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Biblioteca Vida € Missao Biblia in? 1 - Instrumentos para o ¢st udo da Biblia Gelebragoes n?1- Natal, cantos € contos: Documentos a? 1-_ Plano para a Vida ¢ Missiio da Igreja n®2- Eleic6es 1994 Metodismo ne i- As marcas basicas da identidade metodista Ministérios rn 1- Osjuvenis/Descobrindo wm gruPo de jovens n89- AIDS: Desafio pastoral e solidariedade nt - Estive preso e foste ver-me (manual pritico para o ministério cristio carcerario) Pastorais n® 1- Carta pastoral sobre o Batisme n2Q- Garta pastoral sobre a Cela do Senhor ne 3- Carta pastoral sobre sexualidade nun rave IcrejA METODISTA Co.kcIo EpiscopaL Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade Biblioteca Vida e Missao/Pastorais - n« 3 1997 Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade Colégio Episcopal ‘Adriel de Souza Maia Geoval Jacinto da Silva Joao Alves de Oliveira Filho ‘Paulo Ayres Mattos Paulo Tarso de O. Lockmann Richard dos Santos Canfield Rozalino Domingos Stanley da Silva Moraes Editor nacional Nelson Luiz, Campos Leite Coordenagio Nacional de Agio Docente Laicia Leiga de Oliveira Copy-desk Lenise Lantelme Capac projeto grafico Luiz. Carlos Ramos Editoragao Maria José Oliveira Pedidos e vendas Imprensa Metodista Ay. da Liberdade, 655 Sao Paulo SP 01503-010 ‘Telefone: (011) 278-6388 Sede Geral da Igreja Metodista Rua Espirito Santo, 1989 Belo Horizonte MG 30160-0832 ‘Telefone: (031) 275-3851 Fax: (081) 275-3008 Sumario Apresentacao....... weoweresnie Introducao por que falar sobre sexualidade? .. O que € sexualidade . mulher frégil x homem forte 5 diferencas e desigualdades entre os sexos ....... 16 O que a Biblia nos fala sobre sexualidade .... 19 a sexualidade no Antigo Testamento 19 a sexualidade no Novo Testamento 22 Como a sexualidade se manifesta nos diferentes momentos da vida humana infancia adolescéncia juventude . idade adulta terceira idade Algumas pistas pastorais Bibliografia. Apresentacao O Colégio Episcopal da Igreja Metodista, atra~ vés do lancamento desta pastoral sobre sexualida- de, come¢a a resgatar uma divida histérica com a comunidade metodista, pois é grande a expecta- tiva em torno destes subsidios para a vida docente da nossa comunidade de fé e servico. Falar em sexualidade € falar sobrea vida no sen- tido mais amplo da palavra. O salmista comoyido com a beleza e sobretudo com a exuberincia do plano criador de Deus expressou: “... pois tu for- maste © meu interior, tu me teceste no seio de minha mie. Gracas, te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras sio admiraveis, ea minha alma o sabe muito bem...” ($1139. 13-15). Assim sendo, a sexualidade deverd ser entendi- da numa perspectiva totalizadora do ser humano. Asexualidade nio € parte isolada, mas elemento que integra toda a personalidade de homens e mulheres. Com esta pastoral, esperamos que o tema, de to alta relevancia, seja refletido da forma mais concreta possivel. Nao se pode estudar a questo da sexualidade de forma isolada ou fragmentada. A leitura da realidade interna da Igreja aponta a Pastorais 6 Biblioteca Vida e Missdo urgentissima necessidade de uma postura pasto- ral educativa sobre 0 tema. Lamentavelmente, quando a questao sexual € abordada, pode-se fa- zer uma leitura incorreta ou inadequada, ou até mesmo passar de largo. Nesse contexto, nossa postura docente precisa ser auténtica. Ela objetiva preparar, de forma cris- t, 0s fiéis para viverem a realidade segundo o Es- pirito. Por exemplo, esta claro para nds, bispos da Igreja, bem como para as liderancas pastorais que boa parte dos jovens ja adentra na vida con- jugal com experiéncia sexual com seu parceiro ‘ou parceira. As estatisticas esto ai para compro- var esta afirmativa. Também temos consciéncia de que muitos sao forcados a casar antes do pra- zo planejado em virtude de gravidez nao pro- gramada. Liderancas religiosas de todos os niveis e ten- déncias (carismaticos, pentecostais, conservado- res, liberais, etc.) estao volta e meia enfrentando, no ambito de suas igrejas, a questao da disciplina eclesidstica por causa de questdes sexuais. Bate fortemente a porta da Igreja a questo da AIDS, do homossexualismo, do aborto, das drogas, en- tre outros. Situacées que exigem da comunidade de fé e servico uma postura pastoral orientadora ¢ educativa. Felizmente, chega até nossas igrejas e segmen- tos pastorais este texto: Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade. Faz-se necessario Iereja Metodisia Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade 7 orientar e educar para o amor e, conseqiiente- mente, para uma expressao sadia ¢ libertadora da sexualidade. Evidentemente, esta carta pastoral nao esgotaa profundidade do tema. Na realidade, so subsidi- os, reflexGes e diretrizes para nossa comunidade. No tempo oportuno, outros textos, tratando por exemplo de afetividade, planejamento familiar, sexo antes do casamento, violéncia sexual, aborto ¢ homossexualismo, serao encaminhadas ao povo metodista. Queira Deus, criador de todas as coisas, aben- coar este trabalho pastoral. Outrossim, abengoe