Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
3 APLICAÇÃO ...................................................................................................................... 17
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 19
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 20
3
INTRODUÇÃO
Lutero viveu esse dilema. Lei e evangelho foram as ferramentas com as quais Deus
trabalhou na sua vida. A lei foi muito marcante, especialmente, no período inicial da sua vida,
quando ele queria convencer-se a si mesmo da sua salvação através da prática das boas obras,
conforme prescritas pelo catolicismo medieval. Lutero se abasteceu da teologia e do pietismo
da sua época, que ensinavam a salvação e a paz com Deus, através da justiça própria e boas
obres feitas em obediência à lei de Deus. O esquema de salvação era o desenvolvido por
Ockham, que estabelecia que, primeiro, a pessoa tinha condições de obter a perfeição descrita
por Deus; segundo, Deus capacita a pessoa para tornar-se justa; terceiro, a graça de Deus e as
boas obras se completam até que a pessoa vá para o purgatório ou obtenha a perfeita
santidade, entrando nos céus, depois da morte.2
Essa percepção conduziu Lutero do medo ao ódio a Deus. Como amar a um Deus
que consegue demonstrar sua ira e castigo de forma a deixar terrificado o ser humano? No
entanto, quando, pela Palavra de Deus, o Espírito Santo fê-lo confiar que a salvação é
presente de Deus dado ao ser humano pela fé nos méritos de Cristo somente, ele ficou
maravilhado.
1
SCAER, David Paul. The law and the gospel in Lutheran Theology. Logia – A Journal Of Lutheran
Theology, Fort Wayne, v. III, n. 1, p. 27, 1995.
2
DARNELL, Adam. Luther’s law and gospel hermeneutic. Artigo publicado no site Academia.edu. Abril,
2011.
4
por mais que ele tenha resolvido esse dilema teologicamente, ele jamais o resolveu
existencialmente, pois ao longo da sua vida ele entendeu-se a si mesmo como estando
condenado e perdoado diante de Deus, ao mesmo tempo. A lei e o evangelho são
simultaneamente palavra de Deus ao ser humano.3
Não é incomum ouvir que o Deus do Antigo Testamento é um Deus de ira, enquanto
o Deus do Novo Testamento é um Deus de amor.5 Quando, no entanto, nos atemos aos relatos
bíblicos, poderíamos até pensar em afirmar o contrário: O Deus do Antigo Testamento era
mais paciente e condescendente que o Deus do Novo Testamento. A ordem para exterminar
os Cananeus não era mais severa que as advertências de Jesus contra Jerusalém. O Deus que
exterminou os primogênitos do Egito não demonstrou mais juízo do que Cristo, com seu
chicote, purificando o templo, ou proferindo uma coleção de infindáveis ais contra os fariseus
e mestres da lei, denunciando a sua impenitência.
Mas Lutero aprendeu com as Escrituras que há sempre duas maneiras com as quais
Deus confronta o homem: como o que dá a lei e como o que remove a lei.6 Por um lado, ele
tinha que mostrar claramente que a salvação não é produzida pelas obras da lei e, por outro
lado, tinha que apontar que abolir a lei nega a realidade do pecado e a necessidade do
Redentor.
3
SCAER, David Paul. The law and the gospel in Lutheran Theology. Logia – A Journal Of Lutheran
Theology, Fort Wayne, v. III, n. 1, p. 27, 1995.
4
SAUER, Alfred von Rohr. The Message of Law and Gospel in the Old Testament. Fort Wayne, Indiana:
Concordia Theological Montly: 26 Number: 3 in 1955, p. 172-187.
5
SCAER, David Paul. The law and the gospel in Lutheran Theology. Logia – A Journal Of Lutheran
Theology, Fort Wayne, v. III, n. 1, p. 29, 1995.
6
MAYER, F. E. Human Will in Bondage and Freedom. A Study in Luther’s Distinction Of Law and
Gospel. Saint Louis, Missouri: Concordia Theological Montly, Volume 22, Número 10, páginas 719-747.
