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PROCESSO Nº TST-AIRR-742-05.2012.5.24.

0004

A C Ó R D Ã O
(7ª Turma)
DCABP/asn/cgel  

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.
ALTERAÇÃO DA VERDADE DOS FATOS. NÃO
CONFIGURAÇÃO. A caracterização da
litigância de má-fé pelo art. 17, II,
do CPC, exige a demonstração
inequívoca do propósito de a parte
alterar a verdade dos fatos,
entendendo-se estes como aqueles
incontroversos. No caso, no momento
da propositura da ação, não era
incontroverso o exercício do direito
à ampla defesa e ao contraditório em
procedimento de sindicância. Além
disso, trata-se do legítimo exercício
do direito de a parte reclamante
deduzir na inicial suas pretensões
segundo a interpretação que faz dos
fatos do modo que lhe seja mais
favorável, nos termos e limites do
ordenamento, sem configuração da
intenção de alterar a verdade dos
fatos. Portanto, não demostrada
violação ao art. 17, II, do CPC,
assim como inespecífico o aresto
apresentado para o confronto de teses
(Súmula nº 296 desta Corte, item I),
o que inviabiliza o processamento do
recurso de revista seja pela alínea
"a" seja pela alínea "c" do art. 896
da CLT. Agravo de instrumento
desprovido.
DEMISSÃO. FALTA GRAVE. NÃO
IMEDIATIDADE DA PENALIDADE. PERDÃO
TÁCITO. CONFIGURAÇÃO. De acordo com o
princípio da imediatidade, a
aplicação de penalidade pelo
empregador deve ser imediata, sob
pena de configurar o perdão tácito.
Trata-se de construção doutrinária e
jurisprudencial reiteradamente
aplicada por esta Corte. No caso,
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inquestionável a ausência de
imediatidade entre as condutas da
trabalhadora e a aplicação da
penalidade de demissão, porquanto
decorridos mais de vinte anos entre
as condutas e a iniciativa da
reclamada de atos tendentes à
aplicação de penalidade,
consubstanciados na abertura de
sindicância para apuração de faltas
funcionais, a configurar o perdão
tácito. Portanto não demonstradas as
alegadas violações de dispositivos
legais e constitucionais, não
configurada a hipótese do art. 896,
alínea "c", a autorizar o
processamento do recurso de revista.
Agravo de instrumento desprovido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Agravo de Instrumento em Recurso de Revista n° TST-AIRR-742-
05.2012.5.24.0004, em que é Agravante EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA
AGROPECUÁRIA - EMBRAPA e Agravado MARTA PEREIRA DA SILVA.
O Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região
denegou seguimento ao recurso de revista interposto pela reclamada,
entendendo ausentes os pressupostos do art. 896 da CLT.
Inconformada, a reclamada interpõe agravo de
instrumento, alegando, em síntese, que o recurso merece regular
processamento (p. 685/699).
Apresentada contraminuta (p. 710/712) pugnando
pelo não conhecimento do agravo de instrumento por falta de depósito
recursal.
Processo não submetido ao parecer do Ministério
Público do Trabalho (TST/RI, art. 83).
É o relatório.

V O T O

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1. CONHECIMENTO

A agravada pugna pelo não conhecimento do agravo


de instrumento por falta de depósito recursal.
Atribuído na sentença o valor da condenação no
importe de R$ 18.157,81 (p. 529), mantido pelo acórdão regional ao
negar provimento aos recursos (p. 626). A agravante efetivou os
depósitos dos recursos ordinário (p. 564) e de revista (p. 673),
totalizando R$ 20.714,42. Assim, "depositado o valor total da condenação, nenhum
depósito será exigido nos recursos das decisões posteriores, salvo se o valor da condenação vier a ser
ampliado" (Instrução normativa TST nº 3/1993, item II, alínea "b").
Portanto, presentes os pressupostos recursais de
admissibilidade, conhece-se do agravo de instrumento.

2. MÉRITO

2.1. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. ALTERAÇÃO DA VERDADE DOS


FATOS. NÃO CONFIGURAÇÃO.

