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Comunicado 305

Técnico ISSN 1980-3982


Colombo, PR
Agosto, 2012

Potencial do Eucalyptus
Foto: Edson Alves de Lima

benthamii para produção


de carvão em fornos
convencionais

Edson Alves de Lima1


Helton Damin da Silva2
Elson Luiz Tussolini3

A Região Sul do Brasil apresenta frequente O objetivo deste trabalho foi verificar a resposta do E.
ocorrência de geadas severas como principal fator benthamii em relação à produção de carvão em fornos
limitante para o desenvolvimento da maioria das convencionais e à qualidade tecnológica do mesmo.
espécies do gênero Eucalyptus. Dentre as espécies
mais plantadas em áreas de ocorrência de geadas, A madeira de seis anos foi colhida de um plantio em
podemos citar Eucalyptus dunnii, E.viminalis e Guarapuava, PR, conduzido no espaçamento 3 m x 2 m.
E. benthamii. Apesar de ser uma espécie pouco
difundida, E. benthamii surge como uma das poucas O corte das árvores foi realizado por meio de
alternativas para estas áreas (HIGA; PEREIRA, 2003). motosserra, com seccionamento de toras num
Esta espécie tem sido recomendada para cultivo comprimento de 1,2 m, seguido do carregamento
em regiões sujeitas a gedas com temperaturas de em caminhões e transporte até a carvoaria, onde foi
até -6 °C (PALUDZYSZYN FILHO; SANTOS, 2011; realizada a carbonização com a madeira de diâmetro
PALUDZYSZYN FILHO et al., 2006). superior a 6 cm.

Estudos em escala de laboratório já indicam que Produção do carvão (carbonização)


esta espécie apresenta bom potencial para uso Para a carbonização foram realizadas cinco bateladas,
energético para combustão e produção de carvão sendo utilizados fornos do tipo “rabo quente”, com
(LIMA et al., 2011; PEREIRA et al., 2001). No volume médio de 14,57 m3 (Tabela 1). De cada forno
entanto, apesar do seu bom potencial de produção foram retiradas aleatoriamente 3 toras (1,2 m) e
de biomassa, até o momento nenhum estudo em destas coletados discos aos 30, 60 e 90 cm, para
escala industrial foi publicado demonstrando seu determinação de umidade. Na estimativa da massa
potencial para produção de carvão. de madeira de cada forno foi utilizado o fator de

Licenciado em Ciências Agrícolas, Doutor, Pesquisador da Embrapa Florestas, edson@cnpf.embrapa.br


1

Engenheiro florestal, Doutor, Pesquisador da Embrapa Florestas, helton@cnpf.embrapa.br


2

Geógrafo, Coordenador da Cooperativa Agrária Agroindustrial, elson@agraria.com.br


3
2 Potencial do Eucalyptus benthamii para produção de carvão em fornos convencionais

cubicação (converte o volume empilhado em volume

Foto: Edson Alves de Lima


sólido) 1,4 e densidade 475 kg m-3 (LIMA et al.,
2011), representado pela equação 1:

Carga = Fc x D x V (1)

Em que:
Fc: fator de cubicação = 0,7;
D: densidade básica da madeira (kg m-3);
V: volume do forno (m3).

O tempo total de carbonização foi computado a


partir do momento da ignição até a abertura dos
fornos para retirada do carvão.
Tabela 1. Volume dos fornos, umidade da madeira e Figura 1. Operário realizando a descarga do forno e ensacamento
massa da madeira de E. benthamii carbonizada em fornos do carvão após a carbonização.
convencionais.
Capacidade Umidade em Carga
Forno Foi analisada a qualidade do carvão, onde realizou-
do forno (st) base úmida (%) (kg de lenha)
se a análise imediata (umidade, voláteis, teor
1 15,43 22,0 5.100
de carbono fixo e cinzas) segundo a norma NBR
2 15,40 22,0 5.089 8112/1986 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 1986) e o poder calorífico
3 14,53 20,0 4.792 superior (PCS) pela norma NBR 8633/1984
4 14,51 19,8 4.786
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 1984). Os resultados da análise
5 12,98 20,2 4.282 imediata foram comparados com a norma que
estabelece padrões mínimos de qualidade para
Média 14,57 20,8 4.810
comercialização de carvão vegetal no estado de São
Paulo.
Após cada carbonização, os fornos foram
descarregados, pesando-se as frações de carvão
O tempo total de carbonização variou de 96 a
comercial, finos e tiço (madeira semi-carbonizada),
120 horas, com média de 102,4 horas (Tabela
para cálculo do rendimento gravimétrico (Figura 1).
2), considerado baixo para o modelo de forno
Foi considerado carvão comercial a fração carbonizada
testado. Brito (1990) cita que o forno rabo
que ficou retida em peneira de 6 mm e a fração que
quente apresenta um ciclo/tempo médio de
passou pela peneira foi considerada finos. O cálculo de
carbonização de 240 horas. Possivelmente, o
rendimento gravimétrico foi estimado pela equação 2.
baixo tempo observado está relacionado ao baixo
teor de umidade que a madeira apresentava
RG = (MC/MM)x100 (2)
(Tabela 1).
Em que:
RG: rendimento do carvão (%); O índice de conversão médio lenha/carvão foi de
MC: massa do carvão; 2,4, ou seja, é necessário 2,4 st de madeira de
MM: massa da madeira seca. E. benthamii para obtenção de 1 metro de carvão
(mdc). Este valor está acima dos observados por
Avaliação da qualidade do carvão Silva et al. (1992) para cinco espécies no cerrado,
Para análise do carvão foram coletadas três em forno rabo quente. Os autores observaram
amostras em cada forno, de pontos diferentes, que os índices de conversão variaram de 1,46
sendo uma próxima à entrada de carga/descarga, a 1,82, para E. camaldulensis e E. phaeotricha,
uma ao centro e uma ao fundo do forno. Estas respectivamente. O índice de conversão do E.
amostas foram reunidas e obteve-se uma amostra benthamii está abaixo do índice adotado por Brito
composta para as análises de qualidade. (1990) para este tipo de forno (2,5).
Potencial do Eucalyptus benthamii para produção de carvão em fornos convencionais 3

