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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – UFPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA


PPGEE0067 - EFICIENCIA ENERGETICA

RICHARDSON SALOMÃO DE ARAÚJO

1º SEMINÁRIO COM O TEMA:


EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA ILUMINAÇÃO PÚBLICA

BELÉM
2019
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I – INTRODUÇÃO

A Iluminação Pública está entre os mecanismos que melhoram a qualidade de vida


de uma população, de forma direta, permitindo o desenvolvimento econômico das cidades,
seu turismo, gerando conforto e segurança para a população. É um serviço público de
interesse local, sendo responsabilidade de o município gerir este serviço ou delega-lo a
terceiros.
Com o advento das crises energéticas (petróleo, apagões, etc) o setor energético
passou dar projeção e destaque para a eficiência energética levando em consideração que
é mais caro e custa mais tempo criar novas fontes de energia do que melhorar o consumo
combatendo desperdícios e desenvolvendo equipamentos mais eficientes, tudo em função
da sustentabilidade. Portanto, a eficiência energética se caracteriza como uma atividade
técnico-econômica que busca proporcionar um melhor consumo de energia e água, de
forma racional, resultando em redução de custos e minimizando contingenciamentos no
suprimento destes insumos.
Segundo a ELETROBRAS, a Iluminação Pública corresponde a aproximadamente
4,5% da demanda nacional e a 3%do consumo total de energia elétrica do país, o
equivalente a uma demanda de 2,2 GW e a um consumo de 9,7 bilhões de kWh/ano.

II – CONCEITO

Segundo o anuário estatístico de energia elétrica, elaborado pela Empresa de


Pesquisa Energética (EPE), a Iluminação Pública (IP) é o sistema de iluminação artificial
noturna das cidades e centros urbanos, e “caracteriza-se pelo fornecimento para iluminação
de ruas, praças, avenidas, túneis, passagens subterrâneas, jardins, vias, estradas,
passarelas, abrigos de usuários de transportes coletivos, logradouros de uso comum e livre
acesso, inclusive a iluminação de monumentos, fachadas, fontes luminosas e obras de arte
de valor histórico, cultural ou ambiental, localizadas em áreas públicas e definidas por meio
de legislação específica, exceto o fornecimento de energia elétrica que tenha por objetivo
qualquer forma de propaganda ou publicidade, ou para realização de atividades que visem a
interesses econômicos”.
A eficiência energética na IP consiste em iluminar adequadamente e criteriosamente,
buscando diminuir o consumo de energia sem afetar a qualidade, cada logradouro público
de acordo com sua especificidade de ocupação, trânsito e importância, que atenda às
normas técnicas vigentes e dê sensação de segurança e conforto aos usuários e
condutores.
Segundo a resolução normativa n.º 414/2010 da ANEEL, e suas alterações, a
Iluminação Pública está classificada no subgrupo tarifário B4 (B4a e B4b), o qual é mantido
pelos consumidores. A concessionária não é obrigada a instalar medidor, exceto, se a IP
estiver instalada em circuito exclusivo.
Para se planejar medidas que implementam a eficiência energética na IP, é preciso
levar em consideração a estrutura e componentes que fazem parte deste sistema, sob a luz
da norma vigente, a ABNT NBR 5101.

III – NORMA ABNT NBR 5101

É a norma brasileira para determinar os parâmetros mínimos a serem considerados


em um projeto de iluminação pública e na sua verificação em campo após a sua instalação.
Ela trás determinadas características técnicas para a instalação da IP, entre as quais: Altura
de montagem, posicionamento e ângulo das luminárias nas vias públicas; Classificação de
vias; Distribuições Luminotécnicas e Controle de Luz; Iluminância e Uniformidade;
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Luminância e Uniformidade; Poluição luminosa; Iluminação para Pedestres; e Critérios de


