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PROCESSO Nº TST-RR-1572-48.2012.5.03.

0038

A C Ó R D Ã O
(6ª Turma)
GMACC/dmmc­lm/ted/mrl/m

RECURSO   DE   REVISTA   INTERPOSTO   ANTES


DA   LEI   13.015/2014.   NEGATIVA   DE
PRESTAÇÃO   JURISDICIONAL.  Nos exatos
termos do § 2º do art. 282 do CPC,
aplicado subsidiariamente à Justiça
do Trabalho, não se analisa a
nulidade alegada quando se decide o
mérito a favor da parte a quem
aproveite tal declaração.
MULTA   APLICADA   À   TESTEMUNHA
RECORRENTE   POR   ATO   ATENTATÓRIO   À
DIGNIDADE DE JURISDIÇÃO.  VIOLAÇÃO DO
ARTIGO 14, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC DE
1973.  A conduta caracterizada pelo
TRT como falso testemunho não se
enquadra naquelas descritas no art.
14, V, parágrafo único, do CPC de
1973. Nesse contexto, a aplicação de
multa à testemunha, com fulcro no
referido comando legal, é indevida e
deve ser afastada da condenação.
Recurso   de   revista   conhecido   e
provido. 

Vistos,   relatados   e   discutidos   estes   autos   de


Recurso   de   Revista   n°  TST­RR­1572­48.2012.5.03.0038,   em   que   é
Recorrente  JOÃO  PAULO  DE  ALMEIDA  e  são  Recorridos  CARLOS  RAMON  DE
SOUSA SILVA e METALÚRGICA ESTRUTURAL LTDA.

O Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, por
meio   do   acórdão   de   fls.   446­468   (numeração   de   fls.   verificada   na
visualização geral do processo eletrônico – "todos os PDFs" – assim
como todas as indicações subsequentes), deu provimento parcial, por
maioria, ao recurso ordinário interposto pela testemunha João Paulo
de   Almeida,   na   qualidade   de   terceiro   interessado,   para   reduzir   a
condenação ao pagamento de multa para um salário mínimo e excluir a
determinação   de   ofício   ao   Ministério   Público   Federal.   Quanto   ao
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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PROCESSO Nº TST-RR-1572-48.2012.5.03.0038

recurso   do   reclamante   Carlos   Ramon   de   Souza   Silva,   deu   provimento


parcial   e,   no   que   se   refere   ao   recurso   da   reclamada,   negou
provimento.
Embargos  declaratórios   do  terceiro   interessado  às
fls. 471­472, aos quais se negou provimento, embargos de declaração
do reclamante à fl. 474 e aclaratórios da reclamada às fls. 476­477,
aos quais se deu provimento, em conjunto, com efeito modificativo,
para sanar as omissões existentes, conforme decisão de fls. 490­497.
A testemunha, na condição de terceiro interessado,
interpôs recurso de revista às fls. 500­505, com fulcro no art. 896,
alíneas a, b e c, da CLT.
O recurso foi admitido às fls. 507­509.
Contrarrazões   não   foram   apresentadas,   conforme
certidão de fl. 510.
Os autos não foram enviados ao Ministério Público
do Trabalho, por força do artigo 95 do Regimento Interno do Tribunal
Superior do Trabalho.
É o relatório.

V O T O

O recurso é tempestivo (fls. 498 e 500), subscrito
por procurador regularmente constituído nos autos (fl. 484), sendo
dispensado o preparo. 
Convém destacar que o apelo em exame não se rege
pela   Lei   13.015/2014,   tendo   em   vista   haver   sido   interposto   contra
decisão   publicada   em   27/02/2014,   antes   do   início   de   eficácia   da
referida norma, em 22/9/2014. 