5
O texto de Gênesis 2, que relata a ordem de Deus para que Adão e Eva não comessem
do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e Gênesis 3, que relata a queda do
homem em pecado, coloca em relevo a ameaça e o juízo de Deus, quando ele disse para Adão:
De toda a árvore do jardim comerás livremente (comer comerás lke(aTo lkoïa'), mas da árvore
do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres,
certamente morrerás (morrer morrerás - tWm)T' tAmï) – Gn 2.16,17. Em Gênesis 3, lemos a
consequência do pecado e o cumprimento da ameaça da lei de Deus: Tu és pó e ao pó
tornarás - bWv)T' rp"ß['-la,w> hT'a;ê rp"å['-yKi( .
Lutero comenta esse texto, dizendo que Adão, criado no estado de santidade,
inocência e justiça, recebeu a lei de Deus. Se ele tivesse obedecido a lei de Deus, não teria
morrido, pois a morte veio pelo pecado. 7 Adão tinha sido feito da terra e, dela, pelo poder de
Deus, foi formado alma vivente. Por causa do seu pecado, teria que experimentar a morte,
como Deus o revelou na Sua infalível lei. Ele iria retornar ao pó, como um ser humano morto.
O pecado reduziu o ser humano a isso: Ao pó. Lutero diz ainda que a queda de Adão foi da
saúde à enfermidade, da vida à morte. Tudo se deteriorou por causa do seu pecado. O ser
humano tornou-se a pior coisa em que poderia ter se tornado. 8
Mais tarde, quando constata a completa corrupção do gênero humano, Deus promete
destruir toda a humanidade por causa do pecado. O relato das Escrituras diz: “Viu o
SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era
continuamente mau todo desígnio do seu coração - #r<a'_B' ~d"Þa'h' t[;îr" hB'²r: yKiî hw"ëhy> ar.Yåw: : - ;
então, se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no
coração. Disse o SENHOR: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o
homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito”
(Gn 6.5-7). Lutero comenta que esta passagem deve ser usada contra aqueles que acreditam
que o ser humano tem o livre arbítrio para coisas espirituais. Lutero cita Agostinho, quando
7
LW 1: 110.
8
LW 1: 216.
7
este escreve que sem a graça de Deus ou a ação do Espírito Santo, o ser humano é incapaz de
qualquer coisa, a não ser, pecar.9
Quando, mais tarde, depois de chamar Abraão para, por ele serem benditas todas as
nações da terra (Gn 12) e lhe prometer um filho (Gn 15), o SENHOR Deus pré-anuncia seu
juízo sobre o Egito e, por extensão, às nações inimigas do povo de Deus, ao dizer: “Mas
também julgarei a gente a quem tem de sujeitar-se” - ykinO=a' !D"å Wdboß[]y: rv<ïa] yAG°h;-ta, ~g:wô > - (Gn
15.14). Lutero diz que o propósito desta passagem é nos ensinar acerca da natureza de Deus.
Ele livra e liberta da morte. Mas, antes de livrar, ele destrói; antes de fazer viver, ele mergulha
na morte.12
9
LW 2 : 39.
10
LW 2: 119.
11
LW 2: 122.
12
LW 3.33.
8
As ameaças e juízo de Deus continuam. Através do profeta Joel, Deus envia o seu
juízo contra o seu povo na forma de gafanhotos que destroçaram tudo. Ele conclama o seu
povo a abandonar o seu pecado, dizendo: “Cingi-vos de pano de saco e lamentai sacerdotes;
uivai ministros do altar... Ah! Que dia! Porque o Dia do SENHOR está perto e vem como
assolação do Todo-poderoso” - aAb)y" yD:îv;mi dvoßk.W hw"ëhy> ~Ayæ ‘bArq' yKiÛ ~AY=l; Hh'Þa] - (Jl 1.13,15).
Lutero diz que o Dia do SENHOR virá com tamanha destruição que ninguém conseguirá
pará-lo. Então, a mensagem do SENHOR é clara: Arrepende-te.15
Há muitas outras manifestações da ira e do juízo de Deus contra o seu povo, como
quando ele envia o profeta Amós para, com o prumo, indicar que a justiça e o juízo de Deus
viriam sobre o seu povo (Am 7.8). Ele convida a Jeremias para quebrar o vaso feito pelo
oleiro como um sinal de que o povo e a cidade seriam esmagados (Jr 19.10,11). Ele fala
13
LW 18. 92.
