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06/10/2019 Sínodo da Amazônia revela sagacidade política do papa - Agência Pública

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REPORTAGEM

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06/10/2019 Sínodo da Amazônia revela sagacidade política do papa - Agência Pública

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Sínodo da Amazônia revela sagacidade


política do papa
Essa é a explicação que se ouve dentro dos muros do Vaticano sobre a
convocação da reunião no próximo outubro em Roma, que vem fazendo
barulho entre os cardeais

16 de setembro de 2019 Lucas Ferraz


12:00

 ESPECIAL: AMAZÔNIA SEM LEI

Só a Divina Providência poderia prever que um encontro internacional sobre a


Amazônia, convocado há dois anos, coincidiria com o atual momento da região,
alvo de políticas destrutivas do governo Jair Bolsonaro e após virar notícia
global em razão dos incêndios descontrolados e do avanço recorde do
desmatamento.

Em Roma, a explicação que se ouve dentro dos muros da Cidade do Vaticano é


bem mundana: trata-se de um exemplo da sagacidade política do papa
Francisco, que, responsável por pautar o evento no final de 2017, desde o início
de seu pontificado, há seis anos, elencou a defesa do meio ambiente como ponto
central de sua agenda.

No próximo mês, durante três semanas, mais de 250 integrantes da Igreja


Católica, além de indígenas, ribeirinhos e cientistas de nove países que fazem
parte da floresta, se reunirão no Vaticano para o Sínodo da Amazônia, evento
que consolidará a liderança global do argentino Jorge Mario Bergoglio como
porta-voz da causa ecológica.

O objetivo não é somente discutir novas formas de evangelização na região, que


tem cada vez menos influência católica, mas principalmente debater propostas e
estratégias para a preservação de sua biodiversidade, das comunidades
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tradicionais
 e como desenvolver umREPORTAGEM
modelo econômico sustentável. 

Visto pelo governo Bolsonaro como uma ameaça à soberania nacional, o evento
será outro potente fórum a chamar atenção da comunidade internacional para a
prejudicial política em curso na Amazônia, além de provocar descontentamento
na ala conservadora do Vaticano, que tachou o sínodo de “herético” por propor a
discussão de temas revolucionários para o catolicismo, como a ordenação de
leigos para suprir a falta de padres nas regiões isoladas.

O sínodo é uma espécie de assembleia realizada em média a cada três anos, que
muitos em Roma chamam de “Parlamento dos Bispos”. Ele foi instituído após o
Concílio Vaticano II, um longo debate que, no início dos anos 1960, modernizou
a estrutura da Igreja em diversas frentes. A atual edição, dedicada à Amazônia,
se encaixa na categoria de sínodo especial, como já ocorreu antes em discussões
específicas sobre continentes como Europa e África. A novidade, agora, é o
evento ser dedicado a uma região geográfica.

Como observou recentemente o jornal L’Osservatore Romano, órgão oficial do


Vaticano, a Igreja Católica não tem competência para formular e promover
novos modelos de desenvolvimento na Amazônia, mas o que ela espera é
denunciar os males provocados pelo atual modelo político e econômico,
posicionando-se simbolicamente contra uma situação que considera de “caos
ambiental e social” e coloca em risco a área com a maior biodiversidade do
mundo.

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com o jornal L’Osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, a Igreja Católica busca se posicionar simbolicam

O documento preparatório do sínodo, produzido após consultas a mais de 80


mil pessoas que vivem nas comunidades amazônicas dos nove países e que
servirá de guia das discussões, antecipa o tom crítico que virá da Santa Sé nas
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próximas
 semanas. O texto afirma que “a violência, o caos e a corrupção” reinam
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na Amazônia e não poupa nem mesmo o passado da própria Igreja,
reconhecendo que ela foi cúmplice de crimes durante a ocupação da região.

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contaminação de rios e terras, o abate e a queima de árvores, a perda maciça da
biodiversidade, o desaparecimento de espécies, constituem uma realidade crua
que interpela todos nós”, ressalta o “Instrumentum Laboris”, que, dividido em
três partes, tem um total de 147 tópicos.

Como reconhece o Vaticano, há “muito em jogo” na Amazônia, onde vivem cerca


de 30 milhões de pessoas, por isso a necessidade de escutar as aspirações e os
“gritos” das comunidades locais, conforme ressaltaram nos últimos meses o
papa e os muitos bispos e padres envolvidos na organização.

