que os médicos declaram perceber como sendo a opinião Cesárea, pelo qual a atribuição do controle das taxas hospitalares de cesarianas passava aos estados (até 2007, 21 estados
das mulheres, e o que as próprias mulheres manifestaram como suas preferências e os motivos das mesmas” (FAÚNDES haviam aderido ao Pacto6). Ainda em 2000, o então Ministro da Saúde, José Serra, com a portaria n.º 569/GM, instituiu
et al, 2004, p. 493). O problema de comunicação interpessoal com os médicos é um dos fatores que faz com que algumas o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento. O Programa tinha como prioridades: concentrar esforços no
mulheres adeptas ao parto humanizado recorram a profissionais de outras formações para acompanharem seus partos sentido de reduzir as altas taxas de morbimortalidade materna, peri e neonatal no país; adotar medidas que assegurem a
(obstetrizes, enfermeiras). As denúncias de dificuldade de diálogo entre gestantes e médicos também são frequentes em melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto, ao puerpério e
blogs, redes sociais ou manifestações de rua relacionadas à humanização do parto. neonatal; instituir o Sisprenatal (software que permite o acompanhamento adequado das gestantes inseridas no Programa
Além do equívoco quanto à via de parto preferida pelas mulheres, que é majoritariamente a via de Humanização no Pré-Natal e Nascimento, do Sistema Único de Saúde); e mecanismos de incentivo à realização das
vaginal e não a cesárea, como os médicos supunham, houve uma total discrepância entre os atividades7.
motivos que os médicos percebiam como razão para preferir o parto cesáreo e a opinião expressada
pelas mulheres. [...] Os presentes achados permitem concluir que a principal justificativa para o Apesar desses esforços, em 2011, 40% dos partos pelo SUS ainda eram por cesáreas. Em resposta a esse quadro,
aumento na taxa de cesárea, ou seja, o respeito do desejo das mulheres por parte dos médicos, não
o Governo Federal lançou, em 2011, uma nova a estratégia para promover o parto humanizado pelo SUS, chamada
tem sustentação nos fatos. Uma melhor comunicação entre médicos e mulheres grávidas pode
contribuir para a melhora da situação atual (FAÚNDES et al, 2004, p. 488). Rede Cegonha. Os objetivos são muito próximos ao do Programa lançado em 2000: ampliar as ações que vão desde o
planejamento reprodutivo, passando pela atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como assegurar às
crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis, visando à diminuição das taxas
Outro estudo, coordenado por Barbosa et al entre 1998 e 1999, investigou se havia uma cultura de cesárea entre de mortalidade infantil e materna.
mulheres atendidas em duas maternidades na cidade do Rio de Janeiro. A conclusão foi que a maioria das mulheres não Os hospitais que integram a Rede Cegonha recebem recursos para ampliar e qualificar a estrutura de atendimento às
quer e não pede cesárea (75,5%) e entre aquelas que pediram o fizeram durante o trabalho de parto, ou seja, não havia a gestantes e recém-nascidos em centros de parto normal. A equipe do centro deve ser composta por enfermeiros obstétricos,
intensão / desejo inicial de fazer uma cesariana. técnicos em enfermagem e auxiliares de serviços gerais. Com isso, espera-se uma redução ainda mais significativa de
cesáreas no país. Em 2012, segundo dados do Ministério da Saúde, entre os nascimentos assistidos pelos SUS 753.766
(36,8%) foram cesarianas e 1.123.739 (63,2%) foram partos normais.
POLÍTICAS DE SAÚDE DA MULHER
Paralelamente às ações do Governo Federal, tramitam projetos de lei no Congresso Nacional que também visam à
Os aspectos culturais, sociais e políticos que envolvem a saúde da mulher colocam em um patamar próximo implantação do parto humanizado. Como, por exemplo, o projeto de lei 5304/13, que prevê que as parturientes assistidas
questões como a maternidade, o parto, a (anti) concepção, o aborto, a esterilização e as tecnologias de reprodução assistida. pelo SUS sejam acompanhadas por doulas, visando diminuir o tempo de trabalho de parto e medicalização excessiva.
Questões que também sofrem pressões de instituições religiosas, políticas e da corporação médica. Ao menos desde a Outra conquista política recente, na área da atenção ao parto, é o direito de a parturiente ter um acompanhante, como
década de 1960, várias ações coletivas estão sendo realizadas para promover o atendimento à saúde amplo e de qualidade, estabeleceu a Lei Nº 11.108, de abril de 2005. Porém direitos como esse, já assegurados para as parturientes enfrentam
visando à garantia dos direitos sexuais e reprodutivos. Os avanços na área da saúde da mulher, especialmente no que tange desafios estruturais para serem cumpridos. Gestores de intuições de saúde alegam que nem sempre dispõem de estrutura
aos direitos sexuais e reprodutivos e à assistência materno-infantil, foram bandeiras e conquistas importantes do processo física, material e profissional para assegurar o cumprimento da lei.
de redemocratização do estado brasileiro e da consolidação do movimento feminista no país.
Atualmente, as políticas públicas relacionadas à saúde da mulher, em âmbito nacional, são articuladas pela
Secretaria de Políticas da Mulher (SPM), criada em 2003, a qual integra o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
Nela, estão organizadas três linhas principais de ação: (a) Políticas do Trabalho e da Autonomia Econômica das Mulheres;
(b) Enfrentamento à Violência contra as Mulheres; e (c) Programas e Ações nas áreas de Saúde, Educação, Cultura, 5 Portaria n.º 569/GM. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/portarias/port98/GM/GM-2816.htm>. Acesso em 02 de abr. 2014.
6 As cesarianas no Brasil: situação no ano de 2010, tendências e perspectivas (p. 387).
Participação Política, Igualdade de Gênero e Diversidade. 7 Portaria n.º 569/GM disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/PORT2000/GM/
GM-569.htm>. Acesso em: 12 de jan. 2014.
Para que as mudanças necessárias na assistência ao parto sejam implementadas são necessárias alterações PITANGUY, Jacqueline. O movimento nacional e internacional de saúde e direitos reprodutivos. In: GIFFIN, K; COSTA,
S. H. (Orgs.). Questões da saúde reprodutiva. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1999. p. 19-38.
estruturais. Mas, enquanto essas mudanças não ocorrem e diante desse cenário descrito neste artigo, mulheres e
profissionais da saúde que não concordam com a abordagem predominante no Brasil, inclusive no litoral do Paraná, TORNQUIST, C. S. Parto e poder: o movimento pela humanização do parto no Brasil. 2004. Tese (Doutorado em
Antropologia) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.
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VIEIRA, Elisabeth Meloni. A Medicalização do Corpo Feminino. p.67-78. In: GIFFIN, K; COSTA, S. H. (Orgs.). EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS DE GÊNERO E DIVERSIDADE E DESAFIOS PARA O DESENVOL-
Questões da saúde reprodutiva. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1999. VIMENTO DO CENÁRIO ESCOLAR.
RESUMO
O presente artigo visa empreender uma reflexão sobre desafios para o desenvolvimento do ambiente escolar no que tan-
ge às políticas públicas com enfoque de gênero e diversidade sexual. A metodologia é de cunho qualitativo, por meio
de registros de histórias orais com discentes com idade entre 16 a 18 anos matriculados em escolas públicas de ensino
profissional nas modalidades de ensino médio integrado, através de encontros individuais durante seis anos de docência.
Os relatos evidenciam a discriminação, o desrespeito, a violência psicológica e física, a homofobia, a formação de este-
reótipos e a falta de acesso à educação pautada no respeito às questões de gênero e diversidade. Os dados da pesquisa de
campo são confrontados com aportes teóricos e com políticas públicas da área, que vêm sendo implantadas recentemente.
Os resultados reforçam a necessidade de ampliação de tais políticas denunciando a supressão de liberdades de expressão
e descrevendo os sofrimentos causados pela repressão de sentimentos evidenciados no espaço escolar. Argumenta-se com
base nos resultados, que a reprodução de tais preconceitos no cenário escolar configura-se em um desafio ao desenvol-
vimento, conforme pressupostos teóricos propostos por Amartya Sen, que postula o desenvolvimento como uma prática
libertadora. Em síntese, este trabalho demonstra um panorama desafiador, que pode ser extrapolado para a maioria dos
outros espaços escolares, acerca das construções sociais em relação as questões de gênero e diversidade e sua articulação
com políticas públicas, imprescindíveis ao desenvolvimento humano e sustentável.
ABSTRACT
This article aims to undertake a reflection on challenges for the development of the school environment with regard to
public policies with a gender approach and sexual diversity. The methodology is qualitative nature, through records of
oral histories with students aged 16 to 18 enrolled in public schools of vocational education in terms of integrated high
school through individual meetings during six years of teaching. The reports highlight discrimination, disrespect, psy-
chological and physical violence, homophobia, the formation of stereotypes and the lack of access to education based on
respect to issues of gender and diversity. The field survey data are confronted with theoretical contributions and public
policy area that have been implemented recently. The results reinforce the need for expansion of such policies denouncing
the suppression of freedom of expression and describing the sufferings caused by the repression of feelings evident at
school. The argument is based on the results, the reproduction of such prejudice in the school setting sets up a challenge
to development as theoretical framework proposed by Amartya Sen, who posits development as a liberating practice. In
summary, this work demonstrates a challenging panorama, which can be extrapolated to most other school spaces, about
the social constructs regarding gender and diversity issues and its relationship with public policy, essential to human and
sustainable development.
Esta pesquisa destaca como aportes teóricos os estudos do economista Amartya Sen sobre o desenvolvimento Depois de uma aula de Gestão de Pessoas, em que falava sobre a importância do equilíbrio emocional e como
como liberdade, que traz contribuições importantes para análise de políticas públicas brasileiras vigentes que intersec- as nossas emoções interferem no mundo profissional e pessoal, um aluno de 17 anos após o término da aula perguntou se
cionam com a temática de gênero e diversidade em relevo neste estudo, destacando-se: Constituição Federal; Estatuto da podia falar em particular. Para não expor este jovem, seu nome fictício é “X”, conforme agendamos o mesmo compare-
Criança e do Adolescente, Plano Nacional de Educação, Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, Programas: ceu e começou seu diálogo muito emocionado e repleto de lágrimas:
“Brasil Sem Homofobia”, “Escola que Protege”, a “Política Nacional de Saúde Integral para Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais” e “Lei Maria da Penha”.
Professora, você tem que me ajudar...estou desiquilibrado, minha família não conversa comigo, meus
amigos de sala tiram saro de mim, juro para
você, já tentei namorar meninas e não consigo, o meu desejo é por meninos. Eu quero ser pai, eu quero ter
2 NOTAS SOBRE A METODOLOGIA
filhos, o que eu vou fazer? Meus pais jamais vão aceitar tudo isso, eu tenho medo, me ajuda! (abril, 2009).
Este trabalho baseou-se em metodologia qualitativa de estudo com procedimentos da observação participante
e registros de narrativas de história oral, considerando o empírico do ambiente escolar. Foram realizados registros e
observações dos interlocutores envolvidos na pesquisa através de depoimentos orais coletados entre os anos de 2008 a Infelizmente a comunidade escolar atualmente está muito pouco aberta ao diálogo. A família que por questões
2014, com estudantes dos cursos técnicos na modalidade de ensino médio integrado. O perfil dos discentes é variado e culturais e religiosas estabelece padrões que devem ser seguidos, os colegas de sala simplesmente excluem o diferente
manifestam seu ponto de vista sobre diversos temas vivenciados durante a adolescência e vida adulta. Cabe ressaltar que e a educação sexual não é ofertada de maneira digna para que ajude o jovem a definir sem culpa sua orientação sexual.
O que mais impressionou em seu diálogo, além de todos os seus sofrimentos, a sua maior preocupação: não A Constituição Federal do Brasil de 1988, Art. 1º, reconhece como entidade familiar a convivência duradoura,
poder ter poder ter filhos da forma considerada “normal”, entenda-se natural normatizada por construções culturais que pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família, que nos remete a
seriam a união de um homem e uma mulher através do casamento heterossexual e a procriação. necessidade de propor uma nova concepção de família mais ampla do que atual.
O padrão de família propõe papéis hierárquicos bem definidos, seguindo um princípio denominado heteronor- O reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo no Brasil foi declarado possível pelo Supremo
matividade que segundo, Petry e Meyer, (2011), visa regular e normatizar modos de ser e de viver, os desejos corporais Tribunal Federal (STF) em 2011. Os homoafetivos têm os mesmos direitos e deveres que as uniões heteroafetivas que
e a sexualidade de acordo com o que está socialmente estabelecido para as pessoas, numa perspectiva biologicista e envolvem herança, segurança social, visitação na prisão, adoção, pensão, fertilização in vitro e barriga de aluguel.
determinista. Há um anteprojeto para instituir o Estatuto da Diversidade Sexual, proposto pela Comissão de Diversidade
A reflexão que se faz diante da narrativa do estudante é: Por quê predomina na sociedade a premissa de que um Sexual da OAB, instituída desde 2009 em Recife. Visa elaborar um projeto legislativo para incluir a população LGBT
homossexual não pode ter o direito à paternidade? Por quê um casal homoafetivo não pode ser considerado uma família? (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Transgêneros) no âmbito da tutela legal e capacita advogados para um novo
Quais as mudanças sociais necessárias para que todos tenham o real acesso aos direitos e deveres constitucionais? Quais ramo do direito para o reconhecimento da família, assegurando os diversos direitos como: o divórcio, adoção, reprodução
as contribuições e desafios de políticas públicas recentes nesse campo? Como o contexto escolar pode atuar, potenciali- assistida, proteção contra violência doméstica, habitação, no entanto os avanços são lentos no ambiente legislativo.
zando o desenvolvimento humano desses sujeitos? O último Censo (IBGE, 2010), analisou a variável referente à coabitação com parceiro do mesmo sexo, consta-
Ao levantarem-se tais indagações sobre injustiça, preconceitos e a falta de informação, é possível encontrar ecos tando 60.002 brasileiros e brasileiras. O que reflete que existem muitas uniões de pessoas do mesmo sexo e que alguns
nas reflexões de Amartya Sen que propõe o desenvolvimento como uma prática libertadora. Juntamente com Bernardo órgãos oficiais já visualizam este fato, porém outros, particularmente alguns legisladores (vereadores, deputados e sena-
Kliksberg, (2010) em sua obra “As pessoas em primeiro lugar” constituem um verdadeiro manifesto contra as desigual- dores) demoram a avançar na proposição de leis para assegurar, prevenir, proteger, reparar e promover a igualdade entre
dades que afligem um país em desenvolvimento. Tratam de alguns temas-chave do novo século segundo seu pensamento sexos.
econômico inovador, concentrando o foco nas iniquidades que atingem os sistemas de segurança social da maioria dos O segundo caso explorado neste artigo emergiu em 2013, na disciplina de Gestão de Pessoas. Foi conduzida
países. Segundo Sen, a solução passa pela reversão dos mecanismos de perpetuação da pobreza, da ignorância e da vio- uma dinâmica chamada “facebook manual” que seria um alvo de interesse do jovem para trabalhar as competências de
lência – um imperativo ético baseado na dignidade inalienável da pessoa humana. Kliksberg, ao investigar os gargalos uma forma que os mesmos se sentissem à vontade em se expressar: comunicação, raciocínio lógico, criatividade, flexi-
sociais do desenvolvimento da América Latina aborda o problema central da exclusão em suas múltiplas manifestações: bilidade, equilíbrio emocional e liderança. As apresentações foram fantásticas, houve muita troca de aprendizagem com
jovens ao mesmo tempo desempregados e fora da escola, marginalização das populações indígenas e afro-americanas, os discentes e como não poderia ser diferente, relatos impressionantes de opressão de liberdades, merecendo destaque o
violência urbana, e que cabem neste estudo, já que alguns relatos de jovens ouvidos ao longo da pesquisa convergem com discurso de uma aluna de 16 anos:
a exclusão, inclusive escolar, levando ao abandono dos estudos. Para os autores, a visão integral perpassa propostas para
“Vocês não querem fazer trabalho em equipe comigo, vocês têm nojo de mim, só porque namoro meninas.
a imediata redução e, no longo prazo, eliminação das injustiças, causadoras do subdesenvolvimento.
Vocês me excluem, eu sei, eu sinto isso, nas caras que fazem quando eu me aproximo e quando eu falo o
que sinto, eu choro e uso o “facebook” para desabafar”.
Todavia ao analisarmos o cenário brasileiro contemporâneo no que tange as políticas públicas, observa-se que
tais premissas com relação ao respeito às diversidades ainda são consideradas exceção. Particularmente, hoje, em 2015,
vem predominando o discurso reacionário e conservador, que critica iniciativas de minimização das assimetrias de gêne-
Na fala da jovem o que impressiona é a palavra “nojo” fazendo o paralelo com o sinônimo: repulsão. Indaga-se
ro, bem como rechaça, qualquer iniciativa que busque diminuir as desigualdades historicamente colocadas em relação à
como alguns colegas podem sentir isto por um ser humano e voltemos a dignidade humana que vai além da tolerância e
sujeitos não-heterossexuais. Fato curioso é que, num passado não tão distante, tal movimento não estava tão arraigado.
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sim de uma convivência harmoniosa. Richard Miskolci, (2012), explica que algumas pessoas consideram os não hete- reais que as pessoas disfrutam, considerando as liberdades instrumentais: liberdades políticas, facilidade econômica,
rossexuais como seres “abjetos”. “Em termos sociais, “a abjeção”, constitui a experiência de ser temido e recusado com oportunidade social, transparência e segurança protetora. O Brasil é um país em desenvolvimento, portanto, ainda está
repugnância, pois sua própria existência ameaça uma visão homogênea e estável do que é comunidade” (MISKOLCI, em processo de construção e avanço da expansão das liberdades, o que não nos impede de avaliar o atual estado da arte,
2012, p. 24). prosseguindo no que concerne essa questão.
Quando manifestada contra os sujeitos em relevo, configura-se em uma modalidade de violência, denominada Ao refletirmos sobre as narrativas dos dois jovens trazidos neste texto, o primeiro questionamento é em relação
de gênero. A violência de gênero pode se manifestar com ameaças, agressões físicas e psicológicas, constrangimentos, às liberdades políticas no que se refere aos direitos civis. A Constituição Brasileira e o Estatuto da Criança e do Adoles-
abusos sexuais, estupros, assédio moral ou sexual. O crescimento da violência homofóbica no Brasil, conforme dados do cente que tem como direitos fundamentais: 1 - Direito à vida e a saúde; 2 – Direito a liberdade, ao respeito e à dignidade;
Governo Federal, (2012), é assustadora. Em relação à população LGBT, houve um aumento de 166,09%, em grande par- 3 – Direito à convivência familiar e comunitária; não vem garantindo integralmente proteção e direito a vida, uma vez
te acontecendo ao redor do seu lar: vizinhos e familiares. Os tipos de violações mais reportadas são a violência psicoló- que nos deparamos com pesquisas que revelam a morte precoce de jovens negros, violência policial, ataques homofóbicos
gica com 83,20%, sendo humilhações (35,32%), hostilizações (32,27%), ameaças (5,78%) e discriminação com 74,01%. e também o número de homicídios de pessoas LGBT, que aumentou de 11,51% de 2011 para 2012 conforme relatório
sobre violência homofóbica no Brasil do Poder Público Federal. As informações confirmam a existência da intolerância
A homofobia é um fato e o país precisa de leis que eduquem, previnam, punam e tratem os que sofrem dessa ti-
das pessoas e a homofobia materializando-se por meio das confidências relacionadas acima, de forma explícita ou velada.
pologia de violência. O Projeto de Lei da Câmara de Deputados (PLC) 122/2006 com a intenção de criminalizar precon-
ceitos pela orientação sexual e identidade de gênero equiparando com legislação já existente com demais preconceitos O Brasil é em tese Estado laico desde 1890 após a proclamação da república quando Ruy Barbosa estabelece por
não avançou. Em 2012, Marta Suplicy, Senadora Federal tentou um acordo com as entidades religiosas que se opõem decreto a separação da Igreja e do Estado. Interesses religiosos não podem sobrepor os demais direitos dos cidadãos deste
ao projeto e modificou o texto da seguinte forma: “não se aplica à manifestação pacífica de pensamento decorrente da país e interferir em espaços públicos como o ambiente escolar. No entanto, ficou garantido o direito ao culto religioso.
fé e da moral fundada na liberdade de consciência, de crença e de religião.” No entanto, o novo texto foi reprovado por O que deve ficar nítido é que a escola não pode influenciar na decisão de culto religioso do discente e ao mesmo tempo
defensores dos direitos LGBT por considerarem a alteração desfocada do objetivo original da lei, a criminalização do não pode interferir em suas crenças no espaço escolar. Todavia, deve respeitá-las, como pressuposto da liberdade de cada
preconceito. O projeto prosseguiu para a Comissão de Direitos Humanos e foi arquivado em janeiro de 2015. sujeito.
As estatísticas e o relato oral são fundamentais para dar visibilidade às violações de direitos humanos cometi- Porém, na esteira do debate em torno da laicidade do Estado, chama a atenção no cenário político atual, o fato
das contra populações homossexuais e, assim, promover a construção de políticas públicas que alterem essa realidade. que o legislativo brasileiro é o mais conservador desde 1964, composto por militares, ruralistas, policiais e religiosos fun-
Porém, percebe-se que os agressores não são punidos e ainda existem projetos no legislativo como o chamado “Cura damentalistas. Parlamentares religiosos fundamentalistas tendem a ser conservadores e com construções sociais focadas
Gay”, que propunha a suspensão da validade de dois artigos de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia em na religião. Querem legislar interferindo em políticas igualitárias já conquistadas pela população LGBT, sob a égide da
vigor desde 1999, que proíbem a terapia para alterar a orientação sexual e a não ação coercitiva considerando que a ho- bíblia e dos dogmas de suas crenças.
mossexualidade não é uma doença. O projeto foi arquivado diante a polêmica e as manifestações do movimento LGBT.
A preocupação se faz presente pela mistura e confusão do culto religioso com o estado laico. As convicções reli-
Para docentes observadores é muito claro como os grupos excluem os chamados “diferentes”: homossexuais, giosas não podem contribuir para a estagnação do progresso de novas leis e programas que visem a igualdade de gênero
transexuais, lésbicas, negros, pobres, gordos, deficientes físicos, indígenas e nordestinos nos trabalhos em equipe. e diversidade partindo apenas da lente cultural religiosa de seus dogmas. Tais grupos religiosos devem ser co-responsa-
bilizados pelos ataques homofóbicos que fomentam, uma vez que impedem seu processo de criminalização.
Portanto, cabe ao docente privilegiar formação de grupos de forma criteriosa a evitar recusas de integrantes pela
intolerância e privilegiar a inclusão e o respeito às diferenças. “A intolerância é a atitude que reponde pela vontade de Seguindo os pressupostos de Sen, indaga-se: Como é possível existir desenvolvimento em um país que exclui,
eliminar o outro, ou é a própria negação da existência do outro, que é diferente”. (ITANI, 1998, p. 128). A intolerância que ignora, que discrimina, que violenta, que não protege as vítimas e que não pune os agressores? Qual o futuro das
constitui modalidade de violência e também se configura em aspecto observado por Amartya Sen, que defende que o próximas gerações de vítimas? Será que sofrerão dos mesmos problemas?
desenvolvimento passa pela reversão dos mecanismos de perpetuação da pobreza, ignorância e violência.
MINAYO, Maria Cecília de Souza, Org.; DESLANDES, Suely Ferreira; NETO, Otavio Cruz; GOMES, Romeu. Pes- Daniele Schneider1; Marcos Claudio Signorelli2
quisa Social. 21ª Edição, Editora Vozes, 2002.
MISKOLCI, Richard; JUNIOR, Jorge Leite. Diferenças na educação: outros aprendizados. São Carlos: EdUFSCar, RESUMO
2014. 253p.
O estudo sobre mulheres que atuam na segurança pública é recente, sendo escassas articulações entre trabalho, questões
PEDRO, Joana M. Traduzindo o debate: o uso da categoria de gênero na pesquisa histórica. História, São Paulo, v. de gênero, exposições às violências e saúde dessas mulheres, particularmente em recortes geográficos delimitados,
24, n. 1, p. 77-98, 2005. que tenham como foco a dinâmica própria do território. Tradicionalmente a segurança pública é vista como espaço de
trabalho e poder masculino e as mulheres desta categoria desafiam tal norma, lutando para provar sua competência neste
PETRY, Analídia Rodolpho; MEYER, DAGMAR Elisabeth Estermann. Transexualidade e heteronormatividade,
âmbito profissional. O estudo objetivou cartografar o cotidiano das mulheres trabalhadoras da área de segurança pública,
Porto Alegre, 2011.
articulando questões de gênero e exposições às violência(s) com o processo saúde-doença, tendo como recorte territorial
RELATÓRIO SOBRE VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA NO BRASIL: ANO DE 2012. Secretaria de Direitos Humanos. o Litoral Paranaense. A metodologia foi qualitativa, por meio de pesquisa etnográfica com 50 mulheres (policiais civis
<http://www.sdh.gov.br>. Acesso em: 30/06/2015. e militares, guardas municipais e agentes penitenciárias), realizada nos municípios de Guaratuba, Matinhos e Pontal do
Paraná, no período entre Março/2014 e Março/2015. A análise dos resultados revelou: 1) desafios a que tais mulheres estão
SEN, Amaryta Kumar. Desenvolvimento como liberdade. Companhia das Letras, São Paulo, Companhia das Letras, submetidas, frente à dinâmica sazonal no campo da segurança pública do Litoral Paranaense; 2) exposição às violências
2000, 172p. (principalmente institucional e de gênero) e repercussões à saúde dessas mulheres, que impactam no desenvolvimento
humano; 3) relações de poder, marcadas pela assimetria de gênero entre profissionais homens e mulheres, sinalizando
SEN, Amartya; KILKSBERG, Bernando. As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas a necessidade de elaboração e implementação de políticas públicas específicas para mulheres atuantes em segurança
do mundo globalizado. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, 404 p. pública. Em síntese, este trabalho evidenciou a necessidade de dar vozes às profissionais femininas nas instituições de
segurança pública, fazendo-se necessário estudar o cotidiano dessas mulheres, considerando o impacto da violência em
SCOTT, J. Gender: a useful category of historical analysis. Am Hist Rev 1986; 91:1053-75. suas vidas, as resistências e as adaptações provocadas nas instituições em resposta à presença delas em um ambiente
considerado tradicionalmente masculino.
Sexualidade/Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Diversidades. Núcleo
Palavras chaves: Mulheres; Segurança Pública; Gênero; Violência.
de Gênero e Diversidade Sexual. – Curitiba: SEED, PR, 2009. 216 p.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Supremo reconhece união homoafetiva. <http://www.stf.jus.br/portal>. Acesso ABSTRACT
em: 19/06/2015.
SUPLICY, MARTA. PLC- 122/06. <http://www12.senado.leg.br> Acesso em 30/06/2015. The study of women who work in public safety is recent and scarce links between work, gender, exposure to violence
and health of these women, particularly in delimited geographical clippings that focus on the dynamics of the territory.
Traditionally public safety is seen as workspace and male power and women in this category defy that rule, fighting to
prove their ability in this professional field. The study aimed to map the daily lives of working women of public safety,
articulating gender issues and exposure to violence (s) with the health-disease process, whose territorial clipping the
Litoral Paranaense. The methodology was qualitative, through ethnographic research with 50 women (civil and military
police, municipal guards and prison officers), held in the cities of Guaratuba, Matinhos and Pontal do Paraná, in the period
between March/2014 and March/2015. The results revealed: 1) the challenges that these women are submitted, opposite
the seasonal dynamics in the field of public safety Litoral Paranaense; 2) exposure to violence (mainly institutional and
gender) and repercussions on the health of these women, that impact on human development; 3) power relations, marked
by gender asymmetry between professional men and women, signaling the need for designing and implementing specific
public policy for working women in public safety. In summary, this study highlighted the need to give voice to women
professionals in public security institutions, making it necessary to study the daily lives of these women, considering
the impact of violence in their lives, resistances and adaptations caused the institutions in response to their presence in a
traditionally male environment considered.
Key words: Women; Public safety; Gender; Violence.
METODOLOGIA RESULTADOS/DISCUSSÕES
Este estudo baseou-se em metodologia qualitativa, por meio de aproximação etnográfica, segundo Clifford Geert
(1973), com objetivo de compreender a dinâmica territorial, cartografando o cotidiano de 50 mulheres trabalhadoras da
1) CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO
área de segurança pública, sendo elas: policiais militares, policiais civis, guardas municipais e agentes penitenciárias,
O território é um elo pelo qual espaço e sociedade se relacionam, constituindo-se em relações espaciais socialmente
articulando questões de gênero e exposições às violências com o processo saúde-doença, tendo como recorte territorial
construídas, onde sua concepção como parte do espaço apropriado em uma manifestação de poder, onde os interesses
o Litoral Paranaense. Delimitou-se apenas as mulheres que atuam nos municípios de Guaratuba, Matinhos e Pontal do
políticos e culturais acabam atuando como fatores limitantes. Neste estudo, é relevante considerar o conceito de território
Paraná, que possuem características balneárias, buscando entender as particularidades desse território e sua influência
de acordo com alguns autores, como Saquet (2013), que apresenta uma abordagem política, econômica e cultural para
no cotidiano das profissionais
território, resultando das relações de poder produzidas por determinado grupo social, ressaltando a abordagem na natureza
Optou-se por se definir o número de sujeitas por inclusão progressiva, sem demarcar a priori o número de
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como parte do território. força física são amplamente difundidos, pensar em mulheres compondo a área de segurança pública era algo improvável
O Litoral Paranaense é uma das regiões menos desenvolvidas do Paraná, analisando-se indicadores socioeconômicos e não aceito pela sociedade até pouco tempo atrás. No relato de outra interlocutora, evidencia-se esta inferioridade:
e de saúde (SIGNORELLI, 2011). Os municípios de característica balneárias, como Guaratuba (aproximadamente 34.000
“...existe muita desigualdade entre homens e mulheres na segurança pública, as vagas são
habitantes), Matinhos (32.000) e Pontal do Paraná (23.000), são territórios peculiares, de contrastes profundos, onde a
limitadas para entrada de mulheres, não acho justo. A carreira da segurança pública é desvantajosa
sazonalidade influencia diretamente o modo de vida dos habitantes locais, uma vez que durante o verão sua população é para as mulheres, pois no Brasil, a polícia é violenta e repressiva, exigindo um comportamento
multiplicada por 10. agressivo, e neste ponto a mulher está em desvantagem física e emocional. Quem entra nessa
No quesito segurança pública, a dinâmica é bastante diversificada, uma vez que na época de temporada de verão, profissão acaba perdendo seu lado frágil, pois a realidade violenta afeta a maneira de ser. ...
(Profissional Letícia)
a segurança é reforçada, pois a quantidade de habitantes decuplica. Polícias civis e militares, oriundas dos diversos
municípios Paranaenses se deslocam ao Litoral para reforçarem a segurança local, totalizando num efetivo de cerca de 3
Na polícia militar e sua organização, que têm como princípios norteadores a hierarquia e a disciplina, ou seja, o
mil policiais e bombeiros na temporada de 2014.
poder, com base na obediência às ordens estabelecidas, observa-se esta diferenciação, pois o poder está no fato de que
Conforme relatório da Operação Verão da Polícia Militar do Paraná, no primeiro mês da Operação Verão 2014/15,
alguns indivíduos podem mais outros menos. Entretanto, não de uma forma repressiva, usando força física, mas pelos
foram prestados atendimentos a 21 locais de morte, 11 casos de estupros, 589 situações de furto (simples e qualificado)
atributos de dominação, o denominado poder simbólico (FOCAULT, 2003).
e 125 casos de roubo. As ações também resultaram na apreensão de 34 armas de fogo, 12,1 Kg de maconha, 2,52 Kg de
cocaína, 5,268 Kg de crack, 71 unidades de ecstasy, 72 unidades de LSD e 15 frascos de lança-perfume. “...as mulheres na segurança pública em cargos de oficialato são a minoria, uma Coronel teve que
entrar na justiça para conseguir sua promoção, que era de direito, um absurdo, muito preconceito...”
“...as mulheres muitas vezes desempenham melhor as funções de comando, mas acho que não
são muito respeitadas. Quando é homem no poder a tropa obedece muito mais...”(Profissional
GÊNERO, PODER E SEGURANÇA PÚBLICA Andréia).
Diversos estudos de gênero vêm sendo produzidos nos últimos anos, promovendo reflexões sobre as relações
que se estabelecem entre homens e mulheres, entre as mulheres e entre os homens (Scott, 1996; Louro, 2000; Saffioti, Para Bourdieu (1998), o poder simbólico é esse poder invisível que só pode ser exercido com a cumplicidade
2005; Butler, 2008). daqueles que estão sujeitos a esse poder ou mesmo daqueles que o exercem. O autor se concentra nas situações em que
Pedro (2005) dialoga com os movimentos sociais, buscando apresentar um panorama de como as categorias de esse poder é normalmente ignorado, fato que nos permite intuir que esse poder é plenamente reconhecido pelos agentes
análise como “mulher”, “mulheres”, “gênero” e “sexo” têm sido constituídas. Nos relatos a seguir, coletados durante envolvidos.
esta pesquisa de campo, observa-se esta influência das desigualdades de gênero no cotidiano das mulheres da segurança Para Focault (2003), o poder configura-se como um lugar estratégico na sociedade, um tipo particular de relação
pública: que influencia e modifica a conduta dos indivíduos, o que contribui para que as relações de poder sejam complexas e
produtoras de outros poderes.
“...o gênero influencia diretamente no trabalho, na relação entre homens e mulheres, porque
a mulher tem que provar que é competente, tem que se impor senão acaba na faxina ou no
administrativo. Tem colega masculino de serviço que é preconceituoso, não trabalha com “...o poder é muito marcante em nossa área de trabalho, a cadeia hierárquica é complicada, não
mulher, porque tem medo, agora se a mulher for gay aí é diferente, é tratada como um deles. podemos pular cadeia de comando, senão o bicho pega, é punição na certa, sofremos assédio
Já o homem homossexual é ao contrário, é mal visto, sofre mais preconceito ainda... então é moral, e as vezes até sexual. Temos que seguir à risca as ordens, com disciplina, temos que
meio complicada essa relação entre homens e mulheres no meio profissional...” (Profissional prestar continência aos superiores senão somos punidas, então eu percebo que a sensação de
Caroline). poder vai mudando o ser humano, a sede de poder transforma a pessoa, geralmente parte para
coisas negativas...” (Profissional Janaína).
O relato evidencia a valência negativa a tudo que é relacionado ao feminino. Na segurança pública, mulheres No cotidiano laboral das profissionais, constatou-se que apesar da abertura para o trabalho, as mulheres
heterossexuais e homens homossexuais são menosprezados, enquanto mulheres homossexuais são tratadas de maneira representam ainda a minoria nas instituições de segurança pública, observado na fala de uma das atoras:
diferenciada, já que são associadas a masculinidade. Conforme SAFIOTTI (2005) a hierarquia entre homens e
mulheres é trazida ao debate, fazendo face à abordagem funcionalista, que, embora enxergasse as discriminações “...as mulheres são minoria, comparada aos homens, até pouco tempo atrás nós mulheres éramos
perpetradas contra as mulheres, situava seus papéis domésticos e públicos no mesmo nível, atribuindo-lhes igual proibidas de dirigir viaturas, era muito machismo, não havia justificativa, apenas era dada a
ordem, até não concordávamos, mas por causa da hierarquia tínhamos que obedecer, senão
potencial explicativo.
ocorria punição e até assédio moral...” “... Muitas vezes somos tratadas como vagabundas pela
De certo modo, em uma instituição composta majoritariamente por homens, na qual os padrões de virilidade e tropa e principalmente pelas esposas dos policias masculinos, que por ciúmes, não permitem que
ABSTRACT
The Primary Care is the main access to the services of the Unified Health System (SUS) in Brazil, however there
are many challenges to the implementation of the National Policy for Integral Attention to Men’s Health (PNAISH).
Aiming to contribute to the theme, the central question that guides this paper is to examine the inclusion of men in health
programs in Matinhos, PR, during these years 2011 and 2012. Data collection was carried out through analysis of annual
report data Health Management and semi-structured interviews. The results indicate that in addition to historical barriers
of gender and the interest of men for specific policy in Matinhos this portion of the population lacks the necessary access
to primary care actions.
Muitas doenças poderiam ser evitadas, se a população masculina, realizasse com frequência, as medidas de No primeiro item de Atenção a Saúde do Idoso, a meta programada em 2011 foi vacinar 1858 pessoas acima de
prevenção primária. Se os homens resistem na utilização da atenção primária, aumenta não somente os gastos financeiros 60 anos contra a gripe influenza e 2978 foram vacinados. O número de pessoas imunizadas foi acima do esperado, a
da sociedade, mas também, o sofrimento tanto físico quanto emocional do enfermo, de sua família, de seus amigos, na justificativa para tal número, como expõe o relatório é que no período de inverno aumenta a população idosa no litoral do
luta pela conservação da saúde e da qualidade de vida do paciente (BRASIL, 2009). Paraná. Em 2012 a meta era a mesma, só aumentou o número de pessoas que foi de 3553, sendo imunizados 3211 idosos.
Na Atenção de Saúde da Criança, em 2011 a intenção era vacinar 371 crianças menores de 01 ano contra a poliomielite. A
Bahia (2006) alerta que decorridos 15 anos que o SUS foi criado e instituído pela Constituição Federal ele
meta foi cumprida e 434 crianças foram vacinadas. No ano de 2012 o propósito era o mesmo, o que diferencia é o número
está longe de ser executável, as condições em que o sistema único de saúde encontra-se são muito diferentes daquelas
de crianças que foi de 412, desse número foram vacinadas 83 crianças a mais.
preconizadas no SUS constitucional. Isto é, o SUS real, distancia-se do SUS constitucional. O SUS possui problemas que
Na Atenção de Saúde do Adolescente, nos dois anos não foi realizada nenhuma ação específica para este grupo.
dificultam e repelem a população masculina dos serviços de Atenção Primária à Saúde (CAMPANUCCI, 2011).
Mas foram realizadas algumas atividades em educação em saúde em escolas, como com atividades, palestras, orientações
O acesso preferencial de entrada para o SUS são as Unidades Básicas de Saúde (UBS), conhecidas popularmente
sobre a saúde bucal realizadas pelas Equipes de Saúde da Família.
1 UFMS (claudiatorres_591@hotmail.com)
2 UFMS (neiva.ivi@hotmail.com)
3 UFMS (paulo.schotten@ufms.br)
4 UFMS/UNIOESTE (admsantolini@hotmail.com)
5 UNINOVE/UFMS (sofachin@yahoo.com.br)
2. POLÍTICAS PÚBLICAS Toda sociedade sofre impactos relacionados à idade, religião, sexo, renda, escolaridade, trabalho, etc., ou seja,
é envolvida mais de uma decisão, necessitando de diversas ações estratégicas para programar as decisões já tomadas.
O conceito de políticas públicas esta embasado nos autores: Teixeira (2002), Farah (2004) e Santos (2006).
Nesse artigo observaram-se as considerações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, fundação pública Ressaltando que no interior do próprio sistema político surgem às demandas, podendo ser reivindicações de
vinculada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o IPEA fornece suporte técnico e institucional às ações estradas, saúde, educação, previdência etc. Existem três tipos de demandas, as novas que são novos problemas como diz
governamentais - possibilitando a formulação de inúmeras políticas públicas e de programas de desenvolvimento brasi- o nome, ou seja, problemas que não existiam antes. As decorrentes que são os problemas mal resolvidos ou não resolvi-
leiro - e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus técnicos. dos. E as reprimidas que são as constituídas por não decisões.
As políticas públicas são instituídas pelo Estado (nível federal, estadual e municipal), com objetivo de atendi- Também possuem um papel importante às mídias transmitindo as situações pela televisão, jornal, internet, mo-
mento das necessidades populacionais da sociedade civil. Ressaltando que também podem contar com iniciativas pri- bilizando os agentes de demandas públicas, chamando atenção da população para diversos problemas no mundo inteiro.
vadas mediante suas necessidades.
Lembrando que estes programas envolvem mais do que educação, habitação, saúde, saneamento e previdência,
“Políticas públicas são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimen-
tos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado”. vários fatores interferem para o sucesso destas concepções. Enfatizando que se movimentam a partir do Estado (tribu-
(TEIXEIRA, 2002) nais, legislativo, instituições permanentes) e do governo (políticas, técnicas, projetos e programas que partem da socie-
dade). E as conhecidas políticas públicas são os projetos voltados para a sociedade com objetivo de melhorar algumas
de suas precariedades, visando à diminuição das desigualdades, redistribuição de benefícios e educação. A sociedade
Ainda segundo Teixeira (2002), são políticas explicativas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, necessita destes projetos políticos para resolver seus problemas.
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Ressalta Santos (2006), que uma organização pública forma-se por diversas razões e interesses, porque é di- E ainda segundo Farah (2004), desde os anos 80, sob o impacto da democratização e da luta de movimentos so-
rigida para atender às necessidades da população. Ela permite aos seus dirigentes desenvolver projetos, realizar ativi- ciais organizados em torno de questões concernentes às mulheres e de movimentos que assumiam abertamente o ideário
dades, superar obstáculos, controlar seu ambiente, por meio da de tarefas, da coordenação de esforços, da unidade de feminista no Brasil, vem ocorrendo um processo gradual de incorporação da problemática das desigualdades de gênero.
direção e do uso inteligente dos recursos. A organização pública pode, assim, fazer mais do que um governo sozinho A partir da Constituição Federal de 1988, houve um aumento na importância dos governos municipais e a redução das
faria. desigualdades de gênero passou a fazer parte da agenda desses governos.
As ações vindas do Estado são resultados de movimentos, lutas, contradições e como qualquer solicitação esta E é nesta realidade que se revela a necessidade da mulher em busca de seus direitos, de ser vista com respeito e
sujeita a mudanças que surgem efeitos diferentes do esperado sofrendo efeitos das relações sociais de poder. Interes- não apenas como um sexo frágil, de além de ser dona de casa também ser empreendedora.
sante ressaltar que não é porque existem a reivindicações que elas serão atendidas, elas tem que chamar atenção das
três esferas e serem reconhecidas.
2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS MUNICIPAIS EM NOVA ANDRADINA – MS.
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHER Para este estudo usamos recorte temporal de 2006 a 2014. Capturando as ações desenvolvidas pela Secretaria
Executiva de Políticas para a Mulher de Nova Andradina, com entrevistas, atas, reportagens, leis e decretos municipais.
A discussão sobre as políticas públicas para a mulher passou a existir em 1975, na primeira Conferência Mun-
dial de Mulheres realizada no México. A definição de políticas públicas para mulheres está embasada nos autores: Fa- O município de Nova Andradina está localizado a 300 quilômetros da capital do Estado de Mato Grosso do
rah (2004) e Sarti (1988). As políticas públicas voltadas às mulheres se iniciaram por mobilizações femininas em busca Sul, Campo Grande, foi oficializado município em 1959. É conhecida como a “Capital do Vale do Ivinhema”, sua popu-
de seus direitos, sendo que por parte dos governos as políticas públicas femininas estão em fase de construção, ainda lação possui a estimativa de 45.585 habitantes, sendo a sétima maior cidade de Mato Grosso do Sul com a nona coloca-
são poucas as participações das mulheres em cargos fundamentais no poder. ção no PIB do Estado, estimado como principal centro urbano e econômico da região sudeste.
Conceituando sobre o assunto Sarti (1988), salienta que desde o início da década de 1960, os grupos de mu- Ressaltando que no mesmo município foi criado no dia 01 de janeiro de 2013 a Secretaria Executiva de Políti-
lheres atuavam junto a associações de bairros pobres, como os clubes de mães ou as associações de donas-de-casa, cas para a mulher, possuindo o objetivo de promover no município políticas públicas que busquem a equidade de gêne-
ligadas, em sua maioria, à Igreja Católica. Eram grupos de convivência onde as participantes desenvolviam trabalhos ro, acabando com todas as violências contra a mulher e trabalhando para sua emancipação financeira com uma partici-
manuais (tricô, bordado, crochê, etc.) ou atividades religiosas, como o catecismo. pação ativa nos setores econômicos da sociedade.
Nas últimas décadas as mulheres vêm assumindo papéis relevantes trabalhando fora de casa, estudando, sendo Sendo que tudo começou em 2005 com a Coordenadoria da mulher, localizada junto a Secretaria Municipal de
representantes em cargos públicos como nossa presidente Dilma demonstrando que às mulheres podem estar em qual- Cidadania e Assistência Social (SEMCIAS), respeitando as orientações da Secretaria Especial de Políticas para as mu-
quer lugar da sociedade. E a constituição já trazia este assunto como pauta. lheres da Previdência da República, a lei 491, artigo 2°, que prevê que a Coordenadoria Especial da mulher será vincu-
lada ao gabinete do Executivo Municipal. Através de projetos e parcerias com o Governo Federal foi criado espaço para
Conforme consta a constituição brasileira, promulgada em 1988 que afirma no capitulo I – Dos Direitos e
a atual secretaria. Em 15 de dezembro de 2006 foi implantado o Centro de Atendimento a Mulher (CAM).
Deveres Individuais e Coletivos, artigo 5°, parágrafo 1°, que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações e
garante a todo o tratamento igual perante a lei. O Brasil também é signatário de, praticamente, todos os tratados e con- A equipe multiprofissional da secretaria é comandada por uma assistente social e conta com uma psicóloga,
venções Internacionais de proteção aos Direitos Humanos das Mulheres. pedagogas, assessoras governamentais, motorista e auxiliar administrativo.
Fato que, apesar de todas as lutas pela igualdade de gênero, ainda existe dificuldade em ser colocado em práti-
ca, enfatizando ainda que os avanços são visíveis e constantes. Campanhas são realizadas procurando sempre acompa- Quadro 1: Ações desenvolvidas pela Secretaria Executiva de Políticas para a Mulher de Nova Andradina - MS
Conselho da Mulher Foi criado pela lei n° 701 de 19 de março de 2008 que tratam dos
nhar a igualdade dos direitos das mulheres. balanços das ações desenvolvidas e delimitam projetos para o for-
talecimento no atendimento às mulheres.
As reivindicações das mulheres, que inicialmente estavam relacionadas à moradia, saneamento básico,
transporte e custo de vida, passaram a envolver questões específicas da condição de mulher: desigual- Casa da Cultura Criada junto à coordenadoria da mulher em 2006 para dar apoio às
mulheres artesãs visando a alcançarem uma verdadeira autonomia.
dade salarial, direito a creches, saúde da mulher, sexualidade, contracepção e violência contra a mulher.
(FARAH, 2004) Elas expõem seus trabalhos para ter uma maior visibilidade e ter
onde vender e não pagam nada por isso só lucram isso com apoio
público municipal.
A expositora Lucilene, 48 anos, iniciou suas atividades em janeiro de 2014, servindo tapioca, crepes, pão de
queijo no palito e outros. Abriu seu próprio negócio para ter independência financeira e complementar a renda familiar. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois de se instalar em um ponto comercial fixo com mais conforto e estabilidade, está satisfeita com seu empreendi-
Em resposta ao nosso problema de pesquisa que visava identificar quais são as ações que o governo municipal
mento. Possuem quatro funcionários de segunda a sexta feira e seis de sábado e domingo em um local de fluxo intenso
de Nova Andradina está executando em relação à política pública para a mulher, identificou-se que o município através
de clientes demonstrando que o estabelecimento está cada dia possuindo mais êxito.
da Secretaria Executiva de Políticas para a Mulher programou conforme relacionado anteriormente no texto um con-
A feira é de suma importância, pois além de gerar renda para estas mulheres, ainda produz geração de renda a junto de ações em prol da política pública da mulher, porém a feira “Mulheres de Atitude” é a que conquistou maior
terceiros, como funcionários e familiares que não possuíam trabalho fixo. Colaborando para uma vida digna e confortá- visibilidade.
vel com estabilidade financeira.
Políticas públicas são de extrema importância para o crescimento da sociedade onde o papel dos gestores pú-
blicos na busca pelos direitos da população é de grande relevância. A cidade de Nova Andradina está sendo destaque
3. ANÁLISES DO RESULTADO no estado possuindo uma secretaria executiva de políticas para a mulher, buscando o fim da violência contra a mulher,
Foi verificado com este artigo que a política pública para as mulheres é de fundamental importância para a so- crescimento profissional das mesmas, a equidade de gênero, associados ao despertar para o empreendedorismo.
ciedade brasileira, pois ela engloba uma grande parte da população que vive em situação de vulnerabilidade, tanto psi-
Segundo os gestores públicos municipais o que tem impulsionado a participação destas mulheres é a necessi-
cológica, financeira e moral perante a sociedade ajudando assim a essas pessoas a terem uma melhor dignidade diante
dade delas proverem seus lares, pois é muito comum em nossa sociedade a mulher ser a chefe da casa. Damos grande
da sociedade em que vivem.
ênfase às políticas públicas para as mulheres, pois as mesmas sofrem vários preconceitos e discriminações por questões
Salientando ainda que a política pública para a mulher que é o fator de relevância deste artigo, com ênfase no de gênero, não usufruindo de seus direitos constitucionais.
município de Nova Andradina, está sendo pioneiro e merece destaque pelas ações desenvolvidas desde a criação da
Cidadãos ativos são aqueles que exercem esses direitos para melhorar a qualidade de sua vida política ou cívi-
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ca por meio de sua participação na vida econômica e política ou ainda na realização de ações coletivas ou organizadas. REDES SOCIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: UMA EXPERIÊNCIA
(KANAANE; FILHO; FERREIRA, 2010). INTERSETORIAL NO MUNICÍPIO DE PARANAGUÁ/PR
Enfim, este relato de experiência não teve como propósito analisar as causas das políticas públicas voltadas às
Marcos Claudio Signorelli1; Luciana Vieira Castilho Weinert2
mulheres, mas sim identificar e demonstrar sua importância como processo de aceleração e melhoramento da qualidade
RESUMO
de vida. As ações desenvolvidas em Nova Andradina demonstram resultados das políticas públicas para mulheres Este trabalho objetiva apresentar e refletir sobre uma experiência desenvolvida no município de Paranaguá/PR, que teve
que buscam defender interesses com precisão e velocidade frente à sociedade, adotando uma postura de forma ativa como escopo o fortalecimento das redes sociais e políticas públicas para pessoas com deficiência (PcD), desenvolvida
mostrando-se motivadoras e transformadoras frente às estratégias de gestão pública municipal. por meio de parceria interinstitucional entre Ministério da Saúde, Universidade e Prefeitura. Trata-se do Programa de
Educação pelo Trabalho na Saúde (PET Saúde) - Redes de Atenção às PcD, uma política fomentada pelo Ministério da
Saúde, que tem como objetivo principal viabilizar a interação no mundo do trabalho do Sistema Único de Saúde (SUS)
REFERÊNCIAS entre acadêmicos, docentes, comunidade e profissionais atuantes no SUS. A metodologia de trabalho envolveu aspectos
quali e quantitativos, baseados na metodologia da pesquisa-ação, que vem sendo desenvolvidos desde março de 2013
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro
até o presente momento (agosto/2015). As ações foram planejadas e executadas seguindo a articulação intersetorial entre
Gráfico, 1988.
três eixos, vinculados às três secretarias municipais: de saúde, de educação e de assistência social. Como resultados,
FARAH, Marta Ferreira dos Santos. Políticas Públicas e gênero. In: GODINHO, Tatau; SILVEIRA, Maria Lúcia da destacou-se: 1) o mapeamento da rede vigente de atenção às PcD no âmbito da saúde, educação e assistência social, no
(Org.). Políticas Públicas e igualdade de gênero. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. que tange aos atores sociais, incluindo a) os próprios sujeitos com deficiência (cadastro e interfaces com a rede) e b) os
profissionais (percepções e atuação junto às PcD) e também c) equipamentos (acessibilidade e interfaces com as PcD); 2)
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema IBGE de Recuperação Eletrônica (SIDRA). Disponí- a partir da etapa de mapeamento, o fomento à Política Nacional de Saúde da PcD, por meio principalmente de estratégias
vel em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=500620&search= mato-grosso-do-sul|nova de a) capacitação de recursos humanos, b) prevenção de deficiências e c) organização e funcionamento dos serviços para
-andradina|infograficos:-dados-gerais-do-municipio>. Acesso em agosto de 2014. atender as PcD; 3) o Projeto PET Saúde como um agente interdisciplinar potencializador da formação de estudantes na
área da saúde e também de formação permanente de profissionais atuantes no SUS. Em síntese, a experiência vem sendo
KANAANE, Roberto; FILHO, Alécio Fiel; FERREIRA, Maria das Graças. Gestão Pública: planejamento, processos,
capaz de articular diferentes atores e setores em torno da rede de atenção às PcD.
sistemas de informação e pessoas. São Paulo: Editora Atlas, 2010.
Palavras-chave: Pessoas com Deficiência; Rede Social; Políticas Públicas; Ação Intersetorial.
MUNICIPIO DE NOVA ANDRADINA MS. Histórico do município. Disponível em: <http://www.pmna.ms.gov.br/
historia>Acesso em agosto de 2014. ABSTRACT
This paper aims to present and reflect about an experience developed in the city of Paranaguá/PR, which objectives were
SANTOS, Clezio Saldanha. Introdução à Gestão Pública. São Paulo: Editora Saraiva 2006.
to strength social networks and public policies for persons with disabilities (PWDS), developed through inter-institutional
SARTI, Cynthia. Feminismo no Brasil: uma trajetória particular. Cadernos de pesquisa. São Paulo, N. 34, p. 38-47, partnership between the Brazilian Ministry of Health, University and City Hall. This is the Program of Education by
1988. Working in Health (PET Health) - Health Care Networks to PWDS, a policy promoted by the Ministry of Health. It aims
to promote interactions in the world of work within the Brazilian Unified Public Health System (SUS) between academics,
TEIXEIRA, Elenaldo Celso. O Papel das Políticas Públicas no Desenvolvimento Local e na Transformação da Rea- students, community and health professionals working at the SUS. The methodology involved qualitative and quantitative
lidade. 2002, AATR-BA. aspects, based on the methodology of action research, which has been developed since March/2013 until nowadays
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. Guia para elaboração de Referências de acordo com NBR (August/2015). The actions were planned and executed following the intersectoral coordination between three axes,
6023/2002. Disponível em: linked to three municipal departments: health, education and social assistance. As result, we highlight: 1) the mapping
of the current care network for PWDS in health, education and social assistance, with respect to social actors, including
<http://www.bco.ufscar.br/servicos/arquivos/guia-para-elaboracao-de-referencias2012>. Acesso em outubro de 2014. a) the PWDS (records and interfaces with the network), b) professionals (perceptions and action with the PWDS) and
also c) equipment (access and interfaces with PWDS); 2) based on the mapping stage, we conducted the promotion of
National Health Policy for PWDS, mainly through strategies a) training of human resources, b) prevention of disabilities
c) organization and operation of services to meet the PWDS; 3) the PET Health Project as an interdisciplinary potentiating
agent to train students in health care as well as a continuing education strategy for professionals working in the SUS. In
summary, the experience has been able to articulate different actors and sectors around the attention network for PWDS.
Keywords: Disabled Persons; Social Networking; Public Policies; Intersectoral Action.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº3.076, de 1º de junho de 1999. Cria, no âmbito do Ministério da Justiça, o Conselho Nacional dos
Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência - Conade, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa
do Brasil, Brasília, 02 de junho de 1999. Disponível em: http://www.in.gov.br. Acesso em: 07 mar. 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência. Brasília, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência. Brasília, 2010.
CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa. Equipes de Referência e apoio especializado matricial: um ensaio sobre a
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GRUPO DE TRABALHO IV
Desenvolvimento, Saberes Locais e Temporalidades
A narrativa de Sr. João Carlos Amorim, nascido no “sítio” e atual morador do bairro Piçarras, denota que, segundo
resumo sua percepção, mudanças no tipo de embarcações que circulam no estuário de Guaratuba e o advento das atividades de
Elegeram-se como termos centrais para o presente estudo, natureza e ambiente. Diferenciados e apresentados por pesca esportiva, praticadas com a utilização de embarcações de lazer influenciaram no modo como a pesca profissional
Ingold (2002; 2012), eles permitiram compreender a percepção de habitantes de localidades da Baía de Guaratuba, litoral no estuário atualmente é praticada.
sul do Paraná, com os quais foram estabelecidos diálogos, sobre o ambiente. A reflexão que culminou na elaboração deste
trabalho está associada à uma tese produzida em 2013 e uma dissertação, de 2015. Este trabalho tem como propósito Em alusão às categorias utilizadas por Cunha (2009), além das atividades vinculadas à “tradição”, reguladas pelo
refletir sobre a influência de processos históricos que marcam a distinção entre temporalidades, recorrentes nas falas dos
interlocutores, sobre sua percepção/ interação com o ambiente da Baía de Guaratuba. Como resultado das narrativas “tempo natural”, também merecem destaque as ocupações associadas à atividades da “modernidade”, reguladas pelo
apresentadas, nota-se que a percepção sobre o conjunto de transformações no contexto em que estão inseridos contribuem “tempo do relógio”, marcado pelo ritmo urbano-industrial e da produtividade do capital. Tradicionalismo e modernismo,
para diferenciação e reforço das dualidades estabelecidas por eles, para diferenciar “naquele tempo” e “hoje”. Atualmente, estando em permanente movimento, requerem a aquisição e renovação de habilidades e conhecimentos para interagir
com a utilização do estuário para fins de lazer, normatização pesqueira e criação de unidades de conservação, emergem
com a diversidade de ambientes e sujeitos.
dualidades que reforçam o dinamismo da relação que se estabelece com o ambiente, tal como “rico” e “pobre”; “grande”
e “pequeno”; “sustento” e “diversão”; “legal” e “ilegal”. Diante deste cenário, propõe-se que para elaboração de análises
A reflexão que culminou na elaboração deste ensaio está associada à uma tese produzida em 2013 e uma
e propostas de gestão de territórios, o destaque esteja na concepção (visões de mundo) do humano que habita o ambiente,
de modo a favorecer o diálogo e aproximação entre aqueles que concebem o estuário como natureza e aqueles que o tem dissertação, de 2015. Este trabalho tem como propósito refletir sobre a influência de processos históricos que marcam a
como ambiente em que praticam suas atividades cotidianas e renovam suas habilidades e reprodução social. distinção entre temporalidades, recorrentes nas falas dos interlocutores, sobre sua percepção/ interação com o ambiente
da Baía de Guaratuba.
Palavras chave: Ambiente; Natureza; estuário; percepção. Elegeram-se, como centrais para o presente estudo, os termos natureza e ambiente. Diferenciados e apresentados
por Ingold (2002; 2012) permitiram compreender a percepção de habitantes de localidades da Baía de Guaratuba, com
os quais foram estabelecidos diálogos. Na perspectiva desse autor, a diferença entre natureza e ambiente é que o conceito
abstract de natureza presume que elementos interagem entre si apenas por fatores de ordem ecológica, ao passo que o ser
Nature and environment were elected as central terms for this study. Differentiated and presented by Ingold (2002; humano seria um observador distante deste mundo (INGOLD, 2002, 2012). Nesta lógica contempla-se e apropria-se da
2012), they help us to understand the perception that some inhabitants of communities of Guaratuba Bay, located at natureza como sendo fonte de recursos, espaço de consumo ou posse. Já a percepção de um “habitante” do ambiente
southern coast of Paraná, with which dialogues were established, of environment. The reflection that culminated in this ocorre a partir das interações entre diversas formas de vida, entre humanos ou não humanos.
work is associated with a thesis produced in 2013 and a dissertation from 2015. This paper aims to reflect on the influence
of historical processes that mark the distinction between past and present periods, recurring to the some speeches that Portanto, a oposição entre os termos é a partir das formas como os indivíduos se colocam na relação com o mundo,
reveal the speakers perception of these periods and their interaction with the environment of the Guaratuba Bay. The
presented narratives indicate that the set of changes in the context in which the interlocutors live, contribute to differentiate seja na perspectiva de um observador ou de um habitante. Tais relações são possibilitadas a partir do conhecimento e
and reinforce dualities established by them, to differentiate “at that time” and “today”. Associated to these, new ways habilidades configuradas sob a “perspectiva do habitante”, em que a percepção sob as nuances do ambiente possibilita o
of relation to this estuary, expressed on the recreational purposes, fishery regulation and creation of conservation units; desenvolvimento de ações, habilidades práticas que caracterizam, são recriadas e incorporadas em um modus operandi,
design new dualities that reinforce the dynamism of the relationship established with the environment, such as “rich”
and “poor”; “Big and small”; “Sustenance” and “fun”; “Legal” and “illegal.” We consider that territory analysis and quando pessoas executam tarefas particulares (INGOLD, 2002). Neste sentido, o ambiente é dinâmico, pois “Onde há
plans must be elaborated by the focus on the perceptions of the inhabits of the environment, in order to make possible vida, há movimento” (INGOLD, 2002, p. 19).
a dialogue and rapprochement between those who conceive the estuary like nature and those who conceive it as an
environment, where are practiced their daily activities and renewed their skills and social reproduction Pode-se considerar que, ainda que duas pessoas residam em um mesmo local, a percepção e conhecimento que
cada uma possui poderá será diferente, a depender das relações e ações estabelecidas no meio. Nesta trama, a percepção
não é resultado do indivíduo com seus processos internos neurológicos e sim, das estruturas neurológicas acionadas no
Key words: Environment; Nature; estuary; perception. presente, como também o conhecimento/habilidades adquiridos na relação com o ambiente. Portanto, o processo de
A diversidade de ambientes que configura a baía de Guaratuba reflete sobre a heterogeneidade de modos de O período que precede ao processo de urbanização do município de Guaratuba é associado à “fartura”, conforme
trabalho e vida que caracterizam o cotidiano de famílias que habitam este território. Antes do processo de urbanização relata um dos moradores mais antigos do Descoberto que fez a primeira casa com “material” na comunidade: “Naquele
ocorrer de forma contundente no município de Guaratuba, as comunidades rurais praticavam sistema de coivara, que tempo qualquer um podia andar pelo mato, podia caçar, fazer o que quiser. Naquele tempo era farto, tinha muita comida,
era utilizado para o cultivo de feijão, mandioca e café. Nas áreas alagadas era realizado cultivo de arroz. Também peixe.” Ele recorda que eram preparadas grandes roças de mandioca e de arroz (cultivos que atualmente são mais
praticavam o extrativismo do cipó-preto para confecção de artesanato e construção de moradias (FERREIRA, 2010). escassos devido a legislação ambiental), que as pessoas costumavam dividir e compartilhar o trabalho, caracterizando o
Predominavam os processos coletivos de organização do trabalho, tal como a pesca da tainha com espia (na entrada da sentimento de colaboração e reciprocidade entre os agricultores e pescadores da região. Este mesmo senhor conta que:
baía), pesca de camarão com peneiras, guajus, mutirões e sistema de quinhão. “Eu fazia muito mutirão naquele tempo, um ajudava o outro. Naquele tempo, se fizesse uma roça aí era uns 40 homens
pra trabalhar, e vinham, porque todo mundo precisava”.
O processo de urbanização foi intensificado entre as décadas de 1950 e 1990, com influência de investimentos
governamentais associados à ampliação da infraestrura da região, promulgação de normas de controle da pesca e criação Ele explica que a organização de “puxiruns”, para mobilização e realização do trabalho na roça, ainda é promovida
de unidades de conservação da natureza (UC), além do incentivo à empresas madeireiras na região. A partir da década de na comunidade mas que, segundo ele, não agrega a mesma quantidade de pessoas de antigamente. Se antes o sentimento
1990, foram configuradas diversas UC sobre o território da Baía. Em 1992, foi constituída a Área de Proteção Ambiental de fartura estava associado à abundância de alimentos, na atualidade ela se expressa na diversidade e quantidade de
de Guaratuba. Em 1998 foi instituído o Parque Estadual do Boguaçú, ao sul da Baía, e em proximidade e abrangendo bens alimentícios, vestuário, eletrônicos, moradia e ao acesso à infraestrutura básica. O comerciante que foi o primeiro
parte das populações ao norte da Baía, o Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange, criado em de 2001. Neste contexto, entre a construir sua casa de “material”, na comunidade do Descoberto explica que: “Naquele tempo a gente bem dizer cada
1998 e 2000 Mellinger (2013) registra relatos de migrações para a comunidade situada ao norte da Baía de Guaratuba, família tinha uma mudinha, tinha dois. Hoje não, todo mundo tem seu guarda-roupa cheio de roupa. Em muitos pontos
o Cabaraquara, decorrentes das restrições ambientais associadas às UC. Ainda, o poder público fomentou o processo melhorou. O primeiro rádio aqui fui eu que comprei.”
de capitalização, modernização e crescimento da pesca marítima paranaense, decorrente, sobretudo, da ampliação do
Coexistindo com a percepção acerca da fartura de alimentos, “aquele tempo” também foi veiculado à dificuldade
mercado consumidor, entre 1975 e 1985 (ANDRIGUETTO-FILHO, KRUL & FEITOSA, 2014).
de acesso às condições de infraestrutura básica, como água encanada, energia elétrica, vias de acesso e comunicação.
Ademais, há de se considerar a chegada de veranistas, atraídos ao município sob a valorização da utilização A exemplo desta constatação, professora aposentada da comunidade do Descoberto explica que “... tinha o que vender
dos balneários para turismo e lazer, que repercutiram na expansão de segundas residências, marinas e iates, sobretudo e não tinha como vender, não tinha estrada, luz, água, geladeira. Água era de poço, bem gelada, lá caía folha, pulava a
a partir da década de 1980. A comercialização de terrenos para proprietários de segundas residências contribuiu para cobra, pulava o sapo e nós usava aquela água, graças a deus nunca aconteceu nada”.
que, entre 2001 até 2010, mais da metade do total de residências em Guaratuba fossem caracterizadas como sendo
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A construção de rodovias, facilitou o acesso dos moradores do “sítio” para “lá em Guaratuba”, modo que muitos A baía de Paranaguá é assim. A sardinha charuto, depois que começaram a aparecer a sardinheira, que tarrafa aí pra
no outro dia pescar né. Aí tem aquele pescador mais curioso né, que quer saber como é, aí ele viu como era a rede
moradores rurais se referem ao núcleo urbano da cidade, ainda que pertençam ao mesmo município; favoreceu o acesso né. E como tinha muito sardinha charuto na Baía (de Guraratuba), eles pegaram e inventaram de fazer uma rede
ao mercado e a comercialização de muitos produtos na comunidade. Por outro lado, a melhoria da mobilidade viária também, que nem a da tainha só que mais pequena. Barquinho pequeninho, bote aberto né. Dava um lanço de dois
mil três mil quilos de sardinha né. Barco vinha carregado. Aí o pessoal pensou, tenho que pescar também porque se
e aquaviária para acesso ao município de Guaratuba, favoreceu a especulação imobiliária, o aumento demográfico e a um tá matando, tenho que matar também. Ainda bem que veio o IBAMA e proibiu. Se deixar, se não regulassem,
expansão de segundas residências, sobretudo para fins de lazer. Um morador da comunidade do Descoberto, agricultor, o pessoal ia tudo pra aquilo ali. Daí tinha terminado. Como aqui, pegavam sardinha ali, a turma começou a fazer
uma coisa miudinha de serrar a tarrafinha na hora que puxa, ela vem tudo em sacador. Aí pessoal começou tudo a
conta que: cair em cima e deu no que deu. Pra nós aqui é a sardinha penacho, tem as guelras grandes e aqui em cima tem um
penachinho. Naquele tempo você ia pra cima e estourava destes e agora não tem mais, acabou.
Hoje tá tudo mais fácil, o que a gente tem vende aqui mesmo. Melhorou barbaridade com a estrada. Muitas pessoas,
naquela época, que tudo era difícil pra viver, abandonaram tudo, chácara o mato tomou conta. Hoje em dia a pessoa
se arrepende, querem pegar o terreno mas já não tem como. Aqui valorizou muito, muito.
Conforme relata um pescador que veio do sítio para morar no Bairro de Piçarras, a proibição de se pescar com
malhas menores, que acabam pegando peixes na fase inicial do desenvolvimento, contribuiu para manter a vida “dos
Atualmente, nos bairros de Mirim e Piçarras existem somente três pescadores cujos terrenos dão acesso direto bichinhos”.
à Baía de Guaratuba, fato decorrente da venda de terrenos para pessoas de fora e trouxe repercussões no acesso à No meu tempo tinha bastante peixe. Não tinha rede, era o lanço, usava duas canoas, uma canoa jogava aqui, jogava
Baía e que repercute diretamente nas condições de trabalho dos pescadores. O pescador que diz ser o mais antigo da rede e a outra segurava. Naquele tempo era 40 braços de rede. O cara fechava três quatro lanços dava uma canoa
de peixe. Pescava bagre, corvina, saguá, pampu, parú, depois mais miudo com malha 6, até malha 7 e malha 5. De
comunidade de Piçarras, diz que: uns tempos pra cá a malha 5 foi proibida. Foi bom proibir pros bichinhos.
Porque quando nós morava ali, a estrada era precária, não era asfaltada, desde o aeroporto. Pra nós levar o peixe
pra lá, nós ia remando. Agora não dá mais porque os caras fizeram o trapiche lá fora e agora não dá mais, porque
quando a maré enche você não vence, cansa, tem que suar pra passar aquele trecho, andar mais 100 metros pra
andar até o outro trapiche. Aquilo é obra tudo irregular, mas o poder do dinheiro faz assim. Diante da diminuição da “produção”, muitos jovens filhos de pescadores não se dedicam mais à esta atividade.
Em decorrência disto, morador que até pouco tempo pescava a remo na em proximidades ao bairro Mirim, comenta
sobre o desinteresse da geração mais nova pelo exercício da pesca: “Hoje até, como já não tem mais camarada e os
É recorrente a percepção de que a fiscalização sobre o cumprimento de normas ambientais é feita de forma filhos de muitos pescador foram estudar, se formaram em alguma profissão, não querem pescar mais. Porque aqui o
desigual entre parcelas da sociedade. Se por um lado há um consenso da inoperância dos agentes governamentais em pessoal não quer mais, não dá produção...”. Ainda sobre as ocupações exercidas pelos pescadores, moradora do bairro
fiscalizar as normas, é reconhecida a importância de normas que favoreceram o aumento da quantidade de peixes na Piçarras, mulher de pescador e proprietária de um pequeno mercado de peixe situado em seu terreno, conta que nos
Baía, tal como a proibição do arrasto da pesca em 2003, fazendo com que pescadores passassem a usar o caceio e lanço bairros Piçarras e Mirim, muitas pessoas prestam serviços para os turistas como caseiros, marinheiros, jardineiros ou
batido (MELLINGER, 2013). domésticas.
Esta norma, aliada à ampliação do mercado, aquisição de tais inovações tecnológicas, motorização e fomento para Apesar de todos os relatos sobre a diminuição do peixe, entrevistados contam que a situação atual da baía é mais
aquisição de embarcações favoreceram a pesca na plataforma interna, substituindo a pesca estuarina. Neste contexto, favorável do que a aproximadamente uma década atrás, conforme comenta pescador do bairro de Caieiras: “Dá muito
permaneceram na baía os pescadores artesanais, os quais utilizam apetrechos específicos e capturam uma quantidade de peixe, é robalo, é linguado, bagre branco, bagre amarelo, xareu, pampo, miraguaia, garoupa, peva, caratinga branca”,
peixes inferior à dos que pescam fora da baía. Um dos pescadores mais antigos da comunidade de Caieiras, cujo nome pescador antigo que reside no Mirim: “Ah, volta (!) Dependendo da qualidade da água, volta. Teve uma época que ficou
atualmente intitula ruas do bairro explica sobre as características dos pescadores “da baía”. pior do que agora. Pesca uns oito anos atrás era muito ruim, eu padeci”.
Na baía é uma pescaria da pessoa que às vezes não tem barco grande, e ele já é um pescador artesanal. Só que ele
fica com o barquinho dele, com a tarrafa e rede trabalhando, se ele acha que dá pra viver daquilo ele fica na Baía. O dinamismo da baía influi também na quantidade de peixes, pois para pescador e agricultor de Piçarras: “Tem
Agora, quem já começou com barco grande quer ir cada vez mais pra lá, né. Se ele acha que dá pra viver daquilo muita espécie de peixe que este ano deu fracassado mas no ano passado deu demais. Fazia tempo que eu não via parati,
ali na Baía, ele fica. Agora, quem já começou com barco maior pra pescar pra fora, ele quer ver cada vez mais.
o meu filho tirou mil quilos num dia.” Portanto, a baía está em permanente mudança, algumas espécies que eram mais
avistadas em outrora desapareceram e ele acredita que outros seres voltaram a surgir. De acordo com estes relatos e
percepções, parece que a elaboração de normas ambientais (controlando a pesca e o pescador na Baía de Guaratuba),
Em geral, os pescadores entrevistados consideram significativa a diferença que instrumentos de pesca específicos
vem contribuindo em parte para a perpetuação de determinadas espécies de peixes e crustáceos, no entanto, afetando
produzem no ambiente e reconhecem a importância de normas ambientais que regulem o uso de determinados apetrechos,
diretamente o modo como a pesca é realizada.
o mesmo pescador que reside em Caieiras, bairro situado em proximidade à desembocadura da Baía, descreve sobre os
efeitos da sardinheira: A urbanização decorrente da náutica, pesca esportiva e turismo, ao mesmo tempo em que trouxe impactos e
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conflitos, gerou empregos para a população, pois morador de Cabaraquara pondera que: “[...] o pobre sem o rico não pessoas que percebem o mesmo estuário a partir da lógica da “natureza”, conforme termos cunhado por Ingold (2002;
vive. A gente tem que pescar pra vender o peixe pro rico. Conforme o rico sem o pobre não vive, porque ele quer pescar 2012). Isto requer um constante movimento do nativo, para aquisição de novas habilidades para sobreviver a esta
o robalo, nós, pobre pescador, pega o camarão pra vender pra ele, então ele tá precisando da gente”. No entanto estes relação, muitas vezes conflituosa, com os agentes que concebem o estuário como “natureza”.
processos refletem diretamente na relação que se estabelece com o ambiente:
Diante desta complexidade, nas análises e propostas de gestão de territórios, o foco deve estar na concepção
De primeiro a gente pescava mais pro canal. Hoje em dia no canal não dá pra pescar por causa dos do humano que habita o ambiente, tendo em vista a necessidade de se levar em conta seus interesses. Para finalizar,
turistas, naquele tempo não tinha turista, o turista respeitava mais os pescador. Hoje em dia se nós soltar
uma rede boieira e se ficar ali no canal, você pode dar sinal com boné com a camisa os turistas chegam considera-se a importância de pensar propostas de desenvolvimento e organização territorial que permitam um diálogo
com a lancha grande e não respeita. Aí a gente vai correndo atrás pra ver se eles pagam a rede, às vezes e aproximação entre “os que são da baía” e “os que são de fora da baía”.
passam o motor de 15 pra cima. Quando ele é uma pessoa boa ele paga, acontece com muitos pescadores
e às vezes ainda xingam a gente.
Diferentemente do “mito do progresso”, o qual promove a segregação social; propõe-se que o desenvolvimento
do território, conceba a indivisibilidade entre os aspectos e atividades que unem passado e presente, tradição e
modernidade, “ambiente” e “natureza”, trançados sob amparo de políticas públicas decididas com a participação dos
Do mesmo modo, pescadores das comunidades do Cabaraquara e Porto de Passagem reconhecem que, conforme
moradores, contemplando a diversidade de formas de vida e de vínculos com o ambiente. Nesta tessitura, nossa reflexão
explica maricultor do Cabaraquara “se não fosse o iate, muita gente ia ter que buscar trabalho fora, talvez nem conseguisse
se encerra sob a luz de questionamentos: “Desenvolve-se o quê, para quem, com que benefício e a que custo? Que
morar ali porque emprego na comunidade não tem”. Por fim, moradores que trabalham diretamente com turistas na pesca
dimensões do ser humano são satisfeitas por ele?” (HIEDEMANN, 2009, p. 29).
esportiva de ceva concebem que esta prática trouxe uma mudança muito positiva para a comunidade, pois trabalhar com
turistas passa a ser algo mais seguro, em termos de retorno econômico, do que a pesca: “... mais vantagem trabalhar com
o pessoal de fora”. Os turistas também compram a farinha e a ostra, e até uma relação de amizade é firmada com turistas
de pesca, conforme relato de moradores do Descoberto e de Caieiras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O conjunto de transformações no contexto em que estão inseridos contribuem para diferenciação e reforço das ANDRIGUETTO FILHO, J. M.; KRUL, R & FEITOSA, S. Contradições históricas entre gestão e fomento e a
dualidades estabelecidas por eles entre “naquele tempo” e “hoje”, entre “dentro da Baía” e “fora da Baía”, entre pescador evolução da pesca de arrasto de camarão na plataforma interna do Paraná. In: HAIMOVICI, M.; ANDRIGUETTO
“velho” e pescador “novo”, “pesca artesanal” e “pesca industrial”. Em acréscimo a estas dicotomias, atualmente, com FILHO, J. M.; SUNYE, P. S (Org).A pesca marinha e estuarina no Brasil: estudos de caso multidisciplinares.Rio
Grande: Editora da FURG, 2014
a náutica e a normatização pesqueira, emergem outras dualidades, quais sejam “rico” e “pobre”; “grande” e “pequeno”;
“sustento” e “diversão”; “legal” e “ilegal”. Mesmo que pescadores artesanais tenham aderido e se reestruturado à BRANDINI, N. Biogeoquímica da Baía de Guaratuba, Paraná, Brasil: origem, metabolismo, balanço de massa e
destino da matéria biogênica. 278 p. Tese (Doutorado em Geoquímica Ambiental) - Universidade Federal Fluminense,
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Niterói, 2008.
específicos de integração com os ambientes da Baía, desenvolvendo suas habilidades/ conhecimentos sobre peixes e
condições do ambiente, e também resignificando seus saberes, suas práticas materiais e imateriais. CABRAL, B.L.F. Entre marés: pesca artesanal e náutica na Baía de Guaratuba. Trabalho de conclusão de curso
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sejam desenvolvidas são necessárias adequações de acordo com o aparato legal que rege sua permanência ou não em
FERREIRA, M. R. Comunidades rurais de Guaratuba – Paraná: os limites e as possibilidades da opção extrativista
determinados ambientes; bem como a forma como as atividades, quando não proibidas, devem ser praticadas. como meio de vida no contexto do desenvolvimento rural sustentável. Tese (Doutorado em Agronomia) - Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, 2010.
HEIDEMANN, F.G.; SALM, J.F. (Org.). Políticas públicas e desenvolvimento: bases epistemológicas e modelos de
Considerações finais
análise. Brasília, DF: UnB, 2009. p. 23-39.
As leis ambientais, normatização de pesca, processos de urbanização são instituídos muitas vezes por gestores INGOLD, T. The Perception of the environment: essays in livelihood, dwelling and skill. London: Routledge, 2002.
públicos que possuem um conhecimento sobre o estuário, fundado a partir de leituras e observação de imagens. Por
______. Ambientes para la vida: conversaciones sobre humanidad, conocimiento y antropología. Montevideo: Trilce,
outro lado, quando o território passa a ser utilizado como fonte de lazer ou como local para captura de peixes associados Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación y Extensión Universitaria – Universidad de la República, 2012
à pesca esportiva, muitas vezes a natureza é tida como espaço de consumo, fonte de recursos disponíveis para deleite
INSTITUTO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (IBRADES). Difusão sobre a importância
humano. Neste sentido, a percepção de uma pessoa que habita o “ambiente” é diretamente influenciada por ações das dos manguezais para a preservação da biodiversidade marinha no município de Guaratuba: relatório das
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MIRANDA, L. B.; CASTRO, B. M.; KJERFVE, B. Princípios de oceanografia física de estuários. São Paulo: Edusp, 2002. 414p A pesca coletiva da tainha na Ilha do Mel, Paranaguá/PR é realizada de forma coletiva e destaca-se como uma atividade
econômica permeada por relações de reciprocidade e troca mercantil. Neste contexto, o artigo trata de identificar e
qualificar as relações e práticas socioeconômicas desta comunidade tendo como base a teoria da reciprocidade. Constata-
se que estas relações e práticas são estruturadas pelas regras de distribuição dos rendimentos da pesca que, apesar de
inserida no mercado, foge dos padrões estabelecidos por ele e são construídas a partir das relações sociais, culturais e
econômicas da comunidade.
Abstract
Collective mullet fishing in Ilha do Mel, Paranaguá/PR is held collectively and stands out as an economic activity
permeated by relations of reciprocity and commodity exchange. In this context, the article is to identify and describe the
relationships and socio-economic practices of this community based on the theory of reciprocity. It appears that these
relationships and practices are structured by the distribution rules of fishery income which, although inserted in market
escapes the standards set by him and are built from social, cultural and economic community.
É meio complicado né, lançar outro modelo que as pessoas podem não aceitar o teu modelo ali, de plano
Todos os pescadores possuem alguma atividade econômica ligada direta ou indiretamente ao turismo na ilha. de contabilidade, então não é legal. É bom deixar assim mesmo como está, porque já é tradição, mudar já
Alguns são proprietários de camping ou pousada, alguns trabalham na coleta de lixo e outros prestam serviços autônomos é uma coisa que vai sair fora do padrão da tradição, é bom deixar o lanço ai (Pescador A, 56 anos).
em construção civil. Poucos são os aposentados na pesca.
A pesca da tainha representa uma renda significativa para os moradores da Vila de Encantadas, principalmente Tais regras estão acima das leis do mercado e se justificam pelas funções de cada um no sistema de pesca
na época de inverno, na qual os serviços turísticos tem sua demanda reduzida. Desta forma, a comunidade de Encantadas (Quadro 1).
mantém duas organizações econômicas bastante distintas: a pesca e o turismo.
No discurso dos entrevistados percebe-se que o turismo se caracteriza como a atividade econômica principal. Quadro 1: Regras de Divisão do Terço e dos Quinhões da Pesca de Lanço.
Regras de Divisão do Terço e dos Quinhões da Pesca de Lanço
Porém, marcada pelo individualismo e por relações sociais menos afetivas. A pesca da tainha é apresentada pelos Divisão do quinhão Logo após a pesca, cada participante, dependendo da quantidade de peixe,
pescadores como uma atividade coletiva e que, apesar de secundária quanto ao turismo, produz valores econômicos e 1. de peixe recebe um, dois ou três peixes para sua refeição.
Todo o peixe é vendido para o mesmo comprador, essa venda é mediada pelo
afetivos muito significativos. 2. Venda do peixe
dono da canoa.
A coexistência das relações de reciprocidade e troca é comum nas economias brasileiras (SABOURIN, 2009). Retirada do terço (em
3. dinheiro)
O valor total da venda é dividido em três, sendo uma parte do dono da canoa.
Na Praia do Miguel não é diferente, troca e reciprocidade organizam as relações econômicas, mas com uma dinâmica Os outros dois terços são subdivididos em quinhões, ou seja, entre todos os
sazonal específica que precisa ser mais bem analisada. Neste estudo, a ocorrência de relações estruturadas de reciprocidade demais participantes da pesca. Aqui há outra regra:
Divisão dos quinhões Os pescadores que embarcaram na Os que ajudaram a puxar a rede
é o foco principal, tendo em vista que as relações de troca estão presentes na pesca coletiva, mais de forma mais tímida 4. (em dinheiro) canoa e os espias recebem 2 quinhões, na praia, inclusive mulheres e
e menos estruturada. ou seja, o dobro dos demais. crianças, recebem 1 quinhão.
Em todas as divisões o dono da canoa retira uma pequena reserva em
Na Praia do Miguel as relações de reciprocidade são estruturadas nas regras de distribuição do pescado. Segundo dinheiro, resultado da falta de troco para todos os quinhoeiros. Por exemplo,
Polanyi (2000; 2012), são as instituições, legitimadas pelas regras e costumes de uma comunidade ou sociedade, que 5. A sobra se um quinhão é avaliado em R$203,50 o dono da canoa retira R$3,50 de
cada quinhão. Esse dinheiro é reservado para retribuir os pescadores que
sustentam as economias de reciprocidade e redistribuição. Para Sabourin (2011a) e Temple (2009), essas instituições são ajudam a trazer a canoa para vila no fim da pesca.
as estruturas que organizam as economias de reciprocidade. Fonte: elaborado pelo autor a partir dos relatos dos pescadores.
A reciprocidade centralizada (SABOURIN, 2011a) ou redistributiva (POLANYI, 2012), é caracterizada por um
8 Entrevista concedida em 23 de Junho de 2015. Entrevistador: Evandro Cardoso do Nascimento.
A justificativa para a retirada do terço é aceita pelos pescadores, pois estes reconhecem a responsabilidade do
9 Entrevista concedida em 25 de Junho de 2015. Entrevistador: Evandro Cardoso do Nascimento. 10 Entrevista concedida em 11 de Julho de 2015. Entrevistador: Evandro Cardoso do Nascimento.
Aqueles ganham duas partes, ganham dois quinhão como se fossem duas pessoas trabalhando, é o dobro
daquele que fica ali na praia só puxando a rede, aquele dali que corre mais risco, dá mais garra, mais Na pesca de cambau as regras de distribuição são parecidas. Porém, tem suas especificidades, pois a técnica de
força, rema né, pra encarar o perigo, ali o dono da rede dá dois quinhão praquela pessoa que vai na canoa pesca requer outras funções e habilidades (Quadro 2).
(Pescador A, 56 anos).
Quadro 2: Regras de Divisão do Terço e dos Quinhões da Pesca de Cambau.
Para buscar o máximo de igualdade entre os pescadores, quanto à divisão dos quinhões, é realizado um rodízio Regras de Divisão do Terço e dos Quinhões da Pesca de Cambau
Como muitos pescadores possuem redes para camboar, eles organizam um
entre aqueles que embarcam na canoa, dessa forma é dado a todos a oportunidade de receber dois quinhões. Esse rodízio 1. Rodízio de redes
rodízio por noite.
também serve para inserir novos pescadores ao sistema de pesca, pois eles entendem que desta inserção depende o futuro Como a quantidade de peixe é pequena comparada ao lanço, geralmente
a divisão dos quinhões termina aqui servindo apenas para consumo. Todo
da pesca. Divisão do quinhão
2. de peixe
peixe é dividido, o pescador que camboar “por fora” (geralmente o dono
do cambau) recebe 2 quinhões, já os que camboaram “por terra” recebe 1
quinhão.
Eu fui agora na canoa, certo... demos um lanço... se sair um lanço agora e tiver pessoa suficiente pra dar
Só ocorre quando a pesca é considerada grande (acima do necessário para
ir na canoa, eu não vou, eu deixo outra pessoa ir no meu lugar, porque eu já tive a chance de ir. Então 3. Venda do peixe
consumo). A venda é mediada pelo dono do cambau.
quer dizer, eu tô fazendo uma coisa sustentável, certo, tipo assim, não é egoísmo nem ganância da minha O valor total da venda é dividido em três, sendo uma parte do dono do
parte, sabe... eu tô dando a oportunidade pras outras pessoas fazerem o mesmo... [...] como ele [o dono Retirada do terço (em cambau. Essa regra é flexível, pois muitas vezes o valor retirado pelo dono
da canoa] viu que algumas pessoas estavam pulando duas ou três vezes na canoa e não estavam deixando 4. dinheiro) do cambau não chega a um terço. (caso o dono do cambau não participe da
as outras pessoas, mesmo que estivessem pessoas pra puxar naquele momento, e dai ele falou: não, isso pesca seu terço também está garantido).
não pode acontecer... porque senão vai gerar conflito entre as pessoas, dai o rapaz vai chegar pra você: Os outros dois terços são subdivididos em quinhões, ou seja, entre os demais
pô, mas fulano e ciclano toda hora estão pulando na canoa pra querer ganhar mais que os outros. Então Divisão dos quinhões participantes da pesca, inclusive o dono do cambau. Aqui há outra regra:
gera esse conflitinho assim... interno, então pra gente acabar com esse coisa, e gente faz o quê... então faz 5. (em dinheiro)
Os pescadores que camboaram “por
Os pescadores que camboaram
o seguinte: a mesma responsabilidade que você assume na canoa o outro também assume... certo, então, fora” recebem 2 quinhões, ou seja, o
“por terra” recebem 1 quinhão.
dobro dos demais.
tipo assim, se eu fui uma vez eu tenho que deixar o outro, agora se não tem outra pessoa pra ir, eu tenho
que ir porque o lanço tem que sair de alguma forma, certo (Pescador B, 38 anos). Fonte: elaborado pelo autor a partir dos relatos dos pescadores.
Já os dois quinhões recebidos pelos espias são reconhecidos pelo tempo dispensado ao ofício e pelo papel Nos dois tipos de pesca há uma preocupação coletiva com a divisão justa dos rendimentos, que não tem relação
crucial no sistema da pesca: com o equilíbrio mercantil estruturado sobre a lei da oferta e da procura. Essa justiça é buscada no princípio da equivalência
entre os serviços prestados na pesca (dono da rede, espia, proeiro, popeiro, chumbereiro) e a categoria de participação na
porque o espia enfrenta lá no morro, né, tá lá direto, né! Pega chuva, pega vento, pega sol, pega tudo lá divisão (um terço, um quinhão, dois quinhões).
e ele tá lá, né! Tá lá! Porque sem o espia também a gente não é nada também! Não tem pescaria, se não
tem o espia! Porque o peixe passa e vai embora e não tem quem veja né! Então tem que ter! (Pescador C,
Considerações Finais
65 anos).
A pesca da tainha é um trabalho coletivo e as regras que orientam a partilha do pescado entre os trabalhadores
Quanto à participação de pessoas ‘de fora’, mulheres e crianças na divisão dos quinhões prevalecem o senso de são estabelecidas social e culturalmente. Mesmo que de origem incerta, essas regras de distribuição são respeitadas,
justiça e igualdade: utilizadas e atualizadas pelos pescadores da Praia do Miguel. Formam uma espécie de controle social da comunidade
sobre suas relações econômicas. Sabourin (2011) utiliza a noção de dispositivos coletivos ou institucionais para definir
tua participação é o que faz puxa a rede pra praia, é tua força, tua energia, sabe como, eu não posso ser essas regulamentações sem estatutos formais.
desleal com você nesse momento, porque você, sem a sua participação não tem aquela energia colocada
ali pra puxa a rede, não tem aqueles 200 peixes da praia, 300 peixe... eu acho justo, se o cara tá aqui de São esses dispositivos que institucionalizam as relações sociais e econômicas destes pescadores, e podem ser
manhã cedo aqui e ele ajuda a puxa a rede, é igualdade certo, ele também coloco os mesmos esforços qualificados como estruturantes de uma reciprocidade centralizada (TEMPLE, 2009) ou redistributiva (POLANYI,
que todos colocaram, é uma energia... [...] As crianças também, as crianças também participam ganham
2012). Entendendo que estrutura designa uma organização que articula elementos que constroem as relações sociais. As
o quinhão, tem porque tá ajudando [...] Ganham igual, porque a participação da criança, eu acho que ela
tem o interesse dela, o interesse porque é divertido, o interesse porque gosta, o interesse porque eu consigo regras que orientam a partilha do peixe compõem uma espécie de controle social sobre a pesca, esse controle ultrapassa a
manter uma tradição, uma cultura, envolvendo a nova geração nesta cultura, faz o resgate, então quer formalidade das leis trabalhistas e sustenta a mutualidade, o respeito, a justiça e a confiança entre os pescadores.
estudo foi conduzido através das informações encontradas na literatura existente sobre sustentabilidade e
O A busca do desenvolvimento local sustentável requer processos de mudanças sócio-políticas, socioeconômicas
desenvolvimento local, utilizando ainda de levantamento de dados sobre o município estudado, coletados nas bases e institucionais, que assegurem a satisfação das necessidades básicas da população e a equidade social no presente,
oficiais e pesquisa de campo para a produção do conteúdo necessário às análises. A pesquisa de campo permite que sejam ressaltando que não se possa postergá-las para o futuro.
buscadas, no meio social, informações que resultam no aprofundamento da percepção acerca dos sentidos e significados
Para Raynaut (2004), a noção de desenvolvimento sustentável é relativa. Ela varia em função de quem a utiliza e de
do assunto estudado. Tamaki (2005, p. 19) assevera que a pesquisa de campo:
onde ele se situa para definir seu conteúdo:
[...] é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ ou conhecimentos acerca de um
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Florianópolis, SC, 2009. Tese (Doutorado em Ciências, Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos
ABSTRACT
3. APRESENTAÇÃO
In this paper, We seek to bring to memory some of Fred Hirsch’s ideas contained in his major work, “Social Limits to
Growth”, especially with regard to sustainable territorial development, reviewing the close dialogue between them and
the theory of ecossocioeconomia. Therefore, this work is divided in three stages: First, we made a presentation this Aus- A guisa de apresentação do autor não há muitos relatos, em literatura portuguesa, sobre o economista austríaco Fred
trian economist with a brief summary of the author’s ideas contained in that book which also examined its concepts about
“Social Limits to Growth”; secondly we made a brief recap of the theories of ecossocioeconomia; and finally, by way of Hirsch, mas conforme consta de sua biografia na enciclopédia eletrônica inglesa Wikipédia, Hirsch...
conclusion, we made some considerations on their contributions from the perspective of sustainability, under the aegis of
the assumptions of sustainable territorial development. […]nasceu em Viena no ano de 1931, e no ano de 1934, logo após a Guerra Civil Austríaca, sua família migrou para
a Grã-Bretanha, onde Hirsch fez todos os seus estudos, e em 1952, se graduou na Escola de Economia de Londres,
após isto trabalhou como jornalista financeiro em dois jornais londrinos, o The Banker e o The Economist e neste
Key-words: growth; development; sustainability; territory. último chegou a ser Editor Financeiro, entre os anos de 1963 e 1966.[…] He was a senior adviser to the International
Monetary Fund , [ 3 ] from 1966 to 1972 where he worked on international monetary problems.Wikipédia (2015).
Todavia Hirsch foi um escritor muito prolífero, tanto escrevendo sozinho quanto em parceria com outros autores.
De sua lavra constam como sendo suas principais obras: “Money International“; “Newspaper Money: Fleet Street and
the search for the affluent reader“; “Social Limits to Growth“; “Alternatives to Monetary Disorder“; e “C.I.A.and the
Labour Movement“. Após obter notoriedade academica, de acordo com a enciclopédia Wikipédia, Hirsch
[…] se tornou Conselheiro Sênior do Fundo Monetário Internacional-FMI, entre os anos de 1966 e 1972, onde tra-
balhou em Comissões relativas a problemas monetários internacionais, especialmente aqueles que afligiram países
em crescimento como no caso do Brasil, tais como foram as crises causadas pelas sucessivas altas do barril de pe-
tróleo na década de 1970.Afterwards he spent two years as a research fellow at Nuffield College, Oxford, from 1972
to 1974, where he started working on his book The Social Limits to Growth (RKP, 1977), having previously written
Money International (Allen Lane, The Penguin Press, 1967), and Newspaper Money: Fleet Street and the search
for the affluent reader (with David Gordon) (Hutchinson, 1975) . […] Depois disso, Hirsch passou dois anos como
pesquisador no Nuffield College, Oxford, entre os anos de 1972 e 1974, onde começou a trabalhar em seu livro Os
1 Mestrando no PPG-DTS da UTFPR-Litoral Jesse.beserra.silva@gmail.com limites sociais do crescimento (1977), tendo previamente escrito Dinheiro Internacional (1967), e Jornal Dinheiro:
[...] Sempre houve limites num determinado ponto, mas só recentemente eles se tornaram incomodamente eviden-
Esse mesmo conceito, em relação a seres humanos, Hirsch afirma que o valor posicional de uma pessoa, em relação
tes. Isso é resultado, em essência, de um crescimento material que, no passado, não esteve sujeito a limites sociais.
Nesse sentido, a preocupação com os limites do crescimento expressada pelo Clube de Roma está totalmente mal às outras, decorre de vários fatores e não automaticamente apenas por se fazer bem aquilo que se pode fazer melhor, pois
colocada, focaliza limites físicos distantes e incertos e ignora a presença imediata, embora menos apocalíptica dos isso nunca será suficiente, principalmente, se houver outras pessoas à sua frente, em posição hierárquica ou econômica
limites sociais do crescimento. HIRSCH (1979, p. 16) superior a sua.
Nesse livro Hirsch apresenta uma concepção social da natureza e dos limites do crescimento econômico. A sua tese Para exemplificar essa tese, se uma pessoa é a primeira em sua família a obter um diploma universitário ela pode
central é a de que existem fatos limitadores desse crescimento, eles são prementes, ou seja, para serem observados desde até estar fazendo o seu melhor que pode, mas não o suficiente, uma vez que a frente dela há muitas outras pessoas com
logo. Esses fatores não são apenas físicos, mas sociais, pois à medida que as sociedades ficam mais ricas, uma porção maior preparo e maior poder econômico. Se uma pessoa concluiu seu curso na parte inferior da lista de classificação de
crescente de recursos naturais, bens e serviços são demandados pela parte privilegiada dessas sociedades, denominada de sua turma e em uma universidade considerada fraca na hierarquia acadêmica, essa pessoa está menos elegível para um
consumidores, os quais não podem ser adquiridos ou utilizados por todos sem que ocorra a sua deterioração progressiva. posto de trabalho do que seus antepassados que não possuíam qualquer formação.
Nesse livro Hirsch, enquanto economista procura responder três perguntas:
Ainda em relação a funcionalidade de sua tese acerca do valor posicional de um bem, particularmente em relação à
(1) por que o progresso econômico se tornou, e continuou sendo, um objetivo tão premente para todos nós, como sua comercialização, se a qualidade de um produto ou serviço pudesse ser diminuída como resultado do objetivo privado
indivíduos, embora proporcione frutos decepcionantes quando a maioria dos homens, senão todos, o alcançam?
de produzi-lo e fornece-lo em economia de escala, unicamente com fito na comercialização e na lucratividade.
(2) Por que a sociedade moderna se preocupa tanto com a distribuição – ou a divisão do bolo – quando é evidente
que a maioria das pessoas só pode melhorar seu padrão de vida pela produção de um bolo maior? (3) Por que Ou ainda para supervaloriza-lo, em um viés contrário, a sua produção poderia vir a ser reduzida para lhe conferir
tem o século XX testemunhado uma tendência universal predominante no sentido do abastecimento coletivo e da
uma áurea de raridade ou de exclusividade, como no caso de bens e serviços personalizados (ou de marcas exclusivas),
regulamentação estatal em áreas econômicas, numa época em que a liberdade individual de ação é particularmente
louvada e tem preponderância sem precedentes em áreas não-econômicas, como os padrões estéticos e sexuais, por cuja produção e fornecimento são severamente diminuídos para esse fim, subordinando o interesse público ao privado e
exemplo? A essas questões, vamos dar o nome de (1) o paradoxo da afluência; (2) a compulsão distributiva; e (3) o o bem-estar-social aos interesses do capital.
coletivismo resultante. HIRSCH (1979, p. 13)
Nesta obra, em consonancia com os melhores autores da ecossocioeconomia, Hirsch afirma que há no mundo um
Assim é que Hirsch analisa essa problemática partindo da premissa de que a frustração de não poder consumir é rápido crescimento tanto em população (e do consequente consumo) quanto em produção industrial, das quais resultaram
intensificada pela afluência material e que uma sociedade afluente torna-se uma sociedade insatisfeita. Com essa análise em um drástico aumento de externalidades que, por sua vez, conduzem, inevitavelmente, ao esgotamento de recursos e
Hirsch oferece importantes contribuições para a compreensão de aspectos sociais aparentemente desconexos dessa insa- uma drástica poluição ambiental.
tisfação que permeia a sociedade: a alienação no trabalho; a descrença na luta por educação; a deterioração das condições
As enormes oportunidades de substituições entre os recursos limitados e os materiais reproduzíveis, em conse-
sociais de vida rural e urbana; e as más relações de consumo que geram inflação e desemprego. quencia do progresso tecnológico são evidentes na refutação do que parece ter sido a primeira fase do pessimismo
Minha tese principal é a de que essas três questões estão relacionadas entre si e nascem de uma fonte comum, que ecológico, ou seja, nas projeções malthusianas da invitável superação da produção de alimentos pelo crescimento
se encontra na natureza do crescimento econômico nas sociedades adiantadas. A essência do problema está na com- populacional. A população mundial aumentou quatro vezes desde que Thomas Malthus escreveu, [...] em 1798, “An
plexidade e ambiguidade parcial do conceito de crescimento econômico, quando a massa da população já satisfez Essay on Population”. HIRSCH (1979, p. 35)
A ecossocioeconomia, enquanto teoria da sustentabilidade possui um caráter da valoração positiva e criativa pre- BERKES, Ferdinad. & FOLKE, Charles Albert, Systems perspective on the interrelations between natural, human-made
sente no ser humano, e que propicia ao indivíduo a construção da sua própria identidade, e desse modo visa formar and cultural capital. Londres, 1992.
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humanas básicas, bem como o desenvolvimento de habilidades intelectuais, laborativas e de auto-realização.
Furtado, Celso. Pequena introdução ao desenvolvimento: enfoque interdisciplinar. São Paulo:
Sachs, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Coleção Idéias Sustentáveis. Ed. Garamond,
Anderson de Miranda Gomes1; Cristiane Mansur Moraes de Souza2; Ana Paula Tabosa3
2006.
Sachs, Ignacy. Desenvolvimento includente, sutentável e sustentado. São Paulo: Ed. Garamond, 2006 RESUMO
A humanidade vivencia uma série de riscos de naturezas diversas, muitas vezes auto-gerados, os quais culminam na
percepção de um estado de crise abrangendo várias vertentes, de caráter multidimensional. A ideia de desenvolvimento
SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
tem sido a resposta para a crise no sentido de diminuir os riscos ao mesmo tempo em que procura entender os interesses de
SCHUMPETER, Joseph. Historia del Analisis Econômico. Barcelona: Ed. Ariel, 1971. suas populações. Não obstante, os modelos de desenvolvimento não tem sido eficientes, evocando uma nova alternativa
capaz de lidar com as diferentes faces desta crise. O objetivo deste é discutir como o ecodesenvolvimento torna-se uma
SMITH, Adam. Riqueza das Nações. Lisboa: Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 1981. resposta mais profícua à crise nos territórios. Justifica-se por tratar de uma discussão que corrobora para se pensar o
desenvolvimento sob uma perspectiva de sustentabilidade e que aborde diferentes faces dos problemas presenciados.
A metodologia utilizada é de uma pesquisa exploratória em que as referências bibliográficas possibilitam a construção
de debates sobre um desenvolvimento real sensível às diferentes dimensões. São resultados parciais, as constatações
do agravamento da crise; do aumento da consciência sobre a destruição do meio ambiente e de uma forte resistência à
mudança dos padrões de consumo.
Palavras-chave: Crise Multidimensional; Desenvolvimento; Ecodesenvolvimento.
ABSTRACT
Humankind experiences a number of risks of various kinds, often self-generated, which culminate in the perception of a
crisis state covering various aspects of multidimensional character. The idea of development has been the response to the
crisis in order to reduce the risks at the same time it seeks to understand the interests of their populations. Nevertheless,
the development models have not been efficient, evoking a new alternative able to handle the different faces of the crisis.
The purpose of this is to discuss how the eco-development becomes a more fruitful response to the crisis in the territories.
It justifies in the corroboration of the debate about the development from a perspective of sustainability and addressing
different facets of the problems witnessed. The methodology used is an exploratory research in which references enable
the construction of a real debate on sensitive development to different dimensions. As partial results there are the findings
of the worsening crisis; increasing awareness of the destruction of the environment and a strong resistance to change
consumption patterns.
INTRODUÇÃO
Os Estados e nações vivenciam atualmente transformações significativas em suas estruturas econômicas, sociais
e políticas em decorrência do processo de crescimento econômico e da aceleração dos fluxos de informação e tecnologia.
A busca pelo enriquecimento de suas estruturas econômicas, aliado ao desejo eminente de um desenvolvimento de seus
territórios tem levado aos países uma incessante corrida cujo objetivo reflete a uma crescente produtividade (SEABRA,
2006). Não obstante, esse desejo e as ações correlatas ao mesmo levam consigo não somente consequências benéficas,
como o melhor acesso aos bens e serviços a uma maior parcela da população, mas também problemas e distorções nos
1 Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) Universidade Regional de Blumenau- FURB andlestat@hotmail.
com
2 Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) Universidade Regional de Blumenau- FURB
3 Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) Universidade Regional de Blumenau- FURB
METODOLOGIA
1 Mestrando em Desenvolvimento Regional – FACCAT – Taquara – RS vitor.andre.sd@gmail.com Este trabalho de revisão teórica e bibliográfica procurou reunir e organizar informações e conceitos norteadores
2 Mestrando em Desenvolvimento Regional – FACCAT – Taquara – RS
se diferem conceitualmente, sendo que os produtos com IP possuem comprovação de reputação da localidade, enquanto Alta Mogiana Café 2013 SP
os com DO apresentam “vínculo do produto com o meio geográfico, descrição do método de obtenção e do notório saber Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2014)
fazer” (FABRIS; MACHADO; GOMES, 2012, p. 392). No Brasil, até 14 de outubro de 2014, havia 5 registros de DO e
O Quadro 1 traz as IGs que já foram registradas, ou seja, aprovados pelo INPI, transformando estes produtos,
21 de IP, conforme quadro a seguir:
oficialmente, em produtos de reconhecida qualidade e referência em suas respectivas áreas. Importante destacar a
Quadro 1 – Lista de Indicações Geográficas no Brasil participação dos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, com 5 e 8 registros, respectivamente e há ainda muitos
Espécie / Nome da IG Produto/Serviço Ano UF outros produtos e regiões com potencial para integrarem esta lista.
Denominações de Origem:
José Carlos Muniz1; Mayra Taiza Sulzbach2 Como medida inibidora à uniformização, tem-se buscado o fortalecimento de identidades em torno de territórios e
produtos locais, que os diferenciem uns dos outros, baseados em suas especificidades culturais.
O presente artigo apresenta os resultados de um estudo que analisa o potencial em torno da Pimenta pseudo-
RESUMO
caryophyllus (Gomes) L.R. Landrum, popularmente chamada de ‘Cataia’, como um recurso da comunidade Barra do
Os caiçaras possuem uma ligação com seu território, por vezes enfrentando difíceis embates para sua permanência, mui- Ararapira.
tos destes, impondo restrições que impactam diretamente com seus modos de vida, obrigando-os a encontrarem alterna-
tivas que visualizem a interação na relação cultura-natureza nesses ambientes; Uma dessas, na comunidade de Barra do Os traços identitários com a comunidade e seu território, laços de pertencimento e familiaridade faz com que o re-
Ararapira, é a utilização das folhas da árvore Cataia, aliada aos seus conhecimentos e saberes, como marca identitária da curso encontre diversas especificidades na cultura caiçara, objetivando sua viabilização como potencial da identidade em
comunidade, envolta em um sistema associativo de produção cooperativa, baseada, quase que integralmente, em relações
fomento ao desenvolvimento local.
sociais de compadrios, porém, frente a uma externalidade capitalista, também enfrentando a problemática globalizadora
de outros valores, principalmente os do mercado capitalista.
A comunidade de Barra do Ararapira se formou entre as vilas de Ararapira e de Superagui, nas proximidades da “bar-
Key words: Territorial identity; Specific resource; associations; Development.
ra”, o canal natural por onde as águas oceânicas do “mar de fora” desembocava no mar de Ararapira ou “mar de dentro”,
viabilizando a fixação das primeiras moradias em épocas de safra pesqueira (BAZZO. 2010, p. 46), quando também os
pescadores ocupavam o espaço com pequenos roçados, principalmente com o plantio da mandioca (Manihot).
As mudanças naturais na localização da “barra”, fechamento de sua desembocadura e abertura em novo local, resultou
em alagamento das áreas ocupadas, influenciando na estruturação da comunidade.
Conforme Bazzo (2010. p. 47), residem na comunidade de Barra do Ararapira, aproximadamente 200 pessoas, em
46 moradias, tendo na pesca artesanal sua principal fonte de renda, configurando-se numa comunidade tradicional de
1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável (UFPR Litoral). E-mail: muniznativofilho@
pescadores artesanais ou de uma população “caiçara” tradicional.
yahoo.com.br
2 Dra. em Desenvolvimento Econômico e professora da UFPR Setor Litoral. E-mail: mayrasulzbach@yahoo.com.br Os povos ou comunidades tradicionais são assim definidos, pelo Decreto nº. 6.040 (BRASIL, 2007 apud DIEGUES;
que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam O local onde havia indivíduos vivendo não poderia ser resultado da “natureza intocada”, era um território, que,
territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e segundo Pecquer (2005. p. 13), deriva de “um processo de construção pelos atores”, assim, a preservação destas áreas
econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
que permitiu à criação do Parque deriva de uma cultura: a “caiçara”; população que lá vivia, com a natureza, a qual se
construiu “dinamicamente nos percursos dos indivíduos e dos grupos [...], são comunidades de sentido, sistemas de
pertencimento.”.
De acordo com Diegues (2004, p. 09), a população caiçara é formada pela “mescla da contribuição étnico-cultural dos
indígenas, dos colonizadores portugueses e em menor grau do escravo africano” e possuem uma forma de vida “baseada Conforme Zaoual, estes locais constituem sítios que (2006, p. 34):
em atividades de agricultura itinerante, da pequena pesca, do extrativismo vegetal e do artesanato”.
Intimamente integrados à natureza que os cerca, os caiçaras cultivam suas práticas culturais de acordo e em consonân- impregnam o conjunto das dimensões dos territórios de vida: a relação ao tempo, a natureza, ao espaço, ao
cia com a mesma. Conforme Zaoual (2006, p. 32) estas práticas podem definir um sítio ou um lugar com especificidades: habitat, arquitetura, vestuário, as técnicas, ao saber fazer, ao dinheiro, ao empreendedorismo, etc. Antes de
“cada sítio é uma entidade imaterial que impregna conjunto de vida em dado meio” e o indivíduo que nela habita. Um se materializar nos feitos e gestos dos atores ou em qualquer outra materialidade visível a olho nú, os sítios
são entidades imateriais fornecedoras de balizamentos para os indivíduos e suas organizações sociais.
sítio:
possui um tipo de caixa preta, feita de crenças, mitos, valores, experiências passadas, conscientes ou in-
conscientes, ritualizadas. Ao lado desse aspecto feito de mitos e ritos, o sítio possui também uma caixa
NATUREZA MANTIDA E CONHECIDA DO HOMEM LOCAL: A CATAIA
conceitual, que contém seus conhecimentos empíricos e ou teóricos. Enfim, os atores, em dada situação,
operam com uma caixa de ferramentas que contém saber-fazer, técnicas e modelos de ação próprias ao
contexto. (ZAOAUL, 2006, p. 32). Um dos conhecimentos inerentes na relação homem-natureza da comunidade Caiçara da Barra de Ararapira é a
utilização das folhas da Cataia4 (Pimenta pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum), pertencente a Família Myrtaceae. Seus
conhecimentos estão associados de forma endêmica, uma vez não se encontrada nas comunidades vizinhas.
Estes atores, com comportamentos socioeconômicos relacionado com seu território são denominados por Zaoual A existência desta planta no local é um recurso que pode se configurar como um recurso ativo. Conforme Pecquer
(1999) como homo situs. Homens pertencentes ao local, respeitando e defendendo seus conhecimentos, uma vez intera- (2005, p. 123), os recursos próprios de território podem permitir a este se diferenciar em relação a seu vizinho. A exis-
gindo com sua realidade. tência de inputs ou ativos em um lugar, quando utilizados para a criação de produtos (PECQUER, 2009, p. 97), pode ser
O homo situs de Zaoual, são os atores, os caiçaras da Barra do Ararapira; Homens que através de seus comportamen- denominada de ‘recursos territoriais’.
tos, em consonância com a natureza permitiram que em pleno Século XX a comunidade onde viviam se transformassem Conforme Denardin; Sulzbach; Komarcheski (2015, p. 203), o território nesta perspectiva é uma unidade ativa de de-
em Unidades de Conservação, os quais promoveriam novos enfrentamentos e diversos desafios ao modo de vida em seu senvolvimento. O desafio é “constitui-se na apropriação dos recursos específicos do território e promover especificações
território. ou ativação destes recursos, ou seja, transformar recursos em ativos específicos”.
A iminência da legislação ambiental, devido à criação, na década de 1980, do Parque Nacional de Superagui3, impac- Na comunidade da Barra do Ararapira as folhas da Cataia são utilizadas tradicionalmente como: tempero e remédios
tou diretamente no modo da população caiçara residente no local e na utilização dos recursos naturais disponíveis, uma caseiros (chás para dores estomacais, azia, diarreia, cicatrização de ferimentos, estimulante sexual etc.). A Cataia atraiu
vez que, de acordo com Diegues (2000. p. 09), esse modelo de área de proteção integral “parte do princípio de que toda a atenção científica sobre sua utilização, características e propriedades medicinais por Morgante; Patrícia et. al (2010).
relação entre sociedade e natureza é degradadora e destruidora do mundo natural e selvagem”. Girard; Koehler; Netto (2007, apud CATENACCI, 2010, p. 33) identificaram:
A comunidade da Barra do Ararapira nos primeiros anos da criação do Parque não participava dos processos de deci-
3 UC de Uso Sustentável, parque, que tem o objetivo de assegurar a proteção de parte significativa da Floresta Ombrófila Densa na região
da Serra do Mar, disciplinar o uso e a ocupação do solo, proteger o patrimônio natural, considerando os aspectos referentes aos bens de valor
histórico e arqueológico.
4 Popularmente também recebe este nome a espécie Drimys brasiliensis, da família Winteraceae, por vezes confundida com
a Pimenta pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum.
I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL
154
29 a 30 de Outubro de 2015 | Matinhos - PR
um óleo essencial muito aromático, o eugenol, sendo este composto explorado há bastante tempo e pos- e a remuneração dos trabalhadores, numa relação de troca mercantil entre os membros que desempenham as diferentes
suindo inúmeras aplicações, desde o uso em aromatizantes, perfumes, cosméticos e inseticidas até na funções, nem tampouco a divisão dos retornos são distintas, conforme as funções.
indústria fármaco-medicinal, dada suas propriedades antibacterianas, analgésicas e sedativas.
Singer (2008, p. 289) sintetiza que “os empreendimentos de economia solidária são geridos pelos próprios traba-
lhadores coletivamente de forma inteiramente democrática”, com princípios de “solidariedade e de integralização de um
Sua utilização na bebida com teor alcoólico foi por volta de 1985, conforme Gazeta do Povo (2010). Na própria sistema capaz de combater o ‘individualismo competitivo’”. Gestão e princípios que se desenvolvem na Associação das
comunidade, Rubens Muniz “resolveu” experimentar a infusão da folha da Cataia na pinga, uma vez já existir cachaças Mulheres Produtoras de Cataria da Barra do Ararapira.
com infusão de diversas outras folhas, raízes, inclusive cobras; Inicia-se a popularização da bebida, que ganha constan-
A organização da produção, gestão e os princípios desenvolvidos nesta Associação são induzidos por Catenacci (2010,
temente novos apreciadores e mercados, gerando recursos financeiros para a comunidade.
p. 63-64) que destaca especificidades do Grupo, entre elas a motivação não financeira e sim “o divertimento de estar junto
Estes “saberes” à promoção de produtos locais é, segundo Pecquer (2005), uma alternativa ao desenvolvimento com as mulheres”. Catenacci (2010) lista algumas regras existentes na Associação: apenas mulheres podem trabalhar,
endógeno. A promoção de produtos locais ou territoriais ocorre através de saberes da população local com recursos do desde que após os dezoito anos, acreditando assim estar evitando o contato das adolescentes e jovens com a bebida al-
local, o que permite ativar a dimensão da cultura local, o que “constituiria o potencial identificável de um território” coólica; não podem vender nem doar o produto de seu trabalho fora do Grupo; não vendem fiado aos moradores da vila,
(PECQUER, 2005, p. 14). Esses recursos: como estratégia para diminuir o consumo de álcool na comunidade.
Estas especificidades entre outras desenvolvidas na organização social da Associação das Mulheres Produtoras da
resultam de uma longa história, de um acúmulo de memória, de uma aprendizagem cognitiva coletiva Cataia podem ser observadas na literatura da economia social ou sociologia econômica enquanto capital social, de acordo
[...], produzidos num território, que se torna então “revelado”. A produção desses recursos resulta, pois, com os pressupostos de Putnam (1993). As regras do Grupo se configuram enquanto “redes, normas e laços de confiança
de normas, de costumes, de uma cultura que são elaborados num espaço de proximidade geográfica e ins-
que facilitam a coordenação e cooperação para benefícios mútuos”.
titucional, a partir de uma forma de troca que não é mercantil: a reciprocidade. (PECQUER, 2005, p.15).
O capital social segundo Denardin e Model (2014, p. 09) “deve ser levado em conta para um efetivo desenvolvimen-
to local e regional”. O capital social, desempenhado pelas mulheres da comunidade entorno da produção da Cataia não
Os saberes imersos em um território são capazes de promover a ativação destes recursos em ativos específicos do fecha o escopo teórico dos condicionantes ao desenvolvimento endógeno, se soma aos demais citados acima, justificando
lugar, foi o que aconteceu na comunidade da Barra do Ararapira. Após considerado aumento na procura da cachaça de a potencialidade da Cataia enquanto recurso específico da população caiçara, como condicionantes ao desenvolvimento
Cataia foi criada em 2007 a Associação das Mulheres Produtoras da Cataia5. Uma organização territorial que, segundo local ou territorial da comunidade da Barra do Ararapira.
Ambrosini; Filippi (2007, p. 04) fortalecem a possibilidade de um desenvolvimento endógeno e em especial se “se for-
mam a partir de laços de solidariedade, de sangue, do sentimento de pertencimento à comunidade, mas se materializam O fato de a Comunidade estar imersa ao Parque Nacional de Superagui, o qual impõem restrições ao uso dos re-
através das realizações coletivas”. cursos naturais, poderia apresentar-se como um limitante a promoção da Cataia como recurso ativo do local à promoção
do desenvolvimento territorial. Este fato não se apresenta como limites, nem pelos gestores do Parque, nem pela própria
Os recursos (homem e natureza) lugar (território) contemplados por Pecquer (2005), pautados em organizações comunidade. Conforme o diretor-chefe desta Unidade de Conservação Marcelo Bresolin (apud GAZETA DO POVO,
territoriais (ativação de recursos), conforme destacados por Ambrosini e Filippi (2007), promovem um desenvolvimento 2010) “o uso da Cataia por essa comunidade tradicional não traz prejuízo ao ambiente e assegura um retorno econômico
singular por contemplar as caixas (preta - crenças, valores, experiências; conceitual – conhecimentos empíricos e ou a eles”, sendo sua extração “restrita à comunidade e em caráter excepcional.”.
teóricos e de ferramentas – homem e natureza) descrito por Zaoual (2006).
Ambrosini e Filippi (2007, p. 04) destacam que a “solidariedade interna existe para a comunidade se proteger do
exterior”. E como a solidariedade está presente na organização produtiva das mulheres que trabalham como a Cataia, essa
pode atuar como inibidora da extração predatória da Cataia. O pertencimento ao local desenvolve-se, podendo ser um
SOCIABILIDADES EM TORNO DO PRODUTO LOCAL
determinante à propensão da ação coletiva para o bem comum, ou seja,
Na Associação das Mulheres Produtoras da Cataia as funções há extração das folhas, a lavagem, a secagem ao sol,
a separação qualitativa, o empacotamento in natura, o envasamento da bebida entre outros. O processo de produção, de
ordem coletiva, caracteriza a organização de forma solidária, não havendo um proprietário que determina as atribuições ele passa a ter um valor funcional para a comunidade no momento em que os indivíduos percebem que
5 Participam na Associação das Mulheres Produtoras da Cataia cerca de 20 mulheres. Vendem as folhas in natura da Cataia e a bebida as iniciativas de cooperação geram resultados virtuosos para a comunidade, passando, essas, a prevalecer
envasada. sobre comportamentos competitivos dentro do território. (AMBROSINI; FILIPPI. 2007, p. 09).