14
LW 18: 7.
15
LW 18: 60.
16
LW 19: 68.
9
contra o endurecimento do coração do seu povo, quando comissiona o profeta Isaías para
denunciar o coração insensível do seu povo, para lhe endurecer os ouvidos e fechar-lhe os
olhos (Is 6.10).
Deus demonstra querer desistir do seu povo, quando proíbe o profeta Jeremias
interceder pelo seu povo (Jr 7.16). Ou, quando, pelo profeta Oséias, usa os nomes dos filhos
do profeta para descrever o quadro de infidelidade e perversidade do seu povo. Os nomes:
Jezreel -la[,_r>z>yI - , desfavorecida - hm'x'_rU al{ - , Não-Meu-Povo - yMiê[; al{å - (Os 1), Rápido-
Despojo-Presa-Segura - zB;( vx'î ll'Þv' rhEïm;l. - (Is 8.1) mostram com clareza a que ponto o povo
de Deus tinha chegado e o quanto Deus estava por derramar sua ira contra seu povo. Lutero
comenta, dizendo que, com esses nomes, Deus estava dizendo que não teria pena do seu
povo.17
Deus usava de formas não-convencionais para dizer ao seu povo e aos povos vizinhos
o quanto seus pecados eram graves e sérios. Ele comandou ao profeta Isaías que andasse
descalço e desnudo “três anos por sinal e prodígio contra o Egito e a Etiópia” (Is 20.3). O
profeta Ezequiel teve que deitar sobre o seu lado esquerdo e colocar sobre si a iniquidade da
casa de Israel e, depois, teria que cozer seu alimento sobre esterco humano (Ez 4), e, contra
seu próprio povo, disse: “Ai desta nação pecaminosa - ajeªxo yAGæ ŸyAhå - , povo carregado de
iniquidade, raça de malignos, filhos corruptos; abandonaram o SENHOR, blasfemaram do
Santo de Israel, voltaram para trás” - ~ynIßB' ~y[iêrEm. [r;z<å !wOë[' db,K,ä ~[;… - (Is 1.4). O profeta
Jeremias foi proibido de casar e ter filhos como indicação que as esposas e filhos do povo de
Deus iriam morrer de doença. Ele foi proibido de comparecer a momentos de festa porque o
SENHOR Deus iria tirar a voz de alegria e de júbilo do seu povo (Jr 16.1-9).18 Estas ações
incorporam as palavras de juízo de Deus por causa do pecado do seu povo. O pecado pode
resultar em apenas uma coisa: Juízo.
Mas, sem dúvidas, algumas das demonstrações mais duras da ira de Deus estão
registradas no Salmo 22, quando o Salmista pré-anuncia que Deus faria cair sobre seu Filho a
sua ira contra o pecado humano e faria o seu Filho como um verme (Sl 22.6), e em Isaías 53,
quando descarregou sobre ele o castigo que deveríamos suportar (Is 53).
17
LW 18: 7.
18
SAUER, Alfred von Rohr. The message of law and gospel in the Old Testament. Fort Wayne, Concordia
Theological Monthly, nº 03, vol. 26, p. 172-187.
10
Sobre o Salmo 22, Lutero diz que, por causa do pecado do ser humano, Jesus degrada-
se a si mesmo e se coloca abaixo do ser humano, como um verme
- ~['( yWzðb.W ~d"ªa'÷ tP;îr>x, vyai_-al{w> t[;läA; t ykiänOa'w>. Lutero diz que Jesus realiza seu trabalho em
pobreza e fraqueza física e se entrega à morte por causa da morte que o ser humano produziu
com seu pecado. 19
Martinho Lutero comenta esse texto e diz que o profeta é eloquente ao descrever o
sofrimento de Cristo. Palavra por palavra ele expõe o sofrimento de Jesus em oposição aos
judeus endurecidos. Você quer saber o que é suportar nossos pecados, isto é, o que significa
que Ele foi ferido? Aqui você tem a descrição. Jesus está à sua frente.20
19
LW 12: 78.
