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ós temos a tendência de pensar na formação da Bíblia como um


produto que já veio acabado de fábrica. Entretanto, Deus não jogou a
Bíblia pronta lá do céu, pois os escritores sagrados viveram num
contexto cultural e foram também influenciados por Ele. A Bíblia, tem um
conteúdo fantástico e sobrenatural composto de 66 livros, 1.189 capítulos,
31.173 versículos e mais de 700 mil palavras, foi escrita por tipos distintos de
pessoas, culturas, modo de viver e personalidades sem que essas
características fossem desprezadas. Porém todos sendo direcionados que
escrevessem o que Deus queria transmitir ao mundo. (Êxodo 17.14;
24.4/Isaias 30.8/Jeremias 30.2; 36.1-2/Apocalipse 1.9-11).

A autoria da Bíblia já deu muita discussão entre os especialistas. Até a Idade


Média, o consenso geral era de que Moisés havia escrito, por exemplo o
Pentateuco. Mas um judeu de nome Spinoza, junto com outros críticos judeus,
começou a analisar o texto bíblico do Antigo Testamento no original, em língua
hebraica, e contestaram a autoria mosaica. No meio de todo esse reboliço, surge
o livro “As Memórias das quais Moisés se serviu para escrever o Pentateuco’’,
no qual o autor assume a posição de que Moisés usou várias fontes para
escrever o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia.

Segundo esse livro, em todo o Pentateuco, o nome de Deus aparece escrito de


formas diferentes, ora aparece com “Elohim’’ e ora com “Javé’’. Se você tem uma
Bíblia perto de você, perceba, por exemplo, que em Gênesis 1, toda vez que o
texto se refere a Deus ele usa a palavra “Deus’’ (hebraico: Elohim). Isso não
acontece no capítulo 2 de Gênesis, quando Deus é chamado de “Senhor’’
(hebraico: Javé). Outra coisa observada por esse estudioso foi a questão literária
e redacional desse conjunto de livros. De todas essas observações surgiu a
segunda teoria de autoria do Pentateuco, a “Teoria das Fontes’’.

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Permanecendo em vigor por 100 anos, a “Teoria das Fontes’’ defendia que o
Pentateuco teria sido escrito por quatro escritores diferentes que viveram em
épocas diferentes. Como ninguém sabe quais foram os nomes exatos desses
quatro autores, convencionou-se chamá-los de “Javistas’’ (porque escreveram
textos onde o nome de Deus aparece como Javé). “Eloístas’’ (porque
escreveram textos onde o nome de Deus aparece como Elohim), “Sacerdotais’’
(que foram textos escritos por sacerdotes) e “Deuteronomistas’’ (autores do livro
de Deuteronômio).

Diante dessa teoria, muitos estudos foram feitos. Mas, em 1977, os estudiosos,
já exaustos de tanta discussão e não-concordância provocadas pela falta de
consenso sobre a datação das fontes do Pentateuco, dos seus autores e dos
seus contextos vitais, elaboram a “Teoria Histórico-Social’’, que passou a dar
ênfase à reconstrução da sociedade. Ou seja, ao invés de apenas querer data o
texto pelos indicativos textuais - como o nome de Deus - ela passa a dar maiores
ênfase ao lado histórico (cenário, cultura).

Hoje, no século XXI, começa-se a pensar um pouco mais diferente. Pensa-se,


por exemplo, que o Pentateuco é um livro religioso que utiliza vários gêneros
literários (obras histórica, teológicas e jurídicas de Israel) para contar sua
história.

Apesar de todos esses estudos e discussões, a autoria Mosaica não foi


abandonada totalmente. Ela não foi descartada de todo. Frederic Clarke Putnam,
professor de Antigo Testamento do Seminário Bíblico Teológico Hatfield, na
Pensilvânia, num artigo publicado em uma das mais importantes revistas de
Arqueologia Bíblica da atualidade, disse que Moisés possivelmente escreveu
partes do Pentateuco e o Salmo 90. Uma das partes do Pentateuco apontada
como Mosaica é Deuteronômio 31.9, que diz: “Moisés escreveu esta lei, e a
entregou aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca do pacto do Senhor,
e a todos os anciãos de Israel.

