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6. AntOnio Vieira, ¢ 0 usar bem do jogo .... 63 7 {O/pocts (6llura| jogador 00:09:02. | 79 I. PROJEGOES DO MUNDO BARROCO 1. A transplantagdo de uma mentalidade e um estilo, de vida ....., 105 2. Triunfo Eucaristico: ‘uma festa barroca | 113 3. A academia cultista do Aureo Trono .... 127 4. As Cartas Chilenas ou uma vontade de con- tinuidade barroca 163 5. As barroquissimas exéquias de Dom Jose V 187 6. © primado do visual na cultura barroca mineira : - Ree 197 Ill. MOSTRA DE TEXTOS DO BARROCO LITERARIO EM MINAS 1: Triunfo Bucharistico S ceeees 239 2. Academia cultista do Aureo Trono ...... 259 3. Nas Reais Exéquias de D. Joio V ..... 279 4. Notas jograficas Peer tir 283 Bibliografia ...... Ey 293 Indice de assuntos 303 Indice de nomes oo... ccc eeeeec cesses 309 ete de mugeato Bastano. L.2ol. Se Rude Powpectiner 1930. pp 09-13 ATUALIDADE & PERMANENCIA DO BARROCO, Nenhum periodo da historia da arte tem sido, como 0 do barroco, aquinhoado nas tiltimas décadas com um tao amplo e diversificado interesse critic. Apds quase dois séculos de incompreensio e desapreco, em que experimentou até mesmo a sorte adversa de ver converter-se em excentricidade, para os padroes de gosto vigentes por todo esse tempo, os elementos de estilo que representam a sua prépria jeicdo de plenitude criativa, 0 barroco retoma criticamente o lugar que the é devido no proceso de evolucdo das formas ar Nao ocorre no caso uma simples revisto valorativa, po- 9 mais precisamente do que isso, uma recolocayae de conceito, um reenfoque da criag&o em si, como se cla surgisse, para os olhos de nossa época, desvestida de sua ancianidade, em seu inteiro corpo de ineditismo © originalidade. E’ esta a perspectiva sob a qual veem © harroco os especialistas munidos de instrumentacao mais atual e qualificada: uma dtica sincronica, assesta. da é certo para um passado néo muito proximo, mas superiormente presentificado através de uma arte que sinda faz prevalecer sua poderosa impactacao. A obra do artista barroco deixa, por essa via, a condicao de mero objeto da atencao erudita, para constituir-se em tema vivo da cultura. No exemplo brasileiro, a redefinicao ‘critica do barroco adquire significado préprio © acontece para- lelamente a uma dnsia bem pronunciada, que anima os intérpretes mais ticidos do fato nacional, de pro- curar localizar, sob um prisma de maior rigor, as ma- wrizes € as linhas de tradicdo que determinam ou pre- sidem 0 nosso desenvolvimento histérico e cultural. Entre as raizes remotas ¢ os condicionamentos mais de~ cisives, esd por certo 0 barroco, ndo enquanto tao-sd um estilo artistico, mas sim como fenémeno de maior complexidade — um estado de espirito, uma visdo do mundo, um estilo de vida, de que as manifestacées da arte serao a expressdo sublimadora. A colonizagao do Brasil ¢ — mais do que ela — a nossa estruturagao como povo © 9 nosso amanhecer de nagao vinculam-se, por fatores de: varia ordem, a singularidade histérica, filosdfica, religiosa do Seiscentos e seus desdobramen. tos. Buscando compreendé-la — ¢ com ela 0 barroco, estaremos obviamente caminhando para o desenho dé uma imagem mais nitida de nds mesmos, uma idéia mais correta de nossa especificidade nacional. E do mesmo modo que 0 barroco brasileiro, refletindo em- hora as generalidades universalizadoras do estilo € as fontes de sua inquietacéo motivadora, logrou uma auto~ nomia de linguagem e¢-uma fantasia de vincada liber- dade de invengao, verijicaremos que essa conscientiza~ 60, essa decantacao hoje das essencialidades que nos conjormam e remarcam, longe de destoar num mundo que quer antes universalizar do que individualizar as ulturas, servird para iluminar de maior claridade cri tica a nossa faixa tropical na aldeia de McLuhan e, a partir disso, aferir a exata dimensdo de nossa presenca na grande galdxia da modernidade. O interesse de nosso século pelo barroco nao con- siste, entretanto, numa preocupacdo circunscrita & drea dos pesquisadores, estudiosos ou intérpretes do passa- do historico e cultural. O barroco empolga, com a atra- $0 de seus temas, os curriculos superiores dos cursos de letras, artes ¢ hist6ria, impondo-se como matéria de Programacdo regular e, ao mesmo tempo, suscitando teses ¢ semindrios de extensdo. Por outro lado, a in~ dustria do turismo, jazendo convergir para as criagdes seiscento-setecentisias a necessidade de lazer espiri- tual e a demanda de aprimoramento da informacao de niimero cada vez maior de pessoas, vem sendo também Jator ponderdvel