Na fração de interesse, decidiu o Regional sob os


fundamentos seguintes:

LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
Insurge-se a ré contra a decisão que indeferiu o pedido de condenação
da autora por litigância de má-fé.
Alega que a autora, inequivocamente, exerceu o contraditório e
abdicou do exercício da ampla defesa (defendeu-se sem advogado), no
entanto, omitiu intencionalmente tais fatos em juízo.
Aduz a ré, ainda, que deve ser levado em consideração que de acordo
com a Súmula Vinculante n. 5 do STF, a falta de defesa técnica por
advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.
Analiso.
Sob alegação de omissão intencional acerca do pleno exercício do
contraditório e da abdicação à ampla defesa nos autos da sindicância, o que
certamente induziu o juiz a erro e culminou no deferimento da liminar nos
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autos da ação cautelar e da tutela antecipada nos presentes autos, a ré


requereu a condenação da autora por litigância de má-fé.
Pois bem. Não obstante a ré tenha sustentado na defesa que a
sindicância não compreende um processo administrativo propriamente dito,
o fato é que as provas contidas nos autos demonstram que a autora foi
ouvida pela comissão de sindicância, notificada para apresentar
justificativas escritas, tendo-lhe sido facultado acesso aos autos da
sindicância e obtenção de cópias; a autora obteve, inclusive, prorrogação de
prazo para apresentação de defesa escrita (documentos de f. 105, 106, 108,
122). Ainda assim, não antevejo a má-fé arguida pela ré.
Com efeito, na inicial a autora sustentou a supressão da ampla defesa
e do contraditório na apuração dos fatos que ensejaram a despedida por
justa causa, pois não teve o direito de constituir advogados, foi ouvida
apenas uma vez e a defesa e documentos por ela apresentados sequer foram
analisados pela ré (f. 33). Assim, tendo a autora se baseado em fundamentos
adjacentes à defesa, e não na impossibilidade de apresentá-la, em si, não
verifico a alegada omissão intencional do exercício inequívoco do
contraditório.
Quanto à alegação de que a autora omitiu haver abdicado da
assistência de advogado (enquanto na inicial sustentou que não teve direito
de constituir advogado), não há discussão específica acerca da
impossibilidade de constituir advogado, o que, a rigor, impossibilita aplicar
a penalidade à autora.
Nego provimento .

A reclamada defende a aplicação de multa à


reclamante por litigância de má-fé, ao argumento de que esta omitiu
a verdade dos fatos na petição inicial quanto a questões relevantes
relativas ao exercício do contraditório e da ampla defesa em
procedimento de sindicância, induzindo em erro o juízo de primeiro
grau, que deferiu a pretensão em antecipação de tutela.
Aponta violação aos art. 17, II, do CPC, assim
como divergência jurisprudencial com base em aresto da 4ª Região.
O Regional registrou que a reclamante, na petição
inicial, "sustentou a supressão da ampla defesa e do contraditório na apuração dos fatos que
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ensejaram a despedida por justa causa, pois não teve o direito de constituir advogados, foi ouvida
apenas uma vez e a defesa e documentos por ela apresentados sequer foram analisados pela ré", não
se inferindo daí, necessariamente, a intenção de a parte induzir o
juízo em erro.
Diferentemente, no caso retratado no aresto
oriundo da 4ª Região, o julgador reconheceu a conduta intencional do
reclamante em induzir em erro o juízo ao mencionar na inicial que
laborava como gerente, quando em verdade atuava como representante
comercial. Portanto, trata-se de situação distinta, de modo que
inespecífico o aresto apresentado para o confronto de teses (Súmula
nº 296 desta Corte, item I).
Quanto à suposta violação do art. 17, II, do CPC,
a caracterização da litigância de má-fé exige a demonstração
inequívoca do propósito de a parte em alterar a verdade dos fatos,
entendendo-se estes como aqueles incontroversos.
No caso, no momento da propositura da ação, não se
tinha por incontroverso o exercício do direito à ampla defesa e ao
contraditório em procedimento de sindicância que culminou com a
demissão da reclamante. Além disso, trata-se do legítimo exercício
do direito de a parte reclamante deduzir na inicial suas pretensões
segundo a interpretação que faz dos fatos do modo que lhe seja mais
favorável, nos termos e limites do ordenamento, sem configuração da
intenção de alterar a verdade dos fatos.
Portanto, não demonstrada violação ao art. 17, II,
do CPC, bem como dissenso jurisprudencial a viabilizar o
processamento do recurso de revista seja pela alínea "a" seja pela
alínea "c" do art. 896 da CLT.
Nega-se provimento.