todas as pessoas que tiverem acesso a este docu- mento, a fim de que tenhamos uma expressao sadia de sexualidade e, sobretudo, como um dom maravilhoso de Deus para a vida de seus filhos e filhas. Adriel de Souza Maia Presidente do Colégio Episcopal Pastorais Introducao Por que falar sobre sexualidade? Ao apresentarmos esta carta pastoral sobre se- xualidade, estamos procurando oferecer subsidi- os para a reflex4o e discussdio de temas que resga- tam o sentido da sexualidade e que ajudam a compreendéla como parte integrante da vida - isso é uma das tarefas primordiais da igreja. En- tendemos que na sexualidade o ser humano pro- jetaa sua maneira de ser com relacao ao mundo, asi proprio e ao outro. Osentido ea pratica da sexualidade estao in- timamente ligados ao sentido da vida, 4 percep- cao do futuro, as relagdes entre as pessoas, a0 amor € ao cuidado que temos em relacao a nés mesmos € aos outros. Precisamos refletir o quanto a sociedade tem reduzido a sexualidade apenas dimensio genital (dos drgios sexuais) ou 4 reproducdo (procria- So), retirando dela seu significado principal: constituir as relacées entre as pessoas. Os meios de comunicagao de massa tém pro- movido espetaculos que banalizam a sexualidade, reduzindo-a a um produto de compra e venda, Pastorais 0 Biblioteca Vida e Missa Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade u mera mercadoria. As pessoas muitas vezes sio uti- lizadas como objeto sexual ¢ também tém sua imagem usada para a venda de produtos que vio da pasta de dente ao carro. A sexualidade também tem sido uma forma de intimidacao e violéncia, mais especificamente contra a mulher. A situacdo dos nossos adolescentes e jovens, do ponto de vista da expresso da sexualidade, merece atengio especial. Por um lado, 0 uso co- mercial da sexualidade tem impregnado e influ- enciado nossa sociedade. Por outro, geralmente a familia, a escola, o sistema de satide e as igrejas inibem a expressao da sexualidade desses adoles- centes e jovens, estabelecendo restri¢Ges para suas atividades sexuais e abandonando-os a propria sorte. O resultado disso, muitas vezes, € 0 fato de a juventude encontrar formas de escapar das restri- Ges que Thes foram impostas e realizar atividades sexuais sem a educacao e formacao necessarias paraa vivéncia de uma sexualidade saudavel e res- ponsavel. Nao s6 os meios de comunicacao de massa contribuem para este quadro, mas também a Ci- éncia, que tem compreendido o ser humano de forma fragmentada. Tanto os meios de comuni- cacao como a Ciéncia tratam 0 corpo humano de forma dividida e separam as diversas dimensdes da sexualidade. Isso quer dizer que a partir dai ha lugar para descompromisso no relacionamen- to entre homens e mulheres. Igreja Metodista Um dos caminhos para levarmos a sexualida- de a fazer parte da vida humana como um todo é redescobrirmos 0 corpo como expresso e fala, como algo que percebe 0 mundo e se relaciona com o que est ao redor. Para conhecéo, preci- samos vivencia-lo, olhar para ele na sua totalida- de, pois é veiculo de comunica¢ao com o mun- do, com 0 outro € com as coisas que nos cercam. Precisamos falar de sexualidade humana por- que somos seres sexuados, isto é, nds temos um sexo. Precisamos falar mais deste assunto que tem sido evitado, transformado em tabu, reprimido e ignorado. Precisamos falar de sexualidade sem associéla ao pecado, a AIDS, a procriacao, a lasci- via, ao adultério ou a pornografia. Precisamos fa- lar da sexualidade como béncao, como parte in- tegrante de nossa existéncia. Pastorats O que é sexualidade Segundo a Organizacio Mundial de Satide (OMS), a sexualidade é “uma energia que nos motiva a buscar afeto, contato, prazer, ternura e intimidade. A sexualidade influencia nossos pen- samentos, sentimentos, acdes, interagdes e, por- tanto, influi na nossa satide fisica e mental.” JA 0 Dicionério Aurélio', define assim: “Quali- dade de sexual; 0 conjunto dos fendmenos da vida sexual; sexo”. A palavra sexual estd assim defini- da: “pertencente ou relativo ao sexo; referente a cépula; que possui sexo; que caracteriza 0 sexo”. ‘Ao buscarmos o significado da palavra sexo, en- contramos: “conformacao particular que distingue ‘0 macho da fémea, nos animais e nos vegetais, atri- buindo-Ihes um papel determinado na geracio € conferindo-lhes certas caracteristicas distintivas; 0 conjunto das pessoas que possuem o mesmo sexo; sensualidade, vohipia, lubricidade, sexualidade; os 6rgios genitais externos. O belo sexo. As mulhe- es; 0 sexo amavel; 0 sexo fraco; 0 sexo fragil. O sexo forte. Os homens” \ A.B. H. FERREIRA, Novo Diciondrio Basico da Lingua Portuguesa (Sio Paulo, 1995). Pastorais “4 Biblioteca Vida ¢ Missd0 Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade 1s O Vocabuldrio de Psicandlise’ traz para este termo o seguinte: “Na experiéncia e na teoria psicanaliticas, ‘sexualidade’ nao designa apenas as atividades e 0 prazer que dependem do fun- cionamento do aparelho genital, mas toda uma série de excitagdes e de atividades presentes desde a infancia, que proporcionam um prazer irredutivel a satisfagdo de uma