na didatizagao da arte barroca. Ha, todavia, que se assinalar, para se entender methor uma tal novacdo de gosto estético, que a atragdo exercida pelo barroco sobre a inteligéncia e a sensibilidade mo- dernas decorre, sem diwvida, das similitudes e afinidades que aproximam duas épocas cronologicamente distan- Ciadas entre si, dois instantes porém da civilizacao oci~ dental que colocam em crise os mesmos valores, dois homens que experimentam com isso uma andloga per- plexidade existencial, duas artes que repercutern em sua linguagem uma bem parecida pressio de historicidade e uma idéntica instabilidade das formas. E muitos auto~ res tém sido tentados a levantar 0 quadro critico dessas insinuantes aproximagées entre 0 barroco ¢ a atuali- dade, sugestdo fascinante a que nos vimos igualmente atraidos em texto de publicagdo recente* e a qual re Tornamos, quase com uma constancia de método, em varios pontos deste livro. Nosso trabalho, embora centrado no estudo do texto barroco, ndo se esgota nos limites do fato lite- rdrio. Em vez da orientacdo critica que, cerceada pelo preconceito da separagtio irredutivel das artes em com partimentos estanques, persiste na consideragao isolada © barroco © yma linha de tradisdo eriativa, In O poeta «a ‘tidio, Sima atitude We 7 das manifestacdes do barroco — e de maneira especial as do barroco brasileiro —, objetivamos aqui uma in- terpretacdo quanto possivel totalizadora dos miiltiplos aspectos e enunciados que, conjugando-se estética e historicamente na criacao do Seiscentos ¢ seus desdo- bramentos, tornam comum as suas diversas expressdes um mesmo modo de ver, de sentir, de formar. Porque somente o enfoque global do fenémeno, inclusive em suas projecdes no comportamento vivencial do homem do periodo, ensejaré o delineamento preciso ¢ realmente vélido de um perfil do barroco. Endo se hd de argiir, contra isso, a superioridade criativa de uma forma artis. tica sobre outra, notadamente — como insistem muitos — da obra plastica sobre a obra literdria, A grandeza do barroco, 0 que o distingue e singulariza entre as demais fases da historia cultural do ocidente, reside exatamente na unificadora forca de dramaticidade e na simulténea tensdo de agonicidade que nele impulsio~ nam, sustentam e tipificam a concepcdo tanto do seu artista, quanto do seu escritor. As coordenadas da lin. guagem de ambos desenvolvem-se a partir de equiva lentes proposigdes estruturais é se resolvem através das mesmas categorias expressivas. Em algumas destas, que permeiam e circulam todo 0 organismo barroco — 0 \dico, o sensorial, o visual, 0 persuasério —, fomos colhér os elementos basicos do estilo sobre os quais conduzir as linhas, ora acentuadas, ora apenas esgar- ¢adas, mas sempre linhas essenciais de nossa inter- pretagéo. Reunindo ensaios as vezes de certa autonomia, escritos em diferentes etapas de nosso estudo do bar- roco, o presente volume divide-se em duas partes apa- rentemente distintas. A primeira, de elaboragdo mais recente, pretende conter uma sintese da estética do bar- roco, fundada na demarcacdo de uma das suas prin- cipais categorias de estrutura e linguagem: 0 \Wdico. A outré, englobando textos anteriormente publicados*, mas aqui revistos ou reformulados, constitui uma abor- dagem mais particularizada, focalizando 0 barroco, quer enquanto expresso literdria ¢ artistica, quer mais (Oj Begidiios seiscentistas om Minas — Textor da Séeulo de Ouro Sikh EerEore, le, "mundo“barroco. “Bele. Horizonte, Cents be “Batatics Mrineicon Ga "Universidade Pederat’ de Minas Geiss, Tere Bag eties 12 senericamente como estilo de vida, na drea sem ditvida mais importante de sua manifestagao brasileira: Minas Gerais. Diversas na aparéncia, as duas partes na ver- dade se complementam, com a visdo critica do universal preparando e encaminhando uma compreenséo menos doméstica do nacional, do regional.” Em nenhum passo alimentamos, porém, a veleidade da inovacao tedrica. Nosso trabatho busca apoiar-se, como se verd, na me- Ihor ligdo dos especialistas, animando-nos tao 36 a meta da interpretagio, esta sim prevalentemente pessoal. E se por vez a objetividade do critico parece perturbar-se numa ou outra afirmacdo mais enfatica, hd de se rele- var 0 fato de que, utilizando a ética sincrénica, sempre correremos o risco, diante de uma arte como a do bar- roco, tdo afim com a nossa prépria arte, de vé-lo sob @ mesma temperatura afetiva, se ndo 0 mesmo grau de paixdo com que vemos e vivemos as formas de nosso tempo. 13

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