INSPIRAÇÃO

A revelação de Deus foi captada nos textos das Escrituras por meio da
“inspiração”. “Toda a Escritura é inspirada por Deus [...]” (2Tm 3:16) faz a
afirmação. Pedro explica o processo: “[...] saibam que nenhuma profecia da

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Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na
vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, conduzidos pelo
Espírito Santo” (2Pe 1:20-21). Assim, a Palavra de Deus foi protegida do erro
humano em seu registro original pela ação do Espírito Santo (cf. Dt 18:18; Mt
1:22). Um trecho de Zacarias 7:12 descreve isso com mais clareza: “[...] a Lei e
as palavras que o SENHOR dos Exércitos tinha falado, pelo seu Espírito, por
meio dos antigos profetas”. Essa ação do Espírito Santo se estendeu tanto às
palavras como ao todo nos escritos originais

TEORIAS SOBRE A INSPIRAÇÃO

Todos que reivindicam o nome de “cristãos” concordariam em que as Escrituras


são inspiradas. Entretanto, uma ampla variedade de significados tem sido
vinculada ao adjetivo “inspiradas”.

Teoria de intuição. Afirma que a inspiração é simplesmente um discernimento


superior das verdades moral e religiosa por parte do homem natural. Assim como
tem havido artistas, músicos e poetas excepcionais, que produziram obras de
arte que nunca foram superadas, também em relação às Escrituras houve
homens excepcionais com visão espiritual que, por causa de seus dons naturais,
foram capazes de escrever as Escrituras. Esta é a noção mais baixa de
inspiração, pois enfatiza a autoria humana a ponto de excluir a autoria divina.

Teoria de iluminação. Afirma que inspiração é simplesmente uma intensificação


e elevação das percepções religiosas do crente. Cada crente tem sua iluminação
até certo ponto, mas alguns têm mais do que outros. Se esta teoria fosse
verdadeira, qualquer cristão em qualquer tempo, através da energia divina
especial, poderia escrever as Escrituras.

Teoria dinâmica. Esse ponto de vista afirma que Deus deu impressões ou
conceitos definidos e específicos aos autores bíblicos, mas permitiu que os
autores comunicassem esses conceitos em suas próprias palavras. Ou seja, a
fraseologia exata da Escritura se deve à escolha humana, enquanto o principal
sentido do conteúdo é determinado por Deus.

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Teoria de ditado. Esse ponto de vista afirma que Deus ditou as palavras exatas
aos autores humanos. Os autores da Escritura não exerceram nenhuma vontade
humana na composição de seus escritos.

Teoria de inspiração verbal e plenária. É o poder do Espírito Santo agindo


sobre os escritores das Sagradas Escrituras, para orientá-los (conduzi-los) na
transcrição do registro bíblico. “Deus os usou tal qual, com seu caráter e
temperamento, seus dons e talentos, sua educação e cultura, seu vocabulário e
estilo; iluminou suas mentes, os impulsionou a escrever, excluindo a influência
do pecado sobre suas atividades literárias”, preservando, desse modo, a
inerrância das Escrituras e dando a ela autoridade divina.

ESCRITORES DA BÍBLIA DO ANTIGO TESTAMENTO

Moisés: foi o autor dos cinco primeiros livros da bíblia. São eles: Gênesis,
Êxodo, Números, Levítico e Deuteronômio. Também inclui o Salmo 90 como
autoria de Moisés.

Josué: Uma parte da autoria do livro é atribuída a Josué e a outra a Finéias ou


a Eleazar.

Davi: homem segundo o coração de Deus. Davi escreveu a maioria dos livros
de Salmos.