1 - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

Deixo de apreciar a nulidade em face do disposto


no § 2º do art. 282 do CPC (equivalente ao § 2º do art. 249 do CPC
de 1973), aplicado subsidiariamente à Justiça do Trabalho, pois
antevejo desfecho favorável ao recorrente no mérito.
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2 - MULTA POR ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DE


JURISDIÇÃO APLICADA À TESTEMUNHA. FUNDAMENTO NO ART. 14, PARÁGRAFO
ÚNICO, DO CPC DE 1973

Conhecimento

No recurso de revista, o recorrente alega que o


Regional permaneceu em contradição quanto à aplicação de multa, pois
teria reconhecido a ausência de deslealdade processual da testemunha
na fundamentação. Sustenta que há violação aos artigos 17 e 18 do
CPC de 1973, porquanto a Corte regional não teria reconhecido
nenhuma mácula no depoimento da testemunha que justificasse a
aplicação de multa. Defende que, caso se entenda que a multa decorra
do art. 14, parágrafo único, do CPC de 1973, por ato atentatório à
dignidade da jurisdição, ainda assim haveria violação legal, pois só
incidiria a pena pecuniária nos casos de conduta violadora ao inciso
V do referido dispositivo e não do inciso I ("expor os fatos em
juízo conforme a verdade"). Pugna pela reforma do acórdão para
extirpar a multa aplicada da condenação.
Ao exame.
Ficou consignado no acórdão regional:

"RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELA TESTEMUNHA


JOÃO PAULO DE ALMEIDA DO FALSO TESTEMUNHO - DA
ILEGALIDADE DA MULTA IMPOSTA - DO VALOR DA MULTA - DOS
OFICIAMENTOS
Busca a testemunha João Paulo de Almeida, recorrendo neste feito na
condição de terceiro prejudicado a reforma da decisão de origem, para que
seja excluída sua condenação ao pagamento de multa fixada no valor de R$
2.000,00, em favor da reclamada, por litigância de má fé e ato atentatório à
jurisdição. Informa que participou do presente litígio como testemunha,
prestando depoimento na audiência realizada no dia 14/03/2013 (f.
304/305). ‘Entretanto, a D. juíza a quo sustenta que a testemunha João
Paulo de Almeida teria prestado depoimento de forma tendenciosa e
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inconsistente, razão pela qual entendeu que o mesmo agiu com má fá


processual e em flagrante ato atentatório ao exercício da jurisdição, o que
á inaceitável. ‘ (f. 324). Discorda o recorrente do posicionamento da juíza
sentenciante, quando registra que ele desviava seu olhar e falava de forma
ensaiada no momento em que prestava o depoimento. Argumenta que a
multa imposta é ilegal, não havendo amparo jurídico a ensejar a multa por
litigância de má fé lhe foi imputada. Questiona, ainda, o valor da multa
aplicada e a determinação de expedição de ofício ao Ministério Público
Federal.
Inicialmente, é oportuno lembrar que o juiz que preside o
interrogatório, em contato direto com a testemunha, detém, em regra, maior
possibilidade para valorar o depoimento colhido, pois possui melhores
condições de observar o modo dúbio ou esquivo como a testemunha
responde às perguntas, bem assim sua expressão corporal, o que lhe permite
chegar bem mais próximo da verdade. De tal modo, privilegiando-se o
princípio da imediatidade, deve ser prestigiado, como regra, o
convencimento do juiz que colheu a prova. Ele, afinal, é que manteve o
contato vivo, direto e pessoal com as partes e testemunhas, mediu-lhes as
reações, a segurança, a sinceridade, a postura. Aspectos, aliás, que nem
sempre se exprimem, que a comunicação escrita, dados os seus acanhados
limites, não permite traduzir. O juízo que colhe o depoimento ‘sente’ a
testemunha. É por assim dizer um testemunho do depoimento. Seu
convencimento, portanto, está melhor aparelhado e, por isso, deve ser
preservado, salvo se houver elementos claros e contundentes a indicar que a
prova diz outra coisa. Destarte, acompanharia o entendimento adotado relo
Juízo de primeiro grau às folhas 312/314, verbis:
‘II. FUNDAMENTAÇÃO
Depoimento do Sr. João Paulo de Almeida valoração litigância de
má-fé e falso testemunho.
A lei processual civil define que o depoimento prestado em juízo é
considerado serviço público (artigo 419, parágrafo único, do CPC), e
ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o
descobrimento da verdade (artigo 339 do CPC), ao tempo em que
estabelece ser dever de todos aqueles que, de qualquer forma, participem
do processo expor os fatos em juízo conforme a verdade (artigo 14, inciso I
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do CPC). De outro lado, fazer afirmação falsa em juízo é conduta