necessidade fisi- ol6gica fundamental (respiracao, fome, fun¢ao de excrecao, etc.), € que se encontram a titulo de componentes na chamada forma normal do amor sexual.” Sabemos que ao tentarmos explicar 0 que é sexualidade, precisamos ter clareza quanto a importancia ¢ 4 complexidade dela na condi- co humana. Atualmente, vivemos em um am- biente que da forte énfase aos aspectos sexuais. E possivel visualizarmos essa tendéncia até mes- mo na definicao que o dicionario traz para 0 termo: “conjunto dos fenémenos da vida sexu- al, sexo”. Continuando na definicio do termo, quando buscamos o significado da palavra “sexo”, a énfase também € a c6pula (unido dos 6rgdos sexuais feminino e masculino) e, um pouco além, palavras como sensualidade, vohipia, genitalidade. ONTALIS & J. LAPLANCHE, Vocabulario de Psicané- "aulo, 1988) Igreja Metodisia Mulher fragil x homem forte Também encontramos lugares diferentes para homens e mulheres do ponto de vista bioldgico: a mulher é associada ao “sexo frigil” e o homem ao “sexo forte”. A associagao da mulher A fragilidade ¢ do homem A forca descaracteriza o ser humano cm sua integralidade ¢ tira dele a forma de se ex- pressar como um ser de possibilidades ¢ realiza- goes. Geralmente, a diferenca biolégica cria desigual- dades entre homens e mulheres, valorizando as ati- vidades atribuidas aos homens. Precisamos refletir sobre a forma como isto pode interferir na sexuali- dade. Se formos educados para uma vida baseada na criatividade e no respeito miituo e nao na repres- sio, educaremos para que haja responsabilidade para com a sexualidade. Transformar os espacos do relacionamento humano em espaco educativo implica termos coragem para quebrarmos o silén- cio que muitas vezes é utilizado como medida de repressio € recuperarmos o sentido da palavra “se- xualidade”. Abrirmos caminhos para trilharmos uma vivéncia mais saudavel, mais agradavel e mais crista. Essa tarefa nao € muito simples, pois a forma- co da nossa sociedade, a nossa raiz cultural (0 nosso jeito machista de ser) estabeleceu tabus que dividem a sexualidade, e o sexo é apresentado mui- tas vezes como pecado. Essa formacio tem relacio com a sexualidade fragmentada, dividida, que pode ser causa das nossas limitacdes, traumas e medos. Pastorais 16 Biblioteca Vide € Missd0 Em nossa sociedade, a demarcacao do que faz parte do mundo masculino e do que faz parte do mundo feminino é feita de forma diferenciada: a docilidade e meiguice, bem como a capacidade de cuidar da casa ¢ a paciéncia sao atribuidas 4 meni- id 0 menino, por exemplo, deve ser ativo e agres- sivo. Isso € reforcado pelos brinquedos, atividades, textos escolares, roupas, gestos, linguagem ¢ pelos meio de comunicagio de massa. Diferengas e desigualdades entre os sexos Toda essa carga de expectativas sociais nio combi- nam com o que 6s estudos cientificos tém apresenta- do. Eles nao confirmam as afirmagées de que as dife~ rencas biolégicas entre homens e mulheres interfe- rem nas possibilidades de realizacdes deles. Os ho- mens so to sensiveis quanto as mulheres ¢ as mu- Iheres sao to inteligentes quanto os homens. O que € préprio das mulheres esta na capacidade de engravidar e amamentar; o que é préprio dos homens est na capacidade de ser o pai bioldgico de uma cri- anca. A diferenca biolégica nao pode dar lugar a desi- gualdades e discriminacées. Neste formato, ambos perdem: ao menino fica proibida a expressio de seus sentimentos, o que é uma carga de exigéncia altissima, pois se relaciona com os aspectos do poder, inteligén- cia, actimulo de dinheiro e posi¢iio de mando. J para as meninas, a repressao ocorre no plano do poder ¢ da inteligéncia: elas sao preparadas apenas para se- Carta pastoral do Colégio Episeopal sobre sexualidade "7 rem mies, passivas, amorosas ¢ cuidadosas. A identidade sexual assim formada no atende ao pleno desenvolvimento da personalidade de homens ¢ mulheres, que acabam se sentindo incompletos, pois uma parte deles préprios é negada e reprimida. Isto ira inferir na vivéncia da sexualidade adulta, ¢ incapacitar para a doacio de si mesmo ao outro, para ver no outro o companheiro, o amigo, para dar € re- ceber apoio e seguranca interior. A capacidade de tra- tar 0 outro de forma gratuita e com cuidado € trans- formada em relagio de dependéncia. Esses padres de identidade sexual precisam ser revistos pelas igre- jas, em especial pelos adultos, que podem perpetuar essa condi¢ao ao transmitir a educagao sexual aos fi- hos. E preciso lembrar que quando os adultos se relaci- onam com as criancas, os jovens € os adolescentes, transmitem sentimentos, pensamentos e praticam agées que tém sentido para eles. Essa relagio com 0 outro, essencialmente humana, é lugar de aprendi- zagem miitua, de crescimento e abertura de novos horizontes. A educacao para a sexualidade deve pro- piciar as criangas, aos adolescentes € aos jovens mai- orautoconhecimento ea possibilidade de eles constru- frem a base de um mundo mais fraterno € humano. Pustorais O que a Biblia nos fala sobre sexualidade Falar da sexualidade humana ¢ falar da vida! Nos- so corpo nao é