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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

UNIDADE FRUTAL

GLAUBER DANIEL RIBEIRO


JADIAEL LINO ALVES
JESSICA ROBERTA DA MATA
JEFERSON MENDES DE SOUZA

DELAÇÃO PREMIADA

FRUTAL
2019
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS
UNIDADE FRUTAL

GLAUBER DANIEL RIBEIRO


JADIAEL LINO ALVES
JESSICA ROBERTA DA MATA
JEFERSON MENDES DE SOUZA

DELAÇÃO PREMIADA

Trabalho apresentado à disciplina Direito Processual Penal,


ministrada pelo Profº. Ms. Fausy Vieira Salomão, como
requisito parcial de avaliação.

FRUTAL
2019
INTRODUÇÃO

A conduta criminosa é um comportamento que acompanha o ser humano, portanto,


muito antigo e que passou por vários processos de evolução ao longo dos séculos. O crime
organizado é, neste aspecto, um fato mundialmente muito antigo e crescente, que procura
evoluir ao passo da sociedade, da tecnologia, política, economia, entre outros reguladores
sociais. O Estado é o responsável pela prevenção e repressão ao aumento e evolução dessa
cadeia criminosa e muitas vezes se vê fracassado diante do complexo nível de articulação desses
criminosos, muitas vezes penetrados no próprio Estado. Na contemporaneidade os Estados
Unidos é o responsável pela consagração da delação premiada, mas o seu surgimento é na
Europa.
Como responsável pela prevenção e repressão a todo tipo de criminalidade, o Estado se
vê diante do surgimento de um instituto capaz de promover um certo tipo de “acordo” entre
Estado-Juiz e criminoso com objetivo de elucidar crimes complexos. A delação premiada surge
então no Brasil na década de noventa, de forma mais prática, como um mecanismo que garante
ao delator uma ampla negociação e proteção do Estado, em troca de elementos informativos
que visam desmantelar e levantar indícios de materialidade e autoria nessas atividades
criminosas bem organizadas.
O presente estudo tem como objetivo mostrar como funciona o instituto da delação
premiada como meio de prova no Brasil, sua admissibilidade e as consequências para a
persecução penal, fazendo apontamentos das legislações que comtemplam o benefício e
exemplificando em alguns casos práticos sua forma de atuação dentro do cenário legal, já que
não se verifica a presença deste procedimento no Código de Processo Penal. Importante
ressaltar que para que a delação premiada tenha efeito um dos seus requisitos fundamentais é
que o crime tenha ocorrido em concurso de pessoas, logo, será beneficiário o coautor ou
partícipe de determinada conduta infratora, o qual lhe é atribuído responsabilidade penal diante
do instituto referido.
A elaboração do presente trabalho pautou-se em sites de órgãos jurisdicionais, doutrinas,
jurisprudência e análises de entrevistas sobre o tema em debate. Vale ressaltar que a delação
premiada não pode ser confundida com a colaboração premiada por esta ser mais pautada na
pessoa do acusado que assume a responsabilidade sem apontar coautores ou outros
participantes, sem deixar, contudo, de colaborar com a justiça e receber alguns benefícios em
troca.
HISTÓRIA

No Mundo
Na idade média, durante o período da Inquisição, a delação foi muito utilizada para
encontrar bruxas, feiticeiros e todo tipo de herege que ia contra as ideias da igreja. Os suspeitos
tinham um período de graça que ia de 15 a 30 dias para poderem delatar-se e apontar outros
suspeitos como afirma os historiadores da igreja católica Michael Baigent e Richard Leigh. O
interessante é que se confessassem muito rápido os inquisidores podiam achar que estavam
mentindo para encobrir outras pessoas, ou seja, a delação sob tortura tinha mais presunção de
verdade.
Segundos relatos históricos a ideia de “premiar” criminosos para que ajudassem as
autoridades a solucionar casos difíceis e de grande interesse público remonta ao século XIX, é
o que afirma o jurista Wálter Maierovitch (um dos principais estudiosos brasileiros sobre o
crime organizado). Em 1.853 o jurista alemão Rudolf Von Lhering (grande nome do direito
acidental), já previa este tipo de mecanismo dentro do direito de forma a atingir grandes
organizações criminosas, deter novos crimes e reparar os danos cometidos em face do bem
comum da sociedade.
Na Itália a delação surge nos anos 70 na tentativa de combater atos terroristas. Seu maior
destaque na Itália foi a operação “mãos limpas” que perseguiu criminosos mafiosos. Desde
então o código Penal Italiano passou a considerar o instituto da delação.
No sistema Norte Americano, a delação tem uma forma mais pratica, com resultados
mais substanciais para a sociedade. Neste modelo, chamado de plea bargaining, o ministério
publico tem total autonomia para negociar com o suspeito e decidir sobre o prosseguimento da
acusação.
Na Alemanha diferente do sistema Norte Americano, o poder de decidir é discricionário
do juiz, é o chamado kronzeugenregelung.