Uma vez tendo aumentado a demanda pelo produto Cataia, bem como sua consequente extração, a comunidade não pode ser implantado por decreto; permanece uma construção dos atores, mesmo que políticas públicas
apropriadas possam estimular e mobilizar esses atores. Essa construção só pode ser concebida como uma
deve dispor de maior atenção ao recurso. De acordo com Pecquer (2005, p. 13), os recursos “constituem uma reserva, dinâmica e, portanto, inserida no tempo. Trata-se de uma estratégia de adaptação na medida em que esse
um potencial latente ou virtual que pode se transformar em ativo se as condições de produção ou criação de tecnologia processo é reativo em relação à globalização. (PECQUER. 2005. p. 12).
o permitirem”.
A Cataia por ser um recurso específico da comunidade Barra do Ararapira, merece atenção por ser um “recurso ou sua
A Cataia: é referência comercializada nos bailes de fandango6 realizados na comunidade de Superagui; nomeia uma
raridade [que] vão condicionar o tipo de desenvolvimento local” (PECQUER. 2005. p. 13). Catenacci (2010. p. 76-78)
banda de jovens músicos em Pontal do Paraná/PR, a Trupe Cataia e em Sorocaba/PR, a Banda Cataia, esta última em
as estudar a Cataia na Barra do Ararapira cita alguns fatores que contribuem para demonstrar a resiliência socioecológica
homenagem a bebida que os jovens experimentaram na comunidade de Marujá/Parque Estadual da Ilha do Cardoso e;
do sistema de manejo da Cataia no local:
possui festas denominadas de Cataia. A Cataia passa a receber valores exógenos aos originalmente criados na Barra do
Ararapira, descaracterizada de sua comunidade.
(a) instituições locais fortes; (b) práticas de manejo específicas do grupo que lidera a extração da planta;
(c) demanda ainda incipiente e, relativamente, localizada; (d) a exploração da planta não se constitui na
atividade econômica principal da vila; (e) lócus da atividade de exploração inserido numa Unidade de
A CATAIA E A SUA SUSTENTABILIDADE ENQUANTO ATIVO
Conservação; (f) existência de certa flexibilidade por parte do órgão gestor da UC.
Tendo em vista uma desenfreada exploração do produto, é emergente a necessidade da Associação das Mulheres
Produtoras da Cataia pelo auxílio e aporte técnico de instituições público ou privado, que possibilite a manutenção de sua
Em outro estudo sobre a Cataia no local, D’Angelis (2013) considera preocupante à biodiversidade e também à produção, potencializando a valorização pela própria comunidade, diminuindo a extração de forma individual e insusten-
Associação a exploração da Cataia. Enquanto as mulheres fazem a extração coletivamente, coibindo o individualismo e tável. Conforme Ambrosini e Filippi (2007, p. 4-5), o desenvolvimento territorial “deve ser o resultado da interação entre
distribuindo igualitariamente os retornos, existe a extração esporádica por parte de alguns homens que, motivados por instituições locais e atores econômicos dominantes em uma relação de forças equilibradas”.
encomendas, agrados a parentes e amigos, também extraem e destinam à venda, quando visitam cidades vizinhas (CA-
A partir de incentivo técnico, fomentando a valorização da Cataia enquanto produto tipicamente caiçara da Barra do
TENACCI. 2010, p. 55).
Ararapira e reforçando a identidade da comunidade, através da diminuição da prática dos ‘atravessadores’, pode-se criar
A Cataia, folhas in natura e a bebida propriamente dita, todas oriundas da comunidade de Barra do Ararapira, é na comunidade uma “cesta de bens”.
encontrada a venda em diversos lugares, muitos destes sem mencionar a sua origem, desagregando o valor inerente à
“Cesta de bens”, conforme Pecquer (2009. p. 86) caracteriza-se como uma “oferta compósita particular, associada
identidade caiçara de Barra do Ararapira. A Cataia, somente é um produto territorial, específico do local que pode promo-
ao lugar”. Na comunidade de Barra do Ararapira, a “cesta de bens” pode ter a Cataia como produto principal, podendo
ver o desenvolvimento sustentável do local quando atrelado aos demais valores do local, ou seja, ao modo de produção
ser complementada com outros produtos derivados da planta Cataia, bem como a bebida com mel de abelha adicionado,
tais como os oriundos da Associação das Mulheres Produtoras da Cataia da Barra do Ararapira.
folhas in natura para o preparo de chás e temperos como utilizados tradicionalmente pela comunidade, também acresci-
A extração motivada por ganhos individuais, mesmo que realizada pela população local, pode promover atritos com dos de outros produtos da cultura local.
aqueles que elegem à extração de forma coletiva. Conforme Zaoual (2006. p. 28) há “incontestavelmente inúmeros atri-
D’Angelis (2013, p. 69) destaca que há necessidade da adoção de medidas que regulamentem a atividade extrativista
tos entre o grande modelo de civilização global e o sítio das crenças e de ações dos atores, considerados como alvos pela
no local, bem como da elaboração de um plano de manejo coletivo, comtemplando o estoque dos recursos e seu monito-
prática dos experts”. O caminho da extração da Cataia de forma individual pode promover rupturas sociais e econômicas
ramento.
no local.
Coexistindo com o modelo de mercado globalizado, na comunidade de Barra do Ararapira se encontram modelos de
Visando o bem estar da comunidade e a melhor utilização de seus recursos, que para Pecquer (2005, p. 12), “designa
todo processo de mobilização dos atores que leve à elaboração de uma estratégia de adaptação aos limites externos, na 6 Expressão musical-coreográfica-poética e festiva, cuja área de ocorrência abrange o litoral sul do estado de São Paulo e o litoral norte
do estado do Paraná. Essa forma de expressão possui uma estrutura bastante complexa e se define em um conjunto de práticas que perpassam o
base de uma identificação coletiva com uma cultura e um território”, reorganiza-se a economia local e ao desenvolvi-
trabalho, o divertimento, a religiosidade, a música e a dança, prestígios e rivalidades, saberes e fazeres. (Iphan).
ZAOUAL, Hassan. Globalização e Diversidade Cultural. Textos selecionados e traduzidos por Michel Thiollent. – São
Paulo: Cortez, 1999.
___. Novas economias das iniciativas locais: um introdução ao pensamento pós-global. Trad. Michel Thiollent. Rio de
Janeiro: DP&A: Consaulado Geral da França: COPPE, UFPRJ, 2006.
A maioria das atividades que o homem desempenha na superfície do planeta provoca alterações nos aspectos da
Vanderlei Marinheski2 paisagem (DREW, 1989). Entre essas atividades, são destacadas como impactantes: a agricultura, a mineração, escava-
ções e construções de estradas (INBAR et al., 1998).
As estradas são faixas do relevo transformado pela ação antrópica que permitem a circulação de pessoas, animais
RESUMO e veículos. Para o seu pleno uso, estas devem estar em condições apropriadas para determinados fluxos de movimentação
O presente artigo teve como objetivo discorrer sobre os processos erosivos em estradas não pavimentadas, na Bacia hi- nas mais variadas condições climáticas (GRIEBELER et al., 2005).
drográfica do Rio do Atalho em Cruz Machado no Paraná. A bacia caracteriza-se com um sistema de agricultura familiar
com baixo nível tecnológico, o relevo é dissecado e com presença constante de blocos e matacões de rochas ígneas. A
metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e o trabalho de campo com a averiguação dos pontos impactados. Os
resultados apontam que na maioria das estradas está ocorrendo perda acelerada de solo, acúmulo de materiais ao longo As estradas, carreadores e caminhos cortam grande número de rios e fontes em diferentes unida-
das vertentes (mata, pastagem e açudes), assoreamento do rio principal e incisões no relevo que prejudicam ou até mes- des de terra. A drenagem lateral nas vias de circulação principal (processo de retirada de água do
mo inviabilizam o trafego. Desta forma, evidencia-se que a atual forma de construção e manutenção das estradas na bacia leito das estradas) faz com que as águas cheguem rapidamente à rede de drenagem aumentando o
do rio do Atalho, apresenta impactos para o meio ambiente e que merecem atenção, visto que se trata de uma área com débito fluvial (aumento rápido de vazão) (THOMAZ, 2005, p. 180).
singularidades ambientais e agropecuárias análogas na região.
ABSTRACT Nessa linha de pensamento, as estradas não pavimentadas representam o início de toda movimentação econô-
This article aims to discuss on the erosion process in unpaved roads, in river basin of Atalho on Cruz Machado in Paraná. mica de uma região por estarem conectadas diretamente com áreas produtivas. Já, os processos erosivos nos leitos e bar-
The basin is characterized with a family farming system with low technological level, the relief is dissected and constant rancos são as principais causas da degradação dessas vias (GRIEBELER et al., 2005). A identificação da magnitude dos
presence of blocks and boulders of igneous rocks. The methodology used was the bibliographical research and fieldwork efeitos que a erosão causa em estradas é de fundamental importância para propor técnicas de contenção.
to investigate the affected points. The results show that most of the roads are experiencing accelerated loss of soil, ac-
cumulation of material along the slope (forest, grassland and ponds), silting of the main river and incisions in relief that
Nogami e Villibor (1995) salientam que a erodibilidade do solo é um dos fatores que determinam o tempo que a
harm or even make impossible the traffic. Thus, it is evident that the form current of construction and maintenance of
roads in the shortcut river basin, has impacts on the environment and deserve attention, since it is an area with similar estrada poderá suportar pressões exercidas por fluxos de movimentação sem haver o desprendimento excessivo de sedi-
environmental and agricultural singularities in the region. mentos. Já Denardim (1990) ressalta a dificuldade de estabelecer estudos de erodibilidade no Brasil devido à diversidade
de solos e extensão territorial do país.
Key-words: Soil use. Processes erosion on roads. Hydrographic basin. Mesmo com tantas dificuldades, vem aumentando os estudos com relação aos processos erosivos em estradas
rurais, as quais possuem papel importante no total de sedimentos produzidos dentro da bacia hidrográfica e na condução
3 Segundo o CONAMA (1986, p. 636): (...) considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e bioló-
1 Esse artigo é parte da dissertação de mestrado: Capacidade de uso da terra e perda de solo em uma propriedade representativa na bacia gicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente, afetam:
hidrográfica do rio do Atalho, Cruz Machado – PR, defendida junto ao programa de Pós-Graduação em Gestão do Território da Universidade I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias
Estadual de Ponta Grossa. do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos naturais.
2 Mestre em Gestão do Território, UEPG Prof. da Secretária Estadual de Educação do Paraná marinheskigeo@hotmail.com
O principal problema dos processos erosivos em estradas rurais está nos sistemas de drenagens. A grande
concentração de fluxos de água na faixa de rolamento da estrada aliada à declividade acentuada, que eleva potencial de
remoção e transporte de materiais. Além disso, a concentração de umidade reduz a capacidade de resistência do solo,
tornando-o mais vulnerável aos processos erosivos.
Bigarella e Mazuchowski (1985) propõem algumas medidas para a diminuição dos processos erosivos em siste-
mas viários, tais como: a proteção vegetal principalmente nos taludes, nas saídas de empréstimo e na própria plataforma;
canais de dispersão dos fluxos de água (valetas ou canaletas), também revestidas com grama; a construção de bueiros em FIGURA 1 – Localização da área de estudo. Org: Autor, 2010.
áreas que concentram muita água; o desnível transversal da pista de rodagem para dispersar a água; os sulcos de dispersão
das enxurradas devem ser construídos com base nas curvas de nível da área, para conseguir dissipar maior quantidade de 4 ha= 10.000 m².
água possível. 5 Classe de relevo conforme a declividade em (%): plano (0 a 3); suave ondulado (3 a 8); ondulado (>8 a 20); forte ondulado ( >20 a 45);
montanhoso de (>45 a 75) e escarpado (>75), (EMBRAPA, 2006).
Em alguns pontos das estradas acontecem quedas abruptas dos taludes devido à terraplanagem da base dos bar-
rancos (FIGURA 3 b). Neste caso, a cerca caiu junto com o desabamento do barranco.
FIGURA 2 – Estrada construída junto à vertente na Bacia do Rio do Atalho, PR. FIGURA 3 – Processos erosivos em estradas da bacia do rio do Atalho, PR: a) Estrada junto ao relevo montanhoso e aflorado de rochas; b) Es-
trada mensurada com a queda do talude e cerca dos animais; c) Estrada em área de pastagem com sulcos de erosão; d) Formação de marmita
Fonte: O autor, 2010.
na base do talude do barranco.
6 Lote= Área de aproximadamente 25 hectares. Foi estabelecido pelo governo brasileiro para dividir as terras na chegada dos imigrantes
7 [...] “forma tridimensional que foi modelada pelos processos de denudação, atuantes no presente ou no passado, e representando a
(poloneses) em 1910 e 1911 (ROCKEMBACH, 1996).
conexão dinâmica entre o interflúvio e o fundo de vale” (DYLIK apud CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 26).
Ainda com relação às estradas, elas funcionam como locais de escoamento das enxurradas e contribuem tam-
bém com a produção de sedimentos, que são provenientes das pistas de rodagem e dos barrancos.
Segundo mensurações de Marinheski (2011) as estradas da bacia apresentaram perdas de solo de 30,36 kg/m²/
ano. Esses sedimentos chegam rapidamente até o Rio do Atalho, visto que no local de estudo, as vertentes dos dois lados
são curtas, tendo em média menos de mil metros de comprimento, contribuindo para a rápida vazão das águas da chuva e
sedimentos desagregados. A figura 4, retrata essa característica. Após um evento chuvoso, as águas do rio ficaram turvas a b
devido às partículas oriundas dos locais com os diferentes usos do solo. FIGURA 5 – Depósitos de sedimentos: a) Em meio à pastagem, b) Em meio à floresta.
Evidencia-se que a gestão das estradas na bacia do rio do Atalho tem apresentado problemas ao meio ambiente,
com perdas acentuadas de solo, contaminação dos recursos hídricos e estradas em condições precárias para circulação.
O estudo das consequências que erosão causa em estradas rurais não pavimentadas, é primordial para garantir a
qualidade ambiental e diminuir os impactos ambientais. Desta forma, ressalta-se que mesmo sendo incipientes os estudos
da temática na área, a sua continuidade e a avaliação da magnitude tornam-se substanciais, visto que se trata de uma área
com singularidades ambientais e agropecuárias análogas na região.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o desenvolvimento desse trabalho, conclui-se que a erosão acelerada nas estradas da bacia do rio do Atalho,
prejudica o trafego e dificulta o transporte dos cultivares até as propriedades, elevando o custo de transporte e de manu-
FIGURA 4 – Águas turvas do Rio do Atalho, logo após evento chuvoso. tenção desses sistemas viários.
Fonte: O autor, 2010.
Os sedimentos produzidos na bacia do Rio do Atalho chegam rapidamente até o rio principal, sendo que na re-
ferida bacia, as vertentes dos dois lados são curtas (<1000 m). Conter a desagregação do solo e o rápido escoamento das
águas nessas vertentes é de fundamental importância para diminuir a degradação dessas estradas e diminuir os impactos
Os sedimentos produzidos nas estradas da bacia vão encontrando vários locais de deposição ao longo do percur-
no meio ambiente.
so feito pelas enxurradas. Pode ser observado na figura 5 a, a deposição em locais de pastagem e na figura 5 b, o acúmulo
de solo em meio à vegetação. Desta forma, é necessário que após cada evento chuvoso seja realizada a limpeza das canaletas de dispersão de
água nas estradas, conduzindo-a para locais de maior infiltração no relevo ou para áreas com maior cobertura vegetal.
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Em uma “Sinopse Estatística do Município de Morretes”, feita pelo IBGE-PR no ano de 1950, considera que a
fundação de Morretes/PR teria sido decorrente de um ato praticado no ano de 1721, com a determinação do magistrado
RESUMO Ouvidor Pardinho para a Câmara de Paranaguá4 fizesse a demarcação e medição da nova sede da povoação que teria seu
O presente artigo relaciona pesquisas feitas na região entre a presença e a ausência da analise do contexto socioeconô- território composto por 300 braças, em quadra. Ocorre que o ato de medição foi revogado pelo Ouvidor Peixoto, após a
mico do município de Morretes/PR. O objetivo deste trabalho é demonstrar o contexto socioeconômico de Morretes/PR representação da câmara a “el-rei”, o ato inicial do Ouvidor Pardinho foi confirmado(IBGE-PR,1950). Isso fez com que a
com as suas peculiaridades próprias. Além disso, busca demonstrar as preocupações latentes que ainda ocorrem naquela medição atrasasse, apenas em 31 de outubro de 1733 foi feita a medição. Obteve nesta data o nome de “Povoado Menino
região. Para tanto foi utilizado método bibliográfico. Por se tratar de uma região sensivelmente peculiar a presente pes- de Deus dos Três Morretes”,sendo a data considerada da efetiva fundação de Morretes (IBGE-PR, 1950, p.9; INCRA,
quisa possibilita a identificação de alguns aspectos singulares latentes entre pesquisas feitas em diferentes épocas. No 1970, p.12; VIEIRA DOS SANTOS, 1950, p. 30).
âmbito do contexto socioeconômico, marcante, que ainda persistem ao tempo e dificultam o seu desenvolvimento.
Atualmente o município encontra-se na mesorregião do litoral do Paraná posição geográfica na latitude 25 º 28 ‘
37 ‘’ S e na longitude 48 º 50 ‘ 04 ‘’ W (IBGE), há 70 km (SETR) de distância de Curitiba, capital do estado do Paraná.O
Palavras-chave: Socioeconômico. Desenvolvimento. Morretes/PR. município de Morretes/PR faz ao todo com 7(sete) municípios, que são Antonina, Campina Grande do Sul, Guaratuba,
Paranaguá, Piraquera, Quatro Barras e São José dos Pinhais. A área do município em 1950 era de 719,9 Km² (IBGE-PR,
p. 13), posteriormente teria passado para 722 km² (INCRA, 1970, p. 4). A sua extensão territorial, atualmente sua área da
ABSTRACT unidade territorial é de 684,580 Km²5 segundo o IBGE.
This article relates surveys in the region between the presence and absence of analysis of the socioeconomic context of MAPA 1 – Território do Município de Morretes/PR
the city of Morretes/PR. The objective of this study is to demonstrate the socioeconomic background of Morretes/PR
with its own peculiarities. It also seeks to demonstrate the latent concerns that still occur in the region. For this we used
bibliographic method. Because it is a substantially unique region this research enables the identification of some latent
unique aspects of research done at different times. Under the socioeconomic context , marked that still persist of time
and hinder its development.
FONTE: SUBPLAN 6
2 A origem do nome do município na “Etimologia. Morretes Palavra formada pelo termo “morro” e pelo sufixo diminutivo plural “etes”.
“Morro” é substantivo masculino de origem incerta, no castelhano aparece como “morrión” designando monte pouco elevado. O sufixo “etes”
vem do latim “ittum” e forma substantivos com valor diminutivo. (AGC, ABHF).”(FERREIRA, 2006, p. 198).
3 Existem hipóteses diferentes para se considerar a data de fundação de Morretes/PR. No ano de 2015, se for considerada que a fundação
data de 1721 completará 294 anos, se levar em consideração a afetiva medição completará 282 anos e se considerar a sua transformação em muni-
cípio completará 174 anos. As datas de “aniversário” neste caso mudariam para cada hipótese, levando em consideração a teoria do ato praticado.
4 De acordo com Ferreira “Paranaguá tem a prerrogativa de ser o primeiro município fundado no Paraná, fato que se deu através de Carta
Régia, de 29 de julho de 1648.” (FERREIRA, 2006, p. 222).
5 Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=411620&search=||infogr%E1ficos:-infor-
ma%E7%F5es-completas>. Acesso em: 25 jun. 2014.
1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regioanal, Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB. 6 Disponível em: <http://www.planejamento.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=2317>. Aces-
natihvaz@gmail.com
so em: 25 jun. 2014.
I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL
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29 a 30 de Outubro de 2015 | Matinhos - PR
No mapa acima podemos observar o formato politico-administrativo de Morretes o que será importante para com- relevância da presente pesquisa que tem o intuito de colaborar com a localidade. Alias conforme o IPARDES Morretes
preender e localizar o município nos mapas seguintes. O referido município que possui algumas singularidades latentes é um município com baixo grau de urbanização “< 50”, conforme pode-se verificar no mapa abaixo:
que dificultam o desenvolvimento, estas singularidades permanecem há anos e ainda estão de certa forma prejudicando
o seu desenvolvimento regional. Não se pretende nesta dissertação, abordar todo o processo de colonização do Brasil,
MAPA 2 - Grau de Urbanização do Estado do Paraná (2010)
mas sim efetuar um recorte sintético da história e geografia para o LÓCUS de interesse da pesquisa, isto é, a região onde
atualmente se encontra o município de Morretes.Sabe-se que a geografia de um território influencia diretamente no de-
senvolvimento de uma região, assim como, as dificuldades de acesso e condições climáticas.
Naquela época havia disputa de três cidades para ser capital da primeira província. A disputa era entre as cidades
de Paranaguá, Guarapuava e Curitiba. Esta última mantinha uma posição política diferenciada, acompanhando mais o
partido liberal. No dia 19/12/1853 Curitiba se tornou a província do Paraná, após a aprovação do projeto para a criação da
respectiva província em 20/08/1853, tornando-se a Lei nº 704, após a sanção do Imperador Dom Pedro II em 29/08/1853
(LAZIER, 2005). Após o estado do Paraná obter autonomia, iniciou uma época de grande imigração de italianos, polo- FONTE: IPARDES7
neses e alemães, por meio de programa oficial de imigração européia (PAICENTI, 2012).
As disputas da época não se limitavam ao poder, mas também por conquistas e manutenção de território no estado
Acima é possível notar que o município de Morretes faz divisa com outros municípios que possuem grau de urba-
do Paraná. A disputa não se deu apenas entre colonos e imigrantes, que buscavam as melhores terras, mas houve também
nização mais elevado. Como vimos fundação do município de Morretes/PR ocorreu no século XVIII, antes do “século
a resistência indígena, principalmente dos índios que já ocupavam a região. Além disso, houve disputas internacionais
da urbanização” (BARROS, 2007, p. 7), na época que a economia da região se tornou predominantemente agrícola, pois
pelas terras do Paraná entre os países europeus – principalmente Portugal e Espanha(LAZIER, 2005).
em 1732 tornou-se proibida a extração do ouro (VIEIRA SANTOS, 1950), um ano antes da efetiva demarcação de terra.
Segundo afirmações feitas 1970, pelos pesquisadores do INCRA, “Toda a Região Litorânea do Paraná é um desa- O trafego negreiro se intensificando no século XVIII em decorrência da produção de açúcar e da extração de ouro, não
fio. Desafio ao homem, aos governos e ao desenvolvimento” (INCRA, p. XI, 1970). Este desafio entre outros fatores se só as cidades foram crescendo, mas também a preocupação das autoridades (DEL PRIORI; VENANCIO, 2010).
deu em decorrência geografia da região do litoral paranaense (MARTINS, 1939). O estudo do INCRA realizado no ano
A urbanização do município aumentou gradualmente no decorrer do tempo, mas foi no século XIX que predo-
de 1970 afirmava que “Se continuar a tendência atual da estagnação econômica, o Município corre o perigo de se trans-
minou o início da maior concentração urbana, porém o município não é predominantemente urbano. Além disso, uma
formar em museu da história paranaense, sem vida econômica independente” (INCRA, 1970, p. 35). Essa preocupação
considerável extensão de fronteira é com municípios tem maior hierarquia em relação a ser considerado centros urbanos,
permanece desde os dias atuais.
predominantemente no lado leste quanto no lado oeste:
A seguir serão demonstradas as singularidades apontadas pela presente pesquisa que ainda permanecem na atuali-
7 Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/pdf/mapas/base_demografica_social/grau_de_urbanizacao_2010.jpg>. Acesso em: 25 jun.
dade. Tais singularidades latentes que serão trazidas para facilitar a compreensão da sensibilidade peculiar da região e a 2014.
Segundo o referido estudo o crescimento do município estava abaixo da média evolucional do País, considerando
o fator de crescimento por década, conforme pode-se observar, a progressão populacional teve um lento crescimento,
pois de 1950 à 1970 a quantidade de habitantes aumentou apenas 3.434 habitantes. A quantidade de habitantes é maior do
que existia no ano de 1950, como se verá a seguir, conforme relatado no estudo realizado no ano de 1970. Em 1970 foi
realizado um estudo no município de Morretes/PR pelo Instituto Nacional de Cidadania e Reforma Agrária no município,
por pesquisadores do INDA atual INCRA, que buscavam solucionar problemas desenvolvimento sociais e econômicos.
Para demonstrar de maneira clara foi elaborada uma tabela com os dados relatados no referido estudo do INCRA, que
podemos verificar abaixo:
ANO HABITANTES
1950 10.566
1960 11.654
1970 14.000
(Elaborado pela autora,p.16 do INCRA)
FONTE: IPARDES8
Diferente do que aduz o referido estudo não significa que perdeuhabitantes e sim que o município não obteve tal
Os fatores territoriais de serras e acidentes geográficos que circundam influenciam diretamente no desenvolvi- população porque não acompanhou a progressão populacional que ocorria no País. Porém certamente a expectativa po-
mento regional. Não apenas tais fatores contribuíam com a lentidão desenvolvimentista, mas também defasagem tec- pulação potencial em menos de vinte anos teria sofrido uma defasagem de 4.422 habitantes, cerca de 30% da população
nológica, endemias, a economia regional, a ausência de aperfeiçoamento profissional e a busca os jovens pro melhor do município no ano de 1970, pois não acompanhou os índices de crescimento, isso se deve justamente a percepções
qualidade de vida não favorecia a permanência no município (INCRA, 1970). regionais que influenciam a permanência e a imigração de habitantes. No século XXI a situação não aparenta ser muito
diferente, pois conforme os dados do IBGE, o ultimo SENSO do ano de 2010 revelou que a diminuição populacional
continua ocorrendo. No ultimo senso realizado em 2010 (IBGE), o número de habitantes era de 15.718 habitantes9, logo
a. A situação geográfica especial de Morretes impediu, na história, o desenvolvimento de uma “Hin-
terlândia” agrícola, mas atraiu homens de pioneirismo comercial e industrial. Desde então predomina, a sua densidade demográfica é de 22,9610. Atualmente os dados oficiais do IBGE informam que o município estimada-
nas camadas sociais mais importantes, uma mentalidade comercialista e empresarial que procura, de- mente teve um relativo aumento de 633 habitantes na população do ano de 2014, em quatro anos, em relação ao ano de
pois da decaída econômica, suas realizações fora do Município. – Apesar dos obstáculosa uma evolução
2010. Se levar em conta a população potencial que Morretes/PR deveria ter em 2010 em relação ao crescimento do País.
agrária, atualmente, serem superáveis, ainda não se desenvolveu um espírito de pioneirismo agrário.(IN-
CRA,1970, p. 35) É possível notar igualmente defasagem nos gráficos e a tabela a seguir, na seqüência, demonstraram a evolução popula-
cional do município de Morretes, do estado do Paraná e do Brasil do ano de 1991 à 2010:
Para falar de um município, muito além da economia é preciso falar das pessoas que ali habitam e que fazem que
existam dados econômicos. Igualmente ao tópico anterior não se pretende aqui comparar valoração de índices e sim pro-
porcionalidades, levando se em consideração as peculiaridades existentes. Nos anos de 1950 foi publicado uma “Sinópse
Estatística do Município de Morretes”, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística do Departamento
Estadual de Estatística do Estado do Paraná. Para o referido estudo foram utilizados os dados do ano de 1948 e 1949, os
9 Estima-se que a população do município de Morretes/PR em 2014 era de 16.381(IBGE).
quais aduzem que no município haviam cerca de uma população total de 13.550 habitantes em “31/XII/1949” (IBGE, 10 Segundo o IBGE a Densidade demográfica é calculada(hab/km²), a metodologia sobre o cálculo. Disponível em
8 Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/pdf/mapas/base_demografica_social/hierarquia_de_centros_urbanos_2007.jpg>. Acesso
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em: 25 jun. 2014.
2014.
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GRAFICO 1 – Evolução Populacional (1991 – 2010) b. O êxodo permanente que vigora há 85 anos, pois este não data apenas dos últimos decênios.
No ano de 1853 o Município contava com 3709 habitantes (6)11. Acompanhando o crescimento médio do
Brasil, Morretes devia ter, hoje, uma população de 46.000 pessoas.
Este êxodo, que atualmente continua, privou a região permanentemente, não só de mão de obra de quali-
dade, mas também de espírito de iniciativa particular e empresarial. – É comum, como se observa, que nos
sítios continuam vivendo e trabalhando pessoas mais idosas de 50 anos e jovens abaixo dos 18 anos, mas
quase toda uma geração de 18 a 40 ou 45 anos ausentou-se à procura de melhores condições de vida fora
do Município.(p. 35)
Analisando o gráfico(1) e a tabela(2) que contém os dados de evolução populacional, nota-se uma queda na popu-
lação do município, oposta ao aumento da população que ocorreu no estado e no País em que está localizado. O IPARDES
elaborou um mapa para demonstrar a densidade demográfica, onde o município de Morretes aparece com “< 25” a menor
densidade demográfica (hab/km²):
Fonte: IBGE: Censo Demográfico 1991, Contagem Populacional 1996, Censo Demográfico 2000, Contagem Populacional 2007 e
MAPA 4 - Densidade demográfica – Paraná (2010)
Censo Demográfico 2010;
Tabela 2 - Censo Demográfico 1991, Contagem Populacional 1996, Censo Demográfico 2000, Contagem Populacio-
nal 2007 e Censo Demográfico 2010
Fonte: IBGE: Censo Demográfico 1991, Contagem Populacional 1996, Censo Demográfico 2000, Contagem Populacional 2007 e
Censo Demográfico 2010;
A situação atual não é algo novo, nem em relação a densidade demográfica ou a situação de esvaziamento ou
êxodo. O estudo realizado pelo INCRA demonstra que essa situação não vigora apenas nas ultimas décadas. Em 1970 o
FONTE: IPARDES12
estudo afirmou que vigorava há 85 anos o êxodo permanente. Diversos seriam os fatores que contribuíam com a estagna-
ção e como êxodo (INCRA, 1970):
Ao contrário do estado do Paraná, que teve um aumento populacional de mais de 100% (cem por cento) entre os
O turismo entra na composição do cálculo do PIB – Produto Interno Bruto de um município como serviço. Cabe
mencionar que “A análise econômica entende por oferta a quantidade de mercadoria ou serviço que entra no mercado con-
sumidor a um preço dado e por um período determinado” (BOULLÓN, 2002, p.42). Desde o início da coleta e apuração
de dados do PIB do município de Morretes/PR, em 1999 até o ano de 2011, demonstram que a grande predominância é
do “valor adicionado bruto dos serviços”14. Conforme gráfico 2 e tabela 3 a seguir:
FONTE: IPARDES13
Nota-se que o município de Morretes tem a taxa de crescimento populacional de “<PR,em 2000/2010” e faz divi-
sa em grande parte com municípios “> PR, em 1991/2000 e 2000/2010” e a menor parte com “<0, em 2000/2010”. Isso
significa que a de Morretes vem diminuindo, diferente do que ocorre nos municípios vizinhos que aumentam a sua taxa
de crescimento populacional ou no mínimo a mantém.
Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e Superintendência da Zona
Franca de Manaus - SUFRAMA.15
Nas cidades das periferias mais atrasadas, estagnadas ou remotas, o problema consiste de relações sociais,
estrutura fundiária e padrões técnicos atrasados, relações rural-urbano pobres, carência por infra-estrutura
econômica e social, que no conjunto produzem emigração, baixa renda, dependência por transferências
governamentais, o que se traduz em baixa capacidade de produção de riqueza e, portanto, baixa capacidade
de alteração espontânea do quadro de estagnação e pobreza. Nestas cidades, a política urbana deve envol-
ver esforços de articulação com outros setores governamentais de modo a fomentar relações rural-urbano,
isto é, procurar influir sobre a ação destes setores no sentido de mudar a infra-estrutura social e econô-
mica para dinamizar o processo de urbanização necessário à dinamização da agricultura (modernização
da agricultura familiar, transformação de produtos primários, produção de insumos, atividades terciárias
interdependentes como comércio, transportes, armazenagem, reparações mecânicas, finanças, educação
profissional), de modo a propiciar mecanismos de incorporação produtiva de pessoas e, portanto, a expan- 14 No entendimento de De Luca (1998) existe uma discussão no campo econômico em relação ao melhor emprego do conceito de valor
adiciona no presente caso é a relação entre a contabilidade nacional (macroeconomia) e a contabilidade financeira (microeconomia) , analise que
13 Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/pdf/mapas/base_demografica_social/areas_crescimento_e_de_esvaziamen- considera a soma do valor adicionado das empresas para quantificar a riqueza econômica de uma nação.
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IBGE. - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico, 2010. Disponível em: <http://cod.ibge.gov.
O maior contraste na comparação dos PIB’s é no valor adicionado da indústria, que sofre uma inversão de pro-
br/26DGC> . Acesso em: 05 jun. 2014.
porcionalidades em relação ao valor adicionado da agropecuária. Em relação ao valor adicionado de serviços nota-se que
é proporcionalmente maior, assim como os demais, dentro da sua proporção. Não se pretende aqui fazer nenhum tipo de IBGE-PR. - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico, Departamento Estadual de Estatística do
Paraná. Sinopse Estatística do Município de Morretes. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográ-
equivalência de receitas ente um Município, um Estado e um País no que se refere a quantidade, mas sim em relação à fico, Departamento Estadual de Estatística do Paraná, 1950.
predominância da maioria dos municípios analisados para que chegassem a tais índices. Analisando o município de Mor-
INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Responsáveis técnicos: LIMA, Silvio G. de Carvalho et
retes/PR em comparação com o estado do Paraná e o Brasil, nota-se que economicamente este destoa da média encontrada
al. Morretes e suas possibilidades. Curitiba: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, 1970.
na econômia. A estagnação econômica do município preocupa pesquisadores.
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TADO ORDENADOS SEGUNDO AS MESORREGIÕES E AS MICRORREGIÕES GEOGRÁFICAS DO IBGE
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. PERFIL DO MUNICÍPIO DE MORRE-
O município de Morretes/PR é detentor de grande riqueza, dentre tantas existentes destaco; a natural, cultural TES. Disponível na Internet: http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=83350&btOk=ok
e histórica. É uma região com grande potencial, mas marcada por peculiaridades socioeconômicas que não colaboram
com o seu desenvolvimento. As pesquisas expostas neste artigo, a respeito do contexto socioeconômico de Morretes de- LAZIER, Hermógenes. Paraná: terra de todas as gentes e de muita história.3. ed. Francisco Beltrão : Ed. do Autor,
2005.
monstram as emergências da região por meio de suas peculiaridades latentes. É interessante que se desperte o interesse de
outros pesquisadores com a finalidade de realização de outras pesquisas que contribuam para o desenvolvimento daquela MARTINS, Romario. História do Paraná. 2ªed. Curitiba - São Paulo – Rio: Editora Guaíra 1939.
região.
PIACENTI, C. A. O potencial de desenvolvimento endógeno dos municípios paranaenses. Curitiba: Camões, 2012.
Restaram amplamente demonstradas as emergências e fragilidades da região por meio da exposição do contexto SETU - Secretaria de Estado do Turismo. <http://www.turismo.pr.gov.br/modules/turista-pt/>
socioeconômico. Entre a presença e ausência de pesquisas na região são notadas peculiaridades no contexto socioeconô-
mico que permanecem sensivelmente semelhantes com o passar dos anos. Uma das influencias que contribuem para a re- SUPLAN - Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos de Planejamento Institucional. <http://www.planejamento.
mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=2317>
sistência e permanência destas peculiaridades pode ser o não reconhecimento das mesmas. É pacifico que fatores ligados
a origem da história e a geografia de uma região têm ligação com a sua forma de desenvolvimento. VIEIRA DOS SANTOS, Antonio. Memoria Historica, Chronologica, Topographica e Descriptiva da Villa de Mor-
retes e do Porto Real Vulgarmente Porto de Çima (1851). TomoI. Curitiba: Museu Paranaense, 1950.
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16 Disponível em: <http://cod.ibge.gov.br/26DGC >. Acesso em: 05 jun. 2014.
A Amazônia tem sido analisada ao longo de sua história sob diferentes pontos de vistas: vazio demográfico,
João Paulo Leão de Carvalho1; Miquéias Freitas Calvi2; Benedito Ely Valente Cruz3
pulmão do mundo, celeiro agrícola, etc. Constantemente essa região tem sido central no debate acadêmico, político e
econômico. Talvez o período mais emblemático que proporcionou significativas transformações na Amazônia foi durante
RESUMO
a década de 1970, quando o Estado intentou acelerar o processo de integração nacional e ocupação da região. Porém, as
A política de desenvolvimento territorial assumida nos últimos anos pelo governo brasileiro almejou praticar fomento às
políticas públicas de desenvolvimento rural, em particular à heterogênea agricultura familiar. Os Mercados Institucionais abordagens e planejamentos estratégicos na época foram desconexos com a realidade amazônica, tornando-a palco dos
são uma das ações que tem como objetivos possibilitar o acesso à alimentação e apoiar a agricultura familiar, a exemplo grandes projetos e empreendimentos que marcam um contexto de migrações, desflorestamentos e conflitos agrários.
do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Neste trabalho objetivamos analisar a efetivação do PAA no Território A abertura democrática brasileira a partir da década de 1980, acompanhada da constituição de 1988 que introduziu
do Marajó, Pará. Embora tenha finalidade fortalecer a agricultura familiar e garantir a segurança alimentar, considera-se
novos dispositivos jurídicos, trouxe novos ares ao modelo de planejamento político nacional. O reconhecimento dos
tímida a efetivação deste programa, fruto de frágeis iniciativas do arranjo institucional, principalmente por não considerar
a sociobiodiversidade desse território amazônico. direitos indígenas, demarcação de terras ocupadas por populações tradicionais, por exemplo, trazem como proposta a
reformulação da noção do macroplanejamento, incentivado na década anterior. Os debates da sociedade mundial em torno
Palavras-chave: Política pública; Compras governamentais; Agricultura familiar; Desenvolvimento territorial. das preocupações ambientais e da defesa de populações tradicionais amazônicas promoveram no âmbito institucional a
busca pelo realce das singularidades regionais, que, juntamente com movimentos acadêmicos e sociais, reivindicaram a
ABSTRACT criação de políticas específicas para esse público. Com isso, a política de desenvolvimento territorial assumida nos últimos
The territorial development policy assumed, in the last years, by the brazilian government aimed to stimulate rural anos pelo governo brasileiro tem almejado praticar fomento às políticas públicas de desenvolvimento rural, em particular
development public policies, in particularly, the heterogeneous of the family farming. The institutional markets are
à heterogênea agricultura familiar. Todavia, as políticas voltadas ao desenvolvimento rural têm apresentado limitações em
one of the actions that aim to enable the access to food and support family farming, for example the Food Purchase
Program (PAA). This paper aims to analyse the effectiveness of PAA in the Marajó Territory, Pará. Although its goal is sua efetivação (SIMÕES; CASTRO; SANTOS, 2013), devido fragilidade nas iniciativas institucionais.
to strengthen the family farming and ensure the food security, it is considered its effectiveness timid, results of fragile Na perspectiva de melhorar o desempenho das ações do Governo Federal nos Territórios Rurais, a Estratégia de
initiatives of the institutional arrangements, mainly by not consider the socio biodiversity of the territory Amazon. Gestão Territorial do Plano Safra (ETGPS) da Agricultura Familiar é uma interessante iniciativa de acompanhamento e
gestão social das políticas públicas de desenvolvimento rural executadas no âmbito do Ministério do Desenvolvimento
Keywords: Public policy; Governmental purchases; Family farming; Territorial development. Agrário - MDA (BRASIL, 2014a). Esta estratégia tem a finalidade de apoiar os Colegiados de Desenvolvimento Territorial
(CODETER) através do assessoramento técnico qualificado por meio de Núcleos em Extensão e Desenvolvimento
Territorial (NEDET). Dentre as políticas públicas acompanhadas nos territórios encontram-se a assistência técnica
(PNATER), crédito (PRONAF), projetos de infraestrutura (PROINF), assim como os mercados institucionais, a exemplo
do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Através da compra governamental, este programa visa apoiar a agricultura
familiar por meio da inclusão socioeconômica e fomento à agroindustrialização (BRASIL, 2003).
Os mercados institucionais são ações governamentais que buscam promover a compra de alimentos originários
na agricultura familiar, dispensando licitação. Além da geração de renda, entende-se por estratégico a formação de estoque
e distribuição de alimentos para garantir a segurança alimentar. Esta ação visa ainda reforçar os circuitos locais e regionais
de comercialização, valorizar a biodiversidade e hábitos alimentares saudáveis, estimulando também o associativismo.
Proporcionar a comercialização de produtos das famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade é, sem
dúvida, um caminho interessante para a superação da pobreza econômica de diversas famílias, como preconiza as ações
do PAA. Contudo, segundo Hespanhol (2013), embora as estatísticas oficiais apontem para aumento no número de acessos
e recursos disponibilizados em nível nacional, o PAA tem apresentado limitações em sua abrangência e concentração
espacial, além da falta de articulação com outras políticas estratégicas, a exemplo do PRONAF e da PNATER. Além do
1 Mestre em Agriculturas Amazônicas, Assessor Territorial de Inclusão Produtiva do Marajó, NEDET/UFPA, jpmarajo@gmail.com mais, sua abordagem burocrática não condiz com a lógica familiar de produção, limitando o acesso de famílias que se
2 Doutorando em Ambiente e Sociedade – NEPAM/UNICAMP, Docente-Pesquisador UFPA/Campus Altamira, mcalvi@ufpa.br encontram aquém de um assessoramento.
3 Doutorando em Geografia-UNESP, Docente-Pesquisador UEPA, bvalente7@yahoo.com.br
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No Brasil, a pesca artesanal está ligada, historicamente, à influência de três correntes étnicas que formaram a cul-
tura das comunidades litorâneas: a indígena, a portuguesa a cultura das comunidades litorâneas: a indígena, a portuguesa
Janaína Gabrielle Moreira Campos da Cunha; Lilian da Silva Dias Dias; Marcelo Fogaça; Patricia De Oliveira
e a negra (SILVA et al., 1990). Da cultura indígena as populações litorâneas herdaram o preparo do peixe para a alimenta-
ção, o feitio das canoas e jangadas, as flechas, os arpões e as tapagens; da cultura portuguesa, herdaram os anzóis, pesos de
metal, redes de arremessar e de arrastar; e da cultura negra, herdaram a variedade de cestos e outros utensílios utilizados
RESUMO para a captura dos peixes (DIEGUES, 1983).
A importância da compreensão das riquezas do litoral paranaense foi a principal motivação para o desenvolvimento da
presente pesquisa. Buscou-se verificar no âmbito da pesca artesanal, identificar o comportamento do consumidor de A pesca artesanal é definida como aquela em que o pescador sozinho ou em parcerias participa diretamente da
pescados e frutos do mar do Litoral do Paraná. Utilizou-se como método de coleta de dados a aplicação de questionário, captura de pescado, utilizando instrumentos relativamente simples. Os pescadores artesanais retiram da pesca sua princi-
abrangendo consumidores de algumas cidades do Paraná. Com o enfoque da comercialização foi analisado também o pal fonte de renda, ainda que sazonalmente possam exercer atividades complementares (DIEGUES, 1983). Os pescado-
perfil do consumidor de pescados e/ou frutos do mar do Litoral do Paraná, quanto a suas preferências, gênero em geral res artesanais, de acordo com Diegues (1983), estão acostumados com pouca produção, portanto se caracterizam como
aos atributos que norteiam o perfil desse consumidor. São apresentadas as conclusões a respeito deste perfil, bem como
sugestões para estudos futuros. pequenos produtores. Não aceitam a pesca industrial porque são diretamente prejudicados por ela e acreditam que esta
violenta constantemente a natureza.
Segundo Garcez e Sanches-Botero (2005) existem, no Brasil e também no litoral paranaense, diversas formas pe-
Palavras chaves: Pescados, Frutos do Mar, Litoral do Paraná.
las quais a pesca se organiza, e que, principalmente, diferem muito entre si. Em um estudo realizado com pescadores do
litoral brasileiro, dividem as atividades pesqueiras profissionais em três categorias: de subsistência, artesanal e industrial,
as duas últimas com finalidade comercial.
O Litoral paranaense é considerado o terceiro celeiro mundial de reprodução de animais aquáticos, constituindo
um ambiente extremamente vulnerável a acidentes. Conta com 7 municípios em 90 Km de costa que, somada às baías de
Guaraqueçaba, Antonina, Paranaguá e Guaratuba, perfaz mais de 400 Km de costa interna (MATSUI e NATALINO,2005).
MATERIAL E MÉTODOS
Tomando como base os estudos de Gil (1991) e Vergara (1990), a pesquisa pode ser classificada quanto aos fins
e quanto aos meios. Quanto aos fins a pesquisa pode ser classificada como descritiva, já que para Vergara (1990) a pes-
quisa descritiva expõe características de determinada população ou determinado fenômeno, e pode também estabelecer
correlações entre variáveis e definir a natureza. Quanto aos meios a pesquisa pode ser classificada como bibliográfica,
telematizada e de campo.
Segundo Vergara (1990), a pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com base no material
publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral, podendo este ser
fonte primária ou secundária.
MÉTODO ESCOLHIDO Os locais onde são ofertados os pescados e frutos do mar para compra são geralmente as peixarias e os supermer-
cados, estabelecimentos estes especializados para a comercialização deste tipo de alimento/produto.
Análise conjunta possibilita compreender a forma como os consumidores estruturam a preferência por produtos
(ou serviços), tendo por base a avaliação de combinações de níveis dos atributos dos produtos (ou serviços). Assim, Segundo Venturi (2010, p.109) “ A peixaria diz respeito a um estabelecimento especializado na comercialização
baseia-se no pressuposto de que os consumidores avaliam o valor ou utilidade de um produto, em função da utilidade e pré-preparo de peixes, crustáceos e demais frutos do mar”. Na visão de Salgado (2005, p.198) “ para consumir frutos
proporcionada pela combinação de níveis dos atributos que o compõe. A partir dessa ordenação, o pesquisador pode de- do mar com segurança é importante comprá-los em mercados de peixe e em supermercados que os mantêm cobertos e
terminar a importância de cada atributo e a combinação mais efetiva. envoltos com gelo, protegidos do sol e de insetos (...)”.
Além da peixaria, os consumidores do litoral do Paraná também apreciam os pescados e frutos do mar em restau-
rantes, conforme preparo do local, bem como a forma que ele é servido, de modo que essa procura por estes tipos de ali-
CONTEXTUALIZAÇÃO DOS ASSUNTOS QUE COMPREENDEM O CONSUMO E A COMERCIALIZA-
mentos têm levado os restaurantes a introduzir em seus cardápios pratos dos mais variados tipos à base de peixes e frutos
ÇÃO DOS PESCADOS E/OU FRUTOS DO MAR.
do mar a fim de proporcionar aos seus clientes uma alternativa de alimentação gostosa, saudável e com baixas calorias.
Os pescados e os frutos do mar estão presentes e “arraigados” na cultura da região litorânea do Paraná, por seus “Nas cidades costeiras ou nas populações ribeirinhas, os restaurantes têm o cuidado e dão a devida importância quando da
pratos para todas as classes sociais, ricos em propriedades nutricionais e a facilidade de acesso na região à estas riquezas preparação do prato, de modo a se tornarem sofisticados, requintados e agradando sempre o consumidor final”. ( MON-
marinhas. TEBELLO e ARAÚJO, 2005).
Inúmeros são os benefícios desses alimentos para o organismo humano, pelas vitaminas e outros itens essenciais à É importante o consumidor também ter conhecimento da forma que são manuseados, acondicionados e conservados
saúde, contribuindo significativamente para uma vida mais saudável. Como exemplo, o ômega 6 e ômega 3 que possuem os pescados e frutos do mar, pois estes possuem certa fragilidade depois de retirados das águas e dos manguezais, merecendo
grande importância no processo do metabolismo do organismo. Além disso, no caso da gestação, o ômega 3 auxilia no uma atenção especial nestes aspectos.
desenvolvimento nas funções visuais e mentais do feto.
Para produtos congelados, deve-se observar a data de industrialização, a validade e identificação do fornecedor,
I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL
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29 a 30 de Outubro de 2015 | Matinhos - PR
bem como a temperatura ideal para a sua conservação, porém importante destacar que no caso de congelados eles não • Influenciam o comportamento do consumidor.”
podem ultrapassar o prazo de validade de 3 meses. Quando forem comprados frescos e cobertos com pedaços de gelo,
A tabela a seguir destaca detalhadamente exemplos de situações do consumidor quanto aos ambientes físicos,
podem ser guardados por várias horas, mas o ideal é consumi-los no mesmo dia em que foram comprados. (SALGADO,
sociais, o tempo, a definição de tarefa e os estados antecedentes. (RAMOS, 2000)
2009);
Tabela 02 – Situações do consumidor
Outro aspecto de relevância é a procedência, pois o consumidor deve ter conhecimento de que local estão sendo
extraídos estes alimentos, de modo que estes devem ser extraídos ao mar aberto e jamais nas áreas costeiras, ou próximo Cinco tipos de situações do consumidor
das regiões habitadas, uma vez que possuem maior risco de contaminação, pelo fato de muitos locais não possuírem um 1) Ambiente físico: Os aspectos físicos e espaciais concretos do ambiente que envolve uma ativida-
tratamento adequado de esgoto e também por ser uma região portuária, com movimentações constante de embarque e de de consumo.
desembarque de navios , podendo assim lançar ao mar contaminantes prejudiciais à saúde humana.
2) Ambiente social: Os efeitos que outras pessoas provocam sobre um consumidor durante uma
atividade de consumo.
Salgado (2009, p. 198) afirma que:
“os frutos do mar, quando criados em águas poluídas, podem ser contaminados com vários tipos de bac- 3) Tempo: Os efeitos da presença ou ausência de tempo nas atividades de consumo.
térias e transmitir várias doenças, inclusive hepatite. Portanto, todo cuidado é pouco na hora de comprar
e preparar este tipo de alimento. Em geral os barcos pesqueiros que abastecem os mercados de peixes e 4) Definição da tarefa: As razões que geram a necessidade de os consumidores compararem ou
supermercados capturam esses moluscos e crustáceos em mar aberto, distante da costa, onde a poluição consumirem um produto ou serviço.
ainda não chegou. Então, a dica é não apanhá-los à beira-mar ou perto do cais, pois aí a poluição é maior”.
5) Estados antecedentes: Os estados psicológicos e de espírito temporários que um consumidor
traz para uma atividade de consumo.
“A preferência nacional, de norte a sul, é pelo camarão. Mas também há pratos apreciados à base de mexilhões, Fonte: Mower & Minor.
vôngoles, mariscos, lula, polvo, lagosta, caranguejos, siris, ostras, vieiras entre outras variedades” (Salgado 2009, p.198).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
PERFIL DO CONSUMIDOR
O questionário foi elaborado com as questões voltadas para identificar o perfil do consumidor de pescados e frutos
O comércio de pescados no Litoral do Paraná em geral é a fonte provedora de muitas famílias, em geral represen- do mar no Litoral do Paraná, visando
tam a muitos sua principal fonte de renda.
os consumidores e potenciais consumidores que moram no local estudado ou em outras cidades. O estudo analisou fatores
Nesse comércio a presença do consumidor é variada, e suas aquisições são realizadas no município que atende ao relevantes para se identificar o comportamento desse consumidor. Abaixo o resultado da pesquisa:
seu perfil comportamental. Segundo Engel et al. (2000), o comportamento do consumidor deve ser estudado para enten-
O estudo verificou uma paridade quanto aos gêneros que consomem o pescado e frutos do mar (Figura 01).
der as atividades diretamente envolvidas em obter, consumir e dispor de produtos, sendo interessante incluir processos
decisórios antes e após as ações. Figura 01: Questão 01
Para se identificar o consumidor é preciso saber quais são as situações que compreendem seu comportamento.
“As situações do consumidor consistem nos fatores temporários do ambiente que formam o contexto dentro do qual
ocorre a atividade do consumidor.” (RAMOS, 2000)
A procura maior, analisando do aspecto renda familiar, destaca-se entre R$ 2.012,67 a R$ 3.479,36 (27%), segui- Quanto ao consumo dos pescados e frutos do mar, 1% das pessoas entrevistadas não consome o produto, enquan-
do R$ 3.479,36 a R$ 6.563,73 (23%) e R$ 1.194,53 a R$ 2.012,67 (20%). to 99% consomem.
(Figura 03) (Figura 05)
Ao analisar a pesquisa o peixe (55%) encontra-se com a maior preferência pelos consumidores, seguido do cama-
A maioria do público pesquisado opta por consumir o produto de sua preferência em casa (69%) e 31% em res-
rão (32%), caranguejo (6%), ostra (5%) e outros (2%).
taurantes.
(Figura 07)
(Figura 09)
A modalidade de preparo que predominou foi frito (59%), seguido de assado (17%), cozido (15%) e outros (6%).
Em relação ao preço, podemos analisar que é um dos fatores que determina na aquisição do pescado e/ou frutos
(Figura 11) do mar, 45% alegou que influencia pouco, 37% alegou que não influencia e 18% alegou que influencia muito.
(Figura 13)
Com base nos resultados das análises realizadas a partir dos dados coletados na pesquisa de campo com o objetivo FAGUNDES, Luiz Alberto. Guia de Alimentação Natural. Alimentos que nos ajudam a viver melhor. Porto Alegre:
de identificar o perfil do consumidor de pescado e/ou frutos do mar no Litoral do Paraná, conclui-se que: Editora AGE Ltda,2003.
1. Não há uma diferença significativa entre os gêneros feminino e masculino; GARCEZ, D.S. & SÁNCHES-BOTERO, J.I. Comunidades de pescadores artesanais no estado do Rio Grande do Sul,
Brasil. Rio Grande: Atlântica, 2005.
2. O consumo é significativo entre a faixa etária que compreende aos 18 a 30 anos;
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3.ed.- São Paulo: Atlas, 1991.
3. Há um consumo similar nas famílias com a renda de R$ 2.012,67 a R$ 3.479,36 (27%) e R$ 3.479,36 a R$
6.563,73 (23%); LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico. 3. ed. São Paulo: Atlas,
1991.
4. O município de Paranaguá destaca-se na pesquisa, sendo o local onde esses consumidores residem;
MARQUES, J. G. W. 2001. Pescando Pescadores: Ciência e Etnociência em uma Perspectiva Ecológica. São Paulo:
5. A preferência pelo pescado e/ou frutos do mar é predominante em todo o público pesquisado;
NUPAUB-USP.
6. Há uma paridade quanto à periodicidade do consumo, praticamente o pescado e/ou frutos do mar está sempre
MONTEBELLO, Nancy de Pilla; ARAÚJO, Wilma Maria Coelho. Carne e Cia, Série Alimentos e bebidas, Distrito
presente nas refeições;
Federal: Editora Senac , 2005.
7. O consumidor de carne de pescado no Litoral do Paraná tem o peixe com opção de carne mais saborosa, demons-
MOWEN, J.C. Comportamento do Consumidor. São Paulo: Prentice Hall, 2003 p. 3.
trando preferência por mais 55% dos entrevistados, seguido o camarão com 32%;
RAMOS, Simone. Comportamento do Consumidor. São Paulo: Prentice Hall, 2003.
8. Foi significativo o resultado quanto à facilidade ao encontrar o produto de preferência na região 94%;
MATSUI, NATALINO - RELATÓRIO TÉCNICO SOBRE O CENSO ESTRUTURAL DA PESCA ARTESANAL
9. A residência própria é o local de maior preferência ao consumo;
MARÍTIMA E ESTUARINA NOS ESTADOS DO ESPÍRITO SANTO, RIO DE JANEIRO, PARANÁ, SANTA CATA-
10. A feira (mercado de peixe) é o local mais procurado para a aquisição do pescado e/frutos do mar; RINA E RIO GRANDE DO SUL. Convênio SEAP/IBAMA/PROZEE Nº 110/2004 -(Processo nº00350. 000748/2004-
74)
11. A modalidade de preparo que se destaca é o pescado e/ou frutos do mar frito;
SALGADO, Jocelem Mastrodi. Dieta alimentar para manter a saúde e evitar doenças. São Paulo: Ediouro, 2009.
12. Mais da metade dos entrevistados alegou que consomem por gosto/prazer; e
SILVA, T. E.; TAKAHASHI, L. T.; VERAS, F. A. V.. 1990. As Várzeas Ameaçadas: Um Estudo Preliminar das Relações
13. O preço foi o fator que mostrou um ponto determinante na aquisição do pescado e/ou frutos do mar com 63%
entre as Comunidades Humanas e os Recursos Naturais da Várzea da Marituba no Rio São Francisco. Programa de Pes-
(somatório 45% pouco e 18% influencia muito).
quisas e Conservação de Áreas Úmidas no Brasil. Universidade de São Paulo.
14. Outro ponto importante e avaliado na pesquisa, na questão aberta realizada na pesquisa, foi que apesar de haver
VENTURI, James Luiz. Gerenciamento de bares e restaurantes. Porto Alegre: Bockman,2010.
um número expressivo de entrevistados que residem em Paranaguá, o município que atende melhor os desejos do
consumidor quanto a qualidade no modo do preparo e preço é Morretes, Antonina e Guaratuba. VERGARA, Syllvia Constant, Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo: Editora Atlas, 1997.
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Entre os sistemas produtivos na agricultura familiar vem se destacando a agroecologia, que para Caporal,
1 Udesc. abasquerote@yahoo.com.br
2 Udesc. giully.de.oliveira@gmail.com
Costabeber (2004), é uma junção da ecologia com a agronomia, que leva em consideração a necessidade de conservação
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No Brasil, a partir da década de 1990, a agricultura familiar passou a ter mais destaque e reconhecimento, tendo recebido
apoio de várias políticas públicas, tais como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF.
Posteriormente, com a crescente demanda por alimentos limpos, livres de insumos químicos, a agricultura familiar de Introdução
base ecológica passa a ter uma significativa ampliação. Outra novidade refere-se ao fato de que as organizações, enti-
dades, movimentos sociais, representativas desse segmento, passaram a ser mais proativas e propositivas. Dessa forma, Da década de 1990 em diante a agricultura familiar passou a ter maior reconhecimento, tendo várias políticas
participam mais ativamente na construção e implementação das políticas públicas, não se restringindo à crítica, reivindi- públicas sido direcionadas a esse segmento do meio rural brasileiro. Entre as principais estão o Programa Nacional de
cações e protestos. Assim como, introduzem inovações na forma de organização e gestão dessas atividades. Trata-se das
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o Programa Territórios da Cidadania e o Programa Desenvolvimento
inovações sociotécnicas, as quais compreendem uma tecnologia organizativa e grupal em termos de saber tecer alianças
e auto-organizar-se. A sua viabilização implica transformações lentas, de médio e longo prazo, por meio de mudanças Sustentável de Territórios Rurais (PRONAT) e, recentemente, foi lançado o Plano Nacional de Agroecologia e Produção
cumulativas. No entanto, pode-se colocar que os desafios na consolidação e difusão dessas inovações são, de certo modo, Orgânica (PLANAPO).
proporcionais à crescente demanda por produtos limpos e saudáveis. Isso porque, em função de uma série de fatores,
correm o risco de perderem o seu ideário e/ou a sua identidade de projeto, limitando-se a meros nichos de mercado, tal A organização e demanda da sociedade civil foi fundamental para alavancar essas iniciativas, tendo destaque os mo-
como pode ser verificado no estudo de caso sobre a Rede Ecovida de Agroecologia (Núcleo Litoral Catarinense). Mais vimentos sociais, ONG’s, fóruns, redes e entidades diversas. Essas organizações não tem se limitado à crítica ao sistema
que um estilo de agricultura, a agroecologia propõe a transição para uma agricultura de base sustentável, o que, atual- e/ou falta de oportunidades, de direitos, mas são mais proativas e propositivas. Procuram colocar em prática inovações em
mente, implica transformar a base técnica de produção agrícola. Nesse contexto, o conceito de transição agroecológica
passa a ser primordial, podendo ser compreendido como um processo gradual e multilinear de mudança, que incorpora diversos âmbitos, seja na produção, na criação de novas formas de gestão e organização social, mais participativas, hori-
tecnologias de base ecológica. zontalizadas e dinâmicas. Um exemplo emblemático são as redes de agricultores familiares e agroecológicos, tais como
a Rede Ecovida de Agroecologia e as experiências no âmbito da Economia Solidária. Instrumentalizando a formação de
novas sociabilidades, em geral, pautadas pela lógica da reciprocidade, essas inovações viabilizam processos de inclusão
Palavras-chave: Agricultura familiar agroecológica, Inovações sociotécnicas, Rede Ecovida de Agroecologia, desenvol- social e de construção de cidadania ambiental. No entanto, permanecem ainda embrionárias e fragmentadas. A partir desse
vimento territorial sustentável. cenário buscou-se, sobretudo, entender melhor as condições de viabilidade da Rede Ecovida de Agroecologia no contexto
específico da zona costeira catarinense. Essa região foi selecionada, pois apresenta potencial significativo para o fortale-
cimento dessas inovações. Entre outros aspectos positivos, podem ser citados a proximidade entre rural e urbano, entre
ABSTRACT
instituições públicas, empresariais e organizações da sociedade civil; o elevado poder aquisitivo da população; a abertura
In Brazil, from the 1990s, family farming now has more prominence and recognition and received support from various ao espaço marítimo e a demanda crescente por produtos orgânicos. Em função dessas características e da sua localização
public policies, such as the National Program for Strengthening Family Farming - PRONAF. Later, with the growing
geográfica estratégica, as inovações sociotécnicas presentes no local têm enorme potencial, sendo uma referência o turis-
demand for clean food, free from chemical inputs, family farming ecological base is replaced by a significant expansion.
Another novelty refers to the fact that organizations, entities, social movements, representing this segment have become mo rural, o qual vem despertando o interesse dos jovens em investir e permanecer nessa atividade. No entanto, em relação
more proactive and purposeful. Thus participate more actively in the construction and implementation of public policies, às experiências de agroecologia em rede, o que se verifica é uma significativa dificuldade na sua difusão e consolidação.
not limited to criticism, claims and protests. As well as introduce innovations in organization and management of these
activities. These are the socio-technical innovations, which include an organizational and group technology in terms of Face ao exposto, tendo por locus o Núcleo Litoral Catarinense da Rede Ecovida de Agroecologia, foram investiga-
knowing weave alliances and self-organize themselves. Its feasibility involves slow changes, medium and long term, dos dois grupos, a saber: o Grupo de Paulo Lopes (GPL) 2 e o Grupo de Joinville Piraí-Cubatão (GPC) 3. Além de situarem-
through cumulative changes. However, you can put the challenges in the consolidation and dissemination of these inno-
se em regiões diferentes na zona costeira, estando o primeiro localizado no litoral centro-sul e o segundo no litoral norte,
vations are, in a way commensurate with the growing demand for clean and healthy products. This is because, depending
on a number of factors, risk losing their ideology and / or your project identity, limited to mere niche markets, such as can 2 GPL – Sigla que denomina o Grupo da Rede Ecovida de Paulo Lopes, denominado Grupo Paulo Lopes (GPL).
1 Instituto Federal Catarinense (IFC – Câmpus Santa Rosa do Sul) E-mail: suzana@ifc-sombrio.edu.br 3 GPC – Sigla que denomina o Grupo da Rede Ecovida de Joinville, denominado Grupo Piraí Cubatão (GPC).
Grande parte das inovações sociotécnicas no campo social estão relacionadas às “técnicas brandas”, pois referem-
1. A importância da agricultura familiar, de base ecológica, para o desenvolvimento territorial sustentável se a uma tecnologia organizativa e grupal, em termos de saber tecer alianças e auto-organizar-se (HERRERA; UGAR-
TE, 2008). Um exemplo emblemático são as redes de agricultores agroecológicos e de economia solidária. Embora
Como é sabido, no Brasil, historicamente a agricultura familiar foi relegada a um segundo plano, tendo as mono-
tenham especificidades, de modo geral, visam à construção de sociabilidades mais solidárias e sustentáveis, através da
culturas maior respaldo do poder público, seja na época do ciclo da cana de açúcar, do algodão, do café e, mais recen-
implementação de novas formas de produção e gestão.
temente, da soja. A pequena produção, em geral, foi vista como ineficiente, inexpressiva, para o desenvolvimento rural
do país. Mas, na década de 1990 inicia um processo de mudança, tendo sido formuladas políticas públicas, em âmbito No entanto, deve-se considerar que um dos principais empecilhos para a difusão e consolidação dessas inovações
nacional, voltadas para esse segmento. Uma referência é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar refere-se à dificuldade na manutenção dos seus ideários de solidariedade, de respeito ao meio ambiente e de construção
(PRONAF), o qual vem sendo anualmente ampliado, seja em volume de recursos, seja em termos de linhas de crédito de novas sociabilidades num cenário pouco propício. Isso porque, frente à lógica do individualismo, do consumismo
(PRONAF Infraestrutura, PRONAF Assistência Técnica, PRONAF Jovem etc) (GUANZIROLI; BASCO, 2010). Outras e da competitividade, essas inovações acabam encontrando muitos obstáculos no fortalecimento e ampliação das suas
políticas públicas têm conferido direta e indiretamente suporte e fortalecimento ao PRONAF, tais como o Programa de conexões internas e externas. Além disso, segundo Ricci (2010, p.04), grande parte das organizações da sociedade civil
Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa de Garantia de Preços da Agricultura Familiar (PGPAF), o Programa Terri- não “pensa o território como base de organização, mas o tema. O território articula muitos temas e pessoas. É ali que
tórios da Cidadania e o Programa Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais (PRONAT). nasce a noção de público”. Para Almeida (2003) essas inovações precisam se consolidar enquanto um movimento social,
não se limitando a uma mera ação contestadora e/ou restrita a identidades específicas.
Não obstante, embora as políticas públicas tenham sido fortalecidas, ainda há muito a ser feito para alcançar o
desenvolvimento territorial e/ou rural sustentável. Isso porque, o modelo da modernização agrícola ou revolução verde,
baseado nas monoculturas, na mecanização, e na utilização de insumos químicos, embora venha recebendo muitas críti-
2.2 Um caso empírico: Rede Ecovida de Agroecologia - Núcleo Litoral Catarinense
cas, ainda continua hegemônico. Contudo, devido principalmente à demanda dos consumidores por alimentos limpos e
sustentáveis, a agricultura de base ecológica tem se ampliado, sendo uma referência a agroecologia. Embora o lançamento oficial tenha sido no dia 28 de abril de 1999, na Assembleia Legislativa do Estado de Santa
Catarina, a Rede Ecovida de Agroecologia surge no Sul do Brasil, sendo resultado de processos históricos, em especial
O conceito de agroecologia deriva da ecologia e da agronomia, tendo sido proposto pelos ecologistas nos anos
de organizações da sociedade civil que lutavam por uma alternativa ao modelo da modernização agrícola ou revolu-
I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL
199
29 a 30 de Outubro de 2015 | Matinhos - PR
ção verde. Além da dimensão ecológica, a Rede Ecovida trabalha as dimensões sociopolítica, cultural e econômica. A estratégica para o desenvolvimento territorial sustentável, essas experiências tendem a se restringir a pequenos grupos que
consideração dessas dimensões implica uma nova compreensão da natureza, a construção de uma nova sociabilidade, a se agregam à Rede em busca de um selo a baixo custo, em geral, visando nichos de mercado. Dessa forma, a limitação dos
consideração do saber popular e o acúmulo de experiências. Esses aspectos constituem a identidade de projeto da Rede encontros, as poucas conexões, a desconsideração da dimensão sociopolítica nesses processos contribui para certa apatia
Ecovida, a qual confere à agroecologia uma dimensão estratégica (ECOVIDA, 2007). Atualmente, a Rede Ecovida e desinteresse dos agricultores em se envolver mais na Rede.
abrange os três Estados da Região Sul (RS/SC/PR) e parte da região sul de São Paulo. Está composta por 23 núcleos e
Mesmo com pouca visibilidade nos seus municípios, os sociogramas das redes egocêntricas4 evidenciaram um perfil
dois pré-núcleos, tendo uma média de três mil famílias filiadas (ECOVIDA, 2012).
fortemente endógeno dos grupos, os quais têm poucos laços exógenos, afora um ou outro agricultor que possui uma va-
Mesmo tendo coordenações estaduais e uma coordenação geral, é nos grupos e núcleos onde são tomadas as prin- riedade mais ampla de conexões. As parcerias com atores territoriais que apresentam perfil similar ao da Rede Ecovida,
cipais decisões e encaminhamentos coletivos da Rede Ecovida. Ou seja, a rede opera de modo descentralizado, tendo tais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o Fórum da Agenda 21 e o Fórum de Economia
por elo de referência o núcleo regional. Em relação ao Núcleo Litoral Catarinense, a pesquisa priorizou para análise os Solidária, são frágeis ou inexistentes. Os vínculos com essas organizações poderiam contribuir para o fortalecimento des-
grupos de Paulo Lopes (GPL) e de Joinville (Piraí-Cubatão) (GPC), em função de o primeiro ser o mais antigo do Nú- sas inovações sociotécnicas, principalmente no que se refere à troca de informações, à ajuda mútua, o fortalecimento das
cleo, e o segundo por ter forte apoio das instituições públicas locais, em especial da Fundação Municipal 25 de Julho. A coalisões territoriais e o engajamento da juventude nessas atividades. Como pode ser verificado na referida pesquisa, a
pesquisa analisou os grupos no período compreendido entre 2002 e 2012, a fim de abarcar o início dessas atividades, o depender do interesse dos filhos dos agricultores, a Rede Ecovida tende a desvanecer, pois a grande maioria não pretende
desenvolvimento e a situação atual. De modo geral, pode-se destacar que ambos os grupos tiveram uma primeira fase de dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelos pais.
estruturação, uma segunda de desestruturação e uma terceira de reestruturação.
No caso da zona costeira catarinense essa situação é ainda mais complexa, pois há muitos atrativos devido à pro-
Na primeira fase havia maior atuação dos mediadores e incentivadores dos grupos, existindo mais encontros pre- ximidade ao meio urbano e as oportunidades de trabalho assalariado, principalmente, no verão em que o turismo sazonal
senciais, visitas a outros grupos, troca de informações, etc. Com o passar do tempo, essas atividades foram diminuindo. é muito forte. Em função disso, muitos agricultores veem pouca potencialidade para essas inovações na região, mesmo
Nos comentários dos agricultores pode-se perceber a dificuldade da organização e atuação em rede. Essa fragilidade tendo mercado consumidor. No entanto, mais que uma inovação, a Rede Ecovida de Agroecologia é fundamental para
dificulta a ampliação dessas experiências, pois as conexões entre os nós propiciam além da troca de elementos, o forta- manter a sustentabilidade dessa região, em termos de propiciar maior equilíbrio face à urbanização desordenada, à de-
lecimento recíproco e, em consequência, a multiplicação dessas unidades (MANCE, 1999). Um exemplo emblemático e sestruturação das comunidades tradicionais e, em consequência, da identidade cultural desse território. Em função disso,
uma evidência dos poucos laços existentes na rede é o caso do agricultor 7PC, o qual destacou a importância de existir urge o fortalecimento de dinâmicas voltadas para o desenvolvimento territorial sustentável o que implica a consolidação
uma equipe na rede responsável por produzir mudas orgânicas, enquanto em Paulo Lopes a agricultora 11PL, produtora e difusão dessas inovações, assim como o maior incentivo das políticas públicas a essas tecnologias sociais.
de mudas orgânicas, teve de parar de produzir devido à falta de compradores. Esse descompasso pode ser visualizado nos
sociogramas da Rede, em que se observa um “buraco estrutural” entre os dois grupos, tendo por elo ponte e/ou interme-
diário apenas um mediador que não atua em nenhum dos grupos, mas no Núcleo Litoral (SILVEIRA, 2013). 3. A importância do desenvolvimento territorial sustentável para o fortalecimento das inovações sociotécnicas
Uma série de fatores contribui para explicar a baixa densidade da rede, tais como, por exemplo, o aumento da de- Em fins da década de 1990, sob influência de políticas públicas europeias, em especial do Programa de Apoio ao
manda por produtos orgânicos e a consequente necessidade de inserção nos mercados; a falta de recursos e de estrutura Desenvolvimento Local e Rural (LEADER) o desenvolvimento setorial foi sendo aos poucos superado pelo desenvol-
técnica adequada; a pouca mão de obra disponível; o frágil incentivo das políticas públicas; a dificuldade no acesso à vimento territorial. Não obstante, pode-se colocar que o desenvolvimento territorial, no Brasil, é uma agenda relativa-
internet, entre outros. Esses empecilhos tendem a dificultar a manutenção dos ideais e princípios da agroecologia, como mente recente, tendo iniciado formalmente em 2003 com a criação da Secretaria de Desenvolvimento Territorial, a qual
pressupõe a identidade de projeto da Rede. No entanto, deve-se atentar para o fato de que essas inovações, ao não con- é responsável pela formulação e implementação do PRONAT (Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios
siderarem a dimensão sociopolítica, correm o risco de “debilitação de seu caráter transformador e contra-hegemônico” Rurais) (ANDION, 2009).
(CASSARINO, 2009, p.06). Ou seja, podem tornarem-se inovações sociotécnicas pontuais, com pouca ou nenhuma
influência na construção de novas territorialidades, limitando-se, por exemplo, a condição de nicho de mercado. Contudo, embora as políticas descentralizadas venham sendo estimuladas, o modelo de modernização agrícola
continua hegemônico, com uma política verticalizada de gestão do território. Segundo Schejtman e Berdegué (2003 apud
A falta de resultados concretos e de maior divulgação dessas atividades nos seus respectivos municípios, pouco AMORIN, 2008, p.02), “o território é um conjunto de relações sociais que dão origem e expressam uma identidade e
favorece o potencial estratégico da rede em termos de viabilizar a construção de novas modalidades de desenvolvimento um sentido de propósitos compartilhados por múltiplos agentes públicos e privados”. Dessa forma, o desenvolvimento
rural. Além disso, a não consideração da dimensão sociopolítica contribui para aproximar a Rede Ecovida a uma simples territorial requer o estabelecimento de um ´pacto territorial` capaz de fortalecer um novo sujeito coletivo que articule as
certificadora, tendo isso sido inclusive destacado pelos próprios agricultores. Nesse caso ao invés de contribuir de forma
4 Ver: SILVEIRA, 2013.
HERRERA, Adolfo Rodríguez; UGARTE, Hernán Alvarado. Claves de la innovación social em América Latina y el
RESUMO
Caribe. Santiago do Chile: CEPAL, 2008.
Este artigo aborda a agroecologia como uma alternativa de desenvolvimento e como uma forma de contraposição das
MADAIL, João Carlos Medeiros; BELARMINO, Luiz Clovis; BINI, Dienice Ana. Evolução da produção e mercado de agricultoras familiares e camponesas às desigualdades de gênero. As reflexões aqui presentes estão relacionadas a um
produtos orgânicos no Brasil e no mundo. RCA – Revista Científica da AJES. ISSN – 2177-5923. Juína – Mato Grosso.
Disponível em: http://www.revista.ajes.edu.br/arquivos/artigo_20110220123621.pdf. Acesso: 2011. projeto em nível de mestrado, que objetiva compreender como a adoção da agroecologia tem modificado as relações de
gênero na agricultura, averiguando se tais mudanças têm ressignificado positivamente o papel exercido por mulheres
PECQUEUR, Bernard. A guinada territorial da economia global. Revista Eisforia / Universidade Federal de Santa Ca- dentro dos estabelecimentos familiares. Trata-se de um estudo de caso cujo principal meio de coleta de dados é a realização
tarina, Centro de Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas. – v.1, n.1 (jan/jun 2003) – Flo-
rianópolis: PPGAGR, 2003. Barcelona. España. Julio del 2008. de entrevistas semiestruturadas de caráter qualitativo. Tem-se encontrado mulheres atuantes em diversas etapas e ações
de agroecologia e de maneira geral, as agricultoras demonstram que sentem orgulho e consideram gratificante o trabalho
RICCI, Rudá. Os desafios dos movimentos sociais hoje. Entrevista: IHU On-Line – edição 325, 21-04-2010. Dispo-
realizado na produção agroecológica.
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www.bu.ufsc.br/teses/PSOP0453-T.pdf>. Acesso em : 7 ago. 2013. woman farmers and peasant woman to gender inequalities. Is related to a master’s research project that aims to understand
how the adoption of agroecology has changed gender relations in agriculture, examining whether such changes have
positively reframed the role played by women within the family establishments. This is a case study and the main form
of data collection is conducting semi-structured interviews of qualitative character. We have found women engaged
in various stages of agroecology actions. In general, the woman farmers have shown that they are proud and consider
rewarding the work done in the agro-ecological production.
1 UFSC, nicole.fossile@gmail.com
2 UFSC, stropasolas@gmail.com
1.1) A agricultura familiar orientada por princípios agroecológicos O enfoque agroecológico articula o autoconsumo e a diversificação da produção como uma forma de privilegiar a
soberania e a segurança alimentar, dado que muitos agricultores familiares por distintas razões não acessam alimentação
A consolidação da modernização conservadora3 no campo mudou o exercício da atividade agrícola, a dinâmica
com qualidade, em quantidade e na frequência adequada. O direcionamento para além da inserção no mercado é uma
produtiva e as relações com a natureza influenciando diretamente no calendário agrícola e na importância do saber
maneira de abordar o desenvolvimento sob perspectivas não econômicas, e ainda para desconstruir a ideia de relação
do agricultor na orientação da produção (WANDERLEY, 2013). Tais mudanças resultaram em dependência técnica e
entre subsistência e pobreza que incide sobre a agricultura com base na renovação dos ciclos naturais (SHIVA,
econômica, afetando principalmente as dimensões sociocultural e econômica das unidades de produção da agricultura
1995). Portanto na perspectiva agroecológica avalia-se o desenvolvimento com base em múltiplos aspectos que estão
familiar e suas formas de reprodução, interação no trabalho e direcionamento profissional dos filhos e, em muitos casos
relacionados aos chamados princípios agroecológicos. Os relacionados à dimensão sociocultural circulam em torno de
a permanência e/ou acesso a terra, a soberania alimentar e a preservação de culturas e de agroecossistemas tornam-
ações de reconhecimento e de valorização do saber tradicional, do potencial endógeno, da participação ativa dos atores
se inviáveis. Neste trabalho assume-se que, no sentido do que afirma Wanderley (1998), a agricultura familiar é uma
sociais e da geração de tecnologias a partir de metodologias participativas (CAPORAL et. al, 2005). Através dos quais
categoria com diferentes formas sociais de combinação entre propriedade e trabalho. A autora defende que o agricultor
são fortalecidos quesitos como a construção coletiva de conhecimento, diálogo, autoestima e valorização da profissão
familiar carrega uma tradição e guarda muitos os traços camponeses4, se adaptando a novos contextos econômicos e
visto que a transição para a agroecologia pressupõem o domínio e resgate de conhecimentos necessários ao trabalho
sociais sem desvincular-se da lógica de manutenção da família como objetivo central.
produtivo agrícola, transmitidos tradicionalmente via socialização familiar. Estão ainda relacionados à melhoria das
Mesmo apresentando dados expressivos com relação ao abastecimento interno e relevante caráter distributivo relações humanas entre agricultores - extensionistas, instituições e entidades que interagem diretamente com a categoria.
e de equidade socioeconômica (IBGE, 2006), as agriculturas familiares5 não são prioritárias em destinação de recursos
Estimulam também a participação em mercados locais e em circuitos curtos de comercialização, nos quais as
e no acesso à políticas públicas no Brasil. Os efeitos negativos decorrentes do histórico preterimento da agricultura
mulheres se destacam via participação em feiras. Os princípios relacionados ao campo produtivo incentivam a progressiva
familiar em relação ao agronegócio são diversificados e refletem-se também nos números da migração rural-urbano
autonomia quanto ao uso de insumos externos, através da conservação dos recursos naturais e da biodiversidade,
evidenciando a problemática da continuidade dos estabelecimentos e a necessidade de políticas públicas direcionadas ao
promovendo a restauração da resiliência do agroecossistema.
público jovem e à melhoria de infraestrutura no rural. Destaca-se que a permanência dos jovens representa possibilidade
de continuidade histórica e de reprodução social (ABRAMOVAY, 2004) de maneira que é fundamental que a sociedade Por sua formulação, a agroecologia tem alto potencial para promover autonomia e qualidade de vida visto que
apoie alternativas que estão sendo construídas e questione o que tem sido feito em nível de governo para o fomento, amplia o olhar sobre a ideia de desenvolvimento, para variados aspectos da vida social dos agricultores. Assim diversas
continuidade e prosperidade da agricultura familiar. unidades familiares têm adotado princípios ecológicos, integral ou parcialmente em ações individuais ou coletivas. De
maneira que além de se tornarem mais independentes financeira e tecnologicamente do modelo do agronegócio, são mais
A contraposição a tais efeitos negativos tem gerado novos papéis do rural e, influenciado diretamente na visão
valorizadas pelo conjunto da sociedade por produzirem alimentos de qualidade superior.
de mundo dos agricultores, alterando aspectos não econômicos como a qualidade de vida, a saúde, a autoestima e ainda
a forma de relacionamento com a natureza. Na perspectiva de valorização desses aspectos a agroecologia tem sido
construída como uma ciência multidimensional que aproxima agronomia e ecologia, englobando a dimensão ecológica
1.2) Problemáticas de gênero na agricultura familiar e transição para a agroecologia
e técnico agrícola, a socioeconômica e a cultural (CAPORAL et. al, 2005). Suas abordagens contribuem para mudança
de paradigmas nos âmbitos social, produtivo e na construção do conhecimento. De maneira geral, as agriculturas de base A pouca valorização do trabalho das mulheres rurais que conforme Paulilo (1987), expressa a posição de
ecológica servem de modelos para a transição a formas mais ecológicas, biodiversas e socialmente justas de agricultura subordinação da mulher na sociedade, é considerada relevante na decisão de permanecer ou não nos estabelecimentos
(ALTIERI, 1995). Embora a agroecologia seja multidimensional neste momento considera-se como mais relevantes às familiares. Além da falta de perspectivas dada a situação do rural brasileiro, são considerados fatores como à exclusão da
dimensões econômica e sociocultural por abrangerem questões de construção de igualdade social. Nos últimos anos capacitação e da formação profissional para o trabalho agrícola, a dificuldade de acesso à renda e crédito, o preterimento
é possível verificar que proposições levantadas por entidades representativas da agricultura familiar, de movimentos na herança da terra (BRUMER, 2004), o peso da autoridade paterna (DE CASTRO, 2013), o gerenciamento da unidade
3 Transformação na base técnica da produção agropecuária no pós-guerra, marcada pela dependência do mercado externo e dos meios de produtiva sob o ponto de vista masculino, dentre outros. Esses fatores tem influência também sobre as oportunidades
produção, consolida-se na década de 1960. que as mulheres terão de acesso às políticas públicas vinculadas à reforma agrária, na participação em programas de
4 O campesinato pode ser visto como uma forma social particular de organização da produção e “sociedades camponesas se definem por
manterem com a chamada “sociedade englobante” laços de integração, dentre os quais são fundamentais os vínculos mercantis” (WANDERLEY, geração de renda e de formação profissional. Tais tópicos estão relacionados ao grau de autonomia e afetam diretamente
2013). a liberdade e a qualidade de vida das mulheres rurais, de maneira que muitas jovens recusam-se a reproduzir a situação
5 Lamarche (1993) propõe quatro paradigmas teóricos de unidades de produção para diferenciar a agricultura familiar com base em
participação da família e grau de dependência do mercado.
Considerando as questões de gênero que perpassam a vida das trabalhadoras rurais, na promoção da luta pela Além das mudanças de base tecnológica há o processo de mudanças sociais e políticas que deve promover equidade
igualdade de direitos, os atores sociais envolvidos com a agroecologia têm utilizado de estratégias metodológicas e social e de gênero. Para De Biase (2010), a incorporação da perspectiva ética do cuidado, característica atribuída ao
processos educativos que envolvem o diálogo e a participação ativa. Os movimentos sociais de mulheres se destacam feminino, na implantação efetiva do sistema produtivo, possibilita que as mulheres participem de forma mais ativa em
nessas proposições e na construção da agroecologia, impulsionando o protagonismo das mulheres e dando visibilidade decisões quanto à inclusão de novos cultivares. Assim podem diversificar a produção ao avaliar os produtos do ponto de
à sua condição de agentes de desenvolvimento e promotoras da própria liberdade (SEN, 2000). Em Santa Catarina, o vista da segurança alimentar e nutricional e da geração de renda (PACHECO, 1999 cit. em DE BIASE, 2010). Afirma-se
Movimento de Mulheres Camponesas trabalha desde a década de 1980 para superação das desigualdades de gênero e tem que as mulheres atuantes na agroecologia modificam também sua postura de participação na vida pública (BURG, 2005;
significativa contribuição na conquista e efetividade da garantia de direitos. SILIPRANDI, 2009; LISBOA; LUSA, 2010). Isso significa que a participação em lugares de reflexão e de atuação seja
um elemento mobilizador no protagonismo e na construção da identidade social.
Por considerarem a permanência no campo como fundamental para a manutenção, o bem-estar e a garantia de
subsistência das famílias e pelo acumulo de críticas ao modelo produtivista e tomada de consciência dos efeitos negativos O ato de construir a identidade como algo em produção permanente, está ligado aos sistemas de representação
dele decorrentes, os movimentos se aproximam do campo ambiental. Dessa maneira, a aproximação com a agroecologia social. O reconhecimento de si em interação com os espaços sociais de atuação, possibilita que a identidade seja diretamente
se faz essencial, pois a preservação da biodiversidade é o ponto chave da independência em relação aos transgênicos, vinculada com as relações de poder (STROPASOLAS, 2011). Assim, essas mulheres têm possibilidade de se inserirem
ao uso de agrotóxicos e outras tecnologias que tem causado impactos negativos. Principalmente em termos de perda de em ações no espaço produtivo, no qual nem sempre a produção agroecológica assume papel principal7; nos espaços de
saúde, endividamento dos agricultores familiares e destruição de ecossistemas. decisões, no qual interagem com o espaço público e as derivadas relações de poder como forma de autoafirmação e de
domínio sobre a própria identidade. A condição de participação ativa nas decisões sobre o planejamento agrícola é uma
As mulheres possuem um significativo conhecimento sobre as espécies e garantem por meio de sua atividade
conquista contínua de desconstrução de paradigmas e retomada de espaços historicamente femininos. Estas mulheres
produtiva as bases para Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), estando presentes em praticamente todas as etapas
assumem-se como responsáveis pelas próprias vidas, fazendo-se presentes na preservação do meio ambiente, frente
dos processos produtivos. Como executam atividades que são relevantes para o manejo agroecológico, podem contribuir
ao agronegócio e em contraposição à sociedade machista, empoderam-se e ampliam consciência sobre a luta contra
na conservação da biodiversidade e na manutenção dos agroecossistemas através do cuidado com as hortas, os pomares,
subordinação da mulher e da natureza.
os jardins e os animais. Além de valorizar estas atividades, habitualmente realizadas por mulheres, a agroecologia atua
também sobre a ideia de descentralização da gestão dos estabelecimentos. Para Siliprandi (2009), estar presente nos A transição para a agroecologia modifica o modo de ser e de se relacionar com os outros e com a natureza, e
espaços de comercialização, cursos, seminários e encontros de agroecologia permite contato com novos conhecimentos abre espaço para a desconstrução de paradigmas, como os de relações autoritárias (SILIPRANDI, 2009). Nesse sentido,
e habilidades, possibilita o reconhecimento social do trabalho e fortalece a autoestima. A participação se ampliaria, pois considera-se importante averiguar se a orientação das unidades produtivas familiares por princípios agroecológicos tem
a transição para a agroecologia exige a realização de um conjunto de atividades que pressupõe maior necessidade de mão realmente alterado a condição social das mulheres fortalecendo e incentivando novos processos de protagonismo. Assim,
de obra, ocupando todos os membros da família. Dessa maneira a transição para a agroecologia incentiva a inserção de delimitou-se como questão norteadora desta investigação: que fatores promovem a ressignificação dos papéis sociais e
mulheres e jovens e potencializa a possibilidade de reconhecimento e valorização profissional. familiares exercidos por mulheres nos estabelecimentos familiares orientados por princípios de agroecologia?
O processo de transição é vivido pelas famílias em diferentes intensidades, variando conforme o motivo que as O objetivo geral desta pesquisa é compreender como a adoção da agroecologia tem causado alterações na agricultura
direciona para produção de base ecológica, por motivos relacionados à saúde como, por exemplo, a intoxicação de um familiar de base agroecológica averiguando se essas mudanças têm ou não promovido ressignificações positivas no papel
familiar devido ao uso de agrotóxicos ou o interesse pela produção de alimentos saudáveis como compromisso ético ou exercido por mulheres (jovens e adultas). Para isso, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: a) averiguar
6 Conforme Scott (1995), gênero é uma maneira de dar significado às relações de poder embasadas nas diferenças percebidas entre os as mudanças ocorridas nos papéis sociais das protagonistas destas ações nas esferas pública e privada; b) verificar o grau
sexos, mas faz referência exclusiva às origens sociais de homens e mulheres. O entendimento das relações sob essa perspectiva permite pensar de autonomia construída por esse público específico nas relações sociais e familiares; c) Investigar as redefinições no
homens e mulheres como resultado de uma construção social e cultural, que limita e orienta as práticas sociais com base em hierarquia de
relações de poder (DE BIASE et. al, 2010). 7 No caso das propriedades em transição.
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RESUMO
IBGE. Censo 2006. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 10/05/2014.
O presente estudo visa analisar o fomento à agricultura familiar pela agroecologia, onde os protocolos comunitários
LAMARCHE, Hugues et al. A agricultura familiar. Comparação internacional, v. 1, 1993. podem ser utilizados como instrumentos à proteção dos saberes tradicionais da comunidade onde o agricultor, em sua
maioria familiar, está inserido. Para tanto, utilizou-se o método indutivo, a fim de analisar o panorama geral da agri-
LISBOA, Teresa Kleba; LUSA, Mailiz Garibotti. Desenvolvimento sustentável com perspectiva de gênero-Brasil,
cultura familiar no Brasil, bem como as possíveis alternativas para fomentar tal produção. Deste modo, foi realizado
México e Cuba: mulheres protagonistas no meio rural. Estudos Feministas, p. 871-887, 2010.
um apanhado do contexto histórico e geral da agricultura familiar no Brasil, abordando a agroecologia, como meio de
PAULILO, Maria Ignez Silveira. “O peso do trabalho leve”. Ciência Hoje, Rio de Janeiro: SBPC, v. 5, n. 28, p. 64-70, preservar os saberes tradicionais dos agricultores e, a partir de tal premissa, instrumentos que poderiam viabilizar esta
jan./fev. 1987. prática, razão pela qual foi adotada a aplicação de protocolos comunitários. A agricultura familiar engloba a maioria da
SCOTT, Joan. Gênero, uma categoria útil de análise histórica (1995). Educação e realidade, 2009. população rural e é a responsável pelo abastecimento do mercado nacional. Contudo, o fomento da produção foi negli-
genciado por vários anos, o que gerou o êxodo rural e o abandono do cultivo das áreas, aumentando as áreas urbanas
SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. e a poluição. Como meio de brecar esta lógica danosa, busca-se a implantação da agroecologia, a qual busca o manejo
adequado da terra, a diminuição e até mesmo a não utilização de defensivos químicos, bem como a proteção dos saberes
SHIVA, Vandana. Abrazar la vida. Mujer, ecología y desarrollo. Madrid, Horas y horas, 1995.
tradicionais, os quais hoje são importantes como recurso genético. Desta maneira, com a implantação de protocolos co-
SILIPRANDI, Emma. Um olhar ecofeminista sobre as lutas por sustentabilidade no mundo rural. Petersen (org.), 2009. munitários, tais recursos genéticos e a própria produção agrícola familiar serão protegidas, uma vez que a sua formação
empodera os atores locais a regular a sua relação com os agentes externos à comunidade, a fim de garantir o seu meio de
STROPASOLAS, Valmir Luiz. sucessão geracional na agricultura familiar. Juventude na construção da,. Agriculturas v. produção próprio, bem como a forma de acesso aos recursos genéticos ali cultivados, os quais tem por escopo a garantia
8, n. 1, p. 26. 2011. dos conhecimentos tradicionais e proteção dos recursos genéticos adquiridos, a fim de regularizar o acesso dos agentes
WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. Agricultura familiar e campesinato: rupturas e continuidade. Estudos externos, como forma a evitar a biopirataria.
sociedade e agricultura, v. 1, 2003.
This study aims to analyze the promotion of family farming by agroecology, where community protocols can be used
as instruments for the protection of traditional knowledge community where the farmer in his most familiar, is inserted.
For this, we used the inductive method in order to analyze the production of family farming in Brazil, as well as possible
alternatives to foster such production. Thus, there was a glimpse of the historical and general context of family farming
in Brazil, addressing agroecology as a means to preserve traditional knowledge of farmers and from such a premise, in-
struments that could facilitate this practice, which is why it was adopted the application of Community protocols. Family
farming encompasses the majority of the rural population and is responsible for supplying the national market. However,
the development of production has been neglected for several years, which led to the rural exodus and the abandonment
of farming areas, increasing the urban areas and pollution. As a means to put the brakes on this harmful logic, seeks the
implementation of agroecology, which seeks proper land management, reduction and even the non-use of agrochemi-
cals, as well as the protection of traditional knowledge, which today are important as genetic resource. Thus, with the
implementation of community protocols such genetic resources and their own family farm will be protected, since their
1 Estudante de Especialização em Direito Ambiental pela PUCPR e Pesquisadora no Grupo de Pesquisa PRO-POLIS da UFPR - ana.
brudnicki@gmail.com
2 Acadêmico de Direito da Faculdade de Castanhal - igorapmonteiro@gmail.com
No que tange as áreas agrícolas, ficou evidente a divisão de produção agropecuária no Brasil, pois os “grandes
2 . Agricultura moderna e os prejuízos para as gerações futuras
produtores destinam sua produção ao mercado externo e os produtores familiares cabe o abastecimento do mercado
Desde o início dos tempos o ser humano utilizou sistematicamente o solo. Suas funções cingem-se em: servir nacional” (DELGADO, 2015).
como meio básico para a sustentação da vida e de habitat para pessoas, animais, plantas e outros organismos vivos; man-
Nestes últimos dez anos o que se vislumbra acerca da produção agropecuária é uma área cultivada de, aproximada-
ter o ciclo da água e dos nutrientes; servir como meio para a produção de alimentos e outros bens primários de consumo;
mente, 69,2 milhões de hectares no Brasil no ano de 2012 (IBGE, 2012). No Censo Agropecuário de 2006, verifica-se
agir como filtro natural, tampão e meio de absorção, degradação e transformação de substâncias químicas e organismos;
que “4.367.902 estabelecimentos de agricultores familiares, o que representa 84,4% dos estabelecimentos brasileiros”
proteger as águas superficiais e subterrâneas; servir como fonte de informação quanto ao patrimônio natural, histórico
(FRANÇA, 2009), o que evidencia o total descaso com a agricultura familiar.
e cultural; constituir fonte de recursos minerais e como meio básico para a ocupação territorial, práticas recreacionais e
propiciar outros usos públicos e econômicos”(CONAMA, 420/2009). Para tanto, um primeiro passo é apresentar políticas que fomentem a fixação do agricultor em sua propriedade,
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demonstrando a viabilidade da produção de forma sustentável, atentando ao disposto na legislação ambiental. Um dos a qual traga ao produtor a manutenção dos seus conhecimentos e meios pelos quais ele possa subsistir com a sua produ-
meios que poderá ser utilizado é a aplicação da agroecologia para a aplicação da agricultura sustentável. Sua definição ção, seja empregando força motriz na produção de alimento ou na difusão dos seus conhecimentos em busca da proteção
consiste na aplicação dos princípios ecológicos que, segundo a EMBRAPA (2009), define o entendimento e desenvolvi- dos seus recursos genéticos a fim de preservar a biodiversidade.
mento de agroecossistemas sustentáveis.
Como instrumento da agroecologia, podemos nos utilizar dos Protocolos Comunitários, os quais visam a preser-
vação dos recursos naturais e genéticos, senão vejamos.
Uma das possíveis formas que poderiam brecar a extensão danosa que se vislumbrou nos últimos 50 anos é o fo- 4. Os Protocolos Comunitários
mento da agroecologia, a qual busca “estilos de agricultura de base ecológica que atendam a requisitos de solidariedade
A biodiversidade, de uma maneira geral, requer o uso equilibrado dos recursos naturais e uma visão integral do
entre as gerações atuais e destas para com as futuras gerações” (VENANCIO, 2015, p. 54). Tem como requisitos a pre-
conceito de território a ser entendido, o que implica em dizer que as formas comunitárias de ordenamento e uso dos recur-
servação e reconstrução da fertilidade do solo, prevenindo sua erosão e mantendo sua saúde ecológica; o baixo impacto
sos naturais, bem como as práticas tradicionalmente exercidas contribuem para conservar a natureza.
sobre o meio ambiente; a utilização racional de água, de forma a possibilitar a recarga dos aquíferos; a utilização dos
recursos dos próprios agrossistemas, reduzindo o uso de insumos externos; a valoração e conservação da diversidade Para tanto, são criados os Protocolos Comunitários (PC), o qual ganha sua primeira aparição no texto do Protocolo
biológica; garantia da equidade no acesso às práticas agrícolas, aos conhecimentos e às tecnologias, permitindo o contro- de Nagoia (PN), editado em 2010, o qual não foi aqui ratificado. O Protocolo de Nagoia entrou em debate com o condão
le local dos recursos agrícolas. de complementar a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), no que tange a um de seus pilares máximos, qual seja,
a repartição equitativa de benefícios. Deste modo, engloba a proteção ao acesso ao conhecimento tradicional associado à
Gutierres et. al. (2006, p. 24-26). afirmam que seu escopo é a recuperação da fertilidade do solo por meio do seu manejo
biodiversidade, bem como o acesso e a repartição de benefícios.
ecológico; acabar com a produção com agrotóxicos; aumentar as culturas produzidas; fomentar a agricultura de subsis-
tência; dominar os saberes tradicionais, a fim de difundir tais conhecimentos, reconquistando o patrimônio cultural e Edis Milaré (2013, p. 1023), contextualiza a importância da proteção do patrimônio genético prevista já na Cons-
buscar novos conhecimentos; bem como edificar uma infraestrutura própria tituição da República de 1988:
Desta maneira, a agrocoecologia primaria pelas boas práticas agrícolas e pela preservação dos recursos naturais, No âmbito internacional, como já anotado, a matéria foi disciplinada pela Convenção sobre Biodiversidade
e pelo recente Protocolo de Nagoya sobre o Acesso aos Recursos Genéticos e a Repartição Justa e Equita-
“a fim de empoderar comunidades de pequeno porte e de comunidades tradicionais com conhecimentos que fomentem tiva dos Benefícios Decorrentes de sua Utilização. No Brasil, a temática mereceu a atenção do constituinte
sistemas sustentáveis de conservação de uso da agrobiodiversidade” (NODARI; GUERRA, 2014, p. 287). de 1988, o qual estabeleceu, no inciso II do §1.º do art. 225 da Carta Magna que a proteção do patrimônio
genético nacional é um dos instrumentos que garantem o direito ao meio ambiente ecologicamente equi-
Os conhecimentos tradicionais adquiriram particular importância para a indústria da biotecnologia, principalmen- librado.
te de produtos farmacêuticos, químicos e agrícolas, uma vez que 120 princípios ativos atualmente isolados de plantas
superiores, e largamente utilizados na medicina moderna, 75% têm utilidades que foram identificadas pelos sistemas
tradicionais. Menos de doze são sintetizados por modificações químicas simples, o resto é extraído diretamente de plan- O artigo 12 do PN, que trata sobre Conhecimento Tradicional Associado a Recursos Genéticos, discorre timida-
tas e depois purificado. Com essas palavras, Juliana Santili, (2004, p. 345), simplifica a relevância da proteção aos co- mente sobre o Protocolo Comunitário (MILARÉ, 2013, p. 1023):
nhecimentos tradicionais, sua catalogação e regulamentação do acesso e repartição de benefícios dos saberes empíricos Ao implementarem suas obrigações ao abrigo do presente Protocolo, as Partes levarão em consideração,
associados à biodiversidade, que, à época, ainda estava em discussão. A bioprospecção ou biopirataria era - e é - o maior em conformidade com sua legislação doméstica, as leis costumeiras de comunidades indígenas e locais,
protocolos e procedimentos comunitários, conforme aplicável, com respeito ao conhecimento tradicional
pesadelo de quem se dispunha a catalogar e publicar os saberes tradicionais amplamente. associado a recursos genéticos.
Sem um regime jurídico de proteção terceiros mal-intencionados poderiam facilmente se apropriar de técnicas
arduamente trabalhadas durante décadas ou séculos para fins econômicos sem repartir devidamente os benefícios. Por
Entretanto, a doutrina internacional majoritária já desdobra este conceito em outras possibilidades, tal como a
outro lado, quando se discutia a repartição de benefícios os termos eram ridiculamente benéficos aos usuários em prol
gestão territorial e consulta prévia visando abranger os demais pilares da CDB, que são a conservação da biodiversidade
dos provedores.
e o uso sustentável dos recursos genéticos.
Portanto, o que pode se verificar é que a agroecologia tem por diretriz buscar meios de difundir a agricultura sustentável,
A Lei de Biodiversidade, Lei nº. 13.123, lançada em maio deste ano, deu um grande passo no reconhecimento da
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importância dos PCs, bem como no caráter múltiplo desse instrumento. No art. 2º, VI e art. 9º, §1º, IV, já expõe a possi- 2015, 14):
bilidade de terem definidas as regras para a consulta prévia por meio dos PCs. • Deve-se fazer o manejo do açaí;
A lei conceitua os PCs no art. 2º, VII: • Pesca para algumas espécies é proibida no defeso;
Norma procedimental das populações indígenas, comunidades tradicionais ou agricultores tradicionais • Não fazer queimadas;
que estabelece, segundo seus usos, costumes e tradições, os mecanismos para o acesso ao conhecimento
tradicional associado e a repartição de benefícios de que trata esta Lei; • Não pode fazer o corte sem controle de madeiras já que algumas árvores estão faltando, por exemplo a
andiroba;
• Não é permitido matar caça com filho e a grande matança de animais da floresta;
Com essa conjuntura, os PCs ganham vigor e se adequam às reais necessidades dos povos e comunidades tradicionais que,
• Só se pode tirar o palmito com o manejo adequado;
além de diminuir drasticamente as chances de “biopirataria”, previne ações não adequadas ao uso sustentável do territó-
rio. Cria-se um terreno fértil para o diálogo, seguro para a comunicação e para a ação de pesquisadores e comunitários, • Respeitar o acordo de convivência que muitas vezes pode conter regras de uso. Por exemplo, o acordo de
convivência pode estipular uma quantidade máima de recursos por família, tanto para venda quanto para
sendo garantida a participação de todos.
consumo familiar.
O Protocolo Comunitário, portanto, vem para empoderar os povos e comunidades tradicionais de uma coerção
não existente anteriormente, indo além do previsto em Nagoia ao conceber um sistema robusto de codificação para a
proteção dos conhecimentos e modo de vida tradicional, onde a própria população produzirá seus regulamentos, a fim de Além das regras, o PC afirma acreditar na importância da estipulação das mesmas para preservar a biodiversidade
criar normas que satisfaçam os seus interesses locais. e os recursos naturais, pois, dessa forma, garantem um uso adequado às necessidades das comunidades e um modo de vida
sustentável, mas que “a criação de novas regras é algo essencial, uma vez que novos problemas precisarão de novas regras
Seu objetivo é a repartição justa e equitativa dos benefícios gerados pelo uso de conhecimentos tradicionais em
para lidar com eles” (COMITÊ GESTOR DO PROTOCOLO COMUNITÁRIO DO BAILIQUE, 2015, 14)
produtos comerciais constitui a base de um instrumento de mercado que visa reconhecer o papel desempenhado por
povos indígenas e comunidades tradicionais na manutenção, reprodução e desenvolvimento, de saberes únicos sobre a
biodiversidade.
5. Considerações Finais
Podemos citar dois exemplos claros de Protocolos Comunitários que exprimem esta visão sustentável de manejo florestal
A utilização do solo foi ostensiva desde o início da humanidade, a qual foi utilizada para diversos fins, em espe-
construída através de práticas tradicionais e saberes empíricos de respeito à biodiversidade que são o Protocolo Comuni-
cial para a produção de alimentos. A utilização para a agricultura teve um aumento exponencial no início da Revolução
tario Biocultural Alto San Juan, na Colômbia e o Protocolo Comunitário do Bailique, no Amapá, Brasil.
Industrial e perdura até os dias de hoje, onde verifica-se o aumento da produção em massa e a utilização desenfreada de
O PC Alto San Juan traz um tópico específico para tratar da relação da comunidade com os recursos naturais, no defensivos agrícolas e Organismos Geneticamente Modificados, os quais destroem o conhecimento tradicional adquirido
qual afirma que (2012, p. 11). pelos agricultores familiares, bem como as comunidades tradicionais, pois tais práticas trazem uma nova metodologia de
produção que visa o consumo de seus insumos, prejudicando a diversidade genética e natural.
o sistema tradicional de produção comunitária se refere a um sistema multi-opcional, baseado na com-
binação de trabalhos agrícolas, pesqueiras, minerais, aproveitamento florestal, criação de animais, caça
e trabalhos artesanais. Estas práticas de uso do território se estabelecem de acordo com o conhecimento No entanto, o aumento da produção e fomento de práticas agrícolas exponenciais não foram fomentadas à agri-
tradicional conforme a oferta natural das condições da paisagem. cultura familiar, sendo esta negligenciada no Brasil desde a década de 60 até os dias atuais. Com isso, vislumbramos a
baixa da produção de alimentos para o mercado interno, o inchaço das cidades e o aumento da poluição desenfreada ante
a diminuição das áreas de preservação.
O PC Alto San Juan continua tecendo detalhes sobre cada um desses sistemas de produção e subsistência, expli-
cando como se dá sua relação sustentável com o meio ambiente e seu sistema agrícola baseado na agroecologia. Como uma alternativa a produção agrícola familiar, destaca-se a agroecologia, a qual tem por escopo a produção
por meio de práticas agrícolas que visam a preservação ambiental e genética.
Com certa semelhança, o PC do Bailique guarda um tópico para tratar do Uso de Recursos Naturais, no qual de-
fine direitos e deveres dos comunitários ao explorar os recursos naturais do território, garantindo o uso destes recursos, Como a aplicação deste instrumento, cita-se a utilização dos Protocolos Comunitários, onde podem ajudar a entender a
mas também exigindo que respeitem as regras definidas pelas comunidades envolvidas na construção do protocolo, que dinâmica dos povos e comunidades tradicionais que os constroem e a auxiliar os agentes externos a desenvolver a melhor
são expostas em uma linguagem simples (COMITÊ GESTOR DO PROTOCOLO COMUNITÁRIO DO BAILIQUE, política de relacionamento com estes.
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ABSTRACT Da mesma maneira, o trabalho está assentado teoricamente sobre quatro conceitos: território, paisagem, susten-
This research present three case studies of solidarity economy organizations, what act in the context of the Coffee Cul- tabilidade e economia solidária. Além de tentar aprofundar nestes conceitos, buscamos gerar um tecido dialético entre os
tural Landscape of the department of Risaralda, Colombia, emphasizing the historical transformation of the landscape, mesmos, o qual permitirá apresentar as principais discussões de maneira mais coerente e compreensível.
obstacles and possibilities of the declaration (World Heritage of Humanity) and the cultural change and the ethical rescue
of what to do economic of the organizations in the territorial sustainability.
Durante aproximadamente 150 anos a economia do departamento esteve baseada na produção agrícola, mormente
de café. Mais recentemente, sua economia passou a ser fortemente de serviços e comercial. Apesar disso, a maior parte
dos municípios que constituem o departamento ainda conservam como atividade primária o plantio, a colheita e a expor-
tação de café tanto em pergaminho2 quanto processado (pronto para o consumo).
A história do departamento tem estado vinculada ao processo cafeeiro no país, que começa com a chegada do
grão ao departamento de Santander no século XVIII, localizado na zona nordeste na região andina, e depois de vários
anos se espalha pela cordilheira até chegar ao departamento de Antioquia e daí desce para Caldas, Risaralda e Quindío.
É importante distinguir que o enfoque inicial do cultivo de café consistia em lavouras de grandes fazendas e enquanto se
1 Estudantes de mestrado em Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Pesquisa financiada pela FAPESP. dispersava pelo ocidente do país gerou uma cafeicultura em pequenas unidades de produção e a predominância da mes-
E-mail: csalzate@gmail.com - dumont094@gmail.com 2 Película interna do grão de café, entre a casca e a semente. É um café sem processar mas se encontra despolpado, lavado e secado.
A dinâmica de Asoapia é bastante diferente ao que observávamos no caso anterior, o papel é ativamente político e
de base social, é efervescência no jogo de poderes, no ganho de espaços na tomada de decisões. Na última greve cafeeira 8. Considerações finais
de 2014, não se obteve benefícios para os pequenos cafeicultores, pelo contrário auxílios econômicos como o programa
A construção de paisagem denota pluralidade, como fazer uma ou várias leituras de uma mesma realidade? A pai-
de Protección al Ingreso Cafetero –PIC (instrumento aplicado pela Federación Nacional de Cafeteros para proteger o
sagem é por natureza paisagem vivida, ou seja, percebida, representada, valorizada, e claro, usada. As transformações da
ingresso do cafeicultor quando o preço interno do grão baixa) ficou nas mãos dos grandes produtores, porém, as mobi-
Foram apresentados três estudos de caso, três organizações que vivenciam a paisagem como fato histórico e
processo dinâmico (transformações e configuração da paisagem) e como paisagem institucionalizada, formalizada e LEFF, Enrique; ARGUETA, Arturo; BOEGE, Eckart; Porto, Carlos. Más allá del desarrollo sostenible. La construcción
regulada. Não por acaso, apreender a paisagem como forma do complexo conteúdo territorial, requer falar de um patri- de una racionalidad ambiental para la sustentabilidad: una visión desde américa latina. In: LEFF, Enrique; EZCURRA,
mônio como um reconhecimento, resgate da cultura no tempo, que precisa de compromissos para manter uma declaração Exequiel; PISANTY, Irene; ROMERO, Patricia. La transición hacia el desarrollo sustentable. Perspectivas de américa
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aparentemente estática, ante a evidente crise agrária do país e portanto no departamento, o conflito armado, o modelo
extrativista, a ineficiência, corrupção e até ausência do Estado, e diferentes obstáculos presentes na realidade cafeeira. MATEO, José. Geografía de los paisajes. 1º Edición. La Habana: Ministerio de educación superior universidad de la
Porém, também se explicita algumas demandas por parte de todos os agentes que fazem parte da PCCC, como as que se habana facultad de geografía, 2007.
apresentaram nos estudos de caso. Estratégias, visões, aspirações, desejos e conquistas diferentes num mesmo contexto, MATURANA, Humberto. La realidad: ¿objetiva o construida? II. Fundamentos biológicos de la realidad. 1º Edición.
mas que constroem uma paisagem percebida, representada e valorizada de maneira diversa, por meio da participação Guadalajara: Editorial Anthropos, 1995.
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guram o agir particular de cada organização, a percepção e contribuição ao que denominamos neste artigo de sustentabi-
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Figura 3 – Encontro com as crianças do CMEI Caminho Alegre para plantio de mudas em comemoração ao Dia da Árvore
Fonte: Acervo dos Autores
RESUMO
A Revolução Verde foi um processo de modernização da agricultura que buscava aumentar a produção de alimentos para Introdução
acabar com a fome da população, tendo o auxílio de investimentos do governo que contribuíram para o uso indiscrimi- A partir da década de 1940 a agricultura mundial iniciou um processo de modernização que ficou conhecido como
nado dessas novas tecnologias e insumos e acabaram causando um grande impacto ambiental. Com isso, surgiram vários Revolução Verde. Esse processo consistia no uso de insumos químicos, técnicas produtivas e mecanização do campo com
movimentos populares que buscavam uma agricultura sustentável, como a produção orgânica, que utiliza apenas técnicas
a finalidade de aumentar a produtividade e acabar com a fome da população que se encontrava em pleno crescimento
que respeitam o meio ambiente e a saúde. No Brasil o Estado do Paraná tem se destacado nessa atividade, sendo o Pro-
grama Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos (PPCPO) um exemplo de política estadual, por ser responsável (NUNES, 2007). Isso ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, pois as indústrias bélicas e químicas sentiram a necessi-
pela certificação gratuita de agricultores familiares. Pouco se sabe ainda sobre os produtores que comercializam produtos dade de aproveitar seu maquinário e tecnologia de produção de venenos destinados a guerra, dedicando-se à fabricação
orgânicos, sendo o objetivo desse trabalho caracterizar três deles e relatar os casos de sucesso. Para a realização dessa de máquinas e defensivos agrícolas (ANDRADES e GANIMI, 2007).
pesquisa foi utilizado um questionário contendo dez perguntas abertas, que foram respondidas por entrevista telefônica
Entretanto, os impactos negativos causados por essa nova forma de produzir alimentos foram altos, principalmente devido
pelos produtores Sr.ª Scheila, Sr. Altino e Sr. Manuel. Verificou-se que a melhoria na saúde dos próprios agricultores é
o principal motivo para a adoção desse modo de produção, seguido pela preocupação ambiental; os locais de venda ao aumento no número de políticas públicas e investimentos para a modernização da agricultura, que contribuíram para
são bastante diversificados e dois produtores relataram que certificariam a produção mesmo sem a existência do PPCPO o uso massivo dessas tecnologias e insumos, passando a afetar a disponibilidade e qualidade da água, do ar e do solo,
devido à venda para merenda escolar, mostrando a importância dos programas para a renda dos produtores. As principais gerando impactos ambientais que exigiram e exige dos ecossistemas uma grande resiliência (SOARES, 2010).
dificuldades encontradas são a carência de assistência técnica e mão de obra especializada, fazendo com que apenas dois
Em resposta às diversas mudanças provocadas no ambiente, no mesmo período surgiram movimentos populares
produtores sintam vontade de expandir/diversificar a produção. Programas governamentais como o PPCPO são muito
importantes, sendo que dados obtidos em tais programas servem de base para a criação e/ou fortalecimento de políticas que buscavam uma agricultura integrada com o ambiente e que contrapusesse o modelo consumista da agricultura con-
e programas públicos, além de aumentar a visibilidade para a problemática. vencional, apesar de ainda não haver normas ou regulamentos que padronizassem esses sistemas orgânicos (ORMOND
et al., 2002; ALVES et al., 2012). No Brasil, essa regulamentação só surgiu na década de 1990, impulsionada pela movi-
mentação internacional, pelo aumento da produção e da procura por esses alimentos (MEDAETS e FONSECA, 2005).
Palavras-Chave: Agricultura sustentável; agroecologia; políticas públicas; saúde coletiva. Dessa forma, entende-se por orgânico todo alimento obtido sem a utilização de qualquer tipo de agrotóxico e ou-
tros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados ou radiações ionizantes. Esses elementos são ex-
cluídos de toda a cadeia produtiva, ou seja, do processo de produção, transformação, armazenamento e transporte, sempre
ABSTRACT
visando à conservação do meio ambiente e da saúde de todas as formas de vida (DAROLT, 2007).
The Green Revolution was a modernization process of the agriculture that tried to improve the food production to fight Nos últimos anos a produção de orgânicos tem se expandido no Brasil, passando de 6.719 agricultores que optaram por
against the hunger, with the help of government investment. This investment contributed to the large use of the new esse sistema em janeiro de 2014 para 10.194 em janeiro de 2015 (MAGALHÃES, 2015), sendo que o faturamento que era
technologies and inputs that caused high negative environmental impact. In this scenario, many popular activities arouse.
These activities focused in a sustainable agriculture, like the organic production, which uses just environment- and de R$2 bilhões em 2014 deve fechar este ano com R$2,5 bilhões, apresentando uma alta de 30% (SANTOS, 2015). Nesse
health-friendly techniques. In Brazil, Parana State highlights in this activities. The Organic Product Certification Pro- cenário, o Paraná se destaca por ser o estado responsável pela terceira maior produção de orgânicos do país, produzindo
gram of Parana (OPCPP) is an example of public policy, because it is responsible for free certification of small growers. aproximadamente 140 mil toneladas anualmente (RPC TV, 2015).
There is still little information about the growers who sell organic products, and this study defined the three successful
cases of such growers. In this study, a questionnaire with ten questions was used and was telephone-answered by the Um dos motivos que pode ter elevado o Paraná a esse patamar foi a criação do Programa Paranaense de Certifica-
growers: Mrs. Scheila, Mr. Altino and Mr. Manuel. It was verified that the promotion of the growers’ health was the ção de Produtos Orgânicos (PPCPO) em 2009. Esse programa surgiu da parceria entre a Secretaria de Estado da Ciência,
main cause for the adoption of this way of production, followed by environment awareness; the selling points are varied
and two growers state that they would certificate their production even without the assistance of OPCPP, because they Tecnologia e Ensino Superior (SETI), Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR) e instituições de ensino superior do
can sell to the scholar meals. This fact shows the importance of public policies for the income of the growers. The main Estado, com o objetivo de promover a certificação gratuita desses produtores, pois segundo Castro Neto et al. (2010) a
difficulties faced by the growers were the shortage of technical specialized assistance and working labor, resulting in just certificação custava em torno de R$2 mil em 2010.
1 Universidade Estadual do Centro-Oeste, davalginhak@gmail.com
Metodologia
Para o desenvolvimento desse trabalho foi realizada uma pesquisa exploratória qualitativa, e como instrumento de
pesquisa a utilização de um questionário com dez perguntas abertas de caráter agroecológico e socioeconômico. O méto-
do utilizado para obtenção das respostas foi por entrevista telefônica, escolhido devido as suas inúmeras vantagens, como
menor disponibilidade de recursos financeiros para se ter acesso aos entrevistados que residem em diferentes cidades, Figura 2 - Produção de vegetais orgânicos na propriedade do Sr. Altino.
rapidez na coleta de dados e segurança da obtenção das respostas.
Os questionários foram respondidos em abril de 2015 por três agricultores familiares certificados com o auxílio do
PPCPO – Núcleo de Guarapuava: Sra. Scheila (figura 1), residente em Porto Vitória e Sr. Altino (figura 2), residente em
Guarapuava, ambos com certificação de produção primária vegetal; e Sr. Manuel (figura 3), residente em Rio Azul com
certificação de produção animal de leite orgânico e processamento do leite.
Resultados e Discussão
Os dados obtidos por meio das entrevistas realizadas com os três produtores orgânicos podem ser observados no
quadro 1.
Figura 1 - Produção de vegetais orgânicos na propriedade da Sra. Scheila.
MICHELLON, Ednaldo; JUNG, Lígia M.; DANIEL, Márcio A.; MEIRA, Fernanda Maria; MESSIAS, Samireille S. A
Conclusão experiência da certificação pública de produtos orgânicos. In: SEMINÁRIO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA
REGIÃO SUL, 31., 2014, Florianópolis. Anais do 31º SEURS. Florianópolis: UNIPAMPA, 2014.
Apesar do grande número de pesquisas realizadas para se conhecer o perfil dos consumidores de produtos or-
gânicos, poucos são os trabalhos referentes à caracterização dos produtores desses alimentos, personagens diretamente NUNES, Sidemar P. O desenvolvimento da agricultura brasileira e mundial e a idéia de Desenvolvimento Rural.
Curitiba: DESER, 2007. 15p.
envolvidos na busca da soberania e segurança alimentar. Esse tipo de trabalho ajuda a entender não apenas os aspectos
positivos desse sistema para o ser humano e o meio ambiente, mas também os problemas e dificuldades encontradas em ORMOND, José G. P.; PAULA, Sergio R. L.; FILHO, Paulo F.; ROCHA, Luciana T. M. Agricultura orgânica: quando
todo o processo, subsidiando com informações as instituições públicas para que essas possam contribuir para a criação o passado é futuro. Rio de Janeiro: BNDES Setorial, 2002. 32p.
e/ou fortalecimento de políticas e programas que auxiliem os agricultores tanto no processo de produção, quanto de co- PADUA-GOMES, Juliana B.; BEZERRA, Gleicy J. NASCIMENTO, Jaqueline S.; SCHLINDWEIN, Madalena M.; PA-
mercialização dos produtos obtidos, além de promover uma maior visibilidade à problemática. DOVAN, Milton D. Produção orgânica no Assentamento Itamarati, em Ponta Porã, estado de Mato Grosso do Sul, Brasil.