apenas uma estrutura biolégica: é por intermédio dele que existimos, nos expressamos ¢ nos situamos no tempo € no espaco. Para falar de sexua- lidade nao podemos ignorar a Biblia, pois as Escritu- ras Sagradas esto cheias de referéncias 4 sexualida- de humana. Contudo, nao podemos cair no outro extremo e achar que as referéncias biblicas sio pres- crigdes absolutas ou que a Biblia é um manual de éti- ca com relagao ao sexo. Os textos biblicos devem ser vistos sob o pano de fundo de seu tempo, respeitadas as condicées cultu- rais € sociol6gicas que caracterizam sua época. Nao existe na Biblia uma exposicao organizada e explici- ta sobre o tema da sexualidade humana. Encontra- ‘mos, sim, varias passagens que se referem a sexuali- dade humana, em contextos diferentes da hist6ria do povo da Biblia. A sexualidade no Antigo Testamento O Antigo Testamento, que é um documento que relata aproximadamente mil anos da hist6ria do povo Pastorais 20 Biblioteca Vida e Missio Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade 2 judeu ¢ sua evolucio religiosa, engloba diversas teo- logias c atitudes com relacao A sexualidade. Os rela- tos ou histérias biblicas foram escritos com diversas intengdes € a sexualidade € tratada sob diferentes preceitos. Nos relatos da criaco (Gn 1.1 a 2.4a ¢ 2.4b a 25) encontramos, por exemplo, que a humanidade foi criada a imagem e semelhan¢a de Deus. No entanto, as duas narrativas apresentam diferentes posturas no que se refere ao relacionamento entre os seres hu- manos. No primeiro relato (Gn 1.1 a 2.4a), a idéia da pro- criagdo € do gerenciamento sobre todas as coisas cri- adas esta relacionada a experiéncia de autonomia e direito a vida. No segundo relato, a sexualidade hu- mana tira o homem da solidao (Gn 2.24) ¢ 0 coloca em contato com o seu semelhante, a mulher. E este gesto que faz da sexualidade um comportamento humano. O que une as duas narrativas € 0 fato de a sexualidade ser descrita como algo bom e desejado por Deus, pois homem e mulher existem devido ao ato criador de sua palavra (Gn 1.26-28; 2.7) Varios textos no Antigo Testamento referem-se a um perfodo onde as relagées humanas foram influ- enciadas pela forma de matriménio e de familia, onde © pai, como chefe da familia, transmitia a tradicao, 0 conhecimento ¢ os costumes. Era ele quem basica- mente determinava a descendéncia e providenciava © casamento dos filhos. Neste sistema, varios costumes conhecidos hoje como as legislacdes do Pentateuco (os cinco primei- ros livros da Biblia: Génesis, Exodo, Levitico, Ntime- ros, ¢ Deuteronémio) foram vivenciados: 0 homem, Iereja Metodiste era considerado como “proprietario” da mulher (Ex 21.3-22; Dt 24.4; 2 Sm 11.26) ea mulher como posse do homem (Gn 20.3; Dt 22.22); 0 homem, caso Ihe parecesse bem, podia revogar © voto feito por sua mulher (Nm 80.10-14). No livro de Deuteronémio, encontramos uma modificagao nos Dez Mandamen- tos (Dt5.21), onde a mulher deixa de ser € de fazer parte da lista dos bens do marido. A apropriacio do corpo da mulher é uma experi- éncia cultural que marcou nao s6 © povo judeu du- ante 0 proceso de redagio dos textos biblicos, como também ainda determina as relacdes humanas hoje. No entanto, encontramos na Biblia outros textos que retratam experiéncias da sexualidade humana sob outros aspectos que nao reforcam essa idéia do cor- po como objeto. No livro de Cantares de Salomao, colecao de poe- mas sensuais, o amor humano é descrito do inicio ao fim. A Igreja Crista teve muita dificuldade em convi- ver com esta Escritura e por esse motivo sua leitura foi reduzida apenas 4 uma interpretacio simbélica: 0 amor de Deus pela Igreja. Precisamos libertar as Es- crituras dos tabus ¢ dos preconceitos com relacio a sexualidade encontrada no livro de Cantares. E um livro de poemas erdticos e, por este motivo, talvez haja azo para tantas con:rovérsias ¢ interpretacdes aseu respeito. O livro de Cantares usa uma linguagem erética de grande beleza poética: descreve com arte 0 jogo do amor (Ct4.9-15; 5.2-8); evoca com naturalidade a re- lacdo sexual (Ct 2.4); nao fala da mulher como espo- sa ou mae, mas sim como enamorada que busca 0 seu amado até encontré-lo (Ct 3.1-4); descreve a be- Pastorais 2 Biblioteca Vide Missd0 leza do corpo da mulher em todas as suas minticias (Ct 4.1-7); chega a fazer uma descrigio da beleza do corpo do homem (Ct5.10-16); fala do amor humano nao como fonte de procriacao, mas como busca amo- rosa e de entrega miitua (Ct 2.16; 6.3). A sexualidade no Novo Testamento No Novo Testamento, nos relatos sobre a vida de Jesus, encontramos gestos € atitudes mais abertas para as relacdes humanas sob a orientagio do respeito carinho. O ensino dos Evangelhos nao proclama uma nova ética sexual, rompendo com a legislacio judai- ca, mas coloca o homem e a mulher em igualdade no relacionamento. Encontramos varias referéncias nas palavras de Jesus que dao prioridade as relagdes que se baseiam na protecao, Ao interpretar a lei do divércio, por exemplo, Jesus limita a autoridade do homem, prote- gendo a mulher contraa exploragao masculina econ tra a idéia de