No Brasil
A delação premiada no Brasil teve sua origem nas Ordenações Filipinas, mais
precisamente no livro V. O Brasil inicia sua história jurídico-positiva no Direito Penal com as
leis lusitanas, ainda como colônia de Portugal. O livro V das Ordenações Filipinas possui cento
e quarenta e três títulos e é muito criticado pelos especialistas. Entrou em vigor em 1603, e era
um diploma muito rudimentar onde não se havia sequer os princípios penais fundamentais.
Havia dois dispositivos que tratavam da matéria da delação premiada. O primeiro,
disposto no Título VI, item 12, tratava do perdão do delator do crime de lesa majestade:
“E quanto ao que fizer conselho e confederação contra o Rey, se logo sem
algum spaço, e antes que per outrem seja descoberto, elle o descobrir, merece
perdão. E ainda por isso lhe deve ser feita mercê, segundo o caso merecer, se
elle não foi o principal tratador desseconselho e confederação. E não o
descobrindo logo, se o descobrir depois per spaço de tempo, antes que o Rey
seja disso sabedor, nem feita obra por isso, ainda deve ser perdoado, sem outra
mercê. E em todo o caso que descobrir o tal conselho, sendo já per outrem
descoberto, ou posto em ordem para se descobrir, será havido por
commettedor do crime de Lesa Magestade, sem ser relevado da pena, que por
isso merecer, pois o revelou em tempo, que o Rey já sabia, ou stava de maneira
para o não poder deixar saber”
O segundo dispositivo a tratar do assunto é o Título CXVI que trata do perdão do delator
que denunciar os infratores dos crimes previstos no código:
Qualquer pessoa, que der à prisão cada um dos culpados, e participantes em
fazer moeda falsa, ou em cercear, ou per qualquer artifício mingoar, ou
corromper a verdadeira (...); tanto que assi der à prisão os ditos malfeitores,
ou cada um delles, e lhes provar, ou forem provados cada hum dos ditos
delictos, se esse, que o assi deu à prisão, participante em cada hum dos ditos
meleficios, em que he culpado aquelle, que he preso, havemos por bem que,
sendo igual na culpa, seja perdoado livremente, postoque não tenha perdão da
parte. 1. E além do sobredito perdão, qie assi outorgamos, nos praz, que sendo
o malfeitor, que assi foi dado à prisão, salteador de caminhos, que aquelle, que
o descobrir, e der á prisão, e lho provar, haja de Nos trinta cruzados de mercê
O dispositivo teve vigência até entrar em vigor o código criminal que é de 1830, onde
foi revogado. No entanto esteve presente em vários acontecimentos históricos enquanto esteve
em vigor, como no caso da inconfidência mineira pelo Coronel Joaquim Silvério dos Reis, um
dos inconfidentes e também pelo próprio Tiradentes mas que não teve sua pena perdoada por
Dona Maria I. Na ditadura militar também foi usado para descobrir pessoas que não gostavam
do regime repressivo.
O instituto volta ao ordenamento brasileiro em 1990 através da lei 8072, a Lei de Crimes
Hediondos:
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do
Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o
bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida
de um a dois terços
E através do seu artigo 7º acrescentou o paragrafo 4º ao artigo 159 do Código Penal:
Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o seguinte parágrafo:
"Art. 159. ..............................................................
........................................................................
§ 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o co-autor que denunciá-
lo à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida
de um a dois terços."
O parágrafo 4º do artigo 159, mais tarde teria sua redação modificada pela lei 9269 de
02 de Abril de 1996.
Art. 1º O § 4° do art. 159 do Código Penal passa a vigorar com a
seguinte redação:
"Art. 159. ..................................................................
§ 4° Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar
à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena
reduzida de um a dois terços."
Um pouco antes a lei 9034 de 3 de maio de 1995 que dispunha sobre a utilização de
meios operacionais para prevenção e repressão de ações praticadas por organizações
criminosas, em seu artigo 6º mencionava a figura da colaboração:
Art. 6º Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida
de um a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao
esclarecimento de infrações penais e sua autoria.
Mas é com a redação do artigo 1º, parágrafo 5º da Lei 9613 de 3 de março de 1998 que
o instituto da delação premiada ganha força e aplicabilidade pratica no Brasil, a lei dispunha
sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização
do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras – COAF
§ 5º A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em
regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena
restritiva de direitos, se o autor, co-autor ou partícipe colaborar
espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que
conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização
dos bens, direitos ou valores objeto do crime.
Já com a redação do artigo 13º da lei 9807 de 13 de julho de 1999 o instituto passa a ser
tratado de maneira mais abrangente e com mais requisitos para sua concessão. Também em seu
artigo 15º passa-se a estabelecer proteção ao delator
Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o
perdão judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que,
sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a
investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha
resultado:
I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;
II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;
III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a
personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e
repercussão social do fato criminoso.
.....
Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela,
medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física,
considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva.
§ 1o Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de flagrante
delito, o colaborador será custodiado em dependência separada dos demais
presos.
§ 2o Durante a instrução criminal, poderá o juiz competente determinar em
favor do colaborador qualquer das medidas previstas no art. 8o desta Lei.
§ 3o No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz
criminal determinar medidas especiais que proporcionem a segurança do
colaborador em relação aos demais apenados.