2.2. DEMISSÃO. FALTA GRAVE. NÃO IMEDIATIDADE DA


PENALIDADE. PERDÃO TÁCITO. CONFIGURAÇÃO

Sobre o tema, consta do acórdão regional:

JUSTA CAUSA - PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO


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Insurge-se a ré contra a decisão que declarou nulo o procedimento


investigativo (sindicância) que culminou na dispensa por justa causa e, por
conseguinte, manteve a autora em seu emprego.
Alega que: a) a sindicância, em si, não teve vícios e nulidades, assim,
apenas sua decisão final poderia ter sido julgada nula; b) a indisciplina da
autora encontra-se caracterizada pelo descumprimento da norma interna
que estabelece que o empregado deve atender à condição de ser detentor de
diploma registrado na instituição de ensino superior, com grau de mestre ou
doutor, para receber o adicional de titularidade; c) a insubordinação
encontra-se caracterizada pela desobediência da empregada a várias
solicitações de comprovação da titularidade de doutorado ocorridas em
29.9.2006, 25.7.2007, 18.3.2008 e 11.6.2008; não obstante, só em
10.9.2012, cinco meses após a comunicação da decisão acerca da justa
causa, a autora apresentou o diploma de doutorado revalidado pela UNB; d)
ficou caracterizado o ato de improbidade, pois a empregada, em 1987,
assumiu o cargo de pesquisador, mesmo sabendo que não possuía o
diploma de mestrado, e só em 24.4.2012, dias após a comunicação da
dispensa por justa causa, obteve o referido título; e) caracterizadas a
indisciplina, insubordinação e improbidade, houve quebra irremediável da
fidúcia e confiança do empregador; f) para analisar a imediatidade na
aplicação da pena, deve-se contar o prazo a partir do final dos trabalhos de
sindicância e não da conclusão do curso de doutorado, mormente
considerando que somente durante a realização dos trabalhos da sindicância
interna constatou-se que a autora não tinha obtido o título de mestre; g) a
reclamante comprometeu-se em tomar as providências para obtenção do
diploma, pedia compreensão da empresa e concessão de prazo; assim, a
culpa pela demora, transcurso do tempo e prorrogação de prazo não pode
ser imputada à empresa sob o manto de falta de imediatidade da sanção e
perdão tácito; h) ainda quanto à imediatidade, deve-se considerar que a ré é
uma empresa pública federal de grande porte, que possui sede em Brasília,
enquanto os trabalhos da comissão de sindicância foram realizados na
unidade de Campo Grande/MS, com observância de preceitos e regras a fim
de evitar arbitrariedades e nulidades, sobretudo diante da gravidade da falta

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objeto da apuração; desta feita, em momento algum a empresa manifestou