propriedade. Jesus a vé como compa- nheira do homem na vida matrimonial (Mc 10.2s). Outro bom exemplo € 0 ensino universal de “amar ao préximo como a ti mesmo” que implica, necessa- riamente, uma relagio de conhecimento e respeito mituo. Também encontramos no Novo Testamento, na Primeira Epistola de Paulo aos Corintios, uma expo- sicio sobre a sexualidade. Condicionado pela idéia da volta de Jesus a qualquer momento, 0 apéstolo coloca 0 celibato acima do casamento (1 Cor’7.7; 34; Igreja Metodisia Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade Py 38; 40). O tempo era curto (1 Cor 7.29) e ele queria ver os cristios de Corinto desimpedidos (1 Cor 7.82) Contudo, Paulo nio pregavaa abstinéncia sexual nem comungava com a idéia de que sexo era pecado (1 Cor 7.2¢ 3, 9). Em 1 Corintios 7.5, ele concorda com a abstinéncia sexual por um breve periodo, a fim de que 0 casal pudesse se dedicar 4 oracao. A Biblia, entretanto, nao estabelece regras quan- to a periodicidade, o tempo, a maneira ou as posi- des como as relacdes sexuais devem acontecer. Este é um expediente que 0 casal deve definir, procuran- do atender e satisfazer-se mutuamente. A Biblia tam- bém nao define limites nem estabelece regras para 0 exercicio da afetividade entre as pessoas. No entan- to, a busca de novos relacionamentos, por um senti- mento de fraternidade, deve ser uma experiéncia de todos seres humanos. O verdadeiro amor nao cons- trange, antes, promove relagées de respeito miituo. Pustorais Como a sexualidade se manifesta nos diferentes momentos da vida Infancia Desde o nascimento a crianga tem a capacidade de sentir prazer no contato pele a pele. Assim que nasce, a crianga é rotulada com uma determinada identidade sexual (menina ou menino) e Ihe é atribuido um papel que é considerado pré- prio desta identidade (ser como menina ou-como menino). Além da atribuigao de identidade ¢ de papel, sio importantes para 0 desenvolvimento da crianca as relacdes que cla mantém comas pessoas que cuidam dela, especialmente aquelas a quem se vincula afetivamente (as chamadas figuras de apego). Durante os primeiros anos de vida, 0 vinculo afetivo com o pai ea mae (ou quem os substitui) tem importancia fundamental na vida sexual e afetiva da crianga. E nesta relacao com as figuras de apego que elaaprendea tocar e ser tocada, a olhar e ser olhada, acomunicar e entender 0 que os outros dizem. E tam- bém com essas pessoas que a crianca adquire segu- ranca emocional bisica que permite a ela se abrir confiantemente a outras pessoas, acreditar nas suas, Pastorais 6 Biblioteca Vida e Missa possibilidades ¢ superar, se necessério, as decepcdes afetivas que possam ter ao longo da vida. Dos 2 aos 6 anos, é comum a curiosidade em rela- do aos 6rgaos genitais, as diferencas entre meninos ¢ meninas ¢ ao processo de reprodugao. Dai surgem tantas perguntas (que as vezes embaracam os adul- tos) ¢ também 0s jogos sexuais, o olhar, o tocar asi e ao outro. Firma-se a compreensao da identidade como menino ou menina. E importante que as criangas vejam as pessoas que Ihes servem de modelo (pais, professores € outros) vivenciarem sua propria sexualidade de uma forma natural ¢ alegre. No decorrer dos anos, sera possivel que as criancas ampliem e enriquecam a percep¢ao de si prprias , dos outros ¢ do mundo, mas é essa base que imprime marcas que se perpetuam ao lon- go da vida. A convivéncia com adultos que tenham uma sexualidade mais bem elaborada facilita o de- senvolvimento da crianga em todos os aspectos da vida. A partir dos 6 anos, no final do periodo pré-esco- lar, as criangas comecam a adaptar-se A moral sexual adulta e fazem os primeiros esforgos para controlar sua conduta. Aprendem a esconder seus interesses € comportamentos sexuais, especialmente em culturas como a nossa, que inibe e persegue as manifestacbes da sexualidade infantil. Do ponto de vista sexual, a sociedade, por inter- médio dos diferentes agentes da socializacio (fami- lia, professores, amigos, meios de comunicacio, lite- ratura infantil, praticas escolares, etc.), continuam atribuindo as criangas identidades e papéis determi- nados. Exercem um controle sexual da conduta, as Iareia Metodicia Carta pastoral do Colégio Episeopal sobre sexualidade 27 vezes discriminando as meninas. Durante este perio- do, a educacao sexual pode ser facilitadora ou nao para uma sexualidade saudavel , dependendo do seu contetido. As mudangas do corpo sio relativamente lentas até 0 inicio da puberdade, periodo em que ha gran- des modificacées fisicas devido ao aumento dos horménios sexuais. Na menina, comecam com o cres- cimento das mamas e no menino com o crescimento dos testiculos. Nesta fase, os meninos e as meninas adquirem a permanéncia da identidade sexual, reconhecendo que ela depende das caracteristicas biolégicas do pré- prio corpo, principalmente dos érgios genitais exter- nos. Comegam também a diferenciar os papéis que a sociedade atribui a homens ¢ mulheres. Sabem com maior preciso 0 que se espera deles ¢ tém a capaci- dade de compreender que muitas destas atribuices tém origem cultural e percebem o carater