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Quando olho para esse dado e penso na importância de saber ler e escrever no
mundo contemporâneo, eu lembro da minha avó. Dona Celina, que infelizmente
não está mais entre nós, só estudou até a segunda série do primeiro grau, o que
chamamos hoje de 3º ano do ensino fundamental. Vovó, que sempre foi da
igreja, só sabia ler a bíblia, mas na hora de ler outras coisas e até para assinar
o próprio nome, ela sentia dificuldades. Até que, na minha adolescência, vovó
me pediu para ensiná-la a ler e a escrever. Na época, ela disse para mim que
queria ir aos lugares sem precisar “incomodar” as pessoas.
Essas aulinhas caseiras, que não foram muitas, mudaram a vida dos meus avós.
Eles começaram a se sentir mais felizes, importantes, porque agora podiam ler
as cartas que chegavam pelo correio sem precisar pedir ajuda aos filhos e aos
netos. A partir daquela época, eles começaram a sair mais sozinhos, afinal,
podiam ir para o ponto de ônibus sem ter de “incomodar”, pois já conseguiam ler
o letreiro dos coletivos. A partir dessa pequena experiência com meus avós,
percebi o quanto a alfabetização é importante para o exercício da cidadania.
Saber ler e escrever não significa apenas ser uma pessoa informada e capaz de
se comunicar adequadamente. É ir e vir sem ter de incomodar. É não depender
dos filhos e dos netos para saber o que diz a carta que chegou do correio. É ser
capaz de ler um documento e, ao final, assinar o próprio nome – em letra cursiva
– porque você, de fato, está ciente do que está assinando.
Talvez, a minha paixão pelo mundo das letras tenha nascido daí, dessa pequena
experiência de letramento com meus avós. Sinto muitas saudades da vovó e
tenho muito orgulho de saber que ela não passou por este mundo sem saber ler
e escrever. E, o que para ela parecia mais importante: sem ter que “incomodar”
ninguém.