desinteresse em punir.
Analiso.
A autora, aprovada em concurso público para o cargo de pesquisador
em 9.6.1987, afirmou na inicial que em 16.4.2012, após processo de
sindicância, teve rescindido o seu contrato de trabalho por justa causa, na
forma do art. 482, alíneas "a" e "h" da CLT, sob alegação de que não teria
apresentado os comprovantes de conclusão do curso de mestrado e
doutorado.
Contudo, asseverou a autora, concluiu o curso de mestrado com base
na Deliberação Interna 08/92, de 3.6.1992, e de doutorado com base na
Deliberação Interna 02/95, de 9.1.1995 que, na falta de diploma, admitiam
a apresentação de certificado de conclusão do curso.
Sustentou a autora, ainda, que a demora na regulamentação do
diploma de doutorado se deu por fatos alheios à sua vontade, pois vários
documentos foram extraviados da Universidade de Los Andes, Venezuela.
E no tocante ao diploma de mestrado, que não teve oportunidade de se
defender, pois só após os depoimentos e apresentação da defesa a Embrapa
trouxe o fato a lume, inovando os supostos fundamentos da sindicância.
Requereu a autora, assim, a nulidade da sindicância, com sua
manutenção no emprego e efeitos pertinentes.
Em defesa, a ré alegou que, conforme Relatório de Auditoria nº
38/2008, foi constatado que a autora não havia entregue o certificado de
conclusão do curso de doutorado realizado entre 1994 e 1998, devidamente
reconhecido no Brasil, conforme preceitua a Lei n. 9.394/1996 (LBD),
plenamente vigente quando do término do curso, assim como a Resolução
CNE/CES nº 1/2001.
Assim, em 23.3.2009 foi instaurada sindicância, em que ficou
constatado que desde o ano de 2006 a Embrapa cobrou da autora a
apresentação dos diplomas devidamente revalidados, no entanto, após
meses de trabalho, solicitações e promessas de entrega, em 29.3.2012 a
autoridade máxima da Embrapa decidiu pela dispensa da autora por justa
causa.
Asseverou a ré, ainda, que só após a decisão acerca da justa causa a
autora abandonou o estado de indisciplina e insubordinação e apresentou,
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no dia 10.9.2012, seu diploma de doutorado, emitido em 27.8.2012,


revalidado pela UNB.
Ainda segundo a ré, durante a sindicância ficou constado que a autora
não havia entregue nem mesmo o diploma de mestrado, nível exigido para a
admissão no cargo para o qual foi admitida na Embrapa. Que a expedição
do referido diploma só se deu em 24.4.2012 e a apresentação perante a
empresa em 10.9.2012. Dessa forma, mesmo sabendo que não era detentora
do título de mestre, a autora assumiu o cargo de pesquisador, restando
configurada, assim, além da indisciplina e insubordinação, a improbidade
administrativa.
Pois bem. Conforme consignou a sentença, a ré é uma empresa
pública, e como tal se submete aos termos do artigo 173, II da CF, de forma
que o regime de seu pessoal é regido pela CLT.
E na esfera das relações de trabalho regidas pela CLT a imediatidade
é exigência obrigatória para aplicação de sanções ao empregado.
Assim, não se torna aceitável a postura do empregador que,
conhecido o fato, não dá início às providências tendentes à apuração, de
modo que possa, em tempo breve, ultimar a aplicação de qualquer medida
punitiva.
A inércia do empregador por tempo superior ao razoavelmente
necessário à apuração das responsabilidades há de ser interpretada como
perdão tácito e dá ensejo à perda do poder de punir. E é exatamente essa a
situação que exsurge das provas dos autos, notadamente das informações
exaradas nos autos da sindicância. Senão vejamos.
Do que se extrai da defesa, a autora concluiu o curso de doutorado em
1998, e de acordo com o parecer AJU nº 38.412/2012, de f. 120/154 (que
fundamentou a decisão da justa causa), a comissão de sindicância verificou
que as exigências contidas na Deliberação 02/95, norma interna vigente à
época de término do doutorado, previa a apresentação do diploma e, na
falta desse, a aceitação de certificados e/ou declarações de conclusão de
curso (item 12.3, "b", f. 199). E na hipótese, a autora apresentou veredictos
e constâncias como documentos comprobatórios da conclusão do programa
de doutoramento (parecer AJU, à f. 125).
Não obstante, de acordo com o referido parecer, a comissão de
sindicância verificou que tanto a norma interna da Embrapa quanto os
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pesquisadores "não atenderam no ano de 2000, na plenitude, a abrangência


