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MÓDULO 1

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

O surgimento da filosofia
A palavra “filosofia” vem dos termos gregos “philos” (amizade) e “sophia” (sabedoria). O
primeiro pensador a usar o termo foi Pitágoras. Os primeiros amigos da sabedoria não
concordavam em ser chamados de sábios porque tinham a consciência de que ainda tinham
muito que conhecer. Assim, preferiam ser chamados de “filósofos”.
Essa busca pelo conhecimento, de como o mundo funciona é que faz processar na mente
humana um tipo especial de saber.
As transformações filosóficas
Tal saber vai se transformando até atingir um patamar mais sofisticado. Assim, temos na
história na filosofia grega períodos pelos quais se processou o conhecimento humano, a saber:
período homérico, arcaico, clássico e helenístico.
No período homérico (séc. XII-VIII a.C.) o mito explica o mundo. Uma tentativa de explicar
os fenômenos naturais, sociais, humanos etc.
Dessa forma, os primeiros a tentar explicar o mundo eram os poetas que narravam através dos
mitos a origem do mundo, do povo, etc.
O mito também pode ser entendido como uma forma de canalizar o medo, pois o homem teme
o desconhecido.
A cosmogonia/teogonia é a visão dominante.
No período arcaico (séc. VII-VI a. C.) o homem já não se contenta com a explicação mítica.
Ele busca descobrir a racionalidade por trás dos fenômenos naturais. A essa capacidade de
explicar o mundo, os pensadores chamaram de logos por nós entendido por razão.
Mas era uma explicação voltada para o mundo físico (physis), daí a cosmologia ser a visão de
mundo.
No período clássico (séc. V-IV a.C.) o pensamento atinge um patamar de maior abstração a
ponto de exigir um método de pensamento para se atingir o conhecimento.
Por influência das condições políticas e sociais das cidades gregas arraigadas agora aos
debates públicos, as escolas de pensamento passaram a rivalizar entre si.
Por exigência desse contexto, os assuntos estavam voltados para o homem e a sociedade. daí
esse período ser chamado também de antropológico.
Por fim, tem-se o período helenístico (séc. IV-II a.C.) que é marcado pela expansão da
cultura grega graças a Alexandre O Grande da Macedônia.
Pela primeira vez ocorre a separação da ciência da filosofia e as várias escolas “abandonam” a
discussão sobre política e a cidade e voltam-se para o indivíduo como forma de salvação ou
de busca da felicidade.
As bases do pensamento filosófico
As principais disciplinas da Filosofia dizem respeito ao estudo do conhecimento, do ser e da
ética, também chamadas de Gnoseologia, Ontologia e Ética.
Gnoseologia estuda o modo de conhecimento do homem e do modo como esse conhecimento
poderá ser reputado verdadeiro (epistéme). Também pode ser chamada de epistemologia.

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Ontologia é o estudo que busca conhecer o ser e seus modos. Visa identificar a essência dos
seres e seus acidentes, ou seja, visa especificar uma coisa diferenciando-a das outras. Mas
também pode dizer dos acidentes caracterizando uma unidade individualizada.
É a área mais profunda da Filosofia, pois estuda todos os elementos que constituem a
realidade e também por estudar as causas dos fenômenos até encontrar um princípio primeiro.
Ética estuda o modo como homem deve se comportar em sociedade. Tem em vista um agir
ideal e um fim maior.
Nesta última grande área que se encontra o estudo da Filosofia Política e da Filosofia do
Direito que toma para si o estudo da justiça, das normas jurídicas e a relação do Direito com
os indivíduos e as instituições.

