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Capı́tulo 8

Circuitos Elétricos Trifásicos -


Corrente Alternada

8.1 Introdução
Este é um importante tópico da disciplina de circuitos elétricos, e introduz o sistema trifásico que prova-
velmente não foi apresentado para os estudantes em disciplinas anteriores. Para engenheiros eletricistas,
este é um tópico bem extenso, pois deve tratar de sistemas equilibrados e desequilibrados, este último
muito presente em análises transitórias. Mas não é o caso de uma disciplina que faz a introdução de cir-
cuitos elétricos, e desta forma vamos considerar sempre que o sistema está equilibrado. E o que significa
isso? Significa que as bobinas de cada fase de um gerador, ou que as cargas ligadas nas fases tenha o
mesmo valor, têm a mesma caracterı́stica elétrica, ou seja, demandam sempre o mesmo valor de corrente
elétrica nas três fases.

8.2 Sistema trifásico


Um sistema trifásico baseia-se na geração no mesmo momento de três fases elétricas com defasagens no
tempo devido a uma defasagem no espaço. Na Figura 8.1, podemos ver a disposição básica de três fases
arranjadas a 120 graus mecânicos uma da outra, e excitadas por uma fonte magnética que gira solidária
a um eixo (ponto negro no centro da representação do imã) tocado por uma turbina.

Esta turbina pode ser de uma hidroelétrica, mas pode ser de uma usina térmica ou eólica. O que
importa, é que a variação e acoplamento do fluxo magnético com as bobinas gera três tensões elétricas
defasadas no tempo, e que são chamadas de fases.

É relevante ressaltar que a presença do imã na Figura 8.1 é uma simplificação, pois, em casos reais,
o que temos é um eletroimã, dado que os geradores elétricos são sempre muito grandes, e não conse-
guirı́amos imãs grandes assim. Os detalhes sobre geradores elétricos são vistos nos cursos de engenharia
em disciplinas conhecidas como Conversão de Energia Elétrica ou Máquinas Elétricas. Portanto, aqui nos
limitaremos apenas ao processo de geração das três fases, seus defasamentos, sua representação fasorial,
e o conceito de sequência de fases.

Ao girar, o imã muda o acoplamento magnético com cada bobina, partindo de um máximo acopla-
mento para um acoplamento nulo. Ele é máximo quando a bobina tem o fluxo magnético passando pela
mesma de forma longitudinal (Figura 8.2).

O acoplamento será nulo quando o fluxo magnético a atravessa de forma transversal (Figura 8.3).

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102 CAPÍTULO 8. CIRCUITOS ELÉTRICOS TRIFÁSICOS - CORRENTE ALTERNADA

Figura 8.1: Gerador com 3 fases defasadas em 120o mecânicos

Figura 8.2: Acoplamento Máximo do fluxo magnético do imã na bobina


8.2. SISTEMA TRIFÁSICO 103

Figura 8.3: Acoplamento Mı́nimo do fluxo magnético do imã na bobina

E assim, durante o acoplamento máximo do fluxo magnético com a bobina, teremos uma máxima
tensão elétrica entre os terminais da mesma; tensão esta que se reduz na medida em que o fluxo vai
deixando de ser máximo por conta do giro da excitação. Como já vimos antes, o que acaba ocorrendo é
a formação de uma tensão senoidal nos terminais da bobina durante o giro do imã, ocorrendo o mesmo
com as outras bobinas das fases. O resultado será uma saı́da de três fases que, se colocadas na mesma
referência, vão mostrar o defasamento elétrico causado pelo defasamento mecânico, veja na Figura 8.4
Os fasores, por sua vez, representam as senoides relacionadas às fases trifásicas apresentadas na Figura
8.4, onde existe um atraso de 120o entre elas. Estas senoides são tomadas como tensões de Fase−Neutro
e são representadas por fasores na Figura 8.5 como vetores do tipo VA , VB e VC .
Destes vetores de fase, com o neutro representando a origem dos mesmos, podemos retirar os vetores
de Fase−Fase, onde, por exemplo, VA − VB se transforma no vetor VAB . E a partir daı́, podemos deduzir
o valor da tensão fase−fase (Figura 8.6) usando a lei dos cossenos.
2
VAB = VA2 + VB2 + 2.VA .VB .cos(α) (8.1)

Onde VAB é igual a Vf f tensão de fase−fase ou também chamada de tensão de linha VL ; e considerando
que VA = VB = Vf , tensões de fase iguais, para um sistema equilibrado; tendo α = 60o obtemos o
equacionamento que demonstra a relação Fase−Fase com Fase−Neutro:

