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Contribuições Da Psico Existencial No Enfretamento Das Perdas e Da Morte PDF
Contribuições Da Psico Existencial No Enfretamento Das Perdas e Da Morte PDF
CURSO DE PSICOLOGIA
Itajaí – SC
2007
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CRISTIANE SOTELO DA SILVA
Itajaí – SC
2007
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AGRADECIMENTOS
Agradeço meus pais aos quais devo minha vida, o que eu sou e o que
poderei vir a me tornar. Agradeço a eles todo amor, paciência, incentivo e apoio que
Aos meus professores que foram e outros que continuam sendo pessoas
verdadeira, ética e capaz de aliviar dores e sofrimento. Devo muito de meu amor a
Psicologia a eles que por meio de suas atitudes plantaram em mim o desejo de
Professor do qual me orgulho muito de ter escolhido para me orientar. Além de ter
Agradeço aos convidados da banca Dr. Fabiano José Alves e Professora Ana
Agradeço minha irmã que serviu de inspiração. Dedico este trabalho a ela que
há dez anos fez sua passagem. Gostaria de deixar registrado o quanto me sinto
presenteada pela vida por ter tido como irmã e amiga Tatiana Sotelo da Silva. Irmã
que por meio de seu exemplo de vida me ensinou lições valiosas que jamais
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esquecerei. Viveu e morreu dignamente, deixando para seus entes queridos, além
despedida da vida. Por fim, agradeço e dedico este trabalho a todas as pessoas que
morte.
INTRODUÇÃO
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
RESUMO
As perdas e a morte são realidades universais, intrínsecas e intransponíveis a vida
humana. A marginalização social das perdas e da morte em nossa sociedade
enfraqueceu o ser humano e seus recursos de enfrentamento diante das questões
que envolvem nossa existência finita. As perdas e a morte fazem parte da vida e
cumprem seu papel social, não há vida sem morte. No contato com a finitude, o ser
humano tem a possibilidade de descobrir formas mais autênticas de existir. Refletir
para dar dignidade às perdas e morte é também dar-se a chance de enriquecer a
própria vida por meio de todas as lições que essas experiências são capazes de nos
ensinar. O presente trabalho tem como objetivo geral o estudo da contribuição da
Psicologia Existencial na confrontação das perdas e da morte; como objetivos
específicos se propõem a definir o conceito de Psicologia Existencial, analisar suas
contribuições no enfrentamento das perdas e da morte e propor estratégias de
enfrentamento de acordo com este referencial teórico. Investigação bibliográfica,
quali-quantitativa e do tipo exploratório. No primeiro capítulo apresenta as perdas e o
contexto histórico da morte; no segundo capítulo o desenvolvimento humano perante
as perdas e a morte; o terceiro capítulo traz à definição de Psicologia Existencial e
no capítulo quatro, as contribuições da Psicologia Existencial no enfrentamento das
perdas e da morte; seguido da análise dos resultados obtidos e das considerações
finais.
ABSTRACT
The losses and the death are universal, intrinsic and unsurmountable realities the life
human being. The social marginalization of the losses and the death in our society
ahead weakened the human being and its resources of confrontation of the questions
that involve our finitude. The losses and the death are part of the life and fulfill its
paper social, do not have life without death. In the contact with the finitude the human
being has the possibility to discover more authentic forms to exist. To reflect to give
to dignity the losses and death is also to give possibility to it to enrich the proper life
by means of all the lessons that these experiences are capable of in teaching them.
The present work presents as objective generality the study of the contribution of
Existencial Psychology in the confrontation of the losses and the death; as objective
specific if it considers to define the concept of Existencial Psychology, to analyze its
contributions in the confrontation of the losses and the death and to consider
confrontation strategies according to this theoretical referencial. Bibliographical
inquiry, of quali-quantitative matrix and the exploratory type. The first chapter
presents the losses and the historical context of the death; in the chapter as the
human development is boarded before the losses and the death; the third chapter
brings the definition of Existencial Psychology and chapter four deals with the
contributions of Existencial Psychology in the confrontation of the losses and the
death; followed for the analysis of the results and the final considerations.
perdas e morte, haja vista que são realidades humanas universais, intransponíveis e
desenvolvimento humano.
dor. As perdas e a morte destroem nossas ilusões infantis a respeito do que seja
viver e muitas vezes, com nossas ilusões vão embora partes de nossas vidas que
sociedade.
KOVÀCS, 1992).
contato com nossa finitude. Cada pessoa tem uma maneira particular de viver essas
Refletir sobre a finitude é essencial, pois vida e morte estão sempre juntas,
uma não existe sem a outra. Reconhecer e aceitar nossa finitude, nos fortalece,
representam corte, abandono e desistência, mas por outro lado podem ser vistas
prazeroso.
(ERTHAL, 1989). A vivência das perdas e da morte podem nos revelar muito sobre
imperfeições.
O ser humano é visto pela Psicologia Existencial como um ser que se constrói
1
Rollo May (1909-1994)
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9
O ser humano é o único ser que tem consciência de sua finitude, portanto tem
conhecimento de que cada momento da vida é único e que todos caminhamos para
um fim.
seu existir.
2 AS PERDAS E A MORTE
estabelece com esse fenômeno e também revela muito sobre nós mesmos e sobre a
não era um tabu. Ao contrário, era uma realidade aceita como natural e vivida em
casa.
Vista como algo que fazia parte de cada pessoa e que inevitavelmente
e por isso, eram enterrados em valas comuns que permaneciam abertas ao público.
modo que o convívio entre ambos passou a ser visto como uma fonte de
Arriès (1981) no Século XIX a morte menos temida era a morte lenta e em
ambiente doméstico e, deixava de ser vivida como uma realidade triste, porém
afastamento da morte da vida cotidiana até a forma como ela é vista hoje.
