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realidade. E foi ao mar e descobriu o que era o sal e o calor da areia fina nos
pés… Mas é noite e, como o comboio não tem luz, o menino não se arrisca a
viajar. Está deitado ali, recolhendo nos caixotes os restos do calor do dia.
Ao longe, como um facho de luz, sobe a rua, ao fundo da encosta, uma
menina. Desce tranquila pela margem esquerda da estrada. Olha as montras,
iluminando-as com o seu olhar. Chega devagar; medindo cada passo numa
aritmética anterior ao Homem. Ela vem como a maior estrela do firmamento.
Que fazes acordado a esta hora? Não consigo dormir. E tu? Perguntou o
menino surpreendido. Costumo passar por aqui todos os dias. A esta hora?
Sim, mais ou menos. Costumo ver-te aqui. Mas estavas sempre a dormir. Ela
sorri para o sorriso íntimo que o menino guardava. Trouxe-te um presente!
Retira do bolso um saquinho de cabedal e entrega-o nas mãos do menino. Ele
segura-o, tremendo e abre-o de imediato. E toca ferozmente o seu interior. E
invade-se do presente com toda a euforia. Era um saquinho de areia do mar.
A menina, nesse momento, começa a afastar-se. O menino, em pânico,
grita: Espera! Onde vais? Como te chamas? Aurora. Porquê que estás a
chorar, Aurora?