As austeridades de todos meus sorrisos se dissiparam nas nevoas desses sonhos
esopicos, pois na severidade de meus gritos, minha alma libertou-se das sombras da noite para flutuar entre a matéria escura, a poeira cósmica e os anéis de saturno, eis a libertação das minhas cordas vocais...
(II)
Quem me dera na militância de minhas expressões mitopoéticas, meu choro, os
frêmitos das vozes flutuantes como pétalas de rosas levadas pelo vento ao destino, toda a minha agonia pudesse ser dobrada como o linho a cobrir o rosto desse glóbulo de oceano lacrimal, minhas pungentes carpiduras...
(III)
Nos decretos desse espaço longânime, nas ponderações da filosofia de meus
tênues argumentos, tão cheios de cores de meus diluviais pensamentos, aqui estou na minha solidão, contando todas as letras que estruturam meus desejos, ainda que as fábulas gravitem em minhas inspirações...
(IV)
Na têmpora de um planeta que orbita meus profundos anseios, na face côncava
das minhas aspirações, entre a realidade e o delírio, meu coração geme na absorvência das águas noturnas, a precipitação do aljôfar sobre meus lábios anestesiados pelo delírio... Só então percebo que estava dormindo, e nos fragmentos do anelo de minhas fantasias eternas, percebo que sou apenas um humano envelhecendo, como pétalas sucintas da flor do pessegueiro, sou tão breve e imediato, quanto qualquer homem que torna-se indócil com a mortalidade...
Poema extraído do livro SOCIEDADE DOS PROFETAS ADORMECIDOS de Clavio J.