2
Friedrich Wilhelm Nietzsche
This (1844-1900).
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humano, após as ciências terem substituído quase tudo àquilo que, até então, a
Com Deus moral morto cada um poderia tornar-se seu próprio deus e a
tentativa narcísea do ser humano de enfrentar seu abandono e lidar com seu mal-
essa deificação aumentaria e que não seria por meio dessa semelhança com Deus
individualismo, pelo culto ao novo, belo e saudável. A maior expressão disso foi à
exclusão social da morte. O silêncio que é dado a essa parte de nossas vidas,
Não é de bom tom lembrá-la, pois é um assunto que é comum não se saber
como lidar direito, podendo despertar e revelar o que há de mais frágil em cada ser.
3
Sigmund Freud This
(1856-1939).
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Hoje uma parte significativa do mundo pode contar com o avanço científico e
incentiva toda uma sociedade, cuja ideologia é viver bem a qualquer custo.
sociedade cujo sofrimento, a falta, a dor, a angústia, fatos que são intrínsecos a vida
se está com dor tome um analgésico, se está ansioso tome ansiolíticos, caso esteja
jogue conversa fora com outras pessoas ou até quem sabe, consuma um novo
permitir-se, pois tudo é relativo. Essas idéias têm alimentado várias gerações que
muitos progressos que nos são imprescindíveis. É excelente poder contar com
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remédios para as enfermidades, contar com uma infra-estrutura que melhora e muito
daquilo que desagrada, fragilizou muito o ser humano diante das durezas da vida.
A morte foi deslocada do comum “noa” para “tabu”, pois já não há mais um
lugar social para a expressão do sofrimento diante da morte. Freud (1996, p. 37)
4
conceitua “Tabu” – Termo polinésio que, segundo a enciclopédia Wikipedia (2007)
significa:
dos corpos começam a ser substituídos pela cremação. O que não deixa de ser uma
forma de acabar ainda mais rápido com os vestígios da morte e com a possibilidade
4
Disponível em <http://www.wikipedia.com>. Acesso
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o diferente, a tristeza, o fracasso humano, enfim, esconder tudo aquilo que leva a
morte. As pessoas de modo geral não suportam pensar a própria morte ou a morte
A morte passou a ocorrer entre as paredes dos hospitais, muitas vezes longe
político-administrativo do hospital.
A equipe de saúde preenchendo uma demanda social deixou de ter seu papel
É comum que médico e equipe de saúde, mesmo sabendo que fizeram tudo o
que lhes era possível pela vida, sejam invadidos por sentimentos de impotência e
conseguindo esquecer que é finito, morre e por mais triste que isso seja é nossa
estes personagens, dessa forma todos se tornam responsáveis pelo destino de cada
decisão.
bem evitando sofrimento adicional, a equipe termina agindo sozinha justificada pela
idéia de que sabe o que é melhor para o paciente, considerando que não esteja
Somente uma definição de morte não seria suficiente para esclarecer este
assunto.
Entre estes estão Kübler-Ross 5 (2005), uma das precursoras dos estudos e
mundo todo para e cuidar de pacientes com diagnóstico reservado e muitos outros
Cada pessoa desde a mais tenra idade constrói por meio das influências
seja a morte.
A morte vista por outro ângulo, pode estar cercada de representações como:
fascínio, sedução, mistério, poder, força, grande viagem, entrega, descanso, alívio,
acolhimento e conforto.
5
Elizabeth Kubler-Ross (1926-2004).
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profundos impasses.
dessa forma a morte é a grande mãe que acolhe, ampara e dá conforto aos aflitos e
(ARRIÉS, 1981).
No Século XVIII a putrefação dos corpos era o sinal manifesto de que a morte
morte passa a ser a ausência dos batimentos cardíacos. A medicina passa a definir
podem ser substituídas por máquinas, que podem prolongar a vida indefinidamente
(KOVÀCS, 1992).
presente por completa. Jean Ziegler (1977) descreve alguns critérios que definem o
irreversível.
Mollaré e Goulon (1959) citados por Lamb (2001) definem morte encefálica
excluídas.
para a continuação da vida, quando sua morte ocorre não importa quantos outros
como o momento do óbito. A família precisa ser avisada antes do desligamento dos
A morte vivida como limite nos ajuda a crescer, mas também é vivenciada
como dor, perda da função, do corpo, do afeto, é corte, separação, solidão, tristeza,
E também pode ser comparada a figura materna que acolhe, dá conforto, paz,
emocionais diante da morte. Considerado este um termo mais adequado, já que não
está vivendo, fica com raiva por ser justamente com ela àquela realidade tão triste.
uma força superior, que nesse momento haja uma espécie de negociata em que a
pessoa faz promessas, em troca de uma cura ou uma melhora que o seja (KUBLER-
ROSS, 2005).
Quando a pessoa percebe que suas barganhas não irão mudar sua condição,
que realmente sua hora chegou, é natural que a pessoa seja invadida por um estado
depressivo.
fazendo a despedida com a própria vida e de tudo aquilo que mais ama (KUBLER-
ROSS, 2005).
que morrem sem ter conseguido aceitar que o fim se fazia presente.
às perdas e a morte. O que torna o morrer um momento ainda mais difícil (ARAÚJO,
SILVA, 2006).
cada um conta com uma rede de apoio diferente. A rede de apoio são pessoas
É muito importante que a pessoa possa contar com uma rede de apoio
formada por pessoas com um forte vínculo de intimidade, pois a rede além de ajudar
É fundamental que nesse momento tão difícil de despedida com a vida, que o
indivíduo possa contar com o apoio de pessoas queridas e ter pelo menos algumas
dessas pessoas para dividir suas dúvidas, medos, culpas, conflitos e também para
enfrentamento, uma vez que o morrer é um fardo pesado demais para ser carregado
sozinho.