MÓDULO 2
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA: DO MITO À RAZÃO

O referencial grego como o ponto de partida do pensamento filosófico


As primeiras tribos que habitaram o Peloponeso e as ilhas do mar Egeu foram os aqueus por
volta de 2000 a.C.
Essa primeira civilização (micênica) era organizada em torno do palácio onde o rei ficava.
A vida era rural, só conheciam o bronze, cultuavam os mortos na figura do chefe do gene após
a morte deste como uma espécie de protetor.
A escrita era restrita aos escribas e ligada ao aparato administrativo sob a forma de hieróglifos
(letras sagradas esculpidas).
Já por volta de 1200 a.C., os dórios começaram a ocupar a Grécia. Essas invasões delimitam
o início do período homérico (XII-VIII a.C.).
Ao fugir dos dórios, os eólios fundaram a Eólia e os jônios a Jônio, na Ásia Menor,
estabelecendo o primeiro movimento de colonização grega.
Operou-se assim as seguintes mudanças:
A economia torna-se mercantil com surgimento da moeda. O simbolismo nas trocas
demonstra a evolução no grau de abstração.
Há o desenvolvimento da escrita alfabética apreendida dos sumérios e dos fenícios
possibilitando a difusão do conhecimento.
Há, primeiramente, concentração de terra com enriquecimento da aristocracia fundiária e
exploração do trabalho escravo. Criam-se laços econômicos com a questão política, tornando
o governo da cidade uma plutocracia ou governo dos ricos (Drácon, VII a.C).
Paradoxalmente, essa elite se vê livre do trabalho manual (escravo) para se dedicar a atividade
intelectual o que permite a evolução do estudo.
Posteriormente, os pequenos proprietários, artesãos, comerciantes e marinheiros se organizam
e exigem reformas: Sólon, 594 a.C., faz um conjunto de reformulações, e na sequência
Clístenes e Péricles (VII a.C.).
A identidade econômico-política leva ao desenvolvimento da noção de cidadania e
democracia. Surge uma nova noção entre cidadãos (livres) e não-cidadãos (escravos, mulheres
e estrangeiros).

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Esse conjunto de realizações e diferenciações levou o grego a transpor as instâncias presentes
da vida a um novo patamar que vai do pensamento concreto ao abstrato.
Do pensamento mitológico ao pensamento racional.
Havia uma relação pessoal entre alguns homens e os deuses que regulava a atividade humana,
fosse na distribuição da justiça ou na religião.
Assim, as leis eram promulgadas por aqueles que conheciam as tradições e os mitos.
O mito é uma narrativa que pretende explicar a realidade, a origem das coisas (genealogia).
Mas também é uma forma de comunicação de um sentimento coletivo, transmitido de geração
em geração, sem ser questionado.
As emoções coletivas são canalizadas pelo mito a fim de tranquilizar o homem das ameaças
do mundo. Todavia, os mitos serviam principalmente para controlar a vida dos homens e
organizar a sociedade.
Os mitos deixaram a tradição oral quando foram escritos “Ilíada e Odisseia” de Homero, e
“Teogonia-Trabalhos e Dias” de Hesíodo.
Em Homero sobressai a noção de virtude dos aristocratas que por nascimento herdavam dos
deuses a força, a destreza, o heroísmo, bem com a capacidade de reflexão (sabedoria). A
primeira noção de direito vem da linhagem.
Em Hesíodo a noção de virtude é fruto do trabalho, fonte de produção. A força não era uma
virtude por ser encontrada também entre os animais. A noção de justiça é tirada do trabalho
árduo e difícil. Por isso, Zeus castiga Prometeu por roubar (crime) seu fogo e dá-lo aos
homens. E castigou os homens pela receptação.
Deuses e o Direito: Temis, Diké, Hibris, Hermes. Na cosmogonia/teogonia encontra-se uma
racionalidade do mundo e modelo de realidade para os homens.
Mas o mito opera uma ambiguidade em dois planos, a do mundo visível e a do mundo das
crenças. Esse mundo visível começa a ser observado como algo natural que vai e
desvencilhando das explicações míticas dando lugar ao que os novos pensadores vão chamar
de logos. Nasce a cosmologia.

MÓDULO 3
PRÉ-SOCRÁTICOS: COSMOLOGIA 1

Período arcaico: século VII ao séc. VI a.C.


Nesse período, os physicos buscavam uma explicação racional afastando-se das narrativas,
passaram a pensar a partir de um sistema de ideias, através do uso da observação, da reflexão,
da abstração. Buscavam descobrir a racionalidade do mundo observando o funcionamento da
natureza, explicar seus fenômenos, suas causas, seus elementos primeiros e suas leis.
Arqué: Buscavam um elemento primordial, presentes em todas as coisas e em todos os
fenômenos, de onde elas vem e para onde vão.
Logos: razão; reunir; ligar; calcular; medir; opõe-se ao imperfeito, imediato, ilusório.
Pensamento no qual se problematiza e não simplesmente se crê. A explicação é demonstrada
por meio de provas ou evidências e não simplesmente relatada. Conhecimento que pode ser
refutado, criticado, por isso inacabado e evolutivo. Baseia-se em mecanismos imanentes à
natureza.
Physis: a natureza era entendida como physis; todo o existente, todos os fenômenos desde os
naturais até os humanos; incluindo-se os deuses e o processo de gênese e do devir.

