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Introdução à Metodologia Prática da Apologética evangelística.

Durante muito tempo, temos presenciado um crescimento alarmante de seitas e


heresias no seio da Igreja de Cristo, principalmente por parte de grupos religiosos que
afirmam possuir uma visão correta e exclusiva das Escrituras Sagradas e do verdadeiro
cristianismo, que segundo eles, fora perdido ou desvirtuado com o passar dos anos.
A Bíblia nos exorta a conhecermos as suas doutrinas a ponto de sermos capazes
de demonstrar a razão da nossa fé aos nossos interlocutores (1Pe 3.15,16), sendo esta,
portanto, a principal razão desta matéria.
Agora vamos entender um pouco de como desenvolver um diálogo produtivo com
os adeptos de seitas de forma a abrir possibilidades de interação entre nós e eles, com
o intuito único e exclusivo de honrar a Cristo com o testemunho do evangelho verdadeiro.
Não podemos usar o texto de 2 Jo 1.10,11 para justificar um não contato com os
sectários, pois a proibição Joanina tem como pano de fundo a heresia gnóstica que
fragilizou grandemente a igreja, que mesmo em franco crescimento não possuía
debatedores a altura para defenderem o cristianismo recém iniciado. Portanto, a grande
lição que devemos aprender desse texto é que se não estivermos preparados para
conversar, NUNCA devemos iniciar tal diálogo. Mas, uma vez preparados bíblica e
espiritualmente devemos seguir a orientação Paulina que nos encoraja a “fazê-los calar”
(Tt 1. 9-14). Que possamos ser contados entre os fiéis, dispostos a calarmos os
contraditórios, por amor da verdade do Evangelho!

Compartilhando o evangelho com os adeptos de grupos não ortodoxos ou


movimentos seculares.

Como compartilhar as verdades de Deus com aqueles que não creem como nós?
Existem recursos para a obtenção deste fim? A Bíblia nos fornece algum tipo de recurso
para criarmos uma estratégia evangelística?
A seguir refletiremos sobre as respostas concernentes a cada um destes
questionamentos.

1. Precauções que devem ser tomadas:


1. 1. Aprenda o máximo que puder acerca do grupo que almeja evangelizar. Seus pontos
salientes suas terminologias, crenças básicas e conceitos fundamentais em relação a
Jesus, a Bíblia, Deus, etc. Outro ponto que não pode ser esquecido são as doutrinas
bíblicas que você pretende abordar. Isso tudo contribuirá para que você não se ache
despreparado em um diálogo e suas respostas não sejam evasivas ou seu silêncio, ao
ser questionado, não possua um efeito inverso, concedendo maior convicção ao sectário
de que a fé dele é melhor embasada do que a sua;
1.2. Lembre-se de que quem convence é o Espírito Santo e não você (Jo 16.7-10);
1.3. Lembre-se de que você foi enviado para pregar o evangelho a todas as pessoas.
Inclusive aos adeptos dos grupos não ortodoxos (Mt 28.19-20);
1.4. Não pretenda fazer do encontro com o sectário apenas um teste de conhecimento e
tentar humilhá-lo. Nosso intuito deve ser arrebatá-los do erro (Jd 23);
1.5. Lembre-se de que Satanás também é quem está por trás de todo engano e cegueira
espiritual (2Co 4.3,4);
1.6. Interceda pelas pessoas que você deseja evangelizar para que todo impedimento
seja superado (Ef 6.19,20).

2. Como agir diante dos adeptos dos grupos não ortodoxos:

2.1. Deixe a pessoa sentir-se à vontade. Seja cordial;


2.2. Seja um bom ouvinte. Não fique interrompendo o raciocínio da pessoa. Este tipo de
atitude pode inibi-la;
2.3. Não demonstre ser o “dono da verdade”, mas antes a deixe perceber que você está
apenas buscando a verdade dos fatos;
2.4. Demonstre respeito pelo que ela crê, mesmo que não concorde com a sua crença.
Por exemplo: Se um mórmon expõe para você a crença de que Deus é polígamo nunca
trate a sua fé com desdém, apesar de julgar tal crença um grande absurdo;
2.5. Não permita ao adepto de um grupo não ortodoxo se esquivar do assunto que foi
iniciado. Por exemplo: Se você está tratando da divindade de Jesus não o permita fugir
para outro assunto mesmo que seja relativamente próximo ao tema (a Trindade, por
exemplo);
2.6. Trate um assunto por vez;
2.7. Procure sempre documentar as suas afirmações para não transparecer a ideia de
que o que foi declarado é apenas mera opinião pessoal;
2.8. Empregue mais perguntas do que afirmações a fim de não ignorar questões
importantes e relevantes. As perguntas exigem uma resposta pensada, enquanto que as
afirmações, nem sempre, ou não necessariamente;
2.9. Nunca deixe que uma pergunta sua não seja respondida e não passe para outra
questão antes de obter a resposta da indagação anterior;
2.10. Não ataque nenhuma doutrina do grupo e deixe-o à vontade para lhe dirigir
perguntas acerca de sua opinião sobre qualquer tema. Por exemplo: Se você está
trabalhando com um católico, não inicie o diálogo criticando as imagens ou Maria. Espere
que a pessoa indague sobre o assunto.
3. Movimentos Secularizantes:

3.1. Compreendendo o Ateísmo e o Neo-ateísmo.

Corrente filosófica que defende a impossibilidade da existência de Deus. Segundo o


famoso filósofo clássico, Platão existem dois tipos de ateus: os que afirmam que Deus
não existe, e aqueles que declaram não haver espaço para um ser transcendente nas
relações humanas. Apesar de sua origem está perdida no passado longínquo, podemos
considerar o racionalismo cartesiano (Renê Descartes – 1596-1650) o pai do
racionalismo humanista (gerando a mudança de uma visão de mundo que sai do
teocentrismo medieval para o antropocentrismo moderno) e consequentemente do
ateísmo filosófico moderno. O neo-ateísmo é apenas uma vertente mais dogmática do
ateísmo clássico, possuindo uma visão não apenas contrária a ideia de Deus, mas
totalmente antagônica a qualquer tipo de manifestação religiosa tendo-as como causa
dos maiores atrasos da sociedade. Entre os pressupostos neo-ateístas estão:
moralidade não objetiva (relativista), cientificismo e exacerbação dos argumentos
Darwinianos.

3.2. Origem do humanismo secular.

O movimento humanista secular possui suas origens em várias correntes filosóficas


(Racionalismo, existencialismo, marxismo, pragmatismo etc.), e teve o seu “credo” ou
manifesto publicado pela primeira vez em 1933 por um grupo de 34 humanistas
americanos, entre os quais: Dewey (famoso educador pragmático americano), Edwin A.
Burt (filósofo da religião) dentre outros.
Quarenta anos depois foi publicado o segundo manifesto Humanista em 1973 para fazer
alguns ajustes no primeiro manifesto por ser este incapaz de cumprir os anseios
humanistas de progresso moral e suficiência declarados desde o período do Iluminismo
francês.
A força propulsora do movimento ateísta nos tempos modernos tem sido o cientificismo
com sua garantia de oferecer ao homem a completa compreensão daquilo que podemos
ver, sentir, tocar, ou mesmo teorizar com relação a existência objetiva ou subjetiva de
tudo ao nosso redor. E, portanto, o completo domínio da própria existência.

3.3. Principais pressupostos filosóficos do segundo manifesto humanista de 1973.

3.4. Neo-ateísmo.

3.5. Niilismo.

3.6. Relativismo ético.

3.7. A razão e inteligência humana são suficientes na resolução dos problemas da


humanidade.
3.8. A sexualidade deve ser vivida sob o desejo de cada indivíduo adulto.

3.9. Liberdade plena do indivíduo.

3.10. Direito a eutanásia e suicídio.

3.11. A supremacia da raça humana está acima de qualquer conjunto de regras de


conduta moral.

3.12. Separação plena institucional e ideológica entre o Estado e a Igreja.

3.13. Nova ordem econômica e política socializada e cooperativa.

3.14. Eliminação de toda discriminação de qualquer natureza (Orientação sexual, cor,


credo, etc.).

4. Resposta aos principais argumentos Ateístas e Neo-ateístas:

4.1. Se tudo que existe tem um início, não poderíamos entender que Deus também teve
um início?

Resposta Apologética

A lei da causalidade não determina todo ser possuindo uma causa. Antes declara todo
ser “finito possuindo uma causa”. Se alguém admitisse todo ser (finito ou não) tendo uma
causa, ele teria de admitir a existência de um ser além da matéria e os que negam a
existência de Deus não afirmariam tal coisa. Se tudo que existe foi causado,
precisaríamos conhecer a natureza total de todas as coisas, naturais e sobrenaturais, e
não as conhecemos. Como a analogia da causalidade demonstra nenhum efeito ser
menor do que a sua causa, poderíamos comparativamente afirmar a existência de um
ser maior do que o universo e que o criou, não podendo ser limitado ao tempo e espaço,
pois a matéria, tempo e espaço só começaram a existir a partir da criação do universo.
Devemos, portanto acreditar que esta “causa” exista além do tempo, não sendo, portanto
finita. Se houvesse uma infinidade de eventos passados o hoje não poderia existir. Por
isso se desenvolveu na filosofia o conceito de número real (possível e, portanto,
existente) e potencial (impossível, mesmo que imaginável).
O que existiu antes do tempo? O que gerou o algo conhecido (matéria) poderia ser o
nada, visto que do nada não pode vir algo? Nada pode produzir alguma coisa?

4.2. Só acredito no que vejo e nunca vi Deus!

Resposta Apologética
Não acreditar na existência de algo com base na falta de conhecimento direto do sentido
da visão (nunca ter visto) não resolveria o problema da existência ou não de algo. A visão
humana, segundo a própria ciência, é incapaz de ver tudo o que possui existência por
suas limitações de campo de percepção. Se a visão humana é incapaz de captar toda a
informação física que está ao nosso redor, não seria demais exigir que a mesma
possuísse capacidade de percepção da existência em outros níveis de um suposto ser
espiritual? Se quanto mais densa é a matéria, mais fácil é sua percepção, como
poderíamos esperar que através da visão pudéssemos “ver” Deus, se o mesmo for um
Espírito?
Não precisamos ver o autor de um crime, ou de uma obra de arte para afirmarmos que
o mesmo existe, precisamos? Assim como enxergamos o autor de um crime, ou o pintor
de um quadro pelas evidências dele num local específico, a natureza com a sua grande
diversidade e harmonia incomparável deve ser suficiente para “vermos” o autor das
evidências (a ciência forense trata desta questão que não faz parte da chamada ciência
empírica, ou experimental).
Se você só acredita no que viu então você não deve acreditar em nenhum fato histórico
não testemunhado por você no passado. Se acreditamos em outros tipos de testemunho
(que não o ocular), por quê rejeitá-los como evidências quando tratamos de Deus? Será
que a criação por ser apenas a “evidência” não seria a razão pela qual não podemos ver
literalmente o criador?

4.3. A existência de Deus é apenas uma questão de fé.

Resposta Apologética

A existência de Deus é um fato provável apoiado por todas as áreas da ciência verificável
(biologia [lei da biogênese], física [lei da causa e efeito] e química [código genético]). Não
podemos afirmar que a existência de Deus toma como pressuposto apenas a fé, e nada
mais, pois Deus estabeleceu através de sua criação ímpar um caminho facilmente
identificável através das evidências físicas. Por que as ciências exatas não conseguiram
até hoje estabelecer a inexistência irrefutável de Deus?
O astrônomo agnóstico Robert Jastrow afirmou: “Eles [os cientistas] descobriram que
tudo isso aconteceu como um produto de forças que não esperavam encontrar [...] isso
o que eu e qualquer pessoa chamaria de força sobrenatural é, agora, penso eu, um fato
cientificamente comprovado” (Christianity Today, Entrevista com Robert Jastrow, 6 de
Agosto de 1982).

4.4. A existência de Deus é apenas um mecanismo de defesa emocional diante das


limitações de nossa existência frente a morte e os mistérios da vida.

Resposta Apologética
Segundo a concepção evolucionista, o processo de humanização de nossa espécie a
partir das supostas formas inferiores (simiescas) até chegarmos finalmente a forma atual
do “homo sapiens sapiens” (humana) só é determinada quando além do “bipedismo”
(capacidade de locomoção sobre dois pés), desenvolvemos transcendência (capacidade
de pensar sobre os valores espirituais da vida e da morte). Esse, portanto seria o motivo
pelo qual nos diferenciamos dos demais seres biológicos através de um “processo
natural” que fez parte do desenvolvimento do nosso raciocínio.
Se toda a raça humana só alcançou esse status (humanização) a partir da
transcendência, e conseqüentemente a crença em Deus, por que não crermos que tal
crença é um processo natural estabelecido para os seres humanos? Se a crença em
Deus faria parte da evolução do cérebro humano, por que vê-lo como uma imposição
meramente moral? Poderíamos acreditar que o homem foi naturalmente feito para crer?
Não podemos, além disso, questionar esta interpretação do fenômeno da fé e da religião,
quando sabemos que nem todas as religiões admitem a existência do ser após a morte
como algumas correntes do hinduísmo e o próprio budismo? Se todo o fenômeno
religioso for explicado apenas por um sentimento de continuidade frente a morte, por que
nem todas as religiões mundiais creem assim?

4.5. Acreditar na existência em Deus é para pessoas mentalmente atrasadas.

Resposta Apologética

Os principais responsáveis pelo desenvolvimento da ciência moderna eram teístas, com


um enorme grau de crença no teísmo cristão. Galileu Galilei, Isaac Newton, Immanuel
Kant, Blaise Pascal e Renê Descarte, são considerados as maiores mentes por trás da
ciência moderna, e nem um ateu se atreverá a rotulá-los de “mentes tacanhas”. As
grandes descobertas em muitas áreas do pensamento científico que conhecemos hoje
fazem alusão de forma direta ou indireta a esses grandes pensadores da humanidade.
Também nenhum dos filósofos clássico (Sócrates, Platão e Aristóteles) defendeu o
ateísmo, ou o concebeu como necessário para se chegar a verdade objetiva.
Cientistas e filósofos com alto grau de respeitabilidade como Francis Collins (diretor do
projeto genoma) e Antony Flew (o mais proeminente filósofo ateu do século 20) creram
em Deus a partir de suas pesquisas científicas, nos respectivos campos de pesquisa que
atuam.
O livro, Cosmo, Bios e Theos, trás entrevistas com sessenta cientistas, dos quais vinte
e sete são ganhadores do prêmio Nobel em suas respectivas áreas, afirmando não
verem nenhuma incompatibilidade entre crer em Deus e acreditar na ciência. Os ateus
rotulariam esses cientistas de “mente fechada”?

4.6. A crença em Deus suscitou tanta violência e morte que não pode ser tolerada como
algo bom.

Resposta Apologética
É bem verdade que muitos fizeram uso da violência em nome da fé em Deus e de seus
dogmas religiosos. Mas devemos abandonar a crença em Deus por causa do mau uso
de seu nome? Se alguém usa um avião para proporcionar combates e destruição,
deveríamos considerar o avião algo a ser abandonado? Então o fato das novas
tecnologias científicas terem sido usadas maciçamente a serviço da morte de milhões
durante as duas grandes guerras mundiais é um motivo suficiente para abandonar a
ciência tecnológica?
Os regimes comunistas (ateístas) na Rússia e na China foram responsáveis por mais
morte do que todas as cruzadas e a inquisição no mundo! Se o ateísmo filosófico causou
a morte de milhões, então deve ser abandonado? Nenhuma ideologia provocou tantas
mortes quanto o ateísmo Marxista.

4.7. Se Deus é todo poderoso, por que não erradica todo o mal da terra?

Resposta Apologética
Ser todo poderoso, não é o mesmo que “poder fazer tudo” (Deus não pode mentir [Tt
1.2], e, por exemplo, não pode criar uma pedra tão grande que ele não possa
transportar). Deus poderia ter feitos seres autômatos, mas não os fez, pois tencionou
lhes proporcionar o livre arbítrio (a possibilidade de fazer escolhas morais). Para que não
houvesse a possibilidade de existir o mal Deus teria de optar por criar seres sem
liberdade, totalmente desprovidos de poder de escolha e decisão, mas não foi isto que
desejou. Por isso, tem permitido que o homem faça suas escolhas morais através do uso
de sua liberdade (Ec 7.29). Todo o mal produzido na terra é de responsabilidade divina?
Pessoas morrem nas ruas abandonadas, em guerras, em catástrofes naturais causadas
pelo mau uso dos recursos naturais, etc. Seria Deus o responsável por tais
circunstâncias?
A liberdade é boa em si, mas o seu mau uso pode minar e destruir uma sociedade.
Ademais, o fato de o mal atualmente existir não significa sua continuidade sem punição
ou correção.

5. Negando a Inerrância Bíblica:

5.1. A Escritura não precisa ser 100% inerrante para ser verdadeira.

Resposta Apologética

Deus é o Deus de toda verdade (Rm 2.2), e as Escrituras Sagradas várias vezes fazem
referência à verdade como algo buscado dentro desta própria revelação para o homem
(2 Co 13.8). Se as Escrituras Sagradas são totalmente inspiradas (2 Pe 1.21), ou
direcionadas por um Deus perfeito (Tg 1.17); como podem conter algum tipo de
mensagem não verdadeira?
5.2. A Escritura não precisa ser 100% inerrante para ser infalível.

Resposta Apologética

A ideia propagada por alguns “revisionistas” que não conseguem conviver com algumas
informações que segundo eles são anticientíficas, e não comprovadas por qualquer tipo
de ciência verificável nas Escrituras, é que a Bíblia pode não ser infalível e mesmo assim
continuar sendo a palavra de um Deus perfeito e verdadeiro.
Se levarmos em conta o que o próprio Senhor Jesus Cristo disse com respeito a alguns
fatos narrados nas Escrituras e que são constantemente postos em dúvida pelos céticos,
deístas e críticos que não creem nela, não poderíamos defender uma infalibilidade sem
inerrância. Jesus Cristo confirmou a infalibilidade de relatos como:

5.2.a. A historicidade de Adão (Mt 19.5);

5.2.b. A arca de Noé (Mt 24.38,39);

5.2.c. O diálogo existente entre Moisés e Deus na sarça ardente (Mt 22.32);

5.2.d. A alimentação do povo hebreu com maná no deserto no tempo de Moisés (Jo
6.49);

5.2.e. A história de Jonas no ventre do peixe por três dias (Mt 12.40);

5.2.f. A conversão em massa da cidade de Nínive (Mt 12.41).

Se todos estes relatos do Antigo Testamento mencionados nos Evangelhos pelo próprio
Jesus Cristo forem encarados como cientificamente errados ou não fiéis, estaríamos
acusando Jesus de ter por real um mito. Se Jesus não soube diferenciar entre o que é
mito e verdade, será que em outras áreas não poderia ter se enganado? Tal ponto de
vista cético causa outro problema de credibilidade em relação às palavras do próprio
Jesus Cristo.

6. Principais cuidados que devem ser tomados com relação as aparentes discrepâncias
bíblicas:

6.1. Esteja totalmente persuadido que existe uma resposta satisfatória a cada uma das
aparentes discrepâncias encontradas na Bíblia;

6.2. Nunca tenha uma posição de pôr em dúvida alguma referência bíblica em particular,
negando sua total inerrância, por não compreendê-la;
6.3. Estude o texto dentro de uma interpretação que esteja diretamente ligada ao
contexto histórico e gramatical;

6.4. Não baseie a sua pesquisa em nenhuma tradução. Consulte sempre que possível o
que diz as línguas originais;

6.5. Em casos de aparente discrepância histórica (principalmente nos evangelhos e livros


históricos paralelos), estude cuidadosamente os relatos semelhantes e tente harmonizá-
los levando em conta os detalhes do relato;

6.6. Procure estudar os textos que aparentam certa contradição, fazendo uso de bons
comentários escritos por comentaristas que acreditam na inerrância das Escrituras
Sagradas;

6.7. Lembrar que não devemos pôr em dúvida algum relato bíblico por não ser
comprovado por dados arqueológicos: Lembre-se que ausência de evidência, não é
evidência de ausência. A arqueologia possui muitas limitações como toda ciência;

6.8. Lembrar que a Bíblia é um livro divino escrito em linguagem humana. E como tal
possui às vezes uma linguagem limitada que deve ser interpretada dentro destas
limitações.

7.1. A Bíblia possui erros de transmissão em seus originais.

Resposta Apologética

Devemos nos lembrar, que a inspiração plenária e verbal só diz respeito ao texto original
(autógrafo), e não a suas cópias!
Em relação à transmissão de textos, devemos saber que a Bíblia, segundo a ciência que
trata da verificação de transmissão de textos antigos na ausência do original, a chamada
crítica textual, possui mais de 95,5% de pureza de texto (os restantes dos quase 5% são
em sua maioria mudanças identificáveis e facilmente corrigíveis). O que é um fenômeno
de transmissão quando comparado com outros textos antigos como o clássico hindu
Mahabarata (10% do texto possui alteração) e a Ilíada de Homero (5% do texto possuem
alteração).
Os erros de transmissão da Bíblia em sua maioria podem ser considerados como
variação do uso de palavras, e podem ser harmonizados dentro dos vários textos sem
alterar o significado básico do verso bíblico.
Existem alguns tipos categóricos básicos de erros de transmissão que são classificados
hoje pelos críticos textuais, em algumas pelo menos sete categorias:

7.1. Haplografia – Seria escrever uma vez o que deveria ter sido escrito duas vezes (Is
26.3);
7.2. Ditografia – É escrever duas vezes o que deveria ser escrito uma única vez (Ez
48.16);

7.3. Metátese – É a mudança inadvertida da posição das palavras ou das letras (Is
32.19);

7.4. Fusão – Consiste na combinação de palavras unindo a última letra de uma palavra
com a primeira da seguinte, ou a combinação de duas palavras formando uma terceira
(Lv 16.8);

7.5. Fissão – É a divisão de uma palavra em duas, formando outras (Is 2.20);

7.6. Homofonia – Seria escrever uma palavra de sentido inteiramente diferente por causa
de uma sonorização semelhante entre palavras de sentidos completamente opostos (Mq
1.5);

7.7. Leitura errônea de letras parecidas – Com o desenvolvimento da escrita, as letras


passaram a variar de forma e tamanho; causando assim em alguns casos certa variação
de tradução por troca de palavras (Is 33.13).

Existem outros tipos de erros cometidos pelos copistas, que podem de alguma forma
produzir algum tipo de mudança na transmissão do texto. Porém, devemos lembrar que
nenhum tipo de erro é considerado significativo no que diz respeito a mudanças
doutrinárias nas Escrituras Sagradas.
Sem dúvida alguma, mesmo não possuindo nenhum texto original das Escrituras
Sagradas (os autógrafos), temos o conteúdo fundamental original.

8. Quais as principais aparentes contradições bíblicas?

8.1. Por que em um texto bíblico, lemos a declaração de que Davi foi movido por Deus
para levantar um senso de Israel (2 Sm 24.1); quando outro texto declara que foi Satanás
(1 Cr 21.1)?

Resposta Apologética

As duas afirmações estão corretas, se entendermos que Satanás agiu diretamente no


recenseamento intencionando destruir Davi, enquanto o Senhor tinha como propósito
humilhá-lo e lhe dar uma importante lição espiritual. O texto parece um pouco com a
situação encontrada no livro de Jó.

8.2. Qual é a tribo de Elcana, pai de Samuel: Efraim como declara 1 Sm 1.1, ou Levi
como declara 1 Cr. 6.16-30?
Resposta Apologética

Era costume enviar levitas para habitarem em regiões diferentes, distribuídos em cidades
de diversas tribos de Israel (Nm 35.6). O fato de Samuel ter sido educado para
desempenhar o serviço sacerdotal aponta para sua origem levita, mesmo que Elcana,
seu pai, tenha vivido numa região de Efraim na cidade de Ramataim- Zofim.

8.3. Jessé teve oito (1 Sm 16.10), ou sete filhos (1 Cr 2.13-15)?

Resposta Apologética

As duas respostas estão corretas, pois apesar de Davi ter tido sete irmãos, o relato de 1
Crônicas possivelmente é posterior a morte de um dos filhos de Jessé. Era comum
mencionar a família somente em termos do número dos filhos existentes, sem mencionar
os que possivelmente tivessem morrido.

8.4. Saul se suicidou (1 Sm 31), ou foi morto por um amalequita (2 Sm 1)?

Resposta Apologética

O relato bíblico é claro ao afirmar que Saul se suicidou na ocasião que se lançou sobre
a sua própria espada na batalha contra os filisteus (1 Sm 31. 4,5). Sendo assim podemos
inferir que o relato do amalequita dado a Davi era falso, e que simplesmente mentiu por
intencionar ganhar algo do rei por seu “grande” feito.

8.5. Por que é mencionado que Absalão tinha três filhos (2 Sm 14.27), quando outra
passagem afirma que ele não deixou descendente (2 Sm 18.18)?

Resposta Apologética

As duas afirmações estão corretas, pois o texto de 2 Samuel 14.27, apenas menciona o
nome da filha (Tamar), sem mencionar os nomes dos três filhos, que certamente
morreram na infância não deixando descendentes ao seu pai Absalão. Este é o motivo
pelo qual não são mencionados.

8.6. Como encontramos textos bíblicos que afirmam que toda a casa de Saul pereceu
com ele (1 Cr 10.6), se Isbosete, filho de Saul, não morreu, e inclusive foi proclamado rei
(2 Sm 2.8)?

Resposta Apologética
Isbosete não é mencionado no texto de 1 Cr 10.6, por não fazer parte da “casa de Saul”,
não o servindo e por não ter ido a guerra. Assim ele não fazia parte dos chamados
“homens de Saul”.

8.7. Por que a Bíblia menciona Azarias como pai de Jotão (2 Rs 15.1-7), se ele na
verdade foi filho de Uzias (2 Rs 15.32,34)?

Resposta Apologética

Não é incomum nas Escrituras encontrarmos pessoas mencionadas por dois nomes
diferentes: Gideão foi chamado de Jerubaal (Jz 6.32; 7.1), e Joaquim de Jeconias (2 Rs
24.6; 1 Cr 3.16). Assim não seria absurda a ideia de que Azarias seria o mesmo Uzias.

8.8. Por que Mateus afirma que dois endemoninhados foram até Jesus (Mt 8.28-34), se
Marcos e Lucas afirmam que foi um só (Mc 5.1-20; Lc 8. 26-39)?

Resposta Apologética

Nos relatos tanto de Marcos como de Lucas não encontramos a palavra “apenas um”
com relação ao possível endemoninhado que foi até Jesus. O fato de dois evangelistas
mencionarem apenas um dos dois homens não cria uma contradição histórica no relato,
pois onde há dois, sempre há um. Certamente os dois evangelistas mencionaram um
dos dois endemoninhados por se destacar no relato do encontro.

8.9. Por que há um erro no registro da seqüência das tentações de Cristo no relato de
Mateus (Mt 4. 5-10), em comparação com Lucas (Lc 4.5-12)?

Resposta Apologética

Nenhum dos textos afirma que se está dando um relato em ordem cronológica dos fatos
relacionados a tentação de Cristo que venha a criar algum tipo de contradição. Não
podemos afirmar a ordem dos eventos relacionados à tentação de Cristo, como não
podemos ver nisto algum “erro” ou discrepância. Citar uma narrativa de fatos sem
necessariamente colocá-los em ordem, não anula o significado e a importância dos fatos
narrados pelos evangelistas.

9.1. Compreendendo o Cientificismo Cultural X Religião Sobrenatural.

A chamada “ciência” como termo que abranja a amplitude do conhecimento racional


sobre a natureza pode ser definida como: discurso racional, sobre a natureza física, com
pretensão de verdade”.
9.2. Origem da Ciência

A ciência, no sentido aplicado sobre a compreensão dos fenômenos naturais, sempre


fez parte da história de todas as culturas em todas as épocas, mas no sentido conhecido
de desenvolvimento a partir de novos métodos que proporcionariam a “revolução”
científica, surge em meados do século 16, a partir dos estudos de movimento dos
elementos físicos descobertos por Isaac Newton, Galileu Galilei, e Nicolau Copérnico,
nas áreas de física, matemática, e astronomia. Apesar da tentativa de desassociação
existente entre ciência e religião, todos os cientistas pioneiros criam na revelação cristã
e que estavam apenas descobrindo os mecanismos pelos quais a criação física
manifestava a sua funcionalidade.

9.3. Quais os limites da “ilimitada ciência”?

A ciência é apenas mais um saber humano, e apesar de sua enorme importância em


todas as épocas e culturas, sempre possuiu uma incapacidade inata de arbitrar em três
áreas significativas de nosso saber e existência: Lógica, ética e epistemologia.

9.3.1. A teoria do conhecimento (epistemologia) é uma área de pesquisa de completo


domínio da filosofia, e não da própria ciência;

9.3.2. A ciência não consegue através de seus próprios métodos estabelecer parâmetros
testáveis que a validem.

9.3.3. Todas as expressões usadas pela ciência para designar suas “práxis” são tomadas
da filosofia, que não é ciência, no sentido estrito do termo (a priori, a posteriori,
dedutivismo, indutivismo, etc.);

9.3.4. A ciência possui sua área de atuação apenas dentro dos limites do estudo dos
fenômenos físico;

9.3.5. A ciência trabalha com a repetição dos fenômenos, portanto não pode validar ou
negar através de sua metodologia os fenômenos sobrenaturais. Os milagres por
exemplo;

9.3.6. Como pesquisa dos fenômenos repetidos a ciência só pode chegar ao resultados
daquilo que é: Observado, Testado,e Repetido. Como a repetição de qualquer fenômeno
é limitada, na verdade a validação de qualquer pesquisa acaba se baseando num
número limitado de observações do fenômeno. As certezas então se baseariam no
pressuposto dos resultados limitados, que gerariam hipóteses e teorias, que também
seriam consequentemente limitadas;

9.3.7. Os resultados das pesquisas científicas passam pela interpretação dos cientistas,
portanto a ciência não é o sinônimo de objetivismo pragmático em todo resultado que
pronuncia;
9.3.8. Não pode defender em sua totalidade um “magistério não interferente” (NOMA [em
inglês]), como proposto por Stephen Jay Gould, por não aplicar o próprio conceito de
NOMA em sua base epistemológica.

10. Definindo o fenômeno religioso.

Segundo o livro Reason & Religious Belief :

“A Religião é constituída por um conjunto de crenças, ações, e experiências, tanto


pessoais e coletivas, organizada em torno do conceito de uma realidade última que
inspira adoração ou total devoção. Esta realidade última pode ser compreendida como
uma unidade ou pluralidade, pessoal ou impessoal, divina ou não, diferindo de religião
para religião” (PETERSON, HASKER, REICHENBACH, 2009, p. 7).

11. A Religião pode substituir a ciência?


A religião e a ciência possuem campos de atuação que são limitadas, quando vistas
como proposta de conhecimento independentes com a finalidade de estabelecer fatos
completos e universais. A ciência e a própria religião são limitadas quando tentamos
estabelecer um conhecimento da totalidade de nossas experiências por apenas um
desses prismas. A partir disso podemos entender que:

11.1. O propósito da religião em sua própria etimologia é o de ‘religar’ o homem ao


criador, ou a sua própria origem, portanto não tem como fundamento a apresentação dos
fenômenos da criação que nos cerca;

11.2. O conhecimento religioso é limitado em seu campo de juízo, por não ser capaz de
pronunciar em sua totalidade verdades universais objetivas;

11.3. O conhecimento religioso depende sempre de algum tipo de sobrenaturalismo, que


sempre fará parte de nossa experiência subjetiva (pessoal);

11.4. A religião, como a ciência, é quase sempre dependente do irracionalismo da fé.

11.5. Experiências obtidas pela religião não tem como propósito a plena compreensão
do mundo no qual vivemos, antes a plena satisfação pela compreensão, por fé, dos
fundamentos da origem do todo.

12. A religião cristã pode se pronunciar corretamente sobre assuntos que são do campo
exclusivo da própria ciência?
12.1. O propósito da Bíblia é o de pronunciar a verdade de Deus através da revelação
sobrenatural de quem ele é, e quais os fundamentais propósitos dele para a sua criação.
Jesus declarou duas coisas extremamente importantes com relação ao conteúdo total
das “Escrituras” (Bíblia): Ela não pode falhar (Jo 10.35), e é a verdade (Jo 17.17). Então
segundo o próprio Jesus as Escrituras não podem em sua totalidade falhar, ou mentir
em suas declarações;
12.2. A Bíblia é um livro antiquíssimo cujas categorizações da natureza fogem das
categorizações criadas pelas ciências posteriores dos séculos 16 - 19. Ex: O coelho é
considerado ruminante (Lv 11.15), o morcego ave (Lv 11.13,19), o lago salgado é
considerado mar (Gn 14.3);

12.3. A Bíblia é um livro de linguagem e cultura diferente da cultura na qual vivemos,


portanto, o distanciamento cultural também nos impede de entender a totalidade das
declarações bíblicas (Ex: a história de Jonas e o grande peixe);

12.4. Reconhecer que todo conhecimento é limitado, por ser conhecimento humano.
Nem mesmo os escritores bíblicos entendiam tudo o que escreveram (Dn 12.8,9);

12.5. Compreender que o Deus que nos proporcionou as Escrituras é o mesmo que nos
legou a razão, portanto ele não poderia nos conceder dois níveis de conhecimento que
se contradizem e excluem se mutuamente;

12.6. O Deus bíblico não é de confusão (1 Co 14.33), portanto toda confusão de


entendimento bíblico é confusão humana e não bíblico-divina.

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