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imos anos cinco assassinatos e um


 REPORTAGEM 
desaparecimento

stamos destruindo a natureza


ra o proveito de uma minoria”,
diz Dowbor
olhido para a Entrevista do Mês dos
os da Pública, o economista Ladislau
owbor alerta: na era do capitalismo
mprodutivo, caminhamos em ritmo
acelerado para um desastre

Em maio de 2015, pouco mais de dois anos depois de eleito, Bergoglio divulgou
uma carta encíclica (“Laudato Si”) em que deixava claro sua preocupação com o
meio ambiente. Ali ele lançou as bases do seu discurso contra as monoculturas e
a ambição empresarial que destrói florestas. Ele menciona a Amazônia na carta
(como também regiões da África) e pondera que há “propostas de
internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das
corporações internacionais”.

Ainda antes da ascensão de políticos negacionistas do aquecimento global, o


pontífice vaticinava: “Muitos daqueles que detêm mais recursos e poder
econômico ou político parecem concentrar-se sobretudo em mascarar os
problemas ou ocultar os seus sintomas, procurando apenas reduzir alguns
impactos negativos de mudanças climáticas”.

O documento foi considerado um importante divisor no mundo católico,


conforme ressalta o veterano vaticanista Marco Politi. Pela primeira vez, o
Vaticano expressou que a ecologia é fundamental na fé cristã e expôs diretrizes
para os fiéis sobre a proteção da natureza. “O papa deixou claro que há uma
relação intrínseca entre a degradação ambiental e a degradação social. O mesmo
que destrói uma destrói a outra”, ressalta Politi.

O subtítulo da carta encíclica de 2015, “sobre o cuidado da casa comum”, dará o


tom das discussões em Roma no próximo mês.

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Para
 o governo brasileiro, envolto de fantasmas internos e externos, o evento –
REPORTAGEM
após toda a repercussão internacional recente e o embate com o francês
Emmanuel Macron –, é mais um exemplo da conspiração internacional contra a
soberania da Amazônia. O tom conspiratório é compartilhado e alimentado pelo
Exército brasileiro.

As primeiras notícias da contrariedade do governo surgiram ainda no início do


ano, quando se noticiou que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da
Presidência estava monitorando o evento. Recentemente, o órgão negou que
tivesse infiltrado agentes no sínodo, mas ressaltou que o acompanhava pela
imprensa e nos sites da Igreja – os arapongas não tiveram muito trabalho, já
que a documentação do evento está aberta na internet.

O governo brasileiro solicitou ao Vaticano para acompanhar a assembleia por


meio de um representante, pedido que foi negado. O gesto irritou a cúpula da
Igreja, segundo auxiliares do papa, pois foi considerado uma tentativa de
ingerência nos assuntos internos. O sínodo é um evento realizado pela Igreja e
para a Igreja, conforme disseram.

Em março, o uruguaio Guzmán Carriquiry Lecour, conselheiro de Francisco que


cuidava da Pontifícia Comissão para a América Latina, recém-aposentado,
deixou o descontentamento claro: “O papa respeita a autonomia política de cada
país, assim como quer que cada país respeite a autonomia da Igreja”.

O que parece inevitável é o renascimento de uma nova polarização,


acompanhada por animosidades mútuas, entre a Igreja e o governo brasileiro,
situação que se viu durante a ditadura militar (1964-1985).

“Para o governo, o que importa é abrir oportunidades de lucros para os grandes


investimentos interessados em ocupar as terras indígenas, ricas em minerais
preciosos, em explorar a indústria madeireira, expandir o plantio de soja e as
pastagens de gado”, afirma o frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o
Frei Betto. “Mais do que angariar adeptos para o catolicismo, o que a Igreja quer
é defender os povos originários e a preservação socioambiental.”

Dos nove países amazônicos (Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia,


Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa), o Brasil – que detém a maior
extensão da floresta – tem a situação política mais delicada. Sobretudo pelas

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visões
 antagônicas entre Brasília e Roma. O choque fica evidente ao se comparar
REPORTAGEM 
a política ambiental colocada em prática nos últimos meses, diametralmente
oposta aos pontos listados no documento que guiará o sínodo – que se chocaria
também com a política de governos precedentes, como, por exemplo, do PT, em
especial nas críticas à construção de usinas hidrelétricas na floresta.

“A Amazônia está sendo disputada a partir de várias frentes”, afirma um trecho


do “Instrumentum Laboris”. “Uma responde aos grandes interesses econômicos
ávidos de petróleo, gás, madeira, ouro, monoculturas agroindustriais etc. Outra
é a de um conservacionismo ecológico que se preocupa com o bioma, porém
ignora os povos amazônicos.”

O cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e


próximo de Bergoglio, será o relator do evento. Ele já deixou claro o que pensa
sobre o tema. “Um dos problemas cruciais para proteger a Amazônia surge do
modelo de desenvolvimento imposto pelas autoridades públicas e pelos
interesses das empresas privadas”, escreveu o cardeal no livro O sínodo para a
Amazônia, publicado recentemente pela Igreja.

Segundo disse Francisco a jornalistas depois de ser eleito, dom Cláudio estava
ao seu lado durante a votação decisiva na Capela Sistina, em 2013, quando ele
foi anunciado o novo papa. O brasileiro o abraçou e disse: “Não se esqueça dos
pobres!”. Este será o espírito do sínodo: ouvir quem nunca teve voz, sejam eles
indígenas, ribeirinhos e os pobres das periferias amazônicas.

Além da questão ambiental, haverá ênfase na necessidade de defender os


direitos humanos (muitos missionários católicos foram assassinados na região,
caso da irmã americana Dorothy Stang, executada no Pará em 2005) e a
preservação das terras indígenas (que o governo Bolsonaro quer abrir para a
exploração mineral).

Na primeira semana, os participantes farão uma radiografia da atual situação da


Amazônia. O quadro brasileiro é dramático: além da inoperância governamental
diante do desmatamento, que em agosto deste ano cresceu 222% em relação ao
mesmo mês do ano passado, há uma acintosa desmobilização contra o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e
secretarias de repressão a incêndios antes existentes na estrutura do Ministério
do Meio Ambiente.
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Desde o início de seu pontificado, o papa Francisco elegeu a pauta ambiental como ponto cen

Entre os cientistas convidados para a exposição nos primeiros dias do evento,


está o climatologista brasileiro Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de
Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). “A grande questão é o
modelo de desenvolvimento na Amazônia, que é o mesmo desde a década de

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1970.
 As pesquisas de opinião mostram que o brasileiro não concorda com o
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desmatamento e toda a situação atual. Se vivêssemos realmente numa
democracia plena, já tínhamos encontrado um caminho”, lamentou.

Ele explicará os três vetores que contribuem para a atual situação da floresta: o
aumento da vulnerabilidade aos incêndios, o desmatamento e o aquecimento
global, aspectos negados pelo governo brasileiro. Nobre conta que as mudanças
na Amazônia já são perceptíveis, com o prolongamento da estação da seca e uma
mudança nas espécies de árvores. Algumas delas desenvolveram maior
tolerância ao período de seca, enquanto outras, típicas das regiões mais úmidas,
registram taxa de mortalidade maior.

“Estamos chegando perto de um momento de não retorno. Já devastamos entre


15% e 17% de toda a Amazônia. Se chegarmos a 25%, veremos uma
desertificação irreversível, com o desaparecimento de grande parte da floresta”,
completa. “Pelo menos o papa entendeu que não nos resta mais muito tempo.”

Para a Igreja, outro ineditismo do sínodo aponta para o seu próprio futuro – e
não somente dentro da Amazônia. Pela primeira vez, o Vaticano discutirá a
possibilidade de “ordenação sacerdotal de pessoas idosas (homens ou
mulheres), de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua
comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e instável”.

A ideia, há muito debatida internamente, poderá revolucionar a Igreja se


aprovada pelos bispos, afirma Marco Politi. “Esse é um tema de excepcional
importância. Atualmente a correlação interna é de 60% a favor de aprovar a
medida”, disse. Politi observa que o relator do sínodo, dom Cláudio Hummes, é
favorável à ideia: “Começa-se fazendo essa experiência na selva amazônica, mas
depois, inevitavelmente, se fará em outras áreas, como, por exemplo, na floresta
de pedra que é Nova York.”

A ordenação de leigos poderia suprir uma das principais carências da Igreja na


Amazônia, a falta de padres, problema que se verifica também em outras partes
do mundo, em especial nos países europeus onde há alta percentagem de idosos
– numa cidade da Suíça, uma mulher assumiu funções paroquiais diante da
falta de um sacerdote.

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Mas
 o tema suscita forte oposição da ala conservadora do Vaticano, que vem 
REPORTAGEM
disparando ataques a Francisco desde o Sínodo da Família, em 2015, quando o
papa pregou maior abertura para os fiéis separados e gays.