do comando legal contido no § 3º, do artigo 48 da Lei 9.394/96, que
disciplina que os diplomas de Mestrado e Doutorado expedidos por
universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por universidades
que possuam curso de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma
área de conhecimento, em nível equivalente ou superior" (parecer AJU, à f.
129).
Mas, em que pese a sindicância haver atestado que no ano de 2000 a
autora não teria atendido ao comando da lei, vigente, a propósito, desde
1996, a ré admite na defesa que só em 2006 passou a exigir providências da
autora, vindo a instaurar sindicância somente em 2009.
Ou seja, a Embrapa aguardou, no mínimo, seis anos para iniciar
providências tendentes à apuração das supostas irregularidades, donde se
conclui pelo acerto da decisão que julgou ausente a imediatidade.
Aliás, só a partir da Deliberação 09/2005, publicada em 20.12.2005, a
Embrapa adequou suas normas internas ao comando da Lei n. 9.394/96,
passando a exigir a apresentação do diploma validado por instituição de
ensino nacional (vide informações prestadas pela empregada Magali dos
Santos, à f. 137).
No tocante ao curso de mestrado, ainda que se admita que a ausência
do diploma só foi constatada durante a sindicância (o que, segundo a ré,
garantiria a imediatidade), fato é que a autora apresentou, à época da
admissão (1987), documento para comprovar a conclusão do curso, a saber,
atestado expedido pela UFSM, que registra a defesa e que o diploma se
encontrava em fase de processamento, documento inequivocamente aceito
pela Embrapa (vide considerações a respeito, à f. 135/136 do citado parecer
AJU), tanto que a autora tomou posse no cargo e entrou em exercício
regularmente.
Nesse caso, não é admissível que decorridos mais de 20 anos a autora
seja punida, sob alegação de improbidade. Mormente quando, como na
hipótese, a instituição de ensino confirmou à comissão de sindicância que a
autora, de fato, havia concluído os créditos do currículo do curso e obtido
aprovação na defesa da dissertação.
Por fim, ausente a imediatidade no que tange à instauração do
procedimento que culminou com a aplicação da justa causa, e
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considerando, ainda, que o julgamento é parte integrante do procedimento,


mantenho a sentença que declarou nula a própria sindicância.
Nego provimento (f. 588/590-v).

Sustenta a reclamada que inexiste no ordenamento


jurídico pátrio determinação legal expressa que estipule prazo
específico para que seja configurado o perdão tácito ou a falta de
imediatidade na aplicação de sanções a empregados públicos quando do
cometimento das faltas graves elencadas no art. 482 da CLT. Ademais,
argumenta que é a partir da conclusão da sindicância que se verifica
o requisito da imediatidade e não do cometimento da falta.
Alega que como a reclamante não atendeu às
solicitações da reclamada no sentido de comprovar a revalidação de
diploma de Doutorado cursado em outro país, nos termos da Lei nº
9.394/96, é legal e legítima a decisão da reclamada ao aplicar a
justa causa por insubordinação, apurada em procedimento
administrativo interno, que deve ser reconhecido e classificado como
ato jurídico perfeito.
Aponta violação aos arts. 5º, II e XXXVI, da CF,
48 da Lei nº 9.394/96, 3º e 482, alíneas "a" e "e", da CLT, além de
contrariedade à OJ nº 247 da SBDI-I.
De plano, afasta-se a alegação de contrariedade à
OJ 247 da SBDI-I, no que diz respeito à não necessidade de motivação
para demitir empregado de empresa pública, porquanto superado este
entendimento pelo STF no RE 589.998-PI, como se constata no seguinte
precedente desta Turma:

RECURSO DE REVISTA - SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA -


EMPRESA PÚBLICA - RESCISÃO CONTRATUAL IMOTIVADA -
IMPOSSIBILIDADE - ENTENDIMENTO DO STF - RECURSO
EXTRAORDINÁRIO Nº 589.998 - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
DA LEGALIDADE, ISONOMIA, MORALIDADE E
IMPESSOALIDADE. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do Recurso Extraordinário nº 589.998, ocorrido em 20/3/2013,
entendeu que as empresas públicas e as sociedades de economia mista
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precisam motivar o ato de rompimento sem justa causa do pacto laboral.