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Escolas de pensamento: Escola de Mileto. Escola Pitagórica. Escola Jônica. Escola Eleata.
Escola Pluralista. Escola Atomista.
Escola de mileto:
Tales: 625-547 a. C. Arqué: a água. O alimento, as sementes, tem natureza úmida. A água é
fonte da vida. Elemento mais sensível presente na natureza.
No Japão, Masaru Emoto fez pesquisa com partículas de água e sua correlação com as
fequências humanas.
Anaxímenes: 585-528 a.C. Arqué: o ar. É o elemento mais sensível diferencia-se nas
substâncias por rarefação e condensação, transformação, vento-nuvem-água-terra-pedra, tudo
provém do ar. Por rarefação torna-se fogo.
Anaximandro: 610-547 a.C. Arqué: Não indicava a origem a nenhum elemento observável,
mas a um elemento indeterminado que chamava de apéiron.
Princípio: o apéiron era o princípio e o elemento das coisas existentes. Introduziu o termo
princípio. Existe alguma natureza diferente, ilimitada. O apéiron é o ilimitado, o indefinido, o
indeterminado. Sua percepção vai além dos sentidos abstraindo a causa subjacente ao
fenômeno.
Físicos hoje, procuram a origem da matéria, última teoria comprovada é a da antimatéria.
Chineses acreditam em duas forças presentes no universo o yin e o yang originaram-se do
Tao, os indianos do Prana, os havaianos do Maná.
Pontos em comum:
Monismo: partiam de uma só causa ou de um só elemento.
Experimentação: análises baseadas em experimento. Condição do conhecimento.
Regularidade: é uma manifestação fenomênica.
Conclusão: a natureza é a força da vida e do movimento. Questionamento: os milesianos
negavam a existência dos deuses? Não. Concebiam o divino com o natural. Os deuses eram
inerentes à matéria, portanto, inerentes à natureza.
Escola pitagórica: Pitágoras (580 a.C.).
Noção: número, harmonia, alma.
Arqué: Tudo é número. Da unidade não surge a multiplicidade. O início é a união de um par
fundamental de opostos (o limitado e o ilimitado). O par (ilimitado) e o ímpar (limitado). A
origem do cosmo é dual. A primeira unidade absorvia a porção do ilimitado. Assimilava o
ilimitado ao vazio.
Harmonia: desenvolveu a partir da música, da relação do cumprimento das cordas com o
som, relações harmônicas que geram melodia. São relações matemáticas. Harmonia é união
de elementos opostos. Possibilidade de encontrar concordância nas discordâncias. Unir iguais
e desiguais numa relação harmônica (ideia de Justiça).
Alma: advém da noção de número e harmonia. Dualismo. Par-ímpar; visível-invisível;
números figurados (geometria); dimensões matemáticas (1,2,3,4); díade perfeita (2); número
divino (10); astronomia (corpos celestes, 9, décimo planeta, a anti-terra); dois mundos: corpo
e alma. Alma é eterna, mas está presa ao corpo. Prisão-liberdade. Liberdade por meio da
purificação. Purificação através do conhecimento das coisas e do universo. Conhecimento e
religião (unidade).
Abstração: qual a distância entre a terra e a lua? É possível através da experimentação? Não,
só é possível saber através da abstração matemática.
Questionamento: teorias dimensionais.

