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Novos Cenários Para A Economia Mundial

Redação12 de setembro de 2019 Diário do Capital, EUA, Europa0

por José Martins, da redação.

O crescimento continua se enfraquecendo nas


maiores economias do mundo. É exatamente este o
título do relatório publicado nesta segunda-feira (09)
pela Organização para o Comércio e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre a
tendência da economia mundial para os próximos seis
a nove meses.

Curtíssimo prazo. As curvas apresentadas neste


relatório sintetizam a chamada “composição dos
principais indicadores” (CLI, em inglês), que leva em
conta o índice da produção industrial em cada país
como série de tendência básica de outras séries de
indicadores que compõem o Produto Interno Bruto,
sistema financeiro, etc.

As CLIs permitem então sinalizar antecipadamente


pontos de ruptura da expansão dentro de diferentes
fases ou flutuações do ciclo econômico (business
cycle). De maneira mais qualitativa do que
quantitativa, isso é importante considerar. Trata-se de
tendência do processo cíclico e não de volume de
crescimento.

Observe-se, abaixo, as curvas da CLI resultantes da


ressonância computadorizada do ciclo econômico
pela OCDE.
Nota-se, então, que tanto nos EUA quanto na China,
assim como nas outras duas grandes áreas
econômicas indicadas (OCDE e euro área) as curvas de
tendência já se encontram nos pontos mais baixos do
ciclo desde o forte choque de dez anos atrás.

As CLIs de grandes áreas e economias nacionais


continuam sinalizando um momento de claro
enfraquecimento da expansão cíclica nos EUA e na
Eurozona, particularmente na Alemanha, economia
reguladora do velho continente.

Observa-se com outros dados do relatório que a


granítica economia alemã é a que mais apresenta
sinais prodrômicos de abruptas rachaduras e
de reversão cíclica dentre todas as demais grandes
economias nacionais da OCDE. Os EUA e a China
também se sobressaem neste quesito.

Forma-se então um quadro geral de pesado


fechamento do atual ciclo econômico global iniciado
dez anos atrás. E abrem-se três cenários decisivos para
os próximos trimestres e anos na economia mundial.

O primeiro cenário é o de uma pronta e vigorosa


recuperação, retomada da economia global para mais
uma longa fase de pelo menos seis anos de
expansão. Inflação dos preços (e lucros) de produção,
recuperação da taxa geral de lucro de meados do ciclo
atual e de uma taxa de reprodução (acumulação)
ampliada do capital. Renovada globalização produtiva
e comercial. Um novo e virtuoso ciclo econômico. De
acordo com as observações da Crítica da Economia,
este é o cenário mais improvável.

O segundo cenário é marcado por uma súbita


derrocada financeira e comercial mundial. Pode
ocorrer ainda nos próximos noventa dias. O mês de
Outubro é historicamente o mês dos grandes crashs.

Essa crise periódica de superprodução de capital está


sendo gestada fundamentalmente por clara
desaceleração da produtividade, produção de valor,
de mais-valia e, finalmente, da taxa geral de lucro
(corporativo) nos EUA, economia reguladora dos
fundamentos produtivos do mercado mundial.

Mas essa nova derrocada nos fundamentos da esfera


produtiva do capital mundial se manifestaria
previamente na sua esfera da circulação. Nos
mercados monetários, financeiros e de capitais.
Quando todos esses setores do capital mercantil ainda
registram recordes históricos de valorização.

No desenrolar das etapas finais do ciclo econômico a


desvalorização do capital produtivo de mais-valia
determina a súbita interrupção da valorização recorde
do capital fictício. E todos os mercados de papéis
desabam ao mesmo tempo em todo o mundo. A
falência do sistema de crédito ocorre imediatamente
antes da produção.

As primeiras explosões ocorreriam nos principais


mercados cambiais e bolsas de valores. As bolsas de
Xangai, de Berlim e de Londres, pela ordem, são as
principais candidatas para acionar o gatilho global,
detonando Tóquio, Frankfurt (Eurozona) e, finalmente,
Nova York. De acordo com observações disponíveis na
redação este é um cenário provável.