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Este texto foi elaborado a partir das atividades de pesquisa realizadas no projeto “As territorialidades e tempo-
Marcos Aurelio Saquet1; Raquel Alves de Meira2; Leila Maria Panho3
ralidades na agricultura camponesa (agro)ecológica”, em seis municípios do Sudoeste paranaense, tendo como objetivo
principal compreender as territorialidades e as temporalidades que caracterizam a agricultura camponesa (agro)ecológica
a partir de 1990, tentando qualificar a opção teórico-metodológica adotada a partir da pesquisa empírica e reflexiva, e
RESUMO
gerando subsídios sistematizados que possam ser utilizados na construção participativa de projetos de desenvolvimento
No presente texto apresentamos alguns dos resultados das nossas pesquisas referente a atuação da Rede ECOVIDA territorial em redes locais de cooperação, projetos voltados para a produção de alimentos sem o uso de insumos químicos,
de Agroecologia, as relações que se estabelecem entre ela e os produtores agroecológicos no processo de certificação
participativa, que faz parte de um dos objetivos propostos em nosso projeto de pesquisa intitulado “As territorialidades para a preservação na natureza e para a valorização do patrimônio territorial das famílias camponesas. Os municípios
e temporalidades na agricultura camponesa agroecológica”, no qual buscamos compreender as territorialidades e as estudados são Ampére, Flor da Serra do Sul, Francisco Beltrão, Itapejara d’Oeste, Marmeleiro e Verê (Sudoeste do Para-
temporalidades que caracterizam a agricultura camponesa agroecológica nos municípios de Ampére, Flor da Serra do ná). O projeto conta com financiamento da Fundação Araucária (Edital Pesquisa Básica e Aplicada 24/2012) e do CNPq
Sul, Francisco Beltrão, Itapejara d’Oeste, Marmeleiro e Verê (Sudoeste do Paraná) a partir de 1990. Neste texto sinteti- (Edital Universal 14/2013).
zamos algumas informações da pesquisa bibliográfica e documental realizada até o momento, destacando a formação e
manutenção da mesma, processo de Certificação Participativa e manutenção do selo, identificando aspectos da cultura Nesta oportunidade, procuramos sintetizar os resultados conseguidos analisando a atuação da Rede ECOVIDA de
camponesa reproduzida historicamente.
Agroecologia nos municípios pesquisados, destacando a sua formação, as atividades que realizam voltadas para a certifi-
cação participativa e sua organização em núcleos descentralizados ligados em rede.
Palavras-chaves: Rede Ecovida; Certificação Participativa; Agroecologia. Inicialmente, é importante destacar que a colonização efetiva do Sudoeste paranaense foi promovida pelo Estado a
partir de 1940, quando a aliança entre agentes econômicos e políticos incentivou a ocupação desta região de fronteira e a
acumulação capitalista, que se deu por meio da expansão da produção agrícola e da sua comercialização. Essa colonização
consolida a existência de pequenos estabelecimentos produtores de alimentos com base no trabalho familiar, ao mesmo
NETWORK OF AGROECOLOGY ECOVIDA: CORE SOUTHWEST PARANÁ (BRAZIL) tempo, que atende a uma lógica de planificação estatal e do mercado (SANTOS, 2008; ALVES et al, 2004).
Até a década de 1960, no Sudoeste do Paraná, o trabalho e a produção mercantil foram baseados em atividades
ABSTRACT que exigiam menor dispêndio financeiro, como a erva-mate, a criação de porcos e o cultivo de feijão. Com o aumento das
redes de circulação e comercialização, outras atividades agropecuárias são constituídas, porém, sem romper totalmente
This dissertation will show some results from our research related to the Rede ECOVIDA’s performance (specifically its
a organização territorial inicial formada a partir da chegada dos migrantes vindos de Santa Catarina e do Rio Grande do
Southwestern of Paraná subsidiary), as well as its relations with the local producers in the process of participative certi-
fication. This work aims to understanding how territorialities and temporality characterize the peasant agriculture (agro) Sul. Esta migração provocou a suplantação da economia cabocla predominante na região, consubstanciando uma transi-
ecologic in the municipal areas of Ampére, Flor da Serra do Sul, Francisco Beltrão, Itapejara d’Oeste, Marmeleiro e Verê ção cultural, econômica e política, tanto nas cidades em processo de formação quanto no espaço rural dos municípios que
(Southwestern of Paraná) since the early 90’s. It synthesizes the relevant bibliographic and documental information up também se formavam (WACHOWICZ, 1987; SAQUET, 2006).
to date, highlight the foundation and action of Rede ECOVIDA in the process of participative accreditation, and identify
the issues of the peasant culture replicated historically through agro ecological standads. Os migrantes e camponeses descendentes de italianos, alemães e poloneses substantivaram, numa primeira fase,
novas forças produtivas, relações de produção, tipos de cultivo, criaram povoados e cidades, com outros valores e pro-
cessos culturais, provocando, portanto, mudanças profundas no Sudoeste do Paraná a partir dos anos 1940. Outras duas
Keywords: Rede Ecovida; Participative Certification; Agroecology.
fases fundamentais na formação territorial são: a chamada modernização agrícola (a partir de 1968) e a industrialização
centrada na intervenção das prefeituras municipais aliadas aos empresários de ramos distintos, formando os denominados
parques industriais, processo intimamente ligado à urbanização, especialmente a partir dos anos 1980-90 (SAQUET, 2006
e 2010; SANTOS, 2008).
1 Professor da UNIOESTE e coordenador do Grupo de Estudos Territoriais (GETERR) E-mail: saquetmarcos@hotmail.com
2 Geógrafa e bolsista de apoio técnico da Fundação Araucária E-mail: rakelmeira@hotmail.com Esse processo alterou substancialmente a pauta de produção, no Brasil de maneira geral e no Sudoeste do Paraná
3 Acadêmica do Curso de Geografia da UNIOESTE/Francisco Beltrão e bolsista de iniciação científica da Fundação Araucária E-mail: de forma específica. Algumas características identificadas referentes ao Sudoeste do Paraná, a partir dos anos 1970, são as
leilapanho@hotmail.com
A ASSESOAR, segundo Grigolo (2008), denuncia o drama ecológico da chamada Revolução Verde, defende A formação da Rede ECOVIDA de Agroecologia
a Agroecologia como condição para os agricultores se reproduzirem socialmente, cria o fundo de crédito rotativo e
A Rede ECOVIDA foi formada num período histórico em que alguns partidos políticos de esquerda e o movi-
investe na formação específica para a produção agroecológica de alimentos, principalmente frutas e hortaliças. Há, ao
mento denominado agroecológico estavam organizados num movimento de repúdio à mundialização acelerada do capi-
mesmo tempo, iniciativas centradas na olericultura e na fruticultura disseminadas em diferentes municípios do Sudoeste
tal com a disseminação do neoliberalismo.
do Paraná.
A ONG CAPA foi fundada em 1978, em Santa Rosa (RS), pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Embora a Rede Ecovida seja constituída por um número maior de organizações que se encontram sob sua
área de influência ou por elas são influenciadas, a exemplo do Movimento dos Atingidos por Barragens
Brasil (IECLB); também naquele Estado, em 1982, cria-se o CAPA em Arroio do Tigre e em São Lourenço do Sul e, (MAB) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), optou-se por analisar a trajetória das três or-
em 1997, instalam-se os núcleos no Paraná: Verê e Marechal Cândido Rondon. A partir de 2003, o CAPA tem cinco ganizações sociais principais, conforme revelado pela pesquisa de campo: o sindicalismo cutista, o MST
e as ONGs. A igreja, o Partido dos Trabalhadores e o movimento ambientalista são considerados trans-
núcleos: Erechim, Pelotas, Santa Cruz do Sul, Verê e Marechal C. Rondon (BUCHWEITZ, 2003; FRITZ, 2008; GAIO-
versais nesta análise, tendo em vista que influenciaram a todos e seu raio de ação não se limita ao campo,
VICZ e SAQUET, 2010; SAQUET e ALVES, 2015). Os principais conceitos utilizados são: ecologia, sustentabilidade, por este motivo não se dedica uma análise especial. Enquanto que o sindicalismo e o MST se encontram
agroecologia, agricultura orgânica, ecossistema e agroecossistema, todos vinculados a um movimento mais geral de apenas no âmbito das relações políticas, embora muito mais em nível local do que institucionalmente,
as ONGs são parte constituinte e foram determinantes para que a Rede Ecovida viesse a se constituir
manifestações e iniciativas em favor da preservação e recuperação ambiental.
(NUNES, 2012, p. 34).
Os técnicos e demais trabalhadores do CAPA atuam na formação política (organização social), na orientação Nunes (2012) destaca que, durante a ditadura militar, a igreja católica foi o espaço de fortalecimento dos movi-
voltada para a produção (sobretudo de frutas e hortaliças) e para a comercialização, tentando fortalecer a economia mentos opostos à expansão desenfreada do capital, tanto na cidade quanto no campo. Entretanto, a partir de 1980, em
familiar, preservando o ambiente, produzindo alimentos saudáveis e comercializando de distintas maneiras, sobretudo meio às contradições dos interesses próprios dos movimentos sociais, alguns ganham autonomia política, desvinculan-
no mercado local: feiras livres, lojas especializadas, mercados, venda direta no estabelecimento e para os programas do
A agricultura familiar ganha respaldo em encontros e políticas efetivadas na década de 1990, quando os movimen-
tos supracitados se articulam com a Frente Sul da Agricultura Familiar e, por consequência, a Rede ECOVIDA também
se fortalece, principalmente com a aprovação da Instrução Normativa da Agricultura Orgânica nº 007 (de 17 de maio de
1999, dispondo sobre as normas para a produção de produtos orgânicos vegetais e animais).
Segundo a Rede ECOVIDA (2004), a agroecologia não é apenas o ato de produzir alimentos saudáveis, visa
também preservar o ambiente e promover a inclusão social, além de proporcionar a soberania alimentar com o trabalho
familiar igualitário entre gêneros, favorecendo a cooperação entre os produtores e consumidores. Zonin (2007) também
pondera que a agroecologia não é apenas um marco teórico, faz-se necessário mudanças nos seus alicerces em uma
gradual transformação das bases produtivas e sociais, do uso da terra e do manejo da biodiversidade, proporcionando a
ampliação da sustentabilidade de longo prazo dos distintos sistemas agropecuários.
Segundo Nunes (2012), a Rede ECOVIDA é formada por produtores agroecológicos, consumidores, técnicos e Fonte: REDE ECOVIDA (2015). Organização: MEIRA, R. A. (2015).
pessoas que apoiam suas práticas; conta, em 2015, com 26 núcleos regionais, interligando mais de 170 municípios dos
três Estados do Sul do Brasil e São Paulo, além de 200 grupos de agricultores, 20 ONGs, 100 feiras livres e 10 coopera-
tivas de consumidores (Figura 01). Os núcleos são os seguintes: Agroflorestal, Alto Uruguai, Alto Vale, Arenito Caiuá, Os núcleos organizam o processo de certificação podendo adaptar a metodologia à realidade local, desde que
Centro Oeste do Paraná, Centro Paranaense, Centro RS, Libertação Camponesa, Litoral Catarinense, Litoral Solidário, se mantenha as normas da Rede ECOVIDA (PASSOS e ISAGUIRRE-TORRES, 2013). A certificação não tem custo
Luta Camponesa, Maurício Burmester do Amaral, Missões Monge, João Maria, Oeste de Santa Catarina, Oeste do Para- ao agricultor e é realizada pelos comitês de ética locais: há reuniões, visitas aos estabelecimentos rurais, discussões e
ná, Planalto Norte, Planalto RS, Planalto Serrano, Serra, Sudoeste do Paraná, Sul, Sul Catarinense, Vale do Caí, Vale do avaliações ao longo do ano (RADOMSKY, 2013). “[...] é a participação nos grupos que torna possível aos agricultores
Rio do Peixe e Vale do Rio Uruguai (REDE ECOVIDA, 2015). acompanhar o processo de transição e consolidação ecológica das propriedades.” (PASSOS e ISAGUIRRE-TORRES,
2013, p. 367). A certificação é feita em consonância com o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica
A Rede ECOVIDA não possui núcleo central e o seu funcionamento ocorre de maneira descentralizada, com os
(Decreto n. 6.323, de 27/12/2007) e o controle é feito por entidade jurídica credenciada junto ao Ministério da Agricul-
núcleos regionais que reúnem membros de uma região com características semelhantes, facilitando a troca de informa-
tura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Também há as auditorias externas e as Organizações de Controle Social (OCS)
ções e o processo de certificação participativa (REDE ECOVIDA, 2004).
nas quais os agricultores familiares podem comercializar sem certificação quando a mesma acontece diretamente aos
O CAPA e a ASSESSOAR, juntamente com os agricultores agroecológicos são responsáveis pelo Núcleo do consumidores (PASSOS e ISAGUIRRE-TORRES, 2013; ALMEIDA e NIEDERLE, 2013). Bem mais recentemente, de-
Sudoeste do Paraná da Rede ECOVIDA de Agroecologia. A organização estrutural, de acordo com o presidente do CAPA finiu-se, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), por meio do decreto 7.794, de 20/8/2012.
– Verê, Jhony Luchmann (entrevista concedida em 19 de nov. de 2014), acontece “da seguinte forma: o agricultor está
Neste processo, o CAPA atende os municípios de São Jorge, Verê e Itapejara d’Oeste e os demais municípios do
ligado ao grupo, que está ligado ao núcleo, a organização do Estado do Paraná e à Rede ECOVIDA, ou seja, é o agricul-
Núcleo Sudoeste do Paraná são atendidos pela ASSESSOAR, porém, o maior número de agricultores certificados está
Zonin (2007) ressalta que este processo é denominado de transição agroecológica, definido como gradual e de
troca ao longo do tempo das formas de manejo e gestão dos agroecossistemas. Há meta de passagem de sistemas de pro-
dução convencionais a outros que incorporem princípios, métodos e tecnologias “de base ecológica”, implicando maior
racionalização produtiva, mudança de atitudes e valores dos atores sociais em relação ao manejo do solo e à conservação
do ambiente.
Segundo Radomsky (2010), para ser um produtor agroecológico, não basta apenas não fazer o uso de agrotóxicos,
é preciso ter um estilo de vida diferente daquele construído na agricultura convencional. O autor define estilo de vida
como produto das condições e relações sociais; resultado da apropriação material e imaterial de objetos e práticas ecoló-
gicas reproduzidas na família durante anos.
Um aspecto fundamental é o reconhecimento de que o processo de transição agroecológica não se dará de forma
linear, mas numa dialética entre avanços e recuos, que é inerente aos processos de mudança social. Não há um nível
desejável ou aceitável de sustentabilidade, pois para cada local, região ou território, as condições econômicas e culturais
mudam de parâmetros (ZONIN, 2007).
Cada região revela diferentes estratégias de acesso aos recursos para a produção, de gestão e manejo dos agroe-
Fonte: CAPA – Verê (2015); REDE ECOVIDA (2015). Elaboração: MEIRA, R. A. (2015).
cossistemas, de participação em processos de inovação, de inserção nos mercados e relações com os agentes envolvidos
no desenvolvimento, representando especificidades em cada forma de ruptura com o modelo tecnológico e organizacional
da Revolução Verde (SIQUEIRA, 2011).
Até o presente momento das nossas pesquisas, foi possível verificar três aspectos principais relativos à Rede ECO-
VIDA de Agroecologia: a) a sua gênese ocorre num contexto de luta e organização política para tentar potencializar a
No Núcleo Sudoeste do Paraná há, atualmente (2015), 72 agricultores certificados, e, em 2014, existiam 59, des-
produção agroecológica, bem como mediar a reprodução biológica e social de famílias camponesas; b) a sua organização
tacando-se os municípios de Verê (26), Francisco Beltrão (6) e São Jorge d’Oeste (6) (Figura 03), dois dos quais onde o
reticular, ou seja, envolvendo os agricultores, os grupos e os núcleos, por meio de ações integradas que visam a promoção
CAPA atua. O aumento mais significativo, verificado entre 2012 e 2015, ocorreu em Verê, cerca de 100%.
da Agroecologia onde atua; c) a sua atuação direta nos processos de transição e certificação participativa, processo que
Figura 03 – Distribuição dos agricultores e das agroindústrias certificados pela Rede ECOVIDA em 2014. diminui consideravelmente, ao que tudo indica, os gastos dos produtores neste aspecto, além de contribuir para revalorizar
relações comunitárias, tais como a cooperação e a solidariedade em meios às contradições e aos conflitos sociais sempre
presentes em cada território; d) a centralidade histórica desempenhada pela ASSESOAR e pelo CAPA-Verê, como nós de
instalação e irradiação da Rede, em relação complementar, sobretudo no que se refere à formação política e em Agroeco-
logia, e à orientação técnica para a produção ecológica de alimentos.
Esse processo também nos revela que há uma ancrage (ancoragem) territorial (PECQUEUR e ZIMMERMANN,
2002; 2005; HAKMI e ZAOUAL, 2008; RICHEZ-BATTESTI, 2008) ou o rooted in place and context (SCOONES, 2009)
fundamental, juntamente com as relações de proximidade e confiança que vão se estabelecendo no decorrer das ações da
Rede ECOVIDA. A confiança, assim, é uma das premissas centrais para a reprodução da produção agroecológica e da pró-
pria ECOVIDA, valor inerente à lógica camponesa, conforme nos ensina Sabourin (2009) ao destacar a importância dos
vínculos com a terra e com o patrimônio familiar, das relações de reciprocidade entre as pessoas e a autonomia perante o
mercado capitalista.
SAQUET, Marcos; ALVES, Adilson. Desarrollo territorial heterocentrado y autocentrado: diferentes formas de movili-
zar saberes y redes en Brasil, Textual (Universidad Autonoma Chapingo), v. 65, 2015, p.11 - 34.
SCOONES, Ian. Livelihoods perspectives and rural development, The Journal of Peasant Studies, v. 36, n. 1, 2009,
p. 171-196.
SIQUEIRA, Aloysio Miguel. Transição agroecológica e sustentabilidade socioeconômica dos agricultores familia-
res do território de Caparaó-ES: o caso da cafeicultura. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual do Norte Flumi-
nense Darcy Ribeiro. Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuária, Campo dos Goytacazes. Curso de Doutorado em
Produção Vegetal, Rio de Janeiro, 2011.
ZONIN, Wilson João. Transição agroecológica: modalidades e estágios na região metropolitana de Curitiba. Tese
(Doutorado) – Universidade Federal do Paraná. Programa de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Curi-
tiba, 2007.
Em síntese, o projeto consiste na condução de grupos de ciclistas urbanos até espaços rurais, onde são realizados
Este artigo apresenta a trajetória de uma ação de cicloturismo rural agroecológico que vem sendo realizada no território roteiros que incluem passeios de bicicleta em uma ou mais propriedade familiar em transição agroecológica, a fim de que
da Serra dos Tapes, que está situado na Serra do Sudeste, metade sul do Rio Grande do Sul. Apesar de ser uma experiên-
os participantes tenham a oportunidade de conhecer as práticas produtivas e desfrutar da gastronomia local que utiliza
cia recente, evidencia-se que a agricultura e o rural são capazes de cumprir outros serviços as populações urbanas territo-
riais e extra-territoriais. O projeto centra-se na ideia do agroturismo, que se vale de dinâmicas sociais que possibilitam a prioritariamente os alimentos agroecológicos da propriedade e entorno.
estruturação de serviços turísticos ambientados na realidade sócio-produtiva de famílias agricultoras residentes em áreas
rurais. Além de valorizar os bens e serviços prestados pelo rural e famílias agricultoras, o trabalho discute o potencial do Ao mesmo tempo, mais do que apontar o agroturismo como um novo serviço prestado pelas populações rurais às
cicloturismo rural agroecológico enquanto estratégia de aproximação entre atores sociais e instituições rurais e urbanas, populações urbanas, o projeto se vincula a ideia de complementariedade política entre atores rurais (movimento das famí-
com destaque para os movimentos de ciclocidadania e mobilidade urbana e das famílias agricultores agroecológicas. lias agricultoras agroecológicas) e urbanos (movimentos de ciclocidadania), apontando estes movimentos como vetores
do desenvolvimento territorial.
Palavras-chaves: agricultura familiar; mobilidade urbana, capital social; territorialidade; agroturismo. Para Guzatti (2010, p.250), o agroturismo é
This article presents the trajectory of an agroecological rural bicycle touring has been carried out within the Serra dos Além de uma experiência inovadora de agroturismo esta ação persegue a ideia de contribuir para o desenvolvimento
Tapes, which is situated in the Serra do Sudeste, the southern half of Rio Grande do Sul. Despite being a recent ex-
sustentável condizente com a ideia de “novas territorialidades’ (FAVARETTO, 2010), que se materializa na valorização
perience, it is evident that agriculture and rural are able to fulfill other services territorial and extra-territorial urban
populations. The project focuses on the idea of agritourism, which relies on social dynamics that enable the structuring da Agroecologia e do Ciclismo como práticas de baixo impacto ambiental e promotoras da saúde e da vida.
acclimatised tourist services in socio-productive reality of farming families living in rural areas. In addition to value the
goods and services provided by rural and farming families, the paper discusses the potential of agro-ecological approach Assim, apesar de se tratar de uma experiência recente e que se encontra num processo de aprimoramento, a reflexão
while touring rural strategy among social actor and rural and urban institutions, especially the movements of cyclists and que se fará tem por objetivo referendar que o cicloturismo rural agroecológico é um vetor de desenvolvimento sustentável
urban mobility and farmers families agroecological. dos territórios. Os eventos aproximam e valorizam os atores e instituições urbanos e rurais, comprometendo reciproca-
mente com as questões referentes a mobilidade urbana, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida.
Por entender a particularidade inerente em cada território, adverte- se que o cicloturismo rural agroecológico tem-se
Key-words: farming families; urban mobility; social capital; territoriality; agritourism.
mostrado viável em função de haver na Serra dos Tapes um conjunto de condições que serão apresentadas neste artigo de
forma esquemática, mas que grosso modo, respeitando-se as especificidades, tal estratégia pode ser inspiradora de outras
iniciativas.
Materiais e métodos
O trabalho aqui apresentado consiste em um processo de pesquisa-ação (THIOLLENT, 2000) que vem experimen-
1 EMBRAPA Clima Temperado – joel.cardoso@embrapa.br
tando o cicloturismo rural agroecológico como estratégia de aproximação e complementaridade entre pessoas e institui-
2 Pedal Curticeira – leandro@pedalcurticeira.org
3 Universidade Federal de Pelotas (UFPel-DCSA) – sgarbijaqueline@yahoo.com.br 4 Conceito elaborado pela Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia.
Resultados e discussão
Entre os resultados que serão apresentados pretende-se refletir sobre o conjunto de condições que possibilitaram a
elaboração e desenvolvimento da iniciativa de agroturismo, além da viabilidade das ações desenvolvidas até o momen-
to, apresentando-se transversalmente a estes temas os desdobramentos de caráter mais qualitativo, que permanecem no
âmbito das impressões coletadas pelos autores.
Inicialmente deve-se dizer que o desenvolvimento desta ação no contexto da Serra dos Tapes só foi possível graças
a um processo de organização social e a existência de uma densidade institucional que trabalham mutuamente na con-
formação do território, mas que precisa ser melhor explorado pelos agricultores familiares agroecologistas e por grupos
organizados do espaço urbano, com destaque para os movimentos de ciclocidadania e mobilidade urbana.
Estamos falando do território enquanto espaço multidimensional, de difícil apreensão, mas que em síntese pode ser
descrito como “Local” de possibilidades (RAFFESTIN, 1993, p. 144, aspas do autor). A partir desta noção percebe-se
que os espaços de feiras-livre, ciclovias, a opção pela bicicleta ou por um produto agroecológico deixam de ser simples
opções e passam a estabelecer fronteiras, territórios e normativos comportamentais para quem integra estes movimentos.
Figura 01 – Mapa do Rio Grande do Sul, Brasil, com destaque para a localização do
Território da Serra dos Tapes. O movimento agroecológico vem se estruturando na região de Pelotas, RS, desde o início da década de 90, havendo
algumas propriedades que iniciaram o processo de transição há mais de 20 anos. Paralelamente a produção, os agricul-
tores tem se organizado para efetuar a comercialização, sendo as feiras de produtos agroecológicos um dos espaços de
A Serra dos Tapes caracteriza-se como a porção da Serra do Sudeste que está localizada na margem sul do Rio
maior visibilidade deste processo frente a população urbana (BUCHWEITZ, 2003.; ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005).
Camaquã, englobando os relevos mais acidentados (100 m a 400 m) daquela zona, que originalmente estava coberta por
florestas (Florestas Estacionais Semideciduais). Esta região, como a maioria das terras destinadas a colonização no Sul Os feirantes estão organizados por meio da Associação Rural de Produtores Agroecológicos da Região Sul – AR-
do Brasil, foi densamente povoada por imigrantes europeus não portugueses a partir de 1850 (SALOMONI, 2013). PA-SUL, que foi uma instituição estratégica para a organização dos eventos de cicloturismo rural, uma vez que estes
agricultores já possuem uma larga trajetória na agroecologia, além de a prática como feirantes lhes dar uma grande faci-
Apesar do termo Serra dos Tapes não ser utilizado pela população local para referendar o espaço geográfico em
lidade para se relacionar com o público.
questão, percebe-se que as similaridades ambientais e histórico-culturais desta região imprimiram aos diversos grupos
étnicos (indígenas; não indígenas de antes de 1850 - portugueses, espanhóis, negros; não indígenas após 1850 - pome- Neste contexto, a área de Sistemas Agroflorestais da Embrapa Clima Temperado foi em busca de parceiros para de-
ranos, italianos, franceses, poloneses), um conjunto de referências que permitem o auto-reconhecimento e definição de senvolver atividades turísticas que servissem como estratégias múltiplas de divulgação da produção agroecológica, valo-
uma identidade que possibilita situar a realização deste projeto no ‘Territóro da Serra dos Tapes’. Esta ação é organizada rização da autoestima das famílias e remuneração de ativos não valorizados no mercado, como os fragmentos florestais,
pelo Movimento de Ciclocidadania ‘Pedal Curticeira’ e pela instituição de pesquisa agropecupeária Embrapa Clima corpos de água, paisagens e elementos da biodiversidade existentes nos agroecossistemas e seu entorno (ECHEVERRI
Temperado, que conta com o apoio do comércio local de bicicletas (JL Casarin) e da Associação Regional de Produtores PERICO; RIBEIRO, 2005).
Agroecológicos da Região Sul (ARPASUL). Tais instituições promovem eventos que colocam em contato ciclistas urba-
Após algumas tentativas de aproximação com praticantes da observação de pássaros houve a demanda de organiza-
nos e estabelecimentos de agricultura familiar agroecológica.
ção de atividades de cicloturismo rural por parte do Movimento Pedal Curticeira. Tal instituição consiste em um coletivo
Até o momento, os estabelecimentos rurais que participam do projeto estão localizados nos municípios de Pelotas, de ciclistas da cidade de Pelotas preocupados com o planejamento e mobilidade urbana e que regularmente se encontram
Canguçu, Morro Redondo, Turuçu e São Lourenço do Sul. Em síntese, os eventos de cicloturismo rural consistem em para pedalar pela cidade e entorno, havendo alguma experiência na organização de passeios nas áreas rurais e municípios
5 O culturalismo foi um termo cunhado pelos economistas neo-institucionalistas para descrever o pensamento das correntes institucio-
nalistas frente ao conceito de ‘Capital Social’, que tem em Robert Putnam seu mais reconhecido teórico. Em síntese, Putnam e seus seguidores
defendem que as sociedades com maior aprendizado institucional, que é fruto de uma longa história de relações de reciprocidade e confiança,
são as que melhor respondem as ações do estado moderno, enquanto que nas realidades com baixo capital social os esforços voltados para o
bem público, com destaque para as políticas públicas e ações privadas voltadas ao bem comum, tendem a ser muito menos efetivos.
O processo de divulgação cumpre a função eco-pedagógica de sensibilizar indivíduos e instituições para uma nova Segundo relato das famílias participantes do projeto, os eventos de cicloturismo tem proporcionado o aumento de
postura frente aos bens do território. Além do processo da divulgação ampla do projeto, que utiliza dos diversos meios de consumidores nas feiras agroecológicas. Outra questão interessante dos feirantes diz respeito a maior empatia com que
comunicação como jornais, revistas, rádio, televisão e internet, chama-se a atenção para o fato de que a divulgação dos se relacionam com os consumidores que estiveram em suas casas, estabelecendo novos vínculos de proximidade e maior
eventos e contato com o grupo de ciclistas urbanos se dá prioritariamente por meio das redes sociais da internet6. Além confiança.
dos meios de comunicação outro elemento que aproxima os ciclistas são as próprias pedaladas noturnas que acontecem
No que se refere aos ciclistas, observa-se um estreitamento das relações com os agricultores que, além do momento
na cidade de Pelotas e zona peri-urbana duas vezes por semana e que também se valem das redes sociais da internet para
da feira-livre, não são raros os casos de retorno de pessoas às propriedades visitadas fora do contexto dos eventos, tanto
se organizarem.
para fins turísticos como para comprar alimentos diretamente do produtor.
O aprendizado sobre a execução dos eventos tem sido permanente, uma vez que se trata de uma atividade ino-
O impacto na vizinhança também tem sido relatado pelas famílias que sediaram os eventos. Nos domingos tranqui-
vadora que possui inúmeras particularidades quanto a execução a campo. Para iniciar deve-se dizer que os eventos de
los das comunidades rurais, a movimentação dos ciclistas chama a atenção dos comunitários, sugestionando a pergunta
cicloturismo rural no formato que aqui se apreseta, necessitam obrigatoriamente de meios de transporte para aproximar
de por que motivo pessoas da cidade visitam propriedades que não utilizam agrotóxicos.
as pessoas e bicicletas ao local onde serão desenvolvidas as atividades. O custo deste serviço oneraria significativamente
os eventos, a ponto de elevar o valor das inscrições em 50% (cinquenta por cento), de forma que na atual conjuntura a Ainda que hipotética, uma reflexão possível é de que os eventos de cicloturismo estão servindo como demonstração
atividade pela parceria público-privado, com destaque para a Embrapa que aloca sem custos um ônibus e um caminhão. prática para que as comunidades rurais se apropriem da ideia de que o rural e a agricultura têm, além da produção, inú-
meros outros valores que precisam ser conservados. (CARNEIRO; MALUF, 2003).
O apoio da Embrapa a este processo demonstra a relevância da participação de uma instituição pública neste pro-
cesso, por mais que o grau de dependência coloque em risco a autonomia dos demais atores sociais, com destaque para Além de explorar o roteiro de visitação nas propriedades a equipe organizadora avalia o nível de dificuldade das
os agricultores familiares agroecológicos e movimentos de ciclocidadania. estradas vicinais, as distâncias e o tempo previsto para cumprir o roteiro em grupo, considerando a heterogeneidade dos
participantes, de modo a não exigir esforços exagerados, pois a priori, desconhecesse o condicionamento físico e habi-
A logística de organização dos eventos prevê a preparação, execução e apresentação dos resultados. A preparação
lidade em terrenos acidentados e de relevo acentuado que caracteriza os trajetos visitados. Para atenuar dificuldades, os
consiste em todo um conjunto de ações que incluem a sensibilização das famílias agricultoras e do público interessado
ciclistas dispõem de carro de apoio, suporte mecânico e hidratação durante os passeios.
para que o evento aconteça de acordo com o planejado. Neste conjunto de ações destaca-se a visita prévia ao estabeleci-
mento, que consiste em visitar a família e o seu agroecossistema, que em síntese é a área de terras que ela maneja. Este Quanto aos roteiros de bicicleta chama-se a atenção para o risco de acidentes da atividade. O esforço da equipe é
processo deve acontecer com algumas semanas de antecedência ao evento, de forma a possibilitar as famílias e equipe eliminar tais episódios, de forma que os ciclistas são orientados a utilizar equipamentos de segurança e a fazer os trajetos
organizadora o tempo necessário para ajustar detalhes e promover a atividade. em grupo em velocidade de passeio, ainda que as condições do terreno sejam propícias para a prática do mountain bike
(MTB).
Em síntese a preparação consiste em reforçar os princípios norteadores do agroturismo com os membros das fa-
mílias para que estes explorem as práticas e processos desenvolvidos por eles como atrativo turístico, que somados as Apesar de raros, ao longo do desenvolvimento do programa já aconteceram acidentes, o que tem sido contornado
demais potencialidades turísticas existentes no estabelecimento e entorno, possibilitam uma experiência turística ino- com certa tranquilidade em função de se possuir materiais de primeiros socorros, veículos de apoio e articulação com
vadora e carregada de conceitos aos visitantes. Para tanto, os agricultores devem estar cientes de que mais importante unidades de pronto atendimento, com destaque para a concessionária das rodovias federais que tem prontamente prestado
do que apresentar curiosidades para os visitantes, quer-se explorar as suas atividades rotineiras que vão marcadas com socorro aos participantes que se acidentaram.
especificidades e modos de fazer que lhe diferenciam e dão notoriedade frente ao público visitante.
Atualmente a equipe organizadora dos eventos vem estreitando relações com intenção de formalizar parceria com
Neste processo, os princípios agroecológicos da produção de alimentos são evidenciados de maneira sútil e cuida- a concessionária das rodovias federais, além de ter feito tratativas para assegurar os participantes e suas bicicletas quanto
dosa, de forma que o agroturismo desempenha um papel importantíssimo de avaliação da qualidade, podendo-se dizer a acidentes, o que ainda não se viabilizou. Apesar da dificuldade em equacionar plenamente, a prevenção de acidentes e
que os eventos de cicloturismo rural acabam cumprindo em certa medida a função de processo de certificação partici- garantias aos participantes é um dos grandes retos que a equipe executora do projeto persegue atualmente, uma vez que
pativa, uma vez que as famílias agricultoras comercializam sua produção diretamente aos consumidores por meio da a sustentabilidade do projeto é totalmente dependente desta questão.
6 Ver em https://www.facebook.com/RoteirosAgroecologicos.
Considerações finais: ECHEVERRI; Rafael. Ruralidade, territorialidade e desenvolvimento sustentável. Tradução Dalton Guimarães. Bra-
sília: IICA, 2005.
Ao final de um ano e meio de realização dos eventos de cicloturismo rural agroecológico, observa-se que estas ati-
vidades tem cumprido a função projetada de gerar renda para as famílias rurais e despertar a atenção da população rural EZEQUIEL, Graça; CARVALHO, Mário. O turismo natureza como potenciador das singularidades territoriais: o caso
e urbana, com relação à produção e comercialização de alimentos agroecológicos enquanto movimento estruturante do do pedestrianismo em portugal. Em: CRISTÓVÃO, Artur et al. Turismo rural em tempos de novas ruralidades. Série
sistema agroalimentar do território. Estudos Rurais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2014.
Ao mesmo tempo, esta atividade reafirma a estas famílias a importância de outros bens e valores contidos nos GUZZATTI, THAISE COSTA. O agroturismo como elemento dinamizador na construção de territórios rurais. Flo-
espaços rurais, que apesar de serem muito relevantes para a qualidade de vida das população do território, não tem sido rianópolis: UFSC, 2010. 281 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Programa de Pós- Graduação em Geografia, Centro de
remunerados. Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.
Desta forma, acredita-se que o projeto tem contribuído verdadeiramente para que estas famílias sintam-se recom- HAESBAERT, Rogério. Des-caminhos e perspectivas do território. Em: RIBAS, Alexandre Domingues; SPOSITO, Eli-
pensadas pelos serviços prestados em seus agroecossistemas e entorno, como a manutenção de saberes locais e a ma- seu Savério; SAQUET, Marcos Aurélio (Orgs). Território e desenvolvimento: diferenes abordagens. Francisco Bel-
nutenção de elementos da biodiversidade, corpos de água e fragmentos florestais. Este processo eleva a autoestima das trão: Unioeste, 2004.
PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia. A experiência da Itália moderna. Tradução Luiz Alberto Monjardim.
Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2005.
1. Introdução
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro e São
Paulo: Ed. Record, 2000. A sobrevivência da sociedade, continuamente vai decorrer de sua qualidade de vida, o desafio maior sempre vai ser
a integração ou a harmonização entre o plano econômico, ambiental e social. A preocupação continua da sociedade com os
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 10a. Edição. São Paulo: Cortez: Autores Associados. 2000. impactos ambientais vem fazendo uma mudança significativa para a coletividade, porem isso ainda não é o suficiente, para
que possamos combater ou minimizar estes grandes impactos. Recentemente houve um deslizamento de terras em uma das
VEIGA, José Eli. Destinos da ruralidade no processo de globalização. Estudos avançados, n. 51, maio-agosto 2004, p.
estradas mais Histórica do Paraná, a Estrada da Graciosa, A estrada foi a primeira ligação entre o litoral paranaense e a capi-
51-67.
tal, Curitiba. Construída ainda no período do Império, a rodovia ainda mantém características antigas, como a pavimentação
em paralelepípedos. Além do valor histórico, o local é um ponto turístico do litoral, devido às cachoeiras e aos mirantes, de
onde é possível ver o mar.
modelo de desenvolvimento. A Estrada da Graciosa, como é conhecida a também reconhecida como Rodovia PR-410, é
uma estrada pertencente ao governo do Paraná, ou seja toda a reponsabilidades de manutenção , preservação e recuperação
, pertence ao Governo Estadual. Visto que o deslizamento de terra causou o rompimento da estrada, em determinado ponto
da estrada, ficando inabilitada a passagem de veiculo, dentro deste projeto a proposta e mostrar situações para evitar ou
minimizar situações como essas.
2. Problema
Como minimizar os impactos ambientais na Estrada da Graciosa, causados pela erosão e pela atividade humana, sem
prejudicar o desenvolvimento econômico das comunidades que vivem nas proximidades da estrada?
3. Objetivo Geral
Apresentar propostas para redução dos impactos ambientais causados pela força da natureza (erosão), pela comuni-
dade próxima, pelos viajantes e pelos turistas.
4. Objetivo específico
Evidenciar propostas para preservação ambiental;
Sugerir ações de mitigação dos impactos ambientais no solo;
Avaliar as melhores condições para continuidade do comércio e turismo, sem prejudicar a fauna e a flora local;
Propor ações de monitoramento contra problemas ambientais.
Os motivos que desencadeiam esse processo estão ligados à forma de relevo, estrutura geológica do terreno,
além das ações humanas que intensificam os deslizamentos: retirada da cobertura vegetal de áreas de relevo acidentado,
habitação em locais impróprios, oferecendo condições propícias para o desenvolvimento desse fenômeno.
6. Conceito de deslizamento de terras de encostas: Um entendimento do que ocorreu na Estrada da Gracio- O deslizamento é um processo que pode ocorrer em qualquer lugar do mundo. No Brasil, as pessoas que vivem
sa nos centros urbanos e que mais sofrem são as de baixo poder aquisitivo, pois as áreas de risco em que habitam são uma
O jornal Folha do Litoral publicou, que no dia 13 de março de 2014, houve desmoronamentos de terras na Estra- das únicas alternativas para essa classe residir, visto que são lugares de pequeno valor comercial.
da da Graciosa, ocasionados pelas fortes chuvas, segundo a SIMEPAR, o volume pluviométrico alcançou 100 milímetros
Em todos os anos, durante os períodos de chuva, veiculam notícias de enchente e deslizamento em áreas margi-
e continuou oscilando entre 60 a 80 milímetros, isso é equivalente a uma quantidade de 100 litros de água para 1 m² de
nalizadas, produzindo prejuízos e mortes em diversas metrópoles brasileiras.
área ou uma lâmina de 10 centímetros de água para 1 m².
Imagens da Estada da Graciosa após o deslizamento de terras.
Para medição do volume pluviométrico é utilizado o pluviômetro, que é um aparelho meteorológico destinado
a medir, em milímetros, a altura da lâmina de água gerada pela chuva que caiu numa área de 1 m².
- Mapas topográficos;
- Mapas geológicos;
- Evidências de movimento.
7.2 Investigações de Campo/Solo
Dyminsk relata que podem também ser realizadas investigações de campo/solo, que exigem planejamento pré- Fonte: brasilcaminhoneiro
vio, quando o problema a ser investigado deve ser bem definido e escolhidos os métodos de investigação. Devem ser
realizados trabalhos detalhados de:
• Sistemas de drenagem
- Levantamento topográfico;
- Exploração do subsolo:
- Sondagens a Trado;
- Sondagens SPT;
- Sondagens rotativas;
- Água no terreno: superficial e subterrânea (medições de nível de água e poro-pressão (piezômetros), permea- Fonte: Prefeitura de Vitória
bilidade do solo/rocha, regime de chuvas) • Bueiros
7.2.1Fatores ambientais:
Os fatores ambientais que influenciam na estabilidade do solo são:
- Clima;
- Ecossistema.
7.3 Imagens de conjuntos de acessórios necessários em uma estrada:
Abaixo imagens referentes ao conjunto de acessórios necessários em uma estrada, como medidas de prevenção Fonte: Prefeitura de Vitória
contra o ocorrido na Estrada da Graciosa:
I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL
239
29 a 30 de Outubro de 2015 | Matinhos - PR
• Sarjetas 8. Últimas notícias da Estrada da Graciosa;
Segundo o Governo do Paraná Iniciou nesta quarta-feira (23) as obras propriamente ditas na Estrada da Graciosas
concretagem das vigas de sustentação da ponte que vai permitir a passagem, em meia pista, de veículos na Estrada da
Graciosa, ou seja será um processo de rotação de veiculo mais lendo em função de ser apenas uma via para liberação do
trafico de veiculo.
Conforme o Governo do Estado As equipes do DER já fizeram a limpeza dos trechos da Estrada da Graciosa onde houve
desabamento de encostas há duas semanas, quando choveu tão forte quanto no dia 13 de março, data do desabamento da
rodovia, a recuperação total está prevista para o mês de setembro de 2014, conforme texto abaixo.:
RESTAURAÇÃO TOTAL - A restauração total da rodovia tem previsão para ser
finalizada até setembro deste ano. A estimativa é que sejam investidos R$ 5 milhões
em projetos e obras. Além da ação emergencial, as equipes estudam a colocação
Fonte: Estradas de Pernambuco de muros nas encostas do km12, onde ocorreu desabamento da barreira, e obras
complementares. Os muros vão evitar que as pedras do morro desabem novamente.
• Bacias de amortecimento
9. Conclusão
O presente projeto tem objetivo apresentar propostas para redução dos impactos ambientais causados pela força
da natureza (erosão), pela comunidade próxima, pelos viajantes e pelos turistas da região da Estrada da Graciosa. Visto
que recentemente, esta área passou por um deslizamento de terra, que causou o rompimento em determinado ponto da
estrada, tornando-a inabilitada a passagem de veículo, situação como essa é causa alguns descontentamento, além de não
permitir a passagem trás danos naturais a área. Com os resultados obtidos pode-se avaliar que a preservação da Estrada
da Graciosa se dá pelos cuidados com em preservação da estrada obtidos de estudo bibliográfico.
DYMINSK, Andréa Sell. Noções de estabilidade de taludes e Contenções. Disponível em: http://www.cesec.ufpr.br/
docente/andrea/TC019/TC019/Taludes.pdf . Acesso em 20 de abril de 2014, às 15:00 hrs.
• Cortina atirantada
FREITAS, Eduardo. Deslizamentos de Encostas. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/geografia/deslizamentos
-encostas.htm>. Acesso em 20 de abril de 2014, às 17:00 hrs.
SAZONALIDADE NO LITORAL DO PARANÁ Os diferentes ciclos do desenvolvimento do turismo no litoral do estado do Paraná, Brasil, delimitaram o modelo
de sua exploração como atividade econômica, suscitando, no decorrer de sua história, diferentes segmentações de turis-
mo, como sol e mar, náutico, gastronomia típica, ecoturismo, aventura, porém o segmento turístico que adquiriu a forma
Luiz Ernesto Brambatti1; Fernando dos Santos Alves2 de turismo de massa foi o turismo de sol e mar, pelo território oferecer uma orla de praias, ilhas, baías e balneários em
sua costa.
Do início da implantação das colônias de imigrantes, no século XIX até os anos 1950, período marcado por duas
RESUMO Guerras Mundiais, o movimento de ocupação do litoral do Paraná foi no sentido da internalização, ou seja, um movi-
Este estudo trata do fenômeno da sazonalidade turística nos municípios balneários do litoral do Paraná-Brasil e afirmação mento vindo do mar, através do transporte marítimo, de pessoas, trabalhadores, imigrantes, colonizadores, máquinas e
de um turismo de base comunitária para diminuir os impactos sociais negativos nas comunidades locais. Diferentes meios mercadorias que chegavam pelos portos em direção à capital do Estado e ao interior do Paraná, passando inicialmente
de hospedagem e prestadores de serviços foram investigados para identificar a curva de sazonalidade. O estudo contém
uma revisão da literatura e das estratégias sugeridas por vários autores para diminuir os efeitos da sazonalidade e buscar pelos caminhos do Itoupava, do Arraial e da Graciosa, até a construção da ferrovia, passando a ser o meio de transporte
alternativas. A sazonalidade turística contribui ainda mais para o desemprego, a marginalização e a drogadição. Este ar- prioritário. O litoral representava apenas um meio de acesso ao território.
tigo propõe a desconstrução do paradigma da sazonalidade enquanto concepção ideológica que orienta a ação racional
dos gestores tanto público quanto privados, bem como a construção de alternativas de um turismo de base comunitária Da mesma forma que no resto do mundo, no período pós-guerra ocorre a recuperação das economias, as conquis-
de características sustentáveis. tas sociais dos trabalhadores, a implantação do estado do welfare na Europa, a Consolidação das Leis Trabalhistas no Bra-
sil – CLT (1945), com o crescimento da renda e da formação de uma classe média com poder aquisitivo, o que favoreceu
o início de um movimento de ocupação do litoral no sentido inverso até então, com a construção de segundas-residências
Palavras Chave: sazonalidade, turismo de base comunitária, estratégias. e veraneios. Era o início do turismo de lazer no litoral do Paraná.
A demanda por segundas residências no litoral fez crescer a especulação imobiliária com a formação dos balneá-
rios de Matinhos, Guaratuba e Pontal do Paraná, então pertencentes ao município de Paranaguá, fazendo surgir novos
ABSTRACT
municípios, no modelo urbanístico de desenho ortogonal, retangular, em xadrez, ocupando inicialmente a orla oceânica
This study deals with the phenomenon of seasonal tourist in cities in the coast of Paraná, Brazil and affirmation of a como lugar de maior valorização e aos poucos verticalizando com edifícios, tal como as cidades modernas. O setor de
community-based tourism to reduce the negative social impacts on local communities. Different lodging facilities and
service providers were investigated to identify the seasonality curve. The study contains a literature review and strate- serviços acompanhou o crescimento do balnearismo, com a instalação de vários hotéis, restaurantes e pousadas para
gies suggested by several authors to reduce the effects of seasonality and look for alternatives. The tourist seasonality atenderem aos veranistas. Neste período o litoral era mais frequentado no período de inverno, por motivos de saúde, para
further contributes to unemployment, marginalization and druggeds. This article sets out to deconstruct the paradigm of o tratamento do corpo e males respiratórios (Bigarella, 2009).
seasonality as an ideological concept that guides the rational action of managers both public and private, as well as the
construction of alternatives from a community-based tourism sustainable features. O resultado desta ocupação desordenada e não planejada do território praiano por segundas residências foi o sur-
gimento de municípios sem planejamento urbano e com forte dependência sazonal. Com a demanda para a construção
civil, levas de operários deslocaram-se para o litoral e ali permaneceram, ao lado das populações tradicionais. Atualmente
Keywords: seasonality, community-based tourism, strategies. restam apenas algumas vilas de pescadores em toda a orla, a maior parte em ilhas protegidas ambientalmente, onde po-
dem manter seus costumes de povos cultura tradicional.
1 Professor UFPR Litoral 3 Dados do MTE e SEBRAE (2005), disponíveis em ‘Cadeia produtiva do turismo no Paraná: estudo da região turística do litoral. (IPAR-
2 Pós graduando UFPR Litoral, e- mail: lebramba@gmail.com DES, 2008, p. 17) apud UFPR LITORAL, Justificativa do Projeto Pedagógico do Curso de Gestão em Turismo, 2011.
LEE et al. ( 2008) cita que nem todas as estratégias podem ser empregadas para combater os efeitos negativos da
A SAZONALIDADE sazonalidade , bem como valorizar os efeitos positivos, por que as características dos lugares são diferentes, principal-
mente em regiões remotas.
A sazonalidade surge na história do turismo moderno de massas com o advento de dois movimentos sócio-histó-
ricos: O primeiro, o das conquistas sociais dos trabalhadores pelo direito a férias de 30 dias, permitindo que pudessem Também Butler e Mao (1997) dedicaram um estudo sobre sazonalidade, classificando o problema em duas di-
gozar de descanso e lazer durante um período de tempo, que na maior parte dos casos coincidia com a estação do verão mensões: “a natural ou física e a institucional, envolvendo as questões sociais e culturais de um destino”. De acordo com
por conta de ser também o período das férias escolares. estes autores, a sazonalidade estaria orientada pela variação dos fenômenos naturais, como estação chuvosa, verão com
sol, neve para esquiar nas montanhas. Segundo LEE (2008) estes autores afirmam “que as atividades culturais, religiosas,
O segundo, como consequência do primeiro, ocorre com desenvolvimento de zonas balneárias e de veraneio, no étnicas e sociais em um destino influenciam o tipo e número de visitantes. Exemplos disso são as visitas de seguidores
pós guerra, onde estas classes de trabalhadores pudessem gozar de suas férias de lazer, durante o verão, em ambientes religiosos a lugares sagrados como Meca e Lourdes, bem como visitas de fãs de esportes para os principais eventos es-
de sol e mar, ou no inverno, em zonas de montanha. Isto significou a implantação de infraestrutura básica e turística para portivos ao redor do mundo.
permitir o acesso, o conforto e o desfrute da temporada.
BAUM e LUNDTORP4 apresentam as desvantagens da variação da demanda sazonal, considerados neste estudo
“Temporada” deixa de ser apenas um período de tempo em que ocorre algum fenômeno natural ou social, para
como efeitos da sazonalidade em destinos turísticos:
ser um período de tempo gasto com as férias ou o tempo em que ocorre o maior fluxo turístico em um determinado lugar
associado a um clima propicio. Pode-se identificar este período também como de um aumento de demanda e o período de a) Operação curta de negócios durante um certo período do ano, com grande período de fechamento ou redução
baixo fluxo de demanda como de baixa temporada. A este movimento de alta e de baixa demanda se dá o nome de sazona- do nível operacional;
lidade. Os destinos que apresentam este movimento de picos de alta e baixa temporada são dependentes da sazonalidade.
b) A consequente necessidade de gerar receitas para o ano inteiro, enquanto os custos fixos se estendem num pe-
Os termos sazonalidade e temporada são então incorporados no vocabulário do turismo. Este fenômeno social ríodo de 12 meses;
ocorre depois da Segunda Guerra Mundial, coincidindo com o desenvolvimento das rodovias como meio de transporte e
c) No período inter sazonal, há uma subutilização dos bens de capital, que também ficam parados, sem uso alter-
com a implantação de cidades balneárias, de segundas residências no litoral, para a temporada de veraneio.
nativo;
Motta (2001, p. 98) define sazonalidade como um fenômeno que ocorre em determinado período, ou seja, “aquilo
d) Consequentes problemas de abastecimento, dos serviços essenciais, com base numa temporada de curta dura-
que ocorre em alguns períodos e em outros não”. Ao consolidar um turismo de temporada, todas as outras atividades tu-
rísticas sofrem com a diminuição dos fluxos, incidindo diretamente nas outras atividades da economia, por consequência. 4 BAUM. T. & LUNDTORP, S.(2001) Seasonality in Tourism < in http://books.google.com.br/books> acesso em 12 de novembro de
2010.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para a foi a pesquisa documental e quantitativa junto a meios de hospedagem em Matinhos.
Para investigar o impacto da sazonalidade nos meios de hospedagem e estabelecimentos de alimentos e bebidas, uti-
lizou-se como amostra o cadastro de estabelecimentos constante do Guia de turismo do Litoral do Paraná, 2013, uma
publicação da Secretaria de Turismo do estado do Paraná. Para os dados estatísticos dos municípios, utilizou-se como
fonte o IBGE, 2010.
Desta investigação resultou uma classificação por nível de dependência sazonal: 1. Dependência sazonal alta, quando
ocorrem picos em até 3 meses do ano e baixa demanda nos restantes 9 meses; 2) dependência sazonal moderada, quando
ocorrem picos em 3 meses, fluxo moderado em mais 4 meses e fluxo de demanda baixo em 5 meses do ano e; 3) depen-
dência sazonal baixa, quando há equilíbrio de demanda, porém com picos de alta em até 3 meses.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em Matinhos foram investigados 7 (sete) hotéis, totalizando 1064 leitos disponíveis. Destes, quatro estão cadastrados Neste gráfico pode-se perceber que a variação de demanda tem sido muito semelhante nos últimos quatro anos,
no CADASTUR do Ministério do Turismo, dois não estão cadastrados e um não informou. Percebeu-se, quando con- mantendo os picos sazonais de alta nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro e de baixa nos meses de abril, maio, julho
tatados, que 42% funcionam o ano todo enquanto 58 % ficam fechados fora da temporada de verão. Já as pousadas de até novembro.
Matinhos somam 527 leitos e apenas duas são cadastradas no CADASTUR. Foram investigadas 13 pousadas e somente
O estabelecimento referente ao gráfico/tabela 2 localiza-se em Matinhos, PR, e tem 170 leitos disponíveis. Exclui-
3 declararam funcionar durante o ano todo. As demais, 77%, ficam fechadas fora da temporada. Em Pontal do Paraná
se deste gráfico o mês de junho por se tratar de férias coletivas.
foram investigadas 16 pousadas, totalizando 587 leitos. Destas, 31% fica fechada durante o ano, enquanto 69% consegue
manter a pousada aberta. Em Guaratuba, 12 pousadas foram investigadas, das quais 9 não estavam operando, o que sig- O gráfico/tabela 2 apresenta a variação sazonal de demanda de um hotel em Matinhos, PR, com 83 UHs e 332 leitos,
nifica que 75 % permanece fechada durante a baixa temporada. situado muito próximo ao mar.
No município de Pontal do Paraná, foram investigados 18 estabelecimentos entre restaurantes e pizzarias, dos quais
12 se mantém fechados fora da temporada, o que representa 67% fechados. Em Guaratuba, foram investigados 29 esta-
Conceitualmente, turismo de base comunitária (TBC) significa o conjunto de atividades turísticas que ocorrem em
uma determinada comunidade, com características de participação social, baixa intensidade e onde ocorre uma integra-
ção maior entre o turista visitante e os receptores, que na maioria das vezes, são também agricultores familiares.
“Os princípios sobre os quais o turismo se baseia nas comunidades derivam da visão do mundo (cosmovisão) que
estas possuem, ou seja, uma visão holística onde o homem e a natureza formam parte de uma unidade total e in-
divisível. A terra e as pessoas são complementares e estão unidas por um destino: garantir a harmonia do mundo
que deve ser constantemente recriada, transcendendo o tempo e as pessoas. A regeneração da vida está baseada na
reciprocidade de todas as forças da vida. O conceito de desenvolvimento sustentável, hoje em voga, inspira-se desta
visão do mundo e sua filosofia de vida” (MALDONADO, 2009, p. 30).”
Para o desenvolvimento do turismo de base comunitária, Sachs (1993) “defende o fortalecimento e capacitação
Fonte: UFPR Litoral. Projeto de Extensão Construindo alternativas de turismo extratemporâneo. das comunidades num nível local, substituindo as iniciativas globais. Esse autor propõe que sejam realizadas parcerias
entre instituições públicas e privadas no fomento de iniciativas solidárias e no estabelecimento de redes horizontais, ca-
pazes de gerar arranjos institucionais e produtivos, como é exemplo iniciativas de turismo comunitário”.
Tabela 3- Gráfico de demanda sazonal de uma pousada em Matinhos-PR
O diferencial deste modelo de turismo é a dimensão humana e cultural, que tem como objetivo a troca de expe-
riências entre o turista e a comunidade receptora, fazendo com que ambos se envolvam e isso proporcione o conheci-
mento de aspectos socioculturais do espaço visitado. Outro ponto importante, segundo o site Instituto EcoBrasil, é que
o turismo de base comunitária “(...) deve contribuir para uma melhor conservação e desenvolvimento da localidade,
trazendo benefícios econômicos, sociais e culturais para todos os membros da comunidade”.
O turismo nesta perspectiva vem ajudando as comunidades locais (comunidades receptoras), de forma geral, a
adquirir mais conhecimentos sobre seus potenciais e bens patrimoniais, sociais, culturais e naturais, que podem ser uti-
lizados de uma forma inovadora na gestão de seus territórios, explorando essas concepções de maneira consciente. Esta
concepção de turismo adota o termo “comunidade”, o qual envolve princípios, valores e nomes que regram e organizam
um determinado grupo de pessoas, e tem o propósito de assegurar o bem-estar comum e preservar a identidade local.
Segundo Maldonado (2009), o patrimônio de uma comunidade é formado por diferentes valores, crenças, co-
nhecimentos, táticas, instrumentos, artefatos, lugares, representações, terras e territórios, assim como todos os tipos
de manifestações tangíveis e intangíveis de um povo que, através deste conjunto, expressam seus modos de vida e sua
cultura. Neste sentido, o turismo de base comunitária diferencia-se entre as comunidades, promovendo uma riqueza de
conhecimento e experiências para quem os usufrui. Algumas comunidades, em especial, as pequenas, ainda preservam
manifestações intangíveis de seu povo, bem como os seus patrimônios arquitetônicos locais.
Fonte: UFPR Litoral. Projeto de Extensão Construindo alternativas de turismo extratemporâneo
Estes lugares geralmente não tem uma economia representativa para municípios ao qual pertencem, já que o de-
Um Turismo de Base Comunitária, para ser sustentável, deverá levar em conta a desconstrução de paradigmas de ESTADES, N. P. (2003) O litoral do Paraná: entre a riqueza natural e a pobreza social. Desenvolvimento e Meio Am-
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The objectives of this article are: To analyze the community-based tourism and ecotourism, segments practiced on the
island of Mel, are eco-development factors; Identify, from the local communities, the effectiveness of the practice of
community-based tourism in Honey Island; Ecotourism verify the performance, from locals and tourists on the island
of Mel Pr; and analyze the relationship between these two tourist segments in the process of ecodesenvolvimento. The
methodological procedures Versam a qualitative approach, with field research, which will take place through semi-
structured interviews with local residents, with informal conversations and observations on the everyday local community.
As a result it was noticed that the population of Honey Island, enjoys these alternative segments satisfactorily tourism,
of course, they are perfecting this practice, which also is simple. So, they are on track to achieve an effective community
development and eco-development.
O litoral paranaense é uma região que apresenta forte singularidade no que diz respeito às suas características 2.1 As Unidades de Conservação
naturais, culturais e históricas. É reconhecida e projetada devido a atributos naturais, como praias, cachoeiras, restinga,
Serra do Mar, gama variada de fauna e flora, além da Mata Atlântica, um dos 25 hotspots mundiais da biodiversidade, ou Segundo MMA (2008) as Unidades de Conservação (UC) são áreas estabelecidas pelo Poder Público para a
seja, áreas com grande concentração de riqueza de espécies (TABARELLIet al., 2005; MYRES et al., 2000). proteção da fauna, flora, clima, solo e todos os processos ecológicos relacionados aos ecossistemas naturais. A criação de
unidades de conservação de âmbito federal ou estadual se dá através de decretos presidenciais e governamentais, respec-
No campo cultural, a região conta com manifestações culturais presentes nos remanescentes da sua arquitetura, na tivamente. De acordo com a Lei nº. 9.985/2000, Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, as UCs podem
sua forma culinária e nas suas formas de celebração. Este potencial faz desta região um polo firmado para o desenvolvi- ser divididas em dois grandes grupos: Proteção Integral e Uso Sustentável.
mento do turismo, conforme se traduz no reconhecimento pelo Estado como região turística (FERNANDES et al., 2012).
As UCs de Uso Sustentável têm como principal objetivo conservar a natureza e utilizar seus recursos naturais
Segundo o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS) do Litoral Paranaense, realiza- de forma sustentável. Elas têm como categorias: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico,
do em 2010, os principais segmentos turísticos da região são o turismo cultural, o ecoturismo e o turismo de sol e praia, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particu-
sendo este o mais procurado. Porém este mesmo Plano considera o crescimento pela procura por destinos sustentáveis, lar do Patrimônio Natural (SNUC, 2000).
direcionados para práticas de lazer.
As UCs de Proteção Integral têm como objetivo preservar a natureza, porém utilizando os recursos apenas de
As Unidades de Conservação (UCs) consistem em áreas protegidas pelo poder municipal, estadual ou federal. De forma indireta. São compostas pelas categorias: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento
acordo com Unidades de Conservação no Brasil (2012) e SNUC (2000) são áreas legalmente delimitadas e protegidas Natural e Refúgio de Vida Silvestre (SNUC, 2000).
por possuírem características naturais relevantes, devido ao diversificado e até singular ecossistema de fauna e flora,
características de paisagens, reserva de águas jurisdicionais, entre outros fatores. Em vista disso são reconhecidas em De acordo com Vallejo (2003), Franco (2011) e Medeiros e Young (2011) as unidades de conservação cumprem
termos de potencial para desenvolvimento do turismo sustentável. com uma série de papeis que visam beneficiar a população, como a contribuição na melhoria da qualidade de água e ar,
na conservação da biodiversidade de fauna e flora local, no potencial de geração de energia elétrica, na geração de renda
Estudo realizado pelo Instituto SEMEIA1 projeta que a realização de investimentos em infraestrutura básica e para a população local, entre outros.
implantação de planos de manejos nas UCs de todo o Brasil, em até 10 anos, apresenta potencial de geração de receita
de R$ 168 bilhões.
O litoral do Paraná possui grande parte de seu território composto por UCs, sendo no total 32 áreas de conserva- 2.2 Unidades de Conservação do Litoral do Paraná
ção (QUADRO 1): 12 parques, 3 estações ecológicas, 3 áreas de proteção ambiental, 1 floresta estadual, 10 reservas par- A região litorânea do estado do Paraná, segundo o IBGE (2014), possui uma população de aproximadamente
ticulares de patrimônio natural, 1 área de relevante interesse ecológico, 1 área especial de interesse turístico e 1 reserva 284 mil habitantes dividida entre sete municípios (Antonina, Morretes, Guaraqueçaba, Matinhos, Paranaguá, Pontal do
biológica (FONSECA NETO, 2015; CHEMIN & ABRAHÃO, 2014) e poucas são utilizadas para o turismo. Dentre os Paraná, Guaratuba). Os municípios totalizam uma área de 6.057.2 km², de acordo com Denardin et al. (2008), até ano de
12 Parques, 6 são abertos à visitação, são eles: Parque Nacionais Saint-Hilaire/Lange, do Superagui e o Parque Nacional 2008, 82% de todo o território era contemplado por Unidades de Conservação (UCs). Dados relativos a 2015, atualizados
Marinho das Ilhas dos Currais; Parques estaduais da Ilha do Mel, do Rio da Onça e Pico do Marumbi. com novas UC’s, elevam este percentual para aproximadamente 92%, considerando UCs terrestres.
Visando o desenvolvimento e a sustentabilidade dos parques, a pesquisa a que este estudo se vincula, investiga a De acordo com Fonseca Neto (2015), a preocupação com a conservação da natureza ganhou força principal-
gestão e o desempenho turístico das Unidades de Conservação da categoria Parque. São abordados parques à visitação. mente na década de 1980, década em que teve início a criação de UCs na região (QUADRO 1).
Sendo assim, o primeiro passo consistiu na identificação das unidades com tal característica, bem como análise do perfil e
história. Na sequência, um questionário foi desenvolvido com base nos Formulários de Inventariação da Oferta Turística
do Ministério do Turismo (2011) e empregado em entrevistas com os gestores das unidades. Apresenta-se nesta comuni-
cação um recorte dos resultados desta pesquisa, direcionado ao objetivo de correlacionar atividades turísticas potenciais/
compatíveis e atividades turísticas efetivamente realizadas nos domínios destes parques.
1 SEMEIA. Instituto Semeia. Unidades de conservação no Brasil: A contribuição do uso público para o desenvolvimento socioeconômi-
co. São Paulo: Semeia, 2014.
2 Algumas UC’s, como por exemplo APA Serra do Mar e Parque Nacional Guaricana, avançam limites para municípios e áreas contíguas O ecoturismo tem como principal motivação a observação e apreciação da natureza pelo turista, mantendo e
ao litoral.
O turismo de aventura é um subproduto do ecoturismo, também tendo o respeito e a preservação das áreas na- ETAPA 4: aplicação direta com os gestores dos Parques Nacionais Saint-Hilaire/Lange e Marinho das Ilhas dos Currais
turais na qual é realizado e pode ser definido como movimentos turísticos da prática de atividade de aventura recreativa e envio, a pedido, via e-mail para o gestor do Parque Nacional do Superagui.
podendo ocorrer em qualquer espaço natural, rural ou urbano, em área protegida ou não (MTUR, 2010). ETAPA 5: sistematização dos dados relativos aos Parques Nacionais Saint-Hilaire/Lange e Marinho das Ilhas dos Cur-
rais, análise e redação.
O ecoturismo tem como um de seus objetivos a educação ambiental, estando além das práticas formais e recur-
sos pedagógicos normais na finalidade de obter um maior conhecimento e contato com ambientes naturais, bem como
descoberta de novos estilos de vida, gastronomia, crenças, arquitetura, entre outros. O Programa Nacional de Educação
Ambiental – ProNEA, desenvolvido em conjunto dos Ministérios de Meio Ambiente e da Educação, recomenda a educa- 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
ção ambiental em todos os níveis educacionais, assegurando a sustentabilidade em níveis ambientais, sociais e culturais Os resultados e a análise aqui apresentados estão circunscritos aos parques nacionais Saint-Hilaire/Lange e Ilhas
(MTUR, 2010; MMA & MEC, 2005). dos Currais, unidades em que a entrevista foi efetivada. Não houve retorno até o fechamento deste texto do Parque Nacio-
De acordo com SEMEIA (2014), vários países incentivam o turismo em áreas naturais protegidas, com interesse nal do Superagui. Já os parques estaduais condicionam a realização de pesquisa a um procedimento padrão de cadastro.
na geração de renda, que em parte é revertida para a preservação e para as comunidades. Alguns estudos de caso sugerem Diante disso a aplicação do questionário com os gestores destas unidades ainda aguarda manifestação e liberação do
que estas atividades geram benefício socioeconômico bastante expressivo, pois em muitos exemplos a renda é suficiente presente órgão.
para afastar as populações da pobreza. O PARNA Saint-Hilaire/Lange foi criado pela Lei nº 10.227, de 23 de maio de 2001 e abrange os municípios de
Matinhos, Guaratuba, Morretes e Paranaguá. Ocupa um trecho da Serra do Mar, conhecido como Serra da Prata. Sua área
aproximada é de 25 mil hectares. Não possui plano de manejo, porém, é aberto à visitação o ano todo, sendo esta mais
3. MATERIAL E MÉTODOS voltada para prática de pesquisa, aventura e passeios.
O estudo se desenvolveu por meio das seguintes etapas: A entrevista no PARNA Saint-Hilaire/Lange ocorreu na sede da unidade, em 15 de junho de 2015. Das 23 ativi-
ETAPA 1: aprimoramento conceitual e levantamento de informações básicas a respeito de unidades de conservação, dades turísticas elencadas como opção, foram assinaladas 15 como atividades potenciais e compatíveis com o perfil da
parques e uso turístico de parques. Também investigou o histórico e o perfil das unidades de conservação no litoral para- presente UC (FIGURA 1). Nenhuma outra atividade foi indicada como meio de ampliação da lista de opções.
naense.
ETAPA 2: preparação do questionário como instrumento de coleta de dados e definição de estratégias para efetivação da
entrevista (MARCONI E LAKATOS, 1999) junto aos órgãos responsáveis e gestores. O questionário foi desenvolvido a
partir do modelo de Inventariação da Oferta Turística do Ministério do Turismo, correspondente à Categoria C1 – Atra-
tivos Naturais, Tipo C.1.6 – Unidades de Conservação e similares, Sub-tipo C.1.6.6 Parque3.
Após adaptações o Questionário final se dividiu em 6 partes: 1 - Informações Gerais; 2 - Funcionamento; 3 - Ca-
racterísticas; 4 - Estado geral e conservação; 5 - Comunidade do entorno; 6 - Equipe responsável. Na parte 3 o item 3.4,
expresso por “Atividades”, se organizava mediante um quadro com elenco de 23 linhas alternativas4 e três colunas (Rea-
lizada; Compatibilidade; Potencialidade) para marcações “sim/não”.
O PARNA Marinho das Ilhas dos Currais foi criado pela Lei nº 12.829, de 20 de junho de 2013. Situa-se entre as O Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange não desenvolve plenamente sua potencialidade de atividades turísticas.
baías de Guaratuba e Paranaguá, a 6,2 milhas da costa5, possuindo uma área de 1.400 ha. Ele não possui plano de manejo, Trata-se de um Parque com aproximadamente 25.000ha, muito diverso em sua constituição e com diversidade de atra-
porém está aberto à visitação em todos os meses do ano, dispensando prévio agendamento, exceto para mergulho. ções, todavia, enfrenta dificuldades operacionais devido ao baixo número de funcionários e receitas insuficientes para
investimentos estratégicos para o desenvolvimento do turismo, que depende de instalações, equipamentos, entre outros.
Para o PARNA Marinho das Ilhas dos Currais a entrevista foi realizada no dia 11 de junho de 2015, na sede do
PARNA Saint-Hilaire/Lange, pois o parque não possui sede própria. Das 23 atividades turísticas elencadas como opção, Do mesmo modo, o Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais realiza baixo número de atividades turísticas.
foram assinaladas 7 como atividades potenciais e compatíveis com o perfil da presente UC (FIGURA 2). Nenhuma outra Contudo, além de implantação recente possui um perfil distinto de unidade, pelo fato de estar em ambiente marítimo.
atividade foi indicada como meio de ampliação da lista de opções.
Os dados até então alcançados permitem traçar um quadro que sugere insuficiência de uso e desempenho turístico
das unidades de conservação do tipo “parque” na presente região. O fato de metade dos parques estarem abertos à visita-
ção e a efetivação de baixo número de atividades turísticas em seus domínios indicam um alerta sobre o cumprimento do
papel estratégico destas unidades para o desenvolvimento da região naquilo que se refere ao turismo.
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Todavia, canoagem, mergulho e observação correspondem a atividades que independem das condições de gestão br/Estimativas_de_Populacao/Estimativas_2014/estimativa_dou_2014.pdf Acesso em: 25 de jul. 2015.
e promoção da unidade, refletem mais da capacidade dos usuários de dispor de meios e equipamentos para tal finalidade
Medeiros, R.; Young, C.E.F.Contribuição das unidades de conservação brasileiras para a economia nacional: Rela-
5 Está situado entre os pontos 25.43.13 S e 048.22.26 W; 25.44.27 S e 048.22.53 W; 25.45.47 S e 048.19.49 W; 25.44.33 S e 048.19.21 tório Final.Brasília:UNEP‐WCMC,120p, 2011.
W, no Arquipélago dos Currais.
O ecodesenvolvimento, aqui interpretado pelo viés de Sachs (1986; 2007), considera as especificidades de cada um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião, insiste nas soluções específicas de seus problemas
particulares, levando em conta os dados ecológicos da mesma forma que os culturais, as necessidades
lugar fundamentais para se pensar em estratégias de desenvolvimento. As questões envolvendo a qualidade do meio imediatas como também aquelas a longo prazo (SACHS, 1986, p. 18).
ambiente tem espaço importante nesse contexto e devem ser pensadas em conjunto com os demais fatores que envolvem
o território. Nesse caso, não se aplica o modelo até então utilizado pelos países nórdicos e norte-americanos, mas sim
em diferentes formas de promover o desenvolvimento com base nas características locais. O desenvolvimento territorial As principais características do ecodesenvolvimento, segundo o autor, são: a valorização dos recursos específicos
sustentável, por sua vez, segue os mesmos princípios e procura torná-los aplicáveis, do ponto de vista da viabilidade de de cada ecorregião, visando a satisfação das necessidades básicas da população; o direcionamento das forças para a
suas dimensões. realização do homem, através do emprego, segurança, qualidade das relações humanas e respeito às diversas culturas;
O turismo se configura como importante estratégia para o desenvolvimento territorial sustentável, uma vez que seja a gestão dos recursos naturais de modo solidário às gerações futuras, evitando a depredação e incentivando o uso de
utilizado como gerador de renda às populações em situação de vulnerabilidade econômica e tenha nos recursos específicos recursos renováveis; a redução de impactos humanos sobre o meio ambiente através de novas formas de produção e
locais seus principais possibilitadores. No Litoral do Paraná, a atividade turística está ligada ao turismo de “sol e mar”, aproveitamento de processos produtivos; o aproveitamento da capacidade regional para a fotossíntese e a utilização
um turismo de massa caracterizado pela sazonalidade. de fontes locais de energia, bem como alternativas ao uso do automóvel particular; o desenvolvimento de um estilo
tecnológico específico, como o aperfeiçoamento de ecotécnicas que compatibilizem objetivos sociais, econômicos e
A pergunta que este trabalho visa responder é: o turismo é uma área de estudo potencial para se pensar o desenvolvimento ecológicos; a oferta de equipamentos e técnicas de produção adaptadas às condições econômicas e ecológicas do pequeno
territorial sustentável no Litoral do Paraná? Nesse sentido, parte-se da hipótese de que a região apresenta elementos camponês e zonas rurais, considerando as especificidades desses casos; e a educação, formal ou não formal como forma
potenciais de estudo para pensar em modalidades de turismo que consistam em uma alternativa ao turismo de “sol e mar” de sensibilização acerca da dimensão ambiental e os aspectos ecológicos do desenvolvimento (SACHS, 1986).
e contribuam para o desenvolvimento territorial sustentável da região.
A participação dos grupos e das comunidades locais para a criação de meios de vida sustentáveis é uma das principais
O objetivo deste artigo consiste em realizar uma aproximação entre a discussão teórica do desenvolvimento medidas a serem tomadas na estratégia de desenvolvimento, sendo importante considerar a diversidade de culturas
territorial sustentável e turismo e o contexto turístico do Litoral do Paraná. Para tanto, serão relacionados os preceitos do e evitar soluções homogeneizadoras (SACHS, 2007). Nesse sentido, Sachs (2007, p. 186) salienta que, no ambiente
desenvolvimento territorial sustentável com a prática de um turismo que tem como base as particularidades do território. urbano, o ecodesenvolvimento não pode ser promovido através de estratégias de cima pra baixo, mas “projetadas e
Na sequência, será realizada uma breve apresentação do uso turístico do Litoral do Paraná e alguns elementos potenciais implementadas pela população, auxiliadas por políticas de capacitação eficazes”, e que “a troca de experiências entre
para o desenvolvimento do turismo. cidades e os estudos comparativos devem desempenhar um papel importante nas políticas de cooperação” com o intuito
de estimular a criatividade social, e não somente encontrar modelos prontos. Tais considerações se aplicam também ao
meio rural, que possui dinâmicas próprias e deve ser gerido sob a ótica de seus problemas específicos. Para o autor, na
2. METODOLOGIA agricultura, um fator importante nessa estratégia consiste:
A metodologia se baseará em revisão bibliográfica acerca das temáticas do desenvolvimento territorial sustentável,
na exploração da biodiversidade e da diversidade cultural, visando identificar novos recursos e gerenciá-
ecodesenvolvimento e turismo, bem como de estudos do turismo no Litoral do Paraná. Em um primeiro momento serão los de forma socialmente útil e ecologicamente prudente. Recorrendo simultaneamente ao conhecimento
apresentadas as características do ecodesenvolvimento, desenvolvimento territorial sustentável e o papel do turismo nesse local das populações e às conquistas da ciência moderna, poderíamos assim valorizar de forma integral e
contexto, em especial o turismo cultural, turismo rural e ecoturismo. Na sequência far-se-á uma breve caracterização do duradoura o potencial contido nos ecossistemas (SACHS, 2007, p. 278).
turismo no Litoral do Paraná assim como alguns fatores culturais e ambientais. Por fim, a conclusão.
A transição do modelo de desenvolvimento atual para o ecodesenvolvimento implica em alguns fatores levantados
No campo da pesquisa, Tonneau e Vieira (2003) estabelecem quatro princípios para a produção de conhecimentos:
Posterior às discussões e uso do termo “ecodesenvolvimento”, Vieira (2009, p. 40) coloca o desenvolvimento
análise dos dispositivos de diálogo e de negociação entre os atores sociais relevantes; estudo de territórios considerados
territorial sustentável como uma categoria que “tem contribuído para dotar o enfoque de ecodesenvolvimento de
em toda a sua diversidade; mapeamento e caracterização de experiências exitosas; e novos métodos de concepção de
fundamentos científicos e éticos cada vez mais sólidos”. Pra ele:
sistemas de informação em parceria. Nesse sentido, cabe pensar em estratégias locais em suas variadas formas, explorando
Este conceito designa uma modalidade de política ambiental de corte simultaneamente preventivo e os potenciais de cada região.
proativo, focalizando a relação sociedade-natureza de uma perspectiva sistêmica consequente. Sua
aplicação exige uma dinâmica de experimentações comparativas e de longo fôlego com enfoques Nesse contexto, o turismo surge como uma estratégia para o desenvolvimento territorial sustentável quando
analíticos de corte transdisciplinar e com sistemas autenticamente descentralizados de planejamento e
gestão (VIEIRA, 2009, p. 63). planejado sob a perspectiva dos recursos territoriais do local e contribuindo para a valorização dos atrativos e geração
de renda à população local. Porém, Fratucci (2014) alerta para o caráter puramente econômico que essa atividade pode
adotar. Para ele, a importância econômica da atividade turística também contribui “para que as ações e políticas públicas
e privadas direcionadas para o desenvolvimento do turismo privilegiem tal dimensão econômica do fenômeno” em
Para Jean (2010, p. 53) “as novas teorias do desenvolvimento territorial valorizam o papel ativo dos territórios,
detrimento das dimensões social, ambiental, cultural e política (FRATUCCI, 2014, p. 91). O autor salienta que o poder
eles mesmos representados não como suportes do desenvolvimento, e sim como formas de produção social que sustentam
público vem elaborando e implementando políticas voltadas à interesses do capital financeiro, de modo que os interesses
o desenvolvimento das regiões”. Segundo o mesmo autor, o elo entre o desenvolvimento territorial e o desenvolvimento
de outros agentes sociais envolvidos com o turismo não sejam considerados.
sustentável está na articulação entre espaços que permite ao território chegar a um estado de resiliência. Sobre os territórios
rurais, Jean (2010, p. 61) os descreve sob a perspectiva do desenvolvimento territorial sustentável como: Sob um olhar mais abrangente do turismo, Fratucci (2014, p. 93) afirma que, na gestão dos territórios do turismo,
Primeiramente, aos territórios dotados de ecossistemas saudáveis, ou seja, com ar e água pura, paisagem “é condição sine qua non a contemplação das relações e interações que se estabelecem entre os territórios de cada
agradável e um patrimônio natural e construído bem cuidado. Em segundo lugar, a territórios que agente social, pois é a partir delas que se estabelece o território do turismo, em sua concretude e totalidade”. Em um
apresentam viabilidade econômica, isto é, nos quais se observa um aumento do empreendedorismo, uma
desenvolvimento a nível local, o turismo é um instrumento da população para uma melhor condição de vida, devendo ser
diversificação econômica e uma redução da pobreza. Em terceiro lugar, os territórios usufruindo de maior
equidade social em decorrência do fim da migração rural, especialmente dos jovens, com nível crescente considerado um “meio” e não um “fim” (POLEZA et. al., 2008, p. 6). Poleza et. al. (2008, p. 5) ressaltam que o turismo
de inclusão social das minorias e das mulheres, além de acesso aos serviços públicos. para o desenvolvimento deve implicar no “envolvimento e na participação cidadã no processo de gestão e planejamento
da localidade”.
O autor diferencia recursos e ativos genéricos de específicos. Enquanto os ativos correspondem a algo que está
O turismo rural, por sua vez, é conceituado como “o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio sendo usado ou “em funcionamento”, os recursos representam um potencial a ser utilizado, como uma “reserva”, que
rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o pode ser transformado em ativo. Os ativos ou recursos genéricos são transferíveis, seu valor independe do contexto e
patrimônio cultural e natural da comunidade” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2004, p. 11). Inácio (2003) defende que participação em qualquer processo de produção. Já os ativos ou recursos específicos são intransferíveis, seu valor está
o agroturismo pode ter papel significativo para ações voltadas ao ecodesenvolvimento, quando não baseado somente em ligado ao território. “Os ativos específicos existem como tais, mas seu valor é função das condições de seu uso”, os
relações econômicas. “A implementação de projetos baseados no ecoturismo e no turismo rural apresenta-se como uma recursos específicos “constituem a expressão do processo cognitivo que se inicia quando atores dotados de competências
importante alternativa para pequenas comunidades” (INÁCIO, 2003, p. 185). diferentes põem essas competências em comum e, dessa forma, produzem conhecimentos novos” (PECQUEUR, 2005,
p. 13).
O ecoturismo “é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e
cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do Para Pecqueur (2005, p. 14) “O desafio das estratégias de desenvolvimento dos territórios consiste, portanto,
ambiente, promovendo o bem-estar das populações” Ministério do Turismo (2008, p. 16). Neste caso, vê-se evidente a essencialmente em se apropriar dessas condições e buscar o que constituiria o potencial identificável de um território”.
visão de atrelar a qualidade do meio ambiente à satisfação de necessidades da população local. O autor expõe que tais recursos resultam de “normas, de costumes, de uma cultura que são elaborados num espaço de
proximidade geográfica e institucional, a partir de uma forma de troca que não é mercantil: a reciprocidade” (PECQUEUR,
O turismo de massa, como o turismo de “sol e mar”, por vezes exclui parte da população local dos benefícios
2005, p. 15).
gerados, como no caso do Litoral do Paraná (ESTADES, 2003), e é potencial gerador de impactos socioambientais, como
no litoral catarinense (POLEZA, et. al., 2008). Ao ter o desenvolvimento como fim, a atividade turística deve englobar
aspectos ambientais, promovendo a proteção do meio ambiente, aspectos sociais, envolvendo o protagonismo local, e
4. TURISMO NO LITORAL DO PARANÁ
aspectos econômicos, como fonte de renda às comunidades locais.
A atividade turística no Litoral do Paraná é caracterizada, principalmente, pelo turismo de “sol e mar”. O período
de maior movimento compreende os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, evidenciando a sazonalidade como fator
marcante dessa prática. A formação de balneários, com grande número de segundas residências, é uma característica
3.1 Recursos específicos do território
visível nas cidades praianas. Ao todo a região possui sete municípios, sendo a economia baseada principalmente pela
Para pensar o turismo como estratégia de desenvolvimento para a região, deve-se compreender suas dinâmicas
atividade portuária em Paranaguá e Antonina, rural em Morretes e Guaraqueçaba, e turística em Guaratuba, Matinhos e
territoriais. Jean (2010, p. 69) cita três funções dos territórios rurais (que também adaptam-se ao ambiente urbano):
Pontal do Paraná (ESTADES, 2003).
a função econômica de produção e geração de empregos, a função ambiental de proteção e valorização
dos ecossistemas, e uma função social ou cultural, na qual a criação de uma paisagem tem valor, não mais De modo semelhante a outros territórios litorâneos mundo afora, no litoral do Paraná áreas urbanas e espaços
restrita provavelmente à manutenção de certas tradições agrícolas, faz parte também da cultura rural local. turísticos eclodiram como efeito da difusão dos hábitos de veraneio e da efervescência cultural do prazer
praiano. Matinhos e Pontal do Paraná, conformadas por sucessivos balneários que seguem a linearidade
da costa e da PR 412, representam os exemplos mais puros da concretização espacial do processo de
balnearização. Guaratuba, cuja fundação remonta ao século XVIII, difere no aspecto “origem” destes dois
municípios. Apesar disso, do mesmo modo que Matinhos e Pontal do Paraná a expansão do quadro urbano
Haesbaert (2008), por sua vez, defende que todo território é funcional e simbólico, pois “exercemos domínio na segunda metade do século XX como implicação da balnearização (CHEMIN e ABRAHÃO, 2013 apud
CHEMIN e ABRAHÃO, 2014, p. 229-230)
FRATUCCI, Aguinaldo Cesar. Turismo e território: relações e complexidades. Caderno virtual de turismo. Edição
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. 6 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
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área a ser explorada. No âmbito da valorização das especificidades locais e da satisfação das necessidades básicas da
multiterritorialidade: a ressignificação da relação do humano com o espaço. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. p.
população, tendo em vista a qualidade de vida como foco do desenvolvimento, a atividade turística apresenta-se com 19-36B.
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LOPES, D. A. R. Análise do comportamento térmico de uma cobertura verde leve (CVL) e diferentes sistemas de
Os portos marítimos são necessários para o fluxo de mercadorias ao redor do mundo, porém existe grande
preocupação em relação aos impactos ambientais causados, devido principalmente aos meios de transportes que utilizam
Édipo Vinicius Dos Santos Tagliatella; Rodrigo Arantes Reis; Bruno Martins Gurgatz; Felipe Foroni Cota Souza;
combustíveis fosseis sem um controle eficiente de suas emissões (BAILEY, 2004). Consequentemente os ambientes
Gustavo Augusto dos Santos Elste.
terrestres e marinhos sofrem grande impactos, como contaminação de corpos de água, invasão de espécies exóticas
destrutivas, degradação das zonas húmidas, congestionamento, ruído, poluição luminosa, perda de recursos culturais,
contaminação do solo e da água a partir de vazamento de tanques de armazenamento, poluição do ar, entre outros (AAPA,
RESUMO 1998). Destaca-se aqui, a importância da poluição atmosférica, considerada o maior risco ambiental à saúde humana nos
As áreas portuárias são centros de atividades econômicas e também grandes geradoras de impactos ao meio ambiente, que dias atuais (WHO, 2014).
tendem a aumentar devido ao crescimento global do comércio. Existem várias fontes que emitem poluentes para a atmosfera,
entre elas: locomotivas, caminhões, navios e rebocadores. As consequências na saúde da população local, devido à grande A Resolução CONAMA 03, de 28 de junho de 1990, define como poluente atmosférico:
emissão de poluentes no ar são diversas, e consistem no maior risco ambiental a saúde humana atualmente. Paranaguá,
uma das sete cidades do litoral paranaense, tem sua economia baseada na atividade portuária. O porto de Paranaguá é Qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou
características em desacordo com os níveis estabelecidos, e que tornem ou possam tornar o ar: impróprio,
um dos mais importantes do Brasil e o maior exportador de grãos da América Latina. Devido a grande quantidade de
nocivo ou ofensivo à saúde; inconveniente ao bem-estar público; danoso aos materiais, à fauna e flora;
indústrias relacionadas a produção e transporte de fertilizantes no local, iniciativas que visem a compreensão da dinâmica prejudicial ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade.
poluidora para elementos relacionados a estas atividades são de extrema importância. Neste estudo, foi utilizado um
equipamento chamado de APV (Amostrador de Pequeno Volume) para avaliação das concentrações de amônia (NH3).
O monitoramento da qualidade do ar no Colégio Estados Unidos da América foi realizado ao longo de 5 meses, e foram
identificados vários picos de concentração do poluente, além da média esperada em um total de 40 coletas. Uma amostra Existem vários estudos que indicam que a poluição atmosférica tem afetado de forma significativa a vida humana,
referente ao mês de novembro que chegou a ter 8,38μm/m3 amônia na atmosfera. A média geométrica de NH3 ficou em
2,96μm/m3. sabe-se até o momento que pessoas idosas, crianças e pessoas com problemas no aparelho respiratório e cardiovascular
são mais prejudicadas pela emissão de poluentes, desenvolvendo principalmente patologias como asma e bronquite
(PRIETSCH, 2003).
Palavra-chave: Poluição Atmosférica, Amônia, Paranaguá.
A emissão de poluentes atmosféricos tem aumentado em consequência do desenvolvimento industrial (FREEDMAN,
1989). O aumento na emissão de poluentes e consequentemente a sua deposição no solo (RODRIGUEZ, 2007), nas
florestas e nos bens comum geram consequências a saúde e ao meio ambiente (CHAGAS, 2007).
ABSTRACT
The portuary areas are the center of economic activities and also generate big environmental impacts, which tends to
increase due the global trade growth. There are many air pollution sources, as trains, trucks, ships and tugboats. The
consequences on health of the local population, due the great pollutant emissions are many, and consist in the biggest Bibliografia
environmental risk to the human health today. Paranaguá, one of the seven cities of Paraná’s coast, has its economy
based on port activity. The port of Paranaguá is one of the most important in Brazil, and the biggest grain exporter in A NH3 é a principal base gasosa na atmosfera (NORMAN et al., 2001), e tem como característica ser incolor e
Latin America. Due the large number of industries related to production and transport of fertilizers, initiatives aimed at apresentar odor irritante. A decomposição da matéria orgânica, como também sua sintetização pela industrial no uso de
understanding the dynamics of pollutant elements related to these activities are important. In this study, we used a small fertilizantes e os veículos são as principais fontes geradoras desta substância (PERRINO, C., CATRAMBONE, M., DI
volume sampler to assess the ammonia (NH3) concentration. The monitoring analysis was realized in five months, and
many peaks are identified. One sample in November reached 8,38μm/m3 of NH3 in the air. The geometric average was BUCCHIANICO, a.d.m., ALLEGRINI, I., Atmos).
2,96μm/m3.
Estima-se que 108 toneladas de NH3 são emitidas no período de um ano em todo o planeta (EPA, 2002).
De acordo com Smil (2001) apud Erisman et al. (2007), a amônia é relevante na produção de fertilizantes, isso
Keywords: Air pollution, Ammonia, Paranaguá.
intensificou a utilização da mesma na agricultura, porém, segundo Smil (2001) a mesma gerou um aumento nas emissões
atmosféricas de amônia. Atualmente o Brasil depende da importação de fertilizantes para suprir a demanda do agronegócio
(FERNANDES et al., 2009).
As consequências da inalação da amônia diferem em função da duração e intensidade em que uma pessoa é
exposta. Concentrações entre 40 e 700 mg L -1 são classificadas como exposição leve, suas principais consequências
podem ser mencionados: irritação nas vias respiratórias, nos pulmões e nos olhos. Concentração superior a 5000 mg L -1
são classificadas como exposições severas e provocam edema pulmonar, broncoespasmo, graves queimaduras nos olhos
e pele (USEPA, 1989; ONTARIO MINISTRY OF THE ENVIRONMENT, 2001; MEULENBELT, 2007).
Segundo a Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais - ABHO (2006) o organismo humano suporta até
8 h de trabalho por dia em uma concentração de 30 ppm de amônia gasosa. Por mais que a amônia seja encontrada
em concentrações na faixa de dezenas de ppm, a mesma tem uma vantagem em sua detecção pois, produz um odor
extremamente desagradável. (SINGLES et al., 1998).
Método
O equipamento para a coleta de Gases APV (Amostrador de Pequeno volume) foi instalado na cidade de Paranaguá-
PR, no colégio Estados Unidos da América (Figura 1). A mesma esta localizada na Avenida Gabriel de Lara nº 1377. O
colégio está localizado ao lado do corredor portuário, próximo a depósitos de fertilizantes, em consequência disto existe
um intenso trafego de caminhões no entorno da escola.
Figura 1: Ponto de Coleta no Colégio Estados Unidos da América, em Paranaguá
O amostrador ficou afastado em no mínimo 20 m de árvores, edifícios ou outros grandes obstáculos, em uma área
de horta na escola. Uma regra geral é que o amostrador fique afastado de um obstáculo em no mínimo duas vezes a altura
do obstáculo com relação à entrada do amostrador, que ficou a 2 metros de altura acima do solo. Para absorção deste poluente na atmosfera é utilizado uma solução de Acido sulfúrico 0,1N. Este reagente absorve
Para determinar a concentração de NH3 foi utilizado um equipamento chamado APV (Amostrados de Pequeno o gás presente na atmosfera através de reações químicas. O mesmo fica exposto ao ar por um período de 1h, e são
Volume) - Trigás. Este aparelho possui uma bomba a vácuo e faz com que o ar circule pelo sistema até ser distribuídos para borbulhados 10 ml da solução absorvente. Uma solução em branco também é levada ao local de amostragem para viés de
três fracos borbulhadores. Agulhas hipodérmicas são colocadas antes dos fracos borbulhadores, estes tem por objetivo comparação. Após um período nominal de uma hora de amostragem, em uma vazão de dois litros por minuto, a solução
limitar a quantidade de ar que entrará em contato com os reagentes químicos por um período de tempo, as metodologia de absorção é levada ao laboratório da UFPR litoral, e transferida para frascos de 50 ml para ser analisada. São aplicadas
para coleta de gases especificam a quantidade de ar que devem entrar em contato com os reagentes, para a coleta de nesta solução 2 ml de solução tampão. Adicionados 5 ml da solução de trabalho de fenol, agitado, e preenchido até 22
Amônia foram utilizados agulhas que permitiram uma vazão de 2,0 L/min. ml, adicionado 2,5ml da solução de hipoclorito e diluído em água destilada até 25 ml. Depois deste processo a solução
analisada é armazenada em local escuro por 30 min para desenvolver coloração. Após este período a absorbância da
solução é posta contra um reagente em branco a 630 nm pela método de espectrofotometria, o resultado da absorbância
é calculada conforme as fórmulas apresentadas na metodologia para Determinação da Amônia na Atmosfera (Método do
Indofenol) .
ABSTRACT
The creation of a network of health care for the child depends on the implementation of public policies that ensure the right
to health in its full aspect. The child health care is a health promotion service for the age group from 0 to 5 years old. The
multidisciplinary approach to the children health strengthens the occurrence of a global monitoring for their development.
In this holistic view motor development has an important role due to its influence in cognitive development and school
learning ability in later ages. This article aims to discuss the insertion of the physiotherapist in the network of health
care in Pontal do Paraná trough strategies of motor development assessment, maternal guidance and survey indicators
associated with motor in the age group 1-12 months age. This monitoring provides information for determining whether
the infant is within the expected for their age or if it has risk of delay. The work has ethical approval for their execution
and was held at the Health Unit for Women and Child, a reference center for maternal and child health that offers medical
services, nutrition, speech therapy and physiotherapy. The methodology was held on evaluation of motor development,
collection of data on the conditions of birth and child pregnancy, and socioeconomic information. The results show good
conditions of birth and development justified by the fact of good monitoring conducted during pregnancy, reiterating
1 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável – UFPR - lucianaweinert@gmail.com
2 Curso de Fisioterapia – UFPR
3 Prefeitura Municipal de Pontal do Paraná - PR
RESUMO Atividades de transporte terrestre são grandes potenciais fontes de emissão de poluentes gasosos, como Dióxido
de Nitrogênio e Monóxido de Carbono (NO2 e CO) (BEEVERS et al., 2012; LOZHKINA; LOZHKIN, 2015; NAGPURE;
A poluição atmosférica consiste na presença de uma substância em valores diferentes aos encontrados na natureza,
na maioria das vezes, resultante de atividades humanas, capazes de causar dano ao ser humano, animais, vegetais ou SHARMA; GURJAR, 2013; PLEIJEL; KARLSSON; GERDIN, 2004). O Ozônio (O3) também surge devido ao transporte
materiais. Os principais poluentes atmosféricos podem ser divididos entre gasosos, poluentes orgânicos persistentes, de forma indireta, pois é formado principalmente a partir de Óxidos de Nitrogênio (NOx) em reações com compostos
metais pesados e materiais particulados. Tais poluentes são responsáveis por uma à cada oito mortes ocorridas no orgânicos voláteis (VOC) e luz solar (CHAI et al., 2014; KATSOUYANNI, 2003). SO2 tem como fontes antropogênicas
mundo. Paranaguá, município do litoral paranaense, é campo de estudo vasto quanto a poluição atmosférica, fenômeno
a queima de carvão e óleos pesados, como combustíveis de navios (ENDRESEN et al., 2005; KAMPA; CASTANAS,
causado principalmente por abrigar o maior porto graneleiro do Brasil e o grande complexo industrial de fertilizantes
que se localiza ao redor. A qualidade do ar em Paranaguá ainda é em um certo grau desconhecida, sendo que trabalhos 2008). Tais VOCs são poluentes associados a atividade industrial, tráfego pesado, tintas, adesivos e aerosóis. Dentre os
preliminares buscam entender as fontes, dinâmicas e o risco ambiental envolvido na emissão de poluentes pelas atividades principais, estão o Benzeno, o Tolueno, o Etilbenzeno e o Xileno (BTEX)(HINWOOD et al., 2007; SCHAUER et al.,
portuárias na região. Este estudo exalta a importância da produção dos mapas de risco a partir de indicadores de saúde 1999; TRUC; OANH, 2007)
ambiental baseados em qualidade do ar para a gestão municipal, principalmente para planejamento e ordenamento do
espaço portuário e o seu entorno. Os POPs consistem em uma série de compostos com características de alta persistência no ambiente. Pesticidas
são os principais exemplos desta categoria, como o diclorodifeniltricloroetano (DDT). Também podem provir de fontes
plásticas ou combustão incompleta (ELLIOTT; ELLIOTT, 2013; HUNG et al., 2013; KAMPA; CASTANAS, 2008).
Palavras-chave: Gestão Portuária, Saúde Ambiental, Risco Ambiental, Litoral Paranaense.
Metais pesados são substâncias com densidade maior que 5 g/cm³. Dentre eles, é possível citar Cromo, Cobre,
Zinco, Arsênio, Cádmio e Chumbo, emitidos principalmente por transporte terrestre (HJORTENKRANS; BERGBÄCK;
ABSTRACT HÄGGERUD, 2006; ZHANG et al., 2015). O Cádmio pode também estar relacionado a atividades da indústria de
fertilizantes (ROBERTS, 2014), metalúrgicas e queima de combustível (KAMPA; CASTANAS, 2008).
Atmospheric pollution is the presence of a substance in different levels from those find in nature, most often, from human
activities, able of cause harm to humans, animals, vegetables and materials. The major atmospheric pollutants are the Enquanto os outros poluentes são classificados devido a sua origem química, o material particulado é uma
gaseous, the persistant organic pollutants, heavy metals and particulated matter. This pollutants are responsible for one
in every eight deaths worldwide. Paranaguá, a town in Paraná coast, is a vast field of study on atmospheric pollution, classificação física de partículas encontradas no ar, como poeira, fuligem, fumaça e gotículas líquidas, sendo assim,
mainly because of the Brazil’s largest grain port and the big industrial complex that the city hosts. The air quality in the não são uma substância, mas uma mistura de vários componentes (AMANCIO; NASCIMENTO, 2014; VALLERO,
city is still largely unknown, but studies about the emissions, dynamics and risks are being conducted. This study exalts 2007). São comumente divididas em PTS (Totais), PM10 ou “inaláveis” (menor ou igual a 10 µm de diâmetro) e PM2.5 ou
the importance of the production of risk maps from environmental health indicators based on air quality to urban and “finas” (menor ou igual a 2.5 µm de diâmetro) (CANÇADO et al., 2006), como ilustrado na figura 1. É apontado como
portuary management.
o poluente mais freqüentemente relacionado com danos à saúde (BRAGA et al., 2001).
A investigação sobre estas substâncias e sua presença no ambiente iniciou-se a partir de episódios isolados, aonde a
Keywords: Port Management, Environmental Health, Environmental Risk, Paraná Coast.
poluição atmosférica alcançou níveis extremos e foi possível estabelecer relações entre atividades de transporte e desfechos
na saúde, mesmo que os efeitos diretos dos poluentes na saúde ainda fossem difíceis de detectar (BRUNEKREEF;
HOLGATE, 2002). Em 1985, um episódio de smog na Alemanha apresentou altos números de internações e mortes em
relação a uma área controle (WICHMANN et al., 1989). No mesmo período, na Holanda, houve um declínio na capacidade
pulmonar de crianças estudadas, efeito que durou cerca de duas semanas (HOEK et al., 1990). A partir dos anos 90,
1 Universidade Federal do Paraná Setor Litoral - Laboratório Móvel de Educação Científica da UFPR Litoral - reisra@gmail.com
estudos conhecidos como time-series se tornaram mais populares, pois apresentavam vantagens como a compreensão da
Apesar dos avanços no controle das emissões, estima-se que os custos relacionados diretamente a poluição
atmosférica no município de Cubatão entre 2000 e 2009 foram pelo menos R$ 3.44 milhões (TAYRA; RIBEIRO; DE
CÁSSIA NARDOCCI, 2012).
Braga et al. (2001), através de análise de estudos relacionados ao efeito da poluição atmosférica na saúde
humana concluíram que concentrações de poluentes atmosféricos podem acarretar afecções agudas e crônicas no tracto
Figura 1: PM10 e PM2.5 em compação ao tamanho de grãos de areia e fio de cabelo. Traduzido de US Environmental Protection Agency, respiratório, mesmo em concentrações abaixo dos padrões de qualidade do ar determinados pelo CONAMA. A incidência
disponível em <http://www.epa.gov> de patologias do sistema respiratório, como asma e bronquite (AKINBAMI et al., 2010; GUARNIERI; BALMES, 2014;
O’CONNOR et al., 2008), está associada com as variações das concentrações de vários poluentes atmosféricos, de
No Brasil, os primeiros estudos surgiram em São Paulo e Cubatão, primeiramente utilizando ratos para maneira complementar, a mortalidade devido as estas patologias também apresenta uma forte associação com a poluição
determinação dos efeitos biológicos da poluição atmosférica (GYÖRGY MIKLÓS BÖHM et al., 1989; REYMÃO et al., atmosférica (KIM; LIM; KIM, 2015; LU et al., 2015). Estudos relatam a influência do material particulado no incremento a
1997) e posteriormente analisando a mortalidade de crianças em relação a diversos poluentes, encontrando NOx como visitas a hospitais e morte por doenças pulmonares e cardíacas (KAISER, 2005). Foi observado correlação entre acidentes
principal agravante (SALDIVA et al., 1994). vasculares cerebrais e poluição atmosférica mesmo com os níveis do poluente relativamente baixos (LISABETH et al.,
2008; WELLENIUS et al., 2012).
Além dos impactos na saúde, a poluição atmosférica também traz danos aos ecossistemas florestais. O ozônio, por
exemplo, é responsável por causar dano foliar, o que pode afetar a taxa de fotossíntese (ACHARD, 2009; CHAPPELKA; Recentemente, foram relatarados efeitos adversos de poluentes do ar ambiente sobre o declínio cognitivo e
SAMUELSON, 1998). Estudos ainda procuram avaliar sua influência na redução do crescimento e produção de biomassa acelerado envelhecimento cerebral. Resultados apresentaram baixo desempenho cognitivo entre as pessoas mais velhas
(CHAPPELKA; SAMUELSON, 1998; HOLMES, 2014). . Holmes (2014) observou o ozônio e o CO2 como fatores que que residem em bairros com altos níveis de exposição a PM 2.5 (AILSHIRE; CLARKE, 2014; GATTO et al., 2014) ou
alteram a dinâmica da provisão de água por florestas. Achard (2009) identifica a chuva ácida, os VOCs, o O3 e SO2 como próximo de grandes rodovias (WELLENIUS et al., 2012). Além disso, um importante estudo recente aponta a associação
principais impactadores dos ambientes florestais Considerando as florestas são responsáveis pelo mantenimento das entre poluição atmosférica, especificamente PM 2,5, e a diminuição da massa encefálica em mulheres adultas, indicando
reservas aquíferas, pode-se concluir que a poluição atmosférica apresenta um risco considerável para a sustentabilidade relação direta entre a poluição e o desenvolvimento cerebral (CHEN et al., 2015).
da disponibilidade de água pela humanidade (PODOLAK et al., 2015).
Outra questão importante para a compreensão da relação entre qualidade do ar e saúde é a condição social
No Brasil, estudos relacionados a poluição atmosférica e florestas foram realizados no pólo industrial de Cubatão, envolvida. Sabe-se que pessoas negras e/ou em situação socioeconômica ruim podem estar mais propensas a sofrer os
no estado de São Paulo. Este município ficou conhecido como “mais poluído do mundo” e “Vale da Morte”, devido impactos da poluição (O’NEILL et al., 2003; SEXTON, K. et al., 1993; SEXTON, KEN, 1997). O consumo de comidas
O Sistema Portuário Nacional (MESQUITA, 2015) define portos organizados como “bem público construído
e aparelhado para atender a necessidades de navegação, de movimentação de passageiros ou de movimentação e
armazenagem de mercadorias, e cujo tráfego e operações portuárias estejam sob jurisdição de autoridade portuária”.
Desta forma, as fontes de emissão a serem estudadas para tais áreas são as mais diversas, exigindo assim, uma abordagem
voltada ao espacial, porém, garantindo dados do tipo time series, para o acompanhamento e evolução da emissão dos
poluentes.
Moreno e colaboradores (2009) identificaram que emissões localizadas nas docas a partir de depósitos de clínquer
(cimento bruto) ou coque (combustível derivado do carvão betuminoso), assim como as obras de ampliação exerceram
grande influência nos níveis de PM10, em estudo realizado no porto de Valência. Pandya et al. (2002), sugerem que
a combustão do óleo diesel utilizado em diversos processos produtivos do sistema portuário tem o papel causal no
desenvolvimento de asma e rinite. Quanto a este aspecto, trabalhadores expostos a exaustão do diesel à longo prazo
enfrentam geralmente maiores riscos de desenvolver câncer de pulmão, cerca de 50- 300% (DAWSON; ALEXEEFF,
2001; SILVERMAN, 1998).
Berechman e Tseng (2012) estimaram os custos ambientais das emissões provenientes do porto de Kaohsiung, Figura 2: O Litoral Paranaense visto por satélite
Devido a importância sócio-econômica do estuário para a região, caracterizada por atividades de pesca, turísticas
e industriais (MARTINS et al., 2010), estudos ambientais são encontrados na literatura. Porém, estas pesquisas
correntemente investigam parâmetros relativos a água ou sedimentos, não focando em qualidade do ar. Martins et al.
(2010) identificaram esteróides de matéria orgânica fecal antropogênica em diversos pontos ao longo dos rios e do
estuário, em alguns pontos em níveis que caracterizam despejo de esgoto. Experimentos referentes a derramamento de
óleo também foram realizados (EGRES et al., 2012; MARQUES et al., 2014).
As produções que mais se aproximam do âmbito da poluição atmosférica foram sobre doenças respiratórias
produzidos por Spinelli et al. (2007) e Antoniaconi e Muniz (2013). Ambos encontraram prevalências de asma e rinite
próximas as de grandes cidades brasileiras e municípios portuários. Outra produção utilizou liquens fruticosos como
bioindicador da poluição atmosférica, identificando as vias de acesso utilizadas por caminhões e o porto como possíveis
fontes de poluição atmosférica (MOREIRA, 2011).
Dentre os principais poluentes que devem ser investigados no município estão os compostos gasosos, metais e
material particulado devido ao alto fluxo de caminhões (DA SILVA, 2011). Black carbon, um componente formador do
material particulado proveniente de atividades de transporte também se mostra interessante para análise (WEICHENTHAL Figura 3: Distribuição das Estruturas que compõe o complexo portuário de Paranaguá. Adaptado de www.operacaosafra.pr.gov.br.
et al., 2014).
Uma das importantes industrias associadas ao Porto de Paranaguá é a de fertilizantes, com a presença de grandes Considerações Finais
empresas de escala global (ABRAHÃO, 2011), como demonstrado na Figura 3. Alguns contaminantes não comumente A qualidade do ar em Paranaguá ainda é em um certo grau desconhecida, sendo que trabalhos preliminares
associados à poluição atmosférica são relacionados à atividades industriais do gênero, como o Fosfato, Nitrogênio (HE buscam entender as fontes, dinâmicas e o risco ambiental envolvido na emissão de poluentes pelas atividades portuárias
et al., 2011) e amônia (ASMAN; SUTTON; SCHJØRRING, 1998). Outro risco é a contaminação por Cádmio (Cd), na região. Futuros estudos espaciais e temporais devem contribuir para a produção de informações importantes para o
naturalmente encontrado em rochas de produção de fertilizantes fosfatados (ROBERTS, 2014). Desta maneira estudos conhecimento relativo a região e a área de estudo. O município se coloca como um modelo para o estudo da poluição
que ampliem a determinação da composição dos poluentes se mostra essencial para a região. atmosférica portuária e em florestas, devido a sua localização, conservação do entorno e relevância econômica.
Segundo princípios para análise integrada dos riscos propostos por de Souza Porto (2013), a região apresenta
riscos em níveis globais e locais,. No município, há riscos envolvendo seu território, onde as pessoas circulam e são
expostas localmente, mas também há riscos globais, advindos dos frutos da globalização pelo transporte marítimo, e que
se estendem não somente às proximidades do local de emissão, mas também a áreas distantes, como florestas e outros
municípios. Outro princípio extremamente necessário para estudo em Paranaguá é o agravamento dos ciclos do perigo
em contextos vulneráveis, onde vulnerabilidades sociais decorrentes de ações e decisões humanas acabam afetando os
próprios seres humanos.
Considerando que existe uma relação estreita entre desenvolvimento, ambiente e saúde, a utilização de
indicadores de saúde ambiental é essencial para contribuir com a implementação de políticas que apóiam a intervenção
dos determinantes sociais da saúde, em situações em que o ambiente desempenha um papel fundamental (GALVÃO;
FINKELMAN; HENAO, 2011). O produto direto de tais indicadores são os mapas de risco, que nos permite planejar
medidas de intervenção junto a fontes poluidoras (BARCELLOS; BASTOS, 1996; PEITER; TOBAR, 1998), se mostrando
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
É possível observar que a área urbana Matinhos apresentou um crescimento desordenado. Segundo IBGE (senso
2010), a alta taxa de urbanização cerca de 99,4%, com um total de aproximadamente 9 mil domicílios. Diversas situações de
precariedade das estruturas (Abastecimento de água, rede de coleta e tratamento de esgoto, coleta de lixo e pavimentação),
e de moradias apontadas por Esteves (2011), acarretam problemas graves no que se referem a insalubridade ambiental.
Fig 2: Fotografias históricas das décadas de 1930, 1950 e 1970 sobrepostas à atual imagem de satélite do Google Earth,
Para Silva (2013), a intensidade e velocidade com que o processo de urbanização de Matinhos ocorreu, gerou
demonstrando a rápida modificação da paisagem no município de Matinhos. problemas como: a poluição dos rios; ocupação das áreas com vegetação nativa e de vertentes por moradias irregulares;
deficiência na coleta de lixo, problemas de alagamentos e inundações, decorrentes do processo de antropização acelerado,
2. MATERIAIS E MÉTODOS bem como da falta de planejamento. Alguns deles, são apresentados na figura 5.Como podemos observar na figura
5, a quantidade de resíduos (sacolas plásticas, garrafas e até eletrodomésticos), descartados incorretamente nas ruas e
A partir da análise dos conceitos e do histórico de ocupação do município, foi elaborado um diagnóstico da
terrenos baldios, entram nos sistemas de drenagem se acumulam em manilhas, entopem bueiros, bocas de lobo, causam
Saúde ambiental composto por um levantamento in loco de condições ambientais através de observação direta e registros
inundações em residências e comércios de Matinhos, a figura 6, apresenta um panorama desse fato.
fotográficos e um diagnóstico dos padrões espaciais de qualidade da água do sistema hidrográfico
A situação de insalubridade, é ainda mais agravada em períodos longos de chuvas, onde ocorre frequentes
2.1 Área de Estudo inundações. Isso deve-se ao fato de áreas impermeabilizadas obstrui a infiltração da água da chuva no solo. Situação
Optou-se pelo recorte da área urbana, que compreende os canais urbanos do município de Matinhos, desde a ainda pior em áreas de fragilidade ambiental (mangues, beiras de rios e brejos), que ocorrem de forma intensa e sem
linha da costa até 20m s.n.m., seguindo a linha de delimitação do Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange, em áreas onde a planejamento, associada a ausência de infraestruturas de saneamento, os riscos e consequências à saúde ambiental são
urbanização é mais intensa. A região pertence a maior área de floresta Atlântica preservada e um dos mais significativos ainda mais graves, devido doenças de veiculação hídrica e vetores.
remanescentes do estado de Paraná, sendo denominada Floresta Ombrófila Densa. As questões de saneamento em Matinhos, são tratadas no diagnóstico de vulnerabilidade ambiental feito por
De acordo com Ângulo et al. (2006), Matinhos está situado na região sul do Brasil, porção leste do estado Esteves (2011). O autor retrata as fragilidades da população e das moradias, diante de inundações, vendavais e chuvas de
do Paraná localizada entre as coordenadas, 25° 48’ e 25° 51’ de latitude sul e 48° 31’e 48° 34’ de longitude oeste de granizo, destacando a situação de risco pela exposição à insalubridade ambiental.
Greenwich. Matinhos não possui rede de coleta e tratamento de efluentes para o total de residências, muitos se utilizam de
fossas sépticas e ligações irregulares e/ou clandestinas que contaminam o solo, o lençol freático e os recursos hídricos
Figura 5: Mapa da área urbana de matinhos evidenciando o sistema hidrográfico, as áreas atendidas por rede de coleta de esgoto e
Em termos de desafios e perspectivas para a reestruturação e melhorias da saúde ambiental, depende da inequívoca
necessidade de desenvolver estudos relacionados ao tema, e sobretudo no que se refere ao conhecimento mais detalhado
sobre a intensidade de uso do solo, além da readequação de toda a infraestrutura urbana que incluem os sistemas de
drenagem e a rede de coleta e tratamento de efluentes.
RESUMO
Key words: Occupational Health; Public Health Policy; Disease Notification; Unified Health System
As políticas públicas voltadas à saúde do trabalhador (ST) vêm sendo fomentadas pelas últimas gestões governamentais.
Uma das importantes estratégias consiste na estruturação de redes de atenção à ST, vinculadas ao Sistema Único de Saúde
(SUS) e com abordagens intersetoriais, que transcendem o campo da saúde. Com base nesse cenário, este estudo teve
como objetivo descrever a organização territorial e ações dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST)
do Estado do Paraná e também apresentar a série histórica das notificações dos agravos à saúde dos trabalhadores
paranaenses, no período compreendido entre 2010 e 2014. A metodologia adotada envolveu aspectos quali-quantitativos. INTRODUÇÃO
Os dados qualitativos referem-se à descrição da rede estadual, enquanto os quantitativos compreendem dados extraídos
do Banco de Dados do Sistema de Informação dos Agravos de Notificação (SINAN NET), que foram tabulados por meio Ainda em processo de construção, a Saúde do Trabalhador (ST) é uma área da Saúde Coletiva que estuda o
do tabulador de dados TABWIN e com o auxílio do Microsoft Excel. Os resultados revelaram a organização territorial processo saúde – doença dos seres humanos e a sua relação com o trabalho, “através do estudo dos processos de trabalho,
da rede estadual de CEREST, agrupados em oito macrorregionais de saúde e um CEREST Municipal em Curitiba. Em de forma articulada com o conjunto de valores, crenças e ideias, as representações sociais, e a possibilidade de consumo
relação às notificações de agravos, no Paraná, nos últimos cinco anos (2010 a 2014), houve um aumento de 120,74 %
das notificações relacionadas à ST, sendo que os acidentes de trabalho graves representaram aproximadamente 50% de bens e serviços, na “moderna” civilização urbano-industrial“ (MENDES E DIAS, 1991, pág. 347).
das notificações. Ainda dentro dos acidentes de trabalho graves, os óbitos relacionados ao trabalho apresentaram-se
relativamente constantes nos últimos cinco anos, cuja média anual foi de 297 óbitos. Por fim, em termos territoriais, No Brasil, este campo teve mais destaque a partir da década de 80, influenciado por diversos fatores, sendo
o CEREST de Curitiba apresentou a maior quantidade de notificações. Como reflexão final, salienta-se a questão da alguns deles: a transição demográfica mundial, o processo intenso de discussões sociais sobre as condições de vida e
subnotificação dos agravos de ST no banco de dados do SINAN, que, apesar dos esforços das equipes dos CEREST, saúde dos diversos grupos brasileiros, bem como pelo número elevado de doenças ocupacionais clássicas (benzenismo
ainda apresenta-se como um grande desafio para as redes de ST.
e saturnismo) e da epidemia de novas doenças ocupacionais (Lesão por Esforços Repetitivos - LER), e o fortalecimento
dos movimentos sindicais da época. Este contexto influenciou também a Constituição Federal de 1988 e a inclusão da
Palavras- chaves: Saúde do Trabalhador; Políticas Públicas de Saúde; Notificação de Doenças; Sistema Único de Saúde. definição de ST na Lei Orgânica da Saúde e suas devidas competências (MENDES E DIAS, 1991).
A referida Lei Orgânica da Saúde, 8080 de 1990, define a ST com “um conjunto de atividades que se destina,
por meio de ações de vigilância epidemiológica e sanitária, a promoção e prevenção da saúde dos trabalhadores”. Na
ABSTRACT
esteira desta diretriz considerada fundante do campo da ST brasileira, outras políticas públicas foram desencadeadas,
Public policies for occupational health (OH) have been fostered by recent government efforts. One of the important com objetivo de estruturar uma rede de atenção a ST na esfera do Sistema Único de Saúde (SUS).
strategies is to structure the OH care networks, linked to the Unified Health System (SUS) and intersectoral approaches
that transcend the field of health. Based on this scenario, this study aimed to describe the territorial organization and Desde então, várias legislações foram publicadas visando organizar as ações de ST no âmbito nacional, dentre
management of the OH Reference Centers (CEREST) of Paraná State and also present the historical series of reports of
elas merecem destaque neste trabalho a Portaria 777 de 2004 que instituiu, pela primeira vez, a notificação compulsória
health problems of workers from Paraná, in the period between 2010 and 2014. The methodology involved qualitative
dos 11 agravos de ST (Intoxicação Exógena, Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR), Pneumoconiose, Transtornos
1 Mestranda Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva/UFPR.. Enfermeira, trabalha na Secretaria de Estado da Saúde do PR
(SESA), no Centro Estadual de Saúde do Trabalhador (CEST). Email: Amanda.navarro@sesa.pr.gov.br; Mentais relacionados ao Trabalho, LER/DORT, Acidentes do trabalho fatais, Acidentes de trabalho com Mutilações,
2 Enfermeira, Especialista em Enfermagem do trabalho, atua na SESA PR, no CEST. Email: giselleveiga@sesa.pr.gov.br. Acidentes do trabalho com crianças e adolescentes, Acidentes com exposição a Material Biológico, Câncer Relacionado
3 Enfermeira, Especialista em Gestão da Vigilância em Saúde, atua na SESA PR, no CEST. Email: maria.leal@sesa.pr.gov.br;
4 Assistente Social, Mestre em Serviço Social, atua na SESA PR, no CEST. Email: silalbertini@gmail.com ao Trabalho). Sobre estes agravos, atualmente estão vigentes as Portarias do Ministério da Saúde nº 1.271 e 1.984, ambas
5 Fisioterapeuta, Doutor em Saúde Coletiva, Docente dos Programas de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e Desenvolvimento Territorial de 2014.