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MÓDULO 4
PRÉ-SOCRÁTICOS, COSMOLOGIA 2
Escola Jônica: Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.).
Heráclito tinha em comum com os milesianos o monismo. Para ele, tudo é Um enquanto
processo. A unidade existe e permanece enquanto processo (movimento, transformação).
Arqué: o movimento é indicado pelo elemento fogo. Todavia, o fogo é mais que um
fenômeno.
Abstração: A realidade que ele expressa é uma abstração. “tudo é um e o um é tudo”. “No
mesmo rio entramos e não entramos, somos e não somos”. É a ideia de que os opostos estão
em constante tensão, em busca de equilíbrio. “o frio esquenta, o quente esfria, o úmido seca,
o seco umedece”. A unidade constitui-se de uma oposição que opera, em um só tempo,
unidade e diversidade!
Heráclito dá um caráter abstrato ao pensamento que exige esforço. Para entender a
multiplicidade na unidade, é preciso transpor as aparências, pois a observação sem a razão
(logos) leva ao engano.
Ponto de divergência com os milesianos: Para Heráclito, o universo era concebido como
eterno, sem começo e sem fim. O universo é um eterno devir. Heráclito problematiza a noção
de tempo.
Escola pluralista (Anaxágoras e Empédocles)
Empédocles propõe a existência de quatro elementos como constituintes do universo (água,
terra, ar e fogo). Não supunha que o movimento era a propriedade da própria matéria. A
matéria só se move por influência de uma força exterior. Segundo ele, a força de atração era o
Amor e a força de separação era o ódio.
Anaxágoras: reconhece que o universo é constituído por pluralidade de elementos. Esses
eram infinitos e continham os opostos presentes no universo. O mais e sempre idêntico era o
Nous ou o espírito que através de sua ação impulsionava o movimento dos demais elementos.
Das múltiplas combinações surgem as diferentes formas da matéria, originando os fenômenos
do mundo e suas transformações. Cada coisa é um universo porque contém um pouco de tudo
e todas as coisas eram igualmente divisíveis ao infinito.
Espírito/Inteligência: a força que age unindo ou separando as coisas e formando os seres. Os
pluralistas concebem a inteligência como uma forma material, embora invisível.
Escola atomista (Leucipo e Demócrito de Abdera)
Para os atomistas o movimento era produzido pelo átomo e não por um espírito ou força. Mas
isso só é possível dada uma coexistência do ser (átomo) e do não-ser (vazio), em um eterno
movimento.
Segundo Demócrito, o universo era composto por um número infinito de partículas finitas de
átomos. As coisas não eram divisíveis ao infinito e os átomos se movimentam no vazio, em
qualquer direção, sem finalidade, portanto, ao acaso (não significa ausência de causalidade).
Já a vida e a alma são formados por átomos de fogo que se movimentam muito mais
rapidamente, é um átomo especial em forma esférica. Encontram-se espalhados por todo o
corpo, saem e entram nele pela respiração, mantendo o corpo vivaz até se dispersarem.
Conhecimento: os átomos do objeto se chocam com os átomos dos órgãos sensitivos indo
chocar-se com os átomos da alma. Assim, existem dois tipos de conhecimentos. O obscuro,

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que era produto da sensação (cheiro, cor, sabor) e o genuíno, alcançado pela mente, pela
razão. O conhecimento verdadeiro só era possível se se superasse os limites impostos pela
sensação.
Escola Eleata (Parmênides e Zenão)
Parmênides, aluno de Pitágoras e legislador de sua terra natal Eleia, concebia a unidade do
Ser. O Ser é algo pleno, contínuo, fixo, indivisível, imóvel. Não se poderia mais acrescentar
ou retirar nada a ele. Não está sujeito a mudança. O Ser imutável era o limite do real sem o
qual era impossível ser pensado. Não havia possibilidade de pensar o “não-ser e o “não-ser”,
ser, pois “O que é, é e não pode “não-ser”, porque é”. Exemplo: Ismene não pode ser nobre
e covarde ao mesmo tempo.
Assim é o Pensamento enquanto Ser. A concepção de Ser como Pensamento provoca uma
mudança qualitativa no pensamento abstrato. O objeto do pensamento racional não era mais a
natureza enquanto tal, mas a natureza do Ser que é Essência, isto é, o Ser não muda, é eterno.
Para isso, deve-se partir do princípio ontológico da Identidade. A necessidade de rigor no
pensamento para eliminar qualquer contradição à obtenção do pensamento verdadeiro.
Lógica: assim o logos dá origem ao termo lógica que significa pensamento por meio da razão
pura já que o objeto de reflexão é a pura abstração. Nesse sentido, a verdade está na razão,
os sentidos nos enganam, a opinião é mera aparência (dóxa). O problema da contradição entre
unidade-multiplicidade é colocado na concepção do Ser. Zenão funda a Dialética ao partir da
aceitação da afirmação que acabaria por negar, após apresentar as contradições presentes nela.
O Pensamento começa a ganhar contornos filosóficos.

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