Vf2f = VL2 = Vf2 + Vf2 + 2.Vf .Vf .cos(60) (8.2)

VL2 = 3.Vf2 (8.3)

ou
104 CAPÍTULO 8. CIRCUITOS ELÉTRICOS TRIFÁSICOS - CORRENTE ALTERNADA

Figura 8.4: Circuito trifásico com as 3 fases defasadas em 120o

Figura 8.5: 3 fases defasadas em 120o


8.2. SISTEMA TRIFÁSICO 105


VL = 3.Vf (8.4)

Portanto, a tensão VL (=VAB = VF F ) é igual a tensão de fase (VF N ) vezes 3.
Na Figura 8.6, podemos ver então o diagrama fasorial trifásico representando tensões de fase-neutro e
fase-fase. E a partir deste diagrama, construir os fasores que representam as curvas defasadas da Figura
8.4. Portanto, se

VA (t) = Vmax .sen(wt + 90o ) (8.5)

Então, na notação fasorial teremos



VA = Vmax ⌊90o (8.6)

E assim, podemos expandir para as outras duas fases, onde a fase VB vai estar defasada de 120o de
VA

VB (t) = Vmax .sen(wt − 30o ) (8.7)

E a notação fasorial fica

−→
VB = Vmax ⌊−30o (8.8)

E para VC mais 120o de defasagem



VC = Vmax ⌊−150o (8.9)

Neste momento ainda não falamos sobre um conceito importante conhecido como sequência de fases,
que será tratado a seguir, mas que foi usado para achar os defasamentos A, B e C.
106 CAPÍTULO 8. CIRCUITOS ELÉTRICOS TRIFÁSICOS - CORRENTE ALTERNADA

Figura 8.6: Diagrama fasorial de um sistema trifásico, com os fasores fase−neutro e os fasores fase−fase

Ligações Trifásicas

Em circuitos trifásicos podemos ligar equipamentos como geradores, transformadores e motores elétricos
de duas formas: Estrela e Triângulo. Na disciplina de Conversão de Energia Elétrica ou Máquinas
Elétricas, os estudantes de engenharia serão apresentados a estes elementos tı́picos de circuitos trifásicos
com suas particularidades e variações. Aqui nos concentraremos apenas nas ligações básicas, e nas relações
de tensão de fase−neutro e tensão de fase−fase, e na introdução dos conceitos de tensão e corrente de
linha citados anteriormente.

Ligação Estrela Na Figura 8.7 podemos ver um motor, gerador ou transformador com suas três bo-
binas ligadas em estrela, ou seja, com a ligação da extremidade de cada uma das três bobinas em um
mesmo ponto, o neutro.
E a partir do surgimento do neutro podemos ter acesso a tensão de fase−neutro (VF N ) e tensão de
fase−fase (VF F ), onde

VF N = 3.VF N (8.10)
E definir tensão de linha (VL ) igual à tensão de fase−fase (VF F ), ou seja:


VL = VF F = 3.VF (8.11)

Por sua vez, a corrente de linha (IL ) pode ser definida como sendo igual à corrente de fase (IF ) sendo
que IL passa direto da linha que alimenta o motor elétrico para a sua bobina de fase. Assim
8.2. SISTEMA TRIFÁSICO 107

IL = IF (8.12)

Figura 8.7: Ligação de um equipamento trifásico em estrela


108 CAPÍTULO 8. CIRCUITOS ELÉTRICOS TRIFÁSICOS - CORRENTE ALTERNADA

Ligação Triângulo ou Delta Já a ligação em triângulo ou delta tem as bobinas ligadas de forma a
conectar a extremidade de uma bobina com a da outra, formando um circuito fechado. Neste caso, não
existe o neutro, e, portanto, podemos dizer que a tensão de fase−fase (VF F ) é igual a tensão em uma
bobina, denominada aqui de tensão de fase (VF ).

VF = VF F = VL (8.13)

Atenção
Não confundir VF com VF N
Neste caso, VF é a tensão em uma bobina, relacionada a uma fase, mas sem a referência de neutro.
Por outro lado, a corrente de linha (IL ) já não é mais igual a corrente de uma bobina. Como a corrente
se divide teremos uma relação igual a da tensão na ligação estrela.


IL = 3.IF (8.14)

Figura 8.8: Ligação de um equipamento trifásico em delta


8.2. SISTEMA TRIFÁSICO 109

Sequência de fases

Na Figura 8.9 observamos a sequência de fase, ou seja, a ordem com que as fases se seguem. Neste caso,
a sequência é positiva com os fasores realizando uma revolução antihorária (giro do diagrama fasorial
em torno de seu centro). Desta forma, o fasor A é seguido do fasor B e do fasor C, criando a sequência
ABC. E para facilitar a visualização, você precisa colocar um observador externo (representado por esta
pessoa) a estes fasores, que de forma fixa, veja o giro dos mesmos em torno do ponto central.