Sustentável/UFPR. Email: signorelli.marcos@gmail.com
Justifica-se a publicação deste trabalho ao meio acadêmico, pois se faz importante divulgar como está organizada a
RENAST no estado do Paraná, visando a atenção integral a ST e, em destaque nesse trabalho, as notificações dos agravos
de ST. Tais elementos poderão subsidiar políticas públicas e estratégias descentralizadas (locais) para abordagem às
questões concernentes ao campo da ST.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo exploratório quali-quantitativo, transversal, com dados secundários, coletados a partir
do Banco de Dados do Sistema de Informação dos Agravos de Notificação - SINAN NET, dos anos de 2010 a 2014 do
Paraná, cuja base de dados possui como última atualização a data de 03 de Agosto de 2015. Tais dados foram obtidos com
o auxílio da equipe do Sistema de Informação e Análise de Situação do Centro Estadual de Saúde do Trabalhador (CEST),
sendo que a primeira autora do trabalho faz parte da equipe.
Os dados qualitativos referem-se à descrição da Rede dos CERESTs e sua organização no território paranaense.
Os dados quantitativos levantados tratam da frequência e distribuição das notificações pelo território do Paraná e foram
Fonte: Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, 2015.
tabulados por meio do tabulador de dados TABWIN e com o auxílio do Microsoft Excel.
O CEST tem como papel planejar e organizar a Atenção Integral a ST no âmbito do SUS no Estado do Paraná com
RESULTADOS E DISCUSSÃO
ações na atenção primária, média e alta complexidade e de vigilância à saúde, apoiando e incentivando as Regionais de
As ações de ST são desenvolvidas em todos os níveis de atenção do SUS (Atenção Primária, Secundária e Saúde e os municípios para o desenvolvimento destas ações, com garantia de participação do controle social em todas as
Terciária), de forma hierarquizada e descentralizada, e para isso, a RENAST possui como eixo integrador os Centros etapas (PARANÁ, 2015).
de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), com a atribuição principal de dar suporte técnico e científico às
Implantado em 2006, o CEST vem desenvolvendo os pressupostos contidos na PNSTT e suas ações culminaram
intervenções do SUS no campo da ST, integradas com as ações de outras instituições (PARANÁ, 2011).
na elaboração da PEST. O CEST está sediado em Curitiba, fazendo parte da Superintendência de Vigilância em Saúde
Explicando de outro modo, os CEREST atuam como centros articuladores e organizadores, no seu território de (SVS) da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA). É composto atualmente por equipe multiprofissional
Figura 2 – Série histórica das notificações dos agravos de ST no estado do PR entre 2010 e 2014. Intoxicações Exógenas
14000
12793 12795
12000
11054
10000 Fonte: SINAN NET, agosto de 2015.
8000 8184
6000 5795
4000
Observa-se na Figura 3 que, no ano de 2014, entre os 11 agravos de notificação compulsória da ST, os acidentes
2000
graves representaram 52% do total das notificações, seguidos dos acidentes com exposição a material biológico,
0
2010 2011 2012 2013 2014 representando 45% das notificações e intoxicações exógenas relacionadas ao trabalho, com 8% do total das notificações.
Apenas no ano de 2010, os acidentes com exposição à material biológico ficaram em primeiro lugar no número de
notificações, sendo que nos outros anos ficaram em segundo lugar.
Fonte: SINAN NET, agosto de 2015.
Faz-se importante definir o conceito de Acidente Grave, de acordo com o Ministério da Saúde (2006, pág. 15 e
Observa-se na Figura 2 que houve um aumento de 120,74% das notificações dos agravos de ST no período
16):
estudado. De acordo com o Ministério da Saúde (2015), o Paraná, no ano de 2014, ficou em terceiro lugar no número de
notificações em relação aos acidentes (graves, fatais e com exposição à material biológico e intoxicações exógenas), em
comparação com os demais estados brasileiros. “ [...] Acidente de trabalho fatal é aquele que leva a óbito imediatamente após sua ocorrência ou que venha a ocorrer
posteriormente, a qualquer momento, em ambiente hospitalar ou não, desde que a causa básica, intermediária ou
imediata da morte seja decorrente do acidente. [...] Acidente de trabalho grave é aquele que acarreta mutilação, física
Não necessariamente deve-se pensar que estão ocorrendo mais acidentes e doenças relacionados ao trabalho, mas ou funcional, e o que leva à lesão cuja natureza implique em comprometimento extremamente sério, preocupante;
sim, que as ações de vigilância em ST estão sendo intensificadas. Além disso, no Paraná, uma das metas para a ST, contida que pode ter conseqüências nefastas ou fatais. [...] Acidente de trabalho com crianças e adolescentes é aquele que
acomete trabalhadores com menos de 18 anos de idade, na data de sua ocorrência.”
no Plano Estadual de Saúde, é o aumento das notificações dos agravos de ST, devido principalmente a grande subnotificação
dos mesmos. Esta questão da subnotificação fica mais evidente ao compararmos o banco de dados do SINAN com o do
Sobre às doenças relacionadas ao trabalho (PAIR, Pneumoconiose, Transtorno Mental relacionado ao trabalho, Agravos de ST por CEREST do PR entre os anos
LER/DORT, Dermatose Ocupacional, Câncer relacionado ao trabalho) observa-se ao longo dos anos estudados que elas de 2010 a 2014
não possuem um número substancial de notificações. Tal fato pode ser explicado pela dificuldade em se diagnosticar tais
60000 50620
agravos e fazer o nexo técnico epidemiológico com as condições de trabalho.
50000
40000
Figura 4 – Óbitos relacionados ao trabalho no estado do PR entre 2010 e 2014.
30000
10820
20000
2003 7903 4274 6825 5602 3304 5533 4356
ÓBITOS RELACIONADOS AO TRABALHO NO ESTADO DO 10000
PR NOS ANOS DE 2010 A 2014 0
II
L
L
A
I
II
I
TE
TE
S
TA
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400
TE
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350
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Fonte: SINAN NET, agosto de 2015.
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2010 2011 2012 2013 2014 Ao analisarmos a Figura 5, observamos que o CEREST Municipal de Curitiba apresentou, na somatória dos anos
de 2010 a 2014, o maior número de notificações dos agravos de ST no PR. Faz-se importante frisar também que a maior
fonte notificadora dos agravos de ST no estado do Paraná atualmente é o Hospital do Trabalhador, situado em Curitiba.
Fonte: SINAN NET, agosto de 2015.
Deve-se levar em consideração também o critério populacional, pois Curitiba já responde por 16,8 % da população total
do Estado, que de acordo com o Censo do IBGE de 2010 apresentava uma população de 10.444.526 habitantes.
Dentro da ficha de notificação dos acidentes graves do SINAN, são notificados os casos fatais, além dos acidentes
mutilantes e com crianças e adolescentes. Assim, faz-se importante registrar que nos últimos 5 anos, os casos de óbitos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
relacionados ao trabalho notificados no SINAN, vem se mantendo constantes, apresentando uma média de 298 óbitos
ao ano, conforme pode ser observado na Figura 4. O SIM registrou uma média 371 óbitos por ano, nos últimos 5 anos. O presente trabalho evidenciou como estão organizados os CEREST de gestão estadual do Paraná, bem como
Ao compararmos os dados do SIM e do SINAN, observamos uma diferença de 73 óbitos ao ano, número muito elevado, suas principais ações, focando em uma breve análise das notificações dos agravos de ST, já que esta é uma das ações
comprovando também a subnotificação no SINAN. desenvolvidas pela equipe do CEST. Ação esta de grande relevância para a tomada de decisão e planejamento em saúde,
pelos gestores locais e profissionais de saúde que desenvolvem as ações de vigilância em ST.
Não realizamos a análise dos bancos de dados de outras instituições para o período estudado. Porém, há alguns
estudos que fizeram esta análise, e merece destaque um estudo de Correa e Assunção (2003), o qual constatou problemas Apresentamos que, no Paraná, nos últimos cinco anos (2010 a 2014), houve um aumento de 120,74 % das
Como potencialidades da área da ST no Paraná, destacamos o fato de que a Vigilância em Saúde (Epidemiológica, PARANÁ. CEST. CENTRO ESTADUAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR. O que é o CEST? Disponível em: http://
www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1469. Acesso em 06 de Agosto de 2015.
Ambiental, Sanitária, ST, Promoção da Saúde) passa por um processo de reestruturação e fortalecimento no Paraná, tanto
no nível estadual/regional, quanto nos municípios (PARANÁ, 2015). A partir da vigência, em 2013, do VIGIASUS – PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. VIGIASUS. Programa De Qualificação Da Vigilância em Saúde no
Programa de qualificação da Vigilância em Saúde no Estado do Paraná - o qual prevê, entre outras ações, o repasse Paraná. Disponível em: http://www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=2979. Acesso em 12 de
Agosto de 2015.
financeiro para os Municípios e a definição de indicadores e metas para monitoramento do desempenho das ações de
Vigilância em Saúde em nível regional e municipal, pretende-se intensificar ainda mais as ações de ST (PARANÁ, 2015). PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Superintendência de Vigilância em Saúde. Centro Estadual de Saúde
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Academicamente a politica pública surge como área de estudo nos Estados Unidos com o objetivo de entender as
ações do governo. Isto rompe com a lógica da ênfase nas teorias explicativas do Estado e do governo comuns na Europa.
Péricles Augusto dos Santos1; Juliana Quadros2
Neste sentido o pressuposto científico adotado para consolidação dos estudos sobre políticas públicas passa a ser o de
que em democracias estáveis, aquilo que o governo faz ou deixa de fazer é passível de ser formulado cientificamente e
analisado por pesquisadores independentes. Neste sentido o que temos é o estudo de como o governo atua efetivamente
RESUMO (SOUZA, 2012, p.66-67).
As políticas públicas ambientais tem se configurado como importante estratégia dos governos para efetivação da con-
Mas como definirmos o termo política pública? Não há uma única, ou melhor, definição de política pública.
servação de espécies e ecossistemas ameaçados no mundo. No Brasil o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC) se apresenta como uma das legislações mais avançadas mundialmente sobre a conservação da natureza por meio Souza (2012) diz que:
do estabelecimento de áreas naturais protegidas denominadas de Unidades de Conservação (UCs). Adicionalmente, a
“Pode-se, então, resumir política pública como o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo,
participação social na criação e gestão de UCs também é prevista no SNUC. Nesse sentido, nos propomos a discutir a colocar o governo em ação e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor
participação social na gestão das UCs no Brasil, pensada a partir deste marco legal e de conceitos de participação social mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente). A formulação constitui-se no estágio em
e das políticas públicas. Percebemos que o marco legal investigado apresenta mecanismos de participação social, porém, que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações,
a efetivação destes mecanismos tem sido prejudicada pelo desconhecimento do poder de decisão que tem a participação que produziram resultados ou mudanças no mundo real” (SOUZA, 2012, p. 69).
social, pela falta de diálogo na busca de objetivos comuns e pela consequente falta de mobilização social. Dessa forma
os fóruns de participação social, como os conselhos gestores das UCs tornam-se espaços precarizados, usados de forma
inapropriada e facilmente manipulados por interesses que não atendem os objetivos da maioria dos atores sociais envol-
vidos e das próprias UCs. O mesmo autor traz um levantamento de definições dadas por diversos outros autores, quais sejam: um campo
dentro do estudo da política que analisa o governo a luz de grandes questões públicas (MEAD 1995); um conjunto de
ações do governo que irão produzir efeitos específicos (LYNN, 1980); política pública é a soma das atividades dos gover-
Palavras-chave: Conselhos gestores, participação social, conservação, unidades de conservação. nos, que agem diretamente ou por delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos (PETERS, 1986); o que o governo
escolhe fazer ou não fazer (DYE, 1984); decisões e analises sobre a política pública implicam em responder às seguintes
questões, quem ganha o quê, porquê e que diferença faz (LASWELL); e por fim a mais clássica seria a definição de Lowi
ABSTRACT apud Rezende (2004, p.13) política pública é uma regra formulada por alguma autoridade governamental que expressa
uma intenção de influenciar, alterar, regular, o comportamento individual ou coletivo através de sanções positivas ou
Environmental public policy has been configured as an important strategy of governments to effect the conservation of
threatened species and ecosystems worldwide. In Brazil the National System of Conservation Units (SNUC) is presented negativas. Chama a atenção como Souza (2012) e os autores mencionados por ele conferem importância ao ator governa-
as one of the most advanced legislation worldwide on nature conservation through the establishment of protected natural mental na decisão sobre políticas públicas. Por outro lado, Toro & Werneck (2004) embora reconheçam o papel decisivo
areas called Conservation Units (CUs). Additionally, social participation in the creation and management of protected de Estado, valorizam a participação social:
areas is also foreseen in SNUC. In this sense, we propose to discuss social participation in the management of protected
areas in Brazil, considered from this legal framework and concepts of social participation and public policy. We realize “Participar politicamente significa fundamentalmente, tomar parte das políticas públicas. Consiste em
that the legal framework has investigated mechanisms of social participation, however, the effectiveness of these mecha- formar opinião sobre uma decisão do Estado; em expressar, pública e livremente, essa opinião; e em vê-la
nisms has been hampered by the lack of decision-making that has social participation, lack of dialogue in pursuit of com- levada em consideração” (Toro & Werneck, 2004).
mon goals and the consequent lack of social mobilization. Thus the forums for social participation, such as management
councils of UCs become precarious spaces, used inappropriately and easily manipulated by interests that do not meet the
goals of most social actors involved and their own protected areas.
Portanto, nessa perspectiva, as políticas públicas são produto tanto da atuação governamental, em especial dos
legisladores, quanto da participação social. Considerado o ciclo das políticas públicas como sendo composto por cinco
Keywords: Management councils, social participation, conservation, protected areas. fases de acordo com Oliveira (2013, p.32), quais sejam: percepção/definição do problema, agenda-setting, elaboração de
1 Mestrando em Desenvolvimento Territorial Sustentável pela Universidade Federal do Paraná – UFPR – guto.pericles@gmail.com programa/decisão, implementação, avaliação/correção de ação e terminação, temos que a percepção/definição do proble-
ma pode emanar dos anseios da sociedade mobilizada e participativa. Ainda nesse sentido, a sociedade empoderada é o
2 Doutora em Zoologia e Professora do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável da Universidade Fede-
ral do Paraná – UFPR. melhor fiscal da implementação e da avaliação da eficiência das políticas públicas.
Com o objetivo de entender como o marco legal ambiental influência a dinâmica das populações de entorno a Dentro desse contexto de exaustão de recursos naturais e de conflitos socioambientais surge a noção de áreas
UCs, realizamos análises documentais a partir de pesquisas bibliográficas, além, da sistematização de informações co- protegidas. Para Medeiros (2006) estas são espaços territorialmente demarcados cuja principal função é a conservação e/
lhidas pelos autores, a partir de suas experiências junto a conselhos gestores de UCs. Para tal buscamos identificar como ou a preservação de recursos, naturais e/ou culturais a elas associados. Segundo a União Internacional para a Conservação
está estruturada a ideia e os mecanismos de participação social dentro do texto da legislação e como esta participação da Natureza, uma área natural protegida é definida como “uma superfície de terra ou mar consagrada à proteção e manu-
se constituí na prática. Estruturamos assim as análises partindo de uma unidade central, a Participação Social, passando tenção da diversidade biológica, assim como dos seus recursos naturais e dos recursos culturais associados, e manejada
para identificação de categorias dentro deste contexto, seguindo para tal o modelo de análise de conteúdo proposto por através de meios jurídicos e outros eficazes” (LEA et al, 2006, p.7). Nesses dois conceitos é importante destacar a refe-
Bardin (2008). rência feita à conservação/preservação ou proteção/manutenção dos recursos culturais associados.
. No Brasil, as chamadas áreas protegidas no contexto internacional, recebem o nome de Unidades de Conserva-
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES ção (UCs), cunhado por Maria Tereza Jorge Pádua e utilizado para se referir a cada área que compõe o Sistema Nacional
de Unidades de Conservação (SNUC) instituído pela lei federal Nº 9.985, de julho de 2000
As unidades de conservação
Segundo Dourojeanni & Pádua (2007, p. 56):
Antes de se esboçar qualquer esforço de compreensão sobre as áreas naturais protegidas e as UCs no Brasil, é
“Como o próprio nome indica, uma UC é uma área dedicada a conservar a natureza. A expressão equiva-
necessário que se tenha claro como a “Crise Socioambiental” torna-se importante pauta nas agendas mundiais e locais, lente, área protegida reflete com a mesma força e clareza que seu objetivo é a proteção da natureza. Nem
dando origem assim, às políticas públicas ambientais. mais, nem menos. Mas com o decorrer do tempo, com a aparição dos conceitos de ecodesenvolvimento, e
sobretudo, o de desenvolvimento sustentável, as definições do termo mudaram muito e foram ampliadas
Os fatores geradores de uma crise socioambiental global, responsáveis por inibir e interferir de forma acentuada para incluir áreas onde a exploração dos recursos naturais é cada vez mais intensa e a presença humana é
a razão de sua existência”.
no funcionamento de sistemas ecológicos sustentadores da vida sobre a terra estão em muitos casos associados à de-
gradação generalizada dos solos, das águas, do ar, entre outros. A crise pode ser classificada como: global, uma vez que
atinge a biosfera como um todo; acelerada e crescente, assumindo proporções globais com a revolução industrial e acele-
Milano (2002) concluí que:
rando no após-guerra; irreversível, na medida em que esgota a capacidade de carga ou suporte de inúmeros ecossistemas;
ameaçadora, sendo cada vez mais capaz de destruição; reforçadora de desigualdades sociais e entre nações; e causadora “As UC existem para proteger a natureza, na sua maior amplitude possível, da sistemática agressão hu-
mana, seja esta decorrente de processos arcaicos ou tradicionais; ainda que para beneficio da própria hu-
de impactos socioculturais de grandes proporções, atingindo com maior intensidade camadas sociais mais fragilizadas
manidade. Também, as UC não foram pensadas e nem foram criadas para promover o desenvolvimento,
e periféricas (NUPAUB, data). ainda que, como consequência de sua existência com bom manejo, possam propiciá-lo. E isto não pode ser
esquecido, porque é a essência e os motivos da sua existência”.
As diferentes sociedades estabelecem suas diferentes formas de relação com a natureza. Silva (1996) comenta
que um dos primeiros passos do homem para a preocupação com a natureza foi o de proteger os animais de caça, o que
não seria suficiente em comparação à depredação do homem ao longo dos tempos. Dourojeanni & Pádua (2007) apre- Diegues (2004, p. 9) em oposição às noções trabalhadas por Dourojeanni & Pádua e Milano, faz críticas às áreas
Mas apesar desse direito estar previsto legalmente, no Brasil e no Mundo, o que se observa na prática é que
essa participação da população nas decisões do país acaba ficando muito aquém das possibilidades porque a população
Adams (2000, p. 154), salienta a importância da compreensão das temporalidades que influenciam a cultura das desconhece seus direitos e deveres ou ignora o poder que a sua participação pode ter na mudança social.
populações. Tratando especificamente da população caiçara, Adams diz que “não se discute a origem das populações
caiçaras sob uma perspectiva histórica, diacrônica, o que resulta na desconsideração de que os caiçaras pescadores arte- De fato, segundo Toro & Werneck (2004) a participação social é uma das estratégias para solucionar problemas
sanais e embarcados surgiram a partir dos lavradores pescadores, e somente após as mudanças ocorridas entre as décadas e conquistar melhores condições de vida para todos. Segundo esses autores, para fortalecer a participação social é neces-
de 1930-50”. E destaca: “... um dos fatores que preocupam é a afirmação de certos aspectos a partir de análises sem sário estimular a mobilização social que é:
contextualizações temporais e sincrônicas, que acabam por desconsiderar os processos de transformações culturais pelos “o ato de convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um
quais as populações passam”. Exemplificando, Sanches (1997) diz não ser possível afirmar que o manejo tradicional sentido também compartilhado” (Toro & Werneck, 2004).
caiçara garanta a diversidade ecológica com base nos estudos até hoje realizados.
De fato, apenas parte-se do pressuposto não testado nem comprovado de que sim, fundamentalmente quando o No entanto, cabe salientar que mobilização social é uma escolha e que a participação social é um ato de liber-
modo de ser e fazer do caiçara é grosseiramente contraposto a avassaladora destruição causada pelos grandes empreen- dade. Essa decisão depende essencialmente das pessoas se verem ou não responsáveis e como capazes de provocar e
dimentos do agronegócio, da indústria ou da infraestrutura de transporte. construir mudanças. Nesse ponto, o educador Paulo Freire define empoderamento como sendo a propriedade de uma
Cabe ressaltar a visão que Brito (2000, p.15) apresenta em seu trabalho, onde cada país em decorrência de suas pessoa ou grupo de pessoas, ou ainda, instituição que:
especificidades políticas, econômicas, culturais, e de recursos naturais que possuí, tem formas diferenciadas de entender “realiza, por si mesma, as ações e mudanças que levam a evoluir e se fortalecer. Empoderamento implica
quais devem ser os objetivos de conservação da natureza. Concordando e ampliando essa visão, temos que em um único em conquista, avanço e superação por parte daquele que se empodera (sujeito ativo no processo) e não
uma simples doação ou benevolência que transforma o sujeito em objeto passivo. Não é um movimento
país de dimensões continentais como Brasil, onde estão representados sete biomas (Floresta Amazônica, Caatinga, Cer- que ocorre de fora para dentro, mas sim internamente, pela conquista” (Freire, 1992).
rado, Pantanal, Floresta Atlântica e Campos Sulinos) e toda a vida que eles abrigam, incluindo-se aí as vidas humanas
com seus traços culturais, sociais, econômicos e políticos variáveis nas escalas temporal e espacial, estabelecer priorida-
des e objetivos de conservação da natureza comuns aos diferentes atores sociais parece ser uma meta intangível. A construção democrática e participativa responsável pela abertura do Estado a um conjunto de organizações
Portanto, a própria variação de conceitos, objetivos, noções e práticas gera um quadro de diferentes relações sociais, admitindo a tensão política como método decisório, e diluindo, na medida do possível, as práticas autoritárias e
sociais, o que por sua vez se configura como um quadro geral de conflitos socioambientais no contexto da conservação patrimonialistas, configuram uma nova esfera pública que incide sobre o estado (JACOBI, 2003). Para o autor os princi-
da natureza (e das Unidades de Conservação) no Brasil e no Mundo. pais exemplos disso estão nos conselhos gestores de políticas públicas – saúde, educação, assistência social – que apon-
tam para existência de um espaço público de composição plural e paritária entre Estado e sociedade civil de natureza
deliberativa. Jacobi (2003) destaca ainda na política ambiental o surgimento e fortalecimento de numerosos conselhos,
consultivos e deliberativos, em várias áreas em todos os níveis (federal, estadual e municipal) com a participação ativa
3.2 A participação social
de representantes de ONGs e movimentos sociais.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) coloca que é um direito da pessoa humana a par-
Especificamente no contexto das UC o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), Lei federal Nº
ticipação nas decisões do seu país, diretamente ou através de representantes eleitos. Da mesma forma a Constituição da
Partindo da unidade de análise “Participação Social” identificamos para o texto do SNUC nove categorias: Res- Assim como está assegurada na categoria direitos a participação de populações residentes nos processos de
trição; Acesso; Regulação; Conciliação; Mecanismos; Poder de decisão; Comunicação; Deveres; e direitos. Já o mesmo elaboração, atualização e implementação do plano de manejo no caso das Reservas Extrativistas, das Reservas de De-
processo aplicado ao texto do Decreto que regulamenta o SNUC permitiu a identificação de seis categorias: Regulação; senvolvimento Sustentável, das Áreas de Proteção Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais e das Áreas de
Mecanismos; Poder de decisão; Comunicação; Deveres; e representação. Relevante Interesse Ecológico.
Pudemos perceber que as categorias Restrição e Acesso relacionam-se respectivamente a limitação de acesso e Por fim a categoria comunicação traz elementos importantes para se pensar as relações entre gestores e popula-
uso de recursos naturais e espaços ou a possibilidade de manejo dos mesmos. A categoria Mecanismos agrupou textos ções. Por exemplo:
que organizam e sistematizam estruturas de participação sejam de processos de gestão, ou até mesmo na criação das UC. “Compete ao órgão executor proponente de nova unidade de conservação elaborar os estudos técnicos
Um exemplo disto é o trecho que se refere ao processo de consulta pública para criação das UC: preliminares e realizar, quando for o caso, a consulta pública e os demais procedimentos administrativos
necessários à criação da unidade” (BRASIL. Decreto nº 4.340, 2002, art. 4).
“A consulta consiste em reuniões públicas ou, a critério do órgão ambiental competente, outras formas
de oitiva da população local e de outras partes interessadas” (BRASIL. Decreto nº 4.340, 2002, art. 5).
Este processo poderia se fosse de fato executado em todos os casos, no mínimo auxiliar a minimizar possíveis
A categoria regulação deu destaque a informações relacionadas ao plano de manejo. Tal destaque pode se justi- conflitos entre UC e populações.
ficar pelo fato de que o plano de manejo se constitui como o principal instrumento de regulação do uso dos espaços nas O que devemos questionar em certa medida é a efetividade das estruturas na prática, mais especificamente a dos
UC. Este resultado pode parecer óbvio , mas a questão é: podemos afirmar que estruturalmente as formas de regulação conselhos gestores, principal espaço para efetivação da participação social no contexto da gestão de áreas naturais prote-
vão ser efetivamente construídas a partir da elaboração dos planos de manejo a partir da realidade e contexto de cada UC. gidas no Brasil.
Sendo assim se as UC não apresentarem seus planos de manejo as formas de regulação acabam sendo genéricas e pouco
efetivas em contextos mais específicos. As definições para criação dos conselhos gestores, previstos pela lei como mecanismo de gestão para as UC
se configuram como ponto de destaque. Neste sentido cabe aos conselhos acompanhar a elaboração, implementação e
A categoria conciliação pode ser identificada apenas no texto do SNUC, porém evidencia a aproximação dos ob- revisão dos planos de manejo3 da UC, esforçar-se para compatibilizar os interesses dos diversos segmentos sociais rela-
jetivos das UC a ideia de uso sustentável. Característica essencial para qualquer noção de desenvolvimento de atividades cionados com a UC, e o mais importante do ponto de vista deste trabalho, propor diretrizes e ações para compatibilizar,
que possam conciliar conservação de desenvolvimento sociocultural e econômico de qualquer população. integrar e otimizar as relações com a população do entorno ou do interior da UC.
Poder de decisão foi a categoria que trouxe as estruturas dos textos do SNUC e do Decreto que evidenciam a É possível identificar mecanismos de participação dentro do contexto das unidades de conservação, porém as
possibilidade de decidir, aprovar, gerir. Ou seja, existem sim na legislação referências a possibilidade de gestão das UC dinâmicas de conflito se estabelecem cada vez com mais força, como pudemos tratar na seção anterior deste trabalho. Dis-
por organizações da sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da unidade.
3 Planos de Manejo promovem a integração da unidade de conservação à vida econômica e social das comunidades vizinhas, pois é um
Ressaltamos também a categoria representação identificada apenas para o texto do Decreto, uma vez que esta documento que não se limita a discutir somente o interior da área, mas também o seu entorno. É elaborado essencialmente para estabelecer o
zoneamento e as normas que devem presidir o uso da unidade de conservação e o manejo de seus recursos naturais. A sociedade participa de sua
faz referência às formas, estruturas e mecanismos de representação dos atores sociais, por exemplo: elaboração, revisão e implementação, por meio do conselho gestor (MMA, 2011).
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deral, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial [da
República Federativa do Brasil], Brasília, DF. Publicado no D.O. de 19.7.2000.
Portanto aqui chegamos ao ponto que gostaríamos, o de pensar sobre a necessidade de discutir a efetividade da
conservação a partir do SNUC sob o ponto de vista da possibilidade de participação social nos processos de gestão das _______. Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002.
Regulamenta artigos da Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
o
UC que não se efetiva. Segundo Jacobi (2003) os mecanismos de participação aumentaram muito nos últimos 10 anos,
Natureza - SNUC, e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF. Publicado no D.
mas ainda não fazem diferença. Apesar de terem democratizado, os mecanismos são mal aproveitados pela população, O. de 23.8.2002.
como no caso das audiências públicas. Porém atribuir a ineficiência destes mecanismos de participação somente à so- _______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro
ciedade pode ser um equívoco e não é o que pretendemos e nem o autor. Segundo ele ainda é necessário incrementar os Gráfico, 1988.
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diversas iniciativas de conservação foram realizadas e hoje em 5.231 km2 existem 32 unidades de conservação da natu-
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gestão destes espaços: o plano de manejo e o conselho gestor. Observamos que a ausência destes instrumentos de gestão
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está fortemente relacionada com a existência de conflitos ambientais na região, e que estes se intensificam a medida que a
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and also two questions considered essential to the management of these spaces: the management plan and the manage-
SANCHES, R. A. Caiçaras e a Estação Ecológica de Juréia-Itatins: Litoral Sul São Paulo. Rosely Alvim Sanches.
ment council. We note that the absence of these management tools is strongly related to the existence of environmental
São Paulo: Annablume; Fapesp, 2004.
conflicts in the region, and they are intensified to as the coastal region has been coveted for conducting environmental
SOUZA, Celina. Estado da arte da pesquisa em políticas públicas. In: HOCHMAN, Gilberto; ARRETCHE, Marta e impact of large infrastructure projects. The apparent environmental protection hides an extreme vulnerability scenario as
MARQUES, Eduardo (Org.). Políticas públicas no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. to maintain the provision of ecosystem services for its growing population.
THOMPSON, E. P. Senhores e caçadores: a origem da lei negra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
Keywords: Atlantic Forest; protected areas; coast of Paraná; environmental conflicts
1 Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável, Setor Litoral. liliani@ufpr.
br
utilizam modos tradicionais de cultivo em ambientes rurais com muitos elementos naturais, são pescadores e pescado- sidente do Instituto Chico Mendes, cuja função é constituir-se em um fórum democrático de diálogo, valorização, parti-
ras artesanais que vivem próximos ou muito distantes de centros urbanos até comerciantes e industriais que vivem em cipação e controle social, debate e gestão da Unidade de Conservação, incluída a sua zona de amortecimento e território
ambientes urbanos. A economia regional é diferenciada em cada município, mas pode ser simplificada pelas principais de influência, para tratar de questões ambientais, sociais, econômicas e culturais que tenham relação com a Unidade de
formas atuais do uso do solo costeiro: portuário, agrícola, turístico e destinado a conservação dos ecossistemas e sua Conservação” (Capítulo I, Artigo 2o, I).
biodiversidade.
Resultados
Estas paisagens representam os últimos remanescentes contínuos de floresta atlântica costeira do Brasil e ainda
encontram-se relativamente bem conservados graças às características geomorfológicas regionais e a presença de Uni- O litoral do Paraná possui atualmente 32 Unidades de Conservação distribuídas em diversas categorias de mane-
dades de Conservação. Figuram também entre os principais hotspots de biodiversidade do leste do Brasil e se integram jo, conforme pode ser observado no Anexo 1. Juntas, estas áreas permitem a proteção de 930.262,89 hectares da Mata
ao Complexo Estuarino Lagunar Iguape-Cananéia-Paranaguá, considerado uma das maiores áreas de manguezais do Atlântica Costeira.
planeta formando o Mosaico de Áreas Protegidas do Lagamar.
No entanto, quando consideramos que os dois grandes agrupamentos de unidades de conservação, Proteção In-
Foi justamente devido a estas singularidades que diversas iniciativas de conservação começaram a ser conduzidas tegral e Uso Sustentável, permitem diferentes abordagens de conservação, não é mais possível utilizar-se de distorções
a partir da década de 1980 na região, quando iniciou-se o processo de criação de Unidades de Conservação no litoral. para considerar que todo o litoral do Paraná é protegido. Neste caso, um olhar mais atento facilmente detecta que 16 das
Este é o foco deste trabalho, que objetivou analisar algumas informações sobre as UC da região e a implementação de UC criadas no litoral do Paraná são de proteção integral, grupo que abrange as unidades de conservação mais restritivas
dois instrumentos de gestão de unidades de conservação, considerados básicos: o plano de manejo e o conselho gestor, quanto ao uso do solo e dos recursos naturais, são elas as estações ecológicas, reservas biológicas, parques nacionais, mo-
seja ele consultivo ou deliberativo, de acordo com a categoria de manejo da unidade. Consideramos que estes dois instru- numento naturais e refúgios de vida silvestre. Estas UC são responsáveis pela proteção de 176.662,37 hectares. Já aquelas
mentos, garantidos por lei, quando presentes na estrutura gerencial das UC tem influência sobre os conflitos ambientais UC que permitem o uso sustentável dos recursos representam outras 16 das UC locais, sendo elas representadas pelas
e podem ser utilizados na mediação dos mesmos. Porém outros elementos se imbricam neste emaranhado e complexo áreas de proteção ambiental, áreas de relevante interesse ecológico, floresta estadual e reservas particulares do patrimônio
sistema sociobiodiverso. natural, protegendo um total de 498.438,94 hectares de terras no litoral (Figura 1).
Métodos
Avaliamos algumas variáveis relacionadas às UC do litoral do Paraná, como área, representatividade e categorias
de manejo. Também observamos o nível de implementação de todas as Unidades de Conservação particulares, estaduais
e federais presentes no litoral do Paraná em relação a presença ou ausência de plano de manejo e de conselho gestor.
Utilizamos como base de dados as informações disponíveis nos órgãos oficiais de gestão das Unidades de Conservação,
quais sejam o Instituto Ambiental do Paraná (IAP/DUC – Departamento de Unidades de Conservação), no âmbito esta-
dual e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no âmbito federal. Também nos valemos
de visitas em campo, conversas informais com gestores, participação em reuniões técnicas e em reuniões de conselhos
gestores de UC localizadas no litoral do Paraná. De forma complementar foram consultadas leis, instruções normativas
e roteiros metodológicos relacionados.
De todas estas categorias mencionadas, no litoral paranaense existem três categorias de proteção integral (Parque, Aqui é importante fazer uma ressalva em relação a categoria definida como APA, uma vez que elas incorpo-
Estação Ecológica e Reserva Biológica) e quatro categorias de uso sustentável (Área de Proteção Ambiental, Área de Es- ram terras públicas e/ou privadas, ou seja, dentro dos limites de uma APA podem existir Parques, Reservas Biológicas,
pecial Interesse Turístico, Floresta Estadual e Reserva Particular do Patrimônio Natural) o que representa um complexo Estações Ecológicas, RPPN, empreendimentos do setor produtivo como latifúndios agrosilvopastoris, psicultturas e
sistema de gestão, maior ainda quando consideramos que estas UC estão dispersas em três instâncias gerenciais: a esfera indústrias, empreendimentos do setor energético e de infraestrutura como ,usinas hidrelétricas, termoelétricas, rodovias,
pública federal, a estadual e a esfera privada (Figura 2). ferrovias, aeroportos, portos, além de áreas urbanizadas.
Estes detalhamentos relacionados às categorias de manejo são fundamentais para se por fim a confusão que ge-
ralmente se faz, e não sem razão, especialmente entre os moradores destas áreas e de seus entornos mas também entre
pesquisadores da comunidade científica que, desatentos aos diferentes tipos de uso e restrições que cada grupo de UC
permite, acabam generalizando todas as diferentes formas que no Brasil existem para se gerir estas áreas. Alguns autores
que tratam desta questão são Andriguetto-Filho et al. (2006), Pierri et al. (2006), Teixeira & Limont (2007) e Kasse-
boehmer (2007). No litoral do Paraná é perceptível a baixa representatividade de unidades de conservação de categorias
restritivas (Figuras 1 e 3), aquelas do grupo de proteção integral, cujo objetivo básico, segundo o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (Lei Federal No 9985 de 18 de julho de 2000) é preservar a natureza, sendo admitido apenas o
uso indireto dos seus recursos naturais. Ao passo que as Unidades de Uso Sustentável representam a maior parte das áreas
protegidas e possuem como objetivo a compatibilização da conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos
seus recursos naturais.
Figura 2: Número de Unidades de Conservação no Litoral do Paraná em cada categoria de manejo (PARQUE = PARQUE; RPPN = Reserva
Particular do Patrimônio Natural; ESEC = Estação Ecológica; APA = Área de Proteção Ambiental; REBIO = Reserva Biológica; FLO = Flo- Também podemos nos atentar ao fato de que grande parte das UC de Proteção Integral estão localizadas em áreas
resta; AEIT = Área de Especial Interesse Turístico). íngremes, nas encostas de montanhas da Serra do Mar, locais de difícil acesso até mesmo para se fiscalizar as áreas e é
importante que assim seja, uma vez que estas áreas são consideradas de risco e mesmo antes da proteção oferecida pelo
Em relação ao tamanho de área das UC, percebe-se que as APA representam as maiores áreas de proteção, segui- SNUC, já contavam com proteção especial dada pelo Código Florestal (Lei Federal No 4771 de 15 de setembro de 1965).
das dos parques, AEIT, das Reservas Biológicas e das RPPN, com pouca representatividade das Estações Ecológicas e São nestas áreas que concentram-se as nascentes dos principais cursos d’água que formarão os grandes rios da planície
de Florestas (Figura 3). litorânea, como o rio Cubatão e Canasvieiras em Guaratuba, o rio Cambará e Guaraguaçu entre Matinhos e Paranaguá,
o rio Nhundiaquara em Morretes, Cachoeira em Antonina, Tagaçaba em Guaraqueçaba, só para citar alguns exemplos. A
proteção integral destas áreas é mais do que justificada, não apenas pelas suas características ecológicas e sua biodiversi-
dade mas também como provedora de serviços ecossistêmicos para todo o litoral do Paraná, entre os quais destacamos o
provimento hídrico e também a proteção territorial contra desastres naturais, como por exemplo aqueles provocados pelo
excesso de chuvas, deslizamentos, descolamento do solo, escorregamentos, mas tantos inúmeros outros conforme tem se
observado nas publicações sobre o tema (Daily, 1997; Daily et al., 2000; Costanza et al., 1997; De Groot et al., 2002).
Já as Unidades de Conservação de Uso Sustentável não possuem a mesma eficiência na proteção ambiental (ver
Firkowski, 2007), uma vez que diversos usos nela são consentidos, até mesmo usos completamente incompatíveis com
os objetivos de conservação, como por exemplo grandes áreas de monocultivos em encostas e nas margens de rios, com
aplicação de elevadas cargas de insumos químicos, como é o caso da APA de Guaratuba. Os conflitos ambientais que
envolvem Unidades de Conservação e os moradores das localidades onde estas estão presentes tem sido cada vez mais
Segundo o próprio ICMBio veicula, “o Plano de Manejo visa levar a Unidade de Conservação a cumprir com os A partir de todo o exposto podemos considerar que por trás de uma aparente proteção ambiental a partir do es-
objetivos estabelecidos na sua criação; definir objetivos específicos de manejo, orientando a gestão da Unidade de Con- tabelecimento de Unidades de Conservação ao longo destas últimas quatro décadas, o litoral do Paraná não é de fato
servação; promover o manejo da Unidade de Conservação, orientado pelo conhecimento disponível e/ou gerado.”. Ele protegido, pelo contrário, a maior parte das UC da região, sejam elas no âmbito estadual ou federal não possuem estru-
ainda: “estabelece a diferenciação e intensidade de uso mediante zoneamento, visando a proteção de seus recursos na- tura de gestão e não observam os dispositivos legais quanto aos instrumentos de gestão, ademais a maior parte da área
turais e culturais; destaca a representatividade da Unidade de Conservação no SNUC frente aos atributos de valorização de proteção. É representada por UC de Uso Sustentável, que não garantem efetividade na conservação. No caso das UC
dos seus recursos como: biomas, convenções e certificações internacionais; estabelece normas específicas regulamen- estaduais a situação é sabidamente muito mais grave pois sequer contam com gestores ou analistas ambientais em seus
tando a ocupação e o uso dos recursos da Unidade de Conservação, zona de amortecimento e dos corredores ecológicos; quadros, o que acaba agravando ainda mais o já precário quadro de conservação da biodiversidade da região. Já as UC
reconhece a valorização e o respeito à diversidade socioambiental e cultural das populações tradicionais e seus sistemas federais, embora um pouco melhor estruturadas quanto ao seu quadro de pessoal, encontram barreiras significativas para
de organização e de representação social”. a elaboração de seus planos de manejo. Muito disso devido ao caráter demasiadamente complexo que o próprio ICMBio
vem adotando para sua confecção, ao deixar de lado a principal característica deste documento, a sua dinamicidade e
De acordo com o SNUC todas as UC devem dispor de um Plano de Manejo, que deve abranger a área da UC, permanente atualização.
sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com fim de promover sua integração à vida
Ao considerar as diversas características físicas e biológicas que agem sobre o litoral, em especial o clima, o rele-
econômica e social das comunidades vizinhas (Artigo 27, § 1). É ainda prerrogativa legal de que o plano de manejo seja
vo, a rede hídrica e a cobertura florestal, é notável que o litoral do Paraná apresenta-se extremamente vulnerável quanto a
elaborado no prazo de cinco anos a partir de sua criação (§ 3o) e periodicamente revisados e atualizados.
conservação da sua biodiversidade e manutenção dos serviços ecossistêmicos para a população dos sete municípios. Haja
Em relação aos Conselhos Gestores, a Lei N° 9.985/2000 estabelece a necessidade de criação de Conselhos na visto que inúmeras obras de elevado impacto ambiental estão sendo licenciadas pelos órgãos ambientais, notavelmente
gestão de Unidades de Conservação. Já o Decreto N° 4.340/2002 estabelece a forma de composição e de representação o IAP, muitas das quais polêmicas e até mesmo com irregularidades processuais que invalidam os estudos de impacto
destes Conselhos, bem como define suas competências. O próprio ICMBio considera que “cada Conselho constitui um ambiental (como exemplo citamos a licença ambiental para ampliação de terminal de fertilizantes particular no Porto de
fórum de excelência para promover o diálogo permanente com a sociedade e construir com as comunidades e demais ato- Paranaguá). Também percebemos que a consequência mais nítida deste quadro de abandono e precarização das UC que
res locais a solução para os desafios a serem enfrentados pela gestão das Unidades de Conservação.” Para além, a Política aflige o litoral do Paraná afeta diretamente a população da região, que não consegue enxergar perspectivas de desenvol-
Firkowski, C. 2007. APA: fatos, desejos sonhados e propagandice. Natureza & Conservação 5 (1): 8 -14. Unidade de Conservação Ano Área Localização PM CG
Estaduais de Proteção Integral – Área total: 28.380,81 ha
Gomes, L. J., Carmo, M. S., Santos, R. F. 2004. Conflitos de interesses em unidades de conservação do Município de Estação Ecológica de Guaraguaçu 1992 1.150,00 Paranaguá S N
Parati, Estado do Rio de Janeiro. Informações Econômicas, 34(6): 17-27. Estação Ecológica Ilha do Mel 1982 2.240,69 Paranaguá S N
Parque Estadual da Graciosa 1990 1.189,58 Morretes N N
Guerra, M. F. 2005. Conflitos ambientais no Parque Natural de Grumari. Revista Rio de Janeiro, 16-17: 115-132. Parque Estadual da Ilha do Mel 2002 337,84 Paranaguá S N
Parque Estadual do Boguaçu 1998 1
6.660,64 Guaratuba N N
ICMBio: Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade. 2014. Conselhos Gestores de Unidades de Con- Parque Estadual do Pau Oco 1994 905,58 Morretes N N
servação Federais: um guia para gestores e conselheiros. Coordenação de Gestão Participativa, 76p. Parque Estadual Pico do Marumbi 19902 8.745,45
Piraquara, Quatro Bar-
S N
ras, Morretes
2 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) é composto por 2 grandes categorias de manejo, cujos objetivos se diferen-
ciam quanto à forma de proteção e usos permitidos: o grupo de Proteção Integral, onde só é permitido o uso indireto dos recursos naturais, e o
grupo de Uso Sustentável, onde se permite a ocupação humana e uso direto e sustentável dos recursos naturais. 3 O uso indireto é aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais.
Sobre a questão da participação dos pescadores na criação da unidade, o autor do projeto de lei argumenta que
houve legalidade no processo de tramitação do projeto, e que houve inúmeras tentativas de ouvir o máximo possível de
pessoas. De acordo com este ator, durante um seminário que ocorreu em um hotel no município de Paranaguá (cerca de
50 km da cidade de Matinhos) onde os pescadores do litoral paranaense foram convidados para discutir sobre a questão
do “seguro defeso” (política pública que paga um salário mínimo mensal para que os pescadores artesanais não capturem
determinadas espécies em certos períodos de interesse reprodutivo) a questão sobre a criação do PARNA das Ilhas dos
Fonte: F. Sezerino
Currais esteve presente.
Analisando a percepção dos pescadores sobre os conflitos gerados com a criação do PARNA observa-se primei- Além disso, o autor da PL argumenta que as reuniões que ocorriam no Congresso Nacional podem ser conside-
ramente um conflito em decorrência da participação desses atores na criação da unidade, que segundo os pescadores, não radas como consultas, uma vez que o Congresso é um espaço público. Jornais estaduais também foram utilizados para
contou com a sua participação, isto é, não houve nenhuma consulta pública para o estabelecimento da unidade. informar a população sobre o projeto que estava em trâmite. Assim de acordo com o parlamentar:
Entretanto, para serem criadas UC no Brasil é preciso ter consulta pública com ampla participação dos setores
Pra mim esse era um assunto que deveria estar sendo comentado entre todos vocês (pescadores). Então se
envolvidos para definição da localização, dimensão e limites da UC, e de debates sobre a categoria a ser adotada, além de efetivamente pessoas como vocês não participaram da reunião eu não posso te garantir. Mas de que um
estudos técnicos que permitam identificar os limites mais adequados (SNUC, 2000, Art. 22, § 2o). Porém, os pescadores processo de debate amplo teve, isso eu posso garantir (Parlamentar, transcrição ipsis litteris).
alegam não terem sido consultados nem convidados para participar de nenhuma reunião:
De acordo com o presidente da colônia: No processo de consulta de que trata o Art. 18,§ 2o, citado anteriormente, o Poder Público é obrigado a fornecer
informações adequadas e inteligíveis à população local e a outras partes interessadas. No caso dos jornais publicados se
O que fica intrigado na nossa comunidade é que nós, eu, eu to a frente da colônia faz quase 10 anos, e eu tratavam de informes para a população sobre a PL que estava tramitando, e não necessariamente de consulta para saber
não conhecia, eu não tinha ideia e muito menos conhecimento do projeto da ilha ser um parque... Então a opinião da comunidade. Considerando ainda que na maioria a população tem baixo conhecimento sobre a existência
assim, pegou nós de contrapé. Ninguém conhecia isso (Presidente da colônia z4 de pescadores artesanais
de Matinhos - transcrição ipsis litteris) de unidades de conservação e as regras que elas trazem5, o estabelecimento do PARNA Currais foi um processo definido
essencialmente por tomares de decisão.
A falta de participação social, ou pelo menos o convite para dialogar com as instâncias públicas sobre a criação Antes mesmo da instituição do SNUC – grande marco para a garantia da participação social nas UC - Arruda
da UC, resultou para esses pescadores num conflito. Além disso, o processo como se deu a criação do parque tem acirrado (1999) já alertava para o caráter conflituoso do estabelecimento das áreas protegidas. Segundo o autor as unidades de
os conflitos latentes entre eles e a fiscalização ambiental, bem como traz o sentimento de que falta consulta pública em conservação são sujeitas a um regime de proteção externo, com território definido pelo Estado, cujas autoridades de-
relação ao estabelecimento de leis que regulam o uso e acesso aos recursos pesqueiros e que estes são criados sobretudo cidiam as áreas a serem colocadas sob proteção e sob que modalidade e, independentemente, formulam e executam as
de maneira top-down, ou seja, de cima para baixo. 5 Ao analisar a percepção de comunidades pesqueiras de Guaraqueçaba, também litoral paranaense, Faraco (2012) conclui que as co-
Para um analista do ICMBio, responsável até o momento4 pelas questões ligadas ao parque: munidades têm baixo conhecimento sobre as unidades de conservação situadas ao seu entorno. Segundo o autor, isso indica que é importante
trabalhar por maior mobilização, informação e esclarecimento dessas populações sobre a existência das unidades de conservação, as regras que
elas trazem, e as possibilidades reais de participar na sua gestão e de influenciar as regras de maneira a acomodar usos que sejam identificados
4 Até o momento não existe um chefe para o PARNA Marinho das Ilhas dos Currais. como importantes para as populações locais.
É louvável que o Congresso Nacional queira criar áreas pra preservação da natureza, só que assim, existem Na percepção do autor do projeto de lei o que está havendo, na verdade, é “um pouquinho de falta de interpre-
formas de fazer o negócio. E nesse aspecto o Congresso Nacional, mas especificamente ele (o autor do tação do que está acontecendo”. De acordo com este ator, o convívio de populações tradicionais com a categoria parque
projeto de lei), acabaram pulando muito dessas etapas né!? E aí por que a questão da consulta? A gente é uma garantia da lei, previsto no SNUC. Dessa forma o conflito relatado pelos pescadores seria resolvido na medida em
ouve falar que não precisa de consulta pública, porque passou pela Casa do Povo, que é o Congresso Na-
cional. A gente sabe que no Brasil que não é exatamente assim, não é? As coisas estão acontecendo e as que o ICMBio, no plano de manejo do parque, colocasse que as atividades por pescadores artesanais são liberadas:
discussões nos bastidores do Congresso Nacional não estão abertas pro povo de um modo geral (ICMBio,
transcrição ipsis litteris). Eu quero alertar pra vocês, que o convívio de vocês, da pesca artesanal, e não industrial, é uma garantia
da lei. Na regulamentação do parque basta dentro da lei o ICMBio colocar que a atividade por pescadores
artesanais devidamente cadastrados é liberada dentro de .. e ai as condições que eles vão estabelecer. Então
quanto a isso eu não me preocupo em hipótese alguma (Parlamentar, transcrição ipsis litteris).
Para Loureiro e Cunha (2008) a não participação das populações locais em questões relacionadas a criação,
implantação e gestão das UC acarreta uma série de problemas, dificultando, por exemplo, o sentimento de pertencimento
Partindo dessa perspectiva, o parlamentar acredita que categoria Parque Nacional é a melhor categoria para a re-
que auxiliaria na criação de um espaço de tomada de decisões, onde seria necessária a confiança na obediência das nor-
gião e para conciliar todos os interesses, considerando os interesses da pesca artesanal, turismo e da pesquisa. Entretanto,
mas estabelecidas e acordadas no grupo.
ICMBio tem outra percepção da lei. O órgão reconhece o conflito pelo uso e acesso aos recursos pesqueiros, pois entende
Assim, a não participação dos pescadores em consultas para o entendimento dos objetivos da criação da unidade
que:
e para dialogar com as instâncias públicas sobre a garantia da continuidade das práticas de pesca desencadeou num con-
flito pelo uso e acesso aos recursos pesqueiros. Esse conflito começou quando a fiscalização abordou-os e os informou Uma vez criado o Parque Nacional e aí a gente vai ter que remeter a todas as leis né!? Então, é um Parque
de que não poderiam mais praticar a pesca na região pois se tratava de um Parque Nacional: Nacional, uma unidade de proteção integral, a rigor não deveria ter nenhum tipo de retirada de recursos,
nem o uso de recursos direto. Então com a criação de lei em junho de 2013, todos os pescadores foram
jogados na clandestinidade, na ilegalidade (ICMBio, transcrição ipsis litteris).
(...) de repente chegam e falam simplesmente: ó pessoal, hoje vocês não podem mais pesca na Ilha dos
Currais. E não deram nenhum motivo pra gente né, não chegaram, não conversaram, não explicaram pra
nois, simplesmente falaram: ó vai virar parque e acabou (Pescador P4, 44 anos - transcrição ipsis litteris). Apesar de estar explicito que os parques pertencem ao grupo de proteção integral e que portanto, o uso direto dos
recursos naturais não é permitido, existe a possibilidade das comunidades tradicionais continuarem utilizando de maneira
Os limites que compreendem o parque são um dos pontos de pesca mais utilizados pelos pescadores do litoral sustentável os recursos naturais contidos na UC.
paranaense e principalmente pela comunidade de Matinhos. Os pescadores ressaltam que os peixes capturados nestes A fim de compatibilizar a presença humana com os objetivos das UC têm sido celebrados entre órgão ambiental e
limites serviam não só para a sobrevivência da comunidade, como também geravam impactos positivos sobre a cidade, as comunidades tradicionais termos de compromisso (TC). Esses termos são instrumentos destinados a regular o uso de
já que a pesca é uma das atividades principais e mais tradicionais do município. Quando a pesca vai mal, segundo eles, recursos naturais e as condições de permanência de comunidades tradicionais em UC de proteção integral, ou neste caso,
toda a cidade vai mal, inclusive suas relações sociais. o uso dos recursos naturais existentes no interior das UC por comunidades tradicionais não residentes mas usuárias desses
Dessa maneira, a proibição do usufruto dos pescados na região é um risco para a segurança econômica da comu- recursos (SANTILLI, 2014).
nidade. Muitos pescadores, por exemplo, argumentaram que acessaram os recursos do Programa Nacional de Fortaleci- É o caso da Reserva Biológica do Lago Piratuba no Amapá, primeiro termo de compromisso celebrado pelo
mento da Agricultura Familiar (Pronaf) para a aquisição de apetrechos de pesca, renovação e/ou reforma de suas canoas, ICMBio com uma comunidade tradicional de pescadores. Com a criação da reserva os lagos utilizados por pescadores
e com a restrição muitos não conseguirão honrar com o pagamento destes empréstimos. passaram a pertencer à UC, e esses passaram a sofrer restrições em suas atividades tradicionais. Apesar de morar fora da
Entretanto, o conflito que se observa não é apenas pela garantia de sobrevivência material, com a venda do pes- reserva, a comunidade do Sucuriju reivindicou o direito de continuar a pescar nos lagos localizados no interior da reserva,
cado. O conflito é também pela continuidade da cultura da comunidade. Mais do que os benefícios econômicos, são os visto que tal atividade tradicional é de fundamental importância para a sua segurança alimentar (SANTILLI, 2014).
conhecimentos tradicionais e as representações não materiais que mantêm o desejo dos pescadores continuarem com a De fato essa é uma possibilidade e é entendida pelo responsável pelo parque como uma alternativa viável para
ARRUDA, Rinaldo. Populações tradicionais e a proteção dos recursos naturais em Unidades de Conservação. Ambien-
Considerações finais te & Sociedade. Ano 2, n. 5, p. 79-82, 1999.
A luz do que foi exposto, podemos dizer que os pescadores artesanais são hoje o grupo social mais afetado pela BENSUSAN, Nurit.; PRATES, Ana Paula. A diversidade cabe na unidade? In: BENSUSAN, Nutri; PRATES, Ana Paula
criação do PARNA das Ilhas dos Currais. A não participação desses atores no processo de criação do parque, para que (Orgs). A diversidade cabe na unidade? Áreas protegidas no Brasil. 1a.ed.Brasília: IEB, 2014. p. 19-26.
FARACO, Luiz Fernando Ditzel. Vulnerabilidade de pescadores paranaense às mudanças climáticas e os fatores que
estes pudessem entender de fato as consequências da criação de uma unidade de proteção integral, bem como dialogar
influenciam suas estratégias de adaptação. 2012. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento) – Programa
com as instâncias públicas os limites da UC e a categoria a ser adotada, causou além do sentimento de que falta consulta de Pós-graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento, UFPR, Curitiba, Paraná.
pública em relação ao estabelecimento de leis ambientais, um conflito pelo uso e acesso aos recursos pesqueiros – essen- GIANOTTEN, Vera; WITT. Ton de. Pesquisa participante em um contexto de economia camponesa. In: BRAN-
ciais para a reprodução material e simbólica da comunidade. DÃO, Carlos Rodrigues(Org.). Repensando a pesquisa participante.3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 158-188.
LITTLE, Paul Eliot. Os Conflitos Socioambientais: um campo de estudo e de ação política. In: BURSZTYN, Marcel
No que diz respeito a participação dos pescadores, o formulador do projeto de lei entende que houve legalidade
(Org). A Difícil Sustentabilidade: política energética e conflitos ambientais.Rio de Janeiro: Ed. Garamond Ltda.
no processo de criação do parque, pois as reuniões que ocorriam no Congresso Nacional podem ser consideradas con- 2001. p. 107-122.
sultas públicas. Além disso, jornais estaduais divulgaram que estava tramitando no congresso o referido projeto de lei. ________. Ecologia política como etnografia: Um guia teórico e metodológico. Horizontes Antropológicos, Porto
Este ator também entende que o conflito relatado pelos pescadores pelo uso e acesso aos pesqueiros pode ser facilmente Alegre, ano 12, n. 25, p. 85-103, jan./jun. 2006.
LOUREIRO, Carlos; CUNHA, Cláudia. Educação ambiental e gestão participativa de unidades de conservação: ele-
solucionado mediante a liberação do órgão gestor da unidade.
mentos para se pensar a sustentabilidade democrática. Ambiente e Sociedade, v. XI, n. 2, p. 237- 253, jul/dez. 2008.
Diferentemente, o ICMBio questiona a participação social legitimada pelo parlamentar e reconhece os conflitos MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Avaliação e identificação de áreas e ações prioritárias para a conserva-
relatados pelos pescadores. Entretanto, na percepção do órgão a categoria parque, pelos seus objetivos inscritos na lei, ção, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade nos biomas brasileiros. Brasília: Ministé-
implica na restrição do uso direto dos recursos naturais, isto é, na proibição do acesso e uso dos peixes de curso. Porém rio do Meio Ambiente/SBF, 2002.
PLATIAU, A. F. B; SAYAGO,D. A. V; NASCIMENTO, E. P; MOTA, J. A; DRUMMOND, J. A; MOURÃO, L. DUAR-
nesse primeiro momento de diálogo com os pescadores, o ICMBio se mostrou interessado em contornar os conflitos e
TE, L. M. G; WEHRMANN, E. de S. F; BURSZTYN, M. BURSZTYN, M. A. LITTLE, P. E; THEODORO, S. H). Uma
intentando resolver a questão do acesso aos pesqueiros a equipe do PARNA tem trabalhado na tentativa de elaboração Crise Anunciada. In: THEODORO, S. H. (Org). Mediação de Conflitos Socioambientais. Rio de Janeiro: Garamond,
de uma proposta de acordo de pesca, o qual, por tempo determinado, conciliaria a atividade tradicional dos pescadores 2005.
com os objetivos da unidade. SANTILLI, Juliana. Áreas protegidas e direitos de povos e comunidades tradicionais. In: BENSUSA, Nutit; PRATES,
Ana Paula (Orgs). A diversidade cabe na unidade? Áreas protegidas no Brasil. 1ed. Brasília: Editora IEB, 2014, p.
As divergências de percepções entre os atores sociais são os motivos para os conflitos. Posto isto, acreditamos na
398-435.
necessidade do envolvimento entre formuladores e órgãos ambientais e alertamos para que a criação de unidades de con-
servação, principalmente as de proteção integral, contem com a participação das comunidades que vivem no seu interior
ou que utilizam os recursos naturais.
É imprescindível que as populações possam entender de maneira clara as consequências positivas e negativas das
áreas protegidas e possam, de fato, participar na tomada de decisão, sobretudo na categoria a ser adotada, uma vez que
esta implicará nos seus modos de vida. Temos razões para crer que muitos dos problemas que são vistos hoje na comu-
6 Intentando resolver o conflito latente, ficou acordado na reunião entre pescadores e ICMBio que enquanto o instituto não nomear um
chefe para o parque (para dar início a elaboração do Plano de Manejo e o Termo de Compromisso) o órgão liberaria na temporada de 2015 a pesca
dos peixes de curso no perímetro do arquipélago dos Currais. Este acordo foi firmado pelo oficio curricular no. 001/2015 PARNA Marinho dos
Currais/ICMBio de 21 de maio de 2015.
Keywords: Protected Areas; Environmental Justice; Public Policy; Risk. ÁREA DE ESTUDO
O município de Paranaguá destaca-se no cenário litorâneo pela maior população da região, com cerca de 140
mil habitantes, sendo 96% urbana. A área territorial do município é de 826 km², a densidade é de aproximadamente 170
1 Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável – UFPR - f.sezerino@gmail.com
O histórico de ocupação e crescimento populacional do município tem forte ligação com o porto de Paranaguá
e seus acessos, via ferrovia e rodovias (SEZERINO; TIEPOLO, 2013). Com a expansão portuária, diversos bairros
ficaram inseridos na Zona de Interesse Portuária (ZIP), estabelecida pelo Plano Diretor e pelo Plano de Desenvolvimento
e Zoneamento do Porto Organizado de Paranaguá (PDZPO), que segundo a Lei Complementar Nº 62/2007, “caracteriza-
se pelo uso prioritário e preponderante de atividades portuárias e correlatas, com potencial de impacto ambiental e
urbano significativos” e tem como objetivos “dar condições de desenvolvimento e incrementar as atividades portuárias;
concentrar atividades incômodas ao uso residencial; e concentrar atividades de risco ambiental de forma controlada”.
Como a própria lei caracteriza, essa zona é de risco ambiental, por abrigar empreendimentos de significativo
impacto, como os armazéns de produtos inflamáveis próximos ao bairro Vila Becker (Figura 2). A Defesa Civil do Paraná
também estabelece, não só essa região, mas como grande parte do município de Paranaguá, como áreas de risco por Figura 3: Áreas de risco de contaminação por produtos perigosos no Paraná; destaque região de Paranaguá. Fonte:
contaminação por produtos perigosos (Figura 3). Além disso, o bairro Vila Becker também é enquadrado com risco de Defesa Civil (2011).
alagamentos, segundo o Plano de Contingência Municipal de Proteção e Defesa Civil de Paranaguá (2015). A situação de
risco pode ser compreendida como “a probabilidade de que um evento – esperado ou não esperado – se torne realidade” Nesse sentido, pode-se observar que as populações residentes na região da ZIP foram, historicamente, expostas
(DAGNINO; JUNIOR, 2007, p. 52). Os autores complementam que “o risco se apresenta em situações ou áreas em a diversas situações de vulnerabilidade. Para Cartier et al. (2009, p. 2696) a vulnerabilidade socioambiental pode ser
que existe a probabilidade, susceptibilidade, vulnerabilidade, acaso ou azar de ocorrer algum tipo de ameaça, perigo, entendida como uma “coexistência ou sobreposição espacial entre grupos populacionais pobres, discriminados e com alta
problema, impacto ou desastre” (p. 57), como o Plano Diretor de Paranaguá indica para a ZIP. privação (vulnerabilidade social), que vivem ou circulam em áreas de risco ou de degradação ambiental (vulnerabilidade
Os riscos ambientais modernos decorrem, como explica Porto (2012), dos “modelos de desenvolvimento ambiental)”. Nessa mesma linha, Maior e Cândido (2014) explicam que “a vulnerabilidade está vinculada aos fenômenos
econômico e industrial vigentes, pautados no individualismo consumista, no ‘crescimentismo’ econômico, no poder de adensamento populacional, à segregação espacial urbana, aos processos de exclusão social e às injustiças ambientais,
das grandes corporações e nas análises científicas e ações institucionais fragmentadas”. Este é o caso observado nas processos ligados diretamente ao aumento demográfico e à falta de políticas públicas” (p. 242). Dagnino e Junior (2007,
atividades portuárias. p. 69) também complementam que a vulnerabilidade é “condicionada pela capacidade de defesa ou resposta da população
frente aos eventos que constituem o risco”.
Assim, a diminuição da vulnerabilidade é vista como crucial para o aumento da sustentabilidade local GALINDO-LEAL, Carlos; CÂMARA, Ibsen de Gusmão. Status do hotspot Mata Atlântica: uma síntese. In: GALINDO-
LEAL, C.; CÂMARA, I. G. (Ed.). Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e perspectivas. Tradução de Edma Reis
(MARANDOLA JR.; HOGAN, 2005). Os autores acreditam que dotar as populações da capacidade de resposta às
Lamas. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica – Belo Horizonte: Conservação Internacional, 2005. 472 p.
situações adversas à que são expostas (riscos socioambientais) resultará na melhoria da qualidade de vida e da sua
inserção social. E, para isso, as alternativas existentes não são somente ligadas à situação socioeconômica da população, GAMA, Sônia; DUTRA, Flávia; XAVIER, Thaís. Os vetores de pressão em Unidade de Conservação Urbana: A
problemática ambiental da APA e do Parque do Mendanha – Zona Oeste do Rio de Janeiro (RMRJ). In: Anais do X
mas encontram força nas redes de solidariedade e nos sistemas de proteção comunitários e familiares.
Encontro de Geógrafos da América Latina. Universidade de São Paulo, 2005. p. 5711-5729.
CONSIDERAÇÕES FINAIS GOMES, Laura Jane; CARMO, Maristela. Simões.; SANTOS, Rozely. Ferreira. Conflitos de Interesses em Unidades de
Conservação do município de Parati, Estado do Rio de Janeiro. Informações Econômicas, São Paulo. v. 34, n.6, 2004.
Pode-se perceber que o projeto governamental de desenvolvimento do Litoral do Paraná está pautado no setor p. 17-26.
portuário e de prestação de serviços, onde estão sendo licenciados diversos empreendimentos de relevante impacto
HERCULANO, Selene. Riscos e desigualdade social: a temática da Justiça Ambiental e sua construção no Brasil. In:
socioambiental, atraindo novos trabalhadores. Porém, estes trabalhadores encontram dificuldades para se instalar próximo
Anais do I Encontro da ANPPAS, 2002, Indaiatuba, SP, p. 1-15.
aos centros urbanos e polos de trabalho. Assim, pode-se observar que o entorno das Unidades de Conservação e de
outras áreas naturais protegidas estão sendo procurados devido a baixa valorização imobiliária, agravando o problema do IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades@: Paranaguá, Paraná: Censo Demográfico 2010.
2010.
adensamento populacional e da pressão antrópica sobre essas áreas.
Ocorre que existe um descompasso temporal e um grande vazio entre as políticas de desenvolvimento e de IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades@: Paranaguá, Paraná: Incidência de Pobreza.
instalação dos empreendimentos em relação às obras de infraestrutura urbana e as políticas públicas dos diversos 2003.
setores para a população residente nas zonas de amortecimento das UC, que deveria possuir formas de uso e ocupação IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades@: Paranaguá, Paraná: PIB per capita a preços
diferenciadas, de acordo com as especificidades e restrições das legislações ambientais. correntes. 2012a.
Apesar das áreas de expansão urbana fazerem parte do planejamento urbano do município, contido no principal IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. 2ª edição. 2012b.
instrumento de ordenamento territorial, o Plano Diretor, diversas políticas de conservação e instrumentos de gestão
ambiental anteriores à elaboração do plano já ressaltam a fragilidade ecossistêmica dessa região. MAIOR, Mônica Maria Souto; CÂNDIDO, Gesinaldo Ataíde. Avaliação das metodologias brasileiras de vulnerabilidade
socioambiental como decorrência da problemática urbana no Brasil. Cad. Metrop., São Paulo, v.16, n.31, 2014, p. 241-
Portanto, esse modelo de planejamento, que prioriza o setor privado relacionado às atividades portuárias de 264.
exportação de commdities, no lugar de diminuir as vulnerabilidades socioambientais daqueles que já sofriam injustiças
MARANDOLA JR, Eduardo; HOGAN, Daniel. Vulnerabilidade e riscos: entre a geografia e a demografia. Revista
ambientais pelos riscos às quais estavam expostos na zona portuária, agrava a situação ao ignorar as políticas de
Brasileira de Estudos Populacionais, São Paulo, v. 22, n. 1, 2005, p. 29-53.
conservação e os instrumentos de gestão existentes. Isso também ocorre com as políticas públicas de outros setores,
como no caso da habitação e das grandes obras de infraestrutura (PAC), pois, ao não considerar efetivamente as políticas MELLO-THÉRY, Neli Aparecida; LANDY, Frédéric; ZÉRAH, Marie-Héléne. Políticas ambientais comparadas entre
países do Sul: pressão antrópica em Áreas de Proteção Ambiental Urbanas. Mercator, Fortaleza, v. 9, n. 20, 2010, p.
ambientais, também contribuem para intensificar a exclusão social, as desigualdades e as vulnerabilidades dessas famílias.
197-215.
MMA. Ministério do Meio Ambiente. Portaria Nº. 9, de 23 de Janeiro de 2007, reconhece áreas prioritárias para
conservação. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/ stories/portaria_mma_092007.pdf>. Acesso em
09/06/2015. Maria Roseli Rossi Avila1; Marcos Antonio Mattedi2
PORTO, Marcelo Firpo. Uma ecologia política dos riscos: princípios para integrarmos o local e o global na promoção RESUMO
da saúde e da justiça ambiental. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2ª edição, 2012. 270 p. Em novembro de 2008 o Vale do Itajaí/SC foi atingido por um desastre socioambiental sem precedentes na história. Um
RBJA. Rede Brasileira de Justiça Ambiental. Manifesto de lançamento. 2001. misto de enchente com deslizamentos e escorregamentos transformou a região, conhecida como Vale Europeu, num
campo de destruição. Blumenau foi uma das cidades mais atingidas. O impacto do desastre sobre a população eviden-
SEZERINO, Fernanda. As problemáticas e os desafios das Unidades de Conservação: estudo de caso na Floresta ciou sua vulnerabilidade. Para entender o processo de produção da vulnerabilidade é preciso conhecer sua origem e evo-
Estadual do Palmito no Litoral do Paraná. Trabalho de Conclusão (Gestão Ambiental). Universidade Federal do lução no contexto histórico e territorial. Neste sentido, este estudo, de revisão bibliográfica, tem como objetivo estudar
Paraná, 2013. as dimensões territoriais dos desastres no Vale do Itajaí/SC e a relação entre desastre e território. Além da Introdução e
das Considerações Finais, o mesmo está dividido em três partes principais: a) A relação entre desastre e território; b) A
TELES, Reinaldo Miranda de Sá; BELLATO-NOGUEIRA, Silvia Maria. Novos arranjos espaciais da oferta turística produção e reprodução do território do desastre; e c) território do desastre: o caso do Vale do Itajaí/SC.
associados às unidades de conservação presentes em espaços metropolitanos: O caso das áreas de expansão urbana da
metrópole paulista no entorno do Parque Estadual do Jaraguá (SP). El Periplo Sustentable, n. 25, 2013. p. 177-192. Palavras-chave: desenvolvimento regional, desastres socioambientais, território, Vale do Itajaí/SC.
TIEPOLO, Liliani; SPINELLI, Michele; CAMARGO, Letícia. Unidades de Conservação Estaduais no Litoral do Paraná:
A Política do Abandono e os Conflitos Socioambientais. In: Anais do V Seminário sobre Áreas Protegidas e Inclusão
THE RELATIONS BETWEEN DISASTER AND TERRITORY AS EXPRESSION OF THE SOCIO-ENVI-
Social, Manaus, 2012.
RONMENTAL CONFLICTS: THE TERRITORIAL DIMENSIONS OF DISASTER IN THE ITAJAÍ VAL-
ZHOURI, Andréa; LASCHETSKI, Klemens. Desenvolvimento e conflitos ambientais: um novo campo de investigação. LEY / SC
In: ZHOURI, A. e LASCHETSKI, K. (Org.). Desenvolvimento e Conflitos Ambientais. Belo Horizonte: UFMG, 2010.
p.11-31.
SUMMARY
In November 2008 the Itajaí Valley/SC was hit by an unprecedented environmental disaster in history. A flood mixed
with mudslides and landslides turned the region known as the European Valley into a destruction field. Blumenau was
one of the hardest hit cities. The impact of the disaster on the population showed its vulnerability. To understand the pro-
cess of vulnerability production it is necessary to know its origin and evolution in the historical and territorial context.
Thus, this study, of literature review, aims to analyze the territorial dimensions of the disaster in the Itajaí Valley/SC.
In addition to the Introduction and Concluding Remarks, the article is divided into three main parts: a) The relationship
between disaster and territory; b) The production and reproduction of disaster territory; c) disaster territory: the case of
the Itajaí Valley/SC.
Keywords: Regional Development. Disasters. Territory. The Itajaí Valley/SC
1 AVILA, M. R. R. Assistente Social. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) da Univer-
sidade Regional de Blumenau (FURB). Bolsista do PROGRAMA UNIEDU PÓS-GRADUAÇÃO . E-mail: mariaroselirossiavila@yahoo.
com.br
2 MATTEDI, M. A. Sociólogo. Mestre em Sociologia Política. Doutor em Ciências Sociais com estágio pós-doutoral no Centre de
Sociologie de L´innovation - ENMP/Paris. Professor do PPGDR da FURB. E-mail: mattediblu@gmail.com
Justifica-se, portanto, a necessidade de estudos sobre a temática. O mesmo aborda a relação entre desastre e terri-
tório e objetiva estudar as dimensões territoriais dos desastres no Vale do Itajaí/SC. As discussões aqui apresentadas são
um desdobramento de nossa pesquisa A percepção e a gestão dos desastres em Blumenau/SC no período de 2008 a 2015.
A mesma se encontra em fase de desenvolvimento da pesquisa empírica e, após conclusão, resultará em nossa dissertação
de mestrado em Desenvolvimento Regional no PPGDR da FURB, Blumenau/SC. Fonte: Elaboração dos autores (2015)
A mudança no tempo possui um ritmo e este pode ser rápido ou lento. Já a região tem uma dimensão, que tanto
pode ser ampla como restrita. Para Mattedi (2014), quanto mais equilibrado o ritmo da mudança, mais equilibrado o de-
1.1 Metodologia senvolvimento. Para o autor, é a dinâmica existente entre o ritmo da mudança no tempo (desenvolvimento) num determi-
nado local, espaço (região) que resulta na construção dimensional e de identidade do território. Para Mattedi (2015, 97)
Para entender o processo de produção da vulnerabilidade é preciso conhecer sua origem e evolução no contexto
“ao relacionarmos desenvolvimento e região, fixamos um território”.
histórico, político e territorial. No Vale do Itajaí/SC, a vulnerabilidade da população diante do impacto, a insuficiente
ação governamental e a resposta somente em situações de crises, evidenciam a urgência de estudos na área. Portanto, Portanto, o território é resultado da relação entre essas duas variáveis: mudança no tempo (desenvolvimento) num
este trabalho de revisão bibliográfica, discute o modelo de ocupação (colonização) da região e a forma de utilização dos determinado espaço ou lugar (região). A Figura 2 explicita a dinâmica deste conceito.
recursos. Os mesmos são fatores determinantes para o desenvolvimento urbano e regional das cidades do Vale. A forma
de ocupação e utilização dos recursos e da produção do espaço geográfico transforma a relação sociedade-natureza. E tem FIGURA 2 – Desenvolvimento X Região = Território
suas consequências: faz surgir os primeiros registros de situação de emergência no Vale do Itajaí e estimula a produção
da vulnerabilidade na região.
No entanto, apesar da destruição, os desastres são oportunidades para o aprendizado, mudanças de paradigmas e
desenvolvimento. Portanto, em nossas considerações finais, elencamos indicativos que possam subsidiar o debate sobre
desastres na região e a gestão dos desastres no Vale do Itajaí/SC. Além da Introdução e das Considerações Finais, o artigo
divide-se em três seções: a) A relação entre desastre e território como expressão dos conflitos socioambientais; b) A pro-
dução e reprodução do território do desastre; e c) território do desastre: o caso do Vale do Itajaí/SC.
A relação entre desastre e território passa pelo desenvolvimento socioeconômico e territorial da região. O desen-
volvimento socioeconômico da região do Vale do Itajaí/SC tem relação com a indústria têxtil e a produção do território
Fonte: Elaboração dos autores (2015).
satisfação de necessidades básicas e também sustentabilidade ambiental” de uma região (MATTEDI, 2014, p. 28).
A partir deste conceito é possível entender o caos e a destruição causados pelo impacto dos desastres. Também
De forma simplista vemos região como um espaço localizado geograficamente. O autor amplia o conceito e a que o paradigma da vulnerabilidade comprova o princípio da continuidade entre o Tempo 1 (pré-impacto) e o Tempo 2
apresenta como sendo uma “relação entre a centralização do poder em um local, e a sua extensão sobre uma área de (pós-impacto) dos desastres. E que não há como separar a situação pré-desastre da situação pós-desastre. As explicações
grande diversidade cultural, social e espacial” (MATTEDI, 2014, p. 29). Neste sentido, podemos entender os diversos do pós-impacto são dadas pelas condições sociais pré-impacto (DRABECK, 1986, p. 2-3). Essas condições se traduzem
aspectos (a diversidade cultural, social e econômica e ambiental) do processo de ocupação e desenvolvimento da região pela vulnerabilidade de uma população no Tempo 1 e o grau de destruição no Tempo 2. Quanto maior a vulnerabilidade,
do Vale do Itajaí/SC, objeto de nosso estudo. Também a relação entre desastres e território. maior a destruição causada à população e seu território.
Os desastres são sempre territorializados e o agravamento das situações de emergência geradas pelo evento não Vimos que, quanto mais equilibrado o ritmo da mudança, mais equilibrado o desenvolvimento. Quanto mais
pode ser analisado apenas sob um ponto de vista. Há que se considerar, nesta análise, que os desastres são construídos a desequilibrado o desenvolvimento, maior a vulnerabilidade. A vulnerabilidade a desastres se caracteriza pela percepção
partir das variáveis sociais e naturais e possuem um caráter muldimensional, conforme a Figura 3: parcial, inadequada do problema e pela incapacidade de agir sobre o mesmo. As respostas inadequadas na gestão dos de-
sastres “aumentam a intensidade do impacto da problemática sobre as regiões atingidas [...] produzindo e reproduzindo
o território de desastre” (MATTEDI, 1999).
FIGURA 3 – Desastres: caráter multidimensional
3 A produção e reprodução do território do desastre
O processo de ocupação do Vale do Itajaí iniciou no século XIX com a chegada de imigrantes europeus. Os imi-
grantes estabeleceram-se no ‘vazio demográfico’ existente entre o Litoral e o Planalto do Estado. O Litoral foi ocupado,
no século XVII, por bandeirantes vicentistas e açorianos. Através da ‘concessão de sesmarias’, os militares recebiam
glebas de terra para o estabelecimento de atividades agrícolas. Já o Planalto foi ocupado, no século XVIII, por paulistas.
Para estabelecer uma ligação entre as duas regiões (Litoral e Planalto), no século XIX, o povoamento do vazio demo-
gráfico (Vale do Itajaí – Vale Europeu) entre ambas foi estimulado (MATTEDI, 1999, p. 101). Era o início dos conflitos
socioambientais na região. De um lado as terras já possuem donos. De outro, os imigrantes estavam autorizados à posse.
Fonte: MATTEDI et al (2012, p. 24)
Quando os colonizadores chegaram à região, a mesma já era habitada por índios Xoklegns, Botocudos e Kaigan-
.
gs. No entanto os colonos chegaram através de companhias privadas que estabeleciam um contrato entre eles e o gover-
Na dimensão natural dos desastres são dois os fatores que influem na formação das situações de emergência: 1) no. Ofertava-se “[...] uma vida livre e próspera, liberdade de pensamento e aquisição de um lote de terra” (SAMAGAIA,
os fatores fisiológicos como relevo, vegetação e hidrografia; 2) os fatores meteorológicos – precipitações. Na dimensão 2010, p. 78). As companhias de colonização recebiam subsídios do governo de acordo com o número de colonos que
social há que se considerar outros dois fatores desencadeadores de situações de emergência, a saber: 1) o processo de eram inseridos no núcleo colonial. “O povoamento do Vale do Itajaí tomou impulso, a partir de 1850, com a Colônia
ocupação do espaço geográfico; e 2) o padrão de utilização dos recursos (MATTEDI, 1999, p. 129). Blumenau, fundada por Hermann Bruno Otto Blumenau” (SIEBERT, 2000, p. 188).
Em se considerando o caráter multidimensional dos desastres e a construção social dos mesmos (variáveis natu- O local escolhido para a instalação da colônia foi o último trecho navegável do Rio Itajaí-Açu. A lógica de dis-
rais e sociais), duas interpretações são possíveis: o paradigma dos hazards e o paradigma da vulnerabilidade. Conforme tribuição do território estabelecia a sede da colônia próxima à confluência dos rios, em áreas de várzea, suscetíveis a
Mattedi et al (2012), o primeiro caracteriza os desastres como um problema para a sociedade. Ou seja, desastres são transbordamentos. A localização das propriedades, com lotes perpendiculares ao leito secundário do rio, seguia o modelo
vistos como fenômenos exteriores à sociedade. Os desastres seriam, portanto, efeitos dos fenômenos físicos (chuvas, de colonização alemã do final da Idade Média, denominado Waldhufendorf3 (linha de floresta). Essa lógica de ocupação
ventos, tremores de terras, etc.). O segundo (paradigma da vulnerabilidade), caracteriza os desastres como problemas da 3 Waldhufendorf : “Wald significa floresta, Dorf quer dizer vila e Hufe se refere à faixa comprida e estreita de terra que foi entregue a
cada colono” (WAIBEL, 1949, p. 197).
O Waldhufen era o modelo para as áreas rurais. Para as áreas urbanas era usado o modelo Stadplatz (linha da ci- Vê-se, portanto, que o desenvolvimento econômico de Blumenau está atrelado ao processo de utilização dos
dade). Neste modelo, “as famílias residiam na sede da Colônia, deslocando-se diariamente até sua gleba para o trabalho recursos, à economia de subsistência, às formas de ocupação do espaço geográfico e ao processo de industrialização. É
na lavoura” (SIEBERT, 2000, p. 190). As vantagens desse modelo era evitar conflito com os até então donos da terra, ou o crescimento da indústria que determina a dinâmica de reprodução espacial e a urbanização de Blumenau (MATTEDI,
seja, objetiva-se a segurança contra “as ameaças” dos índios e animais selvagens e os serviços de apoio aos colonos. Com 1999, p. 124). “A urbanização baseada no modelo Stadtplatz-Strassendorf sobrecarrega a capacidade assimilativa do am-
o crescimento da colônia esse modelo tornou-se inviável. Não havia mais áreas livres ao longo do leito dos rios forçando biente natural ao concentrar as atividades produtivas e, consequentemente, a população em áreas de risco” (MATTEDI,
a demarcação dos novos lotes urbanos e rurais ao longo das picadas já existentes. Assim foram se “formando as ‘linhas’ 2000, p. 234). Com o declínio da colônia agrícola e o surgimento das indústrias a população foi se estabelecendo ao redor
coloniais, e os colonos passaram a dirigir-se à sede apenas nos finais de semana” (SIEBERT, 2000, p. 190). dos núcleos industriais. Surge também a separação de classes, consequência decorrente do capitalismo que polariza a
sociedade em classes sociais e acentua as desigualdades sociais. A população abastada da cidade concentrou moradia nas
Para conceber os espaços rurais foi utilizado o modelo padrão Minimale Ackerbabrung. Neste modelo, cada uni-
áreas planas e áreas de várzea do rio. Com a saturação destas, à população pobre não restou alternativa senão ocupar as
dade familiar recebia uma quantia mínima de terra necessária apenas à subsistência e a reprodução socioeconômica. Os
áreas de encostas e morros. Ambas (área de várzea e de encostas) são consideradas áreas de risco. A primeira submetida
lotes eram demarcados com a frente para “a linha fluvial, e um fundo alongado em direção às encostas4” (MATTEDI,
às constantes cheias do rio. A segunda, suscetível a deslizamentos e escorregamentos.
1999, p. 108). Os lotes, vendidos pelas empresas colonizadoras, eram pequenos para que fosse possível a demarcação
de mais áreas e maior número de imigrantes assentados. “Quanto menor fossem os lotes, maior o número de imigrantes O fato do capitalismo, a partir do seu regime de propriedade, polarizar a sociedade em classes sociais, significa que
assentados e maior o retorno com a comercialização dos lotes” (MATTEDI, 1999, p. 108). Estava instalado, no Médio há acentuada desigualdade na distribuição da riqueza. As características urbanas, as formas de construção e os locais de
Vale do Itajaí, o padrão minifundiário de comercialização de terras. ocupação do espaço urbano são consequências dessa estrutura que se manifesta também no problema das desigualdades
sociais: quanto mais pobre, mais vulnerável.
Para sustentar a família e pagar os lotes de terra, os colonos precisavam manter a terra em constante produtivida-
de. Plantavam exaustivamente permitindo um descanso do solo após o seu desgaste. Muitos escolhiam aumentar a área À intensificação do processo de urbanização segue-se a dupla concentração espacial. “De um lado, a população
destinada para o cultivo, fato que resultava em nova derrubada de florestas. O desmatamento era necessário para ampliar dirige-se para as maiores cidades da região, junto ao eixo principal de colonização que segue do litoral para o interior. De
a área de plantio e fazia parte do contrato de posse da terra firmado entre o colono imigrante e o governo. Os colonos outro, essa população estabelece-se nas várzeas dos rios que são áreas consideradas de risco” (MATTEDI, 1999, p. 130).
produziam o máximo em suas terras e ficavam com um mínimo para a subsistência visando poupar para adquirir novas A dupla concentração espacial estimula a ampliação do nível de risco e aumenta a vulnerabilidade da população. Com
propriedades. Com este propósito passaram a desenvolver atividades domésticas (Hausindustrie) que visavam à transfor- a produção do espaço e ocupação das áreas de risco aumenta o número de pessoas expostas aos impactos das enchentes
mação dos produtos agrícolas. Assim foram surgindo pequenas indústrias locais. e escorregamentos. Eventos considerados de baixa magnitude passam a ter poder destrutivo maior na medida em que
aumenta a vulnerabilidade da população às situações de emergência. Comprova-se que a forma de ocupação do espaço
As atividades domésticas que propiciaram o surgimento das pequenas indústrias locais eram desenvolvidas em
e utilização dos recursos aumenta a frequência e a intensidade do impacto das situações de emergência evidenciando a
engenhos de açúcar e cachaça; na produção do fubá e da farinha de mandioca; na manufatura de charutos; na produção
existência de um processo de construção social do risco e do território do desastre.
de derivados de leite e na fabricação de doces caseiros (HERING, 1987, p. 35). A primeira fase do processo de indus-
trialização da colônia denominava-se Fase Agrícola ou Colonial e iniciou com a colonização em 1950 perdurando até a
década de 1880.
4 Território do desastre: o caso do Vale do Itajaí/SC.
Quanto às indústrias têxteis, segundo Mamigonian (1966, p. 394), as mesmas começaram de forma modesta e
A região do Vale do Itajaí é formada pela bacia hidrográfica do Rio Itajaí que está distribuída num território de
vendiam seus produtos em Blumenau e vizinhanças. O maquinário usado na produção era importado da Alemanha, bem
15.000 km2, composto por 51 municípios e com uma população estimada em 1.150.000 habitantes. A área corresponde a
como o fio de algodão utilizado para o fabrico local. É importante destacar que nesta primeira fase do processo de in-
16,15% do território de Santa Catarina. Os limites geográficos da bacia estão “[...] estabelecidos pela Serra Geral e Serra
dustrialização de Blumenau (1850 - 1880) ainda não existia eletricidade. Com o advento desta, em 1909, e a aquisição
dos Espigões a oeste, das serras da Boa Vista, dos Faxinais e do Tijucas ao Sul, e das serras da Moema e do Jaraguá ao
4 Segundo o modelo Waldhufen.
Considerações Finais FRANKE, Beate. Uma história das enchentes e seus ensinamentos. In: FRANKE, Beate. PINHEIRO, Adilson. (org).
Enchentes na Bacia do Rio Itajaí: 20 anos de experiências. Edifurb. Blumenau, 2003. 237 p.
As tragédias se transformaram em tragédias anunciadas em função da incompatibilidade existente entre os meios
HERING, Maria Luíza Renaux. Colonização e indústria no Vale do Itajaí: o modelo catarinense de desenvolvimento.
e os fins empregados no tratamento do problema. As medidas implantadas até agora intervêm apenas nos fatores naturais Blumenau: Editora FURB, 1987. 328 p.
e desconsideram os fatores sociais do problema. O tipo de resposta governamental defende o desenvolvimento econômi-
MAMIGONIAN, Armen. Estudo geográfico das indústrias de Blumenau. Conselho Nacional de Geografia. Instituto Bra-
co da região, gera uma falsa sensação de segurança e estimula a ocupação de áreas de risco. Neste sentido, evidencia-se
sileiro de Geografia e Estatística. Separata da Revista Brasileira de Geografia, no 3, Ano XXVII, Rio de Janeiro. p. 389-
uma relação entre território e desastre e entre crescimento econômico e a intensidade do impacto dos desastres. 481, [jul/set 1965]. 1966.
A mudança na forma de tratamento da temática passa pela política em geral, no seu nível societário, bem como MATTEDI, Marcos. Antonio.. As enchentes como tragédias anunciadas: impacto da problemática ambiental nas si-
tuações de emergência em Santa Catarina. Tese (Doutorado Ciências Sociais). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
_________ FRANK, B. SEVEGNANI L. BOHN, N. O desastre se tornou rotina... In: FRANK, B.; SEVEGNANI, L. Maria Roseli Rossi Avila1; Arlete Longhi Weber2; Cristiane Mansur de Morais Souza3; Juarês José Aumond4; Gilberto
(Orgs.). Desastre de 2008 no Vale do Itajaí: água, gente e política. Blumenau: Agência de Água do Vale do Itajaí. 2009. Friedenreich dos Santos5
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_________. (2014) Pensando com o Desenvolvimento Regional: subsídios para um programa forte em Desenvolvi-
mento Regional. 43 p. Não publicado. RESUMO
_________. BUTZKE, Ivani. C. A relação entre o social e o natural nas abordagens de hazards e de desastres. Revista Este estudo teve como objetivo analisar a visão e percepção (não científica) de pescadores de uma região litorânea de
Ambiente & Sociedade - Ano IV – N° 9 – 2° Semestre de 2001. Santa Catarina sobre as mudanças climáticas e compará-las com os diagnósticos e prognósticos apresentados por pes-
quisadores e cientistas no quinto Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas AR5 - IPCC (2014).
_________. et al. Climate Changes: Past, Present and Future; Trends Variability and Impacts Bilateral ird-cnpq and Para tanto, foram entrevistados pescadores da Vila São Pedro em Navegantes/SC. O estudo caracteriza-se como pesquisa
Tripartite France-Brazil-Africa Meeting Cooperative Projects. October 10-12, 2012 Agadir Morocco. transdisciplinar, de cunho qualitativo, teórico-empírica e exploratória. É um estudo de caso e busca evidenciar o olhar dos
pescadores locais sobre as mudanças no clima e na natureza ocorridas ao longo dos últimos anos naquela região.
_________. et al. O desastre se tornou rotina... In: FRANK, Beate. SEVEGNANI, Lúcia (Orgs.). Desastre de 2008 no
Vale do Itajaí: água, gente e política. Blumenau: Agência de Água do Vale do Itajaí, 2009. p. 12-21.
QUEIROZ, Antônio Diomário de. Prefácio. In: FRANK, Beate. SEVEGNANI, Lúcia. (org). Desastre de 2008 no Vale Palavras-chave: mudanças climáticas e da natureza, relatório do IPCC, pescadores, Vila São Pedro/Navegantes/SC.
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SAMAGAIA, Jacqueline. Globalização e Cidade: reconfigurações dos espaços de pobreza em Blumenau/SC. Florianó-
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de 2008 no Vale do Itajaí: água, gente e política. Blumenau: Agência de Água do Vale do Itajaí, 2009.
ABSTRACT
WAIBEL, Leo. A Teoria de Von Thünen sobre a influência da distância do mercado relativamente à utilização da terra:
This study aimed to analyze the vision and perception (unscientific) of fishermen in a coastal region of Santa Catarina on
sua aplicação à Costa Rica. Revista Brasileira de Geografia, v 10, n. 1, p. 3-40, 1948.
climate changes and compare them with the diagnosis and prognosis presented by researchers and scientists in the fifth
Report of Intergovernmental Panel on Climate Change AR5 - IPCC (2014). For this purpose, fishermen of Vila São Pedro
in Navegantes/SC were interviewed. The study is characterized as transdisciplinary, qualitative, theoretical-empirical and
exploratory research. It is a case study and seeks to show the look of the local fishermen about changes in climate and in
nature that have occurred over the past few years in the region.
Keywords: Climate Changes. IPCC Report. Fishermen. Vila São Pedro/Navegantes/SC.
1 AVILA, M.R.R. Bacharel em Serviço Social. Mestranda em Desenvolvimento Regional no PPGDR da FURB. Bolsista do PROGRAMA
UNIEDU PÓS-GRADUAÇÃO . E-mail: mariaroselirossiavila@yahoo.com.br
2 WEBER, A. L. Bacharel em Administração. Mestranda em Desenvolvimento Regional pela FURB. E-mail: arletelonghi@hotmail.com
3 MANSUR, de M. S., C. Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas. Mestrado e Especia-
lização em Urban Design Ma. Oxford. Professora do PPGDR da FURB. E-mail: arqcmansur@gmail.com
4 AUMOND, J. J. Bacharel em Geologia, Mestrado em Geografia. Doutorado em Engenharia Civil. Professor do PPGDR da FURB.
E-mail: Juares.aumond@gmail.com
5 SANTOS, Gilberto Friedenreich dos. Bacharel em Geografia. Doutorado e mestrado em Geografia. Professor do PPGDR da FURB.
E-mail: gilbertofrieden@gmail.com
Para investigar e discutir mudanças climáticas e da natureza, faz-se necessário considerar a interação entre os Mudanças bruscas de temperatura e de clima nunca antes vistas e percebidas até pela população não científica
diversos níveis de conhecimento (científico, local, tradicional), visto a temática necessitar de uma abordagem transdis- são uma constância. O quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas AR5 (IPCC/2014) afirma
ciplinar. Para Pineau (2010), uma investigação é transdisciplinar quando, em primeiro lugar, aborda problemas sociais categoricamente que o maior responsável pelas mudanças climáticas é o homem. “Vivemos numa era de mudanças cli-
e cognitivos que perpassem os níveis tradicionais de discussão das universidades. Ou seja, quando o objeto de máticas provocadas pelo homem”, afirma Vicente Barros, copresidente do Grupo de Trabalho II do IPCC.
investigação vai “‘para além’ das disciplinas, incorporando o saber popular e os problemas sociais da sociedade,
De acordo com o IPCC (2014), os impactos das mudanças climáticas são observáveis em todo o mundo afetando
mas também têm uma dimensão disciplinar” (PINEAU, 2010, p.5, grifo no original). Para o autor,
a agricultura, a saúde humana, ecossistemas terrestres e marinhos, abastecimento de água e a vida das pessoas de forma
Falamos de multidisciplinar quando existe apenas uma justaposição entre as disciplinas, não existe interação.
geral. Apesar do cenário pessimista, o relatório apresenta sugestões para amenizar os efeitos catastróficos das mudanças
Quando existe a interação podemos falar sobre interdisciplinaridade. Mas quando existem relações mútuas podemos
utilizar o prefixo ‘trans’ que significa dentro, através e para além (PINEAU, 2010, p. 1, grifo no original). climáticas. Dentre as principais medidas sugeridas pelos pesquisadores está a suspensão do uso de combustíveis fósseis
até o ano de 2100 e o aumento na utilização de combustíveis renováveis em 80% até o ano de 2050. À continuação, apre-
sentam-se os principais diagnósticos publicados pelo relatório, bem como as medidas para a mitigação do efeito estufa
Neste sentido, o objeto de nosso estudo foi a população de pescadores da Vila São Pedro em Navegantes, região e das mudanças climáticas.
litorânea do estado de Santa Catarina/Brasil. O município de Navegantes localiza-se na Mesorregião do Vale do Itajaí e
na Microrregião da cidade de Itajaí/SC. 2.1 IPCC 2014: diagnóstico e previsões
No seu quinto relatório (2014) sobre alterações no clima e seus efeitos, o IPCC apresenta dados alarmantes. O mesmo
1.2 Metodologia afirma que há mais de 95% de chance de que o homem seja o responsável por mais da metade da elevação média da tempera-
tura registrada entre os anos 1951 e 2010. Segundo os dados, a temperatura já aumentou 0,85°C entre os anos de 1880 e 2012
Do ponto de vista analítico o estudo relaciona dois fenômenos: desenvolvimento regional sustentável e mudanças
e a previsão dos pesquisadores é de que ainda aumente entre 2,6°C e 4,8°C até o ano de 2100. Esta elevação tem como princi-
climáticas e da natureza. Trata-se de considerar como o padrão de desenvolvimento socioeconômico predominante na
pal causa o aumento do efeito estufa, causado pela maior concentração de gás carbônico, metano e outros gases na atmosfera
região provocou mudanças climáticas e da natureza que colocam em discussão a sustentabilidade local e regional. O
terrestre. Segundo o relatório, nos últimos anos o aumento na concentração destes gases foi sem precedentes e estas emissões
trabalho faz parte das atividades de campo da disciplina de Planejamento Urbano do PPGDR da FURB de Blumenau/
cresceram mais rapidamente entre os anos 2000 e 2010. Conforme dados do relatório, as concentrações de dióxido de carbo-
SC. Trata-se de um estudo de caso, de cunho qualitativo, teórico-empírico e exploratório, pois investigamos a realidade
no, metano e óxido nitroso aumentaram 40%, 150% e 20%, respectivamente, desde os anos 1750. Para os pesquisadores, um
de um grupo específico, evidenciando suas percepções, identidade e saberes próprios. Entrevistamos pescadores da Vila
aumento de 1°C a 2°C na temperatura apresenta um risco considerável, já um aumento de 4°C representa severos riscos tanto
São Pedro com o objetivo de analisar suas percepções sobre as mudanças climáticas ocorridas na localidade ao longo do
para a extinção de espécies como para a segurança alimentar mundial. Se os padrões atuais persistirem, a perspectiva é que a
tempo. Bem como, comparar a percepção dos mesmos com o diagnóstico e prognósticos apresentados por pesquisadores
temperatura aumente pelo menos 4°C até o fim do século, aponta o relatório.
e cientistas no quinto Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas AR5 - IPCC (2014). Os critérios
para a seleção da amostra de pesquisa foram: idade (pescadores com mais idade) e residir na localidade ou próxima dela.
A elevação da temperatura também provoca consequências nos oceanos tais como o aumento da acidez da água e no
Optamos pela abordagem com perguntas abertas (não diretas) por permitirem ao entrevistado falar sem interrupções.
nível do mar. Segundo o AR5 do IPCC (2014) os oceanos estão 26% mais ácidos e as geleiras seguem derretendo em todo o
Desta forma, garantimos que o mesmo respondesse as perguntas a partir de suas percepções e em sua própria lingua-
planeta provocando extinção de algumas espécies, modificação nas atividades migratórias em outras e um aumento no nível do
gem (não científica). Foram entrevistados três pescadores locais, contatados no dia de nossa ida à campo. As entrevistas
mar de 19 cm entre os anos de 1991 e 2010. Note-se que este aumento no nível do mar ocorreu num período de apenas 19 anos.
foram gravadas, transcritas e analisadas e os resultados incorporam o corpo deste trabalho. Para fins de preservação de
Se as projeções climáticas para a metade do século XXI e posterior se confirmarem a biodiversidade marinha e a atividade pes-
identidade, os sujeitos pesquisados estão identificados como E. 1 (Entrevistado 1), E. 2 (Entrevistado 2) e E. 3 (En-
queira nas regiões de latitude tropical serão fortemente comprometidas. Moluscos, equinodermos e corais são mais sensíveis à
trevistado 3). Os pescadores entrevistados assinaram Termo de Livre Consentimento liberando o uso das informações
acidez marinha do que crustáceos e peixes e isso poderá trazer consequências para a pesca e os meios de subsistência, pois afeta
concedidas. Além da Introdução e das Considerações Finais, o trabalho divide-se em três seções: a) o Relatório do IPCC
a fisiologia, o comportamento e a dinâmica das populações marinhas (IPCC, 2014). Segundo o relatório, devido ao aumento
2014; b) mudanças climáticas: o diagnóstico dos pescadores; e c) pontos de convergência e discordância entre o olhar
do nível do mar, em breve aumentará a quantidade de pessoas expostas a inundações e perda de terras costeiras.
científico e o não científico.
Conforme o IPCC (2014), trajetórias de desenvolvimento sustentável combinam estratégias de adaptação e miti-
O efeito estufa e as mudanças climáticas interferem na segurança alimentar e nos sistemas produtivos. O AR5 do IPCC
gação na tentativa de reduzir as mudanças climáticas e seus impactos compreendendo processos interativos que garantam
(2014) alerta que todos os aspectos da segurança alimentar estão em perigo, desde o acesso aos alimentos e seu uso, até a esta-
a implantação e manutenção da gestão eficaz do risco. A mitigação reduz as taxas de aumento das mudanças climáticas
bilidade dos preços destes.
permitindo maior prazo para adaptação, desde que as mudanças não ultrapassem um nível particular, que segundo o re-
As áreas urbanas são consideradas as mais afetadas pelas mudanças climáticas, pois estão mais vulneráveis a latório é de no máximo 2°C. Conforme Rajendra Pachauri (apud BBC, 2014) diretor do IPCC, os cientistas fizeram sua
eventos como chuvas extremas, inundações, deslizamentos de terra, seca, poluição do ar, escassez de água (IPCC, 2014). parte, agora cabe aos políticos e a comunidade colocar ações em prática visto que ainda se tem esperança e “[...] felizmen-
Conforme o relatório, todos estes fatores incorrem em riscos para os seres humanos, economia, bens e ecossistemas. Até te nós temos os meios para limitar a mudança climática e construir um futuro mais próspero e sustentável” (PACHAURI,
meados do século XXI, se as projeções climáticas se confirmarem, aumentarão os riscos à saúde humana, pois problemas 2014 apud BBC, 2014).
já existentes como desnutrição poderão se agravar e outros poderão surgir de forma mais intensa devido a ondas de calor
e queimadas (IPCC, 2014). Populações mais pobres são as que mais sofrerão, sendo que o relatório aponta ainda que a
diminuição da pobreza será cada vez mais difícil (diminuição da produção de alimentos, desaceleração do crescimento
3. Mudanças climáticas: diagnóstico dos pescadores da Vila São Pedro/Navegantes/SC
econômico e perda da capacidade de trabalho são alguns dos fatores que acarretarão esse aumento das dificuldades).
O relatório do IPCC (2014) apresenta um quadro dramático de previsões sobre as mudanças climáticas no mundo.
Apesar dos prognósticos alarmantes, o IPCC (2014) apresenta sugestões para a mitigação dos riscos e adaptação
As mesmas já são evidentes ao olhar dos pescadores da Vila São Pedro, localizada no município de Navegantes/SC. A Vila
às mudanças climáticas dentro da projeção de aumento de 2°C na temperatura. Mas, conforme o relatório, a mudança é
São Pedro localiza-se no Arraial do Pontal. O local é reduto de pescadores da pesca artesanal (sujeitos de nossa pesquisa)
urgente. Segundo a brasileira Suzana Kahn Ribeiro (apud Carvalho, 2014), vice-presidente do grupo de mitigação do IPCC e
que mantém ali o cais para seus barcos além de serviços de carpintaria para o conserto de barcos.
uma das autoras do capítulo três do relatório IPCC (2014), “se não tiver uma atitude drástica, não tem a menor chance de limitar
em 2ºC até o final do século”. Segundo o AR5, cessadas as emissões de gás carbônico, mais de 20% deste gás permanecerá O E. 1 tinha 66 anos e apesar de não ter nascido na Vila, vive ali há mais de 20 anos. Filho de pescadores relatou
na atmosfera por mais de mil anos. que foi “criado sem pai, sem mãe, sem oportunidade de vida, de emprego” (E. 1, 2014). Para comer, pescava siri desde
os 10 anos. Casou-se aos 21 anos. Pescava “embarcado”6 em grandes barcos. Foram 22 anos de pesca industrial, embora
aposentou-se como pescador artesanal. Nunca teve outra profissão.
2.2 IPCC 2014: mitigação e adaptação
E. 2 tinha 60 anos e reside na Ponta da Balsa/Vila São Pedro. É aposentado e viveu 22 anos da pesca artesanal7.
De acordo com o AR5 do IPCC (2014) os riscos provocados pelo impacto das mudanças climáticas podem ser Pescava com sua própria batera. Segundo seu relato, eram “sete hora de viagem daqui até lá. Chegava lá, pescava a noi-
reduzidos se forem limitadas suas causas. Se as medidas de redução na emissão dos gases do efeito estufa forem tomadas te” e voltava à terra firme pela manhã.
de forma extrema e relevante, este impacto pode ser reduzido. A velocidade e a magnitude das ações e decisões econômi-
E. 3 tem 80 anos, quatro filhos e nasceu na Vila São Pedro. Aposentado, é filho e neto de marinheiros. Viveu 34
cas, sociais, tecnológicas e políticas podem permitir caminhos de resiliência em relação às mudanças climáticas (IPCC,
anos da pesca artesanal e mais quinze anos como operador do Ferry Boat8.
2014).
Sobre a comunidade E. 3 relatou que no passado “Era tudo mato, tudo mato cirvuado. Cirva. Tinha um bequinho
Segundo o relatório, as estratégias de redução dos riscos e adaptação dependem muito da vulnerabilidade e ex-
6 A expressão “embarcado” é usada pelos pescadores para a pesca industrial em grandes barcos de pesca, ou ainda, para explicar o trabalho
posição de cada região/lugar. Não existe fórmula única para todas as situações. As medidas de planejamento e realização dos marinheiros que passam a maior parte de sua vida embarcados em navios.
para mitigação e adaptação devem ser melhoradas e complementadas em todos os níveis, do pessoal ao governamental 7 Segundo depoimento dos pescadores a pesca artesanal utiliza instrumentos como rede, “tarrafa”, espinhel e é realizada em pequenos
(IPCC, 2014). botes, “traineras” ou “bateras”, segundo o linguajar local.
8 Embarcação que faz a travessia Navegantes/Itajaí/SC.
Na percepção dos pescadores, comparando a pesca de antigamente com a de agora, houve mudanças drásticas.
Ah, mudô. Agora qualquer ventinho que dá a maré puxa pro Sul. Antes puxava pro Norte. Quando puxa pra terra a
Conforme E. 1 , até o sabor do peixe mudou. água, aí dá mar grosso. Aí começa a ficá grosso. Aí vem o vento contra, contra a maré... aí dá mar grosso. [...] De
primeiro era Terralão né, agora é [...] Lestada.. Ah! Lestada era aquele Leste, Leste de alto mar... Ainda dá. De prime-
Hoje tem outro sabor, devido ao crescimento da população, a poluição que destrói. O ser humano não está nem aí, é ro era 3, 4 dia. Agora não, dá um dia e já acaba. A maré, né. A maré muda (E. 3, 2014).
lixo e lixo - não é todo mundo, mas a maioria-, é luxo e lixo e o luxo vira lixo – hoje não pega um siri que presta (E.
1, 2014).
9 Conforme informações da Epagri (2014), o Maçarico-preto se alimenta nos lodaçais. A dieta da ave “inclui caranguejos, pitus e outros
crustáceos, caramujos, bivalves e outros moluscos, minhocas e outros vermes, insetos e inclusive matéria vegetal (sementes e folhas). A ave vive
em bandos, em brejos, margens de rios, banhados e campos recentemente arados”.
Vimos que as mudanças climáticas e da natureza citadas pelo Relatório do IPCC (2014) se fazem acontecer e
já são perceptíveis ao olhar dos pescadores da Vila São Pedro em Navegantes/SC. Também que estamos à beira de um
“colapso” de proporções gigantescas. Se não ocorrerem mudanças drásticas para alterar o curso da situação e se a área
ambiental continuar a ser tratada com descaso, estaremos colocando em risco a existência da biosfera e a do próprio ser
humano no planeta.
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gaston-pineauhttp://www.rizoma-freireano.org/index.php/estrategia-universitaria-para-a-transdisciplinaridade-e-a-com-
plexidade--gaston-pineau Acesso em: 09 Jul. 2015.
As mudanças climáticas: Período de inflexão que urge por medidas preventivas e efetivas de planejamento urbano Nos últimos 600.000 mil anos a quantidade de CO2 na atmosfera estava abaixo de 190 PPM (partes por milhão).
Com o advento da espécie humana e do processo industrial e demais dinâmicas supracitadas, em novembro de 2014 atingiu-
se pela primeira vez 400 PPM, sendo que atualmente oscila-se de 395 a 405 PPM nos últimos oito meses. E por estar-se
Conforme dito anteriormente, o planeta passa por uma série de transformações, muitas delas com aparente nesse ponto de inflexão das mudanças climáticas, uma imprevisibilidade sem precedentes recai sobre as populações,
imprevisibilidade frente aos ciclos naturais já conhecidos. São entre um desses fenômenos em situação deturpada sendo sentidas principalmente por aquelas de mais frágeis condições. Enquanto o globo todo está aquecendo, têm-se
enumeradas por Conti (2005) o degelo das calotas polares, a redução da cobertura de neve das altas montanhas em várias desorganizadas e curtas ondas de frio, chuvas torrenciais em determinado ponto e há 200 km de distância uma estiagem
latitudes, a elevação do nível do oceano, verões extremamente quentes. Segundo o autor, antes mesmo de ser publicado brutal. Isto se dá porque se atingiu um ponto de desequilíbrio do clima em que a natureza encontra-se desordenada3.
o Relatório do IPCC de 2014, que não se pode negar a ação do homem sobre as transformações no clima, no entanto é
Deve-se enfatizar com veemência que essas mudanças climáticas sempre aconteceram e que não é porque o ser
necessário lembrar que as mudanças climáticas seguem uma lógica natural, cíclica e de complexidade macro:
humano encontra-se presente, que o fenômeno irá deixar de ocorrer. E a entrada numa era glacial, como dito antes, será
A elevação da temperatura global vem efetivamente ocorrendo, mas é indispensável avaliar com base numa ainda mais perversa do que diz respeito a adaptabilidade das populações, sendo que se a humanidade sobreviver a essa
investigação mais abrangente, que leve em conta a ação antrópica, representada pela liberação intensa de gases
de efeito estufa, derrubada de florestas tropicais, superexploração da natureza desconsiderando os princípios da próxima etapa das mudanças climáticas será uma população reduzida habitando próximo a faixa do equador.
sustentabilidade, mas também os processos naturais de macro-escala, incluindo os da esfera geológica e astronômica
(CONTI, 2005, p. 72). Após discorrer sucintamente sobre alguns pontos sobre as mudanças climáticas, passa-se a discutir um ponto de
inquietude principalmente quando se pensa o planejamento urbano, a transgressão marinha advinda da subida do nível
do mar. Como mencionado na introdução do trabalho, trabalhar-se-á com a previsão mais otimista dos dados do IPCC
Assim, deve-se considerar a passagem dos períodos interglaciares para os glaciares como sendo naturais e
sobre a questão da eustasia, a qual revela que o nível dos oceanos irá subir 55 cm da cota atual do nível do mar na vertical
dependendo de fatores relacionados aos movimentos orbitais da terra, sendo que suas inclinações ocasionariam maior ou
até o final do século. É interessante salientar que quando o oceano sobe um centímetro na vertical ele pode avançar
menor exposição à radiação do sol. No entanto, ainda há aqueles cientistas que afirmam que esses não seriam os fatores
quilômetros adentro do continente, isso dependendo da morfologia e do tipo de rocha da localidade.
suficientes para transposição desses períodos (NETNATURE, 2012).
Ao se afirmar que a população residente no litoral está muito mais suscetível aos problemas gerados pela eustasia
Nas eras interglaciais, ou de efeito estufa, a qual presencia-se na atualidade, são características, o período de
está se analisando os impactos socioeconômicos no ponto de vista mais imediato do fenômeno. Isso não quer dizer que
constantes chuvas e de intenso calor, em que com o degelo das calotas polares e do alto das cordilheiras, além da
as demais áreas no interior do continente não irão sofrer por essa dinâmica da natureza. O caso de Joinville (SC) ilustra
expansão das moléculas de água no estado líquido faz com que se eleve o nível do mar. Como dito por Conti (2005) é
bem essa situação: o município está assentado em um mangue, sendo que o esgotamento das águas pluviais, do esgoto
importante lembrar que sem o período de efeito estufa , a temperatura da Terra que em média é de 15º C, passaria para
é uma coisa complicadíssima hoje, na localidade. Quando se fala que o nível do oceano irá subir 55 cm na vertical
-18º C, tornando inviável a permanência da biosfera tal como hoje se conhece. O fenômeno se origina da radiação solar
até o final do século, esse impacto não ocasionará distorções somente na costa, porque o nível freático no interior do
incidindo sobre as superfícies líquidas, transformando-as em vapor, sendo que em baixas latitudes (inferiores a 30º C)
continente, da área urbana também irá subir 55 cm. Joinville terá que repensar todo o sistema de esgotamento das águas.
recebe cinco vezes mais energia solar, enquanto em latitudes superiores a 60º C esse calor apesar de inferior se concentra
nos oceanos, intensificando a evaporação da água, cuja dinâmica geral da atmosfera encarrega-se de distribuir o vapor Para as localidades litorâneas como as cidades catarinenses de Itajaí e Navegantes, esse problema se antecipa e
por todo planeta e alimentando o efeito estufa natural global. com as suas áreas urbanas densificando em termos de ocupação na orla por várias razões como a valorização dos imóveis,
a instalação e expansão das áreas portuárias, a migração crescente do interior para a costa, tem-se uma preocupação
Nas eras glaciares, por sua vez, o clima é frio, ventoso, as florestas se contraem, chove pouco, sendo que
ainda mais urgente.
quando há precipitação, essa é em grandes quantidades, caracterizando um processo erosivo muito forte. A rigor já
dever-se-ia ter entrado numa era glacial, sendo que essa passagem não aconteceu devido ao índice de garantia de 95% do Ao se analisar de forma mais abrangente, numa perspectiva macro, estas cidades caracterizam em primeiro
relatório do IPCC 2014 de que a espécie humana seria responsável pelas emissões dos gases de efeito estufa: Dióxido de 3 Informações retiradas da aula ministrada pelo Professor Juarês Aumond durante a incursão do dia 12 de dezembro de 2014.
Sobre a percepção dos moradores sobre o planejamento urbano e as transformações ambientais advindas das Lindsey Souza Cruz de Camargo; Liliani Marília Tiepolo
mudanças climáticas têm-se as seguintes considerações: Devido ao processo da elevação do nível do mar ser lento e
gradual, a percepção dos moradores não se atém a subida do nível do mar, acreditando que o mesmo tem abaixado, RESUMO
não correspondendo a realidade, conforme verificado nos diversos relatórios do IPCC. A incorporação dos problemas
O litoral do Paraná é uma região que comporta sete municípios: Guaraqueçaba, Antonina, Morretes, Paranaguá, Pontal
causados pela crescente urbanização e o processo de densificação no bairro pelos moradores são tidas como sendo um do Paraná, Matinhos e Guaratuba e possui 6.058.043Km² de área total, com população total de 265.392 habitantes.
processo natural e em devida ordem, não representando distorções no seu modo de vida e no ambiente a sua volta. Trata- A partir deste recorte geográfico, analisamos os dados do Sistema Integrado de Defesa Civil do Estado no período de
se da analogia do sapo dentro de um vasilhame com água que aos poucos vai aquecendo sem que o mesmo perceba, até 2008 a 2013 com o objetivo de analisar a vulnerabilidade territorial em relação a ocorrência de desastres e número de
pessoas afetadas. Nossos resultados revelam que os dados apresentados pela Defesa Civil são muito discrepantes entre
sua morte. si, deixando muitas dúvidas em relação à confiabilidade. Considerando o Relatório de 2014 (baixado no dia 7 de maio de
2014), podemos concluir que o litoral do Paraná é uma região de extrema vulnerabilidade territorial com destaque para os
Por fim, os fenômenos naturais, em sua maioria, se constituem em sistemas dinâmicos complexos que apresentam desastres de inundação, enxurrada e alagamentos. Também se destaca os desastres provocados por atividades industriais,
uma dinâmica evolutiva determinada pela sua estrutura e pelos fatores externos (AUMOND et al, 2009). Sendo assim, especialmente relacionados as atividades portuárias diretas e indiretas. Os municípios que apresentaram o maior número
devido a complexidade dos conflitos gerados pelas mudanças climáticas, deve-se estar atento a não embarcar num de pessoas afetadas foram Matinhos, seguido de Guaratuba e Morretes, com 51.260, 44.408 e 19.043 pessoas afetadas.
Já o maior número de ocorrências foi concentrado em Paranaguá com 56 notificações, seguido de Guaratuba com 44 e
discurso social fácil de que tudo irá se resolver por si só. As mudanças climáticas representam um processo irreversível,
Guaraqueçaba com 24. Podemos considerar que são necessárias a implementação urgente de políticas de defesa civil
o qual se há necessidade de avaliar as diversas propostas de planejamento, inclusive as mais exóticas com todas as para prevenir e preparar a região em relação a desastres, que prevalecem durante os meses de verão, período que merece
potencialidades positivas e negativas. Faz-se necessário um planejamento que leve em consideração essas ocorrências, muita atenção por parte dos gestores.
de maneira preventiva e de longo prazo.
Palavras-chave: Defesa Civil; Litoral do Paraná; Desastres; Vulnerabilidade.
Referências Bibliográficas
ABSTRACT
ACOT, P. Histoire du Climat. Paris, Editions Perrin, 2003, 309 p.
The coast of Paraná State is a region which includes seven counties: Guaraqueçaba, Antonina, Morretes, Paranaguá,
ADGER , N.; BROO ks, N.; BENTHAM, G.; AGNEW, M.; ERIKSEN, S. New indicators of vulnerability and adaptive Pontal do Paraná, Matinhos and Guaratuba, with 6.058.043Km² of total area and a total population of 265.392 inhabitants.
capacity. Norwich: Tyndall Centre for Climate Change Research TechnicalReport, n. 7, 2004. From this geographical focus, we analyzed the data of the Integrated System of Civil Defense of the State between the
AUMOND, J. J.; SEVEGNANI, S.; BACCA, L. E. Condições naturais que tornam o vale do Itajaí sujeitos aos years 2008-2013 with the objective of analyzing the territorial vulnerability to disaster occurrence and number of people
desastres. In: Frank B.; Sevegnani, L. (Org.) Desastre de 2008 no vale do Itajaí: Água, Gente e Política. Blumenau: CEF, affected. Our results reveal that the data presented by the Civil Defense are very discrepant from each other, leaving
2009. doubt regarding the reliability. Considering the Report of 2014 (lowered 7 of may of 2014) we can conclude that the
coast of Paraná is a region of extreme territorial vulnerability to disasters especially flood and waterlogging. Also stands
AZKARRAGA, J., MAX-NEEF, M., FUDERS, F., ALTUNA, L. Evolución sostenible: apuntes para uma salida razonable. out the disasters caused by industrial activities, especially related direct and indirect port activities. The counties that
Eskoriatza: Instituto de Estudios Cooperativo de la Universidad de Mondragón (Lanki), 2011. had the largest number of people affected were Matinhos, followed by Guaratuba and Morretes, with 51,260, 44,408
CONTI, J.B. Considerações sobre as mudanças climáticas globais. (USP), v. 16, p. 70-75, 2005. and 19,043 people affected. The highest number of cases was concentrated in Paranaguá with 56 notifications, followed
by Guaratuba with Guaraquecaba with 44 and 24. We can be considered that the urgent implementation of civil defense
MAFRA, V. R. História. Disponível em: < http://www.navegantes.sc.gov.br/c/historia > Acesso em: 10 Fev. 2015 policies are needed to prevent and prepare the region in relation to disasters due to, which prevail during the summer
months, a period that deserves close attention by managers.
NETNATURE. O Intenso Fenômeno Climatológico Denominado Glaciação. Acesso em 27 de Fevereiro de 2015.
Disponível em: < https://netnature.wordpress.com/2012/09/19/o-intenso-fenomeno-climatologico-denominado-
glaciacao/> desde 19 de Setembro de 2012. Keywords: Civil Defense; Coast of Paraná; disasters; vulnerability.
