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INTRODUÇÃO

A fitoterapia é conhecida como a ciência que estuda o efeito farmacológico


de plantas com finalidade terapêutica. Esses medicamentos têm despertado o
interesse de diversos centros de pesquisas e indústrias e o seu uso vem se
intensificando (1).
O Brasil é um país privilegiado em relação ao emprego da fitoterapia, pois
possui 25% da flora mundial e um patrimônio genético de grande potencial para o
desenvolvimento de novos medicamentos, o que corresponde a mais de cem mil
espécies (2).
Os fitoterápicos apresentam vantagens como custo acessível à população e
aos serviços públicos de saúde. Possui amplo espectro de ações farmacológicas.
Sabe-se que os fitoterápicos também acarretam efeitos colaterais e contra-
indicações, sendo necessário conhecer seus princípios ativos, os aspectos
relacionados à qualidade da planta e sua procedência a fim de que possam ser
usados com segurança (2).
Na odontologia, as pesquisas com produtos naturais têm aumentado nos
últimos anos devido à busca por novos produtos com maior atividade farmacológica
com menor toxicidade, maior biocompatibilidade, além de apresentarem custos mais
acessíveis à população (2).
O reconhecimento dessa ciência como uma prática integrativa e
complementar à saúde bucal foi um grande passo para regulamentar a atuação dos
cirurgiões-dentistas em uma área ainda pouco explorada (1).
O óleo de copaíba, é um agente fitoterápico conhecido por suas propriedades
medicinais antibacterianas, anti-inflamatórias, anestésicas e anti-tumorais. Relatos
demonstraram o uso do óleo de copaíba como efetivo contra os agentes etiológicos
da doença cárie (3).
A Própolis é uma substância resinosa, coletada e transformada pelas
abelhas. Possui função bactericida, antimicrobiana, antioxidante, anti-inflamatória,
imunomoduladora, hipotensora, anestésica, anticancerígena, anti-HIV e anti-cariosa.
A vegetação, o clima e outros fatores influenciam as características e a composição
da própolis de cada região (3).
A Libidibia férrea, possui propriedades anti-inflamatórios, antifúngicos, anti-
histamínicos, antialérgicos, anticoagulantes, antiproliferativos, citoprotetores e
antimutagênicos (3).
A Romã (Punica granatum) tem se mostrado eficaz no combate a bactérias
gram-positivas e gram-negativas, constituintes do biofilme bucal. O fruto é
comumente utilizado para o tratamento de infecções de garganta, tosse e febre devido
às suas propriedades anti-inflamatórias e antibacterianas (1).
A Unha-de-gato (Uncaria tomentosa) apresenta componentes que podem ser
relacionados com a sua atividade microbiana. Possui propriedades anti-inflamatórias,
antineoplásicas, imunoestimulantes, antimicrobianas e antioxidantes (1).
A aroeira possui ação antimicrobiana, anti-inflamatória e antiulcerogênica,
sendo utilizada como antisséptico e no tratamento de estomatites. Apresenta também
atividade bactericida e bacteriostática (4).
O presente trabalho tem como objetivo revisar a literatura sobre o uso de
alguns dos principais fitoterápicos na prática odontológica, destacando as principais
plantas de ação medicamentosa, suas propriedades, composições e produtos já
comercializados no mercado, nas mais diversos áreas odontológicas como:
periodontia, cariologia, cirurgia, endodontia, entre outros.

