Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Graduada em Comunicação Social com habilitação em Rádio e Tv (Universidade Estadual de Santa
Cruz)
Um breve histórico
Não é possível precisar quando ocorreu o primeiro suicídio, mas ele sempre
esteve presente na história da humanidade. A Enciclopédia Delta de História Geral
registra que, em um ritual no ano 2.500 a.C., na cidade de Ur, doze pessoas
consumiram uma bebida envenenada e deitaram-se para esperar a morte.
Recorrendo a livros religiosos como a Bíblia, por exemplo, é possível também
encontrar o registro de famosos suicídios como, por exemplo, Saul, Sansão e Judas
Iscariotes.
Relatos de suicídios de pessoas famosas vêm sendo registrados na história
oficial e os cidadãos comuns suicidados são ignorados. No entanto, é possível
constatar a maneira como a sociedade tratou os suicidas e, como este tratamento foi
sendo alternado. Cabendo observar o suicídio enquanto questão política tratada de
diferentes maneiras pelo Estado.
Ressignificação do suicídio
Durkheim, em seu pioneiro trabalho O Suicídio (1897), define o suicídio como
“[...] todo o caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou
negativo praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir esse
resultado” (Durkheim, 1897: 15). Para o autor, como qualquer fato social, o suicídio é
um modo de ação capaz de exercer um constrangimento externo sobre os indivíduos;
constrangimento esse, que chega a questionar a própria estrutura social. Este estudo
de Durkheim, analisando os suicídios ocorridos no século XIX, tornou-se obra
clássica da sociologia por chamar a atenção sobre a significação social do suicídio
pessoal – o suicídio é uma denúncia individual de uma crise coletiva.
Inicialmente, atribuíram-se duas espécies de causa extra-sociais que podem, a
priori, apresentar alguma influência sobre a taxa dos suicídios: as disposições
O suicídio na contemporaneidade
Esqueça os antigos ritos, velórios, lutos, procissão para o sepultamento, como
descritos por Ariès (1992). Foi-se o tempo onde a morte de um homem modificava
solenemente o espaço e o tempo de um grupo social. Hoje, vivemos a banalização da
morte e, consequentemente, da vida. O luto é quase inexistente, a hospitalização dos
doentes ao invés de se morrer em casa, a solidariedade da sociedade para com a
família do morto. Tudo transformou-se. E, em alguns casos, até extinguiu-se. Mas a
morte não deixou de ser um fato social e público.
O que se observa atualmente é a vontade de divulgar as causas da morte, tão
reprimida por medo do Além e pela conveniência de se manter o moribundo na
ignorância. Vivenciamos hoje a necessidade de falar do fim da vida naturalmente ao
invés de esconder, encarar a morte como um direito do homem contemporâneo. Por
isso, há para o indivíduo a necessidade de um último diálogo e suas recomendações
finais; seja o desejo de expressar com quem deixar os bens materiais, como é o caso
do testamento, ou o desejo de findar com o sofrimento acarretado por doença
incurável, como é o caso da eutanásia, ou mesmo a necessidade de desculpar-se,
revelar sentimentos antes ocultos. Esse ritual também é seguido pelo suicida,
principalmente o altruísta. Como veremos mais adiante, há casos onde a própria
morte é o meio mais eficaz de comunicar e divulgar seus pensamentos e ideais.
O fenômeno do suicídio, fato social envolto em tabus e em mistérios,
aparentemente está relacionado a questões íntimas do suicidado e afeta somente seus
parentes e as pessoas mais próximas. No entanto, os rumos da organização mundial
(globalização do entretenimento, comércio em grande escala, modismo, cultura das
mídias), o embate entre culturas e religiões diversificadas são mudanças importantes
e atuais, que trouxeram consigo uma nova relação com o fenômeno do suicídio. Como
lembra Durkheim:
Existe, para cada grupo social, uma tendência específica ao suicídio que
nem a constituição orgânico-psíquica dos indivíduos nem a natureza do
ambiente natural explicam. Resulta disso, por eliminação, que essa
tendência deve depender de causas sociais e constituir por si mesma um
fenômeno coletivo; inclusive, certos fatos que examinamos, sobretudo as
Considerações finais:
Evidenciando o papel da mídia nos casos de suicídio
É certo que o fenômeno do suicídio como todo fenômeno social, alcança
diferentes significações em distintos tempos e espaços. Com a construção de uma
identidade islâmica de resistência, o suicídio surge como uma forma de oposição
coletiva diante da opressão, devido à posição desvalorizada e discriminada dos
mulçumanos, principalmente para aqueles que se encontram nas áreas de conflito,
como na Palestina, Afeganistão e Iraque.
Apresentamos uma discussão sobre o filme Paradise Now, do diretor Hany
Abu-Assad, abordando os métodos de persuasão utilizados para recrutar voluntários
para homens-bomba. Apontamos a apropriação pelos mentores dos atentados
suicidas das formas simbólicas, como meio de propagação de sua ideologia para o
maior número de pessoas possível, seja através de seus “vídeos testamento”
veiculados nas grandes redes de televisão, ou através da publicação desses vídeos na
internet.
A televisão, através da cobertura jornalística na contemporaneidade, concede
ao suicídio uma visibilidade privilegiada, principalmente quando se trata dos
atentados suicidas islâmicos. A cobertura jornalística é o fator motivador das ações
terroristas, sendo a cobertura midiática procurada pelos grupos terroristas que têm
certeza que encontrará um espaço no horário nobre de todas as grandes redes de
televisão do mundo.
Concluímos que, os meios de comunicação representam um importante
elemento que participa no planejamento e na execução dos suicídios altruístas
contemporâneos. Esta participação se dá, seja como uma mera interferência como,
por exemplo, os livros; seja como um meio de encontrar e compartilhar os mesmos
ideais como é o caso da internet; seja como objetivo final de divulgar suas
reivindicações, protestos e ideologias, como ocorre com os “vídeos testamento” e suas
exibições no horário nobre da televisão.
Referências
ALMEIDA, Alexander Moreira de; ALMEIDA NETO, Francisco Lotufo de. Religião e
comportamento suicida – a cultura da morte. In: MELEIRO, Alexandrina;
TENG, Chei Tung; WANG, Yuan Pang. Suicídio: estudos fundamentais. São
Paulo: Segmentofarma, 2004.
ARIÈS, Philippe. O homem diante da morte. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1992.