Posteriormente ainda foi editada a lei 11343 de 2006, que instituia o Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescrevia medidas para prevenção do uso
indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelecia normas
para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; definia crimes e dava
outras providências e em que seu artigo 41º previa a deleção premiada para os crimes de tráfico
de drogas:
Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a
investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-
autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do
crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.
Já a lei 12529 de 2011 em seu artigo 86 com seus 12 parágrafos e o artigo 87 denominou
a delação premiada de acordo de leniência, prevendo sua aplicação para infrações contra a
ordem econômica. A lei estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência; dispõe sobre
a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica, dentre outras coisas:
Art. 86. O Cade, por intermédio da Superintendência-Geral, poderá celebrar
acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública
ou a redução de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da penalidade aplicável, nos termos
deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à
ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as investigações e
o processo administrativo e que dessa colaboração resulte
...
Art. 87. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei nº 8.137, de
27 de dezembro de 1990 , e nos demais crimes diretamente relacionados à
prática de cartel, tais como os tipificados na Lei nº 8.666, de 21 de junho de
1993, e os tipificados no art. 288 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 - Código Penal, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta
Lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o
oferecimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da leniência.
Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se
automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste
artigo.

Em 02 de agosto de 2013 o intituto ganha um novo salto com a edição da lei 12850 que
em seu capítulo II dedica uma seção inteira a colaboração premiada, como ela mesmo o
denomina, a seção I.
CONCEITO