O terceiro cenário é de reversão da atual situação de


momento de enfraquecimento da expansão das
principais economias (EUA, Eurozona, Japão e China)
tal como se observa na tomografia computadorizada
acima da OCDE.

A reversão do enfraquecimento atual ocorreria como


arremetida do sistema para uma situação
generalizada de crescimento estável nos próximos
quatro a oito trimestres. Estável, mas sem expansão
ampliada. Ao contrário, com desmantelamento
progressivo da globalização produtiva dos últimos
quarenta anos e rápido engessamento do comércio
internacional.

Um estado estacionário à David Ricardo. Que


morreu angustiado com essa tenebrosa perspectiva
do regime capitalista. Um sonho malthusiano e das
grandes burocracias estatais que neste século 21 volta
travestido de disruptivos movimentos econômicos
protecionistas e correspondentes políticas
nacionalistas no centro dominante do sistema.

Um estado estacionário da valorização do capital seria


um acontecimento inédito nos últimos setenta anos.
A chama da taxa de lucro desapareceria, mas
burocraticamente (e totalitariamente, em sua forma
política) o sistema poderia manter uma taxa zero de
acumulação correspondente à reprodução simples
do capital.

Crescimento zero. Capital asfixiado. Aumento rápido


das tensões geopolíticas. Essa possibilidade de
reprodução simples do capital ocorreu historicamente
nos períodos de grandes guerras mundiais. A última
delas encerrou-se em 1945.

As crises econômicas nacionais foram abafadas


naqueles curtos períodos de guerras mundiais. Se o
regime capitalista pudesse manter as grandes guerras
indefinidamente não haveria mais crises econômicas.

Neste terceiro cenário, as burguesias e demais classes


parasitas trocariam simplesmente a complexa e
trabalhosa contradição capitalista pela simples e
previsível destruição da espécie humana.
Pelas informações econômicas e geopolíticas
disponíveis em nossa redação este terceiro cenário é
o mais provável.

Nota bene: A cenarização é um instrumento valioso


para acompanhar com precisão e agilidade as
incessantes alterações dos cenários mais prováveis e
das variáveis de força que os compõem – e, assim,
estabelecer com mais segurança táticas e estratégias
políticas ou militares em constante adaptação àquelas
mutantes situações reais.

Mas quando se trata do exercício de cenarização – seja


do ciclo econômico, seja das estratégias geopolíticas,
da guerra propriamente dita, etc. – é bom lembrar que
quando se estabelece três principais cenários, como
delineados acima, o que se quer indicar é
simplesmente em torno de qual dos três se
desenrolarão, com maior ou menor probabilidade, as
inúmeras situações reais da economia, da geopolítica,
da questão militar, etc.

Assim, o primeiro cenário apontado acima como


o mais improvável é mais rígido e deve permanecer
com esse elevado grau de improbabilidade de
acontecer. Quer dizer, é mínima a probabilidade deste
primeiro cenário se materializar em movimentos reais,
ou mesmo compartilhar minoritariamente nestes
movimentos reais da economia e da geopolítica
global nos próximos 12 a 24 meses.

Mas será seguramente no espaço de probabilidade


compreendido entre o segundo cenário (provável) e
o terceiro (mais provável) que devem se desdobrar
os movimentos reais da economia, da geopolítica
global e das guerras imperialistas dos próximos anos.

As mesmas variáveis dos diferentes cenários


participam do mesmo processo econômico e
geopolítico. No caso aqui analisado, o que se
diferencia no movimento e na forma do processo real
é o peso e a ação de cada uma destas variáveis no
segundo ou no terceiro cenário.

De qualquer maneira, essas futuras situações reais e


suas formas concretas de aparecimento no chão duro
da história sempre serão decididas e efetivadas
unicamente, exclusivamente pela luta de classes
proprietárias nacionais contra a classe proletária
internacional e, simultaneamente, pelos choques
diplomáticos e seus prolongamentos armados no
sistema de Estados da arena geopolítica internacional.

O exercício de cenarização serve apenas para indicar


o sentido preciso do processo e o terreno sobre os
quais essas lutas e choques se desenrolarão.

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