Todas as pessoas são diferentes umas das outras, e por isso cada uma tem o
seu próprio jeito de viver e de morrer. Isso precisa ser identificado e respeitado.
vive sua morte com as condições que dispõe no momento. Entretanto, a morte é
ser compartilhados e tentar fazer o que for possível para enfrentar essa experiência
para quem fica. Por ser uma ruptura brusca e inesperada, não há nenhum tipo de
das pessoas que ficaram, pode ser ainda mais grave a desorganização que é
A superação desse tipo de morte pode ser mais difícil e demorada (KOVÁCS,
1992).
impõe a elaboração de muitas perdas com a pessoa ainda viva (RAIMBAULT, 1979).
1992).
O ser humano tem dois grandes medos: o medo da vida e o medo da morte.
As perdas são um dos eventos mais estressantes que um ser humano pode
6
viver. Segundo Bowlby (2002) o apego é algo natural ao ser humano e há uma
O primeiro apego é com a mãe ou alguém que desempenhe esse papel e isso
sobreviver.
fortes reações emocionais são vividas e uma sensação de estar perdido toma conta
São muitas ao longo da vida e mesmo quando adulto, as perdas ainda são
6
John Bowlby (1907-1990)
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É comum, por exemplo, que as pessoas por alguns meses ou até anos
desorganização.
mais poderá ser feito para recuperar quem ou o que foi perdido (BOWLBY, 1997).
Por último é vivida uma fase de um maior grau de organização. Estas fases
se, podem ocorrer fixações em determinadas fases e também pode não acorrer.
para que isso aconteça é necessário que a pessoa se permita viver a dor e a tristeza
Cada um processa essa experiência à sua maneira e é preciso que seja dada
Suicídio, aborto, morte sem a presença do corpo, morte na qual o corpo está
Há ainda as perdas pelas separações, nas quais não há nenhuma morte real,
mas ocorrem mortes simbólicas entre vivos. Também as doenças, vividas como
(VIORST, 2005).
Há ainda perdas que não são sentidas como tal. Ao contrário, são vividas
com comemoração. No entanto, não deixam de ter o espectro da morte, próprio das
1998).
Nos primeiros anos de vida, a criança não tem consciência de sua condição
humana e de sua real relação com a vida. São ou deveriam ser protegidas e
realidade. Já os adultos não conseguem isso e também não podem mais fazê-lo,
pois sua relação com a vida já não sustenta mais tantas ilusões e fantasias.
consciência e responsabilidade por sua própria vida e morte. Não importa o destino
que cada pessoa escolha para si, a verdade é que todos somos seres para a morte.
As fases do ciclo vital são alguns dos fatores que influenciam a experiência
tenra infância, por meio da educação, cultura, religião e das experiências individuais.
diante da morte.
A criança passa pelas mesmas fases do luto que um adulto, desde que ela
maneira de ser do bebê, este precisa ser reconhecido e respeitado no seu ritmo
natural e em sua espontaneidade. Precisa ser protegido das possíveis ameaças que
Um bebê quando reage não está existindo e sim, lutando para sobreviver.
singularidade do filho. Entretanto, há bebês que olham para o rosto de suas mães e
não se vêem refletidos, o que vêem é apenas a rigidez das próprias defesas da mãe.
que se passa com elas, alguém que lhes dêem um significado coerente com aquilo
A criança sofre como qualquer outra pessoa. O que acontece é que muitas
vezes isso não fica tão claro para o adulto (ABERASTURY, 1984; RAIMBAULT,
1979).
emocional de pelo menos um adulto de sua confiança, pois ela ainda não tem uma
desenvolvem na criança.
Não falar sobre a morte ou mentir para criança quando esta solicita falar, não
ajuda em nada. Aliás, só aumenta a angústia, gera ainda mais confusão mental e
expressão, sente como se estivesse sozinha e não tivesse a quem recorrer, sente-
Dessa forma ela fica isolada em seu sofrimento e as palavras ficam presas dentro
dela e isso faz mal. A ignorância e o esquecimento não devem ser estimulados.
Ao desejar respostas ou se expressar isso deve lhe ser permitido, haja vista
que a criança recebe esse acolhimento como um gesto de respeito e amor por ela.
também percebe o incentivo que lhe é dado para não saber ou para esquecer o que
no vínculo entre a criança e o mundo adulto. Falar sobre a morte ajuda a aliviar a dor
que elas possuem grande consciência sobre sua situação. Mesmo quando os
seu corpo e expressa isso de diversas maneiras e não necessariamente por meio da
linguagem.
perdas e a morte. A linguagem deve ser adequada ao seu nível e o que será
conversado é a própria criança quem determina que ao adulto caberá ser suporte
Sua dor não deve ser evidenciada a todo o momento, mas tão pouco
ignorada.
consegui-los.
conflitos.
adolescência.
Conta um corpo potente e com uma grande capacidade cognitiva o que lhe
permite grandes conquistas. Contudo, por conta de sua pouca experiência, pode
responsabilidades que a acompanham. A energia vital está muito voltada para esses
dela.
Em contato com a morte o adolescente sofre muito, haja vista que ainda vive
adolescente testa e acaba por extrapolar muito os seus limites (SHAFFER, 2005).
Na busca de uma vida intensa pode ocorrer a morte por exagero na dose, por
mundo.
