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Taís Schiavon | A Chancela da Paisagem Cultural Brasileira como campo de análise para a consolidação do Patrimônio

Industrial. A construção de rotas culturais em meio à expansão ferroviária no início do século XX.

A Chancela da Paisagem Cultural Brasileira


como campo de análise para a consolidação
do Patrimônio Industrial. A construção de rotas
culturais em meio à expansão ferroviária no
início do século XX.
The seal of the Brazilian Cultural Landscape as analysis for the consolidation
of the Industrial Heritage. The construction of cultural routes midst in the rai-
lways expansion in the early 20th century.
Taís Schiavon*
Resumo Abstract

Buscando identificar o sistema ferroviário de Seeking to identify the rail transport system as the
transportes como responsável pelo processo de responsible for the urbanization and the economical
urbanização e desenvolvimento econômico de development of the western portion of São Paulo
boa parte do Oeste do Estado de São Paulo, esta State, this proposal seeks with the analysis of the
proposta busca a partir das companhias Alta So- railway companies Alta Sorocabana, Alta Paulista,
rocabana, Alta Paulista, Noroeste e Araraquaren- Noroeste and Araraquarense valuing the traces of
se valorizar os vestígios representativos da Pai- the Cultural landscape of this area, reflecting the
sagem Cultural de sua região, como reflexo dos processes involved in the movement of ideals and
processos envolvidos em meio à circulação de ideas actives in both of the national and international
ideais e ideias atuantes tanto no contexto nacio- context, amid the territory until then insignificant eco-
nal, quanto internacional. Em meio ao território nomically. Currently, the consolidated scenario amid
até então economicamente pouco significativo, the transformations arising from this process, would
o novo ambiente consolidado justificaria a cons- justify the construction of a scenario able to con-
trução de um cenário capaz de narrar a paisa- struct this narrative, whose processes are respon-
gem cultural do Oeste do Estado de São Paulo e sible for the construction of the cultural landscape
toda a sua diversificação ao longo do século XX. of the western portion of São Paulo State, from the
*Arquiteta e Urbanista pela Neste cenário a identificação de nódulos pontu- twentieth century. Considering the vast territory cov-
UNESP (Bauru 2007-2011). ais permitiriam a reconstrução histórica e cultural ered and the challenges in the construction of the
Mestra em história gestão do Oeste Paulista,desafios presentes em meio à concept of Landscape preservation, specific nodes
e valorização do Patrimô- construção do conceito de preservação de possí- could be restructure the historical and cultural acts of
nio Industrial, Master TPTI vel idealização a partir da Chancela da Paisagem. the current conformation of this region.
(2013-2015). Doutoranda Palavras-chave: Paisagens Culturais. Ferrovias Keywords: Cultural Landscapes, Railways of the
em Arquitetura e Urbanismo, do Oeste Paulista. Patrimônio Industrial. Estraté- Western portion of São Paulo State. Industrial
Universidade de Évora, Por- gias nacionais e internacionais. Heritage. National and International strategies of
tugal (2015) territorial communication.

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Entre a descrição e a representação. Breve his-


tórico da paisagem e o contexto urbano.

As definições em torno do conceito de paisa- boratório que abandona ambientes intocáveis e


gem, possuem origem no século XV, ilustradas sublimes, substituídos agora pelos efeitos de in-
por “pinturas representando um pedaço da na- tervenções humanas.
tureza, onde os personagens detinham um pa-
pel secundário.” (CRISPIM, 2011) Assumindo Ao considerarmos a paisagem como ambiente
expressões como landship, landschaft, landsca- de estudos, sua análise enquanto objeto abrange
pe, paesaggio, paysage, seus conceitos adqui- acontecimentos recentes, cuja origem coincide
rem com o tempo novas vertentes de análise, com as transformações do século XIX, já enten-
interpretação e descrição, passando no século didas no século XX como um campo multidisci-
XVI a agregar “valores e significados claramente plinar de análise, mesclando conceitos entre as
culturais, uma vez que o termo paisagem advém disciplinas da história, geografia e antropologia.
do latim pagus, que significa povoado, pays em
francês e daí país em português, um conceito Representando a geografia cultural Sauer (1925)
muito mais intimamente relacionado a questões argumenta ser a paisagem o elemento responsá-
culturais do que às ecológicas.” (CRISPIM, 2011) vel pela síntese entre a geografia e os diferentes
elementos presentes na conformação do am-
Ainda concentrada em torno das antigas mura- biente, uma espécie de paralelo ao conceito de
lhas medievais, a retomada do crescimento das tempo histórico. (CORREA & ROSENDHAL, 2004)
cidades renascentistas permite a transformação
do espaço urbano, pela primeira vez a cidade é Estes e outros fatores seriam engrandecidos a
tida como foco de observação, um grande la- partir de 1960 pelos preceitos de David Lowen-