20
LW 17: 152.
21
LW 17: 156.
11
O Dr. Von Rohr Sauer nos ajuda a compreender a mensagem do Evangelho de Deus
no Antigo Testamento, dizendo que o conceito da graça e misericórdia de Deus no Antigo
Testamento tem uma conexão muito forte com o conceito do remanescente de Israel
(laer"fy. I ra"v
Ü ). que iria sobreviver ao juízo de Deus sobre seu povo. 22 Os profetas anunciaram a
destruição que viria sobre o povo de Deus, mas deixaram claro que um remanescente iria
sobreviver. O profeta Amós fala do remanescente, dizendo: “Aborrecei o mal e amai o bem, e
estabelecei na porta o juízo: talvez o SENHOR, o Deus dos Exércitos se compadeça do
restante - @sE)Ay tyrIaev. - de José” (Amós 5.15). Por mais que o conceito de remanescente
subentenda que Deus puniu o seu povo severamente, o termo sugere misericórdia, pois
sempre retrata o que Deus, por Sua infinita graça, permitiu permanecer.
Martinho Lutero comenta que Deus, que tinha feito com que seu povo tivesse sido
derrubado e afligido pela miséria, que tinha sido tratado com desprezo e escárnio, pudesse ter
alguns remanescentes resgatados. Uma parte muito pequena foi salva, para que Israel não
pereça completamente. Embora Deus tenha afligido muitíssimo seu povo, com seu duro juízo,
com grande desgraça, ainda assim, YAHWEH é o seu Deus.23
Lutero continua dizendo que é assim que o SENHOR Deus lida conosco: Ele
aterroriza e envergonha nossas consciências, e nos faz acreditar que tudo está acabado para
nós. É como se Ele pretendesse nos condenar eternamente. No entanto, Ele sempre nos deixa
alguma esperança. Ele não nos deixa perder totalmente a esperança.
22
SAUER, Alfred von Rohr. The Message of Law and Gospel in the Old Testament. Fort Wayne: Concordia
Theological Montlhy, Vol. 26, n. 03, p. 181, 1955
23
LW 17: 102.
12
Lutero lembra que o apóstolo Paulo cita Isaías capítulo 1 em Romanos 9.29, onde ele
está falando da promessa de Deus de que iria ser o Deus de Abraão e de toda a sua
descendência. Por causa desta promessa, diz Lutero, sempre permanece entre os judeus
aqueles que pertencem a Cristo, e um reino dos judeus tinha que permanecer por causa de
Cristo, que iria nascer, pregar e morrer lá. Assim a árvore foi cortada, mas a raiz e o toco
permaneceram, e isto foi ato da pura misericórdia de Deus e da superabundância da Sua
graça.25
Esses cuidados amorosos de Deus também são ensinados na comparação do amor que
um pai tem pelos seus filhos. Isso fica evidente numa série de passagens, como no Salmo 103,
24
SAUER, Alfred von Rohr. The Message of Law and Gospel in the Old Testament. Fort Wayne: Concordia
Theological Montlhy, Vol. 26, n. 03, p. 182, 1955.
25
LW 17: 12.
26
LW 1: 163
27
LW 1: 105.
