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Renato Almeida
2017
LIVRO I
SOMBRAS
POLAROIDS
VELEIRO
CHAMADO
PALÍNDROMO
ÚLTIMO VÔO
EPITÁFIO
SOCIEDADE DOS POETAS MALDITOS
ESCRITA SEM NOME
O ERRO
PÚSTULAS
A TORRE
RETRATO DE UMA MANHÃ PERFEITA
DIONÍSIO
MARCHA FÚNEBRE
SONETO DOS VITRAIS SILENCIOSOS
AMUSA
LOW
HAIKAIS DE SOMBRAS
MIRANTE DAS ILUSÕES
RESPOSTA MAIS QUE SINCERA AO REI D'ESPANHA
REQUIEM PARA UM SONHO
WHEN AUTUMN COMES
DO CAIR DAS FOLHAS SECAS
DE COSTAS PARA O MUNDO
UMA NOITE ESCURA EM ST. FLORIAN
CONFISSÕES
LIVRO II
D'ALMA
DEIXA
TOQUE DE ÂNGELUS
GUILHETA
DEVANEIO
NOTURNO
ESCULTURAS
DESERTOS
PLATEAU
SONETO IRREGULAR PARA UMA SAUDADE IRREGULAR
DIVAGAÇÃO
HAIKAIS D'ALMA
ELA
APENAS MAIS
TRAÇOS
DE ESTAÇÃO PARA ESTAÇÃO
ODE AOS PEQUENINOS
UM NOVO DESCOBRIR
M30
ALVORADA
CARTA AO CRIADOR
ENTRE EU E BRUCKNER
O EXPRESSO DO AMANHÃ
AOS IRMÃOS DE HELIÓPOLIS
ÓRION
FICA COM ESSAS CANÇÕES PARA TI
LIVRO I
SOMBRAS
POLAROIDS
Edifico construções
Em pequenos blocos
Solitários e frios
Concreto e laje
Calado e sentindo
O que se passa ao meu redor
Guardo tudo em minha memórias
Como fotografia velha e amarela.
VELEIRO
Ando
Sem destino ou rumo
Tal como um veleiro
Perdido
Esperando pelas ondas
Que irão me levar
De volta pra casa
Ou me farão descansar
No silêncio do fundo do mar.
CHAMADO
Vamos despir o nosso sentir
Vamos cuspir a arte em versos
Para que os homens
Não vejam nossa loucura
Que é mansa e doce
Amarga fosse
Seria amargo de vinho
Inebriante é acalanto d`alma
Deixa tudo como está
Grita tua própria dor
Mostra como é imunda
A arte como a qual compactuamos.
PALÍNDROMO
Viver é como um palíndromo,
De busca e meios,
Até onde os confins,
Se perdem em inexatidão,
Perante a razão,
Calada e inerte,
Dos bêbados e loucos
De antemão,
Que fiquem calados,
Os sensatos,
Os centrados,
E aqueles que não entendem,
O sentido minimalista,
Da vida e do sentir.
ÚLTIMO VÔO
Roubaram-te o azul
O céu encobre-te em cinza
Com um brilho funesto e púrpura
Da tempestade que se aproxima
No alto da montanha
Eu vi o rio que corria
Abaixo do sol
No alto da montanha
Eu vi o entardecer, belo
E é um devaneio sereno
Eu me vi imaculado
Profano que sou, perdido entre os santos
Engraçado que sou
Sorri amarelo para os serafins
Afim
De que por simpatia
Me fosse reservado
Um lugar entre os deuses.
EPITÁFIO
Há um refúgio
Há uma segunda chance?
Há um porto seguro
Há um instante
Há sempre o instante
Dos poetas
Dos loucos
Dos que amam demais
Dos que amam de menos
Dos que nunca amaram
Antes beirar o parapeito
Que a sanidade
Tendo fim o ato
O vazio é eterno momento
Preenche sem nada possuir
A vacuidade vazia e oblíqua do esquecimento
Sombras não são mais tormento
Desde que decidi não mais sentir
Saudades
Estarei por fim livre
Sem motivos
Pra rir ou chorar
Sem melancolia, nostalgia ou tristeza
Um salto no escuro
Obscuro, o caminho do homem
Fantasmas são máculas
Máculas perdidas na vida
Vida, louca metáfora
Que muda com o tempo.
ESCRITA SEM NOME
Forças ocultas
Permeiam o olho
Malignas talvez
Macabras entranhas
Prostíbulos
Santuário do santos
Descanonizados
Palácio em que o compasso
Fechado
Retrato da vida
É um pedaço
Perdido
Do paraíso e do céu
DIONÍSIO
Canto
Encanto
Passo profundo
Mundo escuro
Cinema mudo
Canção surda
Perdido, o mundo
Vida turva
A relva serena
A moça morena
Nasce o sol oriente
E em mim nascente
O desejo profano e a prece terrena
Deus perdeu a inocência
Deus perdeu a paciência
E nos deixou no mundo
Bêbados e imaculados
MARCHA FÚNEBRE
Veja:
Quantas flores no deserto!
Ninguém jamais tirou você de mim
Mesmo,
Que eu te esconda a verdade
Meu bem
Sabes bem
Que meu amor é teu
Só teu
E no final
Nosso amor vai ressurgir.
SONETO DOS VITRAIS SILENCIOSOS
Até quando eu
matarei a meu eu se por ti
matei a mim mesmo?
Até quando eu
negarei a mim que por ti
neguei a todos?
Até quando eu
suportarei o fardo
que por ti carreguei tão longe?
Até quando eu
sacrificarei meus sonhos se sonhando
realizei os caprichos teus?