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thal e Yu-Fu Tuan, reorientando “a geografia hu- sos de classificação. Condição esta capaz de
mana para uma instância na qual fosse resgatado contrapor com a enorme riqueza cultural existen-
o caráter sintético, (...) capaz de realizar grandes te em meio aos diferentes períodos de conforma-
sínteses das regiões” (RIBEIRO, 2007, p.24, ção de paisagens e suas respectivas ações.
apud: CRISPIM, 2011).
Por várias vezes o termo ‘modernidade’ foi uti-
Em 1980, os preceitos propostos por Sauer se- lizado para narrar as transformações em nossa
riam questionados por James Duncan e a Nova sociedade. Neste sentido, Ascher (2010, p.24-
Geografia Cultural. Duncan (1990) “propõe que 25) reconhece distintos períodos capazes de
as paisagens sejam interpretadas de forma par- configurar a composição da paisagem urbana.
ticular por cada grupo humano que com ela in- A ‘primeira modernidade’ representaria a transi-
terage”, seus preceitos podem ser vizualisados ção entre a Idade Média e a Primeira Revolução
no contexto urbano a partir do trabalho de Mario Industrial, “uma verdadeira revolução urbana”,
Gandelsonas1 (1991, 1999), propondo novas lei- onde “a cidade medieval deu lugar a uma cida-
turas do território relacionadas ao indivíduo, suas de ‘clássica’ (...) concebida racionalmente por
transformações e interpretações. indivíduos diferenciados (...)”, correlacionando
a noção de progresso ao conjunto de técnicas
Ao considerarmos que grande parte das teorias aplicadas no território, narrando os processos de
desenvolvidas em torno do conceito de paisagem evolução da ciência humana.
revelam o domínio teórico europeu, devemos res-
saltar que esta visão não seria capaz de represen- O advento da segunda Revolução Industrial marca
tar da mesma maneira as formalizações presentes também a transferência massiva dos agricultores
em regiões localizadas além dos limites europeus. para as cidades, agravando as questões de de-
Denis Cosgrove (1984) ao trabalhar com o con- sigualdade social, impulsionando “(...) novas con-
ceito de simbologia da paisagem, demonstra que cepções de cidade, marcadas fundamentalmente
desde o século XIX a Europa cria no imaginário pelas mesmas lógicas que regiam o mundo indus-
1. Para maiores informações coletivo a reprodução de imagens representativas trial dominante” (ASCHER, 2010, p.24-25).
vide seguinte bibliografia: de suas paisagens, excluindo outras padroniza-
GANDELSONAS, Mario. The
Urban Text. Cambridge: The
ções, ao impor sua cultura e identidade. “A terceira modernidade e sua revolução urbana
MIT Press, 1991. GANDEL- fizeram emergir novas atividades diante do futuro,
SONAS, Mario. X-Urbanism, A diferença temporal existente em meio à con- novos projetos, modos de pensar (...) que chama-
Architecture and the Ameri-
can City. Princeton Architec- formação de paisagens ao redor do mundo torna remos agora em diante de ‘neourbanismo’ ou de
tural Press. 1999. ainda mais complexas as leituras e seus proces- ‘novo urbanismo’.” (ASCHER, 2010, p.61) Neste

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novo ambiente de sucessivas crises econômicas, Métodos de classificação e leitura.


a necessidade de transição dos padrões de con-
sumo e produção e conformação de paisagens. Após as primeiras discussões sobre as formas de
representação da paisagem, seja a partir de suas
Neste contexto de constantes transformações, a características naturais, ou atreladas ao conjunto
produção de imagens relacionadas à paisagem se de transformações sociais e produtivas, novos con-
caracteriza como uma atividade inerente à ação hu- ceitos e terminologias passam a ser desenvolvidos.
mana desde os seus primórdios. Cujos resultados
variam conforme a variação temporal e influências Os remanescentes territoriais passam a agregar
sócio culturais a qual o ambiente foi submetido. novos questionamentos e valores em torno de sua
preservação, um desafio inscrito em meio às ten-
Nesta trajetória, pinturas rupestres representa- tativas de promover a valorização dos ambientes
vam cenas cotidianas; mais adiante, os egípcios inseridos em contextos cada vez mais complexos.
associavam ao ato de pintar os acontecimentos
relacionados à religião; na idade média dotados Neste sentido, em 1972 foram idealizados pela
de certa obscuridade, os quadros representavam UNESCO um conjunto de medidas envolvendo
ações em torno de igrejas; já no renascimento discussões relacionadas às características na-
o plano de representação se volta ao ambiente turais e sublimes, características sobrepostas às
e seus acontecimentos, os pintores nesta fase ações e intervenções humanas. As recomenda-
buscavam o movimento e a simetria de suas re- ções de Paris (IPHAN, 1972) buscam uniformizar
presentações, dotados de elementos ligados à as medidas de preservação, a partir da criação
razão e a maior valorização do corpo humano. da Convenção do Patrimônio Mundial, incenti-
(Figuras 01 e 02) vando a preservação de bens culturais e naturais
Figuras 01 (acima) e 02 (abaixo). Diferentes formas de represen- de valor significativo à humanidade, uma ação
tação da paisagem. Disponível em: <http://www.canalettogal-
lery.org/Alnwick-Castle-at-Northumberland-1752.html>,<http://
Substituindo as clássicas gravuras e pinturas his- fundamental enquanto testemunhos únicos da
www.lacma.org/places/canaletto/> Acesso em: set.2016. tóricas, a fotografia pode ser caracterizada como diversidade da criação humana identificáveis em
um importante objeto de estudo aliado a antro- seus distintos ambientes.
pologia visual, sendo desta maneira associado à
descrição e compreensão do ambiente, um ves- Foram definidas esferas de preservação atuan-
tígio histórico tão importante quanto os artefatos tes em diferentes escalas de análise, buscando
arqueológicos, ruínas, objetos, pinturas e gravu- uma maior abrangência de sítios com o intuito
ras, uma vez que quando utilizada a partir de sua de amenizar as carências existentes em meio à
vertente original, demonstra a realidade. preservação de ambientes, cujas características

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testemunhem as intervenções das ciências hu- Aproximando estas discussões ao contexto bra-
manas. Desta forma, a categoria de Paisagem sileiro, as dificuldades de classificação esbarram
Cultural possibilita a valorização de bens cultu- em sua ampla abrangência territorial, sobreposta
rais representando também “obras conjuntas en- à sua enorme variabilidade paisagística e cultural.
tre o homem e a natureza” (IPHAN, 1972), ilus- Uma condição agravada pela baixa articulação
trando a evolução da sociedade humana e seu entre as diferentes esferas políticas e organismos
desenvolvimento espacial ao longo do tempo. de preservação.