METODOLOGIA
Este estudo foi realizado a partir dos dados oficiais do Governo do Estado do Paraná, no período compreendido Constamos que os meses de Janeiro, Março, Fevereiro e Dezembro são os que concentram 80% do número de
entre janeiro de 2008 até dezembro de 2013, tendo como foco de interesse os sete municípios do Litoral do Paraná, com afetados por desastres no litoral do Paraná. O mês de setembro também merece destaque, com 6.655 pessoas afetadas.
suas respectivas populações em ordem decrescente, segundo IBGE (2010): Paranaguá (140.469 habitantes), Guaratuba Os desastres do mês de Janeiro afetaram 57.751 pessoas com 19 notificações de ocorrência, seguido do mês de fevereiro
(32.095 habitantes), Matinhos (29.428 habitantes), Pontal do Paraná (20.920 habitantes), Antonina (18.891 habitantes), com 19.384 afetados com 31 notificações. Os municípios do litoral paranaense com o maior número de pessoas afetadas
Morretes (15.718 habitantes) e Guaraqueçaba (7.871 habitantes). por desastre são: município de Matinhos sendo o tipo de desastre inundação que afetou 35.000 pessoas, Guaratuba com
Para a obtenção das informações foram pesquisados documentos e dados secundários de sítios oficiais da internet alagamento afetando 21.417 pessoas e Morretes com o desastre enxurrada afetando 18.399 pessoas.
dos seguintes órgãos: Casa Militar, Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do Governo do Estado do Paraná No período analisado (2008 a 2013) foi constatado no relatório (2014) que no litoral do Paraná o número total de
(CEDEC) (http://www.defesacivil.pr.gov.br/), em especial o relatório de ocorrências da Defesa Civil do Sistema de Controle ocorrências de desastres notificados pela Defesa Civil foram 163, que correspondente a 6.3% das ocorrências do Estado
da Defesa Civil (SISDC). Utilizamos nas análises dois relatórios distintos, um deles o Relatório de 2013, baixado em 6 do Paraná. Estas ocorrências deixaram 7.652.545 pessoas afetadas no Estado do Paraná por meio de 2.581 ocorrências,
de junho de 2013 e o Relatório de 2014, baixado em 7 de maio de 2014. sendo que é relevante o fato de que no litoral do Paraná 143.554 pessoas foram afetadas, correspondente a 54% da
população regional, segundo os dados populacionais divulgados pelo IBGE (2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo os dados do Relatório de 2014, no ano de 2012, os desastres tiveram um impacto significativo para os
Os relatórios disponíveis para consulta no endereço eletrônico da Defesa Civil do Paraná, analisados e nominados
paranaenses. No Estado do Paraná, oficialmente foram registradas 485 ocorrências de desastres que afetaram 2.803.332
neste trabalho como Relatório 2013 e Relatório 2014, apresentam dados distintos e discrepantes, dificultando a análise
que vivem ou circulam em áreas de risco ou de gradação ambiental (vulnerabilidade ambiental), esta população acaba
morando nestas áreas por não ter escolha, assim são obrigadas a morar em “zonas de sacrifícios”. No litoral do Paraná,
os dados do Governo do Estado indicam que mais de 65 mil pessoas moram em áreas de risco e que existem 84 pontos CONCLUSÕES
vulneráveis a deslizamentos, enchentes e alagamentos (Defesa Civil do Paraná e Mineropar, 2012). Ao analisar o Sistema Integrado de Defesa Civil do Estado do Paraná foi possível concluir que:
Cartier et al, (2009) destaca a importância de se criar metodologias de urbanismos ligadas ao Sistema de Os dados disponibilizados na forma de relatórios apresentam números discrepantes, tomando por base os relatórios
Informação Geográfica (SIG), utilizado para avaliação das possíveis disparidades socioeconômicas em áreas de risco, de 2013 e 2014 as informações chegaram a apresentar grandes diferenças, dificultando qualquer análise e mais que isso
ou seja, o SIG passa a ser uma ferramenta de utilidade socioambiental. Revela ainda que há divergências no processo de não permitindo trabalhar no nível de confiança da informação. Esta discrepância pode trazer graves consequências para a
planejamento urbano nas áreas metropolitanas, sendo que no Brasil implanta-se fábricas perigosas em áreas já povoadas e gestão pública como um todo, seja o âmbito municipal, como no estadual e federal, pois são a partir destas informações
posteriormente intensifica políticas públicas na região. Este é notavelmente o caso do município de Paranaguá, que possui que se podem tomar decisões e criar programas de prevenção ou políticas públicas voltadas para a defesa civil.
intensa atividade industrial portuária, devido ao Porto de Paranaguá ser um dos maiores da América Latina, concentrando Também percebemos que os municípios do litoral paraense que apresentaram o maior número de afetados ao longo
inúmeras indústrias que geram expressivos impactos ambientais, pouco ou quase nada avaliados e em alguns casos até dos últimos seis anos (2008 a 2013) foram Matinhos, Guaratuba e Morretes. Uma característica que estes municípios
omitidos. têm em comum é a proximidade da Serra do Mar nos seus territórios, o que aumenta a chance de chuvas prolongadas
Neste sentido, observamos que de acordo com a Lei Nº 466 de outubro de 1981, referente a distrito industrial, que transformarem-se em desastres do tipo enchentes, enxurradas, inundações e alagamentos.
este obrigatoriamente, por suas características, deve estar localizado em uma área estritamente industrial, sendo assim No litoral do Paraná a Defesa Civil deveria manter-se permanentemente em alerta durante todos os meses do
estas áreas de distritos industriais, não devem ter áreas de moradias nas proximidades nestes distritos industriais. verão, uma vez que nossos resultados revelaram que estes são os meses que concentram significativamente o maior
Para Camargo, L.S.C (2014) 7,5% dos desastres ocorridos no litoral do Paraná têm relação direta com atividades número de pessoas afetadas e ocorrências de desastres, com cerca de 80% dos afetados do ano, nesta época foram
industriais. Isso porque na região está situado o Porto de Paranaguá e com ele, todo polo industrial portuário e suas atingidos os 7 municípios do litoral.
atividades. No município de Paranaguá, que concentra a maior população da região, não se verifica a existência de algum O Município de Paranaguá foi o que concentrou o maior número de ocorrências de desastres entre os municípios
tipo de planejamento urbano relativo a estas atividades e, apenas em 2009, o Plano Diretor do Município foi aprovado, do litoral paranaense nos últimos 6 anos, sendo 50% desastre naturais e 21% de desastre devido a atividade portuária e
apresentando um zoneamento para a cidade. Também verificamos que o maior número de ocorrências de desastres se industrial. Podemos considerar que o município de Paranaguá deve possuir um sistema de defesa civil permanentemente
deu neste município, indicando sua alta vulnerabilidade ambiental, que se potencializa com as atividades industriais em alerta devido ao alto risco de acidentes que este tipo de atividades possui. O segundo município com o maior número
portuárias. Notamos que esta atividade incide também para além dos limites de Paranaguá, deixando também o município de ocorrências é Guaratuba com 31.8% de desastres naturais e 43% de desastres ligados à atividade portuária e industrial,
de Guaratuba com um grande número de ocorrências devido atividade portuária, uma vez que o município concentra o trazendo a evidência de que a atividade portuária causa desastres muito além de suas fronteiras.
maior número de ocorrências com desastres relativos ao transporte de produtos perigosos rodoviários. Observamos que no litoral do Paraná o tipo de desastre que mais afetou a população foi o alagamento sendo
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No meio dessa polissemia, identificamos a proposta do modo sustentável de vida abordado por Leonardo Boff
RESUMO (2015, p. 107) que define sustentabilidade como sendo toda ação destinada a manter as condições que sustentam todos
os seres e a Terra viva “visando sua continuidade e ainda atender as necessidades da geração presente e das futuras, de
Considerando a atual problemática mundialmente discutida em relação ao desenvolvimento sustentável e os modelos
sustentáveis de sociedade, percebe-se a necessidade de contribuir no sentido de apontar direções e metodologias para tal forma que os bens e serviços naturais sejam mantidos e enriquecidos em sua capacidade de regeneração, reprodução e
alcançar a sustentabilidade. O presente estudo tem por objetivo sugerir que se utilize o modelo de gestão territorial de coevolução”. Bem como pautamos nossa noção de desenvolvimento como aquela que garanta a liberdade e a autonomia
terras indígenas para articular estratégias e promover as potencialidades materiais e imateriais de um território, seguindo dos indivíduos.
princípios sustentáveis para constituir a práxis do modo de vida sustentável. Uma vez que as terras indígenas apresentam
características como delimitação geográfica, princípios comunitários de se manter em equilíbrio com a natureza, institui- Visando contribuir com os teóricos que acreditam que sustentabilidade é possível de ser concretizada, percebe-se
ções de apoio, entre outras que possibilitam servirem de modelo de sociedades sustentáveis. A proposta foi levantada a
partir de revisão teórica de conceitos e práticas que propiciam embasamento para discussão do desenvolvimento territo- a necessidade de apontar direções e metodologias para alcançar o modo de vida sustentável. Uma vez que gestão terri-
rial sustentável. Conclui-se então que projetos de gestão territorial que respeitem a autonomia e permitem a participação torial é um termo que ganhou espaço nos debates sobre desenvolvimento e conservação territorial de terras indígenas,
dos indígenas considerando sua cultura de sustentabilidade do território, servem de modelo para promover o desenvolvi- devido às características como delimitação geográfica, o desejo comunitário de manter-se em equilíbrio com a natureza,
mento de uma sociedade sustentável.
a presença de diversas instituições com o objetivo de desenvolver esses territórios, entre outros, acredita-se que as terras
indígenas têm grandes possibilidades de se constituírem dentro do território brasileiro como sociedades sustentáveis, isto
Palavras-chave: Sociedades sustentáveis, gestão, territórios, indígenas. é, pequenos territórios baseados nos princípios da sustentabilidade de acordo com o estabelecido por cada sociedade,
como proposto por Diegues (2003).
Assim sugere-se neste estudo, que se utilize a noção de gestão territorial de terras indígenas para articular di-
ABSTRACT
versos conceitos e estratégias para a promoção das potencialidades materiais e imateriais de um território, e seguindo
Considering the current problem, discussed around the world, about the sustainable development and sustainable models princípios sustentáveis para constituir a práxis do modo de vida sustentável.
of society, it is clear the necessity of contribute pointing directions and methodologies to reach this sustainability. The
research aims to suggest the utilization of the territorial management model of Indians lands to articulate strategies and
promote the material and immaterial potentialities of a territory, according sustainable principles to build the praxis of
the sustainable mode of life. Once the Indians lands have characteristics as geographical delimitation, communitarian A GESTÃO TERRITORIAL DE TERRAS INDÍGENAS COMO MEIO DE SE ALCANÇAR A SUSTENTABI-
principles to maintain a balance with nature, support institutions, among others that enable be models to a sustainable
society. The proposal was raised from theoretical review of concepts and practices that provide base to discussion of LIDADE
sustainable territorial development. It was concluded that projects of territorial management which respect the autonomy
and the participation of Indians considering their culture of sustainable territory, can be used as a model to promote the Sustentabilidade é um termo que demanda sempre a articulação de mais de um tema, geralmente baseando-se no
development of a sustainable society. tripé: economia, meio ambiente e sociedade, podendo vir também a somar-se a várias outras dimensões, entretanto de-
vem necessariamente ser pensadas em conjunto e em harmonia. Portanto necessita-se de uma abordagem que seja capaz
de responder por múltiplos interesses, e esta é o território.
Key-words: sustainable societies, management, territories, indians.
Acredita-se ser possível alcançar o desenvolvimento sustentável no modelo conceitual proposto anteriormente,
partindo da noção de gestão territorial de terras indígenas. Uma vez que as ações realizadas com base nesse conceito vão
de encontro com nossa concepção de desenvolvimento sustentável, pois preza pela participação dos indivíduos perten-
1 Universidade Estadual do Oeste do Paraná - e-mail: angelicacdi@yahoo.com.br; centes ao território na construção do desenvolvimento territorial, valorizando a participação democrática da sociedade,
2 Universidade Estadual do Oeste do Paraná - e-mail: rd_dias@yahoo.com.br isto é buscando autonomia e empoderamento para os indivíduos seguirem com seus projetos de futuro.
Em função do respeito ao meio ambiente ser geralmente construído em longo prazo através da educação escolar, Destaca-se positivamente que o esforço de construir estratégias de gestão territorial muitas vezes parte dos pró-
a existência de valores sustentáveis transmitidos de geração em geração otimiza o tempo e o orçamento da instituição prios índios, “às vezes com a ajuda de organizações parceiras, instituições públicas responsáveis por atender suas de-
planejadora, assim resta às políticas públicas atenderem as demandas materiais e de capacitação bem como o estímulo a mandas e pelas próprias associações indígenas” (RCA, 2013, p.19). Bem como a participação é considerada por parte
mobilização da coletividade, como também a sustentabilidade não se torna um imperativo externo à comunidade. das instituições parceiras como imprescindível para a realização da gestão e desenvolvimento sustentável do território.
O desenvolvimento territorial e a gestão territorial dependem em grande parte da articulação da coletividade, os Souza e Almeida (2012) concluem que:
trabalhos podem até ser iniciados com o impulso de gestores externos, como o Estado, iniciativa privada, e Ongs, mas a
continuidade do projeto tem que ser mantida pela comunidade. A descontinuidade de projetos é um dos principais fatores É importante ressaltar, contudo, que a lógica de projetos pensados e elaborados “de dentro” tem
muitas vantagens em relação aos projetos que tradicionalmente eram trazidos pelo Estado brasileiro e
de muitos projetos não terem os resultados previstos, além de causar desânimo e descrédito das instituições. (SOUZA e
impostos às sociedades indígenas que, em tempos passados, eram consideradas transitórias e em processo
ALMEIDA, 2012; RCA, 2013). de aculturação. Deste modo, com todos os problemas acima apontados, nos casos em que o protagonismo
indígena está garantido – sendo o projeto desenvolvido segundo as aspirações da comunidade, ao invés de
Dessa maneira é fundamental a presença de forte capital humano e social presente no território. Sendo o primeiro resultado do que pensa a burocracia estatal – os projetos sociais têm um papel muito importante na viabi-
o capital que atua no campo individual “determinado pelos graus de nutrição, saúde, educação cultura e segurança da lização da gestão territorial Indígena, visto que refletem um planejamento interno (SOUZA e ALMEIDA,
2012, p.195).
população” (BOFF, 2015, p.133), enquanto o capital social é resultado de um processo histórico e construído a partir das
relações sociais da comunidade como normas, valores, grau de confiança, cooperação e solidariedade que propiciam o
desenvolvimento e a participação democrática dos indivíduos (BOFF, 2015; FREY, 2003).
Além da participação coletiva, o que fará diferença na transformação social em longo prazo é a conscientização
O capital social é um elemento estratégico e que perpassa todo o processo de desenvolvimento, estando presente da necessidade do trabalho em conjunto, dos impactos gerados pela intensa exploração do meio ambiente e também das
Embora, não se coloque aqui o desenvolvimento econômico em altares como é feito em diversas outras aborda- A economia solidária em terras indígenas pode ser realizada por redes de trocas de alimentos, sementes, mudas
gens, não se descarta o papel importante desta dimensão no planejamento da gestão territorial. Abdicá-la é tomar uma e insumos entre comunidades tradicionais ou inseridas em mercados locais e regionais, como também estabelecendo
posição contraditória, pois se estaria retirando a autonomia da sociedade de definir seu futuro. Como também é impor- parcerias com outras organizações de mesma essência. O que se considera aqui como de suma importância é que o de-
tante notar que devido ao processo histórico que inferiu fortemente sobre os territórios indígenas desestruturando seus senvolvimento em terra indígena não perca suas características coletivas.
sistemas produtivos, fez aumentar a dependência desses povos aos órgãos de assistência e da geração de renda (SOUZA
Algumas atividades já estão sendo realizadas, desde a produção de mel, a arte gráfica4 onde produtos indígenas
e ALMEIDA, 2012, p. 180).
são comercializados e possuem maior valorização devido a sua indicação geográfica, um instrumento jurídico e econômi-
Assim, considera-se que a dimensão econômica não deve ser deixada de lado, uma vez que possibilita criar es- co previsto na Lei 9.279/96, a qual tem o objetivo de agregar valor a produtos associando estes a determinados territórios.
tratégias de mercado que podem influenciar positivamente na comunidade, porém a produção econômica na lógica capi-
TERRAS INDÍGENAS: MODELOS DE SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS
talista com suas características individualistas também não deve nortear as ações. A sustentabilidade deve ser condição
determinante do modo de produção e não elemento inserido após a produção estabelecida. Atualmente existem 585 Terras Indígenas em todos os biomas brasileiros, constituindo-se em territórios delimi-
tados dentro do país que possuem certa autonomia de gestão, como também características territoriais, culturais e sociais
Para Souza e Almeida (2012, p. 195) a dimensão econômica de gestão territorial de terras indígenas deve estar
diversificadas.
sustentada por 3 bases de aproveitamento das características materiais e imateriais do território. São elas: 1) planeja-
mento das atividades de acordo com as características culturais do território, 2) investimento em atividades tradicionais Como é demonstrado no documento “Gestão Ambiental e/ou Territorial de/em Terras Indígenas” (2008)
dominadas pelas populações locais mesmo que utilizando técnicas externas, 3) possibilidade de implementação de novas
atividades, com técnicas não tradicionais, porém que sejam economicamente viáveis e que respeitem as características Há quase que uma unanimidade no reconhecimento de que a conjuntura atual dos povos e terras
socioculturais e ambientais. indígenas assume nuances distintas nas diferentes regiões do país. Isso se deve a pelo menos cinco fatores:
(i) diversidade de culturas, histórias de contatos e processos de territorialização dos povos indígenas, (ii)
Seguindo essas bases, as ações alternativas ao modo de produção hegemônica podem ser incentivadas através diferentes contextos regionais, étnicos e socioeconômicos, (iii) natureza variada das ameaças que aí pesam
sobre povos e terras indígenas, (iv) distintas alianças e correlações de forças entre atores regionais, e (v)
de assistência técnica de órgãos governamentais, privados ou ONGs, profissionalizando os indígenas e dando o suporte múltiplas demandas e capacidades de acompanhamento, gerenciamento e articulação das próprias comu-
necessário para aumentar a produção e a qualidade dos alimentos, bem como estimular novos tipos de produção como nidades e organizações indígenas (IEB; GTZ, 2009, p.3).
agroflorestas e a otimização da agricultura consorciada.
3 A economia solidária é outro modo de produção, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito
Algumas destas ações atualmente estão se materializando no Brasil através de organizações populares que se à liberdade individual (SINGER: 2002a, p. 10).
apresentam como uma “outra economia”. “Muitos produtores assim organizados estruturam um tipo de economia à mar- 4 Mais informações podem ser encontradas no site Povos Indígenas no Brasil mantido pelo Instituto Sócio Ambiental – ISA,
instituição de referência em assuntos indígenas.
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gestão - o caso da Cooperacana, Porto Xavier-RS. In: Geosul, Florianópolis - SC. v. 23, n°. 46, p. 95-114, jul./dez. 2008.
RESUMO
RCA - Rede de Cooperação Alternativa -, Gestão territorial e ambiental em terras indígenas na Amazônia brasileira:
os percursos da Rede de Cooperação Alternativa. São Paulo. 2013. O objetivo deste artigo é elucidar como metodologias ditas participativas têm sido aplicadas no decorrer da elaboração
SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. SP: Fundação Perseu Abramo, 2002. do Plano de Manejo do Parque Nacional do Superagui. Além das abordagens e formas de validação aplicadas pela equipe
gestora da referida Unidade de Conservação prima-se pelo posicionamento das comunidades tradicionais de pescado-
SMITH, Maíra; GUIMARÃES, Marco A. Gestão ambiental e territorial de Terras Indígenas: reflexões sobre a construção res(as) artesanais e caiçaras atingidos pelas metodologias supostamente participativas. Os procedimentos de participação
de uma nova política indigenista. Florianópolis. In: Anais do Encontro da Associação de Pesquisa e Pós - Graduação a partir dos olhares destes diferentes agentes permite uma visão do desenrolar do conflito territorial vivido na região bem
em Ambiente e Sociedade. 2010. como permite refletir acerca a apropriação do discurso sobre a participação social em políticas públicas. Enquanto me-
todologia o artigo faz uma análise e uma revisão bibliográfica dos documentos de embasamento ao Plano de Manejo da
SOUZA, Cássio; ALMEIDA, Fábio. Gestão territorial em terras indígenas no Brasil. Brasília. Ministério da Educa- referida Unidade de Conservação, além de pesquisa com nuances etnográficas acerca o processo de autodemarcação do
ção, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Unesco. Coleção educação para todos,
território tradicional elaborado pelas comunidades tradicionais pertencentes ao Movimento dos Pescadores e Pescadoras
v. 39. Série vias dos saberes. n. 6. 2012.
Artesanais do Litoral do Paraná – MOPEAR.
ABSTRACT
This paper aims to report how participatory methodologies has been applied during the formulation of the Superagui
National Park Management Plan. The purpose is to show the different approaches and validation strategies applied by
park managers but also the opinion of traditional communities affected by the participatory methodologies. The point of
view of these different agents and how they act about this kind of conflicts allow us to reflect about how participatory
methodologies are being implemented in public policy. The methodology of this paper is based on ethnographic method,
an analysis of documents about the Park Management Plan and bibliography. We also use the territory self-demarcation
of the tradicional communities affected by this National Park as a source of information.
1 Universidade Federal do Paraná; Universidade Federal do Paraná; Instituto Federal do Paraná, leticia27duarte@gmail.com; mvarella@
hotmail.com; roberto.souza@ifpr.edu.br
Logo, mais do que operacionalizar importa entender quem aciona a participação? A que ela serve? De que forma
ela legitima posicionamentos? Se participar se tornou requisito básico de validação cabe aqui compreender que não se Lutas e cartografias na terra e no mar: o relato da contra-proposta de um movimento de pescadores
trata de um conceito livre de disputa, fazendo sentido apenas quando lançamos o olhar para os contextos específicos em
A fim de diminuir a assimetria de poderes, adotamos como dinâmica de pesquisa a democratização da ciência,
que ela é acionada. Não frigorificar o conceito de participação, assim, vem a ser um fundamento para se poder respeitar
onde nos importamos com “os grupos cujos interesses são afetados por qualquer atividade científica [de forma a garantir
o principio da autodeterminação.
que] estejam bem representados nos processos de tomada de decisão” (SANTOS, 2005, p.75). Se neste artigo denomina-
Se a noção de participação permanece sob o controle do ICMBio, a política de desenvolvimento territorial mos de contra-proposta os aprendizados obtidos até agora com a experiência do MOPEAR, isto se deve ao fato de que
continuará sendo top-down e, portanto, as práticas institucionais manter-se-ão ilegais e violarão os direitos dos po- já há uma proposta original e, alias, já executada pelo ICMBio - a partir de preceitos científicos, onde o saber técnico
vos e comunidades tradicionais, contrariando, inclusive, a Decisão Judicial da Ação Civil Pública (ACP - Autos n° impôs-se sobre o saber tradicional, silenciando e invisibilizando as demandas das comunidades, bem como impedindo a
50007428820154047008) de maio de 20152. construção de um planejamento promovido de “baixo-para cima”.
Nesse sentido, se a participação já esta operacionalizada pelo ICMBio conforme os preceitos do órgão então resta Além disso, se denominamos de “contra” é pra ressaltar a divisão que há entre a proposta do órgão e a proposta
reconceituá-la, subvertendo a ordem imposta pela noção de participação e utilizando-a a favor das comunidades afetadas ainda em construção da comunidade: não se pode simplesmente equivaler os preceitos da OIT 169 às noções aplicadas
– é isto que Ceceña (2006) denomina como subversão epistemológica. Para a autora, são novas formas de olhar a vida, na operacionalização da “participação” do Plano de Manejo. Esta ruptura aponta não apenas para divergências, mas,
abarcar o pensamento, (re) criando conceitos e metodologias para que se transformem os “sentido cósmico y el sentido também, para proposições que podem contribuir para a construção de um Plano democrático e respaldado em princípios
común que [...]se construyen en la interacción colectiva, haciendo e rehaciendo socialidad” (CECEÑA, 2006, p.14). À jurídicos de respeito à diversidade e às territorialidades.
medida que os sujeitos subvertem a ordem a seu favor, assumem o rimo da própria história – e como afirma Foucault
Os indícios desta ruptura que presenciamos até o momento são vários e fundamentais. Desde os princípios da
(2014) “O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de quem tomar lugar daqueles que as utilizam,
execução do Plano de Manejo, ou seja, desde a fase em que as partes se reúnem para planejar as ações práticas do estu-
de quem se disfarçar para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que as tinham imposto” (FOU-
do, o processo foi anti-democrático: na reunião que aconteceu no dia 02/02/2012 em Curitiba, participaram apenas duas
CAULT, 2014, p.69). A fim de escreverem sua própria história, de controlarem suas próprias vidas, de se autodetermina-
representantes da ONG que venceu a licitação para realizar os estudos e uma representante da gestão do PNS – a reunião
rem conforme sua identidade coletiva, o MOPEAR passou a mobilizar-se para produzir a autodemarcação do território
deu-se na sede da ONG3. Nesta reunião foram definidas as datas, os períodos e as comunidades que seriam ouvidas na
tradicional de uma maneira cuja participação fosse condizente as suas especificidades culturais e territoriais.
elaboração do Plano. Sem ouvir as comunidades, foi estabelecido um cronograma falho que não respeitou as especi-
Enquanto apoiadores do Movimento e detentores de um conhecimento técnico necessário para a elaboração de ficidades territoriais das comunidades: Vila Fátima, Saco da Rita, Varadouro e Abacateiro não participaram do estudo
mapas, encontramos como desafio a assimetria de poderes já instaurada em uma sociedade onde quem detém saber, de- pois, segundo os registros do ICMBio, no único dia previsto para a atividade a maré estava baixa (ICMBio, 2012, p.1).
tém poder – e é neste cenário assimétrico em que a participação foi/está sendo construída. Demo (2009) nos lembra que Além disso, a última oficina realizada pelos consultores deu-se no dia 17/08/2012, na Barra do Superagui, envolvendo,
“não há educação ou planejamento que não imponham alguma coisa. A questão não é, pois, não impor, pura e simples- novamente, apenas a equipe de planejamento (sem nenhum comunitário e serviu para se fazer a “avaliação das oficinas
mente, mas impor menos. Impor menos significa assumir a tendência impositiva e, a partir daí, tratar de abrir espaços de apresentação dos consultores”).
crescentes e nunca terminados de participação” (DEMO, 2009, p.20). Logo, qualquer processo dito participativo precisa
A experiência do MOPEAR, construída e controlada pelos próprios participantes demonstra a necessidade de
encarar o poder de frente e partir dele, para, assim, construir os espaços e os meios de se fazer a participação. A partici-
se fazer encontros em dias e locais que permitam e facilitem o acesso das comunidades. Desde o inicio da produção da
pação deve ser desejada, nunca imposta, doada ou concedida - é por isso que Demo (2009) enfatiza que participação é
autodemarcação os moradores apresentaram as demandas e decidiram sobre os encaminhamentos, locais, datas, dura-
conquista, ou seja, é um processo infindável, um constante vir-a-ser. No próximo verbete trataremos de relatar o processo
ção dos encontros, metodologias, bem como a construção dos saberes junto às comunidades. Além disso, não se pode
de mobilização do MOPEAR em que se vai delineando uma contra-proposta às metodologias e a prática de participa-
culpabilizar a existência da maré à falta de participação de uma comunidade em um plano de tamanha importância: o
ção concedida/imposta pelo ICMBio. Nesse sentido apontaremos aos aspectos da cartografia social em que os sujeitos
fato da criação do cronograma ter sido baseada apenas nas demandas do órgão/pesquisadores, sem levar em conta a pe-
pesquisados eram ao mesmo tempo agentes de pesquisa e colocavam-se efetivamente como detentores do controle, dos
riodicidade rotineira e normal das marés, algo fundamental para trabalhar com os pescadores da região, é que impediu
2 A decisão judicial exigiu que o réu, ICMBio, disponibilize todos os documentos e estudos que se referem ao Plano de Manejo às De-
fensorias Públicas da União e do Estado do Paraná, bem como aos pescadores; que garanta a participação efetiva do MOPEAR na elaboração do 3 Souza (2006) afirma que a “justiça espacial” é um quesito indispensável de se pensar na realização de um Planejamento participativo:
Plano de Manejo e, por fim; que o Plano de Manejo siga os parâmetros da Convenção 169 da OIT em seus estudos e mecanismos de consulta. o local da reunião, portanto, pode limitar ou facilitar a participação dos sujeitos.
Outro fato importante que já foi relatado em diversos trabalhos acadêmicos4 diz respeito às violências físicas,
Referências bibliográficas
simbólicas e materiais decorrentes da aplicação das políticas públicas ambientais de UCs. Neste sentido não se pode
deixar de ressaltar que o órgão responsável por tais violências acompanhou os pesquisadores em praticamente todos os ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Antropologia dos Archivos da Amazônia, Rio de Janeiro: Casa 8 / Fundação
momentos de realização dos estudos em campo. Por isso não é de se estranhar que os pesquisadores tenham afirmado que Universidade do Amazonas, 2008.
“a maioria das comunidades sentiram-se retraídos e não quiseram desenhar diretamente nos mapas” (ICMBio, 2012, p.9) ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. (et. al.). Consulta e Participação: a crítica à metáfora da teia de aranha.
Manaus: UEA Edições, 2013.
é nesta relação sempre tensa e com histórico profundamente marcado pelo conflito entre a gestão do Parque e as comu-
nidades é que se operacionalizou a participação dos sujeitos nas pesquisas: arredios ficam aqueles que tem medo de se BAZZO, Juliane. Mato que vira mar, mar que vira mato: o território em movimento na vila dos pescadores da Barra do
Ararapira (Ilha do Superagüi, Guaraqueçaba, Paraná). Dissertação de Mestrado – PPGAS / UFPR. Curitiba: 2010.
autodenunciarem, de serem punidos injustamente pelas suas práticas tradicionais, punições essas conhecidas e relatadas
por moradores de todas as comunidades atingidas pelo Parque. BRASIL. Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004.
BRASIL. Portaria IBAMA nº 45, de 22 de junho de 2006.
A relação de pesquisa construída pelo MOPEAR, como já foi afirmado, buscou respeitar os “tempos” das co-
CECEÑA, Ana Esther. Subjetivando el objeto de estúdio, o de la subversión epistemológica como emancipación. In CE-
munidades (o tempo comunidade e o tempo escola) além das demandas e dos objetivos do grupo, assim, tendo controle CEÑA, Ana Esther. Los desafio de las emancipaciones em um contexto militarizado. Ciudad Autónoma de Buenos
sobre o cronograma e o planejamento do curso em si, foi estabelecida uma relação de confiança que fez com que, em Aires: CLACSO, 2006. Pp13-43.
momento algum, os sujeitos ficassem arredios à participação, ao contrário ela era programada, desejada e assiduamente DEMO, Pedro. Participação é conquista: noções de política social participativa. Editora Cortez: São Paulo, 2009.
frequentada pelos sujeitos interessados e afetados pelo mapeamento. DUARTE, Letícia Ayumi. Argonautas do Superagui: identidade, território e conflito em um parque nacional bra-
sileiro. Dissertação de mestrado - MPPT / FAED / UDESC. Florianópolis, 2013.
4 A lista é extensa e não é intenção deste trabalho sistematiza-la ou problematiza-la, mas para um revisão da literatura pode-se consul-
tar Bazzo (2010) e Duarte (2013).
ABSTRACT
The aim of this study is to contribute to the discussion about the issue involving the mediation networks around
environmental issues of family farming in the Baixo Tocantins region in order to discuss the scope of these networks and
possible paths that lay ahead for the regional family farms. Thus, such networks are constituted from the junction of social
actors around the social and environmental aspects, and so it is important to analyze the difficulties that generate low
access and organizations agroextractivist populations to a specific public policy, the Price Guarantee Program minimum
for Biodiversity Products (Programa de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Biodiversidade) – PGPM-Bio,
implemented by the National Supply Company (Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB) in the Territory
of the Baixo Tocantins - Pará. The methodology consisted of interviews with managers of politics at the national level
and with representatives of the organizations extraction of the region. The results show that the PGPM-Bio is still not
widespread among the organizations representing the extractive this Territory, and the prices established for grant are still
very low, which prevents organizations in accessing politics. However, for products such as natural rubber, the subsidy
encourages the extractive produce, considering that the market price is low and does not stimulate production without
payment of the grant. Still, it is considered that, although the environmental networks around these policies are unstable,
they can give rise to development of proposed types of agriculture and relationship with nature that are less impactful on
the natural resources.
1 Trabalho desenvolvido com o apoio do Programa PIBIC/PRODOUTOR 2014 e do Projeto de Extensão intitulado “Monitoramento e
avaliação de políticas públicas para gestão de territórios na Amazônia Paraense” (MDA / CNPq).
Assim, para subsidiar essas escolhas metodológicas, está se adotando algumas técnicas específicas para a
realização das atividades de pesquisa, entre as quais podem ser destacadas as seguintes:
a) Pesquisa documental: com o uso dessa técnica, se estudou alguns documentos que forneceram subsídios
importantes para a pesquisa, como: artigos acadêmicos, relatórios técnicos, mapas e apresentações fornecidos pela
CONAB, etc.;
Porém, vários outros produtos tiveram seus preços de venda subvencionados pelo Governo Federal a partir dessa
RESULTADOS E DISCUSSÃO
política para os anos de 2014 e 2015 no país, incluindo, especificamente para o Bioma amazônico, produtos provindos
Em relação aos resultados alcançados, no que se refere às políticas de cunho socioambiental discutidas no do extrativismo, como o açaí (Euterpe oleracea), e a andiroba (Carapa guianensis), entre outros (TABELA 1).
âmbito do CODETER do Baixo Tocantins, a PGPM-Bio é a principal política pública em torno da biodiversidade e da
sustentabilidade, que leva em conta as questões socioambientais locais. TABELA 1. Produtos subvencionados em 2014/2015 e valores da subvenção
Participaram do Painel sobre o PGPM-Bio para a Andiroba (ocorrido em 21 de outubro de 2014), cooperativas
e associações de diversos municípios do Baixo Tocantins, interessadas em participar da execução dessa política, como
PRODUTOS REGIÕES / ESTADOS PREÇO MÍNIMO LIMITE DE
a COFRUTA (Cooperativa dos Fruticultores de Abaetetuba-PA), a CAEPIM (Cooperativa dos Agroextrativistas e
AMPARADOS (R$) SAFRA SUBVENÇÃO POR
Produtores de Igarapé-Miri-PA), a CART (Cooperativa Agrícola Resistência Tocantins de Cametá-PA), a Associação 2014/15 SAFRA (R$)
de Produtores Extrativistas do Município de Moju-PA e a Associação dos Moradores Assentados da Ilha Conceição do Açaí (fruto) Norte e Nordeste 1,11 1.000,00
Andiroba (semente) Norte e Nordeste 1,29 1.000,00
Município de Mocajuba-PA. Babaçu (amêndoa) Norte, Nordeste e MT 2,49 3.000,00
Baru (fruto) Bioma Cerrado 0,25 1.000,00
Borracha extrativista (cernambi) Bioma amazônico 4,90 3.000,00
Cacau extrativo (amêndoa) Norte 5,54 2.000,00
Todavia, no Território do Baixo Tocantins, apenas esta última Associação acessou a PGPM-Bio para Borracha Carnaúba Cera Tipo 4 Nordeste 8,12 2.000,00
Pó Cerífero Nordeste 4,97 1.000,00
(látex natural da seringueira – Hevea brasiliensis) em 2013 (FIGURA 1), o que demonstra que o alcance das redes em
Tipo B
torno das políticas públicas de conservação e valorização da sociobiodiversidade ainda é muito pequeno nessa região. Castanha do Brasil (com casca) Norte e MT 1,18 2.000,00
PRODUTOS REGIÕES / ESTADOS PREÇO MÍNIMO LIMITE DE
AMPARADOS (R$) SAFRA SUBVENÇÃO POR
2014/15 SAFRA (R$)
De acordo com os dados coletados, os principais problemas enfrentados pela Associação de Mocajuba - PA frente 1) Dar maior divulgação do PGPM-BIO para que um maior número de extrativistas possa acessar esta política;
ao acesso à PGPM-BIO para borracha em 2014 foram:
2) Estabelecer também um preço mínimo para a andiroba seca, tendo em vista que o preço mínimo atual é apenas para a
- Falta de comunicação com a CONAB: Os extrativistas tiveram problemas para receber a subvenção, pois apesar andiroba “molhada”, bem como realizar novos levantamentos dos custos de produção da andiroba em outros municípios,
dos agricultores terem realizado um acervo fotográfico de todo o processo de produção até a entrega do produto e das procurando abranger realidades diferentes de coleta;
regras do PGPM-BIO, informaram que a fiscalização seria realizada por amostragem ou em caso de alguma denúncia,
3) Ver a possibilidade de executar o pagamento do PGPM-BIO por meio dos correios (através do Banco Postal), tendo
a Superintendência Regional da CONAB no Pará exige que instituições parceiras (como a EMATER) acompanhem a
em vista as dificuldades de alguns territórios, como é o caso do Marajó;
retirada da borracha e a comercialização do produto e emitam pareceres confirmando a veracidade das informações sobre
essa comercialização. No entanto, os extrativistas não receberam a fiscalização da EMATER; 4) Por fim, a CONAB se comprometeu em buscar meios para isentar a cobranças do imposto federal sobre a subvenção
do PGPM-BIO, que está em torno de 6% (PIS, COFINS, etc.). A equipe da CONAB informou que não acha justo que
- Demora para receber o pagamento da subvenção: Esse foi o principal fator de diminuição da participação dos extrativistas
seja cobrado esse imposto em cima de uma subvenção e por isso se comprometeram a buscar uma forma de se isentar
na rede de mediação socioambiental em torno da política, como será discutido mais detalhadamente adiante. Segundo
esta cobrança.
os mesmos informaram, eles encaminharam a documentação para a SUREG da CONAB em Belém, em fevereiro de
2014, mas só conseguiram receber a subvenção no final de agosto de 2014. Além disso, a subvenção teve um desconto Já em relação ao PGPM-BIO para a Borracha, a Associação dos Moradores Assentados da Ilha Conceição, no
de quase 6% de imposto federal (chegando a quase R$ 10.000,00 de desconto). Os extrativistas questionam a legalidade município de Mocajuba-PA, informou que acessa este programa desde 2010. Em 2013, estes extrativistas venderam
deste desconto e reivindicam a isenção deste imposto, tendo em vista que o recurso se trata de uma subvenção e por isso mais de 70 toneladas de borracha natural, totalizando aproximadamente R$ 250.000,00 para a empresa multinacional
não deveria ter cobrança de taxas. Já a CONAB informou que a demora no pagamento da subvenção se deu porque os Michelin, que possui um entreposto de comercialização em Marituba-PA. Conforme definido no contrato, a Michelin
extrativistas não informaram à Superintendência antecipadamente sobre a comercialização e entrega do produto, por isso comprou a borracha dos extrativistas pelo preço de R$ 1,20/kg. A subvenção do Governo Federal, por meio da CONAB,
não foi possível acionar a EMATER para acompanharem essa transação e emitirem pareceres. Com isso, a CONAB-PA complementou o valor de R$ 2,30, perfazendo o indicativo do PGPM para a borracha: R$ 3,50.
encaminhou a situação para a CONAB em Brasília para avaliar se a subvenção poderia ser paga;
Os extrativistas informaram que sem o pagamento da subvenção dificilmente iriam trabalhar na extração da
- Perda da safra da borracha em 2014: Como a safra da borracha em área de várzea (predominante na área de extração borracha. Isso pode ser demonstrado pela situação dessa produção no ano de 2014, quando a quantidade produzida caiu
da borracha em Mocajuba) vai de 01 de julho a 15 de janeiro, outro problema causado pelo atraso no recebimento da de 69.168 kg de látex em 2013 (produzido por 120 agricultores filiados a essa Associação), para apenas 3.211 kg, com
subvenção foi o da perda de confiança dos extrativistas no PGPM-BIO e em consequência, a perda da safra de 2014, apenas 08 produtores acessando a política. Esses números representam diminuição de mais de 95% na produção e de
pois como demorou muito para os extrativistas receberem a subvenção, eles decidiram não arriscar a produção com o 94% do número de associados que comercializaram no ano anterior. Uma das razões está na demora no pagamento pela
Os representantes das cooperativas e associações de extrativistas relataram que outros produtos também podem
ser alvo da PGPM-Bio, como a andiroba e o cacau. No entanto, esses produtos não foram alvo da política, pois o AGRADECIMENTOS:
preço subvencionado era considerado bom (R$ 1,20/kg no caso da semente seca de andiroba), porém os extrativistas À UFPA – Universidade Federal do Pará, que por meio da bolsa de pesquisa PIBIC / PRODOUTOR permitiu a
não conseguiram compradores para pagar o preço de mercado pelo produto na região, e assim não foi possível para o realização deste trabalho; ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à Secretaria
Governo conceder a subvenção. de Desenvolvimento Territorial / Ministério do Desenvolvimento Agrário, que possibilitaram o financiamento deste
estudo no âmbito do NEDET do Território do Baixo Tocantins-PA; e ao CODETER do Território, pelo apoio ao trabalho
Todavia, quando perguntado sobre os aspectos positivos da referida política, o representante da Associação de realizado.
Mocajuba, a única que acessa o PGPM-Bio, destacou que para os extrativistas que receberam os recursos a situação
financeira “melhorou muito”, e a Associação também se fortaleceu. Além disso, a renda das famílias e do próprio
município teria melhorado, pois desde 2010 já haveria circulado na economia local cerca de R$ 600.000,00, beneficiando REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
aproximadamente 120 famílias. Por fim, com essa política funcionando a contento, os extrativistas voltaram a produzir
o látex da borracha, o que não era realizado há pelo menos 20 anos na região, quando a crise de mercado desse produto CALVI, Miquéias. Monitoramento e avaliação de políticas públicas para gestão de territórios na Amazônia
desestimulou o extrativismo. Paraense. Altamira-PA: UFPA, 2013. 21 p.
CAPORAL, Francisco Ramos; RAMOS, Ladjane de Fátima. Da Extensão Rural Convencional à Extensão Rural Para
o Desenvolvimento Sustentável: Enfrentar Desafios Para Romper a Inércia. Brasília, setembro de 2006. Disponível em:
CONSIDERAÇÕES FINAIS <https://www.socla.co/wp-content/uploads/2014/Da-Extenso-Rural-Convencional-Extenso-Rural-para.pdf>. Acesso
em: 22 maio 2015.
Os resultados alcançados mostram que o PGPM-Bio ainda é pouco difundido entre as organizações representativas
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. PGPM-Bio – Política de Garantia de Preços
dos extrativistas no Território do Baixo Tocantins, sendo que os preços estabelecidos para subvenção ainda são muito Mínimos para Produtos da Biodiversidade. Vigia-PA: CONAB, 2014. 33 p.
baixos, o que inviabiliza estas organizações em acessarem a política. Porém, para alguns produtos, como a borracha
LATOUR, Bruno. Políticas da Natureza: como fazer ciência na democracia. Bauru: EDUSC, 2004. 422 p.
natural, o preço da subvenção estimula os extrativistas a produzirem, tendo em vista que o mercado ainda é pouco
desenvolvido para esse tipo de produto. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA; MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA;
MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME – MDS. Plano Nacional de Promoção
Por outro lado, as redes de mediação socioambientais em torno dessas políticas são muito instáveis, podendo
de Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade. Plano de ação 2009. Brasília: MDA; MMA; MDS; CONAB, 2009.
aumentar ou diminuir tendo em vista a dinâmica de funcionamento dessas atividades, como foi demonstrada pela grande
queda de produção da borracha e do número de extrativistas envolvidos com esse produto entre 2013 e 2014 na Associação MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA / SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO
TERRITORIAL – SDT. Gestão Territorial do Plano Safra: Estratégia de efetivação de políticas públicas de
dos Moradores Assentados da Ilha Conceição de Mocajuba. Esses aspectos reforçam que essas redes de mediação ainda desenvolvimento rural. Brasília: MDA / SDT, 2014. 27 p.
são frágeis, principalmente porque, aparentemente, os espaços e fóruns públicos de deliberação como o CODETER não
NOGUEIRA, Antônio Carlos Nunes et al. Diagnóstico rural de comunidades de agricultores familiares: o caso de
exercem influência em instituições governamentais como a CONAB.
Ajó, Cametá-Pará. Belém: UFPA / NEAF, 2009. 53 p.
Mesmo assim, considera-se que, embora as redes socioambientais em torno dessas políticas sejam inconstantes, STEFANELLO, Alaim Giovani Fortes; DANTAS, Fernando Antônio de Carvalho. A Proteção Jurídica da
SILVA, Leonardo Xavier (Org.). Estado e Políticas Públicas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010. 70 p. RESUMO
A construção de barragens é realizada com diferentes fins, gerar energia, controlar enchentes ou inundações, constituir
reservatórios para irrigação e abastecimento de áreas com escassez de água. De qualquer forma, influenciam as
comunidades por elas atingidas. Com base nesta visão, este artigo apresenta parte de uma proposta de pesquisa que
tem como objetivo, identificar os efeitos socioambientais da implantação da Barragem Norte para as comunidades do
município de José Boiteux – SC, destacando o uso dos saberes locais como caminho paraa reorganização socioespacial
e para o desenvolvimento territorial sustentável. Esta barragem foi construída no último quartel do século XX, está
localizada nas proximidades da Terra Indígena Lãklanõ2 e integra o complexo de barragens de contenção de enchentes
que compõe o conjunto de medidas estruturais adotadas para amenizar o histórico problema das enchentes no Vale do
Itajaí, em Santa Catarina, Sul do Brasil. A metodologia utilizada é a pesquisa qualitativa desenvolvida mediante o uso
de fontes documentais. O universo de pesquisa corresponde ao município e o estudo compreende o período entre 1976 e
2015. Os resultados obtidos com a execução do estudo revelam que os efeitos do emprendimento realizado, influenciaram
e influenciam as comunidades locais, causando-lhe a necessidade de readaptação constante frente aos cenários e situações
que surgem em cada momento histórico.
ABSTRACT
The construction of dams is carried out with different purposes, to generate energy, control floods, build reservoirs for
irrigation and supply areas with water shortages and other purposes. Anyway, they influence communities they can reach.
Thus, this article presents, through a brief literature review, part of a research proposal that aims to identify the influences
of the implantation of a dam, called Barragem Norte, for the communities in the municipality of José Boiteux - SC. This
dam was built in the last quarter of the twentieth century, it is located near the Indigenous Land - Laklanõ-Xokleng and
integrates the complex flood containment dams that make up the set of structural measures adopted to mitigate the historic
problem of flooding at Vale do Itajaí in Santa Catarina, southern Brazil. The methodology used is qualitative research
developed through the use of documentary sources. The research base corresponds to the municipality and the study covers
the period between 1976 and 2015. The results of the study execution reveal that the effects of held venture, influenced
and influence local communities , causing you to need constant readjustment forward to scenarios and situations that arise
in each historical moment.
Key-words: Dam North (Barragem Norte); Vale do Itajaí ; Affected communities; local knowledge.
2 Nova denominação dada à Terra Indígena de Ibirama - SC. Terra onde vive o povo Xokleng do Alto Vale do Itajaí - SC. Essa denominação
decorre de um processo de re-denominação baseado no resgate histórico das origens desse grupo indígena a partir de questionamentos feitos na
comunidade, com o intuito de redefinir a identidade, recuperar histórias e resgatar aquele que consideram o verdadeiro nome e que os identifica
como povo. (GAGKRAN, 2005, p. 12 - 14).
REFERÊNCIAS RESUMO
FRAGA, Nilson C. Obras Por Mais de Uma Década - Estudos do processo de construção da Barragem Norte no município O caráter setorial e fragmentado das políticas de conservação da biodiversidade e de desenvolvimento vêm contribuindo
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uma série de políticas de proteção e estímulo ao desenvolvimento de uma indústria pesqueira voltada para exploração
FRAGA, Nilson C. As enchentes do Vale do Itajaí-Açu, SC: das Obras de Contenção à Industria da Enchente. (Dissertação
intensiva da zona costeira. Nós utilizamos a abordagem da trajetória de desenvolvimento para analisar as implicações
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ibge.gov.br. Acesso em 21de Maio de 2015. em atividades relacionadas ao turismo. Em meados da década de 2000, a implementação das políticas de conservação da
biodiversidade existentes foi vinculada ao desenvolvimento de um novo ciclo de atividades industriais. O conjunto de
MARTINS, Pedro. Anjos de Cara Suja: Etnografia da Comunidade Cafuza. Petrópolis: Vozes, 1995, 309 p. políticas apresentadas na trajetória de desenvolvimento contribuíram para reforçar as interações entre a pobreza e pesca.
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MÜLLER, Sálvio A. Opressão e Depredação. Blumenau: Editora da Furb, 1987, v 1, 89 p.
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ABSTRACT
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Sectorial and fragmented policies regarding both biological conservation and development have contributed to increase
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SANTOS, Milton. Da Totalidade ao Lugar. – São Paulo: Edusp., 2006. and stimulus of a fisheries industry focused in the intensive exploitation of coastal zone We analyzed the implications of
SANTOS, Silvio C. Nova História de Santa Catarina. 4 ed. Florianópolis:Terceiro Milênio,1987. development and biodiversity conservation policies for small-scale fisheries in Ilha Grande Bay (Rio de Janeiro State)
over the last fifty years through the development trajectory approach. During the 1970´s and 1980´s with the growing of
fishery industrial fleet, new technologies and market opening, the until then fishers-farmers became professional fishers. In
mid-1980´s, a crisis in the fishing system initiated and the small-scale fishers started to act in tourism-oriented activities. In
mid-2000´s, the implementations of existing biodiversity conservation policies was linked with the development of a new
cycle of industrial activities. The set of policies showed in the development trajectory contributed to reinforce the interac-
tions between poverty and small-scale fisheries. We suggest that this model may be overcome through the valorization of
anchored and exclusive resources in the territory.
Nosso objetivo foi compreender as implicações para a pesca artesanal da Baía da Ilha Grande (litoral sul do Resultados
Rio de Janeiro), das políticas de conservação da biodiversidade e de desenvolvimento, criadas desde a década de 1960 até
A trajetória de desenvolvimento da Baía da Ilha Grande foi dividida em quatro períodos2. Os nomes e marcos
2012. Inicialmente, apresentamos os métodos de coleta e análise dos dados e a área de estudo. Posteriormente, a trajetória
temporais foram definidos a partir dos vetores de mudança na pesca artesanal: (i) até o final da década de 1960: o mundo
de desenvolvimento da Baía da Ilha Grande é comparada com as mudanças nas políticas de desenvolvimento e conser-
da tradição; (ii) início da década de 1970 até meados da década de 1980: a profissionalização da pesca e os grandes em-
vação da biodiversidade. Por fim, são discutidas estratégias territoriais de desenvolvimento para superação do cenário de
preendimentos; (iii) meados da década de 1980 até meados da década de 2000: o desenvolvimento do turismo e a crise
pobreza existente na pesca artesanal.
no sistema pesqueiro e (iv) meados da década de 2000 até o presente: a expansão do setor energético e a implementação
das unidades de conservação.
Metodologia
Em 1962 foi criada a Superintendência de Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE), expressando um entendi-
O trabalho de campo foi realizado ao longo de 154 dias (fevereiro de 2011 a setembro de 2013). Os métodos mento da pesca como fonte potencial de riquezas pelo governo federal, lógica até então presente em iniciativas isoladas,
de pesquisa incluíram: (i) análise das fontes documentais; (ii) observação direta em arenas de tomada de decisão; (iii) ob- como a criação de colônias cooperativas pela Marinha em 1923 (ABDALLAH, 1998). A intenção era transformar o setor
servação participante em pescarias; (iv) entrevistas semiestruturadas (39) e (v) entrevistas abertas com 110 atores sociais. pesqueiro, baseado na pesca artesanal, em uma pesca moderna, tendo por base a industrialização (DIEGUES, 1983) e
No nível local, foram estudadas duas comunidades, uma de cada município que compõe a Baía da Ilha Grande: Tarituba a empresa pesqueira (DIEGUES, 1995). No final do primeiro período, existiam projetos de desenvolvimento diferentes
(município de Paraty) e Mambucaba (município de Angra dos Reis). para Paraty e Angra dos Reis, elaborados na esfera estadual e federal (Figura 01). Paraty, desde a década de 1970, era
vista por um grupo seleto, como área potencial para o desenvolvimento do turismo. Por meio de decretos, o município
Nós estudamos a trajetória de desenvolvimento pela identificação dos vetores de mudança durante a fase de
se tornou área prioritária para exploração turística (GOMES, CARMO, SANTOS, 2004). Angra dos Reis mantinha uma
análise dos dados. Os vetores de mudança constituem um conjunto de variáveis independentes que são considerados em
identidade industrial e historicamente ligada aos grandes ciclos econômicos do país por existir um sistema produtivo local
contraste com o tipo específico de mudança ambiental (YOUNG, 2002). Na análise das fontes documentais, levantamos
associado ao sistema global (ABREU, 2005).
os diplomas legais e políticas públicas pesqueiras e ambientais existentes desde 1960 nos níveis nacional, estadual e
municipal (Paraty e Angra dos Reis). A pesquisa foi baseada em fontes secundárias e primárias de dados. O marco tem-
poral de análise foi o Decreto Lei no 221 de 1967, que representa o início de uma fase de mudança estrutural na política 1 A perspectiva de pobreza absoluta considera “pobre” as famílias e indivíduos com Renda Domiciliar Per Capta (RDPC) abaixo de
R$140, e extremamente pobres, com RDPC até R$70 (IBGE, 2011).
pesqueira (BORGES, 2008). Os 225 diplomas legais levantados foram classificados em três categorias: “Gestão da Pes- 2 Para informações sobre mudanças ocorridas no nível local nestes períodos consultar De Freitas e Seixas (2014).
Ao longo da década de 1980 a infraestrutura para atender o turismo foi ampliada (CARVALHO, 2009) e muitas
comunidades passaram a dispor de energia elétrica, possibilitando a conservação do pescado. Nesse período também Discussão
ocorreram conflitos fundiários em toda a Baía da Ilha Grande (ABREU, 2005; MENDONÇA, 2010; ROSA, 2005), de- Segundo Hilborn (2007), há um amplo consenso de que as pescarias devem diminuir o esforço de pesca,
correntes da especulação imobiliária criada com o aumento do turismo. Os conflitos foram marcados pelo uso de meca- aumentar a abundância dos estoques, diminuir o impacto sobre os ecossistemas marinhos, aumentar seus lucros e serem
Superar o modelo de desenvolvimento em curso na Baía da Ilha Grande, pressupõe adotar políticas ancoradas Agradecimentos
nos recursos do território. O desenvolvimento territorial busca construir e catalisar relações virtuosas entre a mudança Somos gratos a CAPES-Ciências do Mar e as revisões de Ana Carolina Dias e Mariana Policarpo.
produtiva e institucional, sem focalizar exclusivamente na economia agrícola como um veículo para a superação da po-
breza e exclusão social (SCHEJTMAN e BERDEGUÉ, 2004). A forma setorizada como as políticas vêm sendo criadas
não permite responder à complexidade das relações existente entre a pesca e o turismo. No litoral de Santa Catarina (Bra- Referências bibliográficas
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Os principais estados produtores de babaçu são o Maranhão, com 70% da produção do país, e Piauí que soma mais Considerações Finais
de 20% conforme o Ministério do Desenvolvimento Agrário (Figura 1). O coco babaçu é composto por partes que
A compreensão dos novos movimentos sociais, enquanto grupos formados a partir de uma identificação comum
apresentam potencial produtivo, são elas: a amêndoa representa 7% do volume do coco, o mesocarpo 23%, o endocarpo
conduzem ao debate da luta de territórios apropriados e ressignificados por determinado grupo que se mobiliza em
59% e o picarpo (casca) 23%. Todas essas partes são aproveitadas, a casca serve para fazer o fogo no fogão feito de barro
favor dos aspectos materiais e simbólicos. E nessa abordagem, a justiça ambiental, enquanto temática que articula as
e madeira; o mesocarpo servirá na alimentação, pois, é possível fazer farinha a partir dele e; da amêndoa é extraído o
questões do meio ambiente e do debate sociopolítico, apresenta-se como uma possibilidade de diálogo e enfrentamento
babaçu que pode seu comercializado para ser usado como óleo de cozinha e para produção de sabão (TEIXEIRA, 2002).
das desigualdades e assimetrias da sociedade no campo ambiental.
Na metade de 1980, as mulheres organizaram-se em luta pela conservação do seu espaço como uma resposta
O Movimento de Justiça Ambiental marca uma nova concepção no debate ecológico, que anteriormente estava
ao desmatamento indevido praticado para aumentar as áreas dedicadas à pecuária e outras atividades. É a partir desse
muito ligado ao movimento conservacionista, e passa a incluir a noção de justiça social. Colocando um princípio da
período que, no Norte e Nordeste do país, incentivados por políticas públicas, expandem-se as atividades agrícolas
equidade na diversidade.
de grandes proprietários de terra e empresas agrícolas que se apropriaram indevidamente de parte dos espaços das
quebradeiras de coco. Então, elas articularam-se e estabeleceram estratégias como uma forma de resistência para garantir No estudo de caso apresentado, é evidente que o fortalecimento e manutenção dos movimentos sociais no território,
o controle das áreas com babaçu. são fundamentais no enfrentamento contra as situações de injustiças ambientais causadas pelo modelo econômico vigente.
São por meio dos grupos organizados socialmente, que se visualizam possibilidades de mudanças sociais aliadas ao avanço
Como elementos da mobilização das quebradeiras, na década de 1990 foram organizados encontros chamados:
de um desenvolvimento sustentável. Geralmente, essas mudanças são expressas numa modificação da normatização do
Encontro Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu que ocorreram em Maranhão e Piauí. Em 1995 foi criado o
sistema jurídico, que procura legitimar a lógica do modo de vida e da reprodução cultural desses grupos. Como ocorreu
MIQCB em que se vinculam mulheres dos estados de Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará.
no Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu com a conquista do direito de livre acesso e uso comum
A territorialização das mulheres quebradeiras de coco de babaçu representa uma valorização ecológico-sócio- dos babaçuais e imposição de restrições à derrubada de árvores. No entanto, mesmo sendo o primeiro passo para que os
cultural. Na realidade dessas mulheres está presente além dos processos produtivos e econômicos do babaçu, os saberes, grupos saiam do muro da invisibilidade, a garantia jurídica não é suficiente, nem sempre a norma possui aplicabilidade
a valorização da natureza e a reprodução dos seus conhecimentos as novas gerações. A esse respeito Leff (2009) afirma: plena e isso não resolve o cerne da problemática. Para Leff (2009) os movimentos sociais da América Latina são detentores
Esses movimentos não são simplesmente de resistência, mas de r-existência, posto que não só lutam para de uma enorme criatividade e estão sempre se reinventando, de modo a fazer com que seus saberes sejam reconhecidos
resistir contra o desmatamento e a degradação de seus ecossistemas como também através da legitimação e revalorizados mesmo na modernidade na qual nos encontramos.
de seus novos direitos culturais propugnam por um novo modo de ser, um determinado modo de vida e
produção, por formas diferenciadas de pensar, sentir e agir (LEFF, 2009).
Dessa forma, a luta pelo espaço da natureza, pela dimensão ambiental se dá a partir das questões sociais e
culturais. É também a luta pelo seu modo de vida, pela superação da pobreza e da miséria (LEFF, 2009). Por isso, o autor
afirma que movimentos podem ser mais do que uma resistência, mas uma R-existência. Uma reinvenção dos seus modos
de vida que se desfazem, refazem e reproduzem em seu contexto social. Tal como afirma Porto-Gonçalvez (2001) “mais
do que resistência, o que se tem é R-Existência posto que não se reage, simplesmente a ação alheia, mas, sim, que algo
pré-existe e é a partir dessa existência que se R-Existe. Existo, logo resisto. R-Existo”.
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1 Segundo dados da prefeitura Guaraqueçaba foi considerado, como uns dos municípios com menor índice de Desenvolvimento Humano
no Brasil.
2 A alta temporada na ilha serve como segunda opção para geração de renda seja na hospedagem, alimentação, ou serviços indiretos. A alta
temporada acontece de Dezembro a Março.
As entrevistas com pescadores foram divididas em duas categorias: a entrevista geral em forma de reunião, que
consiste numa conversa em grupo, onde o grupo discutia e buscando contribuir com a temática da reunião, isso se dava
através de uma lembrança, fato ou opinião; e, posteriormente, foram aplicadas, em 2014, as entrevistas centradas sobre
temas específicos ou focused interview (entrevista focada, em tradução livre) para compreender segundo uma lógica
dedutiva e abstracta (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1992).
Esse tipo de abordagem, através de entrevista livre e conversas com informantes de confiança, como moradores
mais velhos ou lideranças teve objetivo de compreender as práticas agrícolas e pesqueiras desses atores sociais da Barra
do Superagui, focalizando sob tempos diferentes, passado e presente.
O tempo aproximado de envolvimento dos entrevistados em atividades relacionadas à pesca variou entre 20 e 65
Fonte: IBGE 2011. Adaptada.
minutos. As entrevistas semiestruturadas foram conduzidas de maneira livre, sem intervenções.
Nesse mosaico existem diversas comunidades tradicionais rurais, que vivem do extrativismo, da pesca, do O procedimento da observação e acompanhamento foi realizado em reuniões, em eventos, nas salas de aulas,
manejo agrícola, artesanato e turismo. A comunidade de pescadores tradicionais da Barra do Superagui vem manejando conversas informais, buscando entender e melhorar os valores analíticos da comunidade. Foi considerado não anotar em
alguns momentos evitando constranger o informante ou inibir seus relatos, conduzindo como uma conversa informal,
3 A APA de Guaratuba foi criada pelo decreto Estadual n.1234 possui aproximadamente 200 mil Hectares, se estendendo por seis
municípios do Paraná: Matinhos, Guaratuba, Morretes, Paranaguá, São José dos Pinhais e Tijucas do Sul. Dentro da APA ainda existe três áreas buscando seguir o roteiro semiestruturado. Assim, informações eram redigidas posteriormente no alojamento, salvo em
de Proteção integral nas três esferas institucionais de responsabilidade Governamental que são: O Parque Municipal Natural Lagoa do Parado, alguma ocasião onde havia uma proximidade com interlocutor, eram realizadas anotações na integra.
o Parque Estadual do Boguaçu e o Parque Nacional Sant-Hilaire Lange. O Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange foi criado pela Lei 10.227
(23/05/2001), tem uma área de aproximadamente 24.500 ha, Abrangendo os municípios de Matinhos, Guaratuba, Morretes e Paranaguá. Essa
Poucas intervenções foram necessárias para o esclarecimento de dúvidas, sendo estas anotadas e questionadas
U.C. Abrange a Serra da Prata tendo uma diferença hipsométrica de praticamente 1500 metros, possuindo uma grande diversidade de fauna e
flora, recursos abióticos (ICMBIO 2014). posteriormente. Foram feitas visitas tanto aos moradores mais antigos como aos mais novos, para obter um amplo de
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A fase de implementação ocorre após a decisão de adoção e implica no uso efetivo da inovação, com a mobilização
de recursos e esforços para colocar em prática a nova idéia. Durante a fase de implementação, processos de adaptação e
mudança podem ser necessários para adaptar a situação existente à inovação. Quando as mudanças e adaptações ocorrem
na inovação ou na sua forma de uso temos a re-invenção. Rogers (2003) encontrou evidências que relacionam a re-
invenção à uma melhor aceitação, difusão e sustentação da inovação. Isto ocorre porque as condições iniciais da fase de
Fonte: Rogers (2003) implementação tendem a serem dinâmicas e mudarem continuamente. Desta forma, sendo a inovação flexível o bastante
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Há milhares de anos a água é armazenada pelo homem para seus mais variados usos. Dados da Índia indicam
estrutura de captação de água de cerca de 3000 anos. A água fora coletada a partir de telhados e outras superfícies a
armazenada em cisternas subterrâneas e reservatórios, (MANO, 2004).
A coleta da água da chuva e sua posterior reutilização tem se tornado essencial tanto para uso agrícola como
doméstico ou ainda industrial e é sem dúvidas uma forma simples e barata para reduzir perdas e aproveitar de forma
consciente a água (MAY, 2004).
Segundo Pnuma (2001), países europeus têm intensificado o aproveitamento do uso da água. O Fórum Mundial
da Água, que ocorreu em 2000 na Holanda, organizado pelo Conselho Mundial da Água, debateu a metodologia usada
há anos na Europa, principalmente em países como Alemanha e Japão.
Segundo Thomas (2001) as águas da superfície são reduzidas sendo que as condições geológicas desfavorecem
o desenvolvimento dos recursos hídricos subterrâneos. Sendo assim, no semiárido brasileiro, o transporte de água potável
Algumas tecnologias têm sido apontadas para reverter e prevenir o problema de disponibilidade hídrica, tentando
reverter à escassez de água com vistas ao desenvolvimento sustentável, buscando técnicas como a transposição de bacias 2.2 INSTALAÇÃO E MANUTENÇÃO DO SISTEMA DE COLETA E APROVEITAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA
hidrográficas e técnica de purificação de águas em grande quantidade reutilização de água, (SANTOS, 2011).
Segundo Leal (2000), o sistema de aproveitamento de água de chuva funciona da seguinte maneira: a água
A transposição de bacias consiste no processo de transportar a água de uma localidade para outra. A transposição é coletada de áreas impermeáveis, normalmente telhados; em seguida, é filtrada e armazenada em reservatório(s) de
de bacias hidrográficas, por sua vez, não é um processo simples, além dos altos custos das obras, faz-se necessário fazer acumulação, que pode ser apoiado, enterrado ou elevado e ser construído de diferentes materiais como: concreto armado,
um estudo de impacto ambiental - EIA/RIMA - para analisar a viabilidade do processo e prever a ocorrência de problemas blocos de concreto, alvenaria de tijolos, aço, plástico, poliéster, polietileno e outros.
que a transposição possa acarretar (HESPANHOL; 2003)
Thomaz (2001) explica que residências, indústrias e outros estabelecimentos que tem água potável encanada,
A água é um recurso renovável através do ciclo hidrológico. Quando reciclada por sistemas
podem ter um sistema duplo de distribuição de água, sendo um para o uso de água potável e outro para o uso não potável,
naturais, é limpa e segura sendo deteriorada a níveis diferentes de poluição por meio da atividade
antrópica. Entretanto, uma vez poluída, a água pode ser recuperada e reusada para benefícios sendo que a água de uso não potável (resultante da captação) será destinada diretamente para o uso em banheiros, limpeza
diversos (HESPANHOL; 2003, p. 41). de roupas, pisos entre outros fins onde essa água possa ser usada sem cloração.
De acordo com Rebouças (2003) a Organização Mundial de Saúde estabelece os seguintes tipos de reuso, o qual A captação da água de chuva pode ser feita por meio de calhas podendo as mesmas ser de materiais metálicos
pode ser indireto ou direto, planejado ou não planejado e a reciclagem: ou em PVC, avaliando qual o material mais adequado para o sistema em si e também a questão do custo beneficio para o
local a ser implantado. Quando ocorre a primeira chuva, a sujeira proveniente do telhado vai junto com a água para o local
Reuso da água indireta ou não planejada: quando a água previamente usada e descartada na forma
onde será coletada, mas que a mesma pode ser removida antes mesmo de chegar às cisternas, evitando a contaminação por
de esgoto nos rios e outros corpos d’água, é utilizada novamente, de forma diluída, principalmente.
[...] Reuso da água direto ou planejado: quando se tem o reuso deliberado de esgoto doméstico ou esses materiais, sendo que pode ser removido por meio de dispositivos de auto limpeza ou utilizar tubulações para desviar
industrial tratado em atividades especifica como irrigação, alimentação de torres de resfriamento os mesmos dos reservatórios (TOMAZ, 2003).
de indústrias, lavagem de pátios com águas de menor qualidade, descargas de bacia sanitárias,
por exemplo.
[...] Reciclagem: quando o reuso da água se verifica internamente na mesma empresa, com
objetivo de economizar água (usuário/pagador) e reduzir os custos do controle da poluição de 3 METODOLOGIA
rios e do ambiente em geral (poluidor/pagador). [...] (REBOUÇAS; 2003; P. 274, 279)
Alguns municípios brasileiros, preocupados com a escassez da água, instituíram leis com o objetivo de orientá- O estudo de caso que foi realizado na Pousada Plâncton, localizada na Ilha do Mel no município de Paranaguá
los para as corretas ações de conservação e utilização de fontes alternativas para captação e reutilização de água. Esses – PR., pólo turístico e que sofre de escassez hídrica no período de média e alta temporada em função da sua localização
programas propõem ações que minimizem o desperdício de água. Como exemplo desses programas, existe no Paraná a e alto consumo.
Lei 10.785 de 18 de setembro de 2003, da autoria do Vereador João Cláudio Derroso, que cria no município de Curitiba
Para a implantação desse projeto, foi realizado primeiramente análises e pesquisas sobre o clima e qualidade da
o Programa de conservação e Uso Racional da Água nas Edificações – PURAE (SILVA, 2008).
água de chuva em Paranaguá, por se ter um resultado satisfatório se deu inicio a pesquisa de campo na Ilha de Mel para
No Município do Paranaguá Estado do Paraná podemos citar a Lei 405/2010 de autoria do Vereador Benedito levantamento de dados a fim de identificar os estabelecimentos que possuem o sistema alternativo de captação de água
Nagel, que “Cria o programa de uso racional da água no Município de Paranaguá e dá outras providencias”. da chuva.
Art.7º. A utilização de fontes alternativas compreende as seguintes ações: I – Captação, armazenamento Foram instalados na saída dos reservatórios hidrômetros, modelo multi-jato com saída de 3/4, peneira para
e utilização de águas das chuvas; II – Captação, armazenamento e utilização de águas servidas. Art. 8º.
Para obtenção de licença de construção, as novas edificações deverão apresentar projetos de construção evitar entrada de resíduos, inscritos no numero de serie A 10S 798949 e A 10S 798925, sendo um deles instalado em um
de reservatório para captação e armazenamento de água das chuvas e de águas servidas, a serem utilizadas reservatório de 5.000L e outro instalado na saída dos (02) dois reservatórios conjugados com capacidade de 10.000L, num
em atividades que não requeiram uso de água tratada. Art. 12º. O Poder Executivo fica ainda autorizado
a promover a conscientização da população no combate ao desperdício de água e às enchentes, através total de 15.000L. A leitura dos hidrômetros é feita mensalmente, em todo dia 30 de cada mês.
de campanhas educativas nos meios de comunicação e abordagem do tema nas escolas da rede pública
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Paranaguá Paraná
Ju
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N
S
D
3500
2889 3004
3000 2661 FIGURA 02: Volume de precipitação mensal no município de Paranaguá – PR ano de 2010
2523 2413
2232 2342 2354
2500 2175
2000
1885 1928 Fonte: Francisco Xavier – ISULPAR, 2010
1500
1000
Média Anual da Direção dos Ventos
500
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 40
34,97
Ano 35
30
Figura 01: Volume de Precipitação no Município de Paranaguá – Paraná de 2000 a 2010 23,82
Valores em %
25 22,02
19,62 19,58 2009
20
Fonte: Francisco Xavier – ISULPAR, 2010 18,83
2010
15
11,15
10 8,13 8,57 8
Segundo Bigarella et al. (1978, p. 45), o clima de Paranaguá é do tipo Cfa, ou seja, subtropical úmido mesotérmico, 6,1 1,45
6,72
4,79 3,81
com mês mais frio apresentando temperatura média inferior a 18ºC, atingindo 17ºC no mês de julho, e superior a 22 ºC 5
1,46 0,36 0,62
no mês mais quente, atingindo 24,9 ºC. 0
N E S SE NW NE W SW Calmo
No entanto para Souza (2007), em Paranaguá todos os meses do ano são úmidos e não ocorre período de seca Direção dos Ventos
prolongada. A Figura 02 mostra que ocorrem precipitações em todos os meses do ano, sendo bem distribuídas.
A composição da água da chuva varia de acordo com a localização geográfica do ponto de amostragem. Próximo FIGURA 03: Direção dos ventos do Município de Paranaguá Fonte: Francisco Xavier – ISULPAR, 2010
ao oceano a água de chuva apresenta em sua composição elementos químicos em concentrações proporcionais às
A Figura 03 mostra que 59,46% dos ventos que ocorrem no município de Paranaguá são Sul (S), Sudeste (SE),
encontradas na água do mar.
Leste (E), e de acordo com a localização geográfica do município, são ventos que vem do oceano, com velocidade média
de 2,2m/s e com umidade relativa do Ar na média de 90%.
De acordo com Thomaz (2001) o pH da água de chuva está em torno de 5,4 a 5,6, no entanto observa-se na Figura
04 que os valores de pH da água da chuva obtidos no período de setembro de 2009 a dezembro de 2010 apresentam valores
entre 6,31 e 6,64 mais próximos do pH neutro, porém as amostras de água de chuva foram coletadas sem ter passado pelos
Gráfico pH água de chuva Setembro de 2009 a Na media e alta temporada a concessionária CAGEPAR fez um levantamento e concluiu que uma pessoa na ilha
dezembro 2010 do mel gasta em media 356L/d, sendo o dobro de consumo da área urbana, tendo em vista que a Ilha possui belas praias,
justificando assim, o consumo de água elevado.
6,7
6,64
6,6 Segundo dados da concessionária, para consumo em m3 de 31.000L a 60.000L o custo é R$ 7,43 por m3, já para
6,5
6,45
valores acima de 60.000L este valor é de R$ 8,35 para cada m3. Sendo que todos os valores no quadro acima estão abaixo
6,4 de 60.000L, foi considerado no cálculo em 2010 o valor de R$ 7,43 por m3 e 2011 o valor de R$ 8,32 por m³.
6,3 6,31 6,32
6,23
6,2 A economia da água de chuva na Pousada em 2010 foi R$ 2.191,85 e 2011 R$ 2.704,00 (ver na Tabela 02), visto
6,1 que para uma pousada que tem grande movimento apenas no período de novembro a março, conseguir ter economia
6 mensal média em torno de R$ 203,99 é um valor considerável nas despesas mensais, tendo em vista, redução nos custos
EMP E.R.Melo Col.Isulpar R.F.Machado C.E.P.Seguro
fixo.
FIGURA 04: pH da água da chuva Fonte: Francisco Xavier – ISULPAR, 2010 TABELA 02: Economia na utilização da água da chuva na Pousada.
4.2 POUSADA PLANCTON
Mês 2010 em m³ 2011 em m³ Em R$ 2010 Em R$ 2011 Total R$
A Pousada e a Lanchonete são abastecidas com água da concessionária possuindo fonte alternativa de captação Janeiro 40 50 297,2 416 713,2
de água de chuva, tendo três reservatórios apoiados, sendo que destes dois conjugados com capacidade para 5.000L cada, Fevereiro 16 34 118,88 282,88 401,76
Março 18 15 133,74 124,8 258,54
totalizando capacidade de 15.000L, mas que não estão atendendo a demanda, sendo necessário ampliar os reservatórios.
Abril 23 21 170,89 174,72 345,61
A área de captação hoje é de 220m², porém possui área disponível para captação de 400m², e pretende-se coletar Maio 17 17 126,31 141,44 267,75
Junho 27 17 200,61 141,44 342,05
60% de água de chuva, que serão utilizados para fins não potáveis, de acordo com a Legislação vigente (NBR 15527/2007).
Julho 23 18 170,89 149,76 320,65
Os custos relacionados à implantação do sistema foram orçados no valor total de R$ 12.310,00 (doze mil e Agosto 15 10 111,45 83,2 194,65
Setembro 9 8 66,87 66,56 133,43
trezentos e dez reais) como mostra a Tabela 01. A pousada já tinha as calhas instaladas, fez-se uma adaptação no sistema,
Outubro 33 38 245,19 316,16 561,35
visando separar o sistema de água potável tratada, e foi gasto R$ 5.110,00 (cinco mil cento e dez reais), visto que neste
Novembro 43 46 319,49 382,72 702,21
valor não estão inclusos os gastos com a implantação das calhas, pois foram reaproveitadas as existentes no local. Dezembro 31 51 230,33 424,32 654,65
Total m³ 295 325 0 0 0
A Pousada utiliza a água de chuva para uso geral, sempre que tem os reservatórios abastecidos. Para o preparo de Total em R$ 2191,85 2704 4895,85
alimentos e consumo utiliza água potável tratada e água mineral. Foi feita manutenção para substituição da tubulação dos Fonte: Orlando Schetino - 2011
reservatórios de captação de água da chuva e tubulação das calhas para aumentar a capacidade de captação.
Analisando o custo da implantação que foi de R$ 5.110,00 (cinco mil cento e dez reais) e a economia em
TABELA 01: Custos com a implantação do sistema de coleta de água da chuva. 2010/2011 em torno de R$ 4.895,85, porém, no período de alta temporada estes valores representam R$ 374,40, mês.
Material Valor Sendo assim, verificou-se que o retorno sobre este investimento na pousada será de aproximadamente 25 (Vinte e cinco
Calhas de Alumínio e instalação R$ 7.200,00
03 Caixa de água 5000lts R$ 2.800,00 meses), porém, a vantagem da implantação desse sistema é por ser durável e com vida útil superior a 10 (dez) anos, com
Canos de PVC 50mm e conexões R$ 890,00
02 Caixa de PVC 100lts R$ 390,00 manutenção de baixo custo, sendo necessária limpeza de calhas e caixas d’água com maior freqüência conforme figura 5.
01 Caixa de distribuição R$ 250,00
Eletricista para instalação R$ 180,00
Mão de obra R$ 600,00
TOTAL R$ 12.310,00
Fonte: Orlando Schetino - 2011
Foram identificados 12 (doze) estabelecimentos comerciais que já possuíam o sistema alternativo de captação
da água de chuva, porém os mesmos não atendiam a norma NBR 13969/97 (dispõe sobre o Sistema de Tratamento
Complementar e Disposição Final de Efluentes). Tendo esses estabelecimentos somente as calhas e algumas cisternas,
não tendo nenhum tipo de material filtrante e cuidados com a limpeza e qualidade da água. Que segundo a NBR 13969/97
podem ser de areia ou de pedra, garantindo a qualidade da água para fins não potáveis.
Após realizar esta pesquisa ofertou-se um curso de capacitação em educação ambiental e implantação da agenda
FIGURA 05: Reservatórios e hidrômetro para medição da água de chuva Fonte: Tácia Santos, 2011. 21 teórica e prática para implantação do projeto “Reutilização da água de chuva para fins não potáveis” de 40 horas aos
proprietários e funcionários dos estabelecimentos para adequação às normas técnicas e legislação brasileira, referente ao
Alem da diminuição de custos, a Pousada também leva em conta o fator ambiental, utilizando água da
reuso da água.
concessionária apenas para fins potáveis, pois no processo de tratamento da água são utilizados vários produtos químicos,
que contribuem para a degradação do meio ambiente, e a reutilização da água contribui para a redução dos impactos ao Sabendo da importância dos fatores climáticos e qualidade da água, foram obtidos dados de Souza (2011), sobre
meio ambiente, o clima como precipitações, direção dos ventos, umidade do ar e temperatura, os quais foram coletados na Estação
Meteorológica do Município de Paranaguá.
Sendo assim, a implantação do sistema de captação de água da chuva para fins não potáveis na Pousada Plâncton,
foco deste trabalho, foi realizada conforme modelo apresentado na Figura 06, visando diminuir o consumo de água
potável tratada, pois sabe-se que a Ilha do Mel sofre de escassez hídrica, causando transtornos ao comércio e dificultado 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
o desenvolvimento do turismo local.
Com esse estudo fica claro a importância do reuso da água de chuva para essa pousada e para a população em
geral que vem se conscientizando cada vez mais a questão da preservação da água que é um recurso finito, passando a
desenvolver tecnologias sustentáveis para minimizar a degradação do meio ambiental e proteger cada vez mais esse bem
tão precioso que é o meio ambiente.
Promover o desenvolvimento sustentável e a educação ambiental deve ser utilizado para uma conscientização da
importância da reutilização da água da chuva, evitando a escassez da água potável no planeta.
Os objetivos deste estudo foram atingidos já que foi comprovada a quantidade coletada de água de chuva nos
reservatórios, sendo ainda necessário implantar mais reservatórios para que possa a pousada ser abastecida 100% com a
água de chuva.
FIGURA 06 Layout do sistema para reuso de água da chuva. Fonte: Francisco Xavier, 2011
A limpeza nos telhados, nas calhas e nas peneiras são realizadas periodicamente a cada 15 dias e sempre que
O sistema de captação de água da chuva será ampliado para 25.000L, para atender a demanda do proprietário,
ocorrem as precipitações para atingir os resultados esperados no projeto e não comprometer a qualidade da água coletada.
pois as calhas oferecem condições de aumentar a capacidade de captação e o proprietário possui mais dois reservatórios
com capacidade de 5.000L cada que no momento não estão sendo utilizados. O custo benefício do sistema quanto ao aproveitamento da água de chuva para o consumo não potável prova ser
sustentável, fica evidente a economia na água tratada com a implantação do sistema.
Diante da necessidade da Pousada Plâncton em ampliar o sistema, serão adquiridos mais dois reservatórios,
com capacidade de 5000L cada para atender a demanda com banheiros (bacia sanitária), lavagem de roupas, pisos e
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT), NBR 13969; Tanques sépticos; Unidades de
tratamento complementar e disposição final de efluentes líquidos: Projeto construção e operação: Procedimento. Rio de
Janeiro, 1997. Gabriela Reichert1; Jhonatas Antonelli2; Steffany Katherine Baudisch3; Leandro Stival4
BIGARELLA, J.J. et al., A serra do mar e a porção oriental do estado do Paraná. Curitiba: Associação de Defesa e RESUMO
Educação Ambiental, 1978.
A criação de animais para consumo é uma das principais atividades econômicas no Brasil. Os criadores, visando a
HESPANHOL, I. Potencial de reuso de água no Brasil: agricultura, indústria, município e recarga de aqüíferos. In: otimização da produção, utilizam determinadas substâncias que permitem um aumento na eficiência dos seus processos
MANCUSO, Pedro Caetano Sanches; SANTOS, Hilton Felício (Ed.). Reuso de Água. São Paulo: Manole, 2003. produtivos. Entre estas estão os desregulares endócrinos (EDCs) que tem como função na suinocultura o controle da
ovulação das fêmeas e a imunocastração dos machos, e na piscicultura como controle de população devido à priorização
LEAL, U. Ciclo da água na edificação. Téchene, v. 9, n. 48, p, 45-6, set/out.2000
da criação de machos pela reversão sexual das fêmeas. Após sua utilização, parte destas substâncias pode ser descartada
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viabilidade e benefícios do sistema. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de animais e, até mesmo, nos humanos. Alguns efeitos da dispersão destes compostos no ambiente são deformidades em
engenharia. Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil. Porto Alegre, BR-RS, 2004. órgãos reprodutores, tumores, infertilidade e alterações hormonais. No entanto, o real impacto dos EDCs nas mais
diversas formas de vida ainda não é bem conhecido, sendo necessários estudos mais aprofundados para determinar as
MAY, S. Estudo da viabilidade do aproveitamento de água de chuva para o consumo não potável em edificações. consequências de sua utilização e formas de mitigação de seus efeitos.
(Dissertação de Mestrado em Engenharia) Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2004.
REBOUÇAS, A. C. Proteção dos Recursos Hídricos. In: Antonio Herman Benjamin (Org.). Direito, Água e Vida. São
Paulo: Imprensa Oficial, 2003, p. 278-279. Palavras-chave: Desreguladores endócrinos, compostos emergentes, criação animal
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ABSTRACT
___. As constantes inundações no bairro Ponta do Caju –Paranaguá. Trabalho de Conclusão de Curso, licenciatura
Plena em Geografia, Instituto Superior do Litoral do Paraná- ISULPAR, 2008, Paranaguá – Paraná. Animal husbandry is one of the main economic activities in Brazil. Aiming production optimization, breeders apply
substances that provide an efficiency increase in productive processes. Among these substances are the endocrines
SOUZA, F. X. S. REUTILIZAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA PARA FINS NÃO POTÁVEIS, Exposição de disrupting compounds (EDCs), which provide female ovulation control and immunocastration in swine husbandry, and
Experiências Municipais em Saneamento, Campinas – SP, 2011. population control in fish farming, due to prioritization in male conception by female sexual reversal. After employment, a
percentage of these substances can be disposed in the environment along with waste material, causing detrimental effects
SANTOS, A. P. M. dos. Gestão racional dos recursos hídricos. Disponível no site: www.amigosdanatureza.org.br/
in animals and even in human beings. Some effects caused by the dispersion of these compounds in the environment
noticias/306/.../173.GESTAORH.doc. Visitado em 02 de junho de 2011.
are deformities in reproductive organs, tumors, infertility and hormonal alterations. However, EDCs real impact in the
numerous life forms is still not well acknowledged. Further studies to determine the consequences of its application and
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the development of new treatment and mitigation procedures are required.
de Água de Chuva, 2001, Campina Grande, Anais... Campina Grande; ABCMAC; EMBRAPA; IRPAA; Universidade
Estadual da Bahia, 2001.
TOMAZ, P. Aproveitamento de água de chuva. 2 ed; São Paulo: Navegar, 2003 Key-words: Endocrine disrupters, emergent compounds, animal husbandry
A pecuária é um dos setores que mais crescem no Brasil, sendo responsável por uma parte considerável do
DESREGULADORES ENDÓCRINOS
produto interno bruto (PIB) do país. De acordo com Kureski et al., (2012) no Paraná o agronegócio foi responsável
O sistema endócrino regula os processos hormonais que ocorrem no corpo. Desequilíbrios nesses processos por mais de 34% do PIB no ano de 2006, representado por mais de 40 bilhões de reais, deste montante a agropecuária
podem afetar a saúde, o crescimento e a reprodução de seres humanos e animais, o que gera interesse na sociedade representa mais de 25%.
científica em estudar a presença destas substâncias químicas no meio ambiente (Bila e Dezotti, 2007). Desreguladores
No ano de 2013 o Paraná foi responsável por abater mais de 357 mil cabeças de bovinos, 6,9 milhões de cabeças
endócrinos são caracterizados por serem substâncias químicas capazes de interferir no funcionamento natural do sistema
de suínos e mais de 1,5 bilhões de cabeças de frango, isso representa respectivamente 6,15, 19 e 27% da produção
endócrino de espécies animais, incluindo os seres humanos (Ghiselli, 2006). European (2001) classifica os desreguladores
nacional (IBGE, 2014). Em 2010 o Brasil registrou uma produção de 394.340 toneladas de peixes oriunda da piscicultura
endócrinos como substâncias que podem danificar ou alterar diretamente um órgão endócrino, interagir com um receptor
continental, 15% mais do que o valor registrado no ano anterior, sendo o Paraná responsável por 35.811 toneladas,
de hormônios ou alterar o metabolismo de um hormônio em um órgão endócrino.
aproximadamente 9,3% da produção nacional (MPA, 2010). Buscando aumentar a produção e diminuir custos esse setor
A agência de proteção ambiental (EPA) dos Estados Unidos classifica desregulador endócrino como um agente da economia mantém-se atualizado em novas tecnologias, substâncias químicas e técnicas que auxiliem neste processo.
Outro uso em larga escala de desreguladores endócrinos são as pílulas contraceptivas destinadas à regularização Uso de desreguladores endócrinos na piscicultura.
do ciclo hormonal e tratamento de problemas hormonais. As substâncias sintéticas presentes nesses medicamentos, como
Os desreguladores endócrinos são utilizados na piscicultura com a finalidade de funcionar como um aditivo para
por exemplo, o 17-α-etinilestradiol, têm como finalidade simular estrogênios naturais, como bifenilos policlorados,
produzir populações predominantemente masculinas. A eficiência de produção em peixes é superior quando a população
alquilfenóis, ésteres de ftalato (Thomas et al., 2004).
masculina é maior. A ausência de fêmeas impede desova precoce e elimina comportamentos que limitam o crescimento
dos peixes (Beardmore et al., 2001).
Utilização de desreguladores endócrinos na suinocultura. O hormônio mais utilizado na conversão sexual de peixes é o 17-alfa-metil-testosterona. Esse hormônio é
normalmente adicionado na alimentação dos peixes, sendo o modo mais fácil e conveniente de reversão sexual induzida
Os EDCs são utilizados na suinocultura para o controle do hormônio liberador da gonadotrofina (GnRH). Nos
por hormônio (Marwah et al., 2005). O sucesso obtido na reversão sexual das fêmeas é de aproximadamente 90% (Wendt,
machos os desreguladores GnRH são utilizados para diminuir a produção hormonal de testosterona, técnica conhecida
2013).
como imunocastração (Schneider et al., 1998).
O 17-α-metil-testosterona é um composto sintético, exógeno, andrógeno e potente agonista do receptor de
A imunocastração começou a ser utilizada em grande escala no ano de 2007, sendo atualmente utilizada pela
androgênio (Selzsam et al., 2005). É um derivado metilado da testosterona, esteróide, anabolizante e antineoplásico,
maioria dos produtores em suínos na fase de terminação (Heck, 2011). Esta técnica consiste na aplicação de vacinas que
usado na medicina para suprir a deficiência de testosterona e tratar os sintomas da andropausa nos homens (Bejma et al.,
possuem GnRH modificado conjugado a uma proteína que induz a formação de anticorpos direcionados contra o GnRH
2005). Além disso, é amplamente utilizado como produto químico de referência na piscicultura para induzir reversão
(Zamaratskaia et al., 2008).
sexual, produzindo monossexo macho (Pandian e Sheela, 1995).
A carne de suínos que não passam pelo processo de castração ou imunocastração libera um forte odor causado pela
A forma mais comum de aplicação do 17-α-metil-testosterona é através da sua incorporação como aditivo na ração
produção de dois compostos, a androstenona e o escatol, que se acumulam no tecido adiposo (Babol et al., 1996). Quando
destinada a pisciculturas. Essa substância pode contaminar o meio através da troca da água que, na maioria das vezes,
a carne apresenta concentrações superiores a 1,0 µg/g de androstenona e 0,20 g/g de escatol em gordura subcutânea,
ocorre constantemente na piscicultura, sendo os corpos hídricos o seu destino final (Homklin et al., 2011).
reações adversas podem ocorrem após o consumo (Walstra et al., 1999).
A androstenona é produzida nas células de Leydig e a sua produção está sob o controle do hormônio luteinizante
(LH). A síntese e liberação dos hormônios LH e folículo-estimulante (FSH) é controlada pelo GnRH. A injeção de uma CONSEQUÊNCIAS DA CONTAMINAÇÃO DE DESREGULADORES ENDÓCRINOS EM CORPOS HÍDRICOS
forma modificada de GnRH conjugada com uma proteína induz a formação de anticorpos contra a GnRH, que quando
A exposição de algumas espécies de seres vivos a um ou mais compostos químicos estrogênicos é capaz de induzir
ligada à GnRH endógena impede o GnRH de estimular a secreção de LH e FSH pela glândula pituitária. Isto reduz a
o aparecimento de vários efeitos adversos, como câncer, diminuição da quantidade de espermatozoide, deformidade das
secreção de esteróides testiculares, incluindo androstenona. (Zamaratskaia et al., 2008).
genitálias e alterações hormonais (Witorsch, 2002).
Nas fêmeas, análogos de GnRH são aplicados com a finalidade de sincronização da ovulação (Knox, 2005) e no
Os maiores problemas da presença de desreguladores endócrinos nas águas superficiais são os efeitos que podem
momento da inseminação artificial a fim de aumentar os índices de concepção (Fries et al., 2010).
A feminização de peixes é uma das alterações mais evidentes. Isto pode ser causado pelos altos níveis de
REFERÊNCIAS
hormônios estrogênios em corpos hídricos. O primeiro relato ocorreu na Inglaterra, onde peixes hermafroditos foram
encontrados em lagoas de estabilização de uma Estação de Tratamento de Efluentes (Purdom et al., 1994). Pesquisadores Araújo, J. C. (2006). Estudo da eficiência do tratamento de efluentes domésticos da cidade de Araraquara–SP na
descobriram que quando trutas eram expostas ao efluente puro, seus organismos sintetizavam vitelogenina, uma proteína remoção de hormônios sexuais. 2006. 84 f. Dissertação (Mestrado em Química Analítica) - Universidade de São Paulo,
que é utilizada como um biomarcador específico para a presença de estrógenos (Sumpter, 1995). São Carlos.
A principal consequência da caracterização hermafrodita é a redução da produção e da qualidade de gametas
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Outro fator de grande preocupação é a possibilidade da bioacumulação, podendo causar a contaminação em
outros níveis tróficos da cadeia alimentar (Bila e Dezotti, 2007). Pesquisas mais aprofundadas são necessárias para Bickham, J. W. (2000). Effects of chemical contaminants on genetic diversity in natural populations : implications for
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RESUMO
A questão hídrica é de vital importância para o desenvolvimento do país, o gerenciamento adequado dos recursos é com-
plexo e torna-se mais evidente quando cursos d’água são transfronteiriços, a implementação de uma matriz global para
o gerenciamento pode mitigar os conflitos potenciais, abrindo assim a oportunidade de uma cooperação internacional,
beneficiando o uso igualitário dos recursos. Tal princípio ganha importância no contexto brasileiro quando avaliadas as
fronteiras do país. A Amazônia, além de possuir enorme disponibilidade hídrica, ainda possui fronteiras com oito países.
O objetivo deste trabalho é analisar a questão do gerenciamento conjunto de recursos hídricos nas fronteiras Bolívia,
Brasil e Peru, considerando projetos de governança conjunta entre os países, enfatizando o caso da sub-bacia do rio Acre,
quais possuem problemas políticos, ambientais e estruturais na sua fronteira, apresentando cidades que compartilham
recursos naturais que são as linhas divisórias. Especificamente o caso da Brasiléia, fronteira Brasil e Bolívia, a qual sofre
um processo de erosão nas margens do rio Acre e que futuramente pode vir a ser território envolvido por terras bolivia-
nas, tornando-se uma ilha. Estratégias de mitigação de impactos e recuperação da área deveriam ser estabelecidas pelos
órgãos responsáveis para fortalecimento da cooperação internacional entre os dois países.
ABSTRACT
The water issue is vital to the development of each country, the proper resources management is complex and becomes
evident when the rivers stream are cross-border, the implementation of a global matrix for the management may miti-
gate potential conflicts, becoming a opportunity for international cooperation, allowing the equitable resources usabil-
ity. Such principle is important in the Brazilian context when the country’s borders are evaluated. The Amazon basin,
besides its huge water availability, also has borders with eight countries. The aim of this study is to analyze the issue
of the cooperation management of the water resources at the borders among Bolivia, Brazil and Peru, considering the
conjunct governance projects among those countries, emphasizing the case of the sub-basin of the Acre river, which
have political, environmental and structural problems on its border, with cities that share natural resources that are the
frontier lines. Specifically, the Brasileia’s case, between Brazil and Bolivia, which undergoes an erosion process on the
Acre river and might eventually become an island surrounded by a Bolivian territory. Mitigation and recovery strategies
A Amazônia possui uma grande disponibilidade hídrica, dentre os oito países envolvidos, portanto, o melhor geren-
ciamento hídrico possível é de vital importância para o uso dos recursos disponíveis. Para tratar da cooperação entre os Bolívia, Brasil e Peru possuem juntos cerca de 87% da área total da bacia Amazônica e compartilham vários rios
países amazônicos foi criado em 1978 o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) que entrou em vigor em 1980. O TCA transfronteiriços. A sub-bacia do rio Acre tem em seu território ocupação do Departamento de Madre de Dios (Peru), do
tem como objetivo o desenvolvimento da região amazônica aliada à preservação ambiental. A valorização institucional estado do Acre (Brasil) e do Departamento de Pando (Bolívia) numa área de aproximadamente 300 km² com aproxima-
do tratado para o fortalecimento da cooperação ocorreu em 1998, quando os países amazônicos assinaram um Protocolo damente 800 mil habitantes (Brown, 2005). O rio Acre tem nascente no Brasil, na margem direita do rio Purus, junto à
de Emenda criando a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), em vigor desde 2002. cidade de Boca do Acre, possui um fluxo no sentido Sudoeste-Nordeste atuando como fronteira entre o Brasil e o Peru, e
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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tempos de precipitação elevada, períodos de estiagem, falta de abastecimento para subsistência, poluição dos rios devido http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140402_bairro_acre_jf . Acesso em: abril, 2015.
à carência de saneamento básico, assim como o fato do rio ser a linha divisória entre os países, que por estar em constante
FERRARI, M. (2011). Interações Transfronteiriças na Zona de Fronteira Brasil-Argentina: O Extremo Oeste de Santa
mudança de curso nos meandros pode ocasionar problemas para as cidades gêmeas. Contudo, questões de ordem territo-
Catarina e Paraná e a Província De Misiones (Século XX E XIX). Tese de Doutorado em Geografia. Universidade Fede-
rial relacionando a mobilidade física de fronteiras, devido à alta atividade meandrante de muitos rios do estado do Acre,
ral de Santa Catarina. Florianópolis.
apresentam também alguns aspectos que estão relacionados aos cursos d’água, assim como ao uso dos recursos hídricos.
As análises teóricas do tema são determinantes para o entendimento territorial da Amazônia, assim como as políti- FERRETTI, F. (2014). As Origens da Noção de “Fronteiras Móveis”. Revista Continentes, UFRRJ, (3-4), pp. 48-65.
cas ambientais e consideração territorial. O grande desafio da gestão transfronteiriça em parceria com diferentes países é
GEA-Governo Estadual do Acre. (2012). Plano Estadual de Recursos Hídricos de 2012. Disponível em: <http://d3neh-
a peculiaridade da região amazônica, bem como as diferentes formas de gestão institucional de cada país.
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A gestão dos recursos hídricos é demasiadamente importante para a Amazônia, mas possui restrições devido à
questão política envolvida entre os países amazônicos. O desenvolvimento institucional da OTCA prevaleceu inicial- MACHADO, A. (2013). Estado Independente do Acre. Aventuras na História, (119), pp. 38-43. Rio Branco: Editora
mente de maneira lenta, porém buscando uma visão conjunta dos países que compartilham a gestão da bacia. A coope- Abril.
ração internacional é de vital importância na formulação de soluções para problemas comuns.
MARCEL, Y. (2013). Brasil pode perder parte do território do Acre para a Bolívia. G1, 24 mar. 2013. Disponível em:
Em relação ao estudo de caso do rio Acre apresentado nesse trabalho, a complexidade na questão de gerenciamento
<http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2013/03/brasil-pode-perder-parte-do-territorio-do-acre-para-bolivia.html> Acesso
dos recursos reafirma conflitos políticos históricos entre as fronteiras da bacia amazônica. Isto é claramente exemplifica-
em: abril, 2015.
do na região da Basiléia, onde não há um gerenciamento adequado dos problemas ambientais e políticos que envolvem
regiões meandrantes do município, situação que poderia ser agravada não fosse a não reivindicação boliviana sobre o MOSS, T.; NEWIG, J. (2010). Multilevel Water Governance and problems of scale: setting the stage for a broader de-
local. Isto posto, estratégias de médio e longo prazo devem ser avaliadas para solucionar problemas existentes e evitar bate. Environmental Management. V. 46, p. 1-6.
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RESUMO
SANT’ANNA, F. M. (2007). O Papel da Cooperação Amazônica para a Gestão dos Recursos Hídricos Transfronteiriços.
Pesquisas sobre percepção ambiental possibilitam compreender as opiniões, sentimentos, atitudes, preferências e valo-
I Simpósio em Relações Internacionais do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas
res dos sujeitos em relação aos recursos naturais e ao ambiente que os cerca. Neste estudo, buscou-se avaliar por meio
(UNESP, UNICAMP e PUC-SP). da realização de entrevistas semiestruturadas a percepção ambiental de um grupo de produtores rurais do município de
Dionísio (MG), destacando o entendimento que esses indivíduos têm acerca das funções e serviços ecossistêmicos pro-
SANT’ANNA, F. M. (2009). Cooperação Internacional e Gestão Transfronteiriça de Água na Amazônia. Dissertação de vidos pelo bioma Mata Atlântica e pelas ações de recuperação de nascentes desenvolvidas na região. De modo geral, os
Mestrado em Geografia Humana. USP, São Paulo, 197 p. resultados apontam que os produtores rurais reconhecem mais facilmente os serviços ecossistêmicos que influenciam
diretamente suas atividades cotidianas ou as ações que proporcionam benefícios tangíveis. Observou-se ainda que o
SANT’ANNA, F. M.; VILLAR, P. C. (2014). A Governança dos Recursos Hídricos nas Áreas de Fronteira: Integração contato direto com as Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal das propriedades rurais possibilita o reconheci-
mento de uma maior variedade de serviços ecossistêmicos de regulação e de provisão relacionados a essas áreas, o que
e Ordenamento Territorial, VI Congresso Iberoamericano de Estudios Simpósio Territoriales y Ambientales, São Paulo,
enfatiza a necessidade de ações voltadas ao ambiente natural do entorno imediato dos produtores rurais. Os resultados
pp. 1091-1113. deste estudo podem subsidiar a proposta e desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental que, ao mesmo tempo
que valorizem a percepção ambiental dos sujeitos, também fortaleçam as ações de recuperação e conservação ambientais
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ABSTRACT
Researches on environmental perception make it possible to understand opinions, feelings, attitudes, preferences and val-
ues of people in relation to natural resources and environment. This study aimed at evaluating, by conducting semi-struc-
tured interviews, the environmental perception of a group of farmers in the municipality of Dionísio (MG), highlighting
the comprehension that these individuals have on the ecosystem functions and services provided by the Atlantic Forest
biome and by the recovery of springs in the region. The results indicate that farmers recognize more easily ecosystem
services that impact directly on their daily activities or actions which provide tangible benefits. It was also observed
that the direct contact with the Permanent Preservation Areas and Legal Reserves in rural properties enables recognition
of a wider range of regulating and provisioning services related to these areas, which emphasizes the need for actions
concerning the natural environment of the immediate surroundings of farmers. The results of this study may help the de-
velopment of Environmental Education activities that valorize individuals’ environmental perception, but also strengthen
environmental recovery and conservation actions that are not just geared to immediate and tangible benefits that human
beings get from ecosystems.
Os indivíduos apresentam vínculos cognitivos e afetivos com determinados lugares e constroem ideias sobre eles A operacionalização da pesquisa seguiu as recomendações de Whyte (1977) para trabalhos de campo em per-
que refletem, por sua vez, em seus padrões de conduta e nas formas de interação da pessoa com seu ambiente (HIGU- cepção ambiental, tendo como base a combinação de três procedimentos complementares: observando, perguntando e
CHI; CALEGARE, 2013). Nesse sentido, as atitudes e opiniões atribuídas pelas pessoas ao seu ambiente podem revelar ouvindo.
a importância concedida a esse, sendo esse o principal objeto dos estudos sobre percepção ambiental. A investigação da
As visitas de campo consistiram em um estudo exploratório preliminar da comunidade rural. Nessa fase, para
percepção das relações do ser humano com o ambiente contribui para uma utilização apropriada dos recursos naturais,
atender ao procedimento “observando”, foi utilizada a técnica de observação indireta para verificar as formas de utiliza-
possibilitando uma melhor interação dos conhecimentos tradicionalmente construídos com aqueles de caráter científico
ção dos recursos naturais pelos produtores rurais. No âmbito da percepção ambiental, essa técnica utiliza como indicado-
e evidenciando, ainda, a relevância do tema para ações de planejamento ambiental.
res de comportamento os efeitos produzidos pela ação humana no ambiente.
O Parque Estadual do Rio Doce (PERD), situado na porção leste de Minas Gerais, é uma Unidade de Conser-
Posteriormente, para atender às abordagens “perguntando” e “ouvindo”, foram feitas entrevistas semiestruturadas
vação de Proteção Integral que possui uma área de 35.976 hectares, abrigando o maior remanescente contínuo de Mata
com 42 produtores, com o objetivo de se obter informações sobre a percepção ambiental de uma maneira geral e, adicio-
Atlântica do estado. Além de ser considerado o 3° maior sistema de áreas úmidas do país, o parque apresenta uma alta
nalmente, enfocando o entendimento que tais proprietários têm acerca das funções e serviços ecossistêmicos providos
diversidade biológica, com várias espécies ameaçadas de extinção e/ou endêmicas (INSTITUTO ESTADUAL DE FLO-
pela recuperação de nascentes e dos ecossistemas do PERD.
RESTAS, 2002).
Com base nas informações obtidas, os dados quantitativos foram convertidos em análises simples (porcentagens).
No intuito de promover a conservação da biodiversidade local e conectar fragmentos florestais de propriedades
Para a análise qualitativa, as informações foram classificadas em categorias formadas de acordo com as respostas obtidas,
rurais do entorno do parque, o Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pela gerência do PERD, vem desen-
e a partir delas, foram realizadas inferências e interpretações relacionadas aos dados. Ademais, como forma de compreen-
volvendo junto aos produtores rurais do município de Dionísio a recuperação de áreas degradadas. Nesse município,
der melhor a percepção ambiental dos entrevistados, alguns discursos foram incluídos na análise.
que abrange cerca de 3% da área do parque, a recuperação das áreas degradadas faz parte do Projeto de Conservação e
Recuperação da Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, o qual foi iniciado no final de 2013 e conta com a participação de
proprietários rurais, beneficiando mais de 120 nascentes. Sendo popularmente conhecida no município como Projeto de
Recuperação de Nascentes, essa iniciativa tem como objetivo geral a conservação e recuperação dos biomas do estado RESULTADOS E DISCUSSÃO
de forma a garantir a proteção à biodiversidade e às paisagens naturais (MINAS GERAIS, 2011). Dos 42 produtores rurais entrevistados, 21 apresentavam Ensino Fundamental Incompleto, cinco Ensino Funda-
A importância da conservação e recuperação de áreas verdes está diretamente relacionada com a manutenção de mental Completo, 14 Ensino Médio Completo e apenas dois haviam cursado o Ensino Superior. Grande parte dos produ-
funções e serviços ecossistêmicos. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo analisar a percepção ambiental tores (95,2%) cria gado seja para leite e/ou corte, enquanto apenas 4,8% produtores não trabalham diretamente com essa
dos produtores rurais do município de Dionísio, focalizando seus conhecimentos acerca dos serviços ecossistêmicos atividade, utilizando suas terras para arrendamento. Em algumas propriedades, além da criação de gado, existem áreas
providos pelo bioma Mata Atlântica e pelas práticas de recuperação de nascentes. O estudo da subjetividade, através da destinadas à agricultura e à silvicultura do eucalipto. A maioria dos produtores (78%) trabalha com a pecuária há mais de
percepção ambiental, permitirá compreender os comportamentos sociais, a relação dos indivíduos com os recursos am- cinco anos, sendo que desses, 59,3% têm entre cinco e 30 anos de experiência no ramo. A maioria das propriedades tem
bientais, bem como suas expectativas, satisfações, julgamentos e condutas, possibilitando o desenvolvimento de ações até 40 ha (58,5%), 19,5% estão entre 41 e 80 ha e 22% das propriedades rurais apresentam mais de 81 ha.
que visem a reduzir conflitos e aumentar a eficácia das atividades que envolvam um determinado público-alvo (MIRAN- A pergunta “Você já esteve no PERD?” buscou avaliar a relação que os produtores rurais estabelecem com o
DA; SOUZA, 2011; HIGUCHI; CALEGARE, 2013). parque. Ainda que 83,3% dos produtores afirmem já ter estado no PERD, pode-se perceber que, mesmo considerando a
proximidade entre o município e a unidade de conservação (UC), além do fato da entrada no parque ser gratuita para as
comunidades do entorno, a visitação se restringe basicamente a um evento comemorativo anual realizado no parque no
METODOLOGIA mês de julho.
O município de Dionísio está situado na porção leste de Minas Gerais, na mesorregião do Vale do Rio Doce, onde Quando indagados sobre os objetivos de criação do PERD, 66,6% dos produtores alegaram não saber quais eram.
se encontram grandes empresas siderúrgicas e vastas áreas de monocultura de eucalipto. A economia local é baseada na Dentre os 33,4% de produtores que declararam conhecer os objetivos de criação, 85,7% afirmaram ser para “Preservação
agropecuária, destacando-se a criação de gado de corte e leite, além da área de prestação de serviços. Dionísio situa-se Ambiental”, enquanto as categorias “Recuperação de Nascentes e Lagoas” e “Lazer” foram igualmente citadas (7,1%
Mesmo havendo uma parcela significativa de produtores rurais que desconhecem a finalidade pela qual o parque
Tabela 1: Influências do Parque Estadual do Rio Doce sobre a vida dos produtores rurais de Dionísio (MG), meio ambien-
foi criado, todos avaliam positivamente sua criação. Entre os aspectos positivos relacionados à presença do PERD na
te e atividade econômica desenvolvida.
região, foram citados: preservação de flora e fauna, inclusive de espécies ameaçadas de extinção; proteção em prol do
bem-estar humano; existência de lagoas; desenvolvimento do turismo local; ar puro; entre outros. Representações posi- Tipo Número de
citações
tivas do PERD também estão presentes no trabalho de Melo (2001), no qual a maioria dos produtores rurais pesquisados de influência
apresentavam expectativas favoráveis em termos de preservação do meio ambiente, criação de empregos e aumento da Materiais para cercamento de nascentes 9
renda por meio do ICMS Ecológico. Auxílio à comunidade em questões ambientais 7
A pergunta “O que é meio ambiente para você?” buscou compreender as ideias que os indivíduos criam acerca Referencial de ações conservacionistas * 7
desse conceito, assim como o grau de pertencimento em relação ao ambiente que os cerca. Em algumas respostas, per- Projeto de Recuperação de Nascentes 6
cebe-se uma visão ecológica do meio ambiente: “Meio ambiente são as árvores, são água, o ar (...)”; “Nós que somos Ar puro** 5
do campo, meio ambiente é o lugar com árvores, com bicho (...)”. Em outras definições, ficou evidente a relação entre
Proteção de fauna e flora 4
meio ambiente e preservação/conservação: “Preservação das florestas, dos rios, dos lagos (...)”; “Eu acho que o meio
Presença de animais 4
ambiente é para conservação do solo, da natureza”; “É manter nascente recuperado e não destruir”. Outras definições
apresentam ideias mais holísticas: “Meio ambiente é onde nós vivemos, é o recinto que nos moramos, o ar que nós res- Policiamento/Fiscalização local 3
piramos, tudo faz parte do meio ambiente (...)”; “É o ambiente que eu vivo nele, o planeta”. Formação de chuva local** 3
O contato com a natureza propiciado pela vida na zona rural pode influenciar sobremaneira a percepção que os Amenização de temperatura local** 3
indivíduos têm do ambiente, refletindo inclusive no significado dado ao termo, o qual muitas vezes expressa a visão Promoção de reconhecimento regional* 3
ecológica dos sujeitos. As definições que correlacionam meio ambiente-preservação/conservação podem estar funda- Turismo* 2
mentadas na relação que os entrevistados fazem entre o projeto no qual estão envolvidos e o foco deste estudo, assim
Presença de lagoas 1
como na crescente veiculação nos meios midiáticos da nossa responsabilidade com o meio ambiente. Embora apenas
Lazer* 1
as definições mais holísticas aparentassem incluir o homem no meio ambiente, não foi possível detectar claramente que
os entrevistados se consideram parte integrante da natureza e em mesmo grau de valor aos outros seres vivos. Esses re- Combate de incêndios 1
sultados podem reforçar a ideia do homem como mero expectador dos processos que ocorrem na natureza, tais como os *Serviços ecossistêmicos culturais.
serviços ecossistêmicos.
**Serviços ecossistêmicos de regulação.
Quando questionados se havia influência do PERD e do Projeto de Recuperação de Nascentes sobre suas vidas,
meio ambiente e atividade econômica que desenvolvem, 88,1% responderam positivamente com relação ao PERD e
97,6% em relação ao projeto. Tomando como base a categorização presente no relatório da Avaliação Ecossistêmica do
Milênio, algumas das influências citadas pelos entrevistados podem ser classificadas como funções e serviços ambientais
providos pelos ecossistemas do PERD e pela recuperação de nascentes (Tabelas 1 e 2). Segundo esse relatório, os servi-
ços ecossistêmicos são: serviços de provisão ou de abastecimento; serviços de regulação; serviços culturais; e serviços de
suporte. Dentre essas quatro classes, 45,4% das influências mencionadas podem ser definidas como serviços culturais ou
de regulação. Os serviços de regulação se relacionam às características regulatórias dos processos ambientais como con-
Aumento de matéria orgânica no solo** 1 Mesmo que prepondere a visão das consequências negativas sob a conservação da água, quando indagados sobre
Melhoria das condições de trabalho* 1
a(s) possível(eis) implicação(ões) de uma eventual retirada parcial ou total das APPs e RL das propriedades, os produto-
res enumeraram outros aspectos relacionados à alteração dos serviços ambientais oferecidos por essas áreas: erosão, fim/
*Serviços ecossistêmicos culturais.
prejuízo da atividade rural, diminuição/prejuízos para a vida silvestre, aumento da temperatura local, queda na qualidade
**Serviços ecossistêmicos de regulação. do ar, diminuição dos recursos naturais, aumento das enchentes e desertificação. Comparando essas respostas com aque-
las referentes às influências do PERD, observa-se que o contato direto com as APPs e RL das propriedades possibilita o
reconhecimento de uma maior variedade de serviços ecossistêmicos de regulação e de provisão.
Além da maioria das influências listadas serem ações, benefícios tangíveis ou desdobramentos das iniciativas
promovidas por pessoas envolvidas com as atividades do parque ou do Projeto de Recuperação de Nascentes, consta- Como forma de correlacionar as observações de campo com as respostas dadas pelos produtores, foi feita a se-
ta-se que elas foram muito mais citadas que os serviços ecossistêmicos culturais ou de regulação. Não foram relatadas guinte pergunta: “Existe algum tipo de problema ambiental na sua propriedade?”. Dos 42 entrevistados, 54,8% respon-
influências que se enquadrariam como serviços de suporte (ex.: ciclagem de nutrientes, produção primária, formação de deram “Sim”, sendo os problemas mais mencionados: erosão, secagem das nascentes e áreas desmatadas. Esses relatos
solo) ou de provisão (ex.: alimentos, água, lenha). Uma justificativa para que serviços de provisão não fossem mencio- corroboram os principais problemas observados em campo. Entretanto, seja por uma fragilidade de percepção ambiental
nados se baseia no fato da UC ser de proteção integral, permitindo apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. No ou por receio de expor os problemas ambientais das propriedades, notou-se em alguns momentos, que as respostas negati-
entanto, tampouco foram considerados os produtos obtidos da natureza que podem advir da conservação e recuperação vas (45,2%) não correspondiam à realidade. Essa situação aponta a existência de certa incoerência entre o engajamento de
das áreas de nascentes. De acordo com Tuan (2012), ao se adaptarem ao ambiente onde vivem, é difícil conhecer as parte dos produtores rurais em práticas conservacionistas e suas ações cotidianas que repercutem sobre o meio ambiente,
atitudes ambientais das pessoas, uma vez que perdem a ânsia de fazer comparações e comentários sobre o local. Desse prejudicando, portanto, a manutenção das funções e serviços ecossistêmicos.
modo, podem-se tornar escassas as oportunidades em que os valores ambientais são expressos, estando eles implícitos
nas atividades econômicas, comportamento e estilo de vida dos sujeitos (TUAN, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esses resultados se assemelham àqueles obtidos no trabalho realizado pelo Projeto Doces Matas denominado
“O trabalho com comunidades rurais no entorno de unidades de conservação”, no qual foi demonstrado que embora O entendimento dos produtores rurais participantes deste estudo sobre as influências do PERD e do Projeto de
os agricultores tenham-se identificado com as causas ambientais em geral, eles não souberam precisar a importância da Recuperação de Nascentes não abarca a diversidade de serviços oferecidos pelos ecossistemas. A dificuldade de se perce-
conservação das UCs, se restringindo ao papel dessas áreas na preservação dos cursos d’água e da vegetação como filtro ber os ecosserviços intangíveis e reguladores de vários processos ecológicos pode estar relacionada tanto com a baixa es-
da poluição do ar (FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS, 2001). colaridade dos sujeitos, quanto à ausência de programas de Educação Ambiental destinados a esse público e que abordem
temas relacionados aos serviços ambientais, buscando extrapolar uma visão reducionista, utilitarista e antropocêntrica
Espera-se que os resultados desta pesquisa forneçam subsídios para o planejamento, pelos órgãos competentes,
Wanderlei do Amaral1 Cícero Deschamps1; Humberto R. Bizzo2; Marco Antonio S. Pinto3; Luiz Everson da Silva4;
de atividades de Educação Ambiental partindo da realidade dos sujeitos da pesquisa em percepção ambiental e que forta-
Luiz A. Biasi1.
leçam as ações de recuperação e conservação ambientais, as quais devem enfatizar não somente os benefícios imediatos
e tangíveis que o homem obtém dos ecossistemas, mas também sua importância para outros seres vivos. Para tanto, os RESUMO
saberes das comunidades rurais aliados ao conhecimento científico podem indicar caminhos mais adequados e eficazes
Os óleos essenciais possui ampla utilização na indústria de alimento, perfumaria, alimentícia e farmacêutica. Nas plantas
para o uso sustentável dos recursos naturais, uma melhor gestão ambiental e um modo de ocupação mais racional do estão relacionados com funções ecológicas de defesa e atração de polinizadores entre outras, sofrem variação quanti-
espaço, com vistas à manutenção da diversidade biológica e dos serviços ambientais. tativa e qualitativa em resposta ao ambiente. Este trabalho visou avaliar o teor e composição química do óleo essencial
de Baccharis milleflora nos Campos Gerais da Floresta Atlântica do Estado do Paraná. A obtenção do óleo essencial foi
por hidrodestilação e os compostos voláteis foram caracterizados por GC/MS. B. milleflora apresenta na composição
química de seu óleo essencial predominantemente sesquiterpenos e tem como componente majoritário o viridiflorol.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A secagem afeta o teor e a composição química do óleo essencial da espécie. Sendo necessários futuros trabalhos para
caracterização anatômica das estruturas celulares lisígenas da espécie, bem como estudos mais aprofundados e desen-
FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS. O trabalho com comunidades rurais no entorno de unidades de conservação. Projeto volvimento de um protocolo de secagem da espécie.
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MEA - MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT. 2005. Ecosystem and Human Well-Being: Synthesis. Washing- Essential oils have wide use in the food, perfumery, food and pharmaceutical industry since their constituents are related
to ecological functions of defense and attraction of pollinators as well as they suffer quantitative and qualitative change
ton DC. 155 p.
in response to the environment variation. In this work, essential oil of leaf from Baccharis milleflora growing in Campos
Gerais region in Paraná State - Southern Brazil were obtained by hydrodistillation and the volatile compounds were
MELO, Deyse L. de M. O Parque Estadual do Rio Doce/MG e a qualidade de vida da população de seu entorno. 2001.
characterized by GC- MS. B. milleflora presents the chemical composition of its essential oil predominantly sesquiter-
128f. Dissertação (Mestrado em Economia Doméstica). Universidade Federal de Viçosa, Programa de Pós-Graduação penes and its major component is the viridiflorol. On the other hand, drying process affect the content and the chemical
em Economia Doméstica, Viçosa. composition of the essential oil. It is required further work to characterize the anatomical lysigenous cellular structures
of the species, as well as further study and development of a drying protocol of the species.
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WHYTE, Anne V. T. Guidelines for field studies in environmental perception. France: Union Typografique, 1977. 2 Embrapa Agroindústria de Alimentos, CEP: 23020-470 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4 Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral – CEP: 83260-000, Matinhos – Paraná – Brasil
A produção de óleos essenciais no Brasil não atende a demanda, além disto, o mercado nacional e internacional A coleta e transporte do material vegetal na reserva foram realizados mediante licença pelo Instituto Ambiental do
vem demonstrando interesse por novas essências (BIZZO et al., 2009; SOUZA et al., 2010). Segundo Bandoni et al., Paraná nº 284/11.