Definição, natureza e valor


O termo advém do latim delatione e significa “denunciar, revelar (crime ou delito);
acusar como autor de crime ou delito; deixar perceber, denunciar como culpado; denunciar-se
como culpado; acusar-se". A Delação Premiada consiste na afirmativa feita por um acusado, ao
ser interrogado em juízo ou ouvido na polícia. Neste momento, além de confessar a autoria de
um fato criminoso, igualmente atribui a um terceiro a participação como seu comparsa. Em
outras palavras podemos dizer que é um mecanismo judicial onde o acusado colabora com as
investigações, revelando nomes de co-participantes, detalhes do crime, localização e detalhes
de vítimas (se houver) ou informações sobre a recuperação de bens que foram perdidos devido
ao fato criminoso. Em troca, o acusado pode receber alguns benefícios que falaremos adiante.
Não sendo o instituto disciplinado no processo penal, o único ato processual
inicialmente permitido é o interrogatório judicial onde o acusado terá oportunidade de se
manifestar a respeito dos fatos a ele imputados. No entanto nada impede que o acusado use a
delação logo após o interrogatório ou sempre que resolver fazê-lo mais adiante. Isso porque o
art. 196 do CPP permite ao juiz, a qualquer momento, de ofício ou mediante fundamentação de
qualquer das partes, determinar a realização de novo interrogatório: “A todo tempo o juiz
poderá proceder a novo interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das
partes”.
Quanto ao seu valor probatório, o art. 155 do CPP estatui que o juiz formará a sua
convicção pela livre apreciação da prova, nesta esfera, nada impediria que o magistrado usasse
a delação, que possui valor de prova testemunhal, para fundamentar sua sentença condenatória,
mesmo à míngua de outros elementos probatórios. No entanto o juízo de certeza que deve ser
usado para prolação de sentença condenatória desaconselha que a delação vazia e carente de
detalhamento possa autorizar, por si só, a procedência da imputação. Neste momento é
necessário fazer um apontamento para o art. 188 do CPP que possibilitou a formulação de
perguntas ao final do interrogatório e do mesmo modo a Lei n. 11.689/2008 na fase de instrução
em Plenário do Tribunal do Júri (CPP, arts. 473 a 475); tudo em observância ao princípio
constitucional do contraditório e da ampla defesa, conforme art. 5º, LV da CF/88.
Ao procurar definir a natureza jurídica da delação premiada, Renato Brasileiro, entende
que “não se pode confundir a colaboração premiada com os prêmios legais decorrentes” sendo
que ela “funciona como importante técnica de investigação, enfim, um meio de obtenção de
prova”. A partir disso, ele exemplifica que:
Por exemplo, se o acusado resolve colaborar com as investigações em um crime de
lavagem de capitais, contribuindo para a localização dos bens, direitos ou valores objeto do
crime, e se essas informações efetivamente levam à apreensão ou sequestro de tais bens, a
colaboração terá funcionado como um meio de obtenção de prova, e a apreensão como meio de
prova
Em sentido oposto, Renato Brasileiro, traz a posição de Paulo Quezado Jamile Virgino,
que “conclui tratar-se a delação de verdadeira prova anômala, inominada, pois não arrolada no
CPP(...)”.

Benefícios da delação premiada


Conforme já conceituado o instituto, citamos que o mesmo gera alguns benefícios aos
acusados, como:
• Redução de um terço a dois terços do tempo de pena;
• Cumprimento de pena em regime semiaberto, no lugar do regime fechado;
• A depender do caso, extinção da pena;
• E até mesmo perdão judicial (que nunca foi concedido no Brasil até hoje).
A delação premiada tem muito a contribuir para o desenvolvimento das investigações
criminais se feita corretamente e pautada em informações que posteriormente possam ser
confirmadas. O instituto se relaciona diretamente com autores de crimes e por isso, se
desenvolvida com sucesso, consegue detalhes acerca de premeditação e execução que outras
testemunhas na maioria das vezes não conseguiriam repassar. Como resultado prático o instituto
consegue desmantelar organizações criminosas e recuperar bens de difícil acesso em casos
complexos. Para isso o delator deverá fornecer algumas informações importantes, como por
exemplo a revelação de um dos seguintes itens:
• Identificação dos participantes da organização criminosa;
• Hierarquia e divisão de tarefa entre os membros;
• Prevenção de novos crimes;
• Recuperação dos produtos resultantes do crime;
• Localização da vítima (se houver)
Entretanto, para que o acusado tenha direito a algum desses benefícios é necessário que
fale somente a verdade e não omita informações seletivamente. Igualmente a todas as provas
levantadas no processo, estas informações devem ser passíveis de confirmação pelas
autoridades competentes e caso não acrescente novidades às investigações, ou seja falsa, o
acusado pode perder seus benefícios.