Assim as paisagens culturais, passam a ser en- As medidas encontradas pelo IPHAN para a
tendidas como porções territoriais dotadas de amenização destas barreiras podem ser resumi-
singulares conexões entre seus diversos elemen- das pela criação da Chancela da Paisagem Cul-
tos, articulações de análise complexa, uma vez tural. Em sua definição a ação considera que a
que sua preservação depende de novas práticas Paisagem Cultural Brasileira pode ser caracteri-
e instrumentos jurídicos, variáveis conforme a zada por uma “porção peculiar do território na-
condição do ambiente a ser preservado. cional, representativa do processo de interação
do homem com o meio natural, à qual a vida e a
Mesmo com a criação destas diretrizes dificulda- ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram
des foram identificadas. Em Setembro de 1995 valores.” Neste sentido, sua finalidade contribui
o Conselho Europeu, busca “introduzir regras de “para a preservação do patrimônio cultural, com-
proteção, gerenciamento e planejamento para plementando e integrando os instrumentos de
todas as paisagens baseada num conjunto de re- promoção e proteção existentes”, uma vez que
gras, constituindo um elemento fundamental de considerando o seu “caráter dinâmico (...), convi-
gestão do território” (RIBEIRO, 2007, p.52). Esta ve com as transformações inerentes ao desenvol-
convenção estabelecia um conjunto de políticas vimento econômico e social sustentáveis, valori-
públicas buscando a construção de uma identi- zando a motivação responsável pela preservação
dade europeia pautada no reconhecimento e va- do patrimônio.” (IPHAN. Portaria nº 127)
lorização de suas paisagens, reforçando o cará-
ter eurocêntrico dos ambientes classificados pela A chancela brasileira amplia os horizontes de atua-
UNESCO, gerando inúmeras críticas, evidencian- ção, orientando novas práticas de preservação pa-
do desta maneira a necessidade de revisão de trimonial, reconhecendo as relações entre homem
características pontuais centralizadas ao velho e meio ambiente numa perspectiva integradora
mundo, buscando uma maior homogeneização (CRISPIM, 2011), além de implicar o estabeleci-
dos ambientes classificados. mento de pactos entre o poder público, a socie-

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dade civil e a iniciativa privada, visando a gestão expressivos quando relacionadas às novas técni-
compartilhada de porções do território nacional. cas modernas. A substituição dos métodos tradi-
cionais por novas tecnologias, revelam o abando-
O estudo dos vestígios Industriais e o concei- no de prédios, máquinas, e formas de produção,
to de Paisagem Cultural. como testemunhos das mudanças culturais e mo-
dos de produção, representando tanto o ambiente
Ao considerarmos o ambiente industrial como lo- de trabalho, quanto sua memória.
cal de aplicação da ciência e ação humana, a ca-
tegoria de paisagem cultural pode também auxi- Os vestígios deste processo evolutivo representam
liar na preservação de remanescentes industriais as mudanças ocorridas em meio a sociedade mo-
idealizados a partir de sua visão de conjunto. As derna. Neste ambiente multidisciplinar, a arqueolo-
transformações da paisagem decorrentes deste gia industrial faz uso de sítios arqueológicos como
processo de produção e transformação incluem ambiente de pesquisa. Primitivas áreas de produ-
a análise de acontecimentos atuantes desde o ção, onde a paisagem recorre aos vestígios de seu
desenvolvimento de uma técnica produtiva até as ambiente como forma de compor o contexto histó-
formas de espacialização que esta abrange em rico e evolutivo de suas antigas civilizações.
meio a sociedade e o território.
Ao considerarmos que a terminologia patrimônio
Sua identificação tem início na Europa em um designa a identificação e a valorização de um bem
momento onde as primitivas técnicas de produ- móvel, imóvel ou natural, dotado de valor signifi-
ção se perdiam em função da sobreposição de cativo para uma sociedade, a terminologia patri-
novas técnicas produtivas, precariedade de re- mônio industrial refere-se à valorização e identi-
gistros, obsolência e degradação, atuantes na ficação das características históricas, sociais e
chamada era “Proto Industrial” e sua transição espaciais de um sítio, podendo ser também ana-
para a era “Industrial Moderna”. lisados pela vertente cultural, onde o conjunto de
bens materiais e imateriais tornam-se responsá-
A noção de patrimônio em meio ao ambiente in- veis pela narrativa dos valores de determinada so-
dustrial surge na segunda metade do século XX, ciedade, agregando aos seus fatos características
também na Europa, um período crucial marcado internas e externas ao ambiente.
pelo desaparecimento de ambientes industriais
históricos, em consequência dos diversos confli- O patrimônio industrial compreende os ves-
tos no território europeu e obsolência das técnicas tígios da cultura industrial que possuem valor
tradicionais, desprezadas por seus traços pouco histórico, tecnológico, social, arquitetonico ou

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científico. Estes vestígios englobam edifícios e As rotas patrimoniais como ambiente de atu-
maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de ação da Chancela da Paisagem Cultural no
processamento e de refinação, entrepostos e Brasil. A atividade industrial como elo de inte-
armazéns, centros de produção, transmissão e gração do território ‘moderno’.
utilização de energia, meios de transporte e to-
das as suas estruturas e infra-estruturas, assim A conformação de itinerários culturais prima lan-
como os locais onde se desenvolveram as ativi- çar novas possibilidades aos ambientes histó-
dades sociais relacionadas com a indústria, tais ricos, permitindo aos espaços já consolidados,
como habitações, locais de culto ou de educa- diferentes olhares em busca de novas estratégias
ção. (TICCIH. Carta de NIZHNY TAGIL sobre o de uso do patrimônio cultural repleto de possibi-
Patrimônio Industrial) lidades de desenvolvimento regional, sendo neste
sentido, responsáveis pela ordenação paisagística
Ignorada por muitos anos, a arquitetura industrial dos ambientes em que se inserem, revelando seus
foi por muitas vezes classificada como simples traços e influências históricas, articulando tais
monumento de nostalgia. Recentemente estes narrativas por meio de suas intervenções. Uma
ambientes adquirem novos valores em torno da prática que quando gerida por grupos locais, po-
evolução industrial enquanto técnica e suas dife- tencializam a valorização de identidades culturais
rentes formas de atuação, narrando os avanços regionais, otimizando também a economia local
de seu tempo por meio de sua patrimonialização, das regiões envolvidas, engrandecendo a identi-
sendo por este motivo, alvos recentes de proje- dade dos moradores com seu ambiente e história.
tos de revitalização.
(...) são criados a partir de bens culturais tangí-
Ao passo que na Europa as instâncias patrimo- veis ou intangíveis, são portadores de uma his-
niais encontram amplos aspectos para sua iden- tória construída que, comumente, estabelece
tificação, valorização e reinserção, outros pontos uma relação com o território e com aquele que
do mundo enfrentam sérias barreiras para a cons- o percorre. (PISTORELLO, 2013)
trução deste ideal. Ao considerarmos nosso pre-
coce histórico de transformações, como articular A ideia de “rota cultural” foi apresentada e deba-
proposições em um ambiente onde a visão euro- tida pela primeira vez por meio da proposição da
cêntrica sufoca riquíssimos exemplares culturais Rota dos Peregrinos para Santiago de Compos-
dispersos por todo o mundo, características cada tela (Cartagena, Espanha) em 1993. Dois anos
vez mais postas em risco em meio à crescente mais tarde, 1995, o Comitê do Patrimônio Mun-
globalização e destruição de recursos naturais. dial em Berlim viria propor que as Rotas Culturais