13
quando o SENHOR Deus diz que “como um Pai se compadece dos seus filhos -
~ynI+B'-l[; ba'â ~xeär:K. - assim o SENHOR se compadece dos que o temem.” No Salmo 68, o
amor e a graça de Deus nos são mostrados quando o salmista diz que Ele é o “Pai dos órfãos”
- ~ymiAty>â ybiäa]. Para Lutero, estas palavras de amor e de graça deixam claro que o filho de Deus
pode ser pobre e miserável; contudo, encontrará conforto na confiança que o Senhor da
Criação é o seu Pai.28
Especialmente em Oséias 11.1, quando o profeta diz: “Quando Israel era menino, eu
o amei, e do Egito chamei meu filho” - ynI)b.li ytiar"îq' ~yIr:ßcM
. imiW. O SENHOR Deus é o Pai que
sempre trata seus filhos amados com misericórdia e amor. Lutero comenta, dizendo que Deus
amou o seu povo desde o começo e que sempre o abençoava, apesar de toda a rebeldia do seu
povo. Ele os atraía com “laços de amor” - hb'êh]a; tAtåbo[]B; (V.4), o que lembra as palavras
maravilhosas do Salvador Jesus Cristo, registradas em Mt 11.30. 29
Lutero destaca que o Deus gracioso que usa símiles da natureza para descrever o
pecado e a morte do ser humano, como sua consequência, ao dizer: “Tu reduzes o homem ao
pó – aK'_D:-d[; vAna/â bveäT' – ... de madrugada viceja e floresce; á tarde murcha e seca” (Sl
90.3,6) é o mesmo Deus que diz: “Desfaço as tuas transgressões como a névoa -
^y[,êv'P. ‘b['k' ytiyxiÛm' - e os teus pecados como uma nuvem; torna-te para mim, pois eu te remi”
(Is 44.22). Lutero diz que esse texto é muito bonito! “Lembre-se do Deus que varre suas
28
LW 1: 8.
29
LW 18: 44.
30
LW 17: 127.
14
transgressões”. Isso é dito em oposição aos ídolos. É como se Ele estivesse dizendo: Os ídolos
não podem perdoar pecados; pelo contrário, eles fazem seus devotos cansados. Portanto, é
claro: nenhum trabalho, nenhum culto e religião remove o pecado. Só eu faço isso e varro-o
como uma nuvem. A comparação é tirada do sol. Assim como o sol absorve as nuvens no céu
como a neve, o sol nascente purifica a terra envolta em névoa. Mesmo assim varro o pecado
para longe. Aqui Cristo é retratado em Sua própria atividade. Lá devemos olhar para Ele
como o Eterno Sumo Sacerdote, que deve matar todos os pecados do mundo inteiro. Ele não é
um juiz como os papistas o fazem ser. Meu negócio é eliminar os pecados, assim como é o
negócio do sol varrer a nuvem e a neblina. Você vê a eficácia do sol, quão poderosamente,
não imediatamente, mas quando pouco a pouco, engole as nuvens. Assim, Deus todos os dias
engole a nuvem em nós, para que dia após dia nós andemos em uma fé mais forte. A fé é a luz
do coração e a obra do Espírito Santo, que é ativo na conduta e edificação diárias. É da conta
de Cristo varrer pecados como nuvem e névoa.31
Usando a símile dos pontos cardeais, Deus diz, através do salmista Davi: “Quanto
dista o Oriente do Ocidente - br"_[]M;(mi( xr"z>miâ qxoår>Ki - , assim afasta de nós as nossas
transgressões” (Sl 103.12). O mesmo conceito de remover pecados e lança-los para longe,
está registrado no livro do profeta Miquéias 7.18,19: “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que
perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O
SENHOR não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a
ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades, e lançará todos os nossos
pecados nas profundezas do mar” - ~t'(waJox;-lK' ~y"ß tAlïcm
u .Bi %yli²v.t;w> - Lutero comenta esse
texto, dizendo que Deus colocará nossos pecados longe de nós para que eles nunca mais
incomodem nossa consciência. Ele nos dará paz de consciência e uma consciência muito livre,
pois, de fato, a paz segue o perdão dos pecados - uma paz onde o coração sente a doçura da
bondade divina, agora que seu pecado foi perdoado.32
31
LW 17: 81.
32
LW 18: 179.