tipificada no artigo 342 do Código Penal, punível com pena de um a três
anos de reclusão, além de multa.
Pois bem.
Tudo isso foi dito ao Sr. João Paulo de Almeida antes de iniciar seu
depoimento. E, apesar de tudo isso, a testemunha optou por não relatar a
realidade e, em seu lugar, apresentar um relato tendencioso e inconsistente.
Ficou e vidente que o depoente estava a relatar não a verdade tal como
presenciada, mas sim, o que melhor auxiliasse a tese inicial.
Veja-se que, quanto à data de admissão do autor, estranhamente a
testemunha soube informar o mês preciso correspondente à tese inicial de
admissão anterior àquela formalizada, mas não soube precisar a data de
admissão de outro colega, admitido, diga-se, bem depois do autor
(f.304/305).
Confrontado pelo juízo, justificou-se que naquela data teria feito três
anos de empresa o que, concessa venia, não se vislumbra como ajuda de
recordação do que quer que fosse, especialmente porque o próprio
depoente esclareceu que nenhuma comemoração houve em razão do fato.
Este detalhe do depoimento - seja dizer, a justificativa -, ao contrário
de auxiliar o depoente só deixou mais evidente que se preparara para
relatar a precisa data de admissão informada na inicial, embora não
tenha tido, de fato, a tal precisa lembrança.
Na verdade, vale aqui o registro da impressão pessoal desta
magistrada quando da colheita da prova, no sentido de que o ânimo de
mentir em juízo ficou evidente. As informações prestadas acerca da
alegada admissão anterior do autor fluíram da boca do depoente de forma
absolutamente ensaiada com evidente desvio de olhar de onde não pude
tirar outra conclusão se não a de que o depoente estava descarada e mal
intencionalmente mentindo em juízo. Ou seja, a testemunha
deliberadamente alterou a versão de um dos fatos relevantes da lide com
vistas a auxiliar uma das partes.
Vale repetir que esta juíza advertiu a testemunha com veemência e
detalhamento, já atenta para a possibilidade, àquela altura hipotética, de
que o depoente incorresse em falsidade. Como visto, sequer a efetiva

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advertência sobre a possibilidade de vir a lhe ser aplicada multa


pecuniária lhe fez honrar com o compromisso prestado em juízo.
Trata-se de atitude que não pode ser tolerada, pois essa tolerância
equivaleria a admitir passivamente uma afronta ao poder judiciário, ao
órgão judicante condutor da instrução e, mais importante, representaria
contribuir para o desprestígio desta modalidade probatória
importantíssima em dissídios dessa natureza porquanto, muitas vezes, é
justamente a prova oral a única que traz ao juízo a realidade dos
acontecimentos.
Diante disso, é inescapável concluir que a testemunha agiu com má-
fé processual e em flagrante ato atentatório ao exercício da jurisdição
(artigo 14, parágrafo único, do CPC). Por essa razão, condeno o depoente
ao pagamento de multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), em favor
da Ré, parte que tentou, sem sucesso, prejudicar com sua conduta
criminosa. Independentemente da aplicação da multa, oficie-se o
Ministério Público Federal, com cópias desta decisão e das principais
peças do processado (inicial, defesa e atas de audiências) para que tome as
providências que entender cabíveis (artigo 40 do Código de Processo
Penal).
Apesar da obviedade, faço o registro de que o depoimento em análise
não será considerado por este juízo porque imprestável como meio de
prova.’ (o sublinhado não está no original).
Portanto, negaria provimento ao apelo da testemunha João Paulo de
Almeida e manteria a condenação ao pagamento de multa de R$ 2.000,00,
que lhe foi imposta na decisão recorrida, e a determinação de expedição de
ofício ao Ministério Público Federal.
Entrementes, quando da sessão de julgamento, os integrantes da
Turma deram parcialmente provimento ao apelo, com ressalvas de
entendimento deste Relator, razão pela qual prevalece a seguinte
fundamentação.
Ab initio, analisando os termos do depoimento prestado pelo
recorrente João Paulo de Almeida na audiência de instrução de f. 304/305,
não se vislumbrou que a testemunha tenha agido com falta de lealdade
processual, pois, em momento algum, deixou de responder sobre fato que
tivesse sido inquirida. Além disso, não foi verificada nenhuma advertência
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da magistrada, no termo de audiência, acerca de eventual comportamento