Ele não conhece o medo, não tem fraquezas ou limitações e se as tem não
Claro, que é um exagero falar que todos os adolescentes são assim, mas de
alguma forma mais ou menos acentuada eles vivem isso (FERRARI, 1996;
SHAFFER, 2005).
com a aceitação de sua finitude. Fundamental por exemplo, a aceitação por parte
dos pais de que já não são os donos do destino dos filhos e que é inevitável esta
Os filhos por sua vez devem aceitar que não podem deter o envelhecimento
dos pais e nem assegurar sua onipotência protetora. Para Osório (1989):
nova família. A energia está muito voltada para a tentativa de se auto-nutrir física,
psicológica e existencialmente.
muitos papéis. Como, a transferência do apego com os pais para outra pessoa ou
psicológica.
entanto, ele não se acaba. Outra aquisição importante para a vida adulta é a
capacidade de conviver em intimidade com outra pessoa que não seja seus pais ou
Muitos adultos procuram se casar e ter filhos quando sentem que estão aptos
isso significa dentre outras coisas ter que morrer para a vida de solteiro.
e mãe. Muitas escolhas precisam ser feitas ao longo da vida adulta e muitas
mudanças ocorrem.
quê se escolhe e do para quê se escolhe são algumas perguntas importantes para
exige participação ativa da pessoa para que os seus projetos de ser se concretizem
realizações já foram feitas e é comum que as pessoas façam um balanço sobre suas
começa a ter um espaço maior na consciência. Esta é uma fase na qual a pessoa já
não pode mais contar com toda potência e força de um corpo jovem. No entanto,
pode contar com todas as vantagens que as experiências vividas podem trazer.
a descida. Os limites agora são mais respeitados, constata-se que já não há mais
própria vida. Nessa fase, muitas mortes são vividas concreta e simbolicamente.
vida ainda podem ser resignificados. Pode-se dizer que a velhice é a fase da
sabedoria, da plena experiência afetiva e intelectual, por isso, a vida pode ser
Há o estereotipo de que o velho não tem mais desejos, que está pronto para
morrer, pois aceita tudo muito bem, inclusive a morte. Isso não é verdade.
A velhice pode ser uma fase em que a pessoa pode estar mais preparada
para a finitude, mas isso não é em razão da suposta falta de desejos da velhice.
Quanto melhor se vive, menor tende a ser o temor pela morte. Isso na velhice
fica ainda mais claro. Quanto mais insatisfatória a vida, mais a pessoa se agarra a
ela. Muitas vezes pela esperança de melhora ou pela fantasia de que a morte seja
ainda pior.
Percebe-se que quanto mais ligado a vida a pessoa está pela via da
satisfação, menos ligada a morte ela fica, menos preocupada com o futuro e com o
A morte é uma realidade que na velhice se torna mais cedo ou mais tarde
inevitável. O espectro da morte passa a ser cada vez mais visível, se torna inegável
muitas pessoas, assim como precisar dos cuidados das pessoas e se tornar um
É o outro que não suporta manter um dialogo genuíno com a pessoa que
enfrenta a terminalidade e que prefere calar como uma forma de se sentir mais
aliviado, como se não saber do sofrimento alheio fosse fazer realmente o sofrimento
desaparecer.
vida para morrer. A morte é sempre um ato solitário, pois somente a pessoa pode
viver sua morte. No entanto, é muito triste para uma pessoa se sentir isolado com
sua morte.
Morrer sem apoio, sem amparo, sem conforto físico e emocional, ou ainda
finitude.
mais amplo do que seu simples cotidiano. Quanto mais satisfatórias forem as
4 PSICOLOGIA EXISTENCIAL
1970).
visto como aquilo que ele consegue construir de fato em seus três mundos – no
A existência é vista como uma continua relação entre a pessoa com ela
deseja existir no próximo momento, o ser depende de escolhas para existir, uma vez
Neste contexto o ser humano ganha mais liberdade para escolher o que
deseja ser, mas também ganha responsabilidades por sua vida. O Existencialismo
tira o destino do lugar de sujeito que constrói o ser e o coloca como uma
7
Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855)
8
Martin Heidegger (1889-1976)
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41
espaço.
Pode viver o passado, presente e futuro, pode ainda ir à lugares muito além
do espaço físico que seu corpo ocupa. Ter autoconsciência tornou o homem
concretizar ou não. Isso dependerá muito das escolhas que o próprio sujeito faz para
si e das relações que estabelece com suas potencialidades, dentro de seus três
constrói a partir do que realmente deseja e do que escolhe para si. Não desejar e o
O ser humano só existe de fato quando se lança no mundo por meio de suas
espectador da experiência.
existir uma verdade subjetiva pela qual a pessoa possa viver ou morrer. É essa idéia
ou idéias que fazem com que um ser humano transite pela vida.
valores próprio para orientá-lo. Cada ser humano constrói sua própria teoria a
O ser humano não pode viver todas as possibilidades que deseja, pois está
constantemente.
As escolhas não acontecem sem angústia, uma vez que cada escolha acolhe
9
Edmund Husserl (1859-1938)
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43
experiência humana não pode ser da mesma forma pela qual se conhece a
A realidade humana é conhecida por meio de dois aspectos: intuitivo por meio
Primeiramente o Ser entra em contato com o objeto por meio dos sentidos e
apenas alguns aspectos do objeto são percebidos, devido às próprias limitações dos
órgãos do sentido.
realiza uma síntese do objeto parcialmente percebido, porém referido como objeto
total.
consciência, o que se está captando já não é mais o objeto tal como ele se
momento.
não é o objeto, mas sim o objeto misturado aos julgamentos prévios sobre objetos
conhecer. Pois não existe consciência sem objeto e o contrário também é verdadeiro
(HEIDEGGER, 2005).
tais como a consciência os percebe. Para que o fenômeno possa ser apreendido
juízo prévio a respeito do objeto deve ser colocado entre parênteses (FRANÇA,
1989).
cognoscível.
