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Situações Familiares na Obesidade Exógena

Infantil do Filho Único


Family Situations in the Childhood Obesity of the Only Child

Letícia Ribeiro da Cruz Santos Resumo


Nutricionista e psicóloga. Mestre em Família na Sociedade Con-
temporânea da Universidade Católica de Salvador. Este é um trabalho qualitativo cujo objetivo foi
Endereço: Rua Purus, 73, Stiep, CEP 41770-110, Salvador, BA, aprofundar a compreensão da dinâmica familiar de
Brasil. filhos únicos obesos na infância. Crianças de oito
E-mail: lepribeiro@hotmail.com
famílias participaram do estudo: quatro meninos e
Elaine Pedreira Rabinovich quatro meninas, entre 7 e 10 anos, de grupo socio-
Pós-Doutora Psicologia Sócio-ambiental. Professora Doutora do educacional alto e baixo com avaliação nutricional
Programa de Pós-Graduação em Família na Sociedade Contem-
porânea da Universidade Católica de Salvador
para obesidade: IMC acima do percentil 97. Foram
Endereço: Rua Maranhão, 101, aptº 101, CEP 01240-001, São Paulo, aplicados no domicílio os seguintes instrumentos:
SP, Brasil. entrevista semiestruturada, teste projetivo Sceno-
E-mail: elainepr@brasmail.com.br test e avaliação nutricional. A análise apoiou-se na
teoria das configurações vinculares (Berenstein
e Puget). Os resultados apontaram dinâmicas fa-
miliares envolvendo contextos de natureza social,
cultural e histórica da sociedade que parecem favo-
recer ambas as condições: a da obesidade infantil e
a de filho unigênito. Elementos sociais enfatizando
o individualismo se refletem em nível familiar e
íntimo. Assim, a criança pode vir a encontrar, logo
ao nascer, condições  propiciadoras para que a vin-
culação básica com a figura materna não se processe
de modo pleno, ocasionando deslocamento de parte
do que não recebe para a satisfação no alimento.
Além disso, a cultura do consumo interfere no modo
e tipo de alimentação oferecida, na ludicidade e da
sociabilidade infantil, assim como o estreitamento
das possibilidades vinculares: intrapessoais, inter-
pessoais, transpessoais, acrescentando-se o fato de
não ter irmãos. Esse estudo mostrou que, embora
nem todo filho único seja obeso e nem todo obeso
seja filho único, uma condição pode ser facilitadora
da outra na medida em que a situação sociocultural-
histórica da sociedade de consumo hipermoderna
parece direcionar a família a ambas as condições.
Palavras-chave: Obesidade infantil; Filho único;
Relações Familiares.

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Abstract Introdução
This study aims to deepen the understanding of A obesidade na sociedade moderna e globalizada tem
the family dynamics of obese only children using a se espalhado a níveis alarmantes em todas as faixas
qualitative methodology. Its sample included eight etárias e em todas as populações. Devido à magni-
families: four girls and four boys between 7 and tude dessa epidemia, deve-se dar ênfase especial às
10 years old from high and low social-educational medidas preventivas infantis, já que o tratamento
groups, with a nutritional evaluation for obesity: em crianças constitui-se em um melhor prognóstico
body mass index (BMI) > 97th percentile. The follo- do que em adultos (Fisberg, 2005).
wing instruments were applied at their homes: a É uma doença crônica, rica em complexidade,
semi- structured interview, the projective Scenotest com etiologia multifatorial com variáveis biológi-
and a nutritional evaluation. The analysis was based cas, psicológicas, sociais e econômicas, que envolve
on the theory of bond configurations (Berenstein também aspectos ambientais e genéticos. Pode ser
and Puget). Its results showed that family dynamics explicada nos hiperfágicos por alterações culturais,
involving contexts of social, cultural and historical emocionais, regulatórias e metabólicas (Fisberg,
nature of the society seem to favor both conditions: 2005). É de difícil tratamento, de alta morbidade e
child obesity and only child. Social elements em- mortalidade, cujo risco aumenta progressivamente
phasizing individualism reflect on the familial and de acordo com o ganho de peso (Herscovici, 1997)
intimate level. The child can face, as soon as he/she resultante do desequilíbrio crônico entre a inges-
is born, conditions for an unsatisfactory basic bond tão e o gasto energético. Ocasiona consequências
with the mother. The lack of a bond drives the child’s biológicas e psicossociais, identificadas em todas
satisfaction to food. Besides, the consumer culture as faixas etárias (Bernardi e col., 2005).
interferes with the kind of food that is offered and A obesidade infantil tem aumentado considera-
with the way it is offered, and with the child’s social velmente em nível mundial, sendo considerada uma
skills; furthermore, it interferes with the decrease epidemia em algumas áreas e em ascendência em ou-
in the creation of possible bonds: intrapersonal, tras. O International Obesity Task Force preconizou
interpersonal and transpersonal, in addition to the no o 2000 um total mundial de crianças obesas em
fact that the child does not have siblings. This study torno de 45 milhões de crianças (IOTF 2009).
showed that, although not every only child is obese No Brasil e na região nordeste, o modelo da pre-
and although not every obese child is an only child, valência mundial está se reproduzindo. Em estudo
one condition can be a facilitator of the other, as realizado por Leão e colaboradores (2003) com esco-
the social, cultural and historical situation of the lares em Salvador (BA), em idade entre 5 e 10 anos,
hypermodern consumer society seems to lead the verificou-se que as crianças pertencentes à escola
family to both conditions. particular apresentaram 30% de prevalência de
Keywords: Childhood Obesity; Only Child; Family obesidade, enquanto as de escola pública, 8%.
Relationships. A marca do individualismo é um dos elementos
que ocorrem em paralelo à diminuição do tamanho
das famílias. Nesse sentido, nas famílias contempo-
râneas, em que as crianças ocupam a centralidade,
a ênfase na individualização manifesta-se nos
arranjos dos hábitos e nos fazeres da família como,
por exemplo, a criança dispor de espaços próprios
desde o seu nascimento dentro de um paradigma
de que necessita deles para o seu desenvolvimento.
(Singly, 2000).
Nos últimos dez anos, no Brasil, houve um au-
mento de famílias com apenas um filho. Segundo

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dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domi- como problema, já implicaria em uma normatiza-
cílio (PNAD), do IBGE (2007), o número de mulheres ção, ou seja, em um padrão de cujo afastamento
com apenas um filho subiu de 25,8% para 30,7%. constituir-se-ia em um “problema”. Pode-se definir,
Assim, o número de filhos tem diminuído, sobretudo então, “situação da obesidade infantil do filho único”
nas classes média e média-alta, construindo-se um como um espaço familiar sócio-histórico em que a
paralelo entre as mudanças dos dinamismos familia- obesidade resulta de uma interação dinâmica entre
res decorrentes da inserção da mulher no mercado vários níveis em que a criança, sua família, seu
de trabalho, conduzida por reivindicações de maior grupo socioeducacional e seu momento histórico
liberdade, realização pessoal e por necessidades de estão inseridos.
orçamento familiar (Petrini, 2007). Berenstein (2001) articula um modelo de apare-
No que se refere à obesidade segundo as classes lho psíquico no qual se organizam zonas diferenci-
sociais, nos países desenvolvidos existe uma relação áveis, chamadas por ele de espaços psíquicos. Situa
negativa entre o alto nível socioeconômico e a obesi- o espaço intrasubjetivo, o intersubjetivo e o transub-
dade. No que diz respeito aos países em desenvolvi- jetivo, que inscrevem marcas e representações que
mento, encontra-se uma relação positiva entre alto elaboram diferentes dinâmicas e que têm origem no
nível socioeconômico e obesidade (Fisberg, 2005). início da vida. A ideia central é a de que esses espaços
A dinâmica familiar da criança filha única obesa psíquicos têm, cada um, a sua abrangência, consti-
pode configurar uma complexidade da teia biopsi- tuindo o sujeito desde a sua origem mais remota até
cossocial familiar. Para Kehl (2003), quando os pais a sua plena inserção na cultura.
estão ausentes por motivos variados como divórcio, O espaço intrasubjetivo é o que corresponde ao
trabalho, viagens, pode emergir uma dificuldade do intrapsíquico na teoria clássica e abrange as fan-
uso de autoridade na família. Para reparar sua falta tasias, desejos e as relações de objeto. No espaço
em casa, muitas mães ou cuidadores permitem que intersubjetivo, estão o sujeito e os outros. O espaço
os filhos comam sem moderação. Na atualidade, os transubjetivo é o sociocultural, o macro contexto em
sistemas familiares encontram-se em situações de que cada sujeito estabelece relações com os valores,
emaranhamento, configurados por conflitos nas ideologias, crenças e a própria história. São espaços
relações entre mãe, filho(a) e pai que vivenciam o em que são constituídas as relações com a sociedade
prolongamento da simbiose do desenvolvimento a qual o indivíduo pertence, a partir da experiência
vincular mãe e filho(a) na primeira infância. O pai, estabelecida com a participação das figuras paren-
por sua vez, pode apresentar distanciamento na tais, exercendo a mãe o papel de porta-voz da cultura
relação com o filho e encontrar-se fragilizado como (Berenstein, 2007).
figura de autoridade. A tentativa de aproximação
pode se traduzir em uma permissividade alimentar Obesidade infantil e teoria vincular
e em dificuldade em colocar limite em seu filho. Cada época histórica gera um tipo de subjetividade e
(SBP, 2008). de vínculo familiar. Em nossa época, a linguagem do
Na Psicanálise das Configurações Vinculares, sucesso e da eficácia é significativa. Tanto o sujeito
os psicanalistas argentinos Berenstein (2007) e quanto a família estão impregnados da necessidade
Puget (2003) preconizam que a família surge de uma de obter sucesso. Eficácia e aparência (a imagem de
estrutura familiar inconsciente, de um conjunto de si) são propostas do imaginário social como modos
lugares e de vínculos e da maneira particular em de uma subjetividade, individual e familiar, produ-
que eles são investidos. Nasce também de modelos zida no capitalismo.
e ofertas identificatórias individuais, familiares e A criança não apenas está vinculada à sua reali-
culturais, tanto de vínculos atuais quanto transge- dade familiar, mas surge imersa em um “conjunto
racionais. contextualizado”, aí incluídos o político e o econô-
Berenstein (2007) estabelece a distinção entre mico. O espaço dessa construção é o grupo familiar
“problemas familiares” e “situações familiares” em que interagem diversas formas de vínculo (Puget,
para enfatizar que, uma situação ao ser constituída 2003). Nesse espaço, que simultaneamente antecede

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à existência da criança, e é alterada por ela, a rea- • O estado nutricional das crianças. As crianças foram
lidade intersubjetiva é experimentada de maneira avaliadas mediante a aferição dos dados antropomé-
primária pela criança, objetivando a experiência de tricos (peso e estatura), que foram cuidadosamente
vivenciar o lugar de trocas vinculares, investimentos aferidos segundo preconiza o Ministério da Saúde
narcísicos, de separação e individuação (Magalhães do Brasil (MS) (Barros e col., 2004). Em seguida,
e Féres-Carneiro, 2004). realizou-se a plotagem em gráfico dos dados aferidos,
Assim, o desenvolvimento desse tema tem como distribuindo-os em percentis e escores z (desvios-
pressuposto que o sintoma da obesidade infantil padrão) do IMC segundo idade para sexo (5 a 19 anos):
se apresenta como consequência de vários espa- a avaliação nutricional para crianças com IMC entre
ços, intrasubjetivo, intersubjetivo e transubjetivo, P. 85-94% é considerada como sobrepeso, aos valores
associados a transformações socioeconômicas e acima do IMC ≥ P. 95% obesidade. E obesidade grave
ideológicas na configuração da família. como IMC ≥ P. 99% para idade e sexo. Para os escores z
Desse modo, este estudo tem como objetivo geral considera-se obesidade os valores situados acima do
aprofundar a compreensão das relações familiares +2 escore z e obesidade grave valores acima do +3 esco-
de filhos únicos portadores de obesidade exógena na re z do IMC. Para tanto, como referência, utilizaram-
infância. Tem como objetivos específicos: identificar se os instrumentos segundo proposta da Organização
o papel da família e de seus membros na etiologia e mundial de saúde (OMS, 2007). (Quadro 1).
atitude adiante da obesidade infantil do filho único • Famílias formadas por casais cujos orçamentos
e conhecer o relacionamento no contexto sociofami- e responsabilidades da casa eram compartilhados
liar de obesidade infantil do filho único. entre os cônjuges; de qualquer confissão religiosa;
ser filho único biológico do casal.
Método Foram critérios de exclusão: famílias com
Para alcançar esses objetivos, optou-se pela pesqui- crian­ça filha única por óbito de outro filho; com
sa qualitativa que, segundo Lincoln e Guba (2005), é filho único adotivo; com filho único portador de
uma forma de compreender e de interpretar o mundo doenças crônicas; crianças com má formação ou
nos termos de seus atores sociais. enfermidades que interfeririam na coleta dos dados
Participaram da amostra 8 (oito) famílias sote- antropométricos; presença de alergias ou restrições
ropolitanas com filhos(as) únicos(as) obesos(as)1 na alimentares; problemas crônicos que interfeririam
faixa etária entre 7 e 10 anos, pertencentes a 4 (qua- na ingestão de alimentos pelas crianças.
tro) famílias de classe socioeducacional média alta e
4 (quatro) de classe socioeducacional baixa. (Quadro Instrumentos e procedimentos
1). As famílias foram selecionadas em consultórios
e escolas por escolha intencional. A participação Dados Antropométricos
nas entrevistas foi voluntária, após conhecimento Os parâmetros antropométricos foram aferidos no
e assinatura do termo de consentimento informado domicílio da família, sendo explicada a razão para
e esclarecido. esse procedimento, mediante sua concordância.
Para definir o segmento socioeducacional das Para mensuração do peso foi utilizada balança de
famílias, usaram-se os critérios estabelecidos pela precisão modelo Clara 803 eletrônica portátil que
Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas possuía capacidade para 150 quilogramas e precisão
(ABEP, 2008). As informações foram obtidas me- de 100 gramas. A estatura foi mensurada por meio de
diante a observação em domicílio e nas entrevistas antropômetro Seca, modelo 214 com base móvel. As
semiestruturadas com as famílias. orientações para as aferições antropométricas são
Os critérios adotados para inclusão dos partici- preconizadas pelo Ministério da Saúde, publicadas
pantes foram: em seu manual (Barros e col., 2004).

1 A fim de garantir a não identificação dos participantes, não apenas seus nomes foram alterados como quaisquer outras possíveis fontes
de reconhecimento.

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Quadro 1 - Dados Antropométricos e avaliação do estado nutricional das crianças e seus pais, Salvador, 2008

Nome fictício Idade (anos e meses) Peso (kg) Estatura (cm) IMC Diagnóstico nutricional
Nelson 10 a 3 m 67,2 1,52 29,08 Obesidade grave
Sandra 33 a 5 m 53,6 1,59 21,20 Eutrófico
Ricardo 33 a 7 m 72,0 1,72 24,33 Eutrófico

Danilo 7a9m 34,0 1,26 21,41 Obesidade grave


Dandara 47a 6 m 72,0 1, 69 25,20 Pré-obesidade
Cássio 53 a 5m 78,0 1,68 27,63 Pré-obesidade

Emily 8 a 10 m 60,0 1,48 27,39 Obesidade grave


Sumaia 49 a 11 m 79,0 1,66 28,66 Pré-obesidade
Sérgio 51 a 2 m 73,0 1,71 24,96 Eutrófico

Tatiane 8a3m 59,3 1,39 30,69 Obesidade grave


Suzana 48 a 3 m 63,0 1,59 24,91 Eutrófico
Cássio 56 a 10 m 79,3 1, 63 24,84 Eutrófico

Lorenzo 8a 51,6 1,30 30,53 Obesidade grave


Márcia 38 a 5 m 49,0 1,53 20,93 Eutrófico
Fausto 44 a 8 m 64,8 1,65 23,80 Eutrófico

Igor 8a4m 52,6 1.46 24,67 Obesidade grave


Iara 36 a 2 m 69,0 1,68 24,44 Eutrófico
Ronaldo 33 a 6 m 83,0 1,70 28,71 Pré-obesidade

Geórgia 7a 47,3 1,27 29,32 Obesidade grave


Cristina 34 a 5 m 68,0 1,65 24,97 Eutrófico
George 35 a 7 m 65,0 1,70 24,49 Eutrófico

Flávia 7a2m 41,3 1,23 27,29 Obesidade grave


Thaís 34 a 5 m 54,3 1,52 23,19 Eutrófico
Paulo 45 a 2 m 70,0 1,69 24,50 Eutrófico

Scenotest figuras que representam os membros familiares e


O teste, elaborado por Gerdhild von Staabs em 1938, objetos domésticos. O tempo médio despendido para
foi alterado e ampliado por Cerveny (1982). Foi uti- a montagem variou em torno de 30 a 60 minutos,
lizado como um instrumento auxiliar, em conjunto incluindo a montagem do teste e os comentários dos
com os demais. Trata-se de um instrumento de inves- pais após a sua realização.
tigação que visa, por meio de uma sessão familiar, O material que compõe o Scenotest consiste
avaliar a dinâmica e a relação existente entre os em uma caixa com bonecos articulados de figuras
mem­­bros familiares e a criança. A sessão consiste humanas representando pai, mãe, avós e demais
em pedir à criança que disponha em uma caixa pessoas; utensílios domésticos, peças de madeira

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para construções diversas; personagens simbólicas; ca familiar e obesidade infantil, que serão apresen-
animais; alimentos por meio dos quais a criança tados a seguir conjuntamente à sua discussão.
poderá representar situações cotidianas vinculadas
Filho único
à dinâmica familiar.
As instruções para a aplicação do scenotest A categoria analítica “filho único” apresentou-se
foram as seguintes: no ambiente domiciliar e na como a de nível mais geral, estando aqui represen-
presença dos pais e da criança, a pesquisadora tada como: filho totalmente inesperado; gravidez
apresentou a caixa contendo o material do scenotest, não planejada e instabilidade conjugal.
convidando a criança a sentar no chão. Forneceu Filho totalmente inesperado: grupo socioeduca-
as instruções, abrindo a caixa do sceno: “Gostaria
cional alto
muito de conhecer como é a sua casa por dentro. Pode
montar da maneira que quiser, usando o material A Emily, ela veio quando eu nem esperava mais,
dessa caixa como você desejar. Enquanto isso, eu né? apesar de desejar muito, não tinha mais
irei fazer algumas anotações e gostaria que você esperança que ela viesse. Depois de algumas ci-
me avisasse quando a cena estiver terminada. Esse rurgias tratamentos e tudo... Já tinha desistido,
é um espaço livre para você criar e peço a autoriza- ai apareceu a Emily (Sumaia, mãe de Emily).
ção para mais tarde fotografar a cena final com a Dos oito casos estudados, três resultaram de
finalidade de registrá-la, e gravar nosso encontro concepção tardia a partir de 40 anos, todas as mães
em áudio.” (Figura 1). do grupo socioeducacional alto que não esperavam
Aos pais é feito um sinal de que não podem falar mais ter filhos por estarem desenganadas dessa pos-
ou interferir durante a montagem. A entrevista foi sibilidade. Essa foi uma dinâmica que marcou o filho
gravada assim como foram tiradas fotografia da único no que tange à sua estrutura vincular: não ser
última montagem. A pesquisadora anota também o esperado; figuras parentais que tinham um estilo de
que ocorre durante a entrevista. vida já definido e cuja adaptação a um neonato podia
Entrevista semiestruturada com os pais ser difícil; mães e pais que podem não ter tido uma
“maturação” para uma abertura às mudanças que
O roteiro (Anexo 1) de entrevista foi elaborado a par-
a gestação e o nascimento ocasionariam em suas
tir da prática profissional da observação de famílias
vidas. De fato, o período pré-natal e as experiências
e com base na literatura consultada. As entrevistas
primárias da criança, assim como o posterior de-
com as famílias foram agendadas e realizadas em
senvolvimento, têm sido apontados como fatores
domicílio, gravadas e posteriormente, transcritas
responsáveis por doenças crônicas como obesidade,
e analisadas. Consistiu em um relato inicialmente
entre outras (Kuh e Ben-Shlomo, 2004).
livre de como as famílias percebem a criança e a
Esses pais declararam optar por um filho único
si próprias, seguido de questões complementares:
devido à saúde materna e à faixa etária, visto que
dados sociodemográficos dos pais e da criança,
avaliação da criança, relacionamento interpessoal, a gravidez ocorreu de maneira tardia. Assim, foi o
dinâmica familiar, dinâmica alimentar, lazer e itens filho em si que emergiu como exceção e não o fato
associados à obesidade (Anexo 1). de ser único.
Gravidez não planejada: grupo socioeducacional
Resultados e Discussão baixo
A análise dos dados avaliou a relação entre os ele- A gravidez não foi planejada, mas ele foi desejado
mentos obtidos nas entrevistas, no Scenotest e em (Cláudia, mãe de Nelson).
observações etnográficas, identificando elementos Cinco nascimentos resultaram de gravidez não
comuns e diferenciais entre as histórias das crianças planejada, quatro deles pertencentes ao grupo
e seus contextos sociofamiliares. Posteriormente, os socioeducacional baixo. Nóbrega e Campos (1996)
resultados foram agrupados e condensados em três relatam que a presença da ambiguidade de senti-
núcleos norteadores da análise: filho único, dinâmi- mentos quanto à maternidade no estabelecimento

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do vínculo mãe-filho tem a possibilidade de estabe- cação pra mim é... Uma boa alimentação, um bom
lecer conflitos que se podem situar como gênese da colégio, um bom lazer, um bom remédio pra dentro
obesidade infantil. de casa, pra saúde (Márcia, mãe de Lorenzo).
As quatro famílias, ao optarem pelo filho único, Essa mãe apontou a cultura do consumo como já
apresentaram justificativas em termos de exigên- constituindo a subjetividade da criança e retratou
cias de ordem econômica: como a sua condição subjetiva foi “informada” e
No momento não, porque ele (o pai) tá sem traba- transformada pelo processo que Berenstein (2007)
lhar, tá pequena... eu não tenho a minha casa... denomina transubjetividade: “Tudo é dele. Até uma
aqui é a casa de minha mãe... Num dá certo com coisa que a gente for comprando pra mim, ele acha
o problema que ela tem... dois filhos, tá muito que é dele.” (Cláudia, mãe de Igor).
difícil... eu vejo a dificuldade que eu passo com Portanto, a categoria filho único pode ser inter-
uma... pra passar com duas, num dá não. No mo- pretada como a tradução subjetiva de uma opção con-
mento minha cabeça num quer nem um (Cristina, temporânea estruturada em termos macrossociais,
mãe de Georgia). históricos, sociais e econômicos. Em nosso estudo,
A urbanização, a globalização, a situação eco- ocorreu uma diferenciação para essa opção associada
ao grupo socioeducacional: na classe alta, motivos
nômica, a situação de saúde dos pais e a sociedade
alegados de saúde e idade; no grupo socioeducacional
de consumo afetam diretamente a taxa reprodutiva
baixo, principalmente fatores econômicos. Finalmen-
populacional. Como supracitado, o número de mu-
te, comum a todos os casais, a insegurança quanto ao
lheres com apenas um filho aumentou (IBGE, 2007).
futuro parece estar atuando fortemente no presente,
As famílias soteropolitanas entrevistadas aponta-
direcionando projetos de vida.
ram a ocorrência do mesmo fenômeno, embora de
modo ainda emergencial. Dinâmicas familiares
Filho único e instabilidade conjugal Na categoria dinâmica familiar, o enfoque será nos
elementos intersubjetivos envolvendo os pais e a
Em dois casos, as mães justificaram o impedimento
criança.
para ter outro filho com questões relativas à guarda
em situação de um possível divórcio. Na justifica- Pai: Presença e ausência
tiva por um filho unigênito, além de incluir o tema Através de atitudes, a maioria dos pais pareceu
divórcio, uma mãe descreveu os elementos que a influenciar não apenas na origem, mas na manu-
levaram ao filho unigênito: instabilidade econômica tenção da obesidade infantil (Spada, 2005). Em seis
e relacional; conflitos entre o casal e guarda do filho; casos, o pai e a mãe da criança residiam no mesmo
insegurança quanto ao futuro e projetos de vida; domicílio, sendo que a figura paterna não estava
dificuldades econômicas ligadas à saúde, educação, necessariamente vinculada à sua presença física
alimentação e ao lazer: no domicílio. Dos oito casos estudados, quatro pais
manifestaram desinteresse pela criança, podendo
Mas assim, a gente já tá num mundo, que eu acho
ocorrer também o inverso (o pai não habitando com
que um filho na vida de um casal é suficiente e
a criança, mas presente):
segundo, tá dando certo até hoje, estamos juntos,
mas amanhã ninguém sabe... Um só você carrega, “Lorenzo apresentou várias doenças: ‘desmaio,
e dois? Outra coisa também, o futuro da gente, refluxo, febre’ (sic) e de dois meses de idade em
a gente não tá conseguindo dar futuro pra um, diante, foi que ele começou a engordar. [...] Mas o
quanto mais pra dois... Porque eu vou dizer que problema dele, como a psicóloga já disse, era pela
hoje a gente tá junto, mas amanhã a gente não falta do pai. [...].” (Márcia, mãe de Lorenzo).
sabe. Aí vai discutir com que vai ficar com quem Um pai ausente é diferente de um “pai que não
deixa de ficar. E com 3? Educação? Porque negui- está,”, pois se o primeiro marca a subjetividade e
nho acha que educação é só dar comida, comida, obriga a simbolizá-lo dada a sua não presença, o se-
comida. Pra mim educação não é só comida. Edu- gundo marca um tipo de vínculo, pois o lugar do que

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não está é o de uma ausência fortemente impregna- ansiedade materna, superproteção ou autoimagem
da de uma presença esperada. (Berenstein, 2001). narcísica projetada na criança. A “invasão” de mães
Assim, na família de Danilo, o pai, ao exercer o foi observada durante a aplicação do Scenotest,
papel de “amigo” do filho em situações familiares dando ordens ao filho, considerações, corrigindo-o.
como a de “abastecer a despensa de alimentos caló- Esses comportamentos, associados a um desmame
ricos,” (segundo revela a mãe), estabeleceu-se como tardio, reforçam a interpretação de que a mãe invade
um “pai que não está”. Nessa dinâmica, emergiu a o mundo interno do filho ocupando esse espaço, e a
situação da obesidade infantil, em que o pai pareceu criança passa a ocupar o espaço externo pela obesi-
se sentir culpado e ausente fisicamente da família: dade. Esse quadro se associa também a um aumento
por trabalhar fora o dia todo e por cada vez mais op- de dependência que parece ser alimentada pela mãe
tar por conquistas maiores no mercado de trabalho, e pela própria criança.
situando assim o fenômeno do declínio do diálogo e
• Mãe fusionada: aquela que não se separou da crian-
do convívio na família (Lamounier e Parizzi, 2007).
ça. Uma mãe está fusionada com o seu filho quando
Desse modo, o pai tentou se aproximar do filho por
ele é uma extensão narcísica de si própria, não
meio de um diálogo representado pela permissivi-
tendo existência por ela mesma para a mãe. Tassara
dade alimentar.
(2006), em seu estudo em famílias com obesidade
Esses dados apontam a importância da figura
infantil, situa a existência da fusão entre mãe e
paterna na gênese e manutenção da obesidade,
principalmente porque a sua presença pode reorga- filhos associada ao distanciamento do pai.
nizar o ambiente familiar, favorecendo o manejo da Dinâmica do casal
obesidade infantil.
O trabalho dos pais
Mãe: Dinâmica do aleitamento materno e apego
Os casais passaram por diversas instabilidades, uma
materno
delas ligada ao tipo de ocupação. Nas famílias dos
“Mama até hoje com oito (8) anos, se deixar.” oito casos estudados, dois estavam desempregados,
(Cássio, pai de Tatiana). um aposentado, um reiniciava uma carreira profis-
Todas as crianças do estudo foram amamentadas sional, um optou por trabalhar em casa pelo filho e
ao seio de forma não exclusiva por mais de 6 meses, três encontravam-se empregados.
exceto uma cuja dieta consistiu em leite artificial. O caso mais paradigmático foi relatado por uma
Quatro crianças foram aleitadas após os dois anos arquiteta cujo marido foi constantemente transferi-
de idade. Rabinovich e Carvalho (2001) observaram do de cidade devido ao trabalho, isolando ela e o filho
que o desmame tardio está associado a um desajuste em uma redoma, com consequências para a sociabi-
no casal. Na relação mãe/bebê, não teria havido a lidade de ambos. Com a separação, a mãe retornou
“interdição”, uma atribuição da denominada “função ao trabalho, o filho apresentou distúrbio alimentar
paterna”: instituir o simbólico por meio da separa- e escolar, mas, com o reequilíbrio materno, o menino
ção da “natureza”, ou seja, da união mãe/bebê. Sem pareceu também estar se estabilizando.
a “interdição”, mãe e criança não se diferenciam Portanto, o modo de subsistência, a realidade
entre si. Essa “ausência de um si próprio” estaria socioeconômica e a redução do convívio social ao
apresentada na forma da ocupação de espaço do obe- contexto familiar refletem-se diretamente na dinâ-
so e da ingestão alimentar como modo de lidar com mica do casal e devem ser apontadas como um ele-
o vazio da angústia por não haver um “si próprio”
mento a ser considerado na dinâmica da obesidade
(Berenstein, 2001).
infantil, embora presentes também em inúmeras
Baseada em nossa casuística, apontam-se duas
outras problemáticas.
dinâmicas imbricadas no contexto mãe/ filho:
Sociabilidade do filho único
• Mãe intrusiva: mãe que não respeita os tempos e os
desejos da criança, portanto não é sensível às neces- “Ela sempre teve uma dificuldade de... de... as-
sidades ligadas ao desenvolvimento. Seria o caso em sim... entrosar de agrupar. Por ser filha única eu
que o uso do poder se sobrepõe ao do amor, seja por acho” (Sérgio pai de Emily).

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Na dinâmica familiar encontrada na família de Sobre o pai, a mãe relatou: “O pai... compra batata
Nelson, pode-se perceber: frita na rua, e enche o armário de merenda...”.
“Dificuldade de relacionamento. Faltou muito Ilustrando os meios de comunicação e o consumo:
estimular a brincadeira de rua, o convívio dele com Danilo gosta de receber a mesada e ir pro sho-
outras crianças [...] Então foi sempre eu, ele e o pai. pping [...] não sabe lidar bem com o dinheiro. O
... Mas nada muito de estar com amizade. Eu acho negócio dele é comprar [...] Pede o brinquedo (da
que a gente com isso, se fechou muito, só nos três” promoção da ‘X’ ). Porque na verdade, o que ele
(Sílvia, mãe de Nelson). come da ‘X’ é o suco de laranja e a batatinha.
Essa dinâmica pode ser entendida face aos Porque o resto fica tudo. Ele só quer o brinde...
conceitos de espaços intra, inter, transubjetivos. A (Dandara, mãe de Danilo).
família contemporânea vive uma vida de “hiperindi-
Considerando a lógica do consumo alimentar,
vidualização”. Esse processo enfraquece os vínculos
destaca-se a centralização que a comida ocupa na
humanos que são estabelecidos, alimentados e vi-
família e na sociedade contemporânea brasileira. A
venciados no espaço do diálogo que vem se estabe-
“globalização” é, para Berenstein (2007), uma reali-
lecendo no meio familiar de modo fragmentado.
dade em que a supressão dos limites internacionais
Nos nossos casos, a criança obesa recebe apeli-
proporciona modificações de “valores, significações
dos, o que a marca de modo pejorativo:
e ideais” na família conduzindo-a a um “status de
“Baleinha fora d’água... (por isso) Ela ficou sem
consumidor” – em que, numa situação social ante-
comer, mas depois eu a convenci.” (Thaís, mãe de
rior, as pessoas se situavam como “cidadãos”.
Flávia).
A interação interpessoal sempre é intermedia- Atividade física
da pela imagem refletida, que tanto alimenta a Vários pesquisadores, como Tremblay e Willms
autopercepção quanto a valoração de cada um dos (2003), mostram que a deficiência na atividade
parceiros. O apelido ajuda a estigmatizar a criança física das crianças está diretamente relacionada
obesa, influenciando no seu modo de se relacionar ao aumento da obesidade bem como o tempo dedi-
com o outro. cado pela criança a assistir a televisão ou a jogos
eletrônicos.
Obesidade infantil
Agora ela é muito parada, num gosta de caminhar,
Dinâmica alimentar num gosta de atividade física... Num tem outras
O estilo urbano contemporâneo marcado pelo se- crianças pra brincar... num tem outro jeito, ela vai
dentarismo, impacto dos meios de comunicação e engordar mesmo. Num é que ela come, é que ela
modos de consumo, configurado pelo poder econô- num gasta nada... (Sumaia, mãe de Emily).
mico e socioeducacional, podem ser tipificados pela A possibilidade de acesso da população de nível
dinâmica familiar alimentar da família de Danilo. socioeducacional baixo à atividade física, seja por
A mãe descreveu o papel que exercia nessa família, questões econômicas, seja por questões de estrutura
especificando suas atitudes e desejos em alimentar o de lazer e segurança do bairro onde residem, pode
filho de forma a atender não apenas aos seus desejos, ser escassa.
mas também deixar transparecer, para si mesma e
para os outros, o fato de assim exercer o seu papel Quando eu fui no cardiologista, ele falou que
de “boa mãe”, ao oferecer qualidade na alimentação tem que botar ele pra praticar um esporte. E isso
do filho e da família: “A alimentação aqui em casa, já é gasto, pra uma pessoa pra levar, e tudo, e
só entra alimentação natural [...]” (Dandara, mãe o salário que a gente ganha, num dá pra fazer
de Danilo). isso. Ainda tem que pagar transporte (Cláudia,
No entanto, a mesma descreveu assim o dia de mãe de Igor).
extrapolar: “Final de semana é liberado pra Danilo: Além das situações citadas, foram apontadas
chocolate, batata frita, é... acarajé e refrigerante.” pelas famílias situações relacionadas ao estigma so-

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cial e à não aceitação social da obesidade infantil: família, ou configurado em expectativas mágicas,
[...] Ele reclama. Tava botando ele pra caminhar as chances para a criança e o adolescente permane-
de manhã, mas o problema dele é que as pessoas cerem obesos e as suas complicações para a saúde
passam e: Ah!! Gordinho, tem que caminhar mes- são mais elevadas ainda (Fisberg, 2005).
mo... tá gordinho, tem que perder peso. E aí ele As crianças revelaram sua autopercepção acerca
começou a dizer: gente idiota!!!...num sei o quê... de sua obesidade atual, no modo como se sentem
e aí fica com aquele trauma que tá gordinho, tem discriminadas diante das distinções e preconceitos
que caminhar, e fica com respostas agressivas sociais por meio dos principais sentimentos expos-
(Cláudia, mãe de Igor). tos: dor, tristeza e desamparo.

Assim, ocorreu tanto a discriminação social da “Quero ser light quando crescer” (Georgia, 7
obesidade infantil em si quanto a reação da criança anos).
a ela. A criança, não apenas desistiu de caminhar
nas ruas por desejar evitar o sofrimento das agres- Síntese
sões verbais, como também incorporou os olhares
negativos dos outros. Dentre as situações familiares encontradas nesse
A maioria das crianças do nosso estudo não ade- estudo, duas merecem destaque. A primeira: há
riu à atividade física de forma regular; e as causas várias dinâmicas familiares diferentes associadas
dos impedimentos variaram entre a censura do olhar à obesidade infantil; a segunda, uma mesma ordem
do outro, as precárias condições socioeducacionais de dinâmicas sociais conduz tanto ao filho único
ou estruturais de lazer, a não aceitação pela própria quanto à obesidade infantil exógena.
criança de seu corpo, impedindo-a não apenas de ob- A dinâmica familiar principal, observada em to-
ter os benefícios biológicos da atividade física em si, dos os casos, refere-se à invasão do espaço transub-
mas, principalmente, da oportunidade de propiciar jetivo na intersubjetividade, qual seja, nos vínculos,
outras situações vinculares. o que ocorre de modo singular em cada caso. Vive-se
em uma época em que a cultura situa a alimentação
Percepção da obesidade infantil na família
em um lugar central. Esse status a ela atribuído
Dos oito casos estudados, apenas duas famílias tem produzido uma imposição de sua presença que
reconheceram a obesidade no filho. Na entrevista influencia a dinâmica familiar dentro da lógica da
domiciliar, a maioria dos pais designou a obesidade hipermodernidade. A criança, por necessitar “estar”
da criança como algo sem importância, minimi- com o outro para constituir o vínculo, na ausência de
zando, desconhecendo, negando ou terceirizando outras opções, une-se ao alimento em uma realidade
a obesidade de seus próprios filhos, como apenas intersubjetiva. O impacto do espaço transubjetivo
culpada pelos médicos e/ou nutricionistas. Muitas pode ser notado em vários aspectos relatados pelas
vezes, toda a família da criança estava envolvida famílias:
nesse processo de negação. Trabalho: O atravessamento da lógica da hiper-
Em três dessas famílias, os pais acreditavam que modernidade se impõe aos pais, assediados por
a obesidade infantil terá resolução espontânea: maiores conquistas no mercado de trabalho ou iner-
“Vai caminhando para a normalidade” (Sílvia tes na lógica do consumo, assim como vivenciando
mãe de Nelson). o desemprego. Isso se reflete tanto na dinâmica
“Danilo não é gordo. Ele está inchado [...]” (Dan- do casal como em uma redução do convívio social.
dara, mãe de Danilo). Associada à perda de vínculos de pertencimento
e reconhecimento, as relações entre os membros
“Acredito que com a chegada da adolescência, o familiares sofrem perturbações, havendo perda da
peso dela vai equilibrar” (Sérgio, pai de Emily). subjetividade por não estabelecimento de vínculos
A obesidade apresenta graves repercussões orgâ- tanto na vida laboral quanto na social. Dessa forma,
nicas e psicológicas, sendo difícil o seu tratamento. o poder do espaço público, incidindo no modo de
Principalmente quando negada pela criança ou pela subsistência impacta, decide e comanda o pensar,

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valores e crenças na intersubjetividade familiar, única fica isolada no mundo domiciliar e reduzida
interferindo em todos os níveis socioeducacionais. a um universo restrito ao número três. Insegurança
Presença e ausência: Tanto a figura parental quanto ao trabalho, à moradia, à violência urbana,
pode estar fisicamente ausente quanto não se dificuldades econômicas, todos esses elementos se
“apresentar” como tal. Um “pai/mãe que não está” organizam configurando o que se denomina insta-
é diferente de um “pai/mãe ausente”. Em alguns ca- bilidade familiar.
sos dessa presença/ausência, os pais direcionam o Os fazeres: Em meio ao status atribuído à ali-
melhor da sua energia a outros campos, como ao tra- mentação na sociedade “obesogênica”, a dinâmica
balho, por exemplo, e decrescem em disposição para alimentar familiar adquire vida própria e identidade
o diálogo com os filhos, configurando o fenômeno do em cada um dos espaços psíquicos. A criança obesa
declínio do convívio nas relações contemporâneas é discriminada inicialmente pelo olhar da mãe, em
na família. Esse declínio aparece na dificuldade de seguida pelos parentes e sociedade, todos constru-
colocar limites, incidindo no modo de alimentação. tores do estigma social associado à obesidade na
Em três casos estudados, a mudança do posiciona- sociedade atual. Esse estigma gera e sustenta a
mento paterno reorganizou o ambiente familiar, discriminação na qual a própria criança constrói
favorecendo o manejo da obesidade infantil. A re- sua autoimagem negativa. Associada às situações
lação intersubjetiva define e impacta o outro com referentes à discriminação social da obesidade
a sua presença, sendo esse o lugar constituinte do por meio da censura do olhar do outro e em meio
vínculo cujos efeitos positivos da alteridade podem a estruturas de lazer, acessíveis ou não, a maioria
restaurar a qualidade vincular familiar. das crianças não aderiu à atividade física de forma
Falta de lugar da criança na família e dessa no regular, impedindo-a não apenas de obter os bene-
mundo: O “estar” é o lugar constituinte do vínculo. fícios da atividade física, mas principalmente, da
A família que não encontra lugar, não se vincula: oportunidade de proporcionar situações vinculares
falta de moradia e de recursos materiais, doença e outras. Assim, elementos da transubjetividade le-
falta de acesso ao serviço público de saúde, violência vam à perda da subjetividade por destruições – ou
urbana, podem se atrelar a uma ausência de lugar não estabelecimento – de vínculos, refletidos tanto
na vida da família para a criança ou para irmãos, na dinâmica alimentar como na atividade física.
dominados pela lógica. Na ausência do estar, não Sociabilidade: Desde o início da vida, a criança,
ocorre o vínculo e a criança fica resumida ao próprio por meio da sua tripla inscrição simultânea, necessi-
corpo, quando a obesidade aparece como sintoma da ta do intercâmbio com o outro como realidade exter-
falta de lugar da família, expressa na ocupação de na a fim de se constituir como sujeito e instituir-se
espaço externo pelo corpo da criança. no processo identificatório. A “hiperindividualiza-
Instabilidade familiar: Divórcios e separações ção” familiar engessa os fazeres entre as pessoas e
estão no horizonte dos casais que se sentem inse- o mundo, fazeres que são o nascedouro de presenças
guros quanto ao futuro, quer na relação quer no seu de vínculos e da subjetividade. O vínculo demanda
posicionamento no mundo. Nessa medida, o filho uma relação de pertença e, portanto, estabelece-se na
único aparece como uma opção que apenas retrata presença do outro. No que se refere à sociabilidade
esse sentimento de instabilidade. Os pais não se do filho único, foram identificados os seguintes as-
sentem encorajados a ter mais filhos por temerem pectos: autoimagem negativa da criança, refletida
não dar conta dos cuidados necessários, associados, pelos apelidos, dificultando relacionar-se com o ou-
ou não, a uma separação conjugal. Dentro do quadro tro; dinâmica instituída na família de restringir-se
de instabilidade nos vínculos familiares, o irmão à vida privada. Esses são elementos que constituem
pode ser muitas vezes o elemento mais estável fa- e apontam uma deficiente sociabilidade infantil
miliar, atuando como suporte afetivo e companheiro decorrente do modo de vida dos pais.
nas atividades lúdicas. A ausência de um irmão, Relação mãe/criança: Destacam-se duas dinâmi-
portanto, projeta, com maior intensidade, dificul- cas em nível intersubjetivo, envolvendo especialmen-
dades na dinâmica social. Assim, a criança filha te a relação mãe/criança: fusão e intrusão. Associada

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à fragilidade paterna, emergiu a dinâmica da fusão Tendo em vista a obesidade exógena da criança
mãe/criança, em que não havia diferenciação entre a unigênita contemporânea na família, cabe à equipe
mãe e a criança. Há casos em que a mãe atua de modo multiprofissional de saúde esquecer o seu “discurso”
intrusivo, e com excesso de poder, desvirtuando a e assumir a atitude de escuta da família, recebendo
relação a ponto de a criança vir a se tornar um objeto delas seus modos de construir a situação familiar
a seu serviço. A mãe a mantém como um bebê, não na sua dimensão sociocultural e histórica. A equipe
permitindo sua separação e crescimento. aprende com os pais respondendo às perguntas à
Diferenças associadas ao nível socioeducacional medida que elas vão surgindo e recebendo deles o
e gênero: O motivo alegado para o filho ser único es- melhor modo de fazer. Isso traz a possibilidade de
teve associado ao grupo socioeducacional: motivos humanizar e compreender a família nos parâmetros
de saúde no grupo alto e condições socioeconômicas da educação em saúde, enfatizando a importância da
no grupo de baixo nível. Não se observou diferenças presença dos pais, do contato físico e diálogo com a
ligadas a gênero. Do ponto de vista da intervenção, criança, enfatizando ser a faixa etária da infância a
evidentes diferenças se configuram na possibilidade de melhor prognóstico contra a obesidade.
de acesso e uso de possíveis recursos terapêuticos,
quer em nível individual quer em nível grupal. Outra
diferença que emergiu foi o maior envolvimento dos
Anexo 1: Entrevista Semiestruturada
pais com crianças de nível socioeducacional baixo. Caracterização da Criança
Nome:_________________________________________________
Conclusão Data ____/____/____
Peso do nascimento: ___ kg
As dinâmicas familiares indicaram contextos Criança: Peso atual: ___ kg Estatura atual: ___cm
abrangentes de natureza social, cultural e históri- Pai: Peso atual: ___ kg Estatura atual: ___cm
ca da sociedade, que parecem favorecer ambas as Mãe: Peso atual: ___ kg Estatura atual: ___cm
condições, a da obesidade infantil e a condição de
filho único. A situação familiar contemporânea, com Caracterização dos Pais
ênfase no individualismo, favorece que elementos
Nome
transubjetivos – o modo de pensar hipermoderno,
dificuldades econômicas e insegurança quanto ao Pai: ____________________________________________________
futuro – tornem-se prevalentes em nível intersub- Mãe: ___________________________________________________
jetivo, gerando uma motivação para o filho único, Data de nascimento
que propicia um estreitamento das possibilidades Pai: ____________________________________________________
intrasubjetivas, ou seja, vinculares. Por isso, o filho Mãe: ___________________________________________________
único pode vir a encontrar, logo ao nascer, condições
Estado civil
propiciadoras a que sua vinculação básica com a
figura materna não se processe de modo pleno, oca- Pai: ____________________________________________________
sionando que parte do que não recebe seja derivada Mãe: ___________________________________________________
para uma satisfação no alimento. Se nem todo filho Naturalidade e nacionalidade
único é obeso e nem todo obeso é filho único, essa Pai: ____________________________________________________
condição pode ser facilitadora da outra, na medida Mãe: ___________________________________________________
em que a situação sociocultural-histórica da socie- Religião
dade hipermoderna pareça direcionar ambas as
condições. A cultura do consumo interfere no tipo de Pai: ____________________________________________________
alimentação oferecida, no modo de alimentação, de Mãe: ___________________________________________________
ludicidade e de sociabilidade infantil, assim como o Escolaridade
estreitamento das possibilidades vinculares, intra- Pai: ____________________________________________________
pessoais, inter-pessoais, transpessoais, acresce-se Mãe: ___________________________________________________
ao fato de não ter irmãos.

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Profissão • Quem cuida da criança quando os pais estão au-
Pai: ____________________________________________________ sentes?
Mãe: ___________________________________________________ • Há outras pessoas que compõem a família?
• A família já morou em outros lugares ou não?
Atuação profissional
• Como cada um dos pais se relaciona com o
Pai: ____________________________________________________ filho(a)?
Mãe: ___________________________________________________ • O que a família gosta de fazer junto?
Breve História da Família • Qual o lazer da família?
• A família sai junto? Para onde?
• O casamento e a gravidez foram planejados?
• Qual é, para você, o sentido da presença de seu (sua)
• Tem planos de ter outro filho(a) algum dia? Se não,
filho(a) na sua vida?
por que ter um filho(a) único?
• Como foi o nascimento do seu filho(a)? Dinâmica Alimentar Familiar
• Atualmente a criança encontra-se em tratamento • A criança recebeu leite materno? Por quanto tempo?
de alguma doença? Se sim, especifique. • Como ocorreu o desmame?
• Já foi internado alguma vez? • Você acha o seu filho(a) obeso, gordo, normal ou
• Hereditariedade familiar ou alguma doença atual magro?
na criança (Hipertensão arterial, Diabetes, doenças • Como você vê a obesidade de seu (sua) filho(a)? Isso
cardiovasculares, problemas ortopédicos, obesidade, preocupa você?
em relação ao sono ou doenças mentais)? • Você exerce esse cuidado da alimentação na relação
Personalidade da Criança com seu (sua) filho(a)? Como é para você?
• Ele pede para repetir? Quem dá mais?
• O que vocês pensam sobre seu filho(a)?
• Vocês comem assistindo a TV?
• A criança apresenta medo de alguma coisa?
• Aos finais de semana vocês comem fora de casa?
• O seu filho(a) já apresentou comportamentos como
• Associam lazer com alimentação?
roer unhas, bater a cabeça ou balançar-se continu-
• O que você acha quando a família almoça juntos?
amente?
• A criança pede comida? Que tipo de comida?
• Já observaram se seu filho(a) algumas vezes se
• Trocaram um bom comportamento por algum ali-
sente inseguro(a) ou retraído(a)?
mento? Chantageia?
Relacionamento Interpessoal • A criança fica sozinha, mesmo com alguém em
• Com que idade a criança ingressou na escola? casa?
• Como a criança se adaptou e interagiu com a es- • Você cede às vontades da criança? Ou diz não logo
cola? de cara? (Paterno x Materno)
• Como é o relacionamento da criança com colegas • Que tipo de alimentação você compra para a fa-
e professores e familiares? mília?
• De uma forma geral, como é o relacionamento da • E para a criança o quer você gosta de comprar? Ele
criança com as pessoas? pede o que comprar?
• Como os pais acreditam que ela vê nos seus rela- • Você leva compras para ele? O que ele pede?
cionamentos? • Você percebe que a TV influencia no comportamen-
• A criança faz amizades com facilidade ou não? to ou a alimentação do seu filho? Como?
• A criança já fez algum comentário em relação ao
Lazer Familiar
seu peso?
• A criança acha que o seu peso interfere de alguma • O que a família faz para se divertir? Em casa? E
forma no relacionamento com as pessoas? Se sim, fora de casa?
de que forma? • Pra onde costumam sair?
• Praticam atividade física regular?
Dinâmica Familiar • Onde a criança brinca? Quanto tempo? Casa ou
• A mãe trabalha fora? Por quanto tempo? E o pai? Playground?

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• Ele(a) brinca sozinho? Ou pede para brincar com FISBERG, M. (Org.). Atualização em obesidade na
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• Qual brincadeira/atividade você prefere? HERSCOVICI, C. R. A escravidão das dietas: um
• Ele(a) gosta de caminhar? guia para reconhecer enfrentar os transtornos
• Como brinca? Eletrônicos? alimentares. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
Obesidade IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
• História. E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra
• Ele(a) tem algum apelido? de Domicílio, 2007: síntese dos indicadores sociais
• A criança já recebeu algum apelido por ser gordi- uma análise das condições de vida da população
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Recebido em: 16/12/2009


Reapresentado em: 17/02/2011
Aprovado em: 15/03/2011

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