15
desprezado pelos homens e desprezado pelo povo”. Em tal fraqueza física e pobreza, ele ataca
o inimigo, se deixa vestir da cruz e é morto, e por sua morte na cruz, ele destrói o inimigo e o
vingador.33
Como um verme na cruz pode destruir a morte? Kenneth Hagen diz que é preciso
examinar a literatura cristã. Ele cita alguns exemplos, ao dizer Clemente usa a figura do Filho
como um verme para descrever a humilhação de Cristo e, depois, a sua ressurreição. Em
Orígenes, o verme figura a humanidade de Cristo. Em Cirilo de Jerusalém, a nova vida vem
do verme. Em Gregório de Nissa, o verme é retratado da seguinte maneira: Ele é como a isca
que atrai um peixe guloso. Segundo ele, a carne de Cristo é a isca. A divindade de Cristo é o
gancho. Lutero toma essa noção de Gregório de como Deus toma um anzol afiado, coloca
uma isca / verme e jogua-a no mar. O verme é a humanidade de Cristo, o gancho é a
divindade. O diabo diz: "não devo engolir a pequena isca?" Ele não viu o gancho.34 Martinho
Lutero comenta, dizendo que a divindade de Cristo que estava escondido sob o verme
devorou o diabo. 35
33
HAGEN, Kenneth. Luther on atonement. Fort Waye: Concordia Theological Quarterly. Vol. 61, n.4, p.269.
34
HAGEN, Kenneth. Luther on atonement. Fort Waye: Concordia Theological Quarterly. Vol. 61, n.4, p.270.
35
Idem.
36
LW 17: 158.
37
OSVALT, John N. Isaías. Volume 2 - Capítulos 40 a 66. Tr. Valter Graciano Martins. São Paulo: Cultura
Cristã, 2011, p. 470.
16
merecíamos suportar; ele portanto não apenas os levou sobre si, mas os carregou em sua
própria pessoa, para nos livrar desses castigos.38
38
KEIL, C.F.; DELITZSCH, F. Commentary on The Old Testament. v. 7. Grand Rapids/ Cambridge: William
B. Eerdmans Publishing Company, 1991, p.316.
39
OSWALD, Hilton C. Editor. Luther Works. Lectures on Isaiah. Saint Louis: Concordia Publishing House,
1972. vol 17, p 152.
17
APLICAÇÃO
Uma vez que o pregador proclamou a Lei em todo o seu rigor – Lei que revela
a ira de Deus que destrói e mata, mesmo assim, o SENHOR Deus é gracioso e perdoa os
pecados, em Cristo Jesus. Quando, no Antigo Testamento, Deus mostra o seu amor,
deixando um remanescente, deixa claro que, mesmo que as circunstâncias digam o
contrário, ele não nos deixa sem esperança.43
40
LW 18:60.
41
LW 19.68.
42
LW 17:152.
43
LW 17:102.
18
Anunciar o amor de Deus aos que sofrem angústia e miséria significa dizer
que, embora o filho de Deus se sinta abandonado e esquecido por Deus, ele conhece a
promessa de Deus e se apega a ela.
44
LW 17:12.
45
LW 17:81.
46
LW 18.179.
19
CONCLUSÃO
Será mesmo que temos cuidado em afiar nossa teologia, usando os dois lados desta
lima? Temos nós entendido as Escrituras Sagradas, usando a correta distinção Lei X
Evangelho como uma ferramenta poderosa na nossa hermenêutica? Não temos sido nós
afligidos por outras leituras das Escrituras, tendo como base pressupostos que nos distanciam
do seu conteúdo cristalino?
Qual foi a última vez que você, assentado no banco da sua congregação, se sentiu
acusado pela pregação da Lei, ameaçado pelos seus castigos e, por outro lado, confortado,
perdoado, consolado, pelo Evangelho?
Qual foi a última vez que você, pregador, tomou o texto da perícope para a pregação
do fim de semana e, além de uma exegese bem fundamentada, se ateve na dificílima tarefa de
aplicar a pregação Lei X Evangelho para aqueles que o Salvador lhe confiou pastorear?
Precisamos sempre de novo abrir as Escrituras Sagradas para ouvir Deus falar
conosco. O Deus de Ira, cujas ameaças fazem estremecer o nosso coração, e o Deus de Amor,
cujas promessas confortam e animam nossa vida, em Cristo Jesus e na sua Obra da Redenção.
Que o bom Deus nos empurre sempre para esse exercício proveitoso.
BIBLIOGRAFIA
BÍBLIA DE ESTUDO ALMEIDA. Tr. João Ferreira de Almeida, edição revista e atualizada
no Brasil, 1999.
BÍBLIA SAGRADA. Tr. João Ferreira de Almeida, edição revista e atualizada no Brasil. São
Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1968.