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45
sempre para algo que não ela mesma. É a ligação do homem com o mundo.
de técnicas psicoterapicas suficientes para isso, tão pouco tem a pretensão de o ser.
pode-se considerar que suas orientações têm conseqüências terapêuticas, uma vez
humana.
momento disponíveis, uma vez que a ciência está subordinada ao ser. A ciência é
feita para o ser humano e não o contrário. Não é a existência humana que deve se
cultural.
está sujeito a adoecer por talvez não conseguir dar-se um significado a si mesmo.
existir, construindo suas significações que podem ou não estar em consenso com a
ciência. Isso não significa que o sujeito deva usar de má-fé, tentar viver de ilusões e
realidade.
coerência com a sua realidade. Ninguém melhor do que o próprio indivíduo para
apreender e dar significado a sua realidade. Isso não significa dizer que a existência
profissional, mas é importante ressaltar que elas não interessam ao sujeito, saber
2007).
O Ser não existe sozinho no mundo, em contato com outras consciências ele
pode ver como é percebido por elas. É preciso que uma outra consciência
reconheça o Ser como tal, somente assim ele sente-se existindo de fato.
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no confronto com outro que se assegura a individualidade. Seja qual for o olhar do
A pessoa que não conhece sua existência cria uma dependência patológica,
na qual o outro é quem sabe e determina o que ela é e pode “vir a ser”. O “ser para
1986).
Caso isso aconteça a pessoa é invadida por sentimentos de culpa por não ter
(MAY, 1987).
Uma vez que a ela já não se reconhece mais, não conseguirá mais identificar
crises percebem a dificuldade que é não ter consciência de si mesma, pois nesses
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48
experiências vividas do individuo, mais importante do que viver é como viver e para
mais autênticas. Quem se conhece, conhece sua realidade e não se coloca nela
como uma vitima aumenta a capacidade para conquistar realizações em sua vida.
identidade que todo ser humano vive. O Eu é visto como uma sede de valores que
humano divide-se entre o que a pessoa é, o que ela gostaria de ser e o que ela tem
Questiona-se quais são as forças determinantes para uma escolha e quais são as
genética, mas tudo aquilo que em determinado momento influencia no projeto de Ser
querido, viver isolado, ficar solitário, abandonado e por isso nos subjugamos muitas
vezes àquelas escolhas que nos parecem socialmente as mais aceitáveis ou as que
ansiedade destrói a autoconsciência, mas por outro lado quanto mais forte a
sentida.
Dessa forma o indivíduo não sente desconforto, mas tão pouco sente prazer,
May (1980) define o encontro entre o psicólogo e o cliente, não como sendo
relembra que antes de mais nada é um encontro entre dois seres humanos.
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50
delicadas, se propõe a refletir sobre coisas que se não fosse por esse encontro ela
sofrimento, sentir que não está sozinha. Ter a certeza que dispõe de um profissional
que irá fazer esse caminho junto com ela, lado a lado.
própria existência.
pessoas são diferentes em suas experiências e no significado que cada uma oferece
a estas.
mal resolvido e somente a pessoa cabe escolhe o que deseja fazer dela mesma.
Admite que o modo como o ser humano pensa não muda alguns fatos
limitadores e rudes da vida, mas muda muito a forma como estes são vividos e a
muito pela saúde e o que isto vem a ser na prática da existência humana.
Estudar o que é comum nos seres humanos, não é o mesmo que estudar o
que é adotado como normal. May (1980) alerta que o “normal” em psicologia pode
ser uma psicopatologia da média, tão amplamente difundida que nós nem mesmo
A pessoa autêntica é alguém que assume uma nova relação com a sociedade
em geral.
no que realmente acredita e não naquilo que uma determinada época dita como
comportamento padrão.
como um privilégio. A pessoa autêntica tem uma visão ampliada dos valores de vida
que a embasam, tem muitos sentidos do porque e para quê viver e está sempre que
É uma pessoa que tem consciência do seu projeto de “vir a ser”, aceita sua
condição de ser finito e sozinho, aceita o preço que o viver impõe que é a angustia
dar um sentido ao que vive. Na busca pelas diversas significações e sentido da sua
realizações.
Questões como: o que é a vida, quem sou eu, o que estou fazendo, para que
vivo que relação existe entre mim e as coisas, são algumas questões que permeiam
o pensamento humano.
Há a busca pelo sentido, e este não pode ser qualquer um, mas um que faça
a vida valer a pena, que faça com que o ser valha a pena. Ainda hoje, apesar de
sentido para sua existência e parece se afastar cada vez mais dessa resposta
beleza. Sem um sentido de vida o homem se envolve de tal forma nas agruras da
que se deseja ser, do que se deseja alcançar e do sentido que se dá a tudo isso que
é buscado. É importante saber não só o que é desejado, mas também para quê se
deseja.
existencial.
ataque a este centro é um ataque à sua própria vida. Entender esse conceito
A neurose é vista como uma forma inadequada que a pessoa encontra para
preservar seu próprio centro, uma maneira ineficiente para se proteger das ameaças
existência da pessoa.
sem antes esta ter encontrado alternativas de vida. A pessoa, antes de tudo, precisa
conseguir viver a partir de outras formas mais funcionais, caso contrário não
sua coragem e criatividade para o ser, caso contrário ele perde-se em si mesmo e
Coragem e criatividade para ser são qualidades que a pessoa precisa para
sociedade já não sabe mais quem é, acredita ser o grupo, perde-se entre os seus
membros e fica tão voltada para fora que esquece de seu próprio centro.