CASOS CELEBRES
Ao falarmos de delação premiada pelo mundo temos a obrigação de citar fatos
relevantes que se destacaram em âmbito internacional e nacional, no qual deu fundamento
jurídicos para outros países implantarem esse instituto criminal como formação de provas e em
consequência condenações criminais. Iniciaremos falando do caso internacionalmente famoso
conhecido como da “Mafia Italiana” da decada de 1980, o caso de Tommaso Buscetta,
acontecimento que revelou o importante papel de relevância que o instituto da delação premiada
detém para o combate ao crime organizado, principalmente no desmantelamento da máfia
italiana.
Tommaso Buscetta por muito tempo foi membro da máfia italiana, em especifico da
organização criminosa conhecida como “Cosa Nostra”; entretanto, devido a uma disputa de
poder interno, sobretudo pela acentuada exploração da violência pelo grupo dos corleoneses,
retratada principalmente pelo assassinato dos dois filhos de Buscetta e mais de 20 parentes seus
pelo grupo rival, decidiu fugir da Itália para viver em outros países. Nesse tempo, foi encontrado
e preso por duas vezes em território brasileiro, em 23 de outubro de 1983 e em 3 de julho de
1984, sendo posteriormente extraditado. Nesta última vez, tentou se matar, vindo a tomar
estricnina, oportunidade em que acabou ficando quatro dias em um hospital, mas, no dia 15
daquele mês, desembarcava na Itália onde aceitou contar o que sabia sobre a máfia, realizando
a delação dos nomes dos envolvidos, da estrutura da organização e de seu modus operandi.
No tocante a casos nacionais podemos e temos o dever de citar a delação premiada na
qual faz parte a operação amplamente conhecida pela população brasileira, não apenas pela sua
divulgação midiática, mas principalmente por sua repercussão no campo político nacional, ou
seja, a Operação “Lava Jato”, sendo assim nomeada porque, inicialmente, foi desenvolvida pela
Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF) perante a Justiça Federal, em Curitiba,
para investigar o uso da rede de postos de combustíveis e lava a jato de automóveis para
movimentar recursos ilícitos; no entanto, durante as investigações de suas atividades ganhou
maior expressão, sendo considerada, atualmente, a maior investigação sobre a corrupção e
lavagem de dinheiro que o Brasil já teve.
Referente a delação premiada na operação lava jato devemos ressaltar que a Operação
Lava Jato recebeu contribuição inicial muito importante dos principais investigados: Alberto
Youssef e Paulo Roberto Costa, que, por meio dos acordos de colaboração premiada, foram
responsáveis por dar uma maior dinamicidade à Operação.
Se não fossem os acordos de colaboração pactuados entre procuradores da República e
os investigados, o caso Lava Jato não teria alcançado evidências de corrupção para além
daquela envolvendo Paulo Roberto Costa. Existia prova de propinas inferiores a R$ 100
milhões. Hoje são investigados dezenas de agentes públicos, além de grandes empresas,
havendo evidências de crimes de corrupção envolvendo valores muito superiores a R$ 1 bilhão.
Apenas em decorrência de acordos de colaboração, já se alcançou a recuperação de cerca de
meio bilhão de reais.
Segundo dados informados pelo Ministério Público Federal, até 19 de setembro de 2016,
só na primeira instância da Justiça Federal, em Curitiba, a Operação Lava Jato foi responsável
pela instauração de 1.397 procedimentos , em que foram firmados 70 acordos de delação
premiada, ocasionando 106 condenações, oportunidade em que já foi pedido o ressarcimento
(incluindo as multas) de 38,1 bilhões de reais. Também foi descrito que os crimes noticiados
dão conta que 6,4 bilhões de reais foram pagos em propinas, sendo que 3,6 bilhões já são alvos
de recuperação em decorrência dos acordos de colaboração. No Supremo Tribunal Federal,
onde também tramitava, até 22 de agosto de 2016, 3 ações penais relacionadas ao caso, já foram
feitos 41 acordos de colaboração premiada, que favoreceram a repatriação de 79 milhões de
reais.
Podemos ainda citar o famoso caso da “Leite Compensado” no qual o Ministério Público
do Rio Grande do Sul apresentou denúncia contra 41 pessoas envolvidas na fraude de leite e
derivados investigada pela 12ª etapa da Operação Leite Compensado. Elas foram denunciadas
por 19 fatos, que expressam a adição de água e solutos para neutralizar a acidez no leite cru,
leite UHT Integral, creme de leite e leite para a fabricação de queijo. A Leite Compensado 12,
desencadeada no último dia 14, prendeu preventivamente Claudionor Mognon e Henrique
Alessi Pasini, que são funcionários da Laticínios Modena (nome fantasia Bonilé), Eduardo
Grave, proprietário da Indústria de Laticínios Rancho Belo, o transportador Evandro Luis Kafer
e Flávio Mezzomo, sócio oculto da Laticínios C&P - Princesul, e proprietário da empresa
Laticínios Modena - Bonilé Ltda. A denúncia tem por base, além do depoimento de mais de 40
pessoas, testes laboratoriais, provas coletadas a partir de estratégias de investigação e
documentos encontrados durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão nas cidades
de Nova Araçá, Casca, Travesseiro, Marau e Estrela. A denúncia é assinada pelo promotor de
Justiça Especializada Criminal Mauro Rockenbach, que coordenou a Operação, em conjunto
com o promotor de Justiça de Defesa do Consumidor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho. Ambos
são coordenadores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado - Núcleo
Segurança Alimentar.
No total, foi desencadeado 12 fases da Operação Leite Compensado e as quatro da
Queijo Compensado, investigações que correm em paralelo, já foram denunciadas 203 pessoas,
sendo que 72 presas. Havendo 16 condenações pelas fraudes investigadas.
Antes da mais conhecida operação desencadeada contra a corrupção conhecida como
“Lava Jato”. Tivemos no Brasil outras operações importantes no setor de corrupção política,
onde o depoimento de delatores teve fundamental importância para se condenar os réus.
Citaremos aqui o famoso caso do mensalão, no qual foi delatado um esquema ilegal de
financiamento político organizado para corromper parlamentares e garantir apoio ao governo
no Congresso. Segundo o Ministério Público, cerca de 141 milhões de reais foram
movimentados entre empréstimos bancários e recursos desviados de contratos com setor
público. Seu principal delator Roberto Jefferson, na época então presidente do PTB denunciou
a existência de um pagamento mensal a deputados do PP e do PL em troca de apoio ao governo.
O STF julgou 38 réus. Os políticos condenados foram: Pedro Corrêa (PP), Valdemar
Costa Neto (PR), Pedro Henry (PP), Romeu Queiroz (PTB), Roberto Jefferson (PTB), Carlos
Rodrigues (PR), José Dirceu (PT), José Genoíno (PT), João Paulo Cunha (PT), José Borba
(PMDB), Delúbio Soares (PT), Jacinto Lamas (PR), Emerson Palmieri (PTB).
Roberto Jefferson, foi considerado culpado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem
de dinheiro. O STF inicialmente impôs uma pena maior, que passava de dez anos de prisão,
mas chegou à sentença final após aplicar um benefício reservado aos réus que colaboram com
a justiça, o de "colaboração voluntária". Como a pena é inferior a oito anos, o político deve
cumprir pena em regime semiaberto, podendo deixar o presídio para trabalhar.
Embora as razões de suas denúncias nunca tenham sido muito claras, a corte considerou
que, com suas revelações, o político trabalhista "acabou prestando um grande serviço à pátria",
segundo palavras do ministro Marco Aurélio Mello.
Em meados de 2005, Jefferson deu todas as pistas necessárias para que o Congresso, a
polícia e a Justiça revelassem uma vasta trama de corrupção organizada por políticos do PT e
da qual ele mesmo participou.
Jefferson reconheceu na época que tinha recebido do PT R$ 4 milhões em troca do apoio
parlamentar do PTB ao governo Lula. No entanto, afirmou que o PT tinha lhe prometido cinco
vezes mais dinheiro e que jamais havia cumprido.
Nesse cenário de inúmeras delações premiadas muito são as opiniões contra esse método
de se chegar a autoria de ilícitos penais, pois com tantas delações premiadas e bonificações nas
penas fica a sensação que os autores e coautores de vários crimes como principalmente lavagem
de dinheiro sairão praticamente impunes de seus crimes, isso devido a delação, ficando ainda
uma questão principal a ser analisada, ou seja, qual a força desse depoimento, as provas são
realmente comprovadas ou o mero depoimento pode ser considerado como prova?

JURISPRUDENCIA
O ministro Dias Toffoli no Habeas Corpus 127483 conceituou a delação premiada da
seguinte forma:
A colaboração premiada é um negócio jurídico processual, uma vez
que, além de ser qualificada expressamente pela lei como “meio de
obtenção de prova”, seu objeto é a cooperação do imputado para a
investigação e para o processo criminal, atividade de natureza
processual, ainda que se agregue a esse negócio jurídico o efeito
substancial (de direito material) concernente à sanção premial a ser
atribuída a essa colaboração.

Segundo o ministro o relator tem autonomia para homologar quaisquer meios de


obtenção de prova, conforme inclusive saliente o regimento interno do STF.
Já o ministro Sebastião Reis Junior do Superior Tribunal de Justiça no Habeas Corpus
174286 DF de 2010, tem o seguinte posicionamento sobre a delação premiada:
Não se pode olvidar de que o instituto da delação premiada consiste em
um benefício concedido ao acusado que, admitindo a participação
no delito, fornece às autoridades informações eficazes, capazes de
contribuir para a resolução do crime. Todavia, na espécie dos autos,
verifica-se que as instâncias ordinárias apontaram elementos concretos
que evidenciaram não ser o paciente merecedor dessa causa geral de
diminuição de pena, já que, embora tenha admitido a prática do crime
a ele imputado, não houve efetiva colaboração com a investigação
policial e o processo criminal, tampouco o fornecimento de
informações eficazes para a descoberta da trama delituosa, o que
demonstra a falta de intenção em realmente colaborar com a Justiça

Encontramos na jurisprudência brasileira várias decisões as quais reconhecem e


reafirmam o instituto da delação premiada, sendo que inúmeros recursos de apelação contra
este meio de coleta de provas foram desprovidos de nulidade. Veremos na decisão abaixo um
exemplo claro de reconhecimento e ratificação de depoimento de delator em processo.

CONCLUSÃO
Evidentemente que a atual sociedade evolui bastante no decorrer das décadas o que nos
proporcionou uma melhoria na qualidade de vida. Com esse avanço social, surgiram também
novas formas delituosas mais organizadas visando acompanhar e até mesmo ultrapassar as
barreiras de segurança que tentam nos proteger a todo momento. Dessa forma o Estado como
detentor do monopólio do poder de punir se viu obrigado a buscar maneiras mais eficazes de
combate ao crime organizado e adotar tratamentos diferenciados, como por exemplo, o instituto
da delação premiada, usado como meio de prova no direito processual penal, trazido pelas
legislações correlatas.
Conforme já vimos, o instituto possibilita ao contribuinte a diminuição de sua pena, e
de maneira rara o perdão judicial (ainda não utilizado no Brasil), pois, os magistrados
apresentam desbrio em oferecer tal benefício máximo, que, na verdade, na opinião da sociedade
em geral pode ser interpretada como uma espécie de privilégio excessivo para quem
compactuou para a efetivação de uma prática delituosa. Embora a delação favoreça
substancialmente acusado que a utiliza, faz-se necessário reafirmas que o instituto deve ser
utilizado como meio de prova, revestido de verdade e como ônus processual.
No processo penal o rito segue em busca e pautado pelo princípio da verdade real e para
isso poderá ser usado todo e qualquer meio de prova que possa servir, direta ou indiretamente,
para esta comprovação dos fatos, dentro de um rol meramente exemplificativo: testemunha,
documento, perícia, informação da vítima, reconhecimento, entre outras; é exatamente neste
meio de prova que deve ser inserida a delação premiada, ou seja, passível de confirmação dos
fatos e não sendo legal seu uso como único meio de prolação de sentença penal condenatória.
A discussão sobre a probabilidade do delegado de polícia poder propor o acordo de
colaboração premiada, sempre foi alvo de muitos debates. Pacelli considera inconstitucional
essa previsão na Lei 12.850/13, nesta perspectiva, há o entendimento de que a permissão
concedida ao delegado de polícia de oferecer o acordo da delação premiada, estaria via de regra,
imputando-lhe capacidade postulatória. Entretanto o delegado de polícia só se fará atuar em
sede de inquérito policial, e de qualquer forma, o acordo deverá ser realizado com a intervenção
no Ministério Público, que necessariamente possui capacidade postulatória. Dessa forma o
delegado de polícia não oferece o acordo, mas faz o requerimento ao Ministério Público ou
ainda, representa ao juiz competente.
Logicamente, por se tratar de um instituto ainda novo em nosso ordenamento jurídico e
pouco conhecido, é alvo de polêmicas e críticas. É considerado um instrumento importante para
auxiliar nas investigações policiais e tornar os crimes nítidos, mas também, por outro lado é
considerado ato inaceitável, imoral, antiético, apontando o delator como um indivíduo indigno
de confiança. Entretanto, na observância dos dispositivos que tratam o tema, podemos observar
que o instituto vem sendo cada vez mais prestigiado em nosso ordenamento jurídico, assim
como o da colaboração premiada sobre o qual mencionamos brevemente no estudo.
Diante dos fatos relatados e observados no trabalho, podemos concluir que tanto o
instituto da delação premiada quanto o da colaboração premiada são meios promissores de
prova que, sendo utilizados de maneira correta e respeitando os preceitos fundamentais, os
princípios da legalidade, trarão soluções efetivas e eficazes na busca da verdade real no
processo penal brasileiro, diminuindo cada vez mais a impunidade em face de crimes
complexos. Dessa forma não há o que se falar em inconstitucionalidade no instituto da delação
premiada, visto que, o indivíduo criminoso não possui seus direitos fundamentais infringidos,
uma vez que age de acordo com o seu propósito, não existe ato de imposição. Como bem expõe
Costa:
[…] O criminoso não é obrigado a negociar. É um ato de iniciativa pessoal
dele. As leis que tratam do favor premial colocam essa característica
indispensável para que a delação seja premiada: a voluntariedade e/ou
espontaneidade do agente (...) Mesmo sugerido por terceiros, respeita-se a
liberdade de escolha do indivíduo e a decisão última é dele. Em se delatando,
receberá seu prêmio, se tornar efetivo Jus Persequedi do Estado.
REFERENCIAS

BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Trad: Marcos Santarrita. Rio de


Janeiro: Imago, 2001, p. 48.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011.

COSTA, Marcos Dangelo da. Delação Premiada. Disponível em:


http://www.conteudojuridico.com.br/monografia-tcc-tese,delacao-premiada,22109.html.
Acesso em: 01 jul. 2019.

PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2012.

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal, 3ª ed. Revista e atualizada:
Juspodivm, 2015. P. 778.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8072.htm. Acessado em: 29 de junho de 2019.

Brasil. Lei n. 9034, de 03 de maio de 1995. Disponível em:


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Brasil. Lei n. 9269, de 02 de Abril de 1996. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9269.htm. Acessado em: 29 de junho de 2019.

BRASIL. Lei n. 9613, de 03 de março de 1998. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9613.htm. Acessado em: 29 de junho de 2019.

BRASIL. Lei n. 9807, de 13 de julho de 1999. Disponível em:


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BRASIL. Lei n. 11343, de 23 de agosto de 2006. Disponível em:


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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12529.htm. Acessado em: 29
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BRASIL. Lei n. 12850, de 02 de agosto de 2013. Disponível em:


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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm. Acessado em 29 de
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