Avaliação.
A altura da montagem, levando em consideração que para a luminotécnica de IP, o
plano de trabalho é o piso da via, é a distância vertical entre a superfície da via (ou passeio
público) e o centro aparente da luminária. Muitas vezes essa altura fica atrelada ao
posteamento que já está na via, ficando a cargo apenas dos braços de sustentação para
determinar esta altura.
As vias devem ser previamente classificadas e estabelecidas os requisitos mínimos
de iluminação para cada tipo de via, dessa forma, entendendo o tipo de ocupação de cada
via, são possíveis projetar corretamente a IP. As vias são divididas em Vias Urbanas
(trânsito rápido, arterial, coletora e local), e Vias Rurais (rodovias e estradas). Essa
classificação, que já era adotada pelo código de trânsito brasileiro, também difere as
velocidades máximas para cada tipo de veículo em cada tipo de via.
Os critérios para as distribuições luminotécnica e controle de luz buscam obter a
uniformidade apropriada e o alcance dos níveis necessários de luz a fim de evitar a poluição
luminosa e menor ofuscamento possível. A luminária pública é projetada de modo a gerar o
resultado esperado de iluminância e luminância no pavimento da rua, calçada e demais
áreas das vias públicas.
A iluminância é o fluxo luminoso que incide em determinada área e é expressa em
lux, ou seja, é o fluxo luminoso por área em metros quadrados. Os níveis de iluminação para
a parte da via onde circulam os veículos são definidas nas classes de V1 a V5, e na calçada
onde circulam os pedestres, de P1 a P4.
A luminância é a luz refletida a partir de uma determinada área, ou seja, é a
intensidade luminosa por unidade de área, medida em candelas por metro quadrado.
A Poluição Luminosa é qualquer efeito adverso causado ao meio ambiente e aos
seres humanos pela luz artificial excessiva ou mal direcionada, ou seja, caracteriza um
desperdício de energia. É provocada por luminárias inadequadas, luz jogada ao hemisfério
superior, ou aumento de potência ou quantidade de lâmpadas onde não se necessita a
quantidade de luz.
Iluminação para pedestres se caracteriza de um projeto de IP voltado para calçadas,
calçadões, áreas de ocupação com predominância de pedestres e faixas de pedestres para
travessia de vias. Tem a função de criar ambiente de convivência e circulação de pessoas
com identificação facial e reconhecimento de pessoas. A norma trás tabelas para
classificação do volume de tráfego de pedestres em via pública: Sem (S), Leve (L), Médio
(M) e Intenso (I); e classes de iluminação para cada tipo de via, de P1 (uso noturno intenso)
à P4 (pouco uso).
Como critérios de avaliação, além da avaliação de curvas fotométricas, diagramas,
tabelas e demais informações, trás formas de avaliar com medições e uso de softwares de
calculo luminotécnico com informações coletadas em campo e utilizando uma malha de
medições.

IV – PROJETOS DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA

Para os novos projetos de IP que já se utilizam dos conceitos e métodos de


eficiência energética, enfrentam a desatualização técnica dos sistemas já implantados há
anos além de erros cometidos na concepção de projetos antigos que não se preocupavam
com a questão ambiental e racional, se utilizavam de técnicas inadequadas, equipamentos
não eficientes que muitas das vezes não levavam em conta as normas técnicas. Por isso, o
novo projeto de IP deve ser cuidadosamente planejado e dimensionado para que precise ser
feito apenas uma vez e da melhor maneira possível.
É necessário cada vez mais considerar a economia dos recursos e insumos
utilizando materiais mais eficientes e duráveis ao longo do tempo de sua utilização.
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Além das normas vigentes, as concessionárias e prefeituras buscam estabelecer


manuais de padronização para projetos de IP, nestes manuais são definidos os critérios de
projeto e condições específicas considerando características regionais.
O primeiro passo para a elaboração de um projeto de IP com eficiência energética é
a adequada classificação do tipo de via. De acordo com o tipo de via, é adotada a
configuração mais adequada de disposição dos postes (quando possível, pois na maioria
dos casos eles já existem). Após classificada a via, deve se enquadrar no melhor arranjo de
topologia de iluminação viária:

Unilateral: é o mais comumente utilizado, atendendo geralmente a vias coletoras e


locais, com largura máxima da pista de rolamento igual ou menor que 9m, com tráfego
motorizado leve ou médio. Quando pode-se colocar postes próprios, a altura das luminárias
deve ser menor ou igual a largura da via e braços com ângulo de saída menor que 10°.

