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Formas de resistência

camponesa: visibilidade
e diversidade de conflitos
ao longo da história
Márcia Motta e
Paulo Zarth (Orgs.)
Capítulo8 Balaiada e resistência camponesa no
Maranhão (1838-1841) 171
Matthias Röhrig Assunção.

O livro desnuda a antiguidade dos conflitos no


Campo. A documentação é escassa, mas suficiente
para evidenciar que as disputas pela terra ou a
submissão aos povoadores eram muitas vezes
resolvidas pela violência física. Os embates não se
resumiam a expulsões, mas incluíam diversos
tipos de pagamento dos camponeses em dinheiro
ou em espécie.
A formação do Império do Brasil em 1822 não
alterou a estrutura fundiária então existente. A
necessidade de melhorar o acesso à terra chegou a
ser levantada por alguns políticos. Houve até um
primeiro projeto para uma nova lei agrária, que
saiu das mãos de José Bonifácio de Andrada e Silva.
Ao longo dos anos oitocentos, em diversas
ocasiões, os pobres do campo ousaram subverter a
ordem, questionar o poder dos senhores de terra
e realizar uma leitura particular das leis. Investigasse,
por exemplo, a origem da palavra posseiro,
em contraponto a sesmeiro, sendo a primeira
empregada para referir-se ao invasor, àquele que
não era visto como legítimo ocupante de uma terra
sem dono.
Os estudos reunidos sobre o período colonial e o
Império são faces mais visíveis de uma história
social do campesinato do século XIX. Revelam as
estratégias e as concepções de direitos em uma
sociedade marcada pela escravidão. Com o fim
desta, coube aos trabalhadores do campo um papel
fundamental na construção do mercado interno
brasileiro.
Há ainda textos sobre os primeiros trinta anos da
história republicana. É possível encontrar no
período tanto as concepções de justiça dos
lavradores como suas manifestações coletivas de
rebeldia. Evidencia-se ainda que as tentativas
governamentais em auxiliar a política de colonização
do território partem de um preconceito contra
o camponês nacional, que deveria se submeter aos
interesses políticos e ideológicos dos agentes do estado.

Compondo uma trajetória de movimentos deste período, a obra


traz uma refinada análise sobre a Balaiada e seus caminhos em duas
regiões do país, Maranhão e Piauí, desenvolvendo uma discussão que
aborda a resistência camponesa em ambos os locais, suas relações com a
classe dominante e como se construiu uma visão conservadora que os
qualificava como bandidos, sanguinários e facínoras, não sendo
possuidores de nenhum ideal. Por isso, Mathias Assunção e Claudete
Dias, em ambos os capítulos, apresentam contrapontos para se pensar a
Balaiada como movimento de resistência camponesa contra determinados
abusos sociais, como os abusivos recrutamentos forçados, salientando
clara posição política contrária à elite e com objetivos bem definidos.

A preocupação central de Matthias Assunção é compreender o desenvolvimento da formação camponesa no


Maranhão durante a primeira metade do século XIX e as transformações que gestaram a insurreição
conhecida como Balaiada entre os anos 1838-1841. A análise leva em consideração a história ambiental,
agrária, econômica e social, e suas dimensões culturais.

Considerava-se que a população brasileira era composta por uma pequena elite branca europeia e seus
descendentes, assim como por uma massa de indígenas, pessoas escravizadas e homens livres pobres (em
geral mestiços), dispersas por um vasto território e sem apego a terra. Nessas circunstâncias, o “povo
brasileiro” - aqui entendido como os homens livres pobres e privados de direitos políticos - era estimado
como politicamente passivos desarticulados e despossuídos de cultura. Em outras palavras, incapazes de se
organizarem para defenderem seus interesses.

"A Balaiada não foi uma aventura, nem política, nem de banditismo; foi antes um fenômeno de acentuadas
características revolucionarias, quase comunista, e que se manifestou como movimento de massa com caráter
de reabilitação social

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