Outra relutância dos opositores diz respeito ao que eles consideram uma
“contaminação” do cristianismo na sua relação com a espiritualidade dos povos
indígenas (pagã, segundo essa visão). Esse aspecto foi discutido e supostamente
superado pelo Concílio Vaticano II, que defendeu inserir a fé cristã na cultura
indígena sem imposição, como ocorreu durante a colonização das Américas.
Mas a resistência persiste.

Um dos mais conhecidos críticos do Santo Padre, o cardeal alemão Walter


Brandmüller classificou o documento preparatório do sínodo de “herético” e
contraditório ao “ensino irrevogável da Igreja”. “É impossível esconder o fato de
que esse sínodo é particularmente adequado para implementar dois dos projetos
mais ambicionados e que nunca foram implementados até agora: a abolição do
celibato e a introdução do sacerdócio feminino, a começar por mulheres
diaconisas”, escreveu.

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A Amazônia, como de resto todo o Brasil, ainda registra o “vertiginoso


crescimento das recentes igrejas evangélicas de origem pentecostal”, conforme
observa o Vaticano. Na segunda metade do século passado, a Igreja foi uma
importante aliada das comunidades indígenas, sendo a sustentação para a
sobrevivência de muitas etnias, como se viu, por exemplo, no caso dos xavantes
em Mato Grosso durante a ditadura, expulsos de suas terras originárias e
protegidos graças ao trabalho de religiosos. O Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) é um dos principais legados nesse sentido, mas seu peso e influência já
não são os mesmos.

“A Igreja que está na Amazônia sempre teve deficiência de missionários e de


recursos, vamos expor ao mundo a precariedade e o quanto é importante buscar
novos caminhos para a evangelização e para estar mais presente”, afirma dom
Edson Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM), a diocese mais
indígena do Brasil (90% da população, de 23 etnias e 18 línguas diferentes) e
uma das maiores da Amazônia. Ele conta que sua diocese tem apenas 21 padres,
que conseguem visitar no máximo quatro vezes por ano as comunidades
ribeirinhas espalhadas pela região. “É preciso passar de uma pastoral de visita
para uma pastoral de presença”, defendeu. O bispo apoia a ordenação de leigos
como sacerdotes – “acredito que o sínodo vai assumir a proposta de ordenar
homens casados” – e ressalta que a Igreja precisa definir com urgência o tipo de
função que as mulheres poderão assumir.

Para Frei Betto, a Igreja Católica ainda exerce na Amazônia uma função
exógena, de “defender a preservação da floresta e os povos que a habitam”, e
outra endógena, “de fortalecer a cultura dos povos amazônicos, inclusive suas
tradições espirituais e religiosas, sem querer importar uma versão colonialista
do cristianismo”, como no passado, hoje adotada abertamente por igrejas
evangélicas neopentecostais, aliadas do bolsonarismo.

O papa Francisco afirmou na última semana, numa rara ocasião em que rebateu
seus críticos internos, que não teme um “cisma” no Vaticano, como já ocorreu
no passado. Ele diz que está aberto às críticas, mas condenou a deslealdade dos
opositores que agem nas sombras, “atiram pedras e depois escondem as mãos”.
“Hoje temos muitas escolas de rigidez dentro da Igreja, que não são cismas, mas
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maneiras
 cristãs pseudocismáticas,REPORTAGEM
que terminarão mal. Quando você vê 
cristãos, bispos, padres rígidos, há problemas por trás disso, eles não têm a
santidade do evangelho. Por isso devemos ser brandos com as pessoas que são
tentadas por esses ataques, elas estão passando por um problema.”

A resposta do pontífice, um crítico do populismo em ascensão no mundo,


também poderia ser aplicada aos políticos rígidos e com “problemas por trás”,
como o presidente brasileiro. Desde 2011, fazemos jornalismo investigativo
independente e sem fins lucrativos. Nossas reportagens já conquistaram mais
de 40 prêmios nacionais e internacionais e são reproduzidas livremente em
mais de 700 veículos do mundo todo. Nosso jornalismo é pautado pela
apuração rigorosa dos fatos e pela defesa intransigente dos direitos humanos.
Se você acredita, como nós, que esse tipo de jornalismo é essencial para a
democracia, colabore e nos ajude a produzir ainda mais. Apoie a Pública 

A reportagem é parte do projeto da Agência Pública chamado Amazônia sem


Lei, que investiga violência relacionada à regularização fundiária, à
demarcação de terras e à reforma agrária na Amazônia Legal.

Crédito da imagem destacada: Prensa Total

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