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fizessem parte da chancela do Patrimônio Cultu- Elas nos falam da obsolescência das nossas
ral. Ação ocorrida em 2008 reconhecendo defi- tecnologias e formas de produção, falam dos
nitivamente os itinerários culturais como catego- recentes processos de desindustrialização e de
rias possíveis para a inclusão de proposições na informatização do trabalho e do emprego, falam
lista do Patrimônio Mundial. em como a tecnologia se transforma predando
e incorporando tecnologias anteriores. Reve-
A Carta Internacional sobre os Itinerários Cul- lam até mesmo os ocultos processos sociais,
turais (ICOMOS, 2008) propunha que estes po- políticos e econômicos por meio dos quais se
deriam ser classificados levando em conta sua obtém o valor da terra urbana. (MENEGUELLO.
dimensão territorial, cultural, objetivo ou função, In: SILVA; RODRIGUES, 2011)
duração temporal, configuração estrutural e en-
quadramento natural. Representando desta ma- Estas rotas industriais se assemelham para
neira o alargamento do conceito de patrimônio nós, muito mais como “rotas de ruínas” (MENE-
cultural ao valorizar os processos históricos e GUELLO. In: SILVA; RODRIGUES, 2011), resul-
atores sociais envolvidos em meio aos processos tado do avançado estado de abandono e des-
de formalização dos fatos e ambientes, redescu- caracterização de suas dependências. Reflexo
tindo desta forma o papel do meio e do território. do abandono e decadência de suas atividades
(ARECES, 2002, p.26) originais, em acréscimo à especulação imobiliá-
ria, protagonista de boa parte das dinâmicas na-
As rotas culturais permitiriam a tomada de cons- cionais. Boa parte das antigas áreas industriais
ciência do valor cultural do ambiente, associado se encontram hoje em meio às áreas cobiçadas,
à herança social, suas ações e território, agindo altamente rentáveis do ponto de vista imobiliário,
como elos entre instituições, instrumentos e con- inviabilizando muitos projetos de requalificação.
ceitos. (SABATÉ, 2010) Avanços podem ser identificados, porém suas
ações ainda se apresentam restritas quando
Aproximando esta tendência à valorização do Patri- comparadas ao cenário internacional.
mônio Industrial, notamos que a realidade brasilei-
ra se encontra distante dos exemplares mundiais, A Chancela da Paisagem Cultural e o Patrimônio
onde as rotas foram pensadas exatamente para Ferroviário e Industrial do Estado de São Paulo.
abarcar diferentes tipologias ou formas de produ-
ção associadas muitas vezes a museus voltados à Sendo o Brasil um país de dimensões continen-
proliferação da ciência e técnica empregada. (ME- tais, suas características naturais e geográficas
NEGUELLO. In: SILVA; RODRIGUES, 2011) apresentam diferentes formalizações que com o

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avanço territorial tardio mostram-se obscuras por sileiro polarizado em grande parte pelo Estado de
um longo período. (Figura 03) São Paulo, onde o café figura muitas vezes como
suporte econômico. (Figuras 04 e 05)
Estes estudos e mapeamentos passam a ser
mais estimulados com a transferência da corte Responsável pelo avanço territorial e o enrique-
ao Brasil. Neste momento, os novos atores pro- cimento de ‘centros’ urbanos dispersos ao longo
tagonizados pelo “engenheiro moderno”, seriam da marcha do café, o cultivo enfrenta diversas
responsáveis pelo ordenamento e reconheci- crises. Em seu comércio, o café era embalado e
mento do território, merecendo destaque neste transportado da fazenda para a estação de trem
processo, a atuação da Comissão Geográfica e mais próxima, utilizando neste trajeto carros,
Geológica2 atuando em auxílio na identificação e carroças, lombo de animais ou pequenas vias
formação do território “moderno” e “productif” . férreas, onde busca seus principais mercados
Figura 03. Mappa da Província de São Paulo. 1886. Destaque
para a porção Oeste do Estado de São Paulo, cuja represen- (ALLIÈS, 1980; PICON, 1992 e CHATIZIZ, 2000, mundiais, a partir dos portos de Santos e Rio de
tação aponta como uma região de Terrenos Despovoados. apud: BRESCIANI, RETTO Jr., 2009) Janeiro. (VENCOVSKY, 2006)
Fonte: SCHIAVON, 2015.

Entre os séculos XIX e XX a ferrovia aparece (...) o Brasil só deixará de ser uma unidade ge-
como modalidade capaz de promover o equacio- ográfica, para ser uma unidade econômica, no
namento e “aparelhamento técnico do país”, que dia em que, à sua extensa costa, esteja ligada,
segundo Xavier (in: SANTOS; SILVEIRA, 2001), por via fluvial navegável ou por via férrea, (...). E
causaria uma integração parcial do território bra- nesse dia (...) o Brasil não somente aproveitará

2. Comissão Geográfica e
Geológica _ criada em 1886,
com o intuito de explorar e
colonizar esta a porção oes-
te da província, contando
com cientistas, geólogos,
geógrafos e engenheiros
de maior renome na época.
Grande parte deste acervo
foi herdado pelo Instituto
Geográfico e Cartográfico e
disponibilizado ao público
desde 2013. Figuras 04 e 05. Traçado de Ferrovias no Brasil. Séculos XIX e XX. Fonte: SCHIAVON (2015)

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todo o seu território, mas ainda diversas repú- ao desbravamento e reconhecimento territorial,
blicas suas vizinhas – isto é, a Bolívia, parte do criando novas ligações entre as regiões brasilei-
Peru e do Paraguai – terão de servir-se da rede ras. A ferrovia apareceria como modalidade de
ferroviária do Brasil, por ser ela a que lhes dá transporte que propiciaria o re-equacionamento
mais rápido acesso para o Atlântico e, portanto do território e o “aparelhamento técnico do país”.
para a Europa. (LLOYD,1913) (IANNI, 1971 e SINGER, 1968).