Figura 8.9: Sequência de fases positiva ABC com o observador fixo

A sequência de fases será negativa, se ao girarmos o diagrama fasorial de forma antihorária (em torno
de seu centro), a sequência se torne ACB, ou CBA (Figura 8.10). E para facilitar a visualização, você
precisa colocar um observador externo a estes fasores, que de forma fixa, veja o giro dos mesmos.
110 CAPÍTULO 8. CIRCUITOS ELÉTRICOS TRIFÁSICOS - CORRENTE ALTERNADA

Figura 8.10: Sequência de fases negativa ACB com o observador fixo

Da geração à distribuição da energia elétrica

É sempre bom ver o sistema trifásico que nos atende de forma geral, pois assim o entendimento fica mais
fácil. Na Figura 8.11 podemos ver o sistema trifásico da geração até a distribuição, com a presença do
gerador elétrico conectado à sua turbina, das subestações elétricas de elevação da tensão e abaixamento
da tensão, a torre de transmissão e o esquema de um poste de distribuição.
Na Geração, temos o gerador elétrico trifásico ligado normalmente em estrela, e as três fases de saı́da
vão para um transformador na Subestação Elevadora. Esta subestação tem a função de elevar a tensão
elétrica para que a mesma seja transmitida em longas distâncias com menores perdas.
Neste momento, inicia-se o sistema de Transmissão de energia elétrica que vão levar a energia gerada
mais próxima dos grandes usuários, como cidades e indústrias. Uma grande indústria pode receber seu
fornecimento de energia já em alta tensão mas, normalmente, utilizamos as Subestações Abaixadoras
para reduzir a tensão elétrica que será distribuı́da para os consumidores.
O sistema de distribuição elétrica é normalmente realizado em 13.800 V, e os postes levam as três fases
para o interior das cidades e indústrias. Em pequenos consumidores, a tensão será novamente reduzida
de 13.800 V para 220 V (tensão de linha).
Estes processos de elevação e abaixamento de tensão são realizados pelos transformadores elétricos que
são fundamentais no sistema elétrico de corrente alternada. Vamos falar sobre eles em capı́tulo adiante.
8.3. EXERCÍCIOS 111

Figura 8.11: Da geração até a distribuição, onde SE significa Substação Elétrica

8.3 Exercı́cios
1. Em um sistema trifásico equilibrado determine o valor de VAN e a sequencia de fase quando VBN
e VCN são respectivamente 127 ⌊80◦ V e 127 ⌊−40◦ V.

2. Em um sistema trifásico equilibrado determine o valor de VCN e a sequencia de fase quando VAN
e VBN são respectivamente 7967 ⌊−25◦ V e 7967 ⌊95◦ V.

3. Em um sistema trifásico equilibrado determine o valor de VCN e a sequencia de fase quando VAB e
VAN são respectivamente 220 ⌊10◦ e 127 ⌊−20◦ .

4. Em um sistema trifásico equilibrado determine os valores de VBN e VCN considerando VAN 127 ⌊10◦
e a sequência de fase positiva.

5. Em um sistema trifásico equilibrado determine os valores de VAB e VBC e desenhe o diagrama


fasorial considerando VCA = 220 ⌊10◦ V e a sequência de fase negativa.

6. Em um sistema trifásico equilibrado determine os valores de VAB , VBC e VCA e desenhe o diagrama
fasorial considerando VAN = 127 ⌊0◦ V e a sequência de fase positiva.
112 CAPÍTULO 8. CIRCUITOS ELÉTRICOS TRIFÁSICOS - CORRENTE ALTERNADA

7. Em um sistema trifásico equilibrado determine os valores de VBC , VAN , VBN , VCN e a sequência de
fase, bem como, desenhe o diagrama fasorial considerando VAB = 220 ⌊60◦ V e VCA = 220 ⌊180◦ V.

Respostas: 1) 127 ⌊−160◦ e sequência potitiva; 2) 7967 ⌊215◦ e sequência negativa; 3) 127 ⌊100◦ e
sequência positiva; 4) 127 ⌊−110◦ e 127 ⌊130◦ ; 5) 220 ⌊130◦ e 220 ⌊−110◦ ; 6) 220 ⌊30◦ , 220 ⌊−90◦ e
220 ⌊150◦ ; 7) Sequência positiva; 220 ⌊−60◦ ; 127 ⌊30◦ ; 127 ⌊−90◦ ; 127 ⌊150◦

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