Figura 01 – Posicionamento unilateral de luminárias

Bilateral Alternada: é utilizado geralmente em vias com tráfego motorizado intenso


e largura de pista de rolamento de até 16m, ou quando a largura da pista ficar entre 1x a
1,6x a altura das luminárias.

Figura 02 – Posicionamento bilateral alternada de luminárias

Bilateral Frente-a-Frente: Ou oposto, para vias com tráfego motorizado intenso e


largura de pista de rolamento de até 18m, ou quando a largura da pista for maior ou igual a
1,6x a altura das luminárias. Muito usado em viadutos e pistas rápidas.

Figura 03 – Posicionamento bilateral oposto de luminárias


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Canteiro central – poste único: com duas luminárias instaladas em um único apoio,
é normalmente usado em vias com canteiro central estreito, ou quando a largura da pista for
maior ou igual a 1,6x a altura das luminárias e o canteiro central for menor igual a 6m de
largura.

Figura 04 – Posicionamento canteiro central – poste único

Canteiro central – postes distribuídos: é empregado quando a largura da pista for


superior a 1,6x a altura das luminárias e a largura do canteiro for maior que 6m.

Figura 05 – Posicionamento canteiro central com postes distribuídos

Após a etapa de disposição das luminárias, a medida seguinte é a utilização de


critérios de luminância, onde deverão ser avaliados os índices de luminância média e
uniformidade de luminância. Em ultimo passo, é a escolha dos equipamentos que comporão
a estrutura da IP: Lâmpadas, Reatores, Luminárias, Relés Fotoelétricos, Braços de
sustentação e Conexões.
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V – COMPONENTES

Diferentemente do que se fala em eficiência energética em IP, onde apenas a troca


de lâmpadas já configura um projeto eficiente, é preciso salientar que não apenas a
substituição de lâmpadas, o que já acarreta em economia de energia, mas também a troca
dos demais equipamentos, pois podem estar fora de normas ou apresentar defeitos que
gerem gastos a curto e médio prazo. Portanto, a troca de todos os componentes trás
maiores benefícios aumentando a eficiência e confiabilidade do sistema.
Lâmpadas: A escolha das lâmpadas não é simples, pois deve-se levar em
consideração quesitos como vida útil, fluxo luminoso, eficiência luminosa, temperatura de
cor, e custo de aquisição (custo-benefício). Há de se comparar esses fatores entre os
principais modelos que se destacam na eficiência, entre elas a Vapor de Sódio, Vapor
Metálico e LED.
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Reatores: A substituição do reator é a oportunidade de melhorar ainda mais a


eficiência com um equipamento de perdas elétricas reduzidas e alto fator de potência. A
durabilidade é a principal característica dos novos reatores mais eficientes diminuindo
índices de manutenção.
Luminárias: Podendo ter um ganho entre 25% a 35% somente pelo aumento do
rendimento, a troca de luminárias ineficientes e modelos obsoletos, melhora a qualidade de
iluminação através de uma distribuição fotométrica adequada.
Relés Fotoelétricos: Os relés de tecnologia antiga, quando desgastados, costumam
a manter a lâmpada acesa por mais tempo que quando novos. Para uma melhor eficiência,
na falha do relé, tende a manter a lâmpada apagada, evitando desperdícios de energia.
Braços de sustentação: Esta troca é a oportunidade de corrigir distorções ocorridas
anteriormente na instalação de equipamentos antigos com braços inadequados para os
tipos de vias.
Conexões: Grande motivo de falhas nas instalações de IP, as conexões devem ser
substituídas ou revisadas a fim de gerar uma economia significativa devido à redução da
quantidade de manutenções.