inadequado do depoente. Somente ao prolatar o decisório de f. 311/320 é
que a sentenciante demonstrou suas impressões acerca do depoimento
prestado pelo recorrente. Por isso, não haveria esteio para a aplicação da
multa por litigante de má-fé, mesmo porque, vale lembrar, testemunhas não
são litigantes.
Saliento que os pedidos relacionados às horas extras, cuja existência o
reclamante pretendia comprovar pelo depoimento da testemunha recorrente
foram julgados improcedentes (f. 317). É praticamente unânime o
entendimento jurisprudencial de que não há crime de falso testemunho
quando o Juiz decida a lide contrariamente àquele que a testemunha que
supostamente faltou com a verdade pretendeu favorecer.
Portanto, com ressalva de fundamentos, provejo parcialmente o apelo
da testemunha João Paulo de Almeida para reduzir a condenação ao
pagamento de multa para 01 (um) salário mínimo e excluir a determinação
de expedição de ofício ao Ministério Público Federal" (fls. 452-456).

O reclamante, então, opôs embargos de declaração,


alegando contradição quanto à aplicação da multa. Afirmou que o
decisum reconheceu, expressamente, que o recorrente não agiu com
falta de lealdade processual e que, inclusive, não haveria esteio
para a aplicação de multa por litigância de má-fé, porque
testemunhas não seriam consideradas litigantes. A seu ver, portanto,
a condenação pecuniária merecia ser extirpada. Apontou violação ao
art. 93, IX, da CF.
Ao julgar os referidos aclaratórios, o Regional se
pronunciou, in verbis:

"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DA TESTEMUNHA JOÃO


PAULO DE ALMEIDA
Opõe a testemunha João Paulo de Almeida, na condição de terceiro
interessado, os Embargos de Declaração encartados às f. 432/433, alegando
a existência de contradição e obscuridade no v. acórdão prolatado às f.
419/430, pois restou mantida sua condenação ao pagamento de multa
(embora ela tenha sido reduzida para o importe de 01 salário mínimo).
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Argumenta que: ‘Ora, se foi destacado no v. acórdão que o Embargante,


como testemunha, não agiu com falta de lealdade processual, é
contraditório a r. decisão que impõe multa ao Embargante. Inclusive, foi
fundamentado no v. acórdão que 'não haveria esteio para a aplicação da
multa por litigante de má fé, mesmo porque, vale lembrar, testemunhas não
são litigantes.' Portanto, não há dúvidas que o v. acórdão deve receber a
devida integração, de forma a sanar a referida contradição. ‘(f. 433, grifos
e negrito no original). Requer, ao término de sua insurgência, o acolhimento
dos embargos, para que o juízo, em novo pronunciamento, sane a
contradição e a obscuridade suscitadas, implementando efeito modificativo
ao julgado para excluir a penalidade que lhe foi imputada.
Não assiste razão à testemunha/embargante.
Compulsando o decisório objurgado, observa-se que este Relator
abordou e dirimiu a matéria em epígrafe, negando provimento ao apelo da
testemunha/embargante e mantendo a condenação ao pagamento da multa
de R$ 2.000,00 que havia sido imposta na decisão recorrida, bem assim a
determinação de expedição de ofício ao Ministério Público Federal.
Ocorre que, quando realizada a sessão de julgamento do recurso
ordinário, os integrantes deste Colegiado deram parcial provimento ao
apelo, com ressalvas de entendimento do relator, passando a prevalecer a
fundamentação anotada às f. 424, a seguir transcrita:
‘Ab initio, analisando os termos do depoimento prestado pelo
recorrente João Paulo de Almeida na audiência de instrução de f. 304/305,
não se vislumbrou que a testemunha tenha agido com falta de lealdade
processual, pois, em momento algum, deixou de responder sobre fato que
tivesse sido inquirida. Além disso, não foi verificada nenhuma advertência
da magistrada, no termo de audiência, acerca de eventual comportamento
inadequado do depoente. Somente ao prolatar o decisório de f. 311/320 é
que a sentenciante demonstrou suas impressões acerca do depoimento
prestado pelo recorrente. Por isso, não haveria esteio para a aplicação da
multa por litigante de má-fé, mesmo porque, vale lembrar, testemunhas não
são litigantes.
Saliento que os pedidos relacionados às horas extras, cuja existência
o reclamante pretendia comprovar pelo depoimento da testemunha
recorrente foram julgados improcedentes (f. 317). É praticamente unânime
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o entendimento jurisprudencial de que não há crime de falso testemunho