Até quando eu
afogarei meus desejos
pela tua apatia sempre estática?
Até quando eu
cantarei o teu canto
e calarei o pranto que trago calado?
Até quando eu
irei ouvir o reverberar
de uma vida tão linda e distante?
Até quando eu
irei escrever poemas
que fale de meus dilemas
como se não fosse eu
mas tu, somente tu
a fonte de meus problemas?
LOW
É quase espacial
Como ler William Blake
Armado de um sabre de luz
Caroline, Caroline
Porque esse homem te chama?
Para evocar a figura
De todas as crianças em holocausto?
É quase lúdico
É a pedra de Drummond
Não mais no meio do caminho
Mas atirada em outra direção
I
O relógio conta
As folhas dançam
E eu me apresso
II
Embate contínuo
Destino tenso
Nuvens carregadas
III
Eu canto meu silêncio
Eu grito qualquer nome
Eu me calo em teus olhos
IV
Todos comentam
Alguns imitam
Nem todos transformam
V
Altivo, o cavaleiro
Ao grito de guerra
Estandartes ao vento
VI
Toma a tua pena
Guarda minhas palavras
Sossega teu pensar
VII
Na penumbra da tarde
Esconde-se o sentido
Destruir o teu medo
MIRANTE DAS ILUSÕES
“...Não me fales da tua dor meu amigo, eu bem sei o que sentes, cercado de
todo esse turbilhão de sons para calar tua própria voz...
...Não me fales meu amigo, do teu grito preso, a tua dor é minha, porque sei
que cada folha, cada pedra, cada onda espumosa do mar que contas é para
entender teu papel no infinito...
...Não me fales do que sentes meu amigo, a insânia te bate a porta, quase
como irmã te oferece os braços em acalanto, os ouvidos em cantiga...
...Não me fales de tua insegurança meu amigo, pois sou certo do que duvido,
e só me falta um passo para achar um novo mundo...
...Não me fales do que vês meu amigo, pois nunca serei capaz de enxergar,
eu vejo apenas estrelas e tu vê Deus, além de todas essas nebulosas que
mal consigo ver...”
WHEN THE AUTUMN COMES
Remember me
Please, remember me
D'ALMA
DEIXA
Deixa cair do céu,
Uma coroa de hortelãs,
Que o amargo vira mel,
Virá do mar,
Quando um dia
Sentado em algum lugar,
Pensar em algo distante,
Ei de saber o bem
Que sentirei d`ora avante,
Em que ponderar,
Quando um dia...
Quando será o dia...
Em que direi meu nome,
Aos quatro ventos,
Sedento,
De vida e de amor?
DEVANEIO
Que gosto amargo
Tem tua boca
Sabor de passado
Não passado a limpo
Que gosto estranho
Pedaço de limbo
Pedaço de mar
Onde quero navegar
E naufragar
Como um cão possesso
Exorcizando meus males
Manhãs dominicais
E o orvalho
E eu
Ressoa
O sino
E a sina
Dos fiéis
ESCULTURAS
Ah, minha Deusa grega
Em branco gesso e doçura
Em pequena estatura
Sorriso franco
Olhar malicioso
Como vedes, nu
Sem mentiras
Na academia me vês
A vender papiros
Enquanto tu sois
Acólita dos mestres
E é incontestes
Que te amando
Me calo.
DESERTOS
Os desertos sempre
Estão cheios de plantas,
Plantas teu deserto
Do vinho, o caminho
Ouvido de perguntas
D`ouvido despistado
Cura-me a amargura
Faz-me doce
Esquece a morte de hoje
II
Meu quarto,
Minha casa,
Refúgio de pequenos pássaros
III
Sorvete gelado,
Casais de namorados,
A lamber-se tímidos
IV
O eremita caminha,
No deserto imita,
A dança das cobras.
V
Ergue-se o sacerdote,
Tempestuoso e imponente,
Ao curar-se dos males.
VI
Bambus se envergam,
Com o tempo,
Como os velhos.
VII
Toma tua pena,
Arma perigosa,
Escreve meu nome.
ELA
Ela
Quero ela
Quero falar dela
Quero o falar dela
Quero o falar que pode vir dela
Ela
Olho para ela
Quero olhar para ela
Quero ver meus olhos nos olhos dela
Que olhos tem ela
Ela
Rir dela
Quero rir com ela
Que riso tem ela
Como é gostoso o riso dela
Ela
Afago ela
Quero afagar ela
Que gostoso afago tem ela
Quero me afagar entre os afagos dela
Ela
O canto dela
Me encanta o canto dela
Quero dormir hoje
Ouvindo o encantar dela
Ela
Livro aberto
Este eu li
‘Tava perto
E eu
Li ela
E eu
Quero estar perto dela.
APENAS MAIS
Porque não eu ?
Se tão bem me faz
Sinto bem o que me faz
Sentir tão bem
Apenas mais
Apenas mais tempo
Mas como esperar esse tempo?
Se esse tempo não existe?
Dormindo ou acordado
Apenas olho
Me calo, como um pária
E finjo que não sei sorrir
Mas, a rir contemplo
O sorriso de...
TRAÇOS
Toma a minha mão e guia
Guia-me por entre mares
Guia-me por luz e sombra
Toma a minha mão e guia
E na aurora do dia
Eles acordam
E transbordam alegria.
UM NOVO DESCOBRIR
E por mais que se repita o erro
Não é o medo de errar que anseio
É ansiar encontrar o medo
Do que é bom novamente presente
Em dias consonantes
As ondas batem e quebram pedras
Espuma servil
Longo caminho