Considerando que o processo de ocupação do Se até o século XIX apenas as nações mais de-
território brasileiro teve seu início com a coloniza- senvolvidas detinham o domínio técnico e tecno-
ção de áreas litorâneas a partir de manchas po- lógico no desenvolvimento ferroviário, o Brasil,
sicionadas de forma dispersa ao longo da Costa neste mesmo período representa um amplo ter-
Atlântica, o processo de interiorização do territó- reno de intervenção e dependência internacional.
rio, ocorre apenas após inúmeras tentativas de
consolidação de caminhos, que no Estado de Quem conhece o histórico de nossa economia,
São Paulo se caracterizam pela busca de recur- sabe quanto tal conflito de conceitos basilares
sos naturais e a crescente necessidade de comu- dificultou a obtenção de capitais, na Inglaterra e
nicação e adensamento territorial. na França, para se construírem meios de trans-
porte. Não compreendiam que se fizesse estrada
Diversos foram os exploradores a assinalar a para o deserto e só aos poucos, com o exemplo
constante preferência pelas regiões de baixadas norte-americano, foram se acostumando à no-
e fundos de vale para a instauração de povoa- ção, tão banal hoje em dia, de um órgão a criar
dos. Nestes processos, o povoamento e as ativi- a função, de uma via férrea a criar a produção.
dades comerciais atuam como estímulo à melho- (CALÓGERAS, apud, AZEVEDO, 1950, p.188)
ria dos velhos caminhos e ao incentivo à abertura
de novas estradas, possibilitando desta maneira Acreditava-se que apenas os países desenvol-
o aperfeiçoamento das comunicações territoriais. vidos poderiam construir ou financiar ferrovias
(HOLANDA, 1995) transcontinentais que atravessariam o território
de “(...) leste a oeste, se estendendo de oceano
Até a primeira metade do século XIX o Brasil ain- a oceano (...), cortando regiões ainda incultas, os
da não possuía uma rede solidificada de trans- portos do Atlântico e do Pacífico que, pela na-
portes terrestres. Ao final deste século e prin- vegação marítima abriam o coração do país ao
cipalmente ao longo do século XX as ferrovias comércio com os demais continentes (...)” (AZE-
mostram-se como elementos de importância VEDO, 1950, p.92).

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O fim da Guerra do Paraguai reafirma a necessi- guerra se converteria, assim, em estrada de paz”.
dade de povoamento da região central do país, (CASTRO, 1993, p.145)
que em acréscimo à instabilidade política inter-
nacional, demonstrava uma série de fragilidades A associação existente entre progresso e ferro-
em seus núcleos de colonização. vias caracteriza-se como um discurso ampla-
mente utilizado ao longo do século XIX buscando
Em 1874 o Plano Rebouças sugere a criação de fer- estimular os investimentos neste setor em todo
rovias em busca da comunicação de Leste a Oeste, o mundo. Castro (1993), afirma que “(...) logo se
em acréscimo aos grandes eixos de navegação flu- tornou comum associar o vapor e as ferrovias à
vial no sentido Norte-Sul, integrando desta maneira abertura de uma nova era, na qual o progresso
o Brasil aos países vizinhos e igualando a impor- atuaria como mola propulsora da história.”
tância dos portos nacionais no Atlântico, que até o
Figura 06. Plano Rebouças 1874. Disponível em.: < http:// momento privilegiariam apenas os portos do Rio de O progresso alcançado com os trens ultrapassa-
vfco.brazilia.jor.br/Planos-Ferroviarios/1874-Plano-Ramos- Janeiro, Santos, ou Paranaguá. (Figura 06) ria o aspecto material, uma vez que as estradas
-de-Queiroz.shtml >, Acesso em: Maio.2016.
de ferro exerceriam influências positivas sobre o
Num ambiente onde a dispersão de ferrovias e do conjunto das atividades humanas, incluindo nes-
ideal industrial se espalhava pelo mundo, as expo- te processo novos costumes, a moral, a cultura,
sições universais ilustravam e estimulavam cada a instrução e a política. As estações represen-
vez mais este processo. A participação brasileira tariam os maiores monumentos edificados, de-
buscava atrair novos investidores afirmando que monstrando o poder econômico e o dinamismo
“de todos os ramos da indústria, a de transpor- de suas companhias e investidores. Arquitetos e
te é o das estradas de ferro, que, n’estes ultimos engenheiros atuam junto à criação da chamada
annos, tem recebido, no Brazil, maior impulso” (O ‘arquitetura industrial’, termo destinado a todo
Imperio do Brazil na Exposição Universal de 1876). o complexo criado em torno de seu progresso.
Desta maneira, não apenas as estações seriam
Em 1882, o Primeiro Congresso de Estradas de os novos símbolos das cidades, indústrias e de-
Ferro no Brasil evidenciava a construção de fer- mais edifícios associados ao seu contexto seriam
rovias transcontinentais que permitiriam comuni- inseridos em sua dinâmica.
cações nacionais e internacionais e promoveriam
a defesa e desenvolvimento territorial, uma vez Esta nova dinâmica atuaria como o meio de ex-
que “quanto mais ricas e desenvolvidas fossem pressão máxima da modernidade e do progres-
as regiões fronteiriças, mais fecundas seriam as so, ambas as características decorrentes da dis-
relações com os países limítrofes. A estrada de persão ferroviária e industrialização. A primazia