quando o Juiz decida a lide contrariamente àquele que a testemunha que
supostamente faltou com a verdade pretendeu favorecer.
Portanto, com ressalva de fundamentos, provejo parcialmente o
apelo da testemunha João Paulo de Almeida para reduzir a condenação ao
pagamento de multa para 01 (um) salário mínimo e excluir a determinação
de expedição de ofício ao Ministério Público Federal.’
Pelo exposto, nota-se que não restaram configuradas a contradição e a
obscuridade aventadas pela testemunha/embargante. Verifica-se, no caso,
obediência ao artigo 93, IX, da CF/88, não havendo os alegados vícios no
pronunciamento judicial atacado. Há teses explícitas na decisão proferida
por esta Egrégia Turma, a qual exprimiu de forma motivada e
fundamentada as razões que levaram ao convencimento deste Órgão
Julgador.
Insta salientar que o inconformismo da testemunha/embargante
quanto à manutenção de sua condenação ao pagamento de multa, embora
reduzida para 01 salário mínimo, deverá ser objeto de recurso próprio
previsto em lei, pois os embargos de declaração não constituem o meio
processual hábil à manifestação de insatisfação do terceiro interessado com
o julgado desfavorável e à pretensão de reforma da decisão.
Portanto, tendo sido explicitados no acórdão todos os fundamentos
que levaram ao convencimento, encontrando-se a decisão motivada e a
matéria já suficientemente prequestionada, para fins da Súmula 297/TST,
nego provimento aos embargos de declaração opostos pela
testemunha/embargante.
Apelo desprovido" (fls.490-492).

Da leitura atenta do acórdão, especificamente às


fls. 454-455, extrai-se que a aplicação da multa por ato atentatório
à dignidade de jurisdição teria sido imposta com base no art. 14, I,
do CPC de 1973, por não ter, a testemunha, supostamente, exposto os
fatos em juízo conforme a verdade.
Ocorre que a referida multa, com previsão no
parágrafo único do artigo 14 do CPC de 1973, somente pode ser
aplicada no caso de violação ao inciso V do dispositivo mencionado,
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e não ao inciso I, qual seja, quando deixar a parte de cumprir, com


exatidão, os provimentos mandamentais, ou criar embaraços à
efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou
final, o que não é o caso dos autos.
Eis o teor da norma em comento:

"Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer
forma participam do processo:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - proceder com lealdade e boa-fé;
III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são
destituídas de fundamento;
IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários
à declaração ou defesa do direito.
V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não
criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza
antecipatória ou final.
Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam
exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V
deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição,
podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais
cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo
com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da
causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em
julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida
ativa da União ou do Estado" (grifos acrescidos).

Ademais, a partir do cotejo analítico entre a


fundamentação e o dispositivo da decisão combatida, há aparente
contradição entre as afirmações do Regional de que "não se
vislumbrou que a testemunha tenha agido com falta de lealdade
processual, pois em momento algum deixou de responder sobre fato que
tivesse sido inquirida" ou de que "não foi verificada nenhuma
advertência da magistrada, no termo de audiência, acerca de eventual
comportamento inadequado do depoente", bem como a de que "não
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haveria esteio para a aplicação da multa por litigante de má-fé,


mesmo porque, vale lembrar, testemunhas não são litigantes" e, pari
passu, manter inalterada a condenação ao pagamento de multa por ato
atentatório, mesmo que em patamar reduzido, no valor de um salário
mínimo.
Por conseguinte, a conduta caracterizada pelo
Regional como falso testemunho não se enquadra naquelas descritas no
art. 14, V, e parágrafo único, do CPC de 1973. Logo, a aplicação de
multa à testemunha, com fulcro no referido comando legal, é indevida
e deve ser extirpada da condenação.
Há precedentes desta Corte neste sentido, in
verbis:

"AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. MULTA POR ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA
JUSTIÇA. Agravo a que se dá provimento para examinar o agravo de
instrumento em recurso de revista. Agravo provido . AGRAVO DE
INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO
PUBLICADO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. MULTA
POR ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA. Em razão de
provável caracterização de ofensa ao artigo 14, parágrafo único do CPC/73,
dá-se provimento ao agravo de instrumento para determinar o
prosseguimento do recurso de revista. Agravo de instrumento provido.
RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO ANTES DA
VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. NULIDADE POR NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. As recorrentes, a par de alegarem a
existência de omissões no julgado, utilizaram-se do remédio processual
com o intuito de revolver a matéria fática já analisada. A análise da
fundamentação contida no v. acórdão recorrido revela que a prestação
jurisdicional ocorreu de modo completo e satisfatório, inexistindo qualquer
afronta aos dispositivos que disciplinam a matéria. Ressalte-se que os
embargos de declaração não se prestam ao reexame da questão já analisada
e decidida, pelo que não se vislumbra a pretensa negativa de prestação
jurisdicional. Intactos, portanto, os artigos 93, IX, da Constituição Federal,
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832 da CLT e 458 do CPC/73, únicos dispositivos entre os indicados na


minuta aptos a pavimentar a preliminar alegada, à luz da Súmula459/TST.
Sublinhe-se que o excelso Supremo Tribunal Federal firmou entendimento
de que o mero inconformismo da parte com a decisão que lhe é
desfavorável não enseja a nulidade do julgado por negativa de prestação
jurisdicional. Vale consignar, por fim, que o julgador não está obrigado a
manifestar-se sobre todos os argumentos das partes, desde que os elementos
existentes no processo se revelem suficientes ao seu convencimento.
Recurso de revista não conhecido. MULTA POR ATO ATENTATÓRIO À
DIGNIDADE DA JUSTIÇA. O Regional manteve a aplicação de multa às
testemunhas registrando que os depoimentos sem credibilidade por elas
prestados deveriam ser considerados como falso testemunho ensejador da
penalidade. Todavia, a conduta caracterizada pelo TRT como falso
testemunho não se enquadra naquelas descritas no art.14, V, e parágrafo
único, do CPC/73. Nesse contexto, a aplicação de multa às testemunhas
agravantes com fulcro no referido comando legal é indevida e deve ser
afastada da condenação. Recurso de revista conhecido e provido." (RR-
566-81.2011.5.04.0662, 5ª Turma, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT
22/03/2018.)

"RECURSO DE REVISTA. MULTA POR ATO ATENTATÓRIO AO


EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO. A multa prevista no parágrafo único do
art. 14 do CPC destina-se expressamente ao descumprimento do dever,
previsto no inciso V do mesmo artigo, de cumprir com exatidão os
provimentos mandamentais ou/e não criar embaraços à efetivação de
provimentos judiciais, não podendo ser estendida às hipóteses previstas nos
demais incisos, sob pena de ofensa ao princípio do devido processo legal.
Recurso de Revista parcialmente conhecido e provido." (RR-63500-
86.2010.5.17.0003, 4ª Turma, Relatora Ministra Maria de Assis Calsing,
DEJT 12/09/2013.)

Conheço, por violação do artigo 14, parágrafo


único, do CPC de 1973.

Mérito
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.13

PROCESSO Nº TST-RR-1572-48.2012.5.03.0038

Conhecido   o   recurso   por   violação   de   lei,   seu


provimento é consectário lógico.
Dou provimento para excluir da condenação a multa
aplicada à testemunha recorrente por ato atentatório à dignidade da
justiça.

ISTO POSTO

ACORDAM  os   Ministros   da   Sexta   Turma   do   Tribunal


Superior   do   Trabalho,  por unanimidade: I) deixar de analisar a
nulidade de prestação jurisdicional, nos termos do art. 282 do CPC;
II) conhecer   do   recurso   de   revista,  por violação do artigo 14,
parágrafo único, do CPC de 1973, e, no mérito, dar-lhe provimento
para excluir da condenação a multa aplicada à testemunha recorrente
por ato atentatório à dignidade da justiça.
Brasília, 28 de agosto de 2019.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


AUGUSTO CÉSAR LEITE DE CARVALHO
Ministro Relator

Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

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