(2008) estima-se que aproximadamente 65% do mercado de essências provêm de espécies cultivadas e 1% de espécies As amostras, formadas por um 1 Kg de ramos terminais com cladódios, foram compostas de no mínimo 50 exempla-
silvestres. Yunes et al., (2012), defende a ideia de se intensificar os estudos da flora Brasileira, de forma interdisciplinar, res da espécie, sendo efetuado o georeferenciamento no ponto médio da coleta e para identificação foram feitas exsicatas
visando à identificação de espécies promissoras para a produção de óleos voláteis, utilização como insumos na obtenção e registro fotográfico. As exsicatas foram transportadas até o Herbário das Faculdades Integradas Espírita (HFIE), onde
de ativos a serem incluídos em novos medicamentos à disposição do sistema de saúde nacional. foram herborizadas (LAWRENCE, 1951; IBGE, 1992) sendo tombadas no acervo do Herbário HFIE (Tabela 1). As dupli-
Detentor da maior biodiversidade do mundo com mais 40.000 espécies vegetais descritas (FERRO et al., 2006; catas foram enviadas ao Herbário do Museu Botânico Municipal (MBM) e Herbário da Universidade Federal do Paraná,
BRANDÃO et al., 2006; FORZZA et al., 2012). Segundo Forzza et al. (2012) o Brasil está em primeiro lugar entre os Ciências Biológicas (UPCB).
países megadiversos, com 56% das espécies de plantas endêmicas, sendo o Bioma Floresta Atlântica o que apresenta Tabela 1. Dados gerais de Baccharis milleflora coletado para extração de óleo essencial, Palmeira, PR, 2011.
maior número de espécies vegetais entre os biomas brasileiros, com mais de 19.000 espécies, destas mais de 7.600 es- Parte utilizada
Nome Científico *N°. Herbário **Localização Data de coleta
pécies endêmica. Os Campos Gerais são considerados “hot spots” de biodiversidade, (BILENCA e MIÑARRO, 2004, para extração
RIBEIRO et al., 2011), possuem uma estrutura, função e dinâmica muito particular e que representam ecossistemas Latitude Longitude
B. milleflora ramos terminais 8.920 27/11/11
altamente interativos (IBGE, 1992), com sua existência condicionada por fatores abióticos, pela ação antrópica e por (Leess.) A.P. De com cladódios
S 25º 19.980’ W 049º 48.285’
perturbações ditas naturais, como geadas, estiagem e especialmente o fogo (PILLAR, 2006). Neste sentido, fatores
pós-colheita, como a secagem e variações nos fatores ambientais influenciam no metabolismo secundário das espécies
* Número do exemplar referente à exsicata identificada, conforme se encontra no Herbário HFIE das FIES em Curitiba, PR.
vegetais afetando a produção e composição dos óleos essenciais (SANGWAN et al., 2001, GOBBO-NETTO e LOPES,
** Coordenadas do ponto médio de coleta da espécie, esta apresenta erro médio de 15 m de distancia ao entorno do ponto.
2007; BEZERRA et al., 2008; MORAIS, 2009; PRINS et al., 2010).
O óleo foi extraído por hidrodestilação durante 4 horas e 30’ em aparelho graduado “Clevenger” utilizando-se
100g de material fresco e 50g seco em 1L de água destilada, com três repetições (WASICKY, 1963). Os ramos terminais
3 RESULTADOS E DISCUÇÃO
com cladódios e inflorescências foram separados para a extração com material seco e foram submetidos à secagem em
secador elétrico modelo FANEM - Mod. 320 SE com circulação de ar, a 40º C por 24 horas. 3.1 Rendimentos dos óleos essenciais
Para determinação do teor de umidade dos cladódios, ramos terminais com folhas e ou inflorescências no mo- As amostras de folhas de Baccharis milleflora apresentaram rendimento de óleo essencial de 0,16 % e 0,44 %
mento da extração foram coletadas amostras de 20g, em triplicatas, submetidas à secagem em secador elétrico modelo frescas e secas respectivamente (Tabela 2). A secagem afetou positivamente o rendimento do óleo essencial aumentando
FANEM - Mod. 320 SE com circulação de ar, a 65ºC até massa constante. em 275 % após a secagem, fato que pode estar relacionado às estruturas internas de armazenamento de óleo essencial no
tecido dos cladódios, conforme observado em outras espécies aromáticas. Futuros trabalhos para caracterização anatômi-
Após a extração, as amostras foram coletadas com micropipeta de precisão, acondicionadas em microtubos de 2ml
ca da estrutura de armazenamento do óleo essencial nesta espécie poderão elucidar esta questão.
e centrifugadas a 5.000 rpm por 2 minutos. Também determinou-se a massa total do óleo para o cálculo do rendimento
em balança analítica de precisão
Tabela 2 – Teores de óleos essenciais (%) das amostras frescas e secas de Baccharis milleflora nos Campos Gerais da Floresta
Atlântica do Estado do Paraná.
2.3 Identificações da composição química do óleo essencial Espécie Teor médio de Teor médio de
óleo óleo
A identificação dos constituintes químicos do óleo essencial foi realizada por cromatografia em fase gasosa acoplada
(amostras fres- (amostras se-
a espectrometria de massas (CG/EM). Os óleos essenciais foram diluídos em diclorometano na proporção de 1 % e 1,0 cas) cas)
µL da solução foi injetada, com divisão de fluxo de 1:20 em um cromatógrafo Agilent 6890 (Palo Alto, CA) acoplado a
detector seletivo de massas Agilent 5973N. O injetor foi mantido a 250 °C. A separação dos constituintes foi obtida em B. milleflora (Leess.) A.P. De 0,16 b 0,44 a
coluna capilar HP-5MS (5%-fenil-95%-dimetilpolissiloxano, 30 m x 0,25 mm x 0,25 μm) e utilizando hélio como gás
carreador (1,0 mL min-1). A temperatura do forno foi programada de 60 a 240 °C a uma taxa de 3 °C min-1. O detector CV % 27,03
de massas foi operado no modo ionização eletrônica (70 eV), a uma taxa de 3,15 varreduras min e faixa de massas de
-1
*As médias seguidas pela mesma letra minúsculas na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de
40 a 450 u. A linha de transferência foi mantida a 260 ºC, a fonte de íons a 230 ºC e o analisador (quadrupolo) a 150 ºC. probabilidade.
Para a quantificação, as amostras diluídas foram injetadas em cromatógrafo Agilent 7890A equipado com detector
de ionização por chama (DIC), operado a 280 ºC. Foram empregadas as mesmas coluna e condições analíticas descritas Para a espécie B. milleflora no Rio Grande do Sul, Agostini et al. (2005) forma encontrados teores médios de óleo
acima, exceto pelo gás carreador usado, que foi o hidrogênio, a uma vazão de 1,5 mL min-1. A composição percentual essencial de 0,1% em amostras secas, porém menores que o encontrado neste trabalho nos Campos Gerais Paranaense.
foi obtida pela integração eletrônica do sinal do DIC pela divisão da área de cada componente pela área total (área %). Futuros trabalhos poderão caracterizar melhor o processo de secagem, com desenvolvimento de um protocolo de seca-
A identificação dos constituintes químicos foi obtida por comparação de seus espectros de massas com aqueles das gem para a espécie.
bibliotecas (WILEY, 1994; NIST, 2013) e também dos seus índices de retenção linear, calculados a partir da injeção de
uma série homóloga de hidrocarbonetos (C7-C26) e comparados com dados da literatura (ADAMS, 2007).
3.2 Composição química dos óleos essenciais
Foi identificado um total de 20 e 25 compostos químicos na composição do óleo essencial das amostras frescas
2.4 Análises dos dados e secas da espécie, em um total de 49,7 e 63,2 % de compostos identificados, respectivamente (Tabela 3). Avaliando
As variâncias foram testadas quanto à homogeneidade pelo teste de Bartlett e as médias foram comparadas pelo diferentes amostras de B. milleflora no Rio Grande do Sul, Agostini e colaboradores (2005) conseguiram em média
teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade. Para isso utilizou-se o programa estatístico ASSISTAT versão 7.6 identificar 51,8 % dos compostos do óleo essencial da espécie. Por outro lado, Lago e colaboradores (2008), avaliando
Tabela 3. Porcentual relativo dos componentes químicos do óleo essencial das amostras frescas e secas de Baccharis milleflora nos genados (%)
Campos Gerais da Floresta Atlântica do Estado do Paraná, 2012. Outros 2,7 7,4
Total de compostos 49,7 63,2
Compostos IRa IRb Amostra Fresca Amostra identificados (%)
Seca a
IR = Índice de retenção calculado; b IR= Índice de retenção da literatura
ADAMS, R.P. Identification of essential oil components by gas chromatography/mass spectroscopy. Allured Pub- FORZZA, R. C.; BAUMGRATZ, J. F. A.; BICUDO, C. E. M.; CANHOS, D. A. L.; JUNIOR CARVALHO, A. A.; COE-
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18
Tabela 2. Componentes químicos do óleo essencial de folhas de V. curassavica, submetidas a diferentes métodos de
14
12
secagem. 10
Método de secagem 8
2
45ºC
Folhas
0
45
Componentes IR1 IR2 7 dias 14 dias 21 dias 28 dias 48 h 40
frescas 35
α-Pineno 932 932 40,87 a 33,84 c 32,49 c 36,84 b 40,01 a 20,72 d 30
α-Fencheno 947 945 0,32 b 0,28 c 0,40 a 0,43 a 0,30 b 0,17 d
α-Pineno (%)
Canfeno 949 946 0,17 b 0,19 a 0,15 b 0,19 a 0,20 a 0,09 c 25
Trans-cariofileno (%)
β-Cubebeno 1385 1387 0,16 c 0,36 a 0,15 c 0,19 c 0,25 b 0,33 a 12
Allo aromadendreno 1458 1458 21,99 a 25,37 a 26,39 a 23,69 a 22,78 a 27,91 a 4
Gama muuroleno 1479 1478 2,69 a 3,05 a 2,98 a 2,76 a 2,65 a 3,51 a
Biciclogermacreno 1493 1500 3,37 a 3,61 a 2,91 a 3,20 a 3,18 a 4,27 a 2
α-Humuleno (%)
3
A maior porcentagem de trans-cariofileno (18,51%) foi encontrada no óleo extraído das folhas secas em estufa a
45ºC durante 48 h, nos demais tratamentos as porcentagens variaram de 11,61% a 14,21% (Tabela 2, Figura 1). Estudos
anteriores comprovam que o Trans-cariofileno, um sesquiterpeno presente no óleo essencial de V. curassavica, apresenta
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A escassez de água potável é um dos problemas global, sendo um dos mais preocupantes deste século. A água
potável é um recurso finito e cada vez mais escasso. O Brasil apesar de possuir a maior reserva de água doce do mundo
Jhonatas Antonelli1; Gabriela Reichert2; Steffany Katherine Baudisch3; Juliana Leithold; Leandro José Lemes Stival4; também possui problemas com a disponibilidade deste recurso. O aumento do uso de água para irrigação nos últimos anos
RESUMO vem causando grande preocupação para as autoridades, pois os estados que mais utilizam água para este fim possuem
grande densidade demográfica.
A água é um recurso finito e deve ser utilizada de maneira consciente, sempre priorizando o consumo humano, a fim de
evitar conflitos. No Brasil grande parte do consumo de água é destinado na agricultura com a finalidade de irrigação, A água utilizada para a irrigação na agricultura é o volume desse recurso que não é suprido naturalmente por meio
resultando nos principais problemas e conflitos provenientes da falta e do uso inadequado deste recurso. A produção agrí- de chuva, sendo necessário à aplicação artificial, de forma a aperfeiçoar o desenvolvimento biológico das cultivares
cola no Brasil é um dos setores que mais cresce sendo o processo de irrigação um dos responsáveis por este crescimento.
(FERNANDEZ & GARRIDO, 2002).
No Brasil nos últimos anos ocorreu expansão média de 4,6% na área irrigada, atingindo mais de 5 milhões de hectares,
no qual o consumo de água chegou a 1841m3.s-1. Algumas técnicas como a modernização dos equipamentos podem ser De acordo com BERNARDI (2003), Por meio da irrigação, pode-se intensificar a produção agrícola, regularizando
utilizadas a fim de minimizar o desperdício de água neste setor. Outras técnicas como a utilização de águas residuais,
ao longo do ano as disponibilidades e os estoques de cultivares, uma vez que esta prática permite uma produção na contra
poderia resultar na diminuição de mais de 17% do uso da água potável na irrigação. A diminuição do desperdício de água
pela irrigação poderia amenizar grande parte dos problemas resultantes de conflitos por recursos hídricos. A aplicação de estação. Além disso a agricultura irrigada reduz as incertezas, prevenindo o agente econômico contra a irregularidade das
técnicas para diminuição do desperdício de água na irrigação exige grandes investimentos tanto no setor público quanto chuvas.
no privado, sendo este o maior entrave na viabilização destas praticas.
Este trabalho tem por objetivo apresentar o panorama nacional do uso da água para irrigação e seus possíveis con-
Palavras Chave: Irrigação; Conflitos por água; Desperdício de água.
flitos, apresentando e discutindo os aspectos mais relevantes sobre a adoção desta prática.
ABSTRACT O Brasil é um país em desenvolvimento com uma população aproximada de 202 milhões de habitantes dos quais
85% estão concentrados nas áreas urbanas, com densidade demográfica de 23hab/km2 (IBGE de 2010). O produto interno
Water is a finite resource and should be used consciously, always giving priority to human consumption in order to avoid
conflicts. This paper presents and discusses the main aspects related to use of water for irrigation, the main problem and bruto (PIB) do Brasil mais que triplicou do ano 2000 até ao ano 2012, resultando em uma taxa de crescimento médio de
conflicts arising from failure and inappropriate use of water resource. Initially were shown data on the evolution of agri- 10,5% ao ano (FMI, 2013). A agropecuária é um dos setores que mais contribuiu para o crescimento da economia, sendo
cultural production in Brazil and the importance of irrigation for this sector. In the last five years it occurred an average responsável por mais de 22% do PIB do Brasil, alcançando o valor corrente de R$ 284,6 bilhões (IBGE de 2015).
expansion of 4.6% in the irrigated area, reaching more than 5 million irrigated hectares, where the water consumption
reached 1841 m3/s. Techniques have been presented that can be applied in order to reduce the waste of water for irriga- De acordo com o IBGE (2006), o Brasil possui uma extensão territorial de mais de 851 milhões de hectares, destes
tion. Another way to save water resources would be the reuse of waste water, this practice could result in a decrease of apenas 68 milhões são cultivados, menos de 8% de todo o território. Nos últimos anos a área cultivada aumentou em mé-
more than 17% of water use in irrigation. The decrease water wastage by irrigation could alleviate most of the problems
dia 4% ao ano, aliado a este crescimento ocorre um aumento na área irrigada.
arising from conflicts over water resources. The application of techniques to decrease the waste of water in irrigation,
requires large investments in both the public and the private sector, which is the biggest obstacle to the viability of these ANA (2015) relata que ouve crescimento em mais de 32% da área agrícola irrigada do ano de 2006 até 2013 resul-
practices.
tando em média de expansão de 4,6% ao ano. Em 2009 a área irrigada no Brasil era de 4,6 milhões de hectares podendo
Keywords: Irrigation; Conflicts for water; Waste water. ter ultrapassando os 5,0 milhões de hectares em 2014. A forma mais comum de irrigação é por pivô central, sendo os
estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul, os que mais utilizam desta técnica para irrigação.
De acordo com a Tabela 1 o Brasil possui aproximadamente 12% da produção hídrica mundial, sendo a maior reser-
1 Doutorando em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental - Universidade Federal do Paraná; jonatas-a@hotmail.com var de água doce do mundo. ANA (2015) relata que de toda água consumida no Brasil aproximadamente 72% é destinada
para irrigação, sendo que em 2006 foi estimado que foram retidos mais de 1841m3/s de água, destes mais de 47% foi
2 Mestrando em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental - Universidade Federal do Paraná; gabrielareichertamb@gmail.com
utilizado para a irrigação.
3 Mestrando em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental - Universidade Federal do Paraná; steffany.bau@gmail.com
O manejo adequado da irrigação pode diminuir o consumo de água e energia acarretando na melhora dos ganhos
econômicos do produtor. De acordo com Valiati (2006), baseada na evapotranspiração da cultura (ETc) de feijão, com
IMPORTÂNCIA DA IRRIGAÇÃO manejo adequado da lâmina de água na irrigada por pivô seria possível economizar aproximadamente 58,6% na utiliza-
A irrigação e a drenagem dos campos são atividades utilizadas com a finalidade de compensar os efeitos negativos ção da água.
da má distribuição, espacial e temporal, das águas de precipitação (BERNARDI, 2003). Embora a agricultura irrigada
seja geralmente associada a um elevado nível tecnológico, é consenso que a irrigação no Brasil é ainda praticada de forma
CONFLITO POR ÁGUA
inadequada, resultando em grande desperdício (MAROUELLI, 2008).
Conflitos por água são cada vez mais frequentes se tornando comum no Brasil, podendo ser em diversas escalas e
A utilização da irrigação na agricultura é uma atividade que vem ganhando grande espaço no Brasil nos últimos
sobre os mais diversos propósitos, porém, estes conflitos quase sempre representam uma forma de dominação e disputa
anos, se tornando uma atividade econômica de grande importância, já que cobre mais de 7% da área cultivada (BER-
do desenvolvimento do território (CUNHA et al., 2012).
NARDI, 2003).
O Nordeste brasileiro é a região com mais disputas por recursos hídricos no Brasil, esta condição é devido princi-
A irrigação se tornou uma alternativa para contornar o déficit hídrico, evitando assim prejuízos ao desenvolvimento
palmente ao regime de chuvas na região, que vai de janeiro a julho e à topografia do local. Os confrontos em alguns casos
das plantas. De acordo com CARMO et al, (2003) a água é um dos fatores essenciais para a expansão celular das plantas,
podem resultar em morte e exploração da miséria. Em algumas regiões mais arridas ocorre à formação de rios intermi-
sua limitação implica menor crescimento de células e tecidos, menor incremento em altura da planta, número de folhas,
tentes, não garantindo o abastecimento de água em épocas de seca, no qual o abastecimento é oriundo principalmente de
área foliar e por consequência menor produção.
reservatório e de poucos poços (PINHEIRO et al., 2004).
De acordo com ANA (2006) estimasse que a área agrícola irrigada no Brasil poderia chegar a aproximadamente 5
Conflitos pelo uso da água estão acontecendo em varias regiões do Brasil, porém o semiárido do nordeste é a região
milhões de hectares no ano de 2014, representando mais de 7,3% de todo área cultivada. Sendo assim a irrigação repre-
mais atingida. Na Paraíba o principal motivo por conflitos por água é entre o abastecimento publico e a irrigação, neste
senta um fator de grande importância para o desenvolvimento econômico social e cultural no Brasil.
estado em época de escassez hídrica o uso da água para irrigação em determinados mananciais se torna proibida, porém
ainda ocorrem ligações clandestinas que prejudicam a disponibilidade de água para uso humano (CUNHA et al., 2012).
USO INSUSTENTÁVEL DA IRRIGAÇÃO A região sudoeste é a região econômica mais importante para o Brasil, sendo São Paulo e Rio de Janeiro os estados
O uso inadequado da irrigação acarreta em elevação dos custos de produção, consumo de água e de energia. Devido com maior renda per capta e densidade demográfica do Brasil (IBGE, 2010). Estes dois estados estão atualmente envol-
ao aumento dos custos aliado à queda de produtividade e qualidade dos produtos agrícolas, pode haver redução do retorno vidos no conflito por água para abastecimento de maior magnitude do Brasil. O estado de São Paulo é um dos estados
econômico do produtor, (LUENENBERG et al., 2009). que mais utiliza água para irrigação, sendo este fato apontado como um dos causadores da crise de água no ano de 2014
(ANA, 2015).
Para que o desperdício de água pela irrigação seja minimizado é necessário que se aplique critérios técnicos ade-
quados, sendo que estes devem ocorrer tanto na fase de dimensionamento quanto durante a operação dos sistemas de Na região do Sul do Brasil a agricultura irrigada é uma das principais causadoras de conflitos sobre o uso da água.
irrigação. A escassez de informações completas sobre parâmetros de manejo de irrigação e falta de sistematização das Sendo a pratica da orizicultura irrigada a fontes de discussão sobre o suo de recursos hídricos na agricultura (ANA, 2009).
informações existentes, pode causar controle inadequado da irrigação, resultando em desperdícios de água (MAROUEL- Como respostas ao surgimento de vários conflitos pelo seu uso da água, foram criadas normas para o gerenciamento
LI et al., 2011). dos recursos hídricos, estas normas trazem muitos avanços para este setor, como o reconhecimento da água como bem
A falta de qualidade da irrigação causa grandes desperdícios de água o que resulta no aumento dos custos de produ- natural dotado de valor econômico e criação dos conceitos de usuário pagador e poluidor pagador (Lei n° 9.433, 1997).
Em geral a irrigação é uma técnica que deve ser adotada quando existe uma deficiência na disponibilidade natural
de água para a planta, quando a falta de água causa decréscimo acentuado nas atividades fisiológicas e consequentemente CONCLUSÃO
afeta o seu desenvolvimento e a sua produtividade (MAROUELLI et al., 2011).
escente demanda por alimente aliado ao aumento da população e ao consumo de água está exercendo grande pres-
Para que se possa obter melhor a eficiência no uso de água na agricultura irrigada, é necessário que se invista em
são sobre os recursos hídricos, resultando no surgimento de conflitos envolvendo a distribuição e uso da água.
melhorias técnicas, com a adoção de sistemas de irrigação mais avançados, como a aspersão e principalmente o goteja-
mento e a microaspersão, aliado ao uso conjunto de águas superficiais e subterrâneas, além do uso de estratégias para o Conflitos envolvendo a distribuição de água é uma realidade no Brasil, porém esta se agravando, devido ao au-
monitoramento da demanda de água pelas plantas (ROSEGRANT et al,. 2002). mento da população e aumento do consumo de água no setor agrícola.
O Reuso da água é uma pratica utilizada como uma resposta à escassez crescente dos recursos hídricos, sob o ponto A pratica agrícola é muito importante para a economia brasileira, este setor vem crescendo muito nos últimos ano,
de vista estritamente econômico. Porém cabe ressaltar que esta pratica é muito importante no âmbito ambiental, resultan- sua área expande em média 4% ao ano e junto com ela a área irrigada que cresce mais de 4,3% ao ano, exigindo maior
do no desenvolvimento mais sustentável. Esse mecanismo pode ser considerado a melhor resposta que a sociedade pode demanda por água, sendo a pratica humana com maior impacto sobre este recurso, chegando a consumir 72% de toda
oferecer para a questão da escassez da água (BERNARDI, 2003). água disponível no Brasil.
A utilização da água residual oriunda da criação de animais, também conhecida como fertirrigação pode trazer A utilização de praticas mais adequadas, investimento em tecnologia e em pesquisa, são procedimentos que pode-
vários benefícios ao setor agrícola, sendo está uma prática de reuso de água no meio agrícola, que além de suprir a neces- riam sozinho diminuir drasticamente o uso de água na irrigação.
sidade hídrica, disponibiliza nutrientes no solo, amplia a produção agrícola, auxilia a recarga do lençol freático e serve O reaproveitamento de águas residual proveniente da criação de animais e de efluente domésticos é uma alterna-
como destinação adequada da água residual da criação de animais (BREGA FILHO e MANCUSO, 2002). tiva viável ao uso de água potável, podendo amenizar conflitos por recursos hídricos.
Outra pratica que esta sendo levado em consideração é a utilização do esgoto sanitário. Este é um recurso viável
para utilização na irrigação, no qual de acordo com a tabela 2, possui potencial para irrigar uma área de aproximadamente
849 mil hectares, representando 17% da área irrigada atualmente no Brasil, podendo resultar na economia de mais de 10 REFERÊNCIAS
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A principal fonte dos benefícios naturais à sociedade é o capital natural, entendido como o estoque de recursos
naturais que pode contribuir para o bem-estar humano (Costanza et al., 1997; De Groot et al., 2002; MEA, 2005).
Junior Ruiz Garcia2; Silvana de Andrade3; Dailey Fischer4 Cabe destacar que a sociedade não conhece todos os componentes do capital natural, nem a inter-relação entre seus
componentes e destes com o subsistema socioeconômico. Desse modo, a contribuição plena do capital natural para o
bem-estar humano não pode ser definida e nem medida, o que por si só já justificaria que a sociedade preservasse o capital
RESUMO natural (Garcia, 2012).
Os serviços ecossistêmicos (SE’s) contribuem para o bem-estar humano. Mas eles têm sido ignorados na tomada de de- Neste contexto, a valoração dos recursos naturais pode auxiliar no reconhecimento da importância, pela socieda-
cisão econômica, porque a maioria é bem público. A valoração dos recursos naturais tenta suprir essa lacuna, revelando de, do capital natural e dos serviços ecossistêmicos (SE’s), da sua incorporação na tomada de decisão e na formulação
sua importância para o bem-estar. Assim, o objetivo deste trabalho é realizar um estudo de valoração em Pontal do Para-
de políticas públicas. Em função do dilema que a sociedade vivencia entre aumentar a produção e a renda econômica e
ná, onde há a previsão de instalação de vários empreendimentos que podem afetar o provimento de SE’s. Os resultados
revelam que parcela dos SE’s está contribuindo com um fluxo anual equivalente a R$ 20,94 milhões. preservar o capital natural, este estudo tem por objetivo identificar e valorar alguns SE’s providos na região de Pontal do
Paraná.
1 Este trabalho é resultado da preparação do estudo de avaliação dos serviços ecossistêmicos, em Pontal do Paraná, desenvolvido pelo
Observatório de Conservação Costeira do Paraná – OC2: http://www.observatoriocosteiro.org/.
2 Professor do Departamento de Economia, Universidade Federal do Paraná. Membro do Observatório de Conservação Costeira do Pa- Fonte: preparado pelo autor com base em IBGE (2015).
raná – OC2. jrgarcia1989@gmail.com
5 As informações desta seção foram retiradas do Portal do Município de Pontal do Paraná (2015), Ipardes (2015) (Instituto Paranaense
3 Membro do Observatório de Conservação Costeira do Paraná – OC2. observatorio.costeiro@gmail.com de Desenvolvimento Econômico e Social), da base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Sidra – Sistema IBGE de Recupe-
ração Automática) (2015), do Atlas Brasil (Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil) e do IpeaData (Base de dados do Instituto de Pesquisa
4 Membro do Observatório de Conservação Costeira do Paraná – OC2. observatorio.costeiro@gmail.com Econômica Aplicada).
A valoração compreende a realização de uma Avaliação Ecossistêmica, a qual permite a identificação e mensura-
ção biofísica – quando possível – dos SE’s (Garcia, 2012). Por sua vez, essas informações podem auxiliar na tradução
Tabela 1 – Indicadores Socioeconômicos de Pontal do Paraná e do estado do Paraná: 2000-2010
da importância de tais serviços para o bem-estar humano na métrica monetária – quando possível. Isso é factível porque
Paraná Pontal do Paraná estes serviços têm valor positivo para a sociedade, mas nem sempre monetário, por exemplo, valores sociais, ecológicos
Variáveis
2000 2010 2000 2010 e históricos, além do econômico6.
IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano 0,65 0,75 0,62 0,74
IDHM Renda 0,70 0,76 0,68 0,74
IDHM Longevidade 0,75 0,83 0,79 0,83
3 Resultados
IDHM Educação 0,52 0,67 0,45 0,66
Taxa de analfabetismo - 15 anos ou mais 9,53 6,28 7,10 4,83 3.1 Bens e Serviços Ecossistêmicos em Pontal do Paraná
Taxa de analfabetismo - 18 anos ou mais 10,25 6,69 7,62 5,12
Taxa de analfabetismo - 25 anos ou mais 12,28 7,86 8,61 5,74 Em Pontal do Paraná é possível encontrar os quatro grupos de SE’s indicados pela MEA (2005). O conjunto de
Expectativa de anos de estudo 10,11 10,43 9,82 10,64 quadros a seguir apresenta uma síntese dos SE’s que podem ser identificados no município, e seus possíveis indicadores
% de extremamente pobres 6,08 1,96 4,53 1,46 ou parâmetros que podem auxiliar na avaliação biofísica, sociocultural e econômica.
% de pobres 18,90 6,46 17,41 5,98
% de vulneráveis à pobreza 41,24 19,70 40,56 22,49
Índice de Gini 0,60 0,53 0,54 0,51 Quadro 1 – Serviços de Suporte em Pontal do Paraná e Indicadores/Parâmetros para sua Mensuração
Fonte: preparado pelo autor com base em Atlas Brasil (2015).
Serviços de Suporte Indicadores e/ou parâmetros
1. Habitat Área de habitat; número/densidade de espécies e indivíduos.
2. Diversidade genética Riqueza de espécies, índice de biodiversidade.
Em síntese, Pontal do Paraná apresenta um panorama socioeconômico que poderia indicar que a sua população 3. Produção primária Quantidade bruta ou líquida.
desfruta de uma condição de vida relativamente boa (Tabela 1), embora sejam reconhecidas as carências e precariedades 4. Ciclagem de nutrientes Fluxo de nutrientes.
não reveladas pelas estatísticas oficiais. No entanto, qual a contribuição dos ecossistemas para o bem-estar da população 5. Ciclo hidrológico Dados pluviométricos e fluviométricos.
local? Quais serviços ecossistêmicos são providos pelo ambiente natural à população local? Qual o valor econômico Fonte: preparado pelo Grupo de Trabalho de Valoração dos Serviços Ecossistêmicos do OC2.
desses serviços?
6 Sobre os valores dos SE’s e o processo de valoração dos recursos naturais ver Garcia (2012).
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encontro com outras pessoas, diferentes entre si, e com as quais o antropólogo terá de necessariamente O momento histórico da sociedade brasileira aponta para novos paradigmas no que diz respeito ao ordenamento
envolver-se, dialogar, estabelecer relações intersubjetivas suficientemente densas para que se possa com- territorial: e, a partir dele, territorializa-se o poder do Estado – e, neste caso mais especificamente, a prefeitura. Ressalta-se
preender a forma como os nativos pensam (TORNQUIST, 2003: 69).
que “territorializar” é um conceito que tem a ver com o ato de controlar os movimentos (de objetos, pessoas e informações)
A história das produções cartográficas do PDDI não obedece a esta premissa: não tentou compreender o que os que acontecem no espaço - assim, portanto, dá-se a dominação e o controle espacial. Pode-se, então, concluir que “ter-
nativos pensavam, nem se baseou na intersubjetividade – baseado na distância entre os pesquisadores e os pesquisados5 ritorializar” é o mesmo que “ordenar”: mas isto é muito simplista. Na mesma medida em que não há ordem sem desor-
e na objetividade da técnica6 teoricamente implícitos à “nova máquina”, os estudos do Plano Diretor de Paranaguá ba- dem, não há territorialização sem desterritorialização – em outras palavras, “precisamos destruir ou deixar um território
searam-se excessivamente na representação cartográfica. Souza (2003: 202) denomina de “apriorístico” os estudos em para construir ou ingressar em um outro” (HAESBARTH, 2006: 120). Estamos falando, portanto, que o ordenamento
5 Aqui estamos nos referindo especificamente às produções cartográficas: inferimos que os processos são feitos à distância, em laborató- territorial consiste em promover um processo concomitante de des-re-territorialização. À medida que a prefeitura se ter-
rios de geoprocessamento, à parte da população – esta, aliás, tem apenas o papel de confirmar os dados, quando estes lhe são mostrados.
6 Lembramos, aqui, sobre o distanciamento, a neutralidade e a objetividade científicas a afirmação de Velho: [o distanciamento é uma das] ritorializa a partir de seu Planejamento Territorial, assim, pode desterritorializar os moradores do bairro – e, se o forem
mais tradicionais premissas das ciências sociais (...) [No âmago disto está a intenção de garantir] ao investigador condições de objetividade em desterritorializados, os moradores terão necessariamente que se reterritorializar em um outro lugar.
seu trabalho (...) [lançando] olhos imparciais à realidade, evitando envolvimentos que possam obscurecer ou deformar seus julgamentos e con-
clusões (...) [faz-se, assim, automaticamente, uma] valorização dos métodos quantitativos que seriam ‘por natureza’ mais neutros e científicos” 7 Uma ZEIS serve aos Planejamentos Territoriais brasileiros como zona prioritária para uma intervenção social e espacial: pode ir desde
(Velho, 2004: 123). a regularização fundiária até ao fomento de infraestrutura urbana, visando diminuir as desigualdades socioespaciais: sua aplicação, enfim, é regu-
lada pelo Estatuto da Cidade, mas cada município tem a autonomia para identificar tais zonas em seu território.
A definição da categoria “ordenamento territorial”, segundo Vargas (2011:30), teria surgido na década de 1970:
tratar-se-ia do conjunto de ações que visam dispor ordem na população, bem como suas atividades, construções, meios
de comunicação e equipamentos, em uma determinada extensão territorial. Ou seja, o objetivo é transformar de maneira
ótima o espaço, eliminando o que é classificado como “desordenado” – atualmente, estes trabalhos realizam-se, pela com-
plexidade, em sistemas computacionais, a partir do geoprocessamento (ou seja, do uso de um conjunto de aparatos téc-
nicos e de tecnologias que incluem softwares, computadores, pessoas, GPSs, satélites e radares, entre outros (VARELLA
et al, 2013), bastante utilizados na cartografia computacional atual. É extremamente hodierno no ordenamento territorial
de Paranaguá – e, por isso, denominamos neste artigo de “nova máquina”.
O geoprocessamento passa a ser subvertido pelo bairro apenas em 2013, quando uma cartografia social é solicita-
da pela Associação de Moradores para um grupo de pesquisadores, ao qual estamos inclusos. Ao conhecer a realidade do
bairro, compreendemos logo que as estratégias de mapeamento teriam que adaptar-se à realidade do movimento social,
de maneira que utilizar softwares livre nos era algo fundamental: ao contrário do Projeto Nova Cartografia Social8, o
8 Durante o III Encontro de Povos e Comunidades Tradicionais: diálogos do sul”, realizado em Paranaguá no mês de maio de 2015,
o professor Alfredo Wagner Berno de Almeida, coordenador do Projeto Nova Cartografia Social afirmou que o projeto é refém dos softwares
proprietários de geoprocessamento, de maneira que tiveram que pagar pelo menos 50 mil reais para conseguir algumas licenças, para alguns
computadores específicos.
O QGIS possui tradução para o português do Brasil, e já é usado e aprimorado por alguns órgãos brasileiros – à
título de exemplo citamos o Exército Brasileiro, que a partir de seu Departamento de Serviços Geográficos passou a utilizar o softwa-
re, bem como a contribuir no aperfeiçoamento deste: no sitio http://www.dsg.eb.mil.br pode-se baixar um plugin para o
QGIS que permite visualizar as Cartas Topográficas do Brasil (em escala de 1:100.000 até 1:25.000) já georreferenciadas
de diversas regiões do país.
Os plugins (ou “complementos”, como o software denomina) são, alias, uma das principais atrações do QGIS. Na
cartografia social do bairro, utilizamos intensamente o complemento OpenLayers Plugin: com ele, tínhamos acesso a uma
série de imagens de satélite de alta resolução (como os fornecidos pelas empresas Google, Bing e Arcgis) diretamente da
internet. Com base nestas imagens, munidos de técnicas de fotointerpretação e do conhecimento dos moradores, podíamos
interpretar a imagem e mapeá-la: os moradores puderam definir os limites do bairro, bem como localizar suas ações sociais
e suas moradias.
Além disso, muitas informações foram registradas em um GPS Garmin Etrex e, posteriormente, transmitidas dire-
tamente para o QGIS. De forma nativa, o software possui ferramentas que permitem não só carregar informações no GPS
como, também, permite descarregá-las e manipulá-las. Assim, ruas, usos e ocupações foram cadastrados e posteriormente
tratados no programa.
Fonte: Marcelo Varella, 2014 Algumas etapas deram-se no próprio bairro, e não tivemos acesso à internet. Assim, precisávamos adaptar os
instrumentos à situação – e, sem internet, o QGIS não pode utilizar o plugin OpenLayers. Para suprir esta falta, utilizamos
O mapa acima foi produzido para representar e sintetizar a complicada situação do bairro Jardim Jacarandá II
outro software, também sem custo e livre: o SASPlanet, disponível no sítio oficial: http://sasgis.ru/ . Sua versão estável é a
(demarcado pela linha tracejada em vermelho), apresentando de certa forma o que já foi analisado anteriormente, sobre
1.42 e, de certo modo, o software russo tem mais serventia às ações de SIG (Sistema de Informações Geográficas) que de
os mapas do PDDI: a rua principal do bairro simplesmente some no mapa, não a apresentando em sua extensão real; o
geoprocessamento: ou seja, mais que manipular as informações, este software é versátil para visualizar, sobrepor e criar
bairro aparece dividido em duas zonas diferentes (verde, mais ao norte e que corresponde à ZRO; e marrom, mais ao sul,
informações espaciais. Ele não possui ferramentas de análise espacial como o QGIS – e, neste sentido, mostra-se muito
equivalente à ZCQU II). Some-se a estas informações, como já dito, o fato do bairro ser classificado em toda sua extensão
limitado.
como “irregular”. Este é o contexto socioespacial das lutas atuais dos moradores.
A vantagem do SASPlanet consiste justamente na sua capacidade de criar bancos de dados offlines (sem internet)
Para este mapa, utilizamos basicamente dois softwares de geoprocessamento: o norteamericano QGIS (2.8.2 –
das imagens de alta resolução de algumas empresas (como a Google, a Bing e a Yahoo), criando projetos rápidos, com
Wien) e o russo SASPlanet. As oficinas da cartografia social ocorreram em dois lugares, basicamente: no Instituto Federal
imagens georreferenciadas de alta resolução, e ainda por cima em um ambiente de fácil manuseio. Enquanto software de
do Paraná (Câmpus Paranaguá) e na casa dos moradores, no próprio bairro. Quando as oficinas ocorriam no Instituto,
SIG (e não de analises de geoprocessamento), o SASPlanet tem uma biblioteca limitada, de forma que não aceita qualquer
tínhamos acesso à internet – e, com isto, optávamos por usar o QGIS; já quando aconteciam no bairro, não tínhamos sinal
formato de dado: trabalha basicamente com os KML e KMZ da empresa Google. Sua interface com GPSs Garmin é ótima:
de internet – e aí o SASPlanet mostrou-se essencial.
além de comunicar-se bem com o software (podendo carregar e descarregar dados), possui a capacidade de fazer o rastreio
O QGIS é software livre que pode ser baixado no seu sítio oficial: http://www.qgis.org/en/site/. Atualmente, sua em tempo real quando o GPS está conectado ao computador.
versão estável é a 2.8 – Wien, mas a comunidade já está disponibilizando a versão 2.10 – Pisa. O programa possui as
Tão logo as informações eram mapeadas por interpretação dos moradores no software SASPlanet, eram salvas e
principais funções presentes nos softwares pagos de geoprocessamento (inclusive podendo produzir e manusear os prin-
transpostas para o QGIS, onde inseríamos os ícones e as cores das legendas, bem como selecionávamos as informações
cipais formatos de arquivos utilizados por estes, como o Shape File da empresa Esri e o KML da empresa Google, ambas
pertinentes para a produção de mapas específicos: o QGIS possui um módulo denominado Compositor de Impressão que
Os mapas não são consensuais e universais: por mais que visem objetivar e precisar o mundo, ainda são meras HAESBARTH, Rogério. Ordenamento Territorial. Boletim Goiano de Geografia, n. 1, (26): 117-124, 2006.
representações da realidade. De toda a forma, quando são utilizados em uma prática de Ordenamento Territorial, funcio- PARANAGUÁ, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI): Análises Temáticas e Diagnósticos, Volume I,
2007.
nam como base para um processo controle espacial, gerando concomitante uma des-re-territorialização. Logo, os mapas
podem afetar diretamente a vida dos cidadãos de uma cidade: no caso do Jardim Jacarandá II, os moradores vêm vivendo RIBEIRO, Ana Clara Torres. Cartografia da ação social - região latino-americana e novo desenvolvimento urbano. In. PO-
GGIESE, Héctor; EGLER, Tamara Tania Cohen (comp.). Otro desarrollo urbano : ciudad incluyente, justicia social y
há 25 anos sem regularização fundiária e sem os equipamentos públicos de uso coletivo básicos (como água e luz) – e os
gestión democrática. 1a ed. Buenos Aires : Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales - CLACSO, 2009.
mapas do Plano Diretor (o ordenamento territorial municipal) tendem a só acirrar esta situação.
SANTOS, Boaventura de Souza. Semear outras soluções: os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais.
Se já existem mapas oficiais que não dão conta de representar a realidade social, cabe, então, subverte-los: utilizá Editora Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2005.
-los em prol de outra ordem. A ideia é democratizar a cidade (qual se descreve enquanto objetivo do Estatuto da Cidade e SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos. Rio de Janeiro:
Editara Bertrand, 2003.
do PDDI) e, para tanto, deve-se produzir mapas que consigam corrigir as falhas geradas nos mapas oficiais. Outros mapas,
que representem uma outra ordem, construída de baixo-para cima. TORNQUIST, Carmen Susana. Salvar o dito, honrar a dádiva – dilemas éticos do encontro e da escuta etnográfica. Re-
vista Impulso, Piracicaba, v. 14, n. 35, 63-72, set./dez., 2003.
Mais que a técnica computacional em si, vale a democratização da cidade – e isto exige uma democratização da VARELLA, Marcelo et al. “Cartografias sociais e a representação de territorialidades específicas: uma discussão espa-
ciência. A participação e o controle sobre os meios e os fins do mapa por aqueles que são mapeados é essencial para tanto. cial”. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 2013. Pp. 172 - 184.
Os estudos apriorísticos acabam impedindo uma discussão baseada nas realidades concretas da cidade e, assim, impossi- VARGAS, Ramos Montalvo. Sistemas de Información Territorial (SIT). México: Fomix-Puebla, 2011.
bilitam diálogo, essencial para a produção de uma cidade democrática. VELHO, Gilberto. “Observando o Familiar” in: Individualismos e cultura: notas para uma antropologia da sociedade
contemporânea. 7 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Pp. 121-132, 2004.
Os softwares livres abrem portas até então fechadas: outrora, há pouco tempo atrás, apenas o governo, ONGs e
ZALUAR, Alba. O Antropologo e os pobres: introdução metodológica e afetiva. In: A máquina e a revolta: as organiza-
empresas dispunham da possibilidade de produzir mapas; hoje, com qualidade e sem custos, pode-se produzir mapas,
ções populares e o significado da pobreza. Ed. Brasiliense: São Paulo, 1985.
inclusive, fotointerpretados a partir dos conhecimentos locais, baseando-se apenas em software livres. Aqui, tratamos do
QGIS (norte-americano) e do SASPlanet (russo): combinados, permitiram que nos tornássemos independentes, na produ-
ção de mapas, de licenças, recursos tecnológicos (como um laboratório de informática e internet), bem como de recursos
financeiros. Ainda não existem trabalhos no litoral combinando diferentes softwares livres de geoprocessamento – e isto
9 Apenas como nota, tome-se como exemplo o gvSIG, software espanhol muito popular no mundo do geoprocessamento. Mesmo com
uma comunidade ativa e bastante extensa, e possuindo fundos da União Europeia, há alguns anos que o software não sai de sua versão 2.0 – e
desta para as versões anteriores, poucas mudanças foram implementadas. Enquanto software de geoprocessamento, ainda hoje o gvSIG peca na
conclusão do mapa: seus produtos não geram as grades de coordenadas, elemento cartográfico fundamental para garantir a acurácia técnica de um
mapa com referencias geográficas.
The article aims to present the discussion on the consequences of urban settlements in coastal areas and the issue of rising
sea levels caused by climate change. The city studied is Navegantes / SC, with an emphasis on a central neighborhood
called São Pedro. In order to accomplish this discussion will be presented the municipality’s socioeconomic character- 2 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO
istics (location, population, IDHM, employment, poverty, etc.). The next topic is the occupation exposed areas covered
with mangroves and restinga, and the consequences of occupation for ecosystems and populations. Also the issue related A ocupação do território onde hoje está inserido o município de Navegantes é ligada à colonização de agricultores
to the consequences of climate change on coastal areas will be addressed. As for the methodological issue, the research e pescadores de origem açoriana. Esses, nos idos de 1700, já habitavam a localidade. A cidade fez parte de Itajaí até se
is characterized as a descriptive study of qualitative approach, carried out through literature search and visits to area sur-
tornar independente em maio de 1962 (Prefeitura Municipal de Navegantes, 2014).
veyed. As a result, we observe the problems caused by the occupation of coastal areas, especially where originally were
the ecosystems of mangroves and restinga. Also as a result it presents the discussion of the problems that climate change
O município faz divisa ao norte com Penha e Balneário Piçarras, a oeste com Ilhota e Luiz Alves, ao leste com o
can bring to the site.
Oceano Atlântico e ao sul com Itajaí, como pode ser observado na figura abaixo:
Keywords: Occupation of coastal areas. Climate changes. Restinga. Mangrove.
O bairro São Pedro está localizado na porção sul do município e está inserido na região central da cidade. A figura
a seguir apresenta a localização do bairro São Pedro (em vermelho) e o porto, denominado Portonave (em azul), no mu-
nicípio.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015) a população do município de Nave-
gantes no ano de 2014 atingiu a marca de 70.565 habitantes, sendo que no ano de 2010 a mesma apresentava o número de
60.556 habitantes, demonstrando um grande aumento populacional em um curto período de tempo.
O IDHM – índice de Desenvolvimento Humano Municipal do município no ano de 2010 alcançou a marca de
0,736, menor do que o atingido no ano 2000, demonstrando assim uma queda na qualidade de vida da população, de
acordo com esse indicador (IBGE, 2015). Vale ressaltar que o IDHM segue os princípios do Índice de Desenvolvimento Figura 2: Localização do bairro São Pedro e do Portonave.
Humano (IDH), o qual baseia-se em três dimensões básicas do desenvolvimento humano, quais sejam: a renda, a educa-
Fonte: Google Maps, 2015. Adaptado pelos autores.
ção e a saúde, sendo uma medida resumida do progresso a longo prazo (PNUD, 2015).
Segundo dados do IBGE relacionados ao Mapa de Pobreza e Desigualdade dos Municípios Brasileiros - 2003, a
incidência de pobreza em Navegantes atinge 38,2% da população do município. A pobreza absoluta é medida a partir de A área de estudo conta com a presença do porto de Navegantes, chamado de Portonave. O mesmo está locali-
critérios definidos por especialistas que analisam a capacidade de consumo das pessoas, sendo considerada pobre aquela zado na margem esquerda do Rio Itajaí-Açu em área anteriormente ocupada por manguezais. O porto de Navegantes
pessoa que não consegue ter acesso a uma cesta alimentar e a bens mínimos necessários a sua sobrevivência (SEBRAE, é um empreendimento privado, idealizado e administrado pela Portonave S.A. – Terminais Portuários de Navegantes.
2010). A implantação do porto começou em 1998, com a compra dos terrenos na Ponta da Divinéia, em Navegantes. Após os
licenciamentos, a construção teve início em outubro de 2005 e conclusão em agosto de 2007. Sendo atualmente um dos
Em relação aos empregos, de acordo com o SEBRAE (2010) no que se refere ao recorte setorial, o segmento do alavancadores de empregos diretos e indiretos na renda da região.
comércio é o mais representativo em número de empresas. No entanto, a indústria é o setor que mais gera empregos no
município, 41,2% dos postos de trabalho.
Ainda, como o foco desse artigo encontra-se na área costeira do município, cabe relatar que este apresenta 11.180
As causas da degradação nos manguezais em áreas urbanas estão essencialmente relacionados à ocupação hu-
mana e ao uso inadequado do solo. Desmatamentos e aterros são realizados pela população de baixa renda e por espe-
culadores imobiliários, como alternativa para o problema de moradia. Dentro desse panorama, é comum o lançamento
de efluentes domésticos e industriais sem tratamento, e a deposição de resíduos sólidos no ambiente estuarino (FIDEL-
MAN, 1999). Essa degradação compromete o desempenho das funções ecológicas dos manguezais, como a de berçário
de espécies marinhas. São nas áreas de manguezais onde inúmeras espécies de peixes, crustáceos e aves se reproduzem,
e o desequilíbrio dessas áreas pode levar a sérios problemas na produção do pescado, necessário para a sobrevivência
dos pescadores da região.
As possíveis causas dessas alterações podem ter causa de ordem natural, ou devida a atividades humanas – an-
trópicas – ou resultados da soma das duas. Com o aquecimento global, espera–se para futuro próximo, de forma geral,
cenários de climas mais extremos, com secas, inundações e ondas de calor mais frequentes. A elevação na temperatura
do ar aumenta sua capacidade de reter vapor d’água e, dessa forma, a demanda hídrica. Em resposta a essas alterações,
os ecossistemas de plantas poderão expandir sua biodiversidade ou sofrer influências negativas. Impactos como elevação
de nível dos oceanos e furacões mais intensos e frequentes também poderão ser sentidos (PMBC, 2014).
Com relação ao regime de chuvas, são identificadas tendências positivas de aumento pluviométrico sistemático
e de extremo na Região Sul do Brasil. De acordo com o primeiro relatório de avaliação nacional, produzido pelo PBMC
(painel brasileiro de mudanças climáticas) do ano de 2014, na Região Sul do Brasil, o aumento das chuvas no período
1950-2000 pode também ser observado nos registros hidrológicos, como por exemplo a vazão do Rio Iguaçu e do alto
Paraná. Também foram observadas nesse período tendências positivas nas vazões dos Rios Paraguai, Uruguai e Paraná,
no seu trecho inferior, e no Rio Paraná, em Corrientes. Foram observados incrementos da chuva em partes da bacia do
Figura 3: Remanescentes de restinga e manguezais na área de estudo. Paraná/Prata, de cerca de 6% para o período de 1971 a 1990 em relação a 1930-1970. Também foram observados o au-
mento de vazão na Bacia do Paraná/Prata entre os períodos 1900-1970 e 1971-1998.
Fonte: Google Earth, 2015. Adaptado pelos autores.
No que se refere aos estudos das temperaturas, no Sul do Brasil, durante o período de 1960 a 2002, foi constata-
do um aquecimento sistemático da Região, sendo detectadas tendências positivas nas máximas e nas mínimas anuais e
No caso das restingas ainda, pode haver a diminuição do próprio valor econômico do empreendimento imobi- sazonais. A amplitude térmica apresentou fortes propensões inversas neste período, sugerindo que os índices térmicos
liário, pois a ausência de vegetação causa desestabilização do solo (essencialmente arenoso), provocando bloqueio de mínimos são mais intensos que os máximos, especialmente no verão (PMBC, 2014).
estradas, invasão das habitações por areia, além de assoreamento e obstrução de lagoas e cursos d’água. Também as
Nas investigações das tendências de temperatura mínima e máxima e na amplitude térmica diurna nos estados
construções à beira-mar ficam diretamente expostas ao vento e à maresia, e em alguns casos à ação direta das marés. A
do Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) entre os anos de 1960 e 2000, foi verificado que a maior
cobertura vegetal, por outro lado, contribui para manter a permeabilidade do solo, que permite a alimentação dos lençóis
parte das estações meteorológicas mostra um acentuado aumento nas temperaturas noturnas comparativamente a um li-
freáticos, garantindo a estabilidade em seu nível e, consequentemente, o fornecimento de água potável na região (HOL-
geiro aumento das temperaturas diurnas durante todo o ano. As tendências de aquecimento foram mais fortes no inverno
ZER; CRICHYNO, PIRES, 2004).
comparativamente com o verão. Também é importante frisar o fato de que a frequência maior de eventos El Niño durante
os últimos 20 anos da análise (1982-2002) comparativamente ao período anterior (1960-1980) poderia ter exercido um
papel não desprezível na ocorrência de temperaturas mais altas e na tendência de extremos no Sul do Brasil. Esse estudo
4 AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AS CONSEQUÊNCIAS PARA O SUL DO BRASIL E SANTA CATARINA
mostrou que a frequência de dias considerados quentes, aumentou durante o verão e inverno, especialmente durante as
Tendo em vista as alterações causadas pela ação humana no clima do planeta, a apresentação de quais são as duas últimas décadas analisadas (PMBC, 2014).
consequências dessa nova dinâmica na área de estudo se faz necessária. De acordo com Campos, Braga, Alves (2006),
Essa alteração climática faz com que ocorram, em maior quantidade, eventos extremos de precipitação. Esses são
segundo o IPCC (Painel Internacional de Mudanças Climáticas) a temperatura média global já sofreu um acréscimo de
relacionados com inundações, enchentes, deslizamento de morros, que causam destruição em cidades e lavouras, perdas
0,6 ºC até 0,2ºC desde o final do século XIX. Como consequência dessa variação, o ritmo do aumento do nível do mar
de vidas, afetando vários setores da sociedade. Em uma escala de tempo maior (mensal ou sazonal), as secas ou excesso
variou de 10 a 20 centímetros no último século, sendo que esse aumento tem sido mais amplo no século XX do que foi
de precipitação também afetam a sociedade e a economia do país, pelas perdas agrícolas ou pela redução de recursos
no século XIX.
hídricos (PMBC, 2014).
Com relação às mudanças climáticas, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças no Clima, durante o
Como um exemplo de fenômenos climáticos extremos e de indício de mudança climática sem precedentes, ainda
Além da ocorrência do Catarina, também destacam–se os de enchentes e alagamentos, com grandes volumes de O fato é que países industrializados dependem de importações provenientes do sul (inclui-se aqui o nosso país)
precipitação pluviométrica em curto espaço de tempo. Essa quantidade de chuvas pode ser responsável por uma provável para atender parcela crescente e cada vez maior de suas demandas por matérias primas e bens de consumo, ou seja, o
quebra de produção de alimentos, um desafio para a Região Sul são as cidades localizadas próximas aos rios. Novamente resultado global é a que a fronteira do petróleo e do gás, a fronteira do alumínio, cobre, eucalipto, enfim, todos avançam
no estado de Santa Catarina, em novembro de 2008, ocorreu um evento de precipitação intensa. Aproximadamente 700 na direção de novos territórios.
mm de chuva em curtíssimo período devastaram parte do Vale do Itajaí. O Centro de Operações de Defesa Civil de Santa
Nessa linha, o terminal portuário tem papel importante pois é uma ação de transito de produtos manufaturados
Catarina estimou que 1,5 milhão de pessoas foram afetadas, com 135 mortes. Aliado ao volume pluviométrico anômalo,
importados e exportados, que só transitam nesse local (Navegantes), com o maior impacto, seja positivo ou negativo,
a vulnerabilidade dos municípios da região contribuiu para a gravidade do evento (PMBC, 2014).
estendendo-se para onde as cargas serão destinadas. Assim, importante se faz não focar apenas no local, pois essa questão
Os eventos geoclimáticos catarinenses de novembro de 2008 foram relacionados às chuvas torrenciais que cul- é muito mais complexa e ampla. Para Aumond e Bacca (2012), entender o passado é a chave para compreender o presente
minaram em uma movimentação de massas nunca antes vista, causadas por redução dos parâmetros de resistência por e planejar o futuro, fenômenos que ocorreram no passado e deixaram suas marcas na morfologia da paisagem podem ser
intemperismo, a erosão progressiva e o rebaixamento rápido do lençol freático, além de obras de terraplanagem, cortes e de fundamental importância para compreender fenômenos futuros. E, ao compreender os fenômenos futuros, podemos
aterros, drenagens inadequadas, desmatamentos e cultivos impróprios. Constata-se portanto, que as ações antrópicas, es- nos resguardar e planejar ações para que este futuro não seja uma grande tragédia geoclimática novamente.
pecialmente o desflorestamento das encostas, estão sobrepondo, na presente fase interglacial, dois fenômenos distintos: a
Diante do exposto, percebe-se que obras estruturais que se fazem nas orlas não resolvem os problemas, mas sim
intensa precipitação que caracteriza a fase pluvial e o fenômeno morfogenético da erosão intensa, característicos de fases
também criam outros problemas. Há um processo de retroalimentação positiva e quanto mais obras pior fica a situação.
glaciares. Na verdade os movimentos de massa de 2008 foram tão intensos que chegaram a modelar a paisagem do Vale
Alteram completamente nosso meio ambiente, com consequências a longo prazo. A visão é de que a engenharia dá jeito
do Itajaí, fato que ainda é acompanhado por muitos estudiosos da área e que gerou toda uma remodelação dos sistemas
em tudo, porém, é visível que esta é uma afirmativa equivocada.
públicos de defesa civil (AUMOND; BACCA, 2012).
Quando intervimos no perfil da natureza, construindo portos, prédios, barreiras etc., estamos interferindo em um
processo que está a milhões de anos em seu processo, a natureza não “obedece” as previsões utilizadas para as nossas
5 CONSIDERAÇÕES FINAS obras de engenharia, dessa forma aumentado a possibilidade de perdas, tanto para a sociedade, tanto para a natureza.
A partir do exposto observa-se que a ocupação das áreas litorâneas, particularmente em se tratando da área de
estudo, causam diversos problemas ambientais, que se transformam em problemas sociais. No caso da eliminação dos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ecossistemas, a mesma é acompanhada do empobrecimento da biodiversidade, com a possível extinção das espécies. Tais
cidades cresceram desordenadamente, procurando seu espaço para expandir-se, como já mencionado, sobre florestas, ABATI, Samuel. Experiências com geoprocessamento aplicado ao Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro
restingas, mangues; sem nenhum tipo de preocupação ou respeito com a natureza à sua volta. de Santa Catarina – GERCO – SC. 2005. 54f. Trabalho final de estágio (Graduação em Geografia) – Centro de Ciên-
cias da Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.
Além das questões relacionadas à natureza, a ocupação das áreas litorâneas de maneira desordenada também AUMOND, J. J.; BACCA, L. E. A tragédia geoclimática catarinense: a paisagem como fundamento para a gestão pública.
causa diversos problemas sociais. Como as áreas ocupadas são em sua maioria inadequadas, as condições de vida das In: Gestão de natureza pública e sustentabilidade (Org. PHIIPPI, Jr.; SAMPAIO, C.A.C., FERNANDES, V.). São
populações ali presentes são precárias, muitas vezes apresentando deficiência na infraestrutura urbana, saneamento e de- Paulo, Manole, 2012.
mais serviços públicos. Na área de estudo, é possível observar essas carências por meio de uma volta pelas ruas do bairro BASTOS, Maria de Nazaré do Carmo. A importância das formações vegetais da restinga e do manguezal para as
São Pedro. Em sua porção interior, verifica-se falta de ordenamento nas ruas, falta de calçadas, bem como córregos de comunidades pesqueiras. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Série Antropologia, Belém, v. 11, n.1, 1995, p.
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as formas “globocêntricas” de interpretar o mundo (ZHOURI; OLIVEIRA, p. 442, 2010). No sentido dos conflitos, a
resistência centrada nos lugares/nos processos locais significa dar ênfase ao sentimento de pertencimento a um grupo Norte 3
social e/ou a um lugar. Remete ao valor dado as próprias “raízes”, a possibilidade em optar por continuar com seu modo
Oeste
de vida, em um determinado território. 3
Vale do Itajaí
Dada esta discussão, parece que estes conceitos trazem importantes elementos no entendimento das contradições
4
entre crescimento capitalista e meio ambiente. Afinal de contas, a crítica ao modelo de desenvolvimento hegemônico 3
toma corpo em seus pressupostos. Muitos exemplos poderiam ser trazidos fim de exemplificar este quadro. Neste artigo, Grande
Serrana Florianópolis
no entanto, optou-se por trazer à tona alguns casos de injustiça ambiental e de conflitos ambientais, localizados em Santa
Catarina. Assim, na próxima seção seguem alguns dados levantados junto ao mapa de conflitos envolvendo injustiça
ambiental e saúde no Brasil, da Fiocruz/Fase. São alguns exemplos das contradições geradas pela expansão do capital, no Sul
Comumente se utiliza o indicador do PIB para avaliar a evolução do crescimento econômico. Neste quesito, o Estado
de Santa Catarina vem apresentando contínuo crescimento nos últimos anos. Entre 2002 e 2012, por exemplo, houve
8 Os conflitos ambientais não surgem apenas a partir de casos de apropriação material já em curso, mas também a partir de ações ainda 9 É bom lembrar que estes casos não exprimem a totalidade dos problemas relacionados aos conflitos ambientais em Santa Catarina.
em fase de planejando (como exemplo, um projeto para a construção de uma barragem, que implicará na retirada de uma população de pequenos Muitos são os que ainda não aparecem nos relatórios. Os casos citados são apenas alguns exemplos das contradições geradas pela expansão do
agricultores de suas terras). capital no território catarinense.
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De acordo com o Projeto Final de Engenharia, a obra da Via de contorno Norte-Ilha tinha como objetivo Conforme Ação Civil Pública destacada anteriormente, em 2004, após o recebimento de informações do
possibilitar o acesso rápido aos pontos turísticos situados ao Norte e ao Leste da Ilha, e à Universidade Federal de Santa IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) sobre a pretensão do Grupo Habitasul
Catarina. de construir um empreendimento hoteleiro em Jurerê Internacional, foi instaurado um procedimento administrativo junto
à Procuradoria da República/SC, com envios de ofícios aos órgãos competentes, para obter mais dados sobre a obra em
Durante a década de 80, o estado manteve o processo de transferência de empresas estatais, como ACARESC,
tela e bem assim a cópia do respectivo processo de licenciamento, oportunidade em que a FATMA (Fundação do Meio
PRODASC, CIASC, CIDASC, CERTI, ASTEL e CELEC, para as regiões próximas à Trindade e ao Itacorubi; assim
Ambiente) foi advertida sobre a exigência inafastável de estudo de impacto ambiental (EIA) e de impacto de vizinhança
como investimentos em infraestrutura, equipamentos e serviços. Dessa forma, a região atrairia investimentos do setor
(EIV), sob pena de responsabilização.
privado, como empreendimentos imobiliários, estabelecimentos comerciais, escolas, bancos e clubes.
Segundo constatado: a) não foi exigido ou apresentado EIA (Lei n. 6.938/1981 – Política Nacional do Meio
A concentração dos investimentos estatais e privados, na direção norte e leste da ilha, foi influenciada
Ambiente), mas somente diagnóstico ambiental simplificado da área pretendida; b) o empreendedor juntou parecer
diretamente pela construção da Via de Contorno Norte-Ilha, gerando um modelo segregador e promotor de impactos
jurídico particular sobre a desnecessidade de anuência do IBAMA - mesmo em se tratando de área de entorno da estação
socioambientais na estrutura urbana de Florianópolis.
Ecológica de Carijós, Unidade de Conservação Federal - ao argumento que o IBDF já havia anuído com a implantação
Ouriques (2006) destaca que, empreendimentos turísticos de alta renda, localizados no norte na ilha de Santa do empreendimento nos anos 1980; c) não obstante as considerações feitas pelo IBAMA que ressaltavam as áreas de
Catarina, como o Il Campanário Villaggio Resort e o Costão do Santinho Resort, empregam baixíssima mão de obra preservação permanentes existentes no local (planície de restinga localizada a menos de 300 metros da linha preamar
local, o que desmente o discurso desses empreendimentos que gerarão empregos na região. Os impactos ambientais que máxima e a existência de curso d’água que desemboca no mar), e o parecer à AGU (Advocacia Geral da União) sobre
geram são muito maiores que a compensação econômica e social de reversão local. a anuência do órgão federal, a FATMA com lastro nas informações do empreendedor enfocou apenas nos aspectos
A seguir, o estudo de caso do Il Campanário Villaggio Resort é um exemplo que o Ministério Público, a geológicos do ecossistema estudado, deferindo a Licença Ambiental Prévia (LAP) com prazo de 6 (seis) meses, seguida
opinião crítica e os Movimentos Ambientalistas não conseguiram sustar. Como? Ver-se-á na análise a seguir. da Licença de Instalação (LAI) com validade de 42 meses (Lei n. 6.938/1981 – Política Nacional do Meio Ambiente).
Na esfera municipal, alega-se que não se exigiu a realização de Estudo de Impacto de Vizinhança (Lei n.
2 AÇÃO CIVIL PÚBLICA QUE ENVOLVE O IL CAMPANÁRIO VILLAGGIO RESORT 10.257/2001 - Estatuto da Cidade), deixando-se de aplicar os dispositivos da Lei n. 4.711/65, no que tange à adequação
do zoneamento para fins de uso e ocupação do solo.
Muitas alterações no Plano Diretor da capital beneficiaram diretamente grandes empreendimentos turísticos.
Um bom exemplo é a mudança, em 2006, da lei municipal de Florianópolis, que regulamenta o setor da hotelaria. Tal Em seguida, o MPF (Ministério Público Federal) oficiou à FATMA, à Vigilância Sanitária e à Secretaria de
alteração foi investigada pela Polícia Federal, deflagrando a Operação Moeda Verde, no ano de 2007, quando muitos Urbanismo e Serviços Públicos (SUSP) um questionamento das irregularidades, acima expostas, bem como da existência
empresários se beneficiaram com a nova lei. ou não de projeto de prevenção contra incêndio e viabilidade do sistema sanitário, já que o empreendedor responsável
VILLAÇA, Flávio. Espaço intraurbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1997.
Palavras Chaves: Colonização do litoral de Santa Catarina, Nova Ericeira, Formação Sócio-espacial.
ABSTRACT
This article seeks to bring together the main aspects of the colonization of the Santa Catarina coast, more specifically in
the locality where today we find Porto Belo and nearby municipalities. In his approach presents the first major fishing
enterprise of Brazil, the New colony Ericeira. Through the perspective of socio-spatial formation based on the theoretical
framework of Milton Santos, which allows us to take into account the multiple aspects of the determinants new reality,
where the countryside stands out as fundamental to the development of local economic activities. The theme is justified
by its geographic character and deepening of analysis and debates on the Genesis, evolution and the transformations that
come form the accelerated affecting urban and fishing communities of the coast of Santa Catarina. This original socio-spa-
tial organization goes through transformations, where the countryside is gradually artificializado, passing the fishing ac-
tivities to the great real estate market. Therefore, the research aims to demonstrate the local reality, from the perspective
of a specific reality.
Key words: colonization of the coast of Santa Catarina, New Ericeira, socio-spatial Formation.
1 Este artigo é parte da Dissertação de Mestrado Profissional em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental (UDESC),
intitulada: O Desenvolvimento Imobiliário no município de Itapema: avanços e contradições - drikamppt@gmail.com.
Todo esse processo de colonização, em ambas as fases, se expressou no espaço, definindo formas distintas de
ocupação do território. Ainda é possível identificar traços do passado que ainda apresentam funções no presente, porém A FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DA ENSEADA DAS GAROUPAS, À NOVA ERICEIRA PORTUGUESA
percebe-se as tendências e perspectivas do capitalismo financeiro, expressos no mercado imobiliário aliado ao turismo
Os aspectos físicos influenciam diretamente no modo de vida das pessoas. Determinam a ocupação do espaço,
crescente na região.
definindo direta ou indiretamente, em maior ou menor grau, as relações da vida humana. É preciso interpretar as cidades
A pesquisa embora tenha sido sobre uma localidade especifica, procurou interpretá-la num contexto mais amplo como um espaço humano, como um fato histórico, pois somente a história da sociedade local pode servir como funda-
(local-regional), buscando identificar os fatores exógenos e endógenos responsáveis pelas transformações vividas nas mento para a compreensão espacial. (Santos 1977).
últimas décadas. Dando um destaque para a sua gênese e para a evolução das atividades econômicas, pois qualquer estudo
Partimos da gênese da formação sócio espacial de Santa Catarina, definindo o processo histórico responsável por
que tome como fundamental a categoria de formação sócio-espacial segundo Santos (1982), tem que iniciar com essa
sua forma atual, ou seja, a materialidade concreta expressa no espaço. Segundo Santos (1985), a dinâmica de um espaço
abordagem, pois elas definem o processo histórico responsável pela forma atual.
geográfico qualquer precisa ser compreendida à luz dos processos sociais que a engendraram, considerando as caracte-
Ao se fundamentar teoricamente sob o paradigma de formação sócio-espacial, manifestou-se uma preocupação rísticas naturais que serviram de base para o desenvolvimento local, definindo em maior ou menor grau, a construção da
com uma visão globalizante dos fatos e do reconhecimento dos vários níveis na construção de diferentes realidades, sen- sociedade.
do o primeiro deles o quadro natural, como definidor em menor ou maior grau da vida humana. Segundo Santos (1998,
Diante disto, para interpretar a realidade sócio espacial de uma localidade precisamos conhecer integralmente as
p.51) “sendo a totalidade um conceito abrangente, torna-se necessário fragmentá-la em suas partes constituintes para um
forças que atuam sobre ele. Para tanto, é imprescindível considerar a “forma, função, estrutura e processo que devem
exame mais restrito e concreto”.
ser estudados concomitantemente e vistos na maneira como interagem para criar e moldar o espaço através do tempo”,
A consideração de um aspecto é vital para a apreensão da totalidade das forças que atuam sobre ele, razão pela segundo Santos (1986, p.52).
qual “forma, função, estrutura e processos devem ser estudados devem ser estudados concomitantemente e vistos na ...forma, função, estrutura e processo são quatro termos disjuntivos associados, a empregar segundo um
maneira como interagem para criar e moldar o espaço através do tempo”, esse conceito muito bem abordado por Santos contexto do mundo de todo dia. Tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limita-
das do mundo. Considerados em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica
(1998, p.52), nos permite compreender como se estrutura o espaço. e metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade.
No caso da ocupação do litoral Sul do Brasil, como no resto do país, a dimensão geográfica favorável foi deter-
4 Costa Esmeralda: Formada pelas Municípios de Itapema, Porto Belo e Bombinhas, o nome dessa região do litoral norte de Santa Cata-
rina, se deve a cor verde-esmeralda da água do mar. minante para a construção do histórico de colonização e formação sócio espacial. É preciso buscar dados da dimensão
Não podemos de fato negar que os anos de 1950 sejam de fato um divisor de águas para compreensão de nossa Ali construiu sua moradia de veraneio, logo seguido por outras famílias de Brusque, Itajaí e Blumenau, promoven-
história, de nossa sociedade. Os rumos tomados pela nação neste período não apenas se diferenciavam do passado como do uma nova configuração espacial.
certamente refletiriam na construção do futuro.
A medida que as cidades foram se desenvolvendo economicamente, foram se emancipando. A Colônia Nova Eri-
Nesta fase, uma série de infraestruturas começam a acontecer país afora, impulsionando a urbanização, processo ceira que, posteriormente foi nomeada Porto Belo e que detinha a maior parte das terras litorâneas, foi se desmembrando
que ocorre também em Santa Catarina. A malha viária da formação sócio espacial catarinense, encontrava-se em debili- em outros pequenos municípios, como é o caso de Itajaí, Balneário Camboriú, Camboriú, Itapema, Tijucas e Bombinhas
dade, promovendo um relativo isolamento inter-regional (Vieira, 1997). que foi o último deles. Com isso, Porto Belo é hoje um dos menores municípios catarinenses.
Devido à dificuldade de acesso, a região que ficou praticamente isolada se abriria para o mundo com a constru- As cidades que se emanciparam de Porto belo estão se desenvolvendo a olhos vistos. Atualmente a região repre-
ção da BR-101. Uma rodovia federal, que acompanha o traçado da costa litorânea no sentido norte-sul, ligou o litoral senta um forte polo turístico e de investimentos imobiliários. E tem atraído a atenção pelo rápido crescimento urbano,
catarinense aos estados vizinhos, do Rio Grande do Sul e Paraná, se configurando como um marco no desenvolvimento impulsionado pelo capitalismo financeiro, que vem promovendo uma nova configuração do espaço.
e integração regional do sul do país.
A grande expansão da construção civil e os investimentos ligados ao setor imobiliário num intervalo muito curto
Iniciada em 1953 e concluída em 1971, a BR-101 deixou à vista as belezas do litoral catarinense e tornou- de tempo, tem alterando totalmente a paisagem original. Onde atualmente a população local constitui uma minoria, que
se o caminho de um número crescente de veículos nacionais e estrangeiros que chegam ao litoral de Santa
Catarina para o veraneio. No período de 1965 a 1970, a extensão das estradas federais pavimentadas em não participam do processo de transformações, pois essas decisões vão sempre ao encontro de uma classe que domina a
território catarinense passou de 369km para 907km, o que representa uma ampliação de 146%. Já a rede produção da cidade. Dessa forma há um comprometimento da identidade da população, sendo necessário um trabalho de
de rodovias estaduais pavimentadas, entre 1965 e 1970, cresceu de 446km para 1054km, (Pereira, 2003,
resgate e preservação da histórica local.
p.115).
As novas modalidades de movimentos populacionais poderiam ser vistas como uma das faces do modo
A construção da rodovia estimulou o turismo que, cada vez mais, se popularizava. Os municípios da orla catari- como se desenvolvem os movimentos migratórios, expressando relações entre os espaços que foram so-
nense tornavam-se centros de atração turística, com ritmos de crescimento diferenciados. cialmente construídos, ao mesmo tempo expressão de uma nova sociedade, que experimenta a mudança
no seu regime de acumulação e de todas as demais implicações sociais, políticas e culturais que daí advém
Diante de uma nova fase próspera do desenvolvimento capitalista, houve uma procura pelo litoral, que passava a (Oliveira, 2006, p.68).
ser visto como local de lazer. Inicialmente, a procura se deu por parte da burguesia industrial das áreas de imigração que
residiam nos vales fluviais costeiros ainda no início do século passado, onde se localizavam os municípios de Brusque, 10 Em Itapema, município vizinho do Balneário Camboriú, o industrial Edgar von Büettner, proprietário da Indústria Têxtil Büettner,
de Brusque, já vislumbrando um futuro promissor, foi adquirindo terras situadas à beira-mar a partir da década de 1920. Apenas numa compra
Blumenau, entre outros. Esses burgueses, atraídos pela beleza da orla marítima, adquiriam terrenos para a construção da realizada em 1935, o Sr. Büettner comprou de 14 moradores nativos 55.530 m2 de terras situadas na área localizada entre a orla marítima e a antiga
segunda residência, ou casa de veraneio, como popularmente era chamada. Inicialmente essa procura se deu no município estrada geral que ligava Camboriú a Tijucas. No inventário aberto por ocasião da morte de sua esposa, em 1936, constata-se que as duas filhas do
casal herdaram da mãe o correspondente a 661.181 m2 no então distrito de Itapema, o que permite concluir que a família detinha a propriedade
de Balneário Camboriú, estendendo para os municípios vizinhos. de 1.322.362 m2, ou seja, 132,24 ha na orla marítima de Itapema, já que todos os terrenos faziam frente para as terras de marinha (Pereira, 2003,
p.117).
MONTEIRO, Arlete Assumpção. Patrimônios Culturais em Extinção: Povos Litorâneos da Costa Brasileira. XI Con-
Considerações Finais
gresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais. Universidade Federal da Bahia (UFBA), p 1-16, Salvador, 2011.
De um modo geral a pesquisa nos leva a concluir que nem todas as comunidades pesqueiras do litoral catarinense OLIVEIRA, Rachel Aparecida. Desenvolvimento Turístico e Transformações sócio-espaciais: o caso de Itapema/SC.
são descendentes de povoadores oriundo do arquipélago de Açores, como demonstram muitos inscritos que tratam da Tese de Mestrado em Turismo e Hotelaria. Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI, 2000.
colonização do sul do Brasil.
OLIVEIRA.A.T. Dos movimentos populacionais à pendularidade: Uma revisão do fenômeno migratório no Brasil. Mi-
nas Gerais: ABEP, 2006.
Há também nesta história que reconhecer entre eles, aqueles oriundos da região de Ericeira, localizada a 50km
ao norte de Lisboa, que chegaram ao Brasil a partir de 1818, numa política de povoamento implantada por D. João VI, PEREIRA, Raquel Maria Fontes do Amaral. Formação sócio espacial do litoral de Santa Catarina: gênese e transfor-
planejada a partir da mudança da corte portuguesa para o Brasil, com o objetivo de garantir as fronteiras no sul do país. mações recentes, v.18, n.35, p.98-129.Geosul, 2003.
PEREIRA, Raquel Maria Fontes do Amaral. OLIVEIRA, Rachel Aparecida. O turismo e a Dinâmica Sócio-Espacial do
Porém cabe ressaltar que a iniciativa de estabelecer os colonos ericeiros na Enseada das Garoupas não deu os fru-
Município de Itapema. Turismo Visão e Ação (PIPG) – ano 4 –p.61-74, 2002.
tos desejados. Os recursos financeiros e o aumento populacional não foram suficientes para mudar o panorama do lugar.
Uma grande maioria se dispersou ou abandonou a região, uma vez que as características geográficas do local, facilitava RANGEL, Inácio. No artigo “500 anos de desenvolvimento da América e do Brasil”, ano VIII, 1º sem. p.7-12. Geosul.
Florianópolis: EDUFSC, 1993.
a formação de núcleos habitacionais distantes entre si, estes resultariam em tempos mais tarde nos municípios que foram
gradativamente se desmembrando e emancipando da atual Porto Belo. REIS, Almir F. Permanências e Transformações no Espaço Costeiro: formas e processos de crescimento urbano-turísti-
co na Ilha de Santa Catarina. Brasília: UNB-DF: Tese de Doutorado, 2002.
Além do que com a chegada dos imigrantes que ocupariam os vales e em pouco tempo prosperariam, haveria toda
SANTOS, Milton. Manual de Geografia Urbana.3 eds.,1, reimpressão Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
uma nova configuração econômica do espaço, fazendo com que a região que se encontrava longe desses novos centros 2012.
industrias, ficasse isolada economicamente.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova. 2ed. São Paulo: Hucitec, 1980.
Diante disso, podemos constatar que as transformações sócio-espaciais do litoral catarinense têm a marca da co-
SANTOS, Milton. Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método. Boletim Paulista de Geografia,
lonização portuguesa, mas foi a classe burguesa, que se desenvolvia vertiginosamente com base na produção mercantil, n.54,1977.
oriunda dos núcleos urbanos situados no interior dos vales, que apresentavam um crescimento econômico expressivo,
VIEIRA, Maria Graciana Espellet de Deus, e PEREIRA, Raquel Maria Fontes do Amaral. Formações sócio-espaciais
que impulsionou o crescimento da região costeira catarinense. Implementando atividades turísticas de lazer e abrindo
catarinenses: notas preliminares. Anais do Congresso de História e Geografia de Santa Catarina. Florianópolis: CAPES/
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RESUMO
O artigo apresenta uma síntese dos resultados de uma pesquisa realizada na Ilha dos Valadares, situada no município de
Paranaguá, litoral do estado do Paraná - PR. O objetivo da pesquisa foi compreender o processo histórico e geográfico
da ocupação da Ilha dos Valadares-PR e seu adensamento recente; a partir da análise socioambiental. O recorte temporal
retrata o período de 1980 a maio de 2015, justificando que foi neste tempo que estiveram concentrados os processos
mais expressivos de transformação da paisagem e de adensamento da ocupação. Do ponto de vista metodológico a
pesquisa se classifica como estudo de caso, mesclando instrumentais qualitativos e quantitativos. Para sua execução foram
utilizados: observação participante, análise documental e de dados secundários do Censo Censitário IBGE, registros
fotográficos, análise do solo, entrevistas com moradores mais antigos. Em relação aos resultados, compreendeu-se que a
transformação do espaço se deu devido ao processo de ocupação acelerado, degradador, refletindo em diversos problemas
socioambientais analisados nessa pesquisa.
Palavras-chave: Análise socioambiental; adensamento urbano; impactos da ocupação; Ilha dos Valadares.
ABSTRACT
The paper summarizes the results of a research conducted in the Ilha dos Valadares, in the city of Paranaguá, state
of Paraná. The objective of the research was to understand the historical and geographical process of occupation of A Ilha está há aproximadamente 290 metros do continente, quando calculado pelas extremidades da passarela. De
the Ilha dos Valadares-PR and its recent consolidation; through the environmental analysis. The period of analyze was
between 1980 and May 2015, explaining that it was at this time that were concentrated the most significant processes of forma alongada, possui aproximadamente 4,2 km de comprimento e sua largura varia de 0,5 km a 2 km, considerando as
transformation of the landscape and density of occupation. In a methodological point of view, the research is classified áreas de manguezal. Está rodeada por dois rios, Itiberê e dos Correias (FELISBINO, 2015).
how a case study, combining qualitative and quantitative instruments. For its implementation were used participant
observation, document analysis and secondary data from the Census IBGE Census, photographic records, soil analysis, O processo de ocupação antrópica da Ilha dos Valadares remonta ao século XIX, mas, até a década de 1980 era
interviews with older residents. Regarding the results, it was possible do understand that the transformation of the space um lugar pacato, com poucas habitações, sem infraestrutura e serviços públicos. Sua ligação com a parte continental do
was due to the accelerated process of occupation, degrading, resulting in various environmental problems analyzed in município de Paranaguá se dava através de pequenas embarcações pelo Rio Itiberê. Os ilhéus enfrentavam a dificuldade
this research.
de mobilidade para ir ao continente, já que neste período não havia um pequeno comércio na Ilha para abastecer a
comunidade que ali residia. Os habitantes eram pessoas vindas de outras ilhas da baía de Paranaguá, outros municípios do
Key words: environmental analysis; urban density; occupation impacts; Ilha dos Valadares. litoral do PR, áreas rurais e de outros estados (CONSTANTINO, 1982). A população foi crescendo, cada um que chegava,
pegava seu pedaço de terra, suprimia a vegetação e construía sua moradia. Ressalta-se que as terras da Ilha dos Valadares
pertenceram a União até 2010, repassada ao Município a título de aforamento, que até então, não tinha aparatos legais
para realizar o planejamento e urbanização efetiva no lugar (CONSTANTINO, 1982; FELISBINO, 2015).
1 Graduanda em Gestão Ambiental (UFPR setor litoral), Bolsista PET Litoral Social - janelize.nasc@gmail.com;
Esse artigo procura sintetiza o processo histórico e geográfico da ocupação da Ilha dos Valadares-PR e seu
2 Professora da UFPR setor litoral. Graduada em Ciências Econômicas, Mestre em História Econômica, Doutora em Geografia - cisena@ adensamento recente, desde 1980, com foco nos impactos socioambientais. Trata-se de uma compilação dos resultados
terra.com.br
da pesquisa realizada entre os anos de 2011 a maio/2015. A metodologia escolhida, para atender ao objetivo da pesquisa,
A combinação dos instrumentos qualitativos e quantitativos foi possibilitada pela escolha do estudo de caso
como linha mestra da pesquisa. Gil (2009) observa que o Estudo de Caso permite que a pesquisa não fique circunscrita à
Apresentação e discussão dos resultados da Pesquisa
estatística ou à subjetividade, utilizam-se estes dois meios de coleta de dados como forma de detalhar e refletir o processo
da transformação do espaço, de modo a atingir profundidade na análise. Analisando a história e o cenário atual da Ilha dos Valadares, o crescimento populacional e a ocupação foram
acelerados a partir da década de 1980, gerando uma diversidade de problemas ambientais, alguns já aparentemente sem
Para atender ao objetivo da pesquisa definiram-se alguns instrumentos de pesquisa para a coleta de dados, dentre
remediação, como o desaparecimento de pequenos rios.
os quais estiveram a observação e vivência de moradia local (observação participante); análise documental; análise de
dados secundários; registros fotográficos; análise do solo; e entrevistas com moradores antigos. Para cada procedimento Segundo relatos de duas entrevistadas, que chegaram para habitar na Ilha dos Valadares antes do evento acelerado
de coleta de dados utilizou-se diferentes formas de abordagem. da ocupação, na parte interna da Ilha havia pequenos rios (FELISBINO, 2015): “Nós morava ali né [Itiberê]? Daquele
lado lá era só coisa verde, e nós morava ali perto desse riozinho, era só mato aqui, só mato... ele passava aqui e corria pra
A observação direta na área de pesquisa se deu no período aproximado de três anos (2011-mai/2015), coletando
cá... era larguinho assim sabe? Acabou tudo, secou tudo”. (ENTREVISTADA 04). Outra entrevistada 07 mencionou que
informações de forma sistemática, mas combinando-a à perspectiva do expectador. A observação participante ocorreu na
atrás da sua residência que fica no começo do bairro Sete de Setembro passava um rio “Mas tinha antes, aqui era um rio
vivência de moradia no local teve o período de 85 dias (dez./2014- fev./2015), com o objetivo de conhecer e vivenciar o
que tinha aqui, passava canoa até a dentro, agora não tem mais, foi aterrado, agora colocaram manilha e fizeram casa já,
cotidiano da população da Ilha dos Valadares, já que a percepção sobre o espaço de um morador (nativo) é diferente de
tá tudo cheio de casa já”.
um visitante (TUAN, 1980).
Consequentemente, com o crescimento acelerado do número de domicílios, os impactos ambientais negativos
Todas as idas para a Ilha dos Valadares foram fotografadas. O acervo próprio reuniu mais de 500 registros
tornaram-se mais evidentes e preocupantes na Ilha dos Valadares. O processo de ocupação e degradação foi tão rápido na
fotográficos. As imagens retratam o cotidiano da população, os aspectos ambientais e urbanísticos, utilizadas para análise
Ilha que a entrevistada 04 narrou “Tinha um morro aí menina, um morro alto. E a gente nem percebeu quando sumiu”.
e interpretação.
Floréz (2005, p. 15) calculou que “cerca de 90% da vegetação natural da parte emersa foi destruída pelo processo Hindi et al. (2003, p. 30), chegaram a conclusão que:
de ocupação da Ilha”. O entrevistado 07 descreveu como era a Ilha dos Valadares no lugar denominado Sete de Setembro,
no lado sul:
O processo desordenado de ocupação urbana da ilha, com o parcelamento do terreno em lotes pouco
maiores que as dimensões das residências, concentração populacional elevada, sistema de saneamento
básico inexistente e a disposição dos efluentes líquidos diretamente no terreno, somados à permeabilidade
[...] ali pra cima era lotado de araçá, nós pegava cestada de araçá pra vender no mercado. Hoje você vai pra
do solo, são os principais fatores de degradação da qualidade da água subterrânea na ilha.
lá não tem um pé de araçá mais, cortaram tudo. [...] agora não tem mais caju aqui, mas antigamente[...].
Era só roça. Minha mãe chegou a roçar aqui, minha mãe aposentou-se na lavoura, ela fazia farinha. [...]
agora acabou porque roçaram tudo, tá tudo cheio de casa (FELISBINO, 2015).
Também no processo de observação realizado no local, provou-se da água de um poço localizado próximo ao Mar de Lá
(Rio dos Correias), sendo possível constatar a água salobra. Tornando-se desagradável bebê-la.
Nascimento Junior (1980, p.113-114) menciona que a vegetação na Ilha dos Valadares apresentava um verde
Em análise dos dados do IBGE sobre o esgotamento sanitário da Ilha dos Valadares, verificou-se que em 1991 não
vivo, exuberante que se alastrava por toda sua extensão. Já a vegetação remanescente é constituída por espécies frutíferas
havia ligação de rede geral de esgoto nos domicílios. Em contrapartida, em 2000, 22,45% dos entrevistados responderam
(goiabeiras, araçazeiros, jaqueiras, cajueiros, abacateiro), eucalipto (só há uma área com esta espécie), figueira, sete-
ter ligação com a rede geral de esgoto e em 2010, 54,83% já acreditava ter o domicílio ligado à rede de esgoto. Talvez
copas. Também pela presença de vegetação de mangue e restinga. Em processo de observação, verificou-se que as árvores
por falta de conhecimento, alguns moradores responderam ter esgotamento sanitário, o que não é realidade, já que na Ilha
frutíferas são cultivadas nos terrenos dos moradores, mas é uma iniciativa rarefeita atualmente. “Todo ano eu planto caju
ainda não há estação de tratamento de esgoto, somente a tubulação foi instalada, o resíduo permanece sendo despejado
aí, tem uns pezinho ali ó” (ENTREVISTADO 06).
3 Em 1991, O IBGE contabilizou na Ilha, 1.692 domicílios, no ano de 2000, 2.872 domicílios e em 2010, 3686 domicílios particulares
O processo de ocupação irregular, além dos impactos negativos relacionados a supressão vegetação, tem rebatimento permanentes.
sobre a questão do saneamento básico, principalmente o esgotamento sanitário que polui o solo, lençol freático, e os rios 4 “Os poços ponteiros são feitos de tela de cone metálico que permite a perfuração, por meio de golpes, em formações arenosas onde
não há problemas de entupimento da tela” (KONRAD et al., 2003, s/p.). A água dos poços ponteiros pode ser retirada com bomba de sucção.
de forma direta, como é o caso da Ilha dos Valadares. Rezende e Heller (2008, p. 86) indicam que as ações de saneamento
Na Ilha dos Valadares, o processo de erosão é visível nas encostas, principalmente nas partes mais altas, como no
Canal do Cidrão (Figura 04). Em outras partes da Ilha é possível verificar estas erosões sendo ocasionadas principalmente
pelos abrigos de barcos e construções de casas (Figura 05). Todo o material inconsolidado5 vai direto para os rios,
provocando o processo de assoreamento dos rios.
Figura 02. Manilha da drenagem desaguando no rio Figura 03. Esgoto a céu aberto no Rio dos Correias.
Itiberê. Fonte: Pesquisa em campo. Ano: Mai./2012. Fonte: Pesquisa em campo. Ano: Abr./2013.
A entrevistada 08, quando perguntada sobre o esgotamento sanitário apontou o seguinte: “eu não tenho, vai
direto, tem uma manilha daqui, desde daqui até lá em baixo, lá no rio [...], lá nesse rio, fidido que tá ui” (FELISBINO,
2015). O esgoto de sua residência era despejado no rio dos Correias. Ainda sobre o tema, no que se refere ao andamento
da estruturação do sistema de esgoto, o entrevistado 06 falou que “fizeram esgoto aí ó, fizeram só o encanamento, mas,
esgoto que é bom... E tá sendo despejado lá no mar” (FELISBINO, 2015). Figura 04. Erosão no Barranco no Canal do Cidrão. Figura 05. Abrigo de barcos, Rio dos Correias. Fonte:
Fonte: Pesquisa em campo. Ano: Mar./2013 Pesquisa em campo. Ano: Mai./2013.
O serviço público de saneamento básico que mais teve expansão de atendimento significativo foi a coleta de lixo.
Em 1991, o serviço de limpeza atendia a minoria da população do Valadares, 4,67% (IBGE, 1991). Uma década depois,
O entrevistado 05 relata sua percepção sobre a degradação das encostas dos rios ocasionada pelos abrigos das
43,05% (IBGE, 2000) dos domicílios estavam sendo beneficiados, chegando em 2010, atendendo a 99,08% (IBGE,
embarcações:
2010) dos domicílios. Com a expansão do atendimento da coleta de lixo, diminuiu o despejo inadequado de lixo nos rios,
o enterramento no solo e a queima, procedimentos primários adotados pela população, conforme se constata nos dados
disponibilizados pelo Censo Demográfico de 1991.
Hoje tá acabado tudo. Arruma um lugarzinho para colocar embarcação, então acaba com o meio ambiente
[...] Agora que tem mais embarcação, antigamente tinha pouco né, [...] hoje tem muito, quem trabalha
Atualmente, o lixo coletado pelo caminhão é transportado por balsa para ser destinado ao aterro sanitário no por aí quer ter para ter o seu lazer né. A maioria pra sustento.
continente. Na Ilha existia um Lixão que foi desativado há aproximadamente 20 anos devido aos impactos ambientais
que causava, mas quando a balsa apresenta problemas mecânicos, o lixo recolhido da população fica neste antigo lixão,
e quando normalizada a situação, é levado para o aterro público que fica no continente. Por fim, outro aspecto analisado na Ilha dos Valadares foi à existência de uma área destinada para sepultamento,
cemitério público municipal “São Francisco de Assis”, que funciona desde a década de 1990. A área do cemitério foi
Em visita a área do antigo Lixão, constatou-se a presença de lixo e odor provenientes da decomposição do
desapropriada pela prefeitura em 1963 (Lei 477/63), e, continua sendo utilizado para o sepultamento da população local.
material orgânico. Tal material é tecnicamente conhecido como chorume, absorvido pelo solo, desta forma, poluente
(MINEROPAR s/d).
5 De acordo com a definição da MINEROPAR (s/data) materiais inconsolidados “são considerados todos os materiais que estão entre o
topo do substrato rochoso e a superfície, independente de serem residuais ou retrabalhados. São produtos das ações dos processos secundários
No geral, nas ruas da Ilha dos Valadares observa-se lixo acumulados nas esquinas e muito lixo pelas ruas como
sobre as rochas. São dinâmicos e sofrem mudanças com a continuidade dos processos secundários e devido as atividades antrópicas”.
GIL, Antônio Carlos. Estudo de caso: fundamentação científica- subsídios para coleta e análise de dados- como redigir
o relatório. São Paulo: Atlas, 2009.
Considerações finais
HINDI, E.C. et al. Caracterização hidrogeológicas do aquífero costeiro da Ilha dos Valadares, PR (Brasil) e sua utilização
Na Ilha dos Valadares, os diversos problemas ambientais e sociais, são reflexos do processo da ocupação, forma
para abastecimento público. Revista Latino- Americana de Hidrogeologia, n.3, p.19-31, 2003.
de apropriação do espaço, transformação sociocultural, e, das pequenas e inexistentes ações públicas. Problemas nada
peculiares quando observado os cenários das periferias sociais brasileiras, onde cada lugar tem suas especificidades, o IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados agregados por setores censitários 2000/2010. Disponível
que os torna únicos, e ao mesmo tempo, parecidos com as demais realidades locais. em: <http://www.ibge.gov.br> acesso em 20 de fev.2012.
Quando realizada a análise ambiental na Ilha dos Valadares, evidenciou-se que o solo é um dos elementos naturais KONRAD, Carlos Gilberto et al. Estudo e avaliação da vulnerabilidade das águas subterrâneas no município de
que mais sofre a degradação em decorrência do processo de transformação do espaço, uso e ocupação antrópica, seja pelo não-me-toque-RS. Disponível em <http://www.cibergeo.org/XSBGFA/eixo3/3.3/221/221.htm> acessado em maio de
processo de erosão, contaminação pelo esgotamento sanitário, necrochorume, chorume, lixo despejado inadequadamente, 2015. NASCIMENTO JÚNIOR, Vicente. História, Crônicas e Lendas. Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá,
densidade populacional, fatores estes, analisados nesta pesquisa. 1980.
Muitas mudanças ainda ocorrerão na Ilha dos Valadares, uma vez que após a finalização desta pesquisa, outros MINEROPAR. Glossário. Materiais Inconsolidados. Disponível em <http://www.mineropar.pr.gov.br/modules/
impactos ambientais e sociais aparecerão e/ ou acentuarão devido o adensamento do solo e crescimento populacional, glossario/conteudo.php?conteudo=M> acesso em 30 de julho de 2015.
tanto do ponto de vista positivo quanto negativo. Portanto, não se deve deixar de considerar que o espaço vivido está em
____________. Glossário. Chorume. Disponível em <http://www.mineropar.pr.gov.br/modules/glossario/conteudo.
constante transformação pela sociedade, ou seja, analisasse apenas um estágio do processo da mudança, que irá continuar.
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Através da inserção no Município, para o desenvolvimento das atividades com as artesãs novas demandas foram A participação solidária que as artesãs promoviam externamente não decorreu de tomadas de decisões de espa-
vivenciadas e como a extensão é um eixo de aprendizado forte na Universidade, este poderia ser um espaço de atuação. ços democráticos. No grupo também não haviam: atas de reuniões, livro caixas que se podiam confiar, uso do espaço de
De maneira geral, o apoio seria destinado a ‘inclusão’, tal como havia ocorrido com as artesãs, mas agora destinado a produção igualitário, cumprimento do cronograma por parte dos responsáveis para abertura da loja. Esta desorganização
outros grupos que se encontravam ‘vulneráveis’. talvez esteja colaborando para as conquistas sociais emancipatórias de todas do grupo, o que vem em contra às inúmeras
correntes teóricas construídas no campo científico, que estabelecem princípios para eficiência e eficácia de trabalhos em
Aprovou-se um Programa de Extensão ‘Inclusão social e produtiva nos municípios do Litoral do Paraná’, ini-
grupo, bem como vem em contra às normas que estabelecem os formatos de organizações com representação para atuação
ciado em março de 2013 objetivando o estudo de cinco grupos sociais ‘vulneráveis’: os artesãos, os idosos, os jovens, as
no mercado.
crianças e adolescentes e os responsáveis pelo recebimento do Programa Bolsa Família (PBF). O Projeto deu origem a
todos os outros: o do grupo de artesãs e outros que, de uma forma ou outra, estavam ligados a este como: o dos responsá- A desorganização é por outro lado, um risco ao apoio institucional da própria Universidade, do SENAR, do in-
veis pelo recebimento do benefício do PBF. A forte ligação decorria do empoderamento das artesãs como detentoras do gresso de novos participantes e até mesmo frente às autoridades municipais para atendimento das reivindicações.
conhecimento para repassá-los ao outro grupo, que ao ‘nosso entender’ era ainda mais vulnerável.
Segundo Culti (2002, p. 15), fazendo referência à importância da representatividade sintetiza afirmando que:
As atividades para a área do artesanato objetivavam interação e pesquisa voltadas para a melhoria dos trabalhos
(...) o processo de cooperação produtiva é um dos caminhos a ser trilhado. Ele pode transformar o
das artesãs, buscando a valorização do saber fazer e o acesso a novos saberes por intermédio da capacitação em diversas ambiente social, quer queira ou não, no entanto é um processo de conquista gradual. Pode fortale-
áreas das artes manuais. As novas técnicas artísticas-culturais deveriam contribuir para o desenvolvimento sustentável do cer a democracia e a solidariedade ou apenas estagnar dentro dos limites das relações comerciais
local, através da valorização da identidade local, pelo uso dos recursos disponíveis no meio ambiente natural, bem como e capitalistas dominantes.
não deveriam intervir nas rotinas familiares, de forma mais ampla, e sociais das mulheres artesãs. O Projeto teve como
principais ações contribuir para a melhoria da qualidade de vida e propiciar um empoderamento em busca de consolidar
as bases para o trabalho artesão. A produção do conhecimento científico frente ao saber local para a inclusão: As configurações socioeconômicas
e ambientais estão em constantes transformações em decorrência da capacidade humana de acumular, processar e disse-
Condicionantes empíricas das relações sociais envolvendo as mulheres e seus talentos cognitivos artísticos: A minar os conhecimentos. As configurações se manifestam nos territórios onde as pessoas vivem, bem como em outros
mobilização se concentra, principalmente, em cinco mulheres (existindo outras, que produziam), que com os entes admi- territórios que estão receptíveis a mudanças. No Brasil, o século XX é marcado por intensas mudanças que demandam
nistrativos públicos locais garantiam a permanência no espaço – sala na Estação Ferroviária –, elas também ocupavam reflexões sobre o futuro. Contudo estas reflexões não só apontadas pela academia brasileira, mas em todo o mundo. Pre-
a liderança em outros espaços associativos como a Liga de Combate a Tuberculose – associação sem fins lucrativos que servar para o futuro tem sido tema de debate em todas as áreas de conhecimento científico, sociedade civil, Estados, Igreja
também congregava ações de cunho social e a Associação dos Moradores do Portinho – um dos bairros mais populosos entre outros. O meio ambiente passa a ser conteúdo obrigatório a ser tratado como tema transversal em todos os níveis
que não contava com infraestruturas sanitárias e de saúde, elas intermediavam com uma instituição parceira por nome escolares, inclusive na escola primária, no envolto ‘educação ambiental’. Enquanto a ciência não dá resposta para o futuro
SENAR, cursos de capacitação a serem desenvolvidos nestes espaços de representação social para desenvolver novos da humanidade – porque a ciência é promovida por homens que possuem racionalidade limitada e suas hipóteses precisam
saberes a outros/as. ser testadas e mesmo assim, continuarão sendo probabilidades – grande número de pesquisadores se debruçam na promo-
Se [o] Estado não consegue concentrar esforços nos problemas locais, dado a extensão de locais [terri- ção de alternativas de configurações territoriais sustentáveis. Alternativas estas que encontram limites em decorrência de
tório] e a sua restrição orçamentária, as universidades e instituições de pesquisa, sejam elas públicas ou fatores construídos nas relações que se estabelecem entre os homens, entre os fatores naturais e entre estes.
privadas, conseguem articular, envolver e sensibilizar a comunidade global com a ampliação do conheci-
mento (SULZBACH, 2013, p. 57).
Não é possível negar que a ‘evolução do homem’ decorre da busca de soluções a problemas enfrentados, levando
Há uma propensão acentuada, por parte das artesãs, a manterem estagnação em relação ao desprendimento para
RESUMO
uma melhor exposição dos seus trabalhos, tendo em vista que na ‘Estação’ o espaço não tem expressividade turística, há
O objetivo da presente pesquisa é analisar as potencialidades de se entender as relações culturais históricas impressas no
pouco estímulo por parte da administração pública local em fazer dela um atrativo turístico relevante, bem estruturado
ambiente construído a partir do estudo do perfil da habitação da comunidade flutuante do Catalão em Iranduba - AM. Os
para a recepção dos poucos turistas que ora transitam na cidade; embora a Estação Ferroviária se localize em uma região resultados da pesquisa de campo demonstram as potencialidades e lacunas do método fotoetnográfico, foi possível ob-
central na cidade, ainda assim está longe do núcleo turístico que fica mais próximo ao comércio e a orla marítima. servar transformações desta comunidade a partir da habitação, uso de novas técnicas construtivas e perfis de acordo com
a literatura. Considera-se que os objetivos específicos do presente trabalho foram alcançados. O método fotoetnográfico
Conclui-se, ainda que parcialmente, que a organização desse grupo depende e muito das suas próprias ações proporciona em si possibilidades de interpretação, porém o uso do método na comunicação científica está intimamente
e interesses para o estabelecimento concreto como um grupo social-cultural de representatividade perante a sociedade relacionado ao olhar do pesquisador e os contatos/referências realizadas para ampliar este olhar.
organizada.
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1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável da UFPR - andreia.silva@ufpr.br
2 Docente do curso de Gestão Ambiental da EACH-USP e pesquisadora associada Centre National de la Recherche Scientifique na França
- namello@usp.br
O objetivo geral da pesquisa é discutir as transformações da comunidade do Catalão a partir dos elementos ma- As influências indígenas na habitação do caboclo estão presentes no uso de materiais construtivos retirados da
teriais da paisagem, através do referencial teórico e da fotoetnografia como instrumento de levantamento de dados. Para floresta, como cipós (que servem para a fixação e diversos tipos palhas utilizadas para fechamentos) e uso da madeira
tanto tem-se como objetivos específicos: Observar as influências de construção e trocas culturais das habitações ribeiri- para a estrutura.
nhas da comunidade do Lago do Catalão à luz do referencial teórico; e discutir as potencialidades e lacunas do método
O conhecimento indígena sobre as características naturais do ambiente foram muito úteis para a cultura ribeiri-
fotoetnográfico como forma de compreender suas inter-relações culturais.
nha. Como é o caso da árvore “Hura crepitans” vulgarmente chamada de assacú, que é uma madeira de baixa densidade
que ocorre na região Amazônica em beira de rios e várzeas inundáveis e são a base das habitações flutuantes (adaptação
construtiva do meio de locomoção indígena) (FRAXE, 2000). A organização espacial circular das habitações na aldeia
indígena com casas voltadas para o centro da vila demonstra uma simbologia que não foi incorporada pelos ribeirinhos,
METODOLOGIA
de casas viradas para o rio ou ruas (FRAXE, 2000).
O Estado do Amazonas é entremeado por uma extensa rede de cursos d’água que se ligam através dos principais
As influências da cultura nordestina na habitação são observadas no formato retangular, nas varandas que con-
A casa ribeirinha comum é formada basicamente por quatro ambientes, (sala, cozinha e dois dormitórios) de modo
a acomodar a família (FRAXE, 2004; OLIVEIRA JR, 2009). Em algumas comunidades é possível observar a presença Figura 01: Comunidade do Lado do Catalão – Organização das habitações no período de cheia (esquerda) e seca (direita)
de casarões com divisão interna, tamanho e forma arquitetônica que divergem consideravelmente das casas dos caboclos
Amazônicos e demonstram influências do estilo europeu (FRAXE, 2004).
Existem três tipos de habitação ribeirinha: as casas de palafita encontradas nas encostas dos rios; flutuantes (emer-
sas no rio) que permite uma grande flexibilidade do morador ribeirinho quanto ao local de implantação (OLIVEIRA JR,
2009), e de terra firme que são habitações próximas da área de várzea e com contato maior com o interior da floresta.
A habitação ribeirinha demonstra que a população tem “sua vida conectada com o espaço da várzea, com o ciclo
hidrológico anual, hora água, hora terra” (OLIVEIRA JR, 2009 p. 73), onde o rio se mostra como um espaço que propicia
lazer (nadar na cheia e jogar futebol na seca), sustento (pesca e agricultura) e renda (venda de excedente).
Para Araújo (1974) a paisagem social dos “flutuantes” era das mais originais feições de aglomerados humanos. Fonte: Adaptado de google Earth, 2011.
Segundo o autor “é o flutuante, um dos aspectos da economia da água que dirige grande parte da vida amazônica. A en-
chente, a seca, o repiquete (retorno incomum das águas durante a vazante, quando ocorrem as grandes cheias), o inverno, A época do ano (cheia ou seca) é importante para entender a organização da comunidade. Segundo Leite ; Silva
a praia, o lago, a várzea comandam, em meia simbiose, a vida do povo” (ARAÚJO, 1974 p. 178) e Freitas, (2006):
como a maioria dos lagos de várzea amazônicos, o Lago Catalão aumenta ou diminui de tamanho de acor-
Se considerarmos a habitação ribeirinha um patrimônio material e suas técnicas construtivas um conhecimento do com o nível dos rios adjacentes. O Lago Catalão normalmente conecta-se ao rio Solimões através de
adquirido e transformado ao longo do tempo e transmitido de geração em geração estamos falando da produção de obje- um curto carnal, após os primeiros meses de subida das águas. Por outro lago, raramente fica totalmente
desconectado do rio Negro (LEITE ; SILVA E FREITAS, 2006: 558)
tos culturais que “é indissociável da produção de sujeitos sociais” (GALLOIS, 2007 p.99).
As imagens a seguir nos permitem observar a época do ano em que a visita foi realizada (época da cheia).
Segundo Zanirato e Ribeiro (2007) a natureza imaterial do conhecimento tradicional os torna extremamente vul-
neráveis às transformações da humanidade. Desta maneira em um mesmo tempo existem “práticas tradicionais configu-
rando sujeitos novos, práticas novas fazendo re-emergir sujeitos tradicionais, enfim, uma intrincada rede de possibilida- Figura 02: Comunidade do Lago do Catalão vista parcial das habitações flutuantes
des, que não pode ser abordada, jamais, a partir de uma simples oposição entre o “tradicional” e o “novo”” (GALLOIS,
Rua principal (lado direito)
2007 p.03).
A edificação assume um papel necessariamente multiuso de seu espaço que é adaptado a realidade sistêmica da
floresta. Os hábitos da comunidade são alternados a partir do ciclo hidrológico caracterizando um tipo social que Fraxe
(2000) chama de “Homens Anfíbios”.
Embora apresentem uma flexibilidade de localização as habitações da comunidade ficam sobre o Lago Catalão. O
Lago está localizado próximo ao município de Iranduba e da confluência dos rios Solimões e Negro (a 3º 09’ 47”S e 059º
54’ 29” W), com distância aproximada de 3 km do porto da CEASA, em Manaus (LEITE; SILVA e FREITAS, 2006). Foto: Acervo do autor (Silva A. C., 2011).
Assim como relatado por Oliveira Jr. (2009) notamos o banheiro na parte de trás e separada do imóvel. A quanti-
dade de ambientes na casa sugere o padrão mencionado na literatura.
Foto: Acervo do autor (Silva A. C., 2011). Na maioria das unidades habitacionais flutuantes, o banheiro é uma construção independente, também
flutuante, normalmente localizada na parte posterior da casa, de modo que o ribeirinho estabelece uma
relação espacial definindo a frente e a parte de trás de sua moradia (OLIVEIRA JR, 2009 p. 114).
É possível observar um galão preto na casa esquerda. Como a comunidade não tem sistema de captação de água
esta é uma adaptação presente em várias moradias da comunidade para armazenar utilizar a água na casa.
O morador Sr. Edilson Alves Viana, ao falar das características de sua comunidade relatou que todos os moradores
têm que ir buscar água para beber no poço próximo ao porto do CEASA em Manaus (3 km de distância conforme Leite;
Silva e Freitas, 2006).
Para esta pesquisa de cinco meses (CNPq processo n° 105419/2011-7) não foi possível fazer duas viagens que
contemplassem a época de cheia e seca. Neste contexto, torna-se que outros trabalhos façam este tipo de observação.
O método fotoetnográfico tem o potencial de transportar o leitor para o ambiente, o “lugar” da pesquisa, e em
muitas vezes conectando-o ao objeto em estudo, possibilitando um número infinito de leituras sobre o mesmo território
e sobre as paisagens identificadas.
Cabe ressaltar que as análises apresentadas só foram possíveis associando o método fotoetnografico, com as
informações de moradores, pesquisadores e os dados disponíveis na literatura. Segundo Lacoste (2006), a pesquisa de
campo é uma etapa fundamental e eficaz na formação dos pesquisadores, mas, sozinhas não são suficientes, para uma
compreensão maior dos fenômenos, é necessário, portanto, articular a observação de campo com a pesquisa teórica.
Foto: Acervo do autor (Silva A. C., 2011). Observe que neste contexto o material e o ambiente seriam o mesmo, mas a imagem só faz sentido a partir da
percepção de algum observador. Este fato é, ao mesmo tempo, um potencial e uma lacuna do método fotoetnográfico.
A partir das imagens pudemos observar que as principais mudanças na construção de habitações ribeirinhas flu-
tuantes da comunidade do Catalão, se referem ao telhado pois a maioria das casas agora são cobertas com telhas (metá-
licas, de amianto ou zinco) e não mais com palha (OLIVEIRA JR, 2009).
Os telhados de amianto, zinco ou metal não representam uma melhora na qualidade de vida, pois estas estruturas
esquentam mais o ambiente interno da casa, do que as estratégias anteriores (palha). Oliveira Jr, (2009) aponta que estas
Além das transformações atuais da habitação ribeirinha, citados nas pesquisas de Fraxe, (2000), Fraxe (2004) e
Oliveira Jr., (2009), observamos outros exemplos como: AGRADECIMENTOS
• A incorporação da transmissão de tv paga no cotidiano ribeirinho intensificando o fenômeno de transcul- Á minha orientadora, pela coragem, generosidade e paciência. Pela pesquisadora e Gestora Ambiental que é, que
turalidade relatados por Fraxe (2004). mesmo realizando e fazendo coisas mais que qualquer mulher que eu conheça, dá oportunidades e dedica seu tempo em
• “Fixação” das habitações flutuantes nos mesmos locais em cada época do ano para ficar próximo do ponto apoiar jovens e pequenos pesquisadores como eu.
de energia elétrica de cada casa. Aos pesquisadores Edinaldo Nelson Santos-Silva do INPA, Duarcides Ferreira Mariosa da PUC de Campinas,
• “casinhas flutuantes” para abrigar animais domésticos utilizados para consumo (porcos, galinhas), fazem Selma Paula Maciel Batista da UEA pelas orientações, indicações e carinho, cujas informações e contato enriqueceram e
parte do “quintal” das habitações ribeirinhas junto com as hortas flutuantes. viabilizaram esta pesquisa.
Ás professoras Cristiane Barroncas Maciel Costa Novo da UEA e Veridiana Vizoni Scudeller da UFAM pelas
O contato com as áreas de estudo e a possibilidade de conversar com moradores embasaram o olhar crítico da
indicações e atenção.
seguinte afirmação feita por Oliveira Jr. (2009):
encontramos também as casas flutuantes, livres da relação com a terra. Ela permite uma grande flexibili- Ao novo amigo Gabriel Augusto Martins de Melo da UFAM, pelas dicas, orientação e informações e acima de tudo
dade do morador ribeirinho quanto ao local de implantação, de modo que sua casa tenha acesso a outras pela coragem e generosidade no apoio fundamental na minha estadia em Manaus.
regiões ou mesmo adaptando-se à flutuação do nível da água nas épocas de cheia e vazante. (OLIVEIRA
JR. 2009 p.109, grifo nosso). Aos amazonenses Dulcineia do Nascimento, José Araújo de Oliveira, Ester Teixeira Serrão e Maria Teixeira Serrão,
Ademir e Abrahão, Erica Nascimento Viana e Edilson Alves Viana, Moises Marco de Oliveira Neto, Maria Januário de
Souza, Maria Leonilia Ferreira da Silva, por contar suas histórias de vida e me apresentarem sua comunidade, à Dona
As habitações flutuantes embora notoriamente forneçam mais flexibilidade do que as habitações palafíticas ou de Francisca, ao barqueiro Jalmir, e Heitor Santiago Cruz Lóris, pelas informações e apoio fornecidos
terra firme, não estão dissociadas da relação de pertencimento com o espaço (“fixação” da habitação no sentido abstrato).
Além disso, todas as habitações se localizam próximo a copa das árvores para manter a casa amarrada aquele ambiente Em especial a amazonense Goreth (Yanayra-índia Yanomami), por ser mais que uma guia, uma amiga, que junto
demonstrando uma relação da habitação que não é direta, mas é necessária, com a terra (“fixação” da habitação no sentido comigo foi conhecendo novos lugares e olhares da cidade de Manaus.
prático).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS ARAÚJO, A. V. Sociologia de Manaus: aspectos de sua aculturação. Manaus: Fundação Cultural do Amazonas, 1974.
O estado do Amazonas possui uma diversidade cultural e ambiental proporcional ao tamanho dos seus rios, porém, BONI, P.C.; MORESCHI, B. M. Fotoetnografia: a importância da fotografia para o resgate etnográfico. Doc On-Line, n.
nota-se a necessidade de valorizar e estudar essa diversidade. Em vários níveis, foi um desafio encontrar publicações de 03. Dez. 2007. Pp. 137-157. Artigo disponível em: <http://www.doc.ubi.pt/03/artigo_paulo_cesar_boni.pdf>. Acesso em
25 mar. 2011.
estudos científicos sobre a comunidade estudada. Entender estas culturas, bem como suas trocas dinâmicas (construção e
reconstrução de práticas e valores), é pertinente até mesmo para a compreensão das transformações atuais da sociedade. CARDOSO, Daniel R. Desenho de uma poiesis: comunicação de um processo coletivo de criação na arquitetura. 2008.
Resumos
Ana Christina Duarte Pires, Lauriane Guidolin Guedes, Danilo Martins, Edmilson Cezar Paglia Richard Lins Nogueira, Carlos Hardt, Letícia Peret Antunes Hardt, Regina Maria Martins de Araujo, Saulo Ribeiro dos
Santos, Andréa Carolina Zapp, Carolina Laurindo Basso, Rebeca Alves Botelho
Os solos do litoral do Paraná são considerados de baixa fertilidade, pois são originados de sedimentos argilosos do
desgaste de rochas de granito e gnaisses das montanhas da Serra do Mar e de sedimentos arenosos de origem marinha. A sustentabilidade se apresenta como grande norteador das políticas públicas nos diversos países do mundo. Sendo a
Essa baixa fertilidade natural é agravada pela lixiviação da maioria dos nutrientes minerais desses solos que comumente paisagem um conjunto de significados e sobreposições de fases históricas, originadas de ideias e construções, a presente
ocorre em solos de textura mais arenosa. Além disso, elementos que a planta necessita em grande quantidade, como o pesquisa busca discutir os princípios de planejamento, construção e tecnologias sustentáveis no Brasil, comparando-os
fósforo, podem ter sua disponibilidade ainda mais reduzida por causa da forte interação com constituintes do solo, como com a situação na Alemanha, e sua relação com a composição da paisagem, com vistas à estruturação de fundamentos
os óxidos de Al e Fe, em que a complexação em formas orgânicas e a taxa de difusão na solução do solo são lentas. Porém, para o processo de gestão de paisagens sustentadas. Mediante método exploratório e descritivo, possibilitado por pes-
sistemas que promovem a melhoria estrutural do solo, como a utilização de composto orgânico, favorecem o acesso aos quisa bibliográfica e documental, o projeto destina-se, conclusivamente, à análise integrada dos resultados e eventual
nutrientes do solo pelas plantas. Por esta mesma área estar localizada em uma região portuária é possível identificar comparação. Para a análise, avaliou-se casos de planejamento urbanos bem sucedidos no Brasil, conforme metodologia
pontos de desperdício de fertilizantes e de grãos, potenciais fontes de nutrientes para as plantas. Esses desperdícios própria e trabalhou-se numa análise FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças) do cenário brasileiro. Reali-
provêm do transporte rodoviário de produtos agrícolas e minerais para exportação e de insumos para a cadeia produtiva zou-se uma análise comparativa entre o Brasil e a Alemanha no que se refere ao sistema nacional de geração de energia
de grande escala por importação. As perdas geram prejuízos econômicos e socioambientais, os quais, em função da elétrica. Concluiu-se que o Brasil não adotou a sustentabilidade como princípio base para suas diretrizes governamentais,
falta de pesquisa na área, não são muito discutidos pela ciência. Desta forma, os municípios do litoral do Paraná, pela diferente do panorama alemão, porém, ainda assim, o Brasil mantém uma situação energética favorável quanto às tec-
falta de maiores pesquisas e conhecimento, enfrentam a situação de maneira isolada e com pouco investimento, em nologias sustentáveis, casualidade advinda de sua condicionante hidrológica, além de possuir um imenso potencial para
função da grande demanda de recursos e, consequentemente, da baixa eficiência em ações de mitigação. Esse projeto implementação de energias realmente limpas.
visa estudar as particularidades físicas, químicas, biológicas e socioeconômicas dos acessos e do entorno do Porto
Dom Pedro II em Paranaguá-PR, buscando verificar os níveis de contaminação do solo exposto ao depósito de grãos e
fertilizantes que caem dos caminhões, calculando o desperdício de Nitrogênio, Fósforo e Potássio, todos considerados Palavras-chave: Paisagem, Sustentabilidade, Tecnologia, Energias Renováveis, Brasil.
macronutrientes para as plantas. O método da pesquisa foi desenvolvido em etapas. Começou pela caracterização da
área e dos elementos a serem estudados. Após, foi feita a construção e demarcação dos limites geográficos pela divisão
em blocos, residencial, intermediária, industrial e como ambiente ou zona natural, para servir de controle ou testemunha.
Foram retiradas amostras de solo de todas essas áreas. Por fim, após a determinação dos níveis de contaminação ou não
contaminação de solo, por meio de análises laboratoriais de digestão total, feitas na UFPR, nos Setores Litoral e Ciências
Agrárias, os teores de macronutrientes estão sendo determinados com a finalidade de verificar se há contaminação do
solo por esses elementos. Também está sendo verificada a possibilidade de construção de uma composteira comunitária
com esses resíduos, a fim de promover o acesso dos produtores da região às técnicas agroecológicas que favoreçam
o enriquecimento da fertilidade do solo, diminuindo os custos de produção, melhorando a estrutura e favorecendo a
manutenção e conservação desses recursos.