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alcançada pela engenharia e indústria ferroviá- refletindo a relação existente entre as soluções ar-
ria mundial, inicialmente de domínio de países quitetônicas e suas utilizações. (MENEZES, 2007)
industrializados, tem no modelo brasileiro, um
exemplo da capacidade de articulação de um Historicamente no país, a implementação de sis-
país que inicialmente apresenta uma forte depen- temas de mobilidade enfrentaram sérios proble-
dência internacional e sua busca pela capacita- mas em seu desenvolvimento, sua rearticulação
ção técnica e tecnológica. infelizmente enfrenta as mesmas dificuldades
no país. Um processo que atinge diretamente
Se quando inserida em um ambiente urbano as a estruturação urbana, onde comportamentos
ferrovias dependem de uma série de estruturas variáveis podem ser identificados entre centros
atuantes em seu entorno, as companhias abertas urbanos de maior representatividade econômica
em meio aos ‘sertões’ mais do que nunca preci- e demais centros “insignificantes”, diretamente
sam garantir o seu suporte. refletidos na articulação entre diferentes usos de
antigos complexos ferroviários de importância vi-
Em vez de unir centros fabris e agrícolas, de vida tal ao contexto urbano, porém duramente esque-
já intensa, e muito próximos uns dos outros, cidos ou ignorados.
como na Europa, o caminho de ferro foi, entre
nós, um criador de cidades; e até que estas se O colapso do sistema ferroviário seria identifica-
desenvolvessem pela força de expansão das do a partir de 1960, reflexo do fortalecimento do
propriedades agrícolas, tiveram os trens de cor- modelo rodoviário e das dificuldades em torno da
rer, (...) através de pequenos núcleos urbanos e reestruturação do modal anterior. Já nos anos 90,
de grandes extensões, inexploradas e solitárias. ocorre a desestatização das ferrovias federais e
(AZEVEDO, 1950, p. 256) estaduais, que concedidas à empresas privadas
tinham como responsabilidade a reestruturação
Esta nova conformação representa, a ruptura dos da malha férrea, responsável pela desativação
laços coloniais em torno da organização dos am- de trechos antieconômicos e formação de novos
bientes urbanos, em troca de um modelo racio- polos de atuação e desenvolvimento.
nal, imposto pela dispersão dos ideais modernos,
provenientes da industrialização de vários países A construção de um novo ideal.
Europeus e dos Estados Unidos. O ideal urbano
lançado sobre as cidades abertas com o avanço O binômio ferrovia-indústria permite ao contex-
da ‘Franja Pioneira’ possuí como característica a to urbano a instalação de diversificados equipa-
ortogonalidade de seus loteamentos e quadras, mentos: estações, postos geradores de energia,

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vilas operárias e oficinas, símbolos de “moderni- das de café e as estâncias de gado, pontilhadas
dade” capazes de garantir o conforto de funcio- ao longo dos novos caminhos.
nários e moradores dos novos centros urbanos.
Toda esta diversificação ocorre em decorrência das
O Oeste paulista foi o motor de vários fenôme- constantes crises em torno do cultivo e exportação
nos impressionantes e rápidos: o surgimento do café, que juntamente à imigração, estimulam a
de uma nova aristocracia rural, que passaria a prática da policultura. Assim como ocorrido com o
dominar também a cena política da província e café, pequenas indústrias surgem em todo o terri-
investir na crescente industrialização da capital, tório paulista buscando o beneficiamento e a valo-
(...) a província de São Paulo, que até o começo rização da produção agrícola, estes e outros fato-
dos anos de 1880 não se destacava no cenário res seriam os responsáveis pela liderança de São
nacional, se transformaria no Estado mais po- Paulo no desenvolvimento econômico e industrial
puloso e desenvolvido e sua capital na maior brasileiro, atuante até os dias de hoje.
cidade do país e uma das maiores do planeta.
(LANGENBUCH, 1971) O sistema ferroviário se tornaria ao longo dos
anos o precursor do adensamento territorial e da
O ‘novo’ território rasgado pelos trilhos, apresen- consequente dispersão da ‘indústria moderna’ ao
ta basicamente três tipos de paisagem: mata e país, consolidando definitivamente a conformação
campo, conformação agrícola e a formalização urbana em substituição ao seu antigo caráter agro
urbana, sendo em muitos casos, as duas últimas exportador. (RETTO Jr., SCHIAVON, 2013)
identificadas em paralelo.
Nesta transição, os velhos símbolos são aban-
Neste cenário, além do café, produtos como o donados, tornando-se objeto de estudo e análise
algodão, milho, arroz e o amendoim, seriam be- de seu contexto histórico, demonstrando assim,
neficiados de diferentes maneiras. Em auxílio a um enorme complexo paisagístico e industrial
crescente produção, serrarias, olarias e fundi- construído como o resultado da era ferroviária.
ções surgem ao longo da recém criada rede de Permitindo a idealização de um cenário onde a
cidades buscando atender a demanda de produ- atuação ferroviária comporta-se como um verda-
tos em decorrência do avanço dos trilhos. deiro complexo industrial, cujos símbolos se en-
contram dispersos ao longo do território, sendo
A antiga paisagem natural cortada por engenhos passíveis de reconhecimento e valorização.
de açúcar herdada do período colonial se enri-
quece e diversifica com a multiplicação de fazen- Aliado ao conceito de produção, os avanços so-