REVISÃO DE LITERATURA

A Fitoterapia é a ciência que estuda a utilização de plantas ou parte delas


para tratamento de doenças que acometem a espécie humana (5), estuda também o
efeito farmacológico das plantas com finalidade terapêutica (1). Fitoterápicos são
substâncias obtidas a partir de plantas que podem ser utilizadas como remédios
artesanais sob a forma de chás, soluções, comprimidos, dentre outros (6). De acordo
com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), estas podem estar
disponíveis na forma sólida ou líquida (7).
A fitoterapia, phyton (planta) e therapia (tratamento) é descrita como uma
prática antiga e o primeiro relato manuscrito foi intitulado Papiro de Ebers, datado de
1500 a.C (8). O uso de plantas medicinais na arte de curar é uma forma de tratamento
de origem muito antiga, relacionada aos primórdios da medicina e fundamentada no
acúmulo de informações por sucessivas gerações. Ao longo dos séculos, produtos de
origem vegetal constituíram as bases para tratamento de diferentes doenças (9).
Era grande o uso das plantas medicinais para o tratamento de muitas
enfermidades no Brasil, até o século XX. Porém com os avanços tecnológicos na
fabricação dos medicamentos sintéticos fizeram com que a medicina popular caísse
em desuso (10) e também por falta de embasamento científico, favorecendo a
substituição dos medicamentos fitoterápicos pelos medicamentos alopáticos (5).
Na década de 70 a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a
incentivar o estudo científico das plantas medicinais (5), já que muitas das
encontradas no Brasil ainda não possuíam eficácia científica comprovada (11). Na
década dos anos 80 e 90, houve um aumento expressivo no mercado mundial de
medicamentos fitoterápicos, principalmente nos países industrializados (7).
O uso de fitoterápicos tem se intensificado em vários países, especialmente
no Brasil, que possui uma flora rica e diversa, com grande potencial para o
desenvolvimento dessa ciência (11) e um importante fornecedor de matéria-prima na
área de farmacognosia (12). O Brasil é um país privilegiado em relação ao emprego
da fitoterapia, pois possui 25% da flora mundial, o que corresponde a mais de cem
mil espécies (13) e um patrimônio genético de grande potencial para o
desenvolvimento de novos medicamentos (14).
Apesar da extensa flora brasileira, apenas 8% das plantas, foram submetidos
a testes para identificação de seus componentes bioativos (15). Embora o Brasil seja
detentor de uma grande biodiversidade, alguns problemas dificultam o seu emprego
para o desenvolvimento de medicamentos, pois existem poucas leis específicas para
o seu acesso (16).
Atualmente, encontram-se implantados em diferentes áreas do país, diversos
programas de incentivo a fitoterapia, que visam contribuir nos cuidados primários da
atenção básica (17).O uso de plantas com finalidade terapêutica, foi reconhecido pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1978.
No Brasil, o uso da fitoterapia foi incentivado a partir de 2006, com a criação
da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e Política
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) destinadas ao Sistema
Único de Saúde (18), através da Portaria n°971, Decreto n° 5813. Onde foi permitido
a prática de tratamento médico por meio da utilização de plantas medicinais e
fitoterápicos (13), contribuindo para o desenvolvimento tecnológico e inovações,
provendo o uso sustentável da biodiversidade brasileira, além de favorecer o
desenvolvimento do Complexo Produtivo da Saúde (18).
. Em consonância com a ANVISA, foi criada a Resolução de Diretoria
Colegiada (RDC) 48/2004, que tem por finalidade investigar o efeito terapêutico da
planta, garantindo sua segurança e eficácia, além de exigir identificação botânica das
espécies utilizadas (19).
O uso da fitoterapia, pelo cirurgião-dentista, somente foi reconhecido e
regulamentado como prática integrativa e complementar à saúde bucal pelo Conselho
Federal de Odontologia (CFO), no dia 19 de novembro de 2008, através da Resolução
no 082/2008-CFO (20). Segundo o Artigo 7°, esta se destina aos estudos dos
princípios científicos da Fitoterapia e plantas medicinais, embasados na
multidisciplinaridade inseridos na prática profissional, no resgate do saber popular e
no uso e aplicabilidade desta terapêutica na Odontologia, respeitando o limite de
atuação do campo profissional do cirurgião-dentista (21). Alguns dos objetivos desta
inclusão visam contribuir para o aumento da resolubilidade do sistema de saúde e a
ampliação do acesso da população às PIC (Práticas Integrativas Complementares),
garantindo qualidade, eficácia, eficiência e segurança no uso (22).
Assim, o aumento do número das opções terapêuticas ofertadas aos usuários
do Sistema Único de Saúde, representam importantes estratégias para garantir
melhoria à saúde da população e prover a inclusão social (18). Ainda que o
medicamento natural tenha boa aceitação popular no Brasil e apresente boas
perspectivas no mercado, estes só podem ser comercializados mediante a realização
de estudos laboratoriais e clínicos que comprovem sua eficácia na área odontológica
(23).
A procura por produtos menos tóxicos, com maior biocompatibilidade e
efetividade terapêutica, tem motivado as pesquisas nos últimos tempos (2). A busca
por novas opções terapêuticas na odontologia mais acessíveis à população, como
substitutos dos fármacos sintéticos industrializados, também é outro fator que atua
em consonância com as práticas integrativas e complementares à saúde (24).
Com o importante crescimento mundial da fitoterapia dentro dos programas
preventivos e curativos tem se estimulado a avaliação da atividade de diferentes
extratos de plantas para o controle do biofilme dental (20).
A adição de plantas medicinais aos dentifrícios e enxaguantes bucais já é
realidade, sendo que diversos extratos de plantas foram testados em estudos
científicos com objetivo de avaliar seu potencial de redução da atividade de
microrganismos comensais da cavidade bucal (11).
.

Referências
1. Fitoterápicos na Odontologia. Aleluia, Camila, et al. 2, São Paulo : s.n., 2015, Rev. Odontol. Univ.
Cid. São Paulo, Vol. 27, pp. 126-134.

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15. As plantas na odontologia: um guia prático. Cavalcante, R. Rio Branco : s.n., 2008, Expressão
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18. Politica Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Brasil, Ministério da Saúde Secretaria de
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19. Anvisa, Ministério da Saúde Brasil. Resolução de Diretoria Colegiada - RDC. [Online] 2004.
[Citado em: ] http:// por- tal.crfsp.org.br/index.../633-resolucao-rdc-no-48-de-16-d e-marco-de-
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22. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: uma ação de inclusão.
Barros, NF. s.l. : Ciências Saúde Coletiva, 2006, Vol. 11. 3.

23. Fitoterapia e Biodiversidade no Brasil: saúde, cultura e sustentabilidade. Oliveira, MFS. 2005, Vol.
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24. Synopsis of the plants know as medicinal and posonous in Northeast of Brazil. Agras, MF, Freitas ,
PF e Barbosa , Filho. 1, s.l. : Rev Bras Farmacogn, 2007, Vol. 17, pp. 40-140.

A grande maioria dos medicamentos, hoje disponíveis no mundo, é ou foi originado de

estudos desenvolvidos a partir da cultura popular que fazem da rica biodiversidade brasileira

um vasto campo de pesquisa científica

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