discriminat6rio de algumas delas. A maior parte das manifestagdes sexuais pré-ado- lescentes resulta da curiosidade quanto ao funciona- mento dos érgios sexuais e da tendéncia a imitar 0 que fazem os adultos. E também freqiientemente relacionada com a busca do prazer. A pratica mais freqiiente neste sentido é a masturbacio (manipula cdo dos 6rgaos sexuais pela propria pessoa a fim de experimentar a sensacio de prazer). Na nossa sociedade, o verdadeiro risco nao sio os, contatos sexuais entre meninos e meninas da mes- ma faixa , mas os praticados por pessoas com 5 ou 10 anos a mais, quase sempre adultos, que abusam se- xualmente de meninos ¢ meninas. Os abusos sexu- Pastorais 28 Biblioteca Vida e Missa Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexwalidade 20 ais na infancia sao, lamentavelmente, muito freqiien- tes © podem deixar marcas desfavordveis ao desen- yolvimento sadio sob todos os aspectos. E importante desmistificar a idéia de que a educa- cdo sexual estimula ou aumenta as condutas sexuais, pois nao ha provas disto. O que pode e deve aumen- tar éa liberdade para se perguntar, o respeito nas re- laces, a protegio frente a pessoas adultas que ten- tem abusar delas ea diminuicao da culpa ou do medo por causa de condutas que sio naturais para a idade. Adolescéncia Aadolescéncia é 0 periodo da vida humana caracte- rizado por intensas transformagoes no corpo e na men- te. Transformagées que implicam a compreensio do significado da perda do corpo infantil e da identidade infantil; a mudanga na relago com os pais da infancia, ca percepcao de si mesmo, do mundo ¢ dos objetos. A sexualidade nesse momento passa por uma fase de des- cobertas, de reacdes corporais antes desconhecidas. A presenca da menstruacao nas meninas e a pro- dugao de esperma nos meninos, desencadeia mudan- cas no estado de humor e exige um processo de adap- ‘tagdo a esse novo corpo adolescente. A identidade pessoal passa por transformagées, pois nao se é mais uma crianga, mas ainda nao se chegou a fase adulta. Oadolescente mistura muitas vezes atitudes infantis € exigéncias de maior liberdade. E marcante a pre- senga do grupo de amigos que, neste periodo, exerce 0 papel de identidade partilhada. O adolescente pen- sa 0 que o grupo pensa, o que o grupo faz, adotando os padrdes sexuais dele. Igreja Metodista Ascxualidade neste perfodo manifesta-se também na relacdo com o préprio corpo - auto-erotismo (masturbagéo) ou com outras pessoas (caricias, bei- jos, abragos, relacdes sexuais). A masturbacao na adolescéncia pode ter diversos significados e fung6es: obter prazer, descarregara ten- sao sexual, conhecer 0 proprio corpo. Ela pode cons- tituir uma conduta positiva no processo de desenvol- vimento sexual, desde que nao produza danos emo- cionais, muitas vezes causados pela proibicao, que leva 0s adolescentes ao conflito entre o que sentem e o que thes é proibido. Por isso o esclarecimento sobre © assunto é de suma importancia. Juventude Na juventude, a sexualidade ja tem possibilidade de ser vivenciada de forma mais integrada. A entrada na vida adulta permite que o jovem tenha respostas mais bem elaboradas As indagacées da adolescéncia, atitudes mais coerentes em relagio a si mesmo e ao outro, e, dessa forma, um maior controle sobre si mesmo. O corpo ja nao vivencia o turbilhdo da adoles- céncia, ja est mais adaptado as mudangas ocorri- das ¢ & uma imagem corporal mais harménica. Isto nao implica a auséncia de conflitos em relacéo a sexualidade. Muitos estéo na fase do namoro e pre- cisam também de um espaco onde possam conver- sar mais livremente sobre suas diividas. A modifi- cacao que ocorre neste momento é que o grupo de amigos jd nao exerce o poder que tinha na adoles- Pastorais 30 Biblioteca Vida ¢ Missdo Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade au Ojovem jé tema capacidade de discernir quais sio seus desejos, suas expectativas, e de tomar posicionamento proprio diante das questées relacio- nadas a sexualidade. Contribuem para essa forma- 40 a histéria pessoal de vida, o relacionamento pri- mario com os pais na infancia, as pessoas significati- vas presentes em sua trajetéria, o rol de principios éticos adquiridos na escola, igreja ou em outros gru- pos de convivéncia. Estas experiéncias proporciona- rao a estrutura sobre a qual 0 jovem construird seu posicionamento em relacio 4 sexualidade, 4 manei ra de perceberse, a identidade sexual, pasando a estabelecer relagées mais saudaveis e duradouras, Idade adulta Na idade adulta, a sexualidade se apresenta mais integrada A totalidade do ser, pois espera-se que 0 desenvolvimento fisico, psiquico ¢ emocional tenha atingido a maturidade. Com a elaboracao mais ade- quada da personalidade, desenvolve-se a capacidade de estabelecer intimidade com o outro de forma mais plena, o que acontece também na dimensio do ato sexual. Ha um aprofundamento no conhecimento de si mesmo ¢ do corpo, o que possibilita a responsa- bilidade com a vida sexual. A mancira como homens e mulheres adultos vivenciam asexualidade tem ligacao intima coma traje- toria de vida. O desenvolvimento