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3. Estes estudos foram ini- 0); Mônica Nakatani Pedro ciais atrelam ao seu desenvolvimento uma série de vimento. Nesta nova “marcha” o avanço ferroviá-
cialmente desenvolvidos no (06/58395-7); Éverton Pele-
atributos provocando alterações em torno das re- rio leva consigo novas possibilidades de merca-
Brasil pelo Projeto Temático grini de Menezes (06/61507-
FAPESP “Saberes eruditos 1); André Luiz Ribeiro lações produtivas e comerciais. Condições que em do, onde as companhias estimulam a produção
e técnicos na configuração (08/54739-9); Fernanda de acréscimo à transformação da paisagem cultural, de novas áreas agrícolas, incentivando melhora-
e reconfiguração do espaço Lima Lourencetti (08/53241-
adquirem um valor histórico e humano de caráter mentos da produção bruta, uma vez que os an-
urbano: Estado de São Pau- 7); Malena Rodrigues Alves
lo, séculos XIX e XX”, res- (08/54738-2); Taís Schiavon universal e de grande importância em preservação. tigos centros de beneficiamento encontram-se
ponsável pela narrartiva das (08/54740-7); Wilson Lo- cada vez mais distantes.
consequências do desenvol- pes Christensen Barcellone
Representadas pelas companhias Sorocabana,
vimento ferroviário ao longo (08/54741-3); Nathalie do
dos quatro ramais em ques- Prado (10/17492-5); Dâmaris Paulista, Noroeste e Araraquarense, as ferrovias Buscando melhores rendimentos “Machinas de
tão. O projeto envolveu par- Oliveira Barbosa Rodrigues do oeste do Estado de São Paulo3, entre outras Beneficiamento” de grãos como o café, algodão,
cerias entre universidades (10/17425-6); Marília Cam-
características, surgem no transcorrer do século milho, amendoim, mamona, são instaladas em
brasileiras (UNICAMP, PUC- pos Hildebrand (10/17470-1)
-CAMP e UNESP) e o centro Ana Beatriz Geovani; Lara Al- XX, como ‘eixos de penetração’, buscando o de- fazendas e núcleos urbanos próximos as esta-
italiano – IAUV de Veneza. cadipani de Oliveira; Tatiana senvolvimento de um território ainda pouco povo- ções das companhias, diversificando os meios
Contando com a coorde- Aoki Cavalcanti Silva; Thybor
ado e sua comunicação com as áreas centrais do de produção da região. (Figuras 08, 09, 10 e 11)
nação geral executada pela Malusá; Verônica Maria Al-
Profa. Dra. Maria Stella Mar- ves Lima; Aline Silva Santos território Brasileiro. (SCHIAVON, 2011). (Figura 07)
tins Bresciani(UNICAMP), (06/58399-2); Ana Beatriz Toda a diversificação técnica e tecnológica alcan-
cujos grupos de análise se Gasparotto (06/58400-0);
çada em função do avanço das companhias de
subdividiram entre PUC- Giovanna Carraro Maia
-CAMP de Campinas, con- (06/58398-6); Rafael Tadeu estrada de ferro implica no desenvolvimento de
tando com a participação Simabuko (06/58401-7); uma nova rede e lógica produtiva, influenciando
da Profa. Dra. Ivone Salgado Bruna Panigassi Zechina-
também a capacitação técnica nacional, direta-
(coordenadora); UNICAMP, to (07/55605-3); Giovan-
Profa. Dra. Maria Stella Bres- na Carraro Maia Machado mente refletida na dinâmica produtiva aplicada ini-
ciani, Prof. Dr. Edgar De Dec- (08/54781-5); João Felipe cialmente com moldes e técnicos internacionais.
ca, Profa. Dra. Cristina Me- Almeida Lança (08/53278-
neguello, Profa. Dra. Silvana 8); Juliana Diehl (08/53279-
Rubino; UNESP, BAURU : 4); Rafael Tadeu Simabuko; Em todas as zonas, influências nacionais e inter-
Prof. Dr. Adalberto da Silva Eliza Fernandes de Oli- nacionais são identificadas em meio aos projetos
Retto Jr (coordenador), Pro- veira Bertholdo de Souza
e construções edificadas, maquinários utilizados
fa. Dr. Norma Constantino, (06/60922-5); Gabriela Russo
Profa. Dr. Marta Enokibara, Nóbrega (06/60920-2); Lud- Figura 07. Identificação das quatro companhias do Oeste do por ferrovias e indústrias dos mais variados ramos.
Prof. Dr. Celio Losnak. milla Righi Orsi ; Tatiana Ma- Estado de São Paulo e periodização da instalação de ferro- Ações diretamente refletidas nos hábitos e costu-
Em Bauru a pesquisa con- chado Traina (06/60914-2); vias no Estado. Fonte: SCHIAVON, 2015.
tou com a participação dos Carolina Zequim (06/58404-
mes relativos a cada período do desenvolvimento
alunos: Dieila Niliane Na- 6); Eliane Katayama Pricoli Aliadas ao desenvolvimento agrícola tinham econômico das localidades. (SCHIAVON, 2016)
zario Ribeiro (06/58394-0); Amaro (06/60374-8); Ma- como característica peculiar a diversificação da
Fernanda Bragheto Jun- rina Barroso de Carvalho
queira (06/58396-3); Mônica (06/58403-6); Rafaela Maria
produção, que ao contrário do padrão anterior, Alterando paisagens as ferrovias agregam novos
Harumi Yosioka (06/58397- Serafim (06/58404-6); Bruna não conta somente com o café em seu desenvol- valores, ou intensificam alterações em ambientes

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Stéphanie Tácito (08/53282-


5); Marina Barroso de Car-
valho (08/53284-8). Como
continuação dos estudos
desenvolvidos no Brasil pelo
Projeto Temático FAPESP, a
pesquisa desenvolvida para
o master TPTI (Techniques,
Patrimoine et Territoire de
l’Industrie), um convênio en-
tre as Universidades Paris 1
Panthéon Sorbonne (Fran-
ça), Università Degli Studi
di Padova (Itália) e Univer-
sidade de Évora (Portugal),
caracterizou-se pela releitura
dos dados coletados prévia-
mente no Brasil e por sua
adaptação metodológica ao
conceito de Patrimônio In-
dustrial, amplamente discu-
tida em países europeus e
em estágio inicial no Brasil. A
pesquisa teve como emba-
samento a leitura histórica e
cartográfica da região Oeste
do Estado de São Paulo e a
identificação das influencias
internacionais no processo
de dispersão ferroviária em
direção ao interior do país.
Esta etapa contou com a
participação das pesquisa-
doras Taís Schiavon (Noro-
este) e Fernanda de Lima
Lourencetti (Araraquarense).

Figuras 08, 09, 10 e 11. Tipologias industriais identificadas ao longo das


cidades dos quatro ramais ferroviários do Oeste do Estado de São Paulo.
Fonte: SCHIAVON, 2016.

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já formulados, sendo em seu auge, responsáveis A análise e o confrontamento dos dois princi-
pela definição dos principais rumos viários encon- pais meios de mobilidade adotados pelo país
trados na atual malha de transportes nacional. demonstram que a ferrovia foi um fator de im-

Figuras 12, 13, 14, 15. Maquinários Internacionais; Projetos de Infra Estrutura Urbana; Projetos e Materiais Nacionais e Internacionais; Ordenação do território
Urbano. Fonte: SCHIAVON, 2015.