BÍBLIA SAGRADA. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. São Paulo: Sociedade Bíblica
do Brasil, 2000.
BÍBLIA SAGRADA. Tr. João Ferreira de Almeida, edição revista e corrigida no Brasil, 2000.
BRILEY, Terry. The Old Testament "Sin Offering" and Christ's Atonement. Stone-
Campbell Journall, vol. 03, 2000, p. 89-101.
BROWN, Francis; DRIVER, S.R.; BRIGGS, Charles A. The new Brown, Driver, And
Briggs hebrew and english lexicon of the Old Testament. Indiana: Associated Publishers
And Authors, Inc. Lafayette, 1981.
BROWN, John. The sufferings and the glories of the Messiah: an exposition of Psalm 18
and Isaiah 52.13-53.12. Grand Rapids: Baker Book House, 1981.
EBELING, Gerhard. O Pensamento de Lutero. Tr. Helberto Michel. São Leopoldo: Editora
Sinodal, 1986.
FOHRER, Georg. História da Religião de Israel. Tr. Josué Xavier. São Paulo: Editora
Academia Cristã Ltda, 2006
GIBS, Jefrey A. The son of God and the father's wrath: Atonement and Salvation in
Matthew's Gospel. Concordia Theological Quarterly, Fort Wayne, v. 72, July 2008.
21
HUMMEL, Horace D. The word becoming flesh: An Introduction to the Origin, Purpose and
Meaning of the Old Testament. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1979.
HUMMEL, Horace D. Are Law and Gospel a Valid Hermeneutical Principle? Fortt
Wayne, Indiana: Concordia Theological Quarterly, Volume 46, número 2,3, 1982.
KAISER Jr, Walter C. Teologia do Antigo Testamento. Tr. Gordon Chrown. São Paulo:
Vida Nova, 1980.
LIVRO DE CONCÓRDIA. Tr. Arnaldo Schüller. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre:
Concórdia, 1980.
LUTERO, Martinho. Luther’s Works, vol. 1. Jaroslav Pelikan. Ed. George V. Schick. Trad.
Saint Lous: Concordia Publishing House, 1958.
LUTERO, Martinho. Luther’s Works, vol. 2. Jaroslav Pelikan. Ed. George V. Schick. Trad.
Saint Lous: Concordia Publishing House, 1960.
LUTERO, Martinho. Luther’s Works, vol. 3. Jaroslav Pelikan. Ed. George V. Schick. Trad.
Saint Lous: Concordia Publishing House, 1961.
LUTERO, Martinho. Luther’s Works, vol. 12. Jaroslav Pelikan. Ed. Saint Lous: Concordia
Publishing House, 1955.
LUTERO, Martinho. Luther’s Works, vol. 17. Hilton C. Osvald. Ed. Herbert J. A. Bouman.
Trad. Saint Lous: Concordia Publishing House, 1972.
LUTERO, Martinho. Luther’s Works, vol. 18. Hilton C. Oswald. Ed. Saint Lous: Concordia
Publishing House, 1975.
LUTERO, Martinho. Luther’s Works, vol. 19. Hilton C. Oswald. Ed. Saint Lous: Concordia
Publishing House, 1974.
OSVALT, John N. Isaías. Volume 2 - Capítulos 40 a 66. Tr. Valter Graciano Martins. São
Paulo: Cultura Cristã, 2011.
ROOS, Deomar. O Servo de Iahweh. Vox Concordiana, São Paulo, n.1, p. 8-28, 1999.
SCAER, David Paul. The law and the gospel in Lutheran Theology. Logia – A Journal Of
Lutheran Theology, Fort Wayne, v. III, n. 1, p. 27-34, 1995
SAUER, Alfred von Rohr. The message of law and gospel in the Old Testament. Fort
Wayne, Concordia Theological Monthly, nº 03, vol. 26, p. 172-187.
SPITZ, Lewis W. Luther's Concept of the Atonement before 1517. Concordia Theological
Monthly, 1950.
WALTER, Carl Ferdinand Wilhelm. A Correta Distinção entre Lei e Evangelho. Porto
Alegre: Editora Concórdia e Editora da Ulbra, 2005.