O rendimento gravimétrico em carvão de 27% de carvão vegetal é do estado de São Paulo, que
(Tabela 2) está dentro da faixa considerada normal apresenta padrões mínimos de qualidade física,
para a tecnologia trabalhada ((BARCELLOS et química e de produção de carvão vegetal, como
al., 2004). Quanto à geração de finos, o valor base para certificação de produtos, estabelecidos
observado neste trabalho (4,5%) está abaixo do pela norma PMQ 3-03 (SÃO PAULO, 2003). Esta
observado por Silva et al. (1992) para as espécies norma estabelece que, quanto à qualidade química,
E. phaeotricha (13,8%), E. pilularis (13,4%), E. o carvão vegetal deve apresentar teor de carbono
camaldulensis (7,8%), Corymbia citriodora (7,3%) e fixo > 75%; teor de cinzas < 1,5% e umidade <
E. tereticornis (6,6%). 5%. Com respeito às características de qualidade do
carvão, somente o teor de carbono fixo do carvão
A falta de normatização para a qualidade do de E. benthamii (71,4%) ficou abaixo do valor
carvão vegetal é uma deficiência da atividade, que preconizado pela norma (Tabela 3). Quanto aos
dificulta a padronização do produto e a fiscalização teores de umidade, voláteis e cinzas, estes atendem
da sua qualidade. A única norma sobre qualidade aos requisitos exigidos pela norma.

Tabela 2. Tempo de carbonização, rendimentos de carvão, tiço e finos produzidos em fornos convencionais a partir de
madeira de E. benthamii.
Índice
Tempo de de Carvão Tiço Finos Rend. Grav. (kg carv kg-1 de lenha)
Forno carbonização conversão produzido gerado gerados
(h) (st lenha/ (kg) (kg) (kg)** Carvão Tiço Finos
MDC)* (%) (%) (%)
1 96,0 2,1 1.455 285 284 28,5 5,6 5,6
2 96,0 2,6 1.589 134 188 31,2 2,6 3,7
3 100,0 2,5 1.042 650 147 21,7 13,6 3,0
4 100,0 2,3 1.127 537 313 23,5 11,2 6,5
5 120,0 2,5 1.286 130 148 30,0 3,0 3,5
Média 102,4 2,4 1.300 347,2 216 27,0 7,2 4,5
DP 10,0 0,2 226 236,7 78 4,2 4,9 1,5
* estéreo de lenha / metro de carvão
** finos ≤ 6mm.

Tabela 3. Densidade a granel, análise imediata (umidade, voláteis, cinzas e carbono fixo) e poder calorífico superior (PCS)
do carvão de E. benthamii produzido em fornos convencionais.