Salomão: filho do rei Davi. Escreveu os livros de provérbios, Eclesiastes e


cânticos dos cânticos. Também lhe é atribuído a autoria do Salmo 72 e 127.

Profetas: autoria dos livros proféticos que representam respectivamente seus


próprios nomes no título do livro. São eles os profetas: Isaías, Jeremias,
Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Habacuque,
Ageu, Sofonias, Zacarias e Malaquias.

Jeremias: Além dos livros de Jeremias e Lamentações. Também os livros de 1


Reis e 2 Reis afirma-se que foram escritos pelos profetas Jeremias.

Samuel: Tradições judaicas sugerem que o profeta Samuel escreveu os livros


de Juízes, Rute, 1 Samuel e 2 Samuel.

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Neemias: Escreveu o livro que leva seu nome, Neemias*.

Esdras: foi um respeitado escriba da comunidade judaica. E com certeza


trabalhou ativamente nos textos que fazem parte do Cânon bíblico. As Tradições
judaicas possuem evidencias que Esdras escreveu os livros de Esdras,
Neemias*, 1 Crônicas e 2 Crônicas.

Filhos de Corá, Etã, Asafe e seus descendentes foram autores de vários livros
de Salmos.

Autores desconhecidos: Muitos livros tem a identidade de seus autores


desconhecidos e os atores que são citados são autores prováveis de serem
autores dos respectivos livros e eles atribuídos. Livro de Jó alguns atribuem a
Moisés, outros ao próprio Jó ou Salomão.

ESCRITORES DA BÍBLIA DO NOVO TESTAMENTO

Mateus: foi confirmado que o apostolo Mateus foi o autor do primeiro evangélico
do novo testamento.

João Marcos: foi o autor do segundo evangelho que leva o respectivo nome.

Lucas: O médico amado, assim chamado pelo apóstolo Paulo. Lucas escreveu
o terceiro evangelho que leva seu respectivo nome. E também escreveu o livro
de Atos dos apóstolos que é uma sequência natural do evangelho de Lucas.

João: Escreveu o quarto evangelho que leva seu respectivo nome. Além desse,
também escreveu as três epístolas de 1 João, 2 João, 3 João e o último livro da
bíblia chamado de Apocalipse**.

Paulo: Chamado de Saulo de Tarso. Ele escreveu a maioria dos livros do novo
testamento, sendo ao todo 13 epístolas. São eles: Romanos, 1 e 2 Coríntios,
Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo,
Tito, Filemom.

Pedro: O apóstolo Pedro escreveu duas epístolas que levam seu nome, 1 e 2
Pedro.

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Tiago: Também chamado de irmão de Jesus Cristo. É atribuída a autoria de
Tiago o livro que leva seu respectivo nome.

Judas: Possivelmente era irmão de Jesus. A Judas foi atribuída a autoria do


penúltimo livro que leva seu respectivo nome.

Autor desconhecido: O livro de Hebreus não se sabe ao certo que foi o seu
verdadeiro autor.

NOTA
* De fato, desde muito cedo os livros de Esdras e Neemias têm sido considerados como sendo
um único livro. Dessa forma, parte da tradição judaico-cristã acredita que quem escreveu o livro
de Neemias — ou parte dele — realmente foi o mesmo autor do livro de Esdras. É dessa forma,
por exemplo, que o Talmude atribui a Esdras a autoria principal do livro de Neemias; tendo
também o próprio Neemias como alguém que completou os registros.

** O debate sobre a autoria do livro do livro do Apocalipse vem desde muito cedo. Já no século
3 d.C., por exemplo, Dionísio de Alexandria defendeu que o escritor do Apocalipse é outro João
e não o discípulo de Jesus. O importante historiador Eusébio também adotou a mesma
interpretação. Por outro lado, quem defende que o autor do livro do Apocalipse realmente foi
João, o apóstolo de Jesus.

