Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rio Janeiro
12 de junho de 1893.
Edição nº 4053 – Ano IX
Página 2
Cartas Parisienses
Paris, 11 de maio.
Uma greve de nova espécie: a greve dos
bicicletistas, que querem roubar os patrões
ondem servem, e que não aceitam
repreensões de espécie alguma. É a
proclamação do direito ao roubo, nem mais
nem menos. A teoria anarquista da
expropriação posta em prática. Vamos num
sino! Os operários já se revoltam, porque os
patrões não consentem nesse lindo método
de trabalho. Se as coisas marcham assim
O Paiz com tão vertiginosa rapidez para o reino da
Rio de Janeiro anarquia, vamos em breve assistir a uma
12 de junho de 1893. manifestação dos larápios contra a maldita
Edição nº 4053 – Ano IX instituição da policia, que os não deixa
Capa roubar e esfaquear a vontade. Mas voltemos
Telegramas à greve parisiense: trata-se dos operários da
New York, 11. fábrica de velocípedes do Senhor Clement.
Atribui-se o desabamento do edifício da O patrão, tendo constatado, com apoio de
repartição de pensões, em Washington, a irrefutáveis provas, de que uns 17 operários
abertura de valas para a instalação de da sua fábrica roubaram dos ateliers
aparelhos de luz elétrica, serviço a que se utensílios e peças montadas e completas
estava precedendo. O enterro das vitimas para a fabricação de bicyclettes em casa
da medonha catástrofe foi muitíssimo deles, deu parte do caso a polícia, que
concorrido. Abriram-se subscrições para prendeu os larápios. Estes confessaram
socorrer as famílias. depois os roubos de que eram acusados. Os
mais comprometidos ficaram
definitivamente na prisão e os aprendizes
foram postos em liberdade, depois de terem
sofrido uma admoestação em forma.
Segundo parece, os indivíduos acusados Hoje ou amanhã os operários capitulam; e
não ficaram satisfeitos e persuadiram os os meneurs da agitação são os primeiros a
seus companheiros de que era necessário conhecer que a causa esta perdida, porque
protestar contra a decisão patronal. a opinião pública não vê com bons olhos
Reuniram-se larápios e inocentes e essa greve sem razão séria e confessável.
nomearam uma delegação, que Ao norte da França continua o movimento
parlamentou com o Senhor Clement para grevista. Uns reclamam a diminuição nas
que este mandasse por em liberdade os horas de trabalho e outros exigem o
operários presos e terminasse com o aumento de salário. Os agitadores
processo. O patrão respondeu que estava socialistas vão perdendo pouco a pouco a
pronto a perdoar aos menos culpados, mas antiga influência que tinham no meio
que não podia retirar a queixa que dirigira a operário. Em compensação a doutrina
policia contra indivíduos, autores de roubos anarquista da violência faz rápida passagem
bastante consideráveis. De resto, era tarde no meio desses deserdados, famintos de
para fazer trancar o processo. Os delegados justiça e de liberdade que não querem mais
operários foram comunicar aos palavras, mas obras, as obras da
companheiros o resultado da entrevista e os propaganda pelo fato.
bicicletistas resolveram declarar a greve.
Escreveram depois ao patrão, dizendo-lhe Os escritórios de agentes de empregos que
que só voltaram ao trabalho quando lhes tem dado origem a vários motins bastante
fosse dada inteira satisfação as seguintes sérios nas ruas de Paris, que ocasionaram
reclamações: supressão da queixa a policia as primeiras explosões de dinamite, que tem
e o pagamento da féria todas as quinzenas. sido constantemente uma arma de
O patrão, o Senhor Clement, aceitou uma resistência nas mãos dos agitadores
das imposições dos seus operários, a paga anônimos, estão agora na ordem do dia no
quinzenal. Com respeito a queixa contra os parlamento francês. Foi o deputado Dumay
larápios, que lhe tinham roubado vários quem levantou a questão. O famoso
velocípedes para os vender, recusou-se a socialista, a tão discutida vitima do 1º de
usar de sua influência ou da sua proteção Maio, pronunciou um longo discurso contra
junto do juiz que instaura o processo. São essas agencias de empresas que roubam
ladrões e tem de ser julgados como ladrões. em 15, 20 e 40% os pobres operários ou
Os anarquistas estão contentíssimos, empregados. Disse que essas agencias
porque é a primeira greve verdadeiramente eram uma negação dos princípios de 89,
anarquista que aparece. Mas, curioso que proclamou o trabalho livre. Os bureaux
detalhe! – nenhum dos operários grevistas é de placement foram sempre uma odiosa
anarquista. Fazem anarquismo ratoeira para os pobres que procuram
inconscientemente. A greve não pode durar. trabalho.