Em face dos princípios constitucionais da legalidade, da isonomia, da
moralidade e da impessoalidade, o ente da administração pública indireta
que explora atividade econômica deve expor as razões do ato demissional
praticado e a elas fica vinculado. A motivação do ato de dispensa resguarda
o empregado e, indiretamente, toda a sociedade de uma possível quebra do
postulado da impessoalidade e moralidade por parte do agente estatal
investido do poder de demitir. Além disso, a exposição dos motivos
viabiliza o exame judicial da legalidade do ato, possibilitando a
compreensão e a contestação da demissão pelos interessados. Assim, a falta
da exposição dos motivos ou a inexistência/falsidade das razões expostas
pela administração pública para a realização do ato administrativo de
rescisão contratual acarreta a sua nulidade. Logo, deve ser reputada nula a
demissão sem justa causa do reclamante que não apresenta motivação.
Diante do moderno entendimento do STF, deixo de aplicar a Orientação
Jurisprudencial nº 247, I, do TST . Recurso de revista não conhecido (TST
- RR 24600-98.2009.5.01.0040, Relator Ministro Luiz Philippe Vieira de
Mello Filho, j.2/4/2013, 7ª Turma, DEJT 05/04/2013).

A respeito da alegada inexistência no ordenamento


jurídico de norma que trate do perdão tácito, trata-se de construção
doutrinária e jurisprudencial do princípio da imediatidade, segundo
o qual a aplicação de penalidade pelo empregador deve ser imediata,
sob pena de configurar o perdão tácito, reiteradamente aplicado por
esta Corte, como se vê nos seguintes julgados:

RECURSO DE REVISTA. DESPEDIDA IMOTIVADA.


SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. MOTIVAÇÃO ESPONTÂNEA.
AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DA JUSTA CAUSA E
INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA IMEDIATIDADE. TEORIA DOS
MOTIVOS DETERMINANTES. EFEITOS. O Regional, em relação à
reintegração do empregado, decidiu ser nulo o ato de dispensa, pois não
restou comprovado o motivo alegado para a prática do ato, qual seja, a
ocorrência de falta grave a fundamentar a despedida por justa causa, além
de não ter sido observado o princípio da imediatidade na aplicação da
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punição. (...) Recurso de Revista não conhecido (TST - RR 30700-


56.2007.5.06.0022, Relator Ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, j.
14/9/2011, 8ª Turma, DEJT 16/9/2011). Destacou-se.

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


JUSTA CAUSA. NÃO CONFIGURAÇÃO. 1. Hipótese em que o Tribunal
regional entendeu que o reclamado não se desincumbiu do ônus da prova
quanto à alegação de prática de falta grave justificadora da dispensa por
justa causa, não acolhendo o depoimento das testemunhas apresentadas
pelo Banco. Considerou, também, que - O documento de fls. 249/256
noticia operações tidas como irregulares, praticadas por diversos gerentes,
sendo que as relativas à reclamante são as correspondentes à matrícula
063.142. É de se notar que a mais antiga ocorreu em maio de 2008 (fl. 249)
e a mais recente em 09/09/2009 (fl. 254). Não há qualquer prova do início e
do término da sindicância, de modo que fatos ocorridos entre maio de 2008
e setembro de 2009 não podem ser apenados em maio de 2010, pelo que
não configurado o requisito da imediatidade para a aplicação da justa causa
-. 2. No caso, o cenário trazido à baila pelo v. acórdão regional não autoriza
a conclusão de que perpetrada qualquer das hipóteses ensejadoras da
dispensa por justa causa, de modo que a pretensão da reclamada, fundada
que está na ocorrência de falta grave e na alegação de que o prazo decorrido
entre a apuração dos fatos por meio de sindicância e a dispensa fora
razoável, demandaria o reexame de fatos e provas, especialmente os
depoimentos das testemunhas e a duração da suposta sindicância, que é
vedado nesta sede recursal, ex vi do entendimento cristalizado na Súmula
126/TST. 3. Desse modo, diante dos fatos e circunstâncias descritas no
decisum a quo , não há falar em ofensa aos artigos 482 e 818 da CLT e 333,
II, e 334 do CPC. A aplicação do art. 896, a, da CLT, da OJ 111-SDI-1-TST
e da Súmula 296/TST também constitui óbice ao trânsito da revista. Agravo
de instrumento conhecido e não provido (TST - AIRR 1838-
43.2010.5.02.0067, Relator Ministro Hugo Carlos Scheuermann, j.
6/11/2013, 1ª Turma, DEJT 14/11/2013) . Destacou-se.