Carolina Laurindo Basso, Carlos Hardt, Letícia Peret Antunes Hardt, Regina Maria Martins de Araujo, Saulo Ribeiro
dos Santos, Andréa Carolina Zapp, Richard Lins Nogueira, Rebeca Alves Botelho Ivandro Ribeiro Santos Castro
Este trabalho é resultado de uma atividade didático-pedagógica realizada por docentes e discentes da Disciplina “Saúde,
Ao longo do tempo, o homem estabeleceu diferentes relações com o local onde habita, as quais foram modificando o Sociedade e Meio Ambiente”, da área de Saúde Coletiva do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná.
planeta e, portanto, suas paisagens. O cruzamento desse histórico com o preceito de desenvolvimento sustentável torna-se A territorialização no campo da saúde se constitui em ferramenta para a organização dos processos de trabalho e práticas
imprescindível para a compreensão da situação atual do Brasil. Na contemporaneidade, conceitos como sustentabilidade, em saúde. Com o objetivo de realizar um diagnóstico da condição de saúde de uma microárea adscrita ao território da
paisagem e planejamento são cada vez mais comuns na vida urbana, bem como o aperfeiçoamento da legislação e de ini- Unidade de Saúde Vila Guaíra, do município de Curitiba, utilizou-se a metodologia da pesquisa descritiva, de estimativa
ciativas nesse sentido perante a cidade e os cidadãos. O estudo em questão tem como objetivo principal analisar os prin- rápida, sendo os dados coletados pelos próprios discentes, diretamente com os moradores, utilizando como instrumento
cípios de planejamento e construção sustentável no caso brasileiro, estando atrelado ao projeto central – vinculado a dois um questionário sobre condições de vida e de saúde, além de entrevistas com algumas lideranças da microárea. O
trabalhos de iniciação científica e dois de iniciação tecnológica – que possuem o objetivo de comparar as experiências na critério de exclusão foi a recusa do indivíduo em responder o questionário ou sua ausência no domicílio. A atividade foi
Alemanha e no Brasil. Assim, os objetivos do presente trabalho são: sistematizar a visão da academia acerca das princi- complementada pela elaboração do mapa do território em questão. O número total de respondentes foi 51. Observou-se
pais características de princípios teóricos e de experiências práticas de sustentabilidade nos processos de planejamento e que a maioria das mulheres são chefes de família. A distribuição de faixa etária da população mostrou predominância nas
construção no Brasil e diagnosticar suas deficiências e potencialidades, inter-relacionando-as com os mesmos aspectos seguintes faixas: 10 a 14 anos (25), 30 a 34 anos (25) e 5 a 9 anos (18), caracterizando uma população jovem. Com relação
identificados para a Alemanha. Com estrutura investigativa de múltiplos métodos (exploratórios, descritivos e analíticos), às condições de moradia, constatou-se que 94% das habitações são de alvenaria (48 domicílios); todas são oriundas de
o trabalho inicia com a fundamentação teórica, vislumbrando o panorama do desenvolvimento sustentável brasileiro. Na projeto da Cohab e estão em processo de regularização. Quanto à caracterização da condição de saúde, o principal agravo
segunda fase, para a busca de um modelo específico de análise, foi selecionada a cidade de Curitiba como estudo de caso referido foi a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), seguida pelo Diabetes Mellitus (DM). A maioria dos moradores
a partir de critérios do Sistema de Índices de Sustentabilidade Urbana, baseado no Índice de Sustentabilidade Ambiental. declarou utilizar o serviço público de atenção à saúde (SUS). Quanto às percepções, 51% dos entrevistados afirmaram
Na etapa seguinte, com vistas ao diagnóstico comparativo dos panoramas brasileiro e alemão, foi realizada a análise de existir segurança pública na área, enquanto 49% relataram que a mesma existe. As famílias que recebem suporte social do
forças e fraquezas do ambiente interno e de oportunidades e ameaças do ambiente externo, com destaque para energias governo totalizaram 15, sendo que o programa com maior incidência foi o Bolsa Família. A concentração de indivíduos
renováveis, componentes relevantes no caso alemão. Pelo diagnóstico realizado são evidenciados resultados sobre o foi maior nas ocupações de pedreiros (11) e comércio (21), enquanto alguns (10) se declararam autônomos (em sua maior
desenvolvimento sustentável no Brasil, os quais, apesar de seus relevantes aspectos positivos, ainda se mostram distintos parte “carrinheiros”). Os equipamentos de lazer citados como os mais utilizados foram praças e academia ao ar livre;
dos da Alemanha. A primeira diferença primordial é o tratamento da questão sustentável como princípio orientador, porém, 55% afirmaram não as utilizar, e destes, nove (9) famílias afirmaram não ter tempo. O presente trabalho se mostrou
decisão tardiamente adotada pela administração pública brasileira, diferentemente do posicionamento do Governo Na- útil no conhecimento das reais condições de vida da população local e ficou patente a materialização das desigualdades
cional Alemão. Essa cisão entre o pensamento e o atraso do lado brasileiro resulta, hoje, nos distintos tratamentos legais sociais, servindo a experiência para imprimir maior compreensão aos conteúdos teóricos tratados em sala de aula, em
e fiscalizatórios. Ao passo que no Brasil, em âmbito federal, as leis são voltadas, em sua maioria, para a preservação de especial a “determinação social do processo saúde-doença”.
recursos naturais, na Alemanha, também no cenário nacional, a legislação desse setor compreende incentivos às políticas
públicas, cabendo ênfase à eficiência energética.
Palavras-Chave: Territorialização; Graduação em Enfermagem; Saúde Coletiva.
Palavras-chave: Paisagem. Sustentabilidade. Planejamento. Energias renováveis. Brasil.
A arquitetura de terra foi amplamente utilizada no Brasil com a chegada dos portugueses que, devido à falta de recursos
disponíveis e à impossibilidade de trazer instrumentos diretamente de Portugal, construíram por aqui casas de pau-a-pi- Este estudo advém de um projeto que foi aprovado no edital 134/UFFS/2014- PIBIC/CNPq. O objetivo geral se embasa
que, pois eram rápidas de se fazer e atendiam as exigências naquele momento. A arquitetura de terra surge, então, em em averiguar até que ponto as políticas de desenvolvimento regional e as políticas territoriais – inseridas no mesmo es-
terras brasileiras, em virtude da necessidade de construir. No entanto, com o passar do tempo, com os avanços tecno- paço geográfico - interagem e abrangem os atores locais na promoção de desenvolvimento no Estado do Paraná. Assim,
lógicos, novas técnicas de construção foram surgindo e modificando a paisagem. Assim, esse trabalho pretende estudar os objetivos específicos são: a) caracterizar as políticas regionais e territoriais quanto aos seus objetivos, ações, recursos
a arquitetura popular de terra e o desenvolvimento de uma paisagem natural e urbanística, ao mesmo tempo em que o aplicados e atores envolvidos no âmbito do estado paranaense, a partir de 2003; b) verificar se existe interação entre as
homem, por meio do saber-fazer, produziu uma imagem urbana carregada de significados. Também busca compreender políticas na sua concepção, objetivos previstos, ações implantadas e a dinâmica de envolvimento dos atores locais; c) ana-
como a técnica construtiva com adobe influenciou a paisagem do distrito de Taquaruçu, Palmas- TO. Para tanto, foram lisar em que medida as políticas atendem as demandas dos atores locais e da região na qual são implementadas, realizando
realizadas leituras bibliográficas das técnicas de construção com terra no Brasil, com intuito de observar as principais estudo de caso em um recorte regional selecionado. Em termos metodológicos, inicialmente, foi realizado um estudo
potencialidades na execução dessas construções, abordando o valor histórico e cultural. Além disso, foram realizadas bibliográfico sobre políticas regionais e territoriais, caracterizando região, território, objetivos, critérios para a definição
visitas técnicas ao Taquaruçu para fazer um levantamento das construções de terra ali presentes, a fim de mapeá-las e dos recortes regionais alvo das políticas, recursos aplicados e atores envolvidos no território selecionado. Verificou-se
mostrar a influência que elas exercem na paisagem local. Com o uso da arquitetura popular de terra percebe-se uma qual o território da Cidadania mais propício para o levantamento primário, ressaltando que no Paraná há quatro desses
identidade no distrito relacionada com a construção de casas contemporâneas de adobe, que direcionam ao (re)equilíbrio territórios: Cantuquiriguaçu e Vale do Ribeira, constituídos em 2008; Norte Pioneiro e Paraná Centro, constituídos em
da paisagem, ao passo que existe também um processo de intervenções urbanas desconexas com o entorno, fomentado 2010. A escolha do estudo de caso recaiu sobre o Território Cantuquiriguaçu pelas seguintes justificativas: a) foi um dos
pela especulação imobiliária e atração de turistas. Dessa forma, este trabalho procura expor como a técnica do adobe primeiros constituídos; b) facilidade para dialogar com os atores que atuam na gestão social do território; c) o volume de
contribui para o (re)equilíbrio e preservação da paisagem de Taquaruçu. De acordo com os estudos bibliográficos e recursos recebidos pelo território está entre os maiores dentre os quatro territórios. O estudo junto ao Território da Cida-
análise da realidade histórica e cultural foi possível detectar que não há entendimento da paisagem de Taquaruçu sem as dania Cantuquiriguaçu busca verificar se as políticas de desenvolvimento regional e territorial sobrepostas neste espaço
construções de adobe, visto que esta arquitetura faz parte da tradição local, além do seu caráter sustentável que dialoga são paralelas ou complementares. Constata-se que estas têm em comum a busca da redução de desigualdades regionais ou
com a natureza em seu entorno. territoriais. Contudo, o estudo bibliográfico e a pesquisa de campo permitem apontar que estas políticas se caracterizam
pela atuação paralela, não havendo complementariedade de ações entre si, pois muitas políticas são de governo e não de
Estado e acabam sendo abandonadas quando governos são substituídos e a participação da população local ainda é muito
Palavra-chave: Taquaruçu, arquitetura vernacular, paisagem. baixa. Essas políticas também sofrem consequências de um problema estrutural encontrado na história brasileira sobre
desenvolvimento que é a falta de continuidade nas ações de planejamento e nas políticas com o objetivo reduzir as desi-
gualdades e promover o desenvolvimento.
O geoturismo, com criação de geoparques ou geosítios objetivando atividades de educação e lazer instrutivo, se estabelece Angeluce Comoretto Parcianello
como potencialidade sustentável para crateras de impacto. Segundo a definição da UNESCO, um geoparque é “um
território de limites bem definidos com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento sócio
econômico local” (CPRM, 2010). Crateras meteoríticas apresentam estas características e são historicamente muito
Este trabalho é fruto de uma pesquisa qualitativa exploratória que tem como objetivo principal identificar o uso das Tecnologias de
especiais por terem exercido importante papel na promoção da geodiversidade. O domo de Araguainha, entre os estados Informação e Comunicação (TICs) no curso de Administração em instituições, da cidade de Santa Maria - RS, nas modalidades de
de Goiás e Mato Grosso, é o primeiro geoparque brasileiro na categoria de astroblema (termo usado em Geologia para ensino presencial e a distância, na percepção dos professores e dos alunos. O estudo desta temática justifica-se pela importância de
designar uma estrutura provocada por impacto de meteorito, cometa ou outro corpo maciço), proposta feita pelo Dr. obter informações, através de entrevista e questionários, de como é o uso das tecnologias e quais ferramentas são oferecidas, quais
Álvaro Crósta (2005), publicada pela comissão brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), vinculada são usadas pelos professores e pelos alunos. Essas tecnologias permitem discutir dúvidas no curso presencial de administração,
à UNESCO. O presente trabalho tem por objetivo analisar os fatores socioeconômicos da região da cratera de Cabeça bem como fazer a interação entre alunos e professores no ensino a distância. As TICs têm surgido numa velocidade e rotatividade
de Sapo que a classificam com potencial parque geoturístico, tendo como pano de fundo a sustentabilidade do bem a altíssima, proporcionando um ensino a distância de qualidade através das tecnologias e seus dispositivos de informação virtual,
ser protegida consoante com a permanência da população residente, esta com capacitação voltada para atividades do servem de facilitadoras para o ensino presencial. Ao analisar o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas modalidades
geoparque. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) vem incentivando o geoturismo para disseminar o conhecimento não do ensino presencial e a distância no curso de nível superior de Administração, tanto os alunos como os professores que foram en-
só geológico, mas também geoambiental, geo-histórico e sua expressão geomorfológica, esta última por ser a expressão trevistados citam o papel dessas ferramentas como propulsor da integração entre o professor-aluno. Isso faz com que o aluno tenha
visual perceptível nos casos de astroblemas. Os projetos em geoturismo devem contemplar a criação de roteiros de segurança. É interessante também que são utilizados os telefones celulares como meio mais rápido e eficiente de comunicação entre
os alunos e os professores.
visitação que utilizam parâmetros e metodologia do turismo, além de todos os conteúdos geológicos, geomorfológicos,
paisagísticos, biológicos e histórico-culturais, à proteção. O projeto deve contemplar também a proteção sob a tutela
da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), que garante os parâmetros estabelecidos Palavras-chave: Tecnologias Sociais. Ensino Presencial. EaD.Curso de Administração.
pela Convenção do Patrimônio Mundial da UNESCO. O reconhecimento da Comissão garante que o sítio proposto
como geoparque, levando em consideração seu valor universal e de excepcional interesse, o que o torna um bem de
responsabilidade de toda a humanidade, portanto protegido. A primeira experiência nascida sob o incentivo do CPRM
foi o Geoparque do Araripe que, em 2006, foi o primeiro das Américas a integrar-se à Rede Global de Geoparques
(Global Geoparks Network, em inglês) 25 países que já possuem 77 geoparques. Outras duas iniciativas cadastradas são
o do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, e o da Bodoquena-Pantanal, no Mato Grosso do Sul. A cratera Cabeça de
Sapo fica localizada no município de Fortaleza dos Nogueiras/MA (seguindo BR 226 fica a 859 km da capital São Luís).
A fertilidade do solo e a diversidade das espécies vegetais atraíram os primeiros habitantes no início do século XIX,
sendo, até 1950, parte do território do município de Riachão. Os atuais 12.413 habitantes estão instalados em uma área
de 1.664.329 km2, com clima tropical e bioma de cerrado (IBGE, 2015). Os habitantes não sabem que possuem uma
estrutura rara: a cratera de impacto Cabeça de Sapo. Assim, é importante que a população residente se aproprie desse
bem para desenvolver-se (a partir dele) de forma sustentável. O sugestivo nome desta cratera foi dado pelo professor
e pesquisador Sergio Brenha, responsável pela sua caracterização, em 2013, e foi inspirado no nome de um povoado
bem perto da sua localização. Ela está situada nas coordenadas 7° 07’ 38. 09” Sul e 46° 05’ 36. 35” Oeste, no município
de Fortaleza dos Nogueiras, no Estado do Maranhão. Ela “ainda não está catalogada, mas já praticamente confirmada
pelo mapeamento com a estrutura de impacto e não mais como provável astroblema como sugerido no mapa do IBGE”
(BRENHA, 2013). Na área em que está situada a cratera há a cachoeira de Macapá alimentada pelos rios Mosquito
e Macapá. A Cratera de Cabeça de Sapo é composta por uma várzea central, circundada por colinas recobertas de
vegetação de grande porte, em todas as bordas da depressão. Apresenta 6,03 km de diâmetro e uma camada de sedimentos
de 508 metros de profundidade, que guardam elementos do clima, da fauna e da flora, de períodos muito antigos da
região. Sua paisagem atual é composta de remanescentes de floresta nativa, propriedades agrícolas e um núcleo rural,
conhecido como Cerrinha. Este estudo pretende definir uma proposta de geoparque e geoturismo no astroblema Cabeça
de Sapo a partir das análises socioeconômicas para contemplar os objetivos propostos pela UNESCO, comentados por
Brilha (2005), sobre como educar e ensinar o grande público sobre temas geológicos e ambientais assegurando um
desenvolvimento sustentável através do geoturismo, bem como reforçando a identificação dos moradores da região com
o lugar, promovendo respeito ao meio ambiente e estimulando atividades socioeconômicas e criação de empreendimentos
como pequenos negócios diversificados e hospedagem gerando novos empregos e fonte de renda.
Neste projeto elaborou-se uma pesquisa sobre os resíduos sólidos orgânicos do Mercado de Pescados Manoel Machado,
localizado no centro do Município de Matinhos - Paraná. Esta pesquisa compõe um projeto guarda-chuva que tem como
O trabalho é fruto de um relato de experiência que compõe o projeto de aprendizagem da discente, no curso de Saúde Co-
cerne a elaboração de indicadores ambientais e gestão costeira.Verifica-se que existem inúmeros fatores que causam o
letiva da UFPR Setor Litoral, denominado Saberes dos Antigos. A experiência tem como cenário a trajetória da Romaria
impacto socioambiental dos resíduos sólidos orgânicos das carcaças de peixes e crustáceos em geral. Propomos neste
do Divino Espírito Santo, tradição do catolicismo popular que ocorreu no mês de abril de 2015, na comunidade da Barra
primeiro momento a transformação dos resíduos sólidos em adubo orgânico, para a reutilização desses rejeitos orgânicos
do Ararapira, que está localizada no litoral norte do Estado do Paraná, pertencente ao município de Guaraqueçaba, mais
que ficam expostos em uma caçamba nos fundos do mercado municipal, ao lado das bancadas onde os pescadores
precisamente situada no extremo norte da Ilha de Superagui. O recorte tem como objetivo pensar a experiência da romaria
manipulam os pescados. O objetivo desta pesquisa é contribuir para o desenvolvimento de ações relacionadas à Educação
enquanto um saber antigo, transmitido de geração em geração, e sua potência de gerar e promover saúde na comunida-
Ambiental formal e não-formal; contribuir para uma melhor qualidade de vida dos pescadores e das pescadoras artesanais,
de, como também evidenciar a estreita relação entre as tradições e as Políticas Públicas e as diversas possibilidades que
dos moradores que moram próximo e dos turistas que visitam e compram os frutos do mar no Mercado Municipal de
emergem deste diálogo. A metodologia utilizada é a observação participante, tendo em vista que neste instrumento o pes-
Pescados. Por meio de estudos realizados na universidade e projeto feito em escolas, criou-se um processo em que as
quisador é sujeito e objeto ao mesmo tempo, sendo um elo com a comunidade, cumprindo o papel de transmitir a infor-
carcaças foram moídas e desidratadas em alta temperatura, resultando em adubo orgânico que pode ser utilizado em hortas
mação. O trabalho se desenvolve através da atmosfera divina na comunidade da Barra, que revela a estreita relação entre
e jardins. Ainda, dentro desse mesmo processo, houve ênfase para a Educação Ambiental, feita através da discussão e
os saberes tradicionais, estes que geralmente são representados pelos mais velhos. O cunho religioso e devoto contido
debates com alunos das séries finais do ensino fundamental. Efetuou-se o manejo do adubo para uma escola de educação
nestes saberes e fazeres e o modo como são transmitidos, sendo a narrativa e a própria experiência os elementos essenciais
básica da região para ser usado no plantio de mudas de espécies nativas da região. Sabendo da natureza arenosa do solo
para o processo ensino-aprendizagem, geram um diálogo entre tradição e fé, cujos conceitos acerca do envelhecimento,
da região litorânea, o tema foi tratado em conjunto com o professor de ciências das séries finais do ensino fundamental.
do processo saúde-doença, bem como aqueles referentes à oralidade e à memória coletiva são discutidos, expressando o
Ações educativas permitiram reflexões à comunidade pesqueira artesanal sobre a grande quantidade de resíduos sólidos
papel que as tradições exercem na comunidade. Os principais resultados referem-se em como as tradições populares, em
orgânicos de pescados encaminhados em um aterro sanitário, localizado em Pontal do Paraná, e sobre a viabilidade do
especial a tradição religiosa, demonstram ser um saber que necessita ser fortalecido pelas diversas potencialidades que
uso desses rejeitos sólidos orgânicos para serem trabalhados pelos pescadores e pescadoras de uma maneira sustentável,
possui e, principalmente, por ser responsável em manter viva a memória dos mais velhos, podendo inclusive resignificar
ampliando as suas rendas e, com isso, formando uma cooperativa na própria colônia artesanal para desenvolver de forma
o processo de envelhecimento em âmbito social. Ressalta-se também que as tradições exercem papel significativo en-
sustentável e econômica a transformação dos resíduos sólidos orgânicos na comunidade de pesca artesanal. Buscou-se,
quanto promotoras de Saúde, uma vez que reorganizam a vida das pessoas, incluindo seus valores e prioridades, tratando
por meio desse trabalho, demonstrar que é possível desenvolver ações relacionadas à Educação Ambiental formal e não-
de suas fragilidades de forma acolhedora e sensível, provocando sentimentos de conforto e esperança, que estão, neces-
formal.
sariamente, conectados ao processo saúde-doença. Considerando também a capacidade de transformação e força de gerar
autonomia que possui as tradições, bem como a necessidade e urgência de estarem cada vez mais atreladas e em diálogo
com as Políticas Públicas.
Palavras-chave: Mercado de Pescados Manoel Machado. Resíduos sólidos orgânicos. Impacto socioambiental. Educação
Ambiental.
O espaço rural do sul do Brasil foi receptáculo da cultura e tradição vinda dos imigrantes, como no Município de Palmeira/
PR. O turismo rural busca valorizar e preservar o patrimônio cultural rural, que é o conjunto de registros materiais
e imateriais decorrentes das práticas, dos costumes e das iniciativas produtivas que se estabelecem historicamente e A região do Litoral do Paraná tem sua base econômica voltada para as atividades portuária, agropecuária e para o turismo.
territorialmente no ambiente rural. O patrimônio cultural rural se expressa no espaço de vivência do indivíduo, mais Abrange sete municípios (Antonina, Guaraqueçaba, Matinhos, Morretes, Guaratuba, Paranaguá e Pontal do Paraná) e
precisamente na paisagem, devido à relação indivíduo-campo. Esta pesquisa tem por objetivo compreender o turismo possui grande parte de seu território inserido em Unidades de Conservação de diversas categorias. As Unidades de Con-
rural como agente de valorização e preservação da paisagem e do patrimônio rural de Palmeira/PR. Assim, buscamos a servação são vistas como empecilhos ao desenvolvimento do litoral, isso se deve aos constantes conflitos ambientais com
leitura sistemática de obras sobre o turismo rural, patrimônio rural e paisagem; e estudo de caso in loco de dois exemplos diversos atores, entre os quais os agricultores familiares, pois estes desconhecem as leis que regulamentam o uso do solo
de turismo rural e de preservação do patrimônio cultural rural, o Sítio Minguinho e o restaurante Bauernhaus. O Sítio e dos recursos naturais do território ao passo que a gestão das UC geralmente não se mostra amigável aos agricultores
Minguinho é um museu com um amplo acervo de imóveis, objetos e utensílios criados ou trazidos pelos imigrantes de em apoiar a promoção do desenvolvimento local, um dos objetivos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação
várias etnias, principalmente pelos alemães do Volga. O Bauernhaus é um restaurante rural que pertence aos imigrantes (SNUC). Para amenizar as dificuldades enfrentadas, agricultores têm buscado se fortalecer por meio de políticas públicas
alemães que colonizaram a região e oferece comida típica e produtos artesanais locais e possui um pequeno museu onde há como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), criado em 1995, que visa financiar, a
a prática do turismo rural pedagógico com ênfase à educação ambiental e cultural. Ambos recebem visitantes do próprio juros acessíveis, atividades relacionadas ao custeio, investimento e comercialização desenvolvidos em estabelecimentos
Município, da região dos Campos Gerais e da Capital paranaense, os quais buscam conhecer os modos de vida rural e a individuais e comunitários. Com o intuito de compreender como o PRONAF tem contribuído para o desenvolvimento da
história dos antepassados. Percebemos que esses dois exemplos estão pautados na essência do campo (paisagem) e do agricultura familiar na região do Litoral do Paraná, este estudo buscou analisar informações sobre recursos demandados
mundo vivido (linguagem patrimonial) de seus sujeitos viventes, levando em consideração o modo de vida e a identidade e número de contratos efetivados, ao longo do período de 2000-2014, nas linhas de créditos de custeio, investimento e
rural. Nesse arranjo, os moradores do campo, ao transmitirem suas vivências e experiências, sentem-se valorizados. comercialização. Trata-se de pesquisa quantitativa que utiliza base de dados secundários disponíveis em bancos de dados,
A valorização do patrimônio rural está expressa e carregada de símbolos e linguagens. Assim, os sujeitos criam uma portais oficiais de transparência do Programa e nos Ministérios. No Litoral do Paraná o número total de contratos para
identidade rural por causa da relação paisagem-indivíduo que é estabelecida. Vemos que a paisagem é um componente o período analisado foi de 5.015 e o montante repassado foi na ordem de R$ 169.495.304,16 de reais. Tomando como
do sujeito em que temos as memórias, os valores e as vivências sendo construídas de dentro para fora, em que a própria base a distribuição espacial de contratos por município é interessante observar que: em primeiro lugar está Morretes
paisagem se manifesta e se transforma a partir das relações sociais entre as pessoas. O turismo rural utiliza símbolos da com 29% dos contratos, em segundo Guaratuba com 28%, seguido de Paranaguá e Guaraqueçaba com 12%, Matinhos
paisagem rural e da memória coletiva resgatando o patrimônio cultural (material/imaterial) rural, valorizando os recursos com 9%, Antonina com 6% e por último Pontal do Paraná com 5%. Em relação às diferentes modalidades, observou-se
naturais e as raízes do campo. O turismo rural apresenta o meio rural a partir das percepções, corroborando as questões que o custeio representou 56% dos contratos, tendo pouca discrepância ao longo do período analisado. Na modalidade
identitárias e abarcando os produtos, modo de produção e a própria paisagem, como vimos nos dois exemplos citados. investimento notou-se um comportamento distinto, visto que para os anos 2008 a 2009 o número de contratos cresceu e
Portanto, o meio rural é formado de espaços vividos implicados de memórias e interações conjuntas. Nele, os indivíduos a partir do ano 2010 apresentou queda expressiva, contudo, ainda representou 44% dos contratos efetivados. Por fim, a
vivenciam e representam os elementos de suas paisagens, através de suas experiências e vivências, sejam elas construídas, modalidade comercialização apresentou apenas 0,3% dos contratos, indicando a baixa adesão a essa modalidade. Como
armazenadas ou redefinidas pelas linguagens patrimoniais e nesse processo o turismo rural contribui para a divulgação e conclusão pode-se observar que o PRONAF foi mais acessado nos municípios de Morretes e Guaratuba, por apresenta-
preservação de suas identidades. rem uma atividade agrícola mais intensa. Além disso, esperava-se que Guaraqueçaba e Antonina tivessem maior procura
pelo PRONAF, por apresentarem atividades agrícola e pecuária, porém em ambos os municípios os agricultores ainda não
estão fazendo uso deste importante instrumento de fortalecimento da agricultura familiar, uma vez que os recursos deste
Palavras-chave: Patrimônio. Rural. Turismo. Paisagem Programa são acessados principalmente pelos pequenos agricultores.
A Educação Ambiental, conforme os autores Pelicioni e Philippi Jr (2002), é um processo de educação política que possi-
bilita a aquisição de conhecimentos e habilidades, bem como a formação de atitudes que se transformam necessariamente
Na Amazônia, global e local, os índios da etnia Palituk, por exemplo, produzem territórios e territorialidades bem parti-
em práticas de cidadania que garantem uma sociedade e um meio ambiente sustentável. Em razão da complexidade da
culares (consumindo Heineken apoiados em seus carros Renault ou Peugeot, enquanto cidadãos franceses recebem ajuda
questão ambiental, surge a necessidade de que os processos educativos proporcionem condições para as pessoas adqui-
financeira do governo para seus filhos). Na Guiana Francesa, em Saint Georges d l´Oyapock, os Palikur estão deixando
rirem conhecimentos, habilidades e desenvolverem atitudes para poder intervir de forma participativa nos processos
de realizar atividades econômicas tradicionais, como a produção da farinha e a pesca. Já os Palikur que vivem do lado
decisórios. A educação ambiental, no seu aspecto de educação política, visa à participação do cidadão na busca de alter-
brasileiro continuam suas atividades de pesca e de plantio de mandioca, inclusive visando excedente, para que possam
nativas e soluções aos graves problemas ambientais locais, regionais e globais. Ela não deve perder de vista os inúmeros e
vender em euro para os ‘parentes’ mais abastados do lado francês e comercializar na cidade de Oiapoque. O limite inter-
complexos desafios políticos, ecológicos, sociais, econômicos e culturais que tem pela frente, seja no momento presente,
nacional do Brasil com a França é feito em grande parte pelo curso do rio Oiapoque. É ainda a principal via de transporte
sejam no futuro, sob uma visão de médio e longo prazo. O aspecto político da educação ambiental envolve o campo da
de pessoas e cargas na região e articulação entre os dois principais núcleos urbanos, a cidade de Oiapoque, no estado do
autonomia, da cidadania e de justiça social, estas, por causa da importância que exercem, são transformadas em metas
Amapá, e Saint-Georges de l’Oyapock, na Guiana Francesa. Esse transporte é feito, sobretudo, por embarcações com
que não podem ser conquistadas num futuro distante, mas devem ser construídas no cotidiano das relações afetivas,
motor de popa denominadas de catraias e conduzidas pelos catraieiros que se organizam em cooperativas. Esses agentes
educacionais e sociais (Reigota 1997). Não há dúvida que a visão de futuro é responsabilidade de todos na busca pela
locais, nos últimos anos, vivem a incerteza de sua reprodução socioeconômica diante da inauguração da ponte sobre o rio
sustentabilidade e a preocupação com o meio ambiente para não comprometer gerações vindouras (YAMAWAKI, YUMI,
Oiapoque e buscam criar mecanismos e estratégias de permanências e variações de suas atividades. O objetivo principal
2011). Mas não bastam bons planejadores com visão de futuro, são necessários instrumentos de conscientização que per-
desse estudo é compreender o desenvolvimento territorial da fronteira Franco-brasileira através da circulação no vale do
mitam a aplicação desse ideal, principalmente nas áreas temáticas das políticas públicas de natureza social, nas áreas da
Rio Oiapoque, caracterizando seus principais fluxos e sua relação para o desenvolvimento territorial sustentável nessa
saúde, educação, meio ambiente, entre outros. Dessa forma, o planejamento urbano é um instrumento importante para a
faixa da fronteira amazônica. A análise sobre a dinâmica desse território recorre à compreensão das redes enquanto força
implementação dos direitos fundamentais. Sociedade justa é aquela que garante direitos iguais a todos os seus cidadãos,
produtiva, nesse caso em específico, as redes de proximidade territorial (LENCIONI, 2006) para ajudar na compreensão
independentemente do local em que eles estejam situados, tanto em relação ao espaço urbano como na hierarquia social.
da estruturação da relação entre a cidade e a região, sob uma perspectiva dialética. As técnicas de pesquisas utilizadas
Tratam-se aqui de valores, bens e direitos que procuram consubstanciar a condição da vida em cidadania.
foram: o levantamento de referenciais teóricos e específicos sobre a área de estudo; trabalhos de campo para registro de
imagens; anotações empíricas e aplicação de entrevistas semiestruturadas junto aos presidentes das cooperativas das ca-
traias da cidade de Oiapoque - BR e Saint Georges d L´Oyapock - FR, representantes indígenas, comerciantes e usuários
Palavras-chaves: Políticas Públicas. Saúde coletiva. Planejamento Estratégico do transporte fluvial das catraias. Destaca-se que a circulação na calha do rio Oiapoque representa um importante nó de
uma região em rede (HAESBAERT, 2010), na qual se insere a rota migratória de brasileiros com destino as cidades de
Caiena e Kourou, na Guiana Francesa (deslocamento feito, na maioria das vezes, de forma clandestina). O fluxo de pes-
soas e as redes sociais estabelecidas entre as cidades de Macapá, Oiapoque e Caiena e vice-versa é muito intenso, pois se
estima que hoje morem mais de 30 mil brasileiros em Caiena. Políticas públicas exógenas, como a construção da ponte
sobre o rio Oiapoque, a fim de atender os objetivos da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Ame-
ricana/IIRSA, ou a criação de extensas áreas de conservação ambiental, não dialogam com a base local desse território,
provocando grandes impactos para a sua sustentabilidade.
Leila Maria Lemos, Camilo Castro Oliveira, Delnice Cardoso Veiga, Andréa Jaqueira Borges Patricia Aparecida Model, Valdir Frigo Denardin
As feiras livres são canais de comercialização de produtos da agricultura familiar, porém ainda não recebem a atenção
A Maranta arundinacea L.(Araruta) possui diversas qualidades, tanto medicinais quanto culinárias. No território
necessária por parte das políticas públicas e os programas de desenvolvimento rural ou, quando recebem, há forte caráter
brasileiro o seu cultivo teve significativo declínio com a produção de amidos de outras culturas, como a mandioca,
produtivista, em que a análise das categorias sociológicas envolvidas na atividade é deixada em segundo plano. No litoral
por exemplo. Porém, no Recôncavo Baiano, especificamente nos municípios de Conceição do Almeida e São Felipe, a
do Paraná, a questão da agricultura familiar e também das feiras livres possui especificidades, por causa da sazonalidade
araruta tem tido representatividade significativa na produção agrícola. Nesse contexto, reconhecendo a importância de
local, relacionada à alta e baixa temporada. O território possui uma área física de 6.057 Km2 (relativamente pequena), dis-
um manejo mais sustentável no sistema produtivo da araruta, torna-se relevante a adoção de práticas que sejam mais
tribuída em sete municípios e aproximadamente 82% de sua área é coberta por unidades de conservação, que se dividem
harmônicas com a exploração e uso dos recursos naturais, evitando-se danos significativos ao meio ambiente. Nesse
em: APP (Área de Preservação Permanente) e APA (área de proteção ambiental). Nesse contexto, há um quadro paradoxal
sentido, o objetivo da pesquisa será analisar, a partir da visão do agricultor, o sistema produtivo da Araruta (Maranta
de subdesenvolvimento e conservação ambiental, no qual a agricultura familiar apresenta fragilidades socioeconômicas.
arundinacea L), em municípios do Recôncavo Baiano, quanto à visibilidade e/ou invisibilidades de práticas ambientais.
O objetivo deste estudo foi analisar as formas de comercialização de produtos através dos circuitos curtos de comerciali-
A pesquisa será de natureza descritiva, de abordagem qualitativa, em que terá os agricultores familiares, produtores da
zação, refletindo sobre impactos da temporada de verão e da sazonalidade. O objeto de análise foi a feira livre, “Matinfei-
araruta, como participantes do estudo, e em que será utilizada a técnica da bola de neve e o critério de saturação para a
ra”, que está inserida no município de Matinhos, estado do Paraná, considerando as especificidades e desafios existentes
seleção dos participantes. A coleta de dados será por meio da entrevista semiestruturada e observação direta, com roteiro
entre os locais envolvidos. A metodologia adotada para construção deste trabalho foi constituída de revisão bibliográfica
contendo, inicialmente, oito perguntas e um bloco de notas para subsidiar o processo de observação. Para a análise
e pesquisa de campo, com observação local. Para levantamento de dados foi aplicado de janeiro a março, de 2014, um
dos dados será utilizado o método da análise de conteúdo temática, segundo Minayo. Assim, espera-se que a pesquisa
questionário aos feirantes, que foi tabulado e analisado, na busca de compreender a complexidade ali existente. No caso
favoreça a reavaliação de práticas agrícolas prejudiciais ao meio ambiente, favorecendo a minimização de prejuízos
“Matinfeira”, foi possível observar a satisfação dos feirantes com a atividade, pois a comercialização direta com o consu-
ambientais, descontruindo atitudes e ações ambientalmente incorretas quanto ao manejo dos dejetos resultantes dos
midor cria um vínculo de amizade e confiança entre os próprios feirantes e entre estes e sua clientela, possibilitando trocas
cultivos, viabilizando uma produção mais sustentável, com benefícios para os agricultores e para o meio ambiente.
não mercantis. Acerca da sazonalidade verificou-se que a população local aumenta até 10 vezes seu volume no período
de verão, mesmo com um fluxo maior de pessoas transitando no espaço da feira o volume de vendas dentro da feira não
oscila; 72% dos feirantes entrevistados veem como negativo o fluxo de venda neste período. Uma particularidade da “Ma-
Palavras chave: Preservação ambiental. Cultivo. Agricultura familiar. Práticas sustentáveis.
tinfeira” é sua dependência de um grupo de menos de duzentas pessoas/consumidores, média verificada entre os meses
de verão, que consomem ou circulam entre as barracas da feira. Fato que reforça que o volume de vendas dentro da feira
não oscila, especialmente com 57% dos feirantes considerando ruim a participação neste período. Observa-se ainda que
os frequentadores assíduos da “Matinfeira” são majoritariamente alunos e servidores da UFPR (Universidade Federal do
Paraná), mas também há pessoas que não possuem vínculo com a universidade, porém em número bem reduzido. A baixa
adesão por parte da comunidade local faz refletir sobre o desconhecimento da mesma sobre assuntos tão importantes que
vão desde o capital social de uma localidade, as trocas identitárias existentes neste ambiente, a importância de fortalecer
essa troca de saberes, até o consumo consciente de produtos sustentáveis, além do fomento e fortalecimento da agricultura
familiar de nossa região, sendo esta de extrema importância cultural e social.
Leila Maria Lemos, Camilo Castro Oliveira, Delnice Cardoso Veiga, Eliete Serra Rodrigues
Huilquer Francisco Vogel, Jairo José Zocche
As questões ambientais tornaram-se uma preocupação mundial desde a primeira Conferência das Nações Unidas, rea-
lizada em Estocolmo (1972). No Brasil, conquistas e avanços importantes foram dados após a Conferência das Nações
Diversas abordagens de restauração ecológica estão baseadas na criação de núcleos de vegetação por um conjunto de Unidas sobre o Meio Ambiente e o desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro. Com a implantação da Política
técnicas denominadas nucleação. Dentre as técnicas de nucleação é muito difundida a utilização de poleiros artificiais Nacional de Educação Ambiental, em 1999, ficou determinado o desenvolvimento da temática meio ambiente nas escolas
que, ao atrair aves, atuam promovendo a restauração de espécies de plantas por meio do aumento do aporte de semen- ao longo do ano letivo nas diferentes disciplinas ofertadas. No entanto, a Mata de Cazuzinha, um remanescente de Mata
tes com síndrome de dispersão zoocórica. Contudo, a principal hipótese propõe que em habitats degradados existe uma Atlântica, localizada na cidade de Cruz das Almas, na Bahia, possui requisitos importantes para a realização de ativida-
deficiência de dispersores especializados. Dentre os biomas Brasileiros mais afetados pelo desmatamento está a Mata des voltadas para a Educação Ambiental, além de ser um patrimônio que precisa ser preservado. Destaca-se que grande
Atlântica e Cerrado. Desse modo, o objetivo deste trabalho foi avaliar quais espécies de aves são mais frequentes na uti- parte da população local desconhece a importância da preservação desta área, sendo necessário que o ambiente escolar
lização de poleiros artificiais destinados à restauração ecológica em habitats degradados do Cerrado e Mata Atlântica. A proporcione a conscientização por meio da educação ambiental. Nesse contexto, o objetivo da pesquisa é elaborar um
pesquisa foi realizada utilizando a opção de busca avançada do software Publish or Perish para encontrar listas de aves plano de ação em educação ambiental, no qual os professores serão os multiplicadores, para os estudantes da 1ª série do
que utilizaram poleiros em relatórios de pesquisa, monografias, teses, dissertações e artigos científicos desenvolvidos nos Ensino Médio, utilizando a Mata de Cazuzinha. Além disso, incluir ações de conscientização dos alunos acerca das suas
biomas estudados. Com base nos estudos encontrados, foi obtida uma matriz de presença e ausência. Para cada uma das responsabilidades com o meio ambiente, empregando as diferentes disciplinas do ano letivo; e fomentar o sentimento de
espécies foi calculada a frequência de ocorrência (FO%), este índice consiste na frequência de incidência de cada espécie pertencimento com uso das principais redes sociais e tecnologias de comunicação. A pesquisa será descritiva, com abor-
para o total de amostras (neste caso, cada estudo utilizando poleiros artificiais). A proposta de categorias utilizada para dagem qualitativa, e os participantes do estudo serão todos os alunos matriculados na 1ª série do Ensino Médio da escola
agrupamento em classes de frequência foi: (a) constante (percentual igual ou acima 50%); (b) acessória (entre 25% a Montessori em Cruz das Almas – BA e também os professores. A coleta de dados ocorrerá por meio de entrevista semies-
50%) e acidental (abaixo de 25%). As proporções de aves dentro de cada categoria foram comparadas utilizando o teste truturada, contando, inicialmente, com 12 questões. Mediante a pesquisa, espera-se que haja uma importante contribuição
Qui-quadrado (χ²). Ao total, foram encontrados 13 estudos (23% deles no Cerrado). Foi obtido um total de 121±8,06DP na formação de um indivíduo crítico e consciente de suas responsabilidades com o meio ambiente, apto a defender a Mata
espécies, das quais n = 92 ou 76,03% foram consideradas acidentais. Esta classe também foi a que obteve maior propor- de Cazuzinha para que as gerações futuras também possam ter acesso aos seus benefícios. Além disso, fomentar a discus-
ção de aves em comparação com as demais categorias (χ² = 102,06; 2 GL, P = 0,00). Espécies com frequência acessória são do tema nas escolas e na comunidade.
totalizaram n = 22 (18,18%), enquanto apenas sete (5,78%) foram consideradas na categoria constante. As espécies
com maior frequência de ocorrência foram: Tyrannus melancholicus e Pitangus sulphuratus, ambas com FO= 75%,
Mimus saturninus, com FO= 66,66%, enquanto Columbina talpacoti, Furnarius rufus, Turdus rufiventris, Tyrannus
savana e Zonotrichia capensis obtiveram FO = 50%. Estes dados apontam que um pequeno número de espécies possui Palavras Chave: Política Educacional. Didática. Conscientização Ambiental. Tecnologias Comunicacionais.
elevada intensidade na utilização de poleiros artificiais para a restauração da Mata Atlântica e Cerrado. Estas espécies
são características de bordas de florestas e ambientes abertos. Fica claro que aves generalistas são fundamentais para
aumentar o aporte de sementes em ambientes degradados, corroborando a hipótese de que espécies frugívoras são
ocasionais ou acidentais em ambientes alterados. Desse modo, mais ênfase deve ser dada para insetívoros generalis-
tas que possuem capacidades de dispersar sementes. Por fim, deve-se compreender melhor a forma de utilização dos
poleiros por aves granívoras, bem como possíveis serviços ecossistêmicos prestados.
Tieme Carvalho Nishiyama, Marcos Claudio Signorelli Ariane Maria Basilio Pigosso, Eduardo Vedor de Paula
O processo administrativo conhecido como Licenciamento Ambiental se configura como importante instrumento de
A violência doméstica praticada em suas diversas formas atinge, principalmente, pessoas em situação de vulnerabilidade, gestão do território pertencente à Política Nacional do Meio Ambiente, responsável por regular a instalação e operação
como mulheres, idosos, crianças e, particularmente, pessoas com deficiência (PcD). Além de prejuízos à vítima e à família, de atividades potencialmente poluidoras ou degradadoras do meio ambiente. O presente estudo analisou o processo de
os efeitos da violência afetam também a comunidade, o sistema de saúde e, por implicação, acarretam desafiadora agenda Licenciamento Ambiental da reativação do canteiro de obras da Techint S.A, em Pontal do Paraná /PR. Em 2003, a empresa
no campo da saúde coletiva e das Políticas Públicas. Com intuito de identificar e analisar o funcionamento das redes responsável pela construção de plataformas continentais necessitou reativar seu canteiro de obras para o recebimento
de atendimento à saúde do município de Paranaguá/PR, no que diz respeito a esta temática, a partir da ótica de agentes de novos contratos. O canteiro havia operado por alguns anos, durante a década de 1980, quando foi implantado e
comunitários de saúde, a presente pesquisa objetivou mapear as percepções de agentes comunitários de saúde (ACS) do permanecia inativo até então. Para reativá-lo foi necessário passar pelo processo de Licenciamento Ambiental, que ainda
Município sobre a questão da violência doméstica contra PcD, buscando sistematizar casos identificados por eles em não existia quando da primeira instalação da empresa no local. Através da análise da documentação processual junto
usuários adscritos às suas respectivas áreas, bem como encaminhamentos prestados. A partir de aprofundamento teórico ao órgão licenciador, foi possível traçar uma linha do tempo das emissões das licenças e elencar quais estudos e quais
nas questões de gênero, deficiência, violência e saúde coletiva, elaborou-se um instrumento de pesquisa quali-quantitativo, medidas compensatórias e mitigadoras foram requeridos para a emissão dessas licenças. Entendeu-se que o processo
com 21 questões. O instrumento foi aplicado a 111 dos 150 ACS de Paranaguá, que responderam voluntariamente, ocorreu de forma fragmentada e simplificada, de maneira que cada objeto de licenciamento parecesse único e sem que
durante a concretização de 5 oficinas de formação, realizadas nas Unidades Básicas de Saúde do Município, sobre a fossem contemplados aspectos relevantes da localidade, como a vocação turística e os remanescentes de Mata Atlântica,
Política Nacional de Saúde das PcD. Do total de questionários aplicados (111), 87,3% foram respondidos por ACS hotspots de biodiversidade, prioritários para conservação.
mulheres. Cerca de 30% dos entrevistados já tiveram conhecimento de casos de violência doméstica contra PcD em seus
territórios de atuação, incluindo desde o relato da vítima ou da família/cuidadores, percebendo os sinais (sem relatos) até
presenciando casos. As mulheres foram as principais vítimas (64,5%); os homens, os mais apontados como perpetradores Palavras-chave: Licenciamento Ambiental; Reativação de Empreendimento; Pontal do Paraná/PR.
da violência (62,5%). Em relação às violências, as de maior destaque foram: violência física (57,5%), psicológica (48,4%)
e verbal (42,4%). As vítimas possuíam, principalmente, deficiência intelectual (42,4%) ou motora (30,3%). 36,3% dos
casos não tiveram nenhum encaminhamento, enquanto 84,8% dos entrevistados revelaram dificuldades para lidar com
o problema. Após contato com os ACS durante as oficinas, aplicação de questionários e análises dos dados coletados,
tornou-se evidente a dificuldade que estes profissionais possuem em lidar com tais acontecimentos, encontrando diversos
entraves no decorrer do processo de atendimento, cuidado e amparo da PcD. Um exemplo citado por eles durante as
aplicações dos questionários foi a falta de profissionais capacitados para atender a casos de violência doméstica contra
PcD, a dificuldade em dar continuidade nos processos devido às falhas entre as redes de atendimento à saúde, bem como
a insegurança que eles mesmos encontram para tratar esses casos. Diante do exposto, considera-se que a temática da
violência doméstica, mais especificamente neste estudo a que recai sobre PcD, se configura em um tema extremamente
complexo de ser abordado na prática, uma vez que, além das dificuldades de atendimento, diálogo e suporte existentes
entre as redes atenção à saúde, esta problemática se encontra permeada por questões de gênero e relações de poder, por
outro lado, destaca-se no Município importante potencialidade na recente criação do Núcleo municipal de prevenção da
violência e promoção da Cultura da Paz.
O objetivo deste trabalho é relatar os indicadores participativos de saúde mental do grupo fisioterapêutico em uma co-
Este trabalho faz uma discussão acerca da dinâmica territorial e das implicações socioespaciais no município de São Luis munidade na Floresta Atlântica do Brasil. Para tanto, foi utilizada a atividade educativa e participativa de investigação e
Gonzaga do Maranhão, sob a ressalva destas se tratarem de questões de políticas territoriais. O município localiza-se na ação social, com oficinas de educação e questionários aplicados aos moradores no entorno da Microbacia do Rio Sagra-
Mesorregião do Centro Maranhense e na Microrregião do médio Mearim, tendo como polo de desenvolvimento a cidade do, em Morretes - PR, Brasil. O local possui características rurais e pertence à Área de Preservação Ambiental (APA)
de Bacabal. Já, segundo a divisão em zonas ecológicas, o município localiza-se na zona dos cocais. Esta pesquisa abor- de Guaratuba. A experiência fez parte da coleta de dados, entre agosto e dezembro de 2014, da pesquisa “Promoção de
dou especificamente os desmembramentos e emancipações dos principais municípios limítrofes do mesmo, municípios Saúde e Qualidade de Vida para o Desenvolvimento Territorial Sustentável, baseado nos critérios públicos Città’slow”,
estes que outrora fizeram parte de seu território. Diante da constatação de uma analogia de interdependência econômica composta por 56 pessoas, sendo: agricultores (61%), aposentados (2%), comerciantes (7%), donas de casa e agentes
e comercial do respectivo município junto aos municípios circunvizinhos, considerou-se pertinente a elaboração de um comunitárias de saúde (9%). As principais queixas delas eram: dores crônicas musculares na cintura escapular e ao
estudo que fizesse uma inter-relação entre a estagnação política, os entraves rodoviários e a dinâmica de ocupação territo- longo da coluna vertebral; estados depressivos e ansiosos. Foram desenvolvidas dinâmicas de acolhimento, exercícios
rial; numa perspectiva que explicasse a transição e o processo pelo qual São Luis Gonzaga passa para condição de muni- psicomotores e posturais, rodas de conversa sobre relações entre saúde, cultura local e meio ambiente. O encontro para
cípio. A pesquisa fundamentou-se no método dialético com viés para a Geografia de percepção. Os procedimentos foram: a realização dessas atividades aconteceu uma vez ao mês. Os principais resultados obtidos destacaram os indicadores
análise bibliográfica e trabalhos de campo. Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados procedimentos como: de saúde mental, que são: a participação dos membros do grupo na escolha dos exercícios; a valorização da diversidade
entrevistas em órgãos públicos e análise documental de ações que visassem o “planejamento urbano” da área em estudo, cultural e ambiental; o relacionar-se com as pessoas; a identidade de cada membro do grupo sendo preservada; e a soli-
buscando uma ponderação entre o discurso oficial e a efetivação das políticas públicas. Objetivando contribuir na análise dariedade. Todas as pessoas da amostra referiram diminuição das dores crônicas e diminuição dos estados de ansiedade
sobre o território, no contexto da política de desenvolvimento territorial, em especial, refletir de que maneira as políti- e depressão. Os indicadores de saúde mental mapeados neste estudo ampliam as possibilidades de promoção das huma-
cas públicas estão sendo pensadas e encaminhadas regionalmente no Estado do Maranhão. Haja vista, que o município nidades no grupo fisioterapêutico, pois interferem na subjetividade e intersubjetividade das pessoas, contribuindo para
em estudo emancipou-se (1939) sendo a priori habitado por indígenas e posteriormente por portugueses. Este território o desenvolvimento sustentável.
sofreu sucessivas modificações que deram lugar à criação de outros municípios. Para tanto, constatou-se que, embora
o município tenha sido o precursor dos municípios adjacentes a ele, sua configuração socioespacial em termos “desen-
volvimentistas” apresenta-se em posição inferior aos demais. O que sugere também inferir que a raiz do problema no
município é um reflexo da ineficácia de políticas, de modo que o território estudado apresenta diferenças significativas no Palavras-Chaves: Grupo Fisioterapêutico, Saúde Mental, Desenvolvimento Sustentável. Meio Ambiente.
que diz respeito à aplicação das mesmas. Desta maneira fez-se necessário refletir sobre os desdobramentos do desenvol-
vimento territorial nas diferentes realidades encontradas nestas regiões. Dentre as povoações que pertenciam ao antigo
município de São Luis Gonzaga, destaca-se Bacabal, hoje um dos mais importantes municípios do interior maranhense.
Ao lado de Bacabal, o município de Pedreiras constitui-se como um dos mais “desenvolvidos”, dentre tantos outros que
têm São Luis Gonzaga como “município-mãe”. Nesse sentido, entende-se que as demandas e necessidades são diversi-
ficadas e desta maneira é interessante repensar o sentido das políticas públicas de planejamento e desenvolvimento de
acordo com as carências de cada lugar.
Mariely De Andrade Coelho, Paula Grechinski Demczuk Bruna Garcia, Cícero Deschamps, Humberto Ribeiro Bizzo, Marco Antonio Pinto, Luiz Antonio biasi, Luiz Everson da
Silva, wanderlei do Amaral
O trabalho que aqui se apresenta tem como objetivo principal estudar o turismo enquanto instrumento de desenvolvimen-
to territorial sustentável de uma comunidade faxinalense. Os faxinalenses são grupos sociais que compõem territórios Os óleos essenciais são misturas complexas de substâncias voláteis, amplamente utilizadas pela indústria farmacêutica,
específicos da região Centro e Centro-Sul do Estado do Paraná, desde o início do século XVIII. De acordo com a Lei alimentícia e de cosméticos. Nas espécies vegetais desempenham funções ecológicas de defesa e atração de polinizadores
15.673, de 13/11/2007, Art. 1º, o Estado do Paraná reconhece os faxinais e sua territorialidade específica e peculiar do e têm sua produção regulada pelas condições do ambiente. Este trabalho visou avaliar o teor e composição química do
estado do Paraná, que tem como traço marcante o uso comum da terra para produção animal e a conservação dos recursos óleo essencial das folhas frescas e secas das espécies Salvia aliciae E.P dos Santos, Hyptis suaveolens (L.) Poit e Hyptis
naturais. O objeto de estudo desta pesquisa é Faxinal Taquari dos Ribeiros, instituído no ano de 1900 e situado cerca de brevipes Poit, família Lamiaceae, nativas da Floresta Atlântica do Estado do Paraná. As coletas das amostras para a ex-
20 km da sede do município de Rio Azul-PR. Os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa são de caráter tração do óleo essencial, a fotografia e as exsicatas para a identificação botânica das espécies foram realizadas na Reserva
exploratório e cunho qualitativo. Após reflexão teórica, realizou-se a pesquisa de campo, a fim de identificar as carac- Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Butuguara, no município de Palmeiras - PR, com formações de Campos Gerais.
terísticas da comunidade com potencial turístico, utilizando-se das técnicas de entrevista e observação para a coleta de A identificação e tombamento das espécies foram feitos no Herbário HFIE. A secagem das amostras para extração com
dados. Como resultado é possível afirmar que Faxinal Taquari dos Ribeiros conta com potencias turísticos, sendo eles: material seco, foram submetidas à secagem em secador elétrico modelo FANEM - Mod. 320 SE, com circulação de ar a
modos de vida tradicionais (incluindo o uso e ocupação do território e utilização dos recursos naturais), aspectos culturais 40º C por 24 horas. A extração do óleo essencial foi realizada por hidrodestilação das amostras frescas e secas em aparelho
específicos (como o uso comum da terra, criadouros comunitários e transmissão do conhecimento entre gerações) e a graduado tipo Clevenger. A composição química foi analisada por meio de cromatografia em fase gasosa acoplada ao
paisagem natural. Destaca-se nesta pesquisa a atividade turística como uma contribuição para a conservação do modo de espectrômetro de massa (GC/MS). A espécie Salvia aliciae não apresentou óleo essencial, enquanto que a espécie Hyptis
vida faxinalense e o desenvolvimento sustentável desta comunidade. Com base nessa consideração é válido afirmar que brevipes só apresentou óleo essencial após a secagem (0,09 %), com beta-pineno (55,5%) e alfa-pineno (12,8%) como
o turismo pode sim figurar-se como uma atividade capaz de contribuir para o desenvolvimento territorial sustentável da constituintes majoritários no seu óleo essencial. Hyptis suaveolens apresentou 0,18% e 0,31% de óleo essencial nas amos-
comunidade faxinalense. Observa-se que Faxinal Taquari dos Ribeiros conta com recursos turísticos de caráter natural e tras fresca e seca, respectivamente, tendo como componentes majoritários em seu óleo essencial nas amostras frescas
cultural, onde vários segmentos turísticos poderiam ser desenvolvidos, como turismo rural, histórico, cultural, de aven- alfa-pineno (18,6 %) e isodauceno (15%), e nas amostras secas apresentou um acréscimo no alfa-pineno (25,7%), uma
tura, entre outros, visando sempre à permanência e bem estar dos moradores locais e contribuindo para a conservação redução na concentração de isodauceno para 0,4% e um acréscimo de na concentração de biciclogermacreno de 0,4% para
do modo de vida particular dos povos faxinalenses. Quando a atividade turística ocorre de forma planejada é possível 10,3% após a secagem.
contribuir de modo significativo para a comunidade local e seus modos de vida, valorizando os sabes e costumes locais e
possibilitando o desenvolvimento territorial sustentável.
Palavras chaves: plantas medicinais e aromáticas, metabólitos secundários, terpenos.
Jonathan Santos Pericinoto, Ana Paula Colavite Luiz Fernando Zelinski da Silva
O presente resumo configura um recorte do projeto de Iniciação Científica, intitulado “Transformações da paisagem na A Mobilidade Urbana é crucial para o desenvolvimento das cidades. A integração entre a bicicleta e os modos de transpor-
interface urbano/rural na cidade de Campo Mourão-PR: 1960-1980”, desenvolvido na Unespar – Campus de Campo te motorizados constitui um desafio no planejamento do transporte urbano atual e para os gestores públicos encontrarem
Mourão. Nesse momento, buscou-se abordar o uso de fotografias históricas para análise das transformações da paisagem, soluções que favoreçam essa Mobilidade. O recorte escolhido para responder o problema de pesquisa foi o município de
especialmente no tocante à interface urbano-rural. O município de Campo Mourão obteve intensas mudanças em sua Matinhos, localizado no litoral do Paraná, pois este apresenta características socioeconômicas e geográficas que tornam
paisagem entre as décadas de 1960 e 1980, subsequentes do crescimento do urbano sobre o espaço rural, promovido a bicicleta meio de transporte viável aos moradores por causa do baixo custo e do fácil deslocamento. O crescimento
pela saída do homem do campo e sua instalação na cidade. Objetivou-se compreender a dinâmica das modificações que do espaço físico urbano não planejado, o aumento da frota de automóveis e a ausência de infraestrutura cicloviária ade-
se processaram de forma ágil no espaço geográfico do município, analisando o processo de expansão urbana sobre os quada põem em risco a segurança de pedestres, ciclistas e motoristas. Este trabalho teve por objetivo aplicar e adaptar
elementos naturais e a área rural, bem como os reflexos interpostos à paisagem. A pesquisa desenvolveu-se respaldada instrumentos para diagnosticar conflitos intermodais em ambientes urbanos a fim de elaborar propostas para a criação
nas seguintes etapas: leitura de textos, que focam a análise da paisagem cultural (SAUER, 1925; BERTRAND, 1972 e de circuitos cicloviários. Neste trabalho são analisados os planos do governo e identificadas as ferramentas que contri-
2009; CORRÊA, ROSENDAHL, 2007; COSGROVE, 2007); visita ao Museu Municipal Deolindo Mendes Pereira de buem para responder o problema de pesquisa proposto, a saber, métodos para a elaboração de um circuito cicloviário: o
Campo Mourão, com levantamento de fotografias e demais dados históricos; busca na Secretaria de Planejamento de caso do município de Matinhos – Paraná. São aplicados métodos de contagem de fluxo e questionário socioeconômico,
Campo Mourão por produtos cartográficos e fotografias aéreas; trabalho de campo para visualização dos aspectos ainda adequados para identificar e propor, de forma eficiente, um circuito cicloviário que venha a atender as demandas locais.
preservados na paisagem e quais alterações a mesma sofreu; e atividades laboratoriais para sistematização dos dados As ferramentas desenvolvidas e aplicadas neste trabalho mostraram-se capazes de contribuir para a elaboração de um cir-
coletados e sua análise. Resultados preliminares indicam que desde o início do processo de ocupação do município de cuito cicloviário. No primeiro momento, com identificação dos locais de maiores conflitos entre os modos de transporte
Campo Mourão (início do século XX) até a atualidade houve grandes mudanças no cenário paisagístico local, com amplo que evidenciam a falta de infraestrutura adequada, capaz promover mobilidade e segurança aos usuários. No segundo
desenvolvimento dos aspectos urbanos, em detrimento da natureza e posteriormente da área rural, áreas de floresta foram momento, cumpre seu objetivo de traçar o perfil do ciclista de Matinhos, propondo-se conhecer o público a ser beneficia-
derrubadas para extração da madeira e implantação da cidade. Nesse processo, não apenas as espécies vegetais foram do por essa infraestrutura, assim como suas características socioeconômicas e de uso da bicicleta para deslocamentos no
devastadas, mas também a fauna foi perdida. Algumas das construções antigas ainda permanecem com rugosidades na Município. Ao analisar os resultados das metodologias aplicadas é possível propor um circuito de ciclovias e ciclofaixas
paisagem, marcas de um tempo passado com suas características próprias que retratam como o espaço começou a ser para o município de Matinhos.
construído e a paisagem alterada.
Sidney Vincent De Paul Vikou, Cinthia Maria De Sena Abrahao, Marcelo Chemin, Fernanda Hidalgo Nicoluzzi Patricia Aparecida Model, Valdir Frigo Denardin, Liliani Maria Tiepolo
O presente trabalho é fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica (PRPPG/UFPR) vinculada ao Projeto “Dinâmicas e Estudos sobre o crescimento de um país não conseguem avaliar seu real desenvolvimento, pois observam somente o
configurações do turismo no Litoral do Paraná”, que objetiva analisar o quadro de desenvolvimento socioeconômico e capital gerado. Trabalhos solidários ou voluntários podem ser pensados como formas de confrontar essa realidade “ca-
de organização espacial da atividade turística, com a finalidade de constituição de base de dados e subsídios analíticos e pitalista”, tentando perceber oportunidades onde muitos só veem limitações. Este trabalho descreve o projeto Rede de
propositivos para elaboração e implementação de políticas públicas. O litoral do Paraná é uma região que dispõe, com Apoio para o Desenvolvimento Integrado do Algarve – Radial, implementado no interior rural do sul de Portugal; e busca
base nos seus atrativos naturais e culturais, de forte potencial para o desenvolvimento de múltiplos segmentos da atividade conhecer suas formas de organização e intervenções como fomentador no desenvolvimento rural local. A metodologia
turística. Ele se destaca dentro das regiões do Estado tanto do ponto de vista ambiental como turístico. Ambientalmente, se deu através de pesquisa bibliográfica acerca do projeto Radial e também se buscou similaridades com comunidades do
a região representa um dos últimos remanescentes ainda bem preservados do bioma da Mata Atlântica, com um total Litoral do Paraná. O projeto Radial iniciou suas atividades em 1985 a partir de Alberto Melo, por meio de um plano de
de 32 diferentes tipologias de Unidades de Conservação (federais e estaduais), dentro das quais estão 12 parques que ação integrado objetivando gerar desenvolvimento local na Serra do Caldeirão a partir das potencialidades da comunida-
atendem ao objetivo de preservação da biodiversidade. Já no que se refere ao turismo, ela representa uma das 14 regiões de. Comunidade onde os moradores tinham cultura de subsistência, mesmo sendo uma região pouco fértil. Este território,
turísticas do Estado e tem na Ilha do Mel um de seus principais polos de projeção e visitação. Mesmo assim, observa-se vítima da marginalização provocada pela economia moderna mundial, tinha uma população com baixa estima e que não
um tímido desenvolvimento da atividade turística, com predominância do segmento de turismo de sol e praia, que se acreditava mais na sua capacidade de resistir ao seu próprio desaparecimento. A princípio, o projeto foi financiado pela
restringe aos meses de alta temporada de verão. Tal segmento mobiliza apenas 23% dos atrativos do Litoral. Isso posto, Fundação holandesa Bernard van Leer. Sua atuação se deu em formato de gestão participativa com reuniões que origina-
buscou-se analisar o potencial e as dificuldades das Unidades de Conservação (Parques Nacionais e Estaduais) da região, ram decisões e trabalhos desenvolvidos coletivamente com envolvimento da população, a fim de terem iniciativa e não
numa perspectiva de sustentabilidade e desempenho turístico. Nesta ocasião comunicam-se resultados parciais relativos somente uma abordagem top-down. O projeto iniciou-se com três centros para ações: formação de centros infantis, for-
ao Parque Nacional Saint Hilaire/ Lange, que possui uma área de 25.000 ha, distribuída nos municípios de Guaratuba, mação para o auto-emprego e apoio às associações. Sua implantação inicial foi aprovada em quatro comunidades locais
Matinhos, Morretes e Paranaguá. Por meio de pesquisa exploratória, bibliográfica e documental foram coletados dados e ampliou-se gradativamente. Percebe-se que, quando a escala de produção local é pequena ela é inviável, mas quando é
primários, via entrevista com o gestor do parque; e dados secundários, através de acesso à base de dados de órgãos da ampliada, então deixa de ser caseira e manual. Isso levou a comunidade a combinar qualidade e raridade, formando “pro-
esfera administrativa. Por fim, procedeu-se a uma análise quali-quantitativa dos resultados obtidos. Dentre os principais dutos culturais” que tornaram o território atraente e a comunidade sentiu-se encorajada a buscar alternativas de geração de
resultados, foi identificado que, no que tange à estrutura de funcionamento do Parque, ele está aberto à visitação, apesar renda, como pelo turismo rural, gerido pela população local. Trazendo esta realidade para o Litoral do Paraná, observamos
de não ter uma infraestrutura específica para esta finalidade. Das opções que estimulam à visitação, o passeio, a aventura alguns movimentos que promovem o desenvolvimento local ou buscam promovê-lo de forma semelhante apresentado
e a pesquisa se destacaram como os principais. O perfil dos turistas da unidade engloba os veranistas e os montanhistas, no projeto Radial. Nesse sentido, destaca-se um projeto realizado pela Universidade Federal do Paraná com as artesãs de
que visitam a unidade em diferentes períodos do ano. Apesar da potencialidade expressa por um total de 23 atividades Antonina que trabalham com matéria-prima regional e/ou elementos de sua identidade, “vão desde os trabalhos manuais
realizáveis em áreas naturais, poucas são as atividades turísticas efetivamente desenvolvidas pelo parque. Atualmente, as a partir de matérias-primas manufaturadas – bordados, pinturas, crochê etc. - até artigos elaborados artesanalmente com
atividades de caminhada, escalada, observação e trilhas são as exploradas no parque. Em termos de potencialidade, um matérias-primas regionais - conchas, couro de peixe, fibras vegetais, barro, bambu, entre outros. Percebeu-se que mesmo
conjunto adicional de onze novas atividades turísticas pode ser desenvolvido. Portanto, para um efetivo uso turístico do com apoio institucional, ainda existem conflitos e muitas vezes os trabalhos são individualistas” (Sulzbach et al 2011).
Parque Nacional Saint Hilaire/ Lange é preciso investir na sua infraestrutura de recepção e visitação, além de trabalhar A partir do exposto, podemos perceber que é possível desenvolver, mesmo com dificuldades, novas formas de trabalho e
a visibilidade de seus atrativos. renda sustentável, com base nas potencialidades dos atores locais e, de forma participativa, ter projetos em comum. O lo-
cal é o nível mais próximo em que podemos atuar para transformar uma região. É necessário o combate à uniformização,
Palavras-chave: Turismo, Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange, Uso público, Litoral do Paraná. pois ela não enxerga as singularidades de cada local em especial e limita seu desenvolvimento humano e social.
Erica Vicente Onofre, Pedro Sarkis Simoes de Oliveira, Liliani Marília Tiepolo Elisama Dias
O Litoral do Paraná abrange os municípios de Antonina, Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá e Desde a sua colonização a economia brasileira esteve diretamente ligada às atividades rurais e hoje não é diferente, cerca
Pontal do Paraná, onde são comuns as práticas agropecuárias, desde subsistência, familiares até industriais. Observa- de 23% do Produto Interno Bruto (PIB) vem do agronegócio. Mas o processo de construção do espaço rural brasileiro
se que o produtor, ao decidir as formas de produção e o seu rendimento, utiliza-se de manuseios que inibem, em longo é marcado pela valorização dos mais favorecidos, fazendo com que os pequenos produtores e um número crescente de
prazo, os atrasos na produção, lançando mão de agentes denominados de agrotóxico, insumos químicos que aumentam a trabalhadores rurais, excluídos do acesso a terra, convivam com o interesse do grande latifúndio. Essa exclusão tem
produtividade. Em contraponto, a reação pelo seu constante uso determina a contaminação do solo, do ar, das águas e da refletido negativamente sobre a vida dessas comunidades, pois, mesmo com a melhoria significativa nas estatísticas de
biodiversidade por materiais contaminantes de diversos espectros e níveis de toxicidades. Este trabalho objetivou obter saúde dos últimos 50 anos, o Brasil apresenta iniquidades na distribuição de riquezas, deixando muitos sem acesso às
informações localizadas no litoral do Paraná sobre o uso destes insumos a partir de fontes secundárias de informações, mínimas condições e aos bens essenciais à saúde. Segundo a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do
especialmente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De forma secundária buscou-se conhecer o Campo e da Floresta (PNSIPCF - PORTARIA Nº 2.866, DE 2 DE DEZEMBRO DE 2011), a pobreza não está ligada
posicionamento de instituições voltadas à saúde pública e coletiva e do meio ambiente, por meio de revisão bibliográfica apenas ao não acesso aos bens de consumo, porém à falta dos determinantes sociais da saúde, elementos que influenciam
e documental. Os resultados apontam, de acordo com o censo de 2006 do IBGE, que existem 2.298 estabelecimentos diretamente na saúde das comunidades, como: moradia digna, alimentação adequada, emprego, educação, saneamento
agropecuários nos municípios do Litoral do Paraná e que todos estes estabelecimentos utilizam agrotóxicos de diversos básico, oportunidade de participação na construção das políticas públicas e ainda na “ausência de resolução de conflitos,
espectros químicos. A aquicultura totalizou 166 estabelecimentos e a pesca 52 estabelecimentos existentes. O uso de o que agrava mais ainda a violência no campo, assim como na precariedade de relações ambientais sustentáveis”. Para
agrotóxicos tem amplas consequências tóxicas no meio ambiente, são produtos químicos sintéticos usados para matar melhorar essa situação esta Política Pública foi criada, tendo como objetivo garantir o direito e o acesso à saúde, por
organismos no ambiente rural e urbano e o modelo de cultivo com o intensivo uso de agrotóxicos gera grandes malefícios, meio do Sistema Único de Saúde (SUS), considerando seus princípios fundamentais de universalidade, integralidade e
como poluição ambiental e intoxicação de trabalhadores e da população em geral, segundo o posicionamento do Instituto equidade. A finalidade geral deste trabalho é analisar indicadores para auxiliar a compreensão da saúde na população do
Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). Já o Ministério do Meio Ambiente (MMA) declarou que, campo e da floresta. Os dados apresentados foram retirados de levantamentos realizados pelo IBGE, ANVISA, INCRA,
quando utilizado um agrotóxico, independente do modo de aplicação, este possui grande potencial de atingir o solo e as SINAN, e MTE tendo como base o artigo do Observatório Saúde do Campo, Floresta e Água, que aponta os seguintes
águas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) declarou que dos 50 agrotóxicos mais utilizados nas lavouras resultados: as precárias condições de água e esgoto são responsáveis pelas elevadas taxas de parasitoses intestinais, como
do Brasil, 22 são proibidos na União Europeia, classificando o país como o maior consumidor de agrotóxicos já banidos diarréias, cólera, leptospirose, teníase, esquistossomose entre outras. No período de 2009 a 2011 foram registrados 2.952
por outros países. Recentemente, o dossiê publicado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) alertou casos de sífilis em gestantes, nessa mesma época foram confirmados 169 casos de Doença de Chagas Aguda, 23.339
sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde humana, mesmo que estes venham a ser classificados como medianamente casos de Esquistossomose, 23 de febre amarela, alarmantes 20.500 casos de hanseníase, 174 de Hantaviroses, 38.997
ou pouco tóxicos não se pode perder de vista os efeitos crônicos que podem ocorrer meses ou anos após a exposição casos de Leishmaniose Tegumentar Americana (que ocasionou 19 óbitos), 2.000 casos de leptospirose e 503 casos de
e consumo dos produtos, manifestando-se em várias doenças, como cânceres, más-formações congênitas, distúrbios malária. No período de 2010 a 2012 foram registrados 20.022 casos de violência no campo, sendo que 63,5% destes fo-
endócrinos, neurológicos e mentais. Observa-se que o produtor tem se integrado na produção agropecuária para manter- ram contra mulheres. As doenças relacionadas ao trabalho tiveram presença certa nessas populações, entre 2007 a 2012
se em um mercado que busca por perfis de rápida produtividade, na intenção de lucro imediato. Isso proporciona a foram registrados 269 casos de câncer relacionados ao trabalho, tendo como principal causador a exposição ao sol e ao
manutenção de uma visão de curto e médio prazo para os impactos socioambientais que são gerados com a aplicação agrotóxico que em 2013 intoxicou 7.702 pessoas; acidentes com animais peçonhentos, típicos dessas regiões, registrando
dos agrotóxicos, o que vai gerar, futuramente, territórios insustentáveis para produção, devido à transformação dos ciclos 381.992 casos, entre 2009 a 2011. Por fim, é “fundamental a participação das populações contempladas pela política, nos
naturais sob intervenção química, além dos já referidos danos irreversíveis à saúde humana e aos ecossistemas. conselhos de saúde e nas demais instâncias de participação e controle social do SUS, conferindo força política junto aos
respectivos gestores e responsáveis pela sua implementação”.
Diogo Camargo Pires, Liliani Marillia Tiepolo, Valdir Frigo Denardin Khetlin Vitoria Dias, Emerson Joucoski, Bruno Gurgatz, Felipe Foroni, Rodrigo Arantes Reis
A formação docente não se desenvolve apenas nos anos de formação inicial, vai além, desenvolve-se no espaço de
Fenômeno social presente desde o início da revolução industrial, o êxodo rural acompanha a formação da sociedade atuação escolar, onde se adquire outros tipos de saberes. Saberes da prática, das experiências e do “coleguismo”, que os
moderna. Enquadrando tal fenômeno em um contexto regional, o presente trabalho tem como objetivo trazer informações docentes adquirem ao longo da prática cotidiana da profissão e são por ela validados, não têm origem nas instituições de
sobre a população do litoral paranaense que habitava áreas rurais entre as décadas de 1970 a 2010, traçando um panorama formação e nem nos currículos, nem estão sistematizados em regras ou teorias, são saberes práticos (e não da prática) que
do esvaziamento do campo ocorrido nos últimos quarenta anos dentro deste território; e comparar os dados em nível orientam a prática cotidiana do docente em todas as suas dimensões. É a cultura docente em ação. Apesar disso, essas
estadual e nacional. Para tanto, foram utilizados dados do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA), práticas não impedem que o professor continue buscando ampliar o saber específico, ampliando o aprendizado de novos
referentes aos censos populacionais de 1970 a 2010, dos sete municípios que compõem o litoral do Paraná (Antonina, conhecimentos. Nesse sentido, o LabMóvel, em parceria com o Núcleo Regional de Educação de Paranaguá, vem reali-
Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá e Pontal do Paraná) e também do Paraná e Brasil. Os resultados zando o projeto de pesquisa “Qualidade do Ar”, que trás saberes específicos aos docentes das escolas públicas da região.
apontam, de acordo com o censo de 1970, que a região contava com uma população de 112.310 habitantes, sendo que Saberes que estão relacionados à poluição atmosférica. No projeto são medidas as concentrações de diversos contami-
destes 34.524 (31%) habitavam no campo. Já a população urbana consistia em 77.786 habitantes (69% do total). No nantes atmosféricos, que por sua vez são indiretamente medidos através de alguns indicadores biológicos. A proposta trás
estado do Paraná, o mesmo censo aponta um total de 6.929.821 habitantes, sendo que destes 4.425.568 (64%) eram os aos docentes envolvidos a possibilidade de atualização de alguns conhecimentos das suas áreas de atuação, através do
habitantes rurais. Nacionalmente, a contagem apontava 93.134.846 de habitantes, sendo que 41.037.586 (41%) viviam aprendizado pela realidade local e que busca tornar a Ciência mais significativa. Outro ponto forte do projeto é a aproxi-
em ambientes rurais. Destaca-se que nesta época se dá início da “modernização” da agricultura brasileira, com o aumento mação da universidade com as escolas. Os docentes das escolas mediam os processos de realização das ações do projeto;
da mecanização e uso de insumos químicos, o que acarretou intensos movimentos de êxodo rural devido à diminuição o LabMóvel realiza capacitações para que os professores compreendam os métodos utilizados para o monitoramento da
dos postos de trabalho no campo. Já em 2010, os resultados apontam que a população total do litoral passa para 265.395 qualidade do ar e, em seguida, esses métodos são transpostos didaticamente aos alunos. Os alunos, de posse dos conhe-
habitantes, porém a população rural cai sensivelmente para 25.225 habitantes (9,5%). No Paraná, o total de habitantes cimentos assimilados, realizam atividades “mão na massa”, participando da coleta dos dados e auxiliando no projeto de
sobe para 10.444.526, porém o campo tem uma diminuição significativa, passando para 1.531.834 habitantes, ou seja, ciência em rede. Acredita-se que o professor pode ser um agente mediador e estimulador de mudanças na escola e na
14% do total. No Brasil temos quase 200 milhões de habitantes (190.755.799) e também há uma diminuição da população sociedade, a partir dessas atividades desenvolvidas. Além disso, há a possibilidade dos professores, trabalharem dentro e
rural, caindo para 29.829.995 (16%) os habitantes do campo. Em 1970, apesar dos habitantes do campo no litoral do fora da sala de aula, realizando e desenvolvendo ações planejadas com base no princípio da ação-reflexão-ação, de forma
Paraná não constituírem a maior parte da população, eles representavam quase um terço do total, situação bastante a favorecer o processo de construção e descoberta de novos conhecimentos em todos os sujeitos envolvidos.
diferente da encontrada atualmente, quando representam apenas 9%. Devido às condições bióticas e abióticas regionais
do litoral paranaense, como: relevo, cobertura vegetacional, rede hídrica e clima; também devido às questões políticas
e socioeconômicas, a modernização agrícola não acarretou grandes mudanças no modo de produção rural, salvo raras
exceções. Após 40 anos, a população no litoral quase triplicou, porém o campo perdeu 9.269 habitantes, passando a Palavras chave: Qualidade do ar; Formação continuada; Saberes profissionais.
representar menos de 10% do total. A queda na população rural foi de aproximadamente 27% no litoral, 64% no estado do
Paraná e 28 % no Brasil. Os números estaduais e nacionais apontam a mesma tendência, porém a média da parcela rural
da população fica em torno de 15%. Se comparados os números há uma queda bastante brusca no cenário macro regional,
maior que a registrada localmente. Reflexo da intensificação no êxodo rural em diversas partes do estado e do país.
Natali Calderari, Maria Carolina Gonçalves, Marcelo Chemin Wagner Rodrigo Weinert, Aline Sieczko, Maritza Silva, Luciana Vieira Castilho Weinert, Tainara Piontkoski Maldaner,
Bruna Letícia dos Santos
O Litoral do Paraná é reconhecido e projetado como uma região distinta em termos de acervo patrimonial, com diversidade
de bens naturais e culturais. Em seu território está delineado um mosaico de mais de 30 unidades de conservação, além A elaboração de políticas públicas é um processo constante na esfera da administração pública. Gestores precisam,
de centros históricos, monumentos, arquitetura colonial, manifestações culturais, caminhos e estradas históricas. Embora frequentemente, elaborar projetos que serão ou não executados, conforme conjunturas políticas, econômicas e sociais,
a imagem patrimonial dessa região seja consolidada externamente, condição evidenciada na mídia e no mercado do nas esferas municipais, estaduais e federais. A elaboração de um projeto requer fundamentação que o justifique. Um
turismo, no cotidiano local são escassas as iniciativas de difusão dos significados e valores deste acervo patrimonial. subsídio fundamental para este processo é a informação. Quanto mais informação se possui a respeito de um determinado
Diante disso, a educação patrimonial configura instrumento potencial para a valorização desses patrimônios, uma vez que cenário, maior é a chance de se articularem ações para se estabelecer uma rede de atores capazes de transformar esta
consiste, segundo o IPHAN (2014), em ações educativas formais e não formais que têm como foco o reconhecimento, realidade. Nesse contexto, este trabalho propõe o desenvolvimento de um software para a gestão da informação sobre
valorização e preservação do patrimônio cultural como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências Saúde Materno Infantil, no que diz respeito às relações entre as condições socioeconômicas familiares, a saúde e os
culturais. Nesse contexto, o projeto de extensão “Caminhos” (UFPR/PROEC – 804/13), desenvolve ações de educação hábitos maternos no período gestacional e o desenvolvimento neuropsicomotor da criança, no seu primeiro ano de
patrimonial no ensino fundamental e médio dos municípios da região. O concurso de desenho “Patrimônios do Litoral vida. Inicialmente este software apoiará o trabalho desenvolvido por fisioterapeutas no Centro de Saúde da Mulher e
do Paraná”, realizado em Antonina, no ano de 2014, constituiu-se como a principal ação realizada pelo Projeto em 18 da Criança no município de Pontal do Paraná-PR e, consequentemente, auxiliará também o trabalho de gestores de
meses de atuação. Esta ação objetivou a sensibilização dos estudantes acerca dos patrimônios do Litoral do Paraná, bem saúde deste município. Diante desse cenário, este projeto prevê o desenvolvimento de um trabalho integrado entre as
como uma introdução formal do tema do patrimônio nas atividades escolares. Para tanto, o município de Antonina, que áreas de informática, saúde coletiva e fisioterapia, onde objetiva-se desenvolver uma ferramenta de software capaz de
teve seu centro histórico tombado pelo IPHAN em 2012, foi escolhido para desenvolvimento da ação. O primeiro passo minimizar os problemas de sistematização e inferência sobre grandes quantidades de informação. A proposta consiste
consistiu em contato com professores de artes e história e pedagogos das escolas para discussão e ajustes da proposta. do desenvolvimento de uma base de dados centralizada sobre medidas antropométricas, motricidade, vitalidade ao
Ação complementar a esta fase se efetivou com a distribuição de material didático para as escolas parceiras, sob forma nascimento, condições gestacionais e situação socioeconômica de bebês entre 1 e 12 meses de idade. Também contempla
de CD, contendo arquivos e conteúdos, organizados no âmbito do Projeto, sobre a história, cultura e bens tombados o desenvolvimento de softwares clientes baseados em tecnologia desktop e de desenvolvimento para dispositivos móveis.
A princípio, pretende-se utilizar a linguagem de programação JAVA e o sistema gerenciador de banco de dados MySQL.
da região. Na sequência elaborou-se a versão final do regulamento, o que permitiu a divulgação final do Concurso,
A metodologia de desenvolvimento basear-se-á nos modelos clássicos de engenharia de software voltados para UML e
realizada diretamente nas salas de aula. Cabia aos estudantes ilustrar em papel um bem tombado pertencente a um dos sete
modelos de banco de dados relacionais. O sistema desenvolvido também fornecerá subsídios para realizar análises que
municípios do litoral paranaense. Uma Comissão julgadora, composta por estudantes membros do Projeto, presidida pela
levem em consideração a região em estudo, por meio de relatórios georreferenciados. Até o presente momento todo
Prof. Dra. Luciana Ferreira (Curso de Licenciatura em Artes/ UFPR) foi constituída para avaliação. No total, participaram processo de registro das avaliações e análise das mesmas é realizado manualmente, através de fichas e planilhas eletrônicas.
5 escolas, que abrangem cerca de mil alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. A Comissão recebeu 30 desenhos Este modelo de coleta de dados é ineficiente por diversos aspectos: redundância, dificuldade de recuperação, de análise,
e destes selecionou 10 vencedores, com atribuição adicional de uma menção honrosa. A premiação ocorreu durante o e de obtenção de dados estatísticos que certamente poderiam ser utilizados como argumentos para o desenvolvimento
24º Festival de Inverno da UFPR, em Antonina, juntamente com exposição via projeção digital em telão dos desenhos de políticas públicas voltadas para a rede de atenção à saúde materno infantil. Atualmente, existem mais de 500 crianças
vencedores. A experiência do concurso permitiu o primeiro contato efetivo do Projeto com a comunidade escolar, além avaliadas, porém poucas deduções foram realizadas sobre os dados coletados devido à dificuldade de manejo de grandes
do retorno positivo de professores e estudantes sobre o material didático fornecido, bem como o apoio para futuras quantidades de dados que precisam ser acessados manualmente em fichas de registro e planilhas compiladas. Como
ações. Avalia-se como essencial incentivar, através da educação patrimonial, uma postura educativa das instituições de produto final espera-se um software de fácil usabilidade e acessibilidade para profissionais das áreas da saúde e, em longo
ensino frente a diversidade cultural da região, visando a interação do ambiente escolar com o reconhecimento dos bens prazo, a composição de uma base de dados suficientemente grande para análises baseadas em técnicas de mineração de
patrimoniais que estão inseridos no espaço de vida da população. dados, importantíssimas para processos de apoio à tomada de decisão e formulação de políticas públicas em saúde.
Palavras-chave: Educação Patrimonial; Concurso de Desenho; Litoral do Paraná; Antonina. Palavras-chave: Políticas Públicas, Saúde Materno Infantil, Desenvolvimento de Software.
Natália Carolina de Oliveira Vaz Dginane Linhares, Liliani Marília Tiepolo, Valdir Frigo Denardin
A presente pesquisa visa analisar a relação existente entre o patrimônio material e o turismo local, no que tange o desen- Um fator intimamente relacionado à perda da biodiversidade na Mata Atlântica refere-se ao descumprimento da legisla-
volvimento do município de Morretes/PR. A questão central destaca a relevância da preservação do patrimônio material ção ambiental, como as questões que envolvem as áreas de preservação permanente (APP): as matas ciliares na margem
no município de Morretes/PR para a promoção do desenvolvimento turístico. Assim, busca-se analisar o grau de inter- de rios, lagos e reservatórios e as encostas íngremes, que são suscetíveis a inundações e escorregamentos e se tornam ter-
dependência entre ambos, tendo por foco contribuir com o desenvolvimento turístico, com a preservação do patrimônio renos com alto potencial de risco quando ocupados. Não obstante, o manejo inadequado do solo contribui para o crescente
material edificado; e disseminar a conscientização de sua importância para o desenvolvimento turístico regional. Além aumento da degradação do solo, comprometendo sua fertilidade e, consequentemente, a produtividade do sistema, o que
deste objetivo mais amplo, este trabalho também visa caracterizar o patrimônio material edificado, identificar elementos gera perdas incalculáveis que afetam tanto o meio físico e biológico quanto a economia dos municípios, estado e país. No
que estabeleçam a relação entre a preservação do patrimônio material e desenvolvimento turístico e analisar sistemati- Estado do Paraná, com 6 milhões de hectares de área agrícola, a perda de solo é de 10 toneladas de hectares por ano. O valor
camente a sua influência para o município. Atualmente, há quatro edificações na relação estadual de bens tombados no dos principais nutrientes perdidos por erosão é da ordem de US$ 121 milhões por ano. A partir dessa problemática, esta
município de Morretes, quais sejam: a Casa Rocha Pombo, a Igreja de São Benedito - Morretes, a Igreja de São Sebastião pesquisa objetiva perceber alguns aspectos relacionados ao uso e manejo do solo praticado pelos agricultores familiares
do Porto de Cima e a Residência em Alvenaria - Porto de Cima. As informações angariadas em decorrência deste trabalho do município de Morretes, localizada no litoral do Paraná, na Mata Atlântica paranaense, considerada hotspots de biodi-
poderão contribuir com a promoção turística e a preservação do patrimônio material edificado para o desenvolvimento versidade e onde grande parte da população vive em áreas rurais e depende exclusivamente das atividades agropecuárias.
turístico sustentável do município de Morretes/PR. A metodologia qualitativa foi utilizada na pesquisa para que fosse Para entender as relações entre o ser humano e a utilização sustentável da terra no local de estudo, utilizou-se métodos
possível analisar o fenômeno turístico, possibilitando um maior contato do pesquisador com seu o objeto. Parcialmente qualitativos, por meio de visitas, observação e conversas informais com pequenos agricultores locais. Os resultados ainda
se concluiu que as junções do patrimônio imaterial e do patrimônio natural formam o patrimônio material, porque através
são preliminares, mas já evidenciam as fortes relações dos agricultores com a dimensão ambiental, onde são notáveis as
de técnicas e conhecimentos adquiridos e transmitidos de geração em geração no decorrer do tempo, juntamente com a
características físicas do município, as quais influenciam na localização, nos hábitos e nas atividades das comunidades
utilização do espaço geográfico e recursos naturais, é possível que se materialize o imaterial e transforme o natural em
rurais. Em especial chama a atenção as redes hidrográficas, o clima e as formas do relevo na região e que os agricultores
patrimônio material. Não se pretende apartar o patrimônio imaterial, o patrimônio natural e o patrimônio material, inclu-
sive porque o último é a junção dos dois primeiros. No entanto, o enfoque será direcionado para o patrimônio material, se adaptam com muita facilidade a estas dificuldades, muitos utilizando as áreas de APP (aluviões) para seu cultivo, por
em razão da necessidade de limitação do tema e da preservação das edificações existentes no perímetro do urbano do causa da melhor qualidade do solo. Ressalta-se que os agricultores têm a percepção de que o manejo inadequado pode
município de Morretes/PR. Espera-se que a pesquisa contribua socialmente, demonstrando as correlações entre preser- acarretar problemas graves para a produtividade e que o clima e os tipos de solo também interferem no plantio e no mane-
vação do patrimônio material edificado para a promoção e desenvolvimento turístico regional de Morretes/PR, visando jo da terra, sendo necessário amenizar os impactos gerados pelas atividades desempenhadas. É daí que surgem práticas de
conjuntamente à conscientização da sua preservação. No campo acadêmico ainda não se identificaram estudos específi- conservação que visam à manutenção das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Este estudo ainda buscará
cos da localidade estritamente sobre esse tema, assim espera-se que este estudo também contribua com um novo olhar entender que práticas de conservação são utilizadas pelas comunidades rurais de Morretes e se os agricultores possuem
acerca de tais questões. tecnologias próprias para a recuperação de solos degradados. Espera-se que este estudo possa contribuir para ampliar o
conhecimento sobre as práticas locais, uma vez que os solos em atividade podem ser utilizados por mais tempo de forma
sustentável quando as práticas são adequadas, poupando os solos intactos, sem a necessidade de desbravar novas terras ou
destruir sua vegetação para a implantação de atividades econômicas.
Palavras-chave: Patrimônio Material. Turismo Local. Desenvolvimento Regional. Município de Morretes/PR
Andressa da Luz Borges, Liliani Marília Tiepolo, Valdir Frigo Denardin Gabriel Pires Gomes Nonato Alves
Tratamos nesta pesquisa da produção e da comercialização de alimentos orgânicos, definidos pelo sistema de produção A Zona Costeira brasileira possui uma série de recursos que necessitam de uma gestão eficiente. Abarcando 17 unidades
específico, o qual otimiza o uso dos recursos naturais, o não uso de insumos químicos e valoriza a cultura das comunida- da federação, importantes ecossistemas e fontes de recursos, uma grande concentração populacional e um processo
des rurais, maximizando, desta forma, os aspectos socioambientais, conforme a Lei nº 10.831/03. No Brasil, conforme acentuado de desenvolvimento de atividades industriais e serviços, se faz necessário um ordenamento, permitindo a gestão
o Censo Agropecuário do IBGE (2009), os estabelecimentos produtores de orgânicos representam 1,8% e o Paraná está sustentável desses recursos e práticas, minimizando impactos socioambientais e econômicos. O setor costeiro da Baía da
entre os quatro maiores estados produtores, tendo 7.527 estabelecimentos, de acordo com os dados de 2011, da Secre- Ilha Grande corresponde aos municípios de Angra dos Reis e Paraty e parte dos municípios de Conceição de Jacareí e
taria da Agricultura e do Abastecimento. O litoral do Paraná tem destaque na produção de frutas orgânicas, entretanto, Mangaratiba, sendo 72% do seu espaço constituído por Unidades de Conservação, abrigando diversas formações florestais
a produção geral desta região está associada à Mesorregião Metropolitana de Curitiba, o que dificulta a inferência es- e patrimônio natural, patrimônio histórico, atividades turísticas e industriais, polos de desenvolvimento e urbanização e de
pecífica. O litoral paranaense é caracterizado por possuir o maior remanescente da Mata Atlântica, mas vinculam-se, ocupação humana (Diagnóstico do Setor Costeiro da Baía Da Ilha Grande, 2015). Essas condições tornam a Baía da Ilha
frequentemente, a este fator os baixos índices socioeconômicos e os conflitos socioambientais, sendo estes associados, Grande lócus de uma série de impactos e conflitos, decorrentes dos usos competitivos de recursos e do espaço, a começar
em sua maioria, às restrições ao uso do solo. As condicionantes do litoral paranaense viabilizam a produção de orgânicos. pela grande quantidade de Unidades de Conservação no local. A estratégia de estabelecimento de áreas destinadas à
O objetivo desta pesquisa é unir informações referentes à produção e à comercialização dos orgânicos no litoral. Con- proteção da natureza é sistematizada no Brasil nos anos 2000, por meio do Sistema Nacional de Unidades de Conservação
seguindo-se alcançar o objetivo principal, tem-se como meta diagnosticar o porquê do litoral não estar num panorama (SNUC). A proteção dos ecossistemas objetivada por essas unidades implica condicionamentos e/ou privações no uso
mais abrangente no contexto paranaense; e possibilitar o acesso aos órgãos e instituições com as informações pertinentes dos recursos naturais. Em ambos os contextos, da proibição ou da exploração dos recursos naturais, surgem conflitos
ao litoral. Partimos de fundamentos epistemológicos vinculados ao pensamento complexo, tendo-se como base a visão socioambientais que necessitam de mediação. Sendo assim, se faz presente a temática da Governança Territorial, voltada
e consciência holística, analisando-se a produção dos orgânicos por meio de um amplo espectro, como indica Borsatto para a intermediação das questões e conflitos socioambientais e entendida como “(...) uma permanente negociação de
(2007, p 41), em “Agroecologia: um caminho multidimensional para o desenvolvimento agrário do litoral paranaense”. interesses em conflito (efetivo ou potencial), constituindo-se num contínuo processo de diálogo-aprendizado entre os
A metodologia se dá a partir da revisão bibliográfica e de bases secundárias (IBGE, IPARDES) e entrevistas realizadas agentes envolvidos” (Gusmão, 2014, p.165). O presente trabalho pretende, primeiramente, especular sobre a negociação
com instituições e pesquisadores que atuam na área e na região. As entrevistas serão feitas a partir da gravação de áudio e resolução de conflitos sob a ótica da Governança Territorial. Mais especificamente, pretende-se analisar as negociações
e anotações. Pretende-se aplicar estes métodos em três meses. Os resultados preliminares indicam dissertações e proje- de conflitos socioambientais envolvendo as Unidades de Conservação da Baía da Ilha Grande e a pertinência dos aspectos
tos de pesquisa desenvolvidos sobre/no litoral paranaense (quatro), sendo estes utilizados como fonte de dados, assim da negociação e resolução de conflitos em outros recortes. Sendo assim, será feita uma revisão bibliográfica e documental
como referências para base de instituições vinculadas à produção agrofamiliar/orgânicos da região. Dentre os trabalhos acerca da área e dos objetos de estudo e um trabalho de campo para obtenção e confirmação de dados, elegendo uma
encontrados até o momento (onze), a maioria é composta por resumos (sete) e não há detalhes do processo. Outro resul- Unidade de Conservação para estudo de caso, levando em consideração as escalas, o número de conflitos e de atores
tado obtido aponta que o Polo de Agroecologia do litoral desenvolveu o Diagnóstico Rural Participativo (DRP) em cinco neles envolvidos, e a efetividade dos fóruns de Governança Territorial, no sentido da resolução dos conflitos existentes.
municípios, com exceção de Matinhos e Morretes, diagnóstico este que permite obter informações das propriedades e do Em seguida, a elaboração de um relatório com os resultados e possibilidades de melhoria na gestão e na negociação dos
perfil dos produtores familiares (ressaltando que Morretes ainda não realizou seu DRP, mesmo sendo um município que conflitos na Unidade em questão e em outros espaços. Até o presente momento foram identificados conflitos acerca da
se destaca em relação à agricultura local). Ao longo do desenvolvimento desta pesquisa, espera-se conseguir informações competição pelo uso do espaço e dos seus recursos, ocupação desordenada, degradação ambiental, de patrimônio histórico
mais específicas e consistentes, principalmente quanto aos resultados já alcançados, ao andamento dos projetos e quais e cultural, envolvendo alguns atores como pescadores artesanais e industriais, populações tradicionais, promotores
instituições continuam vinculadas. Espera-se também ter uma lista com as instituições atuantes, acervos de base de dados imobiliários, profissionais do turismo, industriais, residentes, turistas e agentes públicos governamentais.
e um panorama geral da realidade da produção de orgânicos no litoral paranaense.
Igor Alexandre Pinheiro Monteiro, Fellype Ramom Rodrigues Furtado, Ana Paula Brudnicki Barbosa
Mirna Carriel Cleto, Marcos Claudio Signorelli, Nadia Terezinha Covolan
O presente trabalho versa sobre o Protocolo Comunitário do Bailique, construído com o apoio do Grupo de Trabalhos
A concepção de Desenvolvimento Humano implica em expansão das capacidades e das possibilidades de ser e de fazer Amazônicos, durante outubro de 2013 e dezembro de 2014. O Protocolo Comunitário, da maneira como é previsto no
das pessoas, especialmente das mulheres. Em que pese à pobreza ser fator indiscutível de enfraquecimento da cidadania artigo 12 do Protocolo de Nagoia, tem o condão de determinar as regras que serão obedecidas nos casos de acesso e re-
e impedir que as mulheres ajam para modificar suas condições, os fatores da desigualdade extrapolam a questão da partição de benefícios. Entretanto, o Protocolo Comunitário do Bailique vai além desse conceito e abrange temas como
renda e entram em campos mais sutis da subordinação feminina. Um efetivo desenvolvimento humano, com maior identidade, regras de convivência, valores das comunidades, tomada de decisões, consulta prévia e uso dos recursos
justiça e equidade, exige assegurar o acesso não apenas aos recursos, oportunidades e serviços públicos básicos, mas naturais, além de prever temas a serem discutidos posteriormente e adicionados ao documento por demanda das comu-
principalmente a uma maior expressão das vontades e valores das mulheres. O tema desta pesquisa, o acolhimento nidades. O instrumento em estudo, de maneira sistemática e participativa, extrai dos comunitários as regras construídas
institucional, aborda as mulheres/mães com histórias de violência, abandono e submetidas a um estado de completa por eles mesmos ao longo do processo cultural, natural e dinâmico de suas comunidades e organiza em um documento
vulneração social, tendo como recorte geográfico os municípios do litoral paranaense. Nesse contexto, a proposta para servir de molde nas relações com agentes externos, além de corrigir determinados modos de agir incompatíveis com
perpassa pela questão de gênero e pelas relações de poder por ele significadas, considerando gênero como principal o desenvolvimento sustentável e preservação do território que ocupam. A Gestão Territorial ganha força no instrumento
elemento constitutivo das relações sociais, baseado nas diferenças percebidas entre os sexos. Nesse sentido, propõe-se quando a própria comunidade identifica os pontos positivos e negativos de sua relação com o território, revisita as regras
uma abordagem metodológica baseada na pesquisa-ação, junto à rede de atenção e com a participação de mulheres deste já existentes e traça novas diretrizes para um desenvolvimento igualitário e sustentável de seu território. O escopo do
território. Um dos reflexos das desigualdades de gênero evidenciados no litoral paranaense está na carência de ações trabalho é demonstrar a possibilidade de empoderar as comunidades de conhecimento necessário para a construção de um
afirmativas e políticas públicas para o enfrentamento da violência – doméstica e institucional - contra as mulheres e as Protocolo Comunitário que tenha fim para eles próprios e inverta a habitual lógica “cima-baixo” de imposição de regras
suas crianças, e que também promovam sua maior emancipação e autonomia, condição imprescindível para a superação e diretrizes que estão submetidos, na maioria das vezes. Este instrumento os capacita a dialogar em paridade de posições
da realidade iníqua a qual estão resignadas. Através da compilação de dados junto às instituições responsáveis por com os agentes externos e firma o direito consuetudinário em um documento a fim de expô-los para os agentes externos.
coordenar e fortalecer a articulação dos serviços com a rede de assistência social e demais políticas públicas, bem como Deste modo, propõe-se uma forma de democracia ambiental que inclua os povos e comunidades tradicionais no centro
pelo atendimento, cuidado e prestação de serviços de média e alta complexidade às crianças, adolescentes e suas famílias, do debate, opinando e deliberando nos processos de tomada de decisões que os atinjam direta ou indiretamente. Como
almeja-se aprofundar o (re)conhecimento e interpretação da realidade destas famílias e das instituições de acolhimento do metodologia para o trabalho foi feita uma pesquisa de campo no período em que ocorreu o IV Encontrão das comunidades
litoral paranaense. O mapeamento das instituições possibilita a obtenção de dados sobre acolhimento, adoções, violências do arquipélago, que deu início ao Ano 2 do projeto, bem como análise material do Protocolo Comunitário e bibliografia
doméstica e institucional e demais fatores relacionados ao tema. Os dados encontrados podem subsidiar a construção de acerca do tema com o objetivo de traçar pontos em comum com outros Protocolos pelo mundo e inovações. Com a con-
estratégias que permitam transformações e melhora das condições de vida dessas mães e crianças, consequentemente, clusão da análise de campo e bibliográfica, pôde-se compreender a aplicação fática dos princípios da informação - com
para o desenvolvimento humano e sustentável da região. Com base neste estudo, pretende-se apresentar subsídios para a a capacitação dos comunitários em entender temas diversos que os envolvem - e participação ambiental – com a inte-
proposição de novas ações pró ativas e afirmativas, a formação e a articulação de redes de apoio que atendam as demandas riorização, pelos comunitários, das funções no desenvolvimento do Protocolo Comunitário e a discussão das melhores
destas instituições. Destacamos que a reprodução das violências, a massificação nas resoluções, a falta de preparo e soluções. Além disso, chegamos à conclusão de que, apesar de ser um trabalho minucioso a ser feito com milhares de
dos preceitos do cuidado e da humanização nas instituições de acolhimento são algumas das questões nevrálgicas que comunidades por todo o território nacional, faz-se urgente e necessário capacitar e criar mecanismos de proteção a esses
nos motivam a buscar identificar os limites e potencialidades de garantia dos preceitos de atenção integral, mediante povos e comunidades, posto que a gestão territorial não pode ser decidida pelos agentes externos, mas, tão somente, pelos
aplicação de medidas de prevenção e de proteção. Por fim, espera-se visibilizar as estratégias e medidas efetivas de apoio próprios comunitários.
ao enfrentamento das violências tomadas em favor destas mulheres/mães, objetivando o fortalecimento da autonomia e
possibilidade de fortalecimento de vínculos entre mães e filhos/as.
Diogo Neves Melo, Ademir Antonio Cazella, Monique Medeiros Joaquim Alves Silva Jr, Luiz Carlos Beduschi Filho
A regularização fundiária em zonas rurais brasileiras consiste numa ação sociopolítica de garantia da segurança jurídica Os arranjos territoriais surgiram nos anos 2000 com o intuito de promover a complexidade sociocultural, a valorização
do título de propriedade, sobretudo, para agricultores familiares. Entendendo que tal ação contribui tanto para a das amenidades, a produção de bens não-agrícolas específicos, a construção social da cooperação e dos círculos virtuosos
permanência de agricultores familiares no campo quanto para seu acesso às políticas públicas, o objetivo desta pesquisa de desenvolvimento para o meio rural. Tais dimensões compõem o enfoque territorial, fundamentado na potencialização
é identificar e caracterizar o perfil socioeconômico das famílias de agricultores ocupantes e passíveis de regularização dos atributos de reprodução sociocultural e dinamização econômica a partir do planejamento estratégico moldado num
das suas terras ou parte delas e das organizações que atuam nas ações de regularização fundiária no Território Meio entorno determinado, ou seja, no território. Assim, a abordagem dos territórios se tornou um fundamento para a regula-
Oeste Contestado, em Santa Catarina. As informações que constituem esse trabalho foram obtidas em campo por meio ção e execução de políticas públicas no meio rural. Entretanto, as experiências territoriais da última década mostram um
de entrevistas semiestruturadas e questionários fechados para o levantamento do perfil dos agricultores familiares e da quadro de pouca efetividade de implementação. Esta pesquisa analisou os alcances e desafios do Programa Nacional de
situação dos estabelecimentos agropecuários, no que se refere à regularização. Também foram realizadas entrevistadas Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais (PRONAT) e do Programa Territórios da Cidadania (PTC) imple-
semiestruturadas sobre a política no Território, direcionadas aos representantes de organizações rurais. Os dados analisados mentados no território Vale do Ribeira paulista. Elaborou-se um estudo de caso a partir da participação em reuniões no
à luz dos preceitos da micro-história apontam para a existência na região de expressiva quantidade de agricultores Consórcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local do Vale do Ribeira (CONSAD), da realização de entrevis-
ocupantes, majoritariamente de origem cabocla, com problemas de acesso às políticas fundiárias e de desenvolvimento tas semiestruturadas, da análise documental, complementado pela análise contextual do território. Os resultados mostram
agrícola, baixa condição financeira, além de pouco acesso ao sistema de ensino e idade avançada. Seus estabelecimentos que o processo de territorialização do PRONAT ocorreu com relevante participação popular e focou na construção do
agropecuários foram obtidos pela posse, herança e compra, mas raramente passaram pela regularização. Essa situação chamado Projeto Vale do Ribeira Sustentável (PVRS). O projeto possuía metas como a mobilização do poder público
está associada aos desdobramentos históricos decorrentes da Guerra do Contestado, em especial, da luta pela terra pelos local e atores sociais, a construção de projetos direcionados às comunidades locais, o apoio e capacitação para elaboração
caboclos e do processo de colonização por imigrantes de origem europeia na região. Questões da historicidade dos de projetos, o fortalecimento de entidades locais/regionais de agricultores familiares e de comunidades tradicionais, pau-
acontecimentos de acesso a terra e sua regularização no país, estado e Território também foram contemplados pela tando-se, em especial, na elaboração do plano territorial de desenvolvimento sustentável. Os limites do PRONAT foram
pesquisa. No que se refere às organizações, buscou-se caracterizar como essas fomentam ações de regularização nos a baixa complementaridade entre os diversos ministérios, ações e projetos, além da participação simbólica dos gestores
municípios analisados. Verifica-se que inexiste no Território uma organização que centralize as ações fundiárias e que públicos órgãos regionais, atestando baixa capacidade de institucionalização destes para a construção do planejamento
diferentes organizações atuam de forma fragmentada na promoção dessa política pública. A persistência de um público territorial. Mas também o PTC surgiu com objetivos de estruturar a inclusão social e o desenvolvimento territorial sus-
potencial para o acesso à política pública de regularização fundiária permite afirmar que ações dessa natureza devem ser tentável, operacionalizado segundo o princípio da intersetorialidade, que, entretanto, não foram alcançados. O PVRS não
fomentadas pelas organizações rurais de forma permanente. Persiste assim uma carência de estudos que caracterizem de foi executado, pela ausência de articulação entre os atores públicos e privados. O CONSAD foi desmobilizado devido
forma detalhada o perfil socioeconômico desses agricultores familiares e de seus estabelecimentos agropecuários. à baixa capacidade de convergir o cardápio de ações do PTC com as demandas e projetos do público participante, além
do surgimento de imbróglios burocráticos que acabaram por bloquear as atividades do colegiado junto ao Tribunal de
Palavras-chave: Políticas Públicas, Agricultura Familiar, Micro-história e Guerra do Contestado. Contas do Estado de São Paulo, evidenciando a baixa estrutura institucional da gestão do PTC. No atual momento, o PTC
foi repassado ao convênio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) com universidades públicas, enquanto o
arranjo do CONSAD foi substituído pelo Colegiado de Desenvolvimento Territorial (CODETER), visando ascender um
novo ciclo da política territorial. O principal desafio passa pela superação do histórico de conflitos políticos partidários
e o seu reflexo na gestão pública local. No contexto político institucional atual, a abordagem territorial das políticas pú-
blicas perdeu força na agenda do governo.
Natalia Schmeiske Salussoglia, Edmilson Cezar Paglia, Carlos Eduardo Seaone Larissa Aparecida de Paula Campos, Ana Paula Pereira Adriano
Este estudo discute a mudança do paradigma de plantas invasoras para indicadoras do estado nutricional do solo. Este As áreas naturais protegidas foram originadas com o intuito de promover a proteção dos locais de relevante beleza cênica.
novo olhar possibilita uma análise mais contextualizada, observando cada planta da parcela da área de produção agrí- Com o passar dos tempos, as atenções se voltaram para a conservação da biodiversidade frente à degradação ambiental
cola. O objetivo foi identificar e caracterizar as plantas espontâneas na área analisada em Morretes, no Paraná, em uma provocada pelas atividades antrópicas. Nesse âmbito, as Unidades de Conservação (UC) realizam o papel do conservar e
propriedade da agricultura familiar orgânica; utilizando o diagnóstico e o conhecimento do agricultor sobre a sua área, proteger o ambiente para as gerações atuais e futuras. Assim, houve a necessidade se de desenvolver um diagnóstico com
no sentido de contribuir para o aprimoramento de metodologias de análises de solo ecológicas dos sistemas de produção, base na análise das relações entre o Parque Nacional de Saint- Hilaire / Lange (PNSHL), localizado no litoral do Estado do
ficando clara a condição que o solo se encontra e seu estágio de recuperação. Contribuindo na escolha de um manejo Paraná, e sua zona de entorno (ZE), situada na face leste, trabalhando com os residentes das Colônias rurais e conselheiros
ecológico mais adequado têm-se as plantas espontâneas, que desempenham funções essenciais à recuperação da vida. representantes das mesmas no Conselho Consultivo do PNSHL. Objetivou-se compreender tanto o nível de consciência
Dentre estas funções, há a participação no controle de pragas e doenças, a indicação de carências e desequilíbrios nos ecológica que os atores sociais detêm sobre meio ambiente quanto quais as perspectivas sobre a criação/gestão da UC. Os
solos e o transporte de nutrientes para o solo. Muitas dessas plantas são comestíveis e a maioria têm ações fitoterápicas, procedimentos adotados consistiram na aplicação de entrevistas por meio de questionários semi-estruturados, divididos
atuando como promotoras da biodiversidade. No contexto de buscar o aperfeiçoamento de metodologias de pesquisa de em “dados gerais”, “concepção” e “relação”. Para a tabulação destes foi utilizada a metodologia da Análise de Conteúdo
base ecológica, entende-se a necessidade tanto de estudos que sistematizem conhecimentos mais conscientes sobre as de Laurence Bardin. Concluiu-se que a concepção predominante em torno do Parque Nacional é estritamente ambiental,
plantas espontâneas, que possam subsidiar uma proposta de intervenção para melhoria do solo mais adequada para cada sendo feitas poucas referências aos benefícios que este proporciona para a sociedade como um todo. Verificou-se que tanto
situação dentro da produção de base ecológica, quanto da certificação de que o conhecimento empírico do agricultor os gestores do Parque como os residentes em seu entorno demonstraram interesse em fornecer e obter esclarecimentos no
pode ser uma ferramenta na avaliação do solo. Assim, este trabalho teve como objetivo averiguar a adequação do uso de que tange a unidade e as limitações incumbidas àquela área. Portanto, visualizamos um espaço propício para que ações
plantas espontâneas e a perspectiva de gerar um processo de reflexão e debate com o agricultor sobre a condição do solo de educação ambiental e gestão participativa sejam aplicadas, atuando sob a perspectiva da conservação ambiental, parti-
e ferramentas para a indicação do estado nutricional do solo. A identificação do estado nutricional do solo foi realizada cipação social, esta considerada instrumento de desenvolvimento regional da zona de entorno da unidade, e uso racional
por meio de uma análise de rotina. A coleta foi feita utilizando amostragem composta e a análise foi feita no laboratório dos recursos naturais.
de fertilidade de solos da Universidade Federal do Paraná. Foram identificadas 10 plantas por meio de fotografias, utili-
zando o conhecimento sobre o nome popular destas pelo agricultor e também utilizando o Manual de Plantas Daninhas
(LORENZI, 2000). As plantas identificadas são: Eupatorium pauciflorium (mentrasto), Vernonia westiniana (assa-pei- Palavras-Chave: Gestão de Unidades de Conservação. Relações Sociais. Gestão participativa. Parque Nacional de Saint
xe), Desmodium uncinatum (carrapicho), Buddeleja brasiliensis (barbasco), Imperata brasiliensis (capim-sapé), Sida Hilaire/Lange.
glaziovii (guanxuma-branca), Centella asiatica (pé-de-cavalo, corcel), Stachytarpheta cayennensis (gervão), Tibouchina
clinopodifolia sp (quaresmeira) e Hypoxis decumbens (falsa-tiririca). Com a pesquisa realizada foi possível notar que as
plantas identificadas na área de estudo indicam, sincronicamente com a análise laboratorial, carências no estado nutricio-
nal do solo. As plantas identificadas são indicadoras importantes do ambiente e podem contribuir com a melhoria do solo,
no sentido de serem precursoras, bem como serem utilizadas como um instrumento metodológico de avaliação nutricio-
nal de solos em áreas de produção agrícola. Ao invés de tratá-las como “daninhas” deve-se tratá-las como indicadoras
mudando o paradigma que foi criado pela agricultura convencional que não as valoriza no contexto.
Brenna de Souza Orrico de Azevedo, Daniel da Silva Sampaio, Luiz Everson Everson da Silva
Idiane Mânica Radaelli
Para compreender uma comunidade é preciso estudar sua cultura, seus costumes e histórias contadas; e o ensino de
Ciências na escola contribuí para que a compreensão sobre a comunidade ocorra, quando trata de assuntos do contexto O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) volta-se para a produção de alimento na agricultura familiar, que po-
local, pois quando esses assuntos são trabalhados em sala de aula é certo que eles perpetuarão na vida dos alunos e da tencializa as unidades de produção para produzir e gerar renda na unidade de produção. O PAA foi instituído pela
comunidade. Nesse contexto, surge a proposta de criar um debate sobre o que os alunos entendem sobre o porto que será Lei 10.696, de 2 de julho de 2003, como uma ação estrutural do Programa Fome Zero, que tem como objetivo central
construído em Pontal do Paraná e quais os benefícios e malefícios desta obra pra quem vive no Litoral. Já que é possível garantir o atendimento de populações em situação de insegurança alimentar e nutricional e promover a inclusão so-
verificar que a construção do porto de Pontal do Paraná é uma obra que acarretará em muitas mudanças na paisagem, cial no campo, fortalecendo a agricultura familiar. A realização da pesquisa na cidade de Ponte Serrada – SC buscou
na economia, no contexto social e no modo de preservação e cuidados com o meio ambiente. Para muitos alunos essa compreender como ocorre o PAA neste município. Em Ponte Serrada a parceria é realizada através da Cooperativa de
realidade é distante e alguns nunca foram ao município de Pontal do Paraná. Então, a partir das imagens coletadas, é que Pequenos Empreendimentos Familiares de Ponte Serrada, a COPERFAPS. No município há 554 estabelecimentos agro-
foram propostas as discussões sobre os impactos e as relações estabelecidas com a comunidade e seu entorno, na tentativa pecuários, sendo que 80 destes estabelecimentos são de famílias associadas à cooperativa COOPERFAPS. A COOPER-
de tecer, de modo interdisciplinar, laços com o ensino de ciências. O trabalho se estruturou de forma lúdica e depois de FAPS foi organizada pelos pequenos agricultores da cidade junto com a EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e
explanação do tema, num processo dialógico de muita interação entre os alunos. Como resultado há a produção textual Extensão Rural de Santa Catarina) e a Secretária Municipal de Agricultura, em que os objetivos da cooperativa devem
e gráfica do olhar destes alunos, interpretando o lugar onde vivem, as influências do porto e as mudanças ocorridas na ser os mesmos do PAA, pois este é o quesito básico para a obtenção de verba do governo. E em 28 de julho de 2006, a
vida de cada um, na paisagem e biodiversidade como um todo. O projeto foi desenvolvido nas séries finais do ensino COOPERFAPS foi oficializada como cooperativa distribuidora de alimentos. Desde a oficialização da cooperativa,
fundamental com alunos do sexto e sétimo ano. A proposta final foi fazer uma pequena mostra dos desenhos através de em 2006, até o ano de 2010, a COOPERFAPS passou por um período de estruturação (organização e cadastramento
banner, relatando o olhar do aluno caiçara em relação à criação do Porto de Pontal do Sul. dos agricultores, construção da sede, compra de veículo para a distribuição de alimentos). A partir de 2010, associou-
se à Cooperativa Central Sabor Colonial de Chapecó-SC - cooperativa responsável pelas chamadas públicas realizadas
pelo governo, que aproveita os excedentes dos municípios para comercialização destes produtos em outras regiões; e
quem são beneficiados com os alimentos do programa são as escolas, os asilos, as creches, as APAEs. Uma preferência
peculiar do governo é que no projeto a maioria dos sócios sejam mulheres, como uma forma de valorizar a mulher no
campo tornando-a protagonista na agricultura. São 80 famílias associadas e cada uma delas entrega no mínimo um
produto à cooperativa, e esta vem proporcionando várias vantagens aos associados, como valorização das pessoas
que trabalham na agricultura, garantia de venda dos produtos e geração de renda.
Luciane Silva Franco, Antonio Carlos Franco Alexandre Hofart Arins, Ruth Kellen Catão, Marcos de Vasconcellos Gernet
Existe um inadequado modo de pensar sobre os problemas decorrentes dos resíduos que a sociedade está produzindo. Os O mangue-vermelho (Rizophora mangle) é uma planta pioneira que ocupa regiões de transição, entre ambientes marinhos
avanços da tecnologia não têm solucionado, pois esbarram no processo político, resultando na medida mais conhecida: e estuarinos, em solos lodosos e ricos em matéria orgânica. Trata-se de uma espécie nativa no Brasil, mas que também
“empurrar para frente” os problemas que hoje estão se apresentando. As questões da reciclagem de lixo não fogem desta é encontrada em outras partes do mundo como a Europa e América Central. Essa planta é rica em tanino (utilizado para
lógica simplista. A Prefeitura de Paranaguá apresenta um descompromisso com os aspectos que envolvem reciclagem. A tingir roupas ou como medicamento). Algumas comunidades do litoral paranaense possuem conhecimentos empíricos
gestão ambiental precisa dar atenção especial para ações voltadas ao desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, esta relevantes sobre a utilização desta planta como medicamento fitoterápico. Há diversos relatos da utilização em forma de
pesquisa apresenta o seguinte problema: o descompromisso da Prefeitura de Paranaguá com a separação do lixo e poste- banho ou emplasto de suas folhas para o tratamento de algumas enfermidades como bicho geográfico, frieiras e Erisipela.
riormente com a reciclagem influencia no crescimento da cidade? O problema abordado diz respeito à falta de compro- A Erisipela é infecção cutânea causada geralmente pela bactéria Streptcoccus pyogenes do grupo A, mas pode também
metimento da Prefeitura de Paranaguá com os moradores em um modo de processo produtivo que privilegia o ponto de ser causada por Haemophilus influenzae tipo B, que penetram através de um pequeno ferimento (picada de inseto, frieiras,
vista econômico e valoriza apenas a “produtividade” e o “consumo”. O objetivo do estudo é incentivar a sustentabilidade micoses de unha, etc.) na pele ou na mucosa, disseminam-se pelos vasos linfáticos e podem atingir o tecido subcutâneo e
ambiental em Paranaguá, promovendo a importância da separação do lixo para contribuição da reciclagem. Os objetivos o gorduroso. O objetivo deste estudo é identificar a utilização do mangue-vermelho e outros medicamentos fitoterápicos
específicos são: retratar a importância da separação do lixo para a reciclagem na cidade; avaliar quais os aspectos da ci- no tratamento de enfermidades; e a consciência sobre a Erisipela, dos pescadores que atuam no centro de Matinhos-PR.
dade que podem ser influenciados com o descompromisso da gestão ambiental; destacar qual a visão dos gestores sobre Foram aplicados 104 questionários, estruturados com três perguntas, no período de um dia, no mercado municipal de
a reciclagem como fator essencial no desenvolvimento sustentável. A metodologia utilizada foi a pesquisa exploratória, Matinhos e na Colônia de pescadores da proximidade. Além das três perguntas, também foram levantados dados como:
que envolve estudo de caso e pesquisa bibliográfica. Com uma abordagem quantitativa, pois tem interesse em obter da- idade e sexo dos entrevistados. No total, 94 pessoas optaram por identificarem-se nas entrevistas. A média de idade dos
dos procurando compreender a percepção dos gestores, o estudo de caso foi realizado com a aplicação de questionário entrevistados foi de 37 anos, destes, 88% foram homens e 12% mulheres. A maioria (65%) dos pescadores respondeu que
estruturado com oito perguntas, que foi aplicado aos gestores da Secretaria do Meio Ambiente, todos responderam a conhecia a enfermidade Erisipela, também chamada de Zipra. Além disso, a maioria (76%) deles já utilizou algum tipo de
pesquisa totalizando oito gestores. Os resultados foram analisados por meio de estatística. Segundo a pesquisa, 87,5% medicamento fitoterápico. Quanto à utilização do mangue-vermelho como medicamento, 39% afirmaram já ter utilizado
dos gestores responderam que a prefeitura apresenta programas de reciclagem; 75% responderam que falta investimen- a planta, enquanto 61% negaram. Das 12 mulheres entrevistadas, apenas uma afirmou ter utilizado o mangue vermelho
to; 87,5% acreditavam que promover ações sustentáveis é importante para o desenvolvimento da cidade; e 62,5% dos como medicamento. A média de idade dos pescadores que responderam sim e não para a pergunta do mangue vermelho
gestores que concordaram que a má gestão ambiental pode prejudicar a cidade. De acordo com 75% dos entrevistados, o é similar (41 e 43 anos). Considera-se que a maioria dos pescadores da região central, embora se utilizem regularmente
acúmulo de lixo pode ocasionar inundações e poluição, gerando doenças para a população e, consequentemente, trazendo de medicamentos fitoterápicos, não utilizam tanto a folha do mangue-vermelho. Isto se deve, segundo os entrevistados,
uma imagem negativa para a cidade; e 62,5% disseram que o nível de urgência de investimento em práticas sustentáveis a distância que teriam que percorrer até a baía de Guaratuba para obter folhas que eles consideram mais “limpas”, pois,
é escalonado como “muito grave”. Os gestores concordaram, por unanimidade, que o avanço da tecnologia e a falta de supostamente, a poluição dos rios da cidade faria com que a planta fosse menos eficiente no combate às doenças. Consi-
infraestrutura em recursos ambientais sempre geram problemas quanto ao crescimento da cidade. Segundo a pesquisa, derando isso, e o risco da Erisipela evoluir para inflamação, trombose, necrose e amputação de membros, inclusive com
87,5% dos entrevistados acreditavam que a falta de infraestrutura vai se agravar rapidamente. Conclui-se que os gestores casos registrados da comunidade estudada, vê-se a importância de se pesquisar a efetividade do mangue-vermelho no
da Secretaria Ambiental acreditam que este tipo de investimento é importante e compreendem os fatores agravantes que tratamento da Erisipela e orientar os pescadores a buscarem assistência médica moderna em caso do tratamento tradicio-
o descompromisso pode gerar para a cidade, porém existe falta de recursos para o que o trabalho ocorra de forma eficaz. nal não surtir efeito.