VI – AVALIAÇÃO DE CONFORMIDADE

A avaliação de conformidade consiste em um processo sistematizado, fomentado em


regras pré-estabelecidas, devidamente acompanhado e avaliado, com o objetivo de
proporcionar um adequado grau de confiança de que um serviço, produto ou processo,
atende a requisitos descritos em normas ou regulamentos.
Como objetivo da avaliação de conformidade, é o atendimento às preocupações
sociais, estabelecendo a confiança entre o consumidor e um serviço/produto. As formas de
avaliação de conformidade são: Certificação de produtos, Etiquetagem, Declaração do
fornecedor, Inspeção e Ensaio.
Para a IP ainda há poucos produtos certificados, porém, alguns produtos já estão em
processo de etiquetagem voluntária, e posteriormente, deverão passar a ser compulsórias.
As principais justificativas para a implantação de programa de avaliação da
conformidade são:
- Propiciar a concorrência justa;
- Estimular a melhoria contínua;
- Informar e proteger o consumidor;
- Facilitar o comércio exterior;
- Proteção do mercado interno;
- Agregar valor;
No tocante a etiquetagem, com os devidos ensaios, são conhecidos os parâmetros
técnicos referentes ao produto, principalmente ao seu desempenho e eficiência. Os
resultados referentes ao consumo e eficiência energética dos produtos chegam até o
consumidor por uma etiqueta, a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia.
Atualmente, apenas as lâmpadas vapor de sódio e os reatores para estas lâmpadas
fazem parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), sob etiquetagem voluntária.

VII – CONCLUSÃO

Nessa pesquisa observou-se que a eficiência energética em nível de iluminação


pública está em pleno crescimento. Embora esse setor é de responsabilidade de ente
público ou por ele delegado, isso não impede que a sociedade civil cobre e acompanhe uma
melhor gestão com transparência na aplicação desses recursos bancados pelo próprio
cidadão.
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Verificou-se que a busca de eficiência energética para a IP não se trata somente de


troca de lâmpadas, ela pode ir além e alcançar índices de eficiência ainda maiores com o
devido planejamento e projeto adequado de IP, buscando melhorar itens que podem
contribuir ainda mais para o uso sustentável e racional da energia elétrica consumida pela
IP.
Uma boa IP eficiente contribui para o conforto e qualidade de vida das pessoas,
valorizando espaços públicos e tornando-os mais seguros. A economia é um setor que pode
ser tratada quando a eficiência diminuiu o consumo de energia e recursos públicos, bem
como ser um fator positivo no turismo e bem estar das cidades.

VIII – REFERÊNCIAS

COPEL. Manual de Iluminação Pública. 2012. Disponível em: <


https://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%2Fpagcopel
2.nsf%2F0%2Ff5f8db1e97503339032574f1005c8ff9> Acesso em: 20 março 2019.

KRUGER, C.; RAMOS, L. F. Iluminação Pública e Eficientização Energética. 2016 . Revista


Espaço Acadêmico. Disponível em: <
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/31530> Acesso
em: 28 março 2019.

PLÍNIO, Godoy. Iluminação pública e Urbana. Portal O Setor Elétrico. 2015. Disponível em:
< https://www.osetoreletrico.com.br/category/fasciculos/2016/iluminacao-publica-e-urbana/>
Acesso em: 20 março 2019.

ROSITO, Luciano Haas. Iluminação pública – ABNT NBR 5101. Portal O Setor Elétrico.
2018. Disponível em: <
https://www.osetoreletrico.com.br/category/fasciculos/2018/iluminacao-publica-abnt-nbr-
5101/> Acesso em: 20 março 2019.

ROSITO, Luciano Haas. Desenvolvimento da Iluminação Pública no Brasil. Portal O Setor


Elétrico. 2010. Disponível em: < https://www.osetoreletrico.com.br/capitulo-i-as-origens-da-
iluminacao-publica-no-brasil/> Acesso em: 25 março 2019.

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