As municipalidades devem organizar o Todos aqueles que tiverem votado contra os
trabalho livre e o colocamento livre para os chefes do sindicato hão de encontrar
trabalhadores. Muitos aplausos dos dificilmente empregos. De resto, todas
deputados socialistas e nos bancos da essas lutas parciais de rancores e de invejas
extrema esquerda. se dão hoje na Bolsa do Trabalho em Paris.
Responde Yver Guyot. O deputado Lavy, voltou-se para Yves
Diz que o projeto tem por fim substituir o Guyot e disse-lhe:
pretendido monopólio das agencias de - O Senhor tem o mais profundo ódio e o
colocação pelos dos chamados sindicatos maior desprezo pela classe operaria! (rumor
profissionais. As colocações operárias pelas em toda a câmara. Vozes: à ordem!)
agencias representam um total de 84% não Yves Guyot:
obstante os anúncios e as agencias de - Como? Depois de 1789 que terminou com
procura de trabalho nas mairies. Isto as classes? Esta separação que pretendera
significa que as agencias são encerradas, vários estouvados entre os trabalhadores é
tanto para os operários como para os um crime.
patrões. Combate a extensão que muitos O projeto de lei sobre as agências de
desejam dar a intervenção da policia e das colocações vai ser discutido de novo, mas
municipalidades nas questões do trabalho. não acreditamos que seja aprovado.
Com respeito a paga que recebem as
agencias pelos trabalhadores que
executam, acha que todos tem direito a
serem remunerados. Os anúncios nos
jornais são pagos também e os sindicatos
recebem cotações sobre o salario do
operário. Insurge-se contra a ideia de se
impor as municipalidades o dever de fazer
um inquérito prévio sobre a vida dos
indivíduos que procuram arranjar trabalho
por meio das agencias gratuitas dos mairies.
É um perigo uma tal disposição legislativa.
Uma municipalidade republicana recusará o
trabalho a um operário monárquico, assim
como uma municipalidade monárquica
recusara o trabalho ao operário republicano.
Há as parcialidades, as inimizades, as
divisões, de partido e de religião. O mesmo
se pode dará com as colocações fornecidas
pelos sindicatos.
O Paiz Londres, 13.
Rio de Janeiro Partiu para New York o anarquista irlandês
13 de junho de 1893. Gilbert, há pouco indultado.
Edição nº 4054 – Ano IX
Capa Viena, 13.
Telegramas Estão em greve, na Boemia 20.000
Viena, 12. mineiros. Aumentam-se as precauções para
Os mineiros de Kladno, na Boemia, reprimir qualquer alteração da ordem.
declararam-se em greve, reclamando
diminuição nas horas de trabalho, e Viena, 13.
aumento de salário. A greve operaria em Praga assume
proporções assustadoras e atenta contra a
O Paiz ordem publica. De ontem para hoje, tem
Rio de Janeiro havido verdadeiro combate entre os
14 de junho de 1893. paredistas e a polícia.
Edição nº 4055 – Ano IX
Capa O Paiz
Telegramas Rio de Janeiro
Madri, 12 15 de junho de 1893.
(Retardado) Edição nº 4056 – Ano IX
Na Praça do Oriente, próximo ao palácio Capa
real, explodiu hoje uma bomba de dinamite, Telegramas
causando alguns estragos em edifício
contiguo. Felizmente não houve desgraças Paris, 13.
pessoais. (à noite)
Declararam-se em greve os cocheiros nesta
Madrid, 13. capital.
Têm sido presos vários indivíduos suspeitos
de cumplicidade a autoria na explosão de S. Petersburgo, 14.
dinamite da Praça do Oriente. Até o fim de dezembro, será abolida a
deportação de criminosos para a Sibéria.
Bruxelas, 13.
A casa de residência do procurador fiscal de
Anvers foi bastante danificada pela
explosão de uma bomba de dinamite. Da
criminosa ocorrência, resultou apenas
ferimento em um criado.
O Paiz O Paiz
Rio de Janeiro Rio de Janeiro
21 de junho de 1893. 22 de junho de 1893.
Edição nº 4062 – Ano IX Edição nº 4063 – Ano IX
Capa Capa
Telegramas Telegramas