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a época antiga, quando a Bíblia estava sendo escrita, ainda não havia
o papel que hoje conhecemos. Então para escrever os manuscritos
originais - também chamados de “autógrafos’’ – que compõem a Bíblia,
os autores – também chamados de hagiógrafos – utilizaram os materiais
disponíveis da época.

O primeiro material utilizado foi a


pedra. Aliás, muitas inscrições
famosas encontradas no Egito e
Babilônia foram escritas em pedra.
Você deve conhecer ou até mesmo já
deve ter visto uma foto das pirâmides
egípcias onde foram gravados vários
sinais (os famosos hieróglifos), que
funcionavam como letras. Na Bíblia
está registrado que Deus deu a Moisés
os Dez Mandamentos escritos em
tábuas de pedra (Êxodo 31.18/34.1;28). Dois outros exemplos famosos de
inscrição de Siloé, encontrada no túnel de Ezequias, junto ao tanque de Siloé
(700 a.C).

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Outro material muito usado foi a
argila. Ela era o material de
escrita mais comum na Assíria e
Babilônia.

Para escrever sobre a argila, os


escritores preparavam pequenos
tabletes e imprensavam nele
símbolos em forma de cunha
(escrita cuneiforme). Depois, os
tabletes de argila eram assados
em um forno ou secos ao sol. No
século XIX, milhares desses
tabletes foram encontrados pelos arqueólogos e revelaram um mundo
fascinante, que inclusive nos ajuda a compreender muito a cultura e religião dos
povos que viviam próximos a Israel.

A tábua de madeira foi outro material bastante usado pelos escribas. Durante
muitos séculos a medira foi a superfície comum para escrever entre os gregos.
Alguns acreditam que esse tipo de material é mencionado em Isaías 30.8 e
Habacuque 2.2.

O óstraco (ou óstraca), que


significa em grego concha ou
fragmento de vaso de barro, foi um
material de escrita amplamente
utilizado pela população do mundo
antigo (XVI a XI a.C.).
Arqueólogos encontraram imensa
quantidade desse material em
sítios arqueológicos na Palestina,
Egito, Mesopotâmia e outras
partes do antigo Oriente Médio.

Esse material, que equivale na atualidade, aos modernos blocos de anotações


e aos papéis utilizados para os registros contábeis, cartas, recibos, contratos,

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processos judiciais, e entre os gregos, como “cédula” de votação para cargos
públicos e outras decisões.

O papiro também foi usado para a escrita da Bíblia. O Novo Testamento, por
exemplo, teve muitos livros escritos sobre o papiro, o material de escrita mais
importante na época.

O papiro é feito cortando-se em


tiras pedaços delgados de cana
de papiro, empapando-as em
vários banhos de água, e depois
sobrepondo-as umas às outras
para formar folhas. Uma
camada de tiras era colocada
por sobre a primeira, e depois as
punham numa prensa a fim de aderirem umas às outras. As folhas tinham de 15
a 38 cm de altura e de 8 a 23 cm de largura.

Por último, utilizou-se o pergaminho. O pergaminho, surgiu pela primeira vez


em Pérgamo, cidade grega da Mísia, daí a origem do seu nome. O uso desse
material se expandiu devido ao
monopólio imposto pelos
exportadores de papiro que começou
a predominar mediante os esforços
do rei Eumenes II, de Pérgamo (197-
158 a.C.). Este rei queria formar uma
biblioteca, e como o rei do Egito
cortou o seu suprimento de papiro,
ele foi obrigado a desenvolver um novo material para a escrita. E assim surgiu o
velino ou pergaminho. Na realidade, o velino era preparado com a pele de
bezerros e antílopes; e o pergaminho, com pele de ovelhas e cabras.

Esses materiais fizeram realmente uma revolução na escrita, pois passou-se a


escrever de ambos os lados, como fazemos hoje com o nosso papel. O
pergaminho foi utilizado centenas de anos antes de Cristo e por volta do século
IV depois de Cristo suplantou o papiro.

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