Densidade a Análise imediata


PCS
Forno granel Carbono fixo
Umidade (%) Voláteis (%) Cinzas (%) (MJ kg-1)
(kg m-3) (%)
1 194 3,1 23,8 0,9 71,2 30,220
2 269 3,5 25,3 0,7 70,5 30,782
3 180 2,6 25,4 0,9 71,1 31,677
4 179 2,6 22,9 1,0 73,4 30,967
5 252 3,3 24,8 0,8 71,0 30,572
Média 215 3,0 24,5 0,8 71,4 30,844
DP 42,56 0,39 1,04 0,12 1,12 0,54
4 Potencial do Eucalyptus benthamii para produção de carvão em fornos convencionais

Conclusões LIMA, E. A. de; SILVA, H. D. da; LAVORANTI,


O. J. Caracterização dendroenergética de árvores
• A madeira de Eucalyptus benthamii é adequada de Eucalyptus benthamii. Pesquisa Florestal
para produção de carvão vegetal em fornos Brasileira, Colombo, v. 31, n. 65, p. 9-17, jan./
convencionais, gerando carvão de boa qualidade. mar. 2011. DOI: 10.4336/2010.pfb.31.65.09

PALUDZYSZYN FILHO, E.; SANTOS, P. E. T.;


• O E. benthamii é uma boa alternativa para
FERREIRA, C. A. Eucaliptos indicados para
produção de carvão vegetal para a Região Sul.
plantio no Estado do Paraná. Colombo: Embrapa
Florestas, 2006. 45 p. (Embrapa Florestas.
Agradecimentos
Documentos, 129).
Os autores agradecem à Cooperativa Agrária PALUDZYSZYN FILHO, E.; SANTOS, P. E. T.
Agroindustrial pela doação da madeira e ao produtor Programa de melhoramento genético de eucalipto
de carvão Sr. José Maciel, por ceder os fornos para da Embrapa Florestas: resultados e perspectivas.
a produção do carvão. Colombo: Embrapa Florestas, 2011. 66 p.
(Embrapa Florestas. Documentos, 214).
Referências
PEREIRA, J. C. D.; SCHAITZA, E. G.; SHIMIZU, J.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Características físicas, químicas e rendimentos da
TÉCNICAS. NBR 8633: carvão vegetal: destilação seca da madeira de Eucalyptus benthamii.
determinação do poder calorífico: método de ensaio. Colombo: Embrapa Florestas, 2001. 4 p. (Embrapa
Rio de Janeiro, 1984. 13 p. Florestas. Circular técnica, 50).

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS SÃO PAULO. Secretaria de Agricultura e


TÉCNICAS. NBR 8112: carvão vegetal: análise Abastecimento. Resolução SAA - 10, de 11 de
imediata: método de ensaio. Rio de Janeiro, 1986. julho de 2003. Define norma de padrões mínimos
5 p. de qualidade para carvão vegetal (PMQ 3-03),
como base para certificação de produtos pelo
BARCELLOS, D. C.; PIMENTA, A. S.; SILVA, J. sistema de qualidade de produtos agrícolas,
S.; COUTO, L. C. Desempenho de um forno de pecuários e agroindustriais do Estado de São
carbonização semi-contínuo tipo container para Paulo, instituído pela Lei 10.481-99. Diário Oficial
produção de carvão vegetal. Biomassa & Energia, [do] Poder Executivo: seção I, São Paulo, v. 113, n.
Viçosa, MG, v. 1, n. 2, p. 183-189, 2004. 129, 12. jul. 2003.
BRITO, J. O. Princípios de produção e utilização de SILVA, H. D. da; PIRES, I. E.; ARAÚJO, F.
carvão vegetal de madeira. Documentos Florestais, D. Comportamento silvicultural e aptidão
Piracicaba, SP, n. 9, p.1-19, maio 1990. para produção de carvão de cinco espécie de
HIGA, R. C. V.; PEREIRA, J. C. D. Usos potenciais Eucalyptus, na região dos cerrados de Minas
do Eucalyptus benthamii Maiden et Cambage. Gerais. Boletim de Pesquisa Florestal, Colombo, n.
Colombo: Embrapa Florestas, 2003. 4 p. (Embrapa 24/25, p. 71-78, jan./dez. 1992.
Florestas. Comunicado técnico, 100).

Comunicado Embrapa Florestas Comitê de Presidente: Patrícia Póvoa de Mattos


Técnico, 305 Endereço: Estrada da Ribeira Km 111, CP 319 Publicações Secretária-Executiva: Elisabete Marques Oaida
Colombo, PR, CEP 83411-000 Membros: Álvaro Figueredo dos Santos,
Fone / Fax: (0**) 41 3675-5600 Antonio Aparecido Carpanezzi, Claudia Maria Branco de
E-mail: sac@cnpf.embrapa.br Freitas Maia, Dalva Luiz de Queiroz, Guilherme Schnell
e Schuhli, Luís Cláudio Maranhão Froufe,
1a edição Marilice Cordeiro Garrastazu, Sérgio Gaiad
Versão eletrônica (2012)
Expediente Supervisão editorial: Patrícia Póvoa de Mattos
Revisão de texto: Patrícia Póvoa de Mattos
Normalização bibliográfica: Francisca Rasche
Editoração eletrônica: Rafaele Crisostomo Pereira
CGPE 9986

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