RECURSO DE REVISTA. (...) JUSTA CAUSA. MATÉRIA


FÁTICA. O Tribunal Regional assentou que dos fatos narrados ficou
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Superior do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
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PROCESSO Nº TST-AIRR-742-05.2012.5.24.0004

demonstrada a falta grave que deu ensejo à demissão por justa causa.
Consoante conjunto probatório analisado verificou-se que o autor agiu com
desídia e que entre o conhecimento do fato e a pena aplicada houve
imediatidade, não caracterizando o perdão tácito. Logo, diante do
examinado, concluiu o Tribunal a quo pelo enquadramento do autor nas
hipóteses elencadas no artigo 482 da CLT. Para se chegar a entendimento
diverso, necessário reanálise do conjunto fático-probatório, procedimento
vedado pelo que determina a Súmula nº 126 do TST. Não conhecido (...)
(TST - RR 6852-55.2010.5.12.0026, Relator Ministro Emmanoel Pereira, j.
21/05/2013, 5ª Turma, DEJT 24/05/2013). Destacou-se.

RECURSO DE REVISTA (...) FALTA GRAVE - DESÍDIA -


CONFIGURAÇÃO. O Tribunal Regional, com amparo nos elementos de
convicção dos autos, concluiu pela falta de imediatidade na punição e
conseqüente caracterização de perdão tácito, reconhecendo como injusta a
dispensa do reclamante. Nesse sentido, vê-se que toda a matéria versada no
recurso possui conotação fática, não permitindo a reapreciação da decisão
regional, senão com o revolvimento total de fatos e provas, o que contraria
frontalmente o entendimento jurisprudencial contido na Súmula nº 126
desta Corte. Recurso de revista não conhecido (TST - RR 700050-
55.2000.5.01.5555, Relator Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, j.
3/10/2007, 1ª Turma, DJ 26/10/2007. Destacou-se.

No caso, a suposta falta grave por não


apresentação da revalidação do curso de Doutorado, assentou o
Regional que a reclamada "aguardou, no mínimo, seis anos para iniciar providências
tendentes à apuração das supostas irregularidades, donde se conclui pelo acerto da decisão que julgou
ausente a imediatidade". E a respeito da alegada não comprovação do curso de
Mestrado, consta do acórdão que "nesse caso, não é admissível que decorridos mais de
20 anos a autora seja punida, sob alegação de improbidade. Mormente quando, como na hipótese, a
instituição de ensino confirmou à comissão de sindicância que a autora, de fato, havia concluído os
créditos do currículo do curso e obtido aprovação na defesa da dissertação".
Portanto, inquestionável a ausência de
imediatidade entre as condutas da trabalhadora e a aplicação da
penalidade de demissão, porquanto decorridos mais de vinte anos
Firmado por assinatura eletrônica em 25/09/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal
Superior do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
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entre as condutas e a iniciativa da reclamada de atos tendentes à


aplicação de penalidade, consubstanciados na abertura de sindicância
para apuração de faltas funcionais, a configurar o perdão tácito.
Ademais, infere-se do acórdão regional que a
reclamante não mais se encontra em débito com a reclamada
relativamente à apresentação de documentos pertinentes aos cursos de
Mestrado e Doutorado.
Portanto não demonstradas as alegadas violações de
dispositivos legais e constitucionais, não configurada a hipótese do
art. 896, alínea "c", a autorizar o processamento do recurso de
revista.
Nega-se provimento.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Sétima Turma da Sétima


Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do
agravo de instrumento e, no mérito, negar-lhe provimento.
Brasília, 24 de setembro de 2014.

Firmado por Assinatura Eletrônica (Lei nº 11.419/2006)


ARNALDO BOSON PAES
Desembargador Convocado Relator

Firmado por assinatura eletrônica em 25/09/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal
Superior do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.

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