Quarta característica é que todo ser humano tem em sua percepção uma
objetiva.
contra o que poderá destruir seu ser. É um conflito entre o ser e o não-ser. O ser é a
Uma vez finitos sempre precisamos estar escolhendo ser algumas coisas e
escolhendo não-ser outras. Muitas vezes essas escolhas se tornam muito difíceis de
tem que escolher, e é justamente para se livrar dessa ansiedade que o ser se
Nossas escolhas não são sem preço, nos custam a coragem de nos
Várias perdas são vividas ao longo da vida até que a morte aconteça. A morte
só ocorre uma vez, porém o sentido de sermos para um fim ocorre a todo minuto.
Não se morre somente fisicamente, também pode ocorrer morte psicológica sem que
que lhe confere significado e valor. A morte não é vista como uma etapa isolada da
vida, ela é uma realidade que acompanha o ser diariamente, bem como uma forma
de existir.
1998).
presente e que não haja todo tempo do mundo para aproveitar a própria vida e tudo
que a acompanha.
Nada na vida é eterno, tem-se a chance de escolher dar valor para a vida
enquanto ainda ela é presente ou deixar que ela escape por entre os dedos das
forma de existir senão a de ser livre para escolher. A própria escolha trás em si sua
há mais tempo para escolher viver outra vida. Escolhas autênticas confortam e
se comprometer com a vida de forma integra, inteira, tentando fazer o melhor que
própria morte as convenções sociais, as escolhas que não são autênticas não são
Tudo que não seja realmente verdadeiro perde o sentido, se esvai em meio a
tal realidade. A morte é uma experiência profunda que causa muita dor, mas
totalidade e pode escolher viver uma existência autêntica. A pessoa se torna mais
saudável quando não usada em exagero, pois não é possível viver constantemente
Viver sem nunca confrontar os conflitos e tão doentio quanto querer viver
VIORST, 2005).
de toda dor sofrida a pessoa pode escolher recomeçar a sua vida buscando seus
um novo destino à sua vida, ou pode escolher tentar não viver os seus conflitos,
resolvidas com as pessoas que se gosta e confia. O que não é indicado é deixar que
as escolhas da própria vida sejam feitas por outras pessoas quando a pessoa pode
no mundo de forma mais integra e verdadeira. Por meio das escolhas acontece a
de sua própria vida. As pessoas, o trabalho, lazer e tudo na vida não podem servir
próprio existir.
Vida e morte precisam ganhar um sentido, mas este só acontece por meio da
autênticas.
vezes por conflitos mal resolvidos a pessoa abandona sua própria existência, se
Diante do temor de viver o não-ser e pela angústia que é viver a pessoa se refugia
finitude e o preço pago por isso é o de viver uma morte psíquica. Nesses casos a
coletivo e já não vive a própria existência, vive somente o que o outro lhe determina,
Quando a própria morte é vivida muitas despedidas são feitas e essas não
tem seu corpo manipulado por equipe de saúde e invadido por procedimentos
raiva, medo, revolta, profunda tristeza e desespero. Todos esses sentimentos ainda
própria morte A morte é um fardo pesado demais para quem a enfrenta. Ser
acolhida e estar junto das pessoas queridas é imprescindível para que o morrer
ou quando por outras razões se perde algo ou alguém. Perder alguém querido ou
enraizado este alguém ou objeto estiver na pessoa mais sofrimento, dor e sensação
deixando que este alguém ou algo morra dentro de você e também aceitar que você
Morrer e deixar morrer em vida são realidades duras somente podem ser
necessário para que a perda possa ser aceita, chorada e devidamente cicatrizada.
existir.
oferecer no enfrentamento das perdas e da morte. Porém, isso não diminui o valor
da sua contribuição diante desses eventos, uma vez que a Psicologia Existencial
importância para o nosso existir, ainda oferece baseada em seus estudos posturas e
Tais posturas não precisam ser adotadas apenas por profissionais que estão
em contato com essas questões, mas podem e ser muito úteis para qualquer ser
humano que tenha interesse em aprender mais sobre si, sobre o outro e sobre o que
é existir.
assolam a existência humana e ainda desperta o ser para uma reflexão a respeito
sofrem. O psicólogo para estar apto para esse papel deve estar não só preparado
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64
questões relacionadas a nossa finitude. As perdas podem ser por doenças, por
realidade do paciente e dessa forma poder ajudá-lo (VIORST, 2005; CAMON, 1984).
Ao passo que a pessoa entra contato com o seu sofrimento vão sendo
trabalhadas a expressão das dores. Expressar a dor e conseguir refletir sobre ela
Este é um trabalho muito delicado, pois envolve muito sofrimento e por isso grandes
Toda a vida da pessoa de modo geral é tocada por esta dor. As perdas
trazem a tona com mais força as questões mal resolvidas, os medos e as culpas
compreensão e acolhimento com os que sofrem. É difícil, por exemplo, para uma
mãe entrar no quarto do filho e ver que ele nunca mais vai estar ali.
morte de quem se ama deixa marcas, estas podem ser tão profundas que a pessoa
qualidade isso não é garantia que a pessoa conseguirá superar suas agruras.
que expectativas a mais em cima da pessoa só tornaria sua existência ainda mais
difícil. A pessoa nesse momento precisa ser acompanhada em seu sofrer, sentir que
não está sozinha e que pode contar com alguém capacitado para refletir junto com
Há certos tipos de perdas que levam a um tipo especial de luto como, por
exemplo, o suicídio. Nesse caso um alto grau de culpa e rejeição comumente estão
Sentimentos de que poderia ter sido feito algo para evitar tal realidade se
chocam com sentimentos de raiva em relação ao morto por este ter causado
(ANGERAMI-CAMON, 1984).
O aborto é outro tipo de perda que indica um luto especial, primeiro porque é
aborto foi provocado pode haver muito mais dificuldade de ser elaborado, pois está
Nesse caso fica a sensação de que a qualquer momento a pessoa perdida poderá
reaparecer.
