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Do caminhar

Caminho pois essa é minha condição, homem livre que se representa pela sua
errância, pois o ato de andar tornou-se agora a minha pátria, assim escapo, escapo
de mim, quando crio caminhos pela cidade onde me perco e em seguida novos caminhos
surgem onde irei me perder,
na cidade podemos esquecer, ela nos pede que esqueçamos, mas eu, eu não esqueço
jamais, assim existo, algoz e prisioneiro de mim, como gato e rato, em uma
perseguição infinita.

Escapo e fujo, fujo como o desejo, sempre em fuga, crio trajetórias insensatas como
minha vida, a andar por dentro dessa cidade, assim é o desejo, sempre em fuga,
nunca parar até que o corpo nos abandone, por isso caminho, caminho há horas e
agora perto da exaustão me lembro do que sou e também tenho a certeza do que jamais
serei. Caminhar é projetar-se , lançar-se adiante, assim me supero, seguindo esse
fluxo, seguindo o passo de pessoas estranhas, como amo essa possibilidade, a de não
saber, a de não conhecer o que logo após passa a ser lembranca, enquanto caminho
atento a minha experiência penso que não sabem de mim, penso, regozijo-me, por ser
aqui um estranho, não tão estranho como meus sentimentos, apenas um desconhecido,
em meio ao desconhecido, homem comum, com uma conduta incomum, capaz de amar e
viver, de matar e morrer, de sentir, como sinto o vento no meu rosto enquanto passo
a passo atravesso o centro em direção ao mar.

ROMANO 2019

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