adequado e integra- do da sexualidade nas fases anteriores enriquece o en- contro adulto permite a expresso dos sentimentos sem culpa. O encontro que ocorre no ato sexual abre horizontes para o conhecimento mituo, para a experi- ereja Metodisia éncia de satisfagio e prazer; € a intimidade suprema de dois seres no encontro mais rico e mais completo. Eimportante que a compreensio da sexualidade seja ampla e nao reduzida apenas ao ato sexual e reprodu- ‘do, embora se organize neste momento sob o domi nio da genitalidade. Desvincular o ato sexual da repro- ducio facilita aos adultos uma vivéncia mais plena de sua sexualidade, pois o encontro entre duas pessoas pode ocorrer sem que haja o desejo de se ter filhos ; Nesta fase, a sexualidade pode ser expressa em di ferentes niveis de intimidade: biolégica- ligada ao pra- zer € & procriacio; psicoldgica- como forma de comu- nicagio interpessoal e afetiva; sécio-cultural - como importante contribuicdo ao desenvolvimento da pes- soa e da afetividade; cognitivo- pensar e refletir, cuida- do consigo € com 0 outro. O exercicio da sexualida- de saudavel na idade adulta possibilita vivenciar de maneira mais plena essas quatro dimensées do rela- cionamento interpessoal. Terceira idade Falar da sexualidade na terceira idade significa perguntar: © que passa a ser o relacionamento de homens e mulheres consigo mesmos, com os outros com 0 mundo no momento que a vivéncia da sexu- alidade nio esta mais sob o dominio da genitalidade? Isto nao implica que 0 idoso nao tenha desejos ou esteja incapaz de ter uma vida sexual ativa. As pesso- as na faixa etaria apés os 60 anos, segundo pesquisas realizadas, dio & relacio sexual a mesma importan- cia que os jovens ¢ podem se apaixonar tao intensa- mente quanto eles. Ocorre uma adequacio da capa- Pastorais 12 Biblioteca Vida e Missaa cidade sexual devido 4s mudangas do corpo e tam- bém por causa da maneira como asociedade lida com a sexualidade do idoso - fator que interfere no jeito de ser e pensar do individuo, que passa a repetir o que se fala e se acredita no meio em que vive. importante lembrarmos que a funcao sexual esté intimamente ligada as fungdes fundamentais do ser humano ¢ deve acompanhar 0 individuo até a mor- te, a menos que ocorra algum problema especifico na satide fisica ou mental que provoque alteracao ou diminuigao das funcdes sexuais. Nao ha uma relacdo entre velhice e inibicao sexu- al. O que ocorre é uma adaptacio na capacidade se- xual, muitas vezes influenciada pelos tabus criados quanto a sexualidade do idoso. Ajimagem que a sociedade faz da velhice impede muitas vezes a expresso natural dos desejos, senti- mentos € reivindicacdes, que podem ser interpreta- dos como atitudes escandalosas . A depreciacao que asociedade mantém em relacao a sexualidade do ido- so 0 leva muitas vezes a um estado de retragao sexu- al, isto é, de repressao dos desejos ¢ sentimentos. Ao contrario do que comumente se fala ¢ se pen- sa, a vivencia plena da sexualidade na terceira idade traz intimeros beneficios, entre eles a satide mental, a medida que representa uma das formas de as pes- soas perceberem sua prépria identidade (quem sio) € 0 impacto que causam nas outras pessoas, 0 que fortalece a auto-estima. A compreensao de que a se- xualidade é um direito do idoso, de que ela esta inti- mamente ligada a sua auto-estima, é responsabilida- de de todos que estio direta ou indiretamente em contato com ele. Igreja Metodista Algumas pistas pastorais As reflexées desta pastoral apontam para possibi- lidades de uma sexualidade mais saudavel, entenden- do-a como uma maneira de ser no mundo, como parte integrada de nossa personalidade desde o nascimen- to até a morte. Ela deveria ser instrumento de reali- zacio, de gratificacao e proximidade, porém, muitas vezes tem se transformado em lugar de opressio, frus- tracdo e sofrimento. 1. Como espaco essencial de relacionamento huma- no, a sexualidade implica a reciprocidade, a capaci- dade de as pessoas abrirem-se para 0 outro em igual dade - estes sdo principios éticos cristaos. Por entendermos que a sexualidade faz parte inte- gral da existéncia humana do nascimento até a mor- te, chamamos a atencdo para a responsabilidade das pessoas adultas que esto direta ou indiretamente se relacionando com criangas, adolescentes ¢ jovens. Isto implica também a maternidade e a paternidade responsaveis, pois os pais irdo transmitir aos filhos 0 sentido da sexualidade que eles mesmos possuem. A atitude que os pais tém para com os filhos no falar € no agir € 0 referencial que crianga tera para formar a percepgao de si mesma, do outro e do mundo. A coeréncia entre a fala, a atitude e a capacidade de dar afeto © amor a crianca sio fundamentais nos primeiros anos de vida. No crescimento é que se vai Pastorais: M Biblioteca Vida ¢ Missito Be ampliando a rede de relacionamento humano que possibilita novas aquisicdes ¢ aprendizagens a crian- ca. E importante que estejamos conscientes de que nossas atitudes podem ser educativas. Porém, para isto ocorrer, é preciso que também os adultos este- jam constantemente se educando para a vida . Isto possibilita a base para uma moral sexual fundamen- tada no conhecimento, no respeito miituo, na res- ponsabilidade ena liberdade. 