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REFERENCIAL TEÓRICO
Seguro não é um bem material; embora seja comumente classificado como um serviço, seu
valor para o comprador é claramente diferente do tipo de satisfação dos desejos dos
consumidores por tratamento médico ou transporte. De fato, diferente de bens ou serviços,
transações que envolvem seguros são uma troca de dinheiro por dinheiro, não dinheiro por
algo que diretamente atenda necessidades. A analogia mais próxima na teoria econômica
comum para uma apólice de seguro é uma obrigação ou ordem de pagamento, uma troca de
dinheiro agora por dinheiro mais tarde. Mas um seguro é um tipo mais sutil de contrato; é a
troca de dinheiro agora por contingente pagável de dinheiro na ocorrência de certos
eventos. (ARROW, 1971, p.1)
Ainda segundo este autor, é lucrativo para todos os envolvidos que os riscos
sejam realocados para a agência mais preparada para suportá-los, através de sua riqueza
e habilidade de difundir riscos, função que é assumida pelo governo diversas vezes. Esta
realocação de riscos permite que indivíduos se envolvam em atividades arriscadas, nas
quais não se envolveriam de outra maneira. Assim, cada investidor pode estar
razoavelmente certo do resultado positivo, e a sociedade será melhor devido à maior
produção.
[...] indivíduos conhecem suas probabilidades de acidentes, enquanto seguradoras não. Uma
vez que compradores de seguros são idênticos em todas as circunstâncias, exceto em sua
propensão a sofrer acidentes, a força dessa suposição é que as seguradoras não podem
discriminar dentre os seus potenciais clientes com base em suas características. A empresa
pode usar o comportamento dos consumidores no mercado para inferir sobre sua
probabilidade de acidentes. (ROTHSCHILD, STIGLITZ, 1976, p.4)
Os próprios autores ressalvam que este pode não ser um meio rentável de
descobrir as características do consumidor, e esclarecem que é possível forçar
indiretamente os consumidores a fazerem escolhas de maneira que eles revelem suas
características.
Raviv (1979) busca em seu trabalho projetar uma apólice de seguro ótima,
através do desenvolvimento dos trabalhos pioneiros de Arrow e Borch. Ele define a
apólice como o prêmio pago pelo segurado e a cobertura específica do segurador para
cada perda possível. De acordo com Raviv (1979):
Uma vez que o prêmio pago pelo indivíduo está diretamente relacionado aos recursos
escolhidos, a cobertura ótima do seguro envolve balancear os efeitos de prêmios adicionais
contra os efeitos de cobertura adicional. Nesta abordagem os termos da apólice são
assumidos como exogenamente especificados e impostos sobre o comprador do seguro.
(RAVIV, 1979, p.1)
2. REVISÃO DE LITERATURA
As contribuições brasileiras de maior relevância no campo do seguro agrícola
são de Vitor Ozaki. Ozaki (2008) define o seguro como um mecanismo que permite
reduzir o risco sem grandes oscilações no retorno esperado, situação em que o indivíduo
transfere uma despesa futura e incerta, de valor elevado, por uma despesa antecipada e
certa de valor relativamente menor.
Ozaki (2008) relaciona as estratégias na gestão do risco com o trade off risco-
retorno, em que o indivíduo, ao buscar maximizar o retorno, se expõe a certo nível de
risco, e ao minimizar o risco associado, minimiza também seu retorno.
A agricultura difere de outras atividades em seu nível de risco uma vez que está
amplamente atrelada aos riscos climáticos, além dos riscos de mercado, comuns a outros
setores. Quando catastróficos, os fenômenos climáticos podem causar efeitos
econômicos devastadores, implicando não apenas em gastos adicionais, mas também
em perda de safras inteiras.
Acerca dos efeitos das perdas na agricultura, Ozaki (2007) escreve que:
[...] 1) a perda esperada deve ser calculável, 2) as circunstâncias de uma perda devem ser
bem definidas, não intencionais e acidentais, 3) deve haver um grande número de unidades
expostas, homogêneas e independentes, 4) o prêmio deve ser economicamente viável, e 5)
não haja perda catastrófica. Entretanto, em função de sua natureza, no seguro agrícola todas
as condições são, em menor ou maior grau, violadas. (OZAKI, 2007, p.79)
Apesar das citadas limitações, os benefícios, tanto para o governo quanto para
os agricultores, de um seguro abrangente e economicamente sustentável seriam vários.
Dentre estes benefícios, Ozaki (2007) pontua quatro para o governo e quatro para os
produtores. Para o governo, seria benéfico transferir ao mercado segurador o ônus das
dívidas do crédito rural e da perda de renda, bem como desonerar o Estado de boa parte
dos recursos necessários ao financiamento da safra, também o estabelecimento de uma
política agrícola anticíclica e a manutenção das boas condições macroeconômicas do
Estado, decorrente da manutenção da atividade agrícola, seriam positivas ao governo.
Em relação aos produtores, os benefícios permitiriam que ingressassem no mercado de
capitais, facilitando o acesso e barateando o crédito, que tivessem estabilidade de renda,
que se recapitalizassem em caso de perda, tornando-os adimplentes em safras futuras, e
finalmente que aumentassem o investimento e o uso de tecnologia.