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portância ao desenvolvimento da economia ca- (...) o patrimônio cultural é formado por bens
feeira e o surto do desenvolvimento industrial. Já de natureza material e imaterial, tomados in-
as rodovias surgem em um momento de busca dividualmente ou em conjunto, portadores de
pela integração nacional e o desejo de moder- referência à identidade, à ação, à memória dos
nização das bases econômicas do país, ambos diferentes grupos formadores da sociedade
os reflexos do intenso processo de industrializa- brasileira, nos quais se incluem as formas de
ção vivido anteriormente. O conjunto dos dados expressão, os modos de criar, fazer e viver, as
apresentados nos permite concluir que o cresci- criações científicas, artísticas e tecnológicas,
mento da economia brasileira não foi acompa- as obras, objetos, documentos, edificações e
nhado pelo processo de modernização de suas demais espaços destinados às manifestações
bases em meio às novas demandas por meios de artístico-culturais, os conjuntos urbanos e sítios
comunicação. (SCHIAVON, 2015) de valor histórico, paisagístico, artístico, arque-
ológico, paleontológico, ecológico e científico.
O patrimônio industrial criado em torno deste (IPHAN. Portaria n° 127)
processo de transição compreende os vestígios
de uma cultura industrial de caráter agroexporta- Conclusões
dor decorrente do modelo ferroviário. Ambientes
carregados de uma série de valores históricos, Caracterizados como ambientes de memória, no-
tecnológicos, sociais e arquitetônicos, englo- vas ações devem ser tomadas evitando a forma-
bando edifícios, maquinários, oficinas, entrepos- lização das “rotas de ruínas” como descrito por
tos e armazéns, além de centros de produção, Meneguello. A articulação entre municípios e os
transmissão e utilização de energia, assim como personagens responsáveis pela criação e manu-
os locais onde se desenvolveram as atividades tenção dos ambientes, auxiliariam de forma direta
sociais relacionadas com a indústria, tais como na recuperação da identidade local, proporcio-
habitações, locais de culto ou de educação. (Fi- nando novas ações de tombamento e interven-
guras 12, 13, 14, 15) ção. Viabilizando acima de tudo a manutenção
das características primitivas de monumentos e
Fatores diretamente relacionados à particularida- seu entorno, garantindo a sua continuidade histó-
des políticas e econômicas refletidas em novas rica, mesmo com a inclusão de novas atividades
técnicas e conhecimentos internacionais, capazes / ações ao primitivo contexto econômico e social.
de narrar os rumos de uma sociedade, atualmen-
te refletidas em suas antigas unidades edificadas Lançado em um período de constantes conflitos
como testemunhos de todo o seu passado. em torno da posse e desenvolvimento territorial,

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a região Oeste do Estado de São Paulo concen- brasileiras assim como sua abrangência física e
tra em sua trajetória a sobreposição de antigas social aliadas ao impacto em sua paisagem.
tradições indígenas à miscigenação cultural pro-
veniente da ação de tropeiros, bandeirantes, gri- No Brasil, assim como a valorização proposta
leiros, imigrantes e migrantes. pela UNESCO, a preservação do patrimônio fer-
roviário tem como base os mesmos conceitos
Características responsáveis pelo gigantesco pa- aplicáveis à preservação e valorização do patri-
radoxo contemporâneo atuante entre as práticas mônio industrial. Desta forma, ambos conside-
de intervenção e conservação do ambiente urba- ram tanto as ferrovias quanto as indústrias como
no. Nódulos de fragilidade urbana inseridos em processos desenvolvidos em conjunto, apresen-
um ambiente que em menos de 30 anos enfrenta tando semelhanças em seu desenvolvimento, es-
uma surpreendente transformação estrutural de calas e ciclos econômicos.
sua paisagem, responsável pelo abandono da
condição de improdutividade em troca do para- A partir de 1960, período onde grande parte das
lelismo existente entre a abertura de imponentes ferrovias brasileiras deixa de funcionar em função
fazendas e o surgimento de povoados urbanos da já citada substituição do modelo ferroviário
pontuados por ideias racionalistas aplicados até pelo sistema rodoviário de transportes, estações,
então em grandes centros urbanos. pátios ferroviários e indústrias próximas ao com-
plexo, iniciam seu processo de abandono e degra-
A recuperação de estações, fazendas e indústrias, dação, localizados em meio ao contexto urbano
entre outros elementos espalhados pela região permi- estruturado em muitos casos em função de seu
tiriam a construção da histórica narrativa responsável desenvolvimento. Todo este complexo, torna-se
pelo delineamento da identidade local pautada por uma questão de importância à cultura nacional,
um período de extrema importância tanto ao Estado sendo sua manutenção e divulgação histórica
de São Paulo, quanto ao Brasil, uma vez que o avan- uma necessidade de importância a compreensão
ço rumo ao Oeste do Estado de São Paulo envolveu e afirmação técnica e estrutural do país.
a “conquista” da região central do país.

Para o IPHAN a importância da preservação dos O que nos permite admitir que as ferrovias nacio-
ambientes relacionados ao complexo ferroviário nais, em especial as localizadas na porção Oeste
encontra-se na busca pela preservação e narra- do Estado de São Paulo, tornam-se capazes de
ção dos resultados obtidos ao longo dos períodos descrever complexos patrimoniais desenvolvidos
de crescimento e desenvolvimento das cidades a partir da dispersão da mobilidade no país, uma

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vez que em função da necessidade de locomoção sistema de Viação Nacional. São Paulo: Livraria
e comunicação entre diferentes regiões, possibili- Martins Editora, 1950
tam a transformação e a consolidação de diferen-
tes paisagens e suas respectivas feições urbanas, BRESCIANI, Maria Stella Marstins; RETTO Jr,
marcantes até os dias atuais, mesmo não apresen- Adalberto da Silva. Utopia, cidade, território:
tando os mesmos usos de seu passado recente. da França ao Brasil. Colóquio Internacional Inter-
disciplinar Pontes & Idéias Luois-Leger Vauthier
Neste cenário de ofuscamento, pequenos iti- engenheiro francês no Brasil. Recife. Caderno de
nerários culturais seriam os responsáveis pelo programação e resumos. 2009.
desvendamento de marcos históricos, nódulos
culturais dotados de tradições nacionais e inter- CASTRO, Maria Ines Malta. O Preço Do Pro-
nacionais. Um rico registro ideológico em con- gresso: A Construção da Estrada de Ferro Noro-
traste com o desenfreado crescimento urbano este do Brasil (1905-1924). Tese de Dissertação
identificado a partir dos anos 60, culminando na de Mestrado, UNICAMP, 1993.
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