2, Para que os pais, educadores e profissionais de sati- de possam facilitar 0 proceso de amadurecimento do comportamento sexual do jovem, é importante, em primeiro lugar, que eles avalicm ¢ reestruturem suas préprias atitudes quanto a sexualidade. E preci- so buscar conhecimento do fator sexual humano no plano biolégico, psiquico ¢ social, em substituigio & concepcdes erroneas, baseadas ‘em preconceitos € crencas infundadas. Em segundo lugar, deve-se criar condicées favoraveis para que 0 jovem possa expres- sar seus desejos, seus medos, suas diividas e refletir sobre seu comportamento. Na relacio que se estabelece desde cedo no espa- co das igrejas, das escolas dominicais, das escolas biblicas de férias, e em outros momentos, os adultos podem ser referenciais saudaveis para que criancas ¢ jovens estabelecam de forma mais adequada sua se- xualidade. 3. Ecomum em nossa sociedade a negacao da sexua- lidade infantil, o que propicia oportunidades para que adultos, no uso de sua autoridade, muitas vezes abu- sem sexualmente das criancas ¢ adolescentes. Um Igreja Metodista Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade is trabalho na area da sexualidade deve contemplar a prevenco do abuso. Isso deve ser feito a partir de conversas francas sobre 0 cuidado que eles devem ter com 0 proprio corpo. Também é preciso que eles se- jam estimulados a denunciar qualquer situagio que ‘0s obriguem a realizar praticas com conotacao sexu- al (passar a mao, falar palavras com contetidos eréti cos, ser tocado ou solicitado a tocar, etc.), especial- mente se essa intimidacio partir de algum adulto Deve-se considerar que esses fatos podem se dar na propria familia ou em ambientes aparentemente confidveis. 4. Na adolescéncia, a curiosidade de vivenciar novas experiéncias, aliada ao pensamento magico de que nao haverd conseqiiéncias, leva a dificuldades no tra- balho de conscientizacao quanto aos riscos da gravi- deze da contracao da AIDS, Para o adolescente, isto pode acontecer com qualquer um menos com ele. Neste perfodo da vida, a igreja pode colocar-se como espaco saudavel, onde os adolescentes € os jo- vens possam exprimir seus sentimentos, falar sobre suas dtividas e medos, promovendo encontros onde se discutam temas ligados 4 sexualidade humana. Se ndo oferecermos em nossas comunidades esse lugar, certamente eles o encontrarao fora da igreja, sendo que 0 que é transmitido nesses espacos nem sempre esté em acordo com os principios ético-cris- tos de responsabilidade em relacao ao proprio cor- po, de compromisso, e de capacidade de amar ¢ cui- dar. O que temos visto é a exigéncia de uma “ativida- de sexual” descomprometida e fragmentada, onde a figura do adolescente ¢ sua sexualidade sio veicula- Pastorais 16 Biblioteca Vida e Missa —___wsnnin « Missto das com um forte apelo a atividade sexual precoce do tipo “sabe mais quem comeca mais cedo”. E importante transmitirmos para os adolescentes € jovens que 0 aprofundamento da intimidade que vem junto com o relacionamento sexual exige a ca- pacidade de comprometerse com 0 outro. Muitas vezes um adolescente ainda nao esté pronto para as- sumir isso, pois a maturidade sexual necessaria para compromissos dessa natureza devera acontecer na entrada para a vida adulta 5, Para que os casais preservem a harmonia da sua rela- ‘40 conjugal, € preciso manter seu proprio espaco, sua Privacidade, cultivando a intimidade, o “namoro”, a es- pontaneidade na relacao sexual. Isso evita que, com 0 passar dosanos de convivéncia, amesmice ea habituacio destruam a relagio e causem o desinteresse que pode levar 4 monotonia ou a separacio. 6. A igreja, como comunidade terapéutica, ou seja, como comunidade que estd pronta para ajudar a quem necessita tratar problemas emocionais ou exis- tenciais, deve abrir espaco para o trabalho educativo € preventivo no que se refere a sexualidade. A igreja deve ser estimulada a organizacdo de um ministério local para o trabalho com casais e com a familia. Este ministério deve ocupar os espacos jd existentes, como por exemplo a Escola Dominical, e formar uma clas- Se para casais, caso seja necessrio. Outra atividade que pode ser estimulada sio os “encontros com ca- sais". Nessas oportunidades, além do lazer, os envol- vidos podem refletir sobre temas que fazem parte do seu cotidiano, Igreja Metodista Bibliografia BRENNER, Charles. Trad. Ana Mazur Spira. Nogées basicas de psicandilise. SAo Paulo: Imago, 1987. CHODOROY, Nancy. Trad. Nathanael C. Caixeiro. Psicandlise da Maternidade : Uma critica a Preud a partir da muther. Rio de Janeiro: Rosa dos Tem- pos, 1990. COSTA, Moacir, Sexualidade na Adolescéncia, dilemas ¢ corescimento. Porto Alegre: L& PM Editores, 1986. DESSER, Nanete Avila. Adolescéncia, sexualidade e cul- pa. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos & EDUNB, 1998. FOUCAULT, Michel. Trad. Maria Thereza da C. Alburquerque ¢ J. 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