Este problema poderia ser sanado com a redução de custos desnecessários por parte da Prefeitura de Paranaguá, sendo
encaminhados recursos de investimento para a Secretaria Ambiental destinar às práticas de desenvolvimento sustentável.
Bruno Martins Gurgatz, Felipe Foroni Cota Souza, Édipo Vinicius dos Santos Tagliatella, Emerson Joucoski, Carleno Micaela Gois Boechat Boaventura, Jandaiana Bucker Albino, Taina Ribas Melo, Melissa Sayuri Hoshino, Luciana
Alcides Amorim Quintino, Rodrigo Arantes Reis Castilho Weinert, Marcos Claudio Signorelli
Apesar de existirem leis e campanhas sobre as pessoas com deficiência (PcD), muitas vezes a equipe de saúde e até
A poluição atmosférica é considerada o maior risco ambiental para a saúde humana atualmente, principalmente pelo seu
mesmo as PcD não têm todas as informações de como acessar o SUS, ficando desassistidas de seus direitos. O Agente
impacto e abrangência. Devido à sua natureza extremamente fluida, a investigação sobre a poluição atmosférica é um
Comunitário de Saúde é o profissional essencial no diálogo entre o SUS e seus usuários; e por isso deve ser capacitado para
campo de estudo complexo e amplo. A investigação sobre as possíveis fontes, impactos e dispersões depende de estudos
reunir informações de saúde sobre um território, estimulando a melhoria de vida da população, orientando a comunidade
de séries temporais que incluam dados dos poluentes estudados, atividades poluidoras, além de condições meteorológicas.
para utilização adequada dos serviços, potencializando assim rede de atenção à saúde. A intenção do Programa de
Um dos poluentes mais proeminentes é o material particulado, caracterizado não pela sua origem química, mas consistindo
Educação pelo Trabalho (PET) Redes de Atenção às PcD é fomentar a rede de atenção. Ao longo de 2 anos, teve como
em diversos compostos classificados por características físicas. São comumente divididas em Partículas Totais em
um dos desdobramentos o intuito de fortalecer a integração, na figura do ACS, colaborando para um olhar crítico diante
Suspensão (PTS), menores ou igual a 10 µm de diâmetro (PM10) e menores ou iguais a 2.5 µm de diâmetro (PM2.5),
da realidade encontrada em sua prática diária na comunidade. Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa é descrever e
emitido principalmente pela frota veicular. O porto de Paranaguá é o maior porto graneleiro do Brasil e recebe a maior
refletir sobre a experiência de formação continuada de ACS sobre PcD, na Unidade Básica de Saúde (UBS) Serraria
parte de suas mercadorias através de caminhões de grande porte, que se mostram como um importante potencial emissor
do Rocha, Paranaguá/PR. Para tanto, foi realizado um estudo quali-quantitativo, elaborado após apontamentos iniciais
de materiais particulados para a atmosfera. Visando compreender a relação entre a poluição, suas fontes e a influência
do projeto PET, realizado na UBS Serraria do Rocha. Foram realizadas palestras pelas acadêmicas de Saúde Coletiva
dos fatores meteorológicos foi realizada uma Análise de Componentes Principais (Principal Component Analysis -
e fisioterapia, integrantes do projeto, a respeito dos seguintes temas: direitos das pessoas com deficiência, identificação
PCA), que busca identificar possíveis relações entre fatores que devem ser foco de uma investigação mais aprofundada.
das principais deficiências, tipos de deficiência (física, visual, auditiva, intelectual e múltipla), formas de abordagem
Inventado por Karl Pearson, em 1901, a PCA é usada comumente como uma ferramenta de análise exploratória dos
das PcD, orientação de familiares das PcD. As palestras foram conduzidas em encontros que ocorriam uma vez por
dados e para fazer modelos preditivos. Os resultados da PCA são, geralmente, discutidos em termos das pontuações
semana, com abordagem expositiva e dialogada, dinâmicas interativas, vivências, exemplificações, rodas de conversas e
dos fatores, também chamados de componentes - daí o seu nome - de uma forma que melhor explique a variância nos
estudos de caso. Houve um encontro final com gincana para análise dos conhecimentos adquiridos. Também eram citados
dados. Além disso, a PCA é uma das mais simples análises multivariadas e o seu uso pode revelar a estrutura interna dos
exemplos dos mecanismos disponíveis pelo município para atender essa população (cursos para (re)integrar pessoas
dados. Considerando que os fatores formam um conjunto de dados multivariados num espaço multidimensional, a PCA
cegas na sociedade, desenvolvendo sua autonomia e mobilidade urbana; escola para surdos e mudos; centro de triagem e
pode ser usada para se visualizar em dimensões menores esses dados projetados. Nessa projeção são visualizados os
outros). Como resultados quantitativos pode-se observar uma busca mais ativa e identificação das PcD (antes das palestras
fatores que mais se aglomeram, possibilitando a identificação de agrupamentos que podem dar indícios para as análises
eram 21 PcD identificadas na unidade Serraria do Rocha, atualmente esse número é de 55). Pode-se perceber também que
fatoriais mais pontuais. Para o presente trabalho foram utilizados os fatores Direção, Intensidade do Vento, Pressão,
a retenção dos temas foi elevada, fato comprovado pelos 100% de acertos na gincana realizada ao final, a qual abordou
Temperatura, Umidade, Veículos de grande porte que passaram pelo pedágio no dia, Black Carbon, Material Particulado
temas relacionados às deficiências. Houve um envolvimento dos ACS para melhoria dos dados epidemiológicos, os quais,
Total e um fator que cruza esses últimos dois fatores. Todos os dados foram coletados entre 2013 e 2014. Para o estudo
com as palestras, puderam compreender, de maneira simples, questões de herança genética, gestação sem cuidado, entre
foi utilizado o software livre R com o pacote FactoMiner para execução das análises. Os resultados apontam que existem
outras situações que podem levar uma pessoa a ter ou adquirir uma deficiência. Os ACS também compreenderam melhor
agrupamentos ou relações inversas de Black Carbon com os fatores climáticos como preciptação e temperatura. Como
como lidar com essas situações, pois, ao fim das palestras, os ACS estavam mais atentos às situações e ao modo como
a PCA é exploratória, quantitativamente pouco pode ser usada para além de nos apresentar a disposição espacial dos
poderiam lidar e orientar familiares sobre os direitos e tratos com a PcD, tendo em vista a promoção e prevenção da saúde.
fatores, o próximo passo será utilizar esses agrupamentos em análises fatoriais para se perceber quais são relevantes para
Observou-se que as capacitações favoreceram o vínculo da equipe e que a estratégia de formação continuada é uma das
a modelagem dos fenômenos envolvidos.
possibilidades de atuação, potencializando a rede com foco na atenção primária, fomentada pelos profissionais da saúde
coletiva (sanitaristas) e fisioterapeutas.
Palavras-chave: Paranaguá, Saúde Ambiental, Poluição Atmosférica
Micaela Gois Boechat Boaventura, Jandaiana Bucker Albino, Nara Regina Velloso, Monara Garanito, Taina Ribas Eduardo Dias de Freitas
Melo, Melissa Sayuri Hoshino, Luciana Castilho Weinert, Marcos Claudio Signorelli
A escassez e a contaminação de água em muitas localidades do planeta torna urgente a intensificação do debate
A Ilha do Valadares no município de Paranaguá está situada na margem esquerda do Rio Itiberê. É habitada sobre a gestão deste recurso natural. As questões que envolvem a gestão das águas mobilizam governos, organismos
por pescadores que se dedicam à pesca artesanal e cultuam tradições como a de ser o palco do fandango paranaense, não governamentais (ONGs) e sociedade civil em torno desta problemática. Tendo em vista que este recurso é indis-
única dança típica litorânea. Tendo o acesso através de uma ponte precária e balsa para carros, suas peculiaridades pensável à vida humana, à manutenção da biodiversidade e às atividades econômicas do homem, à vida de todos os
territoriais dificultam a vida da população, de aproximadamente 30 mil habitantes, em especial das pessoas com deficiência seres, torna-se fundamental a criação de mecanismos que garantam o s eu uso sustentável. A gestão de um recurso
(PcD), por causa de maior vulnerabilidade. No início de maio de 2015, inaugurou-se a segunda UBS, localizada no natural vital, aliada a modelos alternativos de desenvolvimento, pode contribuir para a minimização dos impactos
bairro mais distante da ponte, facilitando o acesso a uma população constituída, em sua maioria, por pessoas pobres, da ação antrópica no planeta. Assim, o desenvolvimento sustentável de Ignacy Sachs ganha relevância, segundo o
que muitas vezes ficavam desassistidas de cuidados, por causa da distância da primeira UBS. O Agente Comunitário de qual o desenvolvimento passa a levar em consideração o aspecto econômico, social e ambiental, buscando promover
Saúde (ACS) tem como objetivo fortalecer elos entre a comunidade e os serviços de saúde, fomentando a rede de atenção uma solidariedade entre as gerações. Apesar de não ter como cerne a relação do desenvolvimento com o meio ambien-
à saúde. A intenção do Programa de Educação pelo Trabalho (PET) Redes de Atenção às PcD foi de colaborar para que te, o desenvolvimento como liberdade de Amartya Sen traz a noção de que a liberdade, a autonomia para se viver
ACS pudessem ter um olhar crítico diante da realidade encontrada pela PcD na comunidade. O objetivo desta pesquisa a vida que se deseja, é o objetivo central do desenvolvimento e nessa perspectiva a economia funciona como meio de
foi analisar a situação local e fomentar a educação em saúde para ACS, levando mais informações e conhecimento obtenção das liberdades substantivas, e não como fim. A água, neste caso, é o recurso básico para a sobrevivência do
de como prevenir e identificar situações de risco às PcD. Foi realizado um estudo quali-quantitativo, elaborado após homem. Assim, o acesso a este recurso pode garantir que o indivíduo tenha possibilidade de alcançar suas liberdades.
apontamentos iniciais do projeto PET - Rede de Atenção às PcD. Foram realizadas oficinas com os ACS, com discussão A partir da relação do desenvolvimento com a gestão dos recursos hídricos, a respectiva pesquisa teve por objetivo
de assuntos sobre o cotidiano dos mesmos, em que foram consideradas suas dificuldades e houve o esclarecendo de estudar a gestão compartilhada do Aquífero Guarani e seu vínculo com o desenvolvimento humano sustentável nos
dúvidas sobre a prevenção e identificação de cada tipo de deficiência (física, intelectual, visual, auditiva e múltipla). Além municípios fronteiriços de Santana do Livramento – RS (Brasil) e Rivera (Uruguai), que são abastecidos por um dos
disso, associado às questões da deficiência, observou-se a necessidade de capacitar os ACS sobre como prevenir possíveis maiores reservatórios de água doce do planeta, o Aquífero Guarani. A relação da gestão da água com o desenvol-
deficiências e agravos em caso de patologias crônicas, como na diabetes e hipertensão, ao se considerar o elevado índice de vimento humano é realizada através de uma análise da contribuição das ferramentas da administração para a gestão de
pacientes com essas patologias na ilha. Notou-se que foram esclarecidas as dúvidas pertinentes do cotidiano de trabalho, um recurso natural. Para isso, faz-se uma análise sobre a gestão compartilhada do aquífero binacional. Deste modo,
principalmente em associar o risco de diabéticos e hipertensos à maior propensão às deficiências, já que a prevalência de foi realizado um estudo de caso, de caráter qualitativo, com entrevistas semiestruturadas, em instituições responsáveis
amputação e acidente vascular encefálico, que podem ocasionar deficiências, está relacionada a estas condições. Outro pelo gerenciamento de recursos hídricos dos municípios. Através da pesquisa verificou-se que o atual modelo de gestão
ponto positivo foi a melhor compreensão das deficiências, haja vista, por exemplo, que um dos ACS acreditava, até o compartilhada da água do Aquífero Guarani entre os municípios de Santana do Livramento Brasil e Rivera no Uruguai,
momento, que “todas as pessoas que nasciam com deficiência eram devido a uma tentativa de aborto”. Após essa vivência que é concebido a partir das legislações ambientais nacionais, não respeita os preceitos do desenvolvimento humano
e compartilhamento de conhecimentos, pode-se observar melhor domínio do tema e sentimento de maior segurança ao sustentável. O atual modelo de gestão apresenta-se ineficiente na promoção do desenvolvimento sustentável da região
realizar as visitas domiciliares. Com isso ficou nítida a importância de investir mais em cursos de capacitação para que e, futuramente, pode colocar em risco a própria expansão das liberdades das populações viverem, de forma digna, a
ACS possam executar sua função com mais segurança, garantindo eficiência no atendimento, principalmente por ser a vida que desejam. Identificou-se a necessidade de implantação de um modelo próprio de gestão compartilhada do
Ilha dos Valadares uma região vulnerável e de território extenso, com condições precárias de difícil acesso à informação Aquífero Guarani, que leve em consideração as especificidades da região em direção a um modelo de desenvolvimento
à saúde e que agora começa a ser assistido, mas que ainda tem muito a melhorar. humano sustentável.
Palavras-chave: Gestão compartilhada internacional de recursos hídricos; Desenvolvimento humano sustentável; Aquí-
Palavras-chave: educação em saúde, pessoas com deficiência, agentes comunitários de saúde.
fero Guarani.
Marilia Ferreira Murata, Micaela Gois Boechat Boaventura Bruno Martins Gurgatz, Sidney Vincent de Paul VIKOU, Emerson Joucoski, Daniel Canavese De Oliveira, Regiani
Carvalho De Oliveira, Paulo Hilário Nascimento Saldiva, Rodrigo Arantes Reis
A influência das mídias é notável, tendo em vista que elas determinam tendências, comportamentos, tanto agressivos
quanto educativos. É fundamental saber usá-las para a promoção da educação. Nesse contexto, este trabalho tem como A poluição atmosférica é o maior risco ambiental à saúde humana, matando cerca de 7 milhões de pessoas por ano,
objetivo analisar como os professores do ensino fundamental do 1º ciclo lidam com a influência das mídias no cotidiano principalmente em municípios densamente urbanizados e polos industriais. A qualidade do ar também está ligada a
escolar. Para tanto, foi realizada pesquisa qualitativa com vinte dois profissionais da educação, entre orientadores, pe- características socioeconômicas. Sabe-se que condições de baixa renda tornam as pessoas mais propensas a sofrerem
dagogos e diretores, além de palestra sobre a “Influência das mídias no comportamento das crianças”, no município de os impactos dos poluentes, pois consomem comida de baixa qualidade, possuem menor acesso aos cuidados médicos e
Paranaguá. Os participantes concordaram de modo unânime que as mídias influenciam no comportamento das crianças consomem substâncias alcoólicas e cigarro (fenômenos que podem aumentar a possibilidade de sofrer os impactos da
e dos jovens, os quais demostram em suas relações interpessoais exemplos de agressividade, pois quando assistem, por poluição atmosférica na saúde); além das residências próximas as vias de tráfego, construídas com custo reduzido, e
exemplo, a um desenho de ação, a reação é imitar o personagem heroico; outra questão abordada foi o uso precoce das que podem elevar a exposição aos poluentes. Desta forma, a investigação acerca dos poluentes atmosféricos é um tema
redes sociais e de como esse uso tem disseminado um fenômeno “comum” entre crianças jovens, o cyberbulliyng (pro- emergente para a criação de políticas públicas que visem à justiça ambiental. Mapas de risco ambiental são ferramentas
vocações nas redes sociais). Um dos questionamentos durante a entrevista foi sobre o papel da escola e dos profissionais fundamentais para o ordenamento urbano e planejamento de políticas públicas eficientes. Eles proporcionam a identificação
que trabalham nela para lidar com este fenômeno. Entre os entrevistados de diversas escolas, realidades distintas e ida- de áreas que devem ser foco de investimentos, assim como a responsabilização por danos produzidos ao longo do tempo
des, foi possível constatar que alguns não sabiam o que era cyberbulliyng ou como lidar com tal situação, o que destaca por possíveis instituições poluidoras, através de indicadores referentes à temática de interesse. Devido à multiplicidade
a importância de preparo dos profissionais da educação para saberem lidar com as mídias, podendo utilizá-las para a de poluentes atmosféricos, uma alternativa para a produção de indicadores é a análise elementar de cascas de árvore,
educação; de modo que esses profissionais possam atuar como colaboradores da família na orientação das crianças e dos que incorporam ao longo do tempo os poluentes em sua crosta. Através de análise de Fluorescência de Raios X, em
jovens sobre os riscos que as redes sociais podem trazer, especialmente dos transtornos e sofrimentos que são causados parceria com o Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Escola de Saúde Pública da USP, foram análisadas
quando há exposição. as cascas de árvore da espécie Terminalia catappa, encontradas próximas às escolas públicas de Paranaguá. Tal espécie
foi escolhida porque se distribui por toda a cidade, devido ao seu uso na arborização urbana, e a escolha das escolas como
ponto de análise foi tomada porque as mesmas acompanham os agrupamentos populacionais. Alguns pontos estratégicos
Palavras chave: educação, redes sociais, violência, mídias. próximos aos armazéns e fábricas também foram utilizados. Para a elaboração do indicador de risco ambiental foram
utilizados os elementos Bário, Estrôncio, Alumínio, Zinco (indicadores de tráfego), Ferro (atividade ferroviária), Potássio
(fertilizantes) e o método estatístico Fuzzy, capaz de lidar com a incerteza e imprecisão de dados, criando graus de
pertinência para as categorias desejadas. Tais dados foram sobrepostos aos do Censo 2010 do IBGE, utilizando a variável
Renda do responsável pelo domicílio. Os resultados obtidos sugerem que o risco ambiental é mais proeminente próximo
aos grandes armazéns de fertilizantes e aos cruzamentos das vias de acesso, assim como na área portuária. O cruzamento
com a variável renda mostrou que tais áreas também apresentam valores baixos de renda. Um fenômeno interessante se
deu na Ilha de Valadares, que apresenta baixa renda e baixo risco ambiental, tal fato, provavelmente, se dá por causa da
proibição de fluxo de veículos neste espaço, o que exalta a responsabilidade da frota veicular para a poluição atmosférica.
Gustavo A. S. Elste, Bruno Gurgatz, Edipo V. S. Tagliatella, Felipe F. C. Souza, Ketlin Dias, Luiz F. C. Lautert, Rodri- Steffany Katherine Baudisch, Larissa Regina Pinto, Gabriela Reichert
go A. Reis
É cada vez mais reconhecido que a saída para a crise ambiental pela qual atravessa a sociedade moderna não pode estar
Paranaguá é um dos sete municípios do litoral paranaense, com uma população de 149.467 habitantes e Índice de Desen- associada exclusivamente ao desenvolvimento e aplicação de novos avanços tecnológicos. Neste contexto, se faz impor-
volvimento Humano Municipal estimado em 0,75. Definido como de caráter portuário, Paranaguá merece destaque por tante a Educação Ambiental (EA) que, de acordo com a Lei 9795/1999, é o processo pelo qual o indivíduo e a coletividade
causa da sua representatividade no cenário mundial, por se tratar do maior porto exportador de grãos da América Latina. constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio am-
Baseado em algumas bibliografias pode-se perceber que a atividade portuária é responsável por uma série de impactos biente e do bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. A preocupação com a
ambientais e impactos à saúde e à economia. As possíveis fontes de impactos ambientais gerados pela atividade portuá- temática ambiental deve estar inserida em todos os segmentos da sociedade, a qual deve exercer sua participação e apoio
ria, provenientes de fontes poluidoras, são: tráfego de caminhões, tráfego de navios comerciais, equipamentos de manejo na criação, manutenção, conservação e valorização das unidades de conservação, visando contribuir para a melhoria da
de carga e as atividades industriais instaladas. Um exemplo prático destes passivos é o porto de Kaohsiung, em Taiwan, qualidade de vida. Este trabalho tem como objetivo relatar o atual status da EA na Área de Proteção Ambiental (APA) de
que tem um custo ambiental anual estimado em 123 milhões de dólares. Vale ressaltar que a atividade econômica é de Guaraqueçaba. A APA de Guaraqueçaba contempla em seu plano de manejo um programa de EA que visa buscar apoio
muita importância para a economia nacional e regional, porém vem acompanhada de significativos passivos ambientais para a APA junto à população local, ao público em geral, visitante ou não, e à comunidade científica. De acordo com o
e para a saúde coletiva. Em Paranaguá não é diferente, pois, além do tráfego intenso de caminhões e navios movidos plano de manejo, as comunidades locais devem estar envolvidas no processo de gestão ambiental de forma efetiva e como
a diesel, há um agravante que são as empresas onde se armazenam, produzem e misturam fertilizantes no entorno do parte da instância de decisão da mesma. Para que isso ocorra é essencial o desenvolvimento de processos de informação
porto. Logo se mostra pertinente o estudo do impacto causado pela atividade portuária em Paranaguá e para isso tivemos e comunicação. Tendo em vista a importância do conhecimento e participação das comunidades residentes e vizinhas
como objetivo quantificar o poluente dióxido de nitrogênio na atmosfera do município e realizar a comparação das con- de Unidades de Conservação, percebe-se a falta de informação, integração e participação nas tomadas de decisão sobre
centrações obtidas com os valores limites do artigo terceiro, inciso sétimo, da Resolução CONAMA 03/90. As coletas questões voltadas à preservação e conservação das áreas; e políticas públicas falhas no quesito educação ambiental para
foram realizadas no Colégio Estadual Estados Unidos da América, localizado na Av. Gabriel de Lara, 1377, no Bairro as pessoas que utilizam a unidade para visitação. As comunidades residentes e vizinhas de áreas de proteção detêm um
Industrial, de Paranaguá, Paraná. Escolhido pela sua localização, pois se encontra em meio ao complexo portuário e pró- conhecimento do ambiente em questão que a academia não apresenta, no entanto, os pesquisadores e gestores dispõem
ximo às empresas de fertilizantes. O período de amostragem ocorreu entre julho de 2013 e outubro de 2014 (16 meses), do conhecimento de educação ambiental para os residentes e usuários do ambiente protegido. Esta associação entre mo-
totalizando 61 amostras de NO2. Para a coleta foi utilizado o equipamento Amostrador de Pequeno Volume para coleta radores, pesquisadores e educadores pode ser extremamente benéfica para a APA. A visitação na APA é permitida, sendo
de até três gases (APV TRIGAS), o equipamento contém frascos borbulhadores, em que um deles borbulhou o ar da at- esta uma atividade recreativa antiga, concretizada através da prática de passeios ao ar livre. Muitas vezes a importância
mosfera durante 24 horas por amostra em 50 ml do reagente. Para análise de dióxido de nitrogênio foi utilizado o método ambiental de uma Unidade de Conservação fica evidenciada para os seus visitantes, que antes desconheciam seu papel
de arsenito de sódio e para determinar sua concentração foi utilizado o espectrofotômetro calibrado em 540nm. Dentre ecológico. As Unidades de Conservação são tratadas como um dos melhores meios de valorizar as áreas silvestres, já que
as amostras coletadas 46 ultrapassaram o padrão secundário (CONAMA 03/90), que delimita 190 mg/m3, caracterizando são as áreas procuradas para estas atividades. A recreação planejada vem sendo apresentada em nível mundial como uma
um número significativo, pois valores acima desse índice podem trazer danos à saúde coletiva, à fauna, à flora e ao meio opção de grande potencial para se alcançar a conservação dos recursos naturais. Atualmente, a APA de Guaraqueçaba
ambiente em geral. Já o padrão primário, que delimita 320 mg/m3, mostra resultados ainda mais preocupantes, pois ul- conta com poucas atividades de EA, fazendo-se necessários mais esforços para que a população local, o órgão gestor e a
trapassou 13 vezes durante o mesmo período. Esses resultados comprovam que a poluição está presente na atmosfera de comunidade científica possam interagir.
Paranaguá e mostra a importância de aprofundar os estudos naquela região.
Alessandra Jacobovski, Katya Regina Isaguirre, Heloísa Wahrhaftig, Jefferson Lemes, Matheus Bolsi, Rafael de Jesus, Raquel Hosken Pereira da Silva, Lorena Cristina Lana Pinto, Irla Paula Stopa Rodrigues, Maria Auxiliadora Drumond,
Paola Duarte Adriana Assunção de Carvalho
O presente trabalho se vale da experiência do projeto de extensão “Políticas Públicas para a Agricultura Familiar A comunidade quilombola da Pontinha, localizada na região central de Minas Gerais, é extrativista de minhocuçus, da
Agroecológica”, desenvolvido no curso de Direito da Universidade Federal do Paraná, com o intuito de demonstrar espécie Rhinodrilus alatus, endêmica dessa região do Cerrado e comercializada como isca para pesca há aproximadamente
como a prática extensionista voltada para os agricultores familiares agroecológicos pode contribuir para a efetivação 80 anos, apesar da atividade não ser regulamentada. O Projeto Minhocuçu visa minimizar os conflitos socioambientais
da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO). O Projeto teve início no ano de 2012, tendo relacionados ao uso do minhocuçu e propõe o co-manejo participativo dessa espécie baseado na participação social
como entidade parceira a Associação para o desenvolvimento da Agroecologia (AOPA). Seu principal objetivo é o de como componente substancial da tomada de decisões, pois o saber local sobre o minhocuçu, acumulado durante
identificar quais as dificuldades enfrentadas pelos agricultores no tocante a participação nos programas governamentais décadas, traz informações importantes sobre a história de vida, comportamento e distribuição da espécie e impactos
voltados à agricultura familiar, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de socioambientais dessa prática. Uma proposta do plano de manejo é a oferta de fontes alternativas de renda para os
Alimentação Escolar), e fomentar o debate sobre temas relevantes. Para isso, valendo-se metodologicamente da observação extratores e comerciantes de minhocuçu, principalmente durante a reprodução (estação chuvosa). Guimarães (2007)
participante, com a presença dos extensionistas nas reuniões bimestrais da Associação, foram realizadas oficinas de cita diferentes frutos do Cerrado utilizados pelos moradores de Pontinha, indicando aparente abundância e possibilidade
direitos que tinham por objetivo dialogar sobre diversos temas jurídicos que impactam o universo agroecológico, tais de comercialização de algumas espécies. Pequi, araticum, pêssego-do-cerrado, mangaba, araçá, goiaba, ananás e
como a contaminação genética da produção, o direito humano à alimentação adequada, transgênicos, etc. No decorrer pitango estão entre esses frutos. Pensando em uma alternativa de renda, o pequi (Caryocar brasiliense), que frutifica na
das atividades a Associação manifestou interesse em conhecer mais o tema do cooperativismo e assim, durante os anos mesma época que a reprodução do minhocuçu, poderia favorecer a alternância dessas atividades em períodos distintos.
de 2013 e 2014, os extensionistas conjuntamente com os agricultores e agricultoras efetuaram estudos para a criação de Assim, foi criado o Projeto Pequi, que visa avaliar o potencial de uso desse fruto como possível fonte de renda para
uma cooperativa, a qual foi formalizada no final de 2014. A prática extensionista ainda aproximou os alunos do curso de a comunidade. O objetivo desse trabalho foi avaliar como essas atividades de uso de recursos naturais estão inseridas
Direito da diversidade das agriculturas do país, estimulando-os a estudar um campo pouco explorado na cultura jurídica. A socioeconomicamente no Quilombo de Pontinha, apontando aspectos positivos e negativos para o manejo sustentável
continuidade das atividades atualmente concentra-se no debate dos impactos da nova lei florestal brasileira e seus efeitos desses recursos em longo prazo. Desde 2004 foram realizadas mais de 200 entrevistas com os diferentes atores sociais,
na institucionalização da PNAPO. Conclui-se que a atuação dos projetos de extensão são instrumentos facilitadores da reuniões, trabalhos de campo, vídeo-documentários e visitas aos comerciantes e extratores. Observa-se que a extração
visibilidade de estratégias de resistência ao modelo de agricultura dominante, estimulando debates sobre gênero, soberania de minhocuçu e de pequi representam boas oportunidades como fonte de trabalho e renda, pois estão presentes dentro
e segurança alimentar, sistemas justos e sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos, etc. Ademais, o do território quilombola, permitem a participação de jovens, homens e mulheres, além da valorização do Cerrado como
projeto estimula o repensar do ensino jurídico do direito agrário, a fim de reconhecer a presença dos diferentes sujeitos recurso importante para a comunidade, bioma que tem se tornado cada vez mais escasso devido à forte presença de
que escolhem o campo para viver e produzir. Presença essa “que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém, pastagens e eucaliptais no entorno. A técnica de extração e a cadeia produtiva do minhocuçu já são bem estabelecidas,
que transforma, que fala do que faz mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que porém a atividade ainda não é regulamentada, gerando conflitos. O extrativismo de pequi é incentivado por políticas
rompe” (FREIRE, 1996 [1970], p. 18). Dessa forma, os resultados dessa extensão demonstram que a realidade social é públicas e é comercializado o ano todo, porém os comunitários ainda não têm experiência com o seu uso, não detêm a
muito mais vasta, complexa e problemática do que aquela que o espaço de sala de aula se propõe a enxergar. O direito prática para beneficiamento de produtos nem há uma cadeia produtiva estabelecida. O isolamento do quilombo e a falta
conhecido como “agrário” não pode ser visto como um espaço socialmente vazio, como bem pretendem os manuais. A de organização social, infraestrutura e incentivo de órgãos públicos locais são os maiores entraves para o estabelecimento
atuação no campo permite retirar os véus que encobrem a diversidade cultural das agriculturas, dos povos e experiências do extrativismo de pequi. O Projeto Pequi visa dar subsídios à comunidade para preencherem essas lacunas, promovendo:
que reproduzem outros modelos de apropriação da natureza e estratégias de solidariedade diferentes do sistema latifúndio. estudos ecológicos; caracterização de mercados da região; materiais para divulgação científica; atividades educativas
Busca-se, assim, transformar o direito agrário para que seu ensino absorva a pluralidade de sujeitos, práticas socioculturais valorizando o Cerrado; experimentos com mudas de pequi; e oficinas de capacitação em beneficiamento do fruto e em
e suas lutas na busca de um projeto sociopolítico de maior justiça social e equidade ambiental. formas de organização comunitária. Assim, espera-se que a comunidade se aproprie dessa nova forma de extrativismo,
sendo mais uma fonte de renda advinda do Cerrado associada à sua conservação.
O berço da nossa pátria amada é a diversidade, exemplo disso, encontramos tanto na natureza como na sociedade: a Mata A garantia aos direitos territoriais de povos tradicionais no Brasil é tema de discussões atuais em diferentes ações go-
Atlântica e sua biodiversidade de um lado, de outro, as mais de 300 etnias e 274 idiomas segundo IBGE, são expressões vernamentais e em eventos de organização popular e acadêmicos. Transversalmente, a sobreposição dos territórios tra-
desta diversidade. Como lidamos com essa realidade na educação familiar e na educação formal? O presente ensaio dicionais por unidades de conservação e consequente desterritorialização dos grupamentos sociais, a partir da criação
teórico, em poucas palavras, busca discutir os saberes locais das comunidades tradicionais, os esforços do pensamento dessas áreas protegidas, é debate indispensável, sobretudo, na contribuição para a implantação de políticas públicas
científico engajados na compreensão destes grupos sociais, mostrando, por fim, um exemplo concreto desta valorização agrárias, ambientais e sociais integradas. O padrão mundial de demarcação de áreas naturais protegidas historicamente
na UFPR Setor Litoral. Sendo assim, diremos que desde a sociolinguística se tem dado grandes avanços para terminar caracterizada pela conservação sem a presença humana, hoje busca um modelo capaz de incluir as (re) configurações
com o preconceito que sofrem os setores populares da sociedade e às comunidades tradicionais, acusadas, muitas vezes, sociais definidas a partir da criação dessas áreas nas políticas de desenvolvimento territorial e de proteção da natureza.
de “falar tudo errado”. Nesse sentido, destacamos a Marcos Bagno que dá luz sobre os mitos que acabam elitizando Em paralelo, a negação dos direitos de uso dos recursos naturais, sofrida pelas populações que vivem em unidades de
a língua de uns e desprestigiando a de outros. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), por sua vez, diz que a conservação, impulsiona o processo de inclusão sociopolítica dos povos tradicionais para discutir o papel das popula-
escola tem que reconhecer a diversidade como parte inseparável da identidade nacional e dar a conhecer a riqueza ções humanas na proteção da natureza. O escopo deste resumo é referir as abordagens teórico-conceituais, no campo da
representada por essa diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro. Da mesma forma, diz pesquisa geográfica, acerca da problemática da sobreposição de territórios de populações tradicionais e unidades de con-
que a escola tem que ensinar a língua portuguesa padrão, mas livre de mitos, tais como que a fala de uma região é melhor servação, além de destacar o arcabouço legal que introduz essas comunidades nas políticas de conservação de natureza.
do que a de outras, o de que a fala “correta” é a que se aproxima da língua escrita […] Essas crenças insustentáveis Para tal, foram analisadas fontes bibliográficas que discutem o conceito de território em sua totalidade e multiplicidade,
produziram uma prática de mutilação cultural que [...] desvaloriza a fala que identifica o aluno a sua comunidade. Dessa permeado pelas dimensões política, socioambiental, cultural e econômica. Evidencia-se autores como Carlos Walter
forma, a UFPR Setor Litoral, através do tripé ensino-pesquisa-extensão, publica, no ano 2013, Minha Triste e Alegre Porto-Gonçalves, Marcos Aurélio Saquet e Bernardo Mançano Fernandes. Os principais marcos jurídicos que tratam da
história de vida, do professor e representante da comunidade quilombola de Guaraqueçaba, Ilton Gonçalves, que, desde interface entre unidades de conservação e territórios étnicos, tais como: o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
seus conhecimentos locais e saberes vivenciais, descreve sua experiência num dos gêneros literários mais apreciados e a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, foram ressalvados através
mundialmente: a poesia. Em seus versos podemos ler principalmente questões sobre racismo, agricultura, vida familiar da perspectiva antropológica realizada por José Mauricio Arruti e Paul Little. As investigações das produções científicas
e educação. Podemos concluir que o ensino da língua portuguesa nas escolas tem que atualizar suas metodologias, uma proporcionaram um paralelo entre a visão ecocêntrica e mercadológica da natureza e a perspectiva de indissociabilidade
vez que o ensino de velhas fórmulas gramaticais que não garante o domínio da língua em sua norma culta, e sim fomenta de territórios naturais e sociais. Destaca-se a tese de que o uso e gestão dos recursos naturais no Brasil deva transpassar
o preconceito. A língua é qualquer manifestação oral ou escrita de um ser humano, não existe língua “certa” ou “errada”, a lógica da criação de unidades de conservação como um território cercado, “território parque”; e ser reafirmado também
existem sim contextos diferentes onde se deve utilizar a variedade culta ou informal, segundo seja o caso, como bem como território vivido. Este, palco de manifestações, configurado por disputas de poderes, etnoconhecimentos, enfim, um
apontam os PCN’s. Assim mesmo, esperamos e desejamos que o ensino da língua portuguesa seja construído a partir território instituído por sujeitos e grupos sociais que se afirmam por meio dele. Para delimitar uma fração territorial há de
das experiências das comunidades tradicionais. Essa visibilidade é importante para dar a palavra aos que historicamente se compreender a interdependência e inseparabilidade entre a materialidade, que inclui a natureza e o seu uso e as ações
foram e ainda são calados. Assim como ser diferente não é sinônimo de inferioridade, as diferentes formas da língua desenvolvidas pelo homem para suprir suas necessidades. Porém, a construção dessa teoria no campo geográfico, embora
falada também não devem ser. A variedade linguística no Brasil é tão exuberante como a nossa floresta. A nossa relação avance gradativamente na discussão na temática da sobreposição territorial, se apresenta mais descritiva do que dialógica,
há de ser de respeito e valorização. com trânsito moderado entre o contexto socioterritorial e a gestão de unidades de conservação. Não obstante, a constitui-
ção dessa análise proporciona um panorama abrangente dos enfoques teóricos das pesquisas correlatas, apontando opções
metodológicas para o desenvolvimento de estudos empíricos com maior consistência teórica.
Angeluce Comoretto Parcianello, Ana Beatriz Ludovig, Ana Paula Rauber, Ana Carolina Kurz, Jamilly Gomes de
Elivaldo Bandeira Diniz Junior, Filipe Teles Eller, Neima Quele Almeida da Silva Almeida, Caroline Scherer, Karoline Oesterreich
Este trabalho tem por objetivo mostrar a preocupação com os impactos ambientais causados pelo lixo. Se começássemos
O escopo do presente trabalho é apresentar um quadro geral da evolução socioeconômica do estado de Rondônia, a modificar em nossa casa o destino dos restos de comida, reaproveitando-os de maneira produtiva para a família,
relacionando-o com a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio no período compreendido entre 2002 reduziríamos os custos no nosso orçamento doméstico e aumentaríamos os valores nutritivos para a nossa a saúde,
e 2014, buscando apontar as prováveis externalidades oriundas desse empreendimento. A abordagem utilizada para esta diminuindo assim o lixo. Pois os impactos ambientais causados pelo descuido com o lixo, o qual é colocado na lixeira
pesquisa é qualitativa com revisão bibliográfica a partir de dados formais conseguidos com as instituições governamentais da rua de maneira incorreta, são, muitas vezes, irreversíveis, quando resultam, por exemplo, em enchentes, erosões
(IBGE, SEPOG-RO, PNUD, MTE). No tratamento dos dados e nas análises comparativas foi utilizado o programa ou os desmoronamentos das barrancas dos rios, e até em perda de casas e morte das pessoas atingidas. Os impactos
computacional Excel. Nesse contexto, são apresentadas as principais teorias do Desenvolvimento Regional e se utiliza a ambientais causados preocupam muito. Até os oceanos já foram atingidos pelo lixo produzido nas cidades. Nesse
pesquisa aplicada a partir de dados referentes aos índices e indicadores: PIB, PIB per capita, Índice de Desenvolvimento contexto, conscientização e a sensibilização para que se diminua o consumo desordenado e destrutivo são importantes,
Humano (IDH), Índice de GINI, população, nível de emprego formal (NEF) e nível de desemprego formal (NDF). A especialmente nas escolas, uma vez que os alunos serão os futuros professores, médicos, empresários, entre outros. A
partir da análise dos dados e hipóteses levantadas é possível afirmar que o início da construção das usinas impactou conscientização e a sensibilização são importantes para que esses alunos compreendam quais serão seus compromissos
positivamente a população, o emprego, o PIB e PIB per capita rondonienses. O IDH e o Índice de GINI, por seu caráter perante as perspectivas apresentadas pela ONU e já comecem a intervir na comunidade, enfatizando os danos que o lixo
de aferição decenal, devem ser levados em conta para explicar somente o bom desempenho do PIB e do PIB per capita pode causar ao meio ambiente quando não tem a destinação correta. Diante dessa preocupação, é possível destacar que
no intervalo anterior a 2010. Portanto, não se constituem em medidas confiáveis dos impactos causados pelas obras das já existem alunos que estão sensibilizando a comunidade local para que se faça a destinação correta do lixo e para que
hidrelétricas. É importante ressaltar que os dados e hipóteses apresentados não devem levar a conclusões definitivas e se tenha consciência dos perigos e danos que os impactos ambientais podem causar para os indivíduos, para a sociedade
precipitadas, mormente quando se considera o pequeno afastamento temporal do início da construção das usinas de Santo local e para a saúde.
Antônio e Jirau. Muitos dos impactos positivos e negativos para o desenvolvimento regional só poderão ser estudados com
afinco daqui a décadas. Este escrito não tem, portanto, a pretensão de ser estudo definitivo dos impactos socioeconômicos
das usinas hidrelétricas no estado de Rondônia, mas ser uma das muitas contribuições acadêmicas que ainda se realizarão.
Palavras-Chave: conflitos socioambientais, políticas ambientais, educação ambiental, lixo.
Rodrigo Arantes Reis, Luis Fernando de Carli Lautert, Edipo Vinicius Tagliatella, Bruno Gurgatz, Khetlin Dias, Gusta- Ivanilda Foster Almeida
vo Santos Elste
A economia da pesca é uma atividade pouco estudada no Brasil e a falta de informação da cadeia de valor do pescado é
relevante para explicar as distorções nos preços destes, fato esse que se manifesta, quase sempre, em prejuízo econômico
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a poluição atmosférica é o maior risco ambiental à saúde humana,
ao pescador artesanal, ao realizar sua primeira comercialização. Esta afirmativa é presente no município de São Lourenço
sendo responsável por uma a cada oito mortes. Somente no ano de 2012 foi estimado que a poluição do ar foi responsável
do Sul – RS, onde a pesca é uma atividade tradicional e relevante, não só economicamente, como em sua dimensão social
por sete milhões de óbitos. Através de análise de estudos relacionados ao efeito da poluição atmosférica na saúde humana
e cultural. Com esta preocupação em melhorar o setor, este estudo busca mapear a “cadeia de valor” da pesca do cama-
foi concluído que concentrações de poluentes atmosféricos podem acarretar afecções agudas e crônicas no trato respira-
rão-rosa, realizada na região da Lagoa dos Patos, por pescadores artesanais do município de São Lourenço do Sul – RS,
tório, mesmo em concentrações abaixo dos padrões de qualidade do ar determinados pelo CONAMA. As partículas em
e analisar, sob a dimensão econômica, as etapas dos segmentos produtivos que constituem esta cadeia. A base metodoló-
suspensão no ar incluem uma mistura de sólidos e gotículas líquidas que podem ser classificadas quanto ao seu tamanho,
gica a ser utilizada é descrita por Hellin e Meijer (2006), onde os autores apresentam uma estrutura conceitual, indicam
entre outros parâmetros. As partículas inferiores a 10 μm (diâmetro aerodinâmico menor ou igual a 10 μm - MP10) são
o mapeamento do mercado como conteúdo básico para a montagem da cadeia de valor. Serão combinadas ferramentas
consideradas inaláveis, pois podem atingir as vias respiratórias; o grupo de partículas inferiores a 2,5 μm (diâmetro ae-
metodológicas da pesquisa qualitativa com quantitativa, ressaltando também, o uso de entrevistas semiestruturadas para
rodinâmico menor ou igual a 2,5 μm - MP2,5) recebe especial atenção, pois pode atingir as porções mais inferiores do
a coleta de dados.
trato respiratório, transportando consigo gases e/ou metais adsorvidos em sua superfície. Além das características físicas
(tamanho) e químicas (composição elementar) do material particulado (MP), as variáveis climática e meteorológica são
de extrema importância no transporte dessas partículas a nível local, regional, e inclusive intercontinental. Em geral,
quanto menor o fragmento em suspensão, maiores as possibilidades de aglomeração, coagulação, condensação de gases Palavras chave: Pesca artesanal; Cadeia de valor; Camarão-rosa; São Lourenço do Sul- RS.
na superfície ou formação de novas partículas com elementos “aprisionados” em seu interior. MP em suspensão, jun-
tamente com os demais poluentes atmosféricos gasosos, tem sido objeto de estudo de diversas pesquisas devido ao seu
potencial impacto no ambiente, tal como: redução de visibilidade, deterioração de superfícies de monumentos e edifica-
ções, formação de núcleos de condensação de nuvens, absorção e dispersão de radiação, sendo um importante agente de
alterações climáticas, acidificação de corpos d’água e alteração do balanço de nutrientes com esgotamento de nutrientes
no solo e alteração da estrutura das folhas de florestas e culturas agrícolas afetando os mecanismos de fotossíntese.
Além disso, há indiscutíveis evidências da relação causa-consequência entre a poluição do ar e o aumento dos índices de
morbidade e mortalidade da população mundial. O município de Paranaguá possuí o maior porto graneleiro da América
Latina. A atividade portuária está diretamente ligada a inúmeros impactos sociais e ambientais. O objetivo da pesquisa
é quantificar o material particulado em suspensão na atmosfera de Paranaguá com o equipamento AGV PTS/CVV (Hi-
vol), método validado pelo CONAMA. A pesquisa foi iniciada em junho de 2015 e até o momento foram coletadas 18
amostras. Das 18 amostras coletadas, nenhuma passou o limite primário estabelecido pelo CONAMA de 240 μg/m³ e
apenas duas passaram o padrão secundário de 180 μg/m³.
Este trabalho visa compartilhar a experiência de uma proposta de pesquisa interdisciplinar iniciada através do Programa
As Áreas de Proteção Permanente (APPs) constituem áreas recobertas ou não por cobertura vegetal, prioritárias a de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Setor Litoral.
preservação dos recursos naturais, assegurando, consequentemente, o bem-estar da sociedade, a qual é legislado, a partir A fase inicial deste processo consistiu basicamente na identificação de problemáticas de pesquisa em um Assentamento
da Lei Federal 12.651, de 2012(Novo Código Florestal brasileiro). A declividade das encostas é utilizada como parâmetro de Reforma Agrária. O processo foi subsidiado por pressupostos da pesquisa-ação, que ofereceu importantes elementos
na delimitação de algumas destas áreas. O mesmo código define as áreas de Uso Restrito, as quais são destinadas de como realizar trabalhos acadêmicos em comunidades a partir de demandas locais. Os estudantes da primeira turma do
à manutenção de atividades agrosilvipastoris, manejo florestal sustentável e infraestruturas voltadas às atividades mestrado foram envolvidos em um diagnóstico que já estava sendo conduzido no Assentamento Nhundiaquara por meio
preexistentes na data de 22 de julho de 2008, em acordo com as boas práticas agronômicas, não sendo permitida a conversão da Cooperativa responsável pela assistência técnica. Os dados apresentados neste trabalho foram resultados de atividades
de novas áreas para essas atividades, salvo sob as prerrogativas de interesse social e de utilidade pública. Demonstra-se de campo em uma das Glebas do Assentamento, conhecida como Pantanal. O Assentamento Nhundiaquara foi criado em
que a declividade é um importante elemento na paisagem, definindo inúmeras ações de ocupação e de preservação. Seu 1984, porém a Gleba Pantanal foi constituída posteriormente, após 20 anos de sua criação, a partir de uma ação de algumas
mapeamento geralmente é realizado em meio digital, devido ao maior acesso às bases de dados cartográficos. Porém, a famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra que ocuparam, em 2005, uma área do Assentamento
realização destes mapeamentos de forma digital depende de diversos fatores técnicos, como a escala da base de dados, que não havia sido dividida em lotes até então. Apesar de ser a Gleba mais recente do Assentamento, a comunidade do
a forma de obtenção e os interpoladores utilizados. Este trabalho tem como objetivo analisar estas diferenças em dois Pantanal tem as mais importantes experiências agroecológicas e agroflorestais do município, com a atuação de diversas
mapas de declividade gerados a partir de duas bases cartográficas distintas: (i) dados oriundos da missão espacial Shuttle instituições de ensino, pesquisa, assessoria, assistência técnica e comercialização. Durante a realização deste trabalho
Radar Topography Mission (SRTM), modelo de elevação disponível para todo o globo com escala de utilização de foram identificadas aproximadamente 15 instituições (públicas, privadas, comunitárias) com escalas de atuação diversas
1:100.000, utilizando pixel de 90 metros; (ii) base disponibilizada pelo Instituto das Águas do Paraná e Instituto de (federal, estadual, regional, local), que de alguma forma atuam ou influenciam a Gleba Pantanal em ações de Agroecologia
Terras e Catografia e Geociências, em formato vetorial na escala1:10.000, utilizado-se pixel de 10 metros. Como área e Agrofloresta. Estes e outros dados foram organizados em tabelas, gráficos, quadros sinópticos, mapas mentais que
de estudo adotou-se a bacia hidrográfica do rio Miringuava, em São José dos Pinhais/PR, os mapas de declividade permitem visualizar tanto situações concretas do público estudado quanto a relação estabelecida entre a Universidade e
foram gerados através do software ArGIS 10.1, através da equação proposta por Horn (1981). A base cartográfica com os sujeitos envolvidos na dinâmica do Assentamento. Conforme os procedimentos da pesquisa-ação predominantemente
pixel de 90 metros (SRTM) não apresentou declividades superiores a 45º, ou seja, não apresentou nenhuma APP na existencial, o processo iniciou com a identificação de uma “situação problemática” do Assentamento e seguiu com o
Bacia do Rio Miringuava. O mapa gerado a partir dos dados vetoriais com pixel de 10 metros apresentou as três classes “pedido de ajuda do sujeito” quando apresentaram as demandas locais, neste caso, a proposta de envolvimento dos
de declividade, porém demandou mais tempo e maior capacidade de hardware por parte do computador utilizado. O estudantes do mestrado em um diagnóstico que já vinha sendo realizado pela assistência técnica no Assentamento. Dali
mapa gerado através dos dados SRTM promoveu uma excessiva generalização das feições do relevo, diferente do mapa em diante foram realizadas várias atividades de “vivência” e “escuta sensível”, contudo, sem cumprir integralmente uma
gerado através da base em escala de maior detalhe, o qual apresentou resultados mais coerentes com as formas do etapa anterior que na pesquisa-ação predominantemente existencial é chamada de “constituição do pesquisador coletivo”.
relevo local, permitindo melhores resultados na delimitação das áreas de Uso Restrito previstas na legislação ambiental Isso acarretou, por consequência, uma delimitação não muito clara do grupo-alvo da pesquisa, houve problemas na
brasileira. Deve-se ressaltar que a resolução espacial, se alterada, tende a gerar diferentes resultados no modelo. Apesar negociação da intervenção desejada no Assentamento e acabou não levando a construção de uma problemática de pesquisa
dos resultados obtidos demonstrarem maior generalização no modelo obtido dos dados SRTM, sua principal vantagem é interdisciplinar conforme proposta inicialmente. Apesar do processo não ter finalizado, ele proporcionou importantes
a gratuita disponibilidade de dados para todo o território brasileiro. aprendizados práticos sobre como construir uma problemática de pesquisa interdisciplinar e desencadeou reflexões
teóricas a respeito de como conduzir um processo de pesquisa-ação.
Thalles Santos Simões, Rosely Yavorski, Marci Aparecida Lemes, Anderson Freitas Toregeani, Andressa Peron de Bi- Andressa Peron de Bitencourt Lopes, Marci Aparecida Lemes, Rosely Yavorski, Vivaldo Lessa Moreira, Ander-
tencourt Lopes son Freitas Toregeani, Thalles Santos Simões
O mundo está à procura de soluções globais que sensibilizem as pessoas e as empresas para conciliarem desenvolvimento Pela sua importância a reciclagem de resíduos sólidos gerados nas residências e nos comércios das cidades deve fazer par-
econômico, inclusão social e preservação ambiental, já que na contemporaneidade os avanços podem também importar te do plano de desenvolvimento e expansão das municipalidades, recebendo do setor responsável por sua implantação e
em prejuízos ambientais. A partir de 1992, as questões ambientais passaram a ter impactos sobre a competitividade das gestão mais atenção do ponto de vista técnico e administrativo. Em correspondência, a sociedade civil deve estar disposta
empresas. As ações para conscientização, organização de políticas públicas e ecológicas em favor do meio ambiente vêm a contribuir com a administração pública para o alcance de uma gestão plena desses resíduos sólidos. Assim, o objetivo
se efetivando cada vez mais, e a maneira como uma empresa administra as suas variáveis de impactos ambientais a coloca geral desta pesquisa é verificar como o município de Roncador - PR e a sociedade civil vêm atuando na gestão desses
em dimensão diferenciada das demais. O estudo tem como objetivo divulgar as várias formas de desenvolvimento econô- resíduos sólidos recicláveis. A metodologia utilizada será dividida em duas etapas: revisão da literatura e pesquisa de cam-
mico e a necessidade das empresas se preocuparem, independente de sua área de atuação, com a preservação ambiental po. A revisão da literatura se pautará em estudos realizados no campo da coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos
e a inclusão social. A literatura mostra a importância da participação das empresas na economia verde e, um exemplo, é gerados em residências e comércios e na legislação pertinente. A pesquisa de campo se dividirá na análise da estrutura
a política ecológica de plantio de árvores, que neutraliza o CO2, emitido durante os processos produtivos. O estudo em governamental, no estudo da percepção da sociedade civil sobre o tema, através de entrevistas, e no levantamento quanti-
seus resultados preliminares demonstra a necessidade de serem encontradas soluções compartilhadas para os problemas tativo (2014/2015) da coleta seletiva e da reciclagem no município de Roncador (PR), através de coleta de dados. Assim,
ambientais planetários, evidenciando que: a melhora da qualidade de vida é resultado de mudanças que podem partir de pressupõe-se que a coleta seletiva e a reciclagem devem ser feitas de forma planejada. O estudo possibilitará a análise:
forma individual de cada cidadão e que somadas as eventualmente efetivadas pelas organizações governamentais, não da estrutura governamental ligada à coleta seletiva urbana de resíduos sólidos gerados nas residências e nos comércios;
governamentais e terceiro setor, podem ensejar a criação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável, se essa estrutura governamental é adequada ou não, e se possui condições estruturais e técnicas para efetuar uma gestão
resultando na opção pela economia verde. Trata-se de um estudo básico bibliográfico, com a finalidade de gerar informa- eficaz da coleta dos resíduos sólidos no município; se está ocorrendo ou não o cumprimento da legislação pertinente tanto
ções para a conscientização e esclarecimento dos leitores. pela administração pública como pelos munícipes; se está ocorrendo ou não a fiscalização do cumprir das normas; se os
residentes entendem a importância da coleta seletiva e da reciclagem de resíduos sólidos urbanos e se estão dispostos a
colaborar para a melhora da gestão desses resíduos por meio de ações em conjunto com a administração pública; e se a
coleta seletiva e a reciclagem estão contribuindo para a melhora dos níveis satisfatórios de qualidade de vida da população
Palavras chave: Administração verde. Economia verde. Meio ambiente. Qualidade de vida. do município de Roncador - PR.
Palavras chave: Coleta seletiva e reciclagem. Resíduos sólidos urbanos. Percepção ambiental. Gestão pública.
O processo de crescimento desordenado e sem planejamento das cidades brasileiras trouxe consequências desastrosas
O estudo destaca a importância de brinquedos pedagógicos confeccionados com material reciclado, utilizados pelo pro-
sobre o espaço urbano e a qualidade de vida da população, além de provocar profundas modificações nos ambientes, en-
fessor no processo de ensino-aprendizagem; e a busca de alternativa para um desenvolvimento pedagógico, embasado em
fraquecendo continuamente os sistemas naturais que asseguram a vida no planeta. Com a criação da Política Nacional do
soluções inovadoras e de baixo custo, procurando melhorar a qualidade de vida e do ensino. A ideia de trabalhar com o
Meio Ambiente surgiram as propostas de planejamento ambiental como forma de orientação para o ordenamento territo-
aluno na confecção de seu material pedagógico, a partir de reciclados, enfatiza uma mudança na forma de conscientiza-
rial. Deste modo, foi estabelecido que toda atividade modificadora do meio ambiente dependerá da elaboração de estudo
ção deste aluno para os problemas ambientais. O estudo propõe a utilização de materiais recicláveis e reutilizáveis como
de impacto ambiental a ser submetido ao órgão competente como subsídios para a obtenção do licenciamento ambiental.
forma de conscientizar a população escolar da importância de conservar o ambiente em que se vive e, ao mesmo tempo,
A qualidade desses estudos ambientais deve ter extrema importância nos processos de licenciamento, pois são esses
ressaltar a importância em reutilizar determinados materiais como objeto de aprendizagem. Observa-se que a reciclagem
documentos que deveriam subsidiar as tomadas de decisões sobre o empreendimento e a gestão territorial local. Dentro
e a reutilização de materiais são maneiras eficazes de redução da quantidade de lixo que é jogada no meio ambiente. Me-
desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar como os estudos socioeconômicos oriundos do pro-
nos lixo representa uma economia significativa dos recursos naturais combatendo, inclusive, o problema do desperdício
cedimento do licenciamento ambiental podem ser utilizados como uma ferramenta de gestão para melhoria à população
energético. O estudo iniciou-se a partir de um evento realizado no município de Roncador-PR, no qual ocorreu a reali-
impactada direta e/ou indiretamente pelo empreendimento. A respeito disso é realizada uma leitura da Política Nacional
zação de uma oficina para a confecção de brinquedos, onde os participantes mostraram um grande interesse e discutiram
de Meio Ambiente, seu histórico e as legislações pertinentes ao tema. A partir da realidade do Estado de Santa Catarina é
a possibilidade de se traçar novas estratégias pedagógicas de intervenção e conscientização tratando o conteúdo exigido
avaliado como os estudos socioeconômicos podem interferir no objeto do licenciamento e para a população local. Objeti-
pelos Planos de Ensino de forma divertida. Pesquisas revelam que o plástico descartado de forma inadequada na natureza
va-se ainda analisar qualitativamente a percepção da população frente aos impactos de caráter socioeconômico. Na falta
mata pela ingestão ou estrangulamento milhões de animais, entre aves, peixes, tartarugas, focas e golfinhos. O descarte
de um planejamento integrado, desloca-se o âmbito da decisão política sobre as obras prioritárias ao desenvolvimento
ecologicamente correto dos materiais recicláveis e reutilizáveis possibilita a utilização na confecção de brinquedos que
sustentável para o processo de licenciamento ambiental. Com isso, perde-se a visão sistêmica dos investimentos em in-
podem ser usados em sala de aula ou na formação de brinquedotecas abertas à comunidade. Conclui-se que, a educação
fraestrutura e do impacto sobre o meio ambiente, deixando-se de aproveitar oportunidades em que a população poderia
é um instrumento importante, pois forma opiniões, promove inovações, viabiliza implantações de projetos que podem
ter realmente um ganho socioeconômico mais expressivo e abrangente. Para se alcançar os objetivos propostos da pes-
contribuir para a melhora da qualidade de vida dos alunos e da população em geral funcionando como verdadeiro agente
quisa são analisadas a Política Nacional de Meio Ambiente, legislações estaduais ambientais, referências bibliográficas,
de mudança. A conscientização pode partir de pequenas ações locais que, através da disseminação pela educação, podem
experiência profissional adquirida no decorrer dos anos na área do licenciamento ambiental e entrevistas de caráter qua-
se tornar grandes e abrangentes.
litativo direcionada a um grupo específico da população que foi impactada por um empreendimento de grande porte. O
resultado final, como contribuição científica deste trabalho, é de demonstrar que os estudos socioeconômicos realizados
no âmbito do procedimento do licenciamento ambiental são vitais para a gestão territorial e para o desenvolvimento local
Palavras chave: Reciclagem. Brinquedos pedagógicos. Conscientização. Ensino-aprendizagem. das populações afetadas.
Palavras-Chave: Estudos Socioeconômicos; Licenciamento Ambiental; Gestão Territorial; Política Nacional de Meio
Ambiente.
Projetos de Pesquisa
Segundo o Ipardes (1981), a pesca artesanal no litoral do Paraná apareceu na região ligada à subsistência, de
início articulada à produção rural, como uma renda complementar. Com o aparecimento de mercados locais, a pesca
transformou-se em uma atividade autônoma, com importância regional, mas não com projeção nacional, o que não retira
a importância de se conhecer seus processos de gerenciamento. Em 2001, acima de 70% da população das comunidades
tradicionais litorâneas tinham na pesca sua ocupação principal e/ou secundária (CORRÊA et al., 2001). Em 2004, as
principais atividades econômicas nessas localidades eram a pesca artesanal, aquicultura, turismo ambiental e agricultura
de subsistência (PROZEE, 2005).
Além das características acima comentadas, outro aspecto importante nesta breve contextualização, e que influen-
cia diretamente a dinâmica territorial local (NOERNBERG et al., 2008), é a existência de áreas legalmente protegidas no
Projeto de pesquisa para a tese de doutoramento do Programa de Pós-Graduação em Tecno- litoral do Paraná. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) (2015), o território
logia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Orientador Prof. Dr. Décio Estevão do conta com 31 unidades de conservação, das quais 15 são unidades de proteção integral (duas Estações Ecológicas Esta-
Nascimento. duais, uma Federal, dois Parques Municipais, uma Reserva Biológica Federal, sete Parques Estaduais e quatro Nacio-
nais); 5 são de uso sustentável (duas Florestas Estaduais, duas Áreas de Proteção Ambiental Estaduais e uma Federal)
e 9 são Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN). Como consequência, aproximadamente 67% da linha de
costa paranaense encontra-se no interior de unidades de conservação (NOERNBERG et al., 2008), fator importante para
se pensar a gestão dos recursos pesqueiros, seja pela própria existência de leis e decretos de proteção; ou pelo cenário
heterogêneo de normas jurídicas e uso de recursos comuns por populações locais.
Os modelos atuais de gestão da atividade pesqueira, os quais embasam fortemente suas diretrizes em fatores
econômicos e modelos centralizadores, muitas vezes desconsideram variáveis sociais em seus sistemas, o que parece
comprometer as condições atuais da pesca artesanal (SEIXAS et al., 2011). Segundo a Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (2015), essa descaracterização da atividade se agrava porque esses modelos de gestão
não discutem as tecnologias aplicadas à pesca e as modificações populacionais, políticas e econômicas que ocorrem
nas áreas ocupadas por comunidades pesqueiras. A perda da biodiversidade e a sobrexploração de estoques pesqueiros,
impactos negativos atribuídos ao manejo inadequado da pesca, tendem a piorar na falta de processos de gestão integrada,
de ordenamento do uso dos recursos naturais e de participação social (ABDALLAH; SUMAILA, 2007).
Para analisar o processo acima descrito, propõe-se considerar a pesca na perspectiva de uso de recursos comuns,
A premissa principal é que a tomada de decisões acerca da conservação socioambiental de um dado território Nesse sentido, Medeiros et al. (2014) citam que, apesar da reconhecida importância da pesca artesanal, tanto para
pesqueiro pode ser incrementada por meio de modelos de gestão de recursos comuns e alianças estratégicas (confiança e a diversidade de modos de vida dos pescadores, como também para segurança alimentar, precisa-se compreender melhor
cooperação) no contexto da governança interativa em redes. os sistemas socioecológicos1. O trabalho de Medeiros et al. (2014) aponta que para a gestão dos sistemas socioecológicos
há necessidades de novas perspectivas de gestão da pesca artesanal; uma perspectiva mais abrangente sobre gestores e
atores da gestão; e um ambiente institucional apropriado a partir de parcerias, formação de redes, comunicação e ação
coletiva. É nesse contexto, portanto, que o presente projeto de pesquisa se respalda, já que pretende contribuir com os
1.2 OBJETIVOS processos colaborativos de geração e interpretação de dados sobre as redes, governança e formatos de gestão dos recursos
pesqueiros artesanais.
Sob a ótica de Tecnologia e Desenvolvimento (linha de pesquisa na qual o projeto está inserido), a justificativa
1.2.1 Objetivo Geral
para realização desse estudo vem da concepção de que as discussões à cerca da pesca artesanal, tratada aqui como sistema
Propor um modelo de tomada de decisão acerca da conservação socioambiental em território pesqueiro baseado socioecológico e também como sistema sociotécnico, trazem contribuições para se pensar os desafios e as oportunidades
na gestão de recursos comuns e alianças estratégicas no contexto da governança interativa em redes. de se estabelecer novos formatos de desenvolvimento. Para Jacobi (1999), há necessidade de transformações no “modus
operandi” da gestão das temáticas ambientais, com o fortalecimento de práticas inclusivas e participativas; e esta partici-
pação é vista como meio de institucionalizar relações mais transparentes.
A fase seguinte compreenderá o mapeamento e análise da(s) rede(s) social(is) (relacionadas ao sistema pesqueiro
1.3 JUSTIFICATIVAS do litoral do Paraná), por meio de uma fase de campo, na qual deverão ser aplicados questionários e conduzidas entre-
vistas. Os dados coletados por esses instrumentos serão tabulados em planilha eletrônica da ferramenta Microsoft Excel,
Há, atualmente, uma rede denominada TBTI (Too Big To Ignore), que configura uma parceria internacional de sendo previsto, ainda, a utilização do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) para análise da normalidade
pesquisa e mobilização de conhecimento, formada por 15 instituições parceiras, 62 pesquisadores de 27 países (TBTI, da distribuição dos dados e as correlações existentes.
2015). Essa rede trabalha tendo como foco de estudos a pequena pesca, denominada internacionalmente de small-scale
fisheries (SSF), ou de pesca artesanal. A proposta é ter argumentos e subsídios contra a marginalização da atividade 1 Os sistemas socioecológicos foram caracterizados por diferentes autores, entre eles Adger (2006).
Assim como Ostrom (2002), Berkes (2006) trabalhou diferentes formas de acesso aos recursos, definindo regimes
de propriedade, entre eles o common property. As caracterizações desses sistemas de comuns envolvem conceitos como
cooperação e governança, os quais o presente projeto de pesquisa pretende trabalhar. Para Ostrom (2002), os seguintes
atributos, relacionados aos recursos (por isso a letra “R” na numeração que se segue), aumentam a probabilidade de coo-
perações para a governança: (R1) melhoria viável: condições dos recursos não estão em um ponto de deterioração tal que
seja inútil se organizar; (R2) indicadores: há indicadores viáveis e válidos da condição do sistema de recursos disponíveis
(a um custo relativamente baixo); (R3) previsibilidade: o sistema de recursos é relativamente previsível; e (R4) espaciali-
dade: o sistema de recursos é suficientemente pequeno, dada a tecnologia de comunicação em uso e transporte, o que pode
Fonte: Autoria própria
desenvolver conhecimento das fronteiras externas e dos microambientes internos. Além disso, a mesma obra (OSTROM,
2002) relaciona os atributos relacionados aos atores usuários desse sistema (por isso a letra “A”): (A1) saliência (impor-
Conforme a figura 1, portanto, a pesquisa conterá: (1) detalhamento da pesquisa bibliométrica (detalhamento dos tância): os usuários são dependentes, em grande parte, do sistema de recurso para sua subsistência; (A2) entendimento
descritores mais indicados); (2) pesquisa bibliográfica das teorias de referência utilizadas e de trabalhos atuais correlatos, comum: os usuários têm uma imagem compartilhada de como o sistema de recursos opera e como suas ações afetam uns
considerando a descrição de processos históricos de gestão de bens comuns, caso haja necessidade; (3) análise documen- aos outros e ao sistema; (A3) taxa de uso: os usuários utilizam os recursos em uma taxa suficientemente baixa em relação
tal das informações sobre gestão pesqueira disponíveis no território do litoral do Paraná: relatórios técnicos de institui- aos benefícios futuros a serem alcançados a partir desse recurso; (A4) confiança e reciprocidade: confiança mútua para
ções relacionadas com a gestão de recursos comuns, a serem identificadas (como órgãos gestores – federal e estadual; cumprir os acordos, com reciprocidade; (A5) autonomia: usuários são capazes de determinar o acesso e uso sem controle
conselhos gestores das unidades de conservação; relatórios técnicos de organizações não governamentais); (4) definição externo; e (A6) experiência de organização prévia e liderança local: usuários aprenderam habilidades mínimas de organi-
de categorias de análise (tais como: confiança, informações, políticas envolvidas, atores); (5) levantamento de campo: zação e liderança.
identificação e descrição dos atores da(s) rede(s) que compõe(m) a gestão dos recursos comuns no litoral do Paraná e das Entre os princípios de governança, Ostrom (2002) também relaciona tópicos como sanções, mecanismos de re-
características dessa rede. Utilização de questionários e entrevistas com atores da rede; (6) análise e interpretação dos solução de conflitos, monitoramento, escolhas coletivas e estabelecimento de redes. Estes tópicos se aproximam da ideia
dados, discutindo os dados coletados nas categorias desenvolvidas. Os dados serão tratados e discutidos nos diferentes de governança interativa, pela qual Kooiman et al. (2008) estabelece o conceito assumindo um conjunto de interações
Para a presente pesquisa, portanto, a TAR será abordada considerando algumas definições da teoria de base, como CORRÊA, Marco Fábio M. Ictiofauna demersal da Baía de Guaraqueçaba (Paraná, Brasil). Composição, estrutura,
distribuição espacial, variabilidade temporal e importância como recurso. 2001. 160p. Tese (Doutorado em Zoologia),
a tradução. A tradução, para Do Nascimento e Souza (2011) “tem como desafio a criação de compatibilidades, o desenho Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2001.
das interações das relações e o estabelecimento da comunicação entre os diferentes atores, sendo importante na coor-
CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed,
denação da rede”. Para Callon (1986), a tradução é o mecanismo pelo qual os mundos sociais e naturais tomam forma.
2010.
Nesse sentido, para essa pesquisa, entender o que define as relações entre os atores do sistema de pesca artesanal significa
descrever a maneira pela qual esses atores são definidos, se associam e permanecem na(s) rede(s) de tomadas de decisão. DO NASCIMENTO, Décio E.; SOUZA, Marília. Dinâmicas do Modelo Rede na Coordenação de Relações
Socioeconômicas: Mobilização, Coordenação e Tradução. Revista Tecnologia e Sociedade (Online), v. 12, p. 1-15,
Além das teorias mencionadas, vale salientar que a pesquisa irá procurar desenvolver categorias de análise que 2011.
podem mesclar outras variáveis, talvez não tratadas diretamente por essas teorias, mas consideradas importantes para EMATER; FUNDAÇÃO TERRA. Dados de levantamento de Campo. Curitiba, 2005. Arquivos em CD- ROM.
abordar os objetivos propostos.
FREY, Klaus. Governança urbana e participação pública. RAC-Eletrônica, v. 1, n. 1, p.136-150, 2007.
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TBTI -TOOBIGTOIGNORE. Disponível em: < http://toobigtoignore.net/about-tbti/>. Acesso em: 09 julho 2015.
Igualmente o estado de Santa Catarina dispõe de uma faixa litorânea que se estende por 560 km e abriga cerca de
Objetivo Geral 40% da população. E tem por característica singular a dinâmica de colonização que consolidou uma economia de subsis-
Desenvolver um modelo analítico (framework) para a estruturação de monitoramento socioambiental participativo tência baseada no binômio pesca e agricultura familiar – a primeira com perfil sazonal, centrada nas armações baleeiras,
orientado para a promoção do desenvolvimento territorial sustentável, e aplicá-lo em um sistema lagunar localizado no e a segunda obedecendo a um calendário anual, predominando a cultura da mandioca processada nos engenhos de farinha
litoral centro-sul do Estado de Santa Catarina. (POLICARPO, 2009; SOCIOAMBIENTAL, 2005; VIVACQUA, 2012).
Neste sentido que Cerdan et al. (2011) caracterizam a zona costeira catarinense como um novo mundo rural,
Objetivos específicos como um rural periurbano, ou mesmo – em termos metafóricos – como “jardim das cidades”. Em estudo realizado por
● Desenvolver indicadores de monitoramento participativo com base nos enfoque da estes autores foi evidenciado a ocorrência de três dinâmicas de desenvolvimento local. Sendo a predominante a de ur-
cogestão adaptativa e desenvolvimento territorial sustentável. banização intensiva e de turismo de massa, seguindo o modelo vigente de desenvolvimento capitalista. E contrastando
● Construir uma avaliação participativa da dinâmica socioecológica do sistema Lagunar com uma dinâmica de ecologização do território, frente a criação de áreas protegidas formando mosaicos de unidades
“Lagoa do Ribeirão”, localizado no município de Paulo Lopes. de conservação. E ainda uma terceira dinâmica ligada a presença de comunidades de pescadores artesanais, agricultores
● Realizar uma análise prospectiva dos potenciais e obstáculos à promoção do desenvolvimento familiares, maricultores e artesãos envolvidos em práticas de autoconsumo e pluriatividade. Da integração destas duas
territorial sustentável no sistema Lagunar “Lagoa do Ribeirão”, localizado no município de Paulo Lopes. últimas dinâmicas têm emergido o que os autores consideram ser um embrião de um processo de DTS. Com iniciativas
● Avaliar os potenciais e obstáculos das Áreas Marinhas Protegidas como arcabouços voltadas para valorização do patrimônio cultural das comunidades de pescadores artesanais e agricultores familiares me-
institucionais promotores do desenvolvimento territorial sustentável. diante a formação de sistemas produtivos localizados, práticas de cultivo agroecológico, articulação de circuitos curtos
de comercialização e adensamento de relações econômicas baseadas no princípio da reciprocidade.
O estudo será realizado na Lagoa do Ribeirão, localizada na Bacia do Rio da Madre entre os municípios de Palho-
Hipóteses ça e Paulo Lopes, litoral centro-sul de Santa Catarina. A Lagoa do Ribeirão possui um 1Km2 de extensão, onde algumas
Hipótese 1: Por não haver um arcabouço metodológico para o monitoramento contínuo e participativo, ou quando comunidades rurais-pesqueiras desenvolvem seus modos de vida seguindo a dinâmica deste ecossistema. O modo de
presentes - limitados ao uso dos recursos naturais; as mudanças gradativas em curso não tem sido absorvidas pelas vida tradicional é marcado pela pesca de subsistência, lazer no estuário e atividades agrícolas familiares no seu entorno,
estratégias de gestão e desenvolvimento, gerando perda da resiliência socioecológica, ocorrendo de forma mais evidente somado ao assalariamento em outros municípios vizinhos. Da década de 1970 em diante o estuário vem sofrendo com
em sistemas costeiros de pequeno porte, como lagunas. inúmeros processos de degradação soceoecológica, marcados pela duplicação da BR101, plantios crescentes de arroz
Hipótese 2: O monitoramento socioambiental participativo orientado pelo desenvolvimento territorial sustentável irrigado com intensificado uso de agroquímicos, e a ainda a perda do conhecimento ecológico tradicional associado as
oferece uma percepção de cenários desejáveis e de condições de crise a serem incorporadas nos instrumentos de regras de uso e manutenção do modo de vida (PRUDÊNCIO, 2012).
planejamento e gestão ambiental na zona costeira, mas que é condicionada a presença de arranjos institucionais que A região possuí também uma forte relação com Unidades de Conservação. Desde 1975 a Lagoa estava inserida
favoreçam tal concepção. Áreas Marinhas Protegidas configuram-se como espaços potenciais quando o conjunto de na área do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Cujos limites foram alterados em 2009, e hoje a Lagoa esta nas pro-
ações consiga incorporar elementos tais como modos de vida, segurança alimentar e redução da pobreza, para além da ximidades da Área de Proteção Ambiental do Entorno Costeiro. Ainda, a linha de costa que contorna a desembocadura
gestão da biodiversidade. está inserida na Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca. Outras mudanças institucionais como a alteração do plano
diretor em 2010 e o próprio plano estadual de gerenciamento costeiro, tem sido fonte de novos conflitos. Tais alterações
criaram um cenário futuro de transformação na forma de urbanização do entorno da Lagoa (PRUDÊNCIO, 2012; PE-
Breve descrição da área de estudo REIRA, 2013; PRUDENCIO; VIEIRA; FONSECA, 2014).
A área de estudo está inserida em um mosaico de ecossistemas de alta relevância ambiental, a exemplo de res-
tingas, mangues, campos de dunas, baías e estuários, lagunas e banhados, praias e costões, áreas de vegetação e floresta.
Favorece o desenvolvimento de um amplo leque de atividades produtivas – turísticas, industriais, energéticas e portuárias
– contribuindo com cerca de 70% do volume total do PIB nacional. São áreas consideradas prioritárias para a conserva-
Como primeira etapa será realizada uma revisão da literatura sobre cogestão adaptativa e desenvolvimento ALLISON, E. H.; HOREMANS, B. Putting the principle sof the Sustainable Livelihoods Approach into fisheries devel-
territorial sustentável. Esta revisão servirá de base para a construção dos indicadores e de uma proposta metodológica opment policy and practice. Marine Policy, v. 30, n. 6, p. 757–766, nov. 2006.
para a sua aplicação na zona costeira. A revisão levará em conta aspectos teóricos que definem a abordagem teórica
ANDION, C.; SERVA, M.; LÉVESQUE, B. O debate sobre a economia plural e sua contribuição para o estudo das dinâ-
dos conceitos tratados no projeto, bem como uma análise de experiências onde aspectos da cogestão adaptativa e do
micas de desenvolvimento territorial sustentável. Eisforia. v. 4, 2006, p.199-221.
desenvolvimento territorial sustentável foram abordados.
Para avaliação participativa da dinâmica socioecológica os dados serão coletados por meio de entrevistas abertas BELTON, B.; THILSTED, S. H. Fisheries in transition: Food and nutrition security implications for the global South.
com informantes chave; entrevistas tipo survey por meio de questionários realizados com comunitários; Observação Global Food Security, v. 3, n. 1, p. 59–66, 1 fev. 2014.
participantes - incluindo o acompanhamento das atividades produtivas, oficinas de avaliação participativa, pesquisa
BENNETT, N. J.; DEARDEN, P. Frommeasuringoutcomestoproviding inputs: Governance, management, and local de-
documental de dados secundários. A construção da metodologia será realizada com base nas orientações propostas pelo
velopment for more effective marine protectedareas. Marine Policy, v. 50, n. PA, p. 96–110, 1 dez. 2014.
SocMon (BUNCE et al., 2000)we can’t process your request right now.</p></div><div style=”margin-
left: 4em;”>See <a href=”http://www.google.com/support/bin/answer.py?answer=86640”>Google Help</ BERKES, F.; FOLKE, C. Linking social andecological systems: management practicesand social mechanisms for build-
a> for more information.<br/><br/></div><div style=”text-align: center; border-top: 1px solid ingresilience. Traducao. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. p. 343–362
#dfdfdf;”>&copy; 2009 Google - <a href=”http://www.google.com”>Google Home</a></
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O foco de análise irá recair principalmente sob três comunidades: Gamboa, Guarda do Embaú e Ribeirão Grande. Fishworkers, maio 2008.
Essas comunidades agregam os grupos sociais cujos modos de vida dependem diretamente da dinâmica do sistema
lagunar. Além disso, estão localizadas em partes distintas do sistema lagunar, possibilitando uma visão mais abrangente FOPPA, C. C. Comunidades pesqueiras e construção de territórios sustentáveis na zona costeira - uma leitura da Área de
das percepções sobre a dinâmica local. Proteção Ambiental da Costa Brava em Balneário Camboriú. Florianópolis: Universidade Estadual de Santa Catarina.
A partir da análise dos dados, serão explorados teoricamente dois aspectos. Primeiramente, analisar se e como a Programa de Mestrado Profissional em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental, fev. 2009.
proposta do desenvolvimento territorial sustentável pode ser atingida para o sistema lagunar estudado. Em segunda ordem, FROEHLICH, J. M.; ALVES, H. F. I. Novas identidades, novos territórios – mobilizando os recursos culturais para o
a partir de um esforço de generalização, busca-se analisar em que medida as Áreas Marinhas Protegidas se constituem em desenvolvimento territorial. Revista Extensão Rural, v. 14, p. 65–90, 2007.
espaço institucional apropriado para a promoção do desenvolvimento territorial sustentável. Em última análise, avalia-se
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Letícia Nascimento Vimeney O presente projeto constitui-se em um estudo de caso de um processo mais amplo, observado em diversas regiões do
mundo. Denominado de Protected Areas Downsizing, Downgrading and Degazettement (PADDD) por Mascia e Pailler (2010),
esse processo refere-se ao fenômeno de redução, recategorização e/ou extinção de áreas protegidas. No Brasil, esse fe-
nômeno incide sobretudo no bioma Amazônico, que não apenas concentra a maior parte das áreas protegidas brasileiras
(aqui denominadas Unidades de Conservação - UCs), mas também configura-se como fronteira de expansão econômica
do país, alvo de diversos projetos de desenvolvimento de infraestrutura – como estradas, usinas hidrelétricas e redes de
transmissão de energia. Assim, a pressão para utilização dos recursos naturais protegidos pelas UCs vem colocando em
risco a existência delas e a manutenção de seus objetivos de conservação.
Nesse contexto, destacamos dois casos de PADDD emblemáticos desse processo, ambos associados aos grandes
projetos de Usinas Hidrelétricas, em estágios diferentes de implantação. Em Rondônia, treze Unidades de Conservação
tiveram seus limites alterados ou foram revogadas em 2010 em função do estabelecimento do Complexo Hidrelétrico do
Rio Madeira, parcialmente em operação (usinas Jirau e Santo Antônio). No Pará, cinco Unidades de Conservação foram
reduzidas em área em 2012 devido ao plano de construção do Complexo Hidrelétrico do Tapajós Pretendemos analisar
os dois processos de maneira a buscar possíveis similaridades e diferenças entre eles ou, ainda, aspectos do primeiro caso
que possam apontar possibilidades para o segundo.
1.2. Objetivos
Programa de Pós Graduação em Geografia - UFRJ O objetivo geral da pesquisa é analisar os padrões, as tendências e os efeitos do processo de PADDD no Brasil
através do estudo comparativo de dois casos em andamento no bioma amazônico, um motivado pelo estabeleci-
Orientação: Profa. Dra. Rebeca Steiman
mento do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira no estado de Rondônia e o outro pela implantação do Complexo
Hidrelétrico planejado para a Bacia de Tapajós no estado do Pará.
Os objetivos foram estruturados visando responder alguns questionamentos. Como os grandes projetos de infraes-
trutura na bacia do rio Madeira e na bacia do rio Tapajós afetaram as Unidades de Conservação daquelas regiões? Que me-
canismos sociais e/ou políticos são mobilizados para modificar os aspectos institucionais das Unidades de Conservação
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Nos 31 assentamentos rurais implantados neste município, entre o período de 1994 e 2010, se estabeleceu uma ca-
pacidade para assentar aproximadamente mil famílias1 em uma área total de 26.300 hectares. A produção de leite bovino Objetivos específicos
nos assentamentos do município é expressiva no decorrer da década de 2000. Tem como marco referencial a iniciativa da
Cooperativa Regional dos Assentados da Fronteira Oeste Ltda (Coperforte), fundada em outubro de 2002, com o objetivo - Analisar as origens socioculturais dos agricultores assentados e as interações com a produção de leite bovino,
de organizar a coleta e comercialização do leite. Inicialmente, foram 35 sócios que se organizaram, com uma produção considerando possíveis relações dessa escolha produtiva com as trajetórias sociais;
média total de 35 mil litros mensais. Com a expansão da atividade, a quantidade de membros se aproximava de 600 as-
sociados em 2012 (APL LEITE, 2012). - Analisar as origens e desdobramentos da produção de leite no município de Santana do Livramento e sua relação
com os agravantes gerais da cadeia produtiva entre as décadas de 1990 e 2000 para as produções em pequena escala;
Desde o ano de 2005, um conjunto de instituições que estão situadas em torno da produção leiteira no município
unem esforços para elaboração de projetos e atividades conjuntas. Em 2007, um grupo de 15 instituições passou a se - Analisar os estilos de agricultura dos agricultores assentados produtores de leite de Santana do Livramento a
reunir em torno do que veio a se constituir como o Arranjo Produtivo Local do Leite de Santana do Livramento/RS (APL partir dos diferentes padrões tecnológicos, organização do trabalho e da produção e inserção nos mercados;
Leite). Entre os anos de 2006 e 2011 a produção anual de leite na bacia leiteira do município se expandiu de 6 milhões de
- Analisar o modelo de pecuária leiteira que está sendo proposto pelas instituições locais em torno da APL Leite na
litros para 20 milhões de litros (APL LEITE, 2012).
sua relação com escala, intensidade e origem dos recursos, discutindo também a adaptação com o bioma Pampa;
No entanto, apesar desta notável expansão da produção leiteira no município no período, as décadas de 1990
- Analisar origens e condicionantes de diferenciação socioeconômica entre produtores de leite nos assentamentos
e 2000 representaram, também, um aumento de restrições para os agricultores familiares envolvidos com esta cadeia
rurais. Relacionar esta diferenciação com os repertórios socioculturais e com a representação em espaços políticos como
produtiva. Destaca-se a rigidez na regulamentação sanitária, a redução da regulamentação governamental de preços
a APL Leite.
tabelados e a entrada de novas empresas no mercado, o que, em geral, pressionou para os investimentos em tendências
empresariais dos agricultores na especialização e aumento de escala, por questões de qualidade e de concorrência, o que
dificultou as possibilidades de reprodução de pequenas produções, que diminuíram em número (BREITENBACH, 2012).
Apesar de se constatar uma pluralidade de sistemas produtivos de leite, o que se observou emergindo com este conjunto Referencial teórico básico
de restrições foi, nos extremos, a tendência do modelo intensivo e a tendência da redução de custos (NORDER, 2006
As questões teóricas entendidas como ‘pano de fundo’ deste trabalho estão relacionadas, de um modo geral, com
apud BREITENBACH, 2012).
estudos acerca das possibilidades de reprodução social dos camponeses no contexto dos processos de mercantilização da
1 O contingente de famílias assentadas em lotes de terra nos assentamentos rurais de todo o RS, até 2012, era de aproxima-
agricultura. De um modo específico, com as condições existentes na construção de estratégias produtivas dos agricultores
damente treze mil famílias (INCRA, 2013).
Estes trabalhos e perspectivas teóricas contribuem com as categorias analíticas para compreensão do objeto desta
2 O Programa de ATES é responsável pela execução da política de extensão rural pública nos assentamentos rurais.
Na zona costeira, diversas atividades econômicas vêm se apropriando dos territórios pesqueiros, ameaçando os Assim, soma-se ao objetivo principal do projeto a geração de conhecimento através da sabedoria dos pescadores
pescadores em relação a sua reprodução social. Para Walter & Anello (2012), os pescadores artesanais são os mais vul- artesanais e do conhecimento tradicional obtido com o passar das gerações. Como afirmam Diegues e Arruda (2001), o
neráveis aos impactos de empreendimentos costeiros de grande porte, por sofrerem os encadeamentos de seus impactos conhecimento tradicional é composto pelo “conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatu-
em terra e mar. ral, transmitido oralmente, de geração em geração”. No pescador se encontra o conhecimento tradicional, orientador da
integração entre o homem e seu ambiente natural. No recordar para reconstruir a história de vida destes homens que en-
frentam quaisquer condições para prover alimento, reproduzindo através da atividade de pesca artesanal uma construção
Assim, gradativamente os territórios pesqueiros são ameaçados por processos de ocupação oriundos de outras ati-
de territórios que são muito importantes para a manutenção da qualidade ambiental da nossa zona costeira. Tal pesquisa
vidades econômicas. Especificamente no estuário da Lagoa dos Patos, sistema lagunar que conta com múltiplas atividades
encontra-se contextualizada na linha de pesquisa “Caracterização e Diagnóstico de Sistemas Marinhos e Costeiros” do
em seu entorno (Tagliani & Asmus, 2011), é relevante o processo de expansão portuária, cujos ciclos de desenvolvimento
Programa de Pós-Graduação em Gerenciamento Costeiro e, conforme detalhado posteriormente, será realizada por meio
exógeno são preponderantes na organização do território, conforme exposto por Carvalho et al. (2012).
de um Estudo de Caso envolvendo as comunidades pesqueiras da Vila Mangueirinha e da Ilha da Torotama, sendo a pri-
meira limítrofe ao Porto Organizado do Rio Grande. Já a segunda, mais distante.
Para Monié & Vidal (2006), a dinâmica portuária reflete a reorganização dos espaços produtivos globais, prepon-
derando a organização do território em detrimento de outros usos:
Tem-se como hipótese da pesquisa que os portos organizados em seu processo de expansão têm gerado perda de
territórios pesqueiros, tanto daqueles situados em terra (local utilizado paraas fainas da pesca, como confecção e reparo
Reafirma-se que a dinâmica portuária e as mudanças nos métodos das operações portuárias sempre esti-
veram associadas à reorganização mundial dos espaços produtivos e ao surgimento de dinâmicas comer- de petrechos, de acampamento, beneficiamento do pescado e realização de festas) quanto do território aquático (áreas de
ciais específicas. Com a globalização, novas demandas foram colocadas sobre os portos, o que resultou captura, de instalação de andainas), ameaçando a manutenção dos pescadores artesanais.
em mudanças no sistema portuário mundial e nas cidades com portos. Em relação ao porto, destaca-se
que o mesmo não pode ser pensado apenas do ponto de vista técnico e operacional. Ele não é apenas um
corredor, ele é mais: um instrumento a serviço de um projeto de desenvolvimento expresso (Monié & Vidal, A presente pesquisa volta-se a compreender a relação da atividade pesqueira artesanal com a atividade portuária,
2006, p.977).
por meio da concepção de território pesqueiro.
Conforme se expandem as cadeias globais, há de se repensar o contexto dos portos contemporâneos em relação ao
Como objetivos específicos, têm-se:
seu entorno:
O alargamento da cadeia produtiva impõe às cidades portuárias enfrentamentos complexos que vão desde i) Analisar a expansão portuária em Rio Grande, a partir da instalação do Super Porto na década de 1970, e ve-
questões estruturais e instrumentais do próprio cais, até o embate com questões socioeconômicas e am- rificar como a mesma reflete na perda de territórios dos pescadores artesanais da Ilha da Torotama e da Vila
bientais, antes tratadas isoladamente e desconsideradas da cadeia produtiva, bem como a definição de
políticas e instrumentos necessários à gestão do porto e da cidade (Monié, & Vidal, 2006; p. 978). Manguerinha;
É neste contexto que se insere o presente projeto de pesquisa. Volta-se a compreender como o processo de expansão ii) Elaborar uma linha do tempo de forma a compreender os ciclos de expansão e retração portuária, de forma a
portuária ameaça a existência dos pescadores artesanais ao apropriar-se de seus territórios. associar os fenômenos vivenciados no município à memória de pescadores antigos, de ambas as comunidades
pesqueiras;
iv) Dar voz aos pescadores artesanais, por meio de sua memória, relatando as transformações vivenciadas a partir
da instalação do Super Porto e em dois ciclos de expansão portuária (Super Porto e Pólo Naval).
1. Procedimentos de Pesquisa
1.1 – Área de Estudo: o Estuário da Lagoa dos Patos e o Porto Organizado do Rio Grande
A Lagoa dos Patos (Figura 1) é a maior laguna costeira estrangulada do mundo, tendo 10.300 km2. Recebe o apor-
te de água doce dos rios da parte norte da planície costeira do Rio Grande do Sul e dos rios afluentes da Lagoa Mirim,
constituindo um escoadouro natural da bacia hidrográfica, com aproximadamente 200.000 km2, para o oceano (Möller
& Fernandes, 2010). O estuário da Lagoa dos Patos apresenta 971 km2 (Calliari, 1980), limitado ao norte por uma linha
imaginária que liga a ponta da Feitoria à ponta dos Lençóis a ao sul pela Barra de Rio Grande (Vieira & Rangel, 1988).
Segundo pesquisa empreendida por Kasanoski (2012), os pescadores artesanais do estuário dividem a Lagoa em duas
porções: o quadro da Lagoa, compreendido pelo estuário e a Lagoa, cujo ambiente predominante é límnico. Tal divisão
sobrepõe àquela definida pelos pesquisadores, a partir das características hidrodinâmicas da laguna.
Möller & Fernandes (2010) reiteram a existência de uma linha imaginária que limita a porção estuarina, tendo como Figura 1 - Localização do Estuário da Lagoa dos Patos. Em destaque definição dada pelos pescadores –
perspectiva os padrões de circulação de água salgada, sendo este limite médio, ainda que possa se estender até a porção Quadro da Lagoa (estuário) e Lagoa, onde o ambiente límnico torna-se predominante. A linha que delimi-
norte da laguna ou ficar restrita à desembocadura da Barra de Rio Grande. Os autores destacam que o afunilamento natural ta “imaginária” fica na ponta da Ilha da Feitoria. Imagem LANDSAT (2007). Fonte: Kasanoski (2013)
do estuário em direção ao mar é decisivo na circulação por intensificar as correntes de vazante, enquanto o efeito da maré
na região é de importância secundária. A hidrodinâmica da laguna depende principalmente das relações entre a descarga O porto do Rio Grande é o mais importante entre os portos organizados do estado, pois é o único porto marítimo
fluvial e a ação dos ventos. Estuários são zonas de transição entre as zonas límnica e a oceânica. Fato que espécies de que apresenta características naturais privilegiadas, um dos únicos que possui condições de aprofundamento do canal de
peixes superam seus limites, gerando uma inter-conectividade natural entre as zonas límnica, estuarial e oceânica adja- acesso por ser dragável, e está inserido no ecossistema estuarino lagunar da Lagoa dos Patos onde se encontram ambientes
cente (Vieira et al., 2010). Trata-se assim, de um ambiente rico em biodiversidade, relevante para o desenvolvimento da naturais de alta fragilidade (enseadas, ilhas e praias), com ligação ao Oceano Atlântico.
pesca artesanal.
A infraestrutura da zona portuária de Rio Grande é muito ampla, dividida em quatro zonas, a saber: Porto Velho: que
atualmente é inoperante e destinado a atividades pesqueiras e turísticas; Porto Novo: local do cais público do porto, com
movimentação de mercadorias; Superporto: local dos terminais privados e; São José do Norte, área de expansão, com a
instalação do Estaleiro EBR. Toda esta infraestrutura conta ainda com a presença dos molhes, que garante o canal para a
entrada dos navios na região do canal do estuário (Figura 2).
Inserido em meio a zona do baixo estuário, temos inúmeras comunidades de pesca artesanal, que necessitam da ma-
nutenção de seu território para sua reprodução social; entre elas, em Rio Grande, temos a 4ª Secção da Barra, Santa Tereza,
Getúlio Vargas, Mangueira, Vila São Miguel, Parque Coelho, Ilha dos Marinheiros e Ilha da Torotama. Suas diferenças
envolvem principalmente a urbanidade, em que se encontram as comunidades situadas nas áreas centrais do município,
A memória, principal fonte dos depoimentos orais, é um cabedal infinito, onde múltiplas
variáveis – temporais, topográficas, individuais, coletivas – dialogam entre si, muitas vezes
revelando lembranças, algumas vezes de forma explicita, outras vezes de forma velada,
chegando em alguns casos a oculta-las pela camada protetora que o próprio ser humano
cria ao supor, inconscientemente, que assim está se protegendo das dores, dos traumas e
das emoções que marcaram a sua vida. (DELGADO, 2010).
A história oral é um procedimento que privilegia a realização de entrevistas e depoimentos com pessoas que par-
ticiparam da construção de processos históricos ou testemunharam acontecimentos. Para esta pesquisa, buscaremos nos
pescadores artesanais mais antigos da Vila Mangueira e da Ilha da Torotama, o depoimento sobre as áreas de pesca que
foram e são utilizadas, buscando na narrativa a construção do processo histórico de ocupação do território, pois, ao re-
meter as memórias existe estimulo ao narrar, contar e relembrar, a fala, a escuta, a troca de olhares e toda uma dinâmica
sobre esta forma de sabedoria. Para Eduardo Galeano (1991), a memória é o melhor porto de partida para navegantes com
desejo de vento e profundidade, e de fato, quando na busca de construções de identidades, os sujeitos individuais e sociais
mergulham na profundidade de suas histórias e processam longa viajem através de uma dinâmica que pode apontar um
Figura 2 – Zoneamento do Porto de Rio Grande. Fonte: Autoridade Portuária; Elaborado por LabTrans. caráter espontâneo ou direcionado.
(2013)
Para análise, será realizada a triangulação de métodos quantitativos e qualitativos, pela necessidade de agregar
2.2 - Procedimentos de Pesquisa dados do processo de expansão da cidade de Rio Grande, e verificar os atores envolvidos na expansão da zona portuária,
pois segundo (MINAYO, 2013) a triangulação de métodos permite a avaliação de uma situação especifica, utilizando de
Para realização da pesquisa, faremos uso do referencial da Pesquisa Social Qualitativa, com foco na metodologia várias áreas de conhecimento para recolher subsídios para a mudança necessária em uma determinada realidade social,
de História Oral, por ela reconstruir referências concretas aos acontecimentos relacionados à experiência dos pescadores utilizando de metodologias qualitativas e quantitativas.
artesanais:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Uma característica fundamental da metodologia qualitativa é sua singularidade e a não compatibi-
lidade com generalizações. A história oral inscreve-se entre os diferentes procedimentos do método ABRAMOVAY, R. (2003). O futuro das regiões rurais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.
qualitativo, principalmente nas áreas de conhecimento, histórico, antropológico e sociológico, situa
se no terreno do contra generalização e contribui para relativizar conceitos e pressupostos que ten-
CALIARI, L., J. (1980). Aspectos sedimentológicos e ambientais da região sul da Lagoa dos Patos. Universidade Fede-
dem a universalizar e generalizar as experiências humanas. Para Paul Thompson a singularidade é
ral do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
profunda lição da história oral e de cada história de vida, também considera que a história oral ao
se dedicar a recolher depoimentos pessoais, que se referem a processos históricos e sociais, apre-
senta inúmeras potencialidades metodológicas e cognitivas. (DELGADO, 2010). CARVALHO, D. S.; CARVALHO, A.B.; DOMINGUES, M. V. L. R. (2012). Polo Naval e desenvolvimento regional
A pesca artesanal de arrasto de camarões, como um exemplo dessas pescarias, é a principal atividade na região
da Reserva Biológica do Arvoredo e Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim, ambas localizadas no estado de San- Referências
ta Catarina. E, considerando estas serem uma das áreas principais do Projeto Rede Viva1; o qual visa desenvolver ações
para a adoção de artes de pesca mais seletivas na frota artesanal, responsável por grande volume de descarte de peixes e Eayrs, S. 2007. A Guide to Bycatch Reduction in Tropical Shrimp-Trawl Fisheries. Revised edition. Rome, FAO, 108p.
outras espécies marinhas, as duas Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) referidas, foram escolhidas pois está em curso a
FAO. 2005. Putting into practice the ecosystem approach to fisheries. Rome. Christensen, V, P. D. (1993). On steady-state
elaboração de um Plano de Gestão Pesqueira associada à elas.
modelling of ecosystems. In Trophic models of aquatic ecosystems (pp. 14–19).
Contemplam também a manutenção da qualidade de vida das famílias dos pescadores. A proposta visa construir FAO, 2014. The State of World Fisheries and Aquaculture (Opportunities and challenges). Food and Agriculture Organi-
uma rede de diálogo e aprendizagem com pescadores artesanais da frota de arrasto de portas, a fim de estimular a ado- zation of the United Nations. Rome. 223p.
ção voluntária de dispositivos tecnológicos para a redução da fauna acompanhante (BRD – do inglês Bycatch Reduction HART, P. J. B., & J. D. REYNOLDS. 2002. Handbook of fish biology and fisheries, v. 2. Blackwell. Scientific Publica-
Device). Há, portanto, a necessidade de abordagens de gestão pesqueira para reduzir o impacto sobre os ecossistemas
tions, Malden, Massachusetts.
(Pauly et al., 2002; Eayrs, 2007).
Kelleher, K. 2005. Discards in the world´s marine fisheries. Rome: FAO Fisheries Technical Paper, v.470. 131p.
Neste contexto, a modelagem ecológica será utilizada como ferramenta para subsidiar a tomada de decisões. Pauly, D; Christensen, V; Guenette, S. 2002. Towards sustainability in world fisheries. Nature v.418. p.689–695.
Concomitante, numa abordagem integrada e participativa de pesquisa-ação, serão conduzidas ações de planejamento
participativo e formação de parcerias; realização de oficinas de diálogo com devolutivas a respeito da redução da fauna
acompanhante por meio de dispositivos tecnológicos. Desta premissa, o objetivo do trabalho é analisar os dados gerados
pelo projeto à partir do uso da modelagem ecológica.
Procedimentos metodológicos
Serão utilizados dados do cadastro socioeconômico e levantamento de embarcações e redes de arrasto de pesca,
além de dados secundários de desembarque, informações sobre as espécies capturadas, bem como informações gerais
necessárias para a geração dos modelos ecológicos segundo o EwE. Esta abordagem de modelagem contempla três com-
ponentes: Ecopath – uma análise estática do balanço de massas do sistema; Ecosim – uma simulação do comportamento
do sistema para exploração de estratégias de gestão; e Ecospace – um módulo de análise espaço-temporal para avaliação
do impacto e planejamento (espacial) de medidas de gestão (Christensen, 1993).
A modelagem consistirá em trabalhar sobre duas perspectivas principais: 1) explorar tendências de evolução
tecnológica da pesca de arrasto e suas implicações para o ecossistema e comunidades pesqueira, e; 2) explorar impactos
socioeconômicos e ecológico da adoção de medidas tecnológicas para a redução do impacto da ambiental da pesca de
arrasto, por meio de dispositivos para redução do bycatch.
Adicionalmente, serão realizadas entrevistas com pescadores artesanais para obter informações do campo da
etnoecologia como forma de complementar informações sobre a dinâmica ecológica da pesca de camarões. O sistema a
ser construído e cujas estimativas e explorações serão realizadas por meio de modelo será o “sistema pesqueiro artesanal
da pesca de camarões”. As atividades serão realizadas em comunidades selecionadas e, espera-se construir uma rede de
1 Projeto Rede Viva: construção participativa e adoção voluntária de artes de pesca sustentáveis na frota de arrasto de camarões do lito-
ral do Paraná e Santa Catarina.
Etimologicamente autonomia significa o poder de dar a si a própria lei, autós (por si mesmo)
REFERENCIAL TEÓRICO BÁSICO e nomos (lei). Não se entende este poder como algo absoluto e ilimitado, também não se
entende como sinônimo de auto-suficiência. Indica uma esfera particular cuja existência é
garantida dentro dos próprios limites que a distinguem do poder dos outros e do poder em
A investigação em questão possui como perspectiva a ideia de desenvolvimento territorial no âmbito das políticas geral, mas apesar de ser distinta, não é incompatível com as outras leis (ZATTI, 2007).
públicas e redes sociais.
Buscando ilustrar tal processo, vale considerarmos a história do estado a que pertence o município em questão. Prio-
Diferenciando-se de crescimento, ao envolver e considerar o capital, a noção de desenvolvimento apresenta um
ri (2012) relata que anteriormente, o estado do Paraná pertencia a São Paulo e tal conjuntura gerava grande insatisfação:
desenho não linear, mas circular e ramificado. O termo encontra-se calcado na interdisciplinaridade e, logo, considera e
não havia estrutura para as exigências administrativas, não havia professores e escolas suficientes para a população, a
discute os aspectos sociais, ambientais, econômicos e demais fatores que interferem e são resultado dos modos de produ-
segurança era péssima, a justiça lenta, os serviços públicos eram precários e verbas eram desviadas. No caso do município
ção e troca em uma perspectiva que considera as condições possíveis (e não impraticáveis) de uso dos recursos naturais
de Pontal do Paraná, visualiza-se a importância de se conhecer como se apresentavam tais condições e deste modo quais
atrelado a um funcionamento social capaz de gerar condições de vida adequadas (sustentável). O termo territorial, segun-
foram os impulsos para tal ação.
do Saquet (2011), faz menção ao espaço pluridimensional em que ocorrem as relações de forças que determinam a ação
e a estrutura dos relacionamentos (redes) dos quais resultam tais aspectos. Leff (2000) aponta que a sociedade atual, civilização do conhecimento, apresenta a contradição de ser na realidade a
Por políticas públicas, compreende-se a ação do Estado, ou segundo Oliveira (2013, p15) “o Estado em ação” que sociedade da alienação, do desconhecimento, da deserotização do saber, já que não se viu tamanha proliferação do desco-
acontece a partir de suas esferas, os governos federal, estadual e municipal em suas responsabilidades e competências nhecimento e “exclusão dos processos que e decisões que determinam suas condições de existência”. No sentido contrário
legalmente constituídas. A ação das políticas públicas enquanto “ferramenta das decisões do governo” interfere de forma à perda da condução de suas vidas e do sentido de suas existências, a participação em projeto de construção de novo lugar
direta na vida dos cidadãos de acordo com Souza (2006, p.22), razão pela qual a consideração sobre essa problemática e a seguir, em um processo emancipação, visa transformar a própria realidade e a de seu coletivo. Com o resultado, o pró-
está atrelada a perspectiva de um desenvolvimento territorial sustentável. No caso da emancipação de um território, as prio ambiente sofre modificações e sua configuração torna-se outra. Nesse sentido, pode-se desenhar uma nova realidade,
políticas públicas aparecem como possíveis causas (justificativas) e intenções de tal processo, cabendo ainda a reflexão que passa a merecer diferentes atenções, inclusive pelo olhar das políticas federais e estaduais.
de que a perspectiva de desenvolvimento pode vir a basear, ou não, tais ações. Ao descrever a origem do município no Brasil, Favero (2004) aponta que este foi implantado com a mesma estrutura
Como se pretende a reflexão sobre a constituição de um município, na busca por esta construção, é possível debru- (organização e atribuição política, administrativa e judicial) apresentada no Reino português. Porém, ao ser transportado,
çar-se sobre a obra de Hollanda (1997) para ser visualizada a possibilidade de que um levantamento histórico sobre a si- o nome dado ao território governado pelo Conselho (caracterização de Portugal) passou a se chamar município (derivação
tuação apresentada em determinado tempo e circunstância é capaz de gerar material sobre o processo de formação cultural das antigas comunas romanas). A partir da Lei de 28 de outubro de 1828 o termo município foi oficializado. Antes, tais
de uma dada sociedade. No caso da obra citada, a sociedade brasileira e o legado colonialista na formação indentitária e locais eram denominados cidades, vilas ou parochias.
suas consequências sociais.
O município era assim formado pelos seguintes membros: alcaide (exercia as funções administrativas e judiciais e
Sendo tal entendimento verificado através das relações estabelecidas, cabe salientar a noção de territorialidade, esta representava o poder central); juízes ordinários (escolhidos entre os “homens bons”, deliberavam e julgavam juntamente
como uma consequência da constituição da consciência do território. Conforme afirma Freitas (2008), por demonstrar com o alcaide); vereadores; almotáceis (exerciam o policiamento e aferiam questões de tributos); juízes de fora (represen-
suas raízes, apresenta-se como um sistema espacial importante para a cultura de seus habitantes e emerge como resultado tantes da Coroa nos Conselhos, exerciam funções de almotaceis e homens bons); procurador (homens bons que represen-
das interações de um grupo humano. tavam o Conselho junto à coroa) e os homens bons (órgão consultivo do conselho – homens experientes livres e idôneos
radicados no local). Os homens bons escolhiam, pelo voto, os juízes e vereadores, que formavam a câmara do conselho e
Vislumbra-se aqui a relevância de se considerar o surgimento de um município para então fundamentar a análise de se responsabilizavam pelo governo econômico (FAVERO, 2004).
suas possibilidades de desenvolvimento. Sobre tal aspecto, cabe considerarmos a noção de tal termo, que não se resume
a questões ligadas unicamente ao aspecto econômico, mas que se faz possível através de um “projeto social subjacente” O autor observa que a organização municipal no período desempenhou um papel de apoio à colonização e que a
(VEIGA, 2008). Ora, ao falarmos da formação de um município e, mais além, de seu processo de emancipação, é sobre independência refletia na autonomia dos colonos. Apresenta como ilustração o fato de que em 1549, através da promoção
um projeto que se está tratando. Pode-se, com isto, ponderar tratar-se, ou não, de bases ligadas à noção de desenvolvi- do governo português, houve a criação e fundação da cidade de Salvador com o intuito de dar maior impulso ao processo
mento sustentável. Segundo Veiga (2008) para que este exista é necessário que se apresente “socialmente includente, de colonização. Tendo como objetivo expulsar os competidores franceses, essas ações foram seguidas, em 1567, pela
ambientalmente sustentável e economicamente sustentado no tempo”. fundação de uma segunda cidade, o Rio de Janeiro. Nesse sentido, a coroa era responsável pelos encargos de fiscalização,
ficando as responsabilidades judiciarias, militares e mesmo fazendárias transferidas à governança local. A arrecadação dos
Ao realizar o estudo do processo de emancipação do estado do Paraná, Priori (2012) apresenta tal conceito. Define
Em relação ao território em questão, cabe destacar que atualmente, de acordo com o Instituto Paranaense de Desen- O ideal de um livro seria expor toda coisa sobre um tal plano de exterioridade, sobre uma
volvimento Social (IPARDES 2015), o município de Pontal do Paraná possui uma área territorial de 202,159 km² e uma única página, sobre uma mesma paragem: acontecimentos vividos, determinações históri-
cas, conceitos pensados, indivíduos, grupos e formações sociais. (DELEUZE e GUATTARI,
população estimada de 23.816 (vinte e três mil oitocentos e dezesseis) habitantes. Possui ainda densidade demografia 1995, p. 16).
de 103,48 habitantes por km², com taxa de crescimento populacional de 3,86%. O Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) é de 0, 788 e Produto Interno Bruto PIB per capta de R$12.638.
REFERÊNCIAS
METODOLOGIA DELEUZE, G; FELIX, G. Mil platôs. Vol. 1. São Paulo: Editora 34, 1995.
FAVERO, E. Desmembramento territorial: o processo de criação de municípios – avaliação a partir de indicadores
econômicos e sociais. 2004. 278 p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento
Como dito, o presente projeto pretende encontrar os atores participantes do processo de emancipação de Pontal do de Engenharia de Construção Civil – São Paulo.
Paraná e ouvir os relatos referentes a tal processo, suas intenções, pensamentos, pontos de vistas e sentimentos sobre tal
acontecimento. Ao mesmo tempo, buscará levantar as memórias da situação em que o município se encontrava na fase FREITAS, C. G. de. Desenvolvimento local e sentimento de pertença na comunidade de Cruzeiro do Sul – Acre.
anterior e as perspectivas em relação ao futuro daquele momento. Pretende ainda realizar a coleta de imagens e documen- Campo Grande, MS: [s.n.], 2008.
tos relacionados. Dessa forma, objetiva desvendar a estruturação da rede formada para tal fim. HOFFMANN-HOROCHOVSKI. M. T. Memórias de morte e outras memórias: lembranças de velhos. Curitiba: UFPR,
2008. Tese (Doutorado em Sociologia) – Programa de Pós –Graduação em Sociologia, Setor de Ciências Humanas, Letras
Para tanto, as metodologias utilizadas deverão, em um primeiro momento, pautar-se na história oral. Segundo Silva e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.
(1998), citado por Hoffmann-Horochovski (2008, p. 7): “Método qualitativo de coleta e análise dos dados, a História
Oral confere centralidade ao que os agentes sociais comunicam, compreendendo estes elementos como fundamentais HOLLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
para a reconstrução, compreensão e explicação de processos sociohistóricos”. Conforme a mesma autora, dentro deste INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. IPARDES. Caderno Estatístico de
universo, a história de vida, forma mais conhecida da história oral, se dirige a uma trajetória individual em um dado con- Pontal do Paraná. Curitiba, 2015.
texto social o oferece a possibilidade de que as experiências vividas sejam reconstruídas. Isto, pois considera ser aquele
que narra guardião do conhecimento sobre um dado acontecimento. Hoffmann-Horochovski (2008) complementa que http://www.ipardes.gov.br/cadernos/MontaCadPdf1.php?Municipio=83255&btOk=ok
a emergência de questões subjetivas, fator participante dos fatos coletivos, torna indissociável o fato e a versão, o que MATURANA, H. R.; VARELA, F. J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São
legitima o estudo a partir de tal perspectiva. Ao mesmo tempo em que se atualiza o passado ao reconstruí-lo pela fala, Paulo: Palas Athena, 2007.
esta não se encontra dissociada da memória da coletividade, o que oferece possibilidade de análise dos acontecimentos
que emergem por tal via. OLIVEIRA, Vanessa E. As fases do processo de políticas públicas. In: MARCHETTI, V. (Org). Políticas Públicas em
debate. São Bernardo do Campo: ABCD Maior, UFABC, 2013.
Ao ser dar através da análise qualitativa, tal método vai ao encontro da Psicossociologia. Esta metodologia pro- PRIORI, A., et al. História do Paraná: séculos XIX e XX [online]. Maringá: Eduem, 2012.
cura construir uma teoria-prática desnaturalizadora, pautada nas críticas e questionamentos das experiências instituídas,
impondo um olhar transdisciplinar, implicando inúmeros fenômenos da realidade, tanto no plano macropolítico (fatos e http://books.scielo.org
modos de vida em sua exterioridade formal, sociológica), quanto micropolítico (forças que agitam a realidade, dissolven-
PHILIPPI JR., A. (Org.). Interdisciplinaridade em ciências ambientais. São Paulo: Signus, 2000.
do suas formas e engendrando outras, num processo que envolve o desejo e a subjetividade).
///C:/Users/Windows/Downloads/Olhar%20de%20professor%20(1).pdf
Lourau (1995), afirma que a Psicossociologia nasceu na encruzilhada de várias disciplinas já formadas ou em via
de formação, como a psicologia social, a psicanálise, a psicopedagogia, a terapêutica, a sociologia das organizações, etc: REIS, P.R C.; COSTA, T.M.T.; SILVEIRA, S.F.R. Receita pública e bem estar social nos municípios mineiros emancipa-
dos no período de 1988 a 199. Revista Eletrônica de Administração.Porto Alegre – Edição 74 - N° 1 – jan/abr 2013 – p.
61-82.
A partir dos anos 50, os psicossociólogos criaram a intervenção psicossociológica, relação
de colaboração na qual os problemas são prioritários com relação aos métodos. Em conse-
quência, abandonaram totalmente uma certa prática de pesquisa-ação que estudava grupos SANTOS, R. A.; ANDRADE. P. L. A evolução histórica do federalismo brasileiro: Uma análise histórico-sociológica a
artificiais e igualmente, excluíram os métodos nos quais as decisões eram tomadas de ma- partir das Constituições Federais.
neira unilateral pelo pesquisador. Passaram a se preocupar, em especial, com as instâncias
de mudança, nas quais o psicossociólogo tinha o papel de um pesquisador- interventor,
respondendo a uma demanda e adotando uma posição de analista. Por meio desta aborda- Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=a424ed4bd3a7d6ae. Acesso em 12 ago. 2015.
gem, o pesquisador-prático, por sua presença, fez aparecerem certos problemas, permitiu
que um novo tipo de discurso fosse enunciado, que condutas, até então desconhecidas, se
revelassem. (MACHADO e ROEDEL, 2001, p. 09). SAQUET, M. A. Por uma Geografia das territorialidades e das temporalidades: uma concepção multidimensional
BARROS, R. P. de. Desigualdade no Brasil. IN: Da Série Leituras do Brasil. A vida que a gente quer depende do que
Objetivos Específicos / Ações a gente faz - Proposta de Sustentabilidade para o planeta. Instituto Ecofuturo, 2007, p.48 – 57;
10º
12º
13º
14º
15º
16º
17º
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19º
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11º
2º
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7º
8º
9º
1º
CAMPOS, G.W.S. & DOMITTI, A.C. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do
Explorar materiais atualizados trabalho interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, vol. 23, n. 2, p.399-407, fev. 2007.
a respeito dos conceitos de
Redes, Sustentabilidade e X X X
CAVALCANTI, C. Sustentabilidade: mantra ou escolha moral? Uma abordagem ecológico-econômica. São Paulo:
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Explorar a idéia de
desenvolvimento territorial CHIAVERINI, D. H. (Organizadora) ... [et al.]. Guia prático de matriciamento em saúde mental. Brasília, DF:
sustentável no que tange a Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011.
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X X X
principais políticas públicas e CIAMPA, A. C. A estória do Severino e a história da Severina: um ensaio de Psicologia Social. São Paulo:
instituições não governamentais Brasiliense, 2005.
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Mapear as Redes estabelecidas
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entre as diversas instituições
presentes em cada uma das
2013.
X X X X
sete cidades que representam o
litoral paranaense. LAVALL, E.; OLSCHOWSKY A.; KANTORSKI, L. P. Avaliação de família: rede de apoio social na atenção em
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Compreender onde estão as
fragilidades dessas Redes MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2011.
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macrossocial. SCANNAVINO, E. Saúde na Modernidade. IN: Da Série Leituras do Brasil. A vida que a gente quer depende do que
Buscar outros modelos de a gente faz - Proposta de Sustentabilidade para o planeta. Instituto Ecofuturo, 2007, p.82 – 89.
Redes pelo Brasil que possam
ser trazidos como exemplos SAQUET, M. A.; DEMATTEIS, G. Abordagens e concepções de território. São Paulo: Editora Expressão Popular,
X X X
e inspiração para o território 2007. [Introdução, p.13-26; Cap. 8: Construindo uma proposta de abordagem territorial (i)material, p. 157-177]
local.
SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DO PARANÁ. Rede de Atenção em Saúde Mental. Curitiba, 2015.
Síntese e feedaback dos estudos
Disponível em: http://www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=3026. Acesso em: 15 jul. 2015.
realizados e publicações
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estudada.
mental. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.
Debates significativos com as
instituições a fim de apontar VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
as possíveis soluções para o
X X X X
aprimoramento das Ações em
Saúde Mental no território.
* Em paralelo a todas as atividades a partir do 4º mês já será possível dar início a elaboração da Dissertação de Mestrado.
Nos dois últimos meses fica uma dedicação exclusiva à finalização da Dissertação.
ACHARD, F, et al. (2002). Determination of Deforestation of the World`s Humid Tropical Forests. Science. 297, 999-
Materiais e Métodos:
1002.
ADAMS, J,B, et al. (1995). Classification of multispectral images based on fractions of endmembers: Application to land-
Para analisar a distribuição e identificar os tipos de atividades antrópicas desenvolvidas na área de estudo,
cover change in the Brazilian Amazon. Remote Sensing of Environment. 52, 137-154.
pretende-se utilizar, imagens do satélite Landsat 8 e dados secundários disponibilizados por instituições que desenvolvem
ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. (2013). PNUD, IPEA, Fundação João Pinheiro. Rio de
trabalhos na região como o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), INPE, Instituto de Pesquisas
Janeiro.
Amazônicas (INPA) entre outros. Além das imagens e dos dados secundário a coleta de dados em campo também se
AYRES, J.M, et al. (2005). Os corredores ecológicos das florestas tropicais do Brasil. Belém, Pará. Sociedade Civil
mostra necessária para auxiliar na identificação das classes de uso e cobertura do solo.
Mamirauá, 2005, 256p.
A escolha das imagens do sensor OLI do satélite Landsat 8 lançado recentemente (11 de fevereiro de 2013) sugere
BALL, G.H; HALL, D.J. (1965). Isodata: a method of data analysis and pattern classification. Office of Naval Research.
um baixo grau de degradação da qualidade dos dados. Outros fatores relevantes na sua escolha foram: o incremento em
Stanford Research Institute, Menlo Park, U.S.
sua resolução radiométrica (16 bits) em relação ao Landsat 7 (8 bits), a disponibilidade de imagens recentes para a área
BARRETO, P, et al. (2006). Human Pressure on the Brazilian Amazon Forest. World Resources Institute, Belém, Pará,
de estudo e o acesso gratuito.