Outro tipo de perda que leva a um luto mais dificultoso é a morte por
difícil, pois as pessoas não entendem a morte nesse caso como algo inevitável, ao
Aceitar viver o luto pode parecer ter que aceitar a violência que o ente morto
sofreu.
entre vivos e uma perda muitas vezes vivida como fracasso. Nesse caso a pessoa
para superar o luto precisa mais do que aceitar a perda e desejar preencher o
espaço que ficou com a partida do outro, é fundamental que a pessoa consiga
perdoar-se e perdoar o outro é antes necessário que muitas questões sejam re-
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67
significadas. É preciso que a pessoa se sinta capaz de viver experiências novas com
a esperança que estas possam ser satisfatórias para que ela realmente se lance na
muito importantes de serem investigadas e avaliadas para que possa haver uma
intervenção psicológica.
doença que a pessoa enfrenta, como ela se instalou, em que momento da vida e
medo de ficar a mercê dos outros, medo de ser um incomodo, medo da perda do
controle físico e mental, a pessoa ainda pode ter medo de perder a imagem que está
paciente e seus entes por que equipe de saúde diante de suas responsabilidades
biológicas diante do morrer podem por vezes vir a esquecer o quão humano é o
processo do morrer.
paciente, por exemplo, em algumas questões práticas como verificar sua rede de
hospital.
as relações psicológicas que ela estabeleceu com a doença, com a equipe de saúde
e com e contexto hospitalar são procedimentos que o psicólogo pode fazer para
1992).
do tratamento.
tentar evitar que este paciente entre em depressão profunda, pois esse quadro
menosprezados.
defesa a onipotência.
Quanto mais onipotência mais impotência tem por trás. Falar das impotências
não é algo fácil, no entanto com um bom manejo o psicólogo juntamente com equipe
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70
podem criar um espaço que a pessoa se sinta segura para falar do quão frágil e
O doente que permanece quieto e de olhos fechados muitas vezes não quer
dizer que ele não queira falar, talvez até já tenha feito tentativas e se deparou com o
Muitas vezes quando esta pessoa consegue falar, ela só irá dizer que se
trabalhar.
Focais.
2005).
e momento do paciente. Muitas vezes, além de estar junto é necessário atuar junto à
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pessoa, criando uma atmosfera que possibilite o indivíduo pensar sua própria
psicólogo não tem o direito de decidir como a pessoa deve viver suas experiências.
Quem determina o que irá ser trabalhado é a pessoa que vive a perda ou a
morte. Essa irá revelar suas necessidades e o que ela consegue enfrentar. Não é o
por sua vida. Ao psicólogo cabe acolher e ajudar dentro dos limites técnicos e éticos
ANGERAMI-CAMON, 2002).
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72
terminal.
dever cumprido. Por outro lado existem pessoas que irão querer até o fim negar a
morte e esse desejo deverá ser respeitado, pois essa é a forma como
talvez seja a única forma como ela saiba enfrentar situações que envolvem muito
rede de apoio e a equipe de saúde. A pessoa que está morrendo mais do que nunca
para as pessoas que estão morrendo a qualidade de vida que lhes resta é mais
importante do que a quantidade de tempo de vida que ainda elas possam ter.
diversas formas. Quanto mais verdadeira for a atmosfera entre as pessoas, mais
mentira e segredo houver diante da morte, mais difícil se torna o morrer e mais
emoções. É comum entes queridos sentirem muita culpa por continuarem vivos e
Quando o outro morre até o amor é colocado em risco. A morte pode ser
sentida como se o amor pelo outro não fosse o suficiente para tê-lo segurado em
A morte é uma experiência que meche tanto com as nossas emoções que
O fato é que o amor não muda o destino do ser humano de ter que morrer,
mas pode lhe dar dignidade, conforto, segurança e alívio (HENNEZEL, LELOUP,
1999).
questão do morrer de forma verdadeira que isso poderá fazer com que o paciente se
Para evitar tirar as supostas ilusões da pessoa que está morrendo as pessoas
de ambas as partes, entre paciente, seus entes e equipe de saúde, ambos tentam
acharem que são incapazes de lidar com questões que são tão humanas. Não
existem receitas para como se lidar com a vida, o que existem são princípios.
A equipe médica também envolvida por uma cultura que não consegue
aceitar a morte, se sente culpada quando se depara com os limites de sua técnica e
morte é justamente conseguindo falar francamente sobre ela. Dar vazão para os
Criar um clima favorável para que vida e morte consigam ser compartilhadas
dias ou horas de vida para a pessoa acamada é importante que o psicólogo tente ir
despedem. Aceitar e liberar a pessoa para que ela possa seguir seu destino, é o
último gesto de amor que os entes podem oferecer a pessoa que já não consegue
já não se faz mais possível gera um sentimento de dever cumprido, não só em quem
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o que fica é um sentimento de amor e respeito pela vida (KOVÀCS, 1992; KUBLER-
ROSS, 2005).
Pessoas que acreditam na existência de um ser superior e que acreditam que existe
as pessoas poderão ser aceitas ou não podem agravar o temor frente a morte
porque além da dor da despedida a pessoa ainda tem a preocupação de não ser
acreditam que serão aceitas e ainda aquelas que não acreditam em um julgamento
com a crença de que continuaram vivas e serão acolhidas em uma outra dimensão.
morte do que as não religiosas. O fator religioso, com certeza é um fator que
influencia muito, no entanto, existem outros também, além do que a forma como ele
determinada religião.
Isso mostra que a pessoa no limiar da morte pode estar lúcida de seu fim e
ainda mesmo assim expressar esperança. O ser humano tem em seu intimo um
desejo de eternidade.
Isso deve ser acolhido e respeitado porque preserva certa vivacidade até o
a pessoa e o modo como ela escolheu viver sua morte (KUBLER-ROSS, 2005;
BOFF, 2001).
tempo que lhe resta de vida não pode ser aniquilado pelo nosso desespero, temor e
desesperança.
O contrário pode acontecer da pessoa chegar tão próximo da morte que ela já
não mantém mais esperanças sobre continuar. Esse momento deve ser tão ou mais
acolhido do que os outros, não cabe a nós impormos nosso desejo de esperança
para quem já não os tem mais por já sentir a morte quase em sua plenitude. Nesse
ampara, a companhia que não prende, mas que possui uma atitude de profundo
amor que liberta o outro para seguir seu destino (HENNEZEL, LELOUP, 1999).
Crescer significa ter que morrer para muitas partes de nossas vidas, deixando
espaço para que o novo possa surgir. A perda e a morte são necessárias para que o
ter, o que já se conhece e estima para viver o que ainda é desconhecido (KOVÀCS,
que um balanço da vida seja feito. As pessoas se perguntam sobre o que acertaram
ainda sobre o que irão fazer com o resto de vida que lhes resta.
não significa dizer que devamos desejar as perdas ou que elas nos tragam alegrias,
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mas sem dúvidas as perdas bem vividas podem sim nos tornarem num segundo
empobrecem a vida da pessoa que escolheu essa forma triste de viver essas
perdas e da morte.
vida. Como afirma Nietzsche (in Frankl, 1990) “Quem tem porque viver, suporta
quase qualquer como”. Encontrar na vida um sentido que a faça valer a pena, é a
Na maioria das vezes é em contato com a finitude que o ser humano encontra
esse sentido, que pode ser um ou vários. O sentido de vida faz toda a diferença e
poder usufruir desse sentido nem que seja por uns segundos, faz a vida valer a pena
(FRANKL, 1990).
luto pelas perdas e morte. Pessoas que acreditam na existência de um Ser superior
particular. Nota-se que grande parte das pessoas viveram suas perdas e o seu
É dever do psicólogo abrir espaço para que o sofrimento, a dor possam ser
grátis do sofrimento.
importante que ela saiba que existe um espaço, no qual suas emoções e
que esta nos impõe são alguns princípios tão valiosos que a Psicologia Existencial
é aí que ela nos liberta. Tornar-se humano é uma tarefa ativa de verdadeiro amor e
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
amor.
implacável assim como o olhar puro de uma criança, que não tenta esconder ou
A morte por vezes é tão dura porque nos revela quem realmente somos e o
se (BOFF, 2004).
estar presente no desenrolar das coisas, acompanhar o outro sem desejar se impor
ela é. Isso não significa sermos conformados e complacentes com a vida, mas saber
Aceitar o convite que essas experiências nos fazem, é aceitar mergulhar num
nível mais profundo de si mesmo. É nesse nível no qual a verdade prevalece que
O morrer quando acolhido com profundo amor não é vivido com temor,
organizado.
O que de há de mais humano em nós nessa hora quer sair, mas não sabe se
será acolhido e por isso pode retrair-se, tentar se esconder quando não dá mais e
acolhidas em seu modo de ser e ainda que serão ajudas na medida do possível
pelas pessoas ao seu redor, mais o morrer deixa de ser um uma experiência
entrar em sintonia nas experiências vividas. Não há uma receita a qual devamos
A experiência do luto humaniza o ser, uma vez que ela nos tira do nosso
pedestal narcíseo nos machuca, nos humilha, nos arranca todas as ilusões de
onipotência, evidenciando que tudo passa, tudo muda, que não somos tão fortes,
que perdemos as pessoas que amamos e que perdemos inclusive a nós mesmos.
Esta completa pobreza nos ensina o que é viver e o valor que é viver.
conseguimos viver em comunhão com nós mesmos, com o outro e com a vida.
torna a vida muito mais bonita. A morte não nos ensina nada que a solidão, as
deveriam estar aptos pessoalmente, muito mais do que tecnicamente para, além de
A Psicologia Existencial não têm receitas e nem truques a oferecer, mas nos
faz um convite para mais do que refletirmos, no convida a nos humanizarmos, como
chance única de não perdemos aquilo que há de mais valioso em nós, que somos
projetos de si mesmo.
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84
de uma vida autêntica. Respeita e reconhece o ser humano na sua essência e não
tenta de forma alguma tentar negar ou esconder do que é feita essa essência
humana.
mais verdadeiros, mais comprometidos e mais sensíveis com a vida. Nos alerta que
Este é um compromisso muito sério, haja vista que não seria ético e nem
abordagem teórica, pois não o é. Ela oferece respaldo para uma postura ética,
O psicólogo para ajudar a curar precisa antes aceitar que na verdade ele não
que o ser humano tem necessidade de cura porque tem necessidade de expansão,
e expansão é amor.
BOWLBY, J. Apego e Perda: apego. 3º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
______. Apego e Perda: angústia e raiva. 3º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
______. Formação e Rompimento dos Laços Afetivos. 3º ed. São Paulo; Martins
Fontes, 1997.
FREUD, S. Totem e Tabu e Outros Trabalhos: v. XIII, Rio de Janeiro: Imago, 1996.
LAMB, D. Ética, morte e morte encefálica. São Paulo: Office Editora, 2001.
NIETZSCHE, W. F. Assim Falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Rio
de Janeiro: Brasil, 1998.
PINCUS, L. A Família e a Morte: como enfrentar o luto. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1989.
PY. L. Finitude: uma proposta para reflexão e prática em gerontologia. Rio de Janeiro:
Nau, 1999.
ROJAS, H. O Homem Light: uma vida sem valores. Coimbra: Coimbra Gráfica, 1994.
SPITZ, R. A. O Primeiro Ano de Vida. 2 º ed. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998.
WORDEN, J.W. Terapia do Luto. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES