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Quando o autoritarismo levou consigo a autoridade

Sílvia Fernandes
Psiquilibrios
www.psiquilibrios.pt

Houve uma fase em que o Autoritarismo imperava; recordamos anéis espessos, réguas,
canas e afins, tudo numa relação muito física, literalmente, no que se refere à relação
professor-aluno, quando a aprendizagem e o comportamento não correspondiam ao
pretendido.
Passa a referida época (não vou referir enquadramentos temporais porque varia também
em termos geográficos) e, por confusão, apaga-se também, porque se entende
erradamente como sinónimo, o termo Autoridade.
Fica então o professor entregue a situações de completo impedimento socio-ético-
pedagógico no que se refere a regras e a procedimentos para apelo à ordem na sala de
aula. Surge, então, neste tempo de nevoeiro psico-emocional o conceito de “coitadinhas
das crianças”. Coitadinhas porque são pobres, coitadinhas porque são faladoras e devem
ter traumas de infância, coitadinhas porque os pais deixam-nas entregues a si mesmas,
coitadinhas porque os pais estão sempre a controlar, coitadinhas porque são ricas.
“Coitadinhas das crianças” passa, assim, a fazer parte do vocabulário pedagógico
corrente, engendram-se teorias comprovadíssimas em birrinhas e linguagem imprópria
das crianças (ninguém ouse chamar-lhe falta de educação!!!) e são desculpadas todas as
atuações menores em termos de trabalho e obrigações escolares, bem como em termos
comportamentais. Trabalham pouco e quando querem, não trazem o que lhes é pedido
de casa (materiais) e têm direito a terem dias maus muitas vezes, aliás, todos os dias,
inibindo também a aprendizagem dos restantes colegas, que tiveram a má sorte de ter
uma dessas crianças coitadinhas na turma. No final do ano, mesmo que em posição de
desmérito completo, arranjam-se argumentos para que se enquadre na legislação ou em
qualquer regulamento interno de uma escola e transite de ano não, por isso, porque se
faz contas ao feito e ao bem feito, mas ao imaginário do possível, ao potencial do
quimérico. Ciclo perfeito de desvalorização escolar completo!
Peço desculpa… (acho que tenho de pedir porque essa expressão de “coitadinhas das
crianças” não faz parte do vocabulário). Uma criança que precisa de ajuda, por diversos
motivos, deve ter essa ajuda, não deve ser desculpada. Sinteticamente: o trabalho de
aula é um trabalho de grupo e, como tal, tem sempre um líder. Um líder que orienta, que
exige, que impõe, que restringe atuações, que elogia. Nas minhas aulas o líder sou eu!
Uma aprendizagem pedagógica académica de 5 anos tem de dar algum crédito a quem
se forma como professor. Não é dado o mesmo crédito a um engenheiro que termina o
seu curso, apto para orientar construções?
Não se pretende com este pequeno texto acicatar consciências adormecidas; constitui
simplesmente uma prática pessoal. É um texto aberto à opinião e, por isso, fico à espera
de melhores práticas. De teorias feitas à medida do umbrático… não preciso; tenho em
casa uma biblioteca de dezenas de livros bastante empoeirados na secção da pedagogia.
